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Artes

Arte e tecNologias contem-


porâneas no desenvolvimen-
to da sensibilidade e da
percepção estÉtica
Marilena de P. Monteiro Jardim, professora do Centro Uni-
versitário Adventista São Paulo, Campus Hortolândia e Campus Engenheiro
Coelho (Unasp), mestre em Artes pela Unicamp e especialista em arte-educação,
marilena.jardim@unasp.edu.br

Resumo: O objetivo desta pesquisa é analisar a importância e as contribuições


do desenvolvimento da sensibilidade e da percepção estética, usando a arte moderna
e a tecnologia contemporânea como ferramentas de auxílio à educação. O estudo
pretende, também, fornecer aos professores uma conscientização em relação ao
emprego da arte no processo de ensino/aprendizagem, por meio de uma alfabe-
tização visual em que o aluno aprenda a analisar formas, cores, linhas, volumes,
equilíbrio, movimento e ritmo, favorecendo o desenvolvimento da sensibilidade da
criança em relação a si própria e em relação ao meio que a envolve. O estudo está
embasado na proposta triangular, integrando o fazer artístico, a história da arte, a
leitura e análise de obras de arte. A inter-secção entre educação e tecnologia mostra
que há uma integração entre homem e máquina, não no sentido de abandonar o
que vinha sendo feito dentro do ensino em sala de aula, mas como um meio inter-
disciplinar entre o ensino tradicional e o uso do computador.
Palavras-chave: Arte, sensibilidade, ensino, tecnologia, interdisciplinaridade

contemporary Art and technologies in the develop-


ment of sensitivity and the esthetic perception
Abstract: The main goal of this research is to analyse the importance and
contributions of the development of sensitivity and esthetic perception, using the
modern art and the contemporary technology as a supporting tool for education.
This research intends, the same way, make the teachers conscious concerning to
the relations between art in the processes of teaching/learning, through a visual
teaching of reading in which the student learns to analyse shapes, colors, lines, vo-
lumes, balance, movement and rhythm, allowing the child’s sensitivity enhancement
regarded to herself or himself and with the social atmosphere that surrounds her
or him. The foundation of this study is based on three main stone, integrating the
artistic act, the art history, the reading and analysis of the work of art. The inter-
section between education and technology demonstrates that there is integration
with man and machine, not with the purpose to give up everthing that has been
done during classes, but as an interdisciplinary way between tradicional teaching
and the use of computers.
Keywords: Art, densitivity, teaching, technology, interdisciplinarity ways

ACTA Científica - Ciências Humanas 2º Semestre - 2006 65


Introdução
No Brasil, desde a primeira metade do século 19, riências através da imersão visual, mas intermediá-la
segundo Barbosa (1975), com a queda da Monarquia com os demais objetivos da arte-educação.
e o estabelecimento da República, o ensino da arte se O desenvolvimento da criatividade, segundo
baseava no ensino do desenho geométrico e na utili- Barbosa (1975), é um objetivo bastante indefinido.
zação do desenho de cópia. A autora acrescenta que o conceito de criatividade se
Segundo Rossi (2003), acreditava-se que a aprendi- ampliou. O desenvolvimento não se dá somente por
zagem em arte se dava pela imitação, pelas percepções e intermédio do fazer arte, mas também pelas leituras
idéias que o aluno captava mediante as reproduções. As e interpretações das obras de arte. No Modernismo,
cópias, em forma de imagens, eram usadas como mo- a partir do movimento de Arte Moderna de 1922,
delos. Tanto na esfera da educação quanto na produção os fatores envolvidos na criatividade eram valores
artística, a influência das imagens não era questionada. ligados à originalidade. Atualmente, Barbosa (2003
No final do século 19, as críticas começaram a surgir p. 18) afirma que
sobre a maneira como as crianças eram educadas na a elaboração e a flexibilidade são extremamente va-
escola. A educação desconsiderava o alcance da expe- lorizadas. Descontruir para reconstruir, selecionar,
riência perceptiva da criança, e assim, uma nova visão reelaborar, partir do conhecido e modificá-lo de acordo
foi se solidificando, a apresentação de modelos deixou com o contexto e a necessidade são processos criadores,
de ser considerada como educativa e as imagens foram desenvolvidos pelo fazer e ver Arte.
banidas do ensino da arte. Permaneceria na escola so-
Lowenfeld & Brittain (1970, p.15) explicam que o
mente a imagem produzida pelo próprio aluno dentro
ensino formal pouco tem feito para educar os sentidos
de um contexto de subjetividade.
que são a nossa única via de aprendizagem. Dentro
Na realidade, a grande renovação metodológica
desse sistema escolar, o professor demonstra satisfação,
no campo da arte-educação se deve ao movimento
quando os alunos apresentam de forma eficiente que
de Arte Moderna de 1922, ocasião em que as teorias
entendem, memorizam e passivamente respondem
expressionistas e os escritos de Freud contribuíram
suas avaliações de instruções de ensino, não incenti-
para a valorização da arte infantil.
vando a capacidade dos alunos de procurar e descobrir
Mário de Andrade e Anita Malfatti foram os
respostas. O ensino da arte nas escolas promove uma
introdutores das idéias da livre-expressão para a
maneira diferente de ensinar. Lowenfeld & Brittain
criança. A idéia de livre-expressão, segundo Barbosa
(1970, p.15) acrescentam que a arte
(1975), originou-se no expressionismo, e permitiu
que a criança expressasse seus sentimentos e o fato desenvolve as aptidões de interrogar, de procurar
que a arte não é ensinada, mas expressada. Somente respostas, de descobrir forma e ordem, de repensar,
em 1948, com a criação da Escolinha de Arte do de reestruturar e encontrar novas relações, são qua-
lidades que não são, de um modo geral, ensinadas;
Brasil. O objetivo da arte-educação passou a ser o
de fato, parece ser menosprezadas em nosso atual
desenvolvimento da capacidade criadora em geral,
sistema educacional.
tornando a situação mais complexa, pois seria neces-
sário ensinar a ver, analisar, especular, investigar, e os Duarte Jr. (1991), quando comenta sobre o ensino
professores teriam necessidade de estudar e conhecer formal em relação ao ensino por meio da arte, mostra-
a teoria da percepção, criatividade, antropologia, nos uma realidade educacional que se preocupa mais
sociologia e estética. com valores intelectuais e conteúdos lógicos. Nesse
Ehrenzweig (1977), na década de 60, faz críticas processo, os alunos não desenvolvem suas próprias
à abordagem da auto-expressão afirmando que está- percepções e sentimentos. Quando só o racional é
vamos diante de outra convenção social e que se fôs- valorizado, ocorre um embotamento da sensibilidade
semos formular uma substituição à sabedoria de livre que embrutece o homem, e os valores estéticos e sen-
auto-expressão, isso seria o oposto; ou seja, em vez de síveis vão perdendo sua importância. A arte se detém
o aluno ser forçado a descobrir seu próprio íntimo, teria nos valores emocionais e subjetivos que encontramos
que estudar o mundo externo objetivamente. nas entrelinhas dos traços, das cores, das formas e das
Rossi (2003) comenta que o professor de arte não imagens. Duarte Jr. (2004, p.23) afirma que
deve se basear apenas em preservar a ingenuidade a arte pode consistir num precioso instrumento para
expressiva da criança pela livre expressão, pois serão a educação do sensível, levando-nos não apenas a des-
personalidades sem condições de continuar suas expe- cobrir formas até então inusitadas de sentir e perceber

