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A BABÁ DOS MEUS FILHOS - PARTE II

Natalia Aparecida

Aos meus queridos leitores, por embarcarem


comigo nesta história.

CAPÍTULO 1 – SOFIA

Já passava das seis horas da tarde quando cheguei em casa. Tirei minhas
botas e as atirei pela sala, me jogando com tudo no sofá. Depois da faculdade,
passei o dia fora procurando emprego, mas encontrar alguma coisa estava
mais difícil que nunca. Estava frustrada, minha cabeça doía e eu andava mais
cansada que o normal.
As últimas quatro semanas não haviam sido fáceis. Desde que tudo
aconteceu, eu nunca mais havia visto ou me encontrado com Oliver, as coisas
que ficava sabendo sobre ele eram através da internet ou da televisão. A
maiorias das notícias sempre o mostravam em festas badaladas, com belas
mulheres ao seu lado e bebidas alcoólicas.
Aquilo partia o meu coração, mas eu não o julgava. Para ele, eu o
havia traído e ir para festas e sair com outras mulheres era a sua forma de
mostrar que ele estava bem e pronto para continuar. E eu queria que ele
continuasse. Queria vê-lo bem.
Denise havia cumprido a sua parte no trato e deixado Oliver em paz
com os filhos, e eu sabia que agora ela só deveria estar aguardando o
momento mais oportuno para dar o bote e tentar reconquistá-lo.
Eu me remexi no sofá e algumas lágrimas começaram a correr por
meu rosto. Ultimamente eu vinha chorando mais que o normal e nem me
lembrava da última vez que havia sorrido. Além de sentir uma saudade
absurda de Oliver, eu também sentia falta do meu emprego como babá na sua
casa e principalmente de Estevan e de Elena. Com tudo que havia acontecido,
eu sequer consegui me despedir deles. Também tinha a dona Ana, que havia
se tornado uma grande amiga, mas que agora também devia estar
completamente decepcionada comigo.
Para piorar, eu já estava começando a aceitar que a minha amizade
com Vanessa havia chegado ao fim. Nós nunca mais havíamos nos falado e,
quando nos encontrávamos na faculdade, ela baixava a cabeça e evitava fazer
contato visual comigo. Ryan também havia sumido. Vez ou outra o via
fazendo suas rondas pelo bairro, mas depois de tê-lo usado daquela forma,
duvidava muito que ele fosse querer falar comigo.
Eu estava sozinha e sem dinheiro. As datas de pagamento da
mensalidade da faculdade e do aluguel da casa estavam se aproximando e
mesmo se por algum milagre eu conseguisse encontrar um emprego,
duvidava muito que sobraria dinheiro para cobrir as despesas da casa.
Criei forças e me levantei do sofá, indo até o meu quarto. Parei em
frente ao espelho e me despi. Era incrível como eu havia perdido peso nos
últimos dias.
Fui para o banheiro e tomei um banho rápido, me vesti e fui para a
cama. Não havia jantado, mas também não estava com fome. Peguei a aliança
de Oliver, que estava guardada no meu porta-joias e a apertei firme em minha
mão. Comecei a chorar e, em meio a soluços, acabei pegando no sono.
Havia surgido uma vaga de camareira em um hotel cinco estrelas e
no dia seguinte eu iria até lá. De qualquer forma, eu ainda estava viva e
precisa lutar para permanecer assim.

CAPÍTULO 2 – OLIVER

― Eu sinto muito pelo que aconteceu, Oliver. Nunca imaginei que a


Sofia pudesse ser tão falsa! Não consigo acreditar que deixei me enganar por
ela! — Estella me dizia, indignada.
― Nem eu — eu disse, dando um longo gole no meu drinque.
― Como você está, Oli? Eu sei que é chato falar sobre isso, mas...
― Eu estou bem, Estella, é sério, não precisa se preocupar comigo
— disse ríspido e acho que ela percebeu que eu não estava muito à vontade
para falar sobre aquele assunto.
― Tudo bem, então — ela disse dando de ombros. — Vou buscar
mais um drinque. Quer um? —Apenas confirmei com a cabeça, enquanto ela
se levantava da mesa.
Olhei para o salão e vi que havia vários casais dançando. Estella com
certeza sabia dar uma festa melhor do que qualquer outra pessoa:
― Oliver Beaumont? — Uma moça perguntou, se aproximando da
mesa.
― Sim? — A encarei.
― Não acredito que finalmente estou te conhecendo! — ela disse,
animada. — Eu sou Diana, acabei de me formar em Direito e devo confessar
que o seu trabalho foi a minha grande inspiração.
― Fico lisonjeado, Diana.
― Se não se importar, gostaria de saber mais sobre o seu trabalho,
acho que o senhor pode me ensinar muitas coisas.
Eu sabia que Diana estava flertando comigo, pela forma sedutora
como me olhava. Ela vestia um vestido preto, bem justo ao corpo, tinha pele
branca, cabelos ruivos e seus olhos verdes davam a ela um ar bastante sexy.
― Então, por que não começamos nossas aulas hoje? — A encarei,
terminando de beber meu drinque.
― Eu adoraria, senhor Beaumont.
Levei Diana para um dos hotéis mais luxuosos do Rio, reservei uma
suíte para nós dois e, depois de tomarmos uma garrafa de champanhe,
acabamos transando.
Depois do sexo, ela ficou falando um monte de coisas no meu
ouvido, mas eu não prestei atenção às suas palavras, meus pensamentos
estavam longe. Estavam em outra pessoa.
Depois que ela pegou no sono, saí da cama e fiquei andando pelo
quarto. Apanhei uma cerveja no frigobar e me sentei em uma poltrona, no
canto do quarto.
Dei o primeiro gole e. quando encarei a moça nua na cama, senti
uma repulsa enorme crescer dentro de mim. A quem eu estava querendo
enganar? Mesmo depois de tudo, eu simplesmente não conseguia parar de
pensar em Sofia. Pensei que infinitas noites de sexo e álcool fossem o
suficiente para me fazer esquecê-la, mas eu já não acreditava mais nisso. E,
olhando para aquela cama, desejei que fosse Sofia ali.
Eu ia para a cama com outras mulheres, não só para esquecer Sofia,
mas para dar a ela a oportunidade de experimentar a sensação de estar sendo
traída. Eu não deveria me sentir mal, afinal eu não tinha sido infiel a ela, mas
quando fazia aquilo eu me sentia o maior cafajeste do mundo, tinha nojo de
mim.
Terminei a cerveja e uma vontade enorme de chorar me invadiu.
Não tentei evitar, apenas chorei baixinho, ali, nas sombras daquele quarto.
Apesar de não haver perdão para o que Sofia havia feito comigo, eu não
conseguia deixar de amá-la.
Mas ela estava com Ryan e, mesmo que eu quisesse tentar
reconquistá-la, sabia que o que quer que existiu entre nós dois estava abalado
demais para ser recuperado. A verdade é que por mais que fosse difícil, eu
precisava colocar na cabeça que a havia perdido:
― Por que eu ainda te amo tanto? — sussurrei para mim mesmo.
Meu coração estava angustiado e era como se a vida tivesse perdido
todo o sentido. Lembro que depois que Denise me deixou, eu havia me
entregado à farra e à bebida. Sofia havia conseguido me libertar daquela vida
vazia e escura, e agora tudo estava se repetindo do mesmo jeito. A diferença,
é que desta vez, duvidava muito que existisse alguém que pudesse me
resgatar daquela vida. Eu nunca mais amaria alguém como havia amado
Sofia. Durante um bom tempo, aquela mulher havia sido a razão do meu
sorriso e da minha felicidade, cheguei até a cogitar a ideia de me casar e
formar uma família com ela, mas agora tudo isso não passava de
pensamentos. Coisas absurdas, do tipo que você sabe que são impossíveis de
acontecer.
No dia seguinte, acordei por volta de umas sete e quinze da manhã,
me arrumei e deixei um bilhete para Diana, agradecendo-lhe pela noite
incrível e deixando bem claro que eu não estava à procura de um
relacionamento sério. Enquanto escrevia, tentei ser o mais delicado possível,
apesar de eu não estar na minha melhor fase, não era ela a culpada por eu
estar daquele jeito.
Deixei o quarto antes que ela acordasse. Era mais fácil para elas
entenderem quando acordavam e não nos viam por ali.
Peguei o elevador, cheguei ao saguão e, enquanto cruzava o salão
para ir embora, avistei Sofia conversando com a recepcionista do hotel.
Naquele momento fiquei completamente sem reação, não esperava encontrá-
la ali:
― Você ter certeza disso? — ela perguntava à recepcionista.
― Eu sinto muito, a vaga de camareira foi preenchida hoje cedo.
― É que eu estava precisando muito desse emprego, entende? Além
da minha faculdade, tem o aluguel da casa onde eu moro, além de todas as
outras despesas! — Sofia dizia, desesperada. — Será que se você falar com a
gerente, ela não pode conseguir alguma coisa para mim? — Mesmo a certa
distância, percebi que ela estava mais magra que o normal, além de parecer
estar exausta.
― Sinto muito, senhorita.
― Obrigada. — Sofia lhe lançou um sorriso fraco e saiu do hotel.
Corri até a rua e vi quando ela entrou em um ônibus. Pela conversa
com a recepcionista e o desespero que Sofia demonstrou, percebi que a
situação financeira dela não estava boa. Depois que terminamos, acertei suas
contas, não era muito dinheiro, mas pensei que ela pudesse viver tranquila
com ele por um tempo.
Senti uma pontada no peito. Apesar de as coisas entre nós terem
acabado mal, de forma alguma eu queria vê-la passando necessidades. Além
disso, ela não parecia estar se alimentando muito bem e imaginar que ela
poderia estar passando fome e outras necessidades foi o mesmo que tomar
um soco na boca do estômago.
― Luíza? — Liguei para minha secretária.
― Sim, senhor Oliver?
― Quero que ligue na PUC e pague os próximos três meses da
mensalidade do curso de Psicologia da aluna Sofia Montenegro. Pode fazer
isso?
― Claro, senhor! Farei isso agora!
Depois, liguei para o banco e pedi que transferissem dez mil reais da
minha conta pessoal para a de Sofia. Era o mínimo que eu podia fazer por ela
e pelos bons momentos que nós dois tivemos.

CAPÍTULO 3 – SOFIA

O dia não podia ter amanhecido pior. Não bastando as dores de cabeça que
quase não haviam me deixado pregar os olhos de noite, amanheci
completamente enjoada e não consegui tomar nada no café da manhã. Estava
começando a suspeitar que eu estava com alguma virose.
Infelizmente, eu não havia conseguido o emprego como camareira, o
que só servia para deixar a minha situação ainda mais crítica. Hoje era dia de
pagar a mensalidade da faculdade e eu não fazia ideia de como iria explicar a
minha situação para o diretor, nem se ele iria entender.
Peguei o ônibus como de costume e, não bastando o aperto, a
mistura de perfumes no interior do automóvel me deixou ainda mais enjoada.
Quando desci do ônibus, vi Vanessa chegar de carro com Brian. Eles
se beijaram e depois ela desceu do carro, passando pelo portão da faculdade.
Era óbvio que o que quer que existisse entre eles, estava sério.
Tentei disfarçar meu incômodo e entrei. Eu simplesmente não
conseguia aceitar que minha melhor amiga estivesse namorando um cara
como ele. Aquelas marcas no pescoço dela com certeza haviam sido resultado
de uma agressão, mas, então, o que ainda a prendia àquele cara?
Logo na entrada senti uma breve tontura e tive que me apoiar em
uma parede para não cair.
― Ei, preste atenção por onde anda! — Uma garota protestou
passando por mim, depois de eu atrapalhar seu caminho.
― Desculpe — eu disse, sentindo o mundo girar ao meu redor.
― Tudo bem, Sofia?
Fiquei surpresa quando vi Vanessa parada diante de mim. Já havia
mais ou menos um mês desde a última vez que havíamos nos falado.
― Sim, eu... eu só fiquei um pouco tonta — respondi, tendo a
sensação de que o mundo havia se estabilizado outra vez.
― Tem certeza? Você está pálida...
― Sim, mas obrigada por se preocupar. — Lancei-lhe um sorriso,
estava muito feliz por estar simplesmente falando com ela.
― Bem, eu tenho que ir para a aula agora... — ela disse sem jeito,
me olhando uma última vez para garantir se eu estava bem e indo para a aula
logo depois.
Voltar a falar com Vanessa havia sido um grande passo para retomar
nossa amizade e eu passei as horas seguintes pensando sobre isso. Eu
realmente queria muito que as coisas voltassem a ser como eram.
No final das aulas, fui até a sala do diretor. Esperava que ele
compreendesse a minha situação financeira e me desse mais algum tempo
para pagar a minha mensalidade.
― Em que posso ajudá-la senhorita Montenegro? — Ele me
encarou.
― Eu gostaria de pedir ao senhor que me desse um tempo a mais
para pagar a parcela deste mês, eu... — tentava me explicar, quando ele me
interrompeu.
― Mas, a sua parcela deste mês já foi paga — ele respondeu.
― Como? Mas eu ainda não... Deve ter alguma coisa errada —
indaguei, completamente surpresa.
O diretor digitou alguma coisa em seu computador e depois voltou a
me olhar.
― Não, não há erro algum. Aqui diz que não só a parcela deste mês,
como outras duas também já foram pagas.
― O senhor sabe por quem? — perguntei.
― Aqui diz que o dinheiro foi depositado pelo senhor Oliver
Beaumont — ele disse, olhando para a tela do computador.
Senti meu corpo todo congelar. Oliver havia feito aquilo por mim?
Saí da sala do diretor completamente desnorteada. Ainda não
conseguia acreditar que, mesmo depois de tudo, Oliver havia pago três
parcelas da faculdade para mim e, ao mesmo tempo que isso me surpreendia,
também me fazia sentir uma alegria enorme, porque significava que ele, de
alguma forma, ainda se importava comigo.
― Ah, Oliver... — sussurrei, deixando que algumas lágrimas
rolassem pelo meu rosto enquanto caminhava até o ônibus. — Você é um
homem de ouro. — Ele era e eu soube disso quando me apaixonei por ele.
Como já fazia parte da minha rotina, mais uma vez passei o dia fora
procurando emprego. Fora um pastel que havia comprado depois da
faculdade, não havia comigo mais nada o dia todo.
O sol estava escaldante e, mesmo exausta, eu não queria desistir de
tentar. Tinha esperanças de que, em algum momento, algum emprego bom
surgisse.
― Sinto muito, Sofia, mas não estamos precisando de mais
vendedoras aqui — a gerente de uma loja de sapatos me dizia.
― Não precisa necessariamente ser emprego de vendedora, o que
vocês tiverem aqui para mim está bom — eu disse um pouco cansada. Meu
coração batia rápido e eu só estava conseguindo me manter em pé porque
estava apoiada na bancada.
― Eu sinto muito, mas realmente não temos nada para oferecer...
Comecei a suar frio e não consegui manter o foco na conversa.
— Você está bem? Parece pálida...
― Não estou me sentindo bem... — Senti minhas forças se esvaírem
aos poucos e, antes de ir ao chão, a mulher conseguiu me segurar.
― Me ajudem aqui, ela desmaiou! — ela gritou e eu vi quando
algumas pessoas se aproximaram para me ajudar. Depois disso, apaguei.
Quando acordei, um flashback veio à minha cabeça. Eu já havia
visto aquelas paredes brancas, sentido aquele cheiro de remédio e visto
aquelas gotas pingarem lentamente no soro. No mesmo instante eu soube que
estava no hospital. Ao lado, vi Vanessa andando de um lado para o outro no
quarto. Ela parecia preocupada.
― Vanessa? — murmurei e ela me encarou.
― Finalmente você acordou, Sofia! — Ela se aproximou. — Você já
desmaiou por não se alimentar direito uma vez e agora você faz isso de novo?
Era óbvio que ela estava irritada e, por alguns instantes, senti que
minha amiga estava de volta.
― Como você me encontrou?
― A vendedora da loja onde você estava pegou seu celular e
encontrou meu número na lista de melhores amigos. Depois me disse que
iriam te trazer para cá.
― Ainda bem que não atualizei essa lista — brinquei e Vanessa riu.
― Me desculpe Sofia, pela forma como te tratei outro dia. — Ela se
referia à discussão que havíamos tido havia algumas semanas sobre Brian.
― Tudo bem, esquece isso. — Toquei sua mão. — O importante é
que você está aqui.
― Poxa Sofia, você me prometeu da última vez que nunca mais iria
deixar de se alimentar direito. Olha só para você, está magra, abatida...
― As últimas semanas não têm sido nada fáceis — eu disse,
tentando justificar a minha situação.
― Eu fiquei sabendo que você e o Oliver terminaram — Vanessa
disse, cautelosa. — Mas por mais difícil que seja, você ainda está viva, Sofia!
Não pode desistir assim.
― Seria melhor se não estivesse — respondi ríspida, deixando que
algumas lágrimas rolassem por meu rosto. Eu não estava mais suportando ter
que sustentar tantas mentiras. A saudade que sentia de Oliver era imensa.
― Ei, nunca mais diga isso! — Vanessa me repreendeu, me
encarando com firmeza. — Onde está aquela Sofia forte que eu conheço?
― Provavelmente, embaixo de todos esses ossos. — Apontei para
mim e nós duas sorrimos.
― É assim que quero te ver daqui para a frente: sorrindo. —
Vanessa apertou minha mão.
Logo depois, um médico entrou no quarto.
― Sofia Montenegro?
― Sim?
― Como se sente?
Ele era um senhor de idade e se aproximou do meu leito com uma
prancheta em mãos.
― Muito melhor, obrigada.
― Quando você chegou mais cedo, nós fizemos alguns exames para
descobrir o que havia acontecido com você e eu estou aqui com os resultados.
― Admito que ultimamente eu não venho me alimentando muito
bem, doutor, mas prometo que vou mudar isso.
― Como gestante, você deveria saber que não se alimentar bem
pode ser tão perigoso para você quanto para o bebê.
Virei o rosto e encarei Vanessa, que me olhava com os olhos
arregalados.
― Doutor, acho que o senhor se enganou, eu não estou grávida.
― Sim, você está grávida — ele disse com firmeza. — E, pela
minha experiência, eu diria que de mais ou menos um mês.
Grávida?! Confesso que aquela notícia me pegou de surpresa. Nos
instantes que se seguiram eu não consegui esboçar qualquer reação. Isso
explicava muita coisa, como o meu cansaço sem fim, as dores de cabeça, as
tonturas e os enjoos. Como não percebi isso antes? Além de todos os
sintomas, minha menstruação estava atrasada havia alguns dias, mas como
meu ciclo era irregular, isso não havia me assustado em um primeiro instante.
Além disso, meus seios estavam sensíveis e, apesar de estar mais magra,
meus quadris estavam mais largos. Mas eu juro que em hipótese alguma
cogitei que estivesse grávida. Oliver e eu nunca havíamos feito sexo sem
camisinha antes, ele sempre foi muito responsável e cuidadoso comigo...
exceto no dia em que fizemos amor no chuveiro, antes de Denise aparecer e
estragar tudo.
― Pela sua reação, acredito que você ainda não sabia da sua
gravidez — o médico disse, me arrancando de meus devaneios.
― Não, eu não sabia — respondi ainda em choque.
― Apesar do incidente, os exames indicam que está tudo bem com
você e com a criança e vai permanecer assim, desde que você volte a se
alimentar direito.
― Eu vou.
― Vou deixar vocês duas a sós, dê os parabéns ao pai por mim — o
médico disse com um sorriso.
Mesmo depois de ele sair do quarto, aquelas palavras ainda
continuaram a vagar pela minha mente: "Dê os parabéns ao pai." Senti um nó
se formar na minha garganta e comecei a chorar, Vanessa também me
abraçou, emocionada.
Eu estava grávida do Oliver. Grávida do homem que eu mais amava
na vida. E eu nem sequer podia compartilhar isso com ele.

CAPÍTULO 4 – SOFIA

― Você vai contar para ele que está grávida, não vai? — Vanessa
perguntou vindo atrás de mim, depois que chegamos à minha casa.
Fui para o sofá e me sentei, levando as mãos à cabeça. Como pude
ser tão descuidada?
― Eu não sei. — Eu estava sem chão, não sabia mais o que fazer.
― Sofia, você precisa contar para o Oliver que está esperando um
filho dele! — Vanessa me repreendia.
― Não acho que ele vá ficar muito contente com essa notícia. —
Baixei a cabeça, pensando no quanto ele devia estar triste e decepcionado
comigo.
Vanessa se sentou ao meu lado no sofá, segurando minha mão.
― Foi tão ruim assim o que aconteceu?
― Foi péssimo!
― Brian me contou que você e o Oliver terminaram, porque você
estava com o Ryan...
― E você acreditou? — interrompi-a, olhando-a de relance.
― Não, por isso mesmo estou aqui: para ouvir o seu lado da história.
― Se eu te contar, você jura que não vai falar para mais ninguém?
— Encarei-a. Eu sabia que podia confiar nela, mas, por outro lado, não
confiava no Brian.
― Eu juro, Sofia.
Respirei fundo e contei a Vanessa sobre a conversa que havia tido
com Denise no restaurante, da ameaça que ela fez de tirar Estevan e Elena de
Oliver caso eu não me afastasse, do beijo que me vi obrigada a dar em Ryan e
as coisas horríveis que Oliver me disse logo depois.
Contar aquilo a Vanessa foi libertador, era como se eu estivesse
compartilhando o meu peso com outra pessoa e eu já me sentia mais aliviada.
― E por que você não contou ao Oliver que essa maluca te
ameaçou?
― Eu não podia, Vanessa! Isso só serviria para irritar ainda mais a
Denise e os dois com certeza iriam acabar indo parar na justiça para brigar
pela guarda dos filhos.
― Mas, a Denise não teria nenhuma chance contra o Oliver, foi ela
quem os abandonou!
― Mas o juiz não sabe disso e não existe nenhuma evidência que
prove que Denise o traiu e depois saiu de casa. Ela iria manipular todos fácil,
fácil e ainda poderia prejudicar o Oliver. — Fiz uma pausa, tendo noção do
quanto tudo aquilo era surreal. — O que mais me doí é que o Oliver pensa
que eu o traí e que nunca o amei de verdade. Você tinha que ter visto como
ele falou comigo da última vez que nos vimos. — Uma lágrima rolou pelo
meu rosto.
― Você não tem que se sentir assim, Sofi! Você não fez nada de
errado, sua consciência está limpa!
― Eu sei, mas eu me sinto tão mal por saber que de certa forma o
decepcionei... Você tem lido as notícias? Dá para ver que ele voltou a ser
aquele mesmo cara sério e triste de antes e tudo por minha culpa.
― Sofia, o fato de você estar grávida muda tudo. Se você contar a
ele que tudo não passou de uma jogada da Denise, tenho certeza que ele vai
entender e vocês dois vão poder resolver isso juntos...
― Eu não posso arriscar.
― Poxa Sofia, eu realmente não te entendo!
― Assim como eu também não entendo por que você namora um
cara que te agrediu! — eu disse, irritada. De certo modo, aquela conversa
havia conseguido abalar meus sentimentos e eu decidi colocar tudo o que
estava sentindo para fora.
― O Brian não me agrediu! — ela protestou.
― Vai dizer então que ele fez aquilo com você como uma
demonstração de carinho? — insisti.
― E se tiver sido? — ela disse séria, me pegando de surpresa. — Na
boa Sofia, não dá para falar com você assim. — Ela se levantou do sofá, indo
até a porta.
― Espere Vanessa, eu não quero brigar com você...
― Ah, é? —Ela se voltou para mim. — Eu sinto muito, mas eu estou
com o Brian agora e enquanto você não aceitar isso a nossa amizade também
vai permanecer abalada, Sofia. Se você se esforçasse um pouquinho mais
para conhecê-lo, veria que ele é um cara legal. — Ela me olhou uma última
vez e depois saiu, me deixando ali sozinha, sem saber o que fazer.
Fui para o meu quarto e me joguei na cama, começando a chorar.
Em parte deveriam ser meus hormônios que estavam alterados, por outro
lado, deveria ser a solidão.

― O que eu vou fazer? — murmurei, colocando a mão sobre minha


barriga e achando incrível que pudesse haver um ser vivo ali dentro. — Pelo
menos agora eu tenho você. — Sorri.
Como toda mulher, eu já havia cogitado a ideia de ser mãe. Quando
estava com Oliver, ficava observando-o e pensando no quanto o amava e em
como gostaria de formar uma família com ele. Ficar grávida, no entanto, em
um momento crítico como esse, não estava nos meus planos.
De qualquer forma, aquele bebê representava o amor que existiu
entre mim e Oliver e pensar nisso me deixava feliz. Eu cuidaria daquela
criança com todo o meu amor, faria de tudo para que ela ficasse bem. Pensei
no que o médico disse sobre minha alimentação e no quanto ela influenciava
na boa formação do bebê.
Tomei um banho, me arrumei e decidi que iria até o supermercado
fazer compras. Agora que estava grávida, eu não podia comer apenas
macarrão e outras besteiras, eu tinha que me alimentar bem. Eu não tinha
muito dinheiro em casa, mas ainda me restava um pouco no banco, o
suficiente para que eu conseguisse me manter por mais alguns dias.
Saí de casa e fui primeiro ao banco para poder sacar um pouco de
dinheiro, quando me assustei por ver que dez mil reais haviam sido
depositados na minha conta. Provavelmente deveria ter sido algum engano.
Quando puxei o extrato para descobrir quem havia depositado o dinheiro, vi
que não havia sido engano. Meu coração se encheu de alegria e meus olhos se
encheram de lágrimas, no instante em que levei a mão ao meu ventre. O
extrato em minhas mãos comprovava que o dinheiro havia sido depositado
por Oliver Beaumont.

CAPÍTULO 5 – SOFIA

Eu estava dura, mas, apesar de estar precisando muito daquele dinheiro, não
tive coragem de sacar um centavo sequer dos dez mil reais que Oliver havia
depositado na minha conta. Ele já havia pago três meses da minha faculdade
e agora aquilo — eu não podia aceitar.
O que mais me surpreendia é que Oliver desconhecia a verdade e,
mesmo achando que eu o havia traído e que estava com outro, ele continuava
se importando comigo, mas por quê?
Também me perguntava como ele havia descoberto sobre a minha
situação financeira caótica. Será que alguém havia dito a ele ou foi puro
instinto? Talvez, no fundo, ele só quisesse garantir que eu fosse ficar bem.
Saquei o pouco dinheiro que restava do meu acerto e, depois de sair
do banco, fui para o supermercado que ficava mais próximo da minha casa.
Peguei uma cestinha e comecei a andar pelos corredores. Procurei comprar
alimentos saudáveis e nutritivos e, quando fui até a sessão de hortaliças,
avistei um casal com duas crianças, uma já grandinha e um bebê. O menino
maior fazia birra, implorando ao pai que lhe comprasse um cereal, enquanto o
bebê estava agitado nos braços da mãe. Depois de alguns minutos de
conversa, o pai conseguiu convencer o filho de que aquilo não era o melhor
para ele, enquanto a mãe também conseguiu acalmar o bebê. Depois eles
seguiram juntos pelo corredor e foi como se nada tivesse acontecido.
Sorri, e ao mesmo tempo que tive vontade de chorar. Eu estava
grávida e sabia que ter um filho era uma dádiva divina, mas eu também
estava sozinha, sem emprego e principalmente sem dinheiro.
Por que a Denise teve que aparecer e estragar tudo? Por quê? Oliver
e eu estávamos tão bem, nós dois estávamos apaixonados e muito, muito
felizes, mas ela estragou tudo isso no instante em que apareceu.
Tive vontade de chorar, mas me segurei, eu precisava ser forte,
principalmente agora. Eu queria contar ao Oliver que estava esperando um
filho dele. Há pouco mais de um mês atrás sabia que ele ficaria extremamente
feliz em receber essa notícia, mas hoje eu não sabia bem como ele iria reagir.
Ele poderia achar que eu estivesse mentindo e que aquele bebê fosse de outro
homem. Se ele jogasse isso na minha cara, eu juro que não iria aguentar. Ele
já havia se mostrado completamente decepcionado comigo uma vez e eu não
estava preparada caso ele reagisse daquele jeito de novo.
― Sofia? — Uma voz me arrancou do meu devaneio.
Quando me virei, vi Ryan parado diante de mim. Era a primeira vez
que nos encontrávamos depois de tudo que havia acontecido. Ele usava uma
camiseta cinza, jeans e tênis, em sua mão trazia uma cesta do supermercado,
que continha alguns cereais e carnes.
― Ryan? — eu disse, surpresa.
― Já faz tempo que não nos vemos — ele disse em um tom
amigável.
― Não achei que você quisesse me ver de novo, não depois de tudo
o que aconteceu — respondi, envergonhada.
Ryan mudou o peso do corpo de uma perna para a outra e depois me
encarou.
― Confesso que fiquei bastante chateado quando você me usou
daquele jeito, mas eu exagerei, não deveria ter te tratado daquele jeito, me
desculpe.
― Se tem alguém aqui que precisa pedir desculpas sou eu.
― Bem, acho que nós dois erramos naquele dia. — Ele me lançou
um sorriso.
― É, acho que sim.
Naquele momento, meus olhos avistaram novamente aquela carne
congelada que havia na cesta dele e eu me senti um pouco nauseada.
― Ei, você está bem?
Ele largou a cesta no chão e se aproximou de mim, as mãos em meus
ombros. Ryan me encarava atentamente, parecia preocupado.
― Só estou um pouco enjoada — eu disse, sentindo meu estômago
revirar.
― Venha, vamos sentar ali.
Ryan me levou até um espaço do mercado em que havia uma
pequena lanchonete. Ele puxou uma cadeira para mim e depois foi até o
balcão. Quando voltou, trazia consigo uma garrafa de água.
― Beba, vai te fazer bem — ele disse, entregando-a a mim.
― Obrigada — agradeci.
Enquanto bebia a água, percebi que ele havia deixado sua cesta de
compras no meio do corredor. Fiquei feliz por aquilo, eu não conseguiria
olhar por mais meio segundo para aqueles pedaços de carne sem me sentir
nauseada.
Ryan puxou uma cadeira e se sentou, me olhando atentamente.
― Você está se alimentando bem? — ele perguntou. Afinal, por que
todos me perguntavam sempre a mesma coisa?
― Por quê?
― Não pude deixar de notar que você está mais magra. E agora, esse
mal-estar... Só fiquei preocupado com você.
― Eu estou bem — eu disse, ríspida.
― Não parece. — Seus olhos verdes me encararam sérios. — Eu sou
policial, se esqueceu? Sei reconhecer uma pessoa quando ela está mentindo e
você Sofia, você está mentindo para mim agora.
― Eu tenho que ir. — Levantei-me da mesa com a minha cesta de
compras.
― Eu não sei o que está acontecendo, Sofia, mas eu posso te ajudar!
— ele gritou, vindo atrás de mim.
― Não, não pode! Ninguém pode!
― Você pode confiar em mim. — Ele atravessou na minha frente,
impedindo a minha passagem. — Você parece triste, eu só quero te ajudar.
Lembra quando erámos amigos? Quero que voltemos a ser como antes, mas
você precisa confiar em mim, eu nunca te faria mal.
Eu sabia que não. Ryan era um bom homem. Na verdade, em muito
pouco tempo ele havia se tornado um grande amigo. Baixei a cabeça e depois
voltei meu olhar para ele. Seus olhos verdes me encaravam decididos e eu
sabia que ele não me deixaria passar enquanto não lhe contasse o que estava
acontecendo.
― Eu estou grávida — respondi em um suspiro.
Ryan deu um passo para trás, provavelmente em virtude da surpresa.
― Esse bebê, ele... — ele perguntou, constrangido.
― Sim, é do Oliver.
― Parabéns, não sabia que vocês dois haviam voltado.
― E não voltamos — eu disse, tristonha. — Eu recebi essa notícia
ontem e, além de mim e minha amiga, apenas você sabe disso.
― Não vai contar a ele? Afinal, ele é o pai.
― Eu ainda não sei o que vou fazer, mas preciso que você me
prometa que vai guardar o meu segredo. Você promete?
― Mas Sofia, você não pode cuidar de um bebê assim, sozinha!
― Eu preciso que me prometa, Ryan! — implorei, já com lágrimas
nos olhos.
Ao ver o meu estado e o quanto estava nervosa, Ryan me abraçou.
Eu me senti protegida quando seus braços fortes me entrelaçarem e naquele
momento eu desabei, chorando toda a minha angústia.
― Não precisa chorar, prometo que vou guardar o seu segredo —
ele disse, tentando me acalmar.
― Não é por isso que estou chorando — murmurei.
Estou chorando porque tive minha vida destruída por uma ex-
mulher interesseira, porque a minha melhor amiga está apaixonada por um
cara que a estrangulou, mas principalmente porque, neste exato momento, eu
gostaria de estar nos braços do Oliver beijando-o, depois de ter dado a ele a
notícia de que estou grávida do nosso primeiro filho, enquanto Estevan e
Elena pulam animados ao nosso redor, felizes com a notícia de que terão um
irmão.
Quis dizer tudo aquilo a Ryan, mas me contive. Afinal, não mudaria
nada. O que estava feito, estava feito.

CAPÍTULO 6 – OLIVER

Acordei com uma dor de cabeça forte. Na noite passada havia ido a uma
boate com alguns amigos e havia extrapolado um pouco na bebida. Relutante,
saí da cama e caminhei até a cozinha, onde peguei uma Aspirina, um copo de
água e a tomei.
― Já de pé senhor, Oliver? — dona Ana surgiu na cozinha.
― Sim, estou com um pouco de dor de cabeça.
― Vou preparar um café bem forte para o senhor, tenho certeza que
vai ajudar.
― E meus filhos?
― Já foram para a escola, senhor.
Quando terminei o café, já passava das sete horas. Coloquei um
terno e depois fui diretamente para a empresa.
Ultimamente, nada conseguia me relaxar. Havia intensificado os
meus treinos de esgrima, mas foi em vão, e o trabalho também não vinha me
ajudando muito. Agora, com aquela dor de cabeça que não passava, sabia que
o álcool também não era uma boa saída.
Eu me sentia vazio. Sozinho. Era como se eu tivesse voltado para o
fundo do poço. As duas mulheres que eu mais havia amado no mundo
haviam me trocado por outros homens, e algo me dizia que o culpado por
tudo isso não eram elas, mas eu.
Com Denise, confesso que deixei me levar pelo trabalho em algumas
fases do nosso casamento que precisavam de um pouco mais de cuidado e
atenção, mas com Sofia eu havia feito tudo certo. Com ela eu voltei a ser eu
mesmo, voltei a acreditar que o amor realmente poderia existir, mas foi com
ela também que eu percebi que tudo isso não passava de uma ilusão.
De certa forma, bem no fundo eu sempre soube que a Denise fosse
capaz de me trair um dia. Ela era uma mulher ambiciosa, interesseira... mas a
Sofia, não. Saber que ela havia me traído foi um impacto tão grande, que eu
ainda não havia conseguido absorver.
Sentado diante da minha mesa, abri uma gaveta e retirei de lá um
porta-retratos com uma foto de Sofia. Na foto ela sorria timidamente,
enquanto vestia uma camiseta minha e tentava se esconder dentro de seu
próprio abraço. Deslizei meu polegar pelo porta-retratos, relembrando aquele
momento. Lembro que foi na primeira vez que a Sofia passou a noite comigo
na minha casa, depois da festa da Estella. O dia seguinte era domingo e,
como nós estávamos sozinhos, passamos o dia todo trocando carícias e nos
amando. Quando ela estava distraída, peguei meu celular e tirei uma foto
dela, que ficou toda tímida quando percebeu o que eu estava fazendo. Achei
aquela foto tão natural, ela retratava tão bem o jeito tímido de Sofia, seu rosto
angelical, sua aparência de menina, que eu não pensei duas vezes antes de
revelá-la e colocá-la em uma moldura.
Eu havia levado a foto para o meu escritório e, sempre que sentia
saudades dela, eu ficava observando-a durante um bom tempo. Mas, depois
de tudo que havia acontecido, eu a havia esquecido na gaveta e agora era a
primeira vez que eu voltava a olhá-la.
― Senhor Oliver? — Minha secretária, Luíza, entrou no meu
escritório, me arrancando de meus devaneios.
― Sim? — Coloquei o porta-retratos de volta na gaveta.
― Ligaram da escola dos seus filhos, eles disseram que sua ex-
mulher apareceu para buscá-los, mas parece que a Elena se recusou a ir e está
sozinha lá.
― Não acredito que a Denise fez uma coisa dessas! — esbravejei,
dando um soco na mesa. — Ligue de volta para o colégio e diga que estou
indo buscar minha filha — eu disse, saindo apressadamente da sala.
― Sim, senhor Oliver.
Enquanto dirigia em direção ao colégio sentia uma raiva crescente
dentro de mim. Denise estava testando a minha paciência, porque sabia que
eu estava fazendo de tudo para evitar que ela se aproximasse dos nossos
filhos, mas, se ela continuasse assim, logo não restaria paciência alguma.
Assim que pegasse Elena no colégio, iria atrás de Estevan e o faria voltar
para casa comigo.
Estacionei o carro em frente ao colégio e desci apressadamente. O
segurança estava no portão e, depois de jogar na cara dele a
irresponsabilidade que havia cometido ao deixar que outra pessoa, que se não
uma autorizada por mim, levasse o meu filho, ele liberou a minha entrada.
O colégio possuía dois andares e eu fui diretamente à secretaria para
saber onde Elena estava:
― Bom-dia, eu estou procurando a minha filha, Elena Beaumont.
Vocês me ligaram mais cedo, pedindo para que eu viesse buscá-la.
― Sim, senhor Beaumont, Elena estava bastante nervosa. Então, nós
também telefonamos para a babá dela. O senhor as encontrará no parquinho,
é só seguir por ali e virar à direita. 1 A mulher mostrou o caminho.
― Obrigado. — Babá?
Com toda a adrenalina e raiva que percorriam o meu corpo, nem tive
tempo de processar as palavras da secretária. Foi quando as vi. Elena estava
brincando no balanço e ria, enquanto era empurrada por Sofia.
― Mais alto Sofia! — ela gritava.
― Ei, vamos com calma supergirl! — ela respondeu, sorrindo.
Aquele sorriso. Os cabelos castanhos de Sofia estavam soltos,
balançando conforme o vento, tornando-a ainda mais bela.
― Papai!
Elena saltou do balanço, correndo na minha direção ao me ver, me
abraçando com força. Levantei meu olhar para Sofia e, quando nossos olhares
se encontraram, percebi que seus olhos haviam se transformado em um misto
de surpresa e nervoso. Não soube bem como interpretar aquilo.
― Querida, será que você pode me esperar na secretaria? Eu tenho
que conversar com a Sofia.
― Vocês vão voltar a namorar, papai? — A pergunta de Elena me
pegou desprevenido. Encarei-a, sentindo um nó se formar na minha garganta.
― Apenas vá, querida. Depois falamos sobre isso — eu disse, sério.
― Tchau, Sofia! — Ela acenou para Sofia, correndo em direção à
secretaria momentos depois.
Coloquei as mãos nos bolsos da calça e me aproximei de Sofia.
― Oi. — Encarei-a. Nós dois nos olhávamos como se fôssemos
apenas dois estranhos.
― Oi, Oliver. — Seus olhos cor de mel me fitaram tristonhos,
cansados talvez. Acho que ela havia previsto que aquela conversa seria difícil
e muito, muito dolorosa.
CAPÍTULO 7 – SOFIA
Lembro que havia acabado de sair da faculdade e já estava dentro do
ônibus, a caminho de casa, quando o meu celular tocou. Eu conhecia o
número, era do colégio em que Estevan e Elena estudavam.
― Alô? — atendi.
― Sofia Montenegro? — Uma mulher perguntou do outro lado da
linha.
― Sim, sou eu.
― Desculpe ligar assim, mas, como a senhorita é a babá de Elena
Beaumont, achei que deveria saber que ela já foi liberada e está lhe
aguardando.
― Espere, deve haver algum engano, eu...
― A senhorita vai demorar muito a chegar? Elena está sozinha e
está muito nervosa.
Mesmo que Elena não estivesse mais sob a minha responsabilidade e
eu não fosse sua babá, eu a amava e de forma alguma a deixaria sozinha,
ainda mais quando ela estava precisando de mim.
― Estarei aí dentro de meia hora — respondi, encerrando a ligação e
saindo do meu assento. — Motorista, pare o ônibus, por favor!
O colégio não ficava muito longe de onde eu estava, mas, como não
havia nenhum ponto de ônibus por perto, eu teria que ir a pé mesmo. Depois
de andar uns sete quarteirões, na verdade estava tão preocupada com Elena,
que em muitos trechos eu cheguei a correr, felizmente havia conseguido
chegar ao colégio no tempo previsto.
― Oi — disse ofegante, quando cheguei à secretaria do colégio. —
Estou aqui para buscar Elena Beaumont.
― Ah, sim, ela está esperando por você no parquinho — a mulher
disse, apontando na direção de onde ela estava.
― Obrigada.
Caminhei um pouco, antes de avistar Elena sentada em um balanço
sozinha. Ela parecia triste e parecia chorar também.
― Elena? — Chamei-a. Quando ela me viu seus olhinhos se
arregalaram e prontamente ela correu na minha direção.
― Sofia! — ela disse em meio a soluços.
― Oi princesa, como você está? — Ajoelhei-me na sua frente para
poder vê-la melhor. — Por que está chorando? — perguntei, afastando
algumas mechas de cabelo que estavam caídas em seu rosto.
― Porque o Estevan foi embora e me deixou aqui sozinha.
― Como assim, Elena? — Encarei-a, sem entender.
― O Estevan me deixou, assim como você. — Ela chorou e eu a
abracei forte junto a mim.
― Eu nunca quis te deixar, Elena — murmurei, de coração partido.
― Então, por que você foi embora? Você não queria mais ser a
nossa babá? —Seus olhinhos verdes me encararam e eu senti meu coração
apertar em meu peito.
― Não! De onde você tirou isso? Eu amo você e seu irmão.
― Você foi embora porque brigou com o meu papai?
Como eu poderia explicar tudo o que estava acontecendo a uma
criança, se nem eu mesma compreendia?
― Isso não vem ao caso, Elena. Agora, me diga: para onde o
Estevan foi? —perguntei, cautelosa.
― Ele foi embora com a mamãe.
― Sua mãe esteve aqui? — Fiquei completamente surpresa quando
ela confirmou o que havia dito.
― Ela queria que eu fosse com ela, mas eu não fui.
― Por quê?
― Porque eu queria que a minha mãe fosse você, Sofia — Elena
respondeu inocente e meus olhos se encheram de lágrimas. Meu único
instinto foi abraçá-la forte.
Momentos depois, uma funcionária apareceu para avisar que havia
telefonado para Oliver e que ele já estava a caminho para buscar a filha.
Por mais que eu não quisesse me encontrar com Oliver, não poderia
deixar Elena ali sozinha. Então, ficamos brincando no balanço, aguardando
que ele chegasse.
― Meu pai ficou chato depois que você foi embora — Elena dizia,
enquanto eu a empurrava no balanço. — Ele quase não fica mais em casa.
― Não diga isso, Elena. Ele deve estar ocupado com o trabalho, só
isso.
― Sofia? — Ela olhou para mim por cima do ombro.
― Sim?
― Você ainda gosta do meu pai?
Elena só tinha seis anos, mas sabia questionar melhor do que
qualquer adulto. Mais uma vez eu não soube o que responder. Talvez fosse
melhor não dizer nada.
― Quer que eu te empurre mais alto? — perguntei, tentando fazê-la
esquecer aquele assunto e dando-lhe mais impulso.
― Mais alto, Sofia! — ela gritou, eufórica. Aparentemente, a
pergunta de segundos antes já havia sido esquecida.
― Ei, vamos com calma supergirl! — eu disse, rindo da sua
inocência.
― Papai! — Elena gritou, batendo os pezinhos no chão para
diminuir a velocidade do balanço, saltando dele logo em seguida.
Ela correu na direção do pai, recebendo-o com um abraço. Quando
vi Oliver ali, senti meu coração bater mais rápido, era óbvio que eu estava
nervosa. Ele olhou na minha direção, sério, sem esboçar qualquer reação.
Juro que naquele momento daria tudo para saber o que se passou na sua
cabeça quando me viu.
Oliver cochichou algumas coisas para Elena, que acenou para mim
se despedindo, me deixando a sós com seu pai momentos depois.
Ele colocou as mãos nos bolsos da calça e se aproximou de mim. Ele
vestia um terno cinza riscado, seus cabelos estavam perfeitamente arrumados
e ele estava tão atraente quanto antes. A essa altura, meu coração parecia que
iria saltar do peito.
― Oi — ele disse, me encarando.
― Oi, Oliver. — Tive que me esforçar para olhá-lo nos olhos.
― O que está fazendo aqui? — Ele me encarou, interrogativo.
― Bem, eu estava voltando para casa quando me telefonaram e
disseram que a Elena estava sozinha, eles acharam que eu ainda fosse a babá
dela.
― Desculpe por isso, eles devem ter esquecido de atualizar a ficha.
― Tudo bem, Oliver, babá ou não, eu nunca a deixaria aqui sozinha.
Ficamos alguns segundos em silêncio. Era incrível como em um mês
nós dois havíamos nos tornado completos estranhos.
― Como você está? — Ele me olhava atentamente, enquanto
esperava pela minha resposta. Ele realmente parecia preocupado.
― Acho que sou eu que deveria te perguntar isso.
Ele baixou o olhar, parecendo refletir sobre aquilo.
― Estou bem, na medida do possível.
Ele me lançou um sorriso fraco e, no mesmo instante, eu soube que
ele ainda estava sofrendo muito com o nosso término. Como eu queria contar
a ele tudo o que estava acontecendo...
― Por que você pagou as mensalidades da minha faculdade? —
perguntei com cautela.
― Eu te vi outro dia em um hotel e soube no mesmo instante que a
sua situação não estava nada boa. Eu só quis te ajudar, sei o quanto essa
faculdade é importante para você. — Seus olhos azuis me encararam,
sinceros. O fato de ele ainda se importar comigo me fez querer gritar por
dentro.
― Como você explica os dez mil reais que depositou na minha
conta?
Ele deu de ombros.
― Pensei que fossem ser úteis para você — ele respondeu,
despretensioso.
Dei mais um passo, parando diante dele.
― Por que você ainda se importa tanto comigo? — perguntei, um nó
se formando na minha garganta. Ainda me doía perceber que minhas
tentativas de afastá-lo de mim haviam sido em vão e só o haviam feito sofrer.
Oliver me encarou por alguns segundos com seu belo par de olhos
azuis, antes de tocar meu rosto com sua palma direita.
― Sabe que eu penso nisso todos os dias? Mesmo depois de todo
esse tempo, ainda me pergunto por que não consigo deixar você para trás, da
mesma maneira que você conseguiu tão facilmente — ele sussurrou,
acariciando meu rosto. Sentir seu toque mais uma vez era tudo o que eu
queria e, quando ele o fez, saboreei aquela sensação ao máximo. Eu o queria
tanto! — Eu não queria me importar. Eu tentei, juro que tentei, mas eu
simplesmente não consegui, Sofia. — Sua sinceridade me assustou e eu tive
que me segurar para não chorar, não fazia ideia de que o havia feito sofrer
tanto.
― Oliver... — murmurei seu nome, minha voz embargada. Queria
gritar para ele que o amava, que estava esperando um filho dele e que eu só o
havia deixado por chantagem da Denise, mas não consegui. Pensar nas
consequências que aquelas revelações poderiam trazer fez as palavras se
engasgarem na minha garganta e eu tive vontade de chorar.
― Eu sei que você não me ama mais e não vou mentir, isso dói.
Como ele podia dizer aquilo com tanta convicção?
― Não... — sussurrei, deixando que uma lágrima rolasse por meu
rosto. Vê-lo tão descrente daquele jeito em relação ao nosso amor me
destruía.
― Está tudo bem — ele murmurou, acariciando meu rosto com o
polegar e aquilo soou como se ele estivesse me perdoando. — Primeiro a
Denise, agora você... estou começando a achar que o problema está em mim.
Só quero que saiba que durante todo esse tempo em que ficamos juntos eu só
quis te fazer feliz, Sofia.
― Você me fez feliz, Oliver. Muito!
― É, mas eu falhei, tanto que você se apaixonou por outro cara.
― Oliver, o Ryan e eu, nós... — tentei explicar a ele que não havia
nada além de amizade entre mim e o Ryan, mas ele me interrompeu.
― Não se preocupe, você não me deve mais explicações. — Ele deu
um passo para trás, colocando as mãos de volta nos bolsos da sua calça. —
Na verdade, não quero saber nada que diz respeito à sua vida amorosa.
― Eu preciso que você me ouça... — eu disse, criando coragem para
contar a ele toda a verdade. Aquilo poderia trazer sérias consequências para
nós dois, mas eu precisava. — Oliver...
Ele levantou uma mão, me interrompendo:
― Por favor, chega! — ele disse ríspido, balançando a cabeça de
forma negativa. — Esse assunto já deu, está sendo doloroso para nós dois
falarmos disso! Me desculpe. — Seus olhos azuis me encararam uma última
vez, antes de ele me dar as costas e partir.
― Oliver? — chamei-o, mas ele sequer olhou para trás.
Fui atrás dele, eu estava pronta para contar toda a verdade, estava
cansada de ser chantageada e mais que nunca eu precisava dele, do seu amor,
mas quando o alcancei ele já estava indo embora com Elena.
― Oliver, nós precisamos conversar! — gritei, mas era tarde demais.
Ele não podia me ouvir.
Sabia que a raiva dele não estava relacionada apenas a mim, mas em
grande parte ao fato de Denise ter aparecido ali e levado o Stevan com ela
sem a permissão dele. Rezei para que ele não fizesse nenhuma bobagem,
Denise não hesitaria antes de se fazer de vítima e prejudicá-lo. Decidi que
assim que surgisse uma nova oportunidade eu não pensaria duas vezes antes
de contar a verdade a ele. Ele merecia saber que eu o amava, que estava
esperando um filho dele e principalmente o quanto sua ex-mulher era
pilantra. Eu o queria de volta, agora mais que nunca e em hipótese alguma eu
iria recuar. Aquele jogo estava terminando e, desta vez, eu não estava
disposta a perder.

CAPÍTULO 8 – OLIVER

Ter me encontrado com a Sofia me deixou completamente desestabilizado.


Durante muito tempo era eu quem dava as cartas e conduzia a situação ao
meu favor, sempre sob controle, mas, quando se tratava da Sofia, eu não
conseguia fazer meu coração deixar de amá-la. Desta vez, era eu que estava
sendo controlado.
Eu devia ser muito idiota mesmo. Depois de tudo, devia ter sido fácil
para mim esquecê-la, deixá-la no passado, mas não, a cada dia que passava
eu a amava e a desejava mais, era algo surreal.
― Papai, você e a Sofia fizeram as pazes? — Elena perguntou,
inocente, do banco de trás, sentada na cadeirinha.
― Querida, você é apenas uma criança, não deveria se preocupar
com esse tipo de coisa — respondi, olhando-a de relance.
― Eu sinto falta dela — Elena sussurrou tristonha e me mantive em
silêncio. O que eu poderia dizer? Que eu também sentia falta da Sofia, mas
que era impossível nós dois voltarmos porque ela estava com outro cara?
Estacionei a BMW em frente à casa em que Denise estava morando.
― É aqui que a mamãe mora? — Elena perguntou com os olhinhos
arregalados. Por algum motivo, estar ali a assustava.
― É sim, querida. Você quer descer? — eu me vi obrigado a
perguntar. Por mais que odiasse Denise, eu não poderia privar nossa filha de
vê-la.
― Não papai, eu só quero ir para casa — ela disse com lágrimas nos
olhos. — Podemos ir para casa? — Ela chorava.
Soltei meu cinto e saí do carro, abrindo a porta de trás e acalmando-
a:
― Ei, tudo bem, você não precisa descer.
― Eu quero ir embora, papai! — Ela berrava. Do que tinha tanto
medo?
― Nós já vamos, filha. — Acariciei seu rostinho. — Eu só vou
buscar o Estevan, tudo bem? — Ela fez que sim com a cabeça, parecendo
ficar mais calma. — Eu já volto. — Dei um beijo em sua testa. Depois de
garantir que ela ficaria bem, caminhei em direção à porta. Bati e momentos
depois ela se abriu.
― Oliver? — Denise me encarou, surpresa. — O que você está
fazendo aqui?

― Eu vim buscar o meu filho, onde ele está? — respondi,


adentrando a sala sem permissão. Logo avistei Estevan sentado no chão,
montando um quebra-cabeças. — Estevan? — chamei e ele me encarou,
assustado.
― Pai? — Ele se levantou rápido. — Eu posso explicar, a mamãe...
― Arrume suas coisas, eu vim te buscar — eu disse, sério.
― Mas, pai, nós dois estávamos... — ele tentou argumentar, mas eu
o interrompi.
― Sem mas! Vá pegar suas coisas, agora! — disse autoritário e,
mesmo de cara feia, ele saiu da sala, me deixando a sós com a mãe.
― O que deu em você, Oliver? — Denise me encarou, indignada.
― Não se faça de vítima! — eu disse, ríspido. — Eu não sei o que
você está pretendendo com tudo isso, mas, seja lá o que for, você não vai
conseguir tirar meus filhos de mim! Que ideia foi essa de aparecer no colégio
e buscar o Estevan sem a minha autorização?
― Eu não te desobedeci, Oliver. Até porque naquele dia você foi
bem claro quando disse que não me queria perto dos nossos filhos — Denise
respondeu de cabeça baixa.
― Ah, não? Então, como você me explica isso?
― Foi o Estevan, ele me ligou.
― O quê? Mas, por quê? — perguntei sem acreditar.
― Ele não quis me dizer, só disse que queria passar essa noite aqui
em casa. Eu ia te ligar para avisar que ele estava aqui, mas pensei que você
ainda estivesse no trabalho, me desculpe.
Eu mal conseguia ouvir Denise, estava preocupado com os motivos
que levaram o meu filho a querer passar o dia fora de casa. Estava distraído,
quando Denise tocou meu peito.
― Oli, eu não sei o que está acontecendo, mas o Estevan parece
muito chateado com você, vocês deveriam conversar.
― Farei isso — respondi, tirando a mão dela do meu peito.
Estevan surgiu na sala com a mochila escolar nas costas. Passou
sério por mim e depois deu um abraço apertado em Denise, que retribuiu da
mesma forma.
― Seja bonzinho com o seu pai, ele só quer o seu bem — ela
sussurrou para ele.
― Adeus, mãe. — Estevan a olhou uma última vez e depois saiu da
casa, indo para o carro.
― Não fique assim, ele está entrando na adolescência, essas coisas
são normais nessa fase. — Denise se aproximou de mim, com os braços
cruzados.
― O que você sabe disso? Você mal os conhece.
― Eu sei que errei quando fui embora e deixei você e nossos filhos
para trás. Oliver, eu me arrependo amargamente por isso, pois sei que agora é
tarde demais para voltar atrás. — Ela parou diante de mim. Estava usando um
vestido azul-escuro, bem colado ao corpo, seus cabelos loiros estavam soltos
e, apesar dos anos que se passaram, fisicamente ela ainda era a mesma. —
Você está certo, eu não conheço nossos filhos — ela disse, melancólica. —
Mas eu conheço você Oliver, e sei que, nessa idade, você era igualzinho ao
Estevan. — Ela sorriu, tocando meu rosto. Eu quis me afastar, mas não o fiz.
Denise aproximou o rosto do meu, encarando meus lábios de forma sedutora.
— Me perdoe, Oliver — ela murmurou, seus olhos verdes fitando os meus de
forma intensa.
Ela colocou seu corpo no meu de forma sexy e depois começou a
beijar meu pescoço.
― Eu ainda te amo, Oli — ela sussurrou, mordendo o lóbulo da
minha orelha, enquanto suas mãos passeavam por meu tórax. — Vamos para
o meu quarto? As crianças podem esperar um pouco — ela disse em êxtase,
mordendo meu lábio inferior.
― Desde quando você sabe o que é amor, Denise? — Afastei-a de
mim. — Desculpe, mas esses joguinhos de sedução não funcionam mais
comigo. — Ela me encarou chocada, talvez até surpresa com o autocontrole
que eu conseguia exercer sobre mim mesmo. — Está perdendo o seu tempo
comigo — disse, antes de lhe dar as costas e voltar para o carro.
O episódio com Denise serviu para me mostrar que nem mesmo o
meu lado mais selvagem conseguia ser despertado por ela. Mesmo com todas
as insinuações, eu não consegui sentir nada. Nenhum resquício de desejo
sequer.
Aquele jeitinho de mulher meiga não combinava com ela. Apesar de
eu não saber porque ela estava se esforçando tanto para se reaproximar de
mim, sabia que não era por amor, muito menos por saudades. Muito
provavelmente devia ser por interesse. Ela era o tipo de mulher que, antes de
tudo, procurava favorecer a si própria e em hipótese alguma faria algo se
soubesse que não a levaria a lugar algum.
No caminho de volta para casa, Estevan estava calado e de cara
amarrada. O único barulho que se ouvia dentro do automóvel era o de Elena
jogando em seu tablet. Resolvi puxar assunto, não poderia continuar fingindo
que nada estava acontecendo com ele:
― Filho, sua mãe me contou que foi você que ligou para ela ir te
buscar. Por quê? — Olhei para ele.
― Eu não queria voltar para casa — ele respondeu de cabeça baixa.
Parei o carro em uma vaga e o encarei.
― Posso saber por quê?
― Porque aquela casa está um saco sem a Sofia! A escola está um
saco! O futebol está um saco! E o senhor está um saco! — ele dizia com
lágrimas nos olhos.
― Eu também sinto falta da Sofia, ela foi especial para mim, mas
vocês têm que entender que acabou! Nós não vamos voltar!
Ultimamente, todas as nossas brigas estavam relacionadas a Sofia e
me doía saber que meus filhos sentiam falta dela tanto quanto eu.
― Então, volte para nós pai! Nós sentimos a sua falta.
Sem conseguir dizer nada, apenas abracei meu filho com força,
deixando que ele chorasse no meu ombro, enquanto segurava na mão de
Elena, que também choramingava no banco de trás.
― Me perdoem, eu sei que vocês sentem a minha falta e que eu
poderia passar mais tempo em casa, mas ultimamente as coisas têm sido
difíceis para mim também. —Olhei para os dois. — Mas eu prometo que vou
me esforçar para voltar a ser o mesmo, por vocês dois.

CAPÍTULO 9 – BRIAN

― Não consigo acreditar que o Oliver não tenha caído no meu jogo!
— Denise dizia, indignada, andando de um lado para o outro na sala.
― Por favor Denise, fazer o papel da boazinha não combina com
você. — Ri, bebendo um pouco de uísque. — Além disso, seus joguinhos de
sedução estão ultrapassados. — Pisquei e ela revirou os olhos, caminhando
até mim e se sentando ao meu lado no sofá.
― Quando tentei seduzi-lo ele foi bastante resistente.
― Ser rejeitada te magoou? — Levantei o olhar para ela, rindo.
― No tempo em que fomos casados, eu o tinha nas palmas das
minhas mãos, mas agora é como se ele não conseguisse sentir mais nada por
mim.
― Denise, você o traiu! Se quer culpar alguém por hoje ele te odiar,
culpe a si mesma! — Saí do sofá, me servindo de um pouco mais de bebida.
― De que lado você está? Te chamei aqui para conversar, não para
me colocar mais para baixo do que já estou!
― Estou do meu lado, querida.
― Você tem certeza que o Oliver não voltou com a Sofia? Estou
com medo de que minhas ameaças não tenham sido suficientes.
― Certeza absoluta. —Voltei, colocando a mão sobre sua coxa. —
Não sei se te contei, mas estou pegando a melhor amiga dela. Vanessa, a
garota, é uma chata, mas, seu desempenho na cama é formidável. Se ela
soubesse de qualquer coisa, tenho certeza que teria me contado.
― Você é um canalha, Brian! — Ela riu.
― Eu sei. —Dei um último gole no meu uísque, colocando o copo
sobre a mesinha de centro e saindo do sofá. — Se me der licença, tenho um
compromisso importante agora.
― Posso saber que tipo de compromisso? — Denise me encarou,
curiosa.
― Tenho uma reunião com alguns acionistas da Advocacia
Beaumont.
― Por que se reunir com os acionistas?
― Bem, é isso que se deve fazer quando se quer ser o presidente da
empresa, não é? — Lancei sobre ela um olhar sorrateiro.
― Espere, você está querendo tirar o Oliver da presidência? — Ela
se sentou rapidamente no sofá, me encarando seriamente.
― Por que a surpresa? Aquela empresa é minha tanto quanto é dele,
só estou querendo ter de volta o que é meu por direito!
― Brian, você não entende nada daquela empresa! Você vai acabar
decretando falência e prejudicando a todos nós! — Ela veio até mim, me
olhando como se eu fosse louco.
― Nós? Por favor, Denise! O Oliver não quer te ver nem pintada de
ouro! —respondi, cínico.
― Mas eu sou a mãe dos herdeiros daquela empresa! Ou você se
esqueceu que seus sobrinhos são mais donos daquela Advocacia do que
você?
― Isso são detalhes. — Ignorei-a.
― Se você ousar continuar com esse plano, eu vou contar para o
Oliver o monstro que você é! Ou você acha que seu irmão vai te perdoar
depois que souber a coisa horrível que você fez? Você vai acabar sem nada e
ainda por cima atrás das grades, Brian!
Eu me voltei para Denise, furioso. Segurando seu pescoço,
imprensei-a com força contra a parede.
― Eu te avisei para nunca mais voltar a tocar nesse assunto! — Suas
mãos apertavam meu braço com força, tentando livrar o pescoço. — Se eu
cair, você também cai — sussurrei bem próximo ao seu ouvido, intimidando-
a.
― Estou ficando sem ar, Brian! — ela disse apavorada, seus olhos
verdes me encarando assustados.
― Você é uma cadela! Como será que meu irmãozinho vai reagir
quando souber que a gente transava no quarto de vocês enquanto vocês dois
ainda eram casados? — disse próximo ao seu ouvido, apertando
gradualmente seu pescoço. Em poucos instantes ela começou a chorar, estava
apavorada. — De um jeito ou de outro, eu continuarei sendo o irmão dele e
ainda terei minha parte na empresa, mas você... há, você vai acabar sem nada!
O Oliver vai controlar os filhos até o fim e você vai acabar sozinha e sem
nenhum centavo! — Larguei-a e ela caiu de joelhos no chão, completamente
sem ar.
Então, eu me agachei, segurando em seu queixo, fazendo-a olhar
para mim.
― Você sabe do que eu sou capaz. E se eu tiver que te tirar do meu
caminho, acredite, eu vou tirar! Entendeu? — Ela balançou a cabeça em
afirmativa, ainda sem conseguir falar. — Ótimo — eu disse, me levantando e
me dirigindo à porta. — Foi um prazer te ver de novo, Denise.

CAPÍTULO 10 – SOFIA

Estava sentada na mesa da cozinha fazendo alguns deveres da faculdade. Na


verdade, tentando, porque, por alguma razão, eu não estava conseguindo me
concentrar. Depois que me encontrei com Oliver, eu não conseguia parar de
pensar em como explicaria a ele tudo que estava acontecendo quando nos
encontrássemos de novo.
Eu estava ansiosa para contar tudo, porque aquilo poderia significar
a nossa volta, mas, por outro lado, eu tinha medo de que ele não acreditasse
em mim. E se isso acontecesse, eu não poderia culpá-lo.
Nas últimas semanas meu corpo havia passado por mudanças
drásticas. Meu olfato estava mais apurado que nunca, minhas mamas estavam
sensíveis e minhas mãos e meus pés inchavam frequentemente. Minha
gestação ainda não era visível, minha barriga não havia crescido quase nada.
Por um lado, aquilo era bom, já que eu teria um tempo para me acostumar
com a ideia de que seria mãe, antes que todos os outros percebessem.
Minha gravidez era uma das coisas que eu mais ansiava para contar
ao Oliver. Eu não sabia como ele iria reagir ou o que iria achar de tudo
aquilo. Nós nunca havíamos falado sobre a possibilidade de termos filhos ou,
até mesmo, se ele queria ter mais filhos.
Sempre que levava minhas mãos ao ventre eu ficava fascinada em
pensar que havia um ser ali, crescendo dentro de mim. Independentemente de
qual fosse a decisão de Oliver, eu criaria aquela criança com todo o meu
amor.
Fui arrancada de meus pensamentos por uma batida na porta.
Levantei-me da cadeira e caminhei até ela, abrindo-a.
― Ryan? — Encarei-o, surpresa. — Não esperava te ver aqui.
― Desculpe, vim assim sem avisar, mas é que eu estou de folga hoje
e resolvi passar aqui para ver como você estava e... também trouxe isso. —
Ele levantou uma sacola com um pote de sorvete. — Caso você queira
conversar. — Rimos e eu o convidei para entrar.
Peguei duas colheres na cozinha e depois nos sentamos no chão da
sala, onde começamos a devorar o pote de sorvete.
― Como você sabia que eu gostava de chocolate? — perguntei,
olhando-o de relance.
― Não sabia, mas, quem não gosta de chocolate? — Ele riu,
tomando uma colher. — Como está indo a gestação?
― Bem, na verdade ainda é tudo muito novo para mim, mas
aparentemente está tudo bem. O que mais está me deixando louca são esses
inchaços, nem minhas botas eu consigo usar mais! — Sorri.
― Sofia, como você pretende se sustentar quando esse bebê nascer?
— Ryan me encarou atentamente.
― Eu ainda não sei, Ryan, mas, não se preocupe, vou dar um jeito.
Ryan se manteve em silêncio por alguns segundos antes de
continuar:
― Eu sei que nós dois somos apenas amigos, mas, se você aceitar,
eu gostaria muito de cuidar de você e dessa criança, Sofia.
― Ryan, eu... eu não posso aceitar. — O que ele estava propondo
era incabível.
Sem saber como reagir, me levantei e comecei a andar pela sala.
― Sofia... — Ele se levantou vindo atrás de mim e depois segurou
minha mão, me olhando nos olhos.
― Ryan, nós somos amigos...
― Eu sei, e não pense que estou pedindo para você me amar porque
não é isso. Estou pedindo apenas que me permita cuidar de você e do seu
filho. Você é especial para mim e eu não queria ter que te ver enfrentando
tudo isso sozinha. — Ele segurou meu queixo, me fazendo olhar para ele. —
Eu não tive pai e sofri muito por isso, não quero que seu filho tenha que
passar pela mesma coisa. Depois que você me beijou, mesmo que não tenha
sido por amor, meu carinho por você só aumentou Sofia e eu estou mesmo
gostando muito de você.
― Ryan, você é um cara incrível, mas eu te vejo apenas como
amigo. Meu coração pertence ao Oliver e sempre vai pertencer a ele.
― Você não precisa me amar, talvez com o tempo...
― Não dá, eu não posso fazer isso. — Toquei seu rosto,
interrompendo-o. — Eu Não conseguiria viver em paz comigo mesma,
entende?
― O que esse Oliver tem que eu não tenho? — Ryan me encarou em
tom de deboche, acho que ele havia compreendido o recado.
― Eu não sei, o que sei é que tanto ele quanto você têm o coração
muito bom. — Abracei-o e ele enlaçou seus braços ao meu redor, me dando
um abraço apertado. — Espero que essas confissões não abalem a nossa
amizade. — Levantei o olhar para ele.
― Não vão, eu sei lidar com rejeições — ele murmurou, seus olhos
verdes me encarando tristonhos.
― Você acha que me ama, Ryan, mas não é verdade. Você se
preocupa mais do que o normal comigo, mas isso não é amor, é carinho. —
Sequei uma lágrima que rolou por seu rosto. — Quando você se apaixonar de
verdade, vai saber do que eu estou falando.
― Tem razão, eu sei que estou exagerando. — Ele me encarou sem
jeito. — Agora, posso te dar um conselho de amigo? Conte ao Oliver que
você está grávida, ele merece saber que vai ser pai. Se vocês se amam tanto
assim, não deveriam viver separados. Eu preciso ir. — Ryan beijou minha
bochecha e depois se afastou, caminhando até a porta e indo embora.
Eu me sentei no sofá sem saber o que fazer. Ryan estava certo, eu
precisava contar ao Oliver tudo que estava acontecendo.
O dia era sexta-feira, Estevan e Elena provavelmente iriam passar o
fim de semana na chácara com dona Ana e Oliver estaria sozinho em casa.
Olhei para o relógio na parede, já eram quase cinco horas da tarde. Se eu
saísse naquele momento conseguiria chegar à casa de Oliver dentro de uma
hora e meia.
Peguei minha bolsa e saí correndo de casa. Era agora ou nunca.

CAPÍTULO 11 – OLIVER

― Tem certeza que não quer ir com a gente, pai?


Meus filhos iriam passar o fim de semana na chácara com dona Ana
e com o marido e estavam superanimados com isso.
― Eu adoraria filho, mas tenho trabalho a fazer. — Abracei-o.
― E então, prontos? — Dona Ana voltou à sala chamando-os, o
marido já estava do lado de fora esperando.
― Prontos! — Os dois gritaram em uníssono.
― Tchau, papai. — Elena me abraçou.
― Tchau, querida. Sejam bonzinhos com a dona Ana e com o
senhor Otávio, está bem? — Olhei para os dois.
― Sim, senhor! — eles responderam, animados.
Ajudei-os a levar as malas até o carro e depois fiquei observando
enquanto eles partiam.
― Divirtam-se! — Acenei.
Depois que se foram, fui para o meu quarto, me despi e tomei uma
ducha. Eu estava exausto e a água morna do chuveiro conseguia me relaxar.
Quando saí, vesti uma calça de moletom e fui para o meu escritório, ainda
havia muito trabalho a ser feito. Sentei diante da minha mesa e comecei a
analisar processos de alguns clientes da Advocacia. Tudo estava no mais
perfeito silêncio, até que eu ouvi a porta da frente se abrindo e se fechando
logo em seguida.
A porta do meu escritório estava aberta e eu fiquei olhando em
direção ao corredor para ver quem havia chegado. Foi quando a vi. Nossos
olhares se encontraram e eu permaneci imóvel, sem entender o que estava
acontecendo.
― Oi, Oliver — Sofia disse, vindo até o escritório.
― Sofia? — Encarei-a, surpreso. — O que você está fazendo aqui?
― Desculpe aparecer assim, mas é que eu precisava muito falar com
você.
Eu me remexi em minha poltrona, juntando as mãos sobre a mesa.
― Tudo bem. — Acenei para que ela se sentasse na poltrona à
minha frente. — Sobre o que você quer conversar?
Sofia se sentou na poltrona e depois de alguns segundos começou a
falar:
― Oliver, tudo não passou de um jogo.
― Do que você está falando? — Levantei uma sobrancelha para ela,
encarando-a, sem entender.
― Eu nunca te traí, Oliver.
Por alguma razão, aquilo me fez querer rir.
― Sofia, eu vi você e o Ryan juntos...
― Eu fui chantageada! — Ela esbravejou, me interrompendo.
― Como assim?
― No dia que você viajou para São Paulo, Denise foi se encontrar
comigo na faculdade e ela me chantageou. Disse que se eu não terminasse
com você, ela entraria na justiça e tiraria a guarda de seus filhos de você.
Aquela revelação me pegou de surpresa e eu não soube o que pensar
de tudo aquilo.
― Oliver, eu nunca te traí! — Ela segurou a minha mão. — Eu te
amo, sempre te amei!
Eu me afastei começando a andar pela sala. Eu estava extremamente
confuso.
― Como você me explica o beijo que eu te vi dando no Ryan?
― Eu fui obrigada a fazer aquilo! Eu precisava te afastar de mim e
aquela foi a única forma que eu encontrei! Você tem que acreditar em mim
Oli! — Ela caminhou até mim, desesperada.
― Por que você não me contou isso antes? Você faz ideia do quanto
eu sofri no último mês?
― Eu queria te contar, mas fiquei com medo! Eu sei que as coisas
que a Denise me disse poderiam ser apenas chantagem, eu sei disso! Mas eu
não queria arriscar, eu sei o quanto seus filhos são importantes para você e se
você perdesse a guarda deles por minha culpa, eu nunca me perdoaria. — Era
óbvio que Sofia estava falando a verdade, eu conseguia observar isso nas
pessoas. Agora, saber que a Denise foi capaz de fazer algo tão baixo me fez
perceber a pessoa horrível que ela era.
― Então, você fez isso tudo para garantir que eu e meus filhos
ficássemos bem? — Encarei-a, ainda sem conseguir acreditar. Aquilo era
surreal.
― Eles são sua única família Oliver, eu precisei.
― Você também fazia parte dessa família — murmurei, sentindo
uma raiva crescente dentro de mim. — Eu sempre soube que a Denise não
valia nada, mas nunca achei que ela fosse capaz de fazer algo tão baixo!
― Oliver, por favor, me prometa que não vai fazer nenhuma
loucura.
― Sofia, essa mulher te chantageou! Ela fez nós dois nos
afastarmos, nos fez sofrer e você ainda quer que eu seja bondoso com ela?
— eu disse, furioso.
― Eu sei. — Ela se aproximou tocando meu rosto. — E eu quero
que ela pague por isso, mas não assim. Eu tenho mais uma coisa para te
contar...
― Tem mais? — Encarei-a, completamente derrotado.
― Eu estou grávida, Oliver.
Minha boca se abriu em surpresa e, naquele momento, senti um
misto de emoções.
― Eu sou... — Tentei perguntar, mas as palavras não saíram.
― Sim, você é o pai — ela disse em um sorriso tímido.
― Há quanto tempo você sabe?
― Descobri há algumas semanas.
― Eu não esperava — respondi, ainda em choque. Eu estava feliz,
ao mesmo tempo que também estava confuso com aquela quantidade de
informações.
― Eu sei que você vai precisar de um tempo para assimilar tudo o
que aconteceu e se quiser conversar, você sabe onde pode me encontrar. —
Sofia me olhou bem nos olhos e já ia saindo, mas eu a segurei pela mão,
impedindo-a de continuar.
― Eu já entendi tudo. — Aproximei-me dela, tocando seu rosto. —
Não quero ficar mais nenhum segundo sem você, Sofia! — Aproximei meus
lábios dos dela e lhe dei um beijo doce. Ah, como eu havia sentido falta do
sabor daqueles lábios...
Afastei-me para olhá-la nos olhos e, quando nos beijamos de novo,
nossos lábios se chocaram violentamente. Coloquei Sofia contra a mesa. Ela
enroscou os braços ao redor do meu pescoço, minhas mãos deslizavam por
suas curvas, enquanto nos beijávamos loucamente. Coloquei minhas mãos em
sua cintura e a coloquei sobre a mesa, jogando todos os papeis que estavam
sobre ela no chão.
― Arrumar tudo isso vai dar um trabalhão — ela murmurou,
sorrindo por entre meus lábios.
― Dane-se, agora eu quero você.
Abri-lhe as pernas e me encachei entre elas. Sofia estava usando um
vestido com estampa floral, levei as mãos até suas coxas e o puxei para cima,
colando mais seu corpo no meu, enquanto minha pélvis roçava contra sua
intimidade.
― Ah, Oliver... — ela murmurou, jogando a cabeça para trás,
enquanto eu beijava seu pescoço.
― Eu senti tanto a sua falta... — sussurrei, mordendo seu lábio
inferior. Eu estava tão feliz por estar com ela!
― Eu também, Oliver. — Ela me puxou para mais um beijo
apaixonado, enlaçando as pernas ao redor do meu quadril. — Faz amor
comigo? — ela pediu, ofegante.
― Eu já ia te pedir isso... — murmurei, beijando seus lábios.
Sem interromper nosso beijo, peguei Sofia no colo e a levei para o
meu quarto. Coloquei-a na cama e a ajudei a tirar o vestido, deixando-a
apenas de lingerie. Fiquei sobre ela e a observei por alguns instantes, a
gestação de Sofia ainda não era visível, mas eu sentia uma alegria imensa em
saber que ela estava esperando um filho meu. Baixei meu rosto em direção ao
seu ventre e o beijei.
― Eu sempre quis ter um filho com você — murmurei, roçando
minha barba em sua barriga, enquanto sua respiração se tornava mais
ofegante.
Fui subindo meus beijos e, quando beijei por entre seus seios, Sofia
se contorceu de desejo, me deixando mais excitado. Por fim, beijei seu
pescoço, enquanto ela puxava meus cabelos carinhosamente.
― Por favor, Oliver... — ela implorou, enquanto eu a despia e
mapeava seu corpo com as mãos.
― Calma amor, você vai me ter para sempre.
Despi-me também e lentamente começamos a nos amar. Meus
movimentos eram lentos e precisos, e Sofia arqueava seu corpo em direção ao
meu, acompanhando meus movimentos. Eu não estava com pressa. Ao
contrário, queria aproveitar ao máximo aquele nosso momento de
reconciliação.
― Eu estava precisando tanto de você, querida... — murmurei em
seu ouvido, beijando seus lábios m seguida. Seus olhos cor de mel encararam
os meus, completamente indefesos e satisfeitos, e naquele momento eu me
apaixonei ainda mais por ela. Sofia entrelaçou as pernas ao redor do meu
quadril, enquanto suas mãos foram para minhas costas, arranhando-as
levemente. Colei minha testa na dela, enquanto a sentia se entregar por
completo a mim. Momentos depois segurei sua mão contra a cama, enquanto
com a outra segurava sua perna junta ao meu quadril.
― Você é a mulher da minha vida, Sofia. Eu te amo — murmurei
ofegante em seu ouvido e então foi a vez dela me ter.

CAPÍTULO 12 – OLIVER

Acordei com os primeiros raios de sol que começaram a invadir o quarto.


Espreguicei e me senti completamente satisfeito quando vi Sofia dormindo ao
meu lado. Observei-a durante alguns segundos. Ela era tão linda! Seus
cabelos castanhos estavam espalhados pelo travesseiro, enquanto ela dormia
calmamente, como um anjo. Beijei seu ombro, tendo a certeza de que ela era
real, de que a noite passada havia sido real.
Saí lentamente da cama, tomando muito cuidado para não acordá-la
e fui até meu escritório. Fiz uma ligação e depois comecei a recolher todos os
papéis que estavam jogados pelo chão. Havia centenas deles e eu perdi mais
ou menos quarenta minutos ali só tentando juntá-los e organizá-los.
― Eu disse que isso ia dar um trabalhão.
Levantei o olhar e vi Sofia encostada na porta do meu escritório com
um belo sorriso no rosto. Ela usava o mesmo vestido da noite passada.
― Foi por uma boa causa. — Ri, colocando uma pilha de papéis
sobre a mesa e indo até ela. Puxei-a pela cintura, colando seu corpo no meu e
então a beijei. — Obrigado por ontem, você foi incrível — murmurei,
acariciando seu rosto.
― Eu estava com tantas saudades... — Seus olhos cor de mel
encararam os meus.
― Ei, mas agora isso acabou. Estamos juntos de novo e dessa vez
ninguém vai conseguir nos separar.
― Oliver, em relação ao que a Denise fez, me promete que vai tentar
manter a calma?
― Sofia, ela te ameaçou e nos separou! Não existe perdão para o
que ela fez!
― Eu sei que não. — Sofia segurou meu rosto em suas mãos. —
Mas quero que me prometa que não vai fazer nada de cabeça quente, você
sabe que ela pode inventar uma história qualquer para tirar o Estevan e a
Elena de você.
― Ela não ousaria...
― Nós não sabemos... — ela murmurou. — Pessoas como a Denise
são instáveis, Oli. Quando contrariadas, elas podem cometer loucuras!
― E os caras apaixonados? — Mudei de assunto e juntei mais meu
corpo no dele, eu realmente não estava a fim de falar sobre Denise. — O que
eles são capazes de fazer?
― Bem, além de proporcionar noites incríveis para as namoradas,
eles podem exagerar um pouquinho no excesso de carinho e superproteção.
— Ela riu e eu não consegui ficar sem lhe dar outro beijo.
― Eu liguei para um amigo hoje, ele é obstetra e se chama Carlos,
marquei uma consulta para você.
― Para quando?
― Hoje.
― Hoje?
― Sofia, você já está quase no segundo mês de gestação e ainda não
começou a fazer um acompanhamento médico. Isso é importante não só para
o bebê, mas para você também. — Acariciei seu rosto. — Por favor, faça isso
por mim.
― Tudo bem, é claro que eu vou a essa consulta.
― Obrigado, você e essa criança são importantes demais para mim.
― Sério? — Ela me encarou docemente.
― Por que a surpresa?
― Sabe, quando eu descobri que estava grávida, eu tive medo da sua
reação, não sabia bem o que pensar, nós dois nunca falamos sobre a
possibilidade de termos filhos. E, sinceramente, eu não sabia se você iria
querer ter esse bebê — ela disse sem jeito.
― Está brincando? Em muitos momentos eu cheguei a cogitar a
ideia de ter um filho com você, mas eu não quis te assustar. — Fiz uma
pausa, tentando imaginar o que ela estaria achando de tudo aquilo. — Eu
ainda não perguntei: como você está se sentindo com tudo isso?
― Não vou negar que fiquei surpresa quando recebi a notícia e ainda
não sei bem como vou conseguir associar minha gravidez com a faculdade. E
menos ainda como eu vou contar isso para os meus pais, eles vão surtar! —
Ela me deu um sorriso de lado.
Sofia ainda era jovem, com seus vinte e dois anos, sei que ela sabia
que sua vida passaria por uma mudança drástica dali para a frente e que
aquilo a apavorava.
― Eu sei que tudo isso é novo para você, mas não se esqueça que,
quando o Estevan nasceu, eu tinha apenas vinte anos de idade. Aquilo me
apavorou, eu não sabia se seria um bom pai ou não, mas quando o peguei em
meus braços pela primeira vez eu soube que independentemente de qualquer
coisa, eu sempre o protegeria, foi assim com a Elena e assim vai ser quando
esse bebê nascer. — Coloquei a mão sobre sua barriga. — Eu te amo Sofia e
já amo o nosso filho.
Com lágrimas nos olhos, Sofia colocou os braços ao redor do meu
pescoço e me abraçou forte.
― Eu posso não ser o melhor pai do mundo, eu sei, já aprendi isso
na prática, mas prometo que vou tentar melhorar a cada dia — sussurrei em
seu ouvido.
― Eu sei que vai, Oliver. — Ela beijou minha face. — Agora vamos
tomar café? Antes que eu comece a chorar sem parar? — Ela pegou minha
mão, me levando até a cozinha.
Tomamos café juntos e falamos sobre assuntos aleatórios. Era tão
bom ter alguém com quem eu simplesmente pudesse conversar, sem ter que
me preocupar com o que deveria ou não dizer. Com Sofia tudo era tão fácil
que as coisas fluíam naturalmente.
― Bem, eu já vou indo, sei que você ainda tem que ir para a
empresa.
― Fica só mais um pouquinho. — Puxei-a, sentando-a no meu colo.
― Eu adoraria, mas também preciso fazer alguns trabalhos da
faculdade ainda hoje, para a semana que vem.
― Nós nos vemos a noite?
― Eu não sei se é uma boa ideia, Oliver... A Denise pode
descobrir...
― A Denise não vai fazer nada. — Segurei em seu queixo, fazendo-
a olhar para mim. — Nós não temos porque nos escondermos, nosso amor é
tão lindo, Sofia... — Rocei meus lábios nos dela, antes de finalmente beijá-la.
― Você tem razão. — Ela sorriu.
― Quanto ao Estevan e a Elena, não se preocupe, eu não vou deixar
aquela maluca tirar meus filhos de mim, não mesmo!
Ficamos mais um tempo ali juntos. Insisti para levá-la em casa, mas
ela fez questão de ir embora de ônibus. Depois tomei um banho e, olhando
para as roupas no meu closet, optei por vestir uma calça social e um blazer
pretos e uma camisa branca.
Cheguei na empresa por volta das oito da manhã. Fui diretamente
para a minha sala e comecei a trabalhar. Eu estava tão feliz por Sofia e eu
termos voltado que naquele dia o meu empenho no trabalho foi maravilhoso.
Eu estava entusiasmado com a ideia de que seria pai pela terceira vez e, pelo
quanto estava apaixonado por Sofia. Estava pensando na noite perfeita que
havíamos tido juntos, quando vi meu amigo Bruno entrar em minha sala.
― Bruno, o que faz aqui? — Cumprimentei-o. — Deve estar se
perguntando por que eu não apareci para a nossa luta de esgrima de hoje...
― Na verdade, não — ele me interrompeu. Parecia preocupado.
― O que aconteceu, Bruno? Você está bem?
― Eu não quero bancar o fofoqueiro, mas, como seu amigo, acho
que devo te contar. — Ele me encarou, sério.
― Me contar o quê? — Encarei-o, apreensivo.
― Oliver, ontem seu irmão se reuniu com todos os acionistas aqui
da Advocacia. Posso estar enganado, mas acho que o Brian quer tomar o seu
lugar na presidência da empresa.

CAPÍTULO 13 – BRIAN

Estava em meu escritório, analisando as finanças da empresa. Não podia


negar que nos últimos anos Oliver havia feito uma boa administração,
duplicando o valor da empresa, mas sabia que se eu fosse o presidente, eu
conseguiria quadriplicar esse valor.
Ontem marquei uma reunião com todos os acionistas. Não comentei
nada com Oliver porque sabia que ele poderia acabar com os meus planos
antes que eu tivesse a oportunidade de expor minhas ideias para os acionistas.
Felizmente, deu tudo certo, a reunião correu bem e a maioria das pessoas se
mostrou interessada na minha proposta.
Estava distraído quando a porta da minha sala se abriu e Oliver
passou por ela de uma vez.
― O que você pensa que está fazendo, Brian? — Ele me encarou,
furioso. Sabia que mais cedo ou mais tarde meu irmão descobriria que eu
estava tentando derrubá-lo de seu posto, só não fazia ideia que ele fosse
descobrir tão rápido.
― Do que você está falando, irmão? — Olhei-o de volta, mantendo
a calma.
― Não se faça de sonso, Brian! Desde quando você está planejando
me derrubar e assumir a presidência da Advocacia? — Ele foi direto.
― Por favor, Oliver! Falando assim até parece que eu estava
bolando um plano diabólico! — Tentei amenizar um pouco a situação, mas
meu irmão estava furioso.
― Por quê? — Oliver apoiou as mãos na minha mesa, seus olhos me
encarando seriamente.
― Irmão, assumir a presidência será apenas uma consequência, o
que eu quero mesmo é implantar um novo conceito na nossa empresa.
― Então, você quer assumir a presidência da Advocacia mais
respeitada do país para passar a defender políticos corruptos e marginais para
ganhar mais dinheiro, é esse o seu plano?
― Oliver, você não está pensando, irmãozinho. — Saí da minha
poltrona começando a andar pela sala. — Pense que estamos expandindo os
serviços da nossa empresa para um novo público, os valores arrecadados vão
quadriplicar!
― A única coisa que eu estou vendo aqui Brian, é você querendo
afundar a empresa que o nosso pai construiu e indo contra tudo que ele
acreditava ser certo!
― Nosso pai está morto, Oliver! — esbravejei. — Ao contrário de
você, que sempre fica tentando defender o lado certo da questão, eu estou
procurando um meio de manter a empresa do nosso pai viva!
― Viva? Como? Com o dinheiro sujo dos seus amigos políticos? —
Oliver se aproximou, me encarando furiosamente nos olhos.
― Eu sinto muito, Oliver, mas não vou mudar de ideia. Vou lutar
pela presidência, querendo você ou não.
― Como quiser, porque eu também não estou pensando em abrir
mão dela assim tão fácil — ele disse em tom provocador.
Oliver me encarou uma última vez com um olhar desaprovador e
depois saiu pisando forte pela sala.
― Droga! — Dei um soco na mesa.
Eu sabia que no instante em que decidisse tentar o meu lugar na
presidência, eu compraria uma briga com Oliver, mas se ele estava pensando
que conseguiria me derrotar, estava muito enganado. Ele podia ser influente e
respeitado, mas eu era esperto e jogaria com todas as minhas armas. Oliver
poderia até jogar limpo, mas eu não.

CAPÍTULO 14 – SOFIA

Depois que saí da casa de Oliver, tive que caminhar alguns metros antes de
chegar ao ponto de ônibus mais próximo. Todos os lugares estavam
ocupados, já que àquela hora do dia a maioria das pessoas estavam indo para
o trabalho. Segurei em uma barra e fiquei em pé mesmo. Após alguns
minutos senti uma mulher, que aparentava ter seus trinta e poucos anos, me
cutucar:
― Sente-se no meu lugar, querida. Você está grávida, não deve ficar
tanto tempo assim de pé!
Encarei a mulher, completamente perplexa. Como ela havia
percebido que eu estava grávida? Ainda surpresa, agradeci por seu gesto e me
sentei, percebendo meus pés um pouco inchados.
Quarenta minutos depois de pegar outro ônibus, finalmente cheguei
em casa. Tirei as sandálias e as deixei pela sala mesmo. Subi para o meu
quarto e tomei um banho rápido, vesti um short e uma blusinha de alça, me
sentindo completamente confortável.
Peguei meu notebook e me sentei na cama, começando a digitar um
trabalho para a faculdade. Estava focada, até segundos depois ter meus
pensamentos atraídos de volta para a noite passada.
Oliver e eu havíamos nos amado de forma única, a noite passada
havia deixado evidente o quanto nossos sentimentos haviam sido
repreendidos no último mês. Enquanto fazíamos amor, nossos desejos iam
aos poucos se libertando, enquanto nossa saudade ia diminuindo.
Comecei a sorrir. Eu estava tão feliz por Oliver ter acreditado em
mim e principalmente por ter compreendido os motivos que me levaram a me
afastar dele, além de ter recebido alegremente a notícia de que eu estava
grávida. Confesso que em um primeiro instante achei que ele fosse duvidar
de mim ou até ficar insatisfeito com essa notícia, mas quando seus braços
fortes me envolveram e ele me beijou desesperadamente, soube que nós dois
havíamos voltado a ser o que éramos: um casal.
Pela tarde, recebi uma visita de Ariovaldo, o motorista de Oliver,
que avisou que estava ali, a pedido de seu patrão, para me levar a uma
consulta com o doutor Carlos.
Mais cedo, Oliver havia me avisado daquela consulta, mas acabei
me esquecendo. Tudo ainda era muito novo para mim e eu ainda não havia
me acostumado com a minha nova condição de gestante.
Depois de me arrumar, Ariovaldo me levou até a clínica em que o
Dr. Carlos trabalhava. O lugar era bastante luxuoso e aquilo me fez pensar na
fortuna que Oliver deveria ter pago para que eu pudesse fazer aquela
consulta.
Momentos depois o doutor me recebeu. Ele aparentava ter pouco
mais de sessenta anos de idade, seus cabelos estavam completamente
brancos, mas seus olhos negros transbordavam anos e anos de experiência.
Depois de me conhecer um pouco melhor, ele me explicou as mudanças que
estavam acontecendo com meu corpo e tirou algumas dúvidas que eu tinha
em relação à gravidez e ao bebê.
Depois ele pediu alguns exames, que ficaram prontos em menos de
uma hora. De volta à sala, ele analisava os resultados.
― Bem, pelo que tudo indica, está tudo bem com você e o seu bebê,
Sofia — ele disse com um sorriso.
― Isso é ótimo!
― Foi bom você ter vindo aqui, quanto mais rápido se começa o
pré-natal, mais rápido podemos detectar algum problema e tentar resolvê-lo.
― Foi meu namorado. Quando o assunto é saúde, ele é sempre
muito cuidadoso. — Sorri.
― E eu não sei? Conheço Oliver Beaumont como ninguém!
― O senhor e o Oliver se conhecem? — Encarei-o, surpresa.
― Mas é claro! Nós nos conhecemos há anos, fui eu que fiz o parto
dos dois filhos dele. Aliás, como estão Estevan e Elena? Já faz um bom
tempo que não os vejo.
― Eles estão ótimos!
― Oliver é um bom homem, além de ter se tornado um advogado
genial! Já perdi as contas de quantos casos ele me ajudou a resolver. Espero
que vocês dois sejam muito felizes juntos.
― Obrigada, doutor — eu disse, me levantando para sair da sala,
enquanto ele me acompanhava.
― Não se preocupe, vai ser normal se ele se tonar um pouco mais
grudento do que o habitual nos próximos meses. Foi assim com os outros
dois filhos e será assim com este — o doutor disse com um sorriso, acenando
para mim.
―Vou me lembrar disso! — Ri.
Quando saí da sala, não vi Ariovaldo, mas sim Oliver me
aguardando na recepção.
― Ei, o que você está fazendo aqui? — Aproximei-me dele com um
sorriso, era tão bom vê-lo!
― Dei o resto do dia de folga para o Ariovaldo e saí mais cedo da
empresa para que pudesse vir te buscar, espero que não se importe. — Ele se
levantou com um sorriso, parando diante de mim. De terno, Oliver parecia
um verdadeiro cavalheiro.
― Eu amei a surpresa! — Inclinei-me, recebendo-o com um beijo.
Quando ele segurou minha mão para que pudéssemos sair da clínica,
percebi o olhar invejoso de algumas mulheres que estavam ali. E quando ele
abriu a porta do carro para que eu pudesse entrar, soube que toda mulher
sonhava ter um homem como o Oliver e que eu era muito sortuda por tê-lo.
― Como foi a consulta? — Ele entrou no carro, me encarando
curioso.
― Foi ótima! O doutor disse que está tudo bem comigo e com o
nosso filho. —Fiz uma pausa, olhando para Oliver.
― O que foi? — Ele tocou meu rosto.
― Nada, é que foi estranho falar isso — respondi sem jeito.
― Mas é isso que esse bebê é, Sofia: nosso. — Os olhos azuis de
Oliver me encararam desejosos e a ênfase que ele deu à palavra "nosso" fez
com que eu me sentisse ainda mais apaixonada por ele.
Ele roçou os lábios nos meus algumas vezes, antes de finalmente me
beijar, sua língua quente se chocando contra a minha em sinal de completo
desejo. Momentos depois ele se afastou, seu polegar acariciando minha
bochecha.
― Depois do dia que tive, eu estava precisando tanto disso... —
Quando seus olhos azuis me fitaram outra vez, soube que alguma coisa estava
errada.
― O que aconteceu? — perguntei, atenciosa.
― Coisas da empresa, não quero te preocupar. — Sua voz estava
triste e eu senti meu coração acelerar.
― Se você não me contar, aí sim eu vou ficar preocupada. O que
foi? — insisti.
Oliver baixou o olhar por alguns instantes e depois me encarou:
― É o Brian, ele quer assumir a presidência da Advocacia
Beaumont.
― Mas ele não pode! — contestei. — Você é o presidente daquela
Advocacia há anos, Oliver!
― Eu sei, mas o pior é que ele pode.
― Mas por que ele faria isso?
― Ganância. — Era possível perceber a repulsa dele pelo irmão
naquele momento. — Ele quer burlar o padrão que a nossa empresa defende
há anos, vai ser um caos!
― Você não pode deixá-lo ganhar, Oliver! Aquela é a empresa do
seu pai, ele confiou ela a você!
― Mas essa decisão não cabe a mim Sofia, cabe aos nossos
acionistas decidirem isso.
― Eles não seriam loucos de colocar o seu irmão à frente de algo tão
importante, seriam? — Olhei-o, preocupada.
― Eu não sei, mas não vou desistir tão fácil, vou usar todos os
recursos legais para tentar impedi-lo, mas, se não der certo...
― Vai dar! — afirmei, positiva.
― Ah, Sofia, se não fosse você, meu amor, eu já estaria
enlouquecendo. — Ele me lançou um sorriso fraco, sua mão deslizando por
meus cabelos. — Até agora não acredito que fui capaz de te dizer aquelas
coisas horríveis quando pensei que você estava me traindo com o Ryan, me
perdoe...
― Ei, você não sabia. — Coloquei o dedo indicador em seus lábios,
impedindo-o de reviver e sofrer com aquilo.
― Mesmo assim, eu não fui justo com você.
― Não importa. — Inclinei-me, beijando-o e rapidamente ele se
entregou ao meu gesto.
― Vamos com calma, senão eu vou acabar não resistindo e no carro
não vai ser tão confortável quanto parece. — Ele riu segurando meu rosto e
eu fiquei perplexa com o quanto Oliver podia ser imprevisível. — Mas eu sei
de um lugar... — Seus olhos azuis me olhavam tentadoramente. — Gostaria
de passar o domingo comigo em Búzios?
― Búzios? — Olhei para ele, surpresa.
― Sim, eu tenho uma casa de praia lá, mas devido à correria já faz
muito tempo que eu não vou até lá. Gostaria muito que você fosse comigo,
Búzios é um lugar maravilhoso, tenho certeza que você vai adorar.
― Nossa, eu adoraria Oliver! Mas antes eu tenho que passar em casa
para pegar algumas coisas.
― Claro.
Oliver me levou em casa. Enquanto fazia minha mala, ele me
esperou pacientemente na sala.
Depois fomos para sua casa. Nós posaríamos lá e pela manhã
iríamos no seu jatinho particular até Búzios.
Oliver pediu comida japonesa para o jantar. Comemos na sala,
enquanto víamos um filme na televisão e ríamos da minha falta de habilidade
com o hashi, enquanto ele tentava me ensinar a segurá-lo da maneira correta.
Depois de darmos boas risadas, tomamos banho juntos e fomos para
a cama. Conversamos por alguns minutos sobre coisas aleatórias, antes de
Oliver pegar no sono. Ele parecia cansado e a briga com o irmão também não
estava ajudando. Era a primeira vez que Oliver e eu realmente iríamos só
dormir juntos. Ri sozinha, pensando no quanto aquilo soava estranho, mesmo
depois de eu já ter passado outras noites ali com ele. Momentos depois
também adormeci, tendo a sensação de que a nossa relação estava começando
a seguir um caminho diferente.

CAPÍTULO 15 – SOFIA

― Sofia, acorde, já chegamos meu amor — Oliver sussurrou


beijando meu rosto, enquanto o jatinho pousava.
A viagem até Búzios não havia sido longa, mas devido ao fato de
termos acordado cedo para podermos aproveitar ao máximo o nosso
domingo, não consegui evitar e acabei pegando no sono.
Depois que o jatinho aterrissou, Oliver chamou um táxi, que nos
levou até a casa de praia.
O céu era de um azul vívido e o sol parecia sorrir para nós enquanto
desvendávamos as ruas daquela cidade. Búzios era uma cidade linda e, pelo
que pude notar, bastante histórica também, a maioria de suas ruas não eram
feitas de asfalto, mas sim de pedras. As pessoas ali pareciam felizes e uma
grande maioria parecia estar se preparando para ir à praia.
― Está gostando? — Oliver perguntou, colocando a mão sobre a
minha perna.
― Estou adorando! Tudo é muito lindo! — respondi, empolgada.
Momentos depois o taxista estacionou ao lado de uma casa enorme.
Depois de pagar a corrida, Oliver pegou uma bolsa com algumas poucas
coisas que havíamos levado, segurou minha mão e caminhamos até a porta da
frente.
A casa estava localizada um pouco acima da Praia da Ferradura, da
qual se podia ter uma visão privilegiada dali.
― Esse lugar é maravilhoso, Oliver! Essa paisagem é de tirar o
fôlego! — eu disse, maravilhada.
― Você ainda não viu nada, querida. — Ele sorriu, destrancando a
porta.
Oliver me mostrou toda a casa. Havia duas salas, uma social e uma
para se assistir TV, cozinha americana, três quartos, todos eles com suíte; nos
fundos havia um jardim maravilhoso e uma piscina mais funda, para os
adultos e uma mais rasa, para as crianças.
― Estevan e Elena adoram vir aqui — ele mencionou, enquanto
voltávamos para dentro.
― Poderíamos tê-los trazido.
― Não se preocupe, eles devem estar se divertindo na chácara com a
dona Ana, os trarei em uma outra oportunidade. — Oliver me puxou pela
mão, me abraçando ao seu corpo. — Eu queria que esse momento fosse só
nosso, afinal nós dois já passamos tempo demais separados. — Ele
aproximou o rosto do meu, me beijando ternamente nos lábios. — Quer ir até
a praia? — ele murmurou.
― Claro! Estou louca para tomar um banho de mar!
Fomos para o quarto, abri a bolsa que havíamos levado e apanhei um
biquíni azul-claro, que eu havia comprado quando soube que iria me mudar
para o Rio, mas que nunca havia tido a oportunidade de usar. Fui para o
banheiro me trocar, o vesti e por cima coloquei uma saída de praia da mesma
cor.
― Pronta, amor?
— Oliver chamou.
― Sim, já estou saindo!
Abri a porta do banheiro e fiquei observando-o por alguns instantes.
Ele vestia um calção preto e sua barriga sarada e seus músculos definidos
estavam expostos para quem quisesse ver, seus cabelos estavam levemente
bagunçados, dando-lhe um ar extremamente sexy.
― O que foi? — Ele me encarou sem entender.
― Nada! É que eu não estou acostumada a te ver sem terno ou jeans.
Oliver deu alguns passos, parando diante de mim. Por alguma razão,
senti meu coração bater mais rápido.
― Essa é a sua maneira de dizer que eu estou sexy? — Ele riu, me
deixando sem jeito.
― Ficou tão óbvio assim? — Sorri de lado.
― Sim, ficou! — Ele retribuiu meu sorriso, colocando as mãos ao
redor da minha cintura e me puxando para mais um beijo. — Você não faz
ideia do quanto está atraente nesse biquíni — ele murmurou por entre meus
lábios, sem interromper nosso beijo.
Momentos depois, Oliver baixou o olhar para minha barriga,
acariciando-a.
― Está tão pequena... — Ele voltou seu olhar para o meu rosto. —
Estou louco para te ver com a barriga bem grande.
― Quando isso acontecer, pode ser que você não me ache mais tão
atraente. Quer dizer, eu vou ganhar peso e...
― Sofia — ele me interrompeu —, eu sempre vou olhar para você,
me sentir atraído, te desejar. Nosso amor vem antes de qualquer coisa,
sempre virá.
― Já disse o quanto você é maravilhoso? — Coloquei os braços ao
redor do seu pescoço e lhe dei alguns selinhos.
― Hoje ainda não. — Trocamos mais alguns beijos e depois fomos
para a praia.
Descemos uma escadaria que dava acesso direto da casa à praia. A
areia estava quentinha sob nossos pés, enquanto caminhávamos de mãos
dadas pela orla.
Talvez por ser domingo, a praia estava lotada. Crianças revelavam o
escultor que havia dentro delas enquanto brincavam na areia, adultos
tomavam banho de mar, enquanto outros preferiam ficar deitados em suas
toalhas em busca do bronzeado perfeito.
― Você se lembrou de passar o protetor solar? — Oliver perguntou.
― Não, acabei me esquecendo! Mas acho que eu o trouxe aqui na
bolsa.
― Deixe que eu o passo para você. — Oliver pegou o protetor solar
de minhas mãos, depois de eu o encontrá-lo na minha bolsa. — Vire-se — ele
pediu e eu fiquei de costas, tirando a saída de praia.
Momentos depois, senti quando suas mãos deslizaram por minhas
costas, aplicando o produto, depois por meus braços, pernas, barriga e rosto.
Suas mãos eram grandes e rápidas e eu me senti bem por ele ser tão
cuidadoso comigo.
― Pronto, bem melhor — ele murmurou, depois de passar o protetor
por todo meu corpo. — Acredite, você não vai querer se queimar.
― Agora que já estou protegida e livre de me tornar um camarão,
vamos para a água? — Coloquei minha bolsa e minha saída na areia. — O
último a chegar até a água é a mulher do padre! — gritei e corri.
Percebi que Oliver pareceu ponderar se deveria ou não bancar o
infantil, antes de finalmente correr atrás de mim. Depois que entrei na água,
foi questão de segundos até que ele me alcançasse.
― Tive medo que você não conhecesse essa brincadeira. — Ri,
minhas mãos em seus ombros, enquanto a água nos cobria até o peito.
― Por favor, falando assim parece até que você acha que os meus
pais me vestiam em um terno quando eu era bebê.
― E não vestiam? — Brinquei e nós dois rimos.
Quando Oliver me encarou, fiquei completamente apaixonada pelo
azul de seus olhos, eles pareciam se mesclar com a água cristalina do mar,
parecendo duas safiras.
― Seus olhos são tão lindos... — sussurrei, acariciando seus cabelos.
― Só meus olhos? — ele murmurou, beijando meu pescoço.
― Sabe que não. Não viu como aquelas mulheres estavam olhando
para você e babando no seu físico perfeito?
― Não, não vi, e sabe por quê? Porque eu só tenho olhos para você,
meu amor! — ele disse, tocando meu rosto e me beijando.
Enquanto nos beijávamos, a água quente do mar nos envolvia, como
se alimentasse a chama da nossa paixão.
― Será que mais tarde eu posso ter você todinha para mim? — ele
perguntou, parando o beijo e colando a testa na minha.
― Hum... só se você me vencer.
― Te vencer?
― Sim, guerra de água! — gritei, jogando água nele, enquanto
tentava me afastar.
― Você me paga, Sofia! — Ele veio atrás de mim, com um largo
sorriso no rosto.
Ficamos um bom tempo na água, brincando como duas crianças,
quando um grupo de amigos nos convidou para jogar vôlei com eles.
Montamos o time das mulheres e o time dos homens e fiquei impressionada
por ver o quanto Oliver podia ser competitivo. Infelizmente, perdemos para
eles por um ponto.
Já passava de uma hora quando fomos para um restaurante que tinha
ali perto e pedimos um peixe assado. O prato estava delicioso e depois de
mais uma volta pela orla voltamos para casa.
Já em casa, depois de tomar um banho e tirar todo aquele sal e areia
do corpo, tivemos algumas preliminares no chuveiro e depois fomos para o
quarto, onde fizemos amor lentamente, saboreando o toque um do outro,
enquanto nos despedíamos daquele dia perfeito, que estava para acabar.
Depois de nos amarmos, Oliver se deitou olhando para mim,
enquanto acariciava meu rosto com o seu polegar:
― Já fazia tempo que eu não me divertia assim — murmurou.
― Eu também.
― Podemos voltar aqui outras vezes, se você quiser.
― Eu vou adorar. — Inclinei-me, beijando-o. Um cheiro doce
exalava de seu corpo.
De repente, comecei a me sentir um pouco enjoada.
― Oli, você trocou de perfume? — Interrompi nosso beijo.
― Não, é o mesmo, por quê? Ele te deixa enjoada?
― Um pouco, mas tudo bem. Eu amo esse perfume, não sei o que
está acontecendo...
― Vai ver o nosso filho não gostou tanto assim.
― Talvez ele só tenha um gosto peculiar. — Sorri. — Ou esteja
irritado por você ter roubado mais cedo no vôlei!
― Ei, nós não roubamos! Vocês mulheres que não jogaram tão bem
assim!
― Nós perdemos por um ponto! — protestei.
― De qualquer forma, perderam!
Eu me virei, saindo da cama.
― Às vezes você é um chato, Oli! — Joguei meu travesseiro nele,
enquanto ele apenas ria.
Apanhei uma camisa dele e a vesti sob seu olhar atento. Deixei-o ali
no quarto e caminhei até a cozinha para preparar um lanche para nós dois.
Em mais ou menos uma hora um táxi viria nos buscar para nos levar até o
aeroporto, para que pudéssemos voltar para o Rio.
Parei de repente quando avistei uma caixinha dourada e um buquê de
rosas vermelhas sobre a mesa. Meu coração começou a pulsar mais rápido
enquanto me aproximava da mesa. Apanhei o buquê de rosas e percebi que
nele havia um cartão. Abri e um sorriso bobo surgiu no meu rosto quando vi
que a letra cursiva, perfeita, no cartão, era de Oliver:

Querida Sofia,

Já faz algum tempo que eu venho pensando em como te pedir isso.


