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Estudo sobre COESÃO TEXTUAL, conforme Halliday e Hasan, Cohesion in English, London,

Longman, 1976.

Conceito e mecanismo:

Relação semântica entre um elemento do texto e algum outro elemento crucial para a sua
interpretação.

Há formas de coesão realizadas através da gramática, outras do léxico.

Cada ocorrência de recurso coesivo é denominada pelos autores de laço ou elo coesivo

Os principais fatores de coesão são:

1) Referência

Pessoal: pronomes pessoais e possessivos

a) Tenho certeza de que você vai gostar deste filme. (pessoal exofórica)

b) Meu ator predileto não é tão famoso. (pessoal exofórica)

c) Pedro e Paulo andam sempre juntos. Eles são irmãos e trabalham na mesma empresa.
(pessoal anafórica)

Demonstrativa: pronomes demonstrativos e advérbios indicativos de lugar

a) Realizou todos os sonhos, menos este: o de entrar para a academia. (demonstrativa


catafórica)

Comparativa: identidades e similaridades

a) Está decepcionada? Esperava algo de diferente? b) Mais um dia igual aos outros...

E separam a referência situacional (exófora) da textual (endófora: anáfora e catáfora). Mais


adiante veremos por que esta divisão é problemática.

2) Substituição

Consiste na colocação de um item no lugar de outro:

A diferença entre substituição e referência é que na primeira há total identidade entre os itens
envolvidos, enquanto que na substituição sempre há uma redefinição.

a) Pedro comprou uma camisa azul, mas Paulo preferiu uma verde.

3) Elipse
Quando se omite um item lexical, sintagma ou oração recuperáveis pelo contexto:

a) - Pedro vai conosco ao cinema?

- Vai. Ø

4) Coesão lexical

Reiteração: repetição por sinônimos, homônimos e nomes genéricos

a) Quis sentar-se num banco do jardim, porque na verdade não sentia a chuva e não se
importava com o frio. Só mesmo um pouco de medo, porque ainda não resolvera o
caminho a tomar. O banco seria um ponto de repouso. (Clarice Lispector, Fuga)

b) Uma menina correu ao meu encontro. A garota parecia assustada.

c) Todos ouviram um rumor de asas. Olharam para o alto e viram a coisa se aproximando.

Colocação (ou contiguidade): uso de termos pertencentes a um mesmo campo de semântico

a) Houve um grande acidente na estrada. Dezenas de ambulâncias transportaram os feridos


para os hospitais da cidade mais próxima.

5) Conjunção

Relações entre elementos ou orações no texto: mas, depois, assim, etc.

Críticas e desenvolvimento do conceito de coesão:

Com base em Beaugrande e Dressler (1981), Marcuschi (1983) define os fatores de coesão
como “aqueles que dão conta da estruturação da sequencia superficial do texto”.

São mecanismos formais de uma língua que permitem estabelecer relações de sentido.

Contudo, contrariando Halliday e Hasan, para quem a coesão é uma condição necessária, mas
não suficiente para a criação do texto., Charolles (1989) defende a ideia de que não é nem
necessária, nem suficiente, já que há textos destituídos de elos coesivos, em que o sentido e
continuidade se dão por outro tipo de recurso: conhecimento de mundo, dos interlocutores,
da situação, de normas sociais, do apelo à memória, etc.

A própria justaposição de elementos pode ativar operações que criam relações de coerência.

(Koch, 2001)

Coesão referencial
(referenciação, remissão)

Coesão sequencial

(sequenciação: recorrência e progressão)

Numa são enfatizadas as retomadas e na outra o fato de as repetições e retomadas


promoverem a continuidade e progressão textual

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Ler os textos a seguir:

Texto 1

A pesca

O anil
o anzol
o azul

o silêncio
o tempo
o peixe

a agulha
vertical
mergulha

a água
a linha
a espuma

o tempo
o peixe
o silêncio

a garganta
a âncora
o peixe

a boca
o arranco
o rasgão

aberta a água
aberta a chaga
aberto o anzol

aqulíneo
ágil-claro
estabanado

o peixe
a areia
o sol.

(Affonso Romano de Sant'Anna)


Texto 2

CAFÉ DA MANHÃ
Pôs café DÉJEUNER DU MATIN
na xícara
Pôs leite Il a mis le café
na xícara com café Dans la tasse
Pôs açúcar Il a mis le lait
no café com leite Dans la tasse de café
Com a colherzinha Il a mis le sucre
mexeu Dans le café au lait 
Bebeu o café com leite Avec le petit cuiller
E pôs a xícara no pires Il a tourné
Sem me falar Il a bu le café au lait
acendeu Et il a resposé la tasse
um cigarro Sans me parler
Fez círculos Il a alumé
com a fumaça Une cigarrette
Pôs as cinzas Il a fait des ronds
no cinzeiro Avec la fumée
Sem me falar Il a mis des cendres
Sem me olhar Dans le cendrier
Levantou-se Sans me parler
Pôs Sans me regarder
o chapéu na cabeça Il s'est levé
Vestiu Il a mis
a capa de chuva Son chapeau sur la tête
porque chovia Il a mis
E saiu Son manteau de pluie
debaixo de chuva Parce qu'il pleuvait
Sem uma palavra Il est parti
Sem me olhar Sous la pluie
Quanto a mim pus Sans une parole
a cabeça entre as mãos Sans me regarder 
E chorei. E moi j'ai pris
Ma tête dans ma main
E j'ai pleuré.
(Jacques Prévert)
Texto 3

As milhares de pessoas entoando espontaneamente canções dos


Beatles na entrada no estádio Beira Rio, em Porto Alegre-RS, desde o
começo da tarde deste domingo (07), serviram como prenúncio do
show apoteótico que Paul McCartney apresentou durante três horas, a
partir das 21 horas até os primeiros minutos desta segunda-feira (08),
no primeiro concerto da turnê Up And Coming no Brasil. Centenas
delas estavam acampadas em torno do estádio há dois dias. O
sacrifício e o excesso foram recompensados.

A performance de Macca, como é chamado pelos fãs, foi ditada pelo


profissionalismo, o carisma e a espontaneidade lapidadas em cinco
décadas de carreira. Não é pouco e nela cabem todos os adjetivos
hiperbólicos típicos de quem revolucionou a história de algo, no caso,
a música do século XX, como certamente o mais criativo dos Beatles.

Com o set list de 34 músicas, começando com Venus and Mars e


encerrando com The End, o cantor revisitou os grandes sucessos da
banda que o consagrou, além de projetos solos como Fireman e a
banda Wings. A plateia estimada em 50.000 pessoas respondeu com
empolgação à altura.
Choro, gritos, palmas e coros não deram trégua um minuto sequer,
ainda mais nos momentos – e foram muitos – em que o cantor
interagiu falando um português carregado de sotaque. Expressões
como “mas bá, tchê, tri legal” e “ah, eu sou gaúcho” adoçaram os
bairristas. Em troca, músicas cantadas a plenos pulmões.
De certa maneira, e pelo histórico do cantor, foi um show dentro do
previsto, mas ainda assim significativo. Primeiro, pela atemporalidade
das canções, algumas com mais de 40 anos, que se entranharam nas
gerações que se seguiram. O espetáculo é um congraçamento entre
alguns poucos que viveram o estouro do quarteto de Liverpool,
liderado pelo egocêntrico John Lennon, e guardam na memória a
histeria que os Beatles despertaram desde o surgimento, e adultos e
jovens reverentes, alcançados pelos ecos dessa época. Em segundo
lugar, pela vitalidade de McCartney, um senhor de 68 anos
apresentável e disposto, que amadureceu inclusive como músico e
não mede esforços para satisfazer o público, embora, por mais
abrangente que seja o set list, sempre deixe de fora algumas canções
do enorme rol de clássicos dos Beatles.

O que não é um problema quando se tem à mão  Drive My


Car, Blackbird, Eleanor Rigby, Something (com a qual o cantor
homenageou o ex-companheiro de banda, George Harrison), se pode
tocar em sequência Hey Jude, Day Tripper, Lady Madonna, Get Back,
Yesterday e Helter Skelter e, como se não bastasse, Live And Let Die,
da carreira solo. Aliás, um dos momentos em que, também instigado
pelo show pirotécnico e as explosões no palco, o estádio veio abaixo.
Esta é a terceira vez que Paul McCartney vem ao Brasil. Na primeira,
em 1990, ele garantiu um lugar no Guinness, o livro dos recordes, pelo
público de 184 mil pessoas no estádio do Maracanã, no Rio de
Janeiro; na segunda em 1993, o êxito foi semelhante. Pelo que se viu
em Porto Alegre neste domingo (07), pode-se esperar um grande
show em São Paulo, quando ele encerra a turnê com shows nos dias
21 e 22 no estádio do Morumbi. Um espetáculo para ser
testemunhado. Afinal de contas, é a história que começou em 1960
sendo continuada ainda em cima de um palco e, pelo que se percebe,
com a mesma paixão.

(Veja, Paul McCartney faz show apoteótico em Porto Alegre,


nov.2010)
Exercício de reescrita:
Com o texto 1 - formular um texto, reconstruindo um sentido possível, em que
os "pontos de passagem" sejam realizados por elos coesivos, como os
apresentados por Halliday e Hasan
Com o texto 2 - fazer observações sobre como é construída a coesão do texto
traduzido (com a opção de verificar também o original, em francês); tentar
reconstruir o sentido: que história está sendo contada e como?
Com o texto 3 - tomando como parâmetro o texto 1, construir um texto em
versos, minimalizando pronomes e conjunções, mantendo o sentido do texto
original sobre o show de Paul McCartney.

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