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Vários autores
Inclui bibliografias
ISBN : 978-85-7014-055-5
Editora UTFPR
Cíntia de Souza Batista
Tortato
GÊNERO, EDUCAÇÃO E
ARTEFATOS
TECNOLÓGICOS: OS
DIFERENTES MEIOS
PARA ENSINAR
Solange Ferreira dos Santos e
Benedito Guilherme Falcão
Farias
UM OLHAR CRÍTICO
PARA OS LIVROS
1 DIDÁTICOS: UMA
ANÁLISE SOB A
PERSPECTIVA DE
SEXUALIDADE E GÊNERO Lindamir Salete
23 GÊNERO NA ESCOLA
Beatriz L. Ferreira e Nanci
Casagrande e Marília Gomes
de Carvalho
Stancki da Luz
Sumário
11
21
APRESENTAÇÃO 33
Nanci Stancki da Luz
Marília Gomes de Carvalho
Lindamir Salete Casagrande
47
GÊNERO:
CONSIDERAÇÕES
SOBRE O CONCEITO
Marília Gomes de Carvalho e 73
Cíntia de Souza Batista
Tortato
8 DIREITOS SEXUAIS E
REPRODUTIVOS: A
REPRODUÇÃO, A
SEXUALIDADE E AS
9 POLÍTICAS Marlene
Tamanini
HOMOFOBIA E A ESCOLA
10 11
12 13
DIVISÃO SEXUAL DO
TRABALHO E
PROFISSÕES
CIENTÍFICAS E
TECNOLÓGICAS NO
BRASIL
REPRESENTAÇÕES DE
GÊNERO NA CIÊNCIA, Toni Reis SOBRE AS AUTORAS E
TECNOLOGIA E AUTORES
SOCIEDADE, MEDIADAS
PELA PUBLICIDADE
151 171
“O OLHAR NÃO É MAIS O
Maristela Mitsuko Ono, MESMO”: UMA ANÁLISE
Luciana Martha Silveira e SOBRE OS RESULTADOS
Ronaldo de Oliveira Corrêa
DE UM CURSO SOBRE
GÊNERO E
SEXUALIDADE NA
ESCOLA
193 209
247 261
DESAFIOS E AVANÇOS
NAS POLÍTICAS
PÚBLICAS DE GÊNERO
Nanci Stancki da Luz
283
nanci stancki da luz, marília gomes de carvalho e lindamir salete casagrande
APRESENTAÇÃO
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apresentação
• Provocar reflexões críticas entre os profissionais da
educação a respeito da construção dicotômica de gênero
em nossa socie dade e suas conseqüências quanto à
discriminação e preconcei tos.
• Sensibilizar profissionais da educação das escolas-alvo do
pro jeto para a modi cação de estereótipos de gênero que
geram comportamentos discriminatórios.
• Auxiliar docentes na utilização crítica do material didático
em sala de aula quanto aos conteúdos de gênero que
provocam a invisibilidade histórica das mulheres na
construção da socieda de brasileira, da ciência e da
tecnologia; a reprodução dos pa drões tradicionais,
conservadores e discriminatórios de gênero que refletem na
linguagem escrita e visual.
• Problematizar questões como a violência de gênero,
enfati zando a violência contra as mulheres, a violência
doméstica e violência contra homossexuais.
• Discutir juntamente com profissionais da educação a
definição de pro ssões “masculinas” ou “femininas” e o
conseqüente dire cionamento e/ou enquadramento dos
alunos em determinadas pro ssões (geralmente de
conteúdos técnicos) e das alunas em pro ssões de
conteúdos voltados às ciências humanas e às ar tes.
• Problematizar juntamente com profissionais da educação
comportamentos homofóbicos na sociedade em geral e na
es cola em particular e suas conseqüências na exclusão de
pessoas que não seguem os padrões hegemônicos de
gênero.
• Repensar em parceria com profissionais da educação
formas de inclusão no processo de escolarização
daqueles(as) que eva dem ou nem ingressam nas escolas
por fatores de discriminação de gênero.
• Contribuir para a reflexão da importância da promoção da
eqüidade de gênero e para a reflexão sobre os direitos
sexuais e reprodutivos de jovens e adolescentes.
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apresentação
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apresentação
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apresentação
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1
GÊNERO: CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONCEITO
Introdução
Gênero é uma palavra que necessariamente pede uma explicação
a res peito de seu signi cado. Serve para classi car fenômenos os
mais di versos tais como gêneros de literatura, de cinema, de
música, dos seres
vivos na escala biológica, en m é um termo classi catório. No
contexto deste capítulo gênero será utilizado como uma pala vra
que serve para classi car as pessoas na sociedade, de acordo
com o sexo que possuem, ou seja, se são do sexo feminino e/ou
do sexo mas culino. No entanto, a construção social do gênero é
muito mais comple xa do que simplesmente uma classi cação das
pessoas em mulheres ou homens. No campo das Ciências
Sociais a complexidade é ainda maior porque depende das
diferentes correntes teóricas que interpretam o gênero
(mulher/homem) de formas diversas, ora considerando-o dire
tamente relacionado ao sexo, ou seja sexo feminino = gênero
feminino e sexo masculino = gênero masculino, ora desvinculando
o gênero do sexo, sem que haja uma relação direta entre estes
dois fenômenos. Para outras correntes há dois sexos, porém
múltiplos gêneros O termo gênero possui portanto muitos signi
cados, de acordo com as diferentes abordagens que existem
sobre o fenômeno da cons trução social do masculino e do
feminino pela sociedade e pela cultura. O conceito de gênero
apresenta, diferentes concepções, diferentes fo-
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gênero: considerações sobre o conceito
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gênero: considerações sobre o conceito
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Universalidade Localidade
Racionalidade Sensibilidade
Neutralidade Emoção
Dominação Passividade
Cérebro Coração
Controle Descontrole
Conhecimento Natureza
Civilizado Primitivo
Público Privado
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gênero: considerações sobre o conceito
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Referências
31
SCHIENBINGER, Londa. O feminismo mudou a ciência? Bauru, SP: EDUSC, 2001.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e
Realida de, 20(2), jul/dez. 1995. pp. 71-99.
SIMIÃO, Daniel S. Gênero no mundo do trabalho. Cadernos de Gênero e
Tecnolo gia. ED. UTFPR, ano 1, n. 1, 2005.
TABAK, Fanny. O laboratório de Pandora: estudos sobre a ciência no
feminino. RJ: Garamond, 2002.
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2
SEXUALIDADE E GÊNERO NA ESCOLA
Introdução
A sexualidade envolve inúmeros aspectos pessoais – histórias de
vida, crenças, valores, diversidade, pluralidade e sentimentos – e
também sociais, políticos, culturais e econômicos. Tratar o tema
nem sempre é fácil, enfrenta resistências, particularmente quando
se refere à sua inclusão no currículo escolar. A escola, que cotidia
namente produz e reproduz modelos de sexualidade, nem sempre
consegue explorar toda sua potencialidade e dimensão. A partir
da década de 1980 a escola passa a apresentar preo cupações
com a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). A falta de
informações a respeito dessa doença, o crescimento no nú mero
de contaminações e a associação com práticas sexuais revelou a
necessidade de discutir a sexualidade, quebrando resistências. A
inserção do tema, entretanto, ocorreu de forma bastante limitada e
com ênfase na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.
O tema sexualidade revela-se polêmico, envolvendo tabus,
medos, questões religiosas, morais e éticas – o que dificulta a
busca de consensos de como a educação formal deveria
abordá-lo. Essa dificuldade muito se deve ao fato de que a
sexualidade é vista de forma restrita, associada ao ato sexual,
desconsiderando a relação com o corpo, o prazer e o desejo.
Sexualidade não é sinônimo de sexo, é muito mais que isso: é
energia que possibilita encontros, trocas e experiências; influencia
pensamentos, sentimentos, ações e interações e, portanto, tem a
ver com a saúde física e mental do ser humano.
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sexualidade e gênero na escola
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cionalidade, sob a alegação de que são características
masculinas. De ambos os sexos, espera-se relações
heterossexuais, consideradas como forma “única” e “correta” de
vivência da sexualidade. Constro em-se dois mundos – o real e
o imaginário – tão díspares que não ajudam a construir relações
igualitárias numa realidade na qual ho mens e mulheres vivem
juntos e que nem sempre (ou quase nunca)
se enquadram nesses padrões. Qual é o espaço das pessoas que
não se enquadram nesses modelos? A escola pode
desconsiderar que a realidade não comporta um modelo único?
A sociedade tem imposto padrões de gênero e modelos de
se xualidade que impedem o desenvolvimento individual, social e
po lítico de muitas pessoas – particularmente daqueles indivíduos
que não se “encaixam” no modelo hegemônico. A imposição de
padrões
fixos e a intolerância com a diversidade têm gerado discriminação,
ódio, preconceito e violência – questões que não contribuem nem
para o desenvolvimento humano, tampouco para o social de uma
nação.
As instituições educacionais em geral não têm apresentado
preocupações com a diversidade, ocultando dos currículos:
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sexualidade e gênero na escola
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Considerações Finais
A escola pode ser um espaço gerador de transformação de
comporta mentos e valores. Como parte do contexto social, essa
instituição não ca imune à reprodução de valores presentes na
sociedade, sendo comum a propagação de discriminações e
preconceitos, o que ocorre quando repassa uma visão
androcêntrica de mundo e ensina às mulhe-
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sexualidade e gênero na escola
Referências
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3
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: UM DESAFIO À
CONCRETIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
Introdução
A violência contra a mulher ganhou visibilidade graças à luta e
organiza ção feminista que retirou o tema do âmbito privado,
politizou a discus são e questionou as relações de poder que
reproduziam e naturalizavam esse grave problema social.
A violência doméstica, uma das inúmeras formas de
expressão dessa violência, por longo tempo foi tratada como algo
da esfera fami liar, o que afastava a intervenção do poder público e
permitia que, na ausência de relações de afeto e proteção,
imperasse a lei do mais “forte” em grande medida personi cada
em uma gura masculina que, no uso arbitrário de sua força física,
considerava-se com direitos de subjugar, humilhar ou mesmo
agredir outros familiares.
Relações de poder desiguais entre homens e mulheres e a
inércia do Estado e da sociedade frente a essa realidade di
cultaram a efetiva ção dos direitos fundamentais das mulheres
vítimas de violência, entre os quais o direito à vida, à integridade
física, emocional e psicológica, à liberdade de pensamento e de
escolha, à saúde, à segurança, entre outros.
A violência atinge homens e mulheres, entretanto, as suas
formas de manifestação, em geral, distinguem-se quando se trata
de um ou de outro gênero. Enquanto a violência contra os
homens pode ser asso-
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violência contra a mulher: um desafio à concretização dos direitos humanos
A violência
A violência é um fenômeno amplo e que inclui não apenas
comporta mentos entre indivíduos, mas também se refere a
questões como de sigualdades (sejam elas sociais, étnicas, de
gênero ou classe), pobreza, desemprego, intensi cação e
precarização do trabalho, desvalorização pro ssional e salarial,
discriminação, falta de atendimento aos direitos básicos,
abandono, etc.
Para Ristum e Bastos (2004), é difícil abarcar a violência
como um todo, devido a sua complexidade. O próprio conceito
pode sofrer inter ferência do julgamento social, di cultando uma
formulação consensual e ocultando formas de agressão. Embora
a violência possa assumir di versas formas, devido a uma visão
reducionista, muitas vezes, ca rela cionada apenas com a
criminalidade, deixando de incluir a dominação política,
econômica e de gênero e todas as implicações dela decorren tes.
