GOIÂNIA, 2005
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INTRODUÇÃO:
Musical é tema da mais alta significação nos dias atuais. Fruto da observação de vários
profissional da Educação Musical, que em seu dia-a-dia sempre esbarra com o conflito
existente entre o gosto musical do aluno, sua preferência em termos de material sonoro e o
repertório escolhido pelo professor que usa como critério aquilo que ele sabe e reconhece
como necessário à sua prática pedagógica, e que pode ser resumido nas palavras da professora
Tal conflito se revela, às vezes, de difícil solução, gerando não rara vezes, atritos e
desrespeitos em sala de aula, sem falar nas perdas experimentadas pelos educandos, em
termos de aquisição de um conhecimento que nem sempre têm acesso no ambiente fora da
instituição escolar. Faz-se necessário detectar até que ponto este conflito pode ser uma das
exercício musical, temas que a partir desse estudo, poderão ser futuramente analisados.
Este trabalho tem como objetivo fazer uma reflexão deste assunto, a partir de
Goiânia, capital do Estado de Goiás. Para isso, utilizaremos como suporte teórico, textos e
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pesquisas dos teóricos da comunicação Theodor Adorno, Edgar Morin e Umberto Eco, do
músico, Leonardo de Sá e dos mestres Estércio Marquez Cunha, Izabel Travancas, Maria
Tereza Fraga Rocco, José Manuel Moran, Rosa Maria Bueno Fischer, Cristina Costa, Luci
entrevistados, que fazem parte dos Projetos Coral, Banda Marcial e Instrumentos da
teórico no sentido de reforço à ação pedagógica entre educadores musicais, que se deparam
cada vez mais com o problema do poder que a Mídia tem no gosto e no repertório que o aluno
traz para a sala de aula, e também para os profissionais da comunicação, a fim de que tenham
uma atitude crítica quanto à produção e divulgação de conteúdos - neste caso musicais - mais
pública de ensino na cidade de Goiânia, e que fazem parte dos citados Projetos da Rede
Estadual de Ensino, nos ajudarão a conhecer o repertório utilizado hoje em sala de aula,
verificando o nível de aceitação do mesmo pelo alunado e a influência que a Mídia tem sobre
os mesmos, bem como observar o aproveitamento da experiência musical trazida pelo aluno
disseminação do canto coral, musicalização para banda marcial em diversas escolas estaduais
1
Esta arte-educadora estudou alguns aspectos dessa questão em 1992, transformando suas inquietações em
Dissertação de Mestrado apresentada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, intitulada “Música na
Escola de I Grau: Repertório, Aprendizagem e Interferências na Execução Cantada
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ministrado. Nesse ambiente, é que foi feita a proposta para participarem desse trabalho,
Depois, a nossa análise teórica recairá sobre a influência que se observa na Educação e mais
especificamente, no ensino de Música, para a seguir apresentar alguns gráficos criados a partir
dos dados das entrevistas, que apesar de utilizarem alguns recursos da pesquisa quantitativa,
não tem a pretensão de sê-la, mas serão de muita importância, visto que serão exemplos da
prática em sala de aula, e também por terem sido realizadas com um universo significativo de
Também pretende ser ponto de partida para uma reflexão mais acurada do tema,
posterior de um projeto de ação pedagógica que traga soluções efetivas e aplicáveis, gerando
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Não são todas as escolas de Goiânia que aderiram aos projetos de Coral, Banda Marcial e Musicalização, uma
vez que Disciplina está contida no Ensino de Educação Artística, faz parte dos Parâmetros Curriculares, mas não
existem entre os professores de Arte, número suficiente com Formação em Música. Também porque a Disciplina
faz parte da Pedagogia invisível, assim como Dança, Teatro, as Coordenações das escolas acabam por optar pela
projeto a partir da formação acadêmica de seu quadro docente.
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massas- que não reage, não tem opinião própria, não questiona.
O termo Indústria Cultural será utilizado nesta monografia no seu mais puro
Adorno (1986) afirmou que as produções do espírito no estilo da indústria cultural são
televisão, internet, fitas, cd’s e dvd’s como produtos fabricados pela mídia para um
consumo massivo.
Indústria Cultural “é a forma ‘sui generis’ pela qual a produção artística e cultural é
feita para um público consumidor bastante abrangente. Ele defende que “o vento que
assim se arrasta em direção à cultura é o vento capitalista...é para e pelo lucro que se
desenvolvem as novas artes técnicas”. Também Herbert Schiller (1976) partilha das
mesmas idéias. Ele discorreu que “as mensagens dos meios de comunicação de massa
imperativo do lucro determina a qualidade do conteúdo, o qual por sua vez, tende a se
é reforçado pela mestra Cristina Costa (2002), para a qual hoje na sociedade
permeado pela presença dos meios de comunicação. Esta mestra ressalta que vivemos
(2001) reafirma que esse meio, com uma linguagem audiovisual específica ou como
Pode-se dizer que a TV, ou seja, todo esse complexo aparato cultural e
econômico – de produção, veiculação e consumo de imagens e sons,
informação, publicidade e divertimento, com uma linguagem própria –é
parte integrante e fundamental de processos de produção e circulação de
significações e sentidos, os quais por sua vez estão relacionados a modos de
ser, a modos de pensar, a modos de conhecer o mundo, de se relacionar com
a vida... Estou falando em modos de existência narrados através de sons e
imagens que, a meu ver, têm uma participação significativa na vida das
pessoas, uma vez que de algum modo pautam, orientam interpelam
cotidiano de milhões de cidadãos brasileiros –ou seja, participam da
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A maioria dos estudos sobre a influência da Mídia na formação do indivíduo ou a importância dos Meios de
Comunicação na vida em sociedade, refere-se à televisão. Por analogia, estendemos os comentários para todos
os tipos de veículos de massa, tais como rádio e internet, por entendermos a pertinência dos mesmos com relação
a todos os meios já citados.
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contexto coletivo, Maria Tereza Fraga Rocco (2004) defende que ao lado do
computador, a televisão foi o invento mais importante do século XX, e que veio para
sociedade.
Luci Mara Bertoni (2001) em seu artigo “Arte, Indústria Cultural e Educação”
também partilha das mesmas convicções. Ela fala, reafirmando as idéias de Fisher, do
A necessidade, cada vez mais crescente, da busca de felicidade tem feito com
que as pessoas se deixem influenciar pelo consumo desmedido dos produtos
ofertados pela Indústria Cultural, fazendo da arte, de modo especial, da
música, um meio de tornar-se igual sem perceber que estão se colocando à
margem de sua própria cultura”(Bertoni, 2001, p1).
uma mudança de valores, onde o consumo se dá pelo valor da troca e não do uso, nos
fala que esta exploração “perpassa as ondas de violência física, mental e social, que
repercutem nas atitudes dos que se deixam iludir pelo apelo de felicidade veiculado
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musical, para, Cássia Virgínia Coelho de Souza (1992) acontece com a absorção da
comunicação de massa ou produzida pela mídia, uma vez que hoje estes são os tipos
de música conhecidas de toda a cletividade. Ela diz que “com a evolução dos meios de
identificação dos gostos, assuntos a serem conversados e até das músicas ouvidas, a
que a pessoa terá como parâmetro para a construção simbólica de sua cultura. O rádio
vem atrás, ora lançando cantores e músicas, ora apenas reafirmando o que a televisão
final do século XX, impôs sua presença na rotina do cidadão. Hoje a presença de
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musical, onde o internauta pode ter acesso a músicas em formatos próprios para serem
músicas da Mídia que o alunado traz para a sala de aula, bem como sua expectativa
sobre o que é música, por diversas vezes gera um conflito entre o conhecimento
repertório sonoro que o educando memorizou durante sua história de vida, que são as
para que seja capaz de apreciar, produzir e perceber a linguagem musical, fazendo
também sua interação com outras linguagens artísticas (cinema, dança, teatro, artes
processo formal de ensino, mas por outras formas de educação não-formal, desde o
musicalização não-formal, chamadas por Penna de experiências naturais. Ela disse que
“para alguém que nunca participou de algo que possa ser reconhecido como uma
atividade musical - ouvir rádio, dançar rock, batucar na mesa de um bar - como
gosto e a audição do alunado. Já a música erudita, elaborada, tende a ser rejeitada, por
ser incompreendida, por não ter seus símbolos sonoros apreendidos desde a infância.
sociedade, onde uma parcela privilegiada tem acesso à arte e à cultura, o Ensino de
também possa ser aprendido na escola”, a doutora Cássia Virgínia Coelho de Souza,
qualquer cultura a criança tem contato com canções desde o berço. A partir deste
contato, ela terá meios de explorar seu potencial musical, desde que possua bom
funcionamento da audição”.
Por outro lado, para Souza (1992), possuir capacidade para a percepção de
necessário que o ouvido sensível seja explorado para que todas suas potencialidades
musicalização segue os mesmos princípios para qualquer faixa etária, embora, seja
musicalização (Penna).
o PCN no Ensino de Artes é de que este é o caminho para uma educação criativa e
Mídia”, Rosa Maria Bueno Fischer (2005) destaca que os Meios de Comunicação
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conseqüentemente, a educação.
No citado trabalho, essa autora diz que ao lado de sua função objetiva de
informar e divertir, a mídia possui uma função implícita de formar os indivíduos. Ela
também cita Pierre Lévy que em seu livro “Tecnologias da Inteligência”, estudou as
modos de pensar, sentir e agir se propagam, são mediados, e o que é principal, são
Ensino de Música nas escolas: Qual seria o papel do arte-educador frente à influência
para ela é a música dos meios de comunicação de massa, ainda é evitada pelo
professor, “mas constitui ao mesmo tempo o objeto de interesse dos alunos para o
conhecimento musical”. Esse distanciamento, ela afirma, somente serve para retardar
escola.
humano, inerente à sua constituição cognitiva, e sua relação com a identificação grupal
apenas por influenciar também o repertório, mas sobretudo, por formar o ouvido
sensível do indivíduo desde a mais tenra idade. O que se observa é que nem sempre
tem sido pautado pela música midiática. Estércio Marquez Cunha (1982), pontua que
“a musica, como toda obra de arte, tem uma função primaria, ainda que não única, de
desenvolver a capacidade de percepção dos indivíduos”, mas que hoje, essa nobre
Este autor acrescenta ainda que hoje se ouve, o que não pressupõe escutar,
música em todos os lugares – a música ambiental, tal o efeito dessa banalização, dessa
comercialização sem escrúpulos. Porém, é raro que uma pessoa tenha um ouvido
professor Cunha, constitui uma das características desse tipo de música, é que a
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qualidade da produção em si precisa de outros artifícios para ser consumida. Ela já não
cultural”, Freitag fala dessas características inerentes aos produtos produzidos pela
mídia:
estéticos da arte” por somente levar em conta o fato de seus produtos serem
‘mercadoria’ de consumo.
sistema de produção voltado para o mercado que não leva em conta a diversidade, a
segundo grau oferecem aos alunos exatamente aquilo que eles escutam na televisão e
repetir, não como ser criativo”. Por outro lado, o professor afirma que “outras escolas
clássicas”. É exatamente aqui que se instala o conflito que levantamos neste trabalho,
e que também é descrito por Cunha (1982) : “Se estes alunos não lidaram ainda com o
processo criativo a partir dos elementos som e movimento,se não foram educados para
uma real fruição musical. Isto é o mesmo que oferecer problemas de raiz quadrada a
Estércio (1982).
dito e às suas técnicas para atingir as massas. A música da Indústria Cultural e aqui
por baixo, para que a produção em série atinja o maior número de ouvintes. O músico
O que se ressalta neste ponto é que para ser aceita pelo público consumidor, a
se for sertanejo, há uma batida específica; se for axé, todas as músicas neste ritmo
seguem o padrão de percussão e até mesmo poético, desse tipo de música e assim por
diante - cada música tem seu padrão melódico adaptado, seu ritmo pré-concebido e
mesma música precisa ser veiculada em várias mídias diferentes, inclusive on-line. O
que foge desse ‘esquema’ - a conhecida música alternativa – não é veiculada pelos
empobrecimento cultural do brasileiro, que não conhece a riqueza musical de seu país
e não tem acesso às novas produções. Ele escuta sempre um mesmo tipo de música,
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num mesmo padrão e com letras fáceis, que não aguçam sua criatividade nem o levam
ao questionamento e à reflexão.
indivíduos “fragilizados”, que após um dia trabalho, chega em casa cansado, disposto
repertório de redundâncias... para esse indivíduo qualquer proposta de esforço deve ser
evitada”.
Educação do Estado de Goiás. Este projeto abrange os “Projetos Coral, Banda Marcial
O formulário foi elaborado com questões abertas, onde o professor tinha total
liberdade em expor o tipo de música que compõem seu repertório e plano de aula, bem
como o tipo de música que o alunado tem preferência, se a música erudita tem boa
entrevistadas não faz parte do Projeto. É professora da Rede Municipal, mas trabalha
com música em sala de aula, durante as aulas de Educação Artística, visto ter
duas e até três escolas. Foram somadas 2 (duas) escolas municipais e 32 (trinta e duas)
estaduais, sendo três conveniadas. A faixa etária dos alunos analisados foi bastante
Médio, alguns, com alunos de todas as faixas etárias, até pessoas mais maduras
localização dessas escolas são 16 na região central tais como Centro, Vila Nova,
bairros periféricos.
A primeira pergunta que fizemos foi quanto ao tipo de música que estes
tem levado um material sonoro mais rico para a sala de aula, além de valorizar
a cultura nacional.
POP 1
INTERNACIONAL 1
REGIONAIS 2
DINGLE 1
RAP 1
FOLCLÓRICAS 8
COMPOSIÇÕES PRÓPRIAS 1
VÁRIOS ESTILOS 2
ROMÂNTICA 1
ERUDITA OU CLÁSSICA 6
SERTANEJA 2
MPB 14
GOSPEL 4
32
músicas, eles acabam por optar por outros estilos “mais acessíveis” ao alunado,
constata-se que apenas seis dos 16 educadores entrevistados escolhem este tipo
gospel – uma versão de música religiosa que por seu ecumenismo é entoada em
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diversos grupos religiosos, e dois optaram pela música sertaneja, visto que a
ACEITAÇÃO DO REPERTÓRIO
ERUDITO PELOS ALUNOS
15
10
0
SIM NÃO ÀS VEZES
Seqüência1 0 11 5
o tipo de música que seus alunos preferem? As respostas foram das mais
resposta mais interessante e que veio auxiliar em muito este trabalho, foi que
mídia”, uma vez que a Mídia dita os significados do que está na moda, não só
“rapp”. Com 25% cada uma das respostas, a música sertaneja, a gospel e a
Porém, se levar em conta que esse alunado deve ter adquirido o gosto
música midiática, podemos concluir que do total das opções das respostas, de
POP 1
M ÚSIC A DA M ODA 2
REA GEE 1
M ÚSIC AS DANÇANTES 2
A XÉ 1
HIP HOP 1
FORR Ó 1
FUNK 1
PÓPULA R 4
SA M B A 1
GOLPEL 2
SERTANEJ A 4
R APP 6
TEM AS DE NOVELA 1
R OUGE 1
ROC K 6
C OM ERC IAIS 1
M ÚSIC A DA M Í DIA 4
que a mídia tem no gosto musical dos alunos. Dos 16 (dezesseis) entrevistados,
15
10
0
SIM NÃO ÀS VEZES
Seqüência1 15 0 1
improvisações, etc. O professor de violão disse que sempre tem que partir do
professor de Coral disse que a influência é tão grande que ele tem dificuldades
música”.
pela direção das escolas em que atuam, como pela comunidade em que tais
Uma vez que hoje, de acordo com os aspectos de nossa sociedade contemporânea
bem como da produção musical, são inevitáveis, pode a escola, em sua função de
musicistas entrevistados, grande parte acredita que este caminho deve ser buscado, para que o
conflito em sala de aula seja, se não resolvido, pelo menos, minimizado, visando a
entrevistados é incorpora-la como conteúdo musical nos planos de aula. O professor Fábio
Amaral da Silva Sá (vide entrevistas em anexo) fala que “quem decide o gosto musical da
maior parte da população é a mídia; sendo assim, em sala de aula, tenho que partir do
repertório que eles conhecem para alcançar os objetivos propostos”. A educadora musical
Viviane Cristina Drogomirecki fala em seu depoimento que os alunos “adoram músicas
atuais, ou seja, as que estão na mídia.Apesar disso tudo, é interessante ser feito uma troca com
eles: ofereço a minha e eles aceitam uma por exemplo do Roberto Carlos”. Já. Laudmar
Modesto da Slva afirma que está tentando adaptar seus gostos e aproveitar o gosto dos alunos,
quando perguntada se a música da Mídia influencia seu trabalho. A musicista Luciana Moura
Bezerra conta que apesar dos alunos preferiram as músicas que estão na moda, “busco não
criticar negativamente a música que gostam, procuro levar para as aulas, músicas de
Para a jornalista e Mestra em Educação, Maria Thereza Rocco (2004), não só a música
de mídia, mas diversos conteúdos veiculados nesses veículos de comunicação, podem ser
aliados para o Ensino. Ela defende que por possuírem funções tão diferentes, a influência de
uma, não anula a atuação da outra. “TV e escola configuram-se como realidades diferentes,
entretanto nada impede que a escola lance mão da TV e que esta, por seu turno, se proponha a
Se a escola culpa a TV por ela ser tão sedutora e atraente, por que razão essa
mesma escola não procura mostrar-se menos sisuda e mais instigante? A escola,
muitas e muitas vezes, trabalha sobre conteúdos insípidos, inodoros e que são,
freqüentemente, desnecessários. Lazer, prazer e diversão, parece-nos, surgem
como vocábulos e realidades totalmente incompatíveis com o que se faz na escola.
Impõe-se, quase sempre, de fora e de cima, a necessidade de se manter um tom
pesado e taciturno quando se trata do ensino formal(Rocco, 2004, p.58)
Rocco (2004) também oferece algumas sugestões de como a escola pode se apropriar
de conteúdos e mensagens da Mídia para tornar as aulas mais interessantes para o aluno,
deveriam questionar o veículo, servindo-se para tanto de critérios... assim é preciso indagar
sobre a natureza da tevê, sua finalidade, suas responsabilidades, seus deveres e seu alcance”.
40
Com serenidade e isentos de preconceitos, iremos perceber que a TV, mesmo não
sendo instrutiva em alguns momentos, pode também revelar-se grande aliada da
escola, desde que saibamos enxergá-la em suas dimensões próprias e desde que
ajudemos nossos alunos a se tornarem sujeitos agentes e criticamente responsáveis
pela construção de seu próprio processo de recepção.(Rocco, 2004, p.62)
.
Manuel Moran (2004), para o qual já está na hora da escola repensar sua relação com a Mídia
– ou seja, deixar de ignorá-la ou tratá-la como inimiga, pois os Meios de Comunicação não só
também sugere algumas práticas que poderão enriquecer a relação Mídia X Escola.
da Universidade de São Paulo, leciona no Instituto Metodista e Colégio Santa Cruz, naquela
capital, vai um pouco além. Ele propõe que a Mídia seja estudada como Disciplina específica,
assim como tem acontecido na 8ª Série do Colégio Santa Cruz. “O processo ideal consiste em
ter uma política ampla e efetiva de colocar a questão da comunicação como algo importante
Com o mesmo objetivo dos autores citados acima, Fisher (2001) e Décio Pignatari
(1991) se juntam a Moran (2004) para esclarecer a função socializadora, de educação não-
formal e da Mídia. Pignatari fala que “esses meios não são todo negativos”, e cita exemplo:
Já, Fischer (2001) adiciona outro exemplo, este agora diretamente relacionado com a
veiculação de conteúdos musicais, que podem ser enriquecedores e a nosso ver, seriam um
excelente material a ser trabalhado com alunos da 2ª Fase do Ensino Fundamental e Médio.
Fischer (2001) ainda enumera as várias formas dos professores estarem lidando com
entre os alunos e alunas, sobre suas preferências e gostos em relação a esses produtos da
mídia”.
42
Por outro lado, Freitag (1989) alerta que não só a escola, mas também a Mídia
indústria cultural com a qualidade do produto que lança, ela será agente poderoso da definição
dos novos padrões, do novo caráter da obra cultural, do trabalho educacional”. Esta autora
afirma que assim, os Meios de Comunicação serão mais que “agentes de modificações
Além de oferecer uma programação recheada de conteúdos musicais, uma Mídia que
pode alcançar um maior número de população é o rádio, podendo ser, inclusive, um grande
informal. Inclusive, para Cristina Costa (2002), o Rádio tem uma função educativa não-
formal de grande projeção para a ampliação do conhecimento numa sociedade que ainda
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possui grande número de analfabetos. Ela fala que “a possibilidade de entrar nas residências;
estabelecer uma grade horária, criar uma relação diária e próxima com o ouvinte e ser
analfabetos”.
44
6 – CONCLUSÃO:
A partir da pesquisa de campo realizada para este trabalho, podemos concluir que a
Mídia está influenciando o ensino de Música nas escolas públicas de Goiânia. Se não está
determinando todo o conteúdo musical apresentado pelos professores a seus alunos, pelo
menos contribui para que no material sonoro sejam incorporados os produtos musicais da
Mídia. Dos 16,apenas um professor respondeu às vezes, do que também se conclui que suas
Podemos perceber que as músicas veiculadas em rádio, televisão e internet são as que
os alunos preferem e gostariam que fossem tocadas nas bandas ou cantadas nos corais dos
quais participam. Por outro lado, os professores de Música, Canto-Coral e Banda Marcial,
colocam-se como que abrindo ‘exceções’ para esse repertório, a fim de ganhar a presença e a
adesão do alunado ao Projeto, uma vez que a presença do aluno é opcional e as aulas são
Para frear a evasão dos alunos, muitos docentes de Música, incorporam os conteúdos
veiculados pela Mídia em seu repertório. Uma professora, inclusive, cita que música clássica
somente tem aceitação se for aquelas que são temas de novelas, lembrando o que falou Freitag
(1989), de que os Meios de Comunicação podem contribuir para tornar a cultura de elite
Compartilhamos da visão otimista defendida por Moran, Rocco e Bertoni, uma vez
que a influência da Mídia é “natural e espontânea”, pois esse alunado nasceu inserido em uma
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cultural midiática , onde seus valores e significações foram formados através do consumo de
produtos da Indústria Cultural, desde a mais tenra idade. Não se pode fugir à essa realidade,
pois é inerente à própria formação sócio-cultural do alunado. A educação, para lembrar Paulo
homens se fazem e refazem na interação com mundo, objeto de sua práxis transformadora.
(Boufleuer, 1991) A prática pedagógica passa a ser uma ação política de troca de concretudes
Sendo inevitável esse poder de formar o sujeito, não há como educar e musicalizar o
incorporação dos conteúdos musicais da Mídia seja feita de maneira crítica por parte do
educador musical. O professor deve propiciar espaços de reflexão a seus alunos para que essa
sonoro da Indústria Cultural, mas sobretudo, e a partir desse material, desenvolver o ouvido
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ANEXOS: