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UNIVERSIDADE ROVUMA - CAMPUS DE NAPIPINE

Licenciatura em Ensino de Química


VII Grupo
Parentesco, Família e Casamento em Moçambique

o Anastácio António Manuel


o Artimiza Feliciano Mausse
o Atija De Fatima Mechula
o Atumane Amurim Mussa
o Cenira De Laura Jonas Jsulate
o Cristóvão Ernesto Ernesto
o Dalton António
o Daquinaho Afonso Calavete
o Domingas Jose A. Ernesto
o Enes Jose Abilio
o Eunice Gabriel Fonseca
o Joardina Cassimo Ossiua
o Marciela Martinho
o Momade Omar Essumaila
Docentes: o Natalia Remigio Remigio
o Ėlia Margarida Cumbana
o Olinda C. Marcelino Aurelio
o Luís Henriques Namuera
o Saide António Saide Felix
o Tatarche Armando Maulana
INTRODUÇÃO
Família no sentido mais restrito é o conjunto de
pessoas que vivem sob o mesmo tecto. Mas no
sentido lato, a família é o conjunto das sucessivas
gerações descendentes de antepassados comuns; já
na linguagem do senso comum costuma dizer-se
que a família é a célula básica da sociedade. Por
família, também, pode-se entender como o
conjunto de parentes por consanguinidade ou por
aliança ou afinidade. O preste trabalho tem com
tema: Parentesco, Família e Casamento em
Moçambique.
OBJECTIVOS

Geral
 Analisar as formas de parentesco, família e casamento em
Moçambique.
Específicos:
 Caracterizar as formas de parentesco em Moçambique.
 Indicar as formas de construção de casamentos;
 Enfatizar em tono da relação de poder em família.
LAÇOS DE PARENTESCO
 Laços de Parentesco: é a relação que decorre da posição
ocupada pelo sujeito no sistema de parentesco. Pode-se falar de
três tipos de laços de parentesco:

 Descendência: relação do sujeito com os seus parentes de


sangue. Embora o critério de
descendência seja biológico, em Moçambique a descendência
obedece à critérios culturais (de descendência unilateral). Por
exemplo, um indivíduo é sempre filho de uma mãe e um pai, mas
na zona norte de Moçambique leva-se em consideração a
descendência matrilinear, enquanto no Sul considera-se a
descendência patrilinear. Nas sociedades europeias a
descendência é dos dois progenitores (descendência bilateral).
 A descendência matrilinear é também conhecida como
descendência uterina, a patrilinear tem também a designação de
descendência agnática, enquanto a descendência bilateral (de
ambos os progenitores) é denominada cognática.
CONT.
 Descendência unilateral dupla: acontece em sociedades
que não consideram como
preponderante a linhagem matrilinear nem a patrilinear,
porém, orientam-se pela linhagem patrilinear para uns
propósitos (ex: realização de funerais, delegação da
herança, etc.), e orientam-se pela linhagem matrilinear
para outros propósitos (ex: o cuidado de crianças, a
atribuição de apelidos, etc.)
 Nomenclatura de parente ou terminologia de parentesco: é
o sistema de denominações das posições relativas aos laços
de sangue e de afinidade. Exemplos de nomenclaturas de
parentesco: pai, mãe, irmão, primo, esposa, cunhado, sogra,
enteado, filho, neto, sobrinha, etc. Importa significar que a
nomenclatura de parentesco pode ser descritiva e
classificatória.
 A nomenclatura de parentesco descritiva é aquela em que
se usa um termo diferente para designar a cada um dos
parentes. Exemplo: papá (pai biológico), mamã (mãe
biológica), mana (irmã biológica mais velha), etc.
CONT.
A nomenclatura de parentesco classificatória é aquela
em que se emprega indistintamente o mesmo termo
para designar a um grupo de pessoas com quem se tem
um laço de parentesco. Por exemplo, quando se aplica o
termo ―mamã‖ para designar à mãe biológica, à irmã da
mãe, ou à madrasta. Também estamos perante a
nomenclatura de parentesco classificatória quando se
trata como irmão, ao próprio irmão biológico, ao primo
ou ao filho de uma madrasta.
Clã: grupo de pessoas dotado de nome e de descendência
unilateral, isto é, que deriva de um ancestral comum e
que segue regras de descendência matrilinear/uterina
ou patrilinear/agnática e jamais de ambas
simultaneamente.
Os clãs do sul de Moçambique que seguem a
descendência agnática ou patrilinear são
designados patriclãs, enquanto os do norte do país que
se orientam pela descendência uterina ou matrilinear
denominam-se matriclãs.
FAMÍLIA
No sentido mais restrito é o conjunto de pessoas que vivem sob o mesmo tecto.
Mas no sentido lato, a família é o conjunto das sucessivas gerações
descendentes de antepassados comuns; já na linguagem do senso comum
costuma dizer-se que a família é a célula básica da sociedade. Por família,
também, pode-se entender como o conjunto de parentes por consanguinidade ou
por aliança ou afinidade.
No entanto, existe um tipo de classificação da família que se vale dos
seguintes critérios:

Regras de residência Número de cônjuges

Parentesco Relação de poder


QUANTO ÀS REGRAS DE RESIDÊNCIA DA FAMÍLIA.
QUANTO ÀS REGRAS DE RESIDÊNCIA, A FAMÍLIA PODE SER:

Patrilocal Matrilocal

 Aquela que estabelece uma residência  Aquela que estabelece uma residência
conjunta entre um casal e os pais do conjunta entre um casal e os pais do
homem. Geralmente nas sociedades homem. Geralmente nas sociedades
meridionais de Moçambique há uma meridionais de Moçambique há uma
tendência de as famílias estabelecerem tendência de as famílias estabelecerem
residências patrilocais devido à residências patrilocais devido à
estrutura e natureza do poder que se estrutura e natureza do poder que se
centra nas mãos dos homens. centra nas mãos dos homens.

Neolocal

 É a família cujo casal tem uma residência independente da dos pais


de ambos os cônjuges. Este tipo de residência é mais frequente em
sociedades urbanizadas onde o estilo de vida exige uma autonomia
das famílias.
QUANTO AO NÚMERO DE CÔNJUGES DA FAMÍLIA
Quanto ao número de cônjuges, a família pode ser:
 Monogâmica: quando a união é de um só homem com uma só mulher.

 Poligâmica: é a união de um só marido com várias esposas ou de uma


mulher com vários maridos.

 Poligínica: é a família em que o homem é quem pratica a poligamia,


isto é, a união de um marido com várias esposas.

 Poliândrica: é a família em que a mulher é quem pratica a poligamia,


ou seja, a união de uma mulher com vários esposos.

 Exogamia e endogamia: qualquer sistema de parentesco pressupõe


uma forma de proibição do incesto. A regra de exogamia que obriga os
homens de um grupo de parentes a casarem-se fora deste grupo, é uma
expressão social alargada da proibição do incesto.
Exogamia fixa-se em termos de grupo uma interdição que a proibição do
incesto se limita a formar em termos individuais.
Qualquer sociedade é, em simultâneo, exógama e endógama. As regras de
casamento
interditam sempre um círculo de parentes, é a regra exógamica. Mas
recusam também a
reconhecer a possibilidade de casamento fora de grupo definido por
determinados critérios: raça, etnia, condições sociais, casta, religião. É a
regra da endogamia.
CONT.
Hipergamia: é um termo usado em sociologia para o ato ou prática de uma pessoa de
uma determinada condição social de se casar com outra de casta, classe social ou
atributos.
superiores. Já a palavra "hipogamia" refere-se a instâncias do inverso ocorrendo: casar-
se com alguém de posição social inferior à sua. Ambos os termos foram cunhados na
Índia, no século XIX, a partir da tradução dos vocábulos sânscritos, conceitos
encontrados nos livros clássicos hinduístas.
Homogamia: do ponto de vista de um sociólogo é o casamento e o acasalamento com
uma pessoa de status socioeconómico, etnia, raça, idade, nível de educação e / ou
religião semelhantes. Frequentemente, é uma maneira subconsciente e natural de
escolher o casamento e os parceiros sexuais. Homogamia é uma forma de acasalamento
selectivo, que é um tipo de selecção sexual, em que uma pessoa escolhe um parceiro
sexual com genótipos e fenótipos semelhantes aos seus, mais frequentemente do que
escolher um parceiro com outros diferentes.
As comunidades locais, expostas frequentemente a profundos riscos naturais e sociais,
construem-se sobre laços sociais fortes que se sustentam em famílias e redes alargadas
de parentesco (levirato, sororato, heranças centradas no filho mais velho), religiões
linhageiras densas, com sistemas de poder autoritários e de senioridade. São
sociedades com grande.
aceitação da "distância hierárquica" e da subordinação, do valor das desigualdades de
estatuto e do sucesso individual, a troco de protecção, no quadro tanto dos poderes
simbólicos associados à produção de consensos, à religião, à magia, e à feitiçaria, como
à propriedade colectiva da terra e dos recursos. Um conjunto de instituições que
facilitam e legitimam as práticas neopatrimonialistas de poder e lealdades clientelares
suportadas em redistribuição.
Levirato: é a prática pela qual a viúva casa com o irmão do falecido esposo; nos
sistemas sororato o viúvo tem o direito de levar como esposa a irmã da falecida mulher.
Outras regiões adoptaram o levirato ou o sororato com vista a conservar os recursos da
família e evitar a fragmentação dos bens do falecido.
QUANTO À RELAÇÃO DE PODER DA FAMÍLIA
 Quanto à relação de poder, a família pode classificar-se em:

 Patriarcal ou patrilinear: é a família cujo poder é


exercido pelo marido. As famílias patriarcais abundam no
sul de Moçambique, sendo que o patriarcado como uma
relação de poder incide também no casamento, na sucessão,
na herança e na estrutura social das famílias.

 Matriarcal ou matrilinear: é a família cujo poder é


exercido pela mulher. As famílias matriarcais abundam no
norte de Moçambique, sendo que a mulher exerce o poder
indirectamente através do seu irmão do sexo masculino. É
este a quem cabe zelar pela orientação da vida dos filhos da
irmã, cuidar pela iniciação desses filhos e legar-lhes a sua
herança em caso de morte. O papel do pai biológico é quase
que passivo, pelo que quando o filho se porta mal ou comete
uma infracção, o pai remete a solução dessa situação ao tio
materno do filho, isto é, ao irmão da mãe do filho.
QUANTO AO PARENTESCO
 Quanto ao parentesco, a família pode adquirir as seguintes
classificações:
 Nuclear: é a família constituída pelo marido, esposa e os
filhos resultantes dessa união, todos morando juntos numa
residência neolocal. A família nuclear pode ser de
orientação, aquela da qual cada um de nós proveio e a
família nuclear de procriação, que é a que cada um de nós
funda ou estabelece.
 Alargada ou extensa: este tipo de família constitui-se por
um casal, os filhos e os familiares colaterais (sobrinhos,
netos, primos, irmãos, etc.), todos vivendo numa mesma
residência patrilocal, matrilocal ou neolocal.
 Reconstituída: composta por um homem divorciado ou
viúvo com os filhos e uma mulher (a madrasta), ou por uma
mulher divorciada ou viúva com os filhos e um homem (o
padrasto), ou ainda, por um homem e uma mulher, ambos
divorciados ou viúvos vivendo juntos com os respectivos
filhos.
 Monoparental: aquela composta só pelo pai solteiro ou
viúvo e os filhos, ou só pela mãe solteira ou viúva e os filhos.
CRÍTICA DO PARENTESCO: O CASO MACUA
 Sistema parentesco macua
Para CARVALHO (1992), chama-se de parentesco em linha recta quando as
pessoas descendem umas das outras directamente (filho, neto, bisneto,
trineto, tetraneto, e outro), e parentesco colateral quando as pessoas não
descendem uma das outras, mas possui um ancestral em comum (como tios
e primos).
Popularmente, os primos reconhecidos pela lei (parente em quarto grau) são
chamados de "primo de primeiro grau". A partir daí, todos os outros primos
são chamados de primos de 2º,3º, 4º grau. Por exemplo, o filho do primo ou o
primo do pai é chamado de primo de segundo grau, sendo os dois filhos de dois
primos diferentes primos de terceiro grau entre si, e assim por diante. Mas as
definições variam de pessoas para pessoas. Há quem considere desta maneira:
 Irmãos — são os que têm os mesmos pais.
 Primos em primeiro grau — são os que têm os mesmos avós (paternos ou
maternos).
 Primos em segundo grau — são os que têm os mesmos bisavôs (basta um
casal de bisavós).
 Primos em terceiro grau — são os que têm os mesmos trisavôs (também
basta um casal).
Os filhos dos primos nesse caso seriam os "primos intermediários" (1 grau e
meio, 2 graus e meio, 3 graus e meio), ou para outras pessoas são sobrinhos
em segundo grau.
Para outras pessoas, sobrinhos em segundo grau são netos de seus irmãos, o
mesmo que "sobrinhos-netos". Portanto, as definições e interpretações variam
muito e todas podem ser consideradas correctas, embora nenhuma delas seja
exactamente oficial, ou legal. Fora da esfera legal, a questão de consideração
de parentesco vária de acordo com a percepção individual de cada um.
Normas
O matrimónio é exogâmico. Na terminologia apresentada encontramos a normal geral
do incesto no duplo sentido da proibição do matrimónio entre os membros do mesmo
grupo familiar (proibido entre todos os que têm o mesmo apelido, ou seja, o mesmo
nihimo) e de proibição de relações sexuais.
Ao mesmo tempo, porém, existe uma norma positiva: a preferência pelos casamentos
entre determinados tipos de parentesco, conforme oportunamente se fez referência na
terminologia. Essa norma não tem carácter obrigatório. Idem.

