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SINOPSE

Eu a fiz minha no momento em que a tirei do leilão.


Ilsa Petrova é a imagem da inocência:
Pele macia praticamente implorando para ser arruinada pelo meu
toque áspero.
Grandes olhos inocentes que me encaram com raiva toda vez que eu a
forço a ficar de joelhos.
Mas eu sei que não devo cair na armadilha dela.
Porque por baixo de um exterior inocente está um gato infernal com
garras.
Ela lutou comigo a cada passo do caminho desde aquela noite.
E eu a fiz pagar um preço por cada ato de desafio.
Uma noite distorcida após a outra - cada uma mais escura que a
anterior.
Pretendo quebrá-la na minha cama.
Para fazê-la escolher entre implorar por misericórdia e implorar por
mais.
Compartilhamos um passado sombrio em comum, muito mais cruel do
que ela pode imaginar.
Eu não pretendia que ela se tornasse minha obsessão.
E agora os segredos do nosso passado ameaçam nos destruir.
Eu menti por ela.
Eu traí por ela.
Eu matei por ela.
Se ela acha que pode fugir.
Ela não poderia estar mais enganada.
Hateful Truth é um romance sombrio de suspense psicológico e
romance da autora best-seller Brook Wilder. Livro 2 da trilogia Máfia
Marchetti. Este não é um autônomo.
AVISO: Este livro contém cenas que podem ser perturbadoras para
alguns leitores.
CAPÍTULO UM

ROMAN

Saí para a varanda, olhando para trás na cama para garantir que
Ilsa ainda estava dormindo. Ela deveria estar atrás do sexo excitante que
tínhamos acabado de experimentar pela quinta vez em uma noite. Eu
não pude evitar. Ela é como uma droga que eu não conseguia superar,
nem queria.
Agora, aquela porra de mulher é tudo, e isso me incomoda.
O número do meu irmão piscou no meu telefone pela quarta vez
e eu suspirei, passando o dedo para atender. — É melhor que seja bom
pra caralho — eu rosnei ao telefone. A última coisa que eu queria ouvir
era que ele tinha feito algo estúpido de novo, e eu ficaria para limpar sua
merda.
— Eu fiz isso — Franco respirou. — Está feito, irmão.
A felicidade em sua voz me fez congelar. — O que você fez
exatamente?
— Dmitri — ele respondeu. — Já cuidei disso.
Senti minha ira começar a aumentar. — O que quer dizer com
você cuidou disso?
— Eu o encontrei — Franco divagou. — Precisei de muitos
recursos, mas o encontrei enfurnado na mansão de alguma prostituta.
Ele pensou que estava seguro, mas eu mostrei a ele rapidamente que ele
não estava seguro em lugar nenhum. — Ele riu. — Ele gritou no final.
Porra. Eu deveria saber que Dmitri finalmente levantaria sua
cabeça feia, e meu irmão não seria capaz de esperar que eu cuidasse dos
negócios. — Por que você cuidou dele? — Eu perguntei com uma voz
mortalmente calma, apertando minha mão ao meu lado. — Você sabe
que meus planos era matá-lo pelo que ele fez comigo, não você.
Franco não respondeu de imediato. — Você está brincando,
certo? Quero dizer, isso era o que queríamos, e eu te salvei do trabalho,
Roman.
Ele não me salvou de nada além de um monte de perguntas que
eu provavelmente encontraria ao voltar para LA. Meu irmão não é
estúpido. Ele sabia exatamente o que tinha feito ao matar Dmitri, e foi
isso que me irritou. — Você desobedeceu a uma ordem direta de seu
Don — eu disse em um tom letal.
Meu irmão riu asperamente. — Eu acho que às vezes você
esquece que o sangue é mais espesso do que qualquer merda de título,
Roman. Eu sou seu irmão! Sua carne e sangue!
— Estou bem ciente disso — eu rosnei, olhando para o oceano
escuro abaixo. — É por isso que você ainda está vivo neste momento.
— Seu bastardo — ele zombou. — Onde você estava então, hein?
Diga-me isso, irmão. Quem você distraiu tanto que não estava
procurando por ele mesmo?
Eu não ia me dignar a responder, mas ele não estava errado. Eu
estava tão distraído com Ilsa que esqueci Dmitri e tudo mais. Ela
consumiu meus pensamentos, meu corpo e, mais preocupante, me
afastou de meus deveres como Don.
Porra.
— Achei que sim — ele respondeu. — Ligue para mim quando
encontrar suas bolas de novo.
Eu lutei contra o desejo de jogar o telefone no oceano, apertando-
o na minha mão em vez disso. Eu sabia exatamente o que Franco estava
tentando fazer ao matar Dmitri. Era o que ele sempre tentara fazer,
estabelecendo-se como o irmão mais forte da Máfia Marchetti. Ele nunca
aprovou que nosso pai me desse o título que ele tanto cobiçava e faria
qualquer coisa para que eles questionassem minha liderança.
Agora eu passaria dias respondendo por que dei a chance ao meu
irmão.
Eu odeio isso. Eu tinha trabalhado duro para trazer essa Máfia
para o século XXI, para que ela prosperasse nos tempos difíceis que
viriam. Dei aos capos e aos nossos benfeitores uma vida doce e infernal
por causa do meu trabalho árduo.
Não que eles fossem ver nada disso depois do que meu irmão fez.
Esfregando a mão no rosto, soltei um grande suspiro. É hora de
eu voltar ao meu papel, passar mais tempo no que importava e não nos
braços de Ilsa.
Assim que pensei em não a ter por perto, meu estômago apertou.
Porra, eu odiava pensar que poderia chegar um dia em que ela me
odiaria. Se ela descobrisse o que fiz aos pais dela, não via nada que
pudesse fazer para superar isso, nem esperava fazer isso. Inferno, eu me
sentiria da mesma forma se a situação fosse invertida.
Mas eu não sou esse homem. Eu não sou o único responsável e
não quero que ela me odeie.
Eu me importo com ela. Ela me fez sentir pela primeira vez em
muito tempo, e esse sentimento foi a razão pela qual eu agora desejava
poder colocar minhas mãos em volta do pescoço do meu irmão.
De qualquer maneira, eu tinha que me preparar para a guerra que
estava por vir. Com Dmitri morto nas mãos de Franco, seu pai não
aceitaria bem. Se ele tinha alguma intenção de não ter uma guerra entre
nós, esses sentimentos se foram.
Ele iria querer retribuição, e eu tinha que estar preparado para
isso.

***

Quando o sol nasceu, eu já estava em meu escritório, longe da


mulher adormecida no andar de cima. Por mais que eu quisesse voltar
para a cama e esquecer a ligação, não consegui. Havia planos para
solidificar, coisas para discutir para garantir que não seríamos varridos
por esta guerra. Eu preciso de apoio.
Eu preciso de equipamento.
Eu preciso de promessas.
Então, liguei para Guzman. — Que porra é essa, cara? — o líder do
cartel murmurou. — Pensei que você não fosse para a guerra.
— Eu nunca disse que não iríamos para a guerra — eu respondi
calmamente. — Você sabe disso.
— É uma merda, é o que é — ele respondeu com um suspiro. —
Ok. Se você quer armas, exijo meu próprio pagamento.
— Diga o seu preço — eu rosnei, não me importando com as
gentilezas ou as palavras veladas. — E não estou atrás apenas de armas.
Eu preciso de homens.
Guzman riu. — Sua lista está crescendo, Don. Você já sabe o meu
preço. Não vou aceitar mais nada.
Porra. Não é isso que eu quero ouvir. Seu preço é alto, cheio de
todo tipo de merda que eu não preciso.
Mas eu não posso lutar contra Stanislav e o Krasnaya Bratva sem
a ajuda de Guzman. Sem a mão de obra e as armas adicionais, eu estaria
acabado rapidamente. — Você quer as mulheres.
— Eu preciso das mulheres — Guzman me corrigiu. — Você
estragou tudo para mim, Marchetti. Eu preciso das mulheres para suprir
aqueles que esperam isso de mim. Se você quer meus homens, a porra
do meu apoio, então você vai me dar o que eu quero.
Esfreguei minha testa, sentindo o início de uma dor de cabeça. Eu
não tive escolha. — Tudo bem — eu finalmente disse, sentindo a
ansiedade crescer com cada palavra. — Você pode ficar com as
mulheres.
— Então você tem meu apoio — Guzman respondeu suavemente.
— Entrarei em contato.
Joguei o telefone na mesa, me odiando pelo que tinha que
prometer ao idiota. Era isso ou ver tudo pelo que trabalhei, tudo pelo
que minha família trabalhou, acabar em chamas.
— O que você está fazendo, garoto?
A voz de Isotta cortou o silêncio e eu olhei para cima, vendo-a na
porta. — Você não deveria estar ouvindo conversas sobre as quais não
sabe nada.
Ela acenou com a mão para mim, seus olhos brilhando de raiva.
— Parece que você fez um acordo com o diabo, Roman.
— O diabo pode vir de várias formas — eu rosnei. — De qualquer
forma, é a coisa certa a fazer.
Isotta cruzou os braços sobre o peito, olhando para mim. De todas
as pessoas na minha vida, ela era a única que ousava dizer as palavras
que estava falando agora e não colocar uma faca em sua garganta. —
Fazer esse tipo de acordo não o absolve de seus pecados — ela disse
calmamente. — Isso não lhe dá nenhuma elevação melhor em sua vida,
Roman. Em vez disso, isso o torna fraco, mais fraco do que você pode
ver.
Eu bufei. — Você não sabe o que diz, mulher.
Isotta continuou a me encarar, sem se incomodar com minhas
palavras duras. — O que Ilsa pensaria sobre isso?
Apenas a mera menção de seu nome fez meu pau pressionar
contra minhas calças. — Ela é a porra da minha prisioneira — eu rosnei.
— Não é a porra da minha parceira.
Foi a vez de Isotta bufar alto. — Você está mentindo para si
mesmo, Roman. Essa mulher significa mais do que você imagina.
Eu não ia admitir isso para Isotta, mas ela estava certa. Ilsa
significava muito mais do que eu imaginava que ela significaria e, se
dependesse de mim, jamais sairia daquela cama. Seus suspiros, a
maneira como ela disse meu nome; era tudo que eu pensei que nunca
teria.
Mas Ilsa também me deixou fraco. Não foi o diabo que fez isso
como Isotta sugeriu. Foi o toque de uma mulher que me levou a esquecer
quem eu realmente era.
Eu sou Don Marchetti, primeiro e sempre. Era tudo o que eu
sempre quis ser e corria o risco de perder esse título também.
Isotta moveu-se para as cadeiras ao lado da minha mesa e aliviou
seu corpo para baixo, o estremecimento em seu rosto me deixou
alarmado instantaneamente. Eu tinha forçado a velha a ser examinada
por um médico regularmente, sabendo que ela é muito mais velha do
que eu imagino. Isotta é o único membro da família que eu tinha para
quem me importar, e o dia em que a perdesse seria um péssimo dia, de
fato.
— Sabe, há uma diferença entre você e seu irmão — ela começou,
deixando os braços descansarem na cintura. — Quando fui trazida para
ser sua ama de leite, não esperava sentir nada por nenhum de vocês. No
momento em que eles colocaram você em meus braços e você olhou
para mim com aquele olhar solene, eu sabia que não poderia
simplesmente deixá-lo para a dureza de seu pai. Você precisava de amor,
Roman, e nada iria me impedir de dar a você. — Ela balançou a cabeça.
— O Franco não foi tão receptivo. Ele me afastou, mesmo enquanto eu
tentava alimentá-lo, como se não quisesse nada puro em sua vida.
— Por que você está dizendo isso? — Eu rosnei. Ela cortaria
minha garganta enquanto eu dormisse se eu a mandasse sair e, embora
eu apreciasse tudo o que Isotta havia feito por mim e por meu irmão, às
vezes ela podia ser uma velha intrometida.
Como agora.
— Eu olho para você agora — ela continuou, ignorando o tom
áspero das minhas palavras. — E eu vejo o conflito em seus olhos. Seus
olhos, Roman, sempre foram uma janela para seus sentimentos, seus
verdadeiros sentimentos. Você não quer fazer isso. Você não quer virar
as costas para aquela mulher em sua cama, nem quer virar as costas para
a máfia que tem sido seu direito de primogenitura. — Ela respirou
fundo. — Seria tão ruim entregar a Máfia para o seu irmão?
Entregar a Máfia para Franco? Ela estava louca? — Você sabe
como ele é — eu disse. — Você sabe do que ele é capaz.
— Mas você não é — ela repreendeu suavemente. — Você está
destinado a uma vida de dor se continuar nessa rota para destruir tudo
o que há de certo em você, Roman. Você pode ter uma vida gratificante,
cheia de amor e felicidade, se você se permitir isso.
Eu olhei para ela, suas palavras lavando sobre mim. Amor e
felicidade?
— Este não é o seu legado — ela terminou, sua mandíbula
apertada. — Você está constantemente tentando buscar aprovação para
algo que seu pai fez. Ele nunca deu a mínima para você ou seu irmão,
então por que você sente a necessidade de servi-lo na morte?
Eu me mexi na cadeira, suas palavras cortando um caminho
através da minha alma escura. Ela estava certa nessa conta. Meu pai
nunca demonstrou nenhum tipo de afeto em vida. Isotta foi quem deu
abraços e beijos, cuidando dos ferimentos que nosso pai causou e
garantindo que nossas vidas não fossem um buraco de merda total.
Mas esses dias se foram. Eu não precisava mais dela para me
mimar. Eu tinha algo para fazer, algo que não a envolvia. — Você não
sabe do que fala — eu disse com raiva, levantando-me da cadeira.
Ela fez o mesmo, mais devagar do que eu, e deixei a preocupação
de lado. — E você não vai dizer nada para Ilsa. Eu ordeno que você fique
de boca fechada.
Seus olhos brilharam e, por um momento, pensei que a adaga que
ela carregava poderia sair. Inferno, eu gostaria disso. — Tudo bem — ela
cuspiu, virando-se em direção à porta. — Mas quando sua vida
desmoronar, não pense que posso consertá-la para você.
— Eu não vou pedir — eu gritei enquanto ela chegava à porta. —
Não sou mais um menino, Isotta.
Ela se virou, tristeza em seus olhos. — Talvez esse seja o seu
problema, Roman. Você esqueceu o que é importante na vida.
Então ela se foi, deixando-me no escritório. Eu pressionei minhas
palmas contra a madeira fria da mesa, lutando contra a necessidade de
jogar alguma coisa. Isotta está errada. Eu preciso da Máfia na minha
vida. Eu preciso estar no comando, sentir a satisfação de impulsionar o
legado de meu pai sobre Stanislav.
O que eu não preciso é de mais nenhuma distração de Ilsa.
Soltando um suspiro, eu caí de volta na cadeira, a luta me deixando. Ela
tinha sido uma distração agradável, mas isso é tudo que ela pode ser
agora. Eu não posso permitir que ela fosse nada mais, nada
remotamente parecido com uma fraqueza que poderia ameaçar
derrubar todas as cartas que são a minha vida.
Isso é o que ela poderia ser, muito parecida com a velha teimosa
que eu mantive aqui, segura e longe daqueles que queriam me
machucar. Eu não tinha coisas que pudessem me destruir tão
prontamente em minha vida por um motivo.
Ilsa estava se tornando alguém que podia, e isso não podia ser.
Além disso, uma vez que ela descobrisse como eu arruinei sua
vida muito antes que ela pensasse que seria possível, ela iria me odiar.
Não havia nada que eu pudesse fazer para suavizar esse tipo de golpe.
Eu sabia o que ela havia dito sobre seus pais, sobre sua vingança e,
infelizmente, ela não faz ideia de que eu sou a causa daquela dor.
Eu sou a causa de sua vida dura, o único arrependimento que eu
nunca poderia retirar.
Eu começaria a me distanciar de uma vez. Seria a única maneira
de expurgá-la do meu sistema.
Minha mandíbula apertou, eu me empurrei para fora da cadeira.
Será doloroso, mas é a melhor coisa a fazer.
CAPÍTULO DOIS

ILSA

Eu bocejei quando saí para a varanda, aproveitando outro dia


perfeito diante de mim. Seria fácil me acostumar com essa visão, o sol
nos meus braços e a brisa acariciando meus cabelos. Para uma pessoa
que vivia com um orçamento limitado, isso era algo que eu nunca teria
visto sem a ajuda de Roman.
Agora eu não queria desistir.
Esticando meus braços sobre minha cabeça, pensei em como
Roman não tinha ido para a cama na noite passada. Depois da noite
maravilhosa que tivemos, eu esperava que nós ficássemos mais
próximos, talvez até começando a permitir que os sentimentos que
estavam girando em meu coração começassem a voar. Afinal, ele parecia
sentir o mesmo que eu, e embora fosse assustador pensar que eu tinha
me apaixonado pelo homem que me sequestrou, eu não iria mais mentir
para mim mesma.
Eu me importava com Roman. Caramba, eu poderia até ser capaz
de dizer a mim mesma que o amava.
Prendi a respiração. O amor é algo frágil e raro para mim,
especialmente depois de meus anos em um orfanato. Lembrei-me de
quando era mais jovem e eles me colocavam com outro casal de pais, eu
orava para que eles me amassem. Amor significava um lar estável,
aniversários e feriados com pessoas que se importavam comigo.
Eu.
Mas, à medida que envelheci, percebi que a maioria não se
importava comigo como pessoa. Eles se importavam com os fundos que
recebiam para me sustentar ou com os breves interlúdios de ter um filho
que poderiam devolver a qualquer momento. O amor nunca existiu.
Agora, porém, senti a pequena chama começar a acender em meu
coração. Roman é rude e realmente deveria ser meu inimigo, mas em
algum momento nos dias que passamos juntos, ele se tornou muito mais.
Eu não sabia se eram as pequenas paredes que ele havia derrubado,
tornando-o mais vulnerável, ou se era outra coisa, mas
independentemente disso, eu estava começando a pensar que não
poderia deixar este lugar sem ele.
Isso me preocupou. Nada havia sido dito entre nós sobre um
futuro juntos. Afinal, eu estava lidando com um Don, o Don de uma máfia
poderosa. Ele não precisava de mim.
Ou será que sim? Quero dizer, eu não precisava dele para seguir
em frente com minha vida, embora houvesse um buraco onde meu
coração vivia atualmente se ele simplesmente me jogasse de volta na
vida que eu deixei de lado para isso.
Seria como as famílias adotivas novamente.
Afastando-me da claridade do dia, voltei para o quarto e me vesti
para o dia, escolhendo um vestido de verão sedutor que esperava acabar
no chão antes que a noite chegasse novamente. Talvez Roman tivesse
estado ocupado com algum negócio da máfia durante a noite. É possivel.
Fiquei com esse pensamento enquanto descia as escadas,
encontrando-o em seu escritório, digitando em um laptop que nunca
tinha visto antes. Por um momento, permiti-me absorvê-lo, de seu
cabelo despenteado até a mandíbula apertada, meu coração
amolecendo. Eu realmente me importava muito com ele. Isso realmente
importava?
Isso importaria para ele? — Ei — eu forcei.
Ele olhou para cima, mas sua expressão não suavizou com a visão.
Na verdade, era como se ele estivesse olhando através de mim. — Estou
ocupado — ele disse categoricamente. — Se precisar de alguma coisa,
chame Isotta.
Suas palavras doeram. Em todas as vezes que estive aqui, ele não
tinha falado comigo assim, com tanta frieza. — Eu, hum, eu não acho que
ela pode me ajudar com o que eu preciso — eu provoquei, brincando
com a alça do meu vestido. — Senti sua falta ontem à noite.
Suas narinas dilataram. — Estava ocupado.
Nada mais. Caramba, ele nem percebeu que eu estava tentando
dar em cima dele. — O que há de errado? — Eu perguntei. Talvez algo
estivesse errado com sua máfia e isso o preocupasse. — Eu posso ajudar.
Sua risada é fria, enviando arrepios sobre a minha pele. — Não há
nada que você possa fazer, Ilsa. Volte para cima.
Ele voltou sua atenção para o laptop e lutei para processar o que
estava acontecendo. Roman normalmente tinha uma piscadela, um
sorriso, algo para mim, mas este Roman era como um bastardo de
coração frio, me dispensando como se eu o estivesse incomodando. —
Eu sou muito boa em ouvir — eu tentei novamente, meu coração
doendo. Eu não precisava dele na minha cama, mas não queria que ele
me excluísse completamente.
Roman não se preocupou em erguer os olhos da tela. — Já confiei
em um policial antes. Não estou prestes a revelar meus segredos para
outra pessoa.
Rejeição fria. Isso me atingiu com força total, e eu senti a dor
descer em espiral para o meu coração, todas as minhas boas intenções
voando pela janela. Ele não queria nada comigo. Isso está claro e
aparente. — Entendo — eu disse, me recompondo. — Vou deixá-lo com
o seu trabalho, então.
Ele não respondeu, e eu saí do escritório, minhas mãos cerradas
em punhos ao meu lado e lágrimas entupindo minha garganta. Eu
poderia lidar com muita coisa hoje em dia, mas algo sobre a rejeição de
Roman estava me partindo em duas. Doeu muito mais do que deveria.

***

Deixei Roman sozinho o dia todo, encontrando consolo no calor


do sol no terraço. Eu usei o biquíni mais minúsculo do meu guarda-
roupa na esperança de que ele me encontrasse, mas quando o sol
mergulhou no oceano, Roman nunca veio me encontrar.
Eu tentei e falhei em esconder minha dor. Houve momentos em
minha carreira em que fui da mesma maneira. Eu tinha sido rude com
os outros, até mesmo fazendo minha melhor amiga chorar uma vez sem
querer porque um caso estava me afetando.
Isso tinha que ser. Ele tinha que ter algo acontecendo para reagir
dessa maneira.
Mas como uma noite sozinha se transformou em duas, comecei a
ficar realmente preocupada. Eu pergunto a ele sobre isso? Ele me diria
alguma coisa?
Eu não tinha tanta certeza. Senti falta de sua risada, seu toque, a
maneira como ele me segurou com ternura enquanto adormecíamos.
Roman estava por toda parte ao meu redor, seu cheiro ainda grudado
nos lençóis, sua casa me lembrando de lugares onde nos perdemos um
no outro, e eu não conseguia suportar.
Não aguentei a rejeição.
Então, depois de mais um dia sem vê-lo, fui à procura de Roman,
encontrando-o em seu quarto, parado na varanda com uma bebida na
mão. — Roman — eu disse suavemente, não querendo assustá-lo.
Ele se virou, e a exaustão estava escrita em seu rosto, puxando
meu coração. Algo estava errado com ele, algo sobre o qual ele precisava
desesperadamente se abrir. — O que você quer? — ele perguntou
naquela voz letal dele.
Eu brinquei com os laços do meu roupão. Por baixo, eu não havia
optado por nada, caso ele estivesse tão desesperado para nos trazer de
volta. Eu não queria que nada atrapalhasse suas mãos na minha pele
nua. — Eu estava apenas verificando você.
Ele bebeu o conteúdo de seu copo. — Estou bem, como você pode
ver.
— Mas você não está — eu deixei escapar, saindo para a varanda
eu mesma. O concreto estava frio sob meus pés descalços, mas não me
importei. — Algo está te corroendo. Sou eu? Eu fiz alguma coisa?
Finalmente, havia algum tipo de emoção em seu rosto antes que
ele rapidamente o fechasse. — Não é você — ele resmungou. — Mas nós
somos inimigos, Ilsa. É o bastante.
Inimigos. Ele pensou em nós como inimigos. Eu realmente não
entendi o porquê. — Isso nunca te incomodou todas as vezes antes —
eu forcei, a mágoa em minha voz clara.
Roman se encolheu, e eu senti que nem tudo estava perdido ainda.
— Diga-me o que mudou — implorei. — Eu só quero entender.
Ele estava cansado de mim? Ele conseguiu tudo o que queria de
mim e estava pronto para seguir em frente? Eu queria que ele dissesse
isso para que eu pudesse processar as palavras, não tendo que adivinhar
o que estava criando uma barreira entre nós. — Você me deve isso.
Roman apertou a mandíbula. — Eu estou levando você para casa
— ele rosnou. — Amanhã.
Suas palavras quase me derrubaram. — O que?
— Você me ouviu. Junte suas coisas. É hora de você ir.
Oh Deus. Ele estava me mandando embora. Era meu pior medo se
tornando realidade e, embora eu devesse estar feliz em voltar à minha
antiga vida, estaria fazendo isso sem ele. — Diga-me por quê — eu
perguntei, minha voz embargada. — Diga-me por que você está me
mandando para casa.
— Seu tempo aqui acabou — ele resmungou, colocando o copo na
mesa ao lado das espreguiçadeiras. — Eu pensei que você ficaria feliz
em ir para casa, Ilsa.
Eu não estava, não assim. Deus, eu queria que ele se machucasse
como eu estava agora, sentindo como se alguém tivesse arrancado meu
coração do meu peito e pisado nele.
Então, isso é o que significa amar e perder. É péssimo. — Eu não
posso acreditar que você vai me deixar sair assim — eu disse, segurando
as lágrimas. Roman não me verá desmoronar. Eu não permitiria isso. Eu
sou mais forte do que isso.
— Nada dura para sempre — disse ele calmamente, com as mãos
ao lado do corpo. — Nós dois temos que voltar à realidade.
Uma risada áspera escapou de mim e eu me virei, parando na
porta da varanda. — Eu sei que isso não é ortodoxo — eu comecei,
sentindo como se ele devesse pelo menos ouvir o que eu estava
sentindo. — Mas eu pensei que isso fosse realidade para você, Roman.
Eu pensei que esta é a única coisa real em sua vida pela qual vale a pena
lutar.
Tinha sido para mim. Se ele tivesse me pedido para ficar, eu teria,
com concessões, é claro. Os últimos dias por si só solidificaram o fato de
que isso é mais do que apenas bom - não, ótimo - sexo para mim. Isso foi
eu me abrindo para alguém que pensei que poderia entender minha dor,
alguém que poderia me amar por quem eu sou.
Que idiota eu tinha sido. — Vou fingir que nunca te conheci — eu
sussurrei, limpando minha garganta. — Mas se você cruzar meu
caminho novamente, eu vou te acolher.
Ele não respondeu e eu forcei meus pés a se moverem, cegamente
correndo para o meu quarto e batendo a porta.
Isso machuca; sua rejeição, oh, como dói! Ele não dava a mínima
para mim. Isso é aparente. Eu tinha sido uma tola em pensar que ele se
importava comigo, sua inimiga mortal, por exemplo.
Ele realmente me comprou para sexo, e agora que estava
entediado, eu estava indo para casa.
Para quê? Um apartamento vazio? Um trabalho de merda? Não
era algo para ficar feliz porque Roman iria me atormentar nos próximos
meses, se não, anos.
Isso é o que mais me preocupa.
Ainda assim, as lágrimas não caíram. Atravessei o quarto e abri o
guarda-roupa, percebendo que não havia nada ali que fosse meu. Roman
tinha comprado tudo para mim, minhas roupas do clube haviam
desaparecido há muito tempo. Eu não levaria nada disso comigo quando
saísse.
Seria ele quem me escoltaria até em casa ou passaria essa tarefa
para seus guardas para que não precisasse me ver novamente? Eu
esperava que fossem os guardas. Eu não queria sentar ao lado do
homem que havia tirado tudo de mim e tentar me sentir indiferente a
isso.
Caramba, eu queria atirar nele.
Afastando-me do guarda-roupa, fui até a varanda e abri as portas,
feliz por nossas varandas não estarem conectadas por causa disso. Isso
me deu a chance de respirar, para limpar a dor do meu sistema por
enquanto. Ok. Eu iria para casa e esqueceria que ele existia. Isso era o
que Roman queria.
Afundando no chão, ignorei como minha bunda nua estava
pressionada contra o concreto. Que piada isso tinha sido. Seu plano era
trazer uma mulher inocente aqui e fazê-la se apaixonar por ele, apenas
para ele simplesmente rejeitá-la no final do dia? Se fosse, ele jogaria
muito bem, tanto que eu pensei que suas carícias, suas palavras, os
momentos queridos que eu guardei perto do meu coração eram reais.
Roman deveria ser um ator foda.
Quanto mais eu pensava sobre isso, mais irritada eu ficava,
querendo nada mais do que entrar em seu quarto e esbofeteá-lo com
força apenas para que ele sentisse algo de mim. Eu o odeio. Eu odiava
esta casa, tudo o que ele tinha me dado e feito para mim.
Eu odiava que eu me importasse com ele, que eu o amasse.
Pelo menos isso estava prestes a acabar e ele estava me levando
para casa. Eu juntaria os pedaços da minha vida e seguiria em frente sem
ele.
Em algum momento, cheguei à cama, enrolada como uma idiota
em volta do travesseiro em que ele havia dormido. Quando fechei os
olhos, pude imaginar nosso tempo juntos, como ele me estimava e talvez
até me amasse, mesmo que fosse tudo mentira. Por um momento na
minha vida, eu senti como se pertencesse a algum lugar, com alguém.
Eu me senti importante.
Eu estava quase dormindo quando ouvi o que parecia passos
cruzando o chão, um fantasma de um beijo roçando minha têmpora. Não
havia dúvida em minha mente de que Roman estava de pé sobre mim,
sua colônia uma revelação mortal. Por mais que eu quisesse abrir meus
olhos, eu não abri, forçando-me a respirar normalmente enquanto seus
dedos corriam pelo meu cabelo, quase como se ele se importasse, antes
de se afastar.
Quando tive certeza de que ele havia partido, abri os olhos,
recusando-me a chorar pelo momento de ternura. Roman estava
mentindo. Algo o estava corroendo, fazendo-o me mandar de volta, mas
com base no que eu tinha acabado de experimentar, não acho que ele
realmente queria fazer isso.
Então, o que isso significava? Eu estava indo para casa amanhã.
Eu não podia lutar com ele, nem queria ficar se ele fosse tão frio e
insensível como era sempre que eu o enfrentava.
Não, eu tinha que sair daqui e fazê-lo se arrepender de ter me
deixado ir.
Fechando os olhos, entreguei-me à exaustão e aos sonhos que
provavelmente aconteceriam no momento em que minha mente se
desligasse.
No mínimo, eu o teria em meus sonhos, o Roman sorridente e
risonho que trouxe alegria à minha vida e um pouco de amor ao meu
coração.
CAPÍTULO TRÊS

ROMAN

Passei a mão pelo meu cabelo rudemente enquanto o sol


espreitava no horizonte, amanhecendo em outro dia de merda da minha
vida. Por mais que eu quisesse dormir, não conseguia. Toda vez que
fechava os olhos, via a dor nos olhos de Ilsa, a dor que eu havia causado.
Eu não queria machucá-la. Foi difícil para mim admitir isso para
mim mesmo, mas era a porra da verdade.
Eu me odiei pelo que fiz a Ilsa.
Só havia uma maneira de consertar isso. Eu tinha que admitir
para ela que eu estava morrendo de medo de me apaixonar por ela.
Inferno, eu já estava no meio do caminho. Eu poderia facilmente
imaginá-la como minha esposa, a mãe dos meus filhos, embora nunca
tivesse pensado em ter filhos antes de conhecê-la.
Agora, porém, eu estava com medo de ter quebrado algo entre
nós. Eu não tinha mentido para ela. Eu tive que mandá-la para casa. Por
mais que eu odiasse, eu precisava ir para Los Angeles e não queria deixar
Ilsa para trás novamente.
Ela tinha merda para lidar, e eu só estava aumentando isso. Com
a morte de Dmitri, tive muito pouco tempo para me preparar para a
guerra em que me encontraria. Eu não poderia ter isso pairando sobre
minha cabeça, não importa o que iria acontecer conosco. Eu precisava
garantir que eu tinha minhas coisas sob controle, que eu poderia me
concentrar na guerra em questão.
O problema era que eu não estava apenas mandando Ilsa de volta
para sua vida. Eu estava prestes a destruí-la e teria sorte se ela não me
matasse antes de sairmos da mansão.
Inferno, bastaria Isotta perceber o que eu tinha feito e ela mesma
faria as honras.
Eu era um bastardo por completo. Quais eram as chances de
encontrar Ilsa do jeito que eu encontrei e ser incapaz de manter minhas
mãos longe dela? Agora eu sofreria por isso e sofreria muito, mas não
seria nada comparado com a dor que eu iria causar à mulher de quem
eu supostamente gostava.
Com a porra da cabeça girando com o que poderia acontecer,
caminhei até o quarto de Ilsa, encontrando-a ainda dormindo. Meu
coração se apertou no peito enquanto a observava dormir, seu peito
subindo e descendo. Ontem à noite, eu não fui capaz de me impedir de
entrar em seu quarto e dar-lhe um beijo de boa noite. O que eu
realmente queria era subir na cama com ela, mas depois das palavras
que eu disse a ela, eu não esperava ficar lá por muito tempo.
Então eu não tinha, contente em saber que ela estava perto, se
nada mais.
Mas ela não ficaria por muito tempo e isso me preocupou.
Sentei-me na cama, passando a mão sobre sua forma coberta pelo
lençol, minha garganta apertada quando ela começou a se mexer.
Quando seus olhos se abriram, eu apertei minha mandíbula. —
Bom Dia.
Ela piscou para mim sonolenta e, por um momento, um sorriso
lento e sincero cruzou seu rosto. — Ei você.
Claramente, ela não se lembrava do que eu tinha feito ontem à
noite. Eu queria ignorar o que tinha feito, mas não podia. Faltavam
apenas alguns segundos para Ilsa se lembrar de tudo, e ela me odiaria
pra caralho. — Eu sinto muito porra — eu comecei, as palavras ásperas
para os meus ouvidos. Eu não gostava de pedir desculpas por nada, mas
caramba, Ilsa merecia isso e muito mais. Se eu tivesse mais tempo, teria
feito as pazes com ela, levando-a para algum lugar só para nós dois, para
que pudéssemos esquecer a dura realidade que nos esbofeteava.
O momento em que Ilsa se lembrou foi como um golpe no meu
peito, e ela escapou do meu toque, segurando o lençol contra o peito. —
Que porra é essa, Roman?
Deixei minha mão cair. — Eu não quis dizer o que eu disse.
Seu olhar se estreitou. — Não entendo.
Porra. Como eu iria explicar isso para ela? — Eu disse algumas
coisas de merda por um motivo de merda — eu tentei novamente. —
Mas eu não quis dizer isso.
Ilsa olhou para mim, cruzando os braços sobre o peito. — Você
vai ter que fazer melhor do que isso, Roman. Você foi bastante
convincente sobre o fato de que não me quer.
— Isso não pode estar mais longe da verdade — argumentei,
reprimindo minha própria raiva. Não era culpa dela que eu tivesse
estragado tudo tão mal. — Eu quero você. Eu quero isso.
— O que? — ela riu amargamente. — Você quer o que?
— Foda-se, mulher — eu rosnei. — Estou morrendo de medo de
me apaixonar por você. — No momento em que as palavras passaram
pelos meus lábios, seus olhos se arregalaram. Provavelmente era a
última coisa que ela esperava que eu dissesse, mas é a verdade, e Ilsa
queria a verdade.
Ela me assustou. O que eu sentia por ela me assustava.
Ilsa retirou as cobertas, e eu dei uma olhada em sua bunda
enquanto ela o fazia antes de puxar a camisa sobre as coxas.
A porra da minha camisa. Parecia que ela não estava muito
chateada comigo para adormecer na porra da minha camisa, e meu pau
rugiu para a vida. Ficou bom nela, bom demais. — Eu não entendo você
— disse ela, andando pela sala. — Primeiro você me diz para me foder,
e agora você está me dizendo que está apaixonado por mim? Que você
está com medo de se apaixonar por mim? Que diabos, Roman?
Minhas palavras não estavam saindo direito. Ela não sabia que eu
não poderia simplesmente dizer a ela o verdadeiro motivo pelo qual eu
estava com medo de como ela reagiria a qualquer coisa que eu dissesse.
Eu tinha matado os pais dela. Isso, eu não poderia explicar a ela.
Nenhuma palavra tornaria isso mais fácil para qualquer um de nós.
— Você sabe o que? — Ilsa disse com veemência, afastando o
cabelo do rosto para que eu pudesse ver a dor persistente ali. — Você
pode ir se foder, Roman. Não consigo lidar com suas emoções ou com a
falta delas.
Ai. A batalha se enfureceu dentro de mim quando me levantei da
cama, esperando que ela pudesse ver a indecisão em meu rosto. — Não
é o que você pensa, Ilsa. Não consigo explicar. Eu amei uma mulher que
eu não poderia ter.
A ironia.
Ela me encontrou de frente, batendo o pé. — Isso é tudo que você
pode dizer, hein? Você quer jogar uma bomba dessas em mim, mas não
consegue explicar?
— Eu quero que você saiba o quanto eu me importo — eu disse
sem jeito, minhas palavras planas para meus próprios ouvidos. Isso
estava indo para o inferno rapidamente. Por que eu não podia
simplesmente transar com ela para acreditar que eu me importava com
ela?
Porque as mulheres queriam sentir isso. Inferno, toda vez que eu
tocava Ilsa ultimamente era como fazer amor com ela com minhas mãos,
minha boca, meu pau. Traduzir foi difícil para mim, mas se eu pedisse
para ela ficar, e daí? Ela não ia ficar feliz comigo, com este arranjo, e eu
não poderia começar a desfilar uma maldita policial no meu braço e
manter a confiança da minha própria máfia.
Não só isso, mas meu irmão perceberia o que estava acontecendo
e a vida de Ilsa estaria em perigo.
— Você está fazendo um péssimo trabalho nisso — ela
murmurou. — Apenas me diga a verdade, Roman. O que está
acontecendo com você?
Eu não podia. Eu não suportava aquele olhar dela, o desgosto que
ela teria de mim. Ela pensaria que tudo o que eu tinha feito com ela era
apenas uma brincadeira, quando na verdade estava longe disso.
Meu silêncio não ajudou e vi a esperança murchar em seus olhos
a cada segundo que passava. O que ela queria que eu dissesse?
Uma risada aguda escapou dela e ela se moveu para sair da sala,
vestida com a porra de uma camisa. — Não se afaste de mim — eu
rosnei.
Ilsa acenou com a mão para mim, continuando a caminhar até a
porta. No momento em que ela saísse deste quarto, eu a perderia para
sempre. Eu nunca me senti tão desesperado antes, então, quando andei
para agarrá-la pelo braço, sabia o que tinha que fazer.
Me enojava ter que fazer isso.
— Me deixe ir! — ela gritou quando eu a empurrei contra a
parede, prendendo-a contra o meu corpo duro. Meu pau reagiu
imediatamente, buscando o calor entre suas pernas, mas eu o controlei.
Agora não seria o momento.
— O que você vai fazer? — ela desafiou enquanto eu agarrei seus
quadris com força, roçando a junção de suas coxas com o volume na
frente da minha calça. — Você vai ter pena de mim? Não quero ter nada
a ver com isso, Roman. Não quero nada com você!
— Você não deveria — eu mordi. Então, ela queria que eu a
machucasse? Bem, ela não veria isso chegando. — Quer saber por que
me apavora? O que eu não posso superar para que eu possa amar você
como o inferno?
Seus olhos se arregalaram um pouco, mas eu continuei. — É
porque eu tenho a porra de um segredo que vai acabar com você.
Ilsa parecia ter parado de respirar e quase retive minhas palavras.
Isso iria esmagá-la, e inferno, apenas o conhecimento sozinho estava me
esmagando pouco a pouco. Isotta estava errada. Eu não estava destinado
a ter nenhum tipo de felicidade em minha vida e era por isso.
— Apenas me diga — ela sussurrou, como se já soubesse que tudo
o que eu tinha para dizer a ela seria devastador.
Antes disso, rocei meus lábios nos dela. Não importava que ela
não me beijasse de volta. Eu queria tê-la em meus lábios quando lhe
contasse a verdade. — Por favor — eu respirei, pressionando minha
testa na de Ilsa. Eu não sabia o que estava pedindo para ela fazer,
honestamente. Este era um território desconhecido para mim e, a cada
respiração, eu sabia que tudo o que havia encontrado com Ilsa estava
prestes a acabar.
Sua mão subiu para minha bochecha e eu fechei meus olhos, seu
toque queimando minha pele. Eu queria voltar nos últimos dias antes de
me tornar um idiota. — Não.
Sua mão caiu e eu abri meus olhos, forçando-me a encontrar os
dela. — Eu estava lá naquela noite — eu comecei, as palavras difíceis de
formar. — Na noite em que seus pais foram mortos.
O tempo deixou de existir quando seus olhos se arregalaram uma
fração. — O que?
Engoli em seco, nem mesmo me importando que ela pudesse ver
a gama de emoções em meu rosto. Eu os esconderia de todos, menos
dela. — Franco e eu fomos enviados para matar seus pais.
— Mas você não fez, certo? — ela questionou, suas palavras
saindo em um sussurro. — Por favor, Roman, diga-me que não.
Eu não podia porque o que eu estava dizendo era a verdade. —
Sinto muito, Ilsa. Eu... nós os matamos.
Minhas palavras ecoaram alto em meus ouvidos, mas eu me
recusei a desviar meus olhos de Ilsa. Eu observei enquanto ela
processava o que eu tinha acabado de dizer a ela, a percepção do que eu
tinha feito a atingiu. Não havia mais nada a dizer. Eu arruinei a vida dela
com um instante.
— Não — ela sussurrou, seus olhos lacrimejando. — Por favor,
me diga que você está mentindo.
Eu balancei minha cabeça, achando difícil formar as palavras na
minha língua. Eu não podia. Eu tinha arrancado sua vida dela, seu
mundo como se não fosse nada, e a deixei para juntar os pedaços. Eu sou
a razão pela qual ela havia sofrido durante anos em um orfanato, a
própria razão pela qual ela estava procurando a vingança que estava
bem na frente dela.
Eu queria pegá-la em meus braços, dizer a ela que tudo ia dar
certo no final e não desistir, mas como poderia? Nada que eu pudesse
dizer ou fazer traria seus pais de volta. — Eu não estou.
CAPÍTULO QUATRO

ILSA

Eu não conseguia respirar.


Isso tinha que ser alguma piada doentia e distorcida que Roman
estava fazendo, talvez até uma tentativa de me irritar para que
pudéssemos fazer sexo de reconciliação com raiva.
Ele não poderia estar dizendo a verdade.
Mas enquanto eu olhava para ele, naqueles olhos que eu tinha
visto milhares de emoções se filtrarem em nosso curto tempo juntos, eu
sabia no fundo que mesmo ele não faria uma façanha como essa.
Só podia significar que ele estava dizendo a verdade, e doía.
Não, mágoa não era o sentimento que eu tinha. Foi uma dor de
partir a alma, como se alguém estivesse me esfaqueando repetidamente
sem parar.
— Eu sinto muito — disse ele, sua voz quase um sussurro. Havia
tortura em seus olhos, tortura que eu nunca pensei que veria em um
homem como ele. Ele é Roman Marchetti, um Don que tinha um poder
inimaginável com base em suas conexões.
No entanto, ele conseguiu arruinar minha vida com uma única
bala e, por isso, eu nunca poderia perdoá-lo.
Meu estômago revirou com o pensamento de como eu deixei ele
me tocar, deixei ele tomar as liberdades da minha vida e minha
inocência. Eu tinha beijado aqueles lábios, tocado as mãos que
seguravam a arma que arruinou minha vida.
Mais importante, ele sabia o tempo todo quem eu sou e o que ele
tinha feito, mas isso não o impediu de fazer todas essas coisas e muito
mais.
— Foda-se, Ilsa — Roman respirou, pressionando sua testa na
minha enquanto eu lutava internamente. — Eu queria te dizer tantas
vezes, mas eu sou um covarde do caralho.
Eu realmente não sei o que ele é neste momento para mim ou para
qualquer um. Ele havia tirado tudo de mim, tudo o que significava uma
boa vida para mim, não, uma ótima vida para mim, e todo esse tempo,
enquanto eu lamentava a tentativa de encontrar o assassino, ele
permaneceu em silêncio.
O assassino que eu procurava estava bem na minha frente.
Ele havia assassinado meus pais. Não havia maneira de contornar
isso.
Oh Deus. Eu ia ficar doente. — Saia de perto de mim! — Eu disse,
as palavras parando. Eu não sabia se ficava com raiva ou se gritava e
chorava.
Ou implorar para que isso não seja real. Eu não queria que fosse
real. Este era o homem com quem eu pensei em ter um relacionamento,
um que ontem à noite, eu pensei que estava me apaixonando.
— Não — disse Roman asperamente. — Eu não vou. Não até
conversarmos sobre isso.
Soltei uma risada torturada. — Falar de quê? Sobre como você
arruinou minha vida?
Ele se encolheu, mas eu estava começando a sentir a raiva
aumentar mais do que o desespero. — Você matou meus pais — eu fervi,
mantendo as lágrimas sob controle. Eu não ia chorar na frente dele.
Especialmente não ele. — Você tirou tudo de mim.
A mandíbula de Roman tremeu como se ele estivesse tentando
encontrar as palavras certas. Eu odiava dizer a ele, não havia palavras
certas. Ele poderia se desculpar mil vezes e ainda não seria o suficiente.
Isso nunca aconteceria.
— Eu não posso ter de volta o passado — ele finalmente disse. —
Mas posso ajudar com o presente, o futuro.
— O que você poderia fazer para consertar isso? — Eu perguntei,
minha garganta entupida de emoção. — Você não pode, Roman. Não há
nada que você possa fazer para melhorar isso. — Balançando a cabeça,
eu resisti contra ele. — Você sabia, não é?
— Eu não sabia até chegarmos aqui — ele soltou, sua mão me
segurando contra a parede. — Eu não sabia até você deixar cair sua
identidade.
O que foi antes de fazermos qualquer coisa remotamente sexual.
Ele sabia o tempo todo que dormimos juntos, a data, tudo.
Ele tinha feito tudo isso de alguma forma doentia para me
compensar?
— Não — ele disse como se pudesse ler minha mente. — Não vá
lá, Ilsa.
Comecei a bater em seus ombros e peito então. — Me deixe ir!
— Não! — ele gritou quando eu dei um bom golpe em sua
mandíbula. — Porra, Ilsa, apenas pare!
Se eu tivesse uma arma agora, estaria enchendo-o de chumbo.
Todas as vezes que sonhei em vingar meus pais, nunca pensei que seria
alguém próximo a mim, alguém com quem comecei a me importar, e isso
doía. Aquele sonho que tive algumas noites atrás não estava errado
então. — Você apontou a arma para mim naquela noite? — Eu perguntei,
minha voz grossa com lágrimas não derramadas.
Roman não desviou o olhar, uma emoção cruzando seus olhos que
eu não consegui decifrar. — Eu não estou falando com você sobre isso
agora.
Meu coração afundou ainda mais. No fundo, eu sabia que ele era
o único naquela noite. Era como se meu subconsciente o tivesse
colocado exatamente onde ele estava quando o conheci.
Eu odiei isso. Eu odiava ter me permitido me preocupar com ele.
— Deixe-me ir — eu rosnei, empurrando com força seus ombros. Eu
estava tão cansada disso, de tudo. Era bom que ele estivesse me levando
de volta para casa. Nunca mais queria vê-lo, porque se o fizesse,
provavelmente o mataria. — Te odeio.
A expressão de Roman escureceu. — Você está chateada.
— Não, eu não estou! Te odeio! — Eu estava gritando agora, mas
não me importava. Ele pensou que poderia controlar sua parte de mim,
que eu iria apenas me curvar à sua vontade e esquecer o fato de que ele
havia arrancado meu mundo inteiro naquela noite.
Estava errado. Tudo estava errado.
— Eu não posso consertar isso — Roman continuou enquanto eu
batia no peito dele com meus punhos, sem me importar que eu estava
machucando minhas próprias mãos. — Eu não posso, mas, porra, Ilsa,
eu quero.
— Suas palavras não significam nada para mim! — Eu ataquei. —
Deus, como você pôde fazer as coisas que fez sabendo o que fez comigo?
— Não é assim — ele começou, mas eu terminei de falar.
Eu tinha que sair agora.
Então eu levantei meu joelho rapidamente, acertando seu volume.
Roman caiu com um gemido, e eu me segurei antes de cair no chão,
lutando para me manter de pé para poder fazer meu caminho até a
porta. Eu não sabia para onde estava indo, mas não ia ficar aqui com ele.
Eu não podia. Meu coração torturado não aguentou. Quase me
apaixonei por um homem que era mais do que meu inimigo.
— Ilsa! — Roman rugiu quando eu agarrei a porta, pronta para
correr pelo corredor.
Eu não fui longe. Roman me agarrou pela cintura e me levantou,
levando-me para a cama antes de me jogar nela. Caí entre os cobertores
e travesseiros macios, mas antes que pudesse me recuperar, Roman
estava cobrindo meu corpo com o dele. — Por favor — ele murmurou,
seu rosto ainda contorcido de dor. — Não era assim que eu queria te
contar.
Eu parei de lutar e olhei para ele, meus olhos borrados com
lágrimas. — Você deveria ter me contado no momento em que soube.
— Você está certa — ele disse calmamente, vergonha e remorso
refletindo em seus olhos. — Eu deveria.
O silêncio desceu sobre o quarto enquanto nos olhávamos, meu
peito arfando de raiva e outras emoções que não consegui decifrar.
Fiquei magoada, chateada, arrasada por Roman ter matado meus pais.
Mas havia essa dor abrangente do que eu havia perdido que doía
mais do que tudo, e eu não estava falando sobre meus pais.
Os olhos de Roman deixaram os meus, e eu percebi na luta que
minha camiseta tinha subido sobre meus quadris, expondo minha nudez
para ele ver. O calor familiar se espalhou pelo meu corpo e meus lábios
se separaram. Mesmo em minha raiva e mágoa, eu ainda o queria.
Seus olhos se desviaram para os meus ao mesmo tempo em que
sua mão deslizou para baixo para acariciar meu quadril nu. — Ilsa — ele
respirou, com as pupilas dilatadas. — Você é linda pra caralho.
— Não — eu engasguei, embora meus membros se recusassem a
se mover.
Sua mão pairou perigosamente perto da junção das minhas coxas.
— Seu corpo está me dizendo algo diferente — ele murmurou.
— Não faça isso para me distrair.
Os olhos de Roman se arregalaram. — Eu não estou — disse ele,
mágoa em sua voz. — Eu nunca faria algo assim.
Deus me ajude, eu acredito nele. Engoli em seco quando seus
dedos roçaram minhas regiões inferiores levemente, forçando-me a não
reagir, mesmo que meu corpo estivesse me traindo. — Roman.
Ele respirou fundo. — Eu adoro quando você diz meu nome assim.
— Seus dedos traçaram minha fenda, e eu reprimi um gemido, tentando
desesperadamente lembrar o que tinha acontecido entre nós. Meu
coração estava dilacerado, dilacerado por sua traição e meus
sentimentos por ele. Eu não poderia ter os dois.
Posso? Eu estava guardando rancor contra ele sem saber toda a
verdade?
— Eu sei que você quer isso — ele murmurou, seu dedo
mergulhando dentro da minha entrada já molhada. — Eu posso dizer
que você quer isso, Ilsa.
Eu não queria sentir, mas ele estava tornando difícil para mim não
sentir nada. As coisas que ele fez, a maneira como ele as fez; Eu nunca
poderia esquecer seu toque.
Roman deslizou um dedo, então dois dentro de mim,
mergulhando sua cabeça para tocar sua língua em meu clitóris. Meu
corpo se apertou em torno de seus dedos e eu mordi meu lábio inferior,
desejando não arquear em seu toque. Ele estava tornando muito difícil
para mim lutar com ele, pensar que eu poderia ficar parada e não reagir,
mas minha mente racional estava me dizendo para deixar ir. Sexo de
vingança era tão bom quanto qualquer coisa. Eu poderia permitir que
ele pensasse que havia se safado de alguma coisa, que eu iria perdoá-lo
rapidamente.
O problema é que eu não sairia como uma pessoa inteira. Roman
estava me dominando como sempre fez, e eu não sou mais aquela
pessoa.
Então eu o empurrei, levantando-me da cama. — Não — eu disse
com firmeza. — Se você quer isso, você fará o que eu disser. — Ele queria
que fodêssemos até que não pudéssemos nos lembrar do que havia
acontecido entre nós? Ok. Eu estava pronta para isso.
Não importava. Eu estava arruinada de qualquer maneira.
— Tudo bem — disse ele cautelosamente, com os braços ao lado
do corpo. — O que você quer, Ilsa?
O que eu queria? Eu queria que isso fosse um relacionamento
normal. Eu queria que ele não fosse a pessoa que matou meus pais, a
mesma pessoa que eu deveria odiar. — Eu quero que você se submeta a
mim — eu forcei, escondendo a dor no fundo por enquanto. — Deite-se
na cama.
Surpreendentemente, Roman fez o que eu pedi, esticando seu
corpo longo e magro sobre a cama. Eu me abaixei e puxei o cinto em sua
cintura, forçando-o a abrir até que seu pau grosso saltasse para fora. Ele
estava duro e pronto, assim como eu pensei que estaria, e quando o
agarrei, ele estremeceu ao meu toque. — Pare — ele rosnou enquanto
eu corri meu dedo sobre a cabeça protuberante. — Assim não.
— Sim, assim — eu respondi, abrindo meu manto e montando
nele. Eu queria que ele fosse usado como eu me sentia, machucado como
eu.
Eu queria que ele sentisse.
— Ilsa. — Sua voz veio como um aviso, mas eu o ignorei,
deslizando sobre ele até que ele estivesse totalmente dentro de mim. Ele
me esticou imediatamente e eu tive que segurar outro gemido, cravando
minhas unhas na frente de seu peito. Eu não conseguia esconder o fato
de que estava encharcada, mas pelo menos podia me sentir indiferente
sobre isso.
Quando comecei a balançar contra ele, Roman gemeu, arqueando
os quadris para atingir o ponto mais fundo que me faria inundá-lo. Eu
não queria sentir, mas meu corpo estava me dizendo o contrário, e
quando cheguei ao orgasmo, gritei o nome dele.
— É isso — ele insistiu, suas mãos grandes encontrando meus
quadris e me guiando contra ele. — Só assim, Ilsa.
Choramingando, eu o montei por tudo que valeu a pena, de
alguma forma me perdendo na maneira como ele me preenchia. Quando
fechei os olhos, quase pude imaginar que era apenas mais uma sessão
de sexo entre nós e não uma maneira de nos machucarmos.
Mas no momento em que meus olhos se abriram, a realidade veio,
e eu mordi meu lábio inferior enquanto o montava com mais força.
— Eu vou enlouquecer — ele rosnou, seus dedos cavando em
minha pele. — Se você continuar assim.
Eu fiz isso de qualquer maneira, e ele gritou meu nome enquanto
se derramava em mim. Eu resisti a descansar minha cabeça em seu peito
como normalmente faria, sentindo as lágrimas arderem em meus olhos.
O que eu estava fazendo? O que nós fizemos? A evidência eram as listras
vermelhas em seu peito e abdômen, os fluidos vazando de mim.
Esta não sou eu.
Roman estendeu a mão e tentou acariciar meu rosto, mas senti a
raiva voltar e, antes que percebesse o que estava fazendo, dei um tapa
nele, o som ecoando no quarto.
Minha mão ardeu onde colidiu com seu rosto, e eu engasguei
quase imediatamente. — Você quer assim? — ele rosnou, raiva
aparecendo em sua expressão. Antes que eu percebesse, ele me rolou
para o lado e depois de costas, nunca se separando de mim. Minhas
pernas pressionadas contra seus ombros e ele entrou profundamente,
fazendo-me arquear para fora da cama com o contato.
Oh Deus, eu estava me partindo ao meio! Ele estava duro e pesado
dentro de mim, mas onde poderia haver dor, não havia nada além de
prazer no que ele estava fazendo. Roman nunca tornaria o sexo doloroso
para mim, não importa o que eu tivesse feito.
Meu orgasmo veio forte e rápido, e senti o edredom ficar molhado
debaixo de mim. — Dê-me isso — ele rosnou, com a mão ao lado da
minha cabeça, cavando mais fundo do que nunca. — Dá para mim, Ilsa.
Eu não tinha mais nada para dar. Nosso acoplamento foi rápido e
furioso, minhas pernas tremiam no momento em que Roman deu um
grito rouco, mas ele não desabou sobre mim, mantendo-se ereto
enquanto os últimos fios de prazer deslizavam pelo meu corpo.
— Ilsa — ele respirou, sua pele escorregadia de suor.
— Saia — eu disse com firmeza, mal me controlando. — Saia
agora!
Roman olhou para mim por um longo momento antes de se
desembaraçar e agarrar as calças, deslizando-as. — Isso não está feito.
Meus dedos tremiam quando puxei o roupão, envergonhada por
tê-lo deixado ir tão longe. — Acabou, Roman. Eu quero ir para casa. —
Eu não conseguia nem olhar para ele, ao mesmo tempo zangada comigo
mesma por ter escorregado tão facilmente nisso com ele e devastada por
ser realmente isso entre nós.
Ele não é meu, não mais, embora eu achasse que ele nunca tinha
sido realmente meu.
Agarrei o roupão com força enquanto Roman caminhava até a
porta, trabalhando em seu cinto enquanto o fazia. — Você irá para casa
amanhã — ele rosnou antes de sair.
Correndo para a porta, eu a fechei, indo tão longe a ponto de
trancá-la atrás dele antes de deslizar pela madeira até o carpete. Como
algo assim pode ser tão ruim para mim?
Eu havia derrubado minhas barreiras, deixado alguém entrar, e
esse era o castigo. Eu tinha dormido com meu inimigo.
Um soluço escapou de mim, e eu não tentei controlá-lo. De que
adiantava? Havia muita coisa para eu chorar.
Então deixei as lágrimas rolarem, um fluxo constante de soluços
que vinha crescendo há meses. Chorei pela morte de meus pais
novamente, pelo homem que havia segurado a arma e pelo
relacionamento perdido que nunca aconteceria.
Eu estava indo para casa e, embora devesse estar feliz com a
perspectiva, tudo o que ela trouxe foi dor e medo de como minha vida
seria depois que eu deixasse este pedaço do paraíso.
Uma vez que a coisa era certa; eu não ia esquecer esse tempo aqui
tão cedo. Minha vida, minhas opiniões sobre Roman mudaram
irrevogavelmente, e isso doeu.
Ah, doeu.
Quando finalmente me levantei do chão, deixei a porta trancada
para a noite. Desta vez, não haveria visitas noturnas de nenhum de nós.

***
Na manhã seguinte, acordei com o sol, me sentindo um lixo. Meus
olhos estavam vermelhos e doloridos, mas isso não era nada comparado
à dor no meu peito. Eu senti como se tivesse perdido meu melhor amigo
e não sabia o que fazer sobre isso. Como as pessoas superam um coração
partido? Antes, eu teria rido de alguém se tivesse feito essa referência,
mas agora entendi perfeitamente.
Eu estava com o coração partido.
Não, eu fui destruída.
Vesti uma camisa preta e jeans, a roupa mais simples que pude
encontrar, e respirei fundo enquanto ia até a porta. Roman tinha tentado
entrar ontem à noite?
Será que ele tentou abrir a porta?
Não havia Don taciturno do lado de fora, mas Isotta estava, com a
boca em uma linha firme. — Roman disse que você vai para casa hoje.
— Eu tenho que ir — eu ofereci, conseguindo dar um pequeno
sorriso. — Está na hora.
Ela fez um som cacarejante, pressionando uma pequena bolsa
estilo carteiro em minhas mãos. — Vim dizer que as suas coisas estão na
mala e o carro está à tua disposição quando estiveres pronta. Ele
mandou um recado ao aeroporto para preparar o jato.
Meus lábios se separaram. Roman não estava me aceitando de
volta? Eu não sabia como me sentia sobre isso.
Realmente acabou.
CAPÍTULO CINCO

ROMAN

Observei o jato começar a descer para LAX, as luzes cintilantes da


cidade correndo para me cumprimentar. Em algum lugar abaixo de mim
estava Ilsa, de volta à sua vida. Eu tinha me escondido na mansão
quando ela saiu hoje cedo, observando enquanto o carro se afastava e
seguindo seu progresso por meio dos guardas que eu havia confiado
para vê-la em casa.
E ela voltou para seu apartamento com segurança, me dando
algumas horas para pensar em ir atrás dela antes que eu finalmente
decidisse continuar com meus próprios planos para LA.
Ilsa se foi. Meu segredo mais profundo agora é dela, e o que ela
decidiria fazer com ele, eu não tinha certeza.
Na verdade, eu estava esperando que ela fizesse algo como
executar os planos que ela havia me contado sobre o que parecia anos
atrás. Ela queria vingança, e eu duvidava que o sexo de vingança que ela
fez ontem à noite fosse o último que eu veria.
Passando a mão pelo cabelo, estremeci quando o jato pousou na
pista, exalando o ar. A porra da minha vida estava desmoronando.
Primeiro meu irmão idiota e sua necessidade de provar algo, e agora
meus problemas com Ilsa.
Inferno, até mesmo Isotta tinha me encarado quando eu disse a
ela o que eu precisava que ela fizesse em meu nome. Ela cedeu, é claro,
e eu sabia que teria que compensá-la assim que essa merda acabasse. Eu
não poderia ter a coisa mais próxima de minha família chateada.
Isotta poderia tornar minha vida um inferno.
Primeiro, porém, eu precisava lidar com meu irmão e sua
desobediência às minhas ordens. Ele tinha esquecido prontamente que
eu sou o Don, e independentemente do sangue que nós compartilhamos
correndo por nossos corpos, ele desafiou uma ordem direta de não tocar
em Dmitri sem mim.
Ele tinha que ser tratado, porque se eu não o fizesse, a Máfia veria
como Franco sendo capaz de desafiar minhas ordens abertamente sem
que eu fizesse nada a respeito.
Ele queria provar um ponto e eu também.
Havia um carro esperando no hangar quando saí do jato, meus
guardas descarregando a bolsa que eu trouxera comigo. Um dos meus
capos, Jonas, esperava na porta aberta do carro. — Bem-vindo de volta,
Don — disse ele, juntando as mãos diante dele.
— Eu confio que tudo está em ordem?
— Sim, senhor — ele respondeu enquanto eu subia no carro. —
Seu irmão está esperando por você na mansão.
Eu não respondi, e ele fechou a porta atrás de mim antes de subir
no banco do passageiro, o carro saindo um momento depois. Enquanto
o carro serpenteava pelas ruas de Los Angeles, verifiquei alguns textos
e e-mails, lidando com o outro lado da máfia que muitos não viam.
Sempre havia alguns acordos de negócios para aprovar ou disputas para
ponderar. O negócio da Máfia era um negócio legítimo em termos dos
problemas que tínhamos. Se não fosse pelas — mercadorias — que
vendemos, não seríamos diferentes de qualquer outro negócio no
estado da Califórnia. Havia vários níveis de negócios nos quais a maioria
dos dons se envolvia. Eu sou mais prático do que meu pai, preferindo
ver os meandros das operações diárias. Ele preferia ter suas reuniões
mensais com suas centenas de conselheiros e meter o nariz apenas se
algo desse errado.
Por causa disso, passei anos tentando trazer o nome Marchetti
para o século XXI. Contratos antigos foram interrompidos e novos foram
substituídos. Eu havia fortalecido as rotas comerciais em todo o mundo,
investindo um pouco do dinheiro da família em algumas ações e
criptomoedas. Agora tínhamos propriedades imobiliárias na Califórnia
e eu estava pensando em expandir as operações para o sul.
Não, não para o México. Isso era território de cartel. Mais ao sul,
como na América Central. Alguns contatos de drogas procuravam um
distribuidor e, embora Franco achasse estúpido tentar passar pelo
cartel, eu não achava isso.
Era um território desconhecido, e o nome Marchetti poderia ser o
primeiro a abrir caminho.
No momento em que o carro parou na mansão, eu havia concluído
muitos dos meus negócios e estava pronto para enfrentar meu irmão.
Não seria uma reunião bonita, e me perguntei se Franco esperava que
isso acontecesse.
Havia sua música habitual no ar quando entrei pela porta da
frente, notando que havia mais guardas do que o normal na casa e no
terreno. Ou Franco estava paranoico sobre Stanislav vindo atrás dele ou
ele estava usando a porra dos meus guardas para protegê-lo de mim.
Esse não seria o caso. Enquanto eu fosse Don, eles responderiam
a mim e somente a mim. Já era hora de meu irmão se lembrar disso.
Franco estava na sala, com uma bebida na mão enquanto olhava
pela janela, a mesma que dava para a entrada da garagem. — Então você
conseguiu voltar — ele demorou. — Parabéns, Don.
— Eu estava voltando no meu próprio tempo — declarei
firmemente, tirando meu casaco e caminhando para o aparador onde
Franco mantinha uma coleção de licores finos. — Certamente você está
ciente de que posso escolher meus próprios planos.
Meu irmão riu. — É claro. Quem se atreve a dizer ao grande
Roman Marchetti o que fazer?
Meus pensamentos imediatamente voltaram para a noite
passada, onde eu tinha feito exatamente o oposto do que meu irmão
pensava. Eu permiti que Ilsa me desse ordens no sexo frenético que
tivemos depois que ela descobriu a verdade. Ela pensou que eu estava
fazendo isso para ajudá-la a esquecer, mas honestamente, eu queria que
ela se lembrasse do que tínhamos juntos. Eu queria que ela levasse isso
em consideração.
E sim, eu ainda a mandei embora. Precisávamos de um tempo
separados, e eu a mantive por mais tempo do que planejei para começar.
Não seria a última vez que a veria, isso era certo, mas por enquanto, eu
tinha que me contentar em deixá-la ir.
Mais um motivo para estar em LA agora.
Servi um copo saudável de uísque e bebi de volta, o licor
queimando um caminho ardente na minha garganta. Eu saboreei a
queimadura. Depois de tudo que passei nas últimas vinte e quatro horas,
eu queria consumir a porra da garrafa inteira, mas havia outras coisas
que precisavam da minha atenção primeiro. — Você está certo — eu
finalmente disse, virando-me para encará-lo. — Ninguém me diz o que
fazer.
Os lábios de Franco se ergueram em um sorriso quando ele
inclinou o copo para mim. — É claro.
Coloquei meu copo no aparador, caminhando até ele. — Agora há
um pequeno assunto que precisamos discutir.
— Oh? — Franco perguntou, pressionando o copo nos lábios. —
O que seria isso?
Eu me movi tão rápido que ele nem percebeu, o vidro caindo no
tapete e o espelho na parede quebrando quando bati a cabeça do meu
irmão nele.
Só o atordoou por um segundo antes que ele me atacasse,
derrubando o sofá. Caí desajeitadamente na parte de trás, a madeira
rachando com o impacto.
Mas eu estava imediatamente na defensiva, socando Franco na
mandíbula para desequilibrá-lo. Ele bateu com força no aparador,
fazendo com que todas as garrafas caíssem e o conteúdo caro se
espalhasse.
— Foda-se, Roman! — Franco gritou enquanto eu empurrava o
sofá quebrado, tirando minha jaqueta no processo.
— O que eu fiz para merecer isso?
Olhei para os guardas que vieram investigar, mas um olhar os fez
ir embora rapidamente. Franco podia tê-los servindo enquanto eu não
estava presente, mas agora que estava, eles se reportavam a mim e
somente a mim. — O que você fez? — Eu fervia, arregaçando habilmente
as mangas da camisa que eu usava. — O que você fez, porra?
Franco cuspiu no chão, limpando a boca com as costas da mão. —
Você está ficando surdo, irmão, em sua velhice?
Sorrindo, eu acenei para ele se aproximar. — Talvez, mas pelo
menos eu conheço a porra do meu lugar diferente de você. Você cuidou
de Dmitri sem minha permissão.
— É disso que se trata? Eu te fiz a porra de um favor!
— Não — eu ralei. — O que você fez foi tentar minar minha
autoridade.
Meu irmão não se moveu, seus olhos brilhando de raiva. — É disso
que se trata? Seu maldito ego?
Se era isso que ele pensava, então ele estava errado,
completamente errado. Meu ego não tinha nada a ver com isso. Isso era
sobre meu irmão cruzar a linha. — Vamos, Franco — eu disse, dando-
lhe um sorriso frágil. — Mostre-me o que você conseguiu.
Franco rosnou e então correu para mim novamente, tornando-se
previsível demais. Eu o desviei e Franco soltou um rugido quando teve
que se impedir de bater em uma parede. Quando ele se virou, eu estava
em cima dele, desferindo golpes em sua cabeça e rosto até derrubá-lo no
chão. Ele tentava em vão bloquear meus socos, mas eu sou mais forte,
mais rápido, sempre aquele que conseguia passar por cima dele. Meu pai
costumava nos colocar um contra o outro e, depois de alguns anos, eu
podia prever tudo o que Franco faria.
Eu finalmente vi uma abertura, e os olhos de Franco se fixaram
nos meus quando levantei meu punho para desferir o que poderia ser
um golpe fatal, parando antes de fazê-lo. — Eu poderia matar você —
sibilei para meu irmão. — Eu poderia acabar com sua vida agora.
O olho esquerdo de Franco estava inchado e fechado, mas ele
ainda me encarava. — Vá em frente — respondeu ele com raiva. — Faça
isso, Roman. Sinta-se melhor.
Porra.
Eu o empurrei, deslizando para trás para colocar algum espaço
entre nós enquanto passava a mão pelo meu cabelo. — Eu não vou te
matar, porra, mas eu deveria.
Franco gemeu enquanto se empurrava para uma posição sentada,
com o rosto vermelho e inchado. Ele pareceria um inferno pela manhã,
e eu quase sorri com o pensamento.
Quase.
— Você sempre leva tudo para o lado pessoal — ele respondeu
depois de um momento. — Que diabos você esperava que eu fizesse,
Roman? Eu encontrei o filho da puta. Eu tinha que cuidar dele.
Mas eu já estava seguindo em frente com o que meu irmão fez com
Dmitri, meus pensamentos voltados para a merda em que me encontrei
enterrado. — Você se lembra da noite de nossa primeira morte? — Eu
disse em vez disso, colocando meu pulso sobre meu joelho levantado.
Franco me olhou com cautela. — Sim. Quem esquece a primeira
morte?
Meu irmão estava falando a verdade. Ninguém esqueceu sua
primeira morte e, mesmo que eu não tivesse encontrado Ilsa, ainda me
lembraria do cheiro de pólvora, da maneira como a arma recuou em
minha mão. Eu ainda tinha uma cicatriz do beliscão entre o polegar e o
indicador daquela noite.
— Por que você traz esse tipo de merda depois de chutar minha
bunda? — ele perguntou.
Engoli. — Eu disse a verdade a Ilsa.
Os olhos de Franco se arregalaram quase até a linha do cabelo. —
Por que diabos você faria isso?
Eu me levantei do chão, sentindo as dores em minha mão por
colidir com o rosto de Franco. — Porque estou avisando que ela pode vir
atrás de você.
— Se ela é tão gostosa quanto me disseram — Franco disse
maliciosamente, me fazendo querer colocar meu punho em seu rosto
novamente — Então não me importarei com o interrogatório.
— Fique longe dela — eu avisei, pegando minha jaqueta e
colocando-a. — Ou esta luta não será nada comparada ao que farei com
você.
Franco ergueu as mãos em sinal de rendição. — Vou ficar longe,
mas se ela vier bisbilhotando, farei questão de me apresentar. — Ele
balançou sua cabeça. — Mas ainda não consigo acreditar que você está
comendo e bebendo com ela. É culpa que você sente, irmão? Você acha
que fazê-la feliz vai absolvê-lo de sua culpa e fazê-la perdoá-lo ao mesmo
tempo?
Eu não ia me explicar ou o que sentia por Ilsa. Inferno, eu não
sabia o que eu estava sentindo por ela, mas com certeza não é culpa.
Agora não. — Fique longe dela — eu avisei mais uma vez
enquanto me movia para sair da sala. — E não me contrarie de novo,
irmão. Eu sou o Don, não você.
Franco me cumprimentou alegremente. — Tudo bem, sim. Alto e
claro, irmão.
Saí sem outra palavra, entrando no carro que esperava um
momento depois. Assim que o carro se afastou da mansão, finalmente
me permiti respirar. Sinceramente, não sei por que desabafei com meu
irmão. Não era que eu ainda quisesse cuidar do filho da puta. Ele havia,
segundo todos os relatos, cruzado uma linha sobre a qual eu deveria ter
feito mais.
Mas ele ainda é meu irmão e a única outra pessoa que esteve lá
naquela noite fora Ilsa. Ilsa não é o tipo de mulher que simplesmente
deixava isso passar. Ela mesma me disse que queria vingança.
Seu rosto passou pela minha cabeça e eu suspirei, inclinando
minha cabeça para trás no encosto de cabeça. Nós dois estávamos em
Los Angeles e, apesar de meus melhores esforços, eu iria cruzar com ela
novamente. Eu não posso ficar longe. Eu não posso ignorar essa
queimação em meu estômago por ela.
Nosso negócio não estava completo. Eu simplesmente não sabia
exatamente qual era o nosso negócio, e esse é o problema.
CAPÍTULO SEIS

