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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


DEPARTEMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

ISABELLA DE AGUIAR NUNES DOS SANTOS

UMA ANÁLISE DO SERVIÇO SOCIAL NO ÂMBITO DO ACOLHIMENTO


INSTITUCIONAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA REGIÃO
METROPOLITANA DE ARACAJU

SÃO CRISTÓVÃO/SE
2022
ISABELLA DE AGUIAR NUNES DOS SANTOS

UMA ANÁLISE DO SERVIÇO SOCIAL NO ÂMBITO DO ACOLHIMENTO


INSTITUCIONAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA REGIÃO
METROPOLITANA DE ARACAJU

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Departamento de
Serviço Social da Universidade Federal
de Sergipe, como requisito parcial para
obtenção do título bacharel em Serviço
Social sob orientação do Prof Drº Jetson
Lourenço Lopes da Silva.

SÃO CRISTÓVÃO/SE
2022
ISABELLA DE AGUIAR NUNES DOS SANTOS

UMA ANÁLISE DO SERVIÇO SOCIAL NO ÂMBITO DO ACOLHIMENTO


INSTITUCIONAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA REGIÃO
METROPOLITANA DE ARACAJU

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Departamento de
Serviço Social da Universidade Federal
de Sergipe, como requisito parcial para
obtenção do título bacharel em Serviço
Social sob orientação do Prof Drº Jetson
Lourenço Lopes da Silva.

DATA DE APROVAÇÃO: ______/_______/________

BANCA EXAMINADORA

Profº Drº Jetson Lourenço Lopes da Silva – Orientador


Universidade Federal de Sergipe

Profª Drª Milena Fernandes Barroso – Examinadora


Universidade Federal de Sergipe

Profª Drª Nelmires Ferreira da Silva – Examinadora


Universidade Federal de Sergipe
AGRADECIMENTOS

Gostaria de começar agradecendo aos meus pais, Daniele Carvalho e Alberto Geraldo.
Obrigada pela criação, pelo apoio e por todo auxílio durante essa trajetória, desde as pequenas
até as grandes coisas, sem vocês nada disso seria possível.

A minha irmã gêmea Isabelle e minha irmã mais nova Ana Beatriz, obrigada por
estarem comigo nessa trajetória e por me ouvirem falar sobre a Universidade até tarde de
noite, vocês foram fundamentais na minha formação assim como são fundamentais na minha
vida.

A minha tia Michele e aos meus primos Josi e Carlos, obrigada por acreditarem em
mim e sempre me incentivarem e principalmente obrigada a minha tia por me fazer acreditar
que eu conseguiria e sempre se mostrar orgulhosa da minha conquista de entrar na
Universidade.

Ao meu namorado Dinarte Inácio, a pessoa que foi minha companheira de viagem em
quase toda a minha formação universitária. Obrigada pelo apoio, pela fé em mim, por todo o
auxílio na execução dos meus trabalhos acadêmicos, por me acalmar nos meus momentos
difíceis e por me ouvir chorar todas às vezes que eu acreditava não conseguir seguir em
frente.

Um agradecimento mais que especial para todas incríveis profissionais que se


dispuseram a fazer parte dessa pesquisa, vocês foram uma parte fundamental durante essa
jornada de elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso. Agradeço por terem
compartilhado um pouco dos seus trabalhos e de suas trajetórias profissionais comigo.

Obrigada a todas as pessoas incríveis que entraram na minha vida durante esse longo
percurso percorrido na Universidade, o apoio de vocês fez com que eu não me sentisse
sozinha e me ajudou durante todos esses momentos difíceis.

Gostaria de agradecer ao meu Zezé, eu sei o quão incomum deve ser agradecer a um
cachorro em um TCC, mas era você quem me esperava na janela todas as noites e você quem
me fez companhia tem todas as madrugadas que eu virei estudando, você foi meu apoio e eu
sinto sua falta todos os dias.

E por fim, obrigada ao meu orientador Jetson Lourenço. Sem o senhor nada disso seria
possível, o senhor foi de fato uma das melhores coisas desse processo e espero poder dizer
com orgulho no futuro que tive a honra de ser orientada por uma pessoa tão inteligente,
bondosa e humana. Gostaria de agradece-lo por ser meu orientador, mas acima de tudo
gostaria de agradece-lo por ser um professor tão humano e companheiro durante esse período.
RESUMO

A presente monografia expõe os resultados obtidos na nossa pesquisa que visava realizar uma
reflexão acerca da importância, das demandas e dos desafios impostos aos assistentes sociais
que trabalham no âmbito do acolhimento institucional de crianças e adolescentes na Região
Metropolitana de Aracaju. Este TCC apresenta uma pesquisa bibliográfica de método
dialético crítico que busca realizar um resgate histórico acerca da evolução dos direitos das
crianças e adolescentes no mundo e em especial no Brasil que se configura enquanto direito
conquistado através da luta da classe trabalhadora. Buscou-se também refletir acerca do
acolhimento institucional enquanto garantia de proteção de crianças e adolescentes que
tiveram os seus direitos violados, realizando um levantamento de eventos importantes que
marcaram a evolução das políticas de acolhimento institucional. E por fim, buscamos realizar
uma análise crítica acerca do trabalho dos/das assistentes sociais que se encontram compondo
as equipes técnicas das Unidades de acolhimento da RMA composta pelos municípios de
Aracaju/SE, Nossa Senhora do Socorro/SE, Barra dos Coqueiros/SE e São Cristóvão/Se, de
modo que possamos compreender um pouco da realidade cotidiana do fazer profissional do
Serviço Social.

Palavras-chave: Acolhimento institucional; crianças e adolescentes; assistência social;


Região Metropolitana de Aracaju.
ABSTRACT

This monograph presents the results obtained in our research, which aimed to reflect on the
importance, demands and challenges imposed on social workers who work in the scope of
institutional care for children and adolescents in the Metropolitan Region of Aracaju. This
undergraduate thesis presents a bibliographical research of critical dialectical method that
seeks to carry out a historical rescue about the evolution of the rights of children and
adolescents in the world and especially in Brazil, which is configured as a right conquered
through the struggle of the working class. It also sought to reflect on institutional care as a
guarantee of protection for children and adolescents who had their rights violated, carrying
out a survey of important events that marked the evolution of institutional care policies.
Finally, we seek to carry out a critical analysis of the work of social workers who are part of
the technical teams of the reception units of the RMA composed of the municipalities of
Aracaju/SE, Nossa Senhora do Socorro/SE, Barra dos Coqueiros/SE and São Cristóvão/SE, so
that we can understand a little of the daily reality of the professional doing of Social Work.

Keywords: Institutional reception; children and adolescents; social assistance; Metropolitan


Region of Aracaju.
LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - QUANTITATIVO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES TRABALHANDO


EM FÁBRICAS ENTRE OS ANOS DE 1850 – 1862 ........................................................... 28

QUADRO 2 - UNIDADES DE ACOLHIMENTO NA REGIÃO METROPOLITANA DE


ARACAJU ...............................................................................................................................55
LISTA DE GRAVURAS

GRAVURA 1 - ORGANIZAÇÃO DA REDE DE PROTEÇÃO AS CRIANÇAS E


ADOLESCENTES....................................................................................................................44
LISTA DE SIGLAS

A.C – Antes de Cristo


CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social
CONANDA – Conselho Nacional dos Direitos das Crianças e Adolescentes
CPF – Certidão de Pessoa Física
CRAS – Centro de Referência em Assistência Social
CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social
DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais
ECA –Estatuto da Criança e do Adolescentes
FUNABEM –Fundação Nacional do Bem Estar do Menor
LARA – Lar do Acolhimento Respeito e Amor
PIA – Plano de Atendimento Individualizado
PNBEM – Política Nacional do Bem Estar do Menor
PSS – Processo Seletivo Simplificado
RG – Registro Geral
RMA – Região Metropolitana de Aracaju
SAM – Serviço de Assistência ao Menor
SPA – Substância Psico Ativa
SUAS – Sistema Único de Assistência Social
TCC – Trabalho de Conclusão de Curso
TCLE – Termo de Consentimento Livre e esclarecido
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 12

CAPÍTULO I - OS DIREITOS DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA HISTÓRIA .... 15

1.1 A criança e adolescente na sociedade: antiguidade ........................................................ 16

1.2 A criança e o adolescente na sociedade: Idade Média .................................................... 20

1.3 A desproteção da criança e do adolescente sob a ordem do capital................................ 23

CAPÍTULO II - OS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: A FORMAÇÃO


DA REDE DE PROTEÇÃO..................................................................................................... 31

2.1. O acolhimento institucional no mundo .......................................................................... 32

2.2. O acolhimento institucional no Brasil antes da Constituição de 1988 .......................... 35

2.3. O acolhimento institucional no Brasil pós Constituição de 1988 .................................. 38

2.4. Organização do acolhimento: a rede de proteção .......................................................... 42

CAPÍTULO III - ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL NA REGIÃO METROPOLITANA


DE ARACAJU: QUESTÕES PERTINENTES À PRÁTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO
SOCIAL .................................................................................................................................... 48

3.1. Produção de conhecimento sobre a temática ................................................................. 49

3.2. Aproximações com a temática: experiência de estágio ................................................. 53

3.3. Dados e análises sobre o serviço de acolhimento institucional na Região Metropolitana


de Aracaju: questões pertinentes ao Serviço Social .............................................................. 55

3.4 - O Serviço Social no âmbito do acolhimento institucional de crianças e adolescentes na


RMA: a importância, as demandas e os desafios para profissão no cotidiano de trabalho .. 61

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 66

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 68

APÊNDICES ............................................................................................................................ 73

APÊNDICE A – Tabela dos resultados obtidos através da aplicação do questionário semi


estruturado. ........................................................................................................................... 73
12

INTRODUÇÃO
O serviço de acolhimento institucional de crianças e adolescentes surge enquanto
medida de proteção das mesmas. Trata-se de um serviço ofertado pela proteção Especial de
Alta Complexidade do Sistema Único de Assistência Social. Esses serviços acolhem crianças
e adolescentes que encontram-se em medida protetiva em decorrência da violação dos seus
direitos.

O acolhimento de crianças e adolescentes está previsto no ECA (Estatuto da Criança e


do Adolescente) de 1990 através do art. 98. O art. 101 do mesmo estatuto determina como
“medidas provisórias e expressionais, utilizáveis como forma de transição para a reintegração
familiar ou, não sendo possível, para colocação em família substituta, não implicando
privação de liberdade.” (ECA, 1990, p.58)

Destaca-se aqui que apesar das crianças e adolescentes atualmente serem consideradas
prioridade absoluta perante a Lei nº 8069/90, essa nem sempre foi a perspectiva cultural e
institucional envolvendo esse público, que passou uma boa parte da história da sociedade
sendo incompreendida e vista socialmente como meros adultos pequenos, possuindo pouco ou
quase nenhum valor perante a sociedade que viviam.

A presente pesquisa que serviu de base para as problematizações desse Trabalho de


Conclusão de Curso (TCC) objetiva principalmente refletir sobre a atuação profissional
das/dos assistentes sociais no âmbito das instituições de acolhimento institucional de crianças
e adolescentes a partir da particularidade da atuação profissional da Região Metropolitana de
Aracaju (RMA). Portanto, problematiza acerca do trabalho dos/das assistentes sociais da
região acima citada que enquanto profissionais encontram-se inseridos nas Unidades de
acolhimento, destacando as suas funções, a importância do fazer profissional nesse cenário, as
demandas atendidas pela categoria profissional em seu cotidiano de trabalho e os desafios
apresentados aos profissionais.

É importante destacar que embora o foco principal do estudo tenha sido o exercício
profissional em Unidades de acolhimento na RMA, não se pode desprezar na pesquisa as
problematizações sobre o espaço institucional onde o Serviço Social está inserido, como
também não se pode ignorar os usuários que as/os assistentes sociais atendem nas Unidades
de acolhimento. Por isso, tanto as instituições de acolhimento e as crianças/adolescentes
também foram mediações pesquisadas e problematizadas nos estudos do TCC.
13

A pesquisa que tentou, dentro dos limites da própria pesquisadora, fazer uso do
método histórico dialético. Assim, amparado os estudos e análises na interpretação da
realidade de forma totalizante, de modo a considerar aspectos sociais e históricos, como as
influências políticas, econômicas e sociais, relevantes para a compreensão da história do
acolhimento institucional das crianças e adolescentes no país. Dessa forma, a pesquisa
abordará o desenvolvimento histórico dos conceitos que expressavam como eram vistas na
realidade as crianças em diversas sociedades em períodos históricos determinados,
especialmente, no Brasil e quais foram as principais mudanças no tratamento dado as mesmas.

Como a presente pesquisa visa destacar as particularidades dos profissionais que


atuam na Região Metropolitana de Aracaju e articular essas particularidades na totalidade,
para a concretização deste objetivo foi utilizada como metodologia o estudo de caso 1 a partir
da elaboração de um questionário semi estruturado focado em questões para compreensão da
realidade profissional das/dos assistentes sociais da região. Nessa perspectiva foi realizado
estudo focado na realidade dos quatro municípios que compõem a Região Metropolitana de
Aracaju (Aracaju, Barra dos Coqueiros, São Cristóvão e Nossa Senhora do Socorro), onde em
cada um deles foi selecionado uma Unidade de acolhimento para que as assistentes sociais
respondessem a nossa pesquisa2.

O referido estudo de caso contou com a participação de oito assistente sociais que
atuavam como técnicas ou coordenadoras de Unidades de acolhimento em Aracaju, Nossa
Senhora do Socorro, Barra dos Coqueiros e São Cristóvão, sendo necessária então a
realização de visitas de campo a essas Unidades, ocorrendo entre o período de 10 de agosto de
2022 à 30 de agosto de 2022. A escolha das Unidades de acolhimento a serem visitadas se deu
principalmente pelos contatos previamente estabelecidos enquanto estagiária de uma das
Unidades de acolhimento escolhidas, sendo possível uma facilidade maior em realizar o
contato com as referidas profissionais, para além disso, o maior critério para a seleção era a

1
Como destaca Gil (2008, p.57) “O estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou
de poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado [...]”. Nesse sentido,
entendemos que o estudo de caso não está restrito literalmente a um único sujeito ou amostra. Por isso, pode ser
considerado nos estudos de caso um grupo limitado de sujeitos ou de amostra que apresentam um perfil comum.
Dessa forma, entendemos que o grupo pequeno de profissionais pesquisadas em unidades de acolhimento na
RMA se caracteriza como um estudo de caso.
2
O Projeto de Pesquisa foi cadastrado na Plataforma Brasil para avaliação do Comitê de Ética e também consta
de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Mas, mesmo assim optou-se por não identificar as/os
profissionais que responderam ao questionário de entrevista, nem identificar as Unidades de Acolhimento onde
trabalham. Também optou-se por não transcrever literalmente as respostas apresentadas no questionário, mas sim
de apresentar o essencial de seu conteúdo.
14

necessidade de Unidades de Acolhimento Institucional que possuíssem como o seu principal


público de atendimento as crianças e adolescentes.

A aplicação dos questionários se deu em sua maioria de forma presencial, onde foi
possível conhecer o ambiente de trabalho das profissionais e estabelecer um bom dialogo com
as mesmas, sendo de muita riqueza para a elaboração da pesquisa e para a formação
profissional, as conversas realizadas durante todo o processo de pesquisa.

No processo de estudo foi utilizado também as técnicas de pesquisa bibliográfica, para


velar-se de conhecimentos obtidos através da leitura de livros, artigos, dissertações de
mestrado, monografias de TCC, etc. a fim de auxiliar nos estudos considerando outras regiões
e realidades do país as quais trazem informações concretas acerca das suas particularidades,
com isso se permite trazer contribuições que ajudam a problematizar a realidade da RMA.

A fim de abranger os tópicos que entendemos como necessários para as


problematizações que desenvolvemos, o presente TCC se configura em três capítulos. O
primeiro capítulo aborda a perspectiva histórica do tratamento dado as crianças e adolescentes
na antiguidade, idade média e durante o período da Revolução Industrial, trazendo em sua
configuração a história infanto-juvenil (infância e adolescência), que por séculos não era
compreendido socialmente como população ou sujeito de direitos.

O segundo capítulo segue a linha de complemento ao dialogo iniciado no capítulo


anterior (capítulo um). Desse modo, no segundo capítulo iremos compreender acerca do
surgimento dos direitos das crianças e dos adolescentes no mundo e mais especificamente no
Brasil, entendendo acerca do surgimento das primeiras Unidades de Acolhimento pelo
mundo, para a partir daí pensar a intervenção de assistentes sociais nesse espaço institucional
que materializa serviços sociais estruturados por políticas sociais.

O terceiro e último capítulo destaca o fazer profissional dos/das assistentes sociais no


acolhimento institucional, trazendo em sua composição uma reflexão acerca dos depoimentos
trazidos pelas profissionais que se propuseram a participar da nossa pesquisa. É nesse capítulo
que podemos entender de forma mais direta a realidade das profissionais da Região
Metropolitana de Aracaju e realizar uma comparação entre o seu dia a dia profissional com o
projeto ético político da profissão.
15

CAPÍTULO I - OS DIREITOS DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA HISTÓRIA

Para compreender e discutir acerca da infância e adolescência no contexto social atual,


é necessária a realização de um estudo sobre a história social e o próprio surgimento da
concepção relativamente nova da infância. Ao longo dos períodos históricos os “papeis”
ocupados pelas crianças foram bastante distintos, apresentando através deles um reflexo da
realidade social, econômica e cultural de cada uma delas.

A concepção de infância apresenta bastante variação ao longo da história da sociedade,


existindo épocas onde era notado um total desinteresse envolvendo a imagem da infância,
épocas onde o “abandono”3 paternal e até o infanticídio eram completamente tolerados
socialmente, épocas que receberam destaque pelo alto nível de exploração do trabalho infantil
e os tempos atuais onde possuímos uma maior compreensão e cuidado quando nos referimos
as crianças e aos adolescentes em geral.

O conceito conhecido nos tempos atuais de infância e juventude nem sempre esteve
definido do modo que se encontra hoje, deste modo, as crianças foram tratadas de maneiras
completamente diferentes ao longo da história da sociedade. As mesmas eram entendidas
como “pequenos adultos”, não possuindo nenhuma diferenciação dos demais grupos sociais,
ou ainda tendo as suas particularidades negadas. Como destaca Lima (2001, p.10)

Estamos falando de uma tradição sócio-cultural que desde os primórdios da


Civilização ocidental negou a “existência” peculiar da criança, promovendo
a anulação e rejeição da perspectiva infantil, a desvalorização da “presença”
e da “atuação” da criança na vida social e sua submissão ao controle
repressivo do “mundo adulto”.
Compreendemos através deste autor que a exclusão social da criança ia além da mera
perspectiva de enxergá-la apenas como um futuro adulto, mas sim de não conseguir/tentar
compreendê-la ou inseri-la socialmente.

O aprofundamento de estudos da temática e a busca pela compreensão da infância é


relativamente novo, pode se dizer que seu aprofundamento começa a ganhar corpo a partir dos

3
Neste ponto se faz necessário destacar que por trás da palavra “abandono” existe uma conotação moral que
torna necessário compreender o fato que as mães e famílias no geral optavam por não cuidar dos seus filhos em
decorrência de uma série de problemáticas que impossibilitavam que as mesmas realizassem essa ação. Deste
modo, contemporaneamente, compreendemos o uso da expressão “abandono” como não condizente com os
processos ético-políticos do Serviço Social, sendo utilizada neste texto sempre entre aspas, em razão disso. Pois,
se entende o que se convencionou chamar de “abandono”, como tendo correlações com “questão social”.
16

anos 19604; portanto, levando um tempo para que os pesquisadores considerassem analisar as
relações históricas e sociais envolvendo a infância e a sociedade como um todo. Foi a partir
dessas pesquisas que se tornou possível compreender os diversos aspectos e perspectivas que
participaram da construção do conceito de infância que estamos familiarizados.

O historiador francês e pioneiro nos estudos sobre a infância Philippe Ariès (1973)
defendia que a infância apresentava um conceito que foi construído socialmente no período de
transição da sociedade feudal para a sociedade industrial.

Corsaro (2003, apud NASCIMENTO et al 2008) também aponta que a invenção social
da infância data a partir do século XVIII destacando de houve a fundação de um estatuto para
essa faixa etária. No que toca ao ciclo seguinte da vida após a infância, Corsaro (2003, apud
NASCIMENTO et al 2008)) diz que no século XIX demarca-se o surgimento do conceito
conhecido caracterizador da adolescência.

Em seu livro intitulado O Desaparecimento da Infância Niel Postman (1982) segue


explicando os motivos pelos quais não se existia um conceito ou uma compreensão da
infância no período da Idade Média. Para ele, isso estava principalmente ligado à ausência da
alfabetização e do conceito de educação, não existindo nenhuma concepção para o
desenvolvimento infantil ou para o entendimento da escolarização como preparação para o
mundo adulto.

Partindo do interesse de estudar os direitos das crianças e adolescentes através de


diferentes épocas, será apresentada a realidade social e cultural vivenciada pelos mesmos ao
longo de diferentes períodos históricos, passando por diferentes sociedades da antiguidade, o
tratamento recebido durante o período da Idade Média e por fim uma reflexão sobre a
desproteção da infância que ocorria durante o período da Revolução Industrial, ao demarcar
esse período como Era histórica sob a constituição da sociedade capitalista.

1.1 A criança e adolescente na sociedade: antiguidade

Em lugares como a Grécia antiga o tratamento dado as crianças era naturalmente de


exclusão, uma vez que os próprios filósofos e estudiosos da época as entendiam como seres
inferiores, devido a sua baixa capacidade de desenvolver um pensamento racional. Apesar

4
Quando o pioneiro no estudo da infância Philippe Ariès começou a se perguntar acerca das mudanças ocorridas
em relação aos tratamentos dos pais com os seus filhos ao longo dos anos. O autor Niel Postman (1982) afirma
ser justo dizer que foi o livro intitulado Centuries of Childhood lançado por Ariès em 1962 nos Estados Unidos
que deu o pontapé inicial para o surgimento dessa especialidade.
17

disso, ao alcançar a idade adulta, as crianças do sexo masculino eram sim capazes de possuir
o título de “cidadão”, o que não era uma opção para as mulheres, independentemente de sua
idade, as mesmas eram mantidas sob o controle de suas famílias, fadadas a ocuparem somente
os espaços das atividades domésticas e dos cuidados ao lar e a família.

Para além da própria exclusão social, os gregos possuíam um interesse praticamente


nulo na compreensão e representação da infância como algo distinto das demais fases da vida,
como destaca Postman (1999, p. 19)

As palavras usadas por eles para criança e jovem são, no mínimo, ambíguas
e parecem abarcar quase qualquer um que esteja entre a infância e a velhice.
Embora nenhuma de suas pinturas tenha sobrevivido, é improvável que os
gregos achassem digno de interesse retratar crianças em seus quadros.
Sabemos, sim, que dentre suas estátuas remanescentes nenhuma é de criança.

O autor segue então destacando a ambiguidade na representação do que poderiam ser


entendidas como crianças nas obras gregas da antiguidade, tornando mais difícil compreender
qual era a concepção grega do que era uma criança. Deste modo, conseguimos compreender
que esses sujeitos não possuíam qualquer reconhecimento ou representação social, não sendo
compreendidos, pela sociedade em que viviam, como sujeitos que possuíam direitos5.

Devido a cultura de guerra e culto as conquistas militares que faziam parte da


civilização grega, ao atingirem a puberdade os jovens meninos eram separados de suas
famílias de origem e encaminhados a ingressarem em um novo sistema de educação onde os
mesmos aprendiam habilidades ligadas aos seus corpos e mentes.

É necessário destacar que durante esse período o “pátrio poder” era absoluto,
significando que o pai, como chefe da família e proprietário dos seus filhos, poderia vende-los
ou mata-los de acordo com as suas necessidades ou vontade.

Assim como na Grécia, a Roma antiga também classificava a sua educação através de
gênero e da classe social, as crianças do sexo masculino e que integravam uma classe mais
privilegiada na sociedade possuíam a oportunidade de aprender a ler e a escrever em latim e
em grego, para além disso, também adquiriam conhecimentos acerca da astronomia,
agricultura, geografia, matemática, religião e arquitetura. Nos casos dos meninos de classes
sociais menos abastadas, os competia a dedicação ao trabalho agrícola ou artesanal.

5
Neste ponto é necessário destacar que os referidos direitos citados, ou melhor, o período marcado pela
conquista de direitos, só se constituem como fenômeno e prática social através das diversas lutas travadas pela
classe trabalhadora, especialmente, na sociedade capitalista.
18

O “abandono” de crianças também era comum na Roma antiga, tanto ricos quanto
pobres poderiam “abandonar” os seus filhos por diversas razões. Os pobres “abandonavam”
quando não tinham condições de criar as crianças, as expunham nas ruas com a esperança que
um bem feitor as pegassem para criar. Já as famílias ricas poderiam “abandona-las” por
questões que envolvessem heranças ou desconfianças com relação à fidelidade de suas
esposas e é claro, também fazia parte dessa realidade o ato dos pais afogarem as crianças que
apresentavam alguma má formação ou deformidade após o nascimento.

Como destacado, nas ditas sociedades clássicas da antiguidade, a vida social tanto das
crianças quanto dos adultos era dívida por meio da classe social e do gênero, desde modo as
meninas na sociedade romana eram educadas desde cedo a serem esposas e mães, neste caso
as mais afortunadas eram educadas a serem administradoras de suas casas e dos escravos e a
menos favorecidas poderiam trabalhar ao lado dos seus maridos, ou caso estivessem solteiras
poderiam administrar o próprio negócio.

Essa sociedade apresentava um grupo peculiar denominado de ‘as vestais”, um grupo


responsável em passar toda a vida zelando pela chama sagrada de Vesta, era composto apenas
por mulheres que se juntavam ao grupo entre os seis aos dez anos de idade e passavam a vida
ao lado do templo, onde não poderiam se casar. As vestias recebiam um tratamento social
diferente das outras mulheres, não necessitavam prestar obediência a nenhum homem,
possuíam o direito de se sentarem nos melhores lugares nos eventos e até eram tratadas com
respeito pelos homens da sociedade.

Quanto ao casamento, era comum que as meninas da sociedade casassem ainda muito
novas, com apenas 12 anos, através de casamentos arranjados por intermédio da família, mas
especificamente o pai, que escolhia com quem sua filha iria se casar considerando as
vantagens trazidas com o casamento.

No Egito antigo, era de suma importância social a construção de uma família, uma vez
que a sociedade se organizava em torna do núcleo familiar, sendo assim, era função do
homem se casar e formar uma “grande família”.

Nesta sociedade era transmitido o ensinamento de que os egípcios deveriam se casar e


começar a construir a sua família ainda muito jovens. Para as mulheres, a idade ideal para o
casamento seria logo após a sua primeira menstruação, por volta dos doze ou treze anos, já no
caso dos homens, partir dos quinze anos de idade.
19

É necessário destacar a importância que os filhos possuíam na formação da estrutura


familiar, afinal, eles eram o principal motivo para o casamento, visando garantir a
perpetuação da linhagem durante gerações e o cuidado dos filhos com os pais em caso de
velhice e/ou doenças. Nessa sociedade também era comum que o primogénito da família
arcasse com maiores responsabilidades, como a de providenciar um funeral adequado para os
seus pais garantindo a realização de um culto funerário adequado.

Um dos fatores que denominavam o prestígio de uma família estava ligado a


quantidade de descendentes gerados, mas além disso, a incapacidade de gerar filhos era vista
como motivo de desonra.

Na sociedade egípcia poderia ser um desafio sobreviver ao parto e aos primeiros anos
de nascimento, tanto a mortalidade infantil, quanto a materna durante a realização do parto ou
em consequência do mesmo, era algo comum. O nascimento era então um momento privado,
focado em garantir a proteção tanto da criança quanto da mãe.

Em seu artigo sobre a concepção de infância no Egito6, a estudiosa sobre a temática,


Coelho (2012) destaca que através de análise de estuaria e de pinturas em tumbas é possível
compreender que as crianças acompanhavam as mães nos trabalhos do cotidiano e a partir daí
começavam os contatos com outras crianças da mesma idade, no mesmo texto é possível
compreender através de análises a artefatos e a corpos de múmias crianças que uma das
maiores causas de mortes infantis no Antigo Egito era a desnutrição.

Como destacado anteriormente e comum em outras regiões e épocas, também era


cotidiana a inserção das crianças no mundo adulto dos egípcios, existindo registros de
crianças em atividades diversas, como o fato de crianças pequenas serem responsáveis pela
fabricação e polimento de vasos, do cuidado aos irmãos mais novos e aos animais, e da
realização de atividades domesticas e agrícolas.

De modo geral, podemos compreender que durante o período histórico da Antiguidade


a infância não possuiu um grande destaque quando se tratava de cuidados, apresentando então
a perspectiva que as crianças eram, em sua grande maioria, vistas sob a ótica de certo
utilitarismo que possuía para a sua família, seja na perspectiva de apreço social ou na de ser
aproveitada para os diferentes interesses de sua família, especialmente, de natureza laborativa.

6
Artigo intitulado Do nascimento aos primeiros anos de vida: um olhar sobre a infância no Egito do Reino
Médio (c. 2040-1640 a. C.)
20

A mudança social, econômica e cultural que ocorreu na passagem da Antiguidade para


a Idade Média apresentou algumas diferenças em relação ao tratamento dado às crianças e aos
adolescentes da época, considerando principalmente o novo conceito apresentado de casta
social. Mas de modo geral, a compreensão da criança e adolescente como uma pequena
versão do adulto não sofreu muita alteração, ou seja, nesse período elas ainda não eram
compreendidas através das suas particularidades.

1.2 A criança e o adolescente na sociedade: Idade Média

Durante o período da idade média, marcada pelo sistema feudalista, ainda não existia o
“sentimento da infância” como concebemos na contemporaneidade, seja conceitualmente, seja
no sentido sócio-político. Nesse momento da história a figura que representava e diferenciava
a imagem de crianças e adolescentes, assim como na Antiguidade, era nula, principalmente se
tratando de adolescentes, ambos sendo entendidos socialmente como espécies de “adultos em
miniatura”.

Antes da escolarização das crianças, elas e os adultos compartilhavam das mesmas


situações sociais, sendo elas no que diz respeito ao trabalho e no que toca a vida doméstica.
Dessa maneira, não existiam divisões sociais de atividades com base em idade, pois não se
existia uma concepção clara dessa fase da vida.

O destino das crianças era então definido a partir da sua casta social, onde os filhos
dos servos continuavam a servir os mesmos senhores a qual seus pais serviam e os filhos dos
senhores eram educados para que no futuro pudessem se casar de modo que beneficiasse a sua
família. Os jovens que se negassem a cumprir a sua função eram renegados socialmente e
vistos como infiéis cristãos.

Na sociedade medieval o amadurecimento acelerado da criança era de suma


importância para que a mesma pudesse participar do trabalho e das atividades do mundo
adulto, sendo assim, todas elas, aos chegarem aos seus 7 anos de idade, eram encaminhadas a
diferentes famílias a fim de aprender as atividades domésticas.

Desde muito novas, com os seus 5 ou 6 anos, as crianças já encerravam um ciclo de


sua vida e passavam ao seguinte, a inserção na vida servil desempenhando pequenas tarefas
atribuídas, ao alcançarem os 12 anos de idade as mesmas já eram socialmente compreendidas
como adultas em todos os aspectos, inclusive o sexual.
21

Foi somente na idade média que as “idades da vida” passaram a possuir alguma
relevância social, a mesma possuía 6 etapas, cada uma configurando uma idade e uma
relevância perante a sociedade: a 1ª idade correspondia ao momento do nascimento até os 7
anos; a 2ª idade dos 7 anos aos 14; a 3ª idade correspondia dos 14 anos aos 21 anos de idade.
É a partir da 4ª idade, que correspondia dos 21 aos 45 anos de idade, que o indivíduo passa a
reconhecido socialmente, vindo em seguida a 5ª idade dos 45 aos 60 anos; e 6ª idade, que hoje
corresponde a velhice, que era contada dos 60 anos em diante.

Assim é possível compreender que nesse período passou a existir a classificação social
por faixa etária, apresentando desde essa época a ideia de que a vida se divide em fases
distintas a depender da idade. É necessário destacar que o reconhecimento de diferentes
“idades da vida” não significa que as crianças e adolescentes passaram a possuir direitos ou
algum tratamento diferenciado na sociedade.

Nos tempos atuais essa diferenciação possui a sua importância em decorrência da


necessidade encontrada das gerações viverem segmentadas em espaços mais exclusivos para
cada idade, deste modo, as crianças, adolescentes, adultos e idosos vivem em espaços
destinados as suas idades como creches, escolas, universidades, ambientes de trabalho, asilos,
etc. Sendo possível receber o tratamento reservado para a sua idade sem comprometer a
convivência com as demais gerações (que geralmente ocorrem no ambiente familiar).

De modo geral a infância sofria bastante descuidado por parte da sociedade durante o
período medieval, como por exemplo, é o caso das crianças com menos de dois anos, que
eram praticamente ignoradas pelos pais que não viam muito sentido em dedicar tempo e
esforço no cuidado de uma criatura tão frágil que poderia morrer facilmente a qualquer
momento.

E, ainda sim, as crianças que conseguiam atingir uma certa idade não
possuíam identidade própria, só vindo a tê-la quando conseguissem fazer
coisas semelhantes àquelas realizadas pelos adultos, com as quais estavam
misturadas. Sendo assim, dos adultos que lidavam com as crianças não era
exigida nenhuma preparação. Tal atendimento contava com as chamadas
criadeiras, amas de leite ou mães mercenárias. (CALDEIRAS, 2008, p.2)

É devido a alta taxa de mortalidade infantil e a incapacidade de sobrevivência das


crianças que os adultos da época não tinham, e nem poderiam ter, qualquer tipo de
envolvimento emocional, como os do tipo que consideramos normal nos tempos atuais.
22

Nessa perspectiva social, a imagem da infância foi ignorada até mesmo nas
representações artísticas, vivendo uma realidade onde não existia nenhum interesse em
retratar essa fase da vida.

O historiador Philippe Ariès (1978) apresenta em seu livro clássico “A criança e a


vida familiar sob o Antigo Regime” um levantamento de pinturas, retratos e imagens artísticas
da época para compreender as representações que sociedade medieval fazia de si mesmo.
Retratando a história da infância desde o seu primórdio, ou seja, desde o período em que não
existia nenhuma preocupação em preservar a memória histórica da infância, ou melhor, a
época em que não existia o “sentimento da infância” que passou a existir com a idade
moderna.

Costa (2020), ao fazer um ensaio acerca da perspectiva apresentada por Ariès (1078),
relata que até o século XII não existiam representações artísticas da infância, sendo somente
no século seguinte que as crianças passaram a possuir algum espaço, geralmente
representadas como “imagens de rapazes mais jovens, na figura de anjos com traços redondos
e graciosos, se tornaram mais frequentes no século XIV” Costa (2020, p.3).

Caldeira (2008) destaca em sua pesquisa que a falta de interesse no registro dos
primeiros anos de vida não era algo que ocorria somente nas classes de camponeses ou
artesões, e que era sim algo bastante comum ao longo de toda a Idade Média.

Não se tem notícia de camponeses ou artesãos registrando suas histórias de


vida durante a Idade média, e mesmo os relatos dos nobres de nascimento ou
dos devotos não costumavam demonstrar muito interesse pelos primeiros
anos de vida (...). (HEYWOOD, 2004 apud CALDEIRA 2008, p.2)
Por meados do final do século XIII até o século XVII a arte europeia apresentava uma
maior aparição de crianças e adolescentes em suas obras apontando uma mudança no
comportamento da sociedade em relação às crianças. No século XVII surge a primeira
concepção real de infância, as diferenciando dos adultos, foi nesse período que se construiu
uma relação de preocupação e cuidado da pessoa adulta para com a criança.

A transição que ocorreu quando a sociedade perde a centralidade na vida social agrária
e passa a ter sua centralidade na sociedade urbano-industrial reconfigurou a imagem
anteriormente conhecida de família, sendo responsável por mudanças consideráveis no
formato do grupamento familiar.

Nas antigas sociedades, as baseadas no sistema agrícola, a existência de famílias


extensas era mais viável e compatível com as necessidades impostas pelo sistema que
23

necessitava de mão-de-obra para o cuidado com as lavouras de subsistência. Nesse tipo de


família se tornava comum a convivência de diversas gerações da mesma família e até mesmo
a presença de parentes laterais ou agradados.

Já no novo sistema apresentado na sociedade industrial é exigida uma modificação na


composição familiar já conhecida, passando a existirem as famílias nucleares, geralmente
compostas pelos pais e alguns filhos.

As mudanças políticas, sociais, econômicas e culturais que ocorrem na transição entre


a Idade Média e a sociedade capitalista são inúmeras, transformando de maneira drástica e
nunca vista anteriormente a configuração já conhecida de sociedade.

1.3 A desproteção da criança e do adolescente sob a ordem do capital

A exploração da mão-de-obra infantil e dos adolescentes vem acontecendo


praticamente em todos os estágios da evolução social, ainda que apresentada de maneiras
diferentes ao longo dos séculos, deste modo, o trabalho como algo também realizado pelas
crianças está enraizado nas origens da nossa sociedade.

Com a nova configuração apresentada pela sociedade capitalista, a exploração


exacerbada da classe trabalhadora (inclusive as crianças e adolescentes) não se apresenta
apenas como uma consequência, e sim como uma condição necessária para a sua existência.
Essa exploração é extremamente importante para a acumulação do capitalismo, sendo
entendida como uma de suas bases.

A Revolução Industrial apresenta uma nova perspectiva para a exploração do trabalho


infantil, quando entendemos que sim, as crianças trabalhavam desde os primórdios da
sociedade, ajudando na economia da própria família, exercendo tarefas de pecuária,
agricultura etc., mas não eram explorados do modo a qual passaram a ser nesse período em
específico, como destacam Cestari & Mello (2016, p.5)

[...] a criança era uma parte inerente da economia industrial e agrícola antes
mesmo antes de 1780 e, como tal, permaneceu nessas condições até ser
incorporada pelo sistema educacional. Porém, é com o processo de produção
industrial que a intensidade e as formas de exploração do trabalho infantil
assumiram proporções sem precedentes na história.

Esse período foi um dos maiores responsáveis por mudanças mundiais de impactos
incontáveis, as modificações realizadas no processo produtivo foram tamanhas que
24

impactaram não somente o âmbito econômico da sociedade, mas também o cultural, político
e, principalmente, o social.

A Revolução Industrial teve o seu início na Inglaterra por volta do século XVIII até
meados do século XIX, nesse período estava ocorrendo os denominados “cercamentos”, que
nada mais eram que o processo de transformação das terras comuns em pastos para a criação
de ovelhas, posteriormente utilizadas para a produção de lã. Esse processo foi responsável
pelo aumento populacional nas áreas já habitadas das cidades, uma vez que, esse movimento
acarretou em um alto número e migrações populacionais que aconteciam dos campos para as
cidades.

O cenário social vivenciado pela classe trabalhadora no final do século XVIII é


marcado pelo fenômeno do pauperismo, é claro que desde os primórdios da sociedade
existiram embates entre as diferentes classes sociais e a pobreza e desigualdade existiam ainda
nessa época, mas nesse período se tornou evidente o antagonismo protagonizado entre a
classe trabalhadora e a classe proprietária no modo de produção capitalista, pois embora
existissem sim as condições financeiras e sociais necessárias para a produção de riqueza, de
algum modo a pobreza seguia aumentando proporcionalmente a geração de riqueza.

[...] se não era inédita a desigualdade entre as várias camadas sociais, se


vinha de muito longe a polarização entre ricos e pobres, se era antiquíssima a
diferente apropriação e fruição dos bens sociais, era radicalmente nova a
dinâmica da pobreza que então se generalizava. (NETTO, 2001, p.42)

Nas sociedades pré-capitalistas a pobreza e as desigualdades sociais estavam


diretamente ligadas a escassez de riquezas, já no capitalismo é imposta uma nova lógica
relacionada a produção de riquezas, ou seja, nesse momento a pobreza passa a ser entendida
como uma produção social inerentemente ligada ao sistema de produção capitalista não sendo
mais algo de ordem natural.

O sistema de produção capitalista apresentou impactos significativos em todas as


esferas da sociedade, nesse período houve um processo de concentração de lotes nas mãos dos
proprietários de empresas e por consequência uma desapropriação massiva de lotes de
famílias e igrejas, ocasionando o êxodo rural que teve como consequência o aumento da
população urbana.

Os trabalhadores rurais viram-se no meio de um turbilhão de mudanças que


mal podiam compreender. Expulsos da sua terra, alijados dos seus meios de
produção e de reprodução sociais, eram, naquele momento, obrigados a
25

subsistir nas cidades urbanas em péssimas condições de vida. Haviam-se


tornado mercadorias para a indústria, consumidos dentro e fora do processo
de produção fabril. A natureza havia sido reduzida à terra, o 13 homem à
mercadoria “força de trabalho” (BRANCO, 2006, p.12)

Durante esse período os proprietários fabris tratavam os seus funcionários com uma
brutalidade nunca vista, baseadas em formas de exploração e degradação da força de trabalho
jamais vista na história estabelecendo sistemas de punição buscando incessantemente o lucro,
assim era comum o prolongamento exagerado de jornadas de trabalhos.

Esse momento histórico significou a radical mudança ocasionada pela substituição das
ferramentas pelas máquinas, da energia humana pela energia motriz, da mudança do sistema
de produção doméstico para o sistema fabril, da sociedade agrícola para a sociedade industrial
e acima de tudo, houve a transição da sociedade feudal para a sociedade burguesa ou
capitalista.

Um dos maiores desafios enfrentados durante esse período foi, sem dúvidas, a
dificuldade apresentada na seleção de trabalhadores adultos que fossem capazes de aprender e
acompanhar as novas técnicas, mas que também estivessem dispostos a se submeterem ao
regime degradante e exploratório imposto pelo novo processo produtivo urbano-industrial na
sociedade burguesa.

Referindo-se mais especificamente a indústria têxtil, a mesma encarou um processo de


recrutamento de profissionais praticamente inúteis. No contexto específico dessas empresas
era necessária para o funcionamento da fábrica a utilização de energia hídrica, deste modo as
mesmas se localizavam em lugares isolados e pouco populosos, onde os habitantes não
demonstravam muita adaptação nos novos processos de trabalho.

Foi necessária então a importação dos funcionários com perfil distinto à população
adulta que não se adequava plenamente à maquinaria e aos novos padrões técnicos de
produção que estavam surgindo no período em que o capitalismo começava a amadurecer
através da Revolução Industrial.

Dessa forma, as crianças foram consideradas perfeitas para a realização do trabalho,


uma vez que constituíam mão de obra barata, aparentavam também serem mais sociáveis e,
principalmente, demonstravam possuir mais agilidade, de modo que isso as tornava mais
capazes em desempenhar as tarefas exigidas.
26

As vantagens eram significativas, pois as crianças obedeciam facilmente as


ordens que um adulto dificilmente obedeceria, podendo, assim, ser
controladas com facilidade, custando menos, pois recebiam salários
menores, que, em muitos casos, eram pagos somente com alojamento e
alimentação. (CESTARI; MELLO, 2016, p.6)

A Revolução Industrial apresenta como uma das suas maiores características a


exploração do trabalho infantil, nesse período as crianças já começavam a trabalhar com seis
anos de idade, podendo trabalhar até quatorze horas diárias, todos os dias da semana.

Nesse período era apresentada a imagem de que para proteger as crianças mais
vulneráveis do crime e da marginalidade elas deveriam trabalhar desde pequenas, portanto, o
trabalho em fábricas era considerado o oposto do trabalho realizado na rua, entendido
socialmente como desorganizado e desregrado.

É claro que o trabalho realizado pelas crianças apresentava a vantagem do auxílio


financeiro proporcionado as famílias diante da condição de pauperismo que viviam. O
trabalho infantil ainda era entendido como um modo de aprendizagem, já que as crianças
frequentavam a “escola do trabalho”. Geralmente o trabalho das crianças era utilizado em
fábricas e nas minas de carvão e não era algo distante dessa realidade a morte de crianças
ocasionadas pela exaustão decorrente das longas horas de trabalho realizadas sem nenhuma
pausa, a insalubridade nesses locais e a desnutrição consequente da realidade social
vivenciada por essas crianças.

Quanto a clara preferência apresentada pelas fábricas na contratação das crianças para
a realização das tarefas, essa também possuí uma justificativa favorável para a acumulação
industrial. A contratação de crianças era um modo simples e barato de enfrentar a
concorrência, pagando menos por um trabalho e recebendo a vantagem de empregar
trabalhadores muito mais manipuláveis e fáceis de controlar, já que as crianças obedeciam a
ordens que a maioria dos adultos se negaria.

Nesse período não existia nenhum problema jurídico ou moral na contratação em alta
escala de funcionários do sexo feminino ou de crianças, sendo algo totalmente aceito
socialmente do ponto de vista dos valores e da moral capitalista, uma vez que o fundamento
social e imperante era o lucro e a acumulação de riqueza, especialmente nesse contexto onde a
desproteção social do trabalho e da infância/da adolescência era norma geral. É preciso
mencionar que nesse contexto era pregado a plena liberdade do mercado e das relações
capitalistas, fundamentada pelo laissez fare.
27

O sistema capitalista foi responsável ou teve uma parcela grande de responsabilidade


com o encurtamento da vida, o aumento da mortalidade, a aumento das taxas de crianças e
adolescentes trabalhando e a destruição de famílias.

Durante esse período a exploração da força de trabalho infantil impôs sob as crianças
um ritmo de trabalho sob condições tão rígidas que se quer poderia ser observado durante o
tratamento de adultos ou de sujeitos escravizados. A trabalho assalariado associado as
crianças não apresentava qualquer preocupação com a integridade física ou moral das mesmas
que possuíam como os seus ambientes de trabalhos os locais mais insalubres, úmidos,
empoeirados, abafados, com resíduos nocivos à respiração etc.

Esse processo de trabalho desumano favoreceu o uso de substâncias


inebriantes como o ópio e as bebidas alcoólicas para aplacar a dor e o
cansaço diante de jornadas de trabalho longas e fatigantes. Submetidos a
cobranças desmedidas, essa exploração descaracterizou as singelas linhas
faciais infantis por um semblante rudimentar, que causava ojeriza e
repugnância e desaguou, com isso, no aligeirado processo de
envelhecimento, com o desgaste e a atrofia da musculatura e a redução da
energia física e mental, comprometendo a utilização dos membros corporais
e a capacidade para o trabalho. (LIMA, 2021, p. 237)

Com o novo sistema de trabalho criado nesse momento histórico onde grande parte
das atividades produtivas passou a serem simplificadas, as crianças (que não eram filhas/os da
classe proprietárias), passaram a ser concorrentes diretas de trabalhadores adultas/os. Deste
modo, a inserção das crianças no mundo do trabalho contribuía decisivamente para a
diminuição dos custos individuais da força de trabalho.

Com isso, surge no início do sistema industrial um movimento de “rapto” generalizado


de crianças coordenadas pelos próprios capitalistas, que pegavam essas crianças de orfanatos
as utilizando como mão de obra. Muitos dos orfanatos, inclusive, apresentavam relações
contratuais com os proprietários fabris no sentido de fornecimento da força de trabalho
infantil em troca de gratificações financeiras. Assim, tornando os donos das indústrias muito
menos dependentes dos trabalhadores convencionais (homens adultos), passando a possuir
agora uma mão de obra muito mais fácil de obter e manipular.

É claro quês as longas horas de trabalho se estabelecem por causa da


circunstância de haver um suprimento tão grande de crianças indigentes, de
diversas partes do país, que os patrões ficaram independentes dos
trabalhadores e, depois de assentado o costume de longas jornadas de
trabalho, por meio do miserável material humano obtido, puderam impedi-
los com maior facilidade a seus vizinhos (MARX, 2013, p. 461 apud
FEILDEN, 1836, p.11)
28

Em seu estudo Garcia (2015), pesquisador e mestre na área de educação faz um


levantamento de dados retirados do livro 01 de O Capital de Marx (19847), destacando o
grande aumento de crianças trabalhadoras nas indústrias de tecelagem na Inglaterra entre os
anos de 1850 e 1862. A tabela abaixo é bastante ilustra em números o quantitativo de crianças
que eram absorvidas pelos estabelecimentos fabris e tinha sua força de trabalho exploradas na
produção de mercadoria.

Quadro 1 - Quantitativo de crianças e adolescentes trabalhando em fábricas entre os anos de


1850 – 1862:

ANO Nº DE Nº DE CRIANÇAS COM MENOS DE 14 ANOS


TRABALHADORES NA FÁBRICA
1850 79.737 9.956
1856 87.794 11.228
1862 43.048 13.178
Fonte: Tabela retirada de Garcia (2015, p.91)

Além de demonstrar um aumento considerável na utilização da mão de obra infantil,


os dados trazidos também apontam uma diminuição drástica na quantidade total de
funcionários na fábrica, que possuía 89.693 funcionários em 1850, aumentando para 99.022
no ano de 1856 e sofrendo uma queda considerável no ano de 1862, passando a possuir
apenas 56.226.

Como justificativa para as mudanças ocorridas, Garcia (2015) destaca uma afirmação
trazida por Marx e Engels no Manifesto do Partido Comunista onde o mesmo aponta que o
desenvolvimento da industrial moderna e a introdução da maquinaria foram tantas a ponto de
não existir mais necessidade desse trabalho necessitar ser realizado por homens, pois o sexo
ou a idade não possuía mais relevância, deste modo, o trabalho passou a ser executado por
mulheres e crianças.

Para, além disso, a inserção da maquinaria nesse sistema causa implicações serias
sobre o valor da força de trabalho oferecida pela classe, pois, a partir do momento em que
todos os membros da família são lançados no mercado o valor da força de trabalho do homem
passa a ser repartido por toda a sua família.

7
Edição utilizada pelo autor em seus estudos.
29

Marx (20138) destaca que a partir do momento em que a força física deixa de ser
necessária para a execução dos trabalhos, o sistema de produção capitalista passa a possuir
novas possibilidades de exploração.

Assim, de poderoso meio de substituir o trabalho e trabalhadores, a


maquinaria transformou-se imediatamente em meio de aumentar o número
de assalariados, colocando todos os membros da família do trabalhador, sem
distinção de sexo e de idade, sob o domínio direto do capital (MARX, 2013,
p.451)

Outro problema que se agrava durante esse período é o aumento da taxa de


mortalidade infantil, que se dava em grande parte por conta falta de condições de higiene,
saúde e educação, uma vez que as mulheres passaram a fazer parte desse sistema brutal, com
altas de trabalho e das dificuldades vivenciadas pelos trabalhadores ao criarem seus filhos em
um país mais desenvolvido industrialmente.

Essa exploração gerou na classe trabalhadora reações distintas como a destruição de


máquinas, lutas pelo aumento do salário e a redução da carga horária e a união dos operários
que começaram a formar grupos contra os burgueses.

No ano de 1833 e como consequência das ações citadas anteriormente, o Estado se viu
obrigado a intervir através da criação de leis fabris. Entre as leis criadas a partir desse ano,
Marx (2013) destaca a lei que obrigava o ensino de todas as crianças que estavam empregadas
em fábricas9, essa lei colocava a educação como uma condição interligada a contratação e
crianças na tentativa de diminuir a exploração desse grupo. A partir desse momento toda
criança que seria empregada precisava ter frequentado a escola por pelo menos 30 dias.

É necessário frisar que, a partir deste momento foi proibida a contratação de criança
menores de 9 anos, as crianças entre 9 e 13 anos10 passaram por uma redução na sua carga
horária de trabalho, devendo trabalhar apenas 8 horas diárias, posteriormente, sendo reduzida
a 6 horas. O trabalho noturno também apresentou alterações, passando a ser vetado para os
menos entre 9 a 18 anos.

8
Edição utilizada por mim para a realização dessa pesquisa.
9
Lei de 1844.
10
Entretanto Garcia (2015) destaca em seus estudos que essas regras podiam ser evitadas pelos capitalistas, pois,
se encontrassem uma criança que pudesse se passar por alguém de 14 anos, os mesmos as empregavam com o
auxílio de identidades falsas fornecidas por médicos que concediam os “certifyng surgeons” certificados
médicos que comprovavam a idade para que essas crianças fossem empregadas.
30

Marx (2013) destaca que a obrigatoriedade do estudo era mais entendida como uma
mera obrigatoriedade de frequência escolar do que propriamente expressava um cuidado ou
proteção na forma de direitos às crianças e adolescentes, pois após a realização de visitas dos
fiscais a algumas instituições educacionais, as crianças eram imediatamente reconduzidas às
fábricas nos horários destinados ao ensino, bem como o ensino-aprendizagem não se
efetivavam realmente, já que muitas crianças filhas da classe trabalhadora continuavam sem
alfabetização adequada.

Através da reflexão trazida pelos autores é possível compreender a desproteção


vivenciada pela infância durante esse período histórico. Aqui se faz necessário destacar que
essa desproteção ocorre em consequência de uma característica única que surge durante esse
período, a emergência do que se compreende, principalmente, pela perspectiva social crítica
do Serviço Social por “questão social”.

Assim, na perspectiva apresentada a “questão social”11 é expressa ou se manifesta


como as consequências trazidas pelo sistema capitalista, entre elas são destacadas a pobreza
exacerbada, as longas jornadas de trabalho, os ambientes de trabalho insalubres, sujos e
perigosos, os salários baixos, o aumento e o novo modo de exploração da classe trabalhadora,
a exploração degradante de crianças muitos pequenas e mulheres, etc.

Esse período com certeza demarcou um dos ápices quanto ao descuidado e desamparo
a infância e a juventude, mas apresenta em sua composição a característica distinta de se
aplicar somente a um determinado tipo de crianças e adolescentes, os que fazem parte da
classe trabalhadora, ou seja, àquelas nascidas no seio familiar do proletariado. Foi somente
através das lutas enfrentadas pela classe trabalhadora que se fez possível a conquista de
direitos que visassem o início da proteção da infância como conhecemos hoje.

11
Entendida pelo Serviço Social como o conjunto de expressões que definem as desigualdades na sociedade,
estando profundamente atrelada ao modo de produção capitalista, onde o aumento da produção de riquezas
culmina no aumento da desigualdade social (IAMAMOTO, 2001).
31

CAPÍTULO II - OS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: A


FORMAÇÃO DA REDE DE PROTEÇÃO

Como foi possível compreender no tópico anterior, a infância e a adolescência


passaram um longo período onde não existia a compreensão adequada e nem vasto saber
científico apurado acerca das particularidades dessa população, causando uma desproteção
que perpetuou por séculos, foram necessárias longas lutas travadas pela classe trabalhadora e
um longo processo de estudos desenvolvidos por diversas áreas do conhecimento, em especial
por parte das chamadas ciências humanas, a fim de efetivar a garantia de direitos para os
mesmos.

Através desta perspectiva podemos compreender que o sistema de acolhimento


institucional é entendido como uma medida de proteção para as crianças e adolescentes,
apesar de nem sempre ser visto deste modo.

O sistema de acolhimento institucional propriamente dito é relativamente novo,


principalmente no que diz respeito a ser compreendido como uma ferramenta garantida pelo
Estado como método de garantia de direitos e proteção. Nas sociedades mais antigas, não era
possível encontrar essa configuração institucional, uma vez que as próprias Unidades de
Acolhimento Institucional não existiam, sendo apresentadas anteriormente como os
conhecidos orfanatos.

É importante destacar que de acordo com os registros históricos realizados por


estudiosos dessa problemática nas sociedades ocidentais, o acolhimento institucional começou
a ser registrado como prática social a partir da Idade Média, realizado por instituições
religiosas professavam o cristianismo vinculadas à Igreja Católica. Mais tarde essa prática ao
ser institucionalizada pelo Estado, principalmente quando assume a forma do direito e da
proteção social, vai se estender para além da adoção. Assim, o acolhimento institucional de
crianças e adolescentes adquire outras formas que não digam respeito unicamente à
problemática da adoção.

Nas sociedades medievais e nos Estados-nações que se formaram sob a Era burguesa,
muito da prática do acolhimento de crianças (e em menor número de adolescentes) era
resultante do peso moral da ética religiosa cristã e dos valores e costumes conservadores. Isso,
por um lado, porque as mulheres eram obrigadas a se apartarem de seus filhos para preservar
a “honra”, deixando-os em instituições religiosas sem que a sociedade conhecesse a
32

identidade materna da criança. E, de outro lado, o acolhimento institucional era visto muito
mais ou unicamente como um gesto de caridade e benevolência cristã para com as crianças
indesejadas ou sem vínculo familiar, do que como uma ação propriamente reconhecida uma
forma de proteção e direito.

Neste capítulo iremos abordar um pouco sobre a história social do acolhimento


institucional e da adoção como uma prática realizada em diversas culturas ao longo de
diferentes séculos da sociedade, apresentando também a sua evolução partindo do sistema de
adoção, anteriormente utilizado para cumprir as necessidades sociais das famílias que não
conseguiam gerar filhos de forma biológica; bem como será abordado também sobre o
sistema atual do acolhimento institucional voltado a garantia de proteção dos direitos das
crianças e adolescentes que viveram algum tipo de violação.

2.1. O acolhimento institucional no mundo

Apesar de ainda não compreendida pela sua complexidade, a adoção propriamente dita
existe desde os primórdios das civilizações antigas, sendo registados casos de adoção em
civilizações como as egípcias, gregas e romanas. Durante esse período a adoção possuía como
principal função propagar o culto dos antepassados, ou seja, na grande maioria das vezes
ocorria quando não era possível que um casal gerar filhos biológicos, sendo assim, o filho ou
filha adotiva era responsável por dar continuidade do culto familiar e realizar o funeral dos
seus pais.

Em seu texto, Ligero e Penha (2009) fazem um levantamento de livros e documentos


que comprovam a existência e “regularizam” as ações de adoção, sendo possível compreender
um pouco dessa realidade e das regulamentações que norteavam as ações de adoção em
diversos contextos históricos, especialmente na Antiguidade. Com base nos autores, nessa
realidade cultural o processo de adoção possuía como grande objetivo a perpetuação das
crenças familiares para as famílias que não eram biologicamente capazes de gerarem filhos, a
criança adotada deveria compartilhar da mesma classe social, conhecer todos os rituais e
crenças da família e apresentar todas as qualidades almejadas pela família pela qual seria
adotado.

Na Grécia antiga, nesse caso mais especificamente em Athenas, o medo da extinção da


família era algo real, deste modo, a adoção era uma forma bastante viável de se perpetuar a
família e as suas crenças, “pois o que não se conseguia pelas vias naturais, filhos, era
33

conseguido de forma dissimulada” (LIGERO; PENHA, 2009, p.3). Como nas demais
sociedades, aqui também eram apresentadas regras sobre quais indivíduos poderiam ser
adotados e quais poderiam realizar o ato de adotar, nesse caso em específico, só eram capazes
de realizar este ato aqueles que eram vistos perante a sociedade Grega como cidadãos.

Na Grécia a adoção possuía como principal função a não extinção do culto doméstico
de uma determinada família, sendo assim, o processo de adoção era composto pelas seguintes
etapas: o adotado era iniciado no culto doméstico da família adotanda, em seguida o mesmo
passava ao culto da a nova família deixando de possuir responsabilidades junto à as família
natural de origem.

Esse cenário segue não apresentando muitas distinções em outras sociedades da


antiguidade, sendo o mesmo pensamento que norteava as ações de adoção em Roma onde o
pater famílias não poderia falecer sem deixar nenhum sucessor para evitar a extinção de sua
família, do seu nome e do seu culto familiar.

É necessário destacar que o processo de adoção estava ligado as construções sociais da


época, ou seja, só uma pequena parte da população era considerada apta para adoção, sendo
excluídos os plebeus, as mulheres e os impúberes.

Nessa perspectiva podemos compreender que na grande maioria das sociedades


antigas, apesar de cada uma delas apresentar as suas particularidades, a adoção era utilizada
como um modo de perpetuação da família para aqueles que não possuíam condições
biológicas de dar continuidade a sua linhagem familiar.

Ao analisar a adoção durante o período a Idade Média, podemos perceber que a


mesma deixou de ser utilizada com frequência pela sociedade por motivos como “ser
contrária aos eventuais direitos dos senhores sobre os feudos e pela Igreja Católica considerar
o instituto um obstáculo ao matrimônio” (LIGERO; PENHA, 2009, p.5).

Nesse período, nos raros casos em que acontecia, a adoção se apresentava de modos
diferentes que nas sociedades antigas sendo utilizada somente em último caso.

O adotado não tinha direito de herdar o título nobiliárquico, uma vez que ele
só era transmitido jus sanguinis e por permissão real, sendo imprescindível o
consentimento do Príncipe para que houvesse a transmissão do título ao
adotado. Era permitido àqueles que não tinham filhos do próprio sangue,
satisfazendo o sentimento de paternidade e proteção além de tornar válido o
critério da imitação da natureza. (LIGERO; PENHA, 2009, p.5-6)
34

Através da perspectiva apresentada podemos perceber que a adoção como conceito


apresentava características e objetivos distintos dos que nos tempos atuais, quase sempre
carregando a característica de adotar um filho com o objetivo de usá-lo para suprir alguma
necessidade social ou financeira que a família ao adota-lo possuía.

Do ponto de vista da institucionalização do acolhimento, as primeiras práticas que se


conformam com essa natureza ou caracterização se desenvolveram, conforme os registros
históricos, vinculados a instituições religiosas, especialmente vinculadas a Igreja Católica.
Compreendemos que as casas de acolhimento propriamente ditas possuem o seu primeiro
registro a partir do ano de 1178 na Itália, graças ao surgimento da roda dos expostos, que
visava diminuir o número de mortes infantis recolhendo crianças “abandonadas” e acolhendo-
as no Hospital de Santo Spirito em Sassia. A roda era um mecanismo giratório que
apresentava um formato cilíndrico dividido em duas partes: uma parte era voltada para a rua
enquanto a oura parte era voltada para a casa de acolhimento onde os pais das crianças as
deixavam em segurança sem serem identificados.

Já na metade do século XIX existiam no país cerca de 1.200 rodas e a partir dos anos
1400 todos os hospitais na Itália destinavam uma parte dos seus recursos ao manejo de
crianças indesejadas, sendo contabilizados por ano cerca de 40.000 bebês “abandonados” nas
rodas e 150.000 crianças com menos de dez anos necessitando de cuidado e assistência. Neste
período a Igreja Católica era uma das principais responsáveis pela organização da roda e pelo
cuidado (recepção das crianças e locação das mesmas em abrigos e famílias).

Após serem “abandonadas”, as crianças começavam a sua vida no acolhimento, uma


parte importante do processo era o batismo destas crianças, onde cada casa de acolhimento
adotava um sistema para batiza-las e nomeá-las com nomes e sobrenomes particulares que
faziam referência ao modo que as mesmas foram “abandonadas” na roda.

Neste momento histórico, a roda dos expostos, e por consequência o primeiro sistema
de acolhimento, surgem em consequência da extrema pobreza e da necessidade social do
“abandono”, uma vez que essas crianças poderiam ocasionar para as suas famílias uma série
de problemas econômicos. Para além desse motivo, os ditos “expostos” também poderiam ser
“abandonados” por serem frutos de relações extraconjugais, por serem frutos da prostituição,
por apresentarem má formação ao nascimento e por possuírem doenças como sarna,
escabiose, verminoses, sífilis, etc.
35

2.2. O acolhimento institucional no Brasil antes da Constituição de 1988

A concepção de infância nem sempre esteve amplamente definida na sociedade, por


conta disso o tratamento dado as crianças e adolescentes no Brasil nem sempre foi o que
estamos acostumados nos tempos atuais. No Brasil Colônia era comum que as crianças
fossem vistas como mão de obra, por conta disso muitas delas se quer chegavam na fase da
adolescência, as crianças e adolescentes de famílias mais pobres eram separadas de suas
famílias em Portugal e trazidas para o Brasil onde viviam em situações precárias com falta de
higiene, sem a alimentação devida e muitas vezes eram atiradas ao mar caso estivem com
alguma doença.

Ainda em seu período colonial, o Brasil aderiu a uma prática trazida da época da Idade
Média, a dita “roda dos expostos” onde se permitia a colocação de crianças dentro de uma
abertura encontrada nos muros de instituições para que as mesmas fossem deixadas aos
cuidados da Igreja, garantindo nesse momento a preservação da imagem e reputação das
mulheres e famílias que optavam por “abandonar” os seus filhos12.

Durante esse período o país vivenciou o que seria o pontapé inicial para uma cultura
nacional que compreende a institucionalização de crianças e adolescentes como algo
necessário para as mesmas. Neste momento histórico os colonizadores que buscavam
facilidade no acesso as riquezas do Brasil acabaram por criar estratégias de “domesticação” da
população indígena que aqui vivia investindo em métodos de capacitar as crianças a fim de
apagar as suas identidades indígenas, é através dessa ação que o Brasil recebe a primeira
instituição completamente voltada para o trato com crianças.

Há relatos que nos contam como os portugueses formularam um projeto de


exploração das novas terras e de aculturação de seus moradores, quando
chegaram ao Brasil, no século XVI, e depararam com as nações indígenas
que ocupavam o território. A estratégia incluía a vinda dos jesuítas para
catequizar os nativos e facilitar a colonização. Diante da resistência dos
índios à cultura europeia e à formação cristã, os padres resolveram investir
na educação e na catequese das crianças indígenas, consideradas “almas
menos duras”. Muitas dessas crianças eram deliberadamente afastadas de
suas tribos. Entre 1550 e 1553, foram criadas as Casas de Muchachos –
“protoforma dos abrigos e internatos educacionais que perduram até hoje”
(SPOSATI, 2004 apud BAPTISTA, 2006, p.21)

12
Nesse cenário eram apresentadas razões distintas para o “abandono” de uma criança, podendo ocorrer pela
preservação da honra de uma mulher que gerou e deu a luz a um filho bastardo ou ilegítimo, evitando a
necessidade de matá-lo em nome da sua honra, ou nos casos em que as famílias não possuíam as condições
financeiras e sociais para a criação desse filho, abdicando dos seus direitos para garantir a sobrevivência da
criança.
36

Deste modo, podemos compreender que no Brasil, o inicio da institucionalização das


crianças e adolescentes se deu através de uma ótica cristão repressiva, pautada nos valores
religiosos da época, que buscava, através destes processos, apagar toda a cultura de um povo
de forma repressiva. Sendo assim, a institucionalização se dá através de um caráter protetor e
menos na perspectiva da garantia de direitos.

No período do Brasil imperial também não era possível reconhecer nenhuma política
social voltada para a proteção e o desenvolvimento da criança ou do adolescente, o governo
da época não demonstrava nenhuma intenção em realizar ações voltadas para esse público, o
que merece destaque, no entanto, era o reforço dado ao controle policial punitivo para os
adolescentes infratores.

Na década de 1889 com a proclamação da República e a abolição da escravidão


haviam nas ruas das cidades muitas crianças “abandonadas” a procura de comida e abrigo,
gerando assim, um desconforto para a elite da época que alegava que essas crianças sujavam
as ruas e traziam a criminalidade para as suas cidades, por conta disso a burguesia passa a
exigir do Estado uma postura que limpeza social da cidade.

O foco principal era a infância pobre caracterizada por crianças e jovens que
viviam à margem da sociedade, para as quais se reservou não só a piedade, a
solidariedade, mas também a indiferença e a crueldade. As políticas sociais
de assistência a essa parte da população sempre forem no sentido de recolher
e isolar em instituições fechadas, onde a educação era voltada ao trabalho,
visando a exploração da mão-de-obra. (HOLLMANN, 2009, p.13)

Neste ponto faz-se necessário destacar a má compreensão e administração da situação


vivenciada por essa população por parte de Estado, uma vez que, o problema da infância era
sim compreendido como grave e entendido como consequência da alta pobreza da época, mas
as políticas voltadas para esse grupo nunca envolveram quaisquer propostas de solução que
envolvessem políticas de distribuição de renda, saúde ou educação. Destacando que as ações
tomadas na época13 jamais proporcionaram condições favoráveis ao desenvolvimento das
crianças e dos jovens.

O acolhimento institucional no Brasil se apresentou como uma solução para a situação


irregular das crianças e adolescentes no país, além de abordar a questão da vivência de rua e

13
Ações essas que estavam voltadas ao confinamento e a exclusão de quaisquer jovens que se encaixassem nessa
realidade.
37

da pobreza. Antes da Constituição de 1988 e por conseguinte a implementação do ECA


(Estatuto da Criança e do Adolescente), o acolhimento institucional no Brasil foi regido pelo
Código de Menores de 1927 e posteriormente o de 1979, ambos estabelecendo que o menor
que estiver em “situação irregular” seria alvo da atuação do Estado.

Ambos os Códigos, apesar de apresentarem algumas diferenças, eram voltados para a


situação irregular de crianças e adolescentes que se encontravam em situações de pobreza,
"abandono” ou estavam envolvidos com quaisquer ações de infração a leis ou fossem
considerados pela sociedade delinquentes e pervertidos. Podemos perceber que ambos os
códigos apresentavam um caráter extremamente positivista14 que enxergava a questão da
infância e adolescência no país através de uma perspectiva totalmente repressiva, ignorando
em sua execução os princípios da proteção social.

O Código de Menores trazia consigo uma concepção moralista totalmente focado na


parcela infanto-juvenil da sociedade que eram órfãs ou de famílias desajustadas, servindo
assim aos interesses da burguesia do país, Faleiros; Pranke 2001 apud Pedrosa, 2017 p.4
destaca quais eram as distinções empregadas no Código de Menores.

“Abandonados”: São os que não possuíam habitação certa, nem responsáveis


que os assumissem, ou conviviam em famílias consideradas “imorais”;
Vadios: aqueles que, apesar de possuírem pais, tutores, ou outro tipo de
responsáveis, não eram afeitos a receber instruções, e eram também
encontrados a vagar nas ruas com frequência; Mendigos: os que pediam
esmolas; Libertinos: os que praticavam atos relacionados à prostituição,
incluindo a prostituição de si mesmo ou a exploração da prostituição de
outro.
O tratamento oferecido aos referidos “menores” nessas instituições apresentavam dois
vieses: um focando na defesa do “menor” e outro focando em defender a sociedade deste
mesmo “menor”, pois nesta realizada eles eram entendidos socialmente como delinquentes
em potencial, podendo oferecer riscos reais a população ao seu redor.

Ainda mantendo a mesma perspectiva no ano de 1942 foi criado o SAM (Serviço de
Assistência ao Menor) propondo que adolescentes autores de atos infracionais fossem
mandados para reformatórios ou casas de correção enquanto os menores pauperizados e

14
Positivista porque recebeu a influência desse campo teórico e filosófico do conhecimento, uma vez que tratava
a problemática do ponto de vista da naturalização e da busca pela adequação, adaptação, correção e
harmonização.
38

“abandonados” eram encaminhados para patronatos agrícolas ou para escolas de ofícios


urbanos15.

Esse momento acabou por reforçar mais uma vez o sistema punitivista, excludente e
repressivo que era reservado para as crianças e adolescente na época. Por não atender aos
interesses da elite burguesa da época, o SAM foi abolido no ano de 1964, então sendo
substituído em seguida pela FUNABEM (Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor) que
incorporava os mesmos princípios que o SAM. Neste ano, graças a Lei 4.513 surge a PNBEM
(Política Nacional do Bem Estar do Menor) apresentando uma proposta assistencialista a ser
executada pela FUNABEM, que possuía como principal objetivo tornar nacional a política do
bem estar de crianças e adolescentes.

No ano de 1979 foi criado sob a lei nº 6.667 o segundo Código de Menores que não
trouxe mudanças significativas se comparado com o código anterior, apenas fortalecendo o
carácter repressivo e criminalizador dessa expressão da questão social envolvendo a
população infanto-juvenil que se encontravam em situação irregular de rua.

Com isso é possível perceber que ao longo da história as crianças e adolescentes foram
vistos e tratados como um problema perante a sociedade brasileira, sendo responsabilizadas
por ações que ocorrem em consequência das determinações e contradições advindas da
“questão social” vigente no país.

Assim, os Códigos de Menores que organizavam a prática do “acolhimento


institucional” (ou melhor, da institucionalização) estavam totalmente focados em culpabilizar
a população infanto-juvenil, tratando-as com maldade, violência e humilhação. Este
movimento de desresponsabilização por parte do Estado no Brasil não se apresenta como algo
novo na sociedade capitalista, uma vez que o próprio sistema de produção exibe
características que enfatizam a desigualdade e a exclusão social, tratadas como caso de
polícia, criminalizadora e não como caso de política e direito social com vista à proteção
social.

2.3. O acolhimento institucional no Brasil pós Constituição de 1988

Somente com o fim da Ditadura Militar em 1985 houveram mudanças significativas


no tratamento dado à criança e aos adolescentes em termo de proteção social. A Constituição
15
Esses lugares se apresentavam como o equivalente ao sistema prisional para as pessoas adultas. Revelando e
destacando novamente todo o caráter desse sistema, que tratavam as crianças e adolescente como adultos que
não possuíam acesso aos direitos, sempre restando para os mesmo a face punitiva e repressiva do Estado.
39

de 1988 trouxe consigo o rompimento do Código de Menores e a conquista dos direitos para
crianças e adolescentes no país, assim, sendo elaborado através da lei nº 8069/90 o ECA
(Estatuto da Criança e do Adolescente).

A evolução que aconteceu no Brasil envolvendo os direitos das crianças e adolescentes


acompanhou o desenvolvimento que ocorria em outros países, sendo assim, muitas das
orientações que estão presentes no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) também
fazem parte das legislações protetivas em outras nações. Entre a segunda metade dos anos
1980 e a primeira metade dos anos 1990 o mundo vivenciava uma onda de reivindicações e
elaboração de leis para os direitos infanto-juvenis. A concepção da criança e do adolescente
como sujeitos de direitos, neste momento passa a ser responsabilidade do Estado e da
sociedade garantir que tenham acesso à saúde, a educação, a proteção, etc.

No Brasil, essa onda histórica ocorre como consequência dos arranjos institucionais
envolvendo diversas organizações e movimentos sociais, como o movimento da educação, o
movimento de menino e meninas de rua e os sindicais que se mobilizaram para garantir que
os direitos das crianças e dos adolescentes estivessem presentes na Carta Magna.

O sistema de acolhimento institucional é entendido como o responsável pela


articulação da Proteção Social Especial de Alta Complexidade16 com as demais redes
socioassistenciais tendo como principal objetivo a reintegração familiar de crianças e
adolescentes. O acolhimento institucional é considerado uma medida protetiva, de carácter
excepcional e provisório que visa interromper a cultura social do afastamento de crianças e
adolescentes de suas famílias por conta de qualquer situação de vulnerabilidade ou risco,
conforme estabelecem as normativas institucionais. Ou seja, o afastamento é realizado como
uma medida de proteção social em casos como o de violência doméstica ou familiar é
priorizado o afastamento do agressor da residência.

No ano de 2009, cerca de 20 anos após o ECA que data de 13 de julho de 1990, o
documento “Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes”
foi divulgado pelo Conselho Nacional de Serviço Social (CNAS) e pelo Conselho Nacional
das Crianças e Adolescentes (CONANDA), possuindo como principal objetivo padronizar o
funcionamento das unidades de acolhimento do país orientando como cumprir as suas funções
protetivas e de restabelecimento dos direitos. Nesse momento se intensifica o carácter de

16
A alta complexidade se configura enquanto Serviços de Proteção Social ofertando proteção integral a
indivíduos ou famílias que se encontram em situação de risco social ou com os vínculos familiares rompidos ou
extremamente fragilizados. Esses serviços ofertam moradia, alimentação, etc.
40

proteção e reintegração familiar, responsabilizando as unidades de acolhimento pelo


fortalecimento de vínculos entre as crianças e adolescentes e o seu núcleo de origem.

Com a divulgação dessas orientações são estabelecidos princípios fundamentais para a


manutenção do bom funcionamento do acolhimento institucional:

• O primeiro diz respeito ao carácter excepcional que envolve o afastamento de


crianças e adolescentes da sua família, ocorrendo apenas quando o acolhimento
representar a melhor opção para a manutenção dos interesses dos jovens.

Deste modo, é sempre priorizado o não afastamento das crianças e adolescentes de


suas famílias. Nesse sentido, ao se constituir uma medida protetiva de caráter restritiva, ela
deve tentar preservar os laços familiares, evitando situações de abuso opressor da autoridade
do Estado ao fazer uso das medidas de proteção às crianças e dos adolescentes.

• O segundo princípio destacado é o da provisoriedade do acolhimento, onde o


acolhimento das crianças e adolescentes não deve ultrapassar o período
máximo de dois anos, o tempo só pode aumentar em casos excepcionais com a
fundamentação de uma avaliação bastante criteriosa elaborada por todos os
órgãos responsáveis pelo acompanhamento do caso. No período de dois anos é
necessária a viabilização da reintegração familiar, seja por família nuclear,
extensa ou em último caso o encaminhamento para uma família substituta.

Neste ponto faz-se necessário destacar que esse princípio nem sempre pode ser
seguido, principalmente em casos de crianças e adolescentes mais velhos que não apresentam
possibilidade de reinserção familiar por nuclear ou extensa e nem compõe o perfil majoritário
de interesse em inserção em famílias substitutas.

• O terceiro princípio destaca a importância da manutenção dos vínculos


familiares e comunitários para um bom desenvolvimento humano, reafirmando
que os vínculos originais não devem ser rompidos a menos que apresente risco
comprovado para o bem estar da criança ou adolescente.

Entende-se que, apesar de se encontrarem acolhidos, ainda é de extrema importância


garantir as crianças e adolescentes possuam acesso ao estreitamento dos vínculos familiares,
desde que eles não proporcionem mal aos mesmos. Outro ponto que merece ser destacado
nesse princípio é que a criança ou adolescente não pode ser privado do convívio social,
41

entende-se que são sujeitos inseridos em relações sociais diversas indispensáveis ao seu
desenvolvimento. Por isso, o convívio comunitário é um direito que não pode ser violado.

No documento também era garantido o respeito a diversidade, a liberdade de crença e


a defesa da política de não discriminação prevendo o aprimoramento de estratégias que visem
a preservação da diversidade cultural. Os atendimentos as crianças e adolescentes devem ser
personalizados e individualizados levando em consideração a vivência social, e as
necessidades físicas e psicológicas particulares de cada caso. É importante que cada uma das
crianças e adolescentes que se encontram acolhidas tenha a sua individualidade, a sua história
de vida e as suas particularidades preservadas e levada em consideração ao serem atendidos e
ao terem os seus casos conduzidos pela equipe.

Nas orientações o princípio de estimulo à autonomia também ganhava destaque,


ressaltando a importância e a necessidade de incentivar ações que preparem os adolescentes
que estão próximos de completar a maior idade para a vida adulta. Existem casos ondem
adolescentes próximos a completar a maior idade não serão reinseridos nas famílias ou
inseridos em famílias substitutas, sendo necessário prepará-los para o futuro considerando a
formação profissional e educacional do mesmo, após o desligamento esses adolescentes
podem ser encaminhados para as republicas onde o apoio para esses jovens deve continuar.

Este novo modelo de política de acolhimento apresenta mudanças consideráveis em


consideração aos anteriores, que apresentavam apenas um caráter punitivo. Neste caso, apesar
de se configurar enquanto carácter excepcional, agora o acolhimento institucional se apresenta
enquanto protetor desses jovens, apresentando a eles oportunidade de integração ou
reintegração social, familiar e comunitária.

Como destacado anteriormente, as Unidades de Acolhimento se configuram como


parte da rede socioassistencial. Para a operacionalização dessa rede de proteção
socioassistencial, no sentido de garantir a sua eficiência e efetividade no processo de
implementação, é exigido a atuação interdisciplinar de algumas especialidades técnicas, uma
delas a de assistentes sociais. Nesse sentido, o Serviço Social enquanto especialidade técnica
na divisão do trabalho possui uma participação importante em atuar para que se tornem
asseguradas que as crianças e aos adolescentes em acolhimento institucional sejam entendidas
como seres humanos de direitos.

Quando se trata das políticas de acolhimento institucional, o Artigo 86 do Estatuto da


Criança e do adolescente menciona: “A política de atendimento dos direitos da criança e do
42

adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não


governamentais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”.

Assim, se destaca a autonomia que cada município possui para desenvolver os seus
programas de modo que melhor respondam às demandas recorrentes das crianças e
adolescentes de cada localidade. Isso, segundo é claro, as diretrizes legais e as políticas
sociais públicas de abrangência nacional que tratam e estabelecem a organização do serviço
de acolhimento institucional para população infantil e juvenil.

Essa autonomia se faz necessária, uma vez que cada região apresenta as suas próprias
particularidades enquanto ao público que atente e as condições políticas e sociais que
envolvem o sistema de acolhimento em um Estado ou Município.

2.4. Organização do acolhimento: a rede de proteção

A rede de proteção à criança e ao adolescente é entendida com as relações e interações


formadas com a determinada finalidade de identificar, acompanhar, atender e se manter
vigilante em relação aos casos de crianças e adolescentes que possam apresentar alguma
característica de gravidade, são organizadas em uma estrutura flexível que funciona de forma
dinâmica e multifacetada. Conforme Cascavel, ela “[...] pode se desdobrar em vários
segmentos autônomos (subredes) capazes de operar independentemente do restante da rede,
de forma temporária ou permanente, conforme a demanda ou a circunstância” (2010, p.10).

No documento intitulado Manual de Orientações Básicas da Rede de Proteção à


Criança, ao Adolescente e à Família17 é levantada a discussão acerca do como deve ser e
como funcionar a rede de proteção e à criança e ao adolescente. Neste documento são
apresentadas as principais estratégias para a mobilização dessa rede de proteção, sendo elas:

• Privilegiar espaços de articulações já existentes;


• Sensibilizar os envolvidos por meio da socialização de dados, análises e reflexões
sobre a Violência contra crianças e adolescentes;

17
Documento datado de 2010, disponível em:
https://www.bing.com/ck/a?!&&p=b698d75e2fcd2faaJmltdHM9MTY2MzExMzYwMCZpZ3VpZD0yZTJkMW
FhOS02OTY5LTZmZjYtMTMxNy0wYjgwNjhkZjZlNDgmaW5zaWQ9NTQyNg&ptn=3&hsh=3&fclid=2e2d1
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klQzMlQTdvJTIwZGElMjBSZWRlJTIwZGUlMjBQcm90ZSVDMyVBNyVDMyVBM28u&ntb=1.
43

• Mapear as ações de enfrentamento à violência (quem recebe a denúncia, para onde as


vítimas são encaminhadas, se existe trabalho com os familiares, etc.);
• Estabelecer coletivamente objetivos a curto, médio e longo prazo;
• Envidar ações de prevenção à violência contra crianças e adolescentes, através da
sensibilização da comunidade, com ênfase no acolhimento, orientação e atendimento
de adolescentes e crianças em situação de risco social e pessoal;
• Mapear os focos mais evidentes de violência para, consequentemente, propor ações de
enfrentamento coletivo.

Sem dúvida alguma, o crescimento e a amadurecimento das organizações criadas pela


sociedade civil, a exemplo de movimentos sociais e/ou organizações de defesa dos direitos da
criança e do adolescente que contribuiu para a formação e para estruturação de uma rede de
proteção.

Ações como a valorização das iniciativas comunitárias e das redes que buscam a
socialização entre as famílias, além da entrada do Estado como um impulsionador da criação
das redes de atendimento, foram fundamentais para o aprimoramento das redes de proteção
em diversos municípios do país.

A articulação entre as políticas intersetoriais é de suma importância na formação da rede


de proteção, uma vez que esse movimento permite a atuação no combate às formas de
violência vivenciadas por esse público.

A formulação e implementação de políticas sociais intersetoriais e


interligadas com as práticas sociais mapeadas têm proporcionado um
importante fomento na criação de redes voltadas para o segmento infantil e
juvenil vitimizado pela violação de direitos. São as redes de combate ao
abuso e exploração sexual infanto-juvenil e as de proteção a crianças e
adolescentes em situação de risco social (RIZZINI et al, 2007, p.113)
Ainda no documento Manual de Orientações Básicas da Rede de Proteção à Criança,
ao Adolescente e à Família, é apresentado o fluxograma (que é ilustrado na gravura logo a
seguir) para o atendimento a esse público, que visa uma melhor comunicação entre a rede e
articulação entre as suas ações. Deste modo, todos os serviços que são apresentados no
fluxograma são entendidos como “portas de entrada”.

Gravura 1 - Organização da rede de proteção as crianças e adolescentes:


44

Fonte: Manual de Orientações Básicas da Rede de Proteção à Criança, ao Adolescente


e à Família

A proteção à criança e ao adolescente é entendida com um processo bastante


complexo, por conta disso é necessário que o serviço que tenha o primeiro contato com a
situação de violência e/ou situação de violação de direitos tome as decisões corretas naquele
momento. Todos os componentes que compõem a rede de proteção devem trabalhar sempre
em busca da cooperação, integração e da intersetorialidade, sempre em mente a ampliação das
parcerias e o envolvimento das instituições governamentais, não governamentais e da própria
comunidade.

A formação de redes exige ações concretas por parte de seus proponentes. Contudo,
nem todas as medidas a serem tomadas são tão palpáveis: há que se lidar com os aspectos
culturais e os relativos à vontade política e às relações interpessoais (RIZZINI et al, 2007,
p.115)
45

Deste modo, podemos compreender a importância da rede de proteção às crianças e


aos adolescentes como um fator fundamental na articulação de diferentes políticas públicas de
visam trabalhar de maneira articulada a fim de cumprir o objetivo de garantir a proteção e a
não violação dos direitos das crianças e adolescentes.

A violação dos direitos das crianças e adolescentes que culminam no acolhimento


institucional vão muito além de apenas violência, os mesmos podem apresentar diversos
motivos para o acolhimento, sendo algum deles: violência física e/ou sexual, exploração
sexual, situação de rua e mendicância, crianças e adolescente com histórico de uso de SPA
(Substância Psico Ativa), crianças ou adolescente envolvido em atividades ilícitas,
“abandono” por parte dos genitores ou responsáveis, genitores ou responsáveis com uso de
SPA, entre outras razões.

As unidades de acolhimento institucional devem atender as necessidades e


características específicas de seus usuários, deste modo o contexto é avaliado para a
implementação do modelo de acolhimento. No Brasil o acolhimento institucional de crianças
e adolescentes se configura nas seguintes modalidades1819:

• Abrigo institucional - de crianças e adolescentes: Atente o público de 0 à 18 anos que estejam


em situação de risco, o serviço deve ser ofertado de acordo com as medidas do ECA e das
orientações técnicas do Serviço de Acolhimento para crianças e adolescentes. As Unidades
devem atender no máximo 20 acolhidos que são geralmente encaminhadas por determinação
judicial ou solicitação do Conselho Tutelar. Nessas Unidades a preservação e/ou
fortalecimento dos vínculos familiares é prioridade;

• Casa-lar - de crianças e adolescentes: Nesta modalidade o serviço é oferecido em uma unidade


residencial possuindo uma pessoa que trabalha como cuidador residente. Atende no máximo
10 crianças e adolescentes entre 0 à 18 anos que são acolhidos por meio de indicação técnica;

• Repúblicas - para jovens: Esse serviço é voltado para jovens entre 18 e 21 anos que são
egressos dos serviços de acolhimento, jovens que passaram por esses serviços enquanto eram
crianças e adolescentes. Oferta apoio aos jovens que se encontram em situação de
vulnerabilidade ou riscos e que estão com os vínculos familiares rompidos ou extremamente
fragilizados;

18
Essa divisão está prevista no ECA (Lei 8.069/90).
19
Informações mais detalhadas sobre as modalidades de acolhimento ver o documento “Orientações Técnicas:
serviço de acolhimento para Crianças e Adolescentes”, então elaborado em 2008.
46

• Famílias acolhedoras - para crianças e adolescentes: Realizado por famílias previamente


cadastradas, deve proporcionar as crianças e adolescente um ambiente doméstico e atenção
individualizada. É indicado as crianças e adolescentes cuja a avaliação da equipe técnica
indique a possibilidade de reinserção à família de origem, extensa ou ampliada.

2.4.1. A rede de acolhimento em Sergipe

Ao falarmos das especificidades encontradas no estado de Sergipe, faz-se necessário


destacar alguns pontos sobre as políticas de acolhimento institucional de crianças e
adolescentes no estado. Foi somente no ano de 2012 que o estado passou a possuir programas
de acolhimento que contemplassem todas as idades.

Segundo os dados trazidos Fonseca et. al. (2014), a quantidade de Unidades em pleno
funcionamento em Sergipe até o ano de 2011 era de apenas 20 instituições, 10 delas se
encontravam na Região Metropolitana de Aracaju e as outras 10 nos interiores do estado.

No ano de 2011 o estado de Sergipe deu início ao processo de reordenamento das


políticas de acolhimento, organizando o atendimento tanto básico quanto especial de acordo
com as normas e diretrizes do CNAS, do CONANDA e do SUAS. É nesse momento que
grande parte das unidades que apresentavam um carácter mais filantrópico e assistencialista
optam por deixar suas atividades a se moldarem aos novos moldes do acolhimento
institucional.

Nascimento (2016) traz dados referentes às unidades de acolhimento implantadas em


Sergipe até agosto de 2016. Neste ano o número de instituições subiu para 37 unidades no
estado em agosto de 2016, apresentando assim, um aumento significativo.

O crescimento referente às unidades de acolhimento no estado não se concentram


somente na capital do estado Aracaju, frisando então a responsabilidade que os municípios,
inclusive os menores ou de pequeno porte no interior do estado, possuem em proteger
crianças e adolescentes.

Até o ano de 2016 foram implementados 08 abrigos municipais por todos estado de
Sergipe, sendo eles: 01 em Boquim; 01 em Estância; 01 em Lagarto; 01 em Laranjeiras; 02
em Nossa Senhora do Socorro; 01 em São Cristóvão e 01 em Tobias Barreto. Todos eles
atendendo até 20 crianças e adolescentes de ambos os sexos.
47

Também foram implementados pelo estado 03 abrigos municipais regionais: 01 em


Japaratuba, para atender a demanda das cidades de Japaratuba e Pirambu; 01 em Umbaúba
possuindo como municípios vinculados Cristinópolis e Tomar do Geru; 01 em Simão Dias
possuindo como município vinculados as cidades de Poço Verde e Simão Dias. Todas as
unidades atendem até 20 crianças e adolescentes de ambos os sexos.

Do início da reestruturação dos programas de acolhimento no estado até aqui, o


Governo do Estado de Sergipe implantou 02 abrigos sob sua administração direta, sendo eles:
01 no município de Frei Paulo possuindo como municípios vinculados Campo do Brito,
Malhador, Moita Bonita, Nossa Senhora Aparecida, Pedra Mole, Pinhão, Ribeirópolis, São
Domingos, São Miguel do Aleixo e Graccho Cardoso e 01 em Carmópolis possuindo como
municípios vinculados Amparo do São Francisco, Cedro de São João, Japoatã, Telha, Divina
Pastora, General Maynard, Rosário do Catete e Santa Rosa de Lima.

Com o reordenamento no estado cresce também o número de casas lares pelo estado.
Foram implementadas 10 casas lares municipais, cujas próprias gestões municipais
assumiram a responsabilidade de implementação. A essas unidades de casas lares somam-se
também outras 06 casas lares municipais regionalizadas.

Até outubro de 2021, Sergipe possuía 39 Unidades de acolhimento Institucional de


crianças e adolescentes contanto aquelas implementadas na Região Metropolitana de
Aracaju e outras instituições no interior do estado, conforme dados disponíveis no site da
Secretaria de Estado da Inclusão e Assistência Social.
48

CAPÍTULO III - ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL NA REGIÃO


METROPOLITANA DE ARACAJU: QUESTÕES PERTINENTES À PRÁTICA
PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL
Agora que já podemos compreender o surgimento, as nuances, e o funcionamento do
acolhimento institucional de crianças e adolescentes aqui no Brasil enquanto medida de
proteção para as mesmas, faz-se necessária a compreensão das características específicas do
fazer profissional dos/das assistentes sociais que se encontram trabalhando no âmbito do
acolhimento institucional na Região Metropolitana de Aracaju.

Deve-se então compreender o trabalho do/da assistente social enquanto profissional


articulador de condições e meios para garantir os direitos das crianças e adolescentes que por
algum motivo se encontram em unidades de acolhimentos.

O profissional do Serviço Social também possui como uma das suas principais
características profissionais o empenho em manter o caráter provisório instituído as Unidades
de Acolhimento Institucional, trabalhando constantemente para a realização de uma
reinserção familiar na família nuclear (quando possível). Mas observa-se que o trabalho
profissional nas instituições de acolhimento de crianças e adolescentes vai além disso, pois
orientado pelo seu projeto profissional busca capturar e responder as demandas institucional e
dos sujeitos de direito que estão para além da imediaticidade. Nesse sentido, a ampliação das
competências e habilidades profissionais orientadas pelo projeto profissional encontram
sempre desafios.

O Serviço Social no sistema de acolhimento institucional de crianças e adolescentes


possui as suas particularidades enquanto categoria profissional determinada pela conjuntura
ao qual se encontra. Para compreender algumas dessas particularidades foi realizado um
estudo de caso na Região Metropolitana de Aracaju para situar a realidade local dos casos
estudados na totalidade da conjuntura que vivenciada.

Sendo assim, esse capítulo irá abordar o resultado da pesquisa a fim de dialogar acerca
das particularidades, das demandas apresentadas a categoria profissional, dos desafios
encontrados no dia a dia do fazer profissional e por fim abordar ou problematizar sobre é a
importância do Serviço Social no âmbito do acolhimento institucional de crianças e
adolescentes.
49

3.1. Produção de conhecimento sobre a temática

Sendo também uma pesquisa bibliográfica, é de suma importância para o seu


desenvolvimento a leitura complementar a fim de se obter maiores conhecimentos acerca da
temática a ser pesquisada, analisando então quais foram os estudos já desenvolvidos e os
conhecimentos obtidos na área.

Deste modo, foi efetivado um levantamento de pesquisas que dizem respeito ou


apresentam alguma proximidade com a temática a ser apresentada neste Trabalho de
Conclusão de Curso (TCC). Foi realizada então uma triagem entre diversos artigos,
dissertações de mestrados e TCC’s, na área de Serviço Social, a fim de selecionar as pesquisas
que mais se aproximam da temática apresentada.

Entre os diversos critérios utilizados para a seleção das pesquisas, foi levado em
consideração a época de publicação das mesmas, tendo em vista a necessidade de escolher
referências que retratem as políticas de acolhimento institucional de crianças e adolescentes
de modo atual. Sendo assim, foram selecionadas pesquisas publicadas entre os anos de 2015 e
2020, visando então utilizar uma perspectiva mais atual da temática.

O segundo critério de seleção foi utilizado apenas no que diz respeito a escolha das de
TCC’s, destacando então o interesse em valer-se das experiências profissionais relatadas nas
referidas produções. Foram escolhidos TCC’s que usam a experiência de estágio
supervisionado ou do próprio fazer profissional dos autores como método para dar
particularidade a pesquisa, uma vez que este Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao
Departamento de Serviço Social da UFS pretende se valer também da experiência de sua
autora durante o Estágio Supervisionado Extracurricular desenvolvido na Unidade de
Acolhimento Institucional Caçula Barreto, a fim de, destacar as particularidades do
acolhimento na região metropolitana de Aracaju/SE.

O terceiro critério utilizado na seleção dos referidos estudos destaca a importância em


escolher as pesquisas que optam por trazer em sua composição as particularidades sociais e
das expressões da questão social que podem ser encontradas na região em que a pesquisa foi
realizada. Reafirmando então que as respostas profissionais do Serviço Social devem sempre
condizer com as demandas impostas pela sociedade em que se encontra, deste modo, podemos
entender melhor as particularidades sociais e profissionais encontradas em diferentes regiões
do país.
50

E por último encontra-se a importância em selecionar pesquisas apenas da área de


Serviço Social, uma vez que as pesquisas selecionadas buscam trazer como ponto principal o
trabalho da (o) assistente social no âmbito do acolhimento institucional de crianças e
adolescentes, destacando quais são as suas demandas, suas respostas profissionais e quais são
os maiores desafios encontrados, considerando a região em que a Unidade de Acolhimento se
encontra e o perfil das crianças e adolescentes que se encontram acolhidas.

Podemos destacar então que foram selecionadas 5 (cinco) pesquisas, todas elas sendo
na área de Serviço Social e se dividindo entre: 1 (um) artigo, 1 (uma) dissertação de mestrado
e 3 (três) TCC’s.

Em artigo publicado Laudino et al (2018) discute acerca da importância do trabalho


da/do assistente social no diz respeito a proteção de crianças e adolescente em alguma
situação de risco que os colocou em privação de convivência familiar, ou seja, no acolhimento
institucional. Através da pesquisa qualitativa, bibliográfica, documental e de campo são
apresentados dados coletados através de entrevistas realizadas com 9 (nove) profissionais que
atuam no Serviço de Proteção Social de Alta Complexidade no município de Serra/ES.

A pesquisa de Laudino et al (2018) traz uma proximidade com nosso Trabalho de


Conclusão de Curso, uma vez que dialoga de forma direta com os profissionais da rede a fim
de se obter respostas que possam criar uma perspectiva mais real acerca do trabalho dos
profissionais que atuam no acolhimento institucional de crianças e adolescentes inscrito à Alta
Complexidade da Política Nacional de Assistência Social.

O artigo apresenta então uma análise dos serviços prestados as crianças e adolescentes
e o fazer profissional no espaço da Alta Complexidade, destacando a necessidade de se
compreender a transformação que ocorreu no campo da assistência social com a
implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e como isso impacta na
atuação profissional de modo que seja capaz de atender as demandas da Vara da Infância e
Juventude e garantir os direitos das crianças e adolescentes de acordo com o que está previsto
no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A pesquisa traz então um panorama
explicativo do que seria o acolhimento institucional e sua principal função como um serviço
de proteção de carácter temporário que visa a reinserção familiar, destaca os processos
seguidos e os instrumentais utilizados durante o exercício profissional.

No ano de 2016 foi apresentada ao Programa de Pós-Graduação de Serviço Social da


Universidade federal do Rio Grande do Norte a Dissertação de Mestrado intitulada “O
51

exercício profissional do assistente social nos espaços de acolhimento institucional à criança e


adolescente: demandas contemporâneas e respostas socioprofissionais”, de Tábita Pollyana
Alves de Souza. Nela a autora faz uma análise do exercício profissional das/dos assistentes
sociais que atuam nos espaços de acolhimento institucional.

É destacado nas problematizações da pesquisa o constante surgimento de novas


demandas que necessitam da elaboração de novas respostas socioprofissionais que vão muito
além do que aparecem como demandas imediatas aos profissionais. Desse modo, é necessária
uma constante evolução visando a capacitação dos profissionais. A autora apresenta uma
pesquisa qualitativa que realça as particularidades do município de Natal/RN, destaca que o
exercício profissional pode apresentar características diferentes de acordo com as expressões
da questão social apresentadas em determina região. No estudo também se busca identificar e
analisar quais são as demandas postas ao Serviço Social e quais são as respostas profissionais
nos espaços de acolhimento institucional.

No seu TCC, apresentado no Curso de Graduação em Serviço Social, do


Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais (DCJS), da Universidade Regional do Noroeste
do Estado do Rio Grande do Sul, Amanda Franciele pereira de Araújo (2015) utiliza da sua
experiencia na instituição de acolhimento “Lar da Criança Henrique Liebich” de Ijuí/RS para
discorrer acerca do papel profissional da/do assistente social, a sua importância nesse
processo e quais são os desafios profissionais encontrados. Destacando também o papel do
acolhimento no que diz respeito a proteção das crianças e adolescentes que tiveram os seus
direitos violados e no cuidado para que as mesmas não corram mais riscos de vida e possam
se desenvolver com direitos assegurados.

A autora utiliza uma pesquisa bibliográfica, fundamenta no método dialético para


observar a história do acolhimento institucional no Brasil, destacando a “questão social” e
suas expressões como a base para a violação dos direitos das crianças e adolescentes. Essa
pesquisa agrega trazendo a perspectiva única de quem se encontra integrando a equipe técnica
de uma Unidade de Acolhimento em Ijuí/RS. Mas, para além disso, também considera o
processo histórico do país como fundamental para a compreensão do que é, como surgiu,
como se configura, e para que serve o acolhimento institucional no Brasil.

Fernanda Escobar Fernandes Barbosa (2020), em seu TCC apresentado no Curso de


Serviço Social, do Departamento de Serviço Social, do Instituto de Psicologia, da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, uma perspectiva parecida, porém mais atual. A
52

mesma se utiliza da experiência obtida através do Estágio Supervisionado Obrigatório para


identificar como se materializa o trabalho da/do assistente social no âmbito do acolhimento
institucional, buscando evidenciar as dimensões da competência profissional (teórico-
metodológica, técnico-operativa e ético-política) e como as mesmas se materializam no
cotidiano profissional. A autora considera então a conjuntura atual no que diz respeito ao
acolhimento na cidade de Porto Alegre/RS.

A pesquisa de Fernanda Escobar (2020) é mais atual entre as produções selecionadas


por nossa pesquisa, deste modo apresenta um contexto social mais próximo com o que será
apresentado no nosso TCC, considerando que ambas as experiências de estágio (a minha e a
da autora) ocorreram, pelo menos em parte, no período do Governo Bolsonaro. Como
destacado a autora opta por considerar a conjuntura atual e não somente o processo histórico
do acolhimento institucional, deste modo, podemos observar quais são as demandas mais
atuais para o Serviço Social e para a Instituição de Acolhimento como um todo e quais são as
respostas profissionais apresentadas, além de sermos capazes de compreender as quais são as
especificidades daquela Unidade de Acolhimento em específico.

O último Trabalho de Conclusão de Curso selecionado foi apresentado ao


Departamento de Serviço Social de Campos, do Instituto de Ciências da Sociedade e
Desenvolvimento Regional da Universidade Federal Fluminense, no ano de 2016 por Jéssica
Ribeiro de Carvalho Azeredo. A autora busca trazer em sua pesquisa quais são os desafios da
reintegração familiar no acolhimento institucional de crianças e adolescentes, analisando
então quais são as principais problemáticas enfrentadas pelos profissionais do acolhimento
LARA (Lar de Acolhimento Respeito e Amor). A mesma utilizou de entrevistas para verificar
quais são as estratégias utilizadas pelos assistentes sociais diante das questões trazidas quando
se trata da tentativa de reinserção familiar.

Essa pesquisa, além de trazer as especificidades de uma única Unidade de acolhimento


com base na experiência de Estágio Supervisionado Obrigatório, também opta em destacar
um desafio específico no âmbito do acolhimento institucional, a reinserção familiar, É de
extrema importância que a pesquisa possua o seu foco voltado para esse ângulo do
acolhimento, uma vez que, independentemente das particularidades trazidas pode diferentes
Unidades de Acolhimento em diferentes regiões do país, o acolhimento institucional de
crianças e adolescentes no país apresenta um carácter provisório, possuindo como principal
objetivo a reinserção familiar, seja pelo núcleo familiar principal, família extensa ou até
53

mesmo a adoção. Deste modo, a perspectiva trazida pela autora é única e de extrema
relevância para essa pesquisa e para a categoria profissional com um todo.

3.2. Aproximações com a temática: experiência de estágio

Além do prévio interesse já existente no estuda desta temática, a maior aproximação com
a mesma se deu através da experiência de Estágio Supervisionado Não Obrigatório
(extracurricular) na Unidade de Acolhimento Institucional Caçula Barreto, localizada no
município de Aracaju/Sergipe.

Enquanto estagiária na Unidade, as atividades desenvolvidas tem proporcionado


momentos de síntese no processo de formação, uma vez que no estágio as dimensões
estruturantes do Serviço Social (teórico-metodológica, ético-política e técnico-interventivas)
se fazem presentes nas experiências de aproximação por meio da inserção na realidade
profissional e na realidade institucional efetivada pelo estágio supervisionado.

Nesta perspectiva a experiência de estágio possibilitou a observação e o acompanhamento


da prática do Serviço Social, além de diversas outras aproximações com o exercício
profissional realizado por duas assistentes sociais que se encontram inseridas no
desenvolvimento do processo de trabalho no âmbito da Unidade, seja no atendimento às
demandas imediatas por meio da elaboração de respostas às exigências de encaminhamentos
postas pela população usuária, seja por meio de respostas às exigências institucionais que se
apresentam nas demandas de planejamento e de administração que dizem respeito à
coordenação institucional.

Uma das assistentes sociais se encontra lotada na instituição enquanto técnica referência
no atendimento das demandas e das questões que envolvem diretamente aos adolescentes em
acolhimento institucional no Caçula Barreto. Já a outra assistente social, essa se encontra
lotada como coordenadora da Unidade, de modo que a aproximação com o desenvolvimento
do seu processo de trabalho na gestão permite o acesso a diferentes âmbitos do exercício do
Serviço Social nas Políticas de Acolhimento Institucional, mais especialmente no que diz
respeito às competências e habilidades profissionais próprias do planejamento e da
administração dos serviços prestados pela instituição na materialização da proteção social e
do direito.

Embora apenas uma das profissionais seja a supervisora de campo do Estágio Não
Obrigatório, a inserção na realidade profissional e na realidade institucional tem se
54

desenvolvido mediante aproximações com o exercício prático das duas assistentes sociais.
Isso tem revelado a articulação no processo de trabalho de ambas. Igualmente, isso tem
também enriquecido a experiência de estágio através da aproximação com diversas
competências e habilidades do Serviço Social diante das requisições que lhes são impostas
pela realidade. Consequentemente, o estágio como momento de síntese da formação tem
permitido vislumbrar a importância, as demandas e os desafios para profissão no cotidiano de
trabalho, o que se requer maior observação e análise, conforme se propõe esse TCC (Trabalho
de Conclusão de Curso)

Assim, é importante mencionar que a experiência de estágio tem proporcionado as


aproximações e observações referentes à importância, às demandas e os desafios para
profissão através do desenvolvimento de atividades como:

• Acompanhar e auxiliar em atendimentos grupais, individuais, visitas domiciliares e


visitas institucionais;
• Elaboração de ofícios, auxílio na elaboração de relatórios de acampamentos e PIA’s
(Planos Individuais de Atendimento);
• Realização de contatos telefônicos e presenciais com a rede e com a família dos
adolescentes acolhidos na Unidade;
• Realização de ações que garantam acesso dos adolescentes as documentações (retirada
de certidão de nascimento, RG, CPF, título eleitoral, carteira de vale transporte,
carteira de trabalho, etc);
• Organização dos documentos referentes ao adolescente e ao seu acolhimento
(prontuários, pastas de documentação, pastas de saúde, etc.)
• Auxiliar quanto a parte burocrática (encaminhar os Relatórios Mensais de
Atendimento e Demonstrativos Mensais de Atendimento para os seus devidos órgãos);
• Auxiliar na organização e planejamento dos serviços da Unidade (organização da
agenda e rotina da Unidade);
• E auxiliar nas demais funções que possam vir a serem necessárias.

Dessa forma, a oportunidade de acompanhar as profissionais de Serviço Social foi o que


despertou o interesse em pesquisar acerca do trabalho realizado pelas assistentes sociais nas
unidades de acolhimento institucional para crianças e adolescentes. Visando então capturar
questões que se referem à importância que o Serviço Social possui para a manutenção e
prestação de serviços qualificados nas unidades de acolhimento, além de analisar questões
55

sobre os desafios e às demandas que chegam nessas instituições, é que se desenvolveu estudo
de caso a partir de 4 unidades na Região Metropolitana de Aracaju.

3.3. Dados e análises sobre o serviço de acolhimento institucional na Região Metropolitana de


Aracaju: questões pertinentes ao Serviço Social

Para a realização da pesquisa utilizada no presente TCC, foi desenvolvido um estudo de


caso na Região Metropolitana de Aracaju, então composta pelos municípios de Aracaju,
Nossa Senhora do Socorro, Barra dos Coqueiros e São Cristóvão. Foi selecionada em cada um
desses municípios uma Unidade de Acolhimento onde a assistente social e a coordenadora de
cada uma delas participou da pesquisa ao responder um questionário semi-estruturado.

Visando uma melhor compreensão da estrutura das Unidades de acolhimento presentes na


Região Metropolitana, o quadro abaixo apresenta a quantidade de Unidades de Acolhimento
por município e o público atendido por cada uma delas.

Quadro 2 – Unidades de acolhimento na Região Metropolitana de Aracaju em 2022

Município Unidades de Acolhimento


Aracaju No município de Aracaju existem
atualmente dois abrigos, um responsável
pelo acolhimento de crianças dos 0 aos 12
anos incompletos e outro responsável pelo
acolhimento de adolescentes dos 12 aos 18
anos incompletos. Destaca-se aqui as
exceções que podem ocorrer ao tratar-se de
grupos de irmãos ou demais
particularidades.
O município também conta com casas lares
que são responsáveis pelo acolhimento de
crianças e adolescentes que são
encaminhadas para as mesmas através de
análises realizadas pelas equipes técnicas
dos abrigos.
São Cristóvão Em todo o município de São Cristóvão
existe apenas uma Unidade de Acolhimento,
56

responsável por acolher quaisquer crianças


ou adolescentes que se encontre em
necessidade de acolhimento.
Nossa Senhora do Socorro No município de Nossa Senhora do Socorro
existem duas Unidades de Acolhimento.
Barra dos Coqueiros O município conta com duas modalidades,
um abrigo onde são acolhidas crianças e
adolescentes de 0 à 18 anos incompletos e
uma casa lar.

O estudo de caso e a aplicação de questionários possuíam como estratégia de pesquisa


buscar informações sobre as particularidades do trabalho das/dos assistentes socias que atuam
no sistema de acolhimento na Região Metropolitana. A partir disso, esta estratégia abrange
como objetivos da pesquisa a busca por compreender o processo de trabalho em que se insere
as/os assistentes sociais na garantia de direitos no serviço de acolhimento institucional de
crianças e adolescentes, bem como analisar demandas postas ao Serviço Social e analisar as
dificuldades, os desafios e as respostas profissionais.

Começaremos então iniciando uma discussão acerca da precarização das condições de


trabalho dos assistentes socias, destacando então o sistema cada vez crescente que envolve os
contratos de trabalho temporários que ocorrem por meio de processos seletivos simplificas
(PSS), não garantindo ao profissional qualquer estabilidade financeira ou um vínculo
empregatício duradouro20.

Como é sinalizado por Iamamoto (2013), o Serviço Social é uma profissão assalariada
e, portanto, inserida nas relações sociais de trabalho coletivo como vendedor da sua força de
trabalho, não escolhendo as condições de trabalho para exercer as atribuições e competências
profissionais para as quais é contratado. Dessa forma, as/os assistentes sociais estão inseridas

20
A título de informação, ao serem questionadas acerca do tempo realização do último concurso para
contratação efetiva de assistentes sociais, foi informado que no município de Aracaju ocorreu em 2010; também
no município de Nossa Senhora do Socorro o último concurso ocorreu em 2010; já no município de São
Cristóvão o último concurso com essa finalidade ocorreu no ano de 2008 e por fim temos o município da Barra
dos Coqueiros que realizou o último concurso no ano de 2020. Através diste é possível compreender que excerto
no município da Barra dos Coqueiros, os demais não realizaram concursos por mais de uma década,
demonstrando a defasagem na contratação desta força de trabalho, em uma conjuntura tão particular em que as
expressões da “questão social” se encontram mais complexas e denotam crescimento.
57

em condições de trabalhado que correspondem ao profundo avanço da precarização no mundo


do trabalho na conjuntura das últimas 30 décadas.

Nesse sentido, destaca-se também que no atual momento os direitos trabalhistas se


encontram cada vez menos presentes nos contratos assinados pelos assistentes sociais. As/os
profissionais têm acessado vagas de emprego que não oferecem acesso a condições mais
salubres, ritmo menos intensos no desenvolvimento das atribuições cotidianas, progressão de
carreira e, principalmente, remuneração salarial compatível tanto com a importância do
processo de trabalho desenvolvido quanto com as necessidades sociais que apresentam.

A precarização do trabalho do assistente social passa principalmente pelo


rebaixamento salarial que a categoria profissional vem sofrendo, não só
pelas contratações temporárias em que o salário é sempre mais baixo, mas
também na comparação com outras categorias profissionais que estão
inseridas no serviço público. (NEGRI, 2011, p.194)

Durante a realização desta pesquisa as assistentes sociais que se propuseram a


responder o nosso questionário foram perguntas acerca da renumeração recebida pelas ações
exercidas profissionalmente. As profissionais de todas as Unidades participantes destacaram
que acreditam não receber um salário condizente com as atividades desempenhadas. As
mesmas acentuaram em suas respostas que o salário recebido não condiz com a quantidade
de demandas e ritmo de trabalho impostos ao Serviço Social, de que o salário recebido é
insuficiente para cobrir suas necessidades e despesas mensais, bem como não expressa a
dedicação que o profissional precisa ter ao seu trabalho, para além do acumulo de
atribuições impostas ao profissional e o nível de complexidade que se encontra no âmbito do
acolhimento institucional.

Vale ressaltar que as dificuldades não são enfrentadas somente pelas próprias
assistentes socais que se encontram trabalhando em Unidades de acolhimento. Mas sim por
toda a equipe que atuam nas instituições, conforme considerações levantadas na pesquisa, já
que nos encontramos no atual momento vivenciando um período de crise econômica e social,
configurada como uma expressão da crise estrutural do capital (NETTO; BRAZ, 2009), que
afeta a dinâmica das demandas institucionais a partir do aprofundamento e complexificação
das expressões da questão social com incidência nos casos atendidos nas unidades de
acolhimento.

Foi possível perceber através da nossa pesquisa, que metade das Unidades
questionadas apontaram que esse contexto influenciou de forma direta na dinâmica e na
58

incidência maior de novos casos de acolhimento. Nesse sentido, as assistentes sociais


destacaram a diminuição de recursos disponíveis para desenvolverem suas atribuições em
um momento com aumento exponencial de casos que chegam às unidades de acolhimento
onde trabalham. Elas também destacam como isso impacta negativamente através da
dificuldade em garantir direitos de forma adequada ou mesmo como isso acarreta até na
negação de direitos. As profissionais atribuem esse aumento de casos ao crescimento dos
índices de pobreza, de violência, do uso de Substâncias Psico Ativas (SPA), o aumento de
doenças e transtornos mentais, além da necessidade que muitos pais apresentam de trabalhar
ainda mais além das horas de trabalho normais ou aceitáveis para conseguir sobreviver, o
que resulta na negligencia do cuidado com os filhos.

A constatação expressa pelas assistentes sociais tem correlação com a conjuntura


presente em que se vivencia e predomina a lógica da desproteção social com a retirada dos
direitos sociais e trabalhistas instituído pelos governos ultraneoliberais. A predominância do
ultraneoliberalismo, como um brutal aprofundamento da agenda neoliberal sempre vigente
nos governos desde a crise capitalista, constitui um padrão de reprodução do capital que se
encontra vigente no atual momento histórico do país.

A inserção especializada na divisão internacional do trabalho, sob o novo


padrão exportador de especialização produtiva, impõe o rebaixamento das
condições de reprodução social da força de trabalho como uma das
vantagens comparativas em face da concorrência no mercado mundial. No
bojo deste processo, a expropriação dos direitos e das políticas sociais se
tornam expedientes necessários para a ampliação da superexploração da
força de trabalho na periferia do capital e para a reprodução de uma massa
de trabalhadores supérfluos que pressiona para baixo o padrão moral e
histórico dos salários, perpetuando a desigualdade e a miséria. (CASSIN,
2022, p.30)
Para além das condições contratuais, que rebatem em questões de remuneração salarial
e que envolvem os direitos trabalhistas, existe também a questão da sobrecarga de trabalho
enfrentada pela categoria. Muitas vezes as profissionais se encontram inseridas em processos
de trabalho onde realizam funções que normalmente poderiam ser atribuídas a outras
categorias profissionais, com isso desenvolvem atividades para além das suas próprias
atribuições, habilidades e competências profissionais para as quais foram contratadas.

Na pesquisa realizada buscou-se conhecer sobre as condições de trabalho das


profissionais de Serviço Social no âmbito do acolhimento institucional. Nos questionamentos
levantados para que pudessem trazer elementos indicativos sobre as condições de trabalho, as
profissionais de duas das quatro Unidades pesquisadas destacaram acerca da necessidade da
59

contratação de pelo menos um novo assistente social para trabalhar na Unidade, uma vez
que existe um alto número de demandas a serem atendidas que necessitam de atenção
especial da categoria, como é o caso da realização de um acompanhamento próximo às
famílias das crianças e adolescentes que se encontram acolhidas.

Neste caso, destaca-se que na atual conjuntura a categoria profissional se encontra em


situação de sobrecarga de trabalho, muitas das vezes realizando funções ou trabalhos que
normalmente seriam executados por dois ou mais assistentes sociais, junto a isso, somasse a
esse cenário a remuneração recebida por esse profissional e os contratos de trabalho
oferecidos, que por sua vez destacam a exploração acentuada da mão de obra profissional.

Ao referirmos ao trabalho executado pelos assistentes sociais no acolhimento,


devemos sempre discutir acerca da importância do trabalho interdisciplinar no seu cotidiano
profissional, que foi pontuada por todas as profissionais como “indispensável”, frisando a
necessidade que as demandas possuem em serem atendidas de forma interdisciplinar. Assim,
as assistentes sociais consideram que as ações de intervenção profissional realizadas sobre
as expressões da “questão social” que se deparam se configuram como bastante complexas
e, por isso, necessitam da intervenção de múltiplas especialidades técnicas na divisão social
do trabalho.

Dessa forma, observa-se que a atuação profissional está inserida em um processo de


trabalho para responder a demandas que são multideterminadas e complexas.

Assim, respaldar-se para realizar as chamadas “escolhas de intervenção”


demanda superar limites já estabelecidos, sobretudo, aqueles que se referem
à avaliação da própria atuação. Espaço privilegiado quando aproveitamos os
diferentes conhecimentos e áreas com os quais estamos envolvidos
(CARVALHO, 2012, p.77)
Isso é revelador de que ao responder as demandas institucionais e as demandas dos
usuários, as intervenções das assistentes sociais estão inseridas em um processo de trabalho
coletivo, que é próprio da divisão de trabalho organizada pela sociedade capitalista, que
subdivide e combina diversas habilidades técnicas na produção de respostas às necessidades
sociais. Por isso, a necessidade do trabalho em equipe considerada “indispensável” para uma
boa efetivação das intervenções que precisam ser executadas pelas assistentes sociais nas
Unidades.

Mediante as respostas do questionário aplicado nas instituições da Região


Metropolitana de Aracaju, compreendemos que no âmbito do acolhimento institucional as
60

demandas e competências profissionais do Serviço Social se efetivam através de diferentes


intervenções. Portanto, sendo destacadas algumas delas como intervenções que dizem respeito
ao âmbito:

• Da gestão;
• Do acolhimento e acompanhamento das/dos acolhidos na instituição;
• Do acompanhamento das crianças/adolescentes na sua relação com as famílias;
• Da articulação com a rede de proteção socio jurídica;
• Da articulação com redes de serviços de direito (saúde, educação, assistência social).

Assim, é importante salientar que se identificou que em todas as Unidades pesquisadas


existem ao menos uma assistente social com responsabilidades administrativas e da gestão
institucional do serviço de acolhimento, já que estão enquadradas no organograma das
instituições como coordenadoras. Nessa função respondem a atribuições executando ações
administrativas e técnicas, participando de forma ativa na articulação com a rede intersetorial,
organizando o processo de trabalho da equipe nas Unidades, planejando e monitorando a
gestão dos recursos humanos e materiais necessários a prestação dos serviços, além de outras
atividades.

Pode-se dessa forma reforçar que o Serviço Social apresenta uma formação profissional
que lhe habilita a assumir diversas competências na efetivação dos serviços e das políticas
sociais, que vão muito além do atendimento aos usuários, portanto apresentando competências
administrativas, de gestão, de planejamento, dente outras.

Essa diversidade e pluralidade no exercício profissional do Serviço Social reforça as


indicações da Lei que regulamenta a profissão de assistentes sociais, ao dispor no art. 4º que
constituem competências da profissão, tais como:

I - Elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da


administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares;

II - Elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do


âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil;

VI - Planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais;

VII - Planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da
realidade social e para subsidiar ações profissionais;
61

X - Planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de Unidade de


Serviço Social.

Para além das assistentes sociais que se encontram enquanto coordenadoras, também
possuem as profissionais que se encontram enquanto técnicas de referência das crianças e
adolescentes acolhidos, acompanhando os mesmos, monitorando as demandas trazidas,
identificando e traçando junto com a equipe estratégias para a superação das demandas que
desencadearam o acolhimento, fortalecendo (quando possível) os vínculos familiares,
realizando visitas domiciliares e institucionais, atendimentos sociais, elaboração de
documentos como relatórios e PIAs (Plano Individual de Atendimento), participando de
demandas encaminhadas pelo judiciário e realizando todas as ações possíveis a fim de
enfatizar o caráter provisório do acolhimento institucional.

3.4 - O Serviço Social no âmbito do acolhimento institucional de crianças e adolescentes na


RMA: a importância, as demandas e os desafios para profissão no cotidiano de trabalho

A pesquisa capturou a importância da atuação do Serviço Social nas Unidades de


acolhimento enquanto ferramenta para articulação das condições intra institucional e de outras
instituições que formam uma rede inter institucional no sentido da garantia e promoção de
direitos das crianças e adolescentes que se encontram acolhidas. Bem como, detectou o
significado da intervenção profissional que é absorvida pelas Unidades de acolhimentos para
dar respostas institucionais a usuários que apresentam necessidades sociais. Isso se expressou
na pesquisa quando as assistentes sociais destacam que: o Serviço Social atua na articulação
com a rede de proteção de modo que posso viabilizar o acesso aos serviços sempre se
articulando com a rede de proteção básica e especial através de reuniões, ligações,
encaminhamentos aos CRAS, CREAS e demais órgão da rede, acompanhamentos, estudos de
casos, solicitação de serviços, elaboração de documentos tais como os relatórios e Planos
Individuais de Atendimento (PIA), entre outras atividades a serem executadas no dia a dia do
trabalho.

Como destacado anteriormente, as Unidades de Acolhimento se configuram como um


espeço institucional vinculado a Política de Assistência Social, de modo que as assistentes
sociais possuem uma participação importante em articular as condições e ferramentas
disponíveis (programas, serviços sociais, projetos sociais, etc.) no sentido assegurar que as
crianças e adolescentes institucionalizadas sejam entendidas em suas necessidades como seres
humanos de direitos.
62

Para além destas questões, as profissionais também destacam acerca do exercício


profissional enquanto peça importante no acompanhamento dessas crianças e adolescentes
enquanto estiverem inseridos no acolhimento institucional. Um dos grandes desafios é
garantir a proteção social sem que institucionalização se constitua como violação de outros
direitos fundamentais. Assim, apontam: O/A assistente social trabalha na perspectiva de
garantir e objetivar o caráter provisório da rede de acolhimento, na medida em que deve
atuar para que a institucionalização não se sobreponha aos direitos à convivência familiar e
comunitária que essa população detém. A intervenção tem sempre o desafio de identificar
inúmeras demandas, de modo que se possa trabalhar no interesse de superar o motivo do
acolhimento (caso possível) junto com a criança e/ou adolescente acolhido, sua família
nuclear, sua família extensa e os órgãos da rede de proteção, para assim, trabalhar sempre
na perspectiva do desligamento e da reinserção familiar. Todavia, a intervenção não se
esgota com a desistitucionalização, pois compete também ao profissional o acompanhamento
desta família mesmo após o desligamento das crianças e adolescentes da Unidade.

Cabe ao profissional garantir o encaminhamento para toda a rede socioassistencial e


aos órgãos que possuem como atribuição a garantia de direitos. É desafiador nessa conjuntura
de precarização dos serviços sociais públicos, de aprofundamento das expressões da questão
social e, principalmente, do avanço do conservadorismo, garantir através da intervenção
profissional que direitos fundamentais como a convivência social/comunitária sejam
viabilizados, por meio de acesso a programas culturais, de lazer, esportes, atividades
relacionadas ao desenvolvimento de aptidões e capacidades. O trabalho da/do assistente social
se torna desafiador e ao mesmo tempo fundamental, como destaca Laudino, et al

Nesse sentido, observa-se que dinâmica das instituições de acolhimento e de


proteção especial deve ter um caráter interventivo na busca da transformação
da realidade social da criança e do adolescente, que se encontra como
usuária destes serviços, visando assegurar a garantia de direitos sociais e do
serviço de qualidade, viabilizado pela articulação institucional e
interinstitucional. (2018, p.5)

Com formação fundamentada em dimensões teórico-metodológicas e ético-políticas


que orientam uma atuação prático-interventiva para lidar com as expressões da “questão
social”, as/os assistentes sociais devem desenvolver entre suas competências e habilidades a
capacidades de capturar as demandas apresentadas, seja pelos usuários, seja pela instituição,
cujas mesmas requisitam sua intervenção.
63

Nesse sentido, quando questionadas sobre a importância e competências da profissão


para a efetivação dos serviços que são requisitadas, as/os assistentes sociais, de maneira geral,
entendem que no âmbito do acolhimento institucional é a profissional que consegue detectar
as necessidades do usuário através da capacidade de investigação e leitura da realidade que
esse está inserida, para assim garantir a efetivação dos seus direitos. Busca-se na sua
atuação profissional competente por meio das habilidades técnicas e formação teórica,
desenvolver uma apreensão abrangente sobre os diversos aspectos da vida das crianças e
adolescentes acompanhadas. Sendo assim, se torna um profissional fundamental na
execução dos serviços que existem em toda a rede de proteção social de crianças e
adolescentes.

O Serviço Social no âmbito do acolhimento institucional de crianças e adolescentes


possui como principal atribuição garantir os direitos dos jovens que se encontram na
instituição seguindo assim as diretrizes, princípios e garantias previstas no Estatuto da
Criança e do Adolescente. Cabe ao profissional identificar no momento do acolhimento quais
foram as violações sofridas pela criança ou adolescente, identificar qual a situação que o
mesmo se encontrava anteriormente ao acolhimento, a fim de compreender quais as
necessidades de encaminhamentos demandados e exigidos para o enfrentamento das
expressões da questão social materializado em cada caso que se depara e, principalmente,
articular a rede de proteção para construir a possibilidade de uma futura reinserção familiar.

É necessário destacar que o acolhimento institucional de qualquer tipo (crianças e


adolescentes, famílias, mulheres vítimas de violência e idosos) se configura na arquitetura da
Política Nacional de Assistência Social (PNAS) caracterizado ou tipificado como serviço de
Alta Complexidade. Sendo assim, os profissionais precisam lidar com as dinâmicas da
Proteção Especial da PNAS. Dessa forma, é trabalho do/da assistente social na instituição
garantir as crianças e adolescentes proteção integral, contribuir para a prevenção do
agravamento de situação social que levou ao acolhimento, trabalhar sempre na perspectiva de
reestabelecimento ou fortalecimento do vínculo familiar visando a reinserção familiar.

Até aqui a pesquisa indicou a importância do profissional do Serviço Social para a boa
e qualificada efetivação do serviço de acolhimento institucional, mas destaca-se também que
essa mesma intervenção profissional apresenta inúmeros desafios. Ao serem questionadas
sobre os principais desafios que enfrentam, todas as profissionais destacaram acerca da
desarticulação e insuficiência na rede e da reincidência de casos e os problemas na
mediação dos conflitos internos. Algumas das profissionais complementaram as suas
64

dificuldades ao referirem também a respeito da sobrecarga de trabalho, da inadequação


estrutural do equipamento para a efetivação dos serviços, da insuficiência de recursos
financeiros para a efetivação adequada dos serviços e da quantidade de serviços a serem
realizados que não competem a categoria profissional.

A condição de profissão assalariada, portanto que vende a um comprador sua força de


trabalho, impõe as assistentes sociais a trabalharem em condições em que não escolhem. A
precarização das condições de trabalho, a sobrecarga de demandas que extrapolam as suas
atribuições, são questões que aparecem no dia a dia de trabalho das profissionais que atuam
nas Unidades de acolhimento de crianças e adolescentes. Essas condições são determinantes
para o compromisso ético-político da profissão e para competência prático-operativa, por isso
elas trazem desafios fundamentais.

Nesse sentido, Gentilli, et al (2018, p.9) reforça que alguns dos desafios no
acolhimento institucional também estão relacionados ao “[...] acúmulo de atividades, o
reduzido tamanho das equipes técnicas e a rotatividade dos educadores sociais têm
contribuído para a ampliação das dificuldades das equipes para a realização deste trabalho”.
Desse modo, podemos compreender que o cotidiano de trabalho no acolhimento está envolto
de inúmeros desafios que podem vir a dificultar o exercício profissional nas suas
competências, habilidades e, principalmente, nos seus compromissos ético-políticos.

Tais desafios, portanto, são determinantes para os alcances do Projeto Ético Político da
profissão, já que esse projeto regula e elege os valores a serem seguidos e priorizados pela
categoria profissional. Com base nele as/os assistentes sociais:

[...] delimitam e priorizam os seus objetivos e funções, formulam os


requisitos (teóricos, institucionais e práticos) para o seu exercício,
prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem
as balizas da sua relação com os usuários de seus serviços, com as outras
profissões e com as organizações e instituições sociais, privadas e públicas
[...]. (NETTO, 1999, p. 95)

Nas instituições de acolhimento estudadas, deixa perceptível, conforme se constatou


na pesquisa, que embora as intervenções das assistentes sociais estejam orientadas pelos por
princípios, valores e objetivos que se fundam no Projeto Ético Político do Serviço Social, para
que esse projeto possa se concretizar depende das condições objetivas encontradas na
instituição e sociedade com as diversas relações sociais que apresenta. Por isso, muitas vezes,
os desafios apresentados no cotidiano de trabalho, principalmente em tempos de
65

ultraneoliberalismo, são inviabilizadores da realização plena dos compromissos profissionais.


Mas isso não significa que as profissionais não os tenham como norte nas suas intervenções,
haja vista buscarem a garantia dos direitos das crianças e adolescentes em acolhimento
institucional.

Nesse sentido, está a importância da profissão para as demandas institucionais e para as


demandas dos/das em acolhimento nas Unidades, pois as assistentes sociais contribuem com
suas competências e habilidades para satisfazer necessidades sociais e institucionais.
66

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente TCC buscou em sua composição tratar acerca do acolhimento institucional
enquanto direito de proteção para crianças e adolescentes e do trabalho dos/das assistentes
sociais enquanto parte integral para a realização efetiva da garantia de seus direitos.

Através da pesquisa bibliográfica foi possível realizar um levantamento histórico


acerca dos direitos das crianças e adolescentes desde a época da antiguidade até os tempos
atuais, realizando uma pesquisa que apresenta a história das crianças e adolescentes ao redor
do mundo e em diferentes culturas, destacando em especial suas particularidades aqui no
Brasil.

Compreende-se então que por um longo período a sociedade não concebia a infância e
adolescência enquanto sujeitos de direitos na construção histórica da humanidade. Destaca-se
também que tanto crianças quanto adolescentes vivenciaram a exploração da sua força de
trabalho durante o período de emergência e amadurecimento da sociedade capitalista, mais
destacadamente durante a Revolução Industrial. Isso revela que a questão da proteção social
(nesse caso a desproteção social) da população infanto-juvenil tem sua relação com a “questão
social”.

No Brasil, houve um longo percurso histórico de lutas para o reconhecimento dos


direitos dessa população, possuindo como o seu maior marco histórico o ECA (Estatuto da
Criança e Adolescente) onde a concepção da criança e do adolescente enquanto sujeito de
direitos passa a ser responsabilidade do Estado e da sociedade, sendo o acolhimento
institucional um desses direitos enquanto garantia de proteção social.

A pesquisa foca-se sobre o trabalho executado por assistentes sociais inseridas/os nas
Unidades de Acolhimento, destacando as particularidades apresentadas pelos profissionais
que trabalham na Região Metropolitana de Aracaju. Com isso, conseguiu-se observar que
mesmo diante de uma infinidade de demandas e desafios a garantia de direitos das crianças e
adolescentes acolhidas é o principal direcionamento das intervenções profissionais.

Deste modo, foi possível compreender através desta pesquisa a impotência da/do
assistente social enquanto parte da equipe técnica das Unidades de acolhimento, onde as
próprias profissionais questionadas destacaram que o/a assistente social na Unidade de
acolhimento trabalha na perspectiva de garantir todos esses direitos sempre objetivando o
caráter provisório do acolhimento e trabalhando na perspectiva de superação dos desafios
institucionais e conjunturais.
67

Destaca-se também que durante essa pesquisa foi possível compreender, através do
diálogo com as profissionais, a precarização a qual a profissão vivencia no seu exercício
cotidiano de enfrentamento das expressões da questão social. Portanto, a precarização das
condições de trabalho é uma questão importante para se levar em consideração quando se
pensa nos desafios para as possibilidades de materialização do Projeto Ético Político do
Serviço Social.

Por fim, a pesquisa possibilitou compreender a importância dos/das assistentes sociais


no serviço de acolhimento institucional enquanto profissionais que trabalham para assegurar
garantia dos direitos das crianças e adolescentes que se encontram acolhidas, mesmo diante
dos desafios e da infinidade de demandas que aparecem de forma imediata ou para além da
imediaticidade.
68

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73

APÊNDICES

APÊNDICE A – Tabela dos resultados obtidos através da aplicação do questionário semi


estruturado.

PERGUNTA ARACAJU NOSSA Sª SÃO BARRA DOS


DO CRISTÓVÃO COQUEIROS
SOCORRO
1 – Quantos 2 1 2 1
assistentes
sociais têm na
instituição?
2 - Você Sim Sim Não. Não
avalia que é
necessário
mais
assistentes
sociais na
equipe?
3 - Mais De 1 à 2 1
quantos?
4 - Por quê? Devido ao Para atender A demanda tem
número de melhor as sido atendida com
demandas e o fato demandas e o quantitativo de
de uma das realizar um profissionais que o
assistentes sociais acompanham serviço demanda.
ser coordenadora ento mais
da Unidade próximo com
as famílias

5 - Com quais Psicólogo, Coordenador, Com todos os A equipe técnica


profissionais pedagogo e assistente funcionários. no momento é
o Serviço educador social social, (Coordenador, composta por 01
74

Social psicólogo, assistente social, assistente social, 01


desenvolve nutricionista, psicólogo, psicóloga, 01
atividades? pedagogo, cuidador, pedagoga e 01
educador vigilante, coordenadora com
físico, executores de formação
cuidador serviços básicos acadêmica em
social, e motorista) serviço social.
auxiliar de Essa equipe atua de
cuidador, maneira conjunta,
serviços desenvolvendo
gerais, suas atribuições e
auxiliar de competências
serviços porém sem muita
gerais, delimitação de suas
motorista, respectivas áreas de
cozinheiro, formação.
auxiliar de
cozinha.
6 - Como Indispensável. As Indispensável Indispensável. Indispensável.
avalia a demandas . Porque sem o Devido à alta
importância precisam de trabalho em complexidade do
do trabalho intervenção equipe não há serviço, é
em equipe no interdisciplinar efetivação do indispensável
dia a dia do trabalho. intervenções
trabalho profissionais
Serviço Social múltiplas e
na integradas.
instituição?
7 - Em quais Gestão, Gestão, Gestão, Acolhimento e
situações atua Acolhimento e Acolhimento Acolhimento e acompanhamento
o serviço acompanhamento e acompanhament das/dos acolhidos
Social? das/dos acolhidos acompanham o das/dos na instituição,
na instituição, ento das/dos acolhidos na Acompanhamento
75

Acompanhamento acolhidos na instituição, das


das instituição, Acompanhamen crianças/adolescent
crianças/adolesce Acompanha to das es com as famílias;
ntes com as mento das crianças/adolesc Articulação com a
famílias; crianças/adol entes com as rede de proteção;
Articulação com a escentes com famílias; Articulação com
rede de proteção; as famílias; Articulação com diversas redes
Articulação com Articulação a rede de (saúde, educação,
diversas redes com a rede de proteção; assistência social).
(saúde, educação, proteção; Articulação com
assistência social) Articulação diversas redes
com diversas (saúde,
redes (saúde, educação,
educação, assistência
assistência social).
social)
8 - Em que No gerenciamento Parte Organização da
consiste a da Unidade no administrativ equipe, gestão
atuação do aspecto a e do serviço,
Serviço Social administrativo e articulação articulação com
na gestão? técnico com a rede a rede .... e
intersetorial. proteção,
acolhimento,
desenvolviment
o de atividades,
orientação etc...
9 - Em que No Identificação Escuta Desde a chegada da
consiste a monitoramento do e tentativa de especializada, criança até seu
atuação do perfil, das superação visita domiciliar, desacolhimento o
Serviço Social demandas e demandas atendimento assistente social
no colocações que individual e atua no
acolhimento e trazidas pelos desencadeara coletivo, atendimento
acompanham adolescentes m o Elaboração do individual da
76

ento das/dos através das suas acolhimento. PIA, criança e


acolhidos na necessidades Identificação Acompanhamen articulação
instituição? e to Escolar e constante com o
fortaleciment relatórios para o judiciário a fim de
o (quando judiciário. informar,
possível) dos acompanhar e
vínculos articular todos os
familiares. meios necessários
ao bem -estar da
criança/adolescente
.
10 - Em que Conhecendo a Identificação Desenvolviment O
consiste a história de vida da das o de atividades, acompanhamento
atuação do família nuclear e fragilidades e orientação, das crianças e suas
Serviço Social extensa em realização encaminhament famílias é realizada
no diferentes campos dos os, atendimento de forma
acompanham (assistência encaminhame individual e continuada com
ento das social, saúde, ntos coletivo, visitas vistas a
crianças e lazer...) necessários domiciliares e manutenção e
adolescentes para supera- institucionais. fortalecimento dos
com a las. laços familiares,
família? Fortaleciment correção das
o dos condições que
vínculos ensejaram o
familiares. acolhimento da
criança/adolescente
, promoção das
visitas assistidas, e
orientações dos
processos junto ao
judiciário quando
necessárias,
encaminhamentos
77

para os demais
serviços de
acompanhamento
da rede de
assistência,
especialmente Cras
e Creas.
11 - Em que Para viabilizar o Encaminham Encaminhament Atua de maneira
consiste a acesso aos ento, os, solicitações próxima à proteção
atuação do serviços, a acompanham de serviços básica e proteção
Serviço Social garantia de ento, reunião e outros especial. Ao Cras e
na direitos e o reuniões, serviços de Creas são feitos
articulação auxílio no estudos de garantias de encaminhamentos e
com a rede de fluxograma do casos e direitos. reuniões a fim de
proteção? acolhimento elaboração de acompanhar a
institucional PIAs família e ofertar os
através de serviços
ligações, reuniões necessários para
e superação das
encaminhamentos vulnerabilidades e
que são realizados violações de
com bastante direitos. Também o
frequência. Conselho Tutelar é
órgão que atua em
constante
comunicação e
articulação com o
serviço de
acolhimento
institucional.
12 - Em que Ampliar o acesso Encaminham Encaminhament O acolhido deve
consiste a aos serviços como ento e o, discussão de ser encaminhado a
atuação do saúde, educação, acompanham casos, todo e qualquer
78

Serviço Social assistência social, ento planejamentos e serviço que se faça


na trabalho, cultura, desenvolviment necessário a fim de
articulação lazer. o de atividades que haja
com diversas coletivas. atendimento
redes (saúde, integral de suas
educação, necessidades.
assistência Portanto, é
social, etc)? constante a
articulação entre os
demais serviços da
rede pública, tais
como, escola
(matrícula, reforço
escolar e
transporte), saúde
(marcação de
consultas, exames,
vacinas...),
assistência social
(encaminhamentos,
reuniões de rede,
inclusão em
programas e
serviços),
regularização
documental,
acompanhamento
jurídico, etc.
13 - Outras No processo de Articulação Acompanhamen Reuniões de
situações em formação dos com o to de crianças e equipe, capacitação
que o profissionais da judiciário e o adolescentes em dos cuidadores e
trabalho do rede, na passagem Ministério consultas e demais
assistente de casos no Público. viagens. colaboradores que
79

social é âmbito da saúde, compõe o serviço


requisitado? participação de de acolhimento,
reuniões em promoção de
diversas áreas. atividades de
Visitas lazer...
domiciliares,
institucionais,
encaminhamento
de casos para
CRAS e CREAS
14 - Em que Na perspectiva do Identificação Fazer o Acompanhamento
consiste a acesso aos de demandas, acompanhament das crianças/
atuação da/do direitos, objetivar encaminhame o dos acolhidos acolhidos,
profissional? o caráter ntos, e familiar. acompanhamento
provisório da acompanham Estudo de caso familiar,
rede, na entos e tentar para entender a articulação entre os
participação superar o situação. serviços que
integral em motivo do Elaboração do compõem a rede,
inúmeras acolhimento. plano individual etc...
demandas. de atendimentos.
Reinserção
desse acolhido
ao convívio
familiar, caso
não seja
possível, em
famílias
substitutas.
Acompanhamen
to após
desligamentos.
15 - Como De sua O assistente O assistente social
visualiza a importância dada social é o é profissional
80

importância a perspectiva das profissional que competente técnico


profissional expressões da para além de sua e acadêmico para
do Serviço “questão social” competência trabalhar na área de
Social na rede vivenciadas pela consegue alta complexidade
de proteção família. entender de fato da assistência
dos direitos O profissional é a necessidade do social, capaz de
da criança e peça fundamental usuário para oferecer olhar
do na execução dos efetivação e abrangente sobre os
adolescente a serviços que garantia dos diversos aspéctos
qual integra existem na rede seus direitos. da vida dos
os serviços de de proteção. acompanhados,
acolhimento? sendo de extrema
importância para o
serviço.
16 - Na Entrevista social, Escuta, Escutar, rodas As principais
atuação escuta elaboração de de conversas, ferramentas
profissional qualificada, visita PIAs, reunião com utilizadas no dia a
em relação ao domiciliar, visita elaboração de todos os dia de
acolhimento institucional, relatórios, funcionários da acompanhamento
institucional, participação em reuniões, unidade de são: atendimentos
quais as audiências, visitas acolhimento, individuais das
ferramentas atendimento domiciliares; instrumentais. crianças/adolescent
ou meios de individuais e atendimentos Tais ferramentas es, atendimentos
trabalho grupais, individuais e são familiares, visitas
usados e qual acompanhamento familiares. indispensáveis. domiciliares,
a sua domiciliar na A articulação visitas
importância? rede, etc com a rede institucionais,
intersetorial. relatórios,
acompanhamento
diário através de
livro de ocorrência,
acompanhamento
dos prontuários
81

individuais,
atualizações junto
aos sistemas online
do judiciário e
ministério público,
dentre outros.
17 - Quais os Equipe Rede Equipe Insuficiência da
principais insuficiente; desarticulada; insuficiente; rede;
desafios que Sobrecarga de Insuficiência Sobrecarga de Reincidência dos
se depara no trabalho; na rede; trabalho; casos;
exercício da Rede Reincidência Rede Inadequação
profissão na desarticulada; de casos e desarticulada; estrutural do
instituição? Insuficiência da Mediação de Insuficiência da equipamento para
rede; conflitos rede; efetivação do
Reincidência dos internos. Inadequação serviço;
casos; estrutural do Insuficiência dos
Inadequação equipamento recursos
estrutural do para efetivação financeiros para
equipamento para do serviço; efetivação
efetivação do Insuficiência adequada do
serviço; dos recursos serviço;
Insuficiência dos financeiros para Mediação dos
recursos efetivação conflitos internos;
financeiros para adequada do
efetivação serviço;
adequada do Mediação dos
serviço; conflitos
Mediação dos internos;
conflitos Serviços que
externos; não são do
Mediação dos Serviço Social,
conflitos internos; atribuições de
Serviços que não cuidador e
82

são do Serviço técnico.


Social, conflitos
internos e
externos

18 - Na Atendimento a Indispensável Mediação de Tanto o psicólogo


relação entre ambos, mediação . O conflitos, quanto o assistente
as dos conflitos profissional é fortalecimento social assistem a
crianças/adol existentes, como um dos de vínculo, família em
escentes em promotor da principais relação de acompanhamento
situação de elaboração da responsáveis intervenção. procurando atuar
acolhimento e visão crítica, pelo como mediadores
a família, acompanhando fortaleciment do fortalecimento
como aparece nos serviços da o dos de vínculos entre
a atuação justiça, trabalho vínculos acolhidos e seus
da/do com as famílias familiares. familiares,
assistente para Auxilia na procurando
social? sensibilização e superação das promover
estreitamento de fragilidades orientações a fim
vínculos. da família de que haja
superação dos
fatores que
ensejaram o
acolhimento
institucional.
19 - Na Na sensibilização Na Viabilizar o Aparece como
relação entre da comunidade articulação contato dos profissional de
as para desenvolver com os acolhidos com referência.
crianças/adol uma convivência membros da atividades da
escentes em e o senso de comunidade. comunidade.
situação de pertencimento.
acolhimento e
a comunidade
83

externa, como
aparece a
atuação da/do
assistente
social?
20 - Há Sim, muitas Sim, muitas Sim, muitas Sim, muitas vezes.
articulação vezes. No dialogo vezes. vezes. Na Através de reuniões
do Serviço diário sobre o Através de inclusão dos de rede,
Social com a acompanhamento reuniões e serviços e encaminhamentos,
rede de dos casos. estudos de programas do visitas
proteção casos. município, institucionais intra
social (ou referenciamento e extramunicipais...
seja, com as dos casos e
diversas reuniões
políticas periódicas.
sociais), em
especial a
rede de
proteção dos
direitos da
criança e do
adolescente,
nos diversos
níveis e
diversas
instituições
(gestão
municipal,
Conselho
Tutelar,
Ministério
Público, etc.),
na atuação no
84

âmbito do
serviço de
acolhimento?
Como essa
articulação se
efetiva?
22 - Ela é Sim, é Sim, para Sim. Para Sim, é necessário
necessária? fundamental para efetivação melhor porque o
Por quê? garantir o direito dos resolução de acolhimento
à convivência resultados. conflitos e institucional não é
familiar porque as capaz de sozinho
crianças e ofertar todos os
adolescentes serviços que são
desta unidade necessários ao
também é atendimento
responsabilidade integral das
da rede. necessidades das
crianças e
adolescentes.
23 - Na sua Não, existe Não. O Não. O acúmulo Não. É
avaliação, o precarização e salário é de atividade e desproporcional ao
salário exploração da insuficiente atribuições. nível de
recebido mão de obra, falta para a complexidade do
condiz com as valorização. O dedicação serviço de
atividades salário não reflete que o acolhimento.
desempenhad a gama de profissional
as pelos demandas precisa
profissionais? imposta ao atingir.
Justifique. Serviço Social.
24 - Você 2010 2010 2008 2020
sabe informar
quando foi
realizado o
85

último
concurso
para
assistentes
sociais no seu
município de
trabalho?
25 - Nesse Sim. O governo Famílias com Não. Nesta Não. De acordo
contexto de federal nega os insuficiência unidade em com parecer da
crise direitos e reduz os de recursos específico não psicóloga, que está
econômica e recursos. que acabam houve aumento atuando há mais de
social que Aumento do negligencian do número de 04 anos na unidade,
vivencia o índice de pobreza, do os acolhimento as situações de
país, avalia violência, uso de cuidados com vulnerabilidade das
que tem drogas, e as crianças famílias
ocorrido desenvolvimento para poder acompanhadas
maior de transtornos trabalhar ou estão visivelmente
incidência de mentais. procurar mais agravadas,
acolhimento emprego. porém o número de
institucional? acolhimentos não
parece ter sofrido
influência desse
contexto, sendo
que a lotação
máxima da Casa
corresponde a 10
crianças/adolescent
es.
26 - Nesse Sim. Existem Sim. Com a Sim. No que se
contexto de poucos recursos e conjuntura refere à
crise pouca capacitação social atual a contrapartida dos
econômica e profissional, um tendência é um poderes públicos
social que desmonte na aumento de percebeu-se uma
86

vivencia o assistência. demandas para diminuição muito


país, avalia os profissionais grande dos recursos
que tem sido da assistência disponibilizados
mais difícil social. No caso para o bom
dar respostas específico desta andamento do
profissionais unidade tem serviço, tanto
qualificadas sido possível recursos materiais
no serviço de efetivar a quanto humanos.
acolhimento garantia de
institucional direitos apesar
desta
conjuntura.
27 - No seu Sim, às vezes se Sim, quase Sim, quase Sim, às vezes. Nos
exercício faz necessário sempre. A sempre. momentos de
profissional, trazer reflexões teoria norteia Questões do conversas com a
em algum teóricas para a prática código de ética, equipe
momento compreender profissional. instrumentalidad principalmente.
consegue alguns casos. Se embasar e.
visualizar que nas diretrizes
faz uso de profissionais.
reflexões
teóricas nas
ações que
desenvolve.
No seu Às vezes, mas é Sim, quase Sim, quase Sim, quase sempre.
exercício difícil executar sempre. O sempre. O No que se diz
profissional, devido ao planejamento planejamento é respeito ao
em algum surgimento de é necessário essencial para planejamento de
momento trabalhos mais para nortear o curto prazo, sim.
consegue urgentes que proporcionar trabalho, Porém as ações de
realizar acabam surgindo. os principalmente médio e longo
planejamento direcionamen levando em prazos geralmente
das ações que tos e consideração a não são
87

desenvolve? melhores disponibilidade desenvolvidas.


resultados de recursos.
das
atividades.
28 - No seu Sim, pois há a Sim, quase Sim, quase Sim, quase sempre.
exercício necessidade de sempre. sempre.
profissional elaborar novas Precisamos
conseguem metodologias. esgotar e estudar
pesquisar ou todas as
analisar com possibilidades.
mais
profundidade
o conjunto
das situações
de
acolhimento
institucional
que se depara
no cotidiano e
sobre as quais
desenvolve
ação
enquanto
assistente
social
29 - No seu Sim, quando Sim, quase Sim, quase Sim, às vezes. No
exercício possível por conta sempre. sempre. que se refere ao
profissional das relações de Atividades sobre acompanhamento
no serviço de trabalho. São saúde pessoal, junto às crianças
acolhimento realizadas higiene, sim, mas em
consegue orientações protagonismo relação às famílias
realizar grupais quanto as são necessários isso não ocorre de
orientações reações para que quando maneira satisfatória
88

e/ou saudáveis, fluxos, saírem, terem devido ao grande


trabalhos rotinas e uma vida fluxo de demandas
socioeducativ metodologias de melhor. cotidianas do
os trabalho. serviço.
30 - Em Acesso a proteção Saúde, Saúde, Direito à
relação aos da sua integridade educação, educação, excepcionalidade e
direitos da física e mental; alimentação, convivência provisoriedade do
criança e do Respeito a sua lazer, comunitária, afastamento do
adolescente individualidade e convivência lazer e convívio familiar;
em singularidade; familiar e autonomia. Direito à
acolhimento, Oferta de um comunitária. preservação e
cite ao menos ambiente fortalecimento dos
cinco direitos acolhedor; vínculos familiares
que para Atendimentos e comunitários;
serem privados de Direito ao
garantidos é escuta aos atendimento
indispensável adolescentes e a personalizado e
a intervenção família; individualizado;
profissional Viabilização de Respeito à
do Serviço documentação. autonomia;
Social Direito ao
desenvolvimento
pleno.
31 - No seu Como um desafio Busca O profissional é Toda intervenção
exercício diário pois nos incessante comprometido, do profissional
profissional últimos anos pela respeito ao deve ser pautada
enquanto vivemos um efetivação histórico do nesse
assistente retrocesso na dos direitos acolhido e busca comprometimento
social na assistência com dos acolhidos de viabilizar os com os
instituição de falta de e de seus direitos dessa acompanhados,
acolhimento, financiamento familiares. criança e pois todos os
como para atender as Articulação adolescentes. aspectos da vida
consegue demandas. com os Tentar amenizar dessas crianças e
89

visualizar a Apesar disso as diversos o tempo de adolescentes, por


direção social demandas são setores do acolhimento. um período de
que atribui concretizadas o sistema de tempo, estão sob
nas ações que finalizadas e são garantia de responsabilidade da
desenvolve, realizados direitos para equipe da Casa Lar.
ou seja, como diversos assegurar os
consegue atendimentos. direitos
visualizar o sociais.
compromisso
social com os
direitos,
especialmente
dos acolhidos
(fale
brevemente):

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