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A MÚSICA SUL MATOGROSSENSE COMO FONTE PARA A EDUCAÇÃO

CULTURAL E HISTÓRICA

LARISSA WAYHS TREIN MONTIEL∗

Introdução

“A música oferece à alma uma verdadeira cultura íntima e deve fazer parte da
educação de um povo” (GUINZOT, 20121). Desta forma podemos salientar que a música
deveria estar presente na escola como uma possibilidade de aprendizagem e estímulo para a
criança. Este trabalho procura apresentar alguns questionamentos sobre o uso da música como
apoio ao trabalho pedagógico do professor e a possibilidade de seu uso no estudo em sala de
aula, discutindo como ela pode fazer parte da formação social da criança e quais as
possibilidades da escola ao utilizá-la como um recurso para a aprendizagem e a construção
cultural.

Esta discussão se pauta em como a música pode estar inserida no contexto escolar e de
que forma o conteúdo escolar e a cultura da música regional estão presentes nas disciplinas do
Ensino Fundamental, buscando evidenciar suas características e quais os métodos utilizados
para o ensino através da música em sala de aula, visto que a Lei nº 11.769, sancionada em 18
de agosto de 2008, determina que a música deva ser um conteúdo obrigatório, mas não
exclusivo do componente curricular em toda a Educação Básica, tendo como data limite para a
inclusão curricular o limite de três anos letivos a partir da aprovação da Lei. Assim, a data
limite seria o ano de 2012.


Professora do Centro de Educação Infantil da UFGD. Mestre em Educação pelo Programa de Pós-graduação da
Faculdade de Educação da UFGD.
1
Disponível em: http://pensador.uol.com.br/autor/francois_guizot/ Acesso em: 27 set. 2012.
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Podemos dizer que atualmente a música está, ou deveria estar presente na vida de
todos, principalmente na vida das crianças, que cada vez mais se interessam por ela. Desde
muito cedo, os pais costumam cantar para seus filhos, podendo ser quase impossível viver sem
que a música esteja presente no nosso cotidiano, pois no decorrer da vida e das etapas vividas
há a influência musical, na infância, na adolescência, na vida madura e na velhice. Durante a
vida mudam-se os ritmos, de acordo com as diferentes fases do desenvolvimento humano.
Assim, podemos dizer que a música é uma forma de expressão, ela nos conforta, pois muitas
vezes a escutamos quando estamos tristes, ou alegres, leva à reflexão, à indignação, ao
questionamento etc. Através da música interagimos uns com os outros e encontramos com o
outro, nos expressamos e somos compreendidos pelo outro.
Nessa perspectiva, o objetivo desta pesquisa foi proporcionar uma reflexão para
educadores e alunos sobre a importância da música no ambiente escolar, possibilitando uma
nova forma de conhecimento aos alunos, instigando que a música está além de ser uma forma
de expressão e entretenimento e pode ser uma possibilidade de adquirir saberes.
Apresentaremos como a música se faz presente no campo ou no “chão” da escola,
tentando desvelar que gênero musical é mais apreciado pelos alunos e professores e se há uma
relação entre a música e o processo educativo. Percebendo se a música regional sul
matogrossense sugere ou possibilita de alguma forma a exploração de conhecimentos
curriculares e desenvolve o interesse pelos valores e costumes locais. Relacionar a música não
apenas como um entretenimento, mas também como um meio de aprendizado extracurricular,
como facilitadora do processo de aprendizagem.
Esta pesquisa foi desenvolvida através de um questionário aplicado em seis (06)
alunos e suas professoras regentes, de duas (02) turmas do 5º ano, de duas (02) escolas
Estaduais do Município de Iguatemi, Mato Grosso do Sul. A metodologia adotada foi à
pesquisa qualitativa com auxílio da análise de conteúdo, que buscou compreender qual o
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conhecimento da música regional sul matogrossense e verificar como a música auxilia a


