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"Não há como esquecer.

E mesmo que eu quisesse, todas as


vezes que me olho no espelho, o sentimento de culpa vem tão forte
que sinto como se meu peito estivesse sendo rasgado."
Dante Fontana é o primogênito e futuro CEO da empresa
multimilionária de sua família. Sério, dedicado e romântico, sonha
em viver um amor igual ao de seus pais.
Aos 27 anos sofre um grave acidente de carro que causa a
amputação de parte de sua perna direita e vê sua vida mudar para
sempre, tendo que enfrentar novos desafios e conviver com a culpa
que carrega por tudo que aconteceu naquela noite.
Quando ele acha que não há mais esperança, descobre que
o amor chega sem aviso, mas na hora certa.
Jamais pensei, em 29 anos de vida, que escreveria um livro.
É loucura demais olhar para trás e ver tudo que aconteceu em
minha vida até aqui em tão pouco tempo.
Família Fontana, especialmente Dante, chegou até mim em
um dos momentos mais difíceis da minha jornada, onde eu me
perguntei várias e várias vezes qual era o meu propósito. Me vi
submergindo em um mar de ansiedade e perdendo completamente
o fôlego por várias e várias vezes. Minha alma clamava por algo
novo, uma paixão nova.
E essa paixão chegou, de um jeito completamente tímido,
mas chegou.
Dante é o primeiro livro da saga família Fontana parte 1 e foi
o grito de liberdade que minha mente serelepe deu, o início de tudo,
meu primogênito. Ele é especial para mim, pois a personalidade do
personagem principal é inspirada na do meu marido, assim como a
da mocinha na minha.
Sempre fui apaixonada por romances clichês e quando
pensei nessa história, queria algo leve, com humor, um toque de
drama e que pudesse ser capaz de te tirar da ressaca, mas ao
mesmo tempo intenso e emocionante em cada parágrafo escrito.
Por aqui, no mundo serelepe da tia Nanda, todos os livros e
histórias são interligados, e nada do que foi colocado é em vão,
sempre há um motivo por trás que, mais cedo ou mais tarde, é
revelado.
Gosto de soltar pequenas dicas e spoilers do que está por vir,
como em uma caça ao tesouro.
Espero que você possa se apaixonar pelo "casal morango" —
Dante Fontana e Ana Laura Moraes. Que se encante pelo jeitinho
“pitico” do Dante e entenda o porquê ele age como age depois de
tudo que passou; espero que você dê risada com as loucuras de
Ana Laura e descubra com ela sua tarada interior — sim, todas nós
temos uma — e, acima de tudo, espero que você possa se
apaixonar por essa família e que esteja comigo nas próximas
aventuras que ainda virão.
Boa leitura, amore mio.
Grazie por estar aqui.

Com carinho, Tia Nanda.


A todas as pessoas que perderam
alguém especial e precisaram
aprender a viver de novo…

… pare,
respire
e lembre-se…

… um passo de cada vez.


“Não há como esquecer, e mesmo que eu quisesse, todas as
vezes que me olho no espelho, o sentimento de culpa vem tão forte
que sinto como se meu peito estivesse sendo rasgado”.
“Lembra daquelas paredes que construí? Bem, elas estão
desmoronando.
Elas nem tentaram ficar em pé, nem fizeram um
som.
Eu achei um jeito de deixá-lo entrar, mas eu nunca tive
dúvida.
Sob a luz de sua auréola… Eu tenho meu anjo agora.”
(Halo - Beyoncé)
Música do despertador – Run the World /Beyoncé

A voz de Beyoncé invade meu quarto.


Abro os olhos procurando meu celular para desligar meu
despertador e não acordar minha parceira de apartamento e melhor
amiga, Bárbara. Contudo, já é tarde demais.
— Ana! — ouço meu nome seguido de três batidas na porta.
— O andar todo já acordou. Levanta senão você vai se atrasar para
o seu grande e esperado primeiro dia.
— Achei! — respondo na mesma hora que encontro meu
celular na ponta da cama, silenciando a Queen B. Olho rapidamente
para as horas, 06:45 da manhã. Não posso me atrasar!
Levanto-me correndo, indo em direção ao banheiro, quase
caindo nas roupas espalhadas pelo quarto. Droga! Preciso de um
guarda-roupa maior.
Hoje é meu primeiro dia de trabalho na sede administrativa
de um dos restaurantes mais famosos de São Paulo e do mundo, o
La Fontana. Preciso estar impecável.
Há mais ou menos quarenta dias, participei da seleção para a
vaga de assistente da patroa do lugar, sra. Beatriz Fontana. Tive a
oportunidade de conhecê-la na última etapa, onde todos os
candidatos tiveram que passar por sua avaliação rígida em uma
situação real, sendo sua assistente por uma semana.
Ao final da tarefa, ela me elogiou, fazendo minhas bochechas
esquentarem. Disse que transmitia um ar de leveza e agilidade ao
ambiente de trabalho, características essas que ela julga serem
imprescindíveis, ainda mais no momento em que a empresa se
encontra.
Seu marido, o sr. Vincenzo Fontana, está deixando a
presidência para seu filho mais velho. Aquela coisa de “pai rico e
CEO deixando seu legado para o primogênito”.
Pelo que ouvi, o meu novo chefe do meu chefe já trabalha na
empresa desde que se formou na faculdade de administração.
Dizem que, apesar da pouca idade, ele é rígido e tão dedicado
quanto o pai. Ainda não tive oportunidade de conhecê-lo.
Dona Beatriz, no entanto, precisa de uma pessoa para ser o
seu braço direito, já que sua antiga funcionária precisou mudar de
estado por motivos familiares.
Não consigo esquecer o grito que dei quando recebi o e-mail
que informava que a vaga era minha.
Há mais de três meses, fui demitida de uma agência de
turismo onde fui contratada assim que me formei. Foram longos dois
anos sendo supervisora do setor de vendas. Meu antigo chefe, sr.
Arnaldo, estava na casa dos quarenta, e além de ser muito bonito
com seus quase 1,90, era um excelente chefe, sempre muito
eficiente e respeitoso com todos. Entretanto, tudo isso mudou
quando começou a namorar uma modelo que morria de ciúmes de
quase todas as suas funcionárias. Paola Miranda, ou como eu
chamava em minha mente Paola Piranha.
Oh, mulherzinha ridícula, viu! Arrogante demais, se achava a
“última bolacha do pacote” e fazia o pobre Arnaldo de “gato e
sapato”. Inclusive havia boatos de que ela o estava traindo com seu
primo, que era considerado um irmão para ele. Coitado!
Quatro funcionárias e eu fomos demitidas aparentemente
sem “justa causa”. Ao contrário das outras, eu não quis recorrer
porque já não aguentava mais ficar no mesmo ambiente que aquela
mulher. Sou paciente, mas tudo tem limite e o meu é a minha
sanidade mental. Ser acusada de estar dando em cima de homem
comprometido é o cúmulo.
Sou uma mulher de vinte e cinco anos e muito bem resolvida
comigo mesma e com meu corpo. Depois de um namoro, que durou
mais do que eu gostaria e dos inúmeros enfeites de cabeça que
ganhei — se é que me entendem — decidi me permitir ser solteira.
Se eu me sentisse atraída por um homem (não preciso nem dizer
que não sinto tesão em homens comprometidos) e rolasse química,
eu pegava. Sem aquele pensamento “Meu Deus! Como você é
rodada!”.
Rodada porra nenhuma. Sou livre. O corpo é meu e pronto.
Faço dele o que quiser e com quem quiser.
Não sou contra relacionamentos, mas depois de tantas
decepções amorosas, decidi focar em mim. Ser tão louca por mim,
que quando me apaixonasse novamente por um homem, ele não
seria a metade da minha laranja, mas sim o catalisador que me faria
transbordar, porque eu já sou completa.
Demorei muito para aprender, e da pior maneira possível, o
que é ser bem resolvida.
Antes de querer amar alguém, preciso me amar primeiro.
Para ser uma boa companhia para alguém, preciso ser a melhor
companhia para mim. Foi necessário aprender a aceitar meus
próprios defeitos, antes de querer conviver com os de outra pessoa
e isso, meus caros amigos, não tem preço.
Depois de alguns minutos, saí do quarto já pronta. Optei por
um vestido social verde-claro e salto da cor nude. Cabelos soltos e
aquela maquiagem “acordei assim”, deixando-me com um ar de
beleza natural, que de natural não tem nada. Truques femininos, né,
amores?
Encontrei minha amiga sentada na mesa da cozinha. Nós nos
conhecemos ainda na faculdade, logo no primeiro ano. Assim como
eu, Bárbara é formada em administração e trabalha em um
escritório imobiliário da cidade que é de um amigo de seu pai.
— Hum. Eu já disse que amo o seu café? — perguntei depois
de tomar um grande gole da xícara que ela deixou na mesa para
mim.
— Já. Incontáveis vezes, maluca. Contudo, não pare. Gosto
de ouvir — diz abrindo um sorriso. — Então, ansiosa?
— Muito, mas estou confiante. A empresa é realmente tudo
aquilo que falam e um pouco mais — respondo passando manteiga
na torrada dando uma mordida logo em seguida.
— O que seria esse um pouco mais? — sua curiosidade
exala nas palavras, já que quase não conversamos sobre trabalho
nas últimas semanas.
— Eles não são ricos esnobes que gostam de humilhar a nós,
meros mortais — esclareço — Eles são rígidos no trabalho, mas de
uma humildade rara para pessoas que chegaram aonde eles estão.
Realmente, algo incomum hoje em dia — levo a xícara à boca,
saboreando minha bebida favorita.
Ops! Segunda bebida favorita.
Uísque é minha primeira.
Assim que completei dezoito anos, fui a um bar local perto da
faculdade e pedi uma dose da famosa bebida de cor âmbar dos
riquinhos e descobri porque eles são tão apegados e viciados nela.
Eu mesma me tornei uma viciada apesar de não ter dinheiro para
sustentar meu vício que é um tanto quanto caro para os meus
padrões.
— Que bom! Julgo que enfim você encontrou bons chefes
depois de tudo que passou na agência — concordei com um leve
balançar de cabeça.
Bárbara termina de tomar seu café e sai em direção ao seu
quarto.
— Fico pronta em dez minutos — avisa sumindo no pequeno
corredor.
Nosso apartamento não é grande, mas é confortável e o
aluguel é acessível.
Logo na entrada, do lado direito, está a cozinha relativamente
pequena, com armários brancos, pedra de mármore preto na pia e
uma mesa redonda de quatro lugares a poucos centímetros dali. Do
lado oposto fica a sala, com um sofá cinza em L, uma pequena
mesa de centro e um móvel simples onde fica nossa televisão. Mais
à frente, temos um mini corredor com duas portas que nos levam
até os quartos, um oposto ao outro e cada um com seu banheiro,
dando-nos uma certa privacidade.
Termino meu café, ponho a louça suja na pia e faço uma nota
mental para lembrar depois que hoje é o meu dia de lavá-las. Vou
ao banheiro, escovo os dentes e, depois de feito, busco minha bolsa
e saio do quarto. Bárbara já está à minha espera na porta da frente,
com seu terninho preto e as chaves do nosso carro em mãos.
Juntamos uma grana com estágios e algumas vendas que
arriscamos fazer no período da faculdade e conseguimos comprar
um carro. Não é uma Ferrari, mas foi nossa primeira conquista e
apelidamos de joaninha por ser na cor vermelha. É um Honda Fit
modelo 2010. Revezamos uma semana para cada. Hoje é a minha.
— Vamos — digo pegando minhas chaves e trancando a
porta.
Assim que saímos do apartamento, caminhamos em direção
ao elevador já que estamos no quarto andar e descer de escadas
munidas por saltos nos pés não seria a melhor escolha.
O prédio onde moramos é antigo, possui sete andares, quatro
apartamentos por andar, porém, está conservado e é muito bem
administrado pelo síndico. Um senhor americano de cinquenta e
cinco anos, ex fuzileiro naval, viúvo e pai de um filho que também
optou pela carreira militar. Nunca o vimos desde que nos mudamos,
mas sempre ouvimos o sr. João falar com orgulho de seu herdeiro.
— Bom dia, vizinhas! — diz o sr. João cheio de seu sotaque e
simpatia assim que a porta da caixa de aço se abre para a portaria.
— Bom dia, tenente! — digo batendo continência como
sempre faço, fazendo-o rir.
Tenho que fazer jus ao meu apelido de maluca, certo?
Bárbara revira os olhos, acena e por fim fala, já chegando
próximo à entrada da garagem: — Tenha um bom dia, João!

Após quarenta minutos, chego ao trabalho depois de ter


deixado minha amiga no seu. Ambos são próximos, o que facilita
bastante. Entro no elevador e olho meu relógio marcando
exatamente 07h40min. Checo minhas mensagens no celular e há
apenas duas: da minha mãe e do meu irmão mais velho Miguel,
ambos me desejando boa sorte no meu novo trabalho.
Faz um pouco mais de duas semanas que não os vejo. Eles
têm andado bem ocupados nos últimos dias. Minha mãe, Luíza,
trabalha como enfermeira em um hospital no centro da cidade e
Miguel é engenheiro civil, trabalha na Star Construções, uma das
melhores construtoras da cidade. Respondo-os agradecendo e
dizendo que estou morrendo de saudade.
Meu andar é o penúltimo, onde ficam, além da sala da sra.
Beatriz, uma enorme cozinha muito bem estruturada. Lá são
preparados os novos pratos a serem lançados no cardápio do La
Fontana, uma espécie de “laboratório” culinário.
O prédio é grande e luxuoso, possui doze andares, sendo
todos muito bem organizados. No térreo, há um restaurante privado
apenas para funcionários. O segundo andar foi recentemente
reformado e transformado em uma moderna academia muito bem
equipada, com aparelhos para musculação e um tatame.
O terceiro andar possui algumas salas para reuniões, um
auditório e um salão para eventos. Soube que os Fontana amam
fazer festas em datas importantes, regadas a muita comida boa
(óbvio) e música. O que me deixou hiper animada!
Como uma brasileira nata, meu hobby favorito é dançar. Sou
apaixonada pelas danças e músicas latinas, principalmente forró,
funk, bachata e zouk, e modéstia a parte, sou uma excelente
dançarina.
Por conta da última etapa da seleção de emprego, já conheço
os horários da sra. Beatriz. Ela chega pontualmente às 08:00,o que
me dá vinte minutos para preparar seu café e organizar sua agenda
do dia.
Chego ao meu andar e vou até a minha mesa que é em
formato de meia-lua, muito bem posicionada na frente da porta do
escritório da minha chefe, animada para começar e sentindo que
finalmente encontrei um trabalho que me fará feliz.

— Ana, por favor, remarque a minha reunião com os novos


investidores de quarta-feira para quinta-feira à tarde. Meus filhos
irão viajar e gostaria de jantar com eles — diz Beatriz calmamente
assim que adentrei em sua sala para repassar seus compromissos
de amanhã de manhã, a maioria deles fora do escritório. Já passava
das quatro da tarde.
Olho para minha chefe e mesmo tendo a visto nos últimos
dias, ainda fico impressionada como ela consegue ser tão bonita e
elegante.
Beatriz Fontana tem o rosto levemente quadrado, olhos
pequenos daqueles que se fossem mais repuxados poderia ser
confundida com uma oriental, suas írises são uma mistura de mel
com um tom claro de verde, pele clara, sorriso fácil e os cabelos
lisos longos e grisalhos dão ainda mais charme à sua beleza. Não
preciso nem comentar sobre seu terninho cor de creme que deixa o
conjunto todo ainda mais bonito, assim como sua personalidade
extremamente simpática e radiante.
Seu marido, que vi apenas duas vezes antes de eu ser
admitida, possui os cabelos da mesma cor que a esposa, olhos
verdes, maxilar quadrado com barba rala, daquele jeito que te faz
pensar que ele era ainda mais bonito quando mais novo.
Não me admira que seus três filhos sejam tão lindos como vi
em fotos na internet e em alguns porta-retratos espalhados por sua
sala.
— Já fiz isso, senhora. A secretária de Dante ligou me
avisando do jantar. Será às 19:30 e Matteo pediu que fosse em seu
apartamento já que seu prédio é próximo do irmão. O voo deles está
marcado para quinta-feira de manhã bem cedo. O apartamento de
Dante ainda está em reforma — informei, acrescentando a última
parte.
— Perfetto, ragazza(Perfeito, garota) — diz tirando os óculos
apontando em minha direção, sorrindo — Desculpe querida. Às
vezes ainda penso que estou na Itália, mesmo depois de tanto
tempo morando no Brasil.
Anuo, mas decido surpreendê-la com minha resposta.
— Grazie signora, ma sto solo fazendo il mio lavoro.
(Obrigado senhora, mas estou apenas fazendo meu trabalho).
— Parla italiano? (Fala italiano? — pergunta, claramente
curiosa, já que em meu currículo não diz nada a respeito.
— Ioparlo. (Eu falo.) — digo com um sorriso tímido. — Na
verdade, nunca fiz curso e não falo fluentemente, apenas o básico.
Na faculdade, conheci uma brasileira de pais italianos. Ela acabou
me ensinando o pouco que sei.
Dona Beatriz me encara por longos segundos, seus olhos
brilhando na minha direção. Troco o peso do meu corpo de uma
perna para outra me sentindo estranhamente envergonhada com
seu olhar.
Então, ela me surpreende ao se levantar de sua cadeira e
caminhar até onde estou, em frente a sua mesa. Me dá um abraço
daqueles apertados de tirar o fôlego. Demorei um pouco para
retribuí-lo, mas logo o fiz.
Ela segura meus ombros, olhando-me bem nos olhos ao
dizer: — Eu sabia que tinha tomado a decisão certa quando lhe
contratei. — Abre um sorriso cheio de afeto maternal. — Sinto que
vamos nos dar muito bem, querida. — Toca minha bochecha antes
de voltar à sua mesa.
Ok! Me sinto surpresa e é… estranho.
Entretanto, apesar do pouco tempo e contato que tivemos,
também sinto que grandes coisas estão por vir. Arrisco-me a dizer
que seremos muito mais do que chefe e funcionária um dia. Talvez
amigas. Boas amigas.
Quem sabe, só o tempo irá dizer.
— Cazzo! (caralho) Até que fim! — meu irmão Matteo
exclamou assim que abriu a porta de seu apartamento.
— Estava em uma videoconferência. Perdi o horário —
respondi desabotoando meu paletó adentrando no lugar.
— Mandei dez mensagens desde segunda avisando o horário
do jantar em família. Quarta-feira, às 19h30min — fala impaciente,
como sempre, fechando a porta atrás de mim — O filho mais feio
chegou! — grita sorrindo daquele jeito idiota que sempre faz quando
quer me provocar com suas piadas.
Reviro os olhos.
— Quem disse que você é o irmão mais bonito, bugiardo?
(mentiroso)
— Mamãe acabou de falar — diz convencido, apontando na
direção da cozinha onde nossos pais estão sentados lado a lado ao
redor da ilha de mármore que está cheia de recipientes com comida
e quatro pratos com talheres próximos.
— Falei por livre e espontânea pressão — ela brinca fazendo
papai e eu rimos da expressão exagerada de ofendido que meu
irmão faz ao se sentar na banqueta à minha frente.
— Então, vocês já conheceram a nova assistente da mãe de
vocês? — papai pergunta assim que nos aproximamos — Ela está
só elogios para a moça desde o início da semana.
— Estive ocupado demais nos últimos dias adiantando tudo
que podia para viajar mais tranquilo e não deixar nada incompleto —
respondo — Passei eles trancado em minha sala, babbo. (papai)
— Idem — Matteo fala apontando para mim com um garfo
nas mãos antes de levar a boca um pedaço de ravioli — Ainda não
conheci, — ele volta a falar depois de engolir — mas as conversas
pelos corredores da empresa enfatizam o quanto ela é bonita. —
Pisca para mim de forma maliciosa e reviro os olhos balançando a
cabeça.
— Sim, de fato — minha mãe concordou — É uma boa
menina e muito competente. Tive a sensação de que vamos nos
tornar boas amigas — comenta sorrindo, parecendo muito contente
com sua nova funcionária. Eu apenas aceno.
— Ansioso para assumir o cargo de presidência, bambino? —
meu pai indaga batendo em meu ombro.
Nossa família é dona de uma rede multimilionária de
restaurantes espalhados pelo mundo todo. O La Fontana foi criado
quando eu tinha apenas três anos. Meu pai, nascido e criado na
Itália, ainda estava na faculdade quando conheceu a mamãe, que
ainda na adolescência decidiu cursar gastronomia em solos italianos
por ser apaixonada pela culinária do país.
Juntos tiveram a ideia. Babbo sempre foi um excelente
administrador e depois de conhecer minha mãe se tornou um
visionário brilhante.
Alguns anos depois do nascimento de minha irmã caçula,
Beatrice, meus pais decidiram se mudar para São Paulo e
administrar tudo daqui, um país caloroso e repleto de oportunidades.
Nos últimos meses, meu pai junto com os diretores
executivos, vem me deixando a par de toda a situação da empresa,
que vai muito bem, por sinal, e me ensinado tudo que é necessário
para ocupar o cargo de presidente sem atrapalhar o descanso dele.
Aos quarenta e nove anos, minha mãe o convenceu de que já
era o momento de passar a bola para os filhos e relaxar um pouco
depois de ter tido a pouco mais de um ano, um princípio de infarto, o
que deixou toda nossa família em estado de alerta. A recomendação
médica era reduzir o tempo de trabalho, melhorar sua alimentação e
incluir no seu cronograma diário, atividade física. Tudo foi acatado,
porém, demorou um pouco para que ele ceder, dizia que o médico
não sabia do que estava falando.
Vincenzo Fontana é o homem mais teimoso que conheço e
concordou, depois de horas de conversa, em sair um pouco de cena
e deixar os filhos à frente, porém, ainda continuaria indo a algumas
(poucas) reuniões e solicitou receber relatórios semestrais a
respeito dos resultados e andamento da empresa. Haja vista que
minha mãe ainda continuaria trabalhando, porém em horário flexível
para poder ficar em cima do nosso babbo, principalmente em sua
alimentação.
Ficará sob meus cuidados a administração e gerência,
Matteo passou a ser o diretor jurídico e nossa irmã Beatrice
ocuparia o cargo atual de nossa mãe, a de chefe geral do La
Fontana, responsável por criar pratos, elaborar cardápios e
administrar os processos de preparo ditando os padrões que todas
as nossas franquias devem seguir. Todavia, isso acontecerá apenas
daqui a dois anos, quando terá finalizado seu curso de gastronomia
na Itália, retornando assim ao Brasil.
— Sim, papà — respondo com sinceridade — Ansioso para
pôr em prática tudo que venho aprendendo.
— Tenho certeza de que você fará um excelente trabalho,
figlio mio — ele fala firme cheio de orgulho olhando para mim,
depois foca em meu irmão quando completa — Vocês dois farão.
Anuímos com um aceno de cabeça e Matteo logo começa a
falar sobre tudo que pretende fazer com relação a um dos nossos
contratos com um dos sócios.
Levo minha taça de vinho à boca, sorvendo a bebida em
pequenos goles, observando a forma como nosso pai olha para
nossa mãe. Seus olhos brilham e um sorriso se desmancha cada
vez que ela faz algum movimento. Eu sempre gostei de observar a
forma como ele ficava quando mamãe estava no ambiente. É bonito
demais de se olhar.
Meu pai sempre nos disse que com ela foi amor à primeira
vista.
Teve borboletas no estômago, pernas bambas, coração acelerado,
mãos suando, tudo que um verdadeiro clichê de filme romântico
pode ter.
Meus irmãos e eu fomos criados com muito amor e
ensinados que família sempre vem em primeiro lugar. Nós três
admiramos demais o casamento de nossos pais, mesmo depois de
tanto tempo, é nítido e quase palpável o amor e o cuidado que
ambos compartilham.
Embora eu esteja solteiro aos vinte e sete anos e nunca
tenha namorado antes, sonho em constituir uma família. Casar com
quem amo, ter filhos… o pacote completo, como manda o figurino.
Apesar de parecer frio, como já ouvi mais do que gostaria de
muitas mulheres com quem me relacionei, sou romântico por trás
dessa capa que criei com intuito de me proteger das interesseiras
que só querem estar ao meu lado pelo que tenho na minha conta
bancária ou as portas que meu sobrenome pode abrir, e isso é uma
droga!
Não me entendam mal, não sou hipócrita. Gosto de sexo, na
verdade, amo.
Acredito que a prática nos leva a perfeição. Mas porra!
Sempre fui um homem sincero e todas as vezes que fui para
a cama com uma mulher, deixei claro que seria apenas isso, sexo.
As poucas vezes que me permiti conhecê-las fora da cama, logo me
mostraram o verdadeiro interesse: meu dinheiro e claro minhas
habilidades com a boca e língua. Nada que levasse meu coração a
tremular ou até mesmo minhas mãos suarem.
Fico imaginando como seria fazer sexo com a pessoa que
amamos.
Como seria ter o corpo totalmente em chamas pelo simples
encontro de bocas, roçar de línguas. O quão desesperador deve ser,
querer se fundir de corpo e alma a outra pessoa, além do simples
ato de se aliviar.
Muitas vezes em momentos como este, em que vislumbro a
felicidade dos meus pais, me pego anelando o momento em que
perderei a respiração apenas por receber um olhar de uma mulher.
Não desejo passar o resto da minha vida preso ao ato de estar com
alguém apenas pela iminente necessidade de aliviar a inquietude
dos meus hormônios. Espero pelo dia em que conhecerei aquela
que será capaz de viver tudo isso junto a mim.
Nunca me apaixonei, nem mesmo na adolescência quando
pensei em fazer uma serenata para uma garota. Contudo, cresci
vendo meus pais transbordando sorrisos um com a companhia do
outro, desejando, a cada ano que ficava mais velho, ter um
relacionamento assim. O quão fodidamente bom seria estar
apaixonado e ser correspondido. Amar e ser amado.
É algo que espero ter um dia.
Quando o jantar acaba, algumas horas depois, regado a
muita conversa e risos, nos despedimos uns dos outros e quando
estou passando pela porta meu irmão me lembra, pela milésima
vez, do horário do nosso voo para o dia seguinte, sendo ele quem é,
exalando animação com nossa viagem para a Itália.
Itália

Como é bom estar na minha terra natal novamente, depois de


tanto tempo, três anos para ser mais exato. A última vez que estive
na Itália foi com meus pais e irmãos para o casamento de meu tio,
que é irmão gêmeo do meu pai, Giuseppe. Ele conheceu sua atual
cônjuge, Sofia DeLucca, depois de quatro anos de viuvez.
Minha tia, sua falecida esposa Aurora, morreu em um
acidente de carro enquanto passeava pelas ruas da Itália. Ela tinha
apenas trinta e sete anos quando foi atingida por um carro em alta
velocidade. O motorista estava alcoolizado. Ele e meu primo, Enrico
que era louco pela mãe assim como o pai, sofreram demais com
sua partida ainda tão jovem. Principalmente meu primo, que decidiu
estudar medicina como uma forma de honrar a memória da mãe,
também médica.
A verdade é que Enrico é a pessoa mais inteligente que
conheço. Entrou na faculdade com apenas dezesseis anos e hoje,
aos vinte e dois, está se formando com vaga garantida em
residência em um dos melhores hospitais universitários do país,
para se tornar um cirurgião pediátrico. Ele ama crianças e é um
verdadeiro nerd.
— Vem Dante! Vamos aproveitar pra caralho! Cazzo! —
Matteo fala um pouco alto demais.
Reviro os olhos com tantos palavrões ditos em uma única
frase. Ao contrário de mim, que sempre procuro pensar antes de
falar, — algo que herdei de minha mãe — Matteo não tem filtro, é o
típico italiano que ama falar palavrão.
Ele é quatro anos mais novo que eu, formou-se em direito
aos vinte e um anos, alguns meses antes de completar vinte e dois.
No último ano de faculdade, estagiou em um escritório e conheceu
seu amigo Henrique, também advogado e uma boca suja igual. Eu
os apelidei de “B1” e “B2”, respectivamente.
Os dois decidiram montar seu próprio escritório de advocacia.
A especialidade de ambos é o direito trabalhista. Juntos se
tornaram, em pouco tempo, o terror dos patrões abusivos e
corruptos.
Meu amigo Carlos, B1, o B2 e eu, acabamos de pousar no
aeroporto de Malpensa, em Milão. Decidi passar uma semana na
Itália antes de assumir de fato a presidência da empresa que meus
pais fundaram juntos e claro, meus melhores amigos tinham que vir
comigo.
Levantei-me da poltrona da primeira classe e segui Matteo,
que segue Henrique e logo atrás Carlos nos acompanha. Nós nos
conhecemos na escola ainda na adolescência, não demorou para
descobrirmos que morávamos no mesmo condomínio, lugar onde
meus pais vivem desde que vieram para o Brasil com o objetivo de
expandir seus negócios. Eu tinha treze anos na época.
Os pais de Carlos são donos de uma rede de supermercados
na cidade de São Paulo.
É o amigo mais próximo que tenho depois dos meus irmãos e primo.
Depois de pegarmos nossa bagagem, nos dirigimos à saída
do aeroporto, solicitando um táxi. Já a caminho do hotel do meu tio
Giuseppe, busco o meu celular em meu bolso, discando o número
de minha irmã, um dos poucos contatos da agenda que sei de
cabeça. No terceiro toque ela atendeu.
— Ciao, fratello mio. gia arrivato? (Olá irmão meu. Já
chegaram?) — diz Beatrice com aquela voz cheia de afeto.
Tenho tanto orgulho da minha irmã caçula. Ela se mudou do
Brasil, quando tinha dezoito anos, para seguir seu sonho de se
tornar chefe de cozinha, igual a nossa mãe e para isto ela vem se
dedicando com afinco buscando formação em uma das escolas de
culinária mais renomada de toda a Itália.

Meu tio a recebeu em um dos seus muitos hotéis. Ele é dono de


uma rede hoteleira, e com a ajuda do meu pai, conseguiram crescer
ainda mais em seus negócios.
Hoje, todos os hotéis têm como principal restaurante o nosso ‘La
Fontana’. Definitivamente um negócio em família que deu certo.
— Olá, mi piccola (minha pequena). Acabamos de pegar o
táxi e já estamos a caminho. Acredito que em menos de vinte
minutos já estejamos aí. Ainda está na faculdade? — perguntei
mesmo sabendo sua resposta.
Apesar de ser final de semestre, ela insiste em ficar e
participar de todos os minicursos possíveis que a faculdade oferece.
Hoje, mesmo sendo sábado, não seria diferente.
— Si, fratello (Sim, irmão). O minicurso que estava fazendo
acabou há uns cinco minutos. Só preciso tirar algumas dúvidas com
o professor e já estou indo para o hotel encontrá-los. Estou com
tanta saudade — diz e já consigo imaginá-la fazendo beicinho.
— Eu também cara mia, estou morrendo de saudade de
voc... — não consegui terminar a frase, porque o “boca suja” aqui do
meu lado puxa o celular da minha mão.
Bufo com sua intromissão. Ele sempre faz isso.
— Cazzo e eu B.? — Matteo perguntou à nossa irmã, com
uma mão no peito fazendo o que ele sabe fazer de melhor: drama.
Carlos, que está no banco do passageiro e Henrique ao meu
lado esquerdo, soltam uma risada por causa da cena que o idiota
está fazendo.
Envio a ele um olhar desgostoso, mas ele não se abala com
a minha carranca. O idiota continua a tagarelar no celular e penso
seriamente em lhe empurrar para fora do carro.
Em geral, costumo ser um homem paciente, porém quando o
assunto é Matteo, ela se torna quase inexistente.
Ele consegue me tirar do sério em poucos minutos. É do tipo
que acorda sorrindo e cantando aos quatro ventos. Faz piadas sem
graça e tem a capacidade de dar apelido a tudo e a todos que vê
pela frente. Sua última proeza foi apelidar seu pau de sr. Dragão.
Quando o questionei a respeito do nome, ele me respondeu com a
cara mais sínica do mundo: “Porque meu pau cospe fogo e aquece
a boceta das mulheres.”
Naquele momento eu desisti de tentar entender Matteo, que
consegue ser um advogado brilhante e na mesma proporção, um
meninão.
— Devolva o telefone Matteo! Non rompere o miei conglione!
(Não enche o meu saco!) — digo firme.
— Você não está vendo que estou ocupado. Não seja mal-
educado! Stronzo! — fala simplesmente, com a maior cara de pau
do mundo, em um tom de voz baixo, afastando um pouco o celular
do ouvido. Em seguida, com uma calma de donzela, volta a falar
com nossa irmã.
Sério isso?
Nossos amigos, que já estavam rindo, gargalham do idiota
aqui e aparentemente da minha cara também. Haja paciência!
— E eu pensando que nessa viagem tudo seria diferente.
Parece que ainda estamos no Brasil, em um dia normal como outro
qualquer — diz Henrique entre risos.
— Tenho que concordar com você. — completou Carlos,
rindo um pouco mais.
Alguns segundos depois, Matteo finaliza a ligação e me
entrega o celular antes de falar: — Bea disse que já está saindo da
faculdade. Ah! E só para constar, ela disse que sou o irmão mais
lindo que ela tem — sorrindo continua — E que eu. — Aponta o
dedo para si. — Sou o favorito também. Aceite Dante! — Olha para
mim, empinando o nariz e me manda um beijo com a mão.
— Caso ela tenha dito isso, o que duvido, foi por estar sob
pressão com tanto drama que você faz, como sempre — falo,
lembrando-me no jantar que tivemos com nossos pais no meio da
semana antes de viajarmos — E a próxima vez que você tomar o
meu celular enquanto eu estiver falando vou raspar seu cabelo,
idiota! — digo e a última parte o faz arregalar os olhos em minha
direção.
— Per Dio! Nem pense nisso Dante Fontana. Li em uma
revista que as mulheres não são muito chegadas a carecas e eu
preciso de mulheres — fala piscando um olho.
— Não se preocupe, b1. Cuidamos das suas meninas, depois
que você for dispensado por elas quando ficar sem cabelo — Carlos
diz sorrindo.
— Pode apostar que cuidaremos. — completou Henrique, se
inclinando ao meu lado e fazendo um sinal de ok com as mãos.
Meu irmão fica sério, mas logo sorri dizendo que vai ficar
lindo de qualquer jeito, inclusive sem cabelo. Porque o que elas
gostam está no meio de suas pernas.
Como eu disse: boca suja sem filtro!
Minutos depois, o motorista nos avisou que estávamos quase
chegando ao destino e logo fiquei ansioso por estar mais uma vez
com meus tios, primos e, claro, aproveitando a noite italiana, que é
simplesmente maravilhosa! Faz um bom tempo que não vou à festa,
ou saio para me divertir.
O motorista para o táxi e logo nos apressamos em sair do
carro, que só agora percebo ser pequeno demais para nós quatro.
Logo fomos recebidos por meu tio e sua esposa que também
foi viúva há muito tempo antes de conhecê-lo. Ela tem uma filha
chamada Kyara, que cursa enfermagem. Meu primo, que sempre
quis ter uma irmã, apesar do pouco tempo de convivência, a tem
como uma e cuida da garota como um urso raivoso e protetor.
— Grazie a Dio siete arrivati, ragazzi! (Graças a Deus vocês
chegaram, meninos!) — Peppe diz sorrindo de orelha a orelha.
Apesar de serem gêmeos, meu tio e meu pai têm
personalidades completamente diferentes. Enquanto meu pai é mais
contido e sério, meu tio é uma versão mais velha do meu irmão
Matteo.
Falando nele...
O idiota larga suas malas no chão e nos empurra correndo
com os braços abertos que nem uma adolescente histérica para
encontrar meu tio no meio do caminho em um abraço.
— Fizeram boa viagem, queridos? — tia Sofia pergunta com
a voz cheia de sotaque, seu sorriso educado de sempre nos lábios,
quando nos aproximamos do hotel, próximo ao Hall de entrada.
Meu tio e meu primo, pela convivência de anos com minha
mãe brasileira, acabaram aprendendo a falar português, assim
como Sofia quando se casou com Peppe. Eles aperfeiçoaram ainda
mais a língua depois que minha família se mudou para o Brasil e por
conta dos muitos turistas brasileiros que se hospedam no hotel.
Si — anui — Obrigada por atender nosso pedido de reserva,
assim de última hora. Imagino que o Hotel esteja cheio.
— Não precisa agradecer, mio caro. (Meu querido) Vocês são
família. Venire! (Venham) — diz nos guiando para dentro e
chamando carregadores para levar nossas malas para nossos
respectivos quartos.
Ficaremos em quartos separados, cada um com o seu,
porém, no mesmo corredor. Obviamente teremos companhia para
mais tarde, se é que me entendem.
Pretendemos ficar um pouco na piscina do hotel, que é imensa, por
sinal, e depois ir para alguma balada da cidade.
Abraço meu tio e, quando estou prestes a perguntar se Bea
já chegou, ouvimos uns gritos femininos, seguidos de barulhos de
buzina. Todos viramos para olhar, ao mesmo tempo, como se
tivéssemos ensaiado antes.
Kyara está em seu Maseratti vermelho, tentando conter
Beatrice no banco do carona, que mexe um braço para o alto
freneticamente enquanto o outro aperta sem parar no volante.
Rimos com a cena. Essas espalhafatosa demais em suas entradas.
Logo elas se aproximam. Kyara entrega a chave para o
manobrista, enquanto minha irmã sai do carro saltitando até nós,
com aquele sorriso de menina que eu sempre amei, e pela cara de
abobalhado do “boca suja” número um ao meu lado, ele também.
Somos seus irmãos mais velhos extremamente possessivos
e ciumentos, e ela, apesar de já ter vinte anos, continua sendo a
nossa menininha.

Quando conheci Matteo no antigo escritório em que


trabalhávamos juntos, o DL Advogados, ele estava terminando o
último ano da faculdade de direito, se preparando para fazer a prova
da ordem e era apenas mais um estagiário dos muitos que a
empresa costumava contratar.
Mesmo sendo um Fontana, ele escolheu passar por todo
processo que um mero e comum estudante de direito precisaria
para, enfim, se tornar advogado, sem se aproveitar de seu
sobrenome ou de sua família, mesmo que isso seja algo que muitos
imaginam que ele faça.
O dono, sr. Luís Santos, era um ótimo advogado e excelente
chefe, porém, o que fazia todos odiarem o ambiente de trabalho
caótico e sufocante do escritório, eram seus dois filhos, Leandro e
Daniel Santos. Dois idiotas que viviam à custa do sucesso e do
dinheiro do pai.
Quando Luís não estava presente, eles mandavam e
desmandavam em tudo da forma que achavam melhor, nesse caso
pior. Usavam palavras de baixo calão com os recém-chegados,
paqueravam as outras advogadas na cara dura e faziam os
estagiários de empregados e burros de carga.
Era uma merda total!
Logo de cara, Matteo e eu nos demos bem. Ele apesar de ser
filho de quem é, era e é humilde pra caralho e ficava tão puto quanto
eu, com o tratamento que os dois idiotas davam aos funcionários.
Uma vez, depois de mais ou menos seis meses trabalhando
lá, ele me chamou para irmos a um bar depois do expediente e, logo
que chegamos, encontramos os dois idiotas tentando agarrar duas
garotas à força.
Bem... nós dois somos grandes e praticamos boxe, sempre
que possível, o que facilitou na hora de quebrarmos a cara dos
babacas.
Dois dias depois fomos demitidos. Foi então que tivemos a
ideia de montar nosso próprio escritório de advocacia, especializado
em causas trabalhistas, uma área que necessita de muita atenção,
pois existem muitos casos de desrespeito ao colega e as
obrigações, isso de ambas as partes em uma empresa.
Depois de quase três anos, o escritório estava muito bem.
Nós dois éramos conhecidos como a dupla do caralho, como minha
prima Stella dizia. Quem nos vê em cena, jamais imagina que
somos dois bocas sujas como Dante, seu irmão mais velho,
costuma falar, ou simplesmente, b1 e b2.
Não me leve a mal, mas um palavrão bem dito na hora certa
é como a cereja do bolo.
E agora olhando para menina saltitante, de cabelos longo escuro,
olhos verdes e boca bem desenhada e marcante, eu apenas
consigo pensar em um palavrão específico:
Puta que pariu!
Sempre frequentei a casa de Matteo e de sua família, e é
comum ver fotos de todos juntos espalhados pelo lugar, contudo,
ainda não tinha conhecido sua irmã cara a cara. Ela havia se
mudado há dois anos para a Itália para estudar e as poucas vezes
que foi visitar os pais eu não pude estar presente.
Beatrice Fontana é ainda mais linda pessoalmente e possui
uma sensualidade capaz de fazer qualquer homem se ajoelhar
diante dela para atender todas as suas vontades de muito bom
grado. Ela é gostosa com seu corpo cheio de curvas e mesmo não a
tendo visto de costas, tenho certeza que sua bunda é de dar água
na boca a julgar pelo formato de seu quadril que está marcado pelo
vestido a deixando sexy para um caralho.
Se estivéssemos em uma festa e ela não fosse parente de
quem é, e eu não tivesse feito a porra de um juramento aos meus
melhores amigos um pouco depois que nos conhecermos, de que
jamais chegaria perto de sua irmã caçula com segundas intenções,
— maldito juramento, inclusive — com certeza eu a pegaria para
mim agora, a levaria para o quarto e a foderia até não aguentarmos
mais.
Beatrice abraça Matteo e Dante ao mesmo tempo, um em
cada braço e eles a abraçam de volta.
— Como eu estava com saudade de vocês dois. I miee fratelli
che amo molto. (Meus irmãos que amo tanto — diz apertando os
dois um pouco mais antes de soltá-los.
Que ela não me aperte assim. Que ela não me aperte assim.
Não sei porque penso e peço isso a Deus, já que imagino
que esse tipo de contato ela reserva apenas para quem conhece.
Contudo, o nervosismo é maior que qualquer outro sentimento no
momento, fazendo-me respirar fundo algumas vezes na tentativa de
me manter calmo e mandar essa atração para longe. Não quero
ficar de pau duro na frente de seus irmãos, que são meus amigos, e
correr o risco de morrer aos vinte e seis anos por causa de uma
maldita ereção.
— Como você está linda, Bea — Matteo fala e Dante balança
a cabeça concordando.
— Eu sei. — Ela sorri com confiança. É claro que sabe — E
olha só você. Está bonitão, Carlinhos — comentou indo até ele, lhe
dando um soco de leve em sua barriga. Carlos finge que o golpe o
machucou, mas logo a envolve em um abraço visivelmente fraternal,
esbanjando um sorriso carinhoso em seus lábios.
— E você cresceu demais, pequena Bea. Nem parece mais
aquela menininha que vivia me perturbando para brincar com você
de comidinha — brinca depositando um beijo no topo de sua
cabeça, para logo em seguida bagunçar seu cabelo.
— Esttamente. E você nunca experimentou a comida que eu
sempre fazia com tanto amore — diz docemente se afastando em
seguida.
— Sua lasanha de ortiga com recheio de pedrinhas do quintal
da casa de tia Beatriz e tio Vincenzo? — Carlos alça uma
sobrancelha arrancando sorrisos de nós.
— Era uma receita antiga de família, ragazzo — ralhou,
torcendo o nariz para ele.
Matteo então volta a abraçar sua irmã, dessa vez de lado a
virando em minha direção e diz cheio de orgulho:
— Maninha, quero que você conheça nosso amigo e meu
sócio no escritório, Henrique. Henrique, essa é a nossa garotinha,
Beatrice — ele termina de nos apresentar gesticulando com o braço
entre nós dois.
Beatrice inclina a cabeça um pouco para cima, para me olhar
nos olhos pela primeira vez e quando nossos olhares se encontram,
sinto algo que vai direito para o meu pau, obrigando-me a pensar
nas coisas mais aleatórias para não passar vergonha e pior, ser
massacrado por seus irmãos. Tento ao máximo me concentrar, mas
ela não desvia o olhar, que de início transparece surpresa, mas logo
se torna uma mistura de desejo e travessura. Ela é tão linda, tão
fudidamente linda e, por mais que eu tente não me sentir atraído, é
impossível, todas as minhas células se agitam admirando sua
beleza sensual e nada delicada ou doce.
Para declarar minha sentença de morte, a filha da puta (que
tia Beatriz me perdoe agora), umedece os lábios com a ponta da
língua mordendo a seguir o canto inferior. Seu olhar me devora e eu
nunca me senti tão desprotegido em toda a minha vida, e pela forma
que ela reage a mim, creio que não sou o único a sentir essa
atração.
Não sei quanto tempo se passou desse nosso momento, —
provavelmente segundos que para mim, pareceram uma eternidade
— quando me dei conta de que meu amigo estava tocando meu
ombro chamando minha atenção de volta.
— Cazzo, você está bem? Ficou pálido do nada e parece que
está suando — diz Matteo obviamente preocupado e alheio ao meu
momento com sua irmã.
Porra! Irmã dele. Irmã dele, seu idiota.
Engulo seco, pisco algumas vezes e reúno toda força
possível e digo:
— Estou bem. Deve ser porque não comi direito antes e
durante o voo. — Sorrio meio fraco. Volto minha atenção, ou o
pouco que resta dela, para Beatrice que está à minha frente com um
sorriso cínico nos lábios e digo:— É um prazer enfim conhecê-la.
Não me atrevo a dar um aperto de mão, muito menos um
abraço. Por mais que eu queira desesperadamente tocar e foder
cada parte do seu corpo e mostrar a ela o quão atrevido e safado
posso ser. Mas não quero morrer.
— O prazer é todo meu, Henrique — diz me olhando nos
olhos, e porra meu nome na sua boca faz minha mente imaginar o
quão bom seria fazê-la gozar enquanto chama por mim, sua voz
cheia de sotaque… falando safadezas em italiano…
É meus irmãos, estou oficialmente fudido.
Nunca nenhum homem aparentou estar com medo de mim
como o melhor amigo dos meus irmãos está agora. Não sou a
pessoa mais delicada e meiga desse mundo, na verdade, estou
longe de ser assim. Sou o completo oposto, o tipo de mulher que é
ousada e não tem receio de ser quem é, principalmente quando o
assunto são os meus desejos. Se eu desejo e quero um homem,
tomo a iniciativa. Simples assim.
Posso ver nos olhos de Henrique o quanto ele está afetado
por minha presença, obviamente deixei o mais claro, diante da
situação, através do meu olhar o quanto ele também me afeta.
Eu já o vi em fotos pelas redes sociais de meus irmãos,
assim como em seus respectivos apartamentos e no escritório de
Matteo, até mesmo em alguns porta-retratos na casa de meus pais,
mas nada se compara a vê-lo em toda sua forma deliciosa bem a
minha frente. Seu cabelo loiro em um corte social, maxilar quadrado
na medida certa, com a barba grossa e seus músculos que fazem
minha pele se arrepiar com a visão.
Cazzo, eu sentaria nele sem parar até que eu já estivesse
sem força. Deixaria que me fodesse quantas vezes nossos corpos
aguentassem.
— Vamos entrar — tio Peppe fala e Henrique toma isso como
sua deixa para quebrar a conexão de nossos olhares.
Ele passa as mãos repetidas vezes na calça, antes de seguir
para dentro do hotel, em um sinal claro de nervosismo.
Quando todos, incluindo tia Sofia já estão distantes, seguro o
braço de Kyara que está ao meu lado e solto um suspiro,
encostando minha cabeça em seu ombro quando digo:
— Henrique é tão gostoso, Ky. Lo voglio. (Eu quero ele)
— Fale baixo, per favore — pede — Se seus irmãos
escutarem você falando assim do amigo deles, não quero nem
pensar na bronca que você vai levar.
— Não ligo para broncas. — Dou de ombros — Eles
precisam entender que eu cresci e gosto de fottere (foder) assim
como eles fazem.
— Santo Dio! — exclamou, fazendo-me levantar o rosto para
ver suas bochechas coradas, vermelhas na cor de um tomate.
Apertei seu queixo, sorrindo ao constatar sua timidez.
Kyara é a pessoa mais tímida que conheço e em todos esses
anos, desde que meu tio casou com sua mãe, eu nunca a ouvi falar
um palavrão sequer. Sei que parte de sua personalidade retraída
está relacionada ao que ela passou quando ainda era uma
adolescente.
Quando ela me contou, alguns meses depois que cheguei a
Itália, o que aconteceu na época da escola, só consegui sentir raiva
pelo filho da puta que a machucou e a marcou para sempre. Então,
entendi porque seu irmão, meu primo Enrico, era tão protetor com
ela quando o assunto se tratava de homens. Eu mesma passei a ser
um pouco protetora com Kyara nessa questão.
— Esqueci que você não fala sacanagem, Ky — brinco vendo
sua pele ainda mais corada do que antes.
— Você já fala por nós duas, Bea — comentou e nós duas
rimos — Melhor entrarmos e per favorese comporte — pede.
— Va Bene, cugina (prima). Prometo fazer o meu melhor,
cara mia. — Pisco para ela sorrindo de um jeito travesso que a faz
revirar os olhos, antes de entrarmos e nos juntamos aos demais no
restaurante do hotel, meus olhos nunca deixando de admirar a
figura deliciosa de Henrique Prado.

“Um dia , você deixará este mundo para trás.


Então viva uma vida da qual você irá se lembrar.”
(The Nights - Avicii)

— O que Henrique tem? — Carlos pergunta assim que a


porta do elevador da minha suíte se abre, adentrando no lugar —
Ele passou a tarde toda se comportando de um jeito estranho e
quase não comeu nada, e ainda negou nosso convite para cairmos
na noitada, preferindo ficar trancando na porra do quarto como se
tivesse um vírus contagioso pelo hotel.
Em nossa primeira noite aqui na Itália, decido que quero ir à
uma boate. Henrique passou a tarde quase toda no
quarto, alegando estar com dor de cabeça. Beatrice e Kyara,
disseram que iriam descansar um pouco, devido ao estresse do final
do semestre, prometendo que amanhã estarão mais dispostas,
assim como meu primo Enrico que chegou um pouco depois do
jantar, após o trabalho. Matteo conheceu uma garota na piscina do
hotel a levando para sua própria festinha em seu quarto mesmo.
Então, Carlos foi o único que topou ir comigo, mantendo-se
ao meu lado, como sempre.
— Não faço a mínima ideia do que o deixou assim. Talvez
seja o fuso horário. Não sei — digo, dando de ombros, enquanto
ajeito minha blusa de botões de frente para o espelho, observando
pelo reflexo, meu amigo se joga no sofá atrás de mim de um jeito
desleixado, uma contradição, comparado a suas vestimentas —
Você vai de terno? — indago, analisando sua roupa formal. Ele está
usando um terno de três peças na cor cinza-escuro, blusa branca e
sem gravata — Não acha que você está um pouco elegante demais,
caro mio? — rio vendo Carlos torcer o nariz para mim.
— Só se vive uma vez, meu amigo. A vida é curta demais
para esperarmos o momento certo chegar — fala sorrindo — O
momento certo se chama agora.
— Você está mais filósofico do que eu me lembro —
comentei.
— Sempre fui. É o meu charme. As mulheres amam. — Pisca
sorrindo de lado — E faz tempo que não saímos para nos
divertirmos, principalmente só nós dois como costumávamos fazer.
Virando meus calcanhares para encará-lo de frente quando
falo, sorrio, colocando minhas mãos dentro de minha calça jeans
preta.
— Você sumiu nos últimos dias, até pensei que não viajaria
mais conosco — comentei.
Carlos parece ficar tenso com a simples frase que falei,
empertiga-se no sofá passando suas mãos em seus cabelos
algumas vezes, sua pele que é de um tom bronzeado parece perder
um pouco a cor, o deixando um pouco pálido. Analiso por alguns
segundos meu amigo, que parece esconder algo. Devagar, dou
alguns passos em sua direção, dando a ele tempo para falar. O que
vem depois de quatro passadas.
— Estou bem, Dante. — Força uma tosse, deixando sua voz
mais normal ao continuar — Estava um pouco estressado no
trabalho. Nada de mais.
— Tem certeza? — indaguei sentindo um desconforto no
peito, como uma sensação de que meu melhor amigo realmente
pode estar escondendo algo. Algo sério.
— Tenho, irmão. — Ele bate as duas palmas nas coxas antes
de ficar em pé, jogando o braço direito por sobre meus ombros me
puxando de lado — É proibido falar de trabalho e coisas
estressantes. — Sorrio com as palavras que saem como se ele
estivesse recitando um poema.
Carlos é a pessoa mais leve que eu já conheci em toda
minha vida. É do tipo que sempre olha o lado positivo de tudo e,
pelo que me lembro, em todos esses anos de nossa amizade nunca
o vi chorar ou ficar para baixo por muito tempo, por mais difícil que
seja a situação.
Ele sempre disse acreditar que um sorriso é o início de um
novo e melhor começo. Que a tristeza só nos faz ficar ainda mais
frustrados e nos retém no mesmo lugar, remoendo o que não deu
certo.
Que o importante é continuar, sempre, pois a vida não para.
Se tem alguém que ama a vida, esse alguém é o Carlos.
— Hoje a noite é uma criança — dita, sorriso sincero que
sempre esteve presente em seu rosto desde a época em que
éramos meninos ilumina seu rosto. — Quero cair na gandaia.
Solto uma risada batendo de leve em seu peito o fazendo rir
ainda mais.
— Gandaia — repito ainda rindo, afastando-me dele em
seguida, para pegar minha carteira e as chaves do carro que
Giuseppe me emprestou em cima da mesinha ao lado da cama —
Vamos aproveitar a noite, meu amigo.

— Era disso que eu estava precisando — Carlos fala assim


que entramos no carro depois de combinarmos com duas mulheres
que conhecemos na boate de nos encontrarmos no hotel para um
pós-festa, se é que me entendem. O carro onde elas estão passa
por nós, buzinas e gritinhos animados soando pela madrugada e
nos fazendo rir.
Já passava das duas da manhã e meu corpo estava ligado
demais, o que se atribui a falta de álcool em meu sistema já que
fiquei de motorista. Depois da forma como minha tia Aurora se foi,
sempre evitei a combinação álcool e direção. Prefiro não beber, a
colocar em risco a vida de alguém que esteja comigo.
— Já estou ficando de pau duro, cara — meu amigo fala
animado colocando o cinto, assim que bate a porta. — Anda logo
que minhas bolas já estão começando a doer.
Solto uma risada sem fazer nenhum comentário a sua
declaração, já que estou me sentindo da mesma forma.
Ponho o cinto, ligo o carro, colocando-o em movimento,
balançando minha cabeça ao som da música agitada de Avicii - The
Nights, que meu amigo para lá de animado selecionou. Ele
cantarola a canção em inglês, que mais parece russo, com as
palavras saindo enroladas e atrapalhadas por conta do álcool. Sorrio
sem tirar os olhos da rua à minha frente.
Por conta do horário, não há muitos veículos na estrada, mas
ainda sim procuro dirigir como sempre fiz, com calma e atenção.
Paro em um sinal vermelho, vendo o carro das nossas
companhias da noite ultrapassarem a gente em alta velocidade.
— Elas estão mais animadas que nós, meu amigo — Carlos
comenta e logo volta a cantar de forma animada, mexendo seus
braços para o alto.
Sorrindo admiro a felicidade dele por um momento antes de
voltar a olhar para o semáforo que fica verde, sinalizando que
podemos seguir. Trato de colocar o carro em movimento.
Até que vejo uma luz forte vindo do lado do passageiro, uma
luz que fica ainda mais intensa, como se estivesse se aproximando
de nós e, antes que eu consiga me dar conta do que está prestes a
acontecer, a batida vem, e os segundos mais dolorosos da minha
vida passam em câmera lenta bem diante dos meus olhos.
A janela quebra, estilhaçando pedaços de vidro que vão parar
sobre Carlos, que me encara de olhos arregalados, seu sorriso logo
dá lugar a uma expressão de susto. A lataria do carro ao seu lado é
amassada assustadoramente, fazendo o teto ceder sob sua cabeça.
Sinto os ossos de minha perna direita sendo esmagados como se
virassem pó e meu corpo é impulsionado para o lado, minha cabeça
bate na janela, mais vidros, sangue… então o impacto forte chega e
eu apago, tendo a imagem de Carlos, meu melhor amigo, sorrindo
vagando em minha mente. Sorrindo… feliz. Carlos estava feliz!
Dor. Todo o meu corpo é dor. Eu não consigo me mexer, a
sensação é de que fui destroçado um carro, literalmente.
Carro. O carro que eu estava dirigindo.
Cenas do acidente começam a surgir em minha mente como
raios, rápidas e cortantes, se misturando à imagem de meu amigo,
sorridente e feliz.
Sinto uma mão tocar meu rosto e o cheiro familiar me faz
relaxar um pouco, me despertando a forçar meus olhos a se
abrirem, contudo, a claridade dificulta um pouco.
— Que bom que você acordou, fratello. — Ouço a voz de
minha irmã próximo ao ouvido e um beijo é depositado em minha
testa.
Minha cabeça dói, meu corpo todo dói. Tudo em mim é dor.
Puxo o ar algumas vezes antes de voltar a abrir meus olhos,
que depois de alguns segundos conseguem se acostumar com a luz
forte, minha visão formando as figuras de minha família. Beatrice,
Matteo, Enrico, Kyara, Henrique, Giuseppe, Sofia, meu pai e minha
mãe.
— Mãe? Pai? — balbuciei depois de um tempo — O que
vocês fazem aqui, na Itália? — tentei me levantar, mas o pequeno e
simples movimento que faço faz uma onda de dor aguda se
espalhar por todo o meu corpo, fazendo-me soltar um gemido alto.
Parece que fui moído, esmagado.
— Você precisa descansar, meu filho — mamãe fala ao se
aproximar, colocando sua mão em meu ombro com carinho, no
intuito de me fazer deitar novamente.
— O que está acontecendo? — indaguei, sentindo-me
perdido, as cenas da noite passada vindo com ainda mais força em
minha mente confusa e embaralhada. Onde está Carlos?
— Bambino, — papai diz ficando ao meu lado da cama, seus
olhos estão vermelhos e inchados me mostrando que ele andou
chorando e cada palavra que sai de sua boca me provoca um
calafrio de medo — você sofreu um acidente de carro há dois dias.
— Dois dias? — exclamo assustado — Eu dormi por dois
dias?
Ele anui e volta a falar, seus olhos nunca deixando os meus,
a mão de minha mãe e irmã acariciando meu braço e o pavor pelo
que vem a seguir faz meu coração disparar e meu estômago revirar:
— O carro em que você e Carlos estavam foi atingido por um
caminhão, bambino. Você não teve culpa do que aconteceu. Quero
que entenda isso.
— Como assim…
— Você precisa ser forte, Dante — ele continua falando e
falando, mas nada parece fazer sentido. Franzo o cenho sem
entender o que ele quer dizer.
Um soluço do outro lado me faz virar e ver mamma chorando,
sendo abraçada por Bea, que tem algumas lágrimas caindo em suas
bochechas.
— Onde está Carlos, mamãe? — perguntei, minha voz
falhando, meu peito se apertando com uma sensação horrível —
Carlos está bem, não está?
Ela não responde. Ninguém responde. Meus olhos varrem os
rostos tristes de meus familiares, que estão espalhados pelo quarto,
cheios de tristeza, e antes que eu possa insistir novamente, a
resposta para minha pergunta vem em gritos, que me fazem tremer
entre os lençóis.
Eu conheço essa voz, apesar da dor e do pavor que há
nela... eu conheço essa voz. Paula, a mãe de Carlos.
— Meu filho! Meu filho, não… meu Deus… não! — Paula
grita e o som faz meu coração ficar ainda mais acelerado.
— Eu preciso ver meu amigo — digo tentando me levantar
novamente, ignorando a pontada de dor que o movimento causa
especificamente em minha perna direita, mas ninguém dessa vez
me impede de me sentar. O silêncio misturado aos gritos da mãe do
meu melhor amigo, deixando-me ainda mais apavorado — Levem-
me até Carlos — exijo — Eu preciso vê-lo! Eu preciso vê-lo! Por
favor! — imploro, sem nem ao menos notar que um soluço escapar
de minha garganta quando minhas bochechas aquecem com o
líquido que escorre de meus olhos.
— Fratello — Matteo chama se aproximando da ponta da
cama, ele toca em minha perna esquerda e tem uma expressão
séria no rosto diferente do boca suja que eu estou acostumado,
seus olhos estão marejados cheios de lágrimas, mas sua voz é
firme quando me dá a pior notícia da minha vida — Ele se foi. Carlos
não resistiu.
— Não! — gritei — Você está mentindo, Matteo! Você está…
está men-mentindo! Carlos estava bem e… e sorrindo. Eu… eu
preciso ver ele — falei sentindo meu peito se encher de angústia,
alvoroçando-me e antes que meu pai possa tentar me impedir,
prendendo-me na cama outra vez, puxei o lençol que cobre meu
corpo da cintura para baixo.
O ar me falta, minha cabeça pesa, meus olhos se arregalam
e sinto que posso desmaiar a qualquer momento quando meu olhar
se fixa na parte que um dia foi minha perna direita.
— Vou chamar o médico! — Sofia avisa, saindo da sala.
Boto a mão no peito tentando puxar o ar, mas é impossível.
Aponto para a parte enfaixada, minha mente processando o que
aconteceu com meu corpo, pequenos borrões surgindo… borrões
de vidros estilhaçados, lataria amolgando-se e uma intensa
claridade sobre nós, sobre meu amigo e eu.
— Mi-minha… — Fecho meus dedos ao redor da roupa do
hospital tentando respirar — … per-perna…
O que aconteceu com minha perna?
— Cugino (primo) , fique calmo. Per favore — Kyara pediu
segurando meu rosto me fazendo olhar em seus olhos que estão
começando a ficar inchados pelo choro — Apenas se concentre em
respirar. — Seus polegares acariciam minhas bochechas e eu fecho
meus olhos, tentando fazer o que ela disse — Só respire.
A escuridão, ao invés de me deixar mais calmo, funciona
como uma tela, cenas de tudo que vivi com meu melhor amigo
desde a infância se passando ali, nós dois sorrindo, correndo, nos
divertindo… tudo agora são só lembranças que nunca mais poderão
ser repetidas ou renovadas. Nunca mais.
"Ele se foi. Carlos não resistiu."
As palavras de meu irmão me fazem hiperventilar ainda mais.
Minha perna. Eu estou sem uma parte da minha perna.
Antes que eu possa voltar a abrir meus olhos sinto algo
correndo pelas minhas veias, algo que me faz sentir sono. E então,
contra a minha vontade, adormeço sabendo que quando acordar
outra vez, encontrarei tudo mudado, inclusive eu.

Dois anos depois - Brasil/São Paulo

Acordo mais cedo que o normal, bem antes da voz da queen


B começar a tocar.
Quase não dormi a noite passada. Uma parte do motivo foi por ter
saído para dançar, e a outra foi por estar morrendo de tanta
ansiedade.
Hoje será o primeiro dia de trabalho do primogênito da família
Fontana como presidente da empresa. Não tive a oportunidade de
conhecê-lo antes de sua viagem à Itália, há dois anos, devido a
seus compromissos. O mais próximo dele que fiquei foi quando
liguei para a sua secretária avisando do jantar com sua família antes
de sua viagem.
Dois anos se passaram depois daquele dia horrível. Se eu
fechar os olhos consigo me lembrar de Beatriz aos prantos ao
receber a ligação de que o filho mais velho estava em estado grave
no hospital na Itália depois de ter sofrido um acidente de carro.
Enquanto me arrumo, tudo que dona Beatriz e sua filha me
falaram sobre aquela noite vem à minha mente.
Dante e seu melhor amigo Carlos estavam saindo de uma boate,
seu filho por ser o motorista não quis beber. Em um dado momento
do trajeto, logo depois que o sinal abriu, eles foram atingidos por um
caminhão em alta velocidade bem do lado do passageiro.
Com o impacto meu agora chefe, sofreu uma lesão na perna,
que levou a amputar parte dela, contudo, seu amigo não resistiu e
foi levado para o hospital já sem vida.
A partir daquele momento, Dante não foi mais visto na mídia
como antes e sua família ficou ainda mais reservada com tudo que
envolvesse a vida pessoal. O primogênito passou por algumas
cirurgias ainda estando na Itália e se isolou de todo o restante
durante esse período.
Desde esse dia, a empresa passou por muitas adaptações. O
filho mais novo, Matteo retornou ao Brasil assumindo
temporariamente a empresa. Ele é um excelente advogado, e
apesar do momento difícil que sua família passava, procurou manter
o ambiente de trabalho o mais leve possível. É bem-humorado e o
convívio com ele é muito fácil, assim como seu amigo, Henrique,
que sempre estava por perto para ajudar e dar suporte.
A senhora Beatriz permaneceu na Itália ajudando o filho na
adaptação e luto, deixando sua caçula Beatrice em seu lugar, no
comando da parte que lhe cabia e eu claro assim como ela fez
questão de enfatizar, me tornei seu braço direito. A filha, assim
como todos nessa família, tem o comando nas veias e mostrou a
que veio, mesmo ainda cursando a faculdade. Talento nato! Nos
demos muito bem a ponto de passarmos a amigas.
Todas as reuniões mais urgentes e indispensáveis foram
feitas via skype sempre com a presença de Bea, as demais foram
remarcadas para quando sua mãe retornasse ao Brasil, o que
ocorreu depois de seis meses, assumindo novamente seu antigo
posto e há três meses recebi a notícia através da própria de que
Dante retornaria à empresa, ocupando o cargo da presidência, e
que eu serei sua nova assistente. Isso mesmo. A própria Beatriz me
pediu.
Quer dizer, gosto de pensar que foi um pedido. A mulher
sabe persuadir, viu? Não tinha o que debater depois de tantos
agradecimentos e elogios ao meu trabalho, todavia jamais negaria
um pedido seu, sendo ela a pessoa que sempre foi comigo.
Após o banho, fiz minha maquiagem e escolhi um vestido
preto social e saltos da mesma cor. Vou à cozinha e começo a
preparar o café. Quando estou separando algumas torradas e pães,
Bárbara sai de seu quarto.
— Bom dia, flor do dia! — disse com um sorriso no rosto.
— Corta essa. Preciso de cafeína — falou se sentando na
cadeira colocando seus cotovelos na mesa e apoiando a cabeça
nas mãos. — Nunca mais vamos sair para dançar um dia antes de
termos trabalho, viu? Nem adianta fazer drama.
— Até parece que você não gostou de ontem. Não parou
para descansar um segundo desde a hora que chegamos ao clube
— respondi, entregando-lhe uma xícara de café bem forte.
Bárbara sorri de lado, balançando a cabeça e dá de ombros.
— Já tinha saído de casa obrigada, — diz levantando um
dedo — diga-se de passagem, gastando maquiagem, o que me
restava era aproveitar um pouco.
— Para mim aquilo não pareceu pouco, querida Bárbara. —
dei um sorriso e ela me respondeu com o dedo do meio. Gargalhei
do seu jeito de xingar.
Um ponto curioso sobre minha amiga é que ela não costuma
falar palavrão, mas sempre que pode mostra o dedo do meio. Nunca
ouvi um “merda” ou “foda-se” sair de sua boca desde que nos
conhecemos.
— Então, ansiosa para conhecer seu novo chefe? —
pergunta antes de levar a xícara até a boca.
— Muito. Parece que é meu primeiro dia de trabalho e não
que já estou trabalhando lá há dois anos. — falo sinceramente.
— Você vai se sair bem. — garantiu me lançando um sorriso
encorajador.
— Obrigada! — agradeci.
— Você é ótima no que faz e tem ajudado a família dele, nos
últimos anos com muito profissionalismo, amiga. — comentou e eu
anui, sentindo um incômodo na boca do estômago. Provavelmente
pelo meu nervosismo.
— Eu realmente espero que Dante goste de mim como sua
mãe.
Hoje completam dois anos desde a última vez que estive na
Itália.
Dois anos que minha vida mudou.
Dois anos sem o meu melhor amigo.
Dois anos sem duas partes de mim.
Aquela viagem que era para ser diversão se tornou meu
maior pesadelo.
Não há como esquecer e mesmo que eu quisesse, todas as
vezes que me olho no espelho, o sentimento de culpa vem tão forte
que sinto como se meu peito estivesse sendo rasgado.
Olho para minhas pernas, ou o que restou delas, e não
consigo sentir gratidão por estar vivo. Parece-me tão injusto já que
fui eu quem estava dirigindo, eu que era o responsável pela direção
naquela noite e agora, sou o culpado por todo sofrimento que a
família de Carlos sente.
Ouço meu celular tocar da mesa de cabeceira do quarto, o
som me tirando de meus devaneios de remorso e angústia. Tiro
minha prótese de banho e coloco a prótese do dia a dia, fazendo o
enfaixamento adequado antes, enrolando uma toalha na minha
cintura e saio do banheiro, indo até o meu quarto para atender
minha mãe. Apenas ela me ligaria tão cedo. Ainda são 06:30 da
manhã.
— Bom dia, querido! Como você está? Sabia que você
estaria acordado. Seu pai não queria que eu te ligasse tão cedo,
mas gostaria de saber como se sente para o seu primeiro dia de
trabalho. –minha mãe diz assim que atendo, não me dando nem
chance de falar alô.
— Estou bem, mamma. Acabei de sair do banho e vou me
vestir — digo.
— Não se esqueça de tomar um café bem reforçado, meu
filho. Não sei por que voltou para seu antigo apartamento. Estava
tão bem aqui em casa — fala soando preocupada.
— Ele precisava da privacidade dele de volta, amore mio. —
Ouço meu pai falando ao fundo da ligação e minha mãe bufa. Posso
até imaginar ela revirando os olhos para ele.
— Já havia me esquecido como é bom ter meus filhos
debaixo das minhas asas. — Suspira e logo torna a falar — Vou
entrar na justiça para você e seus irmãos voltarem a morar comigo
para sempre — fala sendo aquela mãe coruja e dramática que é.
— Até parece que a italiana da relação é você, amore mio. —
Ouço papai falar.
— Se você precisar de alguma coisa meu filho, me ligue.
Posso voltar a trabalhar sem problema. — diz ignorando o
comentário do meu pai.
— Se você voltar, eu também volto — papà fala e pelo seu
tom de voz imagino que ele esteja sorrindo.
Faz apenas uma semana que mamãe parou de trabalhar, os
dois passarem a viver, enfim, um ritmo de vida mais tranquilo, haja
vista que minha irmã chegará em breve ao Brasil ocupando assim
seu cargo, que agora está sendo administrado por um dos seus sub
chefes de confiança e Matteo assumiu, por fim, o jurídico depois de
ficar nos dois anos em que eu estive fora, no comando da empresa,
já que estava fora de cogitação deixar papai retornar.
— Vou ficar bem, mãe. Não se preocupe. Aproveitem o
tempo de vocês juntos.
— Juro que às vezes me dá vontade de esganar esse
italiano. — brinca, papai caindo na gargalhada ao fundo,
provavelmente rindo de alguma careta exagerada que ela esteja
fazendo.
— Ti amo, mia brasileira. — o italiano apaixonado declara.
Mais alguns minutos e muitas recomendações de dona
Beatriz, finalizo a ligação prometendo que se precisar de algo vou
avisá-la. Minha mãe é brasileira e sempre foi super protetora com
seus filhos, principalmente comigo depois do acidente.
Respondo com um obrigado as mensagens de meus irmãos,
primos, tios e Henrique sobre o quão felizes estão com o meu
retorno, em seguida deposito o aparelho novamente em cima da
mesa de cabeceira.
Após o acidente, mesmo tendo recebido passe livre dos
médicos para voltar ao Brasil, fiquei na Itália por seis meses. Depois
que já não corria mais risco de vida ou infecção, meus pais pediram
minha transferência para São Paulo, mas me neguei, não suportaria
encontrar a família de Carlos sabendo que eu era a pessoa
responsável por sua morte. A imagem dele dentro de um caixão me
assombrou durante muito tempo, ainda que eu não estivesse
presente em seu enterro.
Quando já era inevitável, voltei ao Brasil e fiquei morando por
mais de um ano na casa de meus pais.
Com o impacto do acidente, parte da minha perna direita foi
amputada. Sofri o que a medicina chama de amputação traumática
transtibial, ou seja, não tenho mais parte da minha canela e nem
meu pé direto.
Faz um pouco mais de três meses que decidi voltar a morar
em meu apartamento e retornar para o trabalho, principalmente por
minha mãe, que vivia dividida em se preocupar com a saúde de meu
pai e comigo por estar cada vez mais distante e fechado.
Tenho consciência de que tem sido difícil para eles lidarem
muitas vezes, com meu silêncio, entretanto, não posso deixar que o
sofrimento que causei a outros e até mesmo não ter a pessoa que
por uma vida inteira esteve aqui pra mim, por nossa amizade, fique
para trás e eu prossiga vivendo meu amanhã com toda felicidade
que posso. Não seria justo, não com meu amigo que por estar no
mesmo carro que eu, não está mais aqui desfrutando das alegrias
que a vida poderia lhe dar.
Até mesmo os médicos insistiam para que eu retomasse
minha vida, todavia era difícil demais pensar que a vida que eu
estava acostumado não existirá mais, que eu não me sentia mais o
homem confiante e acima de tudo, que meu melhor amigo não
estava mais aqui.
Durante todo o tempo que passei na casa dos meus pais, as
únicas pessoas que eu aceitava ver eram minha família e mesmo
que às vezes eles pudessem ser um pouco insistentes e me
chateassem, não saberia o que teria feito sem eles.
Quando estava na Itália, era menos difícil suportar a dor, mas
quando cheguei ao Brasil fui atingindo com força por muitas
lembranças… lembranças que antes eram motivos de sorrisos e que
passaram a ser objetos para a minha própria tortura que parecia não
ter fim.
Fiquei hospedado em um dos poucos quartos que há no
térreo e nas primeiras noites desejei ir até o quarto que cresci no
andar de cima, lugar onde passei boa parte da minha vida com
Carlos desde que nos conhecemos, como uma forma de sanar um
pouco a saudade dele.
Até que em uma noite, depois de não conseguir dormir,
encarando o teto por horas, eu fui. Subi as escadas, ainda com
dificuldade em andar com a prótese e ao abrir a porta meus olhos
foram atraídos para o mural pregado na parede, em cima da
escrivaninha no canto direito do cômodo.
Fotos do meu amigo e eu em todas as idades, passando
juntos todas as fases da vida. O primeiro jogo de futebol, nossa
primeira vitória, nossa primeira derrota, a primeira vez que saímos
sozinhos sem nossos pais ou qualquer outro adulto, a primeira vez
que viajamos juntos, quando tiramos nossas carteiras de motoristas,
até mesmo quando fomos assistir a um filme de terror pela primeira
vez no cinema. Assim como eu, Carlos amava filmes de terror.
O sentimento de revolta me tomou, tirei minha prótese,
apoiando-me em minha perna esquerda no batente da porta e com
toda força que consegui, arremessei a peça contra o mural, fazendo
um barulho estrondoso, que só não foi alto o suficiente para abafar o
barulho estridente que ecoava dentro de mim, cada célula minha
tremia em pura agonia desejando que tudo aquilo fosse como nos
filmes que assistimos, apenas ficção… apenas fantasia, uma
fantasia cruel, mas não era, não era… a dor me lavou, me
mostrando mais uma vez que tudo aquilo era real, a minha nova
realidade.
Ali mesmo, na entrada do quarto eu caí no chão, meu corpo
todo tremendo, chorando, soluçando e gritando, desejando voltar no
tempo, desejando não ter tido a ideia daquela viagem.
Foi quando senti mãos me tocando, mãos quentes e
pequenas me tocando nos ombros, me puxando até que eu
estivesse com a cabeça sob o colo de alguém. Não foi preciso
levantar o rosto para identificar quem era, o cheiro familiar e que
nunca mudou me disse quem era. Minha mãe.
Ela me acalentou sem dizer uma única palavra, o silêncio
sendo esmagado pelos sons que minha dor produzia. Sua mão
alisando meus cabelos, seus lábios vez ou outra tocam minha testa.
O acalento necessário para que minha mente não explodisse.
Fiquei assim por um bom tempo, até ouvir a voz grave do
meu pai chamando por mim. Abri os olhos e em silêncio ele estava
lá com sua mão para me ajudar a levantar. Aceitei, e logo meus
olhos miraram Matteo e Henrique atrás dele, seus olhares refletiam
angústia e compaixão. Não fiquei surpreso quando os vi ali, já que
haviam dito que passariam algumas semanas por perto caso eu
precisasse de alguma coisa.
Sentindo-me fraco por ter chorado tanto, não retruquei
quando meu irmão mais novo se aproximou para me carregar em
seus braços e me levar de volta para o quarto de hóspedes.
Também não retruquei quando meus pais trouxeram dois colchões e
os colocaram no chão ali, próximos da cama. Meu irmão e meu
amigo deitaram-se, em um sinal claro de que não haveria conversa,
eles não sairiam do meu lado.
Caminho até o closet, escolhendo um terno três de peças
preto, com blusa branca e uma gravata da cor marsala e é
impossível não me lembrar de meu amigo, da forma como ele
estava vestido naquela noite e de suas palavras.
"A vida é curta demais." Mal ele sabia que a sua era mais do
que ele achava.
— Quanta saudade de você, meu amigo — murmurei
soltando um suspiro pesadamente, sentindo meu peito se apertar.
Tudo à minha volta me faz lembrar dele, tudo ao meu redor
me faz sentir saudade dele. Dos nossos momentos, das nossas
conversas, de seus conselhos, do seu sorriso de menino e de tudo
que podíamos ter vivido se aquele acidente não tivesse acontecido.
Certamente ele seria meu padrinho de casamento quando
finalmente eu encontrasse a mulher da minha vida. Todavia, se
algum dia eu a encontrar, o que duvido muito dentro das minhas
condições atuais, ele não estará lá de pé ao meu lado, no altar.
Passei os primeiros meses após o acidente revivendo cada
segundo daquela noite, cada mísero segundo como se fosse uma
âncora para não ter que enfrentar a realidade que me aguardava na
superfície. Cada vez que as cenas vinham em minha mente, claras
como um farol, a culpa me inundava e eu a desejei por muito tempo.
Desejei a culpa porque acreditava que ela era a minha
punição por estar vivo. Carregá-la comigo se tornou a sentença que
eu mesmo me dei por ter recebido uma segunda chance, chance
que meu amigo não teve.
Essa tortura foi diminuindo ao longo dos dias, conforme eu
via gratidão nos olhos de minha família, mas eu sabia que aquele
sentimento e muitos outros tão ruins quanto, ainda estavam dentro
de mim, encrustados debaixo da pele, aguardando o momento que
eu não serei mais capaz de suporta-los. Eu não estava preparado
para enfrentá-los.
Fecho meus olhos que ardem com a vontade de chorar como
sempre quando penso em tudo que aconteceu há dois anos.
Fico assim por alguns minutos tentando conter, mais uma
vez, toda essa bagunça e puxo a respiração, inspirando e expirando
a fim de impedir que as lágrimas caiam, até que por fim, sinto meu
coração desacelerar gradativamente, tudo se ajustando em seus
pequenos esconderijos dentro de mim.
Visto-me e vou em direção a cozinha, onde está minha
funcionária Rosa. Ela é a responsável por organizar a equipe de
limpeza que vem três vezes na semana me atender, certificando-se
que tudo esteja em ordem durante os dias que eles veem fazer a
manutenção da cobertura.
— Bom dia menino. Preparei seu café da manhã. Sua mãe
pediu para caprichar — diz sorrindo, apontando para o bolo de
cenoura com cobertura de chocolate que tanto amo.
Posso ter nascido na Itália e vivido meus primeiros anos de
vida lá, mas fui criado por uma brasileira e sou rendido por essa
sobremesa desde que minha mãe fez para mim em meu primeiro
aniversário depois que nós nos mudamos para o Brasil.
Rosa é uma senhora baixinha de cinquenta anos, cabelo
naturalmente loiro e curto, com alguns fios grisalhos. Pele branca e
olhos verdes. Com certeza fez sucesso quando mais jovem. É dona
de uma simpatia contagiante. Está comigo desde que saí da casa
dos meus pais e permaneceu nesses últimos anos, até que eu
voltasse para cá.
Ela é casada e tem dois filhos homens. Nunca os conheci,
mas ela sempre fala de sua família com muito amor e carinho.
— Bom dia, Rosa. Obrigado! — digo lhe dando um abraço de
lado e sentando na banqueta da cozinha, enquanto ela me serve
com um pouco de café — Sabe que não precisa fazer isso. Eu
mesmo posso fazer meu café da manhã.
— Eu sei, menino. — Ela sorri docemente — Mas às vezes o
meu trabalho é tão parado quanto os dos trabalhadores que vem
aqui — brinca — Você é organizado demais e raramente faz
bagunça.
— A senhora deseja que eu faça mais bagunça? — Prendo o
riso olhando sua expressão de indignação, enquanto bebo um
pouco de café.
Rosa faz uma careta engraçada e sorri abertamente,
colocando uma mão em meu rosto: — Só estou dizendo que essa
casa é grande demais, silenciosa demais para uma pessoa só.
— Gosto de silêncio — falo uma meia verdade, sabendo
exatamente o que ela quer dizer.
— Sei que sim, mas seria bom chegar aqui e ver algumas
roupas espalhadas pelo sofá. Roupas de mulher — acrescenta
sorrindo maliciosamente para mim.
— O que a senhora está insinuando, hein?
— Que você deveria sair mais, assim pode conhecer uma
boa mulher e fazer dela sua namorada — responde simplesmente
com as mãos agora em sua cintura.
— Não estou à procura de uma namorada. Estou bem
sozinho — digo, uma parte de mim desejando acreditar em minhas
palavras verdadeiramente. Você está bem sozinho, Dante.
— Ninguém fica bem sozinho por muito tempo, querido. —
Ela aperta minha bochecha da mesma forma que minha mãe
costuma fazer — Mais cedo ou mais tarde você verá isso.

Chego ao escritório, desço do carro e agradeço ao motorista,


indo direto ao elevador, dando passos o mais confiante que consigo.
E é impossível não notar a forma como as pessoas me olham
cheias de curiosidade e, de algum modo, consigo notar receio e
pena, mesmo que tentem disfarçar por saber quem sou.
Já faz um tempo que estou adaptado para andar com minha
prótese, mas andar com ela em público é muito desconfortável,
tendo em vista que os olhares ao meu redor me fazem sentir como
se eu não devesse estar aqui e talvez eu não devesse mesmo.
Aperto o botão do último andar, que tem apenas minha sala,
sentindo minhas células se agitarem em ansiedade como se fosse
meu primeiro dia de trabalho, o que de fato é, só que dessa vez
como presidente, e torço para que eu consiga sobreviver a mim
mesmo.
Como se estivesse vivendo um déjà-vú do meu primeiro dia
aqui, chego ao prédio da empresa, depois de ter deixado minha
amiga em seu trabalho. Estaciono o carro e vou até o elevador,
porém, dessa vez aperto o botão do último andar, torcendo para que
meu novo chefe vá com a minha cara.
Ao adentrar em meu mais novo ambiente de trabalho,
caminho até a minha mesa, que é muito parecida com a minha
antiga, contudo, maior e bem mais luxuosa. Começo a repassar os
compromissos do dia, quando ouço um barulho de canetas sendo
jogadas. Olho para o relógio em meu pulso e percebo que ainda é
cedo para que meu chefe tenha chegado. Fui informada de que
Dante, assim com a mãe, é pontual e só chegaria à empresa às
08:00.
Há apenas uma sala neste andar e os únicos que têm acesso
direto, além de mim, são seus pais e seus irmãos. A equipe de
limpeza aparece no final do expediente.
Outro barulho. Só que dessa vez de vidro sendo quebrado.
Com o susto, levantei da cadeira em um rompante com o
coração aos pulos. Como que por extinto em ajudar, corro em
direção a porta da presidência. Não me preocupo em anunciar
minha entrada ou bater antes, abro a porta, sem imaginar que veria
materializado na minha frente, o motivo que me faria querer tanto
morder minha língua pela primeira vez em minha vida.
Pisco meus olhos várias vezes e assim que entro no
escritório, percebo que as luzes estão apagadas e a luminosidade
do ambiente vem toda do sol que está a pino no exterior, entrando
através da grande janela que vai do chão ao teto.
Observo pedaços de vidro espalhados pelo centro da sala e
canetas jogadas em frente a uma mesa grande de mogno e é ali,
que vejo meu novo chefe, sentado, com a cabeça apoiada no
encosto de sua cadeira, que está posicionada de costas para onde
estou. Ele ainda não notou minha presença, parece perdido em
seus próprios pensamentos.
Tento me aproximar silenciosamente, mas falho. Droga de
saltos finos!
Paro onde estou e me adianto em me desculpar.
— Perdoe a minha intromissão, mas ouvi um barulho e
gostaria de saber se está tudo bem, senhor? — falei tentando
parecer o mais calma possível, contudo, por dentro, sinto todo o
meu corpo tremendo.
Ele não se vira para me olhar. Apenas arqueia as costas,
ajusta sua postura e levanta uma mão quando responde. Seu tom
de voz é firme e percebo um pouco de sotaque, igual ao de seu
irmão, Matteo. É quase imperceptível e só consigo notar por falar o
seu idioma natal.
— Seja quem for, saia. Agora! — ordena. E apesar de ser até
um tanto quanto rude ao me dispensar, mesmo sem nem ao menos
olhar para mim, posso sentir uma certa dor na vibração de cada
nota que soa em meio às suas palavras
Estremeço em meu lugar e quando estou prestes a dar meia
volta e sair, ouço um grunhido de dor e o vejo se inclinar para frente
levando as mãos para baixo. O mesmo instinto que me fez entrar e
abrir a porta leva-me a dar passos rápidos em sua direção.
Quando estou à sua frente, vejo suas mãos apertando sua
coxa direita, seus dedos tremem e um grunhido de dor sai de sua
boca. Engulo seco puxando em seguida o ar que faz com que
minhas palavras sejam tão firmes quanto as dele quando me
dispensou.
— Posso ajudar — afirmo, oferecendo mais uma vez.
— Eu disse para você ir embora! — esbraveja ainda de
cabeça baixa e agora sua grosseria fica mais nítida. Ele está com
raiva, ou com dor ou…. por que estou aqui?
Teimosa como sou, tiro meus sapatos e fico de joelhos,
literalmente aos seus pés. Levo minhas mãos até seus braços e dou
um aperto sutil, fazendo-o olhar em meus olhos pela primeira vez e
puta que pariu! Que olhar é esse?
Seus olhos são pequenos, mas suas íris são de um tom
verde-claro que os deixa mais chamativos. É impossível não me
sentir atingida por eles com baque forte.
Por mais que eu já o tenha visto em fotos e vídeos, nada me
preparou para o impacto de seu olhar sobre mim. É intenso demais
me provocando um arrepio de uma extremidade a outra em meu
corpo.
— Han.. desculpa mi-minha insistência, senhor, mas acredito
que posso ajudá-lo — falei e seu cenho se franziu, porém, ele nada
disse, ficou parado ali na minha frente em silêncio apenas me
observando.
Seu olhar transmitia dor, curiosidade e surpresa, com
algumas gotas de suor na testa mesmo com o ar-condicionado
ligado, meu chefe transparecia o quanto estava tenso.
Ficamos assim por longos cinco segundos. Foi o tempo que
contei e esperei sua resposta, mas ela não veio.
Então, decidi pôr em prática o que vi em vídeos que minha
mãe tinha em casa. Ela que era enfermeira de trauma e por isso,
nossa casa vivia cheia de DVDs e livros por todo lado. Eu sempre
fui muito curiosa, até pensava em seguir a mesma carreira que a
dela, porém, sou muito solidária com a dor do outro. Provavelmente
ia chorar junto com o paciente em cada procedimento e é o que
estou com vontade de fazer agora mesmo.
— Eu só quero ajudar — digo com cautela, levando minhas
mãos à barra direita da sua calça social preta, onde suas mãos
descansam.
Quando percebe o que estou prestes a fazer, agarra meus
braços e diz quase gritando:
— Não faça isso! Eu mandei você...
Não permito que ele termine a frase. Ainda com meus braços
presos em seu aperto, levo minhas mãos até o seu rosto e o seguro,
obrigando-o a olhar para mim.
— Eu já entendi que o senhor quer que eu saia, — digo firme
— Se quiser me demitir depois, tudo bem. — Definitivamente não
estará nada bem, mas me recuso a sair sem antes amenizar de
alguma forma a dor que ele está sentindo — Não vou deixá-lo
assim, sentindo dor se sei como acabar com ela. — Meu chefe
arregala os olhos e entreabre os lábios, visivelmente chocado com
minha audácia.
Sinto um formigamento na boca do estômago, mas ignoro,
decidida a continuar antes que ele possa falar mais alguma coisa.
— Eu não vou olhar, caso isso lhe incomode. Vou apenas
fazer uma massagem terapêutica. Prometo — garanto, engolindo
com dificuldade com a intensidade de seu olhar — Minha mãe é
enfermeira, então sei fazer isso. Tudo bem? Eu... eu só quero ajudar
— falei sentindo meu coração bater mais rápido que bateria de
escola de samba.
Ele assentiu, mesmo com os olhos cheios de incerteza.
Largou meus braços e levei suas mãos até o meu rosto para que ele
o segurasse, dando-lhe a certeza de que não iria olhar. Ao entender
o que quero que faça, então assim o faz.
Seu toque é quente em minhas bochechas e me pergunto
como seria suas mãos tocando em outras partes do meu corpo.
Deixa disso, Ana Laura. Foco!
Fecho os olhos por um segundo tentando afastar esses
pensamentos tempestuosos e fogosos.
Concentro-me em levar minhas mãos para dentro da barra
direita da sua calça. Sinto o metal gelado quando vou subindo até
chegar à base de sua prótese. Paro quando sinto a pele de sua
coxa e ele estremece com o meu toque.
Começo a fazer movimentos circulares e leves e penso que
está dando certo, porque momentos depois, ele fecha os olhos e
solta um suspiro de alívio. Continuo até senti-lo mais relaxado,
dando-me a certeza de que seu incômodo foi amenizado, com
cuidado para não deixá-lo à vontade demais, claro.
Ele abre os olhos e consigo ver em seu olhar a dor dando
lugar a dúvida.
Paro, retirando minhas mãos delicadamente de sua calça, as
depositando em meu colo.
Espero ele largar meu rosto, mas ele não o faz. Surpreendendo-me,
ele move sutilmente seus polegares em minhas bochechas em um
carinho que me faz soltar a respiração que eu nem sabia que estava
prendendo.
Por que ele está fazendo isso?
É a pergunta que me faço enquanto observo, seu olhar agora
acompanhando o movimento de seus dedos.
Fecho meus olhos me permitindo aproveitar seu toque e, por
mais estranho que essa situação seja, deixo-me ser levada pelo
momento. Sua respiração faz cócegas nos meus olhos.
Involuntariamente, a sensação me faz sorrir.
— Sua pele é tão macia! — diz em um tom de curiosidade e
admiração, fazendo um arrepio passar pelo meu corpo. Seu leve
sotaque traz uma sensualidade ao seu potente timbre.
Ele continua o carinho e posso sentir sua respiração ficando
próxima. Meus batimentos cardíacos se aceleram ainda mais
quando a ponta de seu polegar alcança meu lábio inferior e nesse
momento agradeço por não estar usando nenhum batom, logo seu
toque se espalha por toda extensão do lábio e respondo
entreabrindo a boca
Seria brega demais dizer que eu nunca senti tanta vontade
de beijar alguém em toda a minha vida?
Ok, seria, mas é a verdade. Lá no fundo, sei que é errado.
Sei que eu disse que jamais ficaria com os filhos dos meus chefes
por mais atraentes e lindos que fossem.
Eu nem conheço esse homem direito. Não sei nada de
concreto sobre ele ou sua vida, a não ser o que contam nas mídias
e o que sua mãe compartilhou comigo em nossas conversas.
Não sei nem se tem namorada e é esse pensamento que me faz
decidir encerrar o momento.
Abro os olhos encontrando os seus que miram em minha
boca. No instante que faço menção que vou levantar, ele entende,
soltando meu rosto e se endireitando em sua cadeira, visivelmente
nervoso.
Passo a mão na saia do meu vestido, calço meus saltos e
dou uma tosse tentando disfarçar minha tensão antes de falar:
— Espero que o senhor esteja melhor.
— Sim, estou. Obrigado e me desculpe por... — ele tenta
continuar, mas assim como eu, não consegue encontrar palavras
para o que acabou de acontecer.
— Não se preocupe. Está tudo bem — me adianto antes que
o clima fique mais estranho do que já está — A propósito, sou Ana
Laura, sua assistente pessoal. É um prazer finalmente conhecê-lo.
— Prazer, senhorita — ele diz simplesmente em um tom
seco, que notoriamente usa para manter a distância que o ambiente
profissional pede.
— Que bom que decidiu retornar ao trabalho. Sua mãe
sempre fala de você e de seus irmãos. Sempre coisas muito boas,
devo acrescentar — falo com o tom mais profissional e simpático
que consigo.
Inicio minha caminhada fora dali e quando já estou na frente
da sua mesa, comenta:
— Ela fala muitas coisas de você também, o quanto é uma
ótima funcionária. — Aproxima a cadeira de sua mesa e diz ainda
sem olhar para mim, focando em seu notebook.
Melhor assim. Penso.
— Caso o senhor não se importe, vou voltar ao meu trabalho.
Posso lhe ajudar com mais alguma coisa?
Por que caralhos eu falei isso?
Que ele não pense que eu estou me oferecendo. Por Deus!
Ele fingi uma tosse seca, balançando a cabeça em negação e
responde:
— Hum... não. Pode se retirar, Ana — pausa, levanta a
cabeça, e só então me olha com aqueles olhos que a pouco
estavam a centímetros dos meus — Novamente, obrigado por… —
aponta na direção de sua perna — Obrigado por tudo.
— Por nada senhor. Vou pedir para alguém vir limpar sua
sala — digo, já caminhando meio correndo em direção a porta,
desejando fugir dali o quanto antes.
Chego à minha mesa. Apoio a cabeça nas mãos e respiro
tentando acalmar meu coração.
O que acabou de acontecer?
Assim que cheguei em meu escritório, senti umas pontadas
leves na minha coxa direita. Isso acontece mais vezes do que eu
gostaria.
Comecei a fazer massagem, como meu fisioterapeuta me
ensinou. Ele havia me dito que essas dores eram comuns em
pessoas que sofreram amputação.
Eram conhecidas como dores fantasmas e ocorriam devido
aos estímulos que o cérebro detectava por meio dos neurônios, os
enviando por todo organismo. Elas variam entre formigamentos no
coto — a parte que restou do membro, no meu caso da perna — e
leves fisgadas, como minutos atrás, e na maioria das vezes
diminuem com a massagem.
Porém, desta vez não estava surtindo efeito. De leves, elas
começaram a se tornar mais intensas e isso estava começando a
me estressar.
O dia mal havia se iniciado e tudo já estava dando errado.
Droga!
Bati na minha mesa com o punho fechado, o que fez meu
porta-canetas cair, espalhando tudo que tinha dentro dele pelo chão.
Passei minhas mãos pelo cabelo e tentei relaxar, apoiando
minha cabeça no encosto da cadeira com os olhos fechados.
Inspirei e expirei, tentando me acalmar e torcendo para que a dor
passasse logo.
Minha vida havia mudado drasticamente e não tenho mais
esperança de que um dia eu volte a ser o homem que era.
Eu deveria ser grato por estar vivo. Grato por ter nascido de
novo, mas como?
Como posso ser grato se eu me sinto tão culpado pela morte
de Carlos.
Sinto-me incompleto, totalmente incapaz e indigno de estar
respirando.
Há dois anos não durmo direito, tenho pesadelos quase todas
as noites e são sempre os mesmos.
Cenas do acidente.
O dia que recebi a notícia da morte de Carlos, os gritos de
sua mãe nunca me deixando.
O momento em que arranquei o lençol das minhas pernas.
Apertei fortemente meus olhos na tentativa de arrancar da
cabeça tudo que aconteceu.
Em vão. Merda!
Peguei um copo de vidro que estava em minha mesa, o
jogando mais forte que consegui, vendo-o se quebrar na parede a
minha frente espalhando pedaços por toda a sala.
Segundos depois, ouvi barulho de saltos. Pensei que
estivesse sozinho no andar, mas estava errado.
Quando minha assistente entrou em minha sala e ficou
sentada de joelhos à minha frente, fui pego completamente de
surpresa quando meu coração começou a bater forte demais, minha
respiração ficou desregulada e não consegui afastá-la. A razão dizia
que eu devia mantê-la bem longe, mas uma necessidade, estranha
e desconhecida, me fez a querer por perto, sentir o toque de sua
pele.
Por um segundo, quando nossos olhares se encontraram,
esqueci a dor, por um segundo esqueci tudo e me perdi naqueles
belos olhos azuis como o céu.
Ana Laura tem uma pele levemente bronzeada, boca carnuda
e rosada, seu rosto é delicado contrastando com suas íris azul
brilhante, com uma pitada de selvageria, cabelos lisos da cor
castanho-escuro, quase preto, que iam até um pouco abaixo da
linha dos seus seios.
Nesses dois últimos anos, não estive com nenhuma mulher.
Matteo até tentou, inúmeras vezes me levar para sair ou marcar
encontros, mas neguei a todos. Tinha medo do que as mulheres
pensariam ao me ver sem roupa e quando entendi o que Ana queria
fazer, tive medo, uma certa agonia me bateu só por imaginar que ela
poderia me olhar com pena ou que pudesse sentir repulsa caso
visse minha prótese.
Eu até tentei repreendê-la, mas me surpreendendo, ela não
se importou com o meu tom de voz áspero e muito menos se
importou por eu ser seu chefe. Ela queria ajudar. Ela queria me
ajudar!
Segurando seu rosto em minhas mãos, vi vários sentimentos
em seu olhar.
Compaixão, determinação, surpresa, admiração.
Menos pena. Sua ousadia pareceu despertar algo em mim
que eu não sabia explicar o que era.
Quando suas mãos encontraram minha pele, senti um arrepio
passar por todo meu corpo. Não sei se era a massagem ou apenas
por tê-la ali, uma mulher linda me tocando e dando leves apertões
em minha coxa, suspirei de alívio relaxando quase que
imediatamente.
Pouco tempo depois, senti que suas mãos já tinham me
abandonado, encontrei seu olhar e não consegui soltá-la. Não
queria soltá-la. O carinho que fiz em seu rosto acendeu um querer
em mim que há um bom tempo não sentia.
Ela fechou os olhos, se rendendo ao meu toque, parecendo
tão curiosa e confusa quanto eu. Entreabriu os lábios e não me
contive em passar meus dedos neles. Eram tão macios. Por um
segundo a mais, eu não teria me controlado.
Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ela interrompeu o
momento.
Vi em seu olhar constrangimento, frustração e um leve sinal de
arrependimento.
Quando ela se levantou, não consegui olhar para ela, porque
agora quem estava com vergonha era eu.
Ela é minha funcionária, funcionária essa que acabei de
conhecer e sou seu novo chefe. Pela forma como ela saiu, deve
pensar que sou um tarado, que não respeito o ambiente de trabalho,
que flerto com todas e uso minha condição para me aproveitar das
mulheres.
Eu nunca fiquei com ninguém que trabalhasse junto comigo,
justamente para evitar situações constrangedoras e também não
flertava, como o cara-de-pau do meu irmão.
Segundo minha mãe, Ana é uma excelente funcionária além
de ser uma ótima pessoa. Animada, prestativa e atenciosa. Depois
de ouvir tantos elogios, foi impossível não concordar com dona
Beatriz quando me propôs que fosse minha nova assistente.
Todavia, não imaginei que ao vê-la, sentiria uma atração tão
intensa que me faria perder completamente a razão, uma atração
quase que avassaladora que foi capaz de deixar todas as minhas
células em alerta e, ao mesmo tempo parecia que eu estava fora de
mim, meus olhos obcecados pela sua beleza. Minhas mãos
necessitando sentir sua pele. Eu ardia por seu toque.
Ainda podia sentir meu polegar formigando, a textura de seus
lábios gravada alí. Só quando ela saiu, consegui respirar direito.
Porra! O que acabou de acontecer?
Eu não fazia ideia do porquê reagi a ela dessa forma, mas
sabia que eu precisava me controlar. Não posso deixar isso
acontecer novamente.
O dia se passou tranquilamente, haja vista o acontecido entre
meu chefe e eu, na verdade.
Ele não saiu de sua sala em momento algum, fora para ir ao
auditório no terceiro andar, logo pela manhã onde todos os
funcionários da empresa esperavam ansiosamente para finalmente
ouvirem as primeiras palavras do mais novo presidente.
Sua mãe havia comentado comigo que Dante não gostaria de
nada que fosse grandioso, apenas todos reunidos ouvindo-o falar
por alguns minutos e assim aconteceu.
Suas palavras foram curtas, diretas e precisas. Todavia,
estranhei o fato dele querer ser o primeiro a estar no lugar,
dispensando ser anunciado ou qualquer tipo de apresentação inicial.
Assim que chegou ao auditório, ficou em pé atrás do púlpito de
mogno, esperando todos tomarem o seu lugar, parecendo um pouco
incomodado e impaciente, e quando finalmente terminou seu breve
discurso, após a sequência de palmas puxada por seu irmão
Matteo, permaneceu estancado no lugar até que só restassem nós
dois, e por fim voltamos ao nosso andar, lado a lado, no mais
completo silêncio.
Quando foi a hora do almoço, Dante me informou que iria
almoçar em sua sala e nas poucas vezes que o vi, não me contive
em admirar o quão lindo ele é, embora exista uma partezinha de
mim me dizendo que isso não é certo.
Mesmo com prótese, seu andar emanava puro poder e
sensualidade.
Seus lindos olhos verdes, sua barba por fazer espalhada pelo seu
maxilar quadrado, deixavam seu rosto ainda mais atraente, assim
como seu cabelo castanho-escuro em um corte social, estilo
executivo.
Porra… e aquele corpo no terno de três peças feito sob
medida, que abraçavam seus músculos de um jeito delicioso? E
aquela bunda?
Ok, eu nunca, nunca mesmo reparei em bunda de homem.
Talvez porque nunca uma tenha me chamado tanta a atenção,
porém a bunda do meu chefe naquela calça social levemente
apertada, ficava um pecado de tão sexy e elegante. Era impossível
não ter meus olhos atraídos para aquela região. A tarada que habita
em mim, ficou com vontade de apertar, arranhar e morder aqueles
dois montes só para saber se são tão duros quanto aparentava.
Dante Fontana é de longe o homem mais lindo que eu já vi e
se não fosse meu chefe, com certeza eu o agarraria.
Jamais me relacionei com alguém que trabalhasse comigo,
sempre soube muito bem me portar no ambiente de trabalho. Isso
só ficou ainda mais forte em minha mente depois do que passei em
meu ex emprego, com o senhor Arnaldo e sua nova namorada
metida e arrogante.
Sei que hoje em dia as empresas estão cada vez mais
modernas e muitas não se importam com relacionamentos íntimos
entre os funcionários, desde que seja mútuo, obviamente e discreto,
o La Fontana era um ótimo exemplo disso.
Todavia, depois de ficar babando no meu chefe durante as
últimas horas, penso que o motivo para todo esse meu fogo seja
apenas a falta de sexo, já que faz tempo desde a última vez que
transei e que tive um orgasmo descente. Foi com um carinha que
conheci em um dos happy hour que os funcionários sempre
costumavam fazer às sextas à noite, em um bar próximo a empresa.
A conversa que tivemos foi boa, ele era gentil e atencioso a
cada coisa que eu contava sobre mim, tinha uma aparência que
com certeza pararia o trânsito com seu cabelo preto em um corte
social, ombros largos e olhos castanhos, o que me fez pensar que
sem roupas ele seria ainda mais bonito. Certamente, comprovei isso
horas mais tarde, assim que chegamos a sua casa. Eu estava louca
para ter uma boa noite de sexo e cada célula minha estava gritando
para ser saciada, o que não aconteceu, infelizmente.
Ele gemia de um jeito estranho, não se dedicou o tempo certo
nas preliminares e fiquei com a impressão de que não sabia onde o
clitóris ficava. O único lado bom dessa noite foi que ela acabou.
Desde então, não tive mais encontros ou casinhos de uma noite, o
que não era comum para mim.
Faltando menos de dez minutos para o fim do expediente,
comecei a arrumar minhas coisas e desligar meu computador,
procurando pensar apenas no conforto da minha cama. Quando
estou prestes a me levantar para ir ao elevador, a porta atrás de
mim se abre e na mesma hora, todo o meu corpo fica em alerta,
reagindo de um jeito abrupto que chega até a ser violento, me
surpreendendo.
Viro-me, tentando parecer o mais natural que consigo, agir
como se nada tivesse acontecido, ainda que o calor que sinto no
meio das pernas me mostre o contrário.
— Já estou indo senhor — antecipo-me em dizer enquanto
ele caminha na minha direção, com sua fachada obstinada e
belíssima. Como pode alguém ser tão lindo assim? — Todos os
seus compromissos de amanhã já estão confirmados e toda
papelada necessária para a reunião com os fornecedores, já está
impressa como solicitado. — informo.
— O jantar com o arquiteto Alan para o projeto do novo
restaurante já foi confirmado? — perguntou, evitando me olhar nos
olhos ou talvez seja apenas impressão minha.
— Sim senhor. Será às 19:45, no restaurante do hotel de sua
família, onde ele está hospedado, em algumas semanas — respondi
usando meu tom profissional — Enviei um e-mail que foi respondido
com a confirmação.
— Ok — diz inquieto, mexendo seus braços ao lado do corpo,
seus olhos parecendo olhar tudo atrás de mim.
— Precisa de mais alguma coisa? — indaguei dando um
passo à frente o que faz seu olhar parar no meu por um segundo,
mas logo se afasta quando responde minha pergunta, forçando uma
tosse antes.
— Nada mais.
Ponderei por alguns segundos, mas anui.
— Tudo bem. — Virei-me para terminar de arrumar minhas
coisas, colocando meus pertences dentro de minha bolsa, mas paro
quando sinto a ponta de dedos tocando meu ombro. O toque é sutil,
mas sinto minha pele esquentar ainda mais.
— Senhorita Moraes — Dante me chama com sua voz
receosa e viro meu rosto para olhá-lo.
— Sim?
— Eu… hum… eu gos… — ele está nitidamente nervoso.
Mexe em sua gravata e vejo quando ele puxar o ar com força e volta
a falar soltando as palavras rapidamente — Gostaria de agradecer
pelo que fez hoje pela manhã. Realmente me ajudou.
Sorrio de lado me sentindo bem com seu agradecimento,
deixando de lado o incômodo em meu estômago.
— Sinto muito pela… pela cena que causei — acrescentou.
— Está tudo bem — antecipo-me em dizer, dando-lhe um
sorriso — Espero que esteja realmente melhor agora — falo com
sinceridade.
— Estou. — Espero que fale mais alguma coisa e quando o
silêncio nos rodeia, noto que o assunto se deu por encerrado —
Vamos? — Ele aponta para frente e anuo, pegando minha bolsa de
cima da mesa caminhando até o elevador em sua frente.
Sinto um calor nas minhas costas conforme ando e faço de
tudo para não tropeçar sobre os saltos. Quando chego à porta do
elevador, olho sobre os ombros e vejo seu olhar sobre meu corpo,
mas especificamente em minha bunda. Estava certa que o
encontraria nessa direção.
Mordo o interior de minhas bochechas prendendo o riso com
o quanto isso é irônico, lembrando que passei as últimas horas o
admirando, especialmente contemplando a mesma área que ele
parece notar em mim neste exato momento.
Dante nem sai do lugar e juro que parece que está babando
com a boca aberta.
— O senhor não vem? — pergunto, fingindo não perceber
sua encarada.
— Sim, claro. — Raspou a garganta ao balançar a cabeça e
começar a caminhar até meu lado.
Aperto o botão e quando a porta se abre para nós, entramos.
Ele está em uma extremidade do elevador e eu na outra. Sozinhos
aqui, peço aos céus para que chegue logo na garagem. Permito-me
olhá-lo e ele está concentrado no painel lendo os números que
aparecem à nossa frente.
Observo seus braços largos cheios de músculos cruzados
sobre seu peito e como seu terno de três peças o abraça
perfeitamente; seu cabelo é do tamanho ideal, bom de puxar e sua
boca grita para ser beijada. Minha língua saliva para lamber seu
pescoço, enterrar meu rosto ali e sentir seu cheiro.
Com certeza, se eu tivesse o encontrado em uma festa, já
teria tomado uma atitude.
Sou afastada de meus devaneios de tarada, quando o
barulho do elevador sinaliza que chegamos ao nosso destino. Ajeito
a alça da minha bolsa que está em meu ombro e passo as mãos
suadas na lateral do meu corpo. Nem tinha notado o quão nervosa
estava.
Saímos e meu chefe acena para mim, caminhando na
direção oposta a minha, onde seu motorista o espera.
— Boa noite. Até amanhã!
— Boa noite, senhor!
Caminho até o carro torcendo para que eu consiga ser mais
forte que esse desejo. Trabalhar pensando e querendo o corpo do
seu chefe, não é algo fácil. Eu preciso desse emprego e acima de
tudo, eu gosto dele. Não quero correr o risco de perdê-lo porque não
consigo conter o meu fogo no cú que a tarada em mim possui.
Argh, droga! Meu chefe não podia ser igual aos que vemos
na televisão: baixinho, careca e com uma barriga saliente? Não, ele
tinha que ser gostoso para um caralho. Ótimo!

— Como foi seu primeiro dia de trabalho com seu mais novo
chefe? — Bárbara perguntou assim que sai do meu quarto após o
longo e gelado banho que tomei assim que cheguei em casa.
— Tenso — falo simplesmente me sentando na cadeira ao
lado da sua.
Minha amiga e parceira de apartamento para o garfo que
enrolava o macarrão e me olha, inclinando a cabeça levemente para
o lado.
— Ele não é como a mãe? — investiga — Pensei que todos
os Fontana eram gente boa. Nos últimos dois anos trabalhando com
eles você sempre disse que era seu trabalho dos sonhos por conta
dos patrões maravilhosos.
— É meu trabalho dos sonhos — afirmei — O salário é ótimo,
a empresa é perfeita — solto um suspiro antes de continuar — e
para um primeiro dia, Dante foi um ótimo chefe.
— Mas…?
— Ele é lindo demais e sem dúvida alguma é o meu tipo —
soltei, omitindo a parte em que eu fiz massagem em sua coxa e
tivemos um breve momento, se é que posso chamar aquela
situação de “momento”.
— Hum, atraída pelo chefe, hein? — Mexe suas
sobrancelhas sugestivamente. — Amo histórias de amor clichês.
— Isso não é uma história de amor, doida — falei o que a faz
rir — É a história de uma mulher tarada demais que não consegue
se controlar quando vê um homem gostoso pra caramba.
— Ele é tudo isso mesmo? — perguntou curiosa.
Desde que comecei a trabalhar para os Fontana, Bárbara só
viu minha, agora ex-chefe, poucas vezes quando era a vez dela com
o nosso carro e marcamos de almoçar, sem dar muita importância
em pesquisar mais sobre dona Beatriz e sua família, mesmo quando
mostrei algumas fotos que achei na internet e contava algo sobre o
quanto Matteo, seu filho mais novo e seu melhor amigo Henrique,
eram lindos em um nível muito acima da média.
Parando para pensar agora, com certeza ela devia estar
entretida demais com algum de seus muitos livros. Às vezes,
quando estava imersa em uma leitura nova, parecia que Bárbara
tinha sido abduzida de tão desligada que ficava do mundo ao seu
redor.
— Você não faz ideia, amiga — comento, lembrando-me do
quanto o terno de três peças o favorece — Mais lindo do que por
foto e gostoso para um caralho, que chega a ser obsceno alguém
ser tão atraente daquele jeito. Sério, o homem mais sexy que esses
olhos, — aponto para meu rosto — já viram. Sem exageros.
— Nossa! — exclamou chocada com minhas palavras.
— Exatamente. — pisco para ela — Você sabe que eu evito
ficar com caras que trabalham comigo por tudo que passei no meu
antigo trabalho. Mas nunca vi um homem tão… tão…
— Gostoso? — sugere prendendo o riso e eu aceno rindo de
mim mesma — E se ele não fosse seu chefe, o que você faria? —
ela pergunta e não preciso de muito tempo para pensar na resposta.
— Se ele não fosse meu chefe com certeza já teria tomado a
iniciativa e depois pensaria nas consequências. — Dou de ombros.
— Então por que não toma? Você nunca foi do tipo contida,
que espera um homem vir até você.
— Porque ele é meu chefe, ora. Não posso dar em cima do
meu chefe, Bárbara.
— Por que não?
— Não é óbvio? — indago alçando uma sobrancelha para ela
— Dou em cima do homem e ele pode reagir de duas maneiras,
aceitando a investida, íamos nos divertir um pouco e depois muito
provavelmente ele me dispensaria, o clima entre nós no trabalho
passaria a ser péssimo. Ou — levanto um dedo — ele me daria um
fora logo de cara e me demitiria por mau comportamento no
ambiente de trabalho, ou pior, por assédio. Sem contar com o fato
de ficar conhecida por ir pra cama com alguém para tirar proveito
profissional — falo sentindo um nó na garganta só de imaginar —
Nenhuma das opções são favoráveis para mim.
— Ou vocês poderiam se apaixonar — diz, sonhadora.
— Você anda lendo muitos livros de romance — digo rindo de
sua expressão — Às vezes parece que você vive em um mundo
paralelo.
— Fato. Os livros me fazem viver em muitos lugares ao
mesmo tempo, inclusive naqueles que eu mesmo crio, para melhor
atender as expectativas da minha mente. Já perdi as contas dos
rumos que eles me fizeram tomar — encerra sua fala com um
suspiro de quem anda sonhando acordada.
Minha amiga é viciada em livros de romance, me arrisco a
dizer que ela passa mais tempo lendo do que fazendo qualquer
outra coisa.
— Então, — volta a focar em mim — se já decidiu que não
vai fazer nada com essa atração que sentiu por ele, o que vai
acontecer agora?
— Vou agir com profissionalismo e fazer o que fui contratada
para fazer. Ser sua assistente, apenas isso.
— A sua tarada interior vai conseguir se comportar? — ela
alça uma sobrancelha em desafio para mim.
— Ela vai ter que se comportar.

Os dias seguintes de trabalho com meu novo — e atraente —


chefe foram mais tranquilos. Não houve dor, assim o meu lado
intrometido não precisou socorrê-lo ou tocá-lo novamente, não nos
aproximamos além do contato profissional e apesar de ficar com
receio do clima entre nós ficar tenso pela forma que nos
conhecemos, parecia que nada tinha acontecido, que eu não o tinha
tocado de um jeito íntimo, que foi tudo criado pela minha
imaginação.
Uma parte em mim estava tranquila com isso, em saber que
Dante não me trataria diferente ou me olharia com outros olhos, mas
a outra, a tarada, estava inquieta, querendo tocá-lo novamente,
querendo tudo que fugia das regras que o ambiente de trabalho
implantava.
— Senhor, seu compromisso das nove acabou de chegar —
Ana me informou pelo viva voz do telefone em meu escritório.
Comemorei mentalmente por isso. Nos últimos dias, quase
todas as reuniões que tive não começaram no horário e atrasos
definitivamente não são um começo satisfatório para uma boa
impressão.
Aprendi desde cedo com meus pais que o primeiro quesito
para se ter sucesso no trabalho era a pontualidade. Eu prezava por
ela, principalmente para criar uma boa primeira impressão.
— Por favor, leve-os para a sala de reunião. Já estou indo —
pedi.
— Tudo bem, senhor. Como desejar.
A ligação é finalizada e trato de terminar o e-mail que estava
digitando há pouco para a contabilidade, enviando-o em seguida e
logo reúno os papéis que irei precisar para o compromisso de agora.
Conforme trabalhava, tudo que aprendi se mostrou ainda vivo
em minha mente e assim como meu pai criou e fez seu nome à sua
maneira, deixando claro a forma como gerenciava os negócios, eu
pretendia fazer o mesmo. Na verdade, planejo fazer ainda mais
Não sabia quanta falta sentia de me dedicar ao que preparei
durante toda uma vida, até voltar a empresa, a paixão que sinto em
exercer a função de presidente me faz esquecer toda a escuridão
que ainda habita dentro de mim, pelo menos quando estou
trabalhando.
A sala de reuniões do meu andar é a maior do prédio, ficando
no centro do lugar. Todas as paredes são de vidros dando a
impressão que estamos em um aquário. As cadeiras ao redor da
grande e larga mesa oval, já estão quase todas ocupadas quando
me aproximo da porta, vendo todos ali. Matteo sendo do jurídico
também está presente, sorrindo para todos com seu jeito leve e
descontraído de sempre.
Tento me concentrar em andar a medida que me aproximo da
porta, mas por um momento quase tropeço quando meus olhos se
fixam em minha linda — e inalcançável — assistente, que conversa
educadamente com um homem que reconheço ser o responsável do
grupo, havia feito uma rápida videochamada com ele, onde
marcamos tal apresentação. Recupero-me rápido adentrando no
ambiente, ainda encarando os dois.
Quando a vi mais cedo, percebi que seria mais um dia difícil
como os que se sucederam depois que nos conhecemos. É
impossível não me sentir atraído por sua beleza. Hoje ela está
usando uma saia justa com a blusa branca de seda e o batom
vermelho em seus lábios cheios que a deixavam ainda mais
atraente do que o habitual.
O tal sujeito toca no braço de Ana Laura enquanto fala algo
que a faz sorrir. A cena me causa uma queimação estranha em meu
estômago que nunca senti antes, fazendo-me parar subitamente há
alguns passos de onde eles estão, meus olhos se apertando no
local onde a mão do homem a está tocando. Queria torcer aqueles
dedos.
Alguém tossindo ao meu lado me chama a atenção. Então,
viro meu rosto para ver Matteo sentado ao lado de minha enorme
cadeira na ponta da mesa, suas sobrancelhas se movendo de um
jeito estranho como se ele estivesse tentando me dar um sermão.
Confuso, o fito, executando um movimento discreto com as mãos
como de quem procura saber se há algum problema.
Meu irmão mais novo solta sua famosa risadinha baixa e
acena com a cabeça dizendo “esquece”. Reviro os olhos para ele e,
não desejando perder tempo com suas gracinhas, caminho até meu
lugar, jogando com um pouco mais de força a pasta em minhas
mãos, a queimação ainda presente em meu estômago.
O barulho faz todos os presentes olharem em minha direção,
alguns assustados, outros com uma expressão de admiração, como
se estivessem vendo seu cantor favorito.
Minha assistente sorri sem mostrar os dentes para o
indivíduo cheio de dedos e toma seu lugar ao meu lado esquerdo de
frente para Matteo, passa as mãos em sua saia e ajeita a agenda
que sempre tem nas mãos para esses momentos. O homem, que a
pouco a tocava, alinha seu terno e se aproxima de mim, sorrindo e,
por algum motivo, o sorriso dele me irrita, fazendo o incômodo
aumentar.
— Sou William. É uma honra conhecê-lo pessoalmente,
senhor Fontana — diz estendendo a mão.
Aceito o aperto educadamente, desabotoando meu paletó e
dando-lhe um aceno quando se afasta. Sento-me, cruzando as
mãos na altura da barriga ao dizer simplesmente, com a voz um
pouco mais dura do que planejei:
— Podemos começar?

À medida que a apresentação avançava eu fazia de tudo


para prestar atenção a cada palavra que era dita pelo homem de
óculos quadrados, terno marrom e voz um pouco fina demais a
minha frente, suas mãos se mexiam sem parar demonstrando o
quão nervoso ele estava. A julgar pelo suor que eu conseguia notar
escorrendo em sua testa, ainda que o ar-condicionado estivesse
ligado, posso afirmar que era a sua primeira vez à frente de algo tão
importante para a empresa a qual ele trabalha.
Contudo, é quase que impossível não me distrair com o
babaca do seu chefe babando feito um cachorro velho em minha
assistente. O idiota não fazia nenhum esforço para ocultar, até
Matteo, que está ao meu lado, resmunga baixo um palavrão em
italiano, incomodado com a postura dele, assim como eu, aquilo é
completamente inapropriado para um ambiente corporativo.
Toda minha família tem um carinho especial por Ana e, claro,
eu também, por ter ajudado meus pais quando mais precisavam e
talvez essa era a razão para a queimação na boca do estômago que
estava sentindo desde que o vi tão próximo a ela quando entrei na
sala.
Ana Laura mantem a postura profissional, retribuindo
algumas vezes o olhar do babaca de um jeito educado e simpático,
um sorriso singelo e um leve aceno de cabeça, nada mais.
Quando a apresentação acaba, afasto meu olhar da mulher à
minha esquerda, que fez algumas anotações, e viro meu rosto para
varrer meus olhos por todos a mesa até parar no bastardo que
espera ansiosamente por minha resposta.
Semicerrei meus olhos para ele, pensando em cada palavra
que pretendia falar.
A apresentação não foi de todo mal, eles realmente possuem
uma visão diferente de marketing se comparada a de empresas
mais antigas, contudo, a postura que William teve durante os últimos
minutos me fez pensar como ele seria enquanto líder. Babar na
assistente do seu futuro parceiro de negócios com toda certeza está
fora de cogitação na minha definição de bom. E isso nada tem a ver
comigo e sim com a profissional que notoriamente está incomodada
com o assédio, mesmo que não verbal.
Quando os dispensei, o homem parecia prestes a fazer uma
cena, seu rosto assumiu uma cor de vermelho intenso, visivelmente
ofendido com minha resposta negativa e ainda teve a cara-de-pau
de se dirigir novamente a Ana Laura pedindo a ela que o
acompanhasse até o elevador.
Isso me deixou tão surpreso e possesso, que fechei meus
punhos com força, pronto para falar algo, contudo, Matteo se
intrometeu parecendo notar meu incômodo e com seu sorriso cínico
se ofereceu dizendo que faria as honras. Mio fratello è intelligente!
Assim que o degenerado e sua equipe saiu, dispensei Ana
para o almoço.
Agora, apenas meu irmão e eu estávamos na enorme sala de
reunião, analisando um dos contratos de nossos fornecedores.
— Eu já revisei esse contrato, fratello. Assine logo isso, Per
Dio — diz impaciente.
— Você sabe que gosto de fazer as coisas com calma, ainda
que seja um contrato padrão. Matteo — falo lendo os papéis que há
em cima da mesa.
— Sou seu diretor jurídico. Não confia em mim, porra? —
Levantei meu olhar para vê-lo fazer uma expressão exagerada de
ofendido, com uma de suas mãos indo para o seu peito.
— É minha função analisar o seu trabalho — declaro o
fazendo bufar e revirar os olhos.
Alguns minutos depois, para alívio do homem ao meu lado,
assinei por fim o contrato depois de verificar que tudo estava de
acordo.
— Eu disse. Sou foda pra caralho no que faço — Matteo falou
convencido.
— Eu devia diminuir o seu salário — comentei.
Levanto-me, tirando meu paletó, o posicionando em cima da
cadeira antes de ir até o frigobar que há no canto da sala.
— Se fizer isso, vou ligar para mamma.
— Bebezão — brinco.
Pego uma garrafa de água, abro-a e distraidamente olhando
para meu irmão que faz uma careta engraçada para mim, acabo
derramando água em minha blusa branca, que acabou ficando um
pouco transparente demais em contato com o líquido.
— Merda! — praguejo deixando a garrafa em cima de um
aparador próximo.
— Depois o bebezão sou eu. — Matteo ri conforme me
aproximo dele — Ainda bem que não molhou suas calças senão
você ia ser conhecido como o CEO mijão.
— Engraçadinho.
As persianas ainda estão fechadas desde que a
apresentação havia começado, por isso não vejo Ana se
aproximando da sala e só noto sua presença quando a porta é
aberta.
— Desculpem. Esqueci… — começa a falar, mas logo fica
em silêncio quando seu olhar encontra o meu que logo desce para o
tecido branco molhado e colado em meu tórax.
Seus olhos se arregalaram e minha pele esquentou, como
quando nos conhecemos.
— Meu Deu… — começa a falar, mas não termina a palavra,
tropeçando em seus saltos, caindo de bunda no chão — Droga! —
exclama com uma expressão de dor.
Tomei um susto, mas logo tratei de ir até ela.
— Você está bem? — procurei saber.
— Sim — responde, ajeitando alguns fios de seu cabelo que
acabaram por se espalhar na frente de seu lindo rosto.
— Vem, ajudo você — ofereço e ela aceita, segurando em
meus ombros.
Envolvo meu braço em sua cintura a puxando para cima até
que esteja de pé, seus olhos encontrando os meus depois de alguns
segundos.
— Você está bem mesmo? — pergunto novamente — Parece
um pouco pálida. — Com minha mão livre toco em sua bochecha,
verdadeiramente preocupado que ela possa ter se machucado.
— Estou — Ana responde rápido, afastando-se subitamente
de mim, sua voz sai um pouco aguda e alta — Só estou com… fo-
fome. — Passa a mão de um jeito meio desengonçado em seu peito
— Isso, estou com muita… — Engole a seco antes de completar,
seus olhos encontrando os meus — … fome. Estou com fome,
senhor.
A risada de meu irmão nos chama atenção e viramos em
sincronia para ver o maluco rindo do jeito Matteo de ser, a ponto de
segurar a barriga e jogar a cabeça para trás no encosto da cadeira
onde está sentado.
— Está rindo de mim? — minha assistente perguntou
semicerrando os olhos para ele, em uma expressão de brava que é
fofa. Mordo o interior de minhas bochechas a fim de prender a
vontade de rir que me abateu.
Ana Laura é a pessoa mais baixinha que conheço e mesmo
se ela quisesse, penso que jamais seria capaz de assustar alguém,
ainda que estivesse visivelmente com raiva, como agora.
— Também — ele responde sem fôlego, tomando um tempo
para finalmente se acalmar e completar — Eu estava rindo de você
e do meu irmão e do quanto são desastrados.
— Não sou desastrada — rebate — Só me distrai com o se…
— Ana força uma tosse antes de continuar — Eu me distraí com os
meus saltos. São novos e mais altos do que estou acostumada a
usar. — Olha para os pés enquanto fala.
— Saltos. Claro, Ana Laura — Matteo diz com seus lábios se
repuxando para o lado.
— Não ligue para Matteo — falo, ajeitando minha postura,
dando uma olhada na bagunça que está minha camisa.
— Já liguei para o restaurante, senhor. Eles… hum… eles
entregarão o seu almoço em alguns minutos. Estará em sua sala
como havia pedido quando… quando chegou a empresa —
comunica parecendo um pouco tensa.
Subo meu olhar e encontro o seu ainda mais brilhante,
encarando-me com uma certa expectativa.
— Obrigado. Você está mesmo bem? Não se machucou? —
verifico.
— Estou. — Ela anui — Quer que eu pegue uma de suas
camisas reservas… que estão no banheiro de sua sala? — oferece.
— Não se preocupe. Eu mesmo faço isso. Pode ir almoçar.
— Ok, só vou pegar minha… minha agenda que esqueci em
ci…
— Essa aqui? — Matteo fala se aproximando de nós com o
objeto nas mãos entregando a ela.
— Obrigada.
— Com certeza ela está com fome, molto affamato(muita
fome) — meu irmão comentou sorrindo, os olhos brilhando como se
acabasse de descobrir um segredo, assim que Ana fecha a porta.
— Você não é nada discreto e nem se moveu para ajudá-la
— ralhei.
— Eu estava ocupado verificando algo — dá de ombros
voltando a rir novamente.
— Do que você está rindo agora, Matteo? — pergunto,
vendo-o sorrir ainda mais, parece até o coringa.
— Nada — diz piscando para mim de um jeito malicioso —
Não estou rindo de nada, fratello.
Bárbara me encontrou em uma lanchonete que
costumávamos frequentar pelo menos uma vez no mês, na hora do
almoço. Era como se fosse o nosso dia do lixo. Sem comidas
saudáveis, restaurantes lotados de homens engravatados e chiques.
Apenas duas amigas e sua falta de preocupação em estar
ganhando alguns quilinhos a mais.
— Juro que às vezes me dá uma vontade imensa de falar
palavrão e mandar determinados clientes tomarem bem no meio
daquele lugar — ela bufa assim que se senta, deixando sua bolsa
sobre a minha na cadeira entre nós.
— Manhã difícil? — pergunto.
— Você nem imagina.
Uma garçonete muito simpática se aproxima e logo anota
nossos pedidos, em seguida, se afasta para atender uma mesa
próxima à nossa. Sempre gostamos de sentar no canto, assim
temos um pouco mais de privacidade.
— E pela sua expressão, sua manhã também não foi das
melhores — comenta ao me observar.
Solto um suspiro me lembrando do que aconteceu após a
reunião, mais cedo.
Assim que me apresentei como assistente do presidente do
La Fontana para o grupo, um homem de cabelos tão negros quantos
seus olhos, cujo nome era William se dirigiu a mim como o líder da
equipe, segurando minha mão enquanto falava que era um prazer
me conhecer, dando um beijo no dorso logo em seguida.
Aquilo me pegou de surpresa, todavia mantive a minha
postura profissional conforme os direcionava para a sala de reunião
do andar e desde então o mesmo me prendeu em uma conversa
sobre a importância de um contrato com os Fontana para sua
empresa, seus olhos, vez ou outra iam para os meus seios.
Ridículo!
Quando vi Matteo se aproximando pela enorme parede de
vidro pensei que ia me livrar do papo furado do homem, mas logo os
outros membros o encheram de elogios começando uma
paparicação sem fim para com o herdeiro mais novo de Vincenzo e
Beatriz, que parecia se divertir com aquela bajulação toda.
A cada frase que William falava eu apenas acenava com a
cabeça, sorrindo fracamente vez ou outra. Quando ele tocou em
meu braço perguntando minha opinião sobre algo que eu não fazia
ideia do que era, eu sorri com um pouco mais de vontade, tentando
ganhar tempo para minha mente tentar lembrar do que ele estava
falando. Foi aí que meu chefe — lindo e com o bumbum mais lindo
ainda — entrou na sala e de um jeito um tanto quanto firme demais,
cumprimentou a todos e deu início a reunião.
Trabalhar com Dante Fontana está sendo mais difícil do que
pensei e pelos motivos que eu jamais cogitei desde que soube que
seria sua assistente. Perdi as contas de quantas vezes nos últimos
dias precisei me policiar para não ficar babando descaradamente
nele.
Nossos pedidos chegam e minha amiga não perde tempo em
abocanhar seu hambúrguer cheio de queijo, muito queijo, gemendo
em satisfação com a boca cheia.
— Deveria ser proibido homem bonito usar roupa social, né?
— perguntei e ela apenas acena com a cabeça enquanto mastiga —
Porra, tira a paz de qualquer mulher — comento ainda com a
imagem de Dante na minha mente, mexendo distraidamente na lata
de refrigerante à minha frente.
— Concordo — diz depois de engolir a comida — Homem
bonito de roupa social, principalmente se for da cor preta. — Se
abana com a mão livre antes de acrescentar — Eles deveriam ser
multados por isso — comenta e nós duas rimos — Suponho que
esse seu comentário tenha a ver com seu chefe gostoso.
— Sim, ele e aquele abdômen definido. — Solto um suspiro.
— Você o viu sem camisa? — indaga em choque.
— Quem me dera! Minha Ana tarada ia amar. — Torci meus
lábios em desgosto.
— O que aconteceu, então? — pergunta curiosa, deixando de
lado seu hambúrguer.
— Tivemos uma reunião mais cedo que acabou perto do
almoço, ao findar ele me dispensou e quando já estava na garagem
para vir para cá, me lembrei que tinha esquecido minha agenda na
sala. — Ela acena prestando atenção — Quando abri a porta perdi
completamente a fala. Ele estava com a camisa branca toda
molhada, o tecido transparente me dando muito material para minha
mente safada fantasiar.
Ela solta uma risada antes de comentar:
— Nunca fiquei tão interessada no seu trabalho como estou
agora. Está sendo mais divertido do que nunca acompanhar de
perto essa saga.
— E essa nem é a pior parte.
— Ainda melhora? — Concordo com a cabeça.
— Fiquei tão surpresa que acabei tropeçando nos meus
próprios pés e caí de bunda no chão.
— Eu adoraria ter visto essa cena — fala gargalhando, com
certeza se esqueceu completamente dos problemas de seu
trabalho. — O que aconteceu depois da sua queda?
— Ele me ajudou a levantar e acabou que ficamos próximos
demais, ele tocou minha bochecha, realmente preocupado se eu
havia me machucado. Claro que eu me afastei, coloquei a culpa nos
saltos e disse que estava com fome, por isso estava meio pálida e
ainda gaguejei quando falei a última parte. Argh! Com certeza vai
para a minha lista de micos do ano.
Como esperei que minha amiga reagisse, Bárbara joga a
cabeça para trás explodindo em uma gargalhada um pouco alta
demais, da mesma forma que Matteo fez.
— Não é irônico? — indago depois de um tempo, quando
vejo ela mais calma.
— O que? — pergunta limpando algumas lágrimas de seu
rosto com o dorso da mão.
— Eu me relacionei com muitos caras que eu realmente
poderia ter algo porque não me sentia atraída por eles a ponto de
não pensar que estava faltando algo e quando sinto isso, é
justamente pelo meu chefe — solto um suspiro longo relaxando na
cadeira.
— Não se pode forçar essas coisas, Ana. Não há como
explicar a atração. Ela é o que é. — Dá de ombros — Não importa
quanto tempo se tente fugir, se os dois querem, como eu realmente
acredito ser o caso de vocês, uma hora ou outra vocês vão se
pegar.
— Isso é o que os seus livros dizem?
— É o que penso sendo uma leitora assídua de romances —
pontua.
— Nunca achei que eu seria comparada a uma mocinha dos
seus livros — comento em tom de provocação — Pelo que já ouvi
você falar, elas são mais quietas e claramente eu não me enquadro
nesse perfil. — Pisco para ela sorrindo.
— Você é uma mocinha diferente, uma mocinha com muito
fogo e pensamentos nada inofensivos com relação ao seu chefe —
ela ponderou por alguns segundos antes de voltar a falar — Essa é
a definição perfeita para você, amiga.
— E o que aconteceu no final das histórias com mocinhas
como eu?
Bárbara abre um sorriso largo quando responde:
— Já que você não gosta de ler, vai ter que viver para
descobrir.
— Você é malvada!
— Sou contra spoilers.
— De volta a empresa, senhor? — o motorista de Dante
pergunta assim que entramos no carro, no banco de trás, ambos em
extremidades opostas.
Havíamos finalizado uma reunião que tinha como intuito
fiscalizar o andamento da execução de algumas tarefas enviadas
pela sede ao gerente de uma das muitas de nossas filiais.
Expectávamos descobrir o sucesso da concretização dos serviços
encaminhados.
— Sim, por favor — meu chefe responde, colocando o cinto e
eu fiz o mesmo, deixando minha bolsa sobre o colo.
Conforme o homem atrás do volante coloca o veículo em
movimento, percebo pelo canto de olho, Dante agir da mesma forma
que sempre age quando precisamos utilizar do carro para algum
compromisso fora das instalações da empresa.
Suas mãos estão espremendo simultaneamente o cinto de
segurança na altura do seu peito e a maçaneta da porta ao seu
lado, com o maxilar travado e seus olhos sempre focados à sua
frente, eles não se desviam do encosto em nenhum momento.
Dante não mexe e nem analisa papéis como geralmente homens de
negócios costumam fazer entre um compromisso e outro, nem
checa seu notebook ou celular, ainda que este último possa tocar
repetidas vezes. Dentro do carro ele fica inerte.
Outro ponto curioso, é que ele nunca se senta atrás do
motorista. Percebi isso nas duas vezes em que me sentei atrás do
banco do passageiro e ele pediu — um pouco rude e nervoso
demais — para que eu cedesse o lugar para que ele pudesse se
sentar. Na primeira vez, não dei muita importância, contudo quando
aconteceu uma segunda vez, cogitei não ser apenas uma mania ou
algum tipo de superstição que geralmente temos.
Não ousei perguntar seus motivos, mesmo tendo uma leve
impressão de ter algo a ver com o acidente que sofreu na Itália.
Apenas fiz como “pedido”, deixei de me sentar em “seu lugar”.
Inspiro de um modo mais profundo deixando minhas
divagações de lado e ao pararmos em um sinal vermelho, uma nova
música começa a tocar na rádio, Avicii - The Nights. A melodia é
alegre o que de um modo discreto, me faz balançar a cabeça ao
ritmo da canção.
— Desligue! — Dante ordena ao meu lado e o motorista logo
o atende. Consigo ver pelo retrovisor seu cenho franzido em
confusão.
Seu tom de voz me fez virar o rosto completamente para
encará-lo.
Há algumas gotas de suor se formando em sua testa, suas
bochechas estão perdendo a cor que geralmente costuma ter, seu
maxilar está travado com tanta força que penso que ele possa
quebrá-lo.
— Senhor! — chamo, mas ele não esboça qualquer reação,
seus olhos ainda fixos no banco à sua frente — Senhor! — tento
novamente, dessa vez me aproximando com cautela, enquanto o
veículo volta a se mover — O senhor está bem? — toco em seu
ombro no exato momento em que o motorista xinga um palavrão
atraindo meu olhar para frente. Uma picape invadiu a pista em que
estamos o fazendo jogar o carro para o lado a fim de evitar uma
colisão.
Com o movimento brusco, minha bolsa caiu no chão e graças
ao cinto meu corpo apenas sofreu um solavanco. Recuperando o
fôlego, perdido pelo susto, ajeito minha postura, afastando algumas
mechas de cabelos que caíram sobre meu rosto e observo o
motorista virar para nos olhar, o carro já parado no acostamento
evitando nos colocar em perigo.
— Vocês estão bem? — procura saber.
— Sim, estou. — respondo passando as mãos no rosto e
fitando em seguida meu chefe que parece em choque.
— Senhor? — ele insiste, querendo chamar a atenção de
Dante que, a meu ver, nem respira nesse instante.
Seu peito sobe e desce descompensadamente,
demonstrando dificuldade em respirar. Imediatamente sinto uma
urgência em ajudá-lo, a mesma de quando nos conhecemos, meu
peito se doendo por vê-lo assim. Claramente está tendo uma crise
de pânico.
Rapidamente, desafivelo o cinto de segurança e me aproximo
dele, segurando seu rosto, o fazendo focar em mim.
— Está tudo bem. Não aconteceu nada — asseguro.
— Ana… — meu nome sai de sua boca como um sussurro e
eu me perco por dois segundos olhando o movimento de seus
lábios, que estão tão próximos de mim. Como em treinamento para
gestante, inspiro e expiro em seu rosto, mostrando a ele o que deve
fazer. Quando conquisto sua atenção, solto as palavras de forma
suave, para não afugentá-lo em seu medo.
— Está tudo bem. Não aconteceu nada.
— Ana… — meu nome sai de sua boca como um sussurro e
me perco por dois segundos olhando o movimento de seus lábios,
que estão tão próximos aos meus.
— Estou aqui — enfatizo.
— Música… a luz… a luz forte… — Dante começa a
balbuciar me deixando confusa.
— Olhe para mim — peço o segurando com um pouco mais
de força, desejando tirá-lo do transe em que se encontra. Aproximo-
me um pouco mais, nossos narizes quase se tocando — Olhe para
mim — suplico angustiada por presenciar seu sofrimento tão cru.
O que passa dentro de sua mente?
Acaricio sua bochecha levemente e de repente ele parece me
enxergar de verdade.
— Ana…
— Está tudo bem — falo baixo sem tirar meus olhos dos seus
que focam em mim, contudo ainda noto a tempestade que brama
iminente para vir à tona. Tão perdida e aflita com a clara sensação
de angústia em sua alma, raspo a garganta e tento ordenar meus
pensamentos para que de forma prática e de certo modo,
profissional eu possa o ajudar — Está tudo bem, senhor. Nós —
meus dedos novamente, como que no automático, afagam a maçã
do seu belo rosto — estamos bem.
Dante parece despertar e mesmo abalado o que demonstra
em seu timbre não tão forte nesse momento, se preocupa em saber
como estou.
— Você… você está… bem — sua voz está trêmula e sai em
um sussurro, suas mãos subindo até meus ombros como se ele
quisesse ter certeza de que estou falando a verdade, seus dedos
apertam ali, me provocando um arrepio.
— Estou — murmuro, não conseguindo esconder o quanto
seu toque me afetou.
Dante fecha seus olhos puxando a respiração de forma
concentrada e eu permaneço em silêncio, observando seu
semblante se acalmar e as linhas de expressão sua testa
suavizarem, seus lábios se movendo, seu hálito de menta dançando
em meu rosto conforme expira, sem parar o movimento de meus
dedos que formigam a cada segundo que acaricio sua pele.
Suas mãos descem, em uma carícia delicada, mas que logo
me esquenta e descansam em meus joelhos. O toque é inofensivo,
mas suficiente para acordar a Ana tarada que habita em mim.
— Estamos bem — ele diz conforme abre os olhos,
notoriamente afirmando mais para ele do que para mim.
— Estamos — sussurro, ainda sem conseguir me afastar
dele.
— Desculpe, senhor — o motorista se manifesta me fazendo
retirar em um rompante as mãos do rosto de Dante, que também
desloca as suas para seus cabelos os alisando algumas vezes com
passadas de mãos fervorosamente enérgicas.
— Tudo bem — forçando uma tosse antes de continuar
olhando para frente, Dante verbaliza — Não se preocupe. — O
homem acena parecendo mais aliviado e nosso chefe continua o
instruindo — Só nos leve para a empresa novamente, por favor.
— Como desejar, senhor.
Dante
Às seis em ponto, Ana Laura entra em minha sala como de
costume, perguntando-me se vou precisar dela para mais alguma
coisa. Dispenso-a, dizendo que ficarei um pouco mais e ela assente,
virando em seu eixo para sair por onde entrou, contudo, para minha
surpresa, ela para, ficando de costas para mim por alguns
segundos, como se pensasse em algo e estivesse com receio de
verbalizar seu questionamento.
— Está tudo bem, senhorita Moraes? — procuro saber,
deixando os papéis que analisava de lado, cruzando minhas mãos
no exato momento em que ela se vira para me olhar.
— Sim, está — responde com passadas delicadas em minha
direção — Alguns funcionários têm o costume de sair para se
divertir em um barzinho aqui perto nas sextas-feiras. Um happy
hour. Eu só pensei que, — dá de ombros, suas mãos se fechando
no encosto de uma das cadeiras que há na frente de minha mesa, e
suspira levemente antes de concluir — talvez o senhor quisesse ir.
Não sei, se entrosar um pouquinho.
Mordo o interior de minhas bochechas apreciando o tom das
suas palavras, um contraste interessante com a selvageria dos seus
belíssimos olhos azuis.
— Não acho que desejam a presença do chefe — solto com
um certo divertimento na voz, relaxando em minha cadeira.
— Tenho certeza que se as bebidas estiverem por sua conta,
ninguém irá se importar em ter a companhia do presidente em
nosso momento de ócio.
Suas palavras, ditas de um jeito sério, me fazem soltar uma
risada alta, pegando não apenas Ana Laura de surpresa, que dá um
pequeno salto pelo susto, mas a mim mesmo. Não me lembro a
última vez que ri de um jeito tão natural e genuíno como agora,
daquele jeito que faz a barriga doer e o coração se acalmar.
— Desculpa — peço e me recompondo em meu assento.
— Eu estava falando sério, senhor — fala empinando o
nariz, uma expressão divertida em seu rosto.
— Eu sei que estava. — Afrouxo minha gravata, pigarreando
em seguida.
— Sua risada é bonita — comenta inclinando a cabeça para o
lado, seus olhos parecem focar no trabalho de minhas mãos, que
tiram de um jeito nada delicado a gravata.
— Obrigado! — agradeço meio incerto jogando sem demora
a peça em cima da mesa — Nunca ninguém antes elogiou minha…
risada. — confessei com timidez — É a primeira vez.
Ana balança a cabeça de um lado para o outro, ajeitando sua
postura quando diz: — Desculpa, eu não deveria ter dito nada.
— Não se preocupe — falo, acalmando-a e executando um
movimento com uma das mãos — E agradeço o convite, mas estou
cansado demais para um happy hour.
— Tudo bem. — Dando de ombros virou-se em direção a
saída e suspirou antes de por fim se despedir — Bom final de
semana, senhor.
— Igualmente, senhorita Moraes.
Já de banho tomado e vestindo apenas uma calça de
moletom cinza, saio do meu quarto indo até a sala. Ligo a televisão
e passo a mão em meus cabelos úmidos já me sentando no sofá de
modo confortável em busca de algum programa interessante. Os
canais passam diante dos meus olhos e nada ali parece ser capaz
de impedir minha mente de refletir na atitude que tive na última hora,
quando estava a caminho de meu apartamento.
Não sei o que eu estava pensando quando pedi ao meu
motorista para seguir o carro de Ana Laura até o lugar onde ela
disse que estaria com os outros funcionários.
Assim que minha assistente desce do veículo toda sorridente
caminhando para dentro do bar, cumprimentando todos do grupo de
funcionários da empresa, sorri junto admirando o quanto sua alegria
é contagiante.
Minhas mãos relaxaram ao redor do cinto e da maçaneta,
uma vontade de ir até ela me toma, todavia, logo se esvai quando vi
ao longe um homem alto e negro se aproximando dela, um olhar
direcionado de um jeito descarado para seu corpo, em claro sinal de
interesse, e mais uma vez, aquela queimação em meu estômago se
fez presente, um incômodo tão latente que me fez desviar os olhos
da cena e pedir, com certa bursquidão, para que o meu motorista
retomasse o caminho na estrada que me traria até minha cobertura.
Esse incômodo, essa sensação… porque os homens se
aproximarem dela, minha assistente que nada tem a ver com minha
vida pessoal, me desagradam de tal forma que faz meu estômago
se contorcer causando uma angústia? Sinto que me importo mais do
que deveria com Ana Laura.
Olho para a minha enorme sala e sinto um vazio ainda maior
em meu peito. Talvez Rosa tenha realmente razão quando disse que
esse lugar é vazio demais e precise de um pouco mais de…
bagunça feminina.
E como se o universo buscasse preencher o buraco que há
em minha mente, meu telefone toca, despertando-me para o
presente momento e ao pegá-lo na mão, sorrio ao visualizar a
imagem da minha irmã, sorrindo na tela, me fazendo atender sua
ligação com uma certa pressa de ouvir sua voz.
— Ciao, fratello — sauda animada, assim que atendo a
chamada.
— Ciao, Bea. Como você está?
— Com saudade — confessa com a voz manhosa —
Contando os dias para estar vocês. E o trabalho, mio capo? (meu
chefe)
— Tudo está indo muito bem — respondo sorrindo.
— Stai davvero bene? (Bem de verdade?) — insisti e eu sei
ao que ela estava se referindo.
Minha irmã caçula, não saiu de perto de mim durante todo
tempo que passei na Itália e sempre declarou o quanto gostaria de
ter permanecido assim quando retornei ao Brasil com nossos pais,
todavia ela ainda tinha compromissos acadêmicos a cumprir, mas
sempre que podia me mandava mensagem ou me ligava, como
agora.
— Sí, cara. Sto bene. (Sim, querida. Estou bem) — falei
simplesmente.
— E como está sendo com a Ana? Espero que vocês estejam
se dando bem.
Suas palavras me fazem lembrar do ataque de pânico que
tive pela manhã. Faz tempo que não acontecia e as poucas vezes
que ocorreram, eu ainda estava morando na casa dos meus pais.
Começou com uma coincidência por ser aquela música que soava
no rádio bem no exato momento que paramos no sinal vermelho
imediatamente fizeram as lembranças daquela noite vir à tona e
tudo se tornou um estopim quando um carro invadiu a nossa pista.
Não consegui me controlar e parecia que tudo ia se repetir, que
novamente me veria em um desastre ocorrendo em um veículo.
É como se eu houvesse me tornado uma máquina que entra
em curto, uma pane geral.
Nos segundos seguintes eu esperei o impacto, como há dois
anos, eu esperei... esperei, mas ele não veio. Ao invés disso, senti
mãos me tocando, uma voz distante me chamando de volta. Foi
quando meus olhos focaram em Ana e em seu lindo rosto, suas
palavras me dizendo que estávamos bem, seu olhar nunca deixando
o meu, como quando no dia em que nos conhecemos. A
determinação que vi neles pela segunda vez me fez voltar a
realidade.
Durante todo o trajeto de volta à empresa, ficamos em
silêncio, ambos sem conseguir falar sobre nada. Eu estava com
vergonha por ela ter presenciado mais uma vez um dos meus
momentos de fraqueza e não sabia ao certo como agir.
O restante do nosso dia se deu da mesma forma, nós nos
falamos apenas o necessário e agradeci por Ana não ter tocado no
assunto, mas foi impossível não notar seu olhar de preocupação
sobre mim durante toda a conferência que tivemos nas horas
seguintes.
A cada movimento que eu fazia, ela se movia junto,
parecendo estar em um estado de total alerta, caso eu precisasse.
Pensar que isso poderia ser verdade, provocava em mim um misto
de sentimentos novos que eu não era capaz de compreender, por
hora, muitos deles me faziam pensar em situações nada
apropriadas para se ter com uma funcionária.
— Ela é uma ótima funcionária — respondo, focando meus
pensamentos ao presente, onde tenho minha irmãzinha em uma
chamada comigo — Nossa mamma realmente não mentiu quando
falou o quanto ela era eficiente e profissional.
— E una bella donna — declara.
— Sí — concordo baixo, não desejando contar o quanto a
figura de minha assistente me afeta desde o primeiro momento em
que nós nos vimos — Como estão nossos tios e primos? —
pergunto indo para um assunto mais seguro.
Nos próximos minutos, Beatrice e eu conversamos sobre os
dramas de tio Peppe e o trabalho que tia Sofia sempre tem para
lidar com o marido dramático. Contou-me também sobre o quanto
Enrico, Kyara e ela estão aproveitando para passar um tempo juntos
antes de sua viagem de volta ao Brasil.
Ao final da ligação, me questionou mais uma vez se eu
estava realmente bem e mais uma vez, como se eu estivesse no
automático para essa pergunta, respondi que estava bem, me
despedi dela, sentindo um cansaço repentino me tomar. Caminhei
até o meu quarto, tirei minha prótese e dormi segundos depois de
encostar a cabeça no travesseiro, como há muito tempo não
acontecia.
Naquela noite, não tive pesadelos como pensei que teria,
principalmente após ter tido um ataque de pânico. Dormi com a
imagem de minha assistente sorrindo para mim.
A figura de Ana Laura está se tornando uma espécie de porto
seguro para meus pensamentos e lembranças atormentadas.
Os dias estavam passando mais devagar do que eu gostaria
e por todos os intermináveis minutos, procurei manter minha postura
profissional perto de Ana, por mais difícil que fosse, principalmente
depois do que aconteceu no carro, há alguns dias. Parecia que
quanto mais eu olhava para ela, mais linda ficava e mais me sentia
atraído.
Mesmo que eu tente explicar quais sentimentos rondam
minha mente cada vez que meus olhos pousam em sua figura
pequena e provocante, não consigo. Não consigo entender porque
me sentia intrigado tanto por essa mulher.
Em alguns momentos durante o trabalho, nossos olhares se
encontram e ficamos nos encarando por longos segundos que se
findavam quando eu tomo a frente ao desviar os olhos fitando
qualquer outra coisa que não ela, tentando agir da forma mais
natural que eu consigo.
Todavia, preciso admitir que Ana Laura Moraes é realmente
tudo que minha mãe prescreveu. Muito disciplinada, dedicada,
atenciosa aos detalhes e sempre esbanjava alegria.
Descobri que seu sorriso se tornou minha segunda coisa
favorita nela, a primeira eram seus olhos, sentia vontade de me
perder neles e ao mesmo tempo parecia que eu podia me encontrar
ali.
Eu parecia um adolescente novamente, quando encontra
uma garota bonita novata na escola e não deixa de pensar nela.
Acordava ansioso para vê-la e quando a via meu coração sempre
acelerava.
Sempre que isso ocorria, me perguntava qual seria a razão
que eu deveria dar a isso? Porque por mais que eu tentasse, não
conseguia encontrar… simplesmente não fazia sentido. Talvez,
fosse o fato de estar a mais de dois anos, dois longos e fodidos
anos sem estar tão perto de uma mulher que me atraía. Essa era a
explicação mais lógica.
Ouço algumas batidas na porta e respondo com um "entre",
deixando os papéis que estava analisando de lado, levantando meu
olhar para ver minha linda assistente em seu vestido social preto.
— O senhor gostaria de almoçar aqui? — pergunta
adentrando na sala e eu me permiti admirar mais uma vez sua
beleza por dois segundos antes de responder sua pergunta.
— Sim, por favor. Ainda não terminei de analisar essas
planilhas — falo apontando para a bagunça em minha mesa.
Ela então sorri e mais uma vez, como nos últimos dias, meu
coração erra uma batida.
— Posso lhe ajudar. Sou ótima com planilhas — oferece
animada.
— Não quero atrapalhar. Você já tem suas tarefas do dia para
se preocupar.
— Já terminei todas — responde com um certo orgulho me
deixando surpreso, ainda estamos no meio do dia — E esse é o
meu trabalho, senhor. Vou pedir o almoço no restaurante e já volto
— avisa saindo da sala sem me dar a chance de negar seu pronto
auxílio com as tarefas que nem são de sua responsabilidade.
Minutos depois retorna empurrando um carrinho pequeno
com alguns pratos, uma jarra pequena com suco que suponho ser
de laranja e dois copos de vidros dispostos ao lado.
— Prontinho — diz assim que para o objeto na frente do sofá
que fica encostado na parede oposta a minha mesa, local onde
deixei os papéis para serem analisados sobre a mesinha de centro.
— Posso dar uma olhada enquanto comemos, se o senhor não se
importar. — Ana agora parece tímida quando me levanto, soltando
os botões da camisa de meus pulsos, puxando o tecido até os meus
cotovelos de um jeito desleixado. Vejo o exato momento em que
suas bochechas ficam rosadas, deixando sua pele ainda mais
convidativa.
— Tudo bem? — procuro saber, sentando-me no sofá.
Ela se mexe de forma inquieta, mas logo me olha, dando -
me um aceno de cabeça quando se senta ao meu lado. Estamos a
alguns centímetros de distância e uma parte de mim agradece por
isso, assim ela não precisará ficar perto de minha prótese. Não sei
se isso a incomodaria dessa vez, mesmo que tenha me tocado
quando na primeira vez que nos conhecemos. Não me sinto seguro
e confiante com minha atual condição perto de uma mulher tão bela,
e me destruiria se por qualquer que fosse a razão ela desdenhasse
da minha aparência.
Começamos a nos servir e fico surpreso com o quanto ela
consegue ser proativa. A cada pedaço de lasanha que ela leva até a
boca, Ana consegue analisar uma planilha, ficando nela por mais
alguns minutos antes de passar para a próxima. Quando termina o
terceiro pedaço, já conseguiu fazer anotações em cinco folhas de
documentos, apontando os erros que cada um deles possui. Estou
impressionado.
— Você é rápida! — comento levando o copo de suco à
boca.
— Sua mãe me disse a mesma coisa quando estava na
última fase da seleção para a vaga de emprego — diz, seus olhos
ainda focados na mesinha de centro a nossa frente.
— Ela fala muito bem de você. Sempre falou, na verdade.
— Fico feliz em saber disso — ela então levanta o olhar,
fitando-me diretamente nos olhos. — Sua mãe é uma pessoa
maravilhosa.
— Ela é — confirmo. — Um pouco mandona quando quer
algo, mas é maravilhosa. — Ana sorri e mais uma vez o som faz
uma escola de samba iniciar seu brado retumbante em meu peito.
Pigarreio e aprumo meus pensamentos para não passar dos limites
dando a ela a impressão errada sobre mim, afinal, sou seu chefe. —
Diga-me, — decido puxar conversa — sempre quis ter a profissão
que tem hoje?
Ana Laura pondera por alguns segundos como se estivesse
escolhendo por onde começar. Então, responde minha pergunta,
suas mãos se mexendo enquanto ela fala.
— Sempre gostei da forma como uma empresa funciona.
Sempre lia revistas de negócios e acompanhava a agitação da
bolsa. Esse mundo me atraía, por isso não foi difícil escolher o que
cursar na faculdade. — Suas mãos explicitamente empolgadas, vão
até o acolchoado do sofá, apertando firme ali, o que me faz engolir
seco, pelos pensamentos pouco profissionais que tendem a vir
sobre mim sempre que a vejo de qualquer forma que seja a minha
frente. Respiro e foco em sua oratória para manter a atenção no
assunto inocente e na forma vibrante e jovial que ela fala sobre ele.
— Ser formada em administração me permite fazer várias coisas,
uma delas é ser assistente. Gosto de ajudar, de ser prestativa e de
certo modo, ver que faço a diferença em algo de suma importância
como em suas várias reuniões onde sempre existem em jogo além
de muitos milhões, vários empregos que podem ser gerados ou
dizimados, apenas por uma má organização de horários ou
documentos.
— Você é realmente ótima no que faz — falo com
sinceridade, sem conseguir desviar meus olhos dos seus. São tão
azuis, tão brilhantes.
— Obrigada. O senhor também tem sido um ótimo chefe. —
Sorrindo abertamente, joga seus cabelos por cima dos ombros.
Sorrio um pouco tímido com sua declaração.
— Sempre quis assumir o cargo de seu pai? — pergunta
diante do meu silêncio, parecendo interessada.
— Diferente do que muitos sites de fofocas já publicaram, —
começo a falar me sentindo estranhamente mais calmo. — Não fui
obrigado a ser presidente do La Fontana restaurante. Cresci vendo
meus pais dando duro para ter o que tem hoje e isso aqui. —
Meneio a cabeça me referindo ao prédio — sempre foi o lugar que
eu quis estar enquanto profissional. Então, meio que sim, sempre
quis esse cargo e precisei trabalhar muito para estar à altura.
— Confesso que por um momento, antes de começar a
trabalhar aqui, acreditei nos sites de fofoca — confessa, dando de
ombros parecendo sem graça por ter sido sincera. — Contudo, em
minha defesa, senhor. — Levanta um dedo em riste e eu faço de
tudo para não rir da sua expressão forçadamente séria. Ana Laura
definitivamente não é uma mulher séria. — Minha amiga de
apartamento lê muitos romances com CEOs e vive falando deles
sem parar. Quando ela gosta de algo fica viciada naquilo. E em seus
livros a maioria deles não são exatamente responsáveis. Ao menos
não no início de cada história, pelo que já ouvi ela falar.
— Sua amiga parece com meu irmão — digo rindo e ela me
acompanha. Meu coração reage ao som de sua risada. — Nos
últimos meses cismou que eu preciso sair mais. Ele pensa que é
cupido, assim como minha mãe — comento meio que fugindo do
assunto inicial e quando percebo o caminho que trilhei sinto um suor
escorrendo em minha espinha, causado pelo medo do julgamento
que minha assistente fará sobre mim.
— Acho que todos nós temos um pouquinho. — Faz um sinal
com os dedos. — De cupido com quem amamos. Afinal, não
nascemos para ficar sozinhos. — Ela solta um suspiro parecendo
pensativa, olhando para algum lugar à nossa frente, mas seus olhos
estão distantes, sua mente provavelmente vagando, perdida em
pensamentos
— Está tudo bem? — procuro saber.
— Sim — responde ainda sem me olhar — Só estou
pensando que… que deve ser bom né, senhor?
— O que? — pergunto aproveitando sua distração para
admirar mais uma vez seu lindo rosto.
Tudo em Ana Laura emana sensualidade, ainda que ela não
perceba ou queira provocar essa reação. Ela é naturalmente sexy
ao falar, ao sorrir e cada passo seu faz meu coração expandir dentro
do peito, uma súbita felicidade me tomando sempre que a vejo.
Sua figura pequena se torna ainda mais atraente pela sua
energia alegre capaz de contagiar todos à sua volta, inclusive eu.
Ela não me responde de imediato, então eu insisto, meus
olhos ainda dançando por cada detalhe de sua beleza — O que
deve ser bom, senhorita Moraes?
Seu olhar agora encontra o meu quando fala:
— Estar com alguém que realmente se importa com você.
Sem conseguir formular uma palavra sequer, eu apenas
aceno com a cabeça, sabendo que é possível ver através do tecido
da camisa meu peito se agitar.
O clima da sala parece ficar mais denso e Ana Laura
aparenta sentir a mesma coisa, pois entreabre os lábios, seu peito
subindo e descendo cada vez mais rápido conforme os segundos
vão passando.
Nós não nos movemos, permanecemos em nossos lugares,
nossos olhos não desviando do outro e mesmo estando enferrujado
demais em ler os sinais, posso jurar que consigo ver nos seus,
confusão, medo e … um pouco de desejo? Talvez.
Porra, eu realmente estou enferrujado.
Então, sua mão esquerda mais uma vez vai até o couro do
sofá, dando a impressão que está se inclinando na minha direção,
mas então o som do meu telefone nos assusta, destruindo nossa
imersão em nós mesmos, nos fazendo saltar de susto.
Ela força uma tosse ficando de pé, alisando sua saia
caminhando até a porta parecendo querer fugir de mim e diz por fim:
— Melhor eu voltar ao trabalho. Espero ter… ajudado,
senhor. — Acena quando já está segurando a maçaneta — Depois
venho pegar o carrinho. Com licença. — E sai, me deixando ainda
mais confuso com essa atração que sinto por ela.
O que ela ia fazer?

— Eu não quero, Matteo — falo pela milésima vez, fitando-o


pela tela do celular.
Faz uns trinta minutos que cheguei em casa do trabalho e há
uns dez tento fazer meu irmão entender que eu não queria ir para
nenhuma das festinhas que ele costumava ir. Ainda mais no meio da
semana. Não era o meu estilo antes e continua não sendo agora.
— Porra, deixa de ser chato — esbraveja e Henrique ri de
sua expressão.
Ele também está na conversa depois de Matteo ligar para ele
sem parar até que finalmente fora atendido.
— Espera — diz parando de sorrir, uma expressão séria
tomando seu rosto — Você me ligou pra isso? Porra, eu estava no
banho. Pensei que era algo urgente, caralho! — reclama passando
uma mão em seus cabelos molhados.
— Você sempre demora para me atender, cazzo! Por isso ligo
várias vezes, B2.
— Quando uma pessoa demora para atender é porque está
ocupada, ora — diz o óbvio de forma irônica, o que não abala o
humor de meu irmão.
— Não me enrolem — ele fala — Se vocês não quiserem ir
para o meu happy hour é só dizer, ué.
— Estou dizendo há mais de dez minutos, boca suja —
debochei.
— Estou com Dante — Henrique declara — A semana mal
começou e você já está pensando em festa. Você não trabalha não?
— Trabalho, mas também gosto de me divertir.
— Você sabe que eu sou seu chefe, não sabe? — perguntei,
alçando uma sobrancelha.
Ele dá de ombros ao falar:
— Eu sou um ótimo funcionário — pontua — Estou tentando
interagir com meu chefinho. — sorri de forma exagerada me
fazendo revirar os olhos — Falando em trabalho, como você está,
fratello? — procura saber visivelmente preocupado — Soube pelos
corredores da empresa que você tem se saído muito bem.
Desde que voltei a trabalhar, precisei me dedicar a tudo que
precisava ser feito e mesmo que nós trabalhássemos na mesma
empresa, nossas agendas não estavam se encaixando.
— Estou me sentindo melhor do que pensei que estaria —
digo com sinceridade me sentando na beirada da cama do meu
quarto.
— Bom saber disso — fala sorrindo para mim.
Havia comentado com eles sobre a crise que tive no carro,
omitindo a parte em que Ana estava comigo e me ajudou, algo me
dizia que eles, principalmente meu irmão faria disso algo maior do
que é.
— Você está conseguindo dormir? — Henrique pergunta.
— Estou bem, de verdade. Não se preocupem — falo e eles
anuem parecendo satisfeitos com minha resposta. Eu realmente
estava me sentindo bem.
Já fazia um tempo que não tinha mais pesadelos e nem
acordava no meio da noite assustado.
Quando decidi que voltaria ao trabalho, pensei que não
vivenciaria mais o prazer de antes enquanto trabalhasse, que não
aguentaria estar rodeado de pessoas curiosas, com várias
perguntas na ponta da língua para fazer a mim ao menor sinal que
eu desse, mas eu estava enganado. Voltar a trabalhar era algo que
estava me fazendo bem, muito bem. Me deixa feliz!
Pensar no trabalho, me lembra automaticamente da minha
assistente e em nossa conversa hoje durante o almoço. Ela fica
ainda mais linda quando assume uma postura de pessoa séria, fica
engraçada, mas ainda sim linda.
— Sério, seu maluco?
— Claro que estou falando sério. O que você acha, Dante?
As vozes dos homens no celular soam alto, me trazendo de
volta a realidade, me fazendo focar novamente na tela à minha
frente. Nem havia notado que estava divagando.
— O que você disse? — pergunto passando a mão livre em
meu rosto.
— O idiota do seu irmão quer a nossa opinião sobre colocar
um piercing no pau — Henrique responde.
— Você enlouqueceu? — indaguei espantado. Quando penso
que Matteo não pode me surpreender mais, vem ele e prova o
contrário. — De onde você tirou isso?
— Estava com uma garota semana passada e ela disse que
o meu pau era lindo, normal. — Sorri convencido — E comentou
que algo tão maravilhoso como o meu dragão merecia uma joia.
— Você ainda insiste nessa coisa de dragão? — nosso amigo
quem fala. — Não acredito que existam mulheres que gostam disso.
— Faz uma careta de nosso e sorrio concordando.
— Elas amam na verdade — B1 acrescenta — Então,
voltamos à discussão inicial.
— Não vou a nenhuma festa — declaro mais uma vez.
— Nem eu — Henrique fala.
Matteo revira os olhos e bufa.
— A animação de vocês até me tirou a vontade de sair —
admite — Mas estava falando do meu dragão.
— Não tenho vontade alguma e nem nunca terei, de falar
sobre seu pau, porra. — B2 diz acenando com a mão dando tchau e
encerra a ligação, fazendo meu irmão arregalar os olhos, seu rosto
tendo uma expressão de surpresa exagerada.
— Farabut…
— Compartilho da mesma ideia. Henrique Prado nunca
esteve tão certo — falo o interrompendo — Buonanotte, fratello — e
desligo, jogando meu celular ao meu lado, não resistindo em rir de
Matteo. Ele tem cada ideia.
— Você é um pé no saco quando quer algo, sabia Matteo? —
Henrique fala se sentando na cadeira ao meu lado.
— Ele é um pé no saco todo tempo, B2 — comentei rindo.
— Eu também amo vocês, caralho — meu irmão diz sorrindo
para nós, batendo seus cílios.
Nosso amigo revira os olhos, jogando o guardanapo em
Matteo que sorri ainda mais.
Estávamos os três no restaurante que há na sede do La
Fontana, depois que meu irmão insistiu para almoçarmos juntos. O
que incluiu muitas mensagens e várias ligações depois da nossa
última chamada de vídeo, há dois dias.
— E para de subornar minha assistente com refeições grátis.
— Henrique ralha apontando para ele.
— Foi assim que ele conseguiu te trazer até aqui? — indago
balançando minha cabeça de um lado para o outro.
— Sim. Esse idiota ligou para Simone dizendo que dona
Beatriz precisava de mim. É a terceira vez no mês que ele faz isso
— fala explicitando toda sua indignação pelo drama que meu irmão
faz quando quer alguma coisa ou nossa presença — Na última, me
fez ir até o outro lado da cidade só para ir com ele a uma boate sem
graça, alegando que precisava de minha ajuda com um sócio.
Quando cheguei lá ele ainda teve a cara de pau de brigar comigo
por estar vestindo um terno. Você acredita, Dante?
Levo uma mão até a boca, abafando uma risada que
provavelmente sairia alta demais.
— Sim, eu acredito.
— O lugar era horrível, de fato — Matteo diz meneando a
cabeça — Mas, — levanta o dedo em riste — você terminou a noite
com uma gostosa nos braços e estava sorrindo de orelha a orelha
se não me falhe a memória.
— Eu já estava lá mesmo. E ela era realmente muito gostosa
— comenta parecendo se lembrar daquela noite — Pena que não
entendeu quando eu disse que estava aberto apenas para
relacionamentos casuais, nada além de sexo.
— É como o ditado diz: "Se a vida te der limões, faça uma
limonada." — Meu irmão declara sorrindo, mas seu semblante muda
quando Henrique bate em sua nuca e lança um olhar de reprovação
para ele.
Leva dois segundos para Matteo perceber o que suas
palavras representam para mim. Carlos sempre dizia isso quando
estávamos juntos e a situação não saia como havíamos planejado.
Ele era cheio de dizeres e sempre tinha uma frase na ponta da
língua para toda e qualquer situação, não importava os imprevistos,
ele sempre dava um jeito de se divertir.
— Scuzi, fratello— Matteo pede visivelmente arrependido.
— Está tudo… bem. — Raspo a garganta e engulo a seco
bebendo um pouco de água, desejando que o líquido afaste o
incômodo que ameaça se forma em meu peito.
— Quer conversar?
E como em todas as vezes que ele e Henrique ofereceram,
eu nego com um aceno de cabeça.
Os dois permanecem em silêncio e o som de uma risada, que
já se tornou familiar, ao longe, me fazendo levantar o rosto, meus
olhos a procurando com uma necessidade absurda de apreciar suas
feições, seu rosto, até que a vejo, sentada em um canto
acompanhada com algumas mulheres à mesa, sorrindo de algo que
muito provavelmente ela mesma contou às demais.
Automaticamente, meus lábios se repuxam em um sorriso, e
ele só aumenta conforme os segundos se passam e claro, como
sempre acontece, meu olhar permanece nela, que agora sorri
jogando seus cabelos por sobre os ombros.
Não sei por quanto tempo fiquei encarando, mas a voz do
meu irmão me fez afastar os olhos de minha linda assistente.
— Por que você estava sorrindo feito um bobo, fratello? —
Matteo investiga me fazendo olhar para ele, que agora está com o
rosto virado na direção que há pouco eu estava olhando. Nosso
amigo o segue. — Ah! Entendi. Estava olhando para a Aninha.
— Pelo que eu me lembre, ela repetiu várias e várias vezes
para você parar de chamá-la assim, alegando que odeia apelidos no
diminutivo — Henrique enfatiza.
— Gosto de perturbar aquela baixinha — declara — Então,
estava babando na sua assistente, hein. — pisca para mim de um
jeito malicioso.
— Não estava babando — me antecipo em dizer, ajeitando
meu paletó me sentindo inquieto por ter sido pego no flagra
admirando Ana Laura.
— Ela é muito bonita — nosso amigo comenta, seu olhar
voltando a encarar minha assistente por alguns segundos antes que
ele ajeite sua postura na cadeira diante de nós.
Agora, a queimação que sinto no estômago é a mesma que
senti há alguns dias na reunião com o babaca do William e até
mesmo de quando a segui até o bar. Aperto meus dentes com
tamanha força, semicerrando os olhos para ele. Não sou capaz de
segurar a carranca que se forma em minha face, a fim de controlar
minha insatisfação por saber que muitos apreciam a beleza de Ana
tanto quanto eu.
— Fato, B2 — meu irmão concorda com um movimento de ok
com uma mão. — Sei de uns e outros funcionários que querem ter
uma chance com aquela baixinha.
Curioso com o seu comentário, acabo perguntando:
— E ela já se envolveu com alguém da empresa? — o
questionamento sai espremido entre meus lábios.
— Não que eu saiba e vocês sabem que eu sei das coisas —
Matteo responde convencido, uma onda de alívio me tomando, me
fazendo relaxar em meu lugar — Por que a pergunta? — pergunta
alçando uma sobrancelha para mim.
Ajeitando minha postura, digo dando de ombros:
— Curiosidade. Apenas curiosidade, fratello.
Ele fica em silêncio, seus olhos dançando entre mim e
Henrique, que tem a mesma expressão que meu irmão.
Estranhamente, começo a me sentir desconfortável com a vistoria
que os dois fazem em mim, como se quisessem descobrir algo que
nem eu mesmo sei o que é.
— Tem certeza que é só curiosidade? — nosso amigo
procura saber.
— Tenho — respondo rápido levando o copo de água até a
boca, sentindo o suor escorrer por minhas têmporas observando por
sobre a borda os dois homens à minha frente — O que? — pergunto
assim que repouso o copo de vidro na mesa.
— Nada — diz com um sorrisinho ladino nos lábios relaxando
na cadeira.
— Sabe o que é isso? — Matteo pergunta, sorrindo em
divertimento sem esperar por resposta — Fome. — fala, sua voz
cheia de deboche — Você está com molto affamato, fratello.
— Posso saber porque vocês dois estão rindo desse jeito? —
indago, sentindo-me nervoso, como se eu fosse o único que não
soubesse de alguma informação importante que estivesse bem na
nossa cara.
Eles trocam um olhar cúmplice por alguns segundos me
deixando ainda mais desconfiado, então Henrique responde por fim:
— Nada, Dante.
Semicerro meus olhos para eles e comento: — Vocês estão
estranhos.
— É a fome — meu irmão diz sorrindo abertamente. —
Vamos logo fazer nossos pedidos.
— Que saudade eu estava de falar com meus bebês —
minha mãe diz assim que atendo a chamada de vídeo, sentando-me
em minha cama com as costas apoiadas contra a cabeceira —
Como vocês estão lindos! — declara fazendo meu irmão Miguel e
eu rimos.
Já passava das dez da noite e, apesar da semana exaustiva
no trabalho, eu estava sem sono. Por isso, quando meu irmão
propôs uma ligação entre nós três, nesse horário, já que nossa mãe
estaria de plantão no hospital, não me opus. Estava realmente com
saudade de falar com eles.
— Você também está ainda mais linda, dona Luíza — Miguel
diz, seus olhos tão azuis quanto os meus brilhando ao olhar para a
tela.
— Essa roupa me deixa verde feito uma alface — comenta,
observando seu uniforme nos fazendo rir mais um pouco.
— Não exagera — digo a fazendo revirar os olhos. — Onde
está Bárbara, minha filha? — pergunta esfregando seu indicador na
sobrancelha.
— Lendo, como sempre. — Sorrio ao dizer e eles acenam
felizes, por saber bem o quanto minha amiga ama suas leituras
Os minutos se passam e com isso conversamos sobre o
nosso dia a dia e como tem sido em nossos respectivos trabalhos.
Comentei com eles o quanto Dante é um excelente chefe e tão
eficiente quanto sua mãe. E claro, minha mãe não perdeu a
oportunidade de exaltar a beleza magnífica que meu chefinho exibe
por aí, com um de seus comentários que me leva a gargalhar e
Miguel fechar o cenho com semblante empurrado.
— Ele é um gato, isso sim. Já vi cada foto dele na internet e
minha vista está mais do que limpa.
— Mãe! — meu irmão faz uma expressão de desgosto a
repreendendo.
— O que? Só estou falando a verdade. — Dá de ombros sem
se importar — Me diz, Ana, ele é mais bonito pessoalmente?
Desejando provocar ainda mais meu irmão, decido entrar no
embalo da conversa da senhora travessa.
— A senhora não faz ideia, mãe. Ele é gostoso demais, mas
parece um modelo do que um CEO — falo me abanando com a mão
livre.
— Acho que vou te visitar no trabalho, minha filha.
— Se vocês não mudarem de assunto, vou desligar — Miguel
declara, semicerrando os olhos.
Rimos e, para alívio de meu irmão, começamos a conversar
sobre assuntos amenos, até que dona Luíza avisa que seu intervalo
acabou e que precisa retornar para o seu plantão. A chamada de
vídeo é finalizada e deixo meu celular de lado, meus olhos
encarando o teto, minha mente me fazendo pensar no dia em que
eu quase beijei meu chefe.
Não sei o que me deu. Em um momento estávamos
almoçando e avaliando planilhas, em um outro eu comecei a divagar
sobre como deve ser bom estar com alguém e subitamente eu senti
o clima entre nós mudar e se aquele maldito telefone não tivesse
tocado eu certamente teria avançado alguns centímetros e tomado
sua boca como desejo que guardo por ele desde o dia em que nos
conhecemos.
Eu posso jurar que vi em seus olhos que sentia o mesmo
ardor, a mesma vontade que eu, ainda que por alguns segundos e
de um jeito tímido.
O que ele teria feito se eu tivesse avançado o sinal? Será que
ele retribuiria o beijo? Ou me afastaria fazendo uma cena do quanto
meu comportamento é inapropriado?
Talvez eu devesse começar a ler os livros de romance que
Bárbara lê, onde as mocinhas são taradas como eu, assim saberei
como tudo vai acontecer.
"Tomara que com ele dentro de você."
Minha Ana Tarada diz e eu acabo rindo de mim mesma,
quebrando o silêncio de meu quarto.
— Com certeza seria um prazer receber você, senhor
Fontana.
Havia chegado o dia em que nos reuniremos com o arquiteto
contratado para o projeto do nosso mais novo restaurante que ficará
na cidade do Rio de Janeiro. Alan Freitas é um excelente
profissional e muito conhecido por seus projetos audaciosos.

Dispensei Ana Laura uma hora mais cedo para que ela
pudesse se arrumar para o jantar de negócios, onde firmaremos
nossas preferências mediante ao contratado. Pedi para o motorista
pegá-la e a estava aguardando no bar que fica no meio do
restaurante do hotel de nossa família.
Depois do nosso pequeno momento a sós em minha sala,
tudo voltou a ser como deveria ser, limitando-se ao cunho
profissional sem conversas mais íntimas. Ela continuou agindo
como a excelente funcionária que era e eu tentei ao máximo agir
como um chefe que não está atraído por sua funcionária, o que
demandou muito esforço de minha parte em cada vez que a via.
Envio uma mensagem para Matteo avisando que já cheguei e
ele me responde que em quinze minutos estará aqui. Ele, por ser
diretor do jurídico, também participará da reunião.
— Gostaria de beber algo, senhor? — pergunta o bartender
assim que me sento em uma das banquetas.
— Uma taça de Château Ausone, por favor — peço meu
vinho favorito.
— Sim senhor. — Pegou a garrafa e logo me serviu. — Aqui.
Fique à vontade. Qualquer coisa é só me chamar.
— Obrigado — respondo apreciando o delicioso sabor da
bebida em pequenos goles.
Alguns minutos se passaram e eu já estava terminando
minha primeira taça quando a vejo adentrando no salão. De onde
estou sentado, posso notar quem entra e sai do restaurante, e Santo
Dio! Ana Laura está sexy e gostosa para caralho!
Se eu achei que foi difícil passar as últimas semanas sem
querer tocá-la no escritório eu estava completamente enganado.
Ela está usando um vestido justo que agarra seu corpo
pequeno nos lugares certos, ressaltando suas curvas. Seu cabelo
escuro está solto, caindo por cima de um dos ombros. O azul do
tecido realça a cor dos olhos que tanto sou viciado, e o
decote cazzo... o decote faz seus seios saltarem, como se
estivessem pedindo para serem devorados.
Eu queria colocar minha boca neles! Porra, o que está
acontecendo comigo?
Olho ao redor e todos a estão olhando, admirando sua
beleza.
Noto alguns idiotas a despindo com os olhos e na mesma
hora sinto uma vontade de arrebentar a cara de cada um deles.
Quando estou prestes a ir até ela, vejo Alan, nosso arquiteto,
cumprimentando-a visivelmente afetado por sua beleza. Ana
responde algo e lhe oferece um aperto de mão e óbvio que o idiota
aceita, segurando sua mão por mais tempo que o necessário, seus
olhos dançam no rosto dela, um sorriso de lado mostrando
claramente que ele gosta do que vê, gosta muito do que vê.
Aperto os punhos sobre o balcão e bebo em um só gole o
que resta da bebida em minha taça, uma sensação de queimação
na boca do estômago surgindo. Pondero por alguns segundos
tentando compreender o que ela significa, meus olhos nunca
deixando o entrosamento entre Ana e Alan, a poucos metros de
mim.
Era como se eu estivesse me sentindo ameaçado, como se
fossem roubar algo que eu queria muito. Raiva e posse oscilam
dentro de mim, a sensação de queimação aumenta, a mesma
sensação que senti na reunião com a equipe de William, quando a vi
tão próximo de outro homem naquele bar e quando Henrique a
elogiou em nosso almoço e a resposta agora parecia óbvia demais.
Ciúmes. Eu senti ciúmes naqueles dias e estava com ciúmes
agora.
Ainda que eu não pudesse fazer nada em relação a isso, uma
parte em mim demonstrou não querer entender isso com facilidade,
pois agora havia uma vontade — quase uma necessidade — de
arrancá-la de perto de Alan, como se eu dependesse daquilo.
Ela é minha assistente. Ela é minha assistente.
Repetia para mim mesmo conforme caminhava até eles,
torcendo para que eu agisse como das outras vezes em que me
senti assim, com calma e maturidade. Mas algo me dizia que hoje
tudo seria diferente, que essa noite eu estava prestes a passar dos
limites com Ana Laura agindo como sempre procurei evitar ser, com
impulso, sem pensar direito nas consequências.
Chego ao hotel e como sempre quando venho aqui, fico
encantada com o quão luxuoso o lugar é. Caminho até a recepção,
e sou direcionada ao restaurante, onde sei que estou sendo
aguardada.
Logo na entrada, sinto um toque em meu braço, o que não
me assusta, já que penso ser meu chefe ou Matteo, seu irmão.
Contudo, surpreendo-me ao notar que se trata de outra pessoa. Um
homem, não tão atraente quanto Dante, porém muito sexy. Ele é
alto, forte, pele bronzeada, cabelo loiro liso até os ombros. Seus
olhos são verdes e seu rosto sem qualquer sinal de barba. Não
parece ter mais do que trinta anos.
— Olá, você é a assistente de Dante Fontana, Ana Laura,
certo? Sou Alan, o arquiteto responsável pelo projeto do La Fontana
no Rio de Janeiro — diz sem nem me dar a chance de responder
sua primeira pergunta, antes de me passar a informação de quem
se tratava.
— Olá. Boa noite! Sim, sou eu mesma. Prazer em conhecê-
lo. — Estendo minha mão direita em sua direção, aguardando seu
aperto em cumprimento. Estou em nome da empresa e preciso ser
cordial, faz parte do profissional, entretanto não passa despercebido
o brilho em seus olhos que deixa claro o que ele está pensando
sobre minha aparência.
— Sabia que era você. Vi uma foto sua com Beatriz em um
dos jornais da cidade ano passado — diz e aperta minha mão — O
prazer é todo meu.
Como havia percebido, Alan mostra nítido encantamento ao
admirar minhas feições e talvez por estar tão focado, esquece de
soltar minha mão, mantendo-a em seu aperto. Minhas bochechas
começam a esquentar enquanto seus olhos se iluminam cada vez
mais.
Quando penso em falar algo, uma arranhada de garganta
soa, me assustando. Alan, por fim solta a minha mão, sorrindo para
alguém atrás de mim. Viro-me para ver Dante, com suas mãos
enfiadas nos bolsos, um olhar fechado e uma expressão séria.
Ele está tão lindo, mais do que o normal usando um terno
todo preto, incluindo blusa e gravata.
Se esse homem não fosse meu chefe e nós não
estivéssemos em uma reunião de negócios eu o agarrava aqui
mesmo, sem me importar com quem estivesse olhando ou com meu
emprego, como quando estávamos conversando em sua sala
depois de almoçarmos juntos há alguns dias atrás e se não fosse o
telefone, eu teria roubado um beijo dele. Sim, eu com certeza teria.
Normalmente, é o que acontece quando você sente um clima,
uma tensão sexual no ambiente com outra pessoa. E eu posso jurar
ter sentido isso naquele momento. Por esse motivo eu queria beijá-
lo, queria saciar essa atração que sinto por ele desde a primeira vez
que o vi, mesmo não a entendendo. Naquele momento só passava
uma coisa pela minha cabeça: preciso beijar essa boca e estou
sentindo a mesma vontade agora.
Eu queria tanto beijá-lo, contudo mando a “Ana tarada” para
escanteio. Não é hora de ficar babando nele como tenho feito nos
últimos dias.
Foco Ana Laura. É uma reunião de negócios. É seu trabalho.
— Boa noite Alan. Como você está? — diz Dante estendendo
uma mão para cumprimentá-lo. — Vejo que já conheceu minha
assistente?
— Boa noite Dante. Estou bem e vejo que você está ótimo —
o arquiteto responde, apertando a mão do meu chefe — A vi em
uma revista com sua mãe e preciso dizer que ela é ainda mais linda
pessoalmente — diz olhando para mim, abrindo um sorriso um
pouco malicioso, trazendo rubor novamente para minha face.
— Agradeço o elogio — respondo um pouco sem graça.
Olho para meu chefe parado ao meu lado, observando que
agora está ainda mais sério que segundos atrás, fuzilando Alan com
um olhar duro. Sinto que o clima está ficando um pouco tenso
demais e quando estou prestes a falar algo, ouvimos Matteo nos
chamar ao se aproximar e eu agradeço mentalmente por isso.
— Boa noite, senhores — fala apertando a mão de Dante e
Alan. Depois se vira para mim com um sorriso brincalhão quando
diz. — Aninha, que bom contar com sua magnífica presença esta
noite. A propósito, você está muito linda!
Reviro os olhos e sorrio com o apelido que ele me deu,
depois de uma semana trabalhando juntos. Ele sabe que eu odeio
ser chamada no diminutivo, deixei isso bem claro na primeira vez
que me chamou assim, mas, aparentemente, ele gosta de me irritar.
Já estava até estranhando Matteo não ter me chamado assim nos
últimos dias, pensei por um momento que ele pudesse ter
esquecido.
— Estava falando isso a ela antes de você chegar, Matteo —
Alan fala aumentando seu sorriso me deixando com as bochechas
quentes. Devo estar vermelho igual a um tomate e o olhar
desgostoso do meu chefe, mostra sua insatisfação com o tópico
abordado pelos dois homens à nossa frente.
— Ok! Não estamos aqui para falar da aparência de minha
assistente. — Seus lábios se esticam em um sorriso forçado —
Vamos, nossa mesa já está pronta — Dante fala com aquele mesmo
tom rude que usou quando nos conhecemos e vai caminhando sem
olhar para trás.
Estranho sua atitude, mas não digo nada. Apenas concordo,
dando um sorriso de boca fechada para os outros dois.
Matteo, que agora está ao meu lado, esfrega as mãos e diz
cheio de mistério, indo na direção do irmão: — Esse jantar vai ser
interessante.
Alan pousa a mão direita em minhas costas, guiando-me para
nossos lugares, puxa a cadeira para eu me sentar, mostrando seus
dotes de cavalheiro e agradeço com um sorriso.
A mesa é quadrada. Alan está à minha esquerda, Matteo a
minha direita e o arrogante do meu chefe escolheu a cadeira
posicionada à minha frente. Ele me lança um olhar de raiva assim
que sento e fico confusa, mas ele logo volta sua atenção ao
cardápio. O garçom aparece para atender nossos pedidos.
— Algo para beber?
— Uma garrafa do melhor vinho branco que vocês têm. Por
favor — Alan responde primeiro. Matteo concorda.
Mas antes que o garçom saia eu levanto minha mão e digo:
— Uma dose de Jack Daniel's, por favor. — O garçom
assente e sai para preparar nossos pedidos.
Volto minha atenção à mesa, e há três pares de olhos
arregalados focados em mim.
— Algum problema? — pergunto querendo saber.
— Porra, você bebe uísque, Aninha? Essa eu não sabia —
Matteo diz ainda com os olhos arregalados.
— Bebo. Por que o espanto?
— Acho que posso falar por nós três, quando digo que nunca
conhecemos uma mulher que curtisse beber uísque — Alan quem
fala.
— É minha bebida favorita, logo atrás vem o café — digo
simplesmente.
— Está explicado porque você é tão elétrica — Matteo relaxa
as costas no encosto e descansa seus braços na lateral da cadeira.
— Como se você fosse muito tranquilo — digo. Ele e Alan
riem do meu comentário, mas o homem à minha frente continua me
olhando sério. — E eu já perdi as contas de quantas vezes pedi pra
você parar de me chamar de Aninha.
— Seu nome no diminutivo lhe cai bem — brinca com um
sorriso travesso nos lábios.
Dante, que até então estava quieto, bateu levemente o punho
na mesa.
Nós três levamos um susto. Olhamos para ele que abre seu paletó e
diz de forma rude olhando eu meus olhos:
— Ok. Será que agora podemos começar a reunião, Ana?
Não sou uma pessoa violenta e nem que perde a cabeça fácil
demais, mas esse homem está querendo ver Jesus mais cedo.
Estou super tentada a pegar a faca da mesa e cortar fora sua
língua.
Para que tanta grosseria? E aparentemente direcionada
apenas para mim?
Não é nossa primeira reunião fora das instalações da
empresa desde que começamos a trabalhar juntos. Ele mais do que
eu sabe que falar de negócios podia ser cansativo e estressante
demais, mesmo trabalhando com o que amamos. Por isso, sempre
que podíamos, almoços e jantares eram marcados para resolver
determinadas situações com o clima mais agradável possível.
Isso não é novidade. No mundo dos empresários milionários,
as grandes parcerias e contratos surgiram de refeições amigáveis,
regadas por uma boa conversa, mas aparentemente para hoje, o
idiota a minha frente prefere ambientes desconfortáveis e de clima
que antecede um assassinato.
Antes que eu pudesse responder, nossas bebidas chegaram
e, sem cerimônia alguma, viro a minha de uma vez, batendo
levemente meu copo na mesa.
Respirei fundo, olhando nos olhos de Dante, e tratei de
colocar um sorriso falso no rosto ao responder.
— Claro, senhor — a última palavra saiu dos meus lábios
como se fosse veneno.
O olhar dele é duro em minha direção e eu não pretendo
desviá-lo. Ele trinca a mandíbula, passa os dedos em seu queixo
como se quisesse decifrar algo.
Ficamos assim por alguns segundos, até que o próprio
quebra contato olhando para sua taça de vinho ainda intocável.
Eu olho para os homens que estão ao meu lado, Alan
visivelmente chocado e Matteo está com a mão na boca tentando
prender o riso.
O que deu nesse homem?

Depois da cena que meu chefe fez, a reunião fluiu bem. Eu


procurava falar apenas quando achava necessário ou quando me
perguntavam algo. Fiz algumas anotações em meu celular para
lembrar depois e quando estava o guardando em minha bolsa, ele
toca, sinalizando uma nova mensagem.
É Bárbara perguntando se eu gostaria de sair para dançar
hoje. Não penso duas vezes e digo que sim.
Marcamos de nos encontrar daqui a uma hora na frente da
nossa boate favorita da cidade. A Baile é uma boate grande e
frequentada por pessoas da alta sociedade, a galera rica, mas
fizemos amizade com um dos seguranças que sempre nos coloca
para dentro sem problema. Suspeito que ele esteja interessado em
Bárbara.
O que eu mais gostava era do DJ que tocava de tudo um
pouco.
Abro um sorriso na mesma hora olhando para o aparelho
pensando o quanto estou precisando dançar e não pensar em mais
nada. Guardo-o voltando minha atenção aos três homens.
— Vou marcar uma reunião com o engenheiro e em algumas
semanas, o projeto estará finalizado e nos encontraremos no Rio
para uma reunião geral. Mandarei tudo em um relatório. Tudo bem?
— Alan pergunta.
— Tudo certo, Alan — confirma Matteo.
— Vou enviar os dados aos demais departamentos.
Ficaremos no aguardo. Qualquer coisa entre em contato direto
conosco — termina Dante.
Levantamos sem nos preocupar com a conta, haja vista que
estamos com membros da família dona do lugar — saímos do
restaurante em direção a entrada do hotel. Na mesma hora penso
em pedir um táxi já que vim com o motorista de Dante e não estou
nem um pouco a fim de ficar com ele em um ambiente tão pequeno.
Hoje não.
Faço menção de abrir minha bolsa, quando a mão de Alan
toca meu braço.
— Posso falar com você um segundo? — pergunta.
Olho para trás e vejo Matteo concentrado em seu celular e
Dante nos olhando com as mãos no bolso de sua calça.
— Claro. Está tudo bem? — pergunto.
— Sim, está. Não se preocupe — diz, guiando-me para
frente, a fim de nos afastar um pouco de onde os outros estão e
mesmo não olhando e sendo estranho eu saber, eu sei, eu
simplesmente sei que Dante está nos olhando.
— Viajo amanhã e como em poucas semanas vamos nos ver
de novo, gostaria de saber se aceitaria sair para jantar? Apenas nós
dois — pergunta, pegando-me totalmente desprevenida.
Penso por um segundo e digo que sim. Por que não? Ele é
atraente e foi super educado comigo. Estou mesmo precisando
conhecer pessoas novas, homens, para ser mais específica.
Nos despedimos com um abraço. Vejo-o ir em direção ao
elevador e eu me direciono até a recepção, onde encontro Dante
sentado em um sofá grande sozinho, apoiando seus braços nos
joelhos, aparentemente perdido em seus próprios pensamentos.
Paro à sua frente e digo:
— Então, acho que é tudo por hoje.
— O que Alan queria com você? — pergunta sem rodeios,
olhando-me nos olhos.
— Não se preocupe, não é nada que seja de interesse
profissional, senhor — respondo firme.
— Ele chamou você para sair, não foi?
— Com todo respeito, minha vida pessoal não é da sua
conta.
— Droga Ana! Apenas responda.
— O que isso lhe importa? — o desafio, sem tirar meus olhos
dos seus.
— Você não pode sair com ele — responde quase rosnando.
— Por que não? Sou solteira e livre para fazer o que eu
quiser — deixo claro tentando manter a calma.
— Eu já disse que não!
O que.. por que... O que deu nele?
Puxo o ar algumas vezes não desejando que ele estrague a
minha noite que está só começando e falo antes de me afastar indo
em direção a saída:— É melhor eu ir. Boa noite, senhor.
Quando já estou na calçada, sou puxada pelo cotovelo e meu
corpo é colado a outro. Olho para cima e vejo o rosto de Dante me
fitando. Ele balança a cabeça e se aproxima mais. Nossos rostos
estão muito próximos, e se eu não estivesse puta da vida, eu o
agarraria agora mesmo.
Eu tenho que me sentir tão atraída por ele assim? Merda!
— Você não pode sair com ele — ele fala baixo e a
impressão que tenho com seu tom de voz é que suas palavras são
um pedido.
Empino meu nariz quando pergunto novamente:
— Por que isso lhe importa tanto?
— Você apenas não pode, Ana.
— Por que não? — insisto, intrigada com a cena que ele está
fazendo.
— Só me escute, por favor — pede parecendo impaciente.
— Eu não consigo entender o que você tem a ver com isso —
falo confusa. — Ele tem namorada? — procuro saber, sentindo um
incômodo no estômago com o pensamento.
— Não, ele não tem, mas…
— Mas o que?
— Vocês trabalham juntos. Não seria apropriado.
— Se me permite dizer senhor, não trabalhamos juntos —
falo vendo seu rosto começar a assumir um tom de vermelho.
Ele está com raiva? Por que ele está com raiva?
— Você não pode sair com ele, Ana Laura — fala firme
apesar do seu tom ser baixo e isso faz meu sangue ferver.
A Ana atrevida que até agora estava no banco de reserva,
levanta-se e vai para o jogo. Aproximo mais meu rosto do seu, e
posso sentir sua respiração no meu.
— Você passou o jantar inteiro me tratando mal e agora quer
me dizer com quem eu devo ou não sair? Sério isso? Você é apenas
meu chefe — pontuo.
— Ana, me escute — pede mais uma vez e eu espero, mas
ele permanece em silêncio soltando um suspiro pesado,
visivelmente nervoso e sem saber o que dizer.
— Minha vida pessoal só diz respeito a mim — começo a
falar não me importando em parecer rude demais. Dante
ultrapassou o limite, eu estou apenas fazendo o mesmo que ele —
O que eu faço dela ou deixo de fazer com quem quer que seja
também. — Com o braço que ele ainda está segurando, agarro seu
paletó, diminuindo ainda mais a distância entre nós, uma parte
minha procurando ter certeza sobre algo que surgiu em minha
mente — A nível de curiosidade, posso concluir que o senhor não se
envolve com suas funcionárias. Certo?
Espero sua resposta com um misto de raiva e excitação. Ele
fecha os olhos por alguns segundos, o que pareceu ser uma
eternidade, solta um suspiro ao abri-los e responde:
— Não, Ana. Eu não me relaciono com mulheres que
trabalham comigo.
Porra, aquilo foi um balde de água fria. Eu estava me
sentindo rejeitada sem nem ao menos ter tentado algo de verdade,
mas eu não sairia por baixo.
Aperto mais seu paletó e deixo que ele veja em meus olhos
toda a raiva que eu estou sentindo.
— Ainda bem que Alan não pensa assim. Boa noite, senhor!

— Não acredito que você fez isso, Ana! — pergunta Bárbara


com os olhos arregalados.
Estamos sentadas no bar da boate. Cheguei minutos depois
que deixei Dante com cara de taxo e peguei o primeiro táxi que vi.
Sorte a minha que estava passando um naquele momento. Entrei no
carro sem olhar para trás.
— Fiz. Você sabe como eu sou. — Bebo um pouco do uísque
que pedi há poucos minutos — Quem ele pensa que é pra falar
comigo daquele jeito. Eu juro pra você, que faltou muito pouco pra
eu matar aquele homem. Argh! Que raiva! — digo massageando
minhas têmporas.
— Ih, eu já vi isso — Bárbara cantarola com o canudinho na
boca
— O que? Homens agindo feito babacas? Tenho certeza que
sim, amiga.
— Não, não é isso. Quer dizer, já. Infelizmente já conheci
vários, mas estou me referindo a você e seu chefinho.
— Como assim?
— Ai Ana, você é uma mulher tão esperta. Realmente não
sabe porque ele fez toda essa cena, ou simplesmente não quer
acreditar? — fala levantando uma sobrancelha em minha direção.
Eu fico em silêncio, o que a faz continuar. — Ele estava com ciúmes
de você, e muito, viu? Provavelmente ficou irritado porque o tal
arquiteto tomou a atitude que ele queria ter.
No caminho para cá, eu pensei que poderia ser isso mesmo,
mas depois do que ele disse hoje tenho certeza de que não se trata
disso. A frase, “Eu não me relaciono com mulheres que trabalham
pra mim”, deixou tudo bem claro.
— Eu pensei nisso, — confesso — mas lembra que eu te
contei que ele não se envolve com funcionárias?
— Sim, e até hoje você também nunca ficou interessada em
ninguém que trabalhasse com você e olha agora? Você está a fim
do bonitão.
— Cala a boca!
— Você não negou — ela observa e eu a fuzilei com os
olhos, não querendo mais conversar sobre esse assunto.
— Estou começando a me arrepender de ter te contado tudo
que aconteceu logo que o conheci — bufo.
— Não, você tem que me contar. Somos melhores amigas e
sabemos que a tarada que habita em você não aguenta muito
tempo sem comentar a respeito.
Ela tinha razão.
— O que você vai fazer? — minha amiga pergunta curiosa.
— Nada. Vou viver minha vida como se nada tivesse
acontecido. Na segunda-feira, vou agir da forma mais profissional
que consigo. Não vou permitir que ele veja o quanto fiquei frustrada.
Levei um fora sem nem ao menos ter feito nada e em tempo
recorde, me senti uma completa idiota.
— Você não é idiota. — diz me abraçando de lado. — Vamos
fazer assim: hoje vamos nos divertir. Dançar, beber e agarrar algum
boy bem gato que nos dê alguns bons orgasmos. O que acha do
plano?
— Fechado!
E pelo resto da noite não me permiti pensar em Dante e nem
na forma como ele me tratou.
— Porra! — resmungo ainda parado no mesmo lugar, vendo
o carro se afastando com Ana dentro.
O que eu acabei de fazer?
— Maninho, não me diga que você se tornou um boca suja?
— viro e vejo Matteo com aquele sorriso zombeteiro de sempre.
— Cala a boca. Não estou com bom humor para suas
gracinhas.
— Percebi e acho que todos que estavam a um metro de
distância de nós também. Mas relaxa, não vou contar para ninguém
do seu “show de ciúmes'' de hoje à noite, contudo, devo dizer que
achei engraçado. Bastante, na verdade.
— Do que você está falando?
— Qual é! Sou seu irmão e te conheço melhor que qualquer
um — diz se aproximando e tocando em meu ombro. — Você está a
fim da Aninha e morrendo de ciúmes porque aparentemente ela tem
um encontro com Alan.
— Não fale besteiras. Ela é minha assistente, seria
antiprofissional — cuspo como se isso explicasse tudo que
aconteceu hoje à noite, o que sem dúvida é uma completa mentira.
— Corta essa porra. Que problema teria se vocês ficassem?
Dar uns beijinhos e transar não faz mal a ninguém, muito pelo
contrário. Faz um bem danado pra saúde e vocês são adultos,
caralho.
— Não sou como você, Matteo.
— Acho que deveria começar a ser, pois está na cara que
você está atraído pela sua assistente e tem medo. Tão clichê —
cantarola cínico.
— Deixe de falar besteiras — falo ajeitando meu paletó me
sentindo nervoso com toda essa conversa sem sentido algum.
— Não é besteira. Esse tipo de coisa na verdade é bem
comum. Simplesmente acontece, — comenta — e acho até que
vocês ficam bonitinhos juntos. Seria um belo casal.
— Casal?
— É, casal — ele fala simplesmente, leva um dedo ao queixo
como se estivesse bolando um plano, ponderando por alguns
segundos antes de continuar. — Talvez seja isso que esteja faltando
pra você.
— Um casal? — pergunto em tom de deboche.
— Uma mulher, meu irmão. — Ele joga um braço por cima do
meu ombro me puxando para perto. — Uma mulher que te ajude a
sair desse buraco de culpa que você se enfiou.
— Matteo…
— Eu sei. Você não quer falar sobre isso e tudo bem, dessa
vez não vou insistir — sua voz agora está cheia de compreensão e
calma quando pronúncia as palavras. — Eu nunca senti ciúmes de
mulher alguma, a não ser da família, então não posso julgar o que
você sentiu hoje, mas o conselho que eu tenho é: não seja mais
idiota.
Solto minha respiração sabendo que ele está certo.
Eu não me comportei como deveria com Ana hoje e estou me
sentindo culpado por isso.
— Eu sei — digo por fim.
— Você não é daquele jeito, cara. Nunca foi. Para de pensar
um pouco e apenas siga sua intuição, fratello.
— Seguir minha intuição — repito suas palavras tentando
entender a confusão que está minha cabeça agora.
— Isso — ele reafirma — Apenas viva e deixe as coisas
rolarem. O que tiver que ser vai ser, não importa o tempo ou o
quanto você tente fugir.
Imediatamente meu coração aperta de saudade de Carlos. O
que meu irmão mais novo me disse é tudo que meu melhor amigo
provavelmente falaria para mim se me visse agindo assim. Fixo
meus olhos em Matteo, sem saber o que dizer. Neste momento
tenho um orgulho imenso por ser irmão desse boca suja, que de vez
em quando é um sabichão.
— Vem, eu te dou uma carona — fala, já me levando para
onde seu carro está estacionado. Quando penso em perguntar onde
está meu motorista ele parece ler minha mente pois logo comunica:
— Relaxa, dispensei o seu motorista enquanto você estava dando
piti com a Aninha.
Reviro os olhos, mas agradeço mentalmente por isso.
Minutos depois, Matteo para na frente do meu apartamento
com um risinho zombeteiro no rosto.
— Vê se não fica até tarde pensando naquela baixinha.
Amanhã temos almoço na casa dos coroas e você sabe que dona
Beatriz não gosta de atrasos.
— Eu sei. Valeu pela carona e… pelo conselho.
— Relaxa, irmãos são para isso.

Acordo mais cedo do que gostaria no dia seguinte e sem


precisar me olhar no espelho, sei que estou com olheiras imensas.
Demorei a pegar no sono pensando na forma como agi ontem. Eu
não sou daquele jeito. Sempre fui educado e nunca destratei uma
mulher antes.
Não quero me justificar, mas ainda que eu tenha passado o
tempo todo dizendo para mim mesmo que eu não deveria sentir
ciúmes dela, desde a reunião com os investidores, esse sentimento
tem ganhado ainda mais forma dentro de mim como se ela fosse
minha, o que culminou em uma explosão, quando lhe pedi para não
ir ao encontro com Alan.
Não consegui evitar. Quando dei por mim já havia agido feito
um idiota. No momento em que ela entrou no carro e partiu, me
arrependi completamente.
Eu não tenho esse direito e não sou o tipo de homem
possessivo, ou não era, mas eu simplesmente não consegui evitar.
Imaginar Ana interessada e tão perto de Alan como eu gostaria que
ficasse comigo, fode com a minha cabeça, e eu não tenho direito
algum em querer lhe cobrar algo. Como ela deixou bem claro na
noite passada, ela é livre e solteira para sair com quem quiser.
Queria que ela quisesse sair comigo!
Entretanto, obviamente não está interessada. Não a culpo.
Além da minha condição física, comportei-me como um verdadeiro
babaca.
A verdade é que, além do ciúmes, também fiquei com raiva,
raiva por Alan ter tido a coragem que eu não tenho para tomar a
atitude que ele teve com ela.
Há dois anos tudo poderia ter sido diferente. Eu saberia
interpretar os sinais. A convidaria para um encontro e tudo
simplesmente aconteceria conforme nossas vontades e desejos.
Como um relacionamento, seja ele qual for, mas hoje sou inseguro
demais com minha aparência e esse sentimento só se intensifica
ainda mais por sentir uma atração que nunca senti antes por
nenhuma mulher. Em resumo, por isso acabo me escondendo atrás
do fato de sermos chefe e funcionária.
Ontem, eu havia ultrapassado um limite em minha interação
com minha assistente ao agir daquela forma e uma parte minha
temia o que estivesse por vir após isso.
Essa atração me assusta. Tenho medo de um dia não poder
controlá-la.
— Já estava morrendo de saudade dos meus bebês. Faz
tanto tempo que não os vejo. — mamãe diz para Matteo e eu,
apertando nossas bochechas assim que ela abre a porta para que
adentremos em sua casa, a casa que meus irmãos e eu crescemos
desde que nos mudamos da Itália para o Brasil.
— Mamma nem faz tanto tempo assim. Não exagere — digo
rindo.
— Mas parece que faz uma eternidade — fala, colocando
uma mão no peito. Se meu irmão é exagerado, foi porque herdou
isso da dona Beatriz. — Venham, preparei um verdadeiro banquete
para meus meninos. Tudo que vocês amam.
Caminhamos até a cozinha, depois de abraçar nossos pais.
Nossas refeições em família, que precisam acontecer pelo menos
uma vez a cada quinze dias por ordens de nossa mãe, sempre
ocorrem na cozinha mesmo. A sala de jantar quase nunca é usada,
apenas em jantares maiores ou quando meus pais dão alguma
festa.
— Cazzo, mamma! Que puta cheiro gostoso. — Nem preciso
dizer quem disse isso, certo?
— Quando foi que você começou a falar tanto palavrão, hein?
— mamãe diz pegando um pano de prato e jogando em meu irmão.
— Non lo ha imparato da me (Não foi comigo que ele
aprendeu.) — meu pai diz sentando a mesa lendo seu jornal.
— Claro, amore mio — minha mãe diz com aquele olhar
cínico de "sei".
Meu pai, como um bom italiano que é, ama falar palavrão. É
estranho ver um homem tão calmo e sereno falar tantos.
— Como vocês estão meus amores? — mamãe pergunta
pegando alguns pratos para que nos sirvamos. Estamos os três na
mesa quadrada. Matteo e eu de um lado e meu pai do outro.
— Estou ótimo mãe, ficando mais lindo a cada dia — Matteo,
sempre fazendo suas gracinhas, diz sorrindo e por fim solta uma
piscadela para a mamma.
Meus pais riem e minha mãe se aproxima da mesa com os
pratos, sentando ao lado de meu pai e por fim, começamos a nos
servir.
— E você, querido?
— Estou bem, mamma — afirmo.
— Tem certeza? Você está com uma cara de que não dormiu
bem, parece cansado. — Esboço um sorriso antes de explicar.
— Só estou com algumas questões do trabalho na cabeça,
mãe.
— Uhum — Matteo resmunga colocando comida em seu
prato e eu o olho de cara feia.
— E como as coisas estão indo, mio figlio? (Meu filho) —
meu pai quem pergunta e sei que ele está se referindo a empresa.
— Está tudo ótimo. Tem sido cansativo, porém produtivo, e
estamos a todo vapor para a inauguração do novo restaurante no
Rio daqui a algumas semanas.
— Que maravilha! — se anima. — Como foi a reunião de
ontem, com Alan?
— Melhor impossível. Na verdade, foi muito divertido. Não foi,
fratello? — Matteo pergunta me cutucando com o braço e sorrindo
de lado. Sei o que ele tenta sugerir, contudo, não caio na sua e me
atenho a responder ao meu pai e somente.
— Sim. Alan é um ótimo arquiteto — solto um sorriso meio
forçado.
— Ele ficou caidinho pela Ana — B1 completa com um tom
malicioso.
— Ah, Ana é uma mulher linda com um coração de ouro.
Falando nela, meu filho, o que achou dela? Espero que vocês
estejam se dando bem.
— É, Dante, o que achou dela? — meu irmão mais novo
apoia seu queixo na mão, e pisca os olhos, aguardando a resposta
que darei, com nítido divertimento.
— Ah... — Engulo a seco antes de continuar — Ela é uma
ótima funcionária. Seu trabalho é impecável — finalizo e me sirvo
com um pouco de comida.
— É muito bom ouvir isso — comunica animada — A
propósito, gostaria de chamá-la para o jantar que vamos dar para
comemorar a sua volta ao trabalho, já que não quis fazer isso na
empresa, e a chegada de Beatrice também. Você pode convidá-la
em meu nome, por favor?
— Claro. Falarei com ela na segunda.
— Ah, com toda certeza vai — Matteo murmura e eu lhe dou
um leve empurrão de lado.
Ele dá de ombros, não se importando com minhas
advertências.
Durante toda a refeição e o resto do dia, tento focar meus
pensamentos em minha família, na tentativa de aproveitar o
momento, mas minha mente só consegue pensar em apenas uma
coisa: eupreciso me desculpar com minha assistente.
Acordo sentindo todo o meu corpo doer como se eu tivesse
corrido uma maratona no dia anterior. Tento levantar, mas algo me
prende. Olho para baixo e vejo um braço em minha cintura. Merda!
Olho em volta e percebo que não é o meu quarto. Tento
procurar meu celular, mas fica um pouco difícil com o peso em cima
de mim. Mexo-me um pouco tentando sair sem fazer o ... Porra qual
é o nome desse cara? Murilo? Marcelo? Ricardo? Não faço a
mínima ideia.
Depois de alguns — muitos — copos de uísque, Bárbara e eu
encontramos um colega de faculdade que logo demonstrou
interesse nela e nos convidou para nos juntarmos a ele. Acabei
conhecendo um de seus amigos e começamos a ficar, mas o “flash”
aqui não durou nem cinco minutos.
Consigo tirar seu braço e rolar, mas acabo caindo no chão
fazendo um barulhão, o que acaba por acordar o “senhor rápido”.
Analisando o homem à minha frente, vejo que ele é bonito. Alto,
forte, cabelo preto liso que cai um pouco no rosto e olhos pretos que
ontem à base de álcool pareciam ser mais intensos que agora
enquanto me olha.
— Olá, gatinha. Bom dia.
Eu já disse que odeio apelidos no diminutivo? É broxante!
— Olá. Bom dia. Han.. eu preciso ir. Você sabe onde está
minha bolsa, meu vestido e… meus sapatos? — pergunto forçando
um sorriso tentando ser educada, mas doida para dar o fora dali.
— Ali, em cima da cômoda. — Aponta para outra
extremidade do quarto, que só agora percebo que é bem grande.
Vou até ela, vestindo-me o mais rápido possível e, após
calçar meus sapatos, viro-me para olhar o homem já sentado na
cama apoiando o tronco na cabeceira e nu. Isso mesmo, nu.
Seu instrumento é até bonito, mas muito mal usado. O que
adiante um pau imenso se na hora do vamos ver não faz nem
cosquinha? Só propaganda enganosa. Af!
Deveria existir algo no código do consumidor para nós
mulheres sobre isso. Eu teria uma lista imensa de reclamações a
fazer.
— Então eu preciso ir. Foi... hum... divertido?
— Com certeza. Você foi maravilhosa, bebezinha. — Pisca
para mim mordendo os lábios.
Porra, bebezinha? Sério?
A gente chama criança assim, não a mulher que você acabou
de comer.
Sexo casual é bom, mas tem seu lado ruim.
Todavia, não posso reclamar. Alguns homens que fiz sexo
eram muito bons mesmo, outros nem tanto, mas nenhum que fosse
“UAU!” do tipo “achei meu deus do sexo.”
Acho que isso só deve existir nos livros e filmes mesmo.
Faz quatro anos que estou solteira e às vezes sinto falta de
estar em uma relação que envolva intimidade. Para ser sincera,
pergunto-me como é estar em um relacionamento que você está
completamente satisfeita sexualmente. Porque apesar de eu ter tido
um namorado dos dezoito anos até os vinte e dois, os orgasmos
que tive com meu ex podem ser contados em uma mão, e olha que
foram quatro anos. Ele nem gostava de fazer sexo oral em mim, só
receber. Egoísta!
— Obrigada? — pelo menos um de nós se divertiu. — Já
estou indo — falei caminhando até a porta.
— Espera. Podemos repetir qualquer dia desses, ou quem
sabe sair para jantar ou ir ao cinema. O que você acha? — o flash
diz, fazendo menção de se levantar da cama.
— Não! — eu o detenho, levantando as mãos. — Eu não
estou interessada, mas obrigada pela... noite.
Abro a porta antes que ele faça mais alguma coisa e ao sair
percebo que estou em um apartamento bem grande. Caminho até a
sala e vejo dois corpos seminus em cima do sofá bem grande. Um
corpo eu reconheço. Bárbara!
— Amiga? Vamos acordar — a chamo baixo, tocando em sua
cabeça.
Ela resmunga e eu insisto mais um pouco até que ela abre os
olhos.
— Vamos para casa. Vem! — digo baixo para não acordar
seu acompanhante que está ao seu lado. Por sorte sem braços ou
pernas em cima dela.
— Sim, vamos. Cadê meu vestido? — pergunta ao se
levantar, coçando os olhos com as mãos.
Vejo sua roupa no chão, perto da mesa de centro com seu
sapato e bolsa. Pego e ela rapidamente se veste. Saímos a passos
apressadas para pedir um táxi. Já que eu vim da reunião de ontem à
noite e ela não veio de carro porque disse que beberia todas. Em
alguns minutos já estamos em nosso apartamento.

— Veja pelo lado bom, entrada liberada com direito a área vip
na boate — diz Bárbara tentando me animar depois da minha noite
de sexo horrível, ao beber seu café. Nosso amigo de faculdade é
filho do dono da boate em que estávamos.
Chegamos a algumas horas em casa. Depois de recuperar
nossa dignidade com um bom banho, estamos tomando café,
sentadas no sofá. Por algum milagre nós duas nunca sofremos com
ressaca. Nunca mesmo.
— Quem transou com o filho barra dono da boate não fui eu.
— Ana, nós somos um pacote. — Pisca para mim. — Foi tão
ruim assim? — procura saber.
— Cinco minutos e eu não estava nem perto de sentir prazer.
Cinco minutos! — falei com indignação.
Bárbara cai na gargalhada. Eu a olho de cara feia e quando
vou levantar para fazer cosquinhas em sua barriga, coisa que ela
odeia, meu celular toca. Vou até a bancada da cozinha e o atendi
sem olhar quem é.
— Alô?
— É assim que você atende seu irmãozinho mais velho? —
Miguel diz e logo abro um sorriso.
— Mano, como você está? — pergunto voltando para o sofá.
— Bem, com muito trabalho. Liguei porque queria almoçar
com você hoje. Aceita?
— Claro, vou me trocar. Aonde quer ir?
— Pode ser no La Pasta. Faz tempo que não vou lá. Por
minha conta — fala e na mesma hora penso em um italiano
arrogante e gostoso.
— Claro, vou levar o meu kit. Está bem? — falei me referindo
a minha amiga que está ao meu lado.
— Tudo bem. Em uma hora vejo vocês lá — diz rindo.
— Ok, maninho. Até. — Desligo e volto meu olhar para minha
amiga que me encara em expectativa.
— Vem, meu kit. Miguel nos chamou para almoçarmos fora e
disse que era por conta dele.
— Uhu! 0800. Amo seu irmão, sabia? — fala batendo
palminhas. Os dois acabaram se tornando amigos também de tanto
que nós duas somos inseparáveis. — Aonde vamos?
— Restaurante italiano, La Pasta — digo caminhando para o
quarto sem olhar para seu rosto, já sei que vem piadinha por aí.
— Hum... Italiano! Isso não te lembra alguém, Ana? —
pergunta me fazendo virar para vê-la colocando um dedo no queixo,
fingindo pensar.
Bufo, reviro os olhos e ignoro sua provocação.
— Bom trabalho — digo ao descer da nossa joaninha. Hoje é
a semana dela.
— Para você também. Qualquer coisa eu estou a uma
mensagem de distância — fala segurando seu celular no ar.
— Obrigada. Te amo.
— Também.
Caminho entrando no prédio indo em direção ao elevador. O
final de semana passou rápido demais. No sábado, depois da
catástrofe que foi minha noite de sexta-feira, fui almoçar com meu
irmão e Bárbara. Pude matar a saudade que estava de Miguel, ao
menos um pouco. Fizemos vídeo chamado com nossa mãe, no
intervalo de seu horário de trabalho. Ela estava de plantão no
hospital.
No domingo fiquei em casa, adiantando algumas coisas do
trabalho. Assisti alguns filmes e séries. Tentei de tudo para não
pensar em Dante e o quanto ele foi idiota comigo. Tentei não pensar
no quanto ele mexe comigo com aquele corpo gostoso. Eu nunca
me senti tão atraída por um homem como me sinto por ele. É
avassalador demais se levarmos em conta o pouco tempo que nos
conhecemos.
O elevador se abre e eu o vejo apoiado no balcão onde fica
minha mesa. Hesito por um segundo quando nossos olhos se
encontram, mas logo me movo, tentando caminhar a passos firmes,
porque minhas pernas estão tremendo com a visão desse homem.
Foco Ana! Relaxa, digo a mim mesmo.
Se eu pensei que o terno de três peças que ele sempre
costuma usar era golpe baixo, retiro o que eu disse.
Ele veste uma calça social preta com uma blusa social
branca sem gravata com as mangas esticadas até o cotovelo, com
os primeiros botões abertos. Isso mesmo!
Blusa social branca com os primeiros botões abertos!
Merda! Mil vezes merda!
Aproximo-me, usando toda minha força para não olhar para a
parte do seu peito que a porra da camisa social não está cobrindo,
temendo que eu tropece em meus próprios pés e caia de bunda
como já aconteceu.
Porque ele não fechou esses botões, meu pai amado? Por
que?
— Bom dia, senhor — digo indo para minha cadeira, mas sou
detida pelo gostosão aqui.
Ele fica a minha frente com aquele corpo cheio de músculos
que exala poder e sensualidade, impedindo minha passagem.
Preciso levantar um pouco a cabeça para olhá-lo nos olhos, ele é
mais alto, bem mais alto que eu.
— Ana... — diz com a voz baixa, causando um arrepio nos
meus países baixos.
— Senhor...
— Não me chame mais assim, por favor — pede.
— Como o senhor gostaria de ser chamado?
— Dante, me chame de Dante a partir de agora, por favor —
pede parecendo um pouco nervoso, angustiado.
— Dante. Ok. Em que posso lhe ajudar? — pergunto
forçando uma voz firme.
— Eu... Ana... — Engole seco, como se estivesse escolhendo
as palavras para falar — Eu gostaria de me desculpar pelo meu
comportamento no jantar. Eu estava com... algumas... coisas na
cabeça e acabei descontando em você. Perdoe-me por ter agido
como um idiota.
— Dante... — tento falar, mas ele me interrompe.
— Eu comprei algo para você. Espere aqui — diz entrando
em sua sala.
Um presente? Ele me comprou um presente?
Não tenho nem tempo de pensar direito, quando ele retorna
carregando uma caixa grande com um laço em cima. Eu arregalei
os olhos sem saber o que dizer.
— Eu espero que você aceite, como meu pedido de
desculpas — fala abrindo um sorriso tímido.
Olho para seu rosto, suas bochechas estão coradas e vejo
que seus olhos brilham em expectativa. Até fofo ele fica gostoso,
porra!
— Você comprou um presente para mim? — perguntei sem
tirar os olhos dele.
— Sim — afirma me deixando curiosa. — Vamos, abra — ele
pede ao colocar a caixa em cima da minha mesa.
Arranco o laço rapidamente, pegando em seguida o estilete
para rasgar o pacote. Quando abro, um sorriso vai crescendo no
meu rosto e sem pensar dou um gritinho de felicidade.
Dante me comprou uma caixa cheia de garrafas do meu
uísque favorito, doze garrafas para ser exata.
— Não acredito! — exclamei.
— Você gostou? Eu sei que é pouco, eu compraria mais, mas
era a última caixa que a loja tinha. Entendo se você não gostar, eu
não sou muito bom em dar presentes.
Diz todo desconcertado. Ele realmente acha pouco um
presente desse?
Volto a olhar para ele e sem pensar direito, coloco meus
braços em seu pescoço e digo antes de abraçá-lo forte:
— Eu amei, Dante.
Leva um segundo para ele retribuir, mas logo o faz,
colocando seus braços em minha cintura me puxando para mais
perto. Arfo com o ato, mas não ouso me afastar, ficar tão perto dele
é tão… bom. Seus braços sobem por minha costa e sinto um arrepio
passar por toda minha coluna.
Ele aperta meu corpo ao seu, como um pedido para eu não
soltá-lo. Minhas mãos, que até agora estavam paradas, sobem e
descem pela sua nuca até seu cabelo, em um carinho sutil.
Descanso meu rosto em seu pescoço e sinto seu cheiro amadeirado
cítrico. Inalo tudo que consigo como uma viciada.
Passo a ponta do meu nariz em sua mandíbula e sinto suas
mãos me apertando na cintura.
— Ana... — ele fala meu nome em um tom de voz rouco,
quase como um gemido, ou então eu estou ouvindo coisas. E neste
momento, só há um pensamento em minha mente: eu quero beijá-
lo. Eu quero muito beijá-lo!
Quando ela me abraça, eu não resisto a tocá-la. Seguro
firmemente Ana em meu corpo, aproximando-nos mais e posso
sentir ela tremer com o ato. Seu cheiro está me deixando louco. Seu
corpo pequeno, me levando a pensar em tudo que eu adoraria fazer
com ela.
Rendo-me ao seu carinho e todos os meus pelos se
arrepiaram quando ela passa seu nariz em meu queixo, tão próximo
de onde eu queria tê-la, minha boca entreabriu, e antes que eu
pudesse impedir, gemi seu nome.
Não consigo explicar tudo que ela, sem ao menos ter
consciência, me provoca, me faz sentir, é mais forte do que qualquer
pensamento racional. Contudo, Ana me pega de surpresa — mais
uma vez — ao depositar um beijo em minha bochecha segurando
meus ombros e lentamente se afasta para me olhar nos olhos e
dizer:
— Eu realmente amei o presente. Obrigada. — Sorrindo, ela
se afasta de mim e volta sua atenção a caixa em cima de sua mesa.
Eu fico ali... paralisado. Sentido meu corpo pegar fogo onde
ela me tocou.
Eu nunca senti nada parecido em toda minha vida por alguém.
Eu não era um homem impulsivo, sempre fui controlado
principalmente com meus desejos. Já me senti atraído por algumas
funcionárias, não vou mentir. Trabalhei com mulheres lindas e muito
atraentes, mas jamais senti vontade de ultrapassar a linha
profissional, pois sabia que não valeria a pena.
Entretanto, quando se trata de Ana, eu não consigo pensar
direito, desde o primeiro momento que meus olhos a viram.
Aquela boca atrevida, aquele corpo que eu já imaginei
incontáveis vezes debaixo de mim. Aqueles olhos azuis que sempre
invadem meus pensamentos.
O que essa mulher está fazendo comigo?
Balanço a cabeça, fazendo esforço para me livrar desses
pensamentos e pergunto na tentativa de disfarçar o quanto fiquei
afetado com sua atitude movida pela simples animação por ter
gostado do presente.
— Quando começou a gostar tanto de uísque? — digo e
minha voz sai um pouco embargada. Vejo seus olhos se alegrarem
ao ter a chance de contar o motivo.
Porra, eu estou suando frio. Controle-se Dante!
— Eu sempre soube que queria cursar administração.
Procurava saber tudo que estava acontecendo no mundo dos
negócios, em revistas, jornais, sites e quando ainda era adolescente
sempre lia que uísque era a bebida favorita dos empresários. Então,
quando completei dezoito anos, fui a um bar perto da faculdade e
experimentei. Amei logo de primeira — diz sorrindo sem mostrar os
dentes, ainda olhando para a caixa.
— Bom, então acho que acertei no presente.
— Com certeza acertou.
Ouvimos um barulho do elevador anunciando que alguém
havia chegado. As únicas pessoas que subiam sem anunciar eram
meus pais, meus irmãos e Henrique.
— Bom dia, meus funcionários favoritos! — disse Matteo
saindo do elevador caminhando até nós.
— O que você faz aqui tão cedo?
— Nossa! — diz fazendo bico e colocando sua mão ao peito
para aumentar seu drama — É assim que você recebe seu irmão
favorito?
— Você é meu único irmão, boca suja.
— O melhor, diga-se de passagem, e você Aninha, não vai
me cumprimentar? — pergunta cruzando os braços com aquela cara
de quem ama irritar as pessoas. Pelo visto Ana se tornou sua nova
vítima favorita.
— Olá, Matteo. Como você está? — fala com um sorriso falso
no rosto.
— Muito bem, querida. Obrigada pela preocupação — diz,
fazendo-a revirar os olhos.
— O que deseja aqui? — pergunto.
— O contrato com o novo fornecedor de carne — informa —
Já finalizei e trouxe para você dar uma olhada como me pediu. —
Balança o papel que está em sua mão.
— Ok. Ana, por favor, não marque novos compromissos para
terça e sexta entre 17:00 e 18:00, a partir desta semana. Nesse
horário estarei na academia da empresa e deixei liberado na
portaria a entrada de meu fisioterapeuta, Lucas Alves.
— Sim, Dante, mas alguma coisa?
Adoraria abraçar você novamente.
— Não, apenas isso.
— O que você tem aí hein, Aninha? — Matteo pergunta
levando as mãos até a caixa.
— É meu. Não toque! — diz dando um tapa estalado na mão
de Mat.
Rio com a careca que ele faz.
— Você é má! Não aprendeu a dividir não? — meu irmão diz
massageando a mão vítima do tapa.
— Sim, B1. Mas quando se trata de meu uísque não há
negociação. Entendeu?
— Sim, senhora. — Matteo levanta as mãos em rendição.
— Vamos, preciso finalizar o pedido com os fornecedores —
digo abrindo a porta do meu escritório e meu irmão me segue.
— Não sabia que era permitido beber em horário de
trabalho? Ou é só ela que pode, chefe? — pergunta Matteo se
sentando no sofá que fica ao lado oposto de minha mesa, com um
sorriso cínico no rosto.
— Antes que você pense mais besteiras do que já deve estar
pensando, eu dei a ela como um pedido de desculpas — digo já
sentado em minha cadeira.
— Porra! — ele exclamou soltando uma gargalhada alta e
estridente.
— O que? — pergunto sem entender o motivo de sua reação.
Espero até que ele se acalme e torno a perguntar.
— Posso saber o porquê das gargalhadas?
— Ai fratello, porque não pediu simplesmente desculpas para
ela? Uma conversa resolveria tudo.
Sim, realmente eu sabia disso e pensei em fazer exatamente
isso, mas eu queria dar algo a mais, meu subconsciente desejando
que o presente pudesse de alguma forma dizer que tenho interesse
nela. Quando dei por mim, já estava saindo com uma caixa enorme
do meu apartamento.
Quando se tratava de Ana, eu não sabia o que fazer e, na
dúvida, sempre optava pelo caminho mais estranho. O "presente de
desculpas" deixou isso bem claro para mim.
— Ela gostou — defendo-me.
— Claro que gostou, por mais estranho que tenha sido, — diz
se ajeitando na cadeira — mas eu sei de algo que ela teria gostado
mais. — Sorri de forma maliciosa para mim.
— O que você teria sugerido que eu desse a ela? — Alcei
uma sobrancelha o encarando.
— Orgasmos, ué. Toda mulher ama e você também vai sair
ganhando — diz dando de ombros.
— Claro. Porque sexo é um pedido mais discreto e racional
do que dar uma caixa de uísque para sua assistente — debocho
revirando os olhos.
— Isso. — Ele pisca e aponta para mim, sorrindo de lado.
— Esqueceu que ela é minha funcionária, idiota.
— Já disse que isso não atrapalha em nada. Você por acaso
já leu as diretrizes do regulamento sobre relacionamentos no
ambiente de trabalho da empresa que você gerencia? — indaga
alçando uma sobrancelha para mim.
— Não — respondi com sinceridade — Nunca me interessei
em ter um relacionamento com uma colega de trabalho. — Até
agora, pelo visto.
— Pois acho que você deveria ler. É esclarecedor e vai te
mostrar que isso que você e a mulher lá fora. — Aponta com o
polegar na direção da porta. — Querem não tem nada a ver com
assédio.
— Você se acha esperto demais, fratello.
— Eu sou. — Arruma seu paletó — Sabe o Rogério dos
recursos humanos? — pergunta e eu anuo, me lembrando do
homem moreno e de expressão séria — Ele está saindo com a Lívia
do marketing.
— Como você sabe dessas coisas?
— Sou bem-informado — se gaba.
— Fofoqueiro, seria o termo mais correto.
— Não sou fofoqueiro, porra e a questão não é essa. — Volta
a assumir uma postura séria — A questão é que somos uma
empresa moderna, não nos importamos com a vida íntima de
nossos funcionários, contanto que eles façam bem-feito o que é de
seus deveres. Todos são adultos. Você sabe que nossos pais nunca
se importaram com isso.
Sim, eu sei.
— Veja nosso tio Giuseppe e Sofia, ela era sua funcionária no
hotel — acrescenta — Além do mais, está na cara que você a quer.
Deixa de ser teimoso, porra.
— Não nos conhecemos há muitos tempo, Matteo.
— O que isso importa, caralho? Você a quer e ponto. Isso é
um fato. Quanto mais cedo você aceitar e ver isso, melhor. Não dá
pra ficar se escondendo atrás desse motivos sem sentido. Você a
quer e pronto. Simples. — Dá de ombros.
— As coisas não são tão simples assim.
— São simples, sim. Você quem está complicando demais e
olha que o dramático da família sou eu. — Aponta para si — Qual o
problema em ir para a cama com uma mulher que também quer ir
para a cama com você?
— Ela não me quer.
— Quer sim. Confia em mim que de mulher eu entendo. —
Pisca para mim sorrindo de lado — E você a quer, também. Admita!
— Não quero.
— Quer.
— Não quero.
— Você quer.
— Não, eu não quero.
— Você quer, sim. — Ele sorri claramente se divertindo com a
situação.
— Já disse que não quero, Matteo. Pare de insistir nesse
assunto, por Deus — falo inquieto.
— Negação é o segundo estágio para saber se você está
interessado em alguém, sabia? — fala apontando o dedo em minha
direção — Na verdade é assim que as pessoas começam a se
apaixonar.
Semicerro meus olhos para ele, ponderando se devo ou não
matar a minha curiosidade, que acaba ganhando. Então pergunto:
— Posso saber qual é o primeiro?
— Ciúmes e claramente você já demonstrou isso no jantar de
negócios com Alan e — ele levanta um dedo em riste. — Se não me
falha a memória, na reunião com aquele bastardo do Willian, da
empresa de marketing. Posso até jurar que você sentiu ciúmes
quando Henrique a elogiou em nosso almoço, provavelmente
pensando que ele deu em cima dela.
Matteo me pega de surpresa com as últimas informações,
pensei que não pudesse estar tão na cara assim, mas pelo visto
está estampado em meu rosto o quanto estou obcecado por ela.
— Pensou que eu não tinha percebido, hein? — provoca.
— De onde você tirou essas coisas de… estágios? —
pergunto ignorando sua provocação e já me arrependendo por isso
outra vez.
— Novelas, principalmente as mexicanas. Você deveria
começar a assistir. São realmente muito boas.
— Desde quando você começou a assistir... novelas, Matteo?
— Minha nova governanta é meio que viciada nessas coisas.
Uma vez, a encontrei chorando na cozinha e perguntei o porquê das
lágrimas, ela disse que a personagem principal tinha ficado louca e
entregado seu filho para uma desconhecida. Eu fiquei curioso e fui
ver qual era o papo. Comecei com um episódio, quando eu vi já
estava viciado. Eu até aprendi a música de abertura. Quer ver?
— Não, por favor. Não precisa cant... — contudo, já é tarde
demais e o idiota já está de pé com uma mão fechada, como se
fosse seu microfone.
— "Y a mucha honra, María la del Barrio soy. La que de
escuincla quedó resola,
(E com muita honra, Maria do Bairro sou. A que menina¹ ficou muito
sozinha,)
Y pa' cambiar su suerte, De su barrio querido se fue, Pa'
poder comer..."
(e para mudar sua sorte, se foi de seu bairro querido para poder
comer)
Fico olhando o idiota, cantando e dançando com empolgação
demais. Levo minhas mãos até minhas têmporas, massageando-as.
Às vezes eu acho que Matteo é de outro planeta, porque não é
possível.
— Terminou? — pergunto com uma sobrancelha levantada
cruzando meus dedos em cima de minha barriga relaxando em
minha cadeira.
— Sim — diz com um sorriso no rosto cheio de orgulho de
sua performance.
— Você como cantor é um excelente advogado.
— Sou bom em tudo, maninho. Os melhores genes vieram
para mim. — Ajeita o paletó todo convencido ao concluir seu
argumento.
— Tenho minhas dúvidas quanto a isso.
— Você sabe o que dizem por aí, primeiro o rascunho. —
Aponta para mim. — Depois a obra prima. — Aponta para si.
— Esqueceu que temos uma irmã caçula? — pergunto.
— Eu sou o — ele pontua — filho obra prima. — Empina o
queixo todo orgulhoso de sua resposta.
O dia mal tinha começado e eu já podia prever uma dor de
cabeça chegando.
Não acredito que eu quase beijei meu chefe? De novo…
Já está se tornando como um vício sempre que nos
aproximamos um do outro.
Fiquei com esse pensamento na cabeça o dia inteiro.
Já está perto do meu horário de saída e não sei como vou agir
quando estiver sozinha com Dante novamente. Parece loucura uma
pessoa desejar tanto a outra a conhecendo por tão pouco tempo.
Hoje o dia foi cheio de reuniões. Ele quase não parou em seu
escritório, a não ser para falar com seu irmão e durante o almoço,
todavia ao invés de sua refeição, participou de uma estava em
conferência.
Passo os dedos em meus lábios e não consigo deixar de
pensar o quão perto eu estava de saber qual era o seu gosto. Seu
cheiro é tão bom, sua pele é quente e macia, porra e o corpo?
Gostoso para caralho!
Aquelas mãos grossas me apertando, aquele peito que eu
estou louca para lamber. Senti-lo tão perto de mim, fez minha
calcinha ficar tão molhada. Não! Alagada.
Depois da minha última noite de sexo horrível, estou me
sentindo ainda mais carente de orgasmos.
Olho para a caixa que está debaixo da minha mesa, e não
consigo parar de sorrir.
Ele podia muito bem ter pedido apenas desculpas, mas fez questão
de comprar algo que ele sabe que eu gosto, mesmo sendo pouco
convencional para dar a uma mulher, ainda mais a que é sua
assistente, mas eu particularmente amei.
Não me levem a mal queridas, não sou pinguça, mas é
sempre bom ter álcool em casa. Não sabemos quando vamos
precisar, não é mesmo?
Estou fantasiando, quando ouço alguém chamar meu nome.
Rápido balanço a cabeça afastando meus pensamentos, a maioria
deles depravados. Muito depravados.
Olho para cima e vejo dona Beatriz com aquele sorriso
simpático de sempre.
— Olá, menina. Como você está?
— Olá, dona Beatriz. Que bom ver a senhora por aqui. —
Levanto indo cumprimentá-la com um abraço.
Durante o tempo que trabalhamos juntas, realmente nos
tornamos mais do que chefe e funcionária, como ela me disse em
meu primeiro dia de trabalho. Nos tornamos boas amigas.
— Faz tempo que não saímos juntas, querida. Saudade dos
nossos almoços — diz apertando minhas bochechas.
— Precisamos marcar. Também sinto falta de conversar com
a senhora.
Depois que ela voltou da Itália, logo após Dante receber alta
do hospital, costumávamos almoçar juntas, principalmente quando
precisava conversar, desabafar ou algo assim. Algumas vezes na
sua casa.
Mesmo frequentando a casa dos Fontana, nunca havia visto
Dante. Ele ficou hospedado na mansão dos seus pais enquanto se
recuperava do acidente, mas nunca socializava e segundo Beatriz,
apenas saia do quarto para ir ao médico ou para fazer suas sessões
de fisioterapia.
Não consigo imaginar tudo pelo que ele passou e a dor que
sentiu ao perceber que perdeu duas coisas naquela noite horrível:
seu melhor amigo e a vida a que estava habituado.
— Meu filho lhe falou a respeito do jantar que vamos fazer,
dando boas-vindas para Beatrice? Pedi que falasse com você
pessoalmente.
— Ele não comentou comigo — respondo sinceramente
passando a ponta dos dedos em alguns fios de cabelo.
— Esse menino — falou levantando a mão.
— Hoje o dia foi bem corrido e cheio de reuniões. Tivemos
que almoçar aqui mesmo. Ele deve ter esquecido — compreensiva,
solto uma desculpa para que ele não tenha me convidado conforme
o pedido de sua mãe. Ele realmente pode ter esquecido, ou… será
que não tinha intenção em me convidar?
— Então eu mesma faço o convite a você, querida. Por algum
motivo sabia que meu filho esqueceria. — Ela tira de sua bolsa um
envelope branco com detalhes prateados e me entrega — Você é
muito bem-vinda para estar neste jantar, além de ser minha amiga, é
de minha filha também, praticamente da família, assim como
Henrique — fala e depois toca minha bochecha mais uma vez.
Depois do meu primeiro dia trabalhando com ela, percebi que o
carinho é um hábito seu.
— Será um prazer. — Sorri, guardando o convite em minha
bolsa.
Ainda fico surpresa com o quanto minha antiga chefe gosta
de organizar festas, pensando em todos os detalhes, ainda que seja
apenas um jantar. Na verdade, nunca é apenas um jantar.
— E Dante, está ocupado? — indaga em seguida.
— Estava finalizando uma ligação — termino de falar e a
porta do escritório se abre.
— Mãe? O que faz aqui? — Dante questiona ao fechar sua
sala.
— Vim ver meu filho. Não posso? — pergunta com aquela
típica voz de drama que já estou bastante acostumada e que me
lembra muito Matteo.
— Claro, mãe. — Dante a abraça — O que deseja dona
Beatriz?
— Primeiro puxar sua orelha. Esqueceu de convidar Ana para
o jantar, — seus olhos vão até os meus, mas antes de alguma
resposta ser ouvida, ela continua — mas eu mesma já fiz isso, havia
deixado um convite separado para entregar a ela. — ele me olha e
abre um sorriso tímido e eu pisco rapidamente. Lindo! — Segundo,
vim saber pessoalmente porque há semanas não está frequentando
a fisioterapia hein, mocinho? Liguei para seu fisioterapeuta e ele me
informou que você não marcou os horários com ele.
— Desculpe não ter falado com a Ana. O dia foi cheio hoje e
eu estava... com muitas coisas na cabeça, e sobre minha
fisioterapia, já agendei com Lucas mais cedo. As sessões serão
aqui, na academia da empresa. Não se preocupe. Papai, onde está?
— Noite do golfe, esqueceu? Está no clube com um bando de
velhos que acham que são jogadores profissionais. Não conseguem
dar nem uma volta no campo sem que a pressão caia. Seu pai, por
exemplo, só sabe ficar andando por lá naquele carrinho. Acho que
nenhum deles joga de verdade. Está mais para um clube de fofoca
dos aposentados — Beatriz diz, fazendo-me rir e estala a língua
rapidamente. — Na verdade, o médico disse que seria bom para
ele, então não me opus. Melhor do que ele ficar em casa dando
margem para o sedentarismo.
— Verdade, havia me esquecido — Dante responde sorrindo
— Quer jantar comigo? Já estou de saída.
— Claro que quero, amore. Estou curiosa para ir ao
restaurante de uma antiga professora minha, da faculdade de
gastronomia. Ela é brasileira igual a mim. Ouvi maravilhas do lugar e
do cardápio brasileiríssimo. O que acha? — pergunta ao filho.
— Por mim, tudo bem mamma.
Beatriz se vira para mim ao propor:
— Quer vir conosco, querida? Íamos adorar, não é filho?
Olho para Dante e ele parece tão tenso quanto eu, e antes
que ele fale algo, me adianto:
— Estou bem, não quero atrapalhar.
— Não vai — Dante exclama me surpreendendo e seu olhar
vai direto para minha boca me causando um arrepio. Ou será que
estou imaginando coisas? — E não se preocupe com a caixa, vou
pedir para meu motorista entregar na sua casa.
— Tudo bem. Vou avisar minha amiga. Obrigada! — Sigo até
minha mesa, desligando meu computador e pegando meu celular
para enviar uma mensagem à Bárbara avisando da entrega. —
Pronto.
— Vamos crianças. Serei a motorista — Beatriz diz tirando da
bolsa que está em seu ombro a chave, a balançando no alto.
— Enviarei uma mensagem ao meu motorista avisando que
ele está dispensado após passar em sua casa. Diga-me o endereço.
— Meu chefe pede já sacando do bolso seu celular.
Recito meu endereço e vejo seus dedos trabalharem
rapidamente para logo em seguida enviar a mensagem e guardar o
aparelho novamente.
Seguimos até o elevador e é impossível não sentir o clima
tenso que paira sobre meu chefe e eu. Tento disfarçar a vontade de
colar meu corpo ao dele, ao entrar na caixa de aço, Dante fica em
um lado e eu em outro, com sua mãe no meio de nós.

Chegamos em um restaurante de comida brasileira muito


bonito que fica no terraço de um prédio que eu acabei me perdendo
tentando contar quantos andares tem. O lugar é grande e as
paredes são de vidro, nos dando uma vista linda do céu e da cidade.
— Uau! — digo dando uma volta, olhando todo o lugar até
que meus olhos cheguem aos do homem que tem permanecido em
meus pensamentos nos últimos dias.
— Lindo, não é querida? — Beatriz pergunta.
— Sim, muito lindo — digo, mas já não estava mais me
referindo ao restaurante.
— Mesa para três, por favor — ela pede a um homem todo
elegante que sorri parecendo um pouco nervoso com a presença
das pessoas que estão comigo.
Provavelmente, ninguém está preparado para receber os
donos de um restaurante tão importante como o La Fontana, ainda
mais da ex-chefe de cozinha do lugar.
— Por aqui, Sra. Fontana — o homem consegue dizer sem
gaguejar esboçando um sorriso trêmulo em seus lábios enquanto
nos conduz até a mesa.
Ficamos em uma mesa de canto. Eu me sento ao lado da
parede de vidro, Beatriz ao meu lado e Dante a minha frente.
Fazemos nossos pedidos e meu chefe como italiano nato que é,
escolheu um vinho, um bem caro que precisei me conter em não
arregalar os olhos quando vi o preço no cardápio.
— Então meninos, como foi o trabalho hoje? — Beatriz
pergunta e na mesma hora, meu olhar se encontra com o de seu
filho. Espero que ele responda, o que não demora.
Dante coloca as mãos juntas em cima da mesa antes de
falar:
— Intenso, mas está tudo ótimo, mãe. Ana é uma ótima
assistente, tem me ajudado em tudo que preciso.
Sinto na mesma hora minhas bochechas esquentarem.
— Obrigada. Você é um ótimo chefe — elogio, omitindo a
parte que ele é gostoso para caralho, óbvio.
— Fico feliz em ouvir isso. — Beatriz sorri e tem um ar de
quem tem algo a mais ali no sorriso. Soube que Alan ficou
encantado por você. — Rindo de lado me cutuca com o cotovelo —
Ele é um bom homem e, também, muito bonito. Não acha?
Não tão bonito quanto o seu filho.
— Sim, ele foi muito educado quando nos conhecemos.
— Matteo me contou que ele a chamou para sair. Você
aceitou? — curiosa, investiga.
Como esse boca suja descobre essas coisas? Um fofoqueiro
mesmo!
— Sim. É sempre bom fazer novos amigos. — Não me atrevo
a olhar para Dante, mas ouço o ranger sutil de seus dentes e
consigo sentir seu olhar me fuzilar ainda mais do que antes.
— Tenho certeza que a amizade é a última coisa que ele quer
com você querida — Beatriz diz rindo, levando uma das mãos até
meus ombros. — Ouvi dizer que ele é um moço sério e não tem
nada a ver com seu ex. — Com nossa proximidade nos últimos
anos, acabei compartilhando meu histórico amoroso nada animador
com ela — Se quiser minha opinião, eu super apoio. Inclusive em
alguns meses teremos a nossa festa semestral para arrecadar
fundos para a caridade. Você poderia acompanhá-lo. O que acha?
— Pisca para mim.
— Ainda falta muito tempo. Não tinha pensado em ir com
alguém. Mas agradeço a preocupação — me atenho a dizer.
— E você meu filho, poderia chamar Juliana. Ela sempre
demonstrou gostar de você. — Beatriz comenta e meu corpo retesa
na mesma hora, somente por ouvir um nome de mulher ligado a
meu chefe.
Quem é essa tal de Juliana que eu nunca ouvi falar?
Por Deus, eu estou realmente com ciúmes do homem que é o
meu chefe?
Não, definitivamente isso não é possível. Estou ficando louca,
é a alternativa mais segura para o incômodo em meu estômago. Ou
melhor, só pode ser fome. Isso é fome com certeza.
— Não acho que ela ainda tenha sentimentos por mim, mãe.
Já faz bastante tempo e, mesmo que tivesse, não estou interessado.
— Deixe de bobagem. Ela sempre pergunta de você e ficou
feliz quando seu pai comentou com o pai dela que você havia
voltado ao trabalho. A propósito, convidamos ela e seus pais para o
jantar.
— Mãe! Por favor, eu não quero estar com ninguém... —
Dante tenta falar, mas sua mãe o interrompe.
— Você é meu filho mais velho e claro que quer alguém.
Ninguém quer ficar sozinho, e pelo que me lembro, você também
não queria.
— Isso foi antes. — Dante fica visivelmente desconfortável.
— Meu filho...
— Mãe, por favor, podemos mudar de assunto? — Dante
pergunta tenso.
— Tudo bem, querido. Mas quero vocês dois acompanhados
na festa que sempre damos no meio do ano para comemorar os
feitos da empresa e para arrecadar dinheiro para a caridade, em
alguns meses — Beatriz fala e seu olhar vai de mim até seu filho,
anuímos por livre e espontânea pressão.
Graças aos céus, nossos pedidos chegam à mesa e eu
agradeço mentalmente.
O jantar seguiu confortável na medida do possível, já que
Dante não parou de me olhar e a porra do incômodo em meu
estômago não sumiu como pensei conforme eu comia a comida
deliciosa em meu prato. O desconforto ficou maior a cada segundo
que nossos olhares se encontravam, dona Beatriz parecendo
completamente alheia a nós enquanto falava alegremente sobre a
chegada de sua filha e o jantar de boas-vindas.
Já estávamos terminando nossos pratos quando o celular da
senhora Fontana tocou.
Ela pediu licença, levantando-se para atendê-lo e se afastando.
Termino de comer, limpando minha boca com o guardanapo e
bebo um gole de vinho.
Meus olhos seguem até Dante que está focado em sua taça.
Quando percebe que estava o observando, seus olhos encontram
os meus mais uma vez, só que agora ficamos nos encarando por
alguns segundos até que decido quebrar o silêncio.
— Então, — começo — é verdade que você toca violão? —
pergunto me lembrando da vez que sua mãe comentou comigo que
amava ver o filho tocar.
— Minha mãe contou? — anui e ele sorri tímido — Sim, é
verdade.
— Costuma praticar?
— Costumava, quase todos os dias. Era algo que... me
ajudava a relaxar. Faz algum tempo que não prático.
— Você também canta?
— Um pouco. Nada muito impressionante, mas sim. Sei
cantar. — Dá de ombros.
— Quando começou a tocar? — pergunto curiosa.
— Ainda na adolescência, eu tinha dezessete anos. — Ele
sorri relaxado, como se a memória estivesse fresca em sua mente
— Eu gostava de uma garota na escola e meio que queria
impressioná-la no dia dos namorados. — Batuca os dedos na
madeira da mesa e com os lábios apetitosos, esboça um leve
risinho muito charmoso — Vi alguns vídeos na internet, comecei
com músicas simples e ... o resto foi prática.
— E você conseguiu cantar pra ela? — falo, apoiando um
cotovelo na mesa, segurando meu rosto com a mão.
Ele alarga o riso, que é muito bom de se ouvir, e é impossível
não rir junto.
— Um dia antes, ela apareceu na aula de mãos dadas com o
garoto popular da escola.
— Não acredito!
— Acredite — diz abrindo um sorriso.
— Sinto muito.
— Está tudo bem.
— Qual música você escolheu? — indaguei.
— Imbranatode Tiziano Ferro.
— Uau! — arregalo os olhos quando digo. — É... uma
música... linda, um pouco intensa para um adolescente, mas
realmente... linda.
— Bem, naquela época eu achei que era amor de verdade.
Então...
— E existe amor de mentira? — o interrompo.
— Não entendi — diz e franze o cenho — Explique-se Ana.
— Bem, quando você diz amor de verdade acaba meio que
sendo... redundante — balbucio — Veja, — digo ajeitando minha
postura como se fosse apresentar um trabalho. — O amor por si só
já é verdadeiro. Não existe amor de mentira. Ou é amor, ou não é.
Não há como amar de mentira, não há como fingir, está nos olhos,
na pele, nas ações.
— Naquele dia… em minha sala — fala e vejo seu pomo de
Adão se mexer rápido, como se estivesse nervoso — você
comentou que deve ser bom estar com alguém que se importe com
você. — Anuo e espero que continue. — Fiquei pensando se você
já…. se já se apaixonou?
Apesar da pergunta ser íntima demais, não me oponho a
respondê-la.
— Pensei que estava, mas claramente não, eu não estava.
— Como você soube?
— Bem, acho que depois de tantas mentiras e traições, fica
bem claro que pode ser tudo menos amor.
— Sinto muito — diz tocando em minha mão que está sobre
a mesa, seus olhos não deixam os meus.
O tempo parece parar. Sua mão faz um carinho em círculos
que deixa minha pele formigando, fazendo-me pensar em coisas,
coisas muito safadas. Meus lábios secam e como por impulso,
passo a língua para umedecê-los. Seu olhar segue o movimento,
me deixando excitada e aperto sua mão como se estivesse prestes
a cair.
Por algum milagre consigo falar, devolvendo a pergunta que
ele me fez, curiosa com sua resposta:
— E você Dante, já se apaixonou antes?
— Não, mas… mas eu gostaria de saber… como é — ele
confessa baixinho.
— Gostaria? — Engulo a seco sentindo o clima ficar ainda
mais tenso, nossas mãos ainda ligadas.
— Antes... quero dizer. — Então, subitamente seus dedos se
afastam dos meus, sua postura fica rígida e seu rosto sério como se
algo em sua mente o tivesse feito voltar a realidade.
Talvez o fato de eu ser sua funcionária, já que deixou claro
que não se envolve com pessoa que trabalha, e eu deveria ficar feliz
ou no mínimo aliviada com isso, mas não fico.
Fecho meus dedos, sentindo um vazio estranho e a sensação
de que estou fantasiando coisas me toma.
Eu não sou o tipo de mulher que alimenta ilusão, que sonha
acordada ou que insiste em algo que claramente não chegará a
lugar nenhum. Sou boa em ver os sinais iniciais, e Dante está
claramente me dando indícios de que não tem interesse em mim.
Tudo é apenas coisa da minha cabeça, ou melhor coisa da minha
Ana tarada que está encantada demais com a beleza do homem à
minha frente.
Não seja tonta, Ana Laura. Você nunca foi e não vai começar
a ser agora, ainda mais com o seu chefe gostoso, milionário e que
não se envolve com funcionárias
Arrasto minha mão para baixo da mesa, olhando pela última
vez seu perfil. Dante olha a vista da cidade, sua mandíbula está
trincada como se ele estivesse com raiva. Provavelmente com raiva
de mim.
— Era seu pai. — Ouço a voz de Beatriz e me adianto em
pegar minha taça, bebendo um pouco do vinho que ainda resta para
acalmar meu coração, que a essa altura bate de forma
descontrolada.
— Está tudo bem mãe? — ele pergunta, olhando-a.
— Sim querido. Só ligou para avisar que está jantando com
os amigos no clube. Demorei porque fui até a cozinha elogiar minha
ex professora pela comida maravilhosa. Vou pagar a conta — diz,
mas Dante a impede segurando em sua mão.
— Não se preocupe, mãe. Eu pago. Sente-se — diz já se
levantando e a sensação de que ele está usando a oportunidade
para ficar longe de mim invade meu peito — Volto em um segundo.
Com licença.
Anuímos e permanecemos ali, o aguardando retornar. E
mesmo não querendo babar em sua bunda, a Ana tarada vence a
luta interna dentro de mim, me fazendo olhar. — Com o máximo de
discrição que consigo, não desejando que dona Beatriz me pegue
no flagra. Uma visão de dar água na boca.
Bunda linda da porra!

Minutos depois, o carro para em frente ao meu prédio.


Despeço-me de dona Beatriz e de Dante, agradecendo pelo jantar.
Caminho em direção a portaria e quando finalmente entro em meu
apartamento, me jogo em meu sofá, jogando as mãos para minha
cabeça e solto um longo suspiro.
— Dia difícil? — Bárbara pergunta ao sair da cozinha.
— Você nem imagina.
— Tem a ver com aquela caixa ali? — Aponta para a caixa
em cima do balcão da cozinha. Eu concordo balançando a cabeça e
ela continua — Então o que o chefe bonitão fez dessa vez?
— Ele não fez nada... quer dizer, apenas foi educado. Ele me
pediu desculpas por ter sido grosso na outra noite e me comprou
essa caixa de uísque.
— E...?
— Eu quase fiz besteira, quase mesmo.
— Seja mais específica — pede, haja vista que tenho
compartilhado minha saga em tentar controlar a Ana tarada quando
se trata de meu chefe.
— Eu fiquei muito feliz quando vi qual era o presente, porque
você sabe que eu sou louca por essa bebida e... eu meio que
abracei ele.
— Ok, os abraços entre chefe e assistente não são tão
comuns. Mas, qual foi o problema desse abraço? — pergunta
levantando uma sobrancelha.
— O problema é que eu sou uma tarada que não consegue
se segurar — digo, fechando meus olhos — Você acredita que
enquanto eu o abraçava, eu cheirei o pescoço dele? Cheirei pra
valer, igual um cachorro farejando.
Bárbara fica quieta um segundo e depois explode em uma
gargalhando tão forte, que a faz segurar sua barriga.
— Não acredito! — diz entre risos.
— Acabou o show? — digo a olhando de cara feia.
— Tudo bem. Tudo bem. Parei — fala tentando controlar sua
respiração — O que aconteceu depois da... cheirada?
— Mais besteiras. Eu fiz carinho na nuca dele e pra finalizar
minha sentença de abusada, passei meu nariz no seu queixo perto
da boca dele.
— E ele? O que ele fez?
— Bem, acho que deve ter ficado assustado porque ele
realmente não esperava, nem eu esperava. Só que... quando eu o
senti, não consegui me controlar. Eu só queria... queria...
— Queria...?
— Porra, eu queria beijar aquela boca gostosa que fica me
perturbando o juízo — digo — Como naquele outro dia, que eu te
contei, em que almoçamos na sala dele. Lembra? — Ela anui e eu
pego um travesseiro, colocando-o na minha cara.
— Nossa! E por que você não beijou dessa vez?
— Você ficou louca? — digo quase gritando, deixando o
travesseiro em meu colo — Ele é meu chefe!
— Relacionamentos entre chefe e funcionária são mais
comuns do que você imagina, seja algo mais casual ou não. Já
disse! — E pisca para mim.
— Acho que você esqueceu que ele já deixou mais do que
claro que não fica com funcionárias. Eu tenho amor próprio, tá
legal? — digo jogando o travesseiro nela a fazendo rir. — Só tenho
que aprender a me controlar. Eu… — Solto um suspiro antes de
continuar — Eu deveria ficar feliz por ele manter distância entre nós,
por ser tão profissional, mas isso me deixa um pouco chateada.
Droga!
— Como sua melhor amiga, preciso te falar isso. — Bárbara
respira fundo, me olha nos olhos, tendo toda minha atenção e diz:
— Isso é atração pura, minha amiga. Não há para onde correr. Não
importa o tempo que vocês se conhecem e nem o fato dele ser seu
chefe. — Ela toca em meu ombro — Você está realmente ferrada!
Pulo em cima dela, atacando-a com cosquinhas em sua
barriga. Ela grita, entre risos e tenta sair. Depois de alguns minutos
de tortura, levanto-me indo até a geladeira beber um pouco de água.
— Eu te odeio! — Bárbara diz arrumando sua blusa de
dormir.
— Não odeia não. — cantarolo indo em direção ao meu
quarto.
E naquela noite, fiz uma coisa estúpida. Naquela noite, a Ana
Tarada, que estava necessitada demais, ganhou mais uma luta
interna entre minhas emoções e a razão, provavelmente sua
vontade sendo intensificada pelas minhas últimas noites frustrantes
de sexo.
Eu poderia simplesmente sair e encontrar alguém em um
barzinho como sempre costumava fazer? Poderia, contudo ainda
estava no meio da semana, isso daria trabalho demais e ainda tinha
o risco de não ser bom como nas vezes anteriores.
E a verdade é que eu estava com apenas um homem na
minha mente, apenas um homem que poderia muito bem, a levar
pela forma como meu corpo reage a ele, cuidar das minhas
necessidades. Dante, meu chefe.
Então, naquela noite foi a primeira vez que usei meu vibrador
pensando nele.
Que seja a primeira e última vez.
Depois do jantar com minha mãe e Ana, não consegui parar
de pensar em minha assistente.
Passei quase toda a noite fantasiando com seu cheiro,
aquele que pude sentir quando nos abraçamos, sua pele macia, sua
boca e aqueles olhos? Porra, aqueles olhos.
A conversa que tivemos quando minha mãe precisou se
levantar, nos deixando a sós, passou pela minha cabeça, meus
pensamentos se tornando ainda mais confusos do que antes.
Eu fui sincero quando disse que gostaria de saber como é
estar apaixonado, essa era uma vontade que eu passei anos
querendo descobrir, era quase como uma meta de vida. Encontrar
alguém que eu amasse e me amasse de volta, casar, ter filhos. Mas
agora, depois de tudo que eu passei, esse sonho se perdeu em
algum lugar escuro dentro de mim e não sei se estou pronto para
resgatá-lo.
Olho para baixo, para minha prótese e sei que realmente não
estou pronto para recuperá-lo, o medo de não ser correspondido ou
de não ser mais visto como um homem atraente me assombra, me
paralisa, me deixa apavorado.
Depois do acidente nunca estive com mulher alguma, me
privei de sentir prazer até mesmo com minhas mãos. Não que
tivesse acontecido momentos onde meu corpo queria alívio, na
verdade, estava tão mergulhado no mar de culpa — como Matteo
disse — que não conseguia sentir nada além de dor e sofrimento.
E parando para pensar agora, sinto falta de estar com uma
mulher, de tocar em curvas femininas que me façam perder a
cabeça, de lamber, beijar, chupar, apertar… e quando esses
pensamentos invadem minha mente, é a imagem de Ana Laura que
surge em minha cabeça. Tão linda, tão gostosa, tão fudidamente
deliciosa.
Já era tarde e faz mais de quinze minutos que cheguei em
meu apartamento, me livrei de minhas roupas e estou parado de
frente para o espelho de meu banheiro. Eu preciso dormir, preciso
descansar. Amanhã o dia estará cheio.
Volto a olhar para baixo, mas agora para minha cueca, o
volume que estica o tecido deixa ainda mais evidente minha
abstinência. Porra, são dois anos. Dois longos e dolorosos anos…
sem fazer sexo e estar perto de uma mulher como Ana, que me atrai
como nunca outra fez, me deixa dolorosamente necessitado.
Sentia a necessidade de saber sobre tudo que ela gostava e
tudo que não a agradava, descobrir seus sonhos, seus medos,
tudo.
Passo as mãos pelos cabelos, me sentindo frustrado e me
livro de minha cueca, caminhando até o box. Faço a troca de
prótese, ligo o chuveiro e deixo a água cair sobre meus ombros e
começo a pensar em uma maneira de não pensar em minha
assistente desse jeito. Não é fácil e depois de dois minutos
tentando, percebo que é algo impossível de se fazer.
Olho para o meu pau semiereto que não quer baixar, a água
gelada não surtindo efeito algum.
Não me recordo a última vez que me masturbei, mas sem ter
muito o que fazer, decido dar alívio a nós dois.
Aperto meu membro com a mão e o massageio por todo o
comprimento, continuo assim até sentir ele totalmente duro.
Intensifiquei os movimentos concentrando mais na ponta.
Penso na Ana Laura e o quanto estávamos próximos hoje de
manhã, quando ela me abraçou. Sua boca a centímetros da minha.
Como seria bom chupar aquela língua afiada. Seu cheiro, levemente
adocicado que estava me deixando louco.
Fecho meus olhos, gemendo baixo. Aumento a velocidade e
a pressão, pensando em como seria bom chupar sua boceta até ela
não aguentar mais de tanto gozar em minha boca. Porra, eu amo
fazer sexo oral, tanto quanto amo receber.
Encosto minha cabeça na parede, gemendo mais alto.
Desejando me enterrar todo nela e foder aquela boceta sem parar,
várias e várias vezes, até que gozei forte falando seu nome.
Minha respiração ainda está acelerada, quando termino de
tomar meu banho. Faço a troca de perna e saio do box. Parando em
frente ao espelho, me apoio com as mãos na pia branca de
mármore.
Acabei de me masturbar pensando na minha assistente.
Ou eu estou me tornando um pervertido. Ou eu estou
literalmente fodido.
E diante das minhas opções não sei qual seria a pior.
— Merda! — digo ao colocar meu sapato enquanto saio do
meu quarto.
— Vamos, estamos mais que atrasadas. — Bárbara me
apressa já abrindo a porta do apartamento.
— Esqueci de colocar a Beyoncé para me acordar —
resmungo batendo a porta. Odeio perder o horário, ainda mais para
o trabalho.
— Me lembre de não ficar até mais tarde da noite lendo meus
livros — minha amiga pede.
— Como se fosse mesmo deixar de fazer isso. — Ela revira
os olhos para mim.
Corremos na intenção de pegarmos o elevador que apita
sinalizando sua partida.
— Segura a porta! — grito na esperança de ter alguém dentro
da caixa de aço e, para nossa sorte, tem.
Nós duas nos aproximamos e quando a porta abre por
completo, damos de cara com um homem. Um homem bem bonito
por sinal. Ele é alto, cabelo castanho, olhos verdes e usa uma
camiseta que deixa seus braços enormes à mostra.
— Bom dia meninas — o cara cumprimenta e noto Bárbara
babar um pouco, sua voz cheia de sotaque indica não ser brasileiro.
Americano, talvez.
— Bom dia — devolvo a cordialidade e puxo minha amiga
que não para de secar o cara descaradamente. — Obrigada por
segurar pra gente.
— Isso, pode me segurar — Bárbara diz como se estivesse
em transe, e eu dou uma cotovelada para ela voltar à realidade. —
Quer dizer, obrigada — falou ajeitando o cabelo.
— Por nada. — Ele, por outro lado não deixa de sorri ladino e
bem certo do que está causando a minha amiga ao meu lado que
deixa uma gota de baba cair no chão. — A propósito, sou filho do
síndico, Fábio.
Agora que falou, consigo ver a semelhança com o senhor
João.
— Sou Ana e essa é Bárbara. — Sinalizo entre nós.
— Prazer em conhecer vocês. — Sorri de forma simpática e
juro que quase fiquei cega com a brancura de seus dentes, mas o
sorriso é bonito, não tão bonito quanto o de Dante, mas ainda
assim… Que porra é essa? De onde veio isso? Pergunto ao meu
subconsciente.
— O prazer é todo nosso, Fábio — Bárbara diz com aquela
voz de gata manhosa e coloco uma mão em minha boca contendo
uma risada.
Minha amiga não é tão para frente quanto eu, contudo,
quando toma a atitude geralmente resulta em momentos que me
proporcionam ótimas risadas, como agora. Ela costuma ser bem
exigente com seus pretendes e sempre acaba escolhendo os que
aparentam ser mais calmos e tranquilos.
A porta se abre e rapidamente saio, puxando Bárbara que
acena para Fábio toda cheia de segundas intenções.
— Vamos, amiga. Acordamos tarde e estamos mais do que
atrasadas para chegar em nossos trabalhos. Já são quase oito
horas. Droga! — resmungo depois de olhar em meu relógio de
pulso.
— Eita, verdade. — concorda enquanto alcançamos a
garagem do prédio. Andamos até nossa joaninha e puta merda! —
Não acredito, o pneu está furado?! Como a gente não viu isso antes.
— Droga! Até pegarmos um táxi já vai ser tarde demais.
— Que raiva! Droga de livros de romance com hots
detalhados — Bárbara grita e prendo a risada enquanto minha
amiga pragueja todos os seus autores favoritos — O que vamos
fazer? — pergunta depois de um tempo.
Antes que eu possa responder, a porta da entrada da
garagem se abre, fazendo-nos olhar em direção a ela.
— Algum problema, meninas? — Fábio pergunta caminhando
até nós.
— Pneu furado — Bárbara responde apontando para a
borracha redonda — e estamos atrasadas para o trabalho —
acrescenta.
— Posso dar uma carona a vocês — oferece.
— Sério? — perguntamos ao mesmo tempo.
— Sim. Só preciso avisar meu pai e pedir que ele desça para
ficar na portaria. Ia fazer isso por ele esta manhã, antes de viajar. —
Sorrindo saca do bolso de sua calça seu celular.
— Não queremos atrapalhar. — Me antecipo em dizer.
— Não vão. — Olhando para a tela do aparelho enquanto
seus dedos se movem, ele sorri deixando claro que está sendo
sincero. Segundos depois o bloqueia e aponta para um carro que
está a quatro vagas de onde o nosso está. — Pronto. Vamos?
— Esse é seu carro? — perguntei apontando para um Jeep
preto muito, muito grande que eu nem sei que modelo é. Ele anui e
eu falo com os olhos arregalados — Caramba, é grande demais.
Nunca andei em um desses. — Com certeza estou parecendo uma
criança agora.
— Obrigado, eu acho — Fábio fala rindo, sem dúvidas
achando graça do meu comentário empolgado e logo abre a porta
para que nos coloquemos sentadas no assento confortável do seu
belo carrão, eu no banco do passageiro e Bárbara atrás. — Qual o
endereço, senhoritas?
Passamos os endereços e entramos na avenida. E caralho,
eu acho que Fábio não é militar como seu pai havia dito para nós.
Acho que é piloto de fuga, só pode pelo tanto que está correndo e
ultrapassamos todos os carros na estrada.
— Só um aviso, Fábio, queremos chegar vivas no trabalho —
mesmo brincando, me atento em informar, agarrando-me ao meu
cinto e ele ri. Olho para trás e vejo minha amiga com os olhos
arregalados mostrando que está com medo assim como eu.
— Desculpe. Sou piloto nas horas vagas. Vou sempre em
uma pista de corrida. Hábito. — Pisca diminuindo um pouco a
velocidade me permitindo respirar um pouco mais aliviada — E
vocês?
— Não curtimos esse tipo de adrenalina, obrigada.
— E que tipo de adrenalina vocês gostam? — pergunta e
Bárbara solta uma gargalhada de deboche.
Aqui vai uma nota sobre minha amiga de apartamento: ela é
a pessoa mais debochada do mundo e não tem vergonha disso.
— Isso foi uma cantada? — Bárbara pergunta.
— Era pra ser, mas obviamente não funcionou — Fábio fala
dando de ombros.
— Ao menos percebeu a tempo. Você ainda tem salvação,
querido. — Bate em seu ombro com um sorriso malicioso
desenhado em seus lábios.
Depois de alguns minutos, chegamos ao trabalho de Bárbara
e ela desce do carro passando as mãos pela roupa com o intuito de
ajustar o tecido enrugado.
— Anotei sua placa. Se minha amiga não chegar ao trabalho,
chamarei a polícia, viu? — Apontando para Fábio, estala a língua
enfatizando seu aviso. Ele, por sua vez, sorri e bate continência
para ela.
— E eu pensando que em um prédio antigo como o nosso, só
teria vizinhos chatos — ri e coloca o carro em movimento
novamente.

Rápido como o esperado, apesar do trânsito, chegamos ao


meu trabalho. Fábio estaciona próximo a entrada da garagem,
desliga o carro e diz:
— Vou abrir pra você.
Dante é gentil também.
De novo? Agora pronto, vou ficar comparando todos os
homens com ele?
Espero Fábio dar a volta no carro, parar ao meu lado e abrir a
porta para mim.
— Prontinho, madame.
Sorrindo, agradeço:
— Não precisava, mas obrigada.
— Sem problemas e, por favor, avise sua amiga que você
chegou bem e em segurança, não quero ir para a cadeia — ressalta.
— Não se preocupe e novamente obrigada — falo e viro-me
indo para a entrada do prédio.
Assim que passo pela porta, vejo Dante parado ao lado da
recepção, olhando diretamente para mim. Ele está lindo como
sempre, para meu desespero. Ótimo, mas um dia de trabalho
tentando domar o meu eu tarado.
— Bom dia, Ana — me cumprimenta, contudo não me dá
tempo de devolver a saudação — Vi você chegando e decidi
esperar para subirmos juntos.
— Desculpe pelo atraso — falei quando já estou de frente
para ele.
— Não se preocupe. Também estou atrasado. — E só agora
me dou conta disso, achando estranho já que ele é tão pontual
como a mãe Acabei… han… dormindo demais — ele confessa e
suas bochechas ficam coradas — Tome, trouxe um café para você.
— Entrega-me um copo e aceito de muito bom grado, apreciando o
cheiro da bebida que tanto amo.
— Bom dia, Dante e obrigada. Não precisava, mas está
delicioso. — Sorrindo após degustar uma pequena golada e
percebo ele fazer a cara mais fofa do mundo como um menino
quando recebe um elogio por algo que fez na escola.
— Vamos? — pergunta e concordo.
Seguindo ao elevador lado a lado com meu chefe que assim
que alcançamos a porta, rapidamente aperta o botão e logo o
elevador chega. Entramos e eu me agarro ao copo de café como se
dependesse dele pra viver. A parte mais difícil do meu dia é essa,
estar sozinha com ele e pior, em um cubículo apertado onde o
aroma que exala, adentra minhas narinas fazendo com que eu
deseja sentir o gosto de sua pele tão perfumada. Preciso usar todo
o meu autocontrole para não pular em cima dele.
— Quem é o... motorista? — pergunta fazendo meus olhos
mirarem em sua direção e observo que está apreensivo aguardando
minha resposta.
— Fábio? — revelo como se ele soubesse de quem se trata.
— Hum. Fábio — cuspiu o nome como um veneno.
— Ele não é motorista. É filho do síndico do prédio onde
moro — explico arfando o ar — Acho que está visitando o pai.
— E porque — pigarreia ajeitando a gravata visivelmente
inquieto, provável que saiba o quanto suas perguntas não fazem
sentido algum. — Você veio com ele hoje para o trabalho?
— Bem, meu carro está com o pneu furado. Minha amiga e
eu só vimos hoje pela manhã, quando já estávamos atrasadas. O
carro é nosso, na verdade e sempre dividimos as semanas. Fábio
se ofereceu e aceitamos a carona, mas. — Levanto um dedo. —
Preciso me lembrar de nunca mais entrar em um carro com aquele
homem novamente.
— Por que? Ele fez alguma coisa com você? — Se empertiga
e seu rosto assume um tom avermelhado.
— O que? Não! — Me apresso em explicar o acalmando um
pouco. — O cara corre demais. Parece piloto de fuga.
— Por que não me avisou? — fala pegando o celular de seu
bolso, continua sem me dar chance de responder. — Não importa.
Vou contratar um motorista para você. Não se preocupe.
— O que? Por que? — atordoada, questiono com minha voz
um pouco aguda demais.
— Ana, não vou deixar você andar por aí com um cara que
dirige feito um louco.
— Primeiro. — Elevo um dedo. — Eu tenho carro. Segundo.
— Mais um dedo. — Hoje foi apenas uma exceção. Não é como se
eu fosse aceitar carona sempre e, na verdade, nem quero. Não
preciso de motorista. Estou bem, obrigada.
— Pronto. Agora você tem um motorista que vai levá-la para
onde quiser — diz guardando o celular e a porta do elevador se
abre. Dante sai, deixando-me para trás de boca aberta,
completamente atordoada com a cena. O que está acontecendo
com esse homem?
Saio do meu torpor endireitando meu corpo, indo atrás do
meu chefe com muitas perguntas a fazer.
— O que? Como assim, Dante? Eu tenho um… motorista? Ei!
— digo correndo até ele — Eu realmente não preciso.
— Não sei porquê não pensei nisso antes — fala consigo
mesmo — Você é minha... minha assistente.
— Sempre contrata motorista para suas assistentes? É
permitido pelas normas da empresa? — pergunto apertando um
pouco mais o copo de café que permanece em minhas mãos.
Ele se vira para mim e eu paro instantaneamente. Leva sua
mão ao meu ombro e depois para meu rosto, e como se estivesse
hipnotizada sigo cada movimento seu.
— Vou ficar mais tranquilo se você aceitar, tudo bem? —
pergunta seu tom de voz me torna incapaz de discordar.
— Tudo bem. — as palavras saltam da minha boca devagar
achando tudo isso muito estranho.
Ele sorri para mim e vai até seu escritório e, como sempre,
quando ele fica de costas babo em sua bunda malhada me
esquecendo totalmente sobre o que ele acabou de fazer.
Logo que suas portas se fecham, sigo até minha mesa e
beberico o líquido marrom quentinho que permanece em minhas
mãos.
Que dia mais maluco!

O resto do dia ocorreu tudo bem. Graças a Deus!


Minha sanidade, ou o pouco que restava dela, continuava
intacta.
Mando uma mensagem para Bárbara avisando que vou
passar em seu trabalho para pegá-la e óbvio que omiti a parte do
motorista particular para poupar questionamento. Explico depois que
chegarmos em casa.
O dia foi tão cheio que mal tive tempo para falar sobre isso
com Dante e dizer ale mais uma vez, que estava exagerando, eu
realmente não precisava de toda essa mordomia. Ele acabou saindo
para se encontrar com um investidor no hotel que o mesmo está
hospedado e dispensou minha presença. Agradeci aos céus por
isso, pois estou muito cansada e só quero tomar um banho e dormir.
Apreço em arrumar todas as minhas coisas espalhadas pela
mesa e logo adentro o quadrado elevatório que não tarda em descer
até a portaria e assim que alcanço a saída sou parada por um
homem de terno e gravata, perfeitamente uniformizado e pelos fios
brancos em seus cabelos, é notório que é de meia idade.
— Sra. Ana? — pergunta.
— Sim, sou eu.
— Sou Arthur, seu motorista. O sr. Dante me deixou
encarregado de levá-la aonde a senhora desejar. Vamos?
Dante havia me enviado uma mensagem informando sobre.
Eu estava me sentindo a própria Anastacia do filme Cinquenta tons
de cinza, só que sem a parte do sexo com o CEO. Triste!
Sigo Arthur e ele me guia até uma Rand Rover preta, abre a
porta de trás para mim e eu agradeço. — Pode me chamar de Ana,
sem senhora. Por favor!
— Tudo bem, Ana — falou e o vejo sorrir pelo retrovisor.
Momentos depois, estamos na frente do trabalho de minha
amiga e a vejo parada na calçada. Abaixo o vidro e vejo seus olhos
arregalaram:
— É você mesmo Ana? — diz se aproximando.
— Entra logo — falo abrindo a porta para ela que
prontamente entra. — Este é Arthur, meu... motorista. Arthur, essa é
Bárbara.
— Prazer em conhecê-la, senhorita — Arthur saúda enquanto
minha amiga parece atônita com a cena.
— O prazer é meu, senhor — fala se virando para mim — O
que foi que eu perdi?
— Nem queira saber, mas resumindo: Dante ficou
preocupado por Fábio ser um motorista de corrida e disse que
ficaria mais tranquilo se eu aceitasse um motorista particular. —
solto tudo enquanto sinto o carro começar a se mover.
— Uau! Ele gosta de você.
— Não, não gosta.
— Gosta sim.
— Não, ele não gosta — insisto.
— Ele gosta sim e você também gosta dele. Assunto
encerrado.
Cansada demais para argumentar, apenas encosto minha
cabeça no banco desejando minha cama.
— Ana! Não sou a Queen B, mas estou indo acordar você! —
Bárbara anuncia entrando em meu quarto, se jogando em minha
cama. — Vamos!
— Só mais cinco minutos, por favor. Hoje é sábado. — Cubro
minha cabeça com o lençol, desejando a escuridão e o silêncio para
imergir profundamente no mundo dos sonhos novamente.
— Já passa das dez e precisamos achar um lindo vestido
para você usar no jantar dos Fontana. Esqueceu que é hoje,
maluca?
— Não. Eu não esqueci — falei ainda sonolenta — Por que
eu não posso usar um dos que já tenho, ou você me emprestar um
dos seus? — testo se amoleço o coração da mulher a minha frente,
para que me deixe dormir mais um pouquinho.
— Faz um tempão que não saímos para comprar roupas,
mas de um ano e precisamos renovar nosso estoque de lingerie —
diz rindo, fazendo-me sair debaixo das cobertas.
— Ok, agora você me convenceu. Vá se trocar que eu vou
tomar um banho e já saímos.
— Eba! — Sai do quarto sorridente.
— Eu vou dirigindo — gritei já dentro do banheiro recebendo
um “tudo bem” de volta.
Tiro minha camisola de seda vermelha e entro no box,
ligando o chuveiro e deixo a água cair sobre minha cabeça.
Depois dos presentes que ganhei de Dante, o motorista
particular e a caixa de uísque, o trabalho fez o seu papel em distrair
minha mente. A empresa estava uma correria, principalmente
porque o dia de inauguração de mais um restaurante no Rio de
Janeiro estava tão próximo.
Todavia, sempre que podia, admirava meu chefe, era
impossível não fazê-lo, ainda que por alguns segundos. Ver Dante
trabalhando tão focado e decidido a dar o seu melhor, o deixava
ainda mais sexy e viril.
Termino meu banho, escovo os dentes e vou me vestir.
Escolhendo uma calça jeans branca, com cinto preto, uma blusa de
alcinhas vermelha com um cardigan preto por cima. Como sei que
Bárbara ama fazer compras, bem mais do que eu, calço um tênis
para ficar mais confortável. Paço uma batom cor de boca e corretivo
abaixo dos olhos.
Quando termino de secar meus cabelos, o barulho de uma
nova mensagem apita em meu celular apita. Vou até minha cômoda
e vejo que é Beatrice, falando que está ansiosa para o jantar de
hoje.
Depois de dois anos, ela enfim se formou na faculdade e está
voltando para assumir o cargo de sua mãe na empresa. Antes
desse período ela só havia vindo ao Brasil duas vezes, e devido às
condições delicadas que sua família passava, mal tivemos tempo
para sair, mas sempre nos falávamos por telefone.
Respondo com um:"Também não vejo a hora Bea." seguindo
de uma sequência de coração.
Sim, amo exagerar nos emoticons. Se o aplicativo de
mensagem os criou foi para que nós usássemos, certo? Certo!
Envio outra mensagem, só que para Arthur, avisando que não
irei precisar de seus serviços hoje, dando-lhe — ainda que não
tenha sido eu quem o contratou — o dia de folga. Estava com
saudade de dirigir a joaninha, ainda que seja confortável ter alguém
que faça isso para mim, não posso negar.
Pego minha bolsa e saio do quarto encontrando minha amiga
na cozinha com duas xícaras de café nas mãos. Entrega-me uma e
saboreio minha segunda bebida favorita, antes de sairmos às
compras.

— O que você acha desse? — Bárbara pergunta apontando


para um vestido vermelho que está na vitrine de uma das lojas.
Estamos a mais de quarenta minutos entrando e saindo
delas.
— Hum — murmuro pensativa. — Gostei, mas é muito...
básico.
— Ok, entendi.
Andamos mais alguns minutos e me assusto quando Bárbara
solta um gritinho batendo as mãos.
— Esse. Ele é perfeito e é tão... tão cinquenta tons de cinza.
— O que? — sorrio com a cena entusiasmada da minha
amiga no meio do corredor repleto de lojas e pessoas.
— O filme maluca... do meu crush, o Sr. Grey. — Suspira.
Ela é viciada na saga. Já leu os livros e viu os filmes umas
mil vezes.
— É bem brilhante, não acha? — pergunto cruzando os
braços.
— Sim e eu sei que um certo CEO vai ficar de queixo caído
quando colocar os olhos em você vestida com ele — diz com um
tom convencido estalando os dedos.
Reviro os olhos e sou puxado pelo braço para dentro da loja
onde Bárbara pede o tal vestido cinza brilhante para eu
experimentar. Caminho até o provador meio relutante e visto o dito
cuja que apesar da minha inicial relutância, me cai muito bem.
— Saia que eu quero ver como ficou em você — dita e
minutos depois, saio fazendo-a abrir a boca em um perfeito ‘o’. —
Meu Deus, você ficou incrível amiga!
— Você acha? — pergunto passando as mãos no vestido.
— Você não? — Puxa-me para ficar de frente para um
espelho — Veja como você está linda. É perfeito!
— Uau! — concordo analisando meu reflexo.
— Agora, vamos comer porque estou morrendo de fome e
desejando uma pizza com muito queijo e depois… lingerie!
Já passa das oito da noite e eu ainda estou me maquiando,
na verdade, enrolando.
Estou nervosa demais.
Olho-me no espelho pela milésima vez e só consigo pensar
se um homem em especial vai me notar e gostar do que vê.
Sou tirada dos meus pensamentos, com as palmas de
Bárbara entrando no quarto.
— Arrasou!
— Obrigada amiga. — Pego minha bolsa de mão da mesma
cor que o vestido e saio do quarto, buscando em seguida minhas
chaves de casa e da joaninha. — Tchau amiga, não me espere
acordada — digo abrindo a porta e sorrio assim que ela solta.
— Pode apostar que vou.

Paro em frente ao grande portão de entrada da casa dos


Fontana, anunciando meu nome na portaria e entrando com meu
carro assim que liberado.
Como em todas as vezes que estive aqui, fico encantada com
a propriedade. É linda!
Ela é toda branca, paredes cheias de janelas francesas,
jardim espaçoso na entrada e há duas colunas altas uma em cada
lado da porta da frente.
Estaciono e já consigo ouvir o som de música. Respiro fundo
e caminho até a entrada da casa, tentando me equilibrar nos saltos,
porque minhas pernas tremem mais que vara verde. Toco a
campainha e em segundos, a porta se abre e um corpo se choca ao
meu.
— Ana! Que saudade que eu estava de você, bambina —
Beatrice diz ao me abraçar, me fazendo dar pulinhos junto com ela.
— Também senti, Bea — retribuo o abraço carinhoso que ela
me concede.
— Vem! — me puxa pelo braço para dentro.
Entramos na casa e fomos para o quintal, que tem piscina
com uma grande área gourmet com várias opções de comida com
algumas mesas, cadeiras e sofás espalhados. Uma pista foi
instalada no gramado onde o DJ toca uma música agradável e
alguns garçons passeiam entre os convidados servindo bebidas.
— Querida, que bom que chegou. — Dona Beatriz me
cumprimenta com um abraço ao dizer.
— Boa noite. A senhora está muito bonita — elogio.
— Eu acabei de dizer isso a ela Ana — senhor Vincenzo fala
com aquele sorriso simpático de sempre — Como está, ragazza?
— Bem. Obrigada pelo convite.
— Aninha! — Ouço Matteo gritar atrás de mim.
Viro-me na direção de sua voz e meu corpo todo se arrepia
quando vejo Dante caminhando ao seu lado. Ele está lindo como
sempre, com uma calça e um suéter preto com mangas compridas
que torneiam todo seu tronco. Uso toda força que tenho para não
devorá-lo com o olhar.
Quero tanto tocá-lo. Eu sempre quero tocá-lo.
Matteo se aproxima e me surpreende ao me levantar do chão
com seu abraço, nos girando como se eu não pesasse nada, e
acabo ficando de costas para seu irmão.
— Me solte B1! — digo batendo em seu braço direito, mas
acabo rindo da sua cara de bobo.
— Você está linda! — diz me colocando no chão — Não
acha, Dante? — pergunta ao irmão, olhando sob os meus ombros.
— Sim, ela está. Boa noite, Ana — Dante diz com uma voz
séria.
Giro meu corpo em sua direção quando falo:
— Obrigada. — Fico olhando seu rosto procurando algo que
me fizesse entender por que ele parece estar tão tenso, mas logo
ele desvia o olhar.
— Venham crianças, vamos nos sentar — Beatriz nos chama,
nos guiando para um sofá branco bem grande.
Eu me sento no meio, entre Beatrice e sua mãe, que tem o
marido ao seu lado esquerdo. Matteo se senta ao lado do pai e
Dante em uma poltrona quadrada um pouco distante de nós.
— Onde está Henrique? — sr. Vincenzo pergunta.
— A caminho, precisou dar uma carona para sua prima Stella
até o trabalho.
Seu pai anui e chama um garçom que nos serve vinho com
alguns aperitivos.
Nos próximos minutos, Beatrice nos conta como foram seus
últimos dias na faculdade na Itália, o quão se saiu bem nas provas
finais e o quanto está ansiosa para começar a trabalhar na empresa.
Bebemos alguns drinques, comemos — principalmente eu, né?
0800 queridos — e minutos, depois três pessoas, duas mulheres e
um homem, se aproximam de onde nós estamos.
— Patrícia! Paulo! Que bom ver vocês amigos — dona
Beatriz diz se levantando com a intenção de cumprimentar o casal.
— Nossa, como você cresceu Juliana.
Todos os músculos do meu corpo tencionam quando escuto o
nome da mulher. Juliana!
Ela é muito bonita, tenho que admitir. É alta, com cabelo chanel
preto e usa um vestido rosa justo que desenha seu corpo muito
bem.
Olho para Dante que está com os braços apoiados nos
joelhos, fitando suas próprias pernas. Desde a hora que cheguei,
percebi que ele evita olhar em minha direção e ficou a maior parte
do tempo calado, só falou quando seus pais ou irmãos lhe
perguntaram algo. O completo oposto dos últimos dias que
conversamos e nos aproximamos mais.
— Dante, meu filho. Venha falar com Juliana — sua mãe o
chama e ele assente, caminhando até ela e a cumprimenta lhe
dando um abraço repleto de intimidade.
O bichinho do ciúmes me pica e me mexo em meu assento
me sentindo desconfortável, mesmo sabendo que não tenho direito
algum em me sentir assim.
— Juliana, quanto tempo? Você está ótima — diz e eu aperto,
com força, minhas mãos em torno da minha taça, atenta à interação
dos dois.
— Obrigada, Dante. Você está mais bonito do que eu me
lembro — falou com um sorriso de lado.
Mordo minhas bochechas com a voz melosa que ela usa para
elogiar e aperto ainda mais a taça, fazendo a ponta dos meus dedos
ficarem brancas, na tentativa de esconder o quanto estou
incomodada.
Senhor Vincenzo me apresenta aos seus convidados e tento
conter o sorriso falso que lanço quando Juliana estende a mão e diz
que é um prazer me conhecer. Depois volta sua atenção totalmente
para Dante. Os dois engatam em uma conversa e não passa
despercebido ela não perde a oportunidade de tocá-lo cada vez que
ele fala algo, a fazendo rir.
— Vem Ana! Vamos dançar! — Beatrice me chama. — Eu
amo essa música.
— Vamos. — Viro todo o líquido que restava em minha taça
de uma só vez, e levanto-me, seguindo a caçula dos Fontana.
Bea chega em meio ao gramado, onde tem um lindo piso de
vidro como pista de dança, na frente do DJ e começamos a dançar
seguindo o ritmo da música.
Eu tento acompanhar o ritmo, mas meus olhos não se
afastam dele nem por um segundo. Sinto como se eu fosse explodir
de raiva. Raiva por estar sentindo ciúmes de alguém que não é
nada além de chefe, raiva por ele não ter falado comigo desde a
hora que cheguei e raiva por ele está cheio de intimidade com outra
mulher.
— Amiga, sabia que eu tenho um superpoder? — Bea
perguntou me fazendo olhar para ela.
— Tem? Qual? — pergunto curiosa.
— Eu consigo dizer o que uma pessoa está sentindo só de
olhar para ela. — Pisca para mim, sorrindo cheia de malícia.
— O que isso quer dizer?
— Você está com ciúmes — falou simplesmente.
— O quê? — exclamo, pega completamente de surpresa já
que pensei estar sendo boa em esconder meus sentimentos — Do
que você está falando?
— Cara mia, você ficou tensa desde que Juliana chegou
perto do meu irmão. Você não tira os olhos deles e me arrisco a
dizer que você poderia quebrar o copo na cara deles se eu não
tivesse te chamado para dançar.
— Não sei do que você está falando — tento disfarçar.
— Sabe sim. Quando ia me contar que você gosta do meu
irmão?
— Han? — digo levantando minhas sobrancelhas. — Eu não
gosto dele. Quer dizer, gosto mas não do jeito que você está
insinuando.
— Então, se Juliana o beijar agora, você não se importaria?
— pergunta desafiando-me.
— Droga! — solto um longo suspiro.
— Eu sabia! — diz dando pulinhos e batendo as mãos.
— Não conta pra ninguém Bea, por favor. Apenas minha
parceira de apartamento sabe e, bem... eu nem sei o que eu sinto,
eu só fico nervosa quando o vejo então consigo parar de pensar
nele desde o primeiro dia que o vi. É tudo tão confuso, tão recente,
mas tão intenso e eu… não sei nem o que falar — suspiro tomando
fôlego.
— Calma, Ana — diz, tocando em meu ombro. — Somos
amigas, seu segredo está bem guardado comigo. — Sorri me
olhando com carinho e eu devolvo o sorriso — Então… um
passarinho me contou que ele contratou um motorista pra você.
— Quem te contou? — procuro saber.
— Matteo. — Ela dá de ombros. Claro que foi ele — Então, é
verdade? — Aceno com a cabeça me sentindo um pouco tímida e
até envergonhada. Ainda é estranho ter um motorista que me leva
pra todos os lugares, ainda mais vindo do seu próprio chefe. Quem
amou a novidade foi Bárbara que passou a ter nossa joaninha a
maior parte do tempo para ela — Não acredito! — diz levando as
duas mãos até o rosto, uma em cada bochecha depois que lhe
contei sobre a proeza de seu irmão. — Quer dizer, eu sei que Dante
é meio paranoico com segurança, principalmente depois do que
aconteceu com ele, mas... Uau! Ele realmente se importa com você.
— Pisca para mim.
— Ele nem me deixou argumentar, — falo me lembrando
daquele dia — só pegou o celular, escreveu algo e pronto, no fim do
dia eu já tinha um motorista à minha disposição.
— Isso só pode significar uma coisa. — Ela levanta o dedo
em riste — Significa que meu irmão gosta de você.
— Não, não gosta. Ele só fez isso porque sou sua assistente
e preciso estar nos lugares que ele está e ter que dividir o carro com
minha amiga de apartamento as vezes pode me causar atrasos.
— Que mentira! Ele nunca fez isso com nenhuma pessoa que
trabalhou para ele. Ele está gostando de você e assunto encerrado
— fala e eu reviro os olhos.
— Você precisa conhecer Bárbara, tenho um pressentimento
de que vai ser amor à primeira vista — comento rindo.
— Amei a ideia. Quando vamos sair? — Bate palminhas para
mostrar sua animação.
— Podemos marcar na semana seguinte a nossa viagem ao
Rio — proponho — As coisas vão ficar mais tranquilas até lá na
empresa.
— Perfetto!Falando no Rio, — Bea pega seu celular do bolso
de seu vestido que eu nem sabia que tinha e me mostra uma foto de
dois looks iguais, a não ser pela cor. — Olha o que eu comprei para
nós duas usarmos.
— Por isso me mandou aquela mensagem perguntando qual
era o meu manequim? — Aperto meus olhos para ela. Beatrice
havia me perguntado sobre qual era o tamanho das minhas roupas.
De imediato achei a pergunta estranha, mas respondi. Estava
no meio de um episódio de Grey’s Anatomy e acabei não dando
muita importância para o assunto.
— São lindos, mas não acho que seja apropriado para o
evento da empresa.
— E quem disse que é para isso? — Sorri maliciosamente.
— O que você está aprontando, hein mocinha? — pergunto
cruzando os braços.
— Qual é uma das primeiras coisas que vem à sua cabeça
quando você pensa no Rio de Janeiro? — indaga e vejo travessuras
em seus olhos.
— Praias, Cristo Redentor, funk...
— Isso! — interrompe-me — Comprei essas roupas porque
você e eu — diz apontando para mim depois para si. — vamos a um
baile funk. — Seu sorriso vai de orelha a orelha.
— E teremos tempo?
— Claro, já pensei em tudo. — Claro que pensou —
Chegamos ao Rio na sexta-feira de manhã, o evento é a noite e vai
terminar lá pelas onze e meia, meia noite no máximo, e todo mundo
sabe que festa só fica boa depois desse horário. — Ela levanta um
dedo em riste. — Quando voltarmos de viagem, quero sair para
pesquisar um apartamento. Não quero morar na casa dos meus pais
para sempre.
— Por que não fica em um dos que sua família já tem?
— Quero um lugar que seja a minha cara e claro, ter o prazer
de escolher eu mesma.
— Brilhante e colorido? — digo e rimos — Tudo bem, eu lhe
acompanho. Vou chamar a Bárbara também.
— Perfetto! — Pisca para mim voltando a guardar seu celular.
Dançamos mais um pouco, rimos e eu tento ao máximo
relaxar e não olhar para Dante e Juliana. Uma nova música começa,
só que dessa vez lenta.
— Concede-me uma dança, Aninha? — Matteo pergunta
estendendo uma mão na minha direção. Beatrice ri e diz que vai ao
banheiro.
— Porque não — falo pegando em sua mão.
Ele coloca uma mão no meio das minhas costas e deposito
meu braço em seu ombro, enquanto começamos a nos mover
conforme a música.
— Não sabia que você dançava.
— Sou quase um bailarino profissional, querida — diz
empinando o nariz.
— Claro. Um pouco convencido não acha, querido?
— Seguro Aninha, apenas... seguro.
— Não vai parar de me chamar assim né? Mesmo sabendo
que eu odiei desde a primeira vez que fez, há dois anos?
— Você odiar o apelido só me faz continuar usando. — Pisca
um olho e dou um leve tapa em seu ombro.
— Você é irritante, sabia?
— Minha maior qualidade — diz me fazendo rir.
— Você parece o irmão mais novo que nunca tive. Enquanto
meu irmão mais velho é sério e responsável, você seria o irritante e
palhaço.
— Aceito o cargo, maninha Aninha — gargalhei com os
diminutivos que ele usa e eu detesto.
Desde que comecei a trabalhar para os Fontana, Matteo e eu
sempre nos demos bem. Ele é o tipo de pessoa que deixa qualquer
ambiente mais leve e divertido, e o melhor de tudo, sempre me
respeitou como mulher e profissional.
Continuamos dançando e conversando. Quando a música
está quase no final, minhas costas se chocam em alguém e viro-me
para ver quem é.
— Desculpe-me — peço a Dante e Juliana que bosqueja um
leve sorriso.
Estava tão concentrada rindo das piadas de Matteo que não
havia visto que eles também começaram a dançar.
— Tudo bem, querida — ela fala, tão educada e meiga, e isso
só faz o meu ciúme aumentar ainda mais.
— Vamos trocar — Matteo sugere e na mesma hora arregalo
meus olhos sem saber o que fazer.
— O quê? — Dante e eu falamos ao mesmo tempo.
— Eu danço com a Ju e você com Dante. — Pisca os olhos
na direção do irmão que parece ficar perplexo com a sugestão —
Concede-me essa dança, tesoro? — pergunta. Juliana assente e ri.
Dante e eu permanecemos por alguns segundos um de frente
um para o outro, apenas nos olhando. Ele levou a mão até o seu
queixo e puxou seu lábio inferior com dois dedos. Seu ato faz a Ana
tarada ganhar vida em mim, dando-me coragem para tomar a
iniciativa.
Dou um passo em sua direção e pergunto:— Quer dançar?
— Você... quer dançar comigo? — fala com um olhar
visivelmente confuso e repleto de surpresa. — Tem certeza?
— Quero. Mas se não quiser, tudo bem. — Apresso-me em
esclarecer e me afasto, mas antes que eu dê mais um passo, ele
me impede colocando seu braço direito ao redor da minha cintura
me puxando para si.
Nossos corpos se chocam sutilmente e sinto me queimar com
o contato.
— Eu quero — murmura.
Levo meu braço esquerdo até seus ombros e ele pega minha
mão direita, segurando-a firme em seu peito.
Quando a nova música começa, eu logo reconheço a voz de
Ed. Sheeran cantando Kiss Me.
Nossos corpos começam a se mover em pura sintonia e
quando nossos olhares se encontram é como se tudo ao nosso
redor estivesse sumido.
Não há mais ninguém, apenas… nós dois.
Caminho para dentro da casa dos meus pais, depois de
deixar Ana dançando com Matteo.
Ouvir dela que Dante lhe interessava como homem, me dava
esperança de ver meu irmão feliz outra vez depois de tudo o que ele
passou. Ele diz que está bem, mas sei que ainda se culpa por tudo
que aconteceu mesmo não conversando muito a respeito conosco.
Saio do banheiro, que fica logo no hall de entrada e ouço a
campainha tocar. Caminho até a porta e quando a abro meus olhos
veem o homem que tem sido o personagem principalmente de meus
sonhos eróticos.
Henrique é o melhor amigo dos meus irmãos, quase um filho
para meus pais. Todos o amam e o tratam como se fosse da família.
O conheci na Itália há dois anos e desde então não consigo tirá-lo
da cabeça, até pensei em ir até o seu quarto naquele dia, mas então
tudo aconteceu e não havia mais nada que importasse a não ser ver
meu irmão e saber que ele estava bem.
Henrique é loiro, alto, forte, tem uma barba grossa, que eu já
sonhei várias vezes roçando na minha boceta e cazzo... um olhar
que transmiti sexo selvagem, e bem queridos eu amo esse tipo de
sexo. Eu amo fazer sexo, na verdade.
Meus pais e irmãos me veem como uma menininha, não
como uma mulher que já não é mais virgem.
Não sou do tipo que sonha em ter um relacionamento, na
verdade fujo deles. Nunca me apaixonei e não tenho vontade
alguma de saber como é. Não acho que isso seja para mim. Gosto
de ser solteira e sempre que a vontade bate, tenho meus meios de
me aliviar.
Sempre que alguém me interessa e a recíproca é verdadeira,
vou atrás do que eu quero. E no momento quem eu mais quero é o
homem que está de pé em frente a mim nesse momento. Eu sei que
ele me quer também, posso ver em seu olhar, assim como vi há dois
anos na Itália, mesmo que tente disfarçar, está claro que me acha
uma gostoso, o que sou, mas também parece ter algo em seu olhar
que queima, como uma confusão.
— Ciao, (Olá) Henrique. Quer entrar? — pergunto lambendo
meus lábios para deixar mais explícito o duplo sentido da frase.
Ele arregala os olhos, seus ombros ficam tensos e sou capaz
de ver suor se formar em sua testa. Eu amo a forma como ele reage
a mim desde o primeiro dia que nos conhecemos.
Ando até ele a passos lentos, fechando a porta atrás de mim,
até suas costas encontrarem uma das colunas da entrada da casa.
— Sabe, Henrique — falo passando minhas mãos sobre seu
peito que está coberto pelo terno, que o deixa mais gostoso —,
nesses dois anos que se passaram, eu não parei de imaginar você
na minha cama.
— Beatrice... — Engole a seco e posso ver seu pomo-de-
adão subir e descer.
— Eu quero você Henrique — digo levando minhas mãos até
sua nuca, colando nossos corpos. — E eu sei que você também me
quer, mas eu sou paciente e vou esperar.
— Esperar?
— Esperar até você implorar por mim, porque eu sei que
você vai. — Aproximo minha boca da sua e posso sentir sua ereção
crescendo sobre minha barriga. Deposito beijos de leve em seu
rosto, fazendo ele soltar um gemido, o gemido mais sexy que eu já
ouvi de um homem.
Sinto quando ele leva suas mãos até minha cintura e aperta.
Agora é minha vez de gemer seu nome.
— Bea, pare, por favor — suplica, mas claramente está
excitado e querendo isso tanto ou até mais que eu, pois aperta mais
meu corpo no dele.
— Tem certeza que você quer que eu pare? — sussurro
contra sua pele que se arrepia ainda mais.
— Não — a palavra sai quase que inaudível, como se fosse
doloroso demais para ele admitir que não me quer longe.
Ouvimos passos se aproximando da porta no lado de dentro
e Henrique me afasta bruscamente, passando as mãos pelos
cabelos e me olha como se estivesse acabado de sair de um feitiço.
— Porra, Beatrice! — bufa — O que você tem na cabeça?
Quer me foder?
— No, mio caro. Quero que você me foda.
"Fique comigo, me proteja, me abrace carinhosamente. Se deite ao
meu lado, sim. Me envolva em seus braços e seu coração
encostado em meu peito. Seus lábios pressionados no meu
pescoço.
Estou me apaixonando pelos seus olhos, mas eles ainda não me
conhecem… Beije-me como se quisesse ser amada."
(Kiss me - Ed Sheeran)

A música parecia narrar cada palavra que eu não conseguia


dizer.
Droga de curso de inglês!
Eu estava envolvida em cada verso e não conseguia sair de
seu olhar que parecia querer me dizer palavras que sua boca não
conseguia. Algo me prendia ali, nele. Não pude deixar de notar que
ele também não entendia o que acontecia. Ficamos assim por
alguns minutos tentando achar respostas para perguntas que nem
sabíamos que existiam.
— Ana... eu gostaria de dizer qu-que… hum… e-eu… — ele
começa a gaguejar e começo a sentir um nó se formando em minha
garganta com o que quer que ele queira me dizer.
— O que você quer me dizer, Dante? — pergunto como um
incentivo para que ele fale, contudo ele me lança um olhar como se
estivesse confuso demais, balança a cabeça parecendo estar
desistindo do que diria.
— Desculpe, Ana.
— Por que está se desculpando dessa vez? — falo sorrindo
sem mostrar os dentes desejando que ele não se sinta mal por não
ter conseguido dizer o que queria, seja lá o que for — Contudo, eu
aceito mais uma caixa de uísque. — Nós dois rimos com meu
comentário que tinha o objetivo de deixar o clima menos
desconcertante.
— Eu compraria a fábrica toda pra você, se me pedisse —
sua voz sai como um sussurro, como se não quisesse que eu
ouvisse, solta um suspiro e responde minha pergunta. — Eu sinto
que sempre estou prestes a fazer algo de errado quando me
aproximo de você. — admite.
— Você não faz Dante então não se sinta assim. — Sem que
possa me controlar, faço um carinho em seu ombro. — Eu gosto da
sua companhia.
— Gosta?
— Claro que sim — afirmei — Nas últimas semanas você tem
sido um ótimo chefe, além de ser uma ótima pessoa para conversar.
Eu sempre me pego rindo quando me lembro das histórias que você
me contou sobre você e seus irmãos na infância.
Ele solta uma risada, parecendo tímido com meu comentário.
— Não diga a Matteo que contei a você que ele sujou as
calças porque estava com medo de uma prova — repete a história e
é impossível não rir como se eu estivesse ouvindo-a pela primeira
vez.
— Pode deixar — falo ainda rindo.
— Fico feliz que você gosta da minha companhia. — Suas
bochechas ficam levemente avermelhadas por admitir isso e me
pego querendo passar meus dedos ali.
— Resposta errada — brinco balançando a cabeça de um
lado para o outro, prendendo o riso quando vejo sua expressão
confusa.
— Resposta errada?
— Eu acabei de lhe falar que gosto da sua companhia —
pontuei. — O certo seria você dizer que também gosta da minha
companhia. É regra, sabia? — Semicerro meus olhos para ele. —
Quando você recebe um elogio tem que devolver com elogio
também — respondo empinando o nariz forçando minha melhor
expressão séria.
O que não adianta muito, pois ele solta uma risada gostosa
que faz seu peito sacudir um pouco.
— Eu amo sua companhia, Ana — declara.
— Melhor. — maneio a cabeça no ritmo calmo da canção.
— Posso lhe encher de elogios, se me permitir. — Sorri de
lado um pouco receoso.
— Pode? — Meu cenho se franze em expectativa.
— Posso. Nas últimas semanas, estar com você me fez te
conhecer melhor.
Ponderei por alguns segundos, olhando em seus olhos, tão
lindos e, sem controle, me rendo um pouco mais ao que ele me faz
sentir, decido matar minha curiosidade e ver até onde ele iria.
— Sou leonina, amo receber elogios. Então você já pode
começar. — Pisco os olhos com um ar alegre no rosto.
Ele me pega de surpresa ao levar a mão que estava na
minha, até meu rosto colocando uma mecha do meu cabelo atrás da
orelha. Vai até meu queixo fazendo aquele carinho como da vez em
que nos conhecemos e minha pele se esquentando onde seus
dedos acariciam.
— Eu amo seus olhos — confessa, sua voz é tão baixa e
rouca como na vez em que tivemos nosso primeiro contato,
causando-me as mesmas sensações que me causaram naquele dia
e só pioram quando continua tecendo seus elogios. — Olhar para
eles me faz sentir coisas boas, me faz querer coisas boas. São os
olhos mais lindos que já vi.
Puta que pariu, chamem o “samu” que eu acabei de ficarsem
ar.
— Dante... — tento falar mais ele me interrompe pondo seus
dedos em meus lábios.
— Eu ainda não terminei — sua voz sai decidida, mas posso
ver em seus olhos o quanto está tímido em admitir tudo isso, um
resquício de dúvidas e medos neles como se estivesse a ponto de
perder a coragem. — Eu amo seu senso de humor. É impossível
ficar perto de você e não sorrir. Depois que conheci você, minhas
bochechas passaram a doer mais — brinca e quase perco o ar.
Fico quieta, completamente surpresa com sua sinceridade. A
Ana acanhada que habita em mim e quase não aparece, entra em
cena. As palavras me faltam, minha mente tenta acompanhar todas
as reações que ele causa em meu corpo. Minhas bochechas
queimam e meu corpo parece que está levando uma descarga
elétrica.
— Amo que você sempre tenha uma resposta para tudo e
que eu descobrir ser a única capaz de desarmar Matteo — rimos.
— Aquele boca suja encontrou alguém à altura para competir
com ele — rebato tentando deixar o clima mais leve.
Ele sorri inclinando a cabeça levemente para trás me
deixando viciada em vê-lo dessa forma. Sorrindo simplesmente.
Dante é ainda mais lindo quando sorri e isso me dá
combustível para continuar nessa estrada de palavras que causam
o derretimento em meu peito, em meu corpo.
— Agora é minha vez, um elogio por outro — digo e ele me
dá um leve aceno, parecendo curioso e ansioso. Suas mãos agora
descansam em minhas costas e as minhas em seu peito. — Eu amo
sua paciência. Você é a pessoa mais paciente e calma que já
conheci. Nunca vi alguém agir tão sereno no ambiente de trabalho
da forma que você se coloca, o você tem enfrentado desde que
voltou a trabalhar não é fácil e todos os dias você fecha acordos e
parcerias de sucesso, resolve problemas e no fim está sempre
sereno e tranquilo. Ainda consigo me lembrar da reunião que
tivemos com um dos fornecedores e você não se abalou com o
estresse dele, permaneceu calmo e conduziu os minutos seguintes
com elegância.
— Créditos a senhora Beatriz — comentou timidamente
dando de ombros.
— Lembre-me de dizer que ela fez um ótimo trabalho. — Ele
sorri, mas não diz mais nada e eu continuo. — Eu amo — diz que
ama a bunda dele, diz que ama a bunda dele, Ana tarada fala — o
quanto você é humilde, mesmo estando em uma posição de poder.
Desde que nos conhecemos vi você tratar todos da mesma forma,
com respeito e gentileza, independente do cargo ou posição social.
As bochechas de Dante ficam coradas e me pego admirando
o tom de vermelho claro por alguns segundos antes de continuar.
— Por fim — suspirei tomando coragem — eu amo o quanto
você é forte.
— Forte? Eu? — pergunta e eu aceno — Por quê?
— Porque só uma pessoa forte é capaz de guardar suas
dores para não preocupar as pessoas que ama — falei e Dante fica
visivelmente tenso e desconfortável. Ele balança a cabeça e posso
ver em seus olhos confusão. — Nas últimas semanas, em todas as
vezes que conversamos, você estava sorrindo, mas em quase todas
elas seu sorriso não chegou ao seu olhar. Isso me intrigou, mas me
fez perceber que há muito mais por debaixo da sua superfície do
que você deixa transparecer.
— Não acho que valha a pena para alguém querer fazer o
mergulho — murmurou, sua voz cheia de dor, ainda que baixa.
— Eu sei que vale. Você só precisa deixar alguém entrar. —
Foco meus olhos nos dele, que tentam fugir, mas perdem a batalha
e permanecem me encarando.
— Ninguém vai querer perder tempo comigo. Eu… — Ele
solta um suspiro pesado e sei que é melhor parar por aqui, como
das vezes que perguntei sobre o acidente que ocorreu há dois anos.
— Tudo bem — digo, tranquilizando-o.
Ele parece ficar aliviado com minhas palavras, pois concorda
rapidamente e somos envolvidos por um silêncio agradável, apenas
a música ecoando sobre nós.
É a primeira vez desde que nos conhecemos que
conseguimos ter uma conversa assim, tão próximos um do outro.
Nas outras vezes, apesar do clima tenso que pairava no ar, havia
uma distância segura ou o contato não durava muito, como na vez
que eu o abracei por estar feliz demais com o presente que ele me
deu.
E Dante está errado, pois eu adoraria poder mergulhar nele e
em tudo que me faz sentir.
A cada coisa que eu descobria sobre esse homem, mais
certeza eu tinha de que ansiava como nunca antes, fazer esse
mergulho.
Conforme os segundos passam, a melodia da música nos
embala, sinto o clima entre nós mudar, a simples dança ficando
mais intensa. Todas as células do meu corpo estão em alerta, meu
coração batendo descompassadamente dentro do peito, o incômodo
em meu estômago crescendo, um formigamento em minhas costas
onde suas mãos encostam, se espalhando por toda a minha pele.
Antes que eu consiga deter ou pensar direito, movida por
algo mais forte ainda do que nas últimas vezes que tentei beijá-lo,
levo minha mão direita até seu rosto, acariciando sua bochecha
como ele fez outrora em mim, meus olhos seguindo o movimento de
meus dedos, encantada pela forma como sinto sua pele se arrepiar
com a carícia sútil.
Quando eles chegam próximo de sua boca, levanto meu
rosto para ver seus olhos na minha direção e não resisto, —
esquecendo completamente onde estamos e o fato dele ser meu
chefe — passo meus dedos por seus lábios desejando deixar
gravada em minha pele a textura gostosa, porque uma parte de mim
me diz que jamais saberei como é seu beijo. Dante arfa, balança a
cabeça e posso ver que está em uma luta interna consigo mesmo.
Seu aperto em minha cintura se torna mais forte e perco o ar,
quando vejo em seu olhar que ele havia entendido algo que eu
achava ser impossível de ser verdade.
Não existe a possibilidade da minha atração por ele ter
evoluído para algo mais, existe?
Não, não existe. Isso não pode ser real. Eu só posso estar
imaginando coisas.
A música chegava ao fim e nossa bolha é quebrada quando
Juliana se aproxima de nós.
— Posso? — pergunta sorrindo para mim.
— Claro — digo me afastando de Dante — Eu... preciso ir. —
Lhe dou um breve aceno.
— Ainda está cedo — Dante fala parecendo tão nervoso
quanto eu.
— Tenho um compromisso amanhã bem cedo — minto e ele
anui, um sorriso fraco se formando em seus lábios — Boa noite.
Saio sem olhar para trás, com meu coração como se fosse
parar a qualquer momento, uma sensação estranha em meu peito
me deixando confusa com o que possa ser. Preciso me afastar, ficar
sozinha.
Sinto alguns olhares em mim, mas estou alheia a todos,
querendo apenas fugir, ir embora. Entro na cozinha e vou para a
porta de entrada, ao abri-la encontro Henrique e Beatrice, mas não
me preocupo em analisar a cena.
— Ana, já vai? — Henrique procura saber.
— Sim. Não estou me sentindo muito bem.
— O que você está sentindo? — minha amiga pergunta ao se
aproximar.
— Só estou com um pouco de dor de cabeça — esclareço.
— Quer que eu acompanhe você? — Bea oferece
visivelmente preocupada.
A confusão em meu interior realmente deve estar estampada
em meu rosto, ou talvez seja apenas minha amiga e seu super
poder.
— Está tudo bem. Realmente não precisa. Quando chegar
em casa te mando uma mensagem, tudo bem? — Ela concorda
ainda me olhando com seu olhar avaliativo — Por favor, avise seus
pais e peça desculpas a eles.
— Não se preocupe, eles irão entender — diz e segura
minhas mãos. — Você sabe que qualquer coisa que precisar, pode
contar comigo, não sabe?
— Sim, eu sei. — Na mesma hora sinto uma vontade imensa
de chorar.
Despeço-me dos dois e sigo até meu carro. Encosto minha
cabeça no volante e tento me acalmar.
— O que acabou de acontecer? — me pergunto em voz alta.
Levo a mão direita até o lado esquerdo do peito sentindo o
bater rápido sob minha palma, as perguntas que estavam antes sem
respostas, passam pela minha mente agora todas respondidas.
“Você gosta dele, Ana Laura. Você gosta de verdade do seu
chefe.”
Alguns minutos se passam até que me sinto menos agitada e
levantando meu rosto procuro manter a calma. Quando vou ligar o
carro, vejo na lateral da casa, bem em frente onde estou, Dante e
Juliana, conversando, um de frente para o outro.
Ela fala algo que o faz abaixar a cabeça. Ele responde e ela
segura seu rosto, fazendo ele olhar em seus olhos. Diz mais alguma
coisa, ele assente e…
Ela vai beijar ele? Ele vai beijar ela? Eles vão se beijar?
Não ouso continuar olhando a cena.
Coloco o carro em movimento e saio o mais rápido que
posso.
Uma lágrima teimosa ousa cair e eu rapidamente a seco com
a palma da minha mão.
Eu não deveria estar me sentindo assim. Não deveria.
Eu só posso estar ficando louca!

— Você está bem? — Juliana pergunta logo após a saída de


Ana.
Ainda sinto meu rosto formigando onde ela me tocou.
Levo minha mão até minha bochecha e seu cheiro ainda
paira no ar.
Quando começamos a dançar, muitas coisas começaram a
surgir na minha cabeça, pensamentos que eu gostaria de expressar
em palavras para Ana, mas nada parecia ser capaz de explicar a
forma como ela me fazia sentir, nem mesmo conseguia
compreender o que de fato está ocorrendo comigo.
Tentei processar as palavras certas, mas simplesmente
travei. Então, como um covarde, desisti sem nem ao menos tentar.
Medo, por puro medo de ser rejeitado.
Droga de insegurança!
Quando a música já estava terminando, senti uma conexão
forte e diferente que nunca experimentei antes tomando todo meu
corpo, cada pedacinho, cada célula minha se acendendo em alerta
por algo que não conseguia compreender, e juro ter visto um brilho
em seus olhos que. Parecia expressão de desejo, talvez ela também
sinta, assim como eu.
Só… talvez.
Por um momento, o brilho que estava em seus olhos, me fez
sentir uma esperança. Como eu queria acreditar nisso. Queria de
verdade, mas era difícil crer que alguém como minha assistente,
poderia se sentir atraída por um homem como eu. Quebrado,
incompleto, culpado... Não! De fato ela não sentia e mostrou isso se
desvencilhando quando o momento parecia gritar para que nos
beijássemos.
— Sim — minto colocando as mãos nos bolsos da minha
calça.
— Não parece bem — Juliana adverte sem me dar chance de
responder — Aceita andar um pouco? Para... conversarmos —
sugere.
— Claro. — Saímos do quintal, indo em direção ao jardim
lateral da residência de meus pais.
Ela e eu costumávamos ser próximos. Nossos pais são
amigos de longa data e sempre nos víamos. Eu gosto de conversar
com Juliana, é fácil apesar de não termos tanto contato agora.
Ela sempre foi uma mulher muito tranquila e, por sermos
muito parecidos, sempre nos demos muito bem. Ela é uma ótima
amiga. Sei que quando era mais nova, nutria sentimentos por mim,
porém sempre se mostrou madura o suficiente para entender que eu
não a via do mesmo modo.
— Posso ser direta? — pergunta puxando minha atenção
para si.
— E quando você não foi? — rimos.
— Ok. — Ela ponderou por alguns segundos — Então, você
gosta da Ana, não gosta?
Na mesma hora paro de andar, congelado pelo baque de sua
sinceridade tão certeira. Ouvir o que constatei minutos atrás,
enquanto dançava com Ana, é assustador demais, mais assustador
é saber que há uma grande chance de ser recíproco.
— Você acha? — cogito ainda incerto com minha recente
constatação.
— É algo bastante óbvio para mim. Você está gostando da
sua assistente — pontua. — Vocês estavam em um mundo só de
vocês enquanto dançavam. Todo mundo a um raio de dez metros
podia ver o brilho nos olhos de ambos — comenta sorrindo.
— Pensei que era só atração, nada além de desejo —
dispenso as palavras meio bambas na minha boca e passo a mão
no cabelo a fim de distrair meu nervosismo certo. — No entanto,
isso não importa muito, a chance de funcionar é bem pequena.
— Por que ela é sua assistente? Por Deus, Dante. Os
melhores relacionamentos que nós dois conhecemos começaram no
ambiente de trabalho. — Praticamente bufa ao enfatizar seu
pensamento — É comprovado cientificamente que casais que
trabalham juntos são mais felizes. Olha só os nossos pais — ela diz
e eu viro para olhá-la.
— Não, é só que... — solto um suspiro pesado me sentindo
um completo idiota — Olha pra mim. Olha como eu estou agora,
Juliana.
— Estou olhando e o que eu vejo é um homem muito lindo,
aliás, por dentro e por fora, como sempre.
— Mas estou… incompleto — digo abaixando minha cabeça
cansado demais por me sentir assim tão inseguro.
— Dante, olha pra mim — pede segurando meu queixo,
trazendo meu olhar para seus olhos. — A mulher que ganhar seu
coração será uma mulher de sorte. Sendo Ana ou não. Você é um
dos poucos homens que restam nesse mundo que valem a pena ter,
e quem lhe tiver saberá ver isso.
Balanço levemente a cabeça para cima e para baixo, um
tanto incerto com suas palavras, enquanto Juliana deposita um beijo
em minha bochecha e agradeço por ela não insistir mais no assunto.
Nos próximos minutos, conversamos sobre trabalho e nosso
dia a dia. Só percebemos que já estava tarde quando vimos
algumas pessoas indo embora conforme caminhávamos pelo jardim.
— Veio junto com seus pais? — pergunto indo em direção ao
estacionamento.
— Não, estou com meu carro e a noite ainda não acabou,
querido. — Balançando a chave do carro, me faz rir.
— Tome cuidado — dito já abrindo a porta do carro para que
ela entre.
— Pode deixar e você também se cuide. Ok? — Anui.
Despeço-me dela a vendo sumir da minha vista, em seguida
prumo meus pés no caminho de volta para a porta da frente da casa
e quando a abro vejo meus pais, meus irmãos e Henrique em um
semicírculo de frente para mim. Todos me encarando como se eu
tivesse cometido um crime.
— O que foi? — pergunto sem entender nada.
— Quando ia nos contar? — minha mãe diz se aproximando.
— Eu aprovo, fratello— Beatrice anuncia sorrindo.
— Do que vocês estão falando? — indago e minha mãe me
dá um tapa no braço. — Ai, mãe!
— Calma, amore mio — meu pai tenta prender o riso e não
vejo o motivo para tal.
— Alguém pode me explicar o que está acontecendo? — as
palavras saem sisudas.
— Ah, qual é, maninho. Todo mundo viu você e a Aninha no
maior amor lá no quintal. Pareciam um casal apaixonado. — Ele faz
um bico exagerado juntando os dedos tocando em suas bochechas
simulando beijos.
Cazzo!
— Não aconteceu nada. Apenas dançamos. — Dou de
ombros.
— Corta essa, Dante. Todo mundo percebeu o clima que está
rolando entre vocês. — Matteo cruza os braços se apoiando na
parede e agora vejo um tom mais sério em seu semblante.
— Vocês estão exagerando. Não está acontecendo nada
entre nós, nada além de assuntos do trabalho, apenas — tento soar
o mais indiferente possível.
— Mas você gostaria que estivesse rolando algo mais? —
Henrique que até agora estava calado, investiga. Aonde eles
pensam chegar com tudo isso?
Porra! Como vou responder que tudo que eu mais quero nas
últimas semanas é ela?
Que Deus me ajude!
— Podemos mudar de assunto, por favor? — falo soltando
um suspiro que mostra como me encontro exausto por tudo que
vem acontecendo com minha mente nesses últimos tempos.
— Negativo! — Mamãe cruza os braços — Eu não via meu
filho sorrir daquele jeito há muito tempo. Seus olhos estavam
brilhando enquanto olhava para ela, meu querido. — Junta as mãos
no peito e suspira — Vocês ficam tão lindos juntos.
De todas as pessoas da minha família, minha mãe é a que
mais tem o espírito de casamenteira. Ela sempre deixou muito claro
o quanto deseja ver seus filhos casados, dando a ela muitos netos.
— Vocês já se beijaram? — B1 questiona batendo os cílios.
Parece uma criança esperando pelo Papai Noel na noite de Natal.
— O quê? Não, claro que não — respondo direto.
— Mas, você quer? — Beatrice sugere quase certa, juntando
as duas mãos na frente do peito.
— Desde quando vocês ficaram tão interessados em saber
quem eu quero ou não beijar? — Cruzo os braços.
— Só responde caralho, sim ou não? — Matteo sempre muito
paciente.
— Olha a boca, menino — mamãe o adverte e ele sorri
mostrando todos os dentes, desenhando uma auréola imaginária na
cabeça.
— Ok, o interrogatório acabou. — Meu pai caminha até mim,
colocando uma mão em meu ombro e me abraça de lado. — Figlio,
que tal tomarmos um vinho só nós dois como nos velhos tempos?
— concordo, pronto para dar o fora dali.
Meu pai sempre gostou de separar um tempo individual com
cada um de nós, até mesmo Henrique que tem seu vínculo conosco,
dado por amor, como um irmão do coração, tratado como família e
era, não ficava de fora.
Andamos em direção ao seu escritório, deixando olhares
curiosos para trás. Assim que passamos pela porta e ele a fechou,
nos sentamos cada um em uma poltrona lado a lado, meu pai nos
serve com um de seus vinhos favoritos que só toma em momentos
pai e filho.
Ficamos em silêncio, apenas saboreando nossas bebidas por
um tempo que parece longo, contudo, essencial para acalmar o
turbilhão em minha mente, até que meu pai decide começar a nossa
conversa.
— Quer falar sobre o que vimos no jardim, bambino? Dal
Ana. La tua dolce e bella assistente?
— Não penso que tenha algo para dizer, babbo. Trabalhamos
juntos e nas últimas semanas acabamos nos aproximando mais.
Acho que somos amigos agora. Nada mais. — Apoio meus
cotovelos nos meus joelhos tentando parecer mais confortável e
seguro da resposta que acabei de dar a ele.
— O que você acha dela, mio figlio?
Não preciso pensar muito para responder.
— Ela é incrível. Além de linda, é inteligente, determinada e a
mulher mais engraçada e divertida que eu já conheci. Trabalhar
nunca foi tão divertido desde que a conheci — solto tudo tão
naturalmente que fica impossível esconder o quanto ela me atrai,
me instiga, me interessa.
— Sei que pode ser um pouco estranho por ela ser sua
assistente, mas hoje em dia tudo está moderno. E no mais vocês
dois são adultos. Veja meu irmão e Sofia, se conheceram no
trabalho e hoje são um dos casais mais felizes que eu conheço.
— Eu sei. É que…
— Então, o que te impede de tentar algo? Pelo que me
lembre, você sempre foi determinado quando queria uma mulher.
— Ela… ela é demais para mim, papà — digo olhando em
seus olhos.
— Veja, Dante, — se aproxima mais, tendo toda minha
atenção — eu trabalhei muito junto com sua mãe para chegarmos
onde estamos. Sou grato por Deus ter me abençoado nos negócios,
mas apesar das muitas conquistas materiais e profissionais que tive,
eu percebi que venci na vida, não quando minha conta bancária ia
aumentando, mas quando vi nos meus filhos, pessoas de bem, com
carácter, que independente de onde estão tratam as pessoas como
pessoas. Vocês três são meus maiores e melhores resultados e
afirmo a você que me dá orgulho ver o homem que você se tornou e
tenho certeza que se Ana ainda não viu isso, verá.
Fico em silêncio sem saber o que responder, as palavras do
meu pai fizeram meu coração errar algumas batidas, me
emocionaram. Eu amo a forma como ele, mesmo tendo uma casca
grossa, nunca teve receio de demonstrar sentimentos,
principalmente no que diz respeito a nós, sua família.
— O que está lhe incomodando de fato, bambino? —
pergunta depois de algum tempo e meu olhar paira diretamente em
minha prótese, fazendo meu pai soltar um suspiro ao entender o
que não consigo dizer. — Você sabe que sua mamma e eu sempre
respeitamos o seu momento, depois de tudo que aconteceu.
Respeitamos o seu silêncio e tudo o que veio com ele. Pesadelos,
noites mal dormidas e crises de pânico, mas — solta um longo
suspiro antes de continuar —, já está na hora de conversar sobre
isso, mio figlio.
— Sinto muito, por… tudo.
— Nós também sentimos. Só peço que agora, converse com
seu pappa, sí. Per favore
.
Deixo minha taça na mesa de centro, esfrego minhas mãos e
confesso angustiado: — E se ela não me quiser assim? — Aponto
para minhas pernas.
— Bambino, sua condição não muda em nada quem você é.
Muito pelo contrário, só mostra o quanto você é forte depois de tudo
que passou. Não se sinta menos homem por carregar em seu corpo
um lembrete de que você precisa ser grato pela segunda chance
que lhe foi dada. — as palavras que ele expressa acalentam meu
coração e só mostram quão sortudo sou por ter a família que tenho.
O homem à minha frente, segura uma de minhas mãos e continua
seu depoimento emocionado — Quando recebi a ligação informando
que você sofreu um acidente, cazzo, meu mundo caiu. Enquanto
estávamos no avião, orei a Dio para que você ficasse bem. Nenhum
pai deveria sentir a dor de perder um filho, mas infelizmente muitos
passam por isso — quando ele diz isso meus pensamentos vão até
os pais de Carlos e meu coração se aperta. — E ter você aqui, vivo
e saudável, porra... faz meu peito rasgar de tanta felicidade. Você,
seus irmãos e sua mãe são o que eu tenho de mais precioso nessa
vida. — Ele aperta minhas mãos e sorri emocionado. — Então, não
se sinta menos por você usar prótese. Tenho certeza que Ana não é
preconceituosa. Ela já mostrou ser uma ótima pessoa. Não se prive
de viver o que você quer por medo.
— Eu não sei por onde começar.
— Confie na sua intuição, a siga, Dante.
— Eu não sei o que sinto por Ana, não exatamente — sou
sincero — Eu só sei que tenho medo de… medo de ser rejeitado.
— Se você sente algo que seja por ela, não espere o tempo
passar para olhar para trás arrependido por não ter feito o que fosse
necessário. Apenas, deixe que aconteça naturalmente. Seja com ela
ou com qualquer outra mulher. Você é novo demais para não
aproveitar sua vida por medo de tentar. Momentos felizes não são
construídos com “e se”. Você só saberá se se permitir. Filho, você é
inteligente, sabe qual é o melhor passo a ser dado. Apenas lembre-
se fligio mio, siga seus instintos. Um passo de cada vez.
— Um passo de cada vez — repeti suas palavras o fitando.
— Isso, caro mio.
Se Matteo era um ótimo conselheiro, foi porque herdou isso
do senhor Vincenzo. Meu pai é o cara mais sensato que conheço.
— Obrigado babbo, por tudo — digo olhando em seus olhos e
ele anui.
— Sempre que precisar, bambino — falou tocando em meu
ombro — Seu babbo sempre estará aqui pra você.
Aceno com a cabeça e uma curiosidade me toma, o medo
vindo junto, mas mesmo assim decido perguntar:
— O senhor tem falado com Paula e Júlio? — Meu coração
se aperta por tocar no nome dos pais de Carlos.
Eu não os via há mais de dois anos e todas as vezes que
tentaram manter contato comigo, eu ignorei. Eu simplesmente não
conseguia ficar de frente a eles, só de imaginar a culpa se
espalhava em meu peito.
Era a primeira vez que perguntava sobre a família do meu
melhor amigo.
— Eles estão bem. Estão… vivendo. Sempre perguntam
sobre você e como você está. Acho que seria bom conversar com
eles, Dante — sugere.
Sem conseguir responder, apenas aceno com a cabeça de
um lado para o outro, sentindo meus olhos começarem a arder.
— Tutto bene, bambino. Tutto bene. — Se levanta me
chamando para um abraço que logo retribuo.
Conforme me acolho em seus braços, sinto-me mais calmo.
— Acho melhor irmos, se não os curiosos vão acabar tendo
um infarto — sugere depois de um tempo.
Concordo e nos dirigimos à porta, meu pai a abre e somos
surpreendidos por um baque de corpos ao chão. Henrique, Beatrice
e Matteo.
— Vocês estavam ouvindo nossa conversa? — pergunto
cruzando os braços olhando para os três, que neste momento estão
se levantando.
— Claro que não. Estávamos apenas... passando por aqui.
Não é? — Beatrice quem diz olhando para os outros dois.
— Isso — concordam em uníssono.
— Depois de velhos viraram fofoqueiros, foi? — pergunto.
— Fofoqueiros uma porra. Curiosos. É diferente — Matteo diz
levantando um dedo para dar ênfase em sua afirmação, o que me
faz revirar os olhos.
— Onde está a mamma de vocês? — papai pergunta.
— Escolhendo um champanhe — Henrique pontua em
resposta.
— Para quê? Já está tarde — falo e minha mãe entra em
nosso campo de visão com uma garrafa de champanhe e um sorriso
de orelha a orelha.
— Vamos comemorar — comunica animada.
— O que nós vamos comemorar, amore mio? — meu pai
questiona ao se aproximar.
— Como o quê? Que nosso primogênito, enfim, está
começando a se apaixonar por alguém de verdade.
— Mãe, por favor...
— Nem adianta negar depois do que vimos no quintal,
querido. Como que eu deixei isso passar? — ri falando consigo
mesma e logo sua expressão se altera, como se uma lembrança
fosse engraçada. — Ainda tentei juntar vocês com Juliana e Alan. O
que deu em mim?
— Mãe, a senhora não está exagerando um pouco? — minha
irmã pergunta tentando prender o riso.
— Não, e me deixem comemorar que meu primeiro filho vai
desencalhar. Eu sinto isso. Eu senti aqui quando a contratei. — Ela
toca em seu peito no lado esquerdo indicando seu coração. — Senti
que algo me uniria a ela e não seria pelo o trabalho.
— Mamma e seus pressentimentos — Matteo brinca sorrindo.
— Confesso que a jamais imaginei como nora, mas a ideia
me agrada muito. — Me abraça e acabo sorrindo de sua expressão
empolgada, focando em suas feições e ignorando suas palavras. —
E vocês dois, hein? — Aponta para meus irmãos.
— Estou muito bem, obrigado mãe — Matteo diz.
— E você, minha querida? — Toca delicadamente no rosto de
Beatrice.
— Estou muito bem solteira, mamma. Não tenho pressa.
— Ah, não diga isso. Adoraria ver você com um homem
direito, minha menina. — Bea revira os olhos, provavelmente
cansada de sempre ouvir isso assim como Matteo e eu, mas para
meu total assombro ela acrescenta apontando para B2. — Tipo o
Henrique.
— O quê? — Matteo e eu praticamente berramos perplexos
com sua sugestão.
— Ué, eu adoraria ter o Prado como genro — minha mãe
completa.
— É contra as regras — enfatizo.
— Que regras? — dona Beatriz interpela colocando a mão
livre na cintura.
— Amigos ficarem com a irmã dos amigos. Ele fez um
juramento. Não foi? — falo apontando em sua direção.
Olhamos para Henrique que está pálido e começando a suar.
— Sim. Claro — concorda e Beatrice rir.
— Quanta besteira, viu. — Mamãe bufa revirando os olhos.
— Podemos só beber sem falar sobre relacionamentos ou
sentimentos? — minha irmã pede.
— Concordo! — Henrique diz indo ao bar pegar taças.
Horas depois chego ao meu apartamento com apenas um
pensamento depois da conversa que tive com meu pai: vou seguir
minha intuição, meus instintos e procurar superar meus próprios
demônios, todos que estão escondidos debaixo do tapete, mesmo
que devagar.
Um passo de cada vez.
Assim que são feitos os recomeços, certo?
Um passo de cada vez…
Um passo de cada vez, Dante.
Depois do jantar na casa dos Fontana, no final de semana
passado, em que deixei a festa de um jeito nada elegante, cheguei
ao meu apartamento com o coração a ponto de parar.
Encontro Bárbara deitada no sofá dormindo pesado com a
televisão ainda ligada. Agradeço por não ter que explicar o estado
que me encontro, não sei se conseguiria palavras para isso. Mesmo
tendo passado quatro dias do acontecido, eu ainda não consegui
encontrá-las, estou em frangalhos e minha mente em uma completa
bagunça, o que impossibilita que meus pensamentos tenham
qualquer coerência.
No dia seguinte, desconversei o máximo que pude, dizendo a
ela que não havia acontecido nada e que eu estava bem. Resumi o
jantar como sendo apenas um jantar, nada demais. O que
obviamente ela não acreditou, mas acabou aceitando minhas
respostas vazias no fim.
Ao que parece, para minha sorte ou azar, agora tenho duas
pessoas que me conhecem mais do que eu mesma, Bárbara e
Beatrice. Minha B1 e minha B2, quanta ironia do destino não é
mesmo?
Não derramei mais nenhuma lágrima, a não ser aquela
enquanto dirigia a caminho de casa. Não queria chorar porque
naquele momento não fazia sentido. E ainda não faz. Eu não
consigo entender como e nem quando meus sentimentos por Dante
mudaram de desejo para algo mais intenso que eu nem sequer
sabia nomear.
Havia em minha apenas uma certeza; que a vontade que eu
tinha em querer tocá-lo se transformou em necessidade,
necessidade de ser tocada por ele.
Talvez tenham sido os nossos almoços regados a conversas
leves e informais, a forma como me tratava, repleto de cuidado e
preocupação como se realmente se importasse comigo, quando me
olhava nos olhos enquanto lhe contava alguma história sobre mim,
mostrando interesse verdadeiro no que eu dizia.
Simplesmente não sei explicar como tudo aconteceu ou
quando, mas tive certeza naquela noite, ao final daquela dança que
eu realmente estava começando a gostar do meu chefe. E cada vez
que eu parava para refletir sobre esse sentimento, pensava em que
intensidade seria esse gostar e acabava me lembrando de que
quase o vi beijando Juliana. Isso fazia meu estômago embrulhar.
Que sorte a minha. Na mesma noite que descobri
sentimentos pelo meu chefe, também o vejo beijar outra mulher. Af!
Há dois dias, Alan me enviou uma mensagem que dizia o
quanto ele estava ansioso para me ver e para o nosso encontro.
Com os últimos acontecimentos, acabei esquecendo completamente
de Alan e me questionava se eu deveria sair com ele, mesmo não
parando de pensar em outro homem.
Desde o início da semana, Dante tem sido muito gentil
comigo. Me trouxe café todas as manhãs e sempre perguntava
como eu estava, se tinha gostado do carro e se Arthur estaria sendo
educado. Eu não queria, mas comecei a me apegar a esse lado
dele, preocupado e atencioso comigo. Mas havia uma pontada de
medo em meu peito que me fazia recuar todas as vezes que ele
chegava perto e podia jurar que ele também estava sentindo isso.

Sempre fui uma mulher decidida que não costuma sentir


dúvidas sobre meus sentimentos, mas Dante me confundia e por
vezes não sabia como agir estando perto dele. Minhas mãos
suavam, meu coração acelerava e minhas pernas tremiam sempre
que ouvia sua voz.
Por vezes achei que ele pudesse sentir a mesma coisa que
eu estava sentindo por ele, porém seus sinais me confundem e a
minha Ana Tarada estava gritando cada vez mais alto para eu
simplesmente agarrá-lo. Contudo, mantive ela quieta e lembrando
que precisava e amava meu emprego. Não poderia simplesmente
me jogar em cima do meu chefe e esquecer das consequências.
Dante é de longe o cara mais incrível que já conheci. Sabe
conversar, é atencioso e o que mais me chamou atenção foi sua
personalidade calma. A cada dia que passava ele me atraia mais,
principalmente depois de muitas conversas que tivemos durante os
últimos dias. Saber mais sobre ele, só me faz o querer mais.
Estava ficando cada vez mais difícil me controlar quando me
aproximava. Todo o meu corpo ficava em alerta a cada gesto seu.
Hoje é quinta-feira e em um dia viajaremos para o Rio de
Janeiro, todavia, não sei porque, mas estava me sentindo inquieta
demais com essa viagem, uma sensação estranha no peito desde
que confirmei com Beatrice, Matteo e Henrique o horário do voo que
combinaram com o piloto do jatinho particular da família, mais cedo.

Olho em meu relógio de pulso e vejo que já passei do meu


horário de expediente, fiquei tão envolvida em responder todos os e-
mails do dia, aqueles que não tinha verificado quando avisei Dante
que Lucas, seu fisioterapeuta, já estava o esperando, logo após o
fim de uma reunião.
Solto um bocejo e trato de arrumar os papéis que estão na
minha mesa. Assim que acabo, desligo meu notebook e penduro
minha bolsa em meu ombro, todavia meus passos param quando
escuto uma música vindo do escritório de meu chefe.

Como sua assistente, tenho uma cópia da chave e logo tratei


de tirá-la de minha bolsa e abrir a porta, meus olhos se focando na
tela de seu celular que brilha em meio a escuridão do ambiente,
disposto em cima de sua mesa, próximo a seu computador. Pego o
aparelho e saio. Tranco a porta em seguida e caminho até o
elevador com o intuito de entregar ao meu chefe seu celular. Pelo
horário, sua fisioterapia já deve estar no fim.
Eu estava ficando cada vez mais relaxado no trabalho
conforme os dias se passavam, era cansativo, contudo, produtivo na
maior parte do tempo. E eu amava isso.
Nos últimos dias, além de recebermos a visita do gerente de
uma das melhores filiais que temos no Brasil, voltei a fazer meus
exercícios com Lucas, meu fisioterapeuta.
Uma videoconferência com Alan, o arquiteto responsável pelo
restaurante que será lançado no Rio na próxima semana, foi
realizada e tentei ao máximo não pensar no encontro que Ana teria
com ele.
Falando nela...
Devido à minha agenda cheia e consequentemente a de Ana
também, passamos a almoçar juntos no restaurante do prédio todos
os dias. No início foi um pouco desconcertante e ela ainda tentou
insistir dizendo que não precisava de um motorista, mas no fim se
deu por vencida quando percebeu que não eu não estava aberto a
negociações sobre esse assunto.
Sei que não posso obrigá-la a nada, mas depois do acidente
me senti ainda mais protetor com as pessoas que convivem comigo,
passei a ser mais viciado em segurança do que costumava ser há
dois anos e agi por instinto quando ela compartilhou comigo a forma
como Fábio, filho do síndico do prédio onde mora, dirigiu quando
precisou de uma carona. Eu me preocupo com Ana Laura, me
preocupo de verdade com ela e isso me assusta.
Quando ela deu esse assunto por encerrado, a conversa
entre nós conforme os dias foram passando, fluiu naturalmente e
pude conhecê-la melhor.
Contou-me o quanto é próxima de seu irmão mais velho,
falando com orgulho de sua mãe e o quanto ela se esforçou para
criar os dois filhos depois que foi abandonada pelo marido, e
sempre fala sorrindo de sua melhor amiga Bárbara. Contou-me ser
viciada em torta de morango, apaixonada na série médica Grey's
Anatomy e fã da cantora internacional Beyoncé. Ri quando
compartilhou comigo que sua festa de vinte anos teve como tema a
cantora.
Partilhei com ela algumas coisas sobre mim também, como
minha cor favorita ser preto, o que não a deixou surpresa, meu amor
por viajar, — ainda que não tenha feito muitas viagens nos últimos
anos, por motivos óbvios — minha paixão por filmes de terror e
algumas histórias engraçadas com meus primos e irmãos. Em um
desses almoços ela me perguntou sobre meu acidente, mas logo
mudou de assunto quando percebeu meu desconforto. Ela tem o
poder de reconhecer quando algo me incomoda e é sensível em não
persistir para não me magoar.
Estar com ela começou a se tornar algo fácil e viciante, além
do que já era. Queria tê-la por perto sempre, conversar sobre
qualquer assunto, dos mais importantes aos mais bobos e casuais.
Ana é divertida e cada vez que sorria com uma história que eu
contava da época que era criança, meu peito se contraia encantado
ainda mais e era preciso todo o meu autocontrole para não
ultrapassar os limites.
O efeito que ela passou a ter sobre mim me assustava
conforme os dias se passavam e me causava também uma urgência
em querer tocá-la sempre que a via.
Ana é uma mulher engraçada, decidida e não é do tipo que
se importa com a opinião dos outros. Trata as outras pessoas com
educação e respeito, e por onde passa sempre está sorrindo para
quem quer que esteja em seu caminho. Tudo nela me encanta. Não
há palavras para expressar o quanto ela é uma mulher incrível, tanto
por fora quanto por dentro. Linda, simplesmente linda!
Depois da noite do nosso jantar com minha mãe, não me
toquei mais pensei nela, por mais que meu pau estivesse
implorando por isso. O que foi melhor assim, encarar seus olhos
pensando no que eu havia feito me fazia pensar que eu era um
pervertido tarado.
Hoje, sexta-feira, mal chegamos ao prédio e já fomos direto
para uma reunião, que durou quase toda a manhã. Saímos para
almoçar com um dos diretores de marketing para discutir sobre a
campanha para o novo restaurante do Rio, cuja viagem está
marcada para amanhã pela manhã.
À tarde, tivemos uma longa reunião com o jurídico, dirigida
por Matteo, que terminou perto do horário marcado com Lucas, meu
fisioterapeuta. Escolhi o fim da tarde, antes que o expediente
terminasse, para evitar olhares curiosos sobre mim.
Terça-feira é o dia mais cheio da empresa, não há ninguém
na academia nesse período, e quanto à sexta-feira, não preciso
dizer que todos já têm compromissos marcados para o final de
semana e isso não inclui praticar exercícios, não esses tipos de
exercícios.
Saí da sala de reunião e me dirigi à academia onde encontrei
Lucas preparando os aparelhos. Ele é um cara de personalidade
leve e gente boa. O conheci ele na antiga academia que costumava
malhar antes do acidente. Seu profissionalismo e discrição foram as
coisas que me fizeram contratá-lo.
Cumprimento-o com um aperto de mãos e vou ao banheiro
me trocar.
Como sempre em minhas sessões, opto por um short largo que vai
até o joelho, sem me importar em por camisa ou que minha prótese
esteja aparecendo, seremos apenas Lucas e eu.
Sento em uma maca acolchoada, tirando a prótese e a coloco
de lado a fim de iniciar meus exercícios de alongamento. Lucas me
guia e conta as repetições sempre me incentivando a ir um pouco
mais além.
— Isso Dante. Mais uma série e vamos para os movimentos
de fortalecimento.
Anuo, continuando a sequência:
— Você está indo muito bem. As dores fantasmas ainda
aparecem? — quer saber.
— A última aconteceu no meu primeiro dia de trabalho.
Começou com leves pontadas e depois foram se intensificando.
— Conseguiu fazer a massagem que lhe ensinei? —
investiga enquanto ajeita um aparelho para a próxima sequência.
— Sim, a massagem realmente ajudou — falo omitindo que
tive ajuda de Ana Laura.
— Que bom. — Me entrega uma garrafa de água.
Continuamos agora com séries de fortalecimento, variando o
número de repetições em cada uma.
— Agora vamos fazer alguns movimentos de marcha para
melhorar seu andar, antes de darmos início à musculação. Jorge me
enviou seu treino hoje de manhã. Tudo bem?
— Sim — concordo colocando minha prótese.
Jorge é o personal trainer de minha família. Sempre faz
programas para Matteo e meus pais, inclusive Henrique. Mamãe o
contratou depois do incidente que meu pai teve.
Nos próximos minutos me dedico a cada exercício,
procurando focar em tudo que meu fisioterapeuta me diz.
Quando chegamos ao final de mais uma sessão, já estou
exausto e com o corpo todo suado.
— Você foi ótimo, Dante. Não se esqueça de continuar com
uma boa alimentação e qualquer coisa que precisar me avise. Ok?
— Pode deixar. Obrigado por hoje — digo passando uma
toalha no rosto.
— Até semana que vem. — Acena abrindo a porta da entrada
da academia. Retribuo o vendo sumir de vista.
Assim que estou só, caminho até o bebedouro que fica no
canto da sala, encho minha garrafa e levo a boca, sorvendo o
líquido refrescante.
Viro meu corpo ficando de frente para a parede de espelho
olhando a imagem refletida ali.
Um eterno lembrete de tudo que perdi há dois anos.
Antes do acidente, me sentia confortável com o que via. Era
confiante e um cara que gostava de se arrumar, amava praticar
esportes e ir à academia. Gostava de ir a festas e sempre que uma
mulher me interessava, tomava a iniciativa. Não tinha vergonha do
meu corpo, mas agora me pergunto o que uma mulher sentiria ou
diria se me visse assim. O que ela diria?
Vejo pelo espelho, a porta da academia se abrindo e viro-me
para ver quem é, e como se tivesse sido atraída pelo meu
pensamento, Ana entra na sala.
Ela dá três passos em minha direção e então, quando seus
olhos pousam em mim ela para. Seu rosto cora, a boca se abre e os
olhos se arregalam. Ana analisa cada parte do meu corpo, inclusive
uma que eu não gostaria que ela visse, por medo do que ela sentirá.
Seu olhar transmite surpresa e algo que não compreendo.
Espero ela começar a falar, mas sua boca fecha e abre como
se estivesse procurando as palavras certas. Estou angustiado, com
medo do que ela possa estar pensando. É a primeira vez que estou
tão exposto na frente de uma mulher, a primeira vez depois do
acidente.
Ficamos nos encarando o que para mim, pareceu ser por
uma eternidade. O suor que havia secado volta a aparecer em meu
rosto, posso sentir as gotas descendo pelo meu queixo.
— Eu... han... não... — ela gagueja e isso me faz ficar mais
nervoso do que já estava. Vira de costas para mim, e por fim fala:—
Só vim entregar seu celular. Você o esqueceu na sala. — Coloca o
aparelho em cima da maca que a poucos minutos eu estava
sentado. — Desculpe-me, eu... não queria olhar... É melhor eu ir. —
finaliza correndo até a entrada e saindo sem olhar para trás.
Porra! Era isso que eu mais temia.
Ela pode ver o homem incompleto que sou e se sentiu
enojada.
Com uma ligação super animada de Beatrice, acordei no
sábado pela manhã, a sensação de inquietude, sobre a viagem que
faríamos ao Rio de Janeiro ainda se fazia presente, contudo, a
ignorei e tratei de ficar pronta no horário combinado.
O motorista de Dante, ficou encarregado de buscar, Matteo,
Henrique e eu, em nossas respectivas casas, menos Bea. Seus pais
fizeram questão de vir até o aeroporto para se despedirem de nós, e
nos desejaram boa viagem.
Nosso voo estava marcado para às dez horas da manhã e
caralho o jatinho particular da família Fontana era enorme e luxuoso
demais. Acho que meu apartamento cabia dentro dele e ainda
sobraria espaço. Essa seria a primeira vez que eu adentrava na
aeronave, desde o dia em que comecei a trabalhar para eles.
— Vem Ana! Vou te mostrar o quarto. Você vai amar —
Beatrice diz empolgada e eu a sigo confusa.
— Quarto? Aqui tem um... quarto? — Arregalo os olhos e os
meninos riem da minha cara de tonta.
— Ai, Aninha — Matteo ri.
Depois do tour, o piloto avisa que vamos decolar e tomamos
nossos lugares. Matteo senta ao lado de Henrique, Bea e eu uma ao
lado da outra de frente para eles. Escolho o assento do corredor,
pois não gosto de olhar pela janela. Dante se senta no assento ao
fundo ficando de frente para mim. Ótimo!
O voo durou mais ou menos sessenta minutos, e eu não via a
hora de chegar. Dante passou todo o tempo me encarando
enquanto eu tentava ao máximo transparecer tranquilidade diante
do seu olhar. Tentei focar nas histórias engraçadas que Matteo
contava e o quanto sua irmã estava animada, mas falhei, minha
mente trazendo a visão deliciosa que vi na noite anterior a viagem ,
a todo momento em meus pensamentos.
Ontem quando entrei na academia da empresa, jamais
imaginei que o veria daquele jeito, tão deliciosamente exposto.
Porra! Dante estava um pecado com seu cabelo molhado
todo bagunçado, usando um short preto que ia até um pouco acima
dos joelhos me dando uma visão quase completa de sua prótese,
que eu não sei como, mas o deixava ainda mais sexy e dessa vez
seu peito estava todo descoberto, sem qualquer tecido que o
cobrisse e eu vi, ainda que por segundos, eu vi o quanto ele era
definido e ainda mais malhado do que pensei.
Como eu queria passar minha língua em cada parte daquele
corpo!
Fiquei tão excitada que não consegui pensar direito. Se eu
tivesse ficado mais alguns segundos, o agarraria dessa vez pra
valer, ali mesmo sem me importar se alguém poderia nos ver. Por
esse motivo corri, corri o mais rápido que pude. Quando cheguei em
casa e contei a Bárbara o que tinha acontecido ela só conseguia
falar o quanto eu estava ficando louca. E dado aos últimos
acontecimentos e minhas reações, eu estava começando a acreditar
que de fato isso era verdade. Ele me deixava louca!
Não sei o que Dante pensou sobre minha atitude, mas
prometi a mim mesma que agiria como se nada tivesse acontecido e
fiquei aliviada por perceber que ele não questionaria o motivo.
Provavelmente sua mente está focada na inauguração de mais uma
filial do La Fontanarestaurante.
Assim que pousamos, um carro, ou melhor, uma limusine
estava à nossa espera para nos levar ao hotel, que a propósito é do
irmão de Vincenzo. Nunca me senti tão pobre em tão pouco tempo.
Ao chegarmos, fomos recepcionados por Alan que logo veio
até mim me surpreendendo com um abraço íntimo até demais para
meu gosto, mas contive meu questionamento sobre sua atitude.

— Ana, estava ansioso para ver você. — Sem me libertar


totalmente do abraço, ele ainda deposita um beijo em meu rosto e
juro que ouvi resmungos dos quatro atrás de mim. — Fez boa
viagem?
— Não vai nos cumprimentar também, Alan? — Beatrice
pergunta ao se aproximar de nós.
— Ah, claro, desculpe minha falta de educação. — Ele então
caminha até ela e lhe dá um abraço mais contido do que o que me
deu.
Em seguida, aperta a mão de Henrique e Matteo, e ao chegar
na frente de Dante, sinto uma tensão entre os dois que se encaram,
como se estivessem em uma espécie de disputa. Eles não falam
nada, mas é como se entendessem apenas pelo olhar o que cada
um gostaria de dizer.
— Então, — Henrique tosse, buscando a atenção de todos os
presentes — vamos fazer nosso check-in?
— Isso, vamos! — Bea logo concorda.
Meu olhar vaga até Matteo que parece estar prendendo o riso
quando diz:— Mal chegamos e já estou me divertindo. — Todos os
olhares se voltam para ele, que dá de ombros e parece não se
importar nem um pouco com a atenção que recebe — O quê? — Sai
andando todo convencido até a recepção do saguão. Observo,
então, Dante caminhar na mesma direção, deixando-nos para trás
sem dizer qualquer palavra.
Puxo Beatrice de lado e pergunto sussurrando para que
ninguém mais ouça: — O que acabou de acontecer? — Ela pisca e
deixa um sorriso singelo sair apertando minha mão
— Quando menos você esperar, vai descobrir. O que acho
que não vai demorar amiga.
Demos entrada, e todos ficamos no mesmo andar, e não
preciso dizer que é o último, com direito a banheira e tudo. Bea e eu
estamos no mesmo quarto, bem perto do elevador. Matteo no quarto
à frente do nosso, Henrique ao lado dele e Dante ficou no último que
fica no final do corredor, um pouco mais afastados de nós.
— Meu Deus, isso não é um quarto, é uma casa. — Dou uma
volta admirando a grande janela de vidro que vai do chão ao teto,
que nos entrega a belíssima visão de uma piscina na sacada.
— Não exagera, Ana. — Beatrice passa por mim indo até
uma cama que tem ali, com outra ao lado, ambas de casal. Reviro
os olhos balançando a cabeça.
— Você pode estar acostumada com esse luxo todo, mas
definitivamente eu não estou.
— Se acostume então, e rápido. Também temos um closet
aqui dentro do banheiro.
— O quê? — Saio correndo e minha boca vai ao chão
quando vejo o enorme banheiro todo em mármore branco, com
paredes de vidro e uma enorme banheira. Ao lado uma porta que
nos leva para um closet imenso. — Puta que pariu!
— Vem, depois você continua babando no nosso quarto.
Precisamos almoçar e preparar todos os últimos ajustes para que a
inauguração seja perfeita.
— Nem acredito que vou ver a chef Beatrice Fontana em
ação — digo ansiosa batendo palminhas.

Depois de almoçarmos no hotel, fomos para o restaurante. O


lugar é lindo e a luz baixa deixa o ambiente romântico e agradável.
— O que acha? — Alan pergunta assim que entramos.
— É incrível!
— Que bom que você gostou. Vem. — Coloca uma mão na
minha costa me guiando pelo ambiente. — Vou mostrar a cozinha.
O sigo notando pelo canto do olho Dante apertar os punhos
ao lado do corpo. Ele, Matteo e Henrique, estão conversando com
os músicos que ficaram responsáveis em alegrar o ambiente.
Beatrice já foi direto para o depósito de alimentos, fiscalizar se tudo
que pediu foi comprado e estava nos conformes.
— Ana? — Ouço Dante chamar e me viro em sua direção. —
Preciso da lista de convidados. Agora.
Seu tom faz meu corpo estremecer.
— Tudo bem. — Dirijo meu olhar para Alan e solto. — Talvez
depois. — Dou um sorriso de lado fazendo ele concordar e seguir
até a cozinha logo depois, sozinho.
Abro minha bolsa e tiro de lá uma grande listagem com vários
nomes importantes. Caminho até Dante e lhe entrego os papéis
solicitados.
— Aqui está. — Sorrindo, dou a eles as folhas, porém recebo
uma cara fechada.
— Lembre-se, você é minha assistente e até o fim desta
noite, você está aqui a trabalho não para namorar. Entendeu? —
praticamente cospe as palavras e sou tomada por uma raiva tão
grande, que sinto minha cabeça doer.
Esse homem só pode ser bipolar.
— Entendido, senhor.

Um pouco mais de três horas depois, voltamos para o hotel


para nos trocar, exceto Beatrice que já levou seu uniforme de
cozinha.
Estou terminando de calçar meus saltos, quando o celular
sinaliza uma nova mensagem. É Matteo, me avisando que estão no
meu aguardo para sairmos.
Pego minha bolsa de mão da cor preta e rumo para fora do
quarto. A viagem de elevador dura um pouco menos de cinco
minutos e quando chego ao térreo, vejo Alan vindo em minha
direção. Ele pega minha mão direita, e deposita um beijo no dorso,
em um cumprimento adorável.
— Você está ainda mais linda, Ana.
Estou usando um vestido justo de seda com alcinhas finas na
cor vermelho sangue que vai até o meio das minhas panturrilhas.
Nos pés optei por uma sandália prateada. Cabelos soltos, rímel, um
pouco de blush e um batom nude.
— Obrigada — agradeço e ele gentilmente.
— Cazzo! Valeu a pena te esperar Aninha. Você está muito
linda — Matteo diz com aquele jeito exagerado de sempre.
— Obrigada, boca suja. — Sorrio piscando em gratidão.
Dante que ainda não tinha visto, aparece em meu campo de
visão, saindo de trás de seu irmão. Ele está lindo, com a porra de
um terno de três peças azul marinho, me examina dos pés à
cabeça, mas não consigo identificar nenhum sentimento a não ser
raiva em seus olhos.
— O carro já está nos esperando — se atém em dizer e
caminha em direção a saída.
Já passa das onze e meia e a inauguração foi um sucesso. A
casa estava cheia e não pouparam elogios para o novo cardápio
criado por Beatrice. Ela tem mãos de fada, igual a mãe.
Restam além de nós, alguns poucos convidados.
Tentei ao máximo aproveitar, ignorando meu chefe ranzinza.
Alan me apresentou a várias pessoas importantes da alta
sociedade. Ele foi extremamente educado e atencioso comigo
durante todo o evento.
— Gostaria de mais alguma coisa, Ana? — pergunta
— Não, obrigada. Acho que irei até Beatrice. — Ele anui.
Caminho até a cozinha e a observo de costas, falando ao
celular.
— Ok, entendi. Muito obrigada — finaliza a ligação.
— Tudo bem, Bea? — falo e ela na mesma hora abre um
sorriso muito brilhante que juro, quase me cegou.
— Sim acabei de falar com um promoter de festa que um
amigo me indicou. Ele conseguiu convites para a área vip para nós.
— Balança suas mãos empolgadas e eu franzo o cenho em
confusão. — Para mais tarde, Ana.
— Estou tão animada! — declaro me lembrando do nosso
combinado ainda em São Paulo.
— Já falei com o motorista da limusine, ele vai ficar nos
esperando na frente do hotel. Já acabamos aqui. Podemos ir —
concordo e rumamos para fora dali.
Chegamos ao hotel e fomos direto para nosso quarto,
deixando Matteo, Dante e Henrique no bar.
— Tome esse é o seu. — Beatrice me entrega um conjunto
de seda, composto por top e saia na cor rosa.
— Uau! É mais lindo pessoalmente e bem sensual também.
— Vamos logo. Se vista — diz já colocando a saia.
— Como vamos passar pela recepção assim? — pergunto
me vestindo — É muito pela para pouquíssimo pano, Bea. Todos
vão nos olhar.
— Pensei em tudo. — Caminha até o closet e volta minutos
depois com dois sobretudos enormes na cor preta, sem botões ou
mangas. — Coloque isso por cima do ombro. — A obedeço,
posicionando por sobre meu ombro direito e ela continua. — Segure
na frente para não abrir. — Faço, segurando forte com as duas
mãos.
— E minha bolsa, com nossas identidades e celulares?
— Deixamos no carro. Vamos, que meus pés já estão
formigando para dançarmos a noite toda, ragazza.
Pegamos o elevador e ao chegarmos na área da recepção,
vemos os três, Dante, Matteo e Henrique, sentados em um sofá ao
lado da entrada do bar do hotel. Quando estamos perto da porta
giratória que fica na entrada ouvimos nossos nomes.
— Ana? Beatrice? Aonde vocês vão? — Matteo pergunta.
— Aproveitar a noite — digo dando de ombros.
— Qual é a dos sobretudos? — Henrique pergunta
apontando para a peça em nossos corpos.
— Estamos com... — Olho para minha amiga antes de falar.
— Frio.
— Está um puta calor de 30° e vocês estão com... frio? —
Matteo fala, nos analisando de cima abaixo.
— Agora vocês querem saber mais do que a gente, é? —
questiono.
— Posso dar uma carona para vocês — Dante oferece,
visivelmente preocupado.
— Não! — Beatrice e eu gritamos juntas, levantando nossas
mãos para frente. Péssima ideia!
Nossos sobretudos caem de nossos ombros, indo até chão.
Os três revezam o olhar entre si e para nós duas. Algumas pessoas,
a maioria homens, nos comem com os olhos. Eles praguejam
palavrões ao mesmo tempo, e posso ver que ficam mais vermelhos
que tomate.
— Que caralho de roupa é essa? — Matteo berra.
— Apenas uma roupa. Nada demais — respondo dando de
ombros — Podemos usar o que quisermos, porque…
Meu discurso é interrompido abruptamente pelo grito de
minha amiga.
— Corre Ana! — Bea agarra meu braço e saímos disparadas
pela porta de entrada.
Antes de chegarmos a calçada, conseguimos ouvir os três
gritando, mas não olhamos para trás. Avistamos um pouco a frente
a limusine com a janela de trás aberta.
Não dá tempo de abrir a porta. Beatrice pula para dentro e eu
logo em seguida. Que loucura!
— Vai, vai, vai! — Bea diz ao motorista assim que entramos
de modo nada glamuroso na limusine e logo ele liga o carro o
colocando em movimento.
Nós duas nos olhamos e explodimos em uma gargalhada.
Loucas!
— Por que você fez isso? — pergunto entre risos, relaxando
no banco.
— Porque sim, cara mia. Gosto de perturbar aqueles três. —
Dá de ombros. — Provavelmente agora devem estar pensando que
estamos prestes a cometer um crime depois da nossa corridinha.
— Você é mais maluca que eu. Definitivamente é, Bea.
— Filhas da … mãe — Henrique diz.
Estamos os três patetas parados no lado de fora do hotel,
olhando o carro em que Ana e Beatrice entraram há poucos
segundos, sumir de nossa vista.
— Se não tinha nada demais, por que elas correram daquele
jeito? — indago pensando na imagem do corpo da minha assistente
quase todo à mostra naquela roupa.
— Aí tem coisa, cazzo! — Matteo puxa os cabelos,
visivelmente estressado e preocupado — Se algum idiota se
aproveitar daquelas duas ou tentar sei lá, um boa noite cinderela,
não pensarei duas vezes em entrar numa briga. Eu mato!
— Elas não vão perder a cabeça assim. São adultas e sabem
se cuidar. Bea e Ana não beberiam tanto a esse ponto — Henrique
comenta e nós o olhando como quem diz "Você acredita mesmo
nisso?". Ele parece pensar em suas palavras, pois acrescenta:— É,
precisamos ir atrás delas.
— Antes, precisamos saber para onde elas foram.
Volto para dentro do hotel, ainda sem acreditar que elas
fizeram isso.
— E como vamos fazer? — Henrique debate.
— Todos os carros que o hotel disponibiliza para os
hóspedes, possuem GPS. Com a limusine não é diferente. Ideia do
nosso tio Giuseppe.
— Aquele velho sabe das coisas — meu irmão comenta. —
Vamos!

