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CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Esta pesquisa aborda a importância de utilizar oficinas artísticas (oficinas de ballet
clássico e teatro juvenil), como forma de oportunizar a interação, a inclusão, participação
e a socialização de crianças com deficiência intelectual, que sofrem algum tipo de
exclusão na sociedade. Segundo Vygotsky (1997) podemos considerar que o sujeito
aprende de forma mais significativa por meio de interações e construções cooperativas
com seus semelhantes. A criação de atividades recreativas e musicais conjuntas,
explorando a criatividade e autonomia de cada participante, marca um bom início da
percepção e da motivação para interagir nos espaços escolares. Dessa forma, no processo
de interação, os sujeitos representam as suas percepções corporais, identificando o outro
como possibilidade de aprendizagem coletiva, ou seja, o compartilhamento de ideias entre
diferentes crianças com a intenção de aprendizagem e a partir dessas ações, construir
vínculos afetivos para obter uma inclusão. A partir de observações e intervenções em
oficinas artísticas de dança, teatro e música, realizadas em uma instituição do município
de Canoas/RS, que trabalha com a arte como forma de inclusão, foi elaborada essa
pesquisa, no sentido de retratar algumas experiências vivenciadas no percurso dos anos
de 2012 a 2016, e relacionar com a importância das artes para que ocorra a inclusão,
participação e socialização de crianças de 6 a 12 anos.
Diante disso, indagamos: com a obrigatoriedade de inclusão nas escolas das crianças com
múltiplas deficiências, como ir além de um modelo de escola de cuidado assistencial, para
que sejam incluídas e potencializadas as diferenças? De que forma as artes podem
contribuir com a inclusão, participação e socialização de crianças do município de
Canoas/RS, com limitações cognitivas, motoras e sociais, permitindo pensar uma
educação diferenciada, tendo os professores como articuladores das preocupações acerca
da alteridade, do pertencimento, de vivências com os diferentes jeitos, tempos, gostos e
hábitos dos estudantes? O objetivo é compreender a importância da utilização das artes -
dança, teatro e música - como meio de incluir, participar e socializar pessoas com
múltiplas deficiências em espaços escolares. Trata-se de uma pesquisa que propõe
relacionar as experiências das oficinas pedagógicas com as teorias, que abordam a
temática do uso de oficinas artísticas em prol da inclusão social. Ainda, tem a intenção de
articular a realidade presenciada nas oficinas com as teorias de Laban (1978; 1990),
Vygotsky (1997) e outros interlocutores que abordam uma visão interdisciplinar para
construir a inclusão no cotidiano escolar.
O interesse em realizar esse estudo sobre a importância das oficinas artísticas como meio
de inclusão de crianças com limitações cognitivas e sociais surgiu ao perceber que
diversos locais educativos e formativos ainda não se encontram preparados para atender
as diferenças, em termos de integração e inclusão das deficiências nos processos de ensino
e de aprendizagem. Ao trabalhar desde 2012 em uma instituição que fornece atendimento
aos diferentes públicos no município de Canoas/RS, dentre estes, crianças de 6 a 12 anos
de idade, com deficiência física, intelectual e sensorial, moradores de zona de risco,
conseguimos experimentar, conviver, ensinar e aprender em meio aos desafios pungentes
e diferentes necessidades manifestadas nas formas de ver, ouvir, falar e sentir. O motivo
de criação desse espaço de abertura interdisciplinar visa criar um local que acolha e
dialogue com as vítimas de exclusão, para que a partir da convivência possam se inserir
novamente na sociedade. Daí surgiu a necessidade de construir uma proposta para
estimular o desenvolvimento de todos, no intuito de aprimorar, explorar e incentivar o
interesse artístico dessas crianças, dando-lhes uma formação profissional e auxiliando na
construção de uma visão de mundo crítica, na aquisição da autoestima recíproca a
autoconfiança, que muitas vezes era deixada de lado.
