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CURSO DE PEDAGOGIA

LUCIANA OGEDA FONSECA MACHADO

PRODUÇÃO TEXTUAL INTERDISCIPLINAR


O PAPEL DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA PARA A
DEMOCRATIZAÇÃO SOCIAL

Rio de janeiro
2020
LUCIANA OGEDA FONSECA MACHADO

PRODUÇÃO TEXTUAL INTERDISCIPLINAR


O PAPEL DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA PARA A
DEMOCRATIZAÇÃO SOCIAL

Produção Textual de pedagogia apresentado à UNOPAR


polo/ unidade: Vila Isabel, como requisito parcial para a
obtenção da aprovação 2º semestre no curso de
pedagogia.

Rio de janeiro
2020
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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................3
2. DESENVOLVIMENTO...............................................................................................4
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................9
REFERÊNCIAS...........................................................................................................10
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INTRODUÇÃO

Neste trabalho será abordada a importância da inserção de elementos da cultura


afro-brasileira e indígena na educação básica do sistema educacional brasileiro,
mais precisamente da Lei nº 11.645 de 10 de março de 2008.
Serão tratadas percepções de como a abordagem histórica foi feita durante anos,
visando apenas a apresentação e elevação dos elementos culturais brancos
europeus, que também fizeram parte da formação do povo brasileiro, mas não
sozinhos. Do impacto que essa abordagem teve e ainda tem sobre crianças e jovens
negros e indígenas, pois como não se identificam com as cores, características e
costumes destes povos, demoram a construir sua identidade e perceber o valor
histórico de seus antepassados, além de desenvolver dificuldade a se relacionar
com alguns elementos de outras etnias. Fatores culturais como obras de arte serão
demonstradas e reconhecidas como parte da herança brasileira e peças dignas
também de apreciação serão expostas.
Todos esses pontos são importantes para que se forme cada vez mais cedo criação
de identidade, luta contra o racismo e valorização de todas as etnias que formam o
povo brasileiro.

2. DESENVOLVIMENTO

A importância da cultura afro-brasileira e indígena na construção de uma


escola democrática. Para entender-se melhor o conceito de escola democrática, é
necessário atentar ao significado de democracia, que vai além de um sistema
político caracterizado por seus participantes escolherem quem os governa.
“Democracia não é apenas uma ideia e um ideal a atingir, mas é um modo concreto
de vida, um processo de experiência que vai enriquecendo o próprio processo, o
qual, desta forma, avança.” (DEWEY, apud NEUTZLING,1984, p.87)
Freire (apud LUDWIG, 1998) leva em conta que os regimes democráticos
nutrem-se da mudança, são flexíveis e inquietos, e por isso mesmo exigem do
homem tais características, o que remete a educação, pois ensino infantil e jovem
ocorre em épocas de extrema mudança na vida do indivíduo.
Para uma escola se considerar democrática, deve se basear em conceitos
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democráticos, principalmente da modalidade participativa pois esta proporciona