Funções
De entre as funções que caracterizam o matrimónio macua, realça-se as seguintes:
 Legais – estabelecer a legalidade de descendência e da herança;
 Sociais – estabelecer uma relação de afinidade com a família da esposa, por parte do
marido;
 Sexuais – dar ao marido o monopólio sobre a vida sexual da esposa e vice-versa, a
não ser nos casos previstos pelas leis tradicionais (relações rituais, relações
de hospitalidade e relações em caso de esterilidade);
 Económicas - criar direitos mútuos sobre o trabalho de cada um dos cônjuges,
estabelecendo-se desta forma, uma ajuda económica mútua

Formas
O matrimónio macua admite as seguintes formas:
 Monogamia (na generalidade);
 Poligamia (admitida, normalmente, como factor e sinal de poder, grandeza e riqueza e
igualmente em caso de esterilidade ou doença grave permanente da esposa);
normalmente, é praticada pelos chefes e por pessoas economicamente bem situados.
Casamento na sociedade macua
Segundo MELLO (2009), refere-se Casamento ou matrimónio a um acto legal em que um
homem e uma mulher se unem para construir uma família

Etimologia
A terminologia comum usada em relação ao casamento é a seguinte:
OTHELA - casar-se (referindo-se aos homens)
OTHELIWA - ser casada (referindo-se a mulher)
OTHELANA - matrimónio (referindo dos dois)
OTHELIHA - fazer casar (celebrar o casamento)
OTHELIHIWA - ser obrigado a casar
OKWATTI - casamento, matrimónio
IYA - marido
MWARA – esposa

O sentido etimológico do vocábulo OTHELANA (matrimónio e casar-se), segundo a


explicação de G. B. Brentari citado pelo MARTINEZ (2009), ―pode ajudar-nos a
compreender melhor o casamento na sociedade macua.
―O‖ é um prefixo nominal da 4ª classe, a qual pertence palavra abstracta, derivada da outra
palavra, verbo, substantivo, palavra que indicam sentimentos e sensação, a aqui pode
significar ―o que começou a acção a qual a palavra se refere‖, exprime, por isso, uma
realidade captada e expressa na palavra a que se refere. ―THE‖ interjeição ―THE-THE-
THE‖, que equivale a chamar alguém para que se aproxime; significa que uma coisa ou
pessoa tem sempre um dono.
―LA‖ partícula que pode derivar da palavra TLANE (uma terra que está sempre ao sol, que
arde sempre‖ pode ter este sentido: ―uma coisa que arde‖
―Sufixo reflexo, com sentido de reciprocidade, neste caso pode significar: um é chama do
outro, as chamas eram duas aproximando-se, juntaram-se e transformaram-se numa só‖
Aspectos do casamento na Cultura Macua
Aspecto vital
O casamento é um acontecimento que ocupa um lugar
importante no ciclo vital. É a
terceira fase do ciclo. Pelo casamento, o homem e a mulher,
formando a célula mais elementar da sociedade, colocam-se a
serviço directo e concreto da transmissão da vida. Desta
maneira integram-se na corrente vital, participando na função
dos antepassados, intermediário, entre a fonte original da vida e
os homens. O casamento tem seu fundamento neles e a sua raiz
está na fonte vital. O tal propósito, o pensamento macua é
muito claro:
OTHELANA ORI MWA MAKHOLO - o casamento está
(fundamenta-se) nos antepassados. Por isso o casamento, no seu
aspecto funcional serve de fundamentos as relações humanas,
está ao serviço da família.
OTHELANA OMUSI - casar-se e construir a família.
OKHALA NTEKO OLIMA – ter uma casa e cultivar
Aspectos comunitários
O casamento na sociedade macua, não é, de forma nenhuma, um assunto
particular, que
interessa só aos dois que se vão casar. Nesta sociedade o casamento tem um valor
social de primeira grandeza, que transparece logo nos primeiros ritos e depois em
cada uma das Sequencias rituais, até chegar à conclusão de todo processo
matrimonial. São as famílias dos noivos as primeiras interessadas em arranjar
e preparar adequadamente tudo o que está relacionado com o casamento. Na
prática é a consistência e o futuro do grupo familiar que está em jogo e um assunto
de tal importância não pode ser abandonado na mão dos dois que se vão casar. Um
casamento significa a entrada de um novo membro na família, um aumento
numérico e qualitativo, garantia segura do fortalecimento da linhagem.
A família alarga-se multiplicam-se os membros dela, a aprofunda-se nas raízes
originais e projecta-se com segurança palpável no futuro. É esta a grandeza do
matrimónio macua:
O prorrogamento dos membros das famílias que se unem até aos antepassados.
Por tudo isto, podemos dizer que os matrimónios estão ao serviço da comunhão
vital dentro das próprias famílias e do intercâmbio vital entre as famílias que
entregam as sociedades. Sendo assim, a importância comunitária está em
primeiro lugar.

OTHELANA ONRWA MALUMI MAILI - matrimónio vem de duas chamas


OTHELANA ONRWA OMUSI – o matrimónio vem da família
OTHELA ETTHO YORERA, ONNAWASA AMANNYA – casar-se é a coisa boa, a
pessoa encontro uma mãe.
Aspecto pessoal
A dimensão comunitária do matrimónio não destrói o factor pessoal e
individual de quem se casa na sociedade macua; isto, apesar de uma
observação superficial ou uma análise realizada a partir de padrões
culturais ocidentais pode levar a uma conclusão de sinal contrário.
Na cultura macua, a personalidade do indivíduo enriquecesse e
cresce integralmente na medida em que vive e participa na vida
comunitária. Isto realiza-se duma maneira muito privilegiada no
casamento. Dai podemos afirmar que neste contexto cultural, o
casamento, para além da união entre duas famílias, é a união de
duas pessoas em ordem a mutua complementaridade e perfeição
pessoal, por meio da entreajuda pela vivencia da afectividade e
equilíbrio sexual.
O homem cresce na mulher e com ela se aperfeiçoa. E vice-versa, ou
seja, a mulher cresce no homem e com ele se aperfeiçoa.

Outros aspectos
Factor económico
Apesar de não existir, na sociedade macua, a instrução do dote
matrimonial, o factor económico do casamento é importante. Neste
caso, quem enriquece é a família da noiva, porque é esta que cresce
com um novo membro. Com os serviços que o noivo prestará, com o
seu trabalho, a família da mulher crescerá não só em número mais
também economicamente.
 Exogamia
Os macuas devem casar-se fora da linhagem, pelo que o
casamento é exogâmico. É proibido casar dentro do próprio
grupo familiar entre aqueles que tem o mesmo apelido
(NIHIMO). Por isso, a tradição aconselha muito cuidado em se
saber, desde o inicio, a que linhagem pertence cada um dos
futuros cônjuges, para não incorrerem na proibição do
casamento entre as pessoas da mesma linhagem:

WATTHUNAKA OTHELA – quando te quiseres casar


OKOHEKE ONAMUTHELA – informa-te antes.
MUNAMUROKORIYO NARI MALUWA – não se dê o caso que
te cases com tua irmã ou com a gata brava.
Casamento uxorilocal
O novo agregado familiar, que nasce com um casamento,
constrói a própria casa perto da residência dos pais da noiva.
Normalmente se situa na localidade de grupos de familiares
matrilineares da noiva. Por isso, podemos falar de modelos de
residências uxorilocal e, mais concretamente, matriloca.
O processo matrimonial
A primeira fase: Período de negociação
Na perspectiva de MARTÍNEZ (2009), todo o processo matrimonial macua começa a
fase de negociação entre as famílias dos noivos. O acordo entre as famílias é o primeiro acto de
uma série de sequências rituais matrimoniais. Conhecimento dos noivos - o conhecimento e
atracção mútua entre os noivos podem acontecer espontaneamente, durante uma festa, nas
brincadeiras juvenis ou em qualquer outro momento da vida, como em qualquer sociedade. O
primeiro consentimento dá-se, tacitamente,
entre os noivos e pode consistir num sorriso, num olhar ou qualquer outro gesto
que demonstre mútuo interesse

Consulta da autoridade familiar - o jovem, animado pelos sinais de consentimento


da rapariga, aconselha-se com o seu tio materno (ATATA), que exerce autoridade na sua
família, manifestando-lhe os sentimentos e desejo de casar a rapariga.
O acordo - depois de consultar os pais do sobrinho e os anciãos da família, o tio
(ATATA) contacta com a família da jovem pretendida pelo sobrinho, iniciando o período de
negociação, que pode durar semanas e até meses. Durante este tempo, as duas famílias
procuram elementos concretos e suficientes, não somente a cerca de vida dos jovens, mais
também sobre as famílias destes, porque o casamento constituí uma aliança entre os dois
grupos familiares e todos estão interessados em se conhecer antes de se unirem
Primeira aceitação - depois de deixar passar um período do tempo razoável (no mínimo três ou
quatro semanas), para não dar a impressão de ligeireza e superficialidade, a família da
rapariga avisa a família do rapaz, comunicando que o resultado das investigações foi positivo e
que, por isso, aceitam o jovem como esposo de sua filha. Esta aceitação, para se tornar
definitiva, depende do resultado da análise minuciosa da sua família durante todo tempo que
vai durar a segunda fase do processo matrimonial. A entrega do noivo à família da noiva - num
dia determinado pelas famílias dos noivos, de manhã cedo, o tio, o pai e alguns anciãos da
família acompanham o noivo até à casa da noiva, a cuja família apresentam. O noivo
apresenta-se com uma esteira, uma lança, um machado, os seus objectos pessoais e alguns
presentes para a noiva. É recebido, à porta de casa, pela família da jovem, que lhe
acompanham até dentro e mostra a sua noiva.
História Do Casamento Em Moçambique
Antigamente nas culturas Moçambicanas, havia uma grande variedade, dependendo de factores
culturais, nas regras sociais que regem a selecção de um parceiro para o casamento.
Rita Ferreira (1967/68) afirma que o casamento era uma questão privada entre dois grupos,
concluída sem intervenção das autoridades políticas ou religiosas. O seu fim era a produção de
novos indivíduos que, no futuro, assegurassem a sobrevivência do grupo como um corpo
organizado. As negociações eram levadas a efeito entre as famílias interessadas e o consentimento
dos noivos era pressuposto.
Considerava-se, por conseguinte, como uma troca de serviços entre duas famílias pertencentes a clãs
diferentes: uma delas cedia à outra a capacidade procriadora de um dos seus membros e, para ser
compensada pela perda, recebia determinados bens (lóbolo) que normalmente eram destinados à
aquisição duma noiva para um dos irmãos da recém-casada (p.291-292).
Em muitas culturas Moçambicanas, a escolha do parceiro era limitada às pessoas de grupos sociais
específicos. Em algumas sociedades, a regra era que um parceiro é seleccionado do próprio grupo de
um indivíduo social (endogamia). Em algumas culturas Moçambicanas, uma pessoa deve se casar
com seu primo, uma mulher deve se casar com o filho da irmã de seu pai e um homem deve se casar
com a filha do irmão de sua mãe - este era normalmente o caso de uma sociedade que tem uma regra
de “rastreamento” de parentesco exclusivamente através de grupos de descendência patrilinear ou
matrilinear.
Outro tipo de selecção de casamento é o levirato, em que as viúvas são obrigadas a casar com o
irmão do seu marido. Este tipo de casamento era encontrado principalmente em sociedades onde o
parentesco é baseado em grupos de clãs endogâmicos. Em outras culturas Moçambicanas com regras
menos rígidas que regem os grupos dos quais um parceiro pode ser escolhido, a selecção de um
parceiro de casamento pode exigir um processo em que o casal deve passar por uma corte ou o
casamento pode ser arranjado pelos pais do casal isto era predominante em muitas culturas.
O lóbolo em Moçambique
O lóbolo em Moçambique foi sendo apresentado na literatura ora como prática e
expressão cultural imaculada, parada no tempo e resistente a qualquer
alteração, ora como instrumento de subjugação da mulher dentro do lar
(Agadjanian, 1999; Osório e Arthur, 200), e ainda como cerimónia com função
integradora da sociedade.
Alguns autores (ex: Cipire, 1996) consideram que no sistema patrilinear o lóbolo
é encarado como uma troca de serviços entre duas famílias pertencentes a clãs
diferentes. De acordo com Cipire (1996: 58), está na origem do lóbolo o valor que
em África é dado à mulher.
Antigamente o pagamento ao responsável pela jovem (o pai, o tio, o irmão) era
uma forma de agradecer a família da esposa a honra dada ao rapaz e, além de
ser uma forma de informar aos espíritos dos antepassados que a jovem ia sair
da casa paterna.

Funções Do Lóbolo
Deste modo, as funções do lóbolo eram múltiplas. Em primeiro lugar
representava uma compensação (no sentido lato) e não um ―dote‖ nem um
―preço de compra‖, como de forma errada alguns o têm considerado nos dias de
hoje. Em segundo lugar legalizava a transferência da capacidade reprodutora
da mulher para o grupo familiar do marido, de que passava a fazer parte. Em
terceiro lugar dava carácter legal e estabilidade à união matrimonial.
Em quarto lugar tornava o marido e respectiva família responsáveis pela
manutenção e bem-estar da mulher lóbolada (esposa). Em quinto lugar
legitimava os filhos gerados, que se consideravam sempre como pertencentes à
família que havia pago o lóbolo. Em sexto lugar constituía um meio de aquisição
de outra unidade reprodutora para o grupo enfraquecido.
O Sentido Do Lóbolo
Antigamente o lóbolo não era mais do que uma cerimónia que representava uma união conjugal,
extremamente tradicional. Isso para dizer que era de carácter obrigatório para quem quisesse
construir uma família.
A família do noivo era obrigada a levar para casa da noiva um certo dote, em forma de
―agradecimento‖ por ela ter sido bem tratada e educada. E nesse momento ambas se conheciam e
selavam oficialmente a união conjugal, após satisfeitos os requisitos exigidos pela família da
Lobolada. As exigências variavam de acordo com o que existia abundantemente em uma
determinada época.
Por exemplo, houve alturas em que em Moçambique, na prática do lóbolo as famílias da noiva
exigiam como sinal de ―troca‖, esteiras, pilões, enxadas. Mas com tempo as exigências foram
mudando, passando a ser alianças de ouro.
Depois disso vieram as cabeças de gado (sobretudo no sul de Moçambique), mas com as guerras, o
gado também começou a escassear, daí vieram os produtos das mercearias dos homens de raça
branca e indiana (capulanas, panelas de alumínio, vestidos, fatos…). Mas nisso tudo, os factos
materiais eram apenas uma forma de gratificação que a família do esposo pretendia ceder, pelo
facto da noiva lhes agradar. Observando que muitas delas se casavam virgens, e tendo
conhecimentos de todos os deveres domésticos que uma rapariga educada dentro dos parâmetros
tradicionais deveria ter. Considera-se também que o lóbolo servia de mecanismo protector da
mulher e dos seus filhos em caso de uma fatalidade que a deixe sem recursos. A mulher lobolada
e com filhos, em caso da morte do marido, passa a ser um encargo da povoação onde vive, isto é,
sente-se protegida e para ela a situação do lóbolo é um amparo nas contingências da vida.
Faz-se referência a três outros detalhes que, revelavam o carácter do lóbolo:
A orientação que pendia sobre o grupo familiar da mulher de apresentar uma substituta no caso
de comprovada esterilidade da lobolada;
A obrigação dos irmãos mais velhos ajudar os mais novos na obtenção do lóbolo;
A continuação da viúva no grupo familiar do marido.
Deste modo, ao casar-se, a mulher tornava-se mais do que esposa de determinado indivíduo.
Tornava-se membro da família do marido.
Casamento em Moçambique e Suas Novas Formas De Conjugalidade
Casamento Ou Matrimónio
Actualmente o matrimónio é um vínculo estabelecido entre duas pessoas, mediante o
reconhecimento governamental, cultural, religioso (vide casamento religioso) ou social e
que pressupõe uma relação interpessoal de intimidade, cuja representação arquetípica é
a coabitação, embora possa ser visto por muitos como um contrato.
Entretanto, admite-se que o casamento é, ao mesmo tempo, contrato e instituição social,
pois apesar de possuir a forma de um contrato (sendo na verdade bem mais que um
mero contrato). As pessoas casam-se por várias razões, mas normalmente fazem-no para
dar visibilidade à sua relação afectiva, para buscar estabilidade económica e social, para
formar família, procriar e educar seus filhos, legitimar o relacionamento sexual ou para
obter direitos como nacionalidade.
Um casamento é frequentemente iniciado pela celebração de uma boda, que pode ser
oficiada por um ministro religioso (padre, rabino, pastor), por um oficial do registo civil
(normalmente juiz de casamentos) ou por um indivíduo que goza da confiança das duas
pessoas que pretendem unir-se.
Em direito, é chamado "cônjuge" às pessoas que fazem parte de um casamento. O termo
é neutro e pode se referir a homens e mulheres, sem distinção entre os sexos.
Actualmente com a evolução há novas formas conjugais e uma variação no quanto a
selecção de parceiros é uma decisão individual pelos próprios parceiros ou de uma
decisão colectiva por parte de seus parentes, existindo uma variedade de opiniões que
regulam quais parceiros são opções válidas.
Actualmente em outras sociedades Moçambicanas, um parceiro deve ser escolhido de
um mesmo grupo. Este é o caso de muitas sociedades que praticam religiões
Muçulmanas e outras, na qual a sociedade é dividida em vários clãs totémicos
exogâmicos, como a maioria das sociedades.
Lóbolo nos dias de hoje em Moçambique
Faz-se notar também que o lóbolo sofreu algumas modificações. As regras da economia
monetária degradaram as relações entre os indivíduos e entre os grupos familiares. Onde
outrora se processava uma repartição coerente de mulheres e de alianças, passaram a surgir
competições e ganâncias onde só entra o factor material.
Infelizmente podemos notar que o sentido do lóbolo tem sido assustadoramente deturpado
pelos nossos mais velhos. Sim, eles é que fazem a lista das exigências da família! Mas vamos
focalizar um ponto: Actualmente é muito raro encontrar mulheres que são loboladas virgens, e
com conhecimentos de trabalhos domésticos. Coisa que não acontecia, e se tal acontecesse, a
família da noiva era obrigada a pagar multa, saldando assim a dívida para com a família do
noivo.
A procriação, que permitia ao homem realizar-se orgulhosamente como genitor, continuava a
ser a finalidade principal do casamento, e que a criança se mantinha no âmago da sociedade.
Afirmava-se já uma crescente espontaneidade na selecção sexual, sendo frouxamente
respeitada a autoridade e a opinião dos parentes. Este incremento das tendências
individualistas, acelerado pelo facto de os jovens dependerem pouco do auxílio dos parentes
para conseguir a importância necessária ao lóbolo, não deixa, por vezes, de dar origem a
conflitos.
O lóbolo deixou de ser considerado como meio de aquisição de uma mulher para o irmão da
noiva e, por pressão da economia monetária, passou a ser pago predominantemente em
dinheiro, que é dispendido do mesmo modo que o obtido com os salários ou a venda de produtos
agrícolas. Ao lóbolo passou a ser dada uma utilização meramente especulativa, ansiando os
pais, por pura avidez de lucro, exigir importâncias cada vez maiores.
Hoje, para além de continuar a ser exigido não só pelos pais devido aos lucros que auferem,
mas também pelas mulheres que o julgam como factor de protecção e como uma afirmação do
seu valor pessoal, o lóbolo é também desejado pela maioria dos homens que o consideram como
prova indiscutível dos seus direitos sobre as mulheres e sobre os filhos gerados.
Novas formas de conjugalidade
Nas novas formas de conjugalidade necessário para a união de
uma família de fazer o casamento tradicional, religioso e Político,
e só pode ser celebrado por quem tiver a capacidade matrimonial
exigida por lei.
Neste tipo de casamentos a capacidade matrimonial dos
nubentes é comprovada por meio de processo preliminar de
publicações, organizado nas repartições do registo civil a
requerimento dos nubentes ou do dignitário religioso, nos termos
da lei de registo.
Verificada no despacho final do processo preliminar de
publicações a inexistência de impedimentos à realização do
casamento, o funcionário do registo civil extrai o certificado
matrimonial, que é remetido ao dignitário religioso e sem o qual
o casamento não pode ser celebrado.
O consentimento dos pais, legais representantes ou tutor,
relativo ao nubente menor, pode ser prestado na presença de
duas testemunhas perante o dignitário religioso, o qual lavra
auto de ocorrência, assinando-o todos os intervenientes.
Para a realização do casamento religioso é indispensável a
presença:
Dos nubentes ou de um deles e o procurador do outro;
Do signatário religioso competente para a celebração do acto; e
De duas testemunhas.

Para a realização do casamento tradicional é indispensável a


presença:
Dos contraentes;
Da autoridade comunitária; e
De duas testemunhas.

Para a realização do casamento Civil documentação necessária:


Certidão de nascimento e cédula de identidade originais: certidão de
nascimento com data de expedição recente para garantir que nenhum dos
requerentes tenha qualquer tipo de obstáculo para a habilitação solicitada
-- solicite no cartório onde foi feito o registo de nascimento.
Duas testemunhas: são elas quem irão comprovar a ausência de qualquer
tipo de impedimento para a união. As testemunhas devem ser maiores de
idade e podem ter grau de parentesco (com excepção dos pais que não são
aceitos). Se o casamento for realizado fora do cartório, serão necessárias
quatro testemunhas ao invés de duas. É necessário levar apenas o RG
original.
CONCLUSÃO
O estudo das relações de parentesco dentro da Antropologia ocupa
um lugar privilegiado. Nesta parte tratamos um conjunto de
terminologias técnicas muito frequentemente usadas no estudo do
parentesco em Moçambique. daí, concluímos que se todas as famílias
de certa zona se mantivessem fixadas no mesmo lugar, haveria toda a
probabilidade de entre elas se estabelecerem laços permanentes e se
desenvolver um sentido colectivo muito forte. Mas se, por várias
ordens de razões, uma anárquica mobilidade deslocar as unidades
familiares de um lugar para outro, então as famílias tornam-se
estranhos e cada uma delas acaba por fechar-se sobre os seus
próprios problemas. A história demonstra que as famílias que trocam
a sua pequena aldeia natal por uma grande cidade deixam de viver
em comunidade e passam a integrar uma teia social constituída pelas
pessoas com as quais têm relações mais ou menos consideráveis. O
casal poderá, é certo, preservar o seu relacionamento com um ou dois
amigos de infância e passar a conviver com alguns vizinhos ou
camaradas de trabalho; poderá também manter-se em ligação com os
pais e irmãos dos cônjuges ou com outros parentes dispersos.
FIM
Agradecemos pela vossa
atenção!

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