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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS – CCSA


DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL – DESSO

ANIELLE BARBOSA DA SILVA

ENTREVISTAS SOCIAIS E A ESCUTA QUALIFICADA NO SERVIÇO SOCIAL:


POSSIBILIDADES SOCIOEDUCATIVAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL NA
COORDENADORIA DE APOIO PEDAGÓGICO E AÇÕES DE PERMANÊNCIA -
CAPAP/UFRN

NATAL – RN
2021
ANIELLE BARBOSA DA SILVA

ENTREVISTAS SOCIAIS E A ESCUTA QUALIFICADA NO SERVIÇO SOCIAL:


POSSIBILIDADES SOCIOEDUCATIVAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL NA
COORDENADORIA DE APOIO PEDAGÓGICO E AÇÕES DE PERMANÊNCIA -
CAPAP/UFRN

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado na Universidade Federal do
Rio Grande do Norte - UFRN como
requisito básico para a conclusão do Curso
de Serviço Social.

Orientadora: Prof.ª Dra. Maria Célia Correia


Nicolau

NATAL – RN
2021
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas -
CCSA

Silva, Anielle Barbosa da.


Entrevistas sociais e a escuta qualificada no Serviço Social:
possibilidades socioeducativas no exercício profissional na
coordenadoria de apoio pedagógico e ações de permanência - CAPAP/UFRN /
Anielle Barbosa da Silva. - 2021.
55f.: il.

Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal do


Rio Grande do Norte, Departamento de Serviço Social. Natal, RN, 2021.
Orientadora: Prof.ª Dra. Maria Célia Correia Nicolau.

1. Entrevistas - Monografia. 2. Socioeducativa - Monografia. 3.


Instrumentais - Monografia. I. Nicolau, Maria Célia Correia. II.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/UF/Biblioteca CCSA CDU 364:378

Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355


ANIELLE BARBOSA DA SILVA

ENTREVISTAS SOCIAIS E A ESCUTA QUALIFICADA NO SERVIÇO SOCIAL:


POSSIBILIDADES SOCIOEDUCATIVAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL NA
COORDENADORIA DE APOIO PEDAGÓGICO E AÇÕES DE PERMANÊNCIA -
CAPAP/UFRN

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado


pela Banca Examinadora com vistas à
obtenção do título de Bacharel em Serviço
Social da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte – UFRN.

Natal, RN 01 de setembro de 2021.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________
Prof.ª Dra. Maria Celia Correia Nicolau
Orientadora

__________________________________________________
Prof.ª Dra. Tássia Monte Santos
Membro Interno

__________________________________________________
Assistente Social/Supervisora: Renata Lorena Ferreira Penha CRESS/RN 5125
Membro Externo
AGRADECIMENTOS

A minha família, especialmente a minha mãe, a Sra. Maria de Lourdes e meu


pai, o Sr. José Valdomiro, por todo apoio e suporte que me deram, financeiro e
emocional, mesmo diante de todas as dificuldades comuns de uma família da classe
trabalhadora. Agradeço por sempre terem acreditado em mim até nos momentos em
que eu deixei de acreditar e pelo apoio em minhas escolhas.
A minha orientadora, a Profa. Dra. Maria Celia Correia Nicolau, por toda ajuda
que me deu e por colaborar para a conclusão desse trabalho. Não tenho palavras que
expressem o quanto sou agradecida pela forma compreensiva e amiga que sempre
buscou mostrar em suas orientações, fazendo-me acreditar que por mais difícil que
parecesse eu conseguiria. Agradeço imensamente.
A minha supervisora de campo, a assistente social Lanissa Cristina Fernandes
de Medeiros Carvalho, pela forma que supervisionou meu estágio curricular obrigatório
e por todo conhecimento transmitido nesse processo. Deixo aqui minha admiração
pela sua postura profissional enquanto assistente social.
A esta universidade e seu corpo docente, especificamente aos docentes do
curso de Serviço Social.
As minhas amigas, Amanda, Amanda Laurentino, Janaina, Mary e Karcia, por
torcerem sempre pelo meu sucesso, por acreditarem em minha capacidade e por
sempre estarem dispostas a me ajudar, independentemente da situação.
Aos amigos que construí ao longo da formação, especialmente aos que ainda
mantenho contato, por terem contribuído na construção de boas lembranças e
proporcionado muitas alegrias. A eles expresso meu enorme carinho.
RESUMO

Este trabalho aborda a entrevista social, enquanto instrumento técnico de atuação do


Serviço Social na Coordenadoria de Apoio Pedagógico e Ações de Permanência –
CAPAP, um dos setores da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis – PROAE da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Centra sua discussão no
momento da entrevista como instrumental técnico utilizado pelo assistente social para
obter dados e realizar sua análise e escolher o melhor caminho na sua metodológico
na intervenção profissional. A entrevista social possibilita o contato direto do assistente
social com o usuário/estudante gerando um vínculo de aproximação entre eles e
viabilizando, além da inclusão nos programas que auxiliam a permanência, também
permite a identificação de demandas, muitas vezes não expressas ou que fogem ao
foco de atendimento da assistência estudantil. Outra grande contribuição da entrevista,
enquanto instrumento técnico-operativo articulado aos demais dimensões teórico-
metodológico, ético-políticos são as ações socioeducativas, contribuindo para o
reconhecimento do usuário como ser social de direitos e contribuindo para sua
emancipação e autonomia sujeito.

Palavras-chave: Entrevista, instrumentais, socioeducativa.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social;


ANDIFES – Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino
Superior;
CAPAP – Coordenadoria de Apoio Pedagógico e Ações de Permanência;
CFESS – Conselho Federal de Serviço Social;
CONSAD – Conselho de Administração;
CONSUNI – Conselho Universitário;
CRESS – Conselho Regional de Serviço Social;
EaD – Educação a Distância;
EOPs – Estudantes de Origem Popular
FONAPRACE – Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Comunitários e
Estudantis;
IES – Instituição de Ensino Superior;
IFE’s – Instituições Federais de Educação;
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira;
PIB – Produto Interno Bruto;
PNAES – Plano Nacional de Assistência Estudantil;
PNE – Plano Nacional de Educação;
PRH – Pró-Reitoria de Recursos Humanos;
PROAE – Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis;
PROUNI – Programa Universidade para Todos;
REUNI – Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais;
SIGAA – Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas;
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte;
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 9
2. SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÃO E A ENTREVISTA COMO UM DOS
INSTRUMENTOS TECNICO-OPERATIVOS NO EXERCICIO PROFISSIONAL NA
ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL ................................................................................... 16
2.1. SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÂO, A DIMENSÃO TÉCNICO-OPERATIVA NO
ÂMBITO DO DEBATE TEÓRICO-METODOLÓGICO E A ATUAÇAO DO
ASSISTENTE SOCIAL NA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL ......................................... 17
2.2. A ENTREVISTA NO ÂMBITO DOS INSTRUMENTOS TÉCNICO-OPERATIVOS
NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL MEDIANDO A AÇÂO
EDUCATIVA NA ASSITÊNCIA ESTUDANTIL ........................................................... 29
3. A ENTREVISTA COMO ESCUTA QUALIFICADA E AS POSSIBILIDADES
SOCIOEDUCATIVAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL NA ASSISTÊNCIA
ESTUDANTIL DA CAPAP- PROAE/UFRN ............................................................... 36
3.1. A ENTREVISTA COMO ESCUTA QUALIFICADA NA ASSISTÊNCIA AO
ESTUDANTE NA PROAE/UFRN CONTRAPONDO-SE AO IMEDIATISMO ............. 37
3.2. A ENTREVISTA E AS POSSIBILIDADES SOCIOEDUCATIVAS NO
EXERCÍCIO PROFISSIONAL NA ASSISTENCIA ESTUDANTIL DA CAPAP -
PROAE/UFRN............................................................................................................ 43
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 48
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 51
9

INTRODUÇÃO

O interesse pela temática “ENTREVISTA SOCIAL E A ESCUTA QUALIFICADA


NO SERVIÇO SOCIAL: possibilidades socioeducativas no exercício profissional na
Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis – CAPAP/UFRN” surgiu a partir da experiência de
Estágio Supervisionado em Serviço Social na Coordenadoria de Apoio Pedagógico e
Ações de Permanência – CAPAP, pertencente à Pró-reitora de Assuntos Estudantis –
PROAE e, consequentemente, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte –
UFRN no período de 2017 a 2018. Nesse período, observei aspectos importantes
contidos na prática profissional, principalmente no contato direto com os usuários.
Essas observações assentam-se sobre a forma de atuação das(os) Assistentes
Sociais em seu exercício profissional no trato das entrevistas sociais.
A partir do cotidiano vivido na experiência de estágio supervisionado, pude
observar e fazer um levantamento de pontos que revelam a realidade profissional
expressa neste campo de atuação específico, com suas possibilidades e limitações,
mas que acredito não se distanciar da realidade de outros campos de atuação
profissional. Isto porque, a relativa autonomia 1 do assistente social é posta em
qualquer espaço de atuação, e se constitui uma expressão das limitações colocadas
nos diferentes espaços de trabalho do assistente social. Neste direcionamento, o
presente trabalho tem por objetivo discutir acerca da entrevista social no âmbito dos
instrumentos técnico-operativos trabalhados pelo Serviço Social.
Nesta análise, urge refletir a escuta qualificada nesse primeiro contato da
entrevista com o usuário, buscando garantir o atendimento qualitativo e identificação
das demandas expressas e, por vezes, não expressas dos usuários. Para que isso
seja realizado, é preciso se distanciar de um papel mecânico e tecnicista para
compreender a realidade do sujeito, com o máximo de informações possíveis, e assim
atender suas demandas e necessidades. Faz-se necessário, também, informar e
educar este indivíduo sobre seus direitos e sobre todos os condicionantes envolvidos
para sua concessão.

1
A relativa autonomia do assistente social refere-se ao fato da profissão se enquadrar na divisão social
do trabalho, dependente de um salário e de um contrato, seja com o Estado ou uma instituição privada.
Não possui total autonomia e está sujeita a condições pré-definidas pelo órgão contratante. Ao mesmo
tempo são considerados como “agentes especializados” por possuírem um Código de Ética e uma
liberdade de atuação/intervenção mesmo que minimamente delimitada. (IAMAMOTO, 2014).
10

Logo, com a consciência que o profissional de Serviço Social goza de uma


relativa autonomia em sua condição de trabalhador assalariado, dependente de uma
relação contratual de trabalho, conforme os aparatos institucionais pré-existentes, ele
se depara com a complexidade do cotidiano profissional e o desafio de construir um
estudo detalhado sobre um caso específico, sem cair na superficialidade ou no senso
comum. Lacerda (2014, p.27) aponta que o trabalho do assistente social exige uma
leitura da realidade de forma concreta e detalhada para, logo em seguida, proceder
todas as considerações cabíveis em relação a questão levantada, e torne possível
pensar nos meios de intervir junto a essa realidade, usando os instrumentos mais
adequados, sejam eles reuniões, oficinas, encaminhamentos para a rede Intersetorial
e demais ações pertinentes. Então, para isto, necessita

[...] conseguir perceber, de forma mais fiel possível à realidade, os limites e


possibilidades para a materialização do direito na vida do usuário, mobilizar
recursos públicos para o suprimento de suas necessidades imediatas que por
meio do mercado não se consegue e construir estratégias de reflexão da
realidade junto ao “usuário”, no sentido de permitir que ele amplie seu
entendimento sobre sua realidade e as alternativas históricas — individuais e
coletivas — que possui para enfrentar suas questões. (LACERDA, 2014 p.
28)

Retomando o campo que trata esse trabalho e exemplificando o quanto se


contrapõe (em grande parte) às demandas institucionais e a própria demanda do
2
assistente social no seu exercício profissional no contexto da práxis social,
evidenciamos as entrevistas com os discentes usuários das políticas de assistência
estudantil da UFRN, especificamente, as realizadas nos períodos de execução dos
editais para concessão de bolsas e auxílios. As entrevistas são realizadas de forma
rápida e pragmática, não por escolha do profissional, mas sim, devido ao grande
número de inscritos e os prazos estabelecidos nos editais3.

2
De acordo com Guerra (2005b, p 103) “Por práxis entendemos o conjunto das objetivações humanas
por meio das quais os homens realizam-se enquanto seres humanogenéricos, objetivações estas que
não se reduzem ao trabalho. Entretanto é por meio deste que o ser social se constitui se expressa, se
desenvolve, cria e recria relações sociais”. Entretanto para maiores detalhamento e uma perspectiva
crítica e constitutiva do assunto, consultar: GUERRA, Yolanda. No que sustenta a falácia de que ' na
prática a teoria é outra?' in 2º Seminário do Estado e Política Social no Brasil. Campus de Cascavel.
UNIOLESTE. 2005. disponível em: http://cac-php.unioeste.br/projetos/apps/midia/seminário2/trabalhos
/serviçosocial/mss20/pdf. Acesso em 05 de maio de 2013.
3
Os editais ofertam vagas para inclusão nos programas de assistência aos estudantes aprovados pela
Resolução nº 169/2008-CONSEPE, de 2 de Dezembro de 2008, são eles: programa bolsa residência;
auxílio alimentação; auxílio transporte; auxílio óculos; auxílio creche; auxílio atleta; bolsa de apoio à pós-
graduação e bolsa PROMISAES - Projeto Milton Santos De Acesso Ao Ensino Superior (para auxílio do
aluno estrangeiro.
11

É nesse espaço entre a forma de atuação profissional e o que é demandado


pela instituição, seja em prazos ou números, que o assistente social pode desenvolver
um trabalho meramente mecânico, burocrático e pragmático4 ou tornar aquele breve
momento de contato direto com o usuário – a entrevista - um meio de investigação e
sondagem com maior aprofundamento da realidade estudada. Isto, considerando que
“a realidade sempre é mais rica, ampla e plena de mediações que a capacidade do
sujeito” que investiga “pode captá-la e reproduzi-la pelo pensamento”, conforme
Guerra (2005, p8). E, neste sentido, ainda para a autora, “o processo do conhecimento”
começa através “dos órgãos do sentido”, via intuição e sua representação”, transitando
por outros caminhos da razão até chegar ao nível mais “alto do conhecimento que é o
da razão dialética”.5 Para que isso ocorra é preciso o entendimento do profissional que
realiza a entrevista que, enquanto um instrumento técnico (parte da dimensão técnica-
operativa), a entrevista deve ser compreendida e efetivada a partir dos conhecimentos
teórico-metodológicos e ético-políticos, viabilizando possibilidades práticas de uma
escuta qualificada na sua intervenção profissional. Segundo Forti e Guerra (2010, p
2.).
[...] ao profissional que tencione atender aos requisitos do mercado de trabalho
não se limitando a eles, cabe uma sólida formação teórica (ético-política) e
metodológica, ou seja, capacitação suficientemente qualificada em termos de
conhecimentos teóricos e possibilidades interventivas. Assim, pretendemos
destacar que, além da relevância teórica, cabem possibilidades práticas, pois,
por melhor que seja formulada, a teoria, por si só, não é capaz de processar
qualquer alteração na realidade concreta.

Não é novidade para qualquer profissional de Serviço Social a necessidade da


articulação entre as dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-
operativa, apreendidas durante todo caminhar da formação profissional. Dimensões
que, segundo Nicolau(2019), numa conexão orgânica, possibilita o entendimento do
significado da ação profissional em suas expressões interventiva, formativa e

4
“Na trajetória histórica da profissão, os influxos do pragmatismo deixaram suas marcas: na concepção
de profissão como instrumento a serviço do projeto do capital, na concepção de prática de ajuda
psicossocial, no seu enfoque no sujeito, na sua função educativa visando adaptação e ajustamento, na
sua fissura pelas técnicas, instrumentos e metodologias de ação, no profundo ecletismo, no desprezo
pelos fundamentos. O pragmatismo expressa-se, sobretudo, como caracterização do que Netto (1990,
p. 117) chamou de Serviço Social tradicional: “a prática empirista, reiterativa, paliativa e burocrática”.
(GUERRA, 2013, p46).
5
Conforme Guerra (2013, p47) “O cotidiano, como espaço que sintetiza os fundamentos ontológicos da
vida social, exige a atitude pragmática para a reprodução individual e social, mas também permite que
se reflita sobre que determinações e necessidades exigem a atitude pragmática para a sua reprodução.
No que toca à profissão, são os princípios que a orientam, expostos no seu marco regulatório (código
de ética, lei de regulamentação e diretrizes curriculares) que formulam as bases para uma clara e
contundente recusa da atitude pragmática e do senso comum que a acompanha.
12

investigativa, ao mesmo tempo possibilita a construção das competências e


habilidades para o exercício profissional nos diferentes espaços sócio ocupacionais,
em que a profissão se exerce
É nesse sentido que buscamos analisar de forma crítica, através de uma
pesquisa bibliográfica e documental, sobre a importância dessa ferramenta tão
importante e indispensável no exercício profissional do assistente social de qualquer
campo de atuação, a entrevista.
No Código de Ética do/a Assistente Social, em seu capítulo I, que trata das
relações com os usuários, Art. 5º inciso b e c, diz que é dever do assistente social.

b- garantir a plena informação e discussão sobre as possibilidades e


consequências das situações apresentadas, respeitando democraticamente
as decisões dos/as usuários/as, mesmo que sejam contrárias aos valores e
às crenças individuais dos/as profissionais, resguardados os princípios deste
Código; c- democratizar as informações e o acesso aos programas disponíveis
no espaço institucional, como um dos mecanismos indispensáveis à
participação dos/as usuários/as; (p. 29).

Garantir a plena informação e, também, discutir juntamente com os usuários


sobre as situações trazidas por eles, não apenas é um dever do Assistente Social,
como também é uma ação que necessita da articulação das dimensões supracitadas,
somadas a uma importante dimensão, a socioeducativa. Iamamoto afirma que,

[...]o Assistente Social exerce uma ação eminentemente “educativa”,


‘organizativa com as classes trabalhadoras. Seu objetivo é transformar a
maneira de ver, de agir, de se comportar e de sentir dos indivíduos em sua
inserção na sociedade. Essa ação incide, portanto, sobre o modo de viver e
de pensar dos trabalhadores, a partir de 10 situações vivenciadas no seu
cotidiano, embora se realize através da prestação de serviços sociais,
previstos e efetivados pelas entidades a que o profissional se vincula
contratualmente (IAMAMOTO, 2007: 40).

Segundo Abreu (2010), a profissão tem um direcionamento educativo, visto que


ela se insere precisamente na mediação do padrão estabelecido pelo capital e as
requisições postas pela classe trabalhadora, causando com isso um processo de
organização e/ou reorganização cultural. Essa organização tanto pode se dar na
defesa dos direitos dos trabalhadores visando criar estratégias propositivas em meio
a essa sociabilidade ancorada nos princípios democráticos e na compreensão crítica
da realidade, enxergando o sujeito como protagonista de sua história, munindo-o de
ferramentas políticas para intervir na mesma, como, por outro lado, essas estratégias
devem ser perpassadas por uma análise crítica pra que não ocorra o risco de dar
13

predominância ao modelo padrão burguês de sociedade, sendo apenas um reprodutor


sem refletir mudanças efetivas.
A dimensão socioeducativa inerente a profissão de Serviço Social , segundo
Yazbek(2009) pode adotar um caráter disciplinador no ajuste e enquadramento dos
usuários, como pode fortalecer os projetos e lutas da população subalternizado,
conforme orienta o projeto ético-político profissional. É no exercício profissional que
temos a oportunidade de educar política e criticamente os sujeitos que chegam com
suas demandas e requisições aos espaços socioinstitucionais. Processo educativo
que ocorre através do contato direto com esses sujeitos, usuários dos serviços
socioassistenciais prestados e da assimilação da realidade, mediante escuta
qualificada, subsidiando e direcionando a intervenção profissional.
Neste sentido, a dimensão socioeducativa tem uma relação direta (e não de
exterioridade) com a prestação de serviços socioassistenciais, daí existir a
possibilidade de dar uma direção social a intervenção profissional. Assim, a
comunicação verbal, é uma ferramenta importante no exercício profissional, e, é por
meio dela que o Assistente Social transmite as orientações e realiza encaminhamentos
de forma ética e política aos usuários dos serviços socioassistenciais. É nesse contato
pessoal por meio de entrevistas dentro da sala de atendimento com os usuários, como
também nas visitas domiciliares que o profissional exerce seu potencial de educador,
teologicamente direcionado a viabilizar respostas advindas desses usuários, dentro
das possibilidades dadas pelo espaço sociocupacional. Isto na perspectiva de causar
mudanças significativas na realidade de cada um usuário do serviço, possibilitando
aos sujeitos informações e esclarecimentos em relação a seus interesses,
demandando práticas democráticas e o desenvolvimento da emancipação, autonomia
e cidadania
Este trabalho discute e analisa a escuta qualificada, no recorte da Assistência
Estudantil da UFRN na conjuntura dos anos 2017 e 2018, no que se refere ao momento
de realização das entrevistas sociais. Isto porque, acreditamos nas possibilidades
socioeducativas do cotidiano profissional em que os assistentes sociais atuam, onde
é possível se distanciar do imediatismo das ações 6 e encontrar espaços de mediação

6
De uma ação imediatista e pragmática, Segundo Guerra(...) podemos considerar que a atitude
pragmática é característica própria da unidade imediata entre teoria e práxis. A supressão das
mediações teóricas e ideopolíticas, própria da apreensão da realidade na imediaticidade do cotidiano,
leva a uma apropriação da realidade como carente de mediações. A abstração das mediações como
resultado de uma apreensão da realidade na sua imediaticidade é o procedimento da consciência
14

em meio aos recursos tecnológicos e instrumentos técnicos-operativos das


instituições, sendo possível enriquecer o exercício profissional através de uma
competência crítica, afastando-se de uma competência técnica-burocrática. É
possibilitar que o profissional reconheça seu potencial interventivo crítico e
movimente-se em direção a efetivação dos direitos dos usuários dos serviços sócio
assistenciais.
A exposição deste trabalho traz no segundo capítulo uma discussão sobre a
política de assistência estudantil no Brasil, considerando o recorte que se refere às
instituições de ensino superior entre os anos de 2010 a 2020. Além disso, discorre
acerca da dimensão técnico-operativa no âmbito do debate teórico-metodológico do
Serviço Social na assistência estudantil, em sua articulação com as dimensões teórico-
metodológica e ético-políticas, consideradas indissociáveis na atuação profissional e
sem hierarquização de valoração entre elas. São dimensões essenciais que orientam
exercício profissional de acordo com as Diretrizes Curriculares da ABEPSS (1996) 7.
Ao mesmo tempo que traz a discussão da entrevista no âmbito dos instrumentos
técnico-operativos no exercício profissional do assistente social na assistência
estudantil.
No terceiro capítulo deste trabalho se encontra a discussão sobre as
possibilidades socioeducativas do assistente social em seu exercício profissional, no
recorte da assistência estudantil da CAPAP - PROAE/UFRN, e tem a entrevista social
como objeto central da discussão. Este capítulo analisa a prática da entrevista,
tomando o momento da entrevista social no período de execução dos editais que
concedem acesso aos programas e auxílios ofertados pela PROAE, na tentativa de
contribuir com a permanência dos estudantes em situação de vulnerabilidade social.
Analisa também como a prática cotidiana, com sua rotina e deveres, dificulta a
operacionalização da dimensão sócio educativa, de igual forma a realização da escuta
qualificada, uma vez que que essa necessita que o assistente social disponha de
tempo para direcionar sua atenção ao estudante solicitante de auxílio. Com isso busca-

comum, própria do cotidiano, que não questiona a gênese e não alcança a apreensão dos fundamentos”
(2013, p41)
7
As Diretrizes Curriculares da ABEPSS é uma proposta construída ao longo dos anos e com base nos
debates ocorridos no “Congresso da virada” de 1979 que foi o III Congresso Brasileiro de Assistentes
Sociais (CBAS) junto com a “construção das bases para o currículo mínimo” em 1982. As diretrizes
desenha um perfil profissional do(a) Assistente Social, capacitando-o(a) dentro da formação teórico-
metodológica, ético-política e técnico-operativa, com intuito de atingir uma leitura teórico-crítica da
realidade.
15

se expor de que forma essa escuta qualificada se opera em meio ao objetivo


profissional no âmbito do programa de assistência estudantil, diante da correlação de
forças (das exigências) institucionais em sua imediaticidade, que envolvem a triagem
no viés cada vez mais focalista.
16

2. SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÃO E A ENTREVISTA COMO UM DOS


INSTRUMENTOS TECNICO-OPERATIVOS NO EXERCICIO PROFISSIONAL NA
ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL

A dimensão técnico-operativa, apreendida no debate dos fundamentos do


Serviço Social, encontra-se articulada as dimensões teórico-metodológica e ética
política, as quais são estudadas e aprofundadas na ambiência acadêmica, na
perspectiva de construir competências e habilidades para o exercício da profissão nos
diversos espaços institucionais, em diferentes áreas de atuação. Constituem-se
instâncias que interagem em determinada situação, tendo presente as condições
objetivas e subjetivas8 dos agentes profissionais envolvidos, ainda que possa ocorrer
o domínio de uma dimensão sobre outra, na concretização de determinada
competência e/ou atribuição profissional. São dimensões que, conforme Guerra,

[...] em razão da diversidade que as caracteriza, constituem-se como “síntese


de múltiplas determinações”, ou seja, caracterizam-se como unidade de
elementos diversos, que conforma a riqueza e amplitude que caracteriza
historicamente o modo de ser da profissão, que se realiza no cotidiano
(GUERRA,2012, p39).

Os estudos em Guerra sobre a dimensão técnica operativa, a partir dos anos


20009, vem reiterando o reconhecimento que essas dimensões somente existem e se

8
Segundo Guerra (2009, p.1), Condições objetivas “são aquelas relativas à produção material da
sociedade, são condições postas na realidade material. Por exemplo: a divisão do trabalho, a
propriedade dos meios de produção, a conjuntura, os objetos e os campos de intervenção, os espaços
sociocupacionais, as relações e condições materiais de trabalho. Condições subjetivas são as
relativas aos sujeitos, às suas escolhas, ao grau de qualificação e competência, ao seu preparo técnico
e teórico-metodológico, aos referenciais teóricos, metodológicos, éticos e políticos utilizados, dentre
outras”. http://www.cedeps.com.br/wp-content/uploads/2009/06/Yolanda-Guerra.pdf.
9
Ver a propósito estudos de GUERRA que vêm aprofundando essa temática. Instrumentalidade do
processo de trabalho e Serviço Social. Revista Serviço Social e Sociedade n. 62, São Paulo 2000. As
dimensões da prática profissional e a possibilidade de reconstrução crítica das demandas
contemporâneas. Libertas, Juiz de Fora, 2002. As dimensões da prática profissional e a possibilidade
de reconstrução crítica das demandas contemporâneas. IN: Libertas – Revista do Serviço Social.
Universidade Federal de Juiz de Fora, Faculdade de Serviço Social, Juiz de Fora, 2005. O Projeto
Profissional Crítico: estratégia de enfrentamento das condições contemporâneas da prática profissional.
Revista Serviço Social e Sociedade n. 91, São Paulo: Cortez, 2007.A formação profissional frente aos
desafios da intervenção e das atuais configurações do ensino público, privado e à distância. Revista
Serviço Social e Sociedade n. 104. São Paulo: Cortez, 2010. A dimensão técnico-operativa no Serviço
Social: desafios contemporâneos. 2012. As dimensões da prática profissional e a possibilidade de
reconstrução crítica das demandas contemporâneas. Libertas, Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2002ª.
Disponível em: < http://www.ufjf.br/revistalibertas/edicoes-anteriores/volume-2-numero-2-e-volume-3-
numeros-1-e-2/>. Acesso em: 20 mar. 2013. A dimensão técnico-operativa do exercício profissional. In:
Santos, Claudia Monica; Backx, Sheila; Guerra Yolanda. (Org.). A dimensão técnico-operativa no
Serviço Social: desafios contemporâneos. 3a.ed.São Paulo: Cortez Editora, 2016. A dimensão técnico-
operativa do exercício profissional. In: SANTOS, Cláudia Mônica dos; BACKX, Sheila; GUERRA,
Yolanda (Orgs.). 3. Ed. São Paulo: Cortez, 2017. p. 49-75.
17

concretizam na interação entre elas, embora a dimensão técnico-operativa configure


a forma pela qual a profissão seja conhecida e reconhecida na sociedade, onde ela se
exerce, expressando suas “representações sociais” e “cultura profissional”. Para
Guerra (2012, p.54) a dimensão técnica-operativa “emana a imagem social da
profissão e sua autoimagem”.
A dimensão técnico-operativa não se reduz aos instrumentos e técnicas
utilizados na ação profissional, em suas expressões interventiva, investigativa e
formativa do exercício profissional. A atuação profissional de natureza técnico-
operativa encontra seus aportes teórico-metodológicos ao pensar seus instrumentos e
técnicas, por exemplo, a entrevista, a partir dos fundamentos teórico-metodológicos.
De igual forma, por não ser uma intervenção neutra, fundamenta-se na dimensão ético-
política, sobretudo tendo presente a capacidade de assumir uma postura crítica frente
as requisições socioinstitucionais da população para o acesso aos programas
implementados pelas instituições públicos e privados.
O recurso da entrevista faz parte da dimensão investigativa particularizada no
exercício profissional, a qual possibilita estudar e compreender as “condições de vida,
de trabalho e de educação da população” envolvida numa perspectiva que ultrapasse
a “empiria e de sua aparência e previamente pensados” (...) “no projeto de intervenção
profissional” (CFESS, p.52). Ademais, a “dimensão pedagógico-interpretativa e
socializadora das informações e conhecimentos no campo dos direitos sociais e
humanos, das políticas sociais, de sua rede de serviços e da legislação social”
(CFESS, p.53) integra a atuação dos assistentes sociais na dinâmica de
funcionamento das instituições educacionais, em que se implementa a política de
assistência estudantil

2.1. SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÂO, A DIMENSÃO TÉCNICO-OPERATIVA NO


ÂMBITO DO DEBATE TEÓRICO-METODOLÓGICO E A ATUAÇAO DO
ASSISTENTE SOCIAL NA ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL

Na década de 1930, o capitalismo industrial avançava e o Brasil passava por


diversas mudanças econômicas, sociais e políticas, no entanto, com esse avanço
também se teve o aumento da exploração da força de trabalho e consequentemente o
aprofundamento da questão social e da desigualdade social. Assim, as primeiras
18

iniciativas de proteção social ganham destaque a partir do século XX, porém, elas
somente atendiam trabalhadores ativos e possuíam um caráter compensatório,
funcionando na tentativa de amenizar os males gerados pela pobreza e desigualdade.
O espaço das políticas sociais irá se delinear a partir dos anos de 1970 com o avanço
do neoliberalismo e a consequente redução do papel do Estado na economia e no
mercado de trabalho. Na década de 1980 é visível o poder por parte dos movimentos
sociais e das lutas populares pela garantia de direitos, o que possibilitou a construção
da Constituição Cidadã, a Constituição Federal Brasileira de 1988, que tem como
fundamentos a equidade social e os direitos universais.

O sistema educacional brasileiro se dá enquanto reflexo do processo de luta por


direitos. Com o avanço do capitalismo torna-se necessária a capacitação das pessoas
para incluí-las enquanto força de trabalho ativa, mostrando a relação entre pobreza e
a educação. Com a Constituição de 1946 e a promulgação da primeira Lei de Diretrizes
e Bases em 1961 o Estado passa a assumir o papel de garantidor do acesso à
educação para a população, em especial para aqueles que não pudessem arcar com
os custos. Já na Constituição de 1967, o Estado abre o acesso à educação para
crianças de 7 a 14 anos de idade, sem depender de condições socioeconômicas
especiais. (BRASIL, 1996).

Atualmente a educação brasileira é regida pela Constituição Federal de 1988,


citada anteriormente, e pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB nº 9394/1996), após a sua
reformulação, tendo como princípios a liberdade e a solidariedade e como propósito o
desenvolvimento integral do educando, capacitando-o para a prática da cidadania e da
sua qualificação para o trabalho. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei
9.394/96) irá definir e regulamentar a organização da educação brasileira com base
nos princípios presentes na Constituição, sendo a mais importante lei do sistema
educacional por se tratar das diretrizes gerais da educação brasileira, seja ela pública
ou privada, onde nela a educação é um dever da família e do Estado, tendo como
propósito o desenvolvimento integral do educando, buscando a capacitação do mesmo
para a prática da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

A Política de Educação, ao mesmo tempo, constitui uma estratégia de


intervenção do Estado em resposta ao acirramento da questão social, a partir da qual
o capital busca assegurar as condições imprescindíveis à sua reprodução, e também,
constitui-se como resultado do reconhecimento de direitos sociais por parte da classe
19

trabalhadora e pela sua luta por melhores condições de formação. Hoje, devido aos
rebatimentos do capital e da sociedade em que estamos inseridos, a política
educacional possui marcas das inversões presentes na reprodução do sistema
capitalista, observando-se um processo de expansão das formas de acesso e
permanência nos diferentes níveis e modalidades educacionais.

Ao citarmos esse processo de expansão da educação podemos citar o Plano


Nacional de Educação (Lei nº 13.005/2014 – PNE), vigente de 2014 a 2024, que
também cita a expansão da oferta da educação superior em uma de suas premissas,
onde 10% do Produto Interno Bruto (PIB) podem ser utilizados nas redes pública e
privada de ensino. Tendo a mesma direção do PNE, o Programa de Apoio a Planos de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI – Decreto nº 6.096,
de 24 de abril de 2007) tem como um de seus objetivos promover condições
necessárias às universidades federais para a ampliação do acesso e da permanência
no ensino superior.

Nessa mesma linha de expansão de acesso e da permanência dos discentes


no ensino superior se tem o Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES -
Decreto nº 7.234, de 19 de Julho de 2010). O PNAES tem como objetivos a
democratização das condições de permanência no ensino superior público federal,
minimizando os efeitos das desigualdades sociais, o que implica na permanência e
conclusão do ensino superior e consequentemente na redução das taxas de retenção
e evasão, contribuindo, assim, para a promoção da inclusão social por meio da
educação. O PNAES dá autonomia para os Institutos Federais de Ensino Superior
(IFES) desenvolverem os programas através de resoluções que levem em conta a sua
própria realidade, onde cada IFES irá estabelecer os critérios de inclusão e a
metodologia utilizada para a seleção dos usuários dos programas. Como exemplos
disso podemos citar a Resolução nº 026/2009-CONSAD, de 20 de agosto de 2009,
que passou a não ser mais utilizada para estabelecimento do critério de renda dos
discentes, sendo utilizada agora a renda familiar per capita de um salário mínimo e
meio; e também a não oferta de programas voltados ao incentivo à cultura e inclusão
digital, mas apenas ações pontuais e focalizadas. O que se observa no PNAES é que
o acesso aos programas postos por ele não são de caráter universal, eles possuem
um recorte de renda, bem como critérios que permitem ou não o acesso dos usuários,
não sendo de caráter universal, mas sim focalista.
20

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) busca expandir a sua


adesão ao PNAES com o desenvolvimento de mecanismos e programas que deem
respostas às demandas como forma de garantir a permanência do discente na
instituição e a consequente conclusão de seu curso. Tudo isso dentro do contexto atual
em que vivemos, com corte de recursos voltados para o PNAES e o congelamento de
recursos dentro da própria instituição. A verba voltada para os programas da
assistência estudantil, desconsiderando o período pandêmico, estava cada vez mais
reduzida, frente a grande demanda que estava surgindo, principalmente após o
aumento no número de vagas e cotas (onde pessoas com deficiência egressas de
escolas públicas também poderão concorrer às vagas) nos cursos de graduação.

Socialmente falando, a universidade, como é uma extensão da sociedade e,


consequentemente, campo de expressão das desigualdades sociais, é nela que se
objetiva a intenção de ascensão individual e coletiva, mas que em contraponto,
também é campo de estruturação dos objetivos do capital. Nessa concepção, a Política
de Assistência Estudantil, apesar de limitada, tende a direcionar seus objetivos no
rompimento de tais limites.

Trazendo a discussão para o Serviço Social, o assistente social, no seu


exercício profissional, pode desenvolver atividades em diferentes campos, como: na
saúde, na assistência social, no sócio jurídico, nos movimentos sociais, nos
Conselhos, dentre outros campos de intervenção, através das suas atribuições e
competências profissionais. Atuando nesse diferentes campos, a profissão como uma
das especializações do trabalho coletivo, encontra-se inserida na divisão social e
técnica do trabalho, participando da produção e reprodução das relações sociais, na
qual tem como objeto de intervenção as diferentes expressões da questão social
(IAMAMOTO, 2015).
O Serviço Social é uma profissão que atua no cenário profissional brasileiro
desde a década de 1930, mas só teve sua regulamentação em 1957 pela Lei de Nº
3252/57. Sob o legado do Movimento de Reconceituação instaurado na América latina,
e, particularmente no Brasil, na década de 60, foi viabilizado no final da década de 70,
em um contexto autocrático burguês, o processo de renovação com intenção de
ruptura no Serviço Social possibilitando a construção do seu mais novo projeto ético-
político profissional, hegemônico na categoria, resultando em um marco regulatório
da profissão expresso Lei de Regulamentação da Profissão( 1993), nas Diretrizes
21

Curriculares((ABEPSS/CEDEPSS, a qual está baseada no currículo mínimo aprovado


em Assembleia Geral Extraordinária de 8 de novembro1996 ) Código de Ética do/a
Assistente Social (Lei 8662/93 – CFESS)10.
A década de 80, do século XX, foi de extrema riqueza no debate teórico-
metodológico, ético e político no ambiente acadêmico-profissional do Serviço Social, o
que viabilizou novos rumos da profissão em suas dimensões do exercício e da
formação profissional, em seus aspectos teóricos, técnico-acadêmicos e políticos,
quando então foi pensado e construído esse projeto de forma coletiva no âmbito da
categoria, com representações de todas as unidades do país, entre os anos 80 e 90,
sob a coordenação da ABESS/CEDEPSS.
Apesar da evolução do Estado Democrático de Direito no Brasil a partir da
constituição de 1988, em pleno processo de redemocratização do pais11, concomitante
a intenção de ruptura no processo de Renovação do Serviço Social, que viabilizou um
cenário propício para consolidação de um projeto profissional voltado para a classe
trabalhadora, ocorreu o advento do Estado Neoliberal, trazendo uma viravolta nas
políticas sociais e socioeconômicas, gerando importantes transformações na
sociedade brasileira, em razão da crise estrutural do capital 12. Em resposta a essa
crise, houve um intenso processo de reorganização do capital e de seu sistema
ideológico e político de dominação, segundo Antunes (1999), além das mudanças nas

10
Ver, a propósito, Cadernos ABESS n.º 7 (1996, p.58-76) e Iamamoto (1998a, p.50).
11
A concretização do processo de abertura e de redemocratização do país, a partir de 1979, coloca em
prática, entre outras medidas: a anistia política a todos os presos políticos; a extinção do bipartidarismo
(ARENA e PMDB), possibilitando o surgimento do pluripartidarismo (PDS, PMDB, PTB e PT); a extinção
do ‘senador biônico’ e a promessa de eleições diretas para governadores de estados, em 1982,
acompanhado de um pacote eleitoral de vinculação de voto. Na concepção do poder político, a liberação
dos partidos, exceto o Partido Comunista, assim como as outras medidas, deveriam refletir o início do
processo de democratização, não obstante objetivasse, de forma implícita, dividir a oposição de modo
a evitar que o governo sofresse derrota, tal como acontecera em 1974 e se repetiu em 1978. Tratava-
se de uma liberação planejada e controlada, mantendo-se sob o jugo e os parâmetros do governo
autocrático burguês.
12
Trata-se de uma crise atual que atinge aos países capitalistas centrais a partir do ano de 1973 do
século XX, decorrente não apenas de acontecimentos da conjuntura, como “o desmoronamento do
sistema de Bretton Woods ou ainda da alta do preço de petróleo no mercado internacional, ou mesmo
as lutas operárias e sindicais” (ALVES, 1998, p. 114), mas, também, de um movimento decorrente da
própria lógica do capital, com a nova crise de valorização do capital.
22

estruturas produtivas pela financeirização do capital, sob o caráter mundializado do


capital associado à proposta neoliberal13; através da contrarreforma do Estado14.
A resposta capitalista para o enfrentamento dessa crise estrutural trouxe um
intenso processo de reestruturação da produção e do trabalho, sob o caráter
mundializado do capital associado à proposta neoliberal 15 e as suas medidas,
buscando assim a retomada da acumulação de capital, elevando-se a taxa de
lucratividade e a sua dominação global, ou seja, a hegemonia nas diversas esferas da
sociabilidade, de conformidade com Antunes (1999).
Vale salientar que, mesmo em face da crise do capital, as décadas de 80 e 90,
adentrando pelos anos 2000 do século XXI, esse período ficou marcado como
décadas de avanços, principalmente na área dos direitos civis, políticos e sociais
mediante a força propulsora advindas da Constituição Federal de 1988 (CF-88), Esta
viabilizou, mediante legislações infraconstitucionais, um Sistema de Garantia de
Direitos presentes na Legislação Social, utilizadas por conseguinte nas intervenções
profissionais que possibilitaram os encaminhamentos de acesso aos direitos sociais e
civis, mediante o aporte democrático da Constituição Federal de 1988. A década de
1990 favoreceu a inserção do Serviço Social no campo da educação, com maior
visibilidade, em função dos estudos acadêmicos desenvolvidos pela categoria,
decretos e leis promulgadas neste período.
Diante das mudanças que ocorreram na legislação a partir da promulgação da
CF/88, especificamente a partir da década de 1990, destacam-se regulamentações
importantes para a atuação do assistente social na educação. Faz parte desta
Reforma, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (dezembro 1996,
incluindo-se o Decreto nº 2.306/97, que alterou artigos no que se refere à diversificação

13
O neoliberalismo surge após a II Guerra Mundial, na Europa e na América do Norte, regiões do
capitalismo avançado, tendo como representante Friedric Hayek, conforme Anderson (1995) “foi uma
reação teórica e política veemente contra o Estado intervencionista e de bem –estar”. (1995, p. 09) .
Uma ideologia de caráter conservador e dimensão globalizada, orientada pelo Consenso de
Washington. Uma orientação político-ideológica do capitalismo internacional de abrangência mundial,
como alternativa em substituição ao WelfareState, sendo exemplos o governo de Margareth Thatcher
na Inglaterra e Ronald Reagan, nos Estados Unidos. Ver Anderson (1996), Oliveira (1996)
Antunes(1999).
14
“Na prática, esse processo de reforma do Estado afetou a população brasileira e ocasionou grandes
consequências, como: privatização das estatais, redução do papel do Estado, saneamento da dívida
pública, desregulamentação do mercado de trabalho e minimização das políticas sociais através de
cortes nos gastos sociais. (PRÉDES, 2011).
15
O neoliberalismo surge após a II Guerra Mundial, na Europa e na América do Norte, regiões do
capitalismo avançado, tendo como representante Friedric Hayek, conforme Anderson (1995) “foi uma
reação teórica e política veemente contra o Estado intervencionista e de bem –estar”. (1995, p. 09).
23

das Instituições de Ensino Superior- IFES); a Lei de Inovação Tecnológica (Lei nº


10.973/04), as Parcerias Público-Privadas (Lei nº 11.096/05); a regulamentação das
Fundações de Apoio privadas nas IFES (Decreto Presidencial nº 5.205/04); o ProUni
(Lei nº 11.096/05); a Educação à Distância – EAD. Essas foram algumas das leis que
ocasionaram uma ampliação de acesso ao ensino superior no Brasil.
Contudo, a ampliação da Política de Educação foi maior a partir do ano 2000,
quando se iniciou o processo de ampliação e democratização do acesso ás
universidades públicas federais, sobretudo no governo de Luiz Inácio Lula da Silva,
por meio do Programa Universidade para Todos - PROUNI e o Programa de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – REUNI. Esses programas
trouxeram novas tendências, em decorrência da ampliação do acesso ao ensino
superior, ocasionando o aumento da demanda pelas políticas de assistência estudantil,
uma vez que esta política sempre foi uma estratégia para colaborar pela permanência
dos alunos na universidade.
As políticas que colaboram com o acesso as universidades públicas são
importantes, uma vez que elas são estratégias institucionais para reduzir o número
de evasão por parte dos alunos, visto que com o processo de expansão do acesso ao
ensino, os filhos da classe trabalhadora, mesmo que ainda de forma reduzida, têm
maiores chances de ingressar no ensino superior gratuito. Essa demanda se traduz
nas diferentes expressões da questão social, oriundas das desigualdades sociais de
classe, no contexto de inserção desses alunos nas instituições de ensino superior.
Conforme Pacheco e Ristoff (2004, p. 9 apud Zago, 2006, p. 228) um “Estudo
recente do Observatório Universitário da Universidade Cândido Mendes revela que
25% dos potenciais alunos universitários são tão carentes que “não têm condições de
entrar no ensino superior, mesmo se ele for gratuito”. A autora mostra em sua pesquisa
a alegria de vários estudantes pela aprovação para a universidade, os quais
consideram e dizem que “o acesso à universidade representa uma vitória”. Ela
continua, “Se o ingresso no ensino superior representa para esse grupo de estudantes
uma vitória, a outra será certamente garantir sua permanência até a finalização do
curso”. (ZAGO, 2006, p. 233).
Em razão da necessidade da permanência desses estudantes oriundos das
classes subalternas, estudantes nas universidades, as discussões no âmbito da
assistência estudantil ganharam relevância como marco teórico, no ano de 1987 por
meio do Fórum Nacional de Pró-reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis
24

(FONAPRACE) e da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de


Ensino Superior (ANDIFES). Vasconcelos (2010, p. 402, apud Lopes, 2011, p. 44), diz
que esses dois segmentos educacionais defendiam a integração regional e nacional
das instituições de ensino superior (IES), com objetivo de:

Garantir a igualdade de oportunidades aos estudantes das Instituições


Federais de Ensino Superior (IFES) na perspectiva do direito social, além de
proporcionar aos alunos as condições básicas para sua permanência e
conclusão do curso, contribuindo e prevenindo a erradicação, a retenção e a
evasão escolar decorrentes das dificuldades socioeconômicas dos alunos de
baixa condição socioeconômica. (VASCONCELOS, 2010, p. 402, apud Lopes,
2011, p. 44).

Com isso percebemos que, esses dois segmentos educacionais queriam


atender as necessidades sociais dos estudantes brasileiros, buscando formas de
incluir e manter os jovens e adultos oriundos de classes populares e assim oportunizar
sua inserção às universidades públicas. Esse movimento propiciou que a Política de
Assistência Estudantil tenha se tornado uma política importante de mobilização no
âmbito da educação superior.
A proposito dessa importância, nos últimos dias de dezembro de 2010, chegou
ao Congresso Nacional o PL 8.530/2010 de autoria do Poder Executivo, que institui o
Plano Nacional de Educação (PNE). Para o decênio 2011-2020 (PNE-2011/2020), com
11 artigos e 20 metas, o PNE estabelece as metas a serem alcançadas pelo país até
2020. Cada uma das metas vem acompanhada das respectivas estratégias que
buscam atingir os objetivos propostos.
A autora Araújo (2003), corrobora com a PNE-2011-2020 quando diz que.

A discussão sobre a assistência estudantil é de grande relevância, o Brasil é


um dos países em que se verifica as maiores taxas de desigualdade social,
fato visível dentro da própria universidade, onde um grande número de alunos
que venceram a difícil barreira do vestibular já ingressou em situação
desfavorável frente aos demais, sem ter as mínimas condições
socioeconômicas de iniciar, ou de permanecer nos cursos escolhidos.
(ARAÚJO, 2003, p. 99).

Assim, a política de assistência estudantil se configura, como uma política que


fomenta a viabilização do direito à educação superior para qualquer cidadão que não
tenha condições financeiras suficientes para custeá-la sozinho, o que sem ela
ocasionaria dificuldades na continuidade no curso. Ou seja, essa política se faz
necessária, não só pelo acesso, mas também como uma forma de permanência do
25

estudante para que o mesmo tenha êxito em sua graduação, como foi já relatado
anteriormente.
Vale destacar que na educação superior, a assistência estudantil se expressa
como agente mobilizador de recursos para garantir a trajetória dos estudantes no
processo de formação profissional, igualmente a todos os segmentos sociais.
Seguindo essa mesma linha de pensamento, Vasconcelos apud Lopes (2010, p. 406)
afirma que:
A assistência estudantil, enquanto mecanismo de direito social, tem como
finalidade prover os recursos necessários para transposição dos obstáculos e
superação dos impedimentos ao bom desempenho acadêmico, permitindo
que o estudante desenvolva-se perfeitamente bem durante a graduação e
obtenha um bom desempenho curricular, minimizando, dessa forma, o
percentual de abandono e de trancamento de matricula.

Portanto, a assistência oferecida aos Estudantes de Origem Popular - EOPs nas


universidades públicas, objetiva prover os recursos mínimos para a permanência do
estudante, principalmente no que concerne aos programas que ofereçam moradia,
alimentação, transporte e apoio financeiro, direcionando suas ações para uma política
que amplie a discussão sobre a questão do acesso e da permanência dos estudantes
no ensino superior de forma democrática.
Essas informações foram levantadas, até esse momento, com o objetivo de
ilustrar, mesmo que de forma generalizada, as demandas que se apresentam a
assistência estudantil, campo de atuação do Assistente Social dentro das instituições
de ensino superior e o campo ao qual se direciona esse presente trabalho. O assistente
social dentro do campo da educação, enfrenta dificuldades similares aos de outros
campos de atuação da categoria, mesmo em nível federal, como é o caso das
universidades públicas.
A redução de recursos destinados a Política de Assistência Estudantil por meio
do governo federal dentro dos paradigmas neoliberais, tem como decorrência a
crescente focalização dessa Assistência por meio do processo de triagem, através do
estudo socioeconômico, via o instrumental da entrevista, visando selecionar, de acordo
com os critérios de elegibilidade da instituição, os mais pauperizados dentre àqueles
que necessitam da política de assistência.
No âmbito da atuação profissional do assistente social há um tensionamento
entre as altas demandas, em razão do agravamento das desigualdades trazidas pelos
estudantes em situação de vulnerabilidade e como o assistente social pode
26

desenvolver suas atribuições e competências, com bases teórico-metodológicos, em


seu processo interventivo, em meios as crescentes cobranças institucionais, editais e
prazos; além do inevitável crescimento das demandas por parte dos usuários e do
decrescente números de vagas para inclusão mediante a redução do custeio, seja em
programas, bolsas ou auxílios.
Esse é um desafio enfrentado pelo assistente social de todos os campos das
políticas públicas, que necessita ser elucidado para a execução de sua atividade
laboral, tendo em vista um processo reflexivo que envolvem teleologicamente a
dimensão ético-político e teórico-metodológica, articulada a dimensão técnico-
operativa. Ademais, envolve também o atendimento das necessidades de seus
usuários, que revelam nas entrevistas a questão da impressitividade dos benefícios
oriundos da Assistência Estudantil como fator preponderante para a efetivação deste
acesso à Educação Superior. Portanto,

[...] é imprescindível a compreensão dos movimentos da economia — da atual


crise do capitalismo —, da cultura, da política, dos movimentos sociais, das
instituições jurídico-políticas, das organizações sociais e da dinâmica das
relações grupais e interpessoais. Ou seja, é imprescindível uma compreensão
da realidade social que viabilize uma atuação profissional responsável e
consequente. (FORTE E GUERRA, P.1. 2009).

Neste sentido, o conhecimento teórico torna-se imperativo para a intervenção


profissional, exigindo pensar o Serviço Social para além de suas fronteiras, bem como
compreender e situar as condições materiais-objetivas nas quais o Serviço Social
intervêm, suas limitações e condicionamentos sócio históricos (Cf. IAMAMOTO e
CARVALHO, 1986). Exige, ao mesmo tempo, compreender a profissão como uma
ocupação especializada, em que os conhecimentos teóricos e pressupostos ético-
políticos permitem sistematizar e operacionalizar mediante intervenção profissional, as
respostas as demandas profissionais que lhes chegam nos espaços institucionais.
Neste processo de estudo e investigação voltado para fundamentar a dimensão
técnica-operativa, a dimensão teórico-metodológica possibilita o entendimento, por
parte do assistente social, das múltiplas determinações que envolvem o seu alvo de
intervenção profissional, que nesse trabalho se refere aos estudantes subalternizados
que precisam de recursos básicos para garantir sua permanência na instituição de
ensino superior, seja alimentação, transporte, moradia entre outros. Através das bases
teóricas pautadas na historicização dos sujeitos, da sociedade, e da estruturação das
27

relações sociais que o Assistente Social consegue refletir acerca das demandas
trazidas pelos usuários, sejam elas as que se enquadram dentro dos critérios dos
editais ou aquelas que surgem através da sondagem, investigação e observação
durante o momento da entrevista.
A dimensão teórico-metodológica capacita o(a) Assistente Social, através de
uma visão macro, e lhe permite compreender as singularidades dos sujeitos usuários
de seus serviços, na particularidade do processo interventivo. Ressaltamos que a visão
de totalidade como componente do processo formativo do profissional facilita o
entendimento do contexto das condições objetivas e subjetivas de cada estudante e
as razões que o levou até ao programa. Contudo, para uma intervenção social, apenas
a dimensão teórica não é insuficiente (embora fundamental), visto que é preciso um
posicionamento político que impacte as tensões que o Estado gera pela supremacia
da ideologia dominante e da própria limitação de recursos das instituições. Atrela-se a
esse posicionamento político, a capacidade de assumir uma postura crítica, assim
como, o bom entendimento das lutas sociais e as reivindicações apresentadas ao
longo da história, além do próprio reconhecimento de classe e da direção do projeto
ético político do Serviço Social.
A dimensão teórico-metodológica colabora na capacidade de perceber e
apreender as demandas trazidas pelos usuários, as quais se enquadram no campo
das necessidades básicas e essenciais para a permanência dos mesmos na
universidade, considerando todo o quadro social e a historicização do sujeito, enquanto
parte da sociedade afetada pela supremacia capitalista, em detrimento do custeio da
política de Assistência Estudantil com os efeitos trazidas por ela. A dimensão ético-
político, articulada a este conhecimento, dá um norte de como agir e fundamenta uma
competência ético-política

[...] no exercício da profissão o profissional não pode ser neutro, é necessário


que tenha posicionamento político frente às demandas existentes, obtendo
clareza da sua prática profissional tendo conhecimento de como, onde e
quando intervir, lutando pela garantia dos direitos sociais porque, o trabalho
do assistente social está inserido nas relações da sociedade capitalista,
espaço este, que existem diversas contradições (ALBIERO E ALVES, 2018,
p 299).

Assim, o direcionamento ético-político molda a forma de trabalhar os


fundamentos teóricos adquiridos e contextualiza-los numa expressão de luta e
28

emancipação social, visando o acesso e a efetivação dos direitos sem desrespeitar o


usuário em seu contexto pessoal e social, como posto no Código de Ética do Serviço
Social, em seus princípios fundamentais. Ele direciona a prática.
Conforme Santos; Filho e Backx (2017), a dimensão técnico-operativa é a
“forma de aparecer da profissão”, é por onde ela é conhecida e reconhecida, diz sobre
sua apresentação. Ela articula teoria e prática e conta com a funcionalidade dos
instrumentos comumente utilizados pela categoria e pré-estabelecidos nas instituições
que o assistente social se insere. Expressos pelos preenchimento de formulários,
realizações de oficinas, pareceres, laudos, visitas domiciliares, reuniões e entrevistas
sociais.
Mesmo sabendo que essa dimensão pode ser categorizada como a “forma de
aparecer da profissão”, é importante enfatizar que a utilização de instrumentais
técnico-operativos, como instrumento da linguagem falada e escrita, por si só, não
determina a identidade da profissão. Para que isso ocorra é preciso utilizar as
ferramentas disponíveis (entrevistas, laudos, pareceres, relatórios, oficinas
socioeducativas) como instrumentos que possibilitam a problematização da realidade
social. É importante ressaltar que os instrumentos técnicos-operativos não engessam
a atuação do profissional, uma vez que ela possui um direcionamento teleológico da
sua ação associando teoria e prática interventiva, e ainda pela escolha dos
instrumentos que funcionam em cada campo de atuação ou em cada caso específico,
mas até para isso exige-se um fundamentação teórico-crítica. Para Portes e Portes

[...] os assistentes sociais têm mobilizado um conjunto de saberes ídeo-


políticos, éticos, teórico-metodológicos e operativos que têm dado densidade
à análise da realidade social e à intervenção profissional que se pretende ser
orientada de maneira crítica e propositiva. (2016, p. 63),

Essas dimensões indissociáveis permitem que o profissional, em exercício,


tenha a competência de observar, sistematizar e socializar as informações trazidas
pelos seus usuários, e a partir disso, o assistente social consegue coletar informações
sobre as necessidades dos estudantes, seja através de uma análise contextualizada
pelas necessidades coletivas ou em situações pontuais, conseguindo transcender o
imediatismo pragmático para capitar necessidades por vezes não externada pelos
entrevistados. É nesse espaço que o assistente social constrói um acervo investigativo
sobre o cotidiano institucional e sobre essas condições objetivas e subjetivas dos
29

usuários através das leituras realizadas, baseadas nos fundamentos teóricos e em


uma visão crítica sobre a realidade apresentada, usando como auxílio os instrumentais
do espaço sócio ocupacional em que ele está inserido.
Outro ponto a ser considerado em relação às ferramentas técnico-operacionais
é que o cenário socioeconômico sofre frequentes e aceleradas transformações, o que
reflete diretamente nas diversas expressões da “questão social” acrescentando novas
demandas e que acaba por exigir uma constante atualização profissional, nos aspectos
ideológico, ético e político, além do estabelecimento de objetivos bem determinados
sobre sua intervenção profissional. São rápidas transformações no cenário econômico-
social, que provocam constantes modificações na aplicação dos editais
disponibilizados pelas instituições de ensino superior.
Essas mudanças podem afetar as condições de trabalho dos profissionais, os
quais podem ter um acúmulo de atividades, em face de um quadro reduzido de
profissionais para o atendimento. De igual forma, pode afetar a relativa autonomia dos
assistentes sociais, em relação a seu de agir profissional ou até mesmo, e talvez o
mais danoso, a redução de gastos com os programas voltados para contribuir com a
permanência dos estudantes na universidade. Essas alterações são somadas ao
imediatismo das ações profissionais, colocando em cheque a capacidade profissional
de realizar com competência sua intervenção

2.2. A ENTREVISTA NO ÂMBITO DOS INSTRUMENTOS TÉCNICO-OPERATIVOS


NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL MEDIANDO A AÇÂO
EDUCATIVA NA ASSITÊNCIA ESTUDANTIL

Antes de falar sobre as entrevistas sociais, enquanto instrumento técnico


utilizado pela profissão, faz-se necessário entender que a intervenção do assistente
Social é materializada no cotidiano16, campo fecundo de desenvolvimento e atuação
profissional.
O Serviço Social é uma profissão inserida na divisão sociotécnica do trabalho,
o que para Prates (2003) significa a obrigatoriedade dessa profissão de não se

16
Para Heller (2013, p.4),o cotidiano é a junção das vivencias e o ser social que as vive. O cotidiano ou
cotidianidade não é o mesmo que a rotina do dia a dia, pois essa seria a repetição de ações sem um
pensamento consciente sobre elas, já o conceito de cotidiano trazido aqui fala “sobre “a vida em sua
justaposição, numa “sucessão aparentemente caótica” dos fatos, acontecimentos, objetos, substâncias,
fenômenos, implementos, relações sociais, história e assim por diante”. (HELLER, 2013, p.4).
30

restringir a um espaço específico de análise, e sim que esta seja permeada por todas
as “tramas das relações sociais”, para, a partir deste entrelaçamento, construir e propor
uma ação que compreenda a complexidade da realidade concreta. Ou seja, que
compreenda as multiplicidades da realidade distinguindo-as entre a realidade objetiva,
que existe independente das crenças individuais e a realidade subjetiva que é
inteiramente criada a partir de quem a pensa. Nesse sentido, não cabe ao profissional
interpretar a realidade de forma subjetiva, visto que a realidade concreta existe antes
de sua construção individual e não pode ser descartada por um ponto de vista.
É por meio dessa visão ampliada do que é a realidade e como é construída a
sociabilidade dos indivíduos nela inserida, que o assistente social traça sua leitura
sobre a situação apresentada pelos sujeitos que chegam às suas salas de
atendimentos solicitando auxílio e inclusão nas políticas assistenciais. Daí, então,
operacionaliza suas ações, assumindo seu papel de mediador na medida em que
estuda, investiga, analisa e delimita as formas de atuar, as quais
não são uniformes nem padronizadas, visto que a própria realidade não segue um
modelo fixo e imutável. E, de acordo com cada análise de um caso realizada que o
assistente social consegue escolher as melhores ferramentas para intervenção. Para
Torres, os assistentes sociais.

[...] partem necessariamente da análise da realidade social, procurando


entender as implicações sociais e políticas que referenciam o exercício
profissional, construindo uma aproximação crítica entre o conhecimento já
sistematizado sobre a realidade social e as particularidades experienciadas
cotidianamente via campos ocupacionais (TORRES ,2014, p7).

Junto a essa perspectiva do exercício profissional do assistente social,


encontra-se a estruturação do próprio dia a dia no espaço institucional. Ele acomoda
elementos que conduzem a um direcionamento superficial e imediatista, devido as
suas exigências pautadas em respostas rápidas, o que por vez acaba induzindo à
alienação e a visões que se aproximam do senso comum. Segundo Lacerda (2014), o
dia a dia acaba gerando uma visão sobre as situações que não se aprofundam aos
“fenômenos reais”. Assim, cada vez que um estudante chega ao Serviço Social para
responder um questionário socioeconômico pré-formulado, caso o profissional se
restrinja apenas as perguntas contidas no seu script, ele não será capaz de captar as
reais necessidades, muito menos os condicionantes sociais que afastam esse
estudante das condições mínimas para se manter na universidade. Dessa forma, se
31

torna difícil o processo de análise capaz de gerar um direcionamento socioeducativo,


uma vez que antecede a esse direcionamento uma análise para assim ser escolhida
os meios de intervenção no processo educativo. Então, Lacerda (2014, P. 23),
complementa que nessa dinâmica do dia a dia “enxerga-se a pobreza, mas não o
movimento histórico-econômico que a engendra”, e dessa forma perde-se um papel
fundamental da profissão que é a de fortalecer a organização e a mobilização social a
fim de que reconheçam-se como ser de direitos e o seu papel enquanto parte da classe
trabalhara que deve ser emancipada.
Tenha-se presente, que a esfera cotidiana solicita respostas automáticas com
uma forte tendência a homogeneização de uma realidade que é genuinamente
heterogênea e complexa, fazendo com que o Serviço Social corra o risco de se colocar
como um instrumento colaborador da manutenção do status quo, uma vez que a
profissão se encontra na cisão entre explorados e exploradores.
Guerra (2017) expõe que o cotidiano é constituído por quatro características
bem determinadas, são elas: a heterogeneidade; a espontaneidade; a imediaticidade
e a superficialidade 17 . Essas características, em conjunto, atravessam as práticas
interventivas fazendo com que o profissional, em sua ação mediadora acabe por focar
nas exigências institucionais (sejam elas metas, critérios para elegibilidade, execução
de atribuições que não compete à profissão, ou, simplesmente, execução de tarefas
determinadas pelas instituições que o profissional se insere e em que nada
acrescentam na intervenção profissional fundamentada), sem tempo hábil para
questionar, teorizar e/ou problematizar as demandas trazidas pelos sujeitos
estudantes. O foco passa ser a resolutividade.
Para que isso não aconteça, o foco na resolutividade como único objetivo da
intervenção, é exigido dos profissionais de serviço social em suas práxis cotidiana,
uma análise que ultrapasse o imediatismo e a aparência, porque, como coloca Guerra
(2003), conhecimento adquirido através da dimensão intelectual, torna-se fundamental
no processo interventivo da profissão de serviço social, requerendo dois níveis de
conhecimento, tem-se: a) um conhecimento que subsidie a intervenção imediata nas
variáveis do contexto, sendo imediatamente instrumentalizáveis; b) um conhecimento

17
A “heterogeneidade” diz sobre a diversidade das demandas e a necessidade da plena atenção sobre
elas; a “espontaneidade” é a apropriação natural dos modos, comportamentos e costumes da
sociedade; a “imediaticidade” é a respostas imediatistas dadas às demandas e, por fim, a
“superficialidade” é a forma que as demandas do cotidiano são tratadas, ou seja, devido a imediaticidade
de tais as respostas não têm aprofundamento. (GERRA, 2017, p. 54).
32

sobre os fundamentos para entender a complexidade dos fenômenos (para além da


sua imediaticidade) que circundam e se defrontam a profissão, expressos nos
determinantes sociais, econômicos, políticos, ideológicos e culturais, que implicam,
determinam e reconstroem o modo de ser e de proceder da profissão, sua lógica
interna e sua articulação com os demais fenômenos, processos sociais e demais
práticas sociais. Objetivamente, o conhecimento fundamenta e oferece subsídios para
desvendar a realidade mediata e imediata, norteando o planejamento das ações,
aclarando os valores e objetivos, conduzindo a criação de estratégias e táticas no
processo interventivo. Guerra, continua,

Para estabelecer o que, por que, quando, onde e como e para que fazer
concomitante à sua intervenção, o assistente social tem que conhecer o mais
aproximadamente possível a realidade social na qual atua, de maneira
continua, provisória, aproximativa e histórica, para o que tem que desenvolver
sua dimensão intelectual (GUERRA, 2003, p. 15).

Isso se dá através de uma leitura crítica da realidade concreta, que vá além da


superficialidade das ocorrências causais, mergulhando nas significações das
contradições existentes para assim entender toda a engrenagem por trás de cada
situação. É nesse momento que a observação se torna um instrumento importante e
que compõe a dimensão investigativa.
A observação é uma ferramenta utilizada, não apenas pelo Serviço Social, mas
em todos os casos em que se objetiva um conhecimento da realidade, onde é preciso
saber o que se busca e onde se quer chegar. Para além disso, é preciso ter um
conhecimento teórico sobre o objeto para qual a observação se direciona. Como
coloca Sarmento (2013), a observação é um importante instrumento para levantar
dados qualitativos numa construção conjunta entre profissionais e usuários.
Entretanto, é preciso que os fundamentos teóricos estejam claros e que tenha bastante
segurança sobre os objetivos a que se pretende chegar no processo de observação.
A entrevista social no programa de assistência estudantil é o primeiro contato
direto com o estudante que solicita auxílio e o meio mais positivo de se aproximar de
sua realidade, ele carece de uma atenção plena e uma escuta qualificada18. Nesse

18
Entende-se aqui como escuta qualificada a atenção ao diálogo realizado com o estudante que chega
ao serviço social para realizar a entrevista, seja por meio dos editais ou em qualquer momento do
decorrer de sua formação, expondo sua vulnerabilidade a fim de ser compreendido e atendido no que
tange às suas necessidades. Por meio desse diálogo o profissional deve ater sua atenção ao discurso
trazido pelo usuário para identificar a realidade e conseguir conduzir questionamentos que tragam mais
33

momento da entrevista, por vezes feita de forma breve, uma vez que esta sofre os
efeitos da rotina institucional e da própria demanda por atendimentos, corresponde a
chance do assistente social fazer uso da capacidade de observação para identificar,
muitas vezes, demandas não expostas abertamente pelo usuário. É, também, no
momento da entrevista que o assistente social se aproxima melhor das informações e
do entendimento necessário, à luz das reflexões teóricas, dos limites e possibilidades
da realidade de cada usuário e de como se ordenará sua prática interventiva. O
assistente social, quando observa e entrevista, ele articula saberes diversos, recria-os
e constrói um “fazer” “socialmente produzido e culturalmente compartilhado com outros
atos teleológicos dos profissionais” envolvidos, resultando “na criação/renovação de
novos modos de ser da cultura profissional”. Efetivamente, ele articula de forma
objetiva, “os meios disponíveis e instrumentos de trabalho” na materialização dos
objetivos referenciados em valores políticos e humanos (MOTA, 2003, p.11).
Importante ressaltar que para o Serviço Social as mudanças na realidade
subjetiva e objetiva de cada sujeito, não se dá por meio de uma prática unilateral de
sentido impositivo. O assistente social constrói sua forma de intervir em uma realidade,
por meio das trocas na relação direta com os sujeitos que buscam e necessitam das
políticas sociais, bem como da relação com os outros profissionais que fazem parte de
uma equipe multiprofissional. Para Prates,

Somente a partir de uma análise conjunta podemos ressignificar espaços,


pensar coletivamente alternativas de enfrentamento, redescobrir
potencialidades, associar experiências, buscar identificações, dar visibilidade
às fragilidades para tentar superá-las, desvendar bloqueios, processos de
alienação, revigorar energias, vínculos, potencial organizativo, reconhecer
espaços de pertencimento. (PRATES, 2003, p.2).
É por meio desse trabalho cooperativo e colaborativo que envolve profissionais
e sujeitos, aliado a uma leitura crítica e ampliada da realidade, que o assistente social
orienta e determina sua intervenção para cada situação que exigem respostas. É na
ação de intervir que o papel profissional abandona a mera teorização das
condicionantes e materializa o objetivo principal da profissão, capacitar e emancipar
como consta nos princípios fundamentais do Código de Ética do Serviço Social.
Para concretização desse objetivo profissional, o assistente social toma um
direcionamento educativo e político para informar, conscientiza, esclarecer e orientar

detalhes e que colaborem com uma análise precisa, para que assim esse estudante possa ser orientado
e encaminhado de forma correta na garantia de direitos. (GESUAS,2017).
34

seus usuários, seja de forma individual ou em grupo e, essa ação se encaixa na


dimensão socioeducativa que o assistente social possui. O trabalho socioeducativo é
um movimento que fortalece a emancipação e contribui para “formação de uma
consciência crítica entre sujeitos, através da apreensão e vivência da realidade, para
a construção de processos democráticos, enquanto espaços de garantia de direitos,
mediante a experiência de relações horizontais entre profissionais e usuários” (LIMA;
MIOTO,2011, p. 2017).
A direção socioeducativa e as ações advindas dela, como a democratização de
informações e/ou estimulação dos usuários para que sejam capazes de tomar suas
próprias decisões na direção da efetivação de seus direitos e no reconhecimento do
mesmo como um sujeito ativo e social, necessariamente, requer a articulação das
dimensões tão indispensáveis ao Serviço Social, as quais já foram bem citadas nesse
trabalho (TORRES, 2014). Ainda que, aparentemente, orientar e informar pareçam
uma atividade simples, sem um posicionamento político e um compromisso ético-
profissional, essa ação não seria bem executada, porque por meio dessa mediação o
assistente social afirma “seu compromisso com a classe subalterna” e tem que propor
ações que possibilitem um pensamento crítico sobre a realidade, por parte dos
usuários, e a “construção de atividade estabelecidas e planejadas em conjunto com
todos os participantes e a projeção dos resultados esperados” (TORRES, 2014, p10),
para isso é preciso intercalar os conhecimentos teóricos e práticos.
Não obstante, a pragmatização da atuação profissional por meios de
instrumentais, independente do campo sócio ocupacional, se enquadra na aparente
separação entre a teoria e prática; aparente, porque em tese essa separação não deve
acontecer para o Serviço Social, por tudo que já foi citado. Na abordagem marxista,
teoria e prática, como polos opostos, confrontam-se a todo momento: questionam-se,
negam-se e superam-se a ponto encontrarem uma unidade que é sempre histórica,
relativa e provisória. Não obstante, teoria e prática mantém sua especificidade e
autonomia. A teoria, nesta concepção, tem que ser vista como a crítica e a busca dos
fundamentos. Ela tem validade enquanto reflete as relações sociais reais, e por isso o
conhecimento produzido é sempre, processual, provisório, aproximativo e relativo
(sem, contudo cair no relativismo e subjetivismo de correntes historicistas para as
quais o real é mera atribuição do sujeito). A prática social pode validar uma teoria em
determinadas condições sócio históricas, de modo que a teoria tem que ser
reconhecida na prática, mas não nas práticas profissionais. A teoria, por si, não produz
35

transformações prático matérias, o que ela faz é transformar percepções e


concepções. Para que haja transformações na realidade é preciso outras mediações
a nível prático (GUERRA, 2009). No entanto, como posto anteriormente, o cotidiano,
assim como a própria lógica do capital, tende a homogeneizar as relações sociais e
suas complexas expressões.
Esta homogeneização decorre da solicitação de um pragmatismo incoerente
com a multiplicidade da realidade, em que é preciso dar respostas imediatas e a teoria
deve estar contida nessa finalidade, abandonando a intenção transformadora. “Esta
concepção demonstra uma excessiva valorização dos resultados voltados para o êxito
individual em detrimento do processo desencadeado para o conhecimento da
realidade e as respostas às reais necessidades coletivas”. (FORTE; GUERRA, 2010,
p. 4).
E é exatamente esse processo que distancia a concepção ontológica do Serviço
Social, por não ser uma profissão meramente pragmática, mais uma profissão pautada
na historicização dos sujeitos e da realidade social a qual se insere, no intuito de
garantir direitos e de emancipa-los por meio de uma abordagem teórico-crítica, de
matriz analítica e interventiva. Uma não pode estar desassociada da outra.
36

3. A ENTREVISTA COMO ESCUTA QUALIFICADA E AS POSSIBILIDADES


SOCIOEDUCATIVAS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL NA ASSISTÊNCIA
ESTUDANTIL DA CAPAP- PROAE/UFRN

Nesse capitulo, o presente trabalho analisa a importância da entrevista social,


no recorte da assistência estudantil da UFRN, como parte constitutiva da dimensão
técnico-operativa, considerando a observação e a escuta qualificada, mediante a
entrevista, como recursos de grande importância no processo da intervenção
profissional do assistente social mediando a ação socioeducativa. No momento da
entrevista, o assistente social orienta o estudante quanto aos seus direitos, bem como
a própria política de assistência ao estudante como um direito19, na medida em que
informa sobre os diferentes programas e seus editais, que fazem parte da política de
assistência estudantil. A PAE, enquanto uma política direcionada para os estudantes
matriculados em cursos presenciais de graduação e pós-graduação, mediante as
atividades do ensino, da pesquisa e da extensão, tem suas ações centradas em um
processo seletivo, mediante critérios socioeconômicos buscando atender os
estudantes, em suas demandas nas áreas de moradia, alimentação, transporte,
atenção à saúde, inclusão digital, cultura, esporte, creche e apoio pedagógico. Essas
áreas são estabelecidas pelo PNAES através de algumas diretrizes, mas cabe a cada
instituição de ensino superior desenvolver seus programas através das resoluções
internas e de acordo com a demanda específica de cada instituição, ou seja, a
instituição definirá os critérios de inclusão e a metodologia para selecionar os alunos.
Mesmo com essa autonomia para o desenvolvimento e execução dos programas e
auxílios, o PNAES determina quem prioritariamente deve ser atendido nas suas
necessidades de transporte, alimentação e moradia, assim, dependendo do recurso
disponibilizado a cada instituição, essas são as áreas que não podem deixar de ser
atendidas, por entender que são necessidades básicas, mas essenciais para contribuir
com a permanência dos alunos. Ademais, este capitulo analise as atividades

19
Segundo Pereira e Souza (2017, p. 75-78), a política de Assistência Estudantil contribui positivamente
quando é vista como um direito e não mera ajuda ou benemérito social, tornando-se política pública ao
ser pensada e colocada em prática para não ser fomentadora de mecanismos que reforcem dicotomias
entre assistência social e educação. As autoras compartilham do paradigma que compreende a
assistência social na perspectiva dos direitos e, portanto, pela sua coparticipação no processo de
universalização e democratização da Política de Educação. Neste sentido, a Educação cumpre o seu
papel transformador, sem concessões às demandas meritocráticas impostas pela lógica mercantil
(apud, SANTOS; ABRANTES; ZONTA.2021, p215)
37

desenvolvidas na assistência estudantil na perspectiva de entender os desafios


enfrentados pelos profissionais inseridos nesse campo, no que se refere a escuta
qualificada que possibilite compreender a realidade de cada estudante a partir das
suas demandas, ao mesmo tempo analisar as possibilidades socioeducativas no
exercício profissional na assistência estudantil na CAPAP.

3.1. A ENTREVISTA COMO ESCUTA QUALIFICADA NA ASSISTÊNCIA AO


ESTUDANTE NA PROAE/UFRN CONTRAPONDO-SE AO IMEDIATISMO

Todo aprofundamento teórico, político e crítico, contido na formação do


assistente social, se expressa nos espaços sócio ocupacionais em que eles estão
inseridos. No entanto, entendemos a heterogeneidade da própria categoria
profissional, fazendo com que não haja uma uniformidade no processo de atuação,
mas sem esquecer da direção social e política do Projeto Ético-político, que
fundamenta o projeto da formação e o profissional.
Identificar e analisar as demandas, reconhecer as necessidades e as condições
de vida de cada estudante no campo da intervenção profissional, se constitui o
fundamento principal desta análise, tendo a entrevista como recurso técnico-operativo,
na perspectiva de compreender as possibilidades socioeducativa da intervenção
profissional.
Temos presente que a entrevista social, no recorte da assistência estudantil da
UFRN, é parte constitutiva da dimensão técnico-operativa, considerando a observação
e a escuta qualificada como recursos fundamentais para uma análise aprofundada da
realidade do estudante que se submete e precisa desta assistência em razão da sua
situação socioeconomicamente vulnerável, identificada na entrevista socioeconômica.
Entre 2017 e 2018 realizei meu estágio supervisionado na CAPAP/UFRN. A
CAPAP é de natureza pública, atuando na área da educação, fazendo uma articulação
entre educação, assistência social e assistência estudantil. De acordo com Relatório
Final da Pró-Reitoria do ano de 2013, a mesma tem como objetivo operacionalizar a
Política Nacional de Assistência Estudantil dentro da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, atendendo, assim, os discentes que necessitam do apoio da
instituição para que concluam o ensino técnico ou superior.
Para fim deste trabalho, analisamos as questões que competem ao setor de
seleção para os programas de assistência estudantil, visto que em suas atribuições
38

contam com a realização da entrevista socioeconômica, objeto de análise deste


trabalho. Dentre as competências da CAPAP, que se materializam em atividades
cotidianas realizadas pelas profissionais de Serviço Social e pela Técnica em Assuntos
Educacionais e que se encontram no Artigo 167 do Regimento Interno, estão:

I – coordenar os setores de orientação pedagógica, de controle e avaliação de


bolsas e de seleção;
II – propor à Diretoria a atualização de critérios de avaliação e
acompanhamento dos alunos beneficiados com programas de assistência;
III – propor à Diretoria ações corretivas para os alunos com dificuldades de
ordem pessoal e material para conclusão de curso.
§1o Ao Setor de Orientação Pedagógica compete:
I – identificar alunos com diferentes graus de dificuldades de permanência e
conclusão de curso;
II – classificar, de acordo com os diferentes graus de dificuldades, os alunos
que necessitam de acompanhamento pedagógico;
III – encaminhar os alunos com dificuldades de aprendizado para os
procedimentos adequados.
§2o Ao Setor de Controle e Avaliação de Bolsas compete:
I – cadastrar nos sistemas de informação e gestão da Universidade os alunos
candidatos aos programas de bolsas da UFRN;
II – avaliar a situação socioeconômica de cada aluno e realizar a classificação
de acordo com os critérios das resoluções vigentes;
III – controlar o quantitativo e a distribuição das bolsas de acordo com o
orçamento estipulado pelo Conselho de Administração.
§3o Ao Setor de Seleção compete:
I – selecionar os candidatos às bolsas, ouvindo o Setor de Controle e
Avaliação de Bolsas;
II – entrevistar os candidatos para a devida comprovação de renda familiar,
quando for o caso;
III – encaminhar os bolsistas selecionados para as unidades solicitantes;
IV – encaminhar a relação dos bolsistas para o setor de pagamento
competente. (UFRN, 2012, P. 8).

Foi através da Resolução 055/1978-CONSUNI, que o Serviço Social foi


regulamentado na UFRN, no dia 23 de junho de 1978, com o objetivo de ocupar esse
departamento de assistência estudantil visando atuar nas demandas provenientes dos
usuários, estudantes da UFRN, que recorrem à assistência estudantil no processo de
acesso e permanência ao Ensino Superior dessa instituição na graduação e pós-
graduação.
Apesar do Serviço Social já ter uma atuação no campo da educação
reconhecida em outros países, no Brasil essa inserção ocorreu bem mais tardiamente,
em concomitância ao cenário de institucionalização das políticas sociais, de modo
geral, que historicamente foram promulgadas como direitos e garantias sociais no
decorrer do processo de redemocratização que culminou na Carata Magna de 1988.
Portanto, a instauração do Serviço Social nesta instituição, foi para dar respostas às
39

necessidades dos alunos, utilizando a sua força de trabalho nas mediações das
demandas trazidas pelos estudantes. As mediações ocorrem por meio dos programas
oferecidos numa prestação de serviço ao estudante, tendo presente a realidade
socioeconômica dos sujeitos e dos parâmetros instrucionais colocados como viáveis
para inserção. Isso para que tornasse possível responder as diferentes expressões da
questão social que chegam através mediante as situações de vulnerabilidade social
que interferem diretamente no rendimento acadêmico dos alunos, assim como a
permanência.
O Serviço Social da UFRN centraliza suas atividades na CAPAP e, entre 2017
e 2018, era constituída por uma equipe de 06 (seis) assistentes sociais, além de outros
profissionais e bolsistas. Número considerado insuficiente em relação a demanda,
principalmente no período de realização da seleção dos alunos para os programas e
auxílios. Para desenvolver suas atividades, a Coordenadoria de Apoio Pedagógico e
Ações de Permanência baseia suas ações nas legislações que regulamentam o ensino
superior brasileiro, como a Lei de Diretrizes de Base da Educação, a Política Nacional
da Educação, a Política Nacional de Assistência ao Estudante e nas resoluções
internas de regulamentação da assistência estudantil, pelas quais são originados os
programas e projetos direcionados aos estudantes da UFRN. Assim, segundo os
objetivos estabelecidos na PNAES e, executados pela assistência estudantil, é
intenção: 1) democratizar as condições de permanência dos jovens na educação
superior pública federal; 2) minimizar os efeitos das desigualdades sociais e regionais
na permanência e conclusão da educação superior; 3) reduzir as taxas de retenção e
evasão; 4) contribuir para a promoção da inclusão social pela educação. (BRASIL,
2010).
Dessa forma, a atuação do Assistente Social neste campo se torna de
fundamental importância, uma vez que é o profissional que mediatiza e encaminha os
serviços dessa Política, sobretudo, porque cabe ao assistente social fazer as entrevista
da entrevista. Nessa mediação para o acesso a assistência estudantil, cabe ao
assistente social estabelecer o primeiro contato para orientação e inserção dos alunos
nos programas que auxiliam na permanência. Esse contato se operacionaliza por meio
dos instrumentais utilizados pelos profissionais de Serviço Social, no caso, a
entrevista, um dos principais instrumentos. Com o recurso da entrevista social torna
possível ao profissional identificar novas demandas, até mesmo aquelas que não se
encaixam nas competências do assistente social respondê-las, ocorrendo assim, um
40

encaminhamento para um outro profissional responsável, que faz parte da equipe


multiprofissional da CAPAP. Em razão disso, o assistente social necessita realizar a
entrevista prezando uma escuta qualificada, para identificar necessidades diversas,
analisar, orientar, intervir e/ou encaminhar. Neste momento da entrevista, os
fundamentos teórico-metodológicos, ético-políticos se constituem fundamentais nas
interpretações crítica-analíticas das informações obtidas em função das orientações e
encaminhamentos dos programas serviços da assistência ao estudante.
Apesar do Serviço Social ter um objetivo claro na perspectiva da efetivação e
expansão dos direitos do estudante, que comuna com o projeto ético-político da
profissão, além de estabelecer ações que contribuam com a permanência dos
estudantes desta universidade, encontramos algumas contradições que tencionam
esses objetivos, começando pelo próprio orçamento disponibilizado para os programas
de Assistência Estudantil, das correlações de forças 20 e pelos interesses internos
institucionais.
Esses fatos expõem a situação do profissional no âmbito do exercício
profissional do assistente social. Situação que tensional o movimento da dimensão
técnico-operativa, tratando-se de um dos instrumentos de trabalho, a entrevista, em
face dos ditames da oferta institucional e da demanda pelos serviços por parte dos
estudantes. A entrevista sempre é executada sob os interesses e critérios de
elegibilidade da instituição, considerando a lógica da seletividade que visa o
quantitativo, seguindo a quantidades de vagas disponibilizadas, bem como o tempo de
publicação dos editais e seleção e triagem, determinando que todo processo ocorre de
forma pragmática e seguindo o imediatismo exigido e aprazada institucionalmente.
Nessa direção, torna-se discrepante a leitura da realidade pela escuta qualificada
durante a entrevista com o estudante, e, portanto, observamos uma dificuldade do
ponto de vista objetivo e subjetivo dos profissionais em estabelecerem uma conexão
com os fundamentos teórico-metodológicos e ético-políticos, considerando o
imediatismos exigindo nos processos seletivos que obedecem a um trabalho
intensificado, que precariza as ações dos profissionais envolvidos e dificulta as
análises dos conteúdos obtidos nas informações. .

20
Trata-se aqui da correlação de forças entre os interesses da instituição, que preza uma política de
redução de custos nos gastos com a assistência e o interesse do serviço social em democratizar e
ampliar o acesso aos direitos.
41

Observa-se que as vagas para os programas de assistência ao estudantes não


acompanham os números crescentes de estudantes oriundos da classe trabalhadora
que conseguem ingressar na universidade pública. Assim, permanece,
inevitavelmente, uma oferta de um serviço seletivo e focalizado. Tais fatos desafiam
os objetivos dos profissionais de Serviço Social, tornando-se uma limitação que afeta
o atendimento das demandas trabalhadas pelos assistentes sociais da universidade.
Enfim, mesmo que as políticas educacionais apresentem propostas favoráveis aos
estudantes, na prática elas não se objetivam de forma integral e concreta, em razão
do contexto de uma desigualdade estrutural brasileira, bem como, o reducionismo dos
direitos sociais para aqueles que estão à margem do consumo ou para aqueles que
não os obtém via mercado, resultante de uma crise multifacetada nos aspectos sociais,
políticos e econômicos da sociedade brasileira. Crise enfrentada através de uma
reestruturação produtiva agravada, pelo desemprego, pela crise sanitária em tempos
de pandemia21.
Como facilitar a atuação profissional no intuito de atender as demandas trazidas
pelos estudantes, em meio a um campo que apresenta dificuldades orçamentárias
(cortes de verbas na educação), bem como um número reduzido (quantitativo mínimo)
de profissionais atuantes para cumprir com as funções estabelecidas pelos setores?
Foi com base nessa leitura do cenário apresentado e na observação da atuação dos
assistentes sociais ali presentes, que percebemos a importância da articulação das
dimensões que orientam a atuação do assistente social, como a teórico-metodológica,
ético-política e técnico-operativa, além da dimensão de suma importância, que é a
dimensão educativa. Esta última é caracterizada por proporcionar a possibilidade do
assistente social articular as características identificadas no âmbito individual com o
coletivo dos sujeitos que recorrem a assistência social em busca de ter respostas que
atendam suas demandas (Souza,2008). Ainda sobre essa articulações de dimensões,
Guerra (2009), ao falar sobre a formação doa assistentes sociais diz que é preciso

[...] formar profissionais capazes de desvendar as dimensões constitutivas da


chamada questão social, do padrão de intervenção social do Estado nas
expressões da questão social, do significado e funcionalidade das ações

21
Durante a pandemia de Covid a renda média dos brasileiros reduziu da média de R$ 1.200,00 para
R$ 995,00; O bem-estar social também teve seus índices alterados, no que trata prosperidade e
igualdade, teve uma queda de 19,4%. “O índice de Gini, usado para avaliar a distribuição de riquezas
de determinado lugar, passou de 0,642 no primeiro trimestre de 2020 para 0,674 no mesmo período de
2021” (VEJA, 2021) disponível em <https://veja.abril.com.br/brasil/desigualdade-social-aumenta-e-
felicidade-do-brasileiro-cai-na-pandemia/>
42

instrumentais a este padrão, através da pesquisa, a fim de identificar e


construir estratégias que venham a orientar e instrumentalizar a ação
profissional, permitindo não apenas o atendimento das demandas imediatas
e/ou consolidadas, mas sua reconstrução crítica. (p.1).

A dimensão socioeducativa necessita exige uma ação profissional, e, nela uma


técnica ou um recurso de um instrumento, no caso em análise, é a entrevista social,
uma vez que é o momento de identificar demandas e escolher a forma de intervir. É
no momento da entrevista que o assistente social consegue orientar o estudante em
relação aos seus direitos, mas também muni-lo de informações que lhe proponham um
pensamento crítico acerca de sua realidade, o fazendo questionar e entender seu
papel social. É nesse momento também que o profissional cria um vínculo de afinidade,
confiança e empatia, facilitando o recebimento das informações por parte dos sujeitos.
Para além da capacidade de articular dimensões e gerar um pensamento crítico,
diante da própria dinâmica do cotidiano profissional, o assistente social necessita de
tempo e ambiente que o propicie condições para que, no momento das entrevistas,
consiga centrar sua atenção nas falas dos usuários, do que eles trazem e demandam,
e daí identificar quais as reais necessidades do sujeito, definir as ferramentas corretas
para coleta de dados, e programar sua intervenção. Essa intenção se fortalece na
execução de uma escuta qualificada nos momentos da entrevistas, porque é nesse
momento que o assistente social consegue passar confiabilidade e segurança para o
usuário, além de criar um elo de afinidade. O usuário precisa se sentir ouvido e
compreendido, tanto quanto, o assistente social precisa se fazer entender.
Apesar de parecer simples manter um diálogo analítico e educativo no momento
das entrevistas, tal dialogo não se materializa de forma tão concreta e eficaz na prática
cotidiana, justamente pelo imediatismo e pelo espontaneísmo. Como afirma Guerra
(2012, p?), “o espontaneísmo e a imediaticidade andam atrelados na forma de atuação
cotidiana, fazendo com que as respostas se resolvam em si mesmas mostrando
apenas utilitarismo pragmático como forma de reprodução das relações sociais”. Nesta
perspectiva, é desafiador o desenvolvimento de uma ação socioeducativa em meio as
cobranças do cotidiano institucional, ao ponto dessa necessidade passar despercebida
por alguns assistentes sociais tão envoltos a cumprir tarefas, atender estudantes em
suas demandas, responder enormes demandas em tempos curtos, conforme o tempo
de publicação dos editais.
43

3.2. A ENTREVISTA E AS POSSIBILIDADES SOCIOEDUCATIVAS NO


EXERCÍCIO PROFISSIONAL NA ASSISTENCIA ESTUDANTIL DA CAPAP -
PROAE/UFRN

Para Guerra (2014), o homem cria, através do trabalho, meios que o permite
satisfazer as suas necessidades. Ela afirma que “esses meios de trabalho ou
condições materiais, medeiam a relação entre a força ou a capacidade de trabalho e
o objeto sobre o qual incide sua ação, mediante um projeto ou finalidade” (Guerra,
2014, p.148). Com isso, o homem tem capacidade de pensar e executar ações que
possibilitem o alcance de um objetivo específico, ele cria as ferramentas necessárias
que viabilizam chegar ao ponto que almeja. A criação dessas ferramentas ocorrem, a
princípio, associada a capacidade teleológica do ser humano, quando, a partir desta,
ele cria as ferramentas que colaboram com a execução do seu plano e a concretização
do seu objetivo. Não obstante, a entrevista pode ser entendida como um instrumento
criado pelo homem que media uma intenção e um resultado.

Para Lewgoy e Silveira (2007, p. 236-237), a entrevista segue algumas etapas,


as quais necessitam da compreensão e articulação das dimensões 22 principais do
Serviço Social. Essas etapas são as de “planejar, executar e registrar”. A ação de
planejar (Lewgoy e Silveira,2007), subdivide-se em alguns passos, eles seriam o
conhecimento sobre o campo ao qual se insere o assistente social e suas políticas,
qual a finalidade da entrevista que será aplicada e quais questões serão importantes
levantar para contribuir com a leitura e análise da realidade. Também é preciso pensar
a escolha do ambiente e em qual momento será realizado a entrevista. Nesse campo,
podemos lembrar do sigilo profissional23 e da necessidade, nos casos das entrevistas
individuais, que o sujeito entrevistado sinta-se seguro para compartilhar suas
informações com quem o entrevista.

A “execução” da entrevista ocorre a sistematização dos dados coletados e


identificação das demandas. Nesse processo, necessita da “apreensão do conteúdo

22
Teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa.
23
O capítulo V do Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais, que fala sobre o sigilo
profissional, em seu Art. 16 diz que “O sigilo protegerá o usuário em tudo aquilo de que o assistente
social tome conhecimento, como decorrência do exercício da atividade profissional. Art. 17 - É vedado
ao assistente social revelar sigilo profissional. (CFESS, 1993).
44

comunicado, tanto pela linguagem verbal como pela não-verbal, e assim compreender
a realidade que se apresenta através dos sentimentos, dos desejos e das
necessidades sociais” (Lewgoy e Silveira,2007, p.237). Por último, o assistente social
precisa compartilhar as informações24 e a evolução do seu caso com o sujeito que é
objeto de sua intervenção, como também com os outros profissionais da instituição
que necessitarem de acesso aos relatórios, laudos ou qualquer material que está
restrito ao Serviço Social, mas que colaborará no quadro geral da evolução da
demanda trazida pelo indivíduo. Espera-se, em casos de compartilhamento de
informações com uma equipe multidisciplinar, o sigilo profissional, e que será
compartilhado, apenas o que não quebre a proteção das informações passadas pelo
usuário.
Essas reflexões teóricos sobre a entrevista têm grande importância no olhar
crítico e analítico sobre o nosso objeto de análise neste trabalho, escolhido com base
na experiência de estágio. Após vivenciar a dinâmica das entrevistas sociais nos
períodos de abertura de editais para concessão de bolsas e auxílios na UFRN,
evidenciamos que a entrevista, mesmo que direcionada à realização da triagem para
saber quais alunos teriam acesso aos programas - após análise do questionário
socioeconômico (disponibilizado no SIGAA25), respondido de forma voluntária pelos
estudantes e exigido como parte do processo de avaliação para inclusão, além da
avaliação documental de comprovação de renda e endereço – é o instrumento de
maior importância para coletar dados e gerar diagnósticos sobre a realidade dos
estudantes e suas demandas.
Nos períodos de execução de editais as demandas das entrevistas sociais
tornam-se elevadas e o seu tempo de execução se torna sumariamente reduzido, os
assistentes sociais da CAPAP nem sempre conseguem articular conhecimentos
teóricos, políticos e práticos. Mesmo que consigam reconhecer demandas não
comunicadas, presente nas entrelinhas no relato do atendimento socioassistencial e
fazer uso de sua autonomia, enquanto profissional especializado, para atender
necessidades que fogem aos critérios exigidos pela instituição, não é possível garantir
a mesma atenção em todas as entrevistas realizadas.

24
Art. 18 - A quebra do sigilo só é admissível quando se tratarem de situações cuja gravidade possa,
envolvendo ou não fato delituoso, trazer prejuízo aos interesses do usuário, de terceiros e da
coletividade. (CFESS, 93).
25
Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas.
45

Como em qualquer campo profissional, a CAPAP apresenta desafios. Os


desafios postos aos assistentes sociais da CAPAP estão desde o número reduzido de
vagas ofertadas para contribuir com a permanência dos estudantes advindos das
classes populares, até o quadro de profissionais que também não acompanham as
demandas crescentes.
Frente a esses desafios – que aqui não consideramos abranger um por um - os
profissionais que realizavam as entrevistas sociais têm a possibilidade de articular as
dimensões acima citadas, através das entrevistas sociais, das orientações dadas aos
estagiários e pelos atendimentos de demanda espontânea (que são aqueles que
fogem às inscrições dos editais e se apresentam durante o decorrer dos semestres).
Ademais, além de utilizar os instrumentais postos ao Serviço Social da instituição, as
assistente sociais também utilizavam dos conhecimentos teóricos para identificação
de demandas que vão além das expostas pelo estudantes.
As assistentes sociais da assistência estudantil da CAPAP, em seu dia a dia na
prática profissional, lidam, rotineiramente, com situações que acabam por desgastá-
las psicologicamente e fisicamente. Estas situações surgem como demandas dos mais
variados tipos – as quais só e possível captar através de uma escuta qualificada, de
um direcionamento teórico, crítico e político – como, por exemplo, casos de violência
contra a mulher, violação de direitos, sofrimento psíquico, entre outros. Estas situações
fogem da foco do editais dos programas de assistência ao estudante, porém, não são
desconsideradas, e, quando identificadas, são encaminhadas para os serviços de
atendimento que corresponda a tal demanda.
Ocorre que, ao identificar tais demandas, os assistentes sociais aciona a rede
de apoio e conta com o trabalho multidisciplinar, realizando os encaminhamentos
necessários para cada situação, ou seja, necessitam da articulação não só com os
serviços oferecidos pela universidade, mas também dos serviços da área da Saúde,
Assistência Social, entre outros. Dentro e fora do Campos Universitário.
Para a realização das entrevistas, é preciso se atentar para alguns pontos
importantes que podem definir o quanto poderá ser eficaz o atendimento. Primeiro, o
momento da entrevista social ocorre o acolhimento do estudante que necessita de
apoio para permanecer na instituição. Nesse momento, o assistente social usa de sua
sensibilidade e empatia para absorver o máximo de informações que serão relevantes
para a evolução da situação trazida pelo sujeito. Somado ao acolhimento, tem-se o
questionamento, que foi posto como uma das etapas da entrevista (Lewgoy e
46

Silveira,2007). Para saber o que questionar é preciso saber, antes das respostas, onde
se deseja chegar. Assim, é possível direcionar as questões de acordo com a demanda.
Soma-se também a esse momento, a capacidade do assistente social gerar um
pensamento crítico no sujeito, que o leve a refletir sobre a sua realidade e obter
conhecimentos necessários que contribuam para sua autonomia, além do
reconhecimento dos seus direitos. É aqui que está presente a dimensão
socioeducativa.
Diante das dificuldades de estruturação organizacional da CAPAP, os
assistentes sociais precisam de maior dedicação para trabalhar os limites, sejam pelas
exigências institucionais que os atingem enquanto trabalhadores assalariados, ou seja
pela própria dificuldade de adesão, por parte dos estudantes aos projetos de
intervenção criados. Contudo, a dimensão socioeducativa se encontra presente de
acordo com as condições dispostas para atuação profissional na assistência estudantil.
Como parte das ações dessa dimensão, o Serviço Social consegue contribuir
para a compreensão da condição social ao qual o estudante se encontra inserido,
informando aos estudantes que procuravam os programas sobre a situação financeira
e/ou estrutural da Assistência Estudantil da UFRN, na intenção de gerar um
pensamento crítico acerca dos próprios direitos por meio da compreensão das
transformações sócio econômicas e políticas, refletindo o quanto essas
transformações afetam a concessão de direitos. No entanto, diante das dificuldades,
prazos de editais – com períodos de cumprimento dos editais e devido as elevadas
demandas, bolsas reduzidas, diferentes funções, entre outros -, o assistente social têm
menos tempo para dedicar-se a uma orientação qualificada e instruir os sujeitos que
chegam à assistência estudantil da forma que deveriam. Essas dificuldades, além de
afetar a própria escuta qualificada, dificultam também a execução da dimensão
socioeducativa. Contudo, há um esforço do assistente social assumir nessas relações
de trabalho, ações socioeducativa e política. O que corrobora com o pensamento de
Torres (2009), quando afirma que o assistente social tem que realizar

[...] uma leitura fundamentada do projeto ético político, da realidade social


constitutiva do exercício profissional. Demarca uma direção social para
exercício profissional, qual seja, a de consolidar o projeto ético político. Essa
abordagem estabelece a necessidade de o assistente social reconhecer as
demandas postas para o atendimento social e a formulação e a construção
das respostas profissionais de caráter crítico-analítico articuladas às
condições objetivas de vida do usuário e a realidade social (TORRES, 2009,
p. 224).
47

Não podemos deixar de perceber que as demandas identificadas no espaço


ocupacional do assistente social aqui referido, em seu dia a dia, são expressões da
questão social ambientadas em um campo, aparentemente favorecido, considerando
a grandeza das universidades públicas federais, e, ao qual não acreditamos, antes
desse contato, que ocorreria tantas problemáticas, sejam elas por parte dos alunos ou
dos próprios assistentes sociais, quanto as suas limitações no processo interventivo.
Mas, apesar das condições para atuação, por vezes limitadas em suas condições
objetivas e subjetivas, podemos considerar que o Serviço Social se esforça para pautar
suas ações orientadas nos princípios propostos pelo Projeto Ético-Político do Serviço
Social, incentivando um pensamento crítico e a autonomia dos sujeitos por meio da
informação, ainda que por vezes isso não seja realizada da forma nele idealizado.
Cardoso e Maciel (2009) apontam que a função da dimensão educativa do assistente
Social é a construção, entre profissionais e usuários, de “novas relações pedagógicas”,
que favoreçam a participação dos sujeitos em uma “dupla dimensão” que são a “de
conhecimento crítico sobre a realidade e recursos institucionais tendo em vista a
construção de estratégias coletivas” que atendam os interesses das sujeitos em
vulnerabilidade social. Esse direcionamento foi percebido na atuação dos assistentes
sociais da CAPAP, além do que induz, por meio da informação, a “mobilização desses
sujeitos, instrumentalização de suas lutas e manifestações coletivas”. (Cardoso e
Maciel, 2009, p.144).
48

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As observações levantadas nesse trabalho e as considerações realizadas sobre


as análises feitas durante o período de estágio curricular obrigatório na assistência
estudantil da PROAE/UFRN (2017-2018), expõe, mesmo que de maneira simples, os
desafios presentes quanto as possibilidades socioeducativas no exercício profissional
na Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis, a partir da abordagem da escuta qualificada
por meio da entrevista social realizadas pela Coordenadoria de Apoio as Ações de
Permanência – CAPAP.
Conseguimos perceber que a dimensão técnico-operativa, apesar de ser o
modo de aparecer da profissão, ela em sua ação individual e desarticulada das demais
dimensões teórico-metodológica e ético-política, dificulta ao profissional pensar de
forma crítica sobre a realidade dos sujeitos, ao mesmo tempo sistematizar
conhecimentos teóricos e técnicos, em respostas às necessidades sociais que lhe
chegam como demandas profissionais (GUERRA, 2002). Daí, porque, na mediação
dos instrumentais que caracterizam a dimensão técnica-operativa no exercício
profissional entendemos a exigência da articulação de saberes. Segundo Guerra,
(1998), a profissão, mesmo que considerada de natureza interventiva, tem a ela
inerente diversas dimensões como: técnico-instrumental, intelectual, formativa, ético-
política que se articulam entre si e são alimentadas por fundamentos teórico-
metodológicos, valores e pressupostos ético-políticos. São fundamentos importantes
para o exercício profissional por subsidiar a leitura e investigação da realidade do
sujeito; propor o planejamento, iluminar os valores e objetivos, e possibilitar e
estabelecer estratégias e táticas técnico-políticas para a intervenção profissional.
É portanto, na correlação dessas dimensões, que o assistente social no seu
exercício profissional pode se contrapor as ações instrumentais, permeadas por ações
pragmáticas, imediatistas, repetitivas, espontaneistas, burocratizadas, isentas de
valores e princípios éticos políticos e civilizatórios (cf GUERRA,2002).
Consideramos a entrevista social como uma ferramenta inerente à dimensão
técnico-operativa, que possibilita ao assistente social investigar a realidade do sujeito
através de uma escuta qualificada, reconhecer demandas, problematiza-las, e
direcionar ações em respostas a essas demandas na perspectiva da efetivação dos
direitos. O profissional não consegue alcançar os objetivos nesta perspectiva, se não
houver um posicionamento político, assim como um compromisso ético-profissional,
49

com uma base teórico-metodológico critico subsidiando esta ação. Caso não ocorra
essa fundamentação na direção da entrevista, os assistentes sociais acabam por
desenvolver ações pragmáticas, imediatistas que visam a eficácia e eficiência, a
despeito dos valores e princípios, segundo o Projeto Ético-Político da profissão que
direciona a atuação como facilitador da efetivação de uma “direção social por meio das
diversas ações profissionais – através das quais, como foi dito, incide-se sobre o
comportamento e a ação dos homens – balizadas pelo projeto profissional que a
norteia.” (Teixeira e Braz, 2009, p.5).
Pensando numa entrevista social que consiga coletar dados suficientes para
fomentar a realidade dos sujeitos que buscam os serviços de assistência, sem cair
numa análise superficial e meramente mecânica dos dados, o assistente social precisa
reconhecer que o momento da entrevista, como o momento de acolhimento do usuário
e estudo e investigação de sua realidade, deve ser bem pensada, questionada,
problematizada teoricamente de forma crítica. Embora seja uma escuta qualificada o
momento da entrevista, observamos que diante da própria dinâmica do cotidiano do
exercício profissional, por vezes, essa escuta perde-se no imediatismos das ações, no
preenchimento de formulários pré-estabelecidos pelas instituições, sem enxergar a
realidade concreta da vida do sujeito e a importância das informações trazidas pelos
estudantes.
Por meio de uma escuta qualificada é possível reconhecer demandas que não
se encaixam, a princípio, nas que fizeram esse sujeito procurar a assistência ao
estudante. Dessa forma, o profissional que articula as dimensões que direcionam a
atuação do Serviço Social, além de estar comprometido com um posicionamento
político que possibilite a transmissão de informações capazes contribuir na
emancipação do sujeito e de seu reconhecimento como ser ativo e de direito. No
âmbito dessas ações desenvolvidas pelo assistente social, através da entrevista como
escuta qualificada, identificamos as possibilidades da dimensão socioeducativa no
exercício profissional na Assistência Estudantil na CAPAP - PROAE/UFRN.
Conforme Cardoso e Maciel (2009) a função da dimensão educativa do
assistente Social em seu exercício profissional remete a construção, entre profissionais
e usuários, de “novas relações pedagógicas”, que favoreçam a participação dos
sujeitos em uma “dupla dimensão” que são: a “de conhecimento crítico sobre a
realidade e recursos institucionais tendo em vista a construção de estratégias
coletivas” que atendam os interesses das sujeitos em situação de vulnerabilidade
50

social. Esse direcionamento foi percebido na atuação dos assistentes sociais da


CAPAP, além do que induz, por meio da informação, a “mobilização desses sujeitos,
instrumentalização de suas lutas e manifestações coletivas”. (Cardoso e Maciel, 2009,
p.144).
A direção socioeducativa e as ações advindas dela, como a democratização de
informações e/ou estimulação dos usuários, surgem como possibilidades para que os
usuários sejam capazes de tomar suas próprias decisões na direção da efetivação de
seus direitos e no reconhecimento do mesmo como um sujeito ativo e social (TORRES,
2014).
Por meio de uma ação socioeducativa é possível organizar e mobilizar grupos,
a partir da construção de um pensamento crítico que perpasse o senso comum e que,
a longo prazo, pode gera mudanças substanciais na vida de cada um e por
consequência, na coletividade.
O trabalho socioeducativo, essencialmente, segundo Lima; Mioto (2011, p.
2017), possibilita a “formação de uma consciência crítica entre sujeitos, através da
apreensão e vivência da realidade, para a construção de processos democráticos,
enquanto espaços de garantia de direitos, mediante a experiência de relações
horizontais entre profissionais e usuários”.
51

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