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COSTA, Ana Karina Sant´ana da; ANDRADE, Klesia Garcia.

A prática coral em projetos sociais: uma revisão de literatura


In: SIMPÓSIO MAR DE CORAIS, 1., 2020. Anais... Simpósio Mar de Corais, 2020, p. 46-53. Disponível em: https://
sites.ufpe.br/grupomardecorais/2021/09/25/anais-do-i-simposio-mar-de-corais/. Acesso em 26 out. 2021.

A PRçTICA CORAL EM PROJETOS SOCIAIS: UMA REVISÌO


BIBLIOGRçFICA

Ana Karina SantÕana da Costa


Universidade Federal de Pernambuco
anakarina.costa@ufpe.br

Klesia Garcia Andrade


Universidade Federal de Pernambuco
klesia.andrade@ufpe.br

Resumo: Neste artigo, apresentamos os dados da revis‹o bibliogr‡fica desenvolvida no Trabalho de


Conclus‹o de Curso (2018), da Licenciatura em Mœsica da Universidade Federal de Pernambuco. A
pesquisa teve como objetivo geral compreender o que os artigos publicados nos Anais da Associa•‹o
Brasileira de Educa•‹o Musical (ABEM) evidenciam sobre a pr‡tica coral em projetos sociais. Para
isto consideramos os Anais dos congressos nacionais realizados nos anos de 2010, 2013, 2015 e
2017. Foram encontrados oito artigos cujas discuss›es abrangem: a pr‡tica musical no espet‡culo de
coro infantil; o coro como pr‡tica pedag—gica; transforma•›es sociais atravŽs da experi•ncia estŽtica
no canto coral; as intera•›es socioculturais; e, as perspectivas te—ricas e metodol—gicas para
compreens‹o de uma proposta espec’fica. A an‡lise dos artigos revela a diversidade das propostas e
as possibilidades educacionais e sociais intermediadas pelo canto coral. As lacunas de temas n‹o
publicados abrangem as discuss›es sobre a inclus‹o de pessoas com defici•ncia f’sica e/ou intelectual
nas atividades corais, as dificuldades e os desafios desta pr‡tica no Terceiro Setor e, ainda, a•›es
voltadas para pœblicos de outras faixas et‡rias, tais como, os idosos.

Palavras-Chave: educa•‹o musical coral, projeto social, revis‹o bibliogr‡fica.

1. Introdu•‹o

Apresentamos neste artigo os dados da revis‹o bibliogr‡fica desenvolvida em 2018,


no Trabalho de Conclus‹o do Curso, da Licenciatura em Mœsica da Universidade Federal de
Pernambuco. O estudo, de abordagem qualitativa, teve como objetivo geral compreender o
que os artigos publicados nos Anais da Associa•‹o Brasileira de Educa•‹o Musical (ABEM)
evidenciam sobre a pr‡tica coral em projetos sociais. Foram definidos os seguintes objetivos
espec’ficos: Mapear os artigos publicados nos Anais dos Congressos Nacionais da ABEM
acerca da pr‡tica coral em projetos sociais; Analisar os conteœdos dos artigos; Apontar os
assuntos discutidos e as lacunas do tema na ‡rea de Educa•‹o Musical. Para isto, foram
considerados os Anais dos congressos nacionais da ABEM publicados nos anos de 2010,
2013, 2015 e 2017.
Diversas publica•›es discutem temas relacionados ao ensino e aprendizagem da
mœsica, como e em que espa•os acontecem, os objetivos, metodologias e pœblico-alvo. No
Brasil, nas œltimas dŽcadas do sŽculo XX, observa-se um fluxo crescente de investiga•›es
sobre a inser•‹o da mœsica no Terceiro Setor. A consolida•‹o deste setor como espa•o para
o ensino e aprendizagem da mœsica trouxe a necessidade de refletirmos sobre as
metodologias e pedagogias que podem fundamentar o trabalho do professor de mœsica e
como o fazer musical pode contribuir para o desenvolvimento social dos participantes.
O Terceiro Setor caracteriza-se pela organiza•‹o da sociedade civil. Tem como
objetivo promover diversas a•›es (educacionais, ambientais, socioculturais, entre outras), na
tentativa de suprir as lacunas dos servi•os prestados pelo Primeiro Setor (Estado, servi•os
pœblicos) e do Segundo Setor (Institui•›es privadas). ƒ neste setor da sociedade que

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encontramos termos espec’ficos como Òprojetos sociaisÓ e Òorganiza•›es n‹o
governamentaisÓ (ONGs). De acordo com Kleber,

O conceito de ONG foi utilizado pela primeira vez em 1950 na


Organiza•‹o das Na•›es Unidas para referir-se a organiza•›es
internacionais de car‡ter permanente e constitu’das por suas caracter’sticas
e finalidades espec’ficas, em diferentes pa’ses, sem fins lucrativos. [...] A
participa•‹o dessas organiza•›es como intermedi‡rias de projetos em
pa’ses em desenvolvimento foi uma das primeiras formas de canaliza•‹o de
recursos internacionais para pa’ses em condi•›es de pobreza. (KLEBER,
2006, p. 20).

As ONGs s‹o espa•os que buscam a inclus‹o social atravŽs do acesso aos bens
culturais. Isso se d‡, de maneira geral, atravŽs da oferta de atividades art’sticas, esportivas,
ecol—gicas, de gera•‹o de emprego e de profissionaliza•‹o (ANDRADE, 2015a, p. 58). No
campo estŽtico destacam-se as aulas de mœsica, dan•a, artes visuais e teatro. As atividades
t•m um car‡ter lœdico, flex’vel e procuram atender os interesses e necessidades do pœblico-
alvo.
Para Kater (2004, p. 46) as propostas do Terceiro Setor podem ocorrer em diversos
locais, incluindo hospitais, abrigos, asilos, centros de atendimento e de reclus‹o. Por meio de
a•›es que buscam a transforma•‹o social, as a•›es propostas promovem o respeito ao
pr—ximo, o sentimento de pertencimento, a aceita•‹o da diversidade e a estimula•‹o de
aprendizagens diversas, potencializando as oportunidades de rela•›es interpessoal e, em
alguns casos, uma futura profissionaliza•‹o.
Nesse contexto, a educa•‹o musical tornou-se uma importante ferramenta,
apresentando-se como uma ponte de acesso aos bens culturais, principalmente para crian•as
e jovens em situa•‹o de vulnerabilidade social. Guazina (2010) enfatiza os benef’cios das
pr‡ticas musicais em projetos sociais, bem como a possibilidade de construir novas
oportunidades de vida:

A atua•‹o dos projetos tem sido marcada pela concep•‹o de que as pr‡ticas
musicais podem construir novas oportunidades de vida. E, mais alŽm,
podem, ainda, modificar as realidades sociais de maneira positiva ao
realizarem Ôtransforma•‹o social pela mœsicaÕ (ou Ôinclus‹o social pela
mœsicaÕ) no enfrentamento das adversidades como desemprego, acesso
prec‡rio ˆ educa•‹o e cultura, o enfrentamento da viol•ncia (boa parte dela
advinda do Estado), atŽ lutas por direitos e legitimidade. Os projetos sociais
s‹o uma forma de levar educa•‹o de forma democr‡tica de levar educa•‹o
e cultura para a sociedade. (GUAZINA, 2010, p. 942).

Os estudos e pesquisas desenvolvidas pela ‡rea de Educa•‹o Musical em projetos


sociais, possibilitam um olhar mais profundo acerca das pr‡ticas musicais realizadas nesses
espa•os. Para Souza (2004, p. 9), a Òmœsica como uma comunica•‹o sensorial, simb—lica e
afetiva e, portanto, social, geralmente desencadeia a convic•‹o de que nossos alunos podem
expor, assumir suas experi•ncias musicais e que n—s podemos dialogar sobre elasÓ. AtravŽs
dessa perspectiva podemos refletir sobre as contribui•›es do ensino de mœsica voltado para o
desenvolvimento de habilidades tŽcnico-musicais da transforma•‹o social.
V‡rias modalidades de ensino de mœsica podem ser desenvolvidas em projetos
sociais: ensino de instrumentos, forma•‹o de orquestra, bandas ou fanfarras, aulas de

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musicaliza•‹o e forma•‹o de grupos corais. Entre essas modalidades, a pr‡tica coral
apresenta-se como uma das mais acess’veis, pois, alŽm de caracterizar-se como uma
atividade coletiva o seu desenvolvimento pode ocorrer em espa•os adaptados. Andrade
(2015) menciona alguns aspectos para que a pr‡tica coral seja efetivada em projetos sociais:

[...] o prŽ-requisito para participar de um coral est‡, em geral, associado ao


prazer de cantar e da realiza•‹o de uma pr‡tica coletiva; Ž uma atividade
com custos iniciais relativamente menores, se comparada ˆs outras
forma•›es musicais como uma orquestra ou uma banda, por exemplo, que
necessitam da aquisi•‹o de instrumentos; as atividades corais podem ser
desenvolvidas em espa•os flex’veis (uma sala com cadeiras pode ser o
suficiente para iniciar as atividades) alŽm da possibilidade de atendimento
de uma grande quantidade de participantes. (ANDRADE, 2015, p. 66).

Para que a atividade coral atenda as demandas do Terceiro Setor Ð relacionadas a


transforma•‹o social, inclus‹o e acesso aos bens art’sticos e culturais, entre outros Ð, Ž
necess‡rio atentar-se para as caracter’sticas da did‡tica musical, como, por exemplo, as
metodologias de ensino e aprendizagem, os conteœdos (musicais e n‹o propriamente
sonoros) e o repert—rio a ser desenvolvido. ƒ necess‡rio considerar, tambŽm, as
peculiaridades da forma•‹o do educador musical, pois a atua•‹o em coros de projetos sociais
requer habilidades que abrangem conhecimentos do campo tŽcnico-musical propriamente
dito (pedagogia, tŽcnica de reg•ncia, fisiologia do aparelho fonador) e do contexto
sociocultural (elementos sociais de intera•‹o, valoriza•‹o e respeito ao pr—ximo, inclus‹o e
conviv•ncia pac’fica) (ANDRADE, 2015, p. 66, 67).
A discuss‹o a seguir, evidencia os artigos identificados que discutem a pr‡tica coral
em projetos sociais.

2. A pr‡tica coral em projetos sociais: os artigos identificados

A busca33 por artigos publicados nos Anais dos Congressos Nacionais da ABEM,
realizados nos anos de 2010, 2013, 2015 e 2017, revelou oito trabalhos voltados para a
pr‡tica coral em projetos sociais: dois artigos em 2010; um artigo em 2013; e, cinco artigos
em 2015. ƒ importante mencionar que, n‹o foram identificadas publica•›es que abordassem
o canto coral no Terceiro Setor nos Anais de 2017. A Tabela 1 apresenta as informa•›es
gerais dos artigos identificados:

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33
Os Anais foram acessados atravŽs do site da associa•‹o: http://abemeducacaomusical.com.br/anais_abem.asp

! $(
Quadro 1 - Lista de artigos identificados
Autores T’tulo do artigo Ano de
publica•‹o
1. SILVA, Alessandra Araœjo da. Saudades do Nordeste: pr‡ticas 2010
musicais em um espet‡culo de coro
infantil
2. BRITO, Mikely Pereira. Est‡gio em canto coral: uma 2010
experi•ncia com participantes leigos
3. CARVALHO, Jo‹o Gabriel Coral Nova Sinfonia: Uma an‡lise da 2013
Santana; BATISTA, Leonardo forma•‹o musical por meio do Canto
Moraes. Coral num projeto social
4. BARROS, Clara Bezerra Nunes. Canto coral e Projeto Social: 2015
transforma•›es sociais a partir da
experi•ncia educativa e estŽticas
5. FONSECA, Claudia Cavalcante; Pr‡tica coral no Programa Conquista 2015
DIAS, Leila Miralva Martins Crian•a: um estudo de caso em
andamento
6. ANDRADE, Klesia Garcia O coro infantil, seus ensinos e suas 2015b
aprendizagens: perspectivas te—ricas e
metodol—gicas de uma pesquisa no
Projeto ÒUm Canto em Cada Canto
7. ANDRADE, Klesia Garcia A a•‹o pedag—gica no Projeto ÒUm 2015c
Canto em Cada CantoÓ
8. ANDRADE, Klesia Garcia ÒUm Canto em Cada CantoÓ: o coro 2015d
infantil e suas perspectivas mœsico-
educativas

O artigo de Silva (2010), relata a experi•ncia da autora como regente de coro


infanto-juvenil em Fortaleza/CE e a constru•‹o de um espet‡culo. O coro, criado por uma
empresa local, tem como pœblico-alvo crian•as consideradas em situa•‹o de vulnerabilidade.
As atividades prop›em o di‡logo entre mœsica, teatro e dan•a. Ao discutir a educa•‹o
musical nesse contexto, a autora considera os apontamentos da educadora musical Maura
Penna sobre o conhecimento prŽ-adquirido de cada aluno, as experi•ncias vividas em seus
contextos e a import‰ncia do professor considerar tais conhecimentos, estimulando a
capacidade do aluno de apropriar-se criticamente das v‡rias manifesta•›es musicais
dispon’veis em seu ambiente. Para trabalhar os conteœdos musicais no coro, Silva considera
as perspectivas dos educadores musicais Keith Swanwick e Emile Jacques-Dalcroze. A
autora afirma que o espet‡culo Ž visto como pr‡tica pedag—gica, com o intuito de forma•‹o e
educa•‹o musical.
O relato de Brito (2010) traz a sua viv•ncia a partir da disciplina de Est‡gio
Curricular IV no Curso de Licenciatura em Mœsica da Faculdade de Mœsica do Esp’rito
Santo. Nessa disciplina, Brito desenvolveu atividades em institui•›es de ensino musical
informal ou n‹o-formal, tais como igrejas, projetos e ONGs, no munic’pio de Vit—ria/ES. O
artigo evidencia a experi•ncia docente com um grupo sem nenhuma experi•ncia anterior de
educa•‹o musical, de maneira sistematizada. Brito relata que prop™s atividades
musicais tendo a pr‡tica coral como o centro da proposta. O trabalho est‡ organizado em
duas partes. Na primeira s‹o descritos os desafios e as compet•ncias necess‡rias para o
trabalho de reg•ncia. Na segunda parte a autora reflete sobre a pr‡tica coral observada no
Projeto ÒCultura nas Escolas, a•‹o Bandas e CoraisÓ. De maneira geral, Brito apresenta os
problemas encontrados em tal pr‡tica, tais como, a depend•ncia e inseguran•a na execu•‹o

! $)
por parte dos coralistas e a falta de um trabalho de educa•‹o musical abrangendo os aspectos
de percep•‹o, afina•‹o, concentra•‹o e coordena•‹o motora, dentre outros, que poderiam
colaborar com o processo de aprendizagem do repert—rio.
O artigo de Carvalho e Batista (2013) relata uma experi•ncia de observa•‹o
participativa nos ensaios do coro de adolescentes no projeto social Ag•ncia do Bem,
localizado no Rio de Janeiro-RJ. Os autores tinham por objetivo analisar e entender o
processo de musicaliza•‹o nos ensaios do grupo, compreendendo o processo de ensino-
aprendizagem musical na pr‡tica coral. Para fundamentar o relato, foram citadas as
propostas de mœsicos e educadores que consideram a ludicidade, a criatividade e a
musicaliza•‹o como as bases do ensaio coral. Carvalho e Batista concluem a discuss‹o
enfatizando as possibilidades do ensino da mœsica atravŽs de uma pr‡tica coletiva e a
import‰ncia da prepara•‹o do regente para resolver v‡rias quest›es que envolvem o
cotidiano do coro.
A pesquisa desenvolvida por Barros (2015) apresenta as transforma•›es sociais a
partir de uma experi•ncia educativa e estŽtica no coro infanto-juvenil do Projeto Jacques
Klein, atendidos pelo Instituto Beatriz e Lauro Fiœza, na periferia de Fortaleza/CE. Barros
tinha por objetivo investigar as possibilidades de transforma•›es pessoais e sociais a partir
da experi•ncia estŽtica, vivenciada atravŽs da educa•‹o por meio do canto coral. A partir das
observa•›es das viv•ncias das crian•as, nas atividades de mœsica e nas rodas de conversa,
Barros conheceu o cotidiano dos alunos, suas hist—rias de vida, da comunidade e de suas
fam’lias. Desta forma, a autora compreendeu que o coral se caracterizava como uma
estratŽgia pedag—gica para o reestabelecimento da sensibilidade nas rela•›es humanas, alŽm
de estimular a verbaliza•‹o de ideias e a expressividade dos participantes.
O artigo de Fonseca e Dias (2015) apresenta um recorte da pesquisa de mestrado.
As autoras discutem as intera•›es e aprendizagens musicais na pr‡tica coral, tendo como
campo emp’rico um coro infantil inserido no Programa ÒConquista Crian•aÓ, administrado
pela Secretaria de Bem-Estar Social da prefeitura de Vit—ria da Conquista/BA. Fonseca e
Dias compreendem a pr‡tica coral como um campo favor‡vel para as intera•›es sociais.
Nesse contexto, em que a ludicidade coopera para o envolvimento dos participantes, Ž
poss’vel desenvolver habilidades musicais, aprimorar as rela•›es sociais e a constru•‹o de
novas rela•›es de amizade, trabalhar a autoestima, a confian•a e o respeito mœtuo entre os
participantes. Para as autoras, a estimula•‹o de tais aspectos favorece um ambiente musical e
socioeducativo de transforma•‹o significativa.
Nos Anais de 2015, foram encontrados tr•s artigos publicados por Andrade. Cada
artigo relata trechos espec’ficos da pesquisa de mestrado. O objetivo geral do estudo foi
compreender as concep•›es, conteœdos e metodologias de ensino e de aprendizagem que
caracterizam a forma•‹o musical no Projeto ÒEduca•‹o Musical AtravŽs do Canto Coral Ð
um canto em cada cantoÓ (Projeto UCCC). No primeiro artigo (2015b) Andrade evidencia os
aspectos culturais e sociais relacionados a pr‡tica da educa•‹o musical, mediados pela
atividade coral. Por meio do di‡logo entre a Educa•‹o Musical e a Etnomusicologia, as
an‡lises consideram o contexto social em que o Projeto UCCC est‡ inserido e a
singularidade de sua proposta mœsico-educativa.
O segundo artigo (2015c) descreve a a•‹o pedag—gica no Projeto UCCC. Segundo
Andrade, a a•‹o pedag—gica tem como base o repert—rio trabalhado. Por meio do ensino e
aprendizagem das can•›es, os alunos t•m contato com no•›es b‡sicas de tŽcnica vocal
(resson‰ncia, respira•‹o, articula•‹o, entre outros), hist—ria da mœsica, par‰metros do som,
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forma, g•neros e estilos musicais. A partir dessa pr‡tica os alunos tambŽm vivenciam
conteœdos n‹o propriamente sonoros como, por exemplo, organiza•‹o, respeito, postura etc.
No terceiro artigo, Andrade (2015d) contextualiza os aspectos hist—ricos do Projeto UCCC.
A autora descreve como os ensaios s‹o organizados, o processo de escolha das escolas
municipais que integram o Projeto, as caracter’sticas do pœblico-alvo (alunos) e os
profissionais envolvidos diretamente com os ensaios e as apresenta•›es.