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o mundo, como também desenvolvendo e acurando Portanto, o ensino da arte deve enfatizar igualmente
os nossos sentimentos e percepções acerca da rea- noções de história da arte com experiências artísticas,
lidade vivida. dentro de uma aprendizagem do fazer artístico, basea-
O papel da arte na educação está relacionado dos na construção do saber sensível. Duarte Jr. (2004,
aos aspectos artísticos e estéticos do conhecimento, p.14) afirma que
permitindo ao aluno expressar através de linguagens
nada mais significa do que dirigir nossa atenção de
artísticas, o seu modo de ver o mundo, podendo dar educadores para aquele saber primeiro que veio sendo
forma e colorido aos pensamentos que imagina e sistematicamente preterido em favor do conhecimento
percebe, fazendo uma ponte entre o fazer artístico e intelectivo, não apenas no interior das escolas, mas
o refletir (pensar). ainda e principalmente no âmbito familiar de nossa vida
O ensino da arte desenvolve a educação estética, cotidiana.
que Pillar (2003) define como uma educação que
O professor deverá procurar desenvolver seus
possibilita às crianças várias formas de leitura, fruição
conhecimentos a fim de promover uma interação da
e reflexão, tanto do cotidiano, como de obras de arte,
compreendendo o contexto dos materiais utilizados, educação dos sentidos com a aplicação das tecnologias
as propostas e pesquisas dos artistas, fornecendo uma contemporâneas. Não se trata de abandonar o que vi-
concepção sobre arte, não só como um fazer, mas como nha sendo feito dentro do ensino em sala de aula, mas
uma forma de pensar em e sobre arte. promover um trabalho interdisciplinar entre os meios
O desenvolvimento da percepção artística educa tradicionais e o uso do computador.
o olhar para o universo do ver, que se realiza através Arte e tecnologia
do ato de leitura e de reflexão. Nossa visão é limitada,
vemos o que compreendemos e o que temos condi- Como as crianças e adolescentes em nossos dias,
ções de entender, o que nos é significativo. Do mesmo fundamentalmente, convivem com a intersecção da
modo, nosso olhar não é instantâneo, ele capta algumas educação e da tecnologia, eles já se integram com ab-
informações visuais perdendo-se os detalhes e os sig- soluto domínio às interfaces homem e máquina.
nificados das entrelinhas. A produção artística na escola deve sintonizar-se
A educação dos sentidos através da educação esté- com os avanços tecnológicos. No período histórico da
tica proporciona estimulante experiência harmoniosa arte, esta sempre acompanhou o momento sóciocultu-
para os alunos. Ela oferece uma alfabetização visual à ral de cada época. A vida vem se transformando com
criança que aprende, além da leitura do discurso visual, uma série de tecnologias que ampliam nossos sentidos
uma análise de forma, cor, linha, volume, equilíbrio, e nossa capacidade de processar informações.
movimento e ritmo. A arte converge uma sensibilidade à tecnologia,
A educação estética, segundo Lowenfeld & Brit- pois a tecnologia coloca ao nosso dispor um mundo
tain (1970) é parte fundamental da educação artística. virtual que possibilita outros modos de existir; ela dispo-
Muitas vezes, a história da arte é considerada o cami- nibiliza outros estados sensoriais por meio de uma ação
nho adequado ao desenvolvimento da educação do que ocorrerá no momento de fazer escolhas e percursos,
pensamento e consecutivamente à educação do sentir, permitindo, segundo Domingues (1997), que a arte trans-
pois ela nos remete às expressões artísticas nas suas forme os resultados em obras abertas interativas.
variadas épocas. As técnicas de computação introduziram formas e
A importância de apresentar a história da arte, dentro efeitos visuais inteiramente novos (Ostrower, 1990).
do contexto a ser ensinado em sala de aula, favorece ao Pelo pincel eletrônico, qualquer imagem pode ser ins-
aluno o entendimento da importância de educar o olhar, tantaneamente alterada: as linhas, as cores, os contras-
por meio da leitura e reflexão de obras de arte. tes, as proporções, a imagem positiva virando negativa
O professor poderá fazer uso da “proposta trian- ou vice-versa, maior ou menor. Ao mesmo tempo, os
gular”, que Barbosa (2005) afirma ser uma proposta enquadramentos podem ser ampliados, reduzidos ou
que têm por base um trabalho pedagógico integrado combinados das maneiras mais diversas, isolando-se
entre o fazer artístico, a história da arte, a leitura e trechos ou detalhes acrescentando-se outros ou rea-
análise de obras de arte. Se os professores de arte grupando-os. A precisão do foco pode ser enturvada,
promovessem o ensino da arte dentro desse processo as imagens podem ser misturadas, fundidas ou então
educativo, teríamos uma nova visão da arte na socie- desmanchadas. O ser humano passa a ter domínio da
dade e na escola. imagem e usando recursos da memória do computador

