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Nelson Inocêncio
Professor e orientador da pesquisa
1 Introdução
2 A função da música
―Acredito que a música pode ser estudada não apenas do ponto de vista de músicos e humanistas,
mas também da dos cientistas sociais, e que, além disso, é no momento do campo da
antropologia cultural que nossa principal estimulação está vinda para o estudo da música como
um aspecto universal das atividades do homem‖.
Tendo tais citações como ponto de partida neste tópico, analisa-se a importância
da Música no social. Ela pode ser comparada a uma espécie ―de unidade de medida‖
para compreender um nível de evolução de comunicação de determinada sociedade.
ELIZABETH TRAVASSOS (2007) cita JOHN BLACKING (1928-1990): ―[...] Entre
outras hipóteses, levantava a de ser a inteligência musical uma inteligência para o social
que teria desempenhado papel importante na evolução da espécie na direção de formas
de vida social complexas. A inteligência musical agrega indivíduos em grupos,
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solitude, qual música me traz euforia?‖ já não é mais tão complexo indicar as respostas.
As trilhas sonoras dão um belo exemplo disso ao incorporar e enaltecer no expectador,
as sensações condizentes com as cenas de determinados momentos em filmes, jogos,
etc.; No cinema mudo também, utiliza-se a música para exprimir as tensões das ações
em tela. O pensamento antecede a fala, e a música desenvolve a percepção; compreende
se que inibir ou degradar tais circunstâncias num ser social é um ato desapiedado
também caminhado para o controle de massas.
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[...] Um século mais tarde as reduções do sul do Brasil, fundadas por jesuítas espanhóis,
conheceriam um florescimento cultural vigoroso e exuberante, onde funcionaram
verdadeiros conservatórios musicais, e relatos de época atestam a fascinação do índio pela música da
Europa e sua competente participação tanto na construção de instrumentos como na prática instrumental e
vocal.
[...] Com o passar dos anos os índios remanescentes dos massacres e epidemias foram se
retirando para regiões mais remotas do Brasil, fugindo do contato com o branco, e sua participação na
vida musical nacional foi decrescendo até quase desaparecer por completo.
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sertanejo, baião, forró, ganham mais reconhecimento popular ao mesmo tempo em que
o rock e o jazz (norte americanos) ganham força e adentram nesse misto cultural. Com
esse avanço cultural tanto no campo popular quanto no erudito, nessa época também
nos deparamos com a produção de Villa Lobos, o primeiro grande marco do
brasilianismo musical erudito2.
Já citando o exemplo acima na cultura musical erudita brasileira, vale ressaltar
que ainda se encontra equívoco conceitual sobre os termos música popular brasileira e
MPB. Música popular brasileira se dirige a todo o campo musical popular exceto, o
erudito; inicialmente abordado para os ritmos, melodias e harmonias oriundas de
culturas regionais ―folclóricas‖, de camadas ―subalternas‖, e isso não se aplica apenas
no campo da música, apesar dela se exceder a quase todo o parâmetro da história, aliás,
como uma forma de arte e comunicação, claramente sua presença é inevitável. O
popular (não o referindo também a uma ideia de homogeneidade de classes, mas sim, à
diversidade que caracteriza os povos), exemplificando, seria o bumba meu boi, o
maracatu, a ciranda, a congada; seria a cultura tradicional, mantida pela oralidade e/ou
agregada pelo povo trazendo suas marcas e símbolos. Os irmãos Grimm, que
trabalharam prioritariamente com o anonimato popular, associaram toda essa teia como
―poesia natural‖, por que são correntes criadas pelo próprio povo e pertence ao mesmo,
uma espécie de autoria coletiva (BURKER, Peter, p.32), ―nenhuma pátria pode existir
sem poesia popular [...], é o manancial de onde jorra o verdadeiro original da alma
popular‖ (BURKE, 1989, p. 12.).
Mais tarde claro, a música popular brasileira passou a ser tocada não somente
pelo povo ―subalterno‖, artistas da classe média e universitários passaram a agregar tais
ritmos em suas composições, e a partir da década de 60, a fusão de dois movimentos
musicais deu a luz ao MPB. De um lado a bossa nova conhecida pela influência do jazz
estadunidense e também com influência erudita, que traziam dissonância e sofisticação
ao samba, e tendo como precursores os compositores Tom Jobim e Vinícius de Morais.
Do outro lado, o Centro de Cultura Popular Brasileira e o movimento da União
Nacional dos Estudantes (UNE), inconformados com a ideia de influências americanas e
com um intuito mais nacionalista com a intenção de priorizar as raízes do samba,
forçaram uma divisão de duas linhas musicais, uma segunda geração da Bossa Nova.
