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Candidato: Supervisora:
Juliano Carlos Baptista Dra. Bernardete Gomana
Eu, Juliano Carlos Baptista, declaro, por minha honra, que o presente trabalho é da minha
autoria e que nunca foi anteriormente apresentado para avaliação em nenhuma Instituição de
Ensino Superior, nacional ou de outro País.
O candidato
____________________________________
i
TERMO DE RESPONSABILIZAÇÃO DO CANDIDATO E DA SUPERVISORA
Candidato: Supervisora:
__________________________________ _________________________________
(Juliano Carlos Baptista) (Dra. Bernardete Gomana)
DECLARAÇÃO DE AUTORIA.........................................................................................................i
TERMO DE RESPONSABILIZAÇÃO DO CANDIDATO E DA SUPERVISORA..........................ii
AGRADECIMENTOS.....................................................................................................................iii
DEDICATÓRIA..............................................................................................................................iv
EPÍGRAFE.......................................................................................................................................v
LISTA DE SIGLAS E ACRÓNIMOS...............................................................................................vi
LISTA DE GRÁFICOS E QUADROS............................................................................................vii
SUMÁRIO EXECUTIVO..............................................................................................................viii
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO......................................................................................................1
1.1 Delimitação do Tema no Espaço e no Tempo..................................................................2
1.2 Contextualização...............................................................................................................2
1.3 Justificativa.......................................................................................................................4
1.4 Problematização................................................................................................................5
2.2.3 Megaprojectos..........................................................................................................20
REFERÊNCIAS.............................................................................................................................40
Apêndices.......................................................................................................................................47
Apêndice 1: Guião de Entrevista Dirigido aos Colaboradores da Mozal..................................48
Para a realização deste objectivo contei com a luz divina, colaboração e incentivo de várias
pessoas que não serei capaz de mencioná-las em simples texto monográfico. Tive apoio
institucional cuja relevância é inestimável.
Quero agradecer a Deus pelo dom da vida e pela força concedida para enfrentar com sucesso os
desafios e obstáculos ligados a esta caminhada.
Agradeço aos colegas do curso pela partilha de experiências nos meandros académicos e sociais,
juntos enfrentamos desafios com espírito colectivo. A lista não esgota, porém, a todos (as) que
directa ou indirectamente fazem parte da minha vida, o meu eterno, profundo e sincero
agradecimento.
Por fim agradeço a todos que directa ou indirectamente deram o seu apoio.
iii
DEDICATÓRIA
Á minha esposa.
iv
EPÍGRAFE
v
LISTA DE SIGLAS E ACRÓNIMOS
vi
LISTA DE GRÁFICOS E QUADROS
vii
SUMÁRIO EXECUTIVO
O presente estudo tem como objectivo geral analisar o Papel da Participação Comunitária na
Responsabilidade Social das Empresas: Caso da Mozal na Localidade de Chinonanquila (2015-
2020) e é fundamentado à luz da Teoria de Democracia Participativa (TDP) e da Teoria de
Desenvolvimento Endógeno (TDE), no âmbito metodológico classifica-se como uma pesquisa de
natureza aplicada com uma abordagem quanti-qualitativa e quanto aos objectivos é exploratória.
São aplicados os métodos: monográfico e hipotético-dedutivo cuja colecta de dados é feita através
da revisão bibliográfica, documental e entrevistas semiestruturadas e inquérito por questionário.
Pode-se constatar que.
viii
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO
Portanto, a partir deste estudo procura-se compreender os processos de interacção e diálogo entre
a Mozal e a comunidade, na elaboração de acções direccionadas ao bem-estar destas últimas. Ou
seja, há que perceber até que ponto a comunidade é ouvida na elaboração e implementação das
acções que a empresa incrementa.
1
1.1 Delimitação do Tema no Espaço e no Tempo
1.2 Contextualização
Numa perspectiva histórica, a RSE é uma manifestação actual de debates antigos sobre o papel
dos negócios na sociedade. O fenómeno novo neste debate é o facto de estes debates
relacionarem a RSE com temas como o desenvolvimento, ambiente, direitos humanos, e tem
uma amplitude global em comparação com os períodos anteriores.
A responsabilidade social corporativa era aceite como doutrina nos EUA e Europa até o século
XIX, quando o direito de conduzir negócios de forma corporativa era uma questão de
prerrogativa do Estado ou Monarquia e não um interesse económico privado (Hood, 1998). Com
a independência dos EUA, os Estados americanos começaram a aprovar a legislação que
permitisse a auto-incorporação (Self-incorporation) como alternativa à incorporação por acto
legislativo específico, inicialmente para serviços de interesse público, como, por exemplo, a
construção de canais, e, posteriormente, para propósitos de condução de negócios privados.
2
Desta forma, até ao início do séc. XX a premissa fundamental da legislação sobre corporações
era de que seu propósito era a realização de lucros para seus accionistas (Ashley, 2000).
Após os efeitos da Grande Depressão e o período da Segunda Guerra Mundial, a noção de que a
corporação deve responder apenas aos interesses dos seus accionistas sofreu ataques na
academia, principalmente pelos trabalhos de Berle e Means, The Modern Corporation and
Private Property (Berle & Means, 1932), argumentando que os accionistas eram passivos
proprietários que abdicavam controlo e responsabilidade para a direcção da corporação. Estes
eventos históricos destacados criaram um ambiente para uma aceitação gradual da
responsabilidade social no contexto académico. Suzana Leal (2005) destaca as fases importantes
que marcam este percurso até às modernas formulações da responsabilidade social.
Com efeito, a responsabilidade social empresarial começa a sofrer uma crescente formalização
enquanto conceito a partir da década de 1960. McGuire (1963) defendeu a ideia de que a
responsabilidade social supõe que a empresa não tem apenas obrigações legais e económicas mas
também algumas responsabilidades para com a sociedade. Por sua vez, Walton (1967) destaca
que o conceito de responsabilidade implica uma intimidade da relação entre empresa e a
sociedade, e defende que tal relação deve ser lembrada pelos gestores de topo à medida que a
empresa e os grupos relacionados prosseguem os respectivos objectivos (Leal, 2005).
Este vazio legal ou orientador, aliado ao rápido crescimento empresarial, obrigou a uma
profunda reflexão por parte do Governo da República de Moçambique (GRM) que culminou
com uma discussão que serviu de base para o desenvolvimento de uma política de RSE, através
3
de consultas públicas regionais. Esta auscultação contou com o envolvimento da sociedade civil
e do sector privado para determinação de acções concretas a serem financiadas em benefício das
comunidades vivendo em seu redor. A ideia é obrigar as empresas a desenhar projectos e estarem
inscritos nos seus planos de desenvolvimento para o benefício das comunidades onde estão
implantadas bem como para o país como um todo e dentro de um contexto de políticas
governamentais e estratégia de desenvolvimento mais alargado (Wache,2008).
Depois da realização da auscultação e discussão com todos os intervenientes, foi criada uma
política de RSE, sustentando-se também em práticas internacionais do sector e submetido ao
conselho de ministros, que foi aprovado através da resolução n˚ 21/2014, de 16 de Maio. Espera-
se que esta política venha a permitir que a indústria seja mais estratégica nos seus programas de
RSE e apoio as metas do Governo no crescimento económico sustentável e na redução da
pobreza.
1.3 Justificativa
Ao nível social, a escolha do tema sobre a RSE em Moçambique, com particular foco na
actuação da Mozal na vida das comunidades, é um contributo ao debate que já tem acontecido
sobre o desenvolvimento social e económico que é esperado com a actuação dos megaprojectos,
das multinacionais estrangeiras.
Ao nível da AP, a escolha deste tema é uma oportunidade de discutir a RSE com novas
perspectivas de análise, visto que este tema já tem sido alvo de estudos em ciências como a
administração, economia, gestão, entre outras, e por esta via através da AP podem ser levantados
novos problemas e sugestões de pesquisa.
Em termos de motivação pessoal, pesaram a curiosidade despertada no autor pelo tema da RSE,
que embora não sendo um novo tema, tem a capacidade de despertar animosidades em alguns
círculos de opinião da sociedade moçambicana. O autor sendo membro desta mesma sociedade,
não poderia deixar de dar o seu contributo para a reflexão do tema, com o auxílio da AP.
Por outro lado a questão da participação comunitária em matérias de RSE dos megaprojectos, já
deu provas de ser em algum momento, um terreno aberto a diversas interpretações, tanto por
parte dos que implementam, como também das comunidades que dela se beneficiam. Embora
4
tenham sido feitos esforços na teorização da RSE, nota-se que ainda persistem lacunas da sua
implementação ao nível empírico.
1.4 Problematização
Dentro da abordagem segundo a qual, a RSE relaciona-se com a filantropia e com a caridade,
este conceito vai para além destes elementos, pelo que, os beneficiários da RSE nas comunidades
não são meros agentes passivos sujeitos a depender da boa vontade das empresas, mas são
parceiros legítimos que almejam participar no desenvolvimento das suas comunidades, através
da criação e implementação de projectos socialmente responsáveis, de modo a que estes sejam
sustentáveis, e que as comunidades não sejam eternos dependentes da caridade das empresas.
Dentro desta lógica, estudos realizados apontam para uma implementação inadequada da RSE
que resulta da falta de participação das comunidades nestas acções, por exemplo, há que acredita
que a questão da participação comunitária em matérias de RSE dos megaprojectos, já deu provas
de ser em algum momento, um terreno aberto a diversas interpretações, tanto por parte dos que
implementam, como também das comunidades que dela se beneficiam (CIP, 2010). Embora
tenham sido feitos esforços na teorização da RSE, nota-se que ainda persistem lacunas da sua
implementação ao nível empírico.
Para CIP (2011) estas deficiências do entendimento e de implementação da RSE trazem consigo
um potencial conflito, dos quais podemos citar os casos dos megaprojectos da Companhia Vale
Moçambique em Tete, Kenmare em Nampula, que são alguns exemplos, onde as comunidades
reivindicaram condições dignas de reassentamento e por uma atitude mais responsável destas
empresas.
Echave (2006) concluiu em seu estudo sobre este assunto, que as comunidades ligadas às
companhias têm um papel reduzido no processo de tomada de decisão sobre o desenvolvimento
das suas zonas, pois as comunidades tendem a negociar com as empresas sem preparação
5
adequada, não definindo objectivos e estratégias, sem obter a informação necessária, sem
recursos, consultas e sem capacidade organizacional.
Por sua vez, Capito (2015) aponta para a vertente das compensações empresariais, dizendo que
as negociações entre empresas e comunidades estão mais concentradas em esquemas de
compensação (pagamento em dinheiro às comunidades pelos reassentamentos das suas áreas de
habitação com o surgimento da companhia), do que na definição de estratégias de
desenvolvimento a longo prazo. É de recordar que tais compensações contemplam as fases
iniciais dos projectos de mineração, ou seja, as companhias não reconhecem o seu papel na
responsabilidade social como uma relação contínua no presente e no futuro.
Para Echave (2006) este cenário verifica-se na medida em que estas empresas não se assumem
responsáveis pelas mudanças que ocorrem ao nível social e ambiental nas comunidades,
causadas pelo seu funcionamento. Assim esquemas de compensação não se baseiam numa
relação contínua entre empresas e comunidades, mas representam a busca de soluções rápidas
para um problema específico (os reassentamentos).
Assim a RSE, mais do que filantropia e caridade, é uma cultura de gestão das empresas que
prima por princípios éticos e morais vigentes numa sociedade.
Este questionamento é feito pelo facto de serem as próprias empresas que através da RSE,
regulam a sua própria conduta na sua intervenção social nas comunidades e frequentemente
apontam os aspectos positivos das suas actividades nos seus relatórios de prestação de contas.
Neste processo as comunidades que se beneficiam da RSE, raras vezes tem a oportunidade de
intervir e de concordar ou descordar do posicionamento das empresas. Nesta senda, pesquisas
feitas no campo da RSE, analisam a actuação social das empresas nas comunidades, realçando as
questões de participação, negociação e tomada de decisão dessas mesmas comunidades.
O não envolvimento das populações locais tem como consequências a dependência mental. Visto
que a construção de edifícios e de outros projectos de desenvolvimento não envolvem de forma
genuína a população local, estas iniciativas das companhias são vistas como ofertas, e as
populações não se sentem como donas destes projectos (Frynas, 2005:590).
6
Assim a participação dos beneficiários tem sido constrangida pela falta de habilidades das
companhias petrolíferas de gerir as questões de desenvolvimento local através da
responsabilidade social empresarial, e também pelas abordagens tecnicistas usadas pelos gestores
das companhias no tratamento das questões sociais. Em face a esta dicotomia urge elaborar a
seguinte pergunta de partida: Até que ponto a participação comunitária contribui nas acções
de responsabilidade social das empresas, especificamente a comunidade de Chinonanquila?
7
Qual é o papel da participação da comunidade de Chinonanquila nas acções socialmente
responsáveis da Mozal?
Quanto à natureza, trata-se de uma pesquisa aplicada. Para Marconi e Lakatos (2007) esse tipo
de pesquisa é caracterizado por ter interesse prático, com resultados aplicados e utilizados
imediatamente na solução de problemas que ocorrem na realidade. Para o efeito, através de tal
estudo analisa-se a participação da comunidade de Chinonanquila como factor de sucesso das
acções da RS da Mozal.
8
Logo, esta pesquisa se configura como uma pesquisa exploratória, visto que o seu objectivo é
expor as características de determinado fenómeno ou população.
De acordo com Zapelini e Zapelini (2013), o estudo de campo é utilizado visando a obtenção de
conhecimentos sobre determinada problemática para quando se busca uma resposta, ou, ainda,
pode ser considerada uma maneira de se comprovar algo. Além disso, vale levar em
consideração que o levantamento é de grande relevância, pois ajuda na busca de informações de
um grupo de pessoas acerca do problema que está sendo estudado, para consequentemente ser
analisado para obtenção das conclusões pertinentes (Gil, 2002).
Com relação aos instrumentos de colecta de dados os meios utilizados são: pesquisa
bibliográfica, dados documentais, entrevista e questionário. Os questionários 1 utilizados são
mistos. Entrevista2 com perfil pessoal e o roteiro de entrevistas utilizado foi semiestruturado. A
1
Questionário: é um instrumento de colecta de dados com uma série ordenada de perguntas que devem ser
respondidas por escrito pelo informante. O questionário deve ser objectivo, limitado em extensão e estar
acompanhado de instruções. As instruções devem esclarecer o propósito de sua aplicação, ressaltar a importância da
colaboração do informante e facilitar o preenchimento (Andrade, 1980).
2
Entrevista: é a técnica de obtenção de informações de um entrevistado, sobre determinado assunto ou problema
(Gil, 1999). Esta é guiada na sua forma despadronizada ou semi-estruturada: não existe rigidez de roteiro. Podem-se
explorar mais amplamente algumas questões.
9
colecta de dados deu-se através de questionários aplicados e entrevistas gravadas, todos com a
presença do autor, na Mozal.
Para os fins pretendidos neste trabalho, os métodos são classificados em dois grandes grupos: o
dos que proporcionam as bases lógicas da investigação científica e o dos que esclarecem acerca
dos procedimentos técnicos que poderão ser utilizados. Esta é uma classificação de Lakatos
(1992:81), que fala em métodos de abordagem e em métodos de procedimentos.
Para a abordagem fala-se do método Hipotético-Dedutivo, definido por Karl Popper3 a partir de
críticas à indução. A indução, no entender de Popper, não se justifica, pois o alto indutivo de
“alguns” para “todos” exigiria que a observação de factos isolados atingisse o infinito, o que
nunca poderia ocorrer, por maior que fosse a quantidade de factos observados (Gil, 1999).
Assim, Marconi e Lakatos (1983) concordam que a dedução-hipotética consiste na adopção da
seguinte linha de raciocínio:
Baseado neste pressuposto, para o estudo aplica-se este método, uma vez que se tem em base
dados incompletos para explicar o papel da participação comunitária nas acções da RSE, deste
3
POPPER, K. (1935), A lógica da investigação científica.
10
problema, o pesquisador já cria postulado (hipótese) para tentar explicar o facto problemático e
assim, é testado, confirmado ou falseado no terreno.
As pesquisas nas ciências sociais abrangem um universo tão grande sendo impossível considerar
todo o universo ou população - conjunto de seres animados ou inanimados que apresentam pelo
menos uma característica em comum (Marconi & Lakatos, 2003:223). Assim sendo, trabalha-se
com uma amostra, que é uma parte dos elementos que compõem o universo, esperando que ela
represente essa população (universo) que se pretende estudar (Prodanov & Freitas, 2013).
Para este estudo, tem-se como universo todos os colaboradores da Mozal (506) e a comunidade
da Chinonanquila (30 000) elementos. Deste universo extraiu-se uma amostra quatro (4)
funcionários da Mozal seleccionados intensionalmente 5, 100 elementos da comunidade,
totalizando 106 elementos seleccionados por acessibilidade ou conveniência6 para os inquéritos.
4
O estudo de caso “visa explorar, descrever ou explicar uma realidade específica, e surge do desejo de compreender
fenómenos sociais complexos, ao mesmo tempo que retém as características significativas e holísticas de eventos da
vida real” (Yin, R., 2010).
5
Amostragem por tipicidade ou intencional: também constitui um tipo de amostragem não probabilística e consiste
em seleccionar um subgrupo da população que, com base nas informações disponíveis, possa ser considerado
representativo de toda a população (Prodanov & Freitas, 2013).
6
A amostra por acessibilidade ou conveniência é uma forma de amostra não probabilística que consiste em
seleccionar os elementos a que tem acesso, admitindo que esses possam, de alguma forma, representar o universo
(Prodanov & Freitas, 2013), sem descriminação de sexo, idade nem pela categoria profissional.
11
A presente monografia subdivide-se em quatro capítulos designadamente o da Introdução, onde
se faz a breve apresentação do trabalho desde os objectivos, delimitação espácio-temporal,
contextualização, justificativa da sua realização, problematização até ao seu tratamento
metodológico;
O segundo capítulo compreende o debate teórico e conceptual, onde são abordados aspectos
como o desenvolvimento teórico que faz o acompanhamento do tema em estudo, faz também a
conceptualização dos conceitos-chave usados com frequência na abordagem do tema;
O quarto capítulo faz menção à caracterização do campo de estudo e é ainda neste capítulo que
são apresentados e discutidos os dados colhidos no campo (Mozal).
12
CAPÍTULO 2: QUADRO TEÓRICO E CONCEPTUAL
Este capítulo compreende o debate teórico e conceptual, onde são abordados aspectos como o
desenvolvimento teórico que faz o acompanhamento do tema em estudo, a conceptualização dos
conceitos-chave usados na abordagem do tema.
Mediante o auxílio de uma Teoria pode-se verificar que por trás dos dados existe uma série
complexa de informações, um grupo de suposições sobre o efeito dos factores sociais no
comportamento e um sistema de proposições sobre a actuação de cada grupo. Assim, as teorias
constituem elemento fundamental para o estabelecimento de generalizações empíricas e sistemas
de relações entre proposições. Assim, o estudo é lido na base da Teoria da Democracia
Participativa (TDP) complementada pela Teoria do Desenvolvimento Endógeno (TDE).
Para Langa (2012), Joseph Proudhon7 e Piotr Kropotkine8 formularam os modelos económicos
alternativos, com base no princípio da autogestão, criando deste modo a TDP.
Segundo Cohen (1998: 28), durante o Século XIX, nasce o movimento cooperativo e associativo,
como uma nova forma de organização da Sociedade Civil, colocando este movimento como
parceiro “natural” dos sistemas políticos e económicos, levando a que nos nossos dias, este
movimento, desenvolve nova estratégia baseada, nos actores locais, disponíveis para
desencadearam um processo de diálogo e de negociação, criando assim, uma nova ordem social,
baseada no ordenamento participativo e negociado, promovendo assim o diálogo local.
Surgindo então, nessa época a ideia de autogoverno (sef-goverment), que é defendida, por vários
pensadores políticos, como democracia participativa.
7
PROUDHON, P. J. (2001), Do princípio federativo. São Paulo: Nu-Sol. ISBN
8
KROPOTKINE, P. (2009), Ajuda Mútua: Um factor de evolução, São Sebastião: A Senhora Editora.
13
Autogestão;
Divisão de poder por todos os elementos que constituem a comunidade;
Reduzir ao mínimo as funções políticas em simples funções económicas;
Estrutura da base para o topo (down-top) do Governo.
De acordo com Costa (2002), desde os meados dos anos 80 do século XX, a investigação no
âmbito da teoria do crescimento sofreu um novo impulso e tal impulso deveu-se aos inúmeros
trabalhos pioneiros desenvolvidos por autores como Romer (1986) 11 e Lucas12 ( 1988). Os
modelos desenvolvidos por esses autores, bem como outros modelos subsequentes, passaram a
designar-se, genericamente como modelo de crescimento endógeno.
14
externalidades positivas geradas pelo investimento de cada empresa e por via das externalidades,
cada empresa enfrentará rendimentos constantes na sua função de produção mas a função de
produção agregada exibirá rendimentos crescentes. Lucas (1988) é um dos autores precursores
da TDE tendo criado um modelo que determinava que “o capital humano designa o conjunto de
conhecimentos susceptíveis de serem utilizados na produção e incorporados nos indivíduos”
(Figueiredo, 2005:161), considerando assim o capital humano um factor de crescimento
económico.
O aspecto endógeno refere-se ao facto do desenvolvimento ser determinado por actores internos
à região, sejam eles empresas, organizações, sindicatos ou outras instituições (Campus et al,
2005).
Para Moraes (2003), a TDE pressupõe o apoio nos factores de produção, sendo estes geridos
endogenamente em cada território e baseia-se na execução de políticas de fortalecimento e
qualificação das estruturas internas dos territórios criando condições sociais e económicas para a
geração e atracção de novas actividades produtivas.
Segundo Vázquez (2001)13 citado por Ribeiro & Santos (2005: 56), existem seis pilares da TDE
nomeadamente:
13
Vázquez B. A. (2001). Desenvolvimento endógeno em tempos de globalização. Fundação de Economia e
Estatística. Porto Alegre
15
Para Oliveira (2001), a questão do desenvolvimento local possui, pelo menos, três limitações.
Como consequência, a terceira limitação é que não só os conflitos internos são ignorados
pelos defensores do desenvolvimento local, assim como os conflitos externos, entre o local e
o central;
A partir da leitura da tese de Oliveira (2001), uma quarta crítica pode ser acrescentada às
teorias de desenvolvimento local: o desenvolvimento global não pode ser concebido como a
simples soma de todos os poderes locais.
16
empresas como forma de possibilitar o desenvolvimento local, pois busca melhores perspectivas
de crescimento económico, redução de custos e geração de emprego.
A TDE é aplicável a esta pesquisa uma vez que tem como principal característica a ampliação da
base de decisões autónomas por parte dos actores locais, colocando nas mãos destes, o destino da
economia local ou regional. Este modelo caracteriza-se por ser realizado de “baixo para cima”,
ou seja, partindo das potencialidades socioeconómicas originais do local, no lugar de um
desenvolvimento estruturado de “cima para baixo”, isto é, partindo do planeamento e intervenção
conduzidos pelo Estado nacional (Amaral Filho, 1996).
A compressão plena de determinada matéria é, vezes sem conta, determinada pelo entendimento
dos conceitos básicos a sua volta. Para a melhor compreensão desta pesquisa afigura-se
importante a definição de alguns termos, nomeadamente: participação comunitária, RSE e
Megaprojectos.
No sentido mais amplo, de acordo com Bordenave (1985), participação é “fazer parte”, “tomar
parte” ou “ter parte”. Desta forma, para o autor a questão central da participação não é o quanto
se toma parte mas como se toma parte e distingue entre os processos de micro participação
(voltada para interesses pessoais e imediatos) e macro participação (voltada para a intervenção
no âmago das estruturas sociais, políticas e económicas).
A Participação não nos parece que seja uma obrigação moral ou política da democracia. Todavia,
a participação constitui uma técnica de gestão pela sedução que anda associada ao estilo pessoal
de liderança política dos eleitos. É uma forma de envolver os cidadãos na solução dos seus
problemas (Bilham, 2004:60).
A Participação deve ser entendida como acto e efeito de um processo em que a sociedade civil, a
sociedade política e a sociedade económica tenham tomado uma decisão em conjunto.
Klausmeyer e Ramalho (1995) entendem que ela acontece quando há acesso efectivo dos
envolvidos no planeamento das acções, na execução das actividades e em seu acompanhamento e
avaliação.
17
A Participação é um instrumento importante no sentido de promover a articulação entre os
actores sociais, fortalecendo a coesão da comunidade e melhorando a qualidade das decisões,
tornando mais fácil alcançar objectivos de interesse comum. No entanto, as práticas
participativas não podem ser encaradas como procedimentos infalíveis, capazes de sempre
proporcionar soluções adequadas para problemas de todos os tipos (Bandeira,1999).
Neste sentido consideramos ser pertinente trazer as reflexões dos clássicos da sociologia como
ponto de partida para a compreensão deste conceito. Na visão de Tonnies (1995), a existência de
processos comunitários estaria ligada, em primeiro lugar, aos laços de sangue, em segundo lugar
à aproximação espacial, e em terceiro lugar à aproximação espiritual. De acordo com Tonnies
(1944: 98): “ pode se compreender a comunidade como um organismo vivo, e a sociedade como
um agregado mecânico e passageiro”.
Nesta vertente Weber (1987:77) define comunidade como: “uma relação social na medida em
que a orientação da acção social, na média ou no tipo-ideal, baseia-se em um sentido de
solidariedade: o resultado de ligações emocionais ou tradicionais dos participantes”. Neste
estudo foi adoptada a perspectiva de Brint (2001), que define comunidade como agregados de
pessoas que partilham actividades comuns e crenças, estando ligados por relações de afecto,
lealdade, valores comuns ou preocupações pessoais (com os acontecimentos das vidas dos seus
semelhantes).
Assim, a Participação Comunitária, termo formulado nos meados dos anos 50, surgiu num
contexto em que as iniciativas de desenvolvimento procuravam responder as necessidades dos
seus beneficiários, através do envolvimento activo das comunidades locais na planificação e
18
execução dos projectos, de modo que estes actores se sentissem partes integrantes dos mesmos, e
não somente receptores passivos (Valá, 1998; UNICEF, 1999).
A RSE, de acordo com Santos (2012) é um conceito difícil de delimitar porque é essencialmente
dinâmico e variável. Neste sentido, a amplitude deste conceito por vezes leva a que seja
implementado de forma díspar por parte das empresas, quer de acordo com os seus recursos,
como também pelo contexto em que se encontram. Uma das marcas distintas do conceito de RSE
é a sua relação com a noção de ética.
Para Santos (2012) o conceito de RS agrega um imperativo ético ao fazer coisas que melhoram a
sociedade, e não fazer aquelas que poderiam piorá-la. Ou seja a RSE na perspectiva de Santos
(2012:83) “é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com os
públicos com que se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais conciliáveis com o
desenvolvimento sustentável da sociedade”.
