Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Junho 2020
IDENTIFICAÇÃO
INTRODUÇÃO
O presente projeto tem como foco a memória e a história dos movimentos negros em
Pernambuco, bem como as relações construídas por seus militantes com a cultura afro-
descendente nas décadas de 1970-2010. O propósito é ouvir lideranças, masculinas e
femininas dos movimentos negros e movimentos culturais afrodescendentes em Pernambuco
e colocar em circulação uma outra história/memória/olhar sobre a cultura que se fazia na
cidade, o viver e as lutas sociais travadas no período. Trata-se de um período significativo, de
intensas lutas sociais, e da consolidação de uma identidade afrodescendente, de um modo
de ser negro, consubstanciado, sobretudo, na denúncia da existência do racismo e da
ideologia da democracia racial. Este projeto se propõe a pensar a história de diversas
manifestações, como maracatus-nação, afoxés, grupos de teatro na cidade do Recife, durante
as décadas de 1970 a 1990, imersos numa complexa luta política para estabelecer o poder
de significar as práticas culturais afrodescendentes. Este é o período em que assistimos a
consolidação e legitimação de diversos movimentos negros que colocaram em pauta não só
a luta contra a discriminação racial, mas também a negritude, em que as manifestações
culturais exerceram papel central na formação de uma identidade negra. Nesse sentido, este
projeto deve discutir a atuação dos movimentos negros nas manifestações da cultura
afrodescendente, analisando sua participação nos maracatus bem como as estratégias que
redundaram no apoio à criação de afoxés no Recife. É fundamental que se analisem no bojo
dessa discussão os resultados da política implementada pelos movimentos negros que trazem
consigo uma valorização da cultura afrodescendente, buscando nesse processo a criação de
uma negritude.
O Laboratório de História Oral e da Imagem da UFPE (LAHOI) abriga um grande
acervo de entrevistas realizadas, pelos pesquisadores Ivaldo Marciano de França Lima e
Isabel Guillen, com agentes culturais dessas manifestações da cultura afrodescendente, como
reis e rainhas de maracatu, mestres de batuque, cantores e articuladores de afoxés,
desfilantes, além de militantes dos movimentos negros. O LAHOI ainda possui uma extensa
coleção de recortes de jornais que tem a cultura negra no Recife em pauta. Este acervo vem
sendo formado através de projetos de pesquisa, como o Inventário Nacional de Referências
Culturais dos Maracatus Nação, História e memória dos maracatus nação, organização do
acervo do MNU, dentre outros. Grande parte desse acervo de entrevistas encontra-se on-line,
com transcrições feitas e revisadas. Um dos objetivos deste sub-projeto de pesquisa é analisar
e organizar as entrevistas realizadas com militantes dos movimentos negros e ativistas
culturais, revisar as transcrições que necessitem desta tarefa, bem como transcrever
entrevistas que ainda não foram transcritas. Objetiva-se sistematizar os dados do acervo do
LAHOI no que diz respeito aos movimentos negros para tornar essa documentação mais
facilmente acessível a pesquisadores e com melhores condições de preservação.
OBJETIVO GERAL:
Objetiva-se revisar, organizar e sistematizar a documentação acerca da história da
cultura afrodescendente existente no LAHOI (Laboratório de História Oral e da Imagem da
UFPE), em especial dos militantes de movimentos negros, contribuindo para a preservação
do acervo e permitir que outras vozes possam ser ouvidas e consequentemente construir uma
diversidade de pontos de vista acerca da cultura pernambucana. Ressalte-se também a
importância deste projeto para os pesquisadores que poderão compulsar um acervo
sistematizado sobre a história dos movimentos negros em sua relação com a produção de
uma identidade cultural afro-pernambucana
Objetivos Específicos:
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
METODOLOGIA
Este projeto toma como parâmetros trabalhos de história oral já consolidados, como os do
Centro de Pesquisa e Documentação (CPDOC) da FGV, Rio de Janeiro, ou também o Museu
da Pessoa (http://www.museudapessoa.net/), além dos já desenvolvidos aqui em
Pernambuco pelo Centro de História do Brasil (CEHIBRA) da Fundação Joaquim Nabuco, e
Laboratório de História Oral do Departamento de História da Universidade Federal de
Pernambuco, em que estas instituições contribuíram para colocar em circulação outras
histórias e experiências vividas, mesmo que de pessoas comuns, mas nem por isso menos
dignas de registro. A pesquisa em foco deverá sistematizar um significativo acervo
documental sobre as experiências sociais e culturais de negros e negras de Pernambuco,
tanto de entrevistas a serem realizadas com os militantes históricos dos movimentos negros,
como de documentação que o projeto se propõe a levantar em diversas instituições de
pesquisa do Recife.
