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As ciências
Capítulo 1
A atitude científica
O senso comum
O Sol é menor do que a Terra. Quem duvidará disso se, diariamente, vemos um
pequeno circulo avermelhado percorrer o ceu, indo de leste para oeste?
O duvidará
Sol se move em torno da Terra,
que permanece imóvel. Quem
se diariamente vemos o Sol nascer, percorrer o céu e se pör? A aurora no
disso,
é o
Seu começo e o crepusculo, seu im?
Araça é uma realidade natural ou biológica produzida pela diferença dos climas,
daalimentaço,
vemos da geograBia
que os atricanos, e da reprodução
são negros, sexual.
05 asiaticos Quem duvidará
sào amarelos disso,se
de olhos puxados,
Os indios sao vermelhos e os europeus, brancos? Se formos religiosos,
de Caim, marcado Deus, e de Cam, o
SaberemOs que os
negros descendem por
n n o desobediente de Noe.
Certezas como essas fomam nossa vida e o sernso comum de nossa sociedade
vezes, transtormando-se em
transmitido de geração em geração, e, muitas
crença religiosa, em doutrina inquestionavel.
A astronomla, porem, demonstra que o Sol e muitas vezes maior do que a Terra
se
e, desde Copemico, que à Terra que move em
e tono
dele. A fisica optica
demonstra, que as cores são ondas luminosas de comprimentos diterentes,
obtidas pela refração e reflexão, ou decomposição, da luz branca. A Diologia
demonstra que os gëneros e as especies de animais se tormaram lentamente, no
curso de milhöes de anos, a partir de modificaçoes de microonganisios
extremamente simples.
Historiadores e antropólogos mostram que o que entendemos por famila (pai,
mãe, filhos; esposa, marido, imãos) é uma instituição social recentisimadata
do seculo XV-e propria da Europa ocidental, não existindo na Antiguidade,
nem nas sociedades africanas, asiáticas e americanas pré-colombianas. Mostram
também que não é um fato natural, mas uma criação sociocultural, exigida por
condiçoes historicas determinadas.
Sociólogos e antropólogos mostram que a idéia de raça também é recente-data
do
século XVIIl sendo usada
,
por pensadores que procuravam uma explicaçao
para as diferenças fisicas e culturais entre os europeus e os povos conhecidos a
partir do século XIV, com as viagens de Marco Pólo, e do século XV, com as
grandes navegações e as descobertas de continentes ultramarinos.
Ao que parece, há uma grande diferença entre nossas certezas cotidianas e o
conhecimento cientifico. Como e por que ela existe?
Caracteristicas do senso comum
Um breve exame de nossos saberes cotidianos e do senso comum de nossa
sOciