Este documento descreve uma pesquisa sobre o potencial pedagógico da música popular no ensino musical. A pesquisa entrevistou fãs de música popular para identificar seus gostos musicais e opiniões sobre como aprender a tocar, cantar e dançar seus estilos favoritos. Os resultados sugerem que os significados atribuídos à música pelos fãs, como descrito por Green, influenciam seu aprendizado e devem ser considerados no desenvolvimento de métodos pedagógicos para a música popular.
Este documento descreve uma pesquisa sobre o potencial pedagógico da música popular no ensino musical. A pesquisa entrevistou fãs de música popular para identificar seus gostos musicais e opiniões sobre como aprender a tocar, cantar e dançar seus estilos favoritos. Os resultados sugerem que os significados atribuídos à música pelos fãs, como descrito por Green, influenciam seu aprendizado e devem ser considerados no desenvolvimento de métodos pedagógicos para a música popular.
Este documento descreve uma pesquisa sobre o potencial pedagógico da música popular no ensino musical. A pesquisa entrevistou fãs de música popular para identificar seus gostos musicais e opiniões sobre como aprender a tocar, cantar e dançar seus estilos favoritos. Os resultados sugerem que os significados atribuídos à música pelos fãs, como descrito por Green, influenciam seu aprendizado e devem ser considerados no desenvolvimento de métodos pedagógicos para a música popular.
Msica popular na educao musical - potenciais pedaggicos de um
repertrio selecionado dos fs
Hugo Leonardo Guimares Souza hugopoint@hotmail.com Cristina de Souza Grossi c.grossi@terra.com.br Universidade de Braslia
Resumo. O presente artigo trata de uma das aes de projeto de pesquisa sobre o ensino e a aprendizagem da msica popular 1 da Universidade de Braslia, desenvolvida pelo Programa de Iniciao Cientfica (PIC) do Departamento de Msica. O objetivo principal desta pesquisa em andamento foi estudar tanto questes especficas de aprendizagem de determinados estilos da msica popular, na perspectiva do f, quanto os potenciais pedaggicos do seu repertrio favorito. Como referencial terico, utiliza-se especialmente as idias e conceitos de Green (1997) acerca dos significados (inerentes e delineados) que emergem na experincia musical. Utilizando um questionrio estruturado, a pesquisa emprica foi realizada junto a 61 indivduos de diferentes idades, gneros, profisses e preferncias musicais do Distrito Federal. Todos ouvem msica popular com freqncia. Entre os resultados obtidos at o momento, destaca-se o valor dos significados delineados na vivncia musical dos indivduos.
A pesquisa A proposta inicial da pesquisa era selecionar um repertrio especfico da msica popular, de estilos e gneros diferenciados, para poder investigar suas possveis potencialidades pedaggicas. Este repertrio seria posteriormente utilizado em projeto de ensino, onde tais potencialidades seriam testadas. No processo de definio de critrio para a escolha das msicas, concomitantemente ao estudo de literatura voltada msica popular (campo da sociologia da educao musical), encontraram-se possibilidades limitadas de anlise abrindo um leque de complexidade de categorizao dos tipos de msica popular e orientao terica para discutir a temtica. Decidiu-se, ento, que seria mais interessante nesta etapa, selecionar os tipos de msica e suas caractersticas potencializadoras de aprendizagem musical na perspectivas dos fs. Portanto um dos objetivos principais da pesquisa explorar a vivncia dos fs em termos das concepes que permeiam suas identidades e preferncias musicais, discutindo os resultados para o ensino e aprendizagem da msica popular. Preparou-se um roteiro estruturado para a entrevista. Buscaram-se informaes quanto aos hbitos auditivos e viso sobre o ensino e aprendizagem da msica popular. Foram
1 Este projeto conta com o apoio da Fundao de Empreendimentos Cientficos e Tecnolgicos FINATEC 2 entrevistadas 61 pessoas, sendo que 21 faziam parte do pblico interno da Unb, e as outras 40 pessoas de diferentes idades, gneros, profisses e preferncias musicais, fora da instituio. Foram dois os focos da investigao: 1) conhecer os artistas e msicas que constituam o gosto, a preferncia musical dos entrevistados isso tambm para seleo do repertrio; 2) investigar a opinio dos fs acerca: o que gostariam de aprender (tocar, cantar e/ou danar); com quem gostariam de aprender; que msicas ou artistas gostariam que fizesse parte do repertrio; e como gostariam que fossem as aulas. Considerando nas entrevistas que o meio em que elas ocorreram um fator muito importante (SZYMANSKI, 2004, p.72), procurou-se construir uma relao entrevistado /entrevistador/ ambiente do modo mais natural possvel. Assim, a maioria das entrevistas ocorreu em ambiente familiar ao entrevistado. Algumas foram realizadas na prpria residncia, outras na rua e outras, no caso do pblico da Unb, no prprio campus da universidade. Foram entrevistados 15 estudantes de msica da Unb, 5 estudantes de outros cursos e um funcionrio da instituio.
A pedagogia para a msica popular Ao se falar em ensino e aprendizagem de msica e em potenciais pedaggicos da msica popular, importante refletir sobre pedagogia, avaliar que tipo de pedagogia pode ser utilizado em uma aula de msica valendo-se de um repertrio de msica popular. Relevante tambm refletir sobre como seriam as prticas educativas mais condizentes com as caractersticas msico-pedaggicas existentes nas vivncias musicais de estilos e gneros na cultura de origem. Para se pensar em uma pedagogia musical coerente com a realidade, preciso levar em considerao o panorama da educao na atualidade. Diante da nova realidade tecnolgica, educacional, profissional, social e econmica do pas, faz-se necessria a reformulao do pensamento e da prtica pedaggica (LIBNEO, 1999). Quando aplicada educao musical, essa abordagem nos faz entender que preciso olhar para o ensino e aprendizagem de msica de uma forma diferente. Hoje a msica ocupa um espao muito maior na sociedade do que ocupava h algumas dcadas atrs. Com o advento do rdio e das gravaes, depois com a fita cassete e o vinil, o CD e os dispositivos de udio portteis, a msica passou a fazer parte do cotidiano das pessoas de uma forma cada vez mais crescente (VALENTE, 1999). 3 A realidade musical do sculo XXI exige que os educadores musicais estejam atentos aos diversos fatores que atuam sobre a prtica do ensino e aprendizagem de msica na cultura. Segundo Libneo (1999), a educao acontece em todo tempo e lugar, no apenas em instituies formais. Sobre a educao informal ele diz: So aes e influncias exercidas pelo meio, pelo ambiente sociocultural, relaes dos indivduos e grupos com seu ambiente humano, social, ecolgico, fsico e cultural, resultando em conhecimentos, experincia, prticas no ligadas a uma instituio, no so intencionais ou organizadas (LIBNEO, 1999, p. 43).
Valendo-se desta modalidade educativa 2 - da educao informal o educador musical pode construir suas prticas educativas no campo da Msica Popular. precisamente no contexto das prticas musicais informais, de carter fundamentalmente social, histrico e cultural, que a Msica Popular est inserida (GROSSI, 2000, p.39). A msica que os indivduos ouvem e apreciam nas suas vivncias cotidianas exerce por si s uma ao educativa sobre eles.
