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As TIC & Música: Linguagens possíveis na construção da cidadania nas políticas

públicas de formação docente


TIC & Musique: des langues possibles dans la construction de la citoyenneté
dans les politiques de formation enseignante
Rodrigo Pedro (UTP/Brasil)
Jucélia Ribeiro (UTP/Brasil)

Resumo
Ao refletir sobre os inúmeros recursos oferecidos pelas TICs, com a possibilidade de acesso rápido de
informação nos diversos ambientes educacionais, faz considerar também os diferentes tipos de
linguagens que podem auxiliar o professor em seu trabalho docente. Entre estas diferentes linguagens,
como a imagem e o movimento, está a música com o seu fascínio e poder de abrangência global. A
mídia difunde, reitera ou altera quadros mentais de referência de indivíduos e coletividades em todo o
mundo, tanto abrindo como delimitando horizontes, tanto fertilizando inquietações como influenciando
suas expressões, podendo ser elemento ativo das diversidades e mudanças em todos os níveis da
sociedade. (FERREIRA, 2003). Desta forma, poder considerar a música aliada às TICs como ferramentas
possíveis de garantia da cidadania aos envolvidos no universo educacional brasileiro remete à construção
de possibilidades de trabalho onde esta mudança está em garantir a qualidade da educação. As
Diretrizes Curriculares Nacionais, em seu Art. 2º, para a formação de professores recomendam o uso das
tecnologias informacionais e comunicativas, ao lado do emprego de metodologias e materiais
inovadores. (BRASIL, 2002). Entre a presença das TICs no contexto educacional e seu efetivo trabalho
pedagógico observamos, ainda, uma grande lacuna a preencher. Este trabalho discute as possibilidades
de concretizar esta união, onde música e tecnologias estão presentes na formação do aluno, como
aquele que através destas ferramentas poderão tornar-se críticos tanto no uso dos recursos disponíveis
com as TICs quanto na linguagem musical que determina, além dos aparatos técnicos, a forma de viver e
comunicar nas expressões de sua cultura. A música tem a sua organização e se fundamenta nos aspectos
culturais, refletindo consigo uma prática social que apresenta seus valores e significados. Garantir a
possibilidade aos alunos em refletir a linguagem musical, na compreensão dos aspectos culturais que
norteiam sua cultura, permite compreender o seu papel como cidadão responsável e seu poder de
transformar-se e transformar o mundo que faz parte.

Palavras-chave: Cidadania, Metodologia, Ensino-aprendizagem, Formação, Produção do conhecimento.

Résumé
En réfléchissant sur les innombrables ressources offertes par le TIC, avec la possibilité d'accès rapide
d'informations dans les divers environnements scolaires, il faut considérer aussi les différents types de
langages qui peuvent aider les enseignants dans leur travail d'éducateur. Entre ces différents langages,
on souligne l'image et le mouvement, la musique avec sa fascination et son pouvoir d'inclusion globale.
Les média diffusent, réitèrent ou modifient des cadres mentaux de référence de personnes et des
collectivités dans le monde entier, en ouvrant ou en limitant des horizons, en fertilisant des inquiétudes
ou en influençant leurs expressions, pouvant être l'élément actif des diversités et des changements dans
tous les niveaux de la société. (Ferreira, 2003).
De cette façon, la prise en considération de la musique alliée aux TIC comme outils possibles de
garantie de la citoyenneté impliqués dans l'univers scolaire brésilien renvoie à la construction de
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possibilités de travail où ce changement doit garantir la qualité de l'éducation. Les Directives
Curriculaires Nationales, dans son Art. 2º, sur la formation d'enseignants recommandent l'utilisation des
technologies d'information et de communication, à côté de l'emploi de méthodologies et de matériels
innovateurs. Entre la présence des TIC dans le contexte scolaire et leur effectif travail pédagogique
nous observons encore une grande lacune à remplir.
Ce travail discute les possibilités de concrétiser cette union, où la musique et les technologies sont
présentes dans la formation de l'élève qui, à travers ces outils, pourra devenir un critique dans l'usage
des ressources disponibles avec les TIC ainsi que dans la langue musicale qui détermine, outre les
appareils techniques, la forme de vivre et de communiquer dans les expressions de sa culture. La
musique a son organisation basée sur des aspects culturels, en reflétant une pratique sociale qui
présente ses valeurs et ses significations. Garantir aux élèves la possibilité de réfléchir sur le langage
musical dans la compréhension des aspects culturels qui guident leur culture lui permet de comprendre
son rôle comme un citoyen responsable et son pouvoir de se transformer et de transformer le monde
dont il fait partie.

Mots-clés : citoyenneté, méthodologie, enseignement/apprentissage, formation, production de la


connaissance.

Introdução

O presente trabalho traz a discussão o uso das tecnologias da informação e comunicação e sua relação
com a educação musical, que tem sido objeto de estudo dos pesquisadores da arte musical frente às
demandas da sociedade atual.
Apresenta-se, primeiramente, uma leitura da educação musical frente às políticas públicas e aos
encaminhamentos pedagógicos e metodológicos evidenciados atualmente pela pesquisa em educação.
Nesse sentido, destacam-se os novos caminhos que o ensino musical tem adotado como viáveis para a
formação humana no contexto da sociedade tecnológica.
As tecnologias da informação e comunicação (TIC) foram inseridas no mundo da educação,
aprimorando-o sempre quando, forem bem utilizadas como meio e não como fim da atividade educativa.
Nesse sentido, reflexões e pesquisas tem-se orientado na busca de conciliar o trabalho da educação
musical em parceria com as tecnologias, abrindo espaço a possibilidades de educação musical que
respondam as necessidades atuais, e ao mesmo, ao objetivo que a arte musical pode oferecer às pessoas
humanas na relação com o mundo.
Finalmente, discute-se as possibilidades da inserção das TIC na formação dos profissionais de música e
de quais as metodologias possíveis para o ensino da música tendo como recurso as tecnologias
computacionais e das telecomunicações principalmente, ampliando horizontes para a arte musical tanto
em espaços escolares quanto não-escolares.

A educação musical e as políticas públicas

Com a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) e com a LDB 9.394/96 o ensino da arte
tornou-se especializado, ainda que formalmente devido às dificuldades em regulamentar propostas de
ensino consistentes que possam ser apontadas pelos próprios profissionais da área da música.
Ao respeito disso, Oliveira (2007, p. 55) afirma que:

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esta situação (...) pode mudar se houver ações que influam na capacitação docente, na
melhoria das condições de infra-estrutura das instituições de ensino e artísticas, no
trabalho colaborativo e articulado que valorize o trabalho do professor, investindo na
melhoria de sua qualificação profissional e propiciando meios para que desenvolva as suas
propostas, no ensino, na produção, na pesquisa e no gerenciamento artístico articulado
com outros contextos socioculturais.

Estas demandas para a educação musical adquiriram força no final do século XIX com a realização do
Simpósio Nacional Sobre a Pesquisa e a Pós-Graduação em Música – SINAPPEM, pela criação da
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música, da Associação Brasileira de Educação
Musical e, recentemente, da Associação Brasileira de Etnomusicologia. Cabe destacar o trabalho da
Associação Brasileira de Educação Musical – Abem que na atualidade cumpre um papel político e
educativo relevante influenciando diretamente na qualidade do ensino da música por meio de suas
publicações, dos cursos de formação de professores, entre outros. Por outra parte, a associação tem
orientado os governos estaduais e municipais tanto no que diz respeito à contratação dos profissionais
especializados na área da música e no assessoramento nas discussões curriculares tanto para a própria
formação superior dos profissionais quanto à sua prática pedagógica.
Oliveira (2007) aponta que a melhoria do ensino de música nas escolas básicas deve consistir na adoção
de políticas educacionais que repercutam na organização dos currículos e na gestão pedagógica a fim de
articular os diferentes saberes, contextos e atores envolvidos. Nessa perspectiva, os professores devem
buscar o desenvolvimento de currículos e abordagens de ensino que possam responder proativamente às
necessidades da diversidade social e cultural do mundo. Na visão da autora,

