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Repare bem no que não digo. Disse Paulo Leminski certa vez, e o rapper Emicida,
que já diz muito sobre tudo, nos propôs uma densa reflexão sem dizer
absolutamente nada. Quando sobe ao palco, nos mostra uma cena corriqueira que
vive e que posteriormente viverá após o lançamento do seu álbum. E após a
primeira cena somos imergidos em um universo de personagens da vida real em
seus cotidianos, podendo desfrutar de cada cultura, raças, credos na pureza da
simplicidade.
"Quando estamos diante de algo grandioso, há tanto para se dizer que a melhor
forma de se manifestar é apenas com a contemplação do silêncio", diz Emicida.
Freud disse uma vez que o inconsciente se diz de diversas maneiras, e é assim que
o cantor relata o inconsciente de milhares e milhares de pessoas. Se repararmos as
imagens e os cortes da câmera em cada cena, percebemos a fala no olhar de cada
personagem, o pastor da cena na igreja, a submissão de uma mulher na terceira
cena, o semblante do homem frente à mulher, a transferência de força e
personalidade na cena das danças de origem africana, sentimos empatia quando
somos levados ao rio e fitamos o olhar na senhora indígena e que aparentemente
está no seu habitat intacto, e todas as demais cenas, os olhares, as paisagens, as
cores, a expressão corporal falam, nos dão um recado. Mas o que nos chama a
atenção é que na última cena, o cantor não olha para a câmera, e sim para o
público, o que nos leva a pensar é que toda a atenção precisa ser nas pessoas
mesmo, e não nele.
Tudo isso traz reflexões:
- O que precisamos saber sobre as religiões? Ou como podemos respeitar a
cultura dos diferentes povos, a começar em nosso país?
- Será possível pensarmos que um dia a mulher terá o mesmo tratamento em
todas as esferas da sociedade que o homem hoje tem?
- O que querem, o que pensam os indígenas?
- Um caminhão lotado com pessoas de cor preta, estariam contentes com o
trabalho que estão aderindo para sustentar sua família? Estão em condições
próprias para trabalho?
- Trabalho análogo à escravidão é raridade mesmo hoje em dia?
São tantas reflexões que precisaria de uma franquia de filmes para tentar
respondê-las. Filmes que não precisam de atores ou de enredo adaptado,
bastam as imagens do cotidiano das cidades urbanas, rurais, áreas
indígenas…
Por
Ana Carolina Cassiano.