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Unidade II
5 ARTE‑EDUCAÇÃO
Consiste em um dos segmentos mais importantes para o crescimento de um país, pois é por
meio da construção do conhecimento que há desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida de
toda a população.
O Brasil é caracterizado como um país de diversidade cultural, tendo na arte uma de suas expressões
mais relevantes, o que compõe um amplo leque de possíveis aprendizados. A arte apresenta‑se como
necessidade e característica essencial do ser humano desde os primórdios; independentemente de cor,
raça, cultura, ritmos, gestos, todos dançam, cantam, desenham, pintam etc.
Dessa forma, quanto mais cedo se vivenciar a arte, maior será o investimento na formação de
homens e mulheres conscientes da percepção de seu todo, e, consequentemente, da própria vida. A arte
na educação de crianças e adolescentes é de suma importância, já que, por meio de um bom trabalho
didático, é possível formar gostos, estimular a inteligência, e, ainda, contribuir para a formação da
identidade do indivíduo. E, às vezes, mais do que isso, formar artistas.
Ao criar uma arte, o indivíduo tem sua percepção aperfeiçoada, consegue soltar a imaginação
e raciocinar mais facilmente. No momento em que está criando, ele busca em sua própria
imaginação o que deseja criar, as cores que vai utilizar, os traços a serem feitos, consegue organizar
seus pensamentos, sentimentos e sensações, que são capacidades psíquicas que influenciam seu
processo de aprendizagem.
Observando a escola como um meio para formar cidadãos e como primeiro espaço formal com
que a criança tem contato, nada melhor do que também possibilitar seu contato com o meio artístico,
por meio das artes visuais, da dança, da música ou mesmo pelo teatro; esse contato será enriquecedor
para seu desenvolvimento. Porém, a maioria das escolas brasileiras trata o ensino de artes como algo
secundário, uma atividade de lazer, e não como uma disciplina que merece atenção. Ana Mae Barbosa
(2007) elucida que é essencial que o espaço pedagógico promova o acesso à arte.
Na maioria das vezes, o profissional contratado para ensinar artes o faz de forma polivalente, por
não ter conhecimento necessário sobre o assunto; sem contar que a carga horária destinada às aulas de
arte é bastante reduzida.
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Unidade II
Lembrete
O ensino das artes já faz parte da realidade das escolas, contudo não é
dada a devida atenção que esse estudo precisa.
Assim, é fundamental que se reconheça o ensino das artes como forma de contribuir para o
desenvolvimento de crianças e adolescentes, possibilitando a ampliação de seu potencial cognitivo e
expandindo sua visão de mundo. É necessário, ainda, que os educadores internalizem essa postura
para o ensino da disciplina, dando coerência à prática pedagógica e trazendo conhecimentos para o
repertório cultural do aluno, sem imposição nem separação entre a reflexão e a prática.
Saiba mais
<http://www.crmariocovas.sp.gov.br/aed_l.php?t=001>.
É importante refletirmos sobre algumas indagações: quem foram nossos professores? O que
aprendemos sobre artes em nossa infância? Na adolescência, a arte continuou viva em nossa
vida escolar?
Há dezessete anos, a arte tem sido uma disciplina obrigatória na escola, e isso decorreu do acordo
oficial entre o Ministério da Educação e Cultura (MEC) e o United States Agency for International
Development (Usaid), a partir da visão ideológica de educadores norte‑americanos, constatando a
disciplina como essencial para o desenvolvimento de crianças e adolescentes. Assim, a partir desse
acordo, foi elaborada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei Federal nº 5.692, em 1971.
A introdução da Educação Artística no currículo escolar foi um avanço, principalmente pelo aspecto
de sustentação legal para essa prática e por considerar que houve um entendimento em relação à arte na
formação dos indivíduos. No entanto, o resultado dessa proposição foi contraditório e paradoxal. Muitos
professores não estavam habilitados e devidamente preparados para o domínio de várias linguagens que
deveriam ser incluídas no conjunto das atividades artísticas: Artes Plásticas, Educação Musical, Artes
Cênicas (BRASIL, 1998, p. 26).
No início, não havia uma preocupação com o ensino, não se exigia formação superior para ensinar,
buscava‑se apenas a mão de obra barata para “passar” os conhecimentos. Utiliza‑se esse termo “passar
conhecimentos” porque o professor, por muito tempo, foi apenas um mero transmissor de conhecimentos.
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No decorrer do tempo, sua postura foi se modificando, novas teorias de aprendizagem foram sendo
desenvolvidas, e o professor assumiu a postura de educador. Da década de 1970 e até meados da
década de 1980, como não se exigia formação superior para lecionar, o Estado passou a disponibilizar a
profissionalização para alunos das chamadas escolas secundárias, hoje escolas de Ensino Médio.
Constatando‑se a necessidade de um docente com formação na área artística, o Estado decidiu criar
um novo curso superior: Licenciatura em Educação Artística. Pretendia‑se preparar em apenas dois anos
um profissional capaz de lecionar música, teatro, artes, desenho, dança e desenho geométrico, algo
humanamente impossível. Esse início tão desqualificado talvez possa justificar o ensino de música tão
precário e desvalorizado nas escolas.
Hoje existem inúmeros cursos na área artística; porém, em muitas escolas, não há o reconhecimento
de sua importância para o desenvolvimento da criança e do adolescente. A arte é tratada apenas como
um complemento do currículo escolar.
A arte‑educação é uma questão que, lentamente, o Brasil tenta resolver; pois, de um lado, temos
professores que lecionam sem formação específica, e, de outro, pessoas formadas em artes que não
possuem didática metodológica para organizar seus conteúdos.
Voltemos a pensar nas perguntas feitas no início deste tópico. E então, como foram suas aulas de
Educação Artística? Foram chamadas de aulas de artes por muito tempo? Desenhos, pinturas, mistura
de cores, tudo feito de forma básica, resumindo a aula apenas aos desenhos e pinturas, não é verdade?
Ocorre que algumas escolas realmente resumem o ensino de Artes nessa essa esfera, esquecem‑se
da riqueza da disciplina e se utilizam de uma visão equivocada do assunto. As práticas de ensino dessa
disciplina apresentam níveis de qualidade tão diversificados no Brasil que em muitas escolas ainda se
utilizam, por exemplo, modelos estereotipados para serem repetidos ou apreciados, empobrecendo o
universo cultural do aluno. Em outras, ainda se trabalha apenas com a autoexpressão, sem introduzir
outros saberes de arte.
É preciso ter em mente que a arte não se resume apenas a desenhos e pinturas, pois, por meio de
seu ensino, é possível conhecer um pouco de sua própria história, de sua cultura e de outras espalhadas
pelo mundo. Conhecer os processos criativos das linguagens artísticas é fundamental. Alguns artistas
importantes como Leonardo da Vinci e Vicent Van Gogh pensavam que até mesmo uma simples
fotografia pode tornar‑se uma obra de arte.
A arte, além de integrar pessoas, possibilita outras formas de expressão e também faz que a pessoa
analise criticamente aquilo que vê, ouve, assiste ou faz, tendo uma base para poder construir uma ideia
ou um projeto.
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De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), por meio do ensino de Arte, o
aluno, ao término do Ensino Fundamental, deve ser capaz de:
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Se realmente fosse colocado em prática o que propõem os PCN — Parâmetros Curriculares Nacionais,
o ensino de Artes atingiria seu objetivo; todavia, infelizmente, isso não ocorre, haja vista que escolas e
professores não o consultam, fazendo que ele não passe de palavras escritas.
Nas escolas, as crianças são avaliadas na disciplina de Artes apenas por seu comportamento e
sua dedicação; infelizmente, ainda não há espaço para o ensino de história das artes, ou mesmo para
apreciação ou um olhar sobre a obra artística. O professor apenas segue um livro didático e transmite
aos alunos os conhecimentos elencados por ele num roteiro. Visitas a exposições e museus são raras em
algumas escolas. A maioria dos docentes ainda é malpreparada para esse tipo de atividade.
Os alunos vivenciam as visitas muitas vezes sem ter informações básicas sobre as obras, seus autores
etc. Logo depois da exposição, recebem apenas uns folhetos na aula com o nome da obra e do artista e
a tarefa de preparar um relatório sobre o que viram. É aí que se pergunta: como esses relatórios serão
preparados, se a criança pouco teve contato com as obras? Pois o professor não teve o discernimento de
preparar uma aula rica, mesmo em um ambiente tão propício. Enfim, ainda há muito a ser visto para a
melhoria do ensino de Artes.
O ensino de Artes tem sofrido diversas transformações. Assim, cabe ao educador avaliar sua prática,
pois é preciso ter disposição para responder às várias dúvidas que têm surgido.
Entre as habilidades em arte que precisam ser analisadas, tem‑se o fazer artístico, em que é
necessário realizar produções artísticas individuais ou coletivas; apreciação artística, para refletir sobre
os processos de arte com seus diferentes instrumentos e manifestações sociais, bem como compreender
os critérios culturalmente constituídos de conhecimentos em caráter filosófico, histórico, sociológico,
antropológico, semiótico, entre outros; contextualização artística com a reflexão sobre determinadas
maneiras de arte e suas múltiplas funções.
Entre as habilidades citadas, o fazer artístico é o que se faz mais presente na arte, por englobar as
práticas de desenho, pintura, gravura, colagem e os meios tridimensionais.
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É preciso, portanto, criar um roteiro de questões organizado de forma livre para realizar a apreciação
de uma obra do campo das artes plásticas, a fim de que seja desenvolvida uma atividade esclarecedora
sobre seu significado e as intenções do autor.
A utilização de elementos verbais e não verbais dispostos em uma imagem caracteriza a extensão,
a distância, a profundidade, a verticalidade, a estabilidade, a cor, a sombra, a textura, entre outros,
buscando‑se definir de que modo se dá a leitura da imagem.
O signo linguístico é composto por duas partes, o significante e o significado, bem como pelo seu
caráter de eventualidade. Ele estará baseado na análise de todo e qualquer componente de significação
(SANTAELLA, 1995). Outro ponto a ser discutido permeia os trabalhos que se enquadram nesses aspectos
teóricos. É a questão da conotação da imagem, possível apenas por meio da palavra. Veja a concepção
a seguir:
O autor não abandona um projeto de leitura da imagem centralizada no signo e investiga esse
projeto como se fosse um texto, no qual se registram unidades visuais e se torna a atenção para o
significado das unidades relacionadas à imagem, aprofundando a leitura de imagem e acrescentando o
autor desta, o contexto histórico‑social, entre outros.
Ao analisar a linguagem virtual, observa‑se que, ao associá‑la com o signo linguístico, ocorre uma
redução em relação ao seu entendimento. Isso porque, ao se pensar na linguagem visual, acaba‑se por
descrever a imagem, dando lugar a um trabalho de segmentação da imagem em unidades discretas.
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A linguagem descreve a imagem, mas não revela sua matéria visual. É a visibilidade que permite
a essência da imagem, e não a sua relação com o verbal. Essa não correlação não rejeita o fato de
que a imagem pode ser lida. Um exemplo é a representatividade, que dá subsídio para que possa
haver a leitura da imagem enquanto estado de linguagem. É o poder que ela exerce na mente das
pessoas, a competência de reproduzir algo já presente na consciência, é a representação visual e
mental de cada indivíduo.
A música surge com mais evidência na Grécia Antiga, quando tem início a tomada de consciência
da necessidade do ensino da música por uma ótica que pode ajudar o desenvolvimento sociocultural
do ser humano; mas por volta de 2.500 a.C., já existiam manifestações musicais no Egito, porém sem o
cunho educacional.
Em Roma, o ensino da música era marcado por alguns preconceitos, pois as mulheres eram proibidas
de estudar música. Para os romanos, o ensino da música não fazia parte de seu currículo, como na
Grécia, pois os romanos achavam que isso poderia enfraquecer a formação do cidadão, deixando‑o
incapaz para a batalha. Um soldado sensível demais poderia não saber como reagir em um momento
crucial da guerra.
No Brasil, a música popular somente passou a ser alvo de discussões a partir da década de 1930,
período conhecido como “folclorização da música urbana”, e também período em que o samba se torna
gênero‑matriz do país. Com o Estado Novo, houve diversas políticas públicas para a área cultural, como
disserta Napolitano (2002, p. 183):
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Com o Estado Novo, as letras de samba tinham como ideologia o trabalho e o nacionalismo. Alguns
sambas faziam apologia ao malandro sambista, carioca que não gostava de trabalhar, indo justamente
contra o regime de Vargas. Por essa razão, alguns compositores tiveram de modificar suas letras.
Um exemplo de samba composto de acordo com as exigências do governo Vargas foi o de Wilson
Batista, que escreveu, em 1941, o “Bonde de São Januário”. Observe a letra:
Quem trabalha é quem tem razão/eu digo e não tenho medo de errar/ o
bonde de São Januário/ leva mais um operário/ sou eu que vou trabalhar/
antigamente eu não tinha juízo, mas resolvi garantir o meu futuro/ sou feliz,
vivo muito bem/ a boêmia não dá camisa a ninguém/ e digo bem (HAUSSEN
apud CAPELATO, 2003, p. 128).
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A intenção de Getúlio Vargas era expor na música a conjuntura econômica e política que o Brasil
vivia, conforme menciona Tinhorão (1998, p. 290):
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No fim da década de 1950, surge o movimento Bossa Nova, provocando ruptura nos padrões de
nacionalidade da música brasileira ao incorporar elementos estrangeiros, além de preservar o samba
do morro. Já os anos 1960 são marcados por uma mistura musical denominada MPB, abordada por
Napolitano (2002, p. 64‑65) da seguinte forma:
Ainda na década de 1960, surge o Tropicalismo, criando uma oposição com a MPB, já que esta última
era avessa ao estrangeirismo e a Tropicália era, além de estrangeirista, modista. No fim da década de
1960, com a instalação do AI‑5, tanto a Tropicália como a MPB passam a ser perseguidas pela censura
do governo militar por representar ameaça à ordem nacional. A partir dos anos 1970, surgem outras
tendências musicais, como o rock nacional.
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Assista a:
UMA NOITE em 67. Direção: Renato Terra; Ricardo Calil. Brasil: Record,
2010. 93 min. (Documentário).
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No que diz respeito ao processo educacional, na Antiguidade obedecia‑se a dois níveis: o básico
para crianças; e o avançado, direcionado aos jovens. Todas essas organizações e preocupações com a
estrutura do ensino da música em Esparta, Creta e Atenas tinham como objetivo primordial o enfoque
religioso e sociocultural.
A história da música como recurso didático tem sua relevância na possibilidade de permitir o
desenvolvimento de competências relacionado a leitura e interpretação de textos. Consta nos PCN:
Como elemento didático, a música atua na preservação da memória, da cultura humana. Essa
questão de cultura e memória também é trazida no bojo dos PCN:
Assim, o ensino de música sempre esteve presente na história, pois a música é parte da história da
própria sociedade, estando presente nos Parâmetros Curriculares Nacionais até os dias de hoje, mesmo
de forma implícita, merecendo uma maior atenção por parte das escolas.
A música pode ser considerada uma das maiores criações artísticas do homem, por possuir um
papel bastante significativo na vida do ser humano, ou seja, pode trazer prazer, confortar o espírito,
ajudar a refletir, causar emoção, informar e comportar conteúdo crítico, entre outros. Segundo Nicola
Abbagnano (2000, p. 689):
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O autor observa que a música é conceituada como uma ciência ou arte privilegiada, tendo como
objeto a realidade suprema e divina, em que na primeira fase a música possui, como objeto, a harmonia
como característica divina do universo; e, na segunda fase, o objeto da música é o princípio cósmico.
Stravinsky (2000, p. 69), sobre o conceito da música, diz:
O autor afirma que a música faz com que o homem se transporte ao futuro, idealizando seus sonhos.
Outra concepção filosófica da música refere‑se à identidade que ela implica, entre a música e suas
técnicas. Aristóteles expressava a identidade, reconhecendo a multiplicidade das técnicas musicais. Para
ele a música deve ser praticada com objetivos e usos múltiplos, e não apenas por um único tipo de
benefício. Aristóteles advogava a ideia de que a música serviria para a educação, para a catarse, para o
repouso, o alívio da alma e a suspensão de todos os afãs.
