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Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCS)

Programa de Pós Graduação em Género e Desenvolvimento (PPGGD)

Proposta de Projecto de Pesquisa de Mestrado em Género e Desenvolvimento

Tema: As políticas sobre a Igualdade de Género e o seu Papel no Empoderamento da


Mulher Moçambicana

Introdução e apresentação

As desigualdades de género não são um fenómeno novo, antes pelo contrário, estão
associados a origem da humanidade, pois desde os primórdios do homem existe a tendência
de um sexo ser inferiorizado em relação aos outros. Esse fenómeno foi passando de geração
em geração e chegou aos nossos tempos (século XXI) tendo como uma das graves
consequências a pobreza e exclusão da mulher nas questões, sociais, politicas, económicas e
culturais. Ademais, essas descriminações são mais notórias em África, em geral e
Moçambique em particular.

De facto, A condição das mulheres em África, no geral, e em Moçambique, em particular,


pode ser influenciada e, em alguns momentos, determinada por questões estruturais,
socioeconómicas, bem como culturais e de tradição. Nesta parte do mundo, as desigualdades
de género e normas nocivas de relacionamento entre mulheres e homens, que promovem sexo
inseguro e reduzido acesso aos serviços de saúde sexual e reprodutiva, fazem parte dos
factores que contribuem para a vulnerabilidade relacionada com o HIV por parte das
mulheres (Silva, 2007:16),

É, tendo em conta a descriminação da mulher e a necessidade de contornar a situação que a


igualdade de género e o empoderamento das mulheres têm desde há muito feito parte da
agenda internacional do desenvolvimento, e mais ainda desde a Conferência de Beijing em
1995 e da apresentação da noção de “integração do género” (UN/DAW 2008). A questão
penetrou também nas políticas nacionais de desenvolvimento, tornando-se parte integrante da
maioria dos planos de desenvolvimento e estratégias de redução da pobreza como uma
‘questão transversal’ – afectando ostensivamente as políticas e intervenções em todas as áreas
do desenvolvimento nacional (Tyedten et al, 2008:16).

É assim que, o presente projecto de pesquisa propõe-se a estudar a relação entre as politicas
nacionais para igualdade de género e o empoderamento da mulher moçambicana, analisando
os factores que favorecem a plena operacionalização dessas politicas como o sucesso na
execução dessas politicas aumenta a participação da mulher nas mais variadas vertentes e
âmbitos da vida económica, política, social e cultural de Moçambique (Agy,2020:35). É
importante ressaltar que, nesta pesquisa, a igualdade de género é vista na perspectiva de
direito fundamental do homem, base para a democracia, tais como o direito de opinião,
liberdade de pensamento, direito de expressão e o acesso a todo tipo de conteúdo legalmente
estabelecido como sendo do domínio e interesse do cidadão. Enquanto que, por
empoderamento refere-se ao desenvolvimento de modelos de auto-cohecimento, através do
qual as pessoas adquirem ou fortalecem o seu sentimento de poder, competências de auto-
valorização e auto-estima (Herriger, 2006).

Contextualização

Segundo NUFPA (2016), apesar de plasmado a igualdade de direitos entre homens e


mulheres desde a constituição de 1990 e o governo moçambicano ter assinado diversos
esforços regionais e internacionais para o mesmo fim, dentre os quais a Convenção sobre a
Eliminação de todas as formas de Discriminação da Mulher (CEDM) (1993); a Declaração
Solene da Igualdade de Género em África (1994); a Declaração de Pequim (1995); a
Declaração de Género da SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral)
(1997); e o Protocolo Opcional da Carta Africana dos Direitos Humanos e Direitos das
Pessoas e Direitos das Mulheres (2005), entretanto, a questão do género continuou sendo
tratada sem a devida atenção e o enquadramento necessário a realidade moçambicana, pois
apesar de muito se falar de politicas e estratégias para a igualdade entre homens e mulheres,
dados estatísticos indicam que o homem tem mais expressão, participação e oportunidades
(política, económica, social e culturalmente) (Ibidem).