Quarenta minutos depois, um carro nos deixa em frente a


uma casa noturna. Havia uma fila enorme que rodava o quarteirão e
alguns seguranças posicionados no local, que pelas batidas
estridentes do som, parece um baile funk.
— Não imaginei que minha noite terminaria assim — Matteo
diz saindo do carro, batendo a porta com força, nada paciente.
— Não acredito que viramos babá de duas mulheres adultas.
Caralho! — Henrique completa.
— O plano é simples:achar as duas, ver se elas estão bem e
voltamos para o hotel. Sem brigas. Entendido? — enfatizo enquanto
caminho até a entrada.
Com o sobrenome que temos, entrar não foi difícil.
Perguntamos sobre nossa irmã e sua amiga, e sem pestanejar o
gerente do lugar nos informou onde estavam. Claro que elas
estariam na parte vip do local. Agradecemos e, em seguida,
entramos.
O lugar é enorme, com muitas luzes e um bar central. Mais a
frente, um palco com DJ, e duas gaiolas, uma de cada lado, onde
noto que duas mulheres dançam. Ao redor da boate, no andar de
cima há um bar privado com sofás de cor vermelha, algumas mesas
e cadeiras espalhadas.
— Vamos — digo e seguimos entre a multidão para uma
escada lateral que dá acesso a área vip. Andamos pelo espaço,
mas nem sinal delas.
— Elas não estão aqui! — Matteo grita.
— Se Beatrice estiver se esfregando em algum cara, eu juro
que vou — Henrique para de falar ao perceber meu irmão e eu
olhando para ele com os olhos apertados. Ele coça a nunca e se
corrige:— e claro a Ana também — ao meu ver um tanto sem graça
adiciona: — Elas são da família, são com… minhas irmãs.
Quando vou questioná-lo, o palco se ilumina, a música para e
o DJ começa a falar em alto e bom som.
— Boa noite, moçada! — vários gritos animados seguem e
ele continua. — Gostaria de apresentar a vocês duas gatas vindas
de São Paulo. Vamos mostrar nossa receptividade a elas.
Quando termina, dois corpos saem da lateral do palco,
caminhando até ele, pegam o microfone e os holofotes iluminam
seus rostos. Não!
— Vocês pensaram que não íamos rebolar nossas bundas
hoje? — Beatrice e Ana falam juntas para lá de alteradas,
provavelmente resultado de muito álcool.
Na mesma hora, ouço Matteo e Henrique cuspirem vários
palavrões.
— Mas o que está acontece… — as palavras somem quando
vejo as duas irem até a frente do palco e começarem a dançar no
ritmo da música e puta que pariu.
Não sei o que é pior, ver sua irmã ou a mulher que você quer,
se expondo daquele jeito.
Elas colocam as duas mãos nos joelhos e começam a
rebolar. A lateral de suas saias tem uma abertura, que a cada
movimento que fazem, faz suas coxas ficarem ainda mais
evidenciadas.
Olho para o lado e Matteo e Henrique estão a ponto de
explodir.
Foco em Ana por um segundo, quando ela se vira de costa e
vai rebolando até o chão, e na mesma hora imagino como seria ter
ela montada em meu colo, rebolando desse jeito.
Porra, seria bom demais.
De onde estamos, consigo ver vários homens babando nas
duas. O palco é alto, e tenho certeza que podem ver mais do que
nós daqui, alguns se preparando para filmar tudo.
— Aqueles filhos da putavão filmar elas! — Matteo declara.
— Mas nem por um caralho! — declaro sentindo minha calma
ir para a puta que pariu — Vou até lá.
— Eu vou matar esses filhos da puta. Cazzo! — meu irmão
esbraveja.
— Vá pegar o carro, Matteo, e nos encontre nos fundos —
Henrique dita tocando em seu ombro. — Se você chegar perto
daquele palco, não duvido que realmente seja capaz de quebrar
cada cretino. Vamos evitar uma ida à cadeia. — Nos entreolhamos e
rapidamente assentimos, vendo meu irmão partir na direção em que
viemos enfurecido.
Henrique e eu descemos as escadas e caminhamos até a
lateral que dá acesso ao palco.
— Vocês não tem autorização. — Um dos seguranças solta
nos impedindo de seguir.
— Porra de autorização. Aquelas ali no palco. — Aponto na
direção das duas destrambelhadas. — São minha mulher e minha
irmã e estão prestes a serem filmadas contra a vontade por um
bando de filhos da puta pervertidos e se você não as tirar de lá
agora, meto um processo no rabo de vocês. Entendeu? — grito
segurando o homem pela camisa.
Henrique que está ao meu lado completa:
— É melhor fazer o que ele está mandando. Você sabe de
que família eles são? Fontana. — Cruza os braços e quando meu
sobrenome sai de sua boca, vejo o homem arregalar os olhos e ficar
mais branco que um papel.
— Si-im... sim, senhor — gagueja. Sinaliza para outro
segurança que vai até as duas.
Elas olham em nossa direção e começam a achar graça. É...
estão bêbadas!
Tentam caminhar até nós, mas não conseguem dar um passo
em linha reta. Quando chegam perto, Beatrice joga os braços por
cima dos ombros de Henrique e diz:
— Fratello! Você está diferente — passa os dedos pelo rosto
dele o analisando.
— Sou eu, Henrique.
— Hum... Henrique — fala e descansa a cabeça no peito do
meu amigo que a carrega no colo fazendo Bea se alinhar em seus
braços.
— Ana? Vamos — chamo estendendo a mão para ela que
está em pé a minha frente, um pouco menos alterada que minha
irmã.
— Não quero ir com você — declara batendo em minha mão.
— Não dificulte as coisas, por favor. Vamos. Você bebeu
demais para conseguir andar sozinha. Eu ajudo você. — Chego
mais perto e toco em seu ombro.
— Não.. não toque em mim, seu… seu babaca — sua fala
arrastada a deixa ainda mais linda! Ela passa por mim, mas a
seguro quando a vejo tropeçar em seus saltos.
Rapidamente a seguro pela cintura ajudando seu corpo
pequeno a ficar de pé. Involuntariamente, surpreendendo a nós
dois, passo minha mão em seu rosto e deposito um beijo em sua
testa. Ela solta um murmuro, algo que não consigo entender e se
abriga em meu peito, seu ouvido próximo das batidas de meu
coração que agora bate desgovernadamente tendo-a tão perto de
mim
— Por que você faz isso... comigo? — fala me deixando
confuso.
— O que eu fiz com você, Ana?
Ela levanta seu rosto e seus olhos encontram os meus
quando responde:
— Me trata bem por… semanas, parece se preocupar comigo
e agora… age assim.
— Assim como? — investigo mais, ainda que eu imagine o
que ela está querendo falar.
— Como um babaca. Desde que chegamos você… você tem
me tratado mal. Isso me deixa triste. — Ela faz um biquinho tão lindo
que acabo rindo.
— Porque talvez eu seja mesmo um babaca quando estou
com ciúmes — confesso e ela faz uma careta.
— Você tem ciúmes… de mim? — Aceno com a cabeça. —
Eu sou sua assistente.
— Eu sei, mas não posso evitar.
— Você tem que ter ciúmes da sua namoradinha... Dante. —
diz com uma voz engraçada e eu franzo o cenho, confuso por não
saber de quem se trata.
— Namoradinha?
— É. Eu vi vocês. Eu vi — segreda.
— O que você viu, querida? — arrasto uma mexa do seu
cabelo para trás da sua orelha. Tão perfeita!
— Você com a... Juliana. Ela beijou você. Porque você deixou
ela beijar você? — libera em um tom angustiado e bate em meu
peito seguidas vezes.
— Juliana? — indago ainda mais confuso. — Eu nunca beijei
a Juliana — declaro depositando um beijo delicado em sua
bochecha.
— Não? — Seus olhos se arregalaram com minhas palavras.
— Você não a beijou naquela festa, na casa dos seus pais?
— Não. — Aperto mais sua cintura quando confesso, nós
dois arfamos com o contato, suas mãos agora sobem por meus
braços, ombros até que se fecham em minha nuca, minha pele se
arrepia sentindo a quentura da sua. — Só existe uma mulher que eu
desejo beijar desde que vi pela primeira vez, Ana.
— Quem? — sussurra, seus olhos focados em meus lábios.
— Você.
Ela se aproxima mais o rosto até que sua boca esteja em
meu ouvido e então anuncia: — Eu também quero beijar você. —
Sinto um calafrio passar por todo meu corpo quando ela lambe
minha orelha lentamente.
Será que eu ouvi mesmo que ela também quer me beijar?
— Dante? — Henrique me chama. — Vamos — fala indo em
direção a um corredor e só agora me dou conta que ainda está nos
esperando com minha irmã em seus braços.
— Vou carregar você. Tudo bem? — digo e vejo Ana em
concordância balançar a cabeça.
Passo meu outro braço por seus joelhos e a tiro do chão.
— Você é tão forte — ela fala passando seus dedos pelo meu
pescoço, e sinto meu pau endurecer mais um pouco com seu
carinho.
Sigo Henrique e segundos depois estamos passando pela
porta dos fundos onde avistamos Matteo no banco do passageiro da
limusine. Ele sinaliza para nós.
Assim que entramos, Beatrice descansa sua cabeça nos
ombros de Henrique. Ele segura em seus ombros, fazendo um
carinho ali. E na mesma hora olhei em sua direção, mas é Matteo
que fala.
— Se você encostar nela ou eu ver seu pau subindo,
esqueço que você é família e corto ele fora. Entendido? — Henrique
anui, levantando as mãos em rendição às colocando por cima de
suas coxas.
— Eu amo vocês, cazzo! — minha irmã tenta gritar com sua
voz mais arrastada do que antes. — Vocês se preocupam demais.
— resmunga e fecha os olhos.
Volto minha atenção para a mulher que está ao meu lado e a
puxo para um abraço, que rapidamente ela aceita.
— Você está bem? — procuro saber, meus dedos acariciando
seus cabelos.
— Estou. — Sorri. — Dante?
— Sim?
— Então, você não a beijou?
— Não, Ana. Não beijei Juliana — confirmo depositando um
beijo em sua testa.
Matteo olha para mim e fala:
— E você, fratello, sai logo de cima desse muro e toma uma
atitude senão vem outro e faz, caralho!

Chegamos ao hotel, e Matteo pega Beatrice no colo e eu


Ana. Entramos e agradecemos por não haver muitas pessoas na
recepção, a maioria dos que estão ali são funcionários. Vamos até o
elevador e Henrique nos segue. Ele aperta o botão do último andar
e em segundos já estamos na frente do quarto delas. Meu amigo
abre a porta e nos dá passagem.
Matteo coloca nossa irmã cuidadosamente na cama e a
cobre com o lençol.
— Preciso tomar uma. Essas malucas fuderam com a pouca
paciência que tenho. Vocês vem? — meu irmão pergunta. Henrique
concorda e eu digo que vou daqui a pouco.
Os dois saem e eu deito Ana em sua cama, mas ela me puxa
pelo pescoço, fazendo nossos rostos ficarem próximos demais,
nossos narizes quase se tocando. Um arrepio passa por minha
espinha e a vontade de beijá-la aumenta fazendo a temperatura da
minha pele alcançar níveis enlouquecedores.
— Eu gosto do Dante que cuida de mim — declara e sem me
dar tempo de impedi-la, cola nossos lábios em um selinho rápido,
mas o suficiente para me deixar mais necessitado do que já estava.
Ana pega no sono e eu a observo por alguns segundos. Tão
linda e, mais uma vez, não consigo estar perto dela e não tocá-la,
faço um carinho em sua bochecha, quando narro mesmo sabendo
que ela não irá ouvir ou me entender: — Non sai quanto mi fai
impazzire, Ana. (Você não sabe o quanto tem me deixado louco)

Depois de sair do quarto, dispenso a bebida com os meninos.


Preciso me aliviar. Minha ereção estava a ponto de rasgar
minha calça e mesmo tendo dito para mim mesmo que não voltaria
a me tocar pensando nela, ligo o foda-se e simplesmente faço,
desejando aliviar a tesão que se apossou de mim.
Novamente me masturbei com ela na cabeça, agora tendo
em meus lábios a memória dos seus. Ainda que breve.
Na manhã seguinte, acordo lá pelas oito. Tomo meu banho,
faço minha higiene e saio do quarto, encontrando Matteo e Henrique
no corredor.
— E ai? — falo me aproximando enquanto os dois acenam.
— Elas já acordaram?
— Não sabemos — Henrique que responde.
— Vamos logo entrar na porra desse quarto — Matteo,
impaciente como sempre, caminha até o quarto delas e abre a
porta.
Ficamos com as chaves, por receio delas saírem no meio da
madrugada e causar alguma bagunça no hotel. Isso seria um prato
cheio para a mídia e os outros hóspedes curiosos, que usariam do
material para encher os bolsos das revistas e sites de fofocas.
Batemos na porta anunciando nossa entrada e recebemos
um “Vai se ferrar” de Beatrice. Quando entramos, ambas estão
sentadas em suas respectivas camas com a cabeça encostada na
cabeceira. Quando nos vê, Beatrice revira os olhos e Ana puxa o
lençol, cobrindo parte de seu rosto.
— Boungiorno, ragazze — Matteo cumprimenta cruzando os
braços, ficando de frente para elas. — Que caralho deu na cabeça
de vocês ontem?
— Não enche! — Beatrice dispara.
— Só queríamos nos... divertir. — Ana explica e me olhando
timidamente.
Será que ela se lembra de algo?
— Naquele lugar e bebendo daquele jeito? — Henrique
pergunta — Pensaram na possibilidade de que algum filho da puta
poderia ter se aproveitado do estado em que vocês se
encontravam? Boa noite cinderela é mais comum do que vocês
pensam.
— Se não fosse por nós, vocês teriam sido filmadas de um
jeito nada apropriado e esse com certeza seria o menor dos
problemas, levando em conta o estado que vocês estavam. Quanto
vocês beberam, hein? — meu irmão declara irritado fazendo uma
careta, provavelmente por imaginar o pior.
— Só um pouquinho — Ana diz fechando seu dedo indicador
e polegar.
— Pouquinho — Henrique debocha ao meu lado.
— Talvez a gente tenha misturado algumas… bebidas. —
Minha assistente dá de ombros.
— Vocês não são nossos pais! — minha irmã rebate.
— Bem lembrado. Vou ligar agora para eles e contar o que
fizeram — Matteo fala tirando o celular do bolso.
— Faz isso, e eu conto para eles que você transou com sua
assistente. — Bea diz petulante, olhando para nosso irmão de forma
convencida.
— Você transou com a Isa? — Henrique e eu falamos ao
mesmo tempo.
— Transei. — Dá de ombros.
— Qual o problema nisso? — Ana questiona.
— O problema, amiga, é que Isa é filha de uma das amigas
da minha mãe e ela fez meu irmão tarado aqui prometer que não
chegaria perto dela porque a menina sempre foi a fim dele, e
obviamente ele não cumpriu com o trato.
— Porra, ela é gostosa e estava se jogando descaradamente
em cima de mim. Vocês queriam que eu fizesse o que? Dei a ela e a
mim o que queríamos, ué. Não perco tempo como certas pessoas
— o idiota diz lançando um olhar para mim e eu semicerro meus
olhos para ele como uma advertência para que ele deixe de jogar
suas indiretas nesse momento.
— Se mamãe souber vai brigar com você por anos — nossa
irmã conclui em tom de ameaça — e você sabe como mamma pode
ser quando está com raiva.
Matteo faz uma expressão de quem está pensando em
opções e depois de alguns segundos fala por fim: — Ok. Não vou
contar a eles sobre a noite de ontem. — Guarda o celular, fazendo
nossa irmã sorri vitoriosa. — Mas sem mais fugas por hoje. — Ele
parece piscar para ela como se ambos estivessem trocando um
segredo pelo olhar e acrescenta — Vamos ficar juntos e aproveitar
um pouco. Tudo bem?
— Fechado. — Bea balança a cabeça concordando
animadamente.
— Tenho um jantar hoje à noite. — Ana, que até agora estava
quieta, diz abaixando o lençol de seu rosto. Suas bochechas coram
e ela acrescenta:— Com Alan.
Definitivamenteela não se lembra de nada do que aconteceu
ontem, o que faz com que eu me sinta um completo idiota.
— Tudo bem — digo por fim olhando diretamente para ela —
Vá em seu jantar. Apenas, — pondero por alguns segundos
engolindo o nó que se formou em minha garganta — tome cuidado.
Espero que você se… divirta, Ana Laura.
— O-obrigada, Dante.
Todos me olham, mas ignoro, dando um breve aceno de
cabeça antes de sair do quarto.
Eu me lembrava, lembrava de tudo que aconteceu ontem, ou
ao menos as partes mais importantes, como quando Dante disse
que a mulher que ele queria beijar era eu e eu ouvi, ouvi tudo antes
de pegar no sono, sua voz confessando que eu o deixo louco.
Passei o dia inteiro dividida entre dois pensamentos
completamente opostos.
O primeiro era o de ir até o seu quarto e agarrá-lo, dizer mais
uma vez, agora totalmente sóbria, que quero beijá-lo e fazer com
seu corpo tudo que minha Ana tarada deseja desde a primeira vez
que o viu.
O segundo, e mais complicado, é o motivo dele ter dito para
eu ir ao jantar com Alan, não que fosse uma decisão dele, mas
Dante praticamente expressou o quanto ele é a favor desse
encontro, o que só me deixa ainda mais confusa.
Antes, quando esse convite fora feito, ele literalmente não
perdeu tempo em vir atrás de mim tentando me convencer a não
aceitá-lo. E agora, ele parece bem e confortável com a ideia.
Tudo isso é confuso, Dante é confuso. Quando penso que
estou a caminho de entendê-lo, suas atitudes mudam fazendo com
que eu retroceda e torne à estaca zero novamente, sendo eu
apenas sua funcionária que não deveria nem mesmo cogitar decifrar
o meu chefe, fico ainda mais frustrada.
Depois da invasão dos três, Bea e eu tomamos café no
quarto mesmo. E logo após fomos para a piscina, onde
encontramos Matteo e Henrique ainda de cara feia para gente. O
que não durou muito, pois logo engatamos em uma conversa
divertida.
Dante não apareceu para se juntar a nós em momento algum
e não pude evitar perguntar a Matteo se seu irmão estava bem. O
boca suja pareceu louco para contar algo que provavelmente não
devia, pois se conteve antes mesmo de soltar qualquer coisa
relevante, porém, disse por fim que Dante só estava um pouco
cansado e resolvendo coisas importantes da empresa.
Achei estranho já que eu como sua assistente, sabia que
tudo estava na mais perfeita ordem, eu saberia se estivesse
acontecendo algo de ruim no trabalho. Decidi deixar para lá e
apenas anui.
Na hora do almoço. Alan se juntou a nós e mais uma vez
senti o clima ficar estranho. Matteo e Henrique ficaram a maior parte
do tempo se entreolhando, sem ousar dizer nada.
Próximo ao horário do jantar, subi para o quarto e Bea veio
comigo, alegando que gostaria de descansar um pouco.
Quando já estava de roupão, caminhando para o banheiro,
sua voz me fez parar de frente para a porta, e eu me viro para ver
minha amiga sentada em sua cama me fitando com seus grandes
olhos verdes.
— Sei que a decisão é sua, mas como sua amiga, acho que
você não deveria ir a esse jantar.
— Por que você acha isso?
— Você sabe muito bem porquê.
— Alan é uma ótima pessoa, Bea — digo como se aquilo
pudesse ser um motivo perfeito para uma mulher querer ir a um
encontro com um homem por quem nem estava de fato a fim.
— Ótima pessoa, Ana. Sério? Per Dio, ragazza!
— O que? É verdade. — Cruzo os braços em um sinal claro
de defesa.
— Eu sei que Alan é uma ótima pessoa e por esse motivo
acho que deve ser verdadeira com ele. Você não quer ir — ela
ponderou por alguns segundos, com seu olhar analítico sobre meu
rosto.
— Não posso simplesmente dispensá-lo, Beatrice. Seria
maldoso demais.
— Seja lá qual for o tipo de relacionamento que vocês
estejam começando, nunca é um bom sinal começar com uma
mentira. A verdade é importante desde o sexo causal, até um
namoro.
— Eu sei — soprei em um suspiro cansado.
— Nós duas sabemos aonde e com quem você quer
realmente estar. — Ela pisca sugestivamente para mim.
— Seu irmão não me quer — declaro, não me importando em
ser direta demais. Beatrice pode ser irmã do homem que eu gosto e
meu chefe, mas é minha amiga e eu amo como ela sabe separar
isso.
— Eu sei que ele quer você, Ana — diz com firmeza. — Só
está confuso demais com seus próprios pensamentos.
Confuso. Essa era exatamente essa a palavra que mais
definia Dante.
Solto um suspiro pesado falando por fim, já com minha mão
sobre a maçaneta da porta:— Preciso me arrumar.
Abro a porta do banheiro, deixando minha amiga no quarto,
provavelmente muito puta comigo.

Depois do banho, sob o olhar de Bea, fui até o closet pegar o


vestido que separei para usar hoje. Ela não disse mais nada depois
de nossa pequena conversa e eu agradeci muito por isso.
O vestido que estou usando é um dos meus favoritos, preto
justo com glitter, muito glitter, possui uma faixa que passa pelo
pescoço e um decote profundo chegando até um pouco acima do
meu umbigo. Ele não é tão curto, chega quase nos meus joelhos.
Finalizo a troca e ao sair do closet que a suíte possui, o
telefone do quarto toca e meu coração dispara por pensar,
equivocadamente, se tratar de Dante.
— Alô? — Bea diz ao atender, ouve por alguns segundos e
fala por fim, antes de desligar — Tutto bene. Vou avisá-la.
— Está tudo bem? — procuro saber me aproximando da
cama onde ela está sentada.
— Sim. Era Matteo. Ele disse que faltou uma assinatura de
Dante em um papel importante relacionado ao evento de ontem.
Pediu que você fosse até o quarto dele e depois levasse até seu
chefe — explica movendo as mãos ao gesticular.
— Sem querer parecer pouco profissional, por que ele
mesmo não os entrega? Estamos todos hospedados no mesmo
andar, não seria tão trabalhoso assim para Matteo — questiono de
modo sugestivo, já que os Fontana são pessoas, apesar de
milionárias, extremamente trabalhadoras e, portanto, jamais
salientariam um trabalho a mim, simplesmente porque vim aqui para
isso.
Ela solta uma risadinha antes de responder a minha pergunta
com uma piscadela.
— Ele está com companhia, Ana.
— Ah! Entendi. — Acabo rindo. Matteo realmente não perde
tempo. — Bem que podíamos ir até lá e acabar com a noite dele.
Seria divertido, não acha?
— Não! — Bea grita se pondo de pé parecendo nervosa com
a minha sugestão. — Não seria nada legal eu sendo irmã caçula,
vê-lo em um momento como esse. — Sorri ao fazer uma careta.
A observo por alguns segundos notando sua apreensão e
ansiedade, e não compreendo toda essa estranheza, normalmente
ela mesma teria sugerido sacanear o irmão e a felizarda da noite.
— Tudo bem — digo devagar e ela solta o ar parecendo
aliviada. — Estou indo até ele pegar o documento para levar até…
Dante.
— Isso, cara mia. — Sorri agora de forma aberta e sincera,
fazendo aquele típico movimento italiano com as mãos.
— Já voltou. — Calço minhas sandálias que estão próximas à
porta e em segundos já estou parada em frente ao quarto de
Matteo.
Bato, talvez um pouco impaciente demais e o ouço gritar algo
como "Já vai, porra".
Aquela sensação que senti antes de viajar, voltar a me
incomodar, só que dessa vez mais forte fazendo meu corpo tremer
de ansiedade e nervosismo.
Logo a porta é aberta, mas apenas um braço surge
estendendo alguns papéis na minha direção.
— Está tudo bem? — pergunto ao pegar os documentos, e
claro, esticando meu pescoço para tentar olhar algo dentro do
cômodo.
— Sim, está. — responde parecendo prender o riso — Só
estou ocupado, Aninha.
Faço uma careta, mesmo que ele não possa ver e me adianto
em me despedir, recebendo uma porta batida na cara como
resposta.
O que deu nesse povo hoje?
Enquanto caminho até a porta do quarto de meu chefe, a
queimação no estômago aumenta, fazendo com que me sinta mais
nervosa do que imaginei. Definitivamente não é algo comum você ir
ver o homem que você gosta antes de jantar com outro.
Puxo o ar algumas vezes, na tentativa de acalmar meus
ânimos e quando me sinto mais tranquila, fecho os dedos e bato
contra a madeira branca na minha frente, algumas vezes.
Não demora para que ela se abra, e assim que meu chefe
surge em meu campo de visão, não sei se tenho sorte ou azar.
— Ana? — ele diz surpreso e, por dois segundos, foco em
seus olhos que brilham ao olhar para mim.
Contudo, quando o meu olhar desce pelo seu corpo, parece
que estou em câmera lenta, analisando cada detalhe do monumento
à minha frente.
Dante está sem camisa, seu peitoral definido está totalmente
à mostra, revelando os gominhos muito bem desenhados ali. Abaixo
de seu umbigo, uma linha fina de pelos some para o dentro de sua
bermuda preta folgada que cai um pouco em seu quadril, revelando
uma cueca boxer preta.
Subo meu olhar, e pelo caminho noto seu peito subir e descer
cada vez mais rápido, minha boca seca com a visão, minhas mãos
pinicam por desejar passar meus dedos ali, uma luta para não
amassar os papéis que seguram.
— Ana? — ele fala novamente e dou um passo para trás por
ter sido tirado de meus devaneios ao som de sua voz grossa.
— Han, eu... hum... — tentando formar frases coerentes,
sinto minhas bochechas esquentarem.
— Ana? — Dante chama pela terceira vez e sua voz está
mais firme. Ele então dá um passo à frente e seus olhos se apertam,
juro que consigo ver medo. — Está tudo bem? — Aceno com a
cabeça confirmando, ainda entorpecida pela visão do seu corpo —
O que você deseja?
Você, seu bipolar maluco. Eu desejo você. Penso, ao passo
que meus olhos analisam mais uma vez seu corpo debaixo para
cima. Quando meu olhar se encontra com o seu percebo que fiquei
tempo demais o encarando.
Forçando uma tosse, ajeito minha postura e estendo os
papéis para que ele os pegue e eu possa correr, antes de perder o
controle e pular sobre meu chefe. Dante franze o cenho mostrando
confusão.
— Matteo avisou que você precisava assinar esses papéis e
que eram importantes. Ele pediu para que eu os trouxesse para
você — explico.
— Por que ele mesmo não trouxe? — Pega parecendo
irritado. — Ele poderia ter trazido e não ter pedido para você. — Ok,
ele não parece irritado, ele realmente está irritado e é por eu ter
vindo até aqui. Engulo seco e viro o corpo, pronta para sair.
— Já estou indo. — Caminho a passos largos.
— Ana? — ele me chama novamente e eu paro no meio do
corredor, ainda de costas quando respondo
— Sim?
Junto meus dedos na altura do meu estômago em uma
tentativa idiota de controlar o incomodo que se instalou ali.
— Você… Han… — impacientemente, espero ele completar a
frase com minhas pernas se mexendo à medida que os segundos
passam — Você está vestida assim para o encontro com… Alan?
— Estou — respondo simplesmente, ainda de costas para
ele, uma parte de mim sonhando que ele diga algo mude toda essa
situação.
— Você está linda. — Amoleço um pouco mais, me
permitindo mergulhar em tudo que ele me faz sentir e quando penso
em me virar e responder o elogio, ouço o barulho da porta se
fechando.
Não é possível! Definitivamente me tornei uma idiota
sentimental.
Solto um suspiro e torno para o meu quarto com o coração
aos pulos e os pensamentos em frangalhos.
"Vamos, Dante! Faça alguma coisa, seu medroso!"
Foi o que eu disse a mim mesmo de frente para o espelho do
enorme closet da minha suíte.
Fiquei exatos trinta minutos com uma ideia maluca na mente
enquanto encarava o teto, decidido a colocá-la em prática. Por isso,
logo tratei de me levantar da cama — onde passei quase o dia
inteiro — tomar um banho e colocar uma roupa a altura do que
estava prestes a fazer.
Contudo quando eu já estava vestido, olhando meu reflexo,
toda a coragem que antes havia sentido se esvaiu como num passe
de mágicas e foi por isso que comecei a arrancar toda a roupa que
escolhi a dedo, pensando que poderia simplesmente chegar até Ana
e pedí-la para que não fosse ao seu encontro com Alan, mas sim
comigo. Estúpido demais. Eu nem sabia se minha irmã estaria no
quarto que divide com ela, e muito menos quais palavras que usaria
para expressar os desejos do meu coração, quando a visse.
Vestido apenas com minha cueca, peguei de minha mala
uma bermuda preta, já que o plano para o resto da noite seria como
o do dia inteiro, ficar trancado me martirizando por ser um covarde
inseguro de merda.
Todavia, como se o destino estivesse pronto para zombar
ainda mais de mim, alguém bateu na porta do meu quarto, fui até
ela sem saber que Ana Laura estava do outro lado.
Ela estava linda, simplesmente linda.
Assim que abri a porta e pus meus olhos sobre ela e vi o
vestido sexy que envolvia seu corpo de uma jeito delicioso, desejei
agarrar sua cintura e tomar sua boca, matando a minha vontade de
ter minha língua ali, sentindo e provando seu gosto.
Nos últimos dias, depois do jantar na casa de meus pais e
daquela dança, decidi adotar o conselho dado por meu pai, seguir
meus instintos e um passo de cada vez.
Seguir meus instintos. Um passo de cada vez.
Foi exatamente o que eu fiz.
Fui gentil desde então, levei em todas as manhãs sua
segunda bebida favorita, café, procurando sempre fazer coisas
pequenas, mas eu sabia que para mulheres eram importantes,
como abrir a porta, puxar a cadeira e olhar em seus olhos quando
estávamos conversando durante os almoços que fizemos juntos.
Era a melhor parte do meu dia, encarar aquelas íris azuis brilhantes.
Conforme o tempo passava, mais eu a desejava. Eu estava
gostando dela e por mais que eu quisesse muito mergulhar de
cabeça nesse sentimento, todas as vezes que o clima mudava, eu
recuei por medo de que ela me rejeitasse.
Havia momentos que me permitia sonhar, sonhar com ela em
meus braços, seu corpo pequeno se enrolando ao meu procurando
por mais contato, seus beijos. Ah, seus beijos. Daria tudo para saber
qual sabor eles tinham.
Quando a vi ontem vestida naquele vestido de seda vermelho
para a inauguração do restaurante, quis colar meu corpo no seu e
beija-la. Durante toda a noite Alan não descolou os olhos dela e isso
me irritava, me irritava pra caralho.
Tentei agir normalmente e da forma mais profissional que
conseguia, ignorando a sensação de ouro ódio e ciúme que se
misturavam em meu interior.
Encosto minha testa contra a porta do quarto após, mais uma
vez ter sido covarde e não ter feito nada quando a chamei no meio
do corredor.
— O que eu faço? — pergunto alto como se assim a resposta
fosse vir mais rápido até mim.
Fecho meus olhos e meu subconsciente começa a formar
imagens de Ana Laura linda em seu vestido, sorrindo e dançando,
um homem se aproxima e a envolve na cintura com um braço a
puxando para si, colando seus lábios nos dela, da mesma forma que
imaginei fazer incontáveis vezes.
Abro os olhos sentindo meu corpo totalmente em alerta. A
raiva e posse se instalam em mim, como em todas as vezes que um
homem se aproximou desejando-a, entretanto hoje, sinto mais forte,
cru, doente. A resposta que eu aguardava destacada na minha cara
em um letreiro brilhante, como quem diz "Aqui seu covarde idiota de
merda".
Tomado por uma adrenalina que há muito tempo não sentia,
decido ir até o quarto de Ana. Mas antes, visto uma camiseta branca
e troco a bermuda por uma calça de moletom. Assim será mais fácil
falar tudo que desejo a ela, com a minha prótese, a parte que me
lembra que sou somente a sombra do homem que já fui um dia, não
estando a mostra.
Pelo menos assim eu espero que seja.

Já estou quase pronta para o jantar e a única coisa que eu


conseguia pensar era no corpo de Dante.
É a segunda vez que o vejo daquela forma e novamente
meus hormônios e meu coração bobo responderam a visão
deliciosa do meu chefe.
Parece que tudo à minha volta está cooperando para não
facilitar a minha escolha de ir a esse jantar.
Quando retornei ao quarto, Beatrice já não estava mais.
Agradeci por isso, pois teria que explicar algo que eu simplesmente
não conseguia. Levou alguns minutos até que eu pudesse me
recompor voltando a me arrumar.
Olho-me no espelho mais uma vez, analisando o visual.
Passo perfume e quando estou prestes a pegar meu batom, ouço
batidas na porta.
Pensando que Alan está um pouco adiantado, corro para fora
do banheiro e quando abro a porta, meu coração erra uma batida ao
me deparar com Dante.
Ele está com as mãos apoiadas no batente da porta, vestindo
uma camiseta branca solta que me dá uma visão perfeita de seus
braços musculosos e, para o meu desespero, a porra de uma calça
moletom cinza.
Controle-se Ana!
Ele por sua vez, analisa cada parte do meu corpo com o
olhar, e quando vê meu decote passa a mão no cabelo já um pouco
bagunçado, como se já tivesse feito esse movimento várias vezes
antes. Seu olhar sobe um pouco mais e para por alguns segundos
na minha boca e quando encontra os meus olhos, solta um suspiro
nitidamente desesperado.
— Posso entrar? — pede.
Não digo nada, afasto-me abrindo passagem e ele entra.
Fecho a porta e antes de me virar para encará-lo, apoio minha
cabeça nela tomando ar por alguns segundos.
Pergunto-me como estou conseguindo resistir a tudo que
esse homem me faz sentir sem perder o controle.
Você está prestes a perdê-lo. Meu subconsciente me alerta.
— Não vá — as palavras são pronunciadas quase que de
forma dolorosa.
Viro-me e todo o meu autocontrole se esvai. Ele se aproxima
pegando meu rosto em suas mãos facilitando seu olhar nos meus
olhos quando diz novamente, dessa vez com mais firmeza: — Não
vá.
Sou incapaz de dizer qualquer coisa. Fico ali parada,
ofegante como se tivesse acabado de correr uma maratona apenas
pelo simples fato de nossos corpos estarem tão perto um do outro.
Seu polegar direito começa a fazer movimentos circulares em
minha bochecha me fazendo entreabrir os lábios.
Completamente rendida, inclino meu rosto na direção de sua
mão querendo mais do seu toque, sem desviar do seu olhar.
Ele umedece os lábios e eu fico hipnotizada com aquela
língua imaginando o que ela seria capaz de fazer no meio das
minhas pernas. Com a outra mão, Dante afasta meu cabelo e
começa a depositar beijos leves em meu ombro e pescoço. Sua
mão desce para a lateral do meu corpo, apertando minha cintura.
Ofego e fecho os olhos com a sensação que seu toque me
causa. Estou excitada, envolvida demais para pensar em me
afastar, e mesmo que eu quisesse, acho que não teria forças para
fazer. Deixo-me levar, sentindo cada beijo que ele dá, o quanto cada
um me deixa mais necessitada.
Coloco minhas mãos em sua cintura, na tentativa de procurar
apoio, porque minhas pernas estão mais moles que gelatina. Elas,
então, apertam sua pele assim que sinto suas mordidas em meu
pescoço, me causando aquela dor gostosa que faz meu ponto
sensível vibrar de tanto tesão.
Seus lábios são macios, mas firmes, e quando penso que ele
não pode me surpreender mais, passa a língua pelo meu ombro, me
chupando. Eu gemo seu nome e aperto mais sua cintura o trazendo
para mais perto de mim, fazendo meus mamilos já duros, roçarem
em seu peito por cima de sua camisa.
Dante não para o trabalho de sua boca faminta, que morde,
chupa e lambe cada parte do meu pescoço. Ele desce a mão que
estava em meu rosto, até o meio dos meus seios, fazendo uma
carícia gostosa com as pontas dos dedos de cima para baixo.
Eu me contorço sob suas mãos, tremendo de prazer.
— Voglio succhiare tutto il tuo corpo, amore mio (Eu quero
chupar seu corpo todo, meu amor.) — fala em italiano e caralho sou
capaz de gozar com ele falando assim.
Eu quero que ele me chupe, me coma, me devore inteira. Eu
quero... eu preciso!
Posso sentir seu pau duro fazendo pressão na minha barriga.
Ele levanta seu rosto até seu olhar encontrar o meu novamente e
volta a segurar meu rosto com as duas mãos colocando sua testa
na minha. Nossa respiração está totalmente descontrolada.
— Ana... Eu... — Engole em seco, ponderando por alguns
segundos antes de continuar — Eu não quero que vá a esse jantar.
— Por que? — murmuro — Diga-me porque eu não devo ir,
Dante — peço olhando em seus olhos.
Ele fica em silêncio por alguns segundos antes de responder
em italiano:
— Perché ti voglio per me. L'ho sempre voluto, dalla prima
volta che ho posato gli occhi su di te. Il mio corpo fa male solo al
pensiero che potresti non volermi perché sono... tipo... incompleto.
Quando mi hai visto in palestra così esposto e correre... mi ha
distrutto. Mi sono sentito un idiota. Dannazione, non potevi
nemmeno guardarmi con quella dannata gamba. Forse vuoi e meriti
qualcuno migliore di me, e integro come Alan e io sappiamo che
nessuno dovrebbe chiedere l'attenzione di nessuno, ma... sono
disperata Ana Laura...fottutamente disperata per te.

“Porque eu quero você para mim. Eu sempre quis, desde a primeira


vez que coloquei meus olhos em você. Meu corpo dói só de pensar
que você pode não me querer por eu ser... assim... incompleto.
Quando você me viu na academia tão exposto e correu... aquilo me
destruiu. Eu me senti um idiota. Porra, você não conseguiu nem me
olhar com essa droga de perna. Talvez você queira e mereça
alguém melhor que eu, alguém como Alan e eu sei que ninguém
deve mendigar atenção de ninguém, mas... eu estou desesperado
Ana Laura... fudidamente desesperado por você.
Minha mente dá uma volta de 360 graus tentando absorver o
que ele acabou de falar.
Cada palavra dita fez meu corpo esquentar, clamar por ele...
loucamente.
Eu quero mostrar a ele o quanto eu o desejo, o quanto também
estou fodida, desesperada, sedenta por ele.
— O que você disse? — pergunto ainda sem acreditar em
tudo que ouvi, busco o ar e maneio a cabeça tentando focar em
cada palavra que virá e quando ele se afasta bruscamente de mim,
sinto um vazio.
Ele não sabe que falo italiano. Nunca falei ou comentei com
ele a respeito e ao que parece nem sua mãe. Ele interpreta a minha
pergunta como um sinal de que não entendi o que ele disse, mas
porra eu entendi tudo.
— Dante, eu...
— Esqueça o que aconteceu aqui. Eu... preciso ir. Você
precisa ir.
— Você prec... — sou interrompida dessa vez por uma batida
na porta e meu nome sendo chamado por uma voz que reconheço
ser de Alan.
Dante caminha até onde estou, ainda encostada na porta,
segura na maçaneta, me olha nos olhos quando grita: — Ela já está
indo.
Afasto-me da porta quando ele faz menção de abri-la.
— Dante? Olá, boa noite. Tudo bem? — Alan pergunta
buscando compreender o que ele faz em meu quarto.
— Tudo, não se preocupe. Só vim trazer alguns...
documentos para Ana. Já estou indo. Bom jantar. — Sai sem nem
ao menos olhar para trás.
Caralho! Que ódio!

Alan e eu entramos no elevador e busco de toda forma


disfarçar o quanto a visita de Dante ao meu quarto me deixou
abalada.
— Você está bem? — ele pergunta.
— Não. — sussurro — O que eu estou fazendo?
— Não? Precisa de algo?
— Preciso... eu preciso ir, Alan — digo apertando
freneticamente o botão do último andar, bufando a cada segundo
que as portas não se abrem.
— É ele, não é? — seu tom de voz me mostra que ele
sempre soube o que estava acontecendo muito antes de Dante ou
eu.
— Sempre foi.
Esmurro a porta do quarto de Dante e alguns segundos
depois ela é aberta.
— Ana?
Eu nem olho para ele, apenas entro a passos duros e firmes,
sem pedir licença, sem dar boa noite, sem oi. Foda-se!
No processo acabo o empurrando no ombro. Paro de frente
para a grande parede de vidro, de costas para Dante. Tento acalmar
minha respiração, mas meu corpo ferve de raiva, frustração, medo e
tudo por causa desse homem.
Ouço o barulho de porta se fechando, e ele torna a me
chamar:— Ana, o que aconteceu?
O que aconteceu? O que aconteceu? Vou te falar o que
aconteceu.
Jogo minha bolsa de mão no chão, tiro meus saltos e ando
de um lado para o outro, sem olhá-lo quando digo: — Quem você
pensa que é para entrar no meu quarto e fazer tudo aquilo e depois
simplesmente sair?
— Me desculpe... — fala mas não dou tempo, o corto
rudemente.
— Me desc... — as palavras somem quando enfim olho em
sua direção.
Sério? Sem camisa? De novo? E só de moletom?
Engulo a seco tentando me concentrar em achar as palavras
e não no corpo lindo à minha frente.
— Me desculpe? O que vai me comprar agora? A porra da
Ambev toda? Hein? — Aponto para ele me referindo a caixa do meu
uísque favorito que me foi presenteado por ele há semanas.
— Ana, por favor... se acalme.
— Você não tinha o direito de fazer aquilo. Não tinha, Dante.
— Eu sei que foi totalmente inapropriado. Eu só... — Ele fica
visivelmente nervoso, passa uma mão pelos cabelos e tenta de
novo. — Eu só...
— Você não teve coragem de me falar o que falou em
português. Você se escondeu atrás de seu idioma nativo por... por
medo. Foi embora sem nem olhar pra trás. Não me deixou falar
nada. Você foi covarde, Dante — cuspo tudo em tom alterado,
olhando em seus olhos. — Não foi? Diga, fale olhando nos meus
olhos.
Vejo as veias de suas têmporas dilatarem, seu rosto
assumindo uma cor avermelhada e levo um susto quando ele fecha
os punhos e bate na cômoda próxima a porta.
— É, Ana! Eu estava com medo, porque, olha pra mim. —
Aponta para si, enfatizando o lugar de sua prótese — Você jamais
ficaria com alguém como eu. Quando você correu assim que me viu
com essa droga de prótese… isso acabou comigo, porra. Então sim,
eu me escondi falando tudo em italiano porque eu tenho medo
fodido de você me rejeitar. Eu desejo você como mulher, desejo pra
caralho você. Satisfeita?
Posso ver seu peito subir e descer descontroladamente. Seu
corpo todo treme tanto quanto o meu. Ele se vira, coloca as mãos e
sua cabeça na porta e começa a sussurrar para si, coisas que eu
não consigo entender.
— Para sua informação, Dante — digo sentindo as lágrimas
caírem sobre meu rosto, minha voz fica embargada e uso toda
minha força para pronunciar cada palavra perfeitamente bem em
italiano — ... Ho capito ogni parola che hai detto. E ora chi mi
ascolterà sei tu. (eu entendi cada palavra que você disse. E agora
quem vai me ouvir é você).
Quando termino, vejo os músculos das suas costas
tencionando. Ele vira a cabeça para o lado, como se estivesse
esperando que eu continuasse.
— Você teve semanas, meses, para falar comigo e não fez.
Me colocou em uma situação de merda com uma boa pessoa que
não tem nada a ver com a gente. Semanas Dante, se.ma.nas — falo
pausadamente, porém firme — me vendo quase todos os dias e
você não me falou nada. — Começo a chorar, fazendo minha vista
embaçar com as lágrimas.
— Ana, não chore. Por favor. — Se vira, andando até mim.
— Não! — brado com um braço levantado na minha frente,
sento todo o meu corpo tremer de raiva.
Ele abaixa a cabeça e diz: — Era isso que eu temia. Que
você não me deixasse chegar perto...
— Caralho! — gritei com as lágrimas escorrendo. — Eu não
me importo se você usa prótese, droga. Eu não ligo... eu nunca
liguei. Eu me sinto atraída por você desde a primeira vez que eu te
vi... primeira vez Dante. Eu nunca senti essa vontade louca de
querer tanto tocar em um homem como eu sinto por você. Todas as
vezes que me afastei foi porque você fez questão de jogar na minha
cara que não se envolvia com funcionárias e assim como você eu
também tenho receio de ser rejeitada e eu corri... corri mesmo
quando vi você daquele jeito na academia. Porra! Você foi uma
tentação para mim. Eu queria te agarrar ali mesmo, sem me
importar se alguém poderia ver. — Fico em silêncio por três
segundos tomando fôlego antes de perguntar — Então, será que fui
clara o suficiente agora?
Ele arregala os olhos e eu não consigo dizer mais nada. Levo
minhas mãos para o rosto, e choro.
Choro de raiva pelo que ele fez hoje.
Choro por todos os mal entendidos que me fizeram ficar
longe dele.
Choro por ele se sentir menos do que é por causa de sua
condição.
Choro por todo o desejo que eu reprimi.
— Amore mio — se aproxima de mim, pegando meu rosto
entre as mãos, cola nossas testas e sussurra: — Meu amor... meu
amor, não chore, por favor, não chore. Eu não aguento ver você
chorar. Me perdoe por ser um idiota por... ser tão inseguro. Me
perdoe — fala com a voz mais carinhosa que eu já ouvi e deposita
um beijo em minha testa.
— Eu não se-sei... como você... pen-pensou que eu me im...
importaria com sua pro... prótese — digo em meio aos soluços.
— Amore mio, não chore mais por favor — fala e limpa as
lágrimas que caem sobre minhas bochechas com seus dedos.
Eu coloco minhas mãos em sua cintura, puxando-o para mais
perto não desejando mais ficar sem tocá-lo. Passo minhas mãos por
seu peito nu, notando algumas cicatrizes finas ali e estremecemos
os dois juntos. A pele dele é tão quente.
— Você é tão linda, sabia? — diz com uma voz rouca, baixa,
tão grave que faz toda a raiva que antes eu sentia sumir.
Levo os olhos até os seus, perdendo o fôlego quando vejo
neles desejo. Dante passa seus dedos por meus lábios e eu digo
soando mais desesperada do que pensei, mas não me importo: —
Me beija.
— Se eu beijar você, não vou conseguir parar — confessa
baixinho.
Eu sabia, que não haveria mais volta depois desse beijo,
qualquer limite que existisse entre nós jamais restabelecido. Tudo, a
partir dessa noite, mudaria e seja lá para onde isso nos leve, eu não
estava me importando.
Hoje, eu queria ser dele, eu queria ser finalmentedele.
Mordo seu lábio inferior e vejo em seus olhos o fogo que eu
tenho certeza que ele também vê nos meus e declaro: — Por favor,
não pare.
"Apaga a luz e deixa o tempo passar.
Baby, você não perde por esperar.
Apaga a luz, não há nada a temer.
Apaga a luz quando é só eu e você."
(Apaga a luz - Gloria Groove)

Dante agarra meus cabelos com sua mão direita, inclinando


minha cabeça. Com a outra mão, desce pela lateral do meu corpo,
passando por minha cintura apertando forte minha bunda e toma
minha boca em um beijo lento e sensual. Ele nem precisou pedir
passagem, minha boca se abriu e nossas línguas se encontram
fazendo com que gemêssemos ao mesmo tempo.
A mão que estava em meu cabelo, agora se junta a outra, e
começa a fazer movimentos eróticos de cima para baixo em minha
bunda. Levo meus braços até seu pescoço, o puxando mais para
mim.
Ficamos assim, até ele se afastar ofegante. Eu já podia sentir
meus lábios inchados.
Se de alguma forma felicidade matasse, eu estava a ponto de
morrer.
— Ana, eu preciso que saiba de algo — diz me fazendo abrir
os olhos. — Eu nunca estive com mulher nenhuma... depois do
acidente — confessa.
Na mesma hora entendo o que ele queria dizer. Coloco minha
mão direita em seu peito o afastando sutilmente e olho em seus
olhos para dar meu comando.
— Sente-se na cama — ele parece confuso, por alguns
segundos, mas logo se sentou na beirada da cama king size. —
Agora, olhe para mim — minha voz soa mais sexy, essa é
exatamente a intenção. — Não ouse desviar o olhar — ele anui.
Dou três passos para trás sem tirar meus olhos dele. Desço
as alças do meu vestido sobre os ombros e quando meus seios
ficam à mostra, vejo que ele abre a boca deixando meu nome
escapar em forma de gemido.
— Essa sou eu, Dante. — Desço o vestido até ficar em meus
pés — Eu vou ser sua e você vai ser meu — enfatizo.
Virando-me, fico de costas para ele, o olhando sobre os
ombros. Levo meus dedos para minha calcinha, a puxando
lentamente para baixo.
— Porra! — ele exclama ao me ver completamente nua.
Torno a ficar de frente e seu olhar vai direto para o meio das
minhas pernas.
— Eu não tenho vergonha de você, e não quero que você
tenha vergonha de mim. Ok? — Dante balança a cabeça como se
estivesse hipnotizado.
Caminho até ele e minha barriga fica na altura de seu rosto.
Ele não se mexe, apenas me devora com os olhos.
Pego sua mão direita levando até minha boceta e digo: —
Veja como você me deixa excitada, sinta. — Ele entende o comando
e enfia um dedo em mim. Na mesma hora me contorço de prazer.
— Você está molhada... muito molhada.
— É você quem me deixa assim — digo e me afasto. Ele
geme de frustração. — Eu quero ver você — falo decidida e noto ele
travar uma luta consigo mesmo ao entender o que quero que ele
faça. — Me mostre — o incentivo. Ele anui.
Dante leva as mãos até o cós de sua calça de moletom, e
ainda sentado retira ela, a jogando no lado da cama.
Puta que pariu! Não vai caber.
É a primeira coisa que penso ao ver o volume em sua cueca
boxer preta.
Meus olhos mapeiam cada parte do seu corpo agora quase
todo exposto para mim. Ele é forte, muito forte. Suas coxas são
grossas e ele tem a porra de um v na barriga. Eu nunca... nunca
mesmo, fiquei com um cara que tinha um v tão perfeito.
Só agora percebo como fui tola ao pensar que poderia
simplesmente ignorar a atração que sinto por ele, é inútil demais
achar que eu conseguiria. Não havia como fugir ou evitar, uma hora
ou outra eu cederia a ela, e fico feliz que essa hora finalmente tenha
chegado. Muito feliz.
— Diga alguma coisa.
Aproximo-me, ficando de joelho em sua frente quando falo:
— Eu quero ver tudo. — Ele me encara por alguns segundos,
mas logo concorda, começando a retirar sua prótese.
Meu olhar acompanha cada movimento seu, não desejando
perder nada. Primeiro ele tira a prótese, a deixando de lado. Vejo
uma faixa na cor bege em volta do coto que vai até metade de sua
panturrilha com duas presilhas pequenas. Dantes as tira e
lentamente, com as mãos visivelmente tremendo, desenrola a faixa
ainda sem olhar para mim. Assim que termina, vejo finalmente o
coto de seu membro, onde vejo uma cicatriz grande. Toco com
minha mão esquerda e agradeço por ele não me impedir. Subo
passando por seu joelho, indo até suas coxas e sinto seus pelos se
arrepiarem com meu toque.
Olho em seus olhos quando falo:
— Você é lindo!
Ele me lança um sorriso tímido de lado e não desejando
perder mais tempo, sento-me em seu colo, ele me aperta com as
duas mãos como se estivesse com medo que eu fugisse.
— Faça o que quiser comigo — imploro necessitada.
Solto um gritinho quando Dante segura minha cintura e nos
vira, me jogando de costas na cama. Fica em cima de mim e volta a
invadir minha boca, só que dessa vez nossos beijos são mais
intensos e urgentes.
Ele lambe, chupa, morde sem parar, não se importando mais
se o ar nos falta.
Estremeço quando sua boca vai para meu pescoço, dando
leves mordidas.
Lambe minha orelha e sussurra:
— Você me deixa louco, sabia? — sua voz é sexy. — Você
não sabe o quanto foi difícil ver você todos os dias e não poder te
sentir.
— Eu sei — sussurro. — Porque me sentia da mesma forma
por você — admito.
Ele se apoia com o cotovelo esquerdo na cama e sua mão
direita aperta meu seio, com fome ele começa a lamber meus
mamilos, dando igual atenção aos dois. Inclino mais meu peito em
direção a sua boca desesperada por mais.
Eu já tinha ouvido falar que era possível gozar estimulando
os mamilos, mas nunca cheguei perto, porém, se Dante continuar
juro que sou capaz de alcançar o ápice.
Sua boca vai descendo, traçando beijos por minha barriga e
quando chega em minha boceta, abre mais minhas pernas,
prendendo minhas coxas no colchão.
Ele alterna entre beijos e lambidas no interior da minha perna
até chegar em minha virilha.
— Eu preciso chupar você.
Nunca nenhum homem disse que precisava me chupar!
Dante passa a língua de baixo para cima, sem encostar em
meu clitóris. Ele repete o movimento mais cinco vezes, me deixando
louca de antecipação. Depois passa sua língua ao redor do meu
ponto que lateja por mais. Uma, duas, três vezes…
Quando começa a me chupar, aplica a pressão perfeita.
Ele leva uma de suas mãos até minha barriga, massageando
de baixo para cima, próximo de meu umbigo, deixando meu clitóris
mais exposto para sua boca faminta.
— Aaaaah ... — gemo alto quando ele me penetra com um
dedo, que desenha um oito dentro de mim.
Porra, ele é bom nisso. Muito bom.
Sinto meu clitóris inchar, quando Dante começa a fazer um
oito nele também, usando sua língua de cima para baixo, de um
lado para o outro, em sincronia com seu dedo.
— Sua boceta é muito gostosa. — diz e volta a me chupar
sem parar.
Dante não economiza. Usa tudo... dentes, boca, lábios,
dedos, seu rosto todo...
Agarro os lençóis, quando ele abocanha meu clitóris,
pressiona sua língua nele e mexe a cabeça rápido, de um lado para
o outro. E é o meu limite.
Arqueio minhas costas, jogando a cabeça para trás, gozando
forte, chamando por ele. Meu corpo todo treme de prazer. Fecho
meus olhos aproveitando cada segundo... cada onda que me invade
e ele não se afasta.
Sinto sua mão segurar minha boceta pressionando de leve,
em formato de concha, como se quisesse me acalmar e funciona.
Abro meus olhos e encontro os dele cheios de luxúria.
— Eu quero mais — diz, sentando-se em seu joelho e me
puxando pelas pernas, descansando-as em seus ombros.
Ele abre minha entrada e sua língua me invadiu, não me
dando tempo para descansar. Seu nariz encostou de leve em meu
clitóris sensível.
Eu parecia uma boneca de pano em suas mãos. Eu amava o
fato dele ser forte e que levou ao pé da letra quando disse para
fazer o que quisesse comigo. Ele ainda nem havia me penetrado e
eu já estava exausta.
Finalmente achei meu deus do sexo.
A posição me permite olhá-lo melhor, e seu olhar não deixa o
meu. Dante tira sua língua e mete dois dedos de uma vez dentro de
mim.
Gemo desesperadamente, quando faz um movimento de
entra e sai, girando-os para dentro e para fora, que trabalham
incansavelmente dentro de mim, como se estivesse procurando
algo.
— Você fica ainda mais linda quando geme, amore mio —
fala apertando minha coxa com sua mão livre.
Um barulho agudo sai de minha boca, fazendo-me ficar
apoiada em meus cotovelos. Olho para ele com os olhos
arregalados sem entender o que acabei de sentir.
— Achei seu ponto g, mi amore — fala e um sorriso safado
aparece em seu rosto.
Puta que pariu, eu nunca tinha achado meu ponto g antes e
olha que eu tentei. Tentei de verdade!
Ele concentra seus dedos nessa direção, aumentando o
ritmo. Posso sentir meu tesão aumentando, e outra onda de prazer
mais intensa chegando, mas de repente, ele para, me deixando à
beira do abismo.
— Não... — choramingo quando seus dedos saem de mim.
Eu estou desesperada e não me importo de implorar se for
preciso.
Ele desce minhas pernas de seus ombros, tira sua cueca e
eu quase tenho um infarto quando vejo todo seu pau. É lindo! O
mais lindo que eu já vi em toda minha vida.
Eu queria saber que gosto ele tinha. Como seria tê-lo todo
em minha boca, passando minha língua naquela ponta rosada.
Ele passa uma de suas mãos pela minha costa me puxando
para cima. Depois se acomoda no meio das minhas pernas. Sinto
seu pau roçar minha intimidade já muito sensível do último orgasmo.
— Camisinha? — pergunta e eu apenas balanço minha
cabeça de um lado para o outro.
Minha resposta silenciosa o faz abrir um sorriso. Não tinha
pretensão nenhuma de terminar a noite na cama com Alan, ou
qualquer outro homem durante essa viagem, nem mesmo com meu
chefe, por isso não me preocupei com esse detalhe.
— Me diga que você toma remédio? — indaga lambendo
todo meu pescoço.
— Sim. — minha resposta sai como um gemido baixo. — Eu
nunca... aaaah... — mais um gemido — ...nunca fiz sexo sem
camisinha. Você será o primeiro.
Ele atacou minha boca num beijo alucinado, chupando meu
lábio inferior. Sinto a cabeça de seu pau roçar toda minha
intimidade, de cima a baixo e quando chega em minha entrada, me
olha nos olhos e começa a empurrar para dentro de mim,
lentamente.
Agarro seus ombros à medida que seu pau entra, centímetro
a centímetro.
Meu corpo é tomado por uma sensação de pertencimento
que eu nunca senti antes.
É simplesmente incrível!
— Mi Amore? — ele diz quando já está todo dentro de mim,
ainda sem se mover. — Eu vou te foder agora — avisa.
— Me fo... — não termino a frase, pois Dante começa a
meter forte e gostoso em mim.
Nossos gemidos tomaram conta do quarto e me arrisco a
dizer que quem passasse pelo corredor poderia nos ouvir
perfeitamente.
Sua mão direita agarra a dobra do meu joelho levantando
minha perna, elevando um pouco meu quadril. O ângulo é perfeito e
sinto seu pau encostar naquele meu ponto que, a segundos atrás,
ele encontrou. O prazer é tanto, que aperto minhas paredes em sua
volta.
— Faz isso de novo — fala sem parar de estocar.
Eu o aperto dentro de mim e ele geme, mordendo os lábios e
fechando os olhos por alguns segundos.
Dante acelera o ritmo, e sinto suas bolas baterem em minha
carne. O barulho causado pelo choque de nossos corpos, me deixa
mais excitada e posso ver em seu rosto que ele está perto.
Ele então se inclina até mim, e junta nossas testas. Ambos
ofegantes, suados e completamente imersos no prazer que um
estava causando no outro.
— Mais forte... mais forte... — peço em um sussurro e ele
atende minha súplica, socando mais e mais, indo ainda mais fundo
dentro de mim.
Levo minhas mãos até aquela bunda, que desejei por
semanas tocar e aperto com gosto, cravando minhas unhas em sua
pele o que faz ele soltar um gemido rouco.
Dante passa sua língua por meus lábios e sussurra:
— Goza no meu pau, goza mi amore.
Como se meu corpo fosse controlado por ele, eu gozo e sinto
ele vir logo em seguida. Sua boca captura a minha, abafando
nossos gemidos.
Caralho de homem gostoso da porra!
A Ana tarada que vive em mim nunca esteve tão feliz.
— Dante... — falo, nossos corpos ainda soltando pequenos
espasmos — ... foi perfeito — digo sorrindo de orelha a orelha.
Ele leva seus dois braços para as laterais do meu rosto.
Faz um carinho em meu cabelo, beija minha testa e roça a
ponta de nossos narizes.
— Você que é perfeita, amore mio.
— Eu gosto disso.
— Do que?
— De você me chamando de amore mio. Eu gosto.
Ele sorri de lado e me beija. Um beijo repleto de carinho e
promessas não ditas, que faz as borboletas em meu estômago que
já estão malucas, ficarem ainda mais agitadas.
Faz menção de se levantar, mas antes me dá um selinho
demorado nos lábios. — Eu já volto.
Ele segue até a beirada da cama, coloca sua prótese e
caminha até o banheiro, me dando a visão daquela bunda deliciosa.
Voltando minutos depois com uma toalha úmida, me puxa
pelos tornozelos me arrancando sorrisos.
— O que está fazendo?
— Limpando você.
Dante abre minhas pernas, e começa a passar a toalha
delicadamente por minhas coxas, subindo até minha boceta.
Sua atitude me pega totalmente desprevenida. Nunca
nenhum homem cuidou de mim dessa forma como ele está fazendo,
cheio de devoção, principalmente após o sexo.
— Por que está fazendo isso ? — pergunto curiosa.
Ele não responde. Termina de me limpar, deixa a toalha em
uma cadeira e senta na cama próximo a cabeceira. Retira sua
prótese e me chama.
Vou até ele e descanso meu rosto em seu peito, bem em
cima de seu coração. Um braço seu envolveu minha cintura me
puxando para mais perto, e logo sua mão inicia um carinho em
minha pele, enquanto a outra acaricia meus cabelos.
Por fim fala:
— Porque eu quero você, Ana.
Minha resposta parece ter deixado a linda mulher nua em
meus braços confusa, pois vira o rosto para me olhar, seu belo
cenho se franziu e ela me encara durante alguns segundos e sendo
sincero, nem mesmo eu esperava responder dessa forma.
As cinco palavras que saíram da minha boca foram ditas de
forma verdadeira e movidas pelo medo de correr o risco de perdê-la,
ainda que não a tivesse de fato, mas agora que sei como é, não
pretendo soltá-la, caso assim ela queira a mim com a mesma
intensidade que eu a quero.
— Você acabou de me ter, seu bobo — brinca, descansando
o queixo em meu peito, seus olhos azuis focados em mim.
— Eu quero mais, Ana — falo com firmeza, sem saber ao
certo o que esse “mais” implica, todavia, estou mais do que disposto
a descobrir.
Eu quero mais de Ana Laura.
Meus dedos acariciam sem parar seus cabelos indo até o
meio de sua costa. Sinto sua pele se arrepiar e vejo um sorriso de
lado surgir em seus lindos e agora inchados lábios, quando levanta
o rosto para me olhar.
— Eu também quero… mais — admite em um sussurro e eu
me abaixo, colando nossas bocas em um beijo calmo.
Nossas línguas se tocam e a mesma sensação de paz de
quando nos beijamos momentos atrás, — apesar do beijo ter sido
cheio de desespero — toma meu coração.
Com o braço que envolve sua cintura, aperto seu corpo
pequeno e delicioso ainda mais contra o meu, o contato faz nós dois
gemermos.
Sinto sua mão subindo por meu peito, pescoço até que seus
dedos estejam segurando meu rosto intensificando ainda mais o
trabalho de nossas bocas.
Beijar Ana se tornou meu mais novo vício. Seu sabor é ainda
melhor do que imaginei e sua língua me faz ter pensamentos de
como seria tê-la sugando e lambendo meu pau.
Afastamo-nos quando o beijo nos deixa sem fôlego. Deposito
um beijo em sua testa, antes dela voltar a descansar a cabeça em
meu peito. Ficamos assim, em silêncio por confortáveis minutos.
Saber e ver o quanto Ana Laura me quer como eu a ela,
deixa uma parte em mim aliviada, contudo a insegurança ainda se
faz presente. Isso fica claro, para nós dois, quando sinto sua perna
sobre meu corpo, seu joelho quase tocando no coto do meu
membro que foi amputado. Automaticamente, afasto-me.
Ana percebe e seu olhar vai para o local de minha prótese,
voltando em seguida para o meu olhar.
— Eu disse para você não ter vergonha de mim — fala
acariciando minha bochecha com seu polegar. — Isso não é apenas
durante o sexo Dante, mas principalmente depois.
— Desculpe — sussurro fechando meus olhos, sem saber
mais o que dizer.
— É estranho, sabia?
— O que? — pergunto curioso voltando a encarar suas íris
azuis brilhantes.
— É estranho demais pensar que você é inseguro com sua
aparência só porque usa prótese na perna. Você não tem noção do
quanto é bonito e atraente, né?
— Você me acha mesmo atraente?
— Pensei que depois de tudo que falei e fizemos isso já
estivesse mais do que claro, chefe — ela brinca me fazendo soltar
uma risada, mas suas palavras seguintes me pegam completamente
desprevenido, causando um incômodo bom de sentir no estômago,
o mesmo incômodo que experimentei quando estávamos dançando
no quintal da casa de meus pais — Queria que você pudesse se ver
como eu vejo.
— E… como você me vê?
— Você é lindo, em todos os sentidos. Tem uma
personalidade incrível, é carinhoso, inteligente. Tem um coração
difícil de encontrar por aí, principalmente em homens e é gostoso
pra caralho. Você não sabe o quanto foi difícil manter minhas mãos
longe de você desde que nós nos conhecemos. — Ela faz um
biquinho de drama e eu prendo o riso com sua expressão fofa
engraçada. — Pensei que morreria de tanto tesão acumulado.
Não aguentando mais, explodo em uma gargalhada e Ana
me segue. Nossos corpos balançando a cada segundo que nossas
risadas se misturam no ar.
— Você é mesmo maluca, Ana Laura — anuncio entre risos,
enxugando algumas lágrimas pelo rosto a vendo fazer o mesmo. —
Muito maluca, mas eu amo esse seu jeito.
— Obrigada, senhor Fontana. — comenta sorrindo, voltando
a se aconchegar em mim e eu deixo suas pernas envolverem as
minhas, mandando para longe qualquer resquício de hesitação e
vulnerabilidade.
Um passo de cada vez, repito a mim mesmo.
Aperto seu corpo ao meu, apreciando cada detalhe desse
momento. Seu cheiro, sua pele, seu calor, seus dedos desenhando
desenhos imaginários em meu peito, sua respiração tranquila. Tudo
nesse momento parece ser um sonho.
Solto um suspiro longo, desejando não acordar caso assim
seja.
— O que você está pensando? — ela pergunta depois de uns
minutos.
— Que tudo isso é bom demais para ser real. Só posso estar
sonhando — revelo com sinceridade.
Surpreendendo-me novamente, Ana Laura me dá um
beliscão próximo de meu umbigo e eu grito de dor e susto, me
remexendo embaixo dela.
— Ana! — esbravejo, sentindo minha pele arder onde ela
beliscou.
A maluca só faz rir, levantando o rosto para me olhar.
— Por que você fez isso? — pergunto.
— Para provar a você que não estamos em um sonho. — dá
de ombros — Agora você sabe que é real. Obrigada, de nada.
— Você não existe, cara mia. — inclino-me para deixar um
beijo em sua testa.
— Posso dar outro beliscão pra você ver como eu existo sim
— provoca me fazendo rir um pouco.
Ela volta a descansar em meu peito e o silêncio novamente
nos abraça. Penso que agora ela possa ter dormido.
— Está acordada? — pergunto baixinho.
— Sim — sua voz um pouco sonolenta.
— Estou curioso sobre uma coisa. — Ela levanta o rosto para
me olhar esperando que eu continue. — Onde você aprendeu a
dançar daquele jeito? Não me lembro de ter comentado algo em
nossas conversas desde que nos conhecemos.
— Ah! Sempre gostei de dançar, até cheguei a fazer algumas
aulas quando criança, mas eu era hiperativa demais e não dava paz
aos professores — responde e nós rimos.
— Consigo imaginar você fazendo uma dança
completamente diferente dos outros alunos — comento.
— Era bem assim mesmo — admite.
— Gostaria de ter você dançando só pra mim um dia —
confesso timidamente.
— Será um prazer atender o seu pedido, chefe. — Seus
lábios se repuxam para o lado de um jeito travesso — Eu também
tenho um pedido.
— Qual? — pergunto curioso.
— Eu danço pra você e em troca você me deixa morder sua
bunda.
— O que? Como assim? Morder minha bunda? Por que? —
as perguntas saem rápidas uma atrás da outra.
— Porque ela é uma delícia. Todas as vezes que você ficou
de costas para mim, eu babava nela. — Suspira.
— Você ficava… babando na minha… bunda? — indago
incrédulo.
— Você não sabe o quanto. Vai me dizer que não ficava
babando na minha também? — Ana semicerra seus olhos para mim.
— Nem um pouquinho?
— Bem, talvez só um pouquinho. — Meneio a cabeça falando
devagar.
Ela bate em meu ombro de leve.
— Então, trato feito? — sorri de boca fechada, seus olhinhos
brilhando em expectativa.
— Não vou deixar você morder minha bunda, Ana — declaro
prendendo o riso novamente, sem acreditar que ela esteja mesmo
desejando fazer isso.
— Então sem dança particular para você — rebate, soltando
um bocejo.
— Sono?
— Muito — responde se aconchegando mais em mim. —
Mas ainda discutiremos sobre a mordida em sua bunda.
— Va bene — sussurro fechando meus olhos.
Meu coração se encheu de felicidade, uma felicidade que eu
nunca senti antes, ao constatar que todo mal entendido entre nós,
passou, que tudo a partir desse momento, seria mais leve, mais…
tranquilo.
Um passo de cada vez, Dante. Digo a mim mesmo antes de
adormecer e mergulhar no sonho que desejei ser realidade nas
últimas semanas, ter Ana Laura em meus braços.
Assusto-me quando ouço batidas fortes na porta do quarto.
Olho para o lado e Ana parece alheia ao barulho.
Pela luz que entra pela pequena fresta da enorme parede de
vidro que a cortina do quarto não cobre, sei que dormi mais do que
planejei.
Retiro a pequena mulher, com cuidado, de cima de mim,
tentando não acordá-la e admiro por alguns segundos sua beleza,
ainda sem acreditar em tudo que fizemos na noite passada.
A forma como ela se entregou a mim e como me deixou
relaxado foi algo que me surpreendeu. Cada segundo durante o
sexo estava gravado em minha mente, cada gemido seu quando
minha língua tocava sua pele, ela pedindo por mais, chamando meu
nome, seu rosto se retorcendo de prazer enquanto gozava. A cena
mais linda que meus olhos já viram.
É estranho pensar que há meses eu tinha certeza que ela
nunca iria querer algo comigo. Foram semanas me escondendo
atrás da regra de "não me envolvo com funcionárias" na tentativa de
ignorar a verdade. Eu já estava envolvido.
Sorrio ironicamente ao lembrar o quanto eu estava errado e
com medo da rejeição que quase perdi a chance com ela.
Quando retornei ao meu quarto estava a ponto de explodir,
sem imaginar que minutos depois Ana Laura me surpreenderia.
Nunca imaginei que ela falasse italiano, minha mãe nunca comentou
e não há nada em seu currículo sobre. O que me faz pensar que ela
aprendeu de forma independente assim como eu aprendi a tocar
violão.
Fecho os olhos por alguns segundos, revivendo o momento
em que Ana despejou as palavras, tão frustrada quanto eu.
"Eu quero você, Dante. Eu quero você desesperadamente."
Assim que meu cérebro processou as palavras e meus olhos
focaram em suas lágrimas, percebi que perdi tempo demais. Então,
corri até ela, fazendo uma promessa a mim mesmo que nunca mais
seria o motivo de seu choro, mas a partir daquele momento, apenas
de seus sorrisos.
Eu amo quando ela sorri, o efeito que o som de sua risada
causa em mim é como se eu estivesse levando um choque de
felicidade. Me faz sentir vivo, me faz querer continuar vivo.
Quando vi Ana nua bem na minha frente, os seios médios e
mamilos pontudos apontando para mim, sua boceta lisinha e cheia
entre suas pernas torneadas, meu corpo todo se arrepiou, meu
coração dizendo que nada podia ser mais certo na minha vida do
que estar com ela. Meu pau ficou ainda mais firme dentro da calça
de moletom e por um momento, depois que ela disse que queria me
ver também, pensei que o medo não me permitiria seguir em frente.
Tocá-la e sentir o quanto Ana Laura estava molhada e por
minha causa me deixou louco, suas palavras ordenando para que
eu fizesse com ela o que eu quisesse foi a cartada final para
qualquer insegurança desaparecer, dois anos de abstinência mais
semanas de desejo reprimido por ela, clamando desesperadamente
para serem saciados.
Foi exatamente o que eu fiz, usei minha língua para sentir
sua doce boceta e puta que pariu, ela era perfeita. Dei tudo de mim
para não gozar antes de estar dentro dela, por isso precisei de mais,
deixando Ana próxima de mais um orgasmo antes que eu pudesse
estar dentro dela.
Magnífico e surreal.
Não havia palavras mais clichês e verdadeiras para definir
como foi tê-la finalmente.
As batidas na porta recomeçam e me afasto dos meus
devaneios. Coloco minha prótese, minha cueca, a calça de moletom
e me levanto, indo em direção a entrada do quarto.
Quando abro a porta, vejo Matteo, Henrique e Beatrice
parados um ao lado do outro, com os olhos cheios de expectativas.
— O que vocês querem? — falo coçando os olhos — Não
está tão tarde assim para vocês virem me perturbar.
— Está doido, caralho? Já são quase dez e meia da manhã
— Matteo diz.
Arregalo os olhos, surpreso. É bem mais tarde do que pensei.

— Dormi demais. Estava... cansado.


— Ana está com você? — Beatrice pergunta esticando o
pescoço para olhar além dos meus ombros. — Ela não dormiu no
quarto e tentei ligar para o seu celular, mas também não me
atendeu.
— Não se preocupem. Ela está bem — digo já fechando a
porta, mas sou impedido pelos três.
— Então vocês passaram a noite juntinhos? — Bea pergunta
sorrindo de lado.
Não respondo sua pergunta, mas o silêncio é tudo o que eles
precisam para ter a resposta. Estava provavelmente estampado na
minha cara.
— Porra! Caralho! — Matteo berra atraindo alguns olhares no
corredor — Pelo visto meu plano deu certo — meu irmão diz
empinando seu nariz.
— Nosso plano. — Bea corrigi lhe dando um tapa no ombro,
fazendo com que ele reclame, apertando os olhos na direção de
nossa irmã — Foi nosso plano, boca suja.
— Ela está certa. — Henrique aponta — Pelo que me lembre
sua ideia inicial foi trancá-los em um quarto.
— Esse também era um bom plano — Matteo afirma. — Na
verdade, um excelente — pontua levantando um dedo em riste.
— Do que vocês estão falando? — pergunto confuso.
Os três à minha frente se entreolham por alguns segundos e
é Henrique quem responde.
— Tivemos a ideia de fazer Ana pensar que você precisava
assinar alguns papéis importantes para que ela viesse até você.
Assim poderiam se… resolver.
— Estava na cara que um queria o outro. Só demos um
empurrãozinho — Matteo acrescenta.
— Um belo de um empurrãozinho. De nada, fratello — Bea
declara me dando batidinhas no ombro visivelmente orgulhosa do
trabalho em equipe.
Quando Ana Laura veio até meu quarto e me entregou os
papéis a mando de Matteo, não dei muita importância para eles,
pois estava hipnotizada com sua beleza e me torturando por ser um
medroso. Havia os deixado em cima da mesa ao lado cama e desde
então não os peguei.
— Que papéis eram esses? — procuro saber.
— Nada demais. Apenas algumas tabelas de fornecedores —
Bea fala, dando de ombros — Ana estava tão aérea que nem se deu
ao trabalho de dar uma olhada neles.
— Vocês são o que? Os três cupidos?
— Eu sou um lindo cupido — Matteo fala sorrindo
abertamente, colocando suas duas mãos junta embaixo do queixo.
— Há controvérsias. — Henrique provoca o amigo.
— Eu sou lindo, isso é um fato — diz convencido — e você,
fratello.— Aponta para mim. — Deveria nos agradecer, porra.
Reviro os olhos e acabo rindo de sua expressão.
— Obrigado — falo simplesmente.
— Melhor, mas gostaria de um aumento.
— Não vou te dar um aumento!
— Mas deveria, sou um ótimo funcionário. — Pisca sorridente
— E como vocês dois claramente estão se apaixonando, preciso
que respondam algumas perguntas minhas.
— Pensei que você tinha parado com isso — Beatrice
comenta.
— Jamais. Não posso perder um estudo de caso tão
importante como esse. Experiência novinha. — Pontua.
Meu irmão mais novo tinha um jeito curioso de lidar com
novas experiências em sua vida. Ele gostava de fazer um pequeno
e irritante questionário sempre que algo de novo acontecia comigo,
assim ele saberia como agir quando fosse sua vez. Como em meu
primeiro beijo aos treze anos. Fiquei uma hora explicando os
detalhes e ele anotando tudo em um maldito bloquinho de notas.
Uma semana depois, foi a vez dele dar o primeiro beijo, e segundo o
mesmo, graças as minhas respostas, ele arrasou.
Como eu digo, ele parece ser — realmente — de outro
mundo.
— Ainda é muito cedo para isso, literalmente, Matteo — avisa
— Contudo, prometo que logo, logo responderei suas perguntas. E
per favore, procure não fazer piada quando estivermos todos juntos.
Vá bene, fratello?
— Tutto bene, Dantinho — responde sorridente.
— Dantinho?
— Dantinho e Aninha. Pra combinar, ué. — Esclarece dando
de ombros.
— Não gostei — declaro.
— Mas eu sim! — Empinando o nariz, diz me fazendo revirar
os olhos.
— Nos vemos mais tarde, no jatinho, fratello — Bea diz se
aproximando de mim para depositar um beijo em minha bochecha.
— Estou feliz que finalmente se acertaram — comenta assim que se
afasta, fazendo-me sorrir.
— Não se atrasem, hein. — Matteo pisca para mim e os três
caminham até seus respectivos quartos.
Fecho a porta e sorrindo retorno para cama, para Ana.
Acordo e ainda de olhos fechados, tateio o colchão à procura
do homem gostoso que a dividiu comigo, mas não o encontro. Abro
os olhos e me sento encostada na cabeceira e logo percebo as
horas ao fitar o relógio ao lado.
Puta merda, mais de meio dia.
— Que bom que acordou — sua voz potente me surpreende
quando, ao virar minha cabeça, o pego saindo do banheiro com uma
toalha enrolada na cintura que vai até um pouco abaixo de seus
joelhos, deixando sua prótese completamente à mostra. Seu cabelo
está molhado e bagunçado de um jeito sexy e em seu peito algumas
gotas escorrem por sua barriga.
A visão me deixa acordada e desperta meu corpo me
lembrando de tudo que fizemos ontem à noite.
Levo um dedo até a boca e inclino minha cabeça admirando
o quanto ele é lindo.
Se eu o agarrasse agora, será que irei parecer uma ninfomaníaca?
Afinal, faz menos de vinte e quatro horas que ele esteve dentro de
mim, e sem dúvidas, se eu mexer minhas pernas consigo sentir
minha carne ainda sensível.
Foda-se! Eu o quero na minha boca e quero agora.
— Ana? — pergunta e eu sobressalto, focando na imagem
deliciosa à minha frente.
— Oi? Que foi? — balanço a cabeça. Foca Ana!
— Perguntei se gostaria de comer alguma coisa — diz com
seu tom tranquilo e cuidadoso de sempre.
— Você — um sorriso malicioso salta da minha boca agora
salivante e mordo o lábio inferior. — Eu quero provar você, Dante.
— Me provar? — Seus olhos brilham quando me levanto da
cama e o lençol despenca até o chão, expondo meu corpo nu, seu
olhar acompanham cada movimento meu.
Não respondo, amando como espia meu corpo. Caminho até
ele e quando já estou em sua frente, trato de começar a depositar
beijos em seu peito, intercalando com mordidas e lambidas. Ouço
quando ele arfa e sua pele se arrepia. Tomo isso como sinal verde
prosseguindo até meu alvo.
Durante o sexo que tivemos, não consegui parar de pensar
como seria tê-lo em minha boca e depois de todo o tempo que
perdemos, não quero mais desperdiçar nem mais um segundo.
Passo minhas mãos de cima para baixo, até chegar na barra
da toalha. Levanto meu olhar e digo antes de puxar:
— Ora sono io quello che ti succhierò (Agora, sou eu quem
irá chupar) — ele morde o lábio inferior e me olha com desejo,
contudo consigo notar uma certa insegurança em seus olhos —
Você me excita, do jeito que é — afirmo sem desviar de seu olhar
que me analisa atentamente, em um mix de ansiedade e tesão. —
Se eu precisar vou repetir isso todas as vezes que estivermos
juntos, até que você entenda de verdade o quanto me deixa louca
de tesão, eu farei.
— Ana. — murmura meu nome segurando meu rosto entre
suas mãos, descansando sua testa na minha e seus lábios se
repuxam em um sorriso tímido.
— Farei você se ver tão lindo quanto eu vejo — sussurro. —
É uma promessa, amore mio.
Ele toma minha boca em um beijo calmo e sensual, sua
língua lambe, chupa e explora de um jeito erótico minha boca,
deixando-me ainda mais excitada.
Levo minhas mãos até seus ombros e com as unhas desço
arranhando seu peito, abdômen, até sentir a ponta de seu pau.
Nossas bocas se afastam, ele arfa e peço silenciosamente,
olhando em seus olhos, para que me deixe continuar.
Dante assente e eu logo estou prostrada em sua frente. Sem
cerimônia nenhuma, tomo seu pau em minha boca, fazendo-o
gemer alto.
Minha mão direita agarra a base de seu pau, enquanto minha
boca trabalha em um movimento de vai e vem. Não fecho por
completo a boca ao redor, deixo um pequeno espaço fazendo minha
saliva escorrer por todo comprimento, deixando tudo muito mais
molhado.
Sinto ele relaxar por completo, não se importando mais com o
fato de sua prótese estar completamente exposta para mim.
Sei que essa insegurança não vai desaparecer por completo
assim tão rápido, mas o ajudarei a entender que ela não o deixa
menos atraente. Ele é perfeito aos meus olhos, simplesmente
perfeito.
— Meu Deus, Ana Laura. Você é… aaah... boa nisso… aah…
muito boa — Dante fala entre gemidos me fazendo levantar a
cabeça para fitá-lo — Muito boa… amore mio.
Sua mão vai até meu cabelo e seus dedos se fecham bem
ali. Ver a sua entrega mais uma vez me alucina me deixando louca
de tesão.
Levo minha mão esquerda até minha boceta e faço
movimentos circulares em meu clitóris, soltando um gemido quando
sinto seu pau contrair em minha boca, aumento ainda mais minhas
investidas, nele e em mim mesma.
— Ana… estou… eu estou… ah… — Dante geme e o som
me leva a loucura.
Concentro meus olhos em cada feição de prazer que ele
expressa e sinto meu orgasmo próximo, então o levo até o fundo de
minha garganta o ouvindo gemer ainda mais alto. Repito o
movimento mais algumas vezes, sentindo seu líquido de pré-gozo
em minha língua e seus dedos puxando com ainda mais força meus
cabelos.
Aumento o ritmo, trabalhando meus dedos em mim, à medida
que chupo rápido e o aperto com minha mão, nossos murmúrios se
misturam no ar até que ele esbraveja meu nome, gozando na minha
boca.
À medida que engulo tudo, estremeço quando sinto meu
orgasmo me atingir com força. Minhas pernas tremem, meus olhos
ameaçam se fechar, mas continuo olhando em suas íris que estão
de um verde tão intenso, arrebatador, desejando que ele veja o
quanto me deixa louca também.
Passo minha língua na ponta de seu pau, antes de passá-la
ao redor de meus lábios e levar meus dedos molhados até a boca,
nossos gostos se misturando me fazendo gemer baixinho.
— Cazzo, você é perfeita, Ana Laura. — Hipnotizado pela
minha atitude, confessa levando sua mão até o meu rosto, seus
dedos fazendo uma carinho em minha pele — Perfectta,amore mio.

