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Disponibilização: Jossi
Tradução: Giselda
Revisão Inicial: Vania Gusmão
Revisão Final: Silvia Helena
Formatação: Leniria
Chile - Outubro de 2002
Informação da Série
Série concluída
Capítulo Um
Muito devagar, com um passo tão leve que apenas roçou seus
pés os gastos degraus de pedra, Mônica desceu de sua cela
rumo àquele grande pátio interior que era o jardim e o pomar no
Convento das Servas do Verbo Encarnado... Outra vez os sinos
chamavam os fiéis, agora com o brando som sonolento que
convida à oração da tarde... Outra vez, religiosas e noviças iriam
à igreja em apertadas filas, mas Mônica partiu em direção
contrária. Saiu de sua cela, sentindo que se sufocava entre
aquelas paredes, mas, como por instinto, fugiu de todas as
presenças... O que sua alma desejava era silêncio, solidão... Até
no claustro lhe parecia estar muito perto do mundo. Deixou os
arcos que limitam o claustro, querendo chegar até um lugar
onde só poderia ver as árvores e o céu, mas algo se agitava
entre os ramos dos arbustos ao vê-la aparecer... Uma redonda
cabeça escura aparece e dois grandes olhos negros brilharam
sobre a pele cor de ébano, um corpo pequeno e ágil saltou
aproximando-se dela...
-Ai, minha senhora! Menos mal que você apareceu. Eu não
sei nem o tempo que estou abaixado esperando-a, e ia subir
outra vez para ir embora, mas a verdade é que não queria partir
sem vê-la...
-Disse para que não voltasse Colibri. É uma verdadeira
imprudência. Está proibido. Não entende?
-Eu não venho para fazer nada errado, minha senhora.
Você sabe que eu não venho mais que para vê-la... Não quer
nada comigo, minha senhora? Já não me quer?
-Sim te quero. Mas quando transpassar estas grades, terei
que renunciar tudo o amava no mundo... Você não pode me
entender, pobrezinho, mas não sofra por isso, não fique triste.
Acaso não era feliz antes de me conhecer?
-Feliz? Que coisa é ser feliz, minha senhora? Estar
contente?
-Bom... De certa forma... Você não estava contente? Não
estava também contente seu patrão?
-Ele, eu não sei... Ele ria, e quando chegávamos ao porto...
ia à festa. Quando ele não descia, as mulheres iam buscá-lo no
cais. O patrão sempre trazia presentes, e elas o beijavam e
diziam que era mais farto que um rei, e mais bonito que
ninguém... Porque o patrão...
-Cale-se! - cortou-lhe Mônica, apertando os lábios.
-Zangou-se, minha senhora? – perguntou ingenuamente o
pequeno Colibri.
-Não. O que pode me importar o que disse? Volte com seu
senhor! Volte para navio de Juan, para participar de suas
festas! Certamente, agora estará ali, divertindo-se...
-Não, minha senhora, ele não voltou para navio. Anda com
o senhor Noel... Mas diz Segundo que ontem à noite ganhou
muito dinheiro, e que agora todas as coisas vão ser diferentes.
Que o senhor vai voltar a ser um cavalheiro, com casa própria e
navios que vão pescar... E também me disse outra coisa: que o
senhor vai vir procurá-la, e que você viria outra vez conosco;
não ao navio, mas à casa que vai fazer o amo. É isso verdade?
-Não, não é verdade. Não sairei jamais do convento, nem
tampouco ele deseja que saia. Estou segura disso. Bastam
essas mulheres que o esperam no cais. Agora irão querê-lo
mais, porque poderá lhes levar melhores presentes...
-Chist! Vem uma monja - advertiu Colibri em voz baixa e
assustado. - Eu me escondo...
-Mônica... Mônica, minha filha... - chamou a abadessa,
chegando juntou à noviça, e lhe explicou-: Venho de sua cela.
Procuraram-lhe inutilmente por todo o convento. Há um
visitante que te espera no locutório...
-Juan! -alvoroçou-se Mônica sem poder esconder sua
confusão.
-Não. É o senhor Renato D'Autremont, minha filha, que
pede e suplica que não se negue a falar com ele...
Mônica se sentiu como se algo se gelasse em suas veias.
Renato D'Autremont... Cada uma de suas letras a transpassou
como uma fina flecha de angústia, enquanto uma amarga
desilusão ia invadindo-a, porque é ele e não o outro. As palavras
de Colibri fizeram bater as asas em sua alma uma esperança
que, apesar dele, acendeu-a de loucas ilusões. Agora, é como se
fechasse de repente a porta que visse entreaberta, como se de
um golpe se apagasse a última estrela de seu escuro céu...
-Eu também me atrevo a te pedir que não se recuse -
prosseguiu a abadessa. - Faz muito tempo que te espera. Parece
tão angustiado, tão inquieto, que seu empenho me faz pensar
que tem algo importante a dizer, acaso um pouco relacionado
com a solicitação dessa anulação de casamento que assinou
para enviar ao Santo Padre. Afinal acredito que o ouvindo nada
perde...
Mônica olhou a todas as partes... Com a aparição da
abadessa, desapareceu Colibri. Sem dúvida, estava escondido
muito perto, ou acaso aproveitou o momento para fugir,
levando-se com ele aquela baforada de ar salubre, aquele
desesperado desejo que só o nome de Juan acende nela. A voz
da abadessa lhe chegou como se viesse de muito longe,
obrigando-a a voltar para a realidade:
-Os D'Autremont são seus iguais, seus parentes... Não
podem te desejar nenhum mal. Vamos, filha... Venha...
Capitulo Três
-Renato... Filho...
-Não é...? O que faz acordada a estas horas, mãe? É tarde,
muito tarde. Não acredito que deva abusar assim de sua saúde
e de suas forças. Tem que estar descansada...
-Meu cansaço, filho querido, não é do corpo.
Junto à escada de pedra que dava acesso ao sombreado e
confortável portal da casa opulenta, Renato se encontrou com
aquela a quem menos tinha desejado encontrar naquele
momento. Os olhos de sua mãe, interrogativos e angustiados,
fixaram-se nele, e aparecia neles uma súplica tão enferma e tão
terna que o estremecia.
-Não quero parecer uma intrometida te perguntando de
onde vem. Suponho que não terá ido pedir um cavalo, que não
irá esta mesma noite como ameaçou...
-Não, mãe, claro que não irei esta noite. Já ordenei antes a
Aninha que te dissesse, mas vejo que se esqueceu meu pedido.
-Pois é bem estranho... Asseguro-te que é a primeira vez
que acontece algo assim.
-Sim, é bem estranho... Tudo é estranho nela... Preferiria
não falar disso... Não quero te desgostar, mãe...
-Com o que disse, basta para me preocupar seriamente.
Não acredita que é preferível falar claro de uma vez?
-Pois sim. Eu sei disse muito para me calar agora. Aninha é
alguém de quem deveria se desprender. De uma forma suave e
com um pretexto qualquer, mas...
-Discutiu com ela. Suponho que seja uma sugestão de sua
mulher. Aimée odeia a pobre Aninha...
-É Aninha quem a odeia. Pela tranquilidade desta casa, por
essa paz que você mesma deseja, quero te pedir que afaste
Aninha assim que se apresente uma ocasião, eu já a
procurarei... Se tivermos que viver em Campo Real, tem que ser
assim, mãe.
-Está bem. Terei que aceitar seu desejo... Bem sabe que é
um grande sacrifício para mim, mas as mães nasceram para
isso: para aceitar os sacrifícios. Mas, ao menos, posso saber o
que aconteceu esta noite com Aninha?
-Não é esta noite, é sempre. Deixemos o assunto, mãe,
peço-lhe isso. De minha parte, meu pedido vai junto à súplica
de que não me pergunte mais.
-Se não quiser falar, farei com que seu relatório chegue a
ela. Dispensa-lhe gratuitamente sua antipatia... O que vamos
fazer! Será uma vítima mais de todas estas coisas, mas ao
menos vou demonstrar, quero te demonstrar, todo o carinho,
toda a submissão e todo o respeito que Aninha me tem. - E
elevando a voz, chamou-: Aninha... Aninha!
-Não a chame, mãe, não se canse, porque não tem como
atender. Não está na casa, e é preciso que desperte. Saiu esta
noite, como sem dúvida muitas outras, sem que você
suspeitasse. Está lá encima, na praça dos barracos... Sinto te
desiludir com respeito a ela, mas não é o que pensa. Quis tirá-la
do seu meio, do seu ambiente, e não acha que lhe tem feito
nenhum bem. Menos mal que, no fundo, é igual aos outros.
Bastará que a deixe em liberdade para que se manifeste tal
como é, sem a máscara de hipocrisia com que te fascina...
-Renato, me acompanhe a meu quarto. Chame Aninha.
Você verá como atende, você verá como desmente esta calúnia
que se encarregaram de te falar dela. Não é capaz de ir a essa
festa. Está deste lado. Desde menina me ocupei de sua
educação. Ela...
-Ela está lá encima, mãe, vi-a com meus olhos.
-Você? Quer dizer que você foi também?
-Isso é o de menos... Mas não falemos mais esta noite...
Acredito que estou fora de mim; e há algo que tenho que te dizer
algo importante, mas que tudo: a verdade do meu coração...
-Não a diga neste momento. A verdade de seu coração eu
conheço, não me repita isso... Espere, espere uns meses...
Venha, venha ao meu quarto. Voltei a te ver de repente tão
desorientado, tão alucinado como quando era uma criança.
Quero te liberar disso...
Segurou-o pelo braço levando-o com ela meigamente, com a
mesma ânsia dolorosa de proteção como quando era menino e o
afastava de todos os perigos imaginários ou verdadeiros... Fez
com que entrasse no amplo quarto, e sentou-o de costas para as
janelas. Um momento vacilou olhando através delas a mancha
vermelha das fogueiras que ardiam lá, no clarão dos cafezais...
Mas no ar que soprava daquele lado, parecia chegar, com o
ritmo sensual da música, a baforada cálida daquelas chamas
que na montanha entrava em ebulição. E é como se o ambiente
se carregasse de escuros presságios, como se os tétricos
augúrios que presidiram o nascimento de Renato D'Autremont
tremessem outra vez sobre sua loira cabeça...
-Tenho que te defender de você mesmo, Renato. Seu pior
inimigo está dentro de você... É seu coração, seu insensato
coração que se afeiçoa sempre ao que mais pode te fazer mal.
Primeiro à amizade desse canalha a quem odeia... Hoje, ao amor
de uma mulher proibida para você por todas as leis humanas e
divinas...
-Não há nenhuma lei que proíba ao coração os
sentimentos. O que a mente pensa, o que o coração sente...
-Acaso não existe o pecado mental? Pensa que não se peca
recriando no pensamento o que é proibido? Não basta ter um
nome como o nosso, não basta nascer chamando-se Renato
D'Autremont, mas sim tem que saber sê-lo, tem que aceitar as
obrigações da vida, da fortuna, do poder... Nasceu poderoso,
opulento, com todas as honras, com todas as vantagens. Não
tem a não ser sustentar o que outros fizeram para você...
-Acredito que se excede em suas recriminações, mãe.
Inclusive não fiz nada indigno.
-Confio em que Deus te libere sempre de fazê-lo. Ainda está
a tempo, mas tem que ter vontade. Não volte para Saint-Pierre...
Fique aqui, espere ao menos a que nasça seu filho... Não sente
que com essa criatura virá a esperança de uma nova vida?
Renato abaixou a cabeça. Por um longo momento demorou
a responder, como se rebuscasse em sua consciência, como se
abaixasse ao fundo de si mesmo. Logo, seus claros olhos se
elevaram, cravando-se nos de Sofía, ao rebater:
-Só se vive uma vez, mãe. Quero viver minha própria vida...
Eu compreendo seu ponto de vista, mas tenta compreender o
meu. Quero minha vida, a minha, a que pulsa em minhas veias,
não essa que, como bem disse, fizeram outros para mim... Deve
te bastar com que no material não faça nunca nada indigno, ou
tente não fazê-lo... É que acredita que já não é bastante meu
martírio? Tarde achei a verdade de meu coração. Por que estive
tão cego?
-E por que não aceita as consequências de seu erro, já que
o cometeu?
-Porque não posso mãe! Não posso me conformar com essa
vida pueril e medíocre que levo. Não posso ser escravo de um
pedaço de terra, das letras de um sobrenome... Lutaria embora
eu mesmo não quisesse... Faltaria a minha palavra se me
pudesse arrancar isso, e aos meus juramentos, se jurasse o que
sei que não posso cumprir. Não me atormente mais, mãe... É
inútil... Deixe que se cumpra meu destino...
-E por que tem que ser seu destino correr ao abismo?
-Porque é o de todos os D'Autremont, mãe: viver para
nossas paixões, e por nossas paixões, morrer...
Sofía fez um gesto para detê-lo quando se afastou
bruscamente, mas não o seguiu. O olha cruzou, com uma
desolação infinita nas pupilas, e logo procurou uma poltrona
onde se deixou cair rendida, soluçando. A porta do quarto se
abriu e Batista se desculpou:
-Perdoe-me que entre assim...
-Onde está Aninha?
-Não a encontro nem sequer quem enviei a procurá-la, nem
tampouco uma donzela a quem pedi permissão para entrar. Por
isso cheguei assim... Todos se foram; mas, com a permissão da
senhora, amanhã castigarei quem for preciso. Parece como se
um demônio tivesse soprado a todos. Nunca ocorreu isso em
Campo Real uma coisa assim... Mas Aninha não demorará a
voltar senhora. Certamente terá ido fazer por si mesma algo
necessário...
-Aninha também está lá encima... Meu filho viu-a, e isso é
uma falta grave para despedi-la...
-Se o senhor Renato achar assim, teria que despedir a
todos, e à senhora Aimée seria a primeira.
-O que diz?
-Não há luz por aquele lado da casa...
-Pode estar deitada e dormindo. Quem é você para julgá-
la... Entendeu? Exijo a maior consideração e o maior respeito de
todos para a esposa de meu filho. Ao menos, por agora...
-Agora e sempre se fará nesta casa o que a senhora diga
dona Sofía. A senhora é a única proprietária que reconhecemos
os leais, os antigos... Pela senhora nos deixamos matar... É o
que eu sinto, e é o que sente minha sobrinha. Claro que se, com
tudo isso, o senhor se empenhar em que a senhora a mande
embora daqui...
-Procura-a você mesmo, Batista, vá procurá-la... Eu não
preciso de nada...
-Nem o senhor tampouco... Está na sala de jantar, e ele
mesmo se serve... Está bebendo como nos piores dias: ele
sozinho e uma taça atrás da outra... Nisso é diferente do senhor
dom Francisco... Esse bebia sempre em boa companhia... Em
festas, com amigos, como todo um grande senhor que era
minha senhora. Que até seus pecados eram disso, de grande
senhor...
-Cale-se Batista, e vá fazer o que te mandei. Traga
Aninha...
-Eu estou seguro de que a senhora está enganada com
Aninha. Se o senhor a viu lá encima, foi por um momento. A
qualquer um pica a curiosidade. Agora, apostaria a mão direita
que não está ali, e a senhora vai vê-lo por si mesmo... Com
permissão...
Não... Não estava Aninha na larga praça dos barracos, onde
a festa negra seguia, onde os corpos banhados de suor se
retorciam em danças lascivas, onde, como as chamas das
fogueiras, os desejos palpitam, e se ligavam, em um só nó o
amor e a morte... Depois de um longo momento de estupor
doloroso, pôs-se a andar, primeiro sem rumo fixo, depois como,
arrastada por uma idéia...
Andou primeiro, muito devagar; depois, mais depressa...
Afastou-se até encontrar um atalho escondido, um áspero
atalho que subia a montanha através dos penhascos, até o
ponto mais alto do vale, junto ao arco do desfiladeiro, ali onde,
escondida e dissimulada entre penhascos, havia uma choça
semi destruída: a guarida de Kuma...
Afastou-se do atalho, escondendo-se entre as plantas, até
que a sombra que passou perto dela desapareceu... Um bom
tempo depois a seguiu com os olhos, tentando localizá-la nas
trevas... Uma suspeita a faz sentir o desejo de ir atrás dela, mas
não o realizou, e quando tudo voltou a ficar silêncio,
prosseguiu, até chegar junto a curandeira...
-Kuma! Quem saiu daqui? Vi-a, tropecei-me com ela no
caminho... Quase poderia jurar... Kuma me diga...!
-Deixe-me em paz! Não tenho nada que te dizer...
Bruscamente, a feiticeira se soltou daquela mão, que apertando
seu punho a oprimia, e olhava duro o rosto desencaixado de
Aninha... Logo, com aquela solene calma que dava a todos seus
movimentos, abriu a marmita que fervia e afundou um punhado
de ervas secas em seu escuro e fedorento conteúdo.
-Kuma, responda o que te pergunto... Juro-te que não vai
pesar-te... Sou sua amiga, você sabe que sou sua amiga...
-Kuma não é amiga nem inimiga de ninguém. Sirvo aos que
chegam aqui, e calar seu nome é meu primeiro serviço... Diga-
me a que veio. Seguem suas penas? Se vier a me falar delas,
escutarei... Se quiser um remédio, Kuma saberá encontrá-lo,
embora seja muito difícil. Se não for para isso, pode ir...
Cruzou os braços, em frente à Aninha, que outra vez
parecia serena, contida, e por um momento permaneceram
ambas as imóveis, até que, lentamente, Aninha tirou uma
moeda de prata de seus bolsos, pondo-a sobre a imunda mesa:
-Venho te pagar minha última visita, embora não deveria,
porque de nada me serviu. Seu conselho foi mau; seu amuleto,
inútil; sem valor as orações que me deu...
-Pôs no café de seu senhor a medicina?
-Não... Tive medo... Pode adoecer, pode morrer...
-Talvez adoeça, mas essa enfermidade abrandará sua força,
se sentirá desventurado, e esse será o momento em que voltará
seus olhos a você. Não é isso o que pediu a Kuma?
-Pedi que me amasse, que seus olhos se fixassem de outro
modo em mim... Pedi um sorriso, um só sorriso... Depois, não
me importa se morrer...
-Pobre tola! Por que tinha que olhar tão acima?
-Se minha mãe obteve o amor de seu senhor, uma hora,
um dia... Por que não posso eu obtê-lo?
-Os tempos mudaram, as coisas são diferentes... Quando o
vale era matagal de selva e os senhores viviam em cabanas,
quando bebiam rum e estendiam sua rede sob as Palmas, tudo
era diferente... As mulheres brancas estavam muito longe,
nenhuma chegava até aqui...
-O que foi uma vez, pode voltar a ser - se obstinou Aninha
com teimosa paixão. - Não há, a não ser uma coisa que me
importe na vida... Seu Deus sabe... Você diz que tem poder para
conseguir tudo...
-Já te dei a planta. Não a coloque toda de uma vez se não,
não terá valor suficiente. Faça tomar umas gotas cada dia.
Pouco a pouco, todas as coisas vão parecer diferentes... Pode
que chegue a vê-la formosa, branca, como...
-Como quem! Não ria Kuma!
-Tenho que rir. Viu um escaravelho frente ao sol? Assim é
você frente à quem pretende que ele se apaixone por você. Pobre
Aninha!
-Não tem por que compadecer! -disse Ana furiosa. - Mesmo
que ela fosse o sol, como você diz, e eu um escaravelho, ela é
má, é daninha... Envenena-lhe... Odeia-lhe... Mas quando você
diz isso, é que a viu...
-Sim - disse a feiticeira com falsa indiferença. - Todos a
viram de longe, um dia: o dia de seu casamento. Até Kuma, a
maldita, esteve no cortejo nupcial do senhor Renato...
-Lembre-se! Viu-a depois e de muito mais perto. Acaba de
vê-la, porque foi ela quem esteve aqui... É inútil mentir...
Embora o negue, estou bem certa. Ela veio te procurar... Por
quê? O que queria? Responda-me! Paguei-te em prata quando
outros dão cobre!
-E outros me dão ouro...
Kuma abriu a mão mostrando as três moedas de ouro, que
brilhavam a luz da tocha, já quase extinta, e Aninha ficou
furiosa, totalmente segura:
-Ela... Ela...! Sabia... Sabia...! Veio até aqui, e te pagou com
suas moedas de ouro. O que veio comprar?Diga-me, me diga
isso. Não pretenda zombar de mim, porque sou uma má
inimiga!
-Kuma não teme o escorpião, nem à aranha, nem à
formiga... Você é como uma cobra que se arrasta... Quer chegar
até o ramo mais alto da pimenteira, mas não poderá subir. Terá
que esperar que o raio que desça das nuvens parta o ramo, e os
ramos abaixem até você... Embora não o mereça, vou te dar um
conselho de amiga: Não queira chegar até o senhor, espere que
o senhor chegue até você. Dei-te o remédio... Usa-o pouco a
pouco... E agora, vá...
Aninha deixou cair às mãos com gesto de vencida, como
carregada de uma dor sem nome, enquanto a feiticeira voltava
lentamente para o forno de barro sobre o qual fervia a marmita,
onde ficou por um momento imóvel. Logo, tremeu como se a
sacudisse o calafrio de uma febre, e levantou a tampa da panela
fervente. Com as grandes e negras mãos estendidas, traçado
estranhos signos, ficou absorta contemplando as espirais de
vapor, e depois abaixou a tampa, voltando-se com brusco
movimento, para indagar:
-Ainda estas aqui? Vá!
-Não posso ir assim! Diga-me o que viu na fumaça! Diga-
me.
-Sangue... Fogo... Ruína... Lágrimas na casa D'Autremont
sangue nas pedras do desfiladeiro... Tanto sangue como quando
se matou o senhor dom Francisco. E depois, ruína... E depois,
fogo... Vi afundar a casa D'Autremont, e ferver o mar...
-Kuma... Kuma! Isso não é possível! Diz só para me
assustar, para zombar de mim! Você não viu isso! Não o viu!
Kuma! Kuma!
Imóvel, gelada, com a vista fixa, a feiticeira cor de ébano
parecia se afundar nos horríveis pressentimentos que fluíam de
seus lábios... As mãos de Aninha tocam o frio e rígido corpo em
vão, desesperadamente tenta fazê-la despertar, e ao fim,
vencida, separou-se da feiticeira com gesto de temor
supersticioso... Sem deixar de olhar Kuma, Aninha chegou à
porta da cabana, cruzou sua soleira de costas ao caminho... O
ar fresco da noite parecia despertá-la açoitando seu rosto...
Então, possuída por um terror repentino, começou a correr para
as longínquas luzes da casa...
Abafada pelo golpe do coração que batia muito depressa,
ainda pálida e tremula de espanto por causa das palavras da
Kuma, procurou Aninha o apoio da parede, enquanto Batista se
aproximou dela com gesto de violenta ira:
-Onde estava? De onde vem?
-Eu... Eu... –balbuciou Aninha. - Não venho de... De
nenhuma parte. Saí... Saí...
-Sem inventar, sem mentir! Viram-lhe lá encima. Viu-te o
próprio senhor Renato. Veio contar a dona Sofía. Sabe como
está ela contra você? O senhor está furioso, pediu-lhe que te
despeça! O que fez ao senhor amo? O que lhe disse?
-Eu... Eu... Oh, tio Batista! - choramingou a mestiça em
tom suplicante.
-Não permitirei que volte a me chamar assim! Muito sabe
que te amparei quando minha irmã me pediu isso ao morrer, e
que ela, por lástima, tinha-te recolhido. Mas não me deixe mal
aqui... Como por sua culpa se desgosta a senhora comigo, direi
a verdade a todo mundo: não é mais que um lixo do arroio, e ali
voltará se a senhora te despede. Amanhã castigarei todos esses
bandidos que escaparam à festa, e não irá melhor a você se não
te perdoar dona Sofía...
-Faça o que quiser! Não me importa! - desprezou a mestiça
chorando profusamente.
-Que não se importa? Isso veremos. A culpa é minha por
ter te tratado muito bem, por dizer que era minha sobrinha.
Seque esses olhos, veja onde está a senhora e lhe peça perdão
de joelhos...
-À senhora Sofía...?
-E também à outra, à senhora Aimée... Certamente, ela é
quem pôs seu marido contra você. Faça-te perdoar de tudo
antes que seja de dia, ou terá que se entender comigo.
Batista se afastou com firme passo. Por um instante
Aninha permanece imóvel, o rosto entre as mãos, abafando os
soluços que a sacudia, até que suas lágrimas se secaram ao
ardor das bochechas. Então se levantou devagar, entrou como
sonâmbula no estreito quarto, e com mão trêmula abriu o móvel
encravado na grossa parede, que fazia às vezes de cômoda e
estojo de primeiro socorros. Do fundo da mesma extraiu um
tosco frasco de barro. Era a repugnante poção medicinal ou
mágica que Kuma deu como medicina para destruir a vontade
rebelde de Renato. Tremendo, apertou-o em seus dedos,
enquanto sua alma se debatia em uma luta horrível...
-Odeia-me... Renato me odeia, e me odeia por ela... A
maldita...
Um relâmpago vermelho cruzou por suas pupilas,
acabando de secar suas lágrimas, devolvendo em um instante
as forças perdidas. Outra vez voltou a endurecer seu rosto
desfigurado de angústia, outra vez o descompassado e inquieto
coração voltou a pulsar, quando em tom detestável decidiu:
-Sim... Sim, farei o que Kuma me disse!
Capitulo Seis
-Juan, levantou?
-Só um momento, e acredito que já era tempo... Cuidei
muito de minha ferida, Mônica...
Devagar, com um ritmo diferente ao que estava
acostumado, chegou junto à Mônica, que surpresa saiu ao
passo ao vê-lo aparecer no cruzamento dos caminhos, e sua
mão se estendeu um instante como se procurasse o apoio das
rochas... Seu rosto menos branqueado pela palidez, tinha agora
um selo de severa nobreza. Ainda o braço esquerdo descansava
no xale de seda dobrado que levava como tipóia, e avultava sob
a camisa branca as bandagens...
-Mas, que loucura! Pensei que estaria um momento ao sol,
logo...
-Fez falta minha presença lá embaixo, Mônica. Essas
pobres pessoas sofrem... Falaram-me de sua visita, de seus
presentes de provisões...
-Não me pareceu justo monopolizar, eu sozinha, as
bolachas e o pão, especialmente tendo feridos...
-Em um dia devoraram o que teria bastado para uma
semana...
-Que mais dá? Posso comer peixe, como o comem os
outros...
-Já sei que não lhe falta nunca raciocínio a uma
generosidade como a tua... Também sei que curou os feridos...
O irmão de Martín, quase moribundo, está já sem febre...
-Só tinha a ferida infectada... Enfaixaram-lhe com trapos
sujos... Não pensei que estaria demais, as mulheres da aldeia,
aprenderam a utilidade de água fervida, das bandagens
relativamente esterilizadas...
-Fez muito por todos. Seu nome está, entre as bênçãos, em
todos os lábios...
-Devia-lhes algo, Juan. Acredita que não sei que minha
presença piorou a situação de vocês? O desventurado incidente,
quando Renato veio me buscar, provocou as feridas desses
homens. Embora de forma indireta, considero-me responsável...
-Já... E responsável em forma direta...?
-Você, Juan, você... Mas também por minha causa...
-Por que não diz seu cavalheiro Renato? -rebateu Juan com
ira.
-Também ele... Embora sua intenção não fosse má. Se não
tivesse sido por seu mau gênio... Que razão podia ter para te
enfurecer até perder a noção do lugar em que estava? Amor
próprio? Não, mau gênio...
-Já sei que também esteve pregando aos pescadores
mansidão e amor a seus semelhantes. Mas, quem são seus
semelhantes? Esses miseráveis soldados que se convertem em
verdugos para defender as bem repletas arcas de um agiota?
Bem merecido tinham que os tivessem feito saltar em pedaços!
-Passava em sua cabeça esse plano? Era coisa sua?
-Sabe que não... Mas não pelo que pensa... Teria dado ao
governador pretexto para nos exterminar, para fazer voar a
pedaços o Penhasco do Diabo, a aldeia e a praia...
-Pode fazer uma coisa assim?
-Naturalmente que pode fazê-lo. Às vezes me pergunto por
que não o fez ainda... Acaso seu cavalheiro D'Autremont
interveio porque você está deste lado... De verdade não sabe
nada dele? Não recebeu nenhum recado nenhuma carta?
-Por que pensa que minto Juan?
Juan se aproximou de Mônica até pegar seu braço... Por um
instante, os fortes dedos a oprimiram algo um pouco parecido a
uma arruda carícia. Logo, deixou a mão cair em desalento,
enquanto ele retrocedia...
-Mônica, é preciso que você saia desta armadilha...
-Por que eu? O que acontece?
-Não é que acontece nada, mas... -tentou tranquilizar Juan
fazendo um esforço. E ao ouvir os murmúrios longínquos que
iam se aproximando, ordenou-: Volte para a cabana...
-Por que tenho que voltar? O que é o que está acontecendo?
Parece que choram que lamentam algo... vou...
-Não, Mônica, não vá...!
Mônica se esquivou, correndo até a reborda de rochas. A
população inteira da aldeia está ali congregada, abaixo, onde
descendo de muito alta montanha formavam remanso os dois
arroios de água doce... Mas neste instante, não era água o que
arrasta... Uma lama espessa, de violento aroma impregnado de
enxofre, que rodava lentamente deixando na borda cadáveres de
peixes e pedras vulcânicas... Sem compreender, Mônica se
voltou para Juan, perguntando:
-O que acontece?
-Não compreende? Esses arroios são nosso único
abastecimento de água... E olhe o mar... Olhe a praia...
Foram juntos uns passos pela borda quase impraticável.
Tremendo, Mônica se inclinou, enquanto a única mão de Juan a
segurava com angústia, ao advertir.
-Tome cuidado! Pode escorregar...
-Mas... A praia está cheia de peixes... Alguns saltam...
Outros...
-Alguns agonizam; outros morreram... Percebe? Estão
envenenados. Essa lama que arrasta os riachos, e que
certamente outros rios estão arrastando...
-Envenenados? Envenenaram os riachos? Mas, quem?
Quais?
-Isso, Mônica... O vulcão... O velho vulcão que acordou para
cuspir sua maldição sobre o Cabo do Diabo!
Trêmula de angustiada surpresa, Mônica se voltou para
olhar o alto cone do vulcão... Dali se via ainda mais perto que
da cidade de Saint-Pierre... Parecia mais sinistro o aspecto de
suas ladeiras nuas e escarpadas... Da estranha cratera
escapavam agora pequenas baforadas de fumaça muito negra e
havia uma fina linha cadente que transbordava de um dos
flancos até apagar-se. Seus olhos se voltaram em interrogação
assustada, até encontrar o rosto de Juan, sereno e grave...
-O que acontece, Juan?
-Bom... Veja... Veja só o que está olhando: o Monte Brigue
transborda em lava sobre os riachos, sobre os rios, e no
momento nos deixa sem peixe e sem água potável...
-E pode vir um terremoto, verdade?
-Pode vir claro... Não seria o primeiro nem o último...
-Ouvi histórias terríveis a respeito do que pode fazer um
vulcão...
-Certamente foi uma erupção vulcânica o que tirou a
Martinica do fundo dos mares, e bem pode outra voltar a
sepultá-la...
-Por que fala assim, Juan? Diria que te agrada essa idéia
horrível...
-Não, Mônica, não me agrada... Embora às vezes, frente à
injustiça dos capitalistas, frente à dor e a miséria dos
eternamente sacrificados, chegue a pensar que a natureza tem
razão em apagar o homem da superfície da terra... Olha-os,
Mônica...
Os dois abaixaram juntos a cabeça para contemplar o
doloroso espetáculo daquele grupo desolado e miserável...
Sombrios, os homens apertavam os punhos, e as mulheres,
assustadas, choravam ou abraçavam os seus pequenos...
Ingênuos e audazes, os moços mais velhos tocavam com suas
pequenas mãos negras os peixes mortos inflados de lama...
-Estamos no século vinte, em um mundo que se diz
civilizado, e esses infelizes podem que pereçam de sede e de
fome às portas mesmas de uma cidade, porque a ambição de
um agiota assim o decretou...
-Morrer de sede e de fome? -assombrou-se Mônica. - Mas
você não pode consentir!
-Mas não posso remediá-lo...
-Não, Juan, não! Está ofuscado... As autoridades não
podem ser tão desumanas... Se nos déssemos por vencidos, se
elevássemos a bandeira branca...
-O governador não quis me ouvir... Quer dizer que não
admite uma capitulação honrosa. Só nos render sem condições.
Sabe o que isso significa? Já foi alguma vez aos calabouços
subterrâneos do Forte de São Pedro?
-Sim... Uma vez fui...
A lembrança se tornou aguda... Um momento acreditou
voltar a ver aquela espécie de cova subterrânea, e através dos
grossos barrotes, que fechavam o único respiradouro, outra
havia uma mulher nos braços de Juan: Aimée, sua própria
irmã. Mônica empalideceu tão intensamente, que Juan sorriu
fazendo um esforço para brincar:
-Não se preocupe tanto... A você não vão trancar...
-Pensa que é por isso? Que longe está de meu coração e de
meu pensamento, Juan!
-Efetivamente... Acredito que muito longe, embora nos
estreitemos às mãos neste instante...
Juan apertou na sua a mão de Mônica, obrigando-a a
aproximar-se mais, compreendendo que a feriu com suas
palavras, mas decidido a sustentar o muro que entre eles se
elevava, a escorá-lo se fosse necessário, naquela hora dura e
amarga:
-É melhor que estejamos assim, e que assim nos
mantenhamos, Mônica.
-Posso saber por que, Juan?
-Porque começo a te conhecer. Buscas os sacrifícios, joga-
os sobre você com o mesmo empenho, com a mesma ânsia com
que outros monopolizam comodidades, honras ou riquezas...
Não, Mônica... Você deve se salvar... Tem que se salvar... Nada
tem em comum entre você...
-O que vai dizer? Acaba! Fere-me de uma vez com a
ingratidão, com a crueldade de suas palavras... Recusa-me com
a mesma frieza, com a mesma dureza que me vem recusando...
-Não, Mônica não fale desse modo... Não me faça fraquejar!
Esta não é sua batalha... Você não tem que sofrer conosco...
Sua família, seu nome, sua posição se colocam ao outro lado da
barricada. Por que louca casualidade está aqui?
-Preciso dizer isso com palavras, Juan?
Juan acreditou adivinhar, ia estreitá-la entre seus braços,
mas se conteve com violento esforço, remoia furiosamente seus
lábios acesos de anseio por aquele beijo que não chegou a dar,
enquanto tensa de angústia aguardava Mônica a palavra que
não chegou... Como se rezasse uma ladainha, respondeu Juan:
-Não é este o momento em que podemos falar de nossas
coisas, Mônica. Não tenho o direito de fazê-lo, porque não me
pertenço... Devo a estas pessoas, às que elevei em uma rebeldia
que por si mesmos jamais teriam tido... Se esse homem que nos
governa tivesse me escutado, se entendesse que aceito inteira a
responsabilidade de todas as culpas, de todas as faltas, que me
ofereço eu só como único e verdadeiro responsável...
-Juan... Juan... Dê-me um minuto de sua vida - pediu
Mônica com angústia. - Falemos de nossas coisas um instante,
só um instante...
-Pois bem... Eu...
Interrompeu-lhe o estampido de três ou quatro explosões,
seguidas do murmúrio de vozes e gritos de espanto. Correndo a
toda velocidade de suas pernas, sufocados, chegou até eles
Segundo, com a notícia:
-Fizeram-no, patrão, fizeram-no!
-O barril de pólvora? Fizeram-no voar? -inquiriu Mônica
profundamente espantada.
-Não... Não... Eles não... Foram os outros, os canalhas... -
retificou Segundo.
-Os outros? - duvidou Juan. E violento, para ouvir outras
duas ou três explosões algo mais longe, apressou-: Acabe de
falar.
-Ouça... Olhe... Estão fazendo voar as rochas, abrindo essa
sarjeta que nos deixa totalmente isolados, cortando toda
comunicação possível... É como se nos arrancassem da ilha,
patrão!
Juan olhou com a raiva inflamada... Em um instante viu
tudo claro... As explosões, cada vez mais longínquas, eram
como um cinturão de fogo que corria, cerceando o Cabo do
Diabo, arrancando-o à costa para convertê-lo em uma ilha, já
que pela larga brecha aberta se precipitava rugindo o mar.
Espantados e enfurecidos, aproximaram-se os homens por toda
parte, e Segundo se queixou:
-Não percebe, patrão? Não está olhando? Teríamos evitado
dando o golpe nós primeiro!
-Não teríamos evitado nada... Teria nos destruído o canhão
por terra e por mar - respondeu Juan com uma calma
impregnada de amargura.
-Melhor seria morrer brigando. Pelo menos, gastemos as
balas que temos tentando fazer baixas... Fogo! Fogo!
Cegos de raiva, os poucos homens que empunhavam armas
de fogo dispararam contra os uniformes longínquos; mas Juan
saltou na frente de todos, transfigurado.
À voz de Juan obedeceram seus homens... Bem a tempo
procuraram refúgio atrás das rochas, já que, contra elas se
estrelavam descargas fechadas com as quais respondiam os
soldados do outro lado da sarjeta... Lentamente, Juan se
levantou sobre o promontório de rochas, e deu uma olhada
abrangendo o panorama... Pela larga sarjeta aberta se
precipitava rugindo um mar furioso, por todos os lados ferviam
espumas ao redor do Penhasco do Diabo... É como se os
tivessem abandonado em um navio incapaz de navegar... Uma
mão suave se apoiou em seu braço, e Juan se voltou para
cravar seus olhos no rosto de Mônica que ardiam como brasas...
-Você tem que se salvar Mônica... Você não pode perecer
aqui...
-Não me salvarei sozinha, Juan. Correrei a sorte de todos.
Se houver algo que possa fazer por todos, faça-o... Mas nada
mais, Juan, absolutamente nada mais.
Capitulo Treze
FIM