De facto, tanto no sistema internacional como a nível local, embora se tenham observado
importantes progressos no papel da mulher relativamente à sua escolarização e posição no
mercado de trabalho, a feminização da pobreza continua a ser evidente, particularmente em
países considerados ‘em desenvolvimento’, como é o caso de Moçambique. A relação entre
pobreza e género é, assim, multifacetada e apresenta-se em três circunstâncias principais: pela
falta de rendimento e de bens capazes de satisfazer as necessidades básicas da população em
forma de comida, vestuário e alojamento; pela falta de uma voz activa que se faça sentir, pela
impossibilidade de poder contribuir para as instituições civis e/ou estatais e pela sua
vulnerabilidade perante a capacidade de lidar com choques adversos através das suas relações
sociais e através das diversas instituições legais (Metro, 2015:45).

É no contexto das crescente assimetrias entre homens e mulheres que o governo


moçambicano aprovou através da Resolução nº 19/2007, de 15 de Maio, do Conselho de
Ministros, a Política de Género e Estratégia da sua Implementação a qual estabelece um de
linhas de orientação com vista a permitir a tomada de decisões e identificação de acções para
a elevação do estatuto da mulher e da igualdade de género e 10 anos depois o mesmo
instrumento passou por uma revisão tendo sido aprovado em 2018.

Justificativa

O tema ganha relevância num contexto em que o governo moçambicano, as ONGs e a


sociedade civil tem se engajado na melhoria das condições da mulher sob a alçada da ideia
baseada na igualdade de género e no empoderamento da mulher e, de facto, os resultados
desses trabalhos tem sido notáveis, embora ainda haja muito por se fazer o que faz com os
intervenientes (a elite política, académica, as instituições publicas e privadas e o cidadão
comum) sejam chamados a pensar e estudar em torno das contribuições das novas abordagens
sobre o género e seus constrangimentos no empoderamento feminino.

A relevância da pesquisa pode, ainda, ser visualizada nas seguintes dimensões: Na dimensão
prática, a pesquisa é imprescindível pois procura aferir sobre os factores que influenciam
negativa ou positivamente na operacionalização da política de género e na maximização ou
aumentar a participação da mulher nos principais órgãos de tomada de decisão, redução da
pobreza da mulher, aumento da empregabilidade feminina e do número de raparigas nas
escolas.. E, por fim, na dimensão académica, a pesquisa servirá de referência ou suporte para
as futuras pesquisas em temas relacionados a igualdade de género e empoderamento da
mulher aliada a escassez de pesquisas académicas sobre a mesma temática.
Objectivos da Pesquisa

 Objectivo geral - Reflectir em torno das contribuições da política de género no


empoderamento da mulher moçambicana.

Objectivos específicos

 Identificar os factores que influenciam positiva e negativamente na operacionalização


da política de género em Moçambique;
 Avaliar o comportamento da mulher moçambicana diante das políticas de género mais
voltadas a descriminação positiva em seu favor;
 Explicar a relação entre as políticas de género e o empoderamento da mulher
moçambicana.

Formulação do problema

Há diversas opiniões sobre a relação entre instrumentos legislativos, as leis sobre a igualdade
de género e o empoderamneto da mulher e autores como (Maúngue, 2021: 5) defende que o
estabelecimento de leis e a criação de instituições (por exemplo, o ministério do Género,
Mulher, Criança e acção social em Moçambique) não é a condição suficiente para que haja a
igualdade de género e muito menos para que se observe/alcance a emancipação e
empoderamento da mulher, pois, este é um resultado de processos complexos de remoção de
barreiras económicas, políticas sociais e culturais, que muitas vezes requer uma prática
ponderada de descriminação a favor da mulher (s/a,2014:02 1). De facto, ao se descriminar
positivamente a mulher incorresse ao risco de se cair n uma situação em que a mulher fica
dependente da mesma para conseguir emprego ou se destacar diante do homem,
consequentemente são menos competitivas que o sexo masculino.

Entretanto, em termos de participação política, notasse o maior cometimento da FRELIMO


para com a igualdade do género, pois conta com a representação da Mulher na Assembleia da
República com 69 lugares, de um total de 144, ocupados por mulheres, representando 48 por
cento do total. A RENAMO tem 23 mulheres de um total de 89 lugares, representando 26 por
cento, e o MDM elege duas mulheres de um total de 17 lugares, representando 12 por cento
(Karberg, 2015:6-7). De forma geral, a representação da Mulher na esfera política aumentou
de 16 por cento em 1991 para 31 por cento em 2001 e 39.6 por cento em 20093. Após as

1
https://www.preventionweb.net/files/16411_genderpolicy.pdf Consultado no dia 22 de Março de 2021.
últimas eleições, em Outubro de 2014, a percentagem de MAR observou uma diminuição
ligeira para 38 por cento. Moçambique está classificado como o 14o entre 145 países em
termos da representação de mulheres no parlamento.

Assim, É imperioso questionar: que forma a política de género influencia no


empoderamento da mulher moçambicana?

Com o propósito de responder a questão levantada, formulou-se as seguintes hipóteses: 1-


quanto mais politicas voltadas ao género forem definidas e executadas, maior sera o nível de
empoderamento e participação da mulher nos processos de tomada de decisão em
Moçambique; 2- a participação da mulher nos processos de tomada de decisão pode ser
influenciada por factores culturais e ligados ao seu nível de escolaridade e pelo feedback das
suas opiniões no processo de tomada de decisão de interesse colectivo.

Breve revisão de Literatura

Igualdade de género

A Igualdade de género refere-se à ausência de discriminação com base no sexo. Homens e


mulheres são tratados de forma igual, gozam dos mesmos direitos e oportunidades
(PGEI,2018:5). Para Santos (2010), o conceito de género é um processo de construção social
que pode ser compreendido através de três teorias: a teoria de status, a teoria dos papéis
sociais e a teoria focada nas instituições. Assim, as instituições, ao criarem padrões
normativos de género e expressarem uma lógica institucional de género, acabam por ser o
principal factor da reprodução da desigualdade de género, acabando por ser a identidade de
género dos indivíduos que molda a identidade de género das instituições.

Em 1995, a Plataforma de Acção de Beijing introduziu um novo conceito: gender


mainstreaming, ou seja, o conceito de equidade social, simbolizando uma mudança na forma
como a mulher é vista, deixando de ser interpretada como um grupo-alvo separado, ou
vulnerável, passando antes para uma perspectiva de equidade de género nas acções de
desenvolvimento. Loforte (2004) defende ainda que, para que a equidade de género seja
efectiva é necessário considerar-se a legislação e políticas existentes para que estas não
proporcionem o apoio a uma estrutura patriarcal ou matriarcal. A igualdade e a equidade de
género são, então, domínios essenciais que vão ao encontro dos Objectivos de
Desenvolvimento do Milénio e aos compromissos assumidos na Convenção sobre a
Eliminação de todas as formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW), assim como
em outros instrumentos internacionais.

A igualdade de género significa uma visibilidade igual, o empowerment e a participação de


ambos os sexos em todas as esferas da vida privada e da vida pública (...). A igualdade de
género não é sinónimo de semelhança; ela não consiste em considerar os homens, o seu estilo
de vida e as suas condições como a norma (...). A igualdade de género significa aceitar e
valorizar também as diferenças entre as mulheres e os homens e os diferentes papéis que eles
desempenham na sociedade, (Cardoso, 2012:13)

Empoderamento

O termo empoderamento advém também da palavra ‘poder’ e do conceito do mesmo


enquanto relação social, podendo este ser fonte de opressão, autoritarismo, abuso e
dominação. Sendo este um termo multifacetado e dinâmico, envolve aspectos cognitivos,
afectivos e condutais (Da Costa,2018: 9). Este, é apresentado a partir de dimensões da vida
social em três níveis: psicológico ou individual, grupal ou organizacional e estrutural ou
político (Kleba & Wendausen, 2009). Assim, o empoderamento implica uma conquista de
liberdade, avanço e superação do estado de subordinação por parte daquele que se empodera
(Valoura, 2005/2006).

Freire (1986) propôs uma concepção de empoderamento que encara o termo como o
“empoderamento da classe social”, ou seja, um processo que não é de natureza individual,
mas social. De acordo com o autor, o empoderamento é mais do que um evento individual ou
psicológico, configurando-se como um processo de acção colectiva que se dá na interacção
entre indivíduos e que envolve, necessariamente, um desequilíbrio nas relações de poder na
sociedade.
Procedimentos Metodológicos

Quanto a metodologia, para a presente pesquisa, usar-se-ia o método hipotético-dedutivo 2


com o suporte do método estatístico 3 que permitirá analisar as contribuições das politicas de
género no empoderamento da mulher em Moçambique e de forma concreta estimar em
termos estatísticos a participação da mulher nos processos de tomada de decisão e no
desenvolvimento económico de Moçambique.

Relativamente aos procedimentos técnicos, a pesquisa guiar-se-ia com a pesquisa


bibliográfica e documental. A pesquisa bibliográfica permitirá a consulta de livros, artigos
científicos, revistas científicas em torno do género, políticas de género, empoeiramento
feminino entre outros. E, a pesquisa documental terá como foco consulta e análise de
documentos voltados a participação política da mulher em Moçambique.

De modo a ter acessibilidade em dados ou informações, serão de aplicação para a presente


pesquisa as técnicas de recolha de dados concretamente a entrevista e o inquérito. A
entrevista permitirá o acesso de informações tanto, do pessoal técnico das instituições
públicas responsáveis na implementação das políticas públicas e cidadãos comuns (homens e
mulheres) que tem uma opinião sobre a temática do género.

Sendo assim, a população assim como a amostra para o estudo será estratificada. Por um
lado, será seleccionado o pessoal técnico das instituições públicas, por outro lado, o(a)
cidadão comum, também ter-se a em conta o nível de escolaridades da(o) mesma(o). E, para
determinar a população e a amostra será feita a soma dos extractos (pessoal técnico) com a
população moçambicana.

2
No método hipotético-dedutivo, de acordo com Kaplan (1972:12): "..o cientista, através de uma combinação
de observação cuidadosa, hábeis antecipações e intuição científica, alcança um conjunto de postulados que
governam os fenômenos pelos quais está interessado, daí deduz ele as consequências por meio de
experimentação e, dessa maneira, refuta os postulados, substituindo-os, quando necessário, por outros, e assim
prossegue".
3
Este método fundamenta-se na aplicação da teoria estatística da probabilidade e constitui importante auxílio
para a investigação em ciências sociais. Há que se considerar, porém, que as explicações obtidas mediante a
utilização do método estatístico não podem ser consideradas absolutamente verdadeiras, mas dotadas de boa
probabilidade de serem verdadeiras (Gil, 2008:17).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Afrimap e Open Society Initiative for Southern Africa, Moçambique: Democracia e


participação política, RSA, 2009.
Agy, Aleia Rachide (2020) Género e Desenvolvimento: factores para o empoderamento da
mulher rural, OMR Nr.97.
Baptista, Iraê (2016), Metodologia de Pesquisa em ciências Sociais, Maputo, CEEI.
Cardoso, Ines Castelo Branco (2012),A equidade de género em Moçambique: a contribuição
de Graça Machel, Universidade de Aveiro, Departamento de Línguas e culturas.
Da Costa, Eloise Nair Lopes (2018), O processo de empoderamento das raparigas em
Marrere, Estudo de caso do Projeto Mwarusi, dissertação de mestrado em sociologia,
Departamento de Sociologia, ISCTE/UL, Lisboa.
Gil, A., Métodos e técnicas de pesquisa Social, atlas, São Paul o, 2007.
https://www.direitonet.com.br. Consultado no dia 15 de Março de 2021.
Karberg, Sindy (2015),Participação Política das Mulheres e a sua influência para uma maior
capacitação da Mulher em Moçambique, CEDIMA/FRIEDRICH EBERTO STIFTUNG.
Maúngue, Hélio Bento (2021) Mulher Moçambicana: Cultura, Tradição e Questões de
Género na Feminização do HIV/SIDA, Revista Estudos Feministas, Florianópolis, 28(1).
Merles, Carla (2017): https://www.politize.com.br/direito-a-informacao/amp/ ;
Metro, Paulina João Mungozana (2015), Dissertação apresentada à Faculdade de Educação
em cumprimento dos requisitos parciais para a obtenção do grau de Mestre em Educação de
Adultos, UEM, Maputo.
Pasquino, G. Curso de Ciência Política, 2ª ed. Lisboa: Princípia, 2010;
Política de Género e estratégia de Implementação (2018).
Ribeiro, G. M, O Senso Comum e Polícia em Moçambique (S/A).
Silva, Gabriela (2007), Educação e género em Moçambique, Centro de Estudos Africanos da
Universidade do Porto, porto.
Terenciano, Fidel, Democracia Eleitoral e o Papel dos Partidos Políticos na Estruturação do
Voto - Um Caso Africano: Moçambique (1994-2014), UFSCAR, São Carlos, 2020.
Tvedten, Inge, Margarida Paulo e Georgina Montserrat (2008), Políticas de Género e
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UNFPA (2006), Igualdade de Género e Empoderamento da Mulher em Moçambique,
Maputo.

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