Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Tendo-se iniciado por volta dos inícios do século III a.c, a cunhagem e a
iconografia das primeiras moedas romanas foram muito inspiradas na numismática
Helénica. (Howgego, 1995) Normalmente os tipos retratavam deuses como Marte,
Hercules, Apolo e ocasionalmente havia a intrusão de figuras especificamente romanas
como Janus. Além disso víamos representados no reverso trípodes, águias sobre
relâmpagos, caduceus, ou seja, elementos religiosos que eram familiares para as
cunhagens gregas do Sul da Itália e de outros lugares (Williams. 2007). Durante um
longo período de tempo, as moedas romanas partilharam a tendência com os gregos a
manter os mesmos tipos iconográficos, ou seja, com escassas ou específicas referências
políticas. Os tipos representavam a totalidade do estado e, por isso, estavam em linha
com outras formas artísticas de representação publica, que, em contraste com as
moedas, representavam indivíduos meramente em contextos que eram significativos
para o estado. No entanto, tudo mudou em 139 a.c, quando, a partir dessa data,
começaram a surgir anualmente uma multiplicidade de tipos numismáticos que
refletiam, não um distintivo identitário, mas as preocupações individuais dos
cunhadores de moedas, os Triumviri monetales, de exaltar os feitos das suas linhagens
(Howgego, 1995).
A escolha de “tipos” pessoais por parte dos magistrados anuais é um padrão que
persiste até ao principado. As moedas podem ser consideradas políticas logo após a sua
conceção, um esquema de “propaganda” que determinava enaltecer determinados
indivíduos. No entanto, não tardou até estas moedas começarem a representar eventos e
indivíduos contemporâneos à sua conceção (Howgego, 1995). O primeiro exemplo é as
emissões de dinarius produzidas pelo quaestor C.Fundanius que representa o triunfo de
Marius sobre os Cimbri e os Teutoni em 101 a.c com o filho do triunfante a cavalgar um
dos cavalos da quadriga, no reverso das moedas (Woytek. 2012). O mesmo ocorre com
Sulla, quando encontramos moedas que representam dois dos seus triunfos a aclamarem
a sua dupla aclamação imperial, representando Sulla a ser coroado pela Vitória, além da
sua representação equestre como L.SULLLA.FELIXDIC(TACTOR) (Howgego, 1995).
Segundo o estudo complexo de Hollstein, metade das moedas após a ditadura de Sulla
tem uma iconografia com referências alusivas à sua história contemporânea. Assim
vemos ilustradas as guerras contra Sertonius na Hispânia, ou a exposição da conspiração
Catilinária (que muitos historiadores acreditam ser uma ficção criado por Cícero para
difamar certos senadores), os feitos de Pompeu e os conceitos políticos dos populares
em moedas contemporâneas a estes eventos. É durante este período que se cria maioria
da praxis iconográfica do período imperial, ou seja, dando enfase cada vez mais a um
estado republicano em vias para o autocratismo (Woytek. 2012).
Outro exemplo é com a cunhagem militar que seguia Octávio na Gália, que
representou numa série de quinários Concordia no anverso e duas mãos entrelaçadas no
reverso, reforçando o compromisso entre os dois líderes após o desacato de 40 a.c. O
que é engraçado nesta moeda é o pequeno grafiti de uma adaga feito no reverso que
aponta para um dos pulsos dos triunviris. (Sulla80, 2021) Podemos retirar a conclusão
que a pessoa que possuía esta moeda percebeu a sua intenção inicial, mas após a guerra
civil entre Marco António e Octávio, decidiram expor o seu desprezo para um dos
partidos.
Outra moeda emitida por Octávio no sul da Itália vemos ele a declarar a sua
autoridade como filho de César, afirmando CAESAR DIVI F(ILIUS). Podemos ver uma
moeda semelhante, produzida em 36 a.c no sul da Itália também, que representa Octávio
com barba no anverso com a sua nomenclatura, enquanto que no reverso apresenta-nos
com um templo ao Divus julius, com ele na posição de augure e o cometa de César no
frontão. Júlio César divino, exaltando, em parte, a sua linhagem divina em relação a
Vênus, ao seu martírio, e à sua deificação interpretada através da chuva de meteoros que
ocorreu a seguir ao seu assassinato. Autor que explora esta moeda tira três
interpretações para a barba de Octávio: uma tentativa vâ para parecer mais maduro; uma
barba de campanha devido à guerra que lutava contra Sextus Pompeu ou uma barba de
luto por César. Devido ao foque se dá para Júlio César no reverso, ele aponta que a
última opção é a mais provável. (Sulla80, 2021). A intenção destas duas moedas é
clara, a digna associação entre Octávio e Júlio César, dando enfase à relação entre os
dois. Tenta transmitir a ideia que o Octávio é um continuador dos feitos, dos
pensamentos e da grandeza de seu pai adotivo. Além disso, vemos não só uma
personificação divina, mas uma literal deificação de uma personagem histórica, recém
morta, que está relacionado diretamente com emitor da moeda, também este
representado no anverso. Para concluir, temos o desenho do templo dedicado ao Divus
Julius que na altura da cunhagem desta moeda ainda não havia sido construído. Este só
veria a luz do dia em 29 a.c, erguido sobre o local de cremação de Júlio César. Há uma
necessidade por parte dos membros do triunvirato de exibir-se publicamente, uma luta
de mensagens “propagandísticas” para declarar alianças, agendas políticas e
justificar/legitimar a sua governação.
Culto imperial
Não era apenas o imperador a ser retratado nas moedas, mas também os seus
familiares e especialmente os seus sucessores. A iconografia numismática associa
normalmente o rosto do soberano com o seu possível sucessor para legitimar a sua
imagem para os demais, personificando-o com virtudes imperiais, qualidades morais,
poder e relação com exército. Sucessão, tal como divindade, era um tópico que
necessitava de uma determinada moderação no início do principado. Há uma certa
hesitação em colocar a família imperial nas moedas. No entanto, assim que há
monopolização do poder e da exibição publica, podemos ver uma demonstração publica
de autocracia (13/12 a.c) com a introdução de moedas com o rosto do Augusto e de
Agripina no reverso, ou mesmo com os seus netos (Howgego, 1995). Contudo, fora da
capital e nas províncias, a iconografia era menos cuidada, demonstrando os imperadores
e toda a sua descendência de uma forma mais significativa. Mesmo antes da morte
Augusto, este já se retratava a si no anverso e a Tiberius no reverso. Além disto,
também se tentava espalhar uma mensagem de estabelecimento de uma dinastia, quando
representavam, por exemplo, Júlia sobre uma corona cívica com os netos de Augusto,
Gaius e lúcios (Howgego, 1995). O mesmo ocorria com Vespasiano e com Septimus
Severus que representavam a sua família e os seus filhos como que a legitimar uma
nova linhagem em relação à anterior. Outra questão associada a estes retratos e
representações seria o conceito da Providência como legitimador do novo imperador.
Na iconografia de Titus, este é representado a receber um globo de Vespasiano
(Howgego, 1995). Em algumas emissões de Adriano também o vemos a receber um
globo do seu antecessor, mas como ato legitimador do seu governo referencio uma
moeda que afirma a adoção dele por Trajano
Bibliografia:
HOWGEGO, C. (1995). Ancient History from Coins, (pp. 67-87), London
&New York: Routledge.
2) A troca direta de bens foi a primeira experiência comercial conhecida nas mais
diversas sociedades, fenómeno conhecido por “escambo”. Durante a República média
romana, o sistema comercial conheceu a introdução da emptio uenditio, ou seja, a
compra e venda não podia ser resumida à troca entre bens, mas à troca de uma coisa
(merx) por um preço (pretium), exprimido em moeda, cuja regulação era realizada por
uma instituição política e económica, bem como pela orgânica dos mercados (Paulus
libro 33 ad edictum). Com a expansão romana, um número cada vez maior de
sociedades que não possuíam uma economia monetizada foram incorporadas no Império
romano e, seja pelo aumento das trocas comerciais, seja pela imposição de impostos e
taxas cobrados por Roma, conheceram o desenvolvimento de trocas de bens mediadas
por moeda.
Reflita sobre os impactos da introdução da moeda, a nível social, cultural, económico e
comercial e na veiculação de imagens e mensagens, ao longo do processo de conquista
da Hispânia, especialmente no noroeste ibérico, face à anexação romana.
A península ibérica da idade do ferro já tinha tido contactos com moedas desde
dos finaisdo Século V a.c devido à influência dos Fenícios Púnicos e dos Gregos que
lentamente vieram a colonizar as costas da Espanha meridional e oriental. O contacto
precoce com estas civilizações levou a evolução de culturas ibéricas muito
heterogéneas, com um desenvolvimento económico, social e político completamente
diferente daquelas que se encontravam no centro, norte e a Oeste do território. Nestas
zonas, até aos meados do século II, mas principalmente no final do século I com as
guerras Cantábricas, ainda resistiam contra as influências culturais mediterrâneas,
mantendo uma forte ligação às tradições da idade do Bronze tardio. Os seus primeiros
modelos proto urbanos teriam surgido no período da Républica tardia na forma das
grandes citânias e castros fortificados (Ripolles; 2012)
Assim a partir dos finais do século V até ao séuclo I a.c, que a península ibérica
se caracterizou por um território com diferentes graus de monetização, de diferentes
intensidades. A costa mediterrânea teve um contacto precoce com as produções
numismáticas gregas e fenícias, tanta das colonias como das cidades de estado mães.
Entretanto, devido ao intercambio entre nativos e estrangeiros, vemos um maior número
de povoações iberas a possuírem moedas, que ao início, as usavam exclusivamente para
as trocas comerciais com as civilizações do mediterrâneo. No entanto, não tardou até
elas próprios começarem a cunharem moedas, como foi com Arse-sagantum na segunda
metade do séuclo IV a.c, devido a um desenvolvimento da sua organização política.
Estas cunhagens devem estar vinculadas a um processo de normatividade das suas
relações cívicas, no qual importantes transformações urbanas e nas atividades
comerciais marcaram o seu porto. Os estilos destas moedas tinham influência helênica,
mas também apresentavam símbolos e legendas indígenas. O aumento da monetização
desta área deveu-se principalmente às guerras púnicas, que levaram os púnicos a
produzir mais moedas para pagar aos mercenários enquanto que os Romanos
financiavam os seus auxiliares com moedas mais diversificadas, mas principalmente
locais gregas, como os drachmas de Emporiom. (Ripolles; 2012)
É possível que algumas destas moedas tinham sido produzidas para fins locais,
mas provavelmente surgem num contexto militar desde do último terço do século II até
às primeiras décadas do Século I a.c para pagar tropas auxiliares em vez de cobrir os
pagamentos fiscais regulares romanos. Contudo, assim que produzidas, acabam por
entrar em circulação e fazer parte de várias interações comerciais, visto que as
encontramos no Norte de Africa e também na Gália. (Ripolles; 2012). Durante este
período, as populações nativas tiveram um desenvolvimento bastante autônomo com
uma iconografia que tem influências helenísticas e pouco romanas, uma vez que Roma
ainda não tinha a sua própria iconografia padronizada de símbolos culturais. Além
disso, podemos encontrar legendas com o dialeto indígena. O desenvolvimento das
características culturais das sociedades nativas que ocorreram durante os séculos II e I
a.C. como forma de auto-representação das elites, também pode ser detectada nestas
epigrafias, que refletem a diversidade dos povos existentes na Hispânia, a permissão
romana e o incentivo à vida urbana.
Bibliografia: