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Questões

1) Segundo Jonathan Williams (2007, Religion and Roman Coins, p. 163), as


moedas romanas não eram consideradas objetos religiosos, apesar da presença constante
de elementos religiosos cunhados nas suas superfícies, como o lituus republicano ou a
cruz da Antiguidade Tardia. Eram sim, objetos definidos, em termos jurídicos, como
públicos, legitimados, em termos financeiros (currency), exatamente por neles serem
gravados “o tipo público do povo romano” (forma publica populi Romani).
Elabore uma síntese sobre as implicações políticas da presença de determinados
indivíduos, como cônsules, pretores ou, a partir de Augusto, imperadores e seus
familiares, em moedas romanas, a partir do século II a.C.

A cunhagem de elementos religiosos tanto nas moedas romanas como gregas


não faz delas objetos religiosos. A presença destes símbolos deve ser vista como
atributos que legitimam a moeda com o “tipo publico do povo romano”. Visto que as
sociedades/estados da antiguidade clássica mantinham uma relação simbiótica com a
religião e o culto, é normal que para representar a identidade pública e comunitária, os
romanos usassem símbolos religiosos (Williams. 2007). As cidades gregas usavam o
retrato do Deus que identificava a sua cidade estado, visto, que em parte, a própria
cidade pode ser vista como uma extensão desse Deus. Atenas emitia moedas que
representavam a sua Deusa patrona, devido tanto ao contexto mitológico da fundação da
cidade, o seu continuo culto e personificação desta com a polis. O mesmo acontecia
com Tebas e Perséfone, Siracusa com Aretusa e Rhodes com Helios. No entanto,
também temos moedas que foram emitidas pelos Reis Helénicos, que demonstravam a
sua legitimidade de governo ao associa-lo com determinadas divindades para contribuir
para a propaganda política. O caso mais específico seria Alexandre o Magno que na
cunhagem se associava a Hercules, a Zeus e ao deus Egípcio Amón. Entretanto toda a
linhagem Diadoca emite moedas que justificação o seu reinado associando-se ao próprio
Alexandre ou a outros deuses. As moedas gregas mantinham praticamente o mesmo
desenho durante décadas ou até centenas de anos, variando essencialmente em estilo e
detalhe ao longo das várias emissões (Williams. 2007).

Tendo-se iniciado por volta dos inícios do século III a.c, a cunhagem e a
iconografia das primeiras moedas romanas foram muito inspiradas na numismática
Helénica. (Howgego, 1995) Normalmente os tipos retratavam deuses como Marte,
Hercules, Apolo e ocasionalmente havia a intrusão de figuras especificamente romanas
como Janus. Além disso víamos representados no reverso trípodes, águias sobre
relâmpagos, caduceus, ou seja, elementos religiosos que eram familiares para as
cunhagens gregas do Sul da Itália e de outros lugares (Williams. 2007). Durante um
longo período de tempo, as moedas romanas partilharam a tendência com os gregos a
manter os mesmos tipos iconográficos, ou seja, com escassas ou específicas referências
políticas. Os tipos representavam a totalidade do estado e, por isso, estavam em linha
com outras formas artísticas de representação publica, que, em contraste com as
moedas, representavam indivíduos meramente em contextos que eram significativos
para o estado. No entanto, tudo mudou em 139 a.c, quando, a partir dessa data,
começaram a surgir anualmente uma multiplicidade de tipos numismáticos que
refletiam, não um distintivo identitário, mas as preocupações individuais dos
cunhadores de moedas, os Triumviri monetales, de exaltar os feitos das suas linhagens
(Howgego, 1995).

É desta forma que, apesar de ter emergido do inventário artístico helénico, as


cunhas da segunda metade do século II a.c distinguem-se bruscamente das suas
antecessoras. Isto deve-se ao clima competitivo no ceio da oligarquia romana,
terminando finalmente com o conservadorismo iconográfico que já se encontrava em
queda desde do final da segunda guerra púnica. Esta mudança, que promove uma
extrema diversidade tipológica, deve ser entendido no contexto das mudanças sociais na
elite romana em meados do século II. Havia a necessidade por parte destas famílias a
partir deste período de aumentar as suas demonstrações publicas, quer fosse através do
evergetismo, da literatura, do culto aos deuses. Aliás um dos principais fatores que
poderá ter levado a esta mudança de iconografia terá sido a Lex Gabinia Tabellaria que
imponha o voto secreto nas eleições e, consequentemente, encerrou as votações por
braço levantado. Como consequência, tornou-se cada vez mais difícil para os candidatos
a magistraturas conseguirem controlar o seu apoio (Woytek. 2012). Estas leis surgem
como efeito do estado tentar limitar a busca excessiva por poder na republica tardia,
embora muito vâs, pois continuam a permitir a perseguição individual por poder e
glória. Assim, quando o senado permitiu que a cunhagem desse ano de 139 a.c tivesse
no anverso o rosto de Scipio Africanus, o general que submeteu Hannibal Barca em
Zama, pondo um termo à segunda guerra púnica, foi uma “publicidade” garantida para o
Triumviri monetales exaltar a sua linhagem e os feitos do seu antepassado.

Numa sociedade como a Romana nada importava mais que o sangue, a


descendência e a linhagem. O sangue é que separava o patrício do plebeu. Assim,
adveio a necessidade de criar narrativas por parte dos cunhadores para ilustrar a pureza
e grandeza da sua linhagem, relacionando à moeda as origens da sua família. A gens
Iulia reclamava descendente de Vénus, e , como tal, para ilustrar a sua divindade, o
cunhador L. Iulius Caesar enseriu Vénus num biga guiada por cupidos no reverso do seu
dinari de 100 a.c. Em contraste vemos como as moedas de Caeceli Meteli demonstram a
força da sua linhagem, relembrando a vitória do seu antepassado L. Caecilius Metelus
contra Hasdrubal em Panormos, que resultou na captura de 100 elefantes de guerra, que
foram exaltados num triunfo do dito Cônsul em Roma. A partir daí, a gens Metelus
transmite a sua marca nas moedas associando o rosto Metelus com o de elefantes
(Woytek. 2012).

A escolha de “tipos” pessoais por parte dos magistrados anuais é um padrão que
persiste até ao principado. As moedas podem ser consideradas políticas logo após a sua
conceção, um esquema de “propaganda” que determinava enaltecer determinados
indivíduos. No entanto, não tardou até estas moedas começarem a representar eventos e
indivíduos contemporâneos à sua conceção (Howgego, 1995). O primeiro exemplo é as
emissões de dinarius produzidas pelo quaestor C.Fundanius que representa o triunfo de
Marius sobre os Cimbri e os Teutoni em 101 a.c com o filho do triunfante a cavalgar um
dos cavalos da quadriga, no reverso das moedas (Woytek. 2012). O mesmo ocorre com
Sulla, quando encontramos moedas que representam dois dos seus triunfos a aclamarem
a sua dupla aclamação imperial, representando Sulla a ser coroado pela Vitória, além da
sua representação equestre como L.SULLLA.FELIXDIC(TACTOR) (Howgego, 1995).
Segundo o estudo complexo de Hollstein, metade das moedas após a ditadura de Sulla
tem uma iconografia com referências alusivas à sua história contemporânea. Assim
vemos ilustradas as guerras contra Sertonius na Hispânia, ou a exposição da conspiração
Catilinária (que muitos historiadores acreditam ser uma ficção criado por Cícero para
difamar certos senadores), os feitos de Pompeu e os conceitos políticos dos populares
em moedas contemporâneas a estes eventos. É durante este período que se cria maioria
da praxis iconográfica do período imperial, ou seja, dando enfase cada vez mais a um
estado republicano em vias para o autocratismo (Woytek. 2012).

A introdução do retrato de personagens da política e da história romana marca


um novo período histórico importante, tal como havia ocorrido nos reinos helénicos. A
implícita identificação do individuo em estrita relação com o estado demonstra um
óbvio problema para os romanos. Anteriormente, moedas provinciais representavam o
rosto dos seus governadores romanos, mas encontrava-se fora da tradição numismática
romana. Só a partir de 54 a.c é que os retratos de pessoas recém mortas, como Sulla,é
que começaram a aparecer em moedas, em vez de homens de uma longínqua linhagem
ou alusões a eventos recentes. (Howgego, 1995). No entanto, seria com César, que após
ter vencido Pompeu, é que seria emitida uma moeda com o rosto de um homem que
ainda se encontrava vivo. Tal se declarou no Senatus consultum do mês de dezembro de
45 a.c, que ao final desse dito mês iniciou logo a produção de moedas com o rosto de
César, antes de ser descontinuada após os Idos de Março. Aqui podemos ver o busto de
César com a Coroa Aurea no anverso, acompanhado no reverso por Vénus em diversas
posições (Woytek. 2012). Woytek faz duas observações a esta moeda: primeiramente,
esta moeda retirou inspiração nas cunhagens reais helénicas, ou seja, o retrato do
soberano no anverso e a sua deusa patrona no reverso. Entretanto, a decisão de retratar
um ditador vivo deve-se, em parte, à tendência recente a estes eventos do uso de retratos
de familiares recém-falecidos dos cunhadores. Por exemplo, o próprio Pompeu que
havia sido assassinado pelos Ptolomeus no outono de 48 a.c, após a sua derrota em
Farsalo contra César, foi representado nesse mesmo ano numa emissão feita pelo seu
filho mais velho, Gnaeus Pompeius Magnus, na Hispânia.

As consequências relacionadas com o retrato de césar foram gigantescas, pois a


partir daí, o retrato na moeda poderia servir como um instrumento de “propaganda”.
Podemos afirmar que retratação e a iconografia nas moedas queriam espelhar uma
mensagem para quem as viesse a possuir. Logo após o assassinato de César, que todos,
tanto os Libertadores (Brutos) como os herdeiros de César (Marco António e Octávio)
usaram as moedas para repercutir uma agenda, uma ideologia e uma mensagem. Brutos
emitiu duas séries de Aureus celebrando os Idos de Março. Entretanto, Marco António
emitiu uma moeda em que o retrata como o principal enlutado da morte do ditador,
demonstrando o caracter de martírio que César ganhou após o assassinato. O legado que
césar deixou nas moedas tornar-se-ia decisivo, pois seria continuado pelo império
adentro. A partir de Augustos o retrato do Imperador tornou-se o mais importante e
facilmente reconhecido. (Woytek . 2012)

Durante o segundo triunvirato, o período de transição entre a Républica tardia e


o Principado, podemos ver como as moedas serviam uma agenda política. Mesmo antes
da formação do triunvirato podemos ver como Marco António emitiu duas séries de
moedas na Gália Cisalpina onde no anverso apresenta o seu nome junto com um litus,
um capis e um corvo, enquanto que o reverso apresenta o nome de Lepidus com
simpulum, aspergillum e um apex (símbolos religiosos). Este Dinarius, que é bastante
raro, exprime a celebração da aliança entre estes dois homens. No entanto, a sua
segunda série de quinarius já apresenta o único nome dele no anverso, enquanto que o
reverso vêmos a vitória a coroar um trofeu. Subentende-se que Antônio era o sócio
sénior nesta aliança (Sulla80, 2021)

Também podemos retirar narrativas históricas a partir das moedas, retirando


interpretações sobre a relação entre Octávio e Marco António. Um exemplo disto é
outra moeda provincial de Éfeso cunhada após a Guerra Perúsia quando a mulher de
Marco António, Fúlvia, e o seu irmão Lúcios com apoio dos Umbrios de Perusia
opuseram-se a Octávio. O conflito terminou com o exilio de Fúlvia, o destacamento de
Lúcios para o governo de uma província na Hispânia e o casamento entre Marco
António e Octavia (irmã de Octavio). A dita moeda representa no anverso o rosto de
António com uma coroa de flores, rodeado pela sua titulatura, enquanto que no reverso
temos o busto de Octavia sobre uma cista mystica, flanqueada por duas serpentes com
as caudas interlaçadas. (Sulla80, 2021)

Outro exemplo é com a cunhagem militar que seguia Octávio na Gália, que
representou numa série de quinários Concordia no anverso e duas mãos entrelaçadas no
reverso, reforçando o compromisso entre os dois líderes após o desacato de 40 a.c. O
que é engraçado nesta moeda é o pequeno grafiti de uma adaga feito no reverso que
aponta para um dos pulsos dos triunviris. (Sulla80, 2021) Podemos retirar a conclusão
que a pessoa que possuía esta moeda percebeu a sua intenção inicial, mas após a guerra
civil entre Marco António e Octávio, decidiram expor o seu desprezo para um dos
partidos.
Outra moeda emitida por Octávio no sul da Itália vemos ele a declarar a sua
autoridade como filho de César, afirmando CAESAR DIVI F(ILIUS). Podemos ver uma
moeda semelhante, produzida em 36 a.c no sul da Itália também, que representa Octávio
com barba no anverso com a sua nomenclatura, enquanto que no reverso apresenta-nos
com um templo ao Divus julius, com ele na posição de augure e o cometa de César no
frontão. Júlio César divino, exaltando, em parte, a sua linhagem divina em relação a
Vênus, ao seu martírio, e à sua deificação interpretada através da chuva de meteoros que
ocorreu a seguir ao seu assassinato. Autor que explora esta moeda tira três
interpretações para a barba de Octávio: uma tentativa vâ para parecer mais maduro; uma
barba de campanha devido à guerra que lutava contra Sextus Pompeu ou uma barba de
luto por César. Devido ao foque se dá para Júlio César no reverso, ele aponta que a
última opção é a mais provável. (Sulla80, 2021). A intenção destas duas moedas é
clara, a digna associação entre Octávio e Júlio César, dando enfase à relação entre os
dois. Tenta transmitir a ideia que o Octávio é um continuador dos feitos, dos
pensamentos e da grandeza de seu pai adotivo. Além disso, vemos não só uma
personificação divina, mas uma literal deificação de uma personagem histórica, recém
morta, que está relacionado diretamente com emitor da moeda, também este
representado no anverso. Para concluir, temos o desenho do templo dedicado ao Divus
Julius que na altura da cunhagem desta moeda ainda não havia sido construído. Este só
veria a luz do dia em 29 a.c, erguido sobre o local de cremação de Júlio César. Há uma
necessidade por parte dos membros do triunvirato de exibir-se publicamente, uma luta
de mensagens “propagandísticas” para declarar alianças, agendas políticas e
justificar/legitimar a sua governação.

A casa de moedas de Roma voltou a abrir as portas em 23 a.c, após um intervalo


de 20 anos (Woytek . 2012). Surpreendentemente, com a sua abertura, os triunviri
voltaram a cunhar o seu nome nas moedas, principalmente nas preciosas, como as de
ouro e prata, onde o anverso encontra-se o rosto do Imperador, e no reverso o nome da
gens que fez aquela emissão. Referências às famílias dos cunhadores persistiu até 11 a.c
em moedas de metal preciosos, para terminarem totalmente em 4 a.c em moedas de
metal base. Este fenómeno entende-se como uma rápida monopolização da exibição
pública por parte de Augusto e da sua família. Contudo, as cunhagens provinciais
mantiveram a representação de indivíduos romanos até principado de Claúdio
(Howgego, 1995).

Com o avançar do principado também progrediu na iconografia a tendência de


cada vez mais se fazer enfase sobre aspetos militares, temas imperiais e menos nos
civis. A tradição que surgiu a partir daí, ainda que muito variada, exaltava aos valores
dos monarcas Helénicos, quase sempre demonstrando o imperador, um membro da sua
família ou alguém da classe alta que o poderia vir a suceder (Woytek . 2012). Esta
tradição, bastante variada, persistiu até ao IV século D:C, e influenciou bastante os tipos
numismáticos encontrados nas províncias romanas nos primeiros 3 séculos, sempre
transmitindo uma mensagem política. Mesmo durante o período da tetrarquia, que
estandardizou a iconografia numismática em todo o Mediterrano, vemos transmitida
uma ideia de uniformidade e de união entre césares e Augustos, apelando à nova
ideologia política. Em momentos excecionais, principalmente durante guerras civis,
observamos um maior número tipológico dedicado aos usurpadores, como podemos
observar nas guerras por Constantino em 306. Como resultado a iconografia apresenta
símbolos antitéticos como o chi-ro de Magnentius ou a boi pagão de Juliano. (Howgego,
1995).

Culto imperial

A primeira coisa que sobressai na numismática romana é o retrato do imperador,


que é omnipresente a todas as moedas e leva à promoção do culto imperial, tal como a
construção de estátuas imperiais em locais públicos. As moedas eram elementos
importantes que difundiam a imagem do seu imperador e da sua família. Caso é dos
penteados das imperatrizes, que seriam imitados pela população, e os temas imperiais
seriam replicados nos contextos privados a partir da era de Augusto. Podemos ver
vitórias, trofeus, capricórnios (símbolo associado a Augusto), Corona cívica e até o
Clipeus virtutis em utensílios, móveis, têxteis, paredes e em revestimentos decorativos.
(Zanker, 1988). Isto revela, que além do retrato, a população também notou as imagens
visuais e simbólicas associadas à iconografia numismática. (Howgego, 1995)

Durante a república as moedas apresentavam uma linguagem iconográfica


bastante complexa, recheada de simbolismos e imagens que só seriam entendidas pelas
elites romanas. Aliás, estas imagens eram o reflexo destas grandes famílias, tal como
maioria da arte deste período. Na tentativa de criar uma grande variedade de temas
numa moeda apenas, há uma multiplicação de símbolos abstratos e personificações que
transbordam com o conteúdo político da altura. No entanto, durante o principado, apesar
de reterem conotação política, eram menos complexas que as republicanas, levando a
uma melhor compreensão das massas das moedas. A linguagem verbal e visual das
moedas tentam representar a ideologia imperial e eram usadas, deliberadamente ou não,
para construir imagens do imperador e do império. A persistência de iconografia
imperial e a extensão que esta atingiu, mesmo em monumentos privados, insinua que
determinados grupos sociais sabiam ler as moedas por aquilo que elas tentavam
transmitir. Desta maneira, há uma continuação desta iconografia que garante
consequentemente um continuo aceso à ideologia imperial (Howgego, 1995).

Esta ideologia imperial, quase sempre associada ao rosto do imperador,


transmitia temas de poder, associados ao direito de Governar, à benevolência do seu
reinado e ao seu estatuto divino. Atributos divinos relacionados ao retrato do soberano
eram comuns desde do período helénico, mas já durante a república tardia, com o lento
caminhar para a autocracia, que homens como Sulla, Sextus Pompeu, Marco António e
César, cunharam moedas associando o seu legado a um determinado deus: César com
vênus, tornando-a a mãe da sua Gen, afirmando-se que ele era um descendente direto de
Ascânio e Eneias, ou seja, atribuindo-lhe uma ligação de parentesco com Rómulo;
Entretanto, António com Anton, filho de Hercules, e com Dionísio Sextus Pompeu com
Neptuno; Octávio com o seu pai Adotivo, o Divus Julius Caesar, e também com Júpiter,
Neptuno e Apollo; (Howgego, 1995).

Com o principado, vemos a continuação desta tradição do rosto dos imperadores


a associados a determinados deuses, como, por exemplo entre Minerva e Dominiciano.
Normalmente estas associações tentavam representar uma certa devoção entre a
divindade e o imperador. Contudo, associado ao rosto do soberano e dos seus familiares,
também se representavam atributos divinos como guirnaldas de milho, o agis e a coroa
radiada. Por exemplo, as moedas preciosas de Spetimus Severus caracterizavam o com
uma coroa radiada, simbolizando o sol, e no anverso a imperatriz segurando um
crescente, representando a lua (Howgego, 1995). Desta maneira, o primeiro encontrava-
se associado a Apollo e a Helios, os deuses da Civilização, enquanto que a última a
Diana, ao mundo selvagem. Outro exemplo seria de Dominiciano que em algumas
emissões aparece segurando um trovão, enquanto é coroado por Vitória, associando-se
possivelmente a Júpiter e também a Alexandre. Outro exemplo seria Comodos com
Hércules, representando o seu busto coberto pelo leão de Nemeia (Howgego, 1995).
Além destes atributos, a iconografia numismática pode mesmo confirmar a divinização
de um determinado imperador, uma tradição que se iniciou com César. Normalmente, o
estatuto de Divus era apenas associado a um imperador morto, fazendo com que muitos
imperadores reclamassem parentalidade divina (Divi Filius) (Howgego, 1995).
Finalmente, podíamos até ter imperadores que se considerassem Deuses encarnados e
que se representassem assim na numismática, como ocorreu com uma emissão de
moedas de Aureliano produzidas na Serdica. (Howgego, 1995).

Não era apenas o imperador a ser retratado nas moedas, mas também os seus
familiares e especialmente os seus sucessores. A iconografia numismática associa
normalmente o rosto do soberano com o seu possível sucessor para legitimar a sua
imagem para os demais, personificando-o com virtudes imperiais, qualidades morais,
poder e relação com exército. Sucessão, tal como divindade, era um tópico que
necessitava de uma determinada moderação no início do principado. Há uma certa
hesitação em colocar a família imperial nas moedas. No entanto, assim que há
monopolização do poder e da exibição publica, podemos ver uma demonstração publica
de autocracia (13/12 a.c) com a introdução de moedas com o rosto do Augusto e de
Agripina no reverso, ou mesmo com os seus netos (Howgego, 1995). Contudo, fora da
capital e nas províncias, a iconografia era menos cuidada, demonstrando os imperadores
e toda a sua descendência de uma forma mais significativa. Mesmo antes da morte
Augusto, este já se retratava a si no anverso e a Tiberius no reverso. Além disto,
também se tentava espalhar uma mensagem de estabelecimento de uma dinastia, quando
representavam, por exemplo, Júlia sobre uma corona cívica com os netos de Augusto,
Gaius e lúcios (Howgego, 1995). O mesmo ocorria com Vespasiano e com Septimus
Severus que representavam a sua família e os seus filhos como que a legitimar uma
nova linhagem em relação à anterior. Outra questão associada a estes retratos e
representações seria o conceito da Providência como legitimador do novo imperador.
Na iconografia de Titus, este é representado a receber um globo de Vespasiano
(Howgego, 1995). Em algumas emissões de Adriano também o vemos a receber um
globo do seu antecessor, mas como ato legitimador do seu governo referencio uma
moeda que afirma a adoção dele por Trajano

No caso de uma guerra civil, a legitimação pode ser assegurada a partir da


vingança pela morte do antigo Imperador, caracterizando, normalmente, o reverso com
a imagem de Mars Ultor, tal como fez Septiumus Severus pelo o assassinato de Pertinax
durante o ano dos 5 imperadores. Contudo, segundo Crawford, a emissão de moedas
por usurpadores já é por si um elemento legitimador. Visto que na Exceção de Simeon
de Israel, nenhum outro usurpador adotou nenhuma veia separatista ou nacionalista nas
suas moedas. Normalmente, estas moedas apresentam-nos como imperadores,
continuadores do principado, sem fazer referência aos seus rivais. Aliás, muitas vezes
podem apresentar antigos imperadores como irmãos, tal como ocorreu com Carausius
na bretanha em 287 d.c, exibindo no anverso o seu rosto, lado a lado ao de
Maximinianus e Diocliciano. (Howgego, 1995).

Associados aos rostos dos imperadores temos também associado as províncias


que conquistaram, de forma expressar o seu direito a governar. Deste modo, os tipos
que apresentam o triunfo sobre outros povos e regiões, reis a ajoelharem-se perante os
imperadores ou a serem coroados por eles é bastante proeminente na numismática
imperial. A conquista de Vespasiano da Judeia por exemplo; Trajano dominar a recém
anexada arménia e Mesopotâmia; Entretanto, a iconografia de Adriano, que expressava
o pensamento do imperador que o império tinha alcançado os seus limites físicos,
apresenta as províncias como constituintes do Império romano, como parceiros
pacíficos e não como um território conquistado. Contudo, a representação do globo nas
mãos dos imperadores, expressava o direito de governar não só os romanos, mas o
também o mundo (Howgego, 1995).

Para concluir, a ideologia do império e o rosto do imperador foi propagado pelas


moedas cívicas das províncias, onde a elite local era responsável pela tipologia
iconográfica. Eles próprios foram incorporados na classe alta romana e , mais tarde, em
212 virtualmente todos os habitantes livres do império eram cidadãos. As moedas
provinciais demonstravam então um pouco da relação das elites locais com Roma. Estas
moedas pertenciam a uma tradição que não pertencia à romana e, por isso, hesitavam
em copiar modelos romanos. Mesmo após anexação pouca diferença era notável em
moedas provinciais. Durante os finais da Républica podemos ver que a figura da Dea
Roma muito raramente aprecia em moedas provinciais e apenas em situações muito
especificas, como por exemplo nas moedas de Gortyn após a conquista romana da Creta
ou as moedas estandardizadas para a Bithynia e o Pontus como para estabelecer o
estatuto destas províncias em relação a Roma. E mesmo o retrato de figuras como César
e Marco António no oriente era muito raro (Howgego, 1995). Com Augusto, mais 200
cidades cunhavam as moedas com o seu rosto. Contudo, a hesitação de adotar o retrato
do imperador em comparação com outras revela uma certa incerteza sobre como reagir
à nova política. Síria, por exemplo, só adotou o retrato de Augusto nas últimas duas
décadas do governo de Augusto. No entanto, ainda que anómala a forma como as
moedas romanas estabeleciam a sua relação com a nova ordem, assim que um padrão
surgisse era quase impossível domina-lo. Foi desta forma que muitas moedas províncias
começaram a retratar várias personagens da família imperial, mais recorrentemente que
a moeda oficial romana. Algumas cidades orientais podiam honrar imperadores com
nomenclaturas de tradição helenística como Ktistes (fundador), Soter (Salvador) ou
Euergetes (benfeitor). Noutros locais, podiam associar imperatrizes ou imperadores com
determinados deusas e deuses. Livia com hera; Julia com Afrodite; Nero com Zeus
Eleutherios e Apollo. Nestas moedas provinciais, o reverso mantinha os seus temas
locais apesar de existir uma maior variedade iconográfica devido às referências ao
imperador. Com isto dito, era raro copiarem o reverso das moedas oficiais romanas,
havendo assim uma ausência das virtudes imperiais associadas com o dito imperador
(Howgego, 1995).

Determinadas cidades idolatravam o seu imperador de forma a receber


vantagens materiais, títulos e influência. Algumas podiam apresentar palavras como
dorea e donatio, representando as ações civis de certos imperadores para aquelas
cidades, como a construção de uma ponte, o direito de chamar aos jogos locais como
sagrados ou a simples doação de cereais para evitar uma fome. Pergameno para
comemorar a visita do imperador Caracalla à cidade, que culminou na atribuição de um
novo templo, decidiu criar moedas a representar estes eventos, destacando o rosto do
imperador. Estas honras cívicas tanto beneficiavam as elites locais como o império,
visto que aumentava o prestígio da cidade em relação a outras e incrementava o culto
imperial (Howgego, 1995). A partir do século II a retratação do imperador tornou-se
cada vez mais sofisticada e simbólica nas moedas provinciais. A cidade de Smyrna na
anatólia retratou no anverso Antonius pio e no reverso de Pelops e , mais tarde, Marcus
Aurélio com uma cena do sonho de Alexandre, associando ambos os imperadores ao
fundador e ao refundador da cidade. Estes tipos de representações encontravam-se
ausente durante a dinastia julio-claudia (Howgego, 1995).

Além disso, algumas cidades representavam o imperador como protetor contra a


ameaça Partha ou Persa. A criação dos soldados imperadores fez com que existisse um
maior contacto do oriente para com o seu Augusto. As cidades com estas representações
demonstravam querer uma estabilidade dinástica, queriam que o seu imperador as
defendesse e fosse vitorioso em guerra, queriam ser uma fonte de patronagem de forma
a ganharem benefícios honoríficos e materiais (Howgego, 1995).

Contudo, não há dúvida, que a representação do rosto do imperador é uma forma


de propagação do culto imperial e de transmitir a sua imagem aos 4 cantos do seu
território. As primeiras representações de retratos em moedas durante a república tardia
tanto dos magistrados como de personagens históricas de determinadas famílias, tinham
a intenção de exaltar um individuo e a sua linhagem, associando a este os seus atos
gloriosos e as suas qualidades morais ou divinas. No principado, o processo não é
diferente, visto que a promoção tanto do imperador como da sua família pretende
legitimar o seu governo e a sua sucessão, garantindo o conhecimento por todos da sua
dinastia.

Bibliografia:
HOWGEGO, C. (1995). Ancient History from Coins, (pp. 67-87), London
&New York: Routledge.

Williams, J (2007). Religion on Roman coin, in Jorg Rupke (Ed.) A companion


to Roman Religion (pp. 143-163), Blackwell Publising

Woytek, B, E (2012). The Denarius Coinage of the Roman Republic, in In W.


E. Metcalf (Ed.) The Oxford Handbook of Greek and Roman Coinage, (pp.263-278);
Oxford University Press.

Sulla80, (2021, Agosto, 20). Coins of the Second Triumvirate, retirado de


https://www.sullacoins.com/post/coins-of-the-second-triumvirate

2) A troca direta de bens foi a primeira experiência comercial conhecida nas mais
diversas sociedades, fenómeno conhecido por “escambo”. Durante a República média
romana, o sistema comercial conheceu a introdução da emptio uenditio, ou seja, a
compra e venda não podia ser resumida à troca entre bens, mas à troca de uma coisa
(merx) por um preço (pretium), exprimido em moeda, cuja regulação era realizada por
uma instituição política e económica, bem como pela orgânica dos mercados (Paulus
libro 33 ad edictum). Com a expansão romana, um número cada vez maior de
sociedades que não possuíam uma economia monetizada foram incorporadas no Império
romano e, seja pelo aumento das trocas comerciais, seja pela imposição de impostos e
taxas cobrados por Roma, conheceram o desenvolvimento de trocas de bens mediadas
por moeda.
Reflita sobre os impactos da introdução da moeda, a nível social, cultural, económico e
comercial e na veiculação de imagens e mensagens, ao longo do processo de conquista
da Hispânia, especialmente no noroeste ibérico, face à anexação romana.

A península ibérica da idade do ferro já tinha tido contactos com moedas desde
dos finaisdo Século V a.c devido à influência dos Fenícios Púnicos e dos Gregos que
lentamente vieram a colonizar as costas da Espanha meridional e oriental. O contacto
precoce com estas civilizações levou a evolução de culturas ibéricas muito
heterogéneas, com um desenvolvimento económico, social e político completamente
diferente daquelas que se encontravam no centro, norte e a Oeste do território. Nestas
zonas, até aos meados do século II, mas principalmente no final do século I com as
guerras Cantábricas, ainda resistiam contra as influências culturais mediterrâneas,
mantendo uma forte ligação às tradições da idade do Bronze tardio. Os seus primeiros
modelos proto urbanos teriam surgido no período da Républica tardia na forma das
grandes citânias e castros fortificados (Ripolles; 2012)

Assim a partir dos finais do século V até ao séuclo I a.c, que a península ibérica
se caracterizou por um território com diferentes graus de monetização, de diferentes
intensidades. A costa mediterrânea teve um contacto precoce com as produções
numismáticas gregas e fenícias, tanta das colonias como das cidades de estado mães.
Entretanto, devido ao intercambio entre nativos e estrangeiros, vemos um maior número
de povoações iberas a possuírem moedas, que ao início, as usavam exclusivamente para
as trocas comerciais com as civilizações do mediterrâneo. No entanto, não tardou até
elas próprios começarem a cunharem moedas, como foi com Arse-sagantum na segunda
metade do séuclo IV a.c, devido a um desenvolvimento da sua organização política.
Estas cunhagens devem estar vinculadas a um processo de normatividade das suas
relações cívicas, no qual importantes transformações urbanas e nas atividades
comerciais marcaram o seu porto. Os estilos destas moedas tinham influência helênica,
mas também apresentavam símbolos e legendas indígenas. O aumento da monetização
desta área deveu-se principalmente às guerras púnicas, que levaram os púnicos a
produzir mais moedas para pagar aos mercenários enquanto que os Romanos
financiavam os seus auxiliares com moedas mais diversificadas, mas principalmente
locais gregas, como os drachmas de Emporiom. (Ripolles; 2012)

A presença e consequente ocupação romana teve repercussões importantes na


vida dos nativos, pois levou a um processo lento e complexo de assimilação e
intercâmbios socioculturais e a uma série de mudanças legais entre as populações. O
seu domínio favoreceu os contactos entre os diferentes povos peninsulares, integrando-
os numa rede económica produtiva com o estado romano. Desta forma, Roma durante o
primeiro e segundo século contribuiu para a monetização destas populações, visto que
as moedas se tornavam cada vez mais familiares para a população em geral. Na
tentativa de integrar os indígenas na sociedade romana e determinadamente romaniza-
los, houve vários incentivos à organização urbana do território e para a criação de uma
economia monetizada. A presença do exército, a chegada de colonos, artesãos e
empresários, todos habituados e dependentes do uso de moedas, contribuíram para esse
desenvolvimento. (Ripolles; 2012)

No entanto, devido às repetidas remessas para Roma nas primeiras décadas do


século II e a escassez de emissões nativas, a monetização da Hispânia sofreu um
processo lento de monetização. Desta forma, a monetização de grande parte da
península ibérica ocorreu principalmente aos esforços vindos de dentro desta, a partir
das emissões cívicas cunhadas por mais de 160 populações indígenas. Estas
comunidades tinham economias em que o pagamento e o comércio a retalho se haviam
normalizado, tornando-se até certo ponto necessário, como era o caso de zonas
mineiras, de ricos territórios agrícolas, zonas portuárias e locais militares. (Ripolles;
2012)

É possível que algumas destas moedas tinham sido produzidas para fins locais,
mas provavelmente surgem num contexto militar desde do último terço do século II até
às primeiras décadas do Século I a.c para pagar tropas auxiliares em vez de cobrir os
pagamentos fiscais regulares romanos. Contudo, assim que produzidas, acabam por
entrar em circulação e fazer parte de várias interações comerciais, visto que as
encontramos no Norte de Africa e também na Gália. (Ripolles; 2012). Durante este
período, as populações nativas tiveram um desenvolvimento bastante autônomo com
uma iconografia que tem influências helenísticas e pouco romanas, uma vez que Roma
ainda não tinha a sua própria iconografia padronizada de símbolos culturais. Além
disso, podemos encontrar legendas com o dialeto indígena. O desenvolvimento das
características culturais das sociedades nativas que ocorreram durante os séculos II e I
a.C. como forma de auto-representação das elites, também pode ser detectada nestas
epigrafias, que refletem a diversidade dos povos existentes na Hispânia, a permissão
romana e o incentivo à vida urbana.

Contudo, apesar disto tudo, a Hispânia mantém-se um território muito


diversificado na sua monetização. Existiam locais rurais e pouco densamente populados
tanto no interior como no Norte, em que a moeda continuava a intervir muito pouco na
economia, enquanto que a costa mediterrânea já se encontrava urbanizada e monetizada.
No final do período republicano com o aumento do número de colonos na península,
vemos uma transformação da sociedade em geral. Sob Pompeu, César e Augusto dá-se
o estabelecimento de colônias romanas e a promoção legal de várias cidades indígenas
em municípios. Devido a este impulso de integração no novo modo de viver romano,
muitos veteranos do exército e outros habitantes itálicos vêm para a Hispânia (Ripolles;
2002).

No início do império circula na Hispânia uma grande variedade de moedas,


sendo que as de ouro e de prata eram exclusivamente romanas, tendo sido amplamente
usadas durante o período tardo republicano devido às guerras civis romanas para
recrutar mercenários. As produções indígenas já haviam se extinguido pouco depois das
guerras Sertórias, iniciando-se um processo de unificação da moeda de prata em
circulação na Hispânia, em favor das cunhagens romanas. As denominações em bronze
continuaram a ser amplamente variáveis até à segunda metade do século I d.c, tanto de
origem romana como imitações destas. Existia em circulação um grande número de
moedas hispânicas bastante heterogéneas, tanto em iconografia, legendas como em
padrões de peso, cunhadas em cidades de Ulterior e na parte oriental da Citerior. Além
disso, encontramos algumas emissões incipientes em colonias como Cartago Nova,
Sangantum e Lepida. Estas produções, principalmente em bronze serviam
principalmente para abastecer a economia local, sendo usadas para necessidades
básicas, para financiar programas urbanísticos de edifícios medianamente importantes,
pagar soldados e como um complemento para as finanças locais que serviram para
dinamizar os intercâmbios. (Ripolles; 2002).

O Noroeste ibérico destaca-se a cunhagem das caetrae, emissões em bronze de


sestércios, dupôndios, ases e semis com diâmetros e pesos variáveis, facilmente
identificáveis pela sua decoração geométrica no reverso. Estas emissões foram
produzidas entre 27 a.c, quando Octávio é proclamado Augusto, e 23 a.c, ano em que
este recebe a tribunícia potestas. Desde de então que muitas interpretações foram feitas
sobre os seus motivos iconográficos, desde da representação de um labirinto; de um
circo romano; e finalmente a de um escudo indígena, mas submetido ao poder de Roma
(Machado & Dias; 2022). A presença destas moedas pode ser atestada a toda área
galaica e asturicense, encontrando-se presente em dezenas de povoados da idade do
ferro, incluindo os grandes castros do Noroeste Ibérico. Além disso, também foram
encontrados nas 3 principais colonias de Augusto, Lucus Augusti, Bracara Augusta e
Asturica Augusta. Assim sendo, devido à sua dispersão e cronologia no Noroeste, os
caetrae foram muito provavelmente produzidos no ceio das Guerras Cantábricas, no
âmbito de anexação e romanização daquele território. O território que compõem a atual
Galiza e Norte de Portugal havia sido submetido ao longo dos finais do século II até
meados do século I por diversos protagonistas romanas, desde de Decimus Brutus até
Julio César. No entanto, foi apenas durante o conflito entre Augusto e a Cantábrica entre
29 e 19 a.c, no extremo norte da Península, é que todo o Noroeste entrou
definitivamente no controlo romano. Com o fim da guerra, a Hispânia recebeu uma
nova divisão administrativa com a implementação de 3 novas províncias: Lusitana,
Bética e Tarraconenses (onde todo o Norte se incluiria). A integração dos territórios
conquistados foi feita através da divisão em conventus administrativos e a definição das
suas capitais em centros polinizadores que facilmente contactavam com as povoações
indígenas, permitindo deste modo a integração da população no império romano
(Machado & Dias; 2022).

As caetrae, como dito anteriormente, foram produzidas para o pagamento dos


soldados e a manutenção de um exército em campanha. No entanto, devido ao pequeno
número de exemplares identificados e à sua dispersão no território, não parece ser
plausível que esta seja a única razão para a sua produção. Alias, caso fossem
exclusivamente militares, teríamos encontrado mais exemplares nos grandes centros
urbanos, principalmente naqueles com um histórico carácter militar (Machado & Dias;
2022).

Entretanto, a iconografia destas moedas que varia pelas várias denominações,


apresenta no reverso um escudo indígena que é reproduzido em várias decorações de
edifícios da cultura castreja, tanto nas estátuas de guerreiros galaicos, ombreiras, lenteis
e pavimentos dos povoados, e que depois foram reproduzidos em alguns frisos romanos.
Os dupondii desta emissão retratam um caetrae flanqueado por uma falcata (uma espada
característica dos povos ibéricos) e uma adaga, apresentando uma lança no centro do
escudo. Muitos investigadores interpretaram isto como um símbolo de submissão, ou
seja, a comemorar a conquista do Norte pelos Romanos. Contudo, os mecanismos
apresentados noutras moedas como a conquista da Arménia e do Egipto representavam
a fórmula CAPTA, acompanhada por símbolos locais. Tal representação não aparece
presente nos caetrae, visto que as armas não se encontram quebradas ou em posição de
ataque. Desta forma, Machado e Dias, não acreditam que estes objetos estão
estritamente associados à conquista ou à dominação do território por Augusto.
Antiteticamente, as cunhas gravadas parecem tentar relacionar-se com as populações
indígenas, a partir da representação de símbolos culturais associados aos povos do Norte
(Machado & Dias; 2022).

Apesar de já terem tido contacto com moedas, estas populações, aquando


das guerras cantábricas, não se encontravam devidamente monetizadas. As moedas só
serviriam para compras e vendas de produtos externos, enquanto mantinham o escambo
e a troca para ações comerciais diárias. Após as guerras cantábricas, vemos por parte de
Roma uma tentativa de assimilar estas comunidades no modo de vida romano através da
construção de cidades, a promoção de estatutos legais a várias povoações indígenas, a
polinização de centros administrativos, a implementação de redes viárias, formação de
relações de patronagem e amizade. As caetrae são mais um exemplo do estado romano
de tentar integrar economicamente as populações indígenas no mundo romano, tentando
promover a monetização destas e a integração cultural e económica na esfera de
influência romana (Machado & Dias; 2022).

Estes fatores impulsionariam a romanização de uma zona isolada do


império, que ainda conservava muitos valores culturais, que se distinguiam dos
Romanos. O impulso de assimilação teria um grande impacto nas primeiras gerações
indígenas que nasceriam no ceio romano, acabando por inevitavelmente fazer parte da
esfera política, económica e social de Roma (Machado & Dias; 2022).

Bibliografia:

MACHADO, D.; DIAS, B. (2022). As Caetra e a conquista do Noroeste da


Península Ibérica, (pp 105-130). Revista de Numismástica Brasileira, 26 (2).
RIPOLLÈS. P. P, (2012) The Ancient Coinages of the Iberian Peninsula. In W.
E. Metcalf (Ed.) The Oxford Handbook of Greek and Roman Coinage, (pp. 295-305);
Oxford University Press.

RIPOLLÈS, P.P. (2002). La moneda romana imperial y su circulación em


hispania, (pp 195-21) AespA 75,

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