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Veronica Ussalo Vasco Jonasse

O Parentesco

Curso de Licenciatura em Psicologia Social e das Organizaçoes

Universidade Púnguè

Tete

2021
Veronica Ussalo Vasco Jonasse

O Parentesco

Trabalho cientifica a ser apresenta na cadeira


de disciplina de Antropologia Cultural como
requisito de avaliação no curso de
Licenciatura em Psicologia Social e das
Organizaçoes, orientado pelo:

Mestre: Eduardo Muachissene

Universidade Púnguè

Tete

2021
Introdução

No presente trabalho ira falar-se acerca da contribuição da Antropologia para os estudos da família,
naquilo que ela tem de mais específico, no instrumental que a Antropologia trouxe para pensar a
família diferentemente de outras disciplinas. Explanando em primeiro lugar, a Antropologia para
pensar a "desnaturalização" e a "desuniversalização" da família, desta família que nós conhecemos
na nossa sociedade. A contribuição da Antropologia é ímpar nesta questão, porque, ao tomar como
objeto de estudo sociedades organizadas diferentemente da nossa, foi mais fácil um deslocamento
e um estranhamento em relação à aparente "naturalidade" da família em nossa sociedade.Hoje em
dia, a Antropologia estuda também as diferenças na nossa própria sociedade, mas foi uma
disciplina que se constituiu a partir do estudo de sociedades diferentes da nossa, construindo seu
objeto de maneira distinta da psicanálise e da sociologia.
A contribuição da Antropologia para o estudo da família está principalmente na discussão sobre o
parentesco. É sua contribuição básica. O parentesco é um objeto fundamental da Antropologia,
próprio da sua constituição como disciplina, porque as sociedades tribais, objeto de seu estudo,
eram sociedades sem estado e se regulavam pelo parentesco. As monografias clássicas da
Antropologia acabam sendo monografias sobre o parentesco. Os laços de parentesco são o elo
fundamental das sociedades tribais, o que rege suas relações sociais. Assim, o parentesco tornou-
se um problema básico para a Antropologia.

O parentesco, entretanto, não é a mesma coisa que a família. Há uma diferenciação importante, O
parentesco e a família tratam dos fatos básicos da vida: nascimento, acasalamento e morte. Mas a
família é um grupo social concreto e o parentesco é uma abstração, é uma estrutura formal. Isto
quer dizer que o estudo do parentesco e o estudo da família são coisas diferentes: o estudo da
família é o estudo daquele grupo social concreto e o estudo do parentesco é o estudo dessa estrutura
formal, abstratamente constituída, que permeia esse grupo social concreto, mas que vai além dele.

O que quer-se enfatizar aqui é a contribuição dos estudos de parentesco para os estudos da família,
para pensar este grupo social concreto que tomamos como objeto de estudo.

Para a Antropologia, esses fatos básicos da vida, que são o objeto dos estudos de parentesco, são
comuns a todos os animais. Todo mundo nasce, se acasala e morre. O que é específico do ser
humano é que o homem escolhe a forma como ele vai fazer isso. Por mais que, seja dentro de
limites estreitos, social e culturalmente dados, o homem escolhe como vai realizar estes fatos
básicos da vida e atribui um sentido a suas escolhas. O que os estudos de parentesco fazem é
justamente analisar o que o homem faz com estes fatos básicos da vida, por que ele faz, por que a
escolha de uma alternativa em detrimento da outra e que implicações tem esta escolha, como
mostrou Robin Fox (1986).

A discussão em torno do parentesco deu-se através da decomposição dos elementos que constitue m
o sistema de parentesco para analisar como se articulam esses elementos em cada sociedade e por
que se articulam dessa maneira, de acordo com as características da organização social.

Os sistemas de parentesco são, do ponto de vista antropológico, considerados como estruturas


formais, que resultam da combinação de três tipos de relações básicas:
a) a relação de descendência, que é a relação entre pai e filho e mãe e filho;
b) a relação de consangüinidade, que é a relação entre irmãos e
c) a relação de afinidade ou seja, a que se dá através do casamento, pela aliança. Essas três
relações são básicas e o estudo do parentesco é o estudo da sua combinação. Essas relações
são a estrutura formal universal. Qualquer sociedade forma-se pela combinação dessas três
relações. A variabilidade está em como se faz essa combinação.

A Nomenclatura De Parentesco Classificatória

Aquela em que se emprega indistintamente o mesmo termo para designar a um grupo de pessoas
com quem se tem um laço de parentesco. Por exemplo, quando se aplica o termo “mamã” para
designar à mãe biológica, à irmã da mãe, ou à madrasta. Também estamos perante a nomencla tura
de parentesco classificatória quando se trata como irmão, ao próprio irmão biológico, ao primo ou
ao filho de uma madrasta.

Clã: grupo de pessoas dotado de nome e de descendência unilateral, isto é, que deriva de um
ancestral comum e que segue regras de descendência matrilinear/uterina ou patrilinear/agnática e
jamais de ambas simultaneamente.

Os clãs do sul de Moçambique que seguem a descendência agnática ou patrilinear são designados
patriclãs, enquanto os do norte do país que se orientam pela descendência uterina ou matrilinear
denominam-se matriclãs.

Família: no sentido mais restrito é o conjunto de pessoas que vivem sob o mesmo tecto. Mas no
sentido lato, a família é o conjunto das sucessivas gerações descendentes de antepassados comuns;
já na linguagem do senso comum costuma dizer-se que a família é a célula básica da sociedade.

Por família, também, pode-se entender como o conjunto de parentes por consaguinidade ou por
aliança ou afinidade.
No entanto, existe um tipo de classificação da família que se vale dos seguintes critérios: regras de
residência, número de cônjuges, relação de poder e parentesco.

Quanto às regras de residência, a família pode ser:

Patrilocal: aquela que estabelece uma residência conjunta entre um casal e os pais do homem.
Geralmente nas sociedades meridionais de Moçambique há uma tendência de as famílias
estabelecerem residências patrilocais devido à estrutura e natureza do poder que se centra nas mãos
dos homens.

Matrilocal: aquela que estabelece residência conjunta entre o casal e os pais da mulher. Com
frequência acontece nas sociedades setentrionais de Moçambique onde há uma tendência de as
famílias estabelecerem residências matrilocais.

Neolocal: é a família cujo casal tem uma residência independente da dos pais de ambos os
cônjuges. Este tipo de residência é mais frequente em sociedades urbanizadas onde o estilo de vida
exige uma autonomia das famílias.

Quanto ao número de cônjuges, a família pode ser:

Monogâmica: quando a união é de um só homem com uma só mulher.

Poligâmica: é a união de um só marido com várias esposas ou de uma mulher com vários maridos.

Poligínica: é a família em que o homem é quem pratica a poligamia, isto é, a união de um marido
com várias esposas.

Poliândrica: é a família em que a mulher é quem pratica a poligamia, ou seja, a união de uma
mulher com vários esposos.

Quanto à relação de poder, a família pode classificar-se em:

Patriarcal ou patrilinear: é a família cujo poder é exercido pelo marido. As famílias patriarcais
abundam no sul de Moçambique, sendo que o patriarcado como uma relação de poder incide
também no casamento, na sucessão, na herança e na estrutura social das famílias.
Matriarcal ou matrilinear: é a família cujo poder é exercido pela mulher. As famílias matriarca is
abundam no norte de Moçambique, sendo que a mulher exerce o poder indirectamente através do
seu irmão do sexo masculino. É esta a quem cabe zelar pela orientação da vida dos filhos da irmã,
cuidar pela iniciação desses filhos e legar-lhes a sua herança em caso de morte. O papel do pai
biológico é quase que passivo, pelo que quando o filho porta-se mal ou comete uma infração, o
pai remete a solução dessa situação ao tio materno do filho, isto é, ao irmão da mãe do filho.

Quanto ao parentesco, a família pode adquirir as seguintes classificações :

Nuclear: é a família constituída pelo marido, esposa e os filhos resultantes dessa união, todos
morando juntos numa residência neolocal. A família nuclear pode ser de orientação, aquela da qual
cada um de nós proveio e a família nuclear de procriação, que é a que cada um de nós funda ou
estabelece.

Alargada ou extensa: este tipo de família constitui-se por um casal, os filhos e os familiares
colaterais (sobrinhos, netos, primos, irmãos, etc.), todos vivendo numa mesma residência
patrilocal, matrilocal ou neolocal.

Reconstituída: composta por um homem divorciado ou viúvo com os filhos e uma mulher (a
madrasta), ou por uma mulher divorciada ou viúva com os filhos e um homem (o padrasto), ou
ainda, por um homem e uma mulher, ambos divorciados ou viúvos vivendo juntos com os
respectivos filhos.

Monoparental: aquela composta só pelo pai solteiro ou viúvo e os filhos, ou só pela mãe solteira
ou viúva e os filhos.

Parentesco
O parentesco é universal no sentido de que não existe uma sociedade desprovida de um sistema de
parentesco, uma vez que cada sociedade define quem é parente e o grau de parentesco que cada
indivíduo desempenha.

Os estudos do parentesco desenvolveram-se segundo Revière (1995: 61) em três etapas sucessivas;
a primeira etapa em 1861 com, o jurista Sir Henry Maine quando publica a obra pioneira Ancient
Law que abre caminho as reflexões dos evolucionistas, uma liga política das famílias soberanas
teria invocado uma genealogia comum, para elaborar os primeiros grupos de descendência,
ilustrados, entre outros, pelas gentes romanas. A segunda etapa que começa a partir da controvérsia
entre Rivers e Kroeber (1909) a propósito de terminologias de parentesco e a distinção operada
por Rivers entre os laços de sangue (kinship) traduzido por “descendência” referido ao sistema
domestico, e a pertença da linhagem (descent) traduzido por filiação. E a terceira etapa em 1949,
o aparecimento simultâneo de três obras que renovam o conjunto das perspectivas sobre as
estruturas do parentesco.

No contexto das sociedades o parentesco desde o princípio constitui uma construção social de
forma a regrar os indivíduos. Bernardi (1974:260) “ principio o parentesco surge no fundame nto
biológico radical e o significado social que emergem dos factos da vida, ou seja, as relações
sexuais, em ordem à geração e que os transformam em causas eficientes da estrutura social”. Estes
princípios vem para regrar a ordem dos comportamentos e das relações entre os indivíduos ao
passo que partem da primeiramente das condições favorecidas pela natureza no sentido da divisão
dos sexos e das suas relações.

Entretanto, nas relações de parentesco as distinções feitas entre homem e mulher, para alem de
indicar tarefas dão ênfase a papéis específico de cada um (divisão de trabalho), assim como
estabelecer uma linha de descendência ou como meio de aliança dentro das relações mantidas entre
eles.

Importância do Parentesco

O estudo do parentesco na antropologia é considerado uma aprendizagem tão necessária como o


estudo da lógica na filosofia ou do nu na arte (Bernardi, 1974: 258). Para a compreensão de
qualquer aspecto da vida social de uma determinada sociedade é essencial conhecer a organização
de parentesco. Contudo, as relações de parentesco estruturam (regulam) todas as relações sociais
e de produção: a vida social, económica, religiosa, politica e as sucessões; entretanto não se pode
compreender diferentes sociedades sem antes olhar-se para as formas de organização do próprio
parentesco, pois este constitui a base para se compreender os outros elementos (cultura,
comportamentos, sucessões, etc.) que compõem a sociedade. Brown e Forde (1950) afirmam que
“um sistema de parentesco pode ser considerado como um arranjo que permite as pessoas viverem
juntas e cooperarem umas com as outras segundo a ordem social”.

O parentesco na vida social tem um papel importante pois confere ao indivíduo a identidade social
perante ao grupo, de forma que este seja reconhecido pelos outros como
membro pertencente ao grupo, isto é, dentro de uma sociedade pode definir a sua posição por meio
de termos de parentesco com qualquer pessoa com quem se encontre a tratar socialmente, quer
pertença á própria tribo quer pertença a outra. Para Rivière (1995:69) “o grupo de parentesco supõe
um ou diversos critérios de pertença, assim como normas comuns, e ligações sociais activas”.

O parentesco constitui uma forma de organização da vida humana, na qual se concentram relações
de laços entre dois indivíduos partindo de uma escolha recíproca, de troca de interesses comuns
que podem ser sexuais ou de trabalho e outros. Segundo Bernardi (1974:258) “ estas formas
associativas que emanam das relações para a geração e a sua continuidade da espécie, constitue m
o parentesco”. Portanto, o parentesco na sua constituição é muito vasto e de difícil definição, pois
abarca um conjunto de elementos que necessitam antes de mais uma compreensão. Para Bernardi
(1974:259) “o parentesco é um vínculo que liga indivíduos entre si em vista da geração e
descendência”.
Rivière (1995:63) define “ o parentesco como um conjunto de laços que unem geneticame nte
(filiação, descendência) ou voluntariamente (aliança, pacto de sangue) um determinado número de
indivíduos”. Contudo, de dentre as várias definições existentes sobre o parentesco, o que pode
constatar que o parentesco é vasto e vai alem da consanguinidade, aliança, afinidade, relações
biológicas e sexuais

Tipos De Parentesco

Dependendo do tipo de sociedade o parentesco pode adquirir-se por via de consanguinidade, por
afinidade ou por adopção.

Parentesco Por Consanguinidade

Este remete a uma relação biológica dos progenitores que se manifesta na descendência
genealógica. Esta liga indivíduos singulares por via natural, onde atribui representações dos laços
de parentesco um poder de coação e de normatividade (Bernardi 1974:259 e Rivière 1995:63).
A consanguinidade além da sua formação natural, tem um dever de ser reconhecido socialme nte,
como forma de dar aos indivíduos uma integração e um estatuto aos indivíduos dentro do grupo
pertencente, assim como estruturar os laços existentes entre os mesmos; por exemplo a adopção
de uma criança.

Entretanto, os progenitores nem sempre desempenham os papéis de pai e mãe, mas eles detêm um
papel de pais sociais, visto que estes ascendem a este indivíduo não tem uma ligação natural,
contudo a sociedade reconhece os seus papeis de pais adoptivos apesar de não existir uma ligação
consanguínea.
Parentesco Por Afinidade

Esta é de ordem social que se baseia nas normas sociais conhecidas ou por lei. O parentesco por
afinidade esta relacionado com o matrimónio, mas por laços de afinidade entre duas pessoas no
processo de socialização entre os indivíduos. O processo de afinidade é durável por muito tempo
até chegar a definição de parente; contudo, cada indivíduo vai determinar quem é parente de acordo
com o grau de afinidade existente.

Sistemas De Parentesco Em Moçambique

Generalidades
O parentesco é marcado por um duplo caráter, ao mesmo tempo em que se mostra diretamente
relacionado a aspectos da reprodução biológica, seus modelos representam expressões cultura is.
Desse modo, factores como a necessidade de parceiros de sexos diferentes mostra o imperativo
biológico da reprodução, ao passo que, as possibilidades de adoção ou mesmo das tecnologias
modernas de reprodução assistida realçam os subterfúgios culturais que dão margem à fuga daquilo
que se poderia entender como uma imposição da natureza.

O estudo do parentesco era então, o método científico para tal empreendimento, caracterizado pelo
rigor em suas análises. Foi Lewis Henry Morgan (Cf. Bonte e Izard: 2004) quem primeiro se
dedicou a tal questão, em um livro intitulado Systems of Consanguinity and Affinity of the Human
Family (Sistemas de Consanguinidade e Afinidade da Família Humana), publicado no ano de
1871. O que se estabelecia então eram dois sistemas principais de terminologias. O primeiro foi
chamado de sistema descritivo e dizia respeito aos casos em que os títulos de parentesco fundava m-
se sobre uma combinação de um pequeno número de termos simples.

O parentesco é assim o resultado da conjugação de dois princípios, afinidade e consanguidade. E


o seu estudo deve começar pelas categorias do quotidiano doméstico, ou seja, as designações
adotadas perante uns em relações aos outros.

O relevo que, de um modo geral, se dá ao parentesco nas sociedades elementares pode em algumas
delas abrangir exclusivamente os parentes da linha paterna, e as outras exclusivamente as da linha
materna.

Tipos De Sistemas De Parentesco

Existem três tipos de sistemas de parentesco:

Sistema patrilinear;

Sistema matrilinear;

Sistema bilateral.

Sistema Patrilinear

No sistema patrilinear, os homens herdam do pai os bens e os títulos honoríficos. Só se reconhecem


como parentes os que o são pela linha paterna, não podendo os eventuais contactos com a família
materna atingir de qualquer forma a sua pertença ao grupo do respectivo pai. A consciência
colectiva deste grupo tem a sua sustentação em cerimónias e ritos que uns em tão estreitamente os
respectivos membros que a entreajuda chegam a manifestar-se em partilha de responsabilidades
no caso de crime.

Os membros de uma mesma classe familiar não vivem, todavia, conjuntamente. A filha casada vai
geralmente residir no seio do tronco familiar do marido, embora a sua prole possa voltar ao grupo
familiar materno. E é usual chamar família alargada ao conjunto composto por homens de
determinada estirpe e por mulheres pertencentes a estirpes diferentes e respectiva prole. É mais
verificado nas zonas Sul e Centro do país.

Sistema Matrilinear

No sistema matrilinear, cada indivíduo pertence à família da mãe, o que significa, em concreto,
que o homem não pode transmitir os seus bens e os seus títulos honoríficos aos seus filhos varões,
mas sim aos varões mais próximos da linha materna, designadamente um tio ou um primo. Os seus
próprios filhos, que não pertencem à estirpe, não poderão suceder-lhe, mas recebeu, em
contrapartida, a herança dos seus tios maternos.

Contudo, o sistema matrilinear não se identifica com o de matriar-cado, já que não confere às
mulheres o poder de direcção e superintendência dos negócios, nem qualquer autoridade política.
Apenas diz respeito às regras de transmissão dos bens. Nos vários regimes ou sistemas de
parentesco os papéis a desempenhar variam consideravelmente no seio da família, sobretudo no
que respeita à postura perante o pai.

No sistema matrilinear, o irmão da mãe ultrapassa visivelmente o pai na orientação da educação


da prole, mostra forte intransigência e dureza, enquanto o pai se revela benevolente e brando,
chegando mesmo a assumir a defesa dos jovens perante o seu tio. Em regime patrilinear, tudo
funciona diversamente: o pai mostra-se autoritário e severo e a mãe compreensiva e terna.
O sistema matrilinear faz-se sentir mais na região Norte do país.

Sistema Bilateral

No sistema bilateral, os papeis que cada um desempenha no contexto do lar são diferentes de
qualquer destes, o pai representa, de um modo geral, a força orientadora da família, e os dois
grupos de tios paternos e maternos são mais indulgentes do que ele, não se sentindo diferença
significativa entre o comportamento dos irmãos do pai e da mãe.
Para proteger a estrutura da família nuclear e para preservar o conjunto de parentes nos vários
sistemas, em todas as sociedades foram definidas regras de constituição da própria família, assim
se instituindo a união conjugal, o casamento.
O sistema bilateral é aquele que tem a dupla descendência, é o mais flexível e talvez mais razoável
porque deixa aos indivíduos certa liberdade na escolha das suas relações familiares. Encontra se
muita das vezes nas sociedades muito complexas como as de caçadores, pescadores ou
cultivadores de frutos.

Contudo dizer que esses sistemas na atualidade não se fazem sentir com maior relevância devido
a aculturação de outros povos ou o consumo de culturas exteriores.

Mas existem algumas regiões que ainda exercem essa prática ou usam esses tipos de sistemas como
é o caso das zonas rurais de Inhambane.

Diversidade Cultural

Generalidades
A diversidade, conforme Takahashi (2006, p.3), é a característica básica de formas de vida e das
manifestações de cultura na terra. Ela pode ser biológica ou cultural. De acordo com o autor citado,
há três tipos de diversidade cultural: genética, linguística e cultural propriamente dita .
A diversidade cultural genética refere-se, de acordo com o mesmo autor, “às variações e
similaridades genéticas entre as pessoas” (TAKAHASHI, 2006). A diversidade cultural linguís tica
aponta para a existência de “diferentes linguagens e sua distribuição em regiões” (TAKAHASHI,
2006); a diversidade de culturas é o “complexo de indivíduos e comportamentos dentro de um
contexto histórico comum” (TAKAHASHI, 2006).

A questão da diversidade cultural deve ser discutida em simultâneo com a noção das “diferenças ”.

As diferenças culturais podem variar consoante a etnia, a raça, a idade, a religião, o gênero, à
região geográfica, visões de mundo, desejos, valores, etc.

Os estudos sobre a diversidade cultural podem ser enquadrados no âmbito dos estudos culturais e
pós-coloniais. No entanto, autores como Costa (2006, p. 1-3) consideram que os estudos pós-
coloniais e os estudos culturais, nos quais se integram os relacionados com a diversidade cultura l,
multiculturalismo, intercultural idade e a transcultural idade, não podem ser considerados uma
matriz teórica, mas apenas uma variedade de contribuições que aparecem como “uma referência
epistemológica crítica às concepções dominantes da modernidade”. (COSTA, 2006, p.

Diversidade Cultural em Moçambique

A sociedade moçambicana é multilíngue, pluriétnica, multiracial e socialmente estratificada.


Existem em Moçambique várias formas de organização social, cultural, política e religiosa; há
várias crenças, línguas, costumes, tradições e várias formas de educação.

A principal característica do patrimônio cultural moçambicano é a sua diversidade. As


manifestações e expressões culturais são ricas e plurais, sobretudo as ligadas às camadas
“populares”.
A língua oficial em Moçambique é a língua portuguesa, mas ela é uma língua minoritária que foi
escolhida para oficial por razões políticas relacionadas com a unidade nacional e com o fato de
não haver à altura da Independência nenhuma língua que estivesse suficientemente “modernizada ”
para ser capaz de veicular a Ciência, a Tecnologia e ser capaz de servir de língua franca em todo
o território nacional.

Por um lado, sobretudo, as camadas jovens das zonas urbanas, por influência da globalização e da
adesão às novas tecnologias de informação e comunicação, promovem mudanças notórias de
costumes e hábitos culturais (por exemplo, ao nível do vestuário, da alimentação dos gostos
musicais, etc.). Ocorre também a queda de identidades fortes, de grandes ideologias, projectos e
utopias; proliferam as dependências às modas, ao consumismo, aos luxos desmedidos, ao
esbanjamento, etc.
Conclusão
Terminado o desenvolvimento do trabalho, entendeu-se que o O parentesco é um objeto
fundamental da Antropologia, próprio da sua constituição como disciplina, porque as sociedades
tribais, objeto de seu estudo, eram sociedades sem estado e se regulavam pelo parentesco. As
monografias clássicas da Antropologia acabam sendo monografias sobre o parentesco. Os laços
de parentesco são o elo fundamental das sociedades tribais, o que rege suas relações sociais. Assim,
o parentesco tornou-se um problema básico para a Antropologia.

O parentesco, entretanto, não é a mesma coisa que a família. Há uma diferenciação importante, O
parentesco e a família tratam dos fatos básicos da vida: nascimento, acasalamento e morte. Mas a
família é um grupo social concreto e o parentesco é uma abstração, é uma estrutura formal. Isto
quer dizer que o estudo do parentesco e o estudo da família são coisas diferentes: o estudo da
família é o estudo daquele grupo social concreto e o estudo do parentesco é o estudo dessa estrutura
formal, abstratamente constituída, que permeia esse grupo social concreto, mas que vai além dele.

Para a Antropologia, esses fatos básicos da vida, que são o objeto dos estudos de parentesco, são
comuns a todos os animais. Todo mundo nasce, se acasala e morre. O que é específico do ser
humano é que o homem escolhe a forma como ele vai fazer isso. Por mais que, seja dentro de
limites estreitos, social e culturalmente dados, o homem escolhe como vai realizar estes fatos
básicos da vida e atribui um sentido a suas escolhas. O que os estudos de parentesco fazem é
justamente analisar o que o homem faz com estes fatos básicos da vida, por que ele faz, por que a
escolha de uma alternativa em detrimento da outra e que implicações tem esta escolha, como
mostrou Robin Fox (1986).
Referências Bibliográficas

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