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Mercia Roberto Ntavanca

Educação para igualdade de género

Curso de Licenciatura em Ensino Básico

Universidade Rovuma

Extensão de Cabo Delgado

2023
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Mercia Roberto Ntavanca

Educação para igualdade de género

Curso de Licenciatura em Ensino Básico

Trabalho individual de carácter avaliativo a


ser entregue ao docente da cadeira de
Temas Transversal IV, leccionado no curso
de licenciatura em Ensino Básico, 4oAno, 2o
semestre sob orientação do MA. Adriana
Sualehe Essimela Correia

Universidade Rovuma

Extensão de Cabo Delgado

2023
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Índic

e
1. Introdução..................................................................................................................2

1.1. Objectivo geral.......................................................................................................3

1.2. Objectivos específicos............................................................................................3

2. Género em Moçambique............................................................................................3

2.1. Desigualdade de género..........................................................................................4

2.2. Equidade de género................................................................................................6

2.3. Papéis sexuais e identidade de género....................................................................7

2.4. A Saúde em Moçambique....................................................................................10

2.5. Tendência da Epidemia........................................................................................11

3. Conclusão.................................................................................................................11

4. Referencias Bibliográficas.......................................................................................12
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1. Introdução
Na África subsaariana, a população de analfabetos ronda os 38%, dos quais 61% são do
sexo feminino. Em Moçambique, 60% das mulheres são mães antes dos 20 anos de
idade e, em 2003, apenas 32% das mulheres sabia ler e escrever, enquanto para os
homens a percentagem era de 63%. Como consequência desta realidade, a equidade de
género é o 3º dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio definidos em 2000 pela
ONU. A igualdade de género diz respeito ao estágio de desenvolvimento humano que
confere direitos, responsabilidades e oportunidades a indivíduos, independentemente do
seu género, permitindo-lhes realizar o seu potencial por inteiro.

A nível global, a pobreza faz-se sentir de uma forma mais acentuada junto das mulheres,
mas em nenhuma outra zona este grupo é mais afectado do que na África subsaariana. A
subjugação da mulher por sociedades patriarcais tem-na afastado de postos de grande
responsabilidade e de liderança na esfera pública, no campo, por exemplo, da política e
da economia. Para além desta exclusão sistemática, as mulheres têm um acesso mais
dificultado à educação, formação e emprego.
O governo moçambicano tem vindo a tomar consciência de que, para mudar esta
situação, é necessário trabalhar para a igualdade de género e pôr em prática mecanismos
que conduzam ao seu esforço. Nas últimas três décadas essa conscientização tem vindo
a crescer. No entanto, as tradições moçambicanas, como abordarei neste trabalho,
representam uma grande barreira para a mudança da forma de pensar e de actuar da
população, especialmente nas zonas rurais, onde as tradições têm mais força. Contudo,
os papéis sociais tradicionais têm vindo a sofrer uma evolução gradual. A identidade
feminina expandiu-se para além da maternidade e há um claro movimento pela
incorporação da mulher no mundo do trabalho. Na política, o envolvimento das
mulheres também tem sido feito de forma gradual, mas não sem a ajuda de cotas.

1.1. Objectivo geral


 Conhecer o Género e sexo em Moçambique

1.2. Objectivos específicos


 Descrever a problemática da igualdade e equidade de género em Moçambique;
 Promover eficiência de igualdade e equidade de género em Moçambique;
 Distinguir igualdade da equidade de género em Moçambique.
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2. Género em Moçambique
A presença portuguesa no território foi muito débil até ao século XIX, não se
verificando qualquer preocupação do estado português com a implementação de um
sistema de ensino.
A colonização efectiva de Moçambique é marcada por uma política profundamente
economicista, de realização de capital, baseada na exploração da mão-de-obra
“indígena”. Apesar de redutora, podemos dizer que vai ser esta orientação política que
vai marcar a acção portuguesa em Moçambique e que vai influenciar todas as políticas
educativas do governo colonial.
Em 1926 o “Estatuto Orgânico das Missões Católicas” extingue as “missões laicas” e
“missões civilizadoras” e revigora a intervenção das missões católicas.
Alguns anos mais tarde, em 1930, o governo colonial implementa uma profunda
modificação do sistema educacional, com vista à obtenção de um controlo mais directo
sobre a educação da população negra, com o objectivo de “...criar um sistema capaz de
habilitar o ‘indígena’ para o seu papel específico de trabalhador barato na economia
colonial moçambicana” (MAZULA, 1995:46). A partir desta data dá-se a separação
entre o ensino dos brancos e o ensino dos negros e a legislação impede o ensino das
línguas nacionais moçambicanas, excepto como recurso para o ensino da religião. O
ensino passa a ser obrigatório e há um aumento no número de missões e igrejas
católicas, por oposição à diminuição e mesmo discriminação da presença de outras
religiões.
O ensino passa, nessa altura, a ser dividido entre Ensino Primário Elementar (para os
brancos e assimilados) e Ensino Primário Rudimentar

A partir dos anos sessenta, e com a evolução dos movimentos de libertação em África,
Portugal começa a sofrer fortes pressões da comunidade internacional para alterar a sua
política educativa nas colónias. Os argumentos contra a política portuguesa contestavam
o segregacionista e denunciavam as elevadíssimas taxas de insucesso escolar dos
negros.
O governo colonial resolve então proceder a uma reforma na educação com vista ao
desenvolvimento económico, adoptando também uma política assimilacionista mais
vigorosa.
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2.1. Desigualdade de género


Segundo Giddens, “A desigualdade de género refere-se às diferenças de estatuto, poder
e prestígio entre mulheres e homens em vários contextos. Os funcionalistas, ao
explicarem a desigualdade de género, sublinham que as diferenças de género e a divisão
sexual do trabalho contribuem para a estabilidade e a integração social. As abordagens
feministas rejeitam a ideia de a desigualdade de género ser, de alguma forma, natural”
(2001:139).

A maioria das mulheres trabalha fora de casa e houve uma profunda alteração da divisão
social e sexual do trabalho. No entanto, apesar de muitas ocuparem lugares cimeiros e
serem economicamente independentes, a maioria continua a ganhar menos do que os
seus colegas do sexo masculino, os lugares de maior poder e prestígio na economia e na
política continuam a ser ocupados por homens, as mulheres continuam a ser as
principais vítimas de violência e continuam a trabalhar mais nas tarefas domésticas, o
que continua a comprovar que “... Existe uma forte estabilidade estatística da
universalidade da supremacia masculina, que resulta do exame da literatura
antropológica sobre a questão” (Héritier, 1998:198).

A explicação do contínuo domínio masculino através do sistema patriarcal é criticada


pela teoria evolucionista, com base na hipotética existência de um matriarcado
primitivo, onde as mulheres teriam tido o poder e o domínio das sociedades. Apesar de
nunca provado e de residir em grande parte no domínio da mitologia, é um facto que,
mesmo “... nas sociedades matrilineares, a posse da terra, a transmissão de bens, os
poderes políticos (poderes locais ou políticos mais alargados) pertencem aos homens.”
(Héritier, 1998:201).

A laicização da sociedade, consequente da morte do patriarcado político e da separação


da Igreja e do Estado, representa igualmente um passo importante para o alcance dos
direitos democráticos e da liberdade e para que todos os indivíduos sejam considerados
iguais perante a lei, pois deixa de haver legitimação religiosa para a discriminação.

No final dos anos sessenta, uma nova geração nascida no pós-guerra, preconizou na
Europa e nos Estados Unidos uma verdadeira revolução social de valores, o golpe fatal
no patriarcado e a conquista de direitos das mulheres. Esta geração que cresceu a ouvir
os horrores da Segunda Guerra Mundial, com as guerras coloniais e com a guerra do
Vietname, com a repressão dos regimes totalitários e com o desenvolvimento da
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globalização onde a comunicação começa a formar a opinião pública e onde o mundo


inteiro se encontra no mesmo ecrã de televisão, nas notícias das rádios e jornais,
esmagada pelo horror da violência e por todas as características masculinas que lhe
estão na origem, acaba por rejeitar os valores paternais e por lutar por uma sociedade
pacífica, de respeito pela natureza e pelos direitos humanos.

2.2. Equidade de género


A Revolução francesa contribuiu para despertar as consciências sobre os problemas da
condição feminina. A esse tempo remontam os primeiros textos que hoje são
considerados de índole feminista. Em 1791, Olympe de Gouges redigiu a declaração dos
direitos da mulher e da cidadã, através de uma analogia à própria declaração dos direitos
do Homem, reclamando, porém, direitos iguais para homens e mulheres (Larousse,
1990).
No final do século XIX, o movimento sufragista surgiu em Inglaterra pela igualdade de
acesso ao ensino, trabalho e direito de voto. Com a I Guerra Mundial, as mulheres
foram obrigadas a desempenhar trabalhos que tradicionalmente eram atribuídos a
elementos do sexo masculino. Porém, com o fim da guerra, os homens regressaram a
casa e com eles a ideologia patriarcal que, uma vez mais, as remete para a esfera privada
(Vivas, 2005). Contudo, muitas mulheres já não estavam dispostas a resignar-se ao
papel de donas de casa.
Enquanto na Europa o movimento feminista ia prosseguindo a sua senda, já em África,
maioritariamente colonizada pelas potências europeias, a situação era muito diferente.
Nomeadamente, Moçambique enquanto colónia sob o domínio português, não
beneficiou das mesmas mudanças. Pelo contrário:
«(…) a partir de finais do século XIX, os homens começaram a participar quase
que exclusivamente no trabalho assalariado das plantações e na produção das
culturas de rendimento que foram sendo introduzidas. Para as mulheres ficaram
as actividades agrícolas de produtos para a alimentação mapira, milho, feijão. A
divisão do trabalho começou então a ser mais acentuada.» (Casimiro, 2008)

A questão da igualdade de género ganhou alguma importância em Moçambique apenas


desde 1964, altura do início da guerra colonial no país, graças à FRELIMO (Raimundo,
2009). Após a guerra, foi formado governo e criou-se o Ministério da Mulher e da
Acção Social, devido à necessidade de mudar o cenário de desigualdade de género no
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país. A partir da década de 70, começou a associar-se a igualdade de género a


indicadores económicos e ao desenvolvimento, o que trouxe mais sucesso à luta pelos
direitos da mulher (Barata & Piepoli, 2005). Esta luta por intermédio de ONGs iniciou-
se em finais dos anos 80 quando surgiram várias associações voluntárias nesse sentido
(WLSA, 2004). No entanto, havia ainda um longo caminho a percorrer para se
conseguir atingir a igualdade de acesso à educação, saúde, justiça, recursos e
oportunidades.
Esta luta pelo empowerment da mulher não significa a sua superioridade em relação ao
homem. O que se preconiza, pelo contrário, é que ambos devem ser vistos e tratados
como iguais:
«A igualdade de género significa uma visibilidade igual, o empowerment e a
participação de ambos os sexos em todas as esferas da vida privada e da vida
pública (...). A igualdade de género não é sinónima de semelhança; ela não
consiste em considerar os homens, o seu estilo de vida e as suas condições
como a norma (...). A igualdade de género significa aceitar e valorizar também
as diferenças entre as mulheres e os homens e os diferentes papéis que eles
desempenham na sociedade.» (Labrecque, 2010)

2.3. Papéis sexuais e identidade de género


Para melhor compreender a desigualdade de género é fundamental conhecer os
diferentes papéis de género associados ao masculino e ao feminino.

O conceito de género é mais abrangente. Género está institucionalizado e faz parte da


estrutura social que condiciona as relações de homens e mulheres, a vários níveis. Já os
papéis de género “... are the patterns through which gender relations are expressed…”
(Andersen, 1997:31).

As expectativas de género associadas à masculinidade e à feminilidade, condicionam os


papéis de género tanto dos homens como das mulheres.

Ao longo da história do mundo ocidental, e da maioria das sociedades, o papel social da


mulher esteve sempre refém do sistema patriarcal que numa perspectiva de constante
domínio masculino, a reduzia ao papel de objecto de troca e procriação.

Ainda hoje, na nossa sociedade, o adultério é mais criticado e reprovado se for


preconizado por mulheres do que por homens e em muitas sociedades as punições
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perante o crime de adultério são profundamente diferentes, sendo sempre mais pesadas
para as mulheres.

Durante a maior parte da história e em praticamente todo o mundo, a mulher não tem
identidade fora do casamento e da maternidade; não tem direito de propriedade (pois os
seus bens passam directamente para a propriedade do marido), não tem direito de
escolha, não tem quaisquer direitos de cidadania, não tem direitos sobre o seu próprio
corpo e o seu lugar é a casa.

Na lógica da dominação social da mulher é fundamental ter em conta os estereótipos de


género que lhe estão associados e que têm influência na construção da identidade de
género e no papel de género. Os estereótipos de género “referem-se a atributos pessoais,
ou seja, abarcam propriedades físicas, características de personalidade e padrões de
comportamento, e são essencialmente estruturas cognitivas organizadas que facilitam a
categorização e simplificação do ambiente social.” (Mota-Ribeiro, 2005:17).

A Igreja, ao idealizar Maria como ideal do feminino, cria um modelo que ao mesmo
tempo aproxima “... as mulheres das características negativas de Eva (...) afasta-as
definitivamente de Maria, e de todas as suas qualidades” (Mota-Ribeiro, 2005:27).

De uma ou de outra forma a mulher, ao contrário do homem, é sempre um ser


imperfeito. Hoje em dia, são os média os principais promotores dos estereótipos de
género, impondo às mulheres ideais de beleza e de comportamento que se sintetizam em
modelos onde a mulher é representada como super-mãe ou objecto sexual, abertamente
ainda extremamente influenciados pela cultura judaico-cristã dominante.

O papel sexual da mulher e os estereótipos de ideal femininos são ainda e sempre


associados à sua aptidão biológica para a maternidade, apesar de nunca se ter
comprovado qualquer determinismo biológico no que respeita, por exemplo, ao facto de
essa aptidão estar associada a conceitos culturais como o instinto maternal, dotando a
mulher de uma performance inata para cuidar de crianças.

Nesta perspectiva e sendo a reprodução uma preocupação constante em todas as


sociedades humanas, verifica-se a existência de várias fórmulas de convenção social
para sistemas de filiação e de parentesco, onde os papéis sexuais podem ser distintos no
espaço e no tempo, mas sempre subjacentes ao domínio masculino. Um forte exemplo,
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que nos ajuda a clarificar esta questão, é o de Héritier (1998) e diz respeito à
esterilidade.

Para os Samo, do Burkina-Faso “A mulher estéril não é considerada verdadeira mulher,


Lo; morrerá Sum, isto é, jovem imatura, e será enterrada no cemitério das crianças, sem
que os feiticeiros, por ocasião do seu funeral façam soar os grandes tambores que se
utilizam unicamente para honrar as mulheres fecundas...” (Héritier, 1998:74).

E entre os Nuer, por exemplo, uma mulher estéril é considerada um homem e pode
desposar outra mulher que, através de um “servidor” lhe vai assegurar descendência; o
filho chamar-lhe-ão pai e não reconhecem qualquer ligação ao progenitor, uma invenção
social que contorna o vazio de identidade e lugar no colectivo das mulheres inférteis.
“Estatutos e papéis masculinos e feminino são aqui independentes do sexo: é a
fecundidade feminina, ou a sua ausência, que cria a linha de separação” (Héritier,
1998:253).

Em muitas sociedades, uma mulher só é verdadeiramente reconhecida como tal depois


de ter procriado, mesmo que seja casada. A filiação não passa de uma regra social que
define a pertença de um indivíduo a um grupo através de um sistema de parentesco que
“... é uma manipulação simbólica do real, uma lógica do social” (Héritier, 1998:63).

Uma questão interessante de se verificar, perante este fenómeno ameaçador da ordem


social instituída, consiste no facto de haver uma percepção da sociedade diferente
perante o celibato quando este é uma opção do homem, ou da mulher: o homem só se
prejudicará a si próprio, ao passo que na mulher esta atitude representa uma ameaça
para o colectivo.

Esta dicotomia entre individual e colectivo, com uma valorização cada vez maior do
aspecto individual, é um fenómeno das sociedades modernas, fruto da globalização, a
que Beck chama sociedade de risco “... Repleta de interesses conflituosos entre a
família, o trabalho, o amor e a liberdade para prosseguir objectivos pessoais” (Giddens,
2001:180), e que está na origem do desenvolvimento de novas e diversas identidades de
género e papéis sexuais.