prática pedagógica em sala de aula.
Como registrado anteriormente, a pesquisa foi realizada com duas (02) escolas, sendo
assim as escolas serão denominadas “A” e “B” e serão representadas pelas respectivas
professoras regentes denominadas “professora da escola A” e “professora da escola B”. Os
alunos serão representados com a numeração de um (01) a seis (06), de acordo com cada
escola, totalizando as duas escolas em doze (12) alunos e duas (02) professoras.
De acordo com Rodrigues (2007, p. 32), a elaboração de um questionário é um
suporte necessário para explicar os porquês das relações identificadas na pesquisa quantitativa
e, nesse sentido, “[...] pode ser utilizado como único método, dependendo da natureza do
problema de pesquisa”. E, segundo Gil (2007, p. 229), “as questões podem se referir ao que as
pessoas sabem (fatos), ao que pensam, sentem ou preferem (crenças e atitudes) ou ao que
fazem (comportamentos)”.
A pesquisa foi realizada a partir de levantamentos bibliográficos, seguindo as ideias
de autores que escrevem sobre o tema; os questionários foram aplicados com data e horário
agendados, com alunos e educadores, já escolhidos de forma sistematizada, quando foram
levantadas questões relacionadas à temática tanto para os professores, sobre seus métodos e o
conhecimento que possuem sobre a cultura, se eles usam a música como um dos instrumentos
de ensino, quanto para os alunos, que também foram questionados tanto do conhecimento que
possuem sobre a música regional, quanto à proposta de aprendizado através dela. A análise
dos dados levantados e por fim a escrita do texto.
Esperamos com nossa pesquisa contribuir para despertar a curiosidade de alunos e
professores no interesse pela música regional e que, de alguma forma, possam incluí-la como
uma proposta de ensino extracurricular. E, também, mostrar que o professor pode usar a
música para ensinar, além de resgatar valores culturais auxiliando na formação do indivíduo.
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A música regional no contexto sul matogrossense

De acordo com Pinto (2001 p. 39), quando se trata de ouvir e entender música, fala-se
da “percepção” musical. Entende-se como percepção o processo através do qual o ser humano
organiza e vivencia informações, estas basicamente de origem sensória, ou seja,
compreendidas no período da vida do ser humano que vai do nascimento aos dois anos de
idade. As principais aquisições do período sensório motor destacam-se a construção da noção
do "eu", através da qual a criança diferencia o mundo externo do seu próprio corpo.
Assim, “a música é uma organização sonora ligada à produção musical ou à dança, e
esta em conexão com outras formas de cultura expressiva, ela permeia momentos vividos
pelas pessoas, organiza calendários festivos e está inserida em manifestações tradicionais”
(PINTO, 2001, p. 222). Torna-se um produto de grande valor e comercialização nas mídias.
Dessa forma, de acordo com o autor:

[...] a música não é entendida apenas a partir de seus elementos estéticos, mas, em
primeiro lugar, como uma forma de comunicação que possui semelhante a qualquer
tipo de linguagem, seus próprios códigos. Música é manifestação de crenças, de
identidades, é universal quanto à sua existência e importância em qualquer que seja a
sociedade (PINTO, 2001, p. 223).

Em nosso trabalho vamos entender a música em seu aspecto regional. Compreende-se


por música regional, as músicas que contenham instrumentos típicos, letras que falem de
acontecimentos e eventos da região, pode ser desde uma letra que, quem não estiver habituado
ou não conviva com tal realidade não compreenda o que está sendo cantado, ou,
simplesmente, use instrumentos e linguajar típicos de cada região.
A música sul matogrossense, de acordo com Regue (2010, p. 13) é retratada por
alguns autores regionais como “Paulo Simões, Alzira e Tetê Espíndola, Almir Sáter, Miriam
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Mirah, Zé Paulo Medeiros, Cris Aflalo, Daniela Lasalvia, Kátya Teixeira, Lula Barbosa,
Oswaldinho Viana, Victor Batista etc.” e é incalculável o número de músicas produzido por
compositores locais ou apaixonado pela região, que trazem essa visão pantaneira.

As músicas geralmente fazem críticas aos exploradores ilegais da flora ou da fauna


silvestre. Contudo não cantam apenas criticas, também descrevem as riquezas do
Pantanal como a fartura de seus rios, a beleza dos animais e da floresta que os abriga
e a vasta utilização de toda essa biodiversidade (REGUE, 2010, p. 16).

