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NATAL – RN
2021
ANIELLE BARBOSA DA SILVA
NATAL – RN
2021
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas -
CCSA
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________
Prof.ª Dra. Maria Celia Correia Nicolau
Orientadora
__________________________________________________
Prof.ª Dra. Tássia Monte Santos
Membro Interno
__________________________________________________
Assistente Social/Supervisora: Renata Lorena Ferreira Penha CRESS/RN 5125
Membro Externo
AGRADECIMENTOS
INTRODUÇÃO
1
A relativa autonomia do assistente social refere-se ao fato da profissão se enquadrar na divisão social
do trabalho, dependente de um salário e de um contrato, seja com o Estado ou uma instituição privada.
Não possui total autonomia e está sujeita a condições pré-definidas pelo órgão contratante. Ao mesmo
tempo são considerados como “agentes especializados” por possuírem um Código de Ética e uma
liberdade de atuação/intervenção mesmo que minimamente delimitada. (IAMAMOTO, 2014).
10
2
De acordo com Guerra (2005b, p 103) “Por práxis entendemos o conjunto das objetivações humanas
por meio das quais os homens realizam-se enquanto seres humanogenéricos, objetivações estas que
não se reduzem ao trabalho. Entretanto é por meio deste que o ser social se constitui se expressa, se
desenvolve, cria e recria relações sociais”. Entretanto para maiores detalhamento e uma perspectiva
crítica e constitutiva do assunto, consultar: GUERRA, Yolanda. No que sustenta a falácia de que ' na
prática a teoria é outra?' in 2º Seminário do Estado e Política Social no Brasil. Campus de Cascavel.
UNIOLESTE. 2005. disponível em: http://cac-php.unioeste.br/projetos/apps/midia/seminário2/trabalhos
/serviçosocial/mss20/pdf. Acesso em 05 de maio de 2013.
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Os editais ofertam vagas para inclusão nos programas de assistência aos estudantes aprovados pela
Resolução nº 169/2008-CONSEPE, de 2 de Dezembro de 2008, são eles: programa bolsa residência;
auxílio alimentação; auxílio transporte; auxílio óculos; auxílio creche; auxílio atleta; bolsa de apoio à pós-
graduação e bolsa PROMISAES - Projeto Milton Santos De Acesso Ao Ensino Superior (para auxílio do
aluno estrangeiro.
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“Na trajetória histórica da profissão, os influxos do pragmatismo deixaram suas marcas: na concepção
de profissão como instrumento a serviço do projeto do capital, na concepção de prática de ajuda
psicossocial, no seu enfoque no sujeito, na sua função educativa visando adaptação e ajustamento, na
sua fissura pelas técnicas, instrumentos e metodologias de ação, no profundo ecletismo, no desprezo
pelos fundamentos. O pragmatismo expressa-se, sobretudo, como caracterização do que Netto (1990,
p. 117) chamou de Serviço Social tradicional: “a prática empirista, reiterativa, paliativa e burocrática”.
(GUERRA, 2013, p46).
5
Conforme Guerra (2013, p47) “O cotidiano, como espaço que sintetiza os fundamentos ontológicos da
vida social, exige a atitude pragmática para a reprodução individual e social, mas também permite que
se reflita sobre que determinações e necessidades exigem a atitude pragmática para a sua reprodução.
No que toca à profissão, são os princípios que a orientam, expostos no seu marco regulatório (código
de ética, lei de regulamentação e diretrizes curriculares) que formulam as bases para uma clara e
contundente recusa da atitude pragmática e do senso comum que a acompanha.
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De uma ação imediatista e pragmática, Segundo Guerra(...) podemos considerar que a atitude
pragmática é característica própria da unidade imediata entre teoria e práxis. A supressão das
mediações teóricas e ideopolíticas, própria da apreensão da realidade na imediaticidade do cotidiano,
leva a uma apropriação da realidade como carente de mediações. A abstração das mediações como
resultado de uma apreensão da realidade na sua imediaticidade é o procedimento da consciência
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comum, própria do cotidiano, que não questiona a gênese e não alcança a apreensão dos fundamentos”
(2013, p41)
7
As Diretrizes Curriculares da ABEPSS é uma proposta construída ao longo dos anos e com base nos
debates ocorridos no “Congresso da virada” de 1979 que foi o III Congresso Brasileiro de Assistentes
Sociais (CBAS) junto com a “construção das bases para o currículo mínimo” em 1982. As diretrizes
desenha um perfil profissional do(a) Assistente Social, capacitando-o(a) dentro da formação teórico-
metodológica, ético-política e técnico-operativa, com intuito de atingir uma leitura teórico-crítica da
realidade.
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Segundo Guerra (2009, p.1), Condições objetivas “são aquelas relativas à produção material da
sociedade, são condições postas na realidade material. Por exemplo: a divisão do trabalho, a
propriedade dos meios de produção, a conjuntura, os objetos e os campos de intervenção, os espaços
sociocupacionais, as relações e condições materiais de trabalho. Condições subjetivas são as
relativas aos sujeitos, às suas escolhas, ao grau de qualificação e competência, ao seu preparo técnico
e teórico-metodológico, aos referenciais teóricos, metodológicos, éticos e políticos utilizados, dentre
outras”. http://www.cedeps.com.br/wp-content/uploads/2009/06/Yolanda-Guerra.pdf.
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Ver a propósito estudos de GUERRA que vêm aprofundando essa temática. Instrumentalidade do
processo de trabalho e Serviço Social. Revista Serviço Social e Sociedade n. 62, São Paulo 2000. As
dimensões da prática profissional e a possibilidade de reconstrução crítica das demandas
contemporâneas. Libertas, Juiz de Fora, 2002. As dimensões da prática profissional e a possibilidade
de reconstrução crítica das demandas contemporâneas. IN: Libertas – Revista do Serviço Social.
Universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Serviço Social, Juiz de Fora, 2005. O Projeto
Profissional Crítico: estratégia de enfrentamento das condições contemporâneas da prática profissional.
Revista Serviço Social e Sociedade n. 91, São Paulo: Cortez, 2007.A formação profissional frente aos
desafios da intervenção e das atuais configurações do ensino público, privado e à distância. Revista
Serviço Social e Sociedade n. 104. São Paulo: Cortez, 2010. A dimensão técnico-operativa no Serviço
Social: desafios contemporâneos. 2012. As dimensões da prática profissional e a possibilidade de
reconstrução crítica das demandas contemporâneas. Libertas, Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2002ª.
Disponível em: < http://www.ufjf.br/revistalibertas/edicoes-anteriores/volume-2-numero-2-e-volume-3-
numeros-1-e-2/>. Acesso em: 20 mar. 2013. A dimensão técnico-operativa do exercício profissional. In:
Santos, Claudia Monica; Backx, Sheila; Guerra Yolanda. (Org.). A dimensão técnico-operativa no
Serviço Social: desafios contemporâneos. 3a.ed.São Paulo: Cortez Editora, 2016. A dimensão técnico-
operativa do exercício profissional. In: SANTOS, Cláudia Mônica dos; BACKX, Sheila; GUERRA,
Yolanda (Orgs.). 3. Ed. São Paulo: Cortez, 2017. p. 49-75.
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iniciativas de proteção social ganham destaque a partir do século XX, porém, elas
somente atendiam trabalhadores ativos e possuíam um caráter compensatório,
funcionando na tentativa de amenizar os males gerados pela pobreza e desigualdade.
O espaço das políticas sociais irá se delinear a partir dos anos de 1970 com o avanço
do neoliberalismo e a consequente redução do papel do Estado na economia e no
mercado de trabalho. Na década de 1980 é visível o poder por parte dos movimentos
sociais e das lutas populares pela garantia de direitos, o que possibilitou a construção
da Constituição Cidadã, a Constituição Federal Brasileira de 1988, que tem como
fundamentos a equidade social e os direitos universais.
trabalhadora e pela sua luta por melhores condições de formação. Hoje, devido aos
rebatimentos do capital e da sociedade em que estamos inseridos, a política
educacional possui marcas das inversões presentes na reprodução do sistema
capitalista, observando-se um processo de expansão das formas de acesso e
permanência nos diferentes níveis e modalidades educacionais.
10
Ver, a propósito, Cadernos ABESS n.º 7 (1996, p.58-76) e Iamamoto (1998a, p.50).
11
A concretização do processo de abertura e de redemocratização do país, a partir de 1979, coloca em
prática, entre outras medidas: a anistia política a todos os presos políticos; a extinção do bipartidarismo
(ARENA e PMDB), possibilitando o surgimento do pluripartidarismo (PDS, PMDB, PTB e PT); a extinção
do ‘senador biônico’ e a promessa de eleições diretas para governadores de estados, em 1982,
acompanhado de um pacote eleitoral de vinculação de voto. Na concepção do poder político, a liberação
dos partidos, exceto o Partido Comunista, assim como as outras medidas, deveriam refletir o início do
processo de democratização, não obstante objetivasse, de forma implícita, dividir a oposição de modo
a evitar que o governo sofresse derrota, tal como acontecera em 1974 e se repetiu em 1978. Tratava-
se de uma liberação planejada e controlada, mantendo-se sob o jugo e os parâmetros do governo
autocrático burguês.
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Trata-se de uma crise atual que atinge aos países capitalistas centrais a partir do ano de 1973 do
século XX, decorrente não apenas de acontecimentos da conjuntura, como “o desmoronamento do
sistema de Bretton Woods ou ainda da alta do preço de petróleo no mercado internacional, ou mesmo
as lutas operárias e sindicais” (ALVES, 1998, p. 114), mas, também, de um movimento decorrente da
própria lógica do capital, com a nova crise de valorização do capital.
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O neoliberalismo surge após a II Guerra Mundial, na Europa e na América do Norte, regiões do
capitalismo avançado, tendo como representante Friedric Hayek, conforme Anderson (1995) “foi uma
reação teórica e política veemente contra o Estado intervencionista e de bem –estar”. (1995, p. 09) .
Uma ideologia de caráter conservador e dimensão globalizada, orientada pelo Consenso de
Washington. Uma orientação político-ideológica do capitalismo internacional de abrangência mundial,
como alternativa em substituição ao WelfareState, sendo exemplos o governo de Margareth Thatcher
na Inglaterra e Ronald Reagan, nos Estados Unidos. Ver Anderson (1996), Oliveira (1996)
Antunes(1999).
14
“Na prática, esse processo de reforma do Estado afetou a população brasileira e ocasionou grandes
consequências, como: privatização das estatais, redução do papel do Estado, saneamento da dívida
pública, desregulamentação do mercado de trabalho e minimização das políticas sociais através de
cortes nos gastos sociais. (PRÉDES, 2011).
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O neoliberalismo surge após a II Guerra Mundial, na Europa e na América do Norte, regiões do
capitalismo avançado, tendo como representante Friedric Hayek, conforme Anderson (1995) “foi uma
reação teórica e política veemente contra o Estado intervencionista e de bem –estar”. (1995, p. 09).
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estudante para que o mesmo tenha êxito em sua graduação, como foi já relatado
anteriormente.
Vale destacar que na educação superior, a assistência estudantil se expressa
como agente mobilizador de recursos para garantir a trajetória dos estudantes no
processo de formação profissional, igualmente a todos os segmentos sociais.
Seguindo essa mesma linha de pensamento, Vasconcelos apud Lopes (2010, p. 406)
afirma que:
A assistência estudantil, enquanto mecanismo de direito social, tem como
finalidade prover os recursos necessários para transposição dos obstáculos e
superação dos impedimentos ao bom desempenho acadêmico, permitindo
que o estudante desenvolva-se perfeitamente bem durante a graduação e
obtenha um bom desempenho curricular, minimizando, dessa forma, o
percentual de abandono e de trancamento de matricula.
relações sociais que o Assistente Social consegue refletir acerca das demandas
trazidas pelos usuários, sejam elas as que se enquadram dentro dos critérios dos
editais ou aquelas que surgem através da sondagem, investigação e observação
durante o momento da entrevista.
A dimensão teórico-metodológica capacita o(a) Assistente Social, através de
uma visão macro, e lhe permite compreender as singularidades dos sujeitos usuários
de seus serviços, na particularidade do processo interventivo. Ressaltamos que a visão
de totalidade como componente do processo formativo do profissional facilita o
entendimento do contexto das condições objetivas e subjetivas de cada estudante e
as razões que o levou até ao programa. Contudo, para uma intervenção social, apenas
a dimensão teórica não é insuficiente (embora fundamental), visto que é preciso um
posicionamento político que impacte as tensões que o Estado gera pela supremacia
da ideologia dominante e da própria limitação de recursos das instituições. Atrela-se a
esse posicionamento político, a capacidade de assumir uma postura crítica, assim
como, o bom entendimento das lutas sociais e as reivindicações apresentadas ao
longo da história, além do próprio reconhecimento de classe e da direção do projeto
ético político do Serviço Social.
A dimensão teórico-metodológica colabora na capacidade de perceber e
apreender as demandas trazidas pelos usuários, as quais se enquadram no campo
das necessidades básicas e essenciais para a permanência dos mesmos na
universidade, considerando todo o quadro social e a historicização do sujeito, enquanto
parte da sociedade afetada pela supremacia capitalista, em detrimento do custeio da
política de Assistência Estudantil com os efeitos trazidas por ela. A dimensão ético-
político, articulada a este conhecimento, dá um norte de como agir e fundamenta uma
competência ético-política
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Para Heller (2013, p.4),o cotidiano é a junção das vivencias e o ser social que as vive. O cotidiano ou
cotidianidade não é o mesmo que a rotina do dia a dia, pois essa seria a repetição de ações sem um
pensamento consciente sobre elas, já o conceito de cotidiano trazido aqui fala “sobre “a vida em sua
justaposição, numa “sucessão aparentemente caótica” dos fatos, acontecimentos, objetos, substâncias,
fenômenos, implementos, relações sociais, história e assim por diante”. (HELLER, 2013, p.4).
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restringir a um espaço específico de análise, e sim que esta seja permeada por todas
as “tramas das relações sociais”, para, a partir deste entrelaçamento, construir e propor
uma ação que compreenda a complexidade da realidade concreta. Ou seja, que
compreenda as multiplicidades da realidade distinguindo-as entre a realidade objetiva,
que existe independente das crenças individuais e a realidade subjetiva que é
inteiramente criada a partir de quem a pensa. Nesse sentido, não cabe ao profissional
interpretar a realidade de forma subjetiva, visto que a realidade concreta existe antes
de sua construção individual e não pode ser descartada por um ponto de vista.
É por meio dessa visão ampliada do que é a realidade e como é construída a
sociabilidade dos indivíduos nela inserida, que o assistente social traça sua leitura
sobre a situação apresentada pelos sujeitos que chegam às suas salas de
atendimentos solicitando auxílio e inclusão nas políticas assistenciais. Daí, então,
operacionaliza suas ações, assumindo seu papel de mediador na medida em que
estuda, investiga, analisa e delimita as formas de atuar, as quais
não são uniformes nem padronizadas, visto que a própria realidade não segue um
modelo fixo e imutável. E, de acordo com cada análise de um caso realizada que o
assistente social consegue escolher as melhores ferramentas para intervenção. Para
Torres, os assistentes sociais.
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A “heterogeneidade” diz sobre a diversidade das demandas e a necessidade da plena atenção sobre
elas; a “espontaneidade” é a apropriação natural dos modos, comportamentos e costumes da
sociedade; a “imediaticidade” é a respostas imediatistas dadas às demandas e, por fim, a
“superficialidade” é a forma que as demandas do cotidiano são tratadas, ou seja, devido a imediaticidade
de tais as respostas não têm aprofundamento. (GERRA, 2017, p. 54).
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Para estabelecer o que, por que, quando, onde e como e para que fazer
concomitante à sua intervenção, o assistente social tem que conhecer o mais
aproximadamente possível a realidade social na qual atua, de maneira
continua, provisória, aproximativa e histórica, para o que tem que desenvolver
sua dimensão intelectual (GUERRA, 2003, p. 15).
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Entende-se aqui como escuta qualificada a atenção ao diálogo realizado com o estudante que chega
ao serviço social para realizar a entrevista, seja por meio dos editais ou em qualquer momento do
decorrer de sua formação, expondo sua vulnerabilidade a fim de ser compreendido e atendido no que
tange às suas necessidades. Por meio desse diálogo o profissional deve ater sua atenção ao discurso
trazido pelo usuário para identificar a realidade e conseguir conduzir questionamentos que tragam mais
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momento da entrevista, por vezes feita de forma breve, uma vez que esta sofre os
efeitos da rotina institucional e da própria demanda por atendimentos, corresponde a
chance do assistente social fazer uso da capacidade de observação para identificar,
muitas vezes, demandas não expostas abertamente pelo usuário. É, também, no
momento da entrevista que o assistente social se aproxima melhor das informações e
do entendimento necessário, à luz das reflexões teóricas, dos limites e possibilidades
da realidade de cada usuário e de como se ordenará sua prática interventiva. O
assistente social, quando observa e entrevista, ele articula saberes diversos, recria-os
e constrói um “fazer” “socialmente produzido e culturalmente compartilhado com outros
atos teleológicos dos profissionais” envolvidos, resultando “na criação/renovação de
novos modos de ser da cultura profissional”. Efetivamente, ele articula de forma
objetiva, “os meios disponíveis e instrumentos de trabalho” na materialização dos
objetivos referenciados em valores políticos e humanos (MOTA, 2003, p.11).
Importante ressaltar que para o Serviço Social as mudanças na realidade
subjetiva e objetiva de cada sujeito, não se dá por meio de uma prática unilateral de
sentido impositivo. O assistente social constrói sua forma de intervir em uma realidade,
por meio das trocas na relação direta com os sujeitos que buscam e necessitam das
políticas sociais, bem como da relação com os outros profissionais que fazem parte de
uma equipe multiprofissional. Para Prates,
detalhes e que colaborem com uma análise precisa, para que assim esse estudante possa ser orientado
e encaminhado de forma correta na garantia de direitos. (GESUAS,2017).
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Segundo Pereira e Souza (2017, p. 75-78), a política de Assistência Estudantil contribui positivamente
quando é vista como um direito e não mera ajuda ou benemérito social, tornando-se política pública ao
ser pensada e colocada em prática para não ser fomentadora de mecanismos que reforcem dicotomias
entre assistência social e educação. As autoras compartilham do paradigma que compreende a
assistência social na perspectiva dos direitos e, portanto, pela sua coparticipação no processo de
universalização e democratização da Política de Educação. Neste sentido, a Educação cumpre o seu
papel transformador, sem concessões às demandas meritocráticas impostas pela lógica mercantil
(apud, SANTOS; ABRANTES; ZONTA.2021, p215)
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necessidades dos alunos, utilizando a sua força de trabalho nas mediações das
demandas trazidas pelos estudantes. As mediações ocorrem por meio dos programas
oferecidos numa prestação de serviço ao estudante, tendo presente a realidade
socioeconômica dos sujeitos e dos parâmetros instrucionais colocados como viáveis
para inserção. Isso para que tornasse possível responder as diferentes expressões da
questão social que chegam através mediante as situações de vulnerabilidade social
que interferem diretamente no rendimento acadêmico dos alunos, assim como a
permanência.
O Serviço Social da UFRN centraliza suas atividades na CAPAP e, entre 2017
e 2018, era constituída por uma equipe de 06 (seis) assistentes sociais, além de outros
profissionais e bolsistas. Número considerado insuficiente em relação a demanda,
principalmente no período de realização da seleção dos alunos para os programas e
auxílios. Para desenvolver suas atividades, a Coordenadoria de Apoio Pedagógico e
Ações de Permanência baseia suas ações nas legislações que regulamentam o ensino
superior brasileiro, como a Lei de Diretrizes de Base da Educação, a Política Nacional
da Educação, a Política Nacional de Assistência ao Estudante e nas resoluções
internas de regulamentação da assistência estudantil, pelas quais são originados os
programas e projetos direcionados aos estudantes da UFRN. Assim, segundo os
objetivos estabelecidos na PNAES e, executados pela assistência estudantil, é
intenção: 1) democratizar as condições de permanência dos jovens na educação
superior pública federal; 2) minimizar os efeitos das desigualdades sociais e regionais
na permanência e conclusão da educação superior; 3) reduzir as taxas de retenção e
evasão; 4) contribuir para a promoção da inclusão social pela educação. (BRASIL,
2010).
Dessa forma, a atuação do Assistente Social neste campo se torna de
fundamental importância, uma vez que é o profissional que mediatiza e encaminha os
serviços dessa Política, sobretudo, porque cabe ao assistente social fazer as entrevista
da entrevista. Nessa mediação para o acesso a assistência estudantil, cabe ao
assistente social estabelecer o primeiro contato para orientação e inserção dos alunos
nos programas que auxiliam na permanência. Esse contato se operacionaliza por meio
dos instrumentais utilizados pelos profissionais de Serviço Social, no caso, a
entrevista, um dos principais instrumentos. Com o recurso da entrevista social torna
possível ao profissional identificar novas demandas, até mesmo aquelas que não se
encaixam nas competências do assistente social respondê-las, ocorrendo assim, um
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20
Trata-se aqui da correlação de forças entre os interesses da instituição, que preza uma política de
redução de custos nos gastos com a assistência e o interesse do serviço social em democratizar e
ampliar o acesso aos direitos.
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Durante a pandemia de Covid a renda média dos brasileiros reduziu da média de R$ 1.200,00 para
R$ 995,00; O bem-estar social também teve seus índices alterados, no que trata prosperidade e
igualdade, teve uma queda de 19,4%. “O índice de Gini, usado para avaliar a distribuição de riquezas
de determinado lugar, passou de 0,642 no primeiro trimestre de 2020 para 0,674 no mesmo período de
2021” (VEJA, 2021) disponível em <https://veja.abril.com.br/brasil/desigualdade-social-aumenta-e-
felicidade-do-brasileiro-cai-na-pandemia/>
42
Para Guerra (2014), o homem cria, através do trabalho, meios que o permite
satisfazer as suas necessidades. Ela afirma que “esses meios de trabalho ou
condições materiais, medeiam a relação entre a força ou a capacidade de trabalho e
o objeto sobre o qual incide sua ação, mediante um projeto ou finalidade” (Guerra,
2014, p.148). Com isso, o homem tem capacidade de pensar e executar ações que
possibilitem o alcance de um objetivo específico, ele cria as ferramentas necessárias
que viabilizam chegar ao ponto que almeja. A criação dessas ferramentas ocorrem, a
princípio, associada a capacidade teleológica do ser humano, quando, a partir desta,
ele cria as ferramentas que colaboram com a execução do seu plano e a concretização
do seu objetivo. Não obstante, a entrevista pode ser entendida como um instrumento
criado pelo homem que media uma intenção e um resultado.
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Teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa.
23
O capítulo V do Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais, que fala sobre o sigilo
profissional, em seu Art. 16 diz que “O sigilo protegerá o usuário em tudo aquilo de que o assistente
social tome conhecimento, como decorrência do exercício da atividade profissional. Art. 17 - É vedado
ao assistente social revelar sigilo profissional. (CFESS, 1993).
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comunicado, tanto pela linguagem verbal como pela não-verbal, e assim compreender
a realidade que se apresenta através dos sentimentos, dos desejos e das
necessidades sociais” (Lewgoy e Silveira,2007, p.237). Por último, o assistente social
precisa compartilhar as informações24 e a evolução do seu caso com o sujeito que é
objeto de sua intervenção, como também com os outros profissionais da instituição
que necessitarem de acesso aos relatórios, laudos ou qualquer material que está
restrito ao Serviço Social, mas que colaborará no quadro geral da evolução da
demanda trazida pelo indivíduo. Espera-se, em casos de compartilhamento de
informações com uma equipe multidisciplinar, o sigilo profissional, e que será
compartilhado, apenas o que não quebre a proteção das informações passadas pelo
usuário.
Essas reflexões teóricos sobre a entrevista têm grande importância no olhar
crítico e analítico sobre o nosso objeto de análise neste trabalho, escolhido com base
na experiência de estágio. Após vivenciar a dinâmica das entrevistas sociais nos
períodos de abertura de editais para concessão de bolsas e auxílios na UFRN,
evidenciamos que a entrevista, mesmo que direcionada à realização da triagem para
saber quais alunos teriam acesso aos programas - após análise do questionário
socioeconômico (disponibilizado no SIGAA25), respondido de forma voluntária pelos
estudantes e exigido como parte do processo de avaliação para inclusão, além da
avaliação documental de comprovação de renda e endereço – é o instrumento de
maior importância para coletar dados e gerar diagnósticos sobre a realidade dos
estudantes e suas demandas.
Nos períodos de execução de editais as demandas das entrevistas sociais
tornam-se elevadas e o seu tempo de execução se torna sumariamente reduzido, os
assistentes sociais da CAPAP nem sempre conseguem articular conhecimentos
teóricos, políticos e práticos. Mesmo que consigam reconhecer demandas não
comunicadas, presente nas entrelinhas no relato do atendimento socioassistencial e
fazer uso de sua autonomia, enquanto profissional especializado, para atender
necessidades que fogem aos critérios exigidos pela instituição, não é possível garantir
a mesma atenção em todas as entrevistas realizadas.
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Art. 18 - A quebra do sigilo só é admissível quando se tratarem de situações cuja gravidade possa,
envolvendo ou não fato delituoso, trazer prejuízo aos interesses do usuário, de terceiros e da
coletividade. (CFESS, 93).
25
Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas.
45
Silveira,2007). Para saber o que questionar é preciso saber, antes das respostas, onde
se deseja chegar. Assim, é possível direcionar as questões de acordo com a demanda.
Soma-se também a esse momento, a capacidade do assistente social gerar um
pensamento crítico no sujeito, que o leve a refletir sobre a sua realidade e obter
conhecimentos necessários que contribuam para sua autonomia, além do
reconhecimento dos seus direitos. É aqui que está presente a dimensão
socioeducativa.
Diante das dificuldades de estruturação organizacional da CAPAP, os
assistentes sociais precisam de maior dedicação para trabalhar os limites, sejam pelas
exigências institucionais que os atingem enquanto trabalhadores assalariados, ou seja
pela própria dificuldade de adesão, por parte dos estudantes aos projetos de
intervenção criados. Contudo, a dimensão socioeducativa se encontra presente de
acordo com as condições dispostas para atuação profissional na assistência estudantil.
Como parte das ações dessa dimensão, o Serviço Social consegue contribuir
para a compreensão da condição social ao qual o estudante se encontra inserido,
informando aos estudantes que procuravam os programas sobre a situação financeira
e/ou estrutural da Assistência Estudantil da UFRN, na intenção de gerar um
pensamento crítico acerca dos próprios direitos por meio da compreensão das
transformações sócio econômicas e políticas, refletindo o quanto essas
transformações afetam a concessão de direitos. No entanto, diante das dificuldades,
prazos de editais – com períodos de cumprimento dos editais e devido as elevadas
demandas, bolsas reduzidas, diferentes funções, entre outros -, o assistente social têm
menos tempo para dedicar-se a uma orientação qualificada e instruir os sujeitos que
chegam à assistência estudantil da forma que deveriam. Essas dificuldades, além de
afetar a própria escuta qualificada, dificultam também a execução da dimensão
socioeducativa. Contudo, há um esforço do assistente social assumir nessas relações
de trabalho, ações socioeducativa e política. O que corrobora com o pensamento de
Torres (2009), quando afirma que o assistente social tem que realizar
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
com uma base teórico-metodológico critico subsidiando esta ação. Caso não ocorra
essa fundamentação na direção da entrevista, os assistentes sociais acabam por
desenvolver ações pragmáticas, imediatistas que visam a eficácia e eficiência, a
despeito dos valores e princípios, segundo o Projeto Ético-Político da profissão que
direciona a atuação como facilitador da efetivação de uma “direção social por meio das
diversas ações profissionais – através das quais, como foi dito, incide-se sobre o
comportamento e a ação dos homens – balizadas pelo projeto profissional que a
norteia.” (Teixeira e Braz, 2009, p.5).
Pensando numa entrevista social que consiga coletar dados suficientes para
fomentar a realidade dos sujeitos que buscam os serviços de assistência, sem cair
numa análise superficial e meramente mecânica dos dados, o assistente social precisa
reconhecer que o momento da entrevista, como o momento de acolhimento do usuário
e estudo e investigação de sua realidade, deve ser bem pensada, questionada,
problematizada teoricamente de forma crítica. Embora seja uma escuta qualificada o
momento da entrevista, observamos que diante da própria dinâmica do cotidiano do
exercício profissional, por vezes, essa escuta perde-se no imediatismos das ações, no
preenchimento de formulários pré-estabelecidos pelas instituições, sem enxergar a
realidade concreta da vida do sujeito e a importância das informações trazidas pelos
estudantes.
Por meio de uma escuta qualificada é possível reconhecer demandas que não
se encaixam, a princípio, nas que fizeram esse sujeito procurar a assistência ao
estudante. Dessa forma, o profissional que articula as dimensões que direcionam a
atuação do Serviço Social, além de estar comprometido com um posicionamento
político que possibilite a transmissão de informações capazes contribuir na
emancipação do sujeito e de seu reconhecimento como ser ativo e de direito. No
âmbito dessas ações desenvolvidas pelo assistente social, através da entrevista como
escuta qualificada, identificamos as possibilidades da dimensão socioeducativa no
exercício profissional na Assistência Estudantil na CAPAP - PROAE/UFRN.
Conforme Cardoso e Maciel (2009) a função da dimensão educativa do
assistente Social em seu exercício profissional remete a construção, entre profissionais
e usuários, de “novas relações pedagógicas”, que favoreçam a participação dos
sujeitos em uma “dupla dimensão” que são: a “de conhecimento crítico sobre a
realidade e recursos institucionais tendo em vista a construção de estratégias
coletivas” que atendam os interesses das sujeitos em situação de vulnerabilidade
50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Estudantil e o Reuni: ampliação de vagas versus garantia de permanência / The Plan
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