Na Poética de Aristóteles, a arte como a epopeia, a tragédia, a comédia e variadas espécies de música
instrumental e de canto, assim como a dança e a pintura, possuem similares no que concerne à imitação
da realidade natural e humana. Para isso, faz‑se uso de meios elementares, como as cores e as figuras,
e também de princípios estéticos gerais, como o ritmo e a harmonia. No pensamento de Aristóteles, a
diferença entre as espécies de música instrumental não reside nos meios que adotam, mas, sobretudo,
naquilo que é imitado e na forma por que imitam. Na Poética de Aristóteles, linhas, cores, volumes,
movimentos e palavras, coisas e ações eram imitados e representados por certos meios, com o máximo
de semelhança ou de fidelidade possível. As artes como a escultura, a poesia e a pintura possuíam
conteúdo representativo, na concepção aristotélica, diferentemente da música. Quanto a esta doutrina
mimética, possui certas sutilezas. Segundo Nunes (2002, p. 38):
homens e animais. Valorizava a arte em decorrência de sua semelhança com a realidade, quando aceita
a produção artística como aparência.
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Após abordar os conceitos de arte e música sob concepções fundamentadas na filosofia, agora se
faz necessário adentrar o âmbito da história da música e sua relação com a literatura. Pode‑se dizer que
a relação da música com a literatura, produto do domínio artístico, transcende um isolamento artístico
específico, e que a canção pode ser considerada como um gênero híbrido de caráter intersemiótico, ou
seja, há uma predominância da relação entre a linguagem verbal (a letra) e a linguagem musical (ritmo
e melodia).
Como as letras materializam‑se na escrita, facilitando a interface verbal, muitos estudiosos têm
investigado a relação e a comparação das canções com o caráter literário de suas letras.
Como as letras de música utilizam, muitas das vezes, os mesmos recursos dos poemas, estabelecem
uma análise comparativa de aproximação. Por exemplo: as letras musicais utilizam também estrofes,
possuem métricas, figuras de linguagem, rimas, dão ênfase à sonoridade, ao ritmo, evocam o lirismo e
os sentimentos subjetivos. Para Fernanda Falcão (2005, p. 3):
No caso específico do conceito de canção, pode‑se dizer que é a arte que combina música e poesia,
entoação e discursos utilizados como meios de expressão. A canção aproxima a expressividade musical
ao dramatismo e à afetividade presentes no texto poético. Para Edward (apud AGUIAR, 1998, p. 6):
Contudo, para Aguiar (1998), a pessoa que compõe não se utiliza propriamente do poema, mas
sim da interpretação deste depois que lê, ou seja, utiliza‑se dele e transforma‑o em música. Assim,
deduz‑se que na composição de uma música pouco se consegue assimilar o poema, porém este se
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incorpora na música, e esta cria sua própria identidade. Na relação entre literatura e música, as ligações
estabelecem‑se através de diferentes épocas e culturas.
Portanto, com isso, apresenta‑se relevância de mostrar a relação entre música e literatura como
forma de se analisar e compreender a própria história e cultura de uma época. Na época da Antiguidade
Greco‑Romana, música e literatura eram inseparáveis, pois, segundo Fiúza (1998, p. 122) “cabia à música
o papel de artifício à memorização das criações poéticas e dos relatos épicos, como aqueles atribuídos
a Homero”.
Nesse período, cantadores populares divulgavam os poemas. Esses cantadores eram chamados de:
rapsodos (entre os gregos), barbos (entre os celtas) ou jograis (entre os povos românticos e medievais).
Esses poemas eram cantados através da melopeia, que nada mais era do que uma peça musical para
acompanhar um recital.
O próprio conceito grego de mousike (artes das musas) já trazia essa simbiose
entre melodia e verso, aliada à dança. Outra palavra ligada ao conceito é a
Lírica, do grego lyrukos, relativo ao antigo instrumento musical de cordas
conhecido por Lira (AGUIAR, 1998, p. 122).
Para muitos estudiosos, a música mais antiga, tanto sacra quanto profana, insere‑se na época
medieval; talvez a mais importante seja o canto gregoriano. A música cristã era solidária com a liturgia
e inspirava‑se, a princípio, nas tradições judaicas, e depois nas pagãs, sírias, egípcias, gregas, romanas,
africanas e gaulesas. Começou, sem dúvida, por três cantos: o das litanias de estilo popular, animado por
tradições pagãs, o canto do Glória in Excelsis e o do Phos Hilaron, alem de outros propriamente cristãos.
A existência dessa música cristã puramente vocal, no tempo dos apóstolos, é atestada por São
Paulo. A liturgia na qual essa música se enquadrava compreendia, a princípio, o pedaço de pão com
quem o apóstolo, ao fim do banquete, repetia o gesto de Cristo na divina ceia, depois de uma reunião
para orações.
Apóstolos e bispos cuidaram de manter o caráter religioso dos cantos. Dessa intenção permanente
nasceu a antífona, frase musical que, precedendo e terminando o salmo, atraía a atenção dos fiéis para
as palavras nas quais se exprime a ideia religiosa santificadora.
A reforma gregoriana difundiu‑se, pouco a pouco, unificando o canto das Igrejas. Enquanto, no
Oriente, a música bizantina tomava impulso, a reforma gregoriana triunfava no Ocidente. É a grande
época, a idade de ouro dessa música. Entretanto, a partir do século XIII, aparecem os primeiros sinais da
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decadência: o canto gregoriano irá corrompendo‑se pouco a pouco em contato com a música profana.
De acordo com Roy Bennet (1988, p. 18):
O canto gregoriano, denominado cantochão, tinha como característica essencial ser um perpétuo
recitativo de ritmo livre: nada de tempo forte nem tempo fraco. Entre os anos de 1450 a 1600, emerge
a música renascentista. O período renascentista se caracterizava, na Europa Ocidental, sobretudo, pelo
enorme interesse devotado ao saber e à cultura, particularmente, e a muitas ideias dos antigos gregos
e romanos. Até o começo do século XIX, os instrumentos eram considerados muito menos importantes
do que as vozes. Contudo, durante o século XVI, os compositores passaram a ter cada vez mais interesse
em escrever músicas para instrumentos. A partir do século XVII, nasce a música barroca, juntamente
com a invenção de novas formas e configurações, como: ópera, oratório, fuga, suíte, sonata e concerto.
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Durante o período barroco, a música instrumental passa a ter, pela primeira vez, a mesma importância
que a vocal. Os compositores ainda usavam formas populares da Renascença, como a canzona, a
ricercata, a tocata, a fantasia e as variações.
Após o período barroco, emerge o arcadismo com suas influências ideológicas, as tendências da
época e as características (predomínio da razão, busca da objetividade, culto à natureza, equilíbrio e
sobriedade clássica e presença da mitologia greco‑latina).
No Brasil, um dos grandes compositores que se aproximam do estilo romântico é Ary Barroso. Em sua
música “Aquarela do Brasil”, por exemplo, evidencia‑se um nacionalismo de forma lúdica, que remete às
poesias e ao imaginário de Gonçalves Dias. Segundo Rodrigues (2003, p. 78):
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Ao observar o simbolismo, podem ser feitas as mesmas reflexões. Fatores influentes e características
de concepções místicas do mundo, interesse pelo indefinido, pelo mistério, interesse pelo particular,
alienação social, flexibilidade formal podem ser retratadas pela música. Dessa forma, mostra‑se a
grande importância existente entre as duas artes, música e literatura. Ambas se coadunam e remetem
às características profundas de uma época e um estilo literário, musical e histórico.
A música faz parte da vida da criança, seja através da escola, da família ou mesmo da mídia, e
participa das atividades cotidianas da criança, das trocas afetivas e da aprendizagem. Muitos estudos
se dedicaram a esse objeto, no entanto, em raridade no que diz respeito à canção enquanto prática
discursiva, ou seja, considerando tanto a articulação das linguagens musical e textual quanto sua
dimensão dialógica, ideológica e histórica.
A música para crianças no contexto escolar tem inscrito em si a construção de práticas que só foram
possíveis através da significação da infância enquanto “ideia” e da consolidação da indústria cultural.
Normalmente a canção em si não é tomada como objeto de estudo, mas como um instrumento para
atingir determinados fins, como nas pesquisas sobre o papel da musicalização infantil ou da musicoterapia.
Diversos estudos vêm sendo realizados com relação à música infantil, e, dentro desse universo,
há duas maneiras diferentes de concebê‑la: uma que dá maior relevância à canção (a música para a
criança) e outra que dá mais relevância à infância (a música na criança).
Nas ciências da educação se dá grande enfoque à musicalização infantil, principalmente nas séries
de formação inicial, o que por consequência leva a um grande debate acerca de métodos; e, partindo
desses métodos, a canção infantil é utilizada como meio para atingir certo objetivo pedagógico ou o
domínio da linguagem artística.
Em adolescentes, a música também exerce bastante influência na vida pessoal e social, considerando‑se
a sua cultura e a família como berço. Gradativamente, um adolescente vai formando sua identidade e,
tendo a consciência de suas diferenças em relação ao outro, segue em constante busca de interagir e
integrar‑se com os outros.
Exemplificando, os “metaleiros” são frequentemente vistos ,em nossa sociedade, seja por integrantes
de outras “tribos”, seja por parte da população, como violentos e usuários de drogas, da mesma forma
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que os sambistas, que também são frequentemente classificados como “malandros”, ou “vagabundos”.
Os rappers e os “funkeiros” são colocados na mesma categoria, a dos considerados bandidos, marginais,
estereotipados como favelados, gente pobre, em geral. Além disso, o funk tem carregado consigo um
estigma de vulgaridade, devido às temáticas das letras e das danças ligadas ao estilo. Os “emos” são
depreciativamente classificados como homossexuais, assim como os fãs de gêneros de música eletrônica,
que também carregam o estereótipo de usuários de drogas. Nessa mesma categoria estão os fãs de reggae,
que fazem uso de adereços relacionados à maconha. Importa destacar que associações de gêneros musicais
e as mensagens contidas nas letras com a personalidade do adolescente influenciam seu comportamento.
Diversos autores, dentre eles psicólogos, psicanalistas e estudiosos do assunto, relatam que a música
tem a capacidade de atender aos mais diversos aspectos do desenvolvimento humano, como físico,
mental, social, emocional e espiritual. Entende‑se que a linguagem musical é uma importante forma de
expressão e que deve ser inserida no contexto educacional nas suas diversas etapas, desde a infância
até a adolescência.
Com a música, o aluno desenvolve sua coordenação motora, acuidade visual e auditiva, assim como
memória, atenção, criatividade e capacidade de comunicação e socialização. Percebe‑se, pois, a introdução
da música em sala de aula como prática educativa, constituindo‑se em uma aprendizagem não arbitrária,
e assim se desperta na criança e no adolescente maior interesse pelos diversos assuntos abordados.
Alguns autores se preocupam com o avanço do ensino. A música gradativamente vai perdendo espaço
para os livros didáticos e exercícios repetitivos, conduzindo a práticas enfadonhas e descontextualizadas.
Importante ressaltar que a música está inserida na prática escolar desde o século passado, porém
passando por mudanças de acordo com as tendências e os enfoques de ensino, constituindo‑se num
recurso pedagógico de operacionalização de ensino. A música no contexto de ensino‑aprendizagem
conta com meios auxiliares, como os recursos naturais, audiovisuais, visuais, auditivos e estruturais
como componentes auxiliadores do momento de ensino‑aprendizagem.
Nesse contexto, a música deve estar presente em sala de aula, envolvendo situações desafiadoras
e significativas, favorecendo a exploração, a descoberta e a apropriação de conhecimento. Por ser
uma grande aliada para a percepção, estimula a memória e a inteligência, relacionando‑se ainda com
habilidades linguísticas e lógico‑matemáticas, ao desenvolver procedimentos que ajudam o aluno a
reconhecer‑se e a orientar‑se melhor no mundo. Entende‑se assim que, com a música, os alunos são
estimulados e desenvolvem suas atividades com mais facilidade, por adquirirem o equilíbrio emocional.
Além disso, a música é uma ponte para a desinibição, contribuindo para o envolvimento social,
despertando noções de respeito e consideração pelo outro e abrindo espaço para outras aprendizagens.
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ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR
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Conclui‑se, assim, que a música é uma linguagem cujo conhecimento é construído e não está pronto
em “prateleiras”. A musicalização na escola é uma condutora de aprendizado com alegria, descontração
e entusiasmo.
A música pode ser utilizada na materialização da escrita, facilitando a interface verbal, pois as
letras de música utilizam muitas vezes os mesmos recursos dos poemas, estabelecendo uma análise
comparativa de aproximação.
Ao observar o simbolismo, podem ser feitas as mesmas reflexões. Fatores influentes e características
de concepções místicas do mundo, interesse pelo indefinido, pelo mistério, interesse pelo particular,
alienação social e flexibilidade formal podem ser retratadas pela música.
A metodologia de ensino e aprendizagem por meio do uso da música é complexa, pois, além de
envolver o professor, o aluno e a escola, devem‑se levar em conta as dificuldades encontradas pelos
educadores, considerando o interesse e o compromisso do aluno com a filosofia de ensino e fatores que
influenciam o processo, tais como socioculturais, políticos e econômicos.
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Como visto, a música permite ao educador e ao aluno uma maneira harmoniosa de aprender, sem
imposições e sem monotonia, em que todos participam, despertando criatividade. No que se refere à
criatividade, a paródia é um gênero que aguça raciocínio, inteligência para criar e consciência crítica.
No momento em que interpretam as letras da música e dentro do contexto da língua portuguesa, com
tema determinado pelo professor, os alunos são capazes de criar paródias, atentando para gramática,
ortografia, contextualização, tendências para a arte, entre outras observações.
Paródia significa uma imitação burlesca, cômica, própria para se fazer rir; porém, quando voltada ao
estudo, esta é abordada instrutivamente, permitindo aos educandos criar, encenar, cantar e expor seus
conhecimentos, permitindo uma maior aproximação com o educador, ao contrário do que acontece no
ensino tradicional.
Não é raro observarmos no dia a dia os alunos batucando, cantando músicas de sucesso do
momento, e muitos deles mudam as letras dando outro sentido à melodia. Mesmo sem ter o
conhecimento, estão naturalmente fazendo paródias musicais. O objetivo desses alunos é fazer
comédias para professores e alunos.
Para que o professor possa fazer um bom plano de aula, é preciso que o educador conheça os
gostos musicais dos alunos, o que pode ser adquirido rapidamente, bastando para isso elaborar um
questionário sobre o tema. A partir desse questionário de perguntas objetivas e subjetivas, o professor
fará uma análise que constatará, em termos percentuais, os ritmos citados. Então, poderá considerar os
dois que são de maior índice e aplicar em sala de aula.
Cita‑se também como método pedagógico o estudo de canções, no qual se apresenta o vídeo
em sala de aula e depois se forma o debate entre os alunos. Por exemplo, a canção “Ovelha Negra”,
originalmente gravada por Rita Lee, tem sua regravação feita pelo grupo musical Pato Fu. Na gravação
original a canção se inicia com uma ovelha berrando. Como no caso da canção “Gatinha Manhosa”,
regravada por Adriana Partimpim, a intenção aqui parece ser uma aproximação maior do imaginário da
criança, que pode se dar em interação com a canção.
O mais recente trabalho do grupo Pato Fu tem como característica principal a utilização de
instrumentos de brinquedo (juntamente com a formação “camerística” padrão da banda). O grupo
94
ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR
afirma ter feito uma grande pesquisa musical para a escolha dos instrumentos, o que demonstra a
intenção de manter certo rigor com relação à parte musical.
Saiba mais
A canção “Ovelha Negra” tem letra de Rita Lee, e o clip tem como cenografia uma mulher narrando
sua história de “diferença”, também produzida discursivamente, já que a personagem passa a perceber
sua condição problemática quando seu pai lhe disse “filha, você é a ovelha negra da família” (LEE, 2010).
Essa inserção física da criança no trabalho do grupo é fato que consideramos observável. No caso
do Pato Fu, essa presença simbólica se dá através do brinquedo, algo concreto que faz parte da vida
cotidiana da criança e, no caso do pequeno cidadão, da inserção da própria criança.
