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PROTAGONISMO NEGRO: UM ESTUDO DE CASO DA MÚSICA

“PONTA DE LANÇA” DE RINCON SAPIÊNCIA E OS USOS E SÍGNOS


DA CULTURA NEGRA PRESENTES NO CERES - CAICÓ (2016-2017)

Maria De Fátima Silva1


RESUMO
O presente trabalho investiga de que forma o protagonismo negro é retratado pelo Mc Rincon
Sapiência na música “Ponta de Lança” buscando perceber quais são os recursos que ele se
utiliza para demonstrar a consciência de classe e emancipação racial na letra do rap. Buscamos
analisar o contexto da inserção da cultura negra nos diversos espaços acadêmicos no âmbito do
CERES - Caicó, tendo como objetivo não somente problematizar o status quo sobre o que é
considerado o lugar do negro na sociedade como também dialogar com as formas de resistência
e organização que há anos construímos para não sucumbirmos às inúmeras formas de controle
social. Metodologicamente nos utilizamos da História do Discurso, para verificarmos a relação
entre o discurso de Rincon Sapiência na letra da música, os discursos midiáticos e os
acadêmicos. Nesse sentido, nosso trabalho debate, em um primeiro momento, de maneira
analítica, a produção musical do rapper contextualizando-a com o discurso midiático. Em um
segundo momento trabalhamos com a produção de discursos acadêmicos sobre o povo negro.

PALAVRAS CHAVES: Movimento estudantil, Consciência de classe, emancipação racial,


rapper.

Data de submissão: 02 de dezembro de 2019


Data de aprovação:

INTRODUÇÃO

O RAP2, é um estilo musical produzido por um Dj3 e um Mc4. Predominantemente


negro, geralmente é tocado em festas/bailes que normalmente acontecem nos bairros periféricos
das grandes capitais e são frequentados por adolescentes de classe baixa.
Reflexo da vida dos que os escrevem – de modo geral, o rap é escrito por negros
marginalizados que falam sobre as dificuldades que enfrentam em seu cotidiano, como a
criminalização, as drogas, o presídio, a falta de oportunidades – com suas composições, os Mc’s
têm como finalidade conscientizar a população, criticar o sistema político, a militarização, as
relações sociais na forma como elas estão/são dadas, o preconceito. Enfim, buscam chamar a
atenção para a realidade vivida por pessoas negras, as quais, quase sempre estão à margem da
sociedade.
Tendo em vista que o espaço destinado a representação da cultura negra no Brasil
sempre foi muito restrita e que naturalmente lhe são relegados espaços marginalizados, o nosso
interesse na música “Ponta de Lança (verso Livre) como objeto de estudo ocorreu precisamente
por ela tirar o negro desse status quo. Ele surge exatamente a partir da exaltação dos traços
culturais; nomes importantes; da pessoa negra, não como algo exótico, mas como um ser,
dotado de qualidades e saberes, descendentes de reis. Há o enaltecimento do orgulho racial.

1
Discente do Curso de História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Centro de Ensino
Superior do Seridó (CERES), Campus de Caicó. E-mail: shaynna.92@gmail.com
2
Rítimo e poesia, do inglês Rhythm and Poetry.
3
Disco-jóquei do inglês disc-jóquei.
4
Mestre de cerimônia.
Em pesquisas feitas sobre a música negra em espaços acadêmicos, podemos perceber a carência
de trabalhos nesse espaço de produção científica, sendo ela pouco abordada como tema,
sobretudo o rap. O que não acontece com o povo negro, de modo que é vasta a produção
historiográfica sobre nós no Brasil, no entanto, muitas vezes esta não é retratada legitimando-
nos, bem como a nossa cultura e raízes.
Escrita predominantemente através de uma ótica eurocêntrica, o negro não é colocado
como agente histórico, mas como indivíduo coadjuvante e passível a alienação sendo tratado
como “incapaz de autodeterminação” (AZEVEDO, 1987, p. 13). Isso é decorrente de autores
que se apoiaram em ideais positivistas que defendiam por exemplo, a capacidade de sofrimento
do negro, criando uma espécie de hierarquia racial. Partindo dessa perspectiva, há, não somente
a romantização do sofrimento negro como procura-se justificar o processo de escravização
desse povo, reforçando a construção histórica e ideológica nas quais “os interesses materiais
das classes dominantes encontraram, no racismo, uma justificativa científica para (...) a
inferiorização da maioria dos brasileiros” (AZEVEDO, 1987, p. 14).
No entanto, em 1933, Gilberto Freyre, quebrou com o paradigma da desafricanização 5,
até então dominante nas produções científicas, com sua obra “Casa Grande e Senzala”, trouxe
à tona uma reflexão sobre a importância da cultura africana na formação cultural brasileira,
tanto no que diz respeito aos aspectos sociais, quanto culturais. Importância essa que se
constrói, sobretudo, a partir da contestação dele sobre a teoria de branqueamento ao afirmar que
“todo o brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo
(...) a sombra, ou pelo menos a pinta do indígena ou do negro. (...) principalmente do negro. A
influência direta, vaga ou remota do africano” (FREYRE, 2006, p. 367). Partindo de afirmações
como essa, Freyre rompeu, em parte, com as explicações racialistas que até então se propunham
a interpretar a história brasileira, e isso forçou a academia a pensar o negro por outra ótica.
Em contrapartida, no que tange à literatura potiguar tivemos o folclorista Luís da
Câmara Cascudo que, segundo o historiador Durval Muniz de Albuquerque Júnior, em seu
artigo “Mãos Negras, Mentes Gregas: as narrativas de Luís da Câmara Cascudo sobre as
religiões afro-brasileira (2010), buscou em sua vasta obra acerca da construção da cultura e do
povo brasileiro, “minimizar, reduzir, limitar o que seria a contribuição dos negros africanos
para a formação da sociedade da cultura brasileira” (2010. p. 14, grifo nosso) causando o que
Albuquerque Júnior chamou de “desafricanizar ou branquear a cultura popular brasileira”
(2010. p. 09). Tendo isso em vista, constatamos que é nesse contexto de negação acerca da
identidade, da atribuição negativa e da invisibilidade negra que se constrói a historiografia
desses povos, de modo que nós negros somos tratados como peças postas à deriva no tabuleiro,
não nos percebendo como agente histórico produtor de história e cultura.
Houve, contudo, afim de contestar essa invisibilidade, “o movimento Hip Hop, que
chegou ao Brasil, especificamente em São Paulo” (CONTIER, 2005, p. 02), aproximadamente
no final dos anos de 1970 e início dos anos 80. Sendo um movimento caracterizado pela
participação majoritária de jovens negros e periféricos os quais buscaram através do Disc

5
O conceito desafricanização aqui usado se aplica segundo a perspectiva de Lopes (2005), qual seja: um processo
por meio do qual de um tema ou de um indivíduo os conteúdos que o identificam como de origem africana. À
época do escravismo, a principal estratégia dos dominadores nas Américas era fazer com que os cativos
esquecessem o mais rapidamente sua condição de africanos e assumissem a de “negros”, marca de subalternidade.
Isto para prevenir o banzo e o desejo de rebelião ou fuga, reações frequentes, posto que antagônicas. O processo
de desafricanização começava ainda no continente de origem, com conversões forçadas ao cristianismo, antes do
embarque. Depois, vinha a adoção compulsória do nome cristão, seguido do sobrenome do dono o que
representava, para o africano, verdadeira e trágica amputação. Então, vinham as distinções clássicas entre “da
costa” e “crioulo”, entre “boçal” e “ladino”.
Jockey (Dj), Mestre de Cerimônia (Mc), do Break e do Grafite 6, denunciar de forma bastante
contundente a política (ou a falta desta) delegada ao negro e/ou aos espaços sociais que a nós
são impostos.
Concomitante a isto, na Bahia, mais precisamente em Salvador, como mostrou Araújo
Filho em “Protestos e manifestações afro-brasileiras na música negra baiana nos anos de 19807”
um ritmo novo era formado nos ensaios de blocos afro que revitalizavam as estruturas
percussivo-musicais que nos últimos anos haviam sido deixadas de lado pela desafricanização
do carnaval e a mercantilização dos espaços culturais que historicamente eram ocupados pelas
manifestações do povo negro, “mas que viviam tempos de baixa expressividade quanto ao seu
papel fomentador da cultura afro-baiana” (2016, p. 10).
Em seu trabalho Araújo Filho, buscou desconstruir mitos e preconceitos que pairam
sobre a música negra baiana, como o axé-music e o samba reggae – que ele chamou de “Música
Negra Popular Brasileira, da década de 1980” (2016, p. 32). Aqui temos um trabalho que
abordou o povo negro realmente como “sujeito narrador, com linguagem própria, consciente da
sua condição histórica” (20016, p. 13).
Com base no que foi exposto, e tendo em vista a luta negra em busca de autonomia e
reconhecimento, em nosso trabalho nos propomos a analisar, a música “Ponta de Lança” do Mc
Ricon Sapiência, enquanto estilo musical que trabalha de forma politizada o lugar do negro na
sociedade, pois acreditamos que quanto mais trazermos à luz o conhecimento sobre os
verdadeiros legados da cultura africana e sua importância na construção identitária brasileira,
mais fácil será transpor as barreiras do racismo estrutural8.

Outro motivo que justifica nossa escolha esteve relacionado a pouca produção
historiográfica no âmbito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) do Centro
de Ensino Superior do Seridó (CERES) de Caicó, que parta do negro enquanto indivíduo e
produtor de uma narrativa que o defina a partir do seu lugar de fala, sobretudo no campo da
História das Representações, de modo que
A relação de representação é (...) confundida pela ação da imaginação - essa parte
dominante do homem, essa mestra do erro e da falsidade - que faz tomar o logro pela
verdade, que ostenta os signos visíveis como provas de uma realidade que não o é.
Assim deturpada, a representação transforma-se em máquina de fabrico de respeito e
de submissão num instrumento que produz constrangimento interiorizado, que é
necessário onde quer que falte o possível recurso a uma violência imediata".
(CHARTIER, 1990, p. 22)
Ou seja, o que nos ocorre é que o negro e seus signos, normalmente, subsistem pela
representação de quem os constroem. Mas aqui trabalhamos com a música negra partindo da
perspectiva do que defendeu Antônio Neves, percebendo-a como “a música que aponta para o
novo ritmo que nasce como ingrediente para se contrapor, na rua, ao conservadorismo que se

