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São Bernardo – MA
2022
João Victor dos Reis Silva
São Bernardo – MA
2022
SUMARIO
1 INTRODUÇÃO – TEMA E PROBLEMATIZAÇÃO
E de fato a fala não está errada, visto que o que vemos hoje são inúmeros casos e
relatos, não só no Brasil, mas no mundo, de negros sendo perseguidos e mortos “por
engano”, sendo vítimas de estereótipos e discriminação.
Mas no que tange à sala de aula - nosso foco aqui – não vemos com tanta ênfase,
a parte cultural negra brasileira, os autores, suas obras etc., todavia vemos
somente a parte do que diz respeito a escravidão, e o negro apenas como passivo,
que apenas aceita seu lugar nas margens da sociedade e principalmente como
objeto.
E com esse tratamento –ou falta dele – Domício Proença Filho ressalta para essa
questão em seu artigo “A trajetória do negro na literatura brasileira”, logo na
apresentação da obra: “A presença do negro na literatura brasileira não escapa ao
tratamento marginalizador que, desde as instâncias fundadoras, marca a etnia no
processo de construção da nossa sociedade.”
Ou seja, esse estereótipo do negro como objeto, está intrinsecamente ligada ao
preconceito racismo que o povo preto sofria e sofre até hoje perante a sociedade, mesmo
que o objetivo dessas obras seja de tema racial. E ainda nesse mesmo artigo, Domício,
nos traz exemplos onde o autor por muitas vezes “embranquece” o personagem negro,
para que caísse nas graças do público branco. Um exemplo que ele nos traz é o da
escrava Isaura, da obra de mesmo nome.
Entrando então na área da educação, mais precisamente, no tema desse projeto, que é
o ensino de autores negros pelo professor em sala de aula. É preciso que o professor de
português, quando tratar de obras literárias, dê espaço para obras de matrizes africanas
e/ou de autores afro-brasileiros, que os mostre como protagonistas dessas histórias.
A Lei 10.639 de 2003, que tem como objetivo a inclusão do estudo da história da
África, bem como dos africanos. Adenta Atenta também para a história da luta dos
negros no Brasil, bem como sua história, cultura e contribuições para o país. Embora
tenhamos essa lei vigente, é de praxe que nem tudo acontece como deve ser, muitas
escolas ainda enfrentam dificuldade para implementar com exatidão os objetivos da lei.
Dessa forma, o que pretendo com este trabalho não é só mostrar e dissertar sobre a
obra afro-brasileira “Ursula” onde o negro é mostrado de forma “positivasaudável” e
humanizada, mas também formas de como trabalhar essa obra em sala de aula de 9º ano
do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio.
2 OBJETIVOS
3 METODOLOGIA
E por fim, Duarte ressalta a questão do publico alvo, ou seja, quem vai ler essas
obras. Obviamente temos majoritariamente negra, pois essas obras, por muitas vezes
irão retratar determinadas situações e relatos, que apenas quem é negro vai se
identificar. Claro que isso não quer dizer que outras pessoas não se atraiam ou que não
possam ler, é inclusive estimulado, já que devemos eliminar essa visão miscigenada e
preconceituosa da nossa sociedade, e isso só será possível se mais pessoas forem buscar
e entender a história das pessoas afro-brasileiras.
Domício (2004) diz que ao longo desse discurso literário nacional, podemos ter duas
visões sobre o negro, a primeira sendo ‘a condição negra como objeto’ onde segundo
ele, teremos uma visão distanciada sobre o personagem afro-brasileiro. E a segundo
sendo uma ‘visão do negro como sujeito’ onde por sua vez, irá surgir uma atitude
compromissada. E dessa forma, teremos “uma literatura sobre o negro de um lado, e do
outro uma literatura de negro”.
Sobre a visão distanciada, Dominicio (2004) a denomina como sendo:
Ou seja, mesmo existindo essas obras onde temos personagens negros, por muitas
vezes são caricatos ou caem nos mesmos estereótipos, reduzindo o negro apenas à
aquelas características pobres e vazias, descritas por um branco com visão eurocêntrica.
Fanon (1983) vê essa falta de representatividade e/ou caracterização mais humana do
negro como uma “tentativa de apagamento de toda a história, cultura e civilização
existentes para aquém ou além dos limites da sociedade dominante branca.”
Seguindo ainda na obra de Dominicio, seremos apresentados aos estereótipos que ele
juga – e eu também – serem os mais comuns de se encontrar.
Começaremos pelo ‘escravo nobre’, que é quando o negro por forçar seu
embranquecimento, consegue ascender na sociedade, mesmo que isso venha com muita
humilhação. E podemos citar como exemplo, personagens como Isaura, da obra Escrava
Isaura escrito por Bernardo Guimarães em 1872, onde ela vive todo o tipo preconceito
possível, mas mesmo assim, o aceita. E isso é uma das principais características desse
estereotipo, onde temos um negro que simplesmente “aceita” sua submissão e seu status
perante a sociedade, e agradecer por serem lhes concedido um tratamento “melhor”.
Temos também o ‘escravo infantilizado’, onde o negro aparece como um ser infantil,
serviçal e subalterno, que não consegue fazer nada e sempre é caracterizado como
desleixado, sujo e que por muitas vezes, aparece de forma animalesca.
Continuando, teremos o ‘escravo demônio’ que por conta da sua situação de escravo,
se torna fera, raivoso. Que por sua vez cai no estereotipo do negro ser alguém violento,
agressivo, bruto e sem coração. Como exemplo temos a obra de Coelho Neto, A
“família Medeiros” de 1892.
Se olharmos a fundo terão muitos mais tipos de estereótipos, todavia, coloquei estes
que juguei serem mais pertinentes apenas para exemplificar o quão distante essas obras
ficaram de representar o negro na sua totalidade. A visão de fato se encontra distante até
esse ponto, mas no fim do século XX, surgem autores vanguardistas que por sua vez,
tentaram resgatar a visão do negro como alguém mais humano. A literatura que antes
era sobre o negro, agora passava a ser do negro. E um dos autores que podemos citar é
Luís Gama (1850-1882), filho de uma escrava, é um dos primeiros a falar de amor por
uma negra em seu poema “Bodarrada” (“Quem sou eu?”).
Há cinzentos, há rajados,
Outro autor que podemos ressaltar é Lima Barreto (1881-1922), que em suas obras
busca retratar a realidade social urbana e suburbana da cidade do Rio de Janeiro, como
por exemplo, o romance ‘Clara dos Anjos’ (1922), que conta a história de uma mulata,
filha de um homem pobre do subúrbio, era iludida, marginalizada, traída e sofrida por
conta da sua cor de pele.
Embora tenham sim começado a aparecer essas vozes, nas décadas de 1930 e 1940,
só vamos ver um grande salto mesmo a partir de 1960, por meio de grupos de escritores
assumidos, com orgulho, negros ou descendentes de negros. E que se seguiu pelas
décadas posteriores até os dias atuais.
Sobre essa urgente reação e com o surgimento de grupos de autores negros que
visam uma visão mais justa e compromissada da personalidade negra, Domício (2004)
atribui essa tomada de decisão literária a:
Sendo assim teremos uma geração de autores preocupados com a diversidade cultural
e com a representação em obras do seu próprio povo, em prol de disseminar esse
embranquecimento e estereótipos do negro. E entre esses grupos que surgiram, vale
ressaltar a Associação de Negros Brasileiros, em 1945, o Movimento Negro Unido
(MNU) e em 1931, surge a Frente Negra Brasileira.
Embora tenham tido grande importância para com a disseminação da branquitude e
dos estereótipos da pessoa negra ao longo do século XIX até chegar aos dias de hoje em
suas obras como