7 DANÇA E MOVIMENTO
95
Unidade II
Durante a era paleolítica e a mesolítica (9.000 a 8.000 a.C.), a dança relacionava‑se com a
sobrevivência do homem, que fazia rituais dançantes para impedir fenômenos naturais. Daí surgiu, por
exemplo, a dança da chuva. Além disso, a dança era utilizada para agradecer dádivas, para a colheita,
para fertilização e para diversão. Já no período neolítico (6.500 a.C.), o homem passou a utilizar a dança
em celebrações de preparo da terra para plantio e colheita e de fertilidade do rebanho.
Saiba mais
Assista a:
As sociedades surgiram quando o homem passou a viver em grupos, e cada um destes grupos possuía
sua forma de dançar que desempenhava o papel de identificação. No Egito (5.000 a.C.) as danças eram
realizadas em culto aos deuses, principalmente à deusa da música Hathor e ao deus considerado o
inventor da dança, Bés; eram as chamadas danças sagradas. Nessa época, havia também as danças
profanas, que eram realizadas em banquetes em honra aos vivos ou aos mortos, ou para recompensar
funcionários, ou ainda por elevação de cargo.
96
ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR
Observação
Quem é?
Na Índia, em 2.000 a.C., e no Egito, a dança era de âmbito espiritual. A dança indiana buscava união
com a natureza, invocando o deus Shiva. Na Grécia, (século VII a III a.C) também se volta a dança para
os rituais religiosos, nos quais se representava o equilíbrio da mente e do espírito.
A cultura grega utilizava a dança em cerimônias religiosas e cívicas, na educação das crianças e no
treinamento militar. Somente com a queda da cultura grega a dança passa a significar apenas entretenimento.
As danças eram apresentadas em teatros, eram leves e ligeiras quando se tratava do gênero comédia, com
97
Unidade II
saltos, piruetas e rotação dos quadris. Sua característica sensual foi levada para o Ocidente, sendo proibida
pelos cristãos na Idade Média. Vale salientar que os gregos viam a dança como um dom dos imortais e
como uma ligação entre os homens e os deuses, assim, não havia nenhuma celebração sem dança, pois
esta era considerada a melhor forma de agradar, honrar e alegrar um deus. Os gregos acreditavam que a
dança era o equilíbrio entre o corpo e a mente que formava o cidadão por completo, sendo fonte de boa
saúde e reflexão estética e filosófica, trazendo‑lhes o conhecimento e a sabedoria.
Na Idade Média, a Igreja proibiu as manifestações corporais, alegando estarem vinculadas ao pecado;
no entanto, os camponeses permaneceram com suas danças na época da semeadura, da colheita e do
início da primavera, camuflando seus rituais com nomes de anjos e santos.
Durante os séculos XI e XII, houve uma epidemia na Europa que causou muitas mortes. Diante desse
fato, as pessoas desesperadas dançavam com o intuito de afastar a morte, e essa dança ficou conhecida
como dança macabra ou dança da morte. Nos séculos XIII e XIV, os trovadores ensinam à nobreza uma
dança lenta, denominada de basse danse, pelos trajes pesados das castelãs, que, diferentemente das
camponesas, não utilizavam roupas que facilitassem seus movimentos. A partir dos séculos XV e XVI,
com o Renascimento, as cortes reais, com necessidade de ostentar suas riquezas, passaram a comemorar
com festas eventos como nascimento, casamento, aniversários, entre outros. Há uma transição da dança
religiosa para a dança folclórica.
Nesse contexto, cabe afirmar que o ser humano necessita do movimento para sobreviver. Desde os
primórdios, a dança se apresenta como uma necessidade e característica humana. Independentemente
de cor, raça, cultura, etnia, ritmos e gestos, os povos dançam. Apesar de possuírem motivos diferentes,
a essência é a mesma. Através da dança, o homem se comunica, se alimenta, trabalha, enfim, vive.
Com a diversidade de civilizações e necessidades diferentes dos povos, a dança foi se misturando e se
modificando em suas formas de expressão e interpretação. Por esse motivo, quanto mais cedo vivenciar
a arte de dançar, maior será a concepção, por homens e mulheres, de seu todo, de sua própria vida.
98
ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR
Observação
Quem é?
A dança no Brasil possui fortes influências de diversas culturas, principalmente das culturas indígena,
africana e europeia, sendo vista pela primeira vez, conforme relato de Ellmerich (1964, p. 108),
Ressalta‑se que no Brasil cada região possui danças com aspectos diferentes, em decorrência da
influência das diversas culturas trazidas de outros países; por exemplo, na região Nordeste, a presença
africana está nas danças como axé, olodum e capoeira; na região Sul, a influência europeia fica evidente
nas danças como a chula, a dança de espadas e os bailões de pares.
Saiba mais
Assista a:
No Brasil, os índios que habitavam antes mesmo de seu descobrimento podem ser considerados como
grandes influenciadores da dança, pois pintavam o corpo e dançavam em dias festivos em homenagem
ao sol ou à chuva, o que influenciou a origem do carimbó, dança típica do estado do Pará.
Com a chegada da família real ao Brasil, a princesa Isabel realizava saraus e bailes em seu palácio,
o que ajudou a inserir as danças europeias no Brasil. Da influência europeia destaca‑se a portuguesa,
como os reisados, os pastoris, o bumba meu boi; e a espanhola, como fandangos e boleros.
99
Unidade II
Em 1538, as primeiras levas de negros africanos, que foram de grande influência para a dança
brasileira, introduziram no Brasil danças com o caxambu, o maracatu e a congada. Os negros vinham de
diferentes pontos da África, com diferentes grupos étnicos, religiões e costumes. Trouxeram para o Brasil
a capoeira, o jongo e o samba. A capoeira é uma dança com característica de arte marcial, utilizada pelos
escravos para defender‑se e atacar. O jongo é um ancestral do samba, é a principal forma de dança que
os africanos trouxeram para o Brasil, e, como referência a essa dança, utilizou‑se da palavra angolana
semba, que significa umbigo.
Vale destacar que a literatura da dança no Brasil é pouco difundida, apesar da grande diversidade
de danças existentes.
A dança pode vir em diversas formas, seja como uma manifestação artística, seja como uma simples
diversão. Na manifestação artística, a dança se expressa através dos movimentos corporais, com ou
sem ligação musical para um determinado público, e no decorrer dos tempos foi se desvinculando das
peculiaridades do teatro.
A dança pode ser classificada segundo diferentes critérios, como: pelo modo de dançar, por sua
origem ou por sua finalidade. Quanto ao modo de dançar, tem‑se: a dança solo, a dança em dupla e a
dança em grupo. A dança solo consiste na apresentação de uma única pessoa, por exemplo, a coreografia
de um solista de balé. A dança em dupla consiste na apresentação de duas pessoas, indiferente do sexo,
como o tango. A dança teatral é uma dança para espetáculos, por exemplo, o balé.
Quanto à sua origem, a dança pode ser classificada em dança folclórica, histórica, cerimonial e étnica.
A dança folclórica trata‑se da forma tradicional de dançar de determinado povo, como o carimbó. Como
exemplo de dança histórica, pode‑se citar a sarabanda, que consiste em uma dança lenta originada na
Espanha. E como dança cerimonial, citam‑se as danças rituais indianas. As danças étnicas são aquelas
tradicionais de países ou regiões.
Quanto à sua finalidade, a dança pode ser: erótica, por exemplo, o streeptease; cênica ou performática,
como a dança do ventre; social, que consiste na dança para o próprio prazer do participante, como a
dança de salão; e a religiosa, como a dança sufi.
Desta forma, pode‑se dizer que o mundo da dança é amplo; sua riqueza e diversidade
atraem os mais diversos públicos, podendo ser uma manifestação artística, um exercício físico,
ou apenas divertimento, e ser realizada por qualquer pessoa, independentemente de sua
cultura, etnia ou religião.
A dança étnica possui derivação de vários locais e períodos, sendo, no Brasil, as mais conhecidas:
dança do ventre, flamenca e afro. A dança do ventre surgiu há cerca de 5 mil anos, era praticada por
civilizações como a babilônica e a egípcia, durante os ritos sagrados de fertilização, quando apenas as
100
ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR
sacerdotisas podiam praticar dentro do templo, movimentando o ventre para receber a força da Grande
Mãe (Terra). Com o passar dos anos, passou a ser apresentada em público, sofrendo modificações.
A dança flamenca surgiu no fim do século XVII e consiste na reunião de elementos de diversas
culturas que atravessavam a região sul da Espanha, principalmente a dos ciganos. Com o tempo, foi
sofrendo influências de outras culturas, adquirindo novas características.
A dança africana ou afro foi introduzida pelos escravos na época do Brasil‑Colônia, tendo como
características a sensualidade, o ritmo marcado no chão com os pés e os movimentos fortes e vibrantes.
A dança étnica é praticada quase sempre em grupo, assim, são consideradas também danças de
inclusão, pois mesmo que nunca se tenha participado, o ritmo coletivo presente nas danças étnicas
acolhe as pessoas, deixando o participante à vontade. Ao dançar, o indivíduo entra em contato com seu
corpo, firmando suas relações sociais, desenvolvendo harmonia tanto individual quanto coletiva.
Na região Norte, podem‑se citar: a camaleão, típica do Amazonas, que consiste em uma dança de
pares soltos, que desenvolvem coreografia constituída por sete diferentes passos, chamados jornadas; o
carimbó, típico do Pará, que é uma dança de roda formada por homens e mulheres, com solista no centro
que baila com requebros, trejeitos, passos miúdos arrastados e ligeiros; a ciranda, também do Amazonas,
que é uma unidade formal de melodias populares composta de várias partes, acompanhada da música
“Ciranda, Cirandinha” (a dança é feita em círculo, com moças e rapazes vestidos à moda antiga); a
gambá, característica de toda a região Norte, é uma dança de terreiro, constituída de brincantes, sendo
um “marcador”, um grupo de quatro cantores, uma mulher solista e seu parceiro.
Da região Nordeste, citam‑se o cavalo piancó, no Piauí, com formação de pares de cavalheiros
e damas com danças que imitam trote de cavalo manco; ciranda de Paraíba e Pernambuco, na qual
se forma uma grande roda; ainda no estado de Pernambuco, tem‑se o frevo, dança muito comum
no carnaval; na Bahia, o maculelê, em que acontece um bailado guerreiro desenvolvido por homens,
dançarinos e cantores, todos comandados por um mestre, o “macota”; e torém, no Ceará, onde os
participantes formam um círculo e um solista dança ao centro.
Na região Sudeste, podem‑se citar: o batuque, característico dos estados de São Paulo, Minas Gerais
e Espírito Santo, uma dança de terreiro com dançadores de ambos os sexos, organizados em duas
fileiras, sendo uma de homens e outra de mulheres; e o caxambu, típico dos estados de Minas Gerais e
Rio de Janeiro, dança de terreiro executada por homens e mulheres postos em roda sem preocupação
de formar pares.
Da região Centro‑Oeste, cabe citar: a caninha‑verde, comum em toda a região, consiste em uma
roda de homens e mulheres que cantam e dançam mudando de lugares e formando pares; o siriri, típico
101
Unidade II
do Mato Grosso, é uma dança de pares soltos organizados em duas fileiras, sendo uma de homens e
outra de mulheres.
Na Região Sul, podem‑se citar: o fandango, típico do Paraná e do Rio Grande do Sul, (o termo
designa uma série de danças populares, denominadas “marcas”); e o pau de fita, característico de toda a
região, consiste em um mastro com cerca de três metros de comprimento, com um conjunto de largas
fitas multicores, de maior tamanho, onde os dançadores, em pares, seguram na extremidade de cada fita
e, ao som das músicas, giram em torno do mastro, revezando os pares, compondo tranças no próprio
mastro, com variados desenhos.
Uma dança folclórica comum a todos os Estados é a quadrilha, é uma dança própria dos festejos
juninos que se originou nos salões franceses e depois se difundiu por toda Europa. No Brasil foi
introduzida como dança de salão e depois foi adaptada aos gostos populares; consiste em uma dança
de pares guiada por um marcador que determinará as figurações diversas que serão desenvolvidas.
Atualmente, a dança sustenta inclusive festivais.
Ressalta‑se que não foram citadas todas as danças folclóricas brasileiras, ainda existem inúmeras
outras. Todos os países possuem suas danças folclóricas, por exemplo, a tarantela, típica da Itália,
havendo alguns países que possuem danças executadas somente em datas especiais, como a polca
de Natal sueca. Algumas são executadas em pares, outras em fileiras e outras em rodas. No decorrer
dos tempos, essas danças sofreram modificações, contudo o estilo dos passos e das músicas preserva
a originalidade.
A dança teatral é aquela encenada para entreter um público, por exemplo, o balé, danças folclóricas,
sapateado, entre outras. Até meados do século XIV, o cristianismo era considerado força maior, tendo
suas decisões acatadas por boa parte da sociedade. Nesse período, seus representantes proibiram a
dança teatral, por apresentar movimentos sensuais. Essa realidade foi modificada com o desencadear
do Renascimento, quando o homem passou a ser visto como centro de suas próprias decisões. A dança
teatral se desenvolveu entre os séculos XIV e XIV, época do Renascimento, quando as danças folclóricas
foram incorporadas pela aristocracia de países como França e Itália, tornando‑se mais elitizadas.
Em meados de 1700, a dança chega aos palcos de teatros como coadjuvantes de trechos de ópera,
sendo o balé a primeira dança apresentada. O conceito de dança teatral vem evoluindo no decorrer dos
tempos; atualmente, não é fácil limitar essa categoria, tendo em vista que nos palcos teatrais dos dias de
hoje é possível assistir a diversos números musicais com manifestações cênicas e expressões corporais
capazes de passar qualquer mensagem aos espectadores.
Pode‑se dizer que a dança é um conjunto de gestos e emoções, sentimentos opostos que se unem
e contagiam. Através dela é possível sentir alegria, tristeza, angústia, enfim, todos os sentimentos
inerentes ao homem. Desta forma, a dança possibilita que a criança se expresse de forma verdadeira,
102
ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR
incentivando o desenvolvimento de um ser humano crítico, capaz de tomar suas próprias decisões e
buscar uma melhor qualidade de vida. Para tanto, o conteúdo de atividades rítmicas e expressivas é
eficiente para o desenvolvimento motor e cognitivo e para as relações socioafetivas.
As atividades rítmicas e expressivas têm como principal característica a expressão e a comunicação de gestos
com presença musical, tendo como finalidade estimular, desenvolver e educar o ritmo físico, o emocional e
ainda proporcionar os conhecimentos fundamentais do ritmo musical. Ressalta‑se que as atividades rítmicas
e expressivas são tidas como prazerosas, funcionando como um estimulante para a criatividade e as relações
sociais, independentemente da idade e do contexto em que o indivíduo está inserido.
Nesse contexto, as atividades rítmicas e expressivas constituem‑se na vivência de cada ser humano
influenciado com valores e conceitos socioculturais, gerando possibilidades de comunicação por gestos e
posturas, objetivando a expressão e a comunicação por meio de gestos, ritmos e músicas, nos quais encontram
subsídios para o enriquecimento do processo de formação dos códigos corporais do indivíduo ou do grupo.
Constituem ainda conteúdos que colaboram com o aluno no atendimento de suas pretensões de lazer, que estão
relacionadas com a cultura do movimento, e assim estes conseguem atingir seus objetivos, pois se almeja que
os alunos apreendam informações e mecanismos, de modo que possam aplicá‑los, modificá‑los e ampliá‑los.
Desta forma, fica claro que as atividades rítmicas e expressivas devem enfatizar movimentos com
sons e músicas com o intuito de inspirar diversas vivências e, simultaneamente, desenvolver o domínio
motor, cognitivo e social.
Enquanto a linguagem oral é ainda entendida por muitos como a principal forma de comunicação
entre os homens, tem‑se a linguagem corporal, que é uma forma de transmissão de sentimentos e
emoções, em que as pessoas se comunicam utilizando gestos para enfatizar o que está sendo dito. Pease
e Pease (2005, p. 17) elucidam que:
Nas primeiras décadas do cinema, por volta dos anos 1920, os atores, como Charles Chaplin,
utilizavam as técnicas de linguagem corporal para transmitir sua mensagem ao público. Era o chamado
cinema mudo. Nele, o ator era considerado bom ou ruim pelo que conseguia transmitir. De acordo com
Laban (1978, p. 155):
Saiba mais
Assista a:
104
ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR
Desta forma, fica clara a importância da linguagem corporal no cotidiano do ser humano. Por meio
dela, pode‑se perceber o estado emocional de um indivíduo; assim, é uma fonte de informação sobre o
que ele está sentindo em determinados momentos.
Os movimentos da dança devem ser definidos de forma intencional rítmica, com influências culturais,
e ainda de acordo com a sequência da linguagem verbal, musical ou visual. Os elementos básicos da
dança são espaço, dinâmica, forma, locomoção, gesto, frase corporal e motivo.
Nos pequenos gestos de uma criança já é possível notar os pensamentos e sentimentos que a rodeiam,
bem como seus processos e representações mentais, portanto, se esses gestos forem colocados na dança,
será possível entender em suma o que se passa em seus pensamentos. Desta forma, é correto afirmar
que através da dança pode‑se perceber uma linguagem corporal capaz de transmitir as percepções e
emoções de quem dança.
Enfatiza‑se que educação e dança, embora aparentem ser de universos antagônicos, ambas, ao se
unificarem, contribuem para a formação crítica e para o desenvolvimento integral do indivíduo.
105
Unidade II
Conforme se verifica nas palavras da autora, a dança no contexto escolar tem como objetivo tornar o
indivíduo um ser criativo, participativo e responsável, ampliando a capacidade de interação socioafetiva.
Para Ivaldo Bertazzo (1998, p. 10):
Para Bertazzo e Bogéa (2004), o gesto, tão valorizado na dança, deveria ser utilizado como base para
a educação nos sistemas de ensino, visto que se exercita a psicomotricidade, ampliando a capacidade de
concentração, devendo estar presente no aprendizado do aluno.
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106
ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR
Destaca‑se aqui que os Parâmetros Curriculares para a área de Artes têm como proposta um ensino
humanizador, pautado por história, cultura e valores, expressando‑se na plástica, na dança, na música
e no teatro. O professor pode aplicar a dança em sala de aula em um aspecto histórico e cultural, por
exemplo, de onde veio o ritmo, como surgiu, entre outros. Ainda, no sentido do fazer artístico, pode‑se
experimentar cantar, dançar, filmar, dramatizar, para que estimule a expressão corporal e a socialização
do aluno.
Saiba mais
Muitos professores ainda têm em mente que a dança na escola serve para relaxar, acalmar os
alunos; no entanto, essa é uma visão limitada, pois a dança deve ser entendida como uma forma
de conhecimento, instrumento essencial para formação do ser social, pois esta fornece habilidades
necessárias para tal.
O teatro, ao ser utilizado na aprendizagem dos alunos, propicia prazer ao mesmo tempo que ensina
e educa. Assim, a utilização de jogos teatrais com fins pedagógicos contribui para o desenvolvimento
intelectual do indivíduo. Proporciona o teatro a construção do conhecimento por meio de atitudes
improvisadas, concentração, liderança e controle pessoal. Conforme os PCN (BRASIL, 1997, p. 84):
As atividades teatrais desenvolvem a autoexpressão do aluno, por ser uma forma lúdica de ensinar,
ampliando a sua capacidade de refletir sobre a produção dos sentidos e para o desenvolvimento da
expressão e comunicação. No teatro, o sujeito pode se imaginar como o mocinho ou como o vilão, ele
sofre com os personagens, vive por algumas horas uma vida que não é dele, mas, talvez, que gostaria de ter.
107
Unidade II
Em primeiro lugar, precisamos entender como o teatro foi considerado Teatro na história do Brasil,
pois a chegada dos jesuítas ao Brasil, no século XVI, marca o início da história do teatro no Brasil, quando
se aproveitou dos ritos e encenações míticas dos índios para promover textos dramáticos escritos por
José de Anchieta, padre jesuíta.
Saiba mais
Os textos dramatizados que Anchieta criava eram utilizados para difundir os dogmas da Igreja
Católica, buscando catequizar os índios. Todo o enredo era baseado na prática do pecado, nos castigos
e possibilidades de redenção se os pecadores se rendessem ao catolicismo. Para se ter uma noção, os
pajés eram colocados como inimigos da Igreja Católica, sendo ridicularizados nos sermões, e os ritos
sagrados dos índios eram denominados como ato de satanismo e feitiçaria. Desta forma, o teatro passou
a ser utilizado pelos jesuítas como uma forma de poder, sendo vetado qualquer tipo de risos, danças e
músicas.
Anos mais tarde, a cultura europeia interpenetrou no Brasil e passou a integrar a arte e a prática da
religião nas festividades, valendo‑se de muita alegria, músicas e danças, objetivando seduzir os índios
catequizados para os valores e a língua europeia.
No Período Colonial, o teatro no Brasil se dividia entre os interesses da Igreja Católica e do governo
do Marquês de Pombal. Em 28 de junho de 1759, foi instituído um alvará que abolia todas as escolas
jesuíticas de Portugal e das colônias. Daí surgiram, por iniciativa de Pombal, as escolas régias, onde eram
ensinados latim, grego e retórica.
108
ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR
Em 1808 a Família Real chega ao Brasil e funda uma escola de educação que ensinava língua
portuguesa, língua francesa, retórica, aritmética, desenho e pintura. Em 1816, surge a Escola Real de
Ciências, Artes e Ofícios, que em 1820 passou a ser a Academia de Artes; no entanto, o teatro ainda não
era utilizado para fins educativos.
Em 1827, um Decreto Imperial divide o ensino entre Primeiras Letras, Ensino Primário e Método
Lancasteriano, no qual ficava apenas um professor para cada escola. Esse decreto traz também o teatro
lírico, em que a população da colônia participava das atividades. Já no século XX, houve um movimento
para valorização da estética no Brasil, denominado Pioneiros da Educação Nova, com destaque de
Anísio Teixeira e Lourenço Filho. Durante o século XX, o teatro era utilizado nas escolas tradicionais em
apresentações nas quais os alunos decoravam textos e apresentavam seus movimentos cênicos.
Observação
Anísio Teixeira sempre lutou por uma escola pública que estivesse apta a fornecer uma educação
contrária à rigidez da escola tradicional, e para tal deveria a escola articular as diferenças culturais,
assim os alunos poderiam ter uma formação moral sem influência militar e/ou religiosa.
O projeto educacional de Anísio Teixeira visou a uma reforma intelectual e moral por meio da
democratização da educação na escola pública. Para tal, Teixeira argumentou acerca da necessidade
de oferecer a qualquer brasileiro uma escola primária, pública e comum. Teixeira (1968, p. 60) faz o
seguinte destaque:
109
Unidade II
Anísio Teixeira tinha o intuito de denunciar a ineficiência dos padrões escolares republicanos. Nesse
caso, para que a República cumprisse sua missão educativa “bastava, porém, que as escolas não fossem
más. Era necessário que fossem bastante. E aí é que falhou inteiramente a pregação republicana”
(TEIXEIRA, 1968, p. 60).
Esse autor sempre procurou enfatizar a incapacidade da República em se criar uma educação
democrática, sendo a “educação para todos” do período republicano uma política educacional sem
crédito e ineficiente para acompanhar as mudanças estruturais da sociedade brasileira.
Saiba mais
Entre a década de 1930 e a de 1940, a proposta educacional de Anísio Teixeira foi da criação de
uma nova política educacional, tendo como base a busca crescente por escolas, nas quais se fazia
necessária a criação de mais turnos, devido ao grande número de alunos candidatos às vagas no
ensino público.
Desta forma, o teatro passou a ser visto como um meio de mobilização eficaz na compreensão
da identidade humana, sendo parte de festividades escolares de celebração de datas e encerramento
de período letivo. Em 1964, com o golpe militar, o teatro passou a ser visto como uma ameaça e
foi censurado.
Após o golpe militar de 1964, os anos que se seguiram foram os mais violentos e repressivos da
história do Brasil, quando foi fechada toda e qualquer forma de expressão política, artística, televisiva
e radiofônica. Todavia, do início da década de 1970 até os dias atuais, o ensino de teatro tem sido cada
vez mais introduzido na educação.
110
ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR
Observação
Legalmente, o teatro foi incluído no currículo escolar no ano de 1961, com a Lei de Diretrizes e Bases
– LDB, porém sua utilização não era obrigatória e estava inserida na disciplina de Arte Dramática.
Importa destacar que muitas escolas que ensinavam teatro eram vítimas de censura do departamento
ditatorial. O Ato Institucional nº 5 de 1968, por exemplo, interviu em muitas escolas, aposentando
professores. Em 1971, a Lei de Diretrizes e Bases passou a colocar o teatro como obrigatório no currículo
escolar, na disciplina de Educação Artística para o Ensino Fundamental e o Médio.
No final da década de 1970, com o processo de abertura do regime autoritário, o ensino da arte
passou a se organizar, e a especificidade de cada linguagem artística foi enfatizada. Neste momento,
criam‑se licenciaturas plenas para cada uma delas.
No início da década de 1980, surge o movimento Arte e Educação, que levantou discussões sobre
a conscientização de professores sobre a arte na educação formal e na informal. Com a promulgação
da Constituição Federal de 1988, a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação formal foi sancionada,
incluindo o ensino da arte como obrigatório para todos os níveis de educação básica.
111
Unidade II
Nota‑se o teatro inserido como linguagem artística obrigatória na educação, sendo reconhecido
como um instrumento de aprendizagem, promovendo o desenvolvimento da criatividade.
O homem nasce com uma tendência nata para a aprendizagem, processo que se inicia bem cedo. Ele
aprende a mamar, a falar, a pensar e muitas outras coisas no decorrer do seu crescimento. A aprendizagem
consiste na construção do conhecimento, constituindo‑se como um processo natural e espontâneo,
porém alguns indivíduos podem apresentar dificuldades durante o processo de aprendizagem.
O teatro estimula a criança na sua formação oral a partir do momento em que, conforme o
personagem, a criança pode falar grosso, fino, imitar bichos, adequando sua voz ao ritmo vocal e gestual.
Promove‑se, desta forma, o aprimoramento da fala e da leitura de uma maneira mais lúdica.
O lúdico é a característica fundamental do ser humano. Os seres humanos só fazem o que gostam
devido a uma imposição do meio, pois este não permite a assimilação pura e simples e simples
aprendizagem/acomodação, a tendência é fazer tudo aquilo que lhe dá prazer.
112
ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR
O teatro desperta também a imaginação da criança, o que, no que concerne aos aspectos da
infância, é indispensável, haja vista que esta fase da vida possui um papel fundamental na formação
do indivíduo, na formação de sua personalidade. Nesse processo de construção da personalidade, a
imaginação mostra‑se essencial, considerando a mesma influência na atividade criadora.
Saiba mais
113
Unidade II
Ao ser inserido no processo de aprendizagem, a atividade teatral atua como um meio sinestésico
de integração na junção do ensino com a fantasia, exercitando o desenvolvimento de suas inclinações
naturais, proporcionando o desenvolvimento de pensamento lógico, imaginação, percepção e
socialização, fazendo que a criança adquira caráter nas esferas intelectual, volitiva e emocional.
Além dos já citados, o teatro na educação traz como benefício a capacitação do aluno para a
transformação da sociedade, já que esta se torna uma atividade motivadora, em que ele se percebe
capaz de mudar o que não está bom a sua volta. Como um meio de comunicação, o teatro articula as
dimensões sensório‑motora, afetiva, gestual e cognitiva do aluno, promovendo o seu desenvolvimento
corporal, intelectual e sensitivo.
Observação
O teatro não é feito para nos reconciliar com um mundo que vai mal,
mas para reconciliar nós mesmos nesse mundo com aquilo que passamos
nosso tempo a ignorar solenemente: o instante, naquilo que ele tem
de único e que não sabemos viver como tal; uma relação com objetos,
sensações, com a plenitude das presenças, quer elas passem pela palavra,
quer pelo silêncio (LASSALLE apud DESGRANGES, 2006).
114
ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR
O desenvolvimento humano está permeado pela individualidade, pelo coletivo, pelas relações
interpessoais, pela afetividade e pela inteligência, sendo estes alguns aspectos que os acompanham pelo
decorrer da vida, podendo ser trabalhados juntamente com a imaginação, a dramatização, o lúdico, o
pensamento e a fala, invertendo a posição inicial do sujeito em relação às situações reais. Ressalta‑se que
essa vivência de situações cotidianas torna possível o diagnóstico e a intervenção do sujeito, favorecendo
sua aprendizagem e seu desenvolvimento. Conforme elucidam Papalia, Olds e Feldman (2006, p. 330):
Os jogos dramáticos pressupõem uma aprendizagem social, levando‑se em consideração que ele
resulta de relações interindividuais. Além disso, os jogos dramáticos proporcionam um aprendizado
progressivo, pois por meio deles os indivíduos podem passar a compreender, dominar e produzir
situações específicas.
Pode‑se dizer que, por meio dos jogos dramáticos, o conhecimento passa a ser desenvolvido de forma
intuitiva e intelectual, haja vista que a espontaneidade permite uma maior participação do sujeito.
Romaña (1985, p. 27) elucida que “[...] as dramatizações podem: fixar e exemplificar o conhecimento;
encontrar as soluções alternativas aos problemas disciplinares; desenvolver papéis novos; sensibilizar
grupos; elaborar mudanças e avaliar o trabalho em equipe”.
115
Unidade II
Saiba mais
Além do jogo dramático, cita‑se a encenação de fantoches que desperta a comunicação e expressão
sensório‑motora, instiga a valorização da arte pela criança, desenvolve a apreciação artística, expansão
do vocabulário, criatividade, trabalho em equipe e sociabilidade.
Asim, o teatro de fantoches na educação tem grande importância para a formação das crianças do
Ensino Infantil, de modo que elas absorvam o conteúdo dado pelo professor de forma lúdica.
Resumo
116
ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR
Exercícios
Arte para todos é um programa que visa garantir a possibilidade de fruição da arte para pessoas com
deficiências sensoriais, físicas ou intelectuais por meio de estímulos multissensoriais e lúdicos. A Pinacoteca,
117
Unidade II
como museu dedicado às artes visuais, pode e deve ter obras de seu acervo acessíveis a outros sentidos,
tanto pela elaboração de percursos sensoriais que permitam o contato direto com as obras originais, como
pela produção de recursos de apoio multissensoriais baseados nas obras de arte originais.
O projeto prevê a realização de visitas acompanhadas por educadores especializados com base na
seleção de obras do acervo, incluindo esculturas, objetos e pinturas, acessíveis por meio de toque orientado
ou recursos multissensoriais e lúdicos, estabelecendo-se percursos diferenciados para cada grupo.
O acesso à arte por meio de adaptações e projetos que valorizam e atendam às necessidades da
diversidade vem ganhando espaço.
PORQUE
A inclusão social é tema de discussões em todos os ambientes de educação formal e não formal.
A) As duas asserções são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira.
B) As duas asserções são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa correta
da primeira.
Asserção verdadeira.
Asserção verdadeira.
Justificativa: nos últimos anos, a educação inclusiva ganhou destaque nos planos pedagógicos. O
atual foco na educação inclusiva justifica a existência de projetos como o citado na questão.
118
ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR
Questão 2. A charge a seguir apresenta uma referência a uma famosa escultura de Auguste Rodin,
intitulada “O pensador”.
I – A charge critica o ensino de Artes, que preza mais os procedimentos burocráticos do que o talento
dos alunos.
II – A professora da charge segue uma prática pedagógica construtivista, pois leva o aluno a cumprir
suas tarefas e, assim, construir seu conhecimento.
III – A charge sugere que Auguste Rodin, representado como Agostinho, só desenvolveu sua arte
devido às aulas de Expressão Artística.
A) I.
B) II.
C) III.
D) I e II.
E) II e III.
119
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 1
Figura 2
Figura 4
Figura 5
Figura 11
Figura 12
Figura 13
Figura 14
120
Figura 15
Figura 16
Figura 17
Figura 18
Figura 19
Figura 20
Figura 21
Figura 22
Figura 23
Figura 25
Figura 26
Figura 27
Figura 28
Figura 29
Figura 30
Figura 31
Figura 32
Figura 34
Figura 35
Figura 36
Figura 37
Figura 38
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Exercícios
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Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000