As artes, em especial a música, podem responder a algumas questões socioeconômicas da


atualidade se as principais instituições e organizações não governamentais da sociedade
desenvolverem e implementarem planos estratégicos e colaborativos, investindo em
programas que trabalhem principalmente com processos criativos e expressivos. Uma visão
contemporânea do ensino de música e arte precisa incluir objetivos como os de
transformar os indivíduos em pessoas inovadoras, colaborativas, e em seres humanos
cidadãos, conscientes e democráticos (OLIVEIRA, 2007, p. 56).

Os argumentos da autora propõem que o professor de música considere a multiplicidade musical e os


avanços na área de comunicações, a fim de “matizar o seu trabalho a partir da valorização das
singularidades das formas culturais locais e das experiências musicais dos próprios alunos” (OLIVEIRA,
2007, p. 56).
A perspectiva aculturalista1 e inculturalista2 defendidas pela autora apontam para ações metodológicas
que priorizem o trabalho com músicas de outras culturas, questionando aos próprios professores se é
possível utilizar o mesmo método para ensinar todas as músicas ou se o trabalho educativo deve
preocupar-se com as questões de identidade.
Oliveira (2007) propõe que os professores de música assumam uma atitude colaborativa no intuito de
articular os processos de educação musical escolar com os processos não escolares, estabelecendo uma
articulação entre professor, aluno e contexto sociocultural, entre professores e artistas compositores e
intérpretes. Em relação ao trabalho colaborativo do ensino da música, Oliveira (2007, p. 57) diz que:

A colaboração do trabalho do artista, ou seja, do intérprete e do compositor, com o


professor dentro e fora da instituição escolar permite o contato do aluno tanto com ações
referentes à ordem, planejamento, norma, como com ações que se referem à

1
Movimento do nativo em direção à civilização (OLIVEIRA, 2007).
2
Movimento inverso, quando o profesor se despede dos seus saberes e assume os valores locais (OLIVEIRA, 2007).
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criatividade, às saídas das normas e das rotinas. As parcerias entre esses dois contextos
pode aproximar os modos de conhecer típicos de ambos, como também fazer surgir
discussões e produtos que podem contribuir para o avanço dos processos de trabalho, de
ensino e de aprendizagem.

Segundo a autora a formação musical na perspectiva colaborativa e no diálogo permanente entre a


teoria e prática instrumental e vocal tem formado gerações de músicos para orquestras, bandas,
conjuntos musicais populares, cantores e musicalizadores infantis. Daí a necessidade de trabalhos
colaborativos entre a universidade, espaços educativos e as entidades da sociedade civil organizada, os
quais juntos possam gerir programas de música e formação artística que tenham em suas bases a
disseminação da teoria musical enquanto prática conscientizadora e defensora dos valores humanos.
Nesse sentido os laços entre o município e os órgãos específicos referentes à educação musical devem
esmerar-se na promoção de um ensino de música que faça do município uma „verdadeira escola de
música., „escolas do povo., nas quais as pessoas aprendam música e descubram o valor da mesma para a
vida humana, contribuindo assim no processo de inclusão social e na formação e profissionalização das
pessoas (OLIVEIRA, 2007).
De acordo com Oliveira (2007, p. 58) nos programas colaborativos que se utilizam do desenvolvimento
comunitário articulando tanto processos formais quanto informais “alunos e comunidade interagem e
desenvolvem solidariedade, fraternidade, respeito mútuo e tolerância através da experiência prática,
vivenciando valores artísticos e musicais de outros contextos”. Nessa vertente o ensino da música torna-
se o mobilizador da sociedade, da sua cultura, gerando processos de desenvolvimento musical que
possibilitem novos profissionais e inovações nos processos pedagógicos.
De acordo com a autora a proposta do ensino da música, frente às questões contemporâneas, deve
orientar-se na perspectiva da diversidade e do multiculturalismo no intuito de relacionar os trabalhos
educacionais frente às manifestações culturais.
Contudo, a autora destaca que o trabalho musical nesse viés é problemático pelo fato da sociedade
estar permeada de um deslocamento de diversas populações que carregam consigo seus regionalismos
musicais o que implica que o ensino musical não pode ignorar os mecanismos sociais de exclusão,
inclusão e sincretismo a fim de garantir uma educação planejada e articulada frente ao contexto social.
Esta perspectiva está presente nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) os quais apontam em
direção de uma formação dos professores que constitua-se a partir das diversas especialidades e
contemple programas educativos interdisciplinares, transdisciplinares, multidisciplinares e
multiculturais. No entanto, esta proposta do ensino da música não se faz possível sem programas de
formação continuada para professores de música, nos quais possam partilhar suas experiências
educacionais, refletir suas práticas e buscar novas alternativas para aprimorar o ensino da música.

