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carloscajef@gmail.com
Abstrat
This article proposes the debate on the social policy of education in the view of
historical-dialectical materialism, with reflections in rural. The text presents arguments
on the situation of access to this right from the beginning of the 20th century to the
present day. A periodization that leads us to understand the issues outlined in history
and that have had determinations for the current Angolan context, with regard to the
social policy of education. The text presents the achievements resulting from the
proclamation of independence, such as: the autonomy of the State and greater access
to education by the subalternized classes, especially the rural one, in which many in
the colonial period were treated by indigenous peoples. In addition to these
achievements are presented some bad learned from the colonial bourgeoisie, such as:
social control from school and the lack of equity in the distribution of this social good,
which is not only by people, but also by the regions, and in this the populations that
live in rural areas end up having many difficulties in the decent access and production
of the skilled labor.
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É mestrando em Serviço Social e Política Social pelo ISUP João Paulo II, da UCAN. É licenciado em
Sociologia pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto.
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Artigo elaborado para server de avaliaçáo na disciplina de Tendencias Teorico – Metodológico no
Servico social II, no Programa de Mestrado em Serviço Social e Político Social no ISUP JPII da UCAN.
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INTRODUÇÃO
A Política Social de ensino em Angola que se reflete hoje não está isolada de
determinações históricas, a fase colônia, a do período socialista acabaram
contribuindo significativamente no todo pacote que constitui o sistema nacional de
ensino, desde a sua gestão, atravessando a estruturas e a própria política em si.
Para termos uma ideia, o período da colonização sobre liderança de Norton de
Matos, Governador da província de Angola, fez-se escola a ideia segundo a qual a
política de ensino deveria ser sobretudo um meio através do qual os indígenas
ascendessem à civilização: “educar, instruir indígena era o objectivo primeiro e último
da colonização e constitui no seguinte: na necessidade de instruir o indígena que a
educação se faz pelo trabalho e para o trabalho. Por isso, ao ensino a ministrar devia
excluir-se na sua quase totalidade as matérias consideradas académicas” (Cruz,
2005, pp. 125-126).
Ser civilizado era renunciar toda cultura material e imaterial africana e adoptar
a cultura emergente, a cultura europeia, a cultura do colonizador. Para Cruz (Cruz,
2005, p. 126) “este era o modo mais fácil de os manter subordinados, amestrados e
naturalmente incapazes de ganharem consciência da sua situação. Por isso, a
apologia das escolas-oficinas como garantia de prevenção contra eventuais
desordens, levantamentos, e como meio de capitalização”.
Como podemos notar, não é de agora que em Angola, quem detém o poder
acaba usando as instituições como instrumentos de dinamização da ideologia que
defende. E é neste sentido que Althusser citado por Gomes (2003, p. 51) denomina
várias instituições como aparelhos ideológicos do Estado, a citar: “as igrejas, as
escolas, famílias, o aparato legal, o sistema político, os sindicatos, os meios de
comunicação ...”.
A relação entre o Estado colonial e a Igreja sempre foi tão forte desde a
chegada do colono e no decorrer de toda dominação colonial, que os conteúdos
religiosos eram levados em conta durante a formação da classe africana. Como
exemplo desta relação, Monteiro (2016, p. 109 e 154) ao abordar sobre a origem do
Serviço Social em Angola, nota que ele surge como “filho de um pai e provedor Estado
no casamento com a mãe e mestra Igreja Católica ... com a criação do Instituto Pio
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XII, para formar Assistentes Sociais que prosseguissem o caminho encetado
anteriormente ... que completassem de alguma maneira o programa de psicologia, ou
seja, conscientizar e prestar serviços que assegurassem os objectivos de Portugal
colonial.
Todos estes acontecimentos foram resultantes da forma como a sociedade
colonial estava estruturada. Segundo Carvalho (2008) a estrutura da sociedade estava
estratificada em classe: colonizadores, assimilados e indígenas, isto determinava a
forma como a estrutura se distribuía. Para o autor, um dos factores que determinava
a estratificação social era o grau de instrução, que era priorizado para a classe
colonizadora3.
