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UNIVERSIDADE SANTO AMARO

Curso de Serviço Social

Alex Junior dos Santos Nery


Crislaine da Costa Conceição
Rafaela Cristina Santana da Silva

A VISÃO DA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL EM RELAÇÃO AO


TRABALHO DA/DO ASSISTENTE SOCIAL NO SPVV CAPÃO
REDONDO

São Paulo

2020
Alex Junior dos Santos Nery
Crislaine da Costa Conceição
Rafaela Cristina Santana da Silva

A VISÃO DE EQUIPE MULTIPROFISSIONAL EM RELAÇÃO AO


TRABALHO DA/DO ASSITENTE SOCIAL NO SPVV CAPÃO
REDONDO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


à Universidade Santo Amaro como pré-
requisito à realização da Formação
Acadêmica para o Curso de Serviço Social.
Orientadora: Prof.ª Ma. Vanessa Lopes de
Almeida.

São Paulo

2020
Alex Junior dos Santos Nery
Crislaine da Costa Conceição
Rafaela Cristina Santana da Silva

A VISÃO DA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL EM RELAÇÃO AO


TRABALHO DA/DO ASSISTENTE SOCIAL NO SPVV CAPÃO
REDONDO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Serviço Social da


Universidade Santo Amaro como requisito à obtenção de título de Bacharelas em
Serviço Social.
Prof.ªMa.Vanessa Lopes de Almeida

São Paulo,..... de .................... de ......

Banca Examinadora

_________________________

Ma. Vanessa Lopes de Almeida (Orientadora)

_________________________
Me. Henrique Manoel Carvalho Silva (Leitor)

Conceito Final: ___________________


Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado forças para eu não desistir
do curso. Agradeço a minha Família Nery (pai, mãe e minhas irmãs). Agradeço
meus amigos, em especial a Crislaine Costa e Rafaela Cristina pelo início da nossa
história que teve na faculdade e nós uniu nesse período da construção do nosso
TCC, e por terem toda paciência do mundo comigo, gratidão eterna minhas amigas.
Agradeço ao meu amor Carlos Roberto que me deu a oportunidade de estar em São
Paulo e viver esse relacionamento, obrigada amor pelo companheirismo e os
conselhos para não desistir dos meus objetivos.
Alex Junior dos Santos Nery.

Agradecer principalmente a Deus por ter sido meu alicerce e me guiado até
aqui, me dando forças em todos os momentos durante o desenvolvimento desse
trabalho. Gostaria de agradecer a minha pessoa por ter resiliência e não desistir,
mesmo com tantos momentos que a única solução era desistir, estou extremamente
orgulhosa por ter enfrentado tantos obstáculos e ainda permanecer em busca do
meu diploma. Agradecer a minha querida mãe, Rozenilda uma mulher forte e
guerreira que acreditou no meu potencial desde o início me dando todo suporte e
apoio para que eu conseguisse realizar meu sonho. Agradecer aos meus
professores, orientadora e leitor que fizeram parte do meu desenvolvimento e
contribuíram para meu crescimento, me auxiliaram com toda aprendizagem
necessária. Agradecer aos meus colegas de TCC que compartilhamos momentos de
estresse, paciência e cuidado um com outro. Agradecer ao meu esposo e amigas
próximas que me ajudaram em momentos de crises, me auxiliando emocionalmente
e nos estudos. Por fim, agradecer a equipe do SPVV que se disponibilizou para ser
nosso sujeito de pesquisa, sem eles não teríamos conseguido finalizar nosso
trabalho.
Crislaine da Costa Conceição.

Em primeira estância gostaria de agradecer a Jesus Cristo meu salvador por


ter me conduzido até aqui. Agradeço minha mãe Maria Aparecida e minhas irmãs
Raíza Mariana e Sthefanie, por todo apoio que me foi dado, foram elas que me
deram vigor para concluir essa jornada. Meus mais sinceros agradecimentos aos
meus colegas de curso que fizeram essa construção acadêmica comigo. E por fim,
agradeço aos professores/mestres que acreditaram e contribuíram para a conclusão
dessa jornada que escolhi percorrer.
Rafaela Cristina Santana da Silva
“A nobreza de nosso ato profissional está em acolher aquela pessoa por
inteiro, em conhecer a sua história, em saber como chegou a esta situação e como é
possível construir com ela formas de superação deste quadro.”

Maria Lúcia Martinelli.


RESUMO
O presente trabalho de conclusão de curso tem por objetivo realizar uma pesquisa
com a equipe multiprofissional do Serviço de Proteção Social à Crianças e
Adolescentes Vítimas de Violência (SPVV) e examinar a visão da equipe
multiprofissional quanto aos atendimentos realizados pela/pelo assistente social às
crianças e adolescentes atendidas pelo serviço. Observa-se que o Serviço Social ao
longo de sua trajetória assume posições em diferentes contextos e épocas, ora
assume-se conservador, ora crítico reiterando o seu apoio a classe trabalhadora. A
monografia fará uma análise histórica das diretrizes que contornam o trabalho da/do
assistente social na Política de Assistência e em especial, no serviço tipificado citado
onde a pesquisa de campo demonstrará a compressão da equipe multiprofissional
dos pressupostos teórico-metodológicos, técnico-operativo e éticos-políticos que
funda a profissão.
Palavras Chaves: Serviço Social. Política de Assistência Social, Serviço de
Proteção Social à Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência, Criança e
Adolescente.
ABSTRACT
The purpose of this paper is to analyze a multi-professional team from the Serviço de
Proteção Social às Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência (SPVV) and
explore the perspective of the team regarding the care provided by the social worker
to the children and adolescents served by the organization. It is important to observe
that Social Work, throughout its history, assumes positions in different contexts and
ages. Sometimes it takes a conservative approach, sometimes is more critical,
reaffirming its support to the working class. The dissertation will make a historical
analysis of the guidelines that direct the social worker's work in the assistance policy.
In particular, in the represented service, the field research would demonstrate a
restriction of the multi-disciplinary team of theoretical-methodological, operational,
and ethical-politics that support the profession.
Keywords: Social Work. Social Assistance Policy, Social Protection Service for
Children and Adolescents Victims of Violence, Children and Adolescents.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABEPSS Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social


ABESS Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social
ASI Abuso Sexual Infantil
CA Centro de Acolhida às Pessoas em Situação de Rua
CAPMSV Centro de Acolhida para Mulheres em Situação de Violência
CBCISS Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços
Sociais
CCA Centro para Crianças e Adolescente
CDCM Centro de Defesa e de Convivência da Mulher
CEAS Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo
CFESS Conselho Federal de Serviço Social
CFAS Conselho Federal de Assistentes Sociais
CJ Centro de Juventude
CLT Consolidação das Leis do Trabalho
CM Código de Menores
CNAS Conselho Nacional de Assistência Social
CNSS Conselho Nacional de Serviço Social
CONANDA Conselho Nacional de Defesa dos Direitos da Criança e do
Adolescente
CRAS Centro de Referência de Assistência Social
CREAS Centro de Referência Especializado de Assistência Social
CRESS Conselhos Regionais de Serviço Social
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
FUMCAD Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente
ILPI Instituição de Longa Permanência para Idosos
LA Liberdade Assistida
LBA Legião Brasileira de Assistência
LOAS Lei Orgânica de Assistência Social
MSE/MA Serviço de Medidas Socioeducativa em Meio Aberto
NAISPD Núcleo de Apoio à Inclusão Social Para Pessoas com
Deficiência
NCA Núcleo de Convivência para Adultos em Situação de Rua
NCI Núcleo de Convivência do Idoso
NOB-RH Norma Operacional Básica de Recursos Humanos
NOB/SUAS Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência
Social
NPJ Núcleo de Proteção Jurídico Social e Apoio Psicológico
OMS Organização Mundial da Saúde
ONDH Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos
PIA Plano Individual de Atendimento
PAIF Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família
PAEFI Serviço de Proteção e Atendimento Especializado à Famílias e
Indivíduos
PNAS Política Nacional de Assistência Social
PSB Proteção Social Básica
PSC Prestação de Serviços à Comunidade
SAICA Serviço de Acolhimento Institucional para Crianças e
Adolescentes
SASF Serviço de Assistência Social à Família e Proteção Social Básica
no Domicílio
SEAS Serviço Especializado de Abordagem Social às Pessoas em
Situação de Rua
SGDCA Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente
SMADS Secretaria Municipal Assistência e Desenvolvimento Social
SPVV Serviço de Proteção Social às Crianças e Adolescentes Vítimas
de Violência
SUAS Sistema Único da Assistência Social
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..................................................................................... 11
2. CAPITALISMO, QUESTÃO SOCIAL E DIREITO ................................ 15
2.1. O surgimento questão social ................................................................... 15
2.2. A gênese do serviço social no Brasil ....................................................... 21
2.2.1. A trajetória conservadora do serviço social............................................ 28
2.2.2. O movimento de reconceituação ............................................................ 42
2.3. Serviço Social na contemporaneidade .................................................... 47
3. POLÍTICA PÚBLICA E PROTEÇÃO SOCIAL ..................................... 58
3.1. A política de assistência social ................................................................ 58
3.2. Atuação da/do assistente social na política de assistente social ............. 63
3.3. O estatuto da criança e do adolescente .................................................. 68
3.4. A violência sexual no Brasil ..................................................................... 75
3.4.1 Portaria 46/2010/SMADS - Tipificação dos serviços socioassistenciais 81
3.4.2. Normas técnicas do serviço de proteção social às crianças e
adolescentes vítimas de violência (SPVV) ....................................................... 84
4. HISTÓRICO DO SERVIÇO DE PROTEÇÃO SOCIAL ÀS CRIANÇAS E
ADOLESCENTES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA – HERDEIROS DO FUTURO ........... 90
4.1. Análise crítica .................................................................................................. 93
4.2 Discussão da análise crítica .........................................................................114
4.3 Resultado da análise ....................................................................................119
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................122
REFERÊNCIAS .........................................................................................124
ANEXOS
ANEXO A - Instrumental de Pesquisa Roteiro da Entrevista
ANEXO B - Instrumental de Pesquisa – Questionário da Entrevista
ANEXO C - Formulário Pedido de Autorização para Realização de Projeto de
Pesquisa Científica
ANEXO D - Folha de Rosto para Pesquisa Envolvendo Seres Humanos
ANEXO E - Declaração para Co - Participante
ANEXO F - Termo de Consentimento Livre Esclarecido
11

1. INTRODUÇÃO

O Serviço Social ao longo de sua trajetória assume posições em diferentes


contextos e épocas, ora assume-se conservador, ora assume-se crítico, reiterando o
seu apoio à classe trabalhadora.

A profissão articula com indivíduos, famílias, comunidade e Estado, em meios


às relações sociais, o profissional se apercebe das expressões da questão social
proveniente do modo de produção capitalista e intervêm.

A intervenção profissional decorre de inúmeras articulações, orientações para


que os indivíduos e famílias acessem direitos sociais, nas mais variadas políticas
públicas.

Na atualidade, a profissão utiliza-se da teoria crítica. O materialismo histórico


dialético censura o modo de exploração capitalista. O assistente social no seu
espaço de trabalho compreende a ausência de direitos no Estado neoliberal.

A profissão se reviu ao longo de sua história, e após a sua reconceituação,


responde a partir de três competências: teórico-metodológico, técnico-operativa e
ético-política as demandas sociais.

O Serviço Social nasce conservador e é influenciado em suas gêneses pela


Igreja Católica, a ideia de solidariedade e ajuda aos pobres marcam a gênesis da
profissão.

Mesmo diante de tantos avanços é perceptível a desvalorização do trabalho


da/do assistente social. É preciso reiterar o caráter crítico da profissão que rompe
com o apoio incondicional ao Estado na estreia do Serviço Social no Brasil.

Esta pesquisa tem por objetivo analisar a visão da equipe multiprofissional do


SPVV Capão Redondo quanto aos atendimentos realizados pela/pelo assistente
social às crianças e adolescentes atendidas pelo serviço.

Parte-se de inquietações, tais como: os assistentes sociais do SPVV Capão


Redondo romperam com o conservadorismo presente na gênese da profissão? As
demais formações e funções existentes no SPVV compreende a função do
profissional no serviço?
12

No atendimento as violências, qual o papel do Assistente Social e no que ele


se diferencia dos outros profissionais? O Assistente Social compreende porque o
serviço SPVV está inserido na Política de Assistência Social?

As políticas públicas se subsidiam em legislações especiais para a defesa e


proteção dos segmentos mais vulnerabilizados. O Art. 1º do Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA), Lei Nº 8.069/1990 dispõe sobre a proteção integral à criança
e ao adolescente.

O aludido texto aponta que todo cidadão tem a responsabilidade em relação à


criança e ao adolescente nos deveres fundamentais da vida, mas infelizmente em
pleno século XXI, assim como o Estado não está cumprindo esse papel, boa parte
da sociedade não tem conhecimento desse dever.

O SPVV está inserido na Política de Assistência Social e referenciado na


Proteção Social de Média Complexidade, no CREAS – Centro de Referência
Especializado da Assistência Social.

Realiza atendimento psicossocial para crianças e adolescentes vítimas de


violência, trabalha de forma articulada a uma rede de serviços Socioassistenciais da
proteção social especial.

Dentre as inúmeras atividades do/da assistente social no SPVV, destacam-se


os estudos sócios econômicos, as visitas domiciliares, as articulações em rede, a
redação de relatórios técnicos, os atendimentos individuais e em grupos.

No que se refere a estrutura metodológica da monografia, no Capítulo 2


pretende-se apresentar discutir o surgimento da questão social, a partir do modo de
produção capitalista, a gênesis conservadora da profissão e a intervenção pautada
em uma matriz crítica.

No Capítulo 3, discorremos sobre a Política de Assistência Social, o Estatuto


da Criança e do Adolescente, a Tipificação dos Serviços Socioassistenciais, o
Serviço de Proteção Social a Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência (SPVV
Capão Redondo) e as atribuições privativas de assistentes sociais e psicólogos.

A pesquisa é de extrema importância, pois além de conhecer a visão da


equipe multiprofissional em relação ao trabalho da/do assistente social, também
13

possa servir como meio de pesquisa para estudantes que se interessem pelo
mesmo objetivo do tema.

Para que essa pesquisa tivesse um conteúdo teórico crítico que suprisse as
expectativas para concretização do objetivo, foram utilizados autores que fazem
parte da História do Serviço Social, como: Maria Lúcia Martinelli autora do livro
“Serviço Social Identidade e Alienação”, José Paulo Netto autor do livro “Ditadura e
Serviço Social”, Marilda Iamamoto autora do livro “O Serviço Social na
Contemporaneidade: Trabalho e Formação Profissional e discutindo as questões
para o trabalho e formação do profissional na contemporaneidade” e sua obra com
Raul de Carvalho “Relações Sociais e Serviço Social no Brasil” e Maria Lúcia Silva
Barroco com sua obra “Ética e Serviço Social: fundamentos ontológicos”. Esses
autores são de extrema importância para o Serviço Social, pois apresentam em suas
obras a história conservadora, o processo de luta que levou a evolução do Serviço
Social, o Serviço Social na contemporaneidade, seus desafios e a extrema
importância do trabalho da/do assistente social nesse sistema capitalista.

Para falar da Política de Assistência Social que é onde o SPVV está inserido,
trazemos a Aldaíza Sposati que escreveu o artigo “Proteção Social e Seguridade
Social no Brasil: Pautas para o Trabalho do Assistente Social”. A delimitação do
nosso tema trata-se de aborta sobre os atendimentos das/dos assistentes sociais
frente a casos de violência sexual infantil, usamos Philippe Ariès na direção de falar
sobre crianças em seu livro “História Social da Criança e da Família” que traz a
história da criança na época medieval na qual o conceito de infância não existia, o
difícil processo até a descoberta da infância. E para se aprofundar em violência
sexual infantil trazemos Darcy Pereira Azambuja com sua obra “A
interdisciplinaridade na violência sexual e Violência Sexual Contra Crianças e
Adolescentes”.
No que se refere aos aspectos metodológicos, é preciso considerar que o Brasil
integra os países afetados pela pandemia do novo Coronavírus (COVID-19). Desta
forma, a pesquisa de campo foi afetada no que se refere aos prazos.

Compreendendo as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS)


quanto a aglomeração e respectiva necessidade de distanciamento social desde
14

março/2020 aplicamos a pesquisa de campo “de forma remota”, utilizando o


aplicativo “Google Meets” para a realização da entrevista.

Utilizamos roteiros semiestruturados e aplicamos questionários para as


entrevistas individuais. Posteriormente, analisamos as respostas sob a luz da teoria,
compreendendo o “lugar de fala” de cada funcionário do serviço em tela.

Os profissionais do SPVV que se disponibilizaram para nossa pesquisa foram,


um assistente social, dois psicólogos, uma orientadora socioeducativa e a gerente
que tem formação em Serviço Social. Durante o processo das entrevistas realizamos
de maneira remota devido a pandemia do Coronavírus (COVID-19), os instrumentais
usados para realização foram o roteiro semiestruturado, questionário e os aparelhos
celulares que serviu para as chamadas de vídeos instantâneas e gravação dos
áudios das entrevistas no aplicativo WhatsApp. As entrevistas foram feitas de forma
individual para que os sujeitos ficassem confortáveis e dispostos a contribuir,
realizamos nos melhores horários disponíveis para equipe multiprofissional, com
intuito de ser uma troca de saberes, para não se sentirem como se fossem só
apenas perguntas, mas sim um diálogo agradável.

E por fim, a monografia teve por pretensão apontar para um Serviço Social
interventivo, que apoia a classe trabalhadora no acesso as suas demandas, em
espaços sócios ocupacionais diversos e atuais como o SPVV.

Apresenta as dificuldades do/da assistente social e o seu protagonismo na


proteção social integral de crianças e adolescentes submetidos as mais variadas
violências. A monografia reitera o compromisso dos pesquisadores com a teoria
crítica e a importância de pesquisar temas inovadores.
15

2. CAPITALISMO, QUESTÃO SOCIAL E DIREITO

Neste capítulo será abordado o surgimento do Serviço Social e seu


desenvolvimento, mostrando como surgiu o objeto de trabalho, a questão social,
onde traz suas expressões que atingem a classe operaria de uma maneira intensa,
com isso o Estado se ver sem saídas e necessita criar formas de amenizar essas
expressões, iniciando o Serviço Social de uma forma totalmente conservadora, onde
os agentes sociais dessa área seguiam as ordens de um sistema com pensamentos
religiosos e explorador da mão de obra barata.

Induziremos esse capítulo na direção da trajetória do Serviço Social do


conservadorismo até os dias atuais, onde traremos todo processo de luta para
evolução, o momento de ruptura do conservadorismo, onde se iniciou grandes
conquistas do Serviço Social, conduzindo a ser uma profissão emancipatória ao lado
da classe trabalhadora, atuando na garantia de direito sociais com sua armadura
que é o Projeto Ético-Político.

2.1. O surgimento questão social

A questão social surgiu em meados do século XIX, na Europa, após as


transformações econômicas, sociais e políticas nascidas a partir da exploração do
trabalho.

O sistema econômico capitalista motiva desigualdades sociais que atinge


frontalmente a classe trabalhadora, que depende de sua força de trabalho para
sobreviver.

As transformações socioeconômicas ocasionam a escassez do mínimo


necessário para viver, denominadas como expressões da questão social, como
desemprego, fome, violência, entre outras.

Assim as expressões da questão social crescem devido a exploração de uma


só classe em cima da outra, pois a classe burguesa nesse período já dominava
muitas terras, onde exploravam a mão de obra barata da classe trabalhadora, para
seus trabalhos no campo.

No Brasil as expressões da questão social começam a surgir com o


desenvolvimento do sistema capitalista, e assim se dá as desigualdades sociais,
16

pois, essas expressões se expandem na vida da classe trabalhadora gerando altas


consequências.

As inúmeras contestações da classe trabalhadora, proveniente da agudização


das questões sociais em curso, despertaram a atenção da burguesia, que recorrem
a políticas assistencialistas operacionalizadas por senhores cristãs da burguesia.

Com a Revolução Industrial as expressões da questão social se agravam


mais ainda, principalmente na questão do desemprego, miséria e doenças. Com o
crescimento das más condições de trabalho urbano, traz fortemente o pauperismo 1.

Esses processos se intensificam na mesma medida em que se


desenvolve o modo de produção especificamente capitalista, ou seja,
aquele que, sob o formato da grande indústria, aprofunda a vigência
e capilaridade de suas leis fazendo emergir, no século XIX, o
pauperismo. Tem-se então o marco histórico do conjunto de
fenômenos que, incluindo o pauperismo, mas também se
reproduzindo para além dele, se considera aqui como gênese da
“questão social”. (SOARES, 2012, p. 28).

O desenvolvimento do capitalismo trazia fases humilhantes de exploração do


trabalho que causava para a classe trabalhadora, que não estavam aguentando
mais, assim começaram a entender que não podiam mais permanecer alienados aos
seus patrões e decidem buscar pelos seus direitos trabalhistas e sociais, com lutas e
muito árduo em busca de condições de melhores salários e por uma melhor
qualidade de vida.
A “questão social”, seu aparecimento, diz respeito diretamente à
generalização do trabalho livre numa sociedade em que a escravidão
marca profundamente seu passado recente. Trabalho livre que se
generaliza em circunstâncias históricas nas quais a separação entre
homens e meios de produção se dá em grande medida fora dos
limites da formação econômico-social brasileira. Sem que tenha
realizado em seu interior a acumulação (primitiva) que lhe dá origem,
características que marcará profundamente seus desdobramentos.
(IAMAMOTO, 2014, p.133).

No entanto a burguesia já desdobrava a exploração da mão de obra do


trabalhador na compra da força de trabalho, que o filosofo alemão Karl Marx
chamava de mais-valia,2 segundo o mesmo essa tese é a relação da venda da força
de trabalho, como uma mercadoria ao capitalista, onde o trabalhador não produzia

1
Pauperismo é o estado extremo da pobreza, ou seja, a escassez do mínimo necessário para viver.
2
Mais-valia é o termo usado para designar a desigualdade entre o salário pago, e paga para a classe
trabalhadora um valor bem menor do que realmente eles trabalham, assim tendo o acúmulo de
riqueza só para os donos de produção.
17

para si, mas sim para o capital e acaba produzindo muito mais do que recebia,
devido a essa grande exploração da mão de obra barata que os aumentos dos
lucros da classe burguesa eram enormes.

Enquanto a taxa de mais-valia ou de exploração do trabalho é


medida em relação ao capital variável, ou seja, é a relação entre
trabalho pago e não pago, na taxa de lucro o trabalho não pago é
calculado em relação ao capital total adiantado na produção.
(IAMAMOTO, 2014, p.70).

Desta forma o trabalho se tornava um grande processo na reprodução dos


lucros para a classe burguesa que tornava a exploração da mão de obra barata da
classe trabalhadora que vendia sua força de trabalho, em decorrência do seu melhor
sustento. A população trabalhadora vivia em condições precárias de trabalho e sua
única renda era se expor do trabalho que existia para eles naquela época, onde não
existia sequer possibilidades de ofertas de políticas públicas, ou seja, o trabalhador
só sobrevivia com o dinheiro que conquistava no seu dia de trabalho, sendo assim
os salários pagos aos trabalhadores era pouco para garantir uma melhor qualidade
de vida para si e sua família.

Devido a toda essa escassez de direitos sociais, a parte da sociedade que


vivia sendo explorada sobre sua força de trabalho que sofriam frequentemente com
as expressões da questão social, continuou com resistência após manifestações
para pôr em leis seus direitos, melhorias dentro da sociedade e do trabalho, em
busca de uma melhor cidadania social.

As questões dos trabalhadores pioraram quando ocorreu a entrada de


mulheres e crianças no trabalho cansativo e explorador das fábricas, e com isso
ocorreu acentuada exploração da força de trabalho aumentando as taxas de lucros
para as superações das crises econômicas que com a intenção de mais obtenção de
lucros e reduzindo os custos, lembrando que as jornadas de trabalho eram extensas.

A exploração abusiva a que é submetido - afetando sua capacidade


vital - e a luta defensiva que o operariado desenvolve aparecerão,
em determinado momento, para o restante da burguesia, como uma
ameaça a seus mais sagrados valores, “a moral, a religião e a ordem
pública”. Impõe-se, a partir daí a necessidade do controle social da
exploração da força de trabalho. (IAMAMOTO, 2014 p. 134).

As expressões da questão social aprofundam devido ao acúmulo no poder


político e econômico, piorando as desigualdades sociais e melhorando para os
18

capitalistas a desvalorização do trabalho com a diminuição do Estado nas políticas


públicas, necessidades sociais, individualismo e responsabilidade privada.

Nesse contexto as expressões da questão social traduzem-se em uma


potencialização do fetichismo da mercadoria3 com a banalização do humano, da
satisfação das necessidades sociais e dos dilemas do trabalho. Soma-se o
crescimento das desigualdades sociais, a regressão de direitos civis e sociais, a
desregulamentação das relações de trabalho e a ascensão de políticas de ajuste
estruturais preconizadas pelos países imperialistas 4 (IAMAMOTO, 2007).

Para Lamamoto5 (2007), a questão social relaciona-se estritamente à


sociedade capitalista, notadamente em sua fase monopolista 6, aglutinado o conjunto
de desigualdades sociais, políticas e culturais das classes sociais e que têm
diferentes expressões no cotidiano da vida social. A autora articula o surgimento da
questão social à apropriação privada da produção coletiva, sendo inerente ao
surgimento do trabalho livre e à alienação do trabalhador em relação ao produto de
seu trabalho.

No século XX durante a década de 1930 perante a pressão da classe


trabalhadora que estava sofrendo com as consequências das inúmeras expressões
da questão social, por conta do desenvolvimento capitalista, o Serviço Social surge
nesses grandes movimentos sociais, no primeiro pós-guerra, tendo como prioridade
o intermédio da Igreja Católica.

A implantação do Serviço Social se dá no decorrer desse processo


histórico. Não se baseará, no entanto, em medidas coercitivas
demandas do Estado. Surge da iniciativa particular de grupos e
frações de classe, que se manifestam, principalmente, por intermédio
da Igreja Católica. (IAMAMOTO, 2014, p.135).

O Serviço Social na década de 30 surge para amenizar os problemas das


expressões da questão social, diante da classe trabalhadora, e para garantir as

3
Fetichismo da Mercadoria para Karl Marx é a consequência do modo produtivo alienante do
capitalismo.
4
Imperialistas é a pratica pela qual nações procuram crescer e manter controle sobre os povos ou
nações mais pobres.
5
Marilda Villela Lamamoto graduada em Serviço Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora
(1971), mestrado em Sociologia Rural pela Universidade de São Paulo (1982) e doutorado em
Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2001). E sendo de grande
importância para o Serviço Social.
6
Monopolista vem corresponder a um tipo de economia e em grande comercio onde são controlados
pelo poder econômico dos bancos comerciais e financeiros.
19

práticas de intervenções necessitadas pela classe burguesa, com base nos


fundamentos da igreja católica, no objetivo de reprimir a classe trabalhadora, nas
suas exigências que vendiam sua força de trabalho para sobrevivência, sendo que a
burguesia já ameaçava, pelas lutas no processo de suas riquezas.

No entanto o Serviço Social nasce no Brasil sob influências da Igreja Católica,


com característica profundamente conservadora7, culpabilizando a classe
trabalhadora por estar passando por escassez aos meios de sobrevivência e
vivendo em pobreza crescente pelas expressões da questão social, causada pela
exploração do trabalho, mostrando para a sociedade que a/o assistente social é um
instrumento de ajuda para os menos favorecidos.

Todavia a pobreza somente se expressa como questão social mediante a


reivindicação da classe trabalhadora, a partir de sua transformação em classe para
si pela consciência de que a escassez, na ordem burguesa, decorre das relações
sociais de exploração exigidas pelo modo de produção capitalista (IAMAMOTO,
2007).

Nessa compreensão a/o assistente social vem atuar na tensão da produção e


reprodução das desigualdades sociais que emerge na relação entre capital versus
trabalho. Assim o trabalho da/do assistente social se produz na questão social, tal
como se expressam na vida dos indivíduos.

Nesse contexto as condições de vida e do trabalho que o proletariado era


inserido, já deixavam claras as necessidades básicas onde a burguesia não
considerava que essa classe merecia seus direitos de políticas sociais, mediante da
exploração do trabalho que exerciam para seu sustento. Sendo que o serviço social
nesse período não era mais considerado como um serviço de caridade. Buscando
uma plena ruptura com a filantropia8, mudando sua maneira de trabalhar com a
população, agora com intuito na garantia de direitos junto com as políticas públicas e
em setores empresariais.

7
Conservadora são pensamentos e costumes tradicionais, defendendo a moral e bons costumes das
instituições sociais, como família, comunidade e a religião, tais como também preservando o bem
estar individual.
8
Filantropia é uma palavra que traz sentimento entre indivíduos que ajudam outras pessoas, sendo
de origem grega, e tem um significado ”amor à humanidade”.
20

Sabemos que atualmente o mercado se encontra com muitas tecnologias


avançadas e com isso é válido pensar na questão social nesse momento, pois gera
o enfraquecimento do trabalho sob a terceirização da mão de obra 9. E assim vem a
desvalorização do trabalhador que hoje vivencia uma exploração escondida e
reduzidos os direitos sociais, crescendo a miséria que está tão viva nos centros
urbanos expressa na condição da sociedade atual, generalizando todos os tipos de
violências.

O desenvolvimento tecnológico se torna determinante do


desemprego, portanto, em face de sua utilização no interior das leis
de reprodução do capitalismo onde a produção de respostas às
necessidades humanas está inteiramente subordinada ao processo
de valorização do capital. Ou seja, quem permanece trabalhando é
mais explorado na intensidade de horas trabalhadas e torna
“dispensáveis” outros tantos trabalhadores. Em outra lógica – que
não fosse a do processo de valorização – o progresso tecnológico
poderia beneficiar a todos que permaneceriam trabalhando, porém
num tempo que tenderia a encurtar, dado o aumento da
produtividade e por ele proporcionado. (SOARES, 2012, p.27).

A atuação do profissional transfigura-se através de instituições que prestam


serviços públicos a sociedade, que buscam o Serviço Social para garantia dos
direitos sociais com intervenções na pratica profissional da/do assistente social que
universaliza a preocupação da questão social na base teórico-metodológico e sua
ética profissional nas expressões da questão social.

Contudo o profissional de Serviço Social tem como objeto de trabalho a


questão social, onde é inscrito na divisão sócio técnica do trabalho e no contexto da
contradição do capitalismo e na luta de classes. Buscando novas formas para viver,
e sendo resultado de novas demandas impostas pela desordem da questão social.

Portanto a questão social no Brasil traz particularidades determinadas pela


constituição do capitalismo em seu processo monopolista, trazendo a questão social,
e suas diferenças entrando em contradição com o capital versus trabalho, onde a
classe trabalhadora se manifestava para ter seus direitos garantidos, pelo fim da
exploração da mão de obra barata, para obtenção de lucros.

9
Terceirização da mão de obra é uma empresa que negocia serviços prestados, para outras
empresas que não querem se responsabilizar por colaborações, contrata serviços terceirizados, para
a exploração e negação de direitos.
21

A burguesia dominava a classe trabalhadora, assim havendo a pobreza


existente no capitalismo, deixando seus investimentos em alto, menosprezando os
menos favorecidos, trazendo para conhecimento a evolução de novas tecnologias,
baseadas nas grandes indústrias na integração real do trabalho ao capital.

Hoje ainda vemos a exploração da mão de obra barata e com


neoliberalismo10 está mais maquiada a exploração. Se na contemporaneidade é
garantido os direitos sociais e trabalhistas dos cidadãos, foi através da luta popular
incansável que não recuaram, até chegar à consolidação dos direitos, mas não
vamos pensar que essa luta acabou, estamos ainda em processo de mais
conquistas para uma sociedade igualitária.

2.2. A gênese do serviço social no Brasil

Para abordar a gênese do Serviço Social no Brasil precisamos comentar


sobre o início do Serviço Social na Europa, que surgiu após a Revolução Industrial,
onde seu maior intuito era o aceleramento da produtividade e expandir o capital,
porém a Revolução Industrial teve malefícios para os camponeses que acabaram
perdendo seus meios de produção e de sobrevivência, ou seja, não havia outra
possibilidade a não ser vender sua mão de obra barata para os donos das
máquinas. Portanto assim nasce a divisão de classe.

O Serviço Social se gesta e se desenvolve como profissão


reconhecida na divisão social do trabalho, tendo por pano de fundo o
desenvolvimento capitalista industrial e a expansão urbana,
processos esses aqui apreendidos sob o ângulo das novas classes
sociais emergentes --- a constituição e expansão do proletariado e da
burguesia industrial --- e das modificações verificadas na composição
dos grupos e frações de classes que compartilham o poder de
Estado em conjunturas históricas especificas. (IAMAMOTO, 2014 p.
83).

É nesse período que surgiu diversas expressões da questão social, onde é a


base que a profissão irá trabalhar para sanear esses impactos causados pelo
capitalismo industrial11, no ponto das expressões que necessitam muito mais do que
caridade e ajuda, e sim garantias de diretos a vida e um trabalho de qualidade.

10
Neoliberalismo é o conjunto de ideias políticas e econômicas capitalistas que vem defender a não
participação entre o Estado na economia, garantindo o crescimento econômico e o desenvolvimento
do país.
11
Capitalismo Industrial é a fase marcada por fatos que ficaram conhecidas como Revolução
Industrial, por meio a um processo de revolução política e tecnológica.
22

Assim o Serviço Social inicia-se pela Igreja Católica de forma conservadora e


beneficente para ajudar a classe trabalhadora que estava com a fome, miséria e as
questões que os ameaçam, desta forma quando o Serviço Social se torna profissão
o Estado o usa como meio de controle social 12 e repressão para a classe
trabalhadora, pois ele busca maneiras de controlar as ações reivindicatórias dos
trabalhadores.

É nesse contexto, em que se afirma a hegemonia do capital industrial


e financeiro, que emerge sob novas formas a chamada “questão
social”, a qual se torna a base de justificação desse tipo de
profissional especializado. A questão social não é senão as
expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe
operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo
seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do
Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição
entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos
de intervenção, mais além da caridade e repressão. (IAMAMOTO,
2014 p. 84).

A história do Serviço Social no Brasil surgiu em meados da década de 1930,


nesse momento o país passava por diversos movimentos e lutas da classe
trabalhadora, onde reivindicavam por melhores condições de trabalho e justiça
social, pois é neste período que eles se reconhecem quanto classe e o que tudo isso
implica na sociedade. Segundo MARTINELLI (2011), nessa década de 20 a 30 foi o
Serviço Social europeu se expandiu tanto em processos organizativos, quanto em
ações profissionais.

Na década de 30, perante a pressão da classe trabalhadora que estava


sofrendo com as consequências das inúmeras expressões da questão social, por
conta do desenvolvimento capitalista, o Serviço Social surge sobre total influência da
Igreja Católica com característica profundamente conservadora, culpabilizando a
classe trabalhadora por estar passando por escassez aos meios de sobrevivência e
vivendo em pobreza crescente, mostrando para a sociedade que a/o assistente
social é um instrumento de ajuda para os menos favorecidos.

O terreno onde o Serviço Social deitou suas raízes tinha, pois, uma
topografia bastante especifica, e, assim com a seiva a qual nutria,
provinha de uma ideologia claramente determinada. Na base de
ambos, o que estava presente era a religião como princípio de vida,
diretriz para a ação. À concepção religiosa do mundo correspondia

12
Controle Social é a participação dos cidadãos no acompanhamento das políticas públicas,
avaliando objetivos e qualquer processos e resultados de ações e programas.
23

uma concepção religiosa de prática, que demandava, para sua


operacionalização, qualidades morais e pessoais, além do domínio
de conhecimentos científicos e habilidades técnicas (MARTINELLI,
2011, p. 120).

Segundo IAMAMOTO (2014) a vocação para realizar esses serviços sociais


era praticamente um chamado religioso, pois antes de ser um trabalho é uma
missão. São chamadas de agentes, as pessoas que realizavam esses trabalhos
sociais, assim eles começaram a ser inseridos no trabalho mercantilizado, usando
sua força de trabalho, ou seja, começaram a estabelecer um limite para ações que
eram voluntárias, de intenções pessoais em ajudar e atividade profissional.

O Serviço Social foi considerado um instrumento básico de trabalho, não


possuía uma linha de produção de conhecimentos científicos, usando
conhecimentos acumulados e produzidos por outras ciências para assim aplicar na
realidade social construindo sua própria intervenção. Segundo IAMAMOTO (2014),
mesmo assim não excluía a possibilidade e uma grande necessidade de o
profissional criar seus conhecimentos científicos, pois assim contribuía para um
acervo geral da história.

O Assistente Social, que na sua qualidade de intelectual tem como


instrumento básico de trabalho a linguagem, poderia ser
caracterizado nesse segundo grupo. Historicamente, não constitui
atividade proeminente para essa categoria profissional a produção de
conhecimentos científicos. Emerge e se afirma em sua evolução
como uma categoria voltada para a intervenção na realidade,
utilizando-se dos conhecimentos socialmente acumulados e
produzidos por outras ciências, aplicando-os à realidade social para
subsidias sua prática. (IAMAMOTO, 2014, p. 95).

As questões caridosas e religiosas permanecem, as ações que o Serviço


Social emerge continuam sobre essas bases e se disseminam pela história do início
da profissão, assim as obras sustentam através dessas linhagens. Começam a
surgir instituições assistências em duas cidades, no Rio de Janeiro e em São Paulo
que realizam atividades tradicionais da época de formas caridosas. As obras sempre
zelando pelo nome da família que simbolizam a grande burguesia tanto paulista,
quanto carioca, famílias que integram com o sistema sendo participativos para a
dominação e controle.

As instituições assistências que surgem nesse momento, como a


Associação das Senhoras Brasileiras (1920), no Rio de Janeiro, e a
Liga das Senhoras Católicas (1923), em São Paulo, possuem já ---
24

não apenas no nível da retórica ---- uma diferenciação em face das


atividades tradicionais de caridade. Desde o início são obras que
envolvem de forma mais direta e ampla os nomes das famílias que
integram a grande burguesia paulista e carioca e, às vezes, a própria
militância de seus elementos femininos. Possuem um aporte de
recursos e potencial de contatos em termos de Estado que lhes
possibilita o planejamento de obras assistenciais de maior
envergadura e eficiência técnica. (IAMAMOTO, 2014, p. 176).

Segundo IAMAMOTO (2014), essas instituições e obras são de extrema


importância para a gênese do Serviço Social no Brasil, pois é parte do
desenvolvimento e evolução da profissão, pois isso permitiu a expansão da ação
social e o surgimento das primeiras escolas de Serviço Social. “A Sra. Estella de
Faro, por exemplo, considerada como a grande pioneira de Serviço Social no Rio de
Janeiro e figura preeminente da Ação Social na década de 1930, é, em 1922 --- na
qualidade de elemento de confiança de dom Sebastião Leme ---- a primeira
coordenadora do ramo feminino da Confederação Católica. (IAMAMOTO, 2014, p.
177).”

Em 1932 surge o Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo (CEAS), seu
intuito em Serviço Social sob sobre controle da hierarquia 13, tendo patrocínio com a
igreja e realizando ações e atividades filantrópicas. Segundo IAMAMOTO (2014) o
inicio será a partir do “Curso Intensivo de Formação Social para Moças”, ao encerrar
esse curso que tem a intenção de atender e qualificar o bem-estar da sociedade.

O objetivo central do CEAS será o de “promover a formação de seus


membros pelo estuo da doutrina social da Igreja e fundamentar sua
ação nessa formação doutrinária e no conhecimento aprofundado
dos problemas sociais”, visando “tornar mais eficiente a atuação das
trabalhadoras sociais” e “adotar uma orientação definida em relação
aos problemas a resolver, favorecendo a coordenação de esforços
dispersos nas diferentes atividades e obras de caráter social”.
(IAMAMOTO, 2014, p. 179).

O CEAS promove diversos cursos dentro disto começam a criar eventos e


campanhas que realizam e promovem obras que acontecem no CEAS, assim
qualificando e divulgando ações ocorridas ali. Em 1936 é fundada a primeira Escola
de Serviço Social de São Paulo, pois notam a necessidade de uma formação
profissional, não foi uma primeira iniciativa pelo CEAS, só depois de ver a
necessidade tiveram a ideia que era de uma formação técnica que faltava.

13
Hierarquia é a ordem de qualquer forma a priorização de um membro, poderes. Assim, se tornando
relações entre superiores e dependentes.
25

A partir desse momento nota-se que, paralelamente à demanda


inicial por quadros habilitados por essa formação técnica
especializada, originada da própria ação social católica, começa a
aparecer outro tipo de demanda, partindo de determinadas
instituições estatais. Elas serão vistas pelos integrantes desse
movimento como conquistas significativas: “com a apresentação de
um memorial ao Governo do estado, obteve (o CEAS) a criação de
cargos de fiscais femininos para o trabalho de mulheres e menores,
no Departamento Estadual do Trabalho”. Em 1937, o CEAS atua no
Serviço de Proteção aos Migrantes, “funcionando dois anos junto à
Diretoria de Terras, Colonização e Imigração”; em 1939, assina
contrato com o Departamento de Serviço Social do Estado (SP) para
a organização de três Centros Familiares em bairros populares.
(IAMAMOTO, 2014, p. 184).

IAMAMOTO (2014), afirma que a Escola de Serviço Social passará por


mudanças introduzindo novas demandas no currículo de curso intensivo de
formação familiar, deste modo criando convênio como CEAS e o departamento de
Serviço Social do Estado, e futuramente conseguir atender demandas diretamente
da prefeitura. Com essas mudanças e adaptações ainda no mesmo ano que a
escola foi criada realizam o primeiro curso intensivo de Serviço Social que incluíram
diversos temas a serem abordados.

Ainda no ano de 1936 é realizado o primeiro curso “intensivo de


serviço social”, com a duração de 3 meses, constando de uma série
de palestras sobre temas sociais, legais, educacionais e médicos,
com ênfase para o problema da “infância abandonada”.
Paralelamente, realizou-se um curso prático de serviço social, para
cuja realização foram requisitadas as duas primeiras Assistentes
Sociais paulistas recém- formadas na Bélgica. Em 1938, começa
funcionar sob orientação leiga o curso regular da Escola Técnica de
Serviço Social, que diploma sua primeira turma em 1941.
(IAMAMOTO, 2014, p. 196).

Segundo IAMAMOTO (2014), em meados de 1940 surgem mais escolas de


Serviço Social nas capitais dos Estados, algumas delas desfrutando da
representação com o primeiro Congresso Brasileiro de Serviço Social, as formações
serão em base primitivas, duas escolas de origem católica. “A implantação das
mesmas obedecera a processos semelhantes ao de suas antecessoras de São
Paulo e do Rio de Janeiro, contando --- como componente novo --- com o apoio
financeiro da Legião Brasileira de Assistência. (IAMAMOTO, 2014, p. 197).”

A fase que se abre é marcada pelo aprofundamento do modelo


corporativista, cuja tônica é dada pela nova Carta Constitucional
26

outorgada logo em seguida ao golpe de Estado, e por uma nítida


política industrialista. (IAMAMOTO, 2014, p. 248).

O modelo corporativista vai se aperfeiçoando, com isso a sociedade se divide


em grupos corporativistas e a Carta Constitucional depois de 1934 força a esse
modelo. Deste modo não se demora e vem o golpe de Estado que enfatiza a política
industrialista, muitos historiadores explicam que o golpe de Estado foi implantado
por conta da crise econômica que avistava chegando, para o controle da classe
trabalhadora não recorrer aos seus direitos pela piora da escassez que já sofriam.

Os efeitos práticos desse decreto-lei foram, no entanto, muito


restritos. O conselho Nacional de Serviço Social ---- CNSS----
tampouco chegou a ser um organismo atuante. Caracterizou-se pela
manipulação de verbas e subvenções, como mecanismo de
clientelismo político. Sua importância se revela apenas como marco
da preocupação do Estado em relação à centralização e organização
das obras assistências públicas e privadas. (IAMAMOTO, 2014, p.
264).

A Carta Constitucional de 1934 também redigiu uma legislação federal a


respeito dos serviços sociais, onde está escrito que o Estado deve assegurar o
amparo dos desamparados, mas era restrito esse decreto, O Conselho Nacional de
Serviço Social (CNSS) não foi organizado para atuação ao efeito dessa legislação,
pois o que foi feito neste decreto na verdade, referiu-se a caracterização de
manipulação de verbas e subvenções na finalidade política de transparecer uma
preocupação que o Estado tinha em relação a assistência, para não haver luta da
classe trabalhadora.

O surgimento da LBA terá, de imediato, um amplo papel de


mobilização da opinião pública para apoio ao “esforço de guerra”
promovido pelo governo, e consequentemente ao próprio governo
ditatorial. Nesse sentido serão lançadas diversas campanhas de
âmbito nacional, como as borrachas usadas, confecção de ataduras
e bandagens, campanha de livro, campanha das “hortas da vitória”
etc. Para os soldados mobilizados serão patrocinados diversos
serviços de promoção e lazeres (cantinas, espetáculos etc.) A
assistência às famílias dos convocados terá também um amplo
caráter promocional. (IAMAMOTO, 2014, p. 265).

Ao engajamento da segunda guerra mundial é organizada a Legião Brasileira


de Assistência (LBA) para prover as necessidades das famílias que os responsáveis
foram mobilizados pela guerra. A LBA foi promovida pelo governo e também por
consequência sendo o governo ditatorial, com isso claro, os soldados eram
patrocinados a diversos serviços e as famílias também.
27

No entanto, tudo o que é promovido pelo governo deve ser questionável, pois
a organização estará ligada a questão do preço a ser pago de acordo com o esforço
de guerra que cada soldado fará, feito isso, o poder aquisitivo do trabalhador tem
uma queda, e partir disto começam as profundas transformações decorrentes do
colapso do comercio internacional, que ocorre com a aceleração do processo do
capitalismo.

Neste período a profissão estava imersa numa perspectiva confessional,


aliada a doutrina católica e associada aos interesses da ditadura militar14 (NETTO15,
2015). Assim as diretrizes para a formação e exercício profissionais partiam desta
ótica, tendo como princípio fundamental a caridade e a benemerência. Não havia,
portanto, a perspectiva de justiça social ou qualquer compreensão em torno da
construção ou garantia de direitos sociais. “A conjuntura dos anos 1934-1935 será
marcada pela recessão econômica, por um auge dos movimentos reivindicatórios do
proletariado e pela radicalização política. (IAMAMOTO, 2014, p. 171).”

A caridade passa a utilizar os recursos que a ciência e a técnica lhe


oferecem; mobiliza, além dos sentimentos, a inteligência e a vontade
para o serviço da pessoa humana. O Serviço Social representa uma
evolução dos antigos métodos, favorecida pelas descobertas
científicas, pelo desenvolvimento dos estudos sociológicos e,
principalmente, pela intensidade e complexidade dos problemas
sociais presentes. Isso o distingue das antigas formas de assistência.
(IAMAMOTO, 2014, p. 212).

Apesar de a caridade passar a utilizar recursos da ciência, o Serviço Social


não teve evolução, o que realmente aconteceu foi a forma de distinguir as antigas
formas de assistência, pois nada se revolucionou, mas houve métodos de
aperfeiçoamentos pela experiência em naturalizar a miséria e a doença, que
transformou em uma organização quase cientifica, em questão da caridade velha.

Na sistemática busca do controle do “mundo da cultura”, a autocracia


burguesa procurou integrar a sua política cultural ao sentido global
das suas políticas sociais (especialmente às suas políticas
educacional e de comunicação social). Mas a intenção e as
estratégias equalizadoras nunca asseguram a inteira administração

14
Ditadura militar foi a época que se caracterizou a falta da democracia, entre os anos de 1964 a
1985. Além da repressão dos direitos institucionais, censura, a perseguição política e aos cidadãos
opostos ao regime militar.
15
José Paulo Netto graduado em Serviço Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1969), e
doutorado em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1990), ademais de
haver cursado regularmente disciplinas na graduação em Letras Neolatinas na Universidade Federal
de Juiz de Fora (1970-1973) e na pós-graduação (1980, Literatura) da Universidade de São Paulo.
28

do “mundo da cultura”: alimentadas pelas tensões entre a sua própria


dinâmica e as exigências da autocracia burguesa, potenciada pela
resistência democrática e pelo movimento popular, as colisões e
contradições entre o regime autocrático e o “mundo da cultura”
jamais foram erradicadas. (NETTO, 2015, p. 76).

A ditadura militar sempre buscou o controle total do poder, e ser um sistema


opressor não era um problema, assim a política cultural não seria diferente, pois
sempre buscou pelo controle do “mundo da cultura”, desta forma a ditadura procurou
através de suas políticas sociais, o controle, especialmente na área educacional e
comunicação social. Mas com a resistência democrática e o movimento popular, não
foi provocado o desaparecimento que o regime ditatorial queria, mesmo sendo um
sistema autoritário, a democracia junto com a população não deixaram a raiz ser
cortada, pois acreditar e lutar pelos seus ideais são indispensáveis para um futuro
de direitos.

Neste ponto de vista garante a importância da/do assistente social na luta de


classe para fortalecer o progresso da profissão. No sentido da historicidade da
profissão, temos que ressaltar melhor sobre o movimento de reconceituação16, onde
se constrói documentos importantes, sendo resultados das lutas que trouxe a
redemocratização17 para o Serviço Social. Após este grande avanço para construção
histórica da profissão, onde se originou as bases reais do Serviço Social e rompendo
com as perspectivas conservadoras da gênese da profissão.

2.2.1. A trajetória conservadora do serviço social

De acordo com Martinelli (2011), para que se entenda a trajetória


conservadora que o Serviço Social passou tem que se descobrir os pontos de
ligações que o Serviço Social tem com o sistema capitalista. Conforme Marx o
capital é a relação social, e o capitalismo é o modo de produção, sistema que é
marcado e marca por seu controle e a dominação que tem sobre o processo de
produção. Em relação ao modo de produção capitalista, Marx compreende que está

16
Movimento de Reconceituação para o Serviço Social foi o marco para a profissão, vem propondo a
ruptura das práticas tradicionais, assim surgindo o perfil do profissional mais crítico, e com a
capacidade de atuação nos desafios pertinentes da profissão.
17
Redemocratização é processo de restauração da democracia e do Estado, sendo países, regiões
que passaram pela época do autoritarismo ou pela ditadura militar.
29

ligado a forma única e típica de relações sociais 18 entre os homens e a força


produtiva.

Diante disso é necessário compreender o capitalismo como uma categoria


histórica, pois de fato envolve além da configuração histórica, o social e a economia,
sistema que associa suas ideias de acordo com a fase histórica que a sociedade
está vivendo, assim podendo se desenvolver. A gênese do capitalismo foi na
Europa, começando por Inglaterra na segunda metade do século XVI e daí começou
se completar em fases da história, criando possibilidades para seu movimento e
desenvolvimento contínuo.

Era preciso, portanto, promover uma rápida transição da mão-de-


obra para um sistema assalariado. O capital, como a relação social
de produção, tem como característica a sua condição de expandir
valor. Constituindo fundamentalmente valor em movimento, tem um
ciclo de vida que se desenrola de modo contínuo e repetido, através
de operações de troca, produção e realização. (MARTINELLI, 2011,
p. 38 e 39).

Nessa fase industrial o capitalista e o trabalhador se produzem na mesma


situação, mas mostrando a verdadeira face da separação das classes sociais.
Atingia na época o grande progresso do capitalismo, uma evolução no sistema
mundial que acarretou o avanço da economia. Assim a sociedade ganhava uma
nova ordem social19, mostrando cada vez mais a divisão de duas classes, que por
causa da contradição e antagonismo20 que o sistema capitalista trazia, se
transformando em uma classe burguesa (os privilegiados) e a outra que trabalhava e
não tinha obtenção do que produzia a classe dos trabalhadores (os menos
favorecidos). O segredo que mantinha o crescimento do progresso do sistema
capitalista na Europa Ocidental nos séculos de 1850 a 1875, era a exploração cruel
que causava nos trabalhadores, o que consequentemente crescia também a
pobreza, causando a absoluta miséria.

Com isso começava a acontecer às manifestações de revoltas dos


trabalhadores, que sofriam fortemente com a evolução do capitalismo, era doloroso

18
Relações Sociais são relações entre dois ou mais pessoas que venham viver em sociedade
havendo transformações e mudanças e servindo para meios de estudos.
19
Ordem Social são as normas que tem como objetivo manter a sociedade organizada politicamente.
20
Antagonismo é a ação que se desenvolve de modo oposto de uma tendência para se comportar de
maneira contraria.
30

e triste, o caos que acontecia com a classe trabalhadora que estava em constante
luta pela sobrevivência, no mundo avançado de desigualdade social.

Assim, as manifestações de revolta dos trabalhadores eram


impulsionadas pelo incremento da violência e da exploração que os
capitalistas contra eles cometiam, transformando a sua existência em
uma luta continua e desigual pela sobrevivência. (MARTINELLI,
2011, p. 44).

Infelizmente os operários ainda não tinham consciência de classe e isso


impedia de notar que eram os patrões que lhe prejudicavam e exploraram sua mão
de obra, então em forma de manifestação eles se revoltam com as máquinas da
indústria aonde trabalhava, criando uma ideia de que com isso acabaria com o que
estava fazendo os trabalhadores sofrerem. Desta forma, causaram prejuízos aos
exploradores, que em resposta a essa manifestação derramaram sangue da classe
trabalhadora. Com esse resultado, os trabalhadores começaram a refletir.

O rigor da repressão e a perda de vidas operárias levaram-nos a


refletir sobre os objetivos de suas manifestações e sobre estratégias
em uso, as quais, marcadas pelo espontaneísmo e pela falta de
princípios organizativos, estavam dirigindo munição para o alvo
errado. (MARTINELLI, 2011, p. 45).

E foi aos poucos que os trabalhadores perceberam que seus exploradores


eram os donos dos meios de produção e não as máquinas, e aí se deu o iniciou a
consciência de classe, que gerou a consequência dos trabalhadores buscar
organização para suas manifestações. A consciência de classe estava ficando forte
e estava caminhando para um processo de construção da identidade de classe
trabalhadora com os mesmos interesses, se apoiando e se unindo. De início foi
conquistado que o parlamento aprovasse uma lei que através da qual ficavam
anulados todos os textos legais que impedia a associação dos trabalhadores para a
classe trabalhadora.

Esse período que se vivia era marcado por verdadeira escassez e pelo
Movimento Cartista21 que lutava constantemente pela aprovação da carta do povo.
Nesse tempo a classe trabalhadora estava numerosa o bastante para dar
preocupação para classe burguesa que estava com verdadeiro medo das
manifestações, mostrando que a partir do momento que começou a consciência de

21
Movimento Cartista foi um movimento operário inglês onde militantes queriam que a classe operaria
viesse participar na ordem política do país.
31

classe se criou a identidade da classe trabalhadora, começando a fluir, gerando


belos resultados.

O impulso trazido pelo Cartismo, como ficou conhecido nesse


movimento que lutava pela aprovação da Carta do Povo, foi muito
significativo, impondo um novo ritmo para as manifestações dos
trabalhadores, sobretudo a partir de 1839, período marcado por crise
comercial e desemprego. (MARTINELLI, 2011, p. 48).

As lutas não paravam por aí, aconteceu que podemos dizer uma das
melhores lutas da classe trabalhadora, onde se foi chamado por Marx pela primeira
guerra da história entre proletariado x burguesia.

Em 23 de junho de 1848, a classe trabalhadora saiu impulsivamente


às ruas em um movimento como jamais se vira e que nas palavras
de Marx (1987:25) “foi a primeira grande guerra civil da história entre
o proletariado e a burguesia”. (MARTINELLI, 2011, p. 50).

O capitalismo com seu modo de produção cheia de contradições, na sua fase


industrial deixa nítido que trazem uma divisão entre classe, que transformou as
relações entre os homens. E, é nesta fase que o capitalismo mostra sua verdadeira
face de forma acelerada que penetra tanto o contexto social que gera um resultado
de um verdadeiro caos. Marx e Engels nos deixou como um legado, que nos leva a
compreensão da história através das lutas de classe, pois se entende que a história
é uma luta de classe.

Marx e Engels (1981: 30), que nunca fizeram da periodização do


capitalismo uma questão central de sua obra e que estudaram no
contexto mais amplo da teoria da história, deixaram um legado da
maior importância no programa da Liga dos Comunistas, situando a
luta de classes como a principal chave heurística para compreensão
da história, como principal instrumento de sua transformação: “A
história de toda sociedade humana até nossos dias é uma história de
luta de classes”. (MARTINELLI, 2011, p. 54).

A classe trabalhadora era um objeto de uso do capital, pois sem esse objeto
não existia o capitalismo, assim os capitalistas tratavam a classe trabalhadora como
objeto, e não mediam o que podia resultar de negativo para os trabalhadores, então
se criavam formas cruéis e abusivas de exploração para se ter o objetivo maior que
era a riqueza.

A burguesia chegou a vencer algumas lutas, fazendo que avançasse a


consolidação do seu poder, mesmo com tudo isso, os trabalhadores não se
32

deixavam abalar, assim cada vez mais ganhava uma marca de luta coletiva, pois
havia muito crescimento dos movimentos dos trabalhadores, além de tudo mostrava
a força, e notava-se que não iriam desistir, e foi assim que se fez no movimento
luddita22, na expansão do cartismo e a greve geral de 1842.

De acordo com Martinelli (2011), foi surgindo às vitórias trabalhistas,


conquistando a diminuição das violências durante o cotidiano, consequentemente
dava para os trabalhadores recompor suas forças para novas lutas, vencendo a
regulamentação da jornada de trabalho infantil e a extensão da lei de dez horas para
todos, com essas vitórias na Europa, em outros países havia muitas vitórias também
da classe trabalhadora, conquistaram até que o Estado assumisse a educação
básica elementar, foi um grande avanço para época.

Com isso surgiam novas formas sociais com estratégias operacionais a favor
da classe burguesa. As estratégias que usavam faziam com que a classe
trabalhadora aceitasse, sem questionamento, toda exploração, pois mesmo sendo
miserável, era a única fonte de renda para que sobrevivessem nesse sistema
explorador, com isso fazendo que o objetivo dos donos de produção tivesse o
domínio de classe.

Segundo Martinelli (2011), quanto mais atingia a classe trabalhadora, mais se


criava a consciência de classe23, com a força dos sindicatos nacionais, os
trabalhadores não se sentiam mais ameaçados com as ações cruéis. Isso
preocupava a classe dominante, então chega ao um ponto que o trabalhador
começa se unir com outros trabalhadores e buscavam juntos romper com essa
alienação e tanta opressão, conseguindo romper com a alienação e a contradição
que o capitalismo trazia, a classe trabalhadora começava a ficar nas condições do
quanto é importante seu papel nesse sistema.

Começava uma transformação, a classe trabalhadora passou a ser um


movimento político. Com conhecimentos, o nível se tornava maior e em 1848
avançava-se na organização do movimento, e isso, é claro causava uma grande dor
de cabeça para burguesia, então em 1860 começou um período bem delicado para

22
Movimento Luddita foi um movimento de trabalhadores ingleses que se reuniram para lutar contra a
mercantização do trabalho na época da revolução industrial.
23
Consciência de classe segundo Marx e Engels é a percepção do próprio papel no sistema
produtivo, seja como produtor de riqueza, seja como proprietário dos meios de gerar riqueza.
33

o capitalismo europeu, e em 1873 o mercado de investimento no exterior se


transformou numa depressão, a Grande Depressão 24 na Inglaterra.

A Grande Depressão, que se estendeu até meados de 1890,


interrompia por algumas reações, encontrava os trabalhadores mais
unidos e organizados, com uma prática de classe mais consistente e
com estratégias mais ágeis. (MARTINELLI, 2011, p. 75).

A classe trabalhadora estava forte e unida conforme Martinelli afirma, mas


não era só por conta dela que o capitalismo estava entrando em colapso, atingiu um
limite onde mostrava uma das suas faces, a fase em que a Depressão dominou esse
sistema. Mostrava-se ali as expressões da questão social, a escassez dos mínimos
necessários para viver, a pobreza grande e a miséria que estava generalizada. Mas
os pensamentos capitalistas permaneciam quanto mais trabalhadores, mais mão de
obra barata, acreditava-se que o progresso capitalista era inesgotável.

Segundo Marx, as condições de produção capitalista que movimenta a


burguesia são de caráter duplicado, pois nas mesmas situações que o sistema
capitalista mostra riqueza que produz, vai mostrar na mesma intensidade a miséria
produzida.

Porém, suas crises cíclicas e a própria história se encarregaram de


mostrar que “as condições de produção em que se move a burguesia
não tem caráter unitário, simples, mas dúplice; que, nas mesmas
condições em que se produz a riqueza, produz-se também a miséria;
que, nas mesmas condições em que se processa o desenvolvimento
das forças produtivas, desenvolve-se também uma força repressiva;
que essas condições só geram a riqueza burguesa, isto é, a riqueza
dos membros que integram essa classe e com a formação de um
proletariado cada vez maior”. (Marx, 1976: 98).

Acontecia uma depravação nas vidas dos trabalhadores e ninguém se


importava, o que verdadeiramente importava, era obtenção do lucro, mesmo que ele
fosse feito de sangue da classe trabalhadora, não se importava, a riqueza era a
preocupação, deste modo era naturalizado toda violência. Justificam que era triste o
pauperismo, mas necessário, pois só assim para fazer o capital desenvolver e
continuar crescendo, permanecendo com o intuito de manter a classe trabalhadora
sob o controle.

24
Grande Depressão conhecida como a crise do ano de 1929, foi uma grande crise economia, e
sendo considerada uma recessão econômica no sistema capitalista.
34

Thomas Chalmers25 pastor e o Malthus26 discípulo teve bastante conceito na


história do Serviço Social, pela influência na organização da Assistência Social,
especialmente na Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos, propondo uma espécie de
fundos invisíveis de caridade, onde os pobres seriam beneficiados através desses
fundos com auxílio. A igreja tinha consciência de toda contradição capitalista, e
mesmo assim fazia parte, está aí mais uma para coleção das contradições.

O pastor Thomás Chalmers, discípulo de Malthus e seguidor de sua


doutrina, membro da burguesia inglesa, é referido tradicionalmente
na literatura histórica do Serviço Social como uma figura de grande
destaque. Teve importância influência na organização da assistência
social [...]. (MARTINELLI, 2011, p. 81).

Produziram uma lei natural do capitalismo, a Lei dos Pobres 27, uma lei que faz
acreditar que os pobres são descuidados e por isso causa uma necessidade de
pessoas trabalhar como servos. Com a racionalização da prática social, os donos do
capital via a prática social como uma forma de controlar o que o capitalismo
causava, como a pobreza e conseguindo ter a classe trabalhadora submissa a
classe dominante (burguesa).

A Organização da Caridade da época seguia ordens maiores onde não


estavam para representava os operários, acabando assim não correspondendo com
o que a classe trabalhadora reivindicava com isso a pobreza tinha o aspecto como
problema de caráter e a assistência como correção e controle. Devido toda essa
situação os trabalhadores preferiam se unir a aceitar a usar o sistema de assistência
pública, algo que mostra sua identidade de classe.

Apoiados em uma legislação das mais brutais de que se tem notícia,


os modelos visualizavam a assistência como forma de controlar a
pobreza e ratificar a sujeição e a submissão dos trabalhadores.
Apoiavam-se essencialmente em três grandes estratégias: a
intimidação, a repressão e a punição. (MARTINELLI, 2011, p. 84).

Com o pauperismo crescendo sem controle, na Europa durante o século XIX,


que não se podia mais delimitar as iniciativas da assistência na mão da igreja que

25
Thomás Chalmers conhecido como ministro escocês e professor de teologia, economista político e
um líder da Igreja da Escócia quanto da Igreja Livre da Escócia.
26
Malthus considerado o pai da demografia por sua teoria em controle da população, e um grande
economista britânico.
27
Lei dos Pobres foi criado para amenizar a escassez que a classe trabalhadora estava sofrendo na
época, por conta da exploração da mão de obra barata.
35

estava no controle da classe trabalhadora, o Estado tinha que agir e incorporar a


assistência, desta maneira o Serviço Social era constituído como controle social.

Segundo Martinelli (2011), a classe dominante além da aliança com a igreja,


se alia o Estado, assim assumindo a direção da prática social, fazendo com que as
Sociedades de Organização da Caridade e seus agentes sociais virassem os
protetores da questão social. Com isso a classe dominante tinha o controle da
distância entre os agentes sociais e a classe trabalhadora, para que os agentes
atendessem ao interesse somente da classe dominante, fazendo um trabalho
imediato.

Nesse período os agentes sociais não tinham uma identidade de como é o


papel da/do assistente social, pois acatavam aos interesses da classe dominante,
ficando submissos e não conseguindo ter habilidade para uma reflexão crítica,
portanto sua identidade atribuída era sob os pensamentos da classe dominante, por
fim os agentes também eram alienados, desenvolvendo um papel totalmente
conservador.

A ausência de movimento de construção de identidade fragilizará a


consciência social dos agentes, impedindo-nos de assumir
coletivamente o sentido histórico da profissão. Suas práticas
sucumbiam aos ardis do capitalismo. Ao invés de caminhar em
direção ao fluxo histórico, dele se distanciavam, enfatizando-se cada
vez mais seu caráter alienante, de uma prática genérica, ritualística,
instituída, reprodutora dos mecanismos de alienação que são
próprios da sociedade capitalista. (MARTINELLI, 2011, p. 90).

No século XX, o Serviço Social estava presente na maioria dos países, e a


identidade da profissão continuava sob a classe dominante, gerando uma identidade
cheia de contradições e antagonismos, como o seu criador. A posição que os
agentes sociais se encontravam não agradava a classe trabalhadora, que não se
reconheciam neles, pois a alienação que sofriam, os impediam de enxergar a
verdadeira identidade da profissão o olhar da história, a luta de classe, para quem
realmente deveriam se atribuir, nesse sentido histórico que traçava o Serviço Social,
o que os agentes faziam não podia se chamar de prática social, pois não era
concreto.

Conforme Martinelli (2011), a sociedade capitalista se encontrava no abismo,


um quadro social alarmante, pois estava só crescendo as expressões da questão
36

social, como o desemprego e o pauperismo, e com a I Grande Guerra só fez se


agravar tudo isso. É assim vivia-se uma crise econômica maior que a Grande
Depressão, causando uma pressão nos trabalhadores, para impedir sua luta, houve
controle dos movimentos dos trabalhadores, mas isso fazia só crescer a consciência
da classe trabalhadora, conhecendo a força que eles tinham enquanto classe.

Além da caridade a assistência ampliava sua base na justiça social e na


dimensão espiritual na nova fase que vivera o Serviço Social, sob grande influência
do organizador da doutrina cristã, o Santo Tomás de Aquino 28, que pregava que a
caridade como um dos pilares da fé, e justiça social deveria ser feita aos mais
humildes. “O grande organizador da doutrina cristã foi, porém, Santo Tomás de
Aquino (1224-1274), situando a caridade como um dos pilares da fé, imperativo de
justiça social aos humildes.” (MARTINELLI, 2011, p. 97).

A assistência era vista como caridade aos pobres, mais também tinha o maior
objetivo que era a servidão e a submissão sob a classe dominante e os princípios da
Igreja Católica, que com isso distanciava-se dos pobres e se aliava a burguesia. A
Igreja Católica chegou a entrar em disputa de poder de terras e propriedade.

Martinelli (2011), relata que a desigualdade social presente reapresentava a


mais cruel falta de dignidade humana, era claro que o modo de vida que a classe
trabalhadora era obrigada a levar, estava afetando todas as áreas de sua vida,
causando doenças psicológicas e físicas. Os agentes sociais usavam como
instrumento essencial no seu trabalho a visita domiciliar, pois era um instrumento
que dava duplo sentido, usado claro como uma forma fiscalizadora, usando sempre
modo capitalista de pensar.

Foram criadas escolas de profissionalização para o Serviço Social, no objetivo


de qualificar os agentes sociais para exercício profissional. Mary Richmond 29, que
fazia parte da Sociedade de Organização da Caridade30 de Baltimore, foi a grande

28
Santo Tomás de Aquino foi um grande teólogo importante e sendo considerado o pai do tomismo,
tinha como pensamento ocidental a filosofia moderna concedia pelo desenvolvimento das suas ideias
como na ética, lei natural, metafísica e na teoria política.
29
Mary Richmond no ano de 1889, foi uma das pioneiras no Serviço Social americano, criando
técnicas, sistemas e teorias de Serviço Social, assim transformando o trabalho do assistente social,
formal.
30
Sociedade de Organização da Caridade foi formada pela burguesia, Igreja e Estado, em 1869, para
reformar e regulamentar a prática da assistência social.
37

responsável por tornar o Serviço Social como trabalho formal, explicando que só
com ensino especializado pode obter a qualificação para realizá-lo.

Partilhando plenamente da tese que postulava a criação de escolas


de Serviço Social como forma de qualificar os agentes para o
exercício profissional, Mary Richmond, da Sociedade de Organização
da Caridade de Baltimore, exerceu importante papel no sentido de
torná-la realidade. Além de difundi-la, durante a realização da
Conferência Nacional de Caridade e Correção, em 1897, em Toronto,
propôs que se criasse uma escola para o ensino de Filantropia
Aplicada. Visualizando o inquérito como um instrumento de
fundamental importância para a realização do diagnóstico social e,
posteriormente, do tratamento, acreditava Richmond que só através
do ensino especializado poder-se-ia obter a necessária qualificação
para realizá-lo. (MARTINELLI, 2011, p. 106).

Richmond é presente na profissão, pois organizava os primeiros cursos de


Filantropia Aplicada, realizando percepções de que a pobreza estava ligada ao
caráter, escolhendo como tarefa dos agentes de reformular o caráter da classe
trabalhadora. Mas a questão social se encontrava em tanta movimentação, em um
mundo que estava se preparando para as grandes guerras mundiais que marcou o
século XX.

Nessa nova fase o Serviço Social desempenhava sua ação ao domínio de


conhecimentos e procedimentos técnicos especializados, passando assim uma
prática não somente da caridade, influência pela religiosidade, pois agora estava
tomando objetivos mais amplos e se apoiava em bases consistentes, se
distanciando das práticas feudais 31 e pré-capitalista, apresentava uma nova
abordagem sobre a questão social, dando a prática da assistência social como um
trabalho social, pois era a prática criada para atender a classe trabalhadora, ou seja,
os agentes sociais eram trabalhadores, e o trabalho social com as visitações
domiciliares, o Serviço Social exercesse suas atividades nas instituições públicas
americanas.

O Serviço Social naquele momento era para as áreas de higiene, educação e


saúde com isso surgiu um trabalho social nas escolas, para lidar com crianças que
tinham problemas de aprendizagem. Desta forma muitos outros profissionais se
envolveram nas divulgações da prática social, influenciando com o segmento das

31
Feudais durante o período do feudalismo que é uma organização socioeconômica vivenciada na
Europa Ocidental durante séculos V e XV, sendo baseada nas terras feudais, que foram inseridas em
um sistema de monarquia e poder.
38

Igrejas Evangélicas e das associações civis voluntárias, várias mulheres para seguir
a profissão, que assim caracterizou o Serviço Social como uma profissão de
mulheres.

Conforme Martinelli (2011), estava ali o Serviço Social avançando, tendo a


necessidade de buscar teorias, conhecimentos e conceitos que permeiam o contexto
social, assim buscando reforço nas ciências sociais, foi para sociologia, economia e
por fim para a pesquisa social, o pensamento da sociologia nesta época era cheios
de conservadorismo.

Eram influenciadores da sociologia, Auguste Comte 32 o primeiro pai da teoria


positivista, essa ciência considerava que a sociedade representava exemplo dos
fenômenos físicos, passível de controle diante das leis sociais que discorria para má
estabilização, já o economista Fréderic Le Play33, tinha como presunção que base
da sociedade era sob organização da religião e da família, propriedade, e Émilie
Durkheim34 é considerado pai da sociologia, suas teorias são: implicações morais
nos problemas sociais justificando a ação de controle social do Estado.

Esse contexto conservador que ainda permeava a profissão se tornava


dominante, por ainda essas teóricas serem conservadoras. A burguesia é clara
seguia no objetivo de bloquear o desenvolvimento da consciência da classe
trabalhadora. Os/As assistentes sociais ainda tinham uma prática que se referia a
expressão do poder da classe dominante, pois a identidade da profissão ainda era
atribuída pela burguesia, desta forma o Serviço Social fica a marcado para a
população de uma assistência de controle, submissão e repressão.

Nas décadas de 20, o Serviço Social se expandiu em 1925 na I Conferência


Internacional de Serviço Social e a União Católica Internacional de Serviço Social–
UCISS que influenciou o Serviço Social europeu e latino-americano. E na década de
30 a União Católica Internacional de Serviço Social, formulou uma concepção de
ensino que fundamentava quatro grandes áreas, a científica, técnica, moral e
doutrinária.

32
Auguste Comte foi um filosofo francês que formulou a doutrina positivista e também fundador da
disciplina em sociologia.
33
Fréderic Le Play foi um engenheiro de minas, professor de metalurgia francês, que se tornou mais
tarde investigador independente, sendo contribuído para o desenvolvimento empírico de uma
sociologia na formação.
34
Èmilie Durkheim sociólogo, antropólogo, cientista político, psicólogo social e filósofo francês.
39

O Serviço Social nasce no Brasil na década de 30, sob influências da Igreja


Católica, com característica profundamente conservadora, culpabilizando a classe
trabalhadora por estar passando por escassez aos meios de sobrevivência e
vivendo em pobreza crescente, mostrando para a sociedade que a/o assistente
social é um instrumento de ajuda para os menos favorecidos. “O surgimento do
Serviço Social no Brasil remonta aos primeiros anos da década de 30, como fruto da
iniciativa particular de vários setores da burguesia, fortemente respaldados pela
Igreja Católica, e tendo como referencial o Serviço Social europeu.” (MARTINELLI,
2011, p. 122).

Com a união da Igreja e Estado, estavam a preparar uma força disciplinadora


para interromper o movimento dos trabalhadores, mas os movimentos respondiam
com sabedora e consciência, eles já estavam em uma consciência de classe
irreversível. No Estado de São Paulo foi criado o movimento constitucionalista de
1932, o Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo (CEAS), esse centro foi
iniciativa de Santo Agostinho, que tinha como objetivo o papel de qualificar os
agentes sociais para realização da sua prática.

Em São Paulo, numa conjugação de esforços da nascente burguesia


e de setores da própria Igreja Católica havia criado, na esteira do
movimento constitucionalista de 1932, o Centro de Estudos e Ação
Social de São Paulo – CEAS, que desempenhou um importante
papel no sentido de qualificar os agentes para realização da prática
social. (MARTINELLI, 2011, p. 123).

O Curso Intensivo de Formação Social para Moças foi destinado para


mulheres e quem ministrou este curso foi a assistente social Belga Adèle de
Lounex35, este curso foi um momento importante para as paulistanas que podiam
marcar sua presença no processo político através do curso.

A identidade atribuída ao Serviço Social brasileiro era conservadora, pois se


baseava nas relações sociais da produção capitalista, e é claro com fortes
influências conservadoras que culpabiliza o pobre pela pobreza, não seria diferente
de outros países. Com isso surgiram estratégias disciplinadoras e repressoras para
classe trabalhadora, e assim que o Serviço Social iniciou sua trajetória no Brasil.

35
Belga Adéle de Lounex ministra e criadora das escolas é que passa a haver uma formação
sistemática e o delineamento do novo profissional.
40

Diante da ditadura varguista36, a identidade do Serviço Social era a mesma,


pois possuía a forma controladora e a favor da exploração. Os agentes sociais
sempre preparados para dar respostas imediatistas de acordo o que era atribuído
nas questões que permeava com a classe trabalhadora, marcando a profissão como
alienada e alienante, reproduzindo na forma política, social e econômica.

Segundo Martinelli (2011), com toda essa trajetória o Serviço Social avançou
no processo institucionalização, a política legalista do Estado Novo ofereceu ao
Serviço Social a inserção na divisão social do trabalho, como atividade legalmente
reconhecida. Como o Serviço Social estava atribuído a uma identidade
conservadora, e seus profissionais não enxergavam as contradições que as
envolvia, o erro que persistiam, então não tinham olhos para verdadeira identidade
do Serviço Social, para superar todo esse conservadorismo da gênese da profissão.
Os agentes atendiam às demandas da classe burguesa, não a que era apresentada
pela classe trabalhadora.

Conforme Martinelli (2011), a profissão tinha escassez em projeto profissional,


consciência da sua verdadeira identidade. Mas a partir de 1940, o Serviço Social se
colocava em uma nova realidade, pois a classe social precisará agora de agentes
sociais qualificados para colocar em marchas suas ações programáticas. Nessa
mesma etapa os movimentos católicos leigos estavam vivendo uma fase de
adaptação pela Constituição do Estado Novo37.

Neste sentido os agentes sociais que estavam na busca de qualificação


profissional, atingiam a fragilidade da consciência social, que se produziu na
categoria um movimento de estratificação social, que fez a identidade atribuída ficar
mais fraca. Entretanto, por ter seu fundamento no modo de pensar capitalista, que
só interessava a burguesia, o Serviço Social ficava estacionado por não ter bases
para uma reflexão e visão crítica, então atingia o fenômeno da consciência

36
Ditadura Varguista foi a época que Era Vargas governou o Brasil por 15 anos, compreendendo o
Estado Novo, estabelecida com a sociedade no controle e vigilância.
37
Constituição do Estado Novo é a Constituição Brasileira de 1937, outorgada pelo presidente Getúlio
Vargas em 10 de novembro do ano 1937.
41

estatuária38. E as classes dominadas se fortaleciam com muita união e árduo para


as lutas em buscas de seus direitos.

É nesse processo histórico social que se buscava uma práxis 39 revolucionária


com humanidade crítica. Foi nas circunstâncias históricas que os agentes sociais
evidenciaram que sua prática imediatista não era legítima do Serviço Social. Criando
uma visão crítica do real, através das lutas da classe trabalhadora viveu é
continuava vivendo, buscando apropriação do que é real, e assim criando
consciência política, social e crítica. Possibilitando os agentes sociais aprender a
verdadeira identidade da profissão e o modo capitalista de pensar que não estava
ligado ao que eles realmente deveriam fazer (MARTINELLI, 2011).

Desta maneira os donos do capital vendo ameaças ao seu poder hegemônico


aos vários setores da burguesia se uniram aos militares para recuperar seu domínio
de classe, ocasionando o golpe de Estado de 31 de marcos de 1964, no qual se
implantou uma nova ditadura no país de forma mais cruel e violenta, aos avanços da
classe trabalhadora.

Os agentes tinham dado um passo à frente por ter concebido a identidade do


Serviço Social, mas na atual conjuntura os encontrou e paralisou todo esse processo
histórico que os fez se afastar mais das lutas de classes, recuando. Neste período, a
profissão estava imersa numa perspectiva confessional, aliada a doutrina católica e
associada aos interesses da autocracia burguesa 40 (NETTO, 2015).

Mas os agentes sociais críticos se reuniram e tudo isso que acontecia,


acelerava a batalha na trajetória crítica da profissão, a necessidade de lutar por
outra realidade da profissão. Assim foi criado o Movimento de Reconceituação, uma
causa revolucionária, a análise do Serviço Social, crítica dos seus fundamentos
teóricos, abrindo espaço para debate e reflexão (MARTINELLI, 2011).

38
Consciência estatuária sendo que suas funções estão regulamentadas por um estatuto próprio,
assim sendo consolidada pelas Leis do trabalho.
39
Práxis vem do grego onde significa ação, sendo compreendida através da relação dialética entre a
teoria e prática.
40
Autocracia burguesa é a ditadura militar sendo um termo criado por um sociólogo chamado
Florestan Fernandes para explicar e criticar a estrutura social brasileira.
42

2.2.2. O movimento de reconceituação

O processo histórico da reconceituação do Serviço Social destaca e o período


de repressão na época da ditadura militar que teve o início em 1964 e durou até o
ano de 1985 sob o comando de sucessivos governantes militares 41. É a partir desse
período que podemos ressaltar que no ano de 1967, onde o Serviço Social se
destaca como profissão e pelo encontro de profissionais do Serviço Social na cidade
de Araxá, no Estado de Minas Gerais.

Ao longo desse período surgem profissionais questionadores que se constrói


através da renovação do Serviço Social, apropriado em executar os desafios que a
profissão trazia acerca de sua trajetória nos anos de 1930 a 1940. Sendo assim a/o
assistente social surge para pôr em prática o seu trabalho e fortalecer sua categoria
com seus procedimentos metodológicos, ideológicos e teóricos.

Tudo indica que componente atendia a duas necessidades distintas:


a de preservar os traços mais subalternos do exercício profissional,
de forma a continuar contando com um firme estrato de executores
de políticas sociais localizadas bastante dócil e, ao mesmo tempo, de
contrarrestar projeções profissionais potencialmente conflituosas com
os meios e os objetivos que estavam alocados ás estruturas
organizacional-institucionais em que se inseriam tradicionalmente os
assistentes sociais. (NETTO, 2015, p.156).

O Serviço Social renasce no movimento de Reconceituação durante o período


da ditadura militar, no poder da burguesia no Brasil, e aqui se torna o marco
importante para a história do processo da profissão vinculado fortemente pela Igreja
Católica que atribuiu o Serviço Social como forma de caridade novamente. Dessa
forma, os assistentes sociais começaram a questionar que o Serviço Social
precisava de uma renovação, sendo que através das lutas da classe trabalhadora
que perceberam que precisava dessa mudança, devido a ditadura militar vim com
seus métodos repressor e tornando o Serviço Social novamente tradicional.

O Brasil na década de 60 passa por uma transformação nas políticas sociais


e econômicas, no início da ditadura militar. Assim com tantas mudanças o Serviço
Social se destaca para as novas renovações da reprodução da categoria
profissional. Deste modo a renovação do Serviço Social se relaciona com a ditadura

41
Governantes Militares vêm estabelecer a política brasileira, em uma ocasião que o país estava
mergulhando em uma das suas piores crises política.
43

militar, sendo que a renovação da categoria da profissão se remete a junção entre a


ditadura e o Serviço Social em um momento histórico da luta por uma profissão com
uma visão totalmente diferente do tradicionalismo.

A ditadura militar vai modificar a questão do trabalho, já a renovação do


Serviço Social vem para mudar a visão do profissional mediante a sua forma de
trabalho, se desvinculando da igreja católica que direcionava o Serviço Social como
forma de caridade. Nesse contexto com os crescimentos dos lucros no capital por
consequência acabam agravando a questão social devido a relação do capital e
trabalho, assim o Estado teria que se reatar a sociedade com ordem social e o
crescimento econômico.

Contudo a ditadura militar colocando o Serviço Social com as práticas


conservadoras, voltando ao tradicional, mas com aspectos modernos, e o sistema
capitalista girando, a escassez ficava mais presente na vida da classe trabalhadora,
é então que o governo ditador percebeu que precisava controlar as expressões da
questão social, desse modo o Serviço Social era renovado como profissão para que
os assistentes sociais teriam como renovação da profissão o controle social e
organização de novas políticas públicas na racionalidade burocrático-administrativo
para assim atender a carência da ditadura militar.

A racionalidade burocrático-administrativa com que a “modernização


conservadora” rebateu nos espaços institucionais do exercício
profissional passou a requisitar do assistente social uma postura ela
mesma “moderna”, no sentido da compatibilização do seu
desempenho com as normas, fluxos, rotinas e finalidades
determinantes daquela racionalidade. (NETTO, 2015, p.162).

A renovação do Serviço Social é caracterizada pela laicização 42, é com os


rompimentos dos princípios reproduzidos pela Igreja Católica, onde se inicia as
novas formas do exercício e a diferenciação da categoria profissional em todos os
seus níveis e decorrente da disputa do processo profissional.

De acordo com Netto (2015, p.172), o processo de renovação do Serviço


Social é:

Entendemos por renovação o conjunto de características novas que,


no marco das contrições da autocracia burguesa, o Serviço Social

42
Laicização é um dos elementos caracterizadores da renovação do Serviço Social sob a autocracia
burguesa.
44

articulou, a base do rearranjo de suas tradições e da assunção do


contributo de tendências do pensamento social contemporâneo,
procurando investir-se como instituição de natureza profissional
dotada de legitimação prática, através de respostas a demandas
sociais e da sua sistematização, e de validação teórica, mediante a
remissão ás teorias e disciplinas.

Neste contexto da laicização ocorre uma construção de um pluralismo


profissional, o Serviço Social passa a ter teoria na prática do trabalho, o novo
processo do movimento de reconceituação tem duas partes inicialmente, pois os
profissionais estavam dispostos a lutar para ter realmente um início para uma
renovação, assim a primeira parte foi o renascimento do conservadorismo e a
segunda, as mudanças da autocrítica no Serviço Social, trazendo novos conceitos
para o trabalho social.

Todavia os resultados dessas ações são refletidos pela finalidade de cada


assistente social, pois uma parte deve criticar as práticas e representações
tradicionais, e a outra desaprovar as novas exigências que dificultam o crescimento
da comunidade.

A resultante desses componentes rebate no âmbito profissional do


Serviço Social: de uma parte, vai criticando práticas e
representações “tradicionais”; de outra, introduz diferenciações
mesmo no interior das práticas e representações que reclamavam
conectadas às novas exigências – precisamente aquelas que se
prendiam ao Desenvolvimento de Comunidade. (NETTO, 2015,
p.183).

Em 1965 na América Latina, o Serviço Social “tradicional” passou por esse


processo de modificação na qual vem para o interesse da profissão onde acabam
chamando de movimento de reconceitualização ou reconceituação do Serviço
Social, sendo que em 1960, a reconceitualização está ligada ao circuito
sociopolítico43 latino-americano, com uma forte ligação a funcionalidade profissional
na superação do subdesenvolvimento.

A reconceitualização é, sem dúvida, parte integrante do processo


internacional de erosão do Serviço Social “tradicional” e, portanto,
nesta medida, partilha de suas causalidades e características. Como
tal, ela não pode ser pensada sem a referência ao quadro global
(econômico-social, político, cultural e estritamente profissional) em
que aquele se desenvolve. (NETTO, 2015, p.190).

43
Sócio-Político é que possui tantos aspectos sociais quanto políticos, análise sócio política de uma
sociedade.
45

O movimento de reconceituação do Serviço Social na América Latina


compreende-se pela ação da expressão de ruptura por meio do Serviço Social
tradicional e conservador, trazendo novas teorias e práticas para a o
reconhecimento da profissão, e ações sociais demandadas para a classe
trabalhadora praticando políticas públicas e intervenções.

A perspectiva modernizadora no seu primeiro momento do processo de


renovação do Serviço Social no Brasil se desenvolve no ano de 1965, Porto Alegre
em um Seminário de Teorização do Serviço Social, realizado pelo Centro Brasileiro
de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais (CBCISS) em Araxá, Minas
Gerais, é tinha como compreensão de se adaptar ao Serviço Social, e se adequando
as expressões do profissionalismo do Serviço Social entre a elaboração de dois
textos, o Documento de Araxá e o Documento de Teresópolis.

O Documento de Araxá traz o cenário da perspectiva modernizadora,


realizado pelo CBCISS, em 1967 na qual foi elaborado por 38 assistentes sociais,
providenciando a introdução do Serviço Social no processo de evolução, para expor
teorias do Serviço Social na existência da realidade brasileira, executando para o
desenvolvimento econômico, socioculturais e político, colocando a/o assistente
social tradicional ou moderno responsáveis pelas políticas sociais, analisando o
funcionalismo do profissional na conjuntura brasileira.

A subsunção modernizadora se efetiva, pois, deixando na sombra as


determinações teóricas macroscópicas, onde os confrontos de
esgotar a concepção teórica na operacionalidade técnica. Entretanto,
nem por este artifício se escamoteia a teoria: se ela vem revestida
pela tecnicalidade, não está evidentemente cancelada; bem ao
contrário: existe uma clara dominância teórica a enformar o
Documento de Araxá – é o referencial estrutural-funcionalista.
(NETTO, 2015, p.228).

O Documento de Teresópolis é marcado por diversas características na


perspectiva modernizadora, reunindo e dividido aos 33 assistentes sociais
envolvidas no encontro. Em 1970 os participantes do evento realizado pelo CBCISS,
onde centralizava a documentação do seminário sobre a necessidade de estudar a
Metodologia do Serviço Social com a situação da realidade brasileira.

No Documento de Teresópolis vem para trazer a característica do texto que


aumenta a perspectiva modernizadora na pauta interventiva da profissão, um debate
46

ao trabalho profissional tradicional, práticas de intervenções e novas exigências para


o processo de modernização conservadora, este texto tem transformismo e deixa a
instrumentação na prática desenvolvimentista na qualificação da/do assistente
social.

A perspectiva modernizadora de Sumaré e do Alto da Boa Vista está voltada


para a mudança da perspectiva da modernização, assim como os documentos de
Araxá e Teresópolis. O seminário de Sumaré realizou no ano de 1978 e tinha como
propósito a perspectiva da fenomenologia44 de um Serviço Social que propõe a
compreensão das perspectivas humana, trazendo novas metodologias para o
Serviço Social que vem abrir duas teorias para o conhecimento, que são a
fenomenologia e o marxismo45, qual se acaba rompendo do legado conservador,
capacitando a autonomia para a atuação do profissional.

A história do Serviço Social se dá na reatualização do conservadorismo,


expressando a base teórico-metodológica e de novas propostas, na perspectiva de
renovação do Serviço Social no Brasil e ruptura da conexão do pensamento
conservador e ligação de um pensamento crítico-dialético46 na base marxiana.

A teoria marxista se desenvolve com a crise da ditadura militar, onde o


Serviço Social se adapta das ideias marxistas, que também acreditavam na
mudança social, sendo que os assistentes sociais que fizeram leitura do método do
marxismo sendo uma transformação para a/o assistente social e a sociedade na
ideia de revolução da profissão.

O Serviço Social pela perspectiva modernizadora vem expressar as novas


condições de trabalho da categoria deixado pela modernização conservadora para a
atuação do profissional, assim redefinindo o perfil da/do assistente social que surge
com uma nova roupagem do conservadorismo do Serviço Social havendo uma nova
perspectiva é a exigência da profissão e valorização do profissional com elaboração

44
Fenomenologia é o processo que procurou tratar das elaborações teóricas que se originaram
durante o processo de Renovação do Serviço Social, suas teorias é o tratado dos fenômenos, e de
tudo que venha ser descrito dos fenômenos, podendo observar a partir da natureza.
45
Marxismo é um método de análise crítica socioeconômico nas relações dos conflitos das classes
sociais e no olhar do materialismo histórico dialético.
46
Crítico-dialético são as necessidades sociais em demandas profissionais com base na visão de um
conhecimento da realidade e de sua intervenção.
47

teórica, no sentindo de organizar novos conhecimentos para as práticas


profissionais.

Em 1970 onde a perspectiva renovadora começa a ser chamado de intenção


de ruptura, que correspondem as histórias dos profissionais na expressão das
mudanças nesse momento, na cidade do Rio de Janeiro no Centro de Estudos do
Sumaré e Alto da Boa Vista, sendo que ambos os seminários são realizados pela
CBCISS.

A Intenção de Ruptura surgiu nos anos 70 em uma organização universitária


brasileira, que traz para uma crítica ao tradicionalismo e os métodos teóricos,
metodológicos e a ideologia da profissão do Serviço Social, como também a
intenção do rompimento conservador, e as normas de intervenções sociais.

Um destaque para a Escola de Serviço Social da Universidade Católica de


Minas Gerais, ganhando repercussão da categoria profissional na representação do
desempenho do profissionalismo em um papel hegemônico em meados da década
de 1980. Assim sendo resultado no método de Belo Horizonte onde busca uma
forma de ruptura com os métodos positivistas47 orientado pelo Serviço Social
tradicional que sugere a intervenção profissional com bases em estudos para a
profissão.

Neste momento que significa o marco importante da pesquisa do profissional


em Serviço Social com a crítica do conhecimento, onde passa a lidar com o debate
brasileiro no contexto da tradição marxista, sendo que o movimento de
Reconceituação do Serviço Social apresenta avanços da profissão em meio a novos
tempos.

2.3. Serviço Social na contemporaneidade

Segundo Iamamoto (2012), em 1970 é construindo uma primeira aproximação


ao marxismo no movimento de reconceituação latino-americano que foi elemento
necessário para o debate do Serviço Social contemporâneo. As/Os assistentes
sociais no processo de transição democrática48 (1980) têm se um novo perfil

47
Positivistas vem postular a existência de uma marcha continua e progressiva em que a
humanidade venha progredir sendo um método da ação e comportamento e assim fazendo referência
ao positivismo.
48
Democrática é um regime do governo onde o povo participa das decisões políticas do país.
48

profissional acadêmico que passou a contar com tratamento teórico-metodológico e


prático-político, é com essa reflexão que se dá a uma parcela de produção
acadêmica profissional inspirada na tradição marxista, e desde desse momento é
contribuindo para uma feição crítica do Serviço Social.

Esse presente que vivemos é desafiador, e cabe as/os assistentes sociais


enfrentá-lo. Lamamoto, (2012, p. 14):

O momento que vivemos é um momento pleno de desafios. Mais do


que nunca é preciso ter coragem, é preciso ter esperanças para
enfrentar o presente. É preciso resistir e sonhar. É necessário
alimentar os sonhos e concretiza-los dia-a-dia no horizonte de novos
tempos mais humanos, mais justos, mais solidários.

O Serviço Social tem uma trajetória de luta através dos movimentos dos
trabalhadores, que resultou em conquista da legitimidade da profissão e a quebra do
conservadorismo. Um dos momentos mais importantes nesse processo é o
momento de ruptura, onde o Serviço Social foi alimentado pela dialética marxista.

O Serviço Social na contemporaneidade é resistência, com isso é preciso que


a/o assistente social tenha consciência do que representa, adquirindo a identidade
da profissão, fazer valer o que foi conquistado, em busca de uma sociedade
igualitária. Pois vivemos novos tempos, tempos que só nós da mais certeza que o
sistema capitalista não tem nada a ver com o que, o Serviço Social defende e
representa, pois, o capitalismo não tem nenhuma intenção com a questão da
igualdade, na verdade para ser mais claro é sobre equidade.

Segundo Lamamoto (2012), para que possamos pensar no Serviço Social na


contemporaneidade é necessário ter os olhos abertos ao mundo contemporâneo,
para que enfim possa decifra-lo e poder participar da recitação deste mundo. Para
que isso aconteça precisa-se olhar longe as relações que o Estado e os movimentos
sociais têm com a sociedade para esclarecer o caminho que se vem dando, para
aprender e captar as novas mediações, para que assim o Serviço Social caminhe
numa ótica de requalificar o fazer profissional, para assim identificar e descobrir
alternativas para ação.

No mundo contemporâneo exige assistentes sociais que consigam enfrentar


os desafios que atual conjuntura propõe desenvolvimento no seu presente trabalho a
capacidade de decifrar a realidade da sociedade e construir propostas criativas
49

capazes de efetivar os direitos sociais, ou seja, um profissional propositivo e não um


mero executor de políticas sociais, enfrentando o desafio, que é trabalhar na
mediação dos direitos que é garantido pela Constituição de 1988, mas também lida
com outra força do Estado que quer colocar tudo que está na carta magna, sem
valor algum na pratica (IAMAMOTO, 2012).

Além de trabalhar nessa mediação, o próprio mercado demanda que os


assistentes sociais trabalham na formulação e gestão das políticas públicas sociais,
pois o exercício profissional é a ação da/do assistente social que tem a competência
de propor para negociar com instituições os seus projetos sociais, para defender seu
campo de atuação, exigindo que a/o assistente social não se mantém em rotinas
que as instituições impõem, e sim buscar aprender e andar com o movimento da
realidade presente.

De acordo com Lamamoto (2012), a/o assistente social deve ser um leitor da
realidade para desvendar atual conjuntura política, visto que é indispensável ao
profissional do Serviço Social a habilidade de decifrar a realidade social, deste modo
as/os assistentes sociais devem se apropriar da realidade histórica presente e tirar
as possibilidades dentro da realidade que o atendido está inserido, mas a realidade
histórica não traz possibilidades, cabendo a/o assistente social como um ser
ontológico49 com suas competências, transformar em possibilidades o que estar
exposto nesta realidade e desenvolver em projetos para sua ação aonde está
atuando, mas os resultados não vão se realizar somente com a categoria do Serviço
Social, diante de que tem outras categorias envolvidas nesse meio, e por isso que o
resultado não vai depender somente da/do assistente social.

É no cotidiano que vai se movendo as ações profissionais que vai construindo


e reconstruindo como profissionais sociais. O Serviço Social é vinculado a história e
tem como seu objeto de trabalho a questão social que nasce com o desenvolvimento
capitalista, e por isso que a/o assistente social deve desenvolver a capacidade de
realizar leituras críticas e políticas, pois é a partir da realidade histórica que se dá as
demandas do seu objeto de trabalho, e com isso que confirma a identidade do

49
Ontológico é um adjetivo que se relaciona diretamente com as noções de existência, realidade e
natureza do ser, ou seja, vinculado com questões da existenciais.
50

Serviço Social, sua natureza histórica que sintetiza e articula o dialético do que
somos, se dando ao materialismo histórico dialético.

A/O assistente social deve ser um profissional com uma visão crítica do
contexto social em geral, mas no cotidiano acabam sendo alienados ao sistema e
não atuando conforme exige seu código de Ética, por ser assalariado acaba
aceitando e se submetendo às regras e objetivos das instituições que é contratado
que em sua maioria só quer produtividade, não tem de olhar para o sujeito que tem
direito. Assim a/o assistente social acaba sendo imediato na demanda apresentada,
usando somente o empirismo50, por depender também da sua atuação no meio de
sua sobrevivência no mundo capitalista. Se o profissional não for propositivo, não
estiver clareza do real trabalho de um assistente social, tende nos dias atuais a
continuar a fazer isso.

Conforme Iamamoto (2012), através do envolvimento dos movimentos sociais


e dos sujeitos políticos da sociedade civil, foi ampliado na Constituição Federativa do
Brasil 1988, os direitos sociais fundamentais para a dignidade humana, onde prevê a
descentralização, municipalização, fiscalização, gestão e participação popular na
formulação das políticas sociais. Com isso o mercado de trabalho sofreu mudanças,
pois o Estado começa a ter responsabilidade por ações nas demandas sociais,
tendo que agir com a liberação de verbas orçamentárias para políticas sociais, além
disso, o Estado transfere também a responsabilidade para sociedade civil, desta
forma todo esse processo vem para desafiar o Serviço Social para demonstrar sua
verdadeira identidade.

Lamamoto (2012), ressalta que neste processo de parceria de Estado e


sociedade civil, vira uma nova filantropia, pois agora com essa ligação se dá uma
solidariedade social (passando uma ideia de harmonia das classes), com isso nasce
as organizações não governamentais, mas isso não garante a redução significativas
da pauperização impregnada na contemporaneidade, pois estão privatizando
serviços que deveriam ser totalmente públicos, essa mistificação da realidade não
vai impedir o agravamento das expressões da questão social.

50
Empirismo é a doutrina filosófica que tem como conhecimento resultado de qualquer experiência,
com isso podendo ser apreendido através dos sentidos.
51

Com essas transformações tem-se a necessidade da apropriação e


decifração para que sejam desenvolvidas as novas demandas sociais que vão
surgindo. Para um a/o assistente social não deve de forma alguma estranhar as
questões que envolvem as condições humanas, como as questões dos direitos
sociais, do trabalho, na economia e do direito, pois deve ter uma leitura cotidiana em
tudo que envolve a profissão, que estar ligado ao contexto mais amplo da vida
humana (IAMAMOTO, 2012).

De acordo com Iamamoto (2012), e na contemporaneidade que o perfil de


uma/um assistente social deve ser um profissional que tenha a habilidade de
analisar os processos sociais e suas manifestações cotidianas, também deve ser um
profissional criativo e incentivo que consiga entender a vida presente e suas
relações sociais, para que na sua atuação contribua para moldar os rumos da
história. Então os assistentes sociais devem ser sujeitos coletivos, onde também
expressam as consciências partilhadas, pois são sujeitos que lutam por vontades
históricas determinadas, por esses motivos é tão importante o conhecimento das
dinâmicas societárias e das múltiplas expressões da questão social.

Segundo Iamamoto (2012), é por isso que existe um projeto contemporâneo


do Serviço Social brasileiro para que tenha uma direção da ação profissional, que
reafirma os valores da justiça social e da liberdade que já estavam presentes no
Código de Ética51 de 1986 e no Código de Ética de 1993 assume a direção da
democracia como valor ético-político central, essa é a única organização política
social que tem a função de assegurar os valores essenciais da liberdade e da
equidade. Desde 1980 vem sendo conquistados os instrumentos democráticos com
o protagonismo dos movimentos sociais organizados e dos sujeitos políticos da
sociedade civil. Na Constituição Federativa do Brasil de 1988 também vai trazer uma
nova concepção de Seguridade Social52 como política pública não contributiva, como
um direito social e dever do Estado, assim trazendo a Assistência Social como
direito.

51
Código de Ética é o conjunto de princípios e disposições, onde são voltados em uma ação, e que
tem como objetivo de delimitar as ações dos profissionais.
52
Seguridade social é o conceito amplo de proteção social. Direito a previdência social, para aqueles
que contribuem, direito a saúde para todos independente da contribuição e direito a assistência
social.
52

Esse projeto contemporâneo profissional agrupa segmentos significativos dos


assistentes sociais no Brasil, construído coletivamente pelos professores,
estudantes e profissionais do Serviço Social. O Código de Ética do Assistente Social
de 1993 e a Lei da Regulamentação da Profissão de Serviço Social Nº. 8662/93. O
projeto da profissão é também um projeto de formação profissional, resultado de um
movimento democrático diante da crise da ditadura militar, mas ainda se tem muito
que construir na questão que se refere à consolidação do processo democrático
(IAMAMOTO, 2012).

Conforme Lamamoto (2012) é nessas conquistas democráticas que vão se


dando após a Constituição Federativa do Brasil de 1988 e abrindo caminhos para os
campos dos direitos sociais e todos esses conjuntos das leis regulamentadoras de
cada política que tem a finalidade de um Sistema de Proteção Social no Brasil 53, que
se manifesta desde dos Planos das Políticas Sociais Públicas 54, ao Currículo do
Curso de Serviço Social e a lei que regulamenta a profissão, se tem também um
Sistema Nacional de Garantias de Direitos no campo das relações jurídicas que
abrange o segmento infanto-juvenil e suas dinâmicas familiares, trazendo novos
fundamentos nas ações nessa área.

É através de um esforço organizativo no Conselho Federal de Serviço Social


(CFESS), que se dá um caminho para a construção de parâmetros para o exercício
profissional em diferentes áreas. Essa relação desse desenvolvimento que
transforma o Serviço Social nesta trajetória traz a relação da continuidade do
processo de ruptura que ocorreu no movimento de reconceituação.

O desafio que é colocado para as/os assistentes sociais na atualidade são as


três competências que deve ser domínio dos mesmos. A competência ético-política,
teórico-metodológica e a técnico-operativa.

A dimensão ético-política, a/o assistente social deve ter um posicionamento


político frente às questões que aparecem na realidade da sociedade, para que assim

53
Sistema de Proteção Social no Brasil é a integração a assistência social na seguridade social,
previdência social e na saúde, elevando o nome da assistência social em uma política social, assim
instituindo a seguridade social no país brasileiro.
54
Planos das Políticas Sociais Públicas são as políticas públicas, que vem destinar o bem-estar da
sociedade, com destinação para as camadas de baixa renda ou que vive em situação de pobreza ou
pobreza extrema.
53

possa ter clareza da direção social da sua prática, que tem seus valores expressos
no Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais de 1993.

A teórico-metodológica leva a/o assistente social ser habilitado conhecer a


realidade da sociedade e todos os aspectos inseridos nela, sendo assim é de
extrema importância um teórico e metodológico que faz enxergar a sociedade na
sua essência, suas dinâmicas, seus fenômenos, o movimento de construção de criar
e recriar possibilidades profissionais.

E a técnico-operativa onde a/o assistente social deve conhecer apropriar e


criar conjuntos de habilidades técnicas que vai permitir desenvolver ações
profissionais junto à população atendida e as instituições contratantes para assim
garantir uma qualificação que responda as demandas trazidas pelo desenvolvimento
capitalista, essas competências só são suficientes juntas, separadas se tornam
insuficientes (IAMAMOTO, 2012).

Ainda segundo Lamamoto (2012), com os novos tempos tem se a reflexão de


construir no Serviço Social uma formação profissional conciliada com a
contemporaneidade, claro totalmente comprometido com valores democráticos e
com a responsabilidade de praticar a construção da cidadania na vida social do
atendido, e para que isso se conclua é necessário pensar na formação profissional
na atualidade, e deste modo foi feito um balanço no debate do Serviço Social no
Brasil, indicando temas a serem desenvolvidos e pesquisas que devem ser
decifradas para as novas demandas que o Serviço Social recebe.

Lamamoto (2012), explica que foi por meio de um processo de renovação que
o Serviço Social buscou a sua própria contemporaneidade. Quando a profissão é
compreendida como produto histórico, atinge na história da sociedade de qual faz
parte e expressão.

O Serviço Social sempre foi orientado por projetos coletivos conservadores ou


críticos, esse processo se deu nessas seguintes orientações: Serviço Social
Tradicional, Crise do Serviço Social Tradicional, Ruptura do Serviço Social com o
Conservadorismo e a Construção do Novo Projeto Profissional do Serviço Social.

O Serviço Social Brasileiro foi orientando por cinco Códigos de Ética, o


primeiro código foi criado em 1947, onde a profissão era totalmente influenciada pela
54

Igreja Católica que era conservadora, assim o código é alimentado por essa doutrina
cristã em sua concepção de homem, sociedade e Estado.

Com a ditadura militar (1964), houve mudanças em todo contexto social,


político e econômico que atingia toda ação das/dos assistentes sociais, trazendo
novas demandas, assim as/os assistentes sociais tinham que desenvolver novas
respostas, para os novos desafios da realidade social.

Todo contexto social, político e econômico vivenciado neste período,


trazem rebatimentos para o Serviço Social no que diz respeito a sua
prática e formação profissional. São esses rebatimentos que trazem
as concretas possibilidades da vivência do movimento de renovação
uma vez que são criadas novas demandas que necessitam de outras
respostas da profissão, fazendo com que essa, tenha que organizar
em seu interior tais respostas, posicionando-se diante da realidade
social em questão. (CARDOSO, 2006, p. 81 e 82).

O Projeto Ético Político Profissional é um marco que normativas algumas


orientações que anunciam valores de como o Serviço Social deve se relaciona com
a sociedade, no projeto Ético há um anexo de menções metodológicas para
intervenção da/do assistente social, onde esse profissional vai encontrar também
como deve ser e exercer sua postura na atuação. Esse projeto é construído e
legitimado pela categoria dos assistentes sociais que tem esses conteúdos
apresentados na visão crítica à sociedade capitalista.

Os projetos profissionais inclusive o projeto ético-político do Serviço


Social apresentam a autoimagem de uma profissão, elegem os
valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam os seus
objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, institucionais e
práticos) para o seu exercício, prescrevem normas para o
comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas da sua
relação com os usuários de seus serviços, com as outras profissões
e com as organizações e instituições sociais, privadas e públicas [...]
(NETTO, 1999, p. 95).

No ano de 1993 foi construindo um novo projeto profissional transformador


que envolve o momento de ruptura, o Conselho Federal de Assistentes Social
(CFAS) que era conservador, mas abandona esse caráter e passa por uma
transformação, com isso em 1994 começa a se chamar Conselho Federal de Serviço
Social55 (CFESS) segundo expresso por ele, é uma entidade pública federal que tem

55
Conselho Federal de Serviço Social é um conselho da profissão do Serviço Social, que fiscaliza o
trabalho dos assistentes sociais no Brasil, pela Lei 8662/93.
55

como atribuição orientar, disciplinar, normatizar, fiscalizar e defender o exercício


profissional junto com os Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS).

O contexto histórico na qual se construía o referido Código se remete


a revisão de valores profissionais, que se desenvolveu não só em
nível nacional, mas também internacional, e, mais especificamente
latino-americano, que confrontava o conservadorismo e buscava o
espaço social para a redemocratização. Outro aspecto a ser
destacado desse período é a maturidade teórica e política expressa
pelo novo projeto profissional, a potencialidade crítica que promove a
interlocução com outras áreas de conhecimento e desenvolve a área
da pesquisa inspiradas na ideologia marxista. O compromisso com a
classe trabalhadora foi destacado como valor ético-político central,
sendo o primeiro código de ética brasileiro a romper com o
conservadorismo (SILVA 2015 apud BARROCO, p. 3).

Assim se tem os documentos que materializaram este Projeto Ético Político, e


são eles, o Código de Ética profissional de 1993, a lei nº 8.662/93 e diretrizes para o
curso de Serviço Social da ABEPSS de 1996. Mas não são só os documentos que
precisam ser materializados, a/o assistente social deve e precisa ter o conhecimento
das múltiplas expressões da questão social, e que existem desigualdades sociais de
classe na questão de gênero, etnia, religião, nacionalidade, material, entre outros.

Avança ainda, só ponto de vista da ética, em comprometer-se com


valores e princípios e não apenas com uma classe social (o que
acontecia no projeto de ruptura). Temos aqui, como grande
expressão deste projeto, a produção de Lamamoto, o Código de
Ética de 93 e as Diretrizes curriculares de 96. (CARDOSO, 2006, p.
99).

O Projeto Ético-Político do Serviço Social brasileiro propõe uma política de


intervenção para o profissional que visa direcionar as ações sociais que favorecem
no âmbito do trabalho da/do assistente social aos usuários que buscam pelo
atendimento social, usando a criatividade e o exercício da liberdade no
fortalecimento de vínculos na qual se constrói a sociedade.

O assistente social comprometido com o projeto ético-político busca,


mediante estratégias político-profissionais, competência política,
criticidade e criatividade, criar condições para o exercício da
liberdade nos espaços coletivos cotidianos e nos campos de luta.
Esses espaços mesmo com disputas político-ideológica faz-se
necessário a reflexão ética do exercício da liberdade. (SILVA 2015
apud CARDOSO, p. 6).

Com toda trajetória diante das necessidades que passou o Serviço Social, o
Código de Ética de 1993 vem para deixar clara a articulação política no cotidiano,
56

conquistando um processo de amadurecimento intelectual, trazendo um novo perfil


profissional, capaz de responder com competência teórica, ética, política e técnico-
operativa as demandas da sociedade, apontando para as necessidades do humano-
genéricas e a emancipação deste homem.

O Código de Ética de 1993 (CE/93), vigente até os dias atuais, marca


de fato o segundo momento da trajetória do projeto profissional do
Serviço Social, possuindo uma perspectiva teórico-crítica sobre a
sociedade de classes. É organizado por meio de princípios, deveres,
direitos e proibições que orientam o comportamento ético
profissional, ofertando seus objetivos ético-políticos, e, também
parâmetros para atuação do assistente social no cotidiano
profissional (SILVA 2015 BARROCO; TERRA, p. 3).

Barroco56 traz a renovação do Serviço Social brasileiro ao debate com a ética


profissional que se apoia nas lutas dos trabalhadores, fazendo de suas referências é
fundamentos de estudos dentro do Serviço Social.

A intervenção de Lúcia Barroco do Serviço Social brasileiro - mas


não só, uma vez que já ministrou cursos e conferências e participou
de colóquios científicos na Europa e na América Latina – é bem
conhecida das vanguardas acadêmicas e profissionais. Nestes
círculos, seu empenho em renovar e refundar o debate da ética
profissional é suficientemente notório: há mais de dez anos, seu
magistério, sua atuação nos organismos e lutas da categoria e su
(até o lançamento desse livro) discreta produção bibliográfica
tornaram-se referências obrigatórias para aqueles assistentes sociais
preocupados com o que, outrora, denominava-se deontologia
profissional. (BARROCO, 2010, p. 9).

A gênese do Serviço Social voltado ao método de Marx supera o


conservadorismo, mas para que isso acontecesse foi preciso voltar ao contexto
histórico da ética da vida social para o descobrimento de todo conservadorismo
transmitido da burguesia na cultura e no contexto do Serviço Social. Segundo
Barroco (2010), na vida em sociedade tornou necessário restaurar a base de
fundação ontológica ética, buscando analisar fatos existenciais, com isso instigou a
possibilidades de novos olhares, tantos positivos e negativos para importantes
valores éticos na sociedade burguesa, no Serviço Social e na cultura
contemporânea.

56
Maria Lucia Silva Barroco assistente social, e sendo de grande importância para o Serviço Social,
doutora em Serviço Social, professora de Ética profissional e coordenadora do Núcleo de Estudos e
Pesquisa em Ética e direitos Humano e Pós-graduados em Serviço Social da PUC-SP.
57

Esse novo Projeto significa bastante para as/os assistentes sociais, pois ser
conduzido por ele é aumentar as forças junto com a luta da classe trabalhadora,
assumir um compromisso com atendimento das necessidades humanas que tem
sua vida como princípio básico, ter a clareza de uma direção sociopolítica,
conseguindo na condição de assalariado saber diferenciar a prática profissional de
intervenções assistencialistas, assistemáticas e filantrópicas:

Os projetos profissionais também são estruturas dinâmicas,


respondendo às alterações no sistema de necessidades sociais
sobre o qual a profissão opera, às transformações econômicas,
históricas e culturais, ao desenvolvimento teórico e prático da própria
profissão e, ademais, às mudanças na composição social do corpo
profissional. Por tudo isto, os projetos profissionais igualmente se
renovam se modificam. (NETTO, 1999, p. 4).

O Serviço Social é uma resposta da exploração do sistema capitalista na


classe trabalhadora, mostrando o quanto é desigual sistema, onde explora uma
classe e enriquece a outra. Mas o Serviço Social vem com a intenção de mostrar
que a união com a classe trabalhadora vai trazer o verdadeiro sentido da profissão,
pois quando se atribui o método marxista, a profissão passa a usar o materialismo
histórico-dialético que capacita as ações dos assistentes sociais, dando base nas
criações das ferramentas que possibilitam o enfrentamento da luta contra um
sistema opressor, que nega os direitos dos cidadãos.

Com o conhecimento no materialismo histórico-dialético além de se capacitar,


a/o assistente social consegue realizar e se especializar com mais habilidade em
questões de reflexões do contexto social e também da atual conjuntura política, pois
mesmo que trabalhem para o sistema, necessita ter clareza das suas atribuições e
não ser alienar com intenções ou proposta que distorcem sua conduta ética e sua
responsabilidade enfrente a população quanto uma/um profissional que assegura e
garanti os direitos sociais.

O profissional de Serviço Social além de ter a reflexão crítica voltada ao


sistema capitalista e seu grande desenvolvimento na questão social, o trabalho em
equipe, segundo seu Código Ética o profissional deve ter autonomia dos seus
valores interventivos na qual utiliza instrumentos no trabalho como: relatórios,
entrevistas, analises sociais, visitas domiciliares, parecer social e entre outros, sendo
assim buscando a garantia de direitos do usuário.
58

3. POLÍTICA PÚBLICA E PROTEÇÃO SOCIAL

Nesse capítulo aprofundamos sobre a política de qual o serviço está inserido,


contextualizando sobre o processo de desenvolvimento de ser assegurada na
Constituição de 1988 no tripé da seguridade social, passando a ser realmente de
garantia de direito, desmitificando questões conservadoras e religiosas do início.
Apresentamos os marcos normativos da assistência que define direitos e deveres
para atender as necessidades básicas da sociedade. Com isso discorremos sobre
atuação da/do assistente social, ressaltando atribuições privativas e seu maior
objeto de trabalho, as expressões da questão social.

Exibimos sobre o processo histórico e desenvolvimento da criança desde a


época medieval, elucidando o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que é
composto por direitos básicos a serem garantidos as crianças, mostrando toda
evolução dos direitos que eram garantidos até chegar na concretização do ECA.
Aludimos a violência sexual no Brasil, mostrando autores que se aprofunda no tema
em questão, explorando sobre esse assunto, afirmando a importância da prioridade
que devemos ter com a criança, trazendo os dados estatísticos sobre esse assunto.
Por fim, falamos sobre os serviços da rede socioassistencial, normas e diretrizes do
serviço da pesquisa apresentada, o funcionamento da equipe e atuações dos
profissionais, elucidando um pouco da história da instituição Herdeiros do futuro que
terceiriza o Serviço de Proteção às Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência
(SPVV).

3.1. A política de assistência social

A Constituição de 1988 foi criada para assegurar e garantir direitos a todos os


cidadãos e teve como intuito reconstruir a inviolabilidade de direitos e liberdades
básicas, estabelecendo princípios progressistas, garantindo direitos fundamentais a
todos. Ressaltando a dignidade e direitos humanos, políticos e civis, se tornando
mais liberal e democrática, ao contrário das Constituições anteriores.

Por mais avanços e qualidades desta nossa Carta Magna de 1988 que ficou
conhecida como Constituição Cidadã devido aos seus valores e características de
59

assegurar e garantir direitos humanos, Carvalho57 faz uma crítica ressaltando que
nem tudo que está no papel é o que condiz com a realidade, a democracia segue
instável:

A democracia política não resolveu os problemas econômicos mais


sérios, como a desigualdade e o desemprego. Continuam os
problemas da área social, sobretudo na educação, nos serviços de
saúde e saneamento, e houve agravamento da situação dos direitos
civis no que se refere à segurança individual. (CARVALHO, 2002
p.199).

Mas precisamos ressaltar que a nossa Carta Magna de 1988 apresenta


grandes mudanças e evoluções no que se refere aos direitos humanos, uma vez que
oferta voz a população, nas palavras de Torelly58:

Inobstante, nunca é demais lembrar que, numa sociedade tão


profundamente marcada pelo autoritarismo como a brasileira, a
simples existência de um debate institucionalmente mediado sobre
ferramentas para lidar com o passado já constitui, em si, um
inequívoco sinal de amadurecimento democrático. (TORELLY, 2010,
p 121).

Nesta Constituição de 1988, é assegurado o tripé da seguridade social, que


foi a primeira vez citado, um termo para assegurar três políticas públicas
indispensáveis, por meio de lutas e reivindicações da população, essa seguridade
social foi garantida nesta constituição de 1988. Conforme previsto no ART 194:

A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de


iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a
assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência
social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei,
organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos:
I - universalidade da cobertura e do atendimento;
II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às
populações urbanas e rurais;
III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e
serviços;
IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;
V - eqüidade na forma de participação no custeio;

57
José Murilo de Carvalho nasceu em Andrelândia, MG, em 8 de setembro de 1939, sua formação é
Bacharel em Sociologia e Política, Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de
Minas Gerais – UFMG, 1965, Mestre em Ciência Política. Universidade de Stanford, Califórnia, 1969;
Ph.D em Ciência Política, Universidade de Stanford, 1975.
58
Marcelo Dalmas Torelly é Doutor em direito pela Universidade de Brasília, possui experiência nas
áreas de direitos humanos, cooperação técnica internacional e assessoria jurídica popular e foi
acadêmico visitante na Faculdade de Direito e no Centro de Estudos Latino-Americanos da
Universidade de Oxford, Inglaterra.
60

VI - diversidade da base de financiamento;


VII- caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa,
com a participação da comunidade, em especial de trabalhadores,
empresários e aposentados.
VII - caráter democrático e descentralizado da administração,
Mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores,
dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos
colegiados. (BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil,
1988).

O tripé da seguridade social é composto pela política de saúde, que tem o


caráter universal, a Previdência Social por sua vez, possuindo caráter contributivo e
a Assistência Social assegura direitos para a população em vulnerabilidade social.

Conforme o avanço do capitalismo gerou mais exploração da mão de obra


barata, fazendo-se assim a mais-valia, dentro desta situação acabou aparecendo
diversas expressões da questão social, mais perceptível era a pobreza, aonde se
característica o risco e vulnerabilidade social que muitos trabalhadores estão
inseridos neste contexto, devido à relação do trabalho versus capital.

Dentro deste contexto sócio histórico a origem da Assistência Social no Brasil


nasce de forma filantrópica, com caráter caridoso, de benevolência e solidariedade
religiosa aos mais necessitados. Por muitas vezes eram mais forma de alimentar o
próprio ego fazendo uma caridade aos mais pobres do que os enxergar como
cidadãos que deveriam ter esses direitos mínimos como forma de garantias e não de
caridade.

Nessas circunstâncias tinham expressões da questão social que não eram


vistas com o real impacto que era causado devido a um sistema capitalista, mas sim
como problema de cada indivíduo, conforme Carvalho afirma: “No Brasil, até 1930
não se apreendia a pobreza enquanto expressão a questão social, mas sim como
disfunção pessoal dos indivíduos.” (CARVALHO, 2008, p. 12).

As reivindicações da população repercutiram na garantia do tripé da


seguridade na Constituição de 1988, foi o início da incorporação dos direitos sociais
no texto constitucional, criando assim uma política pública que contemplasse todos
os impactos causados por muito tempo sem direitos mínimos aos mais necessitados.
Concretizou-se, portanto, uma política pública pautada na proteção social do Estado:

Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a


moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
61

maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma


desta Constituição. (BRASIL. Constituição da República Federativa
do Brasil, 1988).

Assim foi criada a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), Lei nº 8.742 de
07/12/1993, para assegurar e definir os direitos e deveres, garantindo atendimento
às necessidades básicas da sociedade, tendo seus princípios a serem seguidos
nesta política pública.

A Assistência Social foi instituída nos art. 203 e 204 da Constituição


Federal de 1988, sendo regulamentada pela Lei Orgânica da
Assistência Social (LOAS) - nº. 8742, de 07/12/93, que promoveu
três condições resolutivas de sua eficácia: a elaboração da Política
de Assistência Social, sua corporificação em um Plano de
Assistência Social e sua viabilização por meio de um Fundo de
Assistência Social. (BAZZA & CARVALHO, 2013, p. 2).

Conforme previsto no Art.1 da lei LOAS, sendo dever do Estado e direito do


cidadão, é uma política para promover atendimentos às necessidades básicas sem
ser por meio contributivo, ou seja, para quem dela necessitar. Dentro desta lei
compõem os objetivos da política de assistência social, previsto no Art. 2:

A assistência social tem por objetivos: (Redação dada pela Lei nº


12.435, de 2011)
I - a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos
e à prevenção da incidência de riscos, especialmente: (Redação
dada pela Lei nº 12.435, de 2011)
a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à
velhice; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011)
b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes; (Incluído pela
Lei nº 12.435, de 2011)
c) a promoção da integração ao mercado de trabalho; (Incluído pela
Lei nº 12.435, de 2011)
d) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a
promoção de sua integração à vida comunitária; e (Incluído pela Lei
nº 12.435, de 2011)
e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefício mensal à pessoa
com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de
prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua
família; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011)
II - a vigilância socioassistencial, que visa a analisar territorialmente a
capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de
vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações e danos; (Redação
dada pela Lei nº 12.435, de 2011)
III - a defesa de direitos, que visa a garantir o pleno acesso aos
direitos no conjunto das provisões socioassistenciais. (Redação dada
pela Lei nº 12.435, de 2011)
Parágrafo único. Para o enfrentamento da pobreza, a assistência
social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, garantindo
mínimos sociais e provimento de condições para atender
62

contingências sociais e promovendo a universalização dos direitos


sociais. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011).

Os marcos normativos da Assistência Social referem-se à regulamentação da


Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), a Política Nacional de Assistência Social
(PNAS) e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

A LOAS foi criada para regularizar esta política pública e a sociedade em qual
ela está imposta, por via dela o cidadão conhece seus direitos e como cumprir seus
deveres. Com o intuito em diminuir a pobreza e as desigualdades sociais com
diversas estratégias e criações de programas, trabalhando na vulnerabilidade social
de cada indivíduo.

Segundo a LOAS, a assistência tem por finalidade assegurar a


prestação das necessidades básicas, com base nas quais as
políticas públicas, com a participação da comunidade, definem os
mínimos sociais, de natureza mais ampla (ver PARTE IV, inciso VIII).
Para reduzir os níveis de pobreza, prevê diversas estratégias:
criação de programas de geração de renda; proteção à maternidade,
às crianças e aos adolescentes; apoio às gestantes, creches e
cursos profissionalizantes, garantia de um salário mínimo para
pessoas com deficiência ou pessoas idosas, desde que, carentes,
por meio de ações continuadas de assistência social. (BAZZA &
CARVALHO, 2013, p. 2).

A PNAS foi aprovada pelo CNAS instituída na resolução nº 145 de 15 de


outubro de 2004, que dá início há novos parâmetros de política pública da
Assistência Social. Promovendo atenção as necessidades sociais impostas nas
expressões da questão social, garantindo melhores condições de vida e amenizando
os riscos e vulnerabilidade social.

A Política Pública de Assistência Social realiza-se de forma integrada


às políticas setoriais, considerando as desigualdades socioterritoriais,
visando seu enfrentamento, à garantia dos mínimos sociais, ao
provimento de condições para atender contingências sociais e à
universalização dos direitos sociais. (PNAS, 2004, p. 33).

Neste processo é aprovado SUAS resolução nº130, de 15 de Julho de 2005, é


uma gestão para administrar e executar ações da própria Assistência Social e
defesa aos direitos socioassistenciais que são serviços destinados à superação da
situação de vulnerabilidade social, sendo um sistema público descentralizado e não
contributivo.
63

Dentro desta perspectiva a Assistência Social tem seu os marcos normativos


para regulamentar suas ações, sãos documentos de extrema importância e
significativo no contexto histórico desta política pública, esses documentos
estabelece diretrizes, regras, atividades e resultados esperados, são como normas
práticas que assegura e garante tudo em relação a Assistência Social.

3.2. Atuação da/do assistente social na política de assistente social

O trabalho da/do assistente social é uma profissão indispensável na


sociedade mesmo que ainda não aja o reconhecimento necessário, mas é uma
profissão que consegue ir além, chegando tão fundo no contexto histórico de um
usuário, em um limite de sua vida e do seu cotidiano onde poucas profissões
conseguem alcançar. É aonde você vende sua força de trabalho para o sistema
capitalista, para intervir impactos causados por esse sistema.

No início no período dos estudos em Serviço Social, o estudante entra com


uma perspectiva e com o tempo de aprendizagem vai agregando o conhecimento e
mudando sua visão, se desconstruindo e reconstruindo, pois é um curso, aonde te
faz mudar e se tornar alguém melhor não só para si, mas para a sociedade, aonde
todos os outros cursos deveriam ter nem que seja pelo menos um semestre dessa
matéria incluída na grade.

Martinelli (2006) aponta que:


Somos profissionais que chegamos o mais próximo possível da vida
cotidiana das pessoas com as quais trabalhamos. Poucas profissões
conseguem chegar tão perto deste limite como nós. É, portanto, uma
profissão que nos dar uma dimensão de realidade muito grande e
que nos abre a possibilidade de construir e reconstruir identidades --
a da profissão e a nossa – em movimento continuo. (MARTINELLI
2006, p.10).

Conforme observamos no Capítulo 2, podemos atuar como assistentes


sociais nos mais variados setores da economia, podemos trabalhar direto para o
Estado intervindo nas demandas que a sociedade apresenta ou mesmo no mercado
ou terceiro setor, mas cabe observar que:

Assim, para pensar as competências e atribuições do assistente


social é necessário lançar o olhar para este momento particular de
mudanças no padrão de acumulação e regulação social, nos marcos
da chamada globalização da produção dos mercados e dos bens
culturais, que vêm provocando profundas alterações na produção de
64

bens e serviços, nas formas de organização e gestão do trabalho nos


organismos empregadores, com marcantes alterações nas maneiras
como os diversos profissionais de serviços se articulam no interior
dessas entidades. (CFESS, 2012, p.39 e 40).

Ao falar sobre a atuação da/do profissional na Política de Assistência Social, é


válido ressaltar sobre atribuições privativas que são as competências e deveres que
somente este profissional pode exercer devido a sua profissão, são competências
exclusivas dentro do seu âmbito de trabalho.

As atribuições privativas da/do assistente social são previstas no Código de


Ética Profissional e na Lei de Regulamentação da Profissão lei nº 8.662 de 7 de
Junho de 1993, a/o assistente social tem o dever de acolher as demandas e garantir
os direitos sociais dentro do seu Código de Ética profissional e a instituição na qual
está atuando. Segundo CFESS (2007), é obrigação da/do assistente social, informar
e orientar a população quanto suas competências e atribuições, esclarecendo assim
suas atividades realizadas e também os direitos dos usuários em relação ao Serviço
Social. Conforme esclarece sobre os direitos e deveres da/do assistente social no
artigo 2º e 3° do Código de Ética.

Art. 2º - Constituem direitos do/a assistente social:


a) garantia e defesa de suas atribuições e prerrogativas,
estabelecidas na Lei de Regulamentação da Profissão e dos
princípios firmados neste Código;
b) livre exercício das atividades inerentes à profissão; c) participação
na elaboração e gerenciamento das políticas sociais, e na
formulação e implementação de programas sociais;
d) inviolabilidade do local de trabalho e respectivos arquivos e
documentação, garantindo o sigilo profissional;
e) desagravo público por ofensa que atinja a sua honra profissional;
f) aprimoramento profissional de forma contínua, colocando-o a
serviço dos princípios deste Código;
g) pronunciamento em matéria de sua especialidade, sobretudo
quando se tratar de assuntos de interesse da população;
h) ampla autonomia no exercício da profissão, não sendo obrigado a
prestar serviços profissionais incompatíveis com as suas atribuições,
cargos ou funções;
i) liberdade na realização de seus estudos e pesquisas,
resguardados os direitos de participação de indivíduos ou grupos
envolvidos em seus trabalhos.
No que se refere aos deveres profissionais, o artigo 3º estabelece:
Art. 3º - São deveres do/a assistente social:
a) desempenhar suas atividades profissionais, com eficiência e
responsabilidade, observando a Legislação em vigor;
b) utilizar seu número de registro no Conselho Regional no exercício
da profissão;
65

c) abster-se, no exercício da profissão, de práticas que caracterizem


a censura, o cerceamento da liberdade, o policiamento dos
comportamentos, denunciando sua ocorrência aos órgãos
competentes;
d) participar de programas de socorro à população em situação de
calamidade pública, no atendimento e defesa de seus interesses e
necessidades.

A Política de Assistência Social é materializada por duas proteções, à básica


e especial, a especial é dividida em média e alta complexidade. Previsto no CFESS
(2007), a Assistência Social não pode ser compreendida somente como uma política
exclusiva de proteção social, mas devem articular seus serviços e benefícios aos
direitos assegurados pelas demais políticas sociais, com o intuito de situar no âmbito
da Seguridade Social, um amplo sistema de proteção social.

Há grandes confusões para identificar o que é a política de assistência social,


a/o assistente social, o Serviço Social e o assistencialismo, por isso vale lembrar o
significado de cada uma. O Serviço Social é o curso aonde você estuda para ser
formar e torna-se o profissional, que é a/o assistente social que atua em várias
áreas, uma delas é a política de Assistência Social que é um direito, direito a todos
aqueles que dela precisar, e o assistencialismo, sendo ele a pratica individual, ou
seja, a caridade.

Serviço Social, portanto, não é e não deve ser confundido com


Assistência Social, embora desde a origem da profissão, os(as)
assistentes sociais atuem no desenvolvimento de ações sócio-
assistenciais, assim como atuem nas políticas de saúde, educação,
habitação, trabalho, entre outras. A identidade da profissão não é
estática e sua construção histórica envolve a resistência frente às
contradições sociais que configuram uma situação de barbárie,
decorrentes do atual estágio da sociabilidade do capital em sua fase
de produção destrutiva, com graves conseqüências na força de
trabalho. A política de Assistência Social, por sua vez, comporta
equipes de trabalho interprofissionais, sendo que a formação,
experiência e intervenção histórica dos(as) assistentes sociais nessa
política social não só os habilitam a compor as equipes de
trabalhadores(as), como atribuem a esses(as) profissionais um papel
fundamental na consolidação da Assistência Social como direito de
cidadania (CFESS, 2007, p. 15 e 16).

Portanto o profissional que trabalhar na Política de Assistência Social


necessita ampliar a sua visão a não só ficar no que é imposto pelo Estado e aos
documentos institucionais e que são muitos, para assim não acabar limitando a sua
própria intervenção. Devendo-se não utilizar abordagens tradicionais, para não
66

regredir e relembrar as práticas do início da profissão, práticas essas conservadoras,


que não conseguem enxergar a totalidade daquelas situações sociais, enxergando
apenas como problemas individuais a serem resolvidos quando devem olhar o
contexto social e identificar o problema da raiz, solucionando por completo.

Nessa perspectiva, a intervenção profissional na política de


Assistência Social não pode ter como horizonte somente a execução
das atividades arroladas nos documentos institucionais, sob o risco
de limitar suas atividades à “gestão da pobreza” sob a ótica da
individualização das situações sociais e de abordar a questão social
a partir de um viés moralizante. Isso significa que a complexificação
e diferenciação das necessidades sociais, conforme apontada no
SUAS e na PNAS, e que atribui à Assistência Social as funções de
proteção básica e especial, com foco de atuação na “matricialidade
sócio-famíliar”, não deve restringir a intervenção profissional,
sobretudo a do/a assistente social, às abordagens que tratam as
necessidades sociais como problemas e responsabilidades
individuais e grupais. Isso porque todas as situações sociais vividas
pelos sujeitos que demandam a política de Assistência Social têm a
mesma estrutural e histórica raiz na desigualdade de classe e suas
determinações, que se expressam pela ausência e precariedade de
um conjunto de direitos como emprego, saúde, educação, moradia,
transporte, distribuição de renda, entre outras formas de expressão
da questão social. (CFESS, 2007, p. 10 e 11).

O profissional precisa ter clareza que seu objeto principal de trabalho é a


questão social, pois emerge diretamente intervindo nas expressões da mesma,
assim criando um aspecto profissional para essas demandas baseando-se na
totalidade do caso, identificando os reais problemas. Segundo CFESS (2011), o
profissional precisa ter uma leitura crítica da realidade e identificar as condições da
realidade de vida, identificação de respostas existentes no espaço do Estado e da
sociedade civil na defesa dos direitos, estratégias políticas e técnicas para
modificação da realidade e formulação de formas de pressão sobre o Estado, com
vistas a garantir os recursos financeiros, materiais, técnicos e humanos necessários
para a garantia e ampliação dos direitos. Na Política de Assistência Social as
atribuições e competências com base na Lei da profissão, são de extrema
importância para a compreensão do contexto sócio histórico para sua intervenção na
pratica.

Portanto o ABEPSS (1996) elucida sobre essas competências expostas no


CFESS (2011): O profissional necessita de uma apreensão critica com um olhar de
totalidade dos processos de produção e reprodução das relações sociais, analisar o
67

movimento histórico da sociedade brasileira, compreendendo todas as


particularidades do desenvolvimento Capitalista no país e regionais, compreender o
real significado social da profissão, o desenvolvimento social histórico dentro de
contextos nacional e internacional, revelando as possibilidades de ação integrada na
realidade. E por fim a identificação das demandas presentes na sociedade e na
região da qual está trabalhando, tendo em vista formular respostas profissionais
para o enfrentamento da questão social.

São essas competências que permitem ao/à profissional realizar a


análise crítica da realidade, para, a partir daí, estruturar seu trabalho
e estabelecer as competências e atribuições específicas necessárias
ao enfrentamento das situações e demandas sociais que se
apresentam em seu cotidiano. As competências específicas dos/as
assistentes sociais, no âmbito da política de Assistência Social,
abrangem diversas dimensões interventivas, complementares e
indissociáveis. (CFESS, 2011, p.19).

Conforme o CFESS (2011) elucida para realização dessas atribuições e


competências, necessitam de instrumentais adequados a cada situação social, ou
seja, não devemos padronizar, pois cada caso é um caso, cada demanda necessita
de estratégias especificas que são criadas para intervenção, necessita de
instrumentos técnicos e estabelecidos pelo próprio profissional que tem a autonomia
e criatividade para organizar seu trabalho, pois fazem uma análise crítica, assim
denominando e reconhecendo as demandas a serem enfrentas.

A intervenção profissional, na perspectiva aqui assinalada,


pressupõe enfrentar e superar duas grandes tendências presentes
hoje no âmbito dos CRAS. A primeira é de restringir a atuação aos
atendimentos emergenciais a indivíduos, grupos ou famílias, o que
pode caracterizar os CRAS e a atuação profissional como um
“grande plantão de emergências”, ou um serviço cartorial de registro
e controle das famílias para acessos a benefícios de transferência de
renda. A segunda é de estabelecer uma relação entre o público e o
privado, onde o poder público transforma-se em mero repassador de
recursos a organizações não governamentais, que assumem a
execução direta dos serviços sócio-assistenciais. Esse tipo de
relação incorre no risco de transformar o(a) profissional em um(a)
mero(a) fiscalizador(a) das ações realizadas pelas ONGs e esvazia
sua potencialidade de formulador(a) e gestor(a) público(a) da política
de Assistência Social. (CFESS, 2007, p.30 E 31).

Com isso é valido ressaltar que atualmente algumas instituições estão


contratando uma/um assistente social como técnico de Serviço Social não só
rebaixa seu nível salarial que é a intenção do sistema, mas também desvaloriza o
68

valor e as competências do profissional, pois fica limitado de realizar suas


atribuições privativas, conforme sua profissão necessita. Claro que nesses serviços
já é algo estruturado para todos os profissionais realizarem as mesmas atividades
sem distinção da profissão.

Faz-se necessário, pois, elucidar o exercício profissional nas


particulares condições e relações de trabalho em que se inscreve,
reconhecendo tanto suas características enquanto trabalho concreto
(e avançando na leitura das competências e atribuições privativas do
assistente social, tais como se forjam na atualidade), quanto sua
dimensão de trabalho humano abstrato, em seus vínculos com o
processo de produção e/ou distribuição da riqueza social. Isso
remete ao enfrentamento dos dilemas do trabalho produtivo e/ou
improdutivo, cuja caracterização depende das relações estabelecidas
com específicos sujeitos sociais, na órbita das quais se realiza o
trabalho do assistente social. (IAMAMOTO, 2009, p. 36).

A atuação da/do assistente social na Política de Assistência Social ocorre em


instituições e movimentos sociais59 junto a população, esses espaços são
constituídos por diversas práticas, portanto é um profissional indispensável, pois
com suas competências colaborar para realizar um trabalho de qualidade, frente as
circunstâncias que possam ocasionar do sistema.

Portanto é uma luta diária que esses profissionais enfrentam para manter não
só o serviço aberto, mas também para qualificar e garantir seus trabalhos. No atual
governo vem demonstrando métodos de acabar com muitos serviços sócios
assistenciais, como: modificar benefícios governamentais para assim conseguir
fechar alguns serviços da assistência. Segundo CFESS (2007), a luta pela
competência profissional é fruto do trabalho coletivo e da mobilização social pela
garantia dos direitos dos trabalhadores, pela universalização dos direitos sociais e
pela consolidação da Assistência Social como política pública e dever do Estado.

3.3. O estatuto da criança e do adolescente

O ser criança nem sempre era considerado, o que é hoje, por muitos anos a
infância não era vista como algo em construção da personalidade do ser humano.
Pela infância ser vistas assim, não tinham preocupação e tratamentos diferentes
com as mesmas. “A criança, por muito tempo, não foi vista como um ser em

59
Movimento Sociais vem ser a expressão técnica no qual vai designar ações coletiva entre os
setores da sociedade ou organizações sociais, que buscam a defesa nas relações de classes.
69

desenvolvimento, com características e necessidades próprias, e sim, homens de


tamanho reduzido” (ARIÈS60, 1981 p.18).

A trajetória da criança no Brasil foi marcada por muitos sofrimentos, por conta
que não havia diferenciação da criança para o adulto e das etapas do seu
desenvolvimento, pois antes a criança ao ser vista não precisando mais da presença
constante de sua mãe, ela já podia está presente na vida adulta.

O sentimento da infância não significa o mesmo que afeição pelas


crianças: corresponde à consciência da particularidade infantil, essa
particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto,
mesmo jovem. Essa consciência não existia. Por essa razão, assim
que a criança tinha condições de viver sem a solicitude constante de
sua mãe ou de sua ama, ela ingressava na sociedade dos adultos e
não se distinguia mais destes. (ARIÈS, 1981, p.156).

Desde o início do Brasil as crianças por muito tempo eram maltratadas,


sofriam diversas violências, eram escravas do trabalho, ou seja, passavam escassez
do mínimo necessário para sobreviver, sendo negligenciada pela família, Estado e
sociedade, mas durante esse tempo não eram vistos como o agravamento que é,
mas sim como algo comum.

A trajetória da criança e adolescente no Brasil é marcada por


diversas privações e dificuldades. Ao estudá-la evidenciam-se
diversos problemas enfrentados por elas, tais como, maus tratos,
abusos sexuais, mortalidade infantil, miséria, fome, crianças sem
teto, sem família, escrava do trabalho, isso tudo sendo causado por
negligência do Estado, da família e da sociedade em geral. (FARIA;
HENICK, 2015, p. 25828).

Foi ao passar do tempo que a criança passa a ser vista como ser social e vem
ter um novo sentido para todos, aos poucos começa a ser tratada como o verdadeiro
sentido da palavra criança, mas é na contemporaneidade que a infância tem uma
relevância e tem resultados de transformações socioculturais que mudaram
totalmente todo tratamento e a visão sobre a infância. “Somente a partir do século
XX a criança começou a ter lugar nas leis e códigos no mundo e, por extensão, no
Brasil.” (CAETANO; GOMES; JORGE, 2008, p. 62).

Hoje tem separado o que a criança representa e seu papel na sociedade,


seus direitos e seus deveres, pois a preocupação com a infância ganhou novos

60
Philippe Ariès um historiador medieval francês da família e sendo um grande escritor da infância, e
além de escritor sobre os livros da vida diária comum.
70

sentidos, pois os sofrimentos enfrentados pelas crianças passaram a se tornar um


problema social.

A importância de olhar a criança como um ser que existe e, diante da


sua fragilidade e dependência, procurar meios para protegê-la, levou
vários seguimentos da sociedade e instituições a lutarem pela
elaborações de leis em sua defesa. (CAETANO; GOMES; JORGE,
2008, p. 62).

No Brasil foi criado Código de Menores (CM) de 1927 que tinha por base a
primeira lei que dizia, que os adolescentes antes dos 18 anos não podiam ser
processados criminalmente, mas este código tinha descriminação, pois associava a
pobreza como um tipo de delinquência, acobertando o verdadeiro significado que
levava essas crianças e adolescentes cometerem algum ato, a falta de proteção
devido às únicas circunstancias que estavam de frentes com elas.

O Código Mello Mattos de 1927 era composto por 231 artigos


divididos em duas partes, denominadas de Parte Geral e Parte
Especial. A Parte Geral é composta de 11 capítulos e a Parte
Especial dispunha de cinco capítulos. No Capítulo I da Parte Geral a
Lei especifica o objeto do atendimento dizendo que: “O menor, de um
ou outro sexo, abandonado ou delinquente, que tiver menos de 18
anos de idade, será submetido pela autoridade competente ás
medidas de assistência e proteção contidas neste Código” (Artigo
1º).23 Ou seja, era objeto da lei e das medidas de assistência e
proteção social, as crianças e os adolescentes, que possuindo
menos de 18 anos fosse abandonado ou delinquente. (LARA;
ZANELLA, 2015 p.117).

Em 1979 o CM destinava-se a proteção do “menor irregular”, só os menores


em situações irregulares estavam protegidos do que ditava o CM, era basicamente
um instrumento de controle social da infância e adolescência, como mostrava o
artigo 2° do CM que descrevia o que era considerável em situação irregular
mediante o código.

Por meio de muitas reivindicações de vários profissionais e movimentos


sociais que lutaram pelo direito da criança e do adolescente, obtendo a inclusão dos
direitos dos mesmos na Constituição Federal Brasileira de 1988 e sua promulgação
do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em 1990 que é instituído pela lei
8.069 de 13 de julho de 1990, e foi o caráter participativo da população que teve um
grande diferencial para essa conquista.
71

O ECA vem com defensor de direitos de todas as crianças e adolescentes


sem discriminação de classe social, visando que todos são sujeitos de direitos, como
está previsto no capítulo II do ECA no artigo 15° que descreve que a criança e
adolescente tem direito a liberdade, respeito, dignidade como pessoa humana em
processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis. No ECA é substituído
o nome menor por criança e adolescente, tirando a inferioridade que tem a palavra
“menor”.

O Estatuto serve como instrumento de proteção integral como diz o artigo 1°,
para a criança e adolescente que está vulnerabilizados devido às violações de
direitos, assumindo que os mesmos estão em situação de desenvolvimento, é
transferir algo que estava errado, colocando em seu devido lugar, pois agora são os
adultos que devem responder diante dos atos das crianças e adolescentes.

O ECA apresenta a singularidade da criança e do adolescente, que são os


sujeitos de ações ditas pela sociedade, reagindo as determinantes sociais que criam
e formam sua existência como ser humano, como está redigido no Estatuto da
Criança e do Adolescente:

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos


fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção
integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por
outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes
facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social,
em condições de liberdade e de dignidade. (BRASIL, 1990).

O Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente (SGDCA) se


consolidou em 2006 na resolução 113 do Conselho Nacional de Defesa dos Direitos
da Criança e do Adolescente (CONANDA), é criado no intuito de garantir que as leis,
e as conquista do ECA sejam cumpridas.

O SGDCA tem a finalidade de promover, defender e controlar a


efetivação integral de todos os direitos da criança e do adolescente
(direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais, coletivos e
difusos). Trata-se de um sistema estratégico, para além de um
sistema de atendimento, complexo em sua estruturação, que deve
promover ações que viabilizem a prioridade do atendimento à
infância em qualquer situação. (FARINELLI& PIERINI, 2016, p. 65).

O SGDCA formula três eixos estruturantes do ECA que são a promoção de


direitos, defesa e controle social e tem articulação com a sociedade civil para as
garantias desses eixos.
72

O Sistema é composto por três eixos estratégicos: Defesa, Promoção


de Direitos e Controle Social, articulando um conjunto de atores,
como os conselheiros tutelares; promotores e juízes das Varas da
Infância e Juventude; defensores públicos; conselheiros de direitos
da criança e adolescente; educadores sociais; profissionais que
trabalham em entidades sociais e nos Centros de Referência da
Assistência Social (CRAS); policiais das delegacias especializadas;
integrantes de entidades de defesa dos direitos humanos da criança
e adolescente, entre outros. (CASTRO; MACEDO, 2019, p. 1221).

Conforme o art. 70 ll. os órgãos do Poder Judiciário, Poder do Ministério


Público devem ter a comunicação e convívio com os Conselhos de Direitos da
Criança e do Adolescente, com as entidades não governamentais que atuem nos
três eixos estruturantes do ECA.

Para assim segundo o Art. 70- B tanto entidades privadas ou públicas, que
atuem na área de lazer, cultura, informação, saúde, esportes, diversão e etc.
trabalharem com profissionais capacitados a reconhecer maus tratos, violências
contra criança e adolescente, para assim denunciarem ao receptivo serviço da rede,
como o Conselho Tutelar. As entidades de atendimento as crianças e adolescentes
devem realizar orientações, apoio sócio familiar, acolhimentos e programas de
internação. Essas entidades tanto as governamentais e não governamentais, são
fiscalizadas pelo Judiciário, Ministério Público e os Conselhos Tutelares.

Os princípios fundamentais do ECA estão baseados no que se encontra


assegurado pela lei 8.069 de 1990, o princípio da prioridade absoluta que também
se encontra na nossa carta magna de 1988 no art. 227 determinando prioridade
absoluta para crianças e adolescentes que sejam tratas de forma especial pela
sociedade. Previsto no Art. 4 do ECA o princípio de total prioridade:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do


poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos
direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer
circunstâncias
Prioridade Absoluta
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de
relevância pública
c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais
pública
73

d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas


relacionadas com a proteção à infância e à juventude. (g; n).
(BRASIL, 1990).

O princípio de Prevalência dos interesses é que seja especificamente para


prevalecer o real intuito, que é objeto de assegurar e defender os direitos das
crianças e adolescentes, ou seja, deve-se de total importância para não haver riscos
de lei prejudicar crianças e adolescente, segundo o Art. 6 do ECA.

Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a


que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e
deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e
do adolescente como pessoas em desenvolvimento. (BRASIL,
1990).

O Princípio da Brevidade e Excepcionalidade, é a garantia de quando a


criança e adolescente é detido, a brevidade explica que a permanência dele não
pode passar de três anos, e a excepcionalidade é casos específicos de estar sendo
internados quando não houver outros meios de medida socioeducativa. Conforme
garantido no Estatuto.

Art. 121 - A internação constitui medida privativa da liberdade,


sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à
condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.§ 5º - A liberação
será compulsória aos vinte e um anos de idade. (g. N.)(BRASIL,
1990).

O Princípio da Gratuidade é garantir acesso gratuito à assistência judiciária e


todos os custos com processos á todas as crianças e adolescentes sem restrição
alguma, somente não se inclui neste princípio jovem na hipótese de litigância de má
fé. Conforme Art. 141:

É garantido o acesso de toda criança ou adolescente à Defensoria


Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, por qualquer
de seus órgãos.
§ 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos que dela
necessitarem, através de defensor público ou advogado nomeado.
§ 2º As ações judiciais da competência da Justiça da Infância e da
Juventude são isentas de custas e emolumentos, ressalvada a
hipótese de litigância de má-fé. (BRASIL, 1990).

O Princípio da sigilosidade é basicamente o sigilo secreto dos documentos de


crianças ou adolescentes de ato infracional, garantindo a privacidade destes
documentos, portanto só quem é autorizado terá contato com esses arquivos, assim
74

evitando que esses jovens sofram qualquer tipo de exclusão social ou preconceitos.
Previsto no ECA.

Art. 143 - É vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e


administrativos que digam respeito a crianças e adolescentes a que
se atribua autoria de ato infracional.
Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não poderá
identificar a criança ou adolescente, vedando-se fotografia,
referência a nome, apelido, filiação, parentesco e residência.
(BRASIL, 1990).

O Princípio de Convivência Familiar é garantir que toda criança e


adolescente tenha o convívio e desenvolvimento familiar, seja com sua ou a família
substitua. Devemos garantir isso para a importância de sua estrutura e dignidade
humana, fortalecer esses convívios é além de questões econômicas, e sim um
crescimento saudável tanto para sua vida emocional, psicologia e afetiva, quanto
para seu desenvolvimento na sociedade contribuindo com o crescimento de todos
os requisitos da vida humana. Previsto no ECA:

Art. 19 - Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e


educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família
substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em
ambiente livre da presença de pessoas dependentes de
substâncias entorpecentes. (BRASIL, 1990).

Os direitos fundamentais do ECA estão propostos a uma vida e cidadania


digna, que possam ter seus direitos e deveres garantidos e assegurados, para
manter fora de risco e vulnerabilidade social, para que as crianças e adolescentes
poderem gozar de sua liberdade e direitos, podendo crescer e se desenvolver
socialmente, sendo acompanhados e asseverados pela família, comunidade e
sociedade, visto em compreender e usufruir do real sentindo da sua cidadania.

É muito importante entender bem o que é cidadania. Trata-se de uma


palavra usada todos os dias, com vários sentidos. Mas hoje significa,
em essência, o direito de viver decentemente. Cidadania é o direito
de ter uma ideia e poder expressá-la. É votar em quem quiser sem
constrangimento. É devolver um produto estragado e receber o
dinheiro de volta. É o direito de ser negro, índio, homossexual,
mulher, sem ser discriminado. De praticar uma religião sem ser
perseguido. (DIMENSTEINS, 2003, p. 22).
75

Portanto devemos ressaltar conforme Dimensteins61 diz no livro, O cidadão de


papel: “O direito de ter direitos é uma conquista da humanidade” (DIMENSTEIS,
2003, p. 22). Então todos os direitos que as crianças e adolescente possuem são
conquistas de lutas e reivindicações para que hoje possam ter o mínimo de
dignidade humana.

3.4. A violência sexual no Brasil

Durante muito tempo a criança não era vista como sujeito de direito, um ser
humano em constante construção e desenvolvimento das faculdades mentais e
físicas da vida, sendo assim, objeto dos adultos.

Antes de existir qualquer legislação de proteção à criança, a mesma era vista


como um objeto de prazer do homem e não eram reconhecidos como o verdadeiro
significado do nome criança.

Os serviços domésticos eram vistos como aprendizagem para as


crianças, para que elas sejam preparadas para uma atividade, um oficio no futuro.
“Assim, o serviço doméstico se confundia com a aprendizagem, como uma forma
muito comum de educação”. (ARIÈS,1981, p.156).

A descoberta da infância começou sem dúvida no século XVIII, e sua


evolução pode ser acompanhada na história da arte e na iconografia
dos séculos XV e XVI. Mas os sinais de seu desenvolvimento
tornaram-se particularmente numerosos e significativos a partir do
fim do século XVI e durante o século XVII. (ARIÈS, 1981, p.28).

Depois de muito tempo que foi visto o desenvolvimento da criança e em


meados do século XVII, que começou o descobrimento da infância, mas foi aos
poucos que foi conquistando todos seus direitos, até chegar aonde estamos agora.

A partir desse descobrimento que as crianças deixam de ser vistas como


“minis adultos” e começam a serem vestidos com roupas, acessórios delicados. “[...]
O traje feminino, tanto dos meninos pequenos como das meninas pequenas,
comportava um ornamento singular, que não encontrado no traje das mulheres:
duas fitas largas presas ao vestido atrás dos dois ombros, pendentes nas costas. ”
(ARIÈS, 1981, p.35).

61
Gilberto Dimenstein foi um escritor e jornalista brasileiro, e criador da página do portal Catraca
Livre.
76

Desde os primeiros dias de vida de um ser humano é necessária uma relação


rica de comunicação, atenção e muito carinho, para que durante sua vida possa
adquirir um desenvolvimento positivo na área física e emocional de sua vida. “E a
família transformou-se profundamente na medida em que modificou suas relações
internas com a criança”. (ARIÈS, 1981, p.154).

É pôr fim a criança tem a imagem e seu papel na família moderna. “A família
moderna, ao contrário, separa-se do mundo e opõe à sociedade o grupo solitário
dos pais e filhos”. “Toda a energia do grupo é consumida na promoção das crianças,
cada uma em particular, e sem nenhuma ambição coletiva: as crianças, mais do que
a família.” (ARIÈS, 1981, p.271).

Compreendendo isso, imagina que durante esse processo de


desenvolvimento esteja correndo risco por ter sofrido algum tipo de violência, é
preciso ficar atento ao que as crianças estão sendo expostas, fazer valer a proteção
que é dever, para que não haja danos nos mesmos. “A violência, por vezes
mal percebida pelas partes envolvidas, pode ser desencadeada por diversos fatores,
manifestando-se de formas diferentes; daí seu grande potencial de dano. ” (ADED et
al 2006, p. 206).

A violência é reconhecida como ato de uso de força física ou poder, que


resulte em sofrimento, dano psicológico, desenvolvimento prejudicado, privação ou
morte, contra a si mesmo ou outra pessoa, seja qual for a tipologia da violência usa-
se da força física ou poder. “Assim, o conceito de "uso de força física ou poder" deve
incluir negligência e todos os tipos de abuso físico, sexual e psicológico, bem como
o suicídio e outros atos auto-infligidos.” (DAHLBERG & KRUG, 2006, p. 1165).

Diante da expressão da questão social que é a violência, temos que dá


prioridade (atenção maior), a quem está começando a se desenvolver em seu
processo de construção da sua personalidade, conforme as relações com o
ambiente físico e social que convive, visto disto a criança precisa de assistência,
como cuidado em todas as áreas de sua vida que possibilite um amplo
desenvolvimento de suas faculdades mentais e físicas, tendo absoluta prioridade
perante o que está exposto na nossa carta maior.

Art. 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar


à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida,
77

à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à


cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar
e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão. (BRASIL, 1988).

Assim está regido na Constituição que é dever da família, Estado e sociedade


assegurar pela vida das nossas crianças que é o futuro do nosso país, então para
que o Brasil se desenvolva e possa existir ainda um futuro é preciso cuidar das
crianças, pois sem elas não há futuro. Violência sexual contra criança, é um
crime reconhecido pela legislação do Brasil, na Constituição Federal 1988, no art.
227 no§ 4° que declara punição a esse ato cruel. “§ 4º - A lei punirá severamente o
abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente. ” (BRASIL,
1988).

A violência sexual de crianças e adolescentes, além de um grave


problema de saúde pública, constitui um crime violento, reconhecido
como um desafio social, em decorrência das consequências físicas,
emocionais, como estresse pós-traumático, entre outros
comprometimentos ligados ao comportamento e desenvolvimento
cognitivo e psicossocial. (OLIVEIRA et al., 2014, p. 760).

Quando alguma criança sofre violência sexual, as consequências podem vim


imediatamente ou bem lentamente, por isso não se devem limitar as consequências
de um ato violento. Trata-se de tratar um fenômeno universal. Portanto a violência
sexual é entendida como um problema de saúde pública. “[...] violência, em especial
a de natureza sexual, entendida como fenômeno social [...].” (AZAMBUJA 62, 2013, p.
487).

Tais consequências podem ser imediatas ou latentes e durar por


anos após o ato abusivo inicial. Assim, definir as consequências
somente em termos de ferimento ou morte limita a compreensão total
da violência em indivíduos, nas comunidades e na sociedade em
geral. (DAHLBERG & KRUG, 2006, p. 1165).

Vista como fenômeno social, a violência sexual é qualquer tentativa de


consumar um ato sexual, insinuações ou ações sexuais não desejadas, podendo
ocorrer de diferentes formas, como através das forças, intimidação psicológica,
ameaças e extorsão.

62
Maria Regina Fay de Azambuja sua formação é Graduação em Ciências Jurídicas e Sociais pela
UNISINOS, Especialista em Violência Doméstica pela USP e Mestre em Direito pela UNISINOS e
Doutora em Serviço Social pela PUCRS.
78

Abuso sexual infantil (ASI) ocorre quando uma criança é submetida à


atividade sexual a qual não possa compreender, com a qual ela tem
o desenvolvimento incompatível, e que não possa dar consentimento
e/ou que viole as leis ou as regras da
sociedade. (Platt; Back; Hauschild &Guedert, 2018, p. 1020).

É preciso conscientizar as crianças sobre as partes intimas do corpo, o limite


do corpo, sempre analisando suas reações, comportamentos, pois a criança
está na fase de construção, não entendendo tamanho ato cruel diante dela, que por
dever de todos cidadãos é protegê-la, não compreendendo e sozinha não podendo
superar as consequências desse ato, pois a violência quando não causa morte, traz
consequências como problemas físicos, psicológico e sociais, podendo atingir não
só a vítima, mas também sua família, comunidade e sociedade.

Nos dias atuais mesmo com os estudos sobre abuso sexual infantil, ainda há
necessidade de mais estudos, O Disque 100, Disque Direitos Humanos demonstra o
número denúncias relativas a abusos sexuais em território nacional contra crianças e
adolescentes, mas sabe-se que nem todos os casos são denunciados e levados a
diante de um processo, a violência sexual tem que ser tratada como violação de
direito. “A escassez de trabalhos de autores brasileiros sobre o abuso infantil, no que
tange à dificuldade de caracterizar sua consumação, o acompanhamento dos casos
notificados às autoridades e a realidade das ocorrências policiais [...].” (ADED et al ,
2006, p. 206).

É necessário que haja cada vez mais serviços que prestam atendimento a
essas questões apresentadas de uma forma excelente, sendo atendimento imediato
ou não, para que as consequências desse ato no mínimo sejam amenizadas. “[...] é
fundamental que haja serviços que atendam a essa demanda de forma ágil,
acolhedora, em bom ambiente e com capacidade de atuar nas preocupações
imediatas (lesão física, DST, gravidez) e nas dificuldades psíquicas.” (FACURI;
FERNANDES; OLIVEIRA; ANDRADE & AZEVEDO, 2013, p. 890).

O abuso sexual infantil cresce cada vez mais no Brasil, e esse crescimento
tem por responsabilidade especialmente em São Paulo que em 2018 foram
denunciados 2.505, e em 2019 só no primeiro semestre do ano foram registrados
1.382 casos de denúncias no disque 100, de acordo com o Ministério da Mulher, da
Família e dos Direitos Humanos, esses são os casos que são denunciados no
disque 100.
79

Os dados divulgados no dia 18 de maio de 2020, pelo Ministério da Família e


dos Direitos Humanos, sobre a violência sexual contra crianças e adolescentes são
de 159 mil registros realizado pelo Disque 100, Direitos Humanos ao longo de 2019,
86,8 mil são de violações de direitos das crianças e adolescentes, em um aumento
de 14% em relação ao ano de 2018.

Lembrando que a violência sexual vem figurando 11% das denúncias, que se
relativa ao grupo específico, na qual vem corresponder a 17 mil ocorrências,
comparando ao ano de 2018. Esses crimes cometidos são classificados em abuso
ou exploração sexual, se tornando um principal fator na exploração das vítimas.

O levantamento dos dados pela Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos


(ONDH) buscou identificar que a violência sexual vem acontecer em 73% dos casos,
e sendo na própria moradia da vítima, trazendo fatores de agressão e maus tratos, e
cometida por pais ou padrastos em 40% das denúncias pelo Disque 100.

Conforme nessa pesquisa de dados, o suspeito que vem praticar essa


violência é do gênero masculino em 87% dos registros, entre faixa etárias de idades
entre 25 e 40 anos, para 62% dos casos registrados. Já as vítimas estão marcadas
pelos adolescentes entre 12 e 17 anos, sendo do gênero feminino em 46% das
denúncias recebidas no Disque 100.

Imagina ainda a quantidade de casos de abuso sexual infantil que não são
denunciados, crianças sendo submetidas a esse abuso a anos, e sem proteção
nenhuma da parte da família, Estado e sociedade, perante essa situação é
necessário que todos contribuam para o fim do abuso sexual infantil, a quem tem
que ter nossa prioridade, assim cada vez mais precisamos de profissionais
competente para lidar com essa situação e as possíveis consequências dessa
violência.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) tem por objetivo a proteção


integral à criança e ao adolescente de acordo com a lei nº 8.069/1990 no Art. 1º. Há
uma necessidade grande de fazer valer tudo que está redigido nas legislações, para
que haja uma junção com a teoria e a pratica.

Conforme Lamamoto & Carvalho (2014) ressalta, dentro dos profissionais que
formam uma equipe multiprofissional para atendimento as crianças vítimas de abuso
80

sexual infantil, a/o assistente social tem competência diferenciada para trabalhar
com esse tipo de violência. E também que na contemporaneidade, o Serviço Social
em variados espaços que ocupa, tem a competência de analisar as múltiplas
expressões da violência.

Não cabe somente ao Serviço Social essa análise, mas desafia os


profissionais, levando a refletir e discutir sobre a violência como objeto de trabalho,
pois é uma expressão da questão social, pois a/o assistente social tem a origem do
seu trabalho na questão social, e por isso ele também tem capacidade de lidar com
as expressões da natureza da violência, que se agrava mais por conta do
sistema capitalista. “Os/As assistentes sociais têm nas múltiplas expressões da
“questão social”, tais como vividas pelos indivíduos sociais, a “matéria” sobre a qual
incide o trabalho profissional.” (IAMAMOTO, 2014, p. 611).

A/O assistente social tem que ter posicionamento enfrente essa expressão da
questão social, e quais as ações possam estar sendo criadas, a reprodução desse
processo violento que é a violência sexual infantil, pois é um profissional que
compreende e estuda o contexto social histórico do usuário, conseguindo
compreender a reprodução dos atos e quais ações estratégicas para utilizar em
cada caso. Mesmo que a violência não seja algo novo, é na contemporaneidade que
ela vem se agravando e com essa consequência, no âmbito profissional da/do
assistente social aparecendo cada vez mais.

De um lado, observa-se o processo de destituição de direitos no


rastro da reforma conservadora do Estado e da economia, que
desencadeia um crescente e persistente processo de sucateamento
dos serviços públicos, de ofensiva sistemática contra os novos
direitos consagrados na Constituição de 1988, a partir de ampla
mobilização de forças sociais que lutaram pela democratização da
sociedade e do Estado no Brasil.(RAICHELIS63, 2010, p. 756).

Então a/o assistente social entende todo processo de privações dos direitos
do indivíduo, entendendo que a violência sexual é uma violação de direitos, se está
consagrado na Constituição de 1988 todos os direitos essenciais que foi conquistado
por forças sociais, o mesmo entendi que é por esse mesmo motivo e por essa força

63
Raquel Raichelis, possui graduação, mestrado e doutorado em Serviço Social pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Pós-doutorado pela Universidade Autônoma de
Barcelona. Professora assistente doutora da PUC-SP. Atual coordenadora do Programa de Estudos
Pós-Graduados em Serviço Social (2020-2021).
81

social que devesse cobrar pelos direitos, mediando estratégias para obter os
resultados.

3.4.1 Portaria 46/2010/SMADS - Tipificação dos serviços socioassistenciais

A portaria 46/2010/SMADS coordena a especificação da rede


sócioassistencial do município de São Paulo e o estabelecimento das normas de
parceria vinculada por meios de convênios. Considerando a normalização quando se
tem as responsabilidades institucionais e aos domínios nos processos da gestão dos
serviços sócioassistenciais realizados de modo direto e em conjunto das
organizações sem fins lucrativos, que a Secretaria Municipal de Assistência e
Desenvolvimento Social (SMADS) trata da incumbência do planejamento,
coordenação e a execução da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) pela
Gestão do Sistema Único de Assistência Social no Município (SUAS). Levando em
consideração que a Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência
Social (NOB/SUAS) impõe para municípios em gestão ampla, entre outras
responsabilidades referindo um resultando com as redes prestadoras de serviços
com conceito social para serviços de proteção social básica e especial.

Além disso, a SMADS e as organizações sem fins lucrativos devem manter o


trabalho e o desenvolvimento dos resultados nos serviços sócio assistenciais, uma
competência sócio pedagógico, técnico-operativa e administrativo-contábil. O SUAS
da cidade de São Paulo se estrutura por: serviços, programas, projetos e benefícios
que se direciona sobre o poder de programas e estratégias nacional, estadual e
municipal, sendo que o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) se
associa nos eixos da estrutura do SUAS na isenção familiar e na territorialização e
alavanca a rede sócio assistenciais de proteção social das famílias.

Conjunto de serviços, programas, projetos e benefícios no âmbito da


assistência social prestados diretamente – ou por meio de convênios
com organizações sem fins lucrativos -, por órgãos e instituições
públicas federais, estaduais e municipais da administração direta e
indireta e das fundações mantidas pelo poder público. É modo de
gestão compartilhada que divide responsabilidades para instalar,
regular, manter e expandir as ações da assistência social (SPOSATI,
2006, p.130).

A Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais, é aprovada pelo


Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), na resolução Nº 109, de 11 de
82

novembro de 2009, regulamentado por todo território nacional dos serviços da


proteção social básica e especial, instituindo direitos essenciais em forma de
serviços voltados a comunidades, assim garantindo os direitos socioassistenciais
para a população que vivem em estado de vulnerabilidade social.

A aprovação foi de grande importância sobre a Tipificação Nacional de


Serviços Socioassistenciais, pois representou um novo avanço para a assistência
social, levando em consideração as garantias dos direitos à população e dando
apoio, cuidado e proteção as famílias.

A implantação do CREAS, nos municípios, deve ser posterior à


realização de um planejamento, constituído de diagnóstico sócio
territorial, que objetive a identificação das situações de violação de
direitos existentes no município; identificação do número de CREAS
necessários para atender à demanda; definição dos territórios de
abrangência e dos serviços a serem ofertados; levantamento de
custos; elaboração de projeto técnico para implementação dos
serviços, constando metodologia de trabalho a ser utilizada,
procedimentos administrativos e técnicos e fluxogramas; instalação
de toda infraestrutura necessária para o funcionamento;
planejamento da política de capacitação permanente e mobilização
de toda rede sócio assistencial. De acordo com a Tipificação
Nacional dos Serviços Sócio assistenciais, o CREAS pode ofertar os
serviços: PAEFI (Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a
Famílias e Indivíduos), Serviço de Proteção Social a Adolescentes
em Cumprimento de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida e
de Prestação de Serviços à Comunidade, Serviço Especializado em
Abordagem Social e Serviço de Proteção Social Especial para
Pessoas com Deficiências, Idosas e suas Famílias. (GOMES, 2013,
p, 67 e 68).

Os Serviços de Proteção Social Especial de Média Complexidade têm o


Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI);
que de acordo com a norma da Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais
é um serviço que apoia, orienta e acompanha às famílias com um ou mais membros
da família que venha está em situação de ameaça ou violação de direitos.

A portaria 46/2010/SMADS possui sobre os convênios e terceirizações dos


serviços socioassistenciais no Estado de São Paulo. Vale ressaltar que o SPVV é
especifico do município de São Paulo, outros municípios e outros Estados do Brasil
administram todas as demandas dentro do CREAS e nos serviços expostos na
tipificação, portanto não possui nenhum serviço com a nomenclatura do SPVV,
como o Estado de São Paulo é a unidade federativa mais populosa do Brasil, assim
83

foram necessários os convênios com instituições para conseguir atender a todos


com uma melhor qualidade.

O equipamento designado a acolher questões relacionadas à


violência contra crianças e adolescentes é o Centro de Referência
Especializado da Assistência Social (CREAS), responsável pela
proteção especial de média complexidade, conforme a tipificação
vigente. Em alguns municípios de maior contingente populacional,
como o de São Paulo, pela inviabilidade de a estrutura de gestão
municipal gerenciar e contemplar toda a demanda, o CREAS
terceirizou o serviço de proteção especial, através de parcerias com
organizações não governamentais que efetuam o serviço seguindo
as diretrizes estabelecidas pela Secretaria da Assistência Social.
(PENTEADO, 2015, p.11).

A portaria 46/2010/SMADS apresenta as redes de serviços socioassistenciais


tomando por base a tipificação nacional e corresponde, portanto, aos serviços
concedidos pelo Sistema Único de Assistência Social, por meio de níveis de
proteção e complexidade, a presente normativa foi aprovada pelo Conselho Nacional
de Assistência Social (CNAS) na qual se tornou uma grande vitória para Assistência
Social, a partir de 11 de novembro de 2009 por meio da resolução 109:

A portaria 46/2010/SMADS dispõe dos serviços para melhor estruturar tem o


intuído de diminuir as situações de exclusão e vulnerabilidade social 64, assim
buscando padrões de qualidades e normas técnicas para os serviços
socioassistenciais, considerando os serviços conveniados tanto na Proteção Social
Básica e Proteção Social Especial de Média e Alta complexidade.

Portanto essa portaria tipifica os serviços socioassistenciais oferecidos pelo


SUAS, sem descriminação de classe social, pois a Assistência Social não é somente
para aqueles que estão na condição de vulnerabilidade social, mas para todos
aqueles que dela precisar, como por exemplo, as pessoas que vivem em situação de
violência psicológica ou física, não necessariamente estão passando por pobreza.

64
Vulnerabilidade Social são indivíduos ou grupos que vivem em condição de uma fragilidade
material, devido situações que tem a ver com o contexto socioeconômico.
84

3.4.2. Normas técnicas do serviço de proteção social às crianças e


adolescentes vítimas de violência (SPVV)

A criança e o adolescente desde época medieval 65 passam por diversas


violências, e na contemporaneidade houve conquistas através de luta social, é uma
delas foi o ECA onde toda criança e adolescente está respaldado, tendo proteção
integral. Existem também serviços que tem a função da prevenção da violência e o
que trabalha depois que sofreu algum tipo de violência.

O SPVV faz parte do pós-violência que se enquadra na proteção social


especial, que é coordenado e supervisionado pelo CREAS, como é exposto em suas
Normas Técnicas mantém uma relação direta que opera como referência e contras
referência com a rede de serviços sócio assistenciais da proteção social básica e
especial, com o Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, Conselhos
Tutelares e outras organizações que tem por finalidade defesa de direitos, com a
finalidade da proteção do indivíduo atendido.

E para assegurar um comando único e a gestão estatal, o CREAS tem a


responsabilidade do acompanhamento da prestação de serviço ao SPVV e tem
como suas atribuições diante desse serviço, as realizações de reuniões mensais de
coordenação técnica de monitoramento com as executoras do serviço, tendo acesso
aos relatórios, prontuários e ao Plano Individual de Atendimento (PIA) que se refere
aos casos atendidos.

Também é atribuição do CREAS durante essas reuniões propor estudos de


casos em conjunto com a executora, articulação com o Sistema de Garantia de
Direitos, como a inclusão do Cadastro Único, articulando com o CRAS para inserção
na rede sócio assistencial da proteção social básica, mas só quando há inserção na
rede sócio assistencial na proteção social especial e nos programas de transferência
de renda quando é acompanhado as visitas domiciliares necessárias.

Segundo as Normas, o SPVV oferece serviços como: atendimento social,


psicossocial e articulação intersetorial, para atender as crianças e adolescentes
vítimas de violência doméstica, abuso ou exploração sexual, também é oferecido o

65
Medieval é a característica da Idade Média um período da história após a queda do Império
Romano do Ocidente, ou seja, daquilo que está ultrapassado ou venha está conservado.
85

atendimento para as famílias das vítimas e quando possível aos agressores. E


também o resultado do serviço prestado tem como proporcionar o fortalecimento da
autoestima, superação da violação de direitos e reparação da violência vivida.

As Normas Técnicas elucidam que o público alvo a ser atingido pelo SPVV
são crianças e adolescentes de 0 a 17 anos e 11 meses, vítimas de violência
doméstica, abuso e exploração sexual, suas famílias. Sendo assim um dos seus
objetivos é assegurar a promoção à defesa e garantia dos direitos dos atendidos do
serviço.

O SPVV funciona em dias úteis por um período de 8 (oito) horas diárias, mas
pode haver uma flexibilização de horário por conta da necessidade dos atendidos.
Para estabelecer o padrão técnico para execução dos serviços, existem normas que
tem consonância com a PNAS e a NOB/SUAS.

Ressalta nas Normas Técnicas que o SPVV dever ser encontrado em


espaços/locais próprios, locados ou cedidos, administrados por organizações sociais
sem fins econômicos e para usá-lo tem que ser encaminhado pelo CREAS, CRAS,
Poder Judiciário ou Conselhos Tutelares. Havendo assim dentro do espaço do
serviço uma parte para recepção e acolhida para os atendidos, salas de atendimento
individual e para atividades coletivas e comunitárias.

Para que o serviço funcione de forma adequada, é exigido ter 1 gerente, 4


técnicos (sendo eles compostos por assistentes sociais e psicólogos), 1 orientador
socioeducativo, 1 auxiliar administrativo e 1 Agente Operacional, mas se no SPVV
for para 80 atendidos será necessário mais 1 técnico e mais 1 orientador
socioeducativo. É necessário a supervisão técnica do CREAS e os indicadores para
avaliação do SPVV no registro de monitoramento e avaliação da execução do
serviço, prestação de contas da aplicação dos recursos financeiros.

Este serviço tem como objetivo específico, trabalhar o fenômeno é os riscos


causados por ele, na intenção de prevenir o agravamento da situação, promover a
interrupção do ciclo da violência, contribuir para a responsabilização dos autores da
violência, favorecer a superação da situação que se encontra, com a reparação e os
fortalecimentos dos vínculos familiares e comunitários, potencialização da autonomia
e ao resgate da dignidade.
86

Além desses objetivos específicos citados a cima o serviço também tem como
objetivo a articulação com as demais redes de políticas públicas, para fortalecer a
prevenção da violência, propiciando atendimento psicossocial individual ou grupais,
contribuindo com o sistema de informações sobre a violação de direitos da criança e
adolescente, tendo comunicação permanente com os órgãos do Sistema de
Garantia de Direitos, garantindo a qualificação continua dos profissionais envolvidos
no atendimento destinado aos atendimentos é assim contribuindo para o
fortalecimento das ações coletivas pra o enfrentamento da violência.

Assim, a proposta de tratamento do SPVV é a de possibilitar uma


restituição da subjetividade supostamente perdida pela criança
abusada. O atendimento propõe que a vítima recupere, dessa
maneira, sua condição de sujeito que estaria perdida. (PENTEADO66,
2015, p. 45).

O SPVV é um serviço voltado a atender crianças e adolescentes vítimas de


violência sexual, física e psicológica. Esse serviço tem o comprometimento de uma
equipe multiprofissional como assistentes sociais, psicólogos e orientadores
socioeducativos que atuam no trabalho voltado às crianças e adolescentes que
sofreram por algum tipo de violência, assegurando seus direitos sociais e buscando
intervenções que possibilitam resgatar a autonomia dos sujeitos e os danos
causados. Assim fortalecendo do convívio familiar, resgatando a o desenvolvimento
emocional, tratando os traumas causados pela violência. O SPVV presta esses
atendimentos psicossociais no intuito de ser reconhecido como o centro de
excelência na atuação e no cuidado psicossocial, objetivando a quebra do ciclo de
violência.

O SPVV tem como dever a prestação de atendimentos psicossociais,


conceito que ainda está em construção pelas próprias instituições
que o executam. Por ser uma modalidade que buscam uma mescla
entre os saberes do Serviço Social e da Psicologia em atendimento
unificado, há um esforço de compreensão destas questões por parte
da Secretaria da Assistência Social. Assim, o objetivo do serviço é
reparar supostos danos à criança ou ao adolescente causado pela
violência sofrida. (PENTEADO, 2015, p.10).

A atuação do profissional transfigura-se através de instituições que prestam


serviços públicos a sociedade, que buscam os serviços sócios assistenciais para o
fortalecimento da autonomia e direitos sociais com intervenções na pratica

66
Joana Manasses Penteado sua formação é psicóloga pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo em 2007, mestre em Psicologia Social pela PUC-SP com Especializações em Psicanálise.
87

profissional de uma equipe multiprofissional que universaliza a preocupação da


questão social na base teórico-metodológico e sua ética profissional no desemprego,
pobreza, violência e entre outras questões das políticas públicas.

A atuação do profissional do SPVV muitas vezes situa-se em uma


posição delicada, devida à interface de um contexto que mescla os
saberes das políticas públicas, do campo jurídico e da clínica, cada
uma com pressupostos teóricos diversos. Este trabalho de interface
profissional é um desafio para os profissionais envolvidos. A fim de
conhecer os percursos utilizados para sustentar a formulação da
política proposta pelo Serviço de Proteção, segue um recorte das
referências utilizadas. (PENTEADO, 2015, p.40).

Levando em consideração o SPVV deve ser uma resposta das diversas


expressões da questão social que acontece com a criança e adolescente, que junto
com a família, sociedade e Estado deve colocar a salvo de todo tipo de violência e
garantir os direitos básicos para uma vida digna, na prática já não acontece a
mesma coisa, nem todos tem acesso ao direito básico, e isso infelizmente acaba
aumentando mais as expressões da questão social.

No que se refere a atribuição da/do psicólogo/a na Assistência Social, cabe


lembrar que a Psicologia foi regulamentada como profissão em 1962, enquanto a
ditadura militar se instalava no país, no ano de 1964, neste contexto, o psicólogo/a
só fazia psicoterapia67, com isso nos anos 80, já cogitavam novas mudanças na
atuação profissional na qual abordaram o lema do compromisso social de presidir na
atuação psicológica. Segundo suas atribuições apresentam que desde então, vários
movimentos foram realizados pelos/as psicólogos/as junto às entidades da
psicologia brasileira em um novo comprometimento das práticas dos profissionais
com os cidadãos brasileiros destacando o trabalho e as suas atividades profissionais
de psicologia atuando em conjunto com o Sistema Único de Assistência Social
(SUAS), sendo uma política pública que trabalha com intervenções aos indivíduos
em situação de vulnerabilidade social.

A inserção da/do psicólogo/a nas políticas públicas cresceu muito nos últimos
dez anos. Essa construção da Psicologia nas políticas é um importante
compromisso social com a participação desses profissionais de todo o país. A partir
dessa perspectiva, é valorizada a construção de práticas comprometidas com a

67
Psicoterapia é um modelo de terapia que tem por finalidade de tratar os problemas psicológicos
como a depressão, ansiedade.
88

transformação social, em direção a uma ética voltada para a emancipação humana.


Assim com diferentes trocas de experiências e saberes, criam diversas alternativas
para o fortalecimento dos indivíduos e grupos, e para o enfrentamento da situação
de vulnerabilidade social.

No Serviço de Proteção Social às Crianças e Adolescentes Vítimas (SPVV)


que é um serviço da assistência social, a/o psicóloga/o tem como atribuições da/do
psicólogo a responsabilidade da construção e a avaliação psicológica de cada caso
individual e/ou familiar, assim contribuindo na intervenção psicológica e nas
demandas, dando o suporte necessário nas outras áreas, seguindo o trabalho
conforme suas normas éticas.

Segundo suas atribuições dentro dessa política, a/o psicólogo/a que trabalha
neste setor tem como intenção trabalhar com as famílias previamente nas questões
psico-dinâmicas68 dos sujeitos a violências, caracterizando as necessidades
psicológicas vivenciadas pelas vítimas de violência sexual, física, doméstica e entre
outros, tendo na intervenção o acolhimento e cuidado dos sintomas de violência,
visando a autonomia do indivíduo, assim a psicologia tem também como outras
ações, os atendimentos individuais, familiares e em grupo, visitas domiciliares e
institucionais, participação em eventos e a articulação com outros órgãos do sistema
de garantia de direitos.

Conforme afirma suas atribuições é também dever da/do psicólogo/a se


engaja também em uma questão muito importante, na transformação social, onde
busca resgatar e/ou desenvolver potencialidades, assim promovendo a
emancipação social das famílias e comunidade. Então suas atribuições se
manifestam no campo de ponderar e atuar na subjetividade dos sujeitos. Essas
ações são organizadas através da realidade de cada sujeito, considerando sua
historicidade cultural e social permitindo assim intervenções que norteiam naquilo
que condiz com a pessoa ou lugar a ser atendido.

Quando a Psicologia vem atuar no SUAS ela deve ter clareza das diretrizes e
finalidades da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e da Proteção Social
Básica (PSB), conforme a PNAS e a PSB vão orientar o profissional de psicologia a

68
Psico-dinẫmicas vem ser uma abordagem adotada pelos profissionais de psicologia, onde vai se
referir a teoria psicanalítica.
89

trabalhar na articulação para execução das políticas públicas e de desenvolvimento


social dos sujeitos.

O trabalho da/do psicólogo/a deve estar sempre articulado com o profissional


do Serviço Social, pois deste modo busca uma relação dos saberes e os
preenchimentos das relações dos serviços oferecidos ao usuário, intervindo em uma
forma de integração no seu contexto social, baseado nos aspectos sociais,
econômicos, políticos e culturais.

O trabalho da/do psicólogo/a e da/do assistente social deve estar


consecutivamente articulado, deste modo procura uma analogia dos saberes e os
complementos das relações dos serviços oferecidos aos usuários, e com suas
intervenções potencializando os recursos para um trabalho completo de
psicossocial, nutrindo o compromisso ético político com o serviço proporcionado.

Atuar na valorização da experiência subjetiva do sujeito contribui


para fazê-lo reconhecer sua identidade. Operar no campo simbólico
da expressividade e da interpretação com vistas ao fortalecimento
pessoal pode propiciar o desenvolvimento das condições subjetivas
de inserção social. Assim, a oferta de apoio psicológico de forma a
interferir no movimento dos sujeitos e no desenvolvimento de sua
capacidade de intervenção e transformação do meio social onde vive
é uma possibilidade importante (CFP, 2005).

É importante destacar que a/o psicólogo/a que trabalha na área da


assistência social deve tomar como foco as obrigações e objetivos que tem a
finalidade de contribuir na mudança social, focando na população atendida com a
intenção de compreender e intervir em cada demanda, valorizando as expectativas e
experiências.

Por fim a Psicologia tem que favorecer os processos e os espaços da


participação social nas suas ações e contribuindo no exercício da cidadania,
autonomia e controle social, priorizando o atendimento em casos e situações com
maior risco de vulnerabilidade social ou psicossocial, desenvolvendo ações nas
instalações do CRAS e das redes sócio assistenciais de toda comunidade que
venha precisar do trabalho profissional da Psicologia.
90

4. HISTÓRICO DO SERVIÇO DE PROTEÇÃO SOCIAL ÀS CRIANÇAS E


ADOLESCENTES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA – HERDEIROS DO FUTURO

No dia 05 de agosto em 2006 foi fundado o Instituto Herdeiros do Futuro onde


essa entidade tem como visão desenvolver projetos sociais voltados para as
crianças e adolescentes vítimas de violência sexual, física e doméstica, em
atendimento psicossocial e pedagógico, sendo legal e gratuito aos atendidos do
serviço. Deste modo iniciaram o trabalho para crianças e adolescentes, com a ideia
da psicóloga Rosemary Naomi Setokushi e da assistente social Cinthia Carvalho,
onde ambas já tinham experiências de intervenções às crianças vítimas de violência
domésticas, garantindo o direito da criança de ser protegida e cuidada, conforme o
ART. 3° da LEI N° 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da
Criança e Adolescente:

ART. 3° A criança e o adolescente gozam de todos os direitos


fundamentais inerentes á pessoa humana, sem prejuízo da proteção
integral de que trata esta lei, assegurando-se-lhes, por lei ou outros
meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em
condições de liberdade e de dignidade. (BRASIL, 1988).

O primeiro trabalho da Organização Herdeiros do Futuro foi na zona sul da


cidade de São Paulo, em Santo Amaro, no acolhimento em abrigos para crianças e
adolescentes, e o trabalho com pessoas que já vinham tendo um histórico de
violência em sua própria família. Cabe ressaltar que com o aumento de crianças e
adolescentes, muitos casos em relação aos familiares, o abrigo acabava abrigando
tanto os filhos como as genitoras responsáveis pela criança ou adolescente.

A Instituição Herdeiros do Futuro passou a ser reconhecida cada vez mais


pelo atendimento voltado a esse público alvo e pelos profissionais que levavam aos
seus serviços habilitados, e assim utilizavam técnicas terapêuticas baseado em um
material especifico. No início a instituição era mantida por um grupo de pessoas
físicas e jurídicas que levavam uma quantia em contribuição mensalmente para
manter a instituição e seus projetos voltados para crianças e adolescentes vítimas
de violência. Em 2009 tiveram uma parceria com o Instituto HSBC que proporcionou
mais dois profissionais contratados para exercer esses atendimentos a criança e ao
adolescente, sendo que em 2010 o Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do
91

Adolescente (FUMCAD), possibilitou mais 6 profissionais, assim tornando o trabalho


da instituição mais conhecido e por uma boa qualidade no serviço.

A Prefeitura de São Paulo no ano de 2011 por meio da Secretaria Municipal


Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), em convite a instituição para
participarem das audiências públicas e concorrer os serviços de proteção social e
núcleo de proteção jurídica, conforme tipificados na Portaria SMADS 46 e 47/2010,
trazendo o crescimento de mais duas unidades de atendimento, uma em Jardim São
Luís região de M’Boi Mirim e outra em Capão Redondo em 2011, já 2012 mais uma
no Jardim São Luís, que tem o foco de atendimento nas violações de direitos contra
idosos, pessoas com deficiências e mulheres, além das crianças e adolescentes.

Em 2016 abriram a mais nova unidade no Capão Redondo para atendimento


às mulheres em parceria com a Secretaria da Mulher, sendo que hoje a instituição
conta com uma equipe de 47 colaboradores registrados em regime da Consolidação
das Leis Trabalhistas (CLT), além disso, tem voluntários na diretoria, e serviços
prestados para atuar na quebra da violência doméstica, tanto sexual quanto familiar
através de ações e melhoria da saúde mental e defesa de direitos, zelando pela
garantia dos direitos a esses atendidos, conforme o ART. 90. no Estatuto da Criança
e Adolescente, que diz:

ART. 90. As entidades de atendimento são responsáveis pela


manutenção das próprias unidades, assim como pelo planejamento e
execução do programas de proteção e socioeducativos destinados a
crianças e adolescentes. (BRASIL, 1988).

A instituição acabou passando a oferecer o atendimento social levado pelos


profissionais da instituição como também o atendimento psicológico para seus
usuários no objetivo de resgatar o fortalecimento dos vínculos familiares e
garantindo a quebra do ciclo de violência, para que não ocorra novamente esses
casos de violência sexual, física e domestica contra à criança e adolescente.

O Serviço de Proteção Social às Crianças e Adolescentes Vítimas de


Violência (SPVV) se conveniou ao Centro de Referência Especializado da
Assistência Social (CREAS), atuando com a rede de serviços sócio assistenciais da
proteção social especial, trabalhando com atendimento social, psicossocial para as
crianças e adolescentes vítimas de violência, onde na instituição Herdeiros do
Futuro, vinculou-se com o Serviço de Proteção Social ás Crianças e Adolescentes
92

Vítimas de Violência, atendendo além das crianças e adolescentes, os familiares e


quando possível ao agressor que venha a cometer a violência, assim na garantia de
proporcionar o fortalecimento da autoestima e a superação da situação violada pelos
seus direitos e a reparação da violência vivida na garantia do Estado que tem o
dever de proteger a criança e ao adolescente.

A Proteção Social Especial veio para responder situações na qual os direitos


sociais, coletivos e individuais sejam ameaçados, para que não haja irregularidade
por pessoas e instituições que venham violar os direitos dos cidadãos, onde a
proteção social especial deve ser organizada em atender as famílias e indivíduos na
garantia dos seus direitos sociais. Essa proteção lidar com várias situações de maior
complexidade, trazendo instituições e profissionais especializados para atuação
interdisciplinar e uma equipe multiprofissional especializada nos casos que precisam
ser acompanhados para uma intervenção.

Tem por objetivo prover atenções socioassistenciais a famílias e


indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social,
por ocorrência de abandono, maus-tratos físicos e/ou psíquicos,
abuso sexual, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de
rua, situação de trabalho infantil, entre outras. (BRASIL, 2005, p.20).

Assim o serviço da proteção social especial vinculado ao CREAS onde


mantém a relação direta com a equipe técnica da instituição, que deverá operar na
referência e contra referência com a rede de serviços sócio assistenciais tanto na
proteção social especial e a básica, junto ao Poder Judiciário, Ministério Público,
Defensoria Pública, Conselhos Tutelares e entre outras Organizações de Defesa de
Direitos de demais políticas públicas, assim estruturando uma real proteção social a
criança e o adolescente. Portanto o objetivo é de identificar o fenômeno e os riscos
decorrentes, prevenindo o agravamento da situação, promovendo a interrupção do
ciclo da violência, para superação da situação vivida e contribuir na devida
responsabilização dos autores da agressão ou exploração.

O SPVV é um serviço de extrema importância na sociedade brasileira, pois


em São Paulo só aumenta os casos de violação dos direitos da criança e
adolescente, e em sua maioria a violação vem da própria família ou de pessoas
próximas. Infelizmente uma criança pode estar tendo seus direitos violados do nosso
lado e não sabemos, então quando notamos essa violação devemos denunciar para
93

que essa criança tenha seus direitos garantidos, pois é dever do Estado, família e
sociedade manter a criança a salva de todo tipo de violência.

Quando a criança ou adolescente sofre violência e ela não é tratada pode


gerar sérias consequências negativas no desenvolvimento da sua vida e resultados
graves na vida adulta, e para que essas consequências negativas não aconteçam. O
trabalho da proteção social especial é indispensável, então o SPVV é um serviço
que proporciona o resgate da recuperação das sequelas causadas pela violência e
com os profissionais qualificados que trabalha neste serviço, conseguem chegar a
esse objetivo.

4.1. Análise crítica

Para dá início as análises partiram a princípio de um fato muito significativo


que é entender se a função e as atividades que os sujeitos da pesquisa
desenvolvem no SPVV estão de acordo com sua formação profissional, no intuito de
verificar se seguem as Normas Técnica do serviço como está tipificado na Portaria
46/2010/SMADS. A equipe multiprofissional do SPVV do Capão Redondo é
composta de acordo com o normatizado da quantidade dos seus atendidos, que são
80 famílias.

Para realização da pesquisa se disponibilizou a gerente, 1 assistente social, 2


psicólogos e 1 orientadora socioeducativa, verificamos sob os entrevistados que
suas funções estão de acordo com suas formações, trazendo ainda a autonomia que
os mesmos têm dentro no espaço de trabalho, onde conseguem desenvolver seus
papeis.

Eu sou Assistente Social de formação e eu hoje estou como gerente


da unidade, eu tenho como atribuições bastante burocráticas
também, então desde de coisas como prestação de contas com a
prefeitura a organizar demandas o que entra e o que sai, que casos
ficam e que casos vão, a negociar com o CREAS e quais os casos
que vou receber novos, o quanto estou atendendo pela capacidade
ou não, e tudo isso são atribuições enquanto gerente, organizar e
gerenciar a própria equipe, as atividades da equipe e também a
saúde da equipe, olha percebi que a equipe está bem ou se a equipe
está adoecida, o que está acontecendo agora, perceber coisas no
sentido de que ora, percebo que a equipe não está se relacionando
bem, vamos ver o que está acontecendo, são atribuições do gerente,
organizar doação, por exemplo em época de pandemia muita gente
que doar muitas coisas, e ai cabe a mim a organizar isso do quanto
que a gente recebe ou não recebe, para quem doa, para quem não
94

doa, e também fazer o acompanhamento técnico dos casos, então


essas são todas as partes das atribuições da gerência. Se ela está
em consonância com a minha formação, eu acho que em parte sim,
boa parte do que faço eu aprendi na faculdade a supervisão técnica
dos casos, pode pensar e refletir sobre do que estou fazendo, então
é uma função que tem que estar sempre voltando, no porquê tenho
que fazer isso, porque tem que ser assim, são tudo coisas que a
gente aprendi também na faculdade. Então é questão dialética e isso
vai se aplicando e claro que fui apreendendo do lugar de gerente,
aplicar essa dialética não só para uma família mais também para a
equipe. Então tem coisas que sim, estão dentro da minha profissão e
tem coisas que não, tem coisas que são muito novas e que requer
bastante coisas que não aprendi na faculdade por exemplo. (sic)

Observamos clareza de cada profissional enquanto seu papel, sua liberdade


ao exercer sua profissão e reconhecer seus limites. Notamos que mesmo que o
cargo não exija a formação que o profissional se enquadra, por ter um viés
totalmente ligado ao social, mostra que vem de encontro com a sua formação. A
gerente do serviço é formada em Serviço Social, mesmo com bastantes serviços
burocráticos para fazer, a mesma liga vários pontos específicos da sua formação,
como exemplifica na questão da supervisão técnica de caso e a dialética, mostrando
que fez a práxis e está usando método marxista, onde a história vai se transformar a
partir da dialética, aplicando na equipe multiprofissional que gesta. A orientadora
socioeducativa apesar de não precisar ter nenhum tipo de formação para esse
cargo, a mesma faz ligação do que está cursando, que é pedagogia, deixando claro
que envolve totalmente o que ela faz no espaço, como lidar e observar o
desenvolvimento das crianças.

Conforme citamos no terceiro capítulo o SPVV oferece atendimento social,


psicossocial e articulação intersetorial, para atender as crianças e adolescentes
vítimas de violência doméstica, abuso ou exploração sexual, é oferecido o
atendimento para as famílias das vítimas e quando possível aos agressores. Nos
relatos abaixo, os sujeitos da pesquisa trazem com verdadeira propriedade o
objetivo do serviço que estão inseridos, indo de encontro com o que o Penteado
(2015) vai dizer no terceiro capítulo sobre o SPVV, que a proposta desse serviço é
conseguir restituir a subjetividade que supostamente pode ter sido perdida pela
criança vítima de violência, propondo que a mesma tenha a possibilidade de
recuperar.

SPVV é um serviço de proteção social para criança e adolescente


vítimas de violência a gente atende de 0 a 17 e 11 meses para entrar
95

no serviço se passar da idade e a pessoa estiver no atendimento ela


permanece até ela ter alta, a gente trabalha com atendimento
psicossocial não é terapia, as pessoas pensam que é terapia, mas
não é terapia, a gente faz atendimentos da criança, dos familiares e
do agressor em alguns momentos a gente faz atividades em grupo
ou individual as vezes o atendimento é só com a/o Assistente Social
ou com a/o Psicólogo, as vezes eu entro no atendimento com
orientador e com Psicólogo ou até mesmo com a/o Assistente Social,
e a gente faz fortalecimento de vínculos reestabelecimento da
violência, faz atividade em grupo, é basicamente isso. (sic)

Notamos a resplandecência nas falas dos profissionais sobre o que é o


SPVV, trazendo o olhar que o serviço tem para crianças e suas famílias que
passaram por alguma situação de violência, o resultado que o SPVV pode cumprir
como a quebra do ciclo da violência, elucidando o papel que Estado tem que ter com
as crianças/adolescentes. No terceiro capitulo é mostrado como o Estado, família e
sociedade é responsável pela proteção integral das crianças, a lei que garante essa
proteção que está na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do
Adolescente, ainda colocam a observação muito importante sobre serviço, que é da
assistência social, o trabalho da/do psicólogo/a dentro dessa política que é
psicossocial, não terapêutico, ressaltando que as/os psicólogos que trabalham com
terapia está na área da saúde, trazendo o objetivo do apoio e cuidado que esse
equipamento da assistência deve ter.

As colaborações que a equipe multiprofissional apresenta nos relatos são


bastante pertinentes, ressaltam a importância de falar sobre sexualidade, pois assim
as crianças compreenderiam sobre as partes intimas do corpo e o limite. Por muitas
vezes a violência sexual vem estampada do abuso sexual infantil como Platt; Back;
Hauschild &Guedertvai (2018) explica que o abuso sexual infantil ocorre quando
uma criança é submetida ações, insinuações e atos sexuais que não possam
compreender, pois se as crianças não compreende o que aconteceu com elas, esse
dano desse ato cruel pode causar morte e também traz consequências como
problemas físicos, psicológicos e sociais, fora que falar sobre a sexualidade ajudaria
na prevenção dos casos velados.

Nas colaborações a equipe multiprofissional comenta contextualizando dos


atendimentos das famílias, a valorização e a prioridade que dão nos primeiros
momentos do acolhimento, como eles enquanto equipe devem saber como essas
famílias estão sendo protegidas, quais são as redes que estas famílias são
96

atendidas, nos traz para o entendimento de cuidar da violência requer não só essa
parte subjetiva da violência, mas o cuidado concreto que tem que ter com as
famílias. Ressaltam que para cuidar da violência é uma coisa ampla e não tem como
cuidar de algo interno, se está passando por escassez de algo necessário para
sobreviver. Essa forma de proteção, colocando que é tarefa do SPVV, além dessas
questões vemos a importância que a gerente tem com a equipe multiprofissional,
pois diz que a equipe é o apoio um dos outros, visto que os profissionais também
podem adoecer, então os mesmos são apoio uns dos outros, se fortalecendo juntos.

Vale ressaltar que em algumas falas vemos que não deve ser ditas, mas
acredito que a/o assistente social do espaço possa orientar sobre a quebra de falas
conservadoras construídas dentro da sociedade, vendo que em sua grade curricular
trabalha muito as desconstruções das raízes conservadoras que permeia o social,
como termo menor e a família não ter estrutura, pois menor remete a inferioridade, e
quando temos o ECA ele vem com essa alteração, para a quebra desse
conservadorismo, substituindo para criança ou adolescente, em relação das famílias,
todas tem sua estrutura de acordo com suas situações e vivencias, portanto não
existe família desestruturadas, mas sim que precisam fortalecer seus vínculos e
potencializar sua autonomia.

O Brasil é um país com raízes conservadoras: como preconceito, racismo e


machismo, onde o valor da mercadoria vale mais que uma vida, como é relatado no
primeiro capítulo da realidade da sociedade antes e durante a história do Serviço
Social, vemos assim como funciona poder da Igreja Católica e o Estado conservador
com intuito de dominar a classe trabalhadora afeta até os dias de hoje, tempos
modernos que não quebram as raízes que afetam de um modo negativo uma parte
da população, a pirâmide do poder econômico não muda, o acumulo das riquezas
está ai estampadas para todos ver, Marx na sua teoria da mais-valia nos explica isso
e diz para quebra total do conservadorismo, exploração e dominação precisamos
adquirir a consciência de classe.

A política de Assistência Social deve ser vista além de uma proteção social, e
sim uma seguridade social que deve ser garantida. É fundamental que as/os
assistentes sociais, psicólogos/as e orientadores socioeducativos que trabalham no
SPVV, estejam envolvidos na implementação do Sistema Único de Assistência
97

Social (SUAS), afinal esse serviço faz parte da Assistência Social, e estando
envolvidos no SUAS, os mesmos vão ter clareza nas funções e as possibilidades
que traz as políticas sociais que faz parte da Seguridade Social, pois a Assistência
Social não é a única política que deve ser responsável a responder as demandas
das violação de direitos, violência e as desigualdades sociais. Portando essas
demandas devem ser enfrentadas também pelas políticas econômicas em assunto
de gerar emprego e renda a população que precisa, para que assim a violência que
é a expressão da questão social que o SPVV atende, seja tratada de forma
concreta.

Foi verificado com os entrevistados suas opiniões referentes a esse serviço


de proteção está inserido na Assistência Social, os mesmos explicam com base em
seus conhecimentos na política, junto da experiência de trabalhar nela.

Eu acho primeiramente assim, dentro do LOAS, dentro do CONAN,


que é o Conselho Nacional de Direito da Infância, está dito que toda
criança vítima de violência ela tem direito a assistência integral. Em
São Paulo que é o único município que terceiriza esse tipo de serviço
por exemplo em qualquer outro lugar isso é feito de forma estatal e
direta, então é a própria prefeitura que executa esse tipo de serviço,
em São Paulo por ser um município muito grande e por ter essa
cultura da terceirização, eles terceirizaram e aí vira um SPVV, o
espoco do SPVV está dentro da garantia da política de direito da
infância e então a ditos que a criança vítima de violência precisa de
cuidado. Porque que eu acho que está na Assistência, porque ela
não cabe em outro lugar mesmo, mas eu acho que a violência
principalmente a criança que o ser mais frágil da corrente, ele não se
constitui sozinha, nenhuma violência se constitui sozinha e isso é
verdade, ela acontece no coletivo, nenhuma violência ela acontece
sozinha, ninguém produz a violência sozinha, como ela é constituída
dentro do social eu acho que é nesse âmbito que merece cuidada.
Eu por exemplo no cuidado de violência que aconteceu só com uma
psicóloga, então assim a gente recebe muitos casos que essa
criança passou por violência e precisa de um psicólogo e precisa de
psicoterapia, mas não ela precisa de um atendimento psicossocial,
porque a violência acontece no âmbito social a violência não
acontece no individual, acontece no social, é no social que precisa
ser cuidado também. (sic)

A Assistência Social faz parte do tripé da Seguridade Social que está


garantido no art. 194 da Constituição Federal de 1988, onde assegura três políticas
públicas extremamente importantes para nossa sociedade. Essa política veio para
combater as desigualdades sociais que o sistema que rege o Brasil traz nas
relações de capital e trabalho, onde que para economia girar é necessário produzir
98

desigualdade social, que se dá em seus direitos violados. Mas a Assistência Social é


dívida em duas proteções sociais, como está tipificado no terceiro capítulo desta
pesquisa, e uma delas é a proteção social especial que vem para intervir quando os
direitos dos cidadãos já foram violados, ou seja, expressões da questão social que já
está alarmante. A questão social não só envolve a violações de direitos na
desigualdade social, mas sim violações que acontece nas duas classes sociais,
sendo ela trabalhadora ou burguesa, como os vários tipos de violência.

A violência ela não tem classe social, ela não se caracteriza somente dentro
da desigualdade social, mas também nas relações de produção reprodução da
historicidade de cada sujeito, por isso a Política de Assistência Social (PNAS) é para
quem dela precisar, não tendo classificação de público para se atender, mas sim
tendo prioridades como no caso as crianças que segundo Ariès está na fase do seu
desenvolvimento físico/emocional, e quando a família se transforma profundamente
vendo o verdadeiro papel da criança, ela muda e começa a olhar essas questões
internas da criança. Uma fala de um dos sujeitos da pesquisa explana muito bem
sobre isso, que nenhuma violência acontece sozinha, e a violência acontece dentro
do social e, é dentro do social que deve ser cuidada, e o SPVV trabalha nesse
sentindo, na área social, na reparação da violência vivida pela criança e
adolescente.

Neste ano 2020 o mundo se deparou com uma pandemia causada pelo novo
Coronavírus, onde houve, ou melhor, está havendo muitos casos de contaminação e
morte no mundo, e o Brasil também adaptou ao método de quarentena, perante o
Decreto Lei 8/2020 de 17 de Março, onde só serviços essenciais poderiam estar
abertos, e os demais teriam que fechar presencialmente e manter seus
atendimentos de forma virtual e também de teletrabalho (realização de trabalho em
casa) e para serviços comerciais de alimentos poderiam atender somente de forma
de entrega, para que tivesse o isolamento social para que diminuíssem os casos de
contaminação e morte, já que também no início os profissionais da saúde não
compreendia essa doença como era sua reação e como tratava, então foi algo
assustador para uma geração que em sua maioria nunca tinha passado por uma
pandemia.
99

O SPVV se enquadra nos serviços essenciais, então não parou, a equipe


multiprofissional do SPVV exibi esse processo desafiador, cheio de inseguranças,
mas que foi possível fazer o trabalho do serviço. O processo de trabalho mudou
bastante, visto que teve um aumento significativo sobre a saúde e a exploração de
trabalho, porque tudo que é novo assusta lidar ainda com um trabalho
importantíssimo, que é necessário, cumprir com competência de maneira remota, é
algo admirável que transparece nas falas.

O serviço está funcionando de maneira remota (ligação, vídeo


chamada e quando não atende, por mensagens) seguindo os
protocolos da OMS, só nos casos extremos atende presencialmente.
(Quando a demanda é grande, precisa de visita domiciliar).
Tentamos com certeza seguir os protocolos, mas em casos extremos
estamos atendendo presencialmente, mas com a escuta facial e com
a máscara, tomamos cuidado o tempo todo, pois você não pode ter
nenhum contato social com a pessoa. Tem pessoas que não querem
falar por vídeo chamada ou ligação, mas se mandamos mensagens
respondem e vai fluindo, porque também pessoas que não se
sentem à vontade por contato de maneira remota.
As visitas domiciliares estão suspensas, mas tem casos graves que
precisamos ir fazer a visita, como por exemplo: duas visitas que
fizemos de duas pessoas distintas atendidas do SAICA. É aquilo,
tentar se proteger o tempo todo, usando máscara, não tocando em
nada, levamos álcool. Para que a família tenha um bom atendimento,
e que os casos delas não sejam deixados de lado, é preciso que eu
me arrisque, mas tenho totalmente consciência disso. São casos que
uma está quase voltando para ficar com a família e a outra morar em
outro Estado, sei que tem uma portaria que diz que não podemos
fazer visita, que isso pode ser cobrado, mas o caso também será
cobrado de nós, nesse caso a teoria pode dizer que está suspensa a
visita, mas na prática necessitamos fazer, pois só assim
conseguimos andar com os casos. Pois o judiciário voltou já
cobrando resultado e agilidade.
Ressaltando que tem famílias que não tem celulares, ou acesso à
internet, é aquele dilema, coloco crédito ou eu compro pão?
Vai muito do nosso olhar, para ter estratégias para atender essas
famílias.
O serviço vai funcionar também dependendo da gestão, por exemplo:
nossa gerente é Assistente Social, então mesmo não sendo
demanda do SPVV, levamos o caso que além da violência tem a
fome, nossa gerente super entende, por conta de sua formação,
talvez outro gerente de outra formação não teria um olhar sensível a
isso, varia de serviço para serviço.
No SPVV, o Serviço Social e a Psicologia caminham juntos, pois o
aqui não é lugar de apontar dedo, nós não somos delegacia, nós
iremos cuidar infelizmente do que aconteceu, e aqui temos 3
Psicólogos que caminham nessa mesma linha, do apoio e cuidado,
não do julgamento, pois quando atendemos o agressor não pode
haver o julgamento, pode acontecer da família não querer vim mais
no serviço. (sic)
100

Os desafios foram aparecendo da forma que a equipe multiprofissional foi


transferindo o trabalho que faziam presencial para o virtual, isso também só foi
possível por conta da tecnologia que temos hoje, mas vamos elucidar as privações
de direitos que os atendidos do SPVV já sofriam, mas na pandemia veio
transparecer ainda mais, como o acesso ao celular, internet, a escolha que tem que
fazer entre uma prioridade ou outra, a escassez do mínimo necessário para viver e
os espaços dos imóveis que moram essas famílias, causando a falta de liberdade.

Os profissionais tiveram que ser ainda mais propositivos e criativos para que
conseguissem criar tantas estratégias no sentido de seus trabalhos continuassem a
seguir com competência, mostrando que dentro desse contexto atual conseguiram
implantar o projeto Contação de História, onde tem o objetivo de propiciar a família
momentos juntos para reflexão e pratica no cotidiano, com intuito de trabalhar não
só na hora do projeto, mas na direção da família continuar trabalhando com a
criança no dia-a-dia.

Azambuja (2011) vai explicar que a violência sexual é um fenômeno social,


compreendida por qualquer tentativa de consumar um ato sexual, podendo ocorrer
de várias formas, sendo intimidação psicológica, ameaças e extorsão, ações ou
insinuações não desejadas. Oliveira (2014) também vai dizer que a violência sexual
contra criança e adolescente é entendida como um problema de saúde pública,
reconhecida como um desafio social, visto isso a pesquisa nos levou a verificar se
os entrevistados perceberam se houve um agravamento de violência sexual infantil
no território de Campo Limpo.

Dois três territórios, Campo Limpo é o que mais trás casos de


violências sexual, entre Capão Redondo, entre Campo Limpo e Vila
Andrade, Campo Limpo tem o maior índice de violência sexual, isso
a gente não está só falando de pandemia, estamos falando de
sempre. O Campo Limpo ele não é o maior território demográfico, o
Capão Redondo é maior, porem Campo Limpo tem uma cultura de
violência sexual maior, assim tem inclusive bairros dentro do Campo
Limpo, que assim casos complicados de violência sexual. Capão
Redondo é um território que tem muitas questões de violência e
negligência, de violência física e na Vila Andrade tem caso de
violência sexual, que é Paraisópolis a gente tem a dificuldade da
demanda chegar até a gente, não é que não exista, muita coisa que
acontece no Paraisópolis é resolvida lá dentro mesmo, a gente nem
tem acesso. E os que a gente tem acesso é uma questão bem
complicada. (sic)
101

Os entrevistados nos traz que o SPVV atende três território, Campo Limpo,
Capão Redondo e Vila Andrade, mas que o Campo Limpo é aonde se tem mais
casos de violência sexual infantil, que apesar do Capão Redondo ser um território
maior, se tem a impressão pelos casos atendidos que pode ser uma questão de
cultura do lugar, em diversas falas vemos que tem a questão da reprodução e
muitos casos são velados, geralmente a criança que sofreu violência sexual, a sua
genitora também sofreu e seu agressor também, então nos leva a compreender que
é ciclo de violência que permeia nesse território.

Essa verificação nos levou ao contexto atual, já que estamos vivendo em


momento de pandemia, se os casos de violência sexual infantil aumentaram nesse
processo, e os entrevistados que trabalham na reparação dessa violência, nos diz
que na análise de suas experiências, não é que aumentaram os casos, mas que
muitos casos estavam velados, e apareceu no decorrer do isolamento social, que
resultou no agravamento, deste modo passa uma impressão de aumento dos casos
de violência sexual infantil.

Trabalhar com a violência sexual infantil tem sua amplitude, gerando muitos
obstáculos para os profissionais, pois em cada processo de acompanhamento é
encontrado uma dificuldade. Deste modo averiguamos quais as maiores dificuldades
no atendimento das crianças vítimas de violência sexual, para conhecer os desafios
e o caminho dificultoso que esses profissionais enfrentam.

As dificuldades são a adesão, a validação e o complô do silencio


familiar, as vezes nem a criança fala, a mãe não fala, porque também
o agressor estar por perto, está na casa. Quando falo da questão da
validação, e de não acreditarem que aconteceu a violência. Não ter
uma verba para o transporte também, porque muita gente não tem
condição de pagar o transporte, e Paraisópolis é longe do SPVV, são
duas conduções, e o serviço não foi escrito pensando nessa verba,
muitas vezes o serviço pega um bilhete que tem ali, o administrativo
vai recarregar, pois tem família que querem muito ser atendidas, mas
não tem como ir ao SPVV, é constrangedor, pois afinal é um direito
garantido o SPVV, e não posso usá-lo por essa dificuldade. De novo
caímos no vou cuidar da violência que meu filho sofreu ou vou
comprar comida para ele, então temos todas essas dificuldades. Meu
primeiro caso de abuso sexual foi com uma adolescente de 13 anos
e o agressor era um senhor de 71 anos, a adolescente teve uma
criança fruto de um estupro. O que me chamou atenção foi o amor
que a mãe tinha por sua filha, meu primeiro caso foi desconstruir
aquilo que estava muito aberto, para novo, pois vai ficar impactado
sim, vai ter dificuldades sim, mas jamais olhar de julgamento, a mãe
quando percebe a gestação não pode fazer o aborto, porque perante
102

a lei ela poderia, mas a gestação já estava no quinto mês, a família


do agressor fez de tudo para defendê-lo e não culpa-lo. Talvez ela
não consiga mensurar que aquele bebê era um fruto de estupro, que
ela não quis, não procurou, não desejou. (sic)

A equipe relata as dificuldades que tem de atender, acompanhar e prosseguir


com o andamento necessário nos casos de violência sexual infantil em alguns
territórios, já que tem comunidade que existe a lei de punições deles, além da
maioria dos casos os agressores das vítimas estão dentro da casa, então fica difícil
todo o processo de acompanhar o caso. Segundo eles afirma, que infelizmente os
profissionais se colocam em risco muitas das vezes, para que esses casos sejam
atendidos, que leva a compreender também que trabalhar na área social requer
muitos combates, ainda mais na proteção especial, levando os profissionais a recriar
vários tipos de estratégias para sua proteção e conseguir cumprir com seu papel.

A equipe traz as dificuldades do silêncio familiar, o responsável pela criança


não querer falar, e consequentemente a vítima, sendo que também o agressor está
por perto, então um fator para o silêncio. Apresentam a questão da resistência de
não acreditarem que a violência aconteceu, a dificuldade do acesso ao serviço, e
muitas famílias não têm condição de ir ao serviço fazer o acompanhamento, essa
dificuldade, pois não tem condições, mas é um fato bem complicado, como exposto
pelos entrevistadores, o serviço é direito desses atendidos e ser privado do acesso
pela questão do transporte se ver uma deficiência, pois o serviço não foi pensado
nesse viés como é apresentado nas falas.

Um fato bastante ressaltado nas falas também é a dificuldade que a família


tem em acreditar que ocorreu a violência, acreditando que com o tempo a violência
foi esquecida pela vítima, pois quando se tem certo tempo que aconteceu, eles não
querem falar, concluindo que a criança já esqueceu e não querem voltar a esse
ocorrido. Além disso, tem os múltiplos fatores que acontece junto com a violência
sexual, uma vez que foi exposto que ela não acontece sozinha, porque geralmente
vem com a violência psicológica, física, negligência ou maus tratos, fora a questão
da responsável pela vítima, ser uma vítima de violência doméstica, traz uma
dificuldade grande já que como essa responsável vai cuidar da criança violada, se
ela também está violada. São tantas questões de dificuldade, que é enfrentado por
esses técnicos que trabalham no SPPV, ainda ter que lidar com as naturalizações
que a sociedade tem com certos tipos de violência. A equipe elucida sobre a
103

violência psicológica, já que alguns componentes da família passaram por isso,


acreditam que é uma coisa normal da vida, não compreendendo que isso é
naturalizado há anos, que precisa ser quebrado esse ciclo de violência.

Durante a entrevista, a assistente social nos relata sobre seu primeiro


atendimento com uma adolescente vítima de violência sexual, que teve uma filha
fruto de um estupro, é o que mais a chamou a atenção foi o amor da genitora com
sua filha. Lidar com essa realidade não é fácil, ainda mais ser um dos primeiro casos
a se pegar no início da sua trajetória profissional, portanto é importante que o
profissional carregue consigo um currículo que corresponde a emancipação,
autonomia e com capacidade de contribuir para a reparação dessa violência vivida,
nos traz para reflexão da importância do trabalho da/do assistente social dentro do
SPVV, visto que Azambuja diz que jamais se deve limitar a dor, as consequências que
tal ato cruel pode causar, é esse profissional compreende e entende o contexto
social que a adolescente está inserida, assim preservando-a e trabalhando nesse
processo de desconstrução das naturalizações da violência.

Para dá início do trabalho e o processo de evoluir, o SPVV trabalha com a


articulação de rede, no conhecimento da família atendida, entendendo o contexto
social onde está inserido. Com a articulação de rede o SPVV trabalha a discursão de
caso, quando se trata dos casos mais complexos devido à amplitude que leva o
caso que vão começar a atender.

Para ter articulação de rede, tem que ser feito o Protocolo/passar e-


mail. Discussão de Caso de rede acontece geralmente no CREAS ou
na UBS, no SPVV a discussão de caso acontece semanalmente.
Antes a gente fazia articulação com as redes quando o caso era
desligado do SPVV, agora a gente faz antes, então vamos articular
com a UBS/SASF/CCA/Escola, eu não entro em detalhes, mas as
redes já tem uma ideia do que está acontecendo quando falo que a
criança ou adolescente está sendo atendida no SPVV, a visita
domiciliar é obrigatória nesses casos, quando começa o
atendimento, pois já aconteceu casos de não saberem quase nada
da família atendida, por isso a importância da articulação com outras
redes. Quando é um discussão de caso com a rede, geralmente é na
UBS ou no CREAS, se é só do SPVV, vai ser a discussão de casos
com a equipe multiprofissional. Por exemplo: o caso chega para mim,
eu mando o e-mail para UBS para articulação, mas se for um caso
muito complexo, aí tem a discussão de caso com todas as redes que
atende aquela criança ou adolescente. Articulação de rede da equipe
multiprofissional é semanalmente, depois de toda essa articulação o
atendimento pode se dá em grupo ou individual depende de cada
104

caso. Os autores de rede de campo limpo são UBS, SASF, CCA,


Escola e Casa de Cultura. (sic)

A equipe multiprofissional traz que faz a articulação com qualquer rede que a
família esteja vinculada, mas que geralmente as que não pode faltar é a Unidade
Básica de Saúde (UBS), Escolas, Serviço de Assistência Social à Família (SASF) e
o Centro para Criança e Adolescente (CCA). Os sujeitos da pesquisa deixam claro
que a articulação de rede é um pressuposto básico da assistência, então é
importante e deve se trabalhar com essa articulação. Para a discussão de casos
quando é com as redes é feito geralmente no Centro de Referência Especializada de
Assistência Social (CREAS) ou na UBS, e quando é a discussão de caso da equipe
multiprofissional do SPVV e dentro do SPVV mesmo.

Foi perguntado aos entrevistados como se dão os atendimentos,


acompanhamentos e encaminhamentos de cada atendido no SPVV, e os mesmos
nos transfere em suas falas de acordo com que é definido pelas normas técnicas,
que a demanda é encaminhada do CREAS, pois esse serviço é referenciado do
CREAS.

Os procedimentos funcionam assim, o CREAS encaminha o caso para o


SPVV, a gerente ler o relatório, compreendendo o caso encaminhado e fazendo uma
avaliação daquele caso, então a equipe explica que a partir do momento que a
gerente passa esse caso para uma dupla de técnico, sendo uma/um assistente
social e uma/um psicólogo/a, e para o orientador socioeducativo, assim começa
fazer o levantamento de rede da família e o contato com a mesma, dando os
respectivos primeiros encontros com essa família para entender mais o caso, se
vincular e compreender as demandas que traz, após isso, os responsáveis pelo caso
faz uma discussão para se entender e começar fazer os acompanhamentos para
serviços que a família precisa ser inseridas, resultando na decisão de incluir a
criança em um grupo de acordo com a demanda e sua subjetividade, e se vai
atender essa família no SPVV.

Nosso serviço não é porta aberta, os casos chegam pra gente


através do CREAS eles realizam as triagens de quais casos vai ser
encaminhado pra gente, porque a demanda do território é muito
grande e o nosso serviço não dá conta de atender com qualidade
todos os casos que poderiam ser encaminhados, então, por exemplo,
a gente tem limite para atender 80, estamos atendendo se não me
engano 92, já teve no passado antes de eu entrar lá que estavam
105

140, sabemos que o CREAS segura casos pra caramba mais de 200
casos. Só que temos esse acordo que eles fazem a triagem de quais
casos que a gente tem que atender que muitos dos casos podem ser
atendidos em outros serviços da rede, não necessariamente só a
gente, se não a gente estoura nossa cota de atendimentos que a
gente pode dar conta e cai à qualidade dos atendimentos uma coisa
que a gente não quer. É por exemplo um CCA, uma escola ou UBS
identificou um problema naquela criança ou adolescente ele vai
mandar um relatório pro CREAS e o lá eles vão ler o relatório e falar
se é caso para o SPVV ou não. Quando chega o relatório lido pelo
CREAS acionamos essa família entramos em contato com ela
através dos telefones que foram passados, se não for pelo telefone a
gente tenta articular com a rede, liga pra escola mais próxima, liga
pra UBS que tá referenciado naquele endereço a gente tenta achar a
família por todos os jeitos, inclusive com visitas, realizamos em todos
os casos visitas, mas, não é a primeira ação pratica a nossa visita,
pois não desejamos ser invasivos e também tem lugares que são
complicados de você chegar sem avisar. Em primeiro tentamos
contato e a sensibilização com a família, depois passamos para esse
ponto da visita, a partir do momento que a gente conseguiu o contato
com a família a gente faz a triagem, a triagem é sempre feita com
dois técnicos sendo um assistente social e um psicólogo para ter
esse olhar diferenciado do caso. Quando realizamos a conversa com
a criança junto à família depois discutimos em equipe o caso e
chegamos a uma conclusão do iremos fazer, se será encaminhado
para um atendimento em grupo ou individual, qual técnico melhor
habilitado pra acompanhar esse caso, por exemplo, tem caso de
violência sexual com meninas que elas não querem um técnico
homem temos que considerar todas essas questões. A parti disso
começamos os atendimentos com essas famílias e ai tiramos os
encaminhamentos necessários que precisam ser feitos, se a criança
fica em casa sozinha vamos inserir ela no CCA, se na família
continua acontecendo as agressões só que agora na mãe vamos
encaminhar ali para o serviço de mulheres vivas, e assim por diante.
Teve um caso a criança estava tendo dificuldade na escola
procuramos um psicopedagogo depois descobriu que ela estava com
problema de visão vamos encaminhar para UBS para ser encaminha
para o oftalmologista. A partir do momento que a gente começa os
atendimentos vamos levantando as demandas para realizar os
encaminhamentos. (sic)

O SPVV tem um limite de atendidos, mas como foi dito pela equipe
multiprofissional o serviço já atendeu 140 famílias, no entanto foi decidido um limite
para qualidade do serviço e as questões que os profissionais estavam adoecendo
muito têm aqui a exploração da mão de obra barata, onde traz esses adoecimentos.

Os entrevistados nos relatam em várias falas, a necessidade de mais SPVV´S


no território, pois o CREAS segura mais de 200 casos para encaminhar para o
SPVV entramos aqui na dificuldade que um dos sujeitos da pesquisa citou, que
depois de um tempo os responsáveis pela criança não quer que ela seja atendida,
106

por acreditar que essa violência não precisa ser cuidada, em razão de que o tempo
curou, mais uma deficiência no serviço da Assistência Social que é essencial, onde
está estampado que o Estado coloca toda demanda social as margens da
sociedade.

Conforme abordamos no trabalho as normas técnicas do SPVV, elucidando


as diretrizes e regras, indagamos como se dar o fluxo da administração da criança
no SPVV. Portanto, é importância que o serviço faça seu cronograma de como
funciona cada ação, pois com essa organização consegue realizar um trabalho
amplo e de qualidade.

Verificamos se existem fluxos para as admissões dessas crianças e que a


equipe explane sobre os processos internos de como se realizam os fluxos, quando
se atua em serviço que garante e promove direitos sociais é importante reconhecer
a política e o serviço da qual estar inserido, pois assim tem com clareza do seu
papel naquele espaço. Percebe-se que a equipe está interligada sobre as respostas
e também conseguem apresentar como funciona os processos de desenvolvimento
de casos e atividades do serviço, claro que cada um com sua particularidade para se
expressar.

O fluxo funciona assim, primeira delegacia depois perola baita e para


CREAS, então é o CREAS que vai verificar se é um caso de SPVV e
assim vai encaminhar o caso. Os atendimentos podem se dá em
grupo ou individual depende de cada caso, há sempre uma
programação para o atendimento em grupo e individual. Para o
atendimento individual, eu preciso me apropriar, conhecer a história,
se não, não é possível fluir o atendimento. O SPVV não é porta
aberta, mas existe busca espontânea, quando essa demanda
espontânea chega, eu posso atender e passar para o CREAS, é
muito raro demanda espontânea, mas acontece por ser um Serviço
de Proteção as Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência não
tem grandes placas para preservar as vítimas. (sic)

Com isso fica explicito a importância de um fluxo e organização para melhor


atender os usuários, pois os casos passam pôr uma triagem no CREAS aonde
analisam se são para o SPVV ou para outro aparelho da rede. O SPVV além de
atende todos os tipos de violência tem que se dar com a desmistificação sobre o
serviço não ser terapêutico, portanto, então a equipe apresenta que se os casos
chegassem de qualquer forma ou se todos os serviços da rede pudessem
107

encaminhar a equipe não teria condições suficientes para dar esse suporte de
atendê-los e também não conseguiriam realizar os atendimentos com qualidade.

Valido ressaltar sobre o tempo de permanência dos usuários no SPVV


conforme saneamos nessa pergunta, o serviço não pode limitar um tempo padrão
para os casos, pois cada um tem sua peculiaridade e seu tempo de
desenvolvimento, portanto não pode haver uma determinação sobre o tempo de
permanência.

[...] É via CREAS e aciona toda rede e vai fazendo, não tem na
portaria um tempo mínimo, porque o tipo de violência é muito
particular de cada família, então às vezes para muitas famílias ela
fica 6 meses em atendimento e as vezes não chega e a família não
quer mais o atendimento que ela tem direito em não querer, não é
porque eu ofereço uma política pública que eles são obrigado a
aceitar ele pode dizer que não quer, a gente vai notificar as
competências e acham que a criança tem risco mais a família pode
dizer que não. (sic)

Assim fica explicito a importância de um fluxo para conseguir realizar


atendimentos e acompanhamentos com qualidades, pois conseguem fortalecer o
vínculo da criança/família junto ao serviço e sanear as demandas expostas
alcançando o principal objetivo de cada caso. Após o atendimento de um
acontecimento de violência sexual infantil a equipe realiza uma discussão do caso,
para levantar as demandas e verificar quem é habilitado para ser o técnico de
referência e qual o método de atendimento com a criança.

Segundo Dahlberg & Krug (2006), as consequências de uma violência podem


ser de imediato ou durar por muito tempo, então não se devem definir ou limitá-las.
Portando, para trabalhar com esse público o serviço e a equipe não podem limitar
um padrão de consequências para esses atos, pois cada criança irá ter suas
próprias decorrências e meios de reproduzi-la. No SPVV observam a necessidade
da criança e assim decidem o melhor método de atendimento, se será atendimento
em grupo ou individual, visando além de deixar o usuário confortável, mas que faça
sentindo e ter coerência para a criança o tipo de atendimento escolhido.

Um exemplo existia um grupo de crianças que apesar deles todos


terem a mesma faixa etária tinha uma criança que pra ela aquele
grupo não fazia sentindo porque as atividades eram muito infantis e
ela não gostava daquilo, assim acabamos colocando ela em outro
grupo de crianças mais velhas onde ela pudesse participar das
atividades e se sentisse que as atividades estavam mais coerente
108

pra ela, a mesma situação com os familiares, realizamos grupos de


responsáveis, grupos de mães, conforme a demanda vai surgindo a
gente vai fazendo grupos se é relevante aquele grupo. (sic)

Conforme Habigzang, Pires & Miyazaki (2005), a violência sexual pode


ocorrer em 3 contextos: Intrafamiliar sendo um dos mais frequentes envolvendo um
componente da família ou pessoas que tenha algum laço afetivo. Extrafamiliar o
agressor pode ser algum conhecido da criança. E o último é o institucional que
ocorre em instituições que tenha a responsabilidade de cuidar da criança.

O SPVV realiza atendimentos aos agressores das vítimas de violência sexual


infantil é valido ressaltar que os encaminhamentos desses casos antes de
chegarem, já foram acionados os receptivos serviços como Conselho Tutelar e
delegacia, portanto já estão em processo jurídico e o SPVV realiza os
acompanhamentos. Com as nossas indagações sobre esses atendimentos a equipe
aponta que na maioria dos casos são intrafamiliares, mas esses atendimentos são
raríssimos, pois há dificuldades do agressor se reconhecer como agressor devido a
nossa cultura patriarcal e machista, e quando os atendimentos acontecem muitos
vem com negações e justificações do ato. Os profissionais comentam em uma das
suas falas a diferença entre agressor e pedófilo, relatam que por trabalhar com o
público infantil muitos naturalizam que todos casos de violência sexual é os pedófilos
que cometem, mas existem a diferença entre agressor e pedófilo. Para realizar os
atendimentos desses casos é necessário preparo, como a desconstrução dos
profissionais, descontruir para não haver julgamentos ou até outros sentimentos com
os agressores, carecem de estar preparados atender esse típico de público.

Agressor nega, é machista, geralmente é reprodução, pois o


agressor já foi violentado. Pedófilo – Não consegue se relacionar,
tem sentimento platônico pela criança, quer ter um relacionamento
com ela. Agressor – Tem família, comprometido/casados/a ocasião.
São usados os mesmos instrumentais. O agressor ele tem
característica (isso é estática), ele vem com a negação, de que não
foi, que não aconteceu, que não é bem assim, é bem difícil um
agressor chegar e dizer que aconteceu, já teve casos que chegou a
dizer que teve criação bem machista que mulher nasceu para servir o
homem, mas é bem difícil, a maioria dos casos o agressor é
atendido, mas nunca falou sobre a agressão, sempre nega o ato. E
dependendo até onde ele deixa, e o psicólogo consegue observar,
ele pode ter sido vítima de abuso também. Tem algo que sempre
tento esclarecer, que é norteador, a diferença do abusador sexual e
para pedófilo, pois tudo joga no caldeirão da pedofilia, e não é,
porque o pedófilo ele não consegue se relacionar, o foco dele é a
criança, se apaixona e se encanta, tem uma paixão platônica pela
109

criança, diferentemente do abusador sexual, que pode ser casado,


ter namorada, ser noivo, enfim o que observamos que é a ocasião,
como a mãe saia para trabalhar e deixava a criança com ele, o pai,
padrasto e o tio que abusou é familiar, acontece de fora, mas a
maioria é assim, familiar. São os mesmos instrumentais usados com
as vítimas, mas separamos os instrumentais dos agressores, das
vítimas. (sic)

A equipe apresenta visão sobre o papel dos profissionais nesses


atendimentos e suas dificuldades. O orientador socioeducativo são os olhos da
recepção, os primeiros contatos dessa família com o serviço, eles que constroem o
vínculo da criança ao serviço, recebem elas e trabalham partes mais lúdicas, tendo
um olhar rico sobre pontos que as crianças ou a família possam mostrar. A/O
assistente social e psicólogo/a caminham juntos, mas tem suas especificidades as
trocas são grandes pois são olhares diferentes. Os processos de triagem,
atendimentos, articulação com a rede, relatórios, estudos socioeconômicos, sãos os
dois que realizam. A/O psicólogo/a olha mais para a criança que sofreu a violência,
as fraturas e traumas suportados, o que aconteceu antes e o processo do que estar
acontecendo agora. A/O assistente social olha para um contexto geral da situação,
para toda a família nesse processo, a historicidade, o que essa criança vai precisar
agora e futuramente, como reconstruir sua história pós-violência, quais os serviços
da rede que são e devem ser usados nesse momento, então o psicólogo avalia as
questões psicologias a/o assistente social avalia a questão social dessa criança.

Eles são protagonistas, tanto Assistente Social quanto Orientador,


ADM, quanto a moça do operacional daqui, temos formações
diferentes, temos cargos diferentes, mas eu enxergo um lugar de
protagonismo, de todos nós diante as nossas diferenças. Todos nós
temos um papel muito grande de cuidado, algo que nós propormos, e
aí cada um pouco contribuiu a partir da sua especificidade da sua
especialização da sua formação para propiciar esse cuidado. Então
quando eu cheguei aqui para trabalhar as meninas me ensinaram
muito sobre rede, sobre articulação, com quem eu falo o fluxo e eu
estou aprendendo ainda né, acho que nunca chega ao fim disso, e
eu identifico assim que é interessante até poder ver o quanto as
coisas se tornam fluidas e híbridos então a gente não tem uma
separação que esse serviço só Psicólogo faz e só a/o Assistente
Social Faz, o papel de todos aqui é cuidar de acordo as premissas
que a gente tem com o nosso compromisso ético e todo mundo vai
110

contribuindo e fazendo um tanto de tudo, Articulações de rede,


Encaminhamentos, Atendimentos Individuais, Atendimentos em
Grupos, tem Psicólogos e tem Assistentes Sociais, Orientadores todo
mundo junto. (sic)

Portanto, como o Serviço Social é protagonista nas garantias de direitos, pois


é um serviço da política de assistência social, os profissionais desse serviço são
protagonistas nesses atendimentos, todos tem o papel de cuidado e cada um
contribui a partir da sua especificidade conforme a especialização da sua formação
profissional.

O SPVV é um serviço somente da grande capital de São Paulo e com pouco


tempo instituído, como exposto no terceiro capitulo, por estar inserido na política de
Assistência Social há uma discussão quanto ao caráter do serviço ser
psicologizante/terapia ou se realmente atende as condicionalidades das orientações
da Política de Assistência Social, com isso a equipe apresentou que recentemente
houve uma discussão sobre o SPVV ir para a política da saúde. Na entrevista
conseguimos compreender que a equipe identifica não ser um serviço terapêutico,
para quem trabalhar lá dentro é bem claro que o serviço corresponder com o que a
política solicita, não realizando serviços psicologizante e sim psicossocial. Porém,
ressaltam que está claro para a equipe que atua lá dentro, mas para quem vem de
fora não ser tão claro assim, desde as crianças atendidas até outros profissionais. A
equipe explica a importância de sempre estar reafirmando para as crianças e as
famílias que o atendimento e acompanhamento não é uma terapia, explicando o que
o serviço é dentro do seu papel na política de assistência.

O trabalho psicossocial é uma proposta de intervenção das duas profissões,


respalda em prestar atendimento especializado através dos pontos sociais e
psicológicos. Segundo Costa & Penso (2010), a intervenção psicossocial é uma
ação com o intuito de incentivar o usuário a procurar soluções que cessem as suas
dificuldades oferecendo um sentindo na sua historicidade, para assim criar um ser
empoderado em plena harmonia com seu contexto cultural, econômico, social e
político.

Lamamoto (2013) comenta ser necessário a/o assistente social mostrar o


exercício profissional com todas as características, tanto quanto trabalho concreto
111

dentro das atribuições e competências privativas, quanto a dimensão de trabalho


humano abstrato com seus vínculos de desenvolvimento de produção e distribuição
de riqueza social, pois com seu olhar crítico consegue realizar seu trabalho de
assistente social intervindo em expressões da questão social. O Conselho Federal
de Psicologia (2005) mostra a importância de um profissional de psicologia no meio
social, pois oferece apoio para intervenção no movimento e desenvolvimento dos
sujeitos e criando enormes possibilidades de transformações para viver.

Portanto é importante que serviço tenha os dois profissionais tanto a/o


assistente social quanto a/o psicólogo/a, pois são olhares diferentes que completa a
desenvoltura do atendimento, sendo bom para a equipe e os usuários que são
atendidos, pois assim realizam a intervenção psicossocial com qualidade.

[...] não dar para simplesmente transpor toda essa parte para área da
saúde porque assim como eu acabei de pontuar no comentário
anterior qual a importância do assistente social com esse olhar, se
olhar tudo como uma questão de saúde mental a gente pode perder
coisas muito importantes que precisam ser trabalhas com essa
família que estão muito além das questões da saúde mental. Tem
uma frase que eu gosto de usar que é assim "Pra quem é martelo
todo parafuso é prego", então se você passa esse serviço para área
da saúde eles só vão olhar como saúde não vão tá olhando como
uma questão de vida olhando para outros pontos dá situação, por
exemplo, bem xucro de coisas que eu já vi, tal pessoa tem uma
questão por conta da violência por ser muito grave acabou indo para
o psiquiatra e o psiquiatra passa a medicação, isso ali na saúde
mental acabou o psiquiatra passou a medicação acabou, mas
quando a gente acompanha o caso por outro olhar ver que por
exemplo aquela mãe não é instruída o suficiente para passar a
medicação ao adolescente ela não sabe ler, como irá saber qual
medicamento estar dando, são situações assim que a área da saúde
não seria capaz de abranger. Acredito que é importante que acabe
ficando mesmo assim um pouco fora dela para que não se torne só
uma questão de saúde mental que possa ser olhado por todos os
ângulos, por isso que a gente sempre fala que o psicossocial, é claro
que muitos casos a gente gostaria de dar uma aprofundada mais
terapêutico, mas é algo que foge um pouco do nosso escopo, então
encaminhamos os casos que precisem desse acompanhamento
terapêutico realizamos a ponte com o CAPS de quem precisa ser
atendido pela saúde mental ou para algum lugar que possa fazer
esse manejo com eles. (sic)

Nesse ponto da entrevista conseguimos notar a importância de uma boa


gestão, pois assim conseguem alinhar e fazer a equipe reconhecer o devido papel
do serviço, reconhecer à importância de estar inserido nessa política e ver o quanto
a assistência iria perder com a transferência do SPVV para outra política,
112

infelizmente é essa a intenção da atual gestão política do país, que é eliminar todas
as conquistas da nossa constituição 1988. Nas falas das/dos entrevistados ficou
nítido que a equipe realiza o atendimento social e psicossocial com as vítimas e
famílias, fazendo a reparação da violência vivida prevenindo ou até interrupção do
ciclo da violência.

Quando ocorre um ato de violência sexual infantil é violado todos os direitos


dessa criança, sabemos que é dever não só da Família, como do Estado e da
sociedade da qual estar inserido garantir integridade absoluta dos seus direitos
básicos, portanto quando for violado um dos seus direitos todos ao redor dessa
criança falharam, então o papel do serviço é acolher essa criança e trabalhar em
cima do que ocorreu. Bem como falamos de garantia de direitos recordamos ser o
protagonismo do Serviço Social é uma das suas ações de trabalho, portando para
afirmamos se o SPVV adota as orientações da política de assistência nosso intuito
foi com que a equipe elucide sobre essa questão.

A equipe apresenta que no trabalho do serviço, o Serviço Social é


protagonista nos atendimentos, por mais que exista a cultura de que se sofreu uma
violência sexual a pessoa necessite de uma psicoterapia, depois de um processo de
construção de identidade do serviço, hoje conseguem conhecer a importância de
cada profissional nenhum sendo mais importante que ninguém, mas se
complementando para realizarem um atendimento completo e de qualidade com
essa criança que estar vulnerável.

Sim, porque eu acho que inclusive quanto assistente social jamais


poderia pensar de uma outra forma, mas assim é um espaço de
atuação do assistente social, é claro que as vezes tem uma cultura
“aí sofreu violência precisa de psicoterapia”, então não é na
assistência, sendo que na assistência não faz terapia. É claro que a
gente lá atrás quando começou a unidade a gente não tinha muita
clareza de função de ninguém e não só do assistente social e de
mais ninguém mesmo, do que a gente vai fazer e aí a gente foi
construindo os papeis e entendendo a importância de cada um,
então hoje a gente já eliminou a muitos anos o discurso se tem
alguém mais importante que alguém, se tem uma área mais
importante que a outra. Hoje a gente entendi que tanto o psicólogo,
assistente social e até mesmo os educadores tem uma função muito
importante de negar um dinheiro público e ele precisa ser bem
usado, eu não posso tanto com os educadores e outras áreas a
gente não pode contar uma atribuição e ai a gente precisa construir
lá na unidade a gente foi construindo esses lugares, assim pensando
nas assistentes sociais, tanto eu como as duas mais antigas da
113

unidade e da equipe e isso fica muito claro para a gente e muito


tranquilo também, nesse sentido de que olha isso é meu e não é
meu, não é por demérito meu, porque só não é minha atribuição.
(sic)

Martinelli (2006), afirma no terceiro capítulo que a/o assistente social são um
dos poucos profissionais que chegam em um limite tão perto da vida cotidiana dos
usuários, portanto isso dar uma extensão da realidade social e possibilita um leque
de opções de se reconstruir e construir identidades tanto pessoal quanto do Serviço
Social. Conforme discorremos no terceiro capítulo que a/o assistente social atuando
na política de assistência deve tem uma visão ampla e não ficar alienada as
subordinações como um ser assalariado, pois segundo seu código de ética, é sua
obrigação e dever garantir direitos sociais. Para atuar na proteção especial é de
extrema importância seguir a obrigação que o CFESS (2007) ressalta de que
enquanto profissional precisa orientar a população informando suas atribuições e
competências, e os direitos dos atendidos em relação ao Serviço Social.

Permanecendo nesse contexto do profissional a equipe apresenta sobre as


funções dos técnicos, se estão claras ou podem acabar se confundido, e
desenvolver os processos. Muitas das respostas estão ligadas entre respostas de
outras questões e sempre fica nítido a diferença de gestão para gestão, pois o que
se produz nesse SPVV não necessariamente se dar em todos os outros. Os
entrevistados explanam que por mais que cada técnico tenha suas atribuições
privativas, mas suas funções dentro do SPVV são as mesmas, então o que um
técnico psicólogo/a realizar o técnico assistente social também, mostram um ponto
interessante que por mais que façam as mesmas funções cada um tem sua
habilidade para realizar algumas funções específicas. Exemplo, como um estudo
socioeconômico por ser uma atribuição da/do assistente social ele tem melhor
habilidade para concretizar, mas isso não significa que a/o psicólogo/a não possa
realizar. Ou a desenvoltura para analisar um território, mas também como a/o
psicólogo/a pode se desenvolver melhor em um atendimento com a criança
conseguindo que ela se sinta confortável e se aprofundando na questão específica.
Portando elas não se confundem andam juntas para assim se dar uma intervenção
psicossocial.

Tem uma grande diferença entre gestões de SPVV para SPVV o


trabalho pode mudar completamente a forma de ver de se lhe dar e
acho que isso em qualquer instituição que tenham a premissas
114

básicas vai muito de acordo aquele grupo trabalhar e como se


organiza. Falando do que eu trabalho, acho que eu tinha até falado
isso em outra questão, a gente tem atribuições específicas o nosso
grupo foi se estabelecendo de uma forma que eu acho que não tem
uma diferenciação grande entre as atribuições de um Psicólogo e um
Assistente Social por exemplo eu não consigo identificar nenhuma
função que um Psicólogo não faça que o Assistente Social também
faz, como a articulação de rede, conhecimento de territórios mais tem
uma diferença de saber, de formação e tudo mais a gente vai se
complementando a partir dessa troca de saberes. Então assim a/o
Assistentes Sociais tem um manejo muito melhor do que eu para
enfim de território e de tanta coisa que vocês vão saber melhor do
que eu, e do que vocês sabem, é difícil falando que em mim ainda
falta muito conhecimento e minhas colegas contribuem muito comigo
e tento contribuir com elas também de algumas coisas que eu tenha
visto um pouco mais que elas em relação aos conteúdos psicológicos
e tudo mais, não sei se tem uma diferenças tão claras, que são
pagas além do conhecimentos, na pratica a gente vai trocando,
nossa equipe foi se configurando de uma forma em que a gente pode
se falar dos limites, nesse caso não tá mais, acho que precisa de um
Psicólogo, precisa de um Assistente Social e ai a gente vai vendo
caso a caso. (sic)

Dentro deste contexto podemos citar que a/o assistente social tem o papel de
acolher, articular com a rede, fazer os devidos encaminhamentos para a proteção
social as crianças vítimas de violência sexual infantil, fazer análise socioeconômica e
potencializar a vinculação do grupo familiar. Conforme discorremos sobre isso no
trabalho e já está claro, é válido ressaltar que esse processo é realizado por todos
da equipe, mas é uma das habilidades da/do assistente social desenvolver essas
ações, então a equipe apresenta que fica claro que as/os assistentes sociais dentro
do SPVV têm essa agilidade e aptidão para exercer essas funções.

4.2 Discussão da análise crítica

Para que desse início ao objetivo dessa pesquisa, partimos da visão


conservadora que boa parte da sociedade ainda tem como o trabalho da/do
assistente social, por conta da gênese tradicional do Serviço Social, que infelizmente
era um trabalho ligado à Igreja Católica, onde era tratado a desigualdade social
como um fato que Deus que quis assim, culpabilizando a classe trabalhadora pela
situações de escassez que estavam passando, atribuindo como ajuda para amenizar
o que o sistema econômico fazia com a exploração da mão de obra barata. Martinelli
(2011) nos explica isso, em sua obra Serviço Social Identidade e Alienação.
115

Infelizmente esse período ainda não foi superado por toda sociedade, pois
mesmo com tantos avanços ainda tem profissionais que se submetem a alienação
imposta para cobrir as expressões da questão social, mesmo passando por todo
processo de graduação que está pautado no Currículo Mínimo do Serviço Social,
não adquirindo e se distanciando da direção e dos valores do Projeto Ético-Político
Profissional, continuam com práticas ideológicas e mecanicistas, atendendo os
interesses de um sistema que para gerar riqueza, tem que gerar pobreza, sendo
assim não desconstruindo seus preconceitos com os indivíduos, por isso há uma
necessidade de ficar atento o que Karl Marx nos diz, que o sujeito faz sua história
sim, mas de acordo com as circunstâncias que é posta para eles.

Visto que é necessário a efetivação de uma construção de agenda de lutas


coletivas para defender o espaço de trabalho da/do assistente social para contribuir
na valorização da profissão. Diante disso é importante sempre ter estudos que
façam lembrar que a análise crítica fundamentada a respeito da realidade do Brasil
esteja pautada na formação e do exercício profissional.

Netto (2015) vai nos dizer sobre a ruptura do conservadorismo, ou seja, é


necessário que se continue estudos sobre o trabalho da/do assistente social, para o
Serviço Social continuar avançando, pois ainda não foi rompido totalmente o
conservadorismo. Com isso buscamos através dessa pesquisa alcançar o objetivo
que é compreender a visão da equipe multiprofissional sobre o atendimento da/do
assistente social nos casos de violência sexual infantil no SPVV do Capão Redondo,
e para que chegasse nesse objetivo, foi construído um conteúdo teórico crítico que
pudessem da competência de fazer essa análise, junto a toda construção das
indagações presente no projeto.

Nossas indagações são referentes: o trabalho da/do assistente social é


valorizado dentro do SPVV? Os atendimentos que a/o assistente social faz com as
crianças vítimas de violência sexual infantil, contribui para a reparação da violência
vivida? O trabalho da/do assistente social é visto sob a importância, compreendendo
que é um trabalho que está na área social, e o mesmo tem propriedade de trabalhar
nesse âmbito? A equipe multiprofissional tem clareza do papel da/do assistente
social dentro SPVV? O trabalho da/do assistente social e da/do psicólogo/a, é
confundido? Faz-se necessário a gerente do SPVV ser formada em Serviço Social?
116

Todas essas indagações ficaram presente, e foi concluído por uma só


indagação a nossa problemática, que é saber a visão da equipe multiprofissional em
relação ao atendimento as crianças vítimas de violência sexual. A princípio que a/o
assistente social tem competência de contribuir com o seu trabalho que tem um viés
emancipatórios nos direitos humanos, parceiro na luta com a classe trabalhadora,
com o objetivo de garantir os direitos dos cidadãos dentro do sistema capitalista.

Os assistentes sociais têm a capacidade de possuir e desenvolver atribuições


localizadas no âmbito da elaboração, execução, avaliação de políticas sociais e
também ações e auxílio aos movimentos sociais/populares. O Serviço Social não
deve ser confundido com a Assistência Social, pois isso o limita, a área do Serviço
Social abrange a área da desigualdade social, onde luta pela igualdade de
condições há todos que se conecta com várias áreas, como saúde, educação, lazer,
segurança, ambiental, moradia, empresarial e entre outros.

A inserção dos assistentes sociais no SUAS os desafiam a produzir


contribuições para suas efetivações de um compromisso com as urgências que a
sociedade brasileira sofre, assim como mostra sua história, e o processo de
construção do Serviço Social com caráter marxista. Através de suas intervenções na
política de assistência social, esses profissionais devem estar atentos nos processos
de sofrimento instalados nos territórios, comunidades, onde as famílias estabelecem
seus laços mais significativo.

Cada profissional tem sua especificidade para trabalhar, e dentro do SPVV o


trabalho é psicossocial, mesmo que algumas funções a/o assistente social e a/o
psicólogo/a podendo atuar em conjunto ou individual, cada um tem seu papel para
trabalhar com a criança vítima de violência sexual.

Quando uma criança sofre violência sexual, sendo descoberta devem se


tomar todas exigências possíveis, desde do autor do crime ir a julgado para ser
recluso pelo determinado tempo que especifica a lei de acordo com esse crime. Mas
algo que não pode falhar, é manter em segurança a vítima e o tratamento para a
prevenção dos traumas que podem causar sérios danos durante o seu
desenvolvimento e a sua vida adulta.
117

A criança deve desde o seu nascimento ser tratado com muito carinho,
cuidado, uma educação infantil que preserve sua infância e atribuir sempre em seu
cotidiano as brincadeiras sendo sozinho e com outras crianças, por isso quando
esse processo é afetado, pode estar contribuindo para um futuro duro e cruel, não
somente para a criança e sim para a sociedade.

Grande parte das crianças que cometem atos infracionais e adultos que
cometem crimes teve seu processo de desenvolvimento afetado quando criança e
não foram tratados, desde modo a criança quando sofre violência deve passar por
um constante tratamento psicossocial.

As crianças que está em seu estágio de desenvolvimento se encontram como


as mais vulneráveis, imagina que as mesmas passem por um processo de violência
sexual, essa exposição que tem como consequências muitas das vezes
irreversíveis, resultam em danos físicos e psicológicos no presente e futuro, desta
maneira elas precisam de profissionais competentes para se trabalhar na reparação
dessa violência. A vítima de violência sexual, além de passar por essa violência, ela
passa pelo processo constrangedor de ter que ficar falando sobre o que aconteceu,
fora os exames que são necessários, mas isso leva a mesma ficar lembrando
sempre do ocorrido, deixando mais confusa e em choque, cada criança tem uma
reação afinal, dentro de sua subjetividade.

Se todos profissionais que trabalham com a criança vítima de violência não


fazer seu trabalho direito, a vítima pode gerar graves consequências na vida como
danos no futuro por não ser tratado a agressão e não ter tido todo apoio. A marca da
violência não vai sumir, mas pode deixar de ser forte, e ser trabalhada para saber
ligar com esse fato. O Estado e os profissionais podem ser negligentes com as
vítimas de violência sexual, por esse motivo que o trabalho com a criança vítima
desse ato cruel, deve ser profissional com competências e atribuições que consigam
chegar ao acesso da reparação da violência.

Cada caso de criança vítima de violência sexual só mostra o quanto a/o


assistente social deve lutar pelo nosso Código de Ética, pelas políticas sociais,
porque quando os profissionais não fazem seu trabalho, se adequa apenas no que
Estado impõe, do que o tempo de trabalho propõe, tudo mecanizado, fazendo ser
culpado de uma criança continuar sendo vítima de violência, ou até algo mais sério e
118

não ter reversão. Lidar com Serviço social é muita responsabilidade, por esse motivo
se faz necessário a abominação do trabalho mecanizado, pois te leva a não ter e
não fazer uma escuta sensível para uma análise, para desenvolver um bom
trabalho.

Compreendendo isso, a/o assistente social tem a competência de trabalhar


com as crianças vítimas de violência sexual, afinal ela é uma expressão da questão
social, o objeto de trabalho desse profissional. Com seu trabalho a/o assistente
social pode contribuir com a reparação da violência vivida.

As abordagens das duas profissões tanto dos assistentes sociais e dos


psicólogos dentro do SPVV, somam-se de assegurar uma intervenção
interdisciplinar capaz de responder as demandas individuais e coletivas, com vistas
a defender a construção de uma sociedade livre de todos as formas de violência e
exploração da criança dentro dessa política de assistência social.

O Serviço Social hoje consegue trabalhar nesse contexto por conta da sua
trajetória sócio histórica, por motivos que a/o assistente social consegue com suas
competências e atribuições adquiridas, de um patrimônio político que tem lutas e
resistências na contemporaneidade, diante claro da herança do processo de ruptura
do Serviço Social, com o resultado do magnifico Projeto Ético Político, que permiti o
acesso nas lutas profissionais junto com suas entidades representativas.

As/Os psicólogos/as trabalham na comunidade e com suas famílias, grupos e


indivíduos, na exploração e compreensão dos significados presentes das ações do
sujeito, buscando aprender o sentindo que leva determinadas direções de
relacionamentos, conflitos e decisões com o foco na construção de novas respostas.

As/Os psicólogos/as a partir de diferentes metodologias e abordagens de


intervenção, constrói alianças, trabalha em espaços de transformação, amplia a
compreensão dos usuários que de modo possam encontrar formas de
enfrentamento para suas dificuldades e ser catalizador de experiências, contribuindo
para consolidação da cidadania e dignidade para as pessoas.

Sendo assim a Psicologia vai tratar o comportamento dessa criança,


trabalhando no seu desenvolvimento comportamental, já o Serviço Social vai se
tratar de trabalhar o contexto que a criança está inserida, desenvolvendo estratégias
119

que podem afetar de forma positiva para o comportamento dessa criança ter um
bom resultado na superação do trauma não só da criança, mas seu ambiente
familiar e comunitário. É um trabalho em conjunto, os Psicólogos precisam dos
Assistentes Sociais e os Assistentes Sociais precisam das/dos Psicólogos/as, pois
juntos desenvolvem o trabalho necessário que pode alcançar a prevenção e
reparação dos danos da violência sexual.

Analisamos a história do Serviço Social, o trabalho da/do assistente social e


da/do psicólogo/a dentro da Assistência Social, o trabalho do SPVV do Capão
Redondo e as entrevistas com a equipe multiprofissional, nós levaram a concluir
nossos objetivos, chegarmos há confirmação de hipóteses presente na trajetória da
pesquisa e trazendo novas respostas. Compreendendo o contexto social que todos
envolvidos estão inseridos.

4.3 Resultado da análise

O caminho percorrido para a concretização da pesquisa levou a verificação


que o trabalho da/do assistente social dentro do SPVV do Capão Redondo é
valorizado, conforme a equipe multiprofissional responde nosso questionamento,
apresentam que o atendimento que a/o assistente social faz com as crianças vítimas
de violência sexual é necessário, visto que complementa para a intervenção
psicossocial. A violência sendo uma das expressões da questão social e ocorrendo
no âmbito social, com isso o profissional de Serviço Social tem total competência de
trabalhar nessa área.

Vale ressaltar que verificamos diversas falas conservadoras, mas com as


relações de troca dos saberes da equipe multiprofissional do SPVV do Capão
Redondo, esses pensamentos e falas podem ser desconstruídos, principalmente
junto a/o assistente social, em virtude que o mesmo trabalha nesse viés das
desconstruções das naturalizações que a sociedade caracterizou no início da
profissão. Através da estrutura histórica do Brasil tivemos muitos avanços, mas
ainda temos muito que alcançar, para igualdade, sem discriminação e preconceitos.

A equipe multiprofissional reconhece que em determinadas funções do


serviço a/o assistente social tem mais facilidade de trabalhar, como no estudo
socioeconômico, a escuta sensível da história do sujeito, assim tendo uma leitura
120

panorâmica do contexto social atual de cada território, a respeito da garantia de


direitos, sabendo criar estratégias diante das restrições que a legalidade traz, para
que os atendidos consigam ter seus direitos garantidos, deste modo as/os
assistentes sociais do serviço conseguem mostrar seus trabalhos para a equipe.

Quando se tem clareza de seu papel profissional, abertura e compreensão


para se trabalhar em equipe, há uma valorização em todas as profissões. O trabalho
da/do assistente social e da/do psicólogo/a podem acontecer nas visões de alguns
atendidos ser mais priorizado que o outro, pois os mesmos desconhecem o trabalho
da/do assistente social com crianças vítimas de violência sexual, mas a equipe está
disposta a explicar o trabalho da/do assistente social para que o atendido tenha
clareza do trabalho do SPVV.

Acontece também das vezes os profissionais fazer muitas funções parecidas


por estarem muito interligadas, pois o trabalho nos serviços é psicossocial, mas se
acontecer, esses profissionais, voltam toda análise do caso, para que cada um
venha do seu parecer na sua troca de saberes. Afinal não da para fluir se não
estiverem caminhando no mesmo viés do cuidado e apoio das crianças vítimas de
violência sexual.

Verificamos outras hipóteses que contribuiu para a problemática, que não


estava nas hipóteses, que é a importância de o gerente do serviço ser um assistente
social, visto que o mesmo vai ter olhares para questões sociais que talvez outra
formação não da competência necessária, claro que se esse profissional tiver
clareza de seu papel, da realidade sócio econômica que o país se encontra, levando
e tendo como princípio profissional o Projeto Ético Político. Se colocar no lugar do
outro dentro da equipe multiprofissional é fato importante, pois o adoecimento pode
acontecer por infinitos motivos trabalhando na área social, ainda mais na proteção
especial, vendo que os profissionais estão expostos a passar por conflitos que
envolvam a desumanidade, crueldade e escassez do mínimo necessário para viver e
as infinitas violações de direitos.

Com isso, concluímos que é fundamental e indispensável a prática


profissional da/do assistente social dentro do SPVV do Capão Redondo, uma vez
que é necessário o atendimento social nesse serviço, e o profissional de Serviço
Social tem competência e atribuições privativas para atuar com qualidade nessa
121

política. Entendemos que a falta de valorização do trabalho da/do assistente social


só leva a equipe multiprofissional ter uma visão conservadora do atendimento da/do
assistente social, quando não se tem uma gerente que tenha clareza do trabalho
social, e não transfere isso para equipe, isso também vale para o técnica/o
assistente social, pois o mesmo tem que estar disposto a mostra que o Serviço
Social é necessário em todas as áreas que envolva o social, mostrando um caminho
de consciência de classe.

A/O assistente social quando não reconhece seus direitos e deveres contribui
sim para desvalorização da profissão, pois não tem competência para executar seu
trabalho com eficiente, e não tem capacidade de passar isso para a equipe e os
atendidos, levando a um retrocesso na cabeça de quem já vem com uma visão
conservadora da profissão. Mas não é o caso da assistente social que trabalha no
SPVV do Capão Redondo, que sabe muito bem seu papel, seguindo o Projeto Ético
Político da profissional, mostrando que um profissional de Serviço Social contribui
com seu trabalho na reparação da violência vivida.

Que a luta permaneça, que os assistentes sociais jamais se distanciem da


luta com a classe trabalhadora, contribuindo para a valorização da sua profissão que
é necessário nessa relação de capital x trabalho, disposto a orientar todas/todos
cidadãos de seus direitos no objetivo de começar a instigar a consciência de classe.
Que os estudantes e profissionais de Serviço Social que estejam lendo esta
pesquisa, tenha compromisso com a história, a luta que gerou o Projeto Ético
Político, carregando esse projeto como sua armadura para luta que é o Serviço
Social.
122

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A história do Serviço Social no Brasil teve sua trajetória na Europa, após o


surgimento da Revolução Industrial sobre os problemas expressos da questão
social, como a fome e miséria, e nesse período onde a sociedade vivia sobre a
venda da força de trabalho para seu sustento, que o Serviço Social influenciado pela
doutrina da Igreja Católica, iniciou o marco profissional em sua gênese
conservadora, visto como ajuda a classe trabalhadora que viviam em situações de
escassez.

No entanto sob esses problemas sociais o Serviço Social vem se tornando


uma profissão na intenção de ajudar a classe trabalhadora, não possuindo uma linha
científica de raciocínio, mas usando os seus conhecimentos adquiridos para
trabalhar com suas intervenções conservadoras. Mas depois de evoluções que levou
a aproximação do Serviço Social com o marxismo, se começa uma profissão que vai
enxergar o verdadeiro sentido do trabalho profissional em Serviço Social ligando a
classe trabalhadora na garantia dos direitos sociais.

Nesse sentido que o nosso trabalho se deu início e se concluiu para a


contribuição para a quebra da gênese conservadora da profissão que boa parte da
sociedade ainda acredita neste conservadorismo.

A pesquisa aqui proposta buscou como objetivo compreender a visão da


equipe multiprofissional sobre o atendimento da/do assistente social nos casos de
violência sexual infantil no SPVV do Capão Redondo. Mas para chegar a esse
objetivo foram criados roteiros semiestruturados e questionários para as entrevistas
com a equipe multiprofissional, onde procuramos a visão dessa equipe sobre o
trabalho da/do assistente social em frente aos casos de violência sexual infantil.
Deste modo respondendo positivamente ao nosso problema em questão.

A Inquietação que norteou o nosso problema, trouxe confirmação de todas


nossas hipóteses, levando a importância da/do profissional em Serviço Social no
SPVV. Esse resultado só foi possível ser alcançado por conta da metodologia e
referências adotadas, pois supriram as expectativas.

Considerando que a pesquisa seria de campo, mas devido a atual conjuntura


foi necessário fazer as entrevistas de maneira remota, não houve problema algum.
123

Com isso concluímos que o atendimento da/do assistente social é necessário com
as vítimas de violência sexual infantil, porque dentro do SPVV é um trabalho
psicossocial, e o Serviço Social é da área social, sendo que a/o assistente social tem
atribuições privativas dentro desse âmbito, e que a equipe multiprofissional
reconhece que esse atendimento contribuiu para reparação da violência vivida.

Como Martinelli (2006) diz que a/o assistente social consegue chegar ao
limite com os usuários que poucas profissões conseguem, então essa profissão
merece ser valorizada, para que a visão de toda equipe multiprofissional e de todos
os serviços sejam desconstruídas da visão conservadora que a gênese do Serviço
Social tem, precisa que a/o assistente social que trabalha dentro de qualquer área
se posicionar, ter clareza dentro do seu Código de Ética. Ressaltamos o quanto são
necessários os gerentes dos serviços socioassistenciais ser assistentes sociais,
visto que vão olhar para situações sociais, pois talvez outra formação não venha ter
essa visão, devido que a/o assistente social consegue aplicar a dialética dentro da
equipe multiprofissional.

Conclui-se que a pesquisa resolveu o problema em questão por conta de toda


teórica levantada, sendo elas suficientes para análise. Recomenda-se para solução
do problema dessa pesquisa, mais estudos sobre o trabalho da/do assistente social
em todas áreas e serviços que o mesmo pode atuar, tendo em seu plano de trabalho
realizações de seminários, debates e palestras sobre a história do Serviço Social
dentro desses espaços. Por último e não menos importante, todos assistentes
sociais estarem dispostos a caminhar nessa luta na defesa da valorização da
profissão, caso ao contrário, pedimos por respeito e empatia que procurem outra
profissão.
124

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Portugal: Universidade de Coimbra, 2010.
130

ANEXOS

ANEXO A- Instrumental de Pesquisa Roteiro da Entrevista

ROTEIRO SEMIESTRUTURADO

Tipo de Pesquisa: Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)

Universidade: Universidade Santo Amaro (UNISA)

Campo da Pesquisa: Serviço de Proteção Social à Criança e Adolescente Vítima de


Violência Capão Redondo (SPVV)

Pesquisadores: Alex Junior dos Santos Nery, Crislaine da Costa Conceição e


Rafaela Cristina Santana da Silva

Entrevistadores: 1 Assistente Social, 1 Gerente (Assistente Social), 2 Psicólogos e


1 Orientadora Socioeducativa

Método da Pesquisa: Entrevistas realizadas remotamente via chamadas de vídeos


instantânea

ENTREVISTADORES DATA HORÁRIO

Assistente Social 29/09/2020 12h20

Psicóloga 30/09/2020 12h20


01/10/2020

Orientadora Socioeducativa 01/10/2020 09h30

Gerente (Assistente Social) 08/10/2020 19h00

Psicólogo 09/10/2020 14h00


131

ANEXO B - Instrumental de Pesquisa – Questionário da Entrevista

1. Qual a sua formação profissional? Qual é a sua função no serviço? As atividades


que você desenvolve estão de acordo com a sua formação profissional?

2. O que é o Serviço de Proteção as Vítimas de Violência - SPVV?

3. Por que você acha que o serviço de proteção à violência está inserido na Política
de Assistência Social?

4. Como está funcionando o serviço em meio ao distanciamento social, decorrente


da pandemia de COVID-19? Alguma inovação, projeto ou articulação
diferenciada?

5. Você consegue fazer uma leitura do território de Campo Limpo quanto ao


agravamento dos casos de violência sexual? Possuem indicadores?

6. Quais são as dificuldades encontradas nos atendimentos dos casos de violência


sexual infantil?

7. Como se dá o processo de articulação de rede? Vocês realizam discussão de


caso? Quem são os atores de rede de Campo Limpo?

8. Como se dão os atendimentos, acompanhamentos e encaminhamentos das


crianças as respectivas famílias atendidas pelo SPVV?

9. Existem fluxos estabelecidos para a admissão das crianças ao serviço? Os


atendimentos são individuais ou em grupos?

10. Para você qual o papel da/do assistente social no atendimento da violência
sexual infantil? Para você qual o papel da/do psicólogo/a no atendimento da
violência sexual infantil? Para você qual o papel da/do orientador
socioeducativo no atendimento da violência sexual infantil?

11. Observamos que o SPVV, enquanto serviço tipificado pela Política de Assistência
Social é relativamente novo, na cidade de São Paulo. Há uma discussão quanto
ao caráter psicologizante/terapia do serviço versus a necessidade de atender de
se atender de acordo com as orientações da Política de Assistência Social. O
que você pensa sobre isso?
132

12. Você acha que estão claras as funções do assistente social e do psicólogo no
SPVV? As atribuições se confundem? Vocês fazem a mesma coisa, como é isto?

13. O serviço social tem protagonismo no serviço na garantia de direitos ou ele


auxilia o técnico psicólogo no atendimento?
14. Você consegue identificar as atribuições do psicólogo no SPVV?
15. Vocês atendem agressores? Agressor de violência sexual, maus tratos? Qual foi
a experiência do serviço com esse público? Quais os instrumentais utilizados no
atendimento?
16. O assistente social da sua unidade consegue acolher, fazer analise sócio
econômica, articular a rede, potencializar a vinculação do grupo familiar e fazer
os devidos encaminhamentos para a proteção as crianças vítimas de violência
sexual?
133

ANEXO C – Formulário Pedido de Autorização para Realização de Projeto de


Pesquisa Científica

OBS.: ESPERAR DOCUMENTOS ASSINADOS PARA ANEXAR


134

ANEXO D – Folha de Rosto para Pesquisa Envolvendo Seres Humanos

OBS.: AGUARDANDO PARA CONFIRMAR SE REALMENTE PRECISA DESSE


DOCUMENTO.
135

ANEXO E- Declaração para Co - Participante

OBS.: ESPERAR DOCUMENTOS ASSINADOS PARA ANEXAR.


136

ANEXO F- Termo de Consentimento Livre Esclarecido

Estes esclarecimentos estão sendo apresentados para solicitar sua participação livre
e voluntária, no projeto “A VISÃO DA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL EM
RELAÇÃO AO TRABALHO DA/DO ASSISTENTE SOCIAL NO SPVV CAPÃO
REDONDO“, do Curso de Serviço Social da Universidade Santo Amaro - UNISA,
que será realizado pelo pesquisador Vanessa Lopes de Almeida, e pelos
graduandos Alex Junior dos Santos Nery, Crislaine da Costa Conceição e Rafaela
Cristina Santana da Silva do Curso de Serviço Social, como Trabalho de Conclusão
de Curso.

A justificativa dessa pesquisa partiu do trabalho da/do assistente social que vai além
de cumprir uma rotina e as condições que está sendo submetido como trabalhador
assalariado, pois no mercado de trabalho requer um assistente social propositivo,
que não seja neutro, com conhecimento da realidade para assim construir
estratégias dentro das demandas expostas. Portanto, junto com teorias sabe-se na
necessidade da continuação de estudos da prática da/do assistente social na
realização das competências e suas atribuições.

Nesta perspectiva, busca-se desconstruir as naturalizações que a sociedade


construiu como sendo papel e função da/do assistente social, realçando o
atendimento deste no SPVV e valorizando toda sua conduta profissional com auxílio
do Código de Ética e Resoluções que garantem e promovem seus direitos e deveres
como assistente social, com intuito de fortalecer o trabalho profissional para
incentivar mais estudos nesta direção com objetivo de confirmar o quanto é
indispensável o trabalho deste profissional nessa política de proteção especial.
Perante os princípios do Projeto Ético-Político da profissão e com o Estatuto da
Criança e do Adolescente iremos trazer as dificuldades, desafios, garantia de
direitos e superação da criança que sofre abuso sexual.

Diante dessa profissão que consegue ter um acesso profundo na vida cotidiana das
pessoas, dando oportunidade de conhecimento dessa dimensão da realidade e ter
habilidade de construir e reconstruir a identidade dessa profissão e também nós
como cidadão, revelando um processo de trabalho que na influência identificar as
suas intervenções junto com toda a equipe multiprofissional. Assim acreditamos que
esta futura pesquisa é de extrema importância, pois além de conhecer a visão da
137

equipe multiprofissional em relação ao trabalho do/a assistente social, também


possa servir como meio de pesquisa para estudantes que se interessa pelo mesmo
objetivo do tema.

A intenção da entrevista semiestruturada é a de obter respostas sobre questões


específicas e também de estender a discussão sobre o tema com considerações
pertinentes, que podem surgir durante a ao assunto. Na nossa metodologia seria
uma pesquisa de campo, mas atualmente o Brasil faz parte dos países que estão
sendo afetados pela pandemia do novo Coronavírus (COVID-19), e por isso
optamos para a realização da pesquisa de maneira remota assim assegurando a
vida dos sujeitos da pesquisa e os pesquisadores. Sendo assim, a realização da
pesquisa de maneira remota será utilizado equipamentos eletrônicos como celular,
tablet, ipad e computador, que tem a possibilidade de baixar aplicativos que
possibilitam chamadas de vídeos instantâneas que possibilitaram ter contato entre
duas pessoas ou mais na mesma chamada. Para essa pesquisa foram criados:
roteiros semiestruturados e questionários para as entrevistas individuais, analisando
toda teoria levantada em conjunto com análises nas entrevistas com a equipe
multiprofissional. Essas entrevistas acontecerão de forma remota e será realizado
pelos três pesquisadores, Alex, Crislaine e Rafaela.

A pesquisa não proporcionará nenhum benefício para o participante, por isso sua
participação é voluntária. Porém, sua participação terá suma importância para
entendimento do assunto abordado e consequentemente essa pesquisa terá
contribuições para a sociedade, visto que o objetivo também é de colaborar em
conhecimento sobre a Compreender a visão da equipe multiprofissional sobre o
atendimento da/do assistente social nos casos de violência sexual infantil no SPVV
do Capão Redondo, junto da academia e para sociedade em geral.

É garantido o acesso, em qualquer etapa do estudo, aos profissionais responsáveis


pela pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas ou informações sobre os
resultados parciais das pesquisas, quando em estudos abertos, ou de resultados
que sejam do conhecimento dos pesquisadores.

O pesquisador responsável é a Prof.ª Vanessa Lopes de Almeida, que pode ser


encontrado no endereço Rua Isabel Schmidt, 349 - Santo Amaro, São Paulo,
Campus II, Telefone (s) 11 2141-8687. Se você tiver alguma consideração ou dúvida
138

sobre a ética da pesquisa, entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa


(CEP-UNISA) – Rua Prof. Enéas de Siqueira Neto, 340, Jardim das Imbuías, SP –
Tel.: 2141-8687.

É garantida sua liberdade da retirada de consentimento a qualquer momento e


deixar de participar do estudo, sem qualquer prejuízo à continuidade de qualquer
benefício que você tenha obtido junto à Instituição, antes, durante ou após o período
deste estudo.

As informações obtidas pelos pesquisadores serão analisadas em conjunto com as


de outros participantes, não sendo divulgada a identificação de nenhum deles.

Não há despesas pessoais para o participante em qualquer fase do estudo,


incluindo exames e consultas. Também não há compensação financeira
relacionada à sua participação. Se existir qualquer despesa adicional, ela será
absorvida pelo orçamento da pesquisa. Em caso de dano pessoal, diretamente
relacionado aos procedimentos deste estudo (nexo causal comprovado), a qualquer
tempo, fica assegurado ao participante o respeito a seus direitos legais, bem
como procurar obter indenizações por danos eventuais.

Uma via deste Termo de Consentimento ficará em seu poder.

São Paulo, ____/____/____

________________________________

Se você concordar em participar desta pesquisa assine no espaço determinado


abaixo e coloque seu nome e o nº de seu documento de identificação.

______________________________________

Nome: (do participante) ............................

Doc. Identificação: ............................

...ou…
139

______________________________________

Nome: (do representante legal) .................................................

Doc. Identificação: .................................................

Nível de representação: (genitor, tutor, curador, procurador, ...) ..............................

Nome do participante: ...................................................

Declaro (amos) que obtive (mos) de forma apropriada e voluntária o Consentimento


Livre e Esclarecido deste participante (ou do representante legal deste participante)
para a participação neste estudo, conforme preconiza a Resolução CNS 466, de 12
de dezembro de 2012, IV. 3 a 6. ---------

--------------------------------------------------------------------

Assinatura do pesquisador responsável pelo estudo Data / /

-----------------------------------------------------------------------

Assinatura dos demais pesquisadores Data / /

---------------------------------------------------------------------

Assinatura dos demais pesquisadores Data / /

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