A pesquisa seguirá os seguintes passos:
1. Proceder a levantamento bibliográfico sobre a história dos movimentos negros em
Pernambuco do Recife, notadamente as teses e dissertações defendidas na última
década.
2. Analisar e discutir a bibliografia para proceder a levantamento de questões e
debates propostos pela historiografia.
3. Sistematizar as fontes existentes no LAHOI, tanto as entrevistas de história oral
como os recortes de jornal, organizando-as de modo a que se tornem mais
acessíveis a novos pesquisadores.
4. Analisar as fontes e proceder a levantamento de questões abordadas pelas
mesmas.
RESULTADOS ESPERADOS
Espera-se com esta pesquisa produzir material que avalie as entrevistas realizadas no
LAHOI, quais os temas que essas entrevistas abordam, quais questões os entrevistados
suscitam e que podem gerar novos temas de pesquisa em história cultural e em especial da
cultura popular em Pernambuco.
Por outro lado, a pesquisa deverá organizar e sistematizar as entrevistas já realizadas
no LAHOI, tornando seu acervo mais acessível ao grande público e aos pesquisadores em
especial.
Esta organização deverá contribuir para a preservação do acervo e dar visibilidade ao
mesmo com o objetivo de incentivar novas pesquisas e novas abordagens sobre a
documentação conservada no laboratório.
Atividades 1° 2° 3° 4°
Trimestre* Trimestre** Trimestre*** Trimestre****
Apresentação de
trabalho no
XXX
Encontro de Iniciação
Científica
BIBLIOGRAFIA
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Lisboa, Difel, 1989.
CANCLINI, Nestor Garcia. Culturas Híbridas. São Paulo, Edusp, 1998.
CERTEAU, Michel de, et all. A beleza do morto in: A cultura no plural. Campinas, Papirus,
1995, pp. 55-85.
CHARTIER, Roger. Cultura popular: revisitando um conceito historiográfico. Estudos
Históricos, V. 08, nº 16, 1995, pp. 179-192.
CHAUI, Marilena. Cultura e Democracia. São Paulo, Cortez, 1989.
FERREIRA, Marieta de Moraes; AMADO, Janaína. Usos e abusos da história oral. Rio de
Janeiro, FGV, 2006, 8ª. Ed.
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes. São Paulo, Companhia das Letras, 1987.
GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Classes, raças e democracia. São Paulo, Ed. 34, 2002.
GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Racismo e anti-racismo no Brasil. São Paulo, Ed. 34,
2005, 2ª edição.
HALL, Stuart. Identidade cultural e diáspora. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, n.º 24, pp. 68-75, 1996, citação p. 70.
HOLLANDA, Heloísa Buarque de, GONÇALVES, Marcos A. Cultura e participação nos anos
60. São Paulo, Brasiliense, 1982.
LEVI, Giovani. Sobre a micro-história in: BURKE, Peter (org). A Escrita da História. São Paulo,
Unesp, 1992, pp. 133 – 161.
NORA, Pierre. Entre memória e história. A problemática dos lugares. Projeto História. São
Paulo, n. 10, dez. 1993, pp. 07-28.
PRICE, Richard. O milagre da crioulização: retrospectiva. Estudos Afro-Asiáticos, ano 25, n.
03, 2003, pp. 383-419.
REVEL, Jacques. Jogos de escalas. A experiência da microanálise. Rio de Janeiro, FGV,
1998.
SANSONE, Lívio. Negritude sem etnicidade. Salvador, Edufba/ Pallas, 2004.
SCHWARCZ, Lília Moritz. Nem preto nem branco, muito pelo contrário: cor e raça na
intimidade in História da vida privada no Brasil, São Paulo, Companhia das Letras, 1998, pp.
173 – 244.
SOIHET, Rachel. O povo na rua: manifestações culturais como expressão de cidadania in:
FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. O Brasil Republicano. O tempo do
nacional estatismo do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira, 2003, pp. 287-322.
THOMPSON, E. P. Costumes em comum. São Paulo, Companhia das Letras, 1998.
THOMPSON, E. P. Folclore, antropologia e história social in: As peculiaridades dos ingleses
e outros artigos. Campinas, Ed. UNICAMP, 2001.