3. An‡lise cr’tico-reflexiva: principais discuss›es e lacunas de temas

O mapeamento dos Anais evidenciou que h‡ um nœmero consider‡vel de artigos


tendo como tema a pr‡tica coral em contextos diversos. Todavia, do montante de trabalhos
publicados nos Anais da ABEM nos anos de 2010, 2013, 2015 e 2017, apenas oito discutem
o canto coral em projetos sociais. A Tabela 2, ilustra tais informa•›es34:

TABELA 1 - Quantitativo de artigos publicados nos Anais da ABEM


Ano Total de Artigos Artigos sobre
artigos publicados Sobre coro coro em projetos
sociais
2010 273 21 2
2013 243 13 1
2015 275 23 5
2017 185 7 0
Total 976 64 8

Os Anais de 2015 contŽm o maior nœmero de artigos sobre a tem‡tica (5 artigos) e


os de 2017 n‹o apresentam nenhum trabalho sobre o coro em projetos sociais. ƒ dif’cil
afirmar as raz›es pelas quais existe essa pequena quantidade de publica•›es sobre o coro em
projetos sociais, sobretudo em rela•‹o ˆ outros temas e contextos mœsico-educativos, pois a
maioria dos projetos sociais Ð com linhas de trabalhos em educa•‹o musical Ð desenvolvem
atividades corais.
Em suma, todos os trabalhos trazem descri•›es de uma pr‡tica que tem como
pœblico-alvo crian•as e adolescentes. A investiga•‹o demonstrou que o pœblico jovem Ž o
mais alcan•ado, pois as atividades dos projetos sociais est‹o mais direcionadas ao resgate
desse pœblico. H‡ aus•ncia de artigos sobre pr‡ticas corais, em projetos sociais, direcionadas
para adultos e/ou idosos. Alguns fatores contribuem para essa maior disposi•‹o de a•›es
voltadas para crian•as e jovens: Ž a faixa et‡ria que concentra o maior nœmero da popula•‹o
brasileira; crian•as e jovens est‹o mais vulner‡veis ˆ viol•ncia e marginaliza•‹o. Esses
fatores clareiam algumas reflex›es, mas n‹o justificam a aus•ncia de publica•›es sobre
a•›es sociais voltadas para outras faixas et‡rias.
A leitura dos trabalhos evidencia as diferentes motiva•›es para o desenvolvimento
das propostas e interesses dos autores, tais como, o espet‡culo, experi•ncias estŽticas,
transforma•›es sociais, compreens›es sobre a metodologia de ensino e o cotidiano
pedag—gico no canto coral. Apesar de encontrar uma quantidade pequena de artigos Ð de
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A Tabela 1 foi elaborada recentemente, com o objetivo de atualizar a discuss‹o. Os dados para a constru•‹o
desta tabela foram cedidos pela coordena•‹o da linha de pesquisa ÒCoro infanto-juvenil: perspectivas mœsico-
educativasÓ, vinculada ao Grupo de Pesquisa ÒMar de CoraisÓ, da UFPE, que tem se dedicado ao mapeamento
das produ•›es acad•micas da ABEM e da ANPPOM sobre o canto coral.

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976 artigos apenas 8 discutem o coro em projetos sociais Ð nota-se a import‰ncia da
singularidade nas discuss›es de cada trabalho e de como eles dialogam. Observa-se que, de
maneira geral, as pesquisas est‹o vinculadas a dois tipos de perspectivas de pr‡tica coral: 1)
O coro como proposta de musicaliza•‹o (SILVA, 2010; BRITO, 2010; CARVALHO,
BATISTA, 2013; ANDRADE, 2015b, 2015c, 2015d), e 2) As transforma•›es, intera•›es e
fatores sociais a partir das viv•ncias corais (BARROS, 2015; FONSECA, DIAS, 2015).
Os artigos que apresentam discuss›es sobre a metodologia de ensino e o cotidiano
educativo no canto coral revelam pr‡ticas fundamentadas nas perspectivas pedag—gicas dos
mœsicos e educadores ƒmile Jacques-Dalcroze, Keith Swanwick, Carl Orff, Zoltan Kod‡ly e
Murray Schafer. Entretanto, os autores dos artigos n‹o apresentam que tipo de atividades
propriamente ditas s‹o propostas a partir das perspectivas desses educadores.
Considerando que o Terceiro Setor se caracteriza por a•›es da sociedade civil na
democratiza•‹o no acesso aos bens culturais, emerge uma lacuna sobre inclus‹o na
perspectiva das pessoas com defici•ncias f’sicas e/ou intelectuais. Os oito artigos n‹o
discutem inclus‹o considerando este pœblico-alvo. H‡, ainda, aus•ncia de relatos sobre
dificuldades e conflitos encontrados ao longo dos processos mœsico-educativos, da pr‡tica
coral, no Terceiro Setor. As publica•›es evidenciam, apenas, os bons resultados e os
benef’cios, abordando de maneira superficial os desafios cotidianos da pr‡tica pedag—gica.