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pode interferir tanto na esfera espacial como temporal. todos sofrem uma interferência no universo da expres-
A distinção entre o real e o virtual se entrelaça de tal são artística.
maneira, que surge um ilusionismo de mundos sem Outro fator a ser apreciado é o compromisso com
limites, totalmente navegáveis e penetráveis. a interdisciplinaridade que, segundo Barbosa (2003),
Um outro ponto positivo apresentado por Ostrower é enfatizado pela arte-educação Pós-Moderna, como
(1990) é o que ela chama de “pintores de computação”, uma coexistência e mútuo entendimento de diferentes
ou seja, mais uma vanguarda que, por meio da expres- conteúdos, numa interação entre as diferentes matérias
sividade da linguagem, a criação e formas são avaliadas de uma grade curricular. É a compreensão das partes se
pelo fato de que, na tela do computador, as obras não dando na compreensão do todo. Para Barbosa (2003),
se apresentam como imitações artísticas propiciando a “trabalhar interdisciplinaridade é como executar uma
exploração de sensações perceptivas. São interações que, sinfonia”.
pela casualidade, se transformam em obras artísticas. O professor de artes tem um papel muito importante
Com relação aos instrumentos do virtual, Huitric nesta prática, como um elo integrador na escola, não no
& Nahas (1997) comenta sobre a melhora que ocorre uso de suas habilidades artísticas nas festas da escola, ou
na visualização de objetos em facetas poligonais, o apri- para ilustrar textos em português, ou para ensinar prin-
moramento das técnicas de visualização das texturas e o cípios matemáticos via origami. Como todas as outras
refinamento cada vez maior das qualidades de iluminação disciplinas, Arte tem conteúdo, que deve ser respeitado
proporcionando todas as espécies de situações natu- e estimulado.
rais, favorecendo experiências de programação, numa O professor de artes é o maestro da sinfonia, que
progressão à rapidez e ao manejo que permitem captar tem que harmonizar o fazer artístico, o ensino da sensi-
dados reais no que se refere às formas ou movimentos. bilidade, da percepção, história da arte, com conteúdos
Assim, segundo Huitric & Nahas (1997), o operador atuais e atrativos como aplicação e o uso das tecnologias
humano em contato com o computador pode começar contemporâneas.
a ter interações perceptivas, não somente visuais, mas O ensino advém da realização de trabalhos artísticos,
também sinestésica. A interatividade é uma forma de dentro de uma educação da sensibilidade, tendo con-
resposta ao ambiente virtual e as experiências artísticas textualização na Arte Moderna, com suas explorações
contribuem para impulsioná-la. criativas e com o auxílio das tecnologias contemporâneas,
A realidade virtual, segundo (Kerckhove, 1997) deverá atingir harmoniosamente a formação estética e
convida a sonhar com gestos e movimentos cheios de artística do aluno, pois favorece uma percepção para
sutilezas, diálogos incríveis, extraordinários; acredita uma vida mais significativa.
numa nova era da hipersensibilidade exacerbada por
Metodologia
todas as nossas novas extensões sensoriais. E comple-
ta seu comentário acrescendo que a realidade virtual O projeto aqui relatado foi realizado dentro da rede
coloca um imaginário objetivo ao alcance de nossas particular de ensino da cidade de Hortolândia (SP),
manipulações. no Instituto Adventista de Ensino São Paulo (Iasp),
O uso do computador como uma ferramenta tecnoló- fundado em 1949 pelo profº e pastor Germano G.
gica em sala de aula é um dos caminhos para o aprendizado Ritter. Esta instituição compõe o 3º campus do Centro
e a troca de experiências, que em muito pode colaborar Universitário Adventista de São Paulo.
para a melhoria e a democratização do ensino da arte. No Iasp há o uso integral dos programas do Mi-
É necessário que o professor tenha interesse em nistério da Educação e Ministério das Comunicações.
explorar os programas disponíveis aos alunos, a fim de Possui três laboratórios de informática, num total
propiciar o aprendizado em arte. Trata-se de promover de 98 máquinas disponíveis. As aulas de informática
um trabalho interdisciplinar entre os meios tradicionais começam desde o jardim da infância e continuam até
e o uso do computador, e não abandoná-lo. O uso da o ensino médio, com 10 professores a disposição dos
tecnologia de uma forma displicente não garante o de- alunos. Na biblioteca, 20 computadores são disponíveis
senvolvimento de um pensamento artístico ou da cons- somente para pesquisa.
trução de um saber em arte. No caminho educacional, Nesse ambiente aberto ao ensino não houve difi-
o trabalho com a arte dispõe atualmente de recursos culdades na apresentação e execução de um projeto na
que estão se formando em propostas estruturadas. A área de arte-educação no ensino fundamental, com as
informática nesse contexto oferece softwares gráficos 5ª e 6ª séries. Encontramos a professora de artes inte-
que permitem a criação de desenhos com inúmeros ressada em participar do projeto e foram dois meses
recursos, acrescentados a internet e a hipermídia, mas de interatividade e com total apoio.