Não sei se você percebeu, mas eu não sou muito bom com as palavras.
Depois que te perdi, percebi o quanto meu mundo é vazio e o quanto
eu sou infeliz sem você. Agora que estamos juntos, espero nunca mais te
perder.
Espero que o nosso dia em Búzios influencie na sua decisão.
Com amor,

Oli.

Prestes a ter um ataque cardíaco, coloquei o buquê de novo sobre a


mesa e apanhei a caixinha dourada. Quando a abri, levei minha mão à minha
boca em completa surpresa. Dentro dela havia duas alianças douradas.
Pelo canto do olho, vi quando Oliver surgiu na cozinha apenas de
jeans. Havia um sorriso de contentamento em seu rosto.
― Oliver... — As palavras simplesmente não saíram.
― Eu te amo Sofia e sei também que você é a mulher da minha vida,
a mulher perfeita para ser a mãe dos meus filhos, para ser a minha esposa. —
Ele segurou minha mão. — Eu quase enlouqueci no último mês e se eu te
perder outras vez não sei se vou suportar. — Então, como que para acabar de
vez com meu emocional, Oliver se ajoelhou na minha frente. — Quer se
casar comigo?
Ouvir aquelas palavras fez com que tudo que estava acontecendo ali
parecesse um sonho. Eu me abaixei também, ficando na mesma altura que
ele.
― Sim, sim, sim! — respondi em êxtase, enquanto lágrimas me
saltavam dos olhos e rolavam por meu rosto.
Oliver tirou as alianças da caixinha, me entregou uma e eu a
coloquei em seu dedo, depois ele fez o mesmo comigo.
― Prometo te fazer muito feliz — ele murmurou, secando minhas
lágrimas com as costas da mão.
― Você já me faz feliz, Oliver! — Pulei em seu colo, abraçando-o
com força e beijando-o.
O homem que eu mais amava no mundo havia me pedido em
casamento. O que mais eu poderia querer? Foi o final perfeito, para um dia
perfeito.

CAPÍTULO 16 – VANESSA

Brian e eu havíamos combinado passar o domingo juntos, mas infelizmente


meus pais cancelaram a viagem que iriam fazer em cima da hora. Por causa
disso, tivemos que ir para o seu apartamento. Em todo esse tempo juntos, era
a primeira vez que Brian me levava até lá.
― Uau, estou impressionada com o quanto você é organizado! — eu
disse, olhando para a sala e para a cozinha, pois tudo parecia estar em seu
devido lugar.
― Eu sei. — Ele sorriu e se aproximou, me colocando contra a
parede. — Quer conhecer o meu quarto? — Ele mordeu meu lábio inferior,
me encarando, sarcástico.
― Eu iria adorar, Brian — encarei-o, apaixonada.
Como eu já previa, assim que entramos em seu quarto ele me jogou
na cama e, mesmo antes de me despir, conseguiu me levar à loucura. Eu já
havia me acostumado com o tipo de homem que Brian era. Ele não fazia o
tipo romântico, muito menos o bonzinho, mesmo assim, eu o amava.
― Oh, Brian! — gemi seu nome baixinho e ele apertou meu braço
com um pouco mais de força.
― Calada, querida — ele rosnou, continuando com seus
movimentos.
Meu braço doía, mesmo depois de ele já tê-lo soltado. Na hora do
sexo ele era violento e preciso, mas eu sabia que esse era um instinto natural,
que ele não podia controlar. Então, simplesmente não o culpava por ser
assim. Depois de chegar ao ápice, Brian se deitou ao meu lado, olhando para
cima. Inclinei-me e deitei a cabeça em seu peito.
― Eu te amo — sussurrei, mas ele não me redigiu uma palavra
sequer.
Eu me senti uma idiota naquele instante. Sabia que ele não gostava
de falar sobre seus sentimentos e, mesmo que me amasse, não diria. De
repente, algo inédito aconteceu: Brian deslizou uma das mãos por minhas
costas nuas e seus olhos verdes me encararam fervorosos:
― Também gosto de você — ele murmurou.
Meu coração se alegrou ao ouvir aquilo. Após meses juntos, era a
primeira vez que Brian dizia que gostava de mim. Minha única reação foi
beijá-lo.
― Te machuquei? — ele perguntou por entre meus lábios.
Dessa vez seus olhos verdes me encararam preocupados e ele
levantou meu braço, analisando-o. Havia uma mancha roxa em ambos, mas
nada com o que se preocupar.
― Não, tudo bem. — Segurei seu rosto em minhas mãos, sorrindo.
Eu tinha esperança de que Brian mudasse e, aos poucos, isso parecia estar
acontecendo.
― Eu não consigo controlar... — Ele tentou se explicar, mas eu o
interrompi.
― Eu sei.
― A dor me excita, Vanessa — ele disse, beijando meu pescoço. —
Não excita você também? — Ele espalmou a mão em minhas coxas com
força e eu arfei. Eu gostava daquilo. Eu gostava dele.
― Sim — respondi, me sentindo ainda mais apaixonada por ele.
― É por isso que nós dois combinamos tão bem. — Ele me encarou.
― Brian, o que você acha de nós dois saímos para jantar? — pedi.
Nós dois quase não fazíamos nada juntos.
― Jantar? Hoje?
― É, hoje é domingo e eu pensei que...
― Não vai dar, tenho muito trabalho para fazer...
― Tudo bem, podemos marcar para algum outro dia. — Forcei um
sorriso. Por dentro, estava decepcionada.
― Ótimo! Vou tomar um banho. — Brian saltou da cama. Fiquei
encantada com seu físico perfeito, enquanto ele ia até o banheiro.
Saí da cama também e me enrolei no lençol, começando a andar pelo
quarto. Abri seu guarda-roupas e vi suas roupas devidamente passadas e
guardadas. Peguei uma das camisas e a levei até o meu nariz. Ele cheirava tão
bem...
Na parte mais alta do guarda-roupas, vi uma maleta. Peguei-a e
minha curiosidade falou mais alto. Fiquei tentada a ver o que tinha dentro.
Por sorte, ela não estava trancada com senha e, quando a abri, vi vários
recortes de jornais falando sobre o acidente que havia matado Estevan e
Elena Beaumont, seus pais.
Havia várias fotos do carro, que havia ficado completamente
destroçado, seu estado mostrava que não existiam condições mínimas de
sobrevivência. Havia também várias notícias sobre Oliver e sobre ele ter
assumido o lugar do pai na Advocacia. Fiquei horrorizada com tudo aquilo,
era muito conteúdo. Por que Brian guardaria essas coisas? Qualquer outra
pessoa odiaria ficar olhando para essas notícias e ser levada a recordar a
fatalidade que havia ocorrido.
― Ei, o que você está fazendo? — Não havia visto Brian sair do
banho. Ele estava enrolado em uma toalha e seus olhos verdes me fitavam em
fúria.
― Desculpe, eu... eu estava dando uma olhada nas suas roupas e
acabei encontrando isso...
― Eu odeio que mexam nas minhas coisas, Vanessa! — ele
esbravejou, se aproximando e me empurrando para longe, voltando a guardar
todos os recortes de volta na maleta.
― Me desculpe, Brian, eu... eu não quis te irritar — eu disse com
lágrimas nos olhos.
― Você não deveria ter mexido nisso — ele suspirou, abaixando a
cabeça.
― Por que você guarda tudo isso? — Senti necessidade de
perguntar, mesmo receosa.
― Para nunca me esquecer — ele respondeu, voltando o olhar para
mim. — Para sempre recordar o meu pai e a minha mãe, e nunca me esquecer
da fatalidade que aconteceu naquele dia, nunca me esquecer do acidente que
lhes custou suas vidas!
― Eu sinto muito, Brian. — Aproximei-me, tocando seu braço. —
Me perdoa?
― Tudo bem, você não sabia, só não volte a mexer nas minhas
coisas. — Ele se voltou para mim, segurando meu rosto em suas mãos.
― Não voltarei. — Engoli em seco.
― Eu tenho uma novidade... — ele disse em um sorriso.
― Uma novidade? — perguntei, sentindo meu coração bater mais
rápido.
― Estou a um passo de ser o novo presidente da Advocacia
Beaumont! — ele disse, animado.
― Mas, o Oliver não é o presidente?
― Se tudo acontecer conforme o planejado, em breve não será mais.
Fiquei em silêncio por um instante, tentando digerir tudo aquilo. O
fato de Brian querer tomar o lugar do irmão na presidência da empresa não
me parecia correto.
― Não está feliz por mim? — Ele me encarou, sério.
― Brian, eu não acho que o que você está fazendo seja certo...
― Eu estou tentando salvar a empresa do meu pai da mente pequena
do Oliver! Você deveria me apoiar! — Ele segurou meu braço com força.
― Brian, você está me machucando — murmurei e ele me empurrou
em direção à cama.
― Eu pensei que você me amava, Vanessa.
Era óbvio o quanto ele estava desapontado comigo.
― E amo Brian, mas eu não acho que esteja sendo justo com o seu
irmão...
― Você sempre disse que eu deveria participar mais das atividades
da empresa!
― Sim, eu disse, mas não assim, Brian!
― Por favor, vá embora — ele disse de cabeça baixa.
Levantei-me da cama e fui até ele, tocando seu tórax:
― Brian...
― Eu disse para você ir embora! — ele gritou, me encarando
furioso.
Com lágrimas nos olhos peguei minhas coisas e saí de seu
apartamento às pressas. Peguei o elevador e, enquanto esperava, desatei a
chorar. Por que o Brian tinha que ser tão complicado? Será que era muito
pedir um namorado que fosse carinhoso e romântico, como o Oliver era com
a Sofia? Olhei para as manchas roxas em meus braços e senti raiva de mim
mesma. A quem eu estava querendo enganar? Brian não estava mudando,
muito menos mudaria tão rápido assim. Ele sentia prazer em me ferir, o que
era contraditório, já que, quando se ama, a última coisa que você quer fazer é
ferir a pessoa amada.
Por mais que eu tivesse tentado esconder, Sofia estava certa quando
disse que ele havia me estrangulado. Aconteceu apenas uma vez, quando o
contrariei, mas depois ele me pediu desculpas. Como aquilo nunca mais
voltou a acontecer, achei que seria melhor esquecer aquele episódio. Pelo
menos até agora.
Por mais que eu amasse Brian e achasse que ainda poderia existir
alguma esperança para ele, eu não poderia deixar que ele prejudicasse o
irmão. Eu conhecia Oliver muito pouco, mas sabia que ele era um bom
homem, que era apaixonado por minha amiga e que seria o pai do filho dela.
Chamei um táxi e pedi que ele me levasse até a casa de Sofia. Sabia
que ela me ajudaria a encontrar um meio de avisar a Oliver sobre o plano de
Brian.

CAPÍTULO 17 – SOFIA

Quando Oliver e eu chegamos ao Rio já passava das sete horas da noite.


Depois de chamar um táxi no aeroporto, ele me acompanhou até em casa.
Preparei uma comidinha rápida para nós dois e depois fomos para o
meu quarto. Deitamos em minha cama e ficamos conversando sobre assuntos
aleatórios, aproveitando nossos últimos minutos juntos, antes de ele voltar
para casa.
Estava deitada em seu peito, relembrando cada detalhe daquele
domingo perfeito, enquanto ele afagava lentamente meus cabelos.
― Cansada? — ele murmurou, seus olhos azuis me encarando
atenciosos.
― Acho que melancólica seria a palavra certa. — Olhei-o sorrindo.
― Também estou me sentindo assim, o dia de hoje foi tão bom. —
Ele acariciou meu rosto.
― Ainda não acredito que você me pediu em casamento... —
sussurrei, olhando-o apaixonada. — Oli, se for porque eu estou grávida...
― Por favor, Sofia! — ele me interrompeu, rindo. — Não é porque
você está grávida, não é isso. Já faz muito tempo que eu venho ponderando
sobre a possibilidade de me casar novamente e acho que chegou a hora, você
é a pessoa certa pra mim, disso eu não tenho dúvidas.
― Você diz coisas tão bonitas, que às vezes me faltam palavras...
― Palavras podem ser substituídas por beijos — ele disse, ficando
sobre mim.
― Podem? Como? — perguntei, sentindo meu coração pulsar mais
rápido.
― Assim...
Oliver colocou as mãos em meu quadril e roçou os lábios nos meus
algumas vezes, antes de finalmente me beijar. Ele era tão sedutor e
envolvente, que cada beijo que ele me dava, me remetia de volta ao primeiro.
Depois de me beijar, seus olhos azuis se abriram lentamente, eles brilhavam
intensamente, enquanto me olhavam apaixonados.
― Meus pais sabem que eu estou grávida — murmurei, levando as
mãos ao seu peito.
― Como eles reagiram? — Ele acariciou meu rosto, me olhando
atentamente.
― No começo, acho que eles quiseram me matar, mas minha irmã
conversou com eles e eles ficaram um pouco mais calmos. — Encarei Oliver
com uma tristeza imensa no olhar. — Eles me pediram para largar a
faculdade e voltar para casa.
― Não vou deixar que faça isso. — Oliver me encarou sério. —
Psicologia é o seu sonho! E eu quero que se forme. — Ele fez uma pausa. —
Não estou dizendo que vai ser fácil, ter um filho exige uma responsabilidade
enorme, mas eu vou estar do seu lado para o que precisar, cumprindo com o
meu papel de pai e marido. Eu te amo demais para te deixar ir para tão longe
de mim.
― Eu também não quero ir, nem largar tudo o que tenho aqui, nem
você para trás, mas eles estão tão preocupados...
― Eles não me conhecem, não sabem o tipo de homem que sou, é
normal que fiquem preocupados com você, eles são seus pais. — Oliver se
esquivou para o lado, apoiando-se sobre o cotovelo para me encarar. — Eu
vou falar com eles, tenho certeza de que eles vão entender. Além disso, acho
que passou da hora de eu pedir sua mão a eles oficialmente.
― Você é o melhor homem que eu conheço, Oli! — abracei-o.
― Não sou o melhor, mas tento ser o melhor para você. — Ele
retribuiu o meu abraço.
Infelizmente, na manhã seguinte eu tinha que ir para a faculdade.
Ele, como um CEO lutando para se manter no seu cargo, não poderia se dar
ao luxo de chegar atrasado na Advocacia.
Fomos para a sala e trocamos carícias, enquanto esperávamos o táxi
que viria buscá-lo chegar.
Depois que Oliver foi embora, fui para a cozinha tomar um pouco de
água, quando ouvi alguém bater com violência na porta. Quase me engasguei
com o susto, pensando que poderia ser alguém tentando invadir a minha casa,
mas, quando olhei pela janela, fiquei aliviada em ver que era Vanessa.
― Vanessa? — Encarei-a, surpresa, depois de abrir a porta.
― Graças a Deus você está em casa, Sofia! — Ela parecia nervosa.
― Calma Vanessa! O que aconteceu?
― É o Brian! Ele está planejando tomar o lugar do Oliver na
presidência da empresa!
Convidei-a para entrar e pedi que ela se sentasse. Depois de tomar
um pouco de água com açúcar, ela se acalmou.
― Como você ficou sabendo? — ela perguntou, depois de eu lhe
contar que já sabia o que Brian estava planejando fazer.
― Oliver me contou.
― Espera, vocês dois...
― Sim, nós voltamos — completei sua fala.
― Isso é ótimo, Sofia! — ela respondeu, animada.
― Contar a Oliver sobre Denise foi a melhor coisa que fiz.
― Já estava passando da hora! Você não podia deixar que aquela
piranha continuasse a mandar e a desmandar na sua vida! Como o Oliver
reagiu?
― Por incrível que pareça, bem. Lógico que ele está sentindo um
ódio imenso da Denise, mas, quando lhe contei que estou grávida, ele foi tão
atencioso comigo... Tive medo de que duvidasse de mim, mas não foi isso
que aconteceu. — Sorri, sabendo o quanto tinha sorte por ter alguém como
ele. — Ele já me fez fazer um pré-natal para saber como está o bebê e hoje
passamos o dia todo em Búzios, onde ele me pediu em casamento. — Encarei
minha amiga, incapaz de conter minha felicidade.
― Você e o Oliver vão se casar? — Ela me encarou, sem acreditar.
― Sim!
― Parabéns Sofia, vocês dois merecem ser felizes!
Ela segurou minhas mãos, me olhando com um grande sorriso, mas
logo depois notei quando sua expressão se tornou triste.
― Ei, o que foi?
― Não é nada, é que às vezes eu queria que o Brian fosse assim
comigo... — Sua voz estava embargada e era como se ela estivesse prestes a
desabar em lágrimas.
― Vanessa, sempre que nós duas falamos sobre o Brian nós
acabamos brigando e eu não quero isso. Eu sinto sua falta, sinto falta da
nossa amizade.
― Eu também, Sofi.
― Por que você não larga esse cara? Não vê o que ele está fazendo
com o próprio irmão? O que ele faz com você? — eu disse e ela percebeu que
eu estava me referindo às manchas roxas em seus braços.
― O Brian só precisa de ajuda, de alguém que o ame...
― Isso é o que você pensa, Vanessa! Esse cara é um mau-caráter, do
tipo que não ama ninguém! — eu disse ríspida. Sabia que era difícil, mas ela
precisava ouvir a verdade.
― Não, não é! Ontem mesmo eu encontrei uma maleta onde ele
guarda vários recortes sobre o acidente que tirou a vida dos pais dele...
― Por que ele guardaria isso? — perguntei, chocada.
― Quando eu perguntei o porquê de ele guardar aquilo, ele me disse
que era para lembrar... — Lágrimas correram pelo seu rosto. — Ele guardou
aquilo para lembrar da dor, da angústia e da solidão que ele sentiu, Sofia! Já
parou para pensar o quanto deve ter sido difícil para ele?
― Sim, já parei, e assim como você fiquei pensando em como tudo
havia sido difícil para o Oliver, era para ele estar no carro com os pais.
― Mas para o Brian era diferente. Quer dizer, a mãe dele era
alcoólatra e o abandonou quando ele era pequeno, ele veio morar com o pai,
com o qual não tinha contato algum e com a madrasta, que, apesar de ser boa,
sempre dava mais atenção para o Oliver, que era bebê. Imagine como foi
difícil para ele se adaptar! — A forma como Vanessa falava me fez pensar
que ela sentia as mesmas emoções que Brian havia sentido naquela época.
― Ele te disse isso? — Encarei-a atentamente.
― Não precisou. — Ela se levantou do sofá pegando a bolsa. —
Fico feliz que esteja tudo bem com você, com o Oliver e com o bebê. — Ela
me olhou sem jeito. — Eu sei que tivemos uma fase ruim, mas ainda estou
convidada para o seu casamento ou vou ser barrada por seguranças fortões na
frente da igreja?
Eu me levantei, rindo. Quando nos conhecemos e nos tornamos
amigas, combinamos que uma seria a madrinha de casamento da outra,
independentemente do tempo que levasse.
― E perder a melhor madrinha de casamento de todas? De forma
alguma! — Abracei-a e ela retribuiu meu abraço com força. Tinha sentido
falta daquilo. — Eu ainda acho que você merece alguém melhor do que o
Brian — sussurrei e ela se afastou, me olhando.
― Obrigada por se preocupar comigo. — Ela apertou minha mão
com força. — Nos vemos no colégio amanhã?
― Claro!
Ela me deu um sorriso fraco e depois foi embora.
Naquela noite, deitada em minha cama, não consegui deixar de
pensar no quanto o fato de Brian guardar recortes sobre o acidente que havia
tirado a vida de seus pais era estranho. Quer dizer, quando queremos lembrar
de um ente querido que já se foi, procuramos olhar fotos em que eles estejam
felizes e que tragam à tona a recordação de bons momentos, mas não as que
recordem uma tragédia.
O relacionamento com Vanessa provava que ele era violento e o
golpe que ele estava planejando dar em Oliver, seu próprio irmão, também
provava que ele não tinha caráter algum e que era ambicioso... E se ele...
Céus, aquilo era horrível! Eu me sentei na cama, assustada com meus
próprios pensamentos. Brian não teria sido capaz de provocar a morte dos
próprios pais, teria? Ele podia não ser um bom homem, mas não era um
assassino, era?
Peguei meu notebook, minhas mãos tremiam e meu coração parecia
querer saltar do peito. Abri várias abas no Google e comecei a procurar todo
tipo de informação que pudesse encontrar sobre o acidente que havia tirado a
vida do senhor e da senhora Beaumont. Meus olhos se encheram de lágrimas
quando vi o estado deplorável em que o carro deles havia ficado e foi horrível
imaginar que era para Oliver também estar ali. Li todas as notícias possíveis
sobre o caso e todas sempre falavam a mesma coisa. Alguns jornais
conseguiram entrevistar amigos próximos, como Estella, que lamentaram
aquela tragédia que havia tirado a vida de um dos advogados mais admirados
do Brasil e do mundo e de sua esposa, mas nenhuma das entrevistas ou
informações traziam informações que de fato esclarecessem a causa do
acidente. Com aquela hipótese maluca martelando a minha cabeça, peguei o
telefone e liguei para Ryan. Sabia que ele poderia me ajudar.
― Alô?
― Oi Ryan! Tudo bem?
― Estou bem e você?
― Bem. Você está ocupado?
― Estou em uma ronda agora, por quê?
― Preciso da sua ajuda.
― Claro! o que posso fazer por você?
― Será que você poderia me ajudar a conseguir algumas
informações sobre um acidente de carro que aconteceu há treze anos e
vitimou duas pessoas? — O celular silenciou do outro lado da linha e eu
cheguei a pensar que ele tivesse encerrado a ligação. — Ryan? — Chamei
seu nome, sentindo uma angústia crescente dentro de mim.
― Vou ver o que posso fazer — ele disse após alguns segundos. —
De que caso exatamente estamos falando?
― Do acidente de carro que tirou a vida de Estevan e Elena
Beaumont, os pais de Oliver.

CAPÍTULO 18 –OLIVER

Acordei pontualmente às cinco e meia da manhã. Fiquei por alguns


segundos deitado, pensando no que iria fazer, o dia de hoje seria difícil.
Ontem à noite, depois de deixar Sofia em casa, meu amigo Bruno
me telefonou, dizendo que Brian havia marcado uma reunião de última hora
com todos os acionistas na segunda-feira e que eu não poderia faltar.
Saí da cama e tomei uma ducha rápida, depois voltei para o quarto e
coloquei um terno preto e uma gravata vermelha. Apesar de tudo aquilo ser
exaustivo, eu não poderia desistir, aquela empresa era importante demais para
mim e eu não deixaria que Brian manchasse a memória do nosso pai.
Peguei uma maleta no escritório e caminhei até a cozinha, onde
encontrei meus filhos sentados à mesa, tomando café da manhã.
― Bom-dia pai! — eles disseram.
― Bom-dia — respondi, afagando a cabeça de cada um.
― O café já está quase pronto, senhor Oliver — dona Ana anunciou,
enquanto eu me juntava à mesa.
― Tudo bem.
― Pai, onde o senhor estava quando nós chegamos em casa ontem?
— Estevan perguntou inocente, enquanto passava um pouco de manteiga no
pão.
Elena também voltou seu olhar curioso para mim e, por alguns
instantes, ponderei se deveria contar a eles que Sofia e eu estávamos juntos
de novo. Por fim, achei que eles deveriam saber:
― Estava com a Sofia — respondi e os olhos dos dois se
arregalaram para mim.
― Vocês estão namorando, papai? — Elena perguntou empolgada.
― Estamos, filha.
― Isso é ótimo, pai! — Estevan disse, animado.
― É sim.
― Ela vai voltar a ser nossa babá? — Elena perguntou, esperançosa.
― Não querida.
― Por que não?
― Não acho que seja preciso, já que ela vai ter muito tempo para
cuidar de vocês dois quando nos casarmos.
― Vocês vão se casar? — Estevan perguntou e por um momento
notei um resquício de tristeza em seu olhar.
― Sim e espero que isso não incomode vocês dois.
― Não, tudo bem, a Sofia é uma garota legal, mas... — Quando
Estevan não conseguiu continuar, soube exatamente o que ele sentia.
― Eu sei que você tinha esperanças de que eu voltasse com a sua
mãe, mas o nosso relacionamento acabou, filho. Espero que entenda isso —
tentei explicar.
― Sim, eu entendo, só quero que o senhor seja feliz. — Ele me
lançou um sorriso fraco.
― Estevan disse que o senhor é menos rabugento quando está com
ela — Elena entregou o irmão e eu ri.
― Ei, isso não é verdade! — retruquei.
― Há! É sim, pai! — Estevan riu.
― Vocês dois não têm que ir para o colégio? Ariovaldo já está
esperando — dona Ana lembrou.
Os dois reviraram os olhos antes de se levantarem, pegando suas
mochilas e se despedindo de mim com um abraço.
― Papai? — Elena parou na porta da cozinha, enquanto o irmão ia
na frente.
― Sim?
― Vai ser legal ter a Sofia como mãe.
Ela me lançou um sorriso sincero, que somente as crianças tinham, e
depois correu para alcançar o irmão. Aquilo me comoveu profundamente e eu
soube que estava fazendo a coisa certa.
― Fico feliz que tenha voltado com a Sofia, senhor — dona Ana
mencionou.
― Eu também, Ana — respondi com um sorriso. — Tem uma outra
coisa que não contei aos meus filhos...
― O que, senhor?
― Sofia está grávida.
Dona Ana levou as mãos ao rosto, surpresa.
― Isso é maravilhoso, senhor!
Como Elena, soube que sua felicidade também era verdadeira. Ana
havia me conhecido ainda na adolescência, havia me ajudado a criar meus
filhos e eu sabia que torcia por mim.
― Eu sei, estou tão feliz...
― E eu não sei? —Ela sorriu. — Nunca vi o senhor tão apaixonado
antes.
E era verdade. Apesar de eu ter amado Denise, no tempo em que
fomos casados aquele sentimento não chegava aos pés do que eu sentia por
Sofia. Com ela tudo era mais real, mais sincero. Quando estávamos juntos,
ela não se preocupava em manter as aparências e fingir ser alguém que não
era, ela simplesmente era ela e havia sido essa simplicidade que havia me
conquistado.
― Será que a senhora pode ir ao mercado hoje e fazer uma compra
para ela? Preciso ter certeza de que ela está se alimentando bem.
― Claro que posso, senhor — ela respondeu com um sorriso.
Depois de sair de casa, entrei no carro e dirigi até a Advocacia.
Quando entrei na agência, senti o olhar dos funcionários sobre mim. Era
óbvio que todos já sabiam o que estava acontecendo.
― Senhor Oliver, seu irmão e todos os acionistas já estão na sala de
reunião aguardando — minha secretária disse.
― Obrigado, Luiza.
Caminhei até a sala de reuniões e encontrei os vinte principais
acionistas da empresa sentados ao redor da mesa, inclusive Brian.
Cumprimentei todos e me sentei na outra ponta, de frente para o meu irmão.
― Já que estão todos aqui, podemos começar? — Brian perguntou e
todos os presentes voltaram sua atenção para ele. — Como candidato à
presidência, gostaria de explicar o que gostaria de fazer caso seja eleito. —
Ele se levantou, de modo que pudesse encarar a todos. — Acredito que as
intenções que o meu pai tinha no início, quando fundou esta empresa, eram as
mais puras possíveis e isso é louvável. Apesar de meu irmão ter feito um
ótimo trabalho nos últimos anos — ele apontou para mim, enquanto andava
ao redor da mesa —, acredito que, se expandirmos os nossos serviços, não
apenas para um público x, como já fazemos, conseguiremos em pouco tempo
quadriplicar o valor da empresa, além de adquirir novos clientes.
― Mas isso vai totalmente contra a nossa política, Brian! — Um dos
acionistas se manifestou.
― Sim, e é isso que estou propondo! Chega de se apegar a valores
antigos e ultrapassados, pensem nos lucros que vamos obter! O que estou
oferecendo aqui, meus amigos, é algo único.
Todos ficaram em silêncio, ponderando sobre a proposta de meu
irmão. Baixei a cabeça em silêncio, pensando se eles deixariam que a
ganância falasse mais alto do que a razão.
Com um sorriso sorrateiro nos lábios, Brian caminhou de volta para
o seu lugar.
― Como presidente, o que você tem a dizer sobre isso, Oliver? —
Um outro acionista perguntou e todos voltaram seus olhares para mim. Sabia
que o que dissesse a eles naquele momento seria decisivo na hora da votação.
Levantei-me, encarando a todos.
― Meu pai fundou esta empresa porque amava sua profissão e
porque acreditava que a justiça poderia realmente ser feita. Ele acreditava
nisso. Nós temos os melhores advogados do país e fizemos esta empresa
crescer, apenas defendendo e ajudando pessoas honestas a ganharem suas
causas, não defendendo políticos corruptos, como meu irmão está propondo.
— Encarei Brian, que mantinha a expressão serena. — Como meu pai, eu
acredito na justiça e acredito que podemos subir na vida sendo justos e
corretos. — Tirei minhas mãos que antes estavam apoiadas na mesa e as
coloquei nos bolsos da minha calça. — Peço apenas que me ajudem a provar
que meu pai não estava errado, que eu não estou errado.
― A votação para a escolha do presidente será no próximo sábado.
Esta reunião está encerrada — Bruno anunciou. Todos os acionistas se
levantaram e logo a sala estava vazia.
― Belo discurso, irmão. — Brian se aproximou, sorrateiro. —
Nosso pai ficaria orgulhoso. — Um sorriso irônico escapulia de seus lábios.
― Por que você está fazendo tudo isso? — Encarei-o, me sentindo
desapontado por somente agora estar conhecendo a face verdadeira do meu
irmão.
― Porque eu cansei de viver nas sombras, quero mostrar a todos do
que eu sou capaz.
― Destruindo a empresa da nossa família?
― Se for para conseguir o que quero... — Ele riu. — Mas vou deixar
que entenda como quiser. — Ele se virou, me dando as costas.
― Não se preocupe Oliver, os acionistas farão uma reunião entre si
antes do sábado, nada está definido ainda. — Bruno se aproximou, tocando
meu ombro.
― Tudo bem, Bruno, acho que nós dois já sabemos qual será a
decisão deles.
Lancei um sorriso fraco para meu amigo e me dirigi à minha sala.
Sentei-me diante da minha mesa, convencido de que seria quase impossível
vencer Brian. Sabia que, se tratando de dinheiro, as pessoas eram gananciosas
e era isso que ele estava propondo a eles: dinheiro. Pensei no quanto havia
lutado por aquela empresa, no quanto havíamos crescido nos últimos anos e
as conquistas e progressos que havíamos feito. Tudo teria sido em vão se
Brian vencesse.
Melancólico, peguei meu celular e disquei o número da única pessoa
que conseguiria me animar.
― Oi, Oliver! — Fechei meus olhos, ao ouvir a voz suave de Sofia
do outro lado da linha.
― Oi — respondi, tristonho. — Já saiu da faculdade?
― Já sim. Ei, que voz é essa? — Era incrível como ela era capaz de
perceber quando algo estava errado comigo.
― A reunião com os acionistas foi um desastre — mencionei.
― Você está bem? — Ela perguntou, atenciosa.
― Na medida do possível.
― Quer conversar sobre isso?
― Eu adoraria. Podemos nos encontrar hoje à noite?
― Claro, esperarei por você.
― Tudo bem, então.
― Oli, não se esqueça que eu te amo.
― Também te amo. — Sorri, me sentindo um pouco melhor.
Desligamos e eu tentei prosseguir com o meu trabalho normalmente.
Por mais que não estivesse tão confiante, iria continuar lutando até o fim.
Aquela empresa não podia cair nas mãos do Brian, eu não podia deixar, mas,
infelizmente, não cabia a mim decidir isso.

CAPÍTULO 19 – SOFIA

Depois de falar com Oliver, encerrei a ligação e encarei Ryan, que estava
sentado diante de mim. Nós nos encontramos na saída da faculdade e, para
podermos conversar com mais tranquilidade, fomos até uma lanchonete que
tinha ali perto.
― Desculpe, mas eu precisava atender, Oliver está com alguns
problemas na empresa. — Desculpei-me por fazê-lo esperar.
― Tudo bem, fico feliz em saber que vocês dois voltaram — Ryan
mencionou.
― Você descobriu alguma coisa sobre o acidente de carro que tirou
a vida dos pais dele? — perguntei, em um misto de curiosidade e medo.
Ryan se remexeu em sua cadeira, me olhando atentamente.
― Oliver sabe que você está fazendo isso?
― Não e nem pode.
― Sofia, você sabe ou está suspeitando de algo? Porque se estiver,
você precisa me contar! Isso é trabalho para a polícia, não quero que se meta
em encrenca.
― Se soubesse, você seria o primeiro a saber — respondi.
― Então, por que tanto interesse nesse caso?
Respirei fundo, Ryan conseguia ser bastante insistente quando
queria.
― Pesquisei várias notícias sobre o acidente e nenhuma disse qual
foi a verdadeira causa. Eu só queria saber como tudo aconteceu. — Sabia que
a minha resposta não era convincente o suficiente, mas Ryan cedeu.
― Infelizmente, eu não tenho acesso aos casos arquivados, mas por
sorte um amigo na promotoria me devia um favor. — Ryan me entregou
alguns papeis, eram xerox do laudo do acidente. — Não existiam marcas de
freio na estrada, o que a princípio nos fez pensar que o carro poderia estar
sem freio ou algo assim, mas, por estarem viajando de madrugada, acabamos
concluindo que o senhor Estevan Beaumont deve ter dormido ao volante,
perdido o controle e capotado o carro.
― Não existe mais nada sobre o acidente? — Encarei-o.
― Sinto muito, Sofia, mas isso foi tudo o que eu consegui.
Passei as folhas, olhando uma por uma, tentando entender o que
havia acontecido. Por algum motivo, eu não conseguia aceitar que o acidente
havia acontecido porque o pai de Oliver teria dormido ao volante. Na última
folha, porém, vi que começaram uma nova perícia sobre o acidente um mês
depois.
― E isso? — Mostrei a folha para Ryan.
― Um mês após o acidente os peritos notaram que o freio do carro
estava cortado. Começaram uma investigação sobre isso, mas logo a
arquivaram, já que concluíram que isso poderia ter acontecido durante a
capotagem, eles não tinham como saber.
Senti meu coração bater mais forte:
― Então, você acha que alguém pode ter atentado contra a vida dos
pais dele? — Minha voz estava falha quando perguntei.
― Toda a perícia indica que não. — Ele estendeu a mão sobre a
mesa, segurando a minha. — Sei que está escondendo alguma coisa de mim,
mas, seja lá o que for, esqueça, está bem? — Ele se levantou a cadeira. — Eu
tenho que voltar para a minha ronda agora.
― Obrigada, Ryan. — Nós nos abraçamos.
― Não vá se meter em encrenca. — Ele beijou o topo da minha
cabeça.
― Não vou. — Despedi-me dele com um sorriso, enquanto ele
voltava para a viatura.
No caminho de volta para casa não consegui parar de pensar no
quanto tudo aquilo era estranho. Por alguma razão, eu simplesmente não
conseguia aceitar os fatos.
Horas depois de chegar em casa, Ariovaldo trouxe para mim uma
compra do supermercado, a pedido de Oliver. Havia várias frutas e verduras e
eu ri, tendo noção do quanto Oliver se preocupava com o meu bem-estar e do
nosso filho. Aproveitei que tinha todos os ingredientes de que precisava e
preparei uma lasanha de molho branco, para que pudéssemos jantar juntos.
Por volta das sete horas coloquei a lasanha no forno e fui tomar um
banho. Sabia o quanto Oliver estava mal e queria fazer de tudo para alegrá-lo
pelo menos um pouco.
Depois de passar hidratante por todo o corpo, coloquei um short
jeans um pouco curto e uma blusa em estampa floral. Fiz uma maquiagem
leve, dando um pouco mais de destaque aos olhos, deixei meus longos
cabelos castanhos soltos, tudo porque queria parecer mais bonita para ele.
Já passava das sete e meia quando vi uma BMW preta estacionar na
frente da minha casa. Corri até a sala e, quando abri a porta, vi Oliver parado
diante dela. Ele vestia jeans, camiseta cinza, uma jaqueta de couro preta e
tênis brancos, em sua mão direita trazia um caixa em formato de coração.
― Trouxe chocolate. — Ele levantou a caixa para mim e um sorriso
fraco surgiu em seus lábios.
Meu único instinto foi abraçá-lo forte e logo senti suas mãos
envolvendo meu corpo.
― Você está bem? — Levantei o olhar para ele.
― Vou ficar. — Ele acariciou meu rosto.
Peguei a mão de Oliver e o conduzi até o sofá, onde ele me contou
cada detalhe da reunião que havia tido mais cedo com Brian e seus acionistas.
― Parece que eu não reconheço mais o meu próprio irmão — ele se
queixou. — Se eu perder aquela empresa...
― Você não vai! — interrompi. — Essas pessoas te conhecem há
anos, Oliver, sabem do que você é capaz!
― Mas elas também são gananciosas, Sofia. — Ele me encarou,
derrotado.
― Quando será essa votação?
― No sábado.
― Eu acredito em você — murmurei e ele sorriu.
― Depois de hoje, tudo o que eu precisava era te ver. — Seus olhos
encararam os meus desesperados, segurando meu rosto em suas mãos.
Lentamente ele aproximou o rosto do meu, me beijando ternamente
nos lábios. Os beijos foram ficando mais excitantes e eu me movi para o colo
de Oliver, me sentando de frente para ele. Suas mãos estavam firmes em meu
quadril, enquanto eu arqueava meu corpo, saboreando seus beijos. Ao me
encararem outra vez, percebi que seus olhos azuis queimavam de desejo e eu
fui até a cozinha, onde desliguei o forno e voltei, levando-o para o meu
quarto.
Ele me ajudou a tirar minha roupa com uma facilidade enorme e
depois de se despir se juntou a mim na cama, onde começamos a fazer amor
lentamente. Oliver era um anjo, sempre sussurrando coisas bonitas no meu
ouvido durante o ato, me deixando ainda mais excitada e apaixonada por ele.
Minutos depois ele colou a testa na minha e estava bastante ofegante. Quando
se perdia em mim, segurei firme em seus braços, sentindo seu corpo pesar
mais sobre o meu. Depois de termos feito amor, Oliver me deu vários beijos,
fazendo com que eu me sentisse a mulher mais amada do mundo.
― Já está um pouco maior — ele sussurrou, deslizando as mãos por
minha barriga. Por um momento, ele pareceu livre de qualquer preocupação.

― Está sim. — Sorri.


Ele voltou o olhar para mim, contornando meu rosto com o
polegar.
― Sofia, o que você acha de ir morar comigo?
― Você quer dizer, morar juntos? — Ele assentiu. — Ah, Oli, não
sei se é uma boa ideia.
― Por que não?
― Não sei, acho que precisamos ir devagar antes de seus filhos se
acostumarem com a minha presença, não quero deixá-los desconfortáveis.
― Eles já sabem que nós dois estamos juntos e que vamos nos casar.
— Oliver me encarou. Parecia contente.
― Como eles reagiram? — perguntei, preocupada.
― Muito bem, eles te adoram.
― Você contou a eles sobre o bebê?
― Ainda não, achei que deveria deixar você compartilhar isso com
eles.
― Tem razão — concluí. — O que você gostaria que fosse, menino
ou menina? — Encarei Oliver, curiosa.
― Não sei bem, mas amo o jeitinho carinhoso que as meninas têm
com os pais — ele disse, se aproximando para me beijar outra vez.
― Tem uma lasanha no forno esperando por nós — murmurei.
― Ótimo, você precisa comer, esse bebê tem que nascer forte e
saudável. — Ele beijou minha barriga, enquanto eu acariciava seus cabelos.
Oliver apanhou a calça jeans caída no chão e a vestiu, deixando seu
peitoral bem definido e seus braços fortes à mostra. Peguei uma camisola
vermelha de cetim no guarda-roupas e a vesti. Fomos para a cozinha e,
enquanto me inclinava para tirar a lasanha do forno, podia sentir os olhares
de Oliver para o meu corpo.
Coloquei a travessa na mesa e Oliver serviu nossos pratos. Enquanto
comíamos, nós parecíamos mais íntimos, como se aquilo fosse algo que
fizéssemos com frequência.
Depois do jantar, Oliver tirou os pratos da mesa e os levou à pia. Enquanto os
lavava, o abracei por trás, envolvendo meus braços ao redor de seu tórax.
Fomos para a sala e nos aconchegamos juntos no sofá. Oliver mudou
todos os canais, procurando por algum filme e, por fim, acabou colocando em
um jogo de futebol. O jogo estava bom, mas estar aconchegada no calor do
seu peito era muito melhor. Fechei os olhos, sendo vencida pelo cansaço. Ele
desligou a televisão e beijou meus cabelos, me pegando no colo e me levando
para o quarto. Ele me colocou com cuidado na cama e depois se aconchegou
ao meu lado, cobrindo a nós dois com o cobertor.
― Durma aqui hoje — pedi, sonolenta.
― Não precisa nem pedir. — Ele beijou a minha testa e nos minutos
que se seguiram caí em um sono profundo.
― Me ajude, Sofia! — Oliver gritava preso às ferragens. O carro
estava todo distorcido e as chamas se aproximavam dele.
― Oliver! — gritei apavorada, correndo em sua direção, tentando
alcançá-lo, quando alguém segurou meu braço com força, me impedindo de
prosseguir.
― Socorro! — Oliver gritava, enquanto as chamas se aproximavam.
― Me solte, eu preciso salvá-lo!
Havia um homem logo atrás de mim, mas eu não conseguia ver seu
rosto. Podia senti-lo se divertindo com toda aquela cena. Olhei para o carro e
vi Oliver desaparecer em meio às chamas.
― Não! — gritei em desespero.

Acordei assustada, estava ofegante e meu rosto suado. Olhei para o


lado e vi que Oliver dormia calmamente. Fechei os olhos, agradecendo por
aquela cena horrível não ter sido mais do que um pesadelo. Tentei dormir de
novo, mas não consegui. Sabia que aquele sonho tinha algo mais a me contar,
só não sabia exatamente o quê, mas não iria parar até descobrir.

CAPÍTULO 20 – SOFIA

Acordar ao lado de Oliver era uma das coisas mais maravilhosas do mundo.
Ele tinha um jeitinho todo especial de me encarar, antes de se apoiar em seus
cotovelos e me presentear com um beijo envolvente logo pela manhã e só
então sussurrar um: "Bom dia", com sua voz ainda rouca, tornando todo o
momento muito sexy e especial.
Depois de trocarmos mais alguns beijos e tomarmos um café da
manhã rápido, ele se ofereceu para me levar à faculdade. Durante a maior
parte do caminho eu permaneci calada, o pesadelo que havia tido na noite
anterior ainda me assombrava.
― Está tudo bem? — Oliver tirou uma mão do volante e tocou
minha perna, me olhando por um breve instante.
― Está sim. — Toquei sua mão, tentando acalmá-lo. — Só estava
pensando em uma coisa...
― Posso saber em quê? — Ele me encarou, curioso.
Engoli em seco.
― Estava pensando em como foi inusitada a forma como nos
conhecemos — menti. Achei que fosse melhor não contar nada a ele sobre as
suspeitas que eu tinha em relação ao acidente de carro que havia tirado a vida
de seus pais.
― Você ir trabalhar na minha casa foi a melhor coisa que já me
aconteceu. — Ele me encarou sincero, com um sorriso nos lábios.
― Lembro que quando comecei achava você muito rabugento. —
Sorri, tentando afastar aqueles pensamentos ruins da minha mente.
― Eu não era rabugento, só estava um pouco perdido e você me
ajudou a me reencontrar. — Seus olhos azuis me encararam, agradecidos.
― É, já me disseram que eu tenho o dom de mudar a vida das
pessoas — eu disse, enquanto Oliver ria alto.
Minutos depois chegamos à faculdade. Oliver estacionou o carro e se
inclinou, me dando um beijo casto nos lábios.
― Não sei se vamos nos ver mais hoje, tenho muito trabalho para
fazer na Advocacia — ele murmurou, sem parar o beijo.
― Tudo bem — sussurrei, acariciando seu rosto.
Oliver mordiscou meu lábio inferior e depois os afastou lentamente
dos meus.
― Você pensou na minha proposta? — Ele me encarou.
― Ainda não, mas será que você pode me dar um tempo para
pensar?
― Claro, desde que você aceite logo vir morar comigo. — Ele
sorriu, acariciando meu rosto com as costas da mão. — Ia adorar ter você ao
meu lado todas as noites.
Seus olhos azuis me encararam de forma sedutora e Oliver se
despediu de mim com um beijo no rosto.
Saí do carro e entrei na faculdade. Durante as aulas, não conseguia
deixar de pensar no meu pesadelo, nos recortes que Brian guardava e nos
freios do carro que supostamente teriam sido cortados. Eu tinha certeza de
que o acidente que matara os pais do Oliver havia sido proposital e algo no
meu interior me avisava que Brian estava envolvido, mesmo que não
diretamente. O problema é que eu não tinha como provar isso. Mas, e se eu
descobrisse com quem Brian havia estado, com quem havia conversado ou o
que teria feito naquele dia? Será que eu conseguiria descobrir algo?
― Ei, Sofia! — Vanessa se aproximou animada na hora do
intervalo.
Eu estava sentada em um banco no pátio, perdida em meus
pensamentos, enquanto ela se sentava ao meu lado.
― Parece preocupada... — ela mencionou, avaliando minha
expressão.
― Acho que estou mais para pensativa.
― O que foi? — Ela me encarou preocupada.
Sabia que se contasse a Vanessa as suspeitas que tinha em relação ao
seu namorado, podia ser que ela nunca mais voltasse a falar comigo. Então,
resolvi omitir isso dela.
― Oliver me chamou para morar com ele.
― Isso é maravilhoso, amiga! — ela disse eufórica, juntando as
mãos e batendo palminhas. — Quando você vai se mudar?
― Na verdade, eu ainda não sei se vou.
― Sofia, aquele homem lindo, de olhos azuis e que te ama, está te
chamando para morar com ele e você não quer? — Ela me encarou injuriada.
— Qual o seu problema?
― Eu sei que a proposta é irrecusável, mas nós estamos noivos e
acho que vamos nos casar antes do bebê nascer. — Coloquei minha mão
sobre a barriga, eu estava com uma blusa larguinha, então quase não era
possível vê-la. — Mas, se me mudar agora, tenho medo de que ele se canse
de mim — confessei.
― Hello, Sofia, aquele homem te ama! Você está grávida e se ele
está te convidando para viver com ele antes mesmo do casamento de vocês, é
porque ele tem certeza de que não consegue mais viver sem você.
As palavras de Vanessa me emocionaram.
― Você acha?
― Eu tenho certeza! Além disso, se você for morar com ele agora,
não vai dar a ele a chance de fazer uma despedida de solteiro. — Ela piscou
para mim, sorrindo.
― Tem razão, as vantagens são muitas! — brinquei.
― Vou tomar um pouco de água, já volto. — Ela se levantou.
― Vanessa, será que você poderia me emprestar seu celular? O meu
está sem bônus e eu queria muito poder ligar para o Oliver.
― Claro! — Ela sacou o telefone do bolso, entregando-o a mim. —
Só não gaste todo o meu crédito falando baboseiras. — Ela revirou os olhos e
a ouvi gargalhar enquanto se afastava.
Desbloqueei a tela e cliquei na agenda. Por sorte o primeiro número
da lista estava salvo como "Amor" e eu imaginei que fosse o número do
celular de Brian. Peguei meu celular e anotei rapidamente o número, olhando
ao redor para ver se Vanessa não estava voltando. Feito isso, guardei meu
celular de volta no bolso no instante em que ela retornou:
― Ué, já? — ela perguntou, se sentando de volta ao meu lado,
enquanto eu lhe devolvia o celular.
― Ele não atendeu, deve estar ocupado.
― Ou adiantou a despedida de solteiro — ela brincou e eu não pude
evitar o sorriso.
Eu me senti mal por ter usado minha amiga daquele jeito, mas eu
precisava tentar descobrir mais alguma coisa sobre aquele acidente e eu só
conseguiria isso conversando com Brian.
Ao final das aulas, depois de me despedir de Vanessa, me encostei
no muro da faculdade e disquei o número de Brian, que me atendeu ao
terceiro toque.
― Brian Beaumont, com quem estou falando? — ele perguntou.
― Olá Brian, aqui é a Sofia Montenegro, se lembra de mim? —
Houve um silêncio do outro lado da linha e eu me perguntei o motivo da
demora.
― Claro que me lembro de você, Sofia — Ele parecia surpreso. —
A que devo a sua ligação?
― Eu gostaria de me encontrar com você, para conversarmos.
Algum problema para você?
― Problema algum. Quando gostaria de me encontrar?
― Pode ser agora? Acabei de sair da faculdade e te esperarei em um
restaurante que fica a duas quadras da PUC, você sabe onde é?
― Claro, sei onde fica, estarei aí dentro de meia hora.
― Vou esperar. — Desliguei.
Brian havia mordido a isca. Eu sabia que o que estava fazendo era
arriscado, mas sabia também que, dependendo das respostas que ele me desse
e o modo como reagisse, eu poderia concluir se ele era culpado ou inocente, e
eu não iria parar antes de chegar a uma conclusão.

CAPÍTULO 21 – BRIAN

Confesso que o que me levou a aceitar o convite de Sofia foi a curiosidade,


não nego que achei bastante inusitado o fato de ela ter me ligado.
Depois de estacionar minha Lamborghini em frente ao restaurante,
saltei de meu automóvel e adentrei no estabelecimento. O restaurante não era
dos mais glamorosos e se não fosse por Sofia provavelmente eu nunca nem
sequer teria entrado ali. Apesar de tudo, o estabelecimento possuía um
ambiente agradável e as mesas estavam lotadas. Depois de uma rápida olhada
por cada mesa, avistei Sofia sentada sozinha em uma mesa mais afastada.
Ela estava distraída, com a cabeça apoiada em uma das mãos, sinal
típico de quem está entediado. Apesar de não ser nenhum pouco parecida
com as mulheres glamorosas que eu costumava comer, era inegável que havia
algo nela que a tornava sexy, mesmo a uma certa distância. Enquanto me
aproximava, notei que ela usava um jeans claro, que realçava bem as curvas
de seu corpo. Apesar de achar que ela havia engordado um pouco mais deste
a última vez que nos vimos, ela estava igualmente gostosa.
― Espero não tê-la feito esperar muito — eu disse, parando diante
da mesa.
― Só um pouco, mas tudo bem. — Ela me lançou um sorriso
simpático, acenando para que eu me sentasse à sua frente.
Puxei a cadeira e me sentei, observando-a atentamente. Sofia tinha
longos cabelos castanhos, que estavam soltos e iam até a cintura, seus olhos
cor de mel eram tentadores e sua pele branquinha me fez querer deixar
algumas marcas ali.
― Sinto muito que você e meu irmão tenham se separado —
comentei, sentindo um calor em minhas entranhas.
― Na verdade, nós dois estamos juntos de novo.
Encarei-a, completamente surpreso. Como eu ainda não sabia disso?
― Então, você está aqui a pedido do meu irmão? — recostei-me na
cadeira, me sentindo usado.
― Na verdade não, Oliver nem sabe que estou aqui.
― Então, por que está aqui? — Olhei-a, curioso.
― Pela Vanessa. — Senti um certo desconforto, mas procurei não
demonstrar. — Não sei se sabe, mas ela é minha melhor amiga. Vocês dois
estão juntos, então achei que deveríamos nos conhecer melhor, apenas isso.
― Já até sei o que vai me perguntar.
Sofia arqueou uma sobrancelha para mim.
― Mesmo?
― Claro — afirmei. — Vai me perguntar coisas do tipo: "Quais são
as suas intenções com ela?", "Você a ama?", clichês. — Sorri.
― Isso, mas também ia fazer perguntas sobre você.
― Sobre mim?
― Sei que você e o Oliver não vêm se dando muito bem
ultimamente, mas, como estou namorando seu irmão, acho que deveríamos
ter uma boa relação; afinal somos quase família. — Ela sorriu e eu juro por
Deus que tive uma vontade imensa de beijá-la.
― Bem, acho que sim. — Sorri em resposta. — Acredito que meu
irmão já deva ter me crucificado para você. — Encarei-a.
― Na verdade não, nem precisou, acabei tirando minhas próprias
conclusões.
― E o que você concluiu? — Inclinei-me sobre a mesa, estava
completamente fascinado com a firmeza com que ela se colocava.
― Que está cansado de viver na sombra do seu irmão, por isso quer
assumir a presidência, para provar que é tão capaz quanto ele.
― Talvez eu seja só ganancioso.
― Como você mesmo disse, talvez, mas acho que a sua infância
pode ter influência em tudo isso.
― O que você sabe sobre a minha infância? — Encarei-a, acenando
para que o garçom trouxesse uma bebida.
― Não preciso saber muito para concluir que você se sentia inferior
ao Oliver, talvez até um pouco sozinho.
― Como sabe disso? — Meus sentidos estavam aguçados.
― Eu sou estudante de Psicologia, consigo ler os sentimentos das
pessoas. — Ela deu de ombros. — Imagino que deva ter sido difícil para
você, quero dizer, vir morar com seu pai, em outro país...
― A princípio, sim. Como você mesma disse, eu me sentia um
pouco sozinho e admito que um pouco enciumado com Oliver também. Ele
era um bebê naquela época e tinha toda a atenção do mundo voltada para si,
qualquer criança sentiria como se tivesse sido deixada de lado, assim como
me senti.
― Você se dava bem com a sua madrasta? — Sofia me olhava
atentamente.
― Em parte, sim. Elena sempre me tratou muito bem, foi como uma
mãe para mim.
― Oliver me contou sobre o acidente, não consigo nem imaginar o
quanto deve ter sido difícil para vocês dois.
― Foi.
Sofia se remexeu em sua cadeira, enquanto o garçom me servia uma
taça de vinho.
― Vinho, senhorita?
― Não, obrigada, mas aceito um pouco de água.
O garçom se retirou no instante seguinte, nos deixando novamente a
sós.
― Desculpe, não quis te deixar desconfortável, é que Oliver falou
tão pouco sobre o acidente, eu só queria saber mais — ela disse,
constrangida.
― Não há muito a saber. — Levei minha taça à boca, bebendo um
gole. — Meu pai dormiu ao volante, o carro capotou algumas vezes e...
Enfim, foi uma fatalidade.
― Acredita mesmo que o seu pai tenha dormido ao volante? — Sua
curiosidade me deixou alerta.
― Foi o que os peritos disseram — Encarei-a, sério. — O que mais
poderia ter acontecido?
― Não sei. Talvez tenha sido um mal súbito ou até mesmo
sabotagem. Seu pai era um grande advogado e deveria ter inimigos por causa
disso.
― Tenho certeza que não. — Recostei-me novamente na cadeira,
relembrando aqueles meses. — Durante algum tempo também tentei
encontrar outra explicação, até que eu pudesse aceitar o fato de que ele
simplesmente havia pegado no sono.
Sofia baixou os olhos em silêncio e admito que, apesar de ser uma
pobretona, finalmente consegui entender o que meu irmão havia visto nela.
Estava imaginando as loucuras que poderia fazer com ela na cama, quando
ela voltou seu olhar para mim.
― Desculpe, essa conversa me deixou um pouco emotiva, vou ao
banheiro.
Ela se levantou e, sem querer, acabou esbarrando na taça de vinho,
que por sua vez sujou meu terno,
― Me desculpe Brian, foi sem querer.
Senti uma fúria crescente dentro de mim e juro que, se tivesse uma
oportunidade, arrastaria Sofia para um beco escuro e a foderia com força,
enquanto espalmava minhas mãos em suas coxas brancas, para que ela nunca
mais esquecesse aquele episódio.
― Está tudo bem — Levantei-me, tirando a carteira e o celular do
bolso e os colocando sobre a mesa, me controlando ao máximo para não fazê-
la se arrepender por ter sido tão desastrada. — Vou me limpar e já volto. —
Fiz sinal para que ela me esperasse ali.
Fui até o banheiro, umedeci algumas toalhas de papel e tentei me
limpar, mas era impossível remover aquela cor roxa da minha camisa branca.
Fervendo de raiva, fechei os olhos e deslizei as mãos pelos cabelos. Por que
todo aquele interrogatório? Sofia não havia me feito aquelas perguntas à toa e
suspeitei de que ela sabia muito mais do que deixava transparecer.
Voltei para a mesa e a encontrei sentada em seu lugar.
― Mais uma vez peço desculpas — ela disse, envergonhada.
― Tudo bem, passarei em casa e trocarei de roupa antes de voltar
para a empresa. Desculpe, mas não poderei ficar para o almoço, preciso me
encontrar com um amigo.
― Claro, tudo bem.
Ela se levantou para se despedir e eu a abracei pela cintura, sentindo
no meu íntimo o quanto eu a desejava.
― Espero vê-la mais vezes — murmurei.
― Igualmente, Brian.
Voltei para meu carro e dirigi à toda velocidade para a casa de
Denise. Toquei a campainha com insistência e, quando ela abriu a porta, a
empurrei contra a parede.
― O que está fazendo, Brian? Me solte! — ela gritou, desesperada.
― Sabe com quem eu estava agora há pouco? — Ela negou com a
cabeça. — Com a Sofia! E ela começou a me fazer um monte de perguntas
sobre o acidente dos meus pais! Denise, se você disse a ela qualquer coisa...
— Encarei-a furioso, a adrenalina me dominando.
― Eu não disse nada, Brian! — Denise colocou suas mãos em meu
peito me empurrando. — Por que você está com medo? Não tem nada a
esconder, tem?
― Não me provoque. — Coloquei as mãos na cintura, tentando
entender tudo que estava acontecendo — Aliás, parabéns por ser uma
incompetente.
― Do que está falando? — Seus olhos claros me fitaram, confusos.
― Sofia e Oliver estão juntos de novo.
― Espera, então... — Ela me encarou, apavorada. — Quem te disse
isso?
― A própria Sofia. Imagino que ela deve ter contado ao Oliver que
você orquestrou todo o plano para separá-los. Meu irmão deve estar
morrendo de raiva de você agora, ele deve estar te odiando — ele disse, se
divertindo com tudo aquilo. — Sabe Denise, você voltou para cá achando que
era mais esperta do que todo mundo, mas dados os fatos, acho que estava
completamente enganada, não estava? — Segurei em seu queixo, fazendo-a
olhar para mim. — Se eu descobrir que você abriu o bico...
― Eu sei, você já me avisou, sei que, se brincar com o fogo, vou
acabar me queimando — ela murmurou, me encarando.
― Ótimo. — Sorri satisfeito, soltando-a e saindo de sua casa.
Era óbvio que Denise não havia dito nada. Então, como Sofia havia
voltado sua atenção para mim? Ela era esperta e eu precisaria ficar de olho
nela de agora em diante.

CAPÍTULO 22 – SOFIA

Estava no ônibus, voltando para casa, refletindo sobre o encontro que havia
tido com Brian. Como já havia previsto, nossa conversa foi tensa e, em
muitos momentos, me senti desconfortável com a forma como ele me olhava.
Tentei ignorar isso e fiz a ele o máximo de perguntas que podia sobre o
acidente, sempre tentando ser o mais discreta possível, mas, ou eu estava
enganada ou ele sabia fingir muito bem, porque não deixou transparecer
nada.
Para conseguir alguma informação a mais, tive que tomar uma
medida drástica e acabei derramando vinho nele de propósito. Para minha
sorte, ele acabou deixando seu celular e sua carteira sobre a mesa e, quando
ele finalmente foi ao banheiro, peguei seu celular rapidamente e tentei acessar
as mensagens e a agenda de contatos. Felizmente, o celular não tinha senha.
Li as mensagens rapidamente, mas não havia nada suspeito, apenas algumas
conversas com acionistas e algumas mulheres. Na agenda, porém, encontrei
algo que me chamou bastante a atenção: havia um contato salvo como
"Denise" e eu me perguntei se era a mesma Denise que eu conhecia. Se sim,
por que ele teria o número dela? Depois de salvar aquele contato no meu
celular, peguei a carteira e tirei uma foto de todos os documentos, inclusive
do cartão de crédito.
O ônibus parou no ponto e, depois de caminhar alguns metros,
finalmente cheguei em casa. Ainda não havia almoçado, mas também não
estava com fome, tudo aquilo estava mexendo muito com a minha cabeça.
Peguei uma maçã na geladeira e me sentei no sofá da sala,
analisando as fotos que havia tirado dos documentos de Brian no meu celular.
Talvez conseguisse acessar o histórico de ligações utilizando o CPF dele e foi
isso que eu decidi fazer. Disquei o número da operadora e esperei até que me
atendessem.
― Boa tarde, em que posso ajudar? — disse a atendente.
― Olá, boa tarde, eu gostaria de ter acesso ao histórico de ligações
de Brian Beaumont, sou a secretária dele. — Menti.
― Vou precisar do CPF do cliente e do RG.
― Claro, só um momento.
Coloquei a ligação no viva voz e acessei as fotos, passando os
números para a atendente. Houve silêncio do outro lado da linha e a única
coisa que eu conseguia ouvir era algo sendo teclado no computador:
― A senhorita prefere que eu lhe mande o histórico por fax ou por
e-mail? — ela perguntou após uns dois minutos.
― Por e-mail seria ótimo! — Passei meu e-mail para ela e depois
encerramos a ligação.
Corri até meu quarto e abri o notebook, acessando minha conta no
Outlook, o e-mail enviado pela atendente já havia chegado. Abri o
documento e vi que havia mais de um número de celular registrado no nome
de Brian, quatro no total. O primeiro era seu número mais recente e seu
histórico se iniciava em 2010 até os dias atuais. O segundo iniciava seu
histórico em 2006 e se encerrava em 2010. Os outros dois números, porém,
tinham seu histórico iniciado em 2003 — o ano do acidente —, mas só um
deles havia sido usado até 2006, o outro havia sido usado por apenas alguns
meses e depois teria sido cancelado.
Analisei bem o histórico e percebi que, apesar de utilizar o celular
por alguns meses, Brian só havia feito três ligações deste mesmo número,
todas para números também da capital. O mais estranho é que as ligações
haviam sido feitas dois dias antes do acidente e, depois disso, o número foi
inutilizado. Porém, no verso do documento consegui ver o nome das pessoas
para as quais ele havia ligado: Wilson Nunes e Denise Beaumont. Analisei o
histórico mais recente e percebi que Brian raramente fazia ligações para
Denise Clark, mas seriam elas a mesma pessoa? Se sim, por que Brian havia
conseguido manter contato com ela nos últimos anos, enquanto nem sequer o
próprio Oliver havia conseguido?
Peguei meu celular e disquei o número que havia pego do celular de
Brian, precisava descobrir se estávamos falando da mesma pessoa.
― Alô? — A pessoa atendeu ao terceiro toque e eu reconheci sua
voz de imediato.
― Denise Clark?
― Sim, sou eu, quem está falando? — Ela perguntou, receosa.
― É Sofia Montenegro — eu disse e houve um longo silêncio do outro lado
da linha.
― O que você quer? — ela disse, ríspida.
― Conversar. Será que podemos?
― Não tenho nada para conversar com você, Sofia.
― Tem certeza que não quer falar sobre sua ligação com Brian
Beaumont? Para ex-cunhados vocês se falam bastante, não acha? — Fui
direta e pelo silêncio que se estendeu do outro lado da linha soube que havia
conseguido encurralá-la.
Ela suspirou, antes de finalmente concordar em me ver.
― Onde podemos nos encontrar? — perguntou.
― Vou te mandar o local por mensagem, te encontro em uma hora.
Encerrei a ligação e peguei minha bolsa, caminhando novamente
para o ponto de ônibus. Havia muita mais coisa por trás de toda aquela
história do que parecia.
Eu estava chegando perto de descobrir alguma coisa e sabia disso.

CAPÍTULO 23 – SOFIA

Denise e eu havíamos combinado de nos encontrar em uma lanchonete no


centro, achei que seria mais seguro encontrá-la em um local público. Afinal,
sabia que estava revirando um passado que estava enterrado há muito tempo
e isso era sempre muito arriscado.
Entrei, escolhi uma mesa em um canto mais discreto e pedi um suco
de laranja e um pão com presunto e muçarela. Eu não havia comido nada
desde cedo e, por mais que não estivesse com fome, sabia que tinha que fazer
um esforço pelo bem-estar do bebê. Além disso, Oliver ficaria extremamente
chateado comigo se descobrisse que eu não estava me alimentando como
deveria.
Estava terminando meu lanche, quando vi Denise entrar na
lanchonete. Ela estava vestindo um macacão bege e sapatos de salto alto, seus
cabelos loiros estavam soltos.
― Eu não tenho muito tempo. — Ela se sentou à minha frente,
tirando seus óculos escuros e colocando-os na bolsa.
― Serei breve. — Inclinei-me sobre a mesa, encarando-a. — Qual a
sua ligação com Brian Beaumont? Vocês parecem bem próximos...
― Fomos cunhados, temos um nível de amizade — ela respondeu
tranquilamente.
― Vocês devem ser bem amigos mesmo, porque enquanto você
passou os últimos anos tentando se esconder de todo mundo, ele era o único
que ainda conseguia manter contato com você. Um tanto quanto suspeito, não
acha? — pressionei.
― Sei que você contou a Oliver sobre a ameaça que fiz, mas se está
achando que por isso está por cima, está muito enganada, Sofia — ela disse
seriamente.
― Não vim até aqui para falar do Oliver. Agora, você vai me contar
sobre sua relação com Brian ou terei que descobrir sozinha? — insisti.
― Boa sorte na sua pesquisa. — Ela se levantou da mesa
abruptamente.
― Tudo bem, talvez eu descubra porque você foi a única pessoa
para a qual ele ligou no dia do acidente dos pais.
Denise se virou, me encarando completamente perplexa, era como se
eu tivesse dito algo que não deveria, algo proibido.
― Como sabe disso? — Ela me encarou, completamente apavorada.
― Como você mesma disse, eu pesquisei.
Ela se sentou novamente e juntou as mãos sobre a mesa, baixando a
cabeça por alguns instantes; depois voltou a me olhar.
― Nós tivemos um caso — ela disse.
― O quê?! — Encarei-a, surpresa.
― Oliver sempre foi muito certinho, com ele a rotina era sempre a
mesma. Já Brian era descolado, sedutor, uma caixinha de surpresas e, quando
me dei conta, o que era para ser apenas um lance, acabou se tornando um
romance. — Ela deu de ombros.
― Vocês estavam casados! Como pôde fazer isso com o Oliver? —
Eu estava injuriada.
― Brian me proporcionava aventuras que Oliver nunca foi capaz de
me proporcionar. Se fosse casada com ele, você me entenderia.
― Oliver é um homem maravilhoso! Não tente encontrar
justificativas para o que você fez! — esbravejei. Como ela conseguia ser tão
cara de pau?
― Pense o que quiser. Agora, respondendo à sua pergunta, Brian me
ligou naquele dia porque estava desesperado e precisava de alguém para
desabafar.
― Claro, quem melhor do que a amante para dar consolo, não é
mesmo? — Confrontei-a.
― Quer saber, Sofia? Se quiser contar isso ao Oliver, conte, não
acho que vá aumentar mais ainda a raiva que ele já está sentindo por mim. —
Ela ameaçou levantar-se novamente.
― Espere, ainda não terminei.
― O que mais você quer saber? — Ela me encarou, impaciente.
― Quem é Wilson Nunes? — perguntei e ela me lançou um sorriso
de lado.
― Você sabe que está metendo o nariz onde não foi chamada, não
sabe?
― Você não me intimida, Denise. — Encarei-a seriamente, sem
desviar o olhar.
― Não é comigo que você tem que se preocupar.
― É com quem, então? Com o Brian?
Ela tornou a rir.
― Não quero te chatear, mas não conheço nenhum Wilson Nunes.
— Ela parecia dizer a verdade.
― Sabe onde posso encontrá-lo?
― Não. — Ela se levantou — Eu já falei coisas demais, Sofia.
Agradeceria se você nunca mais voltasse a me procurar. — Ela me deu as
costas, saindo da lanchonete.
Demorei mais alguns minutos ali tentando processar a conversa que
havia tido com Denise, não conseguia acreditar que ela havia sido capaz de
ser infiel a Oliver durante todo o casamento deles.
No caminho de volta para casa percebi que eu só conseguiria
desvendar o mistério que existia por trás daquele acidente — se é que existia
algo a ser revelado — encontrando esse Wilson Nunes.
Em casa, analisei novamente os históricos de chamadas à procura de
algum endereço que pudesse pertencer a esse homem, mas, infelizmente, não
encontrei nada. Tentei ligar para o número do celular, mas, como já era de se
esperar, o número havia sido cancelado havia alguns anos.
Cansada, fui para o banheiro e tomei uma chuveirada. Havia
informações demais na minha cabeça e eu sentia que estava um pouco tensa.
Lavei os cabelos e depois, ensaboando meu corpo, fiquei impressionada por
perceber o quanto minha barriga havia crescido.
― Desculpe, a mamãe teve um dia corrido hoje, mas prometo
preparar alguma coisa bem gostosa para você comer no jantar. — Acariciei-a
sorrindo, achando tudo aquilo surreal.
Depois do banho, coloquei um short jeans e uma blusa azul-marinho,
bem soltinha e confortável. Penteei os cabelos e os deixei soltos para que
secassem naturalmente.
Na cozinha, preparei uma sopinha de macarrão, utilizando a maioria
das verduras que haviam sido mandadas por Oliver. Enquanto comia, percebi
que não estava fazendo aquilo por mim. Em outros tempos, eu teria optado
por uma bolacha ou preparado qualquer outra besteira para comer, mas
grávida sabia o quanto aquilo era importante para a formação do bebê.
Estava lavando a louça, quando ouvi alguém bater à porta. Fiquei um
pouco assustada, já eram quase sete horas da noite e eu não havia combinado
de receber visitas em casa. Ainda receosa, caminhei até a porta. Quando a
abri, fiquei aliviada por ver que era Oliver.
― Oli! — eu disse, surpresa. — Pensei que tivesse dito que estaria
muito ocupado com o trabalho hoje para vir até aqui.
― E estava.
― Fico feliz que tenha arrumado um tempo para mim. — Sorri,
enlaçando meus braços ao redor do pescoço dele e depois me inclinando para
beijá-lo. Apesar de retribuir meu beijo, Oliver se manteve rígido no lugar e eu
estranhei sua atitude. — Está tudo bem? — Soltei-o, preocupada. Seus olhos
azuis eram um poço de mistério.
― Quando ia me contar sobre o encontro que teve com o Brian? —
Oliver me encarou sério e percebi que ele estava zangado comigo. Merda.

CAPÍTULO 24 – SOFIA

― Por que não me contou que iria se encontrar com ele? — Oliver
me encarava impaciente, era quase como se se sentisse traído.
― Eu não disse nada porque nem eu mesma sabia que iria me
encontrar com ele, decidi isso na faculdade. — Fui sincera.
Oliver passou por mim, adentrando a sala.
― Sério? Porque ele foi bem sugestivo quando me contou sobre o
encontro de vocês — ele disse, colocando as mãos nos bolsos da calça, seus
olhos azuis me fitando nervosos.
― Imagino que ele deva ter usado um monte de palavras com duplo
sentido para te deixar preocupado. — Fechei a porta, parando diante dele. —
Oli, você nunca foi ciumento, por que isso agora? — Toquei seu peito.
― Sofia, eu acredito em você. As coisas que Brian me disse de fato
foram para me afetar, mas você ainda não me disse por que queria conversar
com ele. — Oliver me encarou sério e eu abaixei a cabeça, dando um passo
para trás.
Não sabia se deveria ou não contar a ele sobre as suspeitas que tinha
em relação ao seu irmão, não fazia ideia de como ele iria reagir.
Oliver pegou minha mão e a levou de volta ao seu peito, me
puxando para mais perto.
― Você sempre disse que deveríamos ser sinceros um com o outro
— ele murmurou e eu senti meu coração apertar. Ele tinha razão, por mais
que fosse difícil, não poderia esconder isso dele.
― Sim, e devemos. — Encarei-o de volta. — Vou te contar tudo que
precisa saber. — Peguei sua mão e o levei para o sofá.
Contei a ele sobre minhas suspeitas em relação a Brian, minha
análise do laudo do acidente e os históricos telefônicos que havia conseguido.
Oliver ficou em silêncio por alguns instantes, enquanto analisava os
históricos.
― Isso não prova nada, Sofia.
― Mas Oli, não acha estranho que ele tenha feito apenas algumas
ligações desse número e depois cancelado?
Oliver colocou meu notebook sobre a mesinha de centro e segurou
meu rosto em suas mãos.
― Eu sei que você deve estar chateada com ele por estar tentando
me tirar da presidência da Advocacia, mas, por mais mau-caráter que meu
irmão seja, ele não seria capaz de fazer uma coisa dessas. — Ele parecia estar
certo daquilo que estava dizendo.
― E sobre o inquérito que foi aberto um tempo depois do acidente,
que afirmava que o freio poderia ter sido cortado? — insisti.
― Ficou provado que o freio pode ter sido cortado durante a
capotagem, tinha muitas pedras e rochas no local.
Desviei o olhar, me sentindo uma idiota. Então, quer dizer que eu
havia perdido tanto tempo investigando para nada? Apenas para provar que
tudo aquilo não havia passado de paranoia minha?
― Foi difícil para mim aceitar que meu pai simplesmente havia
dormido ao volante — ele murmurou e eu voltei o olhar para ele. Seus olhos
azuis estavam marejados. — O único culpado nessa história toda foi o sono.
Abracei-o com força, tendo noção do quanto relembrar o acidente
que havia matado seus pais o deixava fragilizado
― Me desculpe, eu fui tão boba — sussurrei.
― Tudo bem. — Ele acariciou meus cabelos e, quando se afastou
para me olhar, vi uma lágrima rolar pelo seu rosto.
Estendi a mão e a sequei com o polegar. Seus olhos eram pura
saudade, não conseguia imaginar o quanto ele devia sentir falta dos pais.
Acariciei seu rosto, contornando-o com meus dedos e Oliver fechou os olhos,
saboreando meu toque.
― Tem mais uma coisa que você precisa saber — eu disse,
buscando coragem para contar aquilo a ele.
Seus olhos se abriram lentamente e ele se endireitou no sofá para
poder me ouvir.
― O quê?
― Depois de ver o nome de Denise nos históricos, eu também fui
me encontrar com ela.
― Sofia, você sabe que eu não quero que você chegue perto daquela
mulher! — Seu olhar para mim era desaprovador.
― Eu sei, mas acabei descobrindo uma coisa.
Depois de alguns segundos em silêncio, Oliver me incentivou a
continuar:
― O que você descobriu é tão ruim assim? — Ele colocou a mão
sobre minha coxa, me encarando atentamente.
Depois de balançar a cabeça, afirmando sua pergunta, respirei fundo
e continuei:
― Oliver, a Denise e o Brian tiveram um caso.
Seus olhos se arregalaram e ele me encarou, completamente
perplexo.
― Não sabia se deveria te contar — murmurei, mas ele não disse
nada. Apenas se levantou do sofá e começou a andar de um lado para o outro
na sala.
― Desde quando? — ele perguntou sério, olhando para mim.
― Durante o casamento de vocês.
Ele deslizou as mãos por seus cabelos, completamente desnorteado.
― Não acredito que eles tiveram coragem de fazer isso comigo. —
Seu tom de voz era pura mágoa.
― Oli, isso foi há muito tempo... — Caminhei até ele, tentando
consolá-lo.
― Meu irmão dormiu com a Denise quando ela ainda era minha
esposa, Sofia! Não existe tempo que faça isso parecer correto! — Ele
esbravejou, se afastando de mim, abrindo a porta e saindo de casa.
― Onde você vai? — Corri até ele.
― Tirar toda essa história a limpo.
― Oliver... — murmurei, segurando-o pelo braço, implorando para
que ficasse.
― Por favor, não tente me impedir.
Seus olhos azuis me encararam rancorosos e eu o soltei quando
percebi que não conseguiria fazer com que ele mudasse de ideia. Ele me
encarou uma última vez antes de entrar em seu carro, dar partida e sair
rapidamente dali.
― Por favor, não deixe que ele faça nenhuma besteira — sussurrei,
enquanto via o carro desaparecer na rua escura.
Alguém tão bom quanto o Oliver não merecia ter descoberto a farsa
que havia sido seu casamento. Eu definitivamente não devia ter contado
aquilo a ele.

CAPÍTULO 25 – OLIVER

Saí da casa de Sofia desnorteado com a revelação que ela havia feito.
Enquanto dirigia, não conseguia deixar de pensar no quanto havia sido tolo.
Apesar de tudo, eu acreditava que os anos que vivi casado com Denise
haviam sido verdadeiros e que, pelo menos por um tempo, fomos felizes, mas
agora, sabendo que tudo não havia passado de uma mentira, eu me sentia
completamente derrotado. Doía saber que foram seis anos da minha vida fiel
a uma pessoa que foi capaz de me trair com o meu próprio irmão.
Estacionei a BMW em frente à entrada da casa. O bairro era escuro e
as casas vizinhas estavam no mais perfeito silêncio. Aproximei-me da porta e
toquei a campainha. Denise a abriu instantes depois, vestindo uma camisola
preta de cetim.
― Oliver — Ela olhou para mim, não parecia surpresa. — Por
alguma razão, já esperava sua visita. — Ela me deu as costas e deixou a porta
aberta para que eu entrasse.
Fechei-a atrás de mim e fiquei observando enquanto ela se sentava
no sofá da sala, completamente serena.
― Descobri tudo — eu disse, sentindo um desprezo enorme dentro
de mim.
― A Sofia não aguentou mesmo ficar de boca fechada, hein? — Ela
olhou para mim de relance.
― Como você pôde fazer isso comigo? — Encarei-a, procurando
entender o motivo de tudo aquilo.
― Oliver, não vou pedir desculpas, porque não me arrependo do que
fiz.
― Nós tínhamos uma família! — esbravejei. — E, mesmo assim,
isso não te impediu de ir para a cama com meu irmão!
― Não deveria me culpar. — Ela se levantou, parando diante de
mim com um ar desaforado. — Você nunca estava em casa, Oliver! Estava
sempre viajando, sempre ocupado com o trabalho. O que você queria que eu
fizesse? Que ficasse te esperando?
― Não seja rude! Eu fiz tudo por você nos seis anos em que fomos
casados! — Alterei a voz e ela me encarou surpresa, provavelmente não
esperava que eu fosse reagir assim. Coloquei as mãos nos bolsos da calça,
respirando fundo — Quando vocês começaram a ficar juntos?
Ela abaixou a cabeça, sem conseguir me encarar.
― Me responda, Denise! — Segurei seu braço, apertando com força.
― Pouco tempo depois que nos casamos... — ela sussurrou e eu a
soltei.
― Não acredito que te amei um dia. — Encarei-a com total
desprezo. — Não pensei que eu pudesse te odiar ainda mais, você me dá
nojo. — Eu me virei, não ganharia nada continuando ali.
― Eu ainda sou a mãe dos seus filhos! — ela disse, me fazendo
parar. — Quero a quantia que é minha por direito. — Virei-me para olhá-la.
― Você não tem direito a nada! — rosnei. — Não pense que pode
me ameaçar e sair ilesa, assim como fez à Sofia. E se você ainda não está na
cadeia, saiba que foi porque ela me pediu que eu não fizesse isso, mas estou
seriamente pensando em reconsiderar essa decisão. — Ela desviou o olhar
quando percebeu que eu estava falando sério. — Você voltou pelo dinheiro,
não foi? — Sorri. — Você não vale nada Denise e eu juro... — me aproximei
mais, tentando intimidá-la — Se você ousar se aproximar dos meus filhos ou
da Sofia, eu não vou pensar duas vezes antes de te colocar na prisão, não vou
avisá-la outra vez. — Pelo seu olhar, percebi que havia conseguido ser
bastante convincente.
Depois de sair dali, dirigi para casa, me perguntando onde a mulher
pela qual eu havia me apaixonado um dia havia se enfiado. Dessa nova
Denise, eu só conseguia sentir ódio e ao mesmo tempo pena, por ser uma
pessoa tão vazia.
Deixei o carro na garagem e entrei em casa. As luzes estavam
apagadas e concluí que, àquela hora, todos já deveriam estar na cama.
Caminhei pelo corredor e entrei no quarto de Elena. Minha princesa
dormia calmamente, abraçada a um ursinho cor-de-rosa, que ela havia
ganhado no último Natal. Sentei-me ao seu lado na cama e fiquei
observando-a. Ela era tão perfeita que eu simplesmente não conseguia
acreditar que havia sido um dos responsáveis por criar um ser tão lindo.
Toquei seus cabelos louros, sentindo um nó no peito. Em parte —
principalmente agora — me sentia bem por Elena não ter tido nenhum laço
afetivo com a mãe, já que ela era apenas uma bebê quando ela foi embora.
Mas isso também era ruim e eu sabia que ela sentia falta de ter uma figura
materna por perto.
Ela se remexeu na cama e eu lhe lancei um sorriso, bem no instante
em que seus olhinhos verdes encontraram os meus.
― Papai? — ela murmurou, sonolenta.
― Oi, querida. Desculpe, não quis te acordar.
― Tudo bem. — Ela fechou os olhos e, antes que percebesse, caiu
em sono profundo novamente.
Inclinei-me e beijei-lhe a face, saindo do quarto logo em seguida.
Queria dar uma olhada em Estevan também, mas, quando entrei em
seu quarto e o encontrei deitado na cama dormindo como um anjo, não
consegui segurar a emoção e deixei que algumas lágrimas rolassem por meu
rosto.
― Ah, filho, você cresceu tão rápido... — murmurei, observando-o.
Estevan já tinha quase quatorze anos. Tinha cabelos castanhos e
olhos verdes — a única coisa que os dois haviam puxado da mãe —, era alto
e, apesar de jovem, já possuía um corpo atlético graças ao futebol e eu tinha
certeza de que faria muito sucesso com as mulheres quando fosse mais velho.
Ainda olhando-o, imaginei a decepção que ele sentiria da mãe
quando descobrisse tudo que ela fora capaz de fazer, logo ele, que sempre
pensou que o culpado pelo nosso divórcio havia sido eu.
Sabia que, assim como eu, ele foi o que mais sofreu quando a mãe
foi embora. Tinha seis anos e era apaixonado por ela, faziam tudo juntos e eu
perdi a conta de quantas vezes o vi chorando pelos cantos e sendo consolado
por dona Ana, já que eu não conseguia fazer isso.
Deixei seu quarto e fui para o meu escritório. Peguei um uísque que
já vinha guardando há algum tempo, me servi de um copo bem generoso e
depois me sentei na poltrona, dando um longo gole.
Senti meu celular vibrar no bolso e o apanhei. Havia quatro
chamadas perdidas de Sofia e duas mensagens:
Oliver, onde você está? Estou preocupada com você, por favor, não
faça nenhuma besteira.

Por favor, me perdoe, eu não deveria ter contado a verdade a você.


Me ligue quando chegar em casa.

Encarei o copo de uísque à minha frente e o afastei de mim. Por


mais que a situação fosse ruim, não deixaria que Denise me fizesse sentir
mal. Afinal, eu não havia feito nada de errado, então por que deveria estar me
sentindo assim?

Apanhei o celular e liguei para a única pessoa que sabia que se


preocupava de verdade comigo.
― Graças a Deus, Oliver! Onde você estava? Está tudo bem? —
Sofia estava desesperada e pela forma rápida que atendeu, imaginei que
estivesse com o telefone na mão esse tempo todo.
― Não se preocupe, eu estou bem.
― Onde você foi?
― Fui à casa de Denise.
― Oli, você não fez nenhuma besteira, fez? — Sua voz era pura
preocupação.
― Não, por mais que eu quisesse fazer algo contra ela, não achei
que valeria a pena, existem coisas mais importantes.
― Como o quê?
― Como você e meus filhos — murmurei.
Houve um silêncio do outro lado da linha e eu a ouvi rir.
― Já decidiu quando vai se mudar para a minha casa? Gostaria que
você estivesse aqui — eu disse sinceramente, sentindo a falta dela ao meu
lado.
― Por que eu deveria aceitar sua proposta? — ela perguntou
provocativa e eu sorri, sabia que ela estava tentando me animar.
― Bem, eu iria te tratar muito bem.
― Hum, só isso?
― E você me teria todo para si, durante todos os dias da sua vida.
Está achando pouco?
― Na verdade, sim.
― Mas, o mais importante você já ganhou.
― Mesmo? Não me lembro de ter recebido nada. O que foi?
Fechei os olhos, tentando imaginar o sorriso brincalhão que deveria
estar escapulindo pelos seus lábios agora.
― Meu coração, Sofia. Ele é todo seu.

CAPÍTULO 26 – OLIVER

Infelizmente, nem a conversa que havia tido com Sofia pelo celular havia
conseguido me deixar um pouco mais calmo. Depois que fui para o quarto,
não consegui pegar no sono e passei boa parte da noite acordado.
No fundo, acho que eu já esperava que a Denise fosse capaz de fazer
algo do tipo, mas nunca pensei que Brian pudesse fazer algo assim contra
mim, apesar de ultimamente ele estar se mostrando uma pessoa
completamente diferente da que eu havia conhecido um dia.
Ele vinha mostrando ser uma pessoa gananciosa, fria e calculista e,
durante alguns minutos, fiquei pensando se a suspeita que Sofia tinha em
relação a ele não estava certa. Mas, será que ele teria sido capaz de ir tão
longe por dinheiro? Eu preferia acreditar que não, ele poderia ter se perdido
durante o caminho, poderia ter se tornado um mau-caráter, mas não era um
assassino.
Seria inevitável esbarrar com ele na Advocacia. Só de pensar nisso
minha cabeça já latejava. Quando o visse pela manhã, tiraria toda aquela
história a limpo, queria ouvir o que ele tinha a me dizer e que desculpas
usaria.
Acordei pontualmente às seis e depois me juntei aos meus filhos no
café da manhã. Eles estavam animados e vê-los sorrir fez meu coração se
animar um pouco. Queria manter as coisas assim, não deixaria que os meus
problemas chegassem até eles.
Enquanto Ariovaldo os levava para a escola, peguei meu carro e
dirigi em direção à Advocacia. Depois de deixar o carro no estacionamento,
entrei na empresa.
― Meu irmão já chegou? — perguntei à secretária de Brian.
― Sim senhor, deixe-me avisá-lo.
― Não vai ser preciso. — Passei por ela.
Quando abri a porta do escritório dele, encontrei-o sentado diante da
mesa, vendo algo em seu laptop.
― Oliver, que surpresa vê-lo aqui! — ele disse ao notar minha
presença. — Em que posso ajudá-lo?
― Quando ia me contar que teve um caso com Denise? — Fui direto
e ele me encarou, surpreso.
― Como você... — Ele me olhava, tentando entender como eu havia
descoberto aquilo.
― Acho que saber como eu descobri não é a coisa mais importante
no momento.
Ele se levantou da poltrona, caminhando para perto de mim.
― Antes que você diga algo, gostaria de deixar bem claro que a
Denise era uma cachorra, se não tivesse te traído comigo, teria te traído com
outro — ele dizia com deboche.
― Nós somos irmãos, Brian! — Encarei-o, completamente
decepcionado, não o reconhecia mais.
― E daí? Eu não tenho culpa se você não dava conta do recado, mas
também não te culpo, aquela mulher pegava fogo na cama. — Ele sorriu,
sarcástico.
Uma raiva enorme me dominou e, já fora de mim, desferi um soco
em seu rosto. Ele teve que se agarrar à mesa para não perder o equilíbrio.
― Acho que eu mereci essa. — Ele me olhou com um sorriso,
limpando o sangue que corria de sua boca com as costas das mãos.
― Você não vale nada, Brian! Eu confiava em você! Sempre
acreditei que você queria o meu bem, mas hoje não estou mais tão certo
disso! — esbravejei.
― Não seja tolo! — ele dizia, tentando retomar o equilíbrio. — Eu
não ligo para o que você pensa ou acha de mim, e quando eu assumir a
presidência nada mais vai importar.
― Será que você só consegue pensar no dinheiro?
― Eu tenho que pensar! — Ele se aproximou de mim,
completamente fora de si — Você sempre teve tudo o que quis, Oliver,
sempre foi o queridinho de todos, mas eu vou provar que sou tão capaz
quanto você!
― Claro que vai! Destruindo a empresa do nosso pai, assim como
sempre destrói tudo que toca! — Joguei as palavras na cara dele, sem me
importar com o que ele iria achar. — Me faz um favor? Esqueça que somos
irmãos — eu disse, dando-lhe as costas.
― Ela esqueceu de te contar a melhor parte, não foi? — ele disse,
chamando minha atenção.
― Do que está falando? — Virei-me, encarando-o.
Brian deu uma gargalhada.
― Seu filho não é seu filho, é meu.
― O quê? — Encarei-o, completamente em choque.
― Estevan é meu filho.
Suas palavras me atingiram como um soco.
― Não, não é! A Denise engravidou de mim, quando ainda
estávamos namorando!
― E quando você acha que eu a conheci? — Ele sorriu. — Lembra
de quando você viajou por alguns dias para São Paulo com o nosso pai? Bem,
assim que você saiu do Rio, nós nos encontramos e transamos loucamente.
Não acha estranho que duas semanas depois ela tenha dito a você que estava
grávida?
― Eu vou te matar, Brian! — Avancei sobre ele, segurando-o pelo
colarinho.
― Faça o que quiser, nada vai mudar o fato de que ele é meu filho, é
inevitável.
― Você está fazendo isso para me atingir! — Encarei-o, furioso.
― Não, não estou. Comece a aceitar irmão, vai ser mais fácil se
começar agora!
― Oliver! — Meu amigo Bruno entrou na sala. — Dá para ouvir os
gritos de vocês lá de fora. O que está acontecendo? Por que Brian está
sangrando?
Eu o soltei e Brian ajeitou o terno, como se nada tivesse acontecido.
― Não é nada Bruno, estávamos apenas lavando a roupa suja. Certo,
irmãozinho? — Brian disse, nos lançando um sorriso irônico.
Sem conseguir dizer nada, saí de sua sala apressadamente, enquanto
Bruno me acompanhava.
― O que aconteceu lá dentro, Oliver? Por que vocês estavam
brigando?
― Agora não, Bruno!
Fui para o estacionamento, entrei no meu carro e saí dirigindo sem
rumo pela cidade.
Enquanto dirigia, lágrimas corriam pelo meu rosto como uma
enxurrada e eu parei o carro em um local calmo, completamente
impossibilitado de dirigir, deixando toda aquela tristeza me dominar.
― Não, não, não! — Gritei, esmurrando o volante. — Estevan é
meu filho! Meu! — Disse aquelas palavras em voz alta, tentando me
convencer de que aquela era a verdade, mas infelizmente sem sucesso.
Se Brian disse a verdade, quando disse que ele e Denise começaram
a se relacionar quando nós dois ainda éramos apenas namorados, havia
realmente uma grande chance de ela ter engravidado dele.
Recostei-me no banco, sentindo um ódio imenso dos dois. A
possibilidade de Estevan não ser meu filho me assustava, e ao mesmo tempo
me deixava completamente abalado.
Eu o havia criado, amado e educado, ele era meu filho, tinha que ser!
Antes do meio-dia, dirigi em direção à PUC. Eu precisava desabafar
com alguém ou iria morrer de tanta angústia. Assim que cheguei, desci do
carro e me recostei na parte traseira, olhando em direção ao portão. No
instante em que o sinal tocou, observei os estudantes saírem aos poucos.
Sofia saiu momentos depois. Ele vestia jeans e uma blusa de manga
longa preta, uma sandália e seus longos cabelos castanhos estavam soltos,
dando a ela um charme todo especial.
Ao me notar, ela me lançou um sorriso largo e caminhou
apressadamente na minha direção. Ao chegar mais perto, porém, e notar meu
estado, sua expressão mudou completamente.
― O que foi, Oli? Seus olhos estão inchados. Estava chorando? —
ela perguntou, preocupada.
― Só me abrace, Sofia, por favor — pedi, sentindo um nó na
garganta prestes a me sufocar.
Sem questionar, ela apenas me envolveu em um abraço forte,
enlaçando as mãos ao redor do meu tronco. Encostei minha cabeça em seu
ombro, colocando minhas mãos ao redor da sua cintura, puxando-a para mim.
Ainda sem dizer nada, acariciei seus longos cabelos, tentando controlar meus
sentimentos, mas, quando ela começou a deslizar suas mãos por minhas
costas em sinal de consolo, não aguentei e desabei a chorar. Eu queria ser
forte, não queria mostrar a ela que era fraco, mas não consegui, a dor que
estava sentindo era muito grande. Aquilo tudo tinha que ser mentira.

CAPÍTULO 27 – SOFIA

Oliver estava muito abalado e era visível que não estava em condições de
dirigir. Eu havia tirado minha carteira de motorista aos dezenove anos e,
desde então, podia contar nos dedos as vezes em que dirigi um carro, mas
resolvi fazer esse esforço por ele.
Depois de entrar na sua BMW, ajeitei o banco, os retrovisores e
coloquei o cinto. Pus o câmbio em ponto neutro e dei partida. Coloquei a
primeira marcha, liguei a seta e saí calmamente, desenvolvendo as marchas
conforme necessário.
Oliver estava sentado no banco do carona, mais calado que o normal,
perdido em seus próprios pensamentos. Eu não disse nada, esperaria até
chegarmos à minha casa para podermos conversar com calma.
Cerca de uma hora depois chegamos. Estacionei o carro com uma
facilidade que eu própria não esperava. Depois de puxar o freio de mão e
desligar o veículo, encarei Oliver.
― Nada mal. — Ele me lançou um sorriso fraco.
Era óbvio que ele não estava bem. Seu rosto estava pálido e ele
parecia ter envelhecido desde a última vez que o vira. Seus olhos estavam
inchados e já não tinham mais aquele brilho de antes, até o azul que dava
vida ao seu olhar parecia nebuloso.
Estendi as mãos e segurei seu rosto, ele colocou a mão sobre a
minha, me olhando atentamente.
― O que aconteceu, Oli? — perguntei, preocupada.
Ele respirou fundo, afastando seu olhar por alguns instantes e depois
voltando-o para mim.
― Tive uma conversa com Brian hoje — ele respondeu, a voz
embargada.
― Pela sua cara, imagino que essa conversa não tenha sido nada boa
— comentei, acariciando seu rosto. — Vocês discutiram?
― Sim, mas acabei descobrindo algo muito pior.
― Pior? — Ele fez que sim com a cabeça. — O que ele te disse? —
Encarei-o, sentindo toda a tensão que havia dentro daquele carro.
― Ele disse que o Estevan é filho dele — ele me contou com os
olhos marejados.
Minha boca se abriu em um O e eu juro que não soube o que dizer.
Afinal, o que eu poderia dizer que fosse capaz de mudar a dor que ele estava
sentindo?
Como não conseguia traduzir meus sentimentos em palavras, resolvi
abraçá-lo, tentando confortá-lo. Oliver me abraçou forte, voltando a chorar
mais uma vez no meu ombro.
Minutos depois, sentados na minha cama, Oliver me contou em
detalhes a conversa que haviam tido, do soco que havia dado no rosto do
irmão, da arrogância de Brian ao lhe contar a verdade e de como ele estava se
sentindo mal com tudo aquilo.
― Apesar de tudo, eu sempre achei que os primeiros anos do meu
casamento com Denise haviam sido verdadeiros. Admito que foi difícil saber
que ela me traiu com o meu próprio irmão antes mesmo de nos casarmos. —
Sua chateação era evidente. — E, ainda por cima, engravidar dele.
― Essa mulher nunca mereceu o seu amor, Oli. — Coloquei a mão
sobre a dele, enlaçando nossos dedos. — Ela não faz ideia do homem perfeito
que deixou escapar. — Lancei-lhe um sorriso.
― Não sei como contar isso ao Estevan — ele disse de cabeça baixa.
― Você não precisa. Quer dizer, como você mesmo disse, o Brian
podia estar blefando, não é?
― Assim como também pode estar dizendo a verdade.
― Por que você não faz o exame de DNA? — sugeri. — Assim
acaba de uma vez por todas com essa dúvida.
― Eu pensei nisso, mas tenho medo de descobrir a verdade.
― Oliver, independentemente do resultado desse exame, o Estevan
sempre será seu filho e você sempre será o pai dele. — Encarei-o com
sinceridade.
― Sofia, sabemos que essa não é bem a verdade. — Ele me olhou,
tristonho.
― Quem disse que não? Você fez um ótimo trabalho criando aquele
garoto, você o ama.
― Ah, Sofia. — Ele sorriu, voltando a me abraçar.
Deu um beijo em meu rosto e se deitou no meu colo, enquanto eu
acariciava seus cabelos.
― Já faz muito tempo desde a última vez que eu senti tanto medo
assim — ele murmurou, levantando o olhar para mim.
― Quando foi a primeira vez? — perguntei, atenciosa.
― Quando descobri que seria pai.
Senti um aperto no coração e me mantive em silêncio, acariciando
seus cabelos. Oliver estava tão exausto com tudo que estava acontecendo, que
em poucos minutos acabou pegando no sono.
Deixei-o em meu quarto e fui para a cozinha, onde preparei um bife
acebolado para nós dois. Piquei alguns tomates e pimentões para servir como
acompanhamento junto com o arroz.
Acordei-o para almoçar e depois, enquanto me ajudava a lavar as
louças, ele me pareceu um pouco mais animado, ainda que estivesse com um
resquício de tristeza em seu olhar.
― Você ainda vai para a empresa hoje? — perguntei, sentada ao seu
lado no sofá.
― Não sei se consigo. Só de imaginar que vou me encontrar com o
Brian se for para lá... — Ele balançou a cabeça de forma negativa.
― Tem razão, mas não deve dar esse gostinho a ele. A votação dos
acionistas para a escolha do novo presidente é em dois dias e sua ausência
pode acabar influenciando a decisão deles.
― Você tem razão. Por mais que as coisas estejam difíceis, não
posso desistir. — Ele levantou a mão, afastando uma mecha de cabelo que
estava caída no meu rosto e colocando-a atrás da minha orelha. — O que eu
faria sem você?
― Absolutamente nada — brinquei. — Aliás, tenho que te contar
mais uma coisa — eu disse com seriedade.
― Não é mais outra bomba, é? — Ele me fitou, receoso.
― Depende. — Sorri. — Eu aceito. — Oliver fixou seu olhar em
mim, sem entender. — Eu aceito morar com você, é claro, se você ainda
quiser que eu me mude.
― Sério? Isso é ótimo, Sofia! É claro que eu quero que você vá
morar comigo, agora mais que nunca. — Ele estendeu a mão, acariciando
meu rosto.
Lentamente, Oliver inclinou o corpo em minha direção, seus olhos
azuis me encaravam apaixonados e o brilho que eu tanto amava ver neles
havia voltado. Senti minha respiração ficar entrecortada enquanto ele olhava
para meus lábios de forma sexy, aproximando nossos rostos. Quando nossos
lábios finalmente se encontraram, Oliver me beijou com urgência,
esquecendo por alguns segundos sua tristeza.
― Você podia se mudar hoje, adoraria ver suas coisas juntas com as
minhas — ele surrava entre selinhos.

― Tenho muita coisa para arrumar aqui, Oli, não dá para sair assim.
— Ri.
― Promete que vai ser o mais rápido possível? — Ele me encarou
de forma desejosa.
― Prometo. — Sorri, voltando a beijá-lo.
Oliver foi embora cerca de uma hora depois.

CAPÍTULO 28 – SOFIA

No dia seguinte, já dentro do ônibus a caminho da faculdade, não conseguia


deixar de pensar no quanto Brian era baixo. Como se brigar pela presidência
da empresa com o Oliver já não fosse o suficiente, ele ainda havia tido um
caso com a esposa do irmão, como se isso fosse a coisa mais normal do
mundo, além de afirmar que Estevan era seu filho.
Por mais que Oliver tivesse descoberto da pior maneira que o irmão
era um mau-caráter, ele parecia não acreditar que ele tivesse qualquer
envolvimento no acidente de carro que havia matado seus pais. Por outro
lado, eu não estava tão certa disso e ainda não havia descartado essa ideia.
Muitas coisas não se encaixavam e eu continuava acreditando que os pais de
Oliver haviam sido alvo de uma sabotagem, e eu sabia que, se encontrasse o
tal Wilson Nunes, encontraria a verdade.
Peguei meu celular e disquei o número de Ryan.
― Sofia! Como vai? — ele perguntou ao atender.
― Muito bem e você?
― Bem. Em que posso ajudá-la?
― Será que você poderia me ajudar a encontrar uma pessoa?
Ele se manteve em silêncio do outro lado da linha.
― Por favor, Sofia, você ainda está bancando a detetive, não está?
— ele dizia, preocupado. — Olha, se você está suspeitando de alguma coisa,
me diga, eu posso ajudar.
― Eu só preciso esclarecer uma dúvida... Ryan, por favor, prometo
que será a última vez que te peço algo do tipo.
Ele suspirou.
― Certo. Quem você está procurando?
― Um homem chamado Wilson Nunes, acho que ele mora aqui
mesmo, no Rio.
― Não conheço ninguém com este nome, mas vou dar uma olhada
nos registros policiais.
― Obrigada Ryan, você é o melhor!
Ryan me disse que assim que conseguisse alguma informação me
telefonaria, depois desligamos.
Durante as aulas na faculdade, fiquei imaginando qual seria a relação
de Brian com esse tal Wilson e me perguntei porque ele havia telefonado
tantas vezes para ele em datas tão próximas ao acidente.
O final do segundo período estava se aproximando e eu estava
fazendo um esforço enorme para me preocupar apenas com as provas que
estavam se aproximando, mas, considerando todos os acontecimentos dos
últimos dias, estava sendo complicado.
Na hora do intervalo, me sentei em um banco no pátio, sob a sombra
de uma árvore, revisando o conteúdo de uma prova que seria realizada na
semana seguinte.
― Estava te procurando. — Vanessa se aproximou.
― Oi. — Sorri ao vê-la — Desculpe, provas se aproximando, sabe
como é.
― Sei, e é nesses dias que eu me arrependo amargamente por ter
escolhido fazer faculdade. — Ela se sentou ao meu lado, rindo.
― Você está diferente. — Observei. — Parece mais feliz...
― Bem, o fato de Brian ter me convidado para jantar hoje à noite
deve ter alguma coisa a ver com isso. — Ela sorriu, mas, ao ouvir o nome
daquele cafajeste, senti minha expressão mudar. — Desculpe, Sofi — ela
disse sem jeito, notando a minha mudança repentina de humor. — Eu sei que
você está com o Oliver e que os dois estão brigados. Sei também que você
não gosta do Brian, mas deveria fazer um esforço por mim.
Senti um nó se formar na minha garganta.
― Poxa, Sofi... — Ela tocou minha perna. — É a primeira vez que
vamos sair juntos, ele tem me tratado melhor e sinto que ele está mudando...
― Chega! — gritei, perdendo totalmente o controle. Não deixaria
que aquele canalha continuasse a enganar minha amiga, estava na hora dela
saber a verdade. — Vanessa, de uma vez por todas, ponha na sua cabeça que
esse cara não presta!
― Por que toda essa implicância com ele? Não quer que eu seja
feliz? — Ela se levantou, me encarando completamente decepcionada.
― Sim, e é por querer a sua felicidade que não vou permitir que
você perca mais nenhum segundo da sua vida com esse traste! — Levantei-
me, olhando para ela, decidida. — Vanessa, o Brian foi capaz de ter um caso
com a mulher do próprio irmão, quando eles ainda eram casados! Você acha
mesmo que ele tem um bom caráter?
― O quê? — Ela me olhou, surpresa.
Não medi esforços para contar a ela sobre o caso que Brian havia
tido durante anos com Denise, a insinuação sobre Estevan ser seu filho e até
sobre o encontro que havia marcado com ele escondido, as suspeitas que eu
tinha em relação a ele e as dezenas de conversas com outras mulheres que
havia encontrado em seu telefone.
― Esse cara só está se aproveitando de você, Vanessa, não percebe?
— eu disse por fim.
― Eu não acredito que ele tenha feito isso! — ela exclamou,
chocada.
― Eu não tenho por que mentir para você.
― Preciso ir — ela disse rápido, com lágrimas nos olhos.
― Ei, onde você vai? Vanessa?
Sem olhar para trás, minha amiga saiu apressadamente dali e, até a
hora da saída, eu não a vi mais.
Sabia que deveria ter sido difícil descobrir que o homem que ela
pensava ser possível mudar, era na verdade um mentiroso, um canalha, um
caso perdido. Mas ela era minha amiga e fazê-la sofrer toda aquela decepção
foi difícil, por mais que eu soubesse que fora necessário.
Não havia conseguido comer muito no almoço, estava me sentindo
muito mal por ela. Fui para o meu quarto e me deitei em minha cama. Sabia
que havia feito a coisa certa, mas não era assim que estava me sentindo.
Meu celular tocou ao meu lado e eu o apanhei rapidamente,
pensando que fosse Vanessa — estava realmente muito preocupada com ela
—, mas era Oliver.
― Oi, amor. — Atendi, me sentando, com a cabeça recostada na
cabeceira da cama. — Como você está?
― Oi — ele disse, calmo. — Estou bem. Na verdade, acho que
espetar um boneco parecido com o Brian durante o meu treino de esgrima
mais cedo me fez bem. — Ele disse sério e eu me mantive em silêncio. —
Estou brincando — ele disse, para meu alívio. — A verdade é que a conversa
que tivemos ontem me ajudou bastante.
― Fico feliz por ter ajudado — murmurei.
― Ajudou muito. Sabe, ontem, depois que cheguei em casa, passei o
resto da tarde com meus filhos. Quando olhava para o Estevan, era como se
nada tivesse mudado, como se Brian nunca tivesse me contado nada.
― É porque você o ama, Oli, e sempre vai amar, independentemente
de qualquer coisa.
― Eu sei, mas, não posso conviver com essa dúvida pelo resto da
vida.
― O que você vai fazer?
― Hoje, quando saí mais cedo, peguei a escova de cabelos de
Estevan e levei para um laboratório. Eu pedi o DNA.
― Quando sai o resultado? — perguntei, cautelosa.
― Amanhã.
― Sei o quanto tudo isso deve estar sendo difícil para você, Oliver.
― E está mesmo — ele disse, tristonho. — Por isso achei uma ótima
ideia quando Elena me pediu que a convidasse para a apresentação de balé
dela hoje à noite no Teatro Municipal. Você gostaria de ir?
― Mas é claro, Oli! Não perderia a apresentação dela por nada!
― Não vai acabar muito tarde e, se você quiser, podemos ir para
algum outro lugar depois. — Sua voz era pura promessa.
― Posso pensar sobre isso. — Sorri, em expectativa — Está na
empresa?
― Estou, está faltando apenas um dia para a votação dos acionistas.
Então, tudo por aqui está um caos.
― O que eles estão dizendo?
― Os acionistas? Bem, Bruno se infiltrou no meio deles para
descobrir alguma coisa, mas até o momento não sabemos de nada, a votação
será realmente uma surpresa para todos nós.
― Você se encontrou com seu irmão hoje?
― Felizmente, não. Cheguei um pouco mais cedo que o habitual.
Desde então, não saí da minha sala, sairei daqui a pouco com o Bruno para
fazermos um pouco mais de esgrima, é a única coisa que vai me ajudar a
aliviar um pouco a tensão que estou sentindo.
― A única coisa? — Perguntei, quase ofendida, e percebi que ele
sorriu.
― Querida, a espada que eu uso com você é outra! São diferentes
jeitos de relaxar — ele disse com um ar sacana e, mesmo pelo celular, senti
minhas bochechas corarem.
― Já te disseram que você é um pervertido? — perguntei, ainda
chocada com sua ousadia.
― Já me disseram coisas piores. — Ele riu. — Será que posso te
pegar às oito? A apresentação começa às nove e quinze.
― Claro, estarei te esperando.

Depois de falar com Oliver, tentei ligar para Vanessa, mas só caía
na caixa postal.
― Droga Vanessa! Onde você está? — sussurrei me, sentindo
culpada. Eu devia ter imaginado que ela fosse reagir assim. Com o celular na
mão, disquei seu número, tentando de novo, mas foi novamente em vão.

CAPÍTULO 29 – BRIAN

Faltava um dia para a votação dos acionistas que decidiria quem assumiria a
presidência da Advocacia e eu não poderia estar mais animado. A proposta
que havia feito a eles era irrecusável e eu duvidava muito que Oliver tivesse
alguma chance contra mim.
Não havia me encontrado com o meu irmão o dia todo, fiquei
sabendo que ele havia saído um pouco mais cedo e aproveitei para entrar em
sua sala.
Vi alguns casos sobre a mesa, uma foto dos filhos e uma de Sofia.
Sentei-me em sua poltrona e me inclinei para trás. A sensação de poder era
maravilhosa e sorri ao saber que tudo aquilo logo, logo, seria meu. Apanhei o
retrato de Sofia e o observei durante alguns instantes. Ela era realmente uma
bela mulher e, como qualquer outra mulher, estava com Oliver por interesse.
Eu sabia que minhas chances com ela aumentariam quando meu irmão
perdesse a presidência. Eu iria tirar tudo dele, tudo! Assim como ele tirou de
mim.
Às seis horas encerrei meu expediente e fui para o meu apartamento.
Tomei um banho, coloquei uma cueca box e me joguei na cama. Peguei meu
celular e disquei o número de Denise.
― Você não me esquece mesmo, não é? — ela disse ríspida, ao
atender.
― Oi para você também.
― O que você quer, Brian?
― Por que você foi contar ao Oliver que nós tivemos um caso? Sua
fofoca me rendeu um soco no rosto, sabia?
Ela ficou em silêncio por alguns instantes.
― Desculpe, a Sofia descobriu e acabou me procurando, não tive
como continuar negando.
― A Sofia? — exclamei surpreso, percebendo o quando aquela
garota poderia ser uma ameaça. — Ela te perguntou alguma outra coisa?
― Na verdade, ela perguntou se eu conhecia um homem chamado,
Wil... Wilson Nunes. — Prendi a respiração por alguns segundos. Como ela
havia descoberto sobre o Wilson?
― O que você disse, Denise? — perguntei, aflito.
― Eu disse que não o conhecia, não faço ideia de quem seja esse
homem.
― Fez bem. — Respirei aliviado.
― Quem é esse cara, Brian? — ela perguntou, curiosa.
― Se eu te contasse, teria que te matar. — Mesmo pelo celular, ouvi
sua respiração se acelerar. — Além disso, não é da sua conta.
― Como está indo seu plano de assumir a presidência da
Advocacia? — Ela mudou rápido de assunto.
― Ótimo. Na verdade, acho que o fato de ter dito ao Oliver que
Estevan era meu filho o deixou ainda mais desestabilizado e isso foi muito
bom para mim.
― Por que você disse isso a ele? — ela perguntou, chocada.
― Porque treze anos atrás, quando você engravidou, você mesma
me disse que tinha dúvidas se esse filho era meu ou do Oliver.
― Brian, não vê o que fez?
― Dane-se Denise! Agora poderemos acabar com essa dúvida de
uma vez por todas. — Ri, ouvindo a campainha tocar. — Tenho que desligar
agora.
― Brian? — Desliguei o telefone na cara dela.
Saltei da cama e caminhei até a sala. Quando abri a porta, avistei
Vanessa.
― Oi, gata! —disse, abrindo a porta para ela.
Vanessa passou por mim em silêncio, adentrando a sala. Ele vestia
um short jeans, expondo suas pernas maravilhosas e uma regata branca,
realçando bem seus seios.
― Pensei que tínhamos combinado que eu ia te pegar às sete para
jantarmos — eu disse.
― E tínhamos. — Ela se virou me olhando e vi quando seus olhos
fitaram meu volume sob a cueca.
― Já sei: estava com fome de outras coisas, não é? — Ri, me
aproximando dela.
― Não toque em mim! — Ela gritou, quando ia abraçá-la. Afastei-
me instintivamente, encarando-a sem entender. — Você é doente, Brian! Um
louco, cafajeste, sem-vergonha!
― Do que está falando?
― Eu descobri tudo! Descobri que você foi capaz de ir para a cama
com a esposa do seu irmão! Como pôde fazer isso?
― Ela queria e você sabe que eu não sou capaz de negar sexo a uma
mulher — respondi cínico e ela me encarou com desprezo.
― E agora você está tentando tomar o lugar do Oliver na presidência
da empresa! Por que toda essa obsessão pelo seu irmão? O que você ganha
fazendo tudo isso?
― Qual é, Vanessa? Por que isso agora?
― Eu tenho nojo de você, Brian! Nojo!
Eu me aproximei rapidamente e a empurrei contra a parede, colando
bem nossos corpos.
― Adoro mulheres histéricas, elas pegam fogo na cama —
murmurei, beijando seu pescoço.
― Me solta, Brian! — ela gritou, batendo as mãos contra meu peito,
me implorando para que a soltasse.
― Ei, quando eu acabar com você, essa raiva toda já vai ter passado
— eu disse, beijando sua boca, mas ela mordeu meu lábio com força, me
fazendo afastar.
Levei a mão à minha boca, sentindo o sangue escorrer.
― Não ouse nunca mais tocar em mim! — ela disse com lágrimas
nos olhos. — Eu pensei que pudesse te mudar, deixei que você fizesse coisas
terríveis comigo, tudo porque pensei que existisse alguma esperança para
você! — Ela chorava. — Só quero que me responda uma coisa: em algum
momento você realmente gostou de mim? — Sua pergunta me fez rir.
― Por favor, Vanessa! Você é gostosa e é boa na cama, mas amor é
uma palavra um pouco forte, não acha? — Antes que eu pudesse me
defender, ela revidou, dando um tapa forte em meu rosto.
― Você vai pagar por tudo que me fez, canalha! — ela esbravejou.
— E não pense que você vai vencer o Oliver, porque perto dele você não é
nada! — ela disse uma última vez, antes de me dar as costas e sair do meu
apartamento.
― Já vai tarde! — gritei enquanto ela ia saindo. — Maluca! — Dei
um soco forte na parede.
Eu sabia que aquilo havia sido obra da Sofia, Vanessa era muito
sonsa para ter descoberto tudo sozinha e não me restavam dúvidas de que
havia sido a amiga que a alertara. Mas tudo bem, Vanessa era uma chata
mesmo, eu só estava com ela pelo sexo e fiquei feliz por não ter que aturá-la
mais.
Por outro lado, tudo o que vinha acontecendo mostrava o quando
Sofia era esperta e curiosa. Eu sabia que ela estava revirando todo o meu
passado e eu precisava pará-la antes que ela trouxesse mais coisas à tona.
Afinal, como diz aquele velho ditado, a curiosidade matou o gato, não é?

CAPÍTULO 30 – SOFIA

Por volta das sete horas comecei a me arrumar. Fui para o banheiro e tomei
um belo banho, lavei meus cabelos e, depois de me secar, passei hidratante
por todo o meu corpo. Sequei meus cabelos com o secador e os mantive
soltos.
Enrolada na toalha, caminhei até meu guarda-roupas e fiquei parada
por alguns segundos, à procura de uma peça. Eu queria surpreender Oliver.
Acabei optando por um vestido que havia comprado há pouco tempo e que
esperava poder usar em uma ocasião como essa. Ele era preto, com
lantejoulas por toda a sua extensão e com um decote bem ousado nas costas.
Diante do espelho, fiz uma maquiagem própria para a noite. Preparei
minha pele, com um pouco de base, depois passei lápis e delineador nos
olhos e uma sombra preta, com tons marrons — nada muito carregado — e
finalizei com um batom vermelho mate nos lábios.
Por mais que eu não fosse adepta a saltos, reconhecia que eles
combinariam perfeitamente com a ocasião e com o look. Acabei me rendendo
e depois de calçar um par de saltos altos que tinha, também pretos,
combinando com o vestido, fui até minha penteadeira e apanhei minha
caixinha de joias, optando por um par de brincos de prata e uma pulseira da
mesma coleção, também de prata.
Passava o perfume que Oliver tanto amava, quando ouvi alguém
bater à porta. Antes de sair do quarto, conferi minha imagem no espelho e
fiquei satisfeita com o que vi.
Caminhei rapidamente até a sala e, quando destranquei a porta,
Oliver me fitou com admiração e era impossível não notar seus olhares para
meu corpo.
― Você está incrível — ele murmurou, ainda me contemplando.
― Obrigada, você também não está mal — brinquei e um sorriso
surgiu em seus lábios.
Céus, ele estava tão lindo! Vestia terno, sapatos sociais pretos e a
gravata borboleta lhe transmitia certa formalidade. Havia um relógio dourado
em seu pulso esquerdo, seus cabelos estavam perfeitamente arrumados e sua
barba por fazer dava a ele um ar másculo e sexy. Eu juro que, se ele tentasse
qualquer coisa naquele momento, eu nem tentaria resistir.
Como se lesse meus pensamentos, Oliver se aproximou sutilmente
de mim e me puxou para si, me presenteando com um beijo apaixonado.
― Podemos ir? — ele murmurou, afastando seus lábios dos meus
vagarosamente.
Não! quis gritar. Se eu pudesse, pediria que ele me beijasse para
sempre.
― Claro — sussurrei, seus belos olhos azuis me encarando
pacientemente.
Como um cavalheiro, Oliver estendeu o braço para mim e eu o
segurei, enquanto saíamos de minha casa.
― Onde estão as crianças? — perguntei, enquanto caminhávamos
em direção ao seu carro.
― Já estão no teatro, Estevan foi fazer companhia à irmã, Elena
estava um pouco ansiosa mais cedo — ele respondeu, abrindo a porta do
carro para mim.
Depois que Oliver entrou, ele deu partida no carro, dirigindo em
direção ao Teatro Municipal. Chegamos faltando apenas dez minutos para o
início do espetáculo. Eu nunca havia estado ali antes e fiquei encantada pela
arquitetura do local, que era de tirar o fôlego.
― É lindo, não é? — Oliver murmurou, notando minha admiração,
depois de estacionar o veículo.
― É esplêndido!
― Você precisa ver lá dentro, é mais lindo ainda.
Descemos do carro e caminhamos de mãos dadas até a entrada.
Fiquei surpresa por ver a quantidade de pessoas que haviam ido até ali para
assistir à apresentação de balé, mas, depois de ver alguns cartazes com fotos
de Ana Botafogo, compreendi que a grande maioria estava ali para vê-la.
Oliver e eu nos sentamos na plateia, em um local reservado bem em
frente ao palco, provavelmente destinado exclusivamente aos pais das
crianças que iriam se apresentar.
― Ainda bem que vocês já chegaram, já está quase começando! —
Estevan apareceu, se juntando a nós. — Olá, Sofia! — Ele acenou para mim
com um sorriso e eu retribuí seu gesto.
― E sua irmã? — Oliver perguntou.
― Ainda está bastante ansiosa, mas acredito que vai dar tudo certo,
ela está bem confiante.
As luzes da plateia se apagaram e somente o palco permaneceu
iluminado. Aos poucos, as meninas foram entrando e se organizando em seus
lugares. Elena estava na frente, com outras duas meninas. De tules, sapatilhas
e fitas de cabelo cor-de-rosa, elas estavam as coisas mais adoráveis do
mundo.
Elas dançaram ao som de Dance of the Sugar Fairy e deram um
show de fofura. Apesar de pequenas, seus movimentos eram precisos e,
mesmo quem não entendia muito de balé, conseguia perceber que elas
estavam fazendo tudo certo.
Como o pai babão que era, Oliver gravou os quatro minutos de
apresentação e aplaudiu eufórico quando elas agradeceram ao público.
Saíram do palco ao som de palmas e assovios, que se estenderam por todo o
teatro até o instante seguinte, quando Ana Botafogo entrou e dominou o palco
com toda a sua habilidade e graciosidade.
― Vou até os bastidores buscar a Elena. — Estevan anunciou,
desaparecendo pelas fileiras escuras do teatro.
― Viu só como a Elena estava linda? — Oliver perguntou, me
encarando todo orgulhoso.
― Foi difícil não notar, ela dançou lindamente! — respondi com um
sorriso.
Voltei minha atenção para o palco e fiquei encantada com a
apresentação de Ana Botafogo. Eu já tinha ouvido as pessoas falarem coisas
maravilhosas sobre ela, mas nunca cheguei a imaginar que ela fosse tão
incrível.
No escuro do teatro, estremeci quando Oliver colocou a mão sobre
minha coxa, movendo-a lentamente em direção à minha intimidade.
Ele aproximou os lábios do meu ouvido:
― Você não deveria ter vindo com esse vestido, não faz ideia do
quanto estou tendo que me segurar para não agarrá-la na frente de toda essa
plateia. — Uma onda de excitação percorreu minha espinha quando senti o
calor de suas palavras tão próximas.
Virei meu rosto lentamente, alcançando seu olhar.
― Por que não agarra, então? — murmurei provocante e ele apertou
minha coxa delicadamente.
― Por favor, não me provoque — ele pediu, sua voz esbanjando
desejo. — Minha situação já está bastante difícil aqui.
― Prometo retribuir quando chegarmos em casa — murmurei,
beijando-lhe a face, um sorriso sacana escapando dos meus lábios.

― Papai! — Elena disse, ao chegar até o pai. — O senhor viu minha


apresentação? O que achou? — ela perguntava, animada.
― Você estava maravilhosa, querida! — Oliver lhe deu um abraço.
— Estava linda!
― Como uma princesa? — Ela sorria.
― Exatamente igual!
― Sofia! — ela disse animada ao me ver, me recepcionando com
um abraço forte.
― Olá Elena! Você dançou tão bem! Será que pode me ensinar
aqueles passos?
Ela me encarou, entusiasmada.
― Acho que posso. — Ela me lançou um sorriso contente.
Elena se sentou em meu colo e assistimos juntos a toda a
apresentação de Ana Botafogo, enquanto ele cochichava para mim o quanto a
adorava e como havia sido simpática com ela quando se conheceram mais
cedo, além de me mostrar a foto que haviam tirado juntas.
Ao término da apresentação esperamos o teatro esvaziar um pouco,
antes de sairmos.
― Pai, estou com vontade de comer sanduíche — Estevan disse, já
dentro do carro.
― Eu também, papai! — Elena disse manhosa, sabendo que
conseguiria fisgar o pai se fizesse aquilo.
― De repente, me deu uma vontade de comer sanduíche —
murmurei, desejando mais que nunca comer aquilo o quanto antes.
Olhei para Oliver e ele me encarava todo empolgado. Ele sorria e
acho que compreendeu que eu estava tendo um desejo naquele momento.
― Tudo bem, vamos comer um sanduíche, então! — ele disse,
vencido.
― Eba! — Comemorei junto com as crianças.
Oliver nos levou a uma lanchonete que ficava a apenas duas quadras
do teatro. Pedi um sanduíche com tudo a que tinha direito e as crianças
também. O local estava cheio e foi sorte termos achado uma mesa.
― Tem certeza que não quer? — Olhei para ele, que tomava apenas
um suco de abacaxi. — Está maravilhoso!
― Está mesmo, pai! — Estevan concordou.
Percebi um resquício de tristeza no olhar de Oliver quando o filho o
chamou de pai, mas, com a rapidez com que esse sentimento apareceu,
também se foi.
― Tenho certeza de que está, mas eu preciso manter a forma, é
importante para o trabalho — ele disse, sereno.
― O que ser advogado, tem a ver com manter a forma? —
perguntei, olhando-o de relance.
― Bem, nós temos muitas clientes do sexo feminino. Não acha que
elas vão gostar? — ele disse com implicância.
― Pode tentar o quanto quiser, mas não vai conseguir me deixar
com ciúmes.
― Você parece muito segura de si. — Ele riu.
― E sou — retruquei, dando outra mordida no meu lanche.
Meu celular começou a tocar e, depois de apanhá-lo, vi o nome de
Vanessa no visor.
― Vanessa, onde você está? Está tudo bem? Tentei falar com você o
dia todo! — eu disse, atendendo prontamente.
― Não se preocupe, estou bem — ela disse com a voz fraca. — Sei
que é tarde, mas você está em casa?
― Na verdade estou com Oliver e com as crianças, mas, se você
quiser, posso ir embora agora mesmo.
― Não Sofi, eu agradeço, mas não me sentiria bem sabendo que
atrapalhei sua noite com o advogado. — Mesmo com a voz triste, Vanessa
me fez rir.
― Tem certeza que está tudo bem mesmo? — perguntei,
preocupada.
― Está sim, só queria conversar, mas prometo que te conto tudo
amanhã.
― Tudo bem, se cuida.
Desligamos.
― Tudo bem? — Oliver perguntou atencioso, notando a minha
preocupação.
― Está sim.
Quando chegamos à casa de Oliver já era quase meia-noite, as
crianças não haviam aguentado e haviam adormecido no carro. Como era
mais forte, Oliver pegou Estevan nos braços e o levou para o quarto, fiz o
mesmo com Elena.
Com ela em meus braços, tive noção de como iria me sentir quando
fosse mãe. Os filhos de Oliver eram incríveis e eu era extremamente
apaixonada pelos dois, mas sabia que, quando o meu bebê nascesse,
continuaria amando-os igualmente.
Peguei o pijama de Elena na gaveta e a ajudei a se trocar, depois a
cobri e lhe dei um beijo no rosto.
― Boa-noite, Sofia — ela balbuciou, sonolenta.
― Boa-noite, querida — murmurei, saindo de seu quarto e fechando
a porta lentamente.
Oliver estava encostado na parede, me esperando. Aproximei-me e
ele colocou suas mãos ao redor da minha cintura, me puxando para um beijo
envolvente e cheio de desejo.
― Dorme aqui hoje? — ele perguntou, mordiscando meu lábio
inferior.
― Não trouxe minha roupa de dormir — murmurei, acariciando seu
rosto.
― Não acho que você vá precisar. — Ele sorriu por entre meus
lábios, me beijando com mais intensidade.
Oliver pegou em minha mão e me guiou até o quarto. Depois de
trancar a porta, ele me pressionou contra ela com força, beijando meu
pescoço e depois invadindo minha boca com sua língua quente, enquanto
suas mãos acariciavam minhas costas nuas, pelo decote do vestido. Enlacei
minhas mãos ao redor do seu pescoço e o puxei mais para mim, sentindo sua
ereção através da calça na minha barriga.
Com certa habilidade, tirei seu paletó e sua camisa e as joguei no
chão, empurrando-o na cama. Oliver caiu de costas no colchão macio e eu
tirei meu vestido lentamente, sob seu olhar atento. Seus olhos azuis pareciam
duas piscinas de águas escaldantes e, naquele momento, eu soube o quanto
ele ansiava fazer amor comigo.
Depois de ficar só de lingerie, subi em cima dele e distribuí beijos
por toda sua barriga, pescoço e finalmente por sua boca. Nossas línguas se
enlaçavam loucamente e meus cabelos formavam uma espécie de cortina ao
redor de nossos rostos, tornando todo o momento ainda mais íntimo.
Sem interromper nosso beijo, Oliver tirou os sapatos e inclinou seu
corpo, de modo que conseguiu tirar a calça também.
Meu coração batia forte e eu sabia que não conseguiria continuar por
muito mais tempo com aquele jogo de sedução. Com suas mãos habilidosas,
ele tirou meu sutiã e o atirou pelo ar, admirando meus seios por alguns
instantes e depois massageando-os com as mãos.
Segurei um gemido, meu corpo avisando que precisava dele o mais
rápido possível. Depois de me despir completamente e ajudá-lo a tirar a
cueca, apoiei minhas mãos em seu abdômen malhado, começando a cavalgar
sobre seu membro.
Oliver fechou os olhos, saboreando meus movimentos. Perceber que
eu estava conseguindo satisfazê-lo me deixou ainda mais excitada. Ele levou
as mãos aos meus quadris, segurando com força, como se quisesse garantir
que eu me manteria no lugar.
— Ah, Oli! — Gemi, ouvindo minha respiração descompassada.
― Não podemos fazer barulho — ele murmurou ofegante, se
inclinando para me beijar, sua língua me dominando, me silenciando por
completo.
Sentir Oliver se perder dentro de mim foi o meu fim e instantes
depois também senti meu corpo todo se contrair e eu caí sobre ele,
completamente satisfeita.
Ambos ficamos em silêncio, apenas apreciando a presença um do
outro, enquanto esperávamos nossas respirações se normalizarem.
― Uau, isso foi incrível meu amor, você me surpreendeu — Oliver
murmurou, acariciando meus cabelos.
Levantei a cabeça do seu peito, encarando-o com um sorriso.
― Eu tenho meus segredos — Beijei-o castamente nos lábios.
― Mesmo? Gostaria de desvendar mais desses seus segredos. —
Seus olhos azuis me fitaram, apaixonados.
― Você vai, em breve — prometi, me movendo para o outro lado da
cama e puxando o lençol para cobrir minha nudez.
Oliver se virou para mim. Ele me encarava com tanta paixão e tanto
carinho, que era como se o que tivéssemos fosse único, como se nenhum
outro casal fosse capaz de se amar como nós nos amávamos.
― Estava pensando em ir à igreja na semana que vem marcar o
nosso casamento. — ele sussurrou, me pegando de surpresa.
― Sério?
― Sim, quero me casar com você o mais rápido possível, no
máximo em um mês.
― Um mês, Oli?
― Por quê? Parece muito rápido para você? — Ele me olhou
atentamente.
― Não, é que saber que você me quer tão rápido na sua vida me
emociona — eu disse com lágrimas nos olhos.
― E por que eu não iria querer? — Ele se inclinou, me cercando
com seus braços. — Você está esperando um bebê e hoje, depois de ver como
você lida e se dá bem com os meus filhos, eu fiquei ainda mais apaixonado
por você. — Ele aproximou seu rosto, me beijando.
― Eu também te amo, muito — sussurrei por entre seus lábios.
― Você gostaria de se casar em algum lugar de sua preferência? Eu
particularmente acho a Igreja de Nossa Senhora da Candelária linda!
― Qualquer lugar está bom, desde que seja com você. — Coloquei
minhas mãos em sua nuca, acariciando seus cabelos — A propósito,
conversei com o dono da casa em que moro, está tudo acertado e, se você
quiser, posso me mudar para cá no domingo.
― Mesmo?
― Sim.
― Vai ser maravilhoso ter você morando aqui nesta casa, dormindo
neste quarto comigo, nesta cama... — ele disse com desejo, roçando seus
lábios nos meus. — Você acredita em amor eterno? — Sua pergunta me
pegou de surpresa.
― Bem, acho que sim, muitas pessoas relatam ter amado uma única
pessoa durante toda a vida. Por quê?
Seus olhos me encararam com um brilho jamais visto antes.
― Porque eu sei que vou te amar para sempre, Sofia.

CAPÍTULO 31 – VANESSA

Depois que saí da casa de Brian, fiquei horas vagando pelas ruas do Rio, sem
destino e sem vontade nenhuma de chegar a algum lugar. Eu estava destruída,
arrasada.
Passei os últimos meses apaixonada por um canalha e fui tão estúpida a ponto
de chegar a acreditar que ele também estava gostando de mim.
Confesso que, apesar de Sofia ter me contado toda a verdade, eu
tinha esperanças de que quando chegasse ao apartamento de Brian ele me
abraçasse e me explicasse toda aquela situação, dizendo que tudo não havia
passado de um grande mal-entendido. Mas em vez disso ele me tratou como
se eu não fosse nada e foi frio quando disse que nunca sentiu nada por mim,
deixando bem claro que a única coisa que nos unia era o sexo.
Por volta de quase dez horas da noite parei em um bar. Depois de
beber algumas cervejas, liguei para Sofia. Eu precisava muito conversar com
ela, precisava desabafar e pedir desculpas por ter sido tão injusta em algumas
ocasiões, quando, na verdade, ela só queria me ajudar.
Depois de atender, ela me disse que estava com Oliver e com os
filhos dele e eu menti que estava tudo bem, porque não queria atrapalhar a
noite deles.
― Quer saber? Cansei de chorar por você, Brian! — Levantei-me,
saindo do bar em que estava decidida a esquecê-lo de uma vez por todas.
Chamei um táxi e pedi que ele me levasse a uma boate bem badalada que
tinha ali perto.
O lugar estava lotado. No fundo, músicas eletrônicas tocavam,
fazendo todos dançarem animados.
Fui até o bar e pedi um drink. Eu já havia bebido umas quatro
cervejas, mas não sinto vergonha de admitir que estava recorrendo ao álcool
para esquecer o mais rápido possível aquele dia horrível.
― Vanessa, não é? — Um homem se aproximou, tocando meu
ombro.
Quando me virei, talvez por causa da bebida, demorei alguns
instantes até que conseguisse reconhecê-lo.
― Ora, ora, se não é o policial gato. — Sorri, sem pudor. — Você
não deveria estar prendendo alguns bandidos? — perguntei, dando mais um
gole na bebida.
Ele sorriu, se sentando ao meu lado.
― Na verdade, hoje é meu dia de folga.

― Então, vamos beber todas! — disse animada, fazendo um gesto


para que o barman me trouxesse outro drinque.
― Está tudo bem? — ele perguntou, provavelmente notando o
quanto eu estava bêbada.
― Se descobrir que o cara pelo qual você era apaixonada, era na
verdade um canalha, então... — Olhei para ele, tentando lembrar seu nome.
― Ryan, meu nome é Ryan — ele respondeu.
― Então Ryan, significa que estou muito bem! — Ri, dando um
longo gole na minha bebida.
― Você não parece bem. Quer que eu te leve para casa? — ele
perguntou, sério.
― Está brincando? — Levantei-me. — Isso aqui é o paraíso! —
respondi, indo em direção à pista de dança.
De repente começou a tocar Hear me now, minha música favorita, e
eu comecei a dançar como se não houvesse amanhã.
― Oi, gata. — Um rapaz alto, loiro e de olhos claros se aproximou,
tocando minha cintura.
― Oi — respondi, sem parar de dançar.
― Você é muito linda, sabia? — Ele disse, avaliando todo o meu
corpo.
― Obrigada. — Sorri em agradecimento.
Rapidamente, ele pegou minha mão e me arrastou para um canto da
boate.
― Ei, onde estamos indo? — perguntei desorientada e ele me
empurrou contra a parede, beijando meu pescoço. — Me solta! Eu não quero!
— gritei.
― Qual é gatinha? São só uns beijinhos, não vai arrancar pedaço!
― Solta ela! — Ryan se aproximou, empurrando o rapaz para bem
longe de mim — Vamos sair daqui — ele disse, me puxando pela mão e me
levando para fora da boate.
No caminho, senti meu estômago embrulhar e, quando chegamos do
lado de fora, fui para um canto e coloquei tudo para fora. Ryan se aproximou,
puxando meus cabelos para trás.
Quando terminei, mal conseguia encará-lo. Céus, eu estava morta de
vergonha...
― Me desculpe — disse, quase chorando.
― Está tudo bem. — Ele estendeu a mão, acariciando meu rosto.
Ele era tão bonito... Seus olhos eram verdes e apesar de estar usando
camiseta e jeans, não era difícil notar seu corpo malhado.
― Vamos, vou te levar para a minha casa.
― Sua casa? — Encarei-o com os olhos arregalados.
― Sei que você mora longe e já está tarde. A minha casa, por outro
lado, fica a apenas algumas quadras daqui — Ele me olhou, sério. — Não se
preocupe, não vou tentar nada.
Com uma ajudinha do álcool, me aproximei, colocando as mãos em
seu peito.
― Por que não? — disse, provocante.
― Você está bêbada. Tenho certeza de que não vai querer fazer nada
de que possa se arrepender amanhã. — Suas palavras me fizeram dar um
passo para trás. — Vamos. — Ele pegou minha mão, me levando até seu
carro.
Pouco tempo depois já estávamos em seu apartamento. Era um
quarto pequeno, com uma cama, um guarda-roupas, uma televisão na parede,
uma geladeira, uma mesa pequena, duas cadeiras no canto e um criado-mudo
ao lado da cama. Havia uma janela com vista para a rua e no outro canto um
sofá e uma outra porta, que imaginei ser o banheiro.
― Sente-se. — Ryan apontou para a cama e eu me sentei, olhando-o
atentamente.
Quando ele se aproximou, pensei que fosse tentar algo e me
arrependi amargamente de ter bebido tanto. Que diabos eu estava fazendo
sozinha em um quarto com um homem que eu mal conhecia?
Meu coração começou a pulsar mais rápido. Eu não queria fazer
nada e senti um medo súbito me invadir, mas, quando ele se ajoelhou no chão
e tirou minhas sandálias, senti um alívio imediato.
― Você pode dormir na minha cama — ele murmurou, me olhando.
― E você? Onde vai dormir?
― Eu vou ficar no sofá. — Ele indicou, olhando por cima do ombro.
Ryan se levantou e, ainda relutante, me deitei em sua cama, eu
estava exausta. Pelo canto do olho, o vi tirando a camiseta, revelando seu
peito forte e sua barriguinha sarada. Depois, ele tirou o cinto e se deitou no
sofá apenas de jeans. Ele se revirou algumas vezes em busca de uma posição
confortável e, depois de alguns minutos quieto, constatei que havia pegado no
sono.
Passei algum tempo acordada, chorando baixinho, arrependida por
ter me envolvido com Brian e só dormi quando já não me restavam mais
lágrimas para chorar.
Acordei com uma dor de cabeça estridente e me sentei na cama.
Olhando ao redor do quarto não vi sinal de Ryan. Provavelmente, ele já devia
ter saído para trabalhar e eu sabia que já havia chegado a minha hora de partir
também.
Lavei o rosto no banheiro e penteei meus cabelos, tentando
comportá-los da melhor maneira possível.
Quando saí, me surpreendi ao encontrar Ryan dentro do quarto. Ele
estava fardado e, em uma mesa do canto, avistei alguns pães, manteiga e café.
― Bom-dia. — Ele me encarou com um sorriso. — Como se sente?
― Péssima, minha cabeça parece que vai explodir. — Aproximei-
me extremamente sem jeito, me sentando à mesa.
Ryan caminhou até o criado-mudo que ficava ao lado da cama,
pegou um Dorflex e depois um copo de água na geladeira e os entregou para
mim, para que bebesse.
― Obrigada — agradeci, torcendo para que o comprimido fizesse
efeito imediato.
― Você deveria comer alguma coisa. Os pães estão quentinhos,
acabei de passar na padaria. — Ele apontou, me olhando seriamente,
enquanto se sentava à minha frente.
Baixei a cabeça, me sentindo extremamente envergonhada pelos
acontecimentos da noite anterior.
― Me desculpe por ontem — disse, sem graça. — Eu disse e fiz
coisas que geralmente não costumo fazer, eu não sou assim.
― Sei que não — ele disse, sincero. — Mas quem nunca extrapolou
na bebida, não é mesmo? — Ele sorriu.
― Você foi muito legal comigo ontem, obrigada — disse,
agradecida.
― Não precisa agradecer, você estava precisando de ajuda e eu quis
ajudá-la, mas, quer um conselho? — Seus olhos verdes me fitaram sérios —
Agradeça por ter se livrado desse cara, se ele fez você se sentir tão mal assim,
então certamente não era boa pessoa.
― E não era mesmo, todo o nosso relacionamento foi uma mentira
— disse, sentindo meu coração apertar.
― Ei... — Ele estendeu a mão sobre a mesa segurando a minha. —
Não se sinta culpada por tê-lo amado, isso não vai mudar nada, agradeça por
ter conseguido se libertar dele.
― Eu tenho que ir agora. — Levantei-me.
― Tem certeza de que não quer comer nada antes? — Ele também
se levantou, me acompanhando. — Não quer ao menos que eu te leve em
casa?
― Acho que já te incomodei bastante — Lancei-lhe um sorriso
fraco.
Ryan colocou as mãos na cintura, baixando o olhar por alguns
instantes, enquanto eu pegava minha bolsa sobre a cama.
― Se precisar de um amigo para conversar, sabe onde me encontrar
—ele murmurou, voltando a me olhar.
― Sei, sim. — Eu me aproximei e, mesmo receosa, lhe dei um
abraço rápido.
Soltei-o e, sem dizer nada, dei um passo em direção à porta, quando
ele me surpreendeu, me segurando pela mão e me puxando para si.
Seus olhos verdes encararam os meus por alguns instantes. Depois,
encararam meus lábios e eu coloquei as mãos ao redor do seu pescoço, lhe
dando permissão. Quando ele finalmente uniu seus lábios com os meus, senti
toda a preocupação que sentia sendo deixada de lado.
Seu beijo era lento e envolvente, e eu podia sentir um carinho
enorme por parte dele.
Lentamente, ele afastou os lábios dos meus, acariciando meu rosto.
― Desculpe, desde ontem estou querendo fazer isso — ele disse
com um sorriso.
― Ninguém nunca me beijou assim antes — murmurei, recordando
todo o carinho.
― Espero que isso seja bom — ele brincou.
― É sim.
― O que acha de sairmos qualquer hora dessas para nos
conhecermos melhor?
Ele estava mesmo me convidando para sair?
― Estou livre hoje à noite — respondi com um sorriso, sabendo de
alguma forma que Ryan era diferente de todos os outros homens com os
quais já havia saído.
CAPÍTULO 32 - SOFIA

Ao amanhecer, Oliver e eu fizemos amor novamente. Diferente da noite


passada, não tínhamos pressa ou urgência, apenas queríamos aproveitar o
máximo de tempo possível saboreando o toque um do outro.
Depois de termos feito amor, Oliver foi para o banheiro tomar uma
ducha e eu permaneci deitada na cama, fechando os olhos, tentando fazer
aquela sensação de paz que sentia durar para sempre. Eram cinco e meia da
manhã e ainda me restava um bom tempo para descansar antes de ter que me
arrumar para ir para a faculdade.
Fingi dormir, quando vi Oliver sair do banheiro com a toalha enrola
ao redor da sua cintura. Ele olhou brevemente para mim e, depois de
constatar que eu devia estar dormindo, encaminhou-se até seu closet e voltou
minutos depois vestindo um terno preto, uma gravata vermelha e sapatos
sociais também pretos. De volta ao quarto, fiquei olhando-o enquanto ele
penteava os cabelos, deixando-os impecáveis.
― Pensei que estivesse dormindo. — Ele me olhou com um sorriso
ao notar que eu o estava observando.
― Na verdade não, só estava querendo mais alguns minutos antes de
me levantar para começar o dia — disse, ainda sonolenta.
Oliver se aproximou, se sentando ao meu lado na cama e depois se
inclinando para me beijar.
― Obrigado por ser sempre tão incrível, você não tem ideia do
quanto me faz feliz — ele murmurou, afastando seus lábios dos meus
lentamente e depois acariciando meu rosto, enquanto seus olhos azuis me
fitavam apaixonados.
― Você sim é o ser humano mais incrível que já conheci. Conhecer
você foi a melhor coisa que já me aconteceu. Eu te amo, Oli.
Percebi seus olhos marejados. Céus, ele havia mesmo se emocionado
com minhas palavras? Eu amava aquele Oliver sensível.
Ele me lançou um sorriso acolhedor e depois me deu um beijo casto.
― Você tem mesmo que ir para a faculdade hoje? — ele sussurrou,
depois de se afastar sutilmente.
― Tenho, as provas estão se aproximando, então... Ai meu Deus,
Oliver! — Encarei-o, assustada. — Eu não sabia que iria passar a noite aqui
com você. Então, nem trouxe roupa, não posso ir com aquele vestido para a
faculdade! — Apontei para o vestido preto caído ao lado da cama, o mesmo
que havia usado para ir ao teatro na noite anterior.
― Por que não? Tenho certeza de que iria atrair muitos olhares —
ele disse com um sorriso sacana.
― Oli! — O repreendi.
Ele saiu da cama com um sorriso largo no rosto, caminhou de volta
ao closet e voltou com uma sacola nas mãos.
― Espero que isso resolva om seu problema. — Ele tornou a se
sentar ao meu lado.
― O que é isso? — perguntei, apanhando a sacola de suas mãos.
― Abra. — Ele me incentivou.
Ao abri-la, me deparei com uma calça jeans e uma blusa branca de
mangas longas com alguns detalhes em renda.
― O que achou? — Oliver perguntou, me olhando atentamente.
― São lindas!
― Ontem, depois que te convidei para sair, passei em uma loja e
comprei essas peças para você, espero que sejam o seu número.
― Espera aí! — arqueei uma sobrancelha para ele. — O que te fez
concluir que depois de me chamar para sair, eu iria querer passar a noite aqui
com você?
― Não sabia. — Ele deu de ombros — Por isso todas as
provocações. — Ele riu.
― Você é um safado, senhor Beaumont! — Dei um tapa de leve no
peito dele.
― Quem não arrisca, não petisca, não é o que dizem? — Ele riu alto.
― Ainda assim terei que voltar em casa, preciso pegar meu caderno
e meus livros.
― Acho que não. Fiz isso ontem. Enquanto você fechava as janelas
da sua casa, peguei sua mochila, ela está dentro do carro.
― Você planejou tudo mesmo, não foi? — eu disse, cruzando os
braços.
― Desculpe, mas eu precisava, estava com tantas saudades... — ele
murmurou, roçando seus lábios nos meus.
Céus, Oliver era atraente demais! Vencida por meu desejo de beijá-
lo, coloquei meus braços em seu pescoço e selei nossos lábios.
― Também estava com saudades — confessei, me afastando para
olhá-lo.
Ele sorriu.
― Estarei na cozinha te esperando para tomarmos cafés juntos. —
Ele beijou minha testa e depois saiu do quarto.
Afastei o lençol que me cobria e depois saí da cama, indo até o
banheiro. Entrei no box e liguei o chuveiro. Ao contato da água morna com a
minha pele, senti meu corpo todo relaxar.
Depois do banho, peguei uma toalha que estava no cabide, enrolei-a
ao redor do meu corpo e voltei para o quarto. Vesti as roupas que Oliver
havia me dado, penteei os cabelos e, ainda relutante, mas sem escolha, calcei
o mesmo salto alto da noite anterior. Ele era bem básico e combinava com o
jeans. Acabou me deixando bem elegante.
Depois de apanhar as minhas roupas e as de Oliver, que estavam
espalhadas pelo chão, e guardá-las no closet, arrumei a cama e fui para a
cozinha.
Oliver estava sentado à mesa com os filhos, tomando uma xícara de
café, enquanto eles comiam torradas e tomavam leite. Dona Ana estava
próxima à pia.
― Bom-dia, Sofia! — Estevan e Elena disseram animados, ao me
verem.
― Bom-dia! — Aproximei-me e os beijei.
― Você está muito bonita — Elena observou.
― Obrigada, seu pai tem bom gosto — eu disse, sorrindo para
Oliver.
― Bem-vinda de volta, senhorita Montenegro — dona Ana disse
discretamente.
― Por favor, dona Ana, não me venha com formalidades. Só Sofia,
está bem? — Eu me aproximei, envolvendo-a em um abraço. — Senti
saudades da senhora.
― Eu também. Aliás, parabéns, estou sabendo da novidade, estou
muito feliz por você e pelo Oliver — ela disse, emocionada.
― Que novidade? — Elena perguntou, curiosa.
― Se esqueceu que o papai nos disse que ele e a Sofia vão se casar e
que ela vai vim morar conosco? — Estevan relembrou a irmã.
― É mesmo — Elena disse após um instante.
Voltei o olhar para Oliver e ele se manteve em silêncio. Ele sabia
que cabia a mim dar aquela notícia aos dois.
― Na verdade, tenho uma outra novidade para vocês — eu disse,
atraindo seus olhares para mim.
― O que é Sofia? — Eles me encararam, curiosos.
― Eu estou grávida — disse aflita, não sabia como eles iriam reagir
àquela notícia.
― Nós vamos ter outro irmãozinho? — Elena me encarou, confusa.
― Ou uma irmãzinha. — Dei de ombros.
Admito que fiquei surpresa quando os dois saíram da mesa e
correram até mim, me abraçando forte.
― Estou feliz que vá fazer parte da nossa família, Sofia! — Estevan
me olhava com um sorriso. — Você vai ser a madrasta mais legal desse
mundo!
― Se vocês dois não se importarem, eu estava dizendo ao pai de
vocês que poderia me mudar para cá no domingo, mas, se vocês se sentirem
incomodados...
― Está brincando? Já passou da hora de você vir morar conosco —
Estevan disse, animado com a ideia.
― Não aguentamos mais o papai falando que sente a sua falta —
Elena entregou o pai e, no mesmo instante, encarei Oliver, que permanecia
sentado à mesa, observando aquela cena de confraternização.
Apesar do seu silêncio, percebi que ele estava emocionado com o
apoio dos filhos para nós dois e sabia também que ele estava bancando o
Oliver durão para conseguir conter as lágrimas.
― É mesmo? — Arqueei uma sobrancelha para Oliver.
Com um sorriso nos lábios, ele se aproximou, envolvendo a mim e
aos filhos em um único abraço.
― Tenho certeza de que vamos ser muito felizes juntos — ele
murmurou contente e, quando olhei para o lado, vi lágrimas de emoção
correndo pelo rosto de dona Ana.
Depois de toda aquela comoção, Oliver me levou à faculdade e o dia
passou estranhamente rápido.
Vanessa não havia ido para a faculdade naquele dia, o que me
deixou preocupada. Depois que cheguei em casa, a primeira coisa que fiz foi
telefonar para ela.
― Oi Sofi! — ela atendeu.
― Graças a Deus, Vanessa! Já estava morta de preocupação! Está
tudo bem?
Houve um longo silêncio do outro lado da linha.
― Eu terminei com o Brian. Você estava certa, aquele cara não vale
nada, você precisava ter visto as coisas horríveis que ele me disse. — Notei
um resquício de decepção em sua voz.
Respirei fundo, aliviada.
― Não sabe o quanto estou feliz por saber que você terminou com
aquele cara!
― Me desculpe por não tê-la ouvido antes, em pensar que cheguei a
me afastar de você por causa daquele idiota! — ela disse, sentindo-se
culpada.
― Você não me deve desculpas, Vanessa! Aquele crápula
manipulou você, não foi sua culpa.
― Você é a melhor amiga que alguém poderia ter, sabia? — Ela riu.
― Eu sei — brinquei. — O que acha de você dormir aqui em casa
hoje? Podemos fazer brigadeiro e depois ver um filme.
― Não parece uma programação muito saudável. — Podia ver
claramente o seu lado fitness fazendo uma careta para mim.
― E não é, mas é essa a intenção. — Ri.
― Obrigada pelo convite, mas eu tenho um jantar hoje à noite — ela
disse, cautelosa.
― Um jantar? Uau! Você é rápida, hein? — zombei, mas feliz por
ver que ela estava se propondo a esquecer o Brian — Posso saber com quem?
― Com o policial gato.
― Você vai jantar com o Ryan? — Dei um pulo do sofá,
completamente surpresa — Como vocês se encontraram?
― Eu fui para uma boate ontem, bebi todas. Um cara tentou me
beijar e ele me ajudou. Enfim, é uma longa história e eu gostaria de te contar
pessoalmente, mas o fato é que ele me chamou para sair e eu aceitei.
― O Ryan é um cara incrível! Espero que vocês dois se entendam!
― Eu também. Olha, vou ter que desligar aqui, estou com uma
ressaca danada.
― Tudo bem, mas quero detalhes desse jantar, ouviu?
― Pode deixar.
Quando desligamos, dei pulinhos de alegria. Meus dois melhores
amigos iriam jantar juntos! Poderia ter acontecido coisa melhor? Ryan era um
cara incrível, educado, carinhoso, atencioso, além de ser muito bonito. Era
óbvio que ele era o tipo de homem ideal para Vanessa e eu comecei a rezar
para que tudo desse certo entre os dois.
Meu único medo era de que Vanessa só tivesse aceitado sair com ele
para fazer ciúmes no Brian. Apesar de mau-caráter, ela o havia amado e
sempre é difícil ter que abandonar um amor. O fato é que ambos mereciam
ser felizes e eu sabia que, se fosse para ser, seria.
À noite, depois de tomar um banho e vestir minha camisola, fui para
a sala ver um pouco de televisão, quando recebi uma ligação de Oliver:
― Oi, Oli! — atendi.
― Oi amor, tudo bem se eu for agora à sua casa? — Ele parecia
tenso.
― Aconteceu alguma coisa? — Eu me endireitei no sofá, já
preocupada.
― Estou com o exame de DNA — ele disse tentando manter a calma
e eu senti meu corpo todo congelar.
― Qual o resultado? — perguntei com voz falha.
― Ainda não abri. Para ser sincero, estou com medo do Brian ter
dito a verdade. Será que posso abrir com você? Se eu estiver sozinho e o
resultado não for o esperado, não sei o que pode acontecer. — Seu medo era
claro.
― Claro, estarei te esperando. — Engoli em seco.
Esperei ansiosamente por Oliver, andando de um lado para outro, e
ele chegou cerca de uma hora depois.
Depois de recebê-lo com um abraço forte, o levei até a sala. Ele me
entregou o envelope com o resultado e nos sentamos lado a lado.
― Tem certeza de que quer que eu abra? — Encarei-o.
― Tenho — Oliver respondeu, seus lábios duramente contraídos.
Com meu coração pulsando forte arranquei o lacre do envelope e
puxei o exame. A tensão e o medo pareciam dominar o ambiente e a única
coisa que se podia ouvir era o som das nossas respirações irregulares.
Primeiro meus olhos foram de encontro a um amontoado de letrinhas
miúdas no centro da folha, que traziam uma longa explicação sobre o exame
em questão. Depois, nas últimas linhas, consegui ver o resultado, que dizia se
Oliver era ou não o pai de Estevan:
― E então? — ele perguntou ansioso, o azul de seus olhos
consumido pelo medo.
Uma lágrima correu por meu rosto e eu disse a ele qual era o
resultado.
CAPÍTULO 33 – OLIVER

― E então? — perguntei, vencido pela ansiedade.


Sofia mantinha os olhos fixos no exame e eu a encarei, sentindo meu
coração pulsar forte no meu peito. Uma lágrima escapuliu dos olhos dela e eu
senti minha respiração ficar descompassada.
― Por favor, me diga — pedi, em completo desespero.
Seus olhos cor de mel fitaram os meus, ainda marejados. Depois do
que pareceu uma eternidade, seus lábios se abriram em um sorriso.
― Deu positivo!
― O quê? — A essa altura, meu coração queria saltar para fora do
peito.
― Estevan é seu filho, Oliver! — Sofia disse, em êxtase.
O mundo pareceu parar ao meu redor durante os segundos que se
seguiram. Senti meu corpo relaxar, mas, apesar do alívio, senti um nó se
formar na minha garganta e meus olhos marejarem.
― Graças a Deus! — eu disse, fechando os olhos, enquanto uma
lágrima rolava por meu rosto.
Sofia se aproximou de mim e eu a envolvi em um abraço, estava
muito feliz.
― Estou tão aliviado... — murmurei.
― Eu sempre soube que ele era seu filho. — Sofia acariciou meu
rosto.
― Confesso que acreditei que meu irmão pudesse estar dizendo a
verdade.
― Brian fez tudo isso para te desestabilizar, porque sabia de algum
modo que isso poderia acabar influenciando os acionistas na hora da votação.
― Céus! A votação já é amanhã. — Levei as mãos ao rosto,
completamente cansado.
― O que você vai fazer? — Ela me olhava atentamente.
― Não há nada que eu possa fazer. Brian e eu já apresentamos
nossas propostas, agora cabe aos nossos acionistas decidirem qual de nós é o
melhor para assumir a presidência e comandar a Advocacia.
― Você é o melhor, será que eles não veem isso? — Sofia disse
inconformada e eu sorri, contornando seu rosto com meu polegar.
― Obrigado por me apoiar, mas, quando se trata de dinheiro, as
pessoas são imprevisíveis.
― O que vai acontecer com você se o Brian vencer? — Sua
preocupação era nítida.
― Eu ainda não sei. — Refleti sobre aquilo. — Eu sou o acionista
majoritário. Então, poderei continuar exercendo minha função de advogado
dentro da Advocacia, mas, acho que se isso acontecer, não vou querer
permanecer lá. Talvez eu monte meu próprio escritório e comece tudo do
zero. Só vai ser difícil ver o Brian destruir aos poucos a empresa do nosso
pai, ele lutou tanto...
― Ei, isso não vai acontecer, porque você vai vencê-lo, Oli. — A
confiança que Sofia depositava em mim mantinha a minha fé viva.
― Por mais que seja difícil para mim admitir, sei que ele tem uma
grande chance de me vencer. — Sofia desviou o olhar, era óbvio que ela
estava triste por mim. — Mas ser o CEO daquela empresa não é o mais
importante. — Segurei seu queixo, trazendo seu olhar de volta para mim. —
Eu não vou desistir. Se eu tiver que começar do zero, eu vou começar! Eu só
preciso de você e dos meus filhos ao meu lado, vocês são o meu bem mais
precioso.
Encarei-a e, apesar do resquício de tristeza em seu olhar, ela sorriu.
― Eu vou sempre estar ao seu lado, Oliver, para o que precisar.
― Eu sei.
Afastei seus cabelos para trás da orelha e a beijei. Eu a amava e, pela
forma como ela me tocava e me olhava, sabia que ela se sentia do mesmo
jeito. Nosso sentimento era recíproco, algo raro de se encontrar.
― Nós vamos ser muito felizes juntos — murmurei por entre seus
lábios, acariciando-lhe a barriga, notando o quanto ela havia crescido nas
últimas semanas. — Uau! Já está tão grande. — Sorri, satisfeito.
Era surreal e as vezes até difícil de acreditar que havia um bebê
crescendo ali dentro, meu filho, fruto do amor que existia entre mim e Sofia.
― Estou usando roupas um pouco mais largas agora, mas está difícil
esconder minha gravidez — ela disse, colocando a mão sobre a minha, que
ainda estava posicionada em seu ventre.
― Você já está fazendo o pré-natal? — perguntei.
― Sim, está tudo bem com o bebê e comigo. — Ela me lançou um
sorriso tranquilizador, notando a minha preocupação. — O doutor disse que
talvez no próximo mês já seja possível ver o sexo do bebê.
― Isso é ótimo. — Sorri. — Obrigado — disse, e ela me olhou
atentamente. — Ter um filho com você, a mulher que eu amo e que eu quero
ter ao meu lado para o resto da minha vida, foi tudo o que eu sempre pedi a
Deus.
― Você é um amor, Oli. — Ela riu e se inclinou selando nossos
lábios.
Ainda relutante, fui embora da casa de Sofia cerca de uma hora
depois.
Ao chegar em casa, estacionei o carro na garagem. Depois de entrar,
encontrei Elena na sala, apoiada na mesinha de centro com um livrinho de
colorir.
― Oi querida, o que está fazendo? — Aproximei-me, me ajoelhando
ao seu lado.
― Estou colorindo. — Ela virou o desenho, me mostrando o
unicórnio rosa e dourado que havia acabado de pintar. — O que o senhor
achou?
― Ficou muito lindo — murmurei, lhe dando um beijo na bochecha.
― Papai?
― Sim?
― É verdade que é a cegonha que traz os bebês? — Ela levantou
seus olhinhos para mim, me encarando, curiosa.
― Na verdade não, querida — Céus, como eu iria explicar aquilo
para uma garotinha de seis anos? — Os bebês são feitos a partir do amor que
existe entre um homem e uma mulher.
― A partir do amor? — Ela cerrou as sobrancelhas, ainda confusa.
— Então, a Sofia vai ter um bebê porque o senhor a amou demais? — A sua
inocência me fez querer rir.
Afaguei seus cabelos, notando o quanto ela era uma criança linda e
rezando para que aquela inocência nunca lhe fosse roubada.
― Quase isso. — Ri. — Tenho certeza de que, quando for mais
velha, você vai entender.
― Estou decepcionada — ela disse, virando a página do seu livro,
apanhando um lápis e começando a colorir outro desenho.
― Por quê? — Dessa vez, fui eu quem a encarou, curioso.
― Seria mais legal se os bebês fossem trazidos pelas cegonhas.
― Também acho. — Sorri.

Depois de deixar Elena na sala, caminhei pelo corredor até o quarto


de Estevan. Bati na porta antes de entrar.
Estevan estava concentrado, sentado em sua cama, jogando um jogo
de ação em seu Xbox.
― Posso me sentar aqui? — perguntei, apontando para o espaço
vazio ao seu lado.
― Claro. — Ele se esquivou um pouco para o lado, sem interromper
o jogo.
Enquanto ele se mantinha atento ao monitor à sua frente, eu o olhava
de relance. Estevan tinha os cabelos castanhos em um tom escuro, assim
como os meus, tínhamos o mesmo formato de rosto, sobrancelhas, nariz...
exceto pelos seus olhos serem verdes e os meus azuis, mas, em geral, éramos
muito parecidos.
A dúvida de que ele poderia não ser meu filho fora tão cruel, que,
antes de sair o resultado do exame de DNA, aquelas semelhanças que
existiam entre nós dois pareciam não significar nada.
― Será que eu posso jogar com você? — perguntei e ele pausou o
jogo, me olhando como se eu fosse um completo estranho.
― Sério?
― Claro, parece ser bem divertido.
Ele se levantou rapidamente e apanhou um outro controle para mim,
me mostrou o que cada botão fazia e depois iniciou novamente o jogo.
Eu era um desastre com videogames. Havia jogado muito quando era
criança, mas os jogos eram completamente diferentes dos que conheci na
minha época e eu me sentia um inútil, enquanto via meu personagem aos
poucos ir perdendo suas vidas.
― Acho que esse controle está com defeito. — Encarei Estevan, me
segurando para não rir de mim mesmo.
― Não é o controle pai, é o senhor que é um péssimo jogador! —
Ele riu, sua risada dominando todo o interior do quarto. Pai.
Olhei rapidamente para ele com um sorriso contente nos lábios. Pai e
filho, era isso o que éramos, um laço eterno, que iria durar para todo o
sempre.

CAPÍTULO 34 – OLIVER

Sábado. Finalmente o grande dia havia chegado. Hoje seria a reunião com os
acionistas, na qual eles escolheriam a mim ou a Brian para ser o presidente da
Advocacia Beaumont.
Acordei por volta de seis horas, a reunião seria às oito. Tomei uma
ducha rápida e depois vesti um terno cinza, gravata com riscas em vermelho e
azul e sapatos sociais pretos. Arrumei os cabelos e fui até a cozinha.
― Bom-dia, senhor Oliver — dona Ana me cumprimentou.
― Bom-dia, Ana. — Puxei uma cadeira, me sentando à mesa.
Prontamente, ela trouxe uma xícara de café para mim.
― Obrigado — agradeci.
― Desculpe perguntar, mas está tudo bem senhor? — Ela me olhou
atentamente.
― Na verdade não, hoje é a reunião com os acionistas — respondi,
sentindo uma aflição crescente dentro de mim — Sabe, até agora não me
conformo que meu próprio irmão tenha sido capaz de me trair assim.
― Lembro perfeitamente do dia em que Brian foi morar com seus
pais. — Olhei para ela, prestando atenção ao que tinha a dizer. — Ele era um
garotinho franzino, mas parecia feliz por estar junto do pai, até o momento
em que ele te viu nos braços da sua mãe.
Dona Ana ficou em silêncio, como se aquela lembrança ainda
estivesse muito viva em sua memória e eu senti um nó se formar na minha
garganta.
― Eu não entendo — disse, confuso. Eu realmente não compreendia
de onde vinha todo o ódio que meu irmão parecia sentir por mim.
― Talvez nunca entenda. — Ela pegou a xícara sobre a mesa,
levando-a até a pia.
Antes de sair, dei uma olhada no quarto de Estevan e de Elena e,
como já era de se esperar, eles estavam em um sono profundo, dormindo
calmamente, sem qualquer preocupação.
Peguei as chaves da minha BMW e cheguei à empresa por volta das
sete e meia. Deixei meu carro no estacionamento e fui para a minha sala.
Percebi os olhares dos meus funcionários sobre mim e, de alguma forma,
podia sentir que eles estavam tão ansiosos quanto eu para saberem logo o
resultado da votação.
Sentado diante da minha mesa saquei o celular do bolso e disquei o
número de Sofia.
― Oi, Oli — ela disse, com a voz sonolenta.
― Espero não ter te acordado — eu comentei, quase culpado.
― Não acordou, eu me levantei agora há pouco e já estou aqui,
encaixotando algumas coisas para a mudança amanhã. — Ela fez uma pausa
— Como você está?
― Ansioso.
― Quando é a reunião?
― Daqui a alguns minutos.
― Estarei torcendo por você.
A porta da sala se abriu e minha secretária apareceu.
― Senhor Oliver, já estão todos o aguardando na sala de reuniões.
Com um maneio de cabeça sinalizei que já estava indo.
― Eu tenho que desligar agora querida, estão me chamando.
― Boa sorte meu amor — ela murmurou docemente, do outro lado
da linha.
― Te amo — sussurrei, antes de desligar.
Saí da minha sala e me dirigi até a sala de reuniões. Brian também
apareceu, caminhando ao meu lado.
― Nervoso, irmão? — ele perguntou, com ironia.
― Calado! — exclamei, sem lhe dar muita atenção.
Ao entrarmos na sala, encontramos todos os acionistas reunidos,
sentados ao redor da mesa. Cumprimentamos a todos e depois nos sentamos,
cada um em uma ponta da mesa.
― Já que estão todos aqui, acho que podemos começar — Bruno
disse, olhando para todos os presentes.
― Claro — todos concordaram.
― Por favor, senhor Miguel, pode começar a reunião.
Miguel era um dos acionistas mais antigos da empresa. Era um
senhor de aproximadamente sessenta anos, baixinho, barrigudo e de cabelos
grisalhos, que ajudara o meu pai a construir aquela Advocacia e a tinha visto
crescer.
― Como representante dos acionistas, gostaria de informar aos
senhores Oliver e Brian Beaumont que ontem, nós, acionistas, tivemos uma
reunião particular e debatemos as propostas de vocês dois, avaliando os prós
e os contras — ele disse.
― Pensei que a votação e o debate fossem acontecer agora — Brian
disse, aparentemente desconfortável com aquela mudança.
― Desculpe, mas achamos melhor fazer assim, tanto para adiantar o
processo, quanto para manter em sigilo os votos — Miguel explicou.
― A que conclusão os senhores chegaram? — perguntei, enlaçando
as mãos sobre a mesa e olhando-o atentamente.
― Antes de dizer o resultado, gostaria de observar que a sua
proposta Brian — ele olhou para meu irmão — é realmente tentadora, a
empresa poderia triplicar de valor nos próximos dois anos, mas eu ajudei a
construir esta Advocacia junto com o pai de vocês. — Ele encarou a nós dois.
— Estevan Beaumont era um grande homem e acreditava em um mundo
mais justo e honesto, assim como eu e a maioria aqui acredita.
Brian enrijeceu em sua poltrona e eu percebi que ele estava
começando a ficar nervoso.
― Com vinte e dois votos, de trinta, você continua sendo o
presidente, Oliver. — Ele anunciou.
Enquanto todos os presentes me aplaudiam, Brian se levantou
abruptamente de seu lugar e saiu da sala, batendo a porta com força.
Ao fim da reunião, todos se levantaram me cumprimentando.
― Você é um grande homem, Oliver, seu pai teria orgulho de ver
que você continua defendo a ideologia dele e protegendo esta empresa com
unhas e dentes.
― Obrigado Miguel, você era um grande amigo para ele.
― O que eu disse? — Bruno se aproximou, depois de Miguel já ter
se afastado, me recebendo com um grande abraço. — Como está se sentindo
por não ter perdido a coroa?
― Aliviado — eu disse, sentindo a tensão aos poucos deixar o meu
corpo.
― Onde está Brian? Ele fugiu como um cachorrinho com o rabinho
entre as pernas — Bruno zombou, rindo.
Depois que todos deixaram a sala de reuniões, caminhei até a sala de
Brian. Quando entrei, o encontrei com os pés sobre a mesa, recostado em sua
poltrona, bebendo um copo de uísque.
― Se veio até aqui para rir de mim, vá em frente, eu não me importo
— ele disse, dando um longo gole em sua bebida.
― Eu não sou igual a você, Brian.
― Droga, era para eu ter vencido! — ele disse, inconformado.
― Brian, dadas as circunstâncias, não quero que você continue
trabalhando aqui na Advocacia. — Fui direto.
― Está me demitindo? — Ele tirou os pés da mesa, me encarando
surpreso.
― Estou, mas, como acionista, você vai continuar recebendo a sua
parte dos lucros da empresa — eu disse, sério.
― Isso tudo é rancor por eu ter comido a sua mulher e por tê-la
engravidado? — ele disse com um sorriso sorrateiro.
― Acredite ou não, mas o fato de você e Denise terem tido um
romance não me incomoda nem um pouco, estou muito mais feliz agora. —
Peguei um papel no bolso da minha calça e o joguei sobre a mesa.
― O que é isso? — ele perguntou, analisando-o, ainda sem entender.
― É um teste de DNA, que comprova que Estevan é, sim, meu filho.
Seu estoque de chantagens acabou, Brian. — Olhei-o atentamente. —
Amanhã, quando for esvaziar a sua sala, por favor, peça que alguém faça isso
por você. Não quero ter que ver você na minha frente nunca mais. — Encarei
meu irmão uma última vez, antes de lhe dar as costas e sair.
Ao fechar a porta, ouvi Brian gritar, enquanto objetos pareciam se
estilhaçar no chão e na parede de sua sala.

CAPÍTULO 35 – VANESSA
Já passavam das oito e meia da manhã, quando fui despertada pelo meu
celular tocando. Olhei para o lado e vi que Ryan ainda dormia calmamente.
Peguei o celular e corri para o banheiro, fechando a porta e atendendo.
― Oi, Sofia — falei baixinho.
― Oi, Vanessa! Tudo bem, amiga?
― Estou ótima.
― Por que você está sussurrando? — Minha amiga perguntou
desconfiada do outro lado da linha.
― Eu estou com o Ryan — respondi após alguns segundos.
― Com o Ryan? Acho que o jantar rendeu, não foi? — Sofia sorriu,
contente.
― Ele é tão maravilhoso... — eu disse, recordando a noite anterior.
― Fique sabendo que estou torcendo aqui para que vocês se tornem
um casal, vocês dois merecem ser felizes.
― Obrigada, Sofi.
― Oliver me ligou contando sobre a reunião com os acionistas —
ela mencionou.
― E então? — perguntei, aflita.
― Os acionistas o escolheram, Vanessa! Ele vai continuar sendo o
presidente da Advocacia Beaumont!
― Isso é ótimo, Sofia! Sabia que ele iria conseguir vencer o Brian!
— eu disse satisfeita, sabendo o quanto Brian devia estar destruído.
― Eu sei, estou tão aliviada! Aquele cafajeste teve o que mereceu!
— Sofia dizia, vitoriosa. — Vou desligar, tenho que terminar de embalar
algumas coisas.
― Você vai se mudar para a casa do Oliver?
― Sim, amanhã de manhã. Estou tão feliz!
― Também ficaria.
― Ei, você não tem por que reclamar! Agora vá aproveitar o seu dia
com o Ryan!
Ri, era a primeira vez que via Sofia tão feliz por saber que eu estava
com alguém.
Depois que desligamos, lavei o rosto e voltei para o quarto. Ryan
ainda dormia, seu tórax subindo e descendo regularmente.
Aproximei-me da cama e me sentei, olhando-o. A noite anterior
havia sido incrível. Ele tinha me levado para jantar em um restaurante que
ficava a apenas algumas quadras da sua casa. A apesar de ser um
estabelecimento simples, a comida era maravilhosa. Flertamos durante todo o
jantar e depois que ele se ofereceu para me levar em casa eu o beijei, dizendo
que queria passar a noite com ele.
Eu nunca fui de enrolação, quando queria ficar com alguém, eu
simplesmente dizia à pessoa que a queria e Ryan havia sido tão maravilhoso
comigo, que eu queria retribuir seu carinho e encerrar muito bem a nossa
noite.
Depois que chegamos ao hotel em que ele ficava, fomos para o seu
quarto. Quando entramos, Ryan ficou parado, esperando que eu desse o
primeiro passo. Enrosquei meus braços ao redor do seu pescoço e o beijei
fervorosamente. Momentos depois, ele moveu suas mãos para a minha
cintura, retribuindo meu gesto. A partir daí as coisas fluíram naturalmente e,
quando fomos para a cama, Ryan acariciou e beijou cada parte do meu corpo,
me estimulando ao máximo. Depois, quando fizemos amor, ele disse coisas
lindas no meu ouvido, me levando à loucura. Nenhum homem havia sido tão
carinhoso e atencioso comigo quanto Ryan, ele era tudo isso e muito mais.
Apesar de conhecê-lo há pouquíssimo tempo, eu já estava caidinha por ele.
Ainda o observava, quando ele abriu os olhos lentamente,
encontrando os meus.
― Oi. — Ele me lançou um sorriso, sua voz grossa, típica de quem
acaba de acordar.
― Oi, Ryan. — Eu me inclinei, beijando-o.
Sua língua logo encontrou a minha e ele me beijou ternamente.
Depois do beijo, ele acariciou meu rosto e seus olhos verdes brilhavam.
― Sobre ontem...
Logo o interrompi, sabendo o que ele iria dizer.
― Não precisa dizer nada, eu sei que não existe nada sério entre nós
dois e sei que o que aconteceu ontem não passou de sexo casual. Mas eu me
diverti tanto com você que eu simplesmente achei que a noite deveria acabar
de uma forma especial.
Ryan se sentou na cama, seus cabelos estavam desgrenhados de uma
forma sexy e ele vestia apenas uma cueca box preta. Confesso que ainda
estava me acostumando com aquele físico perfeito.
― Você acha mesmo que o que aconteceu entre nós dois ontem foi
apenas sexo? — Ele me encarou, sério.
Dei de ombros, intimidada pelo seu olhar.
― Eu não quero te assustar, nós só saímos uma vez — murmurei.
― Mas, você vai ficar muito assustada se eu disser que estou
caidinho por você?
Senti meu coração bater forte no peito e um sorriso me escapou dos
lábios.
― Não, porque na verdade eu também estou me sentindo assim.
Ryan segurou meu rosto em suas mãos, contornando minha face com
os dedos.
― Sei que mal nos conhecemos, mas tem algo em você que me faz
te querer perto de mim. Você é uma garota incrível e, se estiver interessada,
eu quero muito fazer o que existe entre nós dois dar certo.
― Você está me pedindo em namoro, sargento Ramos? — Olhei
para ele, surpresa.
― Estou. — Ele me encarou firme e eu pulei em seu colo, beijando-
o.
Eu estava vestindo uma camiseta dele e prontamente Ryan me
ajudou a tirá-la, me deixando apenas de lingerie. Ele me deitou na cama,
ficando por cima de mim, mas quando seus olhos fitaram meu corpo e
encontraram as várias manchas roxas espalhadas por ele, sua expressão de
tornou mais dura.
― Essas manchas... — Ele não conseguiu terminar, estava assustado
demais com o que estava vendo.
― Foi o meu ex — murmurei, sem graça.
― Como eu não as vi ontem?
― Talvez porque estivesse escuro.
― Por que você deixou esse cara fazer isso com você? — Ele me
encarou, inconformado.
― Eu acreditava que ele pudesse mudar.
― Vamos à delegacia, você precisa denunciar esse traste! Ele não
pode ter feito tudo isso com você e ainda achar que pode sair impune! — Era
óbvio que ele estava com muita raiva do que Brian havia me feito.
― Eu só quero esquecer isso — eu disse, sentindo meus olhos
marejarem.
― Vanessa... — Ele acariciou meu rosto, seus olhos estavam tristes
e eu sabia que ele estava inconformado com o que havia me acontecido. —
Por favor, me diga quem é esse cara. Eu posso fazê-lo pagar por tudo isso. Se
ele fez isso com você, com certeza fará o mesmo com outras mulheres, caras
como ele precisam estar atrás das grandes.
Senti um nó se formar na minha garganta. Ryan estava certo, se
Brian havia sido capaz de fazer aquilo comigo, faria com outras mulheres
também.
― O nome dele é Brian, Brian Beaumont.
― Beaumont? — Ryan arqueou uma sobrancelha para mim. — Ele
é parente de Oliver Beaumont?
― Irmão.
― Nós precisamos ir até a delegacia, você precisa denunciar esse
cara! — Ryan ia saindo da cama, mas eu segurei em sua mão, impedindo-o.
― Por favor, só fique aqui comigo — pedi, com lágrimas nos olhos.
― Ah, Vanessa... — Ele acariciou meu rosto, me encarando com
compaixão. — Esse cara deve tê-la feito sofrer tanto... — Ele beijou meu
ombro, bem em cima de uma mancha. — Vocês mulheres merecem ser
tratadas com todo carinho e respeito por nós, homens — ele murmurou,
descendo seus beijos pelo meu braço. — Vou te mostrar como um homem de
verdade ama uma mulher. — Ele desceu seus beijos para a minha barriga e eu
arfei.
Depois de me despir, Ryan começou a me amar lentamente e eu me
abracei a ele, acompanhando seus movimentos. Cada segundo com Ryan
significava o esquecimento dos dias nebulosos que havia vivido ao lado de
Brian. E se continuássemos naquele ritmo, sabia que em pouco tempo não
restaria mais nenhuma lembrança triste causada por ele.
Aquele espaço na minha memória estava reservado para os dias
felizes que estavam por vir ao lado de Ryan.

CAPÍTULO 36 – SOFIA
Estava acabando de empilhar todas as caixas na sala, quando ouvi um carro
estacionar em frente à casa. Olhei pela janela e vi Oliver descer da BMW, de
jeans, camiseta preta e tênis. Ao alcançar a varanda, ele bateu à porta.
― Pode entrar! — gritei do lado de dentro, empilhando a última
caixa.
Oliver girou a maçaneta e entrou, vindo até mim.
― O que está fazendo? — Ele me olhou em reprovação — Você
sabe que não deve pegar peso.
― Essas não estão pesadas — eu disse, colocando meus braços ao
redor do seu pescoço. — As pesadas estão lá no quarto, estavam esperando
você chegar para carregá-las. — Ri.
― Ótimo jeito de começar o domingo, não acha? — Ele arqueou
uma sobrancelha.
― Sem dúvida! — Sorri e me inclinei para beijá-lo, sentindo o doce
aroma que emanava de seu corpo.
Oliver pegou as caixas mais pesadas e as levou até o carro,
colocando-as no porta-malas. Ajudei-o, carregando as mais leves.
Eu não tinha muitas coisas, todos os móveis pertenciam à casa e
eram tão velhos e gastos que eu suspeitava que não aguentariam uma
mudança sem se quebrarem todos. Então, só estava levando meus objetos
pessoais: livros da faculdade, meu notebook e alguns objetos de decoração.
Enquanto Oliver terminava de colocar a última caixa no carro, dei
uma volta pela casa, me despedindo de cada cômodo. Definitivamente,
aquela não era a casa dos sonhos de ninguém. Gotejava quando chovia forte
e, por não ser forrada, sujava muito e os móveis viviam empoeirados. As
portas e as janelas eram fracas e eu sabia que as trancas que o dono havia
colocado não fariam a menor diferença para um assaltante, caso ele quisesse
entrar ali. Ainda assim, eu havia conseguido me manter ali dentro por quase
dez meses, trabalhando muito para conseguir pagar o aluguel e me orgulhava
disso.
― Tudo bem? — Oliver se aproximou, me abraçando por trás,
depois de me encontrar parada na sala.
― É, estou sim — Olhei para ele e sorri. — Vamos?
Depois de trancar a casa, deixei a chave dentro de um vaso de
plantas, conforme havia combinado com o dono. Entramos no carro e Oliver
deu partida, instantes depois já estávamos bem longe dali.
Volteio olhar para ele e o observei sério ao volante. Juro que nunca
na minha vida pensei que fosse chegar a me envolver com um homem como
ele. Oliver era um homem vivido, havia sido casado, morado no exterior,
falava inglês e francês, tinha dois filhos, era um dos maiores advogados do
país e CEO da Advocacia Beaumont, uma das mais conceituadas empresas de
advocacia do Brasil. Enquanto eu nunca havia saído de Goiás até então.
Mudar para o Rio havia sido uma grande aventura. Não sabia muito sobre os
homens, havia tido apenas um namorado na adolescência, um romance bobo,
Oliver era o único pelo qual eu havia me apaixonado de verdade.
E cá estava eu, grávida, me mudando para a casa dele e prestes a me
casar.
― Agora é sério, você está me assustando — ele disse, depois de
notar que eu já estava observando-o durante um bom tempo.
― Desculpe, só estava observando como você fica sexy ao volante.
— Ele riu. — Estou feliz com tudo o que está acontecendo — murmurei.
Oliver tirou a mão direita do volante, segurando a minha.
― Eu também — ele disse.
Assim que chegamos, Estevan e Elena vieram correndo ao meu
encontro, me abraçaram forte, me desejando boas vindas e depois nos
ajudaram a levar as caixas para dentro. Levamos todas para o quarto de
Oliver e, quando as crianças saíram para buscar a última que estava faltando,
ele pegou minha mão, me levando até o closet.
― Pedi à dona Ana que esvaziasse duas partes do meu armário para
você, espero que sirva — ele disse, me mostrando a parte que agora seria
minha.
O closet era enorme, com lugares exclusivos para as roupas e para os
sapatos e eu duvidava que algum dia fosse capaz de preencher todo aquele
espaço.
― É, acho que serve. — Abracei Oliver pela cintura e ele riu,
sabendo que eu achava o espaço mais que o suficiente.
Passei a manhã toda organizando minhas roupas e sapatos no closet,
com a ajuda de dona Ana e sob a supervisão de Elena. Quanto aos meus
livros da faculdade, coloquei-os em um armarinho, no escritório de Oliver.
Quando terminei, já era a hora do almoço e achei o máximo almoçar
com mais pessoas à mesa. Depois de ajudar dona Ana a arrumar a cozinha,
ela foi embora, não era nem seu dia de trabalho, mas ela havia feito questão
de passar a manhã ali para me ajudar e Oliver a recompensou com algumas
horas extras — mesmo depois de ela recusar, dizendo que estava fazendo isso
de coração.
Mais tarde, troquei minha calça por um short jeans e uma regata,
Oliver e o filho colocaram um calção e Elena me pediu que a ajudasse a
colocar seu biquíni amarelo de bolinhas pretas e passamos o resto da tarde
com as crianças na piscina, que ficava no quintal dos fundos da mansão.
Enquanto Oliver tomava conta deles, fui até a cozinha e preparei um
suco natural de abacaxi para nós. Estevan e Elena beberam o suco com uma
velocidade incrível e depois voltaram para a água.
― Eles estão se divertindo, hein? — disse a Oliver, me sentando ao
seu lado na borda da piscina.
― São como peixes, eles adoram água. — Ele sorriu, enquanto eu
observava nossos pés dentro da água.
Oliver segurou minha mão, encaixando nossos dedos.:
― Você é tão delicada... — ele murmurou, comparando-as com as
dele, que eram grandes e fortes.
Encostei a cabeça em seu ombro.
― Não sou delicada — discordei.
― Ah, é sim, é a pessoa mais doce e sensível que conheço. Mesmo
quando está com raiva, você nunca é indelicada com as pessoas.
― Então, não sou delicada, sou educada.
― Para mim é a mesma coisa, eu só sei que amo isso em você — ele
disse, aproximando seu rosto lentamente do meu e me beijando.
― É isso aí, pai! — Estevan gritou nos olhando, enquanto Elena
batia palminhas ao lado do irmão.
À noite, depois que Estevan e Elena já dormiam, Oliver me levou
para o que ele chamou de "nosso quarto". Depois de alguns beijos e várias
carícias, fizemos amor lentamente, saboreando essa nova fase do nosso
relacionamento.
― Vou marcar a data do nosso casamento amanhã — ele murmurou.
Eu estava deitada em seu peito, enquanto ele acariciava meus
cabelos.
― Acho que você não tem muito escolha — brinquei.
― Fico feliz que não. — Ele sorriu, beijando meu rosto e depois
dormimos calmamente, abraçados um ao outro.

Nossas vidas estavam tomando um rumo importante e sabíamos


disso. O engraçado é que nenhum de nós tinha medo do que estava por vir,
era como se todos os problemas do mundo pudessem ser resolvidos, desde
que nós dois estivéssemos juntos.

CAPÍTULO 37 – SOFIA

Admito que foi inusitado e diferente acordar ao lado de Oliver e saber que eu
não teria que voltar mais para casa, porque, agora, ali era o meu lar.
Ao levantar, tomamos banho e nos dirigimos até o closet. Achei bem
íntimo o fato de nos vestirmos diante um do outro, como um casal que já está
junto há anos. Depois de colocar uma calça jeans e uma blusa vermelha de
cetim, com alças fininhas e bem soltinha no corpo, calcei minhas sandálias
douradas, observando enquanto Oliver fazia um nó perfeito em sua gravata.
― Como estou? — Ele se virou para mim. Usava terno e sapatos
preto e uma gravata vermelha. Estava lindo e acho que nunca me cansaria de
vê-lo vestido daquele jeito.
― Está como eu acho que um verdadeiro CEO deve estar. —
Levantei-me, depois de calçar as sandálias e me aproximei de Oliver,
enroscando meus braços ao redor do seu pescoço. — Está ótimo, meu amor
— murmurei, beijando seus lábios.
Durante o beijo, ele colocou as mãos na minha cintura, me puxando
delicadamente para ele.
― Vou sair mais cedo do trabalho hoje — ele murmurou,
interrompendo nosso beijo lentamente. — Pensei que poderíamos ir juntos à
igreja marcar a data do nosso casamento. — Ele acariciou meu rosto, seus
olhos azuis brilhantes.
― Claro, é tudo o que eu mais quero! — respondi, animada.
― Ótimo — ele murmurou, selando nossos lábios mais uma vez.
Depois de Oliver pegar sua maleta no escritório e eu pegar alguns
livros, fomos para a cozinha e tomamos café da manhã com as crianças, que
estavam bastante animadas, comentando sobre as férias de final de ano, que
já estavam se aproximando.
Enquanto Ariovaldo levou Estevan e Elena para o colégio, Oliver me
levou para a faculdade, que ficava no mesmo percurso da Advocacia.
Ele parou o carro bem próximo do portão e algumas adolescentes
curiosas olharam em nossa direção, tentando distinguir quem éramos.
― Não vou poder sair no horário do almoço, então o Ariovaldo virá
até aqui te buscar — ele disse, me olhando atentamente.
― Tudo bem. — Inclinei-me, beijando-o, mas apesar de retribuir o
meu beijo, notei que ele estava um pouco tenso. — Ei, o que foi? — Toquei
seu rosto, encarando-o.
― Não é nada. — Seus olhos me encararam, confusos — Só tive um
sonho ruim.
― Comigo?
Seu olhar se desviou do meu por alguns instantes.
― Oli, seja lá o que for, foi só um pesadelo bobo. Estou bem, não
vê?
― Não foi com você, foi com o Brian — ele disse, preocupado.
― Você acha que seu irmão está correndo algum risco?
― Não sei, mais ninguém o viu depois da reunião e ele ficou muito
perturbado por ter perdido. Estou com um pressentimento ruim.
― Oli, tenho certeza de que seu irmão não vai fazer nenhuma
besteira, talvez ele esteja viajando, tentando esquecer tudo isso.
― Você tem razão, acho que estou me preocupando à toa. Brian
sempre foi assim e, para ser sincero, prefiro que ele fique bem longe mesmo.
― Eu tenho que ir agora, o sinal para a primeira aula já tocou.
― Tudo bem. — Ele acariciou meu rosto e eu lhe dei mais um beijo.
― Estarei te esperando em casa — murmurei, separando nossos
lábios, deixando com um gostinho de quero mais e saltando do carro com um
sorriso nos lábios.
Logo depois, acenei para Oliver enquanto ele se afastava.
No horário do intervalo, me encontrei com Vanessa e ela me contou
detalhes do jantar e da noite que tivera com Ryan.
― Estou tão feliz por você, Vanessa! Finalmente você encontrou o
cara certo! — disse animada, depois de ouvi-la atentamente.
― Nós ainda estamos nos conhecendo, Sofi, mas admito que estou
bem caidinha por ele, ele é um amor!
― Se conhecendo? — Ri. — Por favor, Vanessa, vocês transaram
no primeiro encontro e logo de cara ele já te pediu em namoro. Não acha que
já se conhecem o bastante? Ele gosta de você, você gosta dele, estão felizes
juntos e é isso que importa! Não procure pretextos para se afastar dele!
Ela arqueou uma sobrancelha para mim.
― Ei, esse é o tipo de coisa que eu diria.
― Eu sei. — Dei de ombros — Estou usando sua própria tática para
te atingir.
― Jogo sujo! — ela retrucou.
― Eu sei, mas a verdade é que eu tenho medo de que você esteja
com o Ryan apenas para esquecer o Brian.
A expressão da minha amiga se tornou mais rígida.
― Eu nunca faria isso.
― Eu sei que não, mas sei que tudo isso deve ser difícil para você.
― Procuro não pensar muito no que aconteceu, perdi muito tempo
com aquele babaca. Agora que estou com o Ryan a única coisa que quero
fazer é recuperar o tempo perdido.
― É assim que se fala, amiga! — Eu me inclinei, abraçando-a.
― Sou mais forte do que você imagina — ela sussurrou.
― Eu sei, sempre soube.
Ao término das aulas, me despedi da minha amiga, que logo
desapareceu em meio à multidão de universitários, que já preenchiam as ruas
próximas à PUC. Avistei Ariovaldo do outro lado da rua me esperando.
― Olá, Ariovaldo! — falei ao me aproximar.
― Olá, Sofia. Como vai? — ele perguntou com um sorriso. — Me
permita abrir a porta para a senhorita.
― Por favor Ariovaldo, me poupe dessas formalidades. — Pisquei
para ele, abrindo a porta do passageiro e entrando.
― Como quiser, Sofia. — Ele riu sem jeito.
Estávamos voltando para casa, quando meu celular tocou. Olhei para
o visor, era um número desconhecido.
― Alô? — atendi.
― Oi, Sofia. Como vai?
― Ryan! — Exclamei ao reconhecer a voz dele. — Estou bem e
estou sabendo que você também anda muito bem — comentei, irônica.
― Eu ia te contar, assim que te visse pessoalmente. — Ele pareceu
se desculpar.
― Meus dois melhores amigos estão juntos, o que mais eu poderia
querer? Estou tão feliz por você e pela Vanessa! — disse, animada.
― Obrigado, Sofia.
― Por que ligou? Queria falar com a Vanessa? Ela não está aqui...
― Na verdade, eu queria falar com você mesmo. — Ele fez uma
pausa. — Eu encontrei o tal Wilson Nunes, que você me pediu para procurar.
Senti meu coração bater mais forte.
― Mesmo? Onde?
― Ele está na penitenciária do Rio, ele tem várias passagens pela
polícia, mas foi preso há dois meses por tráfico de drogas e porte ilegal de
armas. Ele tinha uma oficina que servia como disfarce para que ele pudesse
vender suas mercadorias.
― Oficina? — Instantaneamente imagens do acidente dos pais de
Oliver vieram à minha mente.
― Escute Sofia, não quero que vá até lá sozinha, eu não sei por que
falar com esse cara deve ser tão importante para você, mas sei que deve ser
algo muito sério. Então, me deixe ao menos ir com você.
― Tudo bem.
― Mesmo? — Ele pareceu desconfiado.
― Claro, depois iremos juntos.
― Tudo bem, terei que sair para uma ronda agora. Depois nos
falamos, tchau Sofia.
― Tchau, Ryan.
Quando desliguei, minhas mãos estavam trêmulas. Era muita
informação. Por que Brian teria alguma ligação com um homem perigoso
como Wilson Nunes? Eu precisava desvendar aquele mistério.
― Ariovaldo, quero me leve à penitenciária, preciso visitar um
conhecido que está preso — pedi.
Ariovaldo me encarou, confuso.
― Sofia, não acho que o senhor Oliver...
― Por favor Ariovaldo, é importante, deixe que depois eu me
entendo com o Oliver.
― Como quiser, senhorita.
Ariovaldo mudou o percurso e, cerca de uma hora depois, chegamos
à penitenciaria. Ele estacionou o carro e pedi que me aguardasse ali.
Entrei e fui até a recepção, onde uma agente me recebeu.
― Olá, eu estou aqui para ver meu primo, Wilson Nunes — menti.
A agente disse que o horário de visitas começaria em meia hora e eu
aguardei em uma sala. Já que estava ali, a apenas alguns minutos da verdade,
o máximo que eu poderia fazer era esperar.
Quando o horário de visitas começou, a agente me revistou e me
levou até uma sala pequena, com uma mesa e duas cadeiras. Entrei e me
sentei, momentos depois um policial também entrou com um homem vestido
no uniforme do presídio e as mãos algemadas.
Ele se sentou diante de mim. Um homem alto, magro, de olhos
negros vidrados, cabelos raspados e tatuagens espalhadas por ambos os
braços.
― Vocês têm dez minutos — o policial anunciou, nos deixando a
sós na sala.
O homem se inclinou mais na mesa, me olhando atentamente.
Estremeci.
― Prima? Foi o melhor que conseguiu inventar? — Ele me encarou
com deboche.
― Você é Wilson Nunes? — perguntei, a voz trêmula.
― É você que está me procurando, deveria saber quem eu sou.
― Você conhece Brian Beaumont? — Ignorei sua rispidez, focando
naquilo que eu realmente queria saber.
― Brian sabe que você está aqui? — Ele revirou os olhos.
― Então, você o conhece?
― Por que quer saber?
― Por que acho que o Brian cometeu um crime há treze anos e acho
que você foi cúmplice dele.
Wilson riu.
― Mesmo que eu saiba do que você está falando, por que eu deveria
te dizer a verdade?
― Porque, pelo que vejo, você já está bastante ferrado. Pelo que sei,
tráfico de drogas e porte ilegal de armas rendem alguns anos de prisão. Não
seria legal se mais alguém se ferrasse também? Alguém que, com certeza,
deveria estar preso? — Céus, de onde eu havia tirado aquele discurso?
Ele pareceu refletir sobre o que eu havia dito.
― Não quero falar sobre isso.
― Por que não?
― Porque eu fui ameaçado! Garota, você é burra ou o quê? Deveria
saber que um homem rico como o Brian tem muitos contatos tanto aqui
dentro, quando lá fora, não quero amanhecer com formigas na boca. — Ele
me olhou mais atentamente — Se fosse esperta, sairia daqui enquanto ainda
tem tempo.
― Não posso sair sem antes saber a verdade.
― Do que você exatamente suspeita?

― Eu acho que Brian armou para que os próprios pais sofressem um


acidente de carro.
― E qual teria sido a minha participação nisso tudo?
― Fiquei sabendo que você tinha uma oficina, acho que sabotou o
carro deles.
― Bem, eu só cortei os freios, na verdade. — Ele deu de ombros.
Minha respiração ficou entrecortada e eu o encarei, completamente
apavorada.
― Brian Beaumont mentiu para os velhos que levaria o carro deles
para uma revisão. Como eu tinha uma oficina, isso funcionou perfeitamente,
eu só tive que cortar os freios em troca de uma boa quantia, que eu usei
tempos depois como minha entrada no mundo do tráfico.
Fiquei boquiaberta, sem conseguir dizer nada. Estava chocada
demais para conseguir fazer qualquer coisa.
Eu sabia! Desde o princípio sempre soube que Brian tivesse algum
envolvimento no acidente que matou seus pais.
― O tempo de vocês acabou. — O policial retornou à sala,
arrancando Wilson da cadeira e o arrastando para fora dali.
― Dê lembranças à tia Ilma por mim, prima! — ele disse com um
sorriso sorrateiro, enquanto se afastava.
Sai às pressas da penitenciária, meu coração batia forte enquanto eu
ia até o estacionamento e o mundo parecia girar ao meu redor quando entrei
no carro.
― Tudo bem, Sofia? — Ariovaldo perguntou, ao ver minha
expressão de espanto.
― Vamos para casa Ariovaldo, preciso falar com o Oliver.
― Sim, senhorita — ele disse, colocando marcha ré e voltando a
dirigir de volta para casa.
Ainda estava remoendo todas aquelas informações, eu precisava
contar o que havia descoberto a Oliver, ele precisava saber o bandido que o
irmão era e precisávamos fazê-lo pagar por aquilo o mais rápido possível.
Estava distraída, quando a mais ou menos umas quatro quadras da
penitenciaria um carro invadiu nossa pista e Ariovaldo freou bruscamente.
Com o impacto, minha cabeça bateu no porta-luvas do automóvel. Levei
minha mão à testa, havia um pequeno corte e eu sangrava um pouco.

― Ai meu Deus! Você se machucou, Sofia? — Ariovaldo me


encarou apavorado, a adrenalina emanando pelo seu olhar.
― Não, eu estou bem — murmurei, um pouco zonza.
Percebi os olhos de Ariovaldo se arregalarem de medo e, quando
olhei para a frente, vi um carro atravessado no meio da rua e dois homens
encapuzados caminhando em nossa direção, com armas apontadas para nós.
― Pra fora velho! — Um deles gritou, arrancando Ariovaldo de
dentro do carro e depois o atingindo com uma coronhada, fazendo-o cair no
chão.
― Ariovaldo! — gritei em pânico, enquanto um outro abriu a porta,
me arrastando para fora do carro. — Nos deixem ir, por favor, vocês podem
levar o carro, eu tenho um pouco de dinheiro na minha mochila também!
― Cala a boca! — o homem que me segurava gritou, colocando um
pano no meu nariz e eu senti aos poucos minhas forças se esvaírem e eu meu
corpo pesar. — Nós estamos aqui por sua causa, lindinha.
Foi a última coisa que ouvi antes de perder a consciência.
CAPÍTULO 38 – SOFIA

Quando despertei, pisquei os olhos algumas vezes até a minha vista se


acostumar com a escuridão do lugar em que estava.
Estava deitada em um colchão no chão. Com um certo esforço,
consegui me levantar, me recostando na parede para não perder o equilíbrio.
Minha cabeça doía e eu ainda estava meio zonza.
Levei minha mão à minha testa, respirando com uma certa
dificuldade e notei ali a presença de um galo enorme.
O cômodo em que estava era escuro, havia pequenas brechas na
parede, pelas quais entravam alguns raios de sol, mas não o suficiente para
clareá-lo totalmente. As paredes estavam sujas, dominadas pelo musgo e, em
um canto, havia uma poça de água, provavelmente da chuva, já que algumas
telhas pareciam estar quebradas exatamente ali.
Aos poucos, comecei a me lembrar de tudo que havia acontecido: A
conversa que havia tido com Wilson Nunes, as revelações que ele havia feito,
o carro atravessado no meio da pista, minha cabeça se chocando contra o
painel, Ariovaldo, armas, o sequestro. Relembrar tudo aquilo me fez sentir
um desespero enorme e eu corri até a porta e comecei a gritar por socorro, na
vaga esperança de que alguém me ouvisse e me ajudasse.
Ainda gritava quando a porta se abriu lentamente e eu dei um passo
para trás, completamente muda, observando a figura parada diante de mim.
― Brian? — gaguejei, ainda sem acreditar que era ele que estava ali.
― Você pode gritar o quanto quiser Sofia, estamos no meio do nada,
ninguém vai te ouvir aqui — ele disse com um sorriso sorrateiro.
― Por favor, me deixe ir — implorei, o pânico crescente em minha
voz.
― Deixar você ir? — Ele arqueou uma sobrancelha para mim, me
rodeando. — Você descobre o meu maior segredo e você ainda acha que eu
simplesmente vou te deixar ir?
― Como você soube? — perguntei, a voz falhando.

― Tem uma pessoa naquela penitenciária que me devia um favor,


ela me avisou que você havia aparecido lá para ver o Wilson, que a estas
horas, já deve estar sendo enterrado.
Engoli em seco, completamente petrificada no lugar.
― Se eu descobri, mais pessoas vão descobrir — sussurrei.
― Faz treze anos desde que tudo aconteceu e ninguém, nem mesmo
a polícia suspeitou de mim. Você foi a única, Sofia, e se quer saber, eu
admiro a coragem e a determinação que você mostrou ter.
Brian colocou as mãos nos meus ombros e eu suspirei, o medo
dominando meu corpo.
― Você é tão linda, uma pena as coisas terem que acabar assim. —
ele murmurou próximo ao meu ouvido e eu senti todos os meus sentidos
serem despertados.
― Eu não vou contar nada a ninguém — menti, na esperança de que
ele acreditasse em mim.
― Não vai mesmo? — Ele se moveu, parando diante de mim —
Algo me diz que você vai me entregar para a polícia na primeira
oportunidade que tiver.
― Não, não vou — eu disse, minha voz desaparecendo.
― Prefiro não arriscar. — Seus olhos verdes me fitaram violentos.
— Por mais que a minha vida esteja uma merda, ainda é muito melhor do que
ir para a cadeia.
Fiquei em silêncio, meu coração batendo forte. Brian segurou meu
queixo, me fazendo olhar para ele.
― Você é uma garota especial, Sofia, é diferente de todas as outras
mulheres com as quais já saí — ele murmurou, encarando meus lábios. —
Talvez nós possamos nos divertir um pouco, antes de finalmente eu te matar.
Meus olhos se arregalaram de medo e eu afastei a mão de Brian de
mim, mas ele revidou, me colocando contra a parede e segurando meus
braços acima da minha cabeça.
― Você cheira tão bem — ele sussurrou, beijando o meu pescoço.
― Por favor, não faça isso! — gritei, com lágrimas nos olhos.
Sem dar a mínima ao meu pedido, Brian colou seu corpo no meu e,
quando aproximou seus lábios para me beijar, a minha vontade de lutar falou
mais alto e eu levantei meu joelho com força, atingindo-o na região genital.
Brian deu um passo para trás, se abaixando e fazendo uma careta de
dor. Olhei para a porta aberta e não pensei duas vezes antes de sair correndo.

Eu não fazia ideia de onde estava. O lugar era enorme, tinha muitos
cômodos e muita sujeira também, parecia ser um prédio abandonado ou algo
assim. Por mais que eu corresse, aquele lugar parecia um labirinto e eu não
estava conseguindo encontrar a saída. Foi quando deparei com uma escada e
logo abaixo vi um pátio livre, com um portão enorme. Desci as escadas e,
quando estava indo em direção ao que parecia ser a saída, senti uma mão
passar por meu pescoço e tapar a minha boca.
― Onde você pensa que vai, gatinha? — o homem murmurou
próximo ao meu ouvido, me deixando ainda mais em pânico. Ele estava
encapuzado.
Pelo canto do olho vi mais três homens aparecerem, todos
encapuzados e armados. O homem que me segurava me virou de frente para a
escada para que pudesse ver Brian, que descia em minha direção.
― Eu disse para matá-la logo, nós temos experiência com esse tipo
de coisa — o homem disse, mas Brian não pareceu ouvi-lo, seus olhos
encaravam os meus em completa fúria.
Seus cabelos estavam caídos no rosto, o que dava a ele uma
aparência sombria e nada humana.
― Me dê sua arma! — ele pediu para o homem que me segurava.
― Acho melhor você me deixar fazer isso...
― Eu disse para você me dar a porra da sua arma! — ele gritou,
transtornado pelo ódio.
O homem livrou a minha boca e apanhou um revólver, que estava
empunhado em sua cintura, entregando-o a Brian.
― Saia da minha frente! — ele rosnou e o homem me soltou, indo
para perto de seus comparsas.
― Vai mesmo me matar? — perguntei, a voz embargada, enquanto
lágrimas salpicavam dos meus olhos.
― Te matar é tudo o que eu mais quero agora, sua vadia! — Ele
apontou a arma para mim, o dedo no gatilho.
― Você acha mesmo que me matar é a solução? É só olhar para
você e ver o quanto está assustado — eu disse, encarando-o firmemente. O
suor escorria pela testa de Brian, provando o que eu estava dizendo.
― Calada! — ele disse, baixo.
― Você armou aquele acidente porque achou que ficaria com toda a
riqueza dos seus pais para si, Brian. Você só não contava que o seu plano
fosse dar errado. Não era para o Oliver estar vivo, era?
― Cala a boca, Sofia — ele continuava a me olhar, os olhos
semicerrados.
― Sabe o que eu acho? Acho que você nunca quis matar seus pais,
você queria mesmo era matar o Oliver, eles foram apenas uma peça que você
teve que sacrificar para conseguir o que queria, mas você falhou. Seu irmão
assumiu a empresa e você não se conforma com isso, não se conforma que
tudo o que fez tenha sido em vão e que tenha passado treze anos da sua vida
carregando toda essa culpa nos ombros para nada!
― Eu disse para você calar a boca! — Ele deu um tapa no meu
rosto, me jogando no chão.
Caí de bruços, sentindo o meu rosto formigar.
― Você está errada, eu sempre quis matar meus pais, eles sempre
amaram o Oliver mais do que a mim e eu sempre os odiei por isso! — Ele me
chutou na direção das costelas e eu arfei de dor. — Meu único
arrependimento é não ter matado o meu irmão nas raras oportunidades que
tive! Era para tudo o que ele tem ser meu, apenas meu! — ele exclamou, me
atingindo com outro chute, que me deixou sem ar.
Meu bebê. Em um instinto maternal, me encolhi em posição fetal,
sentindo uma dor lancinante.
― Por favor, pare — pedi, a voz fraca.
― Mas não se preocupe, ver a cara do Oliver depois que souber que
você está morta vai ser uma grande recompensa, quero ver a vida dele se
tornar insuportável a cada dia. — Brian se preparou para me dar outro chute.
Reuni todas as minhas forças e gritei:
― Estou grávida!
Ele parou, me encarando surpreso.
― Por favor, não faça isso, não machuque meu bebê — pedi, com
lágrimas nos olhos.
― Céus, isso foi inesperado... — ele disse com um sorriso,
deslizando as mãos pelos cabelos, pensando no que faria a seguir. Depois de
alguns instantes, ele se ajoelhou ao meu lado, me observando, enquanto eu
me contorcia de dor. — Quer saber de uma coisa, Sofia? Você acaba de me
dar uma ótima ideia. — Ele se levantou, encarando os homens encapuzados.
— Levem ela de volta para o quartinho, acho que vamos precisar dela viva
para atrair o meu irmão.

― Não — murmurei, fraca.


― Vamos matar dois coelhos com uma cajadada só. Ou melhor, três.
Não é mesmo Sofia? — Ele riu.
Quando os capangas de Brian me colocaram no colchão e me
trancaram novamente naquele quarto imundo, comecei a chorar
desesperadamente, a dor que sentia já não era maior do que o medo. Coloquei
minha mão sobre a barriga, rezando para que meu bebê estivesse bem.
― O que eu fiz? — murmurei, chorando.
Agora, Oliver estava correndo risco de vida por minha culpa.

CAPÍTULO 39 – OLIVER

Havia aberto mão do horário do almoço para poder sair um pouco mais cedo
da Advocacia. Desde que os acionistas haviam me escolhido para continuar
na presidência, tudo estava uma loucura, nosso trabalho parecia ter duplicado
e, por alguma razão curiosa, o número de clientes também havia aumentado
consideravelmente, o que era bom.
― Luiza, pode cancelar todas as minhas reuniões de hoje e remarcá-
las para amanhã? — pedi à minha secretária, depois de deixar minha sala.
― Claro, senhor.
Caminhei até o estacionamento e, depois de entrar no meu carro,
peguei o celular e disquei o número de Sofia para avisá-la de que já estava
voltando para casa, mas em todas as tentativas a ligação caiu na caixa postal.
Talvez o celular dela estivesse sem bateria e esse pensamento me deixou um
pouco mais calmo.
Enquanto dirigia de volta para casa não conseguia deixar de pensar
no quanto estava animado com a ideia de que me casaria com Sofia. Eu a
amava e sabia que ela se sentia da mesma forma em relação a mim. Ela era a
mulher da minha vida e eu mal podia esperar para tornar o nosso
relacionamento oficial, perante a lei.
Ao dobrar a esquina, avistei um carro da polícia parado em frente à
minha casa e isso me alarmou um pouco. Estacionei meu carro na garagem e
desci rápido, indo até a porta. Quando entrei na sala, encontrei Ryan trajado
em seu uniforme, em pé ao lado de dona Ana, enquanto Vanessa estava
sentada no sofá. Todos pareciam muito tensos.
― Ryan? Vanessa? — Logo me aproximei, estranhando o fato de
estarem ali. — O que estão fazendo aqui?
― Aconteceu uma coisa muito séria, Oliver. — Ryan me olhou
firme.
― O que foi? Onde está a Sofia? — Olhei ao redor, preocupado por
não vê-la.
Ryan colocou as mãos nos bolsos da calça, respirando fundo.
― Oliver, a Sofia e o Ariovaldo foram assaltados.
― Assaltados? — perguntei, em pânico. — Onde eles estão? Estão
bem?
― Ariovaldo teve ferimentos leves e está hospitalizado, ele passa
bem.

― E a Sofia? Ela também está bem? Está nesse hospital? —


Encarei-o, meu coração batendo forte.
Quando Ryan desviou o olhar, soube que havia algo muito errado.
― Ryan, o que aconteceu com a Sofia? — perguntei, a adrenalina
percorrendo o meu corpo.
Ele não respondeu.
― Oliver, a Sofia foi sequestrada — Vanessa respondeu, a voz
esganiçada.
― O quê? — Olhei de um para o outro, ainda sem conseguir
acreditar. — Não, não pode ser. — Deslizei as mãos por meus cabelos,
tentando em vão controlar o medo que já me dominava.
― Eu sinto muito Oliver, a polícia já está trabalhando no caso,
faremos de tudo para encontrá-la.
― Como isso foi acontecer? — Olhei para eles, meus olhos
marejados.
― Depois da faculdade, Sofia foi com Ariovaldo até a penitenciária
do Rio — Ryan explicou.
Continuei encarando-o sem entender, as coisas não pareciam fazer
muito sentido.
― O que ela foi fazer em uma penitenciária? — Olhei para ele em
completa confusão.
― Ela estava procurando um homem chamado Wilson Nunes,
estava investigando alguma coisa.
― Investigando o quê?
― Eu também não sei, a Sofia não me disse nada, pensei que você
soubesse de algo.
― Não, ela também não comentou nada comigo — eu disse,
extremamente chateado por Sofia não ter comentado comigo o que pretendia
fazer. — Como ela descobriu que esse cara estava preso?
Ryan abaixou a cabeça e mudou o peso do corpo de uma perna para
a outra.
― Eu disse a ela onde encontrá-lo — ele murmurou.
― O quê?! — O encarei, furioso. — Você a mandou sozinha para ir
interrogar um bandido?
― Não era para ela ter ido sozinha, eu iria acompanhá-la.

Eu estava com muita raiva. Como a Sofia pôde esconder algo tão
sério de mim? Por que não havia mencionado nada? E por que o Ryan teve
que dar aquelas informações a ela? Não poderia ter simplesmente ignorado o
seu pedido?
Eu me aproximei de Ryan, encarando-o seriamente. Se ela havia ido
atrás daquele homem, a culpa era dele.
― Se alguma coisa acontecer com a minha Sofia, a culpa vai ser sua,
sargento! Toda sua! — O encarei, despejando naquelas palavras toda a raiva
que estava sentindo.
― Não vai acontecer nada com ela, não vou permitir. — Ryan me
encarou, quase culpado.
― Como você sabe? Por sua culpa a Sofia foi sequestrada e não
fazemos ideia de onde e com quem ela possa estar! É o seu dever proteger as
pessoas, não enviá-las para uma missão suicida! — esbravejei.
― Brigar agora não vai resolver nada! — Vanessa nos interrompeu.
― Droga! — Eu me virei, com as mãos sobre a cabeça, em sinal de
completo desespero. — Não acredito que isso está acontecendo, você não
deveria ter dado ouvidos às loucuras da Sofia. — Olhei de volta para Ryan,
minha voz embargada.
― Eu sei — ele disse baixo, desviando o olhar.
― Afinal, por que falar com esse cara era tão importante para ela?
— perguntei, tentando entender.
― Não sabemos.
― Então por que ainda não o interrogaram? — Eu estava perplexo
com a falta de capacidade da polícia.
― Wilson foi encontrado morto algumas horas depois de falar com
Sofia, ele foi envenenado.
A voz de Ryan deixou transparecer que o caso era ainda mais
complexo do que parecia. Deitei-me no sofá, ao lado de Vanessa levando as
mãos à cabeça.
― Não existem testemunhas ou câmeras de segurança nesse lugar?
Talvez exista algo que os ajude a encontrar os sequestradores.
― Estamos trabalhando nisso.
― Vocês precisam trabalhar mais! — disse alto, em um acesso de
raiva. — A vida da Sofia está em perigo!

― Você acha que eu não sei, Oliver? — Pela primeira vez, Ryan me
encarou, impaciente. — Não estou aqui apenas como policial, estou aqui
como amigo! Ela também é importante para mim.
Respirei fundo, tentando manter a calma, a situação já era
complicada demais por si só.
― Ariovaldo não viu nada?
― Não, ele disse apenas que os sequestradores estavam encapuzados
e armados, ele foi agredido com uma coronhada e depois disso não viu mais
nada.
― Nós precisamos encontrá-la — eu disse vagamente, sentindo um
aperto enorme no meu coração.
― E nós vamos, não vou parar até trazê-la de volta para casa, eu
prometo.
Senti um nó se formar na minha garganta.
― Eu disse para ela não ir a lugar algum depois da faculdade, disse
que estava com um pressentimento ruim. Por que ela não me ouviu? —
Olhava para o chão, completamente inconformado. — Nós íamos marcar a
data do nosso casamento hoje. — Lágrimas salpicaram de meus olhos diante
daquela confissão.
― Minha amiga é forte, tenho certeza de que ela está bem. —
Vanessa segurou minha mão, tentando me acalmar.
― Sofia não é forte. Ao contrário, é a pessoa mais frágil que
conheço. — Minha voz estava embargada.
― É aí que você se engana. — Vanessa forçou um sorriso para mim,
o que não foi nem um pouco animador.
Eu não gostava de demonstrar os meus sentimentos para as pessoas.
Por isso, quando Vanessa me abraçou e chorou no meu ombro, eu tive que
me segurar ao máximo para não fazer o mesmo. Momentos depois, ela e
Ryan foram embora.
― Quer que eu prepare alguma coisa, senhor? — A voz de Dona
Ana era pura compaixão.
Levantei meu olhar para ela e, ao ver seus olhos vermelhos e
inchados, concluí que ela também estivera chorando.
― Não Ana, obrigado. — Levantei-me do sofá. — Onde estão meus
filhos?
― Estão na casa de amigos. Quando Ryan me avisou que viria para
cá, achei que seria melhor para eles não saberem o que está acontecendo.
― Agiu bem, é melhor poupá-los de tudo isso.
― Tem certeza de que não quer nada, senhor? — Ela me olhou mais
atentamente, era óbvio que estava preocupada comigo.
― Eu só quero encontrar a Sofia, apenas isso — respondi
vagamente.
Caminhei até o corredor que dava para o meu quarto, deixando dona
Ana sozinha na sala, também perdida em seus pensamentos. Depois que
entrei e tranquei a porta, me sentei na minha cama, apanhei uma foto de Sofia
sobre o criado-mudo e fiquei um bom tempo observando-a, deslizando meus
dedos pelo porta-retratos.
― Onde você está, meu amor? — murmurei com lágrimas nos
olhos, observando a foto, notando seu sorriso largo e seu jeitinho de menina
frágil, indefesa. F então que eu finalmente desabei, chorando alto,
derramando toda a dor e angústia que estava sentindo.
Por mais que fosse uma mulher determinada, Sofia não era mais
forte do que sequestradores armados. Se alguma coisa acontecesse com ela,
eu não fazia ideia do que seria de mim, porque eu simplesmente não
conseguia imaginar uma vida, um futuro sem ela.
Ainda mergulhado em prantos, jurei a mim mesmo que se
descobrisse quem estava por trás de tudo aquilo faria a pessoa pagar do pior
jeito possível.
E eu iria descobrir.

CAPÍTULO 40 – VANESSA

A conversa com Oliver não havia sido muito animadora, tínhamos esperanças
de que, indo até lá, ele pudesse nos ceder alguma informação que ajudasse a
localizar Sofia mais rápido, mas ele parecia saber tanto quanto nós, ou seja,
nada.
Enquanto dirigia, Ryan se mantinha sério ao volante. Seu olhar
parecia ir além do que estava à sua frente, concentrado em alguma coisa que
eu não fazia ideia do que pudesse ser. Em alguns momentos me perguntei se
ele se lembrava da minha presença ali, ao seu lado.
― Eu só vou tomar um banho rápido e trocar de roupa. Se quiser,
depois posso te levar em casa — Ryan disse, depois que chegamos ao seu
quarto/apartamento.
Ele jogou as chaves da viatura sobre o criado-mudo, tirou a parte de
cima do uniforme e depois tirou a regata branca que usava por baixo, que
estava totalmente ensopada de suor.
Eu me sentei na cama, observando enquanto ele tirava os coturnos e
os colocava em um canto.
― Você deveria descansar, o seu turno já acabou — observei.
― Não posso ficar aqui parado sem fazer nada, enquanto a Sofia
está correndo perigo nas mãos de bandidos perigosos — ele disse, tirando o
cinto. — E como o Oliver fez questão de ressaltar, tudo isso está acontecendo
por minha culpa, eu não devia ter dito a ela onde encontrar aquele cara. —
Ele me olhou de relance, obviamente sentindo-se culpado.
― Ela parece ser muito importante para você — eu disse, baixando
o olhar. — Vi o quanto você ficou mexido quando soube o que havia
acontecido com ela.
Ryan não disse nada. Apenas se sentou ao meu lado na cama e
segurou em meu queixo, me fazendo olhar para ele.
― Eu fiquei, sim, muito mexido porque eu amo a Sofia, mas não da
forma que você está pensando. Ela é a minha melhor amiga, é especial para
mim — ele sussurrou, acariciando meu rosto. — Confesso que, no começo,
quando nos conhecemos, eu queria muito mais do que apenas a amizade dela,
mas logo percebi que ela amava unicamente o Oliver e que sempre seria ele.
Não encontrei motivos para continuar insistindo em algo que nunca iria
acontecer.
Fiquei feliz que Ryan estivesse compartilhando aquela verdade
comigo.
― Mas tudo isso já passou e fico feliz por tê-la como amiga, Sofia é
uma garota muito especial.
― É, ela é. — Sorri, lembrando das tantas coisas que já havíamos
passado juntas e sentindo uma saudade imensa da minha amiga.
― Eu vou encontrá-la — Ryan murmurou, apertando minha mão
levemente, quando uma lágrima rolou por meu rosto.
― Promete? — Olhei para ele tentando segurar o choro.
― Prometo. — Ele me olhou terno, colocando uma mecha de cabelo
atrás da minha orelha e depois se aproximando lentamente para me beijar.
Seu beijo era lento e acolhedor e, por um breve instante, eu tive
certeza de que tudo acabaria bem.
― Preciso te contar uma coisa — murmurei por entre seus lábios,
parando o beijo.
― Claro, o quê? — Ele me olhou atentamente.
Abaixei a cabeça, pensando na melhor forma de contar aquilo a ele.
Quando voltei a olhá-lo, seus olhos verdes ainda me fitavam, ansiosos.
― Ryan, acho que eu sei quem sequestrou a Sofia.
― O quê? — Ele se remexeu no colchão, sem tirar os olhos de mim.
— Quem?
― Eu não sei se você percebeu, mas ela andava obcecada pelo
acidente de carro que matou os pais do Oliver. Ela tinha certeza de que o
carro deles havia sido sabotado, ela me afirmou isso.
Ryan pareceu distante por alguns momentos.
― Sim, ela até me pediu uma cópia do inquérito do acidente, mas os
peritos afirmam que não houve sabotagem alguma.
Coloquei minhas mãos sobre o meu colo, escolhendo com cuidado
as palavras:
― Eu não quis dizer nada perto do Oliver, não só para poupá-lo
desse choque, mas porque não temos provas. — Fiz uma breve pausa,
olhando para Ryan, que mantinha seu olhar fixo em mim. — Há alguns dias,
a Sofia descobriu que o Brian conhecia esse tal Wilson Nunes, ela analisou o
histórico de chamadas dele e concluiu que há treze anos os dois se falaram
algumas vezes.

― Então, ela... — Ryan me encarou surpreso, talvez até em choque,


incapaz de concluir sua fala.
― Sim, a Sofia acreditava que o Brian tinha algum envolvimento na
morte dos pais. — Respirei fundo. — Você não acha estranho que ela tenha
sido sequestrada justamente no dia em que resolveu procurar esse cara? E
mais ainda que esse tal de Wilson tenha sido envenenado horas depois de
falar com ela?
― Sim, eu acho. Ainda assim essa acusação é muito grave, mas,
levando em consideração o caráter desse cara, não duvido nada que ele tenha
sido capaz de fazer algo assim.
― Nem eu.
― Você sabe onde a Sofia guardou esses históricos de chamadas do
Brian? Se comprovarmos que ele teve algum laço com o Wilson, podemos
indiciá-lo.
― Talvez o Oliver saiba.
― Ótimo. Será que você pode ligar para ele e pedir que procure
esses papéis e que vá a delegacia me encontrar o mais rápido que puder?
― Claro, acho que posso fazer isso — afirmei.
― Tudo bem.
Ryan saiu da cama e caminhou até seu guarda-roupas, apanhando
uma camiseta preta e vestindo-a rapidamente. Depois calçou seus coturnos de
volta com uma agilidade enorme.
― O que vai fazer agora? — perguntei, preocupada.
― Vamos atrás desse cara. Se ele estiver mesmo por trás de tudo
isso, não vai sair impune.

CAPÍTULO 41 – OLIVER

Estava sozinho em meu quarto, sentado no chão ao lado da cama, ainda


tentando entender tudo que estava acontecendo. Estava ali havia pouco mais
de uma hora e não tinha me movido por sequer um segundo.
Depois que Ryan e Vanessa foram embora, me tranquei em meu
quarto e passei quinze minutos seguidos chorando. Agora, sem mais forças
para chorar, tentava pensar em algo que pudesse ajudar a polícia a localizar
Sofia.
Fui arrancado de meus pensamentos quando o celular tocou ao meu
lado. O número era desconhecido e meu coração se acelerou com a
possibilidade de que pudessem ser os sequestradores prontos para me
pedirem um resgate.
― Alô? — atendi, minha voz esganiçada.
― Olá Oliver, é a Vanessa.
― Oi Vanessa. — Passei a mão pela testa, sentindo os músculos do
meu corpo completamente tensos.
― Oliver, você por acaso sabe onde a Sofia guarda as coisas dela?
Achei aquela pergunta estranha.
― Sim, por quê?
― Precisamos que você encontre alguns históricos de chamadas que
ela vinha guardando.
― Claro, posso fazer isso. — Apoiei-me na cama, me levantando do
chão.
― Quando encontrá-los, será que pode ir o mais rápido possível para
a delegacia? Ryan vai te esperar.
― Tudo bem.
Desligamos e eu saí do meu quarto, indo rapidamente até o
escritório. Aqueles históricos com certeza dariam uma pista de quem havia
sequestrado Sofia e eu me empenhei em encontrá-los.
Havia dado uma parte do meu armário para Sofia, ela era organizada
e não tive dificuldade alguma em encontrar uma pasta com vários papéis
dentro, inclusive os históricos.

Eu já havia visto aqueles papéis antes, Sofia os havia mostrado a


mim em uma ocasião. Aqueles históricos eram do Brian.
Analisando-os melhor, tudo começou a fazer sentido. Sofia chegou
mesmo a me dizer que suspeitava que meu irmão tivesse algum envolvimento
na morte dos meus pais e não dei ouvidos a ela porque não acreditava que ele
fosse capaz de fazer algo assim.
Analisei o histórico mais antigo e vi que Brian havia feito algumas
ligações para o tal Wilson Nunes, o bandido que Sofia havia ido encontrar
mais cedo na prisão e que agora também estava morto.
As evidências eram claras, Brian havia mantido contato com aquele
homem em datas próximas ao acidente e eu senti minha respiração ficar
entrecortada com a possibilidade de que as suspeitas de Sofia estivessem
corretas.
Tudo dava a entender que Sofia havia descoberto algo que meu
irmão queria continuar mantendo escondido e ele a havia sequestrado para
que não pudesse dizer nada à polícia. Ainda que fosse inocente e não tivesse
nada a ver com aquilo, ele poderia ter feito isso para me afetar, já que não
havia se conformado com o fato de que os acionistas haviam me escolhido
para continuar na presidência da Advocacia. De qualquer forma, meu irmão
agora passava a ser o maior suspeito.
Aquilo parecia surreal demais, mas era a teoria mais plausível.
Voltei ao meu quarto e, depois de uma ducha rápida, vesti uma calça jeans,
uma camisa azul-claro e tênis, apanhei as chaves do carro e saí de casa rumo
à delegacia.
Cerca de meia hora depois, cheguei à delegacia. Estacionei o carro
em frente ao prédio e entrei apressado, passando por alguns policiais, até
encontrar Ryan, que, ao me ver, veio rapidamente ao meu encontro.
― Graças a Deus, Oliver! Estava te esperando! — ele disse ao se
aproximar. — Encontrou os históricos?
― Sim, estão aqui.
― Ótimo, vamos, você precisa apresentar essas provas ao delegado
para que possamos indiciar o seu irmão.
Não nego que ouvir aquilo foi estranho, nunca imaginei que a
obsessão do meu irmão por mim pudesse levá-lo a fazer algo tão absurdo.
Ryan me levou à sala do delegado e eu mostrei a ele os históricos,
explicando as suspeitas que Sofia tinha em relação a Brian e os motivos que
me levavam a acreditar que ele era o sequestrador.
O delegado considerou que havia provas concretas demais e
conseguiu um mandato de busca e apreensão para Brian e uma autorização
para que Ryan e mais dois policiais vasculhassem todo o apartamento dele.
Meu irmão agora era um procurado.
Depois que Ryan saiu, fiquei aguardando na recepção, torcendo para
que eles encontrassem meu irmão, mas principalmente para que encontrasse
Sofia. Enquanto isso, o delegado achou necessário convocar Denise para
prestar depoimento, já que o nome dela também constava nos históricos.
Ela chegou cerca de uma hora depois de ser convocada, me lançou
um olhar rápido e foi para a sala do delegado, onde ficou cerca de quarenta
minutos depondo.
Quando ela saiu, me levantei e parei na sua frente, bloqueando-lhe a
passagem.
― O que você disse para o delegado? — perguntei, olhando-a
seriamente.
― Oi para você também, Oliver. — Ela cruzou os braços, me
encarando.
― Eu não estou com muita paciência, Denise. — Usei o mesmo tom
que eu usava com os réus que acusava no tribunal, um tom que quase sempre
os obrigava a me contar a verdade.
― Olha Oliver, eu lamento pelo que aconteceu com a Sofia, mas eu
realmente não sei de nada. — Ela parecia sincera.
― Você foi amante do meu irmão por anos! Como é possível não
saber de nada? — Àquela altura, já estava desesperado por qualquer
informação que pudesse me ajudar a encontrá-la.
― Você vai jogar isso na minha cara sempre que me encontrar? —
Ela me encarou, impaciente. — Como você mesmo gosta de lembrar, Brian e
eu fomos apenas amantes, não nos encontrávamos para fazer confissões.
― Então por que seu nome consta nos históricos? Por que meu
irmão te telefonou logo no dia do acidente dos meus pais?
― Eu também não sei. Naquele dia, quando ele me ligou, disse que
havia feito algo horrível, ele estava desesperado ao celular e só depois fiquei
sabendo do acidente. — Seu olhar estava distante, como se ela revivesse
aquele dia. — Eu cheguei a suspeitar do seu irmão, mas ele nunca me
confessou nada e nunca consegui provas.
― Então, você não sabia do envolvimento dele nisso tudo?
― Intimamente sim, mas, como já disse, nunca tive certeza.
Deslizei as mãos por meus cabelos, exausto. Doía muito pensar que
meu irmão pudesse ter sido o principal responsável pela morte dos meus pais.

― Você tem o coração muito bom, Oliver — Denise murmurou, me


encarando atentamente. — Tanto que nunca percebeu o quanto o Brian é
mau-caráter, um bandido. Ele sempre teve inveja de você, sempre quis ser
você e acredito que tenha se envolvido comigo apenas porque sabia que você
me amava, foi para te afetar.
― Não afetou. — A encarei com amargura.
― Eu sei que você nunca vai me desculpar por ter te traído e por ter
ameaçado a Sofia, mas, ao contrário do que você pensa, eu não sou uma
bandida, nunca faria algo assim com alguém. Posso ser uma mau-caráter,
chantagista, mas não uma bandida. — Ela baixou o olhar por alguns instantes
e depois voltou a me olhar. — Espero de verdade que você a encontre.
Ainda relutante, ela se inclinou me envolvendo em um abraço rápido
e durante os cinco segundos que se seguiram me mantive rígido no lugar.
Seus olhos verdes me fitaram uma última vez e, depois de ajeitar sua
bolsa em seu braço, ela se foi, no instante que Ryan chegou.
― E então? — Voltei-me para ele, ansioso.
― Ele não estava lá, reviramos todo o apartamento, mas
encontramos apenas alguns recortes sobre o acidente, o que mostra uma certa
obsessão dele pelo que aconteceu e que torna a situação ainda mais delicada.
Infelizmente não achamos nada que nos ajude a encontrar a Sofia.
― Droga! — Encostei-me na parede, esmurrando-a.
Ryan se aproximou, colocando a mão em meu ombro.
― Nós vamos encontrá-la Oliver, é só uma questão de tempo.
― O problema é que esse tempo é precioso demais, Ryan! —
Voltei-me para ele, furioso. — A Sofia pode estar precisando de ajuda, pode
estar precisando de nós!
Ryan se manteve em silêncio e eu lhe dei as costas, saindo da
delegacia.
Lá fora, o dia já estava terminando e o sol se preparava para se pôr.
O céu já possuía tons de rosa e laranja, que iam se intensificando à medida
que o sol avançava para o poente. Era algo realmente lindo, mas nem toda
aquela beleza foi capaz de me animar. Em silêncio, desejei que a Sofia
pudesse estar vendo aquilo também, mas principalmente que ela estivesse
bem e que se mantivesse forte até que a encontrássemos.
Meu celular vibrou e eu o atendi, sem conseguir ver o número direito
no visor.
― Alô?
― Oi, irmão. — Uma voz familiar ecoou do outro lado da linha.

― Brian? — perguntei em choque — Onde a Sofia está?


― Ora, ora... Sabe, me perguntei quanto tempo levaria até que você
começasse a desconfiar de mim. — Ele riu.
― Se você encostar um dedo nela, eu juro que acabo com você! —
eu disse, cheio de ódio.
― Que coisa mais feia para se dizer a um irmão, Oliver! — Ele
parecia estar se divertindo muito com tudo aquilo. — Se você ainda não
percebeu, sou eu quem dá as cartas aqui e, para o bem de todos, seria ótimo
se você não dissesse nada à polícia.
Olhei ao redor, tentando vê-lo, meu coração pulsando rápido.
― Como sabe onde eu estou? Apareça, seu covarde!
― Eu não sou burro, irmão. Você achou mesmo que eu ia ficar
dando sopa pela cidade, quando sabia que mais cedo ou mais tarde a polícia
iria acabar vindo atrás de mim? Não mesmo, irmão! — Ele gargalhou. —
Agora, se você olhar para a sua esquerda, vai ver que tem um cara em uma
moto, de jaqueta e capacete preto. Ele está comigo.
Olhei para a minha esquerda, notando o homem.
― O que você quer? — Suspirei.
― Acho que esse é o tipo de assunto que tem que ser resolvido
pessoalmente, você não acha? Quero que o siga. Ele o trará até mim e, já
sabe, se avisar à polícia eu acabo com a Sofia.
― Não vou dizer nada.
― Ótimo, nos vemos logo, irmão.
Brian desligou e eu encarei o homem de moto no outro lado da rua,
que fez um maneio de cabeça para mim e deu partida na moto, saindo dali.
Caminhei a passos largos até a minha BMW e percebi que Denise
ainda estava ali, ao lado do carro dela, que estava estacionado logo atrás do
meu.
― Ei, por que toda essa pressa? Ficou sabendo de alguma coisa? —
Ela veio atrás de mim.
― Pare de fingir que se importa, que saco! — eu disse ríspido e ela
parou, me olhando como se eu fosse um ogro.
Na verdade, eu não me importava com o que ela ou qualquer outra
pessoa pensava de mim, eu só queria encontrar a Sofia. Entrei no carro,
fechei a porta e dei partida, indo atrás do homem na moto, que já dobrava a
esquina.

Segui-o por toda a cidade, meus sentidos aguçados, eu sabia que


havia acabado de colocar a minha vida em perigo também, mas o que eu
poderia fazer? Brian havia sido bem claro que não hesitaria em ferir a Sofia
caso eu avisasse a polícia. Eu não poderia arriscar.
Pouco tempo depois, pegamos a ponte que ligava o Rio de Janeiro à
cidade de Niterói, um trajeto de mais ou menos vinte e quatro minutos de
carro.
Depois que atravessamos toda Niterói, percebi que o homem estava
me levando em direção à zona rural da cidade. Depois de dirigirmos por mais
ou menos uns vinte quilômetros, viramos em uma estrada de terra. A essa
altura o céu já estava turvo, pronto para receber a noite. Três quilômetros
depois, o homem na moto parou em frente a um prédio industrial
abandonado.
Parei o carro ao seu lado e quando desliguei o motor soube que não
havia mais volta. Brian havia se escondido bem e, mesmo que precisasse de
ajuda, ninguém nos encontraria ali.

CAPÍTULO 42 – SOFIA

Conforme o dia ia terminando, o quarto em que eu estava se tornava mais


escuro, dando um ar grotesco ao ambiente.
Um dos capangas de Brian havia aparecido e deixado uma garrafa de
água ao meu lado, mas eu não tinha conseguido beber nada. Passei as horas
seguintes encolhida no pequeno colchão, me contorcendo, sentindo uma dor
insuportável na região das costelas e eu me perguntava quanto tempo mais
aguentaria até que desmaiasse de dor. Mesmo com minha visão um pouco
embaçada, vi quando a porta do pequeno cômodo se abriu e Brian passou por
ela, se ajoelhando ao meu lado.
― Céus, você está horrível! — ele comentou, enquanto me olhava.
― Vai pro inferno! — balbuciei com dificuldade.
Um sorriso surgiu em seus lábios.
― Vim avisá-la de que temos visita. — Ele tirou uma mecha de
cabelo do meu rosto. — Sabe quem está aí?
Eu não disse nada.
― Oliver — ele disse e eu senti meu coração pulsar mais rápido.
― Não... — murmurei, com lágrimas nos olhos.
― Foi tão bonito da parte dele, não foi? Quero dizer, vir até aqui,
mesmo sabendo que eu vou matá-lo. — Ele riu, me encarando. — E sabe o
que é mais irônico? Ele vai morrer por sua culpa. Como se sente sabendo
disso?
― Brian... — Minha voz saiu em súplica.
― Brian, seu irmão já está lá embaixo. — Um capanga avisou,
parando diante da porta.
― Acho melhor descer, é antiético deixar as visitas esperando, não é
mesmo Sofia? — Ele se levantou.
― Não, por favor... — pedi em meio a lágrimas, estava desesperada.
― Leve-a lá para baixo. Quero que meu irmão sofra um pouquinho
antes de finalmente morrer — Brian disse para o homem, que lhe entregou
um revólver e ele o colocou na cintura, escondendo-o com a camiseta.
― Não... — Tentei me levantar, eu precisava avisar ao Oliver que
ele estava correndo perigo, mas mais uma vez fui impedida pela imensa dor
que sentia.
― Hora de ver seu namoradinho, querida.
O homem encapuzado se aproximou de mim, me levantando sem
gentileza alguma e foi como se todos os meus ossos estivessem se partindo
naquele momento.
Se algo acontecesse ao Oliver, eu nunca me perdoaria.

CAPÍTULO 43 – OLIVER

Depois que saí do carro, o homem que antes estava na moto arrancou um
revólver da cintura e mandou que eu andasse. Enquanto ia a frente, ele vinha
logo atrás de mim, comigo na sua mira.
Com muito cuidado, olhei ao redor. O prédio tinha dois andares e eu
suspeitava que lá dentro deveria haver muitas salas e que simplesmente seria
impossível encontrar a Sofia e sair rapidamente dali. O prédio também estava
cercado por uma mata fechada e, mesmo que escapássemos, não
conseguiríamos ir muito longe antes de sermos apanhados.
Ao me aproximar da entrada encontrei dois homens encapuzados,
também armados. Eles abriram mais o portão e me empurraram para dentro,
fechando-o logo em seguida.
Como eu suspeitava, o local era imenso.
― Onde está o Brian? — Encarei os homens.
― Chamou, irmão? — Olhei para cima e o vi.
Ele desceu a escada, parando diante de mim.
― Cadê a Sofia? — perguntei, me segurando ao máximo para não
dar-lhe um soco no meio da cara.
― Oliver! — Uma voz desesperada me chamou e, quando olhei, vi
Sofia descendo a escada com dificuldade, com um homem segurando-a pelo
braço.
― Sofia! — exclamei, dando um passo em sua direção, mas parei
quando o homem que a segurava apontou seu revólver para mim.
Sofia estava pálida, parecia fraca e, pelas suas caretas, suspeitava
que ela estivesse sentindo muita dor.
― O que vocês fizeram com ela? — Encarei Brian, repleto de ódio.
― Deveria estar preocupado com o que vamos fazer com você.
― Você tem que fugir, Oli... — Sofia murmurou com dificuldade.
― Eu não vou sair daqui sem você. Nós dois vamos ficar bem, eu te
prometo.
― Ah, isso foi tão bonito.
― Por que está fazendo tudo isso? Porque não conseguiu a
presidência da empresa? Olha, se o problema for esse, eu te dou tudo o que
eu tenho! Tudo! Só nos deixe sair daqui... — eu disse.
Brian riu e fez um gesto para que seus homens me segurassem. Dois
se aproximaram, cada um me segurando por um braço, me imobilizando no
lugar. Tentei me soltar, mas foi inútil.
― Isso não é só pela Advocacia, digamos que a sua namoradinha foi
curiosa demais. — Ele se aproximou e pelo canto do olho, vi Sofia chorar.
― Então, é verdade? Você sabotou o carro dos nossos pais? —
perguntei, minha voz esganiçada.
― Sim, sabotei! E fico feliz por ter me livrado daqueles velhos! —
Enquanto ele falava, meus olhos começaram a marejar. — O único problema
é que era para você estar dentro daquele carro também! Era para você ter
morrido junto com eles, Oliver! — Brian gritou furioso, dando um soco no
meu estômago. Fiquei alguns segundos sem ar, a dor me consumindo, mas
me mantive firme.
― Por quê? — perguntei, a voz falha.
Ele se aproximou mais, seus olhos transtornados pela raiva.
― Porque eu sempre te odiei! — ele esbravejou. — Eles sempre te
amaram mais, te mimaram mais e, enquanto você tinha tudo, eu não tinha
nada! Mas hoje vou ter tudo que era para ser meu de volta e ninguém vai me
impedir!
― Eles te amavam também. — O encarei, com lágrimas nos olhos.
— O único que nunca amou ninguém aqui foi você!
― Cala a boca! — Ele me deu outro soco e dessa vez minhas pernas
bambearam e eu caí de joelhos no chão.
― Oliver! — Sofia gritou em desespero.
Brian pegou o revólver da cintura e o apontou para mim, os homens
que me seguravam me soltaram e se afastaram.
― Talvez, por ser um bastardo, as pessoas sempre me trataram com
indiferença e eu sempre me sentia um lixo quando você estava por perto! Da
mesma forma que você está se sentindo agora...
― As coisas não precisam acabar assim — murmurei.
― Não mesmo, precisam acabar com você morto e eu vivo! — Ele
colocou o dedo no gatilho.

― Você pode morrer em paz, cuidarei de Estevan e de Elena como


se fossem meus filhos. Afinal, quando eu já estiver velho e não conseguir
mais cuidar dos negócios, vou precisar de sucessores, não acha?
― Se você chegar perto dos meus filhos, eu...
― Você o quê? — Brian me encarou e eu me calei. — Sabe, eu
poderia acabar com você agora mesmo, mas seria fácil demais. Eu quero que
seus últimos minutos de vida sejam tão agoniantes que você me implore para
te matar! Então, o que acha de eu matar a Sofia na sua frente? — Ele girou o
corpo, apontando o revólver para ela.
Quis me levantar, mas minhas pernas me contrariaram.
― Não Brian, não faça isso, você não precisa matar ninguém hoje
— implorei — A Sofia está grávida.
― Eu já sei, e quer saber? — Ele me encarou com ironia. — Eu não
me importo. — Ele foi em direção a Sofia.
― Brian, não, a deixe em paz, por favor! Me mate! — gritei, o medo
me consumindo, mas ele pareceu não me ouvir.
Ele pegou Sofia pelo braço e a arrastou na minha direção.
― Sabe o que vai ser melhor do que matá-la? Matá-la em seus
braços! — Ele a empurrou para mim e eu a segurei.
Coloquei a cabeça de Sofia conta meu peito e a abracei forte.
― Me perdoe, Oliver... — ela murmurou em meio às lágrimas.
― Tudo bem, está tudo bem. — Tentei acalmá-la, enquanto Brian
nos encarava.
― Tudo isso é culpa minha... Ai! — Ela disse e logo depois se
contorceu de dor.
― Tudo bem meu amor, eu estou aqui, vai ficar tudo bem.
― É tão bonito, não é rapazes? — Brian encarou os outros homens.
— Até que a morte nos separe, não é? — Ele sorriu. — Pena as coisas terem
que acabar assim.
Ele apontou a arma para nós e Sofia chorou, ela estava apavorada.
Sabia que quando chegasse o momento certo Brian não hesitaria em nos
matar.
― Feche os olhos, meu amo — murmurei para Sofia. A adrenalina
percorria todo o meu corpo e eu tive de me esforçar muito para controlar a
minha voz, não queria assustá-la ainda mais.
― Oliver... — Ela levantou seu olhar para mim, estava em pânico.
― Por favor, faça o que te pedi.

Sofia fechou os olhos e eu a abracei ao meu corpo, segurando-a


com força. Olhei para Brian, que já estava com o dedo no gatilho, pronto para
atirar.
― Eu te amo, sempre vou amar — sussurrei em seu ouvido e ela
balançou a cabeça em concordância, como se já soubesse. Fechei meus olhos
e apoiei o queixo em seu ombro, sentindo o cheiro suave de seus cabelos.
No instante seguinte, um tiro ressoou por todo o prédio.

CAPÍTULO 44 – OLIVER

Depois de ouvir o tiro, permaneci com os olhos fechados, com medo do que
poderia ver caso os abrisse. Após alguns segundos, percebi que a respiração
de Sofia ainda subia e descia constantemente. Abri os olhos lentamente e
constatei que nada de mal havia acontecido, estranhando que ainda
estivéssemos vivos.
― Que merda foi essa? — Brian perguntou, nervoso.
― A polícia está aqui! Balearam o André! — Um de seus capangas
gritou, passando pelo portão e entrando rápido no pátio.
― O que vocês estão esperando? Se mexam! Acabem logo com
esses soldadinhos de merda! — Brian gritou, olhando para todos os homens
que saíram em disparada para o lado de fora. Era evidente o quanto ele estava
assustado.
― Merda, Oliver! Eu disse para você não avisar à polícia! — Ele me
encarou, seus olhos pareciam petrificados e eu sabia que ele estava
consumido pelo ódio.
― Eu não avisei ninguém! — gritei.
― Que droga! — Ele se virou, abaixando a arma, olhando em
direção ao som que ecoava do lado de fora, um intenso tiroteio havia
começado.
Olhei ao redor e vi que havia uma mesa jogada ao chão em um canto
da parede.
― Consegue ir até ali? — sussurrei para Sofia.
Ela girou um pouco a cabeça, olhando para o local que eu havia
indicado, antes de responder:
― Acho que consigo — ela disse, sua voz fraca.
― Então vá.
Mesmo relutante, ela se soltou de mim e foi engatinhando com
dificuldade até o local que eu havia lhe mostrado. A mesa funcionaria como
uma barricada e eu sabia que, se um tiroteio começasse ali, ela ficaria
protegida até que a polícia a salvasse.
Aproveitei que Brian estava distraído e me levantei rapidamente,
agarrando-o por trás. Coloquei meu braço ao redor de seu pescoço e o segurei
firme.
Brian levou as mãos ao meu braço, o empurrando, tentando se soltar.
Com seu esforço acabamos caindo no chão. A arma também caiu, a alguns
metros de nós. Travamos uma luta corporal, até que eu finalmente consegui
ficar sobre ele e lhe dei alguns socos bem dados no rosto.
― Você é doente! — gritei, segurando-o pelo colarinho e o
balançando, depois de perceber que ele já não tinha mais forças para lutar.
Estava ofegante e o encarava, completamente pasmo por ele estar
sorrindo.
― Já que acha isso, por que não me mata e acaba logo com isso? —
Ele me encarou, cheio de deboche. Eu sabia que estava me testando.
― Eu não sou você.
― Que pena — ele disse, juntando um pouco de areia que estava no
chão e jogando-a em direção aos meus olhos.
Eu me desvencilhei um pouco e Brian me empurrou para o chão, se
inclinando rapidamente para apanhar o revólver. Quando finalmente consegui
enxergá-lo, ele já estava de pé, mirando em mim.
― Acabou, Oliver! — ele disse, colocando o dedo no gatilho.
― Não! — Sofia apareceu atrás de Brian, acertando-o com uma
tábua, mas, mesmo zonzo, ele a empurrou com força e ela acabou se
desequilibrando. Bateu a cabeça no corrimão da escada e caiu no chão.
― Sofia! — gritei, mas ela estava imóvel.
― Qual é, Oliver? Não precisa ficar assim, logo, logo você se
juntará a ela! — Brian me encarou com um sorriso.
Eu não me importava com o que ele estava dizendo e muito menos
com o que faria comigo a seguir, eu só queria poder pegar Sofia nos meus
braços e levá-la rápido para um hospital.
― Quero que olhe para mim! — ele gritou, mas não lhe dei atenção.
Continuava a olhar para a minha princesa, que estava caída ali no chão.
― Ela precisa de ajuda... — murmurei, com lágrimas nos olhos.
― Se você não olhar para mim, eu juro que vou acabar agora com a
raça dessa infeliz! — Ele apontou a arma para a Sofia e eu o olhei. Não tinha
escolha. — Este vai ser o último rosto que você vai ver antes de morrer — ele
disse, usando o dedo indicador para apontar o próprio rosto. — Adeus para
sempre, irmão.
Ao dizer isso, houve um barulho alto, Brian deu um passo para trás e
seus olhos se arregalaram em desespero. Não compreendi bem o que havia
acontecido, até ver uma mancha enorme de sangue começar a se expandir por
sua camiseta, exatamente na região do abdômen. Ele havia sido baleado.
Olhando sobre meu ombro, vi Ryan com a arma ainda empunhada
em suas mãos. Brian tentou erguer o braço e atirar, mas caiu desacordado
antes que pudesse fazer isso.
Eu me levantei com dificuldade e corri até Sofia, ficando ao seu lado
e tocando seu rosto.
― Sofia? — chamei, mas ela não esboçava qualquer reação. — Por
favor meu amor, acorde... — implorei. Vê-la naquele estado, era como estar
vivendo um pesadelo.
― O que aconteceu com ela? — Ryan se posicionou ao meu lado.
Sabia que ele estava tentando manter o profissionalismo, mas seu tom de voz
evidenciava o quanto estava preocupado.
― Ela bateu a cabeça — ele disse, sem tirar os olhos dela.
― Não a mova, vou chamar uma ambulância!
Ryan pediu por ajuda bem ao meu lado, mas eu mal o ouvi, estava
ocupado demais olhando para Sofia.
Vi um corte enorme do lado direito de sua cabeça, bem próximo à
nuca, havia também muito sangue e eu rezei a Deus que não deixasse nada de
mal acontecer a ela, nem ao nosso bebê.

CAPÍTULO 45 – OLIVER
As ambulâncias que nos socorreram vieram de Niterói e chegaram cerca de
quinze minutos depois de serem chamadas. Eles imobilizaram Sofia e a
colocaram em uma maca. Fizeram o mesmo com Brian, que, apesar da
dificuldade para respirar, ainda estava vivo. Dois dos bandidos também
estavam vivos, os outros três haviam sido mortos pela polícia. Apesar da dor
que eu sentia, sabia que meus ferimentos eram leves e não precisei ser
imobilizado.
Fui na ambulância com Sofia e dois paramédicos, e enquanto
segurava a mão da mulher que eu mais amava no mundo me peguei pensando
em Brian — que também havia sido colocado inconsciente na outra
ambulância —, tentando entender quando ele havia se tornado uma pessoa
tão fria e distante.
Quando éramos crianças, lembro que nos dávamos bem, apesar de
ele sempre discordar de mim e dos meus amigos em todas as brincadeiras. Na
adolescência nos tornamos um pouco mais distantes. Enquanto eu ainda me
interessava por andar com meus amigos e me divertir, Brian logo descobriu
as mulheres e, como eu ainda era bastante novo, não vivenciávamos as
mesmas experiências, de modo que não tínhamos muito o que compartilhar.
Ao atingirmos nossa fase adulta, quase nunca nos víamos e, nas raras
oportunidades em que falávamos, os assuntos sempre envolviam de forma
indireta ou não a empresa da família e os lucros.
Sempre achei que essa distância toda fosse apenas seu jeito, já que
ele nunca mostrou ser muito afetivo com ninguém, mas em hipótese alguma
cheguei a imaginar que algum dia ele fosse capaz de planejar e participar da
morte dos nossos próprios pais, vítimas de um plano que foi arquitetado, na
verdade, para tirar a minha vida.
Fomos levados para um hospital de Niterói e, por mais que eu
dissesse aos médicos que estava bem e que queria acompanhar Sofia na
bateria de exames, eles insistiram para que eu também fizesse alguns exames.
Como já suspeitava, eu tinha apenas alguns ferimentos leves e o médico
receitou apenas um remédio para tirar a dor, colocado junto ao soro, para que
o efeito fosse imediato.
Enquanto observava o soro pingar lentamente, acabei adormecendo,
não sei exatamente por quanto tempo, mas, quando acordei, o doutor que
havia me atendido estava no quarto, escrevendo alguma coisa em seu
prontuário.

― Olá Oliver, como se sente? — ele perguntou, abaixando um


pouco a prancheta para me olhar.
― Melhor. — Fiz uma careta, ao me mover, me sentando na beirada
da cama.
― Já que o seu caso não é grave, você poderá ter alta hoje mesmo.
― Isso é ótimo. — Fiz uma pausa — Como está minha noiva?
O médico me olhou atentamente, escolhendo com cuidado suas
palavras:
― Ela fez uma série de exames. Identificamos duas costelas
quebradas do lado esquerdo do abdômen e um pequeno inchaço no cérebro.
― Isso é grave? — Engoli em seco.
― No momento, não. Por enquanto, o caso dela é estável e podemos
diminuir o inchaço com a ajuda de medicamentos. Ah... — ele disse, ao se
lembrar de alguma coisa — Pode ficar tranquilo, apesar dos fortes golpes no
abdômen a filha de vocês está bem, a bebê não sofreu qualquer dano.
― Filha? — perguntei surpreso, ainda tentando processar aquela
informação.
― Vocês ainda não sabiam que estavam esperando uma menina? —
O médico perguntou e eu fiz que não com a cabeça. — Espero não ter
estragado a surpresa — ele disse, sem jeito.
― Não. Na verdade, o senhor acaba de me dar a melhor notícia do
dia. — Sorri, extremamente contente por saber que seria pai de mais uma
menina. — Será que eu posso vê-la agora?
O médico chamou um enfermeiro e pediu que ele me levasse até o
quarto onde estava Sofia. Ela estava deitada em um leito, coberta por um
manto com inscrições do hospital. Havia uma poltrona ao lado da cama, na
qual me sentei. Depois de fixar meu soro em um gancho no quarto, o
enfermeiro saiu, nos deixando a sós.
Como havia feito mais cedo, estendi minha mão sobre a cama e
apanhei a mão de Sofia. A mão dela estava fria, seu rosto estava pálido e seus
lábios já não tinham aquele tom rosado natural de antes.
― Você me salvou — murmurei. — Desculpe por não ter te ouvido
antes. Se eu tivesse levado mais a sério suas suspeitas em relação ao Brian,
nada disso teria acontecido. — Abaixei a cabeça, sentindo as lágrimas vindo.
— O médico disse que vamos ter uma menina, não é maravilhoso? — eu
disse, encarando seu rosto frágil. — Você tem que acordar, tem que ficar bem
por nossa filha, por mim, por todos que te amam — disse, acariciando seu
rosto com as costas da mão.

Alguém bateu na porta e eu me virei para ver quem era.


― Oliver... — Vanessa sussurrou, abrindo um sorriso ao me ver. —
Fico feliz em ver que você está bem... — Ela me abraçou. — Como ela está?
— Ela me soltou, olhando para Sofia.
― O médico disse que ela está estável, eles precisam ver como ela
vai reagir nas próximas horas, as primeiras quarenta e oito horas são de suma
importância em casos como o dela.
― Ela vai ficar bem, é forte. — Vanessa colocou a mão sobre meu
ombro, me confortando.
Dirigi meu olhar para Sofia.
― É, ela vai — eu disse, tendo certeza daquilo.
― Os pais dela e a irmã estão vindo para cá. Depois de não
conseguiram falar com ela, eles me ligaram e eu tive de contar a eles a
verdade — Vanessa comentou.
― Você fez bem, vai ser bom para a Sofia acordar e ter os pais ao
lado. Quando eles chegam?
― Não sei bem, mas considerando a hora em que eles saíram de
Goiânia, diria que estarão aqui dentro de poucas horas.
― Ótimo. Agora, será que você poderia ficar um pouco com a
Sofia? Eu preciso falar com o Ryan, ainda não o agradeci por ele ter nos
salvado.
― Claro que posso — ela respondeu em um sorriso.
O enfermeiro voltou, me levando de volta ao meu quarto. Depois de
me recostar na cabeceira da cama, Ryan entrou.
― Me disseram que você queria falar comigo. — Ele entrou, me
olhando.
― Sim. — Fiz um sinal, indicando que ele se sentasse na poltrona ao
lado do meu leito.
Mesmo relutante ele se sentou, enlaçando as mãos e me encarando
atentamente.
― Obrigado por ter nos salvado, não sei o que poderia ter
acontecido comigo e com a Sofia caso você não tivesse aparecido.
― Eu só cumpri com o meu dever de policial, teria feito o mesmo
por qualquer outra pessoa.
― Eu sei que teria, mas como você descobriu onde estávamos?
― Não descobri.
― Como? — Olhei para ele, sem entender.

― Quem deu a dica de onde vocês estariam foi a sua ex-mulher,


Denise.
Aquela revelação me pegou de surpresa, era algo que eu jamais
esperaria se tratando de Denise.
― Como ela sabia?
― Nós a interrogamos há pouco e ela contou que você saiu da
delegacia alterado, como se algo estivesse muito errado. Ela resolveu te
seguir, para ter certeza de onde estava indo. Ela te seguiu por todo o trajeto e
só parou quando chegou a uma estrada de terra que levava ao esconderijo.
Ela nos ligou e informou o local, então viemos.
― Onde ela está? — Sabia que, apesar de não nos darmos bem,
sabia que se agora Sofia e eu estávamos vivos era graças a ela.
― Ela disse que voltaria para o Rio.
― E meu irmão? Ele... — Não ousei continuar.
― Não, ele está vivo. Felizmente ou não, o tiro que dei não foi letal.
― O que vai acontecer com ele agora?
― Bem, os médicos fizeram uma cirurgia e removeram a bala.
Então, ele ficará no hospital até se recuperar e depois eu mesmo o levarei
para o presídio. Ele responderá por sequestro, homicídio e violência contra a
mulher.
Ryan não precisou dizer nada, sabia que meu irmão havia tido um
caso com Vanessa e lamentei que alguém tão bacana quanto ela tivesse se
envolvido com alguém como ele.
Ele saiu do quarto e eu passei um bom tempo ali, até que o meu soro
terminou e o médico apareceu para me dar alta.
Eu precisava voltar ao Rio para tomar um banho, trocar de roupa,
ver meus filhos e também pegar algumas coisas que sabia que Sofia iria
precisar, mas antes resolvi voltar ao seu quarto para dar mais uma olhada nela
e me surpreendi quando parei diante do vidro e vi uma moça sentada na cama
ao seu lado. Um senhor estava em pé ao lado de seu leito e uma senhora
sentada na poltrona chorando desesperadamente, enquanto segurava sua mão.
Fiquei ali parado, olhando-os, até que o senhor notou minha
presença e saiu do quarto, vindo até mim.
― Você deve ser o Oliver.
Ele tinha cabelos grisalhos, olhos escuros, era baixo, barrigudo e
tinha a expressão cansada.

― Sim, sou eu.


― Ouvi falar muito de você. Eu sou Ângelo, pai da Sofia.
― É um prazer conhecê-lo, senhor. — Estendi a mão e ele a
segurou.
A porta se abriu novamente e desta vez foi a moça que passou por
ela. A garota tinha longos cabelos castanhos, lembrava muito Sofia e não
precisava observar muito para concluir que eram irmãs.
― Susana, esse é o Oliver... — Ângelo começou a dizer, mas ela o
interrompeu.
― Eu sei bem quem ele é. — Ela me encarou com fúria. — E se a
Sofia está agora nesse hospital é por culpa dele e de seu irmão psicopata! —
ela esbravejou.
― Susana! — O pai tentou repreendê-la, mas ela não parou.
― Se alguma coisa acontecer a Sofia, a culpa será sua, Oliver! Sua!
― Filha, não diga isso! Ele é noivo da sua irmã! Pai do bebê que ela
está esperando!
― Isso é sério? Quer dizer que depois de tudo que aconteceu com a
Sofia, vocês vão mesmo deixar que ela continue a se envolver com esse cara
e com a família psicopata dele?
― Já chega! — Ângelo gritou e Susana virou as costas, saindo a
passos largos dali. — Desculpe, ela não costuma ser assim, só está
preocupada com a irmã.
― É compreensível. — Não havia muito o que dizer naquele
momento.
A senhora que estava no quarto também saiu e parou por alguns
instantes, me observando. Seus olhos esverdeados estavam inchados, seus
cabeços escuros estavam presos por uma tiara e ela usava um vestido cinza.
― Você é Oliver Beaumont?
Fiz que sim, me preparando para mais um despejo de angústia, mas
fui surpreendido quando a senhora me abraçou forte.
― Eu sou Lídia, mãe da Sofia. Obrigada por salvar a minha filha,
obrigada! — Ela chorava desesperadamente.
― Eu daria a minha vida pela da sua filha — murmurei.
Dona Lídia se afastou um pouco, segurando meu rosto em suas
mãos, me olhando profundamente.
― Eu sei que daria, está nos seus olhos.

CAPÍTULO 46 – OLIVER

Depois de conversar um pouco com os pais de Sofia e ficar alguns minutos


ao seu lado no leito, fui para o Rio.
Apesar de estar me sentindo bem, Ryan insistiu para me levar em
casa, mas eu recusei, dizendo que, nesse caso, preferia ir de táxi. Acho que
meus filhos ficariam bastante assustados se me vissem chegar em casa em
uma viatura policial. De qualquer forma, eles não precisavam saber o que
havia acontecido, pelo menos, não agora.
Assim que cheguei e abri a porta, avistei meus filhos sentados no
sofá da sala. Pareciam tristes e estavam calados.
― Senhor Oliver? — dona Ana falou ao me ver, um sorriso de alívio
surgindo em seu rosto.
― Papai! — Elena gritou, correndo até mim e pulando em meus
braços. Arfei um pouco por causa da dor que sentia, mas, ainda assim,
envolvi minha pequena em um abraço forte.
― Oi, querida.
― Ainda bem que o senhor está bem, pai! — Estevan enlaçou seus
braços ao redor da minha cintura, me abraçando.
― Papai, o tio Brian foi preso? — Elena ergueu seus olhinhos para
mim e eu fiquei extremamente confuso. Como eles sabiam?
― Eles assistiram ao noticiário, está passando em todos os canais,
senhor — dona Ana explicou ao perceber o meu desespero.
― Pai, a Sofia está bem? — Estevan me encarou, preocupado.
― Está sim.
― O senhor não vai mais sair, vai? — Elena me encarou,
preocupada. Era evidente que ela estava com medo que algo me acontecesse.
― Eu preciso, querida. Além disso, a Sofia está sozinha no hospital.
Você não acha que ela vai gostar se eu for para lá lhe fazer companhia?
Ainda relutante, ela fez um maneio de cabeça, afirmando que sim.

― Pai, mas e o tio Brian? Ele não vai tentar machucar vocês de
novo? — Estevan me encarou e eu juro que, naquele momento, desejei que
eles nunca tivessem descoberto sobre o sequestro.
― Não se preocupem com isso. — Olhei de um para o outro. —
Está tudo bem.
Depois que meus filhos se acalmaram um pouco, dona Ana os levou
até a cozinha e preparou um lanche para distraí-los. Apesar de jovens, era
evidente que eles entendiam o que o tio havia feito.
Fui para o meu quarto e, depois de me despir, entrei no banheiro
para tomar uma ducha. Apesar dos analgésicos que havia tomado no hospital,
meu corpo ainda estava dolorido e havia alguns hematomas na região do
abdômen, mas a água morna do chuveiro pareceu conseguir aliviar um pouco
o que eu estava sentindo.
Depois de me secar, fui até o closet, apanhei e vesti uma calça jeans,
uma camiseta azul-escura e tênis. Enquanto me vestia, não conseguia evitar
olhar para as coisas de Sofia.
Apesar de o médico dizer que seu quadro era estável, eu sabia que o
inchaço no cérebro era algo grave e que qualquer diagnóstico seria impreciso
naquele caso. Não havia como saber o que iria acontecer. Além disso, ela
havia fraturado duas costelas e eu me perguntei que atrocidades Brian teria
feito a ela, e me arrependi amargamente por não ter conseguido evitar que
nada disso acontecesse.
Depois de vasculhar o closet e olhar todas as roupas de Sofia, optei
por levar três vestidos que eram de um tecido fino e bem confortável,
algumas peças íntimas e chinelos. Peguei também uma toalha de banho,
escova de cabelos e de dentes e arrumei tudo em uma mala.
Despedi-me de meus filhos, dizendo que telefonaria para dona Ana
assim que tivesse notícias do estado de Sofia e prometi que voltaria para casa
o mais rápido possível.
Antes de sair do Rio, pedi ao taxista que me levasse até a casa de
Denise. Quando bati à porta e ela a abriu, não escondeu sua surpresa por me
ver ali.
― Oliver?
― Olá, Denise. Será que posso entrar?
Ainda sem entender bem o motivo que me levará ali, ela me deu
passagem. Caminhei pela sala e me sentei com dificuldade no sofá.
Em silêncio, Denise se sentou em uma poltrona, de frente para mim.

― Como soube que eu estava indo me encontrar com Brian? —


perguntei, olhando-a atentamente.
Ela se remexeu um pouco em seu lugar, antes de finalmente me
responder:
― Eu não sabia, mas deduzi que estava pelo jeito como você saiu da
delegacia e pela forma como me tratou.
― Eu sempre te trato mal.
Ela deu de ombros.
― É, eu sei, mas, ontem foi diferente, era como se você estivesse
com medo de algo.
― E estava — afirmei. — Estava com medo de perder a Sofia.
― Fico feliz que tenha dado tudo certo. Fiquei sabendo que ela teve
alguns ferimentos, mas que o quadro é estável. Espero de verdade que ela se
recupere rápido.
― Você ainda não disse por que nos ajudou.
Denise abaixou o olhar por alguns segundos e, quando voltou a me
olhar, notei que suas palavras eram sinceras.
― Porque nossos filhos a amam — ela disse. — Eu sempre neguei
isso, mas agora admito que a Sofia conseguiu ser mais mãe deles em alguns
meses do que eu, durante a minha vida toda.
― Foi você que escolheu se afastar deles, Denise.
― Eu sei — ela murmurou. — Mas agora já é tarde, não é mesmo?
— Ela abaixou a cabeça com um sorriso fraco nos lábios, as mãos juntas
sobre o colo.
― Você mostrou que pode mudar, talvez ainda não seja tão tarde
assim.
Ela levantou seu olhar para mim, sem conseguir acreditar nas minhas
palavras.
― Então, você me permitiria voltar a ver nossos filhos? — ela
perguntou, incrédula.
― Acho que eu não tenho muita escolha. Você avisou a polícia e
salvou a minha vida e a de Sofia. Serei eternamente grato a você por isso.
― Oliver, eu sei que não existe perdão para as coisas que eu fiz a
você, aos nossos filhos ou à Sofia. Na verdade, eu fiz coisas horríveis durante
a minha vida toda, mas cansei de ser odiada e de ser solitária. Se você me
permitir, eu gostaria de poder recomeçar com os nossos filhos, até porque eu
sei que eu já te perdi para sempre para a caipira. — Ela riu e eu revirei os
olhos, não dando tanta importância ao seu humor ácido.
― Você sabe como eu sou e, se me conhece bem, sabe que vai levar
algum tempo até que eu consiga te perdoar, se é que eu vou conseguir algum
dia — eu disse e ela me olhou atentamente, considerando aquilo. — Mas,
juntos, nós dois demos vida às duas criaturinhas mais lindas desse mundo e
eu acho que não tenho o direito de proibir que você veja nossos filhos, agora
que parece tão disposta a mudar.
― Obrigada, Oliver — ela disse com lágrimas nos olhos. — Você é
maravilhoso. Será que eu posso te dar um abraço?
Sem responder, apenas me levantei do sofá e Denise caminhou até
mim, enroscando seus braços ao redor do meu tronco. A princípio permaneci
imóvel, sabia que seria impossível para mim esquecer as coisas que ela havia
feito, mas, por outro lado, ela estava disposta a mudar e eu sabia que o
contato com a mãe seria ótimo para nossos filhos. Eu não poderia negar isso a
eles.
Ainda relutante, movi os braços para suas costas e a abracei,
rompendo uma barreira de mágoas que havia sido construída ao decorrer dos
últimos seis anos. Ao perceber meu gesto, Denise encostou seu ombro em
meu peito, chorando desesperadamente. Acho que ela havia compreendido
que o momento da trégua havia chegado.
Após alguns minutos, deixei a casa de Denise e retornei para Niterói.
O taxista me deixou em frente ao hospital e, ao entrar, encontrei Ângelo e
Lídia abraçados em um sofá na recepção. Pareciam exaustos.
― Olá, Oliver — Ângelo me cumprimentou. Seus olhos estavam
cobertos de olheiras.
Dona Lídia parecia dormir calmamente apoiada no peito do marido e
a posição nada confortável não parecia incomodá-la.
― Os senhores parecem cansados, tem um hotel a duas quadras
daqui, posso pedir que um táxi os leve até lá.
― Não queremos incomodá-lo, Oliver. Além do mais, queremos
estar aqui quando a Sofia acordar.
― Não vai ser incômodo algum. Além disso, os médicos sedaram a
Sofia com medicamentos fortes, duvido muito que ela vá acordar agora. De
qualquer forma, vocês podem voltar para cá amanhã de manhã.
Ângelo pareceu ponderar sobre a minha proposta e, depois de olhar
para a esposa exausta ao seu lado, acabou cedendo.
― Tudo bem. Promete que vai nos avisar se a Sofia tiver qualquer
melhora?
― Prometo, senhor.
Depois de ligar para o hotel e fazer a reserva do quarto, chamei um
táxi, que os levou minutos depois.
Assim que eles saíram caminhei até o quarto de Sofia. Como dona
Lídia mesmo havia me dito, Susana estava lá dentro, ao lado do leito da irmã.
Apesar do desentendimento de mais cedo, não pensei duas vezes
antes de bater à porta e entrar. Susana me olhou por alguns instantes, antes de
voltar a atenção para a irmã.
― Oi — eu disse.
― Oi.
― Como ela está?
― Na mesma — ela respondeu vagamente.
― Eu trouxe algumas roupas para ela — indiquei, colocando a mala
sobre um criado-mudo que havia no canto. — Se precisar de qualquer coisa,
estarei na recepção — disse, abrindo a porta para sair do quarto. Era óbvio
que ela não me queria ali.
― Não! — Ela disse subitamente e eu me virei, olhando-a. — Não
vá, ela vai gostar de saber que você esteve aqui, ao lado dela — ela pediu e
eu fechei a porta, colocando minhas mãos nos bolsos do jeans, olhando para a
cama.
Susana se levantou, apanhando a mala com as roupas, dobrando cada
peça com cuidado e colocando-as nas gavetas do criado-mudo.
― Eu gostaria de pedir desculpas por mais cedo — ela disse, ao
terminar de guardar a última peça.
― Tudo bem.
― Não, não está. Eu te julguei por uma coisa que o seu irmão fez,
não você, eu não fui justa. — Ela me fitava, aparentemente arrependida.
― É sério, tudo bem, em parte você estava certa. — Movi-me para a
poltrona, me sentando, observando Sofia e os pequenos tubos ligados ao seu
nariz, que a ajudavam a respirar. — Ela tentou me avisar sobre ele e eu não a
ouvi.
Susana se aproximou, se sentando na beirada da cama e olhando
com um sorriso para a irmã.
― A Sofia sempre foi muito boa em perceber as qualidades e os
defeitos das pessoas e, principalmente, em entendê-las e em ajudá-las. Acho
que ela não poderia ter escolhido outro curso senão Psicologia. — Enquanto
ela falava, eu apenas a ouvia atentamente, notando um aparelho no quarto
apitar a cada minuto. — Eu sempre a admirei, ela sempre foi mais recatada
do que eu, só que também mais corajosa e eu confesso que senti um
pouquinho de inveja quando ela teve coragem de sair de Goiânia sozinha e
vir aqui para o Rio atrás do seu sonho, porque eu sei que jamais conseguiria
fazer algo assim.
Estendi minha mão sobre a cama, segurando a mão de Sofia, que
estava extremamente fria e que não se parecia em nada com a mão quente que
me abraçava e me acariciava.
― Sabe — Susana continuou —, sempre que falávamos ela me
contava como se sentia sozinha aqui no Rio, apesar da amiga maluquinha
dela, Vanessa, mas, isso mudou quando ela te conheceu. — Levantei o olhar,
a encarando-a. — Ao conhecer você, foi como se a vida dela tivesse ganhado
um novo propósito. Mesmo de longe, eu soube que vocês se amavam de
verdade.
― Ela também mudou a minha vida — murmurei.
― É. — Susana sorriu. — E agora vocês vão ter um filho juntos.
― Na verdade, uma filha — eu disse e ela me encarou,
completamente espantada.
― Uma menina? Eu vou ter uma sobrinha? — Ela estava eufórica.
― Sim, o médico me contou mais cedo.
― Isso é maravilhoso! Mais alguém sabe?
― Não, apenas nós dois, achei que a Sofia gostaria de dar essa
notícia ao seus pais.
― Compreendo. — Ela sorriu, observando a irmã. — Pode ficar
tranquilo, prometo manter segredo — ela disse.
― Obrigado.
Passamos um bom tempo ali, conversando. Susana era uma garota
legal, era extrovertida e animada e, em certos pontos, se parecia muito com a
irmã.
Com o passar das horas percebi que ela estava ficando cansada e,
com certa dificuldade, tentei convencê-la a ir para o mesmo hotel que os pais,
mas ela acabou adormecendo em outra poltrona que havia no canto do quarto.
Passei boa parte da noite acordado, olhando para a aparência frágil
de Sofia naquela cama e desejando que ela acordasse logo, e que tudo ficasse
bem, e foi somente às três da manhã que finalmente consegui pregar os olhos.

Quando acordei, o quarto estava claro e eu deduzi que já havia


amanhecido. Foi quando senti uma mão afagar meus cabelos. Eu estava
debruçado na beirada da cama e quando abri meus olhos, vi que Sofia olhava
para mim.
― Oli... — Ela disse fracamente.
― Sofia! — exclamei animado, me ajeitando na poltrona para vê-la
melhor.
― Me perdoe... — ela balbuciou, com lágrimas nos olhos e eu a
interrompi.
― Ei, não tem porque se desculpar, o importante é que você está
bem. — Sorri, acariciando seu rosto, feliz por simplesmente estar ao seu lado.
― Bom-dia, Oliver. Você estava dormindo quando eu cheguei,
então achei que um cafezinho fosse cair bem agora — Susana disse entrando
no quarto. Quando viu que a irmã havia acordado, quase derrubou o copo de
café.
― Ai meu Deus, Sofia! — Ela colocou o recipiente sobre o criado-
mudo e correu até a irmã, abraçando-a com cuidado.
― Su, o que está fazendo aqui? — Sofia a encarou, confusa.
― Ué, vim para cuidar de você, sua maluca!
― E nossos pais?
― Também estão aqui, já devem estar chegando para o horário de
visitas — Susana explicou.
Deixei que elas aproveitassem aquele momento e telefonei para o
senhor Ângelo, lhe informando que Sofia havia despertado. Nos minutos
seguintes, ele chegou acompanhado de dona Lídia.
Apanhei meu café e saí do quarto, deixando-os a sós com ela. Sabia
que eles precisavam daquele momento em família. Afinal, logo, logo Sofia se
tornaria minha esposa e nada mais conseguiria nos separar.
Cinco dias depois Sofia recebeu alta. À noite, quando já estávamos
todos reunidos em minha casa, não perdi tempo e pedi sua mão em
casamento oficialmente aos seus pais, que, depois de um breve suspense nos
abençoaram, enquanto sua irmã gritava de felicidade ao fundo como uma
louca.
No meu íntimo, sabia que o nosso final feliz estava mais próximo
que nunca e eu ansiava por vivenciá-lo o mais rápido possível.

CAPÍTULO 47 – SOFIA
6 meses depois...

Depois do lamentável episódio pelo qual Oliver e eu passamos, nossas vidas


mudaram para sempre.
Quando meus pais tiveram certeza de que eu ficaria bem, retornaram
para Goiânia. Porém, Susana fez questão de ficar comigo e de me ajudar com
o que precisasse e, nas cinco semanas que se seguiram, eu fui completamente
paparicada por ela e por dona Ana, que surgiam a todo instante no quarto
para ver como eu estava.
Nas primeiras semanas Oliver mal conseguia ir para a Advocacia,
era como se pensasse que se saísse do meu lado, algo muito ruim poderia
acontecer. Depois de muita conversa, o convenci de que estava tudo bem e
aos poucos ele voltou à sua rotina normal. Em parte, acho que parcela da sua
preocupação também estava relacionada a Brian, que um mês depois de eu
tido alta também saiu do hospital, diretamente para a cadeia.
Oliver também me contou como Denise nos ajudou no dia do
sequestro. Apesar de ainda odiá-la, eu já conseguia vê-la com outros olhos,
principalmente depois que Estevan e Elena passaram a ir quase todos os fins
de semana para a casa da mãe.
Nas primeiras vezes, eles me pareceram bastante relutantes, mas
agora, sempre que iam para lá, eles voltavam felizes, contando de algum
passeio que haviam feito pela praia ou ao shopping com Denise. Vê-los bem
me deixava bastante contente, eles eram crianças e, por mais que os amasse,
sabia que eles precisavam desse contato materno.
No começo de janeiro, Oliver e eu nos casamos em uma cerimônia
na Igreja de Nossa Senhora da Candelária, no Rio de Janeiro. Foi uma
cerimônia linda, com direito à presença de nossos familiares e de nossos
amigos.
Lembro como hoje que, assim que as portas da igreja se abriram, a
primeira pessoa que vi foi Oliver, em pé no altar, logo ao lado do padre. Ele
estava vestindo um terno e sapatos pretos, gravata cinza e seus cabelos
estavam perfeitamente arrumados. Ele estava tão lindo!
Ao lado do altar estavam Ryan e Vanessa — que estava
deslumbrante em seu vestido vermelho — como meus padrinhos e Estella e
Bruno, como padrinhos do Oliver. Ainda o olhava quando Elena foi logo à
frente, ao lado de Estevan, carregando as alianças.
Meu vestido era branco, com rendas que se prendiam ao pescoço e
se estendiam por todo o corpo do vestido, deixando braços e ombros livres.
Apesar ser um pouco soltinho, ele não conseguiu disfarçar a minha gestação
de cinco meses, que já era visível aos olhos de todos, mas, diferente do que
pensei, o fato de estar grávida pareceu dar toda uma delicadeza a cerimônia.
Quando dei meu primeiro passo em direção ao altar e o longo véu deslizou
pelo tapete vermelho estendido pelo chão da igreja, me acompanhando a
passos curtos e Oliver sorria para mim a medida que me aproximava, percebi
que havia ansiado por aquele momento a minha vida toda.
Depois do casamento, nós e todos os convidados fomos para um
salão de festas, com direito a uma banda ao vivo e comes e bebes. Mais tarde,
depois de Oliver e eu partimos o bolo, como a tradição mandava, joguei meu
buquê e passei o resto da festa zoando Vanessa e Ryan, por ela tê-lo pegado.
No outro dia, logo pela manhã, Oliver e eu embarcamos em um voo
para a Europa, onde passaríamos a nossa lua de mel. Passamos primeiro por
Portugal, onde visitamos a Torre de Belém, andamos de bonde e comemos
em ótimos restaurantes. Na Espanha, fizemos um tour por Madri, Barcelona e
Sevilha e acredito que visitamos todos os museus e teatros existentes nessas
cidades. Depois fomos à Holanda, onde fiquei encantada pelos canais e pelos
campos de tulipas das mais variadas cores e os moinhos de vento. Conheci o
frio da Suíça e juro que, durante a madrugada, me abraçava a Oliver
instintivamente. Mesmo embaixo de quatro cobertores tinha a sensação de
que iria congelar. Na Itália, conhecemos a Torre de Pisa.
Fomos também a Londres, onde fiquei encantada pelos londrinos,
pela London Eye, pelo Big Ben e até mesmo pelas cabines telefônicas, que
eram algo extremamente inusitado para mim.
Nossa última parada foi em Paris, na França, e, apesar de toda a
viagem ter sido incrível até ali, a Cidade Luz pareceu dar um ar totalmente
diferente à nossa viagem. Chegamos pela madrugada e, assim que o dia
amanheceu, Oliver me levou para conhecer a cidade de seu pai. Visitamos a
Torre Eiffel, o Museu do Louvre, a Catedral de Notre Dame, o Arco do
Triunfo e a ponte sobre o Rio Senna, onde Oliver comprou um cadeado e,
depois de escrever nossos nomes nele, o fixou junto à ponte, jogando a chave
no rio. Ele me explicou que, segundo a tradição, ao fazermos aquilo
estaríamos selando o nosso amor para sempre.
No caminho de volta para casa passamos em frente a uma loja de
doces e fiz Oliver comprar alguns macarons e croissants para mim, onde ele
esbanjou todo seu sotaque francês para o vendedor, tentando me impressionar
e, claro, conseguiu.
Mais tarde, naquela noite, no hotel, fizemos amor calmamente, nos
entregando um ao outro como sempre fazíamos, de corpo e de alma,
demonstrando toda a nossa paixão e afeto. Quando Oliver adormeceu junto a
mim, depois de acariciar seus cabelos, soube que o que tínhamos não era de
forma alguma passageiro e que seríamos para todo o sempre eternos amantes.
E agora, no nono mês de gestação, cá estava eu dentro de um carro
com dona Ana e Ariovaldo, a caminho do hospital, depois de a minha bolsa
ter estourado.
― A senhora ligou para o Oliver? — perguntei à dona Ana, fazendo
uma careta de dor ao sentir uma contração.
― Sim, querida. Não se preocupe, ele já está a caminho — ela disse
com serenidade. Afinal, não era ela que havia acabado de entrar em trabalho
de parto.
― E as crianças?
― Não se preocupe, liguei para Denise e ela me garantiu que tudo
bem em ficar com elas por mais algum tempo.
Assim que chegamos ao hospital as enfermeiras me colocaram em
uma cadeira de rodas e me levaram para uma sala, onde me prepararam
adequadamente para o parto.
Depois disso, fui colocada em uma maca e levada para a sala de
parto. Enquanto observava as enfermeiras arrumando os instrumentos
cirúrgicos, senti certo medo crescer dentro de mim.
O médico já havia me avisado que o meu parto seria normal e, dado
o tempo entre uma contração e outra, eu sabia que a hora da minha filha vir
ao mundo se aproximava mais e mais. Desejei que minha mãe estivesse ao
meu lado naquele momento.
Vi um homem entrar na sala, estava com máscara e boné cirúrgico.
Pensei que fosse o médico, mas, quando ele se aproximou e notei seu belo
par de olhos azuis, soltei um suspiro de alívio.
― Oliver — murmurei, o nervosismo aparente em minha voz.
― Ei, tudo bem, estou aqui. — Ele se abaixou, acariciando meu
rosto.
― Eu estou com medo — confessei.
― Eu sei que está, é normal sentir medo — ele disse — mas, quando
segurar nossa princesinha em seus braços, vai perceber que tudo isso valeu a
pena.
Dessa vez, foi o doutor quem entrou na sala.
― E então, Sofia? Preparada? — ele perguntou. Depois de olhar
para Oliver, que me passava uma confiança absurda, fiz que sim com a
cabeça. — Ótimo, agora vou precisar que você faça um pouco de força, está
bem?
― Não se esqueça, estamos nessa juntos — Oliver murmurou,
abaixando sua máscara para que eu pudesse ver seu rosto e segurando minha
mão.
Fechei os olhos e fiz como o doutor pediu. À medida que fazia força,
apertava a mão de Oliver na mesma intensidade.
― Vamos amor, você está quase conseguindo, falta pouco — ele me
incentivou.
Meu coração pulsava forte e havia suor por todo o meu rosto. A dor
também havia aumentado. Reuni todas as minhas forças para uma última
tentativa e dei tudo de mim. No segundo que se seguiu, um chorinho tomou
conta de toda a sala.
Oliver me fitou aliviado, enquanto eu respirava profundamente,
tentando regularizar minha respiração.
― Você conseguiu meu amor, nossa filha nasceu!
A enfermeira sussurrou algo para Oliver que eu não consegui ouvir e
ele saiu do meu lado. Eu estava exausta.
Quando retornou, estava com nossa filha em seus braços, enrolada
em um cobertor.
― Ela é tão linda... — ele sussurrou para mim, seus olhos azuis
brilhando. — Quer segurá-la? — ele perguntou e eu fiz que sim com a
cabeça.
Oliver colocou nossa filha no meu peito e eu a segurei com cuidado.
Ela parecia tão frágil... Seu rostinho, seu corpinho, suas mãozinhas... tudo era
tão pequeno. Sua pele era branquinha e ela não tinha um fio sequer de cabelo.
Também era impossível saber a cor de seus olhos naquele momento, mas,
ainda assim, era o ser mais lindo que eu já havia visto e pensar que ela havia
sido gerada a partir do amor que existia entre mim e Oliver me deixou
completamente emocionada.
― Já sabe que nome vamos dar a ela? — ele perguntou, olhando
para a filha com um sorriso largo no rosto.
Refleti um pouco, nos últimos meses havia pensando muito sobre
aquilo.

― Que tal Aurora? — sugeri.


― É um nome lindo. — Oliver sorriu. — Tem algum motivo
específico para você tê-lo escolhido?
― Eu li que Aurora significa "raiar do dia" e acredito que de agora
em diante a minha vida vai ganhar um outro significado, um novo
amanhecer, entende? — Encarei Oliver e, quando seus olhos azuis me fitaram
emocionados, soube que ele havia compreendido.
Olhando para a pequena Aurora em meus braços, percebi que Oliver
estava certo, todo aquele esforço havia valido a pena.

EPÍLOGO

5 anos depois...

― Oliver, não se esqueça que a festa vai ser às sete horas. — Sofia
me alertava ao celular.
― Que festa? — Fingi esquecimento e ri quando ela bufou do outro
lado da linha.
― Oli, não brinque comigo!
― Desculpe amor, mas você acha mesmo que eu seria capaz de
esquecer o aniversário da Aurora? Não se preocupe, vou sair mais cedo da
Advocacia hoje e vou direto para casa.
― Tudo bem. Até mais tarde, então.
― Até mais.
Depois que desligamos, continuei com o meu trabalho. Nos últimos
cinco anos, o número de clientes havia aumentado de forma surpreendente e
tivemos que contratar funcionários para os mais variados cargos para darmos
conta do recado.
Sempre que entrava no meu escritório, encontrava minha mesa com
pilhas e mais pilhas de casos para serem analisados e a maioria dos clientes
sempre queriam que fosse eu a representá-los.
O sucesso da Advocacia Beaumont foi tanto que, no final do último
ano, um jantar realizado no Copacabana Palace foi dado em minha
homenagem, onde recebi também um troféu por renovar a fé na justiça.
Não só minha vida profissional havia mudado, como também a
minha vida pessoal. O meu casamento com Sofia era maravilhoso, ela era
uma mulher, uma mãe e uma profissional incrível, e nos últimos anos aprendi
a valorizá-la e a amá-la ainda mais.
Assim que Aurora nasceu, Sofia trancou a matrícula da faculdade
para se dedicar exclusivamente à nossa família. Quando sugeri que
poderíamos contratar uma babá, ela discordou na hora e disse que precisava
fazer aquilo, que queria poder cuidar da nossa filha e sentir todos os impactos
da maternidade. Além disso, ela também disse que assim poderia passar mais
tempo com Estevan e com Elena, que eram apaixonados pela irmã mais nova.
Somente quando Aurora completou um ano de idade, foi que Sofia
confiou os cuidados da filha à dona Ana e finalmente voltou para a faculdade.
Ela se formou quatro anos depois, em uma cerimônia linda e se
emocionou quando me viu com nossos filhos na primeira filha, com a
pequena Aurora em meus braços lhe pedindo colo.
Sofia era uma profissional excelente e uma psicóloga melhor ainda.
Juntos, compramos um pequeno consultório no centro e o reformamos, do
jeito que ela sempre sonhou.
Além do consultório particular, Sofia também havia se especializado
em Psicopedagogia e trabalhava em escolas, ajudando crianças com
dificuldades no aprendizado, além de fazer atendimento gratuito aos sábados
em comunidades carentes do Rio.
E, mesmo depois de trabalhar tanto, ela ainda tinha disposição para
chegar em casa e ajudar as crianças com os deveres de casa, brincar com elas
ou simplesmente ver um filme na TV, apesar de sempre pegar no sono logo
nos primeiros minutos.
Ela também sempre tinha tempo para mim, era uma esposa
maravilhosa. Mesmo cansada, ela tinha paciência para me ouvir reclamar
sobre algo relacionado ao trabalho e até mesmo compreender o meu mau
humor em certas ocasiões.
Como qualquer casal, as vezes nós dois discutíamos, mas nunca
conseguíamos ficar com raiva um do outro por mais de dez minutos. Nossas
reconciliações sempre acabavam na cama e, quando ela se deitava em meu
peito, depois de termos feito amor, eu sussurrava para ela o quanto a amava.
Porque essa era a verdade, eu amava Sofia e, apesar dos anos que se
passaram, a cada dia eu me sentia mais apaixonado e atraído por ela.
Saí da empresa por volta das cinco horas e dirigi até a penitenciária.
Era dia de visita e eu iria ver Brian.
Eu o visitava regularmente. Às vezes, um pouco menos, apenas uma
vez a cada mês. Os agentes me levaram a uma sala, enquanto foram até a cela
buscá-lo.

Como previsto no Código Penal Brasileiro, por ter participação na


morte dos nossos pais, pelo sequestro e pela tentativa de homicídio a mim e a
Sofia e pelas agressões a Vanessa, Brian foi condenado a exatamente trinta e
oito anos de prisão.
Eu compareci à audiência que o condenou e, por mais que me
doesse, no fundo eu queria que Brian pagasse por todos os seus crimes. Eu
sempre defendi a justiça e a moral e, mesmo que ele fosse o meu irmão, sabia
que precisava pagar por tudo que havia feito.
― Olha só quem veio me visitar.! — Brian surgiu na sala, com um
sorriso sorrateiro.
O guarda o empurrou na cadeira, nos colocando frente a frente e
depois saiu, nos deixando a sós.
― Veio ver como eu estou lidando com o inferno, Oliver? — Ele me
encarou com deboche.
Apesar de não dar o braço a torcer, sabia que a prisão estava
acabando com ele. Brian já não era mais aquele homem vistoso de antes,
estava magro, seus olhos fundos, seus cabelos haviam sido raspados e seu
uniforme de presidiário estava puído.
― Você sabe que foram suas ações que te trouxeram até aqui —eu
disse.
― Dane-se! Quer saber? Eu não me arrependo de nada, Oliver. Tudo
o que fiz, seria capaz de fazer de novo, só que, desta vez, o final não seria o
mesmo!
― Pena que você não pode voltar no tempo e jogar sua vida no lixo
outra vez, não é?
― Afinal, o que você quer de mim, Oliver? — Ele me encarou,
impaciente. — Você sempre aparece por aqui, mas nunca me diz o que quer!
Por que você ainda me visita?
Abaixei a cabeça e fiquei em silêncio por alguns segundos, antes de
voltar meu olhar novamente para ele.
― Porque você é meu irmão, Brian. Por mais que eu te odeie pelas
coisas horríveis que você fez à nossa família, eu simplesmente não consigo
virar as costas para você! — esbravejei. — Você estará livre em trinta e três
anos e eu quero acreditar que você sairá daqui mudado, um novo homem.
Mas ao mesmo tempo, confesso que não sei se isso é possível.
― Por favor Oliver, são trinte e três anos! Quando sair daqui, já
estarei velho. Por que deveria perder tempo criando uma expectativa de vida
que não terei?

― Mas você deveria.


― Você é mesmo um idiota, irmão! Depois de tudo o que eu fiz,
você deveria estar feliz por saber que vou apodrecer nesse lugar.
― Não quero que pense que eu não estou feliz em saber que você
vai pagar pelo que fez — eu disse calmamente —, mas me dói saber que o
meu irmão, meu único parente vivo, foi capaz de fazer coisas tão horríveis e,
pior, não se arrepende do que fez.
― Eu nunca disse que não me arrependo. — Brian baixou o olhar.
— Eu tinha uma vida incrível, farras, mulheres, dinheiro... e joguei tudo isso
fora no instante em que comecei a alimentar meu ódio por você.
― Brian, você sabe que a empresa tem um projeto para presidiários,
e, com um acompanhamento psicológico adequado...
― Pode ir parando, Oliver! — ele gritou. — Eu não quero participar
de droga alguma de projeto! Eu só quero que você me deixe em paz e que me
deixe continuar os próximos trinta e três anos que tenho pela frente sem ter
que reviver as atrocidades que fiz a cada vez que te ver! Eu sou um assassino,
um bandido, e não é você ou este lugar que vão me fazer ser uma pessoa
diferente!
― Você tem razão. — Encarei-o, notando seu rosto ser carregado
pelas emoções. — Não sou ou este lugar que vai te mudar, mas você, cabe
unicamente a você escolher se vai mudar ou não. — Levantei-me da mesa,
notando os olhos do meu irmão marejarem.
Como ele não disse nada, caminhei até a porta para sair da sala.
― Oliver? — Ele me chamou e eu me virei, olhando-o. — Mesmo
depois de tudo, você acha que é possível alguém como eu mudar?
― Não sei, cabe a você descobrir isso.
Mesmo depois de tudo, eu esperava que Brian pudesse ter uma vida
depois que pagasse por seus crimes, assim como Denise, que, apesar de ter
sido mau-caráter durante a maior parte da sua vida, havia se regenerado e se
tornado uma mulher completamente diferente. Se ela havia mudado, por que
ele também não podia?
Nos últimos cinco anos Denise se mostrou ser uma mãe exemplar e
conseguiu reconquistar o amor dos nossos filhos. Nós nos falamos com certa
frequência, sempre assuntos relacionados a Estevan ou a Elena, mas, ainda
assim, conseguimos encontrar um meio de nos dar bem, por eles.
Há dois anos ela conheceu um empresário americano e, depois de
algum tempo namorando, ela se mudou com ele para Los Angeles. Nas férias,
nossos filhos a visitavam e sempre voltavam dizendo coisas ótimas sobre a
viagem. Ela também ligava para eles diariamente e nunca se esquecia de seus
aniversários ou datas que fossem importantes para eles. E eu já conseguia
admirá-la simplesmente por isso.
Depois de sair da penitenciária, dirigi diretamente para casa.
Estacionei o carro na garagem e desci com minha maleta nas mãos. Eram seis
e quinze e a casa ainda estava vazia.
― Graças a Deus, Oliver! Pensei que você não fosse chegar a
tempo! — Sofia se aproximou me recebendo com um selinho, assim que
surgi na sala.
Ela estava linda. Vestia um vestido preto, que realçava bem as
curvas do seu corpo, sandálias de salto e estava levemente maquiada, com um
batom vermelho bastante convidativo nos lábios.
― Onde esteve? — ela perguntou, colocando as mãos sobre meu
peito.
Sofia sabia das visitas que eu fazia a Brian, mas não achei que ela
me compreenderia se dissesse que o havia visitado justamente no dia do
aniversário da nossa filha. Portanto, achei que seria melhor para todos ocultar
aquela informação.
― Desculpe, tinha muita coisa para fazer na Advocacia.
― Está desculpado. Agora vai, os convidados logo chegarão e hoje
não quero que encontrem o grande advogado Oliver Beaumont, mas apenas o
Oliver, compreende? — Ela me olhou por alguns instantes, parecia
empenhada em que tudo corresse bem naquela noite.
― Claro, eu vou tomar um banho rápido e já volto.
Depois de deixar minha maleta no escritório, fui para o nosso quarto.
Tirei meu paletó e o atirei no cesto de roupas sujas. Depois fui até o banheiro,
onde tomei uma ducha rápida.
Enrolei-me na toalha e, depois de me secar, joguei-a sobre a cama,
mas depois a peguei de novo, pendurando-a em um cabide para que secasse.
Se Sofia visse que eu havia deixado uma toalha molhada sobre a cama, ela
enlouqueceria.
Fui até o closet, onde optei por uma calça jeans, cinto, uma camisa
cor de vinho que Elena havia me dado no último Dia dos Pais — que, por ser
tão confortável, era uma das minhas preferidas — e tênis. Depois de pentear
os cabelos, desci.
Faltavam quinze minutos para as sete e alguns convidados já haviam
chegado. Eram amigos do trabalho, tanto meus quanto de Sofia, e também
pais que vieram acompanhar os filhos, que eram amigos e colegas de Aurora
na escola.

Infelizmente, os pais e a irmã de Sofia haviam estado ali na


semana anterior e não puderam comparecer à festa de aniversário. Mais cedo
haviam ligado para Aurora por uma chamada de vídeo e lhe dado os
parabéns, além de terem lhe dado vários presentes no tempo em que
estiveram ali.
A festa seria nos fundos da casa, no jardim, próximo à piscina. Tudo
já estava decorado com imagens das princesas que ela mais adorava e balões
por todos os lados.
A mesa também já estava preparada com o bolo, beijinhos,
brigadeiros e todos aqueles doces que não podem faltar em um aniversário.
Mesas haviam sido espalhadas por todo o jardim para que os
convidados pudessem se sentar, enquanto eram servidos com bebidas e
salgados por alguns garçons.
― Onde estão as crianças? — perguntei à Sofia, depois de
cumprimentar alguns amigos.
― Estão dando uma volta com Aurora, pedi que eles voltassem às
sete em ponto, já devem estar chegando — ela disse com um sorriso radiante.
Como pai, apesar dos meus filhos terem crescido, eu ainda não
conseguia aceitar isso e sempre me referia a eles como "crianças".
Estevan estava com dezoito anos, era um rapaz bonito e inteligente,
como eu sempre suspeitei que seria quando fosse mais velho. Depois de
concluir o ensino médio, ele me surpreendeu quando disse que queria cursar
Direito, assim como eu, e seguir meus passos.
Depois de ingressar na faculdade, vi que ele tinha talento para a
coisa e foi um orgulho saber que fui a inspiração dele. Desde então, ele
estava fazendo estágio na Advocacia para compreender desde cedo como as
coisas funcionam na prática e estava se saindo muito bem.
Ele também havia começado a namorar uma moça na faculdade,
uma garota supersimpática, que o havia feito redobrar suas responsabilidades
desde que estavam juntos.
Elena tinha agora onze anos, era uma mocinha linda e muito
inteligente, que a cada dia parecia se apaixonar mais pelo balé e pela dança,
mas que recentemente havia descoberto uma nova paixão: o teatro. Pensar em
ter uma artista em casa me assustava, ao mesmo tempo que me deixava
extremamente orgulhoso. Se aquela fosse a vontade dela, eu não a impediria.

Já Aurora, apesar de estar completando cinco anos de idade e ser


ainda muito jovem, era uma menina bastante comunicativa e sapeca, o que
me fazia perceber que ela se sairia bem no que quer que escolhesse ser
quando fosse mais velha.
Além disso, ela era idêntica à mãe. Tinha longos cabelos castanhos
cacheados nas pontas e seus olhos eram cor de mel, como os de Sofia e, até
no temperamento elas se pareciam.
― Boa-noite, Oliver! — Vanessa se aproximou, com Ryan ao seu
lado.
― Boa-noite, Vanessa. Como vai? — cumprimentei.
― Vou bem. Onde está minha afilhada? — Ela olhou ao redor,
procurando por Aurora.
― Está com os irmãos, eles já devem estar chegando.
― Tudo bem, então. Vou cumprimentar a Sofia.
― Claro, ela está ali, conversando com a Estella e com o Bruno. —
Mostrei a mesa.
― Obrigada. — Ela me lançou um sorriso e depois saiu, me
deixando com Ryan.
― E então? Já se acostumou com a vida de casado? — Arqueei uma
sobrancelha para ele, rindo.
Ryan e Vanessa haviam se casado seis meses antes, em uma
cerimônia simples, mas emocionante. Como presente de casamento, havia
dado a eles uma viagem de duas semanas para Punta Cana, na República
Dominicana, onde eles passaram a lua de mel.
― Na verdade, muito bem — Ele olhou ao longe para Vanessa, que
agora ria ao lado de Sofia. — Vanessa é uma esposa incrível, não sei como
pude demorar tanto para pedi-la em casamento.
― Sei bem como é.
Um garçom passou por nós e ambos pegamos uma bebida.
― Agora ela cismou que quer ter filhos — Ryan disse dando um
gole em sua taça.
― Mesmo? Mas, você não quer?
― Claro que quero, eu só queria que pudéssemos curtir o nosso
casamento por mais algum tempo.
― Bem, se está preocupado com o tempo que um filho pode tomar
de vocês, isso depende apenas de vocês dois. Ou se esqueceu que, quando
Sofia e eu nos casamos, eu já tinha dois filhos e ela estava grávida da
Aurora?

Ryan riu.
― Tem razão. Se vocês conseguiram com três, porque não podemos
com um, certo?
― Certo. — Brindamos, enquanto ríamos daquilo.
― Gente, a Aurora chegou! — Uma pessoa avisou, vindo de dentro
da casa e se juntando a nós.
Ficamos todos em silêncio e minutos depois ela surgiu ao lado de
Estevan e de Elena. Seus olhinhos se arregalaram de surpresa quando viu
toda aquela gente cantando parabéns para ela.
Foi uma festa linda e ela pareceu ter se divertido muito. Depois de
partir o bolo e de tirarmos várias fotos, Aurora abriu seus presentes e se
mostrou encantada por todos. Desde pequena, Sofia havia lhe ensinado a
repartir as coisas e ali mesmo na festa ela escolheu um jogo, com o qual
muitas pessoas poderiam brincar e chamou seus amiguinhos para brincarem
com ela.
Enquanto as crianças se divertiam, nós adultos nos sentamos à mesa,
onde bebemos e conversamos despreocupadamente, aproveitando aquele
momento, até altas horas da noite. Aos poucos, as pessoas começaram a ir
embora.
― Tem certeza de que não quer que eu fique para ajudá-la, Sofia?
— dona Ana perguntou. Ela estava de folga naquele dia e havia ido
unicamente como convidada, mais o marido.
― De forma alguma, hoje é o dia de folga da senhora e amanhã é
domingo, pode deixar que cuidarei de tudo aqui — Sofia respondeu.
― Tudo bem, então. Boa-noite, querida.
A casa estava vazia novamente. Estevan havia saído um pouco antes
da festa acabar, iria passar a noite fora com a namorada. Elena já havia ido
para o quarto e, enquanto Sofia acompanhava Ryan e Vanessa até a porta, vi
a pequena Aurora dormindo no sofá.
Peguei-a em meus braços e a levei até o quarto. Entrei com cuidado,
para não acordar Elena e a coloquei em sua cama, puxando a coberta para
cobri-la.
― Feliz aniversário, minha filha — murmurei, lhe dando um beijo
na testa.
Com cuidado, saí do quarto e caminhei até a cozinha. Todos já
haviam ido embora e encontrei apenas Sofia, recolhendo pratos e copos
descartáveis da festa e colocando-os em um saco de lixo.

― Ei, amanhã eu te ajudo com isso. Vamos dormir, já está tarde —


murmurei, segurando em seu braço.
Sofia olhou de mim para o saco de lixos em sua mão e, vencida pelo
cansaço, ela o colocou no chão e eu a guiei até o quarto. Fechei a porta e ela
se sentou na beirada da cama, se inclinando para tirar os sapatos.
― Deixe que eu faço isso — eu disse, me ajoelhando à sua frente,
colocando seus pés sobre minha perna e desabotoando suas sandálias.
― Obrigada Oli, você é um cavalheiro — ela murmurou.
― Você parece exausta, deveria relaxar um pouco.
― Eu sei. Tenho trabalhado muito e planejar essa festa acabou
comigo, mas a verdade é que eu gosto dessa rotina corrida.
― De qualquer forma, acho que você deveria tirar um tempo de
folga. Na semana que vem terá um feriado e nós poderíamos ir para a nossa
casa de praia em Búzios — sugeri.
― Não é uma má ideia. — Ela me lançou um sorriso. — Vanessa
me contou que ela e Ryan estão pensando em ter um filho — ela comentou.
― É, ele me disse — falei, colocando suas sandálias ao lado da
cama e me sentando ao seu lado para tirar meus tênis.
― Oli, você acha que deveríamos ter outro filho? — ela perguntou,
depois de alguns segundos em silêncio.
― Por que está me perguntando isso? — Virei-me para ela, olhando-
a atentamente. — Vo... você gostaria de ter outro filho comigo? — Fui direto,
compreendendo aonde ela queria chegar.
― A Aurora já está com cinco anos. Apesar de Estevan e Elena
serem meus filhos também, eu gostaria, sim, de ter outro filho com você,
Oliver.
― Bem, seria ótimo ter um bebê nessa casa de novo.
― Então, você também quer? — Sofia me encarou com um sorriso,
parecia entusiasmada com a ideia.
― Claro meu amor, com você eu quero tudo. — Acariciei seu rosto,
beijando seu pescoço. — Que tal começarmos a praticar? — sussurrei em seu
ouvido e Sofia riu, desabotoando os botões da minha camisa e me ajudando a
tirar meu cinto.

Ajudei-a a tirar seu vestido, beijando cada parte do seu corpo.


Naquela noite, quando nos amamos, foi especial e com uma intensidade
única, como sempre era todas as vezes.
Sofia e eu erámos almas gêmeas. Nós nos amávamos, tínhamos uma
família linda e éramos bastante felizes juntos.
De tanto treinarmos, cerca de seis meses depois descobrimos que
nossa família iria crescer de novo, desta vez em dose dupla: Sofia havia
engravidado de um casal de gêmeos.

FIM

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