4. Considera•›es finais

A revis‹o bibliogr‡fica evidenciou que Ð em compara•‹o com o montante de artigos


publicados nos Anais dos Congressos Nacionais da ABEM nos anos de 2010, 2013, 2015 e
2017 Ð poucos trabalhos foram publicados sobre o canto coral em projetos sociais. Apesar de
escassez, as publica•›es identificadas evidenciam a pluralidade da pr‡tica coral. Fica
evidente o di‡logo da mœsica com diferentes ‡reas educacionais, proporcionando o
desenvolvimento humano e ampliando a experi•ncia estŽtico-cultural.
AtravŽs da leitura e an‡lise dos artigos, compreendemos como o canto coral tem
sido uma modalidade eficiente no ensino da mœsica no Terceiro Setor. Nossa expetativa Ž
que as ideias apresentadas contribuam para uma maior compreens‹o das discuss›es que vem
sendo desenvolvidas acerca do canto coral em projetos sociais, sobretudo, nas produ•›es
publicadas nos Anais da ABEM.

Refer•ncias

ANDRADE, Klesia Garcia. Projeto ÒUm Canto em Cada CantoÓ: o coro infantil, seus ensinos e
suas aprendizagens. 2015a. Disserta•‹o (Mestrado em Mœsica) - Universidade Federal da Para’ba,
Jo‹o Pessoa, 2015.

ANDRADE, Klesia Garcia. O coro infantil, seus ensinos e suas aprendizagens: perspectivas te—ricas
e metodol—gicas de uma pesquisa no Projeto ÒUm Canto em Cada CantoÓ. In: ENCONTRO
NACIONAL DA ABEM, XXII, 2015b, Natal. Anais... Natal: ABEM, 2015.

ANDRADE, Klesia Garcia. ÒUm Canto em Cada CantoÓ: o coro infantil e suas perspectivas mœsico-
educativas. In: ENCONTRO NACIONAL DA ABEM, XXII, 2015d, Natal. Anais... Natal: ABEM,
2015.
ANDRADE, Klesia Garcia. A a•‹o pedag—gica no Projeto ÒUm Canto em Cada CantoÓ. In:
ENCONTRO NACIONAL DA ABEM, XXII, 2015c, Natal. Anais [...]. Natal: ABEM, 2015.

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BARROS, Clara Bezerra Nunes. Canto coral e Projeto Social: transforma•›es sociais a partir da
experi•ncia educativa e estŽticas.Ó. In: ENCONTRO NACIONAL DA ABEM, XXII, 2015, Natal.
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BRITO, Mikely Pereira. Est‡gio em canto coral: uma experi•ncia com participantes leigos. In:
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CARVALHO, Jo‹o Gabriel Santana; BATISTA, Leonardo Moraes. Coral Nova Sinfonia: Uma
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NACIONAL DA ABEM, XXI, 2013, Piren—polis. Anais [...] Piren—polis: ABEM, 2013.

FONSECA, Claudia Cavalcante; DIAS, Leila Miralva Martins. Pr‡tica coral no Programa Conquista
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KLEBER, Magali Oliveira. A pr‡tica da Educa•‹o Musical nas ONGs: dois estudos de caso no
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