Alicerçados na perspectiva etnográfica da prática escolar entramos em contato direto com
a situação, mediante a observação que permite a análise entre teoria e prática para a
obtenção dos dados (ANDRÉ, 2008). Esse tipo de abordagem propõe a descrição da
cultura em processo dinâmico e inacabado, conferindo autoridade à comunidade e àqueles
que cooperam e falam uns com os outros, pela coleta de significados sobre os valores,
hábitos, crenças, linguagens e comportamentos do grupo em questão, colaborando para a
(re)elaboração de sentidos à existência humana e à reconfiguração de concepções
mediante os saberes sociais. Gamboa (2007, p. 100) afirma que “os objetos da pesquisa
precisam ser compreendidos, ou seja, pesquisar consiste em captar o significado dos
fenômenos, saber ou desvendar seu sentido ou seus sentidos, esclarecendo que a
compreensão supõe uma interpretação, uma maneira de conhecer seus significados”.
Por tudo isso, buscamos inicialmente a observação e descrição, com suas particularidades
e especificidades, que se manifesta nas diferentes formas de percepção e significação,
seja através de ações e de linguagens orais ou gestuais dos participantes. Os resultados
apontam que o envolvimento dessas oficinas artísticas com o apoio da família favorece o
desenvolvimento global das crianças em sua socialização, participação, diálogo e inclusão
com os colegas, na sua autoestima e sua espontaneidade nas ações propostas. Destacamos
que a arte como uma forma conhecimento na educação fortalece aprendizagens sociais e
as relações entre os seus participantes das experiências, proporcionando o
desenvolvimento pleno das crianças que possuem alguma limitação cognitiva,
especialmente por meio da exploração do potencial despertado pela arte.
Nós, seres humanos, nos constituímos pelas diferenças em termos de DNA e aparência
(na quase totalidade), mas parece que somos iguais em princípios básicos, em capacidade
existencial, em diferentes e plurais formas de expressão artística, em termos de
singularidade nas ações gestuais e linguísticas diante do mundo, guardando semelhanças
até mesmo em necessidades biológicas. Na contemporaneidade, as expressões artísticas
surgem como possibilidades ao desenvolvimento humano integral na educação, pois
percebemos que desde a infância, as crianças estão em contato com as diversas artes e
esse fator pode trazer consigo mudanças nos modos de comunicação e de interação na
sala de aula. As artes na educação inclusiva precisam caminhar no sentido de buscar o
aprimoramento e reconciliação com os processos de ensino e de aprendizagem,
movimentando sensibilidades, emoções, estímulos ritmos, sensoriais, musicais e
propiciando atividades pedagógicas diferenciadas.
Dessa forma, o sujeito, por sua natureza, necessita de interação com outros de sua espécie
para conseguir aprender se desenvolver. Laban (1978, p. 39) entende que o sujeito se
difere dos animais por sua “capacidade de coordenar uma gama de possibilidades de
esforço vastamente maior do que o de qualquer outro animal, e essa gama ultrapassa as
necessidades da mera sobrevivência”. O bebê, por exemplo, depende totalmente de um
adulto para ser alimentado e cuidado, diferentemente de um filhote recém-nascido que
consegue sobreviver sem o amparo dos pais. Com isso, como pode haver
desenvolvimento social e cognitivo de um sujeito se ele encontra barreiras atitudinais em
sala de aula, como não ser notado em uma turma, não ser escolhido para participar de
uma tarefa, ter que se isolar para não atrapalhar o rendimento de uma atividade.
É possível identificar que a brincadeira ocupa um lugar importante na infância, sendo ela,
uma condição social da vida da criança, dentro e fora da instituição escolar. Desta forma,
os conteúdos de ensino precisam ser interpretados de forma clara e objetiva, para gerar
um envolvimento efetivo entre o brincar e o aprender. Assim, o brincar relaciona
interdisciplinarmente questões sociais, educacionais e políticas, desafiando as crianças a
descobrirem maneiras de resolver conflitos, formar opiniões, criar regras, socializar-se
com o outro, representar e se divertir, tornando o processo de alfabetização mais
encantador para a sua aprendizagem. Conforme Carvalho (2011, p. 81), “os primeiros
anos da infância são decisivos para a formação intelectual, afetiva e social do ser humano.
Por esse motivo, cercar as crianças do melhor atendimento possível é imperativo para
todas as sociedades”. Tudo indica para uma perspectiva reflexiva do saber, que considere
a compreensão pedagógica do desenvolvimento humano como atividade lúdica, que
envolve o criar e o interagir com o outro na construção de conhecimentos. Portanto, nessa
interação, os sujeitos ampliam os sentidos e significados do sobre o conhecimento,
estabelecendo relações com os seus cotidianos.
Na atual sociedade, grupos são dominantes, subgrupos são dominados, outros grupos se
formam e cada vez mais nossa igualdade é deixada de lado, resultando em processos de
exclusões. Notamos que as crianças participam de um grupo com adultos em que muitas
vezes não possuem voz. Ao perceber que a criança possui uma deficiência, ela descerá
mais um degrau nas escalas de empoderamento de suas falas, o que nos remete ao
pensamento de como incluir e não excluir esse grupo na sociedade.
Foram realizadas algumas experiências, ja no século XVI, mas “o cuidado foi meramente
custodial, e a institucionalização em asilos e manicômios foi a principal resposta social
para tratamento dos considerados desviantes”. (MENDES, 2006, p. 387). Dessa forma,
“foi uma fase de segregação, justificada pela crença de que a pessoa diferente seria mais
bem cuidada e protegida se confinada em ambiente separado, também para proteger a
sociedade dos ‘anormais’”. (MENDES, 2006, p. 387). Ao lado das criações de asilos para
idosos, “a institucionalização da escolaridade obrigatória e a incapacidade da escola de
responder pela aprendizagem de todos os alunos deram origem, já no século XIX, às
classes especiais nas escolas regulares, para onde os alunos difíceis passaram a ser
encaminhados”. (MENDES, 2006, p. 387). Mas, a mudança tomou corpo com os estudos
na área medicinal e as transformações do século XX, “em decorrência também da
montagem da indústria da reabilitação para tratar dos mutilados da guerra”, trazendo
questionamentos sobre os meios necessários às pessoas com deficiências terem uma vida
melhor, com relação ao direito de participar socioeducacionalmente (MENDES, 2006, p.
387). Mas a ideia que ainda vigorava era a segregação “baseada na crença de que eles
seriam mais bem atendidos em suas necessidades educacionais se ensinados em
ambientes separados”. (MENDES, 2006, p. 387).
O eixo das ações que conduzem à inclusão tem por base uma filosofia que reconhece e
valoriza as diferenças na vida em sociedade. A ideia de inclusão visa assegurar o acesso
das pessoas a todas as oportunidades de convívio social, enquanto sujeitos de
possibilidades, integrando e contextualizando as peculiaridades nos grupos de origem.
Observa-se que nos inúmeros fóruns sobre educação inclusiva têm se incrementado ações
e políticas referentes à proteção das formas de interação que garantem o exercício pleno
e equitativo de todos, estes com ou sem deficiência. Por isso, adotam-se políticas públicas
de promoção e respeito à dignidade da pessoa humana em situação de risco. Nessa
perspectiva, Ferreira (2006) entende que a inclusão é um termo utilizado como sinônimo
para a integração dos estudantes com deficiência no ensino regular, o que perpetua a
vinculação do conceito com a educação especial. Todavia, os pesquisadores também
dizem que a inclusão não é somente de crianças com deficiências e sim de crianças, jovens
e adultos que sofrem quaisquer tipos de exclusões educacionais, seja pela falta de
oportunidades para participar das atividades escolares, ou quando são expulsos e
suspensos, quando não têm acesso à escolarização e permanecem fora da escola e da
participação social. Mas, como incluir em uma sala de aula de 20 a 40 estudantes com
particularidades e diferenças daqueles que não conseguem se comunicar ou se mover,
sem segregar? Dessa forma, a atenção às múltiplas deficiências nos espaços escolares
precisa ser ampliada com novas leituras e interações artísticas, principalmente pelos
professores, tendo em vista o círculo dinâmico das necessidades emergentes dos
fenômenos biológicos e culturais no mundo.
Conforme Reily (2010, p. 84), “a diversidade se acentuou nas escolas brasileiras a partir
do paradigma da inclusão, que assegura espaço no ensino regular para alunos com
deficiências [e] estes alunos podem necessitar de recursos para o atendimento de suas
necessidades específicas em linguagem, motricidade e acesso ao conhecimento”. Por sua
vez, os cursos de licenciatura ainda não formam os professores para atuarem com os
estudantes de inclusão na escola, e diante da carência de publicações nessa área, quando
os professores formam-se, não encontram referenciais condizentes no contexto da
inclusão pedagógica. É comum verificar dentro de uma sala de aula, diferentes estudantes
no que se refere às habilidades e competências, na manifestação de (des)interesse pelas
atividades propostas, no tempo de atenção e envolvimento. Torna-se um desafio na práxis
educativa para o professor diante dessa pluralidade de estudantes, de gostos, de jeitos, em
razão de que na prática essas diferenças influenciam o tempo de aprendizagem dos
estudantes nas atividades, ampliando ou limitando as possibilidades de conhecimentos.
As discussões sobre a educação inclusiva se revelam como assunto de preocupação
global, cujo eixo projetivo expressa a necessidade de se alcançar uma educação para
todos. O conceito de inclusão é relativamente amplo, pois é usado para referenciar as
possibilidades de diferentes grupos para usufruírem de saberes comuns na prática social.
A inclusão é vista como sinônimo à integração de educandos com deficiência no ensino
regular mostrando, assim, a perpetuação da vinculação do conceito com a educação para
todos (FERREIRA, 2006). De acordo com Carvalho e Naujorks (2005, p. 2), nota-se que
o paradigma de inclusão, “surge como um novo olhar sobre as questões educacionais.
Não mais o estudante tem que apresentar uma prontidão para estar na escola, mas a
própria escola é chamada a ver que ela pode causar algum empecilho ou dificuldade de
integração das diferenças de aprendizagem”. Afinal, é da própria natureza humana que os
estudantes sejam diferentes entre si. Portanto, a escola tem que se preparar para receber
todos os educandos, pois educar é explorar as potencialidades humanas e diminuir suas
limitações e deficiências.
A partir das novas políticas públicas implantadas visando à garantia do direito, do acesso
e da permanência dos estudantes com deficiência na rede regular de ensino, aumentaram
os números de estudantes com distintas deficiências nas escolas. Segundo Mendes (2006,
p. 401), pesquisas demonstram que “faltam aspectos básicos para garantir não apenas o
acesso, mas a permanência e o sucesso desses alunos com necessidades educacionais
especiais matriculados em classes comuns”. Assim, o panorama de diferenças e
necessidades entre os estudantes se acentuou nesse novo milênio na educação brasileira
a partir da inclusão, que garante o acesso ao ensino regular os estudantes com
deficiências, que outrora eram excluídos da escola ou frequentavam escolas especiais. Em
face desse cenário complexo giram as discussões sobre o processo de inclusão de pessoas
com múltiplas deficiências no cotidiano da educação formal. Em linhas gerais, partimos
do pressuposto de que os estudantes com deficiências podem beneficiar-se do
compartilhamento do processo pedagógico, contudo, são muitos os conflitos e
contradições que têm sido enfrentados na concretização dos ideais de inclusão escolar.
Os debates passam pela falta de clareza sobre os conceitos de integração e inclusão,
alguns pensadores sugerem que o ideário de inclusão estaria num plano mais ideológico,
ao passo que o conceito de integração indica uma perspectiva mais operacional.
Estudiosos da área da educação relatam que a integração seria representada muito mais
por uma aproximação física, ao passo que a inclusão pressupõe assegurar a participação
do sujeito ao convívio em grupo. Sob tal ponto de vista, uma das alternativas poderia ser
discutir níveis em que ocorra integração ou inclusão.
Vivemos numa sociedade que outorga princípios desiguais nas áreas de conhecimento
nas escolas, de modo que a língua portuguesa, matemática, história, geografia, ciências e
história possuem prioridade, ao mesmo tempo em que as diferentes artes ficam quase que
esquecidas ou desconsideradas das grades curriculares. Além disso, são escassos os
incentivos aos saberes e afazeres das artes na escola, espaço que (re)produz as
representações do próprio imaginário social. Dessa forma, o desafio do professor é
encontrar e sistematizar projetos interdisciplinares de trabalho que estimulem o
envolvimento pleno dos estudantes, especialmente nas artes. A experiência aqui relatada,
refere-se a oficinas pedagógicas realizadas no período de março de 2012 a dezembro de
2016, com vinte e nove (29) crianças, sendo destas, treze (13) com deficiência intelectual.
As oficinas foram desenvolvidas por três (3) oficineiros (todos professores em formação),
com 1 ou 2 agentes de apoio. As oficinas eram realizadas com um período de duração de
1 (uma) hora. O encontro era feito uma vez por semana em dias diferentes para possibilitar
a participação da criança em mais de uma oficina.
A partir dos estudos de Vygotsky (1997), podemos notar que a criança com algum tipo
de limitação motora, cognitiva ou sensorial precisa ser compreendida, para ser legitimada
em suas potencialidades e deficiências para ser compensada. Podemos dizer que a
percepção visual de uma pessoa surda será mais ampliada pela falta da audição, da mesma
forma que o deficiente visual, em alguns casos, possui uma percepção auditiva mais
apurada nos sons. Dessa maneira, concordamos com Vygotsky (1997, p. 14) ao afirmar
que “todo defeito cria os estímulos para elaborar uma compensação”, que pode brotar e
ser movida pela arte e mobilizada pelo educar e aprender. Para crianças com autismo, a
expressão corporal e/ou verbal serve como dispositivo de comunicação e interação social
entre as pessoas. Percebe-se a importância do encontro com o outro para que ocorra a
mediação e o desenvolvimento do sujeito. Para Vygotsky (1997), o relacionamento
intersubjetivo (no entender o outro e ser compreendido) provoca o desenvolvimento do
ser humano em se comunicar – verbalmente ou não – com a sociedade.
Somos capazes de incluir todos por mio da estimulação artística, no sentido de integrar
e não apenas inserir uma criança com limitação cognitiva, sendo ela sindrômica, por
transtorno global do desenvolvimento (TGD) ou de natureza traumática ou social, em
oficinas de dança. Segundo Vygotsky (1997), as crianças com necessidades especiais
devem ser tratadas de forma que possam criar uma identificação de que existe autonomia
para si e compreender a necessidade da estimulação deste processo.
Freire (2000, p. 90) também evidencia que “é na inserção no mundo e não na adaptação
a ele que nos tornamos seres históricos e éticos, capazes de optar, de decidir, de romper”.
A autonomia também faz parte do processo educativo ao lado da capacidade de
(auto)crítica, de ajudar os estudantes a desenvolver o hábito de fazer leituras, exercícios
e relações nos processos de aprendizagem. A capacidade de fazer experiências
estimuladoras de decisões frente ao mundo, por meio de atos de recriação educativos,
possibilita a abertura ao conhecimento da realidade e ampliação do diálogo com as
diferentes compreensões enquanto amadurecimento do ser, em um processo de busca pela
autonomia na interdependência social. É desta forma que os sujeitos com deficiências
requerem um olhar diferenciado dos professores, a fim de sentirem-se parte integrante do
meio escolar e social, pois a inserção das artes pode ser um meio de resgatar socialmente
esses estudantes. Dessa forma, precisa ser compreendida como um auxílio para promover
a extensão de uma habilidade, que encoraja para superações de algo que se encontra
impedida, devido às condições limitantes do próprio corpo do sujeito. De acordo com
essa problematização, evidenciamos a importância da inclusão em todos os âmbitos da
vida sociocultural, pois se historicamente a deficiência significava a incapacidade para
aprender e agir coletivamente, hoje, precisamos recuperar esses espaços de inclusão
humana a começar pelas escolas, como forma de garantir o direito de aprender e de
sociabilidade. Defendemos que por meio da arte, das expressões artísticas e oficinas
educativas, as pessoas podem ter suas vozes ouvidas e podem ser reconhecidas,
respeitadas e incluídas na sociedade.
Sabemos que a dança está presente em diversos locais, por tratar de traço comum de todos
os estudantes que passa pelo corpo. A formação passa pela corporeidade e pode ser
considerada a arte que mais explora os sentimentos, os movimentos, a criatividade e as
expressões das crianças. A expressão corporal é um conceito da dança por ter uma
resposta corporal a certas motivações. Os estudantes demonstram grande prazer na dança,
pois manifestam suas particularidades de interpretação, interação com os outros, através
da exploração dos ritmos corporais e das variações de atividades. A dança é, além de uma
linguagem humana, um auxílio na formação do caráter do sujeito, para se autoconhecer
por meio dos movimentos de seu próprio corpo. Conforme Robinson (1992, p. 54),
Os sujeitos estão falando a partir do corpo. Por sua vez, nas escolas as crianças ficam a
maior parte do tempo sentadas, ocupadas com solução de problemas cognitivos, quase
sempre centradas em números, letras, sem a possibilidade de ouvir o próprio corpo.
Devemos permitir e estimular a eles nos espaços escolares a música, assim como outros
materiais artísticos que favoreçam o movimento. Os estudantes sentem prazer na dança,
se entregam a ela com grande alegria, entusiasmo e contentamento. Esse prazer pode ser
decorrente da necessidade do movimento, que é uma característica relevante desde a
infância e que satisfaz, diverte e apraz as crianças.
Para Vargas (2007 p. 55), “o pensar, sentir, perceber, expressar deverão estar presentes
na aula de dança, incorporados a uma proposta pedagógica escolar que leve aos alunos e
alunas a expressar-se e a comunicar-se pelo movimento e com o movimento”. A
linguagem é o vínculo que movimenta as formas de conexão interativa com os outros,
com a natureza e com o mundo. Para Vygotsky (1997), é possível afirmar que se hoje o
estudante com alguma deficiência precisa de alguma compensação, talvez a principal
delas seja a linguagem falada ou o uso de símbolos alternativos de gestos
interdependentes. A dança é uma atividade artística que usa como forma de comunicação
o corpo e o movimento. Esse movimento tem uma expressão singular, visto que dançando
a pessoa é capaz de evidenciar as suas particularidades e características autênticas.
Dançando podemos nos reconhecer, aprendemos a ter uma relação conosco e com o
mundo externo. A dança sempre foi considerada um meio de expressão, comunicação e
de libertação corporal. “A dança é a reação do corpo humano de uma impressão ou ideia
captada pelo espírito, porque qualquer sentimento costuma ir acompanhado de um gesto.
O ser humano precisa comunicar suas emoções as quais, através dos gestos, tomam sua
vida e sua forma”. (ROBINSON, 1992, p. 6).
Um dos primeiros desafios que a professora da turma encontrou era a de construir uma
rotina com todas, explicando que iriam iniciar a aula com um aquecimento, seguindo com
os alongamentos, os exercícios que envolvia as posições do ballet clássico e terminariam
com uma brincadeira juntamente de um relaxamento e que depois de alguns encontros,
dava-se o início com uma coreografia. Nos primeiros encontros, a criança Y revelava
estar cansada após meia hora de atividade e começava a dispersar-se, não queria seguir
os comandos e agredia alguns colegas com empurrões. A ação da professora foi
inicialmente de explicar a situação para ela, dizendo o quanto as colegas ficavam tristes
com o comportamento dela e que não devemos empurrar os outros. Conversando com os
pais, eles relataram que a Y ia para a escola de manhã, almoçava em casa, fazia natação
das 14h. às 16h. e depois eles corriam para levar ela até a aula de ballet que iniciava às
18h. Foi solicitado para que eles tentassem trocar o horário da natação pois acreditavam
que ela deveria se exaustar com essa atividade e por isso, não conseguia ficar na aula. Um
mês depois, Y participava da oficina em tempo integral, demonstrava algumas limitações
em seguir as sequências da professora, concluindo a mesma com um pequeno atraso.
A menina Z exigia uma maior atenção para contemplar as atividades, por suas limitações
na fala e em alguns movimentos, disponibilizaram um auxiliar na oficina que ficava na
maior parte do tempo com ela, acompanhando os movimentos, fazendo com que ela
fizesse o movimento em conjunto com ele para que ela compreendesse o gesto. Com o
passar dos meses, o auxiliar tentava ficar o menor tempo possível na sala. A professora
colocava ela na barra para se firmar e instruía as colegas em mostrar para Z os lados que
ela deveria usar e quais eram as sequências.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos com o estudo que o trabalho pedagógico com o uso da arte - dança, teatro e
música – auxilia na ampliação de relações entre crianças com limitação cognitiva e/ou
social com o mundo externo, melhora a qualidade em suas interações sociais, enriquece
a autoestima, através do reconhecimento de suas potencialidades, desenvolve a
aprendizagem e rompe barreiras cognitivas, afetivas e sociais. Concordamos com
Carvalho (2011, p. 28) ao referir que “pensar inclusão a partir da perspectiva da educação
na diversidade é reconhecer as diferenças individuais; é reconhecer a existência de
limitações que criam barreiras que precisam ser removidas, sem considerá-las como
obstáculos intransponíveis”.
REFERÊNCIAS
ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Etnografia da prática escolar. Campinas:
Papirus, 2008.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 34. ed. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 2000.