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A execução se dividiu em duas etapas. A primeira na utilização da Arte Moderna, envolvendo: pesquisa,
constou de uma abordagem teórica, numa preparação exploração e intervenção pelo uso da internet. Consi-
e motivação para a segunda etapa totalmente prática. deramos a arte moderna não apenas como tema, mas
Dividimos as classes em dois grupos e promovemos como referência fundamental de uma renovação me-
uma participação dos alunos que omitiram suas opini- todológica, como ferramenta num intercâmbio entre
ões sobre o que era arte clássica e arte moderna. Cada meios digitais e analógicos.
aluno falou o que pensava sobre o assunto. Foram O processo de elaboração do projeto teve como
anotados na lousa todos os comentários, distribuímos base a “proposta triangular”, integrando o fazer artís-
muitos livros sobre pinturas clássicas e modernas em tico, a história da arte, a leitura e análise de obras de
rodízio para os grupos. Os livros foram guardados e arte. As experiências artísticas se basearam numa linha
voltamos aos comentários anotados, solicitamos aos construtivista, visando formar por uma reconstrução
alunos que conferissem se estavam de acordo, ou do pensamento e sentimentos novas maneiras de ver
queriam mudar algum comentário. e de sentir.
Falamos sobre as origens da arte moderna e con- As expectativas de criar novas maneiras de per-
vidando os alunos a emitirem suas opiniões sobre o cepção tiveram uma estruturação que englobavam
que pensavam. Levamos máquina fotográfica antiga o relacionar, o selecionar, ler, interpretar, imaginar,
para ilustrar a época do impressionismo e usamos questionar, abstrair, refletir e dar significado às coisas,
transparências no retroprojetor. interagindo de uma maneira dirigida e intencional na
Exibimos o dvd “Pollock”, a saga do maior pintor formação do pensamento crítico do aluno com seu
expressionista da América, para os alunos apreciarem meio físico e social.
o trabalho artístico e a maneira contagiante de o pintor A arte moderna foi escolhida como meio de trans-
se expressar. mitir conceitos de uma arte aberta a novas maneiras de
Citamos a Semana de Arte de 1922 e as mudanças expressão, dentro de uma linha de liberdade e exploração
que ocorreram no Brasil, mostramos os estilos de arte de técnicas e materiais, fornecendo meios para que os
moderna através de transparências e pedimos pesquisas alunos distingam o que é arte moderna e as diferenças
na internet sobre arte moderna e o pintor Pollock. básicas com a arte clássica.
Nas aulas práticas, exploramos cores, formas, Ao longo do processo foram anotadas as ob-
traços, buscando sempre novas formas de expressão, servações empíricas sobre o desenvolvimento da
favorecendo o desenvolvimento da sensibilidade e o sensibilidade estética; analisando os professores
senso crítico. Varias técnicas foram passadas, estimu- envolvidos no projeto, o interesse dos alunos pesqui-
lando a criatividade. sados, as atividades integradas ao desenvolvimento
Abordamos sobre a utilização da tecnologia em ar- do projeto e a participação das tecnologias compu-
tes, levamos os alunos para o laboratório de informática tacionais como recurso tecnológico na produção de
em grupos, utilizamos o programa Paint e os orienta- trabalhos de arte na escola.
mos quanto às inúmeras possibilidades de criação pelo Terminamos o projeto com uma exposição, selecio-
programa. Os alunos tiveram possibilidade de criar e namos pinturas e desenhos, mostrando todas as etapas
explorar os recursos do programa. Os trabalhos muito passadas e os resultados obtidos.
criativos e expressivos foram fotografados.
A utilização do computador como ferramenta no Avaliação dos resultados
ensino formal, escolar, permitiu uma visão aos alunos Trabalhamos com alunos da 5ªA, 5ªC; 6ªA e 6ªB do
da interação homem-mundo-máquina, dentro do uni- Instituto Adventista de Ensino São Paulo (Iasp), Hor-
verso artístico. Como cada vez mais o mundo utiliza tolândia (SP). No total foram 128 alunos envolvidos
a tecnologia existente, cabe a escola interdisciplinar a no projeto interdisciplinar. Montamos um questionário
utilização da tecnologia na educação. Por meio deste para observar o senso crítico, o gosto e a percepção dos
projeto, mostramos aos alunos como desenvolver alunos, como também o que pensaram sobre o uso do
a percepção estética, com novas experiências em computador em artes.
formas, cores e expressões. Procuramos formar uma
reflexão sobre a utilização das tecnologias na educação Questionário
em arte. Em seqüência, um debate sobre as possíveis Do total de 128 alunos, 102 responderam o se-
ferramentas tecnológicas contemporâneas disponíveis guinte questionário:

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1 – Entre as pinturas de Arte Clássica e Arte Moderna, Resposta:
qual você colocaria na parede de sua sala? 67 responderam “sim”
( ) Clássica ( ) Moderna 34 responderam “não”
Respostas: 4 – Você gostou da experiência?
27 alunos preferem Arte Clássica Resposta:
73 alunos preferem Arte Moderna
96 responderam “sim”
2 – Qual você acha que seus pais colocariam na pa- 6 responderam “não”
rede da sala? 1 respondeu mais ou menos
( ) Clássica ( ) Moderna 5 – Escreva o que mais gostou do trabalho de artes
Respostas: no computador.
54 acham que seus pais colocariam Arte Clássica Resposta:
37 acham que seus pais colocariam Arte Moderna Pudemos observar, que na opinião dos alunos
3 – Qual o seu professor de artes mais apreciaria? envolvidos no projeto, as frases que mais se re-
( ) Clássica ( ) Moderna petiram, dentre os 102, alunos foi que trabalhar
em artes no computador oferece:
Resposta:s
1. Facilidade em desenhar formas, criar cores e
28 acham que o professor aprecia Arte Clássica pintar
74 acham que o professor aprecia Arte Moderna 2. Variedades de cores para se usar
Assinale com um X as respostas que concordar: 3. Desenhar e pintar mais rápido
4. Desenhos mais perfeitos do que feitos à mão livre
1 – A Arte Moderna proporciona: 5. Liberdade em criar
A. ( ) Conhecer novas formas de desenhar 6. Facilidade em criar desenhos e pinturas
B. ( ) Descobrir cores diferentes 7. Criar formas diferentes
C. ( ) Uma maneira rígida de pintar 8. É simples e fácil para desenhar e pintar
D. ( ) Desenhos iguais ao que se vê 9. Experiência ou atividade diferente
E. ( ) Liberdade para desenhar ou pintar
Resposta: Conclusões
70 alunos escolheram alternativa A
71 alunos escolheram alternativa B O que podemos concluir da elaboração e aplicação
20 alunos escolheram alternativa C do Projeto Interdisciplinar é que tanto os alunos quanto
04 alunos escolheram alternativa D os professores envolvidos se sentiram satisfeitos. A
90 alunos escolheram alternativa E professora de artes da escola não tinha conhecimento
dos assuntos abordados, e comentou que percebeu
Responda “sim” ou “não” (no computador): a necessidade de mudar sua maneira de ensinar.
Os professores de informática, que nos ajudaram,
1 – Você desenha melhor com o computador do apreciaram bastante a atividade artística realizada e
que com o lápis e borracha? se surpreenderam com os resultados. Os alunos fi-
Resposta: caram empolgados nas experiências artísticas com as
58 responderam “sim” descobertas de cores, formas e traços. Na utilização
44 responderam “não” da técnica da marmorização, onde novas cores eram
descobertas, o interesse dos alunos foi grande e pediam
2 – É mais agradável usar o computador para de- para fazer mais. Na busca de novas formas, levados
senhar e pintar? pela imaginação e observação, alguns descobriram e
Resposta: conseguiram usar a fantasia e o irreal, criando imagens
54 responderam “sim” diferentes. No computador, alguns alunos, empol-
47 responderam “não” gados com seus desenhos e criações, contagiavam o
ambiente e os colegas.
3 – É mais fácil criar o desenho através do com- Por meio do questionário, tentamos descobrir se
putador? tinham desenvolvido a sensibilidade, através do gosto,

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senso crítico e percepção. As respostas foram o termô- lhos, comentando sobre o que ouviram do ensino
metro do nosso desempenho na aplicação. em sala de aula.
Quando perguntamos qual estilo de pintura A exposição montada na entrada do prédio escolar
colocariam na parede de suas salas, a preferência foi foi muito apreciada e esclarecedora; mostrou como
o estilo moderno, mostraram que o estilo apreciado e quando surgiu a arte moderna e as possibilidades
pelos pais na maioria era o clássico e que o professor criadoras que vieram dela. Foram expostas várias
de artes apreciava o estilo moderno. experiências com cores, traços, formas, e por último,
Quando perguntamos o que a arte moderna através de cópias, os desenhos fotografados e produ-
proporciona, percebemos que a maioria dos alunos zidos no computador, como uma pequena amostra
entende o que é arte moderna, pois a maioria respon- da participação das tecnologias contemporâneas no
deu que ela proporcionava novas formas de desenhar,
ensino da arte. A resposta dada pelos alunos, de que
de descobrir cores diferentes e que podiam encontrar
gostaram do projeto por ter sido uma atividade ou
liberdade para desenhar ou pintar.
experiência diferente, mostrou que os alunos em
Quando perguntamos se desenhavam melhor
com o computador do que com o lápis e borracha, geral se interessam pelos conteúdos propostos em
não houve muita diferença nas respostas, pois dos artes, mas de uma maneira mais atual e dinâmica, que
102 alunos envolvidos 56 acharam que ‘sim’ e 47 podem trabalhar criativamente, mas desde que seja
responderam ‘não’. dada condição para serem criativos.
Quanto à facilidade em criar o desenho no O tempo usado na aplicação do projeto foi muito
computador, dos 102 alunos, 67 responderam ‘sim’. pouco para poder traçar uma mudança de refinamen-
E 96 alunos dos 102, responderam que gostaram to de sentimentos e percepções nos alunos, mas foi
da experiência e isso foi comprovado, pois alguns mostrada a necessidade de se aprofundar o olhar e o
pais confirmaram as alegrias e o interesse dos fi- sentir para um viver mais significativo e feliz.

Anexos

Imagens do projeto

Desenhos prouzidos pelos alunos em Paint

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Mural de esposição artística no Iasp

Referências Bibliográficas

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