ILSA

Entrei na cafeteria, sentindo o cheiro de grãos de café torrados e


bolos recém-assados. Depois de ficar tanto tempo longe de um, eu estava
começando a entender por que as pessoas eram viciadas.
Eu estava sentindo falta do meu café.
— Oh meu Deus, eu pensei que nunca mais veria você!
Eu me virei bem a tempo de pegar Naomi quando ela voou para
meus braços, me abraçando com força. — Você não parece nem um
pouco abatida, mas como uma cadela bronzeada e feliz!
Eu ri, sentindo a tensão sangrar em meus ombros. — É bom ver
você também.
Minha melhor amiga se afastou, pressionando as mãos contra
meu rosto. — Olhe para você, Ilsa. Quero dizer, se isso é o que significa
ser comprada, então talvez eu devesse ter subido naquele palco, afinal.
Se ela tivesse, então talvez eu não sentisse como se meu coração
tivesse sido arrancado do meu peito. — Vamos ficar aqui conversando
ou vamos tomar um café?
Rindo, Naomi se afastou e me levou para uma mesa, onde meu
latte de caramelo favorito já estava esperando. — Você é incrível — eu
respirei quando me sentei, segurando a caneca quente. — Eu senti tanta
falta disso.
— Eu senti sua falta — ela respondeu. — Você vai me contar o que
aconteceu? Quero dizer, você está bem?
— Ok — era um eufemismo. Eu realmente não sabia o que eu era,
honestamente. A viagem de volta para Los Angeles foi repleta de
preocupação, arrependimento e, mais ainda, de dor.
Dor que consome e suga a alma. Ainda era difícil para mim
acreditar que Roman tinha sido o assassino de meus pais. Eu odiava
pensar que o homem de quem eu gostava na cama, o mesmo homem que
às vezes me olhava com tanta ternura, era a razão de anos de dor.
Isso machuca.
Mas quando finalmente entrei em meu apartamento, nada parecia
familiar. Nada. Parecia frio, vazio e não estava certo.
Eu sabia exatamente por quê. Era porque eu já estava sentindo
falta de Roman. Apesar de tudo, apesar da dor, eu sentia falta dele.
— Terra para Ilsa.
Piscando para afastar os pensamentos, forcei um sorriso. — Eu
sinto muito. Tem sido uma loucura ultimamente.
Ela arqueou uma sobrancelha. — Que loucura? Vamos, Ilsa. Eu
sou sua melhor amiga. Você pode me dizer.
Oh não. Eu não podia contar a ela nada sobre o que havia
acontecido entre mim e Roman. Isso era muito pessoal, muito
complicado para eu começar a explicar qualquer coisa para ela. — Foi
interessante.
— Ele, você sabe, estourou sua cereja finalmente?
— Oh meu Deus, Naomi — eu engasguei enquanto pegava minha
caneca. — Você está tão suja. É só nisso que você pensa?
Seu sorriso me disse exatamente o que ela estava pensando. —
Você esteve fora por semanas, Ilsa. Com certeza você dormiu com quem
te comprou. Ouvi dizer que era um homem alto, moreno e bonito por
quem todas as mulheres estavam desmaiadas.
Revirei os olhos, embora o calor se espalhasse por todo o meu
corpo com o mero pensamento do que eu tinha feito com Roman. Quero
dizer, eu tinha visto cada centímetro de seu corpo glorioso, provado sua
pele em meus próprios lábios, e se ele não tivesse jogado a bomba que
ele fez quando estava tentando me excluir, eu estaria fazendo isso agora.
— Ele não era tão bom.
O queixo de Naomi caiu. — Então você fez?
— Há mais do que apenas o que aconteceu lá — eu respondi, me
contorcendo um pouco no meu lugar. Normalmente, eu compartilhava
tudo com Naomi. Ela era a única pessoa que estava em meu círculo
íntimo, a única em quem eu podia confiar.
Mas me contive sobre contar a ela sobre Roman e meu tempo na
ilha. Aquele era o meu tempo pessoal, algo que, apesar de tudo, eu
guardaria no meu coração agora.
Talvez fosse a única coisa que eu tinha.
— Então, o que aconteceu? — ela perguntou, pegando sua xícara.
Engolindo em seco, fiz o mesmo, tomando um gole bom e saudável
para clarear minha mente. — Tenho uma pista sobre a morte de meus
pais.
— Oh, isso é uma grande notícia! — Noemi disse animada. —
Então o que é? Quero dizer, é isso que você estava esperando, certo?
Era, mas não do jeito que eu pensei que seria. — Sim, é.
— Então por que você está sentada aqui? — ela perguntou, uma
nota curiosa em sua voz. — Por que você não está no caso, pegando os
criminosos?
— Você tem assistido a muitos programas policiais — murmurei,
colocando minha caneca sobre a mesa. O próprio pensamento de colocar
Roman algemado me deixou mal do estômago. Eu sabia que ele era um
assassino. Ele era o líder de uma máfia. Ele provavelmente matou mais
vezes do que eu queria admitir.
Ele seria a prisão do século para mim, mas não queria ser eu a
colocá-lo atrás das grades.
Eu não queria ver Roman atrás das grades.
Meu apetite azedou e empurrei minha cadeira para trás. — Eu
tenho que começar a trabalhar.
Se Naomi notou minha mudança repentina de comportamento,
ela não disse nada, observando enquanto eu recolhia minha bolsa. —
Talvez possamos fazer uma noite de garotas logo então? — ela
perguntou. — Eu senti sua falta, Is.
Um pouco da minha determinação vacilou, e eu andei ao redor da
mesa para abraçá-la. — Eu também senti sua falta, Naomi. Sinto muito
por ter preocupado você.
— Está tudo bem — ela suspirou, me abraçando de volta. — Eu só
espero que da próxima vez você me encontre um homem alto, moreno e
bonito também. Os homens são péssimos por aqui.
Rindo, eu me afastei. — Eu te vejo mais tarde.
— Você pode contar com isso — ela prometeu.

***
O sol estava começando a espreitar sobre a cidade quando subi
no meu carro e dirigi até a estação. Agora que eu estava de volta, era
hora de voltar à minha vida normal enquanto tentava processar o que
faria com Roman. Os casos provavelmente estavam empilhados na
minha mesa e tive sorte de não ter perdido meu emprego. Na verdade,
Malcolm tinha sido mais do que complacente em me receber de volta,
sem fazer muitas perguntas sobre por que eu tinha ido embora por tanto
tempo.
Foi estranho.
Parando em uma vaga de estacionamento vazia, desligo o motor,
enfiando a mão na bolsa para pegar o pequeno pedaço de papel que eu
sabia que estaria lá. A mala que Isotta me dera continha algum dinheiro,
mais do que eu ganharia em um mês, e alguns itens que decidi ignorar.
Mas dentro do dinheiro havia um pedaço de papel com um
número de telefone. Por via das dúvidas, dizia na elegante caligrafia de
Roman.
Ele havia me dado seu número, o que foi uma jogada ousada,
considerando o que eu poderia fazer com ele. Eu poderia facilmente
rastrear seu número, denunciá-lo e deixar o resto para os tribunais.
Roman sabia disso, mas mesmo assim me deu o número.
E como uma idiota, eu o salvei no meu telefone com a palavra —
ilha. — Isso seria tudo o que já tivemos.
A ilha.
Engolindo em seco, enfiei o pedaço de papel no bolso de trás por
enquanto. Roman estava confiando em mim por algum motivo e, embora
eu não tivesse 100% de certeza de por que ele achava que podia, eu não
iria denunciá-lo.
Ainda.
Agarrando minha bolsa, entrei na delegacia, indo até a seção
familiar da delegacia.
— Ilsa!
— Ei, Marco — eu disse, dando-lhe um pequeno aceno.
— Onde diabos você esteve? — ele perguntou, caminhando ao
meu lado. — Todos nós pensamos que você finalmente se cansou da
merda de Malcolm e foi embora.
— Infelizmente, tenho contas a pagar — respondi. — Eu tirei um
tempo. Isso é tudo.
— Bem, você deve ter demorado muito — disse ele secamente,
olhando para minhas mãos vazias. — Onde está meu café?
Eu ri, percebendo que tinha perdido isso. Ok, talvez eu só senti
falta de Marco. — Da próxima vez, eu prometo.
Foi quase a mesma coisa quando me deparei com Jim e Harold. —
Bem, bem — Jim demorou, batendo os dedos na mesa, os pés apoiados
na superfície. — Vejam quem deu o ar da graça.
— Também senti sua falta — eu rebati quando deixei minha bolsa
cair na minha mesa. Com certeza, os arquivos estavam empilhados no
slot da minha caixa de entrada, e não era difícil perder o fato de que as
caixas de entrada de Jim e Harold estavam vazias. — Vejo que você
deixou toda a diversão para mim.
— Claro, querida — Harold acrescentou com um sorriso cheio de
dentes. — Bem vinda de volta. Você faz este lugar valer a pena vir.
Eu ri e me acomodei em minha cadeira pela manhã, me jogando
no meu trabalho. Era bom fazer algo normal pela primeira vez, em vez
de não ter nada para fazer.
Ok, talvez isso não tenha sido tão ruim depois de tudo.
Não foi até o dia se aproximando do almoço que Malcolm fez uma
aparição, indo até minha mesa com uma carranca no rosto. — Petrova,
você conseguiu voltar.
— Sim, senhor — murmurei, afastando o cabelo da testa. —
Presente e contabilizando.
Seu olhar se estreitou. — Depois do trabalho, preciso que você me
encontre.
Ótimo. Essa era a última coisa que eu queria fazer. Ele era alguém
que eu definitivamente não sentia falta. — Para quê, senhor? — Eu
perguntei inocentemente, uma borda dura na minha voz.
Ele colocou a mão carnuda na minha mesa, bem em cima do
relatório que eu estava lendo. — Isso é uma ordem, Petrova. Vou te
enviar o endereço.
Eu queria dizer algo inteligente, mas segurei minha língua. Era
meu primeiro dia de volta. O dinheiro que Roman tinha me dado não ia
durar para sempre, e eu precisava da minha conexão com o
departamento de polícia, nada mais do que para acompanhar seus
feitos. — Sim, senhor.
Seus olhos brilharam com promessas. — Bom. De volta ao
trabalho.
Esperei até que ele estivesse longe antes de soltar a respiração. O
que quer que Malcolm tivesse planejado não seria algo que eu gostaria,
com certeza.
CAPÍTULO SETE

ILSA

O sol estava começando a se pôr quando parei no armazém,


notando o carro da polícia de Malcolm na frente. Eu verifiquei minha
arma antes de sair, me sentindo nervosa por encontrar Malcolm depois
de horas como esta. Ele nunca havia feito tal pedido antes, e se ele
pensou que iria me coagir a fazer favores sexuais para ele, ele tinha
outro pensamento vindo.
A porta estava parcialmente aberta e eu deslizei pela fresta, o
cheiro de madeira velha impregnando o ar. O armazém em si estava
cheio de caixotes, mas Malcolm estava parado perto da frente, seus
olhos se estreitando quando ele me viu. — Você veio.
— Você me ordenou — respondi, cruzando os braços sobre o
peito. — O que você quer?
— Isso não é jeito de falar com seu superior — ele respondeu
calmamente. — Você acha que é melhor do que eu, não é, Petrova?
Eu não estava interessada em um concurso de mijo. — Eu vim,
senhor. Para que você precisa de mim?
— Melhor — ele respondeu, batendo o dedo no queixo. — Sua
amiga me ligou há algumas semanas, dizendo que você estava
desaparecida. Ela tinha uma história estúpida sobre um leilão e que você
havia sido comprada. Achei que ela estava viciada em drogas.
Noemi. Ela estava realmente preocupada comigo.
— Mas não encontramos nada. Além de sua amiga — ele disse,
deixando cair as mãos. — Ninguém mais estava falando. Você tem sorte
de eu ter coberto sua bunda.
Minha boca funcionou1. Eu não estava prestes a agradecê-lo por
fazê-lo. Malcolm nunca fez nada pela bondade de seu coração.
Ele não tinha coração.
— Mas eu dei uma olhada em seus arquivos recentes — ele
continuou sorrindo. — E adivinha o que eu encontrei?
— O que? — Eu forcei para fora, a bile subindo no fundo da minha
garganta.
— Você tem investigado a morte de seus pais — disse ele com
naturalidade. — Você está procurando pelo assassino deles.
O ar frio passou por mim e pensei em ir embora enquanto ainda
tinha chance. Algo estava errado com o detetive.
— Eu acho que é louvável — Malcolm respondeu com um
encolher de ombros. — Que você dedicou toda a sua carreira para
encontrar o assassino. Eles ficariam orgulhosos de você levar o
assassino deles à justiça, Ilsa.
Meu sangue congelou em minhas veias. Malcolm sabia algo sobre
Roman, mas como? Certamente, se ele soubesse a verdade, não seria ele
quem iria querer prendê-lo? — Não entendo.
— Imagino que não. Coisas assim podem ser, como se diz,
complicadas, mas há pessoas que estão dispostas a tirar isso de suas
mãos. Tudo o que você precisa fazer é me dizer quem você encontrou,
Ilsa. — Ele deu um passo à frente. — Posso acabar com a tortura e a dor
por você.
Oh Deus. Ele queria um nome. — Eu não tenho nome — eu disse
rapidamente, descansando minha mão na minha arma.
Ele soltou uma risada curta. — Eu acho que você tem. Diga-me.
— Suas fontes estão erradas. — Eu precisava sair daqui o mais
rápido possível.
Malcolm desdenhou, balançando a cabeça. — Isso é ruim. Gosto
de você, Petrova.
Antes que eu pudesse tirar minha arma do coldre, ele estava em
cima de mim, me empurrando contra uma pilha de caixotes. Minha
cabeça ricocheteou na madeira e vi estrelas brevemente, meu coração

1
Uma forma de autocensura praticada no trabalho para evitar palavras ofensivas ou palavrões.
martelando no peito. Ele ia me levar para as pessoas que queriam saber
ou me matar, mas eu não podia deixá-lo fazer isso.
Levantando meu joelho, eu o peguei desprevenido, e ele gemeu
enquanto segurava suas bolas. — Foda-se — eu cuspi, pegando minha
arma.
Sua perna chutou e eu caí no chão com força, meus dentes
batendo na minha cabeça. Malcolm estava em cima de mim em um
instante, me prendendo ao chão com as mãos em meus pulsos. — Você
realmente deveria ser mais esperta, sabe — ele fervia, um olhar
selvagem em seus olhos. — A última coisa que você quer é entrar no
meio de uma guerra, Ilsa, mas ela está chegando. Pena que você não
estará aqui para ver.
Suas mãos estavam em volta da minha garganta antes que eu
pudesse respirar e eu resisti contra ele, tentando encontrar uma
fraqueza em seu aperto. Eu podia sentir a pressão contra minha
garganta, já ciente de que ele estava bloqueando o ar para meus
pulmões.
Se eu não parar seu aperto, eu estaria perdida.
Meus membros começaram a ficar lentos e eu agarrei suas mãos,
ouvindo sua risada à distância. Não, eu não ia sair assim. Não seria eu
quem morreria hoje.
Restava muito para eu fazer.
Usando a pouca força que me restava, balancei meu corpo para o
lado com força, pegando Malcolm desequilibrado e jogando-o nas caixas
ao nosso lado. Suas mãos afrouxaram apenas o suficiente para eu sair,
mas quando eu tentei pegar minha arma, eu a encontrei a alguns metros
de distância.
Eu só tinha segundos até que ele se recuperasse.
Olhando em volta, vi um pé de cabra em vez disso, meus dedos
travando em torno dele e balançando com força. Houve um estalo
doentio e, quando terminei meu movimento, encontrei Malcolm no
chão, com metade da cabeça afundada.
Minha respiração era nada mais do que ofegante quando soltei o
pé de cabra, o peso do que tinha acabado de acontecer afundando.
Eu tinha matado um detetive.
Caindo de joelhos, respirei fundo antes de verificar o pulso. Não
havia nenhum. Malcolm estava morto e seus segredos com ele. Eu
poderia facilmente ligar, explicar a autodefesa e mostrar minhas
contusões, mas como eu explicaria nosso encontro depois do
expediente?
Eu nem sabia onde estava ou realmente por que ele tinha me
trazido aqui, mas não podia ficar. Quem quer que ele tivesse falado
estaria esperando alguma coisa.
Ou alguém.
Estremeci quando me levantei, minha mente frenética agora. Eu
não podia deixar o corpo.
Eu estava realmente tentando descobrir o que fazer com um
cadáver? Eu estava além de mim.
Eu filtrei meus pensamentos, tentando descobrir o que fazer. Só
havia uma pessoa para quem eu poderia ligar agora, uma pessoa que
olharia para o corpo e não daria a mínima.
Foi um risco, especialmente com a forma como havíamos deixado
as coisas.
Uma bolha de riso me escapou. Justamente quando eu pensei que
não poderia vê-lo ou ter nada a ver com ele, eu estava pensando em tê-
lo me salvando.
Eu estava realmente ferrada da cabeça. Pegando meu celular,
encontrei o número. Eu ia ligar para Roman. Ele é minha única
possibilidade.
CAPÍTULO OITO

ROMAN

Verifiquei a arma antes de guardá-la no colete que estava usando,


procurando no bolso os pentes adicionados. Meu colete estava cheio de
revólveres e pentes, assim como facas fáceis de extrair e arremessar.
Enquanto alguns lutavam com nada mais do que os punhos, eu não sou
um idiota. Balas e facas lutavam tão bem, se não melhor.
Ao meu lado, meu irmão estava sentado, usando ele mesmo uma
série de armas. Ele havia renunciado ao colete Kevlar, mas isso não o
tornava menos perigoso. Podemos não concordar, mas nosso pai não
criou idiotas. Éramos máquinas de matar, treinadas com os melhores.
Nós somos Marchetti.
Atrás de nós, em um trem de SUVs, estavam os asseclas de
Guzman, doze ao todo. Ele não queria nos dar mais do que isso e,
honestamente, eu não precisava de mais ninguém.
Pelo menos tínhamos mão de obra extra para esta noite. Esta
noite, iríamos atrás de Stanislav.
Franco limpou a garganta, batendo os dedos contra a coxa. — Você
está pronto?
— Alguém está pronto? — eu murmurei. Depois da nossa briga,
eu só tive algumas horas de sono agitado em minha casa de praia. Nem
mesmo a vista para o mar acalmou meus nervos quando comecei a
planejar com alguns dos meus capos, elaborando um plano pela metade
no espaço de doze horas. Não foi o meu melhor, mas estava pronto para
ir atrás do Krasnaya Bratva.
Eu estava pronto para derrubar Stanislav e, com a ajuda de
Guzman, faríamos isso esta noite. Ele nunca veria isso chegando. A
notícia de que eu estava de volta à cidade estava começando a se
espalhar agora, então Stanislav não esperava que eu fosse atrás dele tão
rapidamente.
Bem, ele estava prestes a ter um rude despertar.
Os SUVs pararam a um quarteirão da boate de Stanislav.
Surrender era seu nome, apropriadamente nomeado porque ele achava
que todos deveriam se render ao Krasnaya Bratva.
Hoje à noite, ele se renderia a mim. A inteligência de Guzman
disse que Stanislav estava no clube esta noite, sentado em seu loft com
vista para a pista de dança do clube. Eu tinha ido ao clube uma vez,
quando estávamos em condições frágeis e tentando fazer um bom show,
então eu sabia exatamente para onde ir.
E Franco já tinha sido avisado para manter suas malditas mãos
longe de Stanislav. Depois da merda que ele fez com Dmitri, eu não acho
que meu irmão iria sair dessa.
Olhei para ele e ele me deu um aceno firme, puxando uma de suas
muitas armas. — Vamos fazer isso.
Eu devolvi seu aceno e saí do SUV na cobertura da escuridão,
observando enquanto o resto dos homens que estavam conosco faziam
o mesmo. Eu trouxe alguns dos meus capos para este ataque, tentando
igualar nosso número do que enfrentaríamos no clube.
Isso, e eu queria lealdade nas minhas costas. Embora eu
apreciasse a ajuda de Guzman, não confiava no filho da puta.
Franco estava contornando o SUV quando soaram os primeiros
tiros. Eu imediatamente me escondi com ele, observando com crescente
horror quando um dos capos caiu no chão, baleado pelo homem de
Guzman.
— Que porra é essa? — Franco gritou, apontando sua arma para
os homens. Eu fiz o mesmo, a sensação desconfortável em meu
estômago crescendo. O que estava acontecendo?
Tínhamos sido traídos?
Foi um tiroteio total a partir daí. As balas atingiram e se cravaram
no SUV que era nosso disfarce, Franco e eu mudamos metodicamente
nossos pentes quando ficamos sem balas. Dois dos meus capos
conseguiram se proteger do outro lado da rua, fornecendo uma pequena
quantidade de cobertura.
Estávamos em menor número.
— O que nós vamos fazer? — Franco gritou acima do barulho.
— Mate esses filhos da puta — eu rosnei, puxando o slide de volta.
Eu cuidaria de Guzman mais tarde, mas agora seus homens pagariam
pela traição.
— Claro que sim — disse Franco. Juntos, assumimos uma posição
como tínhamos quando jovens, com ele atrás de mim enquanto eu
disparava balas na direção geral dos outros. Senti a picada no meu braço
quase imediatamente, sibilando quando a bala deslizou pela minha pele.
Coloquei uma bala na testa daquele filho da puta, nem me preocupando
em vê-lo cair.
Dois outros caíram em rápida sucessão, pois a mira de Franco era
verdadeira e exata, os dois capos restantes fornecendo cobertura
cruzada quando paramos para recarregar.
Pelos meus cálculos, restavam seis. — Vire à direita! — Eu gritei
para Franco, apontando para a calçada. Outra bala passou zunindo pela
minha cabeça enquanto eu me movia para a esquerda do SUV,
agachando-me para não me tornar um alvo fácil.
Minha adrenalina estava bombeando, mas logo eu ficaria sem
munição, o que só faltava para minhas facas. A menos que eu
conseguisse um tiro certeiro, a escuridão da rua e a cobertura dos SUVs
que eles estavam usando tornaria difícil para mim terminar essa merda.
Cheguei à frente de um deles, esperando ver o brilho do cano das
armas antes de disparar pelo para-brisa. Houve um grito, então o rápido
retorno do fogo que me pressionou contra a grade, verificando minha
arma.
Porra. Eu estava fora.
Jogando a arma para baixo, peguei as facas finas e leves. Eu não
conseguia ver Franco agora, e era difícil distinguir entre tiros inimigos e
amigos.
Eu estava sozinho.
Felizmente para mim, o tiroteio que se seguiu me ajudou a dizer
a direção em que eles estavam atirando, então consegui silenciosamente
chegar ao lado do SUV, encontrando um dos homens de costas para mim.
Rapidamente deslizei meu braço em volta de seu pescoço e enfiei minha
faca na lateral de seu pescoço, acertando sua jugular com tanta precisão
que ele nem fez barulho. Sangue quente e pegajoso derramou sobre
minha mão, e eu o deixei cair no chão, sua arma batendo na calçada.
O som chamou a atenção do segundo homem ali, e ele soltou um
grito antes que eu batesse minha mão no cano de sua arma, sentindo a
maldita coisa explodir, mas mandando a bala inofensivamente para o ar.
Lutamos corpo a corpo, minha faca cortando seu braço, depois
seu pulso, bem onde estava sua artéria. Ele estava tão determinado a me
matar que não percebeu o que eu tinha feito imediatamente. — Você não
pode ganhar isso — ele zombou, puxando ele mesmo uma grande faca
de caça. — Você não vai sair daqui vivo, Don.
Eu dei a ele um sorriso cruel. — Vamos ver isso, não vamos?
Ele investiu, sua faca cortando profundamente meu antebraço
enquanto eu subia para bloqueá-la. A dor foi instantânea, mas eu a
ignorei, forçando a dor para agarrar o pulso machucado e torcer com
força. Ele gritou de dor, e a faca caiu na calçada, me dando a chance de
enfiar a minha em seu coração. Aproximei-me, observando a surpresa
deslizar sobre seu rosto. — Parece que você não vai sair daqui vivo.
Sua boca se abriu, mas nenhum som saiu, e ele caiu fora do meu
alcance, caindo no chão.
Deixei minha faca em seu peito também, querendo fazer uma
declaração para Guzman. Ele saberia quem estava vindo atrás dele.
Contornando o SUV, fui pego de surpresa por um golpe,
derrubado no chão quando um tiro foi disparado. Um corpo caiu em
cima de mim e comecei a lutar.
— Pare!
— Franco? — Eu perguntei, surpreso ao encontrar os olhos cheios
de dor do meu irmão olhando para mim. — Que porra é essa?
Ele gemeu e rolou de cima de mim. — Foda-se, isso dói.
Levantando-me, vi o sangue se espalhando em sua camiseta
escura. — Que porra você fez?
Ele tocou o sangue em seu peito. — Eles iam atirar em você.
Meu queixo caiu e comecei a tirar meu colete para poder tirar
minha camisa. Assim que o fiz, pressionei-o contra a ferida. — Não é fatal
— eu disse, mil coisas passando pela minha cabeça. — Franco, caramba,
cara.
Ele riu, dor gravada em seu rosto. — Você nunca cuida do seu
seis2, irmão.
Me irritou só de pensar que ele poderia brincar em um momento
como este. O tiroteio morreu ao nosso redor e uma sombra passou por
Franco. Eu fui para minha última faca restante.
— Espere, Don!
Olhei para cima e encontrei um dos meus capos de pé sobre mim,
com a arma na mão. — Ele foi baleado — eu rosnei. — Chame-o.
— Sim, Don — disse ele, pegando o telefone. Havia concessões em
ser o chefe de uma máfia. Não se podia simplesmente aparecer em um
hospital com uma bala enterrada, então eu tinha médicos contratados,
médicos que podiam ser pagos para manter o silêncio.
Olhando de volta para o meu irmão, eu apertei minha mandíbula.
— Ele vai pagar por isso. Ambos irão.
Franco assentiu com a cabeça, o rosto pálido. — Certo. Isso vai me
manter vivo.
Olhei para o capo restante. — Coloque-o na porra do SUV.
Precisamos sair daqui.
— Sim, Don.
De alguma forma entre nós três, colocamos um Franco gemendo
no banco de trás, a visão de sangue em seu peito me deixando
desconfortável. — Não é fatal — Franco reiterou, pressionando minha
camisa contra seu peito. — Você não pode se livrar de mim tão rápido.
— Por que? — Eu perguntei, minha voz áspera. — Por que você
fez isso?
Seus olhos se fecharam. — Inferno, eu não sei. Você é o Don. Eu
sou apenas seu irmão de merda.
Bem, foda-se. — Vamos dar o fora daqui antes que alguém venha
investigar.
Nós nos amontoamos no SUV e partimos para o fluxo constante do
tráfego. — Dirija até chegarmos ao médico — eu rosnei, olhando para

2
Significa cuidado com o perigo pelas costas (como se você pudesse ser atacado ou algo assim).
meu irmão. Ele estava pálido, mas ainda respirando, seus olhos
cautelosos e cheios de dor.
Eu tinha que conseguir ajuda para ele logo. Apesar do que estava
acontecendo conosco, eu não queria vê-lo morrer.
Abri a boca para perguntar como ele estava, mas meu celular
começou a zumbir na minha calça e tirei-o do bolso. — O que?
— Roman?
Meu corpo congelou. — Ilsa?
— Eu preciso de sua ajuda — ela deixou escapar, sua voz soando
apressada. — Eu sinto muito. Eu não sabia para quem mais ligar.
Este era o momento errado para ela me ligar. Tive uma
tempestade de merda com a minha Máfia, e agora não só tinha um, mas
dois idiotas atrás de mim.
Mas esta é Ilsa. — O que há de errado?
— Eu matei Malcolm Pena.
— Você matou seu chefe? — Eu perguntei, chocado. Inferno, se eu
não a conhecesse melhor, pensaria que estava falando com um dos meus
capos. — Que porra ele fez? — Ela não teria feito algo assim sem alguma
provocação. Isso me irritou, e não importa o que ele tivesse feito, eu
queria matá-lo novamente.
— Não consigo explicar agora — respondeu Ilsa. — Mas não sei o
que fazer.
Olhei para trás no SUV para onde meu irmão estava esperando.
— Tudo bem — eu disse hesitante. — Mande-me seu endereço. Estarei
lá em breve.
— Obrigada — ela respirou antes de encerrar a ligação.
— Foda-se — eu murmurei, empurrando meu telefone de volta
no meu bolso.
— Problemas, irmão?
Fechei os olhos. Inferno, eu não sabia nem como dizer a ele o que
estava acontecendo.
— É ela, não é? — ele cutucou, sibilando em uma respiração. —
Ela precisa de você.
Sim, Ilsa precisava de mim. Ela tinha me procurado. Mesmo
depois de tudo que eu fiz, ela me ligou. — Eu tenho que ir.
— Encoste — Franco gritou para o motorista. O motorista e eu me
virei para meu irmão. — Você é Don Marchetti — ele afirmou, seus olhos
se estreitando. — Mas se ela precisar de você, precisamos mantê-la a
salvo de Stanislav.
Lembrando o que Stanislav nos disse sobre querer saber o que
aconteceu com a criança naquela noite, estendi a mão para a porta.
Franco estava certo. Não podíamos permitir que ele chegasse até Ilsa,
não agora. — Eu vou buscá-la e cuidar da merda em que ela está.
— Você faz isso — respondeu meu irmão, inclinando-se para trás
no assento. — E eu vou ficar vivo enquanto isso.
Minha mandíbula apertou, mas eu saí do SUV. — Diga-me aonde
você vai — eu disse ao capo que dirigia. — E proteja-o como você faria
comigo.
— Sim, Don.
Fechei a porta e observei enquanto eles continuavam seu
caminho, me perguntando se eu havia cometido um erro ao escolher
Ilsa.
Que porra estava acontecendo com a minha vida agora que eu
tinha que escolher entre uma mulher por quem me apaixonei e meu
próprio irmão?
CAPÍTULO NOVE

ILSA

Mordisquei uma unha encravada enquanto esperava Roman


chegar, lembrando a mim mesma que não tinha outra possibilidade a
não ser ligar para ele. Aqui estava eu, tentando me separar dele, e tudo
que fiz foi trazê-lo de volta para mim.
Ugh.
Não só isso, mas também tinha um cadáver no armazém atrás de
mim. Não qualquer cadáver, mas o do meu superior.
Minha vida não poderia ficar pior.
Um sedã escuro estacionou e Roman saiu, meu pulso acelerando
enquanto ele se aproximava de mim. — Você está machucada? — ele
perguntou.
Eu balancei minha cabeça. — Não estou ferida.
Seus olhos piscaram para o armazém atrás de mim. — E você tem
certeza que ele está morto?
Minha garganta se fechou de emoção. — Eu... sim, ele está morto.
Sua mandíbula apertou. — Entre no carro.
— O que você vai fazer? — Eu perguntei, olhando para o
armazém. — Não sei como sair dessa, Roman. Não sei o que fazer.
— Shh — disse ele, estendendo a mão para segurar minha mão.
Seu toque foi como um bálsamo sobre mim, e eu exalei. — Vai ficar tudo
bem. Tenho uma equipe a caminho. Você vai vir comigo.
Roman fez parecer tão fácil, como se fosse apenas mais um dia em
seu mundo, e acho que foi.
Isso não estava no meu livro. Se alguém descobrisse, eu teria
sérios problemas. — Acho que ele estava trabalhando para alguém —
deixei escapar, tentando me distrair do choro e cair em seus braços,
onde eu sabia que era seguro.
O olhar de Roman se estreitou. — Ele não estava trabalhando para
mim, porra.
Eu achava que não, embora não fosse estúpida o suficiente para
pensar que ele não tinha algum tipo de infiltração no departamento de
polícia. Todos os departamentos de polícia eram corruptos de alguma
forma.
— Venha — respondeu ele, puxando minha mão. — Precisamos
sair daqui.
Vendo que não tinha outro jeito, segui Roman até o carro e me
acomodei no banco de trás com ele, o carro se movendo no momento em
que o fiz. Isso era diferente de nós no México ou mesmo na ilha. Não que
eu não me sentisse segura com Roman. Não importa o que ele tenha feito
aos meus pais, eu sabia que ele não iria me machucar. Ele teve todas as
oportunidades para fazer isso nos tempos em que estivemos juntos.
Mas eu não sabia como lidar com isso.
O carro acabou na estrada, e eu me mantive pressionada contra a
porta por precaução. — Diga-me o que aconteceu — Roman disse
baixinho, sua perna balançando nervosamente.
Eu nunca tinha visto Roman assim antes. — O que aconteceu? —
Eu perguntei em vez disso, curiosa.
— Nada — ele soltou. Ele estava vestido com calças cargo e uma
camisa justa que se estendia deliciosamente em seu peito. Se fosse outra
hora, como uma semana atrás, eu teria começado a arrancar aquela
camisa dele e cobiçar seu peito nu, aquelas tatuagens deixando-o ainda
mais lindo.
Mas algo o incomodava e, enquanto meus olhos percorriam seu
peito, notei um corte profundo em seu antebraço, manchado de sangue.
— Você está sangrando.
Ele olhou para baixo. — Sim, eu pensei que tinha parado.
Nada mais. Apertei meus lábios e mantive minhas opiniões para
mim mesma por enquanto. Quando chegássemos ao nosso destino, ele
me contaria o que aconteceu.
O carro saiu da rodovia e seguiu em direção a uma faixa de casas
de praia caras, longe das armadilhas para turistas. Aqui as casas eram
aos milhões, com entradas privadas e fechadas e vistas deslumbrantes
do Oceano Pacífico.
Em suma, muito fora da minha faixa de preço, mas aparentemente
não fora da de Roman.
Estacionamos em uma daquelas entradas fechadas e Roman abriu
a porta, saindo sem dizer mais nada. Eu segui o exemplo, a brisa do mar
provocando meus cabelos enquanto subíamos os degraus e entramos
em uma casa de praia muito moderna.
A entrada era linda, e enquanto caminhávamos para dentro da
casa, eu engasguei ao ver as janelas do chão ao teto que davam uma vista
incrível da praia e do oceano. — Esta é a minha casa — explicou ele,
acendendo a luz da cozinha. — Poucas pessoas sabem que eu a possuo.
— É adorável — eu admiti, caminhando para me juntar a ele na
pia. Na luz fraca, pude ver o corte desagradável em seu braço, mas
também o que parecia ser uma queimadura de bala em seu bíceps. —
Meu Deus, você estava em um tiroteio?
— Algo assim — ele disse enquanto colocava uma toalha de
cozinha na pia e abria a água. — Tem certeza de que não está ferida?
— Eu não estou — eu reiterei, pegando a toalha antes que ele
pudesse. — Agora deixe-me ver suas feridas.
Roman desligou a água. — Não preciso que você cuide de mim,
Ilsa.
Sua voz era áspera e meu coração se apertou. Eu quase teria
pensado que ele estava tão magoado quanto eu. — Por favor, Roman.
Deixe-me cuidar do corte.
Roman exalou e se virou para mim, seus olhos cautelosos. Estendi
a toalha e ele estendeu o braço, deixando-me ver o corte. Com cuidado,
enrolei a toalha em volta dele, ouvindo-o sibilar em resposta. — Parece
que pode precisar de pontos — eu disse suavemente, amarrando as
pontas por enquanto.
— Vou cuidar disso mais tarde — disse ele, observando cada
movimento meu. — O que aconteceu, Ilsa?
Eu não queria reviver isso, mas eu fiz, contando a Roman com a
respiração suspensa o que tinha acontecido. — Ele não disse quem me
queria — eu terminei, caindo contra o balcão. — Mas estava claro que
ele estava trabalhando com alguém.
Roman passou a mão pelo cabelo. — Acho que posso dar um bom
palpite. Há apenas tantos outros jogadores importantes na cidade. Seu
chefe teria ido atrás de muito dinheiro, não das gangues.
Krasnaya Bratva. Esse é o inimigo mortal de Roman com base nas
informações que eu sabia sobre a estrutura do crime organizado em LA.
Malcolm queria que eu me juntasse ao inimigo de Roman.
— Quem diabos sabe o que eles disseram a ele — ele continuou,
puxando dois copos do armário. — Você fez a coisa certa, matando-o.
Oh, não havia dúvida em minha mente de que LA era um lugar
melhor sem um canalha como Malcolm dando as ordens. Eu só queria
não ter colocado minha vida e minha carreira em risco para fazer isso.
Roman pescou uma garrafa de uísque em seguida e serviu um
copo para cada um, entregando-me um. — Aqui — disse ele, nossos
dedos roçando quando eu peguei. — Para os seus nervos.
— E para que serve o seu? — Eu perguntei, segurando o copo em
meus lábios. — Dor?
Seus lábios se curvaram em um sorriso, e eu senti meu corpo
corar com a visão. — Ou para passar a noite.
Bebi rapidamente, sentindo a queimadura e terminando o copo
antes de fazer outra coisa. — E agora?
Ele fez o mesmo, colocando o copo vazio no balcão. — Não sei.
Pelo menos ele foi honesto. Eu também não sabia o que fazer, mas
também não ia ser nada bom. Como minha vida deu uma guinada assim?
Se eu nunca tivesse cruzado com Roman Marchetti, eu poderia ter uma
existência um tanto normal.
Ou talvez, se meus pais não estivessem mortos, eu ainda teria uma
família feliz. — Por que você matou meus pais? — Eu perguntei
suavemente.
Roman se virou, colocando nossos copos na pia. — Aqueles não
eram seus pais, Ilsa.
Uma risada abafada me escapou. — O que? Você acha que eu não
sei quem eram meus pais?
— Você não entende — disse ele, balançando a cabeça. — Eles
eram assassinos contratados por Stanislav Orlov.
Por um momento eu o encarei, incapaz de acreditar no que ele
estava dizendo. As mesmas pessoas que me deram uma casa, me
levaram para o meu primeiro dia de aula e estavam no conselho do PTA
eram assassinos? Eu não acreditei.
Eu não podia acreditar. Eu tinha boas lembranças deles, de suas
risadas, de seus olhares silenciosos de amor quando pensavam que eu
não estava olhando. Lembrei-me de minha mãe dançando na cozinha,
tentando provocar meu pai até que ele se juntasse a ela e mostrasse
como se fazia.
Lembrei-me das panquecas de sábado de manhã antes de
carregarmos tudo e irmos ao mercado dos fazendeiros, onde meu pai
comprava flores para minha mãe, e comíamos nos food trucks que
ladeavam a rua.
Essas eram todas ótimas lembranças, não do tipo que um par de
assassinos faria com alguém que não era filho deles. — Você está errado
— eu digo, me afastando. — Eles eram meus pais.
— Talvez eles estivessem agindo como seus pais — afirmou
Roman. — Mas eles eram assassinos, e alguns dos melhores. Eles
ficaram muito envolvidos no papel, e foi isso que os matou.
Agarrei o balcão para me apoiar, meus joelhos fraquejaram. Ele
estava falando sobre eles como se não fossem toda a minha vida e isso
doía. Ele estivera lá em seus últimos momentos, lembrando-se da
expressão em seus rostos antes de matá-los com um tiro.
Eles clamaram por mim? Eles imploraram por suas vidas?
— Eu tenho que voltar — ele estava dizendo, passando por mim.
— Deixei meu irmão no comando e ele foi baleado.
— Espere — eu disse, agarrando seu braço ileso para detê-lo. —
Seu irmão. Ele estava lá naquela noite, não estava?
Senti seus músculos ficarem tensos sob meu toque. — O Franco
estava lá, sim.
Oh Deus. A trama só engrossou ainda mais.
Roman olhou para mim e vi o conflito em seus olhos, como se ele
não soubesse o que me dizer. Caramba, eu não sabia nem como
processar essa nova informação. Primeiro ele estava me dizendo que
meus pais eram como ele, mas mais perigosos e provavelmente por isso
foram mortos, e agora seu irmão estava envolvido. — Temos que ir
buscar meu irmão — ele finalmente disse, com resignação em sua voz.
— Então vamos descobrir o resto.
Tirei minha mão de seu braço. — Eu não vou salvar seu irmão —
eu disse firmemente. — Ele matou meus pais.
— Eu também estava lá, Ilsa — Roman respondeu, seu olhar
endurecendo. — No entanto, aqui está você. Você me ligou, não o
contrário. Não vou deixar você em lugar nenhum até que possamos
descobrir em que merda você está e quão profundo.
Ele estava certo sobre uma coisa. Liguei para ele porque não havia
mais ninguém para quem ligar. — Não vou salvar seu irmão — repeti,
cruzando os braços sobre o peito. Ele não merecia. Roman também não
merecia, mas havia mais coisas entre nós que começaram muito antes
de eu descobrir a verdade.
Eu não poderia simplesmente desligar isso.
Mas eu não tinha direitos sobre seu irmão e não me importava se
ele vivia ou morria neste momento.
Roman me olhou. — Você não vai ter escolha, Ilsa — ele suspirou.
— Temos que trabalhar juntos nisso. Se você acha que seu chefe estava
envolvido com outra pessoa, sou o único que pode protegê-la deles. —
Ele se inclinou para frente até que eu pudesse ver as belas manchas em
seus olhos. — E nenhuma quantidade de poder de fogo que você possa
encontrar irá salvá-la deles. Isso não é uma porra de batida policial. Esta
é a guerra da Máfia, e as guerras da Máfia não têm sobreviventes.
Eu não sabia se ele realmente acreditava nisso ou não, mas eu
odiava que ele estivesse certo. Eu só sabia o que me contaram ou o que
eu li. Eu não sabia muito sobre as guerras da máfia, apenas que pessoas
inocentes podiam ser mortas e, como policial, era meu dever protegê-
las.
E ficar de olho nos assassinos dos meus pais. Eu não ia deixar
Roman fora de vista novamente. Ainda havia justiça que precisava ser
tratada e, apesar do que estava acontecendo entre nós, ou melhor, do
que havia acontecido entre nós, isso não mudava o fato de que ele os
havia tirado de mim.
Eu queria que eles ficassem tranquilos também. Além disso, eu
devia isso a eles. Se ele estava certo sobre o que eles eram, então eles me
deram uma vida que claramente não era deles. Eles arriscaram algo para
me ter, para tornar minhas memórias deles felizes e me proteger da
feiúra de seu mundo.
Eu devia a eles muito mais do que poderia dar, honestamente.
— Além disso, detetive Petrova — disse ele, com um sorriso de
escárnio cruzando seu rosto. — Fiz-lhe um favor esta noite. Você me
deve.
Talvez sim, mas ele me devia muito mais. — Tudo bem — eu
resmunguei, sabendo que provavelmente estava cometendo o maior
erro da minha vida. — Eu irei com você, mas não posso prometer que
vai acabar bem para você ou seu irmão.
Ele sorriu, embora seus olhos fossem duros, e se endireitou. —
Pelo menos estamos na mesma página, detetive — disse ele suavemente.
— Venha. Tenho coisas lá em cima para trocar e depois iremos.
— Acho que vou ficar aqui embaixo — respondi, olhando para a
escada. Eu sabia o que estava lá em cima. Os quartos ficavam lá em cima,
e se entrássemos em um quarto, quem sabe o que aconteceria.
— Oh, diabos não — Roman exclamou, pegando minha mão. Seu
toque era firme, mas gentil e, apesar da nossa conversa, eu ainda sentia
a vibração do meu pulso em sua proximidade. — Eu não vou deixar você
fora da minha vista. Você pode vir comigo, ou eu posso amarrar você em
alguma coisa aqui embaixo.
— Deus, você é irritante — eu murmurei, arrancando minha mão
da dele. — Tudo bem, mas seja rápido.
Roman moveu-se para o lado, acenando com a mão. — Depois de
você.
Eu passei por ele, indo para as escadas. Isso não era nada do que
eu esperava que acontecesse esta noite, nem esperava vê-lo logo após o
desgosto na ilha. Eu teria que fazer um trabalho melhor para me
fortalecer contra ele, contra seu toque, e me lembrar constantemente
que Roman era o inimigo, quer eu gostasse ou não.
Ele destruiu tudo o que tínhamos juntos ao matar meus pais, e eu
só queria que ele tivesse me contado antes para que eu ainda pudesse
ter meu coração intacto.
Porque agora, não estava. Ainda estava quebrada em mil pedaços,
e se alguma intervenção milagrosa me ajudasse nas próximas vinte e
quatro horas, ainda seria assim. Eu não poderia voltar no tempo, nem
Roman poderia voltar atrás no que ele tinha feito.
Se ele quisesse levá-lo de volta. Ele não tinha me dado nenhuma
razão para tê-los matado em primeiro lugar, a não ser que eles eram os
assassinos de seu rival.
Cerrando o maxilar, subi as escadas, bem ciente de que ele estava
me seguindo.
Eu estava apaixonada por um monstro, um monstro que me
destruiu antes que eu soubesse que ele existia.
CAPÍTULO DEZ
FRANCO

Cerrei os dentes quando o médico terminou de enfaixar a ferida,


desejando ter ido buscar os analgésicos quando ele os ofereceu. Meu
querido e velho pai me ensinou a suportar grandes quantidades de dor
em várias situações, inclusive atirando em mim uma vez para que eu
soubesse como era.
Uma bala no meu peito não deveria ter doído tanto, mas porra,
doeu como um filho da puta.
— Estou quase terminando — disse o médico, enrolando a
bandagem branca mais uma vez em volta do meu peito. — Você tem
sorte de não ser muito profundo.
Como um buraco de bala não era profundo estava além de mim,
mas algo sobre o ângulo da bala indo quase sob a minha pele e não no
meu peito aparentemente ajudou a me manter vivo. Sangrou como se eu
estivesse morrendo, mas o médico me garantiu que tive sorte.
Que seja. Eu tive sorte assim.
Ele prendeu a borda. — Você pode se deitar agora.
Eu fiz, principalmente porque estava me sentindo um pouco tonto
e observei enquanto ele juntava os restos do que usou para me
consertar. Ser uma família da Máfia tinha seus benefícios e este era um
deles. O médico nos encaminhou para um armazém no centro da cidade,
ao longo dos antigos trilhos de trem que costumavam transportar
mercadorias para a cidade principiante.
Era como um hospital, completo com mesa de cirurgia e
suprimentos para curar qualquer um, independentemente da situação.
O médico estava na folha de pagamento, então imaginei que o dinheiro
que pagamos a ele fosse para esse tipo de organização, mas me
perguntei quem mais ele havia trazido aqui.
— Tome isso se ficar muito ruim — afirmou, entregando-me uma
garrafa. — Mantenha-o seco e, se começar a escorrer cores, me ligue.
— Vai servir — eu disse, apertando a garrafa. — Obrigado.
Ele resmungou, pegando sua bolsa. — Fique aqui o tempo que
quiser. Você poderia usar o resto.
Não foi até que ele fechou a porta que eu deitei minha cabeça na
cama, olhando para as vigas expostas do teto acima da minha cabeça.
Foda-me; levar um tiro não foi nada divertido. Foi uma decisão em uma
fração de segundo, empurrando Roman para fora do caminho, mas
pensei que poderia desviar da bala também.
Acabou que agora eu sou um maldito santo, tendo salvado sua
vida mais uma vez.
Uma risada escapou de mim e puxou minha nova cicatriz,
fazendo-me estremecer e segurar a área. Toda a minha vida vivi na
sombra do meu irmão. Desde que éramos pequenos até agora, eu era
visto como o outro irmão, aquele que não estava em forma para ser Don.
Meu pai riu no dia em que nomeou Roman, afirmando que ele era muito
mais forte do que eu, que podia tomar decisões dignas do nome
Marchetti.
Eu o odeio. Eu odiava meu pai pelo que ele tinha feito para nós, as
coisas que ele nos fez quando crianças, colocando-nos uns contra os
outros para que ele pudesse descobrir qual deles iria sobreviver. Nossa
infância tinha sido tudo menos uma infância, na verdade.
A porta se abriu e perdi o sorriso ao ver Stanislav Orlov passar
pela porta, seguido por dois de seus capos. — Tranquilo — disse ele,
erguendo as mãos. — Eu não estou aqui para matar você, embora haja
rumores, eu deveria atirar em você onde você está.
Olhei em volta, não encontrando nenhuma arma por perto.
Excelente. Eu estava desarmado com nosso inimigo mortal a apenas
alguns metros de distância. — O que você quer? — eu rosnei.
Ele abaixou as mãos, raiva em sua expressão. — Você matou
Dmitri.
Isso eu tive que sorrir. Tive um grande prazer em torturar o idiota,
fazendo-o implorar por sua vida até que finalmente o tirei de sua
miséria. Meu irmão não tinha visto a ironia de eu cuidar dele, apenas se
concentrou no fato de que eu havia desafiado sua ordem direta.
Toda vez que ele tocava no assunto, eu queria enfiar uma faca em
seu estômago, sentir seu sangue escorrendo em minhas mãos. — Eu fiz
— eu disse finalmente, imaginando que não havia razão para se
esconder atrás do fato. Afinal, se ele ia me matar esta noite, deveria
saber quem tirou a vida de seu filho.
Ele deu um passo à frente. — Embora isso me mereça torturá-lo
até que você implore por sua vida, tenho algo mais para discutir com
você. Algo que valerá o seu tempo.
Eu arqueei uma sobrancelha. — E o que você poderia me dizer
que me impediria de pular dessa porra de cama e lutar com você?
Stanislav riu, olhando para os dois guardas que haviam ido com
ele. — Esses dois são o motivo pelo qual você nem levanta um dedo
contra mim. Eu darei a ordem, e você estará morto antes que possa
respirar novamente.
— Isso deveria me assustar?
— Eu diria que sim — continuou ele. — Mas você é filho de seu
pai. Nada te assusta, não é, Franco, exceto talvez não saber o que fazer a
seguir.
— Vá direto ao ponto, Stanislav — eu rosnei, cansado de ouvi-lo
falar. Na verdade, eu estava com uma maldita dor de cabeça chegando e
queria sair dessa cama, mas não iria até que ele fosse embora.
Se ele fosse embora.
Ele juntou as mãos diante dele. — Você sabe que sempre gostei
de você, Franco. Achei que seu pai o teria escolhido para ser o Don e,
quando ele não o fez, fiquei surpreso.
— Por que? — Eu perguntei, sabendo que ele estava apenas
tentando me bajular por alguma coisa. Stanislav estava empenhado em
parecer bom e gostava de fazer os outros pensarem que estavam no
mesmo campo de jogo antes de destruí-los. Eu conhecia muito bem os
jogos que ele gostava de jogar.
— Você é implacável — disse ele com um encolher de ombros. —
Eu pensei que você era mais parecido com seu velho do que ele pensava.
Por que ele escolheu seu irmão idiota, acho que nunca saberemos, mas
a direção da família Marchetti? Não é mais, bem, como você diria, o auge
do medo.
Eu dei uma risada aguda. — Você está delirando.
Stanislav arqueou uma sobrancelha. — Estou, Franco? — Ele
bateu os dedos no queixo. — Você sabe por que está com um buraco de
bala no peito esta noite? Você descobriu por que Guzman se voltou
contra você e seu irmão?
Eu não tinha, realmente. Roman havia me dito que havia dado a
Guzman o que ele queria, então pensei que tudo estava indo bem em
termos de nosso acordo. Agora o líder do cartel sofreria pelo que havia
feito esta noite, a traição que não esqueceríamos tão cedo.
— Vejo que não — Stanislav continuou. — Bem, deixe-me contar
um segredinho. Os ouvidos estão escutando, Franco. O cartel não acha
que seu irmão, e bem, você, pode cumprir sua parte no trato e dar a eles
o suprimento de mulheres que estão procurando. — Ele bateu palmas.
— Não faz sentido agora, Franco? Guzman sabia desde o início e queria
eliminar vocês dois.
— Bem, ele falhou — eu mordi. — E ele vai pagar por isso.
— Oh, tenho certeza que ele vai — afirmou Stanislav. — Mas não
é para isso que estou aqui. Estou aqui para fazer de você Don Marchetti,
se quiser o cargo.
Don? Claro, eu queria o cargo. Eu queria isso por toda a porra da
minha vida. Desde o momento em que meu pai anunciou que Roman
tomaria seu lugar quando ele morresse até quando ele realmente
morreu, guardei rancor. Não era segredo que eu queria contestar a
posição de Roman, mas sabia que ninguém ficaria do meu lado, não
contra a vontade de meu pai.
Então, eu estava preso, mais uma vez nas sombras de Roman e
jogando de acordo com suas regras. Matar Dmitri foi o maior auge do
meu desafio contra ele, e eu fiquei com um olho roxo e mandíbula
dolorida por causa disso.
Ele não gostava de mim. Ele não apreciava até onde eu estava
disposto a ir por nossa família, por nosso futuro. Ele me fazia sentir fraco
e, aos olhos dos capos, não me respeitava. Eu não era alguém com
autoridade a menos que estivesse ao lado dele.
Só então alguém me ouviu, e eu odiei isso.
— Vejo que você tem interesse — observou Stanislav. — Bom. Eu
posso colocar você lá. Você será bom para a Máfia, Franco. Você é o que
eles precisam ver em um líder.
— E você está tentando encher minha cabeça com merda — eu
disse ao invés. — Não estou interessado.
— Você sabe que tudo que eu quero é paz? — ele respondeu,
estendendo as mãos, com as palmas para cima. — Eu não preciso dessa
guerra mais do que você. Não tenho planos de ter apenas uma Máfia em
LA. Isso não é um bom presságio para os negócios.
Eu ri, ignorando a dor em meu peito enquanto o fazia. — Você está
falando merda, Stanislav. Você sabe que quer estar no topo. — O Don da
Máfia não o fez? Estávamos constantemente lutando para comer o
território um do outro e obter os melhores contratos e rotas comerciais.
Ele não podia me dizer que esse não era seu plano.
— Eu não disse nada sobre estar por cima, Franco — ele
repreendeu. — Eu disse que não queria ser a única máfia. Você sabe o
que aconteceria se Marchetti falisse? Eu seria invadido por aquelas
gangues de idiotas que acham que sabem o que é bom para os negócios.
Ou o cartel que constantemente toma território de nós. Não, LA precisa
de uma mão firme, e nós somos os únicos que podemos dar a eles.
Eu parei. Talvez ele não estivesse errado sobre isso. O surgimento
de gangues e a infiltração do cartel representaram preocupações
comerciais para nós no futuro. Agora havia novos negócios acontecendo
com armas, mulheres e drogas. Alguns de nossos parceiros de negócios,
mesmo os mais leais, começaram a questionar o que poderíamos fazer
para adoçar o cartel e as gangues. Era um ciclo interminável de beijos de
bunda, e eu odiava isso.
Eu queria que a Máfia continuasse crescendo na Costa Oeste. Eu
queria que Marchetti estivesse entre os grandes, para que as pessoas
olhassem além da Costa Leste e do que conseguiram manter e vissem
que éramos superiores. Eu queria esmagar as gangues, fazer com que
fossem subservientes a mim e manter o cartel onde pertenciam.
Esse era o meu plano.
— Eu posso te dar o que você quer — Stanislav disse suavemente,
com um sorriso presunçoso no rosto. Ele sabia o que eu estava
pensando, o que eu estava processando na minha cabeça.
Provavelmente tinha sido o mesmo para ele uma vez.
— Você pode me fazer Don? — Eu perguntei.
Seu sorriso se alargou. — É claro. Posso fazer muitas coisas
acontecerem para você, Franco. Eu só preciso de uma coisa de você.
— O que seria?
— Acabe com esta guerra — ele respondeu calmamente. — Faça-
nos iguais novamente e eu farei de você Don. É simples assim.
Olhei para o russo, pensando em todas as maneiras pelas quais
ele poderia me ferrar. Ele poderia me matar, e provavelmente deveria
tê-lo feito no momento em que entrasse pela porta. Mas ele não tinha, e
isso me fez pensar por quê. Ele não precisava de mim além de manter
seu traseiro vivo se a hierarquia começasse a mudar. Ele estava tão
preocupado em ser expulso de LA? Antigamente era com a polícia que
tínhamos que nos preocupar, mas agora eles nem eram uma
preocupação.
Bem, exceto talvez aquela que meu irmão estava fodendo. Ela
poderia se tornar uma complicação se decidisse se vingar da morte de
seus pais.
Além disso, Roman se distraiu com ela. Eu tinha visto na noite em
que ele voltou. Ela tinha feito algo para ele, e agora a Máfia não era sua
primeira prioridade quando deveria ser a única. — Você vai matá-lo? —
Eu perguntei, o pensamento não caindo bem comigo. Ele é de minha
carne e sangue, e não importa quantas vezes cagamos um no outro,
ainda éramos irmãos.
Quer dizer, eu tinha levado uma porra de um tiro por ele esta
noite, mesmo depois que ele me chutou o traseiro.
— Não há planos definitivos por enquanto — disse Stanislav
suavemente. — Faremos isso quando necessário, mas agora preciso
saber se você está disposto a concordar com isso, Franco.
— E se eu não fizer isso? — Eu perguntei levemente, olhando para
os guardas. — Você vai mandar me matar?
— Mandar te matar? — ele riu. — Não, eu mesmo vou te matar.
— Pelo menos você é honesto — eu murmurei, apertando o frasco
de analgésicos em minha mão com força. Ele estava me oferecendo o que
eu queria, o que eu ansiara a maior parte da minha vida.
Mas eu não podia esquecer que ele também é o inimigo, aquele
que estávamos a caminho para matar esta noite. Ele poderia me trair
como Guzman havia feito e me deixar segurando o saco.
Se eu fosse fazer isso, seria um grande risco de qualquer maneira,
e potencialmente perderia meu irmão no processo.
Eu estava disposto a enfrentar Roman um dia, a observá-lo
enquanto ele se ajoelhava diante de Stanislav e tirava sua vida para me
colocar em seu lugar?
— É uma perda de tempo — afirmou Stanislav. — Qual é a sua
resposta, Franco?
— Eu farei isso — eu finalmente disse, apertando minha
mandíbula. — Eu darei a você o que você quer para que você possa me
dar o que eu quero.
Um sorriso se espalhou no rosto do homem mais velho. — Bom,
bom. Isso é bom. Você ficará muito feliz como o novo Don da Máfia
Marchetti. — Ele puxou um telefone celular, jogando-o na minha
direção. — Agora, há apenas uma última ordem de negócios.
Eu peguei. — O que é isso?
— Você precisa ligar para o seu irmão — respondeu Stanislav. —
Eu vou te dizer exatamente o que dizer.
Olhei para o telefone, me sentindo um pouco enjoado. Se eu
quisesse ser Don, esta era a única maneira de fazê-lo. Stanislav estava
certo. Eu nasci para a posição, trazendo mais crueldade do que Roman
jamais poderia sonhar. Os Marchettis haviam amolecido e era hora de
começar a governar com mão forte.
Mas para que isso acontecesse, eu teria que trair minha própria
carne e sangue. Eu queria dizer que Roman faria o mesmo na minha
posição, mas algo me segurou.
Eu duvidava que ele iria, mesmo agora.
Porra, eu esperava não ter tomado a decisão errada ou viveria
para me arrepender.
CAPÍTULO ONZE

ILSA

TRINTA MINUTOS ANTES

— Certo.
Virei à direita no topo da escada e entrei em um quarto enorme,
com a praia e o mar logo abaixo. Embora fosse noite lá fora, a lua refletia
na superfície escura do oceano, as ondas batendo suavemente à
distância. Eu normalmente adorava a praia, mas não tinha muito tempo
para realmente aproveitá-la.
Fui até as janelas e espiei para fora, tentando acalmar meus
nervos. Não era tanto que eu estava perto de Roman novamente. Não,
parte disso foi por causa do que aconteceu esta noite. Eu tinha matado
um homem, um homem que tinha laços estreitos com grande parte da
atividade ilegal em LA. A morte dele pode trazer alguns problemas para
mim, e não apenas legais. Se Roman e seus homens se livrassem do
corpo, alguém notaria que Malcolm não vinha trabalhar. Haveria uma
investigação e, se alguém somasse dois mais dois, eu poderia ser
indiciada sem corpo.
Eu sabia que tinha feito errado. Eu sabia que nunca deveria ter
encontrado Malcolm esta noite, e a realidade era que eu havia me
defendido de um ataque.
O problema era que as únicas pessoas que sabiam disso eram eu,
um homem morto, e o mafioso ao meu lado que matou meus pais.
Tudo estava indo muito bem para mim.
Uma luz suave entrou pela janela, e me vi observando a silhueta
de Roman no reflexo enquanto ele tirava a camisa, dando-me uma visão
de suas costas largas. Ele havia deixado bem claro que não iria me contar
como se machucou esta noite e, embora eu não quisesse me importar,
ainda estava me importando.
Isso seria minha ruína. Eu não conseguia desligar como alguns
faziam, fingir que ainda não sentia nada por ele. Eu tinha uns muito
fortes nisso. Minha vida mudou irrevogavelmente porque eu o conheci,
e não tinha nada a ver com meus pais.
Roman havia despertado coisas em mim que eu não sabia que
existiam, sem mencionar os sentimentos que não iriam desaparecer em
um piscar de olhos.
Quando ele abaixou as calças sobre os quadris, segui a linha com
os olhos, um pequeno suspiro escapando de mim. Roman era lindo, e eu
conhecia cada plano, cada pedaço, cada curva de seu corpo. Eu sabia
como era para ele envolver aqueles braços maciços em volta de mim, ou
como seu peso era sobre mim sempre que ele me penetrava, seu pau me
enchendo até o âmago.
Eu sabia de tudo.
Ele se virou de repente e nossos olhos se encontraram no reflexo,
sua forma nua em plena exibição.
E eu quero dizer em plena exibição. Sua ereção era aparente,
mesmo no reflexo, e meus lábios se separaram. As palavras fortes, a
indiferença fria; nada disso poderia esconder o fato de que ele me
queria.
Estava bem claro onde eu estava.
Então fiquei com as pernas fracas, olhando para a pessoa real e
não para o reflexo. — O que?
— Você gosta do que vê?
A arrogância de suas palavras me trouxe de volta à realidade. —
Não é nada que eu não tenha visto antes.
Ele contornou a cama enorme, parando diante de mim. — E o que
você achou então, Ilsa?
Este era um jogo perigoso que estávamos jogando. Eu poderia
dizer pela queda em sua voz que ele estava procurando por algo, o que
eu não tinha certeza. Como ele poderia passar de chateado comigo para
me querer, eu não sabia.
Ou talvez eu saiba e foi isso que me assustou. — Achei você lindo
— admiti. — Você é lindo, Roman.
Seus olhos se arregalaram, claramente não esperando ouvir isso
de mim. — Você é forte — eu continuei, dando um passo depois dois em
direção a ele. — Convencido. Autoconfiante. Cruel. — A lista poderia
continuar indefinidamente, e eu sabia que estava acariciando seu ego
um pouco. — Mas você sabe qual é o seu defeito?
— Qual? — ele perguntou em voz baixa.
Parei a poucos centímetros dele. — Você não sabe esconder muito
bem sua necessidade.
Um estrondo baixo escapou dele. — Eu nunca poderia esconder
isso de você, Ilsa. — Ele estendeu a mão e agarrou minha mão, trazendo-
a para seu pau duro. — Nem eu quero.
Eu o senti estremecer quando o toquei, correndo meus dedos
cuidadosamente sobre sua suavidade aveludada com sua mão me
guiando. Ele era como aço, mais duro do que eu jamais lembrava dele, e
meu próprio corpo reagiu, uma inundação de umidade cobrindo minha
calcinha. Deus, seria fácil ceder, empurrá-lo para baixo na cama e
assumir o controle novamente.
Eu queria esse controle. Eu o queria dentro de mim, me fazendo
esquecer tudo o que havia de errado entre nós e me lembrar da única
coisa que era certa.
Infelizmente, a única coisa era de natureza puramente física e isso
não era suficiente. Não estava perto o suficiente.
— O que você quer? — ele perguntou levemente, sua mão
trazendo a minha para acariciá-lo. — O que você quer de mim?
Oh, eu queria todo tipo de coisas dele, nenhuma delas boa. Eu
queria que ele se desculpasse por matar meus pais. Eu queria que ele me
dissesse que estava apaixonado por mim de verdade, que não era apenas
uma palavra que ele jogou por aí.
Eu queria que ele me desse seu irmão, para que eu pudesse
entregar alguém e encerrar este capítulo da minha vida.
Eu queria que ele fosse alguém completamente diferente. Isso era
o que mais doía, saber que se eu quisesse Roman em minha vida, ele
seria o homem antes de mim. Não havia outro.
Então dei um passo para trás, com o coração partido. — Eu pensei
que você tinha coisas para fazer.
Sua expressão se fechou e ele deixou cair a mão, afastando-se de
mim sem dizer uma palavra. Respirei fundo quando ele abriu o guarda-
roupa, jogando algumas roupas na cama. Seus movimentos eram
raivosos, e era a mesma raiva que eu sentia dentro de mim neste
momento. Eu não poderia tê-lo, e ele não poderia me ter. Estávamos
além do ponto de poder fazer isso. Eu tinha um grande problema em
seguir em frente do que havia planejado fazer anos atrás, e ele não podia
mudar quem ele era.
Estava fadado ao fracasso.
Roman se vestiu rapidamente, esvaziando os bolsos e pegando
seu celular antes mesmo de me chamar novamente. — Temos de ir.
Eu limpei minha garganta. — É claro.
Ele me deu um olhar longo e ardente, e eu queria me jogar nele,
mas não o fiz. Não resolveria nada para mim e para ele fazer qualquer
coisa hoje à noite. Não mudaria nenhum resultado ou tornaria as coisas
melhores.
Caramba, isso só iria complicar as coisas, e quanto mais cedo eu
pudesse ficar longe dele, melhor.
Sem dizer uma palavra, Roman se virou e saiu do quarto,
deixando-me atrás dele. Descemos as escadas e fomos até a porta da
frente, cada degrau difícil de passar. — Onde estamos indo? — Eu
perguntei uma vez que estávamos no carro, Roman atrás do volante
desta vez.
— Existe uma casa segura — ele respondeu, me surpreendendo.
— Uma espécie de hospital. Franco está lá.
Franco. Seu irmão. O outro homem que estivera lá naquela noite.
Eu não tinha certeza de quem havia puxado os gatilhos que realmente
mataram meus pais. As armas nunca foram recuperadas e tudo que eu
tinha eram dois fragmentos de balas de seus corpos para comparar um
dia.
Eu duvidava que algum dos irmãos ainda tivesse a arma.
Abri a boca para falar, mas Roman estava pegando o celular. — O
que?
Houve conversa do outro lado, mas não foi difícil ver que as
palavras traduzidas não eram o que Roman queria ouvir. — Que porra é
essa? Como isso aconteceu? O que quer dizer com você não sabe? Tudo
bem, tudo bem. Diga-me o que ele quer.
Sua voz ficou cada vez mais sombria. — Estou indo te pegar. Você
diz a esse filho da puta que ele estragou tudo desta vez. Ninguém pega
um Marchetti e vive para ver outro dia. — Ele jogou o telefone no porta-
copos do console, batendo no volante com a mão. — Porra!
— O que há de errado? — Eu perguntei depois de um momento,
incapaz de me ajudar.
— Stanislav está com meu irmão — ele disse categoricamente,
suas mãos agarrando o volante até que seus dedos estivessem brancos.
— Vou atrás dele.
Oh não. — Eu não me inscrevi para salvar seu irmão — eu
respondi com veemência. — Eu também o quero morto.
— Você se ofereceu para me ajudar — Roman argumentou
enquanto fazia a curva rapidamente, o carro inclinando para o lado
antes de acelerar pela estrada. — Você não pode desistir agora.
— Eu quero matar seu irmão, Roman — eu respondi. — Eu não
acho que seja apropriado para mim estar em sua missão de resgate. —
Embora eu pudesse lutar com o que fazer com Roman, não tive
escrúpulos em matar seu irmão.
— Você quer matar meu irmão para quê, Ilsa? — ele perguntou
em um tom letal. — Porque ele participou da morte de seus pais? Eles
se aprofundaram demais em seu disfarce e pagaram o preço por isso.
Você nunca deveria ter nascido.
Oh, isso doeu terrivelmente. — Eu tive a melhor vida que eu
poderia ter pedido! — Eu gritei enquanto ele acelerava pela cidade. —
Como você ousa insinuar que não era algo real! — Ele havia me dito uma
vez que me amava, mas eu estava tendo dificuldade em encontrar essa
emoção dentro dele agora. Ele tinha acabado de me dizer que eu não
deveria ter nascido.
A mandíbula de Roman flexionou, mas ele manteve os olhos na
estrada. — Estou dizendo a verdade — disse ele finalmente. — Seus pais
sabiam dos riscos. Eles simplesmente escolheram aceitar.
— Nem todos os riscos são ruins — respondi com raiva. — Alguns
valem a pena. — Eu havia corrido um grande risco ao me apaixonar por
ele e, embora meu resultado agora fosse horrível, não me arrependia do
que havíamos feito.
Roman parou o carro, virando-se para mim. — Você não pode
matar meu irmão, Ilsa.
Eu o encarei de frente. Ele ia ver cada emoção em meu rosto, em
meus olhos sobre isso. Isso era mais do que tínhamos lidado juntos. Isso
era sobre eu ter tudo na palma da minha mão agora, todas as formas de
vingar a morte dos meus pais e começar de novo. — Não consigo parar,
Roman. Eu te disse uma vez antes. Eu quero vingança, e se você não
consegue ver isso, então talvez devesse me matar agora mesmo.
Aparentemente, eu estaria melhor se você tivesse terminado o trabalho
há vinte anos.
Ele se encolheu. — E se você não pode fazer isso — eu continuei,
minha voz embargada. — Então você sabe o que tem que acontecer a
seguir.
Roman exalou pesadamente. — Eu não posso te matar — ele
murmurou, seus olhos procurando os meus. As emoções em seu rosto
eram tão reais quanto eu tinha visto, roubando minha respiração.
Quando ele olhava para mim daquele jeito, era quase como se ele se
importasse comigo, como se ele não quisesse que esse trem batesse na
parede iminente que estava esperando por ele.
— Isso é muito ruim — eu forcei, desejando poder dizer algo mais.
Eu não queria falar minhas próximas palavras, mas elas eram tudo que
eu tinha. Eles eram a verdade, não importa o que ele pensasse ou o que
eu quisesse. — Porquê da próxima vez que eu vir seu irmão, vou matá-
lo.
Roman se virou, puxando o carro de volta para a estrada, e
ficamos em silêncio, eu mexendo na manga da minha camisa e tentando
não chorar. Eu fiz muito isso esses dias, a dor no meu peito quase
insuportável. Isso realmente foi péssimo. Eu não poderia ter uma vida
normal como todo mundo, encontrar um cara normal para me
apaixonar, para passar o resto da minha vida. Eu não poderia ter meus
pais de volta para me levar até o altar, para mimar meus eventuais filhos
e passar as férias com eles.
Eu não poderia nem estar feliz agora. Eu estava apaixonada por
alguém que não poderia ter, alguém que eventualmente eu teria que
tomar uma decisão sobre o que fazer. Eu teria que decidir se queria que
Roman pagasse pelo que tinha feito aos meus pais.
Se ele achava que não poderia me matar, então não tinha ideia de
como seria incrivelmente difícil para mim matá-lo. Seu irmão - eu não
me importava com Franco, mas Roman, eu não podia apontar minha
arma para ele agora e puxar o gatilho sem me despedaçar como
resultado. Ele é uma parte de mim, uma que não largava meu frágil
coração.
Era por isso que eu não podia apontar uma arma para ele agora ou
a qualquer momento, na verdade. E se ele ficar entre mim e seu irmão?
O que eu faria então?
Eu não tinha certeza, mas as respostas provavelmente eram as
mesmas. Ele lutaria comigo com unhas e dentes sobre matar Franco, e
eu não pararia até que Franco estivesse morto.
Estávamos em um impasse, que iria doer no final de qualquer
maneira. Roman perderia um irmão ou eu o perderia, isto é, se eu o
tivesse agora.
Olhei pela janela para a cidade que passava voando, desejando
poder ser diferente, que ele pudesse ser diferente. Não havia nada que
eu diria que mudaria alguma coisa, e Roman poderia me dizer o quanto
quisesse que meus pais não eram meus pais, mas eles eram.
Eles eram para mim.
Eu sou uma pessoa diferente agora do que a garota naquela ilha
com ele. Eu sou uma garota que teve todas as esperanças esmagadas,
todos os sonhos frustrados, e meu coração, bem, eu nem ia mencionar
isso de novo. Meu retorno a LA tinha sido sombrio, e agora eu estava de
volta no meio das coisas com o homem que deveria prender e colocar
atrás das grades.
Uma coisa é certa. Não importa o que ele fizesse, não importa o
que acontecesse, eu não seria submissa a ele novamente. Aquele barco
partiu e eu aprendi uma lição muito valiosa sobre o que se pode fazer
para quebrar uma pessoa. Do lado de fora, ele viu a mesma velha Ilsa,
aquela que ele havia moldado à sua vontade.
Por dentro, eu não sou mais aquela garota. Eu tenho que cuidar
de mim, seguir com meus planos, e isso não significava ceder a ele
novamente.
CAPÍTULO DOZE

ILSA

Observei Roman abrir e fechar a mão do volante, tentando não


pensar em quão rápido ele estava dirigindo agora. Desde que ele tinha
recebido aquela ligação sobre seu irmão, ele estava ultrapassando os
limites, e foi pura sorte que não tivéssemos sido parados.
Eu não sabia para onde estávamos indo, mas aposto que não era
bom.
Mantive minha respiração regular, sabendo que tinha que manter
a calma. Algo se quebrou entre nós esta noite, algo que doeu demais da
minha parte, pelo menos. Se Roman se importasse comigo um décimo
do jeito que ele se importava com seu irmão, então eu saberia que ele
realmente me amava.
Em vez disso, estávamos a caminho de salvar o outro atirador que
havia tirado tudo de mim. Eu nem queria pensar sobre ele ser irmão de
Roman. Antes que Roman revelasse a verdade sobre quem ele era, eu
dei a ele meu corpo e meu coração também.
Agora não havia mais nada para ele levar. Ele havia pegado tudo,
e agora eu estava em pedaços.
Uma coisa era certa; Eu não menti sobre matar Franco se tivesse
a chance. Roman - eu descobri a verdade sobre ele tarde demais, e agora,
não importa o quanto eu quisesse colocar uma bala nele, eu não seria
capaz.
Eu, bem, eu odiava me importar tanto com ele, mas não era algo
que eu pudesse simplesmente desligar.
Franco, no entanto, eu não tinha nenhum vínculo. Mesmo ele
sendo irmão de Roman não iria me impedir de me vingar da morte de
meus pais. Eu havia sofrido por muito tempo e eles mereciam
retribuição.
Roman estacionou o carro em um terreno de cascalho cheio de
mato e desligou o motor. — Fique aqui — disse ele, puxando uma arma.
Como diabos eu faria. — Eu vou com você.
Ele não respondeu e saiu do carro, deixando-me segui-lo com
minha própria arma em punho, protegendo suas costas.
Havia dois homens mortos na entrada, ambos ainda segurando os
dedos nos gatilhos das AKs. — Merda — Roman murmurou enquanto se
ajoelhava ao lado de um, verificando o pulso. Não foi difícil ver que eles
estavam mortos, mas acho que ele precisava ter certeza, então não disse
nada sobre isso. — Seus homens?
Ele assentiu severamente, desviando os olhos dos meus. — Fique
atrás de mim, Ilsa.
Eu queria argumentar que eu sou a policial aqui, mas havia algo
em sua voz que me impediu de dizer qualquer outra coisa e eu fiz o que
ele pediu, movendo-me em conjunto com Roman enquanto nos
movemos para a sala maior. Ficou claro imediatamente que eu estava
olhando para um hospital improvisado, completo com uma cama de
hospital e luzes de sala de cirurgia que podiam ser movidas pela sala. Eu
também espiei um alto armário de vidro cheio de suprimentos e água
ensanguentada na bacia ao lado da cama, indicando que quem quer que
estivesse aqui havia se ferido.
— Porra.
Meus olhos se voltaram para Roman, encontrando-o olhando
para as bandagens encharcadas de sangue na bandeja de aço ao lado da
cama. — Franco esteve aqui — ele murmurou, baixando a arma. — E
aquele filho da puta levou meu irmão, meu irmão ferido.
Tentei angariar simpatia, mas estava muito morta por dentro.
Tudo o que aprendi, tudo o que passei emocionalmente ao longo dos
anos, estava vindo à tona e, honestamente, eu sou péssima em lidar com
a dor.
Roman se virou para mim, seu rosto duro como pedra. Achei que
nunca o tinha visto tão zangado antes e me perguntei se talvez estivesse
olhando para o verdadeiro Don Marchetti diante de mim. — Havia um
ponto de encontro — ele rosnou. — Depois do ataque. Eu tenho que ir
lá.
— Então continue — eu disse. Foi um erro ligar para ele, mas ele
foi o único em quem consegui pensar na hora.
Ele arqueou uma sobrancelha. — Você vem comigo, Ilsa. Eu não
vou deixar você fora da minha vista agora.
Roman não disse isso, mas eu sabia por quê. Ele estava
preocupado que eu fosse atrás de seu irmão, e bem, doeu. Quero dizer,
ele não estava errado em suas suspeitas, mas eu queria que ele olhasse
para mim como a pessoa que ele havia quebrado antes de me conhecer,
a pessoa que ele deveria amar.
Aquela que ele disse que amava.
— Eu não tenho que fazer o que você diz — eu mordi, deixando a
mágoa transparecer em minhas palavras. — Você não é meu dono,
Roman.
Ele soltou uma risada torturada. — Foda-me. Não preciso disso
agora.
Sim, eu também não precisava disso há tantos anos.
— Ouça — Roman disse depois de um momento. — Aonde você
vai, Ilsa? Você matou seu superior. Será apenas uma questão de tempo
até que eles juntem as peças. — Seus lábios se curvaram em um sorriso
de escárnio. — Além disso, você sabe que a porra do seu departamento
está infiltrado. Não há ninguém a quem recorrer, exceto a mim.
Eu odiava quando ele estava certo. — Se você acha que vou jogar
bem — eu rosnei. — Então você entendeu isso completamente errado.
Roman olhou para mim. — Eu não acho que você vai. Por que
diabos você acha que eu... inferno, isso não importa, não é?
No final, não, realmente não, não agora. Havia muitas coisas para
processar, muitos sentimentos desenterrados dos quais não podíamos
nos livrar.
— Qual é a sua decisão? — Roman grunhiu, sua expressão dura.
Imaginei que havia uma grande preocupação de que ele estivesse se
escondendo para o irmão e, honestamente, não podia culpá-lo.
Não sobre isso.
— Eu sinto muito.
Roman arqueou uma sobrancelha. — O que?
— Sinto muito, ok? — Eu forcei para fora, meu coração doendo.
— Sinto muito que você esteja sofrendo. Isso é tudo.
Sua mandíbula flexionou. — Vou derrubar Stanislav — ele rosnou.
— Vou deixá-lo contra-atacar. Talvez isso amenize o golpe do que você
fez.
O que eu fiz. O que fiz foi me defender, como qualquer outra
pessoa sã, mas Roman estava certo. Eu ia ter um inferno de tempo para
provar isso.
— Se o derrubarmos — continuou Roman. — Então você pode
encontrar uma conexão entre ele e seu superior. Eu sei que você pode
encontrar uma conexão. Então você pode limpar seu nome.
Eu só queria minha vida de volta. — Tudo bem, eu vou te ajudar,
mas isso é tudo que posso te prometer.
Roman se virou. — Eu tenho que fazer algumas ligações. Preciso
ter certeza de que Guzman não vai nos matar no processo.
Huh. Eu me perguntei se Guzman era quem os havia atacado
antes. O único Guzman de que me lembro era um bastardo que gostava
de trocar mulheres por dinheiro. Todos os detetives sabiam quem ele
era, e ele era como o peixe grande que ninguém conseguia pegar. Atraí-
lo iria elevar uma carreira, embora agora, a companhia que eu mantive
faria o mesmo.
Desde que dormi com Roman, a única vez que esse pensamento
passou pela minha cabeça foi depois que descobri que ele foi o
responsável pela morte de meus pais.
Roman saiu da sala e eu continuei cruzando os braços sobre o
peito nervosamente. Eu estava envolvida quando dormi com Roman,
mas isso? Isso me colocou do outro lado da lei, o lado que faria as
pessoas questionarem minhas razões para fazer as coisas.
E se descobrissem que dormi com o inimigo, bem, não queria
pensar nisso.
Roman só se foi por alguns minutos, encostado na porta quando
voltou e mantendo distância entre nós. — Haverá homens vindo —
disse ele categoricamente. — Os homens de Guzman. Eles vão nos
escoltar.
— Você confia nele? — Eu perguntei.
— Foda-se, não — disse Roman. — Ele é a porra da razão pela
qual meu irmão foi baleado e nós quase morremos. Ele vai pagar pelo
que fez.
Eu respirei fundo. Íamos realmente entrar em território inimigo.
O que Roman estava pensando?
As perguntas devem ter refletido em meu rosto, porque ele soltou
uma risada sombria. — Não se preocupe. Eu vou proteger você.
Bufando, eu desviei meu olhar dele. — Sim, mas quem vai te
proteger, Roman? Você não é invencível, não importa o que possa
pensar.
— Isso é um indício de carinho em sua voz, Ilsa?
Sua voz era dura, mas não detectei nenhuma zombaria em seu
tom, apenas resignação. Eu queria sentir por ele, jogar a ele um pouco
do carinho que eu havia expressado antes de saber que ele havia
arruinado minha vida. — Eu não quero entrar em um lugar onde vou
morrer imediatamente — eu respondi, recusando-me a encontrar seus
olhos. — Isso é tudo.
— Ele não vai me matar — Roman explicou. — Confie em mim,
Ilsa.
Outro bufo deslizou para fora da minha boca antes que eu
pudesse evitar. Confiar nele? Tudo o que ele fez foi mentir para mim,
fingir ser outra pessoa, uma pessoa por quem me apaixonei sem saber o
tempo todo que ele havia sido o assassino dos meus pais.
Como eu poderia confiar nele?
— Qual é o seu plano?
Houve um barulho e Roman colocou o dedo nos lábios,
gesticulando para que eu ficasse atrás do armário para me proteger. Eu
puxei minha arma e fiz o que ele pediu, meu coração martelando no meu
peito. Isso poderia ser os homens que estavam chegando ou alguém
farejando, talvez até uma armadilha para Roman.
Não havia como dizer quem estava lá fora, mas eu não iria cair
sem lutar de qualquer maneira.
— Roman Marchetti!
Roman abaixou a arma, colocando-a de volta no cós da calça e
saindo para a porta, certificando-se de manter as mãos levantadas. —
Estou aqui.
Eu não conseguia respirar. Roman estava se colocando diante de
alguém que só sabia seu nome? Ele poderia ser baleado onde estava!
— Venha para fora. A policial também.
Roman olhou para mim. — Guarde sua arma, Ilsa. Este é o nosso
passeio.
Eu não queria. Eu queria colocar uma bala na cabeça deles e ir
embora, esquecer que isso já aconteceu comigo.
— Ilsa.
— Tudo bem — murmurei, enfiando minha arma na cintura
também e seguindo-o pela porta, mantendo minhas mãos visíveis. Havia
pelo menos cinco homens na frente, todos armados até os dentes, e duas
caminhonetes esperando atrás deles. Um dos homens acenou com a
cabeça e fomos abordados no momento em que saímos por dois homens,
AKs jogados sobre os ombros.
— Suas armas — disse o mesmo homem que assentiu. — E facas
também, antes de levá-lo ao nosso líder.
Roman olhou para mim antes de começar a descarregar uma
grande quantidade de armas de seu corpo. Entreguei a faca e a arma. O
homem diante de mim olhou maliciosamente quando seus olhos
percorreram meu corpo e eu atirei-lhe o dedo, ganhando uma risada em
troca. — Bem-vindo à terra do ilegal, detetive — disse ele antes de
recuar.
Não gostei do fato de saberem quem eu sou e o que poderiam
fazer com essa informação, mas quando recebi um capuz, dei meu
próprio passo para trás. — Não.
Ele fez sinal para eu pegar. — É isso ou eu atiro onde você está,
porra.
— Coloque, Ilsa — disse Roman.
Relutantemente, fiz o que ele pediu, apenas porque queria minha
chance contra seu irmão, e meus sentidos foram imediatamente
embaralhados quando a escuridão caiu. Os sons eram abafados ao meu
redor, e eu me forcei a respirar normalmente quando fui incitada por
trás a seguir em frente.
De alguma forma eu entrei no SUV sem me envergonhar, sentindo
a forma familiar de Roman pressionada contra o meu lado. Mesmo
querendo odiá-lo, fiquei grata por ele estar ao meu lado e eles não terem
nos separado. Com o capuz na cabeça, eu não sabia o que estávamos
enfrentando, o que eles realmente iriam fazer comigo, conosco. A
qualquer momento, eles poderiam apontar uma arma para minha
cabeça e seria o fim.
Minha respiração gaguejou e senti a mão de Roman agarrar a
minha no assento, seu calor envolvendo meus dedos. — Está tudo bem
— ele murmurou. — Apenas respire, Ilsa. Eu juro para você que nada vai
acontecer com você.
Deus, eu estava com medo. Normalmente eu poderia lidar com
coisas assim, pensar em minhas opções e superar a preocupação.
Este era um nível diferente para mim, nada parecido com
qualquer outra situação que eu tivesse encontrado.
O polegar de Roman roçou a parte superior da minha mão antes
que ele a virasse e entrelaçasse nossos dedos. — Lembre-se — ele
continuou quando o SUV começou a se mover. — Foda-se, Ilsa, eu não
queria que fosse assim entre nós.
Como ele esperava que fosse quando me contasse seu segredo?
Que eu ia esquecer a dor, a porra da angústia que eu tinha suportado por
causa dele? Que eu poderia esquecer ou perdoar como se não
importasse?
Uma coisa é certa; eu não queria falar sobre isso na frente desses
homens, então apertei sua mão, deixando-o saber que eu não diria nada.
Roman devolveu meu aperto e meu coração deu um pulo no peito.
Se saíssemos vivos disso, não poderia vê-lo novamente. Na verdade, eu
estaria arrastando-o e seu irmão, isto é, se eu não matasse Franco
primeiro pelos assassinatos de meus pais. Eles mereciam pagar pelo que
fizeram com eles.
Então, por que a ideia de ver Roman atrás das grades me deixa
doente? Por que eu sentia que entregaria meu coração a ele, sem sentir
bondade no que havia feito?
Bem, não importaria se eu não sobrevivesse a esta noite. Minha
segurança, não importa o que Roman dissesse, não estava garantida. Nós
dois estávamos desarmados e, embora eu tivesse certeza de que Roman
era habilidoso no combate corpo a corpo, aqueles que nos tinham,
tinham revólveres e facas. Não seria uma luta justa.
Eu só tinha que manter meu juízo sobre mim. Eu tive que deixar
de lado essa necessidade de obter minha própria vingança em favor de
me manter viva. Eu tive que usar todo o meu treinamento.
Eu sou detetive do LAPD. Eu tinha sobrevivido a um orfanato,
alguns dos piores dos piores pelos quais ninguém deveria passar. Lutei
muito contra meu próprio superior para mostrar a ele que não era
moleza, e só porque perdi minha virgindade com o mafioso ao meu lado
não significava que não sou forte.
Se nada mais, eu sou mais forte e inteligente agora. Eles iriam me
subestimar – Roman, Franco e provavelmente Guzman também.
Bem, deixe-os. Deixe-os pensar que eu sou apenas uma mulher.
Eu estava prestes a mostrar a eles como eles estavam errados.
CAPÍTULO TREZE

ILSA

Esperei que o capuz fosse removido da minha cabeça, desejando


ainda ter a mão de Roman na minha para saber onde ele estava.
Eu estava com tanto medo. Eu nunca tinha experimentado nada
assim antes. Claro, eu tinha estado em vigilância, me disfarçado uma ou
duas vezes, mas não era tanto, e com certeza não lidava com a Máfia ou
o cartel. Isso foi em outro nível.
Eu estava fora do meu alcance.
O capuz deslizou e respirei ar fresco, notando a escuridão do céu
acima de mim por meio segundo antes de meus olhos procurarem por
Roman.
Ele não estava longe de mim, seu capuz já fora. Ele não parecia
nem um pouco assustado; em vez disso, ele parecia um pouco entediado
com tudo isso, e invejei sua confiança. Foi-se o homem que me disse que
me amava, e em seu lugar estava o verdadeiro Don Marchetti.
Roman me assustou também.
— Onde diabos está Guzman? — ele latiu, vendo a casa diante de
nós. — Ou devo ficar aqui fora e respirar a porra do ar a noite toda?
Os homens ao nosso redor limparam a garganta, provavelmente
vendo a mudança em seu comportamento. Ele não era apenas uma
pessoa aleatória solicitando uma audiência com alguém. Este homem
tinha muito poder em suas mãos e os superava aos trancos e barrancos.
Sem esperar que ninguém respondesse, ele caminhou até mim,
agarrando meu cotovelo. Eu pulei com seu toque, a conexão ao mesmo
tempo chocante e me fazendo doer para ser puxada para seus braços
mais uma vez. Eu odiava minha reação ao seu toque. Eu odiava não
poder simplesmente sacudi-lo, não conseguir esquecer quem ele é ou
como ele poderia me destruir com um toque. — O que você está
fazendo? — Eu comecei quando seus dedos cavaram em minha pele.
— Você deve fazer tudo o que eu digo a partir deste ponto — ele
disse suavemente, seu olhar duro desafiando qualquer um a se
aproximar de nós. — Se você quiser sair daqui viva.
— Eu quero ir embora agora — eu forcei, minha voz misturada
com medo. — Eu não gosto disso, Roman. Acho que isso é uma armação.
— Desde o capuz até nós agora cercados por homens com armas, eu
cheirei algo que não gostei. Eles não esperavam que saíssemos daqui
vivos e, embora provavelmente atirariam em Roman, eu sabia que não
teria tanta sorte.
Eu me tornaria de Guzman ou o brinquedo de seus homens, e eles
usariam meu corpo até que eu quisesse me matar só para fazer a dor
parar.
Eu tinha visto o que eles fizeram com as mulheres de seus
inimigos antes. Não foi fácil de engolir.
— É a porra da minha única opção — ele respondeu, algo
semelhante a resignação em sua voz novamente. Eu me perguntei se ele
odiava ter ligado para Guzman, ou se essa era sua única opção. Onde
estavam seus homens? Certamente Roman poderia ter apenas
convocado seus homens para nós, certo?
Ou talvez algo estivesse errado nas fileiras de Marchetti.
— Vamos lá — ele rosnou, incitando-me a avançar. — Guzman
espera.
Eu queria lutar com ele enquanto ele nos movia em direção à casa,
mas não o fiz, imaginando que não tinha muita escolha. Roman estava
certo sobre minha situação atual. Ele é o único que não iria virar as
costas para mim pelo que eu tinha feito, e enquanto isso me perturbava,
é minha única opção agora.
Roman me guiou pela porta, e notei que ele não retirou a mão,
embora eu estivesse obedecendo, quase como se ele estivesse tentando
reivindicar sua posição sobre mim.
Eu, por outro lado, queria vomitar. Eu não gostava de nenhum
pensamento que estava tendo ou do fato de que os soldados de Guzman
estavam me olhando como um pedaço de carne fresca para sua
degustação.
Um arrepio deslizou pela minha espinha. Roman não deixaria que
eu me machucasse. Não importa o que havia entre nós agora, eu sabia
disso. Eu acredito nisso.
Os homens se separaram e Roman atravessou a porta como se
fosse o dono do lugar, com toda a confiança e autoconfiança que
realmente me surpreenderam. Guzman estava mantendo a posição com
seus asseclas no que parecia ser uma sala de estar. A mobília surrada
não combinava e estava gasta, o ar cheirava levemente a maconha e algo
como corpos sujos.
Não era de surpreender, pois estava cheio de mais guardas, como
se Guzman fosse algum tipo de realeza. Tentei não ficar boquiaberta
quando fiquei cara a cara com ele, tendo ouvido histórias sobre o líder
do cartel ao longo de toda a minha carreira. Ele era mais baixo do que eu
esperava que fosse, mas não menos tatuado e claramente não tinha
medo de nada, dado o desdém que estava lançando na direção de
Roman.
Ou isso ou ele sabia que tudo o que tinha a fazer era levantar um
dedo e estaríamos cheios de buracos de bala. Embora soubesse que isso
fazia parte do cotidiano normal de Roman, preferia levar um tiro a
negociar com um homem que massacrava mulheres como fazia. Uma
arma estava equilibrada em sua coxa e uma mulher na outra, vestida de
lingerie e nada mais. Ela se parecia com algumas das mulheres que eu
tinha visto saindo do cartel, com um olhar vazio que provavelmente
escondia a verdadeira dor que ela sentia.
— Ah, Roman! — Guzman respondeu, alegria se estabelecendo
em sua expressão. — E a detetive Petrova, correto?
Eu apenas olhei para ele, recusando-me a responder suas
perguntas.
— Guzman — Roman disse em vez disso, soltando seu toque em
mim. Perdi isso imediatamente, querendo me aproximar ainda mais
dele para que ele pudesse me ajudar a manter minha confiança diante
de tal mal. Na verdade, se eu tivesse minha arma, atiraria nele e iria
embora, talvez até sorrindo enquanto o fazia. Não haveria nenhuma
preocupação em fazê-lo. — Estou feliz que você tenha me permitido
entrar em seu domínio.
Guzman continuou a me olhar, algo em sua expressão me fazendo
tremer completamente. Eu não gostei do jeito que ele estava olhando
para mim, como se ele quisesse algo que eu não estaria disposta a dar a
ele.
Se ele pensava que eu ia lhe dar alguma coisa, ele estava errado.
— Eu quero uma segunda busca — ele finalmente disse,
arrastando seus olhos para longe de mim. — Roman, você começa.
A mandíbula de Roman trincou. — Não há necessidade — ele disse
firmemente. — Seus homens fizeram um trabalho completo antes de
podermos vir aqui.
— Ainda — disse Guzman, empurrando a mulher de seu colo. —
Maria, tire a roupa de Don Marchetti, sim? Ele ainda pode ter algumas
armas escondidas.
Foi a minha vez de apertar quando Maria caminhou até Roman
um pouco instável, suas unhas vermelhas puxando sua camisa. Um surto
de ciúme passou por mim enquanto eu a observava puxar a camisa dele
sobre a cabeça, seus dedos tocando a mesma pele que eu adorava, o que
parecia ser anos atrás.
Quando ela pegou o cinto dele, vi Roman tenso. Ele ficou excitado
com isso? Ele gostava que ela o tocasse? Cada pensamento era um
fragmento do meu coração partido, imaginando se algum dia
sobreviveria a Roman Marchetti.
Ou esta noite. Eu provavelmente precisava me concentrar em
sobreviver aqui e agora.
— Continue — Guzman pediu, acenando com a mão para Maria.
— O que você está esperando?
Maria parecia murmurar baixinho enquanto desabotoava o cinto
de Roman, puxando-o sobre seus quadris estreitos e expondo a cueca
justa por baixo. Respirei fundo enquanto tentava e não conseguia
ignorar a protuberância ali, sentindo meu próprio corpo começar a
reagir ao lembrar a maneira como ele se movia dentro de mim.
A maneira como ele me quebrou.
— Chega — Guzman latiu quando Maria enfiou a mão entre a
abertura nas calças de Roman, com a intenção de tocá-lo lá. — Roman,
você tira a roupa de Ilsa agora.
— Não — eu disse imediatamente quando Roman puxou suas
calças sobre seus quadris. — Eu não tenho nenhuma arma.
Guzman riu. — Não estou preocupado com nenhuma porra de
arma em você, detetive. Quero ter certeza de que você não está usando
uma escuta, é claro.
— Isso é estúpido — eu respondi enquanto Roman se aproximava
de mim. A última coisa que eu queria que acontecesse era suportar a
humilhação de ser despida na frente de uma sala cheia de gente, tudo
porque esse babaca queria me ver nua. Isso não tinha nada a ver com
um fio.
Nada mesmo.
Guzman pegou a arma na coxa e apontou para mim. — Faça isso,
ou eu te mato aqui mesmo.
Uma escolha. Eu tinha uma escolha.
— Ela vai fazer isso.
Minha visão de Guzman foi bloqueada pelo grande peito nu de
Roman. — O que você está fazendo? — eu assobiei. — Eu não vou fazer
isso.
Roman não respondeu, mas algo em seus olhos implorava para
que eu concordasse com esse plano maluco. Era quase como se ele
estivesse preocupado, e isso me preocupou.
— Saia da porra do caminho, Roman — Guzman exigiu. — Não
consigo ver merda nenhuma.
As mãos de Roman agarraram meus braços e eu fui girada para o
lado, mas ele ainda não havia terminado. Suas mãos deslizaram pelos
meus braços, deixando arrepios em seu rastro quando ele encontrou a
bainha da minha camisa, puxando-a para expor minha barriga. —
Braços para cima, detetive — Guzman riu, claramente se divertindo.
Mantive meus olhos em Roman, deixando-o ver minha fúria e,
acima de tudo, minha decepção por ele não ter desafiado o líder do
cartel. Este é o homem que havia declarado seu amor por mim, mas ele
iria me desnudar para todos verem?
Ele tinha uma escolha, assim como eu, e tirou essa escolha de
mim.
Ainda assim, levantei meus braços para que ele pudesse tirar
minha camisa, tremendo com o ar frio da sala. As mãos de Roman
estavam na minha pele nua um momento depois, e eu senti o simples
roçar de seus polegares em minhas clavículas, quase como se ele
estivesse tentando me confortar de uma forma que Guzman não notaria.
Não havia nada em seus olhos, absolutamente nada, como se ele tivesse
desligado suas emoções.
Talvez eu devesse ter feito o mesmo. Talvez eu devesse ter me
forçado a guardar tudo, para não sentir nada. Se eu tivesse, Roman
poderia não estar diante de mim. Eu posso não estar aqui com ele,
passando por algo horrível como isso.
Talvez eu ainda não esteja apaixonada pelo monstro diante de
mim.
Isso não sou eu, no entanto. Eu não conseguia desligar minhas
emoções, não mais. Mais como eu me recusei a fazê-lo. Eu vivi em um
mundo sem emoções enquanto estava em um orfanato e me recusei a
fazer isso quando adulta.
Eu só não esperava me apaixonar pelo único homem por quem
não podia me dar ao luxo de sentir nada.
As mãos de Roman ainda estavam no meu corpo antes de ele
puxar para baixo as alças do meu sutiã, chegando atrás de mim para
desfazer o fecho.
Por um momento não quis deixar o sutiã cair. Minhas bochechas
estavam vermelhas, e não era porque eu estava me despindo em uma
sala cheia de homens e uma mulher robótica.
Não, era porque Guzman estava obrigando Roman a fazê-lo, e ele
não parecia nem um pouco perturbado. Ele foi o único homem que me
viu completamente nua. Ele conhecia cada centímetro do meu corpo.
O que havíamos feito juntos era íntimo, sagrado até.
— Vamos — Guzman gemeu. — Eu não tenho a porra da noite
toda.
Olhei para Roman desafiadoramente antes de deixar o sutiã cair,
vendo o menor movimento de sua garganta enquanto ele olhava para os
meus seios, meus mamilos enrugados no ar frio. Por um momento seus
olhos esquentaram, e eu senti o mesmo rubor percorrer meu corpo. Ele
me disse uma vez que meus seios eram uma de suas coisas favoritas
sobre mim, pouco antes de ele os ter esbanjado sem parar com sua
língua, com seus dentes, com seu pênis. Eu não sabia quem era aquele
homem, mas não era ele agora.
Não que eu quisesse que ele me tocasse agora, desejando que
estivéssemos em outro lugar.
Ou que éramos outra pessoa.
Mas não estávamos. As mãos de Roman imediatamente foram
para minha calça, e eu fechei os olhos enquanto ele lutava para passar
pelos meus quadris, permitindo que caíssem pelas minhas pernas e
parassem no topo dos meus sapatos. Guzman poderia beijar minha
bunda, mas eu não estava tirando meus sapatos, e no momento em que
ele nos dissesse para parar, eu estaria me vestindo mais rápido do que
nunca.
Minha calcinha foi a próxima, e me forcei a olhar para Guzman,
esperando que ele pudesse ver as adagas que eu estava empurrando em
sua direção. Eu queria o homem morto por minha bala, de mais
ninguém. — Feliz?
Seus olhos estavam aquecidos enquanto ele olhava para o meu
corpo, e eu silenciosamente fiz uma promessa de arrancá-los se ele me
obrigasse a fazer qualquer coisa com ele.
Ou para Roman. Eu não estava prestes a me apresentar para esses
idiotas.
Guzman balançou a cabeça e meu estômago embrulhou. O que
mais ele poderia querer? Eu estava nua diante dele, tudo o que eu tinha
em exibição para toda a sala ver.
— Ela não está usando a porra de uma escuta — Roman rosnou,
quebrando o silêncio. — Acho que você está protelando, Guzman.
— Este é o meu lugar — retrucou Guzman, acenando com a arma
e quase acertando Maria com ela. — Essa é a porra da minha vez! Você
precisa de mim, Marchetti, então essas são as minhas condições.
Eu esperava que Roman revidasse, mas ele não o fez, e comecei a
tremer por dentro. Guzman estava realmente no controle, e não éramos
nada além de peões para fazer o que ele desejava.
Oh Deus, isso era o inferno na terra!
Eu queria sair. Eu implorei a Roman para não fazer isso, e agora
estava sendo humilhada às custas dele. O que quer que Roman estivesse
tentando fazer aqui deveria ter valido a pena, porque agora eu me sentia
como se estivesse sendo usada.
— Terminamos então? — Roman perguntou, sua voz desprovida
de emoção. Eu não sabia se ele estava tentando me tirar disso ou se ele
estava cansado de provar um ponto. De qualquer maneira, eu estava
acabada.
Eu não queria mais isso.
— Não — Guzman explodiu, me fazendo pular. — Eu quero que
você tenha certeza que ela não está escondendo nada em sua boceta.
Abra as pernas; verifique-a cuidadosamente. Tenho certeza de que você
sabe se orientar no corpo de uma mulher, Marchetti. Algo me diz que
você já teve este, então não deve ser uma tarefa árdua para você. Vá em
frente, diga-me o que você encontrou.
A sala riu e eu abaixei minha cabeça, rezando para que Roman
apenas dissesse a ele para atirar em nós dois.
Quando pensei que as coisas não poderiam piorar, elas pioraram,
e eu não queria mais ficar aqui.
CAPÍTULO QUATORZE

ROMAN

Eu ia matá-lo por isso.


Os olhos de Ilsa se arregalaram e tentei projetar meus próprios
sentimentos sobre isso através dos meus olhos, sabendo que não
poderia enfrentar Guzman agora. Havia muitos homens fodidos nesta
casa com um monte de armas, e Ilsa é minha primeira prioridade.
Agora, ela é minha principal prioridade. O que Guzman queria que
fizéssemos era uma viagem de poder para ele. Ele sabia que me pegou
pelas bolas e que eu não faria uma cena.
Mas ele não me teria assim para sempre, e no momento em que
as mesas fossem viradas, eu iria fazê-lo pagar por tudo que ele tinha
feito esta noite, pela humilhação que ele tinha feito Ilsa passar.
Depois que eu terminasse, ele iria desejar nunca ter nascido.
Deus, eu queria dizer algo, qualquer coisa, para Ilsa para que ela
soubesse que eu não concordava com isso, mas não podia. Guzman não
é estúpido. Ele já estava suspeitando que algo estava acontecendo entre
nós, e no momento em que eu desse mais a ele, ele iria explorar isso.
Não havia como dizer o que ele nos faria fazer ou o que ele faria
com Ilsa e me obrigaria a assistir.
Não, eu não podia arriscar.
— Não — Ilsa respirou quando me abaixei, roçando sua boceta
com a mão. — Roman.
Suas palavras, seus apelos me rasgaram, e eu queria parar. Eu
deveria amá-la, protegê-la, porra, e ainda assim eu tinha que ser o Don
agora.
Pela primeira vez na minha vida, eu odiei quem eu tinha que ser.
Eu odiava que ela fosse me odiar ainda mais depois disso, e tentar
recuperar qualquer fragmento do que ela sentia por mim seria difícil pra
caralho.
Uma das minhas mãos agarrou sua coxa e empurrou suas pernas
mais afastadas, tanto quanto podiam ir com a calça ainda em torno de
seus tornozelos, ou seja, deslizei um dedo dentro dela, encontrando-a
molhada. Eu sabia que ela não estava excitada com isso, mais como
excitada porque eu a toquei, mas era difícil segurar o gemido de
qualquer maneira, meu pau se contorcendo dentro da minha boxer. O
que eu não daria para ter esta sala vazia de pessoas, para sermos apenas
nós dois, e eu poderia levá-la contra a parede até que ela gritasse meu
nome.
Mesmo depois de tudo, eu nunca deixaria de querer Ilsa. Eu nunca
iria parar de desejar seu corpo, seu toque, ela gemendo a porra do meu
nome.
Ela era o que eu queria.
Os olhos de Ilsa se fecharam enquanto eu a observava morder o
lábio inferior enquanto eu corria meu dedo por sua fenda, sentindo a
umidade viajar para seu clitóris já duro.
Foda-me, isso foi como pura tortura para mim. Saber que ela
estava em exibição para toda a sala ver estava me comendo, me fazendo
querer arrancar o pau de Guzman e enfiá-lo em sua própria garganta.
Deslizei minha mão para o quadril dela e encontrei Ilsa tremendo,
seja de frio ou de atenção ou do meu toque. Eu esperava que fosse do
meu toque. Fazia realmente apenas alguns dias desde que eu a tive? Ela
não estava longe da porra dos meus sonhos ou dos meus pensamentos.
Eu não conseguia nem olhar para outra porra de mulher agora.
Ilsa tinha me arruinado.
Aliviei meu toque e houve uma mudança sutil em seus olhos, uma
que provavelmente refletia a minha. Havia desespero, um pouco de
emoção e algo que eu nem queria admitir. Havia tantas coisas que eu
queria dizer a ela, tantas coisas que eu devia a ela.
Ilsa não merecia isso.
Seus lábios se separaram apesar da raiva em seus olhos, e eu
esfreguei o local que eu sabia que faria seus joelhos enfraquecerem um
pouco. Eu não queria que Guzman tivesse qualquer participação no que
Ilsa e eu vivenciamos juntos. Eu o mataria com minhas próprias mãos
primeiro.
Mas a umidade de Ilsa cobria meus dedos, me fazendo querer
mais. Eu queria vê-la desmoronar na minha frente. — Foda-se — eu
sussurrei, apenas para ela ouvir. — Ilsa, isso desvenda a porra da minha
alma.
Os olhos de Ilsa se suavizaram por apenas um momento antes de
sua mão se estender para baixo, tentando puxar minha própria mão. Eu
rosnei enquanto o agarrei e o forcei para o lado dela, sabendo que no
momento em que eu a deixasse controlar esta situação, Guzman não nos
deixaria ir. Ele não iria parar até que soubesse que me pegou pelas
malditas bolas.
Quando eu inseri um dedo, ela engasgou, seu corpo apertando em
torno da minha intrusão. Coloquei minha mão em seu quadril
novamente para impedi-la de balançar para frente em meus braços,
aterrando-a onde estávamos e o que estávamos sendo forçados a fazer.
Se isso durasse mais, eu seria forçado a levar Ilsa ao orgasmo, e
isso não era nada que eu queria que Guzman visse ou fizesse parte.
Eu morreria primeiro.
— O suficiente.
Obrigado porra. Um pequeno grito de alívio escapou dos lábios de
Ilsa e tirei minha mão, olhando para Guzman. — Tem certeza? — Eu
disse secamente, lançando um olhar sombrio para Guzman.
Havia um brilho em seus olhos que eu não gostei. — Eu acredito
que sim — disse ele, lambendo os lábios enquanto se levantava. Ele não
tentou esconder o fato de que estava ostentando a evidência do que me
obrigou a fazer com Ilsa. — Vista-se. Nos encontraremos na sala de
jantar.
Observei enquanto ele saía, sua mulher seguindo logo atrás e a
maioria de seus homens, dois esperando na saída para que o
seguíssemos. Bloqueei a visão deles com meu corpo, inclinando-me para
perto de Ilsa. — Desculpe-me, caralho — sussurrei onde ela podia me
ouvir.
Suas bochechas estavam vermelhas, mas quando ela abriu os
olhos, vi a fúria ali, fúria contra mim. — Ilsa.
— Deixa pra lá, Roman.
Falaríamos sobre isso mais tarde.
Eu esperei até que ela estivesse vestida antes de eu mesmo fazer
isso, enfiando minhas mãos pelo meu cabelo. Eu não sabia o que mais
Guzman tinha reservado para nós, mas ele aparentemente se divertiu e,
por causa disso, não pensei que estaríamos tirando nossas roupas esta
noite.
Não para ele, pelo menos. Eu ainda estava duro como uma pedra,
e queria me enterrar em Ilsa tão longe que não conseguisse descobrir
onde terminava e ela começava. Eu queria apagar essa merda da minha
mente, para que ela não se lembrasse de como isso foi humilhante, e
tudo o que ela podia ver era eu.
Eu. O bastardo que se importava com ela.
Eu. Aquele que a queria acima de tudo. Por Ilsa, eu desistiria do
meu maldito título. — Não diga nada — eu disse a ela ao invés disso,
vendo a faísca de fogo em seus olhos. — Chegamos tão longe, mas a linha
ainda é tênue.
— Eu vou matá-lo — ela sibilou, suas bochechas ainda vermelhas
de nossa interação.
— Entre na porra da fila — eu disse antes de sair da sala, sabendo
que Ilsa não estaria muito atrás. Guzman e sua mulher estavam sentados
à mesa, com ela alimentando-o com uvas da tigela no centro. — Venha
sentar — ele apontou para os dois talheres à sua esquerda. — Vamos
discutir negócios.
Sentei-me e observei enquanto Ilsa fazia o mesmo, com as mãos
no colo. O olhar em seu rosto me disse que se ela tivesse uma arma, ela
estaria matando o homem na cabeceira da mesa agora mesmo, suas
emoções nem de longe sob controle.
Não que eu a culpasse. Um, ela mostrou todo o seu corpo para
estranhos, e dois, ela teve que ser tocada pelo homem que matou seus
pais.
Não seria uma surpresa se Ilsa tivesse me colocado em sua lista
de pessoas para matar agora.
Recostei-me na cadeira, agora assumindo minha pose de Don
Marchetti. Enquanto Guzman era um líder de cartel, ele estava
realmente no meu território e, apesar do poder de fogo ao seu redor, ele
sabia que se me matasse, haveria um inferno a pagar.
Ele não seria capaz de sair de LA rápido o suficiente antes que
alguém o atacasse. Foi por isso que nunca me preocupei com nossas
vidas aqui. Ele não ousaria começar esse tipo de guerra, não sem ser
provocado a fazê-lo. — Você se voltou contra mim — eu rosnei.
Guzman riu. — Isso foi apenas uma questão de negócios, Roman
— ele afirmou, seus olhos brilhando como se ele tivesse furado meus
pneus em vez de atirar em mim. — Espero que você não leve isso para o
lado pessoal.
Eu arqueei uma sobrancelha. — Uma questão de merda de
negócios? Você quase me matou.
Guzman se inclinou para a frente, afastando as uvas penduradas
perto de seu rosto. — E o que teria acontecido se você tivesse morrido,
Roman? Ouvi dizer que você já foi substituído como Don.
Não deixei transparecer minha surpresa. — Você precisa largar a
erva, Guzman. Está mexendo com a porra da sua cabeça.
— Vamos chegar a isso, suponho — ponderou Guzman. — Mas
vou lhe contar algo que você talvez não tenha ouvido, Roman. Seu irmão
fez uma aliança com Stanislav.
Que porra? Eu sabia que Stanislav tinha meu irmão, mas uma
aliança? O que diabos Franco estava pensando? A sensação de
afundamento ameaçou tomar conta de mim, e eu a deixei de lado por
enquanto.
— Ah, vejo que você não ouviu então — Guzman respondeu,
regozijando-se. — Bom, é verdade. Minhas fontes dizem que aconteceu,
talvez um pouco sob a mira de uma arma, mas que boas alianças não
são? Estou certo?
— Não importa — eu mordi. — Ele não é o Don. A Máfia Marchetti
não tem influência sobre o que quer que meu irmão esteja fazendo com
Stanislav. — Maldito Franco. Ele tinha se metido em alguma merda da
qual eu teria que tirá-lo de novo. Eu estava cansado de desenterrar meu
irmão, e esta seria a última vez. Depois disso, ele não teria nenhuma
ajuda de mim.
— Sim, mas a questão é — continuou Guzman. — Você ainda é o
Don, Roman? Quero dizer, eu fui capaz de coagi-lo a quase foder com os
dedos sua mulher na minha frente, ao meu comando. Que tipo de Don
perde essa porra de controle?
Eu mantive minha máscara de indiferença, mas por dentro eu
estava furioso. Eu queria ir para Guzman pela merda que ele estava me
colocando para provar um ponto, mas ele não estava errado.
Aparentemente, a porra do meu irmão estava fazendo alianças para
salvar a porra da própria pele, e eu estava tentando escapar de mais um
dia da minha vida.
Eu não estava no comando.
Isso, e eu não queria que Ilsa pensasse que a porra da minha vida
estava se desenrolando diante dos meus olhos.
— Ainda — Guzman finalmente disse. — Foi uma atuação muito
boa entre você e a detetive; definitivamente algo que não vou esquecer
tão cedo.
— Estou feliz que pudemos divertir você — eu disse
sombriamente.
Ele sorriu. — Eu sempre gostei de você, Roman, você sabe disso?
Verdadeiramente. Espero que você não tenha pensado que o ataque foi
pessoal. Eu tive, bem, o que posso dizer, outros negócios que fizeram
com que o seu timing não fosse o melhor. Além disso, perdi muitos
homens para você e seu irmão. Eu diria que estamos quites, você não?
— Diga-me que você não vai fazer isso de novo — eu rosnei. — E
talvez eu encontre em algum lugar na porra da minha alma morta para
não matar você na próxima vez que nos encontrarmos.
Guzman não vacilou. — Eu lhe darei três dias — ele disse em vez
disso. — Três dias para voltar a esse pedestal e retomar as rédeas da
Máfia Marchetti. Eu acredito que você pode fazer isso. Você sempre foi
o irmão mais forte, e é por isso que você é, bem, era, Don, para começar.
— Eu ainda sou.
— Isso ainda precisa ser visto, é claro — observou Guzman. —
Mas você tem minha palavra. Vou pedir uma trégua. Nenhum mal virá
de meus homens para você, embora eu não possa dizer o mesmo sobre
aqueles que o querem morto.
— Eu vou lidar com eles — afirmei, empurrando a cadeira para
trás.
— Mas se você não quiser — Guzman continuou, seus olhos em
uma Ilsa surpreendentemente silenciosa. — Então não terei escolha a
não ser matar você e pegar a boa detetive aqui como pagamento.
Ilsa respirou fundo antes que pudesse disfarçar, e eu me levantei
abruptamente. Isso não iria acontecer, não enquanto eu ainda tivesse
fôlego em meu corpo. Guzman morreria antes de pegar Ilsa.
— Pense nisso, Roman — Guzman riu. — Detetive do LAPD virou
prostituta do cartel. Tem uma bela manchete na primeira página, não é?
Tenho certeza de que muitos gostariam de se vingar.
— Terminamos aqui? — eu disse em vez disso. Eu queria sair. Eu
queria tirar Ilsa daqui o melhor que pudesse. Guzman nunca mais iria
vê-la, não se eu tivesse algo a ver com isso.
— Vá em frente — ele finalmente disse enquanto Ilsa se levantava
de sua cadeira. Eu a segurei imediatamente, sabendo que ela queria o
sangue de Guzman. Inferno, eu também, mas não era a hora nem o lugar.
Ele morreria e morreria lentamente. — Apenas lembre-se, o relógio está
correndo, Roman.
Ilsa avançou, mas eu a puxei comigo, através da casa e até o SUV
que nos esperava que nos levaria de volta ao nosso destino. Eu conhecia
sua fúria. Eu senti isso também, mas a luta não poderia ser vencida
agora.
Teríamos que esperar nossa vez.
Além disso, eu tinha problemas maiores do que a cobra que
Guzman era. Meu irmão estava fazendo acordos com nosso inimigo
jurado, e eu duvidava que uma arma fosse o motivo. Não, Stanislav havia
oferecido a ele algo que Franco não podia recusar, algo que
provavelmente é meu.
Agora a Máfia Marchetti estava em frangalhos. Se eu conhecesse
meu irmão, ele pegaria quem pudesse para fazer o que quisesse.
E haveria homens que o seguiriam cegamente até as profundezas
do inferno. Franco poderia falar sobre o jogo e provavelmente daria a
eles promessas do mundo em troca. Com Stanislav nas costas, ele se
exibiria.
Porra. Por que eu não o encurralei anos atrás? Era exatamente
isso que eu tentava evitar com Franco.
Dei um passo para o lado para que Ilsa pudesse entrar no SUV
antes de mim, mas ela agarrou meu braço em vez disso, desviando para
o lado da casa. Eu lancei um olhar sombrio para os guardas que
tentavam nos seguir, querendo que eles nos dessem alguns minutos
para lidar com isso, bem, em particular.
Hoje em dia, privacidade era uma piada, aparentemente.
— O que é que foi isso? — ela sibilou, soltando seu toque do meu.
— O que você fez lá atrás?
Eu me virei para ela, impedindo-a de ser vista pelos guardas. —
Isso foi salvar nossas malditas vidas, Ilsa.
Ela soltou uma risada. — Você está falando sério, Roman? Você
me exibiu na frente de uma sala cheia de gente! Como isso poderia estar
salvando alguma coisa? Você poderia ter dito não!
— Não, eu não poderia — eu respondi, reprimindo minha fúria.
— Você nem tem ideia do que está em jogo aqui. — Ela não sabia que eu
estava vendo a porra da máfia escorregar por entre meus dedos, tudo
pelo qual eu trabalhei agora desmoronando como uma torre de cartas.
Eu não poderia consertar isso como fiz no passado.
— O que estava em jogo — ela lutou, empurrando meus ombros
— é que você me humilhou, Roman! O que você estava fazendo - eu não
gostei de ser exibida assim!
— E você acha que eu gostei? — Eu atirei de volta, passando a
mão pelo meu cabelo. — Você acha que eu gostava de ter o que é meu
para os outros verem?
Os olhos de Ilsa se arregalaram. — Seu? Receio que você tenha
perdido esse privilégio quando matou meus pais!
— Eu estava tão humilhado — eu mordi. Era difícil não ficar com
raiva do que ela estava sentindo. Inferno, eu tive o mesmo sentimento,
embora o meu fosse provavelmente mais assassino em intenção. — Você
não sabe o que isso fez comigo.
— O que isso fez com você? — Ilsa fervia. — Não foi você que foi
despojada até o nada!
A dor em sua voz estava me despedaçando. — Sinto muito, Ilsa.
— Nada do que eu disse iria acabar com esta noite. — Eu sei que você
não acredita em mim.
— Estou cansada disso — ela disse, mordendo o lábio inferior. —
Estou cansada dessa farsa!
Eu agarrei seus braços, forçando-me a relaxar meu toque quando
eu realmente queria colocar algum juízo nela. — Isso não é uma porra
de uma farsa. Essas são as nossas malditas vidas, Ilsa, e estou tentando
mantê-la segura.
Ela soltou uma risada áspera. — Me salvar? Você não está
tentando me salvar, Roman. Você não está fazendo nada além de me
destruir.
Ela não estava errada. Eu tinha tirado sua virgindade, tinha feito
ela desenvolver sentimentos por mim que eram fortes e ainda estavam
lá para mim, pelo menos.
Bem, eu pensei que eles ainda estavam com ela também. Apesar
da merda acontecendo conosco, eu a amava, e por causa disso, eu a
estava destruindo. — Eu sei que você me odeia — eu tentei novamente.
— Mas este é o único curso de ação. Eu juro.
— Eu não acredito em você — afirmou ela. — Eu não acredito em
nada disso, principalmente em você.
Claro que não. Imagino que ela não tenha superado o fato de eu
ter matado seus pais.
— Você não estava em perigo de ser morto — ela continuou, sua
voz tremendo ligeiramente. — Eles poderiam ter... — Ela não terminou,
mas eu sabia o que ela estava pensando. — Eu os teria despedaçado —
eu rosnei. — Nenhum deles teria tocado em você, não enquanto eu
estivesse vivo.
— Como se você pudesse tê-los parado — ela murmurou,
cruzando os braços sobre o peito. — Você é apenas um homem, Roman.
Eu era, mas ela era minha, e ninguém iria tocá-la. — Precisamos
ir — eu disse ao invés. — A generosidade de Guzman não vai durar para
sempre. — Ele tinha me dado três malditos dias para me recompor, e
era isso que eu estava planejando fazer.
Eu tinha que chegar ao topo da porra da cadeia alimentar de novo,
e rápido.
— Existem coisas piores que a morte — Ilsa disse calmamente, a
emoção cruzando seu rosto. — Muito pior.
— Você está falando de nós? — Eu perguntei, incapaz de me
ajudar. — Porque aquilo não era a morte, Ilsa. Isso foi renascer.
Ela olhou para mim, e eu queria agarrá-la, puxá-la contra mim e
mostrar o que ela tinha feito para mim. Ela me destruiu, arrancou tudo
o que eu pensava que era e colocou algo que eu não achava que poderia
ter. Eu sou Don Marchetti, mas com Ilsa, eu sou Roman, e agora isso é
tudo que eu queria ser aos olhos dela.
— Eu te odeio — ela disse suavemente, embora seus olhos
mostrassem outra coisa, algo mais. — Eu odeio ter me apaixonado por
você. Odeio que você não passe de um criminoso e, portanto, seja meu
inimigo, Roman. Isso é tudo que existe.
Eu não acreditei nela, mas este não era o momento ou o lugar para
ter essa conversa. — É hora de irmos — eu disse sombriamente.
— Para onde vamos? — ela perguntou. — Qual é o plano?
— Não aqui — suspirei, pegando a mão dela. Esperei que Ilsa me
recusasse, mas ela não o fez, e respirei fundo, envolvendo minha mão na
dela. Eu tinha tanto que queria dizer a ela, tanto que ela merecia ouvir,
mas ela permitir que eu segurasse sua mão agora era o suficiente.
Então, levei nós dois de volta ao SUV que esperava, permitindo
que Ilsa entrasse primeiro. Nossas armas nos esperavam no assento.
Pelo menos Guzman não os havia levado como presente de despedida.
Eu senti como se ele estivesse me provocando por algum motivo,
embora agora eu soubesse que ele queria a mulher ao meu lado. Ele
havia deixado isso bem claro, e eu não achava que três dias seriam uma
coisa para Guzman.
Não, eu estaria olhando cada segundo que passasse agora,
esperando que ele viesse atrás de mim.
Bem, deixe-o gozar. Ele pensou que a porra de um título me fez.
A porra do sobrenome foi o que me fez quem eu sou, e eu iria
rasgá-lo membro por membro pelo que ele tinha feito uma vez que isso
acabasse. Eu o faria pagar pelo que fez com Ilsa, pela porra dos olhares
que deu a ela.
Ela é minha, e ele tinha me desrespeitado a cada passo esta noite.
Eu não ia esquecer isso tão facilmente da próxima vez.
CAPÍTULO QUINZE

ILSA

Roman subiu ao meu lado e a porta se fechou, deixando nós dois


no SUV juntos. Pelo menos eu tinha minha arma de volta, sentindo algum
conforto em saber que poderia me proteger. Como uma criança que
cresceu em um orfanato, aprendi a fazer isso de várias maneiras. Às
vezes meus punhos não eram suficientes, então eu aprendia uma nova
técnica.
Outras vezes bastava uma arma para assustar as pessoas, então
eu juntava armas de várias casas; essas armas às vezes são a razão pela
qual fui enviada de volta ao estado.
Com o passar dos anos, aprimorei minhas habilidades e, na época
em que estava na academia de polícia, estava bem acima da minha classe
na habilidade de lidar com o combate corpo a corpo ou disparar uma
arma. As armas se tornaram um porto seguro para mim, uma forma de
deixar de lado todas as coisas que tentaram me destruir no passado e
dar lugar ao meu futuro, um futuro forte.
Mesmo com um distintivo preso ao meu quadril, nunca me senti
forte, e esta noite, não importa o que eu tentasse compartimentalizar
sobre o que estava acontecendo, eu não sou forte o suficiente.
Não importava que fosse Roman liderando o caminho. Roman, o
homem que pensei que poderia se tornar meu porto seguro para o
futuro. Roman, o homem por quem eu estava disposta a jogar tudo fora,
a desistir de pedaços de mim porque pensei que ele me protegeria de
tudo.
Ele não tinha feito nada além de me destruir.
Um motorista subiu no banco e Roman suspirou, mantendo a
arma no joelho como fazia desde o momento em que entramos. Eu nunca
o tinha visto assim esta noite, então, bem, preocupado. Embora seu
exterior mostrasse Don Marchetti, assassino implacável, por dentro
parecia estar preocupado com sua posição.
Eu não sabia o que era ou o que o preocupava tanto, mas ouvir
que seu irmão havia feito uma aliança com o inimigo não era bom para
ninguém.
Incluindo a polícia ou LA em geral. Ter duas máfias próximas uma
da outra era uma dor para nós, mas pelo menos podíamos vê-las se
agredindo e nos mantendo fora de seus negócios.
Bem, exceto os corruptos, como Pena.
Mas fazê-los unir forças? A polícia teria dificuldade em parar tal
força, e isso seria uma grande preocupação para todos. Por mais que eu
odiasse admitir, havia um equilíbrio que precisava acontecer.
Talvez fosse isso que estava acontecendo com Roman, mas para
mim, não importava. Mesmo que Franco tivesse assumido sua posição
como Don, eu iria matá-lo e depois matar Guzman. Minha carreira
poderia estar em frangalhos de qualquer maneira. Tornar-se um policial
vigilante não estava muito longe da minha mente.
O SUV começou a se mover e eu olhei pela janela em vez de para
Roman, nem mesmo me importando se eles estavam prestes a nos levar
para a morte. Depois do que acabei de passar, seria melhor acontecer,
honestamente. Roman disse que isso também o humilhou, mas achei
difícil de acreditar. Não foi ele quem foi despida e tocada na frente de
um bando de estranhos.
Mesmo agora eu podia sentir suas mãos em mim, seu dedo
varrendo minhas partes sensíveis e fazendo meus joelhos fraquejarem.
Se ao menos estivéssemos sozinhos.
Não, eu não poderia ir por esse caminho, não agora. Quero dizer,
eu tinha acabado de dizer a Roman que mataria seu irmão na primeira
chance que tivesse. Fazer sexo com ele não estava na lista de coisas que
eu queria fazer com Roman.
O que eu realmente queria fazer era atirar nele para me sentir
melhor. Eu estava com raiva de mim mesma por me apaixonar por um
criminoso para começar. Eu sabia quem era Roman o tempo todo, mas
por algum motivo, pensei que poderia mudá-lo.
Achei que isso poderia funcionar.
Agora eu enfrentava a possibilidade de perder minha carreira por
vários motivos. Eu já havia perdido minha virgindade, e agora estava
perdendo meu coração aos poucos porque fui estúpida o suficiente para
pensar que um monstro como ele poderia amar qualquer coisa ou
alguém.
Ele não podia. Ele não sentiu. A única razão pela qual ele se
desculpou comigo antes foi porque ele sabia que eu ficaria chateada. Os
toques, os olhares; eles não eram nada além de um meio de me impedir
de matar Franco e me manter ao lado de Roman.
Afinal, Guzman havia deixado bem claro que Roman estava
ficando sem os que estavam.
Bem, ele poderia enfiar esse pensamento de volta em sua boca
mentirosa. Eu só estava aqui porque não tinha para onde ir. Eu não
poderia ir para casa. Eu não podia me apoiar em meus parceiros na
delegacia. Eles virariam as costas por mais que odiassem Pena.
Roman era o único que eu conhecia que poderia me ajudar, mas
agora eu gostaria de não ter ligado para ele. Ele me colocou no meio de
uma guerra da Máfia, uma da qual eu não tinha certeza se conseguiria
sair.
— Você está bem?
A voz de Roman me tirou dos meus pensamentos, forçando-me a
virar para ele. Seu olhar encapuzado não revelava nada, seus olhos sem
o calor que eu senti dele no passado. — Como você pode perguntar isso?
— eu assobiei. — Claro que não estou bem, não que você se importe.
Sua mandíbula apertou. — Você e eu temos que ser parceiros
nisso, Ilsa — ele disse suavemente. — Eu sei que você me odeia
— Você nem conhece a palavra — eu respondi, meu coração
batendo forte. Eu queria vomitar tudo o que estava apodrecendo dentro
de mim por anos. — E não é isso que eu sinto por você, de jeito nenhum.
É muito pior, Roman.
Seus olhos escureceram. — Mas — eu continuei. — Eu vou te
ajudar por enquanto. — Este acordo instável não iria durar para sempre.
— Você não parece tão certa disso.
Lutei contra a vontade de revirar os olhos. — Quem iria, Roman?
Quero dizer, depois de tudo que você fez. — Parei ali, não querendo que
ouvidos atentos me ouvissem derramar minha mágoa, minha raiva
agora. Eu precisava me concentrar no aqui e agora e, se por algum
milagre sobrevivêssemos a isso, eu processaria tudo.
— Eu sei como você se sente, Ilsa — ele disse calmamente. — Mas
esta é a porra do meu mundo, e se você vai sobreviver a isso, você vai
precisar de mim. No momento em que eles percebem que você é uma
policial, você tem um alvo nas costas tanto com meus inimigos quanto
com aqueles com quem me associo. Não posso protegê-la se você estiver
constantemente lutando contra mim.
— Eu não vou lutar com você — eu respondi, olhando para ele. —
Mas se você acha que vou sentar em um canto e deixar você fazer todo o
trabalho, então você está errado, Roman. Eu me protegi muito bem até
você entrar na minha vida e continuarei a fazê-lo depois que você se for.
— Se for? — ele perguntou, arqueando uma sobrancelha. —
Amor, se você acha que vou cair sem lutar, então você está errada, Ilsa.
Eu não perco.
Ele pode desta vez. Ele estava me pedindo para fazer uma escolha,
para esquecer o que havia feito para um futuro com ele. Isso foi todo tipo
de errado. Não havia nada entre nós; não poderia haver nada entre nós.
Eu ia me desvencilhar da existência de Roman. — Experimente —
eu desafiei, minha voz falhando. — Porque você nunca mais vai me tocar
assim, Roman.
O canto de sua boca levantou em um sorriso presunçoso. — Isso
é o que você pensa, Ilsa. Eu vou tocar em você de novo. Meu pau será
enterrado dentro de você novamente. É só uma questão de tempo. Ainda
não terminamos, nem de longe.
Eu bufei e me afastei dele, embora meu corpo esquentasse com
sua promessa. Eu odiava que ainda estava atraída por ele, que estava
desejando seu toque agora. Se ele me deslizasse para baixo dele neste
banco de trás, eu seria incapaz de dizer não. Foi o relacionamento mais
estranho que já tive, tanto odiando o que Roman tinha feito comigo
quanto querendo-o dentro de mim.
Devia ser algum tipo de trauma, uma dessas síndromes
inventadas por psicólogos.
Talvez eu precisasse de terapia depois de tudo dito e feito para
expurgá-lo do meu sistema.
Ainda assim, havia uma chance de ele não sair dessa vivo. Se as
cartas estivessem contra ele, como Guzman havia dito, Roman estaria
em uma situação muito mais profunda do que eu jamais poderia estar.
Eu poderia perdê-lo.
Prendi a respiração e reprimi a dor que de repente tomou conta
de mim. Eu poderia perder Roman. Eu poderia perder o homem que
havia tirado tudo de mim.
Então, por que doía tanto?
CAPÍTULO DEZESSEIS

ROMAN

Bati com a arma na minha coxa enquanto o SUV nos levava de


volta ao armazém, tentando encontrar as coisas certas para dizer a Ilsa.
Eu fodi tudo esta noite, mas o que ela não sabia era que era tudo
necessário.
Tudo o que eu tinha feito com ela era necessário. Guzman não
estava me vendo como um igual, alguém que estava em uma posição de
poder, e eu duvidava que ele ainda acreditasse que eu estava me
agarrando ao controle da máfia.
Inferno, eu não achava que estava no controle por mais tempo.
Maldito Franco. O que ele estava pensando ao se aliar ao nosso inimigo
jurado?
Ele não estava pensando, isso era problema dele, e um dia isso iria
alcançá-lo.
Agora, não só eu não tinha meu irmão do meu lado, mas também
estava começando a perder Ilsa, e bem, eu odiava isso. Ela foi a primeira
pessoa a me fazer sentir algo, a me fazer querer algo mais do que a Máfia,
e agora seu desdém por mim estava claro e aparente.
Eu realmente não tinha ninguém.
Eu peguei uma risada torturada antes que ela escapasse. O que
isso importa agora? Talvez eu estivesse destinado a ficar sozinho.
Houve um tiro no capô, uma chuva de faíscas ao longo do metal
antes de eu puxar Ilsa para o chão. — O que você está fazendo? — ela
gritou quando o SUV tombou para o lado.
— Estamos sendo atacados — eu disse a ela rapidamente,
empurrando a arma do assento em suas mãos. — Esteja preparada para
revidar.
Seus olhos se arregalaram, e nós dois fomos jogados nos
assentos à nossa frente quando o SUV finalmente parou, os tiros
frequentes agora.
A porta do lado do motorista se abriu quando o motorista saiu, sua
arma já apontada, e eu fiz o mesmo, querendo me virar e dizer a Ilsa para
ficar escondida.
Seria uma perda de fôlego fazer isso. Ela não estava mais
interessada em me ouvir.
Então deslizei para fora da porta aberta, agachando-me contra
ela. Tudo no meu corpo gritava para protegê-la, mas ela era uma policial
de merda, e eu sabia que ela poderia se proteger tão bem quanto eu
poderia protegê-la agora.
Houve tiros à distância do outro SUV que estava cheio dos
homens de Guzman e, quando contornei a traseira do SUV, encontrei Ilsa
lá, verificando sua arma. Em vez de medo, havia pura determinação em
seu rosto, e não pude deixar de me perguntar se ela achava que meu
irmão estava entre os que estavam nos atacando.
— Você está bem? — Eu chamei calmamente, verificando minha
arma.
— Estou bem — disse ela, respirando fundo. — Vejo você do
outro lado, Roman.
— Não se mate — eu respondi, segurando as palavras que eu
provavelmente deveria ter dito a ela.
Tudo o que consegui foi um aceno de cabeça firme e ela se foi,
atacando o tiroteio.
Por um momento eu a observei, sentindo o orgulho começar a
crescer dentro da mulher que eu tinha dado quase tudo. Ela era incrível
pra caralho, e inferno, eu não iria deixá-la ir.
Sacudindo minha atual obsessão por uma mulher que queria me
matar, eu mesmo corri para a briga, disparando minha arma para a
esquerda e para a direita. Os homens estavam por toda parte e, para meu
horror, reconheci alguns dos meus.
A porra da minha máfia estava atirando contra mim.
Com um grunhido, esmaguei meu cotovelo no rosto de um dos
meus capos, sentindo a cartilagem quebrar sob a força. O sangue jorrou
por toda parte enquanto ele gritava, deixando cair a arma no processo.
Corri para cima dele, derrubando-o no chão, e quando ele finalmente viu
quem estava em cima dele, era tarde demais. — D-Don — ele gaguejou
antes de eu bater meu punho em seu rosto, cobrindo minha própria pele
com seu sangue. Se ele escolheu o lado do meu irmão, então ele não é
mais meu.
Nenhum deles é.
Assim que ele parou de se mover, limpei minhas mãos em sua
camisa e continuei, notando que os homens de Guzman haviam formado
um perímetro, o ratatat de seus AKs não era páreo para os alvos
seguintes. Ilsa estava entre eles, sua arma de serviço recuando a cada
puxão do gatilho.
Juntei-me a ela, puxando-a para trás do SUV capotado quando
uma bala passou zunindo por sua cabeça. — Obrigada — ela murmurou,
se livrando do meu toque.
Houve um grito próximo, e vi outro homem de Guzman cair, mas
não antes de ele atirar no peito de seu assassino. Os números estavam
começando a diminuir dramaticamente e, se não cuidássemos dos
negócios, talvez não saíssemos vivos daqui.
— Aqueles três — fiz um gesto com minha arma. — Precisamos
tirá-los.
— Estou sem munição — ela respondeu, mostrando-me seu clipe
vazio. Enfiei a mão na terra aos pés de um dos homens Guzman caídos e
peguei seu pente, entregando a ela. — Aqui, faça bom uso disso e me dê
alguma cobertura.
Seus olhos encontraram os meus por um momento, e os lábios de
Ilsa se separaram como se ela quisesse dizer algo. — Tudo bem.
Eu verifiquei meu próprio pente e dei a ela um breve aceno, o som
de sua arma disparando alto em meus ouvidos. Eu só esperava que uma
daquelas balas não encontrasse o caminho para dentro de mim no
processo.
Seu tiro funcionou, e eu observei quando os três homens
começaram a atirar em sua direção, acertando o último guarda Guzman
restante no processo. Dependia realmente de mim e de Ilsa agora.
Atravessei a terra silenciosamente, mantendo-me nas longas
sombras que esperavam que o sol nascesse e os afugentasse. Faltava
menos de uma hora para o amanhecer e, assim que o sol nasceu, todas
as apostas foram canceladas. Eu não sabia quem mais estava a caminho
ou se poderíamos dar o fora daqui antes que eles chegassem.
Uma coisa era certa; este não foi o fim.
Eu me coloquei atrás dos três homens de alguma forma e disparei
o primeiro tiro, pegando um deles na parte inferior das costas. Ele caiu
com um grito, mas meu disfarce foi descoberto e as armas foram
apontadas para mim quando mergulhei atrás de uma caminhonete
parada. Ouvi Ilsa atirar de volta para tentar chamar a atenção deles
novamente, mas sabia que teria que eliminá-los agora. Eu me agachei no
chão, respirando fundo antes de atirar debaixo do veículo, usando um
velho truque que meu pai havia ensinado a Franco e a mim há muito
tempo.
Um homem não era nada sem os pés.
Com certeza, meu tiro rápido atingiu o alvo e outro caiu, deixando
mais um. Eu não perdi tempo saindo de trás do SUV, disparando minha
arma enquanto o fazia, minhas balas acertando o guarda restante duas
vezes no peito, suas próprias balas mal roçando meu braço quando ele
caiu.
— Bem! — Eu gritei para Ilsa, meu coração preso na garganta por
sua resposta.
— Bem!
Obrigado porra. Depois de injetar outra bala no homem que agora
estava com os pés sangrando, exalei. Tinha acabado. Tínhamos
sobrevivido de alguma forma.
Não sobrou ninguém, exceto Ilsa e eu, e um homem gemendo a
poucos metros de mim. — Fique alerta — eu disse a ela enquanto
caminhava até o homem na terra. Era um dos meus, um homem
chamado Armand. — Bem, bem — eu exclamei enquanto me agachava
ao lado dele, cruzando meus pulsos com minha arma claramente visível.
— Você não parece muito bem, Armand.
Ele havia levado um tiro na barriga, a camisa já manchada de
sangue e o rosto pálido e suado. — D-Don — disse ele, lambendo os
lábios.
Eu arqueei uma sobrancelha. — Sou agora? Parece que você
esqueceu disso. — Antes que ele pudesse responder, eu estava
agarrando seu braço e forçando-o a se levantar. — Mas vou obter
respostas sobre por que esse não é mais o caso.
Armand choramingou, seus ombros curvados enquanto eu o
conduzia até o SUV onde Ilsa estava. — Quem é aquele? — ela perguntou
quando eu bati Armand contra o SUV capotado, ouvindo seu grito de dor.
— Este — eu disse a ela, enfiando minha arma no cós da calça —
é um traidor.
— Não! — Armand gritou, tendo se recomposto. — Eu sigo Don
Marchetti.
— Seu Don — eu fervi, agarrando a frente de sua camisa — está
diante de você!
— Você não é mais Don — ele cuspiu, sangue pingando de seu
lábio inferior. — Você não teve coragem de matar Dmitri, não importa
quantas vezes nós imploramos para você fazer isso, Roman. Seu irmão,
por outro lado, fez isso sem nem pestanejar.
Soltei uma risada amarga. — É disso que se trata toda essa merda?
Porque eu não mataria a porra de um homem? — É claro que eles
reclamaram sobre eu ter procrastinado a morte de Dmitri, mas não era
o momento certo para fazer isso. — Eu recrutei homens fracos?
— Seu irmão ganhou lealdade — Armand disse em vez disso,
seus olhos brilhando de raiva, raiva que eu tinha certeza que era dirigida
a mim. — Ele não apenas matou o homem que precisava ser morto, mas
perdoou o inimigo para o bem da Máfia.
Eles estavam todos delirando. Para o bem da Máfia? Ter ficado do
lado de Stanislav só complicou as coisas. O que Franco não percebeu foi
que ele havia combinado duas das máfias mais poderosas da Costa
Oeste, dando a cada uma delas acesso a propriedades comerciais e rotas
comerciais que deveriam permanecer separadas. Ele havia criado
sozinho um meio para que alguém eventualmente se libertasse e
matasse o outro, já que não era possível combinar máfias com dois
governantes. Meu palpite era que Stanislav não via Franco como um
governante, mas como um peão.
Um peão que mandou matar meus homens por nada. — É a porra
da sua própria culpa, Roman — Armand zombou, um sorriso sangrento
no rosto. — Você colocou seus próprios homens contra você e nos negou
o direito de opinar sobre você não seguir as rotas de drogas e mulheres
que saem do Pacífico. — Ele riu. — Olhe para você. Um nada, um
ninguém. Você não serve nem para carregar o nome Marchetti.
Meu punho surgiu do nada e colidiu com seu queixo, virando sua
cabeça para o lado, mas ele apenas riu, virando o rosto para mim. — Isso
é o melhor que você pode fazer, Roman?
— Você é um homem morto — eu disse em vez disso, limpando
meus dedos ensanguentados em sua camisa casualmente. — Este ataque
esta noite foi uma ideia de merda. Deixe-me adivinhar. Meu irmão
inventou isso?
A mandíbula de Armand apertou, e foi a minha vez de rir. — Você
está seguindo um homem morto — eu disse a ele, agarrando sua camisa.
— Porque Stanislav não pensa em ter dois governantes.
— Onde está Franco?
Eu congelei, esquecendo que Ilsa estava ali, ouvindo toda a
conversa. Porra. Se ela tinha dúvidas sobre o que Guzman havia dito
sobre minha autoridade ou falta dela, agora ela tinha a confirmação de
que eu não estava mais no comando. — Fique fora disso — eu rosnei.
Isso não era da porra da conta dela. Isso era assunto da Máfia.
Meu negócio.
Ilsa deu um passo à frente, me ignorando. — Diga-me onde ele
está — ela afirmou mais uma vez enquanto eu empurrava Armand de
volta contra o SUV. — Onde está Franco Marchetti?
Armand deu uma olhada em Ilsa. — Então sua prostituta agora
está no seu negócio, Roman? Não é de admirar que Franco tenha visto
sua jogada.
Saquei minha arma e atirei no meio dos olhos de Armand antes
que ele pudesse registrar o que eu estava fazendo, provocando um
suspiro de Ilsa. Meu pulso estava martelando em meus ouvidos, o rugido
surdo de raiva fugaz e agora substituído por alívio por eu ter calado o
filho da puta e enviado para o inferno, onde ele pertencia.
— Porque você fez isso? — ela perguntou. — Porque você faria
isso?
Eu recoloquei minha arma na cintura antes de me virar para ela.
Ela me empurrou longe demais desta vez. A raiva de Franco ter tomado
minha posição, juntamente com esta luta esta noite e ela tentando usar
meu interrogatório como um meio de encontrar meu irmão, era demais.
— Eu estou no controle aqui, porra! — Eu gritei para ela, empurrando-
a contra o SUV. — Você não!
Para minha surpresa, Ilsa soltou uma risada oca. — Não com base
no que ouvi esta noite, você não está — ela rebateu, seus olhos
brilhando. — Parece que você foi derrubado, Roman.
Foi a maneira como ela disse que me fez perder o controle. —
Cuidado com suas palavras, Ilsa.
— Ou o que? — ela desafiou. — Você vai atirar em mim, Roman?
Bem, é melhor você fazer, porque eu vou encontrar seu irmão. E quando
o fizer, vou matá-lo.
Ela me achava impotente. Isso não apenas danificou meu ego, mas
me fez querer mostrar a ela o quão poderoso eu realmente sou. Eu ainda
sou a porra do Don, não meu irmão. Tudo o que ele fez, as mentiras que
contou à máfia, não importava. Eles teriam que me matar antes que
pudessem dizer que eu não sou mais o Don.
Então agarrei Ilsa pelos quadris com força, satisfeito em ver seus
olhos se arregalarem. — Você acha que eu não estou no controle? — Eu
continuei furioso, puxando seu cinto. — Você acha que eu sou um idiota
que você pode mandar? — Com cada palavra, eu tinha outra reação, uma
que fazia meu pau pressionar contra minhas calças. — Talvez eu devesse
mostrar a você o que significa foder com um Don.
— Pare — ela começou quando eu consegui afrouxar seu cinto. —
Roman, pare! Eu não quero isso!
Eu estava além de me importar com o que ela queria. Ilsa havia
cruzado uma linha com a qual ela flertava há muito tempo. Eu a deixei
esquecer quem eu sou, quem eu realmente sou, e agora a consequência
seria algo que ela não gostaria.
— Não — ela disse, tentando dar um tapa em minhas mãos
enquanto eu puxava suas calças abaixo de seus quadris. Quando ela
estendeu a mão para a arma, eu a peguei e joguei na terra próxima,
efetivamente acertando um gancho de esquerda no queixo como
resultado. — Seu desgraçado! — ela começou a gritar, tentando lutar
comigo. — Me deixe ir!
— Você teve sua chance — eu disse a ela, virando-a rudemente.
Agarrei sua calcinha e dei um puxão forte, o material fino caindo aos
pedaços. Sua bunda brilhava na luz da manhã, e eu senti um puxão na
minha própria virilha. — Agora você aprenderá sua lição.
E essa lição seria difícil para Ilsa aprender.
CAPÍTULO DEZESSETE

ILSA

Eu nunca tinha visto Roman assim antes. Nem mesmo quando nos
conhecemos e ele me apalpou durante seu “interrogatório”.
Este Roman estava em outro nível. — Roman, pare — eu tentei
novamente enquanto sua mão corria sobre minha bunda levemente,
enviando arrepios pela minha espinha. Tínhamos acabado de participar
de um tiroteio, pelo amor de Deus, e eu o vira matar um homem diante
dos meus olhos.
Isso tinha que ser movido a adrenalina.
— Você ultrapassou uma linha — ele rosnou baixo perto do meu
ouvido. — E agora você tem que ser punida.
Apesar da raiva em sua voz, minhas entranhas estremeceram com
o pensamento. Roman estava chateado com meu envolvimento e
tentando impedi-lo de matar aquele homem. Era disso que se tratava.
Eu queria encontrar Franco, e claramente Roman não estava muito
interessado em me fazer perguntas, muito menos sobre seu irmão.
Mas isso... eu não queria ter algo assim entre nós. Então eu tentei
me mover, a mão de Roman apertando meu quadril quase
imediatamente. Isso só me irritou. — Pare! — Eu gritei, me contorcendo
para fora de seu aperto.
Sua outra mão pegou meu pulso enquanto eu tentava fugir, e
quase tropecei nas minhas calças que estavam amontoadas em meus
tornozelos. Seu toque doeu, e estremeci quando ele me girou de volta
contra o SUV. — Não — ele murmurou, meu meio pressionado contra o
metal frio do capô. — Você não está se safando facilmente com isso, Ilsa.
— Seu desgraçado! — Eu gritei quando um de seus pés
escorregou entre os meus, abrindo minhas pernas com seu joelho. Meus
próprios movimentos foram restringidos por minhas calças e exalei em
frustração. — Eu não vou deixar você fazer isso comigo!
Roman riu sombriamente enquanto sua mão descia pela minha
bunda novamente. — Como se você tivesse uma escolha, Ilsa. Você é
minha, e eu sou o Don aqui. Eu estou no controle.
— É disso que se trata? — Eu perguntei, lutando contra ele. —
Sobre você estar no controle? Isso não é controle! — Isso não era
Roman.
Mas, novamente, eu não o conhecia. Ele tinha matado meus pais,
apontou-me o dedo na frente de uma sala cheia de estranhos como se
não importasse, e agora ele estava me despindo no meio do nada!
Roman pegou sua mão e a deslizou pelo meu braço, prendendo-a
no capuz. — Você não vai a lugar nenhum — disse ele enquanto a outra
deslizava entre minhas coxas. Fechei os olhos enquanto ele tocava meu
clitóris já inchado, odiando que eu estivesse encharcada por causa do
tratamento.
Eu não deveria gostar disso. Eu não deveria estar reagindo dessa
maneira.
— Olhe para você — ele murmurou, deslizando a mão para cima
para deslizar a ponta do dedo. — Molhada e me querendo mesmo que
eu seja um filho da puta.
— Pare — eu rosnei enquanto seu dedo se movia mais para o sul,
usando minha própria umidade para desenhar um círculo lento em volta
do meu cu. Eu respirei fundo quando ele fez, uma sensação totalmente
nova deslizando por mim. Nunca deixei que ele me tocasse lá ou
qualquer outra pessoa.
Era um tabu demais para mim. — Pare.
— Você gosta disso.
— Você gosta de estar no controle — eu forcei, tentando sair do
caminho de seu dedo errante. — Você gosta que isso me coloque em uma
posição enfraquecida.
Ele parou por um momento antes de retomar o rastreamento do
meu cu enrugado. — Você não é fraca, mas precisa saber que eu sou a
porra do Don aqui, não você.
— Então este é um jogo de poder — eu ri sombriamente. — Claro
que é.
De repente Roman estava pressionando minha cabeça contra o
capô do SUV, seus dedos em volta da minha garganta. Por um momento,
fiquei em choque por ele estar fazendo isso, seus dedos pressionando
com força a lateral do meu pescoço.
Ele estava me sufocando.
Entrei no modo de luta, atacando o melhor que pude com meus
braços, tentando chegar atrás de mim e agarrar o que pudesse. Não
consegui ver nada nesta posição, nem encontrei nada para lutar contra
ele. Pontos negros começaram a dançar sobre minha visão e meu
coração afundou.
Roman ia me matar. Ele não me amava de jeito nenhum. Eu era
dispensável. Eu deveria ter pensado melhor antes de pensar que Roman
poderia me amar.
— Não — eu sussurrei. Isso não poderia ser o fim.
— Eu não me importo — ele rosnou perto do meu ouvido, sem
desistir. — Eu não me importo, porra.
Oh Deus. O ar ficou mais rarefeito, meus pulmões queimando no
peito pela falta dele. Eu queria gritar e lutar com ele, mas meus membros
ficaram pesados, sinalizando o fim.
Eu ia morrer nas mãos do homem que pensei que me amava.
Que ironia. Roman ia me matar e não havia nada que eu pudesse
fazer a respeito.
Com um último esforço, eu o ataquei, surpreendendo-o. Sua mão
de repente saiu da minha garganta, e eu respirei fundo, tossindo forte e
tentando me virar para poder antecipar seu próximo ataque.
Sua mão bateu entre minhas omoplatas, me empurrando contra o
capô do carro. — Foda-se, não — ele rosnou. — Você não vai a lugar
nenhum.
— Você está doente — eu ofeguei, tossindo fracamente. — Te
odeio!
— Bom. Você deve. Você deve saber que estou no controle.
Sua mão não desistia e eu lutei fracamente contra ele, tentando
me empurrar para fora do capô. Eu tive que fugir.
Isso não era Roman. Este era um louco que estava atrás de algo
que eu não conseguia entender.
Este era verdadeiramente Don Marchetti, e eu suspeitava que
tinha tudo a ver com seu irmão.
— Eu sou a porra do Don — Roman rosnou enquanto sua mão
voltava para minha bunda. — Sou eu quem você deveria ter medo, Ilsa.
Que toda porra deveria ter medo.
— Isso é uma viagem de poder para você? — Eu murmurei
quando ele deslizou os dedos na fenda. — Alguma maneira de fazer você
se sentir um homem maior? — Eu odiava esse lado dele. Eu odiava que
meu corpo estivesse pensando nele, mas minha mente queria matá-lo
pela humilhação e constrangimento que ele havia causado em poucas
horas.
Eu queria – caramba, eu queria fugir.
— Uma viagem de poder? — ele riu asperamente, empurrando o
dedo lentamente no meu cu. — Diga-me o que você pensa agora, Ilsa.
Diga-me que eu sou um maldito bastardo.
Tentei formar uma palavra, mas nenhuma veio, uma sensação de
formigamento correndo pela minha espinha. Eu queria detê-lo, mas
tudo que pude fazer foi voltar contra ele, o que só o fez deslizar mais.
— Você gosta disso — ele rosnou, seu corpo grande e magro
pressionado contra o meu. — Você gosta disso, porra.
— N-não — eu disse asperamente, embora um gemido
espontâneo ameaçasse escapar de mim. Foi uma sensação diferente,
muito diferente de tudo que ele tinha feito comigo antes.
Eu não queria gostar.
Sua outra mão deixou minhas costas e, por um momento, pensei
em afastá-lo. Esta foi a minha chance de fazê-lo, para pegá-lo
desprevenido.
Mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, sua mão estava
esfregando meu vinco. — É disso que você gosta aí — ele rosnou,
deslizando-o para cima do meu vinco. — Diga-me que não.
Eu não ia dizer nada a ele agora. Minha mente ainda estava
tentando processar o fato de que ele havia me sufocado e nem mesmo
de forma sexual, meu corpo reagindo ao que ele estava fazendo com as
mãos.
Eu não poderia funcionar.
Sua mão deixou minha boceta e eu engasguei, meu corpo em
alfinetes e agulhas sobre o que ele faria a seguir. Meu cérebro estava
gritando para eu me mover, para ficar longe dele, mas eu não conseguia
fazer minhas pernas se moverem. Ele ia me matar de outras maneiras.
Mas senti seus dedos passarem pelo meu cu de novo, desta vez
deixando um rastro de minha própria umidade em seu caminho. Eu
tentei me curvar contra seu aperto nas minhas costas, mas ele era
implacável, e eu engasguei quando senti a ponta de seu pênis roçando o
ponto que ele estava tocando.
Oh Deus. — N-não — eu disse fracamente enquanto Roman
empurrava lentamente. Parecia que ele estava me dividindo em duas,
mas também me preenchendo de uma maneira que eu nunca pensei ser
possível, deslizando para os recessos escuros que nunca haviam sido
tocados assim antes.
— Foda-se — ele murmurou, sua mão afrouxando um pouco nas
minhas costas. — Curve-se o máximo que puder, Ilsa.
Eu queria negar isso a ele, não seguir seus comandos, mas ele é
muito grande, e eu, bem, eu sentia cada centímetro delicioso dele no
meu traseiro. Isso era todo tipo de errado, especialmente depois do que
tínhamos acabado de passar, mas caramba, eu não queria que ele
parasse.
Quando ele estava completamente embainhado, eu jurei que o
ouvi xingar novamente antes de sua mão livre estar entre minhas
pernas, levando-me a um orgasmo destruidor da terra enquanto ainda
estava enterrado em minha bunda.
Então Roman começou a se mover implacavelmente, deslizando
apenas o suficiente para eu sentir antes de empurrar de volta, sentindo
como se estivesse indo mais fundo a cada impulso. Eu gritei, e sua mão
serpenteou em volta da minha boca, cobrindo-a. Eu podia sentir o cheiro
da minha própria excitação em seus dedos, e que Deus me ajude, isso só
me excitou mais.
Eu estava gostando disso. Eu estava gostando de seu pau na
minha bunda. A leve pontada de dor se foi e em seu lugar - eu não
poderia descrevê-la.
Um gemido me escapou antes que eu pudesse puxá-lo para trás e
Roman se encostou nas minhas costas, sua roupa irritando minha pele
exposta. — Diga-me que você ama isso — ele murmurou em meu
ouvido, o calor de seu corpo adicionando uma camada adicional de
excitação quando ele tirou a mão da minha boca. — Diga-me que você
quer isso, Ilsa.
— N-não — eu gemi, arqueando as costas contra ele. A pressão
estava começando a aumentar agora, e se fosse algo como meus
orgasmos normais, eu iria desmoronar bem aqui no capô deste SUV, nas
mãos de um monstro.
— Você vai — respondeu ele, movendo-se mais rápido.
Eu não conseguia acompanhar as emoções rolando sobre mim,
encontrando lágrimas manchando meu rosto enquanto eu olhava para
longe. Eu não estava chorando porque ele estava me machucando
fisicamente.
Roman estava me matando de outras maneiras, maneiras que não
podiam ser consertadas.
— Diga-me — ele insistiu, suas coxas batendo na parte de trás da
minha. — Diga-me que você ama isso, Ilsa.
Ele queria se sentir poderoso. Ele queria se sentir como se
estivesse no controle. — Não — eu rosnei, mordendo meu lábio inferior
forte o suficiente para tirar sangue. Eu não ia dar a ele essa satisfação,
embora ele provavelmente pudesse senti-la.
Roman não respondeu, mas pude sentir que ele estava aceitando
o desafio quando senti a pressão começar a se tornar insuportável.
Quando me soltei, o orgasmo quase me deixou de joelhos, meu corpo se
despedaçando.
Ele não parou embora. — Diga-me — ele grunhiu, seu corpo
batendo no meu. — Diga-me que você quer isso.
Eu choraminguei, sentindo outro orgasmo começar a crescer.
Lágrimas ainda escorriam pelo meu rosto, mas eu queria mais.
Eu queria tudo que Roman pudesse me dar, e ele não iria desistir
até que eu desse a ele o que ele queria.
Ele queria estar no controle. Ok. — Sim — eu deixei escapar,
minhas unhas arranhando o capô. — Sim.
Houve um estrondo de satisfação que deslizou por Roman antes
que ele se derramasse em mim e eu gritasse seu nome, minha voz
ecoando pela madrugada. Por um momento, o tempo parou ao nosso
redor e não havia nada além de uma respiração áspera, o jeito que
Roman estava pressionado contra mim.
Foi um lembrete do que havíamos feito no passado, mas isso foi
em outro nível.
Isso era algo que eu não conseguia nem colocar em palavras.
Senti o roçar fraco da mão de Roman sobre minha bunda nua
antes que ele cuidadosamente saísse de mim. Eu podia sentir a mistura
de nossos sucos escorrendo pela minha perna e, embora eu achasse que
sentiria um pouco de vergonha e constrangimento pelo que tínhamos
feito, não senti.
Ao invés disso eu me virei, encontrando o olhar encapuzado de
Roman pela primeira vez. Seus olhos estavam no meu pescoço, e eu
pensei ter visto uma centelha de arrependimento neles. — Você está
machucada? — ele perguntou asperamente enquanto enfiava seu pênis
de volta em suas calças.
Balancei a cabeça, sem saber se podia confiar em minha voz para
falar. Eu não sabia se ele queria dizer meu pescoço ou minha bunda ou
qualquer outro lugar no meio, mas ele não saberia como eu estava me
sentindo.
Então, em vez disso, peguei minhas calças, puxando-as sobre
meus quadris e prontamente o ignorei.
Uma vez que meu cinto foi preso, seu dedo tocou sob meu queixo
e me forçou a encontrar seu olhar novamente. — Ilsa — ele começou,
engolindo em seco.
— Não — eu forcei, deixando minhas emoções de lado por
enquanto. — Eu não quero ouvir isso.
Ele deu um passo em minha direção, com a mão fechada em
punho, e eu soltei uma risada vazia. — O que? Você vai me bater agora?
— Levantando meu próprio queixo, eu sorri. — Faça isso, Roman.
Coloque-se no controle. Não é isso que você queria? Estar no controle?
Sua mandíbula apertou. — Não é disso que se trata, Ilsa. Não
quero machucar você.
Outra risada. — Me machucar? — Apontei para o meu pescoço. —
O que diabos foi isso então? Eu pensei... — Eu deixei minhas palavras
morrerem, não querendo revelar que eu realmente pensei que ele iria
me matar.
Roman arqueou uma sobrancelha. — O que, Ilsa? Apenas vá em
frente, deixe tudo sair.
Caramba, não. — Onde está minha arma? — Eu perguntei ao invés
disso, olhando ao nosso redor. Agora que o sol estava começando a
aparecer no horizonte, pude ver que estávamos em uma faixa de terra
árida fora de Los Angeles, sem nada por quilômetros. Havia um SUV
capotado, mas aquele contra o qual eu estava pressionada parecia que
ainda estava intacto e, com sorte, dirigível.
Não só isso, os corpos estavam por toda parte. Era difícil dizer
quem tinha sido o inimigo agora, e me perguntei quantos deles eram
homens de Roman que haviam sido enviados por seu irmão para matá-
lo.
Essa família estava ferrada.
— Ilsa, precisamos conversar.
Eu me virei para Roman, empurrando contra seu peito. Todas as
emoções do que aconteceu entre nós se foram há muito tempo e,
honestamente, a única coisa que restou foi amargura, amargura pelo que
ele fez comigo. — Conversa? Nunca mais quero dizer nada a você.
CAPÍTULO DEZOITO

ROMAN

Ilsa estava chateada.


Seus olhos estavam brilhando com emoções, e eu podia ver sua
mão enrolada como se ela quisesse me bater.
Inferno, eu mereci isso. Agora que a adrenalina estava passando,
percebi o que tinha feito com ela.
Eu havia perdido o controle com ela, e o anel vermelho em seu
pescoço era a prova. Isso eu não pretendia fazer. Eu nunca iria querer
machucá-la assim, e me senti um idiota por fazer isso.
Esta era a única pessoa em quem eu podia confiar agora, e essa
confiança foi quebrada por minhas malditas ações estúpidas.
Desculpe, apenas não parecia que era o suficiente. — Atire em
mim.
Seus olhos se arregalaram. — O que?
— Atire em mim — eu desafiei, segurando meus braços
frouxamente ao meu lado. — Onde você quiser. Mate-me se achar que
isso lhe dará a retribuição de que precisa. — Eu havia perdido tudo: meu
título, minha Máfia, Ilsa.
Ela soltou uma risada curta. — Você está delirando, Roman. Não
vou atirar em você.
Eu pisei em seu caminho antes que ela pudesse passar por mim.
— Você quer matar meu irmão pelo que ele fez. Eu também estava lá,
Ilsa. Em vez disso, atire em mim. Isso não a impediria de ir atrás do meu
irmão, mas me impediria de matá-lo.
Os lábios de Ilsa se separaram antes que ela os pressionasse em
uma linha fina. — Saia do meu caminho, Roman.
Dei um passo em direção a ela novamente. — Acabei de te foder
na bunda, Ilsa. Isso deve ser o suficiente para você me odiar dez vezes.
— Saia do caminho — ela repetiu, sua mão flexionando ao seu
lado. — Eu não sou você.
As palavras me atingiram com força. Ilsa não era eu. Ela não
passava de uma inocente antes de me conhecer, e eu estava arruinando
sua vida desde o primeiro dia.
Eu sou Roman Marchetti, mas com Ilsa, com a única pessoa que se
importava comigo antes que a merda batesse no ventilador, eu sou
apenas Roman.
O golpe foi como levar um chute nas bolas. — Não, você não é —
eu resmunguei, me sentindo dez vezes mais idiota. — Você é melhor do
que eu jamais poderia ser.
A admissão não fez nada para suavizar sua expressão. — É isso —
afirmou ela. — Isso não vai acontecer de novo.
Eu acreditei nela, mas um movimento à distância chamou minha
atenção, o som fraco de motos no ar.
Porra. Eu não precisava disso agora. — Encontre sua arma — eu
gritei para ela, lutando para fazer o mesmo.
Ilsa olhou por cima do ombro antes de correr para localizar sua
arma. Pelo menos ela estava disposta a me ouvir agora.
Provavelmente não foram amistosos.
Sem me preocupar em ver onde Ilsa estava, peguei minha arma
na terra e verifiquei o pente. Menos de um clipe completo me
cumprimentou.
Ótimo pra caralho. Outra porra de tiroteio onde eu estava mal
preparado. Isso foi culpa de Guzman, e uma vez que eu estivesse na
frente dele novamente, eu iria descontar minhas frustrações em sua
bunda.
Com um grunhido, levantei-me com minha arma em punho
quando a primeira motocicleta apareceu, disparando uma bala para
tirar o motociclista do assento. Ele soltou um grito e a moto saiu do
controle quando ele caiu, colidindo com outra e acabando com o
motorista também.
Dois para baixo.
Escondendo-me atrás do SUV, esperei até que os próximos
estivessem perto o suficiente antes de acertá-los com algumas balas
bem posicionadas, incitando silenciosamente Ilsa a fazer o mesmo. O
que eu realmente queria fazer era mantê-la viva e fora de perigo, mas
precisávamos de toda a ajuda possível para sobreviver a este ataque.
O tiro de retorno foi mais do que eu esperava, e me escondi atrás
do pneu enquanto o spray atingiu o SUV, sacudindo o veículo.
Porra. Eles vieram preparados. — Ilsa! — Eu gritei. — Dê o fora
daqui! — Eu não seria capaz de viver comigo mesmo se ela morresse
hoje. Eu já tinha sido um idiota real com ela e queria a chance de me
desculpar com ela, implorar seu perdão pelo que eu tinha feito.
Mais importante, eu queria dar a vida dela quando eu havia tirado
tanto dela, e se isso significasse minha vida em troca, bem, eu estava
pronto para encontrar meu criador.
Ou o diabo. Definitivamente o diabo.
Houve um grito que gelou meu sangue, e eu me levantei sobre o
SUV a tempo de assistir Ilsa lutar entre dois homens enquanto eles
tentavam arrastá-la para um carro que esperava. — Não! — Eu gritei,
levantando minha arma para atirar enquanto começava a me mover em
sua direção. Eu não poderia perdê-la.
Agora não.
Uma saraivada de balas perto dos meus pés me parou no meio do
caminho, e fui forçado a me proteger atrás do veículo capotado, meu
pulso disparado em meus ouvidos. Eles tinham Ilsa.
Eles seriam todos separados por minhas próprias mãos por tocar
o que era meu.
Esclarecendo minha mente, forcei-me a ir até o final do veículo,
rezando para quem quisesse ouvir para me dar mais uma chance com
Ilsa, para permitir que eu a salvasse. Eu desistiria de qualquer coisa, meu
título, minha Máfia, minha vida pela dela.
Eu devia a ela mais do que uma explicação. Eu devia a ela um
pedido de desculpas.
Levantando-me do meu esconderijo, tirei mais dois que estavam
saindo de suas motos enquanto corria para a próxima cobertura, que
não era muito em termos de proteção. Um par de corpos empilhados
juntos não forneceu muito, mas eles forneceram pentes adicionais que
encheriam minha arma agora vazia.
Mudando-a rapidamente, adicionei outra arma ao meu arsenal
antes de disparar, atraindo a saraivada de balas em minha direção. Eles
se encaixaram na parede humana, e eu ouvi um grito arrepiante antes
de ser cortado, sabendo muito bem que era Ilsa.
Porra.
Correndo com adrenalina e o puro fato de que eles a haviam
levado, descontei minha fúria nos motoqueiros restantes deixados para
trás, provavelmente nada mais do que uma diversão para capturá-la no
final. O último acertei na mão que atirava, fazendo-o largar a arma
quando me aproximei. Ele caiu no chão e começou a recuar, estendendo
a mão ferida em sinal de rendição. — Espere!
Baixei minha arma, olhando para ele. — Para onde eles a
levaram?
Seus olhos estavam arregalados de medo. — O que? Não sei do
que você está falando.
— Para onde eles a levaram! — Eu rugi, atirando em sua perna.
Ele gritou e agarrou sua perna, mas eu não tinha terminado. Abaixei-me
e agarrei a frente de seu colete, puxando-o para cima. — Onde diabos ela
está?
— E-eu não sei, cara! — ele respirou, dor agora tomando conta do
medo em seu rosto. — Fomos enviados apenas para atirar e conter. É
isso, eu juro!
Eu dei a ele um sorriso duro. — Pena que você não sabe — eu
fervi, soltando sua camisa e deixando-o cair de volta na terra. A próxima
bala entrou em seu braço e ele soltou um som inumano, um gemido
gutural que poderia ser confundido com um homem morrendo.
Ele ainda não estava morrendo. Eu não ia deixá-lo. — Ei, cara —
ele implorou, segurando seu bíceps sangrando. — Eu realmente não sei,
cara. Por favor, não me mate!
— Você deveria ter pensado nisso antes de se inscrever para essa
merda — eu rosnei, rolando meus ombros. — Mas você terá muito
tempo para pensar sobre isso. Eu não vou matar você.
O alívio em seu rosto era palpável, e dei a ele um sorriso malicioso
antes de colocar mais duas balas nos membros restantes, até que ele
estivesse sangrando em cada uma delas. — Vê? — Eu respondi, enfiando
minha arma no cós da minha calça.
— Seu filho da puta! — ele gritou quando eu comecei a me afastar.
— Você irá morrer!
— Não tão rápido quanto você — eu murmurei, voltando para o
SUV que nos trouxe aqui. Eu precisava dar o fora daqui e tentar rastrear
o paradeiro de Ilsa no processo.
Eu precisava chegar até ela rapidamente. Para começar, era
minha maldita culpa que ela estivesse nessa situação, minha maldita
culpa que sua vida estava em perigo, e eu era incapaz de impedir isso.
Parando ao longo do caminho, peguei os pentes e as armas extras,
querendo ter certeza de que estava armado até os dentes desta vez. Não
se tratava apenas de eu recuperar minha Máfia.
Não, isso era para resgatar Ilsa, e eu iria até os confins da terra
para fazer isso. Eu tinha errado com ela de tantas maneiras e eu queria
a chance, uma maldita chance, de dizer a ela que eu sentia muito.
Eu queria ter certeza de que ela estava segura.
Mas assim que cheguei ao SUV, ficou claro que havia levado algum
tiro pesado entre os dois tiroteios. Todos os pneus estouraram, com
buracos de bala nas portas e três janelas quebradas.
Levantei o capô, mas o fechei um momento depois, preocupado
com meus piores temores. O bloco do motor foi atingido, com líquido
derramando sob o SUV, inutilizando-o.
Então eu mudei para as motocicletas, encontrando todas elas
vazias, provavelmente apenas gasolina suficiente para chegar aqui e não
voltar.
Isso foi porque eles pensaram que eu iria lidar com isso, ou havia
outro plano em andamento? De qualquer maneira, as motos também
eram uma merda.
Passando a mão pelo meu cabelo, olhei para o caminho que as
motos tinham vindo. Uma estrada brilhou na luz da manhã e eu suspirei.
Essa seria minha única opção.
Quando cheguei à estrada, eu estava com uma sede pra caralho e
tinha formulado um plano do que faria com Guzman, com o maldito
Stanislav e com meu irmão quando os alcançasse. Todos estariam
mortos.
Todos eles pela porra da minha mão.
Encontrando uma pedra, encostei-me nela, batendo com a arma
na coxa para o caso de outra bala ser disparada. Algo me disse que quem
quer que tenha enviado a última tripulação conseguiu o que queria e que
se danem comigo. Eles queriam Ilsa, mas para quê?
Eu não queria pensar sobre isso. O que eu tinha feito com ela iria
empalidecer em comparação com o que eles fariam.
Não, ela era um peão, decidi, alguém para me atrair para mais
perto. Não fazia sentido levá-la sem querer me trazer para o passeio.
Franco sabia que ela era minha fraqueza e provavelmente Guzman havia
chegado à mesma conclusão antes.
Um Don da máfia com uma fraqueza. Foi uma combinação ruim.
Ainda assim, porém, eu não tinha interesse em deixá-la ir, não até
que eu pudesse me explicar. Isto é, se eu pudesse nos tirar dessa merda
para começar.
E Ilsa não me matou ela mesma. Eu tinha visto o olhar em seu
rosto antes, depois de nosso encontro com o SUV. Ela queria me matar,
e eu dei a ela a chance. Se ela tivesse atirado em mim, eu teria merecido
a porra da bala.
Mas ela não tinha, e minhas palavras para ela não tinham sido
uma mentira. Ela era uma pessoa melhor do que eu jamais poderia ser,
e agora, por minha causa e minha associação com ela, ela estava em
perigo.
Respirando fundo, olhei para longe. Eu tinha uma boa ideia de
onde eles tinham ido, ou pelo menos onde meu irmão poderia estar. Não
foi uma porra de coincidência termos sido atacados duas vezes. Alguém
estava nos observando, transmitindo informações para fazer alguém
enviar o segundo turno tão rapidamente.
Agora eu tinha que lidar com as consequências. Primeiro eu tinha
que resgatar Ilsa, depois teria que lidar com os responsáveis. Meu irmão
incluído.
Meu estômago revirou com o pensamento. Franco tinha ido longe
demais para eu fechar os olhos, e talvez tenha sido isso que eu fiz de
errado todo esse tempo. Ao deixá-lo se safar com coisas triviais, abri a
porta para questões maiores e desejos dele. Mesmo sabendo que ele se
ressentia de mim como Don, nunca pensei que ele viraria as costas
completamente para mim. Nunca pensei que ele ficaria do lado da porra
do nosso inimigo.
Isso teve consequências, e se eu tivesse que demolir toda a minha
Máfia por causa disso, estaria recomeçando sem meu irmão ao meu lado.
Teríamos nosso dia e, embora fosse doloroso para mim eliminá-lo,
poderia ser assim. Franco nunca ficaria feliz até que ele estivesse no
topo, o que significava que eu não poderia estar por perto.
O som de um carro à distância chamou minha atenção, e eu me
levantei da rocha, saindo para a estrada para que ele não tivesse escolha
a não ser parar. Apontando minha arma para o para-brisa, fiz um gesto
com a mão. — Dá o fora.
A porta se abriu e um senhor mais velho saiu, com as mãos no ar.
— Bom dia para você também.
Ele era um velho grisalho, com a cabeça cheia de cabelos brancos
e uma barba combinando. Seu macacão o colocava fora de lugar nesta
parte do país, mas eu gostava que ele não estivesse tremendo ao me ver,
apenas curioso. — Vou precisar do seu carro.
Ele encolheu os ombros. — Achei que sim.
Abaixando minha arma, fiz sinal para ele se afastar da porta antes
de me aproximar do lado do passageiro, espiando a mochila e a lancheira
no banco. — Indo para a cidade?
— Consultas médicas — ele disse casualmente. — Vou passar a
noite com minha sobrinha.
Abri a porta e retirei os suprimentos. — Você tem um celular?
— Sim, você quer isso?
Eu balancei minha cabeça, colocando os itens no capô. — Só quero
ter certeza de que você pode pedir ajuda depois de me dar uma
vantagem.
Ele me olhou. — Obrigado.
Dando-lhe um aceno de cabeça, contornei o carro. — Pegue suas
coisas, velho. Não vou matar você hoje.
Ele fez o que eu instruí e entrei no carro, fechando a porta atrás
de mim e me afastando antes que pudesse mudar de ideia. Alguém
estaria junto para ajudá-lo. Talvez essa tenha sido minha boa ação de
hoje, um sinal de que ainda posso resgatar Ilsa.
Eu estava indo. Franco saberia disso e Stanislav também. Eles
saberiam que eu não deixaria a detetive ir assim.
Eu só esperava que eles estivessem prontos para as
consequências.
CAPÍTULO DEZENOVE

