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O ensino da arte: Educação sensível e a diversidade cultural na

Educação

Débora Oliveira Moreira (UPF). E-mail: deborartes@hotmail.com


Carina Copatti (UPF). E-mail: c.copatti@hotmail.com

Resumo:
A crise na educação decorre também da falta de desenvolvimento de uma sensibilidade, uma visão
diferenciada com relação às possibilidades existentes e dadas pelas diretrizes que orientam a
educação. Este artigo pretende refletir sobre as contribuições de um olhar sensível, as questões do
ensino da arte e da diversidade cultural, partindo de algumas observações referentes às falas,
desabafos de professores e alunos sobre práticas pedagógicas tradicionais vivenciadas no ensino
fundamental. A educação para a diversidade como possibilidade de transformação das relações
dentro da escola.
Palavras-chave: Arte. Sensibilidade. Diversidade Cultural.

Art education: education sensitive and cultural diversity in education


Abstract:
The crisis in education stems from the lack of development of a sensitivity, a different vision regarding
existing possibilities and given by guidelines that guide the education. This article intends to reflect on
the contributions of a sensitive look at the issues of art education and cultural diversity, based on
some comments regarding speeches, outpourings of teachers and students on traditional pedagogical
practices experienced in elementary school. Education for diversity as a possibility of transformation
of the relations within the school.
Key-words: Art. Sensitivity. Cultural Diversity.

1 Introdução

O que vivenciamos hoje no ensino da arte em muitas escolas é extremamente


equivocado, retrógrado e desestimulador. É inconcebível imaginar um arte-educador dizer
para seus alunos que não sabe desenhar, ou que qualquer “coisa” que o aluno fizer está bom,
pois o próprio professor não desenha nada. O ensino da Arte é muito mais que desenhar. No
Brasil, a Lei de Diretrizes da Educação Nacional - LDB nº 9.394/96 (BRASIL, 1996)
estabeleceu em seu artigo 26, parágrafo 2º que:

§ 2o O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá


componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica, de forma
a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. (Redação dada pela Lei nº
12.287, de 2010).

A arte-educação ou o ensino da Arte é a educação que oportuniza ao aluno o acesso à


Arte como linguagem expressiva e forma de conhecimento, e tem como objetivo maior a
formação de profissionais dedicados a esta área de conhecimento. No âmbito da escola
regular busca oferecer aos alunos condições para que compreendam o que ocorre no plano da
expressão e no plano do significado ao interagir com as Artes, permitindo sua inserção social
de maneira mais ampla, sensível e humana na sociedade. De acordo com os Parâmetros
Curriculares Nacionais, (BRASIL, 1997, p. 15), são muitas as possibilidades:

A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico, que


caracteriza um modo particular de dar sentido às experiências das pessoas:
por meio dele, o aluno amplia a sensibilidade, a percepção, a reflexão e a
imaginação. Aprender arte envolve, basicamente, fazer trabalhos artísticos,
apreciar e refletir sobre eles. Envolve, também, conhecer, apreciar e refletir
sobre as formas da natureza e sobre as produções artísticas individuais e
coletivas de distintas culturas e épocas.

Neste cenário de grandes possibilidades, a preocupação se volta para o ensino da Arte


visando o desenvolvimento da percepção estética, do conhecimento de diferentes culturas, da
Diversidade Cultural encontrada na escola. Cabe perguntar-nos então, por que se estabelecem
diretrizes se elas não são seguidas pelas escolas? Todo processo de mudança é lento e gera
conflitos, estamos, pois, caminhando rumo a novas concepções sobre o processo
ensino/aprendizagem. À Educação em Arte cabe desenvolver um trabalho amplo, dinâmico e
que realmente prepare os alunos para a vida, este é o novo desafio que se estabelece como
uma possível solução para muitos dos problemas existentes nas escolas.

O presente artigo tem por objetivo refletir sobre as possibilidades que o ensino da Arte
aponta para o repensar das ações educativas, tendo por base a sensibilização no processo
ensino-aprendizagem, contemplando a diversidade cultural presente nos ambientes de sala de
aula. Sendo assim, o professor arte-educador precisa aprofundar seus conhecimentos,
permitir-se cultivar as diferenças e desenvolver a sua sensibilidade, somente assim criará
oportunidades para expandir os conhecimentos, ampliando a convivência, desenvolvendo a
criticidade e a sensibilidade na formação do aluno, de modo que possa vivenciar
aprendizagens significativas e prazerosas em sala de aula. Goergen (2005, p.85) lembra-nos:

A escola, vista como instituição disposta a ajudar os jovens a se


“constituírem como seres humanos”, não pode, portanto, reduzir a sua
função educativa à informação; ela precisa “saber educar”, o que significa
ajudar a construir este núcleo personal a partir do qual é possível a cada um
ordenar as coisas desordenadas, orientar as suas decisões como indivíduo e
cidadão.

Fica claro nesse sentido que a formação humana não se dá somente pelo acúmulo de
informação, mas pela formação daquilo que nos torna humanos, que é a capacidade de
pensamento. O pensar crítico e autônomo talvez seja o elemento possibilitador da ordenação
das coisas, assim como da orientação das ações humanas, segundo uma perspectiva cidadã.
Por meio de atividades artísticas e culturais é possível ampliar o repertório dos alunos e
vivenciar atividades significativas e transformadoras.

2 O Ensino da Arte: Educação para o Sensível

Para que os arte-educadores desenvolvam um trabalho atento às diversas realidades


que a eles chegam, é necessário que sejam sensíveis o suficiente para sentir as necessidades
de seus alunos, educando-os para que sejam também sensíveis, de maneira que se tornem
capazes de atuar transformando a sociedade de forma crítica, criativa, reflexiva e conscientes
de suas atitudes e possibilidades. E que também sintam-se sujeitos atuantes e pertencentes ao
processo de transformação do meio ao qual estão inseridos, e não meros repetidores de
normas.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997, p. 5), indicam como objetivos


do ensino fundamental que os alunos sejam capazes de:

Desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confiança em


suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e
de inserção social, para agir com perseverança na busca de conhecimento e no
exercício da cidadania.

Nessa perspectiva, para que um docente possa educar para o sensível ele precisa ser
sensível. Duarte Júnior (2001, p. 206) defende “que na realidade, uma educação sensível só
pode ser levada a efeito por meio de educadores cujas sensibilidades tenham sido
desenvolvidas e cuidadas, (...) como fonte primeira dos saberes e conhecimentos (...) acerca
do mundo”.

Além do desenvolvimento da sensibilidade é preciso ter respeito pelo aluno,


conhecer a sua realidade, dialogar, ouvir, por mais que isso seja uma atividade complexa e
desafiadora, afinal, tratar do pensamento e dos sentimentos não é tarefa fácil. Duarte Júnior
(2008a, p. 103) afirma que:

Esta é então, a primeira função cognitiva, ou pedagógica, da arte: apresenta-nos


eventos pertinentes à esfera dos sentimentos, que não são acessíveis ao pensamento
discursivo. Através da arte somos levados a conhecer nossas experiências vividas,
que escapam à linearidade da linguagem. Quando, na experiência estética, meus
sentimentos entram em consonância (ou são despertados) por aqueles concretizados
na obra, minha atenção se focaliza naquilo que sinto. A lógica da linguagem é
suspensa, e eu vivo meus sentimentos sem tentar “traduzi-los” em palavras.

Através da esfera dos sentimentos somos levados ao autoconhecimento e este


possibilita experiências fora do nosso cotidiano. É fundamental nos conhecermos para depois
construir o conhecimento elaborado por outros. Segundo Duarte Júnior (2008a, p. 91):

Desta forma, o modo de perceber, na experiência proporcionada pela arte, é


radicalmente distinto de nossa percepção ordinária, cotidiana. Na experiência
estética retornamos àquela percepção anterior à percepção condicionada pela
discursividade da linguagem; retornamos a uma primitiva e mágica visão do mundo.

Talvez estejam justamente aí à possibilidade de uma nova consciência e, também,


possibilidade de diminuir a indisciplina e a falta de interesse dos alunos pela escola,
melhorando as relações entre educadores e educandos, os respeitos mútuos, o respeito com a
natureza e o respeito pelas diferenças. Contribuindo para que isso ocorra, a Arte no Ensino
Fundamental (BRASIL, 1998, p. 38) considera que:

Trabalhar ética e estética na produção de arte dos alunos e de artistas significa


considerar suas possibilidades criadoras correlacionadas com as realidades
socioculturais e comunicacionais em que vivem. Na elaboração artística, há questões
e situações que são inerentes à arte e que podem ser problematizadas, como o
respeito mútuo, a justiça, o diálogo, a solidariedade humana. No âmbito da arte e da
dimensão estética, a produção sociocultural do gosto pode ser trabalhada em
diversos momentos durante as aulas de Dança, Teatro, Música, Artes Visuais.

As questões sociais, a realidade sociocultural e a diversidade sempre foram abordadas


pelas diversas áreas das Artes, possibilitando através da música, dança, teatro, pinturas uma
aproximação em que os estudantes possam despertar seu interesse para questões relevantes
que estamos vivenciando.

Segundo Duarte Junior (2008b, p. 77) na dimensão estética, a Arte permite um contato
direto com os sentimentos de nossa e de outras culturas. Na educação para o sensível diz
mais, que na experiência estética experimenta-se o objeto no nível dos sentimentos, sem a
mediação conceitual da linguagem. O sentimento é algo muito subjetivo e precisa ser
trabalhado e vivenciado por educadores e educandos possibilitando vivenciar atividades
envolventes, prazerosas e significativas. Tanto o educador quanto o educando precisam estar
envolvidos, despertando a sua sensibilidade, seus sentimentos com a atividade e o conteúdo
abordado.

Com todo o desenvolvimento tecnológico, a globalização e os recursos de multimídias


o arte-educador tem possibilidades infinitas, utilizando-se de recursos tecnológicos, musicais
e outros. Essa geração está muito íntima dos recursos de multimídia, fotografias, músicas,
vídeos, assim, os alunos tem muita facilidade e, por que não aproveitar esses recursos ao invés
de propor atividades que não gerem nenhum interesse, ou em que o arte-educador não se sinta
seguro, não podendo orientá-los?

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998, p. 41), apontam como


possibilidades que:

Nas aulas, o professor tem de levar em conta que o domínio da tecnologia e da


generalização das redes midiáticas fez com que nossos conceitos de tempo, espaço,
corpo e, portanto, dança, se transformassem, independentemente de se possuírem ou
não computadores, fornos de microondas, telefones celulares etc. No mundo de hoje,
os valores, atitudes e maneiras de viver e conviver em sociedade estão em constante
transformação por causa da presença das novas tecnologias.

Se tudo mudou, precisamos mudar também ou então deixarmos de sermos


irresponsáveis e levar em consideração que nosso instrumento de trabalho são seres humanos,
e ainda, que é necessário humanizá-los, pois somente um mundo mais humano e sensível
poderá mudar a realidade a qual estamos inseridos. Para tanto uma aprendizagem
significativa, se faz necessário, além disso, é imprescindível sermos conscientes de que o
nosso saber construído na formação acadêmica não é mais suficiente.

Com as transformações rápidas do mundo globalizado, o educador precisa estar


sempre se readaptando, atualizando-se em contínua formação e na busca de novas
possibilidades para transformar-se em um ser humano mais sensível e humanizado. Frente a
esse cenário, a formação precisa estender-se não só a conhecimentos a cerca do
desenvolvimento científico/tecnológico, mas também, àqueles vinculados a uma educação que
considere aspectos sensíveis do ser humano.

3 A diversidade Cultural no Ensino da Arte e questões sociais da atualidade

A diversidade Cultural se faz presente na sociedade e também nas salas de aula,


enriquecendo os estudos quando se trata de educação no ensino da Arte. Desse modo, é
preciso abordar as diferentes culturas e os diferentes sujeitos na sala de aula e trabalhá-las na
construção do conhecimento, respeitando as diferenças e as individualidades. Na educação
devemos compreender os sujeitos com identidades múltiplas, plurais e diferentes que se
encontram em constante transformação. Para Imbernón (2000, p. 84):

A Diversidade é um termo novo pós-moderno que provém de outros campos sociais.


Nesse momento, fala-se de individualizar, de compensar, de fracasso do sistema, de
dificuldades para entender um grupo heterogêneo, de igualdade de oportunidades,
etc. A escolarização foi criada, ao contrário, sob a premissa de não-diversidade,
então, de uma linha prioritária dos Estados para a generalização do ensino e para
toda a população de uma determinada idade.

Fica evidente que ao vivermos esse momento de ruptura, as práticas pedagógicas


pareçam não dar conta dessas transformações. As autoridades políticas vêm se empenhando
na busca de alternativas na tentativa de tornar as condições iguais para todos. Um exemplo
disso são as Políticas de Ação Afirmativas estabelecidas pelo governo para o ingresso ao
estudo universitário, que, conforme Marcon (2012, p. 27):

As políticas de ação afirmativa representam um avanço significativo na história da


sociedade brasileira. Ao colocar em pauta questões complexas como preconceitos,
raças, culturas, multicultura, intercultura e mestiçagem, essas políticas encontram
dificuldades para avançar. Mesmo assim, as experiências apontam para avanços
relevantes que estão desmitificando concepções até então dominantes, como as de
que aos índios e afrodescendentes falta capacidade para ocupar as funções
desempenhadas por brancos.

Nesse contexto, Imbernón (2000, p.85) também adverte para as adequações


necessárias ao sistema educacional, visando o respeito à diversidade:
Adaptar o ensino à diversidade dos sujeitos que convivem nas instituições
educativas não é tarefa simples, e o êxito nos resultados dependerá em grande
medida da capacidade de agir autonomamente, tanto por parte dos professores como
da comunidade e dos alunos e alunas sujeitos desse processo.

Essa autonomia só será possível se os sujeitos desse processo desenvolver


conhecimentos sobre essas questões, envolvidos e estimulados emocionalmente, a fim de
colocar em prática a ideia de sujeitos diversos. Nessa perspectiva Imbernón (2000, p. 83)
observa que “[...] a atenção à diversidade deve ser entendida como aceitação de realidades
plurais, como uma ideologia, como uma forma de ver a realidade social defendendo ideais
democráticos e de justiça social”. Conforme exposto nos Parâmetros Curriculares Nacionais,
(BRASIL, 1998, p. 37):

As manifestações artísticas são exemplos vivos da diversidade cultural dos povos e


expressam a riqueza criadora dos artistas de todos os tempos e lugares. Em contato
com essas produções, o estudante pode exercitar suas capacidades cognitivas,
sensitivas, afetivas e imaginativas, organizadas em torno da aprendizagem artística e
estética.

As aprendizagens artísticas e estéticas aprimoram os conhecimentos de vida e de


mundo, consequentemente resultam no respeito e valorização das diversas formas de
manifestações dos educandos e professores, melhorando assim, a forma de se relacionar com
as pessoas e o respeito pela diferença. Um exemplo de conhecimento de outras culturas foi
dado pelo artista espanhol Pablo Picasso após visitar uma Exposição de Máscaras Africanas,
quando se inspirou na elaboração de obras de arte como “Les Demoiselles D’avignon”, que
mais tarde acabou dando origem ao estilo cubista. Alguns detalhes foram expressos no Blog
“Arte - Fonte de Conhecimento”, no qual o autor assim descreve:

É o ponto de partida das pesquisas que resultariam no cubismo. Iniciado em 1906, só


ficou pronto no ano seguinte, depois de muitas transformações. Nesta tela, Picasso
expressa a sua revolta contra toda a arte Ocidental com génese na Renascença, a
qual representava a beleza da mulher e deu expressão a uma nova era da arte
denominada “Cubismo”, resultado da sua vivência e do contato com outros tipos de
arte, nomeadamente: as esculturas ibéricas e africanas, cujas formas arcaicas o
artista foi modificando até atingir a geometrização rigorosa e, por fim, deformação
radical. LES DEMOISELLES D’AVIGNON foi a primeira invenção moderna que
abriu caminho para transgredir convenções e tradições visuais naturalistas do
ocidente. Picasso subverteu por completo as regras de representar a figura humana e
os objetos, desconstruiu o corpo e a separação entre figura e fundo, a anatomia foi
subordinada à geometria e a luminosidade sem compromissos com a natureza,
totalmente livre.
Cada artista estudado, assim como o contexto de cada obra de arte, gera um
conhecimento de mundo e um entendimento de como a arte está intimamente ligada às coisas
vividas e sentidas pelos artistas de cada tempo e época. Os PCNs apontam como um dos
objetivos no ensino fundamental em Arte (BRASIL, 1997, p. 5) que:

O aluno possa conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural


brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações,
posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de
classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e
sociais.

Sabemos que muita coisa precisa ser feita em relação à discriminação. Os valores do
cotidiano precisam ser trabalhados de forma a desestruturar os tabus impostos pela sociedade.
Muitas vezes vemos ou ouvimos alunos agindo de forma discriminatória através de falas,
brincadeiras ou apelidos, estes que não podem passar despercebidos pelos educadores, pois
podem causar consequências internas nos educandos, prejudicando a autonomia e a tomada de
decisões. Nesse contexto de discriminação e internalização, Marcon (2012, p. 18) ressalta
que:

As politicas de ação afirmativa defrontam-se com essa questão central que é a


capacidade de superação das relações de opressão que não são apenas externas, mas
adentram a estrutura do ser. O mais grave é que esses processos, de um lado,
acomodam e, de outro, criam medo de conquistar a própria liberdade.

É na escola que vivenciamos a intolerância, o preconceito, a injustiça e a falta de


empatia, ali também podemos mudar esse cenário, desenvolvendo atividades pedagógicas
prazerosas e significativas que auxiliem na mudança de formas preconceituosas, sejam elas
quais forem. Nesse sentido Imbernón (2000, p.86) afirma:

A Diversidade que a educação pretende atender não pode ser estabelecida em termos
abstratos, mas ao contrário, deve estar vinculada a uma análise da realidade social
atual (seus valores predominantes, a relação indicadores de rendimento/indicadores
educativos, seus traços específicos, as relações de poder, as contradições, etc.) e
deve abranger tanto o âmbito macrossocial quanto microssocial.

Daí a importância de conhecer os educandos e seus contextos na perspectiva de


vivenciar experiências e situações que os levem ao diálogo, à reflexão e ao envolvimento com
essas questões da diversidade, iniciando no espaço microssocial, ali mesmo na sala de aula.
Por meio de uma simples apreciação de um trabalho realizado por um colega é possível
oportunizar a escuta e a expressão dos sentimentos.

Ao criar um trabalho plástico o educando tem a possibilidade de expressar seus


sentimentos com os materiais artísticos, esse momento em que o educando passa por uma
experiência estética, torna mais fácil sua abertura para mudanças de concepção e é através
dessas vivencias que se desenvolve a capacidade de autonomia. Dessa forma, os conteúdos
abordados, os momentos de apreciações musicais, sensibilizações, da aproximação com as
produções dos artistas e dos colegas, é que se torna possível a construção do conhecimento e
elaboração de possibilidades de mudanças. Nesse momento ocorrem, de fato, às
aprendizagens.

O conhecimento artístico como articulação dos sentidos, como apontam os Parâmetros


Curriculares Nacionais permite aproximações nas relações entre professor e aluno e também
na relação entre educandos e suas diversas manifestações culturais, (BRASIL, 1998, p. 35):

A arte é um conhecimento que permite a aproximação entre indivíduos, mesmo os


de culturas distintas, pois favorece a percepção de semelhanças e diferenças entre as
culturas, expressas nos produtos artísticos e concepções estéticas, em um plano
diferenciado da informação discursiva. Ao observar uma dança indígena, um
estudante morador da cidade estabelece um contato com o índio que pode revelar
mais sobre o valor e a extensão de seu universo do que apenas uma explanação sobre
os ritos nas comunidades indígenas. E vice-versa.

Fica evidente a contribuição do conhecimento ajustado e articulado com os sentidos. A


dança, por exemplo, é envolvente e mesmo que apresentada como recurso virtual, vídeos ou
documentários é possível desfrutar uma experiência rica e envolvente no momento em que
aborda outras culturas. Sabemos que o Brasil é um país com uma diversidade cultural muito
rica e que de um estado para outro já é possível perceber as diferenças culturais significativas.

Se no interior de uma sala de aula vivenciamos a presença de uma grande diversidade


cultural, se tomarmos como referência todos os estados brasileiros ou, até mesmo, os mais
diversos países a diversidade seria inúmeras vezes maior. Dessa maneira, são inúmeras as
contribuições que as diferenças podem trazer, a fim de ajustar e ampliar os conhecimentos
culturais e a capacidade de aceitação mútua dos indivíduos.

O tema da pluralidade cultural tem relevância especial no ensino de arte, pois permite
ao aluno lidar com a diversidade de modo positivo na arte e na vida. Na sala de aula inter-
relacionam-se indivíduos de diferentes culturas que podem ser identificados pela etnia,
gênero, idade, locação geográfica, classe social, ocupação, educação, religião. Nesse contexto,
Imbernón (2000, p. 84) afirma que:

Cada pessoa é diferente pela interação entre o que é (nível intelectual, motivação,
interesse, existência acumulada, conhecimentos, etc.), No entanto, as respostas para
poder solucionar o problema da segregação das pessoas em todos os graus e para
conscientizar os alunos no respeito a essa diferença ainda estão pendentes neste
momento, na porta de entrada do século XXI.

A disciplina de Artes tem papel primordial nesse contexto, visto que as aprendizagens
no Ensino Fundamental são essenciais para a vida e para a formação de valores, os quais são
assumidos pelos educandos ao abrirem-se para novas perspectivas e para a transformação
humana. Como ressaltam os Parâmetros Curriculares Nacionais, (BRASIL, 1998, p. 20):

O conhecimento da arte abre perspectivas para que o aluno tenha uma compreensão
do mundo na qual a dimensão poética esteja presente: a arte ensina que nossas
experiências geram um movimento de transformação permanente, que é preciso
reordenar referências a cada momento, ser flexível. Isso significa que criar e
conhecer são indissociáveis e a flexibilidade é condição fundamental para aprender.

Reordenar os conteúdos, as práticas pedagógicas, o respeito à diferença, a


sensibilidade através dos conhecimentos em Arte e o reconhecimento a Diversidade Cultural
de cada sujeito, são ferramentas importantes para a revitalização da escola e do processo
ensino/aprendizagem.

A área de Arte contribui, portanto, para ampliar o entendimento e a atuação dos alunos
ante os problemas vitais que estão presentes na sociedade de nossos dias. Tais problemas
referem-se às ações de todas as pessoas para garantir a efetivação de uma cidadania ativa e
participante na complexa construção de uma sociedade democrática que envolve, entre outras,
as práticas artísticas. Portanto, somente assim podemos acreditar em um mundo mais justo e
humanizado. Ao percebemos que devemos construir nossos saberes e práticas levando em
consideração as diretrizes que orientam a educação, as situações reais do nosso cotidiano e de
nossos educandos. Procurando ensinar e aprender com as diferenças nesse processo contínuo
de transformação.
4 Considerações finais

Diante do exposto até o momento, podemos considerar que a educação em Arte auxilia
na ampliação da consciência estética humana, a expressão dos sentimentos do conhecimento
ajustado em si. Também oportuniza o autoconhecimento, ao perceber as diferentes culturas e
aprender com os diversos sujeitos que formam a nossa sociedade, esta que passa por
constantes transformações.

Educar o pensamento com os sentimentos é algo desafiador, Duarte Júnior (2008, p.


16), esclarece que “o sentir é anterior ao pensar, (...) por isso pode-se afirmar que, antes de ser
razão, o homem é emoção”. E como não trabalhar as emoções? A escola é um espaço em que
essa educação precisa ter espaço e acontecer efetivamente, assim, essas práticas resultarão em
seres humanos sensíveis e humanizados, conhecedores da realidade em que vivem e sujeitos
capazes de mudar essa realidade.

As instituições de ensino e os educadores, ao elaborar propostas de ensino, devem


levar em consideração muitos pontos relevantes: Primeiro, seu instrumento de trabalho são
seres humanos que trazem sua bagagem cultural, seus contextos e suas diferenças; Segundo,
que temos diretrizes que orientam nosso trabalho, ou deveriam orientar; Terceiro, que
devemos assumir uma postura de educadores preocupados em melhorar o ensino e as relações
sociais, regatando valores, dentre eles a ética e a sensibilidade dos educandos.

Para tanto é necessário ter clareza de que devemos estar em constante atualização e
transformação, buscando melhorar nossa prática pedagógica dia-a-dia. Duarte Júnior (2008, p.
17) defende que “[...] o termo educação transcende os limites dos muros da escola para se
inserir no próprio contexto cultural onde se está”. A área da arte que está delineada no
documento dos PCNs visa destacar aspectos essenciais da criação e percepção estética dos
educandos e o modo de tratar a apropriação de conteúdos imprescindíveis para a cultura do
cidadão contemporâneo. Oportunizando aprendizagens dentro e fora da escola.

Duarte Junior (2008, p. 16) contribui dizendo que “uma ponte que nos leva a conhecer
e a expressar os sentimentos é, então, a arte, e a forma de nossa consciência aprendê-los é
através da experiência estética”. Diferenciando-se assim de outras áreas do conhecimento,
justamente aí está a grande responsabilidade por parte dos educadores.

Portanto, quando ocorrem transformações dentro da escola, estas vão refletir na vida
de cada educando e também na sociedade e no mundo, como um todo. É nessa perspectiva
que devemos pensar nossas práticas pedagógicas e ter claro que o processo é gradativo e
mesmo que pareça lento. Sabemos que os resultados não são imediatos, mas que possamos ter
consciência que a nossa parte foi feita. Nesse sentido, pensamento e sentimentos são a
essência do ser humano e, na relação Arte-escola estes se fazem imprescindíveis.

Referências:

BRASIL. Ministério da Educação. Leis de Diretrizes e Bases. Brasília/MEC. 1999.


BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: arte. Secretaria de
Educação Fundamental. – Brasília : MEC / SEF, 1998. 116 p.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: arte. Secretaria de
Educação Fundamental. – Brasília : MEC/SEF, 1997. 130p.
DUARTE JUNIOR, João Francisco. Fundamentos Estéticos da Educação. São Paulo 10ª edição Papirus,
2008a.
DUARTE JUNIOR, João Francisco. Por Que Arte-Educação? 20ª Edição. Papirus Editora 2008b.
DUARTE JUNIOR, J. F. O Sentido dos Sentidos. Curitiba: Criar, 2001.
MARCON, Telmo. Políticas de ação afirmativa no contexto da sociedade brasileira. Revista Brasileira de
Estudos Pedagógicos. Brasília, v. 93, n. 233, p. 11-33, jan./abr. 2012.
GOERGEN, Pedro. Pós-Modernidade, ética e educação. 2ª ed. São Paulo: Autores Associados, 2005.
IMBERNÓN, Francisco. Amplitude e profundidade do olhar: a educação ontem, hoje e amanhã. 2ª ed. – Porto
Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
ARTE: fonte de conhecimento. Disponível em: http://artefontedeconhecimento.blogspot.com.br/2010/07/les-
demoiselles-davignon-e-o ponto-de.html. Acesso em 15 de junho de 2013.

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