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CENTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO


PROFISSIONAL CIANORTE

TRABALHO DE SOCIOLOGIA

Professor (a): Domingos Abel Goncalves Da Cruz Junior


Assunto do trabalho: Racismo e Discriminação
Data de entrega: 20/ 04/ 2023
Alunos: Julia Kristoschik Noronha
Maria Vitória Braz Silva
Leticia Amaral de Lima
Maria Rafaela Matias de Oliveira
Gabrielli Albuini
Nathalia Fernanda Roncolato Sardi
Guilherme De Oliveira Augusto

Cianorte 2023
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Sumário

Resumo .............................................................................................................................. 3
Introdução ..................................................................................................................................4
Capitulo 1° ......................................................................................................................... 5
1.1. Racismo e preconceito .....................................................................................................5
1.2. Etnia e Raça: diferentes concepção ..............................................................................9
Capitulo 2° ....................................................................................................................... 11
2.1. A questão da desigualdade social e desigual ..................................................................11
2.2. Racismo no contexto escolar ......................................................................................16
Capitulo 3° ....................................................................................................................... 18
3.1. A história marcante de Maria Felipa .............................................................................18
Considerações finais ........................................................................................................ 20
Referências bibliográficas ................................................................................................ 21
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RESUMO

Nesse texto iremos interpelar a identidade de alunos negros no processo de


ensino e aprendizagem no espaço escolar. Enfatizaremos sobre a história do racismo no
Brasil, que se inicia no século XVIII e, ainda na atualidade (século XXI), percebemos o
racismo em consonância com as suas múltiplas formas perfazem vários tipos, a
exemplo do racismo individual, institucional, cultural, ambiental ou ecológico. Tem
por objetivo apresentar uma análise e uma crítica sobre racismo no Brasil, trazendo à
tona sua relação com a desigualdade econômica e social em que as diversas camadas da
população brasileira se encontra, sobretudo os afrodescendentes, e que culmina em
uma aberta e chocante forma de preconceito e discriminação social. Além disso
destacaremos de forma ampla o racismo no parâmetro escolar, seja esse contido em
livros didáticos, no currículo escolar, etc.
O desenvolvimento deste trabalho tem como finalidade compreender a
importância das relações étnicas raciais a serem trabalhadas e desenvolvidas nas
escolas, iremos enfatizar a identidade da criança negra no processo de ensino
aprendizagem bem como, na construção de cidadania.
Acreditamos que esse processo possa interferir de forma positiva na construção
do indivíduo, pois ninguém nasce odiando ninguém, dessa forma, novamente
concebemos e somos esperançosas que a educação pode eliminar o preconceito
presente na sociedade, devido à interação heterogênea que temos dentro das escolas
brasileiras, confiamos que as docentes ali presente tem todo o direito e dever de intervir
quando houver alguma situação contra a identidade da criança negra, ou melhor, essa
profissional deve trabalhar no seu cotidiano as diferenças sejam elas quais forem.
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INTRODUÇÃO

Sabemos que o racismo, ainda na atualidade, se faz evidente na sociedade


brasileira, portanto surge a necessidade de entender qual a raiz e fundamento desse ato
preconceituoso em nossa agremiação. As formas de manifestação de racismo da
sociedade se dá das mais variadas formas, desde o olhar de superioridade ou
desconfiança sobre o indivíduo negro, até a bizarra discriminação aberta de evitar o
contato com pessoas de pele escura.
Este trabalho trata de uma questão social bastante debatida entre aqueles que
melhor defendem o direito da igualdade entre os seres humanos, ressaltando as pessoas
afrodescendentes.
Tem por objetivo apresentar uma análise e uma crítica sobre racismo no Brasil,
trazendo à tona sua relação com a desigualdade econômica e social em que as diversas
camadas da população brasileira se encontra, sobretudo os afrodescendentes, e que
culmina em uma aberta e chocante forma de preconceito e discriminação social, são as
questões raciais que refletem no contexto educacional contendo isso a Discriminação
Racial no Processo de Ensino Aprendizagem, aonde apresentamos como problema da
temática proposta, o desacredita mento do potencial ou inferiorização dos alunos
negros, no contexto escolar e social, gerando a essas crianças, em alguns casos o
fracasso escolar e para que não ocorra esse resultado indesejado, a equipe pedagógica
deve estar devidamente qualificada e preparada para intervir nesses casos. Sendo assim,
nossa problematização norteadora é como a escola trabalha para amenizar e acabar com
a questão racial em seu cotidiano.
Mostraremos no primeiro capitulo as mais variadas formas de racismo e
preconceito que os brasileiros descendentes de africanos vem sofrendo ao longo da
história na sociedade brasileira.
No que tange ao segundo capitulo, apresentaremos a questão da desigualdade
social e educacional dos afrodescendentes no Brasil destacando sua condição na
educação e na sociedade dita” branca”.
No terceiro capitulo, exibiremos a escola Maria Felipa aonde citarei alguns
aspectos da escola.
No terceiro capitulo, exibiremos a Escola Afro-brasileira Maria Felipa (EMF),
tem como propósito a educação para a diversidade, ensino afro centrado, respeito às
múltiplas infâncias, educação trilíngue – português, inglês e libras -, aulas
especializadas -capoeira, dança afro, teatro e circo - e setor de psicologia escolar. E a
partir desses propósitos buscamos responder como é construída a cosmovisão dos
pilares da gestão de colonial na escola Maria Felipa.
E nas considerações finais, destaco aspectos que emergiram durante a escrita do
texto, e aponto indagações que podem ser perseguidas em futuras investigações.
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Com isto este trabalho, tem como finalidade, relatar a realidade desigual do
Brasil e de como todos são responsáveis por permitir tal realidade. Pretende-se aqui
também fazer uma crítica ao sistema social, cultural e educacional do país, permitindo
a oportunidade de geração de diálogo sobre o tema proposto.

