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Resumo
O projeto Diários de Bordo é um subprojeto interdisciplinar que envolve
departamentos de Fundamentos da Educação e de Didática, tendo por objetivo incentivar
práticas artísticas junto a graduandos em pedagogia e de diferentes licenciaturas de modo a
favorecer experiências estéticas em suas formações iniciais uma vez que investigamos, no
projeto mãe, a contribuição de uma formação estética, inicial e continuada, para as práticas
do professor de ensino básico.
A partir das aulas ministradas nos cursos de didática, didática especial e filosofia da
educação, visamos favorecer um ambiente de pesquisa participativa no qual temos
proposto, aos alunos, a confecção de trabalhos artísticos que lhes permitam refletir as
possibilidades de construção de conhecimento através do uso do corpo, do som, de
imagens e textos em suas diversas plataformas através da criação de trabalhos estético-
visuais que são expostos e debatidos em aulas-vernissage abertas ao público. Os alunos são
orientados a partirem de conceitos abordados nas aulas e buscar expressá-los através da
confecção de uma obra o que os leva a reverem conceitos de linguagem, arte e cultura, de
modo a experimentarem uma noção de cultura artística em sentido ampliado.
Nas aulas-vernissage os trabalhos são debatidos pelo público presente, inclusive
pelos alunos sem que, entretanto, seja concedido ao aluno-artista explicar a própria obra,
com o que intencionamos que experimentem a multivocidade significativa dos
conhecimentos estabelecidos esteticamente.
Ao final do processo, cada aluno é convidado a escrever sua vivência e a
compartilhar com todos no sentido de refletir, avaliar e auxiliar-nos a sistematizar as
experiências.
No âmbito dessa apresentação traremos a ação pedagógica empreendida junto a
licenciandos da área das artes visuais, considerando de especial interesse que, justamente
junto a estudantes que já lidam com experiências estéticas, essa inserção tenha-lhes
parecido uma novidade, ao menos no território acadêmico, como veremos em seus
depoimentos.
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Aluno 1:
Nos reunimos com a turma da professora A no dia 26 de Fevereiro de 2013 afim de
realizar uma exposição com trabalhos plásticos baseados nas nossas experiência no
campo de estágio. A princípio, me preparei para falar do meu trabalho mas, para a
minha surpresa, nos sentamos no chão para falarmos sobre o trabalho do outro. A
turma estava muito inibida pra falar, não sei se por conta das câmeras ou por conta
do evento, da exposição. (...)
O que eu concluí deste evento? Muito bom! Este espaço de debate deveria ser
frequente nas nossas aulas de formação. Promove reflexão, desenvolvimento de
pensamento crítico, interação com os colegas das outras turmas e com outros
professores, trocas de experiência e de quebra é uma fonte de referência para os
nossos trabalhos plásticos, para a nossa formação como professor e como cidadãos
no mundo.
Aluno 2:
Em primeiro lugar, adorei chegar à sala e sentir um clima de vernissage, só faltou um
coquetel para complementar.
Aluno 3:
Gostei muito dos trabalhos! Mas achei que o momento da roda, aberto às discussões,
ficou muito travado. Acredito que tenha sido pela presença da câmera, que acaba
inibindo os mais tímidos, e por incrível que pareça, até os mais falantes se
manifestaram pouco.
Aluno 4:
Achei boa a proposta da dinâmica da apresentação, porque é sempre mais difícil
falar do trabalho dos outros do que do nosso próprio.
Aluno 5:
É muito diferente analisar trabalhos de alunos (refere-se a alunos do ensino básico) e
analisar trabalhos de colegas. Antes de dizer algo sobre o trabalho de alguém eu
penso se não interpretei-o de forma errada, como não gostaria que o meu fosse
interpretado, ou se minha análise seria tão pouco óbvia e profunda, diferente de
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Aluno 6:
A dinâmica proporcionou maior interação entre os discentes e também entre
discentes e docentes pelo fato de estarem duas turmas juntas. Fugiu da rotina, pois
havia outros olhares e maneiras de se colocar diferentes das aulas de todas as terças.
Aluno 7:
Criar uma aproximação entre o conhecimento do aluno e o conhecimento do
professor é fundamental, pelo menos deveria, para qualquer metodologia do ensino
da arte. Contudo, o que vemos é uma grande preocupação em justificar o ensino das
artes visuais nas escolas através de currículos racionalistas, axiomáticos,
eurocêntricos.
Aluno 8:
Meu diário de bordo remonta os principais acontecimentos compreendidos entre os
meses de abril de 2012 e fevereiro de 2013. O diário contêm imagens, desenhos,
frases e simbologias que resumem situações ocorridas não só no campo do estágio,
mas também durante as aulas da faculdade e na minha vida pessoal. (...)
Cada página foi trabalhada e pensada com intimidade e carinho. Pensar sobre esses
acontecimentos faziam parte da criação de cada tema, afinal eu queria mostrar da
forma mais clara possível o que eu passei e o quanto mudei durante esses dias. Por
mais que o curso de Licenciatura não exija uma monografia, o diário de bordo serviu
muito bem como tal instrumento.
Aluno 9:
As questões colocadas, em sua maioria, eram de denúncia ao ensino da arte, da
maneira como é conduzido e pensado nas escolas, e poucos relatavam ou expunham
situações positivas do ensino da arte.
Os trabalhos estavam muito interessantes e me chamou atenção que muitos se
preocupavam com o fato do ensino artístico ser pré-determinado e exercido como as
outras disciplinas, preocupado com o cumprimento de um currículo acadêmico
lançando matéria atrás de matéria, massificando o aluno que, por isso, deixa de
vivenciar a arte como experiência, como construção do pensamento crítico e
formação cultural.
Aluno 10:
Achei perturbador ter que elaborar esteticamente uma questão de meu estágio.
Entendo que os professores devem incentivar nossa prática artística, mas não me
sentia confiante em expor algo relacionado a esse tema. Realizo trabalhos de
ilustrações, e essa forma de expor meus trabalhos é onde me sinto mais confiante em
fazer o que me é pedido.
Talvez a insegurança tenha vindo relacionada ao próprio estágio, quando comecei a
pensar na minha elaboração, estava pensando também em regências e talvez por isso
tenha gasto toda minha capacidade de ser desinibida, toda minha capacidade crítica
nestas e sobrando tão pouco em minha elaboração e verbalização sobre os trabalhos
de meus colegas. O fato que pude perceber e me deixou mais descontente com essa
apresentação foi o de as pessoas não entenderem o ponto principal de meu trabalho,
mas como disse. Talvez a culpa seja minha por não ter pensado melhor nele, para
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que a obra falasse por si só. Meu consolo é que nós talvez interpretemos errado até
mesmo as obras e poesias dos mais famosos artistas e poetas!
Aluno 11:
Quando me deparei com a tarefa de criar um diário de bordo, senti que teria
dificuldades em expressar talvez de maneira mais enfática as minhas experiências.
Foi quando então visualizei à distância todo o leque de possibilidades do qual
poderia criar, vi elementos separados e decidi que meu foco seria uni-los, alguns
desses elementos seriam as aulas mais marcantes que tive com a professora A e
outros o contato com a escola e com os alunos.
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A surpresa, de nosso lado, ficou por conta de percebermos que, mesmo em uma
turma de licenciatura em educação artística, essa prática surgiu como alijada – totalmente
ou quase totalmente – da prática de construção de conhecimentos dentro da faculdade,
corroborando nossa presunção de que o conhecimento valorizado e construído na academia
ainda é eminentemente pautado em raciocínios que visam o modelo e a aproximação com
uma lógica formal na busca de balizadores verdadeiros e unívocos do objeto a ser
conhecido.
Essas questões, em um primeiro momento, nos levam a considerar que tais
metodologias em sala de aula não poderiam ser tão pontuais e cabe-nos pensar
metodologicamente como expandir a experiência de produção artística e de provocação
estética a outros momentos e situações do curso.
A partir daí, temos sido levados a rever insistentemente a literatura disponível
acerca de uma educação estética dos sujeitos e mais especificamente do professor.
Notoriamente, pela subjetividade e multivocidade do objeto investigado, essa não
tem sido uma tarefa fácil. Se, por um lado, majoritariamente, os depoimentos dos alunos-
artistas indica-nos que trilhamos um caminho desejável, mantém-se em suspensão a árdua
tentativa de imprimir e melhorar justificativas, aparentemente unívocas, a essa formação
didática o que seria, por si, contraditório, uma vez que nossa defesa primeira é em relação
a todo conhecimento que não se conforma às normas da cientificidade acadêmica, mas que,
intuímos, é válido.
Ademais de considerarmos os relatos de nossos alunos que nos dão indícios da
importância de tal iniciativa na medida em que problematizam a inércia instituída por
práticas didáticas da Universidade que sustentam “o cumprimento de um currículo
acadêmico lançando matéria atrás de matéria, massificando o aluno” e que reconhecem a
fragmentação dos conhecimentos – não só os acadêmicos, mas os conhecimentos
constitutivos dos sujeitos aprendentes - que necessitam ser incorporados: “vi elementos
separados e decidi que meu foco seria uni-los”-; observamos a insuficiência de aportes– na
perspectiva de um entendimento estético-sensível – que nos auxilie em uma revisão não
apenas metodológico-didática, mas de consideração às formas do conhecimento humano e
de delimitação de seus objetos.
Bibliografia
CANCLINI, Nestor G. A Sociedade sem Relato: antropologia e estética da iminência. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012.
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CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano: artes de fazer. Petrópolis, RJ: Vozes,
1994.
DEWEY, John. Arte como Experiência. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
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