ILSA

Sentei-me no banco de trás, com as mãos amarradas atrás das


costas enquanto o carro guinchava na estrada.
Literalmente guinchou na estrada. Parecia que havia um cinto
solto ou algo assim, e eu teria pensado que os sequestradores poderiam
comprar um carro com melhor som.
Girando meus pulsos, estremeci quando os laços morderam
minha pele. Eu realmente não sabia o que estava acontecendo com a
minha vida. Era como se eu fosse um ímã para um desastre completo e
absoluto, honestamente.
Primeiro o tiroteio, depois a coisa com Roman, e agora eu tinha
sido sequestrada por Deus sabe quem.
— O que você está fazendo aí atrás?
Olhei para o homem olhando para mim no espelho retrovisor. —
Nada, seu idiota.
Ele riu, acertando o outro no banco do passageiro no ombro. —
Ela tem um pouco de fogo. Talvez devêssemos provar um pouco disso
antes de chegarmos lá.
O outro homem olhou para mim, um brilho em seus olhos que fez
meu estômago revirar. — Disseram-nos para não tocar na mercadoria.
— Um pequeno toque não vai doer — o motorista sorriu. — Além
disso, parece que ela pode valer a pena.
— Venha — eu disse a ele. — Eu vou te machucar de maneiras
que você nem pode imaginar.
Ele riu. — Gosto das minhas mulheres mal-humoradas.
Eu apertei meu queixo, trabalhando para afrouxar as braçadeiras
em meus pulsos. Não era assim que eu esperava que as últimas vinte e
quatro horas fossem. Se eles me tocassem, eu cairia lutando como
pudesse. Eles poderiam ter amarrado meus pulsos, mas minhas pernas
ainda estavam livres, assim como minha cabeça. Eu conhecia maneiras
de tentar feri-los.
— Inferno, não — seu parceiro finalmente disse, olhando para
mim. — Eu não estou tocando nela. Não quero que o chefe desconte em
mim.
Ele me deu um último olhar. — Talvez você esteja certo. Ele tem
estado de péssimo humor ultimamente. Eu não quero fazer parte disso.
Um pequeno suspiro de alívio me escapou. Afinal, eu não teria que
lutar contra eles.
Eles retomaram a conversa e fiquei feliz por não estar mais
chamando a atenção deles. Depois das últimas horas, eu só queria me
enroscar em um buraco e esquecer que eu existia.
Não foi completamente por causa do que aconteceu entre Roman
e eu. Ele não tinha sido ele mesmo, e o que ele fez, bem, eu gostei.
Eu tinha gostado demais.
Não, foi toda essa provação, começando quando descobri sobre o
envolvimento de Roman e Franco na morte de meus pais. Tudo parecia
começar a piorar depois disso e, embora eu soubesse que minha vida
nunca mais seria a mesma, nunca imaginei que seria assim.
Agora eu tinha matado um homem, não um inocente, mas o matei
mesmo assim. Minha vida amorosa estava em frangalhos, e seria melhor
eu ter permanecido solteira.
Olhando pela janela, tentei não pensar na última vez que vi
Roman. Ele não parecia nada com um Don, mas mais como um vigilante
disparando suas armas e tentando nos salvar.
Agora ele estava sozinho. Embora eu não quisesse sentir pena de
Roman, eu sentia, honestamente. Quero dizer, cortar meus sentimentos
não era como fechar uma torneira.
Ele estava preocupado comigo? Isso eu não sabia. Eu não sabia
como ele iria reagir ao me levarem ou se ele achava que valeria a pena
vir atrás.
E se ele estivesse morto? Afastei o pensamento. Eu saberia se ele
estivesse morto. No fundo eu saberia.
O que Roman tinha feito comigo durante nosso tempo na ilha e
pouco tempo atrás ficaria comigo por um longo tempo, mas também
estimulou sentimentos fortes, emoções que viveriam comigo por muito
mais tempo do que eu provavelmente viveria. Curti. Uma pequena parte
de mim desejou que nunca tivéssemos saído da ilha, que eu tivesse
implorado para ficar com ele lá e esperar por ele quando ele tivesse que
fazer negócios.
Desejei que ele nunca tivesse me dito quem ele realmente era, que
nunca tivéssemos feito a conexão do que nos aproximava ainda mais,
mas tão distantes.
Eu gostaria de ter tratado meu tempo com ele como uma conexão
realmente quente e não um meio de me apaixonar por ele.
Não importava agora. Eu não podia voltar no tempo e não podia
mudar o que sentia por ele, não importa o que ele tivesse feito.
Eu só esperava ver Roman novamente.
Descansei meus ombros contra o assento, permitindo-me relaxar
um pouco. Meus sequestradores não pareciam mais tão interessados em
mim, o que era bom, mas eu sabia que em algum momento chegaríamos
ao nosso destino e eu tinha que estar pronta.
Mas eu estava tão, tão cansada. Eu estava cansada de lutar,
cansada de correr e fingir que poderia lidar com isso.
Eu não podia. Eu não sabia mais o que fazer. Eu queria receber a
retribuição que meus pais mereciam, mas isso significaria matar o
homem que eu amava.
Foi uma ironia do destino.
No entanto, depois do que aconteceu menos de uma hora antes,
eu não tinha certeza se ainda havia amor envolvido. Eu estava tão
confusa sobre o que sentir por Roman e por que ainda sentia algo por
ele.
Acima de tudo, senti como se tivesse perdido tudo o que poderia
ter ganho nas últimas semanas. Eu tinha encontrado algo, bem, algo
incrível, e agora tinha sumido.
Tudo se foi. Até minha carreira iria acabar quando descobrissem
que eu havia matado Pena. Não é que eu me arrependesse de matá-lo.
Ele era um bastardo e um idiota, merecendo tudo o que conseguiu e
provavelmente muito mais.
Eu só queria que não tivesse sido minha bala que acabou com a
vida dele. Agora eu sou uma criminosa como aqueles com os quais eu
estava me associando.
Caramba, eu não sou melhor do que Roman ou seu irmão.
Meus lábios franziram. Não, eu sou melhor do que eles. Eu não
tinha matado pessoas inocentes como eles.
Talvez tudo isso levasse a um ponto, mas eu não tinha certeza se
conseguiria descobrir qual era o ponto.
Finalmente, os prédios começaram a aparecer e eu me sentei um
pouco mais ereta, tentando catalogá-los enquanto passávamos. Eu tinha
quase certeza de que estávamos em algum lugar ao norte de Los
Angeles, dada a trajetória das montanhas ao longe.
Bom. Eu não queria estar muito longe de LA e do que eu conhecia.
Claro, eu não poderia correr para lugar nenhum e, honestamente,
Roman é meu único aliado.
Esse pensamento em particular me fez querer rir histericamente.
Não éramos aliados. Nós éramos... bem, eu nem tinha certeza do que
éramos.
O carro finalmente parou atrás de um conjunto de prédios
indefinidos e respirei fundo, pronta para qualquer coisa. Eu não sabia
para quem eles estavam me levando, mas eles não iam ver o desespero
que eu sentia por dentro.
Eu ia mostrar a eles a detetive Petrova, a ex-criança adotiva
durona que abriu caminho na hierarquia sem a ajuda de ninguém.
Eu ia mostrar a eles que não poderia ser destruída tão
rapidamente, que não poderia ser deixada de lado e esquecida.
Acima de tudo, eu iria mostrar a eles que eu não era propriedade
de Roman, se era por isso que eu tinha sido levada. Algo me dizia que
ainda estávamos conectados e que não era alguém sequestrando uma
detetive.
Não, eu imaginei que isso tinha tudo a ver com Roman, e eu iria
descobrir o porquê.
Então, quando a porta se abriu e eles estenderam a mão para o
meu braço, eu não lutei, permitindo que o motorista me puxasse para
fora rudemente, sua mão deslizando sobre minha bunda enquanto eu
me endireitava. — Pena que eu não posso ter você, porra — ele
murmurou, agarrando rudemente um punhado e me fazendo prender a
respiração para que eu não o atacasse.
Ele não ia me irritar.
O idiota sorriu e me impulsionou em direção ao prédio, onde notei
que outros haviam saído para nos cumprimentar. Ou melhor, ficar lá
com seus AKs e fingir que não está olhando para mim. Excelente. Um
prédio cheio de idiotas.
Eu mal podia esperar.
— Vamos — meu sequestrador murmurou, me empurrando
entre as omoplatas. O simples ato me lembrou de como Roman tinha me
segurado contra o SUV, e meu corpo reagiu instantaneamente. Meus
mamilos enrugaram e respirei fundo, forçando-me a pensar em outras
coisas. Não era hora de pensar nessas lembranças.
Então eu marchei para dentro do que parecia ser uma espécie de
foyer. Havia portas nas laterais e um leve cheiro de madeira mofada
pairava no ar. Havia um lance de escadas diante de mim, e meu
sequestrador me empurrou em direção a eles cutucando-me na parte
inferior das costas com o punho. — Acima.
Quando me soltasse, ele seria o primeiro a morrer. Eu não me
importava com a parte da minha alma que eu perdi.
O curto lance de escadas foi difícil, considerando que eu não
conseguia me segurar no corrimão, mas consegui o melhor que pude,
alcançando o patamar. Diante de mim havia um longo corredor que
percorria toda a extensão do prédio, com o mesmo cheiro de mofo e
abandono do andar de baixo.
O que é este lugar?
Outro cutucão nas costas e eu caminhei pelo corredor, a mão do
sequestrador em meu cotovelo. Ignorei a maneira como ele acariciava
minha pele, querendo quebrar seus dedos por me tocar.
Talvez eu tenha estado muito perto de Roman porque estava me
sentindo bem assassina agora.
Finalmente, paramos em uma porta fechada e ele bateu nela com
os nós dos dedos, alisando o cabelo para trás com a mão livre. Quem
estava do outro lado era claramente alguém importante, e ele estava
tentando impressioná-los.
A porta se abriu um momento depois e um homem mais velho
estava lá, vestido com um terno de três peças, seu cabelo grisalho
penteado para trás na cabeça. — Você a trouxe.
— Foi o que fiz, Sr. Orlov — ele gaguejou, pigarreando. —
Exatamente como você pediu.
Meus lábios se separaram. Eu estava na frente de Stanislav Orlov,
Pakhan do Krasnaya Bratva. Por um momento, também tive vontade de
rir alto da ironia disso. Como policial, esse era o encontro dos meus
sonhos, mas não com as mãos amarradas nas costas. Trazer este homem
significaria uma elevação em meu status e provavelmente algum tipo de
medalha.
Não que ele fosse ficar sob nossa custódia por muito tempo.
Homens como ele, e bem, como Roman, tinham uma litania de
advogados em sua folha de pagamento, advogados que os livrariam sob
fiança e as acusações seriam retiradas com alguns telefonemas.
Ou o juiz também estava na folha de pagamento. Isso era bem
conhecido na estação. Pena não era o único que trabalhava do lado
errado da lei. O dinheiro falava, e falava bem nos círculos mais altos da
aplicação da lei.
Também notei como ele parecia uma versão mais antiga do russo
de quem Roman havia me resgatado naquela noite no clube Paradise. Eu
me perguntei se eles eram parentes. De acordo com Guzman e Roman,
aquele homem estava morto.
— Ela está aqui — ele gritou para a sala antes de se mover para o
lado. — Por favor. Entre.
— Vá — meu sequestrador disse asperamente, me empurrando
para frente. Isso atraiu uma carranca de Stanislav. — Ela não precisa de
você para ajudá-la — ele rosnou, notando os laços em meus pulsos. —
Liberte-a.
— Mas Sr. Orlov — o sequestrador começou.
— Você está me questionando? — o russo perguntou
casualmente, tirando sua própria faca de debaixo do casaco. Meu
sequestrador empalideceu e deu um passo para trás quando Stanislav
alcançou as minhas costas e cortou as amarras com um movimento
fluido. — Certamente eu ouvi você errado.
— Peço desculpas — afirmou o outro homem.
Stanislav o encarou antes que o sorriso fácil deslizasse de volta
em seu rosto e a faca desaparecesse de volta em seu casaco. — Isso foi o
que eu pensei. Você está demitido.
O homem não conseguia correr rápido o suficiente pelo corredor.
— Srta. Petrova — afirmou Stanislav, chamando minha atenção. — Você
não quer se juntar a mim?
Eu não queria. Eu queria correr atrás do sequestrador para fugir
do perigoso russo que eu estava encarando de repente.
Engolindo meu medo, voltei para a sala, parando um pouco
depois. Na cadeira do canto estava um homem, um homem que parecia
assustadoramente familiar. — Roman — eu sussurrei enquanto ele se
esforçava para ficar de pé. Oh Deus. Afinal, ele estava ferido! Do jeito que
ele estava embalando sua barriga, ele devia estar com um pouco de dor.
Comecei a andar na direção dele, mas algo em sua expressão
mudou no momento em que ele me viu, e meus passos vacilaram. —
Você não é Roman — eu acusei, meu coração martelando em meus
ouvidos.
Seu sorriso era familiar, mas não. Tudo nele era familiar, mas não.
— Você é Franco — eu sussurrei, o sangue drenando do meu rosto.
— Bem-vinda, Ilsa — ele disse suavemente, seus olhos focados
em meu rosto. — É bom ver você novamente.
Meu sangue gelou. Ver-me de novo? Eu sabia a que ele estava se
referindo. Eu sabia o que ele estava tentando fazer comigo.
E estava funcionando. Tudo o que pude ver foi o rosto de meu pai,
o sangue emoldurando seu corpo enquanto ele estava deitado naquele
chão.
Eu podia ouvir os gritos de minha mãe que foram repentinamente
abafados por um tiro que mudou irrevogavelmente minha vida para
sempre. Ele havia matado tudo o que era próximo e querido para mim,
dirigindo minha vida e me fazendo carregar esse fardo pela maior parte
da minha vida.
Eu o odiei neste momento. Eu o odiava muito mais do que odiava
Roman agora. Roman pelo menos se desculpou.
— Você — eu sussurrei, encontrando minha voz. — Você.
Um sorriso lento apareceu em seu rosto. — Então eu vejo que
você se lembra de mim.
Eu cerrei minha mão em um punho, querendo nada mais do que
ter minha arma comigo agora. Este homem arruinou minha vida, me
colocou no inferno, e ele teve a ousadia de sorrir para mim.
— Srta. Petrova — afirmou Stanislav, interrompendo meus
pensamentos. — Garanto a você, estamos muito felizes em vê-la, criança.
Foi a maneira como ele falou a palavra, como se soubesse mais da
minha história do que eu, que me virou para ele, esquecendo-me
temporariamente de Franco, o homem que eu queria matar. — O que?
CAPÍTULO VINTE

ROMAN

Alcancei uma das motocicletas vinte minutos depois, encontrando


uma presa atrás de um carro lento com muito tráfego. Um suspiro de
alívio escapou dos meus lábios quando fiquei alguns metros atrás,
observando a moto enquanto ela serpenteava pelo tráfego. Afinal, eu
não tinha perdido tudo. A moto devia estar voltando para onde quer que
tivesse vindo, e eu tinha uma leve suspeita de que ela iria me levar até
meu irmão e Stanislav.
Guzman queria Ilsa, mas não mataria seus próprios homens para
pegá-la. Não, ele estaria sentado, esperando o momento de eu falhar,
para que ele pudesse tomá-la imediatamente.
Não, isso tinha que ser obra de Franco.
— Foda-se — eu murmurei, batendo a palma da minha mão
contra o volante. Eu não podia acreditar que isso estava acontecendo,
que eu estava prestes a ficar cara a cara com meu irmão e sua traição.
Ele sabia o que forjar uma aliança com Stanislav traria. Ele tinha que
saber que eu não iria apenas cair na linha dele roubando minha máfia.
Era minha. Papai tinha me dado, e se ele tivesse confiado em
Franco, então ele poderia ter tomado as rédeas e minha maldita vida
seria muito diferente nos dias de hoje.
Em vez disso, eu estava prestes a confrontar a porra do meu
próprio irmão sobre sua traição enquanto tentava salvar uma mulher
que eu havia prejudicado de mais maneiras do que queria admitir.
O que diabos havia de errado com a minha vida hoje em dia?
A moto saiu da estrada principal que levava de volta a LA e eu a
segui, mantendo uma boa distância entre nós. A estrada aqui levava às
antigas fábricas de anos anteriores, um bom lugar para reuniões sem
qualquer interferência dos federais e da polícia. Eu mesmo os havia
usado uma ou duas vezes, possuindo vários sob nomes falsos.
Se o motoqueiro estava vindo para cá, então ele estava
trabalhando para Stanislav porque ele também tinha prédios aqui.
Stanislav havia levado Ilsa.
Segurei o volante com força, esfregando minhas mãos na
borracha. Aquele idiota pegou o que era meu para me provocar a ir até
ele. Bem, ele ia me pegar. Nós íamos ter nosso tempo. Ele havia coagido
meu irmão a fazer um acordo com ele, um acordo que provavelmente
resultaria na morte de Franco.
Ele havia levado a mulher que eu amava, a mesma mulher que ele
estava procurando desde a noite em que seus assassinos morreram. Eu
não sabia quais eram os planos dele para Ilsa, mas com certeza não iria
permitir que eles se concretizassem. Stanislav era como eu. Ele era um
bastardo que não tinha alma.
Ele queria estar no topo, ser o maior mafioso da história. Esse
também foi o meu pensamento quando declarei guerra ao mafioso
russo.
Bem, antes que meu irmão tivesse estragado tudo e me colocado
na posição em que eu estava agora.
Franco ia pagar pelo que tinha feito, mas eu não planejava matá-
lo. Ainda não. Se ele tivesse algo a ver com Ilsa ou machucando-a de
alguma forma, então todas as apostas seriam canceladas. Eu estaria
disposto a escolher a mulher que quisesse meu sangue sobre minha
própria carne e sangue qualquer dia.
O pensamento, bem, me deixou desconfortável pra caralho.
Apesar do que quer que estivesse acontecendo com meu irmão,
eu ia matar Stanislav. Ele havia passado dos limites no dia em que tentou
estabelecer uma aliança com meu irmão, e eu sabia em que ângulo ele
estava jogando, mesmo que Franco não conseguisse entender. Dane-se
tentar derrubá-lo peça por peça até que ele não consiga sair do buraco
em que eu o colocaria.
Ele ia morrer esta noite.
O motoqueiro me levou mais fundo nos prédios, e me perguntei
brevemente se ele estava me levando para uma armadilha. Stanislav e
Franco tinham que saber que eu viria atrás de Ilsa. Que planos eles
tinham para mim, bem, provavelmente não seria um jantar sentado.
Lembrei-me de quando conheci o chefe do Krasnaya Bratva, como
ele e meu pai pareciam ter um acordo de cavalheiros durante o jantar.
— Então, este é o seu filho.
Meu pai pegou sua taça de vinho, levando-a aos lábios. — Este é
Roman, sim.
— E você tem dois deles — afirmou Stanislav, olhando por cima da
borda do copo. — Sim?
Olhei para meu pai, cujo maxilar estava cerrado. — Meus filhos
estão fora dos limites para você, Stanislav.
O outro homem riu e eu me endireitei na cadeira. Normalmente
meu pai não permitiria que eu participasse de seus jantares com Stanislav,
mas esta noite ele me disse para comparecer.
Eu, não Franco. Franco teve um ataque quando descobriu sobre isso
e eu sorri o tempo todo, mesmo quando meu pai disse a ele para calar a
boca e o expulsou.
Era mais uma razão para eu pensar que eu era seu favorito.
— Seus filhos — Stanislav estava dizendo, acenando com o garfo
na direção de meu pai. — Eles são bons, não?
Meu pai se inclinou para a frente, apoiando os cotovelos na mesa.
— Do que diabos você está falando, Stanislav? Achei que estivéssemos aqui
para discutir o compartilhamento da rota comercial pelo Arizona, não a
porra dos meus filhos.
— Sim, sim — respondeu o russo enquanto esfaqueava um pedaço
de seu bife. — Mas estou interessado em saber qual deles será seu herdeiro
um dia, Marchetti.
Meu pai franziu a testa e prendi a respiração, imaginando se ele
responderia à pergunta. Eu estava aqui, não Franco.
Eu era o favorito de papai, não meu irmão. Certamente eu estava
na fila para me tornar Don um dia. Eu era o melhor lutador, aquele que
não tinha ataques e andava pela casa como se fosse a porra de uma
criança de dois anos.
Eu era o mais maduro, e todos sabiam disso.
— Por que? — meu pai finalmente perguntou. — O que isso tem a
ver com você?
Stanislav sorriu. — Quero saber quem é o futuro da sua família, só
isso. Isso é algum tipo de crime, Marchetti?
— Não, não é crime — meu pai respondeu calmamente,
recuperando sua taça de vinho esquecida e tomando um gole. Eu fiz o
mesmo, o gosto amargo do vinho tinto me fez engolir rapidamente. Eu
tinha certeza de que provavelmente era um bom ano vintage, mas ainda
tinha gosto de merda.
Stanislav observou os movimentos de meu pai, provavelmente
esperando por mais, mas meu pai o ignorou enquanto recolocava sua taça
de vinho, recostando-se na cadeira. Era como observar os dois dons
jogando xadrez, calculando qual seria o próximo movimento para ver se
conseguiam vencer o oponente. Também era um equilíbrio delicado, como
meu pai tentou ensinar a Franco e a mim. Como não mostrar todas as
mãos ao inimigo de uma vez.
Pela expressão no rosto de Stanislav, ele também havia lido o
mesmo manual. — Eu imagino — meu pai disse depois de alguns
momentos de silêncio doloroso — que você deseja saber quem você pode
pressionar no futuro. Estou aqui para lhe dizer que o nome Marchetti está
mais forte do que nunca, e se você pensa por um momento que pode pegar
um dos meus filhos e transformá-lo em sua cadela, você se enganou.
Stanislav arqueou uma sobrancelha. — Essa não era minha
intenção, Marchetti. Eu só desejo dar o meu apoio como nós temos para o
nosso futuro.
Meu pai foi quem riu dessa vez, afastando a cadeira da mesa.
Apressei-me a fazer o mesmo, imaginando se veria alguma ação entre os
dois mafiosos. Eu não estava armado, já que garotos de quinze anos não
andam armados, mas estava disposto a lutar pelo meu pai.
— Terminamos aqui — afirmou com firmeza. — Este foi um
maldito erro, e esta será a última vez que te dou tal benefício. — Ele se
levantou, pressionando as mãos espalmadas contra o tampo da mesa. —
Saiba que esta será a última vez. Vou me certificar disso.
Stanislav balançou a cabeça, jogando o guardanapo no prato ainda
cheio. Observei para ver se ele tinha uma arma, mas não consegui ver
nenhuma. — E aqui eu pensei que poderíamos conversar como
cavalheiros.
— Assim como eu — respondeu meu pai, apontando para a porta.
— Vamos, Roman.
— Ah, Roman — Stanislav disse enquanto eu me movia para a
porta. — Você é muito parecido com seu pai. Nada além de uma
marionete.
Meu pai ficou imóvel, os ombros tensos sob o paletó antes de se virar
para encarar o russo. — Cuidado, Stanislav — ele disse suavemente, uma
pitada de aço em sua voz. — Seu ciúme está aparecendo.
Mais tarde, depois de entrarmos no carro da cidade para voltar
para casa, perguntei a meu pai sobre seu comentário de despedida para
seu rival. — Ele está com ciúmes — respondeu meu pai, batendo os dedos
na perna. — Seu filho é fraco. Ele sabe que meus filhos serão mais fortes e
levarão o nome Marchetti mais alto do que seu nome jamais poderia
imaginar.
Um surto de orgulho passou por mim. Eu seria o futuro do nome
Marchetti. Eu ia fazer esses pensamentos se tornarem realidade para o
meu pai.
— Homens fracos como Stanislav são perigosos, Roman — ele
continuou, sua mandíbula apertada enquanto olhava pela janela. — São
oportunistas que circulam em torno dos fortes, esperando um momento
de fraqueza. Como ratos implorando por restos. Mas nós? Somos víboras,
Roman. Atacamos onde estão as fraquezas e as enchemos de veneno até
não sobrar nada. — Ele olhou para mim. — Uma víbora, Roman. Isso é o
que você será.
Afastei-me da memória. Essa foi a noite em que percebi que meu
pai iria entregar as rédeas para mim, não para Franco, e não importa o
que meu irmão fizesse, ele não se tornaria Don.
Bem, parecia que ele havia encontrado uma brecha para se tornar
Don.
As luzes de freio do motociclista piscaram ao longe, e eu diminuí
a velocidade do carro, observando enquanto ele virava na entrada e
estacionava a moto nos fundos do prédio. Eu não o segui desta vez, em
vez disso parei o carro na estrada em outro prédio abandonado e
desliguei o motor. À luz da manhã, era difícil ver se havia luzes acesas lá
dentro, mas o guarda que andava pelo perímetro externo me disse tudo
o que eu precisava saber.
Alguém estava lá dentro que precisava de proteção, e eu apostaria
um bom dinheiro que era onde Ilsa também estava.
Depois de verificar minhas armas restantes, desci do carro e
atravessei a estrada, seguindo o passo do guarda. Não demorei muito
para me esgueirar atrás dele quando ele virou a esquina, enfiando minha
faca em sua artéria carótida e baixando-o para o chão enquanto o sangue
vermelho escorria de seu pescoço. Assim que tive certeza de que ele
estava morto, peguei seu AK e o joguei no ombro. Eu não sabia o que me
esperava lá dentro, mas eu iria entrar com armas em punho de qualquer
maneira.
Puxando minha faca do guarda morto, dobrei a esquina com
cuidado, vendo o motoqueiro descansando ao lado de sua moto. Um
sorriso cruzou meu rosto enquanto eu corri para o lado, dando-lhe
muito pouco tempo para pegar sua arma antes que eu estivesse sobre
ele. Caímos no chão, mas me recuperei rapidamente, colocando a faca na
palma da mão e posicionando-a para pressioná-la em seu peito.
Suas mãos estavam em volta das minhas, tentando bloquear a
faca, mas eu tinha a vantagem, usando minha força superior para enfiá-
la em seu peito, direto em seu coração. Ele soltou um suspiro, seus olhos
se arregalando, e eu dei uma torção forte, sentindo a trituração do osso
raspando na lâmina enquanto eu fazia isso.
Morto, assim mesmo.
Deixei a faca em seu peito e me levantei do chão, surpresa por não
ver mais ninguém por perto. Eu duvidava que o guarda ou o motoqueiro
estivesse lá para realmente proteger alguém, mas mais ainda para dar
um aviso se alguém como eu aparecesse.
Ainda assim, me movi cautelosamente em direção à entrada,
puxando uma de minhas armas para mantê-la ao meu lado enquanto o
fazia. A porta estava parcialmente aberta, então eu a empurrei mais
largamente com minha bota, abrindo-a com minha arma em punho. Um
conjunto de escadas estava diante de mim, e havia portas em ambos os
lados do foyer.
Tudo estava estranhamente quieto, e os cabelos da minha nuca se
arrepiaram. Essa não era a maneira normal de Stanislav fazer merda, e
claramente não era a de Guzman.
Qual era a brincadeira deles e onde diabos estava Ilsa neste
prédio? Eu estava tão chateado com Franco que sinceramente esperava
que ele não mostrasse a porra da cara agora. Eu não sabia se poderia me
impedir de matá-lo.
Especialmente se ele tivesse Ilsa.
Não, eu só queria matar Stanislav e levar Ilsa comigo. Eu lidaria
com meu irmão mais tarde.
Muito mais tarde, depois que descobri quem ainda era leal a mim
e quem diabos não era mais. Claramente, dado o que Armand havia dito,
havia dissensão nas fileiras, e se eu tivesse que limpar a porra da casa,
então eu iria fazê-lo.
Eu não sou um grande Don, de qualquer maneira, se meu povo
não confiasse em mim e, por algum motivo, eles tivessem sido
influenciados a seguir meu irmão.
Provavelmente com mentiras e promessas que Franco nunca
seria capaz de lhes dar. Se ele pensou que Stanislav iria fazer isso, então
ele pensou em outra coisa.
Minha bota tocou o primeiro degrau e eu congelei, esperando
para ver se alguém viria investigar o rangido da madeira. Quando
ninguém o fez, dei outro passo, depois outro, sentindo meu pulso contra
minha pele.
O silêncio da manhã foi quebrado por um tiro e eu olhei para
baixo, meio que esperando ver a bala alojada em mim em algum lugar.
Não senti nenhuma dor e, quando outro som soou, eu estava limpando
os degraus rapidamente. Eles não estavam atirando em mim.
Alguém estava atirando.
Porra.
Ilsa.
Náusea revirou meu estômago quando cheguei ao segundo andar,
minhas botas batendo no chão de madeira enquanto procurava a porta
certa para entrar.
Eu não poderia perdê-la, não assim. Não sem limpar o ar entre nós
primeiro.
CAPÍTULO VINTE E UM

ILSA

MOMENTOS ANTES

— O que? — Eu perguntei, confusa com tudo isso. — Porque você


disse isso?
Stanislav apontou para a cadeira que o irmão de Roman acabara
de ocupar, mas não fiz nenhum movimento em direção a ela. Eu não
confiava no pakhan russo mais do que confiava no irmão de Roman ou
em Roman, aliás.
Caramba, eu não confiava em ninguém.
— Tudo bem — disse ele, rindo. — Então fique de pé. Fico feliz
em ver que você não é fraca, Ilsa.
— Diga-me o que você quis dizer — eu repeti, não dando a ele
nenhuma chance de ser evasivo com suas respostas. Eu estava cansada
das mentiras, cansada dos palpites.
Eu só queria respostas.
— Claro — Stanislav reconheceu. — Você, querida criança, foi o
produto dos meus melhores assassinos.
Senti o sangue escorrer do meu rosto. Afinal, Roman estava
dizendo a verdade. — Não entendo.
Ele riu, pegando uma mão manchada de fígado e esfregando o
rosto com ela. — Seus pais, é claro. Eles eram os melhores com um
conjunto de facas, não eram, Franco?
Franco engoliu em seco, com o rosto pálido. — Eu os vi em ação
uma vez — ele murmurou, me dando uma olhada. — Eles tiraram um
bar inteiro cheio de gente sem pestanejar.
As palavras fluíram sobre mim, mas eu estava tendo dificuldade
em processá-las. Meus pais, os mesmos que me acompanhavam à escola
todas as manhãs e depois iam para o — trabalho — eram assassinos
treinados. Eu não acredito.
— Acredite, Ilsa — disse Stanislav. Olhei para ele, percebendo que
havia dito as palavras em voz alta, e ele tinha um sorriso carinhoso no
rosto, como se também estivesse se lembrando deles. Claro, ele tinha um
motivo mais sinistro para fazer isso, mas meus pais nunca me
mostraram nenhum tipo de violência. Nunca os vi manusear uma arma
ou mesmo me dar uma indicação de que podiam, mas claro, eu tinha
apenas cinco anos quando eles foram mortos. Certamente eu teria me
lembrado de algo.
— Eles desempenharam bem seus papéis — continuou ele. — Eu
pensei que eles não cairiam na armadilha de querer sair do jogo, mas
quando sua mãe teve você, ela saiu. Seu pai estava dividido. Ele gostava
da violência.
Stanislav então olhou para Franco, seu olhar se transformando
em algo sombrio. — Então eles foram assassinados.
— Por um bom motivo — Franco murmurou.
Eu não conseguia respirar. Ele estava falando sobre meus pais,
aqueles que me colocaram na cama à noite e me deram um lar amoroso,
apenas para eu ter isso arrancado por ele! Ele não os conhecia!
Stanislav levantou uma arma e eu congelei. Foi esse o motivo pelo
qual ele me trouxe aqui? Para eu saber a verdade sobre meus pais e
depois ser enviada a eles por suas mãos? — Isso é um monte de
problemas para apenas me matar — eu comentei, esperando que ele não
pudesse ouvir o tremor em minha voz.
O homem mais velho riu. — Oh, eu não vou matar você — ele
afirmou, estendendo a arma para mim. — Vou lhe dar uma chance de se
vingar de seus pais. Não é isso que você queria o tempo todo, Ilsa?
— O que? — Franco latiu enquanto eu olhava para a arma que me
era oferecida. Seria fácil pegá-la e atirar nos dois. Não havia outros
guardas na sala e, embora eu não soubesse se havia algum por perto,
isso não importaria tanto. Eu me vingaria tanto do homem que matou
meus pais quanto daquele que os obrigou a servi-los.
Seria o suficiente.
— Continue — Stanislav cutucou. — Pegue, Ilsa. Você sabe que
quer a vingança. Eu posso ver isso em seus olhos.
— Isso é ridículo! — Franco gritou. — Não foi sobre isso que
conversamos, Stanislav!
Mas Stanislav continuou a ignorá-lo, com os olhos em mim. — Ele
tirou tudo de você, Ilsa. Seus pais, sua vida; pense na dor que ele causou.
Pense em como foi sua vida.
A emoção obstruiu minha garganta. Ele não estava errado. Minha
vida não passou de dor desde a noite em que eles morreram, me
forçando a viver uma vida que não deveria.
Foi por causa dele que eu estava na bagunça em que estava agora,
com o coração partido e nada sobrando na minha vida.
Além da vingança.
— Seu filho da puta! — Franco continuou, com o rosto vermelho
de raiva. — Você me enganou!
— Cale a boca — Stanislav finalmente se dirigiu a Franco. —
Pegue a arma, Ilsa.
Eu não pude evitar. Peguei a arma, o peso familiar em minha mão.
— E-espere — Franco começou quando eu apontei a arma para
ele. — Vamos conversar sobre isso.
Uma bala. Bastaria uma bala no peito e eu teria minha vingança.
Bem, metade disso de qualquer maneira.
Mas enquanto olhava para Franco, senti parte da minha bravata
ir embora. Ele se parecia tanto com Roman que meu coração doeu só de
pensar em ver seu peito transbordar de sangue. Seria como se eu tivesse
atirado em Roman e, embora quisesse machucar Franco, não consegui.
Eu simplesmente não conseguia.
— Faça isso — Stanislav pediu do meu lado quando minha mão
começou a tremer com a decisão que eu estava tentando tomar. —
Liberte essa dor, Ilsa. Dê a ele o que ele merece.
— Você não precisa fazer isso — implorou Franco. — Você é uma
detetive! Você não mata pessoas!
— Ele não é uma pessoa, Ilsa. Ele é um monstro que arrancou sua
vida de você! Faça isso!
Oh Deus. Esta não sou eu. Franco não estava muito errado em suas
suposições, mas o Don da Máfia também não. Franco era um monstro e
merecia tudo o que tinha vindo para ele.
Mas eu não poderia ser a única a tirar sua vida. Eu não conseguia
puxar o gatilho e me sentir bem com isso, não importa o quanto eu
quisesse ser assim.
Eu não sou uma assassina, não como eles, e descer ao nível deles
não traria nada de bom para minha vida.
Então eu me virei e atirei em Stanislav, o estrondo alto
preenchendo o ar.
A arma recuou e respirei fundo enquanto esperava que o sangue
aparecesse no paletó cinza imaculado de Stanislav.
Quando isso não aconteceu, ele riu. — Você realmente achou que
eu ia te dar uma arma carregada? — ele perguntou levemente, um olhar
maníaco sobre ele. — Eu não sou um idiota do caralho, Ilsa. Eu conheço
você. Eu sabia que seus planos seriam muito mais longos do que você.
Eu pisquei para ele. Foi um branco. Ele me deu uma arma cheia
de balas.
— Você me pegou bem — Franco riu, sua voz um pouco trêmula.
— Por um segundo pensei que você me queria morto.
Stanislav sacou outra arma e, antes que eu pudesse soltar um
suspiro, ele atirou em Franco no peito; desta vez o sangue brotou em sua
camisa branca.
— Foda-se — Franco engasgou antes de tropeçar em direção a
Stanislav. — Seu filho da puta!
Stanislav não se incomodou em se mover quando Franco caiu de
joelhos antes de cair no chão, segurando a mancha de sangue que se
espalhava em sua camisa. — Você sempre foi o fraco — ele murmurou,
enfiando a arma de volta em seu casaco. — Mas agora você me deu os
homens de seu irmão. Vejo você no inferno, Franco Marchetti.
Franco tentou responder, mas tossiu, com sangue escorrendo de
sua boca. Ele estava morrendo.
— Bem, isso foi divertido — afirmou Stanislav enquanto
caminhava para outra porta que eu não tinha notado antes. — Mas os
homens estarão aqui em breve, então sugiro que você saia daqui
detetive.
Eu não sabia a que homens ele estava se referindo, mas não
conseguia formar as palavras, minha mente cambaleando com o que
acabara de acontecer. Corri para o lado de Franco, pressionando minha
mão contra seu peito. — Você vai ficar bem — eu disse a ele
rapidamente, sentindo o calor de seu sangue contra a minha pele. — Vou
buscar ajuda para você.
Ele tentou falar novamente, mas o sangue escorria de sua boca, e
o medo em seus olhos me fez pressionar com mais força. Havia muito
poucas pessoas que aceitariam a morte assim e, embora eu o quisesse
morto antes, agora sabia que as implicações seriam muito maiores. —
Fique comigo — eu insisti.
Franco deu um suspiro, depois outro antes de seus olhos rolarem
para trás em sua cabeça, e eu senti o ar sair pela última vez.
Ele estava morto.
A porta se abriu atrás de mim, mas não me incomodei em me
virar, não querendo tirar minha mão do peito de Franco, caso ele ainda
estivesse respirando.
— Que porra!
Roman.
O rosto de Roman apareceu e percebi que estava chorando, as
lágrimas rolando pelo meu rosto. — Franco! — ele gritou, empurrando
minhas mãos para fora do caminho para agarrar o rosto de seu irmão
com suas próprias mãos. — Acorde!
Franco não o fez, é claro, e eu me balancei nos calcanhares,
assistindo com o coração partido. Havia dor real na voz de Roman, dor
gravada em seu rosto, e meu coração sangrou por Roman. Havia estudos
que mostravam que gêmeos eram muito mais conectados do que
quaisquer outros irmãos, quase como se pudessem antecipar os
movimentos um do outro, e assistir Roman tentando reviver seu irmão
era mais do que eu podia suportar. — Ele se foi — eu disse suavemente,
tocando o ombro de Roman.
Ele se encolheu ao meu toque, seus olhos encontrando os meus.
— O que você fez? — ele fervia.
— Eu não fiz isso — eu disse imediatamente, sabendo o que eu
havia dito antes sobre querer matar seu irmão. — Eu juro, Roman. Eu
não o matei.
Sua mandíbula apertou. — Você queria matá-lo, e você é a única
pessoa nesta porra de sala! Não minta para mim.
— Eu não fiz isso — eu me apressei, as lágrimas caindo para valer
agora. — Stanislav esteve aqui. Ele o matou. — A arma não estava aqui,
nem Stanislav, então Roman não tinha provas para acreditar em mim.
Roman me lançou um olhar de puro desgosto e voltou sua atenção
para seu irmão, sua expressão de tortura. — Porra!
Engoli minhas lágrimas, desejando poder fazer algo não apenas
para fazê-lo acreditar em mim, mas também para dar-lhe algum
conforto. Ele não queria absolutamente nada de mim.
Houve um estrondo lá embaixo e eu virei minha cabeça, os sons
de vozes e passos se aproximando. — Nós temos que ir — eu disse
rapidamente, agarrando o ombro de Roman. — Stanislav disse que
viriam homens.
— Eu não me importo, porra — Roman rosnou, estendendo a mão
para pegar a mão flácida de seu irmão.
Hesitei por um momento antes de tentar de novo, sem me
importar se ele estava com raiva de mim ou não. Eu não estava prestes
a deixar Roman aqui para ser morto. — Vamos! — Eu insisti novamente.
— Temos que sair daqui!
Roman baixou a cabeça antes que ele também ouvisse os sons
conforme eles se aproximavam, finalmente respirando fundo e se
levantando. Passei por ele, sem olhar para o corpo de Franco, e tentei a
porta que Stanislav havia usado para escapar, encontrando-a aberta
facilmente sob minha mão. — Por aqui — eu disse, voltando-me para
Roman.
Ele estava de pé sobre o corpo de seu irmão, seus olhos fechados
e sua cabeça inclinada para trás enquanto seus lábios se moviam. Eu não
conseguia ouvir o que ele estava dizendo, mas a cena por si só partiu
meu coração, se isso fosse possível.
Roman não seria o mesmo e, honestamente, eu também não.
Finalmente, ele pegou sua arma e eu passei pela porta, sem saber
o que dizer a ele agora. Nada que eu dissesse agora mudaria sua opinião
sobre o que ele achava que tinha acontecido naquela sala ou pararia a
dor que ele provavelmente estava sentindo.
Apesar de tudo, eu queria confortá-lo. Eu sabia a dor que ele
estava sentindo. Eu sabia como era perder minha família também.
No entanto, não havia palavras para aliviar a dor.
A porta levava a um lance de escadas que subi rapidamente,
sabendo que Roman estava logo atrás de mim. Honestamente, agora eu
não me importava se havia guardas prontos para nos matar do outro
lado. Eu merecia. Pelo menos eu não iria doer mais.
Mas não havia ninguém quando empurrei a porta e saí para a luz
do dia, estremecendo ao ver o sol forte.
Roman também saiu e fechou a porta. Eu me virei para ele. —
Temos que sair daqui.
Roman se virou para mim e dei um passo para trás
involuntariamente. Eu nunca o tinha visto assim antes. Não havia
vestígios do Roman Marchetti que eu conhecia, nem mesmo aquele que
havia me levado contra o SUV mais cedo.
Não, isso era algum tipo de monstro. Este havia perdido tudo com
o que se importava, até mesmo com seu irmão, que o havia traído.
Ninguém, nem mesmo eu queria que ele sofresse assim, mas o
mais importante era que precisávamos sair daqui agora.
Poderíamos resolver o que quer que ele estivesse passando mais
tarde. — Roman — eu disse, minha voz cheia de medo. — Nós temos que
ir.
Ele avançou para mim, sua mandíbula cerrada com tanta força
que temi que fosse quebrar, e foi então que eu soube que estava em
apuros. Roman não se importava em sair ou os homens que vinham
atrás de nós. Ele não se importava que pudéssemos ser alcançados a
qualquer momento, que pudéssemos ver nossas próprias mortes em
breve.
Não. Ele era um homem decidido a se vingar, um homem que não
parava por nada para fazer a dor passar, e a única maneira de isso
acontecer era se ele descontasse naqueles que haviam tirado seu irmão
dele.
Eu estava em seu caminho. Eu seria a primeira a sofrer sua ira, e
não havia nada que eu pudesse fazer para impedir.
Eu nunca tinha temido Roman antes. Nem antes, nem nunca, mas
esse Roman me assustou e não consegui detê-lo. Ele não quis me ouvir,
apenas viu o que eu tinha visto por anos em todos os lugares que eu
olhava. Ele veria o sangue de seu irmão em minhas mãos, a maneira
como ele me encontrou sobre seu corpo. A cena inteira estava confusa
desde o começo, e era disso que Roman estava se lembrando agora
quando olhou para mim.
Aos olhos dele, eu era a razão pela qual seu irmão estava morto.
Eu era a razão pela qual ele estava sofrendo, a dor profunda e correndo
por suas veias como a mesma vingança que eu havia pregado a ele desde
o momento em que nos conhecemos.
Eu queria essa vingança, mas agora eu era uma mulher morta.
FIM DO LIVRO 2

A história de Roman e Ilsa termina no Livro 3 – Cruel Deception

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