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PERNAMBUCANA
Sumário:O presente trabalho, tem como foco a memória e a história dos movimentos
negros em Pernambuco, bem como as relações construídas por seus militantes no âmbito
político e cultural nas décadas de 1970-1980. Buscamos analisar parte do acervo
documental do Laboratório de História Oral e Imagem da Universidade Federal de
Pernambuco (Lahoi - UFPE), tomando como pontos de observação os discursos
movimentados acerca do 13 de Maio e do 20 de novembro, por meio de matérias
publicadas no Diário de Pernambuco. Entendendo estes dois momentos como pontos
privilegiados de investigação, visamos entender como o debate a respeito das relações
étnico-raciais brasileiras, do abolicionismo, do racismo, da cultura e memória negra se
apresentam nos jornais e movimentam uma série de elementos imagéticos-discursivos,
apontando, ainda que de modo indiciário, as mobilizações, contendas, negociações e as
ações efetivas de personagens ligados aos movimentos negros de Pernambuco. Vale
mencionar, que as décadas de 70 e 80 tratam-se de períodos significativos de intensas lutas
sociais, da consolidação de uma identidade afrodescendente e de um modo de ser negro,
consubstanciado, sobretudo, na denúncia da existência do racismo e da ideologia da
democracia racial.
MATERIAIS E MÉTODOS
Este projeto toma como parâmetros trabalhos de história já consolidados,
como os do Centro de Pesquisa e Documentação (CPDOC) da FGV, Rio de Janeiro,
ou também o Museu da Pessoa (http://www.museudapessoa.net/), além dos já
desenvolvidos aqui em Pernambuco pelo Centro de História do Brasil (CEHIBRA) da
Fundação Joaquim Nabuco, e Laboratório de História Oral do Departamento de
História da Universidade Federal de Pernambuco, em que essas instituições
contribuíram para colocar em circulação outras histórias e experiências vividas,
mesmo que de pessoas comuns, mas nem por isso menos dignas de registro. A
pesquisa em foco deverá sistematizar um significativo acervo documental sobre as
experiências sociais e culturais de negros e negras de Pernambuco, prescrustando a
documentação através do suporte teórico historigráfico.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os caminhos percorridos pelos(as) militantes negros(as) do Recife se inserem
num processo de disputa de significação de espaços e de memórias. Nesta direção,
caminham agenciando valores, ideias e discursos; reelaborando o passado,
prognosticando um futuro e tensionando o presente. Assim, a cidade do Recife vai
sendo matizada por cores de outras dimensões, que escapam ao “concreto” e flutuam
no mundo simbólico. À luz de Ítalo Calvino, Antônio Paulo Rezende pontua: "as
cidades representam mudanças e permanências, imaginários e cotidianos,
heterogêneos e grandiosos, para quem as vive, para quem as pensa, para quem se
envolve com as suas histórias"(REZENDE, 1999, p. 156). Além disso, como Guillen,
investimos na ideia de que “as relações de poder configuram paisagens, traçam
percursos, definem lugares, delineiam pertencimentos e identidades e, dessa forma,
constituem territórios.”(GUILLEN, 2018, p. 01)
Portanto, é fundamental rearfirmar a condição dos sujeitos, dos negros e
negras, enquanto agentes históricos. Ou seja, como indivíduos capazes de se inserir,
ao seu modo, entre aproximações e recuos, continuidades e rupturas, e interagir num
ambiente conflitivo de disputa. Aliás, reforçamos: "A paisagem memorial da cidade
do Recife, como de qualquer outra cidade, é o resultado de uma disputa política por
significar o espaço”(Ibid, p. 08). Homens e mulheres militantes, como Edvaldo
Ramos, Inaldete Pinheiro, Jorge Morais, Vicente Lima, Vera Barone, Telma Chase e
tantos outros, são personalidades atravessadas pelas disputas de poder e que nos
auxiliam na investigação do cenário político e racial do Recife. A imprensa, os grupos
de leitura, os congressos acadêmicos, até mesmo as celebrações da cultura negra (por
meio dos maracatus e dos afoxés1) foram canais retomados e desenvolvidos como
modo de tática de resistência contra a opressão racial. Daí manuseava-se tudo,
combatia-se pela ocupação de espaços pela negritude, pela promoção das atividades
culturais, debatia-se a abolição, a “ideologia da democracia racial”, o 20 de
1
Sobre a ocupação dos maracatus e dos afoxés como instrumento político dos movimentos negros do Recife,
ver: (LIMA, 2010).
novembro e a positivação dos quilombos e de Zumbi dos Palmares. Sendo assim, é
fundamental pensá-las.
CONCLUSÕES
O empenho desenvolvido nesta pesquisa caminha na direção de inserir a
negritude, em suas mais diversas faces e manifestações dentro do processo histórico,
da luta política, nos embates pela ocupação e valorização dos espaços. A luta contra a
discrimnação racial e a estratégia desenvolida pelos movimentos negros a partir deste
objetivo ajudaram a sedimentar toda uma série de camadas de signficação, de
valorização simbólica ocorridas em pernambuco e mais enfáticamente no Recife.
Ao fazer isto, compreendemos como a própria cidade do Recife formata-se a partir
destes gestos conflituais e conseguimos apontar para a desnaturalização das
identidades, das territorialidades, imbuídas de uma dimensão social, imersa nas
condições e relações de poder. Por fim, o que observamos em recife pode ser tomado
como padrão indiciário, mais ou menos comum, das direções percorridas pelos
movimentos negros brasilerios ao longo dos finais do século XX. É relevante
trabalhar este caso não como uma ilha desprendida de uma massa continental e por
isso mesmo fechada em si. Não entendendo-a como uma história do “regional”, mas,
verdadeiramente, inseri-la dentro de um todo mais amplo de práticas exploradas pelo
movimento social e da conjuntura política nacional.
AGRADECIMENTOS
Aos orgãos de fomento CNPQ, Capes; à Propesqi/UFPE pelo projeto PIBIC e a
Isabel Guillen (orientadora) pelo empenho e contribuição ao longo da pesquisa.
REFERÊNCIAS
GUILLEN, Isabel C. M.. Lugares de memória da cultura negra no Recife: inscrever a
memória na cidade. In: XIV Encontro Nacional de História Oral, 2018, Campinas.
Anais Eletrônicos do XIV Encontro Nacional de História Oral, 2018,
PINSKY, Carla Bassanezi (org). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto. 2005 pp.
111-153.