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Final alternativo de “Aos vinte anos” de Aluísio de Azevedo

… — Esta ?!... balbuciou o comendador, quando ela entrou na sala, mas esta é minha
mulher ! …
Eu senti o suor correr pelos meus braços.
Minhas mãos que estavam cerradas e alinhadas a absoluta certeza de fazer justiça para
minha amada Esther, esmoreceram quando ouvi a frase.
Mas logo percebo que Furtado está desguarnecido, olhando para sua espingarda que usara
para caçar, quando me deparo para uma fotografia antiga num quadro bem acima do sofá
de sua sala, me espanto, e sem saber como reagir, desfalecendo mais uma vez, agora me
abaixando lentamente no primeiro espaço que encontro para sentar-me, atônito e
gaguejando, indago para não ser fulminado ali mesmo:
— Que relação tens com esta senhora da foto, senhor comendador Furtado?
— Primeiro perguntas da minha mulher dizendo loucuras, agora queres saber de minha
falecida esposa?
Um silêncio tomou conta da sala do senhor comendador.
Isso afetou-me de forma colossal, que desmaiei.
— Criatura, acorde! Vá embora! Ele vai lhe matar.
— Não! Essa senhora de quem tu chamas de falecida esposa era minha mãe! Que
faleceu na hora em que a parideira me tirava para fora.
O comendador que já estava em posse de sua espingarda ficou reflexivo, mas com o olhar
extremamente raivoso gritou:
— Tu és o bastardo que tirou a vida da minha nobre mulher! Pensava que já estavas
morto!
— Bastardo?
— Conte logo para ele meu homem! Dizendo Ester com um certa ansiedade.
— Tu és filho do vizinho insolente que dei cabo antes de sua mãe partir, descobri a pouca
vergonha antes da cidade me taxar de corno. A parideira tratou de dar destino a você
quando sua mãe morreu, mas percebo que é uma incompetente. Agora tu vens aqui repetir
o desaforo do teu pai, ponha-te para fora da minha casa, vá embora dessa cidade antes
que tu encontre mais cedo teu velho!
— Senhor, ele matou sua mãe também! Gritou Ester num último desespero.

Foi quando entendi que Ester só queria liberdade, viu uma oportunidade na janela da minha
casa de acabar com o infortúnio de sua vida que era viver com aquele homem. Mas a raiva
tomou conta do meu corpo mais uma vez e de uma forma que não consigo explicar, saquei
a arma e atirei bem no peito daquele traste!
— Morra seu desgraçado!
Quando atirei no senhor comendador, mesmo caído, ele ainda conseguiu disparar sua
espingarda, mas o tiro atingiu Ester.
Não pensei muito, apesar do profundo vazio em meu peito, deixei minha arma na mão de
Ester para que tivessem certeza que a briga de um casal virou tragédia, e fugi dali.

Arrumei minhas trouxas pois a minha ama de leite, que julgava ser minha tia, já havia
passado dessa vida para outra e eu acabara de descobrir quem eu realmente era. Cheio de
amargura, culpa e remorso parti para nunca mais voltar ali.
E foi nesse abril florido e cheio de esperança, que virou um inverno que durará alguns
anos…

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