É importante reter que o enquadramento do género no âmbito das instituições sociais


implica que para promover mudanças sociais não basta mudar mentalidades,
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comportamentos e papéis de género no foro individual de acordo com a vontade


individual, é fundamental mudar também as instituições sociais.

O facto de um grupo cada vez maior de indivíduos na sociedade achar que as mulheres
têm o mesmo direito de voto que os homens não implicaram por si só a mudança social.
A mudança de mentalidades individual só deu origem à transformação social quando
esse direito foi legislado e passou do foro individual ao colectivo.

A vontade manifestada por muitos países em desenvolvimento de alcançar os


objectivos da Educação Para Todos, reduzindo inclusivamente a desigualdade entre
rapazes e raparigas, só pode ser alcançada através de mudanças verificadas nas
instituições, caso contrário ficará sempre refém da vontade individual impossível de
concretizar por falta de meios institucionais. Por exemplo, onde as raparigas grávidas
são impedidas de prosseguir os seus estudos, a equidade de género só pode ser
alcançada se barreiras institucionais como esta forem derrubadas.

2.4. A Saúde em Moçambique


O HIV e SIDA constitui o mais sério risco para o desenvolvimento do país, ameaçando
reverter os ganhos dos últimos anos do ponto de vista do desenvolvimento social e
económico. Para enfrentar esta situação, o Governo de Moçambique ratificou diversas
declarações e convenções regionais e internacionais que visam reduzir o número de
novas infecções do HIV e o impacto do SIDA no país.
Entre os instrumentos globais e regionais ratificados por Moçambique destacam-se a
Declaração de Compromisso sobre o HIV e SIDA da Sessão Especial da Assembleia
Geral das Nações Unidas (UNGASS) (2001) e os Objectivos de Desenvolvimento do
Milénio (2001).
Prevenção, Tratamento, Cuidados e Apoio. Importa ainda referir neste leque de
documentos, a Declaração da Década Africana (1999-2009), documento que apela para
uma abordagem de resposta ao HIV e SIDA mais inclusiva como forma de minimizar os
efeitos negativos desta pandemia nas mulheres e homens e em particular na pessoa com
deficiência sensorial, motora e física.
A Iniciativa Presidencial de Combate ao HIV e SIDA de 2006, dirigida pela sua
Excelência o Presidente da República Armando Emílio Guebuza, veio galvanizar os
esforços de resposta ao nível nacional, através de uma profunda reflexão sobre o
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impacto social e económico do HIV e SIDA, mobilização e envolvimento de


representantes da força viva da sociedade moçambicana.
Igualmente notável tem sido o envolvimento e contribuição da sociedade civil, do sector
privado nos esforços conjugados de resposta à epidemia do SIDA a todos os níveis.
Apesar do progresso registado na expansão dos serviços de prevenção, tratamento e
mitigação, são necessários esforços adicionais para melhorar o impacto da resposta
nacional ao HIV e SIDA. A situação actual de alastramento da epidemia principalmente
entre mulheres e dos seus impactos nefastos aponta para um fosso entre as intenções
formais e a implementação eficaz dos planos e estratégias de resposta ao HIV e SIDA
na prática, em decorrência de factores de vária ordem, incluindo aspectos de
coordenação funcional, capacidade das estruturas institucionais, e alinhamento entre as
prioridades e os principais factores condutores da epidemia com ênfase sobre a
desigualdade de género. É neste contexto que as directrizes deste Plano Estratégico de
Resposta ao HIV e SIDA (PEN III– 2010-2014) devem ser enquadradas, tendo como
principal enfoque um alinhamento mais sistemático entre as evidências acumuladas ao
longo das últimas décadas com as acções estratégicas a serem implementadas para uma
efectiva resposta aos desafios impostos pela epidemia.

2.5. Tendência da Epidemia


Em Moçambique, os inquéritos de vigilância epidemiológica em mulheres grávidas
ainda são a única medida representativa da ocorrência do HIV4. Em países cujo
principal modo de transmissão do HIV é a via heterossexual, como Moçambique, as
tendências da prevalência do HIV entre as utentes das Consultas Pré-Natais (CPN), de
entre os 15 e os 24 anos de idade, podem ser usadas para estimar a tendência da
incidência, embora não sejam iguais aos números absolutos de incidência {4, 5} .
A variação regional foi de 9% na região Norte, 18% na região Centro e 21% na região
Sul. Dados preliminares da ronda de vigilância epidemiológica de 2009, revelam que a
estimativa nacional de prevalência do HIV em adultos é de 15%. A prevalência por
regiões manteve-se nas mesmas cifras de 2007.
12

3. Conclusão
As raparigas nos meios rurais em Moçambique, são vítimas de um duplo processo de
exclusão da educação com origem em vários factores económicos, sociais e culturais,
como a ocupação e o rendimento familiar, os custos directos e indirectos da educação
(os custos das propinas e dos materiais escolares podem ser demasiado elevados para
muitas famílias e no caso da principal actividade da família depender da mão-de-obra de
todos os familiares, significam uma redução de recursos humanos na economia familiar
(nestes casos havendo necessidade de escolher quem vai estudar, essa escolha recai nos
rapazes), o historial educativo das famílias (quanto mais baixa é a escolaridade dos
adultos menor importância é dada à escola, o que se pôde verificar no trabalho de
campo, onde é clara a ligação entre o apoio de um familiar mais escolarizado e a
valorização da educação das raparigas), práticas e atitudes associadas a crenças
tradicionais, culturais e religiosas e estereótipos de género (que atribuem papéis de
género às raparigas, para os quais a educação formal é secundária), localização da
escola e qualidade do ambiente escolar (distância da escola, a falta de latrinas separadas,
a violência no meio escolar), conteúdos e qualidades dos currículos e materiais
pedagógicos e processos pedagógicos desadequados (que não têm em conta a
valorização das raparigas na escola, que não apresentam modelos femininos positivos).

Um dado importante que foi possível confirmar foi a ausência de abordagens


conscientes da desigualdade de género na escola. Os próprios professores e directores
de escola têm preconceitos sobre as capacidades intelectuais das raparigas e têm
interiorizado fortes estereótipos de género que os levam a desvalorizar o seu trabalho e a
inviabilizaram-nas na sala de aula
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4. Referencias Bibliográficas
ANDERSEN, M. L. (1997) Thinking about women - sociological perspectives on sex
and gender (4ª edição ed.). United States: Allyn & Bacon.

Barata, O. & Piepoli, S. (2005). África: Género, Educação e Poder Lisboa. Lisboa:
ISCSP

Casimiro, I. (2008). Cruzando lugares, percorrendo tempos: mudanças recentes nas


relações de género em Angoche. Retirado a 30 de setembro de 2011

Chiziane, P. (2004). Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das
Letras

GIL, A. C. (2010). Como elaborar projectos de pesquisa. 5. Ed. São Paulo: Atlas,
GIDDENS, A. (2001) Sociologia, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.

HÉRITIER, F. (1998) Masculino Feminino - o pensamento da diferença, Lisboa:


Instituto Piaget.

JUNOD, H. A. (1974) Usos e Costumes dos Bantos (2ª edição ed. Vol. Tomo I).
Lourenço Marques: Imprensa Nacional de Moçambique

Labrecque, M. (2010). Conselho Europeu – Transversalização da perspetiva de gênero


ou instrumentalização das mulheres?. Retirado a 23 de novembro de 2011,
Larousse. (1990). Grand larousse. (2 ed., Vol. 2, p. 1216). Paris: Librairie Larousse

MAZULA, B. (1995) Educação, cultura e ideologia em Moçambique: 1975-1985.

MOTA-RIBEIRO, S. (2005) Retratos de mulher - construções sociais e representações


visuais no feminino, Porto: Campo das Letras.

Plano Estratégico Nacional de Resposta ao HIV e SIDA 2010 – 2014 Aprovado na 10ª
Sessão do Conselho de Ministros de 23 de Março de 2010
Vivas, M. (2005). “Literatura Mulherzinha”: a construção de feminilidades nas tirinhas
da série Mulheres alteradas de Maitena. Retirado a 20 de novembro de 2011,

WLSA. (2004). Outras Vozes, nº 8. Retirado a 25 de novembro de 2011

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