CAPITULO 1º

1.1. . Racismo e Preconceito

Desde os primórdios da descoberta de terras novas, as Américas e


consequentemente a sua colonização, o Brasil é um caso típico e interessante das
ideologias de conquista. As terras que hoje formam o território brasileiro foram
tomadas e colonizadas pelos portugueses (no século XVI); e desde a sua tomada de
posse pelos desbravadores portugueses vêm formando uma história de exclusão aos
afrodescendentes. Os nativos que ajudaram a desbravar e a transformar a terra nova e
desconhecida em terras coloniais de exploração comercial, eram homens de culturas e
padrões físicos diferentes dos preteridos pelos ditos homens da civilização, e por seus
traços tão característicos, físicos e culturalmente, usados pelos colonizadores, à época,
para justificar e legitimar a escravização dessa gente.
É notório que a população brasileira tem em sua origem a presença
característica de três etnias e códigos genéticos distintos – o branco, o negro e o
indígena. Os negros africanos eram estrangeiros, assim como os portugueses e sua
única diferenciação entre os demais grupos que ajudaram a formar a nação brasileira é
que estes eram considerados inferiores e, portanto subalternos aos portugueses, sendo
tratados de formar mais cruel e indigna do que o nativo da terra, uma vez que neste
período os negros eram tidos como criaturas sem alma. Os padrões físicos eram na
época, um adjunto que ajudavam a personificar e a justificar a atitude de superioridade
do branco europeu. Com o passar do tempo esses dois padrões, o cultural e o físico,
foram tomando nuances próprias e ainda hoje resultam no preconceito e discriminação
as pessoas.
Sabemos que a sociedade brasileira possui uma diversidade cultural, étnica e
religiosa muito forte, mas que infelizmente é hierarquizada entre negros e não negros
como forma de superioridade ou inferioridade uns e outros. Assim a sociedade
brasileira tem se mostrado uma sociedade excludente, na qual as relações sociais se dão
conforme a posição social e racial, o que gera consequentemente o preconceito racial e
social.
Os negros, pobres, analfabetos, etc., ou seja, a classe oprimida tem sofrido ao
longo de nossa história diversas formas de discriminação, dessa maneira podemos
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constatar que enquanto alguns se julgam superiores os outros se julgam e tem a


sociedade legitimando o seu status de superioridade perante outros humanos.
No entanto, o reconhecimento da influência e da presença, decisiva para
formação deste povo, cultural, étnica, genética, não é o suficiente para garantir direitos
iguais entre os habitantes desse imenso país. Com a herança cultural e hereditária da
cor da pele, veio também os preconceitos e a discriminação o que faz com que o país,
hoje, passe por lutas internas para apagar um passado racista e escravocrata e garantir a
igualdade social.
Neste trabalho abordamos tais questões, enfatizando o âmbito educacional, pois
se acredita que a escola é uma instituição que representa a sociedade e suas concepções
e que, portanto é muito importante para a formação das mentes e para a reprodução ou
alteração das ideologias.
Sendo o primeiro segmento do preconceito racial, que conforme Jesus (2006,
p.69): “O preconceito é um julgamento negativo, que muitas das vezes, é feito com
antecipação, às pessoas tidas como diferentes e/ou de grupos raciais diferentes’’.
Assim, O preconceito é um julgamento negativo e prévio que os membros de
uma raça, de uma etnia, de um grupo, e uma religião ou mesmo de indivíduos
constroem em relação ao outro. Esse julgamento prévio apresenta como características
principal a inflexibilidade, pois tende a ser mantido a qualquer custo, sem levar em
conta os que os contestam [...] inclui a relação entre pessoa e grupos humanos e a
concepção que o indivíduo tem de si mesmo e também do outro. (MUNANGA;
GOMES, 2006, p. 181-182)
Contudo, faz-se necessário que o ser humano esteja em consonância com sua
identidade de forma que possa assumir suas origens sem nenhum tipo de
discriminação, pois podemos observar que em muitos casos o preconceito ultrapassa os
limites do próprio ser que ao se avaliar, se julga inferior condicionado aos limites
impostos pela sociedade contemporânea.
No caso brasileiro, essa mistura de povos trouxe consigo distinções que só
aumentaram quando em processo de desumanização das relações entre brancos e
negros que foram se formando e obviamente sendo classificados de acordo com suas
condições de sobrevivência. Diante disso percebe-se as relações conflituosas existentes
entre os grupos e os diversos povos do globo terrestre, mostrando-nos como as práticas
sociais que evolvem as questões do racismo existente se apresentam de maneira
complexa, exigindo de nós uma visão atenta e cuidadosa quando chegamos próximos
da questão racial.
Segundo Munaga; Gomes (2006) O racismo é um comportamento, uma ação
resultante da aversão, por vezes, do ódio, em relação a pessoas que possuem um
pertencimento racial observável por meio de sinais, tais como cor de pele, tipo de
cabelo, formato de olho, etc. ele é, resultado da crença de que existem raças ou tipos
humanos superiores e inferiores a qual se tenta impor como única e verdade
(MUNAGA E GOMES, 2006, p. 179).
Percebemos que a questão da discriminação racial está enraizada na cultura e
sociedade brasileira e quem nos afirma esse pensamento de Silva: O preconceito está
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presente na humanidade desde o início da mais remota história, rotulando raça, gênero
e classe social, aos quais durante todo processo de desenvolvimento da vida humana
vão sendo incorporadas ideias, valores, sentimentos e maneiras de pensar que nem
sempre são aceitos por todos. (SILVA, 2015, p.1).
Portanto, é evidente que a população brasileira é miscigenada, porém na
hierarquia social os negros continuam como base, pois os próprios habitantes
consideram as diferenças (físicas, comportamental, social, etc.), como diversidade
cultural e étnica, como algo positivo e que posa incrementar para a sociedade
brasileira, dessa forma, constitui-se um impedimento de diálogo de conhecimento de
maneiras de vidas e aceitação do outro, e tal atitude acontece por nós seres humanos
não aceitarmos as qualidades e diferenças do nosso oposto, denominando assim, o
preconceito.
Percorrendo assim até hoje, contudo o racismo apresenta duas maneiras: na
forma individual e institucional. Na forma individual o racismo se manifesta “por meio
de atos discriminatórios cometidos por indivíduos contra outros, podendo atingir níveis
externos de violência, como agressões, destruição de bens ou propriedades e
assassinatos.” (MUNAGA E GOMES, 2001, p. 180)
Entretanto, esse tipo de racismo existe no Brasil e apresenta-se geralmente
camuflado por alguns setores do Estado e pelos veículos de comunicação de massa que
muitas vezes deturpam a imagem do negro, outros exemplos que podemos reportar é o
regime do Apartheid que vigorou na África do Sul ou os conflitos raciais nos Estados
Unidos. Assim, O que existe por aqui é muito racismo camuflado e que todo mundo faz
questão de não enxergar. Os alvos são os mesmos. Negros, mestiços, nordestinos,
pessoa fora do padrão de moda e, principalmente os mais pobres sofrem com a
discriminação e não conseguem emprego, estudo, dignidade e respeito. Estes não tem
vez na sociedade brasileira.
Outra forma de racismo bem acentuada é o institucional. Ele se aplica através
de práticas discriminatórias muitas vezes alimentada direta ou indiretamente pelo
Estado, manifestando-se através de isolamento dos afrodescendentes em determinados
bairros, escolas, emprego, etc. Também nos livros didáticos, propagandas, novelas,
publicidades que utilizam de personagens ou indivíduos negros com imagem
estereotipada que a mídia insiste em mostrar esta forma de discriminação indevida e
equivocada.
Também, podemos reportar os mais terríveis acontecimentos de racismo
institucionalizado como o que aconteceu na Alemanha nazista com o povo judeu,
através das práticas de genocídio, tortura e limpeza étnica entre outros países que até
hoje choca o mundo.
De acordo com Azevedo (1987) [...] qualquer forma de racismo por si só já é
condenável, devido aos efeitos bloqueadores que impõem ao outro – racismo é o mais
destruidor dos sentimentos pois impede até o fazer natural de ser um ser. (AZEVEDO,
1987, p. 49).
Com isso durante séculos foi implementado pelos colonizadores o complexo de
inferioridade no negro, daí a prática do racismo no Brasil ter-se tornado rotineira o que
mais tarde disfarçadamente fez com que o Estado chegasse a promover ações através
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de atos sociais que na realidade eram um legitimar direito por cidadania, os quais eram
concedidos como um ato de bondade piedosa. Se levarmos para as instituições
escolares da época, poucos tinham acesso ou nenhum.
Todavia só através do Decreto Nº 7.031 – A de 06 de setembro de 1878 é que
foram estabelecidos as primeiras ações afirmativas de introdução de negros na escola,
porém os mesmos só podiam estudar no período noturno, porém foram montadas
estratégias no sentido de interromper o acesso dessa clientela nos estabelecimentos
escolares (JAROSKEVICZ, 2008).
Embora o preconceito racial na sociedade brasileira seja representado de forma
não clara nas relações sociais, onde a grande maioria não se percebe racista, isto é algo
que muitas vezes praticamos inconscientemente, pois fomos culturalmente
condicionados a uma herança cultural fundamentada no racismo, com isso o
pertencimento racial tem contribuído decisivamente para a estruturação das
desigualdades sociais e econômicas.
Dificilmente alguém se reconhecerá racista até mesmo porque não tem
conhecimento do que é racismo e de quais as formas que ele se manifesta na sociedade.
Sutilmente [...] dizer-se não racista é uma afirmação questionável, embora
extremamente comum. Consiste na nobreza espiritual de igualdade fraterna, muitos
preferem a declaração de hipócrita que enaltece, a verdade que choca. É necessário a
coragem de reconhecer os erros da sociedade que herdamos e afim de aprendermos a
corrigi-los (AZEVEDO, 1987, p. 50).
Todavia utilizamos termos de caráter discriminatório sem nos darmos conta do
ato que estamos praticando, a exemplo de expressões depreciativas como: negrinho,
macaco, tição, negro preto, da cor de carvão, queimadinho, etc. As quais são inserias na
sociedade de maneira natural, o que demonstra a ignorância e o preconceito de quem as
utiliza.
Chegamos, consequentemente, a um ponto em que até aqueles que tentam
suprimir seus conceitos racistas deixam escapar esse sentimento através de mensagens,
comerciais, papeis artísticos inferiores, em cenas degradantes, cada vez mais a imagem
do negro. Entretanto das consequências da escravatura, pior que a miséria, a
marginalização e o analfabetismo é a desvalorização do ser humano, fundamentada em
um racismo que nem as próprias vítimas escapam da utilização de sentimentos
contrários a sua cultura.
Assim, não imporá como são definidos e caracterizados, racismo e
discriminação, constituem violação de direitos humanos. Não é uma questão de relação
interpessoal nem são apenas hábitos da pessoa humana. São questões que estão
incorporados as práticas, as políticas e composições institucionais. [...] (BOTT, 2006,
p. 17).
O Brasil é o país das desigualdades, visto que o capital está concentrado nas
mãos de uma minoria, ficando a maioria a mercê dessa hegemonia que opera na
sociedade. Porém, não para por ai, são inúmeros os maus tratos efetuados contra o
negro, o pobre e o analfabeto, etc. levando-os a um estado de vulnerabilidade social.
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1.2. Etnia e Raça: diferentes concepções

O uso desses conceitos ainda causa polêmica, como também questionamentos e


tem como propósito examinar qual deles corresponderia melhor à realidade social do
Brasil. Qual seria, então, a terminologia mais adequada para o caso brasileiro: raça ou
etnia? Ambas são categorias históricas, que envolvem múltiplas formas para explicar
como a dinâmica social é construída pelos vários grupos socioculturais e como não faz
sentido usar a diferença genética para distinguir um povo do outro, mesmo que o termo
raça, inicialmente, tenha se referido a características físicas, ou biológicas.
Após a Segunda Guerra Mundial, passou-se a usar mais intensamente, o termo
etnia, em contraposição a teorias surgidas nessa época. Para Hall (2005, p. 62) etnia
define-se pelas “[...] características culturais – língua, religião, costumes, tradições,
sentimento de ‘lugar’ – que são partilhados por um povo. [...]” Tal definição parece
caracterizar o termo para a identificação de grupos em que sejam observadas
características bem peculiares, relacionadas a aspectos específicos desses grupos.
A etnia não trata apenas de identificar semelhanças, diferenças ou
especificidades de negros e brancos, mas sim, de entendê-las à luz das posições
assimétricas ocupadas por esses grupos, em uma sociedade que funciona segundo a
lógica dos sistemas de exploração e dominação (patriarcado, racismo, machismo).
Desse modo, os atributos que qualificam negros e brancos não são de ordem
natural, são independentes entre si e produzidos por relações socialmente construídas,
ou seja, são cultural e social. Concordando com Hall (2005) entendo etnia como um
conceito que vai além da característica cultural, engloba a junção de grupos étnicos no
conjunto mais amplo da população, considerando ainda suas origens. A utilização desse
conceito está relacionada à conotação política que se deseja atribuir-lhe, como ocorre
também com o conceito de raça. Todavia, para a escrita desse estudo, adoto o conceito
de raça, na perspectiva de Guimarães [...] ‘raça’ é não apenas uma categoria política
necessária para organizar a resistência ao racismo no Brasil, mas é também categoria
analítica indispensável: a única que revela que as discriminações e desigualdades que a
nação brasileira de ‘cor’ enseja são efetivamente raciais e não apenas de ‘classe’.
(2002, p. 50, grifo do autor).
Deste modo, sempre que me referir a raça, compreendo-a como uma construção
social, política e cultural que, no Brasil, determina posições distintas assumidas pelos
diferentes grupos sociais, classificando negros, geralmente, em situação desprivilegiada
no que diz respeito à posse de bens socioeconômico e culturais-educacionais
construídos historicamente.
Concepções utilizadas nos conceitos raça e etnia ainda estão distantes de serem
resolvidos na pesquisa. Tais concepções são colocadas em discussão em algumas teses
e dissertações e contendo diferentes modos de compreensão dos temas. Porém, mais
pesquisas deveriam ser realizadas para que sejam esclarecidos os vários pontos de
vista, amenizando, assim, suas incompreensões.
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Um outro impedimento para a utilização de tais termos é o medo que ainda se


tem de expor, o que se entende por este ou aquele tema, pois teme-se avaliações e
críticas. Mas o que seria dos inúmeros conceitos se os pesquisadores não os tivessem
exposto ao debate?
Segundo Gomes (2001) esses conceitos mantêm uma relação complexa entre si,
pois envolvem aspectos que englobam o cotidiano, práticas e vivências da população
negra e branca em nossa sociedade. Remetem também aos diferentes âmbitos da
educação, como processos de desenvolvimento humano e à escola, como responsável
pelo repasse do conhecimento sociocultural, sistematizado e acumulado pelas gerações.
Ainda para essa autora, o conceito raça deve ser entendido como um conceito
relacional que se constitui histórica, política e culturalmente e incluem dimensões
geográfica para sua análise.
Desse ponto de vista, o conceito de raça aqui explicitado corresponde melhor
ao que se pretende discutir na educação e também na formação de professores para o
trato de questões raciais em sala de aula, aspecto que ainda é pouco considerado nos
vários cursos de formação de professores em nosso país.
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CAPITULO 2°

2.1 A questão da desigualdade social e desigual

A declaração dos Direitos Humanos (DDH) formulada em 1945 e adotada pela


ONU em 1948 como princípio básico dos direitos humanos, é um documento de cunho
internacional e que garante a todo ser humano o direito inegável de ser tratado como
tal.
Já em seu preâmbulo ela diz: Considerando que o desconhecimento e o
desprezo dos direitos humanos conduziram a actos de barbárie que revoltam a
consciência da humanidade e que o advento de um mundo em que os seres humanos
sejam livres de falar e de crer, líberos do terror e da miséria, foi proclamado como a
mais alta inspiração humanos (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS
HUMANOS, 1945).
Desses “atos de barbáries” que a DDH fala, é inegável que a discriminação
racial e os atos atrozes de escravidão que por muitos séculos seres humanos de etnia
negra foram obrigados a sofrer, sejam reconhecidas como tal.
Ainda na DDH, nos artigos 4º e 7º ela dispõe sobre isso:
Art. 4 Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o
trato dos escravos, sob todas as formas são proibidos.
Art. 7º todos são iguais perante a lei e sem distinção, tem direito a igual
proteção da lei. Todos tem direito a proteção igual contra qualquer discriminação que
viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação
(DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, 1945).
Assim toda sociedade de direitos e democrática, que se julgue uma civilização
digna de respeito e soberania perante as demais devem adotar os princípios da DDH,
garantindo assim a oportunidade e possibilidade de um desenvolvimento humano justo
e ético para com todos.
A Constituição Brasileira de 1988, adota as ideologias que regem a DDH e em
seu título II dos Direitos e Garantis Fundamentais, Capitulo I dos Direitos e Deveres
Individuais e Coletivo, no seu artigo 5º dispõe que:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do
direito, a lei, a vida, a liberdade, a igualdade, a segurança e a propriedade (BRASIL,
1988).
Assim é garantido pela lei maior que rege as relações de direito no Brasil, que
qualquer forma individua humano será tratado com dignidade e igualdade de direitos.
Nesse ínterim, as relações étnicas no país são tão traiçoeiras e por vezes contraditórias
que foi preciso também garantir na constituição, no mesmo capítulo e no mesmo artigo
5º que:
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XLI – A lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades


fundamentais;
XLIII – A prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível,
sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei (BRASIL 1988).
Com isso se pode perceber que a luta para uma democracia racial e igualitária é
uma luta árdua e que não é suficiente apenas o entendimento da questão do preconceito
e da discriminação, mas é preciso sim toda uma educação social voltada para essa
temática.
A criação de leis que reconheçam o direito de cidadania e dignidade humana
também é uma premissa importante no combate a ignorância racial que ver nas
características físicas do outro motivos suficientes para considerá-los inferiores e,
portanto merecedores de uma renegação social, que termina por discriminar, humilhar e
rejeitar tudo aquilo que não está dentro de um parâmetro idealizado por uma camada
social elitista e hipócrita, que para não perder o conforto socioeconômico que vem de
uma longa história racista e cruel de ignorância humana – o racismo e a escravidão de
seres humanos por outros seres humanos – utiliza da argumentos e de toda uma gama
de artifícios sociais para justificar sua covardia perante si e perante os outros.
Pelo inciso XLII é possível perceber que a questão racial no país é algo bastante
complicado, pois é preciso uma ameaça explicita na constituição, para em parte,
garantir o direito de todos perante a sociedade e coibir a discriminação racial, que
veladamente se faz presente na sociedade brasileira.
Corroborando com o que viemos falando ao longo do texto vejamos alguns
dados estatísticos sobre a realidade do afrodescendentes no Brasil de hoje.
Os atos velados da discriminação ressaltam-se com análises de dados
estatísticos demonstrados no Mapa da Violência, mostra que em 2020 no Brasil, os
casos de homicídio de pessoas negras (pretas e pardas) aumentaram 11,5% em uma
década. Ao mesmo tempo, entre 2008 e 2018, período avaliado, a taxa entre não negros
(brancos, amarelos e indígenas) fez o caminho inverso, apresentando queda de 12,9%.
Feito com base no Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da
Saúde, o relatório evidencia ainda que, para cada pessoa não negra assassinada em
2018, 2,7% negros foram mortos, estes últimos representando 75,7% das vítimas.
Enquanto a taxa de homicídio a cada 100 mil habitantes foi de 13,9% casos entre não
negros, a atingida entre negros chegou a 37,8%.
Na avaliação dos especialistas que produziram o documento, os números
deixam transparecer o racismo estrutural que ainda perdura no país. "Um elemento
central para a gente entender a violência letal no Brasil é a desigualdade racial. Se
alguém tem alguma dúvida sobre o racismo no país, é só olhar os números da violência
porque traduzem muito bem o racismo nosso de cada dia", diz a diretora executiva do
FBSP, Samira Bueno.
"Todas essas ações [do poder público] que, de algum modo, atuam na
prevenção à violência têm sido capazes, apesar da magnitude do fenômeno [da
violência], de prevenir a morte de pessoas não negras, de proteger as vidas de não
negros. Porém, quando a gente olha especificamente para a taxa de homicídio da
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população negra, no mesmo período, no mesmo país, cresceu 11,5%. É como se a gente
estivesse falando de países diferentes, territórios diferentes, tamanha a disparidade
quando a gente olha para o fenômeno da violência, segmentando entre negros e não
negros", complementa ela. "Isso nos ajuda a entender o quanto estamos completamente
dessensibilizados por isso."
Outro número que justifica a afirmação em torno do racismo diz respeito aos
homicídios de mulheres. Na década examinada, constatou-se uma redução de 11,7% na
taxa de vítimas não negras, ao mesmo tempo em que a relativa a negras subiu 12,4%.
No período, os estados que tiveram as mais altas taxas de homicídios entre a
população negra estão localizados nas regiões Norte e Nordeste, com destaque para
Roraima (87,5% mortos para cada 100 mil habitantes), Rio Grande do Norte (71,6%),
Ceará (69,5%), Sergipe (59,4%) e Amapá (58,3%).
"Então, que políticas são essas que a gente está implementando, que protegem
as mulheres não negras e não são capazes de proteger as negras?", questiona Samira.
No total, somente em 2018, 4.519 mulheres foram assassinadas em todo o país.
Nesse quantitativo, estão incluídas as ocorrências de feminicídio, embora não estejam
especificadas. O índice nacional foi de 4,3% homicídios para cada 100 mil habitantes
do sexo feminino, o que indica que uma mulher foi assassinada no Brasil a cada duas
horas. Em comparação ao ano anterior, o que se viu foi uma redução de 9,3% entre
2017 e 2018 na taxa geral, acompanhada por queda em 19 das 27 unidades federativas.
Segundo a diretora, particularidades referentes ao dado vêm sendo constatadas
ao longo do tempo. Como exemplo, ela cita o envolvimento de mulheres com membros
de facções criminosas e que acabam sendo executadas. Para ela, a situação consiste em
"uma nova gramática das facções", que precisa ser assimilada.
O relatório também chama a atenção para a preponderância de jovens entre as
vítimas de homicídios ocorridos em 2018. Ao todo, 30.873 jovens na faixa etária entre
15 e 29 anos foram mortos, quantidade que equivale a 53,3% dos registros.
No intervalo de 2008 a 2018, observou-se um aumento de 13,3% na taxa de
jovens mortos, que passou de 53,3% homicídios a cada 100 mil jovens para 60,4%. Os
homicídios foram a principal causa dos óbitos da juventude masculina, representando
55,6% das mortes de jovens entre 15 e 19 anos; 52,3% entre o grupo com faixa etária
de 20 a 24 anos; e 43,7% daqueles com idade entre 25 e 29 anos.
Quando se observam as taxas de mulheres e homens, identifica-se uma
diferença importante. No caso delas, as proporções de homicídio são de 16,2% entre
aquelas que têm entre 15 e 19 anos; 14% na parcela de 20 a 24 anos; e de 11,7% entre
jovens com faixa etária de 25 a 29 anos.
Em 2018, 16 unidades federativas apresentaram taxas de mortalidade violenta
juvenil acima da nacional, que é de 60,4% por 100 mil. No topo da lista, aparecem
Roraima (142,5%), Rio Grande do Norte (119,3%) e Ceará (118,4%). As menores
taxas foram de São Paulo (13,8%), Santa Catarina (22,6%) e Minas Gerais (32,6%).
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"É uma geração inteira que a gente está matando e é algo que não nos
sensibiliza, infelizmente, que vai passando. [As vítimas] são sujeitos [considerados]
descartáveis", afirma Samira.
Sobre a morte prematura de jovens brasileiros, o pesquisador Daniel Cerqueira,
que também assina a publicação, ressalta que a efetividade do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) depende de como são conduzidas as políticas públicas. Os dados
apresentados mostram que o conjunto de normas fez com que a taxa de homicídios
entre crianças e adolescentes caísse para 3,1%, a cada ano, entre 1991 e 2018,
revertendo o crescimento anual de 7,8%, registrado entre 1980 e 1991.
"De 1980 a 2018, foram 265 mil crianças assassinadas no Brasil. É uma
barbárie, é muito chocante, é um número que nos leva a repensar o país. Tem algo
errado aí. Duas coisas que ajudaram a frear essa barbárie foram o ECA e o Estatuto do
Desarmamento. Antes do ECA, quando a gente vai olhar violência armada, a taxa de
homicídio anual crescia a incríveis 9,4% a cada ano. Depois do ECA e antes do
Estatuto do Desarmamento, de 1991 a 2003, o ritmo de crescimento dos homicídios de
crianças diminuiu para 4,9% e, depois do Estatuto do Desarmamento, o ritmo foi de
1,7%. Ou seja, quando a gente compara antes e depois dos estatutos, a morte por
violência armada de nossas crianças caiu a um quinto e, no entanto, nós estamos
desconstruindo parte dessa peça agora, com o desmantelamento do Estatuto do
Desarmamento e com um debate que começou a surgir na sociedade, com preconceitos
contra o ECA", explica Cerqueira, acrescentando que, desde 2009, foram promovidas
mudanças na legislação brasileira que permitiram uma circulação maior de porte de
armas de fogo e dificultaram o rastreamento de munições e armas, muitas delas usadas
por grupos criminosos, incluindo milícias.
O FBSP e o Ipea destacam, ainda, que, antes de 2003, quando o Estatuto do
Desarmamento passou a vigorar, a velocidade de crescimento das mortes era cerca de
6,5 vezes maior do que a observada depois da sanção presidencial. Caso o número de
homicídios se multiplicasse da mesma forma como acontecia antes do Estatuto do
Desarmamento, o total poderia ultrapassar 80 mil, em 2018.
Naquele ano, a quantidade já foi elevada: foram notificados 41.179 assassinatos
por arma de fogo no país, que correspondem a 71,1% de todos os homicídios do país.
Os dados relacionados a média de anos de estudo das pessoas de 10 anos de
idade ou mais são expressivos entre os afrodescendentes em relação aos brancos. A
Região Nordeste é a que apresenta a pior média de anos de estudos: 3,9%, enquanto
que os brancos detém 5,3% mais alta que a média total dessa região; a região Sudeste
aparece com a melhor média de anos de estudos comparados a cor e sexo das demais
regiões, os homens com média de estudos de 6,4% e as mulheres com 6,5%.
Percebe-se que a diferença da média é quase a mesma, mas quando comprados
ao requisito cor teremos um aumento significativos de anos de estudo entre as pessoas
de brancas, com média de 7,1% (maior que a média nacional que é de 6,6%), e os
negros e pardos tem 5,2% sendo porém essa média mais baixa que as das regiões Norte
(5,4%) e Centro Oeste (5,3%); já na região Sul há uma constante bem parecida se
comparada as médias de estudos por sexo: os homens 6,2% e as mulheres 6,3%; porém
quando analisamos o quesito cor teremos uma desigualdade bem acentuada na média
15

de anos de estudos. Os brancos com 6,5% e os pretos e pardos 4,7%, bem abaixo da
média total dessa região.

Esses dados deixa-nos perceber que a desigualdade educacional é mais


acentuada na região nordeste devido a concentração de descendentes africanos ser bem
maior que nas demais regiões do país e pôr está área ser geograficamente litorânea,
banhada pelo oceano atlântico, sendo a porta de entrada para os escravizados que vinha
nos navios negreiros de terras de África para o Brasil.
Ao analisarmos esses dados, fica explicito que a desigualdade social e
educacional no Brasil é algo relativamente grande, e que sem sombras de dúvidas a
camada popular que mais sofre com isso é a camada social pobre e negra. Devido aos
traços étnicos e a toda uma herança histórica de marginalização, imposta pelo ideal de
branqueamento e de preconceito, os indivíduos descendentes da etnia africana sofrem,
hoje ainda, no Brasil com a desigualdade social que se reflete claramente no sistema
educacional, o que nos leva a determinar o Brasil como um país racista e desigual.
16

2.2. Racismo no contexto escolar

A educação básica empraza a abertura da experiência escolar do aluno,


proporcionando a esse discente a convivência em grupo social mais farto e em um
espaço com características diferenciadas do contexto familiar. Essa fase é o cenário
ideal para o desenvolvimento intelectual, social e psicológico dessa criança. Na
interação o corpo ganha realça mento diante os movimentos, gestos e posturas. Sendo
assim, na primeira etapa da educação básica, a criança convive grande parte do tempo
com outra criança e nessa convivência o protagonismo desse aluno auferiu ênfase de
potencialidade do convívio e suas variadas formas de relações sociais.
A educação, nos dias atuais, é a única ferramenta que pode trazer resultados
satisfatórios para a espécie humana, proferimos nesse sentido o racismo, e para que de
fato esses resultados apareçam, a educação estima com a democracia e cidadania para
suprir a ausência do apreço das etnias diferentes. A educação é essencial para a
formação do indivíduo, porém essa educação deve ser singular e atingir todas as
pessoas para torná-las membros sociais no parâmetro nacional e internacional.
Contudo, para articular políticas inclusivas seja em espaços escolares ou não, é
fundamental resgatar a temática da igualdade e em decorrência o da diferença.
Em razão disso a escola e família devem ser aliadas nesse processo para
retratar a possibilidade da transformação do pensamento da democracia racial
implantada na sociedade.
Outra forma contraditória para os profissionais da educação é atribuir o sucesso
escolar à ação pedagógica, e quando abordado o, ‟fracasso escolar’’ tornar isentas a
escola e a sala de aula, atribuindo a outras instâncias, como as crianças e as famílias.
Algumas hipóteses a questão disciplinar e indisciplinar são: Isolar a indisciplina como
um problema individual do aluno; não considerar que este ato revela algo sobre as
relações institucionais escolares do dia a dia; E o ato de apontar razões para
indisciplina, mas não demonstram caminhos para uma possível solução ou
administração. (SILVA, 2015, p.2).
A instituição, o corpo pedagógico e o docente não devem pressupor seu aluno
apenas pelo seu fracasso escolar ou indisciplina, essa equipe precisa verificar de forma
geral, o contexto social de seu aluno e incluir na prática pedagógica que está sendo
aplicada naquela escola.
Contudo, como mencionado mais acima, se a história da educação brasileira é
um estigma da exclusão se torna ainda mais complexo ao se falar de discriminação já
que a mesma acaba compondo a, “cultura’’ brasileira. Sendo assim, o agressor com a
identidade racial do agredido, em rotineiro o agredido não expõe naquele determinado
momento sua insatisfação com tal atitude ou insatisfação pelo fato de ser negro, porém
com o suceder dos tempos, o agredido sob influência da sociedade, ‟manipuladora’’
acaba se menosprezando e se inferiorizando, justamente pelas, ‟brincadeiras sem
maldade’’ em relação a sua etnia.
17

Outra forma de discriminação além dos apelidos e brincadeiras insultuosa é o


decremento do cabelo que em muitas situações são desígnio de zombaria atingindo
principalmente as meninas, estimulando ainda mais a alienação de sua personalidade.
A dimensão descritiva do discurso relativo à “cor” da pessoa, apesar deter
associações raciais, traduz mais uma descrição provisória de aparência. O racismo
presente na educação infantil aparece de forma um pouco distinta daquela encontrada
no ensino fundamental. Enquanto na escola o desempenho escolar mais baixo das
crianças negras é fator identificador do racismo no ensino fundamental, na educação
infantil, o racismo aparece nas relações afetivas e corporais entre adultos e crianças e
nas brincadeiras espontâneas destas, já que sabemos que o jogo é uma prática
fundamental nessa faixa etária.
Mas devemos considerar que essas situações também podem ser encontradas
nas crianças e nos adolescentes do ensino fundamental e médio.
Abramowich (2006, p. 68) fala que o silêncio por parte dos professores é
motivado por vários fatores: falta de formação para tratar a questão racial,
desconhecimento da história e da cultura africana ou criança de que não existe racismo.
Podemos pegar um exemplo de fala de uma professora: ‘‘.... Ah! Tinha uma aluna, o
ano passado que sofria muito, ela era moreninha coitada, e as crianças a chamavam de
negra’’. O fato de o docente reconhecer que ao chamar a menina de negra era um
xingamento, revela a incapacidade do mesmo de lidar com as relações raciais. Dessa
forma, os apelidos como, ‟moreninha’’ e, ‟branquinha’’ não seriam tão problemáticos
se não vigorasse, no país, uma hierarquia étnica.
Também podemos entrar em vigor, o que ocorreu em Belo Horizonte no
Colégio Cristão, localizado no bairro Jardim Vitória. Na Região Nordeste. Aonde foi
feita uma declaração pelo pai da vítima de 14 anos de idade, onde seu filho estava
sofrendo por ataques num grupo de mensagens criado por alunos daquela instituição.
Algumas falas presentes nesse ataque foram “Saudades de quando preto era escravo",
"Que bom que o neguin não tá. Já não aguentava mais preto naquele grupo", "Coitado
do neguin. Odeio ele, mas a gente tem que ser humilde", “Pensei que os pretos era tudo
pobre”, “Nem sabia que preto estudava’’. (G1- 20/12/2021)
Contendo tudo isso os pais da vítima acionaram a escola, aonde puderam
resolver o ocorrido que estava acontecendo.
18