As tecnologias e a educação musical


A sociedade hodierna presencia de forma radical os avanços da tecnologia nas mais diversas áreas, entre
elas a música. Estes avanços tem marcado o mundo da educação, desde o próprio contexto de ensino e
de aprendizagem como também a própria formação dos professores. O mundo atual esta contornado por
o avanço tecnológico de maneira marcante, repercutindo em todos os setores da sociedade,
proporcionando o desenvolvimento da informática.
Este movimento contínuo da contemporaneidade tem-se manifestado no mundo da educação e das
pesquisas possibilitando diversos estudos sobre robótica e telecomunicações, e de como as mesmas tem
influenciado nos processos de aprendizagem. Pinto (2007) destaca que entre as tecnologias
educacionais, o computador é hegemônico no que diz respeito à preferência da sociedade atual, e como
tal tornou-se alvo de inclusão e de políticas públicas para sua inserção nos espaços escolares e não-
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escolares. Segundo o autor “o atual contexto impõe desafios que exigem uma escola flexível adaptada
ao mundo virtual, pois o acúmulo de conhecimentos requer um novo posicionamento diante do processo
de ensino e aprendizagem. É preciso estar em constante estado de aprendizagem e sempre aberto às
novas adaptações que a tecnologia apresenta” (PINTO, 2007, p. 31).

Leme & Bellochio (2007) afirmam que frente a estes desafios os professores de música tiveram que
aprender a utilizar tecnologias musicais e como era possível empregá-las em suas práticas educativas
diárias, além de investigar quais eram os critérios mais adequados para mediar o ensino de música.
O desenvolvimento da tecnologia e da variedade de seus recursos tem colocado a educação numa
espécie de encruzilhada, à qual precisa responder e tomar uma decisão frente às demandas que a
sociedade atual lhe apresenta. A inserção das tecnologias da informação e da comunicação (TIC) tem
objetivado políticas e propostas que embasam uma concepção de sociedade e de um novo paradigma
educacional. Tem marcado um processo de ensino e aprendizagem de múltiplas „modalidades.:
presencial, à distancia e virtual, o que traduze-se em novos suportes, necessidades e conteúdos a serem
oferecidos pelo sistema escolar, e mais ainda, a uma formação dos professores que possa responder aos
desafios postos.
No que refere-se à educação musical as pesquisas tem centrado seus estudos nas possibilidades que os
recursos tecnológicos tem proporcionado ao ensino da música, desenvolvendo „tecnologias musicais.
que tem aprimorado o processo de aprendizagem do trabalho musical.
Sendo assim, Leme & Bellochio (2007, p. 88) afirmam que:

Uma vez que a educação no mundo de hoje tende a ser tecnológica, o que, por sua vez,
vai exigir o entendimento e interpretação de tecnologias, o professor de música opta,
para trabalhar, por estar interado e consciente quanto às tecnologias musicais e sua
utilização como instrumento mediador na educação musical ou não, o que se reflete na
prática conforme a sua experiência individual com as mesmas.

De acordo com os autores, os profissionais da música devem ter o cuidado de não banalizar o
ensino pelo fato de presenciar uma tecnologização da educação musical, a fim de garantir um olhar
crítico dos educandos no que diz respeito à utilização dos recursos tecnológicos. Para tal, faz-se
necessário que o professor não limite suas práticas educativas a alternativas meramente tecnológicas,
mas que use as mesmas como recursos didáticos que aprimorem suas aulas. Ainda, o professor para
atingir um olhar crítico-reflexivo em suas ações musicais educativas deve esforçar-se em conhecer o
funcionamento, as possibilidades e limites das tecnologias, não limitando ou dependendo destas para o
exercício da docência.
Desse modo,

Para poder dimensionar as utilizações musicais práticas desses recursos tecnológicos, o


professor de música necessita mais que o acesso e o conhecimento técnico-operacional
dos mesmos. Ao mexer com tecnologias, não quer dizer que o professor de música saiba
como utilizá-las de modo crítico-reflexivo ou que ele tenha compreensão das
possibilidades práticas das mesmas, do seu potencial educativo. Assim é preciso que o
professor aprenda, inicialmente, a lidar com os recursos tecnológicos que escolhe, ou que
precisa aprender, para poder empregá-los em relação a um fazer musical significativo
para ele e para os seus alunos (LEME & BELLOCHIO, 2007, p. 89).

Os autores sugerem que os professores de música devem esforçar-se em rever permanentemente as


ferramentas que as tecnologias lhes oferecem a fim de potencializar a aprendizagem musical. A
utilização de tecnologias em sala de aula deve estar monitorada pelos profissionais tanto tecnicamente
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quanto na própria clareza da finalidade das mesmas, no intuito de refletir o processo pedagógico de
forma crítica. Nesse sentido o processo educativo musical frente às possibilidades das tecnologias deve
transcorrer o seguinte percurso: a) a aprendizagem tecnologia do professor de música; b) a reflexão
crítica do professor de música quanto ao uso desses recursos tecnológicos como instrumentos
mediadores nos processos de ensino e aprendizagem; c) o emprego dessas tecnologias em sala de aula
de modo a contribuir com o fazer musical, mediando a aprendizagem musical (LEME & BELLOCHIO, 2007,
p. 89).

Os professores e o uso das TICS no ensino da música


As tecnologias do ponto de vista educacional no que refere-se ao ensino de música são vistas pelos
professores enquanto uma variedade de dispositivos e aplicações possíveis de serem utilizados na
educação musical. Recursos tecnológicos como computador, teclado, videogame, DVD, videocassete,
entre outros proporcionam uma interatividade ao ensino e tornam-se mediadores da prática docente do
professor.
Segundo Tavares (2007) as TIC devem estar presentes na formação do professor de música a fim de
serem exploradas como uma ferramenta pedagógica que aprimore o processo de ensino e aprendizagem
em música. De acordo com o autor os recursos tecnológicos devem ser inseridos nas práticas cotidianas
do processo pedagógico possibilitando aos professores de música situações de discussão e reflexão em
torno das tecnologias, especialmente das mais recentes como internet, fórum, chats, blogs, softwares.
No entanto, Miletto et. al. (2004, p. 2) salientam que “seja qual for o tipo de software criado para o uso
em educação musical, é importante que sejam observados pressupostos pedagógicos coerentes com os
objetivos educativos do contexto e, principalmente, que o mesmo propicie o desenvolvimento musical
da forma mais abrangente possível”. Nessa perspectiva, os autores ressaltam que o desenvolvimento de
um software educacional para o ensino da música deve considerar desde a definição e apresentação
estratégica dos conteúdos até as características do público-alvo com o qual pretende-se trabalhar. Para
tal, faz-se necessário e oportuno considerar teorias da aprendizagem em relação à educação musical e
da psicologia cognitiva da música.
Para os autores a,

Educação Musical auxiliada pelo computador é um domínio eminentemente


multidisciplinar e nossa intenção é formar equipes efetivamente multidisciplinares,
envolvendo pessoas não só oriundas de áreas como Música e Informática mas também de
subáreas mais específicas como Computação Musical, Educação Musical, Informática na
Educação, Interação Homem-Computador e Inteligência Artificial (MILETTO, et. al., 2004,
p. 9).

Em relação a isso, Rodrigues (2006, p. 32) destaca que “na produção musical a tecnologia tem
contribuído em várias áreas, dentre as quais, edição da partitura, gravação, escuta musical no
computador e criação sintética de timbres e nuances sonoras diversas que são atualmente utilizadas na
música eletroacústica”. O autor salienta que o sistema musical universitário brasileiro insiste num
modelo do século passado ignorando os processos tecnológicos que tem marcado a produção musical nos
últimos anos. Para o autor, “o desenvolvimento educativo musical deste último século apontou para
uma maior liberdade do aluno e uma maior participação no processo de aprendizado, evidenciando uma
adequação dos procedimentos em função das possibilidades e realidades cognitivas do aluno”
(RODRIGUES, 2006, p. 32).
O fato do professor de música implementar nas suas práticas pedagógicas as mediações das tecnologias
mostra um processo de ensino e aprendizagem que visa responder às demandas atuais da sociedade, e

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em certo sentido, aos próprios anseios que os alunos trazem à sala de aula. Desse modo, a educação
musical consegue articular processos que consideram as características sócio-culturais da sociedade
tecnológica, propiciando assim situações educativas inseridas no contexto social, capazes de dialogar
com o movimento histórico da sociedade. Pinto (2007) recomenda que na proposta de educação musical
na escola os professores mostrem uma atitude de abertura aos diversos estilos musicais. De acordo com
o autor “os alunos são incentivados a ouvir música nos diversos estilos, o que favorece a aproximação
entre aluno e professor, inserindo-os num mesmo mundo sonoro. Assim entendida, a musicalização pode
ser uma forma de desenvolver um pensamento crítico, aparelhando o indivíduo com referenciais que o
ajudem a compreender a realidade cultural que o cerca (PINTO, 2007, p. 58).
Conforme Leme & Bellochio (2007, p. 90),

As tecnologias devem ser entendidas como ferramentas que podem alterar a maneira de
conhecer e fazer música, que atuam na mediação do desenvolvimento do conhecimento
musical de professor(es) e aluno(s) e destes entre si, modificando suas atividades dentro e
fora de sala de aula, para a criação de um ambiente favorável ao ensino e à
aprendizagem. Não se resume à condição de computador ou novos recursos simplesmente,
mas ao uso crítico-reflexivo de quaisquer recursos que validem a educação musical.

De acordo com os autores o ensino de música mediado por recursos tecnológicos deve ser conduzido
pelo professor a partir de um olhar crítico sobre a sociedade, por um lado, ampliando as possibilidades
tecnológicas no que refere-se ao ensino musical e, por outro, na reflexão dos alunos frente ao contexto
tecnológico que vivenciam. A proposta é um ensino e aprendizado da arte musical, que utilize, reflita e
problematize o uso das tecnologias visando a superação e o aprimoramento do processo educativo.

Considerações Finais
A história do ensino de música no Brasil é contornado por políticas públicas que o levaram-no nos dias
atuais a ser considerado obrigatório e fundamental na formação básica do cidadão.
No entanto, as tecnologias marcam a sociedade contemporânea influenciando-a e direcionando seus
processos sociais, educativos e culturais. Nesse sentido, o ensino musical frente aos desafios da
sociedade tecnológica deve considerar a formação dos professores, visando metodologias que
possibilite-lhes ensinar musicalmente seus alunos.
O ensino da música deve responder ao processo sócio-cultural da sociedade, valorizando o conhecimento
musical enquanto uma expressão humana, de uma visão de mundo, e de uma reflexão crítica de vida em
sociedade que precisa ser partilhada e discutida comunitariamente.

Bibliografia
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