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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS


Pedagogia - UC Fundamentos Teórico Práticos do Ensino de História
Prof. Dr. Cléber Santos Vieira

Andressa Aparecida Silva - RA 135.749


Eloisa Torrão Modestino - RA 135.286
Natália Bissiato Fernandes da Silva - RA 128.351

Atividade 2. “Ensino de história, diversidade étnico-racial e multiculturalismo e a


permanência da pedagogia do cidadão”. Discuta o tema acima.

Para compreender o ensino de história no Brasil, no que tange aos aspectos étnico-
raciais, faz-se necessário entender seu desenvolvimento ao longo dos tempos.
Segundo Furet (1986), o ensino da História, num recorte europeu, teve início a
partir da ideia de se constituir uma noção universal de nação, ou seja, uma nação
hegemônica e uniforme. No entanto, se “a história é a nação; a história é a civilização”
(FURET, 1986), considerando-se que esta civilização é plural e complexa, então é
possível afirmar que há um processo de exclusão, desde o princípio, de determinados
sujeitos e suas narrativas, renegando a estes o não lugar dentro da história e o não
pertencimento à nação, corroborando com seu apagamento histórico.

“Trata-se, portanto, de formar, através do ensino da história,


uma ciência social geral, que ensine ao mesmo tempo aos
alunos a diversidade das sociedades do passado e o sentido
geral da sua evolução. Mas esse passado continua a ser
“genealógico”, escolhido em função daquilo que se pretende
anunciar ou preparar: a Antiguidade clássica, a Idade Média
cristã, a Europa moderna e contemporânea. As outras
sociedades, espalhadas no espaço, são abandonadas a outras
disciplinas. A história só concede a honra de se interessar por
aquelas que participem da “evolução”, que é o outro nome do
progresso.” (FURET, 1986)

No Brasil, em específico, o ensino da história buscou ressaltar uma visão


hegemônica dos fatos, com a criação de uma identidade comum a todos, algo
“harmonioso” e não conflituoso. Assim, colocou-se as populações indígenas e negras
num lugar de cooperação, ou mesmo de subalternidade, com o projeto colonizador
europeu.
A fim de garantir esta perspectiva do que foi a História, conjuntamente com a
escola, institucionalizou-se uma “memória oficial” (NADAI,2002), que acabou por
legitimar o projeto político da dominação burguesa. Destarte, a escola acabou sendo o
berço da formação da elite cultural e política, colocando-os em lugar de protagonistas da
construção da nação, em detrimento às especificidades e subjetividades de outros grupos
sociais.
Após anos desse projeto de nação sendo posto em prática, somente a partir da
década de 1970, com a entrada das camadas mais pobres da sociedade nas escolas, deu-
se uma revisão do ensino da história. Ficando claro como o acesso dessas pessoas, com
suas perspectivas, foi de suma importância para os processos de reflexão sobre
protagonismos e apagamentos.

“A história se apresenta, assim, como uma das disciplinas


fundamentais no processo de formação de uma identidade
comum - o cidadão nacional - destinado a continuar a obra de
organização da nação brasileira.” (NADAI, 2002)

A partir das contribuições de Bittencourt (2007), é possível compreender como se


dá a relação entre história escolar e constituição da identidad e (Bittencourt, 2007),
tomando com primeiro exemplo o ensino de história durante o período republicano, no
qual, até 1940, o movimento de identidade nacional baseava-se no fortalecimento de um
nacionalismo patriótico e de uma história nacional fundamentada em um passado
homogeneizador, sem conflitos, como uma Pedagogia do Cidadão, na qual somos todos
iguais em nossa identidade nacional, ignorando as diferentes experiências étnico-raciais
na história, a fim de constituir uma grande nação moderna com bases europeias. Nesse
momento, o currículo nacional, que apresentava o ensino de história subdividido em
história sagrada e história profana, foi substituído pelo ensino da educação moral e cívica,
história da civilização, subdividindo os povos entre civilizados e atrasados, a fim de
estabelecer a cronologia de um pressuposto progresso social a partir do triunfo europeu,
justificando a colonização dos povos primários e afro-brasileiros.

É também nessa perspectiva do ensino de história como fundamental para a


constituição da identidade nacional, que a partir dos anos 80 da segunda metade do século
XX, após o período de ditadura brasileira e o retorno de militantes e intelectuais exilados,
como Paulo Freire e Darcy Ribeiro, que se problematizou o ensino brasileiro, revendo a
grande comum curricular das escolar e os métodos para o ensino de história, uma vez que,
nesse momento, havia, também, a influência das mídias, como a televisão, e de acordo
com a autora, as pessoas conheciam o Brasil e a sua própria constituição identitária e
territorial apenas pelas telas e não pelo conhecimento trocado no ambiente escolar.
Durante a gestão de Paulo Freire, frente à Secretaria de Educação do Estado de São Paulo,
houve a reorganização curricular pela via da interdisciplinaridade e foi possível discutir
temas como identidade nacional e sentidos de pertencimento, proposta pelo Comitê
Educativo do Mercosul, em 1997. Nesse aspecto, é possível compreender a importância
da relação entre professores da educação básica e pesquisadores da área para que o ensino
de história seja coerente com uma educação libertadora e honesta com a constituição de
identidades sociais e para a redefinição das identidades nacionais.

Contudo, cabe ressaltar, que apenas a partir dos anos 2000 surge a lei 10.639/2003,
que garante a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana em
todos os níveis da educação básica do país. E o parecer 3/2004, procedimento legal que
permite uma reflexão e apresenta uma resposta à demanda da população afrodescendente,
através de políticas de ações afirmativas e reparação, buscando reconhecer e valorizar a
história das populações negras, brutalmente atingidas pelo racismo. A lei permitirá, entre
outras questões, indagar como o ensino de história contribui para constituição da
identidade de cada indivíduo e da sociedade, identidade nacional, que influenciada pela
ideia de nação hegemônica, desconsidera a pluralidade de indivíduos e grupos.

Referências

FURET, François. O nascimento da História. In: Oficina da história. Portugal: Grandiva,


1986.

NADAI, Elza. O ensino de história e a “Pedagogia do cidadão”. In: PINSKY, Jaime


(org.). O ensino de história e a criação do fato. 10aed. São Paulo: Contexto, 2002.

BITTENCOURT, Circe Maria F. “Identidade e ensino de História no Brasil”. In:


CARRETERO, Mario; ROSA, Alberto; GONZÁLEZ, Maria Fernanda (orgs.). Ensino
da História e Memória Coletiva. Porto Alegre: Artmed, 2007.

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