Herkenho (2004) destaca a necessidade de se distinguir
agressi vidade de violência. A agressividade, cujo oposto é a
passividade, tem aspectos construtivos e signi ca dinamismo e
energia vital. A violência, ao contrário, tem sempre implícita a
destrutividade. Essa destrutivida de, todavia, também pode ser
libertadora quando, não havendo outra alternativa, é utilizada
como forma de defesa e de a rmação humana. No entanto, num
sentido restrito, o termo violência explicita o conjunto de
ocorrências que põem em perigo bens da vida e a integridade das
pessoas.
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violência contra a mulher: um desafio à concretização dos direitos humanos
A construção da violência
A violência contra a mulher e, particularmente, a doméstica nem
sempre foi punida. Para isso, tentou-se justi cá-la com argumentos
de que essa violência é constitutiva da cultura de um povo, parte
da natureza hu mana ou de menor poder ofensivo. Situação
questionada por mulheres do mundo todo, e cujo reflexo
percebemos em mudanças, sejam na in terpretação e de nição do
que é a violência, sejam no comportamento individual e nas ações
institucionais que demonstram não mais aceitá-la com
naturalidade e buscam resgatar a dignidade e os direitos femini
nos.
Entretanto a violência contra a mulher tem se revelado
bastante enraizada em nossa sociedade. A sua naturalização e
reprodução con tam com importantes apoios. Desvelar esses
mecanismos que con tribuem para a sua reprodução social pode
ser o primeiro passo para desconstruí-la.
Comportamentos violentos dos adultos ou formas de
convivên cia e organização familiar que reforçam a subordinação
feminina con sistem em um desses mecanismos. Fazer parte de
relações em que a violência é rotineira pode levar as crianças a
considerá-la natural. Se no âmbito familiar as crianças vivenciam a
hierarquia/dominação entre os sexos, relações violentas e se o
silêncio e o conformismo são apresenta dos como forma de
proteção, a violência pode ser aceita, suportada e também
reproduzida.
No Brasil é comum a propagação de ditados que reforçam e man
têm a idéia de que a violência doméstica consiste em um problema
do espaço privado, ninguém poderia se opor a ela ou mesmo
envolver-se e, por mais absurdo que pareça, que poderiam fazer
bem ao relaciona mento afetivo: “em briga de marido e mulher
ninguém mete a colher”; “a mulher é minha e eu faço dela o que
eu quiser”; “eu não sei porque eu bato, mas ela sabe porque
apanha”; “mulher gosta de apanhar”, “mulher
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é como pão, quanto mais bate, melhor ca”, entre tantos outros
absur dos.
Todas essas frases, repetidas reiteradamente, podem levar
al guns a acreditarem que isso seja verdadeiro, entretanto, as
situações de violência vivenciadas pelas mulheres e suas
conseqüências deixam evidente a inverossimilhança de tais
afirmações. É ilógico pensar que alguém possa gostar de
apanhar, de viver sob constante ameaça, de ser agredida ou
humilhada. Talvez uma mente doentia que deseja fazer ou faz tais
crueldades busque assim justificar seus atos, mas a sociedade
aceitar e repetir tais disparates não faz sentido.
Além da inverídica afirmação de que mulher gosta de
apanhar, a sociedade cria outros mitos sobre a violência,
buscando mostrar que as mulheres agredidas consistem em um
pequeno percentual da população; que a razão das agressões é o
consumo de álcool e drogas; que os agressores têm baixa
escolaridade e são pobres. A realidade desmente tudo isso: o
número de mulheres agredidas não é pequeno, o consumo de
drogas, embora possa intensificar a agres
são, não é a sua causa; há agressores em todas as classes
sociais, po dendo inclusive ser um intelectual, conforme relata
Teles (2006). Essa falsa realidade é reproduzida nas instituições
sociais, in cluindo a escola que não se mantém imune a esse
processo. Esse espaço deveria se voltar prioritariamente para o
desenvolvimento pessoal, acadêmico e social de mulheres e
homens, entretanto pode ser um espaço reprodutor da violência
ao desenvolver uma formação generificada e androcêntrica ,
reforçando assim a dominação mas culina, secundarizando as
atividades da mulher e contribuindo para a baixa resistência à
violência de gênero, culminando na sua aceita ção.
Os heróis, cientistas, intelectuais e políticos podem ser
apresentados como parte de um mundo masculino e, as mulheres
podem simplesmen te desaparecer dos grandes feitos, das
grandes descobertas, en m, serem apagadas da História. Mas,
onde elas estariam quando a história foi vivida? Os homens não
conseguiriam construir nações, desenvolver ciência, inven tar ou
inovar tecnologicamente sozinhos, pois a realidade sempre foi feita
de homens e mulheres.
Além da invisibilidade feminina, outro aspecto que aparece
em ma teriais didáticos é a secundarização das suas atividades.
Segundo Moreno
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desde pequenas, assistem a programas que naturalizam a
violência e as desigualdades de gênero.
A mídia apresenta, em diversas ocasiões, mulheres como objeto
de consumo, sendo as inúmeras propagandas de cerveja um
exemplo disso. À mulher não é dado nem mesmo o status de
potencial consumidora do produto. Elas passam a ser “algo” que
complementa a própria bebida e que é oferecida ao público
masculino como uma espécie de “bônus” pela com pra da
mercadoria. A mulher e a cerveja passam a ser “coisas” para
serem consumidas e à disposição do prazer masculino.
Propagandas como essas deveriam ser proibidas por contribuir
para a desvalorização da mulher, es timular a idéia de mulher
objeto e reforçar desigualdades de gênero.
A música, importante expressão cultural e que tem grande
popula ridade em nosso país, também pode ser um veículo de
propagação e ba nalização da violência contra a mulher. A música
Um Tapinha não Dói, por exemplo, difunde a imagem de mulher
objeto sexual, passa a mensagem de que mulher gosta de
apanhar, que agressão física coincide com prazer, e que apanhar
não dói:
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violência contra a mulher: um desafio à concretização dos direitos humanos
O assassinato de mulheres
Vale destacar que as representações femininas tratadas
anteriormente contribuem para o desenvolvimento do sentimento
de posse demons trado por alguns homens em suas relações
afetivas e que, em muitos casos, culminam em atos de extrema
violência: assassinatos, agressões, seqüestros e cárcere privado
de mulheres vítimas daqueles que justifi
cam suas atrocidades em um dos mais nobres sentimentos: o
amor. Uma importante reflexão a respeito dessa temática é
apresenta da pela autora Eva Blay em seu livro Assassinato de
mulheres e direi tos humanos, no qual se discute por que os
crimes contra as mulheres continuam tão disseminados em nossa
sociedade. A autora revela que não obstante as exigências de
punição dos agressores há concomitan temente um aumento da
taxa de homicídios de mulheres, crime que se faz presente em
todas as classes sociais. Embora esse tipo de violên cia possa
parecer menor na camada alta, isso decorre do fato de que os
criminosos com maior poder aquisitivo têm maiores facilidades
para fugir ao flagrante ou mesmo de desaparecerem, auxiliados
por advo gados, clínicas de saúde ou amigos influentes. Os dados
desmentem a visão de que a violência contra a mulher só existe
entre os mais pobres e menos escolarizados.
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Para garantia desses direitos não se prevê apenas medidas
puniti vas. A lei inova ao prever medidas de prevenção à violência.
Em seu art. 8º., apresenta diretrizes de uma política pública que
visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, que
deverá ocorrer por meio de um conjunto articulado de ações da
União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios e de
ações não-governamentais, visando entre outras questões:
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Considerações nais
A aceitação social da violência contra a mulher é a própria
negação dos direitos fundamentais de toda uma população. A sua
manutenção preju dica não só as mulheres, visto que contribui
para o agravamento das injus tiças sociais, e isso afeta a todos,
afastando-nos da justiça e da democracia. O desenvolvimento
social, econômico, cultural e político de uma nação depende de
homens e mulheres que, respeitados em suas diferenças, te nham
a garantia de direitos inerentes ao ser humano, entre eles o de
viver sem violência.
Historicamente temos avanços signi cativos no sentido de
enfren tar essa violência, particularmente, na ampliação do seu
conceito e na implementação de ações que visem coibir tal
prática. Todavia, a gravida de do tema exige continuidade na
reflexão, persistência nas ações e que políticas públicas nessa
área sejam prioritárias para o Governo Federal, Estadual ou
Municipal, reconhecendo a importância da construção de re lações
de gênero baseadas no respeito às diferenças.
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Notas
1 O androcentrismo consiste em considerar o ser humano do sexo masculino como
centro do universo, como a medida de todas as coisas, como o único observador
válido de tudo o que ocorre no nosso mundo, como o único capaz de ditar as leis,
de impor a justiça, de governar o mundo (MORENO, 1999, p. 23)
2 Extirpação do clitóris acompanhada, muitas vezes, da retirada dos lábios internos
da vul va.
3 Sutura ou introdução de anel ou colchete nos lábios genitais para impedir o coito
ou tor nar a relação sexual um ato de extremo sofrimento; essa costura dos lados da
vulva pode ocorrer após a remoção do clitóris e dos pequenos e grandes lábios.
Referências
71
RISTUM, Marilena; BASTOS, Ana Cecília de Sousa. Violência urbana:
uma aná lise dos conceitos de professores do ensino fundamental. Ciência
e Saúde Coleti va. v. 9, n. 1, Rio de Janeiro, 2004. Disponível em:
<http://www.scielosp.org/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232004000100022&lng=pt>. Acesso
em: 07
set. 2008.
Introdução
A abordagem das questões de gênero e diversidade sexual, tendo
a lite ratura infantil como elemento disparador das reflexões e
discussões, foi pensada como uma das estratégias de
sensibilização valendo-se de cur sos de capacitação dirigidos a
pro ssionais da educação da rede munici pal de ensino da cidade
de Matinhos e, posteriormente, da rede estadu al de ensino do
Paraná. O trabalho foi elaborado de forma a contemplar as mais
diversas situações que acontecem em uma escola, e que podem
proporcionar momentos preciosos para a abordagem, com as
crianças ou jovens, de questões de gênero ou de diversidade
sexual. Atendendo ao objetivo geral do curso: Preparar
pro ssionais para a re exão sobre as
questões de gênero e diversidade
sexual na sociedade em geral e na
escola em particular, a m de que
promovam uma educação
democrática e inclu siva, sem
preconceitos nem discriminações. A
equipe responsável optou por trabalhar os conceitos selecionados
para o módulo por meio de di
versas atividades,1 e uma delas foi o uso de livros de literatura
infantil, reconhecendo o trabalho com a literatura como uma forma
consagrada de prática pedagógica no espaço escolar.
Gênero e educação
Como conseqüência das lutas históricas do movimento feminista,
políti cas públicas relacionadas à inserção da perspectiva de
gênero na educa ção começaram a surgir nos documentos legais
a partir da Constituição de 1988, e, depois, com a elaboração dos
Parâmetros Curriculares Nacio nais (1997) e dos Referenciais
Curriculares Nacionais para a Educação In-
73
questões de gênero e diversidade sexual: as possibilidades da literatura infantil
fantil (1998). Essas políticas representaram um avanço, porém,
segundo Vianna e Unbehaun (2006, p. 407):
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Ler e apreciar
Para o trabalho com as questões de gênero e diversidade foram
esco lhidos alguns livros de literatura infantil que tratam desses e
outros as suntos das mais diversas formas. No trabalho prático
realizado com pro fissionais da educação, nos cursos de
capacitação já citados, a dinâmica
proposta foi dividir as turmas em pequenos grupos e distribuir um
livro de literatura infantil para que cada grupo zesse a leitura e
identi casse
81