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Escola Superior de Governação

Curso de Licenciatura em Administração Pública


Trabalho de Conclusão da Licenciatura

Papel da Participação Comunitária na Responsabilidade Social das


Empresas: O caso da Mozal na Localidade de Chinonanquila (2015-
2020)

Candidato: Supervisora:
Juliano Carlos Baptista Dra. Bernardete Gomana

Maputo, Setembro de 2022


DECLARAÇÃO DE AUTORIA

Eu, Juliano Carlos Baptista, declaro, por minha honra, que o presente trabalho é da minha
autoria e que nunca foi anteriormente apresentado para avaliação em nenhuma Instituição de
Ensino Superior, nacional ou de outro País.

O candidato

____________________________________

(Juliano Carlos Baptista)

i
TERMO DE RESPONSABILIZAÇÃO DO CANDIDATO E DA SUPERVISORA

Papel da Participação Comunitária na Responsabilidade Social das Empresas: Caso da


Mozal na Localidade de Chinonanquila (2015-2020)

Trabalho de conclusão da licenciatura a ser submetido à Escola Superior de Governação (ESG) da


Universidade Joaquim Chissano (UJC) como cumprimento parcial dos requisitos necessários para
a obtenção do grau de licenciatura em Administração Pública (AP).

Candidato: Supervisora:

__________________________________ _________________________________
(Juliano Carlos Baptista) (Dra. Bernardete Gomana)

Maputo, Setembro de 2022


ii
Índice

DECLARAÇÃO DE AUTORIA.........................................................................................................i
TERMO DE RESPONSABILIZAÇÃO DO CANDIDATO E DA SUPERVISORA..........................ii
AGRADECIMENTOS.....................................................................................................................iii
DEDICATÓRIA..............................................................................................................................iv
EPÍGRAFE.......................................................................................................................................v
LISTA DE SIGLAS E ACRÓNIMOS...............................................................................................vi
LISTA DE GRÁFICOS E QUADROS............................................................................................vii
SUMÁRIO EXECUTIVO..............................................................................................................viii
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO......................................................................................................1
1.1 Delimitação do Tema no Espaço e no Tempo..................................................................2

1.2 Contextualização...............................................................................................................2

1.3 Justificativa.......................................................................................................................4

1.4 Problematização................................................................................................................5

1.5 Objectivos da Pesquisa......................................................................................................7

1.5.1 Objectivo Geral..........................................................................................................7

1.5.2 Objectivos Específicos...............................................................................................7

1.6 Questões da Pesquisa........................................................................................................7

1.7 Hipótese da Pesquisa.........................................................................................................8

1.8 Metodologia do Trabalho..................................................................................................8

1.8.1 Classificação da Pesquisa..........................................................................................8

1.8.2 Métodos da Pesquisa................................................................................................10

1.8.3 População e Amostra da Pesquisa...........................................................................11

1.9 Estrutura do Trabalho......................................................................................................12

CAPÍTULO 2: QUADRO TEÓRICO E CONCEPTUAL............................................................13


2.1 Quadro Teórico...............................................................................................................13

2.1.1 Teoria da Democracia Participativa.........................................................................13


2.1.2 Teoria de Desenvolvimento Endógeno....................................................................14

2.1.3 Aplicabilidade e Complementaridade das Teorias no Estudo.................................16

2.2 Quadro Conceptual..........................................................................................................17

2.2.1 Participação Comunitária.........................................................................................17

2.2.2 Responsabilidade Social das Empresas...................................................................19

2.2.3 Megaprojectos..........................................................................................................20

CAPÍTULO 3: ABORDAGENS SOBRE A PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA E O SEU


PAPEL NA RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL................................................22
3.1 Participação Comunitária como Elemento da Responsabilidade Social das Empresas. .22

3.1.1 Características e Tipos de Participação Comunitária..............................................23

3.1.2 Os Actores do Processo Participativo......................................................................25

3.1.3 Mecanismos de Participação Comunitária...............................................................27

3.2 Responsabilidade Social numa perspectiva histórica......................................................28

3.2.1 Dimensões da Responsabilidade Social das Empresas............................................30

3.2.2 Modelos da Responsabilidade Social......................................................................31

3.2.3 Vantagens da Adopção da Estratégia da Prática de Responsabilidade Social


Empresarial.............................................................................................................................33

3.2.4 Razões adjacentes à Prática da Responsabilidade Social........................................34

3.3 Responsabilidade Social em Moçambique......................................................................34

3.4 Relação entre responsabilidade social e desenvolvimento socioeconómico...................36

CAPÍTULO 4: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DA


PESQUISA DE CAMPO...............................................................................................................38
4.1 Breve caracterização do local de estudo.........................................................................38

4.2 Perfil da Amostra da Pesquisa.........................................................................................38

4.3 Mecanismos de participação usadas pela comunidade de Chinonanquila no âmbito da


Responsabilidade Social Empresarial da Mozal........................................................................39
4.4 Circuito de interacção entre a comunidade de Chinonanquila e a empresa nas acções de
responsabilidade social áreas de intervenção da Mozal na comunidade de Chinonanquila no
âmbito da Responsabilidade Social Empresarial.......................................................................39

4.5 Papel da participação da comunidade de Chinonanquila nas acções socialmente


responsáveis da Mozal...............................................................................................................39

REFERÊNCIAS.............................................................................................................................40
Apêndices.......................................................................................................................................47
Apêndice 1: Guião de Entrevista Dirigido aos Colaboradores da Mozal..................................48

Apêndice 2: Questionário dirigido à comunidade de Chinonanquila........................................49


AGRADECIMENTOS

Para a realização deste objectivo contei com a luz divina, colaboração e incentivo de várias
pessoas que não serei capaz de mencioná-las em simples texto monográfico. Tive apoio
institucional cuja relevância é inestimável.

Quero agradecer a Deus pelo dom da vida e pela força concedida para enfrentar com sucesso os
desafios e obstáculos ligados a esta caminhada.

Agradeço aos colegas do curso pela partilha de experiências nos meandros académicos e sociais,
juntos enfrentamos desafios com espírito colectivo. A lista não esgota, porém, a todos (as) que
directa ou indirectamente fazem parte da minha vida, o meu eterno, profundo e sincero
agradecimento.

Por fim agradeço a todos que directa ou indirectamente deram o seu apoio.

iii
DEDICATÓRIA

Aos meus pais.

Á minha esposa.

iv
EPÍGRAFE

“A democracia participativa aumenta a legitimidade


das decisões tomadas, uma vez que essas devem, em
princípio, serem discutidas com aqueles que serão
afectados por elas”.
(PLOTKE, 1997)

v
LISTA DE SIGLAS E ACRÓNIMOS

AMDC Associação Mozal Para o Desenvolvimento Comunitário


AP Administração Pública
ESG Escola Superior de Governação
IDE Investimento Directo Estrangeiro
GRH Gestão de Recursos Humanos
MOZAL Mozambique Aluminium
PME’s Pequenas e Médias Empresas
PQG Plano Quinquenal do Governo
ONU Organização das Nações Unidas
TDE Teoria de Desenvolvimento Endógeno
RES Responsabilidade Social das Empresas
RSP Reformas do Sector Público
UJC Universidade Joaquim Chissano
AP Administração Pública
APM Administração Pública Moçambicana
ERDAP Estratégia da Reforma para o Desenvolvimento da Administração Pública
ESG Escola Superior de Governação
FRELIMO Frente de Libertação de Moçambique
GDM Governo do Distrito de Marracuene
UJC Universidade Joaquim Chissano

vi
LISTA DE GRÁFICOS E QUADROS

vii
SUMÁRIO EXECUTIVO

O presente estudo tem como objectivo geral analisar o Papel da Participação Comunitária na
Responsabilidade Social das Empresas: Caso da Mozal na Localidade de Chinonanquila (2015-
2020) e é fundamentado à luz da Teoria de Democracia Participativa (TDP) e da Teoria de
Desenvolvimento Endógeno (TDE), no âmbito metodológico classifica-se como uma pesquisa de
natureza aplicada com uma abordagem quanti-qualitativa e quanto aos objectivos é exploratória.
São aplicados os métodos: monográfico e hipotético-dedutivo cuja colecta de dados é feita através
da revisão bibliográfica, documental e entrevistas semiestruturadas e inquérito por questionário.
Pode-se constatar que.

Palavras-Chave: Responsabilidade Social, Participação Comunitária; e Comunidades Locais.

viii
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO

No âmbito de estudos de desenvolvimento e organizacionais, a questão relativa a participação de


actores que são vítimas ou beneficiários das actividades das empresas continua sendo um assunto
de destaque. Acredita-se que, o desempenho e as características organizacionais estão
intrinsecamente ligados a participação de diversos actores sobretudo na agenda da manutenção
de bem-estar sócio ambiental. Por isso, o papel desta é estabelecer o rumo a seguir face aos
propósitos da organização e da comunidade. Neste processo, são produzidos resultados que
definem o ponto de intersecção entre as empresas e a comunidade através da responsabilidade
social daquelas primeiras.

No caso da localidade de Chinonanquila, foi instalado um megaprojecto de natureza


multinacional denominada Mozambique Aluminiuns (Mozal) cuja actividade é classificada pelos
ambientalistas como típica causadora de externalidades de diversa ordem no meio ambiente, e na
comunidade. Sendo assim, a comunidade como vítima primordial destas externalidades há quem
sugere que deve participar activamente nas acções da Responsabilidade Social desenvolvidas
pela Mozal na mitigação destes feitos (Wache, 2008). Esse facto suscitou a necessidade e
interesse de se analisar a relação entre o papel exercido pela participação da comunidade e o
sucesso das acções da responsabilidade social da empresa Mozal

Portanto, a partir deste estudo procura-se compreender os processos de interacção e diálogo entre
a Mozal e a comunidade, na elaboração de acções direccionadas ao bem-estar destas últimas. Ou
seja, há que perceber até que ponto a comunidade é ouvida na elaboração e implementação das
acções que a empresa incrementa.

Relacionar estas duas variáveis (participação da comunidade e a responsabilidade social


empresarial) permite um estabelecimento de equilíbrio entre os factores económico, social e da
gestão ambiental, com a partilha do saber e das boas práticas. Deste modo, a estratégia de
responsabilidade social na actualidade, emerge como um dos vectores centrais no processo da
valorização das condições de vida das comunidades bem como na preservação do meio ambiente
e na promoção de desenvolvimento sustentável, ao concorrer para a solução dos problemas locais
e globais.

1
1.1 Delimitação do Tema no Espaço e no Tempo

A pesquisa foi realizada tendo em conta o envolvimento da comunidade de Chinonanquila em


face as acções socialmente responsáveis desencadeadas pela Mozal. Esta escolha deve-se ao
facto de no distrito de Boane, a comunidade de Chinonanquila ter sido beneficiária de iniciativas
da RSE com recursos a consulta das prioridades necessárias. Nesta comunidade, são
desenvolvidos encontros de assistência e apoio à comunidade, pelo que através destes encontros
há sempre o levantamentos de inquietações que preocupam e/ou mexem com o bem-estar social
e ambiental.

A amplitude temporal da pesquisa compreende o período de 2015, ano da reabilitação da Escola


Primária e Completa 1º de Junho na comunidade em análise. O ano de 2015 associa-se também à
criação da Associação da Mozal para o Desenvolvimento de Comunidade (AMDC), visando-se
com esta escolha, perceber como esta associação teria assegurado a realização da
responsabilidade social ao ponto de gerar um nível de desenvolvimento comunitário chamativo.
Já o ano de 2020, a Mozal realiza a campanha comunitária de inclusão de jovens na dinamização
de auto-emprego na comunidade em estudo. Pretende-se com esta periodização, captar a
percepção comunitária e a sua participação nas medidas da RSE.

1.2 Contextualização

Numa perspectiva histórica, a RSE é uma manifestação actual de debates antigos sobre o papel
dos negócios na sociedade. O fenómeno novo neste debate é o facto de estes debates
relacionarem a RSE com temas como o desenvolvimento, ambiente, direitos humanos, e tem
uma amplitude global em comparação com os períodos anteriores.

A responsabilidade social corporativa era aceite como doutrina nos EUA e Europa até o século
XIX, quando o direito de conduzir negócios de forma corporativa era uma questão de
prerrogativa do Estado ou Monarquia e não um interesse económico privado (Hood, 1998). Com
a independência dos EUA, os Estados americanos começaram a aprovar a legislação que
permitisse a auto-incorporação (Self-incorporation) como alternativa à incorporação por acto
legislativo específico, inicialmente para serviços de interesse público, como, por exemplo, a
construção de canais, e, posteriormente, para propósitos de condução de negócios privados.

2
Desta forma, até ao início do séc. XX a premissa fundamental da legislação sobre corporações
era de que seu propósito era a realização de lucros para seus accionistas (Ashley, 2000).

Após os efeitos da Grande Depressão e o período da Segunda Guerra Mundial, a noção de que a
corporação deve responder apenas aos interesses dos seus accionistas sofreu ataques na
academia, principalmente pelos trabalhos de Berle e Means, The Modern Corporation and
Private Property (Berle & Means, 1932), argumentando que os accionistas eram passivos
proprietários que abdicavam controlo e responsabilidade para a direcção da corporação. Estes
eventos históricos destacados criaram um ambiente para uma aceitação gradual da
responsabilidade social no contexto académico. Suzana Leal (2005) destaca as fases importantes
que marcam este percurso até às modernas formulações da responsabilidade social.

Com efeito, a responsabilidade social empresarial começa a sofrer uma crescente formalização
enquanto conceito a partir da década de 1960. McGuire (1963) defendeu a ideia de que a
responsabilidade social supõe que a empresa não tem apenas obrigações legais e económicas mas
também algumas responsabilidades para com a sociedade. Por sua vez, Walton (1967) destaca
que o conceito de responsabilidade implica uma intimidade da relação entre empresa e a
sociedade, e defende que tal relação deve ser lembrada pelos gestores de topo à medida que a
empresa e os grupos relacionados prosseguem os respectivos objectivos (Leal, 2005).

No contexto moçambicano, a RSE já tratada no Código Comercial ao estabelecer que as


empresas têm um dever com as comunidades onde operam através de várias acções assistenciais.
No entanto, a ausência de uma política nacional de RSE abria espaço para que cada investidor
decidisse o pacote de RS bem como a abordagem de implementação desejada, o que de todo não
era mau, porque, se por um lado estes pacotes poderiam até resolver, em alguma medida,
problemas relacionados com a provisão de serviços essenciais básicos, por outro lado não se
afiguravam sustentáveis com programas de desenvolvimento e devolução pelos recursos
explorados, perpetuando a dependência e promovendo a exclusão social, sobretudo no que
concerne ao acesso a esses recursos pelas camadas da população mais vulneráveis (WWF, s/d).

Este vazio legal ou orientador, aliado ao rápido crescimento empresarial, obrigou a uma
profunda reflexão por parte do Governo da República de Moçambique (GRM) que culminou
com uma discussão que serviu de base para o desenvolvimento de uma política de RSE, através

3
de consultas públicas regionais. Esta auscultação contou com o envolvimento da sociedade civil
e do sector privado para determinação de acções concretas a serem financiadas em benefício das
comunidades vivendo em seu redor. A ideia é obrigar as empresas a desenhar projectos e estarem
inscritos nos seus planos de desenvolvimento para o benefício das comunidades onde estão
implantadas bem como para o país como um todo e dentro de um contexto de políticas
governamentais e estratégia de desenvolvimento mais alargado (Wache,2008).

Depois da realização da auscultação e discussão com todos os intervenientes, foi criada uma
política de RSE, sustentando-se também em práticas internacionais do sector e submetido ao
conselho de ministros, que foi aprovado através da resolução n˚ 21/2014, de 16 de Maio. Espera-
se que esta política venha a permitir que a indústria seja mais estratégica nos seus programas de
RSE e apoio as metas do Governo no crescimento económico sustentável e na redução da
pobreza.

1.3 Justificativa

Ao nível social, a escolha do tema sobre a RSE em Moçambique, com particular foco na
actuação da Mozal na vida das comunidades, é um contributo ao debate que já tem acontecido
sobre o desenvolvimento social e económico que é esperado com a actuação dos megaprojectos,
das multinacionais estrangeiras.

Ao nível da AP, a escolha deste tema é uma oportunidade de discutir a RSE com novas
perspectivas de análise, visto que este tema já tem sido alvo de estudos em ciências como a
administração, economia, gestão, entre outras, e por esta via através da AP podem ser levantados
novos problemas e sugestões de pesquisa.

Em termos de motivação pessoal, pesaram a curiosidade despertada no autor pelo tema da RSE,
que embora não sendo um novo tema, tem a capacidade de despertar animosidades em alguns
círculos de opinião da sociedade moçambicana. O autor sendo membro desta mesma sociedade,
não poderia deixar de dar o seu contributo para a reflexão do tema, com o auxílio da AP.

Por outro lado a questão da participação comunitária em matérias de RSE dos megaprojectos, já
deu provas de ser em algum momento, um terreno aberto a diversas interpretações, tanto por
parte dos que implementam, como também das comunidades que dela se beneficiam. Embora

4
tenham sido feitos esforços na teorização da RSE, nota-se que ainda persistem lacunas da sua
implementação ao nível empírico.

Portanto a partir de um estudo de caso do megaprojecto Mozal, procura-se compreender os


processos de interacção e diálogo entre a comunidade, na elaboração de acções direccionadas ao
bem-estar das comunidades locais. Ou seja, há que perceber até que ponto a comunidade é
ouvida na elaboração e implementação das acções que a empresa faz.

1.4 Problematização

Dentro da abordagem segundo a qual, a RSE relaciona-se com a filantropia e com a caridade,
este conceito vai para além destes elementos, pelo que, os beneficiários da RSE nas comunidades
não são meros agentes passivos sujeitos a depender da boa vontade das empresas, mas são
parceiros legítimos que almejam participar no desenvolvimento das suas comunidades, através
da criação e implementação de projectos socialmente responsáveis, de modo a que estes sejam
sustentáveis, e que as comunidades não sejam eternos dependentes da caridade das empresas.

Dentro desta lógica, estudos realizados apontam para uma implementação inadequada da RSE
que resulta da falta de participação das comunidades nestas acções, por exemplo, há que acredita
que a questão da participação comunitária em matérias de RSE dos megaprojectos, já deu provas
de ser em algum momento, um terreno aberto a diversas interpretações, tanto por parte dos que
implementam, como também das comunidades que dela se beneficiam (CIP, 2010). Embora
tenham sido feitos esforços na teorização da RSE, nota-se que ainda persistem lacunas da sua
implementação ao nível empírico.

Para CIP (2011) estas deficiências do entendimento e de implementação da RSE trazem consigo
um potencial conflito, dos quais podemos citar os casos dos megaprojectos da Companhia Vale
Moçambique em Tete, Kenmare em Nampula, que são alguns exemplos, onde as comunidades
reivindicaram condições dignas de reassentamento e por uma atitude mais responsável destas
empresas.

Echave (2006) concluiu em seu estudo sobre este assunto, que as comunidades ligadas às
companhias têm um papel reduzido no processo de tomada de decisão sobre o desenvolvimento
das suas zonas, pois as comunidades tendem a negociar com as empresas sem preparação

5
adequada, não definindo objectivos e estratégias, sem obter a informação necessária, sem
recursos, consultas e sem capacidade organizacional.

Por sua vez, Capito (2015) aponta para a vertente das compensações empresariais, dizendo que
as negociações entre empresas e comunidades estão mais concentradas em esquemas de
compensação (pagamento em dinheiro às comunidades pelos reassentamentos das suas áreas de
habitação com o surgimento da companhia), do que na definição de estratégias de
desenvolvimento a longo prazo. É de recordar que tais compensações contemplam as fases
iniciais dos projectos de mineração, ou seja, as companhias não reconhecem o seu papel na
responsabilidade social como uma relação contínua no presente e no futuro.

Para Echave (2006) este cenário verifica-se na medida em que estas empresas não se assumem
responsáveis pelas mudanças que ocorrem ao nível social e ambiental nas comunidades,
causadas pelo seu funcionamento. Assim esquemas de compensação não se baseiam numa
relação contínua entre empresas e comunidades, mas representam a busca de soluções rápidas
para um problema específico (os reassentamentos).

Assim a RSE, mais do que filantropia e caridade, é uma cultura de gestão das empresas que
prima por princípios éticos e morais vigentes numa sociedade.

Este questionamento é feito pelo facto de serem as próprias empresas que através da RSE,
regulam a sua própria conduta na sua intervenção social nas comunidades e frequentemente
apontam os aspectos positivos das suas actividades nos seus relatórios de prestação de contas.
Neste processo as comunidades que se beneficiam da RSE, raras vezes tem a oportunidade de
intervir e de concordar ou descordar do posicionamento das empresas. Nesta senda, pesquisas
feitas no campo da RSE, analisam a actuação social das empresas nas comunidades, realçando as
questões de participação, negociação e tomada de decisão dessas mesmas comunidades.

O não envolvimento das populações locais tem como consequências a dependência mental. Visto
que a construção de edifícios e de outros projectos de desenvolvimento não envolvem de forma
genuína a população local, estas iniciativas das companhias são vistas como ofertas, e as
populações não se sentem como donas destes projectos (Frynas, 2005:590).

6
Assim a participação dos beneficiários tem sido constrangida pela falta de habilidades das
companhias petrolíferas de gerir as questões de desenvolvimento local através da
responsabilidade social empresarial, e também pelas abordagens tecnicistas usadas pelos gestores
das companhias no tratamento das questões sociais. Em face a esta dicotomia urge elaborar a
seguinte pergunta de partida: Até que ponto a participação comunitária contribui nas acções
de responsabilidade social das empresas, especificamente a comunidade de Chinonanquila?

1.5 Objectivos da Pesquisa


1.5.1 Objectivo Geral
 Analisar o papel da participação comunitária nas acções da responsabilidade social das
empresas em Moçambique.

1.5.2 Objectivos Específicos


 Identificar os mecanismos de participação usadas pela comunidade de Chinonanquila no
âmbito da RSE da Mozal;
 Descrever o circuito de interacção entre a comunidade de Chinonanquila e a empresa nas
acções de responsabilidade social;
 Identificar as áreas de intervenção da Mozal na comunidade de Chinonanquila no âmbito da
RSE;
 Identificar o papel da participação da comunidade de Chinonanquila nas acções socialmente
responsáveis da Mozal.

1.6 Questões da Pesquisa


 Quais são os mecanismos de participação usados pela comunidade de Chinonanquila no
âmbito da RSE da Mozal?
 Como é o circuito de interacção entre a comunidade de Chinonanquila e a empresa nas
acções de responsabilidade social?
 Quais são as áreas de intervenção da Mozal na comunidade de Chinonanquila no âmbito da
RSE?

7
 Qual é o papel da participação da comunidade de Chinonanquila nas acções socialmente
responsáveis da Mozal?

1.7 Hipótese da Pesquisa

O conhecimento de acções de RSE da Mozal influencia na percepção que a comunidade de


Chinonanquila tem da sua participação na tomada de decisão dos projectos de RSE.

1.8 Metodologia do Trabalho

Nesta fase é apresentada a metodologia usada na elaboração do presente trabalho,


nomeadamente, a caracterização da pesquisa, o tipo de pesquisa, técnica de recolha de dados,
técnicas de análise e tratamento de dados e questões de ética de investigação utilizada.

1.8.1 Classificação da Pesquisa

Quanto à natureza, trata-se de uma pesquisa aplicada. Para Marconi e Lakatos (2007) esse tipo
de pesquisa é caracterizado por ter interesse prático, com resultados aplicados e utilizados
imediatamente na solução de problemas que ocorrem na realidade. Para o efeito, através de tal
estudo analisa-se a participação da comunidade de Chinonanquila como factor de sucesso das
acções da RS da Mozal.

Quanto à abordagem, classifica-se como pesquisa quantitativa e qualitativa. A quantitativa é


utilizada essencialmente para descrever uma variável quanto a sua tendência central ou dispersão
tentando fortalecer o raciocínio dedutivo, os atributos da experiência humana e as regras da
lógica. Essa abordagem é capaz de propiciar um conhecimento aprofundado de um evento,
possibilitando a explicação de comportamentos (Martins, 2011). Sendo assim, a pesquisa é
quantitativa, pois ela tem o objectivo de quantificar, ou traduzir em números as informações
colectadas e, em seguida, tratá-las para se chegar a uma conclusão do estudo.

Quanto aos objectivos, é uma pesquisa exploratória. A pesquisa exploratória estabelece


critérios, métodos e técnicas para a elaboração de um estudo que visa oferecer informações sobre
o objecto desta e orientar a elaboração de hipóteses como observar os factos, registrar, analisar,
classificar e interpretar, sem a interferência do pesquisador (Munaretto; Corrêa; Cunha, 2013).

8
Logo, esta pesquisa se configura como uma pesquisa exploratória, visto que o seu objectivo é
expor as características de determinado fenómeno ou população.

Quanto aos meios à investigação é bibliográfica, documental, de levantamento e estudo de caso.

Pesquisa Bibliográfica: é realizada através de material já publicado em livros, revistas, jornais,


meios electrónicos acessíveis ao público em geral (Guambe, 2011: 85). Assim, o estudo é
elaborado a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos de
periódicos e actualmente com material disponibilizado na Internet.

Pesquisa Documental: de acordo com Gil (1996:48), é “desenvolvida a partir de material já


elaborado, constituído principalmente de documentos de carácter jurídico-legal e/ou aplicação de
legislação na realização do trabalho”. Além de livros, o estudo é elaborado a partir de materiais
que não receberam tratamento analítico (documentos oficiais) da instituição em análise.

De acordo com Zapelini e Zapelini (2013), o estudo de campo é utilizado visando a obtenção de
conhecimentos sobre determinada problemática para quando se busca uma resposta, ou, ainda,
pode ser considerada uma maneira de se comprovar algo. Além disso, vale levar em
consideração que o levantamento é de grande relevância, pois ajuda na busca de informações de
um grupo de pessoas acerca do problema que está sendo estudado, para consequentemente ser
analisado para obtenção das conclusões pertinentes (Gil, 2002).

Tratando-se dos critérios utilizados como meios de determinar a maneira de se atingir os


objectivos da pesquisa, foi realizada a pesquisa de campo, seguido de um levantamento, onde se
verificou a percepção dos funcionários da Mozal e a própria comunidade com relação a
participação na RSE.

Com relação aos instrumentos de colecta de dados os meios utilizados são: pesquisa
bibliográfica, dados documentais, entrevista e questionário. Os questionários 1 utilizados são
mistos. Entrevista2 com perfil pessoal e o roteiro de entrevistas utilizado foi semiestruturado. A

1
Questionário: é um instrumento de colecta de dados com uma série ordenada de perguntas que devem ser
respondidas por escrito pelo informante. O questionário deve ser objectivo, limitado em extensão e estar
acompanhado de instruções. As instruções devem esclarecer o propósito de sua aplicação, ressaltar a importância da
colaboração do informante e facilitar o preenchimento (Andrade, 1980).
2
Entrevista: é a técnica de obtenção de informações de um entrevistado, sobre determinado assunto ou problema
(Gil, 1999). Esta é guiada na sua forma despadronizada ou semi-estruturada: não existe rigidez de roteiro. Podem-se
explorar mais amplamente algumas questões.

9
colecta de dados deu-se através de questionários aplicados e entrevistas gravadas, todos com a
presença do autor, na Mozal.

Os dados colectados receberam tratamento quantitativo e qualitativo. O tratamento quantitativo


foi por meio de questionários, com tabulação dos dados através de métodos estatísticos, gerando
percentuais para as respostas. O tratamento qualitativo teve o objectivo de relacionar a teoria
estudada com os resultados obtidos, por meio de codificação. A técnica de análise qualitativa
utilizada é a análise de conteúdo. Para Vergara (2000) a análise de conteúdo é utilizada no
tratamento de dados que visa identificar o que vem sendo dito acerca de determinado tema esta
técnica é utilizada para análise dos dados colectados através do instrumento entrevista.

1.8.2 Métodos da Pesquisa

Para os fins pretendidos neste trabalho, os métodos são classificados em dois grandes grupos: o
dos que proporcionam as bases lógicas da investigação científica e o dos que esclarecem acerca
dos procedimentos técnicos que poderão ser utilizados. Esta é uma classificação de Lakatos
(1992:81), que fala em métodos de abordagem e em métodos de procedimentos.

Para a abordagem fala-se do método Hipotético-Dedutivo, definido por Karl Popper3 a partir de
críticas à indução. A indução, no entender de Popper, não se justifica, pois o alto indutivo de
“alguns” para “todos” exigiria que a observação de factos isolados atingisse o infinito, o que
nunca poderia ocorrer, por maior que fosse a quantidade de factos observados (Gil, 1999).
Assim, Marconi e Lakatos (1983) concordam que a dedução-hipotética consiste na adopção da
seguinte linha de raciocínio:

Quando os conhecimentos disponíveis sobre determinado assunto são insuficientes para a


explicação de um fenómeno, surge o problema. Para tentar explicar a dificuldades
expressas no problema, são formuladas conjecturas ou hipóteses. Das hipóteses
formuladas, deduzem-se consequências que deverão ser testadas ou falseadas. Falsear
significa tornar falsas as consequências deduzidas das hipóteses. Enquanto no método
dedutivo se procura a todo custo confirmar a hipótese, no método hipotético-dedutivo, ao
contrário, procuram-se evidências empíricas para derrubá-la.

Baseado neste pressuposto, para o estudo aplica-se este método, uma vez que se tem em base
dados incompletos para explicar o papel da participação comunitária nas acções da RSE, deste

3
POPPER, K. (1935), A lógica da investigação científica.

10
problema, o pesquisador já cria postulado (hipótese) para tentar explicar o facto problemático e
assim, é testado, confirmado ou falseado no terreno.

Do ponto de vista de procedimento, para o estudo aplica-se o método monográfico ou estudo de


caso4, chamado por muitos como método das representatividades. Este método parte do princípio
de que o estudo de um caso em profundidade pode ser considerado representativo de muitos
outros ou mesmo de todos os casos semelhantes. Esses casos podem ser indivíduos, instituições,
grupos ou comunidades (Gil, 2009). Para este caso, a pesquisa considera-se representativa de
caso territorial-institucional dado que o estudo em análise foi direccionado à comunidade de
Chinonanquila como também para as demais comunidades. Portanto, especificamente este
estudo.

1.8.3 População e Amostra da Pesquisa

As pesquisas nas ciências sociais abrangem um universo tão grande sendo impossível considerar
todo o universo ou população - conjunto de seres animados ou inanimados que apresentam pelo
menos uma característica em comum (Marconi & Lakatos, 2003:223). Assim sendo, trabalha-se
com uma amostra, que é uma parte dos elementos que compõem o universo, esperando que ela
represente essa população (universo) que se pretende estudar (Prodanov & Freitas, 2013).

Para este estudo, tem-se como universo todos os colaboradores da Mozal (506) e a comunidade
da Chinonanquila (30 000) elementos. Deste universo extraiu-se uma amostra quatro (4)
funcionários da Mozal seleccionados intensionalmente 5, 100 elementos da comunidade,
totalizando 106 elementos seleccionados por acessibilidade ou conveniência6 para os inquéritos.

1.9 Estrutura do Trabalho

4
O estudo de caso “visa explorar, descrever ou explicar uma realidade específica, e surge do desejo de compreender
fenómenos sociais complexos, ao mesmo tempo que retém as características significativas e holísticas de eventos da
vida real” (Yin, R., 2010).
5
Amostragem por tipicidade ou intencional: também constitui um tipo de amostragem não probabilística e consiste
em seleccionar um subgrupo da população que, com base nas informações disponíveis, possa ser considerado
representativo de toda a população (Prodanov & Freitas, 2013).
6
A amostra por acessibilidade ou conveniência é uma forma de amostra não probabilística que consiste em
seleccionar os elementos a que tem acesso, admitindo que esses possam, de alguma forma, representar o universo
(Prodanov & Freitas, 2013), sem descriminação de sexo, idade nem pela categoria profissional.

11
A presente monografia subdivide-se em quatro capítulos designadamente o da Introdução, onde
se faz a breve apresentação do trabalho desde os objectivos, delimitação espácio-temporal,
contextualização, justificativa da sua realização, problematização até ao seu tratamento
metodológico;

O segundo capítulo compreende o debate teórico e conceptual, onde são abordados aspectos
como o desenvolvimento teórico que faz o acompanhamento do tema em estudo, faz também a
conceptualização dos conceitos-chave usados com frequência na abordagem do tema;

O terceiro capítulo é reservado para revisão da literatura (abordagens sobre a participação da


comunidade e o seu papel na RSE);

O quarto capítulo faz menção à caracterização do campo de estudo e é ainda neste capítulo que
são apresentados e discutidos os dados colhidos no campo (Mozal).

E por fim é trazida a conclusão (considerações da pesquisadora) sucedida da página das


referências usadas e apêndices.

12
CAPÍTULO 2: QUADRO TEÓRICO E CONCEPTUAL

Este capítulo compreende o debate teórico e conceptual, onde são abordados aspectos como o
desenvolvimento teórico que faz o acompanhamento do tema em estudo, a conceptualização dos
conceitos-chave usados na abordagem do tema.

2.1 Quadro Teórico

Mediante o auxílio de uma Teoria pode-se verificar que por trás dos dados existe uma série
complexa de informações, um grupo de suposições sobre o efeito dos factores sociais no
comportamento e um sistema de proposições sobre a actuação de cada grupo. Assim, as teorias
constituem elemento fundamental para o estabelecimento de generalizações empíricas e sistemas
de relações entre proposições. Assim, o estudo é lido na base da Teoria da Democracia
Participativa (TDP) complementada pela Teoria do Desenvolvimento Endógeno (TDE).

2.1.1 Teoria da Democracia Participativa


a) Origem e Precursores

Para Langa (2012), Joseph Proudhon7 e Piotr Kropotkine8 formularam os modelos económicos
alternativos, com base no princípio da autogestão, criando deste modo a TDP.

Segundo Cohen (1998: 28), durante o Século XIX, nasce o movimento cooperativo e associativo,
como uma nova forma de organização da Sociedade Civil, colocando este movimento como
parceiro “natural” dos sistemas políticos e económicos, levando a que nos nossos dias, este
movimento, desenvolve nova estratégia baseada, nos actores locais, disponíveis para
desencadearam um processo de diálogo e de negociação, criando assim, uma nova ordem social,
baseada no ordenamento participativo e negociado, promovendo assim o diálogo local.

Surgindo então, nessa época a ideia de autogoverno (sef-goverment), que é defendida, por vários
pensadores políticos, como democracia participativa.

b) Pressupostos da Teoria da Democracia Participativa

A visão Proudhoniana9 apresenta os seguintes princípios (Proudhon, 2001):

7
PROUDHON, P. J. (2001), Do princípio federativo. São Paulo: Nu-Sol. ISBN
8
KROPOTKINE, P. (2009), Ajuda Mútua: Um factor de evolução, São Sebastião: A Senhora Editora.

13
 Autogestão;
 Divisão de poder por todos os elementos que constituem a comunidade;
 Reduzir ao mínimo as funções políticas em simples funções económicas;
 Estrutura da base para o topo (down-top) do Governo.

2.1.2 Teoria de Desenvolvimento Endógeno


a) Génese e Precursores

De acordo com Barquero (2001-37-38)10 in Valdemar (2014), o desenvolvimento endógeno


originou-se entre 1980 e 1990 num contexto económico global marcado pela incerteza, aumento
de concorrência, mudança institucional e surgimento de formas mais flexíveis de acumulação de
capital. Para reduzir tal incerteza movida pela globalização, Moraes (2003) enfatiza dizendo que
Desenvolvimento Endógeno surge quando começam a destacar-se propostas de desenvolvimento
de base para o topo, partindo do fortalecimento das potencialidades locais, como forma de
transformar, fortalecer e qualificar as estruturas internas da região ou locais de modo a favorecer
os rendimentos crescentes e criar externalidades positivas.

De acordo com Costa (2002), desde os meados dos anos 80 do século XX, a investigação no
âmbito da teoria do crescimento sofreu um novo impulso e tal impulso deveu-se aos inúmeros
trabalhos pioneiros desenvolvidos por autores como Romer (1986) 11 e Lucas12 ( 1988). Os
modelos desenvolvidos por esses autores, bem como outros modelos subsequentes, passaram a
designar-se, genericamente como modelo de crescimento endógeno.

Figueiredo et al (2005), afirmam que Romer é convencionalmente considerado como o fundador


da Teoria do Desenvolvimento Endógeno, pela criação de um modelo que associa a existência de
rendimentos constantes, ao nível macro, para o factor acumulável para a existência de
9
Consiste, em reduzir ao mínimo as funções políticas em simples funções económicas. A constituição desta
sociedade é essencialmente progressiva e que este destino não pode ser concretizado, senão num sistema onde a
hierarquia governamental, em lugar de assentar sobre o topo, é estabelecida a partir da base, ou seja, colocar o povo
no topo da hierarquia. Constituindo grupos pequenos, respectivamente autónomos e uni-los em torno de um pacto de
desenvolvimento económico. Este modelo assente na autonomia e no cooperativismo, tende aproximar-se cada vez
mais pela organização em outras mãos, que não as do Estado (Proudhon, 2001).
10
Barquero, A.V. (2001). Desenvolvimento endógeno em tempos de globalização. Porto Alegre: FEE/UFRGS.
11
Romer. P. (1986). Increasing returns and long-run growth. Journal of Political Economy, v. 94. n.5. pp 1002-
1037.
12
Lucas. R. ( 1988) On the mechanics of economic development, J. Monetary Econ. V. 22. n. 1, pp. 3-34.

14
externalidades positivas geradas pelo investimento de cada empresa e por via das externalidades,
cada empresa enfrentará rendimentos constantes na sua função de produção mas a função de
produção agregada exibirá rendimentos crescentes. Lucas (1988) é um dos autores precursores
da TDE tendo criado um modelo que determinava que “o capital humano designa o conjunto de
conhecimentos susceptíveis de serem utilizados na produção e incorporados nos indivíduos”
(Figueiredo, 2005:161), considerando assim o capital humano um factor de crescimento
económico.

b) Pressupostos Básicos da Teoria do Desenvolvimento Endógeno

O aspecto endógeno refere-se ao facto do desenvolvimento ser determinado por actores internos
à região, sejam eles empresas, organizações, sindicatos ou outras instituições (Campus et al,
2005).

Para Moraes (2003), a TDE pressupõe o apoio nos factores de produção, sendo estes geridos
endogenamente em cada território e baseia-se na execução de políticas de fortalecimento e
qualificação das estruturas internas dos territórios criando condições sociais e económicas para a
geração e atracção de novas actividades produtivas.

Segundo Vázquez (2001)13 citado por Ribeiro & Santos (2005: 56), existem seis pilares da TDE
nomeadamente:

 É, antes de tudo, um modelo de análise voltado para acção;


 Vê o crescimento económico como um modelo dinâmico, cujo futuro é incerto;
 Dá um tratamento territorial à dinâmica económica e produtiva;
 Defende a flexibilidade produtiva, pois dá margem à inserção competitiva de pequenas e
médias empresas na dinâmica da acumulação de capital;
 Considera que existe uma forte imbricação entre economia e sociedade;
 E a inovação obedece a um padrão interactivo não hierarquizado.

c) Críticas à Teoria do Desenvolvimento Endógeno

13
Vázquez B. A. (2001). Desenvolvimento endógeno em tempos de globalização. Fundação de Economia e
Estatística. Porto Alegre

15
Para Oliveira (2001), a questão do desenvolvimento local possui, pelo menos, três limitações.

 A primeira limitação refere-se ao facto de que as propostas de desenvolvimento local


centradas na capacidade de articulação dos atores ignoram a distribuição desigual de poder
entre estes, assim como entre os lugares;

 A segunda limitação da teoria de desenvolvimento local é que devido à distribuição desigual


de poder, existem conflitos internos à localidade. Isso porque ao empoderar determinados
actores em detrimento de outros, podem surgir conflitos e debates que irão dificultar a
implantação de qualquer proposta de desenvolvimento;

 Como consequência, a terceira limitação é que não só os conflitos internos são ignorados
pelos defensores do desenvolvimento local, assim como os conflitos externos, entre o local e
o central;

 A partir da leitura da tese de Oliveira (2001), uma quarta crítica pode ser acrescentada às
teorias de desenvolvimento local: o desenvolvimento global não pode ser concebido como a
simples soma de todos os poderes locais.

2.1.3 Aplicabilidade e Complementaridade das Teorias no Estudo

Cunningham (2009) refere que os teóricos participativos-democratas defendem a tese segundo a


qual o governo e/ou empresas só se tornam úteis para a materialização dos desejos das pessoas.
Para eles, a participação além de permitir maior interacção entre governos (empresas) e
governados (comunidade), também permite que aqueles prestem mais atenção às preocupações
dos cidadãos e se tornam mais sensíveis às mesmas e cumpram as promessas que fazem diante
do seu eleitorado. Já o desenvolvimento endógeno resume-se num processo de crescimento
económico e de mudança estrutural, e tem como lema a maior participação possível da
população local no uso do seu potencial de desenvolvimento, que leva à melhoria de vida e dos
desejos sociais.

As Teorias constituem formas de organização da produção, as quais privilegiam os aspectos


locais e, neles a interacção entre os agentes e a cooperação entre os actores, somado a uma
estrutura de governação fortalecida, sendo estes elementos fundamentais para o processo de
desenvolvimento local originado de baixo para cima. Ela prevê a criação de pequenas e médias

16
empresas como forma de possibilitar o desenvolvimento local, pois busca melhores perspectivas
de crescimento económico, redução de custos e geração de emprego.

A TDE é aplicável a esta pesquisa uma vez que tem como principal característica a ampliação da
base de decisões autónomas por parte dos actores locais, colocando nas mãos destes, o destino da
economia local ou regional. Este modelo caracteriza-se por ser realizado de “baixo para cima”,
ou seja, partindo das potencialidades socioeconómicas originais do local, no lugar de um
desenvolvimento estruturado de “cima para baixo”, isto é, partindo do planeamento e intervenção
conduzidos pelo Estado nacional (Amaral Filho, 1996).

2.2 Quadro Conceptual

A compressão plena de determinada matéria é, vezes sem conta, determinada pelo entendimento
dos conceitos básicos a sua volta. Para a melhor compreensão desta pesquisa afigura-se
importante a definição de alguns termos, nomeadamente: participação comunitária, RSE e
Megaprojectos.

2.2.1 Participação Comunitária

No sentido mais amplo, de acordo com Bordenave (1985), participação é “fazer parte”, “tomar
parte” ou “ter parte”. Desta forma, para o autor a questão central da participação não é o quanto
se toma parte mas como se toma parte e distingue entre os processos de micro participação
(voltada para interesses pessoais e imediatos) e macro participação (voltada para a intervenção
no âmago das estruturas sociais, políticas e económicas).

A Participação não nos parece que seja uma obrigação moral ou política da democracia. Todavia,
a participação constitui uma técnica de gestão pela sedução que anda associada ao estilo pessoal
de liderança política dos eleitos. É uma forma de envolver os cidadãos na solução dos seus
problemas (Bilham, 2004:60).

A Participação deve ser entendida como acto e efeito de um processo em que a sociedade civil, a
sociedade política e a sociedade económica tenham tomado uma decisão em conjunto.
Klausmeyer e Ramalho (1995) entendem que ela acontece quando há acesso efectivo dos
envolvidos no planeamento das acções, na execução das actividades e em seu acompanhamento e
avaliação.

17
A Participação é um instrumento importante no sentido de promover a articulação entre os
actores sociais, fortalecendo a coesão da comunidade e melhorando a qualidade das decisões,
tornando mais fácil alcançar objectivos de interesse comum. No entanto, as práticas
participativas não podem ser encaradas como procedimentos infalíveis, capazes de sempre
proporcionar soluções adequadas para problemas de todos os tipos (Bandeira,1999).

Na opinião de Cornely (1978), Participação significa estar presente activamente no designar e no


escolher alternativas, caminhos e em ter possibilidades reais de utilizar toda e qualquer
alternativa, bem como combiná-las. Ela gera a possibilidade de superação da injustiça social.

O conceito de comunidade está intimamente ligado com o surgimento da sociologia como


ciência, na medida em que no referido contexto, as sociedades europeias passavam por
transformações profundas, em que os modos de vida tradicional davam lugar a modernização da
sociedade, impulsionados pelos processos de urbanização e individualização (Peruzzo &
Volpato, 2009).

Neste sentido consideramos ser pertinente trazer as reflexões dos clássicos da sociologia como
ponto de partida para a compreensão deste conceito. Na visão de Tonnies (1995), a existência de
processos comunitários estaria ligada, em primeiro lugar, aos laços de sangue, em segundo lugar
à aproximação espacial, e em terceiro lugar à aproximação espiritual. De acordo com Tonnies
(1944: 98): “ pode se compreender a comunidade como um organismo vivo, e a sociedade como
um agregado mecânico e passageiro”.

Nesta vertente Weber (1987:77) define comunidade como: “uma relação social na medida em
que a orientação da acção social, na média ou no tipo-ideal, baseia-se em um sentido de
solidariedade: o resultado de ligações emocionais ou tradicionais dos participantes”. Neste
estudo foi adoptada a perspectiva de Brint (2001), que define comunidade como agregados de
pessoas que partilham actividades comuns e crenças, estando ligados por relações de afecto,
lealdade, valores comuns ou preocupações pessoais (com os acontecimentos das vidas dos seus
semelhantes).

Assim, a Participação Comunitária, termo formulado nos meados dos anos 50, surgiu num
contexto em que as iniciativas de desenvolvimento procuravam responder as necessidades dos
seus beneficiários, através do envolvimento activo das comunidades locais na planificação e

18
execução dos projectos, de modo que estes actores se sentissem partes integrantes dos mesmos, e
não somente receptores passivos (Valá, 1998; UNICEF, 1999).

A definição oficial do GDM, no âmbito da Política de Desenvolvimento Rural, define a


Participação Comunitária como a promoção de acções orientadas para a entrega às comunidades
rurais dos instrumentos que fortalecem a sua capacidade de resolução dos seus problemas
(Boletim da República, 1998). Neste estudo adopta-se a definição de Salim Valá (1998) que
define a Participação Comunitária como um processo através do qual os membros de uma
determinada comunidade participam de forma activa e organizada na identificação e análise dos
seus problemas; buscam conjuntamente soluções alternativas dos seus problemas, mobilizam
recursos para a realização de intervenções de desenvolvimento.

2.2.2 Responsabilidade Social das Empresas

A RSE, de acordo com Santos (2012) é um conceito difícil de delimitar porque é essencialmente
dinâmico e variável. Neste sentido, a amplitude deste conceito por vezes leva a que seja
implementado de forma díspar por parte das empresas, quer de acordo com os seus recursos,
como também pelo contexto em que se encontram. Uma das marcas distintas do conceito de RSE
é a sua relação com a noção de ética.

Para Santos (2012) o conceito de RS agrega um imperativo ético ao fazer coisas que melhoram a
sociedade, e não fazer aquelas que poderiam piorá-la. Ou seja a RSE na perspectiva de Santos
(2012:83) “é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com os
públicos com que se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais conciliáveis com o
desenvolvimento sustentável da sociedade”.

Ashley e Cardoso (2002) definem a RS como o compromisso de uma organização para com a
sociedade, na medida em que, os actos e atitudes da organização afectam toda a sociedade ou
alguma comunidade em particular. A Comissão Europeia (2001) no seu Livro Verde define a RS
como um conceito segundo o qual “as empresas numa base voluntária decidem contribuir para
uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo” (Comissão Europeia, 2001:4). Isto
implica para as empresas irem mais além das suas obrigações legais plasmadas nos quadros
jurídicos nacionais e internacionais, através de acções como investimento em capital humano, no
ambiente, e nas relações com outras partes (Leal, 2001; Santos, 2012).

19
A definição de RSE que adopta-se para este trabalho é a de Neto e Froes, na medida em que
consideram a RSE de um ponto de vista ético e moral, ou seja o papel da empresa vai para além
do cumprimento da lei. A preocupação da empresa em fazer o bem e não o mal para a sociedade
(perspectiva ética), encontram na responsabilidade social um mecanismo de retribuição a
sociedade. Para Neto e Froes (1999:82) “a RSE é uma forma da empresa retribuir a sociedade
pelos recursos naturais, capitais financeiros e tecnológicos, e força de trabalho usados no seu
funcionamento, recursos estes que pertencem ao património gratuito da humanidade. A RSE é
também um mecanismo de reduzir as diferenças sociais criadas pela empresa”.

Uma das elaborações teóricas com maior adesão na literatura norte-americana sobre RSE é a
proposta apresentada por Carroll em 1979, a qual resistiu, no essencial, até à actualidade,
permanecendo amplamente aceite pela comunidade científica. Carroll estabelece quatro tipos
específicos de responsabilidades sociais das empresas, identificadas com base nas expectativas
da sociedade em relação ao desempenho empresarial. O autor apresenta uma definição de RSE
estruturada em quatro dimensões – económica, legal, ética e filantrópica:

a) Responsabilidade filantrópica: consiste na contribuição activa e voluntária das empresas para a


resolução de problemas sociais e a melhoria da qualidade de vida da sociedade em geral; b)
Responsabilidade ética: é a adopção de uma conduta sintonizada com os códigos morais e os
valores implícitos da sociedade, para além do exclusivo cumprimento da lei; c) Responsabilidade
legal: necessidade de que o crescimento económico seja alcançado sem violar o quadro
normativo e cumprindo com as obrigações legais; d) Responsabilidade económica: é a obrigação
que as empresas têm de gerar riqueza, manter o crescimento e responder às necessidades de
consumo da sociedade.

2.2.3 Megaprojectos

O tipo de empresa que constitui objecto de estudo é considerado megaprojectos, na medida em


que este tipo de empresa possui um volume de investimentos elevado. Castel-Branco (2008)
caracteriza os megaprojectos como sendo empresas com investimentos acima de 500 milhões de
dólares norte-americanos, geralmente centram-se em torno de actividades minerais e energéticas
– carvão de Moatize, gás de Pande e Temane, areias pesadas de Moma e Chibuto, hidroelétrica
de Cahora-Bassa, e Mozal (Intensiva em energia). São empresas estruturantes das dinâmicas

20
fundamentais de acumulação e reprodução económica em Moçambique por causa do seu peso no
investimento privado, na produção e no comércio.

Castel-Branco (2008) acrescenta ainda que os megaprojectos são área quase exclusiva de
intervenção de grandes empresas multinacionais por causa dos elevadíssimos custos, das
qualificações e especialização requeridas, da magnitude, das condições competitivas
especialização dos mercados fornecedores e consumidores, geralmente dominados por
oligopólios e monopólios. Em economias menos desenvolvidas, como é o caso de Moçambique,
estas empresas podem exercer considerável poder.

Neste capítulo, para além da apresentação da base teórica, foram desenvolvidas conceptualmente
as expressões-chave que auxiliam a compreensão do presente trabalho, ou seja, os conceitos aqui
debatidos servem de arcabouços para o avanço científico do tema em análise. Já a seguir abre-se
o terceiro capítulo com vista a aprofundar o tema na óptica de vários autores.

21
CAPÍTULO 3: ABORDAGENS SOBRE A PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA E O SEU
PAPEL NA RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

O presente capítulo intitulado revisão da literatura traz várias abordagens em relação ao tema do
estudo. A revisão da literatura consolida alguns subtemas necessários para que o leitor tenha
ciência da necessidade da presente pesquisa, bem como das características, da importância da
participação comunitária, dos actores no processo de RSE, dos motivos que fazem a sociedade se
envolver e do papel das empresas.

3.1 Participação Comunitária como Elemento da Responsabilidade Social das Empresas

A interacção entre as comunidades rurais de países da América Latina como o México, Peru e
Bolívia, com as Multinacionais das indústrias mineradoras e petrolíferas, bem como o papel
destas indústrias para o desenvolvimento local e regional, foi um tema estudado por Clark e
North (2006) tendo destacado em particular os processos de negociação entre comunidades e
corporações no desenho de projectos de desenvolvimento local, através da responsabilidade
social empresarial.

As reformas estruturais da economia, conhecidas como “Washington Consensus” (o mesmo que


consenso de Washington), na qual grande parte dos países da América Latina aderiu à economia
neoliberal, criaram um cenário no qual o estado já não exercia uma interferência directa na
economia, e se abriu o espaço nos quais empresas e comunidades procuram impor suas visões
distintas de desenvolvimento para preencher o vazio deixado pelo Estado (Clark & North, 2006).

Para Capito (2015), nas negociações entre corporações e as comunidades os desequilíbrios de


poder entre ambas é considerável. Por um lado, as corporações têm em seu dispor, uma série de
recursos e influências e ainda o suporte do Governo Canadense e das Instituições Financeiras
Internacionais. Por outro lado, as comunidades onde operam estas corporações se encontram
numa situação de pobreza resultantes de um processo centenário de marginalização.

Para fazerem face a este criticismo, estas corporações avançaram com o conceito de
Responsabilidade Social Empresarial e diálogo dos Stakeholders (partes interessadas). Embora
passos consideráveis fossem dados em alguns aspectos, na visão de Clark e North (2006) a RSE

22
reforça a retirada do Estado com o argumento de que as empresas podem gerir seus próprios
assuntos. O que está implícito neste conceito é a noção de que não só os interesses das empresas
e das comunidades são semelhantes, mas também que as diferenças entre os dois são
quantitativas (uma questão de dólares e centavos), do que qualitativas (baseadas em diferentes
visões sobre desenvolvimento).

A responsabilidade social empresarial, de acordo com Kuyek (2006:214), “representa o esforço


das corporações de definirem unilateralmente os termos de debate com relação às comunidades”.
O diálogo entre as corporações e as comunidades onde decorrem estes projectos mineiros tem
como plataforma o conceito de multistakeholder-dialog (diálogo das partes interessadas), ou
seja, as partes que se consideram como fundamentais para o funcionamento das corporações
(accionistas, fornecedores, clientes e as comunidades locais). No entanto para o autor
supracitado, o termo stakeholder é passível de conduzir ao erro:

Tal como os governos, as comunidades onde funcionam os projectos das companhias


mineradoras, não podem ser enquadradas como “stakeholders”, na medida em que estas
têm direitos e responsabilidades pelas suas terras que estão para além do interesse das
empresas mineradoras. Ou seja os membros das comunidades não são apenas partes
interessadas nos projectos, mas sim, detentores legítimos cuja identidade, autonomia e
sobrevivência cultural está intimamente ligada com a sua ligação com a terra (Ibid.).

O modelo de negociação que tem como base a retórica dos stakeholders (partes interessadas)
ignora o facto de existirem diferenças de poder e recursos entre os diferentes actores. As
corporações têm recursos para o engajamento em discussões infindáveis com os representantes
das comunidades, ao mesmo tempo em que conduzem as suas actividades. As corporações têm
capacidade para desencadear lobbys com o governo, iniciar novos projectos e manipular os
media. Para Wache (2008) aqueles que organizam as mesas de negociação, tem uma vantagem
estratégica, na medida em que, seleccionam previamente de forma limitada os actores que
representam os interesses da sociedade.

3.1.1 Características e Tipos de Participação Comunitária

Segundo Cornely (1978), participação significa estar presente activamente no designar e no


escolher alternativas, caminhos e em ter possibilidades reais de utilizar toda e qualquer
alternativa, bem como combiná-las. Ela gera a possibilidade de superação da injustiça social.

23
Quando se faz referência à participação da sociedade, se está levando em consideração a
definição de Ávila (1991), segundo a qual toda sociedade pode ser concebida como um sistema
integrado de quatro subsistemas: o político, o social, o económico e o cultural. Assim, sua
estrutura consiste na relação mais ou menos estável destes quatro subsistemas.

A participação é um instrumento importante no sentido de promover a articulação entre os atores


sociais, fortalecendo a coesão da comunidade e melhorando a qualidade das decisões, tornando
mais fácil alcançar objectivos de interesse comum. No entanto, as práticas participativas não
podem ser encaradas como procedimentos infalíveis, capazes de sempre proporcionar soluções
adequadas para problemas de todos os tipos (Bandeira,1999).

Os métodos participativos possuem alguns princípios comuns e fundamentais (Fleck, 1998):

 Flexibilidade - Os resultados são produzidos pelo grupo que participa;


 Transparência - Transforma a inteligência individual em colectiva, não induz nem manipula
os participantes;
 Multidisciplinaridade - Envolve profissionais de várias áreas de conhecimento;
 Comunicação nas duas direcções - Técnicos e comunidades aprendem;
 Quantidade e Qualidade – A avaliação é realizada levando em consideração os dois métodos;
 Orientação segundo o grupo - Deslocamento do poder de decisão para o grupo;
 Parcela do poder - Envolve o aumento do poder de encaminhamento e decisão por parte do
grupo;
 Presença local - Projectos construídos localmente e com a participação comunitária;
 Documentação - Registro de todas as etapas do processo participativo.

Pinheiro (1997) classifica diversos tipos ou maneiras de como as instituições de desenvolvimento


interpretam e usam o termo participação:

a) Participação passiva: as pessoas participam sendo informadas do que vai acontecer ou já


aconteceu. É uma decisão unilateral, sem qualquer tipo de consulta ou diálogo;
b) Participação via extracções de informações: as pessoas participam respondendo a perguntas
formuladas através de questionários fechados. Os métodos não são discutidos e não há retorno
de dados ou de resultados;

24
c) Participação consultiva: as pessoas participam sendo consultadas por agentes externos, os
quais definem problemas e propõem soluções com base na consulta, mas sem dividir a tomada
de decisão;
d) Participação por incentivos materiais: as pessoas participam fornecendo recursos como mão-
de-obra e terra em troca de dinheiro, equipamentos, sementes ou outra forma de incentivo. A
maioria dos experimentos em propriedades e projectos agrícolas se encaixa neste tipo.
Quando a ajuda é retirada, o entusiasmo logo termina;
e) Participação funcional: as pessoas participam formando grupos para atender a objectivos pré-
determinados e definidos por agentes externos. Estes grupos em geral dependem dos
facilitadores, mas às vezes se tornam independentes;
f) Participação interactiva: as pessoas participam de forma cooperativa, interagindo através de
planos de acção e análise conjunta, os quais podem dar origem a novas organizações ou
reforçar as já existentes. Estes grupos têm controlo sobre as decisões locais. É dada ênfase a
processos interdisciplinares e sistemas de aprendizado que envolvem múltiplas perspectivas;
g) Participação por automobilização: as pessoas participam tomando iniciativas para mudar os
sistemas independentemente de instituições externas. O resultado dessa acção colectiva pode
ou não mudar uma situação social indesejável (por exemplo, distribuição desigual de renda e
de poder).

Visando obter maiores êxitos na participação da comunidade na RSE, muitas ONGs, órgãos
governamentais, autarquias e consultores da área criaram diversos mecanismos para maximizar a
participação; contudo, neste estudo estes não foram tratados, mas sim os diversos mecanismos de
participação.

3.1.2 Os Actores do Processo Participativo

Os actores do processo de desenvolvimento autárquico são denominados nos livros de


administração de stakeholders. Roy (1996) ao trabalhar uma metodologia multicritério de apoio
à decisão diz que eles são pessoas, grupos ou instituições que possuem alguma influência no
processo decisório.

25
As decisões são realizadas através de um processo que poderá fazê-los demorar mais ou menos
tempo para tomá-las. Elas só são realmente tomadas quando o decisor ou os decisores decidem
fazer ou não fazer algo (Roy, 1996). Portanto, se todos os actores realmente participarem do
processo, poderão decidir que acções são prioritárias e quais deverão ser realizadas na sua
municipalidade e/ou região.

Baseado no autor supracitado é possível perceber que quanto maior e representativo for o
número de actores envolvidos em um processo participativo, mais democrático este será e
maiores serão os êxitos no desenvolvimento local. Em um processo participativo, desde a
elaboração do planeamento até sua execução, é necessário que as organizações e os cidadãos
participem, em algum momento, de sua elaboração. Além de participar, é importante que cada
organização e todo cidadão conheça o seu papel dentro do sistema planejado, comprometendo-se
com o desenvolvimento local. Para conseguir este êxito, faz-se necessário o envolvimento, se
possível, de todos os sectores sociais, económicos e políticos da comunidade, bem como de
sindicatos, comunidades, secretarias municipais, prefeito, poder legislativo local, comissões
existentes no município, cooperativas, empresas, agricultores, lideranças, igrejas e ONGs, entre
outros.

Dentro desse processo existem dois grupos de organizações que devem participar. O primeiro, é
composto pelas organizações formais e que normalmente são registradas. Mas existe o grupo de
organizações informais, que, segundo Bernardes e Marcondes (2001), é constituído por pessoas
que se reúnem para atingir metas individuais em uma situação cooperativa ou convergente. Este
grupo pode ser apenas um grupo de pessoas que se reúne para jogar futebol e se divertir ou,
ainda, um grupo para defender um ambiente desfavorável, como cobrar uma medida da
prefeitura.

Para se envolver as organizações informais, é necessário conhecê-las e saber dos seus interesses,
da representatividade e da importância de cada uma. Jamais deve ser ignorada a existência desse
tipo de organização. Apesar de inicialmente ser utópica a participação de todos os actores citados
acima, visto que alguns resistem em participar, torna-se essencial demonstrar sua importância e
nunca eliminar futuras participações dos atores que inicialmente não concordaram com este novo
processo de decisão. Isto porque, se algum deles, além de não participar, minar o processo

26
participativo, tal comportamento poderá acarretar consequências graves no desenvolvimento
local (Marcondes, 2001).

Carvalho (1997) sugere que os movimentos e as organizações sociais, assim como as instâncias
de participação social na administração municipal, tenham carácter predominantemente efémero,
modificando-se permanentemente em função dos objectivos e da correlação de forças políticas
conjunturais.

3.1.3 Mecanismos de Participação Comunitária

O governo procura, na sua essência, que o desenvolvimento local seja realizado com a
participação da comunidade, mas, para assim ocorrer com sucesso, é preciso que haja
mecanismos que possibilitem a participação.

O mecanismo primordial que leva à participação é a sensibilização da comunidade no que se


refere à importância de sua participação no desenvolvimento local. Segundo avança Doniak
(2002), esta sensibilização pode ser feita através de reuniões, eleição democratizada de
representantes da comunidade e consulta prévia dos projectos de desenvolvimento.

Em Moçambique adopta-se o orçamento participativo como um mecanismo de participação das


comunidades para a definição de acções prioritárias dentro da circunscrição territorial a que
pertencem, como por exemplo: recolha de lixo, reabilitação de estradas e gestão do meio
ambiente. O “Orçamento Participativo é um processo social e político muito dinâmico, sendo,
por isso, difícil extrair a partir dele muitas projecções” (Santos, 2002:111).

O orçamento participativo como um meio de promoção da participação dos cidadãos em


decisões que dizem respeito à justiça (re)distributiva, à eficácia decisória e à responsabilidade do
governo local (Idem), logo, o envolvimento activo dos cidadãos contribui para o fortalecimento
da democracia local.

O orçamento participativo (descentralização) e a planificação participativa (desconcentração)


deveriam a meu ver, constituir o centro dos vários mecanismos locais de participação da
comunidade na governação porque, não somente contribui para a justiça (re)distributiva, melhor
prestação de serviços públicos, como também resulta numa maior prestação vertical de contas e
por conseguinte, maior probabilidade de transparência na governação local.

27
Em Moçambique, a participação da comunidade no processo de planificação local é assegurada
pelos Conselhos Consultivos Locais onde, juntamente com o Estado, se discutem questões
prioritárias locais. Entre as quais o orçamento do Estado para fazer face aos planos, económico e
social e estratégico do respectivo distrito.

Segundo o artigo 2 do Guião dos Conselhos Locais, o “Conselho Local é um órgão de consulta
das autoridades da administração local, na busca de soluções para questões fundamentais que
afectam a vida das populações, o seu bem-estar e desenvolvimento sustentável, integrado e
harmonioso”.

Mas, para que haja participação no desenvolvimento local, é necessário que o governo municipal
abra espaços para a participação, descentralizando o poder. No campo económico, as empresas já
verificam a importância de se estabelecer parcerias para que elas cresçam em consonância com o
local onde estão situadas.

3.2 Responsabilidade Social numa perspectiva histórica

Etimologicamente a palavra responsabilidade deriva do Latim respondere. Deste modo


responsabilidade é a qualidade de responsável, que responde por actos próprios ou de outrem,
que deve satisfazer os seus compromissos ou de outrem. A Responsabilidade social Empresarial
é um termo recente, no entanto, a preocupação com a ética nos negócios e as dimensões sociais
destas actividades existem há já longo período de tempo. As práticas de negócios baseadas em
princípios morais, o controlo da “avidez” e da “cobiça” eram defendidas por pensadores
anteriores ao cristianismo como Cícero no Iº século Antes de Cristo. O Islamismo e a Igreja
Cristã na idade média condenavam publicamente certas práticas de negócios, com destaque para
a usura (Blowfield & Frynas, 2005).

Numa perspectiva histórica a RSE é uma manifestação actual de debates antigos sobre o papel
dos negócios na sociedade. O fenómeno novo neste debate é o facto de estes debates
relacionarem a RSE com temas como o desenvolvimento, ambiente, direitos humanos, e tem
uma amplitude global em comparação com os períodos anteriores.

A RSE era aceite como doutrina nos EUA e Europa até o século XIX, quando o direito de
conduzir negócios de forma corporativa era uma questão de prerrogativa do Estado ou

28
Monarquia e não um interesse económico privado (Hood, 1998). Com a independência dos EUA,
os estados americanos começaram a aprovar a legislação que permitisse a auto-incorporação
(Self-incorporation) como alternativa à incorporação por acto legislativo específico, inicialmente
para serviços de interesse público, como, por exemplo, a construção de canais, e, posteriormente,
para propósitos de condução de negócios privados. Desta forma, até ao início do séc. XX a
premissa fundamental da legislação sobre corporações era de que seu propósito era a realização
de lucros para seus accionistas (Ashley, 2000).

Desse modo, a prática de acções sociais pelas empresas não era estimulada, sendo até condenada.
A RSE limitava-se apenas ao acto filantrópico, isto é, uma acção de natureza assistencialista,
caridosa e predominantemente temporária, de carácter pessoal, representada por doações de
empresários ou, por exemplo, pela criação de fundações americanas, como a Rockfeller (criada
em 1913), a Gugenheim (em 1922) e a Fundação Ford (em 1936) (Costa, 2005).

Após os efeitos da Grande Depressão e o período da Segunda Guerra Mundial, a noção de que a
corporação deve responder apenas aos interesses dos seus accionistas sofreu ataques na
academia, principalmente pelos trabalhos de Berle e Means, The Modern Corporation and
Private Property (Berle & Means, 1932), argumentando que os accionistas eram passivos
proprietários que abdicavam controlo e responsabilidade para a direcção da corporação. Estes
eventos históricos destacados criaram um ambiente para uma aceitação gradual da
responsabilidade social no contexto académico. Suzana Leal (2005) destaca as fases importantes
que marcam este percurso até às modernas formulações da responsabilidade social.

Com efeito, a RSE começa a sofrer uma crescente formalização enquanto conceito a partir da
década de 1960. Dos contributos mais relevantes destacam-se Davis (1960, 1967), McGuire
(1963), Davis e Blomstrom (1966) e Walton (1967). McGuire (1963) defendeu a ideia de que a
responsabilidade social supõe que a empresa não tem apenas obrigações legais e económicas mas
também algumas responsabilidades para com a sociedade. Por sua vez, Walton (1967) destaca
que o conceito de responsabilidade implica uma intimidade da relação entre empresa e a
sociedade, e defende que tal relação deve ser lembrada pelos gestores de topo à medida que a
empresa e os grupos relacionados prosseguem os respectivos objectivos (Leal, 2005).

29
No período posterior a 1990 têm sido desenvolvidos conceitos complementares aos da
responsabilidade social, tais como, corporate social responsiveness, corporate social
performance (CSP), public policy, ética nos negócios, gestão dos stakeholders, etc.

3.2.1 Dimensões da Responsabilidade Social das Empresas

Tendo como base o livro verde, Mogele e Troop (2010), consideram que o exercício empresarial
pressupõe uma atitude eficaz da empresa em duas dimensões: interna e externa.

Interna é a dimensão que está centrada nos trabalhadores da empresa e compreende a adopção de
práticas socialmente responsáveis no seio da empresa, no âmbito da gestão de recursos humanos
(GRH), através da implementação de medidas que visem melhorar a saúde e segurança no
trabalho, a capacidade de adaptação às mudanças e, igualmente, a gestão do impacto ambiental e
dos recursos naturais no seu processo produtivo (Comissão das Comunidades Europeias, 2001).

Do ponto de vista GRH é particularmente importante o incentivo à formação contínua dos


trabalhadores que poderá passar, entre outras medidas, pelo estabelecimento de protocolos com
instituições de ensino, de modo a atrair novos trabalhadores e a estimular os já existentes a
obterem maior conhecimento, ou seja, a existência de trabalhadores qualificados na empresa. Por
conseguinte, a empresa beneficiaria não só de um enriquecimento técnico dos seus quadros que
lhe permitiria obter um desempenho mais profícuo das tarefas realizadas, como promoveria o
bem-estar e a realização pessoal de cada um dos seus trabalhadores (Silva, 2011).

Neto e Froes (1999) referem que a dimensão interna direcciona acções para os trabalhadores e
suas famílias, tendo como principal objectivo desenvolver um ambiente de trabalho de salutar e
contribuir, assim, para o bem-estar dos que ali trabalham, deixando-os mais satisfeitos. Para além
do investimento no desenvolvimento pessoal e profissional dos trabalhadores, bem como na
melhoria das condições de trabalho, exige-se também um estreitamento nas relações com os
trabalhadores. O ganho para a empresa ao investir nos trabalhadores e suas famílias é
considerável, pois os trabalhadores tornam-se mais dedicados, empenhados, proporcionando,
muitas vezes, um ganho a nível da motivação que se traduz num maior retorno de produtividade
para os accionistas (Neto & Froes, 1999).

30
Já a dimensão externa ultrapassa a expectativa da própria empresa e estende-se à gestão das
relações com as comunidades locais envolventes, os parceiros de negócio, fornecedores,
accionistas, autoridades públicas, consumidores, baseados na observância dos direitos humanos e
a questão da protecção do meio ambiente global (Comissão das Comunidades Europeia, 2001).

No que diz respeito à comunidade local, a empresa tem de se preocupar em resolver a carência
dos locais aonde estiver inserida, ajudando na implantação de centros comunitários que integram
a empresa na comunidade, procurando a preservação dos recursos naturais, protecção ambiental
e o reforço da sustentabilidade das comunidades. Estas acções, contribuem para melhorar a
qualidade de vida da população da comunidade e consequentemente o desenvolvimento
comunitário bem como o respeito aos costumes, às culturas locais, o empenho na educação e na
disseminação de valores sociais através de um relacionamento ético, transparente e responsável
com as minorias e instituições que representam seus interesses (Oliveira & Scwertner, 2007).

As empresas dependem em grande medida da estabilidade social, política e económica das


comunidades onde se inserem. Contudo, para as comunidades também se torna um factor
benéfico pois as empresas dão um contributo para a vida das comunidades, em termos de
oportunidade de emprego, remunerações, impostos e outros benefícios que contribuirão para a
existência de uma comunidade próspera e estável, elementos fundamentais para a viabilização de
qualquer negócio (Oliveira, 2010).

Muitas empresas empenham-se em causas locais, nomeadamente pela oferta de espaços


adicionais de formação, apoio de acções de promoção ambiental, recrutamento de mão-de-obra
local, bem como o recrutamento de vítimas de exclusão social, a disponibilização de cuidados à
infância para filhos dos trabalhadores, parceiros e comunidades, disponibilização de infra-
estruturas públicas e sociais, o patrocínio de eventos culturais e desportivos a nível local e
donativos para acções de caridade (Comissão das Comunidades Europeia, 2001).

3.2.2 Modelos da Responsabilidade Social

Vejamos então alguns modelos de responsabilidade social que podem ser aplicáveis no contexto
moçambicano em especial.

31
Modelo de Carroll (1991) foi construído a partir de análise de resultados obtidos anteriormente
por outros autores, sugerindo um modelo baseado na relação entre a responsabilidade social e a
rentabilidade. Este modelo trouxe nova visão ao conceito de RSE ao considerar que ela é
composta por quatro responsabilidades (Económica, Legal, Ética e filantrópica), como se
apresenta na figura 1.

Figura 1. Pirâmide de RSE de Carroll (1991)

Responsa
bilidades
Filantróp
icas
ser um
bom
cidadão
Contribui
r com
recursos
para a
comunida
Responsabilidades
de, Éticas
m elhorar
Ser ético
a
Obrigação de fazer o que é certo, justo
qualidade
e evitar
de vidadanos.
.

Responsabilidades legais
Obedecer a lei
A legislação é a codificação do certo e errado num a sociedade.
Jogar dentro das regras do jogo
Responsabilidades Económ icas
Ser lucrativo
A base da pirâm ide da qual derivam as demais responsabilidades .

Fonte: elaborado pelo autor, com base em Ferreira (2012: 27; Carroll, 1991).

Visser (2005) ao analisar o modelo de Carroll chega a conclusão de que a ordem das
responsabilidades está dependente do local. Explica que o modelo de RSE quando aplicado no
contexto africano verifica-se uma mudança na sua disposição sendo que, a fase quatro
(filantrópica) passa para fase dois (legal), motivado por fraco nível de investimento estrangeiro
nas economias em causa, provocando altos índices de desemprego.

Baseando-se em dados estatísticos chega a conclusão de que até 1997, apenas 43% dos
trabalhadores participavam na economia, e na generalidade dos países analisados apresentavam
altos índices de pobreza extrema e com elevada dependência externa (Visser, 2005: 37-38).

32
Na perspectiva de Visser (2005), o modelo de Carrol não é compatível para a realidade africana
conforme exposto acima. Nesta óptica, a pirâmide foi reformulada da seguinte maneira: (i)
responsabilidade económica; (ii) responsabilidade filantrópica; (iii) responsabilidade legal e (iv)
responsabilidade ética.

A responsabilidade filantrópica (discricionária) foi transferida para o segundo lugar, justifica se


pelo facto de que as empresas também percebem que não podem ter êxito em sociedades que
falham e a filantropia é vista como a maneira mais directa de melhorar as perspectivas das
comunidades nas quais as empresas operam (Idem).

3.2.3 Vantagens da Adopção da Estratégia da Prática de Responsabilidade Social


Empresarial

A prática de RSE gera bons resultados, vantagens, lucros, crescimento das próprias empresas e
da economia no geral (Comissão das Comunidades Europeias, 2001). Adoptar uma postura
empresarial responsável é proporcionar vantagens directas para a empresa, garantir a
competitividade e a sustentabilidade a longo prazo.

De acordo com Biorumo (2005), são apresentadas algumas das vantagens da adopção da
estratégia da prática da RSE:

a) Antecipa os problemas e os riscos que possam surgir decorrentes das suas actividades e
que causam marcas profundas na imagem e sobrevivência;
b) Permite um maior índice de inovação através do aproveitamento de oportunidades e do
estímulo da criatividade que lhes traz valor acrescentado e maior qualidade percebida
fidelizando os clientes;
c) Posiciona a empresa como atente às necessidades dos novos consumidores permitindo a
sua diferenciação face à concorrência e, logo, potenciando o valor percebido da marca;
d) Provoca uma melhoria das condições de vida da comunidade, o que tem um efeito
reconhecido através da melhoria da imagem da empresa e sua reputação no mercado
permitindo abraçar novas oportunidades;
e) Decorrente de todos os factores anteriores a performance económica e financeira está
assegurada.

33
3.2.4 Razões adjacentes à Prática da Responsabilidade Social

A empresa quando adopta a RS assume um compromisso em relação a comunidade e a


humanidade em geral, ela presta contas do seu desempenho baseada na apropriação e uso de
recursos o que constitui sua fonte de geração de lucros.

Segundo Melo Neto e Froes (2001), a empresa deve financiar projectos sociais porque é correcto,
e é justo fazer isto. Esta actividade não é actividade de caridade, típica dos donos das empresas
capitalistas do início do século XX, que utilizavam a filantropia como forma de expiração dos
seus sentimentos de culpa por obterem lucros fáceis às custas de exploração do trabalho das
pessoas e dos recursos naturais abundantes.

Sabe-se que a RSE é um conceito que está associado à firma moderna e nasce no âmbito dos
demais objectivos desta, em consequência de exigências do mercado e de pressões sociais
resultantes da avaliação dos impactos que a nova orientação capitalista traz ao mundo dos
negócios.

A RS é vista como um compromisso da empresa em relação à sociedade e à humanidade em


geral, e uma forma de prestação de contas do seu desempenho, baseada na apropriação e uso de
recursos que não lhe pertencendo, constitui sua fonte geradora de lucros.

3.3 Responsabilidade Social em Moçambique

A RSE em Moçambique encontra-se ainda numa fase embrionária, num processo lento de
desenvolvimento, em certa medida resultado da existência de grupos da sociedade civil ainda em
constituição; baixa incorporação na agenda do Governo; existência de poucas ONG´s bem
estabelecidas com plano estratégico, estrutura criada, recursos financeiros e resultados palpáveis;
reduzidos incentivos e pressões às empresas para adopção de altos padrões ambientais e sociais;
fraquíssima capacidade humana e institucional; inexistência de instrumentos de RSE; provável
inexistência de legislação específica de RSE e ainda uma visão de curto prazo por parte de
algumas empresas (Cabral, 2009).

34
Durante as últimas três décadas, Moçambique sofreu profundas transformações
socioeconómicas, jurídicas e políticas. Após o fim da guerra civil dos 16 anos em 1992,
Moçambique tem vindo a registar um dos mais altos crescimentos económicos no continente
africano, com um crescimento estimado na ordem dos 7% na última década (Brynildsen &
Nombora, 2013). Dispondo de uma vasta reserva de recursos naturais, Moçambique tem sido um
dos destinos privilegiados do investimento directo estrangeiro.

Assim as empresas multinacionais que exploram estes recursos naturais são consideradas actores
chaves na divulgação da Responsabilidade social empresarial em Moçambique. As companhias
multinacionais estão engajadas em actividades de Investimento Social Corporativo (CSI), como
parte do compromisso com o governo, e por esta via se beneficiam de benefícios fiscais e
administrativos (Global Compact, 2007).

No que diz respeito às pequenas e médias empresas do sector privado local, existe pouco
envolvimento destas nas iniciativas de responsabilidade social empresarial, na medida em que a
RSE não é vista por estas empresas como uma estratégia-chave para os seus negócios, mas sim, a
RSE está dependente de recursos financeiros disponíveis.

Do lado governamental, a RSE é da tutela do Ministério da Mulher e Acção Social (MMAS). O


papel fundamental do ministério é de promover a cidadania empresarial, liderança política em
questões-chave, coordenar as actividades de RSE a nível central e descentralizado, garantir o
conhecimento da perspectiva governamental da RSE. Em 1994 o governo moçambicano aprovou
a lei nº 4/94 de 13 de Setembro, iniciativa da qual contribuiu a Fundação para o
Desenvolvimento da Comunidade. Esta lei permitia a isenção fiscal das companhias que
doassem valores monetários para o desenvolvimento de iniciativas sociais e culturais.

No que concerne as empresas detidas pelo estado, é importante notar que durante duas décadas,
constituíram os principais atores corporativos em Moçambique. Após a adopção de políticas de
privatização pelo governo no princípio dos anos 90, parte considerável das empresas detidas pelo
estado, foram privatizadas. No entanto algumas destas empresas não sobreviveram tendo as suas
actividades reduzido a níveis mínimos, tal não se verificou com as companhias responsáveis pela
prestação de serviços como abastecimento de energia, telecomunicações e transporte (UN Global
Compact, 2007).

35
3.4 Relação entre responsabilidade social e desenvolvimento socioeconómico

As empresas têm sido tradicionalmente importantes na cooperação para o desenvolvimento


fundamentalmente como fornecedores de produtos e serviços como a construção de infra-
estruturas e aquisição de equipamentos, grande parte dos fundos públicos destinados à Ajuda
para o Desenvolvimento e á realização dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Nos
últimos anos tem surgido uma nova abordagem de aproximação das empresas em matéria de
desenvolvimento liderado pela ONU.

A RS e o desenvolvimento económico são temáticas actuais que se relacionam mutuamente nas


acções e práticas éticas levadas a cabo pelas empresas ou organizações, tanto privadas como
públicas na resposta aos desafios sociais globais que afectam sobremaneira as comunidades.

A concepção moderna de desenvolvimento, que abarca várias dimensões já referidas neste


estudo, requer que os projectos como práticas sociais tenham um processo inclusivo e interactivo
com activo envolvimento de grupos de interesses (stakeholders). É nas práticas quotidianas
interactivas que os projectos sociais adquirem a significação, reforçando os valores e afectos. É
dentro desta lógica que hoje a responsabilidade social não se limita à resolução dos problemas e
ao alcance das metas lucrativas da empresa, mas também à produção de bens e serviços úteis às
pessoas, incluindo a criação de empregos e garantia do bem-estar na lógica do contributo
económico da empresa na sociedade.

Como observa McIntosh (2003), as corporações são nossas corporações. Elas são nosso coração
e solo. Nelas investimos nossas pensões, nossas vidas em trabalho e nossos costumes. Quando
elas actuam tanto como entidades privadas quanto públicas”. Acrescenta este autor que cresceu o
peso da empresa e da sua universalidade tornando-a alvo da opinião pública ou do escrutínio
público sobre o seu desempenho na satisfação das necessidades prementes da sociedade.

Para outros autores como Carroll (1991), a RSE de negócios inclui simultaneamente a satisfação
dos seus objectivos económicos, legais, éticos e filantrópicos. A responsabilidade social da
empresa permite o alinhamento dos objectivos sociais e económicos e aumenta a possibilidade e

36
o potencial de uma empresa em desenvolver-se por muito tempo, isto é, a longo prazo (Porter &
Kramer, 2002). A actuação da empresa no domínio social e no ambiental fortalece igualmente as
capacidades institucionais e de empoderamento, bem como o relacionamento da empresa no
apoio a causas sociais (Costa, 2005:14).

Na verdade, o que notamos na actualidade é que as empresas incorporam na sua agenda


discursos éticos que testemunham uma evolução positiva do seu papel social. A mudança
discursiva resulta em parte dos escândalos empresariais vividos no passado e na actualidade e da
crescente globalização (Banerjee, 2007). Para as empresas a RS constitui um compromisso ou
“obrigação” moral para com a sociedade.

Durante muito tempo a RSE circunscrevia-se nas acções de caridade dominantes no período da
revolução industrial, tendo este modelo sofrido alterações profundas já nos tempos modernos,
isto é, no século XX quando é incorporada a necessidade da garantia dos direitos a todos
membros da sociedade humana através das acções de capacitação ou educação cívica cidadã.

Sobre esta matéria, Gago et al. (2005) sublinham que os deveres da empresa-cidadã tem a ver
com as contribuições que, na decorrência da sua actividade, queira para uma sociedade mais
justa para as pessoas, bem como actividades económica, comercial e financeira sejam mais
transparentes. Como foi referido, as exigências das Nações Unidas também jogam um papel
determinante na reconfiguração das relações entre as empresas e a sociedade no seu todo.

Alguns instrumentos legais aprovados como a Declaração Universal dos Direitos Humanos
(1948), GRI (Global Report Ininiciative) criado em 2002, tem colaborado com UNEP (Programa
das Nações Unidas para o ambiente), etc., e os compromissos globais sobre o meio ambiente e
desenvolvimento sustentável, na lógica de não deixar ninguém atrás (lema actual das Nações
Unidas), reforçam os argumentos para as empresas assumirem a responsabilidade social.

Portanto, o desenvolvimento socioeconómico hoje não pode estar dissociado da responsabilidade


social dos principais intervenientes tais como consumidores, empregados, comunidades e
instituições público-privadas para responder as demandas crescentes da sociedade.

Apresentados os pontos diversos dos autores respectivamente a RSE e o seu contributo no


desenvolvimento socioeconómico das comunidades beneficiárias, percebe-se que este é um tema

37
de grande interesse sobretudo em países em desenvolvimento como Moçambique, portanto, o
próximo capítulo aborda esta questão tendo em conta os dados do campo.

CAPÍTULO 4: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS


RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO

Este capítulo visa trazer em termos práticos e realísticos os dados sobre o tema, colhidos no
terreno, especificamente da Localidade de Chinonanquila e dos órgãos e funcionários da empresa
Mozal. Pretende-se com esses dados, depois fazer uma confrontação da teoria, revisão da
literatura e a realidade com vista ao alcance dos objectivos preconizados.

4.1 Breve caracterização do local de estudo

Inicialmente desenhada para a produção de 250.000 toneladas/ano, a Mozal introduz a posterior


um plano de expansão no período de 2003 e 2004, passando a produzir anualmente 580.000
toneladas/ano. Esta empresa é responsável por 30% das exportações do país e usa 45% de
electricidade produzida por Moçambique. A Mozal inicia as suas actividades formalmente em
2004, tendo sido considerado como o primeiro investimento estrangeiro de grande vulto em
Moçambique.

A Mozal é um ramo da indústria multinacional BhpBilliton, com sua sede na Austrália, que no
seu portfólio, detém interesses nas áreas de exploração de minério de ferro, carvão energético,
metalurgia, petróleo e gás, alumínio, manganês, urânio, níquel, prata e cobre. A BhpBilliton
possui operações em 141 localizações em diversas partes do mundo.

A Mozal é uma empresa de fundição de alumínio localizada em Beluluane, distrito de Boane, a


cerca de 17 quilómetros a Oeste da Cidade de Maputo, província do Maputo. Situa-se na zona
franca estabelecida pelo Governo da República de Moçambique no seu esforço de Promoção de
Incentivo ao Investimento (Júnior, 2004). Este autor citando a revista Xitimela (2000), considera
a Mozal o maior aglutinador de finanças industriais do mundo inteiro que provocou um salto
qualitativo para a economia moçambicana e veio contribuir positivamente para as comunidades
circunvizinhas através de apoios efectuados nas áreas de saúde, educação, pequenos
rendimentos, desporto, cultura e agricultura familiar.

4.2 Perfil da Amostra da Pesquisa

38
4.3 Mecanismos de participação usadas pela comunidade de Chinonanquila no âmbito da
Responsabilidade Social Empresarial da Mozal
4.4 Circuito de interacção entre a comunidade de Chinonanquila e a empresa nas acções
de responsabilidade social áreas de intervenção da Mozal na comunidade de
Chinonanquila no âmbito da Responsabilidade Social Empresarial
4.5 Papel da participação da comunidade de Chinonanquila nas acções socialmente
responsáveis da Mozal

39
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46
Apêndices

47
Apêndice 1: Guião de Entrevista Dirigido aos Colaboradores da Mozal

Este guião de entrevista é para fins da pesquisa científica a ser realizada com vista a obtenção do
grau de Licenciatura em Administração Pública na Universidade Joaquim Chissano (UJC) e tem
como tema: “Papel da Participação Comunitária na Responsabilidade Social das Empresas:
O caso da Mozal na Localidade de Chinonanquila (2015-2020)”.
Esta entrevista é semi-estruturada, pois, das respostas destas questões planeadas poderão surgir
outras questões advindo da inquietação do pesquisador.
Os dados colhidos através desta pesquisa serão processados respeitando aos princípios éticos da
pesquisa científica de anonimato (protecção das identidades das fontes) e de forma agregada e não
individualizada.

Nome do(a) entrevistado (a)------------------------------------------------------------------------


Cargo ou Função------------------------------------------------
Entrevistado(a) aos ---------de------------------de--------- ás-----: ------; em/no---------------

 Descreve o processo de Responsabilidade Social desenvolvido pela Mozal na


Comunidade de Chinonanquila.
 Quais são os mecanismos de interacção com a comunidade?
 Como a empresa identifica as actividades a serem desenvolvidas?
 Há inclusão da comunidade? Se sim, como? Se não, porquê?
 Como é o circuito de interacção entre a comunidade de Chinonanquila e a empresa nas
acções de responsabilidade social?
 Quais são as áreas de intervenção da Mozal na comunidade de Chinonanquila no âmbito
da RSE?
 Qual é o papel da participação da comunidade de Chinonanquila nas acções socialmente
responsáveis da Mozal?
 Qual é o impacto da responsabilidade social para a comunidade?
 Qual é o impacto da participação da comunidade na responsabilidade social?

 Gostaria de tecer algum comentário?

48
Apêndice 2: Questionário dirigido à comunidade de Chinonanquila

1) Tem participado dos encontros ou actividades realizadas pela Mozal? Coloque X se a


resposta for não. Enumere os mecanismos se a resposta for sim.

Mecanismo de participação
Sim

Não

Quais são os mecanismos de participação usados pela comunidade de Chinonanquila no


âmbito da Responsabilidade Social da Mozal? (apenas para a estrutura administrativa).

R:

2) A relação da Mozal com a comunidade é? Coloque X na opção correspondente.

Boa
Razoáve
l

3) As áreas de intervenção da Mozal (assinale com X as opções correspondentes e


enumerar as realizações)

Áreas R: com X Realizações


Educação
Infra-estruturas
Saúde
Meio ambiente
Empregabilidade e lazer
4) Assinale com X e justifica. Participar nas actividades sociais da Mozal é:

Porquê?
Bom
Mau

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