Ashley e Cardoso (2002) definem a RS como o compromisso de uma organização para com a
sociedade, na medida em que, os actos e atitudes da organização afectam toda a sociedade ou
alguma comunidade em particular. A Comissão Europeia (2001) no seu Livro Verde define a RS
como um conceito segundo o qual “as empresas numa base voluntária decidem contribuir para
uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo” (Comissão Europeia, 2001:4). Isto
implica para as empresas irem mais além das suas obrigações legais plasmadas nos quadros
jurídicos nacionais e internacionais, através de acções como investimento em capital humano, no
ambiente, e nas relações com outras partes (Leal, 2001; Santos, 2012).
19
A definição de RSE que adopta-se para este trabalho é a de Neto e Froes, na medida em que
consideram a RSE de um ponto de vista ético e moral, ou seja o papel da empresa vai para além
do cumprimento da lei. A preocupação da empresa em fazer o bem e não o mal para a sociedade
(perspectiva ética), encontram na responsabilidade social um mecanismo de retribuição a
sociedade. Para Neto e Froes (1999:82) “a RSE é uma forma da empresa retribuir a sociedade
pelos recursos naturais, capitais financeiros e tecnológicos, e força de trabalho usados no seu
funcionamento, recursos estes que pertencem ao património gratuito da humanidade. A RSE é
também um mecanismo de reduzir as diferenças sociais criadas pela empresa”.
Uma das elaborações teóricas com maior adesão na literatura norte-americana sobre RSE é a
proposta apresentada por Carroll em 1979, a qual resistiu, no essencial, até à actualidade,
permanecendo amplamente aceite pela comunidade científica. Carroll estabelece quatro tipos
específicos de responsabilidades sociais das empresas, identificadas com base nas expectativas
da sociedade em relação ao desempenho empresarial. O autor apresenta uma definição de RSE
estruturada em quatro dimensões – económica, legal, ética e filantrópica:
2.2.3 Megaprojectos
20
fundamentais de acumulação e reprodução económica em Moçambique por causa do seu peso no
investimento privado, na produção e no comércio.
Castel-Branco (2008) acrescenta ainda que os megaprojectos são área quase exclusiva de
intervenção de grandes empresas multinacionais por causa dos elevadíssimos custos, das
qualificações e especialização requeridas, da magnitude, das condições competitivas
especialização dos mercados fornecedores e consumidores, geralmente dominados por
oligopólios e monopólios. Em economias menos desenvolvidas, como é o caso de Moçambique,
estas empresas podem exercer considerável poder.
Neste capítulo, para além da apresentação da base teórica, foram desenvolvidas conceptualmente
as expressões-chave que auxiliam a compreensão do presente trabalho, ou seja, os conceitos aqui
debatidos servem de arcabouços para o avanço científico do tema em análise. Já a seguir abre-se
o terceiro capítulo com vista a aprofundar o tema na óptica de vários autores.
21
CAPÍTULO 3: ABORDAGENS SOBRE A PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA E O SEU
PAPEL NA RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL
O presente capítulo intitulado revisão da literatura traz várias abordagens em relação ao tema do
estudo. A revisão da literatura consolida alguns subtemas necessários para que o leitor tenha
ciência da necessidade da presente pesquisa, bem como das características, da importância da
participação comunitária, dos actores no processo de RSE, dos motivos que fazem a sociedade se
envolver e do papel das empresas.
A interacção entre as comunidades rurais de países da América Latina como o México, Peru e
Bolívia, com as Multinacionais das indústrias mineradoras e petrolíferas, bem como o papel
destas indústrias para o desenvolvimento local e regional, foi um tema estudado por Clark e
North (2006) tendo destacado em particular os processos de negociação entre comunidades e
corporações no desenho de projectos de desenvolvimento local, através da responsabilidade
social empresarial.
Para fazerem face a este criticismo, estas corporações avançaram com o conceito de
Responsabilidade Social Empresarial e diálogo dos Stakeholders (partes interessadas). Embora
passos consideráveis fossem dados em alguns aspectos, na visão de Clark e North (2006) a RSE
22
reforça a retirada do Estado com o argumento de que as empresas podem gerir seus próprios
assuntos. O que está implícito neste conceito é a noção de que não só os interesses das empresas
e das comunidades são semelhantes, mas também que as diferenças entre os dois são
quantitativas (uma questão de dólares e centavos), do que qualitativas (baseadas em diferentes
visões sobre desenvolvimento).
O modelo de negociação que tem como base a retórica dos stakeholders (partes interessadas)
ignora o facto de existirem diferenças de poder e recursos entre os diferentes actores. As
corporações têm recursos para o engajamento em discussões infindáveis com os representantes
das comunidades, ao mesmo tempo em que conduzem as suas actividades. As corporações têm
capacidade para desencadear lobbys com o governo, iniciar novos projectos e manipular os
media. Para Wache (2008) aqueles que organizam as mesas de negociação, tem uma vantagem
estratégica, na medida em que, seleccionam previamente de forma limitada os actores que
representam os interesses da sociedade.
23
Quando se faz referência à participação da sociedade, se está levando em consideração a
definição de Ávila (1991), segundo a qual toda sociedade pode ser concebida como um sistema
integrado de quatro subsistemas: o político, o social, o económico e o cultural. Assim, sua
estrutura consiste na relação mais ou menos estável destes quatro subsistemas.
24
c) Participação consultiva: as pessoas participam sendo consultadas por agentes externos, os
quais definem problemas e propõem soluções com base na consulta, mas sem dividir a tomada
de decisão;
d) Participação por incentivos materiais: as pessoas participam fornecendo recursos como mão-
de-obra e terra em troca de dinheiro, equipamentos, sementes ou outra forma de incentivo. A
maioria dos experimentos em propriedades e projectos agrícolas se encaixa neste tipo.
Quando a ajuda é retirada, o entusiasmo logo termina;
e) Participação funcional: as pessoas participam formando grupos para atender a objectivos pré-
determinados e definidos por agentes externos. Estes grupos em geral dependem dos
facilitadores, mas às vezes se tornam independentes;
f) Participação interactiva: as pessoas participam de forma cooperativa, interagindo através de
planos de acção e análise conjunta, os quais podem dar origem a novas organizações ou
reforçar as já existentes. Estes grupos têm controlo sobre as decisões locais. É dada ênfase a
processos interdisciplinares e sistemas de aprendizado que envolvem múltiplas perspectivas;
g) Participação por automobilização: as pessoas participam tomando iniciativas para mudar os
sistemas independentemente de instituições externas. O resultado dessa acção colectiva pode
ou não mudar uma situação social indesejável (por exemplo, distribuição desigual de renda e
de poder).
Visando obter maiores êxitos na participação da comunidade na RSE, muitas ONGs, órgãos
governamentais, autarquias e consultores da área criaram diversos mecanismos para maximizar a
participação; contudo, neste estudo estes não foram tratados, mas sim os diversos mecanismos de
participação.
25
As decisões são realizadas através de um processo que poderá fazê-los demorar mais ou menos
tempo para tomá-las. Elas só são realmente tomadas quando o decisor ou os decisores decidem
fazer ou não fazer algo (Roy, 1996). Portanto, se todos os actores realmente participarem do
processo, poderão decidir que acções são prioritárias e quais deverão ser realizadas na sua
municipalidade e/ou região.
Baseado no autor supracitado é possível perceber que quanto maior e representativo for o
número de actores envolvidos em um processo participativo, mais democrático este será e
maiores serão os êxitos no desenvolvimento local. Em um processo participativo, desde a
elaboração do planeamento até sua execução, é necessário que as organizações e os cidadãos
participem, em algum momento, de sua elaboração. Além de participar, é importante que cada
organização e todo cidadão conheça o seu papel dentro do sistema planejado, comprometendo-se
com o desenvolvimento local. Para conseguir este êxito, faz-se necessário o envolvimento, se
possível, de todos os sectores sociais, económicos e políticos da comunidade, bem como de
sindicatos, comunidades, secretarias municipais, prefeito, poder legislativo local, comissões
existentes no município, cooperativas, empresas, agricultores, lideranças, igrejas e ONGs, entre
outros.
Dentro desse processo existem dois grupos de organizações que devem participar. O primeiro, é
composto pelas organizações formais e que normalmente são registradas. Mas existe o grupo de
organizações informais, que, segundo Bernardes e Marcondes (2001), é constituído por pessoas
que se reúnem para atingir metas individuais em uma situação cooperativa ou convergente. Este
grupo pode ser apenas um grupo de pessoas que se reúne para jogar futebol e se divertir ou,
ainda, um grupo para defender um ambiente desfavorável, como cobrar uma medida da
prefeitura.
Para se envolver as organizações informais, é necessário conhecê-las e saber dos seus interesses,
da representatividade e da importância de cada uma. Jamais deve ser ignorada a existência desse
tipo de organização. Apesar de inicialmente ser utópica a participação de todos os actores citados
acima, visto que alguns resistem em participar, torna-se essencial demonstrar sua importância e
nunca eliminar futuras participações dos atores que inicialmente não concordaram com este novo
processo de decisão. Isto porque, se algum deles, além de não participar, minar o processo
26
participativo, tal comportamento poderá acarretar consequências graves no desenvolvimento
local (Marcondes, 2001).
Carvalho (1997) sugere que os movimentos e as organizações sociais, assim como as instâncias
de participação social na administração municipal, tenham carácter predominantemente efémero,
modificando-se permanentemente em função dos objectivos e da correlação de forças políticas
conjunturais.
O governo procura, na sua essência, que o desenvolvimento local seja realizado com a
participação da comunidade, mas, para assim ocorrer com sucesso, é preciso que haja
mecanismos que possibilitem a participação.
27
Em Moçambique, a participação da comunidade no processo de planificação local é assegurada
pelos Conselhos Consultivos Locais onde, juntamente com o Estado, se discutem questões
prioritárias locais. Entre as quais o orçamento do Estado para fazer face aos planos, económico e
social e estratégico do respectivo distrito.
Segundo o artigo 2 do Guião dos Conselhos Locais, o “Conselho Local é um órgão de consulta
das autoridades da administração local, na busca de soluções para questões fundamentais que
afectam a vida das populações, o seu bem-estar e desenvolvimento sustentável, integrado e
harmonioso”.
Mas, para que haja participação no desenvolvimento local, é necessário que o governo municipal
abra espaços para a participação, descentralizando o poder. No campo económico, as empresas já
verificam a importância de se estabelecer parcerias para que elas cresçam em consonância com o
local onde estão situadas.
Numa perspectiva histórica a RSE é uma manifestação actual de debates antigos sobre o papel
dos negócios na sociedade. O fenómeno novo neste debate é o facto de estes debates
relacionarem a RSE com temas como o desenvolvimento, ambiente, direitos humanos, e tem
uma amplitude global em comparação com os períodos anteriores.
A RSE era aceite como doutrina nos EUA e Europa até o século XIX, quando o direito de
conduzir negócios de forma corporativa era uma questão de prerrogativa do Estado ou
28
Monarquia e não um interesse económico privado (Hood, 1998). Com a independência dos EUA,
os estados americanos começaram a aprovar a legislação que permitisse a auto-incorporação
(Self-incorporation) como alternativa à incorporação por acto legislativo específico, inicialmente
para serviços de interesse público, como, por exemplo, a construção de canais, e, posteriormente,
para propósitos de condução de negócios privados. Desta forma, até ao início do séc. XX a
premissa fundamental da legislação sobre corporações era de que seu propósito era a realização
de lucros para seus accionistas (Ashley, 2000).
Desse modo, a prática de acções sociais pelas empresas não era estimulada, sendo até condenada.
A RSE limitava-se apenas ao acto filantrópico, isto é, uma acção de natureza assistencialista,
caridosa e predominantemente temporária, de carácter pessoal, representada por doações de
empresários ou, por exemplo, pela criação de fundações americanas, como a Rockfeller (criada
em 1913), a Gugenheim (em 1922) e a Fundação Ford (em 1936) (Costa, 2005).
Após os efeitos da Grande Depressão e o período da Segunda Guerra Mundial, a noção de que a
corporação deve responder apenas aos interesses dos seus accionistas sofreu ataques na
academia, principalmente pelos trabalhos de Berle e Means, The Modern Corporation and
Private Property (Berle & Means, 1932), argumentando que os accionistas eram passivos
proprietários que abdicavam controlo e responsabilidade para a direcção da corporação. Estes
eventos históricos destacados criaram um ambiente para uma aceitação gradual da
responsabilidade social no contexto académico. Suzana Leal (2005) destaca as fases importantes
que marcam este percurso até às modernas formulações da responsabilidade social.
Com efeito, a RSE começa a sofrer uma crescente formalização enquanto conceito a partir da
década de 1960. Dos contributos mais relevantes destacam-se Davis (1960, 1967), McGuire
(1963), Davis e Blomstrom (1966) e Walton (1967). McGuire (1963) defendeu a ideia de que a
responsabilidade social supõe que a empresa não tem apenas obrigações legais e económicas mas
também algumas responsabilidades para com a sociedade. Por sua vez, Walton (1967) destaca
que o conceito de responsabilidade implica uma intimidade da relação entre empresa e a
sociedade, e defende que tal relação deve ser lembrada pelos gestores de topo à medida que a
empresa e os grupos relacionados prosseguem os respectivos objectivos (Leal, 2005).
29
No período posterior a 1990 têm sido desenvolvidos conceitos complementares aos da
responsabilidade social, tais como, corporate social responsiveness, corporate social
performance (CSP), public policy, ética nos negócios, gestão dos stakeholders, etc.
Tendo como base o livro verde, Mogele e Troop (2010), consideram que o exercício empresarial
pressupõe uma atitude eficaz da empresa em duas dimensões: interna e externa.
Interna é a dimensão que está centrada nos trabalhadores da empresa e compreende a adopção de
práticas socialmente responsáveis no seio da empresa, no âmbito da gestão de recursos humanos
(GRH), através da implementação de medidas que visem melhorar a saúde e segurança no
trabalho, a capacidade de adaptação às mudanças e, igualmente, a gestão do impacto ambiental e
dos recursos naturais no seu processo produtivo (Comissão das Comunidades Europeias, 2001).
Neto e Froes (1999) referem que a dimensão interna direcciona acções para os trabalhadores e
suas famílias, tendo como principal objectivo desenvolver um ambiente de trabalho de salutar e
contribuir, assim, para o bem-estar dos que ali trabalham, deixando-os mais satisfeitos. Para além
do investimento no desenvolvimento pessoal e profissional dos trabalhadores, bem como na
melhoria das condições de trabalho, exige-se também um estreitamento nas relações com os
trabalhadores. O ganho para a empresa ao investir nos trabalhadores e suas famílias é
considerável, pois os trabalhadores tornam-se mais dedicados, empenhados, proporcionando,
muitas vezes, um ganho a nível da motivação que se traduz num maior retorno de produtividade
para os accionistas (Neto & Froes, 1999).
30
Já a dimensão externa ultrapassa a expectativa da própria empresa e estende-se à gestão das
relações com as comunidades locais envolventes, os parceiros de negócio, fornecedores,
accionistas, autoridades públicas, consumidores, baseados na observância dos direitos humanos e
a questão da protecção do meio ambiente global (Comissão das Comunidades Europeia, 2001).
No que diz respeito à comunidade local, a empresa tem de se preocupar em resolver a carência
dos locais aonde estiver inserida, ajudando na implantação de centros comunitários que integram
a empresa na comunidade, procurando a preservação dos recursos naturais, protecção ambiental
e o reforço da sustentabilidade das comunidades. Estas acções, contribuem para melhorar a
qualidade de vida da população da comunidade e consequentemente o desenvolvimento
comunitário bem como o respeito aos costumes, às culturas locais, o empenho na educação e na
disseminação de valores sociais através de um relacionamento ético, transparente e responsável
com as minorias e instituições que representam seus interesses (Oliveira & Scwertner, 2007).
Vejamos então alguns modelos de responsabilidade social que podem ser aplicáveis no contexto
moçambicano em especial.
31
Modelo de Carroll (1991) foi construído a partir de análise de resultados obtidos anteriormente
por outros autores, sugerindo um modelo baseado na relação entre a responsabilidade social e a
rentabilidade. Este modelo trouxe nova visão ao conceito de RSE ao considerar que ela é
composta por quatro responsabilidades (Económica, Legal, Ética e filantrópica), como se
apresenta na figura 1.
Responsa
bilidades
Filantróp
icas
ser um
bom
cidadão
Contribui
r com
recursos
para a
comunida
Responsabilidades
de, Éticas
m elhorar
Ser ético
a
Obrigação de fazer o que é certo, justo
qualidade
e evitar
de vidadanos.
.
Responsabilidades legais
Obedecer a lei
A legislação é a codificação do certo e errado num a sociedade.
Jogar dentro das regras do jogo
Responsabilidades Económ icas
Ser lucrativo
A base da pirâm ide da qual derivam as demais responsabilidades .
Fonte: elaborado pelo autor, com base em Ferreira (2012: 27; Carroll, 1991).
Visser (2005) ao analisar o modelo de Carroll chega a conclusão de que a ordem das
responsabilidades está dependente do local. Explica que o modelo de RSE quando aplicado no
contexto africano verifica-se uma mudança na sua disposição sendo que, a fase quatro
(filantrópica) passa para fase dois (legal), motivado por fraco nível de investimento estrangeiro
nas economias em causa, provocando altos índices de desemprego.
Baseando-se em dados estatísticos chega a conclusão de que até 1997, apenas 43% dos
trabalhadores participavam na economia, e na generalidade dos países analisados apresentavam
altos índices de pobreza extrema e com elevada dependência externa (Visser, 2005: 37-38).
32
Na perspectiva de Visser (2005), o modelo de Carrol não é compatível para a realidade africana
conforme exposto acima. Nesta óptica, a pirâmide foi reformulada da seguinte maneira: (i)
responsabilidade económica; (ii) responsabilidade filantrópica; (iii) responsabilidade legal e (iv)
responsabilidade ética.
A prática de RSE gera bons resultados, vantagens, lucros, crescimento das próprias empresas e
da economia no geral (Comissão das Comunidades Europeias, 2001). Adoptar uma postura
empresarial responsável é proporcionar vantagens directas para a empresa, garantir a
competitividade e a sustentabilidade a longo prazo.
De acordo com Biorumo (2005), são apresentadas algumas das vantagens da adopção da
estratégia da prática da RSE:
a) Antecipa os problemas e os riscos que possam surgir decorrentes das suas actividades e
que causam marcas profundas na imagem e sobrevivência;
b) Permite um maior índice de inovação através do aproveitamento de oportunidades e do
estímulo da criatividade que lhes traz valor acrescentado e maior qualidade percebida
fidelizando os clientes;
c) Posiciona a empresa como atente às necessidades dos novos consumidores permitindo a
sua diferenciação face à concorrência e, logo, potenciando o valor percebido da marca;
d) Provoca uma melhoria das condições de vida da comunidade, o que tem um efeito
reconhecido através da melhoria da imagem da empresa e sua reputação no mercado
permitindo abraçar novas oportunidades;
e) Decorrente de todos os factores anteriores a performance económica e financeira está
assegurada.
33
3.2.4 Razões adjacentes à Prática da Responsabilidade Social
Segundo Melo Neto e Froes (2001), a empresa deve financiar projectos sociais porque é correcto,
e é justo fazer isto. Esta actividade não é actividade de caridade, típica dos donos das empresas
capitalistas do início do século XX, que utilizavam a filantropia como forma de expiração dos
seus sentimentos de culpa por obterem lucros fáceis às custas de exploração do trabalho das
pessoas e dos recursos naturais abundantes.
Sabe-se que a RSE é um conceito que está associado à firma moderna e nasce no âmbito dos
demais objectivos desta, em consequência de exigências do mercado e de pressões sociais
resultantes da avaliação dos impactos que a nova orientação capitalista traz ao mundo dos
negócios.
A RSE em Moçambique encontra-se ainda numa fase embrionária, num processo lento de
desenvolvimento, em certa medida resultado da existência de grupos da sociedade civil ainda em
constituição; baixa incorporação na agenda do Governo; existência de poucas ONG´s bem
estabelecidas com plano estratégico, estrutura criada, recursos financeiros e resultados palpáveis;
reduzidos incentivos e pressões às empresas para adopção de altos padrões ambientais e sociais;
fraquíssima capacidade humana e institucional; inexistência de instrumentos de RSE; provável
inexistência de legislação específica de RSE e ainda uma visão de curto prazo por parte de
algumas empresas (Cabral, 2009).
34
Durante as últimas três décadas, Moçambique sofreu profundas transformações
socioeconómicas, jurídicas e políticas. Após o fim da guerra civil dos 16 anos em 1992,
Moçambique tem vindo a registar um dos mais altos crescimentos económicos no continente
africano, com um crescimento estimado na ordem dos 7% na última década (Brynildsen &
Nombora, 2013). Dispondo de uma vasta reserva de recursos naturais, Moçambique tem sido um
dos destinos privilegiados do investimento directo estrangeiro.
Assim as empresas multinacionais que exploram estes recursos naturais são consideradas actores
chaves na divulgação da Responsabilidade social empresarial em Moçambique. As companhias
multinacionais estão engajadas em actividades de Investimento Social Corporativo (CSI), como
parte do compromisso com o governo, e por esta via se beneficiam de benefícios fiscais e
administrativos (Global Compact, 2007).
No que diz respeito às pequenas e médias empresas do sector privado local, existe pouco
envolvimento destas nas iniciativas de responsabilidade social empresarial, na medida em que a
RSE não é vista por estas empresas como uma estratégia-chave para os seus negócios, mas sim, a
RSE está dependente de recursos financeiros disponíveis.
No que concerne as empresas detidas pelo estado, é importante notar que durante duas décadas,
constituíram os principais atores corporativos em Moçambique. Após a adopção de políticas de
privatização pelo governo no princípio dos anos 90, parte considerável das empresas detidas pelo
estado, foram privatizadas. No entanto algumas destas empresas não sobreviveram tendo as suas
actividades reduzido a níveis mínimos, tal não se verificou com as companhias responsáveis pela
prestação de serviços como abastecimento de energia, telecomunicações e transporte (UN Global
Compact, 2007).
35
3.4 Relação entre responsabilidade social e desenvolvimento socioeconómico
Como observa McIntosh (2003), as corporações são nossas corporações. Elas são nosso coração
e solo. Nelas investimos nossas pensões, nossas vidas em trabalho e nossos costumes. Quando
elas actuam tanto como entidades privadas quanto públicas”. Acrescenta este autor que cresceu o
peso da empresa e da sua universalidade tornando-a alvo da opinião pública ou do escrutínio
público sobre o seu desempenho na satisfação das necessidades prementes da sociedade.
Para outros autores como Carroll (1991), a RSE de negócios inclui simultaneamente a satisfação
dos seus objectivos económicos, legais, éticos e filantrópicos. A responsabilidade social da
empresa permite o alinhamento dos objectivos sociais e económicos e aumenta a possibilidade e
36
o potencial de uma empresa em desenvolver-se por muito tempo, isto é, a longo prazo (Porter &
Kramer, 2002). A actuação da empresa no domínio social e no ambiental fortalece igualmente as
capacidades institucionais e de empoderamento, bem como o relacionamento da empresa no
apoio a causas sociais (Costa, 2005:14).
Durante muito tempo a RSE circunscrevia-se nas acções de caridade dominantes no período da
revolução industrial, tendo este modelo sofrido alterações profundas já nos tempos modernos,
isto é, no século XX quando é incorporada a necessidade da garantia dos direitos a todos
membros da sociedade humana através das acções de capacitação ou educação cívica cidadã.
Sobre esta matéria, Gago et al. (2005) sublinham que os deveres da empresa-cidadã tem a ver
com as contribuições que, na decorrência da sua actividade, queira para uma sociedade mais
justa para as pessoas, bem como actividades económica, comercial e financeira sejam mais
transparentes. Como foi referido, as exigências das Nações Unidas também jogam um papel
determinante na reconfiguração das relações entre as empresas e a sociedade no seu todo.
Alguns instrumentos legais aprovados como a Declaração Universal dos Direitos Humanos
(1948), GRI (Global Report Ininiciative) criado em 2002, tem colaborado com UNEP (Programa
das Nações Unidas para o ambiente), etc., e os compromissos globais sobre o meio ambiente e
desenvolvimento sustentável, na lógica de não deixar ninguém atrás (lema actual das Nações
Unidas), reforçam os argumentos para as empresas assumirem a responsabilidade social.
37
de grande interesse sobretudo em países em desenvolvimento como Moçambique, portanto, o
próximo capítulo aborda esta questão tendo em conta os dados do campo.
Este capítulo visa trazer em termos práticos e realísticos os dados sobre o tema, colhidos no
terreno, especificamente da Localidade de Chinonanquila e dos órgãos e funcionários da empresa
Mozal. Pretende-se com esses dados, depois fazer uma confrontação da teoria, revisão da
literatura e a realidade com vista ao alcance dos objectivos preconizados.
A Mozal é um ramo da indústria multinacional BhpBilliton, com sua sede na Austrália, que no
seu portfólio, detém interesses nas áreas de exploração de minério de ferro, carvão energético,
metalurgia, petróleo e gás, alumínio, manganês, urânio, níquel, prata e cobre. A BhpBilliton
possui operações em 141 localizações em diversas partes do mundo.
38
4.3 Mecanismos de participação usadas pela comunidade de Chinonanquila no âmbito da
Responsabilidade Social Empresarial da Mozal
4.4 Circuito de interacção entre a comunidade de Chinonanquila e a empresa nas acções
de responsabilidade social áreas de intervenção da Mozal na comunidade de
Chinonanquila no âmbito da Responsabilidade Social Empresarial
4.5 Papel da participação da comunidade de Chinonanquila nas acções socialmente
responsáveis da Mozal
39
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46
Apêndices
47
Apêndice 1: Guião de Entrevista Dirigido aos Colaboradores da Mozal
Este guião de entrevista é para fins da pesquisa científica a ser realizada com vista a obtenção do
grau de Licenciatura em Administração Pública na Universidade Joaquim Chissano (UJC) e tem
como tema: “Papel da Participação Comunitária na Responsabilidade Social das Empresas:
O caso da Mozal na Localidade de Chinonanquila (2015-2020)”.
Esta entrevista é semi-estruturada, pois, das respostas destas questões planeadas poderão surgir
outras questões advindo da inquietação do pesquisador.
Os dados colhidos através desta pesquisa serão processados respeitando aos princípios éticos da
pesquisa científica de anonimato (protecção das identidades das fontes) e de forma agregada e não
individualizada.
48
Apêndice 2: Questionário dirigido à comunidade de Chinonanquila
Mecanismo de participação
Sim
Não
R:
Boa
Razoáve
l
Má
Porquê?
Bom
Mau
49