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http://www.uppermag.com/mpb-musica-popular-brasileira/ Data de acesso: 11/11/18
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Desde que a informação e o acesso a ela ficou mais fácil, com toda a evolução
tecnológica da comunicação, a maioria das pessoas tende a agir relativamente igual,
ingerindo o que lhe vier mais rápido e fácil. Novamente se faz presente as palavras de
COELHO:
―[...] com seus produtos a indústria cultural pratica o reforço das normas sociais,
repetidas até a exaustão e sem discussão. Em consequência, outra função: a de promover o
continuísmo social. E a esses aspectos centrais do funcionamento da indústria cultural viriam
somar-se outros, consequência ou subprodutos dos primeiros: a indústria cultural fabrica
produtos cuja finalidade é a de serem trocados por moeda; promove a deturpação e a degradação
do gosto popular; simplifica ao máximo seus produtos, de modo a obter uma atitude sempre
passiva do consumidor; assume uma atitude paternalista, dirigindo o consumidor ao invés de
colocar-se à sua disposição.‖
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https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_m%C3%BAsica Data de acesso: 04/11/1
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Seguindo esse raciocínio, um leitor que procura um livro sobre filosofia numa
estante onde só se encontra três livros de três filósofos, Platão, Kant e Freud, só terá a
opção de ler sobre tais filósofos se lhe convier meramente de olhar somente nessa
estante, onde esses livros estão facilmente à mostra, vedado da noção de haver um
quarto ao lado cheio de mil livros sobre os variados filósofos já existentes, que estão
guardados empoeirados em caixas. Isso claramente implicaria na sua concepção sobre a
história da filosofia com esse leitor limitado a apenas três visões de alguns filósofos, e
também se implica a quem deixou tais livros facilmente a mostra que pode estar
relacionado com sua concepção pessoal em que partilha da ideia de tais filósofos
deixados na estante. Dado esse exemplo, analisemos as palavras do jornalista paraibano
e também, estudioso da cultura popular brasileira, Assis Ângelo, à revista A nova
democracia, 20055, um autor de canal alternativo fora da grande mídia:
Pela audiência que sempre tive, pode-se notar que o povo gosta do que é bom, desde
que tenha essa opção. Quer dizer, é mentira essa conversa de que o brasileiro gosta mesmo é de
pagode, funk, ou ‗sertanojo‘. O que falta é divulgação da verdadeira música popular para que o
povo possa fazer escolhas. [...] Afirmo que mente quem diz que o povo não gosta da música
brasileira. O problema é que não toca música brasileira para o ouvinte brasileiro, para o
telespectador. Para o leitor dos jornais, das revistas, da mesma maneira, não divulga na sua
forma impressa, a verdadeira cultura popular, o melhor das massas brasileiras. Então, não se
pode admirar aquilo que não se conhece. Atualmente, o que vale é a cultura de massa, que
chamam de popular, mas não tem nada de popular. É a massificação de algo, que de tanto ser
repetido, e censurado o verdadeiro, fica o enganoso na cabeça das pessoas [...].
―[...] Para essa sociedade, o padrão maior de avaliação tende a ser a coisa, o
bem, o produto; tudo é julgado como coisa, portanto tudo se transforma em coisa —
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https://anovademocracia.com.br/no-26/593-assis-angelo-muito-brasil Data de acesso:
04/11/18.
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inclusive o homem. E esse homem reificado só pode ser um homem alienado: alienado
de seu trabalho, que é trocado por um valor em moeda inferior às forças por ele gastas;
alienado do produto de seu trabalho, que ele mesmo não pode comprar, pois seu
trabalho não é remunerado a altura do que ele mesmo produz; alienado, enfim, em
relação a tudo, alienado de seus projetos, da vida do país, de sua própria vida, uma vez
que não dispõe de tempo livre, nem de instrumentos teóricos capazes de permitir-lhe a
crítica de si mesmo e da sociedade.‖
[...] Há no Brasil cerca de 2.000 estações de rádio e 140 de TV. Do outro lado
da antena, são 56 milhões de aparelhos receptores de rádio e 26 milhões de TV (15
milhões a cores). Teoricamente, a rede de rádio pode cobrir todos os habitantes do país,
enquanto a TV alcança entre 60 e 80 milhões de pessoas. [...]
A duplicação das estações geradoras de rádio e TV poderia ser um bom sinal se
as concessões não fossem feitas segundo critérios estreitos e enviesados que atendem
antes a interesses individuais e de grupos de poder do que a interesses da coletividade.
[...] TEIXEIRA COELHO (1980).
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Referências bibliográficas