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LICENCIATURA EM COMUNICAÇÃO APLICADA AO JORNALISMO E

MARKETING

Antropologia Cultural

2º ANO

As Liberdades e a Comunicação em Moçambique

ESTUDANTE: DOCENTE:

Nídia Roselié Bazo Dr.Carlos Xavier

MAPUTO

2023
Resumo

É possível imaginar sociedade sem comunicação? Claro que não, pois até mesmo o
“isolamento social”, a ausência de comunicação, pode ser considerado, sob outro aspecto,
uma forma particular de comunicação, existe uma relação entre Antropologia e Comunicação,
pois as duas disciplinas juntas contribuem de maneira ímpar para a compreensão da cultura da
sociedade moderno-contemporânea e das relações estabelecidas com os meios de
comunicação. Neste trabalho falamos da Antropologia e a relação que ela tem com a
comunicação considerando as Liberdades de opinião e de expressão; de imprensa e de
informação.

1. Introdução
Antropologia, é, portanto, uma ciência que estuda o homem nas variadas dimensões a
saber: política, económica social e cultural. E uma disciplina científica que se dedica ao
estudo do ser humano e suas diversas formas de vida em sociedade. Também pode ser
entendida como uma forma de entendimento sobre a diversidade cultural, buscando
respostas para entendermos o que somos a partir do espelho fornecido pelo “outro”.
“Comunicar é ser livre, mas é, sobretudo, reconhecer o outro como seu igual” (32Ibid.,
p.26-27).
Sabemos que os meios de comunicação e são fundamentais para a compreensão dos
fenómenos urbanos contemporâneos. A importância do comunicar vai além de sua própria
actividade, o direito de se expressar se estabelece e é encarado com naturalidade como um
pressuposto a outros direitos, sua matéria – aparentemente de identificação se mostra na
prática como um conjunto de outros direitos: ser informado, se manifestar, produzir e
transformar discursos, agregar e diferenciar conceitos, e mais.
O direito de comunicar também pode ser visto como um núcleo essencial de uma série de
“liberdades inter-relacionadas na área de comunicações. Em volta dele estariam a
liberdade de opinião, a liberdade de expressão e a liberdade de informação. (HINDLEY,
Henryp.110-127. p.51).
E são estas liberdades que levantam um debate e uma voz que ecoa no povo que não quer
calar, povo este que tem um grito preso na garganta.

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O presente trabalho tem como objectivo entendermos o contexto Moçambicano actual no
que se refere as liberdades inter-relacionadas na área de comunicações (Liberdades de
opinião e de expressão; de imprensa e de informação).

2. Desenvolvimento
De acordo com Munanga (1978), os primeiros estudos antropológicos tinham pretensões
meramente coloniais, ou seja, os referidos estudos eram encomendadas pelos
colonizadores europeus, pois era importante conhecer para dominar o “outro”, o não
europeu.

África tendo conquistado as independências, vemos que esta não foi acompanhada pelas
liberdades. Acredita-se que durante toda a história os africanos lutaram por liberdade, mas
a liberdade está para além da independência e da autonomia.

Para Castiano, a liberdade epistêmica do Eu-africano é um dos aspectos da liberdade


almejada pelos africanos durante a história, justamente por ser uma liberdade “[...] da
consciência que, normalmente, consubstancia-se na capacidade e no direito natural que o
ser humano possui de poder expor e defender as suas opiniões, sejam elas de ordem
religiosa, política ou outras.” (CASTIANO, 2010, p. 193).

Severino Ngoenha faz uma análise clara onde ele afirma que África mesmo tendo
conquistado a sua independência, a mesmas não alcançou a sua tão sonhada liberdade

No artigo 27 de 1975 da Constituição da República Popular de Moçambique garante, a


todos os cidadãos, o gozo de ‶ Liberdade de opinião e de associação ‶ Ferranguane,
Arsenio (215,p30). Mas depois da independência nacional, todos os meios de
comunicação social passaram a estar sobre o controle do governo e do partido Frelimo,
como forma de controlar e orientar os meios de comunicação social no sentido de orientar
as tarefas concebidas pelo partido como instrumento deficiente de propagação da
ideologia e mobilização da população, nacionalizando os principais órgãos de
comunicação social.

A constituição da Republica de 1990 no artigo 74, garante a todos os cidadãos as


liberdades de expressão, de imprensa e de informação. Ferranguane, Arsenio (215,p33).

Muitas vozes apontam para uma regressão assinalável em relação a liberdade de imprensa
e de expressão em Moçambique. Os africanos desejam se laicizar do Ocidente e serem
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autores de sua própria história. Por esse fato, a liberdade epistêmica se faz necessária, pois
ela permite a eles pensarem por si mesmos, defenderem seus interesses, integrarem e
construírem uma nova história. Ngoenha acredita que a liberdade ambicionada pelos
africanos é de natureza política, pois mesmo após a independência política e económica
dos moçambicanos ela não se descolonizou e é buscada agora no desenvolvimento
económico e social.

A justiça social, assim como a liberdade, devem se juntar aos


valores que justificam o engajamento dos intelectuais africanos que
militam a favor da democracia. Nós vivemos ainda nessa busca da
liberdade como desenvolvimento social, como luta pela democracia.
Já não se trata de emancipação da escravatura, da integração nos
países chamados Novo Mundo, da autodeterminação política, mas
do desenvolvimento económico, político e fundamentalmente social.
(Ngoenha, 2004, p. 33, 34, 35).

Pode-se dizer que há uma identificação da comunicação com a democracia e com o pleno
gozo dos direitos humanos mais essenciais, sendo inconcebível em um ambiente
democrático sem o direito fundamental da liberdade de expressão. Na teoria Moçambique
é uns pais democrático, mas na prática essa democracia não se faz sentir. Para Ngoenha, à
geração actual é responsabilizada a árdua tarefa de participar na elaboração de um futuro
diferente do presente que nos é dado viver e observar.

Considerava-se que o direito de comunicar seria uma actualização da liberdade de


expressão em face de novas tecnologias e da centralidade da comunicação nas sociedades
contemporâneas. Não existe democracia sem comunicação, porque a mídia é a condição
da igualdade de democracia para o cidadão, o lugar da discussão dos interesses políticos e,
ao mesmo tempo, o pulso da democracia. O problema é que, hoje, a mídia está submetida
a uma dupla influência muito forte: em primeira instância, à pressão económica, através
da concentração, e em segunda, à pressão dos políticos que querem controlar a mídia. O
que agrava a situação, que já é complicada, é o fato que a elite dos jornalistas, ou a elite
das empresas de comunicação, em geral, está muito próxima da classe dirigente. Seria
necessário separar muito mais a mídia/comunicação do poder económico e do poder
político. Os meios de comunicação estão sujeitos a fortes controlos por parte do governo

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conhecido como GABINFO, que se evidencia na área de acreditação de jornalistas
utilizada como ferramenta para controlar a imprensa.

Para Castiano a liberdade é a condição única que o homem possui, a de agir livremente. É
por causa desta “consciência da necessidade” que o ser humano tem a possibilidade de ser
livre. Este aspecto da liberdade é o que está em causa da opressão do outro quando o Eu
não reconhece ao outro enquanto ser humano, (falta de humanismo, citando ubuntuismo).
Podemos falar da liberdade, quando nos referimos da possibilidade do ser humano poder
agir sem coerção ou impedimentos, por determinar-se a si mesmo, com base na sua
consciência e, acima de tudo, após a sua reflexão. Em suma, é por causa desta
“„consciência da necessidade‟ que o ser humano possui a possibilidade de liberdade”
(CASTIANO, 2010, pp. 192). Um dos elementos importantes da liberdade é o da
consciência que normalmente consubstancia-se na capacidade e no direito natural que o
ser possui de poder expor e defender as suas opiniões, sejam elas de ordem religiosa,
política ou de outro tipo.

3. Conclusão
O contexto dos médios em Moçambique requer um trabalho aprofundado e um longo
caminho para o futuro. Seja o primeiro, o de democratizar os pais assim como trabalhar
para a mudança de comportamento para maior respeito das liberdades de impressa e de
expressão. Moçambique precisa de uma revisão urgente, no sentido de garantir que
qualquer órgão regulador dos meios de comunicação seja independente do governo.
Todos os estados devem garantir que os jornalistas e os membros da sociedade civil
possam dar seguimento ao seu trabalho livremente sem medo de ataques, intimidações
ou assédio. Analisemos a tabela em anexo:
Tabela1.Classificação geral dos casos de violações e Vitórias sobre as liberdades de imprensa/ Expressão por Província de
ocorrência em 2020

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Província de Ocorrência TOTAL

Cabo
Maputo Inhambane Gaza Sofala Nampula Niassa
Delegado

Agressão física 1 3 1 0 5 0 0 10

Assaltos 1 0 0 0 0 0 0 1

Censura 1 0 0 0 1 0 0 2

Detenções 1 0 0 2 0 0 1 4

Condenação 1 0 1 0 0 0 2
Tipos
Legislações 1 0 0 0 0 0 0 1
de
Bombardeados 1 0 0 0 0 0 3 4
violações
Morte/ 0 0 0 0 0 0 1 1
desaparecimento
Ameaças 3 0 0 0 1 0 1 5

Vitórias 1 0 0 0 0 0 0 1
Violações publicas
da liberdade de 1 0 0 0 0 0 1 2
expressão
TOTAL 12 3 1 3 7 0 7 33

Fonte: MISA

Bibliografia

HINDLEY, Henry. “A Right to Communicate? A Canadian Aproach”.Evolving Perspectives.


p.110-127. p.51.

Isabel Travancas e Sílvia Nogueira (orgs.) A Comunicação de Massa no campo da


Antropologia In Antropologia da comunicação de massa. Campina Grande: EDUEPB, 2016.

MUNANGA, Kabengele. “Antropologia e a colonização da África” In Estudos Afro-


asiáticos, nº 1, São Paulo, 1978.

Ngoenha, Severino Elias. Das independências às liberdades. Porto: Paulinas, 1993

Ngoenha, S. E. OsTempos da Filosofia, Filosofia e Democracia Moçambicana, Maputo,


Imprensa Universitária, 2004, p. 33, 34, 35.

PUC-Rio- Certificação digital. Comunicação, Antropologia e Consumo: Uma perspectiva

cultural do consumo. P. 17-63. (s/d).

Relatório sobre o estado das liberdades de imprensa e de expressão em. Moçambique (2019-
2020). Presidente do MISA: Fernando Gonçalves Adré. Acessado em 20/03/2023

https://www.caicc.org.mz/diario/?p=9610

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