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ANDRADE,

ANDRADE, Klesia Garcia;


KlesiaPAZ, Anaide
Garcia; MariaAnaide
PAZ, Alves da; BRITO,Alves
Maria Luciana Bezerra
da; BRITO, da Silva; SANTOS,
Luciana Natáliada
Bezerra Santana
Silva;dos. Três coros
SANTOS,
recifenses em uma pandemia mundial: o que pensam os nossos cantores sobre a prática coral? In: SIMPÓSIO MAR DE CORAIS, 1.,
Natália Santana dos. Três coros recifenses em uma pandemia mundial: o que pensam os nossos cantores
2020. Anais... Simpósio Mar de Corais, 2020, p. 27-35. Disponível em: https://sites.ufpe.br/grupomardecorais/2021/09/25/anais-
sobre a prática coral? In:Acesso
do-i-simposio-mar-de-corais/ SIMPÓSIO MAR
em 26 out. 2021.DE CORAIS, 1., 2020. Anais... Simpósio Mar de Corais,
2020, p. 27-35.
TRæS COROS RECIFENSES EM UMA PANDEMIA MUNDIAL:
O QUE PENSAM OS NOSSOS CANTORES SOBRE A PRçTICA CORAL?

Klesia Garcia Andrade


Universidade Federal de Pernambuco
klesia.andrade@ufpe.br

Anaide Maria Alves da Paz


Centro de Educa•‹o Musical de Olinda
Conservat—rio Pernambucano de Mœsica
anaidedapaz@hotmail.com

Luciana Bezerra da Silva Brito


Conservat—rio Pernambucano de Mœsica
Faculdade do Semin‡rio Teol—gico Batista do Norte do Brasil
lucianagcbrito@gmail.com

Nat‡lia Santana dos Santos


Universidade Federal de Pernambuco
ssantosnatalia@gmail.com

Resumo: Apresentamos neste relato de experi•ncia as reflex›es sobre os significados da pr‡tica


coral, tendo como material de an‡lise as falas de nove cantores participantes de tr•s coros
infanto-juvenis recifenses: Coro Infantil da îpera de Papel, Coro Infantojuvenil Imperial e Coro
Villa das Crian•as. As falas dos coralistas evidenciam quais s‹o as atividades preferidas, as
ideias sobre as apresenta•›es, os v’nculos, as amizades constru’das e as aprendizagens
relacionadas ao uso da voz. Apesar dos participantes serem de coros com realidades
socioculturais e objetivos diversos, Ž poss’vel identificar sentimentos e significados
semelhantes. Considerando que as atividades corais foram abruptamente interrompidas, em
meados de mar•o de 2020, devido a pandemia causada pela COVID-19, aproveitamos este
momento para ampliar as nossas compreens›es acerca da import‰ncia do canto coral do ponto
de vista dos coristas.

Palavras chave: Coro infanto-juvenil, ideias dos cantores, educa•‹o musical, COVID-19

1. Tr•s coros, uma pandemia e as ideias de quem canta

Quando iniciamos nossas atividades corais em 2020 n‹o imagin‡vamos que


estas seriam interrompidas abruptamente por uma pandemia de alcance mundial22,
ocasionada pela COVID-19. De repente, os encontros semanais de cantoria,
brincadeiras e intera•‹o atravŽs da mœsica foram trocados pelo distanciamento social,
uso de m‡scara e quarentena. Rapidamente o nosso cotidiano ficou movimentado com
as aulas e ensaios virtuais, palestras e concertos online.
No meio dessa agita•‹o e da aus•ncia de encontros presenciais, veio ˆ tona o
anseio de aprofundar o conhecimento sobre os significados da pr‡tica coral a partir das
ideias de alguns de nossos coristas. Para isto, tomamos como base, dois estudos do
campo da educa•‹o musical (Andrade, 2015; Ferrer, Puigall’, Tesouro, 2018) que
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22
De acordo com o MinistŽrio da Saœde, a COVID-19 Ž uma doen•a causada pelo coronav’rus (SARS-
CoV-2); Ž transmitida pessoa a pessoa e apresenta um quadro cl’nico que varia de infec•›es
assintom‡ticas a quadros graves. Para mais informa•›es acesse o site: https://coronavirus.saude.gov.br/

! "'
refor•am a import‰ncia e a tend•ncia de temas relacionados ˆ compreens‹o, do ponto de
vista dos coristas23, sobre o cotidiano coral.
No processo de investiga•‹o das concep•›es, conteœdos e metodologia de
ensino no contexto do Projeto ÒEduca•‹o Musical AtravŽs do Canto Coral - um canto
em cada cantoÓ, Andrade (2015) aplicou um question‡rio com 751 crian•as24. Ao
perguntar sobre a maneira como as professoras do Projeto ensinavam mœsica, 86% dos
alunos indicaram Ògosto muitoÓ e com rela•‹o aos ensaios, 84% responderam que eram
ÒdivertidosÓ (ANDRADE, 2015, p. 136). Questionadas, ainda, sobre as apresenta•›es,
87% das crian•as afirmaram Ògosto muitoÓ e um total de 81% indicaram que a
performance coral Ž importante tanto para elas quanto para as pessoas pr—ximas do seu
conv’vio (ANDRADE, 2015, p. 143). Em s’ntese, as 17 quest›es elaboradas por
Andrade revelaram a satisfa•‹o das crian•as em participar do Projeto, a identifica•‹o
com o repert—rio e a maneira das educadoras conduzirem os ensaios, bem como uma
consci•ncia relacionada ao comprometimento com a constru•‹o sonora coletiva.
O estudo de Ferrer, Puigall’ e Tesouro (2018), teve por finalidade compreender
como a pr‡tica coral, entre crian•as e jovens, oportuniza o ensino e a aprendizagem dos
valores esfor•o/dedica•‹o, respeito, comunica•‹o, amizade e espontaneidade. Para isto,
os autores buscaram entender o ponto de vista de 60 cantores de diferentes coros da
Catalunha (Espanha). Os dados evidenciaram que a espontaneidade foi considerada o
valor mais importante, apesar de concordarem que as atividades corais favoreciam o
desenvolvimento do respeito e da comunica•‹o entre os participantes.
Os estudos e as discuss›es que consideram a perspectiva dos envolvidos com a
pr‡tica coral, ampliam o nosso entendimento sobre esta atividade enquanto modalidade
de ensino e aprendizagem de mœsica. Das incertezas sobre o retorno dos ensaios
presenciais e das descobertas sobre as possibilidades e os limites do coro no ambiente
virtual, a afirma•‹o de Schafer (2011, p. 265) em que Òn‹o h‡ mais professoresÓ, mas,
Òapenas uma comunidade de aprendizesÓ soa de forma contundente, pois, de fato,
regentes e cantores t•m aprendido, um com o outro, a como viver a pr‡tica coral nesse
novo contexto. Assim, o relato que apresentamos, evidencia as falas de nove cantores Ð
entre crian•as e adolescentes Ð que por meio de um bate papo orientado expressaram as
suas ideias sobre a atividade coral.

2. Tr•s coros infanto-juvenis recifenses

Os nove cantores convidados para o bate papo orientado participam em coros


de diferentes institui•›es, localizadas em Recife-PE: Coro Infantil da îpera de Papel,
Coro Infantojuvenil Imperial e Coro Villa das Crian•as25.

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23
Ambos os estudos consideram, tambŽm, a perspectiva do regente coral. Mas, considerando o limite de
p‡ginas para elabora•‹o deste artigo mencionamos, apenas, as ideias dos coristas.
24
A pesquisa de campo de Andrade (2015) contou, ainda, com observa•‹o de ensaios, apresenta•›es,
reuni›es de planejamento, pesquisa documental, entrevista e realiza•‹o de grupos focais com os
educadores musicais.
25
Os coros s‹o conduzidos por tr•s autoras do artigo, que tambŽm integram o grupo de pesquisa ÒMar de
CoraisÓ, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), na linha de pesquisa ÒCoro infanto-juvenil:
perspectivas mœsico-educativasÓ. Nat‡lia Santana dos Santos Ž regente do Coro Infantil da îpera de

! "(
As atividades do Coro Infantil da îpera de Papel iniciaram em novembro de
2018. O coro foi formado atravŽs da parceria entre o Centro Comunit‡rio da Paz Ariano
Suassuna (COMPAZ Ariano Suassuna) e a Academia de îpera e Repert—rio do
Recife26. Os ensaios t•m por objetivo desenvolver atividades relacionadas ˆs montagens
da Academia de îpera e Repert—rio do Recife. AtŽ mar•o de 2020, quando as atividades
foram suspensas devido a pandemia, os ensaios aconteciam ˆs quintas-feiras, das 13h ˆs
14h.
Com 16 crian•as com idade entre 8 e 12 anos, o trabalho abrange o repert—rio
oper’stico de obras como, por exemplo, Carmen e Pagliacci, mas tambŽm com can•›es
populares e infantis. Sem acompanhamento de instrumentista, as crian•as cantam em
un’ssono. As crian•as que participam do coro, em sua maioria, est‹o inscritas na oficina
de mœsica ofertada pelo COMPAZ, mas tambŽm contamos com crian•as filhas dos
integrantes da Academia de îpera e Repert—rio do Recife. Ao ingressarem no coro
todas passam por uma triagem a fim de que possamos identificar suas tessituras e
poss’veis problemas na emiss‹o vocal.
Apesar da tentativa de manter as atividades atravŽs de videoaulas, a maior
parte dos coristas n‹o participou dos exerc’cios propostos. Muitas das crian•as dividem
o celular com irm‹os e/ou outros parentes, o que dificulta a participa•‹o em atividades
no contraturno escolar. H‡ no grupo, ainda, crian•as que ajudam os seus pais com os
afazeres domŽsticos e/ou que ficam sob tutela dos av—s (em geral pessoas de baixa
renda com pouco acesso ˆ internet) no per’odo em que os pais trabalham e que, por esta
raz‹o, n‹o conseguiram participar das atividades propostas.
O Coro Infantojuvenil Imperial est‡ vinculado ˆ Igreja Batista Imperial e foi
criado em janeiro de 2001. O grupo Ž constitu’do por 20 integrantes, na faixa et‡ria de
seis a dezesseis anos de idade. Antes da pandemia, os ensaios eram realizados
dominicalmente em uma sala com piano, simultaneamente ao hor‡rio do culto, no
per’odo das 10h ˆs 12h. Apesar desta rela•‹o com a igreja, n‹o Ž preciso que a crian•a e
sua fam’lia sejam participantes da institui•‹o, sendo o œnico critŽrio para inser•‹o no
grupo a idade m’nima de seis anos. Geralmente, as crian•as procuram a regente
querendo ingressar no coro, ap—s ouvirem alguma apresenta•‹o ou ensaio, embora j‡
tenha havido situa•›es em que as crian•as do bairro do Coque27 s‹o convidadas a
conhecer o grupo e dele participarem, se houver interesse; assim sendo, imediatamente Ž
realizado um contato com os pais e/ou respons‡veis para que saibam como ocorre o
funcionamento do coro e os benef’cios do canto coral.
As atividades b‡sicas do coro consistem em ensaios e apresenta•›es em igrejas,
bibliotecas, universidades, pra•as, teatros e em outros locais pœblicos, onde o grupo Ž
convidado a cantar. Outras atividades ocorrem em momentos espec’ficos para avaliar a
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Papel, Anaide Maria Alves da Paz do Coro Infantojuvenil Imperial e Luciana Bezerra da Silva Brito do
Coro Villa das Crian•as. Klesia Garcia Andrade Ž docente do curso de Licenciatura em Mœsica da UFPE,
coordenadora da linha de pesquisa mencionada e organizadora deste artigo.
26
A Academia de îpera e Repert—rio do Recife Ž uma atividade de extens‹o da Universidade Federal de
Pernambuco.
27
O Coque Ž um bairro pr—ximo ˆ igreja, considerado em situa•‹o de vulnerabilidade. As crian•as e os
demais moradores s‹o muito prejudicadas pela dificuldade de acesso aos servi•os b‡sicos de educa•‹o e
saœde.

