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CULTURAL E HISTÓRICA
Introdução
“A música oferece à alma uma verdadeira cultura íntima e deve fazer parte da
educação de um povo” (GUINZOT, 20121). Desta forma podemos salientar que a música
deveria estar presente na escola como uma possibilidade de aprendizagem e estímulo para a
criança. Este trabalho procura apresentar alguns questionamentos sobre o uso da música como
apoio ao trabalho pedagógico do professor e a possibilidade de seu uso no estudo em sala de
aula, discutindo como ela pode fazer parte da formação social da criança e quais as
possibilidades da escola ao utilizá-la como um recurso para a aprendizagem e a construção
cultural.
Esta discussão se pauta em como a música pode estar inserida no contexto escolar e de
que forma o conteúdo escolar e a cultura da música regional estão presentes nas disciplinas do
Ensino Fundamental, buscando evidenciar suas características e quais os métodos utilizados
para o ensino através da música em sala de aula, visto que a Lei nº 11.769, sancionada em 18
de agosto de 2008, determina que a música deva ser um conteúdo obrigatório, mas não
exclusivo do componente curricular em toda a Educação Básica, tendo como data limite para a
inclusão curricular o limite de três anos letivos a partir da aprovação da Lei. Assim, a data
limite seria o ano de 2012.
∗
Professora do Centro de Educação Infantil da UFGD. Mestre em Educação pelo Programa de Pós-graduação da
Faculdade de Educação da UFGD.
1
Disponível em: http://pensador.uol.com.br/autor/francois_guizot/ Acesso em: 27 set. 2012.
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Podemos dizer que atualmente a música está, ou deveria estar presente na vida de
todos, principalmente na vida das crianças, que cada vez mais se interessam por ela. Desde
muito cedo, os pais costumam cantar para seus filhos, podendo ser quase impossível viver sem
que a música esteja presente no nosso cotidiano, pois no decorrer da vida e das etapas vividas
há a influência musical, na infância, na adolescência, na vida madura e na velhice. Durante a
vida mudam-se os ritmos, de acordo com as diferentes fases do desenvolvimento humano.
Assim, podemos dizer que a música é uma forma de expressão, ela nos conforta, pois muitas
vezes a escutamos quando estamos tristes, ou alegres, leva à reflexão, à indignação, ao
questionamento etc. Através da música interagimos uns com os outros e encontramos com o
outro, nos expressamos e somos compreendidos pelo outro.
Nessa perspectiva, o objetivo desta pesquisa foi proporcionar uma reflexão para
educadores e alunos sobre a importância da música no ambiente escolar, possibilitando uma
nova forma de conhecimento aos alunos, instigando que a música está além de ser uma forma
de expressão e entretenimento e pode ser uma possibilidade de adquirir saberes.
Apresentaremos como a música se faz presente no campo ou no “chão” da escola,
tentando desvelar que gênero musical é mais apreciado pelos alunos e professores e se há uma
relação entre a música e o processo educativo. Percebendo se a música regional sul
matogrossense sugere ou possibilita de alguma forma a exploração de conhecimentos
curriculares e desenvolve o interesse pelos valores e costumes locais. Relacionar a música não
apenas como um entretenimento, mas também como um meio de aprendizado extracurricular,
como facilitadora do processo de aprendizagem.
Esta pesquisa foi desenvolvida através de um questionário aplicado em seis (06)
alunos e suas professoras regentes, de duas (02) turmas do 5º ano, de duas (02) escolas
Estaduais do Município de Iguatemi, Mato Grosso do Sul. A metodologia adotada foi à
pesquisa qualitativa com auxílio da análise de conteúdo, que buscou compreender qual o
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De acordo com Pinto (2001 p. 39), quando se trata de ouvir e entender música, fala-se
da “percepção” musical. Entende-se como percepção o processo através do qual o ser humano
organiza e vivencia informações, estas basicamente de origem sensória, ou seja,
compreendidas no período da vida do ser humano que vai do nascimento aos dois anos de
idade. As principais aquisições do período sensório motor destacam-se a construção da noção
do "eu", através da qual a criança diferencia o mundo externo do seu próprio corpo.
Assim, “a música é uma organização sonora ligada à produção musical ou à dança, e
esta em conexão com outras formas de cultura expressiva, ela permeia momentos vividos
pelas pessoas, organiza calendários festivos e está inserida em manifestações tradicionais”
(PINTO, 2001, p. 222). Torna-se um produto de grande valor e comercialização nas mídias.
Dessa forma, de acordo com o autor:
[...] a música não é entendida apenas a partir de seus elementos estéticos, mas, em
primeiro lugar, como uma forma de comunicação que possui semelhante a qualquer
tipo de linguagem, seus próprios códigos. Música é manifestação de crenças, de
identidades, é universal quanto à sua existência e importância em qualquer que seja a
sociedade (PINTO, 2001, p. 223).
Mirah, Zé Paulo Medeiros, Cris Aflalo, Daniela Lasalvia, Kátya Teixeira, Lula Barbosa,
Oswaldinho Viana, Victor Batista etc.” e é incalculável o número de músicas produzido por
compositores locais ou apaixonado pela região, que trazem essa visão pantaneira.
conferindo ao estado a 21ª população. Possui uma área de 358.124,962 km²3. Mato Grosso do
Sul é um estado onde a pecuária é uma de suas riquezas, faz parte da cultura regional, como é
possível observar através da pesquisa realizada por Bittar (2009), citando a importância da
pecuária na história do Mato Grosso do Sul, na qual descreve a evolução partindo da classe
rural e a economia sul matogrossense de essência rural.
A seguir discutimos como a música pode ser inserida na escola, quais as propostas
apontam para educar através da música, seus benefícios e a lei que ampara o ensino da música
como conteúdo obrigatório escolar.
A música na escola
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Fonte Site História do Mato Grosso do Sul. Disponível em:
http://www.achetudoeregiao.com.br/MS/historia_mato_grosso_do_sul.htm. Acesso em: 18 set. 2012.
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[...] a relação das disciplinas que compõem um curso ou a relação dos assuntos que
constituem uma disciplina, no que ele coincide com o termo programa. Entretanto,
no âmbito dos especialistas nessa matéria tem prevalecido a tendência a se considerar
o currículo como sendo o conjunto das atividades (incluído o material físico e
humano a elas destinado) que se cumprem com vistas a determinado fim. Este pode
ser considerado o conceito ampliado de currículo, pois, no que toca à escola, abrange
todos os elementos a ela relacionados. Poderíamos dizer que, assim como o método
procura responder à pergunta: como se deve fazer para atingir determinado objetivo,
o currículo procura responder à pergunta: o que se deve fazer para atingir
determinado objetivo? Diz respeito, pois, ao conteúdo da educação e sua distribuição
no tempo e espaço que lhes são destinados.
Quando as professoras foram perguntadas sobre o que prevê o Currículo escolar sobre
a educação através da música, a professora da escola A relata que “foi implantado no
Currículo Escolar, mais está presente desde a Educação Infantil”. Para a professora da escola
B “a música é um processo de expressão e vivência do aluno, pois eles têm a oportunidade de
reconhecer as mais variadas formas de expressão artística”. Assim, pela descrição das
professoras podemos considerar que a música não deve ser necessariamente uma disciplina
exclusiva, ela pode integrar além do ensino de artes.
Loureiro (2004, p. 138) aponta os pontos significativos para que o ensino da música
na escola possa surgir efeitos desejados.
1) o que ensinar, para quê e para quem; 2) como ensinar, de modo a tornar a música
viva, seu conteúdo afinado com a realidade do aluno e o ensino prestigiado; e 3) quem
deve ensinar. Além da capacidade técnica e compreensão do fenômeno musical, a
flexibilidade por parte do professor é essencial, pois ser flexível é fundamental quando
da necessidade de tomada de decisões, permitindo críticas às metodologias e às
próprias práticas pedagógicas diante da cultura e da sociedade na qual irá atuar.
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Escola A:
Aluno 01: “Luan Santana, Michel Teló, Gustavo Lima, Teixeirinha”.
Aluno 02: “Michel Teló, sertanejo”.
Aluno 03: “Gabi Amarantos, Dança coduro”.
Escola B:
Aluno 01: “Sertanejo universitário”.
Aluno 02: “Sertanejo”.
Aluno 03: “Fernando e Sorocaba, sertanejo e Funk”.
É possível perceber que os alunos estão acostumados a ouvir música em seu dia a dia,
porém não possuem um conhecimento prévio musical, ou seja, “ouvem por ouvir”’ ou até
mesmo por estar na “moda”, não tiram proveito do que a música pode oferecer como base de
conhecimento. Provavelmente não sabem de onde vieram quem é o autor, quais
características, qual a história musical, qual o sentido da canção, o que o artista quis passar
através dela etc. Como podemos trabalhar a música com os alunos de maneira que se produza
uma cultura musical, possibilitando aos alunos que o conhecimento pela e através da música
leve a uma reflexão e a formação de um conceito cultural?
De acordo com Loureiro (2004, p. 138),
que elas são em si mesmas, sem outro objetivo senão o de relacionar-se com elas.
Abre-se aqui todo um campo para a educação artística que, portanto, deve integrar o
currículo das escolas. E, nesse âmbito, sobreleva, em meu entender, a educação
musical. Com efeito, a música é um tipo de arte com imenso potencial educativo já
que, a par de manifestações estéticas por excelência [...] apresenta-se como um dos
recursos mais eficazes na direção de uma educação voltada para o objetivo de se
atingir o desenvolvimento integral do ser humano.
Segundo Mello (2007) a introdução à música na escola, não é, e nem deve ser, apenas
como experiência estética4, mas também como facilitadora do processo de aprendizagem,
como instrumento para tornar a escola um lugar mais alegre e receptivo e, também, como
possibilidade de ampliar o conhecimento musical do aluno. Afinal, a música é um bem
cultural e seu conhecimento não deve ser privilégio de poucos.
A escola deve valorizar as diversas culturas musicais, estabelecendo relações entre à
música produzida na escola, às veiculadas pelas mídias e as que são produzidas
individualmente e/ou por grupos musicais da localidade e região, de forma que possa:
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Filosofia das belas-artes; ciência que trata do belo, na natureza e na arte; beleza física. SILVEIRA BUENO.
Minidicionário da língua portuguesa. v 02. São Paulo: FTD, 2007.
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De acordo com Ferreira (2007, p. 25), quando são propostos trabalhos com música as
disciplinas que mais se aproximam dela levarão certa vantagem, mas isso não impossibilita o
trabalho em outras disciplinas:
É importante que o professor leia e reflita sempre sobre aquilo que lê, pois um
trabalho proposto em uma disciplina que não aquela na qual é especialista poderá
inspirar-lhe novas ideias que sejam adequadas à sua área de atuação. Quanto a
educar, a ensinar outras disciplinas tendo o auxilio da música, é algo que pode ser
feito de muitas maneiras de acordo com a disciplina e com o assunto que se pretenda
abordar (FERREIRA, 2007 p. 25).
representante da música regional sul matogrossense. Esses alunos poderiam ter uma noção a
mais, se esse tema não fosse abordado apenas nas aulas de artes, mas sim, englobado nas aulas
de história, por exemplo, quando os alunos que estão no 5º ano do Ensino Fundamental têm
em seu planejamento conteúdos referentes à História do Mato Grosso do Sul.
Algumas considerações
O aluno pode interpretar e apreciar músicas do próprio meio sociocultural, que faz
parte do conhecimento musical construído pela humanidade no decorrer de sua história e nos
diferentes espaços geográficos, estabelecendo relações com as outras modalidades artísticas e
as demais áreas do conhecimento. Pode também usufruir da música no espaço escolar, a partir
da garantia legal que o ensino da música seja inserido nas escolas públicas, o incentivo à
diversidade musical e cultural do Brasil seja respeitado.
Assim, a música pode desenvolver a capacidade de construir o próprio conhecimento
sobre o universo o qual está inserido. A música não é somente uma associação de sons e
palavras, mas sim um rico instrumento que pode fazer a diferença, despertando no indivíduo o
prazer para a mente e para o corpo, facilitando a aprendizagem e também a socialização.
A música é uma facilitadora no processo de aprendizagem, seu uso em sala de aula
deve ser incentivado e possibilitado. Os professores devem reconhecer-se como sujeitos
mediadores desse processo educativo, levar em conta a importância da cultura na formação e
no desenvolvimento do indivíduo, para que possam se tornar seres produtores e reprodutores
de cultura. Dessa forma perceberão que possuem meios para criar, à sua maneira, situações de
aprendizagem que possibilitem às crianças a construção do conhecimento.
Referências
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BRASIL. Lei nº 11.769 de 18 de agosto de 2008. Altera a Lei nº 9394 de20 de dezembro de
1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da
música na educação básica. 2008. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/lei/L11769.htm Acesso em: 01
jan. 2012.
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (5ª a 8ª séries). Brasília: MEC 1998. Artes
116 p.
FERREIRA, M. Como usar a música na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2007.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2007.