Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
br
/hiscrimusmusbra-g01495-dez-2021-grad-ead/)
1. Introdução
Prezado(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)!
00:00 00:00
No que você reparou? Provavelmente se deu conta de que você conhecia algumas
dessas músicas; de que algumas eram instrumentais, outras tinham letras (eram
canções) em português e outras línguas; de que tinham ritmos diversos, instru-
mentação variada, algumas sonoridades que estranhamos e outras que nos são
bem confortáveis; de que há gravações produzidas, bem gravadas, editadas e até
"bem maquiadas" e outras rústicas, sem edição e até ruidosas; de que há músicas
antigas, atuais e outras que não saberíamos situar historicamente, músicas que po-
demos dar um palpite sobre de onde sejam ou a quais culturas se relacionam.
[...] ao conceito de Brasil estendido se contrapõe um conceito de Brazil que também resis-
te a estereótipos: não se trata de uma ameaça externa, mas de uma visão (ou falta de vi-
são) interna. A crítica pela falta de valoração do nacional não corresponde a uma desva-
loração do estrangeiro, e sim pelo não reconhecimento do que se é. Brazil e Brasil são, na
verdade, o mesmo, as duas faces da moeda, ali, alaúde, aqui, ataúde, aquarela/querela,
tentando se reconhecerem mutuamente. No último verso da canção explicita-se: só há o
Brasil, só o Brasil pode socorrer o Brasil contra si mesmo. Se conhecer, se merecer
(VILLAÇA, 2012, n. p.).
O que é "Brasil"?
Certamente você já ouviu que o nome "Brasil" foi dado a partir do pau-brasil, uma
árvore de grande porte, de cor avermelhada (cor de brasa). Ela fez parte da primeira
atividade comercial de exploração pelos colonizadores no século 16 e, hoje, a árvore
continua ameaçada de extinção. Antes de Brasil, este território teve outros nomes,
como Ilha de Vera Cruz e Terra de Vera Cruz (dado pelos exploradores) e
Pindorama (por povos indígenas costeiros que falavam tupi) e estima-se que, no �-
nal do século 15, viviam entre 4 e 10 milhões de pessoas de 1.400 povos distintos,
falando 1.200 línguas diferentes.
Portanto, não se trata da união de povos indígenas com outros povos, mas das rela-
ções que foram sendo estabelecidas nos séculos seguintes com portugueses, espa-
nhóis, holandeses, angolanos, moçambicanos, e assim por diante. Sabemos, entre-
tanto, que tais relações não se deram de maneira harmoniosa. Tal consideração é
importante, pois tais dominações, para além do aspecto físico (morte, tortura, es-
cravidão etc.) também são acompanhadas de dominações culturais (aculturação,
hierarquização etc.) e, portanto, geram re�exos nas relações com música e educa-
ção musical.
Guga Stroeter e Elisa Mori (2020) �zeram uma árvore da música brasileira que
apresenta, de forma grá�ca, uma parte dessa história. Ao longo da vida, podemos
observar cada "raiz", de cada "galho", de perto e descobrir novos mundos musicais
que compõem esta grande árvore.
Figura 1 Uma árvore da música brasileira (https://www.sescsp.org.br/online/edicoes-
sesc/930_UMA+ARVORE+DA+MUSICA+BRASILEIRA#/tagcloud=lista).
Desa�os histórico-musicais!
Uma das di�culdades ao propor um material de estudo de história da música é a
escolha dos registros. Tanto os audiovisuais (LPs/CDs/Streaming, entrevistas, �l-
mes, documentários, vídeos) quanto os literários (jornais, livros, artigos cientí�cos)
existentes não conseguem abarcar a diversidade musical que há no Brasil. Em
contrapartida, há muitos registros e isso exige que façamos uma seleção.
Cada vez mais há uma intenção de cada cultura contar sua própria história. Quem
vive o rap falando do rap, quem nasceu na aldeia contando sobre ela, quilombolas
contando sobre si, e assim por diante. O rapper, professor e arte-educador Renan
Inquérito, na música Poucas Palavras (https://farofafa.cartacapital.com.br/2011/11
/16/em-poucaspalavras-se-a-historia-e-nossa-deixa-que-nois-escreve/), a�rmou:
"Se a história é nossa deixa que nóis escreve" (INQUÉRITO, 2010). Outras iniciativas,
como Vídeo nas Aldeias e pesquisadores(as) interessados(as) em escutar e fazer a
pesquisa com (e não sobre) as pessoas, contribuem para um registro mais legítimo
dessas práticas.
Lembre-se de que gostar ou não das músicas aqui apresentadas não está em questão neste momento. Como futu-
ros(as) (e atuais) professores(as) de música, é importante estar aberto(a) para conhecer a história de cada gênero
musical, conhecer seus(suas) representantes, entender os porquês das músicas, e estudar seu contexto - ciente de
que esta disciplina não dará conta de tudo e que você deverá fazer o trabalho de casa, lendo livros especializados
em uma ou outra cultura ou momento da música brasileira. Assim, em nossas futuras atuações como educado-
res(as) musicais, poderemos transitar entre diferentes culturas musicais, sendo educadores(as) mais versáteis,
melhor preparados(as) para ajudar os(as) estudantes a aprender cada vez mais, e tendo o respeito como base fun-
damental das nossas relações.
2. Informações da Disciplina
Ementa
A disciplina História e Crítica Musical: Música Brasileira contempla a música po-
pular brasileira desde a chegada de D. João VI, em 1808, até os dias atuais. A disci-
plina tem por objetivo elencar principais movimentos, características, artistas e
transformações que abarcam o conceito de música popular ao longo de sua histó-
ria, elucidando como o conceito de música popular foi tratado no meio acadêmico.
Além disso, considera-se importante estabelecer o elo entre a história da música
popular e a história social, política, econômica e ideológica do Brasil. Nesse senti-
do, tem-se a história da música popular dividida em subcategorias como: Brasil
Imperial/República, história do choro, surgimento do fonograma, Época de Ouro,
difusão da música nordestina, Bossa Nova, Era dos Festivais, Tropicalismo, Clube
da Esquina, rock nacional dos anos 80 e 90, Movimento Manguebeat.
Objetivo Geral
Os alunos da disciplina História e Crítica Musical: Música Brasileira, na modalida-
de EaD do Claretiano, dado o Sistema Gerenciador de Aprendizagem e suas ferra-
mentas, serão capazes de compreender como se formaram as primeiras manifesta-
ções da música urbana no Brasil e identi�car as principais tendências e movimen-
tos que construíram a história da música popular e suas principais in�uências en-
tre si e sobre o que os sucedeu.
Ao �nal desta disciplina, de acordo com a proposta orientada pelo professor res-
ponsável e pelo tutor a distância, terão condições de articular os conteúdos com a
prática docente do educador musical. Para esse �m, levarão em consideração as
ideias debatidas na Sala de Aula Virtual, por meio de suas ferramentas, bem como
o que produziram durante o estudo.
Objetivos Especí�cos
• Compreender as relações entre momento histórico e o fazer musical.
• Conhecer o período em que a música popular brasileira teve um molde, uma
de�nição ou, até mesmo, um rompimento em relação aos paradigmas da épo-
ca.
• Conhecer novas sonoridades e movimentos que marcaram o Brasil.
• Investigar composições musicais atuais no sentido de possíveis "sinais" da
nossa história.
(https://md.claretiano.edu.br
/hiscrimusmusbra-g01495-dez-2021-grad-ead/)
Objetivos
• Conhecer dados populacionais e linguísticos relacionados aos indígenas
no Brasil na atualidade.
• Compreender as relações de poder desiguais entre europeus, africanos e
indígenas no processo de colonização do Brasil.
• Conhecer o nome de alguns povos indígenas.
• Entender a diversidade de suas culturas a partir de suas diferentes lín-
guas, histórias, contextos, formas de se vestir, adornar, dançar, cantar.
• Compreender a constante transformação das culturas.
Conteúdos
• Excertos musicais dos povos Tuyuka, Kaingang, Krenak, Guarani,
Kaingang e Xavante e breves contextualizações.
• Troncos etnolinguísticos no Brasil.
• Culturas com gêneros contemporâneos, como o rap e o heavy metal.
Problematização
Atualmente existem indígenas no Brasil? De quantos povos se trata? Suas
culturas permanecem idênticas ao que eram há 500 anos? O que aconteceu
desde então? Onde vivem? Quão diversas são as práticas musicais dos povos
indígenas no Brasil?
1. Introdução
Na sua vida escolar, você provavelmente já participou de comemorações do
chamado "Dia do Índio". Você se recorda de como foram essas ocasiões? Quais
músicas foram tocadas? O que foi falado sobre "os índios"?
Da mesma forma que a data pode trazer a oportunidade para o aprendizado lúdico
sobre a diversidade indígena do nosso país, alguns educadores ainda seguem es-
tagnados em práticas que apenas reproduzem estereótipos que não re�etem a rea-
lidade dos povos indígenas na atualidade. As sociedades se atualizam e não há
mais espaço para "brincar de índio". As palavras de ordem agora são conhecimento
e respeito (MUNDURUKU, 2018, n. p.).
