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Resumo
Este artigo analisa a formação de Angola, a chegada da igreja metodista e sua relação
educacional com membros do Movimento Pela Libertação Nacional Angolano (MPLA)
especialmente, Deolinda Rodrigues, educada pela igreja e membro do movimento MPLA.
Tem como principal objetivo compreender de que forma a educação formal feita pela igreja
Metodista causou impactos na formação de Deolinda Rodrigues e dos movimentos
indenpendencistas em Angola. A documentação utilizada para a elaboração da pesquisa foi
acrescida dos escritos de Deolinda Rodrigues encontrada em seu diário pessoal. O acesso
aos documentos foi viabilizado graças ao uso, como metodologia de pesquisa, de fontes
digitais, disponíveis na internet e fundamentadas em leituras que versem sobre a
importancia das leis federais para se estudar sobre a história afro-brasileira e africana
(GOMES, 2020 ), assim como a discurssão do negro e da linguagem (FANON, 2008) Cujos
resultados consistiram em pensar o papel das missões em Angola, como a educação formal
que por muitas vezes tinha o intuito de “colonização” por meio da língua, foi também
ressignificado e utilizado como formas de resistências, articulações e denúncias no contexto
colonial de intensas repressões
Introdução
1
TORRES, Nelson Maldonado. Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico/organizadores Joaze
Bernadinho-Costa, Nelson Maldonato-Torres, Ramón Grosfoguel. –2. ed; 3. reimp. – Belo
Horizonte: Autêntica, 2020. (Coleção Cultura Negra e Identidades). p. 30.
distinção de progresso, soberania, sociedade, subjetividade, gênero e razão2
acrescendo a ideia de raça, com isto, difundiu-se o discurso da superioridade
europeia e a inferioridade dos continentes que passaram pelo bojo da expansão
colonial europeia, desde 1492, Ásia, África e a posteriori a América Latina.
Todavia, neste trabalho o recorte dará a partir de uma perspectiva de educação
decolonial para se pensar o continente africano, com ênfase em Angola.
Constituindo-se, desta forma, a modernidade quase que natural e a
colonialidade mesmo intrínseca a modernidade foi considerada
epistemologicamente quase que invisível. Ao analisar esse tema Walter Mignolo
(2010),enfatiza“La torcida retórica que naturaliza a la modernidad como un proces
o universal, gobal y punto de llegada oculta su lado oscuro, la reproducción const
ante de la colonialidad”3 o autor revela não só o lado obscuro da modernidade, que
foi o processo colonial, como também revela-nos como o processo da
modernidade/colonialidade utilizou da teoria epistemológica da colonialidade do
pensamento de superioridade para produzir e reproduzir narrativas que
justificassem a própria colonização, estabelecendo o conhecimento europeu como
universalista e hegemônico, desconsiderando qualquer outra epistemologia.
Desta forma, a modernidade/colonialidade por intermédio do racismo
produz uma zona do ser e do não ser (FANON, 2008, p. 26) “uma região
extraordinariamente estéril e árida”, vivenciada pelo negro, o homem ocidental
construiu-se como o ser humano e o homem africano como “o negro não é um
homem”4, uma categoria imposta pelo processo colonial. A construção dicotômica
de homens e mulheres do ocidente serem ligados ao humano e ao civilizado
enquanto homens e mulheres africanos foram animalizados, conforme reitera
FANON (1968),
2
TORRES, Nelson Maldonado. Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico/organizadores Joaze
Bernadinho-Costa, Nelson Maldonato-Torres, Ramón Grosfoguel. –2. ed; 3. reimp. – Belo
Horizonte: Autêntica, 2020. (Coleção Cultura Negra e Identidades). p. 30.
3
MIGNOLO, Walter. DESOBEDIENCIA EPISTÉMICA: RETÓRICA DE LA MODERNIDAD,
LÓGICA DE LA COLONIALIDAD, Y GRAMÁTICA DE LA DESCOLONIALIDAD. Colección
Razón Política, Ediciones del Signo. 2010, p. 9. “A retórica distorcida que naturaliza a modernidade
como um processo universal, global, ponto final, esconde seu lado obscuro, a reprodução constante
da colonialidade” (tradução livre, MIGNOLO, 2010, p. 9)
4
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EdUfba, 2008, p. 26
Por vêzes êste maniqueísmo vai até ao fim de sua lógica e desumaniza o
colonizado. A rigor, animaliza-o. E, de fato, a linguagem do colono,
quando fala do colonizado, é uma linguagem zoológica. Faz alusão aos
movimentos réptis do amarelo, às emanações da cidade indígena, às
hordas, ao fedor, à pululação, ao bulício, à gesticulação. O colono,
quando quer descrever bem e encontrar a palavra exata, recorre
constantemente ao bestiário. O europeu raramente acerta nos têrmos
"figurados” 5
5
FANON, Frantz. Os Condenados da Terra. Prefacio de JEAN PAUL SARTRE, Tradução' de José
Laurênio de Melo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. p. 31
mobilizações de Abdias Nascimento no contexto da organização do Teatro
Experimental do Negro, no Rio de Janeiro, o qual ressaltava a importância da
história da população negra nas escolas.
Assim, como a importância do movimento negro vale ressaltar a luta dos
movimentos sociais, na luta antirracista, a qual juntos conseguiram “um
reconhecimento oficial do Estado brasileiro. Várias demandas desse movimento
social foram transformadas em políticas públicas6 causando mudança significativas
no curriculo brasileiro o qual causam impactos institucionais em nível federal
conforme GOMES, 2020.
Em nível federal, várias políticas e projetos antirracistas foram
realizados, tais como: a alteração da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (Lei n. 9.394/1996) pela Lei n. 10.639/2003 ao introduzir a
obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana
nos currículos das escolas da educação básica; o Decreto n. 4.887/2003
que regulamentou o procedimento para identificação, reconhecimento,
delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por
remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o Art. 68 do
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias; a Política Nacional de
Saúde Integral da População Negra, instituída pela Portaria n. 992 de 13
de maio de 2009; o Estatuto da Igualdade Racial (Lei n. 12.288/2010); a
Lei de cotas sociais e raciais nas Instituições Federais de Ensino Superior
(IFES) (Lei n. 12.711/2012); a Lei de cotas raciais nos concursos
públicos federais (Lei n. 12.990/2014) e a Portaria n. 13/2016 do
Ministério da Educação que induziu as cotas raciais na pós-graduação
das IFES7
A proposta desta pesquisa vai de encontro com a referida Lei n. 10.639/2003
a qual introduziu a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e
africana nos currículos das escolas da educação básica, aspectos da história e da
cultura que caracterizam a formação da população brasileira. Tal ampliação
permitiu pesquisar não somente a história afro-brasileira mais também a própria
história da África, mas porque estudar a história da África?
6
GOMES, Nilma LinoO. A força educativa e emancipatória do Movimento Negro em tempos de
fragilidade democrática. Teias (Rio de Janeiro), v. 21, p. 361-371, 2020. p. 361
7
Ibidem
Latina. Isto implica considerar que desde a implantação da matriz
colonial de poder tem havido uma fecunda prática epistêmica decolonial,
ainda que uma reflexão mais sistemática sobre o giro decolonial seja
recente8
Por outro lado, dialeticamente, a educação precisa ser vista não apenas
como campo de reprodução de estruturas de dominação colonial, mas
também como um espaço de resistências11
8
NETO, João Colares da Mota. Educação intercultural em religião de matriz africana na Amazônia:
contribuições para uma Pedagogia Decolonial. Horizontes, v. 34, n. 1, p. 101-112, jan./jul. 2016. p.
104
9
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EdUfba, 2008. 46
10
NETO, João Colares da Mota. Educação intercultural em religião de matriz africana na Amazônia:
contribuições para uma Pedagogia Decolonial. Horizontes, v. 34, n. 1, p. 101-112, jan./jul. 2016. p.
104
11
NETO, Teresa José Adelina da Silva. Contribuições a história da educação e cultura de Angola:
Grupos nativos, colonização e a independência. tese de doutorado, UNICAMP/Biblioteca Central,
seção circulante. p. 56, 2005.
existentes imersas na ideia de educação formal. O trabalho visa atribuir,
principalmente, centralidade ao papel da mulher por meio da educação formal na
luta contra a exploração colonial vivenciado por elas em Angola, através
principalmente da figura emblemática de Deolinda Rodrigues.
12
WHEELER, Douglas; PELISSIER, René. A História de Angola. Ed. Tinta da China. Lisboa, 2009.
Pág. 32.
13
NETO, Teresa José Adelina da Silva. Contribuições a história da educação e cultura de Angola:
Grupos nativos, colonização e a independência. tese de doutorado, UNICAMP/Biblioteca Central,
seção circulante.2005, p. 56.
angolana, isto, começa a se modificar. Com a expansão Imperialista dos países que
se reuniram na conferência de Berlin (1885), onde foi estabelecido que o direito às
terras na África fosse reconhecido pela ocupação efetiva e não mais pelo direito
histórico.
Deste modo, legitimou-se a divisão territorial do continente africano,
conhecido como a partilha da África, e assim, as potências ocidentais adentram cada
vez mais, com legitimidade o processo de exploração das colônias africanas.
Resultante disto, o Estado português adota políticas de ocupações em territórios
angolanas, dividindo e delimitando em uma serie de distritos e subdistritos,
tornando a região de Luanda a parte central de Angola.
VARIA HISTÓRIA, Belo Horizonte, vol. 30, nº 53, p.507-532, mai/ago 2014. p. 512
ao cristianismo mais também ao ensino da língua portuguesa e da escrita, porém, o
ensino era ínfimo detendo-se apenas a poucas regiões de Angola.
– Bailundo
16
Na versão original a frase igreja episcopal metodista não está em destaque (grifos meus).
WHEELER, Douglas; PELISSIER, René. A História de Angola. Ed. Tinta da China. Lisboa, 2009.
p. 126.
17
PAREDES, Margarida. « Deolinda Rodrigues, da Família Metodista à Família MPLA, o Papel da
Cultura na Política »,Cadernos de Estudos Africanos [Online], 20 | 2010, posto online no dia 22
Julho 2012, p. 12. consultado 17 Dezembro 2014. disponível em URL: http://cea.revues.org/135 ;
DOI : 10.4000/cea.
passaram pela educação Metodista, destaca-se a figura emblemática de Deolinda
Rodrigues, a qual faz denúncias das contradições existentes na educação formal
metodista.
18
O MPLA em sua formação deu-se aos poucos, por intelectuais angolanos pertencentes a uma
pequena burguesia mestiça urbana de Luanda. Os principais nomes que viriam compor o movimento
eram de Viriato da Cruz, Mario Pinto de Andrade e Agostinho NETO. Nomes estes, que já faziam
parte de outros pequenos grupos nacionalistas, como PLUAA – Partido de Luta Unida dos Africanos
de Angola, o MIA (Movimento para a Independência de Angola), o MINA (Movimento pela
Independência Nacional de Angola) e o PCA (Partido Comunista de Angola). A junção desses
movimentos dera origem ao MPLA. Após sua consolidação, o movimento e seus membros são
formados por mestiços, assimilados e brancos, assim como o grupo étnico Ovimbundo .
começou a atuar nos movimentos de libertação nacional. Em 1956 tornou-se
membro do movimento nacionalista angolano19.
Sendo filha de professores do ensino primário, ela, como os pais, passou
pelo processo de assimilação e acabou vivenciando “dois mundos”20: o mundo
branco, das estradas pavimentadas e da educação formal colonial, no bairro
Operário, e o mundo dos negros, através dos musseques21. Os primeiros foram
construídos no centro de Angola, para as elites portuguesas que viviam naquela
região. O segundo eram lugares periféricos para onde os angolanos foram
deslocados. Deveriam ser longe dos centros, como a vila Salazar onde viria a residir.
19
BARROS, Liliane Batista. As cartas da Langidila: memórias de guerra e escrita da história.
Revista do Programa de Pós-Graduação em Estudo de Linguagens.Universidade do Estado da
Bahia – UNEB. Departamento de Ciências Humanas – DCH I.NÚMERO 06 – Junho de 2013.ISSN:
2176-5782. S/P
20
PAREDES, Margarida. Women’s History. Online Publication Date: Mar 2019 DOI:
10.1093/acrefore/9780190277734.013.485. acessado em: (PDF) Rodrigues, Deolinda em Oxford
Enciclopédia | Margarida Paredes - Academia.edu
21
“Musseque inicialmente designava os terreiros agrícolas arenoso situados fora da orla marítima,
passando mais tarde a nomear os bairros pobres situados nas franjas da cidade de Luanda”
(MARCEDO, 2008. p. 115)
A educação de Deolinda se dá por meio da igreja Metodista, iniciando os
estudos na escola da missão. Apenas uma minoria de angolanos conseguiam o
acesso à educação formal. O governo Português nunca investiu em escolarização
para todos os angolanos. Temia o surgimento de resistências. Segundo Lúcio Lara,
“em 1948, nos dois liceus existentes em Luanda e no Lubango, não se encontravam
mais de cinco estudantes negros matriculados”22. O pouco que o governo colonial
fazia era com o objetivo de impor seu projeto colonial. Mesmo existindo diversas
línguas nacionais, “como: Kimbundo, Umbundu, Kicongo, Tchokwe, Mbwela,
Mbunda, Yaka e outras”, o “colonizador impôs sua língua para melhor governar e
proibia que os nativos falassem suas línguas de origem”23. O domínio da língua
portuguesa era um dos demarcadores no processo político de assimilação, Fanon,
2008 aponta:
22
LARA, Lúcio. Documentos e comentários para a história do MPLA (até Fev. 1961). Publicações
Dom Quixote, Lda. 1999. p. 36
23
SANTOS, Virgínia Inácio dos. A Situação da Mulher Angolana uma Análise Crítica Feminista
Pós-guerra. Mandrágora. Vol. 16, nº. 16 (2010). p.41
24
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EdUfba, 2008, p. 34
25
Mãe de Agostinho Neto, primeiro presidente de Angola.
Rusga. Perto do chafariz encontrei o Roberto e o Zeca presos, sentados
já no chão. Aproximei-me e expliquei ao polícia que eles eram tão
estudantes do liceu como eu. Diz que não quer saber e mandou-me
embora. Afastei-me um pouco, mas continuei a barafustar. Mandou os
miúdos embora. Parece que houve nada com o Delegado que foi ao
liceu às sete por causa da ginástica. O que é que somos aqui em Luanda?
Tudo, menos seres humanos. Até quando esta merda de vida?26
26
RODRIGUES, Deolinda. Diário de um Exílio sem Regresso. Editorial Nzila, Lda, 2OO3. p. 30
27
RODRIGUES, Deolinda. Diário de um Exílio sem Regresso. Editorial Nzila, Lda, 2OO3.
Deolinda, acreditava que se os angolanos aprendessem a ler e a escrever,
se também tivessem uma educação formal, seriam capazes de compreender e se
rebelar contra o sistema colonial português. Vale ressaltar que a educação tinha que
partir deles e por eles, este é um dos motivos pelo qual Deolinda crítica as missões
metodistas “Por isso é que a lenga lenga dos missionários são palavras vãs; a
realidade prática é outra. Por isso é importante chegar a um acordo digno com os
ianques, os portugas, etc”28. Além dessas crenças educacionais, Deolinda fazia
muitas outras críticas a educação Metodista.
A. Dina disse-me pra não fazer política (não sei como desconfiou ou
descobriu as reuniões passadas) pra não arranjar encrenca aos
missionários, à igreja e ao instituto. Nem lhe respondi. Onde for, vou
sempre falar das condições na terra. Lixem-se lá as missões e o resto. A
minha família, o meu Povo vale mais que todo o resto29
28
RODRIGUES, Deolinda. Diário de um Exílio sem Regresso. Editorial Nzila, Lda, 2OO3. p. 105
29
IDEM, p. 37
30
RODRIGUES, Deolinda. Diário de um Exílio sem Regresso. Editorial Nzila, Lda, 2OO3. p. 31.
a ideia de uma Angola independente. Por outro lado, Deolinda Rodrigues faz uma
crítica aos próprios missionários, pois, nesse contexto os missionários não sentiam
o peso colonial, não sentiam a pressão do racismo, além da pobreza.
Apesar de muitos estudantes se articularem dentro da igreja, a igreja
metodista nem sempre compactuavam com as ideais defendidas pelos estudantes de
uma Angola independente, Deolinda escreve:
Quando já estou arrasca cá volto. Hoje trouxeram de volta os exemplares
do vocabulário fiote-português porque estão com a linguagem dos padres
e por aí fora “A Voz Missionária” voltou porque cheira a imperialismo.
Reconheço que não devia ter mandado nada disto, mas assim é que
aprendo. Tenho de esforçar-me por fazer todos os trabalhos o melhor
possível, ainda que dê mais trabalho e leve mais tempo. Outra coisa:
tenho de acabar com a correspondência para os Estados Unidos, excepto
os angolanos que lá estão. O resto acabou. Por receber “A Voz
Missionária” sou capaz de estar já ao serviço do imperialismo. Preciso de
corrigir os erros, levantar a cabeça e continuar a marchar, pelo menos
fazer o melhor para a revolução31
31
RODRIGUES, Deolinda. Diário de um Exílio sem Regresso. Editorial Nzila, Lda, 2OO, p. 90-91)
32
FANON, Frantz. Os Condenados da Terra. Prefacio de JEAN PAUL SARTRE, Tradução' de José
Laurênio de Melo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. p. 31
meio da língua, foi também ressignificado e utilizado como formas de resistências,
articulações e denúncias no contexto colonial de intensas repressões.
A Missão serve-nos de lugar do movimento clandestino (no escuro e no
1º andar) e com o padre Andrade (“esta batina atrapalha-me”). Até nas
reuniões de oração, nossos olhos falam política, mas a D. Doroteia pensa
que estamos a meditar na “palavra do senhor”. Estes missionários são
bons cachorros e pensam que não vemos nem sabemos a patifaria deles,
filhos da mãe. É fácil ser cristão quando se vive bem como eles: não
passam fome, não andam a pé, não são humilhados (...)33
33
RODRIGUES, Deolinda. Diário de um Exílio sem Regresso. Editorial Nzila, Lda, 2OO3, p.31.
disponíveis em site “virtuais” como Biblioteca digital de Coimbra, Associação
Tchiweka de Documentação (ATD), jornais angolanos, e a fundação Mario Soares.
A Metodologia aplicada posto em pratica através da análise do Diário
pessoal de Deolinda intitulado: “Diário de um exílio se regresso”, o qual
possibilitará compreender a trajetória do dia-a-dia de Deolinda Rodrigues
juntamente do processo de independência de Angola.
Tratar a educação formal em Angola através de mulheres angolanas que
estudaram através da igreja metodista unida e suas influencias na luta anticolonial,
não é tarefa fácil. Para compreendermos de forma mais profunda tal temática,
buscaremos como base teóricas pesquisas que verse sobre como este tema. Para
isto, trabalharei com a seguinte bibliografia: Douglas Wheler e René Pélissier
(1978) que descreve desde os primeiros contatos de europeus e grupos étnicos
africano, perpassando pela formação de Angola e os primeiros ecos pela
independência de Angola, assim como a presença das missões.
Laurindo, Vieira (2007), fazendo um aparato sobre a dimensão ideológica
da educação em Angola buscando compreender a formação educacional em
Angola, antes da independência, assim como a instalações das missões metodistas.
Margarida paredes (2010), analisando a igreja metodista e o movimento MPLA
através dos escritos de Deolinda Rodrigues, o qual a autora faz uma análise da
educação de Deolinda através da igreja, sua entrada no MPLA e as críticas relatada
por Deolinda Rodrigues em seu Diário pessoal.
No aporte teórico para compreender a situação das mulheres negras em
busca de emancipação e se pensar em epistemologias que convergem com isto
usaremos os escritos, assim como a mulher inserida na política e na busca pela
emancipação, Davis (2016); (2017); (2018). Para pensar o processo colonial
desenvolvido pela Europa que subjugou homens e mulheres africanos de forma
animalizada, construindo hierarquias de uma suposta superioridade para poder
legitimar a própria colonização de corpo mais também de mente, usaremos Fanon
(2008); (1968). Neste mesmo seguimento, para com compreender o processo
colonial e a exploração do homem negro usaremos Cesarie (2021).
Considerações Finais
Deolinda Rodrigues através de seu diário íntimo releva uma história contada a partir
das suas vivências, discute a luta econômica presente em Angola, o cotidiano
vivenciado pelo povo angolano, as denúncias sobre o colonialismo português e
como a educação formal juntamente com a Igreja cristãs foram aparatos do Estado
português na política de assimilação, mas que também contraditoriamente serviu
para a luta de angolanos contra o colonialismo a partir da educação formal.
Deolinda estava nas ações práticas da luta armada, por meio de suas ações
tanto no MPLA, como articuladora nacional pela “liberdade” de Angola, através de
suas aulas nos bairros periféricos de Luanda, assim como sua assistência aos
refugiados na Guiné. O diário pessoal analisadas acima dão-nos a possibilidade de
compreendermos que o processo de libertação do continente Africano foi complexo
e diversificado, assim como o processo de libertação das colônias africanas.
Segundo Wheeler (2009) “os acontecimentos colônias exerceram profundas
influências sobre os assuntos internos de Portugal. Da mesma maneira, os
acontecimentos em Portugal influenciaram os acontecimentos nas colônias”. Deste
modo, as decisões de Portugal influenciavam diretamente em Angola e vice e versa.
Por fim, cconsiderando essas questões, a lei 10639/03 possui um caráter não
só político como histórico, já que, o currículo escolar também se constitui
eurocêntrico e excludente com a história da África e afro-brasileiro. Deste modo,
fechamos esta pesquisa destacando que apesar de Deolinda atuar também como
interlocutora na luta pela libertaçãp de Angola, sua história ainda permeia em uma
zona de “anonimato” pelo próprio desconhecimento sobre a história da África, pois,
os currículos foram pautados em uma história branca/européia. O “anonimato” de
certo modo também ocorre em seu próprio país graças a várias versões sobre a
revolução de independência
Referências