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Educação
Resumo:
A crise na educação decorre também da falta de desenvolvimento de uma sensibilidade, uma visão
diferenciada com relação às possibilidades existentes e dadas pelas diretrizes que orientam a
educação. Este artigo pretende refletir sobre as contribuições de um olhar sensível, as questões do
ensino da arte e da diversidade cultural, partindo de algumas observações referentes às falas,
desabafos de professores e alunos sobre práticas pedagógicas tradicionais vivenciadas no ensino
fundamental. A educação para a diversidade como possibilidade de transformação das relações
dentro da escola.
Palavras-chave: Arte. Sensibilidade. Diversidade Cultural.
1 Introdução
O presente artigo tem por objetivo refletir sobre as possibilidades que o ensino da Arte
aponta para o repensar das ações educativas, tendo por base a sensibilização no processo
ensino-aprendizagem, contemplando a diversidade cultural presente nos ambientes de sala de
aula. Sendo assim, o professor arte-educador precisa aprofundar seus conhecimentos,
permitir-se cultivar as diferenças e desenvolver a sua sensibilidade, somente assim criará
oportunidades para expandir os conhecimentos, ampliando a convivência, desenvolvendo a
criticidade e a sensibilidade na formação do aluno, de modo que possa vivenciar
aprendizagens significativas e prazerosas em sala de aula. Goergen (2005, p.85) lembra-nos:
Fica claro nesse sentido que a formação humana não se dá somente pelo acúmulo de
informação, mas pela formação daquilo que nos torna humanos, que é a capacidade de
pensamento. O pensar crítico e autônomo talvez seja o elemento possibilitador da ordenação
das coisas, assim como da orientação das ações humanas, segundo uma perspectiva cidadã.
Por meio de atividades artísticas e culturais é possível ampliar o repertório dos alunos e
vivenciar atividades significativas e transformadoras.
Nessa perspectiva, para que um docente possa educar para o sensível ele precisa ser
sensível. Duarte Júnior (2001, p. 206) defende “que na realidade, uma educação sensível só
pode ser levada a efeito por meio de educadores cujas sensibilidades tenham sido
desenvolvidas e cuidadas, (...) como fonte primeira dos saberes e conhecimentos (...) acerca
do mundo”.
Segundo Duarte Junior (2008b, p. 77) na dimensão estética, a Arte permite um contato
direto com os sentimentos de nossa e de outras culturas. Na educação para o sensível diz
mais, que na experiência estética experimenta-se o objeto no nível dos sentimentos, sem a
mediação conceitual da linguagem. O sentimento é algo muito subjetivo e precisa ser
trabalhado e vivenciado por educadores e educandos possibilitando vivenciar atividades
envolventes, prazerosas e significativas. Tanto o educador quanto o educando precisam estar
envolvidos, despertando a sua sensibilidade, seus sentimentos com a atividade e o conteúdo
abordado.
Sabemos que muita coisa precisa ser feita em relação à discriminação. Os valores do
cotidiano precisam ser trabalhados de forma a desestruturar os tabus impostos pela sociedade.
Muitas vezes vemos ou ouvimos alunos agindo de forma discriminatória através de falas,
brincadeiras ou apelidos, estes que não podem passar despercebidos pelos educadores, pois
podem causar consequências internas nos educandos, prejudicando a autonomia e a tomada de
decisões. Nesse contexto de discriminação e internalização, Marcon (2012, p. 18) ressalta
que:
A Diversidade que a educação pretende atender não pode ser estabelecida em termos
abstratos, mas ao contrário, deve estar vinculada a uma análise da realidade social
atual (seus valores predominantes, a relação indicadores de rendimento/indicadores
educativos, seus traços específicos, as relações de poder, as contradições, etc.) e
deve abranger tanto o âmbito macrossocial quanto microssocial.