O interesse foi contextualizar a música regional do Mato Grosso do Sul, pois


acreditamos que neste estado às influências musicais são diversas, possibilitando uma grande
oportunidade e riqueza de conteúdo para as disciplinas curriculares nas escolas.
Assim, enfatizamos que nossa pesquisa se desenvolveu no município de Iguatemi,
Mato Grosso do Sul, região de fronteira com o Paraguai, com grande influência cultural do
país vizinho e sua formação indígena, que em seu nome representa em Guarani “lagoa verde”
ou em Tupi “fonte de água pequena”. O povoamento da região teve início com a Colônia
Militar de Iguatemi, destruída pelos espanhóis comandados por Dom Agostinho Fernandes de
Pinedo, governador do Paraguai em 1909, por iniciativa de Francisco Fernandes Filho, Miguel
Severo do Nascimento Gonçalves, Policarpo Nogueira e Bonifácio Fernandes, quando foram
lançados os alicerces de uma nova povoação. Iguatemi faz divisa ao norte com Juti e Naviraí,
ao leste com Itaquiraí e Eldorado, ao oeste com Amambai e Tacuru, e ao sul faz divisa com a
cidade de Japorã.2.
Mato Grosso do Sul é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Está localizado ao
sul da região Centro-Oeste. Tem como limite os estados de Goiás a nordeste, Minas Gerais a
leste, Mato Grosso (norte), Paraná (sul) e São Paulo (sudeste), além da Bolívia (oeste) e o
Paraguai (oeste e sul). Sua população estimada, em 2009, é de 2.360.498 habitantes,
2
Fonte Site Prefeitura de Iguatemi. Disponível em: < http://www.iguatemi.ms.gov.br/historia.htm. Acesso em:
18 set. 2012.
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conferindo ao estado a 21ª população. Possui uma área de 358.124,962 km²3. Mato Grosso do
Sul é um estado onde a pecuária é uma de suas riquezas, faz parte da cultura regional, como é
possível observar através da pesquisa realizada por Bittar (2009), citando a importância da
pecuária na história do Mato Grosso do Sul, na qual descreve a evolução partindo da classe
rural e a economia sul matogrossense de essência rural.
A seguir discutimos como a música pode ser inserida na escola, quais as propostas
apontam para educar através da música, seus benefícios e a lei que ampara o ensino da música
como conteúdo obrigatório escolar.

A música na escola

Podemos compreender a música como linguagem e forma de conhecimento. Ela está


constantemente presente no cotidiano, no rádio, na TV, em gravações, festas, eventos
culturais, por meio de brincadeiras, manifestações espontâneas e também no ambiente escolar,
tornando-se conteúdo obrigatório como determina a Lei nº 11. 769, de 18 de agosto de 2008,
que altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação,
para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica, que passa a
vigorar acrescido do seguinte texto em seu artigo 26, § 6º “a música deverá ser conteúdo
obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular de que trata o § 2º deste artigo”. Ou
seja, as escolas devem adequar-se a esse novo conteúdo implantado no currículo escolar.
Mas, o que podemos entender por currículo? Segundo Saviani (2000, p. 33), o
currículo é

3
Fonte Site História do Mato Grosso do Sul. Disponível em:
http://www.achetudoeregiao.com.br/MS/historia_mato_grosso_do_sul.htm. Acesso em: 18 set. 2012.
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[...] a relação das disciplinas que compõem um curso ou a relação dos assuntos que
constituem uma disciplina, no que ele coincide com o termo programa. Entretanto,
no âmbito dos especialistas nessa matéria tem prevalecido a tendência a se considerar
o currículo como sendo o conjunto das atividades (incluído o material físico e
humano a elas destinado) que se cumprem com vistas a determinado fim. Este pode
ser considerado o conceito ampliado de currículo, pois, no que toca à escola, abrange
todos os elementos a ela relacionados. Poderíamos dizer que, assim como o método
procura responder à pergunta: como se deve fazer para atingir determinado objetivo,
o currículo procura responder à pergunta: o que se deve fazer para atingir
determinado objetivo? Diz respeito, pois, ao conteúdo da educação e sua distribuição
no tempo e espaço que lhes são destinados.

Quando as professoras foram perguntadas sobre o que prevê o Currículo escolar sobre
a educação através da música, a professora da escola A relata que “foi implantado no
Currículo Escolar, mais está presente desde a Educação Infantil”. Para a professora da escola
B “a música é um processo de expressão e vivência do aluno, pois eles têm a oportunidade de
reconhecer as mais variadas formas de expressão artística”. Assim, pela descrição das
professoras podemos considerar que a música não deve ser necessariamente uma disciplina
exclusiva, ela pode integrar além do ensino de artes.
Loureiro (2004, p. 138) aponta os pontos significativos para que o ensino da música
na escola possa surgir efeitos desejados.

1) o que ensinar, para quê e para quem; 2) como ensinar, de modo a tornar a música
viva, seu conteúdo afinado com a realidade do aluno e o ensino prestigiado; e 3) quem
deve ensinar. Além da capacidade técnica e compreensão do fenômeno musical, a
flexibilidade por parte do professor é essencial, pois ser flexível é fundamental quando
da necessidade de tomada de decisões, permitindo críticas às metodologias e às
próprias práticas pedagógicas diante da cultura e da sociedade na qual irá atuar.
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Para isso, há a importância de entendermos “o que ensinar” através da música, quais


as possibilidades de aprendizagem que ela nos oferece, “para quê”, ou seja, qual a finalidade
de se transmitir conhecimento com o auxílio da música e, ainda, “para quem”, qual o público
que nós como educadores devemos atingir através dessa forma de aprendizado?
É necessário que a música se mantenha viva na memória, na história e no dia a dia
desses indivíduos de acordo com sua realidade, porém, não os privando de um novo
conhecimento a adquirir. A música não deve ser privilégio de poucos, mas fazer parte na
construção do conhecimento do indivíduo, além de lhes proporcionar diferentes reações
emocionais. E para isso é importante que o professor esteja sempre em busca de auxílio,
sempre reveja suas práticas pedagógicas, esteja atento às criticas construtivas e, além disso,
seja flexível no seu método de ensino.
A música como percebemos hoje, está presente apenas como auxílio para as aulas de
artes, ou em eventos educacionais em apresentações de danças e eventos musicais, mas sem
afins educativos. Porém, não é apenas o professor de artes que deve trabalhar com a música,
ela está aberta a outras matérias do currículo, podendo se adequar e auxiliar o professor no seu
dia a dia, sendo uma forma de despertar a atenção dos alunos para o que está sendo
transmitido.
Concordamos com Loureiro (2004, p. 137) ao ressaltar o uso da música no ambiente
escolar, dizendo que atualmente o que encontramos são escolas que se mostram “afônicas” e
como que contaminadas pelo “vírus” do som mecânico, alienadas pela música que toma conta
dos corredores e que, de modo massifico e inconsciente, penetra nos ouvidos dos alunos e de
quem quer que esteja no espaço escolar. Cabe aqui ressaltar, que ao perguntar aos alunos que
tipo de música costuma ouvir no seu dia a dia, foram citados muitos cantores e músicas que
estão na “moda”, se possamos assim dizer, como exemplo mais citado o sertanejo
universitário.
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Escola A:
Aluno 01: “Luan Santana, Michel Teló, Gustavo Lima, Teixeirinha”.
Aluno 02: “Michel Teló, sertanejo”.
Aluno 03: “Gabi Amarantos, Dança coduro”.
Escola B:
Aluno 01: “Sertanejo universitário”.
Aluno 02: “Sertanejo”.
Aluno 03: “Fernando e Sorocaba, sertanejo e Funk”.
É possível perceber que os alunos estão acostumados a ouvir música em seu dia a dia,
porém não possuem um conhecimento prévio musical, ou seja, “ouvem por ouvir”’ ou até
mesmo por estar na “moda”, não tiram proveito do que a música pode oferecer como base de
conhecimento. Provavelmente não sabem de onde vieram quem é o autor, quais
características, qual a história musical, qual o sentido da canção, o que o artista quis passar
através dela etc. Como podemos trabalhar a música com os alunos de maneira que se produza
uma cultura musical, possibilitando aos alunos que o conhecimento pela e através da música
leve a uma reflexão e a formação de um conceito cultural?
De acordo com Loureiro (2004, p. 138),

A escola como espaço de construção e reconstrução do conhecimento, pode surgir


como possibilidade de realizar um ensino de música que esteja ao alcance do todos.
A ousadia ficaria por conta de tentativas de democratizar o acesso à arte, de se
projetar nesta tarefa de renovação, reestruturação e, mais ainda, de apoiar as
atividades pedagógicas musicais, considerando-as qualitativamente significativas.

Para Saviani (2000, p. 40), a educação integral do homem deve ser,

[...] uma educação de caráter desinteressado que, além do conhecimento da natureza


e da cultura envolve as formas estéticas, a apreciação das coisas e das pessoas pelo
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que elas são em si mesmas, sem outro objetivo senão o de relacionar-se com elas.
Abre-se aqui todo um campo para a educação artística que, portanto, deve integrar o
currículo das escolas. E, nesse âmbito, sobreleva, em meu entender, a educação
musical. Com efeito, a música é um tipo de arte com imenso potencial educativo já
que, a par de manifestações estéticas por excelência [...] apresenta-se como um dos
recursos mais eficazes na direção de uma educação voltada para o objetivo de se
atingir o desenvolvimento integral do ser humano.

Segundo Mello (2007) a introdução à música na escola, não é, e nem deve ser, apenas
como experiência estética4, mas também como facilitadora do processo de aprendizagem,
como instrumento para tornar a escola um lugar mais alegre e receptivo e, também, como
possibilidade de ampliar o conhecimento musical do aluno. Afinal, a música é um bem
cultural e seu conhecimento não deve ser privilégio de poucos.
A escola deve valorizar as diversas culturas musicais, estabelecendo relações entre à
música produzida na escola, às veiculadas pelas mídias e as que são produzidas
individualmente e/ou por grupos musicais da localidade e região, de forma que possa:

[...] buscar enriquecer suas criações, interpretações musicais e momentos de


apreciação musical. Com este critério é possível avaliar se o aluno conhece a música
de seu meio sociocultural, bem como a transformação dela como produto cultural,
histórico e geográfico e reconhecem alguns estilos musicais de diferentes épocas,
sociedades, etnias, e respectivos valores, características e funções. Ao apreciar
músicas de diversas culturas e épocas, o aluno valoriza essa diversidade sem
preconceitos estéticos, étnicos, culturais e de gênero (BRASIL, 1998, p. 87).

Já que crianças no geral gostam de música, porque não proporcionar o aprendizado


através dela? Sendo assim, a obrigatoriedade do ensino através da música dá o livre arbítrio
para que professores possam proporcionar esse conhecimento aos alunos. Então, cabe às
escolas e ao professor por em prática, não deixando apenas para as aulas de artes, danças,
teatros e apresentações musicais, mas ir além, incluindo-a no aprendizado pedagógico diário.

4
Filosofia das belas-artes; ciência que trata do belo, na natureza e na arte; beleza física. SILVEIRA BUENO.
Minidicionário da língua portuguesa. v 02. São Paulo: FTD, 2007.
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Nesse sentido, Penna (1990, p. 80) considera que:

[...] o mais importante é que o professor, consciente de seus objetivos e dos


fundamentos de sua prática – onde a música deve ser encarada como uma produção e
um meio educativo para a formação mais ampla do indivíduo – assuma os riscos – a
dificuldade e a insegurança – de construir o seu caminho do dia-a-dia, em constante
reavaliação (PENNA, 1990, p. 80).

Ao perguntar às professoras regentes de que maneira a música pode ser trabalhada no


conteúdo escolar, obtivemos as seguintes respostas:
A professora da escola A relatou que “a música pode ser trabalhada de diversas
maneiras, auxiliando e despertando sentimentos, pois de acordo com a música escolhida você
pode trabalhar acalmando-os ou deixando-os agitados”, já a professora da escola B relatou que
“a música deve despertar o interesse das crianças, na criatividade e na sociabilidade, por isso
deve ser trabalhada em diversos momentos do cotidiano escolar”. Porém, ao perguntar aos
alunos das respectivas turmas como a música aparece na escola e de que forma, estes, sem
exceção responderam que aparece nas aulas de artes, na hora do recreio ou em eventos da
escola. Portanto, evidenciamos que não existe uma interdisciplinaridade da música com outras
disciplinas do cotidiano escolar. Essa questão fica visível nas respostas obtidas dos alunos:
Escola A:
Aluno 01: “Sim, às vezes na aula de artes e às vezes nos eventos”.
Aluno 02: “Nas aulas de artes e quando tem eventos na escola”.
Aluno 03: “No recreio”.
Escola B:
Aluno 01: “Aparece na hora do intervalo ou na aula de artes”.
Aluno 02: “Na hora do recreio, na aula de artes, e eventos na escola”.
Aluno 03: “Sim, na escola como Hino, aula de artes e eventos”.
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De acordo com Ferreira (2007, p. 25), quando são propostos trabalhos com música as
disciplinas que mais se aproximam dela levarão certa vantagem, mas isso não impossibilita o
trabalho em outras disciplinas:

É importante que o professor leia e reflita sempre sobre aquilo que lê, pois um
trabalho proposto em uma disciplina que não aquela na qual é especialista poderá
inspirar-lhe novas ideias que sejam adequadas à sua área de atuação. Quanto a
educar, a ensinar outras disciplinas tendo o auxilio da música, é algo que pode ser
feito de muitas maneiras de acordo com a disciplina e com o assunto que se pretenda
abordar (FERREIRA, 2007 p. 25).

A Lei nº 11.769 (BRASIL, 2008, p. 01) não especifica os conteúdos a serem


trabalhados, portanto as escolas terão autonomia para decidir como querem proporcionar o
contato com a música em cada instituição de ensino. E a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB), Lei nº. 9394/96 (BRASIL, 1996), no seu artigo nº 26 privilegia a
flexibilidade do ensino. Assim, acreditamos que nossa pesquisa pode se caracterizar como de
grande importância, visto que buscamos evidenciar como o ensino da música se concretiza na
realidade da escola.
Segundo Ferreira (2007, p. 25), “[...] educar e ensinar outras disciplinas tendo o
auxílio da música é algo que pode ser feito de muitas maneiras, por exemplo, com disciplinas
como artes, línguas, história, matemática, física, biologia, psicologia, sociologia, religião etc.”.
Trata-se de uma arte extremamente rica e que dispõe de farto e vasto repertório acessível em
qualquer lugar do nosso planeta.
Porém, não é o que ocorre na realidade escolar, a música fica apenas destinada às
aulas de artes. O professor regente não trabalha a música em outras matérias como o
português, história, geografia, matemática etc. Os alunos possuem a noção de música regional
como “música da região”, portanto não sabe citar nenhuma música e nenhum cantor
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representante da música regional sul matogrossense. Esses alunos poderiam ter uma noção a
mais, se esse tema não fosse abordado apenas nas aulas de artes, mas sim, englobado nas aulas
de história, por exemplo, quando os alunos que estão no 5º ano do Ensino Fundamental têm
em seu planejamento conteúdos referentes à História do Mato Grosso do Sul.

Algumas considerações

O aluno pode interpretar e apreciar músicas do próprio meio sociocultural, que faz
parte do conhecimento musical construído pela humanidade no decorrer de sua história e nos
diferentes espaços geográficos, estabelecendo relações com as outras modalidades artísticas e
as demais áreas do conhecimento. Pode também usufruir da música no espaço escolar, a partir
da garantia legal que o ensino da música seja inserido nas escolas públicas, o incentivo à
diversidade musical e cultural do Brasil seja respeitado.
Assim, a música pode desenvolver a capacidade de construir o próprio conhecimento
sobre o universo o qual está inserido. A música não é somente uma associação de sons e
palavras, mas sim um rico instrumento que pode fazer a diferença, despertando no indivíduo o
prazer para a mente e para o corpo, facilitando a aprendizagem e também a socialização.
A música é uma facilitadora no processo de aprendizagem, seu uso em sala de aula
deve ser incentivado e possibilitado. Os professores devem reconhecer-se como sujeitos
mediadores desse processo educativo, levar em conta a importância da cultura na formação e
no desenvolvimento do indivíduo, para que possam se tornar seres produtores e reprodutores
de cultura. Dessa forma perceberão que possuem meios para criar, à sua maneira, situações de
aprendizagem que possibilitem às crianças a construção do conhecimento.

Referências
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Educação. Estabelecem Diretrizes e Bases para a Educação Nacional. 1996. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/lei/L11769.htm. Acesso em: 01 jan.
2012.

BRASIL. Lei nº 11.769 de 18 de agosto de 2008. Altera a Lei nº 9394 de20 de dezembro de
1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da
música na educação básica. 2008. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/lei/L11769.htm Acesso em: 01
jan. 2012.

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (5ª a 8ª séries). Brasília: MEC 1998. Artes
116 p.

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divisionismo no sul de Mato Grosso. Campo Grande, MS: Ed.UFMS, 2009.

FERREIRA, M. Como usar a música na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2007.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

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Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 10, 65-74, mar. 2004.

MELLO, C. S. A Música como prática relevante na educação Infantil e anos Iniciais do


ensino Fundamental. Aquidauana, 2007. 32 p. Monografia (Graduação). Universidade
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PENNA, Maura. Reavaliações e buscas em musicalização. São Paulo: Loyola, 1990.

PINTO, T. O. Som e música: Questões de uma antropologia sonora. Revista de


Antropologia, São Paulo, USP, 2001, v. 44 nº 1.
15

RODRIGUES, W. C. Metodologia Científica. Paracambi, 2007. Disponível em:


http://professor.ucg.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/3922/material/Willian%20Costa%
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SAVIANI, D. A educação musical no contexto da relação entre currículo e sociedade. In:


ENCONTRO ANUAL DA ABEM, 9, 2000, Belém. Anais... Belém: ABEM, 2000. p. 33- 42.

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