CAPITULO 3º

3.1. A história marcante de Maria Felipa

A escola Maria Felipa situa-se na cidade brasileira com maior percentual de


pessoas negras (82%), segundo o IBGE (2017). As gestoras são mulheres negras que
atuam no sentido de fundamentar novas metodologias de ensino decoloniais, em que
promovem o resgate e a legitimação dos saberes marginalizados, os quais são
igualmente produzidos nos pilares da gestão. Uma escola soteropolitana de ensino
fundamental de Educação Infantil, Afro-Brasileira e bilíngue, fundada em 2019. Trata-
se de uma escola particular, com sócias e manutenção de bolsas sociais para estudantes
doadas pela sociedade civil.
Maria Felipa foi uma mulher negra, marisqueira, pescadora e trabalhadora
braçal que lutou pela Independência da Bahia e fim da dominação do colonizador no
país, sendo uma importante referência de liderança feminina brasileira. Considerada
heroína da independência do estado do Brasil no estado da Bahia. Nascida na ilha de
Itaparica, descendentes de Africanos Escravizados do Sudão, ela liderou um grupo de
200 pessoas entre mulheres negras, indígenas tupinambás e tapuias nas batalhas contra
os portugueses que atacaram a ilha de Itaparica, a partir de 1822.
A Escola Afro-Brasileira Maria Felipa (EMF), possui hoje por volta de 35
alunos, 23 funcionários, com turno pela manhã e pela tarde, atendendo a educação
infantil e primeiro ano do ensino fundamental, oferecendo cursos em português, inglês
e libras. Desde sua proposta pedagógica, a instituição anuncia que compreende o seu
compromisso social como “educar por meio do desvelamento das estruturas
hegemônicas de poder que segregam os indivíduos a partir da sua raça, religião, gênero,
sexualidade, classe social, deficiência, dentre outros condicionantes sociais”.
Para tanto, busca partir de uma perspectiva descolonizada de educação, não
omitindo os saberes tidos socialmente como hegemônicos e sim, produzindo
protagonismo de narrativas subalternizadas que foram apagadas da nossa construção
sócio histórica. Pautando como missão “contribuir na formação humana por meio do
complexo social escolar. Lutando contra toda forma de colonialidade, de opressão e
desvalorização social pautada em premissas discriminatórias de base racial, religiosa,
de gênero, sexual, de classe e de deficiência”, a EMF aborda conhecimentos históricos
dos saberes africanos e afro-brasileiros, bem como os indígenas.
A escola fundamenta-se no objetivo de contemplar a qualidade que falta em
escolas públicas brasileiras e particulares: “a identidade negra, sua cor da pele e seu
cabelo, sua história e sua cultura negadas numa educação eurocêntrica”. Não atuando
na segregação entre crianças negras e brancas, mas sim, ensinando através do processo
de socialização o valor da diversidade e das diferenças.
O comitê de ética da FGV aprovou a pesquisa através do parecer n. 129/202. A
pesquisa foi feita a partir de entrevistas semiestruturadas com as sócias proprietárias e
com a diretora da escola Maria Felipa. E que, atendendo, a localização desse trabalho
19

que nega a neutralidade e prioriza a memória como saber situado (Kilomba, 2010) e
com a autorização das mesmas as localiza abaixo.
Bárbara é a fundadora e sócia majoritária. É mãe, mulher negra cis, nordestina,
professora, escritora, empresária, formada em Química, mestre e doutora. Maju se
tornou sócia da escola em 2020, é mãe, mulher negra cis, nordestina, dançarina e
empresária, investidora de lógicas não capitalistas. Cris é mulher negra cis, nordestina,
professora e diretora da escola.
20

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A população afrodescendente desde o período escravocrata e pósescravocrata


enfrenta obstáculos para entrar no mundo da leitura e escrita. Isso se reflete em altos
índices de evasão, repetência e baixos anos de estudos se comparados a população
branca.
Temos que lutar pelos direitos que nos foi dado e pelo fim da discriminação,
preconceito e desigualdade seja ele qual for. Ninguém pode ser taxado de incapaz só
porque apresenta em seu corpo características físicas que o diferencia, porque veio de
uma determinada região, ou porque tem um costume ou uma aparência que muitas
vezes é estereotipada pela maioria.
Com base no que foi pesquisado podemos mostrar dúvidas e fazer alguns
questionamentos que nos levam a refletir sobre algumas práticas discriminatórias que
utilizamos no nosso cotidiano e que perpassa de uma geração a outra.
Porém, essas atitudes racistas são reflexos de uma herança cultural cheia de
preconceito que só tendem a aumentar se não formos esclarecidos o suficiente. Devido
à falta de conhecimento o brasileiro muitas vezes é ignorante por desconhecer sua
própria origem.
Contudo, a desigualdade no país é uma recorrente social e que atinge
exclusivamente as classes pobres que por uma coincidência é formada justamente pelos
descendentes africanos e os afrobrasileiros.
De modo geral espero que este trabalho sirva para a reflexão e uma visão crítica
diante do que vivenciamos na nossa sociedade, levando-nos ater uma postura crítica
diante das relações raciais e sociais, sob os pontos de vista da sociedade brasileira,
sobre o racismo e a desigualdade social no país que tende a ofuscar a percepção da
realidade étnica do povo brasileiro.
21

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