direito de participação aos envolvidos.
A promulgação da Lei 11.645, de 2008, veio a alterar a Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, modificada pela Lei nº 10.639, de 09 de janeiro de 2003, que
estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, visando incluir no currículo
oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-
Brasileira e Indígena.
O ensino da história teve na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (nº 9394/1996)
uma orientação sobre seus conteúdos na educação básica. No artigo 26, no quarto
parágrafo, a LDB determinava que o estudo da história do Brasil deveria abranger as
matrizes indígena, africana e europeia na formação do povo brasileiro.
Alcançar este objetivo, desde da criação da lei que demanda a inclusão do outro
lado da história dos povos africanos e indígenas no desenvolvimento do Brasil, tem
sido um trabalho bem estruturado, valorizado e que ainda sim enfrenta certa
resistência das famílias e da sociedade por vários motivos. As Diretrizes
Curriculares defendem o pressuposto de que é papel da escola desconstruir a
representação de que o afrodescendente tem como único atributo a descendência
escrava, subalterna ou dominada, assim como a indígena.
É fundamental que os (as) profissionais da Educação participem da elaboração e da
execução do Projeto Político Pedagógico da sua escola, detendo amplo
conhecimento e compreensão da importância das Diretrizes Curriculares Nacionais
para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura
afro-brasileira e africana e do art. 26-A da LDB. A leitura e o estudo desses
documentos nas coordenações pedagógicas e nas formações continuadas
oferecidas pela Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação (EAPE)
corroboram o processo de apropriação desses conhecimentos. Essa prática deve
ser comum aos docentes e a toda a equipe gestora.
Os (as) professores (as) e gestores(as) devem estar aptos para lidar com as tensas
relações produzidas pelo racismo e as discriminações, tendo a sensível habilidade
para conduzir a reeducação das relações entre diferentes grupos étnico-raciais, ou
seja, entre descendentes de africanos, de europeus, de asiáticos e de povos
indígenas.
A obrigatoriedade desses conteúdo foi classificada por estudiosos como uma política
curricular para o combate ao racismo e a discriminação contra a população negra
brasileira (SOUZA, 2012, p. 145) e um avanço no ponto de vista institucional na
direção de uma escola como palco de construção de identidades individuais e
sociais contempladas pela diversidade de contribuições históricas de uma sociedade
multicultural e pluriétnica (OLIVEIRA, 2012).
As políticas públicas relativas à Educação Escolar Indígena pós Constituição de
1988 passam a se pautar no respeito aos conhecimentos, às tradições e aos
costumes de cada comunidade, tendo em vista a valorização e o fortalecimento das
identidades étnicas. (BRASIL, 2007, p. 16). O que sai conteúdo ensinado há
gerações, que limitava os índios somente a escravidão, escambo e destruição de
seu povo, visando mostrar para as gerações seguintes que os povos indígenas além
de já habitarem o Brasil, possuíam sua própria cultura, costumes e sociedade e
também conflitos entre as etnias.
Desde 1500 até a década de 1970 a população indígena brasileira decresceu
acentuadamente e muitos povos foram extintos. O desaparecimento dos povos
indígenas passou a ser visto como uma contingência histórica, algo a ser lamentado,
porém inevitável. No entanto, este quadro começou a dar sinais de mudança nas
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últimas décadas do século passado. A partir de 1991, o IBGE incluiu os indígenas no


censo demográfico nacional. O contingente de brasileiros que se considerava
indígena cresceu 150% na década de 90. O ritmo de crescimento foi quase seis
vezes maior que o da população em geral. O percentual de indígenas em relação à
população total brasileira saltou de 0,2% em 1991 para 0,4% em 2000, totalizando
734 mil pessoas. Houve um aumento anual de 10,8% da população, a maior taxa de
crescimento dentre todas as categorias, quando a média total de crescimento foi de
1,6%.
Passos (2002) afirma que a definição comum sobre racismo – entre a maioria dos
autores, correntes e escolas de pensamento na atualidade – está sustentada no seu
caráter ideológico, ou seja, a imputação das características negativas reais ou
supostas a um determinado grupo social. Logo, o silêncio que envolve a temática do
preconceito e do racismo na escola contribui para que as diferenças sejam
entendidas como desigualdade e negros e índios sejam vistos como inferiores, no
sentido da construção da identidade. E a identidade é resultado de um processo
histórico-cultural, porém está sempre em ação.
A não valorização do universo cultural que traz o racismo desencadeia cenas
comuns como encontrar poucos personagens negros ou índios nos materiais
didáticos. E quando aparecem, na maioria das vezes é sem história, sem
protagonismo. Passando para o(a) leitor(a) que eles só estão como apoio aos
amigos brancos e que dificilmente estarão em posições de liderança ou destaque o
que pode afetar seu comportamento, visto que esse modelo de situação além de ser
presente na escola, também se apresenta na mídia, o que acaba refletindo na
realidade.
O que traz outro ponto que é o de não se identificar ninguém pela biologia, mas sim
trazer a reflexão que a identidade só é determinada a partir de como a pessoa se
sente e se durante a formação do indivíduo, ele não se vê com valorizado ou digno
disso, dificulta sua relação positiva com a cultura que eles estão inserido e, muitas
vezes até gosta, porém não se sente à vontade. Muitos alunos vêm como
desvantagem reconhecer-se como afro-brasileiro ou indígena pois são povos que
em sua maioria possuem tempo de escolaridade reduzido e por consequência, só
conseguem empregos em posições quase que definidas socialmente.
Passar a tratar das diferenças dos fenótipos em sala de aula, trazendo o debate e
mostrando personagens e pessoas reais de todas as etnias, para que as crianças
possam se espelhar e se identificar com ela, não reforçando a ideia que somente
pessoas brancas são inteligentes, bonitas e bem-sucedidas. Partindo desta visão,
pode-se possibilitar aos jovens destas etnias a reconhecerem seu valor através de
antepassados que foram sujeitos ativos da história e da formação de seu país,
retirando e estigma de escravos e povos sofridos e colocando como resistentes e
que sempre buscaram lutar para obter sua cidadania reconhecida.
Porém, a resistência a da aplicabilidade da Lei nº 10.639 por parte da população que
acredita ser uma lei religiosa, dificulta para os jovens a total compreensão, fazendo
os mesmo associarem somente a rituais africanos ou indígenas e deixando de
perceber o quadro por inteiro, que é a compreensão da luta e expressão destes
povos que apesar das perseguições e opressões, perseverou e conseguiu manter
muitos costumes nativos e repassar para as próximas gerações, ainda que com
algumas alterações por conta da miscigenação.
A Educação, em sentido amplo, é “um conjunto dos processos envolvidos na
socialização dos indivíduos, correspondendo, portanto, a uma parte constitutiva de
qualquer sistema cultural de um povo, englobando mecanismos que visam à sua
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reprodução, perpetuação e/ou mudança” (LUCIANO, 2006, p.129). Levando em


conta o ambiente escolar, as ações e práticas podem levar à manutenção de
preconceitos e sua manifestação, que vão de encontro ao que a escola quer
esclarecer que são práticas desrespeitosas e que possuem uma raiz na forma em
como nos foi apresentada a história do Brasil.
A criança e o jovem após estudar as novas diretrizes provavelmente começará a
assimilar que certos comportamentos em sua família e/ou comunidade são nocivos
para seu próprio crescimento e percepção enquanto cidadão brasileiro. Entender
que nossas raízes vêm de diversas etnias é fundamental para o esclarecimento de
como nosso país foi e é formado, focando na educação antirracista.

Obras de arte

Makeba, 2014
Robinho Santana: Formado em design pela Anhembi Morumbi e técnico em
fotografia pelo Senac, fez Modelagem e iluminação 3D pela Melies Escola de
Cinema e Animação. Contou com obras expostas na Pinacoteca de São Bernardo e
no Athens Digital Week na Grécia.
O artista explora as referências de religiões de matrizes africanas, símbolos
Adinkras – símbolos dos povos Akan que representam provérbios sobre as crenças
e as histórias desses povos – plantas e os elementos da natureza (água, fogo, terra
e ar). Enxerga na luta e resistência das mulheres e homens negros brasileiros a
principal inspiração para suas obras. O que nos dá outra percepção das raízes
africanas, além de remeter à alegria das cores e ritos.
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Pata Ewa’n – O coração do mundo, 2016

Jaider Esbell, índio macuxi da Amazônia, é artista visual, escritor e produtor cultural.
Nasceu em Normandia, em Roraima, onde hoje é a Terra Indígena Raposa – Serra
do Sol. Ele sempre desenvolveu atividades ligadas à escrita e ao desenho. Seus
trabalhos que mais se destacam utilizam a técnica de acrílica sobre tela. Neles,
estão presentes temáticas como ancestralidade, memória, política global, o ser local,
xamanismo visual e poder, dentre outros.
A arte de Esbell exige, para além dos sentidos, imersão. Nesta obra vê-se
uma miríade de pássaros forma um híbrido da floresta. Já que estes mensageiros de
asas possam avisar, e passarem, por avisos para a manutenção daquele mundo.
Percebe-se o simbolismo da arte com a espiritualidade, comum dos povos
indígenas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a execução deste trabalho, pudemos perceber que a criação e aplicação das
leis no âmbito da educação é tão necessária como em qualquer outro.
Em um ambiente onde forma-se cidadãos, somente conhecimento técnico não é o
bastante, mas sim compreender em toda sua complexidade o desenvolver de um
brasileiro, sabendo que para isso, mesmo deve conhecer e se identificar com o
passado histórico. Entender que não temos apenas a herança branca, mas de todas
as etnias que vieram a este país.
Cumprindo este objetivo, atuando enquanto educadores, será possível ver a
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diferença que o empenho hoje, em sala de aula, juntamente com demais


profissionais de educação, a comunidade e a família de cada aluno, trará no perfil do
futuro brasileiro.
A escola é um espaço potente, para lutar contra a invisibilidade. A sala de aula pode
ser configurar como um espaço de diálogo, levando leituras e ajudando na
construção de identidade étnica-cultural.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-


raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Brasília:
Ministério da Educação e Cultura, 2004. Disponível em:
<http://www.acaoeducativa.org.br/fdh/wpcontent/uploads/2012/10/DCN-s-Educacao-
das-Relacoes-Etnico-Raciais.pdf>. Acesso em:

Cultura africana. Disponível em: < http://revistacientifica.facmais.com.br/wp-


content/uploads/2015/08/artigos/cultura_africana.pdf>. Acesso em: 10 de Agosto de
2020.

Inclusão da participação de outras etnias. Disponível em: <


https://www.researchgate.net/publication/327192990_O_ensino_de_historia_e_cultur
a_indigena_e_afro-
brasileira_mudancas_e_desafios_de_uma_decada_de_obrigatoriedade>;<http://
www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/educacao_quilombola/
material_distrito_federal.pdf>. Acesso em: 10 de Agosto de 2020.

LUDWIG, Antonio Carlos Will. Democracia e ensino militar. São Paulo: Cortez
1998

NEUTZLING, Cláudio. Tolerância e democracia em John Dewey. Roma: Pontifícia


Universidade Gregoriana,1984.
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Obra de arte afro-brasileira. Disponível: http://www.omenelick2ato.com/artes-


plasticas/robinho-santana-artista-convidado-edicao-zero17;
<http://www.cultura.sp.gov.br/exposicao-de-robinho-santana-resgata-a-
ancestralidade-afro-brasileira/>. Acesso em: 10 de Agosto de 2020.

Obra de arte indígena. Disponível em:


https://pontofervura.wordpress.com/2018/09/14/jaider-esbell-emoldura-legitimidade/.
Acesso em: 10 de Agosto de 2020.

OLIVEIRA, Iolanda de; SACRAMENTO, Monica Pereira do. “Raça, Currículo e


Práxis Pedagógica: Relações Raciais e Educação: O diálogo teoria/prática na
formação de profissionais do magistério”. Niterói, n.12, p.199-280, 2013.

PASSOS, Joana Célia dos. Discutindo as relações raciais na estrutura escolar e


construindo uma pedagogia multirracial e popular. In. NOGUEIRA, João Carlos
(Org.). Multiculturalismo e a pedagogia multirracial e popular. Florianópolis: Editora
Atilènde, 2002.
Povos indígenas. Disponível em: < http://www.funai.gov.br/index.php/indios-no-
brasil/quem-sao>. Acesso em: 10 de Agosto de 2020.

SOUZA, Maria Elena Viana. "Educação étnico-racial brasileira: uma forma de


educar para a cidadania.” In: MIRANDA, Claudia. (et. al). Relações étnico-raciais
na escola: desafios teóricos e práticas pedagógicas após a lei n. 10639. Rio de
Janeiro: Quarte/Faperj, 2012, p. 119-156.

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