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VI, Nº I (2016)
Dossiê Temático: História, África e Africanidades ISSN: 2317-1979
Resumo: O presente trabalho faz uma revisão sobre o samba como forma de verificar seu
processo histórico social e compreender seu valor no processo de formação cultural do povo
brasileiro. Este artigo teve a pretensão de demonstrar o prazer de ser o samba um símbolo da
cultura afrodescendente e sua contribuição para a formação da identidade musical brasileira. O
samba tem sua origem nas raízes africanas e foi configurado pelos afrodescendentes em amplas
vivências, transformando-se em um ritmo que traduz o sentimento e a essência do povo
brasileiro, adaptando-se as características e necessidades encontradas no Brasil ao longo do
tempo por sua história, suas conquistas e sua originalidade. Este enfoque tem como objetivos
identificar as denotações consideradas imprescindíveis do prazer de ser o samba um símbolo
da cultura afrodescendente para a identidade musical brasileira, compreender o samba como
expressão de sentimento de um canto retrato de outra história e averiguar a cultura negra na
miscigenação como precursora da identidade musical do Brasil.
Abstract: His work is a review of the samba as a way to check your social historical process
and understand their value in the cultural formation of the Brazilian people process. This article
has the intention to demonstrate the pleasure of being the samba a symbol of African descent
culture and its contribution to the formation of Brazilian musical identity. Samba has its origin
in African roots and was set up by the African descendants in broad experiences, becoming
over time by its history, its achievements, its originality and for being a pace that reflects the
feeling and the essence of the Brazilian people, adapting -if such characteristics and needs found
in Brazil. This approach aims to identify the denotations considered essential pleasure of being
the samba a symbol of African descent culture to the Brazilian musical identity, understand the
samba as expression of feeling of a picture corner of another story and verify the black culture
in the miscegenation as a precursor the musical identity of Brazil.
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Graduado em Licenciatura Plena em História pela Universidade Estadual do Piauí-UESPI. Especialista em
História Geral – INTA. Especialista em História e Cultura Afro-brasileira e Africana – NEAD/UESPI. Professor
do Ensino Médio no Estado do Maranhão. e-mail: ferreirasilva2002@hotmail.com.
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1. Introdução
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Ressaltar acerca do papel que esta cumpre, como conciliadora das diferenças
na perspectiva da formação da unidade identitária de uma nação, a partir de
um padrão homogêneo. A cultura nacional é composta de instituições
culturais, de símbolos e representações. Ela se forma a partir de três aspectos
inter-relacionados; a narrativa da nação – contada e recontada nas histórias e
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Embora já tenha sido asseverado pelo autor, um dos assuntos a ser visto em muita ênfase
no decorrer deste enfoque, em razão de um dos seus objetivos que permeiam seu objeto de
denotação – o samba, não se pode esquecer o fenômeno histórico da miscigenação e seu papel
na representatividade da identidade brasileira, em especial o desempenhado pelos negros.
na cultura que determinados políticos e intelectuais negros e brancos viam mais explicitamente
a singularidade de um país místico, isto é, formado pelas tradições herdadas de africanos,
portugueses e índios. E é em razão disso, ao contrário dos que celebram a convivência racial,
importante e harmoniosa, ao longo das décadas de 1940 e 1950 que essas noções de mestiçagem
e de democracia racial foram entrelaçadas na construção de uma identidade nacional. Aliado a
isso, foram constituídos como símbolos de nacionalidade, “expressões da síntese cultural
própria ao Brasil”, a exemplo do carnaval, capoeira, candomblé, samba, entre outros.
É necessário então, considerar algumas denotações a respeito de alguns desses símbolos
que, unanimemente, tem referência não só com o papel desempenhado pela cultura negra na
miscigenação precursora da identidade musical brasileira, como também por virem de encontro
com os objetivos pretendidos por este enfoque. Tais considerações também são devidas ao fato
de se respaldar em Nogueira (2006, p. 6) por já ter advertido que “a miscigenação que germina
no seio de uma convivência não espontânea”, nem passa a compor um cenário que toca
particularmente nas características regionais quando se trata de pensar na formação do povo
brasileiro.
Entretanto, antes disso, convém anotar o que relata Fiorentini (2016, p. 2) quando
categoricamente informa:
acordo com o autor, a diversidade da prática religiosa, satírica e cultural, foram ferramentas
utilizadas pelos negros, “como forma de aproximar-se da sua terra natal bem como de
resistência à imposição da cultura cristã ocidental pelos portugueses”.
No decorrer dos anos, no final de 1969, o compositor Martinho da Vila, segundo
Nogueira (2006, p.6), ao compor o samba enredo o qual foi cantado pela escola de samba
Unidos de Vila Isabel, no ano de 1969, embora não tenha se referido exclusivamente à cultura
negra como relevante e precursora na miscigenação e na identidade musical, em alguns de seus
trechos, se reporta a este aspecto, sendo exemplo:
Nesse ponto Nogueira (2016, p. 7) lembra que no mesmo samba enredo, o compositor
coloca lado a lado as pessoas do branco e do negro, relatando o caráter de “convivência
interetnica”. Entretanto, a autora ressalta que o sambista também chama a atenção na questão
do relacionamento entre classes, isto é:
Lá vem o negro
Veja as mucamas
Também vem com o branco
Elegante demais
No samba enredo em evidência, o que mais deve ser considerado em relação à cultura
negra como significativa na miscigenação e como precursora da identidade musical brasileira,
é o fato da possibilidade de identificação da “configuração de outros paramentos e elementos
que remetem aos costumes regionais caracterizados pela diversidade dos ritos e das
manifestações culturais”, nos versos:
Laiaraiá, ô
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Laiaraiá
Diante do Lundú, dança nascida na senzala da Bahia, Fiorentini (2016, p. 5-6) afirma ter sido
“o objeto de estimação entre os escravos e, com o passar dos tempos foi introduzido na
sociedade, chegando a ser proibida pelas autoridades que viam nela uma sensualidade e lascívia
pouco coerente com a época”. Quanto a capoeira, segundo Albuquerque (2016, p. 243), na
primeira metade do século XIX “era praticada pelos escravos e libertos. Jogar capoeira consistia
no uso de agilidade corporal e no manejo da navalha para golpear os adversários. E avançando
no tempo a autora esclarece que em 1993 a capoeira foi reconhecida como prática desportiva,
com a sua inclusão no âmbito do pugilismo ao lado do boxe e do jui- jitsu, e ressalta:
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Na elaboração de Sodré Apud Fiorentini (2016, p. 6-7) é esclarecido como eram essas
casas e onde o samba era tocado:
Nessa linha de pensamento respaldando-se em Fiorentini (2016, p. 7), pode-se dizer que
essas casas se tornaram significativos locais onde correlacionavam-se aspectos “sincretizados
e produto histórico das realizações sociais, políticas e culturais ao longo dos anos e elementos
da cultura africana que se mantiveram preservados durante esse período”. Aliado a isso essas
casas foram lugares onde houve tais manifestações, sendo que, na parte da frente “se
executavam músicas e danças mais aceitáveis no âmbito do status do período e nos fundos, ou
seja, mais escondido, o samba, a onde se fazia presente o elemento religioso”. Também
podemos destacar nas palavras de Napolitano (2002, p.34) que:
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Nas denotações de Lopes Apud Fiorentini (2016, p.07) é esclarecido que o processo
descrito acima produziu o samba como é concebido hoje, visto que a urbanização da cidade do
Rio de Janeiro e da comunidade baiana que lá residia na região conhecida historicamente como
“Pequena África”, o samba passou a ganhar feições urbanas:
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Nogueira (2006, p0.9) salienta que Paulinho da Viola contrapôs neste mesmo samba “a
imagem do negro, quantas vezes associada à de um povo fadado à submissão e desprovido de
civilidade” de um modo que “retrata a nossa herança escravista e, ao mesmo tempo, as lutas de
resistência do negro no Brasil”. Eis os versos que comprovam a literalidade da autora:
Nesse sentido, Nogueira (2006, p.09) enfatiza que “o significado da resistência aparece,
ainda ligado à contribuição dos negros à história da formação do povo brasileiro”. Na realidade,
por intermédio da arte e da religião e até da culinária, os negros foram disseminadores dos
valores da tradição, ao mesmo tempo em que imprimiram o sentimento de liberdade, sendo
estampado no trecho do samba enredo em evidência:
Guarda contigo
O que não é mais segredo
Que esse negro tem história, meu irmão
Pra fazer um novo enredo
Nesse âmbito vale também destacar alguns versos do samba “Mistura de Liberdade no
Brasil”, do compositor Aurinho da Ilha, também cantado por Martinho da Vila que segundo
Nogueira (2006, p.9), busca o resgate de fatos históricos ligados as lutas por liberdade,
resgatando as personagens que estiveram à frente da resistência e da opressão, como no caso
do Zumbi dos Palmares:
Nos Palmares
Zumbi, um grande herói
Chefia o povo a lutar
Só para um dia alcançar
Liberdade
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3.1. O prazer de ser o samba uma instituição símbolo da cultura afrodescendente para a
identidade musical brasileira
No relato de Nogueira (2006, p. 11) é denotado que a partir do final do século XVIII e
início do século XIX, houve um só entendimento de que a ideia de civilização era reportada “a
uma forma de cultura diferente de outras, em termos qualitativos”. Para a autora esse fato
fundamenta-se na justificativa de que a civilização significava o próprio ato de civilizar povos
não-ocidentais, levando-os a assimilarem os mesmos valores e os costumes dos europeus, bem
como esse fenômeno que a Antropologia especifica como “etnocentrismo”, marcou como bem
sabemos, o processo de colonização do Brasil.
Nogueira (2006, p. 12) acrescenta ao seu relato o fato de que a tendência da crença do
homem ver o mundo por meio de sua cultura, isto é, “visão etnocêntrica” – traduz-se num
fenômeno universal, onde a crença de que a própria sociedade seja o centro da humanidade.
Assim, a humanidade deixa de ser referência em detrimento de um grupo particular. Para Laraia
(2003, p. 72-73) a questão é que “tais crenças contém o germe do racismo e da intolerância que
são frequentemente utilizadas para justificar a violência praticada contra os outros”.
Nesse ponto há de se reconhecer novamente as considerações de Nogueira (2006, p. 11)
em virtude de, categoricamente, argumentar diretamente em confronto com o principal objetivo
deste enfoque, isto é considerar de ser o samba um símbolo da cultura afrodescendente para a
identidade musical brasileira:
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das identidades populares foi objeto de busca das elites desse país e de fora dele”. E a autora
assegura:
Brasil
Esquentai vossos pandeiros
Iluminai os terreiros
Que nós queremos sambar
Batucada
Reuni vossos valores
Pastorinhas e cantores
Expressões que não têm par.
Brasil
Meu Brasil brasileiro
Meu mulato izoneiro
Vou cantar-te nos meus versos
Ô Brasil, samba que dá
Bamboleio que faz gingar
Ô Brasil, do meu amor
Terra de nosso Senhor
Brasil, Brasil
Pra mim, pra mim
Há de se observar nesses versos que Ary Barroso ao escrever “meu Brasil brasileiro”
referiu-se ao seu país como se fosse um “mulato izoneiro”, levando a crer que seu país natal é
brasileiro em razão de ser filho de pai escravo e mãe preta ou vice-versa, com caráter intrigante,
sonso e manhoso, sendo o responsável pelo samba produzido, isso é, um balançar corpo,
quadris, gingar e rebolar.Posteriormente, o autor reporta-se aos antepassados africanos,
evocando termos de relevância ao berço natal da África, bem como as próprias raízes da
musicalidade que proporcionaram um Brasil para ele, nos versos que se seguem:
Desse modo em “abre a cortina do passado” para retirar a “mãe preta, do serrado” e
sobre o “Rei Congo, no congado” parece transparecer que a Mãe preta é a África devendo ser
recolhida do que é carregado de nuvens escuras, de difícil entendimento, visto a existência da
escravidão entre outros aspectos que educaram a Mãe Preta (África) densa, úmid, coberta por
esse tipo de nuvem.
Já o “Rei Congo” pode ser visto como o país natal para colocá-lo no congado que
segundo Fiorentini (2006, p.04) os descendentes dos escravos continuaram realizando essa festa
com “adornos no corpo e esquecendo temporariamente seus desencantos com a sorte, em festas
ao mesmo tempo profanas e religiosas”. Aliado a isso, em “Brasil, Brasil pra mim, pra mim”
Ary Barroso destaca os termos Mãe Preta e rei do Congo como símbolos africanos de formação
da identidade brasileira, em especial da sua identidade musical que é o samba.
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Brasil
Terra boa e gostosa
Da morena sestrosa
De olhar indiscreto
Ô Brasil, samba que dá ...
Nos versos acima, o Brasil é considerado como a Terra do samba que tem origem no
Brasil através da contribuição africana, já visto no decorrer deste enfoque. Entretanto, é
destacado o pandeiro, um dos vários instrumentos musicais tão comuns em nosso cotidiano
aportados em solo brasiliero vindos do continente africano. Comparando o fato, Lopes Apud
Fiorentini (2016, p.03) esclarece:
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que balança sozinho ao som do samba, a mão que batuca na mesa automaticamente produzindo
a percussão”.
Assim, consolidado o que já foi visto, Nogueira (2006, p. 13) já ressaltou em um texto
para a Universidade Católica de Goiás, denominado “Negros na Sociedade e Cultura Brasileira:
construindo uma nova consciência, que:
É por isso que, calar o samba é apagar a história real, a “outra” história, de
paixões e lutas, de conquistas e perdas, de derrotas e vitórias do povo
brasileiro. Calar o samba, por outro lado, pode obstruir o processo de abertura
por meio do qual o nosso país pode relacionar-se com outros e oferecer o que
ele tem de melhor: sua arte, sua cultura, seu senso estético, sua criatividade,
“expressão que não tem par”.
4. Conclusão
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como música nacional incluindo os sambas enredos das Escolas de Samba com repercussão
mundial.
Quanto ao papel da cultura negra na miscigenação como precursora da identidade
musical brasileira, não se pode negar que, ter a presença do negro e seus descendentes na
história brasileira, o samba não seria o símbolo que é hoje. Logo a cultura com sua religião,
musicalidade, culinária e outros aspectos, tiveram muita influência na construção da identidade
musical brasileira, sendo o seu maior destaque o samba.
Em relação ao conhecimento da construção da identidade brasileira, também não se
pode duvidar do papel do índio como brasileiro nativo, do europeu como seu colonizador
escravagista do negro africano, que aqui aportou e pode ser considerado o principal responsável
pela construção dessa identidade, inclusive o privilégio de sua cultura afrodescendente ter
propiciado o samba denotado como símbolo máximo da identidade musical brasileira.
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