! ")
atua•‹o do grupo ap—s cada apresenta•‹o, alŽm de passeios em pequenos grupos e
confraterniza•›es pelos anivers‡rios dos participantes. O repert—rio Ž composto de
mœsicas autorais, religiosas, folcl—ricas e populares, sendo executado em un’ssono ou
atŽ tr•s vozes. AlŽm da regente, o grupo conta com um violonista que Ž compositor e
assume a correpeti•‹o.
Nesse per’odo de pandemia, o grupo est‡ restrito a 13 componentes e as
atividades est‹o circunscritas a dois encontros semanais com cada corista, realizados
atravŽs de plataformas virtuais, a saber, ensaios individuais e um encontro coletivo. O
principal objetivo das atividades virtuais Ž que os coristas se sintam acolhidos, de modo
que no momento dos ensaios individuais, as crian•as expressam como est‹o se sentindo
neste per’odo de isolamento ocasionado pela pandemia. Nesses encontros, eles
relembram e aprendem novos exerc’cios de aquecimento vocal e cantam o repert—rio
que j‡ conhecem. J‡ nos encontros coletivos, os coristas t•m participado do
planejamento do ano de 2021 e conhecido outros coros infanto-juvenis por meio de
v’deos compartilhados no site YouTube.
O Coro Villa das Crian•as foi criado em junho de 2019 com o prop—sito
integrar uma apresenta•‹o comemorativa, tendo como tema o compositor Heitor Villa-
Lobos. O grupo Ž formado por 35 crian•as, de 8 a 12 anos, que s‹o alunos do
Conservat—rio Pernambucano de Mœsica (CPM)28. A maioria das crian•as deste coro
cursam a disciplina de canto coral, que faz parte do curr’culo do curso da Inicia•‹o
Musical do CPM. Para a apresenta•‹o comemorativa foram preparadas as seguintes
pe•as: ÒO Canto do PajŽÓ, ÒRosa AmarelaÓ, ÒCiranda, CirandinhaÓ, ÒTrenzinho
CaipiraÓ e ÒMarcha SoldadoÓ.
A participa•‹o das crian•as Ž volunt‡ria. Foram feitos convites para as turmas
de alunos com a idade prevista/adequada e as vagas foram preenchidas de acordo com a
disponibilidade e vontade dos alunos em integrar o novo projeto. Devido ao tamanho da
sala dispon’vel para os ensaios e o local onde seriam realizadas as apresenta•›es
comemorativas, foi definido o nœmero de 35 participantes, no m‡ximo.
Inicialmente os ensaios foram constitu’dos basicamente de tr•s partes:
alongamento e aquecimento vocal; leitura e interpreta•‹o das mœsicas; e, audi•‹o de
pequenos grupos. A terceira parte foi de extrema import‰ncia para conhecer as vozes
das crian•as, individualmente, passar orienta•›es bem mais detalhadas com o objetivo
de preparar melhor os coristas. Em mar•o de 2020 as atividades foram suspensas,
ocasionadas pelo avan•o da COVID-19, e retomadas remotamente em julho de 2020.
Com a participa•‹o das crian•as interessadas, foi desenvolvida uma proposta de
grava•‹o da mœsica ÒAi que saudade dÕoc•Ó29, no formato de coro virtual.

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28
No Conservat—rio h‡ v‡rias turmas de canto coral infantil, que s‹o atividades curriculares ofertadas para
os alunos da Inicia•‹o Musical. O Coro da Villa foi ofertado como uma atividade eletiva.
29
O arranjo da pe•a foi feito pelo professor Domingos S‡vio, regente da Camerata e professor do CPM.

! #+
3. O que pensam os nossos cantores sobre a pr‡tica coral?

Os bate papos orientados foram realizados individualmente, com tr•s


participantes de cada coro30, no per’odo de 25/08/2020 a 18/10/2020. Os coralistas
foram escolhidos de acordo com os seguintes critŽrios: idade entre 8 e 12 anos; antes da
suspens‹o dos ensaios (devido a pandemia) eram cantores ass’duos e participavam h‡,
pelo menos, um ano das atividades do coro; era poss’vel contat‡-los via chamada
telef™nica (em ‡udio e/ou em v’deo)31. Participaram do bate papo os seguintes cantores:
! Coro Infantil da îpera de Papel: Stefany (12 anos), Ellen (9 anos) e Thiago (11
anos)
! Coro Infantojuvenil Imperial: Yasmin (8 anos), Let’cia (9 anos) e Ester (12
anos)
! Coro Villa das Crian•as: Rafael (11 anos), Sarah (9 anos) e Ol’via (9 anos)

O bate papo foi orientado pelas seguintes quest›es: 1) Qual a sua opini‹o sobre
as atividades que desenvolvemos no coro? 2) De todas as atividades que
desenvolvemos, qual Ž/era a sua preferida? Por que? 3) Na sua opini‹o, o que significa
cantar no coro? As falas foram transcritas e a an‡lise do material possibilitou a
compreens‹o das ideias, conforme a descri•‹o e discuss‹o a seguir.
De maneira geral as atividades desenvolvidas no coro (quest‹o 1) s‹o
consideradas legais, divertidas e importantes. Yasmin salientou a variedade de
atividades desenvolvidas, enquanto Ellen enfatizou que o ensaio Ž legal porque Ž
poss’vel aprender a cantar melhor. Sarah mencionou o contexto divertido que
possibilita, ao mesmo tempo, aprender e interagir com os colegas e para Stefany a
divers‹o est‡ relacionada ˆ novidade.

Yasmin: Eu acho muito legal, porque tem um monte de coisas, tem o


momento de cantar.
Ellen: Eu acho bom porque [...] eu gosto muito de cantar e eu fui pra
l‡ mais pra aprender a cantar melhor
Sarah: ƒ legal porque a gente podia aprender e se divertir ao mesmo
tempo enquanto a gente interagia com as outras pessoas.
Stefany: ƒ divertido porque s‹o atividades diferentes.

A adequa•‹o da proposta coral ao contexto sociocultural dos participantes Ž


evidenciada na fala de Ester, que participa do Coro Infantojuvenil Imperial. A conta•‹o
de hist—ria como uma das atividades nos ensaios, refor•a conhecimentos significativos
do seu contexto, Òpois alŽm de aprendermos a cantar, estudamos sobre a Palavra de
DeusÓ, referindo-se ˆs hist—rias b’blicas sobre o rei Davi, que tambŽm era mœsico. Sarah
e Rafael comentaram sobre os benef’cios das atividades na prepara•‹o vocal. A
descri•‹o de Let’cia, revelou o qu‹o relaxada ela se sentia com os exerc’cios propostos e
a consci•ncia no processo de desenvolvimento vocal.

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30
Os pais dos coralistas autorizaram a realiza•‹o do bate papo e a men•‹o dos nomes neste artigo.
31
A conversa foi gravada e transcrita.

! #*
Sarah: Eu acho bom, por causa dos exerc’cios, que fazem bem pras
minhas cordas vocais. Porque quando a gente canta elas ficam bem
quentes, d‡ atŽ pra sentir isso [...].
Rafael: Eu acho muito legal porque deixava minha voz bem-
preparada para o canto. Eu gosto muito do relaxamento.
Let’cia: Bom, a gente fica fazendo um ensaio vocal, pra gente quando
for cantar, cantar perfeitamente. Pelo que eu me lembro a gente fazia
um alongamento, depois a gente ficava ensaiando umas mœsicas [...],
depois de aquecer a voz. Bom, elas eram t‹o boas que parecia que eu
estava simplesmente [...] dormindo. Bom, nesse (ensaio) online, a
gente faz umas formas com a boca e, tambŽm, uns sons. Um exemplo,
o besourinho, outro, a forminha do U e, tambŽm a gente tambŽm faz
uma massagenzinha na boca e de vez em quando, d‡ pra fazer em todo
o rosto.

As falas dos coristas evidenciam a import‰ncia da ludicidade e do acolhimento


no trabalho coral. A conta•‹o de hist—ria, a variedade de exerc’cios propostos, a maneira
de faz•-los, tudo isso s‹o estratŽgias para proporcionar momentos de prazer,
envolvimento e intera•‹o entre os indiv’duos, a fim de que eles se sintam ˆ vontade e
pertencentes ˆquele ambiente. Embora alguns participantes citem as apresenta•›es
como suas atividades preferidas, como veremos nas falas adiante, as crian•as podem
considerar o ato de cantar como algo divertido, alŽm de experimentar e poder aprender
algo novo, caracterizando a ludicidade como um elemento imprescind’vel, motivando e
mantendo o interesse e o empenho na pr‡tica coral.
Das atividades desenvolvidas na pr‡tica coral (quest‹o 2), os exerc’cios vocais
foram os mais comentados entre os participantes. Rafael relatou que Òa preferida, que
mais se interessava mesmo era o canto, os exerc’cios, porque a gente cantava
propriamenteÓ. Yasmin e Let’cia citaram a vibra•‹o de l‡bios, chamada por elas de
besourinho, como a atividade preferida, enquanto Sarah lembrou de algumas palavras
usadas nos vocalizes, afirmando ser Òbem divertido porque fica engra•ado todo mundo
falando aquiloÓ. Para Yasmin, alŽm do besourinho, as hist—rias contadas nos ensaios
tambŽm foram mencionadas como atividade preferida. Ol’via relatou que gostava de um
exerc’cio r’tmico em que deveria bater as m‹os e os pŽs, alŽm de um vocalize que,
acompanhado ao piano, explorava as possibilidades vocais em regi›es agudas e graves.
De acordo com Ol’via, Òera bem legalÓ, pois Òesses exerc’cios me trazem alegria, a
gente canta e se diverteÓ.
Stefany e Thiago citaram as apresenta•›es e os ensaios no teatro como as
atividades mais significativas:

Stefany: Eu gosto de ir para o teatro, ensaiar l‡, tambŽm Ž uma


experi•ncia diferente e as brincadeiras que fazemos l‡ tambŽm s‹o
muito legais.
Thiago: [...] O ensaio do dia a dia e quando vamos cantar no teatro.
Porque eu vejo os meus amigos, aprendo a cantar, afino minha voz e
me apresento para milh›es de pessoas.

Duas participantes mencionaram a pr‡tica do canto propriamente dita. Ellen


revelou que n‹o tem uma atividade preferida e mencionou Òeu gosto de todasÓ, pois Òme

! #"
ajuda muito a desenvolver o cantoÓ. Ester respondeu Òa minha preferida Ž cantar, nŽ?
Porque me deixa muito feliz e alegre. Quando eu canto, me traz uma levezaÓ.
ƒ interessante observar a predile•‹o pelo momento dos vocalizes e a percep•‹o
das crian•as sobre o efeito dos exerc’cios de prepara•‹o para o canto. ƒ fundamental
que os exerc’cios de aquecimento sejam propostos para preservar a saœde vocal,
equalizar o som dos cantores e tantas outras quest›es amplamente debatidas. O que a
fala dos participantes destaca Ž um entendimento que eles t•m dos vocalizes e do
trabalho de consci•ncia corporal que se desenvolve neste momento. ƒ comum que se
recorra ˆ imagina•‹o das crian•as para trabalhar os aspectos de tŽcnica vocal, o que Ž
bastante recomend‡vel. As respostas dos cantores nos mostram o quanto eles est‹o
atentos e participando ativamente das diferentes atividades que ocorrem ao longo de um
ensaio.
Os coment‡rios dos coralistas revelaram v‡rios aspectos sobre o que significa
cantar no coro (quest‹o 3). Das oito crian•as contatadas, quatro mencionaram e
intera•‹o social e a constru•‹o de novas amizades:

Yasmim: [...] Fiz muitas amizades. Eu conheci muita gente legal.


Rafael: Cantar no Coral Ž estar junto com meus amigos, [...] eu gosto
de cantar porque estou com meus amigosÉ mesmo se fosse com
outras pessoas estranhas eu ia gostar de cantar.
Sarah: [...] Eu conheci novas pessoas.
Ester: L‡ eu conheci novas amizades [...]. Porque, Ž, no coro tem
muita gente, nŽ? E, ˆs vezes, eu me sentia um pouco sozinha, mas a’
eu fui conhecendo mais e mais as pessoas e da’ fui criando amizades.
Eu era muito t’mida tambŽm, e a’, Ž, as pessoas vieram falar comigo,
nŽ? Porque, geralmente Ž assim, as pessoas, que v•m falar comigo pra
poder me soltar e a’ me ajudou muito nŽ, em rela•‹o ˆ timidez.

Das falas listadas, destaca-se o coment‡rio de Ester sobre as intera•›es e


amizades constru’das que ajudaram a lidar melhor com a sua timidez. A intera•‹o social
pode relacionar-se, ainda, com as apresenta•›es, momentos os quais o trabalho
desenvolvido Ž compartilhado com os amigos, familiares e a comunidade em geral. Para
Rafael Ž significativo Òse apresentar para outras pessoasÓ e Sarah relembrou a
apresenta•‹o realizada em 2019, afirmando que a Òapresenta•‹o no ano passado foi
muito divertidaÓ. Entre as atividades preferidas de Thiago, a apresenta•‹o tambŽm Ž
destacada quando ele ressalta Òme apresento para milh›es de pessoasÓ.
Stefany, Sarah, Yasmin e Ellen explicitaram o entusiasmo vinculado ao canto.
Ester e Yasmin relataram, tambŽm, a oportunidade de aprender a cantar:

Stefany: Eu s— participo porque eu gosto muito do coral.


Sarah: Eu adoro cantar. Cantar Ž bem legal!
Yasmin: Eu gosto muito de cantar no coro, porque Ž legal participar.
[...] A gente aprende a cantar.
Ellen: Eu gosto muito de cantar.
Ester: Significa uma coisa muito importante pra mim, nŽ? [...] E me
fez descobrir o meu talento de cantar [...]. Eu n‹o sabia ainda se eu
sabia cantar ou n‹o, e a’ no coro eu descobri que eu conseguia.

! ##
Em uma outra perspectiva, Let’cia relata o contentamento de participar do
coro. A coralista mencionou que devido a sua participa•‹o nos ensaios corais, n‹o tem
mais medo de se expressar, seja em uma pe•a de teatro da escola, para falar algo ou
outras apresenta•›es:

Let’cia: Pra mim, eu acho que Ž uma grande oportunidade, porque eu


tinha um pouco de medo de cantar em pœblico e de vez em quando eu
tambŽm era um tanto nervosa quando ia fazer umas pe•as na escola.
Antes eu tinha muito medo de subir no palco pra falar alguma coisa ou
simplesmente fazer uma apresenta•‹o. A’, hoje, eu n‹o tenho mais
medo por causa do ensaio do coro.

Por fim, os coralistas relataram Ò[...] quando eu canto me sinto muito felizÓ
(Yasmin), cantar Òsignifica tudo, significa felicidadeÓ (Ellen) e Òme sinto feliz quando
eu cantoÓ (Ester), demonstrando que participar da pr‡tica coral faz bem e traz satisfa•‹o
pessoal. Para Ol’via cantar no coro significa Òalegria, amor, [...] ˆs vezes eu me
emociono, mas eu gosto de cantar porque a mœsica deixa tudo mais alegre! Eu comecei
a gostar muito de mœsica quando eu comecei a cantarÓ.
Dentre as variadas experi•ncias relacionadas aos ensaios e as performances, o
dia a dia da pr‡tica coral pode proporcionar aos seus participantes uma intensa intera•‹o
social, onde rela•›es podem ser iniciadas, desenvolvidas e firmadas atravŽs dos
momentos de conviv•ncia. As falas dos coralistas evidenciam o quanto a pr‡tica coral
est‡ inter-relacionada com os aspectos emocionais. Observamos o quanto esta atividade
torna-se significativa por abranger a pr‡tica musical propriamente dita, o processo de
socializa•‹o e de expressividade dos participantes.

4. Breves considera•›es sobre a nossa pr‡tica coral na pandemia

Este momento de pandemia nos possibilitou reflex›es acerca da import‰ncia do


canto coral do ponto de vista dos coristas. Apesar dos participantes serem de coros com
realidades e prop—sitos bem diferentes, podemos identificar sentimentos e significados
semelhantes. Provavelmente, muitos destes integrantes perceberam o valor do coro em
suas vidas a partir do momento em que ficaram impedidos de participar,
presencialmente, das atividades de seus grupos, n‹o apenas pela aus•ncia de ensaios,
mas, especialmente, pelas sensa•›es e rela•›es vivenciadas.
H‡ uma peculiaridade que Ž indubitavelmente relevante desse contexto de
atividades virtuais: a possibilidade de escutar individualmente os integrantes do coro,
podendo contribuir para a melhoria da autoestima, o reconhecimento da produ•‹o vocal
e o estreitamento dos la•os afetivos.
O coral se caracteriza como uma excelente ferramenta que possibilita interfaces
entre as configura•›es socioculturais, a valoriza•‹o da pr—pria individualidade do
corista, da individualidade do outro e da estima das rela•›es interpessoais, tendo como
pano de fundo a solidariedade e coopera•‹o (FUCCI AMATO, 2007, p. 80).
Embora o retorno dos ensaios presenciais ir‡ requerer condi•›es de
biosseguran•a apropriadas para cada realidade, o que est‡ sendo assegurado aos

! #$
coristas, no momento, Ž a possibilidade de estarem unidos, ainda que distantes
fisicamente, podendo cantar e expressar os seus sentimentos, a fim de que se sintam
acolhidos durante a pandemia. Pois, depoimentos que enfatizam o canto coral como
ve’culo de felicidade e leveza, conforme as falas dos cantores, nos impele a criar e
recriar situa•›es que sejam reconfortantes prelœdios para os futuros ensaios presenciais.

Refer•ncias

ANDRADE, Klesia Garcia. Projeto ÒUm Canto em Cada CantoÓ: o coro infantil, seus
ensinos e suas aprendizagens. 2015. Disserta•‹o (Mestrado em Mœsica). Programa de P—s-
gradua•‹o em Mœsica Ð Universidade Federal da Para’ba, Jo‹o Pessoa, 2015.

FERRER, Rita; PUIGGALê, Joan; TESOURO, Montse. Choral singing and the acquisition of
educational values. International Journal of Music Education. vol. 36, 3, p. 334-346, 2018.

FUCCI AMATO, Rita. O canto coral como pr‡tica s—cio-cultural e educativo musical. Opus,
Goi‰nia, v. 13, n. 1, p. 75-96, Jun. 2007.

SCHAFER, Murray. O ouvido pensante. S‹o Paulo: Ed. Unesp, 2011.

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