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Resumo
Esse texto constitui-se relato da experiência do Projeto Recriando: Inclusão social pela Arte, do
CAEE/APAE de Jacobina-Bahia, almejando a inclusão social da pessoa com deficiência
intelectual através do estudo, apreciação e produção artística. Metodologicamente, prevê a
apreciação de arte pela abordagem Image Watching, de Robert Ott, sistema de crítica artística,
divulgado no Brasil desde 1988 por Ana Mae Barbosa, inicialmente desenvolvido para museus,
posteriormente adaptado para salas de aula, onde a mediação ocorre em cinco fases distintas:
descrevendo, analisando, interpretando, fundamentando e revelando. Através de pesquisas,
rodas de conversa, entrevistas e atividades de campo, as obras escolhidas são apreciadas. Em
2018, como atividade comemorativa aos 30 anos da instituição, o projeto inovou e ao invés do
estudo de artistas consagrados, trabalhou as histórias de vida dos alunos e tais histórias
serviram como tema para produção em arte e exposição. Como resultados, percebemos nas
produções, a prevalência do tema família e as relações estabelecidas por cada aluno no
ambiente familiar. As ausências, os sentimentos, os desejos, sustentando a ideia de que o
círculo social das pessoas com deficiência, ainda é restrito ao convívio familiar. O projeto
permitiu aos alunos expressão e questionamento sobre suas realidades e seus projetos
futuros. No âmbito profissional questionou a condução de propostas educativas para esse
público, a orientação familiar e crítica social.
METODOLOGIA
RESULTADOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os processos criativos e suas diferentes linguagens, ao oportunizar ao
aluno, em especial aqueles com deficiência intelectual, vivências complexas e
criativas, instiga processo de aprendizagem e desenvolvimento significativos
que contribuem para compreensão e enfrentamento de nossas realidades
cotidianas. O ato de criação pressupõe a superação de limitações na
organização e compreensão das experiências, voltando-se a novas formas de
pensar e sentir, de perceber a si e ao outro.
A experiência aqui relatada com o Projeto Recriar – as reflexões em sala
a partir dos temas e obras norteadores, as produções e a exposição – mostra
que as famílias desempenham papel fundamental no desenvolvimento da
pessoa com deficiência, uma vez que é através das relações familiares que se
constrói experiências fomentadores de autonomia e autoestima positivada.
Esse reconhecimento à família e sua importância pela pessoa com
deficiência emerge nesse estudo onde o tema saudade na família prevalece
sobre os demais, principalmente entre os adultos, cujos pais, falecidos, se
configuram nas melhores lembranças de suas vidas. Emerge também, no dia a
dia institucional, como mães ou familiares vivos de pessoas com deficiência
adultos assumem papel vitalício de cuidadoras, negociando com as instituições
e redes de apoio, institucionais ou não, a oferta e o acesso a serviços e
atividades para seus filhos, das quais tem sido as maiores responsáveis. Esse
cuidado (ou a falta dele, que não é provida de forma sistematizada pelas redes
de acompanhamento da pessoa com deficiência) fica expresso nas falas e
obras dos alunos.
Em relação a arte e ao poder que ela tem de ampliar os corpos e a
expressão do aluno com deficiência, acreditamos que a arte tem muito a
colaborar, não apenas no desenvolvimento intelectual das pessoas com
deficiência, mas também com o necessário processo de inclusão social destas,
pois, ao tratar questões de representação e interpretação, impacta na
identidade cultural desses sujeitos, ressignificando-os à luz de suas faculdades
criativa e cognitiva. Acreditar nesse potencial de criatividade e autorrealização
pelo ser que cria e que, nessa criação se recria, é o alicerce de todo trabalho
em arte para qualquer ser humano e, principalmente, no trabalho artístico da
pessoa com deficiência intelectual, cujos processos de elaboração esbarram no
déficit cognitivo e, muitas vezes, num processo de estimulação ineficiente.
Ademais, o paradigma inclusivo que se instaura internacionalmente a partir das
convenções e tratados e que no Brasil conformam política nacional de
educação especial na perspectiva da inclusão no final dos anos 1990 e ao
longo dos anos 2000, implica pensar democracia e equidade garantindo que
diferenças sociais, culturais e ideológicas sejam não apenas respeitadas, mas
acolhidas. No caso das pessoas com deficiência esse acolhimento institucional
implica o deslocamento da compreensão biomédica ou funcionalista da
deficiência para perspectiva social que deve fundar os serviços ofertados para
essas pessoas e suas famílias, pautados pelas eficiências e capacidades.
REFERÊNCIAS
AMARAL, L.A. Deficiência, vida e arte. 1998. 223f. Tese (Livre docência) –
Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo.
VYGOTSKI, L.S. Obras Escogidas. Tomo II. Madrid: Visor, 1993. Disponivel
em: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/289941/mod
_folder/.../Tomo%202%20.pdf?...>. Acesso em: 13 fev. 2017.