O tema da pluralidade cultural tem relevância especial no ensino de arte, pois permite
ao aluno lidar com a diversidade de modo positivo na arte e na vida. Na sala de aula inter-
relacionam-se indivíduos de diferentes culturas que podem ser identificados pela etnia,
gênero, idade, locação geográfica, classe social, ocupação, educação, religião. Nesse contexto,
Imbernón (2000, p. 84) afirma que:
Cada pessoa é diferente pela interação entre o que é (nível intelectual, motivação,
interesse, existência acumulada, conhecimentos, etc.), No entanto, as respostas para
poder solucionar o problema da segregação das pessoas em todos os graus e para
conscientizar os alunos no respeito a essa diferença ainda estão pendentes neste
momento, na porta de entrada do século XXI.
A disciplina de Artes tem papel primordial nesse contexto, visto que as aprendizagens
no Ensino Fundamental são essenciais para a vida e para a formação de valores, os quais são
assumidos pelos educandos ao abrirem-se para novas perspectivas e para a transformação
humana. Como ressaltam os Parâmetros Curriculares Nacionais, (BRASIL, 1998, p. 20):
O conhecimento da arte abre perspectivas para que o aluno tenha uma compreensão
do mundo na qual a dimensão poética esteja presente: a arte ensina que nossas
experiências geram um movimento de transformação permanente, que é preciso
reordenar referências a cada momento, ser flexível. Isso significa que criar e
conhecer são indissociáveis e a flexibilidade é condição fundamental para aprender.
A área de Arte contribui, portanto, para ampliar o entendimento e a atuação dos alunos
ante os problemas vitais que estão presentes na sociedade de nossos dias. Tais problemas
referem-se às ações de todas as pessoas para garantir a efetivação de uma cidadania ativa e
participante na complexa construção de uma sociedade democrática que envolve, entre outras,
as práticas artísticas. Portanto, somente assim podemos acreditar em um mundo mais justo e
humanizado. Ao percebemos que devemos construir nossos saberes e práticas levando em
consideração as diretrizes que orientam a educação, as situações reais do nosso cotidiano e de
nossos educandos. Procurando ensinar e aprender com as diferenças nesse processo contínuo
de transformação.
4 Considerações finais
Diante do exposto até o momento, podemos considerar que a educação em Arte auxilia
na ampliação da consciência estética humana, a expressão dos sentimentos do conhecimento
ajustado em si. Também oportuniza o autoconhecimento, ao perceber as diferentes culturas e
aprender com os diversos sujeitos que formam a nossa sociedade, esta que passa por
constantes transformações.
Para tanto é necessário ter clareza de que devemos estar em constante atualização e
transformação, buscando melhorar nossa prática pedagógica dia-a-dia. Duarte Júnior (2008, p.
17) defende que “[...] o termo educação transcende os limites dos muros da escola para se
inserir no próprio contexto cultural onde se está”. A área da arte que está delineada no
documento dos PCNs visa destacar aspectos essenciais da criação e percepção estética dos
educandos e o modo de tratar a apropriação de conteúdos imprescindíveis para a cultura do
cidadão contemporâneo. Oportunizando aprendizagens dentro e fora da escola.
Duarte Junior (2008, p. 16) contribui dizendo que “uma ponte que nos leva a conhecer
e a expressar os sentimentos é, então, a arte, e a forma de nossa consciência aprendê-los é
através da experiência estética”. Diferenciando-se assim de outras áreas do conhecimento,
justamente aí está a grande responsabilidade por parte dos educadores.
Portanto, quando ocorrem transformações dentro da escola, estas vão refletir na vida
de cada educando e também na sociedade e no mundo, como um todo. É nessa perspectiva
que devemos pensar nossas práticas pedagógicas e ter claro que o processo é gradativo e
mesmo que pareça lento. Sabemos que os resultados não são imediatos, mas que possamos ter
consciência que a nossa parte foi feita. Nesse sentido, pensamento e sentimentos são a
essência do ser humano e, na relação Arte-escola estes se fazem imprescindíveis.
Referências: