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ESCOLA SUPERIOR DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

CURSO DE LICENCIATURA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS E DIPLOMACIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE LICENCIATURA

TEMA

DESAFIOS DA AJUDA HUMANITÁRIA DO PROGRAMA MUNDIAL DE


ALIMENTAÇÃO (PMA) NA ALOCAÇÃO DE DONATIVOS ÀS FAMÍLIAS AFECTADAS
PELAS CALAMIDADES NATURAIS E TERRORISMO EM CABO DELGADO.

A Candidata: O Supervisor:
Marta Reginaldo Sitoe MA. Carmona Bila

Maputo, Agosto de 2023


CONCLUSÃO DE LICENCIATURA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS E
DIPLOMACIA

TEMA:

DESAFIOS DA AJUDA HUMANITÁRIA DO PROGRAMA MUNDIAL DE


ALIMENTAÇÃO (PMA) NA ALOCAÇÃO DE DONATIVOS ÀS FAMÍLIAS
AFECTADAS PELAS CALAMIDADES NATURAIS E TERRORISMO EM CABO
DELGADO.

Maputo, Agosto de 2023


DECLARAÇÃO DE AUTORIA

Eu, Marta Reginaldo Sitoe, declaro pela minha honra que, o presente trabalho é da minha
autoria e que nunca foi, anteriormente, apresentado para efeitos de avaliação em nenhuma
instituição de Ensino Superior nacional ou de outro Estado e que é resultado de pesquisa
individual.

A candidata

_______________________________________

(Marta Sitoe)
TERMOS DE RESPONSABILIZAÇÃO

Este é um trabalho a ser submetido a Universidade Joaquim Chissano (UJC) como


cumprimento parcial dos requisitos necessários para a obtenção do grau de licenciatura em
Relações Internacionais e Diplomacia.

A candidata

__________________________________________________

(Marta Sitoe)

O supervisor

___________________________________________________

(MA. Carmona Bila)


Índice
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................... i
DEDICATÓRIA ........................................................................................................................ii
LISTA DE SIGLAS E ACRÓNIMOS .................................................................................... iii
LISTA DE GRÁFICOS, TABELAS E ANEXOS .................................................................... v
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 1
Delimitação Espaço-Temporal ............................................................................................... 1
Contextualização .................................................................................................................... 2
Justificativa............................................................................................................................. 3
Problematização ..................................................................................................................... 3
Objectivos da Pesquisa ........................................................................................................... 5
Objectivo Geral: ................................................................................................................. 5
Objectivos Específicos: ...................................................................................................... 5
Questões de Pesquisa: ............................................................................................................ 6
Hipóteses: ............................................................................................................................... 6
Metodologia de Pesquisa ........................................................................................................ 6
Caracterização da Pesquisa:................................................................................................ 6
Métodos de Pesquisa: ......................................................................................................... 7
Técnicas de Pesquisa: ......................................................................................................... 8
Processo de Colecta de Dados:............................................................................................... 9
Estrutura do Trabalho ................................................................................................................ 9
CAPÍTULO 1: ENQUADRAMENTO TEÓRICO E DEBATE CONCEPTUAL ........... 10
1.1. Enquadramento Teórico ................................................................................................ 10
1.1.1. Contexto de Surgimento ......................................................................................... 10
1.1.2. Precursores.............................................................................................................. 11
1.1.3. Pressupostos............................................................................................................ 11
1.1.4. Aplicabilidade da Teoria Pluralista ........................................................................ 12
1.1.5. Críticas à Teoria...................................................................................................... 12
1.2. Debate Conceptual ........................................................................................................ 13
1.2.1. Ajuda Humanitária Internacional ........................................................................... 13
1.2.2. Cooperação Internacional ....................................................................................... 15
1.2.3. Terrorismo .............................................................................................................. 16
1.2.4. Calamidades Naturais ............................................................................................. 18
2.1. Descrição do Programa Mundial de Alimentação (PMA) ............................................ 19
2.2. Breve descrição de Moçambique .................................................................................. 20
2.3. O PMA em Moçambique .............................................................................................. 21
2.4. Factores determinantes da presença e intervenção do PMA em Moçambique ............. 22
2.4.1. Ocorrência de desastres e calamidades naturais ..................................................... 22
2.4.2. Instabilidade política e terrorismo .......................................................................... 24
2.4.3. Pobreza extrema e fome ......................................................................................... 27
CAPÍTULO 3 : ÁREAS DE INTERVENÇÃO DO PMA EM MOÇAMBIQUE ............ 30
3.1. Iniciativas do PMA em Moçambique............................................................................ 30
3.1.1. Distribuição geral de alimentos/alimentação a grupos vulneráveis ........................ 31
3.1.2. Programa comida pelo trabalho/comida pela capacitação ...................................... 31
3.1.3. Distribuição de lanche escolar ................................................................................ 31
3.1.3. Programa de combate ao HIV/SIDA e cuidados básicos domésticos de órfãos e
crianças vulneráveis .......................................................................................................... 32
3.2. Outros programas de âmbito institucional .................................................................... 32
3.3. Estudos sobre indicadores de segurança alimentar dos agregados familiares .............. 33
3.4. Estudo sobre Perdas Pós-colheitas ................................................................................ 34
3.5. Empoderamento da Mulher ........................................................................................... 35
3.6. Atitudes em relação a Saúde e Acesso aos Serviços ..................................................... 35
3.7. Saúde Infantil e Situação Nutricional............................................................................ 36
CAPÍTULO 4: DESAFIOS DA AJUDA HUMANITÁRIA DO PMA NA ALOCAÇÃO
DE DONATIVOS AS FAMÍLIAS AFECTADAS PELAS CALAMIDADES NATURAIS
E TERRORISMO EM CABO DELGADO ......................................................................... 37
4.1. Breve descrição da Província de Cabo Delgado ........................................................... 37
4.2 Desafios do PMA na alocação de donativos as famílias afectadas pelas calamidades
naturais e terrorismo em Cabo Delgado ............................................................................... 38
4.2.1. Dificuldade de acesso as localidades fustigadas pelas calamidades naturais e ataques
terroristas .............................................................................................................................. 38
4.2.2. Identificação de beneficiários da ajuda alimentar .................................................. 40
4.2.3. Redução das vulnerabilidades impostas às mulheres e crianças deslocadas .......... 44
4.2.4. Continuidade do fornecimento da ajuda ................................................................. 46
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 49
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 51
Entrevistados ........................................................................................................................ 51
Livros ................................................................................................................................... 51
ANEXOS ................................................................................................................................. 56
AGRADECIMENTOS

À Deus, pelo dom da vida, por ser presente, ter iluminado o meu caminho em todos
momentos da minha vida e, assim, ter-me permitido chegar nesta fase da minha formação.

Ao Dr. Carmona Bila, supervisor da presente monografia, pelo cometimento resumido em


disponibilidade, acompanhamento, orientação, sugestões e paciência com que lidou e foram
imprescindíveis na estrutura e desenvolvimento da mesma.

Endereçar um agradecimento especial aos meus pais, Reginaldo Fafetine Macandene e


Marcelina Lourenço, pelos cuidados primários, amor incondicional, pela educação e os
ensinamentos que sustentam a minha essência.

Aos meus irmãos, em especial ao meu irmão (Paulo Reginaldo Macandene), por todo apoio
moral e material prestado na minha educação ao longo do meu percurso acadêmico, ao meu
esposo (José Vicente Mahene) pelo companheirismo e cumplicidade nesta caminhada da vida
que juntos trilhamos, aos meus filhos (Celso, Flamelo, Clarisse, Rossana e Júnior), pela
paciência em momentos que não pude desempenhar o meu papel de mãe para atender
actividades académicas, bem como minhas netas (Yuna e Luna).

Aos amigos e colegas do curso, Amisse Muroto, Jacinta, Melembe, Grécia, Timba, Nhacutoe
, Rungo e Balate , pelo apoio apoio moral, intelectual e pelos momentos de partilha do saber.

Os meus agradecimentos estendem-se também a todos aqueles que directa e indirectamente


contribuíram para a minha formação.

A todos, o meu sincero obrigado!

i
DEDICATÓRIA

Dedico a presente monografia à minha família, em especial aos meus filhos.

ii
LISTA DE SIGLAS E ACRÓNIMOS

ANC - African National Congress / Congresso Nacional Africano;

CARI – Consolidated Approach for Reporting Indicators/ Abordagem Consolidada para


Reportar Indicadores;

CD - Cuidados Domiciliários;

CIP – Centro de Integridade Publica;

CM – Conselho de Ministros;

COV – Crianças Órfãs e Vulneráveis;

CVI – Cruz Vermelha Internacional;

DTM – Displacement Tracking Matrix / Matriz de Monitoria de Deslocamentos;

EN1 – Estrada Nacional Nº 1;

EUA – Estados Unidos da América;

FAO – Food and Agriculture Organization / Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e Agricultura;

FRELIMO – Frente de Libertação de Moçambique;

HIV/SIDA – Vírus de Imunodeficiência Humana / Síndrome de Imunodeficiência Adquirida;

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano;

IGF – Índice Global da Fome;

INGC – Instituto Nacional de Gestão de Calamidade de Moçambique;

INGC - Instituto Nacional de Gestão de Calamidades;

IPEA – Instituto de Pesquisa Económica Aplicada;

MCV – Movimento do Crescente Vermelho;

MRN - Movimento de Resistência Nacional;

OIH – Organizações Internacionais Humanitárias;

OIM – Organização Internacional para as Migrações;

OIs – Organizações Internacionais;

iii
OMS - Organização Mundial da Saúde;

ONG – Organizações Não Governamentais;

ONU – Organização das Nações Unidas;

PAA - Programa de Aquisição de Alimentos;

PIB – Produto Interno Bruto;

PMA – Programa Mundial de Alimentação / WFP – World Food Program;

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento;

PSEA – Protetion from Sexual Esploitation and Abuse / Proteção contra Exploração e Abuso
Sexual;

RI’s – Relações Internacionais;

SADC – Southern African Development community/ Comunidade de Desenvolvimento da


Africa Austral;

SHI - Sistema Humanitário Internacional;

SI – Sistema Internacional;

UE – União Europeia;

UE -União Europeia;

USAID – United States Agency For International Development / Agência Norte-americana


para o Desenvolvimento Internacional;

USD – Dorlar Norte Americano / United States Dollar;

VBG – Violência Baseada no Género;

ZANU - Zimbabwe African National Union / União Africana de Zimbábue.

iv
LISTA DE FIGURAS, TABELAS E ANEXOS

Figuras

Figura 1. Mapa administrativo da Província de Cabo Delgado e sua localização no Mapa de


Moçambique ............................................................................................................................ 56
Figura 2. Mapa de Cabo Delgado, limitações de acesso físico............................................... 57
Figura 3. Ponto de distribuição de ajuda alimentar da WFP na localidade de Nanhupo,
distrito de Monpetuez, Provincia de Cabo Delgado. ............................................................... 58
Figura 4. Deslocados de Palma, depois do ataque de Março de 2021, desembarcam na Praia
de Paquitequete em Pemba. ..................................................................................................... 59
Figura 5. Mapa de Moçambique: Classificação de Insegurança Alimentar Aguda................ 60

Tabelas

Tabela 1. Distritos e localidades avaliadas pela DTM/OIM em Cabo Delgado (2019). ........ 56
Tabela 2. Classificação das pessoas afectadas pelo ciclone Kenneth nos distritos avaliados
pela DTM/OIM em Cabo Delgado (2019)............................................................................... 58

v
INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como tema, Desafios da Ajuda Humanitária do Programa


Mundial de Alimentação (PMA) na Alocação de Donativos às Famílias Afectadas pelas
Calamidades Naturais e Terrorismo em Cabo Delgado. Com esta pesquisa procurou-se
perceber os constrangimentos do PMA na operacionalização da ajuda às famílias afectadas
pelo terror e calamidade em Cabo Delgado, oque passou necessariamente por apresentar uma
visão panorâmica sobre a pertinência da intervenção do PMA em Moçambique e suas áreas
de intervenção para, posteriormente, entender as dificuldades enfrentadas no terreno.

Delimitação Espaço-Temporal

O trabalho abrange o espaço geográfico que envolve o território moçambicano, mas com
principal enfoque para a Província de Cabo Delgado1, uma vez é a região que foi devastada
pelo ciclone Kenneth e tem sido assolada pelo terrorismo que de alguma forma dificulta as
intervenções internas e internacionais na forma de ajuda humanitária e solidariedade as
famílias afectadas.

Quanto ao tempo, o trabalho incide sobre o intervalo compreendido entre 2017 e 2021. A
escolha do intervalo justifica-se pelo facto de 2017 ser o ano de lançamento do plano
estratégico do PMA em Moçambique para a agenda fome zero. E 2021 por ser o ano em que,
devido a intensificação dos ataques terroristas na Província de Cabo Delgado, mais de 750
mil pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas 2, fazendo com que a necessidade
estimada anteriormente pelo Programa Mundial de Alimentação (PMA) de mobilização de
recursos no valor de 40 milhões de USD para responder a situação humanitária na província
fossem superados (Kaulard, 2020: 5 e Dos Santos, 2020: 4).

Pese embora a delimitação espácio-temporal previamente apresentada, recorreu-se a factos e


acontecimentos fora desse parâmetro, ou seja, antes ou depois do tempo definido e
deslocamentos em termos espaciais, por forma a permitir melhor contextualização, e
enquadramento dos fenómenos estudados, facilitando o seu entendimento. Ademais, um
recuo histórico dos factos e acontecimentos permitiu melhor enquadramento da matéria
pesquisada e consequentemente uma melhor compreensão do tema.

1
Província situada a norte de Moçambique
2
https://news.un.org/pt/story/2021/04/1746932 Consultado a 10 de Abril de 2021

1
Contextualização

O trabalho enquadra-se num contexto onde calamidades naturais, problemas ambientais,


epidemias, terrorismo, crimes transnacionais com o narcotráfico, o tráfico de pessoas, órgãos
humanos, a imigração irregular, golpes de Estado, conflitos étnico-religiosos, a violação dos
direitos humanos, entre outras questões passam a merecer um lugar de destaque na agenda
das relações internacionais, não havendo uma hierarquização entre os mesmos. Assim, novos
assuntos e actores passam a ser tão importantes nas abordagens de relações internacionais
como o Estado e os assuntos militares (Oliveira, 2009: 68).

Ao nível do continente africano, notam-se recorrentes conflitos político-militares,


calamidades naturais que para além de deslocados e mortes os quais, tem provocado
problemas crónicos de nutrição e levado muitas Organizações Internacionais (OI), a
intervirem e serem mais eficazes no alívio do sofrimento das famílias afectadas que os
tradicionalmente considerados “principais actores das Relações Internacionais”, isto é, “os
Estados”.

Em Moçambique, testemunhou-se no ano 2000, a ocorrência de chuvas que causaram uma


das piores cheias da sua história, na Região Sul do Estado, e 19 anos depois, um fenómeno
próximo se fez sentir nas regiões Centro e Norte, com os Ciclones Idai e Kenneth (Kaulard,
2020: 6; Matos e Ndapassoa, 2020: 141). Na Província de Cabo Delgado, observa-se a
deterioração da situação humanitária devido a choques climáticos consecutivos, a insurgência
e violência terrorista conduzindo a deslocações significativas da população, afectando os
meios de subsistência e provocando a dificuldade de acesso aos serviços básico, para além da
mobilização de parceiros internacionais em ajuda humanitária às famílias afectadas (Ibid.).

É em resultado da mobilização de parceiros internacionais que, o PMA tem alocado ajuda (na
forma de cesta-básica ou cartões de levantamento de alimentos em alguns estabelecimentos
comerciais previamente contratados) às famílias afectadas pelas calamidades naturais e pelo
terrorismo que fustiga a região norte da Província de Cabo Delgado. Entretanto, o PMA tem
enfrentado constrangimentos para fazer chegar a ajuda aos destinatários, pois algumas regiões
são de difícil acesso por causa da insegurança resultante dos ataques, mas também tem
havido insuficiência de donativos, pois o número de deslocados tem aumentado cada vez
mais enquanto os recursos se escasseiam.

2
Justificativa

A relevância do tema justifica-se pelo facto de o mundo, em geral, e Moçambique, em


particular, sofrer os efeitos das mudanças climáticas (caracterizadas principalmente na forma
de catástrofes naturais como tremores de terra, secas, ciclones e cheias) que em consonância
com as guerras (desde conflitos internos até ao terrorismo) tem causado extremo sofrimento
as famílias afectadas e levado a comunidade internacional a envidar esforços no sentido de
assistir aos mais desfavorecidos. É neste contexto que, urge a necessidade de se estudar a
intervenção dos actores envolvidos na ajuda humanitária3 as famílias afectadas pelo ciclone
Kenneth e pelas incursões terroristas em Cabo Delgado e, especificamente, em se perceber os
desafios do PMA na alocação de ajuda às famílias afectadas pelos fenómenos mencionados.

Ademais, a relevância da pesquisa pode, ainda, ser visualizada em três outras dimensões a
saber: a) individual, é do interesse da pesquisadora o estudo sobre intervenção das OIs na
alocação de ajuda humanitária, com atenção especial ao PMA. Assim, espera-se que com o
caso da intervenção do PMA na Província de Cabo Delgado se possa aprofundar os estudos
sobre a intervenção das OIs na ajuda humanitária; b) académica, há escassez de pesquisas
nacionais sobre temáticas relacionadas com a ajuda humanitária. Daí que, com este ensaio,
pretende-se constituir um acervo material de base para futuras pesquisas cujos resultados
podem suscitar debates no seio da comunidade académica nacional e internacional; c) prática,
a pesquisa é imprescindível pois procura aferir sobre os desafios do PMA na alocação de
ajuda as famílias afectadas pelo terrorismo e calamidades naturais na Província de Cabo
Delgado, de tal forma que, se possa propor medidas para se ultrapassar os constrangimentos e
aumentar a eficácia da assistência humanitária do PMA, em particular e, de todas OIs em
Moçambique.

Problematização

A problemática da ajuda humanitária é complexa e tem levantado debates acirrados e divide


opiniões no seio académico. Por um lado, o debate gira em torno da capacidade das OIs
darem assistência humanitária a quem realmente precisa e, por outro, sobre a

3
A Ajuda Humanitária consiste, principalmente no apoio material, logístico e, até espiritual às afectadas por
catástrofes naturais ou de origem humana como conflitos armados, guerras, seca, sismos, tsunamis e furacões,
entre outros (Schmitz et al, 2010: 120).

3
responsabilidade de se prover e ao se prover ajuda humanitária4. Assim, autores como Gilpin
(1981: 10), defendem que, tanto as OIs, de forma geral, quanto as Organizações
Internacionais Humanitárias (OIH), em particular, são criadas por Estados e para prosseguir
interesses dos Estados fortes, facto que faz com que as suas intervenções sejam
condicionadas às vontades dos mesmos.

Relactivamente a responsabilidade de prover assistência, o PMA tem conseguido fazer valer


a sua missão fornecendo ajuda alimentar (em espécie e a transferência de dinheiro) de
emergência, muitas vezes em situações de conflitos, pós-conflitos ou desastres, para milhões
de pessoas deslocadas, desabrigadas ou privadas de recursos básicos por eventos
cataclísmicos5. Ademais, o sistema de transferência de dinheiro do PMA caracterizado por
envio de valores monetários, vouchers6 ou fundos electrónicos dados aos beneficiários tem
efeito multiplicador na economia local, pois permite que as pessoas comprem alimentos e
outros itens, fortalecendo os mercados, incentivando o investimento local e a produção e
produtividade. De facto, só em 2019 o PMA injectou mais de 2,1 bilhões de USD para mais
de 28 milhões de pessoas em 64 Estados – quase 38% do total da assistência fornecida
naquele ano (PMA, 20217).

Quanto a responsabilidade ao prover assistência, Sambo8 afirma que, apesar de ser observado
um forte engajamento do PMA na assistência as famílias afectadas por ciclones e terrorismo
em Moçambique, grande parte do volume da ajuda não chega às mãos de quem realmente
precisa, como aconteceu na vila de Palma (região norte da Província de Cabo Delgado) que
depois do ataque a 21 de Março, a organização suspendeu a distribuição de alimentos a
população. Também, em Pemba, os deslocados eram obrigados a pagar 1.000,00Mt (mil
meticais) para serem inscritos e terem acesso aos vouchers de levantamento de alimentos.
Além do mais, a situação de vulnerabilidade é extrema e algumas mulheres afectadas

4
A comunidade internacional tem a responsabilidade de prover assistência a quem precisa, mas também elas
têm enfrentado o desafio de serem responsáveis ao dar a assistência sob o risco de beneficiarem um grupo social
diferente do perfil de quem realmente precisam aumentando assim as assimetrias sociais.
5
Até finais de Abril de 2020, estimava-se que o PMA assistia 270 milhões de pessoas em situação de
insegurança alimentar aguda nos Estados onde o programa actuava.
6
Cartões-benefícios, atribuídos a determinada pessoa para compra de bens específicos
7
https://www.wfp.org/publications/wfp-evidence-summary-cash-based-transfers-lessons-evaluations
Consultado a 10 de Abril de 2021
8
Sambo, Manuel, Mestrado em Desenvolvimento Internacional pela Universidade Internacional do Japão,
Entrevistado no dia 15 de Fevereiro de 2021.

4
incorrem ao risco de serem exploradas sexualmente para terem acesso ao apoio fornecido, ao
exemplo do que aconteceu em Sofala com os efeitos do Ciclone Idai9.

Adicionalmente, outro grande problema ao se assistir as famílias vítimas na Província de


Cabo Delgado tem a ver com a quantidade de ajuda pois, como afirma a Lola Castro10, “tendo
em conta que o número de deslocados tende a aumentar, a assistência alimentar que o PMA
distribui todos os meses, não é suficiente para as pessoas sobreviverem e é necessário uma
injeção de caixa no valor de 132,4 milhões de USD para sustentar as operações por um ano,
caso contrário a distribuição de alimentos pode parar completamente”. Assim, diante das
constatações acima, urge fazer a seguinte questão de partida: Quais são os desafios da
Ajuda Humanitária do PMA na alocação de donativos às famílias afectadas pelas
calamidades naturais e terrorismo na Província de Cabo Delgado?

Objectivos da Pesquisa

O presente trabalho foi desenvolvido na base de um (1) objectivo geral que é o aglutinador de
três (3) outros objectivos específicos como se segue.

Objectivo Geral:

• Refletir em torno dos Desafios da Ajuda Humanitária do PMA na alocação de


donativos às famílias afectadas pelas calamidades naturais e terrorismo em
Moçambique.

Objectivos Específicos:

• Identificar os factores determinantes da presença do PMA em Moçambique;


• Aferir as principais áreas de intervenção do PMA em Moçambique;
• Analisar as etapas dos desafios da Ajuda humanitária do PMA na alocação de
donativos às famílias afectadas pelas calamidades naturais e terrorismo na Província
de Cabo Delgado.

9
https://www.maxima.pt/atual/detalhe/casos-de-exploracao-sexual-ja-sao-relatados-em-mocambique-em-pleno-
desastre-do-ciclone-idai Consultado a 17 de Abril de 2021.
10
Directora Regional do PMA - Africa Subsaariana. Disponível em: https://www.wfp.org/stories/nothern-
mozambique-hunger-conflict-crisis-africa-un-wfp-refugees . Consultado no dia 28 de Agoosto de 2021.

5
Questões de Pesquisa:

• Quais são os factores determinantes da presença do PMA em Moçambique?


• Quais são as principais áreas de intervenção do PMA em Moçambique?
• Quais foram as etapas dos desafios da Ajuda humanitária do PMA na alocação de
donativos às famílias afectadas pelas calamidades naturais e terrorismo na Província
de Cabo Delgado?

Hipóteses:

• A ocorrência de cheias, calamidades naturais e ataques terroristas podem ser factores


determinantes da presença do PMA em Moçambique;
• A ajuda de emergência pode ser uma das principais áreas de intervenção do PMA em
Moçambique;
• A precariedade das vias de acesso e a insegurança inerente aos ataques terroristas
podem ser desafios do PMA na alocação de donativos às famílias afectadas pelas
calamidades naturais e terrorismo na Província de Cabo Delgado..

Metodologia de Pesquisa

A metodologia é o conjunto das actividades ou procedimentos sistemáticos e racionais que,


com maior segurança e economia, permite alcançar o objectivo, isto é, o caminho ou
caminhos que são seguidos para um determinado propósito (Lakatos e Marconi, 2003: 83).

Caracterização da Pesquisa:

• Quanto a Natureza
Desenvolve-se uma pesquisa básica, que objectiva gerar conhecimentos novos, úteis para o
avanço da ciência sem aplicação prática prevista. Envolve verdades e interesses universais
(Prodanov e Freitas, 2013: 51). Consiste em entender, descrever e explicar os fenómenos da
natureza, através da aquisição de conhecimento sobre seu comportamento, sem ter como
objectivo central, finalidades práticas a curto prazo. O objectivo deste tipo de pesquisa é de
carácter intelectual, procurando alcançar a aprendizagem para satisfazer o desejo próprio do
pesquisador em adquirir novos conhecimentos e proporcionar informações passíveis de
aplicações práticas, sendo desvinculada de finalidades utilitárias a curto prazo.

6
• Quanto aos Objectivos
Em relação aos objectivos, realiza-se uma pesquisa exploratória, pois este tipo de pesquisa
tem como objectivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vista a torná-lo
mais explícito ou a construir hipóteses. A grande maioria dessas pesquisas envolve:
levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o
problema pesquisado e, análise de exemplos que estimulem a compreensão. Essas pesquisas
podem ser classificadas como: pesquisa bibliográfica e estudo de caso (Gerhardt e Silveira,
2009: 35). Neste projecto pretende-se fazer o estudo de caso dos desafios do PMA na
alocação de donativos às famílias afectadas pelas calamidades naturais e terrorismo em
Moçambique.

• Quanto a Abordagem
A presente pesquisa, passa ainda, por uma abordagem qualitativa, pois, neste tipo de pesquisa
há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre
o mundo objectivo e a subjectividade do sujeito, que não pode ser traduzido em números
(Silva e Menezes, 2001: 21). Na abordagem qualitativa, a pesquisa tem o ambiente como
fonte directa dos dados. O pesquisador mantém contacto directo com o ambiente e o objecto
de estudo em questão, necessitando de um trabalho mais intensivo de campo. Nesse caso, as
questões são estudadas no ambiente em que elas se apresentam sem qualquer manipulação
intencional do pesquisador (Prodanov e Freitas, 2013: 70). A partir desta abordagem confere-
se com exatidão os desafios do PMA na alocação de donativos às famílias afectadas pelas
calamidades naturais e terrorismo em Cabo Delgado.

Métodos de Pesquisa

• De Abordagem
Hipotético-dedutivo – consiste na percepção de uma lacuna nos conhecimentos, formula
hipóteses e, pelo processo de inferência dedutiva, testa a predição da ocorrência de
fenómenos abrangidos pela hipótese (Lakatos e Marconi, 1992: 106).

• Métodos de Procedimento
Histórico – o método histórico consiste na investigação de acontecimentos, processos e
instituições do passado para verificar a sua influência na sociedade actual, pois as instituições
alcançaram sua forma actual através de alterações de suas partes constituintes, ao longo do

7
tempo, influenciadas pelo contexto cultural particular de cada época (Lakatos e Marconi,
2003: 107; Lundin, 2016: 121). Este método foi relevante porque permitiu, entre outros
aspectos, a percepção do contexto histórico que levou o PMA e a se instalar e desenvolver
suas operações em Moçambique e de que forma esse contexto histórico determinou a
permanência do PMA até aos dias de hoje em Moçambique.

Monográfico – o método monográfico consiste no estudo de determinados indivíduos,


profissões, condições, instituições, grupos ou comunidades, com a finalidade de obter
generalizações (Lakatos e Marconi, 2003: 108). Dessa forma, o estudo do caso das
intervenções na forma de assistência humanitária do PMA em Cabo Delgado é representativo
das intervenções em Moçambique e por sua vez pode ser representativo das intervenções da
mesma instituição nos Estados da africa-subsaariana em que trabalha. Portanto, o método
monográfico ajudará a entender e fazer um estudo aprofundado sobre os desafios do PMA na
alocação de donativos às famílias afectadas por calamidades naturais e terrorismo nos
Estados da África subsaariana.

Técnicas de Pesquisa

Técnica Documental – a técnica documental abrange as fontes primárias que são usadas
como suporte para a pesquisa em combinação com os métodos de pesquisa escolhidos
(Lundin, 2016: 147). Esta técnica auxilia na leitura e análise crítica e interpretativa da
documentação, com vista a garantir a credibilidade e autenticidade da informação. Esta
técnica foi escolhida pelo seu potencial de permite a confrontação das informações
disponibilizadas pelas diversas fontes com outras informações que constam em livros,
documentos oficiais (relatórios e informativos) do PMA, do governo moçambicano e de
outras entidades. Por seu turno, A entrevista é um encontro entre duas ou mais pessoas, a fim
de que uma delas obtenha informações a respeito de um determinado assunto, mediante uma
conversa de natureza profissional (Lakatos e Marconi, 2003: 195). Esta técnica é
extremamente importante porque permite estar em contacto com a realidade a ser pesquisada,
pois interage-se directamente com as pessoas deslocadas ou que atuam na assistência
humanitária as famílias deslocadas de guerra ou terrorismo em Cabo Delgado.

8
Processo de Colecta de Dados

Quanto ao processo de colecta de dados, primeiro foram identificados os documentos


considerados imprescindíveis na temática, e em seguida fez uma leitura cuidadosa de forma a
registar as informações mais importantes a pesquisa e registadas em fichas de leitura sendo
divididas em duas categorias: a categoria das intervenções do PMA em assistência às vítimas
do Ciclone Kenneth e a outra, das intervenções do mesmo programa na assistência às vítimas
do terrorismo.

Num segundo momento, elaborou-se um guia de entrevista composto por 10 perguntas


abertas e não-estruturadas que foram feitas através de uma conversa face a face com os
participantes de forma isolada e privada, onde o curso da entrevista foi determinado pela
interação. E, de forma a facilitar o registo, as entrevistas foram áudio-gravadas em telefones
celulares com o consentimento do entrevistado, nos casos em que o entrevistado não
consentisse na gravação recorria-se das anotações em blocos de notas que posteriormente
foram passadas ao diário de pesquisa. Também, o entrevistado estava na liberdade de
escolher se respondia em anonimato ou não. Quanto ao local da entrevista, a mesma foi da
preferência do entrevistado.

Estrutura do Trabalho

O presente trabalho encontra-se dividido em quatro capítulos antecedidos de uma introdução,


na qual apresentamos o tema, a sua delimitação, justificativa, problematização, objectivos,
questões de pesquisa, hipóteses e a metodologia. O primeiro capítulo consiste na
apresentação do enquadramento teórico e debate conceptual. No segundo capítulo constitui a
discussão sobre os factores determinantes da presença do PMA em Moçambique. O terceiro
capítulo identificam-se as principais áreas de intervenção do PMA em Moçambique. O quarto
capítulo consiste numa análise dos desafios do PMA na alocação de donativos às famílias
afectadas pelo ciclone Kenneth e terrorismo na Província de Cabo Delgado. No final do
trabalho, fazemos as considerações finais, que consiste numa retrospectiva da pesquisa
avaliando-se o cumprimento dos objectivos traçados e a validação das hipóteses levantadas.
E, finalmente, as referências bibliográficas, onde são apresentadas as fontes usadas na
prossecução da pesquisa.

9
CAPÍTULO 1: ENQUADRAMENTO TEÓRICO E DEBATE CONCEPTUAL

O presente capítulo apresenta as ferramentas teórico-conceptuais que são usadas e que


possibilitam melhor compreensão do tema. Em termos teóricos, a pesquisa é lida a luz da
teoria Pluralista das Relações Internacionais, sendo apresentado o contexto de surgimento,
percursores, pressupostos, aplicabilidade e as críticas que a mesma sofreu. No debate
conceptual, são apresentados os conceitos de Ajuda (Assistência) Humanitária Internacional,
Cooperação Internacional, Terrorismo e Calamidades Naturais.

1.1. Enquadramento Teórico

Segundo Dougherty e Pfaltzgraff (2003: 29), todo trabalho de cunho científico exige uma
base teórica como directriz orientadora da sua abordagem. Assim, o objectivo principal duma
teoria é de explicar os factos ou fenómenos num âmbito geral, que se familiarizem com as
correntes históricas da realidade em Estudo. O outro objectivo de uma teoria é de conferir no
seu mais alto nível, a cientificidade do trabalho. Não fugindo a regra, o presente trabalho tem
como suporte a Teoria Pluralista das Relações Internacionais.

A Teoria Pluralista das Relações Internacionais é o reflexo do pensamento liberal clássico,


por isso alguns autores referem-na como teoria liberal, e a principal afeição dessa teoria é de
olhar o sistema internacional como um espaço onde se prolifera uma série de actores (além
do Estado) que nível de poder muito díspares, mas que de alguma forma tem capacidade de
influência a agenda das Relações internacionais de forma geral e a política externa de outros
actores de forma particular (Viotti e Kauppi, 1993: 228).

1.1.1. Contexto de Surgimento

A Teoria Pluralista das Relações Internacionais surge como um dos principais paradigmas de
Relações Internacionais (RI’s). As suas origens podem ser buscadas no pensamento político
da Antiga Grécia, dos liberais dos séculos XVIII e XIX e, mais recentemente, nos escritos
académicos sobre o comportamento de grupos de interesse e organizações. Esta teoria
apresenta-se como um contraste a abordagem Realista, e o seu principal interesse é o de fazer
perceber que as condições em que a colaboração ou cooperação internacionais são possíveis.
Com intuito de responder aos novos desafios colocados pela complexidade crescente das
questões internacionais, os Pluralistas criticaram o enfoque do Realismo no Estado e

10
procuraram alargar a relevância dos demais actores no sistema internacional bem como os
temas da sua agenda (Viotti e Kauppi, 2012: 137 e Dougherty e Pfaltzgraff, 2003: 245).

1.1.2. Precursores

A Teoria Pluralista das Relações Internacionais, diferentemente de outras, a princípio


apresentava dificuldades no que respeitava a identificação dos seus precursores. Os
precursores desta teoria, podem ser encontrados em diversos campos de estudo e os que
tiverem uma relevante influência apresentavam-se tendencialmente de forma indirecta, sendo
que a maioria não foram analistas de relações internacionais, mas sim economistas, cientistas
sociais, teólogos, ou cientistas políticos com interesse ligado a política doméstica dos Estados
(Viotti e Kauppi (2012: 131). O Pluralismo alicerça-se nos estudos e publicações de
pensadores como Immanuel Kant11, Richard Cobden12 e Joseph Schumpeter13, os quais
tiveram um impacto significativo na abordagem sobre temas ligados a política internacional
(Ibid.: 134).

1.1.3. Pressupostos

Autores como Viotti e Kauppi (2012: 137), identificam os seguintes pressupostos básicos
para a Teoria Pluralista das Relações Internacionais:
• As Entidades Estatais não são os únicos actores relevantes no sistema internacional.
Elas têm um papel mínimo na arena global, sendo que o foco deve ser dado ao
indivíduo como a unidade de análise mais importante.
• A acção do Estado está limitada a manutenção da estabilidade política, social,
económica e ambiental da unidade política, sendo que os indivíduos ou grupos de
interesses devem interagir e propor as formas de convivência dentro e fora dessa
mesma unidade política.
• Os actores não estatais são entidades importantes na política mundial. Portanto, o seu
pensamento é deveras importante na formulação da orientação do Estado e seu papel
diante da dinâmica das relações internacionais.

11
Um intelectual que viveu de 1724 a 1804, cujos postulados sobre democracia e paz, tiveram grande influência
nas teorias contemporâneas
12
Um proeminente acadêmico que viveu de 1804 a 1865 e precursor do que se pode chamar de liberalismo
comercial.
13
Académico que viveu de 1883 a 1950, cultor da protecção e expansão do capital, como forma de manutenção
da paz e harmonia

11
• Os Estados não são actores unitários. Ele é composto por numerosas individualidades
que representam a multiplicidade de interesses e que estão em competição. O papel do
Estado é o de mediar os conflitos ou disputas entre os indivíduos ou grupos de
interesses dentro da unidade política e negociar e definir as normas de relacionamento
fora das mesmas.
• A agenda internacional é extensiva, abrangendo questões económicas, sociais,
ambientais, facto que permite maior interação entre as unidades políticas,
desembocando na inevitável cooperação.

Ademais, os Pluralista são cépticos em relação a dicotomia high politics versus low politics
propugnada pela maioria dos realistas, pelo que as questões socio-económicas por vezes são
tão importantes quanto as questões militares.

1.1.4. Aplicabilidade da Teoria Pluralista

A teoria explica o funcionamento de um sistema internacional não mais centrado no Estado,


onde Organizações Internacionais atentam ao poder do Estado podendo determinar e
influencia o seu comportamento. Assim, as análises do tema serão suportadas pela Teoria
Pluralista que se adequa pelo facto de seus pressupostos explicarem a intervenção do PMA na
forma de assistência humanitária as famílias moçambicanas afectadas pelas calamidades
naturais e o terrorismo em Cabo Delgado. De facto, a capacidade das agências humanitárias
internacionais como o PMA em mobilizar a comunidade internacional em solidariedade as
famílias em situação de crise humanitária, num contexto em que o governo moçambicano não
consegue atender as necessidades básicas das famílias deslocadas, consolida a ideia pluralista
segundo a qual, “outras entidades podem ser tão importantes quantos os Estados são nas
relações internacionais”.

1.1.5. Críticas à Teoria

As críticas feitas à Teoria Pluralista das Relações Internacionais são baseadas no facto da
mesma ignorar a relevância das diferentes nacionalidades e culturas que compõem os Estados
e suas particularidades e como as mesmas podem ser agregadas em suposta sociedade global
e homogénea. Outra crítica, prende-se com o facto de a teoria dissolver o papel do Estado
e/ou colocar em igualdade de circunstâncias a outros actores do sistema.

12
Não obstante estas críticas, pode-se notar que os autores ou precursores da mesma
conseguiram contrapor com argumentos bastantes a pertinência da abordagem por ela
apresentada, pelo facto de conseguir responder a muitas questões e/ou fazer leitura mais
próxima à realidade de acontecimentos e prever futuros posicionamentos dos actores
mediante a dinâmica do sistema (Viotti e Kauppi, 2012: 161).

1.2. Debate Conceptual

O debate conceptual consiste na discussão de ideias sobre conceitos definidos por vários
autores com o intuito adoptar uma das definições dos autores citados, adaptar outra em
resultado da confrontação das ideias ou de construir uma nova definição que seja mais
adequada ao tema abordado. Assim, são definidos os conceitos de Ajuda Humanitária
Internacional, Cooperação Internacional, Terrorismo e Calamidades Naturais.

1.2.1. Ajuda Humanitária Internacional

Embora a prática de ações humanitária exista desde os anos entre as Grandes Guerras
Mundias, a Assistência Humanitária ainda carece de uma definição exacta e que seja
consensual no meio académico. A ideia é abstrata e possibilita uma aplicação prática sob
diferentes condições e enfoques. A finalidade será sempre a mesma: o auxílio às populações
necessitadas de algum bem ou serviço devido à mudança repentina de suas condições.

Assim, Schmitz et al. (2010: 121), definem ajuda humanitária como “toda e qualquer acção
que contribua, de forma imediata e eficaz, para prevenir, proteger, preparar, evitar, reduzir,
mitigar sofrimento e auxiliar outros Estados ou regiões que se encontrem, momentaneamente
ou não, em emergência, de calamidade pública, de risco iminente ou grave ameaça à vida, à
saúde, à garantia dos direitos humanos ou humanitários de sua população.

Por seu turno Tambourgi (2017: 107), define a ajuda humanitária internacional de forma
operacional referindo-se às accões de determinado governo na forma de doações financeiras
ou in kind, isto é, doações feitas em dinheiro ou em géneros alimentícios que são enviadas a
Estados que carecem de ajuda em emergências humanitária provocada por calamidades
naturais ou conflitos de forma a aliviar o sofrimento das populações daquele Estado. Essas
doações podem ser endereçadas directamente ao Estado receptor, entregues pelos Estados
doadores a população ou entregues a organismos internacionais de carácter humanitário que
13
posteriormente farão chegar a quem realmente precisa. O mesmo autor acrescenta que a ajuda
humanitária internacional pode ser preventiva ou emergencial, quando visa apenas aliviar ou
prevenir o sofrimento das populações afectadas. E, estrutural ou estruturante quando visa
reforçar as capacidades de resposta as comunidades beneficiarias de ajuda através do reforço
a produção de alimentos, combate à pobreza, insegurança alimentar e de reforço as
capacidades de respostas as mudanças climáticas.

Na acepção de Monteiro (2015: 23), “ajuda humanitária é a que visa, sem nenhuma
discriminação e por meios pacíficos, a preservação da vida dentro do respeito pela dignidade
e a recolocação do homem, face ás suas capacidades de escolha (…); ela não tem por
finalidade transformar uma sociedade, mas sim ajudar os seus membros a atravessar um
período de crise”.

A União Europeia (UE) define contextualmente a sua intervenção humanitária internacional


como o financiamento as organizações humanitárias parceiras que prestam assistência no
terreno, como as Agências da Organização das Nações Unidas (ONU), as OI’s como a Cruz
Vermelha Internacional (CVI) ou o Movimento do Crescente Vermelho (MCV) e as
Organizações Não Governamentais (ONG) de ajuda humanitária. Estas organizações prestam
ajuda directamente às populações necessitadas (e não por intermédio das autoridades), muitas
vezes através do financiamento de organizações parceiras locais. Consoante as necessidades
específicas e a natureza da crise, a UE e os seus Estados-Membros concedem: assistência
material (alimentação, vestuário, medicamentos, abrigos, água, saneamento, etc.); dinheiro
e/ou vales que podem ser trocados por alimentos ou outros produtos; assistência técnica e
logística; financiamento de infraestruturas e pessoal (campos de refugiados, hospitais de
campanha, etc.) (Conselho da União Europeia, 2015: 02).

Como se pode notar, as definições acima convergem ao referirem-se a ajuda humanitária


como um conjunto de acções com vista ao alivio do sofrimento da população nos Estados em
crise. Mas, divergem na execução da ajuda, pós é possível extrair duas posições: a) a ajuda
poder ser condensada para aliviar o sofrimento - ajuda emergencial; b) mas também pode
permitir o reforço das capacidades de resposta a população local e redução dos níveis de
dependência e pobreza – ajuda estruturante. Ademais, alguns Estados endereçam-na a
população directamente, outros fazem doações através das autoridades em crise e outros
fazem-na chegar a população afectada através das OI’s.
14
Assim, para efeitos do presente trabalho define-se ajuda ou assistência humanitária como o
conjunto dos esforços do PMA ao exemplos dos donativos em dinheiro ou espécie
distribuídos as populações da Província de Cabo Delgado afectadas pelo ciclone Kenneth e as
famílias deslocadas do terrorismo com vista a aliviar o seu sofrimento, a reduzir as
vulnerabilidades das mulheres e crianças, mas também ao conjunto de acções de reforço as
capacidade de resposta a situações de emergência, combate à pobreza e a fome ao exemplo da
estratégia “fome zero”.

1.2.2. Cooperação Internacional

Autores como Sarfati (2005: 55), entendem que a Cooperação Internacional acontece quando
os actores ajustam seus comportamentos às preferências dos outros por meio do processo de
coordenação de políticas. Mais a diante, o mesmo autor, citando Keohane (198414), observa
que a Cooperação intergovernamental acontece quando as políticas perseguidas por um
governo são percebidas por outros governos como facilitadoras para atingir os seus próprios
objectivos de governo, como resultado do processo de coordenação de políticas.

A Cooperação Internacional pode ser entendida como um sistema que articula a política dos
Estados e Actores não-governamentais, um conjunto de normas difundidas por organizações
internacionais e a crença de que a promoção do desenvolvimento em bases solidárias seria
uma solução desejável para as contradições e as desigualdades geradas pelo capitalismo no
plano internacional (Milani, 2012: 211).

Para o Instituto de Pesquisa Económica Aplicada (IPEA), a Cooperação Internacional é o


conjunto de recursos investidos por determinado governo nos outros Estados, em nacionais
de outros Estados presentes no seu território, ou em organizações internacionais com o
propósito de contribuir para o desenvolvimento internacional, entendido como o
fortalecimento das capacidades de organizações internacionais e de grupos de outros Estados
para a melhoria de suas condições socioeconómicas (Cintra, 2010: 17).

14
Keohane, Robert (1984), After hegemony: cooperation and discord in the world economy. Princeton
University Press: Princeton, NJ.

15
A Cooperação Internacional, compreende todas as acções que governos e organizações da
sociedade civil de países distintos planeiam e executam com objectivo de fomentar um
progresso mais equilibrado e justo no mundo. Esta tem como propósito, assegurar a paz e
promover o desenvolvimento e justiça (Sánchez, 2002: 15).

A Cooperação Internacional na perspectiva de Keohane (1984: 74), é um processo de


coordenação de políticas por meio do qual os actores (Estados e outros) ajustam o seu
comportamento às preferências reais ou esperadas dos outros actores. Isto ocorre quando as
políticas seguidas por determinado actor são consideradas por outros como um meio de
facilitação da prossecução de seus próprios interesses. Para o caso da nossa pesquisa,
tomaremos em consideração a Cooperação Internacional como um conjunto de acções
levadas a cabo por um ou mais actores do sistema com intuito de fomentar o progresso
equilibrado e reduzir as assimetrias entre os Estados, sendo deste modo um vector para a
promoção da justiça, social e o desenvolvimento económico sustentável.

1.2.3. Terrorismo

Embora seja um conceito notavelmente muito usado e conhecido nos últimos tempos devido
à crescente onda de actos terroristas no mundo, o terrorismo ainda é um conceito que carece
de aceitação compartilhada universalmente, ou seja, ainda não existe uma única definição que
sirva de modelo universal para a sua compreensão. Apesar de que nas várias definições haver
muitos aspectos comuns, a sua definição depende dos objectivos e interesses de quem define
o conceito. Neste âmbito, observa-se que o mesmo carrega consigo uma carga de elevado
conteúdo político.

Segundo Bruce (2013: 27), o terrorismo é o uso ilegítimo da força para alcançar um objectivo
político alvejando pessoas inocentes. Já Alcântara (2015: 10) citando Oxford Dictionary
(201515) considera o terrorismo como o uso não oficial ou não autorizado de violência e
intimidação na busca de objectivos políticos. Por seu turno, Bjorgo (2005: 2) aponta o
terrorismo como uma táctica para promover o medo dando ênfase na natureza do acto, não
sua motivação e, define o terrorismo como um conjunto de métodos de combate ao invés de
uma ideologia ou movimento identificável, e envolve o uso premeditado de violência contra

15
Oxford Dictionary (2015), Verbete: Terrorismo, http://www.oxforddictionaries.com

16
(principalmente) não combatentes, a fim de conseguir um efeito psicológico de medo nos
outros, os alvos imediatos.

Para Rogers (2008: 223), o terrorismo é o uso, ou ameaça de uso, de violência, por parte de
um indivíduo ou de um grupo, quer aja a favor ou em oposição à autoridade estabelecida.
Essa ação é executada para criar ansiedade extrema ou indução de medo de um grupo-alvo
específico mais que nas vítimas imediatas, com o propósito que esse grupo-alvo pressione os
seus governantes para que aceitem as reivindicações dos perpetradores. Sinai (2008: 11)
entende que, o terrorismo é uma tática de guerra envolvendo premeditada, politicamente
motivada violência, perpetrada por grupos subnacionais ou agentes clandestinos contra
qualquer cidadão de um Estado, de origem civil ou militar, para influenciar, coagir, e, se
possível, causar mortes em massa e destruição física sobre os seus alvos. Ao contrário de
forças de guerrilha, os grupos terroristas são menos capazes de derrubar os governos de seus
adversários do que em infligir destruição indiscriminada ou discriminada que eles esperam
coagi-los a mudar de política.

Enquanto que Mingst (2009: 321), define o terrorismo como o uso de violência por grupos ou
Estados, normalmente contra civis, para intimidar, provocar medo ou punir suas vítimas com
o intuito de alcançar objectivos políticos. Para Sousa (2005: 191), “o terrorismo é todo e
qualquer acto cometido por indivíduos que recorram à violência ou ameacem utiliza-la contra
um Estado, as suas instituições, a sua população em geral ou indivíduos concretos, e que
alegando aspirações separatistas, por concepções extremistas ou pelo fanatismo religioso, ou
ainda pela avidez do dinheiro, visam submeter os poderes públicos, indivíduos, grupos da
sociedade ou, de forma geral, a população a um clima de terror”.

Segundo Whittaker (2003: 3), o terrorismo é o uso calculado da força ou de ameaça de


violência para inculcar medo, destinado a coagir ou intimidar governos ou sociedades para
prossecução de objectivos que são genericamente políticos, religiosos ou ideológicos.
Portanto, o terrorismo é premeditado, politicamente motivado por violência perpetuada contra
alvos civis por grupos subnacionais ou agentes clandestinos, geralmente intentando a
influência de uma audiência.

As definições acima comungam da ideia segundo a qual o terrorismo é um acto perpetrado


por indivíduos, grupos ou Estado que com recurso a violencia sistematica contra outros
17
estados, grupos, indivíduos ou a população de um Estado prosseguem os seus interesses e
objectivo seja de natureza política, económica, religiosa ou outras. Assim, para o presente
trabalho, o terrorismo é definido como o conjunto de ações violentas sistemáticas ou
esporádicas perpetradas pelo grupo Al-Shabab sobre a população da região norte da Província
de Cabo Delgado, propriedades privadas, instituições e infraestruturas públicas com o intuito
de semear medo e terror sobre a população local provocando mortes inestimáveis, deslocados
e a paralisação de todas actividades económicas ou de geração de receitas na região.

1.2.4. Calamidades Naturais

Conforme definição de Coelho16, são manifestações climáticas extremas (sobretudo secas,


cheias e ciclones), caracterizadas por desvios acentuados e muitas vezes bruscos dos padrões
normais de comportamento dos factores climáticos com efeitos frequentemente catastróficos
para a economia e sociedade. Esses efeitos consistem na ameaça a segurança das
comunidades, suas culturas e bens, quer de forma absoluta e repentina (ciclones, cheias), quer
lentamente, provocando a escassez de água e alimentos (seca). Para o Instituto Nacional de
Gestão de Calamidades (2017: 4), Calamidades Naturais são manifestações ou fenómenos
naturais que provocam desastres como inundações, seca, ciclones e sismos, sendo estes de
carácter cíclico ou ocasionais. Percebe-se que existe uma convergência nos termos
apresentados, sendo consideradas como manifestações ou fenómenos climáticos cíclicos ou
ocasionais, que provocam desvios graves a situação normal do clima, quer de forma absoluta
e repentina ou lentamente, culminando com eventos catastróficos para a economia e a
sociedade.

16
Coelho, João Paulo Borges, www.ces.uc.pt Consultado a 18 de Março de 2021

18
CAPÍTULO 2: FACTORES DETERMINANTES DA PRESENÇA DO PMA EM
MOÇAMBIQUE

Para o presente capítulo, pretende-se identificar os factores que levam o PMA a se


estabelecer e desenvolver as suas acções nas suas áreas de intervenção. Para tal, em primeiro
descreve-se o PMA tendo em conta o contexto de surgimento, a sua actuação a nível global e,
para posteriormente olhar-se especificamente para os factores determinantes da sua presença
em Moçambique. Tas como, calamidades naturais, cheias, pobreza extrema e instabilidade
politica.

2.1. Descrição do Programa Mundial de Alimentação (PMA)

O Programa Mundial de Alimentação (PMA), em inglês World Food Program (WFP) surge
em 196117, como resultado da evolução do Sistema Humanitário Internacional (SHI), pois
com o fim da Segunda Guerra Mundial e a Criação da Organização das Nações Unidas
(ONU) as acções de ajuda humanitária foram ampliadas em termos de escopo passando a
englobar, por exemplo ao apoio as vítimas de desastres naturais, diferentemente dos seus
primórdios em que o âmbito era apenas o socorro às vítimas de conflitos armados.

Assim, é no âmbito da criação de agências especializadas da ONU que, em finais de 1961 foi
criado o PMA por iniciativa do então Presidente dos Estados Unidos da América (EUA) –
Dwight Eisenhower, como um programa experimental dedicado à assistência humanitária
alimentar que deveria começar a funcionar me 1963, mas que devido a um terremoto no Irão,
ocorrido em Setembro de 1962, o qual fez mais de 12 mil vítimas humanas e destruiu
milhares de residências, teve que entrar em funcionamento mais cedo do que o previsto. Mas
também, no mesmo ano a Argélia conquistou sua independência e devia repatriar e alimentar
seus refugiados de guerra18. Os dois fenómenos serviram de prova da relevância ou
pertinência do PMA e um autêntico batismo de fogo que catapultou e acelerou a
operacionalização do novo organismo multilateral passando, desde então a ser o programa
responsável da vertente alimentar do sistema humanitário da ONU.

17
https://www.wfp.org/history Consultado a 20 de Março de 2022
18
https://www.wfp.org/history Consultado a 20 de Março de 2022

19
Conforme Matuassa (2005: 25) citando WFP (200019), o PMA é um organismo alimentar da
ONU, que ajuda a pessoas pobres de baixo rendimento, deficitárias em alimentos, que
trabalha em duas frentes: como principal canal internacional de fornecimento de ajuda
alimentar em emergência a refugiados, deslocados e vítimas de guerras ou calamidades; e
como fornecedor de ajuda alimentar a projectos de desenvolvimento, apoiando a
autossuficiência das famílias e comunidades. O mesmo autor, observa que, 90% dos recursos
do PMA são usados em emergências para questões humanitárias, e os restantes 10% para
assistência ao desenvolvimento.

2.2. Breve Descrição de Moçambique

A República de Moçambique é um Estado laico, soberano e independente localizado na costa


oriental da África Austral. Tem uma extensão territorial de mais de 799 mil Km².
Moçambique faz fronteira com seis Estado: Suazilândia, África do Sul, Zimbabué, Malawi,
Zâmbia e Tanzânia, além do Canal de Moçambique e o Oceano Índico. A área que hoje
constitui o Estado moçambicano foi reconhecida em 1498 por Vasco da Gama e, em 1505,
foi anexado ao império português cuja dominação durou até 25 de Junho de 1975, ano em
que a FRELIMO proclamou a independência nacional. Trata-se de um Estado de Direito
democrático, multipartidário baseado na Constituição de 1990 e nas duas revisões posteriores
(em 1996 e 2004) que tem no português a sua língua oficial e as principais cidades são
Maputo, Beira e Nampula (Apex-Brasil, 2011: 7).

Moçambique é um dos Estados fundadores da SADC, no âmbito da qual harmoniza as suas


políticas nacionais para maior integração económica regional inclusiva, o combate a pobreza
absoluta, a epidemias como o HIV/SIDA, crimes transnacionais como o tráfico de drogas,
contrabando de armas, viaturas, repudiando e combatendo a propagação do terrorismo no
mundo (Serra 2009:16).

De acordo o Instituto Nacional de Estatística (2019: 27), Moçambique conta com uma
população de aproximadamente 28,861 milhões de habitantes, um aumento de 15,25%
quando comparado aos resultados cartográficos de 2014, do quais 52% é do sexo feminino e
48% do sexo masculino. Grande parte da população economicamente activa vive nas zonas
rurais com maior concentração para a zona norte do Estado e, de forma global, 66,8% da

19
WFP (2000), O Programa Mundial de Alimentação em Moçambique, As principais intervenções, Maouto

20
população reside na zona rural e a agricultura constitui a actividades económica que ocupa
mais de 78,5%, da força de trabalho (Instituto Nacional de Estatística, 2019: 27).

Moçambique é um Estado típico dos Estados do Sul, pois enfrenta problemas graves de
pobreza, extrema, desemprego, analfabetismo, corrupção, dependência e endividamento
externo, epidemias como o HIV/SIDA, cólera, desnutrição crónica, entre outros. Por
exemplo, Nipassa (2009:5 e 13), aponta que na década passada (2000 à 2010), o Estado
recebeu de ajuda externa um montante avaliado na ordem de US$ 65.6 per capita por ano, o
correspondente a cerca de 40% da renda nacional. O Estudo de base do MASC (2008),
estimavam que, em Moçambique, a ajuda externa financiava cerca de metade do Orçamento
do Estado; também, Moçambique é o 8º no ranking dos Estados com maior índice de
HIV/SIDA no mundo, 11,5% da população dos 15-49 vive com o vírus (Ernesto, 2018:34).

2.3. O PMA em Moçambique

Em Moçambique, conforme explicam Vunjanhe e Adriano (2015: 62), as entidades que mais
actuam no âmbito da segurança alimentar e nutricional são o PMA e a Agência da
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). Ambos
organismos consolidaram as suas actividades no Estado, na década de 1990, com programas
de emergência e ajuda humanitária, no âmbito da reconstrução social e económica pós-
conflito.

Por um lado, a FAO tem vindo a intervir, desde essa altura, na assistência técnica do governo
no âmbito de definição de políticas da agricultura e voltadas para a segurança alimentar e
nutricional. Por seu turno, o PMA, lançou várias iniciativas ao longo desse período, sendo
uma das mais vistosas, o programa Purchase for Progress (Compras para o Progresso – P4P),
no qual pretendia promover o acesso aos mercados para camponeses em 20 Estados,
incluindo Moçambique, para vender seus excedentes.

Contudo, há que recordar que, a actuação do PMA em Moçambique remonta de 1976, com
intervenção em dois grandes programas a saber: o programa de ajuda ao desenvolvimento
rural e o programa de emergência. O programa de ajuda ao desenvolvimento rural incide
sobre os progressos das comunidades com vista ao alcance dos conhecimentos e melhoria das
capacidades de aprendizagem através do aumento das taxas de participação, particularmente
das raparigas. O programa de emergência visa essencialmente atender questões de

21
emergência em zonas do Estado cuja situação humanitária exige a intervenção do PMA
(Matuassa, 2005: 25).

2.4. Factores Determinantes da Presença e Intervenção do PMA em Moçambique

O PMA está presente em mais de 80 Estados e alguns dos elementos característicos dos
Estados beneficiários das ações do PMA são a baixa renda, pobreza extrema, desnutrição, a
fome, a guerra ou terrorismo e calamidades ou desastres naturais. Uma vez, que cada Estado
tem suas especificidades e nível de impacto social, económico e humano de cada um dos
factores mencionados é importante entender como se manifestam no caso particular de
Moçambique e como a sua ocorrência influencia na presença e intervenção do PMA no
mesmo Estado.

2.4.1. Ocorrência de Desastres e Calamidades Naturais

Nos termos do Plano Director do Conselho de Ministros (CM) para Mitigação das
Calamidades Naturais (2005-2009), Moçambique é afectado por vários desastres provocados
por fenómenos naturais como as inundações ou cheias, seca, ciclones, e sismos cujas suas
ocorrências se deve a influência climática do Estado ditada pelos anticiclones subtropicais do
Oceano Indico, a Zona de Convergências Intertropical, depressões térmicas da África Austral
e a passagem das frentes frias no sul (Instituto Nacional de Gestão de Calamidades Naturais,
2017: 4).

Moçambique tem zonas climatericamente categorizadas como semi-áridas e áridas onde as


chuvas, mesmo nos melhores anos não são suficientes para a prática de agricultura e há
deficit de água durante o ano todo. Para além dos desastres de origem climatérica, uma
grande parte do território nacional assenta em falhas tectónicas, ficando assim sujeito a abalos
sísmicos. O território nacional sujeito a tremores de terra é aquele localizado no Vale do Rift
e no Canal de Moçambique. A prevalência de calamidades provocadas por fenómenos
naturais demonstra que o Estado deve estar estruturado para prever, mitigar, e combater os
seus efeitos (Instituto Nacional de Gestão de Calamidades Naturais, 2017: 4).

Importa salientar que são diversas as calamidades que ocorrem em Moçambique, mas para
este trabalho dá-se atenção aqueles que quando ocorrem implicam exposição extrema a
vulnerabilidades das vítimas e exigem acções de emergências, que o estado moçambicano
não consegue gerir isoladamente sem a intervenção da comunidade internacional dentro das
quais se enquadra o PMA, como as que se seguem.

22
2.4.1.1. Cheias e Ciclones

As cheias do ano 2000 são um exemplo inequívoco e, senão o primeiro maior fenómeno
ligado a inundações que já ocorrem desde a independência de Moçambique. Como refere o
relatório da Agência Norte-americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID), de
avaliação do impacto, as cheias que ocorreram nas regiões sul e centro de Moçambique em
Fevereiro e Março de 2000 tiveram como consequências 500 mil pessoas deslocadas, graves
danos em termos de habitação, infraestruturas agrícolas, edifícios públicos, escolas, hospitais,
sistemas de abastecimento de água e energia elétrica, redes rodoviárias, linhas férreas e
telecomunicações (Banco Mundial, 2000).

A dimensão da calamidade afectou a actividade económica de forma tão profunda (com


particular impacto na produção agrícola e industrial) e numa área tão vasta, que foram
enormes os efeitos macroeconómicos em 2000 (Banco Mundial, 2000). As cheias
provocaram uma descida abrupta do PIB de 7,5% em 1999 para 1,6% em 2000, a inflação
atingiu os 12,7% em 2000 contra os 2,9% de 1999, e a taxa de câmbio sofreu uma brusca
depreciação a uma taxa anual de 28,2% ao ano em 2000, acima dos 7,7% em 1999
(Orçamento Geral do Estado de Moçambique, 2002).

As Províncias de Maputo, Gaza, Inhambane, Sofala e Manica foram as mais afectadas pelas
cheias. A população total das cinco províncias afectadas é de aproximadamente cinco
milhões de pessoas. De acordo com o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC),
cerca de 2 milhões de pessoas sofreram prejuízos económicos. O colapso do sistema de
transportes (resultante da destruição de estradas, pontes e linhas férreas) isolou as pessoas das
zonas afectadas do abastecimento de comida e água e dos serviços essenciais (Banco
Mundial, 2000). A segunda grande manifestação do fenómeno ocorreu na forma de ciclones
tropicais em Março na Província de Sofala, designado ciclone Idai e em Abril na província de
Cabo Delgado baptizado ciclone Kenneth.

Segundo o relatório da situação nacional do Ministério da Saúde (produzido depois dos


ciclones Idai e Kenneth ocorridos em 2019), o ciclone Idai, de categoria 2, quando atingiu a
massa terrestre, foi a tempestade mais mortífera de sempre a atingir África (atingiu
Zimbábwe e Moçambique, nas províncias de Manica, Sofala, Tete, Zambézia e Inhambane) e
o maior desastre humanitário de 2019 causando 1.300 mortes, 1.641 feridos, 400 mil
deslocados, 160.927 pessoas abrigadas em 164 centros de acomodação colectivos

23
temporários e 1,85 milhão de pessoas necessitadas de assistência e protecção humanitária
(Zurich Flood, 2020: 2).

Contudo, 6 semanas após o Ciclone Idai, no dia 25 de Abril, um ciclone tropical de categoria
3, designado Ciclone Kenneth, atingiu a costa moçambicana no extremo norte da província
de Cabo Delgado, afectando os distritos do Ibo, Quissanga e Macomia. Este ciclone, afectou
254.750 pessoas (54.554 famílias), 45 pessoas morreram e mais de 45 mil casas foram total
ou parcialmente destruídas. Ademais, cerca de 3.130 deslocados estavam abrigados em
centros de acomodação.

Em linhas gerais e, segundo a acepção pluralista, a Agenda das Relações Internacionais é


extensiva, abrangendo questões económicas, sociais, ambientais, facto que anula a ideia de
hierarquia entre as questões nela contidas e permite maior interação entre as unidades
políticas, desembocando na inevitável cooperação. De facto, as questões económicas, sociais,
ambientais podem resultar em consequências ou ameaças a segurança humana e do Estado
também, no caso das calamidades naturais, foram notáveis as consequências em termos de
perdas humanas e económicas, mas também resultou em situações de emergência o Estado
Moçambicano sozinho não teria como atender as populações afectadas, sendo necessária a
intervenção OIs oque como a WFP tem o feito em situações de emergência e recuperação
pós-crise me Cabo delgado, dando a entender que os actores não estatais são entidades
importantes na Relações Internacionais. Portanto, a ocorrência de desastres e calamidades
naturais em Moçambique constitui um dos factores que faz com que o PMA esteja presente
no território, implementando seus projectos desde emergências bem como os de
desenvolvimento local.

2.4.2. Instabilidade Política e Terrorismo


O histórico de instabilidade política em Moçambique é parte do processo de construção do
próprio Estado Moderno, pois resultou de um conflito armado desencadeado pela Frente de
Libertação de Moçambique (FRELIMO) contra a opressão colonial portuguesa entre os anos
1962 a 1974. Entretanto, com a independência proclamada a 25 de Junho de 1975, o governo
da FRELIMO, optou pelo Socialismo como ideologia política e o Marxismo-Leninismo como
orientação política, económica e social do Estado com partido único20. Este facto, em

20
Para além de se identificar com o bloco do leste, de que a FRELIMO teve apoio material na luta de libertação,
a liderança moçambicana via estreitar as relações com o bloco leste como um imperativo importante para afastar
o Estado da exploração e subserviência que estaria sujeito se continuasse integrado no sistema capitalista
Ocidental (Pavia,2000: 20).

24
associação com o role de bastião da revolução21 assumido pela FRELIMO que empreendeu
esforços em solidariedade aos movimentos nacionalistas nos Estados vizinhos como o
African National Congress (ANC) na África do Sul e a Zimbabwe African National Union
(ZANU) no Zimbabwe, que combatiam o apartheid e o regime do Ian Smith respectivamente
(Pavia, 2000: 21; Robinson, 2006: 97), fizeram com Moçambique fosse visto como uma
ameaça aos regimes minoritários da região e, como tal, e a resposta foi o desencadear de um
combate por meio de ataques e patrocínio a forças subversivas para desestabilização do
Estado e seu consequente enfraquecimento. É nesse contexto que os serviços secretos da
Rodesia, a CIO22, desenvolveram e coordenaram suas pequenas unidades transformando-as
numa unidade maior, a que se deu o nome de Movimento de Resistência Nacional (MRN23).

Como afirma Pavia (200: 23), em Setembro de 1976 a CIO, sob a liderança de Ken Flower,
organizaram o primeiro campo de treinamento militar da MNR, na cidade fronteiriça de
Untali e, entre os finais de 1976 a 197724, a MRN passou a fazer ataques esporádicos ao
longo das fronteiras com as províncias de Tete, Manica e Gaza. Desde então, quase todo
Estado foi palco de um conflito interno que passou por intensificação e relativo
abrandamento acompanhado de negociações para o cessar-fogo, facto que só foi possível em
4 de Outubro de 1992 com a assinatura do Acordo Geral de Paz em Roma. O conflito que
durou 16 anos, para além de ter provocado mudanças constitucionais, resultou na destruição
de infraestruturas socioeconómicas e aumentando os níveis de pobreza para além de ter
causado mais de 100 mil mortes (Robinson, 2006: 97).

Passados 20 anos, Moçambique viu-se mergulhado numa tensão política e militar que se
assemelha com a guerra civil que perdurou por 16 anos. Nas palavras de Darch (2028: 10), a
tensão começou quando em 2012, Afonso Dhlakama, frustrado com a intransigência do
Presidente Armando Emilio Guebuza, mudou o seu quartel-general para as montanhas da
Gorongosa e permaneceu lá, pelo menos em parte por causa do que parece ter sido graves
tentativas do exército para o capturar ou matar25.

21
Com este Role o Estado julga que tem o dever de organizar e apoiar movimentos revolucionários fora das suas
fronteiras. A sua missão é libertar outros Estados ou funcionar como base para os movimentos revolucionários
externos (apoio físico, material e inspiração ideológica).
22
Central Intelligence Organisation
23
Que em português é RENAMO
24
Neste ano, André Matsagaissa atacou o campo de reeducação de Sacuze e libertou ex-guerrilheiros do
FRELIMO, principalmente falantes do dialeto ndau de Shona, do centro de Moçambique e do leste do
Zimbabwe, para se juntar ao seu jovem exército (Omar et al,1992: 23).
25
No dia 8 de Março de 2012, um polícia é morto em confrontos com ex-combatentes da RENAMO, instalados
há três meses na sede do partido da oposição na cidade de Nampula e no dia 4 de Outubro do mesmo ano em

25
Assim, Dhlakama instala uma base militar na região da Gorongosa e começa a treinar antigos
veteranos, exigindo uma nova ordem política. Satunjira foi a primeira base fixa militar do
então movimento rebelde da RENAMO em 1980. Desde então, várias confrontações
envolvendo as forças governamentais e as forças da RENAMO resultaram em mortes,
infraestruturas publicas destruídas e viaturas queimadas em plena Estrada Nacional Nº 1
(EN1), na serra da Gorongosa. Estas confrontações passaram por momentos intensos e de
relativo cessar-fogo (como por exemplo em 2014, para permitir que os candidatos da
RENAMO entrassem na corrida eleitoral). Entretanto, foi somente em 2019 que foi assinado
pelo Presidente Filipe Jacinto Nyusi e Ossufo Momade o Acordo de Paz e Reconciliação.

Por último, desde Outubro de 2017, quando os ataques armados começaram com um assalto a
edifícios da polícia e da administração de Mocímboa da Praia por um grupo de jovens
esfarrapados, calcula-se que tenham sido mortas mil pessoas e foi destruído um número
desconhecido de residências privadas e edifícios públicos. Mais de 100 mil deslocados
internos abandonaram os seus lares e os seus campos (Vinha, 2020). Do grupo que passou de
bandidos armados, malfeitores a insurgentes e, finalmente, terroristas islâmicos resultou em
intensos ataques, um dos quais resultou na tomada total pelos malfeitores à cidade de
Mocímboa da Praia.

Como afirmam Rogério (2020: 179); Dos Santos (2020: 8) e CIP (2020), de Outubro de 2017
a Outubro de 2020, os insurgentes realizaram mais de 600 ataques terroristas nos distritos do
norte e centro da Província de Cabo Delgado, causando cerca de 2 mil mortes entre a
população, das quais mais de 60% são de civis. Para além da barbaridade na forma de
actuação, a face mais visível dos ataques em Cabo Delgado é o crescente número de
deslocados internos, que atingiu mais de 300 mil até ao final do mês Setembro de 2020,
correspondente a cerca de 13% da população da Província de Cabo Delgado, facto que vem
mobilizando a comunidade internacional em socorro as famílias afectadas. O que remete-nos
ao pressuposto pluralista segundo o qual, “no sistema internacional outros actores tais como,
as organizações internacionais, as corporações multinacionais, os grupos terroristas, os
comerciantes de armas e os movimentos de guerrilha têm um papel de destaque na dinâmica
das relações internacionais”, pois a actuação barbara dos terroristas em Cabo Delgado tem
vindo a colocar moçambique no centro da politica internacional, pois se por um lado há

plenas festividades dos 20 anos de paz e do Acordo Geral de Paz de 1992, cresce a insatisfação no seio da
RENAMO que reclamam por mais acesso às instituições do Estado, às Forças Armadas e à Comissão Nacional
de Eleições (CNE).

26
doações para o alivio do sofrimento, do outro lado há Estados demostrando disponibilidade
para apoiar militarmente o Estado e outros (incluindo a comunidade académica tem
procurado compreender a incursão terrorista no mesmo Estado.

A teoria pluralista defende que os Estados não são actores unitários. Ele são composto por
numerosas individualidades que representam a multiplicidade de interesses e que estão em
competição. Olhando para o processo de formação do Estado moderno moçambicano é
possível depreender que foi sempre acompanhado por uma competição pelo poder politico
pondo o governo do dia e a oposição e também há forças externas que apoiam ou financiam
os actores internos como aconteceu no conflito que opôs a FRELIMO da RENAMO por 16
anos.

Portanto, a prevalência de conflitos armados em Moçambique, tem graves implicações em


termos humanitários, cristalizada no aumento do número das populações deslocadas, que
fogem das zonas assoladas pela violência armada, deixando nas suas zonas de origem os seus
meios de produção, base de sustento, suas casas e implicando necessidades de assistência ou
apoio humanitário facto que faz com que o PMA e outras instituições humanitárias se vejam
frequentemente a intervir ou desenvolver suas acções de socorro às vítimas dos mais variados
fenómenos que expõem a população moçambicana a vulnerabilidades e o Estado
moçambicano sobrecarregado para assistir as famílias afectadas.

Ademais, diversas são as áreas de actuação para reduzir o sofrimento as vitimas, por exemplo
a SADC tem apoiado o governo moçambicano a combater o terrorismo através da acção
militar directa, entretanto, não faz parte do mandato da WFP actuar directamente no combate
ao terrorismo, mas oferecem ajuda alimenter e apoia no transporte das pessoas afectadas das
zonas de risco de conflito para zonas mais seguras assim passam a dar ajuda alimentar.

2.4.3. Pobreza Extrema e Fome

Moçambique está entre as nações mais pobres do mundo, e segundo o Relatório de


Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) de 2016, o Estado tornou-se o 7° mais pobre do mundo, tendo caído da posição 180
para 181, num universo de 188 Estados avaliados. O mesmo relatório refere que apesar de
Moçambique ter registado subida em alguns indicadores, como esperança de vida, que passou
de 43 anos em 1990 para pouco mais de 55 anos em 2015, bem como o tempo de

27
permanência na escola, de 2.7 para 5.4 anos no mesmo período, o Estado continua no grupo
de Estados considerados de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

Da corelação dos fenómenos, calamidades naturais e instabilidade política, terrorismo e


pobreza em que algumas famílias se encontram expostas, resulta a situação de fome. De
acordo com o Índice Global da Fome (IGF), apresentado em 2018, mais de 24% da
população moçambicana, o correspondente a 6.9 milhões de pessoas, viviam em situação de
incerteza diária em relação as refeições, ou seja, duas em cada dez pessoas se encontravam
em situação de insegurança alimentar. Conforme os dados do SETSAN26 (2019: 1), baseados
no uso das ferramentas IPC27, Moçambique possui um universo de 1.648.646 pessoas que
necessitam de intervenção para melhorar a sua dieta alimentar, reconstruir e repor os bens e
modos de vida. Seguido estimativas da mesma organização, este número iria aumentar para
1.994.538 caso não se verificasse uma intervenção humanitária, tendo em conta que o período
que se seguia era de escassez de alimentos.

Analisando a situação de insegurança alimentar por distrito da Província de Cabo Delgado,


mediante os dados colhidos em dois períodos distintos (Abril a Setembro de 2019 e Outubro
de 2019 a Fevereiro de 2020), observa-se que a tendência da situação foi de deterioração com
números a rondarem a mais 36.907 pessoas afectadas (Ibid). Há que referir que, a assistência
humanitária que tem sido feita nas áreas mais afectadas tem prevenido a deterioração da
situação, evitando situações de fome severa. De recordar que, o défice alimentar é causado
por múltiplos factores dentre eles: insuficiência de chuvas na época de cultivo, destruição
causada por eventos climáticos como o ciclone Kenneth, ataques dos insurgentes em alguns
distritos e pragas que atacam as culturas no campo de produção. Portanto, a pobreza extrema
e a fome constituem factores assente a população moçambicana e a ocorrência de
calamidades naturais que provoca a destruição de meios de subsistência, o terrorismo ou
instabilidade política que ceifa vidas e destrui infraestruturas catalisam cada vez mais a
pobreza e fome em Moçambique, tornando assim, imprescindível a presença do PMA em
Moçambique.

Em síntese, o PMA é um organismo alimentar da ONU, que ajuda a pessoas pobres de baixo
rendimento, deficitárias em alimentos, trabalhando como principal canal internacional de
fornecimento de ajuda alimentar em emergência a refugiados, deslocados e vítimas de

26
Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional
27
Integrated Food Security Phase Classification

28
guerras ou calamidades, mas também, como fornecedor de ajuda alimentar a projectos de
desenvolvimento, apoiando a autossuficiência das famílias e comunidades. Em Moçambique,
o PMA está presente desde a década 1990 juntamente com a FAO.

A Presença do PMA em Moçambique tem sua razão de ser pelo facto de este Estado sofrer
com frequentes formas de manifestações de calamidades e desastres naturais na forma de
cheias, pois desde as cheias de 2000 moçambique tem sido palco de ciclones tropicais como
Idai, Kenneth entre outros. Também, o Estado tem sido palco de instabilidade política,
hostilidades militares e terrorismo, para alem da pobreza extrema e da fome que pode ser
considerado um corolário dos outros factores. Da corelação dos fenómenos acima
mencionados, é inequivocamente explicável a presença do PMA em moçambique
implementado desde projecto de emergência, de recuperação pós-crise e de desenvolvimento
local.

29
CAPÍTULO 3 : ÁREAS DE INTERVENÇÃO DO PMA EM MOÇAMBIQUE

No capítulo anterior fez-se um rastreio sobre as razões do PMA estar activamente a intervir
em Moçambique, neste capítulo pretende-se identificar as áreas através das quais se
manifesta a intervenção do PMA em Moçambique. Para tal, em primeiro são apresentadas as
iniciativas do PMA em Moçambique e em seguida, alguns programas de âmbito institucional,
os quais procuram desenvolver estudos sobre a nutrição e segurança alimentar da população
local.

3.1. Iniciativas do PMA em Moçambique

Em Moçambique, conforme explicam Vunjanhe e Adriano (2015: 62), as entidades que mais
actuam no âmbito da segurança alimentar e nutricional são o PMA e a FAO. Ambos
organismos deram início as suas actividades no Estado, na década de 1990, com programas
de emergência e ajuda humanitária, no âmbito da reconstrução social e económica pós-
conflito. Por um lado, a FAO tem vindo a intervir, desde essa altura, na assistência técnica do
governo no âmbito de definição de políticas da agricultura e voltadas para a segurança
alimentar e nutricional. Por seu turno, o PMA, lançou várias iniciativas ao longo desse
período, sendo uma das mais vistosas, o programa Purchase for Progress (Compras para o
Progresso – P4P), no qual pretendia promover o acesso aos mercados para camponeses em 20
Estados, incluindo Moçambique, para vender seus excedentes.

Recordando as palavras de Matuassa (2005: 25), a actuação do PMA em Moçambique


remonta de 1996, com intervenção em dois grandes programas a saber: o programa de ajuda
ao desenvolvimento rural e o programa de emergência. O programa de ajuda ao
desenvolvimento rural incide sobre os progressos das comunidades com vista ao alcance dos
conhecimentos e melhoria das capacidades de aprendizagem através do aumento das taxas de
participação, particularmente das raparigas.

O programa de emergência visa essencialmente atender questões de emergência em zonas do


Estado cuja situação humanitária exige a intervenção do PMA. O mesmo autor observa que,
as principais actividades do PMA em Moçambique são: distribuição geral de alimentos ou
alimentação a grupos vulneráveis; programa comida pelo trabalho/comida pela capacitação;
distribuição de lance escolar; programa de combate ao HIV/SIDA e cuidados básicos
domésticos de órfãos e crianças vulneráveis.

30
3.1.1. Distribuição Geral de Alimentos ou Alimentação a Grupos Vulneráveis

A actividade é desenvolvida em lugares onde o número de necessitados é bastante elevado. A


sua implementação é levada a cabo pelos seus parceiros nacionais e internacionais (ONG’s).
A organização, adquire alimentos locais que posteriormente são alocados a grupos
vulneráveis, incluindo para a alimentação escolar28. A compra é precedida pelo
fortalecimento de capacidades produtivas, de planificação, comercialização dos camponeses,
tendo em conta aspectos específicos que influenciam negativamente para o desenvolvimento
dos territórios. Esta abordagem veio substituir, a actuação que estava basicamente voltada
para assistência humanitária com vista a assegurar a segurança alimentar (disponibilidade
física de alimentos), independentemente da origem dos alimentos, os modos de produção e os
hábitos alimentares dos beneficiários.

3.1.2. Programa Comida pelo Trabalho ou Comida pela Capacitação

O programa é desenvolvido de acordo com as preferencias do Governo, por forma a evitar


impactos negativos da distribuição gratuita de comida. A maior parte das actividades são
seleccionadas de acordo com o plano de acção para mitigação dos efeitos dos eventos
climáticos. Para Matuassa (2005: 26), citando WEP (199729), há um processo participativo
para a identificação das necessidades das populações, envolvendo representantes do PMA e
autoridades locais de cada área abrangida. Através do programa, as famílias são chamadas a
trabalhar na criação de auto-sustento, construindo infraestruturas para os grupos vulneráveis.
Este programa é orientado para a capacitação e educação da comunidade sobre a saúde e
agricultura, em matérias tais como HIV/SIDA, higiene e geração de rendimentos.

3.1.3. Distribuição de Lanche Escolar

É uma actividade levada a cabo em conformidade com o programa de ajuda as zonas rurais,
cujo objetivo é fazer com que os chefes de famílias invistam no capital humano e no seu
próprio desenvolvimento. Este programa visa evitar que crianças abandonem a escola para ir
a machambas ou outras actividades como forma de busca de alimentos para sustento da
família, abandonando a escola. E também tem como finalidade evitar a desnutrição em

28
http://paa-africa.org/pt/about/programme-partners/ Consultado a 20 de Março de 2022
29
WEP (1997), Relatório sobre a vulnerabilidade da população na região sul de Moçambique, Maputo

31
crianças das zonas rurais e que frequentem a escola. Com a iniciativa, promove-se a adesão a
escola e reduz-se a desnutrição infantil.

3.1.3. Programa de Combate ao HIV/SIDA e Cuidados básicos Domésticos de Órfãos e


Crianças Vulneráveis

É um programa que está sempre inserido em todas actividades do PMA em Moçambique,


devido ao aumento da prevalência das taxas de infecção em adultos e que tem implicações
directas na segurança alimentar e na má nutrição. As actividades desta vertente, são
desenvolvidas em coordenação com outras agências da ONU.

3.2. Outros Programas de Âmbito Institucional

No âmbito nutricional, o PMA tem um programa de apoio nutricional a mulheres grávidas e


lactantes sofrendo de desnutrição moderada que apoia aproximadamente 8000 mulheres por
ano. O PMA, igualmente, auxilia o Governo na prestação de assistência alimentar para
Crianças Órfãs e Vulneráveis (COV) nas províncias de Tete, Manica, Sofala, Inhambane,
Gaza e Maputo, tendo distribuído alimentos a 36.375 beneficiários, no primeiro trimestre de
2010. No âmbito do programa de Cuidados Domiciliários (CD) o PMA, em parceria com
ONGs locais, presta assistência alimentar e nutricional às pessoas com doenças crónicas
decorrentes do HIV/SIDA (INE, 2013: 23).

No âmbito de intervenção multisectorial, o PMA em parceria com a FAO, Ministério das


Relações Exteriores (Coordenação Geral de Acções Internacionais de Combate à Fome) e
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome do Brasil, e o Departamento do
Reino Unido para o Desenvolvimento Internacional, estabeleceram no ano de 2013, o
Programa de Aquisição de Alimentos (PAA-África). Esta iniciativa visava promover a
segurança alimentar e nutricional e geração de renda para camponeses e comunidades
vulneráveis, inspirando-se na experiência brasileira bem-sucedida do Programa de Aquisição
de Alimentos (PAA)30. O referido projecto, em termos de impacto, beneficiou só no ano de
2013, cerca de 600 famílias, 72 mil alunos e 174 escolas. O programa centrou-se em dois
distritos da província de Tete, Angónia e Cahora Bassa, sendo o primeiro um dos celeiros do
Estado com elevado potencial produtivo e o segundo beneficiário dos produtos adquiridos em

30
http://paa-africa.org/pt/about/paa-africa/ Consultado a 20 de Março de 2022

32
Angónia. Pese embora ser um programa importante na segurança alimentar, o PAA conta
com uma fraca participação do governo moçambicano, limitando-se apenas a presença de
técnicos do Ministério da Agricultura no grupo consultivo do programa.

3.3. Estudos sobre Indicadores de Segurança Alimentar dos Agregados Familiares

A quantidade e a qualidade dos alimentos consumidos no seio de um agregado familiar são


uma determinante importante da segurança alimentar e do estado nutricional do agregado
familiar. O consumo alimentar é de particular interesse porque aparece como um caminho
através do qual se espera que a criação de activos, o treinamento em matéria de gestão de
perdas pós-colheita e o apoio nutricional directo sejam susceptíveis de afectar os agregados
familiares e a nutrição individual, e os resultados da segurança alimentar. Por exemplo, a
intervenção na criação de activos na comunidade e nos agregados familiares pode aumentar o
rendimento familiar e a produção de alimentos nutritivos, permitindo aos agregados
familiares consumir uma dieta mais diversificada e nutritiva (Hughes, Woldeyohanes e
Chiputwa, 2020: 23).

O PMA usa o seu Módulo de Abordagem Consolidada para Relatórios de Indicadores de


Segurança Alimentar (CARI) para avaliar e apresentar indicadores-padrão relacionados com
a segurança alimentar. Desagregar os dados por sexo do chefe do agregado familiar teria sido
importante para avaliar a diferença entre agregados familiares chefiados por homens e
mulheres (WFP, 2015: 10). Para obtenção de dados detalhados sobre a ingestão alimentar tem
sido usada a Pontuação da Diversidade da dieta do Agregado Familiar (HDDS), sendo este
um indicador da capacidade económica do agregado familiar em ter acesso a uma variedade
de alimentos. É baseada na recolha de dados sobre o consumo de 16 itens alimentares (cereais
e tubérculos; vegetais ricos em vitamina A; hortaliças de folha verde; outros vegetais; frutas
ricas em vitamina A; outras frutas; carne; leguminosas; leite e lacticínios; peixe; ovos; óleos e
gorduras e; doces) ao longo dos últimos sete dias anteriores as pesquisas.

É também usada a Pontuação do Consumo Alimentar (FCS), um substituto para o acesso dos
agregados familiares aos alimentos, e serve para classificar os agregados familiares em
diferentes grupos com base na adequação dos alimentos consumidos durante a semana
anterior as pesquisas. Toma-se em consideração a frequência do consumo, ao longo dos
últimos 7 dias, de cada um dos 16 itens acima mencionados. O indicador FCS concentra-se

33
em três dimensões do consumo alimentar: a diversidade da dieta, a frequência alimentar e a
importância nutricional relativa. A pontuação é calculada usando a frequência ponderada do
consumo de nove grupos de alimentos consumidos por um agregado familiar durante os sete
dias anteriores ao inquérito. Pesos maiores (ou menores) são atribuídos aos melhores (ou
piores) grupos de alimentos em termos da sua densidade calórica e do conteúdo de macro e
micronutrientes. É também usada a Pontuação do Consumo Alimentar–Nutrição (FCS-N),
outro indicador de segurança alimentar para os agregados familiares. Concentra-se na
adequação nutricional da dieta do agregado familiar. Usa os mesmos dados associados à FCS
e fornece um nível adicional de informação sobre o valor nutricional dos alimentos
consumidos pelo agregado familiar durante a semana anterior ao inquérito de base (Hughes,
Woldeyohanes e Chiputwa, 2020: 26).

Desenvolvem estudos para avaliação da proporção das despesas alimentares, sendo um


indicador da vulnerabilidade de um agregado familiar; agregados familiares pobres tendem a
gastar uma parcela maior do seu rendimento em alimentos. No âmbito dos estudos são
empregues indicadores como: O Indicador das Estratégias de Subsistência (LCS31),
estabelecido a partir de uma série de perguntas sobre a experiência do agregado familiar com
tensões relacionadas com os meios de subsistência e o esgotamento de activos; Índice das
Estratégias de Subsistência reduzido (CSI32), o qual restringe-se mais especificamente nas
estratégias de subsistência relacionadas com os alimentos e, portanto, complementa o LCS; O
Índice de Segurança Alimentar (FSI33), que representa a situação geral de segurança
alimentar do agregado familiar (Ibid.: 29).

3.4. Estudo sobre Perdas Pós-colheitas

No que tange a perdas pós-colheita, assumindo o entendimento da Organização das Nações


Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), de que são perdas de safra que ocorrem
desde o ponto de produção (colheita) até ao momento em que chega ao consumidor. A perda
pode dever-se a factores na produção (machamba), tal como a colheita inadequada, ou a
factores externos, tal como a falta de acesso a estradas ou a meios de transporte adequados

31
Este indicador cobre o período de 30 dias anteriores ao inquérito de base
32
Baseia-se numa lista universal de cinco estratégias e num conjunto comum de pesos de gravidade
33
Este índice é criado combinando indicadores de segurança alimentar em um indicador composto com base na
abordagem CARI, do PMA. Trata-se de um indicador composto pela Pontuação do consumo alimentar (FCS) e
da capacidade de resposta, representada pelo comportamento de resposta máximo e a proporção das despesas
alimentares

34
(Hughes, Woldeyohanes e Chiputwa, 2020: 26). Desta forma, são desenvolvidos estudos por
forma a recolher informações sobre a produção e o rendimento das colheitas dos agregados
familiares e sobre a avaliação das perdas pós-colheita. Estes estudos visam avaliar os
prejuízos e impactos na alimentação e programar intervenções (na solução do problema e na
mitigação dos seus impactos).

3.5. Empoderamento da Mulher

O PMA através do Projecto de Empoderamento da Mulher e Sensível à Nutrição (GTNS),


procura emponderar mulheres e raparigas adolescentes por forma a promover a melhoria da
segurança alimentar e nutricional. No âmbito da sua actuacao, tem capacitado as mesmas
fazerem escolhas por meio de incentivo ao seu envolvimento nos processos de tomada de
decisão no agregado familiar. Para avaliação do índice de emponderamento da mulher, são
usados 10 indicadores enquadrados em três domínios de acção: acção intrínseca (poder
interior), acção instrumental (poder para) e acção colectiva (poder com). De acordo com a
construção do índice, a mulher é considerada empoderada se a sua pontuação for positiva em
três ou mais dos dez indicadores (Hughes, Woldeyohanes e Chiputwa, 2020: 37).

3.6. Atitudes em relação a Saúde e Acesso aos Serviços

O PMA considera que, os cuidados de saúde pré-natal desempenhem um papel na saúde do


bebé, da criança e da mulher, através do fornecimento de informações sobre gravidez
saudável, despiste de factores de risco e de informações de saúde para mães e bebés. Neste
contexto, seguindo a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), de se prover
pelo menos um mínimo de quatro consultas pré-natais com um profissional da saúde treinado,
tem vindo a desenvolver ou incluir nas suas actividades esta componente, por forma a
minimizar o impacto negativo do deficiente acesso aos cuidados sanitários em zonas
recônditas. Por outro lado, procura promover campanhas de emponderamento das mulheres e
raparigas adolescentes, em relação ao casamento prematuro, a saúde sexual e reprodutiva e
aos comportamentos de procura de saúde para doenças infantis básicas, incluindo doenças
relacionadas com dificuldades respiratórias da criança e o uso de anticoncepcionais (Ibid.:
40).

35
3.7. Saúde Infantil e Situação Nutricional

No âmbito do esforço para a manutenção da saúde infantil e situação nutricional, o PMA tem
desenvolvido estudos sobre a prevalência de doenças, diversidade da dieta e a adequação
nutricional em crianças dos 6 aos 23 meses nas diferentes zonas de controlo e intervenção.
No que concerne a doenças infantis, desenvolve inquéritos sobre doenças que mais afectam
as crianças. Nesse contexto tem observado que, a febre e malária tem se destacado com
percentagens de 50 e 40% respectivamente, conforme dados das zonas de controlo e
intervenção. As outras doenças mais comuns são a diarreia e tosse. Sobre a diversidade da
dieta em crianças dos 6 aos 23 meses, observa-se o desenvolvimento de campanhas para a
introdução de alimentação complementar como reforço a nutrição. No que concerne a Dieta
Mínima Aceitável, os estudos realizados, incorporam duas componentes: Diversidade da
Dieta Mínima e a Frequência Mínima de Refeições, sendo estes indicadores para avaliar a
situação nutricional de crianças menores de dois anos e o impacto das intervenções
nutricionais. Outra componente de estudo é a avaliação antropométrica de crianças menores
de maiores de dois e menores de cindo anos, com base nos indicadores altura para a idade
(HAZ), peso para idade (WAZ), peso para altura (WHZ) e Perimetro Brutal (PB), sendo
usados para classificar crianças em baixo peso, atraso no crescimento/desnutrição crônica,
desnutrição aguda, com sobrepeso (Hughes, Woldeyohanes e Chiputwa, 2020: 41).

Em síntese, a intervenção PMA em moçambique é datada desde os anos 1990 através de


programas de emergência e ajuda humanitária, no âmbito da reconstrução social e económica
pós-conflito, desde essa altura, o PMA, lançou várias iniciativas com destaque para o
programa Purchase for Progress (Compras para o Progresso – P4P), no qual pretendia
promover o acesso aos mercados para camponeses em 20 Estados, incluindo Moçambique,
para vender seus excedentes.

No geral, as principais actividades do PMA em Moçambique são: distribuição geral de


alimentos a grupos vulneráveis, programa comida pelo trabalho/comida pela capacitação;
distribuição de lance escolar; programa de combate ao HIV/SIDA e cuidados básicos
domésticos de órfãos e crianças vulneráveis.

36
CAPÍTULO 4: DESAFIOS DA AJUDA HUMANITÁRIA DO PMA NA ALOCAÇÃO
DE DONATIVOS AS FAMÍLIAS AFECTADAS PELAS CALAMIDADES NATURAIS
E TERRORISMO EM CABO DELGADO

O presente capítulo propõe-se a fazer uma analise dos constrangimentos ou desafios que a
Ajuda humanitária do PMA enfrenta na alocação de donativos ou assistência alimentar as
famílias afectadas pelas calamidades naturais e terrorismo em cabo delgado, para tal, faz-se
uma breve descrição da Província de Cabo Delgado seguida das analises sobre os desafios do
PMA considerando as barreiras na alocação da ajuda, dificuldades na identificação de
beneficiários, a redução das vulnerabilidades em mulheres e crianças deslocadas e a
continuidade da ajuda humanitária em Cabo Delgado.

4.1. Breve Descrição da Província de Cabo Delgado

A Província de Cabo delgado, situa-se na região norte de Moçambique faz fronteira com a
República Unida da Tanzânia através do rio Rovuma, numa extensão de 250 Km. A Sul, o
rio Lúrio separa-a da Província de Nampula. A oeste os rios Lugenda, Luambeze, Ruaça e
Mewo, separam-na da Província do Niassa. E, por fim, a leste é banhada pelo Oceano Índico
numa extensão de 425 Km em linha de costa (ANEME, 2018:35). Nos termos dos dados
finais do censo geral de 2017, a Província, possui uma superfície total de 82.625 Km²,
incluindo 4.760 Km² de águas interiores, nesta Província, onde residem mais 2, 670.078
habitantes, sendo 1, 268.444 (47,5%) adultos (dos quais 671,294 mulheres), 1,401.634
(52,5%) crianças, dos 0 a 17 anos de idade (UNICEF, 2022:6).

Na Província de Cabo delgado, prevalece uma taxa de analfabetismo estimada em 52,4%, isto
é 12,5% acima da taxa nacional de 39,9% (Ibid). E, até em 2015, a taxa de desemprego girava
em torno de 21% com a maior parte da população economicamente ativa dedicando-se a
agricultura familiar, a pecuária, a pesca artesanal, o comércio e a exploração florestal (Ibid).
Em termos de estrutura administrativa, a província é composta por 1734 distrito, sendo Pemba
a cidade capital da província e as línguas Emakhua, Shimakonde, kimuani e Suahili as mais
faladas pela população local dos distritos que a compõe (Vide nos anexo, figura n.1, pagina
nr.56).

34
Pemba, Ancuabe, Balama, Chiure, Ibo, Macomia, Mecufi, Meluco, Mocimboa da Praia, Montepuez, Mueda,
Muidumbe, Namuno, Nangade, Palma, Metuge e Quissanga.

37
4.2. Desafios do PMA na Alocação de Donativos as Famílias Afectadas pelas
Calamidades Naturais e Terrorismo em Cabo Delgado

Como anteriormente dito no capítulo 2, o PMA é um organismo alimentar da ONU, que


ajuda a pessoas pobres de baixo rendimento, deficitárias em alimentos trabalhando, neste
caso, como principal canal internacional de fornecimento de ajuda alimentar em emergência a
refugiados, deslocados e vítimas de guerras ou calamidades; e como fornecedor de ajuda
alimentar a projectos de desenvolvimento, apoiando a autossuficiência das famílias e
comunidades. Portanto, para efeitos do presente trabalho, os desafios analisados foram
estreitamente relacionados com a componente mobilização de recursos alimentares até as
pessoas destinatária e foram apresentados os mais significativos ou sonantes em termos de
impacto do trabalho do PMA.

4.2.1. Dificuldade de Acesso as Localidades Fustigadas pelas Calamidades Naturais e


Ataques Terroristas

O acesso aos locais de concentração das pessoas deslocadas é fundamental para que a ajuda
humanitária nas suas mais variadas formas e em todos contextos possíveis se possa fazer
chegar aso beneficiários. Entretanto, ter acesso a esses locais tem sido uma grande luta em
Cabo Delgado.

Segundo a OCHA (2019:1), o ciclone Kenneth que até 6 de Maio de 2019 havia afectado
mais de 250,000 pessoas (217, 122 em Cabo Delgado e 32,862 em Nampula) provocou a
destruição de infraestrutura de comunicação fazendo com que a comunicação com as
comunidades afetadas pela crise se tornasse cada vez mais desafiadora em vários locais, pois
as infraestruturas de telecomunicações e rádio foram destruídas ou danificadas pelo ciclone.

Devido a destruição da rodovia pelo ciclone Kenneth, várias áreas de Metuge permaneceram
cortadas por estrada, assim, para levar suprimentos de socorro para a cidade, os trabalhadores
humanitários os transportavam em automóveis até as zonas com as rodovias interrompidas,
seguidamente deviam transportar manualmente até o outro lado da interrupção da rodovia
para posteriormente poderem ser transportados por outros automóveis até as localidades
necessitadas (Kaulard, 2020: 9).

38
Dada a complexidade da situação causada pelo ciclone, somente 37,400 (das quais 3,214
deslocadas) foram efectivamente alcançadas um número correspondente apenas a 14,96% das
pessoas afectadas pelas intempéries (OCHA, 2019:1).

Enquanto que, com a escalada da violência em Cabo Delgado, o acesso a algumas localidades
estratégicas para fazer chegar os donativos as pessoas que realmente precisam ficou cada vez
mais difícil. Como afirma Kaulard (2020:10), desde 2020, as organizações humanitárias que
trabalham em moçambique, em socorro as famílias afectadas pela violência, estão a enfrentar
grandes desafios para chegar as pessoas necessitadas. Está situação ficou ainda mais grave
quando os terroristas atacaram e ocuparam os distritos de Mocimboa da Praia, Quissanga,
Muidumbe, Macomia e, o último e intenso ataque a Palma em Março de 2021, obrigou
muitos atores a se retirarem de locais vitais para cidade de Pemba e Maputo (vide nos anexos,
a figura nr.2, pagina 57).

Como ilustra a figura nr.2 dos anexos, (página 57), o acesso a Macomia, Quissanga, Nangade
ficou total ou parcialmente condicionado na razão de, por exemplo, o transito entre Pemba
Quissanga, Ancuabe Macomia, Montepuez Mueda as pontes que as ligam estarem quebradas,
o troço entre Macomia e Mocímboa da Praia estar condicionado à escolta por causa das
incursões terroristas e o aeroporto de Nangade não estar operacional.

De acordo com a WFP (2020:02), o transporte rodoviário tem-se revelado um desafio em


toda a província, uma vez que as estradas e infraestruturas se encontram em mau estado e
continuam suscetíveis às condições meteorológicas.

Até fevereiro de 2020, estimava-se que 350.000 pessoas estavam criticamente isoladas
devido a limitações de acesso físico em Macomia, Meluco e Quissanga, enquanto 550.000
pessoas estão moderadamente isoladas em Mocímboa da Praia, Mueda, Muidumbe, Nangade
e Palma (Ibid).

Nicolas35, afirma que os “ataques esporádico e intensivos (um pouco por toda região norte de
Cabo Delgado) tem limitado a intervenção do PMA e outras organizações humanitárias
porque os agentes humanitários e seus meios de transporte também são vítimas das incursões
facto que obriga a equipe a recuar para a capital provincial de Cabo Delgado”.

35
Nicolas, Badu – coordenador nacional de assistência alimentar em situação de emergência entrevistado pela
DW Africa em Maio de 2021. Disponível em: https://www.dw.com/pt-002/cabo-delgado-ong-internacionais-
alertam-para-risco-de-esquecimento-da-crise/a-62908080

39
Portanto, os choques climáticos na forma de ciclones que muitas das vezes provocam danos
em infraestruturas e vias de acesso isolando populações em situações extremas de
necessidades de ajuda alimentar, de bens e serviços básicos, mas também os ataques
agressivos e esporádicos de terroristas sobre a população e, até sobre as organizações
humanitárias e seus meios de transporte e logística constituem desafios para a actuação do
PMA no sentido de fazer chegar a sua ajuda humanitária as pessoas afectadadas. Ademais,
essas incursões tem provocado terror e feito muitas organizações recuarem na sua investidura
em prol da salvação ou alívio do sofrimento em Cabo Delgado.

4.2.2. Identificação de Beneficiários da Ajuda Alimentar

Em todo processo de apoio ou ajuda de pessoas vulneráveis ou carenciadas, antes de se


prosseguir com a operacionalização da ajuda é necessário que se esboce o perfil das pessoas
que serão beneficiadas porque só assim haverá clareza de quem se pretende ajudar.
Entretanto, o registo das pessoas é também um desafio em emergências humanitárias, devido
à dificuldade de reconhecimento e identificação das que realmente foram afetadas por um
evento. De facto, depois devastados por ciclones, o mais provável é que algumas pessoas
tenham perdido suas identificações, para além de, em algumas comunidades, nem todos tem
documentação.

No Contexto do Ciclone Kenneth

No caso do ciclone Keneth em Cabo delgado, e para dar seguimento a operacionalização da


ajuda, foi desenvolvido um trabalho de mapeamento das áreas e pessoas afectadas pela
intempérie (Citação). Este trabalho foi encabeçado pelo as equipas da Matriz de Monitoria de
Deslocamentos (DTM) da Organização Internacional para as Migrações (OIM), em estreita
coordenação com o Instituto Nacional de Gestão de Calamidade de Moçambique (INGC)
tendo sido, numa primeira ronda, abrangidos um total de 10 Distritos e 17 localidades da
Província de Cabo Delgado (DTM/OIM, 2019:1), como ilustra a tabela nr.1, nos anexos,
(página 56).

Portanto, para assegurar uma resposta mais viável e orientada para a comunidade
humanitária, a DTM forneceu informações chave e críticas sobre a situação dos deslocados
internos (PDIs), das pessoas afectadas e das populações que retornam as áreas afectadas.
Especificamente, a DTM foi responsável por i) monitoria diária do número da população

40
(indivíduos e agregados familiares) nos centros de acomodação e nos bairros de
reassentamento; ii) avaliação multi-sectorial nos centros de acomodação e bairros de
reassentamento para ter informações mais aprofundadas sobre os movimentos (saída e
entrada de pessoas), as necessidades e vulnerabilidades da população em diferentes sectores
e; iii) avaliação de dados na comunidade para determinar o número das populações
afectadas, a população que abandonou e retornou as localidades, assim como necessidades
básicas de abrigo básico e acesso a serviços básicos36 (DTM/OIM, 2019:1). Através destas
ações foi possível determinar o número e categorias de população por distrito como ilustra a
tabela nr.2, nos anexos (página 58).

Conforme o quadro, quase 130.000 pessoas tiveram as suas casas afectadas pelas catástrofes,
mas permaneceram dentro de suas localidades. Enquanto que, na cidade de Pemba e na vila
do Ibo houve relatos de população deslocada estimada em cerca de 450 indivíduos e 130
famílias, apos fim da intempérie, não retornou as suas zonas de origem. E, por último, cinco
distritos relataram que quase 3.000 pessoas e 700 famílias retornaram as suas zonas de
origem (OCHA, 2019: 2).

A colecta desses resultado só foi possível graças a colaboração das populações afectadadas
dentro das comunidades avaliadas em estreita colaboração das autoridades locais e permitiu
definir as necessidades mais urgentes desde o acesso aos serviços básicos como água potável
para mais de 85.140 pessoas em 16.301 famílias que permaneceram nas suas localidades,
abrigo para 40.998 pessoas em 8.590 famílias que permaneceram nas suas localidades e
necessidade de alimentação para 39.951 pessoas em 7.380 famílias que permaneceram nas
suas localidades (DTM/OIM, 2019:3).

De acordo com o Relatório Anual do PMA (2019:7), até 31 de julho (marco final da resposta
de emergência do PMA para o ciclone Kenneth), o PAM, em colaboração com as autoridades
locais e outras organizações humanitárias parceiras, prestou assistência alimentar a cerca de
100.000 pessoas (52% mulheres) afectadas pelo ciclone Kenneth em Cabo Delgado nos
distritos de Quissangua, Macomia, Ibo e Mecujo, por meio de assistência alimentar em
espécie. A distribuição de alimentos nesses locais era acompanhada de material de abrigo,
kits de saúde e, sempre que possível, tabletes de purificação de água fornecidos por parceiros

36
Refere-se a educação, saúde, água, alimentação, mercados, entre outros.

41
humanitários. Aqui, inclui-se assistência prestada a áreas remotas em Cabo Delgado e locais
de acesso rodoviário interrompido após o ciclone Kenneth (WFP, 2019:7).

No Contexto das Famílias Afetadas pelo Terrorismo em Cabo Delgado

Já no que se refere a identificação de beneficiários da ajuda humanitária diante do terrorismo


em Cabo Delgado, a PMA trabalha em parceria com o governo através das autoridades locais
(secretários de bairro e chefes de quarteirão) para as quais todas pessoas deslocadas das zonas
fustigadas pelo terrorismo são orientadas a recorrerem para serem registadas como recém-
chegadas e assim entrarem no processo de mapeamento de deslocados e se beneficiarem da
ajuda (Belita, 202237). Assim, depois de as pessoas deslocadas se inscreverem no chefe de
quarteirão, este submete as listas a sede do bairro para posteriormente e, através do governo,
chegam nas mãos do PMA.

Importa referi que as listas só são aprovadas depois de uma equipe de enumerados fazer a
verificação sobre a veracidade dos documentos apresentados, existência das pessoas inscritas
através de visitas ao domicílio e confirmação das condições do agregado em que as pessoas
vivem (Ibid). Assim que se seguir todos procedimentos de registo e confirmação de
identidade e condições de vida, o PMA disponibiliza os vouchers para a distribuição aos
beneficiários através de seus oficias de campo e de outros que prestam serviço a PMA.

De facto, da escalada do terror na província em 2017 até Dezembro de 2021, já havia acusado
735,334 deslocados internos, quase um terço da população da província, e afectado a vida e
meios de subsistência de mais de 1,300.00 de pessoas (IECAH, 2022:20-21). Assim, em
resposta a crise humanitária, a WFP e seus parceiros apoio mais de 785.461 pessoas (das
1.133,815 planificadas), 418,074 das quais mulheres, 573.455 foram beneficiarias de Cash
Based Transfers (das 900.500 planificadas) 299.450 das quais mulheres e 597.450 pessoas se
beneficiaram de vouchers de levantamento de espécies alimentares previamente selecionados
(WFP, 2021:5).

A figura nr.3 pagina 58, ilustra o momento em que as famílias afectadas, deslocadas, e
inscritas se afluem ao posto de recepção de ajuda alimentar da WFP, embora muitas vezes
esse processo seja acompanhado de desafios ligados a credibilidade do perfil “beneficiário da
ajuda” por parte da população que realmente recebe a ajuda.

37
Belita, Fauzia António Cuinica – Oficial de Campo para a distribuição de donativos da WFP através da
SEPPA. Entrevistada no dia 9 Julho de 2022.

42
Neste sentido, aos actores humanitários é incumbida a responsabilidade ao prover a
assistências as pessoas para garantir que a ajuda chegue a quem precisa sob pena de ser um
veículo exclusão social. Não obstante, a identificação de beneficiários da ajuda prevalece um
grande desafio na medida em que a mesma está na responsabilidade do governo do Estado
através das suas autoridades locais. Segundo Belita38 a situação é muito mais critica quando
as pessoas saídas das zonas afectadas e se instalam nas zonas de acolhimento, são solicitadas
documentação que comprove a sua origem e muitas das vezes os chefes de quarteirão
impõem a condição de pagamentos monetários para os deslocando serem cadastrados nas
listas assim se beneficiarem da ajuda.

Outrossim, Belita39, afirma que, até mesmo a população não deslocada tem corrompido os
chefes de quarteirão, pagando valores, para se beneficiar da ajuda. Noutros casos, é visível
uma situação em que o chefe de quarteirão é acolhedor de mais de 5 famílias. Em
contrapartida, famílias deslocadas como da avó Bibiana que se viu a abandonar as suas casas
sem uma panela encontram ao relento e sem a condição mínima para fazer uma alimentação:

[S]aimos de Palma às pressas, não conseguimos levar se quer uma esteira, estamos abrigados
como vê, num espaço concedido por um conhecido do meu falecido filho, aqui comer é muito
difícil e todas as vezes que tentamos recorrer ao chefe de quarteirão solicitou valores para
escrever nossos nomes na lista de beneficiários40.

A avô Bibiana é apenas uma amostra de algumas famílias que foram forçadas a deixar as suas
casas e meios de subsistência, sem família nos locais de acolhimento e sem poder financeiro
para influenciar os detentores do puder no registo dos deslocados não se podem beneficiar da
ajuda humanitária a si destinada em Cabo Delgado. Portanto, o processo de identificação e
posterior alocação da ajuda a quem realmente precisa é um grande desafio da Ajuda
humanitária do PMA às famílias afectadas pelas calamidades naturais e terrorismo em Cabo
Delgado, na medida em que, pelo menos 25% das pessoas que se beneficiam da mesma não
tem o perfil de deslocados ou afectados pelo terrorismo.

38
Belita, Fauzia António Cuinica – Oficial de Campo para a distribuição de donativos da WFP através da
SEPPA. Entrevistada no dia 9 Julho de 2022.
39
Ibid.
40
Bibiana Mário Abdala, entrevistada na cidade de Pemba -Bairro Eduardo Mondlane/Expansão. Aos 18 de
Abril de 2021.

43
4.2.3. Redução das vulnerabilidades impostas às mulheres e crianças deslocadas

A prestação de assistência humanitária é acompanhada de um risco de prática de abusos


devido a relações de poder desiguais entre prestadores (incluindo intermediários) e recetores
da ajuda, cuja vulnerabilidade é intensificada por certas características pessoais tais como o
sexo, a idade ou outro estatuto. De facto, o ciclone Kenneth e o terrorismo, deixa algumas
camadas da população afectada mais vulnerais que outras, como é o caso de mulheres e
crianças quando comparados aos homens.

A Human Rigths Watch41, relatou casos de exigência de favores sexuais por parte do pessoal
humanitário em troca de kits de alimentos com as mulheres e jovens afectadas pelo
terrorismo e ciclone Kenneth em Cabo Delgado. Ademais, o Centro para a Integridade
Pública (CIP), também relatou casos de líderes comunitários que exigem dinheiro ou favores
sexuais a mulheres deslocadas em troca da sua inclusão nas listas de distribuição de
alimentos42.

Entretanto, desde a resposta ao Ciclone Idai e Kenneth, o PMA está empenhado em assegurar
intervenções centradas na protecção dos beneficiários dos seus programas, assim, estabeleceu
em 2021 uma estrutura de prestação de contas direcionadas a pessoa Afectadada (AAP, sigla
inglesa), com foco para o Norte de Moçambique. A nível nacional, o PMA tem um
conselheiro de gênero e proteção que supervisiona os aspectos técnicos da gênero, proteção,
AAP e proteção contra exploração sexual (PSEA) em todas as intervenções de modo a que
em todos processos, desde o desenho, implementação e monitoria dos projectos do PMA
sejam veladas em conta as questões de género e proteção, mas também as pessoas afectadas
estejam actualizadas, conhecendo os seus direitos em todas fases da ajuda até na
implementação de programas de recuperação pós-crise (WFP, 2019: 20).

De formas a fazer com que o beneficiário seja parte da resposta humanitária, os programas de
resposta passaram a ser precedidos por consultas à comunidade para determinar viabilidade e
atender as suas preocupações, e determinar medidas de mitigação para quaisquer riscos de
proteção associados à mudança. Como resultado dessa nova abordagem, por exemplo, em
2021, consultas que levam em conta a proteção e a responsabilidade acompanharam uma

41
Human Rights Watch. September 2021. “Aid-for-Sex Alleged in Northern Mozambique”.
42
Observador. (2020). “ONG denuncia abusos sexuais em Cabo Delgado e critica silêncio sobre o assunto”.

44
possível mudança para a assistência direta em dinheiro em alguns locais na resposta do IDP
(WFP, 2021:17).

Ademais, foram tomadas medidas para fortalecer a PSEA através do estabelecimento de


mecanismos dedicados a denúncia, a identificação de pontos focais para a proteção contra a
Violência Baseada no Género (VBG), treinamentos e códigos de conduta43(WFP, 2019: 20).
Uma parte fundamental do PSEA é a sensibilização (que ocorre antes da distribuição da
ajuda) sobre a assistência do PAM ser gratuita e critérios de inclusão para direcionar de
beneficiários, entre outras informações (IECAH, 2022:32-33; WFP, 2021:18).

Para facilitar uma comunicação uniforme, clara e direcionada, PMA lançou em 2020 um spot
de rádio para conscientização de suas políticas de tolerância zero para fraude, corrupção e
PSEA, ao mesmo tempo em que promove a chamada gratuita liderada pela linha direta inter-
agências do PMA (Linha Verde 1458) que é operada pelo PMA em nome da Equipe
Humanitária do Estado. Esta linha direta funciona 7 dias por semana, das 6h às 21h.
Atendendo chamadas em 14 idiomas com metade dos operadores sendo mulheres (WFP,
Ibid). A Linha Verde visa fornecer um serviço acessível e capaz de atender com sensibilidade
as diferentes necessidades da população afetada, complementando os CFMs baseados na
comunidade.

Em termos quantitativos, só em 2021, a Linha Verde 1458 recebeu 30.604 casos, dos quais
41% eram pedidos de informação sobre a pandemia de COVID-19 e 39% estavam
relacionados com a segurança alimentar. 70% dos casos foram pedidos de informação, sendo
18% reclamações, 8% feedback positivo e 4% de solicitações de assistência. 95% dos casos
foram abordados e o feedback canalizado para as pessoas que às solicitaram. Segundo Bitone
(202244), embora uma serie de esforços estejam sendo feitos para proteger as pessoas
afectadadas principalmente crianças, mulheres e pessoas portadoras de deficiência contra a
exploração sexual, a violência baseada no género, mas também para garantir-lhes o acesso a
ajuda humanitária. A ajuda fornecida por si só não gera capacidade, independência ou
autonomia em medio prazo, isto é, falta a componente empoderamento económico que, para
além de ser de mais-valia no processo de apoio psicossocial (ocupar as metes pós-trauma da
violência), mas também as tornaria independentes reduzindo assim o risco de serem

43
A regra de conduta passou a incorporar a proibição de qualquer que seja o colaborador da WFP, desde
consultor, prestador de serviços até quadros efectivos da instituição de se envolver com beneficiárias dos
projectos da WFP. E, adicionalmente os Agentes humanitários e de distribuição de donativos passaram a ser
afectos no campo em regime de rotação.
44
Viage, Bitone – Oficial de Cluster (OIM) em Cabo Delgado/Pemba. entrevistado em 21 de Setembro de 2022.

45
exploradas sexualmente e ou agredidas nas diversas fases de fornecimento da Ajuda
Humanitária.

De facto, apesar de todo aparato de proteção, prevalecem casos de chantagem ou exigência de


favores sexuais por parte do pessoal humanitário em troca de kits de alimentos com as
mulheres e jovens afectadas pelo terrorismo em Cabo Delgado. Portanto, a redução das
vulnerabilidades nas mulheres e crianças deslocadas ou afectadas pelas calamidades naturais
e terrorismo em Cabo Delgado constitui um desafio para a ajuda humanitária da PMA.

4.2.4. Continuidade do Fornecimento da Ajuda

Os teóricos pluralistas defende que “a acção do Estado está limitada a manutenção da


estabilidade política, social, económica e ambiental da unidade política, sendo que os
indivíduos ou grupos de interesses devem interagir e propor as formas de convivência dentro
e fora dessa mesma unidade política”. E, enquanto o estado não conseguir manter a
estabilidade a todos níveis, uma ação externa é inevitavelmente necessária e o efeito Ciclone
Kenneth e Terrorismo em Cabo Delgado levou o governo moçambicano a solicitar a
intervenção da ajuda internacional na forma de ajuda humanitária.

De facto, a necessidades de ajuda humanitária transformou-se num fenómeno recorrente em


Cabo Delgado na razão das vulnerabilidades aos choques climáticos que resultam em
ciclones, mas também devido ao prolongamento dos ataques terroristas que tende a aumentar,
cada vez mais, o número de pessoas afectadas e necessitando de ajuda humanitária. Só para
ter uma ideia, depois do ciclone Kenneth em 2019, um sistema de baixas pressões vindo de
Madagáscar atingiu a região norte de Moçambique transformando-se em tempestade tropical
moderada, denominada “GOMBE”45, ademais, o terrorismo que desde 2017 vem assolando a
população do norte de Cabo Delgado continua sendo um fenómeno recorrente que, como se
disse nas sessões anteriores deste capítulo, até em Dezembro de 2021 provocou mais de
900.000 deslocados internos e afectados directamente a vida de mais de 1, 350.000,
deixando-as dependentes da intervenção humanitária.

45
https://opais.co.mz/ciclone-atinge-canal-de-mocambique-amanha-e-cabo-delgado-nampula-e-zambezia-a-11-
de-marco/

46
A Figura nr.4, nos anexos (página 59), mostra o momento em que, entram na cidade de
Pemba através da via marítima, mais de 25 mil pessoas deslocadas de Palma depois do ataque
de Março de 2021 sobre carregando ainda mais o sistema sanitário e a ajuda humanitária46.

Esta situação torna a continuidade da ajuda humanitária da PMA desafiadora, principalmente


quando a proveniência dos fundos aplicados na operacionalização da ajuda é resultante de
doações da comunidade internacional. Por exemplo, devido a falta de fundos o PMA cortou a
distribuição da ração as famílias afectadas entre julho e Dezembro de 2021, onde as famílias
recebia uma pequena cesta básica por família de formas a cobrir os meses de escassez de
fundos47. Ademais, para assistir as mais de 850.000 pessoas deslocadas, o PMA precisa de
mais de 16.4 milhões de dólares mensalmente48, mantendo tudo o resto constante, e
assumindo a continuidade da ajuda humanitária em 2022, o PMA pode precisar de mais de
200 milhões de dólares para cobrir suas operações humanitárias por todo ano de 2022 em
Cabo Delgado.

Portanto, devido a prolongação das incursões terroristas em Cabo Delgado e os acrescidos


números da população deslocada aliada a vulnerabilidade de ocorrência de ciclones e outras
catástrofes naturais a continuidade de ajuda humanitária do PMA em Cabo Delgado, que
depende de donativos da comunidade internacional, constitui um desafio.

Em síntese, constituem desafios da ajuda humanitária do PMA na alocação de donativos as


famílias afectadas pelo terrorismo e calamidades naturais, o acesso as localidades fustigadas
pelas calamidades naturais e ataques terroristas, na medida em que os choques climáticos na
forma de ciclones que muitas das vezes provocam danos em infraestruturas e vias de acesso
isolando populações em situações extremas de necessidades de ajuda alimentar , de bens e
serviços básicos, mas também os ataques agressivos e esporádicos de terroristas sobre a
população, organizações humanitárias e seus meios de transporte e logística retrai a actuação
do PMA na sua missão de fazer chegar a ajuda humanitária as pessoas afectadadas. Ademais,
essas incursões tem provocado terror e feito muitas organizações recuarem na sua investidura
em prol da salvação ou alívio do sofrimento em Cabo Delgado.

46
https://news.un.org/pt/story/2021/04/1748612
47
https://www.dw.com/pt-002/cabo-delgado-falta-de-fundos-pode-suspender-ajuda-alimentar-aos-deslocados/a-
58759401
48
https://www.folhademaputo.co.mz/pt/noticias/nacional/pma-volta-a-cortar-ajuda-humanitaria-aos-deslocados-
por-falta-de-dinheiro/

47
Outrossim, o processo de identificação e posterior alocação da ajuda a quem realmente
precisa é um grande desafio da Ajuda humanitária do PMA às famílias afectadas pelas
calamidades naturais e terrorismo em Cabo Delgado, na medida em que este processo é da
competência das autoridades locais, muitas vezes não é transparente e não é claro o perfil de
afectado pelo terrorismo e deslocado, pelo que, mais de 25% das pessoas que se beneficiam
da mesma não tem o perfil de deslocados ou afectados pelo terrorismo.

Também, a redução das vulnerabilidades das mulheres e crianças deslocadas e afectadadas


pelas calamidades naturais e terrorismo em Cabo Delgado prevalece um desafio da ajuda do
PMA na medida em que, prevalecem casos de chantagem ou exigência de favores sexuais por
parte do pessoal humanitário em troca de kits de alimentos com as mulheres e jovens
afectadas pelo terrorismo em Cabo Delgado.

Por último, a continuidade da ajuda humanitária do PMA em Cabo Delgado é incerta devido
a prolongação das incursões terroristas em Cabo Delgado e os acrescidos números da
população deslocada aliada a vulnerabilidade de ocorrência de ciclones e outras catástrofes
naturais implicam o prolongamento da intervenção cuja operacionalização depende de
financiamento que, a maior parte, depende de donativos da comunidade internacional.

48
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho foi desenvolvido a luz da teoria Pluralista, a luz qual e com recurso a métodos e
técnicas de pesquisa científica conseguiu-se alcançar o primeiro (1) objectivo específico de
Identificar os factores determinantes da presença do PMA em Moçambique, pois constatou-se
que, o PMA é um organismo alimentar da ONU, que ajuda a pessoas pobres de baixo
rendimento, deficitárias em alimentos, trabalhando como principal canal internacional de
fornecimento de ajuda alimentar em emergência a refugiados, deslocados e vítimas de
guerras ou calamidades, mas também, como fornecedor de ajuda alimentar a projectos de
desenvolvimento, apoiando a autossuficiência das famílias e comunidades. Em Moçambique,
o PMA está presente desde a década 1990 juntamente com a FAO.

A Presença do PMA em Moçambique tem sua razão de ser pelo facto de este Estado sofrer
com frequentes formas de manifestações de calamidades e desastres naturais na forma de
cheias, pois desde as cheias de 2000 moçambique tem sido palco de ciclones tropicais como
Idai, Kenneth entre outros. Também, o Estado tem sido palco de instabilidade política,
hostilidades militares e terrorismo, para além da pobreza extrema e da fome que podem ser
considerado o corolário dos outros factores.

No que toca ao segundo (2) objectivo específico correspondente ao terceiro capítulo,


constatou-se que, a intervenção PMA em moçambique é datada desde os anos 1990 através
de programas de emergência e ajuda humanitária, no âmbito da reconstrução social e
económica pós-conflito, desde essa altura, o PMA, lançou várias iniciativas com destaque
para o programa Purchase for Progress (Compras para o Progresso – P4P), no qual pretendia
promover o acesso aos mercados para camponeses em 20 Estados, incluindo Moçambique,
para vender seus excedentes.

No geral, as principais actividades do PMA em Moçambique são: distribuição geral de


alimentos a grupos vulneráveis, programa comida pelo trabalho/comida pela capacitação;
distribuição de lance escolar; programa de combate ao HIV/SIDA e cuidados básicos
domésticos de órfãos e crianças vulneráveis.

Quanto ao terceiro (3) objectivo específico relativa ao quarto capítulo constatou-se que,
constituem desafios da ajuda humanitária do PMA na alocação de donativos as famílias
afectadas pelo terrorismo e calamidades naturais, o acesso as localidades fustigadas pelas
calamidades naturais e ataques terroristas, na medida em que os choques climáticos na forma
de ciclones que muitas das vezes provocam danos em infraestruturas e vias de acesso

49
isolando populações em situações extremas de necessidades de ajuda alimentar , de bens e
serviços básicos, mas também os ataques agressivos e esporádicos de terroristas sobre a
população, organizações humanitárias e seus meios de transporte e logística retrai a actuação
do PMA na sua missão de fazer chegar a ajuda humanitária as pessoas afectadadas. Ademais,
essas incursões tem provocado terror e feito muitas organizações recuarem na sua investidura
em prol da salvação ou alívio do sofrimento em Cabo Delgado.

Outrossim, o processo de identificação e posterior alocação da ajuda a quem realmente


precisa é um grande desafio da Ajuda humanitária do PMA às famílias afectadas pelas
calamidades naturais e terrorismo em Cabo Delgado, na medida em que este processo é da
competência das autoridades locais, muitas vezes não é transparente e não é claro o perfil de
afectado pelo terrorismo e deslocado, pelo que, mais de 25% das pessoas que se beneficiam
da mesma não tem o perfil de deslocados ou afectados pelo terrorismo.

Também, a redução das vulnerabilidades das mulheres e crianças deslocadas e afectadadas


pelas calamidades naturais e terrorismo em Cabo Delgado prevalece um desafio da ajuda do
PMA na medida em que, prevalecem casos de chantagem ou exigência de favores sexuais por
parte do pessoal humanitário em troca de kits de alimentos com as mulheres e jovens
afectadas pelo terrorismo em Cabo Delgado.

Por último, a continuidade da ajuda humanitária do PMA em Cabo Delgado constitui um


desafio devido a prolongação das incursões terroristas em Cabo Delgado e os acrescidos
números da população deslocada aliada a vulnerabilidade de ocorrência de ciclones e outras
catástrofes naturais implicam o prolongamento da intervenção cuja operacionalização
depende de financiamento que, a maior parte, depende de donativos da comunidade
internacional.

Portanto, foram alcançados os objectivos traçados na introdução do trabalho na medida em


que foi possível, identificar os factores determinantes da presença do PMA em Moçambique,
compreender as principais áreas de intervenção do PMA em Moçambique e Analisar os
Desafios da Ajuda humanitária do PMA na alocação de donativos às famílias afectadas pelas
calamidades naturais e terrorismo na Província de Cabo Delgado.

50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Entrevistados

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2019.

55
ANEXOS

Figuras:

Figura 1. Mapa administrativo da Província de Cabo Delgado e sua localização no Mapa de


Moçambique

Fonte: Adaptada pela autora com recurso ao mapa administrativo da Província de Cabo delgado
(2022)
Tabela 1. Distritos e localidades avaliadas pela DTM/OIM em Cabo Delgado (2019).

Distrito Avaliados Localidades avaliadas


Cidade de Pemba 5
Ibo 2
Macomia 1
Mecufi 2
Meluco 1
Metuge 2
Muidumbe 1
Nangade 1
Palma 1
Quissanga 1
Total 17
Fonte: DTM/OIM (2019) adaptada pela autora.

56
Figura 2. Mapa de Cabo Delgado, limitações de acesso físico.

Fonte: WFP/OCHA (2020), adaptado pela autora.

57
Tabela 2 . Classificação das pessoas afectadas pelo ciclone Kenneth nos distritos avaliados pela
DTM/OIM em Cabo Delgado (2019).

Pessoas afetadas dentro da Pessoas que saíram da Pessoas que retornaram


comunidade comunidade à comunidade
Individuo Família Individuo Família Individuo Família
Cidade de Pemba 29.826 5.575 137 38 355 71

Ibo 14.578 3.657 321 98 1.8330 373

Macomia 43.720 8.596 --- --- --- ---


Mecufi 11519 2.303 --- --- --- ---
Meluco 2.557 484 --- --- --- ---
Metuge 9.953 1.991 --- --- 707 235
Muidumbe 3.190 638 --- --- ---
Nangade 1249 319 --- --- 18 3
Palma 153 28 --- --- 111 22
Quissanga 11.240 2.248 --- --- --- ---
Total 127.985 25.839 458 136 3.024 704

Fonte: DTM/OI (2019) adaptada pela autora.

Figura nr.3. Ponto de distribuição de ajuda alimentar da WFP na localidade de Nanhupo, distrito
de Monpetuez, Provincia de Cabo Delgado.

Fonte: WFP/Grant Lee Neuenburg

58
Figura nr.4 Deslocados de Palma, depois do ataque de Março de 2021, desembarcam na Praia de
Paquitequete em Pemba.

Fonte: WFP/Sean Rajman, Outubro de 2021

59
Figura 5. Mapa de Moçambique: Classificação de Insegurança Alimentar Aguda

Fonte: SETSAN (2019: 2)

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