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b) A partir dos fragmentos e textos acima, analise o vídeo “Mil trutas, mil tretas -
documentário" na perspectiva da implementação das diretrizes nacionais para a
educação das relações étnico-raciais e ensino de história e cultura afro-brasileira e
africana. Focalize na perspectiva pela qual os produtores do documentário
reconstruíram a história e memória da cidade de São Paulo.
A partir dos anos 80, a cidade de São Paulo foi o maior centro de produção e
difusão do rap nacional. Racionais MC’s, Rappin Hood e Sabotage são alguns dos
exemplos de artistas que vieram do epicentro paulista.
O documentário 1000 trutas, 1000 tretas dirigido por Mano Brown foi lançado
em 2006 como material extra do DVD musical com o mesmo nome. Com duração de
cerca de 70 minutos, apresenta a história da trajetória da população negra na cidade de
São Paulo e pretende ressignificar a memória do negro na cidade, sobretudo por meio das
trajetórias de ocupação do território paulista e suas contribuições artísticas nacionais e
internacionais. O centro é o palco de um questionamento fundamental: Onde está a
história negra na cidade?
Do período escravista ao trabalho livre, quilombos urbanos e irmandades,
organizações religiosas negras, que também atuaram na manutenção das tradições de seus
participantes, são citadas como organizadoras de fundos de emancipação da população
escravizada, passando também pelas moradias coletivas, única forma de habitação barata
no centro da cidade e criadas por ex escravos que se uniam como famílias para resistirem.
No documentário, a rememoração da história negra de São Paulo é recuperada.
As associações culturais e os bailes black são apresentados como espaços de produção
cultural onde o protagonismo pertencia aos negros. Nas entrevistas documentadas relata-
se que os bailes não eram efetivamente um espaço de reunião para organização política
em termos institucionais, observada na fala de Eduardo “Eu conseguia ver a força da
nossa comunidade, mas não o objetivo da nossa comunidade”, se constituindo mais como
um território de reunião em prol da valorização da cultura negra e em contraste com os
bailes brancos, e que se afastava da população negra que tinha mais acesso a educação
formal, relatado na falas de José Luiz. Contudo, também por parte de José o
reconhecimento dos bailes como espaços de reunião e resistência.
Como citado pelo historiador africano Ki-Zerbo, um povo sem história é como
um indivíduo sem memória, um eterno errante. A memória negra paulistana continua
sendo apagada. É o que acontece com o bairro do Bixiga, conhecido como uma região de
tradição italiana, mas historicamente é um espaço de presença negra desde o quilombo
Saracura até os dias de hoje com a Escola de Samba Vai-Vai, formada em sua maior parte
por negros. O mesmo acontece com o bairro da Liberdade. Conhecida território de
predominância asiática, mas teve em sua praça principal mercado de escravos e espaços
de torturas e assassinatos dos mesmos, palco do terrível massacre de José de Chagas,
acontecimento dá origem ao nome da praça. A nova estação de metrô denominada Japão-
Liberdade demonstra como uma escolha, aparentemente simples, contém em seu cerne o
racismo institucional marcado pelos processos de apagamento e esquecimento da
ocupação e das histórias negras sobre o território paulista.
Segundo Munanga, a história de um povo é onde se inicia o processo de
(re)construção de sua identidade. A história da África foi negada e contada a partir do
ponto de vista do colonizador, a memória e a identidade do negro no país foram destruída.
Assim, sua reconstrução passa pela superação da visão colonizadora e dominante no
ensino e aprendizagem da história.
A implementação da lei 10.639/03 veio justamente com o objetivo de buscar a
promoção de uma maior igualdade racial através da educação. A obrigatoriedade do
Ensino de História e Cultura da África e dos Afro-brasileiros, tendo em vista a superação
de um ideário escravista, pretende uma reconstrução da história de um povo.
“Geralmente a escola é o espaço em que crianças e adolescentes, negras
ou não, experimentam pela primeira vez o gosto amargo do racismo
institucional. A falta de identificação com livros didáticos, a negação
da possibilidade do protagonismo e o cerceamento das relações
afetivas constroem um quadro desmotivador. A insegurança, a omissão
e, em alguns casos, a rebeldia, são tratados institucionalmente como
casos isolados, consequências da personalidade individual. E assim, na
maioria dos casos, a resposta é a coerção.” (CAVALLEIRO, 2000 e
MUNANGA, 2005).
Referências
JÚNIOR, Álvaro P. Racionais fazem o retrato mais áspero de São Paulo. Jornal Folha de
São Paulo, São Paulo, 3 de novembro de 1997. Disponível em: <Folha de S.Paulo - Escuta
Aqui - Álvaro Pereira Júnior: Racionais fazem o retrato mais áspero de São Paulo -
03/11/97 (uol.com.br)>. Acesso em: 5 de março de 2021.