É por esse caminho do conhecimento e respeito aos indígenas que damos iní-
cio a este ciclo. Se você ama música, sabemos que irá gostar de conhecer mais
sobre a música de alguns povos indígenas. Para tanto, buscamos selecionar
exemplos que representem uma variedade de musicalidades, ora distantes e
ora mais próximas ao que costumamos ouvir em nosso cotidiano. Esperamos
que se sinta motivado(a) a conhecer mais sobre os povos originários do Brasil,
que, diferentemente do que se costuma a�rmar, são contemporâneos e cultu-
ralmente diversos.
Bons estudos!
Segundo Pucci e Almeida (2017), o povo Kaingang tem uma população de mais
de 45 mil pessoas vivendo em 30 terras indígenas nos estados de São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A língua Kaingang pertence à fa-
mília linguística Jê e é falada por aproximadamente 60% desse povo (PUCCI;
ALMEIDA, 2017).
A música que você ouviu anteriormente é uma cantiga do tipo canto de gufã,
que está relacionada "[...] às narrativas míticas que incluem cantigas de bichos
cantadas para as crianças. Geralmente, são curtas e falam sobre os hábitos
dos animais" (PUCCI; ALMEIDA, 2017, n. p.).
Para que possamos conhecer mais nomes de povos indígenas, vamos ouvir a
canção Chegança, de Antônio Nóbrega e Wilson Freire, musicalizada em ritmo
de Cavalo Marinho, uma festa popular típica dos estados de Paraíba e
Pernambuco. Acompanhe, a seguir, a letra da música, juntamente com a can-
ção. Para isso, clique no slide para ampliá-lo e no play para ouvir a música.
É bem provável que, ao buscar mais informações sobre determinado povo, vo-
cê descubra que ele costuma ter mais de um nome. Isso acontece porque além
de suas autodenominações, muitos foram nomeados por outros povos com ba-
se em características, rivalidade ou por desentendimentos de linguagem. Veja
um exemplo:
"Depois que falei isso, chorei. Entrei num palco que só recebia ópera e músicos co-
nhecidos. Era um lugar proibido para a música indígena", disse a artista sobre o te-
atro amazonense, construído no século 19 no apogeu do Ciclo da Borracha.
Marlui Miranda, que vive em São Paulo, é natural de Fortaleza (CE). Morou no Rio
de Janeiro, onde aprendeu violão clássico com professores renomados, entre eles,
Turíbio Santos, e estudou no Conservatório Villa-Lobos, e também em Brasília. A
artista compôs trilhas para cinema e teatro. Além de Egberto Gismonti, fez parceri-
as com Hermeto Paschoal, Taiguara, Milton Nascimento e Jards Macalé (FARIAS,
2017, n. p.).
Agora que sabemos um pouco mais sobre a diversidade e os nomes dos povos
indígenas, vamos continuar nosso estudo a respeito da história da música no
Brasil, apreciando, no vídeo a seguir, algumas práticas musicais dos Tuyuka,
Krenak, Guarani, Yudjá e Xavante.
O Rio Negro tem sua nascente na Colômbia, onde é chamado de Rio Guaiania.
Trata-se do sétimo maior rio do mundo em volume de água e um dos maiores
a�uentes do Rio Amazonas. Em seu longo percurso, que começa na Colômbia,
demarca uma parte da fronteira com a Venezuela e adentra o Brasil pelo esta-
do de Amazonas, há grande diversidade: 27 etnias habitam a região, sendo 22
no território brasileiro. Estas, habitantes da região do Noroeste Amazônico, po-
dem ser divididas em quatro conjuntos de acordo com sua distribuição geo-
grá�ca, línguas faladas e organização social: Etnias do Rio Uaupés (da qual
Tuyuka e Barasana fazem parte); Etnias Maku; Etnias do Içana; e Etnias do
Rio Xié e do Alto Rio Negro.
Há, também, outras 20 famílias linguísticas que não estão associadas a esses
dois troncos. Nesses casos, podemos encontrar também as "línguas isoladas",
que, por não se revelarem parecidas com nenhuma outra língua, estão em fa-
mílias únicas. Entenda um pouco melhor sobre isso no vídeo a seguir:
Atualmente, os Krenak estão na margem do Rio Doce, o mesmo que foi devas-
tado em 2015 pelo rompimento da barragem de Mariana, Minas Gerais, afetan-
do a vida de milhares de indígenas, não indígenas e outros seres (fauna e �o-
ra). Mas, a história de resistência desse povo, assim como a de muitos outros, é
mais antiga
[...] ordenar-vos, em primeiro logar: Que desde o momento, em que receberdes esta
minha Carta Regia, deveis considerar como principiada contra estes Indios antro-
pophagos uma guerra offensiva que continuareis sempre em todos os annos nas
estações seccas e que não terá �m, senão quando tiverdes a felicidade de vos se-
nhorear de suas habitações e de os capacitar da superioridade das minhas reaes
armas de maneira tal que movidos do justo terror das mesmas, peçam a paz
(BRASIL, 1808, n. p.).
Caso tenha mais interesse em estudar sobre a guerra declarada aos boto-
cudos, leia um interessante texto sobre o assunto, A Guerra de D. João
contra os índios Botocudos: contexto e motivações (https://historiaemre-
de.medium.com/a-guerra-de-d-jo%C3%A3o-contra-os-%C3%ADndios-
botocudos-contexto-e-motiva%C3%A7%C3%B5es-52df072e1f71).
Por �m, sugerimos que assista ao vídeo a seguir, no qual é possível conhe-
cer a participação do líder indígena e escritor brasileiro Ailton Krenak na
elaboração da Constituição Federal de 1988.
Je�nho Xondaro MC, um dos integrantes, comenta "[...] Nosso sonho pro fu-
turo é que o grupo possa um dia cantar sobre outros temas, como letras on-
de crianças brincam com sarabatana, arco e �echa, pescam nos rios ou so-
bre nossa cultura e identidade indígena" (BARBA, 2017, n. p.).
Por �m, reforçamos a ideia de que não existe uma cultura indígena, mas mui-
tas culturas indígenas. Cada qual se distingue por diferentes aspectos: lín-
guas, organização social, rituais, hábitos, cultura material (cerâmicas, pinturas
corporais, gra�smos, cestarias, vestimenta, forma de adornar) e, obviamente, a
cultura imaterial (formas de cantar, dançar, espiritualidade, brincadeiras etc.).
Enquanto educadores(as) musicais, devemos nos opor ao processo de redução
preconceituosa dos povos indígenas.
[...] é uma porção do território nacional, a qual após regular processo administrativo
de demarcação, conforme os preceitos legais instituídos, passa, após a homologa-
ção por Decreto Presidencial para a propriedade da União, habitada por um ou mais
comunidades indígenas, utilizada por estes em suas atividades produtivas, cultu-
rais, bem-estar e reprodução física. Assim sendo, se trata de um bem da União, e
como tal é inalienável e indisponível, e os direitos sobre ela são imprescritíveis
(FUNAI, 2014, n. p.).
Para saber mais sobre a situação atual das Terras Indígenas, acesse o si-
te Terras Indígenas do Brasil (https://terrasindigenas.org.br/). Você pode-
rá ampliar seus conhecimentos pesquisando esta que é a maior base de
dados sobre esse assunto.
vivem/casas).
Por �m, vamos ouvir o que Cristian Wariu tem a nos dizer sobre a tecnolo-
gia como ferramenta de luta dos povos indígenas? Para isso, assista ao ví-
deo indicado a seguir:
Esperamos que este ciclo tenha ampliado seus conhecimentos sobre alguns
povos indígenas e suas músicas, gerando curiosidade para saber cada vez
mais. Aproveite as referências que foram utilizadas tanto para conhecer
mais sobre essas pessoas, como para re�etir sobre a maneira de abordar o
assunto em sala de aula. Enquanto educadores(as) musicais, sabemos que
as datas comemorativas acabam tendo grande impacto nas disciplinas, es-
pecialmente nas de Artes (o que deve ser objeto de estudo, re�exão e deba-
te). Entretanto, o fazer musical desses povos não precisa �car restrito a es-
sas datas, já que há tanta diversidade e possíveis relações tanto pelos as-
pectos técnico-musicais quanto via outras culturas e gêneros musicais.
8. Considerações
Provavelmente, chegamos ao �nal deste ciclo com o sentimento de que não
conhecíamos tão bem o Brasil. De fato: considerando a enorme diversidade
que abordamos, esperamos que este ciclo seja uma introdução ou uma con-
tinuação relevante desse tema para você, ajudando a desfazer preconceitos
que nos foram passados desde a infância, seja por músicas, �lmes ou por
desenhos animados em relação aos indígenas no Brasil.
Alguns cuidados nos ajudam a estudar a música e culturas dos povos indí-
genas: não homogeneizar as culturas indígenas como se fossem todas
iguais; tomar cuidado para não ter uma visão romantizada dos indígenas
como pací�cos e passivos, sempre em contato com a natureza e mantendo a
mesma cultura desde a chegada (invasão) dos europeus. A partir de excer-
tos musicais dos povos Tuyuka, Kaingang, Krenak, Guarani e Xavante, vi-
mos que há muitas diferenças entre essas culturas e algumas semelhanças.
É importante ressaltar que ouvimos apenas uma música de cada povo, sen-
do que, assim como em outras culturas, músicas, cantos e danças podem
estar presentes em vários momentos do dia e em diferentes rituais (dos ani-
versários à passagem da infância à vida adulta), de forma que, mesmo den-
tro de uma aldeia ou comunidade, o fazer musical é bastante diverso.
Também observamos que as pessoas resgatam, reforçam e recriam suas
culturas, pois estão em constante movimento, sempre em contato com ou-
tras pessoas. Assim, o estudo de culturas torna-se um desa�o, pois, como
numa fotogra�a, nunca temos uma representação exata da realidade atual.
Vimos, por exemplo, o rap feito por indígenas Guarani e heavy metal a par-
tir da música dos Xavante. Nos próximos ciclos, veremos a transculturação
de elementos musicais (ritmos e ideias harmônicas) e instrumentos musi-
cais no Lundu, Maxixe, Choro, Jazz e Bossa Nova, por exemplo.
Vamos lá?
(https://md.claretiano.edu.br
/hiscrimusmusbra-g01495-dez-2021-grad-ead/)
Objetivos
• Compreender o princípio da organização social/musical a partir do
Brasil Imperial.
• Conhecer alguns nomes que marcaram a História da Música Popular no
Brasil Imperial.
• Conhecer o que é tido como principal pro�ssional da música popular an-
tes da chegada da Corte portuguesa (1808) e a função social dessa arte.
• Entender por que tomamos a chegada da Corte portuguesa ao Rio de
Janeiro, em 1808, como marco determinante do princípio da formação
da música popular no Brasil.
• Conhecer ritmos e gêneros das primeiras formações urbanas no Rio de
Janeiro.
• Conhecer os nomes mais in�uentes na formação da música popular no
período imperial e na República.
• Estudar quem e qual a função social daquele que construía a música po-
pular durante esse período.
Conteúdos
• Música de barbeiros.
• Lundu, modinha e polca.
• Joaquim Callado, Pixinguinha, Anacleto de Medeiros, Chiquinha
Gonzaga.
Problematização
O que é música popular? Como lidar com o conceito acadêmico de música
popular em nossos estudos sobre o assunto? O que estudaremos e por que es-
tudaremos determinados conteúdos e deixaremos de estudar outros?
Ótimos estudos!
1. Introdução
Vamos iniciar nosso segundo Ciclo de Aprendizagem, reapresentando a ideia
das três grandes matrizes que constituem o Brasil: indígena, africana e euro-
peia. De fato, são três matrizes que fazem parte de nossa história, porém, mui-
tas vezes, há uma visão como se nossa cultura fosse uma simples mistura
dessas matrizes, na qual, em uma relação amistosa, tais grupos paci�camente
promoveram a miscigenação. Iniciaremos nossos estudos, entendendo por
que essa ideia não representa muito bem a nossa história.
No ciclo anterior, você deve ter conhecido melhor alguns (poucos) povos indí-
genas no Brasil: Krenak, Yudjá, Mbya-Guarani, Xavante, Kaingang e Tuyuka.
A partir da riqueza cultural de alguns povos, esperamos que tenha sido possí-
vel compreender que há grande diversidade - para conhecê-la, basta buscar-
mos mais conhecimento, por meio de livros, vídeos e dos próprios indígenas
que guardam e transformam suas culturas.
Basta vermos relatos da escravidão transatlântica para entender que aos afri-
canos também era negado o direito de exercer sua própria cultura.
Inicialmente, eram separados e isolados de seus povos. Antes de embarcar, re-
cebiam novos nomes, e eram proibidos de falar sua língua ou manifestar sua
cultura. Sua história era apagada. Estima-se que foram, aproximadamente, 22
milhões de indivíduos exportados da África negra em direção ao resto do
mundo, entre 1500 e 1890.
O Brasil foi um dos últimos países a abolir a escravidão, em 1888. Aos liber-
tos não foram oferecidos reconhecimento, integração ou reparação pelo que
haviam vivido de forma que, quando libertos (já que não foi processo ins-
tantâneo), �caram à deriva para buscar vida digna. A busca por moradia,
trabalhos remunerados, e assim por diante, sujeitou a maioria a migrar,
aceitar subempregos e até mesmo o retorno a situações análogas à escravi-
dão. Além disso, também haviam leis que criminalizavam esta nova condi-
ção (Lei de Vadiagem, que punia pessoas que não possuíam trabalho ou mo-
radia) e também criminalizavam as culturas africanas e afro-brasileiras
("capoeiragem" incluída na Lei da Vadiagem, religiões tomadas generica-
mente como magia, entre outras). Vale destacar o tratamento oposto ofere-
cido a imigrantes europeus como, por exemplo, o pagamento de viagens pa-
ra que vivessem ao Brasil, na mesma época, com a �nalidade de branquea-
mento da população por meio da miscigenação.
Em São Paulo, no séc. XVI, uma das primeiras leis que a câmara menciona mú-
sica é proibindo que os índios cantassem suas músicas no centro da cidade. A
segunda que aparece era proibindo que os brancos fossem ouvir a música dos
índios nas aldeias. Esse tipo de legislação demonstra que os poderes daquela
época impunham um certo apartheid cultural, ou seja, diferenciar os grupos ét-
nicos e impedir as misturas. Ao longo de toda a história do Brasil essa talvez se-
ja a maior característica da legislação: ela tenta impedir a mistura de culturas
entre as distintas classes (CASTAGNA, 2019 apud "MÚSICA, 2019, transcrição
nossa).
Assim, vemos que nossa nação é fruto de uma relação desigual entre povos
e suas culturas. Genealogicamente, pouco sabemos sobre as origens de nos-
sos antepassados indígenas e africanos. Musicalmente, pouco se sabe sobre
a in�uência dos povos indígenas na construção da cultura popular brasilei-
ra. Ao longo deste ciclo, você poderá observar esses con�itos em muitos
momentos (com em relação a lundu, maxixe, choro). Disponibilizaremos al-
guns materiais que podem contribuir para você expandir seus conhecimen-
tos conforme desejar.
Contudo, é válido o nosso esforço para uma melhor compreensão dos fatos e
da história de que se tem algum conhecimento, pois, dessa forma, podere-
mos alcançar o �o condutor que liga o passado ao presente, com o objetivo
de compreender a música que estudamos, vivenciamos, compomos etc.
Vamos lá?
De acordo com Napolitano (2002), a Real Fazenda Santa Cruz é tida como
verdadeiro conservatório musical para negros cujo objetivo era divertir a
Corte. Com isso, podemos observar a forte in�uência da Corte portuguesa
na música popular.
Criou-se, entre negros e mestiços da corte e das principais vilas e cidades, escra-
vos e libertos, uma tradição musical complexa plural, que trazia elementos di-
versos enraizados do século XVII e início do XIX (música sacra, danças profa-
nas, modinhas e lundus), reminiscências de danças e cantos dramáticos (jongo,
por exemplo), estilos e modas musicais européias "sérias" (neste campo, o barro-
co foi dominante) e ligeiras, como a polca e a valsa (NAPOLITANO, 2002, p. 30).
Lundu
O termo "lundu" e suas variações - lundum, landu, landum, londu, londum,
loudum - provavelmente são derivados de "calundu", um aportuguesamento
da palavra Kilundu. Na língua Quimbundo, quer dizer "Espírito, ser do mun-
do invisível, magnetismo" (MONTEIRO, 2021, n. p.). Segundo Tinhorão (2013),
a referência mais antiga usando esse nome é de 1780. O termo "batuque"
também aparece nos registros como uma manifestação mais genérica, indi-
cando uma dança acompanhada de percussão realizada por escravizados.
Ouça a seguir o lundu, por Mário de Andrade.
Entre 1817 e 1820, os alemães Johann Spix e Carl Martius �zeram uma expe-
dição ao Brasil e recolheram a seguinte melodia (Figura 2) que é, hoje, o re-
gistro mais antigo que se conhece do lundu. Observe:
dia.org/wiki/Lundu).
O lundu, por exemplo, teria sido a reunião dos cantos e sambas das toadas e dos ba-
tuques africanos. Da mistura com o indígena, o lundu teria propiciado o surgimento
de um novo sentimento musical e, ao propagar-se entre os mestiços, "identi�cou-se
com o sentimento pátrio", produzindo a "nossa chula e o nosso tango ou o nosso
lundu propriamente dito" (MELLO, 1908 apud ABREU, 2001, n. p.).
Vamos ouvi-la?
Modinha
Na segunda metade do século 18, foi comum na Europa um tipo genérico de
canção séria de salão. Em Portugal, popularizou-se de tal forma que, no reina-
do de D. Maria I, havia um dito que na corte dessa rainha "era moda cantar a
moda" (MARCONDES, 1998). Em outros países, havia gêneros correlatos, como
canzonetta na Itália, seguidilla na Espanha, ariette na França e Lied na
Alemanha.
Polca
No Brasil, a polca foi apresentada pela primeira vez em 1845, no Teatro São
Pedro do Rio de Janeiro, evidenciando o nível social mais ou menos elevado
do público a que se dirigia (TINHORÃO, 2013, p. 71). A partir de então, a polca se
tornou uma febre nos salões (NAPOLITANO, 2002). Enquanto a modinha tinha
características líricas e melancólicas, a polca era mais ritmada e saltitante,
signi�cando a oportunidade que se tinha de dançar mais próximo do que em
outras danças de par unido, como a valsa. Como dança de salão, as polcas
eram bem aceitas pela elite (apesar de certa resistência), e bastante diferentes
do lundu, com seus movimentos de umbigada. Em ritmo binário e andamento
allegretto - equivalente a quase 120 BPMs (batidas por minuto), indicando ca-
ráter animado, com energia -, a polca apresentava uma vivacidade inédita e
embalou os salões europeus (principalmente parisienses) e depois os brasilei-
ros.
Aqui a polca foi se misturando a outros gêneros e à musicalidade afro-
brasileira. Em termos mais práticos, essa mistura se deu quando a polca pas-
sou a alcançar as classes mais baixas, ou seja, quem não fazia parte da elite
econômica, social e política dos centros urbanos. Parte dessas pessoas eram
os músicos populares chamados "chorões". Os resultados dessas trocas cultu-
rais foi a formação de outros gêneros musicais, outros ritmos e outras culturas
musicais.
Os primeiros "chorões"
Entende-se como "chorão" todo aquele praticante do gênero choro. Já a pala-
vra "choro" traz a primeira discussão dentro do gênero. Qual seria a origem ou
o que determinaria que o gênero seria chamado "choro"?
De acordo com Diniz (2008), a polca foi a grande novidade no ano de 1845. Com
ela, moços e moças podiam dançar juntinhos, ao contrário das danças anteri-
ores, como minuetos e quadrilhas. A polca chegou para transformar as festas
da sociedade, com melodias saltitantes e compassos binários, sendo um ritmo
que não apenas empolgou e transformou, mas se tornou estrutura básica para
consagrar nomes como Joaquim Callado (1848-1880), Chiquinha Gonzaga
(1847-1935) e Ernesto Nazareth (1863-1934).
/uploads/work_elements/work_128/nene_piano.pdf).
Se havia, no choro, a fusão entre polca e lundu, denominada maxixe, ele mes-
mo era severamente criticado e banido da alta sociedade, sendo a palavra
"maxixe" tida até como palavra de baixo calão e inaceitável pela sociedade
mais elitista. Contudo, dessa mesma sociedade partiam aqueles que compra-
vam e consumiam partituras das composições dos chorões. Conta-se que, em
1885, o ator Correia Vasques dançou a música Chô Araúna no palco como a po-
pulação dançava nos bailes. A música, antes considerada um tango, foi cha-
mada de maxixe. O maxixe também fez sucesso na França e sofreu alterações
na forma de dançar, especialmente numa tentativa de "moralizá-la".
Logo, a polca-lundu (ou maxixe) perdeu força nos títulos (apenas nos títulos)
das partituras. Era possível até intitular obras como polcas, mas o nome do
tango estava mais em voga e contribuía com as vendagens. A citação a seguir
demonstra como o maxixe se inseriu como uma espécie de disfarce no reper-
tório popular carioca - uma vez considerada a "indecência" da dança:
Em 1883, porém, o ator Francisco Correia Vasques mencionou e fez executar em pú-
blico a dança proibida, assim na peça cômica de sua autoria encenada no teatro
Santana e intitulada Aí, caradura, o maxixe foi dançado para o público de classe
média que comparecera ao teatro para este �m. Mas a partitura do referido maxixe
indicava polca-tango, o que provava que o maxixe já era divulgado através do título
tango, o que era bem aceito, executado e com penetração nos salões da elite
(TINHORÃO, 1986, p. 69).
choro_piano.pdf).
Figura 6 Parte C da peça Só no Choro de Chiquinha Gonzaga. (https://chiquinhagonzaga.com/acervo/partituras/so-
no-choro_piano.pdf)
Note que a célula do ritmo melódico do lundu aparece com frequência na for-
ma característica . Ainda assim, o lundu, em sua base rítmica, se apresentava
também pelo ostinato.
/atraente_alma-brasileira_piano.pdf).
Quer saber mais?
Figura 9 Anacleto de Medeiros em destaque junto a Banda do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro (https://www.no-
vacultura.info/post/2020/08/04/choro-as-bandas-militares-e-anacleto-de-medeiros).
Pixinguinha
Nascido em 23 de abril de 1897, Alfredo da Rocha Vianna Filho, o Pixinguinha,
é sem dúvida um dos maiores nomes do choro. Quando gravou sua primeira
música em 1915, o tango Dominante, Pixinguinha já �gurava entre os músicos
de destaque por sua destreza e domínio da �auta.
Figura 10 Pixinguinha tocando sax tenor. (http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa12197/pixinguinha)
Parece que nosso compositor anda muito in�uenciado pelos ritmos e melodias da
música de jazz. É o que temos notado desde algum tempo e, mais uma vez, neste
seu Choro cuja introdução é um verdadeiro foxtrote, que, neste seu decorrer apre-
senta combinações de pura música popular ianque. Não nos agradou (CORDEIRO,
1929 apud CAZES, 1998, p. 70).
Pautado pelo conservadorismo nacionalista, Cruz Cordeiro mal sabia que �ca-
ria famoso por seu equívoco devido às tantas citações que sua crítica ganharia
em livros e/ou estudos que tratam dessa composição. Mal sabia também que a
fusão entre jazz e choro ocorreria em diversos capítulos e tempos de nossa
história, destacando compositores e intérpretes como K-Ximbinho, Radamés
Gnattali e Paulo Moura.
Vamos ouvi-lo?
Nascido negro num país racista, ele não tinha receio em utilizar e transfor-
mar para o choro os elementos da música europeia, sejam harmonias, for-
mas encontradas em J. S. Bach ou mesmo do jazz norte-americano que ti-
nha escutado em Paris.
5. Considerações
Consideremos que esta foi apenas uma brevíssima introdução ao que pode
ser o choro, visto que, como será recorrente, mostraremos apenas o surgi-
mento do gênero e os principais mentores que o originaram e contribuíram
com sua consolidação.
/hiscrimusmusbra-g01495-dez-2021-grad-ead/)
Objetivos
• Conhecer o primeiro samba gravado no Rio de Janeiro.
• Conhecer alguns dos ritmos e gêneros do período entre o início do sécu-
lo 20 e o começo da década de 1960.
• Estudar o papel da difusão radiofônica, seu apogeu e declínio.
• Conhecer alguns dos nomes da música popular no mesmo período.
• Estudar quem construía a música popular durante esse período e qual a
função social desse artista.
Conteúdos
• Samba, choro, Bossa Nova, baião, música nordestina.
• Época de Ouro.
• In�uência do jazz no Brasil.
• Obras de Luiz Gonzaga, Noel Rosa, João de Barro, Lamartine Babo.
Problematização
Qual foi o primeiro samba gravado? Quais relações podem ser feitas com
sambas que você conhece? A origem do fonograma alterou a maneira de se
fazer e pensar música? O que foi a época de ouro? Quais seus principais mú-
sicos? O que representou a difusão da música nordestina para a música po-
pular brasileira como um todo? O que a Bossa Nova trouxe de novo para a
música brasileira?
1. Introdução
Vamos iniciar os estudos do Ciclo 3 do nosso material. Você está preparado?
Então, vamos em frente!
Veremos, também, como se deu a primeira gravação do gênero samba, bem di-
ferente do ritmo de samba que há no imaginário popular atual.
Estudaremos, por �m o período do �nal dos anos 1950, que experimentou uma
transformação de conceitos e paradigmas, na qual vemos, de uma nova ma-
neira, a utilização das concepções estilísticas e conceituais do jazz: a Bossa
Nova.
De fato, a canção Pelo telefone descreve a situação real e inusitada ocorrida no
Rio de Janeiro, quando o então chefe da polícia mandou avisar antecipada-
mente pelo telefone a todos os infratores de jogos de azar que haveria uma
apreensão dos materiais utilizados ilegalmente nos cassinos, encobertando a
jogatina. Logo, as rodas de música das camadas subalternas do Rio de Janeiro
já davam o tom para o quão cômico foi o fato.
Antes de darmos continuidade aos seus estudos, assista ao vídeo Gripe espa-
nhola: gripezinha ou �lme de terror? e conheça um pouco mais a respeito da
gripe espanhola e como ela afetou a sociedade brasileira em 1918.
twentieth-century/).
O que concebemos como "Época de Ouro" é tido como um conceito que abarca
o apogeu do rádio no Brasil, nos anos 1930 e 1940, até seu declínio diante do
advento da televisão, nos anos 1950. A partir de 1922, o rádio foi ganhando ca-
da vez mais espaço entre a população e a cultura como um todo. Além de notí-
cias, divulgação, radionovelas etc., o rádio seria também instrumento de uma
transformação nos costumes da época.
Assim, Noel assinou boa quantidade de canções com diversos parceiros. Seu
talento �cou registrado em canções que se tornariam clássicos em rodas do
que hoje é chamado "samba de raiz". Para citar três exemplos, temos: Três
Apitos, Com que Roupa e Gago Apaixonado.
Três Apitos foi gravada por Aracy de Almeida (uma das cantoras predile-
tas de Noel Rosa, com gravações importantes da Época de Ouro), apenas
13 anos após a morte de Noel.
Essa canção apresenta variações em seus versos - o que particularmente
nos dá maiores possibilidades interpretativas ao apreciar diferentes ver-
sões da música. Vamos ouvi-las?
(https://mdm.claretiano.edu.br/hiscrimusmusbra-g01495-2021-02-grad-
ead/wp-content/uploads/sites/1295/2019/12/C3-F5.jpg)Figura 5 Lamartine Babo
(https://boni.wordpress.com/2017/01/10/072/).
João de Barro (Figura 6), conhecido também como Braguinha, escreveu uma
quantidade considerável de composições, muitas delas sambas e marchas.
Entre os intérpretes, temos como principais nomes do início dessa fase Mário
Reis, Sílvio Caldas, Carlos Galhardo, Aurora e Carmen Miranda.
Para citar alguns intérpretes que surgem nesse mesmo período, temos: Ciro
Monteiro, Aracy de Almeida, Dalva de Oliveira (Figura 7), Nelson Gonçalves e
Orlando Silva, sendo este último tido como primeiro grande ídolo de massa da
música popular brasileira.
Se, por um lado, tivemos, nos primeiros anos da Época de Ouro, a voz de Mário
Reis como um divisor de águas, por outro, Orlando Silva perpassou diversos
estilos, chamando atenção do grande público com sua voz a�nada, com tim-
bre e tessitura peculiares (SEVERIANO; MELLO, 1997).
A �gura feminina mais importante da Época de Ouro, sem dúvida, é Carmem
Miranda, que, em parceria com o compositor Dorival Caymmi, alcançou su-
cesso internacional, tendo como carro-chefe a canção O que é que a Baiana
tem?.
Desse ponto em diante, a Época de Ouro viu, pouco a pouco, seu declínio, por
conta da saída de cena dos artistas da década de 1930, não havendo artistas da
música que os substituíssem à altura.
Temos, então, o ano de 1945 como o que encerra a Época de Ouro. A partir de
então, veremos uma pré-Bossa Nova e a difusão da música nordestina pelo
Brasil, ou a "Era do Baião", como Severiano e Mello preferem chamar (1997).
Com Luiz Gonzaga (Figura 8), a música nordestina foi levada ao Brasil e o
Nordeste teve seu primeiro grande representante dentro da música popular.
suor/).
Apenas em 1947, Luiz Gonzaga gravou umas de suas músicas letradas e inter-
pretada por ele mesmo: o xote No meu Pé de Serra (https://www.letras.mus.br
/luiz-gonzaga/47092/), uma parceria com o letrista Humberto Teixeira.
Nesse mesmo ano, também em uma parceria com Humberto Teixeira, Luiz
Gonzaga gravou Asa Branca. Nessa canção - retirada da tradição popular -,
Luiz Gonzaga retratou a realidade do nordestino, ilustrando as condições da
região Nordeste diante da seca e as consequências para sua população.
Além disso, Luiz Gonzaga teria trazido ao mercado fonográ�co nomes nacio-
nalmente conhecidos, como Raimundo Fagner, Elba Ramalho e
Dominguinhos (Figuras 10 e 11).
Figura 10 À esquerda, Luiz Gonzaga e, à direita, com o acordeom, Dominguinhos (https://epoca.globo.com/vida/noticia
/2013/07/dominguinhos-morre-aos-72-anos-em-sao-paulo.html).
Figura 11 Da esquerda para direita: Luiz Gonzaga, Oswaldinho, Dominguinhos e Sivuca. (http://blogs.jornaldaparai-
ba.com.br/silvioosias/2018/06/25/luiz-gonzaga-dominguinhos-sivuca/)
historia-chega-de-saudade-joao-gilberto-1959.html).
Por �m, vamos ouvir Johnny Alf (1929-2010). Em 1952, ele compôs e gravou
Rapaz de Bem.
Johnny Alf foi uma grande referência para João Gilberto e também Tom
Jobim, que o chamava de "Genialf". Também inspirado pela música Rapaz de
Bem, Tom Jobim (junto a Newton Mendonça) compôs outra música que mar-
cou não apenas a Bossa Nova e o Brasil, mas in�uenciou boa parte do mundo:
Desa�nado.
Agora, "o cantor não mais se opõe em contraste como solista na orquestra"
(CAMPOS, 1974, p. 22), o intérprete se coloca de igual para igual no conjunto,
na formação instrumental. Além disso, "O intérprete igualmente se integrará
na obra como um todo, seguindo o conceito de que ele existe em função da
obra e não apesar dela" (CAMPOS, 1974, p. 22).
Fato que ilustra essa mudança de paradigma encontra-se nas primeiras vezes
em que, " [...] perante um auditório e câmeras de televisão, comparecia o cantor
João Gilberto, tão-somente para acompanhar ao violão um número musical
interpretado pela cantora Sylvia Telles" (CAMPOS, 1974, p. 22).
Ouça, se preferir, a versão que João Gilberto lançou, em 1959, da música Chega
de Saudade, acompanhando a melodia cifrada a seguir. Para ouvir a música,
basta clicar no botão de play.
Podemos dizer que essa renovação do samba, com in�uência do jazz, chama-
da Bossa Nova, alcançou projeção internacional e certamente é uma das res-
ponsáveis por colocar o Brasil no mapa musical de outros países até hoje.
Para encerrar o estudo deste ciclo, sugerimos, agora, que você responda às
questões a seguir e avalie seu aprendizado até o momento.
6. Considerações
Neste ciclo, pudemos caminhar pelos principais fatos e transformações estéti-
cas ocorridos na Época de Ouro, na primeira difusão da música nordestina, e
na Bossa Nova. Pudemos notar quão diversi�cados são esses três momentos
em seus aspectos estilísticos, rítmicos, harmônicos e ideológicos.
Nos ciclos seguintes, veremos que Noel Rosa e a Época de Ouro exerceram in-
�uência sobre os compositores (falaremos especialmente de Chico Buarque,
mas também há outros) que participaram ativamente da história dos Festivais
da MPB e contribuíram com a formação do próprio conceito de MPB.
Por sua vez, a música nordestina e a Bossa Nova, pelo respeito que receberam
da vanguarda artística, têm in�uência direta na formação do movimento tro-
picalista - servindo a Bossa Nova até mesmo como motivador do movimento
pela retomada da "linha evolutiva" da MPB.
Portanto, esta obra não conta a história, propriamente dita, da música popular
no Brasil, mas, sim, busca traçar um �o condutor que ilustre o desenvolvimen-
to e as relações na rica diversidade da música brasileira.
(https://md.claretiano.edu.br
/hiscrimusmusbra-g01495-dez-2021-grad-ead/)
Objetivos
• Compreender os sentidos das palavras "caipira" e "sertanejo" e conhecer
suas origens.
• Conhecer, re�etir e discutir o que a Era dos Festivais representa para a
História da Música Popular brasileira.
• Entender o contexto do movimento artístico chamado Tropicália.
• Compreender como o conceito de MPB se transformou no decorrer dos
anos 1960 e como é visto pelo viés histórico.
Conteúdos
• Viola de arame: seus tipos e usos na música caipira.
• Músicas tradicionais e a música caipira-sertaneja.
• Contexto histórico e político dos anos de 1960: a ditadura militar no
Brasil.
• História dos festivais de canção de 1965 a 1969.
• Conceito de MPB na década de 1960.
• Tropicalismo ou Tropicália.
Problematização
Quando e qual foi a primeira música caipira gravada? O que é música serta-
neja? O que é música caipira e quais são suas origens? Qual a importância
dos festivais de canção? Qual foi o contexto político da época? O que é
Música Popular Brasileira? O que foi o Tropicalismo e qual sua relação com o
Modernismo brasileiro?
Orientação para o estudo
Neste ciclo, reserve um tempo para assistir aos documentários indicados e
para dedicar-se a ouvir as músicas, prestando atenção aos elementos musi-
cais e poéticos. Busque compreender os exemplos dados (por meio de áudios
e fotos) de eventos, músicas e pessoas representativos do movimento musi-
cal da época, pois são de grande importância para o aprofundamento deste
estudo.
1. Introdução
Neste ciclo, nossos estudos focarão quatro conceitos essenciais para o enten-
dimento da música popular brasileira, especialmente nos anos 1960: a Música
Caipira-Sertaneja, a Era dos Festivais, o movimento da Tropicália e o conceito
de MPB.
Veremos, por �m, como o contexto político interferiu nas composições, nos
agrupamentos artísticos e na cultura musical brasileira.
É fundamental lembrar que todas as questões abordadas neste estudo não es-
gotam o assunto. Pelo contrário, aqui você tem apenas uma introdução. É im-
portante que você realize pesquisas individuais para se aprofundar no assun-
to.
2. Música Caipira
Comecemos com música! O vídeo a seguir se inicia com Inezita Barroso
(1925-2015), uma importante referência da música caipira, anunciando a músi-
ca História de um Prego, de João Pací�co (1909-1998), acompanhado na voz e
na viola por Adauto Santos (1940-1999). Nela há um elemento central da músi-
ca caipira: a narrativa, ou melhor, os causos e as histórias.
As manifestações tradicionais são aquelas raízes mais profundas (as que con-
seguimos acessar e sabemos que continuam se modi�cando). Ou seja, ao falar
de música caipira, nos referimos a grupos autênticos, ou seja, cuja prática mu-
sical está vinculada a sua função ritual, espiritual ou não.
Vamos fazer, agora, uma pausa para re�etir sobre a riqueza dessas manifesta-
ções mais tradicionais. Diferentemente de alguns gêneros musicais, a história
delas foi, por muito tempo, passada entre gerações de forma oral, de modo que
os guardiões e as guardiãs desses saberes e conhecimentos, reconhecidos hoje
como mestres e mestras da cultura popular, foram as vias de acesso mais �éis
às histórias dessas manifestações. Podemos citar, por exemplo, a (r)existência
de inúmeros(as) mestres(as) de frevo (PE), jongo do Sudeste (SP, RJ, ES, MG),
tambor de crioula (MA), matrizes do samba (RJ) - partido alto, samba de terrei-
ro e samba-enredo -, capoeira, bumba meu boi (MA), tambor de crioula (MA),
fandango caiçara (PR e SP), carimbó (PA), maracatu nação (PE), maracatu de
baque solto (PE), cavalo-marinho (PE), caboclinho (PE) apenas para citar aque-
les reconhecidos como bens culturais pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan) até 2019.
Figura 1 Diversos tipos de viola, com destaque para a viola de buriti (1ª à esquerda) e viola de cocho (2ª superior, da es-
A seguir, ouça a música Viola, de Levi Ramiro e João Arruda, e perceba, além
da letra, que a "viola de cabaça" tocada por João é feita do fruto com o qual se
faz o verso da viola - por isso, seu formato é bastante distinto do tradicional
violão.
e-interpretes/alguns-detalhes-do-pioneiro-cornelio-pires.html).
Já ouvimos, no início deste ciclo, uma música cantada por João Pací�co, em
que Inezita Barroso faz uma participação. Você se recorda?
morre-a-cantora-caipira-inezita-barroso.html).
Ouviremos agora Pingo d'água, música escrita por João Pací�co e interpretada
por Inezita Barroso.
Assim como Inezita Barroso, Rolando Boldrin (1936-) é uma importante refe-
rência na divulgação e pesquisa da música caipira-sertaneja. Som Brasil,
Empório Brasileiro, Empório Brasil e Sr. Brasil são alguns importantes progra-
mas televisivos conduzidos por ele.
Para representar o sucesso das duplas sertanejas nas últimas décadas, ouça a
música Fio de Cabelo, que foi responsável por alavancar a carreira de
Chitãozinho e Xororó e faz parte do oitavo álbum da dupla, lançado em 1982.
Sabemos que, até aqui, deixamos para trás muitos nomes marcantes da músi-
ca caipira-sertaneja. Esperamos, entretanto, que este material possa mostrar
um pouco mais da riqueza da nossa música que está viva e se transforma a
cada dia a partir dos encontros e desencontros de pessoas e suas culturas. Já
que costuramos nosso estudo apresentando músicas tocadas na viola, em
nossa "amarração �nal", mostraremos as abrangências desse instrumento na
música Viola Cósmica, de Gildo Guedes e Pereira da Viola.
Contextualização histórica
Para compreendermos o que se chamou Festivais da Canção, é importante
contextualizarmos o conceito no tocante à situação política brasileira nos
anos em que foram realizados, ou seja, entre 1964 e 1968.
A partir de 1964, o Brasil viveria o mais extenso período ditatorial de sua his-
tória. Segundo Silva (2021), não era a intenção de todos os participantes do gol-
pe que a ditadura durasse tanto e tomasse as medidas e proporções que to-
mou. A intenção era que o golpe tivesse um efeito "saneador". Ou seja,
pretendia-se eliminar, com uma breve intervenção militar na política, quatro
elementos entendidos como problemas que vinham comprometendo a ordem
e a estabilidade política (SILVA, 2021):
[...] a forte mobilização política induzida pela demagogia populista; o amplo espec-
tro de organizações, movimentos e mecanismos sob os quais atuava a subversão
comunista; a corrupção e o comportamento predatório na gestão política e
administrativa do Estado [...]; e, por �m, a estatização intoleravelmente crescente a
que se havia submetido o conjunto da economia (SILVA, 2021, n. p.).
Os festivais
O período que �cou conhecido como Época ou Era dos Festivais teve seu iní-
cio em 1960 e seu ponto �nal, em 1972 (MELLO, 2003). Promovido pela Rádio e
TV Record, o festival denominado "As Dez Mais Lindas Canções de Amor" foi o
primeiro concurso a abarcar compositores de outros estados - que não os do
eixo São Paulo-Rio de Janeiro - e teve como vencedor Ary Barroso com a
Canção em Tom Maior.
Vamos ouvi-la?
Embora não fosse de tanta expressão, não tivesse nome de festival nem con-
curso, a "I Festa da Música Popular Brasileira" entrou para a História por ser o
primeiro evento de âmbito nacional e pela própria produção da Rádio e TV
Record, a qual mais tarde organizaria eventos de proporções maiores (MELLO,
2003).
Já em 1963, mais um festival acontecia, agora com o nome "Um Milhão Por
Uma Canção", com o compositor Luís Antônio alcançando a primeira coloca-
ção com Uma Canção por Um Milhão, seguido de Ary Barroso e Luís Peixoto
com a canção Longe de Você. Em 1965, foi a vez de Jacobina e Murilo Latini le-
varem o primeiro prêmio, com a canção A lei do mais forte. Apesar de tantos
festivais nesse período, os Festivais da Canção tiveram seu momento áureo
entre 1965 e 1968.
musical-de-elis-regina-nos-viviamos-num-mar-de-rosas/).
A maior parte das edições teve o acompanhamento do Zimbo Trio (Amilton
Godoy, Luís Chaves e Rubinho Barsotti) e convidados como Tom Jobim,
Vinicius de Moraes, Dorival Caymmi e Os Cariocas. No vídeo a seguir, você po-
derá apreciar um trecho desse programa. Vamos assistir a ele?
Já o programa Jovem Guarda, que pode ser assistido a seguir, foi criado para
substituir a transmissão de futebol aos domingos que, por ser ao vivo, havia
sido proibida. Exibido entre 1965 e 1968, com apresentação de Roberto Carlos,
Erasmo Carlos e Wanderleia, criou um movimento cultural, lançou moda e gí-
rias, extrapolando o âmbito musical. Cabe lembrar a in�uência do rock and
roll como uma fonte principal de inspiração para a música e a estética da
Jovem Guarda. Inicialmente, muitas canções eram versões em português das
músicas britânicas ou estadunidenses e, após o término do programa, cada ar-
tista tomou rumos distintos musicalmente (música romântica, sertaneja, rock
etc.).
Vamos, então, conhecer mais de perto os festivais ano a ano? O primeiro festi-
val que conheceremos ocorreu no ano de 1965.
Festival de 1965
Nesse ano, a TV Excelsior realizou o "I Festival da Canção". Na edição, despon-
tavam os primeiros nomes que um festival lançaria ao Brasil: Edu Lobo e Elis
Regina. A composição Arrastão, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes, venceu es-
se festival da TV Excelsior, revelando, de uma só vez, Edu Lobo como compo-
sitor e Elis Regina como intérprete (COELHO, 1998). Logo, a composição estaria
entre as primeiras nas paradas de sucesso e listas de vendagem. Vamos ouvir
essa canção?
Festivais de 1966
A canção que introduz os Festivais de 1966 foi a Banda, interpretada por Chico
Buarque. Aprecie a seguir.
Festival de 1967
O "II Festival Internacional da Canção Popular" teve como vencedora
Margarida, de Gutemberg Guarabyra, interpretada pelo compositor e também
pelo Grupo Manifesto. Em segundo lugar, estava o até então anônimo Milton
Nascimento, que participou como intérprete e compositor, ao lado de Fernando
Brant, com a canção Travessia (música que ouviremos na sequência). E, em
terceiro lugar, �cou Chico Buarque, com Carolina, interpretada por Cynara e
Cybele.
Porém, o marco do ano de 1967 (e por que não dizer de todos os festivais?) �-
cou por conta "III Festival de Música Popular Brasileira", promovido pela TV
Record. Veremos a importância dele mais adiante. Esse festival permeia toda
a discussão e os tópicos levantados para organizar a discussão sobre os festi-
vais. Por isso, recomendamos que assista, a seguir, a um trecho do documen-
tário Uma Noite em 67 (2010), de Ricardo Calil e Renato Terra.
Ouça a música Domingo no Parque, de Gilberto Gil e analise a letra, que narra
uma história entre José, João e Juliana. Perceba como os elementos da histó-
ria são amparados por elementos musicais.
[...] aconteceu o ponto mais alto desse processo artístico, a�rmação de todo o traba-
lho iniciado no Teatro de Arena e seu 150 lugares - com a introdução das guitarras
e instrumentos eletrônicos, até então proibidos, e a nova estética sonora proposta
por Rogério Duprat no arranjo de "Domingo no parque", no que foi rotulado como
"som universal", precursor do tropicalismo. Um momento de emocionante confron-
tação política e estética, que mudaria de�nitivamente os rumos da MPB. Mais adi-
ante, em uma noite de 1968, Tom Zé, com sua "São, São Paulo, meu amor", abriria
caminho de�nitivamente para o tropicalismo, trazendo à tona explosivas contradi-
ções que eclodiram no III Festival Internacional da Canção da Globo (RIBEIRO, 2020,
p. 210).
Festival de 1968
O ano de 1968 encerra o momento áureo dos festivais. Outros aconteceriam
nos anos subsequentes, contudo, com as tendências culturais e políticas da
época, como o Tropicalismo e a implementação do AI-5, os festivais perderam
força.
Em 1972, Jorge Ben, hoje conhecido como Jorge Ben Jor, venceu com Fio
Maravilha. Dominguinhos participou em 1979, vencendo com a canção Quem
me levará sou eu, com a interpretação de Fagner. Nesse mesmo ano, também
participam Walter Franco, com Canalha e Oswaldo Montenegro, com a canção
Bandolins. Ainda há o "MPB-Shell" em 1982 e o "Festival dos Festivais" em
1985, com destaque para a interpretação de Tetê Espíndola, vencedora com
Escrito nas Estrelas.
be.com/watch?v=Up3ip6Vk5oE&ab_channel=Brunovisk).
Por �m, ouça o que têm a dizer alguns dos integrantes do Quarteto Novo sobre
a música:
Note que não são citados aqueles que já tinham carreiras de sucesso, como
Nara Leão, Elza Soares e Roberto Carlos, este último reformulando o estilo de
seu repertório para se enquadrar no padrão dos festivais. Também não são
mencionados aqueles que participaram, mas continuaram sem maiores reper-
cussões no meio musical.
Atente para o caso especial de Geraldo Vandré, que teve sua carreira alavanca-
da pelos festivais, continuando relativamente conhecido até hoje, mas que
saiu de cena justamente pelo forte impacto causado por sua música. Para
compreender o que isso quer dizer, não deixe de assistir ao documentário O
que sou nunca escondi, indicado anteriormente. Se você se atentou a ele, viu
que Geraldo Vandré foi um símbolo da música de protesto e suas consequênci-
as perante o AI-5.
COMPOSITORES INTÉRPRETES
Edu Lobo
Geraldo Vandré
Nana Caymmi
Chico Buarque de Hollanda Jair Rodrigues
Capinam Os Mutantes
Caetano Veloso
Assim, este aspecto dos festivais, a criação de "nomes de peso", ligado aos ou-
tros dois listados, constitui uma das razões para os festivais ganharem desta-
que na História da Música Popular.
José Miguel Wisnik aponta para uma pista: "Entre os Festivais de 65 e 68, a expres-
são MPB originou-se e vigorou como senha por intermédio da qual uma cultura
cancional 'universitária' então efervescendo distinguia-se da cultura de massa no
sentido estrito" (NAPOLITANO, 1998 p. 93).
Tropicália
Como vimos, o Tropicalismo, ou a Tropicália, surgiu por meio de Caetano
Veloso e Gilberto Gil. A sede por uma nova concepção de música que agregas-
se a diversidade brasileira e internacional começou a ganhar forma no
Festival de 67, com o sucesso das canções inovadoras nos âmbitos composici-
onal e instrumental.
O Movimento denominado tropicalismo ou tropicália, surgido em São Paulo no �m
da década de 60 por iniciativa de compositores baianos herdeiros da bossa nova
carioca nos meios universitários de Salvador, constituiu a tentativa de - como de�-
niria o próprio líder do grupo, Caetano Veloso - obter "a retomada da linha evolutiva
da tradição da música brasileira na medida em que João Gilberto fez". [...] Tal reto-
mada da "linha evolutiva" aparecia como a tentativa de criação a partir do rock
americano e de seu instrumental eletri�cado, de um sucedâneo musical brasileiro
semelhante ao obtido dez anos antes em relação ao jazz, através da bossa-nova
(TINHORÃO, 1998, p. 323).
Figura 7 De Helio Oiticica (1937-1980), obra Tropicália, apresentada pela primeira vez em 1967 (https://www.acriti-
ca.com/blogs/bem-viver-blog/posts/autora-dos-poemas-da-obra-tropicalia-de-helio-oiticica-lanca-livro-em-ma-
naus).
Dentro da própria música, o velho e o novo, o requintado e o brega, o interiora-
no e o internacional conviviam, a �m de formar a sonoridade pretendida por
eles, segundo a ideologia e a estética desse grupo.
O som da �oresta nos remete aos ancestrais que aqui existiam antes da chega-
da de Cabral. Enquanto isso, a percussão nos remete à matriz africana da cul-
tura brasileira. A menção à Carta de Pero Vaz de Caminha indica ainda mais a
origem mais remota da cultura brasileira.
O que isso tem de tropicalista? Remeter-nos à origem pode signi�car tudo que
há no Brasil, o mesmo berço de todos os ritmos, estilos e gêneros. Outro aspec-
to seria a fertilidade da música brasileira (ou da cultura como um todo), com-
parada às terras mencionadas por Caminha. Porém, qual seria o signi�cado
dramático e suspenso que a instrumentação aplica junto à voz?
A letra da música remete às belezas naturais e àquilo que remete o nosso ima-
ginário a elas: chapadões, verdes matas, luar do sertão, coqueiro, brisa, faróis,
praias como a de Iracema (CE) e Ipanema (RJ).
/07/tropicalia-ou-panis-et-circencis-completa-50-anos-conheca-os-bastidores-do-disco.ghtml).
Bat Macumba - interpretada por Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e
Os Mutantes (1968) (https://youtu.be/uxCs7OkfpVI)
Após a apresentação dos conceitos estudados neste ciclo, vamos realizar al-
guns exercícios para avaliar sua aprendizagem? Agora, é com você!
4. Considerações
Concluímos aqui um pequeno esboço do que se deu na música Caipira-
Sertaneja e na música Popular Brasileira dos anos 1960; ainda assim, não tra-
tamos de todos os artistas, músicos, compositores, opiniões etc. Esta é apenas
uma pequena fatia (aquela de mais visibilidade) do período em questão.
Recomendamos que você não esgote seus estudos sobre os temas discutidos
aqui, mas que use esta obra como de ponto de partida para seu aprofundamen-
to na vastidão da música popular brasileira dos anos 1960.
(https://md.claretiano.edu.br
/hiscrimusmusbra-g01495-dez-2021-grad-ead/)
Objetivos
• Conhecer o contexto cultural, social e político do que se chamou Clube
da Esquina, Rock Nacional e Manguebeat.
• Identi�car alguns dos ritmos e gêneros das denominações em questão.
• Conhecer alguns nomes da música popular do período estudado.
• Reconhecer os grupos que construíram a música popular nesse período
e identi�car qual sua função social.
Conteúdos
• Clube da Esquina.
• Rock
• Manguebeat.
Problematização
O que foi o Clube da Esquina? O que esse grupo de pessoas apresentou de no-
vo na música brasileira? Como surgiu o rock nacional? Quais foram as ban-
das e personagens do rock até os anos 1980? O que é o Manguebeat? Quais
suas in�uências e características?
1. Introdução
Neste ciclo, compreenderemos os acontecimentos e vertentes musicais que
mais movimentaram a música nos anos 1980. Integrado por Lô Borges, Beto
Guedes, Milton Nascimento, entre outros, o Clube da Esquina transformou
concepções musicais e in�uenciou músicos brasileiros e estrangeiros.
Também trataremos brevemente da origem do rock, punk e heavy metal, ven-
do como tais gêneros foram assimilados por pessoas e seus grupos no Brasil
até a década de 1980.
2. Clube da Esquina
Comecemos com música, ouvindo Milton Nascimento e Seu Jorge, cantando a
composição chamada Clube da Esquina, de autoria de Milton Nascimento, Lô
Borges e Márcio Borges, e presente no disco intitulado Milton, de 1970.
[...] integrado por Milton Nascimento, Lô Borges, Toninho Horta, Beto Guedes,
Marcio Borges, Túlio Mourão, Fernando Brant, Ronaldo Bastos e Wagner Tiso, entre
outros, em sua maioria músicos mineiros, que se tornou conhecido a partir do
lançamento, em 1972, do LP "Clube da Esquina", liderado por Milton Nascimento e
Lô Borges. O disco projetou a carreira individual de muitos dos músicos participan-
tes, como Toninho Horta, Wagner Tiso e Beto Guedes, entre outros (INSTITUTO
CULTURAL CRAVO ALBIN, 2021, n. p.).
Figura 1 Alguns representantes do Clube da Esquina (https://fernandorozzo.blogspot.com/2016/07/clube-da-
esquina.html).
Segundo Vilela (2010), a partir de 1970, no disco Milton, começa-se a usar uma
instrumentação pesada, "com guitarra, baixo, bateria, pandeiro meia-lua, pia-
no e teclado; instrumentação típica das bandas de rock e nada usual no som
que ele fazia até então" (VILELA, 2010, p. 20-21). Em verdade, essa nova sonori-
dade rompe com o trabalho que estava sendo feito por Milton Nascimento em
parceria com outros membros do Clube da Esquina, ou seja, padrões de uma
MPB pré-Tropicália (VILELA, 2010).
Em suas produções, a relação com o contexto cultural, social e político aparece nas
letras em alguns momentos de forma esperançosa, criando uma contraposição à
repressão vigente e, em outros, uma relação com os valores da contracultura. Outro
tipo de ligação que o Clube faz com o momento histórico ocorre com a alusão ape-
nas ao sentimento de opressão com denotação de sentimento de angústia e preocu-
pação, sem citar diretamente uma referência ditatorial nem mencionar outros as-
pectos históricos. No entanto, mesmo que certo engajamento não estivesse coloca-
do de forma direta, a preferência era por "assuntos culturais e políticos", privilegi-
ando temas sociais (OLIVEIRA, 2014, p. 69).
na)
Para encerrarmos este tópico, ouça duas músicas: uma é a versão acústi-
ca de Clube da Esquina Nº 2, produzida em 2018 e composta por Milton
Nascimento, Lô Borges e Márcio Borges; e a outra é a primeira versão
dessa música, produzida em 1972 e incluída no álbum Clube da Esquina
Nº 2. Esta versão não possuía letra. Para acessá-las, basta clicar nos
links a seguir.
3. Rock Nacional
Vamos retomar um pouco do que falamos sobre rock até aqui? No ciclo anteri-
or, falamos sobre o programa televisivo Jovem Guarda, de meados da década
de 1960, que apresentou, além de outros estilos musicais, o rock.
Na década de 1920 e 1930 surgiu a guitarra elétrica, e a origem do rock and roll
está associada à década de 1940. Vamos assistir, no vídeo a seguir, a Rosetta
Tharpe, considerada a mãe do rock, tendo in�uenciado outros grandes nomes,
como Little Richard, Johnny Cash, Carl Perkins, Chuck Berry, Elvis Presley e
Jerry Lee Lewis.
Vamos nos aprofundar um pouco mais?
• Rock around the clock (Ronda das horas) - interpretada por Nora
Ney (1955) (https://www.youtube.com/watch?v=D8MTPwbU-OM)
Agora ouça a canção Stupid Cupid que foi composta por Howard
Green�eld e Neil Sedaka e interpretada por Connie Francis em 1958, e sua
versão cantada em português por Celly Campello, em 1959, trata-se do
single mais vendido de todos os tempos no país.
beatles-with-the-beatles-1963/).
ki/Raulzito_e_os_Panteras).
Vamos ouvir?
Lucy in the Sky with Diamonds, adaptada para Você Ainda Pode Sonhar
(1967) (https://www.youtube.com/watch?v=-AburnHHE60)
Havia, portanto, essa in�uência dos Beatles, Elvis, entre outros, e um direcio-
namento da música para juventude e o caráter crítico nas letras e estilo de vi-
da. A seguir, listamos três exemplos musicais, buscando evidenciar as mistu-
ras do rock com a música brasileira.
Plebe Rude, Ratos de Porão, Inocentes e Cólera são alguns exemplos de bandas
brasileiras de punk rock surgidas no �nal dos anos 1970 e meados de 1980. É
desse contexto punk que surgem bandas relevantes cujos integrantes, posteri-
ormente, transitariam entre outros gêneros ligados ao rock, tais como Legião
Urbana, Capital Inicial, Titãs, Paralamas do Sucesso, Ira!, Engenheiros do
Hawaii, Barão Vermelho, Blitz e Ultraje a Rigor, que são alguns dos grupos que
surgiram na década de 1980 e alcançaram projeção nacional. Precisamos lem-
brar que tais bandas surgiram no �nal do período da ditadura civil-militar
aqui no Brasil (1964-1985).
A análise da geração, diretamente afetada pelos anos de chumbo, revela uma série
de experiências vividas, possibilitando o entendimento dos sentidos que o grupo
atribui a sua realidade social, em determinado momento e lugar da História.
Durante a década de 1980, o estilo musical rock aumentou o debate de temas diver-
si�cados. O novo rock brasileiro, falado em português, imprimiu situações comuns
desta geração, como amor, sexo, política, ética, cotidiano e registrou o processo de
maturação destes jovens, no âmbito pessoal e pro�ssional. Abordou questões com
maior complexidade como a AIDS e a homossexualidade. Seus protagonistas foram
jovens de classe média alta, em sua maioria homens, �lhos de empresários, como
Cazuza; de militares, Hebert Vianna e Paulo Ricardo; políticas: Roberto Frejat e
Sérgio Britto; funcionários públicos: Renato Russo; diplomatas: Bi Ribeiro, Phillippe
Seabra e Dado Villa Lobos, dentre outros.
4. Manguebeat
O Manguebeat foi um movimento artístico dos anos 1990, surgido na cidade de
Recife (PE). Tem como base a diversidade e o hibridismo entre a música global
e a local, ou seja, ritmos como o maracatu, coco, embolada, frevo são mescla-
dos ao pop rock, hip hop, punk, música eletrônica etc. Além disso, o punk e o
rock entram em cena, bem como os protestos contra a desigualdade em
Recife.
Figura 7 Manguezal (https://blog.manguez.al/recife-a-capital-da-rebeldia-digital-3c6ee2463937).
(https://br.pinterest.com/douglaspupim/fanzine-manguebeat/)
Não há, por exemplo, nos países da Europa Ocidental, uma única etnia: "As
nações modernas são, todas, híbridos culturais" (HALL, 2005, p. 62).
Hall (2005) busca desmiti�car a cultura nacional como plena, uni�cadora en-
tre as diferentes identidades culturais existentes em cada nação, colocando-a
como um ponto de convergência de histórias, lugares, políticas, símbolos, lu-
tas etc. Na verdade, as identidades nacionais não são capazes de ultrapassar
diferenças, divisões e contradições internas (HALL, 2005). Essas característi-
cas são afetadas pelo recente processo da globalização, que Hall descreve da
seguinte forma:
A globalização se refere àqueles processos, atuantes numa escala global, que atra-
vessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e organi-
zações de espaço-tempo, tornando o mundo, em realidade e em experiência, mais
interconectado (HALL, 2005, p. 67).
Parece então que a globalização tem, sim, o efeito de contestar e deslocar as identi-
dades centradas e fechadas de uma cultura nacional. Ela tem um efeito pluralizan-
te sobre as identidades, produzindo uma variedade de possibilidades e novas po-
sições de identi�cação, e tornando as identidades mais posicionais, mais políticas,
mais plurais e diversas; menos �xas, uni�cadas ou trans-históricas (HALL, 2005, p.
87).
Vamos ouvi-la?
Interpretada por Chico Science & Nação Zumbi (1996), Maracatu Atômico, de
Chico Science, apesar de sua letra - de autoria de Nelson Jacobina e Jorge
Mautner - desconstruir a ideia de discurso linear, também menciona a paisa-
gem natural do mangue e seu desabafo em forma de metáfora. A rítmica do
maracatu aparece no uso do gonguê e nas viradas de duas colcheias contra
uma tercina nos momentos antecedentes ao refrão. Assista ao vídeo a seguir
para compreender as características dessa canção.
5. Considerações
Quanto aos hibridismos encontrados no movimento Manguebeat, é importan-
te frisar que, de diversas formas, eles sempre estiveram presentes no decorrer
da história da nossa música popular. Segundo Ulhôa (2016), o hibridismo mu-
sical, como re�exo do hibridismo cultural, é manifestação presente na
História da Música Popular Brasileira do �m do século 19 ao século 20:
6. Considerações Finais
Apresentamos, neste tópico, as considerações �nais dos nossos estudos.
Optamos por apresentá-las em texto e áudio para sua melhor apreciação. Caso
opte pelo áudio, clique no ícone a seguir:
É fato que nem mesmo um estudo durante os três anos de curso nos daria
uma história completa, com todos os seus personagens e gêneros musicais.
Nossos estudos, porém, situam-nos em uma possível linha do tempo, indican-
do pessoas, momentos e lugares nos quais podemos nos aprofundar em estu-
dos individuais.
Não haveria muito mais a dizer sobre Raul Seixas e suas contribuições sobre a
apropriação do rock 'n' roll, o protesto e transformações de paradigmas?
En�m, são inúmeras as linhas que podemos seguir para compreender a músi-
ca brasileira. Isso dependerá de nosso interesse e nossas decisões.