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Amante sem Coração

Khardine Gray
Faith Summers
Contents
Amante sem Coração
Prologue
Chapter 1
Chapter 2
Chapter 3
Chapter 4
Chapter 5
Chapter 6
Chapter 7
Chapter 8
Chapter 9
Chapter 10
Chapter 11
Chapter 12
Chapter 13
Chapter 14
Chapter 15
Chapter 16
Chapter 17
Chapter 18
Chapter 19
Chapter 20
Chapter 21
Chapter 22
Chapter 23
Chapter 24
Chapter 25
Chapter 26
Chapter 27
Chapter 28
Chapter 29
Chapter 30
Chapter 31
Chapter 32
Chapter 33
Chapter 34
Chapter 35
Chapter 36
Chapter 37
Chapter 38
Epilogue
Amante sem Coração

Sindicato Sombrio Livro 5

Autora Bestseller do USA Today


Khardine Gray
sob o pseudônimo
Faith Summers
Prologue

Summer
Uma semana atrás

M
eu coração cai em um abismo escuro enquanto olho para o
corpo sem vida de minha irmã.
Ela está mesmo morta, deitada sobre a pedra fria do
necrotério à minha frente.
É verdade. Scarlett está morta.
Minha irmã... minha irmã gêmea.
Morta.
Morta porque tinha meu rosto.
Jake, aquele bastardo filho da puta, a matou porque pensou que
ela era eu.
Isso é tudo minha culpa. E não posso consertar nada disso.
Lágrimas profusas escorrem dos meus olhos, vindas do fundo da
minha alma enquanto a verdade se torna mais clara.
Eu fixo meu olhar em seu rosto, incapaz de desviar minha
atenção. Cada aspecto de seu rosto é exatamente igual ao meu.
Exceto pelo ferimento de bala no centro da testa.
Essa bala era para mim.
Enquanto a dor de perdê-la penetra em meu coração, cubro
minha boca para evitar que a angústia se espalhe.
Eu insisti em vê-la assim por que precisava enxergar a feia
verdade. Considerando os problemas nos quais me meti, esta pode
ser a última vez que a vejo, então não posso desmoronar.
Não quero acreditar que esse pesadelo seja real. Scarlett nunca
deveria ter vindo a Mônaco.
Eu não tinha ideia de que ela estava aqui até hoje cedo, quando
Marquees me deu a terrível notícia.
Marquees é policial do tipo que cuida bem de seus informantes.
Foi assim que começamos há seis anos.
Ele é a única pessoa aqui em quem confio os segredos sombrios
do meu passado e o fato de que tenho uma irmã gêmea. Ele é a
única pessoa em quem confio. Por isso, na semana passada, pedi
ajuda a ele depois de testemunhar algo que não deveria ter visto.
Tive o pior exemplo de estar no lugar errado na hora errada
quando vi Jake Wainwright, coproprietário do Club Montage, matar
um homem a sangue frio em seu escritório. Para meu azar, ele
também me viu.
Eu deveria estar morta agora, mas escapei e fui direto para
Marquees, que está me escondendo desde então.
Ele soube imediatamente que a mulher que foi levada ao
necrotério esta manhã, depois de ser encontrada morta em seu
apartamento em Monaco Cliff, não era eu. Ele sabia que era Scarlett
e o que deve ter acontecido com ela.
Ele também sabia que a porra da nota de suicídio ao lado do
corpo dela também não poderia ter sido escrita por mim.
Era Jake. Ele escreveu a nota. Aquele bastardo fez parecer que
eu me matei.
Já que uma bala na cabeça foi a forma como mamãe se matou,
e o bilhete que ela deixou para trás me culpou, ouvir isso foi como
uma faca sendo enterrada em meu coração.
Foi só quando Marquees conseguiu pegar minha bolsa no clube
que pude checar meu telefone e ouvir as mensagens que Scarlett
me enviou há dois dias. Ela não tinha como saber que não pegaria
suas mensagens porque eu estava sendo caçada. E não havia
como eu tê-la avisado.
Deveríamos nos ver em alguns meses no nosso aniversário, e
era a minha vez de ir aos Estados Unidos para visitá-la. Não o
contrário.
Ela veio de Los Angeles para uma visita surpresa para
comemorar o papel principal que conseguiu em uma peça. Foi a
maior conquista de sua vida e ela queria comemorar comigo.
Eu, a ovelha negra da família.
Scarlett era a garota boazinha que todos adoravam, enquanto eu
era a gêmea ousada, que sempre se metia em encrenca. Estava
destinada a ser uma fracassada.
Ela não.
Scarlett foi escolhida para ser a atriz principal em Purgatório dos
Amantes, a mais recente produção teatral do premiado diretor Nick
Fairchild.
Daqui a seis semanas, quando a peça estreasse, todos os
frequentadores do teatro de L. A. estariam falando sobre ela. Tenho
certeza de que eles teriam adorado Scarlett tanto quanto o mundo
reverenciava nossa avó e nossa mãe. Hollywood amava as duas, e
minha irmã estava a caminho de se juntar a esse legado.
Em um ponto da minha vida, esse sonho era o que eu queria
mais do que tudo.
Ainda quero. Scarlett sabia disso. É por isso que ela sempre me
fazia prometer que aproveitaria a oportunidade se ela surgisse. Eu
queria dizer a ela que estava trabalhando para colocar minha vida
de volta nos trilhos e planejando ir para a faculdade no próximo ano.
A maior parte dos nossos vinte e quatro anos nesta terra foram
horríveis, mas paguei o preço de várias maneiras.
Desde a faculdade, Scarlett esteve em dez produções teatrais,
mas esta peça seria o ponto mais alto de sua carreira.
Paguei com minha alma para que ela pudesse viver todo seu
potencial.
Agora ela nunca saberá o quanto estou orgulhosa dela.
É por isso que ela veio me ver.
Agora, está morta. Toda aquela pureza, talento e beleza se
foram.
Se eu não estivesse aqui, isso nunca teria acontecido com ela.
Estendo a mão e pressiono a ponta dos dedos em seu braço
gelado. Sua pele sempre vibrante está pálida, cinzenta e
fantasmagórica.
Desço meus dedos até a pequena tatuagem rabiscada em seu
pulso esquerdo. Diz, Carpe Diem. Eu tenho a mesma tatuagem no
meu pulso direito. O posicionamento é uma das poucas coisas que
poderiam nos diferenciar. A tatuagem não é algo que eu queria
especificamente.
Dei de presente a ela quando fizemos dezoito anos. Ela
costumava buscar aqueles momentos Carpe Diem, como ela os
chamava. Fazer a tatuagem foi um deles.
Quem vê minha tatuagem deve pensar que acredito nesse tipo
de coisa.
Só que não.
Frases de efeito como essa não funcionam com pessoas cínicas
como eu. São para quem precisa se lembrar de viver. Sempre tive
que lutar para sobreviver, por isso sei mais do que ninguém o
verdadeiro valor da vida. É por isso que estou tão magoada por não
haver nada que eu pudesse fazer para protegê-la.
A porta atrás de mim se abre e, um segundo depois, Marquees
está ao meu lado.
Enquanto a dor afunda meus ombros, ele me dá um abraço
reconfortante.
— Sinto muito, Summer, mas precisamos ir embora — diz ele,
falando em voz baixa que faz seu sotaque francês soar mais forte.
— Foi um grande risco vir aqui, e não é sensato ficar exposta assim,
onde alguém poderia vê-la.
Ele me fez entrar aqui pela porta dos fundos sob o disfarce de
um moletom preto com capuz e meu longo cabelo castanho preso.
Ele está certo, mas não quero deixar Scarlett aqui.
— Eu não posso deixá-la, Marquees — afirmo, quase num
soluço.
— Mas, tem que deixar. Sei que é difícil vê-la assim, mas você
precisa sair de Monte Carlo.
Quando cheguei aqui, queria escapar da escuridão do meu
passado. Eu nunca pensei que a escuridão me seguiria. Só queria ir
para algum lugar onde ninguém me conhecesse. Isso foi uma
péssima ideia. Isso me trouxe até aqui.
— O que vai acontecer agora? — pergunto.
— O capitão está convencido de que foi um suicídio, então o
caso será tratado como tal. Não há nada que mostre o contrário. A
câmera de vigilância do seu apartamento não funcionou ou não
detectou o que aconteceu. Isso significa que não posso fazer nada
que não comprometa sua segurança. – Ele me dá um olhar
preocupado. — Summer, quase todos os policiais aqui estão na
folha de pagamento de Micah Santa Maria. Você sabe o que isso
significa. Também sabe que minhas mãos estão atadas e há muito
pouco que eu possa fazer.
Sei de tudo isso muito bem.
Micah Santa Maria é o idiota para quem Jake trabalha. Ele faz
parte da máfia italiana. Já vi pessoas que vêm ao clube para se
encontrar com ele e, dias depois, são dadas como desaparecidas ou
aparecem mortas. Se você trabalha para ele, ele é seu dono.
Já era ruim o suficiente Jake ter me visto quando matou aquele
homem, mas Micah também estava lá. Eu praticamente assinei
minha própria certidão de óbito quando seu olhar pousou em mim.
— Summer, se disser uma palavra da verdade, você está morta
— Marquees mantém seu olhar fixo em mim. — Todo mundo pensa
que ela é você. Odeio dizer isso, mas estará segura enquanto Jake
achar que te matou.
Sei disso também e isso me faz sentir ainda mais culpada.
Coloco minha mão no peito, sobre meu coração, enquanto minha
pulsação salta.
— E ela? O que irá acontecer com ela?
— Seu pai será notificado de sua morte, e a polícia tomará
providências para liberar seu corpo. Claro, vão dizer a ele que foi
você quem morreu.
— Oh, Deus — meu corpo inteiro estremece.
Pai…
Isso vai acabar com ele porque irá descobrir na hora que foi
Scarlett quem morreu, não eu. No momento em que vir a tatuagem,
saberá. Pode nem precisar ver para saber. Ele era a única pessoa
que nunca se deixava enganar quando Scarlett e eu trocávamos de
lugar na juventude.
Quando descobrir, não sei o que vai acontecer.
Ele também não vai acreditar nessa estória de suicídio. Não
porque acha que não tenho motivos para fazer isso. Mas, porque
isso vai tornar todo o resto suspeito para caralho.
Com o relacionamento ruim que tenho com meu pai, a última
coisa que quero fazer é acrescentar mais motivos à sua lista de
razões para me odiar. Ele me culpou pela morte da mamãe.
Naquela época, ele estava errado. Desta vez é diferente.
— Você precisa ir embora esta noite, querida — repete ele. —
Você tem que sair esta noite. Estes são homens da máfia que estão
muito acima de mim. Não tenho dúvidas de que descobrirão o que
aconteceu de verdade a qualquer momento. Quando o fizerem, você
não poderá estar por perto.
Concordo com ele.
— Não sei o que fazer – confesso.
— Posso arranjar tudo para você voltar para os Estados Unidos.
Precisa ficar o mais longe possível daqui.
— Quando chegar lá, tenho que me esconder. Vai ser arriscado
para mim lá também. – Este não é o caso de Scarlett e eu trocarmos
de lugar. Além disso, eu nunca sonharia em fazer algo assim —
Marquees, não posso simplesmente voltar e fingir ser ela. Fazer isso
pode colocar as pessoas em perigo se Jake e Micah vierem atrás de
mim.
— Eu sei — concorda ele.
— Então, se vou me esconder, o que acontece quando as
pessoas perceberem que Scarlett está desaparecida?
Sei que ela tem cinco semanas de folga antes de voltar ao
trabalho. Normalmente, nos falamos algumas vezes por semana,
mas ela tem trabalhado tanto que o máximo que conseguimos nos
últimos meses é uma mensagem aqui e ali. Tem sido assim nos
últimos cinco meses porque ela queria o papel principal.
Nick foi inflexível quanto a não dar uma resposta definitiva, a
nenhuma das três mulheres que selecionou, até o final dos ensaios.
Escolheu minha irmã na semana passada. Quando Scarlett não
aparecer, as pessoas começarão a se perguntar onde ela está.
— Não podemos nos preocupar com isso agora — responde
Marquees com um suspiro exasperado. — A pior coisa que pode
acontecer agora é Jake ou Micah descobrirem que você ainda está
viva e ainda está aqui.
— Estou com medo — murmuro.
Marquees coloca as mãos em meus ombros, e eu olho em seus
gentis olhos cinzentos, procurando as linhas duras de seu rosto.
— Eu sei. Mas precisamos agir rápido. Isso é difícil para mim
como policial. Tenho que esperar até poder fazer alguma coisa.
Mas, você pode fazer algo agora, ficando em segurança. Não deixe
sua irmã morrer em vão, Summer.
Suas palavras penetram em minha mente.
Eu olho de volta para Scarlett, por alguns momentos, para gravar
esta última imagem dela em minha memória, depois volto meu olhar
para Marquees.
Concordo com a cabeça e aceito esta dor e condenação, que me
seguirão pelo resto da vida.
Nenhum lugar é seguro.
Nunca foi para mim e nunca será.
Chapter Um

Eric
6 anos atrás

A
escuridão que envolve minha mente recua.
Ela desaparece quando uma sensação de consciência vem
a mim.
Estou naquele ponto entre dormir e acordar, mas não me lembro
de ter adormecido. E tenho uma sensação fodida de não saber onde
diabos estou. A última vez que fiquei assim foi em uma festa da
fraternidade na faculdade. Apesar de já ter terminado a faculdade,
ainda sou o idiota imprudente que costumava ser.
Só não consigo lembrar o que está acontecendo.
Eu cometo o erro de tentar me mover, e me deparo com uma dor
aguda e entorpecente que atravessa minha cabeça e se espalha
pelo meu corpo.
Que foda!
O que diabos aconteceu comigo?
A agonia é tão intensa que revira meu estômago e embaralha
meu cérebro.
A dor pulsa na parte de trás da minha cabeça e parece que
alguém me atingiu com um caminhão tanque.
Bater em mim…
Espera um pouco...
Foi exatamente isso que aconteceu.
Alguém me bateu.
Eu me lembro do golpe.
Algum otário me deu um soco.
Eu estava no meu apartamento. Entrei, fechei a porta e isso
aconteceu.
Apesar da dor latejante, eu forço meus olhos a se abrirem, e me
vejo olhando para uma parede de pedra cinza escura.
Quando tento me mover novamente, as correntes tilintam. O
barulho faz meu sangue gelar e viro minha cabeça, olhando para a
esquerda e depois para a direita. Estou sem camisa e preso por
correntes a postes de metal de ambos os lados.
Minhas pernas também estão amarradas. Que merda!
O desespero supera a dor e me debato contra as correntes,
tentando me libertar. Não adianta porra nenhuma. Não posso fazer
nada além de ficar aqui à mercê de quem fez isso comigo.
Quem fez isto?
Porra! Eu preciso descobrir isso.
O pânico me assalta e olho ao redor da sala escura e úmida.
Há uma luz fraca pairando sobre minha cabeça e posso ouvir a
água pingando no chão atrás de mim. À minha direita há degraus de
pedra que conduzem a uma porta.
Pelo que posso ver, acho que estou em uma masmorra. O cheiro
de umidade e mofo enchendo meu nariz me diz que deve ser isso
mesmo.
Fechando os olhos, eu me esforço para me concentrar e passar
pela névoa que envolve meu cérebro. É quando me lembro do que
aconteceu antes que a escuridão me levasse.
Lembro-me de ouvir a voz de Robert.
Meu melhor amigo.
Eu ouvi a voz dele depois de ser atingido e cair no chão. O
baque forte de botas pesadas contra o chão de madeira encheu
meus ouvidos enquanto eu fiquei lá, inconsciente, mas não consegui
ver ninguém. Então ouvi sua voz. Tenho certeza de que era ele. E
estava conversando com alguém. Deve ter sido no telefone porque
não me lembro de ter ouvido mais ninguém.
— Eu o peguei — disse ele. Tenho certeza de que foi isso que o
ouvi dizer.
Então, foi ele quem me bateu?
Robert?
Isso não faz sentido. Ele é meu melhor amigo.
Mas, era ele na minha casa. Eu sei que era.
Então, ele me bateu?
Abro meus olhos novamente enquanto tento processar o que
aconteceu. As memórias começam a fluir da porra do problema em
que eu estava antes disso.
Pretendia fugir. Queria manter o conhecimento que tenho longe
das mãos erradas e proteger minha família.
Enviei um e-mail a Robert pedindo-lhe que cuidasse de minha
mãe e de minha irmã.
Enviei um e-mail com um código criptografado porque era mais
seguro. Ou, pelo menos foi o que eu pensei.
O rangido de uma porta abrindo corta meus pensamentos e olho
para cima a tempo de ver meu melhor amigo entrando.
Eu o encaro enquanto ele dá um passo de cada vez, e tento
processar o que está acontecendo.
Eu sei que só há uma coisa que a presença dele aqui pode
significar. Só que minha mente não aceita isso.
Eu conheço esse cara minha vida toda, desde quando tínhamos
cinco anos e fomos para a escola juntos.
Ele é como um irmão para mim.
Não aceito que me entregou aos meus inimigos com o beijo da
traição de Judas.
Quando ele chega ao final da escada, a luz brilha em seu cabelo
preto e ilumina seus olhos castanhos escuros.
Seus olhos sempre me lembraram carvão. Enquanto eu o
encaro, a escuridão que vejo é pura maldade, e é a primeira vez que
vejo quem ele é.
— Você, você fez isso comigo? — pergunto, indo direto ao
ponto.
— Sim.
— Seu idiota de merda. Seu cachorro filho da puta. Como pode...
Minha voz falha quando uma descarga elétrica me atravessa. Ela
atravessa meu corpo da cabeça aos pés, e um rugido de angústia
rasga minha garganta. O som é tão animalesco que levo um
momento para perceber que está vindo de mim.
A dor intensa me faz tremer enquanto cada volt ondula pelo meu
corpo, penetrando direto na minha alma. Mesmo depois que a
explosão para, estremeço. Meu cérebro está tão agitado que mal
consigo registrar o controle remoto que Robert está segurando. Só
percebo quando o levanta e passa o dedo sobre o botão.
— Se fosse você, não me irritaria — sorri. — Não sou eu quem é
a porra do cachorro aqui. É você. Você é quem vai fazer o que te
mandar.
Jesus, sinto que vou morrer. Minha cabeça está girando e meu
estômago revirando.
Encaro Robert e tento estabilizar meus pensamentos. Isso é o
que ele tinha que fazer para me vencer, mas por quê?
Preciso saber por que fez isso comigo e para onde me levou.
— Onde diabos estou, Robert? — exijo.
— No Brasil.
Meus olhos se arregalam e meu maxilar cai mais do que antes.
Brasil? Que porra eu estou fazendo no Brasil?
Estávamos em San Francisco.
— Que diabos estou fazendo acorrentado no Brasil? — cuspo as
palavras, fervendo de ódio.
Quero me libertar, mas não consigo.
Não posso me soltar por mim mesmo. Além disso, não é como
se eu pudesse fazer merda alguma acorrentado a esses postes.
— Você vai fazer o que Jude quiser que você faça.
No momento em que ouço esse nome, ele me diz tudo o que
preciso saber.
Jude Kuzmin é o cara que meu avô nomeou CEO da nossa
empresa familiar, a Markov Tech. Meu avô queria que essa função
fosse separada da propriedade por causa das responsabilidades
variadas. Portanto, embora eu fosse o herdeiro da empresa e da
propriedade que passou para mim após a morte de meu avô, Jude
ainda tinha bastante poder e controle. Ele, porém, queria tudo.
Queria o legado todo. Para isso, precisava que eu saísse de cena,
mas não antes de fazer uso de mim. Já era tarde demais quando
percebi o que ele estava fazendo ou que tinha um ás na manga na
forma de meu melhor amigo.
Não sei quando ou como Jude chegou até Robert, mas
conseguiu, e isso significa que este é o começo do fim para mim.
— O que você fez, Robert?
— Algo por mim, pela primeira vez na vida — sua resposta não
contém emoção e é tão fria quanto seus olhos. — Algo que vai me
beneficiar para variar.
— O que ele te prometeu?
Todo mundo tem um preço, e Jude sabia qual era o de Robert.
— Tudo.
— É mentira. Ele não vai dar nada a você — eu rosno.
— Ah, mas ele já me deu, Eric.
Isso me faz ficar quieto, e o sorriso que aparece em seu rosto
sela minha condenação.
Vejo que perdi e não há nada que eu possa fazer.
A coisa mais fodida é que tudo isso é minha culpa. Comecei a
me rebelar muito antes de meu avô morrer. Não entendia por que
ele tinha ligações com a Bratva, mas queria me manter fora daquele
mundo.
Depois, para adicionar sal às minhas feridas abertas, meu pai fez
o mesmo. Seja qual for o papel que ele desempenhou como meu
pai, ele também me queria fora do mundo dele. Fora da Bratva e da
máfia italiana a qual meu pai pertencia.
Mas, não se pode domar um pássaro selvagem e transformá-lo
em algo que não é. Então, quando Jude se interessou por meus
talentos, fui facilmente seduzido. Não percebi que estava me
usando para chegar aos projetos de armas do meu avô. E não era
uma arma qualquer. Era a arma de todas as armas e Jude queria
vendê-la à Ordem. Um grupo de terroristas de merda que trabalham
para políticos corruptos. Eu me meti com eles através dele.
Era disso que eu estava tentando escapar. Com o plano que eu
tinha, a única maneira de eles terem me atingido era fazendo isso.
Fazendo meu amigo me trair.
Eu olho para ele agora, e todo o resto faz sentido. Ele deveria
estar me manipulando há muito tempo. Não acredito que nunca
percebi nada. Sempre soube que Robert era um grande filho da
puta. Nunca pensei que seria um comigo.
— Como pode fazer isto comigo! Confiei em você. Éramos
amigos.
Ele ri, e o som oco ricocheteia nas paredes.
— Sim, acho que éramos, até certo ponto. Talvez quando mais
jovens. Mas, as coisas mudaram quando você pensou que não
havia problema em tomar decisões por nós dois.
— Jude é mau para caralho!
— Você está tão cheio de si que não consegue enxergar direito.
Você age como se não soubesse o que ele era quando lhe ofereceu
poder.
— Aquilo foi diferente — na verdade, não foi. Mas, odeio que
esteja certo sobre essa parte. Eu sempre soube que Jude era um
filho da puta e questionei o julgamento de meu avô quando ele o
nomeou CEO. O que eu não sabia era o que Jude tinha na manga.
— Eu não sabia que ele estava atrás da arma.
— Bem, eu saquei, e foi a única coisa que me tornou útil para
ele. Eu entreguei você e agora você terminará o projeto que seu avô
começou.
— Seu idiota de merda, o que te faz pensar que vou fazer isso?
— Você me enviou um e-mail ontem pedindo para cuidar de sua
mãe e irmã – diz e, quando seu sorriso aumenta, sei onde quer
chegar com aquela ameaça.
— Deixe-as em paz! — Berro.
Minha mãe e minha irmã não sabem nada da minha vida
criminosa e teriam vergonha de saber com quem me aliei.
— Eric Markov, não está em posição de dar ordens. Está prestes
a ter um despertar muito rude. Se não fizer o que te mandarem, elas
morrem.
Enquanto estou enlouquecendo, ele está falando comigo com
aquela voz calma para caralho que sempre odiei.
— Você não vai se safar dessa! Eu vou te matar!
Outra explosão de eletricidade pulsa através de mim e, desta
vez, a onda faz meu corpo parecer que vai entrar em combustão.
Minha cabeça cai e me sinto fraco contra as amarras que me
seguram.
Robert se aproxima, movendo-se até mim.
Eu consigo levantar minha cabeça quando ele descansa uma
mão pesada no meu ombro.
— Você não vai me matar, amigo. Receio que este seja o fim da
estrada para você e para mim. Não vamos nos cruzar nunca mais.
Você vai morrer aqui, mas eu vou embora e serei um homem muito
rico.
— Vou te matar — repito as palavras, mesmo sabendo que não
posso fazer nada.
— Não, você não vai porque você já está morto. A esta hora, na
próxima semana, o mundo pensará que você morreu em um
acidente de carro. Eles vão pensar que nós dois morremos.
Eu olho para ele. Isso não faz sentido.
— Você? Por que você?
— É um pequeno preço que tive que pagar. Homens mortos não
contam estórias. Porém, como a fênix, ressurgirei das cinzas e serei
quem eu quiser. O mais importante é que sua mãe e sua irmã vão
pensar que nós morremos, que você morreu. Então, Jude fará o que
quiser com sua família e ficará com a Markov Tech. É isso que vai
acontecer.
— Seu filho da puta — grito, de novo, me engasgando com a
raiva.
— Sim, eu sou.
— Vou acabar com você por me trair assim.
Ele responde pressionando o botão e, desta vez, a eletricidade
sobe direto para a minha alma.
A loucura me toma ao mesmo tempo que aumenta a intensidade
do choque.
Tudo o que vejo é o rosto sorridente de Robert enquanto sou
engolfado pela dor.
Mas, a promessa de vingança ecoa em meu coração, mente e
alma.
Se algum dia sair daqui, acabarei com ele, custe o que custar.
Chapter Dois
Hoje em dia

Summer

— V ocê
está bem? — Marquees pergunta. Sua voz soa
estática do outro lado da linha.
— Sim, estou bem — respondo, embora me sinta
longe de estar bem e tenha certeza de ter ouvido um barulho. Só
não sei se o som veio de fora ou de dentro de casa.
E se Jake me encontrar?
Como ele saberia onde estou?
Estou em um chalé aninhado nas florestas de San Bernardino, a
aproximadamente uma hora de Los Angeles. O chalé ainda está
listado com o nome de solteira de minha avó, então meu nome não
está vinculado a ele de forma alguma.
Eu deveria estar segura aqui. Eu estou segura aqui. Pelo menos
é o que tenho dito a mim mesma desde que saí da casa de
Marquees e entrei no avião que me traria de volta aos Estados
Unidos. Ele me levou até Nice. Estou sozinha desde então.
Olho pela janela do quarto e verifico a floresta escura. Não há
ninguém lá fora. Não deveria haver. Meu vizinho mais próximo fica a
um quilômetro e meio de distância.
— Só estou com medo — digo e tento evitar outro ataque de
choro.
— Eu sei, querida. Tudo está na mesma por aqui. Então, tente
aguentar firme mais um pouco para se manter segura.
— Estou tentando.
Estou fazendo o meu melhor. Estou aqui há uma semana e no
limite das minhas forças, para dizer o mínimo. O menor som me
deixa nervosa. Sei que não posso ficar aqui para sempre, mas vou
ficar o máximo que puder. Scarlett usava este chalé para fugir da
cidade. É um dos poucos bens que vovó nos deixou que não
perdemos depois que mamãe morreu.
Comprei um carro velho numa agência da cidade e fui à loja de
conveniência comprar comida e outras coisas para a casa. Eu não
fui a nenhum outro lugar. Como não há muito espaço de
armazenamento no chalé, tive que ir à loja duas vezes. No dia
seguinte à minha chegada e hoje cedo. Comprei uma tonelada de
comida enlatada e água engarrafada que deve durar um bom
tempo.
— Certo! Preciso ir agora. Farei contato novamente quando
puder. Apesar de que, para sua segurança, talvez seja melhor eu
ligar apenas se tiver notícias.
— Entendo — afirmo. Seria uma pena chegar tão longe e
estragar as coisas porque não fomos cuidadosos ao telefone. —
Obrigada por tudo que fez por mim.
— Não precisa me agradecer. Fez muito por mim quando
ninguém mais ajudaria. Eu nunca vou esquecer isso.
Suspiro porque não é a mesma coisa. Conhecer os segredos
mais sombrios de alguém é diferente de ajudar a permanecer vivo.
Definitivamente não quando ele me salvou da merda mais vezes do
que posso contar.
Está se referindo ao fato de que sou a única pessoa que sabe
que ele matou Sergio Marchesi, um Don de uma das famílias
criminosas mais poderosas da Itália.
Sergio matou a família de Marquees como retaliação após uma
apreensão de drogas. Entrou em sua casa e os executou durante o
sono: a esposa de Marquees, seu filho recém-nascido e duas filhas.
Sergio matou todos eles.
Por causa de quem ele era, ninguém queria fazer nada a
respeito.
Ajudei Marquees a se vingar de Sergio. Na época, eu trabalhava
em um bar decadente frequentado por mal elementos, fodidos e
perigosos. Mal tinha idade para trabalhar lá. Mas, precisava de
dinheiro e eles precisavam de mão de obra barata.
Quando Marquees descobriu que Sergio estava fazendo
negócios lá, ajudei jogando a isca que atraiu Sergio para a morte
final. O idiota tinha um apetite por garotinhas. Isso aconteceu há
seis anos e até hoje ele está listado como desaparecido. Em nosso
mundo, isso significa que está morto.
— Isso foi diferente, Marquees.
— Não foi. O que você fez foi importante para mim. Foi preciso
muita coragem sua. Além disso, mal nos conhecíamos na época.
Nos conhecemos cerca de oito meses antes daqueles
acontecimentos.
Algo mexe comigo, uma dor no coração, quando lembro de como
nos conhecemos. Eu estava em Mônaco há pouco menos de um
mês quando alguém invadiu a merda de um apartamento que
consegui alugar. Eles roubaram todo o meu dinheiro. Tudo o que eu
tinha com a venda das pérolas que vovó me deixou.
A senhoria me expulsou quando percebeu que eu não
conseguiria pagar o aluguel. Não importava que a culpa era dela por
não consertar a porta quando reclamei. Duvido, porém, que
consertar a porta teria impedido alguém de arrombar.
Marquees me encontrou na rua, em lágrimas, com nada além
das roupas do corpo. Ele e a esposa me acolheram e me ajudaram
a alugar um lugar seis meses depois.
— Você me ajudou mais do que qualquer um. Você e sua família
— afirmo. Eu me perdi no dia em que vovó morreu. Eles foram as
primeiras pessoas a me mostrar bondade em anos. Conhecer
Marquees e sua esposa ajudou a me equilibrar. Eles me fizeram
sentir humana novamente. — Sua esposa era como a mãe que eu
gostaria de ter tido. Era claro que eu iria ajudá-lo.
Ele fica em silêncio por um momento. O som do nada ecoa
contra a batida do meu coração em meus ouvidos.
Eu o ouço puxar uma respiração funda e, em seguida, liberá-la.
— Então você sabe que ela iria querer que eu te salvasse. Eu
quero salvar você. Adeus, Bela. Cuide-se.
— Você também, Marquees.
Desligamos e penso no carinho que ele acabou de demonstrar.
Bela. Quando nos conhecemos, sua esposa me chamou assim
porque achava que eu parecia a protagonista de A Bela e a Fera.
Embora não seja nada como ela, fiquei lisonjeada. A referência,
porém, era pura demais para uma mulher como eu.
Minha vida tem sido mais parecida com a de Alice. Só que, em
vez de ir para o País das Maravilhas, acabei nas chamas do Inferno.
E fui indo cada vez mais fundo, caindo de um círculo do Inferno para
o próximo. Agora me preocupo com o que acontecerá comigo
quando chegar ao fundo.
Eu olho para as vigas de madeira no teto e dou risada,
parecendo uma louca. Ou como quando eu andava chapada de
crack.
Estou rindo de mim mesma. Que porra me faz pensar que ainda
não cheguei ao círculo mais baixo do Inferno?
Não há nada de engraçado na merda em que me meti. De onde
estou, tudo o que aconteceu até agora se parece com o que
imaginei que seria o fundo do Inferno. É que eu estava inclinada a
pensar que Jake era o diabo.
Mas não é verdade.
O diabo sou eu. Eu me destruí.
Talvez antes de eu chegar ao ponto em que passei a vender meu
corpo no Club Montage, as pessoas pudessem sentir pena de mim.
Quando comecei a trabalhar lá, nunca contei a ninguém. A
vergonha de tudo que aconteceu comigo e que me mandou para lá
já era ruim o suficiente. Mas, quando fui trabalhar em um lugar como
aquele, pareceu que havia me tornado a prostituta que todos me
acusaram de ser quando mamãe morreu.
Depois disso, quando fiz aquela dívida toda, o clube era o único
lugar que consegui encontrar que me daria o dinheiro de que
precisava para pagar os traficantes que fui tola o suficiente para
ficar devendo. Foi isso que aconteceu comigo. Drogas.
As mesmas drogas que usava quando conheci Marquees. Ele
me mandou para uma clínica de reabilitação para eu me curar.
Até duas semanas atrás, ele não sabia que eu estava mentindo
sobre onde trabalhava. Também não sabia que havia me fodido toda
tendo uma recaída.
Apenas uma. Isso foi o suficiente para iniciar a reação em cadeia
que acabou com a morte de Scarlett.
Tive uma recaída quando vi Ted Nicholson, o monstro. Também
conhecido como meu ex-padrasto e atual governador de Nova York.
Ele estava na capa de uma edição especial da revista People.
Estava sendo homenageado como o Homem do Ano por seu
trabalho com as jovens sem-teto na cidade.
Ver o artigo foi como um chute na cara. Esse homem destruiu
minha vida e matou todos os meus sonhos.
Eu estava limpa há três anos, mas voltei ao covil do meu
traficante na mesma noite em que vi a matéria.
Eu fui tola em cair na armadilha deles. Eles queriam me enredar,
e eu já devia dinheiro a eles. Depois, passei a dever um pouco mais
quando perdi o emprego. Quando você deve a pessoas como
essas, eles cobram o juro que consideram apropriado. Cinco mil
viraram vinte e, quando não consegui pagar, viraram trinta. Com o
passar do tempo, adicionaram mil dólares por dia. Quando se
transformou em sessenta, e a ameaça da minha vida estava na
balança, encontrei o Club Montage.
Foi assim que conheci Jake.
Jake era dono do clube em sociedade com um cara chamado
Cassius Dent. Trabalho lá há pouco mais de um mês. Quando você
trabalha no Club Montage, eles são seus donos. Quando você é
uma pobre alma infeliz como eu, ganhar quase dois mil por noite
para salvar sua vida parece um bom negócio. Exceto que, por causa
do meu passado, parecia o último prego no caixão que enterrou a
garota que eu costumava ser.
Então, prometi a mim mesma que se eu me tornasse escrava
deles, eu iria querer algo para mim no final. Não apenas para sair do
problema. Prometi a mim mesma que usaria o dinheiro que
ganhasse, depois que minha dívida fosse paga, para voltar à escola
e voltar ao caminho que deveria seguir.
Agora, isso aconteceu e não tenho ninguém a quem recorrer.
Meu pai sempre estará fora da jogada.
Embora o corpo de Scarlett ainda esteja em Monte Carlo, ele já
deve saber o que aconteceu.
Ele deve ter ficado louco e, provavelmente, está me
amaldiçoando até a morte agora também.
Papai e eu não nos falamos há oito longos anos. Eu gostaria de
reunir coragem para ir visitá-lo e pedir desculpas por minha
participação na morte de Scarlett, mas não posso.
Sentindo-me como me sinto, não acho que poderia olhá-lo nos
olhos e dizer-lhe como é minha culpa que sua filha foi morta por um
monstro que eu não deveria ter conhecido.
Eu me movo para sentar-me na cama, mas paro quando ouço
aquele barulho novamente. Deus, eu realmente estou ouvindo
alguma coisa. É um som arrastado.
Desta vez, tenho certeza de que vem do andar de baixo.
O que devo fazer?
Que se foda! Não posso ficar aqui em cima e esperar. E esperar
o quê? Preciso verificar o local para descobrir que barulho é esse.
Como a casa fica na floresta, é provável que o barulho que ouço
seja do lado de fora. Pode ser uma raposa ou um guaxinim.
Para garantir minha segurança, pego o revólver que Scarlett
guarda no criado-mudo e o seguro ao meu lado. Nós duas odiamos
armas, mas entendo por que ela comprou uma para se proteger
quando estava aqui.
No momento em que saio do quarto, meus nervos disparam.
Algo parece estranho neste lugar e há uma presença no ar que
não existia antes.
Deus, e se Jake me encontrou e agora está aqui?
Por que estou pensando nisso? Jake tem conexões poderosas
com a máfia. Ele tem pessoas em todo o mundo que podem cumprir
suas ordens. Ele não tem que vir aqui ele mesmo.
Com cuidado, coloco um pé na frente do outro e desço as
escadas.
Mantendo minha arma por perto, o primeiro cômodo em que
decido me aventurar é a sala de estar, que tem portas de correr. Se
alguém entrar, será por esse caminho, ou possivelmente pela
cozinha, que fica bem nos fundos da casa.
Se alguém estiver lá dentro, posso escapar pela porta da frente.
Respirando fundo, entro na sala de estar, e é quando vejo um
homem alto e musculoso com cabelo loiro escuro parado perto da
janela.
Eu congelo no lugar, tudo dentro de mim para, incluindo meu
coração.
De costas para mim, ele está parado olhando pela janela.
Ele deve saber que estou aqui, mas ainda não se virou.
Eu tento me acalmar e considero se esse cara poderia ser
alguém que Scarlett conhecia. Talvez um namorado ou um cara que
queria ser. Nós duas não tínhamos falta de homens assim.
Mas, ela teria me contado. Ela sempre me falava quando tinha
alguém novo na parada. Não houve ninguém recentemente, e
ninguém que pensasse que estava tudo bem vir para esta casa sem
ela estar aqui.
Com esse raciocínio, minha mente salta para a outra coisa que
esse cara poderia ser.
Perigo.
Tudo o que posso ver enquanto ele está diante de mim são os
ombros largos e poderosos e os músculos pressionando o contorno
de sua jaqueta de couro preta.
Um par de jeans pretos desliza baixo em seus quadris e abraça
pernas longas e atléticas.
Ele tem a aparência e a vibração de um homem perigoso.
Mesmo antes de ele se virar para mim, eu já sei que ele vai ter
aquele olhar mortalmente bonito que todos os belos demônios têm.
Quando ele se volta e fica de frente para mim, tenho minha
confirmação.
Ele definitivamente tem aquele olhar. Só que, mesmo depois de
minha suposição, não estava preparada para vê-lo cara a cara.
Aguçados olhos azuis profundos me encaram, em um rosto que
tem ângulos e planos de tirar o fôlego.
A sombra de sua barba por fazer cobre levemente suas
bochechas, acentuando suas maçãs do rosto, altas e exóticas.
Ele é lindo, e a beleza que vejo me tenta a esquecer do perigo
que ele representa. É só quando ele inclina a cabeça para o lado, e
uma mecha de cabelo cai sobre seus olhos, que meu transe é
quebrado.
— Quem é você? — pergunto, tentando manter o tremor fora da
minha voz.
— Meu nome é Eric Markov — responde e o profundo barítono
de sua voz penetra em mim e me deixa nervosa.
— O que você quer?
— Vamos apenas dizer que sou um amigo — os cantos de seus
lábios se levantam em um sorriso suave e sexy.
— Que tipo de amigo você é? — resmungo.
Ele olha para a arma que eu pressionei contra o meu lado, e
aperto minha mão com força em torno do cano de aço frio. Quando
seu olhar se volta para o meu, o sorriso desaparece e seus olhos
escurecem para o azul de uma tarde tempestuosa.
— Sou o tipo de amigo que sabe que você é Summer Reeves,
boneca.
Isso é tudo que preciso ouvir para confirmar que ele está aqui
para me matar.
Uma combinação de terror e adrenalina me coloca em ação.
Levanto a arma, miro e atiro. Um som ensurdecedor ecoa quando a
bala sai.
Tinha certeza de que acertaria o intruso, mas errei e agora ele
vem atrás de mim. Grito e disparo outra bala, da qual ele se
esquiva. O bom senso entra em ação e grita para eu correr e dar o
fora daqui. Esse cara é um profissional. Sou uma amadora e tudo o
que fiz foi irritá-lo. Tento correr, mas dou apenas um passo antes de
um braço forte segurar minha cintura e me erguer no ar.
— Você está louca? — ele rosna, mas eu não o ouço.
Mais uma vez, estou pensando em sobreviver, em tentar
continuar a viver. Não posso permitir que ele me mate sem lutar.
Desistir só vai ajudá-lo a me matar mais rápido. Desistir será cuspir
na morte de Scarlett. Então, devo lutar.
— Tire suas mãos de mim!
Ele tenta tirar minha arma, mas mantenho meu braço bem acima
de nós, fora de seu alcance. Como um animal selvagem, eu o chuto
na virilha e suas pernas cedem. Nós dois caímos, ele por cima de
mim, e acidentalmente disparo outro tiro. Algo se estilhaça ao fundo,
mas não perco tempo tentando descobrir o que é.
Eu me afasto e rastejo para frente pelo chão de madeira. No
entanto, ele estende a mão para mim mais uma vez. Desta vez
arrancando meu vestido.
— Puta merda, você é uma vadia louca — afirma.
Ele me vira de costas e prende minhas mãos sobre minha
cabeça. Mas isso não me impede de lutar. Eu ainda luto contra ele.
— Deixe-me ir, seu filho da puta.
— Acho que não — responde com um sorriso grosseiro e
arranca minha arma sem esforço.
Paro de me mover quando ele pressiona o cano de aço no meu
pescoço. Minha respiração falha quando ele se aproxima do meu
rosto e penso que vai me beijar. Que tipo de psicopata beija uma
mulher antes de matá-la?
Meus pulmões queimam com a respiração escaldante que estou
segurando. Enquanto ele pressiona meu pescoço com mais força, a
visão de seu belo rosto começa a desaparecer, e eu sei que o que
quer que ele esteja fazendo comigo vai me fazer desmaiar. Talvez
seja assim que ele mata. Talvez ele pense que é mais gentil. Desse
jeito, você não vê. Você morre dormindo.
— Eu tinha razão. Você é uma pimenta — afirma ele.
É uma coisa tão estranha de se dizer.
— Me deixe ir — faço meu apelo final.
— Desculpe, boneca, não posso fazer isso. Você tem
informações de que preciso.
Informações.
Não tenho certeza se digo a palavra ou penso, porque tudo fica
escuro como breu em minha mente. Sou forçada a me entregar ao
desamparo que me domina.
Chapter Três

Eric

hefe, ela está acordada — Borya me informa, entrando


— C em meu escritório.
A mesma inquietação que sinto está gravada nas
linhas duras de seu rosto. Ele é o chefe de segurança da minha
equipe e meu segundo em comando. Apesar de não nos
conhecermos há tanto tempo quanto os outros homens da
Irmandade, ele sabe como fazer seu trabalho. Por isso, está tão
cauteloso quanto eu com essa mulher em minha casa.
Ainda não sabemos se ela é uma ameaça.
Como não encontrei ninguém que conhecesse Robert que não
fosse uma ameaça a ser eliminada, é difícil pensar que ela poderia
ser outra coisa senão isso.
As ordens que recebi de Aiden Romanov, nosso Pakhan, e meu
futuro cunhado, eram para pegar Summer Reeves e mantê-la em
meu apartamento até novas instruções. Isso foi depois que ele me
disse que ela conhecia Robert. Recebi um endereço e uma foto dela
com a ordem para não interrogá-la, nem matá-la.
Aiden tem uma pista que está investigando com Dominic
D'Agostino e Alejandro Ramírez, chefe do Cartel Ramírez no Brasil.
Agora que estou de volta, queria muito poder fazer parte do que
quer que eles estejam investigando.
— Obrigado. Irei vê-la — respondo. – Aguarde minhas ordens.
Ele abaixa a cabeça em sinal de respeito e sai.
No apartamento, Borya e Oleg fazem minha segurança. Oleg é
meu segundo guarda-costas, auxilia Borya e cuida dos outros oito
membros da minha equipe. No momento, estão lá fora, de guarda,
caso surja algum problema.
Esta mulher é a pista mais recente que conseguimos obter. Não
há como dizer em que merda me meti ao pegá-la, nem quem vou
atrair. Se conseguir arrancar Robert do buraco infernal para dentro
do qual rastejou, não me importo com quem venha atrás dela.
Quero vingança e não vou descansar até conseguir arrancar a pele
dele. Pouco me importa se pegar Summer Reeves vai provocar o
fim do mundo, desde que o resultado seja a morte de Robert pelas
minhas mãos.
Subo até o quarto de hóspedes onde a estou mantendo. Não fico
surpreso ao ver que está acordada. Ela dormiu durante toda a
viagem até aqui, que durou pouco mais de uma hora. Deveria ter
dado um jeito para que dormisse até Aiden entrar em contato
comigo porque estou morrendo de vontade de interrogá-la. Mas,
tudo bem.
Estou de volta ao mundo dos vivos há exatamente um ano e três
dias, e passei cada um desses trezentos e sessenta e oito dias
procurando por Robert.
Eu mudei, e minha vida também mudou de maneira significativa,
mas minha missão de encontrá-lo e acabar com ele não vacilou.
Sou o proprietário, e CEO, da Markov Tech, mas agora também
sou um Vor. Sou o Obshchak da Irmandade Voirik. Isso é algo que
meu avô e meu pai nunca quiseram para mim. Porém, tenho certeza
que eles olham por nós, mesmo estando no além-túmulo. Viram o
que aconteceu e que nossa família quase foi destruída. Foi por
milagre que fui resgatado do cativeiro em que me colocaram no
Brasil.
Minha única esperança de escapar do inferno em que Robert me
colocou veio na forma de Olívia, minha irmã caçula. Ela foi obrigada
a largar nossa mãe em uma cadeira de rodas para me procurar. Foi
assim que conheceu Aiden.
Ela descobriu que eu não havia morrido naquele acidente
quando ouviu um telefonema que não deveria ter escutado entre
Jude Kuzmin e Igor Evanovich, o bastardo que deu poderes a todos
que tiveram participação na minha destruição.
Pelo que descobri até agora, não tenho certeza do que atraiu
mais o Robert. Se foi Jude com sua oferta de um milhão de dólares
para que me preparasse uma armadilha. Ou se foi Igor com sua
promessa de fornecer a ele conexões para que construísse uma
riqueza inimaginável. De qualquer maneira, Robert mordeu a isca.
Olívia percebeu que a história falsa da minha morte que Jude
inventou era um esquema elaborado para obter o legado de nossa
família.
No entanto, ninguém sabia sobre os projetos de meu avô para a
arma até depois de me encontrarem no Brasil.
Dois meses atrás, quando percebi que havia chegado a um beco
sem saída, procurei ajuda de Aiden. Quando um homem como eu,
que consegue encontrar todo tipo de merda fica perplexo, significa
que há coisas bem maiores em ação nos bastidores. O ponto onde
minha pista morreu, e o último registro do filho da puta, é de dois
anos atrás, quando fez negócios com um idiota chamado Luke
Thornton.
Só posso esperar que essa pista que encontramos com essa
garota obtenha mais sucesso do que minhas pesquisas anteriores.
Tudo o que consegui encontrar até agora é nada.
Quando subo as escadas, ouço Summer batendo com força na
porta trancada e pedindo ajuda. Ainda não conheço a história dela,
mas não sei quem ela acha que poderia ajudá-la a fugir enquanto
está presa aqui.
Seus apelos silenciam e as batidas param quando giro a chave
na fechadura.
Ela se afasta quando a porta se abre e entro.
Está morrendo de medo de mim.
Isso é bom. O medo mantém as pessoas na linha.
Ela deveria ter medo de mim e estou certo em desconfiar dela.
No entanto, nada, muito menos o bom senso, pode me impedir de
admirar seu corpo perfeito.
Vestindo apenas sutiã de renda preta e calcinha combinando, a
porra da mulher parece que acabou de posar para a capa da revista
Playboy.
Eu a coloquei na cama sem lençóis assim e a deixei lá para
dormir.
Pensamentos pecaminosos é a única coisa que um homem pode
ter quando olha para aquelas curvas e seus seios generosos
exibindo mamilos rosados pressionando contra a renda floral de seu
sutiã.
Aquela foto que Aiden enviou não era nada em comparação com
a Summer Reeves da vida real.
Ela é ainda mais impressionante em carne e osso.
Cabelos longos, sedosos e castanhos aveludados caem em
cascata pelos ombros, adornando seu rosto em forma de coração.
Cílios pretos grossos emolduram olhos cor de champanhe que
possuem um brilho inocente e são parecidos com os de uma corça.
São grandes demais para seu rosto bonito. Mas é isso que a faz tão
impressionante. Seus olhos foram a primeira coisa a me cativar.
Mostram que ela tem o fogo de uma lutadora, uma pessoa que
quer sobreviver porque quer viver. Ela é o oposto de mim. O fogo
em meus olhos é alimentado pela morte. O dela é a própria vida.
Endireitando a coluna, ela ergue a cabeça como se tivesse
acabado de pensar em algo para ajudar em sua situação. Quando
pressiona a boca em uma linha reta, sua expressão deveria
endurecer seu rosto, mas só consigo pensar em como seria bom
sentir seus lábios macios ao redor do meu pau.
Como será que ela conheceu Robert?
Será que era a namorada dele?
Não sei por que, mas o pensamento de que ela poderia ser me
irrita. Talvez seja porque faz o meu tipo. E pelo jeito, é uma garota
que gostaria de ter para mim. Ela poderia facilmente me distrair por
algumas horas.
— Você rasgou meu vestido — afirma e junta as mãos sobre o
peito como se isso fosse fazer alguma coisa para escondê-la.
— Desculpe, boneca.
— Não sei o que quer, mas posso te dizer agora, não vai
conseguir nada de mim — desafia, deixando cair as mãos e me
encarando.
Dou-lhe crédito pela coragem que ela mostrou ao tentar me
desafiar. Suas palavras não me surpreendem, no entanto. Qualquer
mulher que pensa que pode atirar em mim, e acredita que pode
realmente me acertar, merece crédito por tentar.
Caminho até ela e, embora ela trema, seu olhar intenso nunca
deixa o meu.
— Cuidado, Summer Reeves. Você não vai querer fazer de mim
um inimigo.
— Seu idiota de merda, eu não me importo com o que eu faço de
você. Você não vai conseguir nada de mim! — grita ela.
— Talvez eu precise te dar uma boa surra para você acalmar.
Essa sua boca gostosa vai te colocar em apuros.
— Vou arrancar seus olhos se tentar me tocar.
Puta merda. Está falando sério! Não sei se é porque ainda não
entendeu em quantos problemas está metida. Ou, se já percebeu, e
está tentando se apegar a qualquer sensação de poder e controle
que acha que pode ter.
— Adoraria ver você tentar arrancar meus olhos — eu rio,
deixando-a com mais raiva.
Sua personalidade forte surge com força total quando agarro seu
braço. Ela dá um tapa em minha bochecha com tanta força que
suas unhas cravam em minha pele. Já posso sentir que me cortou,
mas não me importo. Tudo o que conseguiu fazer foi me fascinar
mais do que antes.
Devo ser um filho da puta doente e tão fodido quanto qualquer
outro homem que gosta de caçar porque eu solto o braço dela. Faço
isso porque sei exatamente o que ela vai fazer. Então, quando corre,
permito; só para dar perseguição.
Ela vai direto para a porta aberta, provavelmente pensando que
vai escapar.
Ela não vai.
Apenas dei a ela uma pequena vantagem.
Sorrio e a persigo quando atravessa a porta, alcançando-a em
segundos.
Ela grita quando a agarro, e seus chutes e golpes nos mandam
de volta para o chão, exatamente como quando nos conhecemos.
Eu a inclino para o lado e dou um tapa forte em sua bunda
gostosa, fazendo-a gritar. Queria mesmo era agarrar um punhado
de sua carne farta e bater até a pele ficar vermelha, mas eu me
seguro.
— Garota atrevida, esta é sua segunda pisada de bola. A
primeira foi quando atirou em mim — provoco e, assim como fiz
antes, prendo suas mãos acima de sua cabeça.
Desta vez, não vou fazê-la desmaiar. Quando a trouxe para cá,
minha preocupação era chamar muita atenção com seus chutes e
gritos. Não tinha como saber quem estaria por perto ou a que
distância seus vizinhos estavam.
Ela pode gritar o quanto quiser aqui e ninguém vai me
questionar. Meus guardas são muito bem pagos para não ouvir
nada.
— Afaste-se de mim, seu idiota. Que parte da minha ameaça
você não entendeu?
— Mocinha, a única coisa que conseguiu fazer foi deixar meu
pau mais duro – sussurro, me esforçando para não rir. – A menos
que queira que eu te foda, ficaria quieta se fosse você.
Isso a faz parar de se contorcer. Seus lindos olhos se arregalam
e me encaram com medo porque deve ter notado que estou falando
sério para caralho. No entanto, a leve cor rosada de suas
bochechas indica que ela pode estar tão atraída por mim quanto eu
por ela.
Meu olhar cai para as enormes curvas de seus seios e observo a
rápida subida e descida de seu peito.
— Deixe-me ir, seu idiota — ela murmura em um tom mais suave
que não contém menos veneno do que antes.
— Não! — Apesar das ordens de Aiden para não interrogá-la,
não consigo adiar por mais tempo a pergunta mais importante em
minha mente. — Você tem informações que eu preciso sobre Robert
Carson. Onde ele está?
Seus olhos se estreitam agora e seus lábios carnudos se abrem.
— Não sei quem é esse cara. Não conheço ninguém com esse
nome.
A vontade de brincar que sentia antes desaparece porque não
sei se está mentindo. Se estiver, este seria o momento em que faria
algo drástico.
— Você não conhece Robert Carson? – repito minha pergunta.
— Não. Então, deixe-me ir. Claramente, pegou a pessoa errada.
Aiden não teria entendido errado algo tão importante assim. Mas,
talvez tenha sido por isso que me mandou esperá-lo antes de
interrogá-la.
Meu telefone vibra no bolso de trás com uma mensagem e sei
que é dele.
Robert usou vários pseudônimos. Ela pode conhecê-lo como
qualquer um deles. Eu tenho várias fotos dele que poderia mostrar a
ela para refrescar sua memória. Mas, vou tirar dela o resto da
estória antes de fazer qualquer coisa. Não sei o quão feio isso pode
ficar ou quem ela é para Robert ainda.
— Deixe-me ir — diz ela novamente cortando meus
pensamentos.
Eu tenho uma ideia. Algo que a impedirá de dar mais trabalho do
que o que já deu. Além disso, não quero que ninguém a veja de
calcinha e sutiã, exceto eu.
Ela engasga quando a pego e a coloco sobre meu ombro como
se fosse um homem das cavernas. Enquanto se debate, me
chamando de filho da puta e de todos os palavrões que conhece, só
consigo pensar que a porra da sua bunda perfeita está balançando
praticamente na minha cara.
Isso e o cheiro de mel que ela exala estão fodendo comigo.
Eu a levo de volta para o quarto, mas em vez de colocá-la na
cama como fiz antes, vou até o armário e pego um par de algemas
que não uso há algum tempo.
Quando ouve o tilintar do metal, ela tenta olhar por cima do
ombro.
— Que diabos está fazendo? — exige saber, mas a ignoro.
Vou até a parede, coloco-a no chão e prendo a algema em seu
pulso direito antes que ela possa se dar conta do que está
acontecendo. Para deixar claro que ela não deve lutar contra mim,
saco minha arma e a estendo para ela ver.
A visão corta tudo o que ela ia me dizer e o terror substitui a
bravata em seus olhos.
Bom. Parece que eu a tenho exatamente onde preciso dela.
Ela não protesta quando levanto seu braço, deslizo a corrente
pelo anel de metal na parede e prendo a outra ponta em seu pulso
esquerdo.
Essas algemas não são daquelas com proteção nos pulsos para
evitar hematomas. Essas são projetadas para machucar se você se
mover demais.
Assim, ela fica à minha mercê, completamente submissa. Ela
sabe que eu poderia fazer qualquer merda que quisesse e não
haveria nada que pudesse fazer para me impedir.
Com um sorriso implacável, coloco minhas mãos em cada lado
dela e me inclino para mais perto. Perto demais para seu conforto,
perto o suficiente para assustá-la ainda mais. Um arrepio a percorre
e, quando pressiono meu dedo na lateral de seu pescoço, seu pulso
acelera. Quase posso ver o sangue correndo em suas veias,
alimentado pelo medo.
Sua pele cremosa como porcelana não esconde nada, pelo
menos não o que ela quer esconder. Não esconde que está tão
assustada quanto excitada.
A possibilidade alarga meu sorriso e preciso me lembrar de
quem ela é.
— Tão linda. Eu odiaria ter que machucar você, boneca.
— Homens como você sempre machucam. Você é insensível e
frio.
Não está errada. Mas, sua expressão enquanto fala me
impressiona. Está claro que fala por experiência e há um ar perdido
em seus olhos que diz muito mais.
Eu me aproximo ainda mais, tão perto que meu nariz roça no
dela.
— Vai ficar aqui, quietinha, até eu voltar, boneca. Depois a gente
conversa.
O fogo e a vontade de lutar dentro dela desaparecem.
Eu me afasto e saio, trancando a porta atrás de mim.
Ansiosamente, pego meu telefone e vejo a mensagem de Aiden
que diz:
Dominic conseguiu imagens de Robert. Encontre-nos na
D'Agostinos Inc.
Meu Deus.
Dominic realmente encontrou a filmagem.
Ele é como eu. Nós dois estudamos no MIT e temos inteligência
fora do comum.
Ele estava no Brasil nesses últimos dias ajudando Alejandro a
rastrear alguém. E encontrou imagens de Robert?
Eu sabia que, como membro do Sindicato, pedir a ajuda de
Aiden significava obter ajuda de todos os membros e de seus
aliados. Nunca imaginei que minha busca se tornasse um negócio
do Sindicato. Mas, parece que é isso.
Isso significa que eu estava certo; Robert está envolvido em algo
grande.
A raiva pulsa através de mim e saio, ordenando meus homens a
vigiarem Summer.
Eu subo na minha moto e arranco a toda como o louco que sou.
Existe uma linha tênue entre a sanidade e a loucura.
Cruzei essa linha há tanto tempo que não lembro quando
aconteceu.
Já ouvi dizer que as pessoas quebradas são as mais fortes
porque sabem como sobreviver. Mas, ninguém pensa sobre o que
essa pessoa passou para chegar no fundo do poço.
Todo mundo quebra de maneira diferente e nem todos podem
ser consertados.
Eu não posso.
Sei que não posso.
Já sabia disso quando eles acabaram com toda a humanidade
que eu tinha e me tornei o monstro sem coração que sou hoje.
Chapter Quatro

Eric

P
assa um pouco das nove quando chego à D'Agostinos Inc.,
sede do Sindicato.
Entro correndo e vou direto para uma sala grande onde
sempre realizamos as reuniões do Sindicato. Lá encontro Aiden e
Maksim, seu primo e Sovietnik de nossa irmandade, sentados ao
redor da mesa com os outros membros.
Massimo D'Agostino, o líder do Sindicato, está aqui. Ele está na
cabeceira da mesa. Ao lado dele está Dominic, seu irmão e
consigliere. Em frente a eles está o próprio rei do cartel, Alejandro.
Estou surpreso em vê-lo já que não faz parte do Sindicato. Isso
significa que a informação que Dominic encontrou deve envolvê-lo.
Disseram-me que ele ajudou no meu resgate do complexo onde
fiquei preso no Brasil.
Nunca tivemos chance de conversar muito, apenas algumas
palavras aqui e ali. Além, claro, do meu agradecimento a ele quando
fomos apresentados.
Ele é um velho amigo da família dos D'Agostinos. Por isso,
Massimo tentou convencê-lo a ingressar no Sindicato quando o
reformou há seis anos. Mas, Alejandro sempre recusou a oferta.
Ele não se parece em nada com a última vez que o vi. Menos
ainda com o homem poderoso que deve ser. Afinal, possui uma
empresa de petróleo multimilionária e o controle sobre o tráfico de
armas e veículos no Brasil.
Sua barba grisalha parece mais cheia e seu cabelo mais
comprido, como se não tivesse aparado nenhum dos dois há algum
tempo. Sua aparência desleixada, e aquela frieza em seus olhos, o
fazem parecer que está a ponto de matar alguém.
— Olá! — cumprimento todos.
— Peço desculpas por não ter te chamado antes — diz Aiden. —
Tínhamos muitas coisas para verificar e pegar a garota era uma
prioridade.
— Sem problemas – afirmo. – O que está rolando?
— Sente-se aqui — ele responde, puxando a cadeira a seu lado.
Quando me aproximo e me sento, Dominic abre uma gravação
no seu computador que é exibida no monitor enorme pendurado na
parede em frente.
Imagens de Robert entrando em um quarto ganham vida e meu
sangue ferve.
Eu fixo meu olhar na tela e o observo; parte de mim olha sem
acreditar que estou vendo mesmo Robert – vivo e bem. A outra
parte de mim, que o quer morto, está pronta para acabar com ele
agora mesmo. Se eu pudesse alcançar magicamente as fibras do
espaço e do tempo com minha arma, dispararia uma bala entre seus
olhos. Apenas uma. Isso é tudo o que seria necessário para
aniquilá-lo.
Robert parece o mesmo de anos atrás. O mesmo cabelo preto
rebelde de comprimento médio e ele tem o mesmo olhar maligno de
sempre.
Dominic pausa a gravação e mudo meu foco para ele.
— Eu procurei por Robert em todos os cantos do Inferno. Quem
estava rastreando quando encontrou isso? – exijo.
— Esse cara — Dominic retrocede a gravação em quinze
segundos, mostrando um italiano bem-vestido que imagino ter cerca
de quarenta anos. Ele entrou no mesmo quarto que Robert.
— Quem diabos é esse?
— Micah Santa Maria — Alejandro responde a pergunta que fiz a
Dominic, falando com um leve sotaque sul-americano. — Parece
que ele e Robert estão trabalhando juntos. Micah é um dos líderes
da Camorra.
Camorra?
Que bosta!
Bem, isso confirma que Robert tem um aliado muito poderoso,
uma das principais razões pelas quais não consegui encontrá-lo até
agora.
— Seis meses atrás, Micah assassinou meu irmão e a esposa,
deixando para trás minha sobrinha recém-nascida — Alejandro
explica. — Tenho tentado encontrá-lo desde então. Dominic está me
ajudando. Nossos esforços foram inúteis até isso.
— Onde isso foi gravado? — pergunto.
— Em Mônaco, quatorze noites atrás — responde Dominic.
— Mônaco? — repito, cerrando os dentes.
Porra do inferno. É aí que o filho da puta está. Todas as minhas
tentativas de encontrá-lo aqui foram infrutíferas porque está do outro
lado da porra do mundo.
— É o apartamento onde Summer Reeves mora — diz Dominic,
e as peças do quebra-cabeça começam a se encaixar. — Meu
programa de reconhecimento facial encontrou a gravação ontem à
noite.
— Eu também tenho bots de reconhecimento facial — interrompi.
— Os meus estão configurados para hackear e escanear a rede em
busca de tudo com o rosto de Robert. Eu deveria ter encontrado
isso.
— Quando não consegui encontrar Micah, suspeitei que poderia
estar usando tecnologia para se esconder todo esse tempo –
Dominic suspira. – É a mesma coisa que Robert está usando. Dado
o seu passado, estou assumindo que ele mesmo criou isso.
— Droga. Sabia que ele tinha que estar usando alguma merda
desse tipo. É o único jeito para se esconder de um cara como eu;
combater fogo com fogo.
— Você estava certo em pensar assim. Esta gravação que
estamos vendo é um exemplo do que ele está encobrindo. A
gravação foi adulterada, então qualquer um que olhasse antes não
teria visto nada.
— Nada?
— Sim, e mantive assim para nossos propósitos, então gravei a
filmagem e apaguei do sistema do prédio. Este código apareceu
algumas semanas atrás e está anexado ao vídeo como um malware
— Dominic muda de tela e exibe um código binário que parece um
firewall poderoso. — Eu descobri isso, pela primeira vez, nos
arquivos pessoais de Micah. Quando examinei o programa, percebi
que atua para ocultar e criptografar tudo sobre uma determinada
pessoa e excluí-la do sistema. Essencialmente, exclui a presença
dessa pessoa em qualquer coisa eletrônica que capture sua imagem
ou informações.
Isso é incrível para caralho. Tudo o que posso fazer é olhar para
Dominic. O que ele está dizendo é que uma pessoa pode fazer todo
tipo de merda e ficar invisível enquanto faz isso.
Roubar um banco ou assassinar alguém, sem sofrer as
consequências. É o tipo de coisa com a qual Robert e eu teríamos
nos envolvido naquela época.
Eu tenho que dar crédito a ele. Mas, tenho certeza de que não
teria uma ideia desse tipo sozinho. Ele era bom, mas não muito
criativo. Nós dois estudamos no MIT, mas me ofereceram uma bolsa
de estudos e uma colocação quando eu tinha dezesseis anos. Esse
é o nível de diferença entre nós.
Alguém altamente inteligente o ajudou a criar isso, e ele também
teria sido fortemente financiado. Provavelmente, por seus amigos da
Camorra.
— Criei um vírus sofisticado para quebrar os algoritmos —
acrescenta Dominic. — Foi assim que consegui a gravação.
Também encontrei mais de mil casos em que o código foi usado em
vários países nos últimos dois anos.
— Dois anos atrás é exatamente onde meu rastro termina.
Imagino que quando Robert descobriu que fui resgatado, ele se
sentiu seguro por causa de sua tecnologia. Filho da puta.
— Faz sentido, então – Dominic responde. – Mas, acho que o
programa está com problemas. Eu não deveria ter conseguido
enxergar o código, muito menos hackear com um vírus. Só tentei
por tentar. Quando o analisei, notei que se fragmenta com o tempo e
desaparece. É por isso que podemos vê-lo agora. O que quer que
esteja errado com o dispositivo está enfraquecendo a codificação.
— Podemos usar o vírus novamente para rastreá-los?
— Não — responde e balança a cabeça consternado e sinto uma
pontada de desapontamento. — Como leva algum tempo para o
código se fragmentar, não conseguimos rastreá-los em tempo real.
Isso significa que tudo o que recebemos pode estar semanas
atrasado, como este vídeo. Eles podem já ter ido embora do lugar
quando finalmente acharmos alguma imagem.
— Então, não sabemos se ainda estão em Mônaco?
— Não. Devo salientar, porém, que, para mim, ver um registro de
quatorze dias atrás significa que deve estar enfraquecendo e se
fragmentando em um ritmo mais rápido. Ainda estamos
aproximadamente duas semanas atrasados. Ainda é muito tempo —
ele respira fundo e solta o ar lentamente. — Obviamente, a melhor
coisa que podemos fazer é criar algo que possa localizar o código
enquanto está sendo usado. Já tentei tudo que sei, mas nada
funcionou. Acho que isso é mais sua especialidade.
Porra, se Dominic está admitindo que posso fazer melhor,
significa que tentou de tudo mesmo. Minha experiência e habilidade
são apenas diferentes das dele. Na Markov Tech, desenvolvo armas
de última geração e software antivírus.
Mas, vou descobrir um jeito. Esta é uma oportunidade que não
posso perder.
— Vou conseguir — afirmo, parecendo mais positivo do que
deveria, dado o fato de que isso é novo para mim. Mas, estou
partindo do princípio de que não há nada que Robert possa fazer
que seja melhor do que eu. — Não vale a pena ir a Mônaco?
— Ainda não — Aiden interrompe, e eu olho para ele.
— Por quê? — Não consigo entender termos uma pista de sua
localização e não irmos para lá.
— É aí que a garota se encaixa — diz Massimo, falando pela
primeira vez. — Ela pode fornecer uma rota mais rápida para
encontrar Robert e Micah. Sei que já tem um interesse pessoal em
encontrar Robert. Mas, agora que Micah está envolvido e Alejandro
é um dos nossos aliados, é um assunto do Sindicato. Então,
precisarei de sua ajuda para encontrá-lo também.
— Você tem minha ajuda — asseguro ao Massimo, mas olho
para Alejandro também. Ele abaixa a cabeça, mostrando gratidão.
— Como a garota se encaixa?
— Volte para a gravação, Dominic — diz Massimo. — Comece
do início.
Dominic retorna à gravação. Desta vez, ele vai até o ponto onde
há uma mulher histérica de cabelos escuros no quarto. Levo um
segundo para ver que é Summer. Mas, há algo diferente nela.
De repente, Micah aparece. Robert passa correndo por ele e a
gravação começa com o que eu vi antes.
— Por favor, não me machuque — ela grita.
Quando Robert chega até Summer, ele saca uma arma.
— Desculpe, Summer Reeves, não adianta implorar. Você
morreu no momento em que viu e ouviu o que não deveria.
Ouço um último grito e ele atira na cabeça dela. Enquanto ela cai
no chão, me pergunto o que diabos estou assistindo. De jeito
nenhum essa porra pode ser Summer Reeves, a mulher que está no
meu apartamento. A menos que ela seja algum tipo de mutante com
uma cabeça de aço como a porra do Exterminador do Futuro, ela
não teria sobrevivido a uma bala na cabeça.
Eu volto meu foco para a gravação quando Micah caminha até
Robert e o atinge no rosto com a parte traseira de sua arma.
— Torça para que ela não tenha falado com ninguém sobre o
que viu. Se ela estragou meus planos, você está morto — Micah
rosna, e meu interesse desperta ainda mais. — Não podemos deixá-
los descobrir que algo está errado.
— Vou garantir que não descubram — promete Robert.
— Resolva essa merda.
Dominic termina a filmagem e Alejandro se concentra em mim
novamente.
— Essa não é Summer Reeves — digo.
— Não, não é. É a irmã gêmea dela, Scarlett — ele explica,
esclarecendo minha confusão. — Mas, eles acham que mataram
Summer. A partir disso, fica claro que ela viu Robert fazer algo que
poderia arruinar os planos de Micah. Seja lá o que for, é algo grande
o suficiente para Micah acompanhar Robert para ter certeza de que
ele a matou. Um homem como ele não faz o trabalho sujo. A morte
dela era importante para ambos. Agora que está com ela, Summer
pode dar informações sobre como encontrá-los. Isso vai ser muito
mais rápido do que ir a Mônaco e vasculhar o lugar. Ou, na pior das
hipóteses, quando descobrirem que mataram a mulher errada, virão
atrás da certa.
— De uma forma ou de outra, nós os pegaremos — preencho as
lacunas.
— Exato.
Ele disse 'quando'. Ele está certo em assumir que é só uma
questão de tempo até perceberem o erro. Se nós descobrimos
sobre Scarlett, eles também descobrirão. Estamos apenas alguns
passos à frente no jogo. Estou definitivamente a bordo. Vou
conseguir todas as informações que ela tiver sobre eles, e não
tenho nenhum problema em usar Summer como isca para atraí-los.
Esta é a porra da oportunidade que eu precisava para me dar
respostas e, por Deus, vou aproveitar.
— Como você a encontrou? — Dirijo a pergunta a Dominic.
— Depois de assistir ao vídeo, eu a chequei. Encontrei detalhes
sobre o pai dela, e meus bots a pegaram do lado de fora de uma
loja de conveniência em San Bernardino. Quando entramos em
contato com o pai dela, ele nos deu o endereço para o qual Aiden
enviou você.
— Quero que você se concentre nisso, Eric — interrompe
Massimo. Como líder do Sindicato, qualquer trabalho que ele me der
tem precedência sobre minhas obrigações na Bratva. — Alejandro
tem que ir e vir para o Brasil e preciso de Aiden e Dominic
investigando os planos de Micah com a Camorra. Seria bom se você
pudesse lidar com isso.
— Eu posso. Vou cuidar da garota e trabalhar para rastrear o
código.
— Ótimo. O outro problema é o pai dela. Quando a polícia de
Mônaco o notificou sobre a morte de Summer, soube imediatamente
que era Scarlett quem havia sido morta. Agora, está tentando
envolver a polícia. Isso seria um problema para nós. Então,
interceptei seus pedidos e falei com ele. Preciso que o visite, antes
de fazer qualquer outra coisa, e explique que a situação está sob
controle.
— Isso não será um problema.
— Diga que devolveremos sua filha assim que nossos negócios
com ela terminarem. E deixe bem claro o que acontecerá se ele não
obedecer.
— Não se preocupe — garanto. Ele sabe que farei exatamente o
que me mandou. Mas, só quero assegurá-lo para o bem dos outros.
Posso ficar calado e observar, na maior parte do tempo, mas é
porque estou sempre planejando, sempre tramando a morte.
Não sou mais implacável do que ele.
Às vezes, acho que posso ser pior.
Aprendi a controlar minhas emoções. Isso me torna mais
perigoso.
As pessoas não conseguem me entender.
Por isso, não têm ideia de quando vou estourar.

John Reeves mora em uma casa de dois andares, de arquitetura


moderna, em Santa Mônica.
Além da palidez de sua pele, quando ele abre a porta e me vê,
percebo a bengala de madeira em que está apoiado e sua
aparência abatida.
— Você é o Eric? — pergunta, olhando-me nervosamente. —
Eles me disseram que estava a caminho.
— Sim, sou eu.
— Realmente encontrou Summer?
— Sim — confirmo, e seus ombros relaxam com o alívio que
deve estar sentindo.
— Por favor, me diga como ela está. Está ferida?
Claro que não vou contar que acorrentei sua filhinha à parede do
meu quarto.
— Ela está bem. Meus homens estão cuidando dela.
— Obrigado. Por favor, entre.
Ele parece grato, mas cauteloso. E está certo de ficar cauteloso.
Quando disse que 'eles' haviam avisado sobre mim, estava se
referindo a Massimo ou Aiden. Então, sabe bem o que esperar de
mim.
Ele se afasta da porta para que eu entre. Entro e ele me leva
para a sala de estar. Sentamos um de frente para o outro nos sofás
de couro, e eu olho em volta. A decoração é minimalista, mas
requintada. A casa se encaixa no que eu esperava ver de um artista
como ele. Mas, a tensão persistente no ar não combina com o clima
que o lugar deveria ter.
Summer tem os olhos dele, mas a semelhança para por aí. Na
verdade, se eu visse os dois juntos, jamais imaginaria que eram pai
e filha.
Talvez seja porque ele se parece mais com um homem de
oitenta anos, não com alguém de cinquenta e tantos.
Pareço um maldito tubarão farejando minha próxima vítima.
Além da preocupação que vi em seus olhos, há algo mais em seu
comportamento que me parece fraqueza. Está fazendo o possível,
no entanto, para esconder isso.
— Sinto muito por sua perda — tiro as condolências da frente
antes de começar a dizer a ele o que espero que faça.
— Obrigado. Eu tolamente pedi para ver o vídeo que vocês
encontraram — diz com uma voz trêmula. — Só queria saber o que
aconteceu. Queria ver se estava certo. Elas são gêmeas, mas
nunca conseguiram me enganar. Soube que não era Summer
quando a polícia de Mônaco me mandou as fotos. As meninas
também têm tatuagens iguais nos pulsos, mas a de Scarlett está no
braço esquerdo. Eu não precisava de mais confirmação do que isso.
Mas, a polícia não fez nada.
Porque quase toda a força policial de Mônaco é financiada por
Micah. Dominic me contou mais alguns detalhes antes de eu deixar
a D'Agostinos Inc.
— Vou cuidar das coisas a partir de agora – afirmo.
— O que quer dizer isso? Significa que vai pegar as pessoas que
fizeram isso com minha filha? – Por um breve momento, ele permite
que sua raiva apareça. — Porque tenho a sensação de que estou
prestes a vender minha alma ao diabo.
— Isso é uma coisa interessante de se dizer, Sr. Reeves,
considerando que acabei de encontrar sua filha.
— Você a encontrou, mas não a trouxe para mim.
— Não, eu não fiz isso. Ainda não terminei com ela – explico.
Quando dou a ele um sorriso grosseiro, um lampejo de apreensão
toma conta de seu rosto.
— Você é da máfia, não é?
— Sim — não vou desrespeitá-lo com uma resposta idiota.
— Então, eu joguei minha filha da frigideira direto nas chamas do
inferno.
Eu não posso refutar isso. Summer Reeves passou do covil de
uma fera para outra. A única diferença é que não a quero morta.
— Como sei que não fiz a coisa errada?
— A resposta simples é que você não tem como saber —
respondo em um tom sem emoção. Acho que ele queria que eu lhe
assegurasse que estava fazendo a coisa certa. — Mas, posso
afirmar-lhe que sua filha se meteu em encrenca com uns filhos da
puta muito perigosos que a querem morta. Eles já mataram a irmã
dela, e a única coisa que a mantém viva agora é o erro que eles
cometeram. Mas, eventualmente, descobrirão o que fizeram.
Quando o fizerem, matarão Summer. Então, o que você precisa se
perguntar é: vai ficar com o diabo que mal conhece, mas que
precisa da sua filha viva? Ou vai causar problemas e piorar as
coisas?
— Você tem um motivo oculto nisso tudo — ele afirma.
— Tenho uma motivação pessoal nisso, sim, Sr. Reeves. Sua
filha tem informações de que preciso para encontrar o homem que
assassinou a irmã dela. Estou atrás desse homem há muito tempo.
Ele me prejudicou em mais de uma maneira. Acredite em mim
quando digo que minha missão é acabar com ele. Então, acho que
temos os mesmos objetivos em mente. Estou certo?
Ele me encara por um longo tempo antes de acenar com a
cabeça.
— Sim.
— Bom, então parece que estamos de acordo.
— O que vai acontecer agora?
— Ela vai ficar comigo e eu vou devolvê-la para você quando
tudo acabar. Isso desde que você não foda comigo e tente entrar em
contato com a polícia.
— Eu não sou estúpido o suficiente para foder com você.
— Bom saber disso.
— Por que ela não pode ficar comigo?
— Porque é assim que estamos fazendo isso.
Ele não gosta da minha resposta, mas não dou a mínima.
— Posso pelo menos vê-la?
— Não acho que é uma boa ideia você se envolver nessa
estória.
— Estou morrendo — ele me interrompe, e a tristeza toma conta
de suas feições. — Tenho um tumor cerebral. Já tive antes e fiz
cirurgia, mas ele voltou com força total. Não me resta muito tempo e
estou chegando em um estágio em que estou piorando a cada dia.
Não usava essa bengala há um mês, quando a Scarlett veio me
visitar. Agora, preciso disso todos os dias.
Foi isso que detectei quando o vi pela primeira vez: uma doença
que acabará levando à sua morte.
— Sinto muito por ouvir isso. Quanto tempo os médicos lhe
deram?
— Três meses. Se tiver sorte, posso chegar a seis. Mas, isso é
apenas uma estimativa. Minha taxa de deterioração está muito
rápida. Então, qualquer coisa pode acontecer a qualquer momento.
— Posso contar a ela?
Normalmente, não peço permissão para fazer nada, mas isso é
diferente.
— Sim — responde e seus ombros ficam tensos. — Nenhuma
das minhas meninas sabia. Não sei se essa informação fará
diferença no relacionamento horrível que Summer e eu temos. Mas,
só quero ver minha filhinha nesse tempo que me resta. Mesmo que
seja apenas para fazer as pazes de alguma forma.
— Vou tentar arranjar alguma coisa — não vou ser um bastardo
e proibir um moribundo de ver sua filha. Além disso, tenho certeza
de que, qualquer que seja o relacionamento que ele e Summer
tenham, ela tem que saber sobre a saúde dele.
Minha família tinha uma situação única, então meu avô ajudou a
criar a mim e a minha irmã. Olívia e eu éramos os frutos de um caso
extraconjugal que nunca acabava. Não tínhamos permissão para
estar na vida de nosso pai e sempre senti que ele nunca lutou o
suficiente para estar na nossa.
Minha última conversa com meu pai, antes de ser morto, foi uma
discussão em que disse que o odiava e não queria saber dele. Isso
veio depois de anos tentando estar em sua vida. Perdi a paciência.
Agora, não há um dia que eu não me arrependa de não ter feito as
pazes com ele.
— Realmente aprecio isso — afirma John. – Não nos falamos há
oito anos.
— O que aconteceu?
— Dissemos coisas terríveis um para o outro no funeral da mãe
dela. Como todo mundo, eu a culpei pela morte de sua mãe que
cometeu suicídio.
Eu olho para ele. Eu sou um idiota na melhor das hipóteses, mas
nem eu seria tão frio.
— Não foi culpa dela — diz rapidamente, vendo minha reação.
— Mas, ela deixou a família acreditar nisso. Você vai protegê-la? Eu
não estava lá para protegê-la quando ela mais precisou de mim.
O desespero emana dele, e algo sobre ver um pai naquele
estado atinge meu coração frio e morto. Proteção nunca passou
pela minha cabeça. Mas, suponho que a estarei protegendo, apenas
de uma forma indireta.
— Sim.
— Muito bem.
— Acho que terminamos aqui — afirmo, pego um dos meus
cartões de visita e entrego a ele.
— Obrigado.
É hora de, finalmente, tirar informações de Summer.
Espero que ela não tenha machucado muito os pulsos.
Chapter Cinco

Summer

N
ão faço ideia do que está acontecendo.
Ou, se vou viver para ver o dia amanhecer amanhã.
Fiquei acorrentada aqui a esta maldita parede por Deus
sabe quanto tempo, imaginando o que diabos vai acontecer comigo.
Não há relógio na parede, então o único indicador que tenho do
tempo é a escuridão da noite. Estou assumindo que deve ser depois
da meia-noite ou um pouco mais tarde.
Passava um pouco das sete quando ele — Eric — me
sequestrou no chalé. Não acho que fiquei nocauteada por muito
tempo, mas o tempo que se passou desde que ele saiu daqui deve
ter sido horas.
Tudo o que percebi enquanto tentava me libertar dessa
escravidão é o cheiro dele que paira no ar. É uma fragrância que
mistura sândalo e almíscar, como se controle e poder tivessem
cheiro. Cada cheiro se mistura e me provoca da mesma forma que
ele fez.
Ele me trancou neste quarto estéril onde acho que ele não
dorme. A cama está sem lençóis e as portas do guarda-roupa estão
abertas, mostrando que está vazio. O único tecido aqui é o que está
nas persianas. Além disso, mais nada.
Há um banheiro à esquerda que encontrei mais cedo quando
acordei e tentei procurar uma rota de fuga. Tudo o que havia lá era
um sabonete na pia.
Isso é tudo que tenho ao meu redor. Dentro da minha cabeça,
porém, estou desmoronando.
Lembro-me do que Eric me disse antes de sair e sua piada para
me foder.
Desde então, ouço vozes de homens ao longe, pelo corredor, e
estou uma pilha de nervos, com muito medo de me mover ou
respirar sempre que os ouço.
Eu não sabia se eles viriam aqui e me machucariam. Me
machucar como já fui ferida antes. Isso seria pior ainda porque
estou acorrentada. Naquela época, o que me prendia e me impedia
de me defender, era a ameaça do que aconteceria com minha
família. Agora que passei por isso e tenho as cicatrizes mentais, não
acho que conseguiria sobreviver a algo assim novamente.
Passei as últimas horas deixando de estar apavorada pela minha
vida para pensar em quem pode ser esse tal de Robert Carson.
Toda vez que repasso o nome dele na mente, não consigo
entender, e não sei como o nome se encaixa no que está
acontecendo.
Não pode ser coincidência. Tudo deve se encaixar de alguma
forma. Eu só não sei de que maneira ainda.
Aposto que Marquees saberia. Ele é a pessoa a quem eu
recorreria agora para obter ajuda. Só que ele está longe e pensa
que estou segura no chalé. Ele não entrará em contato comigo a
menos que tenha notícias.
O baque pesado de botas do outro lado da porta me faz pular e
me endireito. Estou em guarda, embora haja hematomas em meus
pulsos. São indicadores claros de que tentei me libertar. Meu
coração dispara quando a maçaneta da porta gira, e me encosto
contra a parede como se ela pudesse me engolir.
Gostaria que pudesse.
Eu me sentiria mais segura.
Quando a porta se abre e meu olhar pousa em Eric, sei que não
devo cometer o erro de sentir alívio, mas em algum nível, eu sinto
isso.
É um grande erro, no entanto. Ele é tão ruim quanto todos os
gângsteres que conheci. E a perseguição que ele me deu mais
cedo, sei que foi só por diversão.
Não preciso conhecê-lo por muito tempo para saber que é o tipo
de cara que vai fazer você pensar que tem esperança, mas você
nunca teve chance nenhuma.
Ele entra, com os olhos fixos em mim, carregando roupas em um
braço e lençóis no outro. Acho que pelo menos estarei viva para
usar essas coisas. É uma suposição, no entanto. Isso é tudo o que
posso fazer: imaginar coisas.
Ele me olha com a mesma expressão endurecida de antes e, ao
contrário da última vez, fecha a porta atrás de si. Antes, fui tola ao
achar que poderia fugir, mas não estava pensando direito. Eu tinha
acabado de acordar e lembrei que ele tinha me sequestrado. Tudo o
que queria fazer era lutar para me libertar e aproveitar qualquer
abertura que pudesse para escapar.
Eu ainda quero.
— Sentiu minha falta, boneca? — Pergunta ele, com um sorriso
pecaminoso.
Boneca.
Ele me chamou assim antes e continuo odiando o termo
carinhoso.
— Não me chame assim — retruco.
Quando seu sorriso se alarga, percebo que sou apenas uma
piada para ele.
— Vou te chamar do jeito que quiser, boneca.
Ele caminha até a cama e coloca os lençóis sobre o colchão.
Depois, pega uma blusa de moletom em uma mão e uma camisa
social branca na outra. Percebo que o moletom diz MIT e fico
surpresa. Ele não se parece com alguém que teria estudado lá.
— Escolha.
— O que está acontecendo? Preciso saber o que está
acontecendo. Isso é tudo que eu quero saber.
— Escolha — repete com mais insistência.
Tento conter minha ansiedade e a raiva crescendo dentro de
mim. Está muito claro que ele quer que eu faça o que me mandam.
Estou tão cansada de pessoas me tratando como se eu fosse algum
tipo de animal.
— Isso é tudo que espera que eu use? Isso nem vai cobrir
minhas pernas – desafio, e ele me dá um sorriso desarmante.
— Talvez goste de olhar para suas pernas. E outras partes
também. – Seus olhos pousam em minha calcinha, e odeio a forma
como minha boceta aperta quando noto o fascínio em seus olhos.
— Não! — retruco, franzindo a testa.
— Desculpe, acho que não posso evitar o que meus olhos
decidem fazer. Caso não tenha notado, sou um homem. Foder está
sempre em minha mente.
Porra, de novo. É a segunda vez que ele diz algo assim para
mim. Ele parece tão sério quanto antes e, como da primeira vez,
minhas bochechas coram ao pensar em como seria se ele me
fodesse.
Mordo com força meus dentes de trás e reflito enquanto ignoro o
comentário e minha reação estúpida. Agora não é hora de perder o
foco. Preciso saber o que está acontecendo.
— A camisa — decido. — Isso significa que vai me soltar desta
parede?
Eric joga o moletom perto dos lençóis e se aproxima de mim com
a camisa.
— Gosto de te ver acorrentada a uma parede. É uma boa
aparência para você, Summer Reeves.
Odeio o jeito que diz meu nome, como se me conhecesse. Ele
não sabe nada sobre mim e não quero que saiba. Não quero que
ninguém me conheça.
— Você é um idiota.
— Sim, eu sou. Você faria bem em se lembrar disso.
Ele chega mais perto, se inclina para me provocar com aquele
sorriso zombeteiro de antes, então agarra meu rosto.
Seus dedos cavam em meu pescoço e ele aperta com tanta
força que acho que pode cortar meu ar. Seu olhar é tão intenso que
tento desviar o meu, mas é difícil quando ele está segurando meu
rosto do jeito que está.
— Olhos em mim, boneca – ele comanda, apertando mais forte.
Eu suspiro e obedeço porque não quero que ele me machuque
mais do que já está machucando.
— Preste muita atenção, Summer Reeves – ele continua em voz
baixa. — Como disse antes, não quero te machucar. Vou soltar as
correntes e vamos bater um papo sobre as informações que preciso
de você.
— O que te faz pensar que vou te contar alguma coisa? — Não
sei por que digo isso. Talvez seja porque não sei o que diabos está
acontecendo e não tenho ideia de que tipo de informação ele quer
de mim.
Ele ri, e o som faz meu sangue gelar em minhas veias.
— Porque, nesse instante, sou o único cara entre você e a
morte. Acho que não percebeu que não importa para qual canto
tente correr. Os homens dos quais está fugindo irão encontrá-la e
matá-la. Da mesma forma que mataram sua irmã.
Meus olhos se arregalam ao mesmo tempo em que meu coração
para de bater. Eric sabe o que aconteceu! E parece que sabe de
tudo.
— Posso ver que está me entendendo — murmura, sorri e se
inclina para perto, como antes. Não gosto disso, ou como isso me
faz sentir, ou como meu corpo responde à proximidade com
excitação. Isso me lembra quão fodida sou. — Se tentar aquela
merda que tentou antes, vou te punir. Se pensar em me atacar de
novo, vou puni-la, e você não vai gostar. Vou bater tanto nessa sua
bunda perfeita que não poderá sentar por pelo menos uma semana.
Está claro, Summer Reeves?
— Sim — respondo rigidamente, tentando manter o tremor fora
da minha voz.
Na minha resposta, ele me solta e estende a mão para soltar as
correntes.
Quando minhas mãos se libertam, elas caem para os lados
como chumbo, e o sangue corre de volta para elas, ardendo e
queimando com tanta força que dói. Eu mordo meus dentes de trás
para segurar a emoção que ameaça transbordar.
Se ele sabe o que aconteceu, não quero parecer mais fraca do
que já estou.
Às vezes é preciso força para recuar, mas correr e se esconder
mostra que você não tem o que é preciso para revidar.
Ele estende a camisa para eu vestir, e eu aceito, colocando-a. É
muito grande para mim, chegando ao topo das minhas coxas, mas
pelo menos cobre a maior parte do meu corpo.
Quando ele faz sinal para que eu me sente na cama, eu me
aproximo e sento no colchão firme.
Ele pega uma cadeira de madeira perto da janela e senta na
minha frente, ainda parecendo grande e poderoso. Não sou de
forma alguma baixinha. Tenho um metro e setenta, mas imagino que
ele tenha cerca de um metro e oitenta, então, mesmo sentada ao
lado dele, me sinto pequena.
Juntando minhas mãos trêmulas, decido fazer a pergunta em
minha mente:
— O que você sabe?
— Bastante.
— Como o que?
— Há uma gravação de uma câmera de vigilância do que
aconteceu com sua irmã em seu apartamento.
Prendo a respiração.
— Me disseram que não estava funcionando.
— A gravação foi adulterada, mas agora sei a verdade. Sei que o
homem que matou sua irmã pensou que ela era você. Preciso falar
contigo sobre ele. Quero saber como o conhece e por que ele a
queria morta.
Ele tira uma foto de seu bolso de trás e reconheço Jake. Quando
o vejo, seguro meu coração para impedi-lo de bater fora do meu
peito.
— Você conhece esse homem com qual nome?
— Jake Wainwright – respondo, encontrando seus olhos.
— Seu nome verdadeiro é Robert Carson.
Meu Deus. Eu puxo uma respiração funda. Jake é Robert
Carson. Não me surpreende que ele tenha usado um nome falso.
Tudo nele era falso.
— Você o conhece? — pergunto.
— Sim, e preciso encontrá-lo.
— Ele realmente matou minha irmã? Ele realmente atirou na
cabeça dela?
Eu já sei a resposta. Eu só preciso ouvir isso.
— Foi ele.
Minha mão voa até a minha boca enquanto as lágrimas correm
pelo meu rosto.
Oh, Deus. Scarlett. Eu sinto muito.
Me desculpe.
Meus ombros estremecem quando um soluço escapa dos meus
lábios. Ouvir a confirmação me faz sentir ainda pior. Em minha
mente estúpida e distorcida, pensei que diminuiria o golpe se outra
pessoa tivesse atirado nela. Talvez Micah, ou um dos outros
homens que estavam lá. Não Jake, quero dizer, Robert. Um homem
que conhecia. Um homem com quem estava dormindo. Um homem
que me obrigou a ser sua garota de fantasia na porra do clube.
Eu tento me recompor. Não quero parecer fraca. É difícil, no
entanto.
— Isso não deveria ter acontecido — murmuro, mais para mim
do que para Eric.
— Não, não deveria — concorda ele e pressiona os lábios.
A pouca força que reuni para voltar a Los Angeles se esvai e,
enquanto desmorono na fraqueza do desamparo, uma onda de
pânico toma conta de mim quando percebo que, se Eric me
encontrou, Robert também pode me encontrar.
— Se sabe a verdade, talvez ele também saiba.
— Ainda não, mas tenho certeza de que é apenas uma questão
de tempo.
Isso só me faz sentir um pouco melhor, e há mais coisas que
preciso saber.
— Como você me encontrou no chalé?
— Seu pai.
Pai?
— Meu pai mandou você me buscar?
— Não, boneca, não foi exatamente assim. Ele sabia que você
não estava morta e estava pedindo aos policiais para investigar o
que aconteceu. As pessoas com quem trabalho entraram em
contato com ele quando perceberam que você estava envolvida em
um mistério e que precisávamos de sua ajuda para resolver.
Minha ajuda?
Esta não é a maneira como se trata alguém de quem precisa de
ajuda. O que ele quer dizer é que serei mantida em cativeiro até que
consiga o que quer de mim.
Isso é o que ele quer dizer.
E o que posso fazer?
Ele mesmo disse que é a única pessoa entre mim e a morte.
Traduzindo: ele provavelmente é pior do que quem vier atrás de
mim.
Meu coração acelera e aperto minhas mãos com tanta força que
a circulação é interrompida.
E papai sabe a verdade. Eu sabia que ele seria o primeiro a
descobrir. Aposto que tudo aconteceu exatamente como eu achei
que aconteceria.
— Eles não sabiam que eu tinha uma irmã gêmea — murmuro.
— Eles?
— Robert e Micah Santa Maria.
— Você conhece Micah também?
Eu concordo com um aceno de cabeça:
— Eles trabalhavam juntos.
— Eu preciso que você me diga o que aconteceu. Tudo.
Faço um esforço para me lembrar daquela noite terrível em que
minha vida desandou.
— Eu vi Robert matar um homem. Micah estava lá.
Eric tira um pequeno bloco de notas de sua jaqueta.
— Qual era o nome do homem?
— Donny. Eu não tenho o sobrenome. Eles mencionaram algo
chamado Véu. Estavam discutindo sobre um tipo de tecnologia que
não estava funcionando. Não sei se foi esse o nome que deram.
Jake, ou Robert, queria vendê-la e Donny não conseguia consertá-
la. Foi isso que deixou Robert furioso.
Um lampejo de interesse brilha em seus olhos.
— Prossiga – encoraja Eric.
Puxo minha memória e o resto da conversa que não deveria ter
ouvido volta.
— Eles iam vender para um cara chamado Barrabás Ponteix.
Quando ele se endireita e arregala os olhos, sei que disse algo
importante.
— Barabás Ponteix? — repete, como se quisesse ter certeza
que ouviu certo.
— Sim. O contrato vale cinco milhões e não queriam que ele
descobrisse que a tecnologia não estava funcionando. Quando
Donny disse que estava piorando e não conseguia consertar, Robert
atirou nele. Depois, me viu. Ele e Micah me viram e vieram atrás de
mim. Não fazia ideia do que havia testemunhado, – paro de falar por
um momento para recuperar o fôlego. — Quando Robert me viu,
pareceu mais preocupado com o que eu ouvi do que com o que eu o
vi fazer.
— Imagino — comenta ele e um ar de profunda contemplação
surge em seus olhos. — Onde isso aconteceu?
— No meu… — minha voz falha quando eu lembro que sou uma
prostituta.
Eu ia contar a Jake... Robert, que não poderia trabalhar naquela
noite porque estava com dor de cabeça. Ou seja, não estaria
disponível para transar com ele ou com quem quer que ele quisesse
que eu fodesse naquela noite.
Se não fosse uma prostituta, não teria procurado Robert para
nada.
Esse é o nível mais baixo que atingi em minha vida. Eu me tornei
a prostituta que todos pensavam que era. A prostituta acusada de
forçar a mãe a se matar porque, aparentemente, estava transando
com meu padrasto.
Só porque eu me tornei a prostituta em meus próprios termos
não mudou o que sempre fui aos olhos de todos.
— No meu trabalho – estupidamente decido dizer.
— Onde você trabalhava, Summer? — ele cutuca, e meus
nervos disparam.
Prendo a respiração e olho para minhas mãos no colo. Meus
olhos se voltam para encontrar os dele, e engulo o orgulho quando
digo:
— Chama-se Club Montage.
Sua expressão não muda e não sei se é porque nunca ouviu
falar do clube, ou se ouviu e não se importa com o que eu deveria
ter feito se trabalhava lá.
— Que tipo de trabalho Robert fazia lá?
— Era o sócio de outro cara chamado Cassius Dent.
— Há quanto tempo você conhece Robert? – ele pergunta.
— Seis meses. O tempo que trabalhei no clube. — Só de dizer
isso parece tão ruim. Seis meses naquele lugar me fazem parecer
ainda pior.
— Você tem o endereço de Robert e Micah?
— Não, sempre os via no clube.
— Que tal um número de telefone?
— Sim. Tenho os números de Robert e Cassius.
— Pode me passar.
Eu digo e ele toma nota.
— Robert tinha dois telefones. Esse número, provavelmente, é o
contato que dava para as pessoas que trabalhavam no clube. Não
era o telefone em que atendia ligações de negócios. Lembro-me de
ter pensado nisso quando o vi atendendo suas ligações no outro
telefone.
— Como você conseguiu escapar depois que eles a viram?
— Bati em Robert com o extintor de incêndio quando seu
telefone tocou. Depois, corri. É um clube que fica lotado todas as
noites desde o momento em que as portas se abrem, então foi fácil
desaparecer na multidão. Eu me escondi. Nunca imaginei que
minha irmã iria me visitar. Foi uma surpresa.
Enxugo as lágrimas com a palma da minha mão.
— Existe mais alguma coisa que você saiba?
— Não – balanço a cabeça. – Acho que não. O que Robert te
fez?
A curiosidade me faz querer saber mais sobre o monstro do qual
estou fugindo e este que está à minha frente.
— O suficiente para me fazer querer matá-lo — diz e um lampejo
de indignação escurece seus olhos, impedindo-me de fazer mais
perguntas sobre sua ligação com Robert.
Já que também quero que ele morra, não posso reclamar. Mas,
há mais coisas a serem consideradas do que o que quero. Tipo, o
que acontecerá comigo?
— O que vai acontecer agora?
— Você vai ficar aqui comigo. Isso é tudo que precisa saber.
— Aqui? — Eu levanto minhas sobrancelhas. — Vou ficar aqui?
— Sim, até que isso seja resolvido.
Ele faz parecer tão simples; mas, não é. Está longe disso. Se as
coisas fossem simples, a informação que dei teria sido suficiente.
Mas, manter-me aqui é o plano B. Essa é a única coisa que significa
me manter presa. Então, estou sendo mantida em cativeiro.
Merda. Mais uma vez, sou a isca. Só que da última vez escolhi
ser. Fiz o papel para ajudar Marquees. Desta vez não é assim.
— Você quer que descubram que não me mataram, não é? —
pergunto.
Ele olha para mim com aqueles olhos azuis profundos. Seu rosto
não revela nada. Absolutamente nada, e não consigo entendê-lo.
— Vamos apenas dizer que esse é o plano B.
— Minha vida está em perigo e tudo o que sou é um plano B
para você?
Ele se inclina para a frente de novo, e me encolho, prendendo a
respiração.
— O plano é encontrá-los antes que descubram. O elemento
surpresa é sempre bom. Se eu os matar, você ganha um passe livre
e sua vida de volta. Se não chegar até eles antes que descubram,
então você é o Plano B. Pelo menos assim, tem uma chance de
sobreviver.
Fecho as mãos ao lado do corpo, sem saber o que dizer.
— E se vierem aqui e me matarem, e você ainda conseguir
matá-los? Não importa o que aconteça, você consegue o que quer,
não é?
— Acho que sim.
Que filho da puta! Se pensei que poderia estar segura com ele,
não estou. Não estarei segura aqui. Ele não está me protegendo.
Está me usando. Tenho a sensação de que ele não teria nenhum
problema em colocar um anzol na minha boca e me jogar no mar
para fisgá-los. A única coisa que o impede de fazer isso é, como
disse, ter o elemento surpresa. A única pessoa que se preocupava
comigo era Marquees quando me disse para ficar longe e me
esconder. Estar aqui com este homem não é muito diferente de ficar
em Mônaco.
— De qualquer forma, você não vai sair de minha vista até que
diga que pode — acrescenta ele, e meu sangue ferve. — Só vou
permitir que visite seu pai.
Eu o encaro, sem saber o que dizer sobre nada disso. Fico
olhando por muito tempo e posso ver que ele está esperando por
uma resposta minha.
Eu decido lidar com o que consigo lidar primeiro.
— Não posso vê-lo.
— Ele quer ver você.
— É minha culpa que minha irmã está morta – afirmo. — Ele só
quer me ver para poder me culpar pela morte dela.
— Seu pai está morrendo, Summer — diz ele, e tudo em meu
cérebro desaparece.
— O que? — Mal consigo pronunciar a pergunta.
— Você me ouviu.
— O que há de errado com ele?
— Tumor cerebral. Então, aceite meu conselho e vá vê-lo. Essa
é a única liberdade que permitirei por enquanto – afirma, se levanta
e se move em direção à porta. — Pode ir a qualquer lugar, exceto
meu quarto e a ala oeste do apartamento.
Com essa informação, ele me deixa com a amargura de suas
palavras sobre papai. Também noto que ele não fechou a porta.
Eu fico olhando para a porta aberta e tento processar nossa
conversa. Quando penso em papai, minhas entranhas se
contorcem.
Ele está morrendo.
Quando decidi que nunca mais queria vê-lo, aceitei que um dia
ouviria esse tipo de notícia ou ouviria que ele havia morrido. O que
nunca pensei foi em como me sentiria ao receber tal notícia. Nunca
imaginei que sentiria esse vazio que sinto agora. Tive a mesma
sensação quando ele me culpou pela morte de mamãe e se recusou
a ouvir a verdade.
Quando ele morrer, porém, ele partirá para sempre, e o que quer
que eu sinta agora não importará mais.
Chapter Seis

Eric

E
u me sinto como uma bomba-relógio ambulante enquanto
caminho até o meu escritório. Tudo o que Summer me contou
gira em minha cabeça como se fosse explodir.
Pobre garota! Não tem ideia do tamanho do problema no qual
tropeçou.
O que explicou sobre a tecnologia, que eles chamaram de o Véu,
já seria o suficiente para garantir sua sentença de morte. Mas,
quando mencionou o nome de Barrabás Ponteix, entendi por que
queriam matá-la.
Ele é um conhecido comerciante do mercado negro que trabalha
para a elite, ou seja, os filhos da puta que mandam nos governos,
bilionários e magnatas que possuem uma tonelada de dinheiro e de
más intenções. Transita livremente entre a Europa e os Estados
Unidos, e quando alguém fode com ele, significa que a pessoa e
toda a sua família morrerá.
É por isso que eles a querem morta.
Acho que a tecnologia deve ser aquela que estão usando e que
Dominic descobriu. Vou verificar, no entanto, para confirmar.
Eu diria que tecnologia como essa valeria cinco milhões e
definitivamente atrairia um homem como Barrabás. O fato de que
Summer descobriu que a merda não está funcionando iria mais do
que estragar seus planos. Com certeza, ficaram preocupados em
perder todo aquele dinheiro e Barrabás descobrir que falharam e
tentaram enganá-lo.
Merda! Tudo isso aconteceu no Club Montage.
Conheço bem Mônaco e o clube. Só que não era propriedade de
Robert quando costumava ir lá. Essa deve ser uma de suas novas
conquistas. Muito esperto, velho amigo. Sexo vende.
O Club Montage é um clube de sexo sofisticado para ricos e
famosos. Entendo perfeitamente a hesitação de Summer em me
contar que trabalhou lá. Pela aparência dela, tenho certeza de que
era uma das principais atrações e, talvez, a garota de Robert
também, independente do fato de ela querer ser ou não.
Enquanto falava, vi arrependimento, vergonha e
desapontamento consigo mesma. Estava tudo em seus olhos, além
da culpa pela morte da irmã.
A expressão dela era de alguém que vendeu sua alma ao diabo.
Conheço muito bem esse sentimento e é por isso que nunca a
julgaria.
O clube é o equivalente perfeito ao Dark Odyssey aqui em L. A.
que Aiden possui. Ou melhor, devo dizer que possui apenas no
nome. Antes de ficar noivo da minha irmã, ele costumava ter
reuniões lá todas as semanas. Agora, Maksim e eu cuidamos desse
tipo de reunião. Não há nada de sexual nelas. São mais uma isca
para avaliar aqueles com quem escolhemos fazer negócios.
No Dark Odyssey, nada está fora dos limites. O Montage é igual
com o único objetivo de fornecer um lugar para seus clientes
viverem suas fantasias sexuais mais sombrias de BDSM, sexo em
grupo e qualquer merda que queira fazer. As mulheres que
trabalham lá fazem parte desse objetivo. Fazem tudo o que lhes
mandarem. São o que você quiser que sejam. Pertencem a você
pelo tempo que pagar. Uma hora, uma noite, um mês, um ano – o
que quer que sua fantasia dite.
Obviamente, as mulheres são extremamente bem pagas para
serem o animal de estimação de algum ricaço filho da puta.
Recebem o alto salário que o clube oferece e dinheiro dos
frequentadores, o que pode chegar a milhões.
Mesmo que uma mulher goste de emoção sexual, ninguém vai
aspirar a trabalhar em um lugar como aquele e não por muito tempo.
As mulheres acabam lá, na maioria das vezes, porque estão com
problemas ou querem mudar de vida.
Summer parece se encaixar em ambas as categorias.
O que será que a levou até lá?
Seja o que for, não é para eu me preocupar, muito menos
consertar.
Espero encerrar tudo isso rapidamente para que possamos
voltar às nossas vidas. Ela pode voltar para a dela e posso acabar
com minha busca por vingança.
Por mais que tenha me esforçado para ela pensar que não
passa de uma isca para mim, não quero ter seu sangue em minhas
mãos. Já há sangue demais nelas. O dela mancharia minha alma
também porque é inocente nessa estória toda.
Borya encontra comigo no final do corredor, parecendo curioso.
Ainda não o informei do que está acontecendo, exceto por uma
mensagem dizendo que devemos proteger a Summer. Ele precisa
de mais detalhes. Vou fazer isso, mas não agora. Estou muito
ansioso para pesquisar.
— A costa está limpa, chefe — ele começa. — Qual é a situação
com a garota?
— Vou fazer uma reunião com você e a equipe pela manhã e
falaremos sobre ela. Mantenha todos atentos. Também quero um
homem na casa do pai dela. Só por garantia. Não quero que tenha
ideias. Relate tudo o que ele faz para mim.
— Será feito. Vejo você pela manhã – diz, abaixa a cabeça e sai.
Ele e Oleg se revezam para me proteger quando estou aqui.
Nunca precisei de nenhum deles. Mas, cada Irmandade na Bratva
tem um sistema semelhante para seus membros de elite, para que
seus homens possam estar com você sempre que precisar deles.
Só não estou acostumado com isso ainda.
Entro em meu escritório, ligo o computador e encontro o site do
Club Montage. Passo pela página inicial e entro nos arquivos da
equipe na esperança de encontrar o endereço de Robert. No
entanto, não acho merda nenhuma. Nada sobre ele ou Cassius.
Tento entrar no sistema de vigilância do clube, mas percebo logo
que não existe. Filhos da puta, mas inteligentes. Sem câmeras não
há crime.
Pelo menos consegui acessar os computadores deles. Encontro
os arquivos pessoais de Robert e noto que tem firewalls fodidos.
Isso me diz que usa este computador para negócios importantes.
Isso é bom para mim.
Levo alguns minutos, mas estou dentro. Como e-mails são a
melhor maneira de ver o que as pessoas estão fazendo, verifico
suas mensagens.
A primeira coisa que vejo, só para me irritar, é um e-mail de um
destinatário não revelado com detalhes de seu voo que partiu dois
dias atrás. Ele deveria estar no aeroporto de Cannes Mandelieu às
oito horas da manhã. Mas, na mensagem não há nada sobre o
destino de seu voo.
E nenhuma porra de detalhes do voo também.
Foda!
Cannes Mandelieu é um aeroporto particular que os ricaços
usam para chegar e sair da Riviera Francesa. Sem detalhes do voo
ou qualquer outra informação, seria impossível identificar em que
avião Robert partiu.
Poderia ter ido a qualquer lugar. Poderia até ter feito conexão em
algum lugar que o traria até aqui. O problema desse jogo é que há a
possibilidade de eu não saber que descobriu a verdade sobre
Summer até que já esteja aqui. Logicamente, não quero que isso
aconteça.
Volto ao e-mail e quebro a criptografia em torno do endereço IP
do destinatário. Quando localizo outro endereço em Monte Carlo de
onde o e-mail foi enviado, invado o sistema de vigilância de lá.
Pelas fotos nas paredes, e uma foto de família na grande mesa
de mogno do escritório, posso ver que a casa fica em algum lugar
onde Micah Santa Maria mora ou passa algum tempo. Vou relatar
isso a Alejandro. Não é muito, mas é algo a acrescentar aos
arquivos.
Também suponho que Micah deve estar naquele voo com
Robert. Quando verifico seu computador, também fica claro que o
endereço de e-mail que usou para enviar mensagens a Robert não
é um que ele usa o tempo todo. Nem o computador. Não há muito lá
para olhar.
Eu verifico os números de telefone que Summer me deu, mas
quando o rastreamento me leva de volta ao clube, percebo que os
malditos telefones estão dentro do clube.
– Que ótimo – resmungo comigo mesmo, frustrado.
Não há muito que possa fazer com nenhum desses números. A
melhor coisa é configurar um sistema de alerta para me avisar
quando voltarem a ser usados. Por enquanto, vou continuar lendo
os e-mails para ver se consigo descobrir para onde Robert foi.
Quando volto às mensagens, não encontro nada que possa me
ajudar, mas o que encontro tem o mesmo peso. Aninhado em um e-
mail para Barrabás está o design do Véu, junto com o contrato.
Quando examino o design, posso confirmar que o Véu é de fato
a tecnologia que Dominic encontrou. O contrato é de cinco milhões
de dólares, como Summer disse. O negócio deve ser fechado em
um mês a partir de hoje, 30 de julho.
Na corrente de e-mails entre Robert e Barrabás, vejo vários
casos em que Robert mudou a data de venda com a desculpa de
que o Véu estava sendo atualizado. Para mim, está claro que
passou a protelar a transação quando descobriu que a tecnologia
não estava funcionando direito.
No entanto, parece que a venda ainda está de pé. Ou eles
esperam consertar o problema ou pretendem mentir e vender a
coisa para Barrabás com defeito, o que ele não descobriria até que
já fosse tarde demais.
No último e-mail, concordam em se encontrar nos Estados
Unidos por causa de negócios que Barrabás tem aqui. Mas, como
tudo que vi até agora, não mencionam onde.
Consegui descobrir esse encontro marcado e sei que Robert
estará em solo americano. Isso é algo importante. Significa que se
ele não descobrir que Summer está viva, poderei esperar até essa
data para acabar com sua raça.
Esperar até lá é o último recurso. Quero pegá-lo antes disso.
Quando você dá tempo a pessoas como ele, também dá a chance
de ferrarem com você. Muita coisa pode acontecer em um mês.
Eu percorro o restante dos e-mails e um sobrenome chama
minha atenção.
É Luke Thornton.
Esse é o cara que listei como fazendo negócios com Robert há
dois anos. Este e-mail é de três meses atrás e diz.

Diga onde quer me encontrar no dia 30.

Filhos da puta.
Luke é uma mula de drogas que trabalha com o Cartel. Seis
anos atrás, ele montou a vigilância para observar meus movimentos
antes que Robert me pegasse. Luke foi o filho da puta que ajudou a
me transportar para o Brasil e me prender.
Ele teve um prazer fora do normal ao me queimar com aquela
corrente elétrica. Seu próximo prazer foi inventar toda aquela
história de acidente de carro.
Eu já estava planejando matá-lo quando o adicionei à minha lista
de alvos. Mas, quando descobri que instalou para Jude as câmeras
escondidas no quarto da minha irmã quando ela era criança, decidi
que precisava de mais do que a morte.
Pecadores como ele são diferentes de demônios como eu.
Devo parecer um louco quando sorrio para mim mesmo
enquanto localizo o endereço de onde o e-mail foi enviado. Meu
sorriso fica ainda maior quando vejo que o filho da puta está em Los
Angeles.
Enquanto um plano se forma em minha mente, pego meu
telefone e ligo para Borya, que atende no primeiro toque.
— Tenho um trabalho para você — digo a ele. — Preciso que
pegue alguém e leve-o para o armário de interrogatório.
— Sem problemas, chefe.
— Vou te enviar os detalhes. Diga a ele que Eric Markov o
enviou e que mal posso esperar para vê-lo.
Chapter Sete

Summer

É
de manhã agora.
Mais um dia amanheceu.
Outro dia se passou desde que minha irmã foi morta.
Não venho a L. A. há mais de um ano, e esse estado de tristeza
e desespero não era como eu queria voltar. Nunca imaginei estar
aqui sem Scarlett ou viver em um mundo onde ela não existisse
mais.
Cansada, eu me sento e olho pela janela. À luz do dia, a vista
panorâmica da cidade tem a mesma aparência que na escuridão.
Eu tenho procurado por algum tipo de mudança no mundo. Algo
para mostrar que perdeu uma de suas melhores e mais gentis
almas, mas tudo continua igual. O sol ainda nasce pela manhã e a
lua à noite.
Esfrego minha mão sobre meus olhos inchados, que parecem
pior hoje do que ontem. Posso imaginar como devo estar. Quase
não dormi na noite passada.
Dormir era a última coisa em minha mente depois que falei com
Eric.
Eu só arrumei a cama e me deitei porque fiquei tão exausta com
o peso das minhas preocupações. Devo ter cochilado algumas
vezes, mas não profundamente o suficiente para ser considerado
um sono real.
Em meus momentos de vigília, pensava em papai e em vê-lo.
Quando fechava os olhos, via Scarlett no necrotério. Depois,
imaginei Robert atirando nela e o que deve ter passado. Imaginei a
dor e a agonia de saber que era seu momento final.
Eu sei que não dava valor à minha irmã. Eu considerava o amor
dela como certo porque uma parte de mim se sentia com direito a
ele.
Passei minha vida tentando protegê-la. Quando a merda bateu
no ventilador depois que mamãe morreu, e Scarlett tentou me
ajudar, achei que me devia isso.
Mas, ela não me devia nada. Não é assim que o amor funciona.
Minha irmã tentou tantas vezes mostrar que me amava,
especialmente quando contei a ela a verdade sobre nosso padrasto
filho da puta.
Sinto tanto a falta dela, e meu coração continua quebrando toda
vez que tento aceitar que ela não vai voltar.
Não consigo nem ficar de luto direito porque tenho que descobrir
o que vou fazer comigo mesma aqui e agora.
Embora não tenha escolha, ainda não decidi um plano de ação.
Ontem à noite decidi que veria o meu pai. No entanto, não irei
hoje. Preciso de tempo para me preparar. Ver o papai vai ser difícil.
Vai despertar memórias que nunca poderei esquecer.
Como eu adoraria fugir.
Seria como quando fui para Mônaco.
Desta vez, fugiria para mais longe e mudaria tudo sobre mim.
Faria qualquer coisa para me tornar outra pessoa. Não seria mais
Summer Reeves e me certificaria de que ninguém pudesse me
encontrar.
Isso, no entanto, é apenas um sonho. Mesmo que fugisse, a
realidade é que não iria muito longe. Não com os olhos atentos de
Eric Markov sobre mim.
Houve apenas duas vezes na minha vida em que me senti tão
conflitada e inútil. A primeira foi na véspera do meu aniversário de
dezesseis anos. Mamãe me expulsou de casa quando descobriu
que eu estava grávida do seu marido.
A outra vez foi quando perdi meu bebê.
Ambas foram tão transformadoras para mim quanto esta
situação atual.
As palavras de Marquees continuam soando em minha mente.
Não deixe sua irmã morrer em vão.
Não posso. Cheguei até aqui, e ela iria querer que eu vivesse.
Ela não gostaria que a mesma coisa acontecesse comigo.
Meu instinto é fazer o que for preciso para me proteger e
sobreviver. Tenho que manter essa atitude, não importa o quanto me
culpe quando me lembro que a bala que a matou era para mim.
Com isso em mente, não posso ser tola e não aproveitar
qualquer proteção que possa obter de Eric pelo tempo que puder.
Mas, sempre que a merda bate no ventilador, tenho que encontrar
uma saída.
Não posso morrer porque joguei a isca.
Aprendi desde muito jovem que a única pessoa em quem posso
confiar sou eu mesma. Então, minha vida precisa estar em minhas
mãos quando chegar ao ponto em que é cada um por si. Quando
isso acontecer, preciso ter certeza de que estou segura e não sou
um peão ou a isca ou o que diabos Eric quer fazer de mim.
Sinto como se tivesse sido jogada nos Jogos Vorazes, bem na
arena onde tenho que lutar para sobreviver, mas não sei o que
esperar.
Tudo sobre o que farei a seguir será difícil, então preciso saber o
que estou enfrentando.
Respirando fundo, deslizo para fora da cama e saio do quarto.
Embora a porta estivesse aberta ontem à noite, não saí do
quarto. A última vez que passei por aquela porta foi quando tentei
escapar.
O chão de concreto parece frio contra meus pés enquanto
caminho.
Não sei o que esperar do dia de hoje. Ou do Eric.
Homens como ele me deixam nervosa; mas, para ser sincera,
tenho que admitir que pelo menos sei que nunca devo esperar nada
de bom deles. Não como Ted, que usava uma máscara para o
mundo ver, mas era outra coisa atrás de portas fechadas.
O lugar está silencioso e ninguém parece estar por perto. Ontem
à noite parecia que havia vários homens aqui.
Ando na direção oposta de onde fui ontem à noite e chego na
sala de estar.
É onde encontro Eric Markov sentado sem camisa no sofá de
couro com uma xícara de café nas mãos.
Seu peito está coberto de tatuagens. A mais proeminente é o
rosto de um lobo com olhos vermelhos no lado esquerdo. A maioria
das outras, como as estrelas pretas em seu ombro, se parecem com
algumas das tatuagens russas que já vi. Sei que têm algum
significado, mas não consigo me lembrar. Marquees me deu dicas
sobre a maioria dos tipos de criminosos que poderia encontrar em
Mônaco.
Agora que estou olhando para Eric, estou me perguntando que
tipo ele é. Ele disse ontem que o grupo ao qual pertencia contatou
papai. Pela aparência dele, não consigo identificar que grupo
poderia ser.
Esse visual, no entanto, dá a ele uma vantagem mais perigosa,
assim como seu cabelo despenteado.
Estou prestes a dizer-lhe algo quando a porta se abre e um
homem de cabelos escuros e aparência russa entra. Parece ter a
mesma idade de Eric, ou talvez mais. Também tem a mesma
constituição ampla e musculosa.
Seu olhar pousa em mim – nas minhas pernas nuas –- e me
lembro que estou usando apenas a camisa de Eric que termina no
topo das minhas coxas.
— Saia – Eric ordena ao homem, o tom autoritário de sua voz
me faz pular.
— Desculpe, chefe — responde o outro, virando-se para sair
pela porta.
Quando Eric olha para mim, e coloca sua xícara na mesa de
centro, eu me endireito e me aproximo, agindo como se não tivesse
medo dele.
Só que tenho.
E acho que ele enxerga atrás da fachada que estou tentando
mostrar.
— Bom dia — digo, juntando minhas mãos.
— Olá – responde, me olhando como se pudesse ver através de
mim. Espero que não possa. Não quero que ninguém veja a triste
bagunça que estou por dentro.
— Quero esclarecer algumas coisas – começo a dizer,
endurecendo minha espinha enquanto ele me estuda.
— O que quer esclarecer, boneca?
Gostaria tanto que ele não me chamasse assim. Ouvi-lo
novamente hoje me faz perceber por que não gosto do termo.
Não é a palavra em si.
É ele.
O que me dá nos nervos é como ele olha para mim quando diz
isso e o tom carinhoso que usa. Não deveria soar tão cativante.
Parece uma piada para mim.
Não tenho certeza se ele vai gostar de alguma das minhas
perguntas, mas vou perguntar mesmo assim. Sua resposta à
primeira dará o tom para as demais.
— O que você é? — indago, mantendo minha voz sob controle.
O canto de sua boca se curva em um sorriso sexy.
— Um homem – retruca e o charme de seu sorriso ecoa em sua
voz e me cativa quando ele me olha de cima a baixo.
— Posso ver isso. Sabe que não foi isso que perguntei – digo,
tentando ser firme. Esse é o meu mantra ao lidar com homens
sedentos de poder como ele, que tentam controlar os outros. —
Você disse que pertence a um grupo. Estou supondo que seja
algum tipo de máfia. O que não se encaixa é o moletom do MIT. A
menos que não seja seu.
— É meu.
— Então, o que você é? — pergunto novamente.
— Durante o dia, sou Eric Markov, proprietário e CEO da Markov
Tech. Desenvolvo software e armas de segurança nacional – afirma
e faz uma breve pausa. Deve notar que estou impressionada. Não
esperava que fosse dono de uma empresa como aquela. Ele ainda
não terminou, no entanto. Há mais e as tatuagens contam tudo.
— Tem mais, não?
— Sim. Sou da Bratva – ele declara, e o frio na minha espinha se
transforma em gelo. Já encontrei homens da Máfia Russa e sei que
é melhor ficar longe. — Eu sou o Obshchak na minha Irmandade.
Essa posição faz parte da liderança.
— Oh! – Desta vez, sei que estou mostrando minha cautela.
— Isso te assusta, boneca? — ele me dá um sorriso de lobo.
— Não – minto, descaradamente. Quando seu sorriso se torna
zombeteiro, sei que ele sabe que estou mentindo.
Pelo menos agora sei o que ele é. Não ajuda muito, no entanto.
— A informação que te dei ajudou? — pergunto.
— Sim. Você será capaz de encontrá-los?
— Estou tentando. Deixe essa preocupação comigo.
Isso significa que ele não vai me dizer mais nada sobre esse
assunto.
— O que vai acontecer quando tudo isso acabar? Vai me deixar
ir, não?
Essa é a coisa mais importante que quero esclarecer. Quero ter
uma data final, um prazo para isso acabar.
— Sim.
A tensão em meu corpo diminui um pouco. Tudo o que desejo é
que isso acabe logo. É assim que devo olhar para isso e o que
preciso manter em mente.
Se Eric chegar até eles, mata vários coelhos com uma cajadada
só. Isso dá um pouco de justiça pela morte da minha irmã e me dá a
chance de viver sem fugir.
Isso é liberdade.
Verdadeira liberdade.
Tudo o que vai faltar na minha vida será minha irmã. Luto contra
as lágrimas que nunca estão longe. Da mesma forma que ela está
sempre na minha mente.
Ele me contou sobre o vídeo da morte de Scarlett. Se ele tiver
uma cópia, quero ver. Vai doer, mas se papai assistiu, preciso
assistir também.
— Você mencionou a gravação do que aconteceu com minha
irmã. Por acaso tem uma cópia?
— Sim – afirma e seu sorriso desaparece.
— Posso assistir?
Ele morde o interior do lábio e suspira:
— Poderia, mas não vou te deixar fazer isso.
Minhas sobrancelhas se juntam.
— Acho que pode entender que quero saber o que aconteceu
com minha irmã.
É mais do que apenas saber. Eu quero ter a responsabilidade
total da culpa. Eu não quero ser protegida disso.
— Você já sabe o que precisa saber e preenchi os espaços em
branco. Ver o que aconteceu com sua irmã não vai ajudá-la. Não
com a culpa que você já sente.
Posso estar enganada, mas quase parece que ele quer me
proteger de me sentir pior. Ele também pode estar certo, mas isso
não me impede de querer saber.
— Meu pai viu.
— Não dou a mínima para quem viu. Estou lhe dizendo, você
não verá, e esse é o fim dessa discussão – ele me informa como se
fosse algum ditador de merda. — Você já pensou em ir ver seu pai?
Não estou pronta para a mudança de assunto, mas algo me diz
para não pressioná-lo. Este é apenas o primeiro dia. Não quero
piorar as coisas para mim.
— Pensei.
— Quando quer vê-lo?
— Logo. Preciso de um pouco de tempo para entender algumas
coisas antes.
— Vamos no domingo – murmura ele. Sua mandíbula fica tensa
e ele coloca a caneca de café sobre a mesa.
— Mas... — tento argumentar.
— Não tem mas. Você tem sete dias até domingo. Isso é
bastante tempo. Sou um homem ocupado. Não tenho tempo a
perder. Vamos domingo. Tudo bem?
Eu penso por um momento, então aceno com a cabeça:
— Tudo bem – só preciso ficar bem com isso.
— Mas, ligue para ele hoje. Quando estiver pronta para ligar, fale
com minha equipe ou comigo.
Odeio que me digam o que fazer, especialmente por aqueles que
não sabem nada do meu passado. O passado não importa, porém,
quando alguém está morrendo.
Eric deve pensar muito mal de mim por não querer correr para o
meu pai ao saber que está morrendo. Eu mesma penso mal de mim
por não ser a filha que faria isso. Afinal, sou a garota que faz
qualquer coisa pelas pessoas que ama. Estou apenas quebrada e
meu pai foi a última pessoa a me machucar. Não tenho sido eu
mesma desde a última vez que nos vimos.
— Tá, ligo para ele mais tarde – resmungo. Também penso em
Marquees e me pergunto se Eric vai me deixar ligar para ele. —
Tenho um amigo para quem gostaria de ligar. O nome dele é...
— Não – ele diz antes mesmo que eu possa completar a frase.
— Seu amigo policial será informado quando for a hora certa.
Nossa! Que diabos? Ele sabe sobre Marquees também.
— Tudo bem. Só queria que ele soubesse que eu estou segura.
— Ele é o menor dos seus problemas agora. Já estou deixando
que fale com seu pai a sós e que o veja. Isso já é muito.
O que diabos posso fazer além daquilo que me mandam?
— Tá. Sabe que vou precisar de roupas antes de ir a qualquer
lugar. Não posso usar sua camisa por sete dias.
— Vou comprar algumas coisas para você mais tarde.
— Tenho roupas no chalé e algumas outras coisas que preciso
pegar.
Tenho coisas muito importantes lá. As últimas que significam
algo para mim. Graças a Marquees, não precisei deixá-las em
Mônaco. Seria uma loucura deixá-las no chalé.
— Vou providenciar para que tragam suas coisas do chalé
também.
Minhas sobrancelhas se juntam e meu queixo cai.
— Não posso ir?
— Não.
— Por que diabos não? Certamente será mais rápido se eu
mesma pegar as coisas de que preciso.
— A resposta é não.
— Por quê?
— Porque eu disse que não.
Deus, que idiota!
— Isso soa como se eu não tivesse permissão para fazer nada.
E as coisas da minha irmã? Já que estou aqui, esperava ajudar a
separar os pertences dela.
— Já estão cuidando disso.
— Quem está?
— Estou trabalhando com seu pai para ajeitar as coisas dela e
organizar o funeral para que tudo seja o mais discreto possível. Não
há necessidade de você se envolver. Acredito que seu plano original
não era cuidar das coisas de sua irmã.
— Não – admito deixando meus ombros caírem. – Só pensei que
poderia fazer isso agora.
Sei bem como meu pai é. Não fiquei por perto depois que
mamãe morreu, mas Scarlett me disse que ele jogou todas as
coisas dela fora. Não quero que isso aconteça com as coisas da
minha irmã.
— Não estou pedindo muito — insisto. — Ela era minha irmã.
Não quero que as coisas dela sejam jogadas fora. Isso é o que meu
pai vai fazer. As coisas de Scarlett eram especiais para nós duas.
Parece que ele está pelo menos considerando isso. Então, fico
esperançosa.
— Vou pensar nisso.
Antes que eu possa protestar, ele vai embora, terminando nossa
conversa com uma interrupção abrupta.
Eu fico olhando-o se afastar para a cozinha aberta e me
surpreendo quando decido segui-lo.
Sei que posso estar passando dos limites, mas preciso saber
quanto tempo vai demorar para ele pensar. Ele negou meu pedido
para assistir ao vídeo e para ir ao chalé e à loja. Agora, não me
deixou cuidar das coisas de Scarlett. A única coisa com a qual ele
concordou foi que eu visse meu pai e eu não pedi para fazer isso.
Detesto me sentir como uma prisioneira aqui, embora eu seja
uma.
Ele me encara quando me aproximo.
— O que você está fazendo?
— Quanto tempo vai levar para pensar no meu pedido?
Ele simplesmente olha para mim. Os momentos de silêncio que
passam parecem séculos.
— Quero uma resposta específica – acrescento quando ele
continua o festival de olhares silenciosos.
O sorriso volta ao rosto dele, e não tenho certeza de qual prefiro.
A versão séria ou esta.
— Mulher, você tem muita coragem de fazer exigências a um
homem como eu — afirma ele, e aquele arrepio que senti antes
volta a percorrer minha espinha.
— Devo ficar aqui trancada, fazendo o que me mandam?
Ele se inclina para perto como na noite passada, mas desta vez
eu recuo. Ele dá mais um passo à frente e eu dou outro passo para
trás. Repetimos isso como se estivéssemos dançando. Sinto que ele
é o predador e eu a presa. Quando minhas costas batem na parede,
ele coloca um braço acima da minha cabeça e o outro próximo aos
meus braços para bloquear minha fuga. É quando uma bola do
tamanho do Texas se forma na minha garganta.
— Summer Reeves, você já tem dois pontos negativos. Agora,
acho que deveria contar aquela ameaça de arrancar meus olhos
como um terceiro – fala em um tom baixo e se aproxima, ampliando
a vibração que senti momentos atrás.
— Não fiz nada de errado.
— Jesus, não acha que tentar atirar em mim foi errado? – ri. –
Vou te dizer como esse nosso arranjo vai funcionar. Com todos
aqueles pontos contra você; vai ter que merecer o que quiser
ganhar de mim.
— Merecer? – Meus músculos ficam rígidos.
— Sim, boneca, terá que fazer por merecer.
Quando ele percorre meu corpo com um olhar ousado, e suas
pupilas escurecem de desejo, sei exatamente o que ele quer dizer
com merecer, e meu coração se acalma. Não posso fazer o papel
de mulher recatada, que gostaria de ter sido, quando quase
confessei que era uma prostituta na noite passada. E não uma
prostituta qualquer. Sou do tipo que trabalha em um clube de sexo.
— O que quer que eu faça para merecer o que quero? —
pergunto entre dentes porque estou puta da vida.
Mas, minha raiva não o incomoda nem um pouco. Só o faz sorrir
ainda mais.
— Você trabalhou no Club Montage. Tenho certeza de que pode
imaginar o que quero que faça. Mas, deixa te dar algumas ideias –
ele para de falar e me encara por alguns segundos intermináveis.
Sexo brilha em seus olhos, e eu me amaldiçoo quando sinto a
umidade escorrer por minhas pernas. — Gosto de boquetes,
punhetas, comer buceta e minha tara é sentir seu gosto.
Minha boca fica seca. Não posso dizer que não estou
acostumada com homens falando assim comigo.
Não estou acostumada com um homem como ele. Mais uma
vez, a diferença é ele. Nunca encontrei ninguém que nomeasse sua
perversão antes.
A dele é degustar. Seu olhar cai para o meu pescoço e minha
veia pulsa em resposta. Isso me choca e, de repente, sinto mais
medo do que antes.
Ele me dá um sorriso largo quando engulo em seco. Depois, ri
como se eu tivesse dito algo engraçado. Ou talvez porque acha
minha reação engraçada.
— Acima de tudo, boneca, gosto de sexo. Quanto mais dura for
a foda, melhor. E só para ficar claro, quero muito foder você.
Suas palavras enviam uma combinação de pânico e excitação
através de mim. O coquetel mortal faz meu coração bater contra
minha caixa torácica e endureço meu rosto para mascarar o que
diabos está acontecendo dentro de mim.
Não sei como esse cara conseguiu despertar esses sentimentos
em mim, mas me controlo e decido chocá-lo também.
— Não vou te foder – digo, mas conforme as palavras saem dos
meus lábios, soam mais como algo que estou tentando dizer a mim
mesma. — Não serei seu brinquedo só porque você está me
prendendo aqui.
— Engraçado que diga isso porque quase posso ver você
imaginando como seria se eu decidisse arrancar sua calcinha e te
foder contra esta parede agora.
Não estava pensando nisso. Mas, agora estou. E não conheço
nenhuma mulher que não estaria quando um homem como ele olha
para ela como se ela fosse um prato exótico raro.
Só esse olhar já destrói minhas defesas, e o calor que me
atravessa faz cada centímetro do meu corpo despertar com uma
energia que não tenho certeza se já senti antes. Talvez seja porque
sempre me fechei para sentir qualquer coisa.
Independentemente disso, não quero sentir nada agora além de
tristeza. Eu certamente não quero sentir a atração da tentação deste
homem. Então, a primeira coisa que penso em fazer é aquilo que
faço melhor. Mentir.
— Meus pensamentos não poderiam ser mais diferentes, Sr.
Markov.
— Bem, será muito interessante ver o que vai inventar para
merecer o que deseja, boneca. Parece que você e eu vamos
embarcar num passeio selvagem.
Ele se afasta de mim e sinto que posso respirar novamente.
Quando sai da cozinha, caminhando com a autoridade e a força
de um guerreiro, observo suas costas tatuadas até que não consigo
mais vê-lo.
A única pergunta que passa pela minha cabeça é: O que diabos
vou fazer?
Sério, o que vou fazer agora? Não tenho ideia de quanto tempo
vou ficar aqui, e tudo que quero fazer é ir a algum lugar e chorar até
não aguentar mais.
Não entendo o Eric. Outras pessoas teriam cuidado ao falar
comigo por causa da perda recente da minha irmã. Outras pessoas
expressariam condolências.
Não ele.
Ele foi direto aos negócios e depois pulou para o sexo.
Chapter Oito

Eric

E
nquanto atravesso as portas de vidro da Romanov Logistics,
tento acalmar minha mente e entrar no módulo negócios.
É aqui que sempre me reúno com Aiden e Maksim para
discutir os negócios da Bratva. Fazemos isso algumas vezes por
semana informalmente. As reuniões mais importantes da Irmandade
acontecem no prédio de vários andares no centro da cidade.
Esta é a primeira chance que tive de conversar com Aiden desde
que Massimo ordenou que me concentrasse em Robert e Micah.
Tenho a sensação de que não virei aqui por um tempo. Então,
preciso colocar minha cabeça no lugar. É que a porra da minha
cabeça ainda está girando com todos os tipos de coisas safadas
que gostaria de fazer com Summer Reeves e aquele corpo gostoso
dela.
Não sei o que diabos há de errado comigo.
Queria poder dizer que estava brincando com Summer quando
disse a ela que precisaria merecer as coisas que quiser, mas eu não
estava. Não houve uma maldita coisa que disse a ela que não
quisesse dizer.
Primeiro, só queria assustá-la. Consegui e desviei sua mente
das exigências que estava fazendo em relação à irmã. Depois, de
alguma forma, fui longe demais. Não consigo nem identificar quando
tomei essa direção. Simplesmente aconteceu. Mas, para ser
sincero, nossa pequena cena estava fadada a acontecer, mais cedo
ou mais tarde.
Quando notei como seus mamilos duros empurravam o tecido da
minha camisa, soube que ela estava excitada. Isso foi o suficiente.
Mesmo tentando me lembrar do que era importante e no que
deveria me concentrar, não consegui apagar o desejo de quebrar
sua determinação e explorá-la.
Ela não sabia; mas, minhas intenções por trás de minhas
recusas não eram apenas para dar uma de idiota. Tenho certeza de
que foi isso que ela pensou.
Mas, não queria que ela fosse à loja comprar roupas, nem voltar
para o chalé, porque ainda não é seguro para ela. E não será até
que meus homens e eu terminemos de verificar as coisas. Preciso
de mais um dia, pelo menos.
Como ainda não tenho a menor ideia de onde Robert está,
preciso tomar cuidado. No momento em que houver qualquer
suspeita de que ele está aqui em Los Angeles, ou farejando algo
relacionado à família de Summer, isso significará que ele descobriu
a verdade. E que eu teria perdido a vantagem que tenho agora.
Já a minha recusa em permitir que ela fizesse qualquer coisa em
relação à irmã era diferente. Estava sendo atencioso. Poderia até
dizer que fui carinhoso.
Não estou tão absorvido por minha vingança que não percebo a
dor que ela está sentindo. Além da dor, Summer também se culpa
pela morte de Scarlett. Apesar de que acho que não deveria. O que
aconteceu não foi culpa dela.
Foi apenas uma daquelas coisas fodidas que acontecem na vida.
Eu não deveria me importar de uma forma ou de outra, mas
talvez me importe porque sei como é se culpar quando as coisas
dão tão errado que você nunca mais poderá consertá-las. Foi o que
aconteceu com minha mãe e minha irmã enquanto estive no
cativeiro. Coisas terríveis aconteceram com elas, sobre as quais
nenhuma das duas quer falar, e foi tudo por minha causa.
Então, posso entender até certo ponto o que Summer deve estar
passando. No entanto, nunca fui culpado pela morte de alguém
antes.
Isso é algo que acho que ninguém pode entender, a menos que
aconteça com você.
Não há necessidade de ela ver a gravação da morte de sua irmã
e, francamente, fiquei surpreso por ela querer vê-la. Quando vi a
expressão de culpa em seus olhos, percebi que queria a dor. Como
uma sádica, precisava da dor.
Quanto a ir para a casa da irmã, achei que era muito cedo.
Eu já havia mandado alguém ir lá e arrumar o lugar. Fiz isso
como uma cortesia para o pai dela também, já que está doente e de
luto.
Também considerei como seria para Summer ir até a casa e
sentir como se sua irmã ainda morasse lá. Eu tinha certeza de que
isso a faria se sentir pior.
Lembro-me muito bem da sensação que tive quando meu pai
morreu.
Eu não tinha permissão para entrar na casa dele, mas havia
lugares que ele frequentava onde eu o via. Como seu escritório
particular na cidade. Fui eu quem limpou o lugar e só porque o
assistente dele permitiu.
Meu pai era o presidente do Sindicato original e a coisa mais
próxima que eles tinham de um líder. Foi morto na explosão que
matou a maioria dos membros como resultado de uma conspiração
para roubar as riquezas da organização.
Quando me contaram que ele morrera, não sabia o que fazer e
suspeitei que haveria mais coisas por trás. Estava certo e, quando
comecei a cavar, desenterrei todo tipo de merda, inclusive que as
pessoas com quem eu havia me aliado haviam planejado e
executado sua morte.
Já queria cair fora antes de descobrir essas verdades. Mas, me
meti em mais problemas quando me recusei a fazer a arma com os
designs de meu avô.
Como estava sendo caçado, tudo o que consegui fazer foi
escrever uma carta para Massimo e mandar minha irmã entregá-la.
Esperava poder ajudar mais a corrigir meus erros. Não deu porque
meu melhor amigo me apunhalou pelas costas.
Quando entro no escritório de Aiden, ele se endireita. Maksim
também.
— Bom dia, pessoal — cumprimento, e ambos abaixam a
cabeça.
Fecho a porta atrás de mim e me sento ao lado de Maksim.
Ambos receberam mensagens minhas informando que temos
muito a discutir.
— Parece que você encontrou muita coisa — afirma Aiden, com
uma expressão severa.
— Achei algumas boas, outras nem tanto. Ainda não sei onde
Robert está, mas espero que o que encontrei até agora possa me
colocar no caminho certo.
— Certo, diga-nos o que encontrou.
Enquanto os dois olham para mim com expectativa, foco meus
pensamentos em Summer e tento conter o sangue que ainda está
correndo para o meu pau.
Começo relatando tudo o que ela me contou. Depois, passo para
o que encontrei nos arquivos de Robert. Imprimi as informações
relevantes e fiz cópias para os dois. Chamo a atenção deles para as
cópias do design do Véu.
— Sei o que há de errado com isso – digo, e ambos lançam seus
olhares para mim.
— O que? — Aiden pergunta.
— Ter acesso ao projeto me permitiu verificá-lo melhor. Fiz isso
pesquisando com o código que Dominic me deu. Pelo que vi, nunca
deveria ser usado da maneira que programaram. É como qualquer
software anti-espião, mas foi alterado para fazer o que estão
fazendo. Ontem à noite encontrei a ideia original.
— Então, não é um projeto de Robert? — Maksim pergunta.
— Claro que não — respondo, com desdém. É exatamente como
imaginei. Ele roubou a ideia de outra pessoa. É nisso que ele é bom:
roubo e manipulação. — O cara que surgiu com isso primeiro foi um
aluno de Harvard chamado Patterson Collins. Ele apareceu morto
na praia em Mônaco há pouco mais de dois anos.
— Continuamos achando coisas dessa época — afirma Aiden.
Concordo. Parece que foi há dois anos que tudo começou a dar
errado.
— Meu palpite é que houve algum tipo de desentendimento
nessa época, e Robert roubou a tecnologia. Tudo deve deixar um
rastro quando está em uso. Para nossos propósitos, vou criar um
rastreador e programá-lo para seguir Robert e Micah, usando os
mesmos algoritmos da tecnologia deles. O problema é o tempo que
vou precisar para fazer tudo isso.
E é isso que me irrita. Junto com o fato de que encontrei alguém
tão bom quanto eu.
— Então, isso quer dizer que você poderia consertar o que há de
errado com esse programa? — Maksim parece curioso.
— Sim, acredite ou não – concordo com um aceno de cabeça. –
Consertá-lo é muito mais fácil do que tentar rastrear o dispositivo em
uso.
— Você está brincando comigo? — Aiden sorri.
— Não. É apenas uma questão de trocar algumas peças para
permitir que a tecnologia opere na capacidade que está usando.
Patterson provavelmente o criou para desviar dinheiro. Vi alguns
casos em que ele esteve sob investigação na empresa em que
trabalhou, mas ninguém conseguiu provar nada. A tecnologia
funcionaria para merdas como essa.
— Parece algo que deveríamos ter – Aiden levanta uma
sobrancelha.
— Já estou planejando modificá-lo, Pakhan – informo. Claro que
estou. Algo assim será ótimo para nós. — Até lá, vou testando. Só
vou saber se o que estou fazendo funciona quando o código
aparecer. Também tem a pista sobre Luke Thornton que estou
verificando. Tenho meus homens procurando por ele. Devo ter
notícias hoje ou amanhã para me encontrar com ele.
Vou encontrar, interrogar e torturar o filho da puta antes de matá-
lo.
— Bom trabalho, Eric. Parece que tem tudo sob controle. Vai ter
muito trabalho com o código, a garota e o que quer que aconteça
depois que interrogar Luke. Então, Maksim e eu vamos ficar de olho
nos e-mails e no Club Montage.
Isso será útil e permitirá que eu me concentre nas coisas
principais.
— Obrigado. Seria bom manter a vantagem de pegar Robert e
Micah antes que percebam que não mataram Summer.
Minha preocupação é que, se encontramos a verdade em um
tempo tão curto, eles também descobrirão. Odeio admitir, mas é
pura sorte que ainda não tenham percebido.
— Estou esperando por isso também – Aiden concorda, e
Maksim acena com a cabeça. — Temos que manter os olhos
abertos e estar prontos para todas as eventualidades. Não fiz muitos
negócios com a Camorra, mas sei que são filhos da puta
desagradáveis. São dissimulados, para dizer o mínimo. A Bratva é
uma força poderosa, e nossos números são grandes, mas eles
mantêm as coisas pequenas e restritas por um motivo.
Também não fiz muitos negócios com a Camorra, mas sei que
quando as pessoas mantêm os números baixos, tudo tem a ver com
confiança e lealdade. Eles podem até, ocasionalmente, ser mais
poderosos do que os grupos maiores.
— Alejandro estará de volta em alguns dias — acrescenta Aiden.
— Massimo está ansioso para que o ajudemos, é claro, porque ele é
um amigo. Mas, também porque Alejandro está finalmente
pensando em entrar para o Sindicato. Se o fizer, será o primeiro
membro do Cartel a juntar-se a nós. Independentemente do que
esteja acontecendo com ele no Brasil, será uma forte adição ao
grupo.
Pelas minhas contas, isso nos tornaria mais fortes do que o
Sindicato original. O grupo original tinha seis famílias – quatro
italianas e duas bratvas. Meu pai fazia parte dos italianos e o pai de
Aiden era de uma das famílias Bratva.
Eu sou o único membro do Sindicato no momento com um pé
em cada grupo. Fui convidado por Massimo para ser um membro
por causa de meu pai e, ao mesmo tempo, Aiden me pediu para
ingressar no Voirik por causa de meu avô.
Cada membro tem direito a voto e, exceto Massimo e seus
irmãos, que compõem a direção, todos têm uma contrapartida. Eu
sou o único membro sem uma. Presumo que vai ficar assim por
algum tempo, porque não há ninguém em quem confie para ocupar
esse cargo. Mas, isso não me preocupa.
— Acho que a adesão dele seria boa para nós — afirmo.
— Eu também. Essa coisa com o irmão dele o abalou. Mas,
vamos ver o que acontece. Dominic e Massimo voltaram para o
Brasil com ele, deixando Tristan no comando dos negócios do
Sindicato. Vamos reportar a ele até que os outros voltem.
Tristan é o segundo irmão D'Agostino e o mais parecido com
Massimo.
— Isso é bom. Há algum assunto da Irmandade que gostaria que
eu cuidasse?
— Não, concentre-se nisso. Os assuntos do Voirik estão em dia.
Maksim assumirá suas funções enquanto você estiver trabalhando
nisso.
Como o Obshchak, cuido do dinheiro e da segurança, que vêm
naturalmente para mim por causa do que já faço com a Markov
Tech.
Maksim fica de pé.
— Por falar nisso, preciso fazer algumas contas. Vejo vocês mais
tarde.
— Até mais — eu digo, e ele sai.
É hora de eu ir também. Estou prestes a me levantar, mas Aiden
me impede.
— Só mais um segundo — diz ele com um aceno firme e coloco
meus ombros para trás. — Eric, sei bem o que significa para você
encontrar o Robert.
Aiden é um bom líder, mas também tem sido um bom amigo para
mim. Eu o respeito por me escolher para ser seu Obshchak quando
havia muitos outros candidatos adequados. Acima de tudo, o que
gosto nele é que ele me fez confiar nele da maneira mais simples,
apenas por amar minha irmã. Ele daria sua vida por ela em um
piscar de olhos. É por isso que confio nele e sei que tudo o que está
prestes a me dizer é por causa dela também.
— Sei que você entende — digo.
— Bom, porque te apoio, e você precisa saber disso. Mas, se a
merda bater no ventilador, não quero que tente resolver tudo
sozinho. Ligue para mim e peça reforços se precisar. Não permita
que a sede de vingança consuma você.
Às vezes, é assustador o quão bem ele me conhece. Acho que
isso acontece porque tivemos experiências de vida semelhantes.
Nossos pais morreram no mesmo atentado a bomba do sindicato.
Mas, as experiências a que me refiro são do tipo que deixa você se
sentindo como se estivesse ferrado por toda a eternidade, e onde
aqueles que você ama acabaram ferrados também por sua causa.
Para ele, foi a perda de sua primeira esposa, morta em um
incêndio. Seu filho também desapareceu por quase dez anos como
resultado do mesmo incidente. Tudo por causa de suas ligações
anteriores com a Ordem, o mesmo grupo terrorista com o qual me
envolvi. Se alguém entende como me sinto, é Aiden.
Mas, mesmo ele não sabe o que me quebrou e me deixou louco.
O que fez isso foi saber que minha irmã foi estuprada vezes sem
conta por minha causa. Jude colocou uma arma na minha cabeça,
me forçando a assistir o vídeo de uma de muitas ocasiões – como
ele mesmo me informou – em que a estuprou. Depois, me obrigou a
cumprir suas ordens, ameaçando a vida dela e de minha mãe se eu
não fizesse o que me mandavam.
Isso é o que me quebrou.
Não as outras coisas, mesmo que fossem ruins para cacete.
Vivia para proteger minha família e durante esse tempo não
pude fazer nada.
Eles me mantiveram cativo para exigir que eu fabricasse a arma
criada por meu avô chamada Exterminador, um dispositivo
eletromagnético que poderia enviar uma onda para desativar
qualquer coisa. Literalmente, qualquer coisa. Um avião poderia ser
derrubado, um foguete poderia ser desligado. Robert e Jude sabiam
sobre os desenhos que meu avô escondeu porque não queria que
caíssem em mãos erradas. Não desenvolvi a arma por esse mesmo
motivo, mas também porque isso significaria a morte da minha
família.
Todos os dias, enquanto estive no cativeiro, tinha que encontrar
uma maneira criativa de protelar, porque sabia que me matariam
assim que acabasse e, se eu morresse, minha mãe e minha irmã
também morreriam.
— Não vou deixar a vingança falar mais alto – digo, mas no
fundo, sei que não é algo que possa prometer.
— Além disso, Olívia não ficaria muito feliz se eu permitisse que
algo acontecesse com você.
— Minha irmã está preocupada comigo? – Solto uma risada.
— Sempre. Tento mantê-la fora dos negócios tanto quanto
possível, mas isso é pessoal para ela porque também conhecia
Robert. Não contei muito a ela, mas está ciente do que está
acontecendo.
— Vou ter isso em mente.
— Meu objetivo é resolver esta última parte do quebra-cabeça
para que todos possamos seguir em frente.
Concordo com um aceno de cabeça, embora não tenha certeza
sobre seguir em frente. Ainda tenho as feridas psicológicas para
lidar. Quando voltei, fiz terapia porque minha mãe insistiu. Não
funcionou. Não sei se tenho estresse pós-traumático ou algo assim.
Mas, seja lá o que quebrou dentro de mim não pode ser consertado.
Sei disso. Fiquei preso por cinco anos, e todos que eu amava
pensaram que eu estava morto. Ninguém jamais entenderá a dor e
a porra do sofrimento que passei. Mas, o pior era meu conflito por
desejar morrer e saber que não deveria fazer isso porque minha
família sofreria ainda mais.
— Sim. Vai ser bom encerrar este capítulo – digo para agradá-lo.
Mas, sei que aquela parte de mim que não pode ser consertada
sempre estará danificada.
Estará sempre quebrada.
Há coisas que não podem ser restauradas depois que o dano é
feito.
Mesmo se você tentar.
Chapter Nove

Summer

E
stá começando a escurecer e Eric ainda não voltou.
Logo depois do almoço, ele saiu e mandou sua equipe
cuidar de mim.
Ele me apresentou a Lyssa, a empregada que fica aqui seis
horas por dia; Oleg, um dos guarda-costas pessoais, cuja função é
cuidar de mim – ou seja, me vigiar – quando Eric não estiver, e
Borya, o segundo em comando. Foi Borya quem apareceu na sala
esta manhã quando saí do quarto.
Tanto ele quanto Oleg se parecem exatamente com o que você
imaginaria que os homens da Bratva fossem. Ambos parecem ter
sido treinados para matar sem questionar e praticamente não me
disseram uma palavra.
Passei o dia pensando no que dizer ao meu pai. Agora, minha
cabeça está uma bagunça maior do que antes.
Eu fiquei mais no meu quarto porque queria organizar meus
pensamentos. É onde estou agora, e não avancei muito no meu
objetivo inicial.
Não faço ideia do que vou dizer a ele. Tenho certeza de que Eric
vai querer saber o que conversei com ele quando voltar.
Pelo menos posso agradecer por estar vestindo roupas de
verdade. Não estou mais usando a camisa dele. Isso significa que
estou longe do cheiro dele, como se também tivesse deixado sua
marca em mim dessa maneira.
Pouco antes de Eric sair, uma linda loirinha apareceu aqui
carregando várias sacolas de roupas da Neiman Marcus. Embora
ela tenha me visto brevemente, fiquei longe por estar vestindo
roupas inadequadas para receber visitas. Achei, no entanto, que ela
poderia ser a namorada de Eric – ou uma delas. Ela não ficou muito
tempo. Provavelmente, dez minutos, no máximo.
Não esperava roupas tão finas quanto as da Neiman Marcus e
teria ficado igualmente feliz com algo de uma loja mais barata. Ou
não. Afinal, tenho minhas próprias roupas no chalé. É verdade que
nada que possuo é tão bom quanto o vestido de verão que estou
usando agora e que parece perfeito para uma modelo. Tudo o mais
que eu tinha só serve para cuidar do jardim ou ordenhar vacas.
Quando vi as roupas, fiquei surpresa ao notar que ela acertou o
meu tamanho e comprou algumas coisas muito legais, além do
essencial. Por exemplo, nas sacolas há roupas íntimas e produtos
de beleza. Achei bastante atencioso da parte dela, como se tivesse
tentado pensar em tudo que eu poderia precisar.
Respirando fundo, fico de pé e tomo coragem mais uma vez.
Esta é a segunda vez que tenho que reunir coragem hoje, mas esta
é a mais difícil.
Preciso fazer isso. Já me sinto mal por não ter ligado para meu
pai antes. Vou me sentir pior se demorar mais ou esperar até
domingo para falar com ele.
Encontro Lyssa na cozinha. Quando me vê, levanta a cabeça e
me cumprimenta com um sorriso brilhante que faz seus olhos
verdes parecerem maiores e aprofunda as rugas em seu rosto. Com
seu cabelo grisalho formando um coque colmeia no alto da sua
cabeça, ela parece ter saído de um programa de TV dos anos 60.
Mas, sua aparência lhe confere uma presença calorosa.
Percebi isso imediatamente quando ela estava me mostrando o
apartamento e me deu um olhar maternal que só recebi de duas
mulheres na minha vida – vovó e a esposa de Marquees. Era um
olhar genuíno de preocupação com meu bem-estar. Ela está
fazendo isso de novo agora.
— Oi — cumprimento, nervosamente.
— Olá, querida, como está se sentindo? — pergunta, com
sotaque russo.
Não sei o que Eric disse a ela sobre eu estar aqui, mas como é a
segunda vez que me pergunta isso hoje, presumo que deve ter
contado sobre Scarlett. Não todos os detalhes, mas talvez que
minha irmã acabou de morrer.
Ela tem aquele brilho de simpatia em seus olhos que mostra a
compaixão que você sente quando sabe que uma pessoa perdeu
um ente querido.
— Até que estou bem – ofereço minha resposta padrão. —
Lyssa, Eric falou com você sobre o telefonema?
Ela sorri e acena com a cabeça.
— Quer falar com seu pai?
— Sim, por favor.
— Claro. Me siga.
Ela me leva até a sala, onde abre um pequeno armário e tira um
celular prateado.
Quando me entrega o telefone, minhas mãos tremem, e ela dá
um aperto suave no meu ombro.
— Tenho certeza de que vai se sentir mais forte quando começar
a falar.
— Espero que sim.
Acho que se tentar manter a discussão focada na saúde dele,
ficará tudo bem. Não que vá evitar mencionar Scarlett. Claro que
não poderia fazer isso. Só acho melhor falar cara a cara com ele
quando se trata desse assunto.
— Se precisar de mim, estarei no terraço — diz Lyssa. — Basta
sair e me achar.
— Obrigada.
Sua bondade é reconfortante. Com ela por perto, me sinto
diferente de quando os homens estão aqui. Talvez isso seja feito de
propósito, como uma forma de me controlar. Estou acostumada com
pessoas tentando me manipular; então, essa não seria uma nova
tática que não tenha visto antes. Só não tenho forças para fazer
nada além do que estou fazendo.
E, mesmo que falsa, sua bondade é talvez o que preciso agora
para equilibrar as emoções que colidem dentro de mim.
— De nada querida – ela sai, e assim que passa pela porta, fico
nervosa e congelo novamente.
Tenho o número do papai programado na minha cabeça e estou
pronta para ligar. Mas, não sei o que dizer.
É incrível. Não acredito que sou a mesma garota que costumava
ser a primeira a correr para os braços abertos de meu pai quando
ele voltava do trabalho todos os dias. Não acredito que sou a
mesma garota que costumava chorar quando ele viajava para a
Europa por causa de sua galeria. Papai costumava fazer exposições
de arte e, embora devesse ser muito emocionante para ele, eu
ficava triste quando estava fora e muito feliz quando estava comigo.
É difícil acreditar que eu era aquela garota.
Mas, era e ainda sou. Exceto que esta versão de mim não vê o
pai há oito anos. E agora ele está morrendo.
Deixando de lado minhas preocupações, digito o número.
Fico surpresa quando ele atende no primeiro toque e soa
exatamente como sempre. Assim como o pai que eu tanto amava. É
como se estivesse esperando ao lado do telefone. Esperando minha
ligação.
— Olá – ele diz, como se soubesse que sou eu.
Ouvir sua voz me leva de volta ao passado. Não para a
escuridão, mas para tempos mais felizes quando vivia para ouvir
essa voz.
— Pa... Pai, sou eu, Summer — digo, e posso ouvi-lo respirar
fundo do outro lado da linha.
— Summer, é você mesmo?
A emoção em sua voz me domina, e meus olhos se enchem de
lágrimas não derramadas.
— Sim, sou eu.
— Oh, meu Deus. Estou tão feliz que ligou.
Depois da maneira como falou comigo da última vez, sou
obrigada a esclarecer se isso é verdade, mas posso ouvir em sua
voz.
— Eu também.
— Você está bem? Você está machucada? — Ele pergunta com
uma profunda preocupação que eu não ouço há tanto tempo que
soa estranho para mim.
— Estou bem. Não estou ferida. Estou viva.
— Tem... hum, Eric está cuidando de você?
Não tenho certeza de como responder a isso – definitivamente
não com a verdade absoluta. Então, escolhe uma resposta básica.
— Sim. Ele me contou sobre você, sobre sua saúde.
Ele fica quieto por alguns momentos, depois suspira:
— Não se preocupe comigo, Summer.
— Eu me preocupo, pai. Queria falar com você sobre isso. Claro,
quero dizer que sinto muito por Scarlett também, mas quero saber
como você está – digo e faço uma pausa para respirar fundo. Este é
o momento que temia porque é muito difícil. Apenas mencionar o
nome dela para ele parece difícil. — Sinto muito pelo que aconteceu
com ela, pai.
— Eu sei.
Estou feliz que ele saiba.
— O que os médicos disseram? Não há mais nada que eles
possam fazer?
— Não, não há mais nada. Já fizeram tudo o que podiam. É isso.
Eu tenho... disseram de três a seis meses, então acho que o tempo
está passando.
Minhas mãos ficam dormentes e eu sufoco as lágrimas. Eu não
sabia dessa parte, mas não cabia a Eric me contar.
— Scarlett sabia?
— Não, eu esperava me encontrar com vocês duas e contar.
Acho que agora, ainda estou tentando processar o que aconteceu.
Tenho tentado manter tudo sob controle, mas quando a realidade
cair, vou desmoronar. Eu simplesmente não posso acreditar que
Scarlett realmente se foi.
— Sinto muito, pai — murmuro novamente.
— Sinto muito também, filhota – sua voz se quebra, e meu
coração se parte também ao ouvi-lo chorar. — O funeral é na
próxima terça de manhã. Eric fez os preparativos para nós.
Funeral. É na próxima terça. Eu automaticamente me sinto fraca.
— Há algo que eu possa fazer?
— Não. Acho que precisa seguir o exemplo de Eric, por hora. Só
tem a peça de teatro. Todo mundo acha que Scarlett está de férias e
que volta em algumas semanas para os ensaios finais. Tenho
pensado em ligar para eles e contar nossa estória inventada de que
ela vai recusar o trabalho, mas não consigo fazer isso.
Não sabia que era isso que Eric queria que fizéssemos, mas faz
sentido. Dizer a eles que Scarlett recusou o trabalho é a única coisa
que pode impedir as pessoas de fazerem muitas perguntas.
— Minha menina não recusaria um trabalho como esse —
acrescenta papai. Sua voz soa rígida. Tão rígida quanto no funeral
da mamãe antes de ele lançar seu ataque contra mim. Eu posso
imaginar o rosto dele. Mas, está certo. Não posso culpá-lo por estar
certo. — Então, o jeito é esperar para ver o que vai acontecer.
— Temos que dizer algo a eles.
— Bem, suponho que quando você estiver segura, podemos
contar a verdade, certo? — ele acrescenta no mesmo tom rígido, e
não posso deixar de sentir que ele prefere dizer a verdade agora,
mesmo que isso me coloque em perigo. — É difícil mentir quando
esse trabalho significava tudo para ela. Parece que estou tentando
desonrar o nome dela. É difícil mentir quando sei que ela nunca
mais estará segura, mesmo que você esteja.
Eu tinha razão. A picada de suas palavras corta fundo na minha
alma, e eu tento controlar o tremor que me sacode de dentro para
fora. A voz irritante dentro da minha cabeça, que deixei de lado nos
últimos oito anos, está dizendo que ele gostaria que eu tivesse
morrido, não Scarlett. Está me dizendo que ele gostaria que os
assassinos dela não tivessem cometido o erro que cometeram.
Mal sabe ele que eu desejo isso também.
Como a covarde que sou, não sei se consigo mais falar com ele,
então é melhor ir antes que eu quebre de novo.
— Eu vou ter que ir, pai — eu gaguejo.
Ele fica em silêncio novamente, e então ouço um suspiro.
— Quando posso ver você, Summer?
Pensei que poderia fazer isso antes de domingo, mas agora
acho que não. Este telefonema foi difícil, e depois de ouvir como ele
se sente, sei o que me espera quando me vir. Meu pai gosta de
confronto e está se segurando nessa conversa. Vai querer me ver
cara a cara para me perguntar por que minha irmã está morta.
Eu preciso de todas as forças que puder reunir antes que isso
aconteça.
— Domingo — respondo.
— Isso está muito longe. Não pode vir antes?
— Não – eu minto. — Tem que ser domingo.
— Então, tá. Te vejo domingo – concorda, mas parece chateado.
Não posso me importar com isso agora.
Ele desliga primeiro e fico com o telefone ainda pressionado na
minha orelha com aquelas lágrimas agarradas aos meus olhos. Uma
desce por minha bochecha, mas as outras me sufocam. É como se
soubessem que, no momento em que caírem, estarei quebrada
além da possibilidade de reparo.
Chapter Dez

Summer

osso trazer mais alguma coisa antes de sair? — Lyssa


—P pergunta.
— Não, obrigada – respondo, endireitando-me na
cadeira e forçando um sorriso.
Não é culpa dela que eu esteja nessa situação ou nesse mal
humor. Também não é culpa dela que eu não vejo Eric, nem de
relance, desde ontem.
— Tem certeza? – insiste ela.
— Sim.
— Você mal comeu, querida.
— Fique tranquila, estou bem — asseguro a ela. — Não estou
com muita vontade de comer – decido confessar por causa de sua
sinceridade.
— Tudo bem. Deixei alguns pães doces, se você ficar com fome.
— Agradeço. Eric disse quando voltaria?
— Não. Às vezes ele faz assim e não o vemos de jeito nenhum.
— Oh, entendo.
Desta vez, acho que sumiu por minha causa. Depois do nosso
último encontro, não posso dizer que isso seja ruim, mas também
não é bom. Não posso ficar aqui assim, sem saber o que está
acontecendo.
— Vejo você amanhã – ela diz, e eu aceno.
Quando ela vai embora, relaxo um pouco, permitindo que meu
verdadeiro humor apareça.
Se ficar com este homem significa estar sempre dividida entre a
excitação e o medo, ou numa permanente combinação dos dois,
vou acabar enlouquecendo.
Eu gosto da minha independência por várias razões. Uma das
coisas que adorava era a liberdade de fazer o que queria, quando
queria.
Quando você passou a maior parte de sua vida tentando
sobreviver, saber o que vai acontecer amanhã, no dia seguinte e no
dia depois é imperativo.
Esta situação, porém, está completamente fora de minhas mãos.
Tenho que fazer algo que não faço há tanto tempo e não consigo me
lembrar como fazê-lo.
Eu tenho que confiar em um completo estranho.
Independentemente dos meus planos, ou do quanto eu odeio
essa situação fodida, tenho que confiar que Eric vai conseguir salvar
minha vida.
O estranho nisso tudo é que, quando você confia em uma
pessoa, geralmente, ela se preocupa com você. Eric não se importa
comigo. Ele é como todos os outros que precisaram de algo de mim.
Só que esse algo sou eu mesma.
Não tenho ideia de quanto tempo vai levar para encontrar Robert
e Micah, mas desde que Eric sugeriu ver papai no domingo, acho
que pode demorar mais do que esperava.
Olho para as caixas no chão que chegaram do chalé. Sou grata
por ter minhas coisas de volta. Foram entregues mais cedo, então
isso me deu algo para fazer.
Não são muitas, mas tem uma mistura de coisas da Scarlett que
ela guardava lá e o pouco que consegui trazer de Mônaco. Se
tivesse ido com quem foi enviado para recuperá-las, teria deixado as
coisas de Scarlett lá. Agora que estão aqui, estou feliz. Elas me
fazem sentir mais perto dela, embora vê-las também me deixe triste.
Eu me ajoelho e continuo vasculhando as caixas. Resolvi
separar os itens, mas estou procurando algo específico que acabo
de encontrar. É um pequeno diário. Na capa, tem uma foto da vovó
com os braços em volta de Scarlett e de mim.
De tudo o que eu tinha no chalé, era isso que não queria perder.
Minha avó me deu. Ela deu um igual para Scarlett também.
É um diário de atuação. Ela disse que era uma das coisas mais
importantes na vida de uma atriz porque deveria servir como um
lembrete de onde você veio.
Scarlett e eu tínhamos seis anos nesta foto, e vovó ainda não
havia sido diagnosticada com o câncer que tiraria sua vida.
Scarlett está me abraçando forte, e nós temos os maiores
sorrisos em nossos rostos. Vovó nos vestiu com vestidos cor-de-
rosa iguais com mangas bufantes.
Tiramos essa foto depois de sermos escolhidas para o papel de
gêmeas em uma série cômica para a TV chamada All my Years.
Fizemos aquele programa por quatro anos. Esse foi o começo do
sonho para nós. Depois, comecei a fazer peças de teatro; tudo
antes e durante o ensino médio. Não posso acreditar que foi apenas
dezoito anos atrás.
Scarlett e eu parecemos tão felizes nessa foto. O sonho de ser
atrizes foi o que nos uniu. Além de sermos gêmeas,
compartilhávamos o sonho de atuar.
Nossa avó era nosso ídolo. Foi ela quem abriu o caminho para
todos nós seguirmos. Ela conseguiu seu primeiro papel em
Hollywood quando tinha dezesseis anos. Originalmente da
Louisiana, vovó era uma verdadeira beldade. Foi esse atributo que
lhe rendeu muitos de seus papéis em vários filmes clássicos
notáveis.
Scarlett e eu queríamos ser como ela. Mamãe também, mas ao
contrário de nós, minha mãe era obcecada em ficar famosa e fez de
tudo para isso.
Foi essa obsessão que nos destruiu porque mamãe não
conseguia ver Ted como o monstro que ele era.
Vovó morreu alguns meses depois do programa de TV, e foi
quando mamãe conheceu Ted. Ele prometeu o mundo à minha mãe
e a seduziu a trair meu pai.
Não sei se ela precisou de muita persuasão porque adorava
dinheiro e prestígio. Ela se divorciou de papai um ano depois de
conhecer Ted, deixando meu pai com o coração partido e deprimido.
Mas, ela adorava estar nos braços de Ted.
Só não sabia que, embora parecesse ter muito dinheiro, ele só
estava interessado em sua herança e no prestígio que poderia obter
por estar com ela.
Não sabia que estar com uma atriz de seu calibre era bom para
as campanhas políticas dele. Também não conhecia seu fascínio
por garotinhas e suas atividades extracurriculares.
Engulo em seco, guardo o diário e decido afastar essas
memórias da mente.
É difícil olhar para qualquer coisa do passado, especialmente
agora, e manter esses pensamentos longe. Eles se agitam dentro
de mim porque Scarlett não está mais aqui. Meus pesadelos
começaram quando prometi que sempre a protegeria.
Agora que ela se foi, parece que tudo que sofri foi em vão.
Preciso de uma caminhada ou algo assim. Fiquei neste quarto o
dia todo. Disseram-me para ficar à vontade, mas nunca vou me
sentir relaxada aqui. Também não quero me sentir confortável na
minha prisão.
Saio do quarto e procuro por Oleg. Ele não está em lugar
nenhum. Parece que estou sozinha. Duvido que esteja
completamente sozinha, porque eu poderia simplesmente ir embora.
A curiosidade me faz caminhar até a porta da frente, e quando
vejo que a fechadura é daquelas que são acionadas por um cartão-
chave, apenas balanço a cabeça para mim mesma por ser tão tola.
Mesmo porque, o que faria se pudesse sair deste apartamento?
Fugir correndo? Para onde iria? Não sei se seria melhor do que
isso. Ficando aqui, pelo menos, vou saber em primeira mão o que
acontece. Do contrário, nunca saberia. Ou, talvez, eles me
encontrariam como Eric disse e me matariam.
Olho para o céu negro como tinta através das janelas de vidro
que vão do chão ao teto. Aqui é lindo. Eu prefiro morar em uma
casa, mas posso ver o apelo de morar em um apartamento de
cobertura com vista para a cidade.
Eu me viro e decido voltar para o quarto, mas quando olho para
o corredor que leva ao lado oeste do apartamento, a curiosidade
toma conta de mim e paro no meio do caminho.
Ontem, Lyssa me levou a todos os lugares, inclusive ao terraço,
mas não faço ideia de onde fica o quarto de Eric ou o que há na ala
oeste.
Dizer a uma pessoa curiosa e rebelde como eu para ficar longe
de algo é tão ruim quanto me mandar fazer alguma coisa. Ontem,
ficaram me vigiando o dia todo. Agora que não estão, quem saberia
se eu desse uma olhadinha nos lugares que ainda não conheço?
Sigo pelo corredor e a primeira coisa que vejo é outra sala de
estar. Esta é maior e parece que Eric a usa para entretenimento.
Mais para frente, vejo um amplo espaço com um átrio e depois
outro longo corredor que sinto que me levará direto para onde não
devo ir.
Caminho por ele e as luzes automáticas acendem, iluminando o
trajeto.
Existem duas portas opostas que não requerem um cartão-
chave.
Ambas têm maçanetas comuns de metal como a do meu quarto.
Tento abrir a primeira e descubro que está trancada. A segunda, no
entanto, não está. Quando meus dedos tocam o metal frio e a
maçaneta gira, minha curiosidade aumenta e abafa a voz em minha
cabeça, alertando-me para não me aventurar mais fundo.
Quando abro a porta e me vejo olhando para o quarto de Eric
Markov, tudo o que quero fazer é me aprofundar no mistério desse
homem. A decoração parece mais elegante do que esperava com
seu mobiliário requintado e design elegante.
Pode-se dizer muito sobre uma pessoa pelo que há em seu
quarto. Gostaria de ver com que tipo de homem estou lidando. Ou
melhor, que tipo de criminoso.
Então, entro.
Meus passos são abafados pelo tapete felpudo cor de creme no
momento em que piso nele. Olho as paredes brancas com uma
pintura de paisagem. O lugar na pintura é lindo e não é o que
esperaria encontrar no quarto dele.
Há prateleiras na parede ao lado com uma infinidade de livros
sobre física, química e ciência da computação; matérias em que eu
seria reprovada.
Há livros de literatura que conheço muito bem, como Grandes
Esperanças, O Inferno de Dante e O Sol é Para Todos. Isso é tudo
que identifico. O resto é de Einstein, alguém como ele, ou o que
imagino que pessoas como Einstein leriam.
Vou até a cama king-size e examino o intrincado desenho em
relevo na cabeceira de madeira. O design é antigo. Parece celta,
mas não tenho certeza. Os criados-mudos são idênticos e os lençóis
e travesseiros pretos completam a decoração.
Mas, mesmo que a decoração seja tão bonita, não é nisso que
estou interessada. Quero ver o que há nas gavetas.
Abro a primeira e minhas bochechas queimam quando vejo
várias caixas de preservativos extragrandes e um pote de
lubrificante. Ao lado, há um par de algemas semelhantes àquelas
com as quais ele me amarrou noites atrás. Só que estas têm punhos
de veludo. Eu as pego e sinto a textura aveludada.
Quando vi as algemas na outra noite, imaginei que ele poderia
gostar de BDSM. Agora, tenho certeza. Adoraria saber quem ele
trouxe aqui para usar isso.
Coloco as algemas sobre a cama e abro a gaveta um pouco
mais. É quando vejo um cartão de memória em cima de uma pilha
de blocos de notas.
Normalmente, eu ignoraria o cartão e continuaria bisbilhotando,
mas mudo de ideia ao ler o rótulo que diz:
Gravação de Robert em Mônaco.
Minha respiração para e meu peito aperta como se alguém
estivesse estrangulando meus pulmões por dentro quando percebo
o que é isso.
Esta é a gravação do meu apartamento. Aquela que capturou a
morte da minha irmã.
Solto a respiração que estou segurando e pego o cartão de
memória. Fico olhando para ele como se fosse uma droga. Não a
parte sedutora de uma droga. Afinal, a parte sedutora é que alivia a
dor e te permite escapar da realidade.
Estou me referindo à outra parte, no entanto. Aquela que todos
os viciados sabem, mas a maioria se recusa a reconhecer quando
olham para uma droga. É a parte em que sabem que é ruim, mas
querem usar mesmo assim.
Estou tendo a mesma sensação neste momento.
Ver o que está nessa gravação provavelmente vai acabar
comigo, mas quero ver. Eu me pergunto se é por isso que quero
assistir. Será que quero morrer? Isso não pode ser verdade, porém,
porque não quero. Talvez sinta mais culpa porque eu deveria querer
morrer, mas minha vontade de viver me faz continuar.
Tenho a gravação em minhas mãos. Se a levar comigo, Eric
saberá que fui eu. Além do mais, onde eu assistiria? Eu não tenho
acesso a nada.
Isso não significa, porém, que não possa ter em algum momento.
— Ora, ora – diz uma voz atrás de mim que me faz olhar para
cima.
Quando encontro os olhos frios de aço de Eric Markov, sei que
não adianta pensar em mais nada.
Estou em apuros.
Fiz merda.
E ele já me avisou para não fazer dele um inimigo.
Chapter Onze

Summer

U
m músculo estremece em sua mandíbula esculpida quando ele
entra no quarto e fecha a porta.
Quando olho para ele, não tenho certeza se devo estar
mais preocupada com o fato de ter desobedecido uma ordem direta,
ou com o fato de que ele me pegou em flagrante e acabou de fechar
a porta, bloqueando minha rota de fuga. A única outra saída é pela
janela à minha esquerda, que está fechada e provavelmente
trancada.
Ficar olhando fixamente para ele com a boca aberta não é
exatamente um bom presságio para mim, mas estou tentando
pensar no que dizer, no que fazer.
Não posso dizer que me perdi ou que estava tentando encontrar
o banheiro.
Quando ele caminha até mim, meus joelhos se dobram e minhas
costas ficam rígidas como se fossem quebrar sob o peso de seu
olhar implacável. Não sou mais a mulher corajosa que queria
parecer. Não tenho mais chão para me sustentar e tenho a
sensação de que algo mudou entre nós da pior maneira.
Ele olha para a gaveta aberta e examina os preservativos,
depois as algemas na cama. Por fim, olha para o cartão de memória
na minha mão e, em seguida, seu olhar sobe para encontrar o meu.
— Terceira bola fora, Summer Reeves. Terceira – diz enquanto
balança a cabeça e tira o cartão da minha mão.
— Me desculpe! Eu...
Agarrando minha garganta, Eric corta minhas palavras, e todo o
meu corpo congela com a antecipação do que ele pode fazer
comigo.
Ele me dá um sorriso irresistivelmente devastador, e odeio
pensar em algo do tipo porque também vejo maldade pura nesse
sorriso. Uma maldade pecaminosa e a mais pura escuridão. Uma
escuridão tão profunda que me faz pensar que sua alma deve ser
tão negra quanto carvão.
À medida que seu sorriso se torna zombeteiro, algo com o qual
me acostumei, é um sinal de que não estou errada. Esse sorriso é
do tipo que um predador mostraria à sua presa pouco antes de
devorá-la.
Ele aperta mais seus dedos em volta do meu pescoço e se
inclina para a minha orelha.
— Teper' ty moya, kukla — sussurra, seu hálito quente acaricia
minha pele.
Não sei o que disse, só que soou como russo.
— O que? Não sei o que você está dizendo.
— Ya nakazhu za eto tvoyu kisku – ele continua e mostra os
dentes ao me encarar de frente.
Eu não poderia estar mais confusa. Desde que nos conhecemos,
tudo sobre esse homem me deixou perplexa, incluindo o jeito que
meu corpo reage à sua proximidade. Ele pode estar me dizendo que
vai me matar; mas, meu cérebro acha sexy para cacete quando fala
em russo e a maneira como soa quando fala.
— Não sei o que diabos está me dizendo. Fale inglês! – Exijo,
tentando me mover para escapar da sua mão.
E dos seus olhos.
Não gosto do desejo que vejo à espreita neles.
— Não se preocupe comigo falando inglês ou russo, boneca.
Você e eu estamos apenas começando.
— Mas, já disse que sinto muito – comento e o medo retorna,
extinguindo minha excitação.
— Não, você não pode se desculpar por algo que te disse para
não fazer – afirma e finalmente me solta. Seu sorriso desaparece e
suas feições se contraem. — Incline-se.
— O quê? O que pensa que vai fazer comigo? – Pergunto,
arregalando os olhos.
Sou muito estúpida. Ele já me disse. Falou que iria me bater com
tanta força que eu não conseguiria andar por uma semana. Acreditei
quando fez aquela ameaça. Então, não sei por que estou tendo
dificuldade em acreditar que está falando sério agora. E está sério
para caralho.
— Empine essa bunda gostosa para receber seu castigo.
— Você é um idiota – rosno entredentes enquanto meu sangue
ferve.
— Agora, são cinco.
— Cinco o quê?
— Vou bater na sua bunda cinco malditas vezes. E a cada vez
que me desafiar, vou adicionar mais cinco para cada minuto que
passar. O relógio está correndo, querida.
Cristo! Ele é louco.
Ele abre a boca novamente, prestes a adicionar os cinco extras,
mas o medo da dor de quanto dez golpes vão doer me obriga a me
submeter. Eu me inclino antes que diga outra palavra. Quando
minhas mãos batem nos lençóis de seda frios da cama, uma
humilhação crua toma conta de mim por minha infeliz decisão de
entrar em seu quarto.
Como se as coisas já não estivessem ruins o suficiente.
Não imaginei que seria pega e, definitivamente, não por ele. Não
o ouvi chegar. Nem um passo ou qualquer coisa até que ele quis
que eu soubesse que estava lá me observando foder com tudo.
Uma mão quente repousa sobre a carne exposta no centro das
minhas costas e, antes que eu possa respirar, ele levanta a bainha
do meu vestido e dá um tapa forte na minha bunda.
O impacto joga meu corpo para a frente e a dor me faz agarrar
os lençóis.
Mais um golpe desce forte na minha bunda que me faz ver
estrelas.
— Pare, está doendo – suplico, estremecendo.
— É para doer mesmo. Doer para caralho.
Não sei se aguento outro golpe assim. Pelo menos, ele não está
me sufocando como Ted fazia. Nem mesmo os babacas do clube
foram tão cruéis quanto Ted.
Isso não significa que a dor que sinto agora seja menor.
Mais um tapa atinge minha bunda e, quando tento me afastar,
ele me agarra e me joga sobre seus joelhos como se eu fosse uma
criança petulante que acabou de ser pega fazendo algo errado.
— Não vai fugir de mim – promete ele, apertando minhas
nádegas doloridas.
Não sei o que acontece, mas sinto aquela mesma coisa
intangível de momentos atrás mudar. Levo alguns instantes para
perceber que é o toque dele, ele me tocando, me segurando.
Quando passa o dedo do topo da minha bunda, descendo até
minha boceta e fica lá, me pergunto por que parou. Só quando me
traz para mais perto das paredes duras de seu peito que sinto a
umidade escorrendo entre minhas coxas. Umidade que cresce
quando ele acaricia a protuberância do meu clitóris através do tecido
de renda da minha calcinha.
— Garota safada — provoca, e tento me afastar. — Gosta de ser
punida.
— Me larga, seu idiota de merda.
— Por que eu iria querer te largar quando estou excitando você?
Meu cabelo cai para a frente cobrindo meu rosto quando eu olho
para ele.
— Vá se foder.
— Não, como eu disse outro dia, boneca, eu adoraria foder você.
— Não vou te foder – digo rapidamente, e instantaneamente
parece uma afirmação inútil que estou tentando dizer a mim mesma.
— Mas, você quer.
— Não quero – insisto, sem muita convicção.
— Sua boceta molhada me diz o contrário, boneca – murmura, o
sorriso volta ao seu rosto, e ele me dá um tapa forte, seguido de
outro e outro.
Isso é mais do que cinco. Mas, enquanto ele continua a me
espancar e esfregar meu clitóris com força, fico tão excitada que
não sinto mais a dor. Algo perverso toma conta do meu corpo e o
som que sai de mim soa mais como um gemido alto do que alguém
que deveria estar com dor.
Merda. Eu sinto que vou gozar.
Que porra?
— Isso é por mentir para mim e para você mesma – afirma ele
com um último tapa forte na minha bunda. — O resto foi só para
encharcar sua boceta.
Respiro fundo quando ele se levanta comigo e me coloca na
cama. Ele é tão rápido que mal registro o que está fazendo até ele
agarrar meus pulsos e as algemas ao nosso lado na cama.
Nem consigo me afastar antes que ele segure minhas mãos
acima da minha cabeça na cama. Ele engancha as algemas em
algum lugar. Não consigo ver onde, mas estou presa e não vou a
lugar nenhum a menos que ele me deixe ir.
Quando ele rasga meu vestido em um movimento rápido,
suspiro. Mas, me recupero e me preparo para protestar, ou fazer
algo para lutar e me proteger. As palavras morrem em meus lábios
quando ele mergulha entre minhas coxas, move minha calcinha
para o lado e empurra seu rosto contra minha boceta.
Tudo desaparece de minha mente quando ele empurra sua
língua molhada e escorregadia por minha passagem e lambe meu
clitóris.
Eu me debato, me contorcendo contra ele e as amarras, mas ele
me mantém no lugar com um aperto mais forte e começa a chupar
meu clitóris com força.
Prazer cru e primitivo dispara através de mim em uma onda que
queima meu corpo até não sobrar nada. Cada volta de sua língua
destrói minha resistência, e é nesse momento que me entrego com
total abandono e sucumbo ao controle que ele exerce sobre mim.
— Boa menina, pare de lutar – ele diz sob o zumbido
entorpecente da energia que rouba minha sanidade, e atinjo o
orgasmo.
Gozo em seu rosto com tanta força que grito e me arqueio contra
as algemas, fazendo a cabeceira da cama bater contra a parede.
Uma risada sombria sai de seus lábios, e olho indignada para
ele.
Não ouso dizer nada. Não estou em posição de desafiá-lo. Não é
como na outra noite, quando ele me acorrentou à parede.
Acabei de mostrar a ele algo que pode usar contra mim, e sabe-
se lá o que despertei com minha curiosidade.
A excitação aumenta novamente quando ele lambe o resto dos
meus sucos até que eu esteja limpa.
Limpa e querendo mais.
Quando ele se endireita, noto a protuberância inconfundível
pressionando contra suas calças. Senti sua ereção quando estava
sobre seus joelhos. Agora, entendo por que ele precisa usar
preservativos extragrandes.
Quando ele esfrega a mão sobre o pau, meus lábios se abrem e
me pergunto se ele vai me foder.
Não posso fazer isso, não assim. Não sem algum controle da
minha parte.
Estremeço quando ele desliza até meu rosto e lambe meu
pescoço. Lembro-me então do que ele disse sobre gostar de
degustar. Eu não acho que ele quis dizer apenas lambendo, no
entanto.
— Deixe-me ir – murmuro, mas não pareço convincente nem aos
meus próprios ouvidos.
— Vou deixar você ir quando terminar com você, Summer
Reeves. Você tem um gosto bom e quero brincar com você um
pouco mais.
— Chega de brincadeiras – peço.
—A escolha é sua. Ou você me deixa comer sua boceta de novo
ou bater em você – ordena e acaricia seu pau novamente,
começando a desabotoar as calças. — Responda-me.
Não sei o que dizer que não vai me fazer soar como se eu o
quisesse. Tudo o que posso fazer é escolher o menor dos dois
males.
Cerro os dentes e desvio o olhar dele.
— Coma minha boceta, então.
Ele pega meu rosto e me vira para encontrar seu olhar de novo.
— Olhos em mim. Eu quero que olhe para mim quando falar
comigo. Agora diga de novo, boneca.
— Coma minha boceta — repito.
Os cantos de sua boca se abrem em um sorriso sombrio e ele
volta para o meio das minhas coxas.
— Abra as pernas para mim, Summer.
Relutantemente, eu faço o que ele manda.
Ele mergulha de volta, aninhando-se entre minhas coxas.
Enquanto sua língua chicoteia dentro de mim, ele trabalha a
protuberância do meu clitóris.
Eu me perco novamente.
Desta vez, ele parece sem pressa para me provar.
Provar todos os lugares que consegue alcançar dentro de mim.
Isso me deixa louca, e quando ouço o nome dele saindo dos meus
lábios, acho que realmente enlouqueci.
Sua língua impiedosa me faz girar nos braços do êxtase. Êxtase
que não deveria sentir. Não por ele, e não agora em meu estado de
luto.
Mas, sinto e, de novo, me faz querer mais.
Mais dele e do que ele está me dando.
Quanto mais eu gemo, mais ele me dá, satisfazendo todas as
minhas necessidades. Um prazer intenso toma conta de mim, algo
que nunca senti igual, levando meu batimento cardíaco a mais de
um milhão por segundo. Jogo a cabeça para trás enquanto entro em
erupção dentro de sua boca mais uma vez.
— Porra! — Grito quando outro orgasmo explode dentro de mim.
Meu pobre corpo não aguenta mais. Nem fisicamente, nem
mentalmente. Ele me consumiu em todos os sentidos da palavra.
No entanto, ainda não terminou comigo.
Ele se endireita e empurra as calças, liberando seu pênis. Não
preciso mais me perguntar como seria o seu pênis. Posso ver
claramente agora.
O que me pergunto é como vou me sentir quando estiver dentro
de mim. Então, devo mesmo ter mentido quando neguei que queria
que ele me fodesse.
Acho que não consigo mais esconder meu desejo, mesmo que
queira lutar. A verdade é que nunca enfrentei um homem como Eric
antes.
Agora, cada centímetro do meu corpo vibra com a expectativa do
que ele fará.
— Você deveria ver seu rosto — ele murmura enquanto acaricia
o comprimento da sua ereção.
Estou absorta demais em olhar para o pau dele para sentir a
vergonha que acho que deveria sentir. Eu olho por cima da cabeça
bulbosa de seu pênis e as gotas de sêmen na ponta brilham como
se estivessem me chamando para lambê-lo. O pensamento me
horroriza e me deixa confusa ao mesmo tempo. Mas, quando ele
acaricia seu pau com mais força, e ele fica maior e mais grosso,
algo faísca dentro de mim. É a satisfação por deixá-lo tão excitado
por mim.
Eric Markov não seria o primeiro homem a se irritar comigo e
tenho certeza de que não será o último. Mas o fato de ser ele faz
minha cabeça girar em todas as direções.
Ele já está duro e perfeitamente ereto, então quando ele começa
a bombear mais rapidamente, logo ejacula sua carga em cima de
mim, como pretendia fazer.
O esperma quente espirra no meu peito. Cobre, primeiro, as
ondulações dos meus seios. Depois, desce pelo vale entre o meu
decote profundo até o meu estômago. Ele não para de se masturbar
até que seu pau esvazie. Ele me choca ainda mais quando solta as
algemas da cama e entrelaça seus dedos no meu cabelo para me
trazer para mais perto.
— Abra essa sua boca gostosa e limpe o resto — ele ordena.
Eu abaixo a cabeça e lambo os restos de seu esperma,
provando-o como eu tanto queria. Enquanto faço isso, o gosto dele
provoca minhas papilas gustativas com a mesma vibração que ele
tem.
Ele empurra seu pau fundo na minha boca uma vez e puxa para
fora. Depois me solta, parecendo satisfeito que eu o limpei bem. Ou,
talvez, ele terminou comigo.
Eu olho para ele quando a realidade do meu castigo me atinge, e
me sinto indignada comigo mesma e com ele.
Ele abre as algemas, tirando-as dos meus pulsos, liberando-me
completamente. Quando percebo que estou livre, me movo para
fugir, mas ele me pega novamente, segurando meu braço com
firmeza enquanto enfia o pau de volta nas calças com a outra mão.
— Da próxima vez que te disser para não fazer algo, ouça. Não
bisbilhote mais nada, nem entre no meu quarto. A menos que queira
que te foda de verdade. Está claro, porra?
— Sim — sussurro.
— Bom, agora saia.
Como a prostituta que sou, saio da cama e nem me preocupo
em recolher os restos do meu vestido. Apenas vou embora.
Atravesso a porta correndo. Queria poder fugir. Estou sempre
fugindo de algo ou de alguém. Eu me pergunto se isso vai acabar
um dia. Eu me pergunto se algum dia conseguirei chegar em um
lugar onde possa, finalmente, me sentir segura.
Chapter Doze

Eric

E
la não é a sádica.
Eu é que sou.
Esta é a segunda vez que brinco com fogo passando por
cima da porra do limite e me queimando.
Era óbvio que eu daria umas palmadas naquela bunda gostosa
da Summer por ela estar bisbilhotando no meu quarto, mas todo o
resto veio do nada.
Veio da fera que existe dentro de mim que queria consumi-la e,
para ser honesto, veio da parte de mim que sabia que ela já
pertenceu ao Robert. A parte que suspeita que ela deve ter sido
dele em algum nível, e eu queria apagar isso.
É louco para caralho. Já sei que não posso ficar com ela, mas
também não queria que ela tivesse tido nada com ele.
Mas, não é isso que me atrai nela. Tem mais. É algo que não
consigo identificar, e isso me deixa louco porque deveria ser capaz
de entender minha própria mente.
Agora o gosto de sua doce boceta está em minha boca como se
eu tivesse acabado de fazer uma refeição requintada, e a parte
sádica de mim quer prová-la novamente – em todos os lugares.
Isso é o que passou pela minha cabeça na última hora e
provavelmente a única coisa que me manteve são quando iniciei a
tortura de Luke Thornton. Todo esse tempo e o idiota não me disse
nada além de merda.
Então, não sinto nada além daquela sede de sangue quando fito
seus olhos arregalados e aterrorizados. Está amarrado na cadeira
diante de mim. Meus homens também já deram um trato nele.
Quando cheguei aqui, estava coberto de sangue renta. Mandei que
lhe dessem uma surra só pelo tempo extra que perdemos
procurando por esse filho de uma grande puta.
Claro que quando descobriu que estávamos atrás dele, tentou
fugir. Só que é tão besta que enviou um e-mail para Robert, coisa
que Maksim interceptou.
Quando entrei no armazém, Luke parecia prestes a se cagar.
Puro terror se espalhava por seu rosto e, quando peguei o maçarico
e queimei sua perna, soube que seria só o começo. Ele teria apenas
duas opções: morrer rápido ou devagar.
Sabia que este seria seu último dia na terra.
Deveria ter chegado a essa conclusão ao lembrar-se do que fez
comigo.
Mesmo se eu resolvesse deixá-lo ir, o pessoal do cartel iria matá-
lo por não pagar três milhões de dólares; esse é o valor da cocaína
que está na carroceria de seu caminhão e que nunca chegará ao
comprador.
Dando a ele um sorriso implacável, acendo a tocha do maçarico
mais uma vez e balanço na frente de seus olhos. Lágrimas
escorrem e, enquanto se debate contra a corda que o mantém
preso, o fedor de carne queimada faz cócegas em meu nariz.
— Por favor, não sei de mais nada — ele grita.
— Mentira — afirmo, segurando seu olhar. Não tenho ideia se
está mentindo ou falando a verdade, mas não importa. Isso não vai
mudar o que faço com ele.
Na última meia hora, passou de rogar a Deus para salvá-lo a
gritar merdas, chorar e implorar por misericórdia.
Depois, se mijou.
Duas vezes.
Não sou um bom homem, claramente; mas, até eu sei que Deus
deve ter feito vista grossa quando Luke pediu ajuda.
Este homem gosta de atacar os fracos.
Tudo sobre ele é uma fachada. Não foi apenas minha irmã que
caiu vítima de sua merda nojenta. Luke Thornton tem uma biblioteca
de filmagens que coletou de outras meninas. Algumas foram
sequestradas e vendidas a cartéis para virarem prostitutas. Ele é um
desses filhos da puta pervertidos e doentes que gostam de observar
e ficam obcecados por crianças.
— Robert Carson – repito o nome do meu inimigo. Desta vez
com ênfase. — Você marcou reuniões para ele aqui. Deve ter algum
contato com ele.
Quando aumento as chamas do maçarico, Luke começa a chorar
de novo. Ele não me responde. Não sei se é porque não consegue
mais formar palavras. Ou porque vai me dar a mesma resposta e
sabe que minha reação só vai acelerar sua morte.
— Responda, Luke – grito, e ele salta ao som da minha voz.
— Já te disse que tudo o que faço é enviar um e-mail e ele
responde com a localização.
— E você não tem a porra do número dele? — grito na sua cara.
Estamos indo e voltando com essa merda há muito tempo.
Minha paciência está se esgotando.
— Não tenho. Você tem que acreditar em mim.
— Eu não tenho que acreditar em merda nenhuma.
Eu pouso as chamas ardentes sobre sua outra perna. Ele grita
um som miserável e depois vomita sobre a carne em chamas.
Por causa da raiva dentro de mim que não consigo controlar, não
peguei leve com ele apesar de saber que deveria.
— Por favor... pare — ele implora.
— Por favor pare? Lembro-me de te dizer a mesma coisa no
Brasil. Você se lembra do que fez? – me aproximo de seu rosto, e
mais lágrimas correm por suas bochechas. — Colocou a voltagem
tão forte quando me eletrocutou que queimou minha pele. Depois,
me disse que se Jude lhe desse a chance, foderia minha irmã e faria
minha mãe assistir.
Esse é o tipo de merda que tive que ouvir e este é o último idiota
com o qual eles terão que se preocupar.
Ele não serve mais para mim, então é hora de acabar com isso.
Em vez de queimar sua perna novamente, aponto as chamas
para seu torso até incendiá-lo.
— Isso é por minha irmã, seu animal – afirmo enquanto ele grita.
Momentos depois, os gritos cessam e ele para de se mover.
Quando sua cabeça cai para trás e vejo a luz deixar seus olhos, sei
que está morto.
Enquanto observo aqueles olhos frios e mortos e vejo as chamas
consumindo-o, fecho minhas mãos em punhos apertados.
Parece que tenho tanta informação, mais do que tinha antes,
mas ainda estou na porra da estaca zero.
Continuo a olhar para o corpo mutilado de Luke, sem saber se
disse a verdade. Se disse, então nunca tive uma vantagem para
começo de conversa.
Não com ele.
A resposta que preciso não estava com ele.
Parece que, se quiser pegar Robert, meu objetivo número um
tem que ser rastrear o código. Vou precisar de muito mais paciência
se quiser encontrá-lo.
Isso significa mais espera. Uma coisa que absolutamente odeio.

Chego em casa algumas horas depois. O manto da noite acaba de


cair sobre o céu.
Decidi parar na Markov Tech para verificar como as coisas
estavam indo na minha ausência. Ao mesmo tempo, informei à
minha assistente que estaria ausente a maior parte do mês, então
era melhor reagendar todas as minhas reuniões.
Pelo leve brilho da luz que vem da sala de estar, posso dizer que
tenho visita e pelo cheiro suave de rosas que paira no ar, sei
exatamente quem veio me ver.
Só gostaria que ela não tivesse feito isso neste momento. Odeio
ver minha irmã depois de ter matado alguém.
Eu me limpei ainda no armazém, mas minha alma sempre
parece mais suja perto da dela. Ela não sabe o que eu realmente
sou.
Ela deve ter alguma ideia já que seu futuro marido me recrutou
para um dos papéis de elite na Irmandade. Mas, Olívia ainda pensa
que sou um bom homem.
Acho que estou cometendo os mesmos erros ilusórios que ela,
porque ainda penso nela como minha irmãzinha caçula inocente, e
ela não é mais isso há anos.
Temos cinco anos de diferença e, para mim, isso significa que,
por mais iludidos que estejamos um sobre o outro, ainda permanece
o fato de que sou o irmão mais velho. Serei isso enquanto eu
respirar.
Vou levá-la ao altar em alguns meses e entregá-la a um homem
que daria tudo a ela, incluindo sua vida, se fosse necessário.
Por mais que nunca quisesse que minha irmã fizesse parte
desse mundo sombrio da máfia em que vivo, não poderia pedir
alguém melhor do que Aiden para ela. Também sei que se algo
acontecer comigo, Aiden cuidará das duas pessoas que mais amo
nessa vida.
Quando passo pela porta, encontro Olívia de pé ao lado das
janelas de vidro que vão do chão ao teto. Está contemplando a vista
panorâmica da Cidade dos Anjos. Essa vista foi decisiva na hora de
comprar este apartamento.
Em seu elegante vestido social azul marinho, ela parece tão
graciosa quanto mamãe costumava ser quando se vestia para uma
arrecadação de fundos ou quando ia encontrar com meu pai.
Olívia se vira para mim quando entro e me sinto um idiota
quando noto a preocupação em seu rosto. Eu sei que fui eu quem
colocou esse sentimento lá.
Não gosto de vê-la preocupada. Ela está com esse olhar desde
que revelei que Robert foi a pessoa que me traiu e nos causou toda
aquela dor.
Sempre tivemos algo com que nos preocupar, mas a
preocupação que ela ostenta agora é diferente. Está misturada com
medo. Ninguém me conhece melhor do que Olívia. Pode não saber
o que faço quando estou trabalhando, mas conhece minha
personalidade rebelde. Sabe que irei atrás de Robert e, se isso me
matar, é um pequeno preço que estou mais do que disposto a pagar.
— Mana, fazendo visitas domiciliares tarde da noite? — indago
em tom alegre.
Ela sorri, mas a alegria não alcança seus olhos. Ela puxa uma
mecha do cabelo para trás da orelha e junta as mãos.
— Não vou ficar muito tempo.
— Estou surpreso que seu homem tenha permitido que viesse
até aqui sozinha – faço parecer que estou brincando.
Mas, não estou.
Aiden sempre tem um guarda com ela. Mesmo quando vem me
visitar. Normalmente, se é tarde como agora, ele mesmo vem junto.
Estou surpreso que não haja mais ninguém aqui dentro com ela.
— Maksim está no final do corredor — ela explica, e
instantaneamente me sinto tranquilo porque ela está mais do que
segura. Maksim é o mesmo que ter o próprio Pakhan aqui.
— Vejo que você tem uma hóspede — afirma ela com um brilho
nos olhos.
Ela está falando sobre Summer, mas não deve saber por que ela
está aqui.
— Sim, tenho.
— Ela é linda.
— Sim.
— Será que vou ouvir sinos de casamento tocando para você,
irmão?
Seguro o impulso de rir. O mais próximo que chegarei de um
casamento é o dela.
— Não. Então, o que te trás aqui?
— Boa mudança nada sutil de assunto – afirma com um sorriso e
sorrio de volta. — Aiden foi chamado a negócios. Queria falar
contigo, então vim te esperar.
Eu me aproximo e procuro sinais em seu rosto. Depois da minha
conversa com Aiden, esperava que ela me visse mesmo. Mas,
parece que tem algo importante que quer me dizer.
— É algo que eu tenho que me preocupar? – pergunto.
— Não. Não é nada para se preocupar. É uma boa notícia, na
verdade.
— Boas notícias? — Isso é algo que raramente ouço. Não sei
dizer quando foi a última vez que tive uma.
— Sim, notícias muito boas.
— Bem, me diga o que é então — eu peço.
— Estou grávida — ela responde, e fico surpreso com a
felicidade que sinto.
Nunca pensei em como reagiria quando esse dia chegasse.
Estou super feliz por ela.
— Oh, meu Deus, que notícia maravilhosa – digo, puxando-a
para um abraço e toco seu rosto. — Esta é uma notícia perfeita.
É algo que ela e Aiden merecem.
Esta notícia e o casamento são o final feliz da estória deles. Isso
é algo que quero que ela tenha mais do que tudo. Isso vai
compensar a infância de merda que tivemos e de todas as vezes
que não estive aqui para protegê-la.
— Obrigada. Estou feliz que você esteja feliz.
— Claro que estou. Para quando podemos esperar esse bebê?
— Em março. Estou grávida de seis semanas – seu sorriso se
alarga. — Eu sei que vai ser estranho porque vamos nos casar em
dois meses.
— Olívia, ninguém se importa com isso. O que mamãe disse?
Tenho certeza de que ela chorou e começou a planejar viagens de
compras.
O sorriso desaparece de seu rosto.
— Ninguém mais sabe ainda. Só você. Vou contar para a
mamãe de manhã.
A princípio, sinto orgulho por ter sido o primeiro a ouvir as boas
novas. No entanto, quando penso no que isso realmente significa,
me sinto um idiota. Sei por que ela me contou primeiro, e não é
exatamente por um bom motivo. A primeira pessoa que deveria ter
ouvido esse tipo de notícia é nossa mãe.
Tomando as mãos delicadas de Olívia nas minhas, eu seguro
seu olhar:
— Estou honrado por ter me contado antes de todo mundo, mas
por que fez isso?
Quero que confirme o medo que sei que tem. É hora de falarmos
sobre isso.
Aquele brilho que vi em seu olhar cor de índigo momentos atrás
desaparece e a preocupação que eu sabia que não estava longe
retorna.
— Sei que tem uma pista sobre Robert. Só queria te contar a
novidade o mais rápido possível. Desde que essa coisa toda do
Robert aconteceu, é só com isso que me preocupo. Que você acabe
morrendo.
Aí está. Exatamente o que pensei. Ela acha que vou morrer.
Faz apenas dois meses que revelei a verdade. Até então, todos
pensavam que Robert estava morto. Não podia falar sobre ele antes
porque ainda estava enfrentando a escuridão na minha mente. E
todas as lembranças ainda estavam doloridas demais. Também
sabia que quando contasse a todos o que realmente aconteceu,
eles saberiam o que eu planejaria fazer. Pior de tudo, sabia que
conheceriam meu estado mental e minha obsessão pela morte.
Essa é a melhor maneira de me descrever. Em minha obsessão
em acabar com Robert, não sou tão cuidadoso quanto deveria.
Definitivamente não é para um homem que saiu do cativeiro há
pouco tempo. Quem me olha pode ver que só estou vivendo para
encontrar aquele filho da puta e não tenho medo da morte.
É isso que minha irmã vê quando olha para mim: uma criatura
sem alma que atravessou o vale onde a sombra da morte está
sempre presente. Quando um homem como eu é capturado e
mantido em cativeiro por tanto tempo, ele volta diferente. Mudado.
Essa é a coisa sobre mim que não consigo consertar, nem ela.
— Olívia, não pode se preocupar comigo agora – balanço a
cabeça com firmeza e ela pressiona os lábios vermelhos em uma
linha fina de desagrado.
— Eric, vivi neste mundo por cinco anos pensando que estava
morto. A cada dia, morria um pouco mais por dentro ao pensar na
sua morte – diz e observo uma lágrima escorrer por sua bochecha.
— Não tem ideia de como me senti quando descobri que estava
vivo.
— Posso imaginar – digo rapidamente. A vergonha me faz baixar
a cabeça por um instante. Quando encontro seu olhar novamente,
outra lágrima escorre por sua bochecha, e eu a pego. — Não era o
que queria para você.
— Mas, aconteceu.
— Sinto muito que tenha acontecido.
— Não foi sua culpa — ela afirma, suavemente.
— Foi, sim. Há uma diferença entre cair em uma armadilha e cair
na armadilha que você mesmo preparou. No meu caso, foi a
segunda alternativa.
Me envolvi com pessoas que não deveria e facilitei tudo o que
aconteceu. Essa é a grande verdade.
— Todos nós cometemos erros. Isso foi um erro. Você não sabia
no que estava se metendo. Tenho certeza. Se não soubesse disso
em meu coração, não teria arriscado tudo para te encontrar. Deve
saber o quanto te amo e que só queria que voltasse para casa em
segurança.
Foi assim que nossos caminhos se entrelaçaram com o de
Aiden. Ele estava procurando por seu filho e acabou nos ajudando.
— Eu sei. Não quero que se preocupe comigo – repito.
— Me dizer isso não vai me fazer parar. Você manteve silêncio
sobre Robert por quase um ano. Mas, eu sabia que algo estava
errado, então me preocupei. Toda vez que via como seu rosto ficava
quando o nome dele era mencionado, eu me preocupava. Me
preocupei porque costumava ficar com a mesma cara sempre que
papai nos desapontava.
Sempre me senti traído pelo meu pai. É por isso que eu teria
aquele olhar de que ela está falando.
Nossos pais estavam apaixonados, mas nunca puderam ficar
juntos.
Perséfone, a esposa de papai, tornou nossas vidas um inferno.
Quando descobriu sobre nós, ameaçou tirar tudo do meu pai se
ele não nos cortasse de sua vida. Já que era o líder do Sindicato,
isso significava perder tudo o que construíra. Perséfone ainda
ameaçou destruir meu avô materno e nossa família. Embora papai
não tivesse nos cortado totalmente, aos meus olhos, se realmente
nos amasse, deveria estar disposto a sacrificar tudo. Deveria nos
proteger de tudo o que ela jogasse em nosso caminho. Nós o
amávamos muito e sua morte foi difícil.
Minha mãe estava dirigindo quando soube da morte dele. O
choque a atingiu com tanta força que bateu o carro. Foi assim que
perdeu o uso das pernas.
— Não quero que a vingança te consuma. Mesmo antes de você
me contar a verdade sobre Robert, sabia o que aquele olhar
significava — acrescenta Olívia. — Eu sabia que Robert devia ter
feito algo terrível com você. Algo terrível para te machucar da
mesma forma que papai fez quando praticamente nos deserdou.
Embora me magoe admitir que permiti que Robert me
machucasse em um nível tão profundo, ela não está errada e a dor
da traição foi semelhante.
— Olívia, quero que ele pague pelo que fez. É simples assim.
Isso é o que quero. Precisa entender algo aqui. Não vou descansar
enquanto ele estiver vivo. Ele tentou nos destruir e, aos meus olhos,
sempre será uma ameaça que preciso eliminar antes que venha
atrás de nós – explico da melhor maneira possível.
Sei que ela entende o que estou tentando dizer, mas isso não vai
ajudá-la a se preocupar menos.
— Prometa que vai ter cuidado — ela implora.
Uma promessa como essa parece o mesmo que dizer que não
vou morrer. Mas, agora, preciso que minha irmã acredite em
qualquer coisa que ajude a tranquilizá-la, mesmo que seja mentira.
— Tudo bem. Prometo ter cuidado. Mas, Liv – eu só a chamo
pelo nome carinhoso que lhe dei quando era pequena porque quero
que veja o quão sério estou falando. — Não pode mais se preocupar
comigo. Tem uma família para pensar agora. Serei cuidadoso, mas
lembre-se que sua família tem que vir em primeiro lugar. Você me
entende?
— Entendo – afirma e acena com a cabeça.
— Ótimo. Agora vá para casa e descanse um pouco.
— Pode deixar.
— Spokoynoy nochi – eu desejo-lhe boa noite em russo.
— Spokoynoy nochi.
Depois de outro abraço, ela vai embora.
Assim que ela passa pela porta, a tensão que eu sentia antes
volta, e a fera interior desperta, lembrando-me de tudo o que tenho
que fazer.
Chapter Treze

Eric

S
entindo-me frustrado, vou até o quarto que montei quando
comecei minha busca. Fica no ponto mais distante do
apartamento e ninguém, além de mim, tem permissão para
entrar. A única vez que tenho que me preocupar com isso é quando
recebo mulheres, mas nunca permito que fiquem mais do que uma
noite.
Obviamente, a mulher que vive atualmente comigo vai ser um
problema, mesmo com a lição que apliquei ontem. Tenho a
sensação de que ela vai fazer de novo. É a natureza de sua
personalidade curiosa e desafiadora.
Independentemente disso, espero que essa merda seja resolvida
antes que ela resolva vagar por aqui para tentar entender o que eu
realmente sou.
Ela teria uma boa ideia se entrasse neste quarto.
Só venho aqui quando tenho algo a acrescentar. Ontem à noite,
vim guardar a gravação do assassinato de Scarlett que baixei dos
arquivos que Dominic enviou.
A sala é tão grande quanto meu escritório, que é enorme. O
tamanho mostra a importância que dei ao propósito deste lugar.
Acendo as luzes e mergulho na escuridão dos símbolos da
minha obsessão com a morte. Eles estão totalmente expostos. Se
alguém desse uma espiada aqui dentro, saberia que tipo de vilão
insano eu sou.
Estas paredes mostram como realmente me sinto por dentro.
Parece a algo saído de um filme de terror psicológico retratando um
serial killer ou algum louco.
Tenho coisas escritas em todas as paredes. Minha mente
analítica precisa de um espaço físico fora de si mesma para pensar
melhor.
A parede principal que se vê ao entrar é o que sei que uma
pessoa normal acharia perturbadora. Essa é a parede que assusta.
Nela, tenho fotos de cada uma das dez pessoas na minha lista
de alvos. Robert é o número um. Depois desta noite, ele é o único
ainda vivo. A última pessoa que resta para eu encontrar. Sob cada
foto, há detalhes sobre a pessoa. São recortes de jornais e outras
fontes impressas.
O material realmente perturbador é o que tenho abaixo disso. É
o plano que tracei de como iria matá-los. Abaixo do plano está uma
foto deles mortos com um grande X cruzado sobre seus rostos.
Colecionei essas fotos para me lembrar que eu os derrotei e que foi
assim que ficaram depois que encontraram seu fim em minhas
mãos. Estou prestes a adicionar a foto de Luke ao mosaico na
parede.
Todos que estão nesta parede ajudaram na conspiração para
destruir minha família. É por isso que Perséfone, a esposa de papai,
também está lá. Enquanto era torturado no Brasil, descobri que ela
fazia parte da trama quando visitou Jude.
Foi porque papai não lutou por nós que ela se tornou uma
facilitadora dessa trama. Ela sempre quis nos destruir. Ajudar Jude a
me raptar, o filho ilegítimo de seu marido, foi um prazer para ela.
O dia em que escrevi seu nome na minha lista parece tão
distante. Ao contrário dos outros, marquei um X vermelho sobre seu
rosto em uma foto de quando era viva. Não tenho a imagem de seu
rosto morto porque não a matei. A morte decidiu me privar de me
vingar dela que morreu de ataque cardíaco semanas depois que fui
resgatado. Ouvi dizer que estava olhando as fotos de um álbum que
pertencia ao meu pai. Eram fotos nossas que ela nunca soube que
existiam.
Disseram-me que foi ela quem ajudou a me localizar no Brasil.
Mas, só fez isso porque queria Jude morto por chantageá-la com a
herança que ela queria para seus filhos. Aquela cadela sabia o que
meu resgate significava para ela. Que eu planejaria minha vingança.
Pessoalmente, acho que foi isso que a matou. Foi a preocupação
com o que faria com ela.
Robert deveria se preocupar, e muito, também.
Sua morte será a pior de todas.
Eu puxo a foto dos restos queimados de Luke do meu bolso. Eu
imprimi do meu telefone quando passei no escritório. Agora, prendo-
a na parede e faço um X sobre o que costumava ser o rosto dele.
Se Summer viesse aqui, teria mais medo de mim do que já tem.
Provavelmente acharia que sou um maldito psicopata. E estaria
certa em pensar assim. Estou começando a acreditar nisso também.
Deveria manter distância dela, mas estar em casa e saber que
ela está no quarto de hóspedes, me xingando, deixa meu pau duro
de novo. Dou risada sozinho como o louco que sou. Summer
Reeves é a única pessoa que ainda não chequei. É evidente que
estou obcecado para caralho com esta missão. Ficou mais evidente
ainda depois do que aconteceu entre nós ontem e, no fim, não
transei com ela. Não que não quisesse. Não a chequei antes, mas
agora posso.
Com esse pensamento, volto ao escritório e faço exatamente
isso.
Faço uma busca geral por ela na internet e encontro imagens
desde os seis anos de idade até a adolescência. Há fotos dela e de
Scarlett em uma revista de TV cobrindo sua estreia no programa do
Family Channel, All my Years. Ela e sua família moravam em Nova
York na época.
As manchetes descrevem as duas como atrizes com um futuro
brilhante porque eram incríveis. Leio detalhes sobre o show onde
elas atuaram por quatro anos. Depois que acabou, Summer foi fazer
peças de teatro. Há artigos sobre sua avó, Susan Matthews, que
tinha ligações com filmes clássicos de Hollywood, e sua mãe, Elena
Matthews, que atuou em vários filmes. A mídia enlouquece quando
sua mãe fica noiva e mais tarde se casa com Ted Nicholson, o
procurador do estado de Nova York.
Sei bem quem é Ted Nicholson. Ele agora é o governador do
estado de Nova York. Toda vez que o vejo na TV tenho a sensação
de que algo está errado com ele. Há algo sinistro nele que me deixa
nervoso, mas não consigo identificar.
Elena Matthews parece uma mulher que ama poder e prestígio.
Então, não me surpreende que escolhesse um homem como Ted.
Ou que ele se casou novamente após a morte dela. Filhos da puta
como ele sempre tentam passar a imagem de família perfeita,
mesmo que tenha apenas uma esposa e nenhum filho.
A família de Summer foi dilacerada após o suicídio de Elena, e
não parece que o querido e velho Ted manteve contato com suas
enteadas. Embora não haja mais nada sobre Summer, Scarlett
parece ter continuado bem em sua carreira. Há inúmeros artigos
sobre ela dominando a cena teatral. Summer, por outro lado,
desapareceu. Talvez tenha sido quando ela foi para Mônaco.
Foi por volta desse período, oito anos atrás, que ela parou de
falar com o pai. A informação mais recente sobre Scarlett é uma
peça chamada Purgatório dos Amantes que estreará no próximo
mês. Esse é um problema que ainda não abordamos. Vou falar com
o pai dela sobre isso depois do funeral. Ainda não contei a Summer,
mas há uma chance de que seja na semana que vem.
Eu meio que esperava observar a situação e ver o que
aconteceria até lá.
Volto à minha busca e continuo encontrando mais imagens de
Scarlett.
Nada sobre Summer, no entanto. Essa é a gêmea que mexeu
comigo.
Como meu pau já está duro para ela, o único lugar em que
consigo pensar em procurar as informações mais recentes sobre ela
é no Club Montage.
Encontro o site deles e, claro, já na página inicial, parece que
você está prestes a mergulhar em algo picante para caralho. Parece
a porra de um site pornô, com a única diferença de que não tem
baixaria. Isso é o que dá ao Club Montage sua vantagem porque
atrai a pessoa para a fantasia.
A página inicial descreve o clube e oferece um link para um
formulário para que possa agendar uma visita. O que me chama a
atenção, porém, é a página onde se pode reservar uma garota. É
preciso ter acesso como membro ativo para visualizar essa parte e
reservar a garota que deseja. Mas, isso não é problema para um
hacker com minhas habilidades. Em poucos segundos, estou no
sistema.
Quando clico no link, todas as garotas — que Cassius batizou de
Bonecas — aparecem em mais de cem fotos. Summer Reeves está
entre as vinte primeiras e está classificada como uma Boneca VIP.
Ela é a número dois. Acho que deve haver algum sistema de
classificação, mas não sei como funciona. Para mim, Summer dá de
dez a zero na garota número um.
Só pela foto do perfil dela, posso ver por que Summer é a
número dois.
A mulher é linda para caralho com aquele corpo gostoso e lábios
perfeitos para chupar pau. Um homem estaria mentindo se dissesse
que não imaginou a boca dela ao redor de seu pau quando a olhou
pela primeira vez. Já que não sou santo, não vou fingir que meu pau
não está endurecendo enquanto olho para a foto dela e me lembro
com perfeita clareza de como seus lábios enfeitaram meu pau.
A expressão sexy em seu rosto é suficiente para evocar uma
fantasia, mas ela está vestida com um negligé vermelho
transparente que não deixa nada para a imaginação. Vejo seus
mamilos rosados e empinados implorando para serem chupados e a
linha plana de seu estômago descendo até sua boceta lisa.
Foda!
Ela parece uma tentação envolta em vermelho. Com seu lindo
cabelo brilhante caindo sobre os ombros e as costas arqueadas, ela
parece estar pronta para realizar todas as fantasias que você já
teve.
Clico no arquivo dela e não consigo parar de pensar com meu
pau quando surgem fotos dela nua. Sabia o que veria quando
clicasse, mas não estava preparado.
Há vinte fotos dela nua em diferentes poses e mostrando
diferentes ângulos. Minha obsessão por seus seios me prende na
primeira foto dela segurando um seio em cada mão e lambendo os
lábios. A próxima que me fisga é a imagem escandalosa dela
deitada na cama com as pernas bem abertas e os dedos abrindo os
lindos lábios rosados de sua boceta.
Jesus Cristo, quando chego ao final da seleção e vejo a lista do
que Summers Reeves está disposta a fazer para tornar suas
fantasias realidade, sinto que meu pau está prestes a explodir. O
site promete que:
Por U$ 1.300 por noite, Summer Reeves (24 anos), com sua
impressionante aparência e interesse em ler e assistir filmes, está
disposta a fazer qualquer coisa para agradá-lo. Isso inclui, mas não
está limitado a: BDSM explícito, sexo a três e sexo grupal, sexo
anal, e qualquer coisa selvagem que você possa imaginar.
Foi por isso que ela se vendeu. U$ 1.300 por noite. Em seus
olhos, no entanto, vejo muito mais. A mulher que vejo apenas
colocou um preço em seu corpo porque isso a ajudaria de alguma
forma a sobreviver.
Sua beleza é inconfundível, mas há algo nela que atrai. Estava
tentando identificar isso antes. Acho que sei o que é agora.
O mais atraente e desejável nela não é que ela esteja pronta
para realizar suas fantasias. A parte mais atraente dela é o que ela
não mostra. A parte que talvez nem mesmo ela saiba que existe:
seu espírito.
Essa é a única parte dela que não está quebrada. Mas, acho que
ela não sabe disso.
Essa é a coisa sexy para caralho sobre ela e o que me atrai.
Minhas sobrancelhas franzem e minha temperatura sobe quando
rolo a tela para o final da página e vejo o aviso informando que ela
não está disponível para reserva e pede para enviar um e-mail a
Jake Wainwright para mais detalhes.
Esse filho da puta de merda.
Sempre tem algo que me faz lembrar dele.
Curiosamente, volto a acessar os arquivos pessoais dele
buscando por Summer Reeves. Encontro uma pasta com mais de
mil imagens e vinte gravações.
O ciúme amplia minha raiva quando percebo que ele tirou fotos
dela e a gravou. Para piorar, vejo fotos deles juntos, nus. As
gravações são todas assim.
Ela foi mesmo dele.
Já que não posso deixar de ser o filho da puta possessivo que
sou, não posso ser responsabilizado pelo que faço a seguir.
Apago todas as imagens deles e baixo todas as fotos dela no
site e movo os arquivos para minhas pastas pessoais. Em seguida,
entro na codificação de segundo plano do site do Club Montage e
apago as fotos dela.
Pronto! Agora só eu tenho as fotos. Elas são minhas e, já que
ela não vai voltar para lá, ninguém mais pode olhar para ela e vê-la
desse jeito. Só eu.
Robert não pode mais olhar para ela. Ele é um filho da puta
doente. Mesmo que pense que a matou, ele é do tipo que se
masturbaria com essas imagens.
Desligo o computador percebendo que essa estória me afetou
mais do que eu gostaria.
Quando entro no meu quarto, vou direto para o banheiro. Dentro
das paredes de granito do meu chuveiro, seguro meu pau e
reconheço que essa mulher mais do que despertou meu interesse.
Bombeio com força ao longo da minha ereção e imagino a foda
forte que quero lhe dar. Quero possuir sua boceta. De repente,
percebo que a razão pela qual Summer Reeves vai ser um enorme
problema para mim é que eu a quero.
Muito mais do que deveria ou esperava querer.
Chapter Catorze

Summer

E
ric quer que eu vá jantar com ele. Como se fosse uma
convidada de verdade nessa casa. Já seria ridículo, mesmo se
não estivesse uma pilha de nervos e se minha bunda não
doesse tanto. Mas, mal posso me sentar.
Meu plano era evitá-lo a todo custo, não jantar com ele.
E o plano estava indo bem até que Lyssa me informou, uma hora
atrás, que Eric estava voltando para casa e queria jantar comigo.
Já estou ansiosa demais com a ideia de ver meu pai no domingo
e ir ao funeral na próxima semana. Não preciso dele adicionando
lenha na fogueira.
Fiquei no quarto quase o dia inteiro, ainda sentindo a essência
dele em mim, apesar de ter tomado banho duas vezes ontem à
noite. Contudo, não achei nojento. O que, por si só, já é alarmante
para caralho. Tentei me limpar porque o sêmen dele em mim parecia
uma marca de propriedade. E o cheiro de sexo, junto com a porra
do gosto dele, estava fodendo com minha cabeça.
Depois da noite passada, sei que posso mentir para mim mesma
o quanto quiser e acreditar que ele é como qualquer outro homem
que me usou e me fodeu. Mas, a verdade é que, mesmo que esteja
me usando e me fodendo, há algo sobre ele que me atrai. Na
verdade, é mais do que atração e isso não é bom. Não é nem que
seja a hora errada; não é bom. Ponto final.
Ele também não é um bom homem e odeio a maneira como fala
comigo.
Também não vou mentir e dizer que não fiquei magoada com a
forma como ele me expulsou de seu quarto. Ele me tratou como
uma puta, ou melhor, como os clientes tratam quem trabalha no
Club Montage.
As garotas podem receber uma tonelada de dinheiro por noite,
mas o que eu chamo de tonelada de merda é menos do que alguns
trocados para homens que ganham milhões e bilhões.
Eu também não pude deixar de me sentir ainda pior quando vi
outra mulher aqui ontem à noite. Mais uma vez, muito bonita, assim
como a última. E loira, como a outra também. Deve ser o tipo dele.
Eu a vi quando entrei na cozinha para pegar café. Eu tinha
planejado ficar no quarto, mas precisava de algo quente.
Há uma leve batida na porta. Eu sei que é Lyssa antes que ela
abra a porta e entre. Eric nunca bate.
— Ele está em casa e o jantar está pronto — ela anuncia com
aquele sorriso brilhante com o qual me cumprimentou o dia todo.
Ela também parece orgulhosa de si mesma, provavelmente por
causa do que disse que estava fazendo para o jantar. É um assado.
Mais cedo, ela estava me contando sobre o que estava fazendo e
parecia delicioso.
— Estarei lá em um minuto.
— Como você está se sentindo?
Fico grata por ela me perguntar como estou me sentindo, em vez
de perguntar se estou bem. Quem olha para mim pode ver que não
estou bem.
— Eu não estou tão mal – respondo.
Isso é uma meia-verdade.
Ao notar sua preocupação, uma ideia me ocorre porque ela fala
russo. Quero estar armada quando enfrentar Eric e, como não sei o
que diabos ele me disse ontem à noite, seria bom ter alguma ideia
caso ele fale de novo. Especialmente porque parecia ameaçador.
— Lyssa, posso te fazer algumas perguntas? É sobre algumas
palavras russas que ouvi.
— Claro?
— O que moya Kukla quer dizer?
É uma das frases que me lembro. Eric disse isso tão rápido,
embora eu possa estar errada.
— Isso é como minha boneca – ela informa e sorri, o que é um
bom sinal.
Cristo. Isso se encaixa. Ele tem me chamado assim desde que
cheguei aqui. Talvez o mais importante seja o que disse antes e que
não entendi.
— E tvoyu kisku? — indago.
Acho que foi isso que ouvi, e agora que disse, gostaria de não
ter falado nada. O rosto de Lyssa fica vermelho feito um tomate. De
repente, sinto como se tivesse aprendido um palavrão em outro
idioma no primário e tentasse fazer alguém repetir.
Ela engole seco e aperta os lábios.
— Quem disse isso para você? Não foi um dos guardas, foi?
— Não, foi Eric.
— Ah, certo – ela suspira com compreensão. — Acho que será
melhor você perguntar a ele o significado, querida.
— Tudo bem.
— Te vejo em um minuto.
Ela foge rápido e agora me sinto uma tonta. Deveria saber que
qualquer coisa que esse homem dissesse para mim seria obsceno
ou rude. Que idiota!
Eu me levanto e passo minha mão sobre a camiseta e shorts
que estou vestindo. São minhas roupas de Mônaco. Não estava
com vontade de usar nada que ele me deu. Isso é outra coisa que
quero discutir. Não quero que me compre coisas. Quando as
pessoas fazem isso, acham que são donas de você ou têm direitos
sobre você.
Saio do quarto, decidindo aproveitar a oportunidade para fazer
as perguntas importantes. Coisas que me farão continuar.
Entro na sala de jantar e o encontro de pé na cabeceira da longa
mesa de mogno. Ele está falando com Lyssa em russo, então não
sei o que estão dizendo.
Claro, enquanto pareço uma camponesa, ele está vestido como
se estivesse pronto para jantar em um restaurante sofisticado.
Quando entro na sala, ele me dá uma olhada rápida, e minha
ansiedade aumenta sob o peso de seu olhar lascivo.
Instantaneamente, meu estômago torce com a memória dele me
comendo e eu dizendo que queria que ele fizesse isso. Minha
maldita mente estava tão longe que não estava pensando direito.
Depois, praticamente, chupei seu pau.
Deus, queria tanto que as paredes me engolissem inteira. Assim,
não estaria aqui na frente dele, me sentindo como um pássaro que
acaba de voar para dentro da cova do leão.
Endureço minha espinha, tento conter meus pensamentos e
continuo seguindo em frente. Não vou permitir que ele me atinja
hoje. Não permitirei nenhuma repetição do que aconteceu ontem e
vou superar tudo isso.
Lyssa olha para mim e, embora seu rosto ainda esteja corado,
ela tem aquela expressão de orgulho que vi mais cedo. Deve ficar
orgulhosa mesmo porque a refeição que preparou parece fantástica.
Há um frango assado guarnecido com legumes e um pedaço de
rosbife. Mais legumes e outros acompanhamentos cobrem a mesa.
Isso me lembra os jantares de Natal de muito tempo atrás, quando a
vovó estava viva.
— Isso parece ótimo – digo primeiro, acenando para Lyssa.
— Estou feliz que pense assim. Espero que goste.
— Espero que ela coma — afirma Eric, erguendo as
sobrancelhas para mim.
Pelo comentário dele, está ciente de que não tenho comido
muito.
Ele se vira para Lyssa e diz algo para ela em russo. Ela volta
para a cozinha.
— Sente-se — ele me diz, — aqui — apontando para o assento
ao lado dele.
Esperava me sentar do outro lado da mesa. Está tudo bem, no
entanto. Só tenho que manter a calma. Ele está só querendo provar
seu domínio sobre mim.
Eu sento e tento não demonstrar que minha bunda dói para
caralho.
Ele também se senta e me encara.
— Como está essa sua bunda gostosa?
Lanço um olhar duro na direção dele. Não sei como pode me
perguntar isso e de forma tão casual. Como se me bater fosse
normal ou o que fizemos depois.
— Está bem, obrigada — respondo o mais cordialmente que
consigo.
— Boa menina. Que pena, parece que você aprendeu a lição.
— Claramente, você gosta de causar dor aos outros.
— Gosto mesmo – ele acena a cabeça com um sorriso. —
Agora, coma. Não vou permitir que você morra enquanto estiver
comigo.
— Eu não estou morrendo. Estou aqui, não estou?
— Você está aqui.
Para minha surpresa, ele pega o prato à minha frente e me serve
primeiro, colocando porções generosas de quase tudo. Eu deveria
dizer a ele que sou capaz de servir a mim mesma, mas penso
melhor e seguro minha língua.
Quando ele coloca o prato diante de mim, acena com a cabeça e
se serve.
— Obrigada – murmuro e dou uma garfada na comida, e meu
Deus está incrível mesmo.
Depois de mais algumas garfadas, percebo que ele me observa
enquanto come.
Lyssa retorna com uma garrafa de vinho cara e um par de taças.
— Bom apetite — diz ela.
— Obrigado, Lyssa. Você pode ir agora – Eric responde. — Eu
vou administrar daqui em diante.
— Tudo bem. Vejo vocês dois amanhã.
— Boa noite.
— Tchau — digo a ela, desejando que ficasse um pouco mais
para amortecer a tensão, mas ela abaixa a cabeça e sai. Momentos
depois, o clique da porta da frente sinaliza sua partida e anuncia o
fato de que estou sozinha com Eric.
Olho para ele e me preparo para fazer as perguntas que tenho.
— Você não costuma jantar comigo — afirmo.
— Esta noite é diferente.
— Você quer ter certeza de que estou comendo?
Ele deixa o garfo balançar entre o polegar e o indicador
enquanto me observa.
Quando ele se inclina para mais perto, já sei que vai me dar uma
resposta grosseira, então me preparo para isso.
— Perdeu peso desde que chegou. Não perca mais. Quero ter
certeza de que tenho algo em que me segurar quando te foder com
força, do jeito que gosto.
Tudo o que faço é olhar para ele, meu rosto vazio de emoção,
igual ao dele.
Quase sinto vontade de não comer só para irritá-lo, mas provar a
comida deliciosa me fez perceber o quanto estou com fome.
— Tenho certeza de que sua namorada não gostaria que falasse
assim comigo. Menos ainda se soubesse o que você fez ontem. Por
outro lado, trair deve ser natural para você.
Ele ri e me dá um sorriso largo.
— De qual namorada estamos falando?
— Pode escolher. Há a mulher que estava aqui ontem à noite e a
outra que trouxe as roupas para mim. Coisa que, aliás, estou te
devendo.
Ele espeta uma fatia de frango em seu prato, come, e mastiga
bem antes de engolir e se preparar para me responder.
— Em primeiro lugar, você e eu não falamos sobre dinheiro.
Nunca. Se te der algo, você veste ou come, e não fala sobre pagar.
Em segundo lugar, a mulher que te trouxe as roupas é uma de
minhas assistentes. Mandei-a à loja porque vocês duas são mais ou
menos do mesmo tamanho. Por último, mas não menos importante,
a mulher que viu ontem à noite é minha irmã caçula.
Eu gemo por dentro. Deveria pedir desculpas pelo meu erro
embaraçoso. Mas, não quero dar a ele o prazer de me ver aceitar
que estou errada.
— Ela não se parecia com você – é tudo o que digo, e ele ri.
— Boneca, da próxima vez que quiser saber se tenho namorada,
basta perguntar. Além disso, não costumo trair ninguém porque
homens como eu não têm namoradas. Desculpe por desapontá-la.
— Eu não me importo, então não estou desapontada.
Com isso, ignoro o lampejo de malícia em seus olhos e pulo para
as questões mais importantes em minha mente.
— Tem alguma notícia de Robert? – pergunto, mudando de
assunto.
— Não do tipo que eu esperava.
— O que descobriu?
Há algo em seus olhos que não consigo identificar, nem imaginar
o que poderia ser.
— Não há mais nada para você se preocupar — responde, no
final.
Não há mais nada? O que diabos isso significa?
— Estou curiosa para saber o que mais poderia me preocupar.
Aquele homem matou minha irmã.
— Não tem nada a ver com isso. O que descobri aconteceu
muito antes da morte de sua irmã e, como disse, não há motivo para
preocupação.
Ele abaixa o garfo enquanto continuo a comer. Eu tinha mais
perguntas, mas todas estavam ligadas à possibilidade de Eric ter
alguma novidade sobre Robert. Como ele não tem, não sei o que
mais perguntar. Não posso falar sobre o funeral com ele. Ainda não.
E agora que penso nisso, não tenho certeza se quero tocar nesse
assunto esta noite.
Quando ele apoia os cotovelos na mesa e continua a olhar para
mim, olho de volta para ele.
— O que foi? — pergunto, sentindo-me consciente dele
novamente.
— O que te levou ao Club Montage? — pergunta, fixando seu
olhar no meu.
A pergunta me pega de surpresa. Honestamente, porém, é o tipo
de pergunta que deveria ter esperado. Ele só não perguntaria se
não soubesse o que é o clube.
— Por quê?
— Curiosidade.
— Um trabalho é um trabalho.
— Mas, isso não era apenas um trabalho, era?
— Meus motivos para trabalhar lá não são da sua conta –
retruco.
Não quero falar sobre isso. Tudo o que disser vai me deixar
ainda pior aos olhos dele. O que me levou ao Club Montage foi a
mesma coisa que matou Scarlett.
— Você era a namorada de Robert?
Todos os vestígios daquela alegria jovial que ele exibia antes
sumiram. Ele mantém o olhar fixo em mim. No fundo de seus olhos,
a emoção que não consegui identificar antes torna-se cristalina: uma
combinação mortal de ciúme e desgosto.
O choque do que estou vendo me deixa sem palavras. Mas,
mesmo que não estivesse chocada, não sei como responder a essa
pergunta. Tecnicamente, pertencia ao Robert sempre que ele exigia.
— Por que isso é relevante para alguma coisa? — pergunto em
voz baixa.
— Era seu dono? — Ele ignora minha pergunta e seu tom soa
mais exigente.
Perco o apetite de vez e meu estômago se aperta.
— Por que está me perguntando isso?
Este cara não faz perguntas para as quais já não saiba as
respostas. Então, sabe que eu pertencia. O que quero saber é
porque quer me ouvir dizer isso.
Saber se pertencia a um monstro não muda nada. Só faz é
piorar.
— As fotos do seu arquivo meio que já me disseram.
Fotos? Que porra é esse agora?
— Que fotos? – indago.
Será que está falando das fotos do site do clube? Pelo jeito que
está olhando para mim, não adianta eu rezar para que não tenha
visto. Se procurou na internet por informações sobre mim, então viu.
Robert tirou as fotos.
Eric disse arquivo de fotos. Não deveria haver nenhum arquivo.
— As fotos de você e dele. Havia vídeos também – ele informa,
afinal.
Arregalo meus olhos. Não sabia de nada disso e entendo,
horrorizada, o que aquele filho da puta fez. Não há câmeras no Club
Montage, mas deve ter achado uma maneira de tirar fotos e gravar
nós dois juntos.
Eric está olhando para mim como se eu fosse uma prostituta e
sinto que vou vomitar.
Eu não sou.
Sabe-se lá o que ele deve ter visto. As malditas imagens no site
já eram ruins o suficiente. Não há como eu adivinhar o que Robert
gravou.
— Não sou uma prostituta — murmuro, como se isso importasse.
— Talvez não. Mas, certamente, era propriedade do diabo.
Também não parecia que você se importava em ser.
A raiva me consome com o veneno de suas palavras.
Lembrando tudo o que me levou ao Club Montage, e porque
cheguei ao fundo do poço ao ponto de vender minha alma, mal
tenho tempo de processar que estou com raiva antes de reagir. Ergo
o braço e dou um tapa nele, acertando-o com tanta força que racho
seu lábio.
Assim que meus dedos se conectam com a sua barba, o peso do
erro que acabei de cometer cai sobre mim como um bloco de
concreto.
Eu me levanto rapidamente e estudo sua reação.
Quando ele pega um guardanapo, calmamente, enxuga o canto
da boca e olha para o sangue vermelho manchando o pano, sei que
está furioso.
Essa foi a segunda coisa sobre a qual ele me alertou. Quando
ele se levanta e de alguma forma parece mais alto do que antes, e
seu rosto está vazio até mesmo da raiva que sei que ele deve sentir,
a única coisa que posso fazer é me afastar dele.
Chapter Quinze

Summer

nde pensa que vai? – ele rosna e dou vários passos para
— O trás. – Sabe o que vem a seguir, não sabe?
— S–sinto muito — gaguejo.
— Te avisei. Eu disse o que aconteceria se me batesse de novo.
— Não tem ideia do que aquele homem me fez passar.
— É por isso que estamos aqui. Você e eu. Agora, incline-se –
ele enxuga mais sangue e olha para a mancha sobre seus dedos.
— Por favor...
— Cinco.
— Mas...
— Dez.
— Eric – murmuro, e minha respiração falha quando ele tira o
cinto e o enrola ao redor do pulso.
Quando vejo isso, a adrenalina agita meu sangue e eu corro.
Não me importo para onde vou ou o que acontece comigo. Apenas
corro e espero encontrar uma porta aberta em algum lugar.
Claro que não vou longe. Por mais rápida que eu seja, ele é
mais. Chego ao corredor e, tudo o que ele faz é dar um passo, e me
pega. De novo, ele me agarra como o predador que é.
Eu grito quando ele agarra meu braço, e não consigo imaginar
como o cinto vai se sentir na minha pele. E dez vezes ainda por
cima.
Ele me leva de volta para a cadeira e me joga sobre seus joelhos
como se eu fosse uma boneca de pano. Ignorando meus chutes e
gritos, puxa meu shorts para baixo e recuo antes mesmo que ele
toque minha pele.
— Eric!
— Não sabe com quem está se metendo, Summer. Mas, vai
descobrir.
Um. Dois. Três.
Não é o couro do cinto que atinge minha bunda. É a pele
calejada de sua mão. No entanto, a dor é tão intensa na minha pele
ainda em carne viva, que ele poderia estar me acertando com um
tijolo. A agonia de ontem volta cem vezes maior, e lágrimas caem de
meus olhos.
— Por favor, pare. Está me machucando. Faça outra coisa.
Qualquer coisa menos isso.
Não espero que pare só por causa do meu apelo. Quando ele o
faz, minha respiração fica presa porque sei que não acabou.
— Qualquer coisa menos isso, boneca? Cuidado com o que
pede. Poderia conceder-lhe esse pedido. Tem certeza de que é isso
que quer? — Ele me bate com tanta força que me sinto tonta. —
Porque poderia continuar assim. Adoro a cor da minha marca na
sua bunda.
— Não continue. Farei qualquer coisa se parar.
Ele passa os dedos pela minha bunda dolorida. É gentil, mas
ainda dói. Não quero que me bata. Mesmo que esteja excitada, a
dor traz à tona outras lembranças que não quero. São todas
lembranças de Ted.
— Defina o que quer, boneca. Diga-me que quer que eu escolha
um método diferente de punição – ele fala com ar ameaçador. —
Dizer a um homem como eu que está disposta a fazer qualquer
coisa nunca é bom para você. Abre a porta para minha mente suja,
escura e perigosa. Depois, não pode dizer que não te avisei.
— Quero que você escolha — sussurro.
— Tenho o seu total consentimento para escolher qualquer
coisa?
Minha respiração congela meus pulmões quando penso sobre
minha falta de opções. Ou permito que ele me bata e me empurre
de volta para o limite do qual passei anos tentando esquecer, ou
concordo com o que quer que seja.
E se fizer pior comigo? Não o conheço e, como ele mesmo
disse, tem uma mente suja, sombria e perigosa. Talvez me amarre
de novo. Homens como ele adoram enfraquecer os outros, gostam
do poder. Se divertem com o controle que o poder lhes dá.
— Responda-me – exige, tirando-me do meu devaneio.
— Sim — respondo, isolando quaisquer outros pensamentos, e
assim que a palavra sai de meus lábios, uma risada sombria ressoa
em seu peito.
Eu suspiro quando ele levanta nós dois, deixando cair o cinto
com um ruído no chão e se move comigo para a parede.
Ele se inclina para mim e choque bate em meu corpo quando ele
abaixa até meus lábios e captura minha boca com a dele. Eu sinto o
gosto metálico do sangue em seus lábios. Sua língua desliza sobre
a minha e gemo alto. De repente, ele morde meu lábio inferior e
provo mais sangue e sei que é meu.
Ele chupa meu lábio com força. Quando se afasta, meu sangue
mancha sua boca e ele me lembra um vampiro. Não sei se poderia
chamar isso de beijo. Parecia outra coisa. Algo primitivo e carnal, e
isso está me deixando nervosa.
— Gostoso – ele murmura como se pudesse ouvir os
pensamentos colidindo em minha mente.
Respiro fundo quando ele pressiona seus lábios nos meus
novamente, me beijando de verdade desta vez. É tudo que imaginei
que seu beijo seria.
Poderoso, inebriante e devastador. Tão avassalador que penetra
em minha alma e desperta algo dentro de mim que nunca pensei
que existisse.
Para minha surpresa, parece que nos beijamos a vida toda. Mas,
não deveria ser assim.
Minha mente está tão confusa que, quando ele se afasta, meus
joelhos dobram e tenho que me segurar na parede. Não consigo
sentir meu cérebro ou qualquer coisa além das sensações que
tomam conta de minha mente e corpo.
Eric descansa suas mãos em cada lado de mim e paira diante do
meu rosto, a poucos centímetros de distância.
— Quero você.
— O que? — pisco várias vezes para aliviar a confusão mental.
Ele me quer?
— Summer Reeves, esta será sua punição: enquanto estiver sob
meus cuidados, sou dono de sua linda boceta. Enquanto estiver
aqui, vou te foder sempre que quiser.
Filho da puta. Isso não é nada que deveria me surpreender. Ele
tem se aproximado meticulosamente desse momento desde que
cheguei aqui. Na verdade, antes da primeira bala sair da minha
arma.
E caí na armadilha dele de várias maneiras. Odeio ser forçada a
fazer qualquer coisa. Mas, o que isso diz sobre mim se a imagem
dele me fodendo contra esta parede me deixa com água na boca?
Nada de bom.
O que isso diz sobre mim se eu admitir que a ideia de estar com
ele me atrai?
Nada de bom.
Mas, sempre soube que estava destinada a ser fodida por ele.
Estou tão furiosa comigo mesma.
— Seu idiota! Isso é o que você queria o tempo todo.
— Claro que sim. Eu disse isso, então por que diabos está
surpresa?
— Seu monstro.
Ele agarra meu rosto novamente e ergue uma sobrancelha. O
sorriso que dança em seus lábios é a própria descrição de sujo,
escuro e perigoso.
— Cuidado com essa sua boca, boneca. Eu poderia espancar
sua bunda e te foder ao mesmo tempo. Ou talvez seja isso que você
quer.
— Não, eu não quero — respondo rigidamente.
— Então, tire a roupa, ou vou te colocar de volta no meu joelho.
Meu Deus!
Fui eu que acabei de dizer que não sou uma prostituta, mas olhe
para mim.
— Anda — ele insiste e levanto a bainha da minha camiseta e a
puxo sobre a minha cabeça.
Enquanto tiro a roupa, tudo o que sinto é a prova da minha
excitação deslizando pela pele das minhas coxas.
Cristo, estou molhada. Molhada para ele, e ele vai saber disso
em alguns segundos.
A crua satisfação em seu rosto com minha submissão aumenta
minha excitação, e meu corpo traidor sussurra nada além de
vontade e desejo em minha mente.
Em seguida, tiro o shorts, depois a calcinha e deixo o sutiã por
último.
O ar fresco acaricia minha pele, fazendo meus nervos
formigarem, mas é o calor em seu olhar que aperta meus mamilos e
me queima de dentro para fora.
Estou tão acostumada com homens olhando para mim como se
eu não fosse nada. Como se fosse apenas mais um rosto bonito ou
outro buraco quente para foder.
Mas, esse cara…
Ele não me olha assim. Não tenho certeza de como descrever
como ele olha para mim porque nunca vi olhar como o dele.
O mais próximo que consigo chegar de uma descrição é chamar
isso de admiração. Esse olhar está lá por um momento e depois
desaparece, substituído pelo domínio sombrio que ele mantinha
antes.
— Está limpa? — pergunta, me tirando do devaneio. Levo um
segundo para entender o que está me perguntando.
— Sim – gaguejo.
— Eu também. Agora, seja uma boa menina e me deixe foder
você.
Um brilho feroz surge em seus olhos quando me solta e empurra
as calças pelos quadris para tirar seu pau. Ele já está ereto e pronto
para me foder.
Como um animal, ele me vira de frente para a parede.
Em poucos segundos, seus dedos agarram meus quadris. Então,
sinto a cabeça de seu pênis empurrando contra minhas dobras. Ele
penetra minha boceta de uma só vez, roubando-me o ar e quaisquer
pensamentos que pudesse ter.
Ele não me dá tempo para me ajustar ao seu tamanho e
espessura antes de começar a me foder com força. Duro, do jeito
que ele disse que gosta de foder.
Tudo o que posso fazer para não cair é me segurar na parede
enquanto meus seios saltam no espaço entre o concreto frio e
minha pele.
Tolamente, tento lutar contra o ataque de prazer. Luto porque, se
me permitir sentir qualquer coisa, significará que quero mesmo isso.
E não posso chamar isso simplesmente de sexo. Eu luto. Por Deus,
eu tento lutar.
Mas, acho que ele percebe por que passa a me foder ainda mais
forte.
O gemido que sai dos meus lábios soa agonizado e tenso,
evidência da minha batalha interna. Assim que escapa, o prazer
crescente explode, e eu o sinto em todos os lugares. Ele corre sobre
minha pele como um incêndio, me queimando em todos os lugares
que toca de uma forma que sei que nunca esquecerei. Eu o queria.
E eu ainda o quero.
É quando eu gozo, com tanta força que grito.
Quando penso que ele também pode estar chegando ao clímax,
percebo que estou errada.
Eric me surpreende ainda mais saindo de mim e me virando para
encará-lo.
Ele levanta minha perna e mergulha de volta dentro de mim, me
fazendo ofegar.
Seu olhar me penetra, puxando-me para dentro e desvio o olhar
porque não quero que veja que quebrou minhas paredes e
encontrou uma maneira de entrar.
Como sempre, quando desvio o olhar, ele segura meu rosto e
me guia de volta para ele.
— Olhos em mim – ordena e acelera seus movimentos. — Eu
quero que você me observe enquanto eu te fodo.
— Por quê? — consigo perguntar.
Não sei por que diabos isso importaria. Ele está tirando o que
quer de mim e estou permitindo.
— Porque esta noite teper 'ty moya, Kukla.
Essas palavras novamente. Pelo menos desta vez, tenho alguma
ideia do que está dizendo, e não soa como uma ameaça. Talvez a
outra coisa que ele disse foi a ameaça. Talvez eu nunca saiba.
— O que está dizendo? — consigo murmurar quando ele
começa a me foder mais rápido.
— Eu disse, você é minha esta noite, boneca.
Estremeço porque não pertenço a ninguém. Nem a ele nem a
ninguém, nem mesmo por uma noite.
— Eu não sou sua — retruco.
— Meu pau possuindo sua boceta diz o contrário – responde e
me dá um sorriso perverso. – Você é minha, quer queira ou não, e
não pertence mais a ele.
Nossos olhos se encontram e um momento de compreensão
passa entre nós. Não preciso esclarecer a quem ele se refere. Sei
que está falando de Robert.
Aquela centelha de ciúme de antes pisca em seus olhos, mas se
vai antes que possa se estabelecer. O que toma seu lugar é o olhar
do vilão que acabou de conseguir garantir sua conquista. A
conquista sendo eu.
Algo estranho toma conta de mim quando suas palavras
penetram minha mente. De certa forma, essas palavras parecem me
libertar.
Grilhões invisíveis estão em volta do meu pescoço desde o dia
em que entrei no Club Montage e Robert me reivindicou. Eric os
quebrou, liberando aquela parte de mim que não sabia como
escapar.
— Está me escutando? — ele indaga. Eu não apenas o ouço;
minha alma está ouvindo. — Você não é mais dele; você é minha.
Diga que sim.
— Sim — confirmo com um gemido.
Quando ele se abaixa para me beijar novamente, ele sorri
enquanto eu me movo para ele também. Em seguida, ele me prende
contra a parede, devastando minha boca enquanto ele me penetra.
Eu gozo de novo e ele também.
Compartilhamos o orgasmo mútuo como amantes apaixonados e
não como se apenas fodêssemos como animais.
Eu mal recupero o fôlego quando ele sai de mim.
Acredito que ele irá embora e me deixará ou me mandará para o
meu quarto. Afinal, já conseguiu o que queria. Conseguiu sua foda
dura. O que mais vai querer de mim?
Eu me movo para pegar minhas roupas, mas ele me impede.
— Não tão rápido, boneca. Ainda não terminei com você.
Eu procuro seus olhos, surpresa.
— Você não acabou?
— Muito longe disso. Você vai dormir na minha cama esta noite.
Chapter Dezesseis

Eric

N
ão sei por que disse a ela que dormiria na minha cama.
Não dormimos a noite toda e agora já é de manhã.
Eu a carreguei para o meu quarto, onde a possuí
novamente, enterrando meu pau cada vez mais fundo dentro dela.
Depois disso, minhas fantasias selvagens assumiram o controle e,
de repente, não conseguia pensar em nada melhor do que estar
com essa mulher.
Era como se tivesse enlouquecido e não tivesse nenhuma
preocupação no mundo. O fato de que ela seguiu cada um dos
meus comandos como um bom animal de estimação não ajudou em
nada.
E tirei vantagem da situação, viu? Consegui fazer tudo que
minha mente suja, sombria e perigosa conjurou. E ela foi
exatamente minha fantasia suja, sombria e perigosa.
Passamos da cama para a jacuzzi no quintal, onde eu a fiz
montar meu pau como se fosse uma vaqueira sexy. Depois, eu a
comi sobre a mesa da cozinha. Quando acabamos, a fodi contra as
janelas de vidro que vão do chão ao teto na sala de estar. Depois
disso, voltamos para a porra da jacuzzi. Só quando começou a
chover é que fomos para o quarto onde ficamos até agora.
Uma hora atrás, Borya mandou mensagem me informando que
encontrou algo nas suas pesquisas. Se estivesse em meu estado
normal, eu já teria ligado para ele e saído, pronto para caçar com
ele.
Mas, ainda estou aqui. Com ela. Estou saboreando cada minuto
que a reivindico e admito que toda vez que a tenho, parece que
apago tudo o que ela teve com Robert.
É como se estivesse apagando o toque dele do corpo dela
porque não quero mais que ela pertença a ele.
Agora, ela está ajoelhada à minha frente chupando meu pau
como se quisesse me possuir. Eu não quero quebrar esse feitiço
que caiu sobre nós.
Observo sua cabeça balançar para cima e para baixo enquanto
ela me chupa e penetro sua garganta cada vez mais fundo. Quando
ela fecha os dedos ao redor da minha base e bombeia com mais
força, minhas bolas apertam.
Entrelaço meus dedos nos fios sedosos de seu cabelo e agarro
um punhado apertado.
— Mais forte – ordeno, e como a boa menina que é, Summer faz
exatamente o que mando.
Puta merda! Ela é linda e a fantasia de todo homem reunida em
um lindo pacote.
Juro por Deus que não parei de ficar duro por ela, e não parei de
desejar o gosto dela, nem a necessidade de estar dentro dela.
Ela relaxa a garganta e vou mais fundo, bombeando meu pau
para dentro e fora de sua boca quente e molhada, fodendo cada vez
mais rápido. Minhas bolas se contraem quando deslizo
profundamente até o ponto onde ela quase se engasga. Ainda
assim, ela me aceita. E gosto demais disso, da sua submissão.
Eu acelero, batendo com tanta força em sua boca que lágrimas
escorrem por suas bochechas, mas ainda assim ela me aceita sem
protestar.
Solto um gemido rouco e longo e, quando meu pau endurece
mais, sei que não vou durar. Mas, não vou me privar do prazer de
terminar dentro dela.
O desejo me faz sair de sua boca. Ela olha para mim com
aqueles olhos sensuais e aqueles lábios macios.
— Quero ejacular dentro de você — digo. — Fique de quatro.
Não sei se ela está apenas fazendo o que mandei ou agindo
como eu, já que me permiti cair vítima da tentação.
Enquanto me movo para trás dela, e me posiciono para fodê-la,
ela empina sua bunda gostosa e sei exatamente como quero
terminar.
Eu olho para o espelho diante de mim e olho para nós. Escolhi
esta posição de propósito porque queria mesmo assistir.
O que posso dizer? Sou um voyeur; gosto de ver pessoas
fazendo sexo e gosto de ver minha mulher enquanto a fodo e
possuo seu corpo.
Sua boceta está pingando, tão faminta quanto meu pau.
Enquanto a penetro com golpes sucessivos, adoro a visão dos
seus seios saltando no ritmo dos meus movimentos dentro dela. Os
gemidos que saem de sua garganta soam como música para mim,
como notas mágicas de puro prazer feminino. Conheço cada uma
delas porque sou eu quem a possui.
Ela goza como eu queria que gozasse e luto para não fazer o
mesmo ainda.
Saio dela com meu pau doendo a ponto de explodir e ela olha
para mim por cima do ombro, confusa.
Quando me observa pegar o tubo de lubrificante, dentro da
gaveta do criado-mudo, tenho certeza de que entende qual parte do
corpo dela quero possuir agora.
Seus olhos sobem do tubo em minhas mãos para os meus olhos
quando a encaro.
Abro a tampa e suas costas ficam rígidas de tensão e medo. Sei
que não vai ser a primeira vez que ela faz isso, mas quando
terminar, não quero que se lembre de estar com mais ninguém além
de mim.
Só eu.
Eu olho por cima de sua bunda, que ainda está vermelha das
palmadas que dei ontem. Por mais que eu ame essa cor contra sua
pele beijada pelo sol, esse chamado castigo alternativo está muito
melhor.
Acaricio sua boceta molhada para reunir seus sucos e espalhá-
los sobre a roseta apertada do seu cu.
Caralho! Ela é tão apertada, mas tão receptiva, apesar de seu
instinto natural de lutar contra o prazer.
Posso ver o rosto dela no espelho. Sua expressão me diz tudo
que preciso saber. Seu rosto me diz que ela gosta do que estou
fazendo e gosta que eu a toque.
— Não acha que é hora de parar de lutar contra o que sente? —
indago, quebrando o silêncio que se estabelecera entre nós.
Quando seu rosto endurece, pego uma boa quantidade de
lubrificante e adiciono à mancha de sucos com a qual a cobri
anteriormente.
— Não estou lutando — ela mente, à beira de um gemido
desesperado que não consegue controlar.
— Diga a si mesma o que quiser.
Posiciono-me novamente atrás dela e enfio meu pau em seu
rabo, deslizando devagar. Mas, sei que ainda a estou machucando.
É prazer e dor para nós dois porque ela é apertada para cacete.
— Eric…— ela murmura meu nome e a expressão de dor em
seu reflexo no espelho é linda. Não tem preço e gostaria de poder
capturar.
— Está tudo bem, querida, seja uma boa menina para mim.
Prometo que vai se sentir bem em um segundo.
Sinto o instante em que ela relaxa para mim porque sua
passagem se alarga para me aceitar e eu deslizo mais fundo.
Esse também é o momento em que perco o controle e passo a
foder a bunda dela com golpes rápidos e fortes. Meu corpo assume
o controle e me entrego ao prazer que pulsa através de mim, assim
como ao pensamento de possuir mais uma parte de seu corpo e
enchê-la com meu esperma.
Ela geme a cada estocada implacável que dou e o som atiça
meu desejo.
Acelero e quando observo sua bunda exuberante engolindo meu
pau, eu explodo dentro dela como um maldito vulcão.
Um rosnado selvagem sai do meu peito e nós dois
desmoronamos sobre o colchão quando termino com ela.
Eu me deito sobre sua pele coberta de suor por alguns
momentos, inalando o cheiro de sexo.
Meus ouvidos estão zumbindo e, quando saio dela e observo
meu esperma escorrendo por suas coxas, já sinto que quero mais
de novo. E posso ver que ela também.
Merda.
Isso é exatamente o que eu temia! Meu desejo por ela fodeu
comigo e não consigo mais pensar direito.
Eu fui contra tudo e todos que disseram para tomar cuidado com
ela e, para ser honesto, sei que vou querer mais.
Observar meu sêmen escorrer por sua pele planta outra ideia em
minha cabeça. E não é o tipo de ideia sensata, considerando o
choque de realidade que acabei de ter. É outro tipo de ideia. Quero
mais de Summer e sou um homem que sempre consegue o que
quer.
Quando ela se vira depois de perceber minha hesitação, corro
meus dedos sobre sua barriga lisa e subo até os montes carnudos
de seus seios, onde pego seu mamilo rosado entre meu polegar e
indicador para apertá-lo suavemente.
— Quero foder você no chuveiro. Uma última vez – afirmo.
Nas últimas horas, não sei quantas vezes disse que era a última
vez.
— Uma última vez? — ela pergunta, mordendo o interior dos
lábios.
Se não parecesse tão desconfiada de mim, esse gesto indicaria
que está reprimindo um sorriso.
Mas, preciso que ela continue cautelosa. Não quero que ela me
entenda por que saberia que eu a quero e isso lhe daria um poder
que não quero que tenha.
— Uma última vez – repito e dou uma palmada na lateral de sua
bunda e ela se levanta.
Observo suas nádegas carnudas enquanto caminha na minha
frente e a sigo até o box do banheiro, onde a pressiono contra a
parede lisa de granito.
Ainda não estou duro o suficiente, mas chego lá. Só preciso
olhar para ela que meu pau vai ficar no ponto.
Ligo a água em um spray leve e frio e observo-a escorrer sobre
seus cabelos e seios. Coloco minhas mãos em cada lado dela e
abaixo a cabeça para beijá-la.
Ela me beija de volta e fico surpreso com a doçura desse beijo.
Não sou doce, mas ela é. Ela é assim naturalmente e gosto
disso.
Momentos depois, estou dentro dela novamente.
E descubro que menti.
Esta nunca seria a última vez.
A última vez acontece horas depois, na cama, e ela adormece
em meus braços.
Está exausta e foi o sexo comigo que a derrubou.
Eu não durmo nada. Eu me deito com ela ao meu lado e fico
vendo o sol nascer.
Depois, eu me levanto e a deixo na cama.
Eu me visto, decidindo ir trabalhar como deveria ter feito horas
atrás. Antes de sair do meu quarto, porém, eu a observo e me
delicio com a imagem dela na minha cama.
É uma visão com a qual um homem poderia se acostumar.
Mas, eu não deveria.
Chapter Dezessete

Summer

T
enho aquela sensação de atordoamento quando acordo e levo
um momento para descobrir onde estou.
É triste dizer que já tive essa sensação vezes demais em
minha vida. O pior caso foi quando acordei atrás de uma caçamba
de lixo dias depois de perder meu bebê.
Pelo menos desta vez, não estou naquela posição horrível de ter
que descobrir onde vou conseguir minha próxima refeição ou
encontrar abrigo.
Em vez disso, estou aqui no quarto de Eric Markov e, agora que
estou totalmente acordada, lembro-me da noite que passei com ele.
Eu também não tenho mais aquela dor queimando minha bunda
para me preocupar. As marcas entre minhas coxas são prova de
tudo o que fizemos e de como ele possuiu cada centímetro do meu
corpo.
Eu toco minhas bochechas, que estão vermelhas e quentes por
causa das memórias que continuam passando pela minha mente.
Não há nenhum lugar em mim que não tenha sido marcado por ele,
e isso deixou minha cabeça girando.
Devo estar seriamente iludida se penso que a noite passada era
para ser a alternativa ao meu castigo. Até eu sei que não posso
chamar isso de punição, nem de brincadeira. Estaria mentindo para
mim mesma novamente.
Eric e eu fizemos sexo desprotegido mais vezes do que me sinto
confortável lembrando. Ele até me perguntou se eu tinha alguma
doença. Mas, não me fez outra pergunta importante. Se uso
contraceptivo. Felizmente, tenho um implante que dura três anos,
então não preciso me preocupar. Essa é uma das coisas que o
passado me ensinou.
Estar preparada porque eles nunca estão. Eles não vão se
importar o suficiente para isso.
Ted me ensinou bem essa lição.
O pensamento mórbido me faz sentar na cama.
Eu preciso me levantar e sair deste quarto. O relógio na parede
marca meio-dia, então preciso começar o dia, ou pelo menos pensar
no que vou fazer. Não sei que tipo de porta se abriu para mim
ontem. Mas, tenho quase certeza de que é uma que contém a Caixa
de Pandora. Não só abri a caixa. Pulei para dentro e cutuquei a fera
que estava esperando para me devorar. Não sei como devo agir
quando o vir mais tarde.
De certa forma, acordar sem ele é melhor. Assim, consigo
pensar nos próximos passos por conta própria.
Solto um suspiro e olho em volta. Quando meu olhar pousa no
criado-mudo, fico curiosa para olhar dentro e me lembro do que
encontrei na outra noite.
Não acho que o chip de memória ainda esteja lá, mas isso não
me impede de procurar. Abro a gaveta, mas agora só há
preservativos, lubrificante e algemas. O cartão de memória
desapareceu. Tenho certeza de que Eric o tirou daqui naquela
mesma noite.
Lembro-me também de que não vou conseguir nada assistindo à
gravação, além de mais dor.
Isso me faz pensar em papai. Estou muito nervosa com a ideia
de vê-lo. Pensei que esses dias me ajudariam a reunir forças, mas,
me sinto mais fraca.
Essa loucura toda com Eric me deixou pior.
Solto um suspiro irregular, pego uma de suas camisas e vou
para o meu quarto. Felizmente, ninguém me vê e Lyssa ainda não
chegou.
Tomo banho e coloco uma camiseta simples e um par de shorts
jeans que trouxe comigo de Mônaco.
Quando estou pronta, ouço Lyssa e o cheiro de pão fresco
invade o quarto quando abro a porta.
— Bom dia — diz ela primeiro.
— Dia!
— Espero que tenha gostado do jantar ontem à noite.
— Estava perfeito – respondo e é verdade, mesmo o pouco que
comi.
— Você já comeu? — Ela me dá aquele olhar cauteloso.
— Ainda não. Eu acordei tarde.
— Deixe-me fazer um brunch para você. Eric deixou instruções
específicas para eu assegurar que você coma o que quiser hoje.
— Ele fez isso? — Por mais inofensivo que pareça, isso me irrita
muito e me lembra da noite passada.
— Sim. Pensei em te perguntar o que gostaria de almoçar.
Eu decido não dar a ela nenhum trabalho.
— Aqueles wraps de frango que você fez outro dia estavam
ótimos.
— Ah, fico feliz que gostou deles. Faço alguns em pouco tempo.
— Obrigada.
Rapidamente, Lyssa faz deliciosos wraps de frango e alguns
pastéis. Depois de comer, me sinto mais forte, mas com o passar do
tempo fico impaciente porque sei que Eric voltará logo.
Eu me vejo olhando para o relógio mesmo quando estou
tentando me distrair com um filme ou assistindo ao noticiário. Nada
funciona e, conforme escurece lá fora, sinto medo do que vai
acontecer esta noite. Não porque esteja preocupada que Eric vá me
machucar fisicamente. O problema é que o que aconteceu entre nós
ontem à noite desenterrou algo dentro de mim que nunca imaginei
que existisse.
Ele me fez sentir coisas que não achava que poderia sentir.
Mesmo quando tentei não sentir nada, acabei me entregando a ele.
Ontem, ele fez o que quis comigo. E a parte mais assustadora é que
ele me fez perder o controle.
Não quero me sentir assim com um homem como ele. Um
homem que será temporário em minha vida da mesma forma que
todos os homens foram.
Antes de Ted arruinar minha vida, eu sempre pensava em atuar.
Quando ele me destruiu, relacionamentos eram a última coisa em
minha mente. Abandonei o ensino médio e desisti da vida. Essa sou
eu em resumo. Os homens com quem estive desde então só me
queriam para sexo e eu não queria nada de ninguém.
Às oito horas, Lyssa me chama para jantar e Eric chega. No
momento certo.
Descubro o que será de mim nesta noite no instante em que ele
entra e olha para mim. O olhar que me dá exala apetite sexual e não
há dúvida de que serei seu brinquedo de novo esta noite.
Lyssa preparou outro grande banquete digno de uma festa de
fim de ano. Primeiro, espero que consigamos comer desta vez.
Quando vou me sentar no final da mesa, Eric me para e acena
para que eu me sente onde me sentei na noite passada.
— Este é o seu lugar — afirma ele com um pequeno sorriso.
Não respondo, e isso o faz sorrir ainda mais. Sento-me e minha
bunda dói como o inferno, embora o assento da cadeira seja
acolchoado. Fiquei sentada em almofadas ou enrolada no sofá o dia
todo, então não senti tanta dor.
Agora sinto e ele percebe.
Ele se inclina perto do meu ouvido quando Lyssa volta para a
cozinha e seu hálito quente faz cócegas na minha pele.
— Não se preocupe, mais tarde vou beijar sua bunda até esses
hematomas sararem — ele murmura, passando o dedo ao longo da
minha mandíbula.
Eu recuo.
— Você não tem que fazer isso. Na verdade, não.
Ele se afasta alguns centímetros e apoia o cotovelo direito na
beirada da mesa. Ele volta a me encarar e sustento seu olhar.
Lyssa percebe a tensão entre nós quando traz o vinho. Ela olha
para Eric e diz algo para ele em russo que o faz desviar o olhar de
mim.
Ele ri e olha para mim, mas retoma a conversa na linguagem
deles, que é estranha para mim.
Só sei que estão falando de mim quando Eric diz a palavra
Kukla. Lyssa parece estar alertando-o ou repreendendo-o.
Duvido que esteja chamando a atenção dele porque ele é o
chefe dela.
Eric leva a mão ao coração. O gesto e seu charme trazem um
pequeno sorriso ao rosto dela, mas me enfurecem.
— Você pode ir embora agora, Lyssa – ele diz.
Ouvir a mudança repentina de volta para o inglês soa estranho
agora.
— Obrigada. Vejo vocês dois amanhã – Lyssa me dá seu sorriso
bem-humorado de sempre e eu retribuo.
— Vejo você amanhã — digo a ela.
Quando ela sai, faço questão de ignorar Eric e ele faz o mesmo
esforço para me observar enquanto comemos.
— Me contaram que você falou com seu pai outro dia — afirma
ele.
Eu arrisco olhar para ele.
— Sim.
— Como foi?
Horrível. Quero dizer que foi horrível e difícil, mas não digo.
Quanto menos eu falar sobre qualquer coisa, melhor.
— Foi difícil, mas consegui.
Há um momento de silêncio e volto para a comida no meu prato.
Eu sei que ele está se preparando para atacar. O que não suporto
nele é que é imprevisível.
Eu volto meu olhar para ele quando Eric continua me
observando.
— O que houve? – indago.
Ele termina de mastigar um pedaço de frango antes de
responder.
— Ainda estou tentando entender você. Não é sempre que
encontro pessoas que não consigo entender.
— Talvez não devesse perder tempo. Tenho certeza de que um
homem como você tem coisas melhores para fazer do que se
preocupar em tentar entender uma mulher.
O canto de seu lábio se transforma em um sorriso predatório.
— Depende da mulher, boneca. Homens como eu passam a vida
inteira obcecados por uma mulher que os intriga.
— Não há nada de intrigante em mim – afirmo, balançando a
cabeça.
— Oh, Summer Reeves, não é bom mentir para si mesma. Você
não deveria fazer isso, querida. Não quando há muita merda para
me intrigar sobre você. Ainda estou me perguntando o que te levou
ao Club Montage.
Isso de novo? Pelo menos consegui terminar metade do que
estava no meu prato antes que a discussão sobre minha vida
anterior revirasse meu estômago.
— Vai me contar para acabar com meu sofrimento? — ele
adiciona.
— Não.
Ele segura meu olhar e posso praticamente vê-lo pensando
sobre o que diabos ele teria visto no site. Eu sei quais fotos estavam
no site principal, e todas foram projetadas para me fazer parecer
uma vagabunda.
— As fotos ainda estão no site? — pergunto em voz fraca.
Tanto o imbecil do Cassius quanto o estúpido do Robert são o
tipo de pessoa que ficaria com as fotos. Cassius era o proprietário
principal e tinha as ideias mais nojentas. Não importa que eles
pensem que estou morta. Ele ainda daria um jeito de usar minhas
fotos.
— Estavam.
— Estavam? — estreito meus olhos. — Então, não estão mais
lá?
— Eu as tenho. Todas elas – afirma com uma calma mortal que
me domina. — Eu removi todas do site e todos os arquivos privados
contendo imagens suas e qualquer informação. No que diz respeito
a todos, você nunca esteve lá.
Meus lábios se abrem e, embora possa ouvir tudo o que ele está
me dizendo, não consigo acreditar.
Tudo o que ele disse é bom e algo com o qual eu só poderia
sonhar, mas há um elemento nisso que não é bom. Essa parte é
ilustrada pelo brilho possessivo e sombrio nas profundezas de seus
olhos. E o fato de ter dito que tem todas as fotos.
Por que precisaria delas?
Um sorriso brincalhão surge em seus lábios, e ele me encara.
— Sem comentários?
— Como fez isso? — essa é uma pergunta estúpida para se
fazer a um homem que estudou no MIT e é dono de uma empresa
de armas.
A pergunta mais importante é porque fez isso.
— Esse é o tipo de merda que posso fazer – responde Eric.
— Por que guardou as fotos?
— Talvez quisesse guardá-las para mim – diz, gira sua cadeira e
move a minha também para que possamos nos encarar.
— Por quê? – insisto.
— Talvez goste da ideia de ser o único homem que te vê daquele
jeito.
Não sei como reagir. Deveria estar feliz por minhas informações
e imagens não estarem mais naquele site horrível, para os membros
do clube verem. Ou nas mãos de homens como Robert, mesmo que
ele pense que estou morta. Ao mesmo tempo, não sei o que diabos
fazer com as palavras de Eric.
— É hora de continuar sua punição, boneca. Quero te foder de
novo – afirma, sorrindo.
Quando ele se levanta, sei que já fui convocada para o jogo
desta noite.
A conversa foi apenas o começo. Seu objetivo, provavelmente,
era brincar com minhas emoções e paralisar minha mente, criando
um conflito de sentimentos, como fez na noite passada.
Chapter Dezoito

Summer

Q
uando Eric segura a bainha da minha blusa, lembro-me de
que consenti em que ele possuísse meu corpo. Mas, quando
seus dedos acariciam minha pele, eu me lembro de como ele
me fodeu até a submissão e como eu cedi de bom grado.
— Tire a roupa, boneca – ele ordena naquela voz fria, calma e
controlada que me dá nos nervos. — Agora.
Desgraçado!
Meu corpo me trai e minha boceta aperta ao som de sua voz.
Engolindo meu orgulho, levanto e começo a puxar minha blusa
pela cabeça. Eu a jogo no chão e ele me dá um sorriso tão largo
que evoca a imagem de um tubarão em minha mente.
Tiro as calças em seguida. Depois, lentamente, tiro minha
calcinha e sutiã. Quando fico nua, ele passeia seu olhar por mim,
prestando atenção em cada detalhe, como se fosse a primeira vez
que visse meu corpo. Como se não tivesse me devorado menos de
vinte e quatro horas atrás.
Examina meu corpo sem pressa, da cabeça aos pés, depois ao
contrário. Meus nervos vibram de ansiedade e minha pele esquenta
sob seu escrutínio.
Um pequeno suspiro cai de meus lábios quando ele me levanta e
me coloca sentada sobre a mesa como se eu fosse parte da
refeição principal.
Ele se inclina para mais perto e descansa as mãos em cada lado
de mim enquanto inala meu cabelo e se move para roçar seu nariz
sobre o meu.
— Beije-me – ordena e, não sei por que, esse comando me faz
congelar.
— Isso é tudo que você quer, um beijo?
— Não, quero muito mais. Só que agora quero que me beije –
Eric sussurra e passa a língua por cima do meu lábio, me provando.
Sinto seu toque em todos os lugares. — Quero que me beije como
se me quisesse.
— O que faz você pensar que te quero?
— Pare de lutar. Nós dois sabemos que você quer – responde
com um sorriso e sinto que estou cedendo.
Ele está perto demais e vê muita coisa que não quero que veja.
— Vamos! — insiste ele.
Estendo a mão e toco sua mandíbula, sentindo a barba coçar
minha pele. Puxo sua boca provocante para mim e cubro seus
lábios com os meus. No instante em que nos tocamos, meu cérebro
fica vazio e tudo que eu sinto é ele.
Sinto sua fome e seu gosto. Ele tem o gosto de seu desejo por
mim. Então, aprofundo o beijo e ele corresponde. Desliza a mão
atrás da minha cabeça, e sua boca implacável chove beijos famintos
sobre mim, fazendo-me acreditar que realmente pertenço a ele. E
que ele pertence a mim.
Sinto que poderia beijá-lo para sempre. Mas, no momento em
que penso isso, ele se afasta com uma expressão enlouquecedora
em seus olhos. Algo que entendo por que não posso negar o que
senti. E acho que ele também não pode.
Ele se endireita e lambe os lábios enquanto olho para ele,
observando a escuridão retornar aos seus olhos profundos.
— Abra as pernas e mantenha sua boceta bem aberta para mim
– ele exige, quebrando qualquer ternura que o beijo evidenciou
entre nós.
Faço o que manda, apoiando meus pés em cima da mesa para
abrir os lábios da boceta. Ele fica de joelhos e, com um sorriso
perverso, enterra o rosto entre minhas coxas.
No momento em que sua língua se move dentro de mim, e
acaricia as paredes da minha boceta, o prazer me rouba qualquer
controle que achei que poderia ter. O prazer canta em minhas veias,
sussurrando em cada parte secreta de mim, me dizendo que eu
quero isso e não devo lutar para sufocar essa verdade.
Ele se move e empurra dois dedos dentro de mim para conseguir
me foder com eles enquanto trilha beijos quentes do meu estômago
até meus seios. Quando ele fecha a boca sobre meu mamilo direito
e começa a chupar, agarro seus ombros e jogo minha cabeça para
trás.
— Renda-se a mim, Summer — ele sussurra contra minha pele,
depois passa a alternar as chupadas fortes entre um seio e outro.
Merda! Vou enlouquecer ou explodir.
O orgasmo cresce dentro de mim e me empurra para o precipício
da loucura, e tudo que eu quero é mais. Seu toque me intoxica, e
tudo o mais que ele faz me dá prazer. Não posso mentir para mim
mesma.
Eu também quero esse homem.
Eu quero o que pode me dar, mesmo que ele seja errado para
mim e esse momento que estamos vivendo seja errado também.
— Quer mais, boneca? — provoca ele, traçando seu caminho de
volta para os meus lábios. — Diga-me que você quer mais, e te
darei tudo.
— Sim — eu gemo.
— Sabia.
Ele volta à minha boceta e enfia sua língua safada bem fundo.
Meu corpo se curva ao prazer que me assalta enquanto sua
língua circula meu clitóris e ele começa a chupar essa protuberância
dura. Cada centímetro do meu corpo grita com as emoções do
prazer se contorcendo através de mim, e quando o orgasmo vem é
tão incandescente que separa minha mente da realidade.
Eu gozo com tanta força que a sensação me rasga e cavo meus
dedos nos ombros de Eric para impedir que meu corpo entre em
combustão.
Caralho! Como diabos posso dizer que não gostei disso quando
meu corpo já pede mais?
E ele me dá mais, bebendo a evidência de minha excitação e me
comendo de novo como se eu fosse sua última refeição.
Logo depois, outro orgasmo me envolve e Eric me dá um sorriso
digno de um conquistador selvagem. Um sorriso que diz que ele
sabe que perdi a vontade de lutar há muito tempo e não vou mais
lutar esta noite.
Nunca pensei que fosse possível uma pessoa ter um controle tão
intenso sobre mim ou sentir isso por um homem que mal conheço.
Enquanto ele continua a olhar para mim e vejo a porta para sua
alma, de repente sei por que foi capaz de derrubar as paredes que
ergui para me proteger.
É pelo simples fato de que fui obrigada a confiar nele de uma
maneira que jamais confiei em outra pessoa. Isso fodeu comigo e
permiti que ele visse meu verdadeiro eu, não a versão de mim
mesma que mostro ao mundo.
Eu tive que aceitar sua entrada forçada em minha vida porque
era fazer isso ou morrer.
Enquanto tento recuperar o fôlego e acalmar meu coração, ele
se endireita e começa a desabotoar o cinto. Eu o observo abrir o
zíper e puxar as calças para baixo para liberar seu pau.
— De joelhos! E chupe meu pau.
Ainda estou sem fôlego, e com minha cabeça girando. Então, é o
desejo que faz meu corpo se mover e obedecer.
Eu fico de joelhos e deixo seu membro penetrar minha boca,
permitindo que ele empurre cada vez mais fundo. Tão fundo que
quase engasgo, mas me seguro, saboreando a sensação de seu
pau grosso enquanto o chupo.
Ele passa as mãos pelo meu cabelo, soltando-o do rabo de
cavalo onde estava preso. Meu cabelo cai pelos meus ombros, e ele
segura a parte de trás da minha cabeça, encorajando-me a chupá-lo
com mais força e mais rápido.
Ficamos assim em um ritmo perfeito, comigo acariciando seu
pau e ele me guiando para agradá-lo. Mas, quando ele se inclina
para frente e acaricia meus mamilos, a excitação me atravessa mais
uma vez.
Mais umidade forma entre minhas coxas e, enquanto continuo a
chupá-lo, meus mamilos ficam duros quando ele os aperta entre os
polegares.
Ele começa a foder meu rosto, e quando seu pau pulsa na minha
boca e sinto o gosto de seu sêmen, sei que está perto do clímax.
Ele sai da minha boca e me puxa para ficar de pé. Como se eu
fosse uma boneca, ele me vira e dobra meu corpo sobre a mesa.
Antes que eu possa tomar fôlego, ele me penetra e o fogo que me
queima me leva à beira de outro orgasmo.
Movimentando-se com precisão, ele possui meu corpo de todas
as formas. Enquanto aceito suas estocadas implacáveis, minha
mente se abre para ele também, deixando-o entrar novamente.
Ele agarra meus quadris e me fode com tanta força que vejo
estrelas. Em sua busca de prazer, ele é quase rude. Vou ficar
dolorida por isso, mas meu corpo se entrega à sobrecarga de prazer
como se estivesse sendo tocada pela primeira vez. Não consigo
controlar os gemidos que saem da minha boca mais do que posso
parar a necessidade primitiva de permitir que esse homem me
domine.
Nós gozamos juntos, e quando sua ejaculação explode dentro de
mim, ele rosna, afundando os dedos em meus quadris com mais
força.
Nós dois respiramos com dificuldade, e quando a névoa sexual
se dissipa em minha mente, a realidade se infiltra. Tenho a mesma
sensação selvagem e fodida com a qual acordei hoje. Só que desta
vez ele está comigo e algo me diz que esta noite será pior do que a
passada.
Pior no sentido de que nós dois parecemos ter enlouquecido.
Ele puxa seu pau para fora de mim e me sinto tão esgotada que
meus joelhos dobram. Eu o encaro e ele tira a camisa molhada de
suor, exibindo seu corpo musculoso e tatuado.
Ele me pega no colo e eu enlaço meus braços ao redor do seu
pescoço.
Não dizemos nada.
Apenas nos beijamos enquanto ele me carrega para sua cama.
Chapter Dezenove

Eric

E
u nunca deveria me sentir assim.
Puta merda!
Sabia que, ao cruzar aquela linha que nunca deveria ser
cruzada, iria me foder.
Estar com ela é como iniciar um incêndio florestal e me queimei
porque agora sinto que estou viciado nela e não sei como parar.
Ela adormeceu há algumas horas e me deixou assim, neste
estranho estado contemplativo onde não sei se estou indo ou vindo.
Estou divagando, sentado perto da janela, observando-a dormir.
Sem ser presunçoso, posso dizer que mulheres nunca faltaram
para mim. Mas, fui sincero quando disse ontem à noite que ela me
intrigava. E agora me pego pensando nela, em sua história e no que
aconteceu com ela. Sei que tem mais coisas além da merda recente
com Robert. Toda vez que estou com ela, vejo isso.
Ficou claro desde o instante em que nos conhecemos. Estava
obcecado com o desejo de matar Robert. Agora que a provei tantas
vezes, quero enxergar sob as camadas protetoras que ela mostra a
todos e ver suas cicatrizes.
Cicatrizes emocionais do passado mudam quem você é e nunca
cicatrizam totalmente como as físicas. Estão sempre lá na sua
mente, sufocando seu corpo.
Mesmo agora, observando-a dormir em minha cama, posso dizer
que sua vida mudou há muito tempo e que teve uma vida muito
diferente daquela da irmã.
As pessoas tornam-se lutadoras porque precisam. São
empurradas para isso e, muitas vezes, são jogadas no fundo do
oceano e têm que nadar ou morrer.
É isso que vejo quando olho para Summer. É por isso que
continuo perguntando o que a levou ao Club Montage. A merda
sobre isso é que ela ainda estaria lá se essa coisa com Robert não
tivesse acontecido. Claramente, ela não pertencia àquele lugar.
Posso imaginá-la como uma mulher que gosta de curtir o melhor da
vida. Alguém que iria para Mônaco nos braços de algum filho da
puta milionário e que seria um colírio para os olhos. Mas, de jeito
nenhum chegaria perto de um clube de sexo. A menos que fosse lá
com um cara com quem estivesse se relacionando.
Há a óbvia necessidade de dinheiro que eu entendo. Mas, ela
tinha uma irmã a quem poderia recorrer e um padrasto rico para
caralho. Excluo o pai dela porque, depois que a culpou pela morte
da mãe, não acho que ela o procuraria para nada.
A única coisa que consigo pensar é o que pensei antes. Que ela
devia estar precisando de muito dinheiro. Então, por que não pedir
ao padrasto, que foi casado com sua mãe por tantos anos?
Não consigo pensar em nenhuma mulher que preferiria vender o
corpo a pedir ajuda à família em seu momento de maior
necessidade. A menos que ela não pensasse que poderia. Ela
também nunca menciona o padrasto. Não que tenhamos falado
muito sobre assuntos pessoais.
Só achei que ela pediria para entrar em contato com ele também
e informá-lo sobre o que havia acontecido com Scarlett ou até
mesmo sobre o funeral. Minha resposta teria sido não, porque
quanto menos pessoas souberem, melhor será. Mas, o estranho é
que ela não pediu. O pai dela também não o mencionou quando
esclareci os detalhes do funeral.
À medida que o sol entra no quarto, sinaliza que é hora de eu me
mexer e voltar ao trabalho.
A pista que meus homens e eu estamos verificando surgiu
depois de nos encontrarmos com Luke na outra noite. Eu incumbi
Borya de investigar seus negócios. Ontem, ele descobriu que Luke
não estava apenas trabalhando para Robert. O idiota também
estava trabalhando para Micah como intermediário.
Pedi a Borya para continuar investigando. Ele mandou uma
mensagem nas primeiras horas da manhã, quando eu estava com
Summer. Ele me avisou que estava na pista de algo. Agora, estou
esperando para falar com ele.
Pelo menos as coisas parecem estar se movendo. Embora ainda
em passo de tartaruga para o meu gosto, mas estão se movendo.
Quando os raios do sol entram pela janela, Summer se mexe na
cama. Seus olhos se abrem e quando seu olhar pousa em mim,
parece assustada por alguns momentos, depois se acalma.
— Esperando ver outra pessoa? – pergunto.
— Não, sempre me sinto desorientada de manhã – ela olha para
o relógio e franze a testa. Já passa das cinco. O sol estará a plena
força em breve. — Especialmente tão cedo. Por que acordou?
— Essa é a hora que sempre acordo, boneca. Às vezes me
levanto e começo o dia. Às vezes, como agora, gosto de ficar
sentado e observar.
— Você estava me observando? — ela estreita os olhos.
— Sim. Você fica bem na minha cama – provoco-a com um
sorriso. O diabo cavalgando meu ombro quer esse atrito entre nós.
É como a porra de uma dança de acasalamento. — Você fica bem
dormindo. Em paz. É a única hora que te vejo assim. E me pergunto
o que aconteceu com você antes do Robert, antes disso.
— Não aconteceu nada comigo — ela responde, na defensiva.
— Espera que acredite que uma garota como você
simplesmente resolveu trabalhar em um clube de sexo? Assim, sem
mais nem menos? Isso não aconteceu por acaso.
— Bem, isso não é da sua conta – murmura e tenta fechar a
cara.
— Não me faça bater nessa sua bunda de novo – ameaço,
apesar de que sua insolência me faz sorrir. – Não acho que queira
começar outra onda de punição. Ou será que quer? Ontem, até
parecia estar se divertindo.
Ela morde com força os dentes de trás e me dá um olhar
estreito.
— Sei o que está tentando fazer. Quer que eu te diga alguma
merda sabendo que vou ter problemas. Depois, vai acabar me
possuindo para o resto da vida.
— Não tenho certeza se conseguiria fazer essa dança maluca
com você pelo resto da vida, boneca – retruco, rindo.
Mas, estou mentindo porque sei que poderia e isso me assusta
para caralho.
É assustador porque significa ver mais do que o presente e olhar
para o futuro. Eu me levanto e caminho até ela. Enquanto faço isso,
não perco a maneira como seus olhos percorrem meu corpo e
param no meu pau que está crescendo e pressionando minha
cueca.
Estendo a mão para tocar seu rosto, mas ela desvia o olhar.
Correndo meus dedos por seu pescoço elegante, eu guio seu
olhar de volta para mim e ela enrijece.
— Vai ter que se esforçar muito para me fazer acreditar que não
gosta de mim.
— Eu não gosto de você.
— Mentirosa. Você está chateada para caralho comigo. Mas,
também gosta muito de mim para me impedir de tocar em você.
— Você é um idiota — ela murmura.
— Nós já estabelecemos isso e, ainda assim, vejo luxúria e
desejo em seus olhos. Você quer que eu te dê mais. Se eu te
fodesse agora como fiz horas atrás, você não me impediria, e não
tem nada a ver com nenhum castigo.
Ela sabe que estou certo, que falo a verdade, mas é muito
teimosa.
— Talvez seja isso que você quer ver.
— É exatamente o que vejo, mas não importa. Castigo ou não,
não vou te deixar até terminar com você.
Levanto seu queixo mais alto para que possa olhar bem nos
meus olhos.
— Sou apenas um brinquedo para você? – indaga com uma
pontada de mágoa na voz.
— Não.
— Então, talvez devesse me perguntar o que eu quero em vez
de agir como um filho da puta sem coração.
Essa doeu. Mas, ela está certa.
— O que você quer, boneca?
— Não quero ficar presa aqui o dia todo esperando. Pelo menos,
deixe-me ir à casa da minha irmã para resolver o que fazer com as
coisas dela.
Eu a solto e me lembro de minhas preocupações anteriores.
Talvez ela fique bem. Talvez não devesse cruzar essa linha e
começar a me preocupar com ela.
— Está pronta para entrar na casa de sua irmã e sentir a
presença dela?
— Não, mas ela é a única pessoa que tive neste mundo que
significou tudo para mim. Não importa se estou pronta. Quero sentir
a presença dela porque sinto falta dela.
Quando olho para Summer, vejo aquela coisa de novo. A única
coisa que me alerta sobre quem ela realmente é e como sou errado
para ela.
Normalmente, não me importo se as pessoas pensam que sou
um filho da puta. Mas, desta vez, não posso ser um, então concordo
com a cabeça.
— Amanhã. Eu te levo amanhã. Tenho muito o que fazer hoje.
— Obrigada.
Estou prestes a dizer mais algumas coisas quando meu telefone
vibra com uma mensagem. Com uma olhada na tela, noto que é de
Borya e diz:
Encontrei algo que você precisa ver. Estou a caminho da sua
casa agora.
Isso é o que ele diz.
Eu me levanto e mudo a chave para o modo de negócios. Se ele
está vindo para cá, significa que é importante. Espero que isso me
deixe mais perto de achar Robert.
— Está tudo bem? — Summer pergunta, parecendo preocupada.
— Nada com o que se preocupar. Vejo você mais tarde.
Ela me observa atentamente enquanto caminho até o banheiro.
Algo dentro de mim me diz que não vou gostar do que Borya
descobriu.
Ele foi vago. Ele faz isso de propósito quando se depara com
algo que vai me irritar.

Assim que Borya entra em meu escritório e vejo seu rosto, sei que
estou certo sobre minhas suposições.
— Vou ser sincero contigo – ele começa enquanto inclina a
cabeça para o lado. — Você não vai gostar disso.
— O que diabos aconteceu? — vou direto ao ponto porque odeio
suspense de qualquer tipo.
— Micah e Robert estavam em Los Angeles e agora sumiram –
responde ele, e o sangue é drenado do meu corpo.
— Que porra está me dizendo?
— Nós os perdemos porque descobrimos isso um dia depois que
se foram.
Jesus Cristo. Isso é tudo que preciso para me levar à beira da
loucura. Pego um copo na minha mesa e o jogo na parede. Ele se
estilhaça ao impacto.
Que foda!
Então, isso significa que meu rastreador não funcionou. Não
funcionou, porra.
— Tem mais merda, chefe — afirma Borya. — A pista que
encontramos de Luke me levou a um bando de caras que trabalham
para Micah. Parece que estão tramando algo grande. Dê uma
olhada nisso.
Ele puxa um envelope pardo do bolso do paletó e tira algumas
folhas de papel, colocando-as na minha mesa. É um conjunto de
imagens de cinco homens parados ao lado de um contêiner de
carga próximo ao cais. Reconheço a área imediatamente como a
Baía de San Pedro.
Há também uma planilha de Lucros e Perdas que mostra uma
receita de sete milhões de dólares, mas nenhum detalhe de onde
está vindo. O último documento é uma guia de confirmação de
embarque do Brasil.
Ambos os documentos têm assinaturas.
— Eu tirei as fotos. O responsável pela tripulação que estava
rastreando estava com esses documentos — explica. — Ele pôde
confirmar que não apenas Micah Santa Maria e Robert estavam
aqui em Los Angeles dias atrás, mas também estiveram no Brasil há
duas noites em um dos portos de propriedade de Alejandro. É de lá
que vem o documento de remessa.
— Caralho. Isso é uma merda.
— Sim. Estão tramando algo. Só não sei o que. Os homens nas
fotos são do cartel mexicano de Riccardo Santiago, conhecido
traficante de pessoas. São os melhores do grupo. Os caras que
rastreamos se encontraram com eles no porto. Tudo o que consegui
foram fotos. Mas, agora tenho os homens procurando por eles.
Conversei com os outros caras depois da reunião e os questionei.
Quando ele diz que questionou alguém, quer dizer que torturou.
Espero que esses traficantes filhos da puta estejam mortos.
— O que o cara no comando disse?
— Não muito, e essa é a coisa mais fodida sobre isso. Ele e sua
equipe se encontraram com Micah e Robert no Brasil e vieram com
eles para Los Angeles. Claro que não sabia para onde foram em
seguida. Só que partiram em um jato particular. Todo o encontro foi
para organizar o transporte via navio para os caras do cartel de Los
Angeles e do Brasil. O cara simplesmente não sabia o que estavam
transportando. Mas, isso não é exatamente física quântica.
— Não é mesmo. Esses filhos da puta são traficantes de seres
humanos. É óbvio que Micah está traficando mulheres, muitas
mulheres. Afinal, precisou de um navio de Los Angeles e outro do
Brasil – respondo. — E os sete milhões. Além das drogas, o
comércio de carne é o que daria sete milhões de dólares,
especialmente se forem virgens.
Já vi esse tipo de merda antes.
— Sim, exatamente.
— Eles disseram alguma coisa sobre Alejandro?
— Perguntei. Alejandro não sabe o que está acontecendo no
Brasil. Eles subornaram alguns homens que trabalham para
Alejandro. Então, está cego para o que está rolando. Consegui
alguns nomes quando me contou que Jake Wainwright estava
lidando com eles. Conhecem Robert por esse nome.
— Então, Robert está indo para o Brasil?
— Sim, e tive a impressão de que há mais coisas acontecendo lá
do que imaginamos. O cara disse que eles sempre se encontram lá.
— Sempre? — estreito meus olhos.
— Sim. E também disse que Jake se encontra com eles mais do
que Micah. Ele assume o comando quando se encontram no Brasil.
Eric, acho que estão armando alguma coisa lá.
O Brasil foi o último lugar onde vi Robert, então isso não me
surpreenderia. Mas, não faria sentido porque as pessoas para quem
ele trabalhou não estão mais lá. Isso não significa que ele não
possa trabalhar por conta própria.
— E não houve menção de quando eles se encontrariam
novamente?
— Não, mas têm negócios em L. A. nas próximas semanas nos
quais estão se concentrando. A equipe não recebeu muitos detalhes
sobre o que era o negócio. Parece que Micah está mantendo as
coisas em segredo para certas pessoas e está trabalhando em
muitas frentes.
Isso não é bom, e algo está acontecendo no Brasil também.
Precisamos chegar até eles enquanto sabemos que estarão em Los
Angeles.
— Mais alguma coisa?
— Não. Parece que Robert e Micah estiveram aqui apenas para
isso. Ninguém mencionou a garota ou algo relacionado a ela – diz.
Quando me encara, seu rosto se suaviza. Sei que pode perceber
que houve uma mudança em meu foco em relação à Summer. —
Para mim, ainda parece que acham que a mataram.
Essa é a única coisa boa sobre isso, e eu quero continuar assim.
Isso significa que ainda temos essa vantagem em algum nível
para chegar até eles. Mesmo se não o fizermos, eu não vou usá-la
como isca.
Não como inicialmente pensei que poderia fazer.
— Volte para a rua com nossos homens e continue procurando
os caras do cartel – ordeno.
— Será feito, chefe.
— Apresente-se hoje à noite, ou antes, encontrando alguma
coisa ou não.
Ele acena com a cabeça e sai.
Descanso as mãos sobre a mesa e inclino a cabeça. Isso está
provando ser mais desafiador do que pensei que seria. E meu
rastreador não está funcionando. Preciso de outra estratégia. Estou
de saco tão cheio do universo fodendo comigo.
De jeito nenhum vou deixar Robert ter qualquer vantagem sobre
mim. Muito menos numa área em que sou especialista.
Não posso acreditar que ele estava realmente aqui. Bem aqui na
porra de L. A., dentro do meu território, e eu não sabia.
Robert, o que diabos está aprontando, seu corno?
Examino a informação à minha frente e penso no que está me
dizendo e no que não está. Tudo o que tenho neste momento são
números. Sete milhões vindo do que está rolando em L. A. e cinco
milhões da venda do dispositivo. Isso é dinheiro para caralho. Toda
essa grana em um curtíssimo espaço de tempo.
Micah está focando em Los Angeles, mas há algo mais atraindo-
o para o Brasil. Não deve ser algo aleatório, já que ele sabe que
Alejandro está atrás dele.
Então, há uma peça faltando, ou alguma coisa que não estou
vendo.
Acho que Alejandro sabe o que é isso.
Ele toma muito cuidado com quem fala.
Está na hora de Alejandro conversar comigo.
Chapter Vinte

Eric

A
lejandro examina a papelada na minha mesa e cerra os
punhos. Seu rosto endurece enquanto ele examina as
informações.
Estamos no meu escritório na Markov Tech e acabei de dar a ele
o resumo de toda a merda que Borya desenterrou.
Esta é a primeira vez que nos encontramos apenas nós dois e
esta será uma reunião interessante porque vou exigir informações
que ele pode não querer me dar.
— Jesus Cristo — ele murmura. — Você recebeu isso hoje?
— Sim. Meus homens rastrearam os caras de Micah esta
manhã.
Cristo. Ainda nem é meio-dia, mas parece que uma semana
inteira já se passou.
Não pode ser ainda o mesmo dia. Nem parece que poucas horas
atrás deixei Summer na minha cama.
Depois de falar com Borya, conversei com Aiden. Agora, são
quase onze horas e estou aqui com mais um milhão de coisas
passando pela minha cabeça.
— Isso tudo mostra que eles estão fazendo algo mais do que
apenas vender o dispositivo — afirma Alejandro. — Deve ser tráfico
humano, a julgar pelo montante de dinheiro.
— Concordo. Mas, parece que há mais coisas acontecendo no
Brasil.
Olho para ele com um pouco mais de seriedade e respiro fundo.
Eu sempre respeito caras como ele porque estão no jogo há muitos
anos. Ele tem quarenta e sete e um império de riqueza e poder. Eu
tenho minha riqueza e faço parte da elite do Voirik, mas sou um
novato, um peixe pequeno comparado a ele. Ao mesmo tempo, já
que estaremos juntos nessa missão, preciso que me conte tudo.
— Preciso saber o que realmente está rolando no Brasil,
Alejandro — afirmo, e ele suspira. — Porque Micah e esses caras
estão atrás de você?
— Eu sei, amigo. Só não sabia a extensão da coisa, e parece
que meu pessoal foi comprado para me trair. É por isso que estou
aqui — ele responde.
— E sozinho, de novo — observo com as sobrancelhas
levantadas. Esta é a segunda vez que o vejo sem ninguém de seu
cartel. Um chefe como ele não viaja sem alguém de confiança. —
Você não tem nenhum homem contigo.
Ele me dá um breve aceno de cabeça antes de dizer:
— Não conversei com ninguém além dos irmãos D'Agostino;
mas, a resposta que procura é que meus homens não estão comigo
porque não confio neles. Meu coração me diz que um ou mais deles
me traiu e ajudou Micah a matar meu irmão. Esta evidência que
você encontrou mostra que eu estava certo em pensar assim.
Se seus homens o traíram, isso significa que Micah os pegou e
fez certas promessas.
— O que Micah quer de você? Um homem da Camorra não teria
um interesse repentino em algo do nada.
— Não é do nada, mas só queria revelar essa informação
quando fosse absolutamente necessário.
— Don Alejandro, chegou a hora em que preciso saber —
informo a ele.
Pela expressão em seu rosto, tenho certeza de que, em
circunstâncias normais, teria me mandado ir me foder. Mas, como
não estamos em circunstâncias normais e nossos caminhos se
entrelaçaram, ele vai ter que confiar em mim.
— Agora, não é mais uma simples questão de pegar o filho da
puta que está ferrando contigo — acrescento, e a tensão diminui em
seu rosto.
Ele acena com a cabeça novamente.
— O que estou prestes a contar é um segredo que guardo desde
antes de meu irmão morrer.
Instantaneamente, meu interesse aumenta.
— O que é?
— O maior produtor de petróleo do Brasil era majoritariamente
estatal até janeiro deste ano — ele começa e mostra os dedos. —
Até então, o governo possuía cinquenta e quatro por cento das
ações e o restante era dividido entre empresas privadas. Meu
padrinho era CEO de uma dessas empresas. Após sua morte, meu
irmão e eu recebemos todas as suas ações e compramos as outras.
Quando descobri que um grupo de pessoas do governo estava se
metendo em merda escandalosa, exigi o restante das ações em
troca do meu silêncio.
— Então, você é o dono? — Meus olhos se arregalam. Isso é
dinheiro para cacete. E sabe-se lá que tipo de escândalo faria o
governo abrir mão das ações de tal ativo.
— Sim, mas ninguém deveria saber disso. Tudo o que
queríamos era o valor da propriedade e a riqueza que isso nos traria
— explica ele. — Com a morte do meu irmão, atualmente sou
coproprietário da empresa com minha sobrinha.
Meus lábios se separam.
— Sua sobrinha?
— Sim. Meu irmão deixou tudo para sua esposa e filha. Era por
isso que tentaram matar todos naquela noite. A única pessoa que
restaria para eles liquidarem deveria ser eu. Meu irmão foi morto um
mês depois de assinarmos os papéis. Várias pessoas tentaram
tomar nosso território muitas vezes no passado. Então, estar em
guerra não era novidade. A morte do meu irmão foi apenas a
primeira vez que alguém teve sucesso e de uma maneira tão fácil.
— Como Micah chegou até ele?
— Seu palpite é tão bom quanto o meu, mas aconteceu na casa
deles. A propriedade do meu irmão é como a minha. Você seria
morto a tiros antes que pudesse pensar em invadir. Mas, Micah
conseguiu entrar na casa, atirar no meu irmão e colocar fogo na
casa, matando a esposa dele e quase matando minha sobrinha.
— Como ela fugiu?
— Ela não fugiu. A mãe dela a colocou em um quarto seguro e a
trancou. A sala é à prova de fogo. Eu a encontrei na manhã
seguinte. A mãe dela estava morta na porta protegendo a filha – ele
sussurra e abaixa a cabeça, pressionando os lábios. — Eu a acolhi
depois e ela se tornou minha.
— Sinto muito, Alejandro.
— Obrigado. Acredito que Micah está atrás da empresa.
Encontrei evidências que sugerem que está trabalhando com certas
pessoas no Brasil. Suponho que teriam contado a ele sobre o
empreendimento que meu irmão e eu obtivemos. Então, se matar a
mim e a minha sobrinha, ele dará um jeito de ficar com nossas
ações. Claro, haverá algo que Micah deve ter oferecido a eles em
troca. Tenho certeza de que a única razão pela qual ele não
conseguiu ainda é por causa dos laços que tenho com o governo.
Mas, se me matar, será o fim do jogo – ele puxa uma respiração
torturada. — É isso que está rolando no Brasil, Eric Markov. E o fato
de Micah ter encontrado seu caminho para o meu porto de
embarque significa ainda mais. Alguém está alimentando-o com
informações e dando-lhe rédea solta sobre meus bens e instalações
quando não estou por perto.
— Ter o controle da indústria do petróleo de um país é dinheiro
demais — murmuro e reflito sobre a situação, que parece mais clara
com essa explicação. — Acho que ele está arrecadando dinheiro e
bens para alguma coisa. Algo grande.
— Você acha isso? – Alejandro se endireita.
— Parece que sim. Essa situação no Brasil acabará por torná-lo
um deus. Se você morrer, ele poderá se infiltrar em mais do que
apenas a empresa de petróleo. Também há o tráfico humano e o
dispositivo. Parece que ele está planejando e meu ex-melhor amigo
está ao lado dele, ajudando-o. É isso que penso.
— Então, se isso faz parte de um plano maior, o incidente em
Mônaco com Summer Reeves foi apenas uma de tantas coisas.
— Parece mesmo. Agora, só precisamos saber por que ele está
fazendo tudo isso e para onde está indo.
— Acha que conseguirá rastreá-los? Sei que já está fazendo o
seu melhor.
— Tenho que analisar melhor tudo isso.
E correr contra o tempo.
— Vou ficar em L. A. por um tempo – afirma Alejandro. – Porque
parece que as coisas estão acontecendo por aqui. Os D'Agostinos
acabaram de me ajudar a garantir meus negócios no Brasil. Então,
estarei disponível quando precisar de mim.
— Isso é bom. E sua sobrinha?
A preocupação em seu rosto parece mais com a de um pai, não
de um tio.
— Tenho duas pessoas, que sei que são leais a mim,
observando-a o tempo todo. Ela está em uma casa segura que só
eu tenho a localização. Também tenho guardas vigiando a área,
mas eles não sabem o que ou quem estão protegendo. Eu sei que
você conhece a dor da traição mais do que ninguém, então
entenderá minha necessidade de protegê-la.
— Eu entendo.
A sobrinha dele tem quase sete meses. Não consigo imaginar ter
um bebê para cuidar, muito menos ter um que não é meu. Eu faria o
mesmo que ele. Não tenho nenhum traço de instinto paternal, mas
sempre estarei lá para minha sobrinha ou sobrinho quando ele ou
ela nascer.
— Minha sobrinha merece justiça — acrescenta ele.
— Com certeza — respondo.
— Mais do que tudo, ela é inocente nisso e merece uma chance
de viver. Se eu não a ajudar, ninguém o fará. Ela não tem mais
ninguém que se importe o suficiente com ela para garantir que
esteja segura. Se não encontrar uma maneira de mantê-la segura,
serei apenas mais um monstro andando na escuridão.
Eu o encaro e presto atenção no que ele está me dizendo. Ele
me faz pensar em Summer. Ela é inocente nisso tudo, e se eu não a
ajudar, ninguém mais o fará.
Não entrei nessa com a intenção de ajudá-la, nem de protegê-la.
Sou homem o suficiente para admitir que minhas intenções eram
puramente egoístas. Farei tudo para garantir que ela não morra. As
ruas ficarão cheias de sangue antes que deixe alguém machucá-la.
Mas, preciso resistir à tentação que sinto quando estou com ela.
Preciso voltar para trás da maldita linha que cruzei quando me
envolvi com ela. Preciso ficar longe porque sou o oposto de tudo
que ela representa.
Ela é luz e vida enquanto sou trevas e morte.
Chapter Vinte E Um

Summer

A
brisa fresca da manhã acaricia minha pele enquanto dirigimos
pela estrada na Ferrari, negra como a noite, de Eric.
Ele mantém o olhar na estrada à nossa frente. Sinto que
algo está acontecendo com ele. Ele tinha um olhar distante esta
manhã quando acordei e me aventurei até a sala de estar.
Ontem à noite também foi a primeira vez que dormi na minha
cama desde que... bem, devo dizer desde que começamos a dormir
juntos. Mas, seu humor hoje sugere que pode ter se cansado de
mim.
Não o vi ontem o dia todo e, quando nos vimos esta manhã, ele
apenas me mandou me arrumar porque me levaria à casa de
Scarlett. Só isso. Era como se eu estivesse conversando com uma
pessoa diferente. Não com o homem que me disse que me queria
ou que disse que eu pertencia a ele.
Ontem de manhã, ele fez minha cabeça girar quando disse que
não me deixaria em paz até que terminasse comigo. Falou isso com
o mesmo tom possessivo com que me contou que havia guardado
minhas fotos. Hoje, porém, com atmosfera formal entre nós, mais
parece que somos colegas de trabalho a caminho do escritório.
Então, só posso concluir que ele já se cansou de mim, que
terminou, como disse que faria.
Por que diabos eu me importaria? Se ele não me quer mais, isso
deveria ser uma coisa boa para mim.
Não deveria?
Significa que voltamos ao que éramos no primeiro dia; exceto,
que ele não teria mais aquele fascínio por mim. Seria mais saudável
para minha mente.
É que ele foi o único cara que conseguiu penetrar meu exterior
gelado e causar alguma reação em mim. Na minha mente fodida,
um lampejo de vida sempre surge em mim quando ele está comigo.
Aconteceu pela primeira vez quando testemunhei aquela centelha
de desejo em seus olhos quando ele me disse que eu não pertencia
mais a Robert.
Ele não faz ideia do quão livre me senti naquela hora, ou como
seu toque me faz sentir-me viva.
Sempre luto tanto para sobreviver, mas nunca me sinto viva.
Nem em meus sonhos e muito menos quando estou acordada.
Ele é o único homem que olha para mim como se eu fosse uma
pessoa, não uma coisa. E quando ele olha para mim, não me sinto a
perdedora que sou ou a mulher quebrada e sem conserto que
sempre destrói tudo o que toca.
Talvez tudo isso estivesse só na minha imaginação e eu vi o que
queria ver e acreditei no que quis acreditar. Já estou com problemas
suficientes, e ele é um problema. Um homem como Eric Markov
representa perigo em todos os sentidos da palavra. Pensar nele de
qualquer maneira, exceto naquilo que efetivamente somos um para
o outro, significa que sou masoquista porque qualquer ilusão só me
levará a sentir mais dor.
Então, talvez seja melhor assim.
Mesmo que não saiba o que está acontecendo com ele, no
fundo, estou feliz que ele veio comigo e não me enviou com um de
seus guardas.
Também é gostoso estar fora do apartamento. Ontem, me
pareceu que ele estava preocupado com o que eu sentiria ao visitar
a casa de Scarlett. Mas, talvez eu tenha imaginado isso também.
O que desejo mais do que tudo é que nossas circunstâncias
fossem diferentes. Ou, melhor ainda, gostaria de poder voltar a um
ano atrás, quando vim a Los Angeles visitar Scarlett.
Um arrepio percorre minha espinha quando entramos na rua da
casa de Scarlett. Prendo minha respiração e tento conter a
ansiedade e a seguir em frente.
Solto um suspiro baixo quando paramos em frente ao seu
moderno sobrado em Redondo Beach. Mas, sinto como se um
torniquete estivesse apertando minha garganta e meu coração dói.
Olho para a casa com detalhes em vinho na beirada do telhado,
destacando a cor creme do resto da casa e sinto como se ela fosse
abrir a porta da frente e sair correndo para me recepcionar.
Tudo o que encontro é o vazio, lembrando-me que ela nunca
mais fará isso.
Quando saio do carro, noto um Sedan preto estacionado do
outro lado da rua. Como sempre presto atenção nessas coisas, olho
e me pergunto quem está dentro do carro.
— Eles são meus homens – Eric explica.
Eu olho para ele, e ele arqueia uma sobrancelha.
— Estão vigiando o lugar? — pergunto.
— Sim. Tenho que ser muito cuidadoso.
— Bem, acho que precisa mesmo.
Ele caminha na minha frente e eu o sigo.
Eu sei onde Scarlett guarda a chave reserva, então vou direto ao
vaso de flores na lateral da varanda com as mini rosas que estão
murchando. Vou regá-las, assim como as flores do jardim, antes de
irmos embora. Scarlett adorava flores. Não posso deixar as flores
dela morrerem também.
Eric me observa enquanto abro a porta e, quando entramos, o
cheiro dela me envolve. Aquele cheiro de mel e esperança enche
minhas narinas e lágrimas ardem no fundo dos meus olhos.
As tábuas do assoalho rangem sob meus sapatos quando entro
mais fundo e olho em volta.
Há caixas na sala de estar e a maioria das coisas dela já foi
guardada. Não sobrou muita coisa que demostre quem morava aqui.
— Mandei um grupo de pessoas para cá guardar as coisas dela
— explica Eric. — Estão fazendo isso um cômodo por vez e
deixando as caixas para que você possa levá-las quando
terminarem.
— Obrigada. Isso é muito útil – respondo.
— Ainda não mexeram no quarto dela no andar de cima, se
quiser começar por lá.
— Sim, claro.
Ao entrar no corredor, meu olhar pousa em uma foto igual àquela
que tenho de Scarlett e eu com a vovó. A dela está na parede. Eu
paro e olho, permitindo que as memórias inundem minha mente.
Olho para Scarlett e lembro como ela sempre foi feliz. Esse dia
aconteceu há muito tempo. Tínhamos seis anos, mas lembro-me da
emoção que sentíamos. Vovó também tornou tudo mais memorável.
Caminho até a foto e estendo a mão para tirá-la da parede, mas
fico com a mão parada, suspensa no ar. Quero abaixá-la, mas não
consigo.
Em vez disso, pressiono minha mão na seda fria do papel de
parede e só me lembro que Eric está comigo quando ele coloca a
mão sobre a minha.
O calor me preenche quando sua pele se conecta com a minha,
e uma faísca de algo que não consigo descrever atinge fundo dentro
de mim e alivia a dor.
Mantenho minhas lágrimas sob controle e o encaro. Meus olhos
se fixam no azul profundo dos seus e tento encontrar forças.
— Deixe isso para lá — sugere ele. — Comece com as roupas.
Vou pegar algumas caixas no carro.
— Ok, obrigada.
Ele me solta e subo as escadas até o quarto de Scarlett, que
está exatamente como da última vez que o vi.
Parece um pequeno refúgio com vários enfeites combinando. Ela
tem um guarda-roupa com suas roupas normais e outro para as
roupas da peça. Ela adorava estar no personagem o tempo todo,
então levava as roupas de cena para casa para ensaiar.
Vou até o guarda-roupa com seus figurinos e o abro. Não posso
deixar de sorrir quando vejo o lindo vestido branco, longo e elegante
que deveria usar para abrir e fechar a apresentação.
A estória da peça Purgatório dos Amantes se passa na década
de 1940 e é sobre uma estrela de Hollywood cujo amante foi para a
guerra. Eles discutiram antes de ele partir e terminaram porque ela
pensou que ele não a amava mais. A peça começa com ela
esperando para ver se ele sobreviveu ao ataque a Pearl Harbor e
passa a mostrar as memórias de como eles se conheceram e o que
viveram juntos. Termina com ele a pedindo em casamento.
A personagem de Scarlett, Michaela St. James, me parece uma
mistura de Blanche Dubois de Um Bonde Chamado Desejo e
Scarlett O'Hara de E o Vento Levou. Ambas foram interpretadas por
minha atriz favorita de todos os tempos, Vivien Leigh. Além de vovó,
Vivien era quem eu canalizava sempre que atuava.
A peça estreia em algumas semanas, mas Scarlett não estará lá.
Com certeza, quando não aparecer nos ensaios, o diretor e
todos que a conhecem vão estranhar e querer saber o que
aconteceu.
Ainda não perguntei a Eric sobre isso.
Pego o vestido e o seguro contra meu corpo. Também tem seu
perfume. Fecho os olhos e penso na minha frase favorita da peça. É
no final quando Michaela pergunta a seu amor, Ryan Montblanc, o
quanto ele a ama e sua resposta é uma das minhas citações
favoritas.

— Eu te amo mais hoje do que ontem, mas não tanto quanto


amanhã.

Murmuro as palavras e penso em como a peça terminará com a


música tocando e as pessoas aplaudindo com entusiasmo porque
as peças de Nick Fairchild são sempre incríveis. Mas, Scarlett não
estará lá.
Quando abro os olhos, fico surpresa ao ver Eric me observando.
Não tenho certeza de quanto tempo ficou parado ali. Perdi a
noção quando vi o vestido.
Ele está carregando uma caixa vazia. Entra no quarto e a coloca
perto de mim. Quando ele se endireita, olha para o vestido em
minhas mãos e para as outras peças no guarda-roupa.
— Estou supondo que esse é parte do figurino – ele afirma.
— Sim. É para a próxima peça. Ela estava tão animada para
usá-lo.
— Combina com você.
— Você acha?
— Sim.
— O mais perto que cheguei de usar algo assim foi quando
estava no ensino médio.
Na minha última apresentação.
— Para o baile de formatura? — ele sorri.
Quando diz coisas assim, ele me faz esquecer a realidade por
um momento fugaz. Eu olho para o lindo design do vestido e acho
que seria adequado para um baile de formatura ou o tapete
vermelho do Oscar. Eu gostaria de ter vivido pelo menos uma
dessas ocasiões. A cerimônia do Oscar é o sonho de toda atriz e o
baile de formatura é outro sonho que toda garota tem. Não tive
nenhum dos dois. Em vez disso, caí no inferno sem fim em que
tenho vivido desde então.
— Não fui ao meu baile de formatura — digo a ele.
— Jura? Não me diga que ninguém te convidou porque não vou
acreditar.
Eu bem que gostaria que o problema tivesse sido esse.
— Não, eu tinha muitas coisas acontecendo na minha vida,
naquela época, e não pude ir.
Ele sabe sobre minha mãe, mas não sabe o horror que
aconteceu depois da morte dela ou porque não consegui terminar o
ensino médio.
— Isso é uma pena. Vamos começar a empacotar as coisas –
sugere ao me entregar a caixa que trouxe.
Eu a pego e, enquanto ele vai até o guarda-roupa principal de
Scarlett, fico aqui e guardo os figurinos dela.
Passamos quase três horas no quarto arrumando tudo com
cuidado antes que o telefone dele toque.
Toda vez que o telefone toca, ou ele recebe uma mensagem de
texto, acho que tem algo a ver com Robert. Ele tira o aparelho do
bolso de trás e responde, em russo, com aquele olhar sombrio que
confirma que estou certa.
Não entendo uma palavra do que ele está dizendo, mas acho
que não preciso saber que está falando sobre Robert. Sempre que
fala sobre ele, tenho vislumbres do homem que Eric é de verdade
por trás de seu charme.
Ele desliga e suas mãos apertam o telefone.
— Desculpe, boneca. Temos que ir — afirma, sem explicações.
— Oh, tudo bem.
— Não se preocupe; voltaremos outro dia. Pegue o que você
tem aí.
— Aconteceu alguma coisa?
Ele segura meu olhar quando estende a mão para tocar minha
bochecha. O calor de seu toque me acalma e percebo que não
deveria estar sentindo isso. De novo.
— Não se preocupe com isso.
— Mas...
As palavras são roubadas da minha mente quando ele planta um
beijo suave em meus lábios. O beijo é suave demais para ele, ou
melhor, suave demais para nós. E, certamente, não é o tipo de beijo
para alguém como eu. É o beijo que daria a uma mulher que
amasse enquanto caminham por um belo jardim ou gramado.
Quando se afasta de mim, parece que surpreendeu a si mesmo.
— Não se preocupe — repete. — Certo?
— Certo.
— Agora, vamos.
Pego a caixa e vamos embora. Ele mandou eu não me
preocupar, mas agora estou muito preocupada porque ele está tão
diferente. Então, agora penso que deve ter acontecido algo
preocupante.
Eu não vou mentir para mim mesma. Tenho medo de Robert.
Tenho medo de que ele tente me matar novamente. Não quero
morrer.
Claro que não quero morrer.
Mas talvez um dia eu não tenha escolha.
Chapter Vinte E Dois

Summer

S
abia, desde que a noite caiu, que teria dificuldade em
adormecer.
Eric e eu voltamos logo depois do almoço, mas não o vi
desde então. Tentei distrair minha mente de tudo lendo o roteiro da
peça de Scarlett.
Scarlett e eu costumávamos praticar nossas falas o tempo todo.
Ler aquelas falas sempre me ajudava a tirar minha mente das
coisas que estavam acontecendo na minha vida. Foi ótimo para mim
quando ela conseguiu o papel nessa peça porque praticávamos
todos os dias. Ficávamos horas no telefone. É um roteiro lindo e
adorava conversar com ela. Então, não me importava quanto tempo
ficávamos ao telefone. Também não me incomodava falar com ela
até mesmo depois de ter acabado um turno no clube. Gostava de
passar um tempo com Scarlett.
Como sou tão perfeccionista quanto minha irmã, sabíamos as
falas de todos os outros personagens da peça. Isso ajudava as
coisas a fluírem bem quando ensaiávamos.
Às dez da noite, como Eric não voltou para casa, assisti TV na
sala de estar antes de me retirar para o meu quarto e cochilar um
pouco.
Estou retomando minha leitura quando ouço algo.
Eu não tenho certeza do que é, no entanto. Os únicos ruídos que
ouço aqui dentro são do lado de fora da porta ou do corredor.
Como não consigo escutar nada, decido sair para dar uma
olhada.
Quando chego à cozinha, ouço passos e conversas vindo do
terraço, perto da jacuzzi. A entrada é logo abaixo do corredor.
Só pode ser Eric que está lá fora.
Minhas bochechas queimam quando me lembro de nós dois
naquela mesma jacuzzi. Já fiz muitas coisas na minha vida, mas a
maneira como me comportei com ele na outra noite foi totalmente
escandalosa.
Se consigo ouvi-lo falando, deve significar que não está sozinho.
E se estiver na jacuzzi, não está lá com um de seus guardas a esta
hora.
Olho para o relógio e vejo que é quase uma da manhã.
Então, se ele está na banheira ou perto dela, talvez esteja com
uma mulher.
Quão estúpida eu pareceria se saísse agora?
Quão estúpida eu sou por sentir uma pontada de ciúme
pensando nisso?
Eu o ouço falar de novo, mas percebo que está falando em
russo, e o tom agudo de sua voz sugere que está dando uma
ordem, como quando fala com seus homens. Ninguém está
respondendo, então isso significa que está ao telefone.
Será que está sozinho?
Meus pés se movem em direção à sua voz quando meu corpo
decide encontrá-lo. Chego à porta e posso vê-lo parado, sem
camisa, na varanda. Tem um charuto em uma das mãos e o telefone
pressionado contra o ouvido com a outra.
Na mesinha da varanda está uma garrafa de vinho aberta.
Paro na porta e observo o rastro de fumaça se misturar com o
luar enquanto ele continua falando. De costas para mim, ele flexiona
os músculos e se endireita parecendo um anjo vingador. Embora
não seja proposital, a beleza de seu corpo musculoso enfraqueceria
as defesas de qualquer mulher.
Até mesmo as minhas. Só pode ser isso já que estou aqui
olhando para ele.
Ou talvez seja apenas uma parte de mim que está presa
pensando em como ele me devorou.
Percebo o momento em que ele meio que olha por cima do
ombro, mas não tenho certeza.
Ele diz mais alguma coisa em russo, coloca o telefone na mesa e
pega a garrafa para tomar um gole de vinho.
Beber da garrafa não parece o estilo dele e me pergunto se há
algo errado.
— Ty sobirayesh'sya smotret' na menya vsyu noch', Kukla? – ele
diz.
Continua de costas para mim. Mas, sabe que estou aqui porque
me chamou de Kukla. Mas, quanto ao que mais ele disse, não faço
a menor ideia.
— Você sabe que não tenho ideia do que acabou de dizer –
respondo, e agora ele se vira para me encarar.
— Então, como sabia que estava falando com você? — sorri.
— Você me chamou de Kukla. Outro dia perguntei a Lyssa o que
isso significava.
— Espero que não tenha perguntado mais nada a ela.
— Perguntei e aprendi minha lição — respondo, com um
pequeno sorriso.
— Talvez seja melhor guardar essas perguntas para mim.
— Sim. Então, o que disse agora?
— Estava perguntando se você ia me vigiar a noite toda.
— Não pretendo fazer isso.
Ele me dá um sorriso misterioso e não posso acreditar como
parecemos normais.
— É uma pena.
— Tenho certeza que não é.
Ele dá outra tragada em seu charuto e, quando um brilho sério
aparece em seus olhos, sei que vai me perguntar algo mais em linha
com os assuntos que normalmente conversamos.
— O que está fazendo aqui a esta hora, Summer Reeves? — Ele
dá outra tragada e solta a fumaça lentamente, que forma pequenos
anéis antes de desaparecer no ar frio da noite.
— Nada... demais – respondo, percebendo como pareço tola.
Está na cara que saí para vê-lo. Eu vim aqui porque ele está
aqui, e não posso negar isso.
Seus olhos percorrem meu corpo, vagarosamente me
observando da cabeça aos pés em meu pijama curto.
— Bem, aproxime-se para não fazer nada demais comigo.
Parece um convite ao pecado.
Eu me aproximo e ele faz sinal para que eu chegue mais perto.
Quando o faço, ofego quando ele me levanta como se eu não
pesasse nada e me coloca sentada na mesa ao lado do vinho.
Ele olha para mim, pega o vinho e me oferece um pouco.
Não sou muito de beber. Posso beber agora para ser social, mas
a situação em que estou é a instigadora perfeita para afogar minhas
mágoas. No passado, entornava várias garrafas quando as
lembranças ruins me atingiam. Depois, mudei para as drogas.
Percorri um longo caminho desde então, aprendendo a identificar os
sinais de quando devo ficar longe de coisas que me tiram do
caminho certo.
Já que ele está aqui comigo, tenho certeza de que alguns goles
não vão me fazer mal. Então, tomo um gole do vinho. Quando
atinge o fundo da minha garganta, a bebida me dá um leve zumbido
que alivia o estresse. É outro vinho de aparência cara que não
reconheço e o rótulo está em russo.
— É gostoso.
— Vinhos russos sempre são gostosos. Este é um Fanagoria
'Cru Lermont' Saperavi.
Eu gosto de ouvi-lo falando russo.
— Já morou na Rússia?
— Não, mas já visitei várias vezes.
— Eu nunca teria imaginado que você era russo.
— Porque sou meio russo.
— Qual metade?
— Uau, parece que tem toneladas de perguntas para mim hoje –
brinca, antes de tomar outro gole e me dar a garrafa.
— Só estou curiosa – afirmo, tomo outro gole e devolvo a
garrafa.
— Bom, vamos fazer o seguinte. Vou responder sua pergunta.
Mas, só se responder a três perguntas pessoais minhas, sem me
enrolar. Você me deve isso, Summer Reeves.
Já não gostei da brincadeira. Parece o predador perseguindo a
presa, tentando encurralá-la. Mas, vou jogar. Gosto da sensação de
normalidade entre nós. É algo que nunca tive, mesmo que não seja
real. Posso fingir um pouco.
— Está bem — respondo com uma voz mansa. — Mas, também
posso fazer mais três perguntas pessoais.
— Combinado – ele concorda de pronto e seus lábios se curvam
em um sorriso pecaminoso que atiça as borboletas no meu
estômago. — Respondendo à sua primeira pergunta, meu pai era
italiano e minha mãe é russa.
— Seu pai era? Então, ele...
— Foi morto alguns anos atrás – responde ele, cortando minha
próxima pergunta.
— Sinto muito.
— Agradeço o sentimento, mas já está tudo bem.
Vejo em seus olhos, porém, que o assunto de seu pai não está
bem. Para confirmar minha suspeita, ele toma um gole de vinho e
coloca a garrafa na mesa.
— Você já fez duas perguntas — ressalta ele. — Minha vez.
— Não me pergunte sobre o clube – digo, rapidamente. — Por
favor. Não consigo falar sobre isso esta noite. Sei que o assunto
deve te fascinar por ser um clube de sexo. Mas, juro por Deus que
nunca teria ido a um lugar como aquele se tivesse outra escolha.
Não sou santa, mas se me conhecesse de verdade, saberia que
nunca escolheria trabalhar em um lugar como aquele.
Ele me encara com uma expressão contemplativa. Depois, seu
rosto se suaviza e ele balança a cabeça.
— Tudo bem, não vou perguntar sobre o clube. Mas, quero saber
o que levou você até Mônaco.
Essa ainda é uma pergunta difícil, dado o estado em que eu
estava quando deixei os Estados Unidos. Havia acabado de atingir a
maioridade e mal havia sobrevivido a todos os acontecimentos da
minha vida até aquele momento. Mas, é uma pergunta mais fácil de
responder.
— Minha vida — ofereço. — Precisava escapar da minha vida,
então fugi.
— Do que estava fugindo, Summer Reeves?
— Coisas ruins, Eric Markov.
Coisas terríveis sobre as quais não consigo falar.
Coisas terríveis que, tenho certeza, ainda poderiam me matar.
Suas sobrancelhas se encontram e me pergunto o quanto sabe
sobre mim. Há coisas que pode facilmente encontrar. Há outras que
não estão registradas. Mas, não será difícil para ele somar dois e
dois, se olhar com atenção.
— Quantos anos você tinha, Summer?
— Tinha acabado de fazer dezoito. Arrumei um emprego de
garçonete e vendi a maior parte das coisas que minha avó me deu.
Coisas que nunca quis vender.
Meu coração pula algumas batidas quando lembro de todas as
coisas sentimentais que vovó me deu e que tive que abrir mão.
— Que tipo de coisas, boneca? — sua voz está mais suave do
que o normal, quase como se sentisse o valor sentimental que eu
tinha pelo que não tenho mais.
— Coisas que só ela sabia que eu apreciaria. Como as pérolas
que usou no set de E o Vento Levou e o vestido que usou em
Casablanca. E outras belas joias que usou em alguns dos outros
filmes clássicos em que atuou.
— Sinto muito que teve que vendê-los. Parece que sua avó
trabalhou em muitos filmes importantes.
— Sim. Ela me deu esses itens porque atuar era o amor da
minha vida e, de todos, eu era a que mais se parecia com ela.
Essas coisas nunca deveriam ter sido vendidas – afirmo. Posso ver
que ele está se perguntando para onde foi todo o dinheiro que
minha avó deixou. Então, não vou fazer suspense. — Meu padrasto
ficou com praticamente tudo o que minha avó deixou para minha
família. As únicas coisas que não tentou pegar foram as que não
conhecia, como o chalé nas montanhas de San Bernardino. Meu tio-
avô morou naquele chalé até morrer. Como não tinha família, a
propriedade reverteu para nós. Scarlett o usava de refúgio.
— Por que você parou de atuar?
Essa pergunta é muito difícil e me leva às razões pelas quais
não consegui mais atuar.
A resposta curta é Ted.
Pessoas criativas trabalham com emoção. Nosso trabalho está
ligado às nossas emoções e, às vezes, é bom porque o melhor pode
sair de você. Mas, não funciona quando se está quebrada e a única
coisa que sente é o fato de estar perdida. Esse é o tipo de emoção
que suga a vida de sua alma.
— Eu tive que parar – decido dizer.
— Por quê? Sua irmã continuou atuando. Por que você parou?
Enquanto seu olhar se fixa no meu, penso na última vez em que
subi no palco. Tinha quinze anos e trabalhei na produção teatral
local de E o Vento Levou. Fiz a Scarlett O'Hara. Foi o primeiro papel
adulto que interpretei e consegui esse papel por causa do meu
talento visceral. Quando se tratava de qualquer coisa com Vivien
Leigh, ninguém poderia me vencer.
Na noite de encerramento, mamãe trouxe Ted para assistir à
peça, e gostaria que ela não tivesse feito isso. Foi a primeira vez
que ela o trouxe para o meu mundo, um lugar que eu havia
conseguido manter sagrado. Ele o contaminou apenas com sua
presença.
Aquela noite, quando chegamos em casa, foi a pior. Ele me
obrigou a vestir o figurino da peça e, enquanto assaltava meu corpo
repetia que seu pau havia ficado duro o tempo todo da peça por
causa do meu desempenho. Disse que mal podia esperar chegar
em casa para me foder.
Essa foi a última vez que atuei em qualquer coisa. Nunca fui
capaz de falar sobre o que aconteceu comigo. O mais perto que
cheguei disso foi quando contei ao meu pai. Mas, ele me fez sentir
como se eu fosse uma prostituta.
Também não posso dizer nada disso a Eric, agora.
— Simplesmente não conseguia mais atuar — afirmo, com um
suspiro fundo. — Acho que já respondi a mais do que três
perguntas.
— Respondeu. Mas, tem mais duas perguntas para me fazer.
Eu penso sobre essas perguntas com cuidado e decido sobre
uma fácil e outra que ele pode não querer responder.
— Quantos anos você tem?
— Trinta e um – diz após erguer uma sobrancelha.
— Não parece estar na casa dos trinta.
— Não?
— Não, você não parece.
— Última pergunta, boneca.
Eu puxo uma respiração funda para tomar coragem.
— Aconteceu alguma coisa com Robert?
— Essa não é uma pergunta pessoal, querida. Tem certeza de
que quer me perguntar isso?
— Sim. É pessoal porque parece que você veio aqui para beber
sozinho. Isso geralmente nunca é uma coisa boa.
Ele abaixa a cabeça por um momento e olha para a vista
panorâmica das luzes da cidade. Quando olha de volta para mim,
relaxa os ombros e me dá um olhar de incerteza.
— Aconteceu alguma coisa. Não é uma coisa boa, mas vou lidar
com isso.
Instantaneamente me pergunto se Robert sabe que estou viva e
fico nervosa.
— Robert sabe que estou viva?
— Não, acho que não sabe – afirma e estuda meu rosto onde,
tenho certeza, minha apreensão está estampada. — Não se
preocupe. Você saberá quando ele souber a verdade.
— Saberei por que você vai me contar? Ou por que vai me usar
como isca para enganá-lo? – seguro seu olhar e tento não revelar o
quanto estou preocupada que ele faça mesmo isso.
O ar contemplativo em seus olhos faz meu coração acelerar.
Será que realmente me usaria como isca?
Não o conheço bem o suficiente e meus instintos me dizem que
não devo tentar conhecê-lo. Em meu coração, espero que ele seja
diferente das outras pessoas na minha vida e não me use quando
minhas forças estiverem diminuindo. Aquela força interior que eu
tinha está me deixando. E só Deus sabe como vou ficar quando
enterrar minha irmã. É então que a dura verdade vai realmente
afundar.
— Eu não vou deixar Robert chegar até você, Summer —
responde Eric, e os nós de tensão em meu estômago afrouxam.
A convicção em seu tom me surpreende. Soa como uma
promessa ou um voto. É diferente de quando cheguei aqui. Naquela
época, eu teria apostado meu último centavo que ele me entregaria
a Robert na primeira chance que tivesse, apenas para ter uma
oportunidade de matá-lo.
— Você não vai?
— Não.
Quando seus olhos escurecem, a questão me vem novamente
sobre o que Robert fez com ele. A raiva crescendo nas profundezas
de seu olhar tempestuoso é inconfundível, e minha alma estremece
de medo.
— O que ele fez com você, Eric?
Um sorriso sombrio curva seus lábios, mas seus olhos
permanecem os mesmos.
— O tempo das perguntas se esgotou, boneca – afirma,
cortando qualquer coisa que eu queira perguntar sobre Robert. — E
fui gentil o suficiente para responder a mais perguntas do que
esperava. Acho que está na hora de fazermos algo mais
interessante, não concorda?
— Como o que? — já sei que estou procurando problemas com
esse tipo de pergunta, mas faço mesmo assim. É melhor saber o
que seu perseguidor pretende fazer do que permitir que ele enrole
você com jogos antes de te prender.
Ele apaga o charuto no cinzeiro sobre a mesa e me encara.
Desta vez, vejo o mesmo desejo latente que me consome. O
mesmo desejo que me faz ansiar por me entregar. Ele oferece a
garrafa para mim novamente e tomo outro gole.
O olhar, a vibração irresistível que emana dele e o álcool
atormentando meu cérebro me atraem para o que sei que vai
acontecer a seguir.
— Vamos brincar – afirma, segurando a bainha da minha blusa e
puxando-a para baixo até que meus seios fiquem quase expostos.
— Tire isso para que eu possa chupar você.
Quando levanto a blusa sobre a cabeça e ele me encara, não me
sinto a mulher que era algumas noites atrás.
Eu me sinto como a mulher que o deseja. Quero que ele me
ajude a escapar da realidade.
— Você é perfeita para caralho – diz antes de erguer a garrafa
de vinho e derramar o conteúdo sobre minha cabeça.
Ele sorri quando o líquido frio escorre pelos meus seios. Ele se
abaixa para lamber algumas gotas que se acumularam sobre meu
mamilo.
— Delicioso — ele murmura. — Venha aqui.
Seguindo sua ordem, cubro seus lábios com os meus e fujo da
realidade enquanto nos beijamos.
Nossas roupas caem espalhadas pelo chão e ele me posiciona
para me foder ali mesmo, na varanda. É então que percebo o
tamanho da encrenca em que me meti. Agora tenho certeza de que
aquela faísca que sinto quando estou com ele é mais do que apenas
atração.
E essa é a parte perigosa porque não tenho forças para resistir à
tentação de pertencer a ele, de corpo e alma.
Chapter Vinte E Três

Eric

T
oda vez que beijo essa mulher, sinto como se estivesse
pendurado à beira de um penhasco, e o menor gesto pode me
empurrar para o abismo.
Ela está na minha vida há menos de uma semana e olhe só em
que estado eu estou por causa dela. Na semana passada, eu não
sabia nada sobre ela.
Estava cuidando das minhas coisas, planejando a morte dos
meus inimigos. Agora, estou fazendo sexo com ela, pressionando-a
contra a parede do meu chuveiro.
De novo.
Perdi a conta de quantas vezes a fodi nessas últimas horas e, a
cada vez que fazemos sexo, sinto que perco um pouco mais do
controle sobre a situação. Eu sinto que ela está escorregando
também e isso é algo que ela nunca deveria fazer. Nenhum de nós
deve confundir o que somos. E nenhum de nós deve ir tão longe na
linha de raciocínio que não consiga voltar atrás.
Não posso perder de vista o fato de que não posso dar a ela o
que ela mais precisa.
Ela falou que estava tentando escapar de sua antiga vida. Mas,
acho que nem ela mesma percebeu que estava fugindo das coisas
ruins que aconteceram a ela, seja lá quais foram, porque queria ter
a chance de viver. Não preciso conhecê-la há muito tempo para
saber isso sobre ela.
Quando a beijo, parece que ela está me dando uma nova vida,
como se cada toque de seus lábios estivesse enchendo minha alma
escura com a luz dela.
Eu seguro seu rosto e enterro meu pau bem fundo dentro dela,
mais uma vez, tomando o que ela está me dando de bom grado.
Seus gemidos enchem meus ouvidos e cada célula do meu corpo a
absorve. Enquanto a penetro, prendo seu olhar e vejo a luz
novamente. É como olhar para o que você mais deseja e saber que
terá que lutar muito para conseguir.
É algo que sei que quero, mas tenho certeza de que não devo
ter, porque não importa o que eu sinta por ela, não posso tê-la. Eu
não posso ficar com ela.
A luz em seus olhos brilha, antes de ser engolida pela dor, uma
dor muito antiga.
Dor que me faz querer saber de que coisas ruins ela estava
fugindo. Mais chocante ainda é o meu desejo de apagar esse
passado de sua mente.
O que será que aconteceu com ela?
Poderia perguntar de novo, mas ela não vai me dizer. Então,
faço a única coisa que posso e me inclino para mais perto para
roçar meus lábios nos dela.
É quando sinto o sabor salgado na minha língua e olho para seu
lindo rosto para ver uma lágrima rolar por sua bochecha. Uma
lágrima distinta do leve borrifo de água sobre nós.
— O que aconteceu contigo? — acabo fazendo a pergunta, e
soa estranha fora da minha mente porque não estávamos falando
sobre nada.
Ela sabe exatamente o que quero dizer e balança a cabeça,
negando-me uma resposta.
Ela enxuga as bochechas, mas outra lágrima rebelde vaza de
sua alma. Enquanto rastreia sua pele sedosa, sinto que sou outra
pessoa quando me inclino e beijo suas lágrimas. Eu as provo,
surpreendendo a ela e a mim mesmo pelo gesto completamente
inesperado. É como o diabo beijando o anjo.
Às vezes, porém, é o anjo que tenta o diabo como esta mulher
faz comigo.
Eu a provo e a quero novamente.
A excitação volta aos olhos dela. Então, quando eu a chamo, ela
vem de bom grado. Seus lábios cobrem os meus para um doce beijo
novamente. Quando suas mãos pressionam meu peito e seu corpo
exuberante se funde com o meu, não tenho certeza se ela sabe que
está mostrando que me quer.
Eu não ligo.
O beijo me faz esquecer, e tudo que faço é senti-la.
Ficamos assim até o sol nascer. A única coisa que fazemos
diferente é passar do chuveiro para a minha cama.
À medida que o sol nasce, sei que esta tem que ser nossa última
vez. Não posso nem pensar em ter mais nada com ela. Esta precisa
ser a última vez para sempre.
Não só porque tenho outras prioridades, mas porque estar com
ela me faz perder o foco. Tenho que estar na rua com meus homens
hoje. Isso significa que preciso dedicar toda a minha atenção aos
meus esforços.
Ontem, Borya conseguiu uma pista sobre os caras do cartel e
voltei para a fase de planejamento. Chegou ao ponto em que
preciso estar focado. Qualquer distração poderia me custar todo o
nosso trabalho duro.
Summer Reeves não pode ser mais do que uma mulher para
aquecer minha cama. Nosso desejo de escapar da realidade
consumiu nós dois.
Talvez a tenha afetado mais do que a mim. A dor dela é recente,
a minha é antiga, e nossas histórias são diferentes. Não sei qual é
exatamente a estória dela, mas sinto que é mais escura que a
minha.
Quanto a mim, meus inimigos precisaram me incapacitar para
conseguirem me subjugar. E as pessoas que dependiam de mim
sofreram com isso. Mesmo que muitos dos meus problemas tenham
sido minha culpa, a traição de Robert não foi.
É por isso que é hora de eu deixar a fantasia de lado.
Eu me endireito e saio da cama enquanto ela rola de lado, de
costas para mim.
Ao entrar no banheiro, olho para o meu reflexo no espelho e noto
um brilho saudável iluminando minha pele. Eu quase pareço
humano. Como costumava ser. A vida não era perfeita naquela
época, e aceitei que nunca seria por causa da situação com meu
pai, mas pelo menos achava que tinha um futuro pela frente. Um
cara como eu, com todo meu conhecimento e habilidade, sempre
teria futuro, e eu tinha o apoio da Markov Tech.
O primeiro golpe que esse meu futuro levou foi a morte do meu
avô. Pelo menos, ele morreu de causas naturais. O golpe seguinte
foi o assassinato de meu pai e quando pensei que minha mãe
também se juntaria a ele depois do acidente.
As coisas só pioraram depois disso, assim como meu conceito
do meu futuro. Agora, tudo o que vejo é um buraco negro. Então, o
homem que estou olhando no espelho é apenas um reflexo de uma
ilusão que desaparecerá assim que a novidade de estar com
Summer Reeves acabar.
Eu desvio o olhar. E me limpo para tirar a evidência de nossa
foda animalesca. Depois, pego uma toalha e enrolo na minha
cintura. Voltarei depois de mandá-la para o quarto. Preciso tomar
um banho quente. Na verdade, talvez seja melhor tomar um banho
frio para acalmar a excitação que já está fazendo meu pau ficar
duro.
De novo.
Pego outra toalha, esta para Summer, e a umedeço com um
pouco de água morna para ela poder se limpar também.
Quando volto para o quarto, encontro-a se preparando para
vestir uma das minhas camisas. Suas mãos delicadas congelam
quando entro e ela me dá um olhar cauteloso.
— Não pensei que fosse voltar logo — ela murmura.
— Coloque a camisa e pegue isso – digo, estendo a toalha, que
ela parece surpresa ao ver.
Ela termina de se vestir e aceita a toalha. Eu a observo se limpar
e pego a toalha de volta quando ela termina.
Jogo-a no cesto de roupas sujas.
— Vou passar o dia fora – informo, indo direto ao assunto. É
agora que tenho que traçar aquela linha que nenhum de nós deve
mais cruzar. — Provavelmente, ficarei fora amanhã também.
— Amanhã? — repete, com um toque de decepção em seus
olhos.
Claro que está decepcionada porque amanhã é o dia em que
verá o pai e deve ter presumido que eu iria com ela. Eu poderia ir,
mas acho melhor não porque preciso colocar certa distância entre
nós.
— Sim, amanhã. Vou providenciar para que meus homens a
levem até seu pai pela manhã e cuidem de você enquanto eu estiver
fora.
— Achei que você iria me levar.
— Não. Meus homens irão – respondo, curto e sem emoção. —
Não sei como serão os próximos dias, então vou providenciar para
que também levem você ao funeral.
Com a menção do funeral, ela fica pálida e parece que a menor
brisa a levaria embora.
— Oh, está certo.
— Se tudo correr bem, podemos encerrar isso o mais rápido
possível e continuar com nossas vidas.
Sei que pareço um idiota por minha falta de compaixão, mas é
melhor assim.
— Sim, isso seria bom – ela murmura. Seus olhos encontram os
meus e ela estuda meu rosto como se estivesse procurando por
algo, procurando por mim. Quando não consegue encontrar o que
está procurando, junta as mãos brevemente e depois as solta.
— Aconteceu mais alguma coisa? — ela pergunta, timidamente.
— Não. Por quê?
— Você está... – ela hesita, como se procurasse a palavra certa,
antes de completar a frase, – diferente.
— Não, eu não estou diferente. Só acho importante que você
não fique muito apegada a mim.
— Oh, compreendo – seus lábios se apertam e depois se abrem,
e seus olhos percorrem o quarto, olhando para tudo menos para
mim. Quando ela finalmente olha para mim, a luz que vi antes
desapareceu. — Acho que você já terminou seu interesse por mim,
então.
Não respondo sua pergunta indireta. Mas, quando ela se move
para passar por mim, agarro seu braço e a puxo de volta.
Deveria deixá-la ir, mas o conflito dentro de mim está ferrando
com minha cabeça.
Seguro seu rosto e ela tenta soltar seu braço, mas eu aperto
mais forte.
— Solte-me, Eric – ela exige.
— Você precisa se lembrar de com quem está falando.
— E você precisa ir se foder.
Meu sangue ferve e me lembro que não posso ter as duas
coisas. Ela não deve me querer, mas também não quero que ela me
odeie.
— Solte-me, Eric. Você realmente acha que estou com medo de
qualquer coisa que você possa fazer comigo neste momento?
Ela não está com medo de mim. Se estava antes, não está mais
porque estraguei tudo ao permitir que ela visse que eu a quero.
Eu a solto e a observo enquanto ela sai correndo do quarto.
Eu endureço o que resta do meu coração e finjo que não a tratei
como uma prostituta. Como se ela fosse uma foda fácil da noite
passada e agora que terminei com ela, posso mandá-la embora.
Não terminei com ela e acho que nunca vou terminar. Por isso,
endureço meu coração e finjo que não sei que tudo o que ela
precisa é de alguém que cuide dela. Endureço meu coração e finjo
que não sei que ela precisa de mim.
Quando a porta se fecha atrás dela, tudo desaba dentro de mim.
E me pergunto quando foi que sacrifiquei minha própria humanidade
para me tornar esse ser sem coração que sou agora. Acho que foi
muito antes de Robert me trair. Ele apenas me levou para um nível
mais elevado de vilão.
Mas, pela primeira vez em muito tempo, me pergunto como seria
voltar a ser quem eu era.
Chapter Vinte E Quatro

Eric

A
escuridão está sempre cheia de demônios.
Demônios como eu e os meus que caçam outros demônios
como esses cinco homens do cartel ajoelhados diante de mim
com as mãos entrelaçadas atrás de suas cabeças.
Nós os pegamos. Esses são os caras com quem precisamos
falar. O resto foi morto quando o banho de sangue começou.
Estão enfileirados na frente do caminhão deles, que estava cheio
com cinquenta meninas nuas e amarradas com correntes. Estavam
sendo preparadas para serem enviadas sabe-se lá para onde e
vendidas para sabe-se lá quem. Atrás está o navio cargueiro onde
seriam contrabandeadas. O capitão do navio está morto, assim
como os outros que tentaram nos derrubar quando chegamos.
Depois de soltarmos as meninas e arranjarmos alguém para
levá-las de volta para suas casas, alinhei os filhos da puta restantes
para interrogá-los.
Ao meu lado está Alejandro e uma mistura de meus homens,
incluindo Borya e Oleg, e alguns outros da Irmandade.
Alejandro olha para o homem que identificamos como o líder das
atividades criminosas desta noite. Seu nome é Bernardo Diaz e
atualmente está na lista dos mais procurados do mundo. O filho da
puta tem uma cicatriz de faca que atravessa seu rosto. Ele parece
estar pronto para uma batalha, embora Alejandro tenha uma arma
apontada para sua cabeça.
— Hora de falar, Bernardo — provoca Alejandro. — Onde está
Micah Santa Maria?
Não há resposta de Bernardo e não parece que pretende dizer
merda nenhuma.
Alejandro olha para mim ao perceber a mesma coisa e quando
olho para Bernardo, ele passa a me xingar em espanhol.
– Russo filho da puta. Você matou meu primo – diz ele. Mais
cedo, ele me ouviu falando em russo com Borya. – Vocês vão todos
queimar no fogo do inferno em nome de Jesus Cristo e Santa Maria.
Certamente, Bernardo não está falando de Micah Santa Maria.
Está se referindo à Santíssima Virgem Maria.
Ele cometeu dois erros quando abriu a boca. O primeiro foi,
claro, que não sabia que sou fluente em espanhol e português.
Então, entendi perfeitamente tudo que disse. Seu segundo erro foi
dizer todas as coisas erradas.
Para impedi-lo de continuar falando merda e reclamar, saco
minha arma e atiro nos dois homens ao lado dele. Eram seus
ajudantes, mas ele é o cara com quem precisamos falar. Seu rosto
endurece de medo e raiva ao presenciar a morte do homem ao seu
lado, Hector Diaz, outro primo de Bernardo.
Quando abrimos a porta traseira do caminhão, encontramos
Hector estuprando uma das meninas enquanto o outro cara que
matei agora a segurava. Ambos estão mortos e a visão cala a boca
de nosso novo amigo.
Eu chego bem perto de seu rosto e o acerto com a parte de trás
da minha arma com tanta força que ele cai.
– Vou cortar o resto da sua cara feia se não nos contar o que
precisamos saber – digo a ele em espanhol impecável.
Quando termino minha ameaça, ele parece tão assustado
quanto deveria.
Alejandro ri e permito que ele tome as rédeas novamente.
— Bem, vamos começar de novo, Bernardo. Onde está Micah
Santa Maria? – Alejandro exige.
— Não sei. E se soubesse, não te contaria. Ele vai matar minha
família se fizer isso.
Alejandro se abaixa e bate na cabeça de Bernardo com o cano
de sua arma. Ele se move até os dois homens restantes no final da
linha e para na frente deles. Estavam na frente do caminhão se
preparando para levar as meninas ao navio, quando chegamos.
— Vai me contar alguma coisa? — Alejandro pergunta ao
primeiro homem.
— Eles não sabem de nada. São motoristas — grita Bernardo.
— Todos vocês sabem quem eu sou, certo? — Alejandro
pergunta e eles concordam. — Então, sabem por que nunca faço
tráfego humano. Foi assim que perdi minha irmã e toda vez que
tenho uma chance de vingá-la, faço isso com prazer. Como agora.
Assim que as palavras saem de seus lábios, ele dispara duas
balas na cabeça dos motoristas. Agora, só falta o Bernardo e parece
prestes a se cagar.
— Pronto para conversar? — pergunto.
— Vá a merda, caralho.
— Parece que prefere que o torturemos explodindo um membro
de cada vez.
— Foda-se.
— Resposta errada – grito e atiro em seus joelhos.
O sangue espirra por toda parte e Bernardo berra, apertando os
joelhos em um pânico frenético apenas para encharcar as mãos
com sangue tão espesso que parece alcatrão na mistura das luzes
do cais e do luar.
Na minha experiência, homens como ele tentam manter o
silêncio porque sabem que seus entes queridos estão mortos se
falarem. Mas, a quantidade certa de dor pode obrigar um homem a
vender sua própria mãe.
— Agora sabe que estamos falando sério — acrescento. — Eu
acho que é hora de começar a falar. A menos que queira outro
membro estourado.
Engatilho o martelo na minha Glock e ele levanta as mãos
ensanguentadas.
— Por favor, não. Chega. Não estava mentindo quando disse
que não sei onde Micah está. Estávamos apenas fazendo um
trabalho para ele.
— Qual é o trabalho?
— Ele está levando garotas para seu leilão de virgens na Itália
no final do mês. É para onde estávamos indo hoje à noite – ele
gagueja. — Precisa de trezentas porque esse mercado é mais
importante que os outros. Ele recebe sete milhões adiantados e
outros dois milhões quando as meninas forem vendidas.
— Por que este é mais importante do que os outros? —
Alejandro interrompe.
— É um negócio da Camorra. O líder do Grande Sindicato está
morrendo e Micah quer o cargo. Para isso, precisa superar Tobias
Rivera e conseguir que todos os membros votem nele, incluindo o
líder maior. Isso significa que tudo o que ele trouxer para a mesa
tem que superar Tobias, até o último centavo.
Alejandro olha para mim, e vejo quanto está fervendo. Sei muito
bem quem é Tobias Rivera. Ele não é um cara qualquer. Seu nome
costuma ser sinônimo da Camorra. O infame sindicato de que
Bernardo está falando é liderado pelo pai de Tobias, Dante Rivera. É
parecido com o nosso, mas a principal diferença é que o deles
funciona em uma escala maior com os governos e a elite mundial.
Somos independentes, mas essas pessoas praticamente são donas
do mundo.
Tudo faz sentido agora e explica por que Micah está coletando
tantas coisas diferentes. É para expandir seu valor em uma escala
tão grande que sua vitória será irrefutável. É como tentar ganhar
uma eleição. Quando escolhem um líder no Sindicato da Camorra, é
um homem que não apenas ganha os votos de todos os membros; o
que o define é seu dinheiro e seus bens.
— Quando isso vai acontecer? — Alejandro exige.
— Primeiro fim de semana de agosto na Sicília — gagueja
Bernardo.
Merda. Ainda falta várias semanas. O primeiro fim de semana de
agosto é um dia depois que Micah e Robert combinaram trocar
contratos com Barrabás pelo dispositivo, e parece que o mercado
virgem aconteceria ao mesmo tempo.
— Você vai vê-lo antes disso? — Interrompo. De jeito nenhum
Micah vai deixar tudo para esses caras prepararem.
— Sim, mas nunca sei quando vou vê-lo até um dia antes de ele
chegar. Jake me contata com um horário e um local.
Jake. Esse é a porra do Robert.
— O que Jake faz para Micah, Bernardo? — pergunto.
— Tudo. Mas, é apenas um intermediário. Ele tem uma ligação
no Brasil que ninguém conhece — responde Bernardo, olhando para
Alejandro. — Foi essa conexão que ajudou no assassinato de seu
irmão.
— Fala como se estivesse lá. Estava? – Alejandro fica cara a
cara com ele.
Quando Bernardo fica quieto, Alejandro o chuta no estômago e
atira em seu braço.
— Responda, porra – Alejandro grita.
— Estava, mas Jake hackeou a segurança e abriu as portas para
os homens entrarem. Essa pessoa, estava vigiando o local e sabia
das coisas. Ainda sabe.
— Você fala como se soubesse quem é.
— Não sei. Já ouvi telefonemas e presenciei reuniões, mas
nunca vi seu rosto. Tudo o que sei é que ele é o cara principal
puxando as cordas. El Diablo. É assim que o chamamos. Micah e
Robert são fantoches a quem ele fez promessas. Assim como eu. É
ele quem quer seu império, Alejandro. Então, mesmo que mate
Micah, não vai acabar com ele. Micah era apenas o homem mais
forte que o diabo conhecia que poderia enfrentar o cartel Ramírez e
acabar com você e seu irmão.
Isso significa que há um problema maior, outra pessoa com
quem se preocupar.
Alejandro parece atordoado e perplexo, como seria esperado.
— O que vai acontecer em L. A.? – pergunto.
— Mais meninas. Organizamos o navio quando conseguimos a
quantidade necessária de que ele precisa. Agora, precisa de mais
cem antes do fim do mês.
— Como você entra em contato com eles?
— Por e-mail. Eu...
Antes que Bernardo possa dizer a próxima palavra, uma bala
passa zunindo por nós e se aloja em sua testa.
Todos entramos em ação quando isso acontece.
Balas voam a torto e a direito, dos telhados dos armazéns que
nos cercam. Busco proteção, com Alejandro ao meu lado, e
atiramos de volta assim que conseguimos uma visão clara dos
homens que agora vejo que estão mascarados.
— Vamos acabar com esses filhos da puta – Alejandro grita,
correndo para frente com um rosnado selvagem.
Estou bem atrás dele com minhas armas sacadas e pronto para
matar. E matamos mesmo.
Enquanto permaneço junto ao Alejandro, Borya leva os outros
homens pelo beco à nossa esquerda.
Um cara corre pelo telhado do armazém com uma metralhadora,
mas recua quando nos vê chegando. Não sei para onde o filho da
puta vai.
Alejandro e eu corremos pelo beco escuro que nos leva às
escadas que chegam ao telhado. Algo cai à minha frente enquanto
corro.
Na nesga de luar, mal percebo o que é a tempo e paro tão
abruptamente que Alejandro bate em mim.
É uma porra de uma granada, com o pino solto, pronta para
explodir.
Eu me viro, agarrando-o, e damos alguns passos para frente
antes que a coisa exploda e nos mande voando pelo ar.
Quando caio, bato com força no chão, e destroços e partes dos
armazéns que foram explodidos caem ao meu redor como gotas de
chuva.
Nem sei onde o Alejandro foi parar.
Eu apenas fico parado por alguns instantes antes de minha
mente se acalmar. Na verdade, posso até ter desmaiado.
De repente, lembro do meu pai que morreu na explosão da
bomba na sede do Sindicato. Penso em quais devem ter sido seus
últimos pensamentos. E seus últimos arrependimentos.
Estou ferido, sinto uma mancha de sangue encharcar o meu
lado, mas não estou morto.
Passos ecoam perto de mim e torço para que não seja o inimigo,
porque não sei onde minha arma foi parar.
Agradeço a Deus e a todos os anjos quando vejo os rostos de
Alejandro e de Borya pairando sobre mim. Eles não estavam se
aproximando de mim; já estavam aqui. Tudo está distorcido ao meu
redor.
Que merda!
Estavam nos observando e conseguiram fugir.
Chapter Vinte E Cinco

Eric

U
ma hora mais tarde, nos reagrupamos no meu escritório na
Markov Tech com meu médico de plantão, que cuida dos
nossos ferimentos.
Alejandro e eu estamos feridos, mas ele precisou de pontos.
Esta noite foi ruim e não estávamos nem um pouco preparados.
Fomos emboscados e poderia ter terminado pior do que acabou.
Nós dois poderíamos estar mortos.
O médico me aconselhou a ir ao hospital para fazer um check-
up, mas de jeito nenhum vou a lugar algum depois de ouvir a merda
que estamos enfrentando.
Depois que o médico termina de preencher a receita de nossos
analgésicos e vai embora, me preparo para falar.
Alejandro se endireita contra o encosto do sofá e suspira.
— Parece que temos muito trabalho pela frente; nós estávamos
sendo vigiados hoje à noite – afirmo.
— Eu sei, amigo, e os filhos da puta fugiram.
— Sim. Acredito que perdemos a vantagem que tínhamos. Eles
agora sabem que somos e que estamos ferrando com eles e
eliminando seus caras.
— Sinto que não sei o que fazer, Eric – Alejandro admite,
chacoalhando a cabeça. – Sempre sei o que fazer. Estou neste jogo
há muito tempo e, em todos os meus longos anos, esta é a primeira
vez que me sinto assim. Não tenho a menor ideia de quem é essa
pessoa que está atrás de mim.
Nem eu.
— Jude Kuzmin e Igor Evanovich prometeram muitas coisas ao
Robert, inclusive contatos quando ele me levou para o Brasil. Esses
são os únicos dois grandes nomes que tenho e Jude está morto.
Não acho que seja o Igor.
No começo, até me perguntei se seria ele. Mas, Igor parece ter
perdido contato com Robert depois que me levaram para o Brasil.
Depois que o trabalho foi feito, Robert recebeu o que prometeram a
ele e Igor desapareceu.
— Também não acho que seja o Igor; parece mais pessoal –
Alejandro afirma.
— Parece mesmo porque o Bernardo disse que essa pessoa
sabia das coisas e ainda sabe das coisas.
Isso soa como alguém que Alejandro conhece. Alguém com
sede de vingança que não quer apenas tomar seu império.
— Acho que estou em uma situação muito perigosa aqui –
murmura e um traço de preocupação aperta suas sobrancelhas. —
E não vou saber distinguir quem está ao meu lado de quem não
está. Micah é apenas uma pessoa, mas esse outro cara é meu
verdadeiro inimigo.
— Mas, ele pensou que Micah seria mais forte para derrubar
você. Então, isso significa que ele não consegue fazer isso sozinho
– indico.
— Concordo. Por outro lado, ele tem que ser alguém poderoso
suficiente para atrair um homem como Micah. É como o tigre
pedindo ao leão para ajudá-lo a vencer uma batalha. Suponho que
El Diablo, como Bernardo o chamou, ofereceu a Micah algo que ele
queria. Algo que lhe desse uma chance de conseguir a liderança da
Camorra.
— Quando acabarmos com Micah e Robert, enfraqueceremos El
Diablo.
Ele solta um suspiro irregular e concorda:
— Sim, acho que é tudo o que podemos fazer até que eu
descubra mais.
— Estou trabalhando no rastreador – digo, com uma pontada de
frustração na voz. Ainda estou trabalhando nisso e tentando
descobrir o que diabos fazer para encontrá-los. — Parece que ainda
é nossa melhor chance de chegar até eles antes do final do plano
deles. Então, vamos continuar como estamos. Mesmo que saibam
que estamos atrás deles, acho que vão tentar ser mais cuidadosos
porque estão muito perto de conseguir o que querem para
estragarem tudo agora.
— Ou, pelo menos, é o que pensam. O único curinga que temos
é a garota. Ela é uma ameaça para eles, amigo. Agora sabemos o
tamanho da ameaça que ela representa porque conhecemos os
planos de Micah. Mesmo que ele cortasse nossos olhos e línguas, o
fato de ela respirar seria uma ameaça. Conseguir a liderança da
Camorra é como ter o mundo aos seus pés.
Suas palavras arrepiam os cabelos da minha nuca e meu
sangue pulsa mais forte no peito. Não gosto de nenhuma menção a
Summer nessa merda toda. Mas, sei que Alejandro está certo. A
única maneira de manter Summer segura é matá-los antes que eles
a matem.
Essa é a resposta e a maneira de consertar tudo isso.
— Vou encontrar uma forma de rastreá-los. Eu consigo fazer isso
– digo com determinação, e ele balança a cabeça.
— Espero que sim, amigo.

Enquanto volto para casa, tudo o que aconteceu esta noite passa
pela minha cabeça, e me pego pensando em Summer, que
provavelmente me odeia agora.
Quando entro em meu apartamento, vou direto para o quarto
dela, mesmo sabendo que deve estar dormindo. São três da manhã,
então ela deveria estar.
Está dormindo, mas a luz está acesa. Está encolhida na cama
com a cabeça apoiada em um travesseiro encharcado de lágrimas,
prova de que chorou até dormir. Ao lado dela está um pequeno
diário com a mesma foto que a vi olhando na casa da irmã. A foto
dela com a irmã quando eram pequenas e uma mulher mais velha
com os braços em volta delas. Reconheço a mulher como a avó, a
lenda de Hollywood.
Pego o diário e olho dentro. Há fotos de Summer de quando era
criança. Depois, na adolescência e ainda tem algumas fotos de
atrizes de Hollywood que admira. Há um monte de Vivien Leigh.
Depois, vejo uma de Summer vestida como a personagem de E o
Vento Levou. Com sua beleza marcante, ela é a cara da atriz.
Quando chego ao meio do diário, tudo muda. Em vez de fotos
dela, há imagens de Ted, seu padrasto. E são recortes de jornais.
Encontro um artigo elogiando-o por seu trabalho com as crianças
da comunidade. Embaixo, Summer escreveu a palavra Monstro em
vermelho. As próximas páginas são iguais. Artigos de Ted e a
desfiguração de sua imagem com a palavra Monstro. Continuo
folheando cerca de vinte páginas assim, e termina com um recorte
de um artigo dele como capa da revista People quando foi eleito o
homem do ano. Embaixo, ela escreveu:

Enquanto eles o elogiam, eu ainda estou no inferno e ainda sofro.


Ninguém me ouviu porque não se importavam.
Ninguém cuidou de mim porque não se importavam.
Ninguém me salvou porque não se importaram.
Eu sou tão inútil. Temo que chegará o dia em que não me importarei
também.
Então, também não vou querer me salvar.

As palavras enviam um arrepio de gelo pela minha espinha que


percorre meu corpo e fito o texto como se tivesse assumido vida e
estivesse falando comigo.
As palavras e o termo que usou para o padrasto rolam juntos em
minha mente. De repente, entendo, sem sombra de dúvida, do que
ela estava tentando escapar quando fugiu para Mônaco.
Ted.
Ele fez algo a ela.
Algo que o fez se tornar seu monstro. Tenho um forte palpite
sobre o que ele fez, mas não gosto da resposta que vem à minha
mente.
Levo um momento para virar a página e vejo que não há mais
nada depois disso. São apenas páginas em branco, mas posso ver
que ela deve ter lido isso esta noite porque parecem estar molhadas
de lágrimas.
Olho para ela, notando o quão vulnerável parece. Mesmo
dormindo, posso ver que ela já está naquele estado de espírito onde
não vai mais querer se salvar.
Não quero que isso aconteça com ela.
Coloco o diário de volta ao lado dela na cama e me sento no
parapeito da janela.
Como um anjo negro, fico de guarda, protegendo Summer
enquanto ela dorme.
Chapter Vinte E Seis

Summer

E
u acordo com os raios radiantes do sol se derramando sobre
mim. Quando abro os olhos, dou de cara com a pessoa que
nunca esperei ver em meu quarto a esta hora.
Eric está sentado à janela, com a cabeça apoiada na parede,
observando a cidade acordar lá embaixo.
Assim que me mexo, porém, ele olha para mim e tenho a
impressão que não dormiu.
Quero perguntar o que está fazendo aqui, mas decido não fazer
isso. Afinal, esta é a casa dele e ele pode estar onde bem quiser.
Eu é quem sou visita e só estou usando este quarto
temporariamente.
Ele se endireita e seus olhos passam de mim para o meu diário
que larguei sobre a cama ao meu lado ontem.
Quando seu olhar se fixa em mim novamente, me pergunto se
ele ficou aqui tempo suficiente para ler o conteúdo. Pretendia
colocá-lo de volta na minha mala, mas adormeci. Chorei até dormir.
O peso da dor tomou conta de mim e tive que chorar para aliviar um
pouco o aperto em meu peito.
Depois, acabei folheando o diário e me aventurando nas páginas
que não deveriam estar nele. Anos atrás, enchi meu diário com os
recortes sobre Ted e o monstro que é porque era o único lugar
seguro onde podia desnudar minha alma.
— Bom dia — diz Eric.
— Oi.
Não sei o que está acontecendo ou por que ele está aqui quando
deixou claro ontem que não estaria mais por perto. Já tomei fora
vezes suficientes para entender uma dica. Então, preenchi as
lacunas que ele deixou em branco.
— O que está acontecendo? – acabo perguntando.
Talvez tenha encontrado Robert. Pode ser por isso que está
aqui. Meu estômago aperta em nós de antecipação.
— Nada demais. Só estava checando para ver se você estava
bem.
— Não ouvi quando você entrou. Estava dormindo.
— Era de madrugada, então achei mesmo que estaria dormindo.
— Você dormiu aqui? — dou a ele um olhar estreito.
Ele sorri antes de responder:
— Não, não dormi, mas fiquei aqui.
— Precisa de mim para alguma coisa? — tenho que perguntar
por que o fato de estar aqui não faz sentido nenhum para mim.
— Vou levar você para ver seu pai.
Enquanto nos olhamos, não sei o que dizer. Não vou fingir que
não sinto alívio ao saber que ele vai comigo. Também não vou fingir
que sei que não deveria precisar dele. Passei anos me fortalecendo,
para não precisar de ninguém. Ele não pode simplesmente entrar na
minha vida e mudar minhas regras. Mas, já mudou.
Também aceito que não estou forte o suficiente para negar sua
ajuda. Hoje não estou e tenho medo de ir ver meu pai. O tempo que
levei para me preparar não ajudou. Estou tão nervosa quanto no
primeiro dia.
Mas, a curiosidade vence e pergunto:
— Por quê?
Seus olhos escurecem até aquele azul tempestuoso e ergue o
queixo.
— Senti que você precisava de mim. Você precisa?
Novamente, sinto como se estivesse falando com duas pessoas
diferentes. Esta é a versão mais doce dele. Esse Eric me oferece
um conforto ao qual não consigo resistir. Então, decido contar a
verdade.
— Sim.
— Bem, eu estou aqui. Vou fazer o café da manhã para você e
depois iremos. Já mandei uma mensagem para o seu pai e disse
que chegaríamos cedo.
— Obrigada.
— Venha, vamos pegar algo para comer.
Deslizo para fora da cama quando ele se levanta e, enquanto
guardo meu diário, ele o fita novamente.
Se Eric o lesse, tudo o que teria seriam mais perguntas, e elas
não faltaram desde que nos conhecemos. Mas, desta vez, teria
perguntas sobre Ted. Sobre coisas que não devo contar a ninguém
ou estou morta.
Estou em um momento frágil, onde não tenho mais certeza de
viver.

Enquanto Eric e eu aceleramos pela estrada, o sol brilhante da


manhã ilumina minhas mãos trêmulas.
Estou uma pilha de nervos e não consigo engolir o nó crescente
na minha garganta. Há uma secura bem na parte de trás que
continua ameaçando bloquear minhas vias aéreas e me sufocar.
Quando entramos em uma estrada secundária, começo a olhar
em volta. Eu nunca estive na casa do papai em Los Angeles antes.
Então, a novidade de ver os arredores me fascina.
Depois que mamãe morreu, Scarlett terminou a escola aqui. Ted,
é claro, ficou mais do que feliz que ela morasse com papai; não
havia dúvida nisso.
A essa altura, ela já sabia a verdade, assim como mamãe e
papai. Mas, ela foi a única que acreditou em mim. Tentou fazer
papai ouvir, mas eu sabia que ele não ouviria. Depois, ela passou
anos tentando preencher a lacuna entre nós, recusando-se a
acreditar que a ponte havia sido incendiada e não havia mais nada
para consertar.
Eu já estava quebrada. Quebrei na noite depois que Ted se
casou com minha mãe e usou a calada da noite para me molestar.
Eu tinha treze anos quando isso aconteceu pela primeira vez e
continuou por três anos. Antes de se casarem, sabia que um dia
algo aconteceria por causa do jeito que ele olhava para mim.
Depois, ele veio com suas ameaças e fiquei indefesa.
Com o passar dos anos, ficou evidente que algo estava errado
comigo. Parecia que eu tinha anorexia, mas por baixo disso
estavam os sintomas do que realmente estava acontecendo. Então,
quando engravidei, voltei a comer, sem saber por quê. Todo mundo
pensava que eu estava bem até que eu não estava.
Papai foi o primeiro a saber da gravidez. Desmaiei na escola e
fui levada às pressas para o pronto-socorro quando não
conseguiram me acordar. Minha pressão estava baixa demais.
Quando os médicos não conseguiram falar com mamãe, ligaram
para meu pai e contaram a novidade.
Contei a ele o que Ted estava fazendo comigo e ele não
acreditou em mim.
Ele contou à mamãe e ela imediatamente soube de quem era o
bebê. Agiu como se não acreditasse em mim também. Uma semana
depois, mamãe teve a pior discussão de todas com Ted e se matou,
deixando aquele bilhete que nunca esquecerei.
No final, todos nós terminamos sem nada e as ameaças que Ted
usou para me controlar, ao longo de todos aqueles anos, não
significaram nada. Fui eu quem se machucou no final. Ele fodeu
com a minha vida e minha mãe morreu me odiando até seu último
suspiro.
Eric acaricia minha mão, interrompendo meus pensamentos.
— Você está bem? — ele pergunta.
— Sim.
— Chegamos — ele anuncia, e me preparo para o desastre que
está por vir.
Chapter Vinte E Sete

Summer

D
ois portões de ferro forjado do tamanho de um mamute se
abrem para nós e, quando descemos uma longa e sinuosa
entrada de automóveis, aquela dormência que senti antes
retorna e meus pulmões se contraem.
Eu olho para frente quando uma bela casa aparece. Eric
estaciona o carro na entrada e nós dois olhamos ao redor do terreno
perfeitamente cuidado.
— Não precisamos ficar muito tempo — afirma Eric.
— Tudo bem. Vou ver como vai ser.
— Vou ficar aqui fora te esperando.
— Beleza. Obrigada por vir comigo.
Boba que sou, achei que ele entraria comigo, mas isso é um
problema só meu. Esta parte é por minha conta. Tenho que
enfrentar isso sozinha. Esta é a casa do meu pai e agora sou adulta.
Preciso agir como uma e colocar minha cabeça no lugar.
— Sem problemas. Vejo você daqui a pouco — acrescenta ele,
abaixando a cabeça.
— Valeu.
Saio do carro e minhas pernas trêmulas me carregam pelo
jardim da entrada. Há lindas flores que poderia ter admirado se não
estivesse tão nervosa. Meus pulmões queimam com cada
respiração vida e cada passo que dou parece mais difícil.
Mantenho meu olhar fixo na porta à minha frente e me concentro
em colocar um pé na frente do outro.
Quando chego à porta, toco a campainha e espero. Ela se abre e
lá está meu pai, que não vejo há oito anos.
Enquanto observo sua aparência abatida e a bengala de madeira
na qual está apoiado, esqueço minha ansiedade por um momento, e
ele volta a ser apenas meu pai. Só que mais velho, com rugas,
cabelos grisalhos e morrendo. Ele parece mesmo estar morrendo e
me sinto péssima. Faz tanto tempo que não o vejo.
Ele olha diretamente para mim com o que só posso descrever
como a mesma apreensão que sinto. Ele olha para mim, analisando
meu rosto como se estivesse tentando verificar se sou real. Fico
surpresa quando ele dá um passo à frente e estende a mão para
tocar meu rosto.
O toque me leva de volta ao passado e, de repente, sou aquela
garotinha de novo que costumava correr para ele todos os dias e
todas as chances que tinha.
— Summer — ele pronuncia meu nome com emoção.
Ouvir sua voz desperta lembranças de tempos mais felizes.
— Oi, pai — respondo.
— Você realmente veio.
— Estou aqui – sussurro, com um aceno de cabeça.
Ele encosta a bengala na porta e me puxa para um abraço.
Por um momento, permito-me saborear o prazer da segurança
que sinto.
Quase me sinto como a pessoa que costumava ser; aquela
garota que vivia para buscar seus sonhos.
Quando ele se afasta e me solta, eu me lembro de ter cuidado.
Esta saudação é porque não nos vemos há anos e não porque o
passado foi apagado. Os problemas que tínhamos antes ainda
existem. A única diferença é que o tempo passou e tudo o que
temos agora é um ao outro.
— Entre – convida ele fazendo um gesto para eu entrar.
Dou uma olhada rápida por cima do ombro para Eric e descubro
que estava me observando.
Eu me viro de volta para meu pai e entro em sua casa.
Ele me leva até a sala, onde sua arte está exposta nas paredes.
Esses quadros são novos. É tão estranho ver novas pinturas que
nem sabia que existiam até hoje. Eu sempre sabia no que ele
estava trabalhando.
Sento-me no sofá e ele toma a poltrona à minha frente, apoiando
a bengala ao lado.
— Estou feliz que você veio — diz ele.
— Eu também. É bom te ver.
— É ainda melhor ver você. Não acredito que já faz tanto tempo.
— Sim. Faz algum tempo – concordo e junto minhas mãos no
colo para impedi-las de tremer.
— Posso pegar algo para você beber ou comer?
— Não, eu estou bem. Eu é que deveria pegar comida e bebida
para você.
— Não. Me mover é que me mantém ativo. Tenho uma
enfermeira que vem algumas horas por dia para me ajudar. Também
tenho uma empregada que cuida da casa.
— Isso é bom. Como está se sentindo?
— Não tão ruim quanto ontem. As coisas parecem ter
estabilizado, então não estou pior. Isso é uma coisa boa. Como você
está se sentindo?
Eu balanço minha cabeça antes de responder:
— Não estou muito bem, pai, e não sei quando estarei. Tenho
certeza de que você pode dizer a mesma coisa.
— Sim. Nunca esperei que minha filha morresse antes de mim.
Vai ser difícil enterrá-la – ele afirma e solta o ar em um suspiro
fundo, depois, morde o lábio.
— Sinto muito, pai.
— Eu sei. Eu também. Depois que tudo estiver resolvido, planeja
ficar em Los Angeles?
— Não pensei tão à frente. Mas, gostaria de ver você e cuidar de
você.
Eu pensei nisso. Faria isso se ele me quisesse por perto.
Engoliria minha mágoa e daria suporte a ele para que não morresse
me odiando também.
— Isso seria legal. Talvez possamos empacotar as coisas de
Scarlett juntos também. Eric disse que você esteve na casa dela.
— Sim. Empacotamos as coisas do quarto. Há talvez mais um
dia de trabalho a ser feito. Depois, é só tirar as coisas de lá.
— Estou feliz que você está cuidando das coisas dela.
— É difícil guardá-las para sempre.
Há um tique em sua mandíbula que me deixa cautelosa. Na
maioria das vezes, papai é um homem calmo e educado. Mas,
quando vejo aquele músculo saltando sob sua pele, sei que é um
aviso. Há uma tempestade rugindo dentro dele.
— Por que não falou comigo quando estava com problemas,
Summer? —pergunta, mudando o rumo da conversa e levando-a na
direção que eu temia. — Sei que guarda o passado contra mim, mas
seus problemas em Mônaco deveriam ter sido suficientes para
deixar de lado nossas divergências e vir até mim.
Eu o encaro de volta, sem saber como responder. Minha
respiração falha e todos os meus músculos congelam. Quando
lanço minha mente de volta ao passado, não sei como ele pode falar
sobre isso como se fosse algum tipo de discussão que tivemos, ou
como se eu fosse apenas uma garota mimada com problemas para
me relacionar com meu pai. Não foi nada disso.
— Pai, acha mesmo que o passado foi um mero
desentendimento?
A desaprovação brilha em seus olhos.
— Summer, você sabe o que quero dizer.
— Receio que não. Não ficou muito claro o que você quis dizer.
Entendo que acha que eu deveria ter pedido ajuda a você. Gostaria
de ter feito isso, mas você deveria saber por que não pedi – falo,
engasgando com as emoções bloqueando minha garganta.
— Esperava que tivesse vindo falar comigo. Os homens com
quem estava lidando eram perigosos o suficiente para você vir até
mim.
— Eu sei, mas você era a última pessoa a quem eu teria
recorrido. Não se lembra de como me expulsou do funeral da
mamãe? – mal consigo pronunciar as palavras. — Não se lembra de
como gritou comigo, a plenos pulmões, e me disse que tinha
vergonha de mim? Disse que eu era uma vergonha para você e toda
a família. Fez isso na frente de todo mundo, pai. Cem pessoas
estavam lá, e foi assim que se comportou. Foi assim que falou
comigo. Você me disse que eu não era mais sua filha e não queria
nada comigo. Disse que nunca mais queria me ver.
Lembro-me de cada palavra que ele disse naquele dia.
Ele fica quieto, mas não tira os olhos de mim.
— Você jogou o bilhete de suicídio da mamãe na minha cara e
me disse que era minha culpa que ela estava morta – murmuro. Ele
fez isso porque mamãe escreveu que não poderia viver nesta terra
sabendo que sua filha seduzira seu marido, que sua filha teria um
filho de seu marido. — Você sabia que mamãe estava indo a um
psiquiatra por causa da depressão e dos problemas que tinha com
drogas e bebida. Mesmo assim, você me culpou.
Em meu coração, sempre achei que mamãe havia percebido o
que Ted estava fazendo comigo, que ela sabia da verdade. Mas,
tudo girava em torno de me fazer parecer uma prostituta. Não
entendia como ela podia fazer isso quando havia tantos sinais de
que seu marido estava abusando de mim.
Houve tantas vezes em que ela encontrou sangue em meus
lençóis ou hematomas em meu corpo e fez vista grossa. Meu
médico até disse a ela que eu estava agindo como se estivesse
sendo abusada. Eu tinha só quatorze anos. No final, em vez de
acusar Ted, ficou com ciúmes porque ele me queria.
— Eu tinha dezesseis anos e estava grávida daquele monstro;
mas, você não acreditou em mim quando eu disse que ele abusou
de mim – digo, falando as palavras que só disse poucas vezes. —
Quando ele contou suas mentiras, pensei que a única pessoa que
me salvaria seria você. Mas, você me evitou e acha que poderia
esquecer isso?
— Summer, ainda tenho dificuldade em acreditar que Ted
poderia fazer uma coisa dessas — afirma meu pai.
Meu coração se parte novamente.
Ele ainda não acredita em mim.
Depois de todo esse tempo, ele pensa mal de mim.
Meu Deus.
— Mesmo assim, ao longo dos anos, tentei fazer as pazes com
você. Estava disposto a ceder se você fizesse o mesmo. Mas, você
não quis saber.
— Pai, se pode ficar sentado aí e me dizer que ainda não
acredita no que Ted fez, então ainda temos um enorme problema –
afirmo. Afinal, parece que ele esqueceu o que realmente aconteceu.
— Sim, Summer, ainda temos um problema, que é o mesmo que
causou esta situação. O problema é você.
Suas palavras dão um soco no meu estômago e sugam todo o ar
do meu corpo.
Está acontecendo de novo. Ele está me culpando.
— Você é imprudente demais — acrescenta. — Tem essa
personalidade descuidada que te impede de pensar antes de agir. A
morte de Scarlett é por causa de sua imprudência – ele acusa,
fazendo uma pausa como se estivesse ganhando fôlego para o
ataque mortal. – Não tem ideia do que passei vendo aquele vídeo
do que aconteceu, vendo aquele homem atirar nela. Ele atirou em
sua irmã e a matou porque pensou que ela era você.
— Eu... – murmuro, sem encontrar palavras e só querendo
morrer.
— Não há nada que possa dizer para consertar isto, Summer —
continua ele. — A morte de sua mãe pode não ter sido sua culpa,
mas a de Scarlett foi. Sua irmã deveria poder visitar você sem correr
risco de vida. Mas, sua imprudência te empurrou para aqueles
homens. Você trabalhava em um clube de sexo que pertence e é
administrado pelos homens mais perigosos que se possa imaginar.
O que pensou que aconteceria?
Minha alma se despedaça e tudo que tenho forças para fazer é
me levantar. Não consigo continuar esta conversa. Não posso mais
ficar aqui e ouvir meu pai me acusando desse jeito.
— Onde pensa que vai, Summer?
Não respondo. Só me afasto, voltando pelo caminho que entrei.
Lágrimas me cegam quando passo pela porta e vejo Eric ao lado do
carro, fumando um charuto. Paro nos degraus, apertando as mãos
contra as bochechas enquanto as lágrimas caem. Não são como
aquelas que chorei ontem. Aquilo foi apenas para aliviar a tensão.
Meu choro agora tem lágrimas de dor.
Eric apaga o charuto quando vê o estado em que estou e o
guarda no carro. Não sei o que dá em mim, mas corro quando olho
para ele. Quando o alcanço, agarro sua camisa como se precisasse
me segurar nele para não desaparecer.
— Summer, querida, está bem? — pergunta, mas sua voz soa
tão distante.
Abro a boca para responder, mas não consigo. Tudo o que papai
disse gira em minha mente e uma dor avassaladora toma conta de
mim. É quando desmorono. Esse é o momento em que a realidade
bate e a culpa me consome. Mais lágrimas escorrem como um rio. A
dor em minha alma não tem fim. Se não for capaz de pará-la, ela
acabará me matando. Mas, é a primeira vez que não tenho vontade
de lutar. Assim que esse pensamento me atinge, sinto braços fortes
me envolvendo e um calor intenso emanando de um corpo
musculoso.
Eric me puxa para a segurança de seus braços e contra a
parede sólida de seu peito, me impedindo de desmoronar. A batida
rápida de seu coração me lembra a proteção que ele oferece. Posso
não estar correndo para salvar minha vida, mas o calor de seu
abraço me protege das emoções que me atacam.
— Summer — ele sussurra em meu ouvido.
— Por favor, podemos ir? Podemos ir para casa?
— Claro. Vamos para casa.
Chapter Vinte E Oito

Eric

E
nquanto apoio Summer e a vejo desmoronar, não consigo me
lembrar da última vez que senti um ódio tão profundo correr
por minhas veias.
Não preciso adivinhar que o pai dela deve tê-la culpado pela
morte da irmã. Essa é a única coisa que poderia quebrá-la dessa
maneira.
Seja lá o que ele disse quebrou a máscara que ela usava
anteriormente e extinguiu a pouca força que a fazia continuar
lutando.
Ela não ficou com ele nem dez minutos, mas ele conseguiu
acabar com aquela centelha de luta que eu vi nela quando nos
conhecemos. Não está mais lá.
O que queria fazer agora era marchar para dentro da casa do pai
dela e dar a ele o esporro que merece. Só não faço isso porque ela
precisa de mim agora.
Então, eu a ajudo a voltar para o carro, assumo a direção e
vamos embora.
Ela chora durante todo o caminho até em casa e não para depois
que entramos. Eu a levo para o meu quarto e é onde ela sucumbe à
sua dor.
Observo seu corpo convulsionar com a força dos soluços
enquanto o choro vem de sua alma. Está claro que a verdadeira dor
de perder sua irmã tomou conta de Summer. Não foi apenas o fato
de ver o pai que fez isso com ela.
Apesar de ver tudo isso, não sei o que fazer para ajudá-la. A
única coisa em que consigo pensar é em me sentar ao lado dela.
Quando agarra minha mão, seguro a dela e fico com ela
enquanto chora até dormir.
É só quando sua mão solta a minha que saio do quarto e desço
as escadas, onde Lyssa me espera, ansiosa.
— O que aconteceu? — pergunta.
— Ela acabou de ver o pai.
— Deus – Lyssa me lança um olhar compreensivo. — Eu cuido
dela se tiver que ir trabalhar.
Trabalhar.
Pretendia ir até a Markov Tech, mas acho que devo ficar aqui.
Posso trabalhar de casa o resto do dia.
— Vou ficar aqui, mas estarei no escritório. Se puder, só fica de
olho caso ela precise de alguma coisa.
— Claro – concorda ela e acena com a cabeça.
Vou para o meu escritório com um plano em mente, mas tenho
algo a fazer antes de qualquer outra coisa. Preciso falar com o John.
Ele tem sorte de estar velho e doente, ou voltaria à casa dele e
enfiaria seus dentes garganta abaixo.
Ao destravar meu telefone, vejo duas chamadas perdidas dele.
Bom. Deixe que espere. Agora, vai ter que lidar comigo. Aperto o
botão para retornar a ligação e ele atende no primeiro toque.
— Eric, estou tentando falar com você.
— Seu filho da puta desgraçado, o que diabos disse a ela?
— Preciso conversar com ela.
— Me responda, caralho!
— Nós discutimos. Há certas coisas que você não entende sobre
minha filha.
— Você a culpou pela morte de Scarlett, não foi?
— Se você ao menos me escutasse...
— Não tenho que te ouvir e não preciso entender nada sobre
sua filha. Se fosse você, ficaria feliz por minha filha ter sobrevivido.
Não a faria se sentir uma merda por causa disso. Como diabos pode
culpá-la pela morte da irmã? Como se atreve? Se acha que está
tudo bem fazer isso, você é um péssimo pai e não vou te deixar falar
com ela.
— Por favor, deixe-me falar com ela.
— Não, você perdeu sua chance comigo.
— Mas...
Eu desligo. Não quero ouvir mais. Tenho razão e não me importo
com o que ele pensa.
Vou até meu escritório e trabalho nas ideias que tenho para o
rastreador, mas só consigo pensar em Summer.
Ontem à noite, enquanto estava sentado no quarto dela, pensei
em assimilar o dispositivo e rastreá-lo em tempo real. É a única
coisa que consigo pensar em fazer. Assim, em vez de programar o
rastreador com um código, estaria fazendo tudo ao vivo. A
assimilação funciona perfeitamente. Basicamente, crio uma réplica
do dispositivo de Robert. Mas, todos os meus esforços para rastrear
usando essa porra não funcionam. As horas passam e não encontro
nada.
Há algo que não estou vendo ou não estou levando em
consideração. Fico frustrado porque merdas como essa deveriam
ser fáceis para mim. Minha mente também está confusa porque
estou pensando em Summer.
Dois dias se passam e ela continua sofrendo. Não come e não
sai do quarto.
Chega o dia do funeral e seus olhos estão tão inchados que mais
parecem duas fendas em seu rosto. Tenho que segurá-la para levá-
la à igreja e, quando chegamos lá, ela é uma mera sombra da
mulher que era na semana passada.
Ela parece se acalmar por um momento quando entramos e olha
para a irmã no caixão branco coberto de rosas brancas por dentro e
por fora.
Devido ao número de semanas que se passaram desde a morte,
um caixão aberto não seria uma boa ideia, mas o pai delas insistiu.
Agora, acho que Summer precisava desse último adeus.
Não posso negar que ver Scarlett morta ali mexe comigo. Gosto
de pensar que ligo e desligo meus sentimentos à vontade. Mas, às
vezes, não tenho todo esse controle. Vê-la no caixão me dá uma
prévia do que acontecerá se eu falhar.
O pai de Summer tenta abordá-la, mas ela se vira para mim e
segura minha mão.
Assim que o enterro acaba, eu a levo para casa e ela foge para
sua concha novamente.
Aproveito o tempo em casa trabalhando no rastreador, mas com
mais tentativas inúteis, a frustração toma conta de mim ao anoitecer
e acabo novamente naquele quarto que ilustra a escuridão da minha
mente.
Acendo as luzes e examino as imagens dos mortos na parede.
Quando chego a Robert, rosno. Nunca quis matar alguém tão
desesperadamente.
Pego um peso de papel de vidro e jogo contra a parede. Ele
quebra ao atingir seu rosto e gostaria que ele estivesse na minha
frente para que pudesse matá-lo.
Arrastar de passos soa atrás de mim e me viro rapidamente
porque ninguém deveria estar aqui. É quando fico cara a cara com o
anjo e seu rosto de boneca.
Ela sabe que não deveria estar aqui, mas tem uma expressão
que sugere que não está pensando no que está fazendo. Está
apenas seguindo seus instintos.
— Summer, querida — digo. — Não deveria estar aqui.
Seu olhar muda de mim para as fotos horríveis na minha parede
e eu meio que espero que ela saia correndo pela porta e tente
escapar novamente.
Com o passar dos segundos e nenhuma reação, não sei o que
me choca mais. A forma como absorve as imagens dos mortos sem
esboçar nenhuma emoção ou o fato de não dizer nada e olhar para
eles como se estivesse a folhear uma revista.
Ela examina cada imagem e, quando chega a Robert, estende a
mão e traça um X no rosto dele com o dedo.
— Gostaria de poder matá-lo — afirma ela. — Mas, sabe que
não é culpa dele que ele me conheça. Isso é culpa de outra pessoa.
Robert ou Jake ou qualquer que seja o nome dele foi só outro
monstro na minha vida. Os monstros agem como querem e não se
pode esperar nada diferente deles. Eu deveria saber disso. Mas,
fodi com tudo. Agora, minha irmã se foi e não posso trazê-la de
volta.
Eu ando até ela e descanso minha mão em seu ombro.
— Não é sua culpa.
— É sim, Eric. Meu pai disse que sou imprudente. Sei que sou.
Ele tem razão. Sempre fui imprudente; é por isso que atraio o tipo
errado de atenção.
— Summer, a morte de sua irmã não é culpa sua — repito, mas
poderia estar falando com uma parede. Ela não está me ouvindo.
Quando ela se vira para mim, entendo o porquê. Toda aquela
sede de vida se foi. Os olhos da mulher que me encara agora estão
tão mortos quanto os meus.
Reconheço o olhar porque está no meu rosto quando fito o
espelho. Afinal, eu me culpo pelos meus erros. No fundo, acho que
mereço morrer e é por isso que não consigo ver nada além da
morte. Ela parece igual a mim agora, como se tivesse perdido a
vontade de viver.
— Sabe, acho que não poderia ter assistido à gravação da morte
dela. Isso teria me matado. Acho que só queria ver por que queria
que fosse eu no lugar dela. Eric, eu gostaria que fosse. Eu
realmente queria.
— Sinto muito pela morte de sua irmã, Summer – afirmo e é a
primeira vez que expresso minhas condolências. — Meu coração se
parte por vocês duas, mas não deveria desejar ter morrido. Ela não
iria querer isso para você.
— Não posso evitar. Eu me culpo e só queria que isso nunca
tivesse acontecido.
— Eu também, querida.
Ela leva as mãos ao rosto e eu a puxo para perto do meu
coração para segurá-la.
Quero dizer a ela novamente que não é culpa dela, mas já sei
que ela não vai me ouvir.
Chapter Vinte E Nove

Summer

ou sair só por algumas horas e volto assim que puder –


—V Eric me avisa enquanto arregaça as mangas.
— Vou ficar bem – asseguro a ele, embora esteja me
sentindo mal.
Estou agindo no piloto automático novamente. Apenas
respondendo perguntas sem realmente pensar sobre o que estou
dizendo.
Continuo a observá-lo andar pelo quarto e não acredito que me
sinto tão fraca. Tanto que quero pedir para ele ficar, mas não devo.
Não deveria fazer isso.
Já foi ruim o suficiente ter ficado naquele estado quase
catatônico desde que visitei meu pai. Eric literalmente teve que
tomar conta de mim. É por isso que estou no quarto dele agora. Ele
me trouxe para cá quando voltamos, e toda vez que tento ir para o
meu quarto, ele me traz de volta para o dele.
Este é o resultado do desastre. Agora, tenho que tentar ser forte
por conta própria e me recuperar. Só que não sei se posso fazer
isso desta vez.
— Não devo demorar muito, mas Lyssa vai ficar mais tempo por
aqui.
— Tudo bem. Foi legal de sua parte ficar comigo.
— Sempre às ordens.
Tento agir como se não soubesse que ele reorganizou sua
agenda para ficar comigo nos últimos dois dias e o dia de hoje todo.
São quase cinco, então o expediente comercial praticamente
acabou.
Ele não me disse que sou a razão de não ter saído do
apartamento, mas sei que sou. Eu o ouvi conversando com Lyssa e
seus homens e sei que trabalha em casa sempre que possível.
Ele cuida de mim como se eu fosse importante para ele. Como
se fosse uma pessoa que significasse algo para ele. Ninguém
imaginaria que nos conhecemos há apenas duas semanas.
Por mais doce que ele esteja sendo, tão diferente do maníaco
por controle que era, não quero que cuide de mim. Ele tinha razão
quando disse que eu não deveria me apegar. Não deveria mesmo.
Não somos nada um para o outro, e não posso me permitir, neste
estado de fraqueza, me apaixonar por um homem que vai me jogar
fora quando terminar comigo.
Ele mesmo me disse que faria isso. Ele só tem pena de mim e
está sendo o que acha que preciso que seja até que essa fase
acabe.
Hoje, estou presa em meus sentimentos e tenho medo de ficar
sozinha com meus pensamentos.
— Por favor, coma alguma coisa — acrescenta ele, vindo até
mim.
Eu me endireito e descanso minhas mãos no travesseiro ao meu
lado. Sei que estou emagrecendo de novo e isso não é um bom
sinal.
— Sim. Vou tentar.
— Ótimo, peça para Lyssa me ligar se precisar que eu volte mais
cedo.
— Pode deixar.
Ele me dá um olhar inquieto. O mesmo olhar que me deu quando
me aventurei naquele quarto que continha todas aquelas imagens
horríveis dos mortos, algo que deveria ter me aterrorizado.
Ele ficaria surpreso em saber que me senti completamente à
vontade lá. Afinal, gostaria de poder matar meus monstros da
mesma forma que ele aniquilou os dele. Ele tem os meios para isso,
mas eu não.
Pelo que vi, ele matou aquelas pessoas. Robert é o próximo. Se
aquele fosse o meu quarto, Ted também estaria naquela parede.
Eric desvia o olhar e eu o observo partir. Se fôssemos um casal
de verdade, ele teria me dado um beijo de despedida. Então, mais
uma vez, fica claro que estamos apenas transando. Como a maioria
dos homens, ele gosta da minha aparência. Sou apenas mais um
rostinho bonito e um corpo quente para transar.
Apesar de estar dormindo na cama dele, Eric não me tocou
desde aquela noite em que a paixão nos envolveu no terraço e nos
levou à loucura. Naquela ocasião, senti algo diferente do que sinto
agora.
Devo ter ficado sentada na cama, mais de uma hora, olhando
para a parede.
Uma miríade de pensamentos passa pela minha cabeça e penso
no funeral e em como foi um ponto final. Depois, penso que poderia
ter morrido também se Eric não estivesse lá. Papai tentou falar
comigo, mas Eric não permitiu.
Dado o fato de que meu pai me expulsou do funeral de minha
própria mãe, e me culpou pela morte de minha irmã, não imagino o
que diabos ele queria me dizer.
Juro por Deus, se ele tivesse jogado mais culpa em mim, eu teria
sumido ali mesmo. Não teria forças para lutar. Mal tenho forças
agora. Quando você se culpa por algo, é difícil. Mas, quando os
outros também o fazem, especialmente seu pai, é o suficiente para
levar alguém ao limite.
Eu não percebi o quanto eu mal estava me aguentando até o dia
do funeral, quando o padre fechou o caixão de Scarlett e a selou
para sempre. O som das travas nunca sairá dos meus ouvidos. Nem
a visão dela sendo baixada ao solo e o som da terra batendo no
topo do caixão enquanto o padre abençoava o túmulo com A Prece
para os Mortos.
Nenhuma dessas imagens e sons jamais me deixará. Às vezes
ainda acho que estou em um pesadelo e não consigo acordar.
Se pudesse acordar, ou voltar no tempo, erradicaria os monstros
da minha vida: Robert e Ted.
Minha vida teria sido tão diferente se nunca tivesse conhecido
nenhum deles. Um me empurrou direto para o outro.
Mais importante do que isso é descobrir para onde irei agora.
Desço da cama, decidindo que preciso dar uma volta.
Quero dar uma olhada nas caixas que peguei na casa de
Scarlett. Quero deixar as coisas dela em um depósito até que
consiga um lugar para morar. Depois, vou levar todas as coisas
dela.
Sempre brincávamos sobre ficar velhinhas juntas e reviver
nossos sucessos. Se chegássemos a essa idade e estivéssemos
sozinhas, o plano era morarmos juntas. Compraríamos uma casa
grande na praia em algum lugar do mundo e viveríamos o resto de
nossos dias juntas. Então, vou pegar as coisas dela e ter uma
versão dessa vida. Vou separar uma parte para manter a lembrança
dela comigo.
Ouço Lyssa na cozinha, mas não paro e, se ela me vê, não me
impede.
Ótimo. Não estou com vontade de falar com ninguém. Não tenho
vontade de falar com ninguém nunca.
Entro no meu quarto e pego a caixa com as coisas de Scarlett de
quando éramos pequenas. Ela já tinha tudo em uma caixa, então foi
fácil pegar e ir embora.
Vou começar com essa porque, se tem alguma coisa para
guardar comigo até eu me estabelecer, vai ser aqui. Logo encontro o
caderno que a vovó deu a ela. Tem uma foto diferente de nós três
na capa, mas o design é igual ao meu.
Ela tratava o dela como um diário. Fiz o mesmo até começar a
colar recortes de jornal sobre Ted. Por respeito, nunca lemos os
diários uma da outra. Agora que ela se foi, estou curiosa para ver o
que tem dentro. Então, abro.
As primeiras páginas são parecidas com as minhas, mas depois
muda. Ela tem fotos dela e da mamãe em uma de suas peças. Há
várias imagens dela com mamãe e Ted ou mamãe e papai. Foram
tiradas quando começou a fazer sucesso. Enquanto isso, eu estava
sendo abusada e tive que parar de fazer o que amava.
Eu parei e murchei enquanto ela floresceu cada dia mais.
Quando olho para a porra do rosto sorridente de Ted e de
mamãe, eles parecem tão orgulhosos de Scarlett. Estão orgulhosos
para caralho. Mamãe também era um monstro. Traiu meu pai
porque ele não lhe deu a riqueza que desejava. Depois, trouxe
aquele filho da puta para casa e ele me arruinou.
Scarlett floresceu, mas nunca tive ciúmes disso. Nunca tive
ciúmes da minha irmã. Sempre tive orgulho dela. Acima de tudo, fico
feliz por ela nunca ter passado pelo que passei e por nunca ter
sofrido nas mãos de Ted.
Nas primeiras vezes que ele abusou de mim, depois de cada
estupro, dizia que era minha culpa porque eu usava collants quando
voltava da aula de dança ou roupas curtas e justas. Ele foi atrás de
mim porque fui a primeira a ter um namorado e isso me fez parecer
sexualmente ativa quando não era.
Aquele namorado deixou de existir para mim depois que Ted
começou seu abuso diário. Eu me lembro claramente. O nome dele
era Levi, e nunca entendeu o que havia de errado comigo e por que
de repente perdi o interesse. Não sabia que era porque me sentia
nojenta por causa do abuso do marido da minha mãe. Estava presa,
sem saída.
Quando tentava escapar, Ted me ameaçava dizendo que faria o
mesmo com Scarlett. Disse que iria atrás dela se eu não deixasse
ele me foder. Falou que faria com que mamãe perdesse tudo,
inclusive nós. Que ela acabaria na prisão por uso indevido de
drogas. Quando achou que eu não estava com medo o suficiente,
me disse que mataria minha mãe ou a deixaria morrer. Na época,
mamãe estava muito mal e precisava de uma nova desintoxicação a
cada semana.
Quando fiquei um pouco mais velha e tentei me defender, ele
disse que se eu contasse a alguém, negaria tudo e me faria de
mentirosa. Ninguém acreditaria em mim quando ele era o
Procurador do Estado.
O pior, porém, aconteceu depois que mamãe morreu e ele
pensou que seu segredo viria à tona. Esse foi o último empurrão.
Ted enviou uns idiotas atrás de mim para me matar. Foi assim que
perdi meu bebê.
Afasto o pensamento de outra vida perdida por causa dele, mas
lembrar do passado me enfraquece. Lembrar de tudo me
enfraquece, mas o que mais dói é que meu pai ainda não acredita
em mim.
Scarlett me disse que Ted fez papai acreditar que mamãe gastou
toda a herança que vovó nos deixou e seu próprio dinheiro em
drogas. Mas, nós sabíamos que era mentira. Ela encontrou recibos
em nome dele das mesmas drogas que dava para a mamãe e
prostitutas de luxo. Foi só quando mostrou ao papai que ele caiu na
real. Mas, ainda assim, meu pai me culpou pela morte de Scarlett.
Coloco o diário no colo e trago minhas mãos até as bochechas.
Olhando ao redor do quarto, reflito sobre minha vida e percebo o
quão patética sou. Não tenho nada. Não sou ninguém e tudo que
amava se foi. Quando papai morrer, serei só eu.
Estou sozinha e sempre estarei porque sou a pessoa que todos
esqueceram. Ninguém se importa comigo. Ninguém se importava
antes, a menos que precisassem de mim para alguma coisa.
Puta merda! Estou tão fodida.
Preciso de algo para beber. Algo forte para me ajudar a
esquecer.
Com isso em mente, vou para onde Lyssa está. Eric guarda as
bebidas na sala de estar perto do terraço. É onde ele recebe os
convidados.
Lyssa oferece seu habitual sorriso bem-humorado quando me
vê, mas não consigo retribuir o sorriso.
— Posso preparar alguma coisa para você, Summer?
Eu paro para responder:
— Não, obrigada. Estou bem. Só vou tomar um pouco de ar.
— Você quer que eu te faça companhia?
— Não. Só quero me sentar aqui sozinha por um tempo. Chamo
se precisar.
Não espero pela resposta dela. Sigo para a sala e abro o armário
com a coleção de vinhos de Eric.
Sabe-se lá quanto custa tudo isso. Mas, pego duas garrafas do
vinho russo que é mais fácil de abrir. Os outros parecem mais
velhos e precisam de um saca-rolhas. De jeito nenhum vou voltar
para a cozinha para pegar um.
Saio para o terraço com um vinho debaixo de cada braço, sento-
me e observo a cidade.
Lyssa vai ficar preocupada se notar que estou bebendo, mas
espero ter ganhado algum tempo dizendo que quero ficar sozinha.
Assim posso ficar bêbada e não vou me importar com o que as
pessoas vão pensar quando me encontrarem.
Abro a primeira garrafa e começo a beber. Assim como sabia
que aconteceria, a bebida começa a fazer efeito depois que bebo
metade da garrafa.
A essa altura, não tenho mais limites, mas vejo as coisas de
maneira diferente. Em vez de desejar que Ted e Robert nunca
tivessem existido na minha vida, penso em mim.
E se eu nunca tivesse existido? Todos estariam melhor, não
estariam?
Scarlett certamente ainda estaria viva.
Se eu morresse agora, papai poderia se sentir mais em paz.
Quando você culpa alguém por ter prejudicado aqueles que você
ama, significa que quer que essa pessoa pague. Papai queria que
eu pagasse pela morte de Scarlett. É por isso que ele lançou seu
ataque contra mim.
Funcionou porque também acho que preciso pagar.
Afinal de contas, aquela bala era para mim. Não era para ela.
Bebo o resto do vinho da garrafa e abro a outra.
Quando chego na metade, penso que mamãe também estaria
viva, se não fosse por mim.
Se eu não fosse uma puta, as pessoas que estão mortas agora
estariam vivas.
Era uma prostituta tão grande que não pensei em nada melhor
do que vender meu corpo quando tive problemas. Só uma puta de
merda pensaria assim.
Seu corpo é a primeira coisa que ela pensaria em vender, e foi o
que eu fiz.
Ted me queria morta.
Talvez não seja tarde demais para morrer.
Chapter Trinta

Eric

Q
uando entro no escritório nos fundos do abrigo para
moradores de rua, meu olhar pousa no corpo do diretor que
agora está deitado no chão com sangue fresco escorrendo de
sua cabeça.
É deste lugar que as meninas estavam sendo levadas para
Micah e sua gangue de filhos da puta. No momento em que
descobri que estava acontecendo tráfico humano em grande escala,
soube que deveria procurar nos lugares onde se pode ter acesso a
garotas que, essencialmente, ninguém sentiria falta se sumissem.
St. Jude's é uma das maiores instituições de caridade cuidando
da população adolescente em risco em Los Angeles. Quando
examinei os sistemas do lugar, as coisas pareciam estranhas. Foi aí
que soube que deveria olhar mais fundo.
Eu tinha razão.
Já passou uma semana desde o incidente nas docas. Esta é a
única pista que conseguimos. Cada um de nós foi para um lado
fazer coisas diferentes. Fiquei preso na mesma tarefa de merda de
tentar usar o dispositivo para rastreamento.
É difícil fazer jus à minha fama porque esperam que eu faça
milagre. De vez em quando, me deparo com merdas como essa e é
como me pedir para mover o sol quando deveria ficar onde está.
Borya e Oleg estão ao lado do computador. Os arquivos dentro
da máquina são a minha razão de estar aqui. Eles me chamaram
porque o computador está protegido por senha e o idiota morto ali
no chão não quis dar o acesso. Não preciso de senha para chegar
até a informação que ele não queria que víssemos. Deve ser
alguma outra merda ilegal que não tem ligação com o que
precisamos. Mas, estou desesperado o suficiente para tentar
qualquer coisa que possa me levar a Robert e Micah, por mais
remota que essa chance possa ser.
— Estamos só esperando pela equipe de limpeza, chefe. Estão
presos no trânsito — explica Borya, lançando um olhar de soslaio
para o corpo.
— Nós conseguimos isso para você, no entanto – Oleg me
entrega uma pasta de cartolina. — Tem os perfis de cem garotas
com idades entre quinze e dezoito anos, todas virgens e fugitivas ou
órfãs.
— Que foda! — murmuro.
Mas, isso é bom. Afinal de contas, estragar os planos de Micah e
Robert sempre que possível, vai trazê-los a mim. Olho na pasta e
tiro uma fatura de cem mil dólares. Isso é quanto meu amigo morto
no chão iria coletar por esta remessa.
Ele escreveu a palavra remessa no final da fatura. Olho para ele,
que tem uma aparência paternal, mas é uma máscara. Quando
homens como ele se parecem assim, é um disfarce para enganar as
pessoas.
Filho da puta! Se não estivesse morto, descarregaria minha arma
nele.
— Ele ia transportar as meninas esta noite. Dois caminhões
saíram — afirma Oleg. — Nossos homens os rastrearam até uma
casa na praia.
— Vá e assuma o controle. Vou terminar aqui com Borya –
ordeno, e ele sai.
Olho para Borya e noto a expressão esgotada em seu rosto. Eu
os fiz vasculhar as ruas enquanto eu trabalhava no rastreador.
— Como ela está? — Borya pergunta.
Ele está falando sobre Summer.
— Não acho que esteja bem, mas espero que melhore logo –
afirmo, com sinceridade.
Não adianta fingir que ela não significa nada para mim. Eu só
estaria tentando me enganar.
— Bem, vamos esperar chegar logo ao fundo disso – comenta
ele. – Tenho certeza de que pegar Robert vai ajudá-la a seguir em
frente.
— Sim.
Pegar Robert deve nos ajudar a seguir em frente e isso significa
deixá-la ir.
Sei que devo me preocupar em chegar a essa parte porque essa
é a parte mais difícil, não o que estamos fazendo agora. Eu me
pergunto o que ela fará sozinha. Não quero que volte para Mônaco
ou vá a qualquer lugar onde possa ter problemas novamente.
Ela não tem dinheiro, não tem emprego e, na verdade, não tem
ninguém. Pode parecer cruel, mas não a quero perto do pai. Porém,
essa não é uma decisão minha. Nosso acordo era que eu a
deixasse ir quando isso tudo acabasse. Nada deve acontecer
conosco. É que passei a gostar dela, mais ainda nos últimos dias.
Não queria deixá-la sozinha hoje, mas não posso esperar que
meus homens façam tudo. Quando me pedem ajuda, tenho que ir.
Precisamos abrir esses arquivos.
— Vou copiar o disco rígido e dar uma olhada nos arquivos dele
em casa — digo e Borya concorda. — Ele disse alguma coisa útil?
— Não, como todo mundo, tinha informações limitadas. Estou
ficando farto desses filhos da puta. Pena que não conseguimos
encontrar algo para acabar com isso de uma vez por todas. Nunca
enfrentei ninguém que sumisse totalmente.
— Nem eu.
Esta é talvez a nossa última pista. Já sabemos que o primeiro
encontro vai ocorrer nos Estados Unidos em duas semanas e meia.
Ainda não temos o lugar exato de onde a reunião acontecerá. Mas,
parece que será aqui em Los Angeles.
Também acho que devem ter algum outro jeito de enviar e-mails
que não conhecemos. Bernardo disse que entram em contato com
Micah e Robert por e-mail, mas não vimos nada no endereço que
temos desde que o monitoramos.
A equipe de limpeza chega e Borya cuida deles. Concentro-me
em extrair o disco rígido e verificar se há vírus.
Enquanto faço isso, minha mente ainda está processando ideias.
Gostaria muito de poder resolver isso porque está começando a me
desgastar. Isso é o mais perto que já cheguei, mas ainda é difícil.
Quero tanto que tudo acabe que não consigo pensar direito. Às
vezes, esta situação me lembra quando estava no Brasil e precisava
calcular como sobreviver e manter minha família viva.
Quando penso no Brasil, uma ideia surge em minha mente e
paro o que estou fazendo.
Olho para os arquivos à frente e permito que a ideia se
concretize, porque acho que posso ter inventado alguma coisa.
Algo diferente que nunca levei em consideração.
Posso não saber como rastrear este dispositivo quando está
sendo usado em tempo real, mas sei de algo que pode destruí-lo se
jogar bem minhas cartas.
A arma do meu avô pode fazer isso.
A mesma maldita arma que fui sequestrado para desenvolver.
Caralho!
Será que consigo fazer isso? Algo que nunca foi feito, apenas
projetado. Não havia nada projetado por meu avô que não
funcionasse.
Se eu modificasse um pouco o projeto e programasse para
desativar o dispositivo de Robert, isso deveria funcionar.
Deve funcionar. Não tem como não. Da mesma forma que a
tecnologia de Robert é projetada para ser uma invenção de última
geração, a minha também é, e acabei de encontrar minha maneira
de combater o fogo com a porra do fogo. Uma vez que desative o
dispositivo, devo ser capaz de rastreá-lo da maneira usual, e ele não
será capaz de se esconder de mim.
Levará alguns dias para juntar tudo o que preciso, construir a
arma do meu avô e implementar as modificações. Depois, será
apenas me sentar e monitorar.
A esperança acende dentro de mim pela primeira vez em muito
tempo, e mal posso esperar para voltar ao apartamento e começar a
planejar.
Quando termino de copiar o disco rígido, meu telefone toca no
bolso de trás.
Pego e atendo rápido quando vejo que é Lyssa. Ela nunca me
liga. Então, sei que algo aconteceu com Summer.
— Oi, Lyssa, o que está acontecendo?
— Eric, desculpe incomodar, mas estou preocupada com
Summer. Ela bebeu. Eu sinto muito. Não sabia que ela sabia onde
estavam as bebidas. Ela queria tomar um pouco de ar no terraço.
Fui lá fora agora. Ela está dizendo coisas muito estranhas e não
consigo fazê-la entrar. Não consigo tirá-la da varanda.
Um nó frio torce no meu estômago com a menção da varanda e
já estou saindo pela porta antes que ela possa dizer qualquer outra
coisa.
Borya olha para mim e dou a ele um aceno de cabeça que ele
entende que significa assumir o comando.
— Lyssa, fique com ela. Estou a caminho.
Uma ideia atravessa minha mente e começo a correr para o meu
carro. Lembro-me das palavras que Summer escreveu em seu diário
e como ela disse que temia o dia em que talvez não quisesse se
salvar.
Já aconteceu merdas suficientes com ela para que hoje seja
esse dia.
Chapter Trinta E Um

Eric

E
ntro no meu carro e dirijo feito um louco. Quando chego ao
apartamento, me xingo por ter comprado a porra da cobertura.
Corro direto para o terraço para encontrar Lyssa parada
perto das portas de vidro com lágrimas escorrendo de seus olhos e
acho que o pior já aconteceu.
Pela primeira vez na minha vida, sinto medo. Tenho medo de
perguntar o que aconteceu porque não quero que ela me diga que
cheguei tarde demais.
— Ela está no parapeito, Eric – Lyssa diz rapidamente. — E não
quer descer. Não consigo fazê-la descer e voltar para dentro. Sinto
muito. Tentei de tudo.
— Tudo bem. Entre e espere por mim – respondo e convoco os
últimos vestígios de força do meu coração e dou um passo corajoso
para frente.
Quando vejo Summer de pé na mureta, meu coração dá um pulo
no peito.
Ela está parada, seus longos cabelos castanhos ondulam ao
vento e seus olhos da mesma cor brilham, mas estão cheios de
tristeza e dor.
Nunca deveria tê-la deixado sozinha hoje. Deveria ter mandado
Borya pegar a porra do computador e trazer aqui.
Pensei que ela ficaria bem por algumas horas. Mas, algumas
horas sozinha resultaram nisso.
Observo a mulher diante de mim, que caiu na minha vida de
paraquedas e, quando ela vira a cabeça e olha para mim, vejo
aquilo que mais temia.
Nunca senti apenas desejo por ela. Sempre havia algo mais.
Algo que me fascinou. Gosto de observá-la. Ela é a única mulher
que consigo me imaginar passando a eternidade a observar sem me
cansar.
E isso, para mim, significa enxergar um futuro que não envolva a
morte.
Minha morte. Minha penitência. Meu purgatório pelos meus
erros.
O que vejo agora ao olhar para ela é o caminho para minha
redenção, e talvez a dela também. Tudo o que sei enquanto olho
para ela é que se pular, tudo que sempre quis vai morrer com ela.
Com cuidado dou outro passo e me aproximo, rezando para que
não pule antes de eu chegar até ela.
Paro a poucos centímetros de distância e mantenho meu olhar
fixo nela.
— Bebê, por favor, vem comigo — peço, mas ela balança a
cabeça.
— Não. É o fim. Esta é a resposta. Você não precisa de mim
para encontrar Robert. Pode encontrá-lo sozinho.
— Não é por isso que eu quero que você venha até mim.
— É o fim da estrada para mim, Eric. Muita coisa aconteceu e
não aguento mais. Vê isso? — pergunta e mostra o pulso com a
pequena tatuagem Carpe Diem.
— Sim, vejo.
— Nunca precisei ser lembrada de viver. Scarlett achou que a
tatuagem seria uma boa ideia. Fizemos quando tínhamos dezoito
anos. Mas, sabe, naquela época, já tinha acontecido todo tipo de
merda comigo. Ainda assim, ela tentou consertar a situação. Tentou
me consertar. Mas, algumas coisas quebradas não podem ser
consertadas. Eu sou uma dessas coisas que não tem mais conserto.
— Não acredito nisso.
— Você é tão bonzinho – diz, sorrindo para mim. – Sabia disso?
— Summer, por favor, vem para cá. Querida, podemos conversar
o quanto quiser, mas não assim.
Ela balança a cabeça novamente.
— Não posso ir até você – afirma e uma lágrima escorre por sua
bochecha. Ela a enxuga. — Foram as drogas.
— O que tem as drogas?
— Foi isso que me levou ao Club Montage. Era uma viciada em
recuperação. Meses antes de trabalhar lá, tive uma recaída depois
de ver meu padrasto na capa da revista People. Quando não
consegui pagar as drogas, os traficantes ameaçaram me matar. Foi
assim que acabei parando no clube – ela para de falar por um
momento, depois continua. — Meu padrasto é o governador de
Nova York, como provavelmente sabe. É um homem muito
respeitado por seu trabalho com crianças e adolescentes,
principalmente com instituições de caridade para jovens mulheres.
Há uma razão para ele gostar tanto de trabalhar com essa faixa
etária. Eles chamaram meu monstro de Homem do Ano. Se
soubessem quem ele realmente é, acho que não o chamariam
assim.
— O que ele fez com você, Summer?
— Me machucou. Ele abusou de mim durante anos. Começou
quando eu tinha treze. Ele me engravidou quando eu tinha
dezesseis. Quando minha mãe descobriu, agiu como se não
acreditasse que era ele. Mas, ela sabia o que estava rolando todos
aqueles anos e que o bebê era dele. Ela não quis aceitar. Quando
Ted foi confrontado, mentiu e disse que eu o embebedei e o seduzi.
Mamãe me culpou. Não suportava o fato de eu ter um filho dele e foi
por isso que se matou.
Lágrimas rolam por seu rosto e meu coração se parte por ela.
— Não foi sua culpa, Summer.
— Ninguém acreditou em mim, Eric. Mamãe sabia que eu estava
falando a verdade e se recusou a acreditar. Ela me culpou em seu
bilhete suicida. Disse que eu era a puta que seduziu o marido dela e
engravidou. Meu pai também me culpou porque nunca parou de
amar minha mãe. Foi ele quem a encontrou morta. Foi o primeiro a
ler o bilhete e acreditou nela. É por isso que ele me evitou. E
embora Scarlett tivesse me apoiado, agora aqui, não tenho tanta
certeza de que ela acreditou mesmo em mim. Ted era um bastardo
manipulador.
Faço um esforço sobre-humano para conter a raiva. Não é hora
de focar no que sinto.
— O que aconteceu com o bebê, Summer?
Ela leva a mão ao rosto e enxuga outra lágrima.
— Depois que minha mãe morreu, Ted queria que tirasse o bebê,
mas eu não quis. Ele não queria que seu segredo vazasse. Sabia
que se o bebê nascesse, eu teria provas para expô-lo pelo que ele
fez comigo e sua carreira estaria acabada. Eu era menor de idade e
enteada dele. Mesmo que alegasse que eu o embebedei, não ficaria
bem. Não quis me livrar do bebê, não porque queria chantageá-lo.
Simplesmente não consegui fazer isso – ela prende a respiração.
Quando o vento aumenta de intensidade e levanta as pontas de seu
cabelo, parece tão frágil que temo que a ventania a derrube. Com
um suspiro, ela continua. — Tentei desaparecer. Mas, ele enviou
pessoas atrás de mim para me matar. Enquanto tentava escapar,
rolei um lance de escadas. Consegui chegar a um hospital, mas era
tarde demais. Perdi o bebê. Ele só me deixou em paz por causa
disso. Foi assim que consegui chegar a Mônaco e desaparecer.
Comecei a usar drogas para esquecer. Depois, parei. Um amigo me
ajudou, mas a recaída iniciou uma reação em cadeia que me levou
a Robert.
Jesus Cristo! Sabia que o passado dela tinha sido ruim, mas
nunca imaginei que fosse tão horrível assim.
— Summer, não precisa mais se preocupar com nenhuma
dessas pessoas. Estamos aqui agora. Você e eu. Vou cuidar de
você.
— Não. Ninguém nunca se importou comigo. Você também não
deveria. Todo mundo me esqueceu, você deveria me esquecer
também. Eles deixaram meus sonhos morrerem e morri junto com
eles há muito tempo. Tenho lutado tanto para sobreviver, mas não
sei por quê. Por que fiz isso quando tantos me queriam morta?
Minha mãe me odiava, meu pai me odeia e minha irmã tinha pena
de mim. Você não deveria se preocupar comigo. Ninguém mais o
fez e ajudei a matar a única pessoa que se importava comigo –
sussurra ela enquanto mais lágrimas escorrem por seu rosto. —
Não vou permitir que ninguém me mate. Se vou morrer, será nos
meus próprios termos. Adeus, Eric. Obrigada por tentar. Significou
muito.
O próximo segundo parece passar em câmera lenta enquanto
vejo minha linda garota dar um passo para fora do parapeito.
Não sei como consigo me mover tão rápido ou como deixo de
lado minha própria segurança.
Enquanto ela cai para frente e eu me movo com toda a força
dentro de mim porque sei que não posso deixá-la morrer.
Consigo segurá-la pelo tornozelo e ela grita, mas ignoro o grito e
tento puxá-la para cima.
Eu mesmo estou na beirada, mas me mantenho firme e a puxo
até que ela esteja de pé e em meus braços.
Eu caio para trás e me movo com ela para longe da varanda,
abraçando-a com tanta força que ela não tenta lutar contra mim.
— Maldição, Summer – suspiro e a viro para que possa olhar
para mim. Ela está chorando muito, mas quero que olhe para mim
para ver que estou falando sério. — Eu me importo. Eu me importo
com você. Se isso é o suficiente, fique comigo neste mundo. Não se
atreva a ir para o outro lado, onde não posso encontrá-la e não
posso trazê-la de volta.
Suas lágrimas se acalmam e seus olhos se fixam nos meus.
— Não morra, não faça isso — suplico. — Porque eu me importo
e não vou deixar ninguém te machucar. Nunca mais. Está me
entendendo?
Ela acena com a cabeça, e quando uma luz, ainda fraca, lampeja
nas profundezas de seus olhos, percebo que a tenho de volta.
Eu seguro a parte de trás de sua cabeça e a trago para mais
perto de mim. Quando encosto sua cabeça no meu peito, juro
vingança a todos que a machucaram.
Vou matar todos os seus monstros.
Posso não achar Robert, mas sei exatamente onde encontrar
Ted.
Chapter Trinta E Dois

Summer

ocê vai gostar desta sopa. Minha mãe costumava fazer


—V isso para mim quando eu era pequeno – Eric diz,
segurando a tigela de sopa de cheiro delicioso diante de
mim. Com uma colher prateada, ele pega um pouco da sopa com
alguns pedaços de batata e cenoura. — É uma velha receita russa.
Enquanto o encaro, ainda não consigo acreditar que estou aqui.
Viva.
Eu pulei, realmente fiz isso. Na verdade, fiz o que nunca pensei
que faria.
Tentei me matar e, apesar de tudo, consegui sobreviver.
Pulei da sacada e ele me pegou. Eric me salvou e não saiu do
meu lado desde então. Está grudado em mim, cuidando de mim, e
mal saímos do quarto dele. Sempre que teve que me deixar para
atender uma ligação, nunca foi a um lugar onde não pudesse me ver
ou ouvir.
Lyssa também ficou aqui. Acho que nem foi para casa, embora
eu tenha ido dormir depois que Eric me salvou. Sei que dei um susto
terrível nela, mas não pensei que estaria viva para sentir o
constrangimento do que tentei fazer.
Aconteceu ontem e, agora, está se aproximando da noite
novamente. Assim como ontem, antes de Eric partir. Agora, ele está
me alimentando. E parece preocupado como se pensasse que eu
poderia mudar de ideia e pular pela janela.
O problema é que não consigo sentir minha mente. Estou
entorpecida em meu corpo, mas ainda vejo em seus olhos o
turbilhão de emoções que sente por mim. Ainda posso ouvir suas
palavras ecoando em minha mente quando me disse que se
importava e me pediu para ficar neste mundo com ele.
A dor no meu coração não é menor, mas estou aqui. Eu fiquei.
— O cheiro é bom – respondo, olhando dele para a sopa.
Seus olhos brilham.
— Prove um pouco, bebê.
Bebê…
Ele passou a me chamar assim em vez de boneca. Gosto de
ambos agora. Mas, quando me chama de bebê, parece mais
sentimental. Eu teria morrido com o eco desse carinho em minha
mente. Escolhi me lembrar de uma última coisa quando pulei da
varanda. E era ele dizendo que cuidaria de mim. Escolhi isso porque
ninguém nunca me disse isso antes.
O mais perto que cheguei foi com Marquees e sua esposa, mas
eram estranhos que tiveram pena de mim. Eric também é um
estranho, mas meu relacionamento com ele é diferente.
Eu me inclino mais perto e aceito a comida que ele está me
oferecendo.
Assim como antes, os sabores provocam minhas papilas
gustativas e sinto cada erva e ingrediente como se nunca tivesse
tomado sopa antes. Acho que isso deve ter algo a ver com o choque
em meu sistema de pensar que ia morrer. Agora que ainda estou
aqui, meu corpo ainda está se ajustando.
— Está deliciosa.
— Bom. Tome tudo. Você precisa – afirma ele e estende a colher
para mim, com mais sopa, e eu ofereço a ele um sorriso fraco.
— Eu vou tomar, Eric. Você me alimentou o dia todo.
— Talvez goste da ideia de você pensar que sou bonzinho – diz
e sorri.
— Mas, você é.
— Eu vou deixar que pense assim.
Ele me entrega a tigela e eu a pego. Para mostrar a ele que não
precisa se preocupar comigo. Eu mesma tomo uma colherada atrás
da outra.
Satisfeito, ele se endireita e se senta na janela à minha frente.
Eu observo as tatuagens que cobrem seus braços. Ele está
vestindo uma regata, então é fácil ver a maioria delas.
Há algo que devo a ele e tenho que pagar antes do fim do dia.
Então, vou fazer isso agora.
— Obrigada por me salvar — murmuro.
Ele parece surpreso.
— Não precisa me agradecer por isso.
— Acho que devo porque você poderia ter caído também.
— Eu sei.
Ele teria morrido tentando me salvar. E a verdade é que é isso
que está me ancorando neste mundo. As pessoas podem dizer
qualquer coisa que quiserem que você ouça. Mas, quando mostram
como se sentem, é irrefutável. Então, eu sabia que ele se importava
antes mesmo de me dizer.
Dias atrás, eu não achava que ele se importasse e tive que
confiar nele. Eu não tinha outra escolha. Agora sei que posso
confiar minha vida a ele.
— O que foi? — pergunta Eric. — Não sei o que está pensando
quando me olha assim.
— Em você.
— Que tem eu, Summer Reeves?
— Tudo. Por que você se importa?
— Porque entendo você e, talvez em alguns pontos, nós
sejamos mais parecidos do que pensávamos. Mas, não quero que
seja como eu. Não quero que seja como eu, mas ontem você foi. No
momento em que pulou daquela mureta, você era igual a mim.
Quando ele diz isso, entendo exatamente o que quer dizer. E
isso me choca e me assusta ao mesmo tempo.
Morte.
Ele está falando sobre a morte. Não tem medo da morte porque
quer morrer.
— Não — eu murmuro.
— Sim.
— Por quê?
— Meus erros egoístas poderiam ter custado a vida de minha
família. E foi apenas por causa de milagres que isso não aconteceu
— explica ele. — Robert e eu crescemos juntos. Tratei-o como um
irmão. Fazíamos tudo juntos e tínhamos os mesmos interesses em
ciência da computação e engenharia. Estudamos juntos na
faculdade e ele foi trabalhar para a empresa da minha família, a
Markov Tech. Confiei meus segredos a ele, e foi aí que errei.
Ele faz uma pausa e um mundo de dor enche seus olhos. É tão
potente que me obriga a ir até ele.
Sento-me ao seu lado e ele me encara por alguns segundos
antes de respirar fundo. Ele parece tão cansado que meu coração
dói por ele.
— O que aconteceu?
— Ele sabia da situação da minha família e usou isso contra
mim. Meu pai era casado quando conheceu minha mãe. Minha irmã
e eu éramos fruto de um caso que nunca terminou. A esposa do
meu pai não permitia que ele se separasse. Ela o ameaçava de
perder tudo, mas eu não entendia por que ele não desistia de tudo
já que nos amava tanto. Ele era da máfia italiana e meu avô
materno era da Bratva. Ambos me negaram o que eu achava que
deveria ser meu. Não queriam que eu fizesse parte dessa vida. Mas,
acho que nenhum deles sabia que não se pode negar a alguém
quem eles realmente são.
Algo que parece embaraço brilha em seu rosto e ele desvia o
olhar de mim.
— Eu me rebelei. Ao fazer isso, abri a brecha para nossos
inimigos me enredarem. Eles perceberam que eu não estava
pensando direito e Robert estava ao meu lado — acrescenta. —
Acabamos entrando para um grupo que trabalhava para políticos
muito importantes. Eu queria o poder e a chance de fazer parte de
algo que pensei ser maior e melhor do que a Bratva ou a máfia
italiana. Fixei meu foco no que poderia me tornar e isso subiu à
minha cabeça. Não me importava com ninguém além de mim. Pior,
fiz isso porque me sentia o filho bastardo de meu pai.
Quando ele volta seu olhar para mim, a raiva que estou
acostumada a ver volta aos seus olhos.
— Não sabia que só estavam interessados em mim porque
queriam uma arma que meu avô projetou antes de morrer. Era uma
coisa que só eu conseguiria construir. Nunca pensei que Robert
estava trabalhando nos bastidores para me trair. Quando tentei sair,
Robert os ajudou a me capturar. Encenou tudo para parecer que
morri em um acidente de carro. Por cinco anos, minha família
acreditou nisso.
Meu Deus.
— Cinco anos? As pessoas pensaram que estava morto por
cinco anos, Eric?
— Sim.
— Onde você estava? — pergunto.
— No Brasil.
— Como escapou?
— Nada menos que um milagre. Foi minha irmã quem descobriu
a verdade e passou pelo inferno para me trazer de volta. Você sabe
como é o Robert, então imagine as pessoas para quem ele
trabalhava. Deixei minha mãe em uma cadeira de rodas e minha
irmã à mercê dessas pessoas. Fizeram todo tipo de merda com as
duas. Tudo por minha causa. Todos estavam destinados a morrer,
inclusive eu.
Não consigo imaginar o que ele deve ter passado todos esses
anos, mas agora entendo a profundidade de seu ódio por Robert.
— Você não tinha como saber que isso tudo iria acontecer — eu
digo.
— Não importa, Summer. Aconteceu e não posso mudar. Não há
nada que possa fazer para mudar nada. É como se tivesse me
vendado, caído direto em uma armadilha e arrastado todo mundo
comigo. O que fiz mudou a vida das pessoas, não apenas a minha.
— Sinto muito.
— Não tenha pena de mim. O tempo que passou desde que
voltei para casa parece um purgatório. A única coisa que posso
fazer para consertar é pegar Robert. Mesmo assim, não será
suficiente. Porque não posso mudar o fato de que tudo o que
aconteceu foi minha culpa. Essa é a principal diferença entre você e
eu. O que aconteceu com você não foi sua culpa e ninguém deveria
culpá-la. Não por sua mãe nem sua irmã. Sua mãe estava doente e
sua irmã teve a infelicidade de entrar em uma situação perigosa.
Você é tão vítima quanto qualquer uma delas.
Esperei anos para ouvir essas palavras. Meu coração aperta e a
esperança enche minha alma, me chamando para tentar
novamente.
— Obrigada por dizer isso.
— Digo por que é verdade.
— Você também não deve se culpar, Eric. Você cometeu erros.
Mas, não quis machucar ninguém e ninguém morreu. Ainda
consegue amá-las. Ter você de volta deve significar tudo para elas,
se pensaram que estava morto e passaram pelo inferno para
recuperá-lo. Não se esqueça dessa parte.
Seu rosto se suaviza e ele sorri. Inclinando-se mais perto, toca
meu rosto e roça meus lábios com os dele.
É um beijo doce, doce demais para nós, mas é algo que quero.
Quando ele se afasta, olha para o relógio na parede e aquela
suavidade em seu rosto desaparece, transformada em escuridão.
— Está na hora — afirma.
— Na hora do quê?
— Vamos a um lugar muito importante.
Eu estreito meus olhos, confusa.
— Para onde vamos?
— Você vai ver, bebê. Vem comigo.
Chapter Trinta E Três

Summer

U
ma hora depois, estamos caminhando por um beco sujo no
centro da cidade.
Não tenho ideia de para onde estamos indo, e a única
garantia que tenho é a mão quente de Eric cobrindo a minha,
segurando a minha.
Ficamos em silêncio no caminho até aqui, e estamos em silêncio
agora, mas tudo na minha cabeça está uma bagunça. O barulho
interno é tão alto que não consigo pensar claramente.
Quando chegamos ao fim do beco, vejo Borya. Pelo menos ver o
melhor soldado de Eric me acalma um pouco, embora eu ainda não
tenha ideia do que está acontecendo.
— Não é uma visão bonita, chefe — afirma Borya. — E está
cheirando a mijo e merda lá dentro.
— Ela não vai ficar por muito tempo – Eric responde.
Eu aperto sua mão e ele olha para mim.
— O que está acontecendo?
— Justiça, boneca. Justiça.
A primeira coisa que penso é que ele pegou Robert. Mas, ele
prometeu que me contaria quando o fizesse. Será que essa é a
maneira dele de me contar?
— Você pegou o Robert?
— Não, peguei o outro monstro.
Meus lábios se abrem com o choque que aquelas palavras
causam. Só há uma pessoa que poderia estar lá dentro.
Ted.
Minha alma estremece e minhas pernas viram peso morto, mas
as arrasto para me mover quando ele puxa minha mão.
Passamos por uma porta de metal e entramos em um lugar que
parece um frigorífico.
Está mal iluminado e tem um ar misterioso, como um cenário de
um filme de terror.
Descemos uma escada de concreto e chegamos a um porão.
Dispostos em semicírculo, há dez homens que sem dúvida são
mafiosos. São uma mistura de russos e italianos.
Eric acena para um deles e, quando o homem se afasta, vejo o
monstro dos meus pesadelos. O monstro que começou tudo isso.
Ted.
Está sentado em uma cadeira com as mãos e os pés amarrados
com cordas. Sangue cobre sua camisa branca e seu rosto está
marcado por hematomas.
Como diabos Eric o pegou?
Como?
Quando Ted levanta a cabeça e olha para mim, lembro-me da
última vez que nos vimos.
Lembro-me de como ele ameaçou me matar se não me livrasse
do bebê. Ele esperou o momento certo para atacar, que era o dia
em que Scarlett partiria para morar com papai. Me escondi em um
motel miserável e foi lá que seus capangas me pegaram. Mal
consegui escapar deles quando um disparou uma arma. Mais uma
bala destinada a mim. Foi isso que me fez tropeçar e rolar escada
abaixo.
Alguém os ouviu, e essa foi a única coisa que os impediu de me
perseguir, mas já era tarde demais. Eu já estava sangrando quando
cheguei ao hospital.
Volto meu olhar para Eric quando o homem parado ao lado de
Ted estende o controle remoto da TV para ele. Eric solta minha mão
para pegar o controle.
— Obrigado, Pakhan – Eric responde e, apenas pela palavra
Pakhan, agora tenho certeza de quem são os homens naquela sala.
O Pakhan é o líder da Bratva.
Não consigo pensar em mais nada porque Eric estende o
controle remoto e liga uma TV que ganha vida na parede. A
superfície da tela plana parece estranha para um lugar como este.
Isso é irrelevante, porque o rosto de Ted aparece na tela.
É uma gravação dele sentado em seu escritório com a
decoração de sempre ao se dirigir ao povo de Nova York. Há uma
diferença importante, porém. Ele tem uma expressão de pavor
agora.
Todos nós voltamos nossa atenção para a tela.
— Boa noite — ele começa e ajusta o colarinho. — Esta é a
última vez que me dirijo ao povo de Nova York como seu
governador. Foi uma honra servir este estado. Antes de partir, tenho
algumas confissões a fazer. Sou uma fraude e armei coisas no
governo para desviar milhões de dólares, principalmente
transferindo fundos para minha rede de prostituição e tráfico de
drogas. Também abusei sexualmente de muitas meninas por anos.
Meninas de doze anos.
Quando ele faz uma pausa, paro de olhar para a versão dele na
TV e olho para o homem diante de mim que cheira a morte. Ele olha
para mim também e sinto o gosto da vingança.
Estou tão feliz por ter vivido para ver este momento, e tudo foi
possível graças ao homem ao meu lado que me salvou de tantas
maneiras.
— Este é o fim da estrada para mim — continua a gravação e
concordo. — Vou devolver todo o dinheiro que peguei. Também vou
renunciar ao cargo de governador esta noite. Peço desculpas pela
minha enganação. Foi melhor eu contar o que fiz.
A gravação é cortada e Eric se agacha, pressionando os lábios
em uma fina linha de desagrado. É só então que Ted olha para ele.
— Ted Nicholson, meu nome é Eric Markov. Sou o cara que
orquestrou este pequeno encontro para trazê-lo até aqui. Nós
representamos Summer Reeves – explica ele.
Ouvir Eric dizer isso cura algo dentro de mim. O calor de suas
palavras cauteriza minhas feridas. Eu me sinto como a garota que
era antes de Ted entrar na minha vida. Eu me sinto como a menina
que tinha sonhos tão grandes e sempre acreditou que poderia
realizá-los.
— O mundo verá essa gravação em uma hora — continua Eric.
— Mas, você ainda tem uma última coisa a fazer, não é, governador
Nicholson?
— Sim — Ted murmura.
Eric se levanta e olha para mim.
— Venha aqui, Summer – pede ele, suavemente.
Mantendo meu olhar fixo em Ted, vou até eles e paro ao lado de
Eric.
— Peça desculpas a ela! – Eric grita, e a aspereza em sua voz
faz Ted pular.
— Sinto muito por tudo que te fiz, Summer — Ted começa, mas
não parece o suficiente. — Sinto muito pelo que fiz a você e sua
família. Foi minha culpa que sua mãe se matou. Não foi culpa sua.
Ele olha para mim como se quisesse que eu dissesse que aceito
a porra do seu pedido de desculpas.
— A única coisa que importa aqui é que ouvi essas palavras
saírem da sua boca, mas sei que não quis dizer isso – digo a ele. —
Espero que vá para o inferno.
— Não era minha intenção...
Acerto um soco em seu rosto com tanta força que ouço um osso
estalar. Sangue jorra de seu nariz e cuspo nele. Depois me afasto
porque isso é tudo que consigo fazer, apesar de todo o ódio que
sinto.
Eric toca meu braço e me equilibra.
— Summer, este é Aiden, meu Pakhan — diz ele, apontando
para o homem com quem havia falado antes. — Ele vai te levar para
casa. Não vou demorar muito.
Estou tão apática que não consigo falar. Abro a boca, mas as
palavras não saem.
Os próximos momentos passam em câmera lenta quando sou
escoltada para longe. Olho para Ted uma última vez antes de Aiden
e eu chegarmos ao topo da escada. Vejo a morte em seu rosto.
Depois que passamos pela porta e ela se fecha, ouço um tiro e
sei que Ted está morto. Outro tiro ecoa e penso em Scarlett. Isso
era para ela também.
Não posso mudar o passado, mas agora posso realmente me
livrar de Ted, o monstro que roubou minha adolescência.
Chapter Trinta E Quatro

Summer

E
ric volta ao apartamento algumas horas depois e me pergunto
o que mais ele fez com Ted.
Aiden ficou esperando na sala de estar comigo. Nenhum de
nós falou, mas ele se sentou comigo enquanto eu me encolhia no
sofá.
Só me endireito quando Eric entra. Os dois se olham, falam em
russo, e Aiden inclina a cabeça para se despedir de mim.
— Boa noite — diz ele.
— Boa noite e obrigada — respondo.
— O prazer foi meu.
Ele sai e, quando Eric se vira para mim, corro até ele e me jogo
em seus braços.
— Não posso te agradecer o suficiente – digo, segurando as
lágrimas. Estas são lágrimas diferentes. — Como conseguiu chegar
até ele?
— Eu fiz o que faço de melhor – responde, e me afasto um
pouco para fitar seus olhos. — Descobri seus segredos sujos e dei a
ele a opção de expô-los por ele mesmo ou eu faria isso. De
qualquer maneira, ele morreria. Sua única escolha era entre morrer
rápido ou devagar. Um monstro a menos, Summer.
Fico na ponta dos pés e o beijo.
Não demora muito para nosso beijo se transformar nos beijos
quentes e vorazes com os quais me acostumei a receber desse
homem.
Ele me pega no colo e me carrega para seu quarto e é onde ele
me devora.
Quando sua ereção penetra meu corpo, sinto que pertenço a ele.
Fogo e paixão nos consomem, mas há algo mais em seu toque que
contém aquela centelha de posse que senti semanas atrás. É
porque está fazendo amor comigo. Nunca fiz amor antes, e esta é
uma noite que não esquecerei jamais.

Quando acordo na manhã seguinte, fico deitada nos braços de Eric


por um tempo, apenas saboreando a sensação dele me segurando.
Ele ainda está dormindo, o que é diferente porque geralmente é
ele quem me observa dormir. Em vez disso, agora posso observá-lo.
Aninhada contra seu peito, descansando minha cabeça nos
músculos sólidos que sobem e descem com sua respiração calma,
eu me sinto como uma nova mulher.
É como se, ao abrir meus olhos hoje, eu tivesse me tornado
outra pessoa, e todas as coisas horríveis que aconteceram nunca
tivessem acontecido. Todas as coisas, exceto Scarlett.
Tenho vontade de ligar para ela e contar o que aconteceu com
Ted. Se estivesse viva, teria visto o noticiário ontem à noite e meu
telefone estaria tocando sem parar.
Pensar nela me leva a escapar dos braços de Eric, tomando
cuidado para não acordá-lo.
Visto uma das camisolas que deixei aqui e volto para o meu
quarto.
Chegando lá, pego a caixa com as coisas dela da peça de teatro.
Eu não olhei para isso desde que empacotei. Isso é tudo o que ela
chamaria de material de trabalho. Há um gravador e sua cópia do
roteiro.
Eu tinha visto a pequena fita quando a embalei, mas estava
preocupada sobre como me sentiria ao ouvir a voz dela. A última
vez que ouvi a voz dela foi na mensagem que me deixou dizendo
que estava em Mônaco. Recebi essa mensagem dois dias depois
que ela morreu.
Aperto o play, e quando a voz dela começa a ler as falas da
peça, não há palavras para descrever o quanto sinto sua falta. Mas,
há algo dentro de mim que se conforta ao ouvi-la falar. É como
quando ela me ligava e ensaiávamos as falas.
Há uma seção em que ela tropeça nas falas e posso imaginar a
cara que ela faz.
— Ai, Summer, queria que estivesse aqui – ela diz de repente, e
minha atenção se quebra. — Droga, esqueci as falas. Você nunca
esquece suas falas. Você canaliza sua Vivien Leigh e eu canalizo
você – ela começa a rir e balanço a cabeça como se estivéssemos
na mesma sala.
— Scarlett, você é incrível — murmuro para mim mesma.
— Sempre penso em você quando subo no palco porque atuar é
tão natural para você – ela volta a falar depois de parar de rir. – Este
é o meu maior papel de todos os tempos e estou muito feliz por ter
conseguido. Mas, esse personagem é ideal para você. Quando
praticamos as falas ontem à noite, elas eram tão fáceis para você.
Queria que fosse você fazendo esse papel. Queria que esta fosse
sua oportunidade de brilhar, seu momento Carpe Diem. Sinto como
se este papel tivesse sido criado para você. Teria sido uma honra
vê-la nesta peça. Droga, a fita vai acabar e acabei de perceber que
estou falando sozinha. Vou ligar para você.
Ela para de falar e o silêncio preenche o espaço ao meu redor.
Tenho certeza de que atendi aquela ligação e conversamos a noite
toda.
Um movimento na porta chama minha atenção e olho para cima
para ver Eric parado, sem camisa, encostado no batente da porta.
Acho que deve ter ficado parado ali tempo suficiente para ouvir a
gravação.
— Oi — cumprimento em um fio de voz.
— Oi – ele responde e entra, se agachando ao meu lado.
— Por quanto tempo está parado nessa porta?
— O suficiente para saber que você canaliza sua Vivien Leigh
quando está atuando – ele sorri.
— Ela era minha atriz favorita e a personagem que minha irmã
iria interpretar era como muitos dos papéis que ela fez. Scarlett e eu
costumávamos praticar juntas, mesmo quando eu não estava
atuando. Então, sei tudo sobre esta última peça. No fundo, também
gostaria de estar atuando em algo assim. Quero voltar a estudar
quando puder. Eu ia dizer isso a ela porque isso a deixaria feliz.
Ele olha para o gravador em minhas mãos e passa um dedo
pelos nós dos meus dedos.
— Por que não faz? — ele sugere e eu arregalo meus olhos.
— Fazer o que?
— A peça.
— Não, não poderia fazer isso.
— O plano era dizer ao diretor que ela desistiu do trabalho.
Temos uma semana até o ensaio recomeçar, certo?
— Sim.
— Tenho uma ideia que deve dar certo em relação a Robert e
Micah. Portanto, não acho que haja mal algum em esperar uma
semana e depois falar com o diretor e avisá-lo que deseja fazer algo
para homenagear sua irmã.
— Estou longe de ser qualificada para fazer algo assim.
— Você tem experiência e um bom histórico. Tenho certeza de
que ele pelo menos lhe daria uma chance, se mostrasse como é
boa. Parece que ela gostaria que fizesse isso. Acho que ficaria
honrada se a substituísse. Carpe Diem, certo?
Penso no que ele está dizendo e isso traz um sorriso ao meu
rosto.
— Essa expressão quer dizer curta o momento.
Seu telefone toca e ele enfia a mão no bolso para pegá-lo. Ele
franze a testa e olha para mim.
— É seu pai. Já ligou várias vezes. Tenho certeza que viu as
notícias e recebeu um depósito considerável na conta dele esta
manhã. Na sua também.
— Depósito? – repito enquanto meu queixo cai.
— De Ted. Falaremos sobre isso mais tarde. Quer atender seu
pai? Você pode dizer não.
Estou me sentindo mais forte agora. A verdade foi revelada e
não importa quem acredita em mim ou não.
— Vou falar com ele.
Eric me passa o telefone e eu atendo.
— Pai – digo primeiro.
— Summer, meu Deus. Estou ligando há tempos. Vi o jornal
ontem à noite.
— Ah, você viu? — respondo em um tom monótono.
— Sinto muito, minha querida. Por favor, posso ver você?
Eu olho para Eric, que acena com a cabeça.
— Pode – concordo.
Chapter Trinta E Cinco

Eric

A
iden olha para o design elegante do Exterminador e suspira.
— Parece algo saído de um episódio de Star Trek – afirma
e dou risada.
— Você não está longe. Meu avô adorava esse seriado.
Estamos no meu escritório enquanto Summer cozinha com
Lyssa. Comecei meus planos ontem, quando as coisas se
acalmaram e todas as peças chegaram.
Trabalhei na construção do dispositivo o dia todo. Aiden veio
oferecer sua ajuda e tenho mais algumas coisas que preciso ajustar
antes de testá-lo.
— Estou surpreso que tenha conseguido fazer tudo tão rápido –
ele diz.
— Eu também. A fase de projeto geralmente leva um mês
porque é quando se testa materiais e eficiência. Mas, este é um
bom protótipo.
— Não vai desligar mais nada, certo? Não quero me sentir
culpado se um avião cair.
— Não se preocupe. Garanto que isso não vai acontecer.
— Bom. Como está sua garota? – indaga com um brilho de
curiosidade nos olhos.
— A minha garota? — repito e levanto uma sobrancelha.
— Sim e nem tente negar. Não pode depois do que aconteceu
na outra noite. Um homem não convoca os poderes do Sindicato
para pegar e lidar com um filho da puta que machucou uma mulher
se ela não significa algo para ele.
— É, acho que não – admito.
Há muita coisa que ainda não contei a Aiden, e outro tanto que
vou guardar sempre. Especialmente a parte quando Summer pulou
da sacada. Não quero falar sobre isso nunca mais. Mas, acho que
posso falar sobre o que ele quer saber.
— Ela precisava de redenção e vingança.
— E você deu isso a ela.
— Eu certamente dei.
Aiden ri e continua falando:
— Bem, por algumas semanas, as pessoas vão tentar descobrir
o que aconteceu com Ted. Depois, vão pensar que se matou ou que
resolveu sumir.
— Acho que vão acreditar que se matou. Ele confessou merdas
fodidas.
A esposa dele reportou seu desaparecimento ontem. Ninguém
vai encontrá-lo. Quando terminei com o corpo, nem eu o reconheci.
Mandei para o crematório.
As pessoas vão procurá-lo e não vão encontrar porra nenhuma.
Foi o pessoal de Chicago que o levou. Claudius Morientz e Vincent
Giordano podem mexer os mesmos pauzinhos que nós aqui. No
momento em que Ted os viu entrar em seu escritório, soube que
estava morto. Aiden e Massimo o pegaram no aeroporto e o levaram
para a sala de interrogatório.
Não queria que Summer tivesse que entrar em um lugar como
aquele nunca na vida. Mas, aquilo precisava acontecer e estou tão
feliz que ela deu um soco na porra da cara daquele filho da puta
antes que eu acabasse com ele.
Agora, o resto: Robert e Micah. Ainda não acabou. Ted foi
apenas uma questão que nunca considerei e um desvio do
problema maior. E, já que só recentemente comecei a imaginar o
futuro novamente, ainda estou dando um passo de cada vez com a
Summer.
O que sei é que quero que ela seja minha e não quero deixá-la ir.
Não tenho certeza se isso é egoísmo da minha parte porque não
sou um bom homem para ela. Ainda estou em perigo e estar na
Bratva traz a ameaça da morte. Acho que vou pensar nisso quando
chegarmos lá.
Aiden me observa enquanto termino de sincronizar o computador
com o dispositivo. Ele ganha vida. Acho que, por mais que meu avô
nunca quisesse que esse projeto fosse construído, ele adoraria ver
isso. Ele era como eu, então ver as luzes se acenderem e a barra
de sincronicidade completa no computador teria sido emocionante.
A próxima coisa que tenho que fazer é inserir o código do
dispositivo de Robert e programar sua destruição.
— Aqui vai, Pakhan.
— Só espero que funcione.
Saberemos quando meus bots funcionarem. Eles serão capazes
de detectar qualquer coisa que capturou o rosto de Robert nos
últimos dias.
Pressiono o botão no dispositivo e esperamos um minuto. Outro
minuto se passa e os alertas de notificação no meu outro
computador ficam loucos.
Nós dois corremos para lá e testemunhamos meu sucesso.
Meu plano funcionou e os bots de reconhecimento não apenas
pegaram o rosto de Robert, mas também sua localização.
Está bem aqui em Los Angeles.
Chapter Trinta E Seis

Summer

E
nquanto subo os degraus da frente da casa do meu pai, estou
nervosa por um motivo totalmente diferente do que quando
cheguei aqui na outra semana.
Esta noite, estou nervosa porque Robert está em Los Angeles.
Eric o localizou há duas noites e está tentando pegá-lo.
Mas, queria ver meu pai, então me aventurei com dez guardas
me acompanhando, incluindo Borya e Oleg. O fato de terem vindo
comigo mostra o nível de proteção que Eric pensou que eu
precisaria para sair de casa.
Porém, não parece que Robert saiba que estou viva e espero
que nunca descubra.
Papai abre a porta antes mesmo que eu toque a campainha e
parece tão abatido quanto da última vez que nos vimos. Está
olhando para mim de forma diferente, no entanto. Da mesma forma
que olho para ele.
Não sou mais aquela alma perdida que precisava que seu pai
acreditasse nela. Estou aqui por mim, não por ele. Não quero ter
esse rancor entre nós quando somos tudo o que resta de nossa
família. Tenho certeza também de que ele tem tanto a me dizer
quanto eu a ele.
O escândalo de Ted é notícia em todo o país e, só hoje,
evidências foram reveladas mostrando sua participação na
libertação antecipada de muitos criminosos da prisão. Ele aceitou de
tudo, desde subornos até fazer merdas obscuras para excluir
evidências.
— Oi, pai — digo.
— Obrigado por ter vindo — ele responde e me conduz para
dentro.
Olho para os guardas antes de entrar. Borya e Oleg estão no
Range Rover em que me trouxeram e os outros guardas estão em
dois Bugatti pretos.
Papai me leva de volta para a sala em que ficamos da última vez
e me sento. Percebo que ele tem outro quadro esta noite. Parece
novo. Está na parede mais distante e é de duas garotinhas de
cabelos escuros brincando à beira do rio. Ambas estão usando
vestidos que reconheço. São Scarlett e eu.
— Pintei há alguns dias — explica ele. — Pelo menos ainda
consigo me sentar e pintar.
Olho para ele e me lembro de como adorava vê-lo pintar.
— É lindo.
— Quero que fique com ele quando eu me for. Quero que fique
com tudo. Todas as minhas pinturas e esta casa valem algum
dinheiro. É pouco comparado com o dinheiro que acabamos de
receber, mas é meu legado para você.
Ainda estou tentando entender o dinheiro que surgiu na minha
conta. Ted devolveu os cinco milhões que a vovó nos deixou. Isso
foi para mim. A herança de mamãe, que era de mais dois milhões,
foi dividida entre papai e eu.
Portanto, atualmente há seis milhões na minha conta bancária.
Se alguém tivesse me falado que eu teria tanto dinheiro hoje, nunca
teria acreditado. Eu era a garota que não conseguia comer, a garota
que teve que viver nas ruas por meses e a garota que teve que
vender seu corpo para salvar sua vida.
É uma quantia inimaginável, mas o que meu pai está dizendo
não tem preço.
— Obrigada.
— Summer, te devo um pedido de desculpas. Te devo anos de
desculpas. Fui um péssimo pai e não espero que me perdoe quando
não consigo perdoar a mim mesmo. Entrei em choque quando
encontrei sua mãe morta. Havia tanto sangue e tudo o que vi foi
aquele maldito bilhete que nunca vou esquecer. Quis acreditar que
ela não teria se matado se aquilo não fosse verdade.
— Agora sabe que não era. Mas, isso não importa mais. Não vou
dizer que está tudo bem. Você acredita em mim porque a verdade
foi revelada. Não vou te dizer tudo que sofri porque isso também
não importa mais.
— Isto é importante. Quando Scarlett me contou como você
perdeu o bebê, tentei entrar em contato.
Ele tentou mesmo, mas não do jeito que está fazendo parecer.
Ele trouxe Scarlett para morar com ele e garantiu que ela recebesse
o apoio de que precisava após a morte de mamãe. Eu fui deixada
ao relento.
— Sei que não adianta falar sobre isso agora e não há nada que
eu possa fazer para compensar meus erros do passado.
— Não há. Mas estou aqui porque quero fazer as pazes. Você só
tem mais alguns meses de vida e não quero que morra com esse
rancor entre nós. Só quero que as coisas voltem a ser como eram.
Como eram antes de você e mamãe se separarem. Eu te amava
tanto.
— E eu destruí esse amor. Também quero voltar àquela época e
ser a versão do pai que queria ser. Não deveria ter demorado tanto
para chegar a esse ponto, e não deveria ter te culpado pela morte
de ninguém. Desculpa, Summer. Realmente sinto muito.
— Vamos começar de novo a partir daqui.
Ele concorda, acenando a cabeça.
— Sim. Vamos fazer isso.
Prendo a respiração e decido mudar de assunto, mas um
barulho lá fora soa como um tiro.
Papai também ouve e olha para a porta.
— O que é que foi isso? — pergunta, apoiando-se na bengala
para se erguer.
Assim que faz isso, porém, ouvimos mais tiros. A porta da frente
se abre. Um momento depois, homens com armas em punho
invadem a sala.
Eu grito e papai se coloca na minha frente. Ele não pode fazer
nada por mim, do jeito que está. Meu sangue congela quando vejo
quem entra pela porta. Robert vem primeiro, depois Micah.
Procuro os guardas de Eric, mas ninguém aparece. Ninguém
está vindo para nos ajudar. Mas, a pergunta é como Robert sabia
que eu estaria aqui?
— Você! – papai grita. – Você matou Scarlett. Fique longe da
minha filha.
Apesar de ficar apavorada quando Robert aponta a arma para
meu pai, eu o empurro para fora do caminho e entro na frente dele.
— Por favor, não, não mate meu pai. Não faça isso – imploro.
Robert sorri e me lembro do pesadelo que ele é.
Micah retribui o sorriso e balança a cabeça.
— Ora, ora. Se não é a minha putinha — diz Robert. Era assim
que ele costumava me chamar. — Você está vestindo mais roupas
do que me lembro que gostava de usar – ele examina minha blusa
de mangas compridas e jeans.
— Leve-me, mas não machuque meu pai.
Robert estende a mão e agarra meu pescoço. Papai grita
quando Robert me ergue do chão e engasgo tentando buscar ar.
— Eu deveria ter desconfiado que não foi você que matei. Está
sempre nua quando te vejo. Sempre a prostituta. Seu pai sabe que
tipo de puta você é?
Desgraçado!
— Você nos enganou, Summer Reeves — diz Micah. — Agora,
vamos lhe ensinar uma lição.
— Por favor, não machuque minha filha — diz papai.
— Temos outros planos para essa vaca — responde Robert. —
E você acabou de se tornar uma vantagem extra. Sei que Eric não
vai querer o sangue de um velho caquético em suas mãos.
Merda. Que porra está acontecendo?
Como chegamos nisso?
— Por favor... – papai começa a dizer, mas Micah o acerta com a
parte de trás de sua arma e ele cai.
Ele dá um chute no estômago do meu pai que cospe sangue.
Eu grito, mas não adianta.
Um novo pesadelo está apenas começando.
Chapter Trinta E Sete

Eric

le não está aqui, Eric – Aiden diz e me irrito. — Os caras


—E disseram que também não conseguiram encontrá-lo no
clube.
Todos os homens estão nas ruas e nós nos dividimos para ir aos
últimos três locais em que avistei Robert. Uma casa em Long
Beach, um armazém nas docas e um clube em Echo Park.
Estamos em frente à casa em Long Beach. Alejandro está
conosco. As únicas pessoas aqui são viciados em drogas e uma
grávida que fala francês.
Procuramos o dia todo. Eu tinha certeza de que o
encontraríamos logo. Então, algo está errado porque ainda não há
sinal deles.
Também é mais difícil rastrear alguém sem ter algo rastreável
como um telefone ou as placas de um carro. Mesmo assim, já
deveríamos ter encontrado Robert e Micah se estiverem juntos.
A essa altura, Robert já deve saber que seu dispositivo não está
funcionando. Será apenas uma máquina morta para ele. Ele
também saberá que só poderia ter sido eu quem estraguei tudo
dessa maneira.
— O que faremos agora? – Alejandro pergunta.
— Meus bots teriam me notificado se tivessem rastreado alguma
coisa. Nada aconteceu – respondo.
— Vou colocar homens em ambos os lugares para o caso de ele
voltar — diz Aiden. — Enquanto isso, continuaremos a tentar
localizá-lo e a Micah.
Tenho certeza que os dois filhos da puta estão juntos onde quer
que estejam.
Meu telefone toca e, quando olho para a tela e vejo um número
desconhecido, fico tenso. Não é ninguém com quem queira falar. Só
um número limitado de pessoas tem esse telefone. Nenhuma
esconderia o número de mim.
— Quem é? – pergunto quando atendo.
— Olá, meu amigo, há quanto tempo não falamos – a voz fria de
Robert ressoa em meu ouvido e parece que estou de volta ao Brasil,
acorrentado àqueles postes com a eletricidade convulsionando meu
corpo.
— Robert Carson – rosno.
Aiden e Alejandro se endireitam quando ouvem o nome.
— Sim, amigo. Só que não uso esse nome há anos. É estranho
ouvir agora.
— Como conseguiu esse telefone, Robert?
— É incrível o que se pode comprar com a traição de um
homem. Embora tenha que admitir que esse cara era muito leal a
você. É importante que saiba disso.
Foda! O que aconteceu?
Penso em Summer porque enviei meus homens mais leais com
ela. Eu os teria deixado no apartamento, mesmo que ela não tivesse
ido até a casa do pai.
— O que você fez, Robert?
— Nada demais. O preço da traição de Oleg foi a morte da mãe
dele e a ameaça à vida de sua esposa.
Jesus Cristo! Oleg? E o filho da puta do Robert matou a mãe
dele e sequestrou sua esposa.
— Seu cachorro filho da puta.
— Continuo te dizendo que não sou o cachorro. É você. E vai
fazer exatamente o que te mandar como um bom cãozinho.
— Não vou fazer merda nenhuma.
— Acho que vai sim. Pelo que entendi, você tem um novo
interesse amoroso. Não sei como descobriu sobre meu dispositivo,
mas te dou crédito por me enganar. Uma coisa foi estragar meu
dispositivo. Agora, imagine minha surpresa quando Oleg me contou
que a mulher que pensei ter matado está viva e sob seu teto. Ele
cantou feito canário para salvar o que resta de sua esposa. O que é
compreensível ao vê-la sendo torturada. Toda vez que ele parava eu
cortava mais um dedo.
Isso só pode ter acontecido em algum momento hoje e explica
por que não conseguimos encontrar Robert. Mas, Oleg está com
Summer.
— Ele não imaginou que iria matá-la de toda forma, depois que
conseguisse o que queria. Agora, ele também está morto.
— O que você quer?
— Você. Quero você, meu velho. E virá até mim porque tenho
sua namorada e o pai. Pensei ir ao seu apartamento para pegá-la,
mas assim também funciona. De qualquer maneira, tenho uma
vantagem sobre você. Então, virá até a casa do velho e se
entregará. Depois, não vai apenas consertar meu dispositivo. Vai
torná-lo ainda melhor do que antes. Vai melhorar isso. É isso que vai
fazer, Eric. Você virá buscá-la, não é?
— Seu desgraçado.
— Vejo você quando chegar aqui. Certifique-se de vir sozinho,
viu?
Ele desliga porque sabe que não precisa que eu responda a
essa pergunta. Ele sabe que irei porque me conhece bem demais.
Olho para Aiden e Alejandro e sinto vontade de cuspir fogo.
— Ele está na casa do pai de Summer. Ele está com Summer e
o pai dela. E quer que eu conserte o dispositivo.
— Foda! — Alejandro murmura.
— Eu vou — declaro.
— Vamos com você — afirma Aiden, e ambos acenam com a
cabeça.

Quando chego à casa de John, vejo os cadáveres de meus homens


no chão perto de seus carros.
Estou sozinho agora, mas Aiden e Alejandro se esgueiraram
pelo terreno vindos do bosque ao redor dos fundos da casa. Se
conseguirem entrar, vão me apoiar dessa maneira. Se não puderem,
terei que improvisar.
Saio do carro e corro até a porta da casa. É quando vejo Oleg
morto no degrau, coberto de sangue. Borya, ao lado dele, tem
sangue em sua camisa, mas ainda está respirando. Contudo, não
por muito tempo.
— Por aqui — diz um homem que aparece na porta aberta.
Ele parece italiano, então presumo que seja um dos soldados de
Micah.
Eu me levanto e o sigo. Lá dentro, vejo os outros esperando por
mim.
Isso não deveria ter acontecido e não havia nada que eu
pudesse ter feito para evitar porque a porra do Robert pegou Oleg.
Sou levado para os fundos da casa de John, para um grande
salão com várias de suas pinturas.
Na ponta da sala, perto das portas de correr de vidro, Robert
aponta uma arma para a cabeça de Summer e Micah, ao lado dele,
tem uma arma na cabeça de John. O velho está ajoelhado no chão,
porém, e parece muito confuso.
Não sei o que diabos devo fazer agora para nos salvar. Estou
cercado por dez homens armados até os dentes, além de Robert e
Micah. Mesmo com a ajuda de Aiden e Alejandro, estou em
desvantagem e não temos um plano.
Olho para Summer e vejo como está apavorada. Está tremendo
e há hematomas em seu rosto e pescoço, o que significa que o filho
da puta a tocou.
Ele a tocou novamente.
— Bem, olhe para isso — começa Robert. — Como nos velhos
tempos, certo? Eu no comando e você à minha mercê.
— Deixe-os ir, Robert. Estou aqui agora. Você me pegou de jeito
desta vez.
— Eu fiz mesmo, não foi? Sabe que é interessante ver como as
coisas mudaram. Sempre estive na sua sombra e agora está na
minha. Tenho grandes aliados agora. Sou eu quem dá as ordens.
— Não está falando desse cara, está? – provoco, apontando
para Micah.
Estou tentando ganhar tempo.
Micah ferve e chuta John, que grita de dor.
— Desrespeite-me de novo, moleque, e eu o mato — retruca
Micah.
Summer parece mais fraca só de ouvir isso, então tomo mais
cuidado. John está morrendo. Não quero fazer nada para acelerar
sua morte. O fato de Summer e o pai ainda estarem vivos mostra o
nível de desespero de Robert e Micah.
Eu sou a resposta para seus problemas.
— Deixa os dois irem. Você já me pegou – repito.
— Livre-se de suas armas e venha para cá — diz Robert.
Pego minhas armas uma de cada vez e as coloco no chão.
Dois homens vêm me revistar. Quando o primeiro põe a mão no
meu braço, uma bala atravessa as portas de vidro e se aloja na
cabeça de Micah. Só pode ser Aiden ou Alejandro.
Micah cai e isso me dá a distração que precisava e Summer
também.
No momento em que Robert olha para Micah, ela dá uma
cotovelada em seu estômago e corre para o canto para se proteger
enquanto mais balas entram pelas portas de vidro derrubando mais
homens.
Pego minhas armas de volta e atiro nos dois perto de mim, mas
meu alvo é Robert.
Aiden e Alejandro atravessam as portas e vão atrás dos homens
restantes enquanto corro atrás de Robert, que agora vê que a
balança pende a meu favor.
Ele foge para o terraço e olha para trás para atirar em mim. Ele
erra, mas eu acerto. Disparo uma bala que o atinge na perna e o faz
diminuir o passo.
Outra bala o atinge nas costas e ele cai de cara no chão. Eu o
alcanço, mas o filho da puta tenta rastejar para longe.
Eu o chuto para virar e piso em seu peito para segurá-lo.
Ao luar, ele parece um animal ferido.
— Você me pegou, velho amigo – ele gagueja, tossindo sangue.
Eu me agacho ao lado dele e bato no lado de sua cabeça com
minha arma. Lembro-me da promessa que fiz no Brasil de acabar
com ele.
Este é o fim.
— Eu te disse que faria isso, mas não parece que é suficiente.
Poderia te matar um milhão de vezes, e não seria justiça suficiente.
Mas, vou fazer valer esta única vez.
Coloco uma bala na cabeça dele e acabo com o filho da puta.
Exatamente como havia prometido que faria.
Agora acabou mesmo.
O pesadelo que Robert Carson representou para mim acabou.
Mas, quando levanto a cabeça e olho para o terraço, vejo Summer
me olhando. Nela, vejo um novo começo. Vejo a vida e o futuro.
Ela é tudo que eu preciso, a peça que faltava em minha vida,
que se tornou o bálsamo para minha alma ferida e quebrada.
Então, serei o que ela precisar que eu seja para me tornar o
homem que ela merece.
Chapter Trinta E Oito

Summer

stava pensando em fazer frango para o jantar — digo a


—E meu pai, que está concentrado em suas pinceladas.
Ele deveria estar na cama descansando, mas insiste
em pintar.
É um quadro meu.
Estou sentada neste banquinho no jardim há uma hora, tentando
não me mexer muito.
— Que tal nós dois cozinharmos? – sugere, ajustando os óculos
na ponta do nariz. Ele só usa óculos para pintar.
— Eu deveria estar cuidando de você.
— Você está. Isso que está fazendo também é cuidar de mim.
Não tenho um quadro de você nessa idade. Lembra que costumava
fazer um a cada aniversário?
— Lembro – respondo, sorrindo.
— Bem, faça a vontade de um velho indefeso que quer passar
seus últimos dias fazendo o que mais ama com sua linda filha.
Faz uma semana desde a noite que Robert e Micah invadiram a
casa do meu pai. E ainda estou tentando me esquecer do horror que
foi tudo aquilo.
Borya mal sobreviveu. Ainda está no hospital, mas sairá em
algumas semanas. Oleg, por outro lado, infelizmente foi morto. E
ouvi Robert descrever como matou sua família. Isso mostrou a
extensão de sua maldade e estou feliz que tenha encontrado seu
fim. Mica também.
Felizmente, papai só quebrou uma costela e teve que ficar no
hospital por algumas noites. E só porque os médicos queriam
monitorá-lo para ter certeza que estava bem depois do que
aconteceu.
Achei melhor vir e cuidar dele quando saiu do hospital. Há uma
semana não vejo Eric. Tenho telefone agora e ele mandou
mensagens, mas foi só isso.
Acho que está se preparando para me dispensar. Queria
acreditar que só está me dando espaço para eu cuidar de papai.
Mas, há outro lado de mim que pensa o contrário. Ele deve pensar
que acabou porque todo o perigo acabou. Mas, meu coração quer
que eu espere que não.
Não nos conhecemos exatamente nas melhores circunstâncias e
nunca pensei que encontraria o cara que mudaria meu mundo
quando eu estivesse na pior situação imaginável.
No outro dia, fui falar com Nick Fairchild, o criador da peça de
Scarlett. Claro que, quando me viu, pensou que eu era Scarlett e
começou a falar comigo como se eu fosse ela. Partiu meu coração
ter que dar a notícia a ele. Ao menos pude dizer a verdade e ele
ouviu tudo de mim.
Não precisei inventar nada. Quando perguntei se poderia
homenagear minha irmã substituindo-a, ele me deu a chance de
fazer uma audição naquela noite mesmo nos ensaios. E consegui o
papel. A estreia será na próxima semana. Nas últimas noites, tenho
ensaiado com todo o elenco.
É estranho atuar em uma peça que Scarlett deveria estar
estrelando. Mas, é assim que quero honrá-la. Também farei isso
indo atrás do meu sonho.
Ela sempre me fez prometer que aproveitaria a chance quando
surgisse.
Eu vou fazer exatamente isso.
Já me matriculei na UCLA para, finalmente, obter meu diploma.
— Quase pronto – papai anuncia. — Só tenho que acertar esta
parte, depois podemos entrar.
— Está bem, pai.
— Eu costumava gostar de pintar vocês, meninas — diz ele. —
Este vai entrar na minha última mostra.
É difícil ouvi-lo falar assim. Ele parece um pouco melhor do que
quando nos reunimos pela primeira vez. Mas, talvez seja por
estarmos nos dando bem agora. Isso não curou sua doença.
— Será uma honra fazer parte de sua última exibição.
— Fico honrado por me permitir fazer isso. Pronto. Terminei.
Venha dar uma olhada.
Eu me levanto e caminho até o cavalete. Eu sorrio com o que
vejo. Ele me pintou no banquinho onde eu estava. Mas, no lugar do
vestido de verão que estou usando, ele me colocou no branco que
devo usar para a peça. Meu cabelo também está penteado ao estilo
dos anos 40 e pareço ter acabado de sair dessa época.
— Isso parece incrível, pai.
— Fico feliz por ter gostado.
A campainha toca e olhamos para a porta.
— É ele, agora.
— Sim. Vou abrir a porta.
Eu me movo para ir embora, mas ele segura meu braço.
— Filha, por que vocês dois não passam algum tempo juntos?
Você não precisa se preocupar em cozinhar nada para mim.
— Pai…
— Não, estou falando sério. Ele se preocupa com você ou não
estaria aqui.
— Ele pode só ter trazido minhas coisas — digo, mas, espero
que não.
— Ele poderia ter trazido suas coisas dias atrás se fosse só isso.
Eu sorrio. Ele me solta e vou até a frente da casa.
Eric está parado na varanda e fico feliz quando vejo que suas
mãos estão vazias. Esta é a primeira vez que o vejo em uma
semana e é estranho.
— Oi — diz ele.
Eu não consigo evitar minha reação. Meu corpo assume o
controle e corro para seus braços. É tão bom quando me abraça e
percebo o quanto senti falta dele.
— Um homem pode se acostumar com isso, Summer Reeves —
diz quando nos separamos.
— Me desculpe, fiquei feliz em ver você.
— Isso é uma coisa boa. Você parece bem.
— Você também – digo. Mas, por outro lado, ele sempre parece
ótimo. — Falei com o diretor da peça e consegui o papel.
— Perfeito. Eu te disse que conseguiria.
Ele parece genuinamente feliz por mim.
— Estreia na próxima semana. Eu... bem, sei que está sempre
ocupado, mas queria saber se viria assistir.
Ele sorri para mim e estende a mão para tocar meu rosto.
— Claro que irei. Mas, esperava vê-la antes disso.
— Você esperava? – pergunto, incapaz de conter a bolha de
excitação crescendo dentro de mim.
— Sim. Não te disse que não iria te deixar em paz? – pergunta e
me dá um sorriso desarmante.
— Você disse, mas também disse que não me deixaria em paz
até que terminasse comigo.
— Não acho que vou terminar com você nunca.
— Verdade? – um sorriso largo, vindo direto do meu coração, se
espalha pelo meu rosto.
— Verdade. Não vai se livrar de mim tão facilmente, boneca.
— Não quero me livrar de você de jeito nenhum.
— Acho bom mesmo porque eu te amo, Summer Reeves.
— Eu também te amo, Eric Markov.
— Venha aqui e me mostre – ordena, apontando seus lábios e
vou até ele.
Quando nossos lábios se encontram, ele me dá um beijo que
rivaliza com todos os beijos.
Em seus braços, me sinto inteira e realmente segura.
Sinto que sempre terei amparo e sempre serei amada.
Isso é tudo que eu sempre quis.
Epilogue

Summer
Dois meses depois

E
u não poderia pensar em uma maneira melhor de terminar esta
semana.
A noite de terça-feira foi a última apresentação da peça e
recebi a maior ovação da minha vida. A melhor coisa foi olhar para o
público e ver Eric com meu pai ao lado dele, celebrando junto
comigo.
Na quarta-feira, assinei outro contrato para fazer uma peça no
outono com o mesmo diretor, que também me colocou em contato
com um produtor de cinema que viu a peça. Está ansioso para eu
fazer um filme que será rodado no outono.
Se conseguir o papel, será o ápice da minha carreira. Como o
filme também será rodado em L. A., funcionaria perfeitamente, já
que estarei estudando na UCLA.
Na quinta-feira, Eric e eu nos mudamos para nossa nova casa. É
uma casa de praia de cinco quartos em Laguna Beach que parece
ter saído de um sonho.
Ontem, passamos o dia na cama e agora estou em seus braços
dançando sob as estrelas longe dos convidados no casamento de
sua irmã.
Nós nos separamos dos outros há pouco mais de uma hora e
acabamos indo dançar na praia ao som da música fraca que
ouvimos à distância.
Foi um dia lindo onde pude reencontrar a família dele, que
absolutamente adoro. É ainda mais maravilhoso porque nunca
imaginei que pudesse ter tudo isso.
Estou tão feliz. Durante a maior parte da minha vida, a felicidade
parecia um mito para uma garota como eu. Agora, não é mais.
Estou feliz e finalmente fiz as pazes com meu pai em meu coração.
Eu o vejo todos os dias enquanto ele se agarra à vida. Acho que
nosso reencontro o fortalece. Há dias em que parece mais forte e
dias em que está fraco, mas ele luta para se manter vivo.
Quando olho para o homem lindo me abraçando, ele sorri de
volta como se tivesse tido uma de suas ideias malucas.
— O que foi agora, Sr. Markov? – pergunto, erguendo uma
sobrancelha.
— Estou pensando no que vou fazer com você.
— O que você está planejando?
Ele finge considerar minha pergunta, embora eu saiba que já
formou a ideia. Foi assim antes de me pedir para morar com ele em
seu antigo apartamento e como se comportou quando estacionamos
na entrada da casa de praia e ele me disse que era nosso novo lar.
Paramos de dançar e minha felicidade aumenta quando suas
mãos quentes emolduram meu rosto. Nossos olhares se encontram
enquanto ele me fita, profundamente, com um fervor que nunca vi
antes em sua expressão.
— Estou pensando no que você diria se te contasse que planejo
te dar meu nome e encher sua barriga com meus bebês.
A alegria me domina com tal força que minha cabeça gira. Eu
sorrio e me sinto pegando fogo.
— Eu vou dizer que sim – respondo e compartilhamos um beijo
que fala do nosso futuro juntos para sempre.

Eric
Seis meses depois

Summer e eu nos casamos há dois dias.


Fugimos para o Brasil. Nos casamos na praia, só eu, ela e o
padre, não muito longe de onde ela está caminhando agora,
coletando conchas.
O pai dela, milagrosamente, ainda está vivo e na mesma
condição de meses atrás, quando nos conhecemos. No entanto, não
queria arriscar trazê-lo aqui ou planejar um casamento com sua
saúde piorando. Ele foi a única pessoa a quem contei que
estávamos fazendo isso e concordou que seria uma boa surpresa
para Summer. Então, eu fiz isso.
Ela parece uma sereia sob o sol brilhante com seus longos
cabelos flutuando ao vento e aquele biquíni verde enfeitando seu
corpo escultural. Vou me juntar a ela daqui a pouco, quando
terminar de falar com Alejandro.
Mudo meu foco de volta para ele enquanto ele puxa uma cadeira
e se senta à minha frente na varanda da casa de praia que aluguei.
Coloco um envelope na mesa entre nós e ele o olha, apreensivo.
Estou ajudando Alejandro, mas a pista que estava seguindo não deu
em nada.
Acho que não conseguirei encontrar mais do que tenho. Não é
como quando estava caçando Robert, mesmo com tantos
pseudônimos que ele tinha. Pelo menos, eu ainda tinha alguma
ideia de onde e o que procurar. Essa pessoa sem nome e sem rosto
que chamam de El Diablo é diferente. É vago demais. E não sei
como Alejandro vai aceitar as evidências que encontrei.
— Como vai a vida de casado? – pergunta, olhando minha
garota na praia.
— Perfeito – respondo e sorrio. — Não posso acreditar que
aquela mulher maravilhosa lá fora é minha esposa.
— O amor é uma bênção que poucos têm. Curta bastante, meu
amigo.
Concordo com a cabeça e penso nele. Ele nunca foi casado,
mas o olhar dele fala de amor perdido e dor. Como um homem que
é bom em ler pessoas, sei o que são certas coisas sem a
necessidade de que me digam.
Ele olha para o envelope e eu também.
— Não acho que você vai gostar do que tenho para você —
informo.
Abro o envelope e tiro um anel de dentro de um saquinho
plástico.
Alejandro se endireita ao vê-lo.
— Onde encontrou isso?
— Pensei que iria reconhecê-lo.
Ele deveria porque está usando um anel igual. O anel tem uma
insígnia no centro, um grifo com o símbolo inspirado na Flor de Lis.
— É um anel usado pelos homens da minha família. Leva nossa
insígnia. Porém, todos os homens da minha família estão mortos.
Eu deveria ser o único com um anel como esse.
— Encontrei entre as coisas de Robert que vieram de Mônaco.
Lembrei-me de ter visto o seu. Pessoas com quem falei disseram
que nosso El Diablo usa um anel como este. Nunca viram seu rosto,
mas viram a mão com o anel. Não entendo por que Robert o tinha.
— Isso fica mais estranho a cada minuto. Você está me dizendo
que estamos lidando com um fantasma? – indaga e ergue as
sobrancelhas.
— Isso, ou alguém que quer que você acredite nisso.
— Não sei por onde começar a rastrear um fantasma – Alejandro
suspira de frustração.
— É por isso que vou continuar procurando.
Da mesma forma que me propus a destruir todos que queriam
me destruir, planejo ajudar qualquer um que me ajudou a me libertar
do cativeiro.
— Obrigado, amigo.
— Por nada.

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