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A eficácia da música no desenvolvimento cognitivo

ANA CAROLINA CASSIANO FERREIRA 1

MARCOS VINICIOS 2

RESUMO

Este artigo nasceu da necessidade de apresentar mais uma forma de trabalho eficaz
em sala de aula. É conhecido de todos que as atividades mais tradicionais, ainda
que pragmáticas, contribuem e muito para o entendimento dos jovens, porém deve-
se pensar em algo mais interessante, algo a mais com capacidade lúdica, que
desperte a atenção de todos em sala de aula. A música por sua vez, pouco utilizada
principalmente em solo brasileiro, encontra área fértil na mente dos jovens, pois abre
um leque de opções para a evolução cognitiva dos mesmos, utilizando rimas, ora um
conhecimento de mundo mais afinco, ora chamando às reflexões e despertando
compreensão a respeito de si mesmo e do outro. A música está presente em
cerimônias sociais, políticas, religiosas, sendo propriedade da cultura de qualquer
país. Isso traz reflexão da importância e do efeito que essa ferramenta produz onde
é inserida. É por esse ponto de vista que é possível criar conteúdo e atividades
interativas que leva o aluno a conhecer gêneros textuais, desenvolver aptidão pela
escrita, refletir sobre problemas sociais que as letras das músicas trazem, bem como
abordagem à oralidade, entendimento mais profundo de poesias, capacidade de
associar intertextualidade em vários segmentos, incluindo a arte como um todo.
Esse artigo apresenta a música no ambiente de aula, o que torna o aprendizado
mais leve, menos cansativo e prazeroso, trazendo dinâmica no processo cognitivo
do aluno.

Palavras-chave: música, aprendizado, aluno, ambiente, aula, processo, cognitivo,


reflexão.

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Aluna graduando em Letras, Português e Inglês e suas respectivas Literaturas
2
Aluno graduando em Letras, Português e Inglês e suas respectivas Literaturas
2

ABSTRACT

This article was born out of the need to present one more way of working effectively
in the classroom. Everyone knows that more traditional activities, even if they are
pragmatic, contribute a lot to the understanding of young people, but one must think
of something more interesting, something more with a playful capacity, which
awakens the attention of everyone in the classroom. Music, in turn, little used mainly
on Brazilian soil, finds a fertile area in the minds of young people, as it opens up a
range of options for their cognitive evolution, using rhymes, sometimes a deeper
knowledge of the world, sometimes calling for reflection and awakening
understanding about oneself and the other. Music is present in social, political,
religious ceremonies, being the property of the culture of any country. This brings
reflection on the importance and effect that this tool produces where it is inserted. It
is from this point of view that it is possible to create content and interactive activities
that lead the student to know textual genres, develop aptitude for writing, reflect on
social problems that the lyrics of the songs bring, as well as an approach to orality, a
deeper understanding of poetry, ability to associate intertextuality in various
segments, including art as a whole. This article presents music in the classroom
environment, which makes learning lighter, less tiring and enjoyable, bringing
dynamics to the student's cognitive process.

Keywords: music, learning, student, environment, class, process, cognitive,


reflection
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INTRODUÇÃO: A HUMANIDADE E A MÚSICA

Durante toda a história da humanidade, a música sempre esteve presente na cultura


dos povos, tanto em questões simples como lazer, entretenimento, como também
muito utilizada em guerras, com soldados anunciando entradas e saídas de pelotões
em batalhas, utilizando trompetes e cornetas, afim de trazer sofisticação e brilho até
mesmo nesses momentos.
A origem da música ainda não é bem defina. Podemos dizer que foi na Grécia que
nasceu nossa civilização. A música dos gregos vem da Mesopotâmia, Ásia Menor,
Egito - “As múltiplas reproduções em ânforas e a documentação literária na Ilíada e
na Odisséia de Homero (sec. VIII a.C) nos dá uma ideia mais exata da música”. (A
MÚSICA, 1993, p. 7).
Ainda segundo relatos de cientistas, ela está presente na humanidade em todos os
continentes nas mais diversas formas, como as manifestações ocorridas na
comunidade africana, pelos sofrimentos que já passavam, ou seja, desde sempre
percebemos que o ser humano insere a música no meio em que vive para inúmeras
finalidades, seja utilizando a voz, seja criando utensílios para tocar e emitir som.
Embora nem sempre seja feita com esse objetivo, a música pode ser considerada
como uma forma de arte, considerada por muitos como sua principal função. A
criação, a performance, o significado e até mesmo a definição de música variam de
acordo com a cultura e o contexto social, tendo sua era de origem, o Paleolítico, e as
formas eram erudita, popular, religiosa e folclórica, seus elementos artísticos eram a
melodia, harmonia e ritmo.

A influência que a música exerce sobre nós remete-nos evidentemente a seu poder sobre o corpo;
ela coloca o corpo em movimento, faz com que ele vibre de forma não comparável às outras artes; e
é o fato de estarem escritas em nosso corpo que dá tanta acuidade às emoções musicais; por seu
enraizamento psicológico, a própria música atinge uma espécie de existência corporal
(SNYDERS, 1994, p.85).

É necessário entender que o resgate do processo lúdico educativo, como a música,


jogos, brinquedos e brincadeiras, que já fazem parte do mundo da criança, estando
presentes na humanidade desde o seu início, é um passo importantíssimo no
processo de aprendizado. Vale salientar que o trabalho com a música não está
abandonando a seriedade e a importância dos conteúdos tradicionais que são
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apresentados à criança, mas as atividades lúdicas são indispensáveis para o


desenvolvimento sadio e para a percepção sensorial, imaginação, fantasia,
sentimentos e respeito uns pelos outros, a partir do conteúdo apresentado pelas
letras das músicas.
Por meio dessas atividades, a criança comunica-se consigo mesma, com o outro e
com o mundo, aceita a existência do diferente, estabelece relações sociais, constrói
arranha-céus de conhecimento, desenvolvendo-se integralmente.

[...] a persuasão e a eficiência da música no ensino não se questiona, mas,


além de tal técnica de ensino nunca ter sido formalizada, a não ser com
relação a alunos com algum tipo de deficiência, não devemos nunca
esquecer que a música, nem por sonho, restringe-se apenas a isso.
Trata-se de uma arte extremamente rica e dispõe de farto e vasto repertório
acessível em qualquer lugar do nosso planeta [...] (FERREIRA, 2010, p. 26).

Quando ligamos o rádio para ouvir música entre amigos, ou quando acionamos os
streamings de música como youtube, spotify, deezer, entre outros, o fazemos para
criar um ambiente, e melhor ainda quando entre amigos; numa festa, todos se
agitam e se movem suavemente acompanhando o ritmo e o som; quando a banda
toca o hino nacional; quando, na igreja os sons convidam os fiéis à meditação;
quando o refrão de uma música é feito de maneira a levar todo o grupo a participar
do canto... Em todos esses casos, e em muitos outros, a música funciona como
estímulos de comportamento, estímulos sensoriais, seja porque quem a dirige quer
induzir a fazer algo, seja porque nós mesmos queremos nos estimular a partir dela.

Tudo isso leva ao entendimento de que desde a infância somos estimulados à


música, a maneira como uma criança brinca ou desenha, reflete sua forma de
pensar e sentir. Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento
da identidade e da autonomia. Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver
algumas capacidades importantes, como a atenção, a imitação, a memória e a
imaginação. Para que as crianças possam exercer sua capacidade de criar é
imprescindível que haja riqueza e diversidade nas experiências que lhes são
oferecidas. E a música auxilia nesse processo tanto como um fundo apenas para
concentração como uma ferramenta de memória, imaginação, percepção e mais.
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EFEITOS MUSICAIS E QUESTÕES TÉCNICAS

A música é a expressão dos sentimentos, a manifestação artística de uma ideia, de


um conceito, de uma história, de uma reflexão. Para Simões (2006, p. 110) o
trabalho de análise de letras musicais é muito produtivo nas aulas de língua
portuguesa pois como as considerações sobre a fala e a escrita incluem a
dificuldade de operar com os fenômenos fônicos da língua (por conta de uma
tradição de ensino que os tornou totalmente antipáticos), temos podido explorar a
produção musical nacional (sobretudo a MPB) com vistas a descrever e documentar
a riqueza de nossa língua seja numa perspectiva histórica (diacrônica) ou sincrônica.
Estudar a música como gênero textual é imprescindível, pois é diferente dos outros
gêneros, pensando em “ressignificar” o estudo das línguas, das culturas, da
literatura e causando discussão das variações linguísticas também.

Segundo Bernárdez, (1982), o texto é uma unidade linguística que se comunica de


uma forma verbal com um caráter social, e está caracterizado numa evolução das
palavras com coerência profunda e superficial. A música tem a capacidade de
interagir com milhares de pessoas e causar efeitos distintos em cada uma delas, não
só representa uma realidade, mas torna-se também uma variação linguística da fala.
Seu aspecto comunicacional é resultado de linguagem conceitual, ou seja, ela se
constitui como signo, já que não possui todas as características estruturais como
código, gramáticas, vocabulário, enfim: as partes constantes da linguagem. Sendo
assim, o aspecto emotivo é mais forte que o aspecto comunicacional, e por ser
caracterizada como linguagem simbólica, quase sempre está carregada de sentido e
de significado em seus versos.

Quando proposto trabalhos para serem desenvolvidos com a música em sala de


aula, é óbvio que as disciplinas que têm mais proximidade com ela, com os sons,
levarão certa vantagem na facilidade de aplicação e desenvolvimento dos trabalhos
em relação a outras, mas isso não denota impossibilidades para disciplinas menos
afinadas com a música. É importante que o professor leia e reflita sempre sobre
aquilo que lê, pois, um trabalho proposto em uma disciplina que não é especialista,
pode trazer alguma inspiração e novas ideias para a área que se quer atuar.
Existem poucos livros em língua portuguesa, que se proponham a discutir a
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questão da utilização da música na escola tradicional como subsídio para o


aprendizado escolar de disciplinas diversas, aqui se faz um apelo para a criatividade
dos novos professores e mais antigos para uma reformulação nas atividades.

Com a velocidade que a informação está correndo, o ensino tradicional precisa de


elementos que prendam a atenção dos alunos, pois hoje em dia, praticamente todos
têm acesso com muita facilidade a tudo que querem por meio da internet, isso torna
a vida do professor um tanto mais difícil, pois é necessário algo muito interessante
para fazê-los imergir em um assunto/conteúdo que se quer apresentar. Algo que
possibilite a interação do grupo com o tema proposto e que desperte a imaginação,
o processo criativo dos alunos, criando uma ponte entre o novo conhecimento e o
que já se tem.
Para fazer um bom uso das músicas em sala de aula é necessário que o professor
conheça o contexto em que foram escritas, para assim poder trabalhar um
determinado tema; é necessário haver um debate sobre o conteúdo da canção e a
relação com o cotidiano dos alunos, contribuindo assim para o processo de
construção do conhecimento. Se é uma aula de literatura, temos a intertextualidade
fazendo-os refletir sobre a ligação social/cultural/política entre uma história e uma
música. Como exemplo podemos usar a música de Roo Panes, Ophelia, que é
voltada inteiramente a história de Hamlet. Fica mais interessante ainda se formos
utilizá-la em um contexto de literatura da Língua Inglesa por exemplo.

Deve se ter em mente que todas as composições estão inseridas em uma atmosfera
ideológica. Além disso, as letras e melodias musicais expressam reações,
sentimentos e pensamentos de quem as compõem, características de determinado
período da história da sociedade - uma prova disso são as músicas:
Caminhando/Pra não dizer que não falei de flores (Geraldo Vandré), Construção
(Chico Buarque), as diversas músicas de Gabriel, O pensador. Qualquer grupo
humano necessita dispor de símbolos que expressem seus valores. Essas
dimensões podem e devem ser aproveitadas pelo professor com o objetivo de
despertar em seu aluno a consciência crítica e a sensibilidade à música. Isso é
extremamente necessário nos dias de hoje, o professor deve enfatizar que a música
exerce um papel de influência no meio da sociedade pois são pensamentos e
ideologias de artistas e compositores, que nem sempre são positivos, isso é um
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incentivo ao aluno a pensar na qualidade do que está sendo exposto, se é relevante,


se é necessário, se é positivo, isso traz ao aluno o poder crítico avaliador, para que
não sejam apenas consumidores de um produto qualquer.
Para crianças, a música pode ser utilizada para estimular a memória, para
discernimento de sons, coordenação motora, para percepção das emoções e
inclusive para terapias, segundo Augusto Cury (2003, p. 122), “os efeitos da música
ambiente em sala de aula são espetaculares. Relaxam os mestres e animam os
alunos. Os jovens amam músicas agitadas porque seus pensamentos e emoções
são agitados. Mas depois de ouvir, durante seis meses, músicas tranquilas, a
emoção deles é treinada e estabilizada. ”
O professor pode usar a música O sítio do seu Lobato e colocar 4 símbolos na
mesa: um triângulo, um círculo, dois quadrados. Durante a música o professor irá
conduzir o aluno, no ritmo da música, a apertar os símbolos na mesa conforme o
ritmo que ele mesmo vai instruir. O resultado é fantástico, a repetição dessas
pequenas atividades traz ao aluno, leveza, coordenação, interação com a música e
aprende ainda a identificar as formas geométricas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio da arte não produzimos apenas textos avulsos sobre temas variados, nós
podemos ir além na criatividade, a arte é um tipo particular de narrativa sobre o ser
humano, sintetiza visões de mundo de cada época e cultura. A arte é diacrônica e
sincrônica, o que nos permite usá-la de todas as formas para os mais níveis de
aprendizado, pois a educação nunca é neutra. Segundo os parâmetros curriculares
nacionais (2006) é necessário reforçar a herança estética e artística dos alunos de
acordo com seu meio ambiente, para que desenvolvam competências em múltiplos
sistemas de percepção, avaliação e prática da arte. Valoriza-se, assim, o repertório
do aluno, especialmente dos jovens em contato com as mídias, observando seu
modo de vestir, seus ritos, suas falas e gestos, preferências esportivas e musicais.
A identificação com o hip-hop pode ser dada como exemplo desses ritos na esfera
urbana, com suas manifestações como grafite, esportes, danças de rua, etc.
A identificação com o rock pode ser dada também como exemplo desses ritos na
esfera urbana, com suas vestimentas pretas, motocicletas clássicas, tatuagens,
paixão por instrumentos de corda e reverberados.
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E o desafio ao se ensinar uma língua é unir a aprendizagem à emoção e abrir


caminhos para explorar o prazer de aprender. Essa conexão é uma tentativa de
integrar o domínio cognitivo e o afetivo.
O acolhimento do professor com o tema proposto é trivial para que a interação
ocorra de maneira leve, isso dá a oportunidade de usar outros materiais que não
sejam apenas os livros didáticos, isso traz também uma liberdade e aproximação
com a realidade dos alunos. A música em sala não deve ter seu fim apenas na
reflexão, mas no prazer, na apreciação e nos sentidos, na sua construção; tudo vai
depender da criatividade e do envolvimento do professor.
A Língua Portuguesa nos traz oportunidades de desenvolvimento, e todas as etapas
exigem ferramentas diferentes e a música já provou que é capaz de ensinar muito
com tantas facetas existentes, basta inseri-la com entendimento.

REFERÊNCIAS

SNYDERS, Georges. A escola pode ensinar as alegrias da música? Trad. Maria


José do A. Ferreira. São Paulo: 2. ed. Cortez, 1994.

https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/1/musica-um-genero-facilitador-
para-o-ensino-de-lingua-portuguesa

A MÚSICA: Instrumentos musicais e história da música. Lisboa: Forma, 1993.

FERREIRA, C. A. Os olhares de futuros professores sobre a metodologia de


trabalho. Educar em Revista, Curitiba, 2013.

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