A nossa autora Cruz (2005, p. 126) foi feliz ao citar o artigo nº 43 do IX Acto
colonial (decreto de lei nº 22 465 de 1933) que não evocava uma diferenciação no
acesso ao ensino, mas que durante os governos de Adriano Moreira, Vicente Ferreira
e de Silva Rego poderia ser notado “distinção entre os tipos de ensino a ministrar aos
indígenas e aos cidadãos (vulgo brancos). Este último... contemplados com um ensino
intelectualizante, contrário ao manual, ao mecânico obsequiado aos indígenas”. Isso
ajuda-nos a perceber que o problema de refletir a teoria à prática é antigo, e que não
é apenas pelo documento que se pode anular todas as formas de desigualdade no
acesso ao ensino, e outros direitos, mas sim pelo interesse no bem governar.
O contraste no acesso ao ensino entre negros, brancos e mestiço, que relegava
o indígena à aprendizagem baseada no conteúdo religioso, ou seja, a própria religião
era o ensino (Cruz, 2005), é equiparado a ideia de universalidade do ensino que é
previsto na actual lei de base da educação (Lei 17/16) no seu artigo 9º. Citamos
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Outros factores de diferenciaçao social que o autor cita sao: proveniencia social, cor de pele, meio
em que individuo cresceu, identificação étinica, posiçao socio-profissional, salario e outros
rendimentos, meio e local de residencia.
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Era suposto que este acesso universal do ensino deveria ser o ensino
transformador, emancipatório, o ensino que os pertencentes à classe dominante ao
terem acesso deveria ajuda-lo a despertar a consciência da necessidade de mudança.
O princípio da gratuitidade no ensino do Estado independente aparece na
primeira Lei afecta ao ensino (Lei nº 4/75 de 09 de Dezembro de 1975), que embora
expressar o princípio de igualdade de acesso ao ensino, sua continuidade,
gratuitidade, e sendo alargada para todos, que levou as escolas serem designadas
como “escola do povo”. Era difícil atingir o sucesso devido à explosão da escolar
(número elevado de pessoas em idade escolar) que contrastava com as poucas infra-
estruturas escolares, falta de materiais didáticos, tanto como a carência de
professores, e de professores qualificados, apesar dos recrutamentos realizados na
altura (Vieira, 2007).
Segundo o nosso autor Vieira (2007) a maioria dos professores (52%), até o
ano de 1977, apenas tinham a 4ª classe, uma classe não recomendável para lecionar,
cabalmente. A rigor, apenas 7% dos professores tinham condições objectivas
(qualificação e nível) para leccionar.
Contrariedades pós-independência
Deste modo, até a esta altura poderíamos compreender por se tratar de um
Estado recém independente, e que a nova elite que procurou conduzir os destinos do
povo sozinha, não tinha condições necessária para aguentar a demanda, sendo que
a maioria dos negros que estudavam naquela altura, não estudavam para reflexão,
mas sim para executar. Era necessário criar um universo temporal para que fossem
formados professores e outros quadros, para acudir as diversas formas de expressão
da questão social.
Mas passado quase meio século, os problemas continuam, os professores
continuam serem poucos, desqualificados, com emprego e salário precário. Tanto
como, o sector da educação continua se destacando como dos menos privilegiados,
e o rural (na era colonial chamada por quimbo ou musseques) continua a enfrentar o
mesmo problema, como: a falta de infra-estruturas escolar, falta de acesso dos
materiais, falta de professores, e outros.
Por isso, pensámos que, ao contrário do que a população na década de 70
(setenta) pensava, que, “a proclamação da independência poderia significar a garantia
do bem-estar para população em geral”, o que ocorreu foi o contrário, e não durou
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muitos anos para que isso acontecesse. A proclamação da independência significou
uma inversão do sentido de expressão das desigualdades sociais, e mudança do
promotor das vulnerabilidades sociais da população. O homem negro, que na época
colonial agia como marionete, obedecendo as ordens do colonizador branco, para
denigrir e combater o seu irmão da mesma terra, e mesmo tom de pele. Com a
independência, e com a autonomia que este acto o concedeu, passou a ter a liberdade
em criar as políticas e executa-las dentro dos interesses do grupo que pertence.
É neste sentido que Manuel Jorge citado por Vieira (2007, p. 110) conclui,
dizendo que, “se as autoridades portuguesas não hesitavam em utilizar os livros
didáticos, o MPLA não hesitou em fazer o mesmo. Na óptica dos novos detentores do
poder, o domínio do partido único sobre o conjunto do corpo social passava
necessariamente pela unidade ideológica da nação”. A nova elite instalada após a
independência, pelas actitude no modelo de governação, demostra ter aprendido bem
com o colonizador, a arte da exploração e da governação sem foco para os reais
problemas sociais, como os que estão ligados à educação, com destaque no rural.
A nova elite, que permanece até hoje, que apenas mudou os actores
(idealizadores e executantes) da política, após cerca de 50 anos continua sem
perceber que a escola é um espaço de exposição livre, de debate, de inovação, de
liberdade. Por isso, ela continua mesmo tendo os seus manuais com conteúdo
tendencioso, politizados e ideologicamente preparados.
Durante o Estado de Partido Único os manuais traziam
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Esta era uma forma de criar um sentimento de amor aos heróis do MPLA e de repulsa
e ódio aos inimigos da revolução...”. E, hoje, os conteúdos voltados às questões
sociais corresponde a um discurso propagandearia, em que o professores, em muitos
casos, destacam-se como facilitadores deste processo.
A forma como se traça a política social da educação em Angola é um reflexo
fiel de que ela é pensada e executada como um instrumento de legitimação do poder
da burguesia e de justificação da hegemonia da elite no poder. O que acontece é
semelhante à afirmação de Althusser quando citado por Gomes (2003, p. 50), dizendo
que, “a escola inculca a ideologia como se não fizesse.
Ela é concebida como um instrumento de reprodução do sistema capitalista”.
Embora não existirem influências profundas do capitalismo no rural, mas o estudante
formado nas condições de ensino que o rural oferece, sendo o próprio sistema em si
não libertador e não progressista, este, torna-se um potencial explorado e alienado na
venda da sua força de trabalho na cidade/rural.
As políticas sociais deveriam, em rigor, obedecer ao que a literatura aponta, tal
como defende Montano (2011, p. 71), elas “... orientam o esforço social para a
obtenção de um aumento nos níveis e qualidades de vida da população, contribuindo,
dessa forma, para a diminuição das desigualdades sociais”. E a educação de
qualidade pressupõe em garantia da qualidade de vida das pessoas.
Com a proclamação da independência foram nacionalizadas todas as
Empresas e instituições, e ao ser constituído um Estado de Partido único, estava
lançada a ideia do Comité Central do Partido MPLA determinar todas as linhas de
orientação no quadro da gestão pública. A promulgação da Lei nº 4/75 de 09 de
Dezembro de 1975, refletia essa nacionalização do ensino, significando também o
controlo absoluto de todos os níveis do ensino no Estado independente (Henderson
citado por Vieira, ibidem)
Para Marx citado por Gomes (2003, p. 47) entende a educação como peculiar
no sentido que “de um lado, é preciso que as circunstancias sociais mudem para que
se estabeleça um sistema adequado de educação, mas, de outro lado, é necessário
um sistema de educacional para produzir-se a mudança das circunstancias sociais”.
São variáveis interdependentes que nos remete a um grande desafio como sociedade.
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As circunstâncias em Angola não favorecem para uma educação adequada para a
população rural, de igual modo não existe um sistema educativo no rural, propício para
transformar a realidade.
Revisitando o estruturalismo marxista de Althusser que defende que, a escola
é um aparelho ideológico do Estado, assemelhando-se a outro estruturalista marxista,
Pierre Bourdieu citado por Bonewitz (1998) que olha para a escola como uma
instituição não neutra, mas carregada de filosofia parcial e que, esta filosofia (cultura)
é a cultura da classe dominante. Nota-se que a Escola, por uma gestão elitista, não
trabalha para a emancipação da classe subalterna, pelo contrário, está programada
para atrasar o crescimento desta classe.
As transformações sociais ocorridas no mundo com o advento da modernidade
tornaram as sociedades mais desigual, e que esta desigualdade também se reflete no
acesso aos bens produzidos socialmente nas relações sociais entre as pessoas. A
política de desigualdade social, promovida pelo capitalismo, levou as elites criarem
condições favoráveis para os membros da sua classe na disputa no mercado. É o que
acontece com o acesso ao ensino, todos podem ter, mas terão em condições
diferentes. E, certamente, esta diferença qualitativa poderá condicionar o ser social
nofuturo, a não ser que surja outros fenômenos que venham contrariar este sentido.
Esta inexistência de equidade no ensino é o vem condicionando o avanço de
várias pessoas e de pessoas da sua realidade. A população habitante no rural,
enfrenta estes desafios, impostos pelas contrariedades da modernidade, que quando
nos leva a olhar pelos pressupostos legais, apenas leva-nos a concluir que se tratam
de despotismos, sofismas e discursos falaciosos. Porque a igualdade que muito se
fala, por que governa, é ilusório o seu cumprimento, num modelo de gestão selectiva.
Tomemos como exemplo o artigo 21º da Constituição da República de Angola
(2010) sobre tarefas fundamentais do Estado, na sua alínea i, que prevê que o Estado
deve
E esta ideia é sustentada pelo artigo 9º da lei de base da educação (Lei 17/16) prevê
a universalidade do ensino, como citamos acima. E como vimo, trata-se de um
princípio previsto em todos os momentos do Estado positivo de Angola, mas ainda
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assim nunca aplicado. Uma questão que desde sempre tornou possível o acesso para
uma minoria (grupo dominante/elite burguesa e no poder) e uma esmagadora maioria
que se sente bloqueada ou impedida, excluída socialmente de ter acesso ao ensino
de qualidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sendo que muitos aspectos ainda precisam ser aprofundados, e que, importa
dizer que, não temos este ponto como conclusão, mas sim como constatação, que,
partindo de uma perspectiva do materialismo histórico-dialético, ainda por se
aprofundar melhor, a política social da educação em Angola, desde a sua
determinação como província até a independência, sempre serviu de instrumento de
dominação e de manutenção da classe subalterna, como a que vive no rural, a um
nível de significativo de vulnerabilidade.
Desde sempre as leis positivas do território angolano conceberam a educação
como um direito universal, constatado a partir dos conteúdos descritos nos diplomas
legais. Mas a falha sistemática na sua operacionalização teve sempre um ponto
assente. E que, embora ser possível o acesso, este nunca foi de qualidade para todos,
sendo possível para filhos/pertencentes de pertencentes à elite/burguesia, e
impossível ou bloqueado para as populações subalternas, tal como a literatura
científica e a realidade manifesta nos leva a compreender.
O ser social do rural, como produto da história, determinado pelos fenômenos
ocorridos, enfrenta as expressões da questão social, nunca antes vista pela geração
mais antiga, pertencentes à sua classe. Sendo cada vez mais coisificado e alienado,
e o seu estado de vulnerabilidade sistemática vem convertendo a sua mão de obra,
em condições cada vez mais barato, na relação social de produção capitalista. Porque
a elite não cria condições educativa com a mesma condição para esta classe, e das
poucas que existem são desprovidas de outras políticas sociais complementares,
como transporte, habitação, emprego, saúde, energia e agua, etc.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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