A experincia musical: significados e dimenses Green (1997) trata do significado que a msica possui para diferentes grupos sociais, trazendo a questo de at onde a importncia do significado da msica e sua relao com o aluno, influenciam em seu aprendizado. Segundo a autora, os estudantes tm respostas diferenciadas msica devido ao significado que eles atribuem a ela. Seja pelo conhecimento prvio da msica em questo ou do estilo, seja pelas idias e valores que o estudante relaciona com a msica. O significado construdo por ele acerca da msica define sua recepo e reao mesma. Com o recurso da entrevista, a pesquisa procurou conhecer as msicas que os indivduos apreciam e formar ento um repertrio de msica popular selecionado por eles mesmos. A concepo de significado musical da autora (GREEN, 1997) muito til para anlise do potencial pedaggico de um repertrio. Ela define dois tipos de significado inerente e delineado. O significado inerente valoriza as relaes que o indivduo faz com o material sonoro, as relaes entre os sons e estruturas intra-musicais; o indivduo familiarizado com os elementos inerentes sonoros, caractersticos da msica de sua preferncia, faz associaes tambm entre msicas, baseando sua avaliao nas experincias musicais anteriores - assim, vai-se construindo as bases de significao. a organizao do material sonoro com coerncia que apela diretamente para a percepo auditiva do ouvinte,
2 Termo Utilizado por Libneo para classificar as instncias em que a educao pode ocorrer. Segundo o autor, a educao pode ser formal, no formal e informal. 4 para sua capacidade de realizar inter-relaes com os materiais sonoros. Enquanto os materiais sonoros integram fisicamente uma pea, os significados inerentes emergiro a partir das inter-relaes convencionais dos materiais sonoros e a capacidade perceptiva do ouvinte", Green (1997, p.28). O significado delineado definido por Green (1997) como aquele construdo pelo individuo a partir de sua interao com a msica de sua cultura. Envolve aspectos afetivos, emocionais e relacionais, onde a msica se torna a expresso identitria de valores musicais, culturais e sociais para aquele indivduo. Ocorre quando h uma identificao com o sentimento expresso pela msica, com seus valores sociais, polticos, ideolgicos, etc. Partindo da perspectiva de Green (1997), pode-se entender que as reaes exposio msica por parte dos estudantes, so relacionadas no s com as habilidades musicais inatas deles, so tambm e especialmente resultantes dos precedentes sociais e afiliaes a uma variedade de diferentes grupos sociais (GREEN, 1997 p.34). Isto significa que as reaes dos estudantes exposio msica no depende de alguma sensibilidade extraordinria e muito pouco de seu envolvimento com prticas musicais, como aprendizado formal de msica e/ou simplesmente apreciao da mesma, mas sim de uma relao ntima entre os significados inerentes e delineados, que trazem ao indivduo um sentido mais real e amplo da msica. Alm da concepo do significado musical, tambm preciso levar em considerao as dimenses ou nveis de experincia musical. Segundo a teoria espiral do desenvolvimento musical de Keith Swanwick (SWANWICK, 1988), as dimenses se voltam para os materiais, a expresso, a forma e o valor. A vivncia dos materiais inclui: os elementos que compe a msica; instrumentos e timbres utilizados em sua execuo; anlise rtmica, harmnica e meldica; suas caractersticas sonoras e estilsticas; e aspectos tcnico-estruturais. A dimenso da expresso aspecto da identidade expressiva da msica que pode ser definido como a impresso causada pela msica no ouvinte. A forma onde se busca estabelecer relaes entre os gestos musicais e perceber como se desenvolvem ou se contrastam, definindo um sentido de direo tomando-se conscincia da estrutura da obra. O valor onde aparecem o comprometimento e avaliao pessoal, o valor da experincia em nvel individual, a atitude em relao experincia. O professor precisa ser capacitado de forma a enxergar o universo musical dos estudantes, que possui tanto significado e influncia, e que precisa ser tomado como instrumento balizador para seleo de repertrio e elaborao de atividades representativas 5 para os estudantes. Ao refletir tanto sobre os significados inerentes e delineados, quanto sobre a necessidade de propiciar vivncias que contemplem uma variedade de dimenses da msica, o educador musical ter meios para pensar e conceber prticas educativas que correspondam realidade dos estudantes e que os levem a experimentar um aprendizado significativo e a produo de um conhecimento que lhes traga competncia e emancipao. Torna-se necessrio que o aluno seja capaz de transferir o conhecimento a novas situaes, criar estratgias para resoluo de problemas e dar sentido informao transformando-a em conhecimento (GROSSI; MONTANDON, 2005, p.123).
Resultados preliminares O potencial pedaggico de uma msica ou repertrio pode ser avaliado pelo professor levando em considerao o significado que possuem para o estudante. Segundo os dados obtidos na pesquisa realizada, a maioria dos estudantes do curso de msica da Unb demonstrou ter maior interesse no significado inerente da msica e focaram mais a dimenso dos materiais, ao contrrio dos entrevistados do pblico externo. De acordo com Deschnes (1998), a preferncia musical do indivduo no necessariamente baseada nos aspectos de forma, esttica e dos elementos intrnsecos da msica, mas mais especificamente no que a msica representa para ele socialmente e culturalmente. necessria uma viso mais ampla por parte do professor quanto conscincia da profundidade e complexidade da trama dos significados musicais, e das conexes entre alunos, grupos sociais, suas prticas musicais e sua abrangncia (GREEN, 1997, p 35). O repertrio indicado pelos entrevistados, especialmente aqueles externos Unb, composto por msicas que em sua maioria tm para eles, o significado delineado preponderando sobre o inerente. So msicas que de alguma forma fazem parte da vida e da trajetria deles e representam no somente familiaridade com os materiais sonoros, mas especialmente, uma identificao de idias e valores. Segundo Green (1997) e Deschnes (1998), as msicas refletem tambm os valores, crenas e opinies dos indivduos na sua vida social. A maioria dos entrevistados diz que gostaria de ter aula com os artistas que admiram; querem aprender as msicas que mais gostam. Questes voltadas para a valorizao da vivncia dos materiais, controle e tcnica, emergiram muito mais nas respostas dos estudantes de msica. Todos, sem exceo, gostariam de aprender a tocar, cantar, improvisar ou compor com artistas que eles admiram por acreditar que eles dominam a tcnica do instrumento. 6 Gostaria de aprender a tocar Violo e guitarra com o Randy Rhoads, guitarrista do Ozzy Osborn. Ele tinha uma tcnica monstruosa e tambm tocava violo clssico. Gostaria de tocar as msicas Mr Crowley, Crazy train, e umas no estilo Flamenco. Nas aulas Eu tocaria e ele comentava o que ia fazer. Como no bacharelado. (Entrevistado n 10- pblico Unb).
J para o pblico externo, os motivos para se desejar aprender determinado instrumento, determinada msica, com determinado artista e de determinada maneira so variados. Contudo h uma predominncia da preferncia por instrumentos e msicas que trazem consigo o significado delineado sobrepondo-se ao inerente.
Bibliografia DESCHNES, Bruno. Toward an anthropology of music listening. International Review of the Aesthetics and Sociology of Music, V.29, N.2, p.135-153, 1998. GREEN, Lucy. Pesquisa em Sociologia da Educao Musical. Revista da ABEM, Porto Alegre, n 4, setembro, 1997. GROSSI, Cristina. Categorias de respostas na audio da msica popular e suas implicaes para a percepo musical. Anais do 7 o Simpsio Paranaense de Educao Musical, Londrina, p.37-64, 2000. GROSSI, Cristina, MONTANDON, Isabel. Teoria sem mistrio: questes para refletir sobre a aprendizagem da grafia musical na prtica. Anais do I Simpsio Internacional de Cognio e Artes Musicais, Curitiba: Universidade Federal do Paran, p.120-127, 2005. LIBNEO, Jos Carlos. Pedagogia e pedagogos, para qu? (2 Ed). So Paulo: Cortez, 1999. SZYMANSKI, Heloisa; ALMEIDA, Laurinda R. de; PRANDINI, Regina C. A. R. A entrevista na pesquisa em educao: a prtica reflexiva. Braslia: Lber Livro, p. 72, 2004. SWANWICK, Keith. Music, Mind and Education. London, Routledge, 1988. VALENTE, Helosa de Arajo Duarte. Os cantos da voz: entre o rudo e o silncio. So Paulo: Annablume, 1999.