Depois do sexo oral que fiz em Dante, tomei banho e ele me


emprestou uma de suas camisas para que eu vestisse, claro que em
mim a peça ficou como um vestido, mas gostei da forma como ele
me fitou ao sair do closet usando sua roupa. Sem se conter, ele me
puxou pela cintura me beijando com calma, saboreando cada
pedacinho da minha boca. E eu fiz o mesmo, ficando ainda mais
viciada nele.
Decidimos almoçar no quarto e ficamos conversando
tranquilamente na cama até próximo do horário do voo para São
Paulo.
Passei em meu quarto para que pudesse colocar uma roupa
mais leve do que o vestido de festa que eu estava usando da noite
anterior e terminar de arrumar minhas coisas.
Antes de sairmos, fiquei feliz em ver Dante usando uma
bermuda branca, e uma blusa azul marinho com gola v. Claro que
insisti em ajudá-lo com sua escolha de roupa.
Assim que propus, pude notar o quanto ficou receoso, mas foi
necessário apenas um beijo para que cedesse e isso me mostrou
que ele está mais à vontade com a minha presença — também
pudera, Ana Laura, você viu o homem como ele veio ao mundo —
mesmo atraindo alguns olhares curiosos para si, conforme
caminhávamos pelo corredor.
Eu disse a ele que o faria entender o quanto era bonito e não
pretendia quebrar minha promessa.
Quando passei pela porta do meu quarto, fui atacada por
uma Beatrice animada demais, que me fuzilou com muitas
perguntas. Na mesma hora, meu celular tocou e o nome de Bárbara
surgiu na tela.
Acabei atendendo sua chama de vídeo e finalmente,
apresentei as duas, que rapidamente se deram bem. Começaram a
divagar sobre o que havia acabado de acontecer entre Dante e eu.
Bea contou da armação que ela junto com Matteo e Henrique
arquitetaram para que seu irmão e eu, finalmente, nos
resolvêssemos. Ao que parece, todos sabiam o que estava
acontecendo entre a gente, menos nós mesmos.
Quando elas se deram por satisfeitas, o interrogatório se
findou e começamos a conversar sobre ajudar Beatrice a encontrar
um lugar para morar e saídas para alguma balada. Ambas trocaram
os números e a italiana tratou logo de criar um grupo para nós três.
Dei risada quando vi o nome. “Bonde das Poderosas”.
Assim que terminamos de arrumar nossas malas, deixamos o
quarto e quando nos aproximando da recepção do hotel, vi Alan na
entrada do bar e decidi que precisávamos conversar, caso assim ele
quisesse. Avisei Bea e ela assentiu.
Aproximei-me dele, me sentindo um pouco nervosa por temer
sua reação depois de eu o ter largado no elevador sem uma
explicação devida. Não o conheço suficiente para saber ou ao
menos ter uma noção de como ele reagiria.
Respirando fundo e toquei em seu ombro o fazendo virar o
rosto na minha direção. Quando seus olhos tomaram conhecimento
de quem era, o sorriso que antes ele esboçava sumiu e por um
segundo senti vontade de sair correndo, todavia permaneci
estacada no lugar e após alguns segundos organizando as palavras
em minha mente comecei a me desculpar por meu comportamento
na noite anterior, deixando claro que Dante e eu não tínhamos nada
nem antes ou depois de eu ter aceitado seu convite para jantar.
Alan ficou em silêncio, seus olhos analisaram meu rosto
como se buscasse por sinais de que eu estava sendo realmente
sincera. Por fim, soltou um suspiro passando as mãos em seus
cabelos grandes e loiros respondendo que estava tudo bem, que eu
não precisava me preocupar. Na mesma hora senti alívio e não
disfarcei o suspiro pesado que soltei, o que fez com que ele sorrisse
ao brincar com o fato de eu não ter percebido o que sentia antes.
— Ele parecia um cachorro no nosso jantar de negócios
querendo marcar território. — comentou me fazendo lembrar
daquela noite — Por um momento pensei que ele te jogaria por
sobre os ombros e te levaria para longe de todos os homens que
estavam de olho em você.
— Não exagere — brinquei batendo de leve em seu braço, o
que o fez rir — De verdade, sinto muito — me desculpei mais uma
vez. — Nas poucas vezes que nos falamos, você sempre foi muito
educado comigo e nessa viagem foi super atencioso. Não queria te
aborrecer.
— Tudo bem — garantiu tocando em meu rosto
carinhosamente — Vai por mim, eu entendo. Já passei por isso e sei
que certos sentimentos não são possíveis de controlar, por mais que
a gente tente. Está tudo bem, de verdade, Ana Laura.
— Obrigada. — Agradecida, ponho minha mão sobre a sua,
sua atitude me mostrando não apenas o quanto ele é maduro, mas
me dando a impressão de que ele já tenha passado por algo
importante e talvez doloroso na área sentimental.
Alguns homens a alguns metros de nós, chamaram seu nome
e ele se virou para fazer um sinal com uma mão dizendo que já
estava indo. Nos despedimos com um abraço e ele me desejou boa
viagem.
Quando fui até a recepção novamente, vi todos ali
conversando tranquilamente com minha amiga. Um suspiro me
escapou quando meus olhos se focaram em Dante sorrindo de algo
que seu irmão estava falando.
Parecia que ele estava ainda mais lindo desde a última hora
em que eu o vi, se isso era possível. Ou talvez seja eu quem estava
completamente nas nuvens depois de tudo que aconteceu entre
nós.
Mesmo não sendo do tipo tímida e de ouvir de Beatrice que
ela, Matteo e Henrique deram uma de cupidos para nós, fiquei
apreensiva com a reação deles ao ver Dante e eu juntos depois de
tudo. E mesmo não sabendo com todas as letras o que tínhamos,
depois da noite anterior, o sentimento que sinto por ele aumentou
ainda mais. Como disse a ele, eu também o queria, o queria muito
mais, seja lá o que isso representasse para nós. Eu queria mais
dele. Eu quero mais dele.
— Per favore, esse avião é um avião de família. Vocês dois
— Matteo aponta para seu irmão e eu, já sentados lado a lado no
jatinho dos Fontana. — Se comportem. Sem atitudes devassas.
Havíamos acabado de embarcar e, me surpreendendo
completamente, ninguém comentou nada desde o momento em que
me aproximei deles na recepção do hotel, contudo pude notar os
olhares que lançaram para mim quando Dante sorriu e me
cumprimentou com um beijo na bochecha. Durante todo o caminho
até o aeroporto, todos permaneceram em silêncio e algo me dizia
que agora, principalmente Matteo, não ficariam mais.
— Matteo! — Dante o repreende.
— O que? Eu me comportei por. — Ele checa o relógio em
seu pulso. — Mais de cinco horas desde que fomos até o seu
quarto. Tenho meus limites, Dantinho!
— Dantinho? — Prendo o riso para o apelido.
— Dantinho, Aninha. Pra combinar, “gnomio” — responde
simplesmente.
— Você me chamou de que? — aperto meus olhos em sua
direção, ao escutar o nome esquisito pelo qual se referiu a mim.
— “Gnomio” — diz pausadamente.
— O corretor é gnomo, boca suja — Henrique o corrige.
— Eu sei, mas “gnomio” soa mais divertido e combina com a
baixinha aqui. — Aponta para mim.
— Eu não sou baixinha! — declaro cruzando os braços de
cara fechada — Tenho 1,59 de altura! — pontuo orgulhosa.
— Porra! Alta pra caralho! — declara rindo e todos o seguem,
incluindo o homem ao meu lado. — Um verdadeiro “gnomio”.
Viro meu rosto para ver um Dante sorridente de forma
relaxada como nunca havia visto antes, isso faz a raiva ser
substituída por uma súbita felicidade. Com divertimento falo,
fingindo estar brava: — Então eu sou um "gnomio", senhor
Fontana?
— Um "gnomio" bello, mutto bello — responde e meu corpo
todo treme levemente ao ouvi-lo falar em italiano. O idioma o deixa
ainda mais sexy.
Fico encarando seu sorriso feito uma boba e quando ele
percebe me encara de volta, ambos nos perdendo com a
intensidade de nossos olhares, até que uma voz nos faz quebrar o
contato.
— Cazzo, vocês são lindos pra caralho! — Matteo comenta
me fazendo ficar com as bochechas coradas ao afastar meus olhos
de seu irmão.
— Fratello! — Dante diz mais uma vez em tom de
repreensão, parecendo tímido.
Matteo revira os olhos e bufa.
— Já que não posso falar nada.— Usa uma expressão de
drama. — Vou assistir à minha novela — declara tirando do bolso
seu celular.
— Novela? Você assiste novela? — Henrique indaga
surpreso.
— Sim. Novelas mexicanas — ele pontua com um dedo para
o alto. — São as melhores!
— E desde quando você assiste à novela mexicana, fratello?
— Bea pergunta.
— Desde que vi minha governanta chorando por causa de
uma. Fui assistir a um episódio e bem, viciei. — Dá de ombros. —
Até criei uma teoria sobre o amor por causa delas.
— Que teoria? — sua irmã pergunta.
— Teoria dos três estágios do amor — diz orgulhoso.
— Mesmo sabendo que eu não deveria, — Henrique começa
a falando passando uma mão por seus cabelos loiros. Pelo canto de
olho vejo minha amiga seguir o movimento como se estivesse
hipnotizada. Hum, interessante! — vou perguntar. Qual é desses
estágios, B1?
— Bem, — se ajeita como se estivesse prestes a dar uma
palestra importante — depois que comecei a assistir novelas,
percebi um padrão em todas elas quando o assunto é a história de
amor entre seus personagens principais. Eles sempre passavam por
situações que eu denominei de estágios do amor, se você passou
por eles está se apaixonando, só ainda não percebeu. — Pisca para
mim e seu irmão.
— Quais são os estágios? — pergunto curiosa.
— Primeiro, ciúmes. — Ele levanta o dedo indicador e
conforme vai falando minha mente começa a mapear todos os
momentos que tive com seu irmão desde que nós nos conhecemos.
— Você sente ciúmes da pessoa. Segundo, negação. — Levanta o
dedo do meio. — Você nega que está interessado ou gostando da
pessoa quando alguém confronta seu interesse. Terceiro. —
Levanta o dedo anelar. — E o meu favorito, surto.
— Surto? — indago.
— Isso, “gnomio”. — Reviro os olhos, mas não digo nada —
Surto. Na verdade, o certo seria a “declaração”. É o estágio em que
a pessoa se declara para a outra, quando o casal finalmente —
pisca novamente para mim e seu irmão — fica junto, mas como o
amor é uma loucura, eu acho que surto combina melhor. — Dá de
ombros. — Ele pode vir ou não acompanhado das três palavras
mágicas.
— Que seriam? — Henrique indaga o fazendo revirar os
olhos antes de responder.
— "Eu te amo", B2. O ponto chave do surto é, que depois que
ele acontece o casal fica junto, oficialmente falando — suspira de
forma teatral. — Ciúmes, negação e surto. Os três estágios para
você saber se está se apaixonando. — Faz aquele movimento típico
de italianos com uma mão.
Puta que pariu!
Eu estou… me apaixonando por Dante? Puta que pariu duas
vezes!
É impossível evitar que meus olhos se arregalem, meu
coração bate forte dentro do peito constatando que a teoria desse
maluco está correta. Eu passei por todos os estágios, incluindo o tal
surto, um belo surto, diga-se de passagem.
Como se estivéssemos acabado de desvendar o mesmo
mistério, Dante e eu nos encaramos na mesma hora, nossos olhos
se encontram, várias palavras sendo ditas em silêncio. Não,
definitivamente eu não estou me apaixonando por Dante. Eu já
estou apaixonada por ele.
— Acabei de conseguir um encontro. Preciso beijar todas as
mulheres que consigo até encontrar a certa — Matteo declara me
fazendo mais uma vez virar o rosto para olhar para ele, seus dedos
se mexendo na tela do aparelho.
Tento acalmar meu coração que após a constatação que
acabei de fazer, bate descompassadamente em meu peito, minhas
mãos suam e meu estômago se agita com as malditas borboletas
que parecem fazer uma "festa de arromba" dentro de mim. Eu estou
apaixonada por Dante. Puta que pariu três vezes!
— Eu já beijei uma mulher — Bea comenta me fazendo sair
dos meus devaneios, nos pegando de surpresa com seu comentário
— Uma vez — pontua. — Foi bom.
— O que? — os três homens falam ao mesmo tempo e eu
mordo o interior das minhas bochechas tentando não rir de suas
expressões espantadas.
— Você… você já be-beijou uma… mulher? — Henrique
pergunta parecendo incomodado.
— Sim — responde. — Na faculdade. Ela era gostosa, mas
não me lembro de muita coisa. Então… — Dá de ombros.
— Per Dio! Tenho até medo de perguntar mais sobre o seu
tempo na faculdade — Matteo que diz balançando a cabeça de um
lado para o outro — Você é minha irmãzinha, minha menininha.
— Nossa menininha — Dante o corrige.
— Una bambina che ama fare sesso. (Uma menina que ama
fazer sexo) — Minha amiga comenta com um sorrisinho travesso
nos lábios, cruzando as pernas lentamente, relaxando em seu
assento. — Muito sexo, miei cari. (meus queridos) — Seu olhar
parece se fixar em Henrique que abaixa a cabeça rapidamente,
alisando seu maxilar com uma mão.
Ok, definitivamente alguma coisa está acontecendo entre
esses dois, ou ambos querem que aconteça alguma coisa.
— Cazzo, Beatrice! — seu irmão mais novo murmura,
fazendo uma expressão de desgosto para a irmã, assim como o
homem ao meu lado. — Nenhum irmão quer ouvir a palavra muito e
sexo vindas da boca de sua irmã na mesma frase — diz apoiando o
cotovelo no braço do assento, repousando sua testa em sua mão.
— Muito sexo. Muito sexo. Muito sexo. Muito sexo —
conforme Bea repete as palavras, seus irmãos fazem sons e
expressões engraçadas, e é impossível continuar prendendo o riso.
Nós duas rimos e é inevitável não perceber a forma como
Henrique também está desconfortável, mas de um jeito mais contido
que os amigos, mantendo sua cabeça sempre baixa, como se
estivesse fugindo da italiana a sua frente.
O piloto entra na aeronave avisando que a pista está liberada
para a decolagem, nos fazendo apertar os cintos e cessar a sessão
de tortura dos irmãos ciumentos.

O resto do voo foi tranquilo. Depois da conversa que


aconteceu antes da decolagem, todos tiramos um breve descanso
em nossos respectivos lugares, Dante não soltou minha mão em
momento algum depois que estávamos no ar. Parecia que estava
com medo que eu pudesse fugir assim que voltássemos à "vida
real”.
Dois carros estavam à nossa espera no aeroporto assim que
pousamos. Despeço-me de Matteo, Henrique e Beatrice com um
abraço, e eles seguem indo em direção ao veículo onde o motorista
de Dante os aguarda.
Ele por sua vez, me acompanha até o outro carro, abre a
porta para mim e me surpreende quando segura minha nuca, me
puxando para si até que nossos lábios estejam colados. Na mesma
hora, derreto. Seguro seu rosto e o beijo de volta, me esquecendo
completamente que temos uma plateia de cupidos nos observando.
— Taca-lhe o pau doido! — Matteo grita nos assustando.
Olho em sua direção e o vejo com a cabeça para fora da
janela do carro, acenando com um braço, sorrindo de orelha a
orelha.
— Ele é mais brasileiro do que italiano — comento e nós dois
rimos. — Nos vemos no trabalho?
— Nos vemos no trabalho, amore mio.
— Obrigada, Arthur — digo ao meu motorista assim que ele
abre a porta para mim depois de estacionar na garagem da
empresa.
Sentindo como se eu estivesse flutuando, caminho até o
elevador, cantarolando em minha mente a música Halo da minha
queen, Beyoncé. Por algum motivo, ontem à noite — depois que fui
atacada pela segunda vez por uma amiga animada demais com o
que tinha acontecido entre Dante e eu, assim que cruzei a porta de
meu apartamento — passei a pensar nele conforme a melodia
soava em meus ouvidos através dos fones, enquanto encarava o
teto do quarto com um sorriso bobo nos lábios.
“I swore I'd never fall again
(Eu jurei que nunca me apaixonaria outra vez)
But this don't even feel like falling
(Mas quando vi já estava apaixonada)
Gravity can't forget
(Não posso me deixar levar)
To pull me back to the ground again
(Tenho que voltar para a realidade de novo)
Feels like I've been awakened
(É como se eu acordasse pra vida)
Every rule I had you breaking
(Você quebrou todas as minhas regras)
The risk that I'm taking
(É um risco que decidi correr)
Definitivamente não estava nos meus planos me apaixonar,
muito menos pelo meu chefe, mas não há como controlar,
simplesmente aconteceu e eu torcia para que Dante se sentisse da
mesma forma. É um risco, como minha queen cantou, mas eu
estava pronta para corrê-lo, seja lá quais forem as consequências.
Assim que a porta do elevador se abre, entro sendo seguida
por duas mulheres que sempre estão presentes nos happy hour que
vou com os funcionários, além de já termos almoçado juntas
algumas vezes no restaurante da empresa. Aperto o último andar e
elas os seus respectivos, vendo a porta se fechar.
— Bom dia, Ana — a alta morena de cabelos cacheados diz,
sorrindo de forma simpática para mim.
— Bom dia, Kátia.
— Como vocês conseguem acordar de bom humor em plena
segunda-feira? — Vitória, a de cabelo castanho iluminado murmura
se encostando de lado na parede de aço ao seu lado me fazendo rir.
— Bom dia, Vi. Pelo que vejo está com seu humor de sempre
da segunda — brinca vendo-a fechar os olhos e fazer um sinal de ok
com uma mão.
— Então, como foi a viagem ao Rio? — Kátia pergunta
curiosa, seus olhos castanhos, quase pretos brilhando em
expectativa esperando por minha resposta.
Sempre me dei bem com todos desde que comecei a
trabalhar aqui, saímos, bebíamos, conversávamos, mas nada íntimo
demais ao ponto de me fazer contar o que estava acontecendo
entre o CEO do La Fontana e eu. Por isso respondi simplesmente:
— Agitada, mas deu tudo certo. Foi um sucesso.
— Queria ter ido junto e ficar perto daqueles três pedaços de
mau caminho. Principalmente do nosso presidente, delícia da bunda
bonita. Me diz, Ana, ele tomou banho na piscina ou na praia?
Aposto que ele fica ainda mais gostoso com roupa de banho — a
quase loira comenta abrindo os olhos, soltando um suspiro
exagerado olhando para o nada e isso faz com que eu tome tudo de
mim para não fazer uma careta de desgosto pelo seu comentário.
Presidente delícia da bunda bonita.
Era assim que as funcionárias da empresa chamavam Dante
em segredo, óbvio. O apelido foi dado logo depois do seu discurso
de boas-vindas em seu primeiro dia, ainda que ele não tenha
percebido o efeito que causava em cada mulher do lugar cada vez
que ele adentrava no ambiente.
No início, não me sentia incomodada, até respondia as
perguntas indecentes delas de como ele era no trabalho, se era
mesmo tímido como aparentava ser e debochava por ser sua
assistente e ter o privilégio de estar perto dele de segunda a sexta,
oito horas por dia, às vezes até mais dependendo de sua agenda.
Mas agora, depois do que havíamos compartilhado e dos meus
sentimentos, as palavras de Vitória fazem meu estômago embrulhar
de raiva e ciúmes, sentindo uma vontade louca de puxar seus
cabelos e dizer que Dante Fontana e sua bunda gostosa são
minhas, só minhas.
Puxo o ar buscando ficar calma e lembrando a mim mesma
que não sou do tipo ciumenta histérica que faz barraco e confusão
por causa de homem. Assim que solto, procuro sorrir como sempre
fiz, buscando ser o mais natural que consigo diante do ciúmes que
lateja em minhas células.
— Infelizmente não tivemos tempo para momentos de lazer.
Como disse, a viagem toda foi agitada devido a inauguração do
restaurante, que inclusive estava lindo demais, a comida então,
perfeita. Beatrice arrasou em cada detalhe. É tão incrível quanto a
mãe.
Ambas bufam cruzando os braços e me encaram de cara
feia.
— Pensei que você voltaria com um arsenal de fotos para
nossos sonhos de tarada — Kátia comenta. — Não me lembro a
última vez que um homem me fez gozar de verdade.
— Aposto que o presidente delícia sabe muito bem dar
orgasmos a uma mulher. — Sorri de forma maliciosa com uma mão
mexendo distraidamente em uma mecha de seu cabelo. — Adoraria
descobrir.
Você nunca vai descobrir o que Dante é capaz de fazer com
uma mulher na cama. Nunca! Penso, apertando com força meus
dedos ao redor da alça de minha bolsa que está sob meu ombro
direito.
Antes que eu comece a me gabar pela noite incrível que tive
com ele, a porta do elevador se abre e elas descem em seu andar
delas e agradeço mentalmente por isso, já que evitei ser uma boca
de sacola como o fofoqueiro do Matteo. Ambas acenam para mim
desejando um ótimo dia de trabalho, fazendo-me retribuir suas
palavras ajeitando minha postura, minha mente pensando mil
possibilidades de como todos na empresa reagirão quando
souberem que o presidente passou a noite com sua assistente.
Chego ao meu andar e assim que estou à minha mesa, deixo
minha bolsa sobre ela e vejo a porta do escritório de Dante
entreaberta, o que é incomum. Ele sempre a tranca antes de sair. O
que só pode indicar que ele chegou à empresa mais cedo do que o
habitual. Quando penso em verificar se meu chefe está em sua sala,
o telefone toca e pelo identificador de chamadas vejo ser o ramal
dele.
— Sim? — falo assim que atendo a ligação.
— Que bom que chegou. — parece aliviado ao ouvir minha
voz — Venha até a minha sala, por favor. — pede ansioso e logo
me sinto da mesma forma.
— Tudo bem. — finalizo a chamada, indo a passos largos,
até a sua sala — Me chamou? — pergunto assim que abro a porta
por completo adentrando no ambiente, e preciso usar tudo de mim
para não avançar e sentar no colo de meu chefe. Ele está usando
um de seus ternos três peças feito sob medida para seu corpo
gostoso, o corpo que esteve sobre mim nas últimas vinte e quatro
horas.
Dante levanta o rosto e meu coração erra uma batida dentro
do peito assim que seu olhar encontra o meu. Acho que acabei me
apaixonando um pouco mais por ele nesse instante.
— Oi — parecendo tímido assim que seu olhar encontra com
o meu, ele diz me provocando aquele incômodo bom de sentir na
boca do estômago. Borboletas malucas!
— Oi — falo mordendo o canto do lábio inferior amando vê-lo
assim, com as bochechas coradas.
— Você está bem? — pergunta meio incerto, suas mãos se
cruzando sobre a mesa.
— Estou.
— Que bom. — Ele engole a seco e sou obrigada a morder o
interior de minhas bochechas. Fofo.
— E você, como está? — pergunto de volta.
— Estou bem.
A sensação que eu tinha era que estávamos os dois em um
território recém-instalado, em um campo minado sem saber como e
onde pisar. Testando cada pedaço do chão com receio de provocar
uma explosão, na tentativa de minimizar os danos provocados pela
noite no Rio.
— Desculpe — pede relaxando em sua cadeira,
desabotoando seu paletó. Meus olhos automaticamente seguem o
movimento de sua mão. — Eu não sei como agir depois do que
tivemos e…
— Não tem problema — o corto, não o deixando terminar a
frase. Ele me olha com o cenho franzido, seus olhos brilhando em
confusão.
— Não?
— Não, pois eu sei o que fazer, senhor Fontana. Eu sei bem
o que fazer — falo decidida, sorrindo de lado dando passos até ele.
Com certeza eu devo estar parecendo aquelas leoas prestes a
atacar a sua presa.
— Ana… o que você vai fazer?
Solto uma risada baixa e pisco para ele quando confesso:
— Vou agarrar o meu chefe. — respondo com o tom mais
sexy que consigo. Assim que estou próximo, viro sua cadeira para
mim e me sento em seu colo, colocando uma perna em cada lado
de suas coxas, fazendo minha saia subir. Seguro seu rosto e
sussurro, raspando meus lábios nos seus — De novo. Tudo bem?
— procuro saber, pensando que minha atitude tenha sido demais.
Ele não responde em palavras, mas com ações. Suas mãos
vão para os meus quadris e se apertam ali. Dante inclina seu quadril
de encontro ao meio das minhas pernas e nós dois arfamos pelo
contato. Colo minha testa na sua e fecho os olhos, apreciando seu
cheiro, me sentindo uma boba por já estar com saudade dele, ainda
que não tenham se passado nem vinte e quatro horas desde a
última vez que o vi.
Com minha língua pincelo seus lábios e Dante os abre para
mim, como um convite para que eu prossiga, e assim o faço. Tomo
sua boca com a minha o beijando com urgência e ele me segue,
envolvendo seus braços ao redor de minha cintura, me puxando
mais para si.
Sinto sua mão descer até minha bunda e apertar com força
bem ali, fazendo nós dois gememos no meio do beijo, que a cada
segundo fica mais urgente.
Afasto-me procurando recuperar o fôlego, mas desejando
continuar a sentir Dante com meus lábios, deposito beijos por seu
maxilar, descendo pelo seu pescoço ficando ali por alguns
segundos, antes de fazer o caminho de volta para a sua boca o
beijo novamente, só que dessa vez saboreando seus lábios com
calma, nossas línguas se movendo sensualmente.
Quando o ar nos falta novamente, nos afastamos e preciso
fechar os olhos por alguns segundos me sentindo tonta,
descansando minha testa na sua. A sala está um completo silêncio,
apenas nossas respirações irregulares soando pelo ar.
— Oi — ele diz quando já estamos mais calmos, fazendo-me
abrir os olhos para ver suas írises verdes em um tom brilhante e
seus lábios inchados se expandindo em um sorriso tímido.
— Oi — sussurro, ainda me sentindo fraca e completamente
afetada.
— Você me agarrou — ele comenta, seu tom de voz é como
se estivesse acabado de despertar de um sonho.
— Agarrei.
— Me agarre sempre que quiser, Ana Laura. Jamais vou me
opor a isso.
Seu comentário me faz jogar a cabeça para trás, explodindo
em uma gargalhada alta e estridente.
— Estou falando sério — declara.
— Sei que está — digo controlando a respiração, procurando
me acalmar antes de continuar. — Por isso mesmo foi engraçado.
Dante deposita um selinho em meus lábios e vira o rosto para
olhar algo em sua mesa e depois fala, voltando a olhar para mim:—
Ainda temos cinco minutos.
— O que? — pergunto confusa.
— Faltam cinco minutos para começar o expediente, o que
significa que, de acordo com as normas de conduta do regulamento
de relacionamento da empresa, não estamos em horário de trabalho
e podemos fazer mais disso. Se você quiser. — Sorri de lado todo
lindo.
— Você leu o regulamento? — indago surpresa.
— Cheguei à empresa um pouco depois das sete e fiquei
lendo enquanto esperava por você — responde me fazendo sorrir.
— Nunca tinha lido pois nunca precisei e bem… — Meneia a cabeça
devagar antes de continuar — … achei que era a hora certa para lê-
lo.
— E o que ele diz sobre amassos pelas instalações da
empresa? — provoco.
— Bem, essa parte é proibida. Mas sou o presidente então…
— diz meio sem jeito dando de ombros.
— Está usando de sua posição para se aproveitar de sua
assistente, senhor presidente? — insinuo.
— Ela se aproveitou de mim primeiro — pontua sorrindo de
lado timidamente me fazendo suspirar feito uma boba apaixonada.
— Você é fofo, senhor Fontana — comento, meu sorriso
agora aumentando.
— E você é perfectta, senhorita Moraes. — Dante leva suas
mãos até meu rosto e o segura com firmeza, me olhando tão
intensamente quando acrescenta em italiano, como se quisesse
dizer algo além do que suas palavras significam. — Semplicemente
perfectta.
Meu coração erra várias batidas e me perco por alguns
segundos na intensidade de seu olhar. Balanço a cabeça e olho
para o relógio sobre a mesa antes de prender seu lábio inferior o
puxando com carinho, como fiz quando estávamos no Rio, o
fazendo gemer baixinho.
— Temos agora apenas alguns minutos, chefe — falo
sorrindo de forma travessa.
— É tempo suficiente, amore mio.

Definitivamente eu precisava de mais do que os minutos que


tínhamos antes e depois do expediente. Ana Laura e eu parecíamos
dois adolescentes cheios de hormônios.
Assim como no dia após a nossa chegada do Rio, ela passou
a entrar na minha sala, sem precisar bater para ficarmos nos
beijando e dando alguns amassos. Por um momento naquele dia,
antes dela ter me agarrado, não sabia como agir e respirei aliviado
quando ela veio até mim, sentou no meu colo e me beijou,
parecendo estar cheia de saudade, assim como eu.
Esses momentos se tornaram a melhor parte do meu dia.
Fazia tempo, muito tempo em que eu não me sentia vivo. Ela fazia
eu me sentir assim, principalmente quando me olhava nos olhos
depois dos muitos beijos que nós trocávamos.
Durante toda a semana, entre um compromisso e outro,
precisei me controlar para não agarrá-la pelos corredores da
empresa e ela parecia da mesma forma sempre que me encarava
com aqueles olhos azuis brilhantes e selvagens. Procurei manter a
postura profissional e ser discreto, como sempre busquei ser. Não
queria me precipitar e nos expor sem antes saber o que tínhamos
de fato.
Eu só tinha uma certeza, de que precisava de mais tempo
com ela, por isso na terça-feira decidi chamá-la para um encontro no
final de semana. Sorri feito um bobo quando ela disse
repetidamente “sim” enquanto depositava beijos em meu pescoço,
estávamos em uma das nossas sessões de amassos pós-trabalho
antes da minha sessão de fisioterapia com Lucas.
Quando o sábado finalmente chegou, foi impossível disfarçar
o sorriso que eu tinha no rosto logo que acordei, ansioso para ver
minha assistente. Passei o dia preparando tudo para nosso jantar,
procurando deixar tudo perfeito para ela.
Enquanto eu terminava de me arrumar, abotoando os botões
de minha blusa social branca, encarei meu reflexo no espelho de
meu closet e vi um Dante diferente. A insegurança ainda estava lá,
ainda que menor, mas estava. Todavia a confiança que Ana Laura
me fazia sentir sempre que estávamos juntos estava me fazia mais
bem do que imaginei em meus melhores sonhos.
Às sete da noite em ponto, meu motorista já estava
estacionando em frente ao seu prédio. Envio uma mensagem a ela
avisando que já estou a sua espera. Depois de alguns minutos, me
sinto impaciente como nunca fui antes, decido sair do carro.
Sou atingido por uma brisa fria, mas não é o frio da noite que
faz todo o meu corpo estremecer e sim a mulher mais linda que
meus olhos já viram vestindo um vestido de seda vermelha longo,
com alças finas e uma fenda na perna direita que vai até o meio de
suas coxas, deixando muita pele à mostra. A roupa parece ter sido
feita sob medida, pois o tecido modela suas curvas de um jeito
deliciosamente tentador. Os saltos finos e altos na cor prata, presos
em seus delicados tornozelos em tiras a deixam ainda mais sexy.
Seus cabelos escuros estão presos em um coque bagunçado,
alguns fios soltos caindo nas laterais de seu rosto.
Tenho certeza que estou parado no meio da calçada
parecendo estar em transe com meu olhar seguindo cada passo seu
conforme caminha com elegância em minha direção, até que esteja
bem diante de mim. Seus lábios parecem estar brilhando, como se
estivessem me convidando para devorá-los.
— Desculpe a demora — Ana Laura diz e subo meu rosto
para olhá-la nos olhos. — Espero que não tenha atrasado nossa
reserva.
— Você está bella, amore — falo baixo, minha voz soou mais
rouca do que esperei, levando minha mão direita até o seu rosto,
meus dedos acariciam sua pele quente e macia. — Mutto bella,
amore mio.
Ana entreabre os lábios, arfando com meu carinho sutil e
mais uma vez ela me ataca, jogando seus braços por meus ombros
puxando para si, nossos peitos se chocam e nossas bocas se
encontram em um beijo cheio de urgência.
Seguro-a pela cintura, apertando seu corpo pequeno contra o
meu, intensificando ainda mais o beijo a cada movimento que minha
língua faz de encontro a sua. Ela retribui com a mesma intensidade,
mas logo trato de separar nossas bocas, temendo que algum
engraçadinho ou paparazzi pudesse flagrar nosso momento.
— Você está com gosto de morango — comento depois de
depositar um selinho em seus lábios.
— Gloss labial sabor morango — esclarece, limpando os
cantos de minha boca com seus dedos — Você também está mutto
bello, amore mio — fala sorrindo e posso jurar que meu pau pulsou
violentamente dentro da minha calça.
Para a noite de hoje, optei por uma calça preta e blusa
branca social, deixando os primeiros botões abertos e as mangas da
camisa dobradas até os cotovelos.
— Você fica sexy falando italiano. — comento.
— A recíproca é verdadeira, senhor Fontana. — diz
mordendo o lábio inferior depois de terminar de limpar os meus,
dando dois passos para trás saindo de meu abraço — Onde vamos?
— É surpresa. Já disse.
Ana revira os olhos e cruza os braços.
— Pensei que esse suspense todo acabaria agora. Estou
curiosa há três dias. — Faz um beicinho lindo. — Você não deu
nenhuma dica. Não sei se estou vestida para a ocasião de forma
adequada.
— Você está perfeita do jeito que está.
Meu comentário a faz corar, o tom que sua pele assume me
lembra como ela ficou depois de gozar. Meu membro ameaça ficar
ainda maior e me antecipo em dizer, abrindo a porta do carro para
ela: — Vamos?
Ana solta um suspiro e assente, por fim, entrando no carro.
Logo a sigo, indicando o local para onde iremos ao meu motorista.
Posso jurar que vi um sorrisinho de alegria em seu rosto pelo
retrovisor, todavia por ser um funcionário antigo de meus pais, sei
que não comentaria ou falaria nada sobre essa noite.
Foi a primeira vez que entrei em um carro e não fiquei
olhando para frente temendo que algo ruim pudesse acontecer.
Durante todo o caminho, fiquei a observando falar sobre um
episódio da sua série médica favorita. Confesso que tentei ao
máximo prestar atenção na história que ela estava contando, algo
sobre uma disputa entre os médicos por um pager brilhoso.
Quando finalmente chegamos, sei que escolhi o lugar certo
para nosso primeiro encontro de verdade.
— Não acredito! — exclama enquanto caminhamos na
direção do estabelecimento — Mas está fechada. — Ana comenta
observando o interior da confeitaria ainda escuro.
— Não para nós, amore mio — afirmo a guiando pela rua
lateral, com a mão que repousa em sua coluna, chegamos até a
porta para os funcionários do lugar, onde encontro o proprietário me
aguardando, Jackson, colega de faculdade de minha mãe.
Cumprimento-o apresentando minha acompanhante e ele nos
guia para dentro da confeitaria, até alcançarmos um salão onde
costuma realizar festas, no momento, ele está vazio, a não ser por
uma mesa no centro com um pequeno arranjo de flores e velas sobe
ela, luzes nas paredes e um lustre no alto, deixando tudo iluminado
de um jeito romântico, uma música de melodia lenta e sensual
soando ao fundo.
— Fiquem à vontade — Jackson diz fazendo menção se sair.
— Obrigado — agradeço e ele acena com a mão como quem
diz "Não foi nada".
— Você fez… tudo isso pra mim? — Ana Laura exclama,
encarando-me com um brilho diferente nos olhos quando estamos
apenas nós dois no espaço.
— Jackson estudou com minha mãe na Itália e é dono do
lugar. E como você havia me contado que ama a torta de morango
daqui em um dos almoços que tivemos na empresa, pensei que
seria o lugar perfeito para termos nosso primeiro encontro.
Não sou um homem bom em organizar e pensar em
surpresas ou escolher presentes, mas optei por colocar em prática o
que sei sobre as coisas que ela gosta. Em todas as nossas
conversas, Ana Laura deixou claro o quanto ama a fruta,
principalmente em forma do doce, a torta de morango.
Da mesma forma quando dei a ela uma caixa de seu uísque
favorito, ela reage, jogando seus braços por sobre meus ombros,
me abraçando apertado. E agora, eu envolvo sua cintura com meus
braços, apertando seu corpo junto ao meu, sem qualquer receio,
enterrando meu rosto no vão de seu pescoço, me embriagando com
seu cheiro.
— Eu amei — sussurra em meu ouvido.
— Fico feliz que tenha amado.
— Você é ótimo em dar presentes, sabia? — comenta,
afastando-se para me olhar nos olhos.
— Geralmente sou péssimo, mas com você minha habilidade
funciona — comento a fazendo sorrir.
O chefe de um dos restaurantes de minha família, que
chamei para fazer nosso jantar, entra no ambiente pedindo licença,
perguntando se pode nos servir. Digo que sim e ele some por um
corredor.
— Chamou um dos chefes do La Fontana? — Ana pergunta
surpresa.
— Sim, não podemos jantar torta de morango.
— Não me oporia a isso. Quanto mais torta melhor.
Definitivamente, Ana Laura estava certa, quanto mais torta
melhor. Faz alguns minutos que Jackson trouxe a sobremesa e eu
mal tinha tocado na minha, pois não conseguia tirar meus olhos da
linda mulher sentada ao meu lado que a cada pedaço do doce que
levava a boca, gemia em satisfação, sua língua lambendo seus
lábios sempre que um pouco de calda escorre por ali.
Assim que o jantar foi servido, conversamos amenidades. A
cada risada que ela dava, meu coração se expandia no peito com o
som. Foi impossível não notar a forma como tomava cuidado a cada
pergunta que me fazia, como se quisesse evitar o único assunto que
me deixa desconfortável. O acidente que aconteceu há um pouco
mais de dois anos.
— Você sabe por que o morango é considerado uma fruta
sexy, Dante? — pergunta depois de engolir mais um pedaço da
sobremesa, seu tom de voz agora é baixo e sexy me deixando em
alerta.
— Não. Por quê? — disparo curioso enquanto beberico um
pouco do vinho que resta em minha taça, a observando pegar um
dos morangos que há no topo do que resta da torta a sua frente e
cortá-lo ao meio antes de responder virando o rosto para me olhar
nos olhos.
— Porque quando o cortamos, seu interior lembra uma
boceta. — Ela pisca para mim e joga a fruta em sua boca.
Sinto o vinho descer pelo lugar errado, sendo pego de
surpresa por suas palavras. Deixo a taça sobre a mesa e começo a
tossir, batendo em meu peito.
— Santo Dio! — consigo falar depois de alguns segundos.
— Desculpe. — ela pede sorrindo e com certeza não está
arrependida de ter falado o que falou.
— Nunca mais vou conseguir ver um morango da mesma
forma. — comento me sentindo mais calmo.
— Vai pensar na minha boceta, senhor Fontana? — provoca
passando seus dedos em meu braço, prendendo o lábio inferior
entre os dentes.
Seguro sua mão que me toca e levo-a até a altura de minha
boca, depositando um beijo no dorso demoradamente. Lentamente,
afasto-me subindo meu olhar até encontrar o seu quando falo:— Eu
penso nela e em você todo dia. Desde a hora que vou dormir, até a
hora que acordo. — Com minha mão livre, toco a lateral de seu
rosto vendo-a entreabrir os lábios. — Até nos meus sonhos, amore
mio.
— Nunca conheci um homem como você — comenta sem
quebrar o contato visual.
— Como assim? — investigo.
— Um homem que consegue ser doce e carinhoso enquanto
fala safadezas — confessa se aproximando até que nossos narizes
estejam se tocando.
— Você gosta? — sussurro.
Sorrindo de lado, ela responde baixinho, roçando a ponta de
seu nariz com o meu: — Gosto. Eu gosto de você, Dante.
— Gosto de você, também — admito sentindo meu coração
bater mais rápido com a intensidade com que ela me olha.
— É bom saber disso.

— Dança comigo? — pede animada quando outra música,


dessa vez animada, começa a soar pelo salão.
Ana havia acabado de terminar sua terceira porção de torta
de morango, isso incluía a minha que lhe dei de muito bom grado
após que a ouvi dizer que gosta de mim. Suas palavras fizeram algo
dentro de mim crescer, atingindo meu coração como se fosse rasgá-
lo ao meio, mas de um jeito bom, de um jeito fodidamente bom
como nunca senti antes.
— Não é uma boa ideia. — Balanço a cabeça de um lado
para o outro.
— Por que?
— Porque todos os genes de dançarino da família foram para
Matteo e Beatrice. Não sou um bom dançarino.
— Você dançou comigo no jantar na casa dos seus pais —
lembra.
— Era música lenta. Só sei "dançar". — Faço um sinal de
aspas com as mãos. — Música lenta e essa música. — Aponto para
o alto sinalizando a melodia agitada e dançante que soa pelo
ambiente do lugar. — Definitivamente não é lenta.
— Eu te ensino! — diz já se levantando estendendo uma mão
para mim. — Sou uma ótima professora. Acredite!
— Acredito em você e acredite em mim quando digo que eu
sou realmente um péssimo dançarino. Principalmente depois do que
aconteceu comigo. — Olho para baixo, sinalizando minha prótese.
— Você pode fazer qualquer coisa, Dante. Inclusive dançar
— afirma.
— Não tenho tanta certeza disso.
Ana Laura cruza os braços, semicerra os olhos para mim me
encarando, como se estivesse bolando um plano em sua mente
geniosa. O sorrisinho que vai surgindo de lado conforme ela inclina
o tronco na minha direção, apoiando uma mão na mesa e a outra no
encosto da cadeira, confirmam isso.
— Sabe, caro mio — sussurra em italiano e seus lábios
roçam minha orelha conforme dita as palavras. — se você aceitar
dançar comigo, prometo recompensar o seu pau gostoso com a
minha boca na próxima vez que fodermos. Lembra como foi bom
quando chupei você naquele quarto de hotel, até você gozar na
minha garganta?
Definitivamente eu me lembrava, na verdade, dormi todas as
noites desde então com a imagem de Ana ajoelhada na minha
frente, meu pau sumindo na sua boca que me chupava como uma
atriz de filme pornô.
— Então, aceita dançar comigo? — pergunta novamente.
As imagens de nossa noite de sexo vagam em minha mente,
claras e não demoro para responder que sim. Aceitaria tudo que ela
me pedisse só para ter sua boca quente e gostosa chupando meu
pau.
Sorrindo feliz com minha resposta, ela segura a minha mão
me puxando para que eu fique de pé e logo o obedeço.
Enquanto a música toca, Ana Laura me ensina alguns passos
e eu tento acompanhá-la, apesar de sentir um leve desconforto na
base de minha prótese pelo esforço em imitar seus movimentos.
Todavia, o que deveria ser uma aula de dança, acaba se tornando
uma desastre. Rimos da minha falta de ritmo até que uma nova
música começar, dessa vez mais calma e agradeço mentalmente
por isso.
Envolvo sua cintura com meus braços, puxando-a para mim,
sentindo seus seios roçarem o meu peito. Seus braços enlaçam
meu pescoço e começamos a nos mover no ritmo da melodia.
— Eu amo o fato de você ser um "gnomio", assim cabe
perfeitamente nos meus braços. — confesso.
— Ei! — ela ralha batendo em meu braço. — Você não é tão
alto assim, senhor Fontana.
— Tenho 1,89.
— São apenas 30 centímetros a mais — comenta e fica em
silêncio por alguns segundos antes de acrescentar. — Pensando
bem, é muita coisa sim.
Acabo soltando uma risada de seu comentário com duplo
sentido, com ela me seguindo.
Beijo a ponta do seu nariz, a aperto mais contra o meu corpo
e assim permanecemos abraçados, nos balançando de um lado
para o outro.
Depois de agradecer a Jackson e ao chefe, caminhamos de
mãos dadas até a saída onde meu motorista já estava à nossa
espera.
O caminho até o apartamento de Ana foi mais rápido do que
desejei, queria ter ficado um pouco mais, porém ela já havia
marcado de ir visitar sua mãe e na ocasião se comprometeu passar
o domingo com ela.
Fiquei o percurso todo com o braço em volta de seu corpo,
enquanto Ana descansava a cabeça em meu peito, seus dedos
fazendo desenhos em meu braço, e minha vontade era de arrumar
uma forma de prolongar o máximo que pudesse o tempo que
restava com ela.
Quando chegamos, lhe dei um beijo lento e cheio de carinho
em forma de despedida já sentindo um vazio aumentar em meu
peito conforme ela caminhava até a entrada do edifício, se virando
para jogar um beijo no ar antes de sumir porta a dentro.
Assim que a porta do elevador se abriu, revelando minha
cobertura, observei o enorme e luxuoso apartamento pensando que
Rosa realmente poderia estar certa. Esse lugar é vazio demais e no
momento, eu adoraria ver as roupas de Ana Laura espalhadas por
todos o espaço, enquanto eu as arranco de seu corpo para
fodermos como coelhos.
O pensamento fica comigo até o momento em que encosto
minha cabeça no travesseiro e o sono me abraça, me permitindo
mergulhar em um sonho onde Ana está toda linda usando minhas
roupas, só que dessa vez em meu quarto.
— Não acredito! — falo ao sair do carro e constatar o pneu
dianteiro esquerdo furado. Já era a segunda vez só nessa semana e
ainda era quarta-feira — Oi, Deus. Sou eu de novo. Bárbara
Andrade — digo olhando para o céu, torcendo para que o senhor
todo poderoso ouça minha oração sem me importar se as pessoas
que passam pela rua me achem louca. — Não sei o que fiz para
estar tendo esse início de semana tão ruim. Não briguei com
ninguém, muito menos xinguei… espera, talvez eu tenha xingado
um ou dois clientes mal-educados que foram à agência na segunda,
e sinto muito por isso, tá bem? Sinto mesmo. Peço perdão. O
senhor mais do que ninguém sabe que eu não sou de ficar falando
palavras de baixo calão por aí, apesar de ler elas nos meus livros.
Mas não é a mesma coisa, né? — Espero por alguns segundos
dando tempo para que ele me responda, então continuo:— Então, é
isso. Amém, ok? — faço um sinal de positivo para cima antes de
abaixar o rosto.
Penso por alguns segundos, contando a olhar para o céu e
acrescento: — Bem que o senhor podia desenrolar pra mim um
homem que me arranjasse um motorista, né? — Sorrio e continuo
minha súplica — Assim como o senhor fez com minha amiga. Não
reclamaria de ter que parar de dirigir nesse trânsito caótico de São
Paulo. — Junto às mãos no peito — Por favor, não esquece. Tá
bem? Ah, e que seja um bonito como meu crush Christian Grey, se
gostar de fazer as mesmas coisas que ele faz com a sortuda da
Anastasia, vou ficar eternamente grata. Amém! — Faço novamente
um sinal de positivo para o alto voltando minha atenção para o pneu
furado.
Fico parada perto da calçada por alguns segundos pensando
no que devo fazer. Não sei e nem nunca troquei um pneu na vida.
Deveria ter escutado meu pai quando me ofereceu algumas aulas
de mecânica.
— Precisa de ajuda? — uma voz grossa e com um leve
sotaque soa logo atrás vibrando todo sangue que há em mim.
Viro-me para olhar para o dono da voz e nossa senhora
protetora de todas as mulheres! O homem é lindo demais e…
quente! Do tipo que faz a gente molhar a calcinha só com um olhar.
A minha calcinha está ficando molhada agora.
Alto, ombros largos, cabelo escuro em um corte social baixo,
uma boca muito, muito bonita mesmo e com uma barba rala que o
deixa com um ar de selvageria. Seu sorriso convencido com um
furinho no queixo está me deixando com água na boca. Não vou
nem comentar no brilho que seus olhos azuis possuem.
Ele se enquadra perfeitamente na descrição que as mocinhas
dos meus livros fazem quando encontram um bonitão.
Definitivamente vou usá-lo como avatar do meu próximo "crush
literário” quando eu escolher qual dos livros lerei da minha enorme
lista de leitora de hot, principalmente o furo lindo em seu queixo,
esse que eu gostaria de lamber. Nunca pensei que um detalhe como
esse pudesse ser tão atraente, mas nele, no entanto, é.
Algo nesse homem me é familiar, como se eu já o tivesse
visto, só não consigo me lembrar de onde possa ser. Vivo com
mente na maior parte do meu tempo focada nos livros e por isso
minha memória não é das melhores. Por vezes me vi perdida em
pensamentos, criando personagens e histórias de amor, misturando
o fictício com a realidade de um jeito tão intenso que não fico
surpresa em não conseguir recordar o rosto à minha frente. Isso
acontece mais vezes do que eu gostaria de admitir.
— Vai responder? — questiona estalando os dedos na minha
frente e me pergunto por quanto tempo fiquei o encarando quando
ele completa. — Ou vai ficar aí babando?
Forço uma tosse falsa, ajeitando minha postura e solto com
firmeza:— Eu não estava babando!
— Estava sim. Você estava me devorando com os olhos,
boneca — fala cruzando os braços.
— Não estava não! — digo batendo o pé.
— Estava sim! — afirma.
— Não estava!
— Estava. — Ele sorri ladino, parecendo se divertir com a
raiva que está provocando em mim.
— Eu não estava! Deixe de ser convencido. Eu só estava…
estava apenas analisando você, pra saber se é seguro aceitar sua
ajuda.
— Sei. — Pisca para mim e eu reviro os olhos — E aí, estou
apto?
— E você sabe fazer isso por um acaso? Parece que não
sabe nem lavar uma louça. — Aponto para sua roupa que grita grife.
O estranho, incrivelmente lindo, está usando calça e blusa
social preta sem gravata, com as mangas enroladas até os
cotovelos e os primeiros botões abertos deixando um pouco do seu
peitoral descoberto, atraindo meu olhar para o pedaço de pele ali.
Ele dá alguns passos em minha direção, ficando tão próximo
que preciso levantar o rosto para olhar em seus olhos.
Nos livros, eu sempre fico encantada quando leio as cenas
das mocinhas descrevendo o que sentem quando encontram o
mocinho. São as minhas cenas favoritas, além dos hots, é claro. E
pela primeira vez estou me sentindo como elas, completamente
afetada pela presença desse homem, de um jeito excitantemente
bom.
Não gosto do sentimento que me toma assim que ele se
aproxima de mim e também não gosto como o meu corpo está
reagindo a ele agora.
Nunca senti isso em toda minha vida por homem nenhum, a
não ser enquanto leio meus livros e fantasio sobre meus crushes
literários.
Minha boca está seca e sou obrigada a passar minha língua
em meus lábios a fim de umedecê-los. O gostosão sem vergonha
não deixa escapar minha atitude. Ele morde os lábios lentamente e
juro que meu coração quase para. Minhas pernas lutam para
permanecerem firmes, mas falham, miseravelmente, enquanto
minha mão direita aperta seu braço na tentativa de buscar equilíbrio.
Ele é tão forte e seus antebraços possuem muitas veias
grossas... Sou louca por veias grossas e bem definidas. Elas são
sexys e fazem a gente imaginar se ele as possuem assim, tão
marcadas em outros lugares!
— Quer pagar pra ver, boneca? — sua voz rouca então e na
mesma hora, os pelos da minha nuca se arrepiam.
Ele, então, se aproxima mais, colando nossas bochechas e
sussurra em meu ouvido:— O gato comeu sua língua, boneca?
Arfo e fecho os olhos, sabendo que meu corpo todo treme e
um arrepio passa por toda minha coluna. Eu deveria me afastar,
deveria gritar ou até mesmo tentar agredi-lo — ainda que ele seja o
dobro do meu tamanho — por ser tão ousado e descarado, como
sempre fiz com abusados assim. Todavia, não consigo, uma parte
de mim deseja aproveitar sua proximidade.
— Você é linda, boneca — sopra com seu hálito quente e
cheirando a menta que dança próximo de meus lábios.
Abro os olhos me sentindo completa e ridiculamente afetada
e encontro os seus olhando diretamente para minha boca. Não sou
capaz de pronunciar nenhum som que seja razoavelmente coerente,
então, apenas continuo parada observando cada traço do seu rosto,
meu corpo queimando de dentro para fora como nunca senti antes.
Quando nosso olhar se alcança novamente, vejo suas íris
assumirem um tom intenso de azul. Seus olhos descem até minha
boca e então para baixo, analisando meu corpo de um jeito safado,
e conforme sua cabeça inclina um pouco para trás, um sorriso
ladino escorrega em seus lábios, me deixando tensa e… excitada.
O som alto de uma buzina me faz sobressaltar de susto e
retomo a distância segura do estranho, lhe dando um tapa no braço
quando falo, voltando a agir de um jeito racional: — Você é um
safado, sabia?
Ele solta uma risada daquelas gostosas de ouvir e diz:
— Todo mundo tem um lado safado. — Pisca para mim
levando suas mãos até o cós da sua calça e em seguida, para meu
total desespero, puxa a camisa para fora.
— O que você está fazendo? — pergunto com os olhos
arregalados.
— Tirando minha camisa.
— Eu sei idiota, mas por quê?
— Não quero sujá-la. Tenho que trabalhar, minha linda.
— Não sou sua. — Cruzo os braços, emburrada. Quem ele
pensa que é?
— Mas se quiser pode ser — cheio de sarcasmo, responde e
começa a desabotoar botão por botão sem tirar os olhos de mim.
Ele claramente não se importa em estar no meio da rua.
Algumas mulheres que passam, o olham descaradamente, o
estranho até recebe buzinadas e gritinhos animados de algumas
delas e pelo sorriso arrogante em seu rosto, está amando toda essa
atenção.
Faço de tudo para não olhar, mas à medida que sua blusa vai
se abrindo vejo seu abdômen definido à mostra, tenho a impressão
de que estou em uma espécie de striptease. Contudo, garante que o
que vejo aqui é muito melhor do que o único que fui na época da
faculdade com Ana. Uma ideia maluca que tivemos depois de
alguns copos de álcool.
Eu nunca vi um homem tão sexy em toda minha existência,
pelo menos não de perto.
Ele se aproxima novamente, coloca sua camisa em meus
braços e eu seguro quando fala:
— Gosta do que vê?
Um arrepio torna a passar pelo meu corpo, se alojando no
meio das minhas pernas. Sinto uma vontade enlouquecedora de
apertar as coxas, mas me mantenho firme, tentando não
transparecer a esse egocêntrico, o quanto me afeta. Tão somente,
respondo o mais natural possível.
— Já vi melhores. — Balanço os ombros em desdém.
Mentirosa!
Ele por sua vez sorri, na verdade não, ele gargalha, jogando
a cabeça um pouco para trás e diz:
— Per Dio, você mente muito mal, boneca. — Claro, lindo
desse jeito só podia falar o idioma mais sexy do mundo. Esse cara
tem que ter chulé, não é possível.
Ele dá a volta pela frente do meu carro, e liga o alerta.
Sinaliza para que eu abra o porta-malas e eu faço, tentando ao
máximo não olhar pro seu peitoral.
O gostosão tira o step e pega o macaco, não perdendo
tempo. Fico mais para atrás dele observando os músculos de sua
costa se contraindo a cada movimento que faz. O suor escorre ali e
eu me seguro para não passar a mão.
Sutilmente, levo sua roupa ao meu nariz e sinto seu cheiro
amadeirado com um toque suave de pimenta. É bom, muito bom.
Se ele não fosse tão convencido eu o agarraria com certeza.
Não! Eu o sequestrava só pra mim. Seria meu escravo sexual até eu
não aguentar mais, como a personagem do último livro que apreciei.
Ele falava sobre máfia e foi o primeiro que li do gênero e só o fiz
porque achei a capa discreta quando o vi na página inicial do meu
Kindle, sem me dar o trabalho de ler a sinopse. Contudo, preciso
admitir, a história era muito boa e as cenas de sexo eram de tirar o
fôlego. Aquela mulher realmente fez do homem seu escravo sexual.
Começo a almejar que fossemos nós, eu e o estranho idiota e
arrogante, os protagonistas dessa estranha e tórrida história de
romance e sexo quente.
O que é isso Bárbara? Ficou louca?
Penso que Ana está realmente certa, devo estar lendo
demais.
Sempre evitei caras que fossem metidos ou se achassem a
última bolacha do pacote, mesmo tendo uma queda por eles e seu
charme inabalável. Homens assim são interessantes nos livros,
"controlados" pelas escritoras e pensados para satisfazer outras
mulheres. No entanto, na vida real, tudo é diferente. E eu,
infelizmente, sei muito bem disso.
Já namorei um cara no meu último ano de faculdade que
tinha um jeito muito parecido com o estranho cretino, e ainda que o
sexo tenha sido bom durante o relacionamento, não valeu a pena ter
o coração partido no final.
Desde então, procuro manter minha atração por eles apenas
nos livros, é mais seguro e tem zero chances de me machucar.
Busco me envolver somente com homens mais calmos e que não
sejam petulantes e metidos. Completamente o oposto desse cara
que está flexionando sua coxa, ao pisar no step. Que coxa, hein!
Não posso negar que ele seja um pecado de tão lindo e
quente, ele é muito quente.
Em menos de dez minutos o pneu já está trocado. Abaixo
minhas mãos quando ele se vira para mim e me concentro em olhar
para o pneu, deixando de lado meus pensamentos devassos.
— Pronto! — diz passando por mim carregando o pneu
furado o colocando no porta-malas.
— Obrigada — agradeço entregando sua blusa.
— Não vou ganhar nem beijo de agradecimento? — dispara
formando um bico me fazendo força uma gargalhada exagerada.
— Se toca idiota. Jamais ficaria com alguém tão.. tão…
— Gostoso? Bonito? Um tesão?
— Convencido, metido e arrogante como você.
— Eu sou seguro, é diferente, porra.
— E ainda é um idiota da boca suja? Passo. — Faço um
movimento com uma mão. Não falei nada de engraçado, mas, por
algum motivo ele, começa a gargalhar — Qual a piada? — pergunto.
— Nenhuma — diz ainda rindo balançando a cabeça de um
lado para o outro vestindo sua camisa. Quando termina estende a
mão para mim e se apresenta. — Sou Matteo.
Encaro a sua mão estendida e seu rosto que tem um sorriso
largo ali. Sinto novamente aquela sensação como se eu já o
conhecesse de algum lugar. Busco em minha mente, mas não
consigo pensar de onde eu deva o conhecer..
Soltando um suspiro, levo minha mão até a sua ao dizer meu
nome de forma educada.
— Bárbara.
Assim que nossas peles entram em contato, sinto um choque
passar por meu braço e pelo jeito que ele me olha também sentiu.
— Eu... preciso ir. — Puxo minha mão de forma brusca. —
Novamente, obrigada — digo e corro até meu carro, abrindo a porta
do motorista já praticamente me jogando no assento. Quando estou
colocando o veículo em movimento, Matteo para ao meu lado e se
apoia no capô.
— Queria ver você de novo, boneca — noto sinceridade em
sua fala, um sorriso convencido se arrastando pelos seus lábios.
— Para de me chamar assim. Eu tenho nome.
— Por quê? Não gosta de apelidos?
— Eu tenho que ir, me dê licença, por favor?
— Só quando você me falar quando podemos nos ver
novamente.
— Eu espero que nunca mais — digo e lhe dou o meu melhor
sorriso debochado. — Sai ou eu vou levar você junto.
Matteo sorri abertamente quando se afasta com as duas
mãos levantadas em sinal de rendição. Não perco tempo e acelero,
saindo dali sem olhar para trás.
Mais a minha frente, paro em um sinal vermelho e olho para
baixo, bufando ao ver meus mamilos pontudos sob minha camisa,
me sinto ridícula por ter ficado excitada.
Ainda bem que nunca mais irei vê-lo.

— Você ouviu o que eu disse, Dante?


— O que? — ele parece confuso e balança a cabeça de um
lado para o outro, finalmente olhando para mim desde que
sentamos a mesa no restaurante da empresa para almoçarmos —
Desculpe, o que você disse?
— Estou dizendo que conheci uma boneca muito gostosa e
você parece que esta hipnotizado, porra! — exclamo levando um
pedaço de lasanha até minha boca, sabendo exatamente o que, ou
melhor quem o distraiu nos últimos minutos, desde que chegou
sorrindo com Beatrice e mais algumas funcionárias no ambiente. —
Você está apaixonado, fratello— comento apontando o garfo na sua
direção.
Ele me olha com uma expressão de assustado, como se eu
tivesse falado algo absurdo demais.
— O que? — indago dando de ombros.
— Fale baixo, per favore — súplica nervoso, ajeitando sua
gravata que nem mesmo estava torta.
— Eu falei baixo, caralho. Você quem está ficando paranoico.
Aquele "gnomio". — Aponto para a mesa onde ela está sentada no
canto do restaurante. — Realmente te deixou de quatro, hein. Já
está ficando cego de amor — brinco o vendo revirar os olhos para
mim e meu sorriso aumenta ainda mais.
Eu amo provocar as pessoas e saber que as irrito, de certa
forma me deixa animado em continuar perturbando ainda mais.
Assim foi com a mulher com rosto de boneca que conheci hoje pela
manhã a caminho da empresa.
Estava dirigindo tranquilamente enquanto cantava a música
de María do Bairro, a novela que estou assistindo no momento,
quando vi uma mulher olhando para o alto como se estivesse
conversando com Deus. Ela estava usando uma saia justa na cor
vermelha e uma blusa de seda branca, os cabelos presos em um
rabo de cavalo, os saltos não eram tão altos, mas ainda sim a
deixavam com a bunda empinada, o que chamou minha atenção.
Diminui a velocidade e pude ver que o pneu dianteiro de seu
carro estava furado. Parei um pouco atrás de onde ela estava e me
aproximei oferecendo ajuda. Pelo susto que levou ela não havia
notado minha presença.
Quando se virou para ver quem era, observei seu rosto
pequeno com traços delicados assim como sua boca, os olhos eram
castanhos da mesma cor que seu cabelo e por um segundo fiquei
sem ar. Ela era linda e confesso que cheguei a pensar que era
tímida por ter uma beleza tão suave, contudo, logo que a primeira
resposta para minha provocação saiu, percebi que timidez não era
algo que fazia parte de sua personalidade.
A cada farpa que trocávamos mais eu queria levar aquela
mulher para meu apartamento e saber se era tão teimosa na cama,
quanto fora dela. Se revidaria os tapas que eu desse em sua bunda,
se me daria uma resposta debochada quando eu ordenasse que
chupasse meu pau, se gostaria de ser fodida de quatro com força e
ouvindo putaria ao pé do ouvido.
Meus pensamentos ficaram mais safados quando me
aproximei e falei ao pé do seu ouvido. Pude sentir seu cheiro floral e
precisei me controlar para não enterrar meu nariz no vão de seu
pescoço.
Eu a beijaria ali mesmo, entretanto, tenho quase certeza que
levaria um tapa no rosto, ainda que ela quisesse o beijo tanto
quanto eu. Eu sei que a boneca gostaria de ser beijada por mim,
percebi a forma como seu corpo reagiu ao meu e também notei
como ela me olhava ao tirar a camisa.
Adoraria vê-la novamente. O jeito como ela lutou para
esconder que não estava interessada, me excitou, me excitou para
caralho como há muito tempo uma mulher não fazia. Ela despertou
todo meu corpo, mesmo que não quisesse isso.
Geralmente as mulheres que se aproximam de mim, não
fazem esforço algum para disfarçarem seu interesse, mas Bárbara,
a boneca, não se importou com isso, ela nem sequer notou quem eu
sou e de que família faço parte. Falou na minha cara tudo que
pensava sobre mim, ainda que fossem mentiras.
Eu adoraria poder mostrar a ela quem é Matteo Fontana de
verdade.
Deixo meus pensamentos sobre a mulher que ajudei pela
manhã de lado e me concentro em meu irmão.
Aproximo-me dele, que está sentado ao meu lado, e apoio os
braços sobre a mesa buscando seu olhar, quando pergunto em um
tom calmo e sereno, ainda que eu já saiba a resposta, ela está
estampada em seu rosto:
— Você está apaixonado, não está, fratello?
Dante é meu irmão mais velho, todavia, depois de tudo pelo
que passou, me sinto extremamente protetor com ele. Ainda consigo
me lembrar da vez em que presenciei sua dor, disparada através de
choros e gritos repletos de tristeza, quando ele foi até o seu antigo
quarto cheio de lembranças de Carlos.
O “ferrado”, como eu costumava chamá-lo quando éramos
moleques, por conta de seu sobrenome — Ferreira — depois que
ele se ferrou em uma prova de química, também era amigo meu e
óbvio que sinto falta dele, como tenho certeza de que Henrique e
Beatrice também sentem. Porém, meu irmão era ainda mais
próximo de Carlos, eles faziam praticamente tudo juntos desde que
se conheceram quando minha família veio morar no Brasil.
Dante nunca conversou conosco sobre tudo que aconteceu e
durante esse tempo respeitamos a forma como ele escolheu viver o
luto. Ainda que eu não concorde e tenha confrontado meus pais
sobre o assunto, sempre procurei demonstrar que estava ali para o
que ele precisasse e sempre estarei.
— Estou — ele admite depois de um longo suspiro.
— Eu sabia! — comemoro batendo de leve com o punho
fechado na mesa. — Viu, eu disse que o lance dos três estágios
funcionava. Eu sou mesmo um gênio! — Pisco para ele. — Agora, é
só você confessar a ela, que a ama.
— Estou esperando o momento certo. Quero que… quero
que seja especial — meu irmão fala olhando na direção de onde
Ana está.
— A parte mais difícil já foi, cazzo! Vocês já surtaram,
caralho, agora é só dizer. — Ele volta a me olhar de cara feia — O
que? Você não sabe dizer? É só dizer. "Eu te amo, sua "gnomio"
maluca." Pronto.
— Você fala com uma facilidade sobre sentimentos, como se
já tivesse se apaixonado antes — debocha.
— Não, mas. — Levanto um dedo em riste. — Estou me
preparando para quando a mulher certa chegar. Inclusive. — Tiro do
bolso de minha calça meu bloquinho de anotações. — Você está me
devendo algumas respostas.
Dante balança a cabeça de uma lado para o outro, passando
a mão em seus cabelos e relaxa na cadeira, acenando para mim
quando diz: — Manda, B1.
Nessa hora Henrique se aproxima e se senta ao seu lado,
jogando as chaves do carro sobre a mesa.
— Pensei que você não viesse almoçar conosco — comento.
— Não respondeu às minhas mensagens.
— Não tive tempo. Fiquei a manhã toda na porra do tribunal,
por causa de um filho da puta desgraçado. — Bufa.
— O que aconteceu? — Dante pergunta.
— O cretino do assistente do juiz esqueceu de me enviar a
porra do documento deferido e precisei esperar a boa vontade do
bunda mole. O que levou a manhã inteira. — Odeio gente que não
leva o trabalho a sério.
— Ainda é o mesmo babaca? — procuro saber me
lembrando de quando atuávamos juntos.
— O próprio, infelizmente.
— Eu odeio aquele sujeito — declaro.
— Espero que a manhã de vocês tenha sido melhor que a
minha.
— A minha com certeza foi. Ajudei uma gostosa a trocar o
pneu e puta que pariu, ela era linda — comento relembrando da
boneca.
— Levou ela pra sua cama, suponho — meu amigo conclui.
— Queria, mas ela era jogo duro na queda. Depois que a
ajudei, ela praticamente fugiu de mim.
Henrique ri.
— Acho que o sr. dragão está perdendo o charme — zomba.
— Falou o garanhão que sempre teve todas as mulheres que
quis na cama — debocho.
— Nem todas. — Ele suspira olhando para frente e depois
para mim.
— Está apaixonado, B2? Tipo meu irmão aqui? — aponto
para Dante.
— Não estou apaixonado, porra — afirma — Então, quer
dizer que você finalmente percebeu seus sentimentos pela
baixinha?
— Pelo visto vocês perceberam primeiro que eu. — Dante
sorri.
— Enfim, não perca tempo e fale logo que ama aquela
baixinha maluca. — Aponto com a cabeça para onde ela está. —
Agora, Dantinho. — Ele revira os olhos relaxando um pouco mais na
cadeira — responda logo que minhas perguntas, que a pouca
paciência que eu tenho já está indo para a puta que pariu — rosno
tirando a caneta que fica no elástico do bloquinho o abrindo logo em
seguida na página que quero.
— Nunca me canso disso. — Henrique solta uma risada
roubando um pedaço de lasanha do meu prato.
— Manda, fratello.
— O que você sentiu quando a beijou pela primeira vez? E
antes que você faça algum comentário debochado sobre minha
pergunta, B2 — me antecipo em diz o vendo levantar as mãos
fingindo inocência. — Deixe-me explicar que quero saber o que se
sente quando beijamos alguém especial, além da atração física.
— Beijar alguém que gostamos é como ouvir nossa música
favorita. Tudo ao nosso redor some, desaparece. Há apenas você e
a pessoa, mas ninguém — Dante continua declarando ao olhar para
a mesa que fica a alguns metros de distância de onde estamos.
Seus olhos brilham — É o silêncio mais agradável que existe.
— Uau! — exclamo atraindo sua atenção para mim — Vou
continuar beijando todas as mulheres que eu encontrar até achar a
que me faça sentir exatamente isso — confesso, fazendo anotações
em meu bloquinho.
— Isso foi profundo, preciso admitir — Henrique acrescenta.
— Próxima pergunta — falo. — Quando você finalmente
percebeu que estava nutrindo sentimentos por ela?
Meu irmão pensa um pouco antes de responder.
— Na festa de boas-vindas para Beatrice que nossos pais
fizeram. No momento que dançamos juntos.
— Dança no quintal da casa dos velhos — falo conforme
escrevo as palavras em meu bloco de notas.
— Será que podemos terminar de comer? — Dante sugere.
— Ótima ideia. Vou pedir uma lasanha como essa. —
Henrique aponta para a mesa. — Está muito boa.
— A receita é de Beatrice — comento.
Ele solta uma risada, sorrindo de lado e diz:
— Claro.
— Voltando ao meu questionário.
— Quantas perguntas você tem aí, boca suja? — meu irmão
questiona.
— Ainda faltam oito — respondo.
— Porra! — nosso amigo diz rindo.
— Você é mesmo de outro mundo, fratello.
Reviro os olhos para eles e continuo lançando meu
questionário ao meu irmão, que as responde sob as risadas de
Henrique.
A cada resposta, é impossível não notar o quanto aquele
"gnomio" está fazendo bem a ele, muito bem. Dante está feliz como
a muito tempo eu não o via e isso me deixa, verdadeiramente feliz
também.
Mais de duas semanas se passaram desde a noite incrível de
sexo que Dante e eu tivemos. Entre os amassos que dávamos em
sua sala e os compromissos que tínhamos, eu estava a ponto de
explodir de saudade de tê-lo dentro de mim outra vez.
O jantar que tivemos na semana passada só me fez ficar
ainda mais apaixonada por ele. Cada detalhe daquela noite foi
simplesmente perfeito. O cuidado que ele dispensou ao preparar
tudo, ao escolher a confeitaria onde comentei que amava a torta, o
jeito como Dante me olhava, quando pensava que eu não estava
percebendo, a forma que disse que também gostava de mim.
Eu estava a ponto de falar que estava apaixonada por ele,
mas não quis assustá-lo e achei melhor deixar para outro momento.
No dia seguinte, minha mãe logo percebeu meu sorriso bobo
e sendo sem rodeios como é, perguntou se eu estava me
envolvendo com alguém. Quando soltei um suspiro antes de
responder sua pergunta ela teve certeza e juro que quase fiquei
surda com seus gritos animados, assim que soube que meu chefe e
eu estávamos nos conhecendo de forma mais íntima.
Dona Luíza já queria marcar um encontro entre as famílias e
foi preciso bons minutos, para que ela entendesse que ainda era
cedo para isso, mesmo que Dante e eu nos conheçamos de fato há
três meses, não fazia nem trinta dias desde a nossa primeira vez.
Pedi a ela que não contasse nada a Miguel, meu irmão mais velho é
ciumento e tem uma mania irritante de sempre pedir para o seu
amigo que é delegado fuçar a vida dos homens com quem me
relaciono.
Os dias pós viagem e inauguração da nova sede no Rio de
Janeiro, foram intensos demais. Dante e eu mal tínhamos tempo
para almoçarmos tranquilamente. As reuniões que eram para durar
uma hora, passaram a se estender por duas, três horas.
Hoje é quinta-feira e agradeci pelas coisas estarem mais
tranquilas, assim Bárbara e eu pudemos nos encontrar para o nosso
almoço mensal a fim de comermos besteiras, dessa vez com
Beatrice presente. Elas finalmente puderam se conhecer
pessoalmente. Estávamos nós três na sede principal do La Fontana,
pois Bea fez questão de nos apresentar o novo cardápio de pizza
que ela estava desenvolvendo.
— Estou no paraíso! — Bárbara exclama admirando as fatias
de pizzas postas à mesa, dos mais variados tipos e sabores.
— Pedi que fizessem isto aqui — Bea fala apontando para
uma fatia. — Especialmente para você. Lembro que na nossa vídeo
chamada, você mencionou ser viciada em queijo. Bem, — ela deu
de ombros — essa tem muita mussarela, ragazza.
Ela sorri animada batendo palminhas, enquanto agradece
nossa amiga, sorrindo feito uma criança quando ganha sua primeira
bicicleta.
— Você está criando um monstro. — comento e nós duas
rimos ao ver Bárbara dando uma generosa mordida na pizza,
gemendo de um jeito bem exagerado conforme mastiga.
— Isso está perfeito! — diz com a boca cheia.
— Grazie, cara mia — a italiana diz bebericando um pouco
do vinho. — Como você e meu irmão estão? — Bea quer saber.
— Estamos bem. Ele me chamou para um jantar na sua casa
para — mordo o lábio inferior — passar o final de semana com ele.
— Cazzo! Um final de semana inteiro de sexo! — Bea diz
piscando para mim levantando a taça para o alto me fazendo rir.
— Estou contando com isso — assumo levantando a minha e
Bárbara nos segue, meio desajeitada por ter largado a fatia que
estava comendo, para nos acompanhar.
— Ainda não peguei nenhum homem desde que cheguei da
Itália. Meu vibrador está trabalhando mais do que o habitual —
brinca.
— Às vezes um vibrador tem desempenho melhor que o de
um homem de verdade. — Bárbara lamuria depois de engolir. —
Falando em homens, ontem. — Se aproxima da mesa. — O pneu do
carro furou e eu não sabia o que fazer. — Leva as mãos até a
cabeça e continua tendo toda nossa atenção. — E, do nada, como
nos meus livros, apareceu o cara mais gostoso e lindo que eu já vi
na vida me oferecendo ajuda e bem, eu aceitei já que não entendo
nada de mecânica.
— E o que aconteceu? — Beatrice pergunta curiosa.
— O gostoso começou a tirar blusa dizendo que ia trabalhar e
não queria sujar o tecido. Mas eu tenho quase certeza de que ele
fez isso só pra mostrar o tanquinho sarado que tinha. Depois me
entregou sua roupa pra eu segurar e bem…
Ela faz uma pausa, meneando a cabeça, como se estivesse
pensando se termina ou não sua história.
— E o que? — pergunto impaciente — O que aconteceu
depois?
— Eu fiz a mesma coisa que você fez com o Dante, só que
com a blusa do estranho.
— Você transou com a blusa no meio da rua? — Bea
exclama brincalhona me fazendo rir. — Cazzo!
Bárbara revira os olhos.
— Claro que não. Eu, bem, acabei cheirando a camisa dele
feito uma maluca. Igual Ana fez um pouco depois de conhecer seu
chefe.
— Ora, ora, ora. E você zombou de mim, hein? — brinco.
— Em minha defesa. — Ela levanta um dedo. — O cara era
lindo de morrer e a fanfiqueira que habita em mim não resistiu. Ele
tinha um cheiro de homem de verdade, o cheiro que eu imagino
sempre sentir quando estou lendo meus livros de romance.
— E o que você fez depois da "cheirada'? — pergunto de
forma cínica da mesma maneira que ela fez comigo há semanas.
— Agradeci pela ajuda assim que ele acabou e fui embora.
— Espera — Bea diz — Você conhece um homem que acha
gostoso e lindo pra caralho e vai embora?
— Ele não era o meu tipo — comenta.
— Como ele não era o seu tipo? Pelo jeito que você o
descreveu estava a ponto de gozar no meio da rua só de olhar — a
italiana bufa.
— Não me envolvo com caras metidos. Eu os evito, fujo
deles. Eles não são confiáveis. E esse cara em especial, me fez
sentir umas coisas que eu definitivamente não gostei.
— O que? — indago.
— Um frio na barriga que se espalhou por todo meu corpo
quando ele olhou diretamente nos meus olhos. Nunca havia sentido
isso antes e… não gostei — afirma, mas posso ver que não há
sinceridade no que diz.
Bárbara é teimosa demais para admitir algo, principalmente
quando foge de todas as regras que ela impôs para si quando o
assunto é relacionamento, seja ele qual for.
— E ele ainda falava muito palavrão, mais do que vocês duas
juntas — acrescenta.
— Ai! Eu amo quando os caras falam palavrões,
principalmente na hora do sexo. Que puxe meu cabelo e me dê uns
bons tapas, que me foda com força como se eu fosse uma puta e…
— Beatrice para de falar quando nota nossos olhos arregalados
para ela. Olhamos uma para outra e caímos na gargalhada.
As duas voltam a se concentrar em me encher de perguntas,
sobre meu relacionamento e a cada uma que respondo, elas fazem
uns barulhinhos animados.
Acertamos nossa saída para o próximo final de semana, com
direito a ajudar Beatrice a encontrar uma casa e uma noite de muita
dança em uma balada na cidade. Ela nos mostrou fotos de quatro
apartamentos que ficam em prédios próximos à empresa. Todos são
lindos, e ela já ligou agendando uma visita em cada um.
Um pouco mais de quarenta minutos depois já estamos nos
despedindo e voltando aos nossos trabalhos, Bárbara na joaninha,
Bea e eu com meu motorista.
Faltam apenas dez minutos para o fim do expediente. Estou
sentado em minha sala olhando para o relógio em meu pulso,
contando os segundos para dar 18:00 e eu enfim poder fazer tudo
que eu quero com Ana Laura em minha casa.
Por esse motivo, adiei minha sessão de fisioterapia com
Lucas e antes que ela fosse para o almoço com Beatrice e sua
amiga de apartamento na quinta-feira, a convidei para um jantar em
minha cobertura, deixando claro que gostaria que ela passasse o
final de semana inteiro comigo. Ana sorriu daquele jeito que faz meu
coração se expandir dentro do peito e aceitou o meu convite.
Dois minutos se passam e meu pau começa a reclamar em
minha calça de saudade de estar dentro de Ana Laura. Decido,
então que não vou mais esperar. Desligo meu computador, pego
meu celular e saio da sala, encontrando minha assistente sentada
em sua cadeira digitando algo. Ela levanta o rosto no exato
momento em que fecho a porta.
— Está tudo bem? — procura saber. — Precisa de algo?
Aproximo-me dela e passo o polegar em seus lábios, que se
abrem para mim.
— Sim — respondo, inclinando em sua direção, seus olhos
nunca deixando os meus à medida que falo. — Eu preciso de você.
— Ainda faltam alguns minutos para o fim do expediente —
ela responde com a voz trêmula e baixa, completamente afetada.
— Estou com saudade de estar dentro de você, amore mio —
enfatizo, depositando um beijo de leve em sua boca, fazendo-a
suspirar e sorrir.
— Também estou com saudade de você dentro de mim —
confessa, fazendo meu pau dentro da calça pulsar em expectativa.
— Então vamos acabar com ela. Não aguento mais esperar
— falo, parecendo um desesperado, mas não me importo. Eu
preciso dela, preciso realmente dela.
Ana sorri maliciosamente e anui, desligando seu computador,
em seguida pega sua bolsa que percebo ser um pouco maior do que
costuma usar e se levanta.
Caminhamos lado a lado até o elevador sem dizer uma só
palavra.
Quando a porta de aço fecha, não consigo mais me controlar.
Aproximo-me dela a prendendo entre o espelho e meu corpo. Levo
minha mão direita até seu joelho esquerdo e subo sua perna até que
esteja ao redor de minha cintura e assalto sua boca em um beijo
cheio de urgência.
— Desculpe — peço parando o beijo para raspar meus lábios
nos seus, a vendo abrir os olhos lentamente. — Mas eu não estava
mais aguentando. — Ela sorri e deposita um beijo em meus lábios,
para logo em seguida passar sua língua ali, me fazendo grunhir e
apertar mais meu corpo contra o seu. — Posso continuar?
— Deve! — ordena segurando em meus ombros, movendo
seu quadril me olha de um jeito safado.
Com minha mão livre, toco sua boceta por cima da calcinha
massageando de leve seu clitóris, usando a outra para abrir
sutilmente sua perna que está estendida. Ana geme, inclinando a
cabeça para trás.
— Quer que eu continue? — provoco aumentando o trabalho
de meus dedos. Ela fica em silêncio e apenas acena com a cabeça
em afirmação, seus olhos assumem um tom intenso e escuro de
azul quando me encaram. — Parlare, amore mio — pronuncio em
italiano sabendo o quanto ela fica afetada.
— Continue. Por favor, continue — sopra desejosa.
Arredo sua calcinha e enfio um dedo em sua boceta sem
cerimônia, que entra sem dificuldade de tão molhada que ela já
está, nos fazendo soltar um gemido. Ela segura em meus braços
enquanto entro e saio dentro dela.
— Não para, por favor. Não para... — implora, mas assim que
escuto o barulho sinalizando que chegamos na garagem, retiro
meus dedos e ela choraminga. Desço cuidadosamente sua perna
ajeitando sua saia e beijo sua testa que está suada. — Eu estava
tão perto — diz fazendo beicinho cruzando os braços ao sair da
caixa de aço a passos firmes. Rio de sua atitude a seguindo.
Sinalizo na direção do meu carro, Abro a porta e antes que
ela pudesse entrar, dou um tapa em sua bunda arrancando um
gemido dela.
— Você vai gozar três vezes hoje, mi amore — digo sorrindo
de lado.
Meu motorista estaciona em minha vaga na garagem no
prédio onde moro. Ana e eu descemos caminhando de mãos dadas
até o elevador. Uso meu cartão para acessar o último andar e
alguns segundos depois chegamos.
A porta se abre mostrando minha grande sala, com paredes
de vidro, dois sofás em l na cor cinza claro que mais parecem
camas de casal, uma parede com lareira e uma televisão gigante
em cima.
— Meu Deus! Você mora aqui e… sozinho? — Ana diz
soltando minha mão e abandonando sua bolsa no sofá, enquanto
olha o espaço com olhos e boca abertos.
— Sim. — sorrio, encantado com sua animação e surpresa.
— Vem, me deixe te mostrar o resto — falo e ela anui,
tomando sua mão a se entrelaçar com a minha.
O sentimento de intimidade que me toma conforme meus
dedos apertam com carinho os seus, me faz pensar em um futuro
com ela, um futuro que envolva tudo que o romântico em mim
sempre quis ter um dia.
Mostro a ela a cozinha, a biblioteca, os quartos de hóspedes
e minha academia que ficam no primeiro andar. Subimos a escada e
Ana solta um gritinho quando olha a área externa com piscina e uma
jacuzzi, adoentados por um pequeno jardim, separada por portas de
vidros que vão do chão ao teto, cobrindo a parede inteira.
— Essa piscina é enorme! — Se aproxima da porta de vidro
que leva até o lado de fora e encosta a testa, testando apreciar mais
de perto.
Caminho em sua direção, parando atrás dela. Afasto seu
cabelo para o lado, deixando-o cair por sobre seu ombro esquerdo.
— Sim, ela é. — Seguro sua cintura e a puxo contra mim,
fazendo suas costas se chocarem com meu peito. Ela arfa pelo
contato e roço meu pau que já está duro contra sua bunda — Ela é
enorme — sussurro em seu ouvido.
— É — murmura virando o rosto para olhar para mim. Beijo a
ponta de seu nariz com carinho e ela sorri. — É enorme — diz
rebolando o quadril de encontro ao meu de um jeito obsceno.
Seguro seu rosto com a mão direita e tomo sua boca em um
beijo lento. Nossas línguas se encostam e eu desço minha mão livre
até o meio das suas coxas, puxando sua saia até que o tecido
esteja todo embolado em sua cintura.
— Dante... — geme quando afasto minha boca da sua e
desço até seu pescoço depositando beijos, lambidas e mordidas em
sua pele, meus dedos acariciando a lateral de sua virilha, vez ou
outra meu dedo indicador faz menção de ultrapassar o tecido fino de
sua calcinha.
— Coloque as mãos no vidro, amore mio — falo desenhando
o contorno de seus lábios carnudos com minha língua. — E abra
bem as pernas — acrescento e aperto sua boceta com minha palma
por cima de sua calcinha. — E não se preocupe, ninguém vai nos
ver.
Ana Laura geme e logo faz o que eu pedi.
— Se você afastar suas mãos do vidro, eu paro — ameaço,
sussurrando em seu ouvido a fazendo virar o rosto para me encarar
com os olhos semicerrados, mas não lhe dou tempo para que
proteste, seguro as laterais de sua calcinha e puxo, rasgando o
tecido vermelho.
Seu quadril se mexe pelo susto e ela solta um gritinho
surpresa com a minha atitude.
— Você rasgou minha calcinha? — exclama.
— Compro outra pra você — afirmo ao colocar o que restou
do tecido rasgado no bolso da calça. — Não se preocupe com isso
— sussurro apertando sua cintura e esfregando minha ereção
contra sua bunda, meus dedos se apertam em seu quadril com
desespero à medida que aumento a pressão dos meus movimentos.
— Dante.
— Olhe para mim, meu amor — peço com a voz rouca.
Ana foca seus olhos azuis nos meus com seus lábios
separados enquanto geme baixinho.
— Você vai gozar na minha mão — declaro segurando seu
quadril o afastando para bater contra o meu, nós dois arfamos —
Você vai gozar bem gostoso na minha mão, amor. — deposito um
selinho em seus lábios e murmuro contra eles — Bem gostoso e
olhando para mim. Tutto bene? — mordo o lábio inferior, levando
minha mão esquerda até sua boceta, massageando sua carne de
cima para baixo, espalhando sua lubrificação.
Ana geme, soltando um suspiro de prazer, acenando com a
cabeça, para logo em seguida descansar em meu peito, seus olhos
o tempo todo nos meus.
Introduzo um dedo nela, que entra com facilidade, a fazendo
soltar um gemido agudo, empinando ainda mais sua bunda contra
minha pélvis, procurando alívio. Faço movimentos de vai e vem
lentamente, vendo suas mãos lutando para permanecerem no vidro
a sua frente.
— Dante, eu… aaah… — geme e sua mão direita sai do
vidro, me fazendo parar — Não… — choraminga em meus braços.
Sorrio de lado vendo seu desespero. Ela volta a colocar a
mão espalmada ao lado da outra e eu pergunto, voltando a mover
meu dedo em sua boceta: — Você está perto, não está, gostosa?
— Estou — confessa entre gemidos conforme aumento o
ritmo das investidas nela.
A palma da minha mão bate sutilmente em seu clitóris cada
vez que entro nela com mais força. Acrescento mais um dedo,
massageando suas paredes internas e a beijo nos lábios antes de
dizer:
— Goza na minha mão.
Sinto sua boceta apertando meus dedos e seu corpo dar
espasmos à medida que seu orgasmo chega. Ana geme alto,
tremendo em meus braços e eu a seguro, envolvendo sua cintura
com meu braço direito o exato momento em que ela arqueia as
costas.
Eu amo como ela se entrega para mim sem sentir vergonha.
Diminuo o ritmo conforme seu corpo vai se acalmando,
sentindo sua respiração contra meu rosto.
— Você fica ainda mais perfeita quando goza — digo tirando
meus dedos de dentro dela e os levo até minha boca, lambendo seu
líquido. — Minha bebida favorita — declaro.
Ana me lança um olhar devasso, morde os lábios e segura
minha nuca me puxando para um beijo, sua língua sentindo seu
gosto na minha.
— O primeiro da noite já foi. — Lembro quando nos
afastamos.
— Ansiosa pelos próximos.

Depois que a fiz gozar na minha mão, mostrei a ela a suíte


principal e soltei uma risada alta quando ela exclamou um palavrão
ao ver a banheira que há em meu banheiro. Beijei sua bochecha e
prometi que a noite terminaria nela.
Sorrindo, retornamos para o andar debaixo e nos dirigimos
até a cozinha, onde lavei minhas mãos e comecei a separar os
ingredientes que precisarei para fazer nosso jantar, os colocando
em cima da ilha. Optei por um risoto carbonara.
Ana Laura ofereceu ajuda, mas a dispensei, dizendo para
que não se preocupasse. Ela anuiu e se sentou em uma das
banquetas ao redor da enorme ilha, enquanto comecei a cortar os
temperos, e depois os refoguei junto com o arroz. Eu já havia
deixado o caldo pronto, o que me economizou tempo.
À medida que o arroz foi cozinhando, adicionei o caldo até
dar o ponto. Depois pus queijo, acertei o sal e coloquei no prato
próprio para risoto. Fui até a pequena e moderna adega, próxima da
geladeira e escolhi um de meus vinhos favoritos, o disponho sobre o
mármore junto com duas taças.
Sempre me imaginei cozinhando para uma mulher, mas
nunca tive a oportunidade de fazer isso, nem antes e muito menos
depois do acidente. Pensei que esse seria um dos muitos sonhos
que não realizaria, no entanto, ver a linda mulher me observando
atentamente e com um brilho de admiração nos olhos, ao passo que
me movia pela cozinha, me fez sentir o homem mais sortudo do
mundo por tê-la aqui.
Começamos a comer e meu sorriso aumentou quando Ana
Laura experimentou o risoto, gemendo em satisfação ao sentir o
rosto do alimento, não poupando elogios a mim. Os minutos
passaram agradáveis, enquanto conversamos sobre amenidades.
Tentei não pensar que sua calcinha ainda estava no meu bolso e ela
não usava nada além da saia.
Quando terminamos, ela fez menção de retirar a louça suja,
mas novamente a impedi, levando eu mesmo os pratos e taças
para a pia.
— O que tem de sobremesa, chefe? — perguntou, sua voz
cheia de divertimento. Sorri, a vendo mexer de forma inquieta, na
cadeira alta, suas pernas que estão longe do chão, balançando
impaciente enquanto esperava minha resposta.
Sem pressa, lavo minhas mãos e as seco, deixando o
guardanapo em um suporte que há ali, na parede. Viro meu corpo e
foco em seus olhos, caminhando até ela a medida que falo:
— Pensei em sermos a sobremesa um do outro. — Quando
estou perto, abro suas pernas ficando entre elas, minhas mãos
subindo e descendo sobre a pele macia de suas coxas expostas, a
saia subindo à medida que ela as abre mais para mim. — O que
você acha, amore mio? — deposito um beijo em seus lábios no
exato momento em que meus polegares tocam sua virilha.
Ana arfa jogando seus braços por sobre meus ombros, seus
dedos se fecham em meu cabelo quando me puxa para um beijo
nada calmo. Inclino-me sobre ela, procurando mais contato, minha
língua explora a sua e meu quadril se move de encontro a sua
boceta descoberta, nos fazendo gemer com o atrito.
Quando me afasto, momentos depois por falta de ar, torno a
perguntar:
— Então, o que me diz?
— Acho uma ótima ideia. — Sorri de lado, uma expressão
safada em seu rosto.
Beijo a ponta de seu nariz antes de falar: — Me espere na
banheira e esteja nua dentro dela, amore mio.
— O que vai fazer?
— Prometi que a nossa noite terminaria na banheira e tenho
certeza de que você vai gostar. Tem sais no armário debaixo da pia.
Escolha o que achar melhor. — Ela anui e sorri quando desce da
banqueta indo na direção das escadas, antes de sumir andar acima,
ela olha na minha direção e vejo seus olhos brilhando em
expectativa.
Vou até a geladeira e procuro o que desejo. Quando acho,
pego a tigela com os morangos todos lavados e vou ao encontro de
Ana Laura que já está como eu pedi, nua dentro da banheira que
não está totalmente cheia, a pouca espuma cobre apenas seu corpo
da cintura para baixo, seus seios lindos e empinados me saudando,
seus cabelos presos no alto de sua cabeça de um jeito sexy, alguns
fios ao redor de seu rosto.
Não me surpreendo quando inspiro e sinto o cheiro doce de
morango vindo do sais de banho. Sorrindo, deixo a tigela sobre a
peça de mármore que há ao lado da banheira e começo a me livrar
do paletó, tendo seus olhos azuis fixos em mim.
— O que você está pensando, senhor Fontana? — pergunta
jogando um pouco de água em seu colo, mordendo o lábio inferior.
— Vamos estrear essa banheira — comunico começando a
desabotoar os botões de minha camisa social branca.
— Sou a primeira mulher a estar nela?
— Primeira e espero que seja a última — pontuo tirando
minha blusa, a jogando dentro do cesto ali perto.
Ela sorri satisfeita com minha resposta. Livro-me de meus
sapatos e me sento na beirada da banheira com Ana em silêncio,
mas com os olhos focados em cada movimento meu.
Hesito por um segundo, no entanto, decido deixar qualquer
receio ou insegurança de lado. Tiro minha calça e cueca, às
deixando de lado, e começo a tirar minha prótese não conseguindo
impedir o suspiro de alívio que solto quando já estou sem ela.
— Incomoda muito? — curiosa, procura saber.
Viro o rosto para olhá-la melhor ao responder:
— Apenas quando fico muito tempo em pé.
Entro por fim na banheira e vou até Ana, prendendo-a em um
dos quatro cantos. Ela sorri, seus olhos brilhando para mim e fico
em silêncio, admirando o quanto eles são bonitos e acaricio suas
bochechas.
— Lembra do que você me disse no nosso jantar sobre
morangos? — Sorrindo, ela acena com a cabeça em afirmação. —
Disse que o interior de um morango lembra uma boceta — falo com
a voz rouca. — Isso me fez pensar em algo desde aquela noite.
Algo. — Beijo a ponta de seu nariz e ela arfa segurando em meus
ombros. — Bem safado, amore mio. — Seguro sua cintura embaixo
da água e a suspendo, a colocando sentada na beirada da banheira,
fazendo um pouco de água se espalhar.
Ana Laura exclama um gritinho surpresa e logo solta uma
risada, o som preenchendo o cômodo, o som que tanto faz meu
peito doer de felicidade. Sorrindo, toco em seus joelhos afastando
suas pernas, me colocando no meio delas. Espalmo minhas mãos
ao lado de seu corpo, depositando um beijo em sua barriga e
levanto meu olhar para encontrar o seu me encarando de um jeito
intenso.
— Sei la donna più bella che o miei occhi abbiano mai visto.
(Você é a mulher mais linda que meus olhos já viram) — sussurro
sem quebrar o contato visual, a vendo abrir os lábios como se
estivesse com dificuldade em respirar. — Tu sei il più profumato. (A
mais cheirosa). — Aproximo meu nariz de sua barriga e passo a
ponta ao redor do seu umbigo, aspirando seu cheiro natural
misturado aos sais que combinam perfeitamente com ela.
— Dante… — murmura, seu corpo tremendo sutilmente.
— Tu sei il più gnocca. (A mais gostosa) — falo e passo
minha língua entre suas pernas, ela geme e as abre mais para mim
— Più gnocca. (Muito gostosa)
Sorrio e estico meu braço até a tigela ao seu lado, pegando
um dos morangos que há ali.
— Passe o morango onde você quer que a minha boca
esteja, amore mio — digo entregando a fruta a ela.
— Caralho! — fala entendendo exatamente o que estou
oferecendo. — Tu sei perfetto, Dante — diz em italiano e meu pau
fica ainda mais duro. Ela então, segura meu rosto entre suas
pequenas e delicadas mãos, se inclina, colando nossas testas e diz:
— Sei perfetto per me. (Você é perfeito para mim)
Meu coração erra uma, duas, três batidas ao ouvir suas
palavras cheias de sentimento. Engulo a seco enquanto ela deposita
um beijo em meus lábios e se afasta pegando o morango de minha
mão.
Fico parado sem conseguir mover um músculo, algo dentro
de mim aumentando ainda mais por essa mulher.
Então, Ana começa a passar o morango em seu corpo, meus
olhos focados na mão que segura a fruta, conforme a arrasta pela
sua pele. Primeiro em seu queixo, pescoço, descendo pelo vão
entre os seus seios, circulando a ponta ao redor de ambos os
mamilos pontudos.
Admiro o quanto ela é sexy e delicada, me sentindo ansioso
para colocar minha boca nela toda.
Ana Laura continua descendo, passando por sua barriga,
umbigo e quando está perto de seu ventre abre bem as pernas me
dando a visão linda de seu sexo, me fazendo morder os lábios e
sorrir de um jeito safado.
Enfim, ela olha para mim, levando o morango até a sua
boceta ao dizer: — Quero sua boca especialmente aqui. —
Pressiona a fruta em seu clitóris e torna a falar, dessa vez suas
palavras saem em um sussurro de puro tesão. — Come minha
boceta, Dante. — Ela morde o lábio inferior e pede baixinho fazendo
uma onda de eletricidade passar por todo o meu corpo e se alojar
na cabeça do meu pau. — Per favore.
Solto um urro e refaço o caminho que ela antes fizera com o
morango, agora com a minha boca, lambendo seu queixo, seu
pescoço, chupando seus seios a ouvindo gemer alto. Desço meus
lábios, depositando beijos até chegar em seu umbigo, usando minha
língua para circulá-lo lentamente, a fazendo estremecer.
Quando estou perto de onde ela mais precisa, espalmo
minha mão em sua barriga a fazendo inclinar o corpo para parte de
fora da banheira e me abaixo o suficiente até que meu rosto fique na
altura perfeita de seu sexo. Seguro suas coxas e a abro mais para
mim, atacando sua boceta, chupando com força seu clitóris, a
fazendo gemer alto um palavrão.
— Caralho!
Sempre amei fazer sexo oral, mas nunca fiquei tão perto de
gozar como fico quando estou fazendo isso em Ana. O jeito que seu
corpo se move cada vez que minha boca a toca, os sons que faz
quando está imersa no prazer, fodem minha cabeça de um jeito
maravilhoso. Essa mulher é a porra da perfeição!
Sem tirar meu rosto do meio de suas pernas, pego o
morango que ela ainda segura e começo a acariciar seus lábios,
circulando ao redor de sua entrada com a ponta da fruta, vez ou
outra fazendo menção de enfiá-la ali, mas sem de fato fazer.
Sinto seus dedos se fechando em meus cabelos, me
puxando ainda mais para si, buscando por alívio. Aplico mais
pressão e chupo com ainda mais fome, circulando minha língua em
seu montinho de nervos duro em sincronia com o morango em sua
entrada, sentindo-o ficar ainda mais duro, assim como meu pau
debaixo d'água.
— Dante… — grita meu nome gozando na minha boca,
apertando mais minha cabeça contra sua carne. Não me afasto,
pressiono minha língua contra seu ponto sensível buscando
prolongar o efeito de êxtase.
Quando a sinto mais calma, afasto minha boca de sua boceta
e passo o morango debaixo para cima em seus lábios ensopados,
depositando beijos no interior de suas coxas.
— O segundo orgasmo já foi. Só falta um, mi amore — falo
levantando o olhar para encontrar com o dela.
— Sua boca é perfeita — diz se apoiando nos cotovelos para
me olhar melhor, me fazendo rir.
Levo a fruta molhada com seu líquido e passo minha língua
nela, sentindo mais uma vez o seu gosto delicioso.
— Bem melhor que chantilly — comento a vendo sorrir sem
mostrar os dentes de um jeito fodidamente lindo, suas bochechas
que agora estão coradas pós-orgasmo, ficando proeminentes.
— Você fez a minha boceta amar morango — confessa
tirando a fruta das minhas mãos, voltando a se sentar, a deixando
de lado. — Mas sei de algo que ela ama mais. — Se aproxima e
fecha seus lábios no meu inferior, o chupando de um jeito sexy. —
Seu pau — murmura.
Com um sorriso safado nos lábios, ajeito minha postura,
ignorando a pontada de dor em minha perna esquerda por tê-la
usado como apoio desde quando entrei na banheira, não desejando
estragar o clima. No entanto, Ana percebe e segura meu rosto
quando pergunta: — Você está bem?
— Estou. Não se preocupe.
— Se estiver doendo podemos ir para o quarto e…
— Não. — a interrompo colocando minha mão direita em sua
nuca — Só me deixe continuar. Me deixe fazer o que estou a dias
pensando em fazer com o seu corpo.
Ela me avalia por alguns segundos e assente, depositando
um beijo em meus lábios.
— Sou sua.
Sorrio me sentindo aliviado, ignorando a pitada de vergonha
quando sua boca encontra a minha, me beijando com carinho.
Com a mão direita, me apoio na beirada da banheira e levo a
outra até a sua boceta, passando meus dedos ali, a fazendo se
mexer inquieta.
— Dante… eu preciso de você dentro de mim — súplica se
afastando.
— Calma, amore mio. — Peço espalhando seu gozo, a vendo
estremecer à medida que acaricio seus lábios, inclino minha cabeça
para baixo, meus olhos seguindo atentamente o movimento de
meus dedos. — Quero admirar o quão linda é a sua boceta.
— Não… ah… não a admire, fode ela — ordena sem fôlego,
arqueando seu quadril na minha direção — Fode minha boceta,
Dante!
Sorrio de lado e troco meus dedos pelo meu pau, acariciando
seu sexo com a cabeça.
— Fala de novo — peço aproximando meu rosto do seu.
— Me fode. Me fode como só você sabe, amor. Me fode bem
gostoso. Por favor.
Então, a trago para mim, a fazendo envolver suas pernas ao
meu redor, suas mãos indo para minha nuca. Beijo a ponta do seu
nariz e com cuidado me sento no canto da banheira, com ela
sentada em meu colo.
Ana segura meu rosto e me beija de um jeito sensual. Aperto
seus quadris nos meus e ela geme em minha boca, enquanto
nossos corpos se movem em perfeita sintonia, nossas mãos
passeando pelo corpo um do outro.
— Fique quieto — ela pede interrompendo o beijo, segurando
meu pau o posicionando em sua entrada, enquanto sua outra mão
segura meu ombro. — Eu vou cavalgar você, agora. Aproveite o
passeio, amore mio. — Sorrindo de lado ela desce de uma só vez,
nos fazendo gemer alto.
Seguro seus seios e os aperto, à medida que Ana começa a
se mover devagar, subindo e descendo rebolando de um jeito
gostoso para caralho.
— Isso é bom… isso é muito bom — sussurra entre gemidos
se inclinando um pouco para frente e abocanho seu seio direto,
chupando e lambendo seu mamilo. Ana joga a cabeça para trás
gemendo deliciosamente sexy, o que me deixa mais excitado.
Envolvo meus braços em sua cintura e aumento o ritmo, a
fazendo descer e subir cada vez mais rápido, espalhando água por
toda parte. Ela volta a me olhar e segura meu rosto no exato
momento em que sinto sua boceta apertar meu pau e então,
explodimos os dois juntos em um orgasmo forte, gemendo um o
nome do outro à medida que nossos corpos tremem de prazer.
Depois do sexo incrível na banheira, Ana Laura e eu
tomamos banho, um acariciando o corpo do outro. Quando
terminamos, fui até meu closet e dei a ela uma blusa branca minha,
que ficou como um vestido em seu corpo pequeno, antes de vestir
uma calça de dormir cinza.
Deitamo-nos na cama e ela se aconchegou em mim, como
depois da nossa primeira vez, sua cabeça repousou em meu peito e
meu braço direito envolveu sua cintura, suas pernas enroladas na
minha de um jeito íntimo.
— Você está bem? — procura saber, enquanto uso meus
dedos para alisar seus cabelos que agora estão soltos.
— Não estou com dor — garanto, segurando sua mão direita
depositando um beijo no dorso, a segurando contra meu peito. —
Estou bem como nunca estive há muito tempo — confesso
encarando o teto.
Ana se alinha mais em mim e ficamos assim pelos próximos
dez minutos, em silêncio e penso que ela tenha pegado do sono, até
que me surpreendo quando me chama.
— Dante?
— Oi?
— Você está dormindo? — pergunta me fazendo rir baixinho.
— Não estou dormindo, amore.
Ana parece ficar inquieta por alguns segundos, como se
estivesse incerta sobre fazer ou não algo, até que por fim, levanta o
rosto, apoiando seu queixo em meu peito quando diz: — Dante?
— Sim? — Abaixo meu olhar para encontrar com o seu que
possui um brilho que nunca havia visto antes.
— Acho que eu estou apaixonada pelo meu chefe —
confessa um pouco tímida, com as bochechas coradas.
Meu coração para, meu coração literalmente para por dois
segundos, o ar foge dos meus pulmões com suas palavras.
— O que você disse? — pergunto ainda sem acreditar que
ouvi mesmo o que ela disse.
— O que o código de conduta sobre relacionamento entre
funcionários da empresa diz sobre isso? — ignora minha pergunta,
passando seus dedos em meu peito, seus olhos seguindo o
movimento deles.
— Ana?
— Talvez eu tenha me apaixonado primeiro pela sua bunda
— ela ri e continua divagando, roubando meu ar a cada segundo
que se passa, meu coração a ponto de sair pela boca. — Acho que
me apaixonei por ele desde o primeiro momento em que o vi,
naquela sala escura. Nunca vou me esquecer do que senti quando
seus olhos se encontraram com os meus. Fui golpeada da forma
mais violenta que alguém pode ser, no coração e …
— Santo Dio! — consigo exclamar, saindo do transe em que
estava.
Ana para de falar e seu olhar permanece em meu peito, como
se estivesse com medo do que possa encontrar em meus olhos.
Uso o braço que envolve sua cintura para trazê-la mais pra
perto e com a mão livre seguro seu rosto, a fazendo fitar meus
olhos.
— Olhe para mim — peço. — Me desculpe pela minha
reação. Você me pegou de surpresa. — Beijo a ponta de seu nariz e
seus lábios se repuxam em um sorriso de lado. — Mas sinto muito,
— ela fica séria e faz menção de se levantar, contudo não deixo. —
Seu chefe está apaixonado pela assistente "gnomio" dele. Muito
apaixonado mesmo. — Pisco para ela.
A expressão no rosto de Ana Laura se suaviza, mas logo se
transforma em uma carranca quando ela bate em meu ombro.
— Está com raiva pela brincadeira que fiz com você ou por
que chamei você de "gnomio"? — pergunto rindo.
— Pelos dois. — diz ainda de cara fechada.
— Desculpe — peço aproximando minha boca de seu ouvido.
— Scusi, mi amore — sussurro passando a ponta da minha língua
em seu pescoço para logo em seguida beijar sua pele ali.
Ela suspira amolecendo em meus braços e me puxa para um
beijo calmo e apaixonado. Retribuo da mesma medida, me
perdendo cada vez que nossas línguas se tocam.
— Estou desculpado? — procuro saber quando nos
afastamos.
Sorrindo ela responde:
— Está, só não faça mais — ralha apontando um dedo na
minha direção e volta a descansar sobre meu peito.
Nos abraçamos e momentos depois, quando sinto seu corpo
finalmente relaxar, adormeço, a parte escura que tenho deixado
debaixo do tapete há anos, ameaçando vir até a superfície, fazendo-
me pensar que talvez eu não mereça tanta felicidade.
Acordo no sábado decidido a não sair. Ontem depois do
trabalho, Henrique me chamou para ir a um bar onde cada um saiu
com uma mulher. Fomos para o apartamento de umas delas e
bem... o final disso você já deve imaginar. Muito sexo!
Depois de sairmos escondidos, nós viemos para minha casa,
já estava próximo do horário do almoço, então optei por fazer uma
lasanha. Meu pai é italiano e minha mãe uma cozinheira
profissional, então sei me virar muito bem na cozinha. Henrique por
outro lado é capaz de deixar o ovo cozido queimar.
Passamos a maior parte do dia dormindo. Quando o alarme
do meu celular tocou, às oito da noite, vim até a sala e liguei a TV,
encontrando meu amigo na cozinha.
Moro em uma cobertura relativamente grande, não tão
grande como a de Dante, mas é muito confortável. Há dois quartos
de hóspedes, um escritório, uma pequena academia, piscina, minha
suíte com uma enorme sacada e uma cozinha americana de frente
para sala, com uma ilha com tampo em mármore.
— O que você vai assistir? — Henrique pergunta enquanto
coloca o último pedaço da lasanha em um prato.
— Está na hora da minha novela. Silêncio, per favore, B2.
Esse momento é sagrado — respondo me sentando em meu sofá
grande e confortável da cor cinza claro.
— Não sabia que suas novelas passavam dia de sábado.
— E não passam, mas como saímos ontem, perdi o episódio
e vou assistir hoje. Preciso saber se a Maria do Bairro vai achar seu
filho.
— Você é maluco, caralho.
— Cala a boca, porra — ralho e o ouço rir atrás de mim.
A abertura começa e como em todas as vezes, acompanho
cantando a música. Henrique se aproxima rindo e se senta ao meu
lado com o prato de lasanha em suas mãos.
— Se você sujar meu sofá, vai me comprar um novo, cazzo
— aviso.
— Eu compro até dez pra você, daqueles que são bem
maiores que esse aqui — diz de boca cheia.
Reviro os olhos e relaxo em meu lugar, apoiando minhas
pernas na mesa de centro. Quinze minutos depois meu celular
começa a tocar e na mesma hora fico puto. Não gosto que me
interrompam quando estou assistindo novela.
Pego o celular que está no meu bolso e olho a tela que
sinaliza uma chamada de vídeo de Dante.
— O que é caralho? — brado ao atender e Henrique acena
para a tela com a boca toda suja.
— Vocês estão ocupados? — meu irmão questiona.
— Estava até você atrapalhar meu momento com a Maria do
Bairro — respondo e ele revira os olhos. — O que você quer?
— Ana me chamou para ir em uma boate famosa da cidade.
A semana foi cheia e disse que seria bom convidar vocês também.
Nossa irmã vai — informa e ganha minha atenção — Elas passaram
o dia juntas com a amiga de apartamento de Ana — explica. —
Vocês topam?
— Eu topo! Eu vou! — Henrique diz, todo agitado ao meu
lado.
— Você está animado demais para quem disse que queria
apenas descansar hoje. — o lembro e ele dá de ombros, com um
sorriso meio forçado nos lábios. Semicerro meus olhos para ele,
alçando uma sobrancelha para sua animação repentina.
— O que?
— Nada, B2 — digo e volto minha atenção para meu irmão.
— Pergunta: — levanto um dedo. — Essa amiga da "gnomio" é
gostosa? — investigo.
— Eu não sei, fratello. Não a conheci e per favore sem
gracinhas.
— Eu não disse que ia, porra. Prefiro ficar em casa assistindo
minha novela.
— Você vivia reclamando que eu não aceitava os seus
convites para ir a festa e agora não quer ir. — Dante reclama,
soltando um suspiro longo logo em seguida, parecendo cansado,
mas não de um jeito físico. — Per favore.
Aperto meus olhos para ele e consigo ver o quanto meu
irmão está se esforçando para disfarçar, até de nós, o quanto ele
está tenso. Olho para Henrique e percebo que ele também nota,
mas apenas me dá um leve aceno de cabeça. Sabemos porque ele
está assim, meu irmão sempre fica assim quando essa época do
ano chega. Por esse motivo, aceito seu convite.
— Tutto bene, fratello. Nós vamos. Passe o endereço, nos
encontramos lá.

— Que a amiga da Ana seja gostosa! — comento assim que


aciono o alarme de meu carro, após Henrique bater a porta do
passageiro.
— Vê se não vai assustar a mulher com suas gracinhas, hein
— meu amigo adverte batendo em meu ombro.
— Relaxa aí, B2 — digo o abraçando de lado. — Você parece
tenso e nervoso demais — comento. — Você está bem? — procuro
saber.
— Estou — responde e rápido passa a mão em seu cabelo
loiro — Ali. — Aponta para algum ponto à nossa frente. — Dante
está ali.
Viro para olhar na direção e vejo meu irmão parado na
calçada nos esperando.
Olho para a fila do lado de fora da boate e reconheço a
fachada brilhante do lugar. Já estive aqui algumas vezes. Essa
boate é conhecida por tocar todos os tipos de músicas,
principalmente latinas.
Demos nossos nomes e como sempre entramos sem
problema algum. O lugar está cheio e é muito bem iluminado. Não é
tão escuro quanto uma boate costuma ser. Há dois andares, sendo
o superior a área vip que comporta cabines com paredes de vidros.
No andar de baixo, há um bar que segue de um canto a outro da
enorme pista de dança.
— E agora? — pergunto impaciente, realmente não queria
estar aqui.
— Elas estão na cabine três. Ali — Dante informa apontando
para cima. — Mandei uma mensagem avisando a Ana, que
estávamos chegando. Vamos — concordamos e o seguimos pelo
lugar.
Ao entrarmos na cabine, vemos as duas rindo descansadas
sobre um sofá, com uma taça de champanhe nas mãos. Ana é a
primeira a nos olhar, deixando sua taça na mesa a frente, vindo até
nós.
— Que bom que vieram — diz cumprimentando com um
abraço em Henrique e em mim, para logo em seguida dar um beijo
rápido nos lábios de meu irmão que juro, parece derreter com o
simples contato da baixinha.
— Oi — ele fala tocando o rosto dela, estampando um sorriso
bobo.
— Viemos para ser "vela" nesse caralho! — comento sendo
totalmente ignorado pelos pombinhos. Reviro os olhos e vou até o
sofá onde Beatrice está — E aí, Bea? — Dou um sorriso a
abraçando de lado.
— Eles são tão lindos, não são? — minha irmã comenta e eu
concordo, sorrindo.
Dante e Ana se aproximam de nós de mãos dadas,
parecendo os casais apaixonados que vejo em minha novela.
— Como vocês são melosos, porra! Vou ficar com cárie nos
olhos — brinco.
— Como você está, Matteo? — Ana pergunta.
— Vou ficar melhor do que já estou quando ver a amiga de
vocês. — Pisco para ela que revira os olhos.
— Você não faz o tipo dela — comenta.
— Definitivamente não faz mesmo — Bea enfatiza levando o
copo com uma bebida colorida até a boca, sorrindo antes de tomar
alguns goles.
— Sou irresistível. — Sorrio de lado — Onde ela está? —
investigo.
— Foi ao banheiro e já volta — responde.
— Então, — levanto-me batendo as mãos em minhas coxas.
— Vou pegar uma bebida — anuncio indo em direção ao bar.
No caminho algumas mulheres se insinuam para mim, mas
continuo não dando atenção até chegar ao balcão do bar. Faço meu
pedido e em alguns minutos o barman entrega minha bebida. Volto
para onde todos estão e quando chego à cabine meus olhos se
fixam em um corpo que está com um vestido vermelho justo com as
costas nuas.
Quem é essa gostosa?
Ela está conversando com minha irmã e Ana, de costas para
onde estou. Aproveito e dou uma bela olhada em sua bunda
empinada desejando cravar minhas mãos nela. Sou viciado em uma
bela bunda e essa é perfeita. Olho para Dante e Henrique que
balançam a cabeça de um lado para o outro como se dissessem em
silêncio para eu não tentar nada, mas os ignoro e me aproximo
delas. Minha irmã é a primeira a notar a minha presença.
— Deixe-me te apresentar meu irmão, cara mia — diz assim
que paro atrás da mulher misteriosa, que suponho ser sua nova
amiga. Ela se vira e meus olhos se abrem ao reconhecer aquele
rosto delicado e meigo que vi há alguns dias.
— Boneca? — Sorrio surpreso — Que coincidência
maravilhosa, hein. — Levanto meu copo apontando em sua direção
antes de tomar um gole, sentindo o álcool queimar minha garganta.
— Você? — exclama e seu rosto transmite espanto.
— Vocês já se conhecem? — Ana pergunta.
— Infelizmente — Bárbara diz. — Não acredito que esse
idiota é seu irmão.
— Ah, qual é, boneca. Confessa que ficou feliz em me ver ou
prefere que eu esteja sem camisa como da última vez? — falo com
um sorriso safado nos lábios a fazendo revirar os olhos.
— Você dormiu com ele? — Ana e Beatrice perguntam
juntas.
— Bem que ela queria — digo piscando um olho, mordendo o
canto do lábio inferior.
— Só se for nos seus sonhos, seu pervertido. Ele é o cara
que eu falei, aquele que me ajudou quando o pneu do meu carro
furou há alguns dias — esclarece. — Eu sabia que já tinha o visto
antes, mas não consegui recordar de onde — acrescenta.
— Ah. Então Matteo é o gostoso que você falou — Ana a
entrega com um sorriso divertido nos lábios.
— Eu não falei isso! — Bárbara exclama visivelmente
nervosa e bate os pés olhando feio para sua amiga, que por sua
vez, levanta as mãos pedindo desculpas.
— Então você me acha gostoso? — me aproximo dela,
sorrindo de um jeito safado.
Ela aperta os olhos para mim e ficamos nos encarando por
cinco segundos, até que pega meu copo e bebe todo o líquido em
um só gole.
— Essas cantadas ridículas costumam funcionar, idiota? —
fala me devolvendo o copo e cruza os braços.
— Me diz você.
Ela solta uma gargalhada forçada e fala com voz cheia de
deboche: — Me poupe dessa sua conversa barata de playboy que
acha que pode tudo.
— Acho que mi fratello tem uma nova pessoa favorita para
perturbar — Beatrice diz — Aí eu amo essa música. Vamos dançar,
ragazza! — chama assim que a voz de Fred de Palma começa a
invadir o lugar.
— Excelente ideia — Bárbara concorda se aproximando de
minha irmã e me lançando um olhar de nojo de baixo para cima.
Mando um beijo com a mão para ela, que me responde mostrando o
dedo do meio. Solto uma gargalhada, inclinando a cabeça para trás,
amando tê-la visto novamente.
As três se afastam para dançar e encaro por um momento
Bárbara, seu corpo se movendo no ritmo da música de forma
sensual.
Me junto aos rapazes no sofá, mas logo Dante se levanta,
passando as mãos na coxa se aproximando de Ana, meio receoso.
Meu irmão toca em sua cintura e ela se vira para olhar para ele.
Ambos trocam um olhar demorado e por fim, a "gnomio" assente
para algo que só eles sabem, ela abre um sorriso jogando seus
braços no seu pescoço que a envolve pela cintura e começam a se
mover lentamente, completamente alheios a todos.
Que esse ano, tudo seja diferente para meu irmão.
A música está quase terminando quando Henrique diz que
vai ao bar.
— Per Dio! Preciso ir ao banheiro amiga — minha irmã diz já
se afastando de onde estamos.
— Eu vou com você — Bárbara sugere.
— Não precisa! — Bea grita sumindo em um corredor.
— Com medo de ficar comigo sozinha, boneca? — digo e ela
caminha até a minha frente.
— Medo de você? Me poupe — fala com desdém.
— Só pra você saber. — Levanto-me ficando frente a frente
com ela. — Eu também acho você gostosa pra caralho.
— Como se a sua opinião me importasse. — Cruza os
braços. — Vou dançar — comunica e se vira, mas eu a detenho
segurando seu braço a fazendo ficar de frente para mim.
— Dança comigo — peço baixinho, admirando o quanto ela é
linda, meu polegar faz um carinho em sua pele onde a seguro.
— E você — vejo seu peito subir e descer mais rápido —
sabe… — ela engole a seco encarando meus olhos — Você sabe…
sabe dançar, idiota?
— Sou um puta dançarino. — coloco minha mão esquerda
em sua cintura e a puxo devagar para mim. Ela não desvia os olhos
dos meus, suas mãos repousando em meu peito.
— Matteo. — murmura.
— Vamos dançar? — ela não responde e eu continuo. —
Dança comigo — insisto e começo a mover meu quadril no ritmo da
música latina.
Bárbara não me impede, pelo contrário me segue mexendo
lentamente seu corpo junto ao meu. Suas mãos vão para meus
ombros e eu aperto as minhas em sua cintura a fazendo arfar, ela
fecha os olhos por alguns segundos e quando os abre novamente
sorri se soltando.
Segurando sua cintura a faço girar, deixando-a de costas
para mim. Ouço sua risada e sorrio junto, firmando minhas mãos
nas laterais do seu corpo, à medida que começa a rebolar sua
bunda gostosa em mim. Porra!
Sinto meu pau endurecendo e me seguro para não roçar
nela. Bárbara sente, e me olha sobre os ombros umedecendo os
lábios, me fazendo perder a cabeça a apertando mais contra meu
corpo.
Toco em seu queixo e digo:— Eu quero beijar você, boneca.
Falar isso foi um erro, pois Bárbara se afasta bruscamente
dos meus braços me empurrando. Ela ajeita o cabelo, passa as
mãos no vestido e diz: - Você é louco se acha que eu vou ficar com
você.
— Parecia que você queria.
— Foi só uma... dança.
— Não, não foi.
— Foi sim.
— Você sabe que não foi.
— Você se aproveitou de mim, seu... seu... — joga as mãos
para o alto fazendo uma careta de raiva.
— Relaxa, ia ser só um beijo.
— Eu nunca vou beijar você.
— Mas você quer, não quer? — digo a desafiando.
— Você é muito irritante, sabia?
— Eu digo isso a ele há anos — Beatrice fala ao se
aproximar com uma garrafa de vodka nas mãos. — Olha o que eu
consegui!

— E mais uma vez, somos babás — comento apontando


para as três mulheres à nossa frente que estão dançando sem
parar, bêbadas e descalças.
Nas últimas duas horas, nós três ficamos apenas sentados
observando elas esvaziarem a garrafa de vodka como se fosse
água. O álcool do único copo que Henrique e eu bebemos quando
chegamos aqui, já está fora do nosso sistema.
— E motoristas — Henrique acrescenta.
— Pelo menos elas estão seguras — Dante afirma se
levantando para ir até elas. — Já está tarde. Hora de irmos —
comunica às fazendo soltar barulhos de desaprovação.
Ana se joga em seus braços e diz:
— Eu não quero ir, amor.
Meu irmão toca em seu rosto com carinho e beija a ponta de
seu nariz, e ela encosta a cabeça em seu peito.
—Vocês já beberam demais, caralho! — falo alto sentindo a
pouca paciência que tenho, sumir.
— Cala a boca! — Bárbara exclama — Você não manda em
ninguém aqui. — Ela luta para se equilibrar.
— É, isso aí! — minha irmã esbraveja.
— Olha o estado de vocês, droga! — digo ficando de pé.
— Eu já mandei você calar essa sua boca suja, idiota! —
Bárbara bufa jogando um pouco de bebida que tem em seu copo em
minha camisa.
— Já chega! — Caminho até ela e pego seus sapatos. —
Vamos embora, agora! — Ela me encara com um semblante
estranho, provavelmente efeito do álcool.
Eu não dou tempo para Bárbara se afastar ou responder, jogo
ela sobre meus ombros fazendo ela se mexer e gritar.
— Me solta, seu idiota! Me solta! Me solta!
— Fica quieta, porra!
— Sequestro! Isso é sequestro! Liguem para polícia — berra
batendo em minhas costas.
Viro-me para Henrique e sinalizo com a cabeça para ele
pegar minha irmã. Ele anuí e carrega Beatrice no colo com seus
sapatos em mãos. Dante faz o mesmo com sua "gnomio" e nos
direcionamos para a saída.
— Eu amo vocês! Mutto — Beatrice diz sonolenta nos braços
de meu amigo. — Você cheira tão bem — diz o abraçando.
— Obrigada, Bea — agradece meio receoso.
— Você tem uma bela bunda, idiota — Bárbara fala me
fazendo rir. — Quanto você carrega no agachamento?
— Muitos quilos, boneca.
— É de família amiga. — Ana grita abraçando mais meu
irmão.
— Uhu! Viva a famiglia! — Minha irmã esgoela levantando os
braços.
— Viva! — as outras duas sopram euforicamente ao mesmo
tempo.
Nós três rimos e Henrique fala:— Pelo menos dessa vez nós
estamos rindo.
— "Ha ha ha ha há, mas eu tô rindo à toa..." — Ana começa
a cantar e as outras a acompanham.
Dai-me paciência, Senhor!
As pessoas olham para nós como se fossemos loucos, mas
nós ignoramos e continuamos andando.
Chegamos ao lado de fora da boate, caminho até o meu
carro, enquanto Dante e Henrique vão para a Mercedes vermelha
de minha irmã, onde ela vieram. Meu amigo coloca Bea no banco do
passageiro e dá a volta no veículo para se acomodar atrás do
volante, enquanto meu irmão põe Ana com cuidado no banco de
trás, entrando logo em seguida.
Minutos depois já estamos na frente do prédio onde Dante
mora. Estaciono em uma de suas vagas na garagem e pego
Bárbara dessa vez pelo colo no banco do carona. Ela se alinha em
mim e murmura:— Você dança bem.
— Obrigado, boneca. Você também. — Sorrio e beijo sua
testa.
— Você não pode beijar minha testa.
— Por quê? Você não gosta?
— Gosto, e é por isso que você não deve fazer isso, idiota.
— Medo de gostar de mim, hein?
— Muito — responde e fecha os olhos adormecendo em
meus braços.
Depois da noite em que estreamos sua banheira e
confessamos um para o outro que estávamos apaixonados, Dante
ficou estranho e mesmo que ele tentasse agir da forma mais natural
que conseguia quando nos víamos na empresa, me beijando, me
abraçando como costumávamos fazer antes e depois do trabalho,
eu sabia que algo o estava incomodando, ainda que ele tentasse
esconder, como aconteceu ontem na boate.
Beatrice, Bárbara e eu passamos o dia visitando
apartamentos para a italiana, que se mostrava animada em ter seu
próprio espaço. Ao final do dia, estávamos exaustas, mas não o
suficiente para desmarcar a nossa ida a festa e ambas amaram a
ideia que tive de chamar não apenas Dante, mas Matteo e Henrique
também, para se juntarem a nós.
Me surpreendi quando ele, silenciosamente, me chamou para
dançar ao se aproximar de mim na boate e enquanto me abraçava e
me encarava, deixei qualquer suspeita de que houvesse algo errado
de lado, me entregando a noite.
No entanto, quando acordei, a suspeita voltou assim que
meus olhos se abriram e capturaram Dante deitado ao meu lado em
sua cama encarando o teto. O abracei, sentindo seu cheiro e sua
pele quente, e mesmo que seus braços estivessem em mim, sua
mente parecia estar longe.
Ele me comunicou que todos dormiram aqui e que pediu para
seu motorista comprar alguns vestidos para as meninas e para mim,
já que as únicas roupas que tínhamos eram os vestidos de festas da
noite anterior.
Disse também que acordou mais cedo e na companhia do
irmão, e fizeram o café da manhã, com Henrique reclamando por ter
que lavar a louça, ainda que houvesse lava-louças para a função.
Anunciei que precisava de um banho e antes de me levantar,
depositei um beijo em seus lábios seguindo assim para o banheiro.
Já de banho tomado e usando o vestido azul soltinho que
encontrei pendurado no closet, retornei para o quarto. Dante disse
que em alguns minutos desceria para se juntar aos outros na
cozinha. Encarei-o por um momento, analisando seu rosto em busca
de qualquer pista que pudesse me dizer o que havia de errado com
ele. Soltei um suspiro quando o vi sorrir fraco e desistir, por hora,
deixando-o no quarto para me juntar com os outros.
Estava descendo as escadas e quando notei o exato
momento em que Bárbara pega um pedaço de bolo do prato de
Matteo. A mesa está cheia, com uma vasta variedade de comida, e
meu estômago sinaliza com a visão que meus olhos têm.
— Caralho, boneca. Essa fatia era minha — reclama.
— Disse certo: era. Não é mais. Você já comeu três e eu
apenas uma. — Bárbara dá uma mordida no bolo e logo exprime
sua satisfação — Hum! Que bolo gostoso — geme ainda de boca
cheia.
— Você é muito debochada, sabia? — Matteo declara
enfatizando um dos seus traços de personalidade, talvez o maior
deles.
— Minha maior qualidade. — Dá de ombros fazendo todos
nós rirmos — Me devolve Matteo! — fala depois do B1 ter pego seu
misto quente.
— Não!
— Se você comer, eu vou tacar um ovo na sua cabeça — fala
indo até a bancada pegando um ovo.
— Você não é doida... espera. Você é né? Droga — Matteo
diz com um braço levantado onde segura o pão. — Te devolvo se
você me der um beijo.
Bárbara finge pensar e fala:
— É todo seu. Não queria mesmo comer. — Dá de ombros
novamente.
— Ok, então. — O boca suja dá uma mordida grande no pão.
— Hum, que gostoso. — a imitando.
— Eu te odeio — Bárbara diz.
— Não odeia não.
— Odeio sim.
— Não, você não me odeia.
— Você quer saber mais do que eu, idiota?
— Será que podemos tomar café em paz? — Henrique
pergunta fazendo os dois se sentarem lançando uma careta um
para o outro.
Cumprimento a todos e logo trato de me servir com um pouco
de café, saboreando o gosto da bebida que tanto amo.
Alguns minutos depois, Dante aparece na cozinha e se senta
ao meu lado. Dou-lhe um selinho em seus lábios e ouço suspiros
coletivos do restante da mesa, mas ignoramos voltando nossa
atenção para nosso café da manhã.
— Tudo bem? — procuro saber tocando em sua mão sobre a
mesa.
Ele a aperta com carinho e beija a ponta do meu nariz como
sempre faz, antes de responder: — Estou bem,amore.
Tento me concentrar em suas palavras e ignorar a sensação
de que ele esteja mentindo para mim. Suas palavras parecem sair
no automático.
— Espera! — Henrique fala fazendo todos olharem em sua
direção. — Essas três malucas encheram a porra da cara ontem e
não estão de ressaca?
— Não sei o que é isso — digo bebendo meu café.
— Nem eu — Bárbara responde dando de ombros.
— Muito menos eu — Bea fala levantando as mãos para o
alto. — Grazie, Dio mio.
— Como isso é possível? — Matteo pergunta.
— Com inveja, idiota?
— Não vou mentir, boneca. Estou sim.
— Se ele beber mais de quatro copos já está caindo —
Henrique informa com um sorriso zombeteiro no rosto.
— Olha quem fala. O cara que ficou porre com duas doses de
uísque no último Natal. — Sorrindo de lado, Matteo aponta com
intuito de explanar o amigo. — Tive que ficar de babá pra você não
cair na piscina da casa dos nossos pais.
— Você ficou de porre com apenas dois copos de uísque? —
indago com os olhos arregalados — Que fraco — zombo e todos
rimos.
— Não sou fraco. Sou apenas fraco para... uísque. — pontua.
— Uísque é seu ponto fraco? Interessante. — Beatrice
comenta com uma expressão pensativa, semicerrando seus olhos
para o loiro que parece ficar desconcertado com o olhar da italiana.
Olho para Bárbara e trocamos um olhar cúmplice, sabendo
exatamente quais os tipos de pensamentos estão se passando na
mente de nossa amiga.
Pelo resto do dia, conversamos sobre amenidades
tranquilamente — exceto por Bárbara e Matteo, que trocaram farpas
a cada segundo, parecendo cão e gato.
Quando o horário do almoço chegou, pedimos comida no La
Fontana, igualmente na hora do jantar.
Tudo parecia estar bem, mas quando todos foram embora e,
Dante e eu nos deitamos em sua cama para dormir, a forma como
ele me abraçou por trás, com força como se estivesse com medo de
afundar e eu fosse sua âncora, me fez adormecer pensando o que
poderia estar perturbando sua mente.
Uma semana depois, e Dante ainda estava estranho.
Comecei a me perguntar se foi algo que eu havia dito ou feito, mas
não consegui pensar em nada que pudesse ter o incomodado.
Algo estava acontecendo e eu não sabia por onde investigar.
Não queria ser xereta indo falar dele com sua irmã, por mais amiga
que fossemos, muito menos com Matteo ou Henrique.
Fiquei nervosa durante toda semana, com uma sensação de
que estava pisando em ovos com ele, principalmente quando me
pediu que cancelasse todas as reuniões e as transferissem para o
fim do mês. Assenti, ainda sem entender o motivo, contudo obedeci,
afinal, essa era a minha função.
Ele ficou a maior parte do tempo em seu escritório,
almoçando ali mesmo alegando estar revisando alguns documentos
importantes. Eu sou sua assistente e saberia se houvesse
documentos para analisar, principalmente se fossem importantes.
Mas não questionei, apenas assenti fazendo o que ele me pediu.
Optei por almoçar na minha mesa mesmo e acabei adiantando
algumas tarefas. Beatrice visitou meu andar na terça-feira, me
trazendo uma sobremesa que ela estava desenvolvendo. Não
preciso nem comentar que estava uma delícia. Conversamos um
pouco e logo ela precisou voltar a trabalhar.
Na sexta-feira, minhas suspeitas aumentaram. Pensei que
ele me convidaria para passarmos o final de semana juntos, haja
vista que cancelou suas sessões de fisioterapia da semana, mas
não aconteceu. Quando o fim do expediente chegou, ele se
despediu de mim e saiu, sem mencionar quando teríamos um tempo
mais reservado para estarmos juntos outra vez.
No sábado, mal dormi direito pensando em tudo que
aconteceu nos últimos dias, tentando montar o quebra-cabeça
chamado “Dante” e encontrar a peça que estava faltando. Então,
decretei que focaria em arrumar meu quarto e na voz da queen B.
que soava alto pelo apartamento. Bárbara havia saído para visitar
seus pais então, fiquei sozinha.
Perto do almoço, e com o apartamento todo limpo e
organizado, eu cheguei no meu limite, já não estava mais me
aguentando de ansiedade, minhas unhas e a vassoura que o digam.
Cansada de divagar e formular mil e uma ideias na minha
mente, decidi que faria uma surpresa para ele naquela tarde e o
visitaria. Desde a primeira vez que fui a sua casa, Dante deixou
minha entrada liberada na portaria, então não foi difícil entrar.
Apertei o botão da cobertura e tentei de todas as maneiras
controlar meu coração, que batia ansiosamente. Durante toda a
curta viagem, digo a mim mesma que tudo está bem, não há o que
temer.
No entanto, quando a porta do elevador se abre na sala do
apartamento, piso para dentro, tendo a certeza de que a sensação
que venho tendo está certa, não é coisa da minha imaginação.
O que aconteceu aqui?

— Onde ele está, Ana Laura? Onde meu irmão está? —


Matteo perguntou assim que a porta do elevador se abriu, correndo
na minha direção, e não me surpreendo quando vejo Henrique e
Beatrice logo atrás. Provavelmente ele os chamou.
Sentada no sofá, me levanto apertando minhas mãos uma na
outra, tentando controlar a ansiedade, que parece só crescer desde
cheguei aqui há trinta minutos.
Perdi a respiração quando vi cacos de vidros espalhados pelo
centro da sala e uma garrafa de uísque vazia ao lado do sofá, assim
que cheguei.
Meu coração se apertou conforme eu imaginava diferentes
situações do que tinha acontecido aqui, até cogitei a possibilidade
de terem invadido a cobertura, mas nada havia sido roubado. Olhei
cada centímetro do lugar e tudo parecia estar em ordem, exceto a
bagunça na sala.
Retornei a portaria e perguntei ao senhor simpático que
ficava atrás de um grande balcão luxuoso se ele havia visto Dante
sair mais cedo. Ele me disse que sim, que por volta das oito da
manhã passou pelo saguão do prédio indo direto para a garagem.
Um frio passou pela minha coluna, quando o bom senhor
mencionou que ele havia saído em seu carro, o dirigindo sem seu
motorista como de costume.
Conto a eles tudo isso e quando termino Beatrice vem até
mim e me abraça de lado, descanso minha cabeça em seu ombro
enquanto choro.
— Precisamos avisar nossos pais.
— Não! — ele brada — Precisamos encontrá-lo primeiro. —
Matteo começa a andar de um lado para o outro visivelmente
nervoso — Onde você está, fratello?
— Dante não é assim. Ele nunca fez isso. E, santo Dio, ele
nunca mais tinha dirigido desde aquela noite. As poucas vezes que
tentou, teve crise de pânico. — Bea comenta, sua voz embargada e
cheia de preocupação.
— Isso não é um bom sinal, não no dia de hoje — Henrique
declara passando as mãos em seu cabelo loiro.
— O que você quer dizer com isso? O que… o que tem o dia
de hoje? — questiono sentindo meu estômago embrulhar, apertando
minhas mãos trêmulas contra minha barriga.
Matteo para de andar e vira o rosto para me olhar nos olhos
quando responde: — Hoje é aniversário de Carlos.

Sinto gotas da chuva que ameaça cair, tocarem meu rosto, se


misturando as lágrimas. Aperto meus olhos com força permitindo
que elas escorram por minhas bochechas.
Não sei a quanto tempo estou aqui, em pé, parado encarando
o nome de meu melhor amigo esculpido em uma lápide sem
nenhuma das frases de efeito que ele costumava falar e não fiquei
surpreso quando não vi flor alguma ali. Carlos odiava o fato das
pessoas darem flores para as que já partiram, dizia que era
desperdício. Se for para dar flores a alguém que seja para alguém
vivo.
— Deveriam ter colocado a porra de uma frase sua aqui —
murmuro para mim mesmo, irritado, frustrado, revoltado — Por que
não colocaram o caralho de uma frase aqui? — grito dessa vez
sentindo minha garganta e meus olhos arderem, chutando com a
droga da minha prótese o pedaço de pedra — Era só ter colocado
uma frase. Merda! — dou mais um chute e com a força acabo me
desequilibrando caindo de lado, sobre minha coxa direita.
O baque faz com que a base da minha prótese aperte o coto
do meu membro no lugar onde ela é encaixada. Não grito, não solto
nenhum som pela dor que me acomete, eu simplesmente fico ali,
deitado sobre o gramado que começa a ficar úmido pela chuva que
finalmente se inicia, deixo que ela venha, deixo que a dor me
invada, desejando sentir essa dor física, na esperança de que essa
dor, embora física, faça desaparecer a laceração em meu coração,
agora emerge por toda a minha superfície.
É a primeira vez que venho visitar o cemitério onde Carlos foi
enterrado, o primeiro aniversário depois que ele se foi que não fico
trancado dentro do quarto, remoendo lembranças que nunca mais
serão renovadas.
— Você estaria fazendo trinta anos hoje, seu babaca —
balbucio, com a voz embargada pelo choro que agora flui sem parar.
Cubro meus olhos com meu braço e permito que ele venha
com tudo, deixando tudo que passei escondendo nos últimos anos
debaixo do tapete, vir à tona.
O pranto aumenta à medida que as cenas de tudo que
vivemos ganha forma em minha mente, a infância, adolescência, a
escola… tudo se passando como em um telão bem diante dos meus
olhos, até aquela noite na Itália. Até aquela maldita noite na Itália.
Seu sorriso de moleque, a forma como cantava a música que
tocava no rádio do carro, a luz forte do caminhão vindo sobre nós, o
capô cedendo em sua cabeça, seu sorriso sumindo, sua expressão
de pavor, o momento em que acordei no hospital e ouvi os gritos de
Paula, a primeira vez que vi meu corpo mudado…
Sinto cada gota da chuva em meu corpo como se fossem as
gotas do luto que ainda me assombram. Quando ela cessa, minutos
ou talvez horas depois, não sei dizer, ponho-me sentado com as
costas apoiada na lápide e fecho os olhos, me sentindo
completamente anestesiado, perdido.
Fico assim até ouvir uma voz a muito tempo não ouvira, mas
que é familiar em minhas lembranças, abro os olhos e o vejo.
— Dante — era Júlio, pai de Carlos. Ele aparece em meu
campo de visão segurando um guarda-chuva preto grande. Ele me
olha assustado, provavelmente pelo estado em que minhas roupas
e eu nos encontramos — Há quanto tempo está aqui? — procura
saber ao se aproximando.
— Há algum tempo — simplesmente sopro, varrendo meus
olhos por todo lugar pela primeira vez desde que cheguei aqui.
Vejo ao longe um senhor limpando algumas sepulturas e
penso se ele não me viu antes, provavelmente está habituado a ver
cenas de sofrimento e por esse motivo não disse nada.
Já está escurecendo e só percebo agora.
— Me ligaram falando que havia um homem suspeito aqui, na
sepultura do meu filho. Não pensei que pudesse ser você.
— Me desculpe — peço me levantando e ele me ajuda,
segurando em meu braço.
— Não precisa se desculpar, Dante. Se quisesse vir aqui
hoje, poderia ter me ligado. Paula, as crianças, seus pais e eu
viemos pela manhã.
— Que horas são? — pergunto passando uma mão em meus
cabelos úmidos, o vento frio toca em meu corpo coberto pelas
roupas molhadas me fazendo estremecer.
Júlio olha o relógio em seu pulso.
— 17:45 — responde — Vem, tem uma capela aqui perto e
— ele olha para o alto — acho que vai chover de novo.
Anuo o seguindo, ainda me sentindo entorpecido e sem
forças para protestar.
Em alguns minutos já estamos entrando em uma capela, com
paredes cheias de vitrais no alto, bancos de madeira no centro e um
alto com uma mesa grande.
Júlio fecha o guarda-chuva e aponta para que eu me sente
ao seu lado, na última fileira e assim eu o faço.
— Como chegou até aqui? — pergunta virando o corpo para
me encarar.
— Dirigindo — respondo olhando mais minhas mãos de
descansam em meu colo.
— Seu pai me contou que você não dirigia mais — comenta
Solto um longo suspiro, olho para frente tentando focar na
imagem de um anjo no vitral que há na parede acima do altar
quando respondo: — Acho que vim dirigindo para cá porque…
porque uma parte em mim estava torcendo que… que algo
acontecesse comigo. Talvez assim eu não me sentisse tão mal por
estar… feliz.
— Você está feliz, filho?
— Conheci uma mulher — solto, sorrindo ao me lembrar dela
enquanto observo o anjo no vitral. Ela é meu anjo. — Me apaixonei
por minha assistente e… ela me faz feliz.
— A baixinha de olhos brilhantes? — indaga me fazendo
soltar uma risada fraca.
Enxugo meu rosto com o dorso da mão e anuo, virando para
olhar para ele, que possui uma expressão serena. Júlio é uma das
pessoas mais tranquilas que já conheci, sua esposa Paula, por outro
lado, é agitada e animada como meu amigo era.
— Sim. Ela mesma.
— A vi algumas vezes quando fui a casa de seus pais —
comenta — E por que se sente mal por estar feliz?
Volto a olhar para o anjo quando respondo sua pergunta com
sinceridade, me lembrando das palavras do meu pai. Um passo de
cada vez.
— Estar feliz me parece tão injusto e egoísta com ele, com
vocês.
— Você viver a sua vida não significa que vai esquecer o
quanto sua amizade com meu filho foi importante. Ele sempre vai
estar aqui, — Júlio aponta na direção de meu coração — em
momentos felizes, alegres, tudo que você e ele viveram sempre
estará aqui. Não deixe que aquela noite roube mais do que ela já
roubou, Dante. Não deixe que aquela noite roube mais uma vida, a
sua vida. Carlos odiaria isso.
— Ele provavelmente me daria um tapa na nuca me
chamando de bunda mole unido a um belo sermão — comento e
sorrimos fracamente — Me perdoe por ter fugido todos anos todos.
Por não ter ficado ao lado de vocês — digo olhando em seus olhos
— Eu passei esse tempo todo me culpando por tudo, que acabei
sendo um egoísta com a dor de vocês. Eu perdi um amigo, mas
vocês perderam um filho, um irmão. Eu sinto muito.
Meu coração se aperta e sinto meus olhos arderem
novamente o choro retorna.
— Me per-perdoe. Eu sinto mui-muito — minha voz soa
trêmula, embargada, não conseguindo mais me conter — E-eu si-
sinto ta-tanto, Jú-Júlio. Sinto… si-sinto muito…
— Você não precisa pedir perdão, Dante — diz me puxando
para um abraço de lado, me fazendo encostar a cabeça em seu
ombro — Você também foi uma vítima da fatalidade que foi aquela
noite.
Ficamos assim por alguns minutos, até eu me acalmar.
Quando me afasto, Júlio começa a falar, olhando para o anjo do
vitral à nossa frente.
— Algo que eu aprendi nesses dois anos foi que perder
alguém é como enfrentar tempestades. As nuvens escuras são as
lembranças que vão se formando em nossa mente, às vezes elas
veem devagar, outras tão rápido que não conseguimos prever
quando está a caminho. E então, a tempestade chega, trazendo
lágrimas e gritos de dor, que são os nossos trovões. Parece que ela
nunca vai passar, mas ela passa, ainda que demore ela passa. E
assim a gente vai vivendo a vida, às vezes tendo chuvas mais
fortes, outras mais amenas. Então Dante, — vira-se para mim,
apertando meu ombro — fique em paz e viva, apesar das
tempestades e dos trovões que a saudade do meu filho lhe causa.
Viva, por Carlos e por você.
— Seu filho da mãe! — Matteo exclama assim que a porta do
elevador se abre, caminhando até Dante — Nunca mais faça isso!
— ralha apontando um dedo na cara do irmão — Você está de
castigo, não pode sair por um mês! — o encara por dois segundos,
mas logo puxa o irmão para um abraço apertado.
Já passava das oito da noite. Depois que ele, Henrique e
Beatrice chegaram aqui, ligamos para todos os conhecidos da
família e ainda que relutantes, avisamos seus pais que vieram para
cá o mais rápido que podiam.
No exato momento em que eles cruzaram a porta do
elevador, a senhora Beatriz e Matteo receberam mensagens de
Paula e Júlio, respectivamente, avisando que Dante estava com o
pai de Carlos.
Todos ficaram aliviados e surpresos, por saberem que ele
tinha ido visitar o túmulo do melhor amigo falecido.
Sentada no sofá, observo Dante cumprimentar e abraçar um
a um. Suas roupas estão amassadas como se ele tivesse se
molhados e deixado as secas no próprio corpo, seu rosto está
vermelho assim como seus olhos levemente inchados, como se
estivesse chorado nas últimas horas.
Quando seu olhar encontra o meu, sorrio de lado, suspirando
aliviada.
Nunca fiquei com tanto medo na vida.
— Grazie a Dio! — senhor Vincenzo diz olhando para o céu.
— Você está bem, fratello? — Beatrice pergunta.
— Estou, Bea. — Beija o topo de sua cabeça com carinho.
— Ficamos preocupados com você, cara — Henrique
comenta.
— Me desculpem. — Ele passa a mão no cabelo molhado,
soltando um longo suspiro como se estivesse cansado.
— Você precisa tirar essas roupas e tomar um banho, querido
— sua mãe fala segurando seu rosto entre as mãos.
Com os olhos em mim, ele me chama: — Ana?
Meu nome saiu como um convite íntimo e não demorou mais
do que três segundos para que seus pais percebessem o significado
que ele tinha. Ambos viraram o rosto em sincronia na minha direção,
me encarando com os olhos arregalados.
Assim que eles chegaram aqui, ninguém comentou sobre
meu relacionamento com Dante e pelo nervosismo não
questionaram o que eu estava fazendo na casa do meu chefe em
um sábado a tarde.
Antes que eles possam falar algo, levanto-me e vou até ele,
caminhando apressada. Quando estou em sua frente, envolvo meus
braços em sua cintura e descanso minha testa em seu peito. Dante
logo retribui o abraço me apertando com força.
— Eu fiquei com tanto medo — confesso baixinho, deixando
algumas lágrimas rolarem por minhas bochechas.
— Estou bem, amore mio. — Beija meu ombro, enterrando o
rosto no vão de meu pescoço e eu finalmente, relaxo em seus
braços — Scusi.
— Cazzo! — senhor Vincenzo exclama atrás de mim soltando
vários palavrões um atrás do outro tão rápidos que não consigo
entendê-los.
— Puta que pariu! — sua esposa brada.
— Olha a boca, mamãe! — Matteo ralha e não preciso me
virar para saber que ele tem uma expressão brincalhona em seu
rosto.
Dante se afasta e deixa um beijo sutil em meus lábios, antes
de me virar com carinho, segurando minha cintura ao anuncia: —
Estamos juntos.
— Vincenzo, ganhamos uma nora! — exclama levantando as
mãos para o alto, emocionada — Finalmente ganhamos uma nora!
Então ela nos abraça, sorrindo e repetindo o quanto está feliz
por estarmos juntos.
— Eu sempre soube, — começa a falar quando se afasta,
sua mão direita segurando minha bochecha e a outra a de Dante —
que seríamos mais que chefe e funcionária. Somos sogra e nora
agora! — duas lágrimas escorrem de seus olhos, mas logo às seca,
voltando sua atenção ao seu filho — Você está bem? — pergunta
cheia de preocupação.
— Estou, mamma — garante e pela primeira vez desde que
nós nos conhecemos, sinto que agora ele realmente está sendo
verdadeiro.
— Vamos deixá-los sozinhos — senhor Vincenzo sugere se
aproximando para nos dar um abraço — Estou feliz por vocês.
Qualquer coisa nos ligue — pede e assentimos, depois olha nos
olhos de Dante ao perguntar — Stai bene, bambino?
— Sí, babbo — responde e trocam um abraço demorado.
Antes de se afastar, seu pai diz algo em italiano baixinho que eu não
consigo entender.
Depois que se despediram, com Matteo me pedindo para
cuidar de seu irmão, em silêncio, Dante e eu caminhamos de mãos
até o seu quarto.
Ele entra no banheiro e solta minha mão ao ir para o box se
sentar no batente que há ali, encostando sua cabeça na parede,
Dante fecha seus olhos quando solta um longo suspiro. Caminho
até ele e começo, sem dizer uma só palavra, a tirar suas roupas.
Agradeço por ele não tentar me impedir.
Primeiro desabotoo sua camisa, fazendo um carinho em seu
peito quando já está descoberto e depositando um beijo na parte em
cima de seu coração. Dante estremece, mas continua quieto, sua
respirando ficando acelerada como se ele estivesse buscando
forças para fazer algo que exigisse muito dele.
Deslizo as mangas por seus ombros, braços e a deixo de
lado, depois desfivelo seu cinto e abro o zíper de sua calça, ele me
ajuda levantando o quadril e eu puxo a peça com cuidado por suas
pernas, meus olhos dançam entre o trabalho de minhas mãos e seu
rosto, atenta a todas as suas feições e reações.
Quando termino, deixando a peça em cima de sua blusa, vejo
a pele de sua coxa direita ao redor do encaixe da prótese, vermelha
como se ele estivesse batido. Me contenho e não pergunto nada,
por agora. Ao invés disso, deposito beijos com carinho na região por
alguns segundos, o sentindo estremecer com o toque dos meus
lábios.
Então, me afasto para me livrar da última peça. Estou
enfiando meus dedos no cós de sua cueca boxer preta, quando
suas palavras me fazem parar o trabalho de minhas mãos.
— Eu amo minha assistente.
Engulo a seco, sentindo meu corpo todo tremer.
Levanto meu olhar, lentamente até o seu e puxo o ar com
força quando ele repete sua declaração, dessa vez de forma direta.
— Eu te amo, Ana.
Entreabro os lábios sem conseguir dizer nada. Fico ali,
abaixada à sua frente, meus olhos fixos nos seus, calada e
completamente anestesiada por vários segundos, talvez minutos,
sem conseguir esboçar nenhuma reação.
Dante roça seus lábios nos meus, depositando um beijo na
ponta de meu nariz e leva suas mãos até a minha nuca, puxando a
faixa do meu vestido, desmanchando o nó que havia ali. A peça cai,
deixando meus seios à mostra.
Ele beija o vão entre eles e sussurra contra a minha pele: —
Eu quero te amar sem medo. Quero ser seu, com todo o meu
coração. Quero te fazer feliz como você me faz. Quero fazer planos
com você e não me sentir culpado por desejar isso, por viver isso.
Saio do transe em que me encontro, com suas palavras
dançando em minha mente.
Levo minhas mãos até seus cabelos e passo meus dedos ali,
alisando os fios com carinho, sentindo meu coração se expandir ao
finalmente falar o que sinto por ele.
— Eu também te amo, Dante.
— Eu preciso de você — murmura e me surpreende ao me
segurar pela cintura, me puxando para me sentar de lado em seu
colo.
Então, Dante começa a chorar me apertando forte.
Tenho que confessar, eu nunca havia visto um homem chorar
assim, pelo menos não ao vivo. A única figura masculina que eu
tinha na vida era meu irmão. Miguel e eu nos dávamos muito bem,
mas ele sempre foi muito reservado em relação às suas emoções. A
única vez que o vi emotivo ou perto de chorar, foi quando nossa
mãe passou mal devido a alguns problemas de saúde, quando eu
ainda tinha dezesseis anos. Meu pai abandonou nossa família assim
que completei dois anos de vida e nunca mais tivemos notícias dele.
Depois do meu irmão, os homens que conheci sempre
transpareceram serem durões e cansei de ouvir de suas bocas que
homem de verdade não chora. Mas agora, vendo o homem que amo
chorar sem pudor, vergonha ou medo, aqui, bem na minha frente me
faz admirá-lo ainda mais.
Eu amo o fato de Dante não ter masculinidade frágil. Ele não
se incomoda em expressar suas emoções e nem seus sentimentos.
Arrisco-me a dizer que ele consegue ser mais sensível que eu. Na
verdade, ele é mais sensível, mais carinhoso e atencioso que eu,
que tenho a delicadeza de um elefante.
Deixo que ele tome o tempo que necessita, o abraçando e
dizendo em seu ouvido que estou aqui.
Quando finalmente fica mais tranquilo, afasto-me apenas o
suficiente para segurar seu rosto e secar suas lágrimas.
— Melhor? — procuro saber.
— Sim, obrigado — diz.
— Eu sempre estarei aqui — afirmo beijando a ponta do seu
nariz como ele costuma fazer comigo — Porque eu te amo. — Beijo
seus lábios — Eu te amo muito.
Ele fica em silêncio, apenas me olhando. Encosta sua testa
na minha, segura meu rosto e fala antes de me beijar: — Eu te amo
mais, amore mio.
E ficamos assim, abraçados, nos beijando e nos tocando por
longos e maravilhosos minutos.

Depois do nosso momento no banheiro, tomamos banho e


saímos, ele usando apenas uma calça de moletom preta e eu
enrolada em seu roupão.
Deitados na cama, um ao lado do outro com as costas
apoiadas na cabeceira, Dante me conta tudo que aconteceu com ele
nas últimas horas e tudo que tem passado durante os últimos anos
após o acidente.
Disse que bebeu demais na noite anterior e quando acordou
hoje pela manhã, estava decidido a ir ao cemitério, porém passou
algumas horas trancado no carro antes de finalmente criar coragem
e sair.
Compartilhou comigo tudo que aconteceu naquela noite na
Itália, com riquezas de detalhes, meu coração se apertando a cada
palavra sua, chorando baixinho junto a ele. Falou que decidiu não
beber já que seria ele quem dirigiria, pois sempre prezou pela
segurança principalmente depois que sua tia Aurora, mãe de seu
primo Enrico morreu atropelada por um motorista alcoolizado.
Contou que o motorista do caminhão que atingiu o carro em que ele
e o amigo estavam, dormiu e acabou perdendo a direção do veículo.
Hoje, o motorista está preso pagando fiança.
Quando acordou no hospital, dois dias depois, soube da
morte de Carlos e não conseguiu encarar sua família fugindo deles
desde então. Contou-me que todo o funeral foi providenciado e
planejado pelo senhor Vincenzo, inclusive o translado do corpo do
amigo da Itália para o Brasil.
Por fim, me disse que Júlio o encontrou na sepultura de seu
filho, o chamando para ir a uma capela ali, no próprio cemitério.
Sem conseguir mais fugir, ele aceitou e conversaram por quase uma
hora. Depois, foram até a casa dele, onde encontraram Paula,
Bianca e Ricardo, mãe e irmãos mais novos de Carlos.
Dante disse que não se sentia mais tão cansado a cada
palavra que trocava com os pais de seu melhor amigo, que o
trataram como sempre, deixando claro que não o culpavam por
nada do que havia acontecido.
Não querendo incomodar mais, principalmente no dia de
hoje, Dante pediu um carro, haja vista que deixou o seu próximo do
cemitério, e voltou para casa.
— Eu estava no automático até você chegar e me mostrar
que posso ser feliz. Isso me assustou, me fez pensar que eu estava
sendo egoísta. Me fez pensar que eu não merecia tanta felicidade,
quando meu melhor amigo não está mais aqui para viver a sua —
completou segurando minha mão
— Dante, eu não consigo imaginar o quão difícil foi para você
passar por tudo isso e ainda perder alguém que você tanto amava.
Infelizmente, tragédias acontecem com pessoas boas e ... não há
nada a ser feito. Você foi uma vítima e eu sei que jamais vai
esquecer o que aconteceu. Mas meu amor, você tem duas opções:
ou acorda todos os dias disposto a lutar e viver sua vida fazendo o
melhor que pode ou passa o resto dos seus dias se lamentando,
sofrendo, desperdiçando a vida. A vida que lhe foi dada pela
segunda vez — solto tudo enquanto ele me observa atentamente,
inspirando e expirando vagarosamente.
— Agora eu consigo ver melhor — assente — Me desculpe
por estar distante nas últimas semanas.
— Eu entendo. Está tudo bem agora — asseguro.
— Você precisava ter visto como eles, os Ferreiras, estão
fortes e… mais unidos do que eu me lembrava — comenta com
orgulho, secando algumas lágrimas com o dorso da mão livre —
Ainda que Ricardo, o caçula, parecia querer me expulsar de sua
casa.
— Por que acha isso?
— Talvez eu tenha tido essa sensação porque o abracei tão
forte quando o vi, por me fazer lembrar tanto do irmão quando mais
novo.
— Gostaria de ter conhecido ele — digo com carinho.
— Quero te mostrar uma coisa — fala virando o corpo para
fora da cama e coloca sua prótese ao se levantar, andando até o
closet.
Momentos depois ele retorna, segurando uma caixa preta
pequena, nas mãos. Dante a coloca sobre o colchão e se senta,
retirando a tampa.
— Antes de voltar para casa, separei todas essas coisas que
encontrei no meu antigo quarto lá na casa dos meus pais. Não sei
bem porque fiz isso já que nunca mais desde esse dia eu as vi, mas
acho que é uma boa forma de você conhecer meu melhor amigo.
Meus olhos varrem todo o conteúdo que existe ali, variando
entre fotos com o melhor amigo e suas famílias, em vários
momentos. Praia, escola, jantares na casa dos Fontana. No entanto,
alguns papéis brancos dobrados no fundo me chamam a atenção.
— O que são? — pergunto apontando para eles.
Dante sorri e os pega, colocando sobre meu colo ao
responder: — Carlos tinha uma mania peculiar. Ele era a pessoa
mais positiva que já conheci e odiava brigas. — Sorri ao falar como
se as lembranças estivessem frescas em sua mente — Por esse
motivo ele costumava escrever cartas quando estava com raiva.
Dizia que assim, ele não magoava as pessoas e que depois que as
escrevia, as palavras amenizavam os sentimentos ruins e
simplesmente passavam, não tendo a mesma importância de antes.
Guardei as mais icônicas.
— Todas elas são de momentos em que ele ficou com raiva
de você? — questiono curiosa com a quantidade.
— Algumas sim, outras não. Essa por exemplo, — ele pega
um dos papéis que está em meu colo e o abre — é de quando ele
ficou com raiva de Matteo, por ele ter dado a Carlos um apelido que
ele não gostou. O apelido surgiu quando meu amigo se deu mal em
uma prova.
Dante vira o papel para que eu o leia.
"Querido Matteo,
eu estou com muita raiva de você, seu italiano maluco. Eu
arrancaria suas bolas se o visse agora na minha frente com esse
seu sorriso zombeteiro. Meu sobrenome é Ferreira, droga. Pare de
me chamar de Ferrado antes que Melissa saiba e eu não tenha mais
uma chance com ela."
— Melissa era uma menina da nossa escola por quem ele era
apaixonado — Dante esclarece.
— Ela descobriu sobre o apelido?
— Sim. O próprio Matteo contou a ela. Ele sempre foi um
fofoqueiro — diz e rimos — No final, Carlos e ele ficaram com a
menina, antes dela se mudar para outra cidade.
Dante pega outra carta e a lê para mim.
"Querido Dante,
seu italiano metido a brasileiro, se você chorar toda vez que não
ganharmos uma partida de futebol, eu vou chutar a sua bunda e
contar para a professora de biologia que você colou de mim na
prova no fim do semestre."
Solto uma risada e pego outra, lendo em voz alta.
"Querido Dante,
caralho! Eu vou te matar, seu filho da puta! Que tia Beatriz
me perdoe, mas porra italiano. Porque você não me avisou que
aquela maluca da Verônica invadiu a festade aniversário que vocês
fizeram para Henrique? Ela tem sorte que eu odeio brigas e estou
do outro lado do país. Não deixem ela se aproximar dele e se
aquele loiro tiver uma recaída, a gente interna o cara."
— Quem é Verônica? — pergunto.
— Ex do Henrique. Eles namoraram por um tempo, mas ele
não costuma falar muito sobre o assunto. Foi um relacionamento
conturbado.
Anuo deixando minha curiosidade de lado, focando em ler
cada carta que Carlos escreveu, com Dante a postos, me contando
a situação, na maioria das vezes, engraçada em que elas foram
escritas.
Sorrindo, pela história da última que ele leu para mim, noto
uma foto dentro da caixa, onde Dante está usando uma camisa da
seleção italiana e Carlos usando uma do Brasil. Ambos estão
fazendo sinais descontraídos com uma das mãos, seu amigo
estampando um sorriso daqueles genuínos para a câmera,
enquanto Dante sorri de um jeito mais tímido, no entanto é possível
notar a felicidade em seus olhos assim como no semblante do
amigo.
— Ele era muito bonito — comento admirando a fotografia.
Carlos possuía cabelos pretos, sobrancelhas grossas escuras
e expressivas, e a linhas de expressões ao redor de seus lábios e
olhos demonstram que ele era uma pessoa bastante expressiva.
— Com certeza eu teria dado um soco nele por dar em cima
de você — brinca.
— Como tem tanto certeza de que Carlos daria em cima de
mim?
— É algo que ele faria, só para me perturbar — fala me
fazendo rir.
Uma ideia passa pela minha mente e penso por alguns
segundos se devo ou não sugeri-la a Dante. Decido que talvez
possa ajudá-lo de alguma forma, afinal.
— Você deveria escrever para ele.
— Escrever para… Carlos? — indaga confuso.
— Sim. Minha mãe sempre diz que quando as pessoas se
vão de um jeito tão inesperado, sempre há algo que queríamos ter
dito e talvez, escrever para elas, ajude.
Dante pondera por alguns antes de dizer: — Posso tentar
algum dia.
— Quando você achar melhor.
Nos próximos minutos, Dante me mostra e conta as histórias
por trás de cada foto. Ao final da nossa conversa, ele guardou a
caixa em seu closet e voltou para a cama, me puxando para deitar
em seus braços.
Fechei os olhos me sentindo feliz por finalmente ter tido a
oportunidade, ainda que de um jeito peculiar, de conhecer seu
melhor amigo.
Adorei conhecer você, Carlos.
Passo meus dedos pelo rosto de Ana, o rosto que nunca
deixou meus pensamentos desde que o vi pela primeira vez,
contornando cada pedacinho dele, admirando o quanto ela é linda.
Desde que tivemos nossa primeira noite juntos naquela
viagem ao Rio, eu passei a amar observá-la dormindo.
Depois da conversa que tivemos no sábado onde lhe contei
tudo que me assombrava, além de ter dito que a amava, ficamos
todo o domingo juntos, assistindo filmes e conversando mais sobre
minha amizade com Carlos.
Respondi todas as suas perguntas e a cada uma delas,
esperei que aquele sentimento de culpa e revolta viessem com
força, como antes. No entanto, apenas a saudade chegou, e essa
eu sei que não iria embora. Nunca, mas como Júlio me disse, perder
alguém que amamos é enfrentar constantes tempestades e eu
precisava me preparar para elas.
Passei o dia pensando em algo que minha família e os
médicos sempre insistiam para que eu fizesse, porém nunca dei
muita bola, no entanto, sei que agora, se quero construir um futuro
com a mulher que amo, preciso dar esse passo.
Passo meu polegar nos lábios abertos de Ana e solto uma
risada ao ver um pouco de baba ali. Ela é linda, mesmo dormindo
com a boca aberta e os olhos, vez ou outra abrindo sutilmente.
O som de minha risada faz ela se mexer, se espreguiçando,
seu corpo se esticando, fazendo o lençol escorregar por seus seios
nus, seus mamilos rosados me dando olá. Deposito um beijo em
cada um deles e ela estremece, gemendo baixinho ao abrir os
olhos.
— Você me observa enquanto estou dormindo? — pergunta
virando o rosto para mim, ainda deitada, só que agora de bruços,
suas bochechas estão com marcas do lençol, seu cabelo está
embolado no alto. Ana está uma bagunça, mas uma bagunça linda
demais. A minha bagunça perfeita!
— Você é linda dormindo, amor.
— Você está me zoando. Eu fico feia quando estou dormindo.
Me babo todinha e meus olhos se mexem como se eu estivesse
possuída.
Rio da careta que ela faz e beijo a ponta de seu nariz.
— Pedi para pegarem algumas roupas e sapatos seus em
seu apartamento. Bárbara quem as separou — comunico.
— Que aquela fanfiqueira debochada não tenha colocado
minhas calcinhas beges de vovó — diz e rimos — Como você está
se sentindo? — quer saber e soa preocupada.
Solto um suspiro.
— Mais aliviado do que achei que estaria. Na verdade,
gostaria de lhe falar algo que decidi — disparo e Ana fica séria,
sentando-se com as costas apoiadas na cabeceira, me olhando com
atenção — Vou começar a fazer terapia — solto — Acredito que vá
me ajudar.
— Claro que vai. Conte comigo, meu amor. — Sorridente ela
anui me incentivando com sua feição carinhosa, sendo dirigida a
mim — Sabe, — pondera por um momento antes de continuar —
acho que também vou fazer terapia. Acho que tenho dupla
personalidade.
— O quê?
— Dentro de mim Dante — começa, como se estivesse
contando uma história em uma roda de amigos no meio da floresta
— vive uma Ana... uma Ana tarada. Ela me faz querer agarrar você
todo tempo.
— Ana tarada? — mordendo o interior de minhas bochechas,
prendo o riso, curioso com a conclusão de sua fábula.
— É. Ela quem ama sua bunda. Ah sua bunda... — solta um
longo suspiro e inclina a cabeça para o lado.
Fico em silêncio, a vendo sorrir, me sentindo completa,
perdida e fodidamente apaixonado por ela.
— Eu te amo.
Seu sorriso aumenta e ela confessa com seus olhos
brilhando, enquanto fala olhando nos meus: — Eu te amo mais.

De banho tomado e vestidos apropriadamente para irmos


trabalhar, descemos as escadas de mãos dadas. Quando estamos
próximos à entrada da cozinha, Rosa solta um grito ao nos ver.
— Mãe de Deus! — exclama levando as mãos ao peito.
— Desculpe. Não queríamos assustar a senhora. — Ana se
aproxima preocupada — Você está bem?
— Estou. Só peguei um susto por ver o menino com uma
mulher — responde de forma sincera me fazendo sorrir e Ana corar.
Aproximo-me dela, lhe dando um beijo na testa e faço as
apresentações.
— Essa é Rosa, a responsável por cuidar de toda a
organização por aqui. Rosa, essa é Ana Laura, minha…
— Sua assistente — completa — Eu me lembro dela. Me
lembro muito bem dela. Você trabalhava com dona Beatriz, certo?
— Sim — Ana responde simplesmente — É um prazer
conhecê-la. Dante sempre falou da senhora com muito carinho.
— Nossa, você é muito bonita — comenta analisando o rosto
da mulher a sua frente — Mais bonita do que por foto.
— Obrigada.
— Então, — a senhora começa, semicerrando os olhos entre
nós dois — você vem mais vezes por aqui?
Solto uma risada, passando meus dedos no meu lábio
inferior, rindo da sutileza que Rosa tem ao investigar sobre nós dois.
Abraço por trás, a baixinha que tem meu coração, repousando meu
queixo em seu ombro e respondo, sendo direto com a mulher que
nos encara com expectativa: — Estamos juntos, Rosa. Juntos pra
valer, então sim, Ana estará por aqui com frequência.
Olho para as chaves na minha mão e torno a encarar meu
carro adaptado, que meus pais me deram um ano depois do
acidente. Não sei quanto tempo fico assim até que o barulho de uma
buzina me faz sair do transe. Viro o rosto para ver um dos sócios
saindo para fora da garagem da empresa, acenando para mim.
Devolvo o cumprimento e volto minha atenção para o objeto em
minhas mãos.
Ainda eram dez e meia da manhã, e se eu quisesse mesmo
comprar uma torta na doceria favorita de Ana, para ela comer após
o almoço, precisaria ir agora, se não todos os compromissos depois
do almoço atrasariam. Isso definitivamente era a última coisa da
qual eu gostaria, principalmente porque o evento de caridade
aconteceria no próximo final de semana.
Logo depois que tomamos nosso café da manhã divertido,
com Rosa eufórica por eu estar finalmente com uma mulher dizendo
a Ana que ela pode deixar suas roupas espalhadas pela cobertura,
enviei uma mensagem a Arthur dizendo que a senhorita Moraes
estava em meu apartamento. Em poucos minutos ele já estava nos
aguardando para nos trazer até aqui.
Assim que chegamos, agimos com profissionalismo até
alcançarmos nosso andar e adentramos em minha sala, onde
trocamos beijos quentes e palavras de amor. Ouvir ela dizendo que
me ama, era a melhor coisa que eu já tinha escutado na vida.
Algumas horas depois, enquanto avaliava alguns
documentos, senti vontade de lhe presentear com algo que sei que
gostaria, sua torta favorita me veio à mente, todavia, algo nesta
manhã de segunda-feira tinha começado a mudar em mim, algo que
me fazia sentir que eu estava pronto para — finalmente — enfrentar
todos os medos, aqueles que a fatídica noite de mais de dois anos
atrás havia deixado em mim. Dirigir era um deles.
Senti uma vontade imensa de ir eu mesmo até a loja em que
tivemos nosso primeiro encontro — que não ficava muito distante —
e ter a sensação de comprar algo para a mulher que eu amo. Por
esse motivo, disse a Ana que precisaria sair, mas que ela não
precisaria ir comigo. Ela ficou desconfiada, mas assentou.
Liguei para uma empresa trazer meu carro até aqui, haja
vista que o tinha deixado em uma rua próximo ao cemitério no
sábado. Por algum motivo, eu havia pegado a chave do mesmo pela
manhã, enquanto Ana terminava de se arrumar.
Ontem eu resolvi dirigir até o cemitério, por um atoo
imprudente, hoje escolho fazer isso para provar a mim mesmo que
consigo. Eu consigo!
Aperto o alarme e abro a porta, me sentando no banco do
motorista. Coloca as mãos ao redor do volante e fecho os olhos,
puxando e soltando a respiração com calma cinco vezes.
Um passo de cada vez, Dante.
Um passo de cada vez.
É assim que se fazem os recomeços.
Apenas, recomece!
Abro os olhos e com a mão um pouco trêmula, coloco a
chave no contato e a giro, o som do motor soa me fazendo
estremecer.
— Um passo de cada vez — murmuro para mim mesmo —
Recomece, Dante. Recomece.
Mesmo sentindo um desconforto no peito, não deixo que isso
me detenha. Continuo fazendo baliza para sair da vaga. assim que
deixo o carro de frente para a saída, puxo o ar novamente e solto
devagar.
Recomeço…
Então, acelero abandonando a garagem, completamente
alerta, concentrado em tudo ao meu redor quando faço a curva para
a direita entrando na avenida movimentada.
Buzinas, barulhos de obra, música, conversas… estou atento
a tudo à minha volta.
Paro em um sinal vermelho, meus dedos fechados com força
ao redor do volante. A cada metro que percorro, coragem se instala
em mim, uma coragem que a muito tempo não sentia. Permito-me
então relaxar no banco.
Fecho meus olhos por um segundo e sorrio, orgulhoso de
mim mesmo. Quando os abro, meu olhar captura a imagem de um
homem atravessando a rua e não consigo deixar de me sentir mal
por ter sido tão ingrato nos últimos anos.
O homem, que aparenta ter um pouco mais de trinta anos e
assim como eu, não possui parte de sua perna direita, tenta com
dificuldade se locomover se equilibrando em uma muleta velha e
surrada.
O observo por cinco segundos e não sei bem ao certo o
porquê, puxo o freio de mão e saio do carro, indo até o estranho que
arregala os olhos quando me vê, demonstrando saber quem sou.
Antes que ele fale algo, tiro da carteira um cartão com meu nome e
telefone pessoal, e peço que me ligue pois tenho interesse em
ajudá-lo.
Incerto ele assente e eu me despeço, retornando para o
carro.
Antes que o semáforo abra, rapidamente busco meu celular
em meu bolso e envio uma mensagem para Matteo e Henrique,
avisando que preciso que me encontrem hoje na empresa, para que
me ajudem em um novo projeto, frutas da ideia que acabei de ter.
Ambos perguntam se está tudo bem e eu trato logo de
respondê-los que sim, esclarecendo que minha urgência em me
reunir com eles é por um bom motivo. Um ótimo motivo, na verdade.
— Como mio fratello está? — Beatrice pergunta enquanto
caminhamos pelo shopping.
Hoje à noite era a festa para arrecadar fundos e a italiana
teve a ideia de saímos para fazer compras. Bárbara veio conosco,
pois Bea fez questão de convidá-la para o evento do La Fontana
restaurante.
— Ele está bem. Começou a fazer terapia. Vez ou outra,
quando o vejo olhando para o nada, sei que está pensando no
amigo. Mas agora, ele conversa comigo — digo com sinceridade.
— Fico tão feliz em saber que ele tem você. Grazie por cuidar
dele, cara mia. — Me olha com carinho.
— Eu amo seu irmão. Faria qualquer coisa para vê-lo bem.
— Sei que sim, cunhada. — Balançando suas sobrancelhas
para mim, sorri de forma gentil. É a primeira vez que ela me chama
assim, ainda que Dante não tenha me pedido em namoro
oficialmente. Dizer que me ama, conta, não conta?
Andamos um pouco mais, observando as vitrines a procura
de algo que nos agrade.
— Dante e os meninos têm se encontrado mais vezes do que
o normal nos últimos dias — comento depois que saímos de uma
loja.
No início da semana, Dante me surpreendeu com minha torta
favorita um pouco antes do horário do almoço. Sorrindo feito um
menino, ele entregou a embalagem da doceria em que tivemos
nosso primeiro encontro e disse que ele foi direitinho até lá para
comprar um presente para a mulher que ama.
Arregalei os olhos, sentindo meu peito enchendo de orgulho
por ele estar enfrentando seus medos. Não preciso dizer que me
levantei da cadeira de minha mesa e o abracei, dessa vez sem me
importar com mais nada. Eu podia tocar nele inteiro, ele era meu!
Porra, o presidente delícia da bunda bonita é meu!
— Dante me disse que estão preparando uma surpresa para
hoje. Algo grande.
— Estou animada! — Bárbara exclama batendo palminhas —
Nunca fui a um evento de uma empresa tão importante.
— Se estivesse com Matteo, sua agenda seria cheia desses
eventos — Bea provoca, lançando um olhar divertido para nossa
amiga que logo reviro os olhos com as palavras.
— Seu irmão me irrita! — declara.
— Mas você o quer. Eu sei, já notei que fica o encarando
enquanto ele não está vendo. Fica babando nele.
Bárbara bufa.
— Você que fica babando no advogado loiro — debocha —
Se bem que, — finge pensar — Henrique é lindo.
— Você precisava ter visto como ela ficou hipnotizada por ele
no voo de volta para São Paulo quando fomos ao Rio. Não sei como
Matteo e Dante não perceberam — comento.
— Homens. — Bea dá de ombros — E diferente de você —
aponta para nossa amiga — não tenho problema nenhum em
admitir que eu quero Henrique. Cazzo, eu quero muito dar pra ele.
Soltamos uma risada com a expressão que ela faz, apertando
suas mãos contra o peito e mordendo o lábio inferior.
— E sei que ele também me quer. Mas tem receio do que
meus irmãos possam fazer — bufa — Uma noite de sexo não ia
mudar nada. Seria só… sexo.
— Vocês poderiam se apaixonar — Bárbara aponta.
— Não. Definitivamente não. Gosto de ser solteira e me
apaixonar não está nos meus planos.
— Vocês formariam um lindo casal — comento.
— Lindo mesmo seria sentar naquele homem com ele
entrando em mim. — Sorri maliciosamente.
Bárbara e eu nos entreolhamos rindo.
Depois de algum tempo, finalmente encontramos uma loja
que tinha o que todas nós procurávamos. A vendedora que nos
atendeu era simpática e não parava de sorrir feito o coringa para
Beatrice, demonstrando saber muito bem quem ela era.
Bárbara ficou apaixonada logo de cara por um vestido preto
com duas faixas transpassadas na parte da frente que deixava
bastante pele à mostra. Beatrice encontrou um vestido vermelho de
seda com alças finas sexy pra caramba, com uma fenda muito
generosa, que deixou seu corpo ainda mais lindo. E eu, me encantei
por um vestido rosinha claro tomara que caia rendado. Ele é lindo e
transmite exatamente a vibe em que eu me encontro há semanas.
Apaixonada e romântica!
Depois de escolhermos nossas roupas, fomos procurar
sapatos, bolsas e acessórios. Quando terminamos já passava do
meio-dia, então seguimos para o almoço.
Beatrice marcou uma tarde de princesa para nós três, com
direito a spa e tudo. O salão ficava um pouco afastado do shopping,
mas o trânsito estava relativamente tranquilo por ser final de
semana. Estávamos no carro de minha cunhada. Depois iríamos
para o apartamento onde Bárbara e eu moramos, para nos
arrumarmos, e então encontrar os demais no apartamento de Dante.
Ao chegarmos no salão, somos muito bem recepcionadas
pelos funcionários, que já conheciam Beatrice. Foram entregues a
nós, robes e assim seguimos alegremente, sorrindo de orelha a
orelha, a proprietária do lugar, quem nos levou até uma sala de
massagem.

— Eu nunca tinha recebido uma massagem, pelo menos não


tão boa assim. Acho que estou viciada — Bárbara fala se sentando
na maca e ajeitando seu robe, depois que as massagistas saíram.
— Podíamos fazer isso uma vez por mês. O que acham? —
sugiro e as duas concordam sorrindo. — E você, Bea, já decidiu
qual dos apartamentos que visitamos vai comprar?
— Sim. Eu gostei do último que vimos.
— Aquele que é uma cobertura com a varanda
compartilhada? — falo.
— Esse mesmo.
— E se o seu vizinho for um velho safado e tarado? —
Bárbara fala soando preocupada.
— Eu espero que ele seja um gostoso safado e tarado —
responde e rimos — O síndico e o proprietário me garantiram, que
todos os moradores são rigorosamente fiscalizados e que a maioria
são pessoas conhecidas e famosas. Tentei saber quem é o tal
vizinho, mas obviamente vai contra as normas — bufa.
— Já pensou se seu vizinho for um cantor famoso? — falo —
Ou um modelo, ou até mesmo um ator?
— Ele sendo homem, solteiro e gostoso para mim já está de
bom tamanho. Imagina acordar com a visão de um gostosão bem na
varanda ao lado? Seria um sonho — suspira.
— Quando pretende se mudar? — Bárbara questiona.
— Ainda vai demorar um pouco — suspira — Pretendo fazer
uma reforma no lugar antes. Nunca tive uma casa que fosse minha
de fato e quero que essa tenha a minha cara.
— Quanto tempo vai durar a reforma? — pergunto.
— O arquiteto ficou de me entregar o projeto do apartamento
daqui a uma semana. Caso eu aceite, a reforma durará mais ou
menos uns três meses. Eu contratei um supervisor de obra já
conhecido da empresa, ele ficará responsável por fiscalizar o
andamento da reforma sem que eu precise ficar indo até lá.
— Isso é ótimo! — falo — Ainda mais agora que terá que
planejar as alterações e mudanças no cardápio principal da
empresa.
— Sim. Estou super ansiosa para isso. Serão longos meses
de experiências e estou animada para pôr a mão, literalmente, na
massa.
— E sua família, quando pretende contar a eles? — Bárbara
indaga.
— Não quero que saibam até eu assinar o contrato e que o
apartamento esteja pronto. Talvez eles surtem pela varanda
compartilhada que ele tem, principalmente Dante que vai me alugar
com uma conversa de segurança e blá blá blá. Matteo vai querer
bancar meu guarda-costas e é bem capaz de chamar Henrique
também para me vigiar.
— Isso é coisa de família? Ser lindo e ciumento? — Bárbara
pergunta sorrindo.
— Você acha o Matteo lindo, então? — pergunto
maliciosamente.
— Hum, eu sabia que você tinha uma queda pelo mio fratello
da boca suja.
— Se vocês não fossem minhas amigas eu enfiava esse pote
de creme na goela de vocês. — Aponta para o recipiente ao lado de
sua maca e nós gargalhamos, soltando beijos e fazendo jeitos de
amassos — Vocês vão ficar rindo da minha cara, ou vamos terminar
de nos aprontar? —revira os olhos e cruza os braços.
— Vá Bene, ragazza.

— Vocês estão lindas! — Dante fala assim que a porta do


elevador se abre, caminho até ele que está apoiado no sofá da sala
— E você, mi amore, está maravilhosa. — Me abraça pela cintura
beijando meus lábios num selinho demorado.
— Você está muito lindo também com esse smoking — digo
sorrindo — Na verdade — aproximo-me de seu ouvido e sussurro —
acho que vamos terminar a noite sem roupas.
— Gostei da ideia — fala piscando para mim.
— Ok pombinhos — Beatrice diz batendo palmas — Onde B1
e B2 estão?
— Henrique está no escritório falando com sua prima Stella e
Matteo informou que chega em vinte minutos. Vai me mandar uma
mensagem avisando quando estiver na portaria do prédio. Disse
que preparou uma surpresa para nós.
— Medo do que esse doido esteja aprontando — Bárbara
comenta revirando os olhos e cruzando os braços.
— Preciso concordar com você, ragazza — Bea diz.
— Sorella, seu vestido não está mostrando demais? — Dante
enfatiza seu desagrado ao analisar a irmã com uma carranca no
rosto.
— Não começa — fala revirando os olhos.
— Estou com sede — Bárbara diz. — E com fome.
— Também estou — falo.
— Vamos à cozinha. Fiz alguns aperitivos — Dante diz e
concordamos.
— Preciso ir ao banheiro — Bea nos informa seguindo pelo
corredor. — Me esperem na cozinha. Não vou demorar.
— Você bem que podia não ter aceitado o plantão de hoje,
Stella — falo com minha prima que está do outro lado da ligação. —
Você trabalha demais, droga — bufo descansando minha cabeça no
encosto da cadeira do escritório de Dante.
Cheguei em sua cobertura mais cedo para que pudéssemos
ajustar alguns detalhes da surpresa para o evento de hoje, e assim
que ouvi a porta do elevador soar avisando que as garotas haviam
chegado, inventei uma desculpa para meu amigo e vim telefonar
para Stella, me sentindo sufocado só de pensar em ficar perto mais
uma vez de Beatrice.
Essa italiana me provoca a cada vez que nos vemos, mesmo
com seus irmãos presentes e me sinto fodidamente atraído por ela.
— Está com medo de ser atacado mais uma vez pela
italiana? — ela zomba.
Minha prima Stella é a única pra quem contei sobre minha
atração pela irmã dos meus melhores amigos, os mesmos que fiz a
porra de um juramento de que jamais me aproximaria dela com
segundas intenções. E caralho, minha mente e o meu pau tem
segundas, terceiras, infinitas intenções com a caçula dos Fontana,
intenções safadas e muito sujas.
— Já estou arrependido de ter contado isso a você — bufo.
— Pelo estado que você estava quando me contou, quando
ela voltava em definitivo para o Brasil, com certeza não aguentaria
mais guardar segredo. Você foi ao hospital às duas da manhã
enquanto eu estava de plantão alegando que estava com fortes
dores de cabeça — lembra.
Mais cedo naquele dia, dona Beatriz fez questão de me ligar
me convidando para o jantar que faria em boas-vindas para sua
caçula e que adoraria que eu fosse, enfatizando que sou família.
Jamais negaria um convite dela, a mãe de meus melhores amigos é
como uma mãe para mim, me trata como a minha nunca me tratou.
Até convidei minha prima para ir comigo, mas quando
estávamos prestes a sair, ligaram do seu trabalho para uma
emergência com um paciente. Stella Prado é neurocirurgiã no
Hospital Geral de São Paulo .
— Você nunca vai esquecer daquele dia, não é mesmo?
— Jamais. Você estava tremendo mais do que vara verde.
Nunca o vi com tanto medo. Nem quando você cortou o meu cabelo
escondido dos meus pais. — Gargalha em meu ouvido me fazendo
revirar os olhos — Queria ter visto ela te atacando na entrada da
casa dos Fontana.
Estou prestes a mandar minha prima tomar naquele lugar,
quando ouço a porta do escritório se abrindo. Viro meu rosto na
direção da entrada e meus olhos arregalam quando vejo a porra da
mulher que tem fodidaminhas duas cabeças sem nem me tocar.
— Beatrice — murmuro seu nome quando a vejo trancar a
porta atrás de si.
— Ciao, caro mio — diz me encarando como se eu fosse sua
presa, seus lábios se repuxando em um sorriso ladino.
— Ela está aí, não está? — Stella indaga pelo celular.
— Si-sim — balbuciou não consigo falar mais nenhuma
palavra.
— Puta que pariu! Você está fodido, meu primo! Mais fodido
do que eu pensei — começa a falar, entre risadas altas.
No entanto, conforme a italiana gostosa caminha lentamente
a passos sensuais se aproximando de mim, sem pressa, como se
estivesse me dando tempo para apreciar seu corpo, a fenda que há
no lado esquerdo de seu vestido vermelho sangue de seda, se abre
cada vez que ela se move, revelando boa parte de sua perna e
coxa, e sinto que vou enlouquecer, não consigo ouvir mais nada a
não ser sua voz e as batidas de meu coração que bate
descompassadamente dentro do peito.
À medida que se aproxima, sinto todo o meu corpo ficar em
alerta, como sempre fica quando estou em sua presença. Fecho a
mão livre que está sobre a mesa com força quando a diaba italiana
gira a cadeira para que eu fique de frente para ela, no exato
momento em que ouço a risada da minha prima avisando que vai
desligar.
Saio do transe, balançando a cabeça de um lado para o outro
em um movimento rápido, bloqueio a tela do meu celular o
colocando no bolso interno de meu smoking e forço uma tosse antes
de perguntar com minha voz saindo mais rouca do que planejei: —
O que você está fazendo aqui?
— Só vim saber sua opinião sobre minha roupa — aponta
para seu corpo — O que acha, Henrique? — vira ficando de costas,
empinando sua maldita bunda, virando o rosto pôr sobre os ombros
ao continuar — Estou bonita?
— Acho melhor irmos encontrar os outros — nervoso, faço
menção de me levantar, mas ela me impede, voltando a ficar de
frente para mim, colocando uma mão em cada braço da cadeira.
Beatrice inclina-se sobre mim, meus olhos são atraídos para
seu decote, seu vestido se afasta sutilmente de sua pele e observo
parte de seus seios, o que faz meu sangue entrar em ebulição.
Engulo em seco tornando a encarar seus olhos verdes, todavia, Bea
não deixa passar, sorrindo satisfeita ao indagar: — Gosta do que
vê?
Com certeza, eu gosto do que vejo.
— Bea, alguém pode aparecer — suplico olhando para a
porta, temendo que seus irmãos nos peguem em um momento
inadequado, que vai contra a promessa que fiz a eles há anos.
Droga de promessa maldita!
— Foda-se! — diz — Eu perguntei se você acha que estou
bonita e você ainda não me respondeu — leva sua mão direita até
minha nuca e puxa sutilmente meu cabelo. — Então... como eu
estou, caro mio?
— Porra! — praguejo com os dentes semicerrados,
aproximando meu rosto do seu ao falar — Você está gostosa pra
caralho! Você é gostosa pra caralho, Bea.
— Melhor! — diz descendo a mão, que está em meu cabelo,
por meus ombros, peito e quando está perto de minha barriga solto
um grunhido esganiçado, minha respiração fica mais acelerada,
meu pau endurecendo ainda mais. — Queria tanto sentar aqui —
aponta para o meio de minhas pernas.
— Ah, Bea... — minhas palavras saem como um gemido
sôfrego, cheio de tesão reprimido, mostrando a ela, mais uma vez, o
quanto me sinto afetado e atraído por ela, ainda que eu não possa
fazer nada com esse desejo.
— Me diz o que você faria comigo. — pede sussurrando em
meu ouvido. — Me diz o que você gostaria de fazer comigo agora,
Henrique. Parle, caro mio.
Levo minha mão, que está sobre a mesa, até seu pescoço,
fechando meus dedos ali de um jeito nada delicado, mais pelo
sorriso safado que ela tem, sei que gostou de minha atitude.
Impulsiono meu corpo para ficar de pé e a empurro até que seu
quadril toque na mesa, sem afastar nossos rostos, nossos narizes
se tocando quando falo com a voz baixa:
— Primeiro, eu te deitaria de bruços sobre essa mesa,
rasgaria a porra da sua calcinha que eu tenho certeza que esta
molhada porque sua boceta esta implorando por mim. Depois, Bea,
bateria nessa sua bunda gostosa até ter certeza de que você
sentiria dor por dias, todas as vezes que se sentar.
Beatrice leva suas mãos até meus ombros e finca suas unhas
ali, me puxando para mais perto até que meu pau esteja roçando o
meio de suas pernas. Arfo com o contato.
— Você está errado — diz lambendo os lábios e sorrindo feito
uma diaba vindo do inferno para me perturbar.
Franzo o cenho em confusão, sem entender o porquê de
suas palavras.
— Do que você está falando? — questiono.
— Não estou usando nada, além desse vestido. — Beija
meu queixo antes de completar — Estou sem calcinha, Henrique.
— Caralho! — esbravejo e sento que posso explodir a
qualquer momento, decido dar a nós dois o que queremos.
No entanto, quando estou descendo meus lábios até os seus,
ouço vozes no corredor. Abruptamente, volto a si e me afasto dela,
puxando a respiração com força à medida que me afasto, indo em
direção até a porta sem dizer nada.
O que eu estava fazendo? O que eu iria fazer, porra?
Destravo a porta e seguro a maçaneta, prestes a fugir dela,
mas sua voz me faz parar no lugar.
— Haverá um dia, Henrique Prado, que você não irá mais se
controlar — suas palavras soam como uma promessa. — E quando
esse dia chegar, vou fazer o que eu quiser com você, caro mio.
Solto um palavrão e saio, indo direto para o banheiro para me
recompor, não desejando que meus amigos me vejam desse jeito.
Mas que inferno de mulher!
— Que porra é essa? — Henrique pergunta.
Estamos todos parados na calçada, em frente ao meu prédio
olhando uma limusine rosa, sem entender o que está acontecendo.
— Vocês ficaram cegos agora, caralho? — Matteo fala se
afastando do veículo. — Está aqui é a nossa carruagem para a noite
de hoje que será tão especial — diz orgulhoso.
— Porque uma limusine dessa cor, fratello? — Bea questiona
cruzando os braços.
— Bem — fala se aproximando de Bárbara. — Para
impressionar ela. — Deposita um beijo na testa de minha amiga e
juro que vejo ela estremecer — A propósito, você está linda.
Já convivo com Matteo a tempo suficiente para saber que sua
maior habilidade é perturbar as pessoas. E estou começando a
achar que ele sente prazer em fazer isso com Bárbara, mais do que
com qualquer um.
— Eu sei — diz convencida, contudo, consigo notar suas
bochechas coradas pelo elogio que recebeu — E confesso, estou
impressionada.
— Está? — Matteo exclama
— Claro, com o quanto você é maluco.
— Preciso concordar com ela. Não podemos chegar em um
evento da empresa… nisso — Dante aponta para o veículo à nossa
frente.
— Ei, respeite a boneca. Stronzo!
— O que você disse? — Henrique pergunta.
— O que você ouviu, B2. Essa é a boneca... minha boneca —
pisca com um sorrisinho de lado para Bárbara.
— Espera — ela diz ponderando por alguns segundos antes
de continuar — Você comprou uma limusine enorme e pôs o nome
dela de boneca em... minha homenagem? Foi isso que eu entendi?
Isso é brincadeira, né?
— Achei fofo — confesso recebendo um olhar matador de
minha amiga — O que?
— Eu também. — Beatrice sorri cúmplice para mim.
Bárbara revira os olhos cruzando os braços e semicerra os
olhos na direção de Matteo que estampa um sorriso ladino.
— Vamos logo, senão vamos nos atrasar — Dante diz
parecendo ansioso.
— Vocês precisam ver por dentro. É a melhor parte — B1 fala
sorrindo enquanto segue até o carro saltitando igual uma criança
quando ganha sua primeira bicicleta. Abre a porta traseira e diz. —
Venha, mia bambola.
— Me chamou de que?
— É minha boneca em italiano, amiga — Beatrice diz
entrando no carro. — Eu amei, frattelo— grita animada.
Matteo oferece a mão para Bárbara, que solta um suspiro ao
aceitar e eles entram.
— Se ela amou boa coisa não pode ser — Henrique fala e
nós três os seguimos.
A limusine possui em seu interior luzes coloridas por todos os
lados, uma televisão grande que fica na divisão do motorista, sofás
brancos por toda a lateral direita, caixas de som espalhadas por
todo o veículo e um bar abastecido com os mais variados tipos de
bebidas.
Matteo e Bárbara sentam ao lado da porta esquerda, Beatrice
ao lado de nossa amiga e Henrique segue logo depois, um pouco
mais afastado dela, é claro. Dante e eu sentamos lado a lado no
sofá, ficando quase que de frente para eles.
— Não acha que exagerou, B1? — indago olhando em volta.
— Não, sempre quis uma dessas e quando a vi foi amor à
primeira vista.
— Você se apaixonou por um carro? — Bárbara pergunta.
— Sim, porque ela me lembrou você — diz e todos nós
olhamos para ele sem entender a comparação — Vou explicar. Rosa
me lembra da Barbie. A Barbie é uma boneca. E como todos sabem
a baixinha aqui do lado é minha boneca.
— Eu já disse que não sou sua!
— Ainda — fala e recebe um dedo do meio.
— Coloque uma música — peço.
Rapidamente Matteo tira um tablet pequeno da lateral da
porta e aperta alguns botões na tela. Uma música instrumental
começa a tocar e ele fecha os olhos enquanto balança uma mão
para o alto no ritmo da melodia como um maestro.
— Essa música é perfeita para nos acalmarmos — ele diz
com um sorriso de lado.
— Idiota, será que você poderia mudar essa música? —
Bárbara pede com uma falsa educação na voz.
— Você pedindo assim, faço o que você quiser — responde
entregando o tablet a ela.
— Vamos ver o que tem na sua playlist — fala olhando o
aparelho. — Não acredito que você tem essa música. Ginuwine
Pony — toca na tela e a canção começa a soar em toda a limusine.
— A gente nunca sabe quando pode precisar para fazer um
strip-tease — Matteo diz piscando para ela, que revira os olhos.
Durante todo o caminho, rimos com Bárbara e Matteo
trocando provocações um com o outro. Todavia, a forma como
Dante apertava minhas mãos, me mostrava o quanto estava
nervoso.
Eu também estava nervosa, pois seria a primeira vez que
seríamos vistos juntos como um casal. Não sabia ao certo como ele
me apresentaria ou como as pessoas poderiam reagir a novidade.
Com certeza, seríamos um prato cheio para a mídia e as
fofocas entre os funcionários.
Assim que o motorista parou em frente ao hotel da família
Fontana, lugar onde o evento aconteceria, fomos recebidos por
chuvas de flashes e várias pessoas vindo até nós, colocando
microfones, gravadores e celulares em nossos rostos à medida que
caminhávamos para dentro. Jornalistas gritando e soltando
perguntas que pouco entendi, todavia o alvoroço se tornou maior
quando me aproximei de Dante um pouco assustada com tamanha
atenção e ele envolveu minha cintura com um braço, tentando me
proteger da multidão que fazia de tudo para ultrapassar a cerca que
os seguranças faziam ao redor de todos nós.
Ignoramos e respiramos aliviados quando adentramos no
enorme e luxuoso salão bem iluminado, com várias mesas redondas
e grandes, espalhadas pelo ambiente, lustres no teto e um palco
nos fundos, com um DJ tocando uma música ambiente agradável.
Algumas pessoas já circulavam pelo local quando avistamos
seus pais em uma roda, conversando com alguns convidados.
— Chegaram! — senhora Beatriz diz assim que nos avista,
pedindo licença. Seu marido a segue e ambos se aproximam de
nós, esbanjando sorrisos radiantes.
Eles nos cumprimentam com abraços e beijos, dizendo que
tudo está impecável. Eu fui a responsável por fiscalizar a empresa
organizadora do evento, e apesar do trabalho, é gratificante ver que
tudo está como deveria estar.

Ponho as mãos sobre a mesa e observo de longe meu chefe,


enquanto ele conversa com Matteo e Henrique ao lado do palco.
Dante está de tirar o fôlego, mais do que o habitual.
Meus olhos admiram cada parte dele sem qualquer pudor e
sem me importar com os burburinhos de especulações, que
circulam pelo salão desde que chegamos.
O terno feito sob medida agarra perfeitamente seu corpo. Ele
exala confiança e sensualidade. Suas costas largas, seus braços
fortes, aquela bunda gostosa, suas mãos grossas que eu amo ter
sobre meu corpo. Sorrio de lado quando nossos olhares se
encontram.
Porra, eu amo demais esse homem!
— Ana? — uma voz feminina fala e viro o rosto para ver
quem é.
— Juliana? — Arregalo meus olhos ao ver a linda mulher,
ainda mais bela do que me lembro, usando um vestido tubinho
ombro a ombro na cor preta. O contraste com a sua pele a deixa
ainda mais bonita.
Eu sabia que ela estaria aqui, já que fui eu quem enviou
todos os convites para o evento. Todavia, tentei ignorar o bichinho
do ciúme que insistia em querer me morder.
— Isso. É um prazer revê-la — diz sorrindo educadamente —
Você está linda!
— Obrigada. Você também.
— Agradeço. E Dante... onde está? — pergunta e tento soar
o mais natural possível ao responder.
— Está ali. — Aponto para o local que há pouco eu estava
olhando. Ela segue meu dedo e acena quando ele olha em nossa
direção. — Em alguns minutos ele vai discursar — comunico.
— Posso me sentar? — pergunta apontando para a cadeira
vaga ao meu lado. Bárbara e Beatrice foram ao banheiro, e o senhor
Vincenzo junto com sua esposa estão em uma alegre conversa com
um casal de amigos do exterior, que veio apenas para estar aqui.
— Claro — respondo lhe dando um leve aceno de cabeça.
— Então, soube que você e Dante estão juntos.
Seu comentário direto e sem rodeios me pega de surpresa,
mas mantenho minha postura e me atenho apenas em responder
que sim. Sei que ela e Dante não tiveram nada, mas reconheço
quando uma mulher está interessada em um homem, principalmente
quando esse homem é o meu.
— Fico feliz por vocês dois — fala me pegando mais uma vez
de surpresa.
— Fica?
— Sim. Conheço Dante desde que éramos crianças e nunca
o vi tão feliz. — Ela fita meus olhos e deve ter percebido minha
expressão de espanto, pois continua a falar — Eu realmente desejo
tudo de melhor para vocês. Não vou negar que tenho sentimentos
por ele, que sempre deixou claro que me via apenas como uma
amiga. E por essa amizade que temos há anos, sou grata a você
por fazer tão bem a ele, ele merece.
Como que eu vou ter raiva dessa mulher? Puta que pariu que
maturidade da porra!
— Nossa! Eu definitivamente não estava esperando por isso.
Mas obrigada pela sinceridade. Espero que você encontre alguém
que lhe proporcione o que ele me proporciona.
— Eu também. O mercado está em falta de homens que
prestem.
— Ainda bem que eu já garanti o meu — digo e nós duas
começamos a rir.
— Atrapalho? — Dante diz ao se aproximar de nós.
— Claro que não — Juliana afirma o cumprimentando com
um abraço — Eu já estava de saída. — Pega seu copo e antes de
sair diz — Foi um prazer revê-la Ana.
— O prazer foi meu.
— Está tudo bem? — verifica.
Toco em sua mão por sobe a mesa e lhe dou um sorriso
apaixonado quando respondo: — Melhor agora.
O volume do som diminui e a voz de Matteo dando boa noite
ao microfone, chama a nossa atenção.
— Está na hora — Dante anuncia, ajeitando seu smoking.
— Estou curiosa e animada para saber, finalmente, o que tem
feito nos últimos dias.

"Eles não vêm."


É o que penso quando meu irmão anuncia meu nome para o
salão lotado. Subo a pequena escada lateral e me aproximo, lhe
dando um abraço rápido antes de pegar o microfone que ele
estende para mim.
Assim que subo meu olhar, vejo Júlio, Paula, e os irmãos de
Carlos, Bianca e Ricardo adentrando no salão. Eles são
recepcionados por meus pais que os guiam até a mesa onde Ana
está.
Me sentindo um pouco mais calmo, puxo o ar e começo a
recitar, o discurso que passei os últimos dias escrevendo.
— Antes de mais nada, gostaria de agradecer a presença de
todos em um evento que visa ajudar pessoas carentes.
Faço uma pausa para tomar fôlego e foco meus olhos em
Ana Laura que está sorrindo para mim como um incentivo silencioso
para que eu continue.
— Todos sabem o que aconteceu comigo há dois anos. Perdi
duas partes de mim, física e emocionalmente, e durante muito
tempo achei que a vida não fazia mais sentido. Até eu conhecer
uma pequena mulher — pisco para ela — que me mostrou que há
vida após a perda, por mais difícil que seja continuar. — Foco meus
olhos na família de Carlos quando volto a falar. — Às vezes estamos
focados demais em nossas próprias vidas e não olhamos para fora
da caixinha. Eu precisei perder para enxergar pessoas que eu
nunca parei para prestar atenção de verdade. Eu mudei e hoje
gostaria de comunicar a todos um projeto que recentemente surgiu
em meu coração e por esse motivo ainda faltam alguns pontos para
serem finalizados. Agradeço a ajuda de meu irmão Matteo, meu
amigo Henrique e meu fisioterapeuta Lucas Alves que infelizmente
não pode estar presente. Eles não mediram esforços para que hoje
esse projeto fosse anunciado. — Aponto para eles que acenam com
a mão. — É com muita honra que eu vos apresento o Instituto
Carlos Ferreira, — aponto para o telão, onde a logo do La Fontana é
substituída por uma com as iniciais de meu amigo, pequenas cartas
ao redor e um pouco mais abaixo a frase "’Onde o verbo mais
importante é o ‘cuidar’.” escrita — um centro de reabilitação para
pessoas que assim como eu passaram por traumas e lesões em
acidentes, mas que infelizmente não possuem condições para terem
o melhor suporte e apoio como eu tive.
Sorrindo, sob a comoção e os aplausos da plateia, sussurro
torcendo para que Carlos esteja me ouvindo:
— Essa é por você, seu filho da mãe.
— Gostei do beijo que me deu quando me convidou para
dançar — Ana Laura diz atrás de mim.
Levanto meu olhar até ela e, pelo reflexo do espelho a vejo
com a lateral do corpo apoiada no batente da entrada do closet me
observando atentamente, enquanto livro-me de minha blusa social.
— Achei que era o momento perfeito para demonstrar que
estou namorando. O beijo em público foi o nosso “contrato fechado”.
Depois que anunciei sobre o instituto, desci do palco e fui
abraçado por minha família, todos dizendo o quanto estavam
orgulhosos com minha atitude. Os pais de Carlos não pouparam
palavras emocionadas sobre o quanto eles estavam felizes com
minha atitude.
Apresentei eles a Ana Laura que engatou em uma conversa
divertida com Bianca, enquanto Ricardo, por outro lado,
permaneceu calado e sentado em sua cadeira, observando tudo de
longe.
Todos queriam ajudar de alguma forma para a inauguração
da instituição e não fiquei surpreso quando soube dos valores altos
das doações dos empresários presentes.
Durante o resto da noite, procurei dar atenção a cada
convidado que desejava falar comigo. Em um dado momento,
peguei Ana me observando, enquanto conversava com duas
mulheres que reconheço serem funcionárias do La Fontana. Pela
forma como elas sorriam, o assunto deveria estar bom.
No entanto, pedi licença para os homens que estavam
falando algo sobre a importância de eventos como esses, ainda que
eu sentisse que eles só estavam aqui para poderem aparecer na
mídia como bons moços, e fui até onde ela estava, sem tirar meus
olhos dos dela.
Suas colegas estavam congeladas ao seu lado quando me
aproximei e as cumprimentei, antes de me virar para a baixinha e
anunciar que gostaria de dançar com a minha mulher. Ana Laura
assentiu e a conduzi para o salão de dança, juro que podia ouvir
suspiros conforme caminhávamos.
Por coincidência, a música que começou a tocar quando a
segurei em meus braços era a mesma que dançamos no quintal da
casa de meus pais e fazia o momento ser ainda mais especial do
que antes. Agora, ela era minha. Por essa razão, beijei seus lábios
com carinho, deixando mais do que claro que eu também era dela.
Só dela.
— Posso deduzir então que estamos namorando, chefe? —
pergunta se aproximando devagar — Não me lembro de ter me
pedido em namoro. — Sorri de lado.
Ainda olhando para ela pelo reflexo, tiro do bolso de minha
calça o presente que encomendei para ela, especialmente para
essa noite. Levanto o objeto para que ela veja e quando seus olhos
o notam, ela para de andar.
— Um chaveiro de morango? — questiona com o cenho
franzido em confusão.
— Eu te amo, amore. E amei ver você dormindo em minha
cama, vestindo minhas roupas e assaltando a geladeira no meio da
noite. Amei até você brigando comigo porque eu sempre escolho
filmes de terror. — Ela torce o nariz fazendo uma careta — Quero
que venha morar comigo, se quiser. Esse chaveiro é seu. Pedi para
fazerem cópias de todas as chaves da cobertura pra você.
Seus lábios se abrem um perfeito ‘o’, assim como seus olhos.
— Morar junto? — indaga em choque pela minha proposta
repentina.
Viro-me ficando de frente para ela e toco seu rosto com uma
das mãos.
— O que me diz? — pergunto um pouco ansioso.
Ela envolve minha cintura com seus braços pequenos e beija
meus lábios com carinho antes de falar: — Eu aceito.
Estou prestes a dizer que a amo quando sinto seus dedos
descendo por minha costa até a minha bunda, seus dedos se
fechando ali, suas unhas ficando com força por sobre o tecido de
minha calça.
— Anaaa! — esbravejo.
— Desculpa. — Solta uma risada, nada arrependida do que
fez — Mas me lembrei que você está me devendo uma mordida
nessa sua bunda gostosa.
— Você gosta mesmo da minha bunda? — pergunto rindo da
expressão que faz, conforme balança a cabeça em afirmação.
— Sabe o que eu estava pensando. — Faz uma pausa e fico
em silêncio, esperando que continue — No nosso primeiro encontro,
prometi que se você dançasse comigo eu chuparia seu pau. Bem…
você dançou comigo mais de uma vez desde aquela noite, então
acho que minha boca está lhe devendo.
— Está?
— Uhum — murmura, enquanto suas mãos alisam meu peito
nu, suas unhas me arranhando quando ela desce até meu
abdômen.
Meu pau vibra dentro da calça em expectativa. Trago seu
rosto para mais perto do meu e pincelo minha língua em seus
lábios, puxando o inferior logo em seguida, fazendo-a gemer
baixinho.
— Nada mais justo do que eu chupar seu pau a noite toda. —
Sorri de lado me olhando com uma expressão safada.
Colo nossas testas e solto um grunhindo, meu corpo
desejando-a loucamente.
— A noite vai ser longa, senhor Fontana — suas palavras
soam cheias de promessas.
— Estou contando com isso, amore mio.
— Posso saber por que eu soube que minha irmã mais nova
estava namorando por uma matéria no jornal? — Miguel diz, se
sentando na cadeira à minha frente, jogando o jornal sob a mesa.
Era sábado e tínhamos marcado para almoçar com nossa
mãe.
Nós duas trocamos um olhar cúmplice e meu irmão bufa.
— Eu sou o último a saber, não sou? — pergunta incrédulo,
olhando entre nós duas.
— Sim — respondo bebericando um pouco de suco — Toda
vez que eu digo que estou com alguém, você faz aquele seu amigo
delegado vasculhar a vida da pessoa.
— O que? Sou seu irmão mais velho. Tenho que cuidar de
você, Ana.
— Igual da vez que você quase foi preso porque encheu de
porrada meu ex namorado? — falo cruzando os braços.
— Ele te sacaneou e te traiu. Não podia deixar barato. — Dá
de ombros.
— Ok. Você tem um ponto — acabo concordando com ele.
— Então, faz muito tempo? — quer saber.
— Desde a viagem que fiz ao Rio.
— Eu sabia! Quando você me contou que passaram a noite
juntos, — meu irmão resmunga me fazendo rir — vi seus olhinhos
brilharem ao falar dele. Seus olhinhos só brilham assim quando
você vê torta de morango.
— É — suspiro — E Dante me convidou para morar com ele
e… bem, eu aceitei — anuncio.
— Puta merda! — dona Luiza exclama de olhos arregalados
— Ela está grávida!
— Você está grávida? — meu irmão grita nervoso.
— Dá pra parar de gritar, por favor. — Toco em seu braço,
percebendo algumas pessoas olhando em nossa direção — Eu não
estou grávida! — sussurro.
— Pois deveria. Quero netos. Estou ficando velha. — Cruza
os braços fazendo bico e sorrio para ela.
— Mãe! — Miguel exclama.
— O que? Se eu depender de você para virar avó, então vou
morrer sem netos. Você vive para o seu trabalho e nunca me
apresentou uma namorada sua.
— É porque eu nunca namorei, mãe. A senhora sabe disso.
Enfim, essa não é a questão aqui.
— E qual seria? — nossa mãe pergunta.
— O namorado da Ana. — Meu irmão pega o celular do
bolso.
— O que você está fazendo? — pergunto.
— Ligando para o Alberto. Preciso da ficha completa desse
sujeito.
Reviro os olhos.
— Dante é o primogênito de uma das famílias mais ricas do
mundo. Acho que se ele tivesse cometido um crime, já teriam
publicado algo em sites de fofocas.
— Essas pessoas têm dinheiro, irmã. Vai que estão
escondendo um corpo e a gente não sabe.
— Deixe de falar besteiras, Miguel — nossa mãe diz dando-
lhe um tapa em seu ombro o que o faz resmungar.
— Será que podemos conversar calmamente, por favor? —
peço.
Meu irmão pondera por alguns segundos e logo depois
concorda, guardando seu celular em seu bolso.
— Ok. Você o ama? — investiga me olhando nos olhos.
— Sim, eu o amo com todo o meu coração.
— Ele te faz feliz?
— Sim. Muito.
— Você sabe que as pessoas vão especular que você está
com ele pelo dinheiro e…
— Eu sei, mas não me importo. Dante e eu sabemos o que
temos e isso é o mais importante — falo firme.
— Se você está feliz, minha princesa nós também estamos,
não é meu filho? — mamãe diz olhando para meu irmão que
concorda por livre e espontânea pressão — Não importa o que
aconteça, sempre vamos estar aqui para o que você precisar. Certo,
Miguel?
Ele me analisa por alguns segundos e suspira, dando por
vencido.
— Certo. Mesmo assim, vou pesquisar a ficha do cara. Quero
ter certeza de que minha irmã está segura — diz emburrado.
— Eu sei que você vai. — Aperto sua mão e digo. — Eu amo
vocês.

Os dias após o evento, foram uma loucura, tanto pelo


anúncio feito por Dante, onde comunicava sobre a criação do
instituto, quanto pelos funcionários da empresa que, não
esconderam a perplexidade nos olhares, quando viram o chefe de
mãos dadas comigo, que até um dia desses, era somente a sua
secretária, aquela que era convidada pelos colegas para o happy
hour e participava dos momentos de fofocas sobre o CEO delicia da
bunda bonita.
Juro que consigo me lembrar da expressão chocada que
Kátia e Vitória fizeram na noite do evento de caridade, assim que
confirmei que Dante e eu estávamos juntos.
Agora eu era Ana, a namorada do presidente do grupo La
Fontana restaurante, a mulher mais paparicada de todo o prédio, e é
óbvio que as funcionárias, que antes falavam de Dante comigo
cheias de desejo, cessaram seus comentários, ao menos quando
estou presente.
As pessoas são surpreendentes quando pensam que de
alguma forma, podem tirar proveito de uma amizade. No entanto,
mesmo tendo ciência de que ser tratada dessa forma não é
totalmente por sentimentos sinceros, levo numa boa e exerço a
política da boa vizinhança, que diz para sermos cordiais. Assim
como o mantra dos pinguins de Madagascar, me limito a sorrir e a
acenar e assim vou vivendo.

— Meu Deus, você tem uma coleção de vestidos — Beatrice


comenta olhando para os vários cabides no closet de Dante, os que
agora, também eram meus.
A empresa que Dante contratou para pegar minhas coisas
em meu antigo apartamento e organizá-las no meu novo lar, havia
acabado de sair.
— Acredita, ela tinha mais — Bárbara diz.
— Vamos! Preciso terminar o jantar — Bea fala.
Assentimos e seguimos escada abaixo. Estamos nos
aproximando da entrada da cozinha quando ouvimos alguns gritos e
xingamentos em italiano. Quando entramos, avistamos Henrique
com a metade de um pacote de macarrão em cada mão próximo do
fogão, com uma cara de quem fez algo de errado, enquanto Dante e
Matteo estão com os olhos arregalados e a mão no peito.
— O que aconteceu? — pergunto.
— Eles surtaram! — Henrique responde — Eu só queria
ajudar.
— Stronzzo! Isso não é ajudar, é assassinato — B1 fala com
as duas mãos balançando em um típico movimento italiano.
— Cazzo! — Beatrice grita vendo a cena, seu rosto assume a
mesma expressão dos irmãos — Isso é um crime na Itália. Per Dio!
— choraminga — Quebrar a pasta ao meio.
— Espera! Vocês estão fazendo essa cena toda por que ele
partiu ao meio o macarrão? — falo me aproximando de Dante —
Vocês sabem que aqui no Brasil isso é super comum, não sabem?
Afinal, já moram aqui há bastante tempo. — Vou até Henrique e
pego a metade de cada pacote e jogo na panela com água quente.
Os três italianos dramáticos choramingam e xingam palavras
em seu idioma natal.
— Se eu não te amasse tanto eu te castigaria por isso —
Dante fala assim que jogo minhas mãos em cima dos seus ombros.
— Acho que vou gostar de ser castigada — digo com um
sorriso safado no rosto.
— Como líder do grupo, eu gostaria de propor uma reunião
para falarmos sobre esses dois aqui — aponta para nós — porque
estou prestes a ter diabetes se eles continuarem assim cada vez
que estamos todos juntos.
— Quem foi que disse que você é o líder do grupo? —
Bárbara fala cruzando os braços.
— Porque eu sou o mais inteligente, o mais bonito e o mais
forte — Matteo se elogia, pontuando os motivos que, para ele, eram
óbvios.
— Eu quem sou a líder do grupo, idiota.
— Eu quem sou.
— Gente, não existe isso de líder. Somos todos amigos e ...
— Beatrice tenta argumentar com os dois, mas é interrompida
quando eles lhe fuzilam com o olhar.
— Eu sou mais esperta que você — minha amiga fala
apontando o dedo em seu peito.
— Mas eu sou mais forte. Se formos atacados por zumbis e
você estiver a frente da equipe, não vamos durar nem um dia vivos.
— Ataque de zumbis? — Dante pergunta com uma
sobrancelha levantada.
— Sim, aqueles mortos vivos que comem gente. Nunca viu
filme não? — B1 fala revirando os olhos.
— Óbvio que já vi. Mas eles não existem, fratello.
— Como você pode ter tanta certeza assim? — ele pergunta
— É melhor prevenir do que remediar então — olha para Bárbara
novamente — pela vida e segurança de todos, eu sou o líder. Mas
se você quiser, pode ser a minha primeira-dama, boneca.
— Nos seus sonhos, querido. Nos seus sonhos — fala com
aquele seu tom debochado.
— Nos meus, nos seus, onde você quiser, coisa gostosa —
Matteo fala e vejo as bochechas da minha amiga atingir um tom de
vermelho vivo.
O toque de um celular soa e Bea saca o seu do bolso de sua
calça jeans, tocando na tela, para logo em seguida o segurar sobre
o rosto quando diz: —Ciao, amori miei!
Matteo fofoqueiro como é, corre para perto da irmã e sorri ao
observar o aparelho.
— Olha só quem apareceu! Os primos mais ingratos do
mundo todo.
— Per Dio, você não cresce? — ouço uma voz masculina
dizer.
— Assim você me magoa priminho. — Finge enxugar uma
lágrima invisível.
— Corta o drama idiota! — Bárbara ralha dando um tapa de
leve na nuca de meu irmão, fazendo todos nós rirmos.
— Ai boneca! Essa doeu — diz massageando a cabeça.
— Boneca? — agora, uma doce voz feminina pergunta.
Matteo leva o celular até Bárbara e diz: — Prima, essa é a
minha boneca. Boneca essa é a minha prima, Kyara. — Apresenta
puro sorrisos.
— Primeiro: eu não sou nada sua, idiota. Segundo: para de
me chamar de boneca e terceiro:olá, sou Bárbara — fala acenando.
— Gostei dela. Bate nele de novo — Kyara pede e minha
amiga faz.
— Ai, caralho! — Matteo faz uma careta e rimos.
Dante pega o celular da mão do irmão e acena para a tela.
— Como vocês estão? — procura saber.
— Estamos bem. Com saudade de nos reunirmos todos
juntos — o homem responde. Sua voz é grossa e cheia de sotaque.
— Ainda pensando em vir morar no Brasil?
— Estamos analisando as possibilidades de trabalho. Enrico
ainda não terminou a especialização, então vamos ter que esperar
mais um pouco — Kyara responde.
— Nerd como sempre — Beatrice cantarola — Quando vocês
vêm nos visitar? — olha para o celular com as mãos na cintura.
— Enrico se inscreveu em um congresso que vai acontecer
no final do ano. Estávamos pensando em irmos juntos e prolongar
nossa estadia. O que acham?
— Amei a ideia! — Bea declara batendo as mãos — Temos
novidades! Dante está namorando — informa de forma ansiosa,
assim na lata.
— Quem é a corajosa? — o primo pergunta.
— Olá. — Sorrio quando Beatrice vira a câmera para mim —
Sou Ana. É um prazer conhecer vocês.
Tento não arregalar meus olhos assim que vejo os primos de
Dante. Claro que eu já os tinha visto por fotos, mas nossa! Ambos
são lindos!
— O primeiro da turma já desencalhou. Quem será o
próximo? — ele fala sorrindo abertamente.
— Eu espero que não seja eu — Beatrice responde fazendo
o sinal da cruz.
— Se a boneca me aceitar, acho que a próxima senha será a
minha. O que me diz?
— Nem que você fosse o último homem da terra. Então
nunca. — Minha amiga revira os olhos para o boca suja, que
permanece sorrindo para ela.
— Nunca diga nunca. — Ele dá um beijo em sua bochecha,
ela se assusta, mas logo começa a correr pelo apartamento atrás
dele com uma colher de pau.
— Eu aposto no Matteo — Henrique diz rindo.
— Eu também — Kyara concorda e todos acenam
positivamente.
Conversamos mais alguns minutos com eles e com o tio de
Dante, Giuseppe e sua esposa Sofia, que logo apareceram na
chamada.
É incrível que mesmo com ele sendo gêmeo idêntico do
senhor Vincenzo, são completamente diferentes um do outro. Sua
esposa é uma versão madura de Kyara, tão bela quanto a filha.
Dante já havia comentado comigo, a relação que ela construiu com
seu tio e primo, que respectivamente, a tem como filha e irmã, ainda
que não existam laços sanguíneos.
Eles não pouparam elogios ao mencionarem o instituto
Carlos Ferreira e o quanto estavam felizes em saber da iniciativa do
sobrinho, dizendo o quanto estão orgulhosos e que Dante pode
contar com eles, enquanto família e empresários.

— Estou nervoso — Dante fala ao meu lado.


Estamos todos na sala, aguardando nossos pais chegarem.
— Não precisa estar. — Beijo seus lábios.
O elevador apita, e nós levantamos para receber os
convidados. Quando a porta se abre, vemos nossos pais e meu
irmão conversando alegremente como se já fossem velhos amigos.
— Ah Luiza, precisamos marcar um chá lá em casa para
você me dar umas dicas — dona Beatriz fala sorrindo.
— Claro. Será um prazer — minha mãe responde.
Miguel e Sr. Vincenzo falam sobre algo relacionado à
construção que eu não faço a mínima ideia de onde seja.
— Vejo que já se conheceram — digo assim que caminham
para fora do elevador, se aproximando de nós.
— Caramba! Vocês fizeram um belo trabalho com esse
menino — minha mãe elogia pegando no rosto de Dante — Ele é
mais bonito ainda pessoalmente, do que por fotos.
— E olha que o mais bonito da família sou eu — Matteo se
aproxima, como sempre tendo a atenção de todos.
— Você também não é nada mal, mocinho — dona Luiza diz
e ele sorri convencido.
— É um prazer conhecê-la, senhora — Dante fala.
— O prazer é meu, querido. E pode me chamar de sogra ou
Luíza. Corte o senhora — diz e o abraça animada.
Faço as devidas apresentações, e como eu havia imaginado,
Miguel enche meu namorado de perguntas. Parecia que eu estava
vendo um episódio de alguma série policial ao vivo.
O jantar é servido e ninguém economiza nos elogios. Todos
sem exceção, até meu irmão amaram a comida que Beatrice fez um
típico jantar italiano, com direito a vinho, massa e molho de tomate
caseiro.
Em um determinado momento nossas mães começam a falar
sobre netos e quais seriam seus nomes. Olhei para Dante e ele
pareceu não se importar. Eu, por outro lado, fiquei desconfortável
com a conversa, mas tentei disfarçar o máximo que consegui. Nós
ainda não tínhamos tocado no assunto, então não fazia ideia sobre
o que ele pensava a respeito.
Nossos irmãos, Henrique e Sr. Vincenzo se deram muito bem
e passaram a maior parte da refeição conversando sobre assuntos
diversos. Tudo estava indo perfeitamente bem a não ser quando a
sobremesa foi servida. Matteo e Bárbara começaram a brigar para
saber quem ficaria o pedaço maior da torta de morango, fazendo
todos rirem.
— Acho que deu tudo certo — digo ao entrarmos em nosso
quarto depois de acompanhar nossos convidados até a garagem.
— Tirando a parte que seu irmão me ameaçou e disse que se
eu magoar você ele vai ligar para seus contatos. — Faz uma careta
se sentando na beira da cama — E ainda fez questão de enfatizar
que seu melhor amigo é delegado.
— Não acredito que ele fez isso!
— Está tudo bem. Provavelmente quando Beatrice começar
a namorar, eu faça igual ou pior.
— Não duvido. — Caminho até o closet para tirar minha
roupa.
Quando estou descendo as alças do meu vestido, ouço a voz
de Dante perguntar: — Você quer ter filhos?
Paro o que estou fazendo e vou até ele.
— Você quer?
— Eu adoraria ter um filho seu — diz rápido e vejo seus
olhos brilharem com a ideia — Na verdade, uma menina. Sempre
sonhei em ser pai de menina.
— Coitada! Você já é ciumento comigo, imagina com ela —
digo sorrindo — E com tios como Henrique, Matteo e Miguel nossa
filha não vai poder dar um passo sem estar sendo vigiada.
— Gostei da forma que isso soa. Nossa filha — fala
segurando minhas mãos e diz sua voz transmitindo cuidado — Não
posso obrigar você a querer ter filhos. Vou respeitar sua opinião se
esse não for o seu desejo.
— Acho que acabei de me apaixonar mais por você — falo
sorrindo — A verdade é que nunca passou pela minha cabeça ter
filhos. Mas a ideia de tê-los com você me faz desejar ter nossa
própria família.
— Então isso é um sim? — Sorri cheio de expectativa.
— Sim, é um grande sim! — Beijo seus lábios antes de dizer.
— Mas acho que ainda não é o momento. Podemos esperar um
pouco.
— O tempo que você achar melhor. — Me puxa para mais
perto, encostando seu rosto em minha barriga e deposita um beijo
ali — Eu te amo.
— Eu te amo mais.
2 meses depois

— Por que vocês demoraram tanto? — pergunto depois de


entrar e me sentar no banco de trás do carro de Henrique que
passou para pegar Matteo e eu, em nossos respectivos
apartamentos. Ponho o cinto e ele coloca o carro em movimento.
— Esse idiota aqui. — Meu irmão aponta para nosso amigo
— Pior que mulher pra se arrumar, caralho.
— Eu já explique pra você o que aconteceu, porra. Meu novo
vizinho está fazendo uma reforma e o corredor estava cheio de
móveis, escadas, sacolas de lixo. Eu acabei me sujando e tive que
me trocar.
— Não acredito que chamei vocês para me ajudarem — falo
balançando a cabeça.
— Somos seus melhores amigos, Dantinho — B1 diz em tom
brincalhão — Cazzo! Não acredito que isso está mesmo
acontecendo. — Bate palma animado.
— Caralho, nem eu — Henrique apoia. — O que você disse à
Ana?
— Que íamos almoçar juntos e depois iríamos ao cinema.
— Cinema, Dante? Sério? Tanto desculpa e você fala isso?
— meu irmão reclama.
— Eu fiquei nervoso e foi a primeira coisa que me veio à
mente. Você sabe o quanto é difícil esconder algo daquele "gnomio"
lindo? Muito. Ela passou a semana toda reclamando que eu estava
estranho e me bombardeando com perguntas.
— Quando for a minha vez, vou me sair muito bem. Sou um
ótimo ator — diz convencido — Tenho especialização em novelas
mexicanas. Vai ser moleza.
— Duvido. Você é um fofoqueiro, não consegue guardar
segredo. É capaz de contar tudo antes — Henrique fala rindo,
batendo no volante, meu irmão o olha de cara feia, mas não diz
nada — E onde ela está agora?
— Beatrice e Bárbara a chamaram para ir ao spa. Elas
costumam ir uma vez no mês, então temos o dia todo.
— Podíamos ir hoje a um também. Estou precisando — meu
irmão fala.
— Sério isso? — brigo.
— Estou brincando, maninho. Relaxa!
— Estou uma pilha de nervos, stronzo. Sem gracinhas —
digo passando as mãos pelo cabelo.
— Vai dar tudo certo Dante — Henrique afirma olhando para
mim pelo retrovisor e eu anuo, torcendo para que tudo saia como
planejei.
Depois de comprarmos tudo que precisamos, contratei uma
decoradora de festas para organizar todo o ambiente externo da
cobertura. Eu queria que tudo ficasse perfeito!
Matteo e eu fizemos o jantar, enquanto Henrique lavava a
louça de cara feia. Eu poderia pedir comida, contratar um dos
chefes do La Fontana ou até mesmo pedir a minha mãe, mas eu sei
que Ana ama quando eu cozinho. E o foco da noite é impressioná-
la. Fiz sua sobremesa favorita e dois tipos de suco. Nas últimas
semanas, percebi que ela tem trocado o vinho e seu adorado uísque
por suco.
Liguei para nossos pais que já estavam a caminho e para
minha sogra e cunhado. Há uma semana, fui até eles pedir a
benção de ambos. Sua mãe chorou emocionada e gritou sim sem
parar ao me abraçar. Seu irmão, mesmo sendo mais tímido, ficou
feliz por nós, pois sabia que sua irmã estava em boas mãos.
Também convidei os pais de Carlos e seus irmãos, mas eles não
puderam estar presentes. Precisaram viajar para os Estados Unidos
na semana passada e só retornarão daqui a um mês, contudo, me
enviaram mensagens positivas deixando claro o quanto estavam
felizes por mim.
Minutos depois, todos já haviam chegado e Beatrice me
enviou uma mensagem dizendo que em meia hora elas já estariam
aqui.
Vou para o quarto, tomo um banho e escolho para vestir um
terno de três peças que usei no primeiro dia que nós conhecemos.
Já percebi que ela me come com os olhos toda vez que estou com
ele. E bem, quero que a noite termine com a Ana tarada. Pego a
caixa preta da joalheira, coloco no meu bolso e vou para a área da
piscina.
O lugar ficou do jeito que eu imaginei. Romântico!
Há flores do campo espalhadas por toda a área e na piscina
velas em formato de flores iluminam ainda mais o lugar. Próximo da
área gourmet há uma cortina de luminárias na parede oposta à
entrada, e duas cadeiras no centro, uma de frente para a outra.
— Chegaram! — minha mãe e minha sogra falam juntas.
Vejo as duas, Miguel e meu pai correrem para se
esconderem. Minutos depois, ouço a voz de Ana me chamando.
— Amor? Cheguei!
Meu coração parece que vai pular pela boca. Minhas mãos
suam e não conseguem ficar quietas. Quando ela entra em meu
campo de visão, sinto aquela mesma sensação que tive quando a vi
pela primeira vez.
Ela está linda com o vestido que dei a ela de presente, mês
passado. Estávamos passeando no shopping, e ele estava na
vitrine. Ana se encantou por ele e não pensei duas vezes em
comprá-lo para ela. Ele é longo na cor rosa claro com estampa de
mini morangos por todo ele. Perfeito para a ocasião.
— Meu Deus! — diz se aproximando observando o lugar
atentamente — Você... você preparou tudo isso?
— Venha — a chamo — Sente-se aqui — indico a cadeira de
frente para a minha.
— O que significa tudo isso Dante? — pergunta e seu rosto
varia entre excitação e curiosidade — Estou ficando nervosa — diz
ao se sentar passando suas mãos na saia do vestido.
— Você vai ver, amore mio. — Me sento de frente para ela.
Pego o violão que está ao meu lado e olho-a ao dizer: — Eu sonhei
com esse momento toda minha vida.
Puxo a respiração duas vezes, buscando me acalmar e
começo a tocar os primeiros acordes, deixando meus sentimentos
me guiarem. Ana nunca me ouviu cantar antes, então quando as
primeiras frases da música saem da minha boca, vejo seu rosto ser
tomado por surpresa e espanto.
" È iniziato tutto per un tuo capriccio
(Tudo começou por um capricho seu)
Io non mi fidavo era solo sesso.
(Eu não confiava, era apenas sexo)
Ma il sesso è un'attitudine
(Mas o sexo é uma atitude)
Come l'arte in genere e forse l'ho capito e sono qui.
(Como a arte em geral e talvez eu tenha entendido e estou
aqui)
Scusa sai se provo a insistere, Divento insopportabile..."
(Eu não confiava, era apenas sexo)
Divento insopportabile, io sono, ma ti amo, ti amo, ti amo
(Me torno insuportável, eu sou, mas te amo, te amo, te amo)
Ci risiamo, va bene, è antico, ma ti amo
(Vamos rir, está bem, é antiquado, mas te amo)
Vejo seus olhos ficarem marejados e um sorriso emocionado
surge em seu rosto. Ana me olha com amor, admiração e paixão,
tudo que estou sentindo agora. Os pelos do meu corpo estão todos
arrepiados pela energia do momento. Quando o refrão chega, canto
com toda minha alma cada palavra.
"E scusa se ti amo e se ci conosciamo, da due mesi o poco
più.
(Desculpe se te amo e se nos conhecemos, há dois meses
ou pouco mais
E scusa se non parlo piano, Ma se non urlo muoio, Non so se
sai che ti amo.
(Desculpe se não falo baixo, mas se não grito, morro. Não sei
se sabe que te amo)
E scusami se rido, dall'imbarazzo cedo. Ti guardo fisso e
tremo.
(Desculpe-me se rio, é que me envergonho cedo. Olho pra ti
fixamente e tremo)
All'idea di averti accanto. E sentirmi tuo soltanto e sono qui
che parlo emozionato.
(A ideia de te ter ao meu lado e me sentir somente teu, e
estou aqui e falo emocionado)
E sono un imbranato. E sono un imbranato."
(E sou um atrapalhado! E sou um atrapalhado!)

Àmedida que entoo a melodia, tudo vai ficando mais intenso


e sinto minha garganta apertar, mas tento ao máximo me controlar
para terminar a canção sem chorar. Quando chega ao fim, coloco o
violão no chão ao meu lado, pego as mãos de Ana e digo olhando
em seus olhos: — Eu sempre imaginei como seria estar apaixonado.
Mas nada do que pensei ser, chega perto do que de fato é estar.
— Dante...
— Deus te mandou especialmente para mim, quando eu mais
precisei. Você trouxe alegria ao meu mundo e eu não consigo mais
imaginar ele sem você. Você me faz querer melhorar a cada dia me
mostrando sempre o lado bom das coisas — suspiro — Esses
meses que estamos morando juntos foram os melhores da minha
vida e eu quero viver isso todos os dias. Eu quero envelhecer ao
seu lado, Ana — falo e ela faz uma careta engraçada, mas logo sorri
em meio às lágrimas — Quero que você seja a primeira pessoa que
eu veja ao acordar. Quero você brigando comigo porque não gosta
que eu escolha filmes de terror para assistirmos. Quero acordar de
madrugada e te encontrar sentada na bancada da cozinha comendo
torta de morango. Quero ficar admirando seu corpo gostoso quando
você sair do banheiro e passar horas olhando para o closet dizendo
que não tem roupa. Quero te levar para conhecer o mundo. Quero
que você seja o meu mundo oficialmente no papel, por que em meu
coração você já é. — Tiro a caixinha e a abro, revelando um anel de
noivado de ouro branco com diamante — Ana Laura, minha
"gnomio" serelepe, você aceita se casar comigo?
— Puta merda! — diz olhando o anel — É claro que eu
aceito! Meu Deus! Sim! Sim! Sim! Sim! Mil vezes sim! — grita e se
joga em meu colo.
Beijo-a com todo meu ser.
Nos afastamos quando o ar nos falta e coloco o anel em seu
dedo.
— Tenho outra surpresa para você — digo e nos levantamos.
— Outra?
Caminho até a área gourmet e tiro de um dos armários um
buquê de…
—Morangos?! — Ana grita assim que me aproximo o
estendendo para ela — Um buquê de morangos! — o segura e logo
morde um deles.
— Não achei que um buquê tradicional combinasse com a
minha futura esposa — falo a puxando pela cintura.
— Eu amo morangos tanto quanto minha Ana tarada ama
sua bunda — declara me fazendo rir.
— E eu amo você, minha "gnomio" serelepe. — Beijo a ponta
de seu nariz.
— Como você conseguiu fazer tudo isso com a semana cheia
de compromissos por conta do instituto? — pergunta impressionada
no exato momento em que nossa família se aproxima.
— Recebi ajuda — respondo apontando para eles.
— Aê! — Matteo comemora.
— Ai meu Deus! Me segura que eu tô passada — Bárbara
fala emocionada.
— Pode cair, boneca. Eu te seguro — meu irmão diz e ela lhe
dá um tapa em seu braço.
— Ai porra!
— Olha a boca menino! — nossa mãe fala e junta as duas
mãos no peito como se estivesse rezando — Estou tão feliz por
vocês. — Nos abraça chorando.
— Que venham os netos! — minha sogra grita.
— Não vejo a horas de ter vários bambini correndo pela casa!
— senhor Vincenzo comenta sonhador.
— Ai eu quero tanto ser tia! — Beatrice diz.
— Calma. Uma coisa de cada vez — Ana fala e eu concordo
com ela.
— Parabéns, maninha! — Miguel a abraça. — Bem-vindo à
família, cunhado — diz apertando minha mão.
— Obrigado. Prometo cuidar da sua irmã — falo e ele anuí.
Olho para Henrique que enxuga algumas lágrimas de seu rosto —
Você está chorando amigo? — pergunto.
— Porra, B2! — Matteo fala o abraçando de lado — Vai
chegar a sua vez. Relaxa!
— Estou orgulhoso de você, bambino — meu pai diz, me
abraçando.
— Grazie, babbo.
— Você já tem alguma data em mente? — dona Luíza quer
saber.
— O dia que Ana quiser — digo olhando para ela.
— O que você acha... daqui a dois meses amor? — pergunta
olhando para mim.
— Já? — Matteo indaga surpreso.
— Pra que esperar, — coloca a mão em meu rosto — a vida
é curta demais.
Emocionado, acrescento:
— Só se vive uma vez.
1 Semana depois

Sorrindo, entro na sala de meu chefe — e agora noivo. Porra,


noivo! Meu noivo! Meu futuro marido! — desejando dar a ele algo
que vem me pedindo desde a nossa primeira vez.
Ainda não consigo acreditar que vamos nos casar em alguns
meses.
Olho para o anel de diamante em minha mão e solto um
suspiro, percebendo que realmente é real. Tudo que Dante e eu
temos é real.
Três dias após nosso noivado, tive a brilhante ideia de
surpreender Dante em seu escritório, mas tinha que ser em um dia e
horário que não houvesse muita gente no prédio. Não quero correr o
risco de sermos pegos. Então decidi fazer a surpresa na sexta-feira,
no final do expediente logo após sua fisioterapia.
E como se o destino estivesse me ajudado, hoje pela manhã,
assim que chegamos a empresa, Dante me surpreendeu com uma
flor que segundo ele havia comprado alguns dias atrás. Quando a
peguei de suas mãos, percebi que não era uma rosa comum.
— Naquele dia em que saímos e você está distraída olhando
vestidos, encontrei e pensei na sua calcinha que rasguei quando
você foi a minha casa pela primeira vez — diz me fazendo ficar
ainda mais curiosa.
Olhei com mais atenção para a flor e percebi que havia renda
no meio feio, quando a puxei meus olhos se arregalaram ao
constatar ser uma calcinha minúscula na cor vermelha.
Mordendo o lábio inferior, agradeci pelo presente e aproveitei
a oportunidade para provoca-lo dizendo que era perfeito já que eu
estava sem nada por baixo, apenas o vestido na cor preta.
Meu noivo soltou um palavrão surpreso com a minha
declaração e quando subi a sai até o meu quadril e vesti lentamente
a calcinha em sua frente, ele rosnou e não parou de dizer o quanto
me amava.
Isso só me deixou ainda mais excitada para o que estou
prestes a fazer agora.
Tremendo de ansiedade, enviei uma mensagem em seu
celular pedindo que me encontrasse em sua sala às 19h00min. Ele
perguntou do que se tratava, mas fui vaga dizendo apenas que era
algo urgente.
Estou sentada no sofá de sua sala com minhas pernas
tremendo. Pego meu celular e uma caixa de som pequena que
encontrei em sua casa na noite passada. Conecto meu aparelho e
seleciono na tela a música, aguardando-o chegar.
Exatamente 20 minutos depois, que mais pareceram vinte
horas, a porta se abre e o vejo Dante. Ele veste uma calça social
com uma camisa branca. Seu cabelo está molhado, o que me faz
pensar que tomou banho antes de vir até aqui.
Cruzo minhas pernas, e ordeno assim que ele fecha a porta
atrás de si: — Sente na sua cadeira. — Ele tenta se aproximar de
mim ao notar o que estou vestindo: um vestido de seda curto de
alcinhas que deixa minhas pernas totalmente à mostra com uma
cinta liga preta, que coloquei assim que ele partiu para a academia
do prédio mais cedo. Eu o impeço, apontando para sua mesa. Ele
sorri de lado e faz o que eu pedi.
Senta-se de forma relaxa e pergunta: — O que é tudo isso
Ana?
— Você vai ver. — Me levanto caminhando até um banco que
deixei na frente do sofá, me sento de costas para ele, olhando por
sobre os ombros quando digo — Mas vai apenas olhar. Não pode
me tocar — falo e ele assente com um sorriso divertido nos lábios.
Dou play na caixinha de som que está na minha frente,
posicionada no chão, fazendo a música preencher o ambiente. A
voz da Beyoncé começa a cantar e eu faço cada passo da
coreografia que eu sei de cabeça, por ser fã de carteirinha.
Ouço Dante soltar alguns palavrões em forma de gemidos,
me deixando mais determinada em dançar para ele
Cada movimento que faço, Dante lambe os lábios e posso
ver em seus olhos o quanto ele está se segurando para ficar apenas
observando. Noto o quanto está excitado e isso faz meu tesão
aumentar.
Afasto-me do banco caminhando até ficar próximo de sua
mesa, onde tiro lentamente meu vestido o jogando longe, ficando
apenas de cinta liga e a calcinha fio dental que ele comprou para
mim esta manhã.
A música vai terminando e dou passos lentos até onde ele
está, me posicionando entre ele e a mesa. Viro de costas,
empinando minha bunda e ordeno:— Morde!
Ele não demora e morde, me fazendo gemer. Meu corpo todo
treme, quando vejo que ele tira sua camisa e abaixa sua calça junto
com sua cueca até alcançar os joelhos, deixando seu pau saltar
para fora.
Dante me inclina sobre a mesa, afastando minha calcinha e
entra em mim sem cerimônia.
— Linda pra caralho! — diz quando começa a se mover com
estocadas fortes.
Seguro-me na mesa quando seu ritmo aumenta, tornando
meus gemidos mais intensos e frenéticos.
— Assim amor... Não para! — choramingo quando ele
encontra o ângulo e ritmo perfeito.
Algumas estocadas mais e várias palmadas, gozamos juntos,
feito dois animais. Ele me puxa fazendo minhas costas encostarem
em seu peito e fala ao meu ouvido: - Ti amo. Ti amo. Isso foi...
perfetto, amore. Perfetto!
— Eu prometi e cumpri. Dancei pra você para mostrar o
quanto eu sou grata por ter você. Então — falo e ele sai de mim,
pegando sua camisa começa a me limpar — agora é sua vez de
cumprir o acordo.
— Não me lembro de ter feito um acordo.
— Pois eu me lembro muito bem de você dizendo repetidas
vezes sim enquanto eu chupava o seu pau na semana passada —
provoco cruzando meus braços, alçando uma sobrancelha.
— É golpe baixo usar essa boquinha deliciosa — Dante
passa o polegar em meus lábios me arrancando um suspiro, meu
ponto entre as pernas vibrando novamente — para conseguir o que
sua Ana tarada quer.
— Você deu sua palavra — o lembro.
Ele suspira, inclinando sua cabeça para baixo e logo em
seguida volta a me olhar ao dizer: — Vá bene. Vá bene. — Então,
se vira, ficando de costas para mim — Só você mesmo, Anaaaaa...
— grita quando eu mordo forte seu, lindo e perfeito, bumbum,
deixando uma marca perfeita de meus dentes.
— Estou satisfeita agora — falo com o nariz empinado
cruzando os braços.
— Você é louca — diz ficando de frente para mim,
massageando o lugar da mordida.
— Louca por você — falo e ele me beija apaixonadamente.
— Agora, — Dante se afasta, depositando um beijo carinhoso
em minha testa e na ponta do meu nariz — vamos para nossa
cobertura, amore mio. Vamos para nossa casa.
Nossa casa. Vamos para nossa casa.
Todas as vezes que escuto essas palavras, as borboletas em meu
estômago surtam.

— Amor, você pode me deixar sozinha — falo lutando para


não tirar os olhos da tela do tablet à minha frente.
— Porque, amore mio? Posso ajudar — oferece e sinto sua
presença próxima a mim.
— Não consigo pensar direito com a sua bunda me
encarando nessa cueca boxer. Me desconcentra — resmungo
dando uma pausa no vídeo da senhorinha simpática em um canal
do Youtube.
Dante solta uma risada me abraçando por trás, descansando
seu queixo em meu ombro.
— Você sabe que posso ligar para a confeitaria e pedir
quantas tortas você quiser, não sabe? — fala.
— Eu sei, mas assim não teria graça. Quero tentar eu mesma
fazer a minha sobremesa favorita — explico. — De acordo com Bea,
é maravilhoso o sentimento de comer algo que amamos que nós
mesmos fizemos. Quero ter esse prazer, droga!
Dante solta uma risada, sacudindo nossos corpos.
— E por isso acordou às sete da manhã de um sábado? —
questiona.
— Isso — afirmo — Sonhei que estava comendo uma torta
de morango que eu mesma fiz — comento — Acho que sonhei com
isso porque ontem mordi, finalmente, a sua bunda — brinco virando
meu rosto para olhá-lo por sobre os ombros.
Ele revira os olhos e deposita um beijo na ponta do meu
nariz.
— Eu amo quando você faz isso — confesso.
— E eu amo fazer isso em você, “gnomio”.
Bufo batendo em seus braços para me soltar e ele o faz,
sorrindo feito um menino.
— Vou ajudar você — declara.
— Só aceito sua ajuda se colocar uma calça — pontua,
empinando o queixo para ele, que anui voltando minutos depois com
uma peça cobrindo a parte inferior do seu corpo.
Um pouco mais de uma hora depois, eu estava sentada de
pernas cruzadas em nossa cama, me deliciando com a melhor torta
que eu já comi na vida. Realmente, minha cunhada estava certa. O
prazer que sinto a cada pedaço que levo à boca me faz gemer de
olhos fechados. Bem, para ser realista, eu fiz apenas o recheio, meu
noivo italiano quem fez todo o resto.
— Você fica tão linda comendo essa torta — Dante comenta
me fazendo virar o rosto na direção do closet, onde o vejo apoiado
na porta, com um sorriso de lado desenhando seus lábios.
— Da última vez que você me encarou assim, enquanto eu
comia uma dessas, passou morango na minha boceta — o lembro
falando de boca cheia.
Ele sorri caminhando até onde estou, se sentando à minha
frente.
— Escrevi a carta — anuncia me pegando de surpresa.
Ele me olha por um segundo, antes de levar o seu polegar
até o canto da minha boca, onde limpa um resquício de chantilly que
ficou ali e com a ponta de língua limpa seu dedo.
— Sim, definitivamente seu gosto é mais gostoso do que
chantilly — comenta.
Deixo o que resta da sobremesa no prato que está ao meu
lado, sobre a mesinha lateral, dando total atenção a ele.
— Escreveu a carta para Carlos? — pergunto para ter
certeza e ele acena.
— Escrevi ela na noite em que te pedi em casamento. Fiquei
pensando o que ele me diria naquele momento. Fiquei com… —
solta um suspiro e antes que possa concluir a frase, eu faço.
— Saudade. — Toca em meu rosto com carinho. — Você
estava com saudade dele. — ele anui. — E como está se sentindo?
— procuro saber.
— A terapia tem me ajudado a compreender e administrar
melhor tudo que sinto, o que inclui a saudade do meu amigo, além
de me deixar mais confortável cada vez que fico atrás do volante. E
escrever a carta me deixou menos… pesado, como se o peso em
minhas costas tivesse diminuído. Coloquei ela dentro da caixa, lá
onde tenho algumas cartas que ele escreveu, assim como fotos
nossas.
— Fico feliz em ouvir isso. — digo com sinceridade — Estou
orgulhosa de você, amor.
Dante me surpreende ao me puxar para ficar sentada em seu
colo, com uma perna em cada lado.
— Obrigado. — segura meu rosto, olhando em meus olhos —
Obrigado por me trazer esperança quando eu já não tinha forças
para lutar.
— E você me trouxe algo que eu sempre busquei, mas
pensei ser improvável de encontrar — falo e um sorriso apaixonado
surge em seu rosto — Paz. Você me trouxe a paz em poder viver
um amor tranquilo.
— Eu te amo, minha “gnomio” serelepe.
— Eu te amo, meu CEO do bumbum bonito.
De: Dante ����
Para: Carlos ����
"Querido Carlos,"
É assim que as cartas começam, certo?
Porra! Não faço a mínima ideia. Nunca precisei escrever uma
carta pra ninguém antes e as poucas vezes que pensei sobre o
assunto, achei que escreveria para uma mulher e não para você,
seu filho da mãe. Acho que é como você me disse uma vez, quando
juramos sermos melhores amigos no quintal da casa dos meus pais,
enquanto brincávamos e devorávamos uma pizza recém saída do
forno feita pela minha mãe. "Amigos antes de garotas, não importa o
quão bonitas e cheirosas elas sejam."
Tínhamos apenas treze e quatorze anos e achávamos que
garotas bonitas e cheirosas seriam um risco para nossa amizade, só
porque você não aceitou ser minha dupla no trabalho de história
para fazê-lo com Melissa, a garota mais bonita da nossa turma.
Essa foi a única vez que brigamos e ficamos sem nos falarmos por
uma semana.
Foi aí que essa sua mania de escrever cartas, estando bravo,
começou.
Não sei como fazer isso. Você era “o bom com cartas”, não
eu.
Então, vou começar do meu jeito.
Oi, seu filho da mãe. Espero que esteja bem onde quer que
você esteja. Eu poderia simplesmente dizer que você está no céu,
mas levando em conta que você era um verdadeiro puto quando
estava por aqui, não posso afirmar.
Sei que você deve está pensando "O que esse italiano
metido a brasileiro está fazendo escrevendo uma carta para um
defunto, enquanto sua noiva gostosa está dormindo nua na sua
cama?"
Fique sabendo que ela é a razão para eu estar aqui, fazendo
isso. Se você estivesse aqui com certeza me chamaria de sortudo
filho da puta, com todo respeito a "Tia Beatriz" como você
costumava chamá-la, principalmente quando queria que ela fizesse
pizza.
Sim, eu realmente sou um filho da puta sortudo por ter Ana
Laura ao meu lado.
Sei que essa carta não vai chegar até você, mas torço que
por algum milagre você saiba dela, que esteja me olhando e
zombando por eu me encontrar mais sentimental do que o habitual,
me chamando de marica por estar de quatro por uma mulher.
Sim, caro mio. Eu estou fodidamente de quatro por Ana
Laura.
Você mais do que ninguém, sabe que sempre sonhei como
seria amar alguém, contudo, jamais pensei que poderia ser tão forte,
capaz de me deixar sem fôlego e na mesma proporção ser o ar que
eu preciso para continuar vivendo.
É exatamente assim que a "gnomio" me faz sentir. E sim,
Matteo lhe deu esse apelido porque ela é baixinha, bem baixinha,
mas uma baixinha encantadora. Pensa em uma coisinha pequena,
linda e engraçada, principalmente quando está dormindo ou
devorando uma torta de morango.
Tenho certeza, que se você estivesse aqui, se daria muito
bem com ela, ainda que insistisse para que eu tivesse uma
despedida de solteiro.
Ah… como eu queria você aqui, meu amigo.
Acho que decidi escrever porque sinto sua falta e torço para
que a saudade que dilacera meu coração seja consolada de alguma
forma com as palavras que aqui escrevo.
É estranho falar de você no passado, nunca os verbos me
incomodaram tanto quanto agora. Ainda sou capaz de reconhecer
você em cada lugar que já esteve como se nunca tivesse partido.
Por vezes me peguei encarando as portas dos lugares esperando
que você batesse anunciando sua entrada como "Carlos, o
gostoso", como você gostava.
Mas você não está aqui, não mais. E isso me dói. Dói não ter
meu melhor amigo aqui comigo.
Sinto falta das suas frases de efeito, aquelas que você
sempre usava quando algo inesperado acontecia. Como quando
fomos a uma boate e o segurança não queria liberar a nossa
entrada porque você pegou a garota dele sem saber que era a
garota dele.
Lembro que Matteo fez um comentário engraçado, Henrique
riu como sempre e você simplesmente disse ao homem que tinha o
dobro do seu tamanho: “ — Ela não me disse que era
comprometida, mas acho que você deveria me agradecer por ter
cuidado tão bem da sua garota. Cuidar é o verbo mais importante
em qualquer relacionamento. Fica a dica grandalhão.”
Isso lhe rendeu um olho roxo e dias com meu irmão dizendo
que a cor roxa combinava com você.
"Cuidar é o verbo mais importante em qualquer
relacionamento.”
Eu falhei nesse quesito com você e sua família, meu amigo, e
sinto muito por isso.
Durante os primeiros meses em que retornei ao Brasil e fiquei
na casa dos meus pais, pensei várias vezes em ir até a casa de sua
família, mas não consegui. Juro que podia ouvir sua irmã Bianca
gritando para que Ricardo parasse de pegar em suas coisas. Mas
isso era impossível, haja vista que a casa fica a seis ruas da de
meus pais.
Quando isso acontecia, eu pegava meu celular e encarava a
última conversa que tivemos, mandava "oi", esperando que você me
respondesse de volta, mas você não me respondia, você nunca
mais vai me enviar seus áudios cantando ou suas fotos sorrindo
cada vez que via uma bandeira da Itália. Você não vai voltar e, por
mais difícil e demorado que tenha sido, eu já aceitei.
Me desculpe por não ter cuidado dos seus pais e dos seus
irmãos como um bom melhor amigo deveria fazer. Me desculpe por
não ter lutado mais contra a dor e enfrentando meus medos e
pesadelos para consolá-los. Me desculpe por ter sido egoísta
durante dois anos e esquecido que não fui o único que sofreu com a
sua perda. Me desculpe, meu amigo. Me desculpe por ter passado
esse tempo todo sendo um covarde de merda.
Sinto muito se demorei para enxergar tudo isso.
Eu sempre vou me lembrar de você, eu jamais vou deixar de
pensar em todos os momentos que compartilhamos, desde que
tivemos nossa primeira conversa.
Por nós dois, serei grato e viverei a segunda chance que me
foi concedida, da melhor maneira possível. Com certeza, sei que
você gostaria disso. Prometo te visitar mais vezes e fazer uma
lápide nova com todas as suas frases favoritas; prometo ser mais
presente na vida dos seus pais e irmãos, e cuidar deles como se
fossem a minha família.
Te prometo isso com a minha vida, Carlos.

Com amor e muita saudade, Dante Fontana.

"FIM"
— Bom dia, noiva! — digo ao atender a vídeo chamada de
Ana.
Faz menos de duas semanas meu irmão pediu Ana Laura em
casamento, motivo de festa para toda nossa família.
— Onde está a Bárbara? — pergunta.
— Provavelmente em seu apartamento no décimo quinto
sono — digo sorrindo.
Ontem, sábado, nós duas saímos para dançar e só voltamos
para casa de madrugada. Fomos com meu carro, porém tivemos
que pegar um táxi no final da festa, já que bebemos demais da
conta. O motorista a deixou primeiro e depois foi minha vez de ficar
na casa dos meus pais. Mesmo morando com eles desde que
cheguei da Itália, procuro levar minha vida normalmente como uma
adulta.
Minha mãe é super tranquila e sempre conversou comigo
como uma amiga. Meu pai por outro lado, é ciumento igual aos
meus irmãos e já prevejo uma conversa sobre ter chegado tarde da
noite.
Não vejo a hora da reforma do apartamento que comprei
terminar, e enfim eu ter meu próprio lar do jeitinho que sempre
sonhei. A bronca que vou levar dos homens da família por ter feito
tudo em segredo valerá a pena.
— Preciso da ajuda de vocês — Ana diz quase sussurrando.
— Por que você está falando tão baixo?
— Porque Dante ainda está dormindo e eu estou no
banheiro. Não quero fazer barulho.
— Você está bem? — pergunto.
— Não B — fala e vejo seu rosto assumir uma expressão
preocupada — Eu estou surtando.
— O que aconteceu?
— Eu... eu não sei. Quer dizer, eu sei como aconteceu, óbvio.
Mas não sei se realmente aconteceu.
— Não entendi nada. Explica direito.
— Eu... eu estou atrasada.
— Hoje é domingo maluca. Não temos trabalho — falo rindo.
— Não estou falando de trabalho — suspira. — Estou falando
de menstruação, porra. Estou atrasada.
Sento na cama, apoiando minhas costas na cabeceira e solto
um gritinho abafado de animação.
— Não acredito! — sorrio com os olhos arregalados.
— Eu só fui perceber agora. Estava tão focada nos
preparativos do casamento que ... Ai meu Deus! O que eu faço?
— Calma! Vou tomar um banho e ligar para Bárbara.
Estaremos aí em menos de duas horas. Ok? — pergunto e ela anui
— Eu levo os testes.
— Que testes?
— De gravidez, maluca.
— E se for coisa da minha cabeça? Pode ser o estresse por
isso ela ainda não desceu.
— Quanto tempo faz?
— Uns dez dias, eu acho. — Pensa por um segundo e
continua — Mês passado meu ciclo foi fraco, estranhei, mas não dei
muita importância.
— Você vai fazer um teste e vamos ter certeza. Desencargo
de consciência — falo — Tudo bem?
— Tudo — diz com uma cara de choro — Eu estou me
cagando de medo, Bea. Faltam algumas semanas para o
casamento e... Meu Deus!
— Vai dar tudo certo.
— Merda! — fala colocando a mão na testa.
— O que foi? Qual o problema?
— Os meninos vêm para cá hoje — diz.
— Melhor ainda. Dependendo do resultado, você já conta
logo.
— Estou ficando com dor de barriga de tão nervosa —
choraminga segurando seu ventre.
Acho graça da careta que ela faz e digo:— Relaxa.
— Amor? — ouço a voz de meu irmão através do telefone.
— Estou no banheiro. Já vou — Ana grita em resposta a
Dante — Preciso ir. Vou liberar a entrada de vocês. Não demorem,
por favor.
— Tudo bem. Vai logo, antes que ele desconfie de alguma
coisa.
Despedimos-nos e finalizo a ligação. Saio da cama, seguindo
para o banheiro e faço minha higiene pessoal. Com uma toalha
enrolada em meu corpo, caminho até o closet e escolho uma calça
jeans clara com uma blusa preta simples. Calço um salto nude,
pego minha bolsa com minhas chaves do carro e antes de descer,
ligo para Bárbara avisando que passarei em sua casa.
Desço as escadas e quando chego à cozinha, encontro meus
pais conversando.
— Que horas você chegou ontem, bambina? — meu pai
investiga.
Reviro os olhos e digo: — Depois das duas da manhã. —
Beijo sua cabeça grisalha e vou até minha mãe, lhe dando um
abraço de lado.
— Bom dia, filha — fala sorrindo.
— Bom dia, mamma.
— Você saiu com quem ontem?
— Pai, eu não fiz nada de errado. E eu estava com a Bárbara
— respondo me servindo com algumas frutas.
— Onde está seu carro? Não vi na garagem.
— Deixei no estacionamento da boate. Eu acabei bebendo
um pouco e peguei um táxi.
— Você... você... — meu pai gagueja e eu franzo o cenho
olhando em sua direção.
— O que pai? Pergunte logo.
— Você beijou alguém? — pergunta nervoso.
— Deixe ela, Vincenzo. — Minha mãe toca em seu braço
tentando acalmá-lo.
Os homens da família não aceitam que eu cresci e não sou
mais aquela garotinha que corria pela casa querendo saber apenas
de brincar com bonecas. Agora, eu quero brincar com outras coisas,
se é que me entendem.
— Sim, eu beijei um cara. — falo dando de ombros — Na
verdade, dois.
— Per Dio! — fala com as mãos para cima.
— Foram apenas dois beijos, pai, nada demais. Eu não sei
por que tanto alarde por isso.
— Porque você é minha principessa — fala com aquela voz
paternal tocando em minha bochecha.
— Uma principessa che fa sesso. (Uma princesa que transa)
— digo travessa e vejo meu papà empalidecer.
— Cazzo, Beatrice! — bate um punho na mesa.
— O que? Matteo e Dante sempre fizeram sexo, e nunca
foram julgados ou criticados por isso. Matteo principalmente, que
sempre está com uma a cada dia — falo antes de começar a comer
as frutas que estão em meu prato.
— Amor, — minha mãe diz olhando para meu babbo, só ela é
capaz de acalmar esse italiano quando o assunto é ciúmes — ela
não é mais uma criança e sabe o que está fazendo. O importante é
que ela esteja tomando cuidado. Não é minha filha?
— Claro. Uso camisinha sempre — digo sorrindo.
— Ai, Dio mio — meu pai fala descansando a cabeça nas
mãos.
— Babbo, ti amo. Não se preocupe. — Beijo sua testa e ele
sorri fraco olhando para mim.
— Meu sonho bambina, é ver você e Matteo com alguém que
ame vocês, assim como Dante e Ana. Não há nada melhor que
construir uma família.
— Ok! Isso vai demorar. Um pouco. Muito na verdade. Mas
eu entendi, papà. — Seguro suas mãos e falo: — Você é o melhor
pai do mundo.

Depois do café, peço um táxi e sigo até a boate para buscar


meu carro. Em menos de cinquenta minutos já estou parada em
frente ao prédio de Bárbara esperando por ela.
— Vamos! — grito quando a vejo sair pela porta.
— Calma. Minhas pernas estão doendo de ontem — diz
abrindo a porta do passageiro, entra, coloca o cinto e pergunta —
Qual o b.o. que nós vamos resolver dessa vez?
— Vamos passar em uma farmácia e depois iremos para a
cobertura de Ana — digo colocando o carro em movimento.
— Qual a emergência?
— Menstruação atrasada.
— Caramba! — fala alto colocando as mãos na boca — Meu
Deus, vamos ser tias — comemora animadamente, mas logo para,
se vira para mim e diz: — Espera, se ela estiver grávida quem vai
ser a madrinha?
— Puta merda! Mas eu tenho prioridade, sou irmã do pai.
— Por isso mesmo que eu tenho que ser a madrinha do bebê
— diz cruzando os braços — Você, tecnicamente já tem o DNA da
criança. E eu? — choraminga.
Bárbara é a pessoa mais persuasiva que eu conheço. Ela
sempre consegue dobrar Ana e eu. Tenho pena quando arranjar um
namorado. O coitado vai ser seu cachorrinho de estimação.
— Ok! Você venceu, como sempre — falo soando derrotada
a fazendo rir. — Você daria uma ótima advogada, sabia?
— É o dom que eu tenho por ser filha única — diz com o
nariz empinado.

Depois de passar na farmácia e comprar cinco testes de


gravidez diferentes, chegamos ao prédio onde Dante e Ana moram.
Estaciono o carro e caminho até o elevador. A porta se abre na
cobertura e ouvimos risadas vindas da sala. Os três estão sentados
no sofá, vendo algo que não sei dizer o que é na televisão.
— Chegamos! — aviso me aproximando deles.
Meus irmãos nos cumprimentam com um sorriso, menos
Henrique. Desde a noite do evento da empresa, ele está distante.
Não fala mais comigo, apenas quando lhe pergunto algo. Nem olhar
mais para mim ele olha direito.
— Oi, Henrique — digo acenando em sua direção.
— Oi, Bea. — Me olha rápido com um sorriso fraco no rosto.
Eu amo que ele me chama de Bea. Muitas pessoas me
chamam assim, mas quando ouço meu apelido sair de sua boca
com aquela voz grossa, fico com uma vontade louca de agarrá-lo.
Cazzo! Quero dá pra esse cara. Quero dá muito.
— O que vocês estão assistindo? — Bárbara pergunta.
— Novela — Dante fala — Matteo nos obrigou a ver pelo
menos três episódios.
— Admitam! Vocês estão gostando caralho — meu irmão os
entrega.
— Não é tão ruim — Henrique confessa.
— Mas também, não é tão bom quanto um filme de terror —
Dante pontua e B1 revira os olhos.
— Onde está minha cunhada? — pergunto.
— Ana está no quarto, hoje ela não está se sentindo bem.—
fala preocupado — Na verdade, passou a semana estranha. Eu ia
chamar um médico, mas ela disse que não precisava. Vocês sabem
como ela é teimosa.
— Deve ser porque o dia do casamento de vocês está
chegando. Relaxa! — Matteo o acalma.
— Não se preocupe, fratello. Vamos falar com ela. — Ele
assente e volta sua atenção para a televisão.
— Não demora boneca — B1 cantarola e minha amiga lhe
mostra o dedo do meio, o fazendo rir.
Subimos as escadas e entramos no quarto, encontrando Ana
sentada na beira da cama. Ela vem correndo até nós assim que
estamos em seu campo de visão.
— Até que fim — fala assustada. — Cadê? Compraram? Meu
Deus, eu nunca fiz um teste na minha vida. Estou passando mal. Ai
meu Deus!
— Calma. Não fique assim, pode fazer mal para nosso
sobrinho ou sobrinha — Bárbara fala tocando em sua barriga.
— Para com isso! Eu posso não estar, sabia? — Ana fala
fazendo uma careta.
— Olhando melhor para você cunhada, você engordou um
pouquinho e consigo ver sua barriga um pouco mais avantajada.
— Se eu não estiver vou me lembrar de suas palavras B —
diz tocando na barriga — Vamos logo, estou a ponto de explodir de
tanta água que eu bebi.
Caminhamos até o banheiro, e entramos fechando a porta.
— Pra que tudo isso de teste? —Ana pergunta.
— Para ter certeza. Você não é a única que nunca fez um
desses na vida. Peguei um de cada marca que tinha na farmácia. —
Entrego a ela um frasco pequeno e digo — Mija logo.
Abrimos as embalagens, e depois que ela enche o copo
colocamos os testes por trinta segundos e os tiramos, deixando-os
em cima da pia. Descartamos o líquido no vaso e o copo na lixeira,
e aguardamos.
— Quanto tempo? — minha cunhada fala, se sentando no
chão.
— Cinco minutos — Bárbara responde.
— Ai meu Deus! Como isso aconteceu? Eu tomo remédio...
puta merda!
— Isso é possível. Se tiver que ser vai ser — digo.
Os cinco minutos se passam tão devagar que mais parecem
cinco horas. Olho para Ana.
— Já deu tempo. Você quer ver?
— Não! Vejam vocês — pede ficando pálida de nervosismo.
— Você precisa se acalmar amiga — Bárbara fala se
abaixando, ficando na altura dela.
— Vou olhar — aviso.
Viro-me e meus olhos se arregalam quando vejo quatro
exames com duas listras e um escrito grávida três mais.
— Cazzo! — grito.
— O que? — elas perguntam atrás de mim.
— Vamos ser tias! — falo olhando para elas, dando pulinhos
de alegria.
— Tias! — Bárbara exclama, ao se levantar vindo me
abraçar.
— Eu... eu... meu Deus. Eu estou... puta merda, eu estou
grávida — Ana sussurra tocando em sua barriga. Vejo lágrimas
começarem a cair pelo seu rosto. — Eu vou ser... mãe?
— Sim, cunhada. Na verdade, você já é mãe — digo
carinhosamente.
— O que está acontecendo aí dentro? — Dante fala do lado
de fora.
— Abram a porra da porta! — Matteo grita.
— O que eu faço? O que eu faço? — Ana pergunta agitada
se levantando indo até o espelho.
— Conte para meu irmão, tenho certeza de que ele vai amar.
— Vou derrubar a porta se vocês não abrirem!
— Se você fizer isso idiota, eu vou ligar para a polícia —
Bárbara fala e ouço meu irmão gargalhar.
— Já vamos abrir. Só um minuto — aviso.
— Ana, você está bem? — Dante pergunta angustiado —
Meu amor, fale comigo. Por favor... não me torture mais. Você está
estranha há dias. Fale comigo, amore mio.
Olho para minha cunhada que está com os olhos marejados
e vermelhos. Ela suspira e acena, indicando para que eu abra a
porta. Faço e assim que Dante a vê, caminha até ela e a segura no
rosto com as duas mãos.
— O que você tem amor? Porra, eu estou enlouquecendo.
Me fala o que você tem. Eu estou aqui e voc...
— Estou grávida! — Ana fala rápido, interrompendo-o.
— O que você disse? — meu irmão pergunta de olhos
arregalados.
— Eu acabei de... de fazer alguns testes. — Aponta para pia
do banheiro, leva suas mãos até sua barriga e fala entre lágrimas —
Vamos ter um bebê!
Olho para Matteo e Henrique, ambos com uma cara de
espanto ainda parados na entrada do banheiro. Bárbara está ao
meu lado emocionada.
Dante não diz nada. Fica assim por alguns segundos até
gritar chorando:— Cazzo! Diventerò padre! (Eu sou ser pai!)
— Eu sei que falamos que íamos esperar e...
— Amor, tudo bem. Eu estou explodindo de felicidade. — A
abraça forte — Ti amo, amore mio. Ti amo, ti amo, ti amo — fala.
— Eu vou ser tio, porra! — Matteo grita com as mãos para o
alto — Eu vou ser o melhor tio que essa criança vai ter.
— Segundo melhor — Henrique interrompe.
— Nem fodendo — meu irmão rebate.
— Eu já amo tanto vocês duas — Dante diz beijando Ana.
— Vocês duas? — pergunto cruzando os braços — Como
você sabe que é uma menina, fratello?
— Eu sei que é — diz confiante e volta sua atenção para sua
noiva — Porra, você não tem noção do quanto me faz feliz mulher.
Sou doido por você.
Ana desata a chorar segurando nos ombros dele:— Eu estou
com... com medo amor.
— Medo?
— Sim. E se eu não for uma boa mãe? Você sabe que eu sou
meio doida e...
— Meio? — Matteo fala e Henrique dá um tapa em seu
braço.
— Você vai ser a melhor mãe do mundo para nossa filha. E
eu vou estar aqui ao seu lado. — Beija seus lábios — Vocês são a
minha vida.
— E você a nossa — ela diz por fim se acalmando — Não
acredito que isso está acontecendo.
— Nem eu amor. Pensei que você tomasse remédio.
— E eu tomo. Mas... — Dá de ombros.
— Mas ela tinha que vir — Dante completa sorrindo de orelha
a orelha — Vou marcar uma consulta amanhã e vamos sair para
comprar câmeras e instalar em toda cobertura. Iremos precisar de
protetores para tudo que tenha ponta por aqui e vou contratar um
segurança e uma enfermeira vinte e quatro horas para você. Temos
que contar para nossos pais — fala praticamente sem respirar.
— Ei, calma. Vamos com calma, Dante — Ana diz e ele a
olha — Vamos começar com a consulta. Tudo bem? — ele assente
— Depois damos a notícia para nossa família.
— Porra eu te amo! — a beija.
— Eu te amo mais — diz enxugando as bochechas com as
mãos.
— Isso pede uma comemoração — Bárbara fala — Eu pego
o vinho.
— E eu pego você, boneca. — Matteo sorri travesso para
minha amiga encostando-se no batente da porta.
— Cala a boca, idiota — diz passando por ele e o
empurrando pelo ombro, ou pelo menos tentando — Vou até a
cozinha.
— Vou com você. — Matteo a segue e ouço minha amiga
bufar.
— Vou deixar vocês dois sozinhos um pouco — falo e Dante
e Ana concordam.
— Descemos já, já — meu irmão diz.
— Tomem o tempo que precisarem. — Sorri — Parabéns —
digo a eles que agradecem e fecho a porta.
— Vamos? — falo para Henrique que está ainda parado
próximo à entrada, parecendo estar com a mente longe.
Ele não diz nada, apenas caminha saindo do quarto com uma
mão no bolso e outra tocando em seu queixo, sem nem me olhar.
— Ei, está tudo bem? — toco em seu braço com minha mão
esquerda e ele para.
— Sim, Bea — diz olhando para frente do corredor.
— Olha pra mim — peço, mas ele não o faz. Com minha
outra mão seguro seu rosto e o viro para me olhar. — Fala comigo,
Henrique.
Ele suspira antes de dizer.
— Eu só estava pensando que essa criança vai ter muita
sorte por ter pais que... a amam tanto. — Sinto um pouco de tristeza
em sua voz.
— Tenho certeza disso. — Faço um carinho em seu rosto —
Quer conversar?
— Não, está tudo bem. — Sorri fraco.
— Eu estou aqui. — Me aproximo, ficando a um palmo de
distância. — Para o que você precisar.
— Bea — chama meu nome como um aviso.
— O que? — levo minhas mãos até seu peito e não desvio
meu olhar do seu.
— É melhor... você se afastar — fala com a voz trêmula.
— Por quê?
— Porque todas as vezes que ficamos sozinhos e tão perto
um do outro, acabamos passando dos limites.
— Foda-se os limites! — seguro seu rosto quando digo
decidida olhando em seus olhos — Eu quero você!
Ele engole a seco.
— Eu tam... — se interrompe, soltando um longo suspiro
antes de continuar. — Nada pode acontecer entre nós dois Bea,
nada além de amizade. Entendeu? — Se afasta de mim, indo em
direção às escadas, sem me dar tempo de dizer mais nada.

EM BREVE. AGUARDE!
A Deus que me sustentou até aqui, que cuidou de mim e me
fortaleceu a cada passo que eu dava, sem Ele nada disso seria
possível;
A mim mesma, por nunca deixar de acreditar que eu
conseguiria;
Ao meu marido, que é conhecido pelas minhas leitoras como
Tio Dante, por ter se disponibilizado para ser o meu estudo de caso
para os hots. Obrigada por me aguentar a cada surto que eu dava
enquanto escrevia, por ter me apoiado nos momentos difíceis e não
ter saído do meu lado em nenhum segundo, obrigado por ter
insistido para eu compartilhar os cinco capítulos dessa história
quando eu escrevi em um caderninho velho. Olha só onde eu estou,
confusão? Na Amazon, cazzo! Você é a minha exceção, meu
Dantinho, uma das escolhas mais certas que eu já fiz na vida;
A minha mãe que desde o dia em que eu me alfabetizei me
incentivou na leitura ferozmente, ponto crucial para que eu
descobrisse minha paixão pela escrita. Obrigada por ser a minha fã
número um. Por entender cada vez que eu dizia “Mãe, preciso
escrever.” Por me apoiar, ainda que as incertezas lhe deixassem
com medo do que eu pudesse encontrar pelo caminho. Sua
coragem e força me inspiram;
Ao Renato por sempre ficar do meu lado quando dona
Simone vem me dar bronca, por me apoiar e embarcar sempre
animado nas minhas ideias;
A minha avó, que nunca deixou de orar por mim. Sinto sua
oração todos os dias, meu potinho;
Ao Beto, meu “paidrastro”, que desde o primeiro momento
que soube que eu estava escrevendo me apoiou. Jamais vou
esquecer suas palavras. Você não sabe o quanto eu precisava delas
naquele momento. Obrigada por ter aceitado a difícil missão de
cuidar de duas garotinhas serelepes anos atrás. Parte do que sou,
eu devo a você. Obrigada por me ensinar a não ter medo de ser eu
mesma;
A minha irmã, Bianca e seu marido Bruno, a boneca e o boca
suja da vida real. Vocês são incríveis e é bom demais saber que
posso contar com vocês, não apenas em momentos alegres, mas
principalmente nos tristes. Obrigada por cuidarem de mim e do meu
marido quando nós mais precisamos, saibam que a recíproca é
mais do que verdadeira;
A Alecxia e Nayra, por terem me apoiado no início, quando
tudo ainda era mato. Não importam os caminhos que nossas vidas
nos levem, minha gratidão sempre vai estar presente;
A Nick por sempre se lembrar de mim, me enviando
mensagens e compartilhando momentos felizes comigo, ainda que
eu estivesse na correria. Não há palavras que possam expressar o
quanto ser lembrada por você e pelo baby “Enzo” me fizeram bem.
Espero poder ver você dois logo, logo;
A minha amiga Priscila, que desde o primeiro momento em
que nos falamos não poupou elogios e palavras de incentivo, que
me aconselhou e me ajudou, a cada passo do caminho, mesmo com
a agitação do dia a dia. Você faz parte disso, amore mio. Espero
poder te abraçar logo, logo e dizer pessoalmente o quanto eu sou
grata por ter a sua amizade e espero que possamos compartilhar
muitos momentos juntas. Desejo estar ao seu lado e ver de perto
suas conquistas; desejo que alcance todos os seus sonhos; que
você e sua família sejam mais felizes do que já são; conta comigo.
Você vale ouro, minha “furacão”. Ouro! E não sabe o quanto suas
mensagens me ajudaram, mais do que consigo explicar em
palavras. Eis um presente na minha vida, uma das pessoas mais
lindas que eu já conheci, tanto por dentro, quanto por fora. Tenho
sorte de te chamar de amiga;
A Danielly, ou como eu carinhosamente chamo de Tereza.
Nosso encontro foi um encontro de almas, não há melhor jeito de
explicar a conexão que tivemos desde o primeiro momento que nos
falamos. Obrigada por sempre se fazer presente, por cuidar dos
grupos do whatsapp, pelos muitos panos que já passou pra mim,
por comprar brigas em meu nome, por permanecer ainda que
minhas escolhas não fossem tão certas, por compartilhar surtos
comigo e por muitas vezes, acreditar mais do que eu em mim
mesma. Você ficou, apesar de tudo e a amizade que nós temos é
singular e única, e desejo de todo o meu coração que ela dure até
ficarmos bem velhinhas. Você me mostrou que idade é apenas e
número. Aprendo todos os dias algo com você e avisa a senhora
que você vai ser minha advogada, minha “Diana”. Obrigada por me
dar de presente meus tão amados Chase e Hunter;
Aos meus sogros e cunhado, que tiveram um papel
importante enquanto eu reescrevia esse livro. Sou eternamente
grata por ter ganhado uma segunda família quando me casei;
A tia Léa e sua família, por me aguentarem por vários dias
em sua casa, me distraindo e me tirando do tédio. Vocês não sabem
o quanto aqueles dias foram importantes pra mim;
Ao meu grupo editorial que abraçou meu primogênito e eu
com muito amor e carinho, que fizeram o possível e o impossível
para que esse sonho se tornasse realidade. Vocês são maravilhosas
e desejo que conquistem o mundo com a casa proibida;
E por fim, e definitivamente não menos importante, aos meus
leitores e IGs literários que fazem, todos os dias, essa Família ser
vista, que me enchem de carinho a cada mensagem, a cada áudio,
me incentivando a continuar. Em especial, a todos dos meus grupos
do Whatsapp, do grupo Facebook, as administradoras dos fã clubes
e das contas dos perfis dos personagens. Vocês são incríveis
demais, meus morangos tarados e serelepes.
Amo todos vocês, imensuravelmente.

Com amor, Tia Nanda.


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