6
Disc-jóquei na execução da música rap, é o agente social que faz os efeitos sonoros da música. Mestre de
cerimônias, são os rappers que cantam, compõem as músicas e animam os bailes. Break, estilo de dança,
normalmente executada por um indivíduo acompanhado por um grupo, onde cada um apresenta suas habilidades
separadamente. Grafite, uma forma de expressão plástica. Definições encontradas em: CONTIER, Arnaldo
Daraya. O Rap Brasileiro e os Racionais MC’s.
7
O único trabalho que encontramos ao pesquisar no acervo da biblioteca digital de monografias da UFRN, que
trabalha a música negra a partir da perspectiva de enaltecimento da cultura afro-brasileira. Disponível em:
<https://monografias.ufrn.br/jspui/> Acesso em 26 de nov. 2019.
8
Segundo Silvio Almeida, em “O que é racismo estrutural, 2018”, o racismo estrutural é o constrangimento
econômico, político e subjetivo ao qual os indivíduos negros são condicionados a conviverem na sociedade e que
são dados como comuns, deforma ocasionar prejuízos à pessoa negra. À esta discussão retomaremos mais adiante.
exprime pela ideologia dominante da falsa democracia racial, onde, os negros não passam da
‘cozinha’” (ARAÚJO FILHO, 2016, p.8).
Nessa perspectiva, nos propomos a perceber: Quais são os recursos que Rincon
Sapiência utilizou para demonstrar a consciência de classe e emancipação racial na letra do rap?
Como podemos pensar o contexto da inserção da cultura negra nos diversos espaços acadêmicos
no âmbito da UFRN-CERES - Caicó? Nosso objetivo é não somente problematizar o status
quo sobre o que é considerado o lugar do negro na sociedade como também dialogar com as
formas de resistência e organização que há anos construímos para não sucumbirmos às
inúmeras formas de controle social.
A fim de tornarmos verificáveis as hipóteses propostas em nossa pesquisa e viabilizar
a análise do discurso do MC na letra da música, nos utilizamos de fontes hemerográficas: “A
Folha de São Paulo”, o “Estadão”, o “EL País”, e a revista “Carta Capital “, elas nos auxiliaram
no sentido de percebermos as proporções e alcance que a música “Ponta de Lança” teve, bem
como a forma que ela repercutiu na imprensa, a leitura que a grande mídia fez dela, a percepção
sobre as críticas que o Mc traz nas entrelinhas de cada verso. A análise se deu através do arquivo
digital, tendo em vista que a circulação impressa não chegou em nossas mãos, pois os jornais
são correntes no estado de São Paulo, mas todos os arquivos encontram-se disponíveis na
internet, no site dos respectivos jornais, o que não impossibilita nosso acesso.
Fontes hipertextuais como o site e as redes sociais (Blog, Instagram e Faceboock) do
MC, a fim de percebermos os discursos do rapper e os conteúdos que estão sendo divulgados
sobre ele e seu trabalho. A Boia Fria Produções é a empresa responsável pela administração
dos conteúdos das mídias digitais do MC. Estes conteúdos também são acessados facilmente
através da internet.
O outro conjunto de fontes com o qual trabalhamos foram os planos de curso das
disciplinas obrigatórias no curso de História, História da África e dos Afro Brasileiros e no
Curso de Pedagogia, Educação Étnico-Racial, ambos da UFRN-CERES/Caicó. Estes
documentos encontram-se disponíveis no SIGAA (Sistema Integrado de Atividades
Acadêmicas). Sendo eles de uso irrestrito a toda pessoa que tenha interesse em pesquisar sobre
a grade curricular dos cursos, podendo ser acessado facilmente através do Google.
Metodologicamente nos utilizamos da História do Discurso, para analisarmos a
maneira como Rincon Sapiência exalta a cultura negra na letra da música, percebermos os
discursos midiáticos pensando a repercussão do hit, bem como os produzidos academicamente
no espaço e temporalidade de nossa pesquisa. Essa escolha ocorreu por acreditarmos que “na
análise do discurso, procura-se compreender a língua fazendo sentido, enquanto trabalho
simbólico, parte do trabalho social geral, constitutivo do homem e da sua história” (ORLANDI,
2009, p. 15).
Assim sendo, na construção do nosso trabalho, fizemos uma revisão da
bibliografia relacionada a música negra, realizando um trabalho de fichamento de obras
acadêmicas, nos âmbitos nacional, regional e local. Em seguida analisamos os jornais, revista,
sites e redes sociais do cantor e compositor Rincon Sapiência para tomarmos conhecimento
sobre o conteúdo que esteve sendo produzido, a circulação da música e a recepção entre o
público.
Nesse sentido, trabalhamos em um primeiro momento com a análise da produção
musical de Rincon Sapiência e os discursos midiáticos acerca do trabalho dele. Em um segundo
momento trabalhamos com a as atividades desenvolvidas, no âmbito da UFRN-CERES/Caicó,
buscando perceber quais discursos estão sendo produzidos academicamente sobre o povo
negro. Por fim, refletimos sobre a importância de nos entendermos enquanto sujeitos capazes e
conscientes de construirmos nossa própria história.
Este trabalho é fruto de um debate proposto pela organização política que a autora é
integrante, a LSR (Liberdade, Socialismo e Revolução) de Caicó, corrente interna do PSOL
(Partido Socialismo e Liberdade), que atua no movimento estudantil da UFRN-CERES-Caicó,
como oposição de esquerda dede o ano de 2016.

“BATEMOS TAMBORES, ELES PANELA”: EMANCIPAÇÃO, RESISTÊNCIA E


CULTURA EM ‘PONTA DE LANÇA’

A música Ponta de Lança (Verso Livre) é a faixa 13 do álbum “Galanga Livre”,


lançado em 25 de maio de 2017. É um afroRap 9 que tem um forte discurso acerca da exaltação,
emancipação racial, superação e resistência histórica do povo preto. “Nascido na Cohab I em
Itaquera, zona leste de São Paulo, Danilo Albert Ambrosio ganhou o apelido de Rincon em
homenagem ao jogador colombiano Freddy Rincón, ídolo no Palmeiras e Corinthians nos anos
de 1990” (ALESSI, 2017, s/n).
Composta por uma única estrofe com versos bem colocados, Rincon Sapiência
introduz a música de forma irônica, enaltecendo os símbolos da política e tradição africanas ao
mesmo tempo que dar de ombros se alguém tenta menosprezá-lo enquanto MC, nesse ínterim
reafirma o papel social, política e cultural do mestre de cerimônia, conforme percebemos
abaixo, respectivamente:
Salve!
OK!
Rincon Sapiência, também conhecido como Manicongo, certo?
Quando alguém fala que eu não sou um MC acima da média, eu falo
(Ahn? Ahn? Ahn? Ahn?)
Eu não entendo nada, pai!
(Ahn? Ahn? Ahn? Ahn?)
A cultura do MC ainda vive, certo? Se depender de mim
Vam'bora!

Ricon Sapiência, possui a característica de, em suas composições, incorporar um


conjunto de influências afro descendentes e africanas. As músicas além de, indiretamente,
estarem interligadas fazem referências a fatos históricos. No álbum “Galanga Livre” é
perceptível a representatividade da luta do povo negro, podendo ser percebido no próprio título,
pois Galanga se refere a um “nobre africano trazido escravizado para o Brasil e que foi
responsável pela compra e libertação de centenas de negros. Galanga Conguemba Ibiála Chana,
rei gongo, descendente do invencível Aluquene, um homem lendário que fundou, povoou e
unificou o Império do Gongo” (ALEXANDRE, 2012, p. 02)10.
Outro elemento que não podemos deixar de comentar é o já mencionado nome,
Manicongo, que inclusive integra o nome artístico do cantor, poeta e compositor, Danilo Albert
Ambrosio, ou Rincon Sapiência, como o estamos tratando. Manicongo era o título dado aos
reis/rainhas do Congo entre os séculos XIV e XIX, conforme explica a autora Marina de Mello
e Souza em “Reis negros no Brasil escravista: história da festa de coroação de Rei Congo”

9
Denominação criada pelo próprio Mc Ricon Sapiência.
10
Galanga, também era conhecido como Chico Rei, nome de batismo brasileiro. Na introdução do álbum, Rincon
Sapiência conta um pouco da história desse personagem lendário escrita em um poema autoral. “Crime Bárbaro”
que conta a história de vida de Galanga e traz críticas ferrenhas ao sistema escravocrata, ocupa a primeira faixa do
álbum do artista.
(...) Na linguagem corrente da época, o chefe era o mwene, sendo o rei o mwene
Kongo, segundo a grafia atualmente usada para escrever o kikongo. Os observadores
portugueses identificaram o rei como mani Congo e os chefes locais como mani,
seguido do nome da localidade que governavam, mani Sonho, por exemplo (2002, p.
353).
Nestes exemplos, já notamos tanto a presença de elementos da cultua africana no
trabalho do MC quanto a importância que esses têm para ele. Outra ressalva importante diz
respeito ao nome da música, “Ponta de Lança”. Em nossa análise defendemos a hipótese de ser
referência ao jogador Ponta de Lança (Umbabarauma) homenageado por Jorge Bem Jor em
197611 – em música de mesmo nome – que fala sobre a experiência de conhecer um
centroavante negro: “morei na França. Ficava entre França e Inglaterra, eu e meu primeiro
grupo, o Admiral Jorge V, e foi a primeira vez que vi esse jogador, negro, e tinha esse nome:
Umbabarauma... E o ponta de lança é porque ele jogava com ... Ele tava com a Camisa 10
(BEN, 2010). Nossa hipótese se confirma quando o MC diz no verso vinte e seis: “Raiz africana,
fiz aliança, ponta de lança, Umbabarauma” (SAPIÊNCIA, 2016), evidenciando a importância
da África para si e enaltecendo uma importante personagem da cultura e do futebol africano.
Para além dos nomes já mencionados, Rincon Sapiência convoca outras figuras
importantes em sua música e que possuem representatividade para o povo negro, como por
exemplo Nelson Mandela, na política, Leci Brandão, na música, Wesley Snipes, Lupita
Nyong’o e o personagem Django (Livre), na TV e cinema.
Meu verso é livre, ninguém me cancela
Tipo Mandela saindo da cela
Minhas linha voando cheia de cerol
E dá dó das cabeça quando rela nela12
Nesta primeira parte da música Rincon Sapiência exalta o seu trabalho comparando-o
a liberdade de Mandela13, reafirmando que quando começa a rimar, tem piedade dos
adversários. Uma brincadeira com as palavras que diretamente se refere ao jogo de pipas, mas
que indiretamente se refere as batalhas de rap.
Partiu para o baile, fugiu da balela
Batemos tambores, eles panela
Roubamos a cena, não tem canivete
As patty derrete que nem muçarela
Quente que nem a chapinha no crespo
Não, crespos estão se armando
Faço questão de botar no meu texto
Que pretas e pretos estão se amando
Quente que nem o conhaque no copo
Sim pro santo tamo derrubando
Aquele orgulho que já foi roubado
Na bola de meia vai recuperando
Na segunda parte, o cantor cita diretamente os acontecimentos políticos brasileiro de
2016 – o pedido de impeachment da então presidenta Dilma Rousseff – criticando a atitude dos

11
PONTA DE LANÇA AFRICANO (Umbabarauma). [Compositor e intérprete]: Jorge Ben Jor. In: ÁFRICA
BRASIL. Interprete: Jorge Ben Jor. Rio de Janeiro: Philips. 1976. 14 LP, lado A, faixa 1(3 min. 49 s). Disponível
em: < https://immub.org/album/africa-brasil> Acesso em: 29 de nov. 2019.
12
Para facilitar a análise, embora a música possua uma única estrofe como já mencionado, escolhemos por fazer
pequenos recortes.
13
Nelson Mandela (1918-2013) foi presidente da África do Sul. Foi o líder do movimento contra o Apartheid -
legislação que segregava os negros no país. Condenado em 1964 à prisão perpetua, foi libertado em 1990, depois
de grande pressão internacional. Recebeu o “Prêmio Nobel da Paz”, em dezembro de 1993, pela sua luta contra o
regime de segregação racial. Nelson Mandela. Disponível em: <https://www.ebiografia.com/nelson_mandela/>
Acesso em: 29 de nov. 2019.
populares em ‘bater panelas’ e a violência institucional naturalizada nas favelas. Faz a primeira
alusão as festividades e religiosidade afro-brasileira. Menciona o desejo que as garotas brancas
de bairros centrais têm nos negros, bem como enaltece os traços da cultura negra reafirmando
a beleza no cabelo black power, a emancipação racial e a consciência de classe que nós negros
estamos nos adquirindo.
Vários homem bomba, pela quebrada
Tentando ser certo na linha errada
Vários homem bomba, Bumbum Granada
Se tem permissão, tamo dando sarrada
Se o rap é rua e na rua não tem as andança, porra nenhuma
Fica mais fácil fazer as tattoo e falar sobre cor da erva que fuma
Raiz africana, fiz aliança, ponta de lança, Umbabarauma
De um jeito ofensivo falando que isso é tipo macumba
Espero que suma
Música preta a gente assina, funk é filho do gueto, assuma
Faço a trilha de quem vai dar dois
E também faço a trilha de quem vai dar uma
Esta terceira parte temos novamente a crítica contra a violência institucional e
naturalizada nas favelas, aos rapazes excessivamente musculosos. Há a apreciação do Funk,
mais conhecidos como bailes de favela, o respeito às mulheres e aos seus corpos, a reafirmação
da cultura do MC e do lugar de produção do rap, a raiz do povo negro, o enaltecimento da
cultura africana na pessoa de Umbabarauma, a crítica sobre a falta de conhecimento dos que
julgam a cultura negra – há uma frase naturalizada entre populares para se referirem a coisas
desconhecidas de modo um tanto pejorativo, “chuta que é macumba”, desqualificando esse
símbolo da cultura africana ligando-o preconceituosamente a rituais religiosos.
Eu não faço o tipo de herói, nem uso máscara estilo Zorro
Música é dádiva, não quero dívida
Eu não nego que quero o torro
Eu não nego que gosto de ouro
Eu não curto levar desaforo
Nesse filme eu sou o vilão, 300, Rodrigo Santoro
Eu enfrento, coragem eu tomo
Me alimento nas ruas e somo
Restaurante, bares e motéis, é por esses lugares que como
Anjos e demônios me falaram: Vamo!
E no giro do louco nós fomos
A perdição, a salvação, a rua me serve, tipo mordomo
Nestes versos Rincon Sapiência afirma ser uma pessoa ‘comum’ – e isso é importante
porque o aproxima do público – com sentimentos e ambições, diz que a música é um dom, mas
que no mundo do rap ele se propõe vencedor. Que há nas ruas uma variedade de coisas as quais
podem ser adquiridas, boas e/ou ruins. Usa uma metáfora para falar sobre prazeres e o cotidiano
de um trabalhador urbano.
Ao longo das 13 faixas do disco Rincon passeia por vários estilos musicais, como o
funk, o samba e a ciranda [...]. Apesar de algumas músicas de forte teor político e
social, sobra espaço para o romantismo e músicas de amor. “O cidadão normal
namora, transa, se diverte, se frustra, ele vive uma gama variada de experiências de
vida que o rap tem que representar”, afirma Rincon (EL PAIS, 2017, s/n).
É interessante ressaltarmos que em 2010 durante a produção do primeiro CD
independente, Rincon desligou-se do trabalho formal, no telemarketing, e iniciou uma jornada
de trabalho autônomo nas ruas, sobre isso há uma declaração no blog pessoal onde ele afirma:
“Elegância, que veio muito bem acompanhada pelo PromoTrampo Vol. 01, trabalho
de 4 faixas que estou comercializando a R$2,00, inclusive, estou escrevendo enquanto
relaxo um pouco, já que a produção de copiar cd por cd, dobrar as capas e guardar
dentro do plástico chega a ser cansativa depois de algumas horas” (SAPIÊNCIA,
2010, s/n).
Com isso percebemos que, embora passados seis anos, as músicas continuam trazendo,
também, as vivências do artista. Em 2014 ao lançar o segundo CD de rua, “SP Gueto BR,
Rincon havia retornado de viagem de Dakar, onde havia se aventurado por Senegal e
Mauritânia14. Já em 2016 para o lançamento de Galanga Livre, processo semelhante aconteceu,
no entanto, desta vez Rincon esteve em Mali, Nigéria e Zambia. Passou quase dois anos
estudando sobre cultura, comunidade negra, se propôs a conhecer de perto a vida, tradição, os
elementos artísticos e culturais dessas sociedades 15. Se dedicou também a observar o modo de
vida das pessoas negras e jovens de São Paulo, como podemos perceber em entrevista cedida
ao Estadão,
O álbum tem um processo total de um ano e meio, quase 2 anos, de mixagem,
produção, pós-produção, mas a Ponta de Lança foi uma música em que aconteceu
tudo muito rápido: gravação do clipe, produção, e tudo, e ela surgiu dessa rapidez,
porque, durante muito tempo, eu só saía para me entreter quando ia trabalhar. Aí
comecei a sair para me divertir mesmo, e curtir a noite e o comportamento da
juventude preta atual, que passa pelo lance de estética, de ‘meu corpo, minhas regras’.
Uma série de coisas que são novas para mim partiram desses lugares que comecei a
frequentar” (SAPIÊNCIA, 2017, apud DEL RÉ, 2017, s/n).
Para além de referências ao cotidiano nas ruas, a vida na favela, o trabalho, artistas de
TV, Rincon Sapiência também brinca com as palavras para falar sobre a beleza e qualidade de
sua música e trabalho, do reconhecimento, aceitação e afirmação da beleza e fenótipo negro.
Ao afirma não ter esquecido do passado há duas possibilidades a serem pensadas, a do passado
pessoal, pois para ele as raízes são coisas muito importantes do processo de formação de
identidade do indivíduo, mas também não isentamos a possibilidade de estar se referindo ao
passado histórico pela proposta principal do álbum ser a exaltação da cultura negra através da
reconstrução do nosso passado histórico.
Tô burlando lei, picadilha rock
Quando falo rei, não é Presley
Olha o meu naipe, eu tô bem Snipes
Tô safadão, tô Wesley
Eu tô bonitão, tá ligado, fei
Se o padrão é branco, eu erradiquei
O meu som é um produto pra embelezar
Tipo Jequiti, tipo Mary Kay
Como Mc, eu apareci
Pra me aparecer, eu ofereci
Umas rima quente, como Hennessy
Pra ficar mais claro, eu escureci
Aquele passado, não esqueci
Vou cantar autoestima que nem Leci
As vezes eu acerto, as vezes eu falho
Aqui é trabalho, igual Murici
Aqui percebemos a retomada de algumas ideias, onde o MC fala da beleza negra, neste
caso mais especificamente a feminina, personificada na atriz Lupita Nyong’o e na noite. Das
dificuldades enfrentadas pelas pessoas negras no cotidiano, se comparando ao tambor numa
roda de jongo, ao boneco Lango – Lango e principalmente a Django e Deus a Tarantino.

14
ENTREVISTA com Rincon Sapiência. Felipe Mascari. São Paulo: Rap TV, 2017. Vídeo (26 min). Disponível
em: < https://www.youtube.com/watch?v=DiJvKd2PQbs&t=1368s> Acesso em 29 de nov. 2019.
15
Idem.
Interessante perceber que mesmo nessa circunstância Sapiência usa elementos relacionados a
cultura afro-brasileira para descrever as situações não prazerosas da vida.
A noite é preta e maravilhosa
Lupita Nyong'o
Tô perto do fogo que nem o couro de tambor numa roda de jongo
Nesse sufoco, tô dando soco, que nem Lango-Lango
Se a vida é um filme, meu Deus é que nem Tarantino
Eu tô tipo Django
Nesta ‘última estrofe’ sentimos um tom de liberdade, o modo como o MC coloca os
versos, embora fale de amor, de dores e ilusões, fala também de “mudar de corações”,
remetendo-nos a liberdade de escolhermos onde queremos estar, de entendermos nossos
sentimentos, não nos prendendo a ilusões, sejam elas amorosas, sejam elas sociais. E conclui
“os preto é chave, abram os portões”, para nós essa afirmação soa como: nós estamos aqui,
conhecemos nossa história, não vamos retroceder, é “o movimento de retomada dos pretos e
pretas” (SAPIÊNCIA, 2017, apud ALESSI, 2017, s/n).
Amores e confusões
Curas e contusões
Fazendo minha mala, tô pique cigano
Tô sempre mudando de corações
Luz e decorações
Sorriso amarelo nas ilusões
Os preto é chave
Abram os portões

Após essas breves considerações sobre a música que aqui se configurou como nosso
objeto de estudo e afim de podermos realizar um trabalho mais qualitativo a partir de outros olhares
sobre esta produção de Rincon Sapiência, nos voltamos para os artigos dos jornais, revista e redes
sociais nos propondo a percebermos a recepção da música entre as pessoas na internet e em alguns
veículos de circulação impresso.
É importante lembrar que a música lançada oficialmente no YouTube no dia 26 de
dezembro de 2016, contou com mais de 3,5 milhões de visualizações em pouco mais de dois meses
– atualmente têm 22 milhões 555 mil e 232 –. Entre os dias 23 e 28 de dezembro – período de pré-
estreia e estreia – recebeu 2 milhões de visualizações no Facebook 5,4 mil comentários e 22 mil
compartilhamentos16. Atualmente o rapper possui 574 mil seguidores no Instagram e 285 mil
inscritos no canal do YouTube. Esses números são bastante expressivos, pois o artista ainda estava
consolidando a carreira. A música está disponível em plataformas como: YouTube, Spotty, é
consumida pelos mais variados públicos.
O artigo “Batemos tambores, eles panelas: Rincon Sapiência que matar o senhor de
engenho e ainda te fazer dançar”, publicado no EL País, na autoria de Gil Alessi, possui caráter
informativo, há mais a preocupação de apresentar o artista, falando sobre a vida e aspirações para
a carreira, a maneira como o álbum Galanga Livre foi produzido e algumas influências artísticas
na vida do MC. Para além disso fala sobre a opinião política de Rincon em relação ao então prefeito
Dória, e sobre os atos contra a ex presidenta Dilma Rousseff.
Na Folha de São Paulo, aparece a seguinte chamada: “Crítica, ‘Rapper se expressa com
acidez em versos curtos em ‘Galanga Livre’”, o artigo autoral de Maurício Amendola apresenta
uma análise mais técnica sobre o trabalho artístico de Rincon Sapiência, perpassando por várias
faixas do álbum recém lançado, fazendo breves comentários sobre versos que marcam as músicas.
Destaca que “a grande mensagem do álbum é a afirmação da negritude” (2017, s/n). Além disso

16
Informações retiradas do canal do Youtube e Facebook do MC.
outra questão bem pertinente que aparece no artigo é não dissociar o trabalho do rapper das
experiências pessoais vivenciadas: “as letras de Rincon perpassam outras experiências sociais por
meio de sua experiência como homem negro” (idem).
Adriana Del Ré, em o Estadão, faz uma análise não tão distante da proposta por Gil Alessi.
Também de caráter informativo o artigo discorre sobre vida e obra do MC. Intitulado “Rincon
Sapiência lança arrojado disco de estreia, ‘Galanga Livre’”, há dados sobre o público alcançado
com a estreia da música nas redes sociais, a agenda de shows do MC com informações sobre a
turnê na Europa, algumas informações sobre o processo de gravação do álbum e as faixas que o
compõe, além de algumas influências e inspirações que o impulsionaram na carreira.
Já o artigo da Carta Capital, de autoria da Boia Fria Produções e intitulado “Rincon
Sapiência: O resgate do Mestre de Cerimônia”, há o enaltecimento do trabalho de Sapiência,
destacando alguns aspectos da vida profissional, reforçando a forte identidade artística do MC, os
maiores e mais tocados sucessos. Salienta-se que a universalidade da música e dos temas abordados
pelo repertório dele é um dos motivos que favorecem a circulação do trabalho em outros espaços
sociais que não sejam necessariamente periféricos, mostrando que ele tem propriedade para falar
sobre os temas abordados em suas músicas.
Há em todos os artigos, uma abordagem diferente na apresentação do artista, nos jornais
“El País e Estadão” além do conteúdo limitado, as palavras são usadas de maneira a querer passar
para o leitor uma ideia de neutralidade sobre o trabalho do cantor, compositor e poeta, deixando a
impressão de que ele está na página porque está sendo um dos assuntos mais comentados no
momento.
Em à “Folha de São Paulo” embora seja uma abordagem mais técnica, mas o modo como
está escrito, proporciona a aproximação do leitor com o artista, despertando o interesse em
conhecer o trabalho dele. Em a Carta Capital, devido ao artigo ser de autoria da produtora
responsável pelas mídias sociais de Sapiência, notamos um discurso de exaltação, tanto do artista
quanto do trabalho dele.
Diante dessas colocações, percebemos, no entanto, que há uma uniformidade em relação
ao trabalho de Rincon Sapiência em todas as fontes analisadas e que está perfeitamente explicada
neste trecho: “A referência e a exaltação de temas relacionados à negritude e às raízes africanas
são frequentes nas músicas de Rincon Sapiência, que abordam a consciência e a valorização da
afrodescendência” (BOIA FRIA, 2017, s/n). Essa unanimidade nos confere que realmente há a
promoção da consciência de classe e emancipação racial no trabalho de Rincon Sapiência.

“OS PRETO É CHAVE, ABRAM OS PORTÕES”: PRODUÇÕES E DISCURSOS


ACADÊMICOS SOBRE O POVO NEGRO

A música na academia, é uma temática que necessita ser mais abordada, sobretudo
quando se trata da música voltada para a cultura negra, pobre e periférica, como por exemplo o
Funk, o Rap.
Enquanto expressão cultural a música surge não apenas como forma de divertimento
e prazer, mas, e principalmente, como forma de protesto e denúncia. É o caso do Rap, que
surgiu “historicamente contra os mecanismos da indústria cultural” (CONTIER, 2005, p. 06).
Pois, devido ao crescimento da produção musical que se formou após a década de 1990 no
Brasil, criou-se uma nova definição em torno da cultura musical, dividindo-a por classes sociais
e graus de importância.
Um dos aspectos que o historiador José Ramos Tinhorão trabalhou em sua obra
“História Social da Música Popular Brasileira”, é que a
“diversidade cultural é normalmente simplificada através da divisão da cultura em
apenas dois planos: o da cultura das elites detentoras do poder político-econômico e
das diretrizes para os meios de comunicação (...) e a cultura das camadas mais baixas
do povo urbano e das áreas rurais, sem poder de decisão política” (1998, p. 10).

Desse modo, efetuada essa divisão simplista que abarca a diversidade cultural, as
sociedades, normalmente, tendem a agir com desprezo à cultura do outro, mostrando-se alheios
e/ou ignorando sua importância, a história que está escrita nas entrelinhas de cada comunidade.
Pois deixa-se de atender ao pressuposto de que a cultura se forma através de semelhanças
coletivas de um povo, passando a se concentrar em uma determinada parcela da população e/ou
da sociedade, excluindo, automaticamente a outra que, por motivos variados – sejam
aquisitivos, político, voltados à educação – não se enquadram, fazendo com que o que antes era
coletivo torne-se, cada vez mais, limitado/privatizado.
A aversão social sobre qualquer vestígio cultural que realce traços da negritude traz
muitas vezes, além do desprezo, rejeição, isso porque ela é caracterizada pela desigualdade
social, que é decorrente do racismo estrutural, ou seja, os processos sociais que visam a
manutenção do status do negro como raça inferior, restringindo seu acesso aos direitos e
ascensão na sociedade. Essa manutenção sistemática confere a marginalização, não apenas do
negro enquanto indivíduo, mas, de toda uma história e cultura, é isso que o rap evidencia.
Conforme é afirmado por Arnaldo Contier, “o ritmo do rap implica numa escuta
atrelada a um gesto de recusa dos padrões culturais convencionais. As letras dessas canções
denotam denúncias de questões de matrizes étnicos e sociais” (2005, p. 06), pois, ainda segundo
Contier, “as estórias de vida dos autores do rap aflora, com nitidez, em suas letras: miséria,
desemprego, violência social, policial e sexual, o mundo das drogas” (idem), além de se propor
a um resgate da autoestima individual no sentido de “assumir a sua negritude e o orgulho de
suas ‘raízes’ culturais originárias da África” (ibidem). Talvez, esses sejam os principais fatores
que fazem do rap um gênero musical excluído dentre os considerados populares e ouvintes pela
sociedade.
Ainda sobre conscientização de raça e classe, ressalta Bruno Zeni em “O negro drama
do rap: entre a lei do cão e a lei da selva” que, desde o início da década de 1990, quando o Rap
chegou em são Paulo passou por constantes discriminações. No entanto, os Mc’s tomaram uma
postura intercalada entre a agressividade e o enfrentamento para, de maneira afirmativa assumir
uma atitude de satisfação em ser negro, desse modo, “o uso do termo preto” bastante difundido
e bem aceito entre os rappers, foi, por eles apropriado “de forma a transformá-lo de designação
depreciativa em motivo de orgulho” (ZENI, 2002, p 232). É nessa perspectiva de exaltação dos
signos e a cultura negra que o Mestre de Cerimônia, Ricon Sapiência escreveu o rap “Ponta de
lança” analisado aqui.
É interessante percebermos que socialmente houve uma espécie de segregação de
alguns elementos tidos como símbolos importantes na cultura negra, os considerados “puros e
civilizados” (SANSONE, 2000, p. 93), de modo que passou-se a ‘elitizá-los’ descaracterizando-
os ou separando-os da representatividade racial. Esse processo é decorrente do crescente
processo de “mercantilização” (Idem p. 89) sobre esses signos, como por exemplo acontecem
com o “carnaval e o samba”, no Rio de Janeiro e Salvador. Concomitantemente, houve um
depreciamento acerca de outros elementos como a Umbanda, a capoeira e a Dança de Jongo,
as quais são majoritariamente praticadas apenas pelas “classes baixa e média-baixa” negras e
“dificilmente são apresentadas como algo típico” da cultura brasileira (Idem, p. 90). Essa
segregação contribui para a perpetuação do preconceito e marginalização de elementos culturais
do povo negro.
Ressaltamos que esse processo de mercantilização simbólico da cultura negra,
acarretou não apenas a elitização de elementos e a segregação, mas impulsionou para que
cultura do consumo pautada na prática do turismo, por exemplo, se solidificasse em torno desses
elementos. É o caso do que ocorre na Bahia com “a capoeira, o carnaval, a culinária e alguns
terreiros de candomblé ‘mais puramente africanos’” (SANSONE, 2000, p. 98). Esse processo
também gerou a criação do estereótipo, que gradativamente foi se consolidando sobre outros
elementos culturais, tornando-os “exótico, selvagem e desconhecido, normalmente atribuído
aos suburbanos” (VIANNA, 1988, apud LIMA, 2002. p. 93).
É por termos ciência sobre isso que acreditamos ser importante abranger o estudo
acerca da cultura negra na academia. Em nosso caso específico escolhemos a música por
sentirmos que é algo mais próximo da população, facilmente acessada. “Ponta de Lança”,
atende nossos objetivos por ser uma música que traz em seus versos a importância da
conscientização racial, de classe e exalta elementos da cultura negra, além de se aproximar da
realidade de parte do público ouvinte. Pois as músicas negras como o rap e o funk, consumidas
por jovens, majoritariamente periféricos, não retratam apenas o cotidiano dos que a produzem,
mas também “rearticulam um discurso sobre o mito da democracia racial” (LIMA, 2002. p. 89).

Ao voltarmos nossos olhares para os cursos superiores que são oferecidos na


Universidade Federal do rio Grande do Norte no Centro de Ensino Superior do Seridó em Caicó
percebemos que há apenas dois cursos que oferecem disciplinas voltadas para a história do povo
negro, História e Pedagogia.
No curso de História/Licenciatura, há a disciplina “História da África e dos Afro-
brasileiros, ministrada pelo professor Lourival Andrade Júnior no segundo semestre desde o
ano de 2012 e possui carga horária de 60h. Traz na descrição: “História da África e dos
africanos. A luta dos negros no Brasil. A cultura negra no Brasil. O negro na formação da
sociedade brasileira”17 (SIGAA, UFRN, 2019). Tendo como objetivos: “Discutir a África
subsaariana atlântica e sua história; analisar a cultura africana subsaariana pré e pós-
colonialismo, refletir sobre a influência dos negros africanos no Brasil e relacionar a história
africana com a história mundial e brasileira” (Idem). Dentre os conteúdos aparecem temas
como: “Berço africano. Escravidão tráfico e resistência”, “A cultura afro-brasileira”,
“Candomblé, Jurema e Umbanda”.
Já no curso de Pedagogia, temos a disciplina Educação Étnico-Racial, com carga
horária de 45h. Ministrada pela professora Maria de Fátima Garcia, na descrição se propõe a
trabalhar sobre “estética do cabelo negro”, “Educação antirracista”, “Religiosidades afro-
indígenas-brasileiras”18 (SIGAA, UFRN, 2019). O principal objetivo é
Possibilitar aos estudantes o acesso às políticas e legislações das ações afirmativas,
fundamentos teóricos e metodológicos com vistas ao reconhecimento e valorização
da identidade, história e cultura dos afro-brasileiros e indígenas, bem como a garantia
de reconhecimento e igualdade de valorização das raízes africanas, indígenas,
europeias da nação brasileira (Idem).
Em ralação aos conteúdos ministrados temos, por exemplo, os seguintes temas:
“Diáspora Africana”, “Estudos Afro-Brasileiros: Movimento Negro Educador”, “Pesquisas e
Pesquisadores negros”, “Corporeidade; Estética negra; O cabelo afro”, “Artistas Negros

17
Todas as informações que aqui constam sobre a disciplina são tiradas do plano de curso cadastrado pelo professor
titular no SIGAA.
18
Idem.
invisibilizados: poesia, artes plásticas, literatura”, “O racismo e a escola/sala de aula – Imagens
que (de)formam”.
Consideramos esses temas bastante importantes para que possamos, minimamente,
conhecermos através da escrita de pessoas como Frantz Fanon, Nei Lopes e Alberto da Costa e
Silva, por exemplo, a história não contada nas escolas de ensino básico e nos livros didáticos
sobre o povo africano e as inúmeras contribuições culturais que herdamos deles.
Para além disso há também no espaço da UFRN-CERES/Caicó um laboratório
dedicado a estudos afro-brasileiros, indígenas e quilombolas, Laboratório de Educação
Aplicada às Novas Tecnologias, Mídias Interativas e Estudos Étnico-Raciais (LENTE),
coordenado pela professora Maria de Fátima Garcia. O laboratório é aberto diariamente e
desenvolve atividades durante os encontros semanais, com projetos que visam a desconstrução
de paradigmas sobre negros, indígenas e quilombolas, a inserção dessas culturas no meio
acadêmico e o diálogo entre a sociedade, a universidade e as escolas de ensino básico. São
estimulados a produção de recursos e materiais didáticos como bonecas Abayomis, contos,
fantoches, além das pesquisas. Os resultados dos trabalhos são normalmente apresentados em
atividades de extensão promovidas pelo próprio laboratório ou em outros eventos.
Importa também salientar que durante o período de 2014 a 2016 a UFRN-
CERES/Caicó ofereceu o curso de especialização em “História e Cultura Africana e Afro-
brasileira”, neste foi produzido o distinto artigo de especialização, “Protestos e manifestações
afro-brasileiras na música negra baiana nos anos de 1980”, de autoria de Antônio Neves de
Araújo Filho, já mencionado neste trabalho.
Através desse olhar, notamos que embora a instituição ofereça nove cursos de ensino
superior, apenas dois oferecem uma disciplina voltada a estudos afro-brasileiros. Que por mais
que disponha de um laboratório voltado a estudos afro-brasileiros, indígenas e quilombola, o
alcance das discussões e produções se restringem aos alunos e professores que o integram. Não
havendo – seja por falta de verba ou por falta de mãos dispostas a ajudarem – divulgação dos
trabalhos realizados em outros espaços do CERES.
Para além disso não há por meio de nenhum curso, administração ou entidades de
representação estudantil organização de eventos que possam pautar as questões do povo negro,
havendo uma espécie de invisibilidade desse público na instituição.
Diante do exposto, percebemos que, apesar de no meio acadêmico ter se iniciado a
crítica escrita sobre a influência e importância africanas na construção sociocultural brasileira,
no meio social e, sobretudo, político a população negra e seus signos continuaram sendo
marginalizados e alvos do racismo estrutural19, onde
O negro foi (é) obrigado a disputar a sua sobrevivência social, cultural e
mesmo biológica em uma sociedade secularmente racista, nas quais as
técnicas de seleção profissional, cultural, política e étnica são feitas para que
ele permaneça imobilizado nas camadas mais oprimidas, exploradas e
subalternas (MOURA, 1994, p. 160, grifo nosso).

Nesse sentido, entendemos que também é dever social contribuir para desmitificar e quebrar
os paradigmas acerca da cultura, signos e raça negra, de modo a contribuir com a construção do
conhecimento alternativo sobre nossas origens e/ou raízes.

19
Segundo Silvio Almeida, em “O que é racismo estrutural? 2018”, o racismo estrutural é o constrangimento
econômico, político e subjetivo ao qual os indivíduos negros são condicionados a conviverem na sociedade e que
são dados como comuns, de forma ocasionar prejuízos à pessoa negra.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante das evidências, consideramos o Rap propulsor da afirmação do indivíduo negro


na sociedade, o estudo desse estilo musical requer a compreensão de que não se trata única e
simplesmente de uma música periférica, mas de uma forma de resistência que procura burlar as
relações de poder e exclusão por uma sociedade que impõe “a agressão aos negros não apenas
socioeconômica, mas também racial, donde há grande diferença entre oprimidos negros e
outros” (MUNANGA, 2012, p. 58). Para além disso a música é também um mecanismo
formador de opiniões, intermediador das relações sociais e culturais, capaz de construir novas
perspectivas a partir da “busca de afirmação cultural e política das nações e do reordenamento
da sociedade de massas” (NAPOLITANO, 2002, p. 13), a música de Sapiência nos promove
esse desejo, de subverter a realidade posta sobre os signos e cultura negra: “Quanto mais a gente
inserir valores culturais nossos - pode ser o candomblé, a umbanda, capoeira, ciranda, funk, o
arrocha, sertanejo - de uma forma bem dosada, todos esses temperos enriquecem a nossa
música" (SAPIÊNCIA, 2017, apud ALESSI, 2017).
Embora consideremos insuficiente o modo como os estudos sobre negritude estão
distribuídos sobre os cursos da UFRN-CERES-Caicó, consideramos também que seja um
avanço e que as disciplinas e laboratório fazem um trabalho bastante pertinente para nos ajudar
a desconstruir e/ou construir conceitos, a perceber a maneira que o racismo é compreendido e
as formas que ele se estruturou historicamente.

FONTES

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DEL RÈ, Adriana. Rincon Sapiência lança arrojado disco de estreia, “Galanga Livre”. O
Estadão, São Paulo, 25 de jun. 2017. Disponível em:
<https://cultura.estadao.com.br/noticias/musica,rincon-sapiencia-lanca-arrojado-disco-de-
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ESTRUTURA CURRICULAR DO CURSO DE HISTÓRIA Licenciatura do Ceres/Caicó.


Disponível em:< https://sigaa.ufrn.br/sigaa/link/public/curso/curriculo/96085636 > Acesso em
01 de dez. 2019.

ESTRUTURA CURRICULAR DO CURSO DE PEDAGOGIA do Ceres/Caicó. Disponível


em: <https://sigaa.ufrn.br/sigaa/link/public/curso/curriculo/133495154 > Acesso em 01 de dez.
2019.
MANICONGO. Muitos dizem que é o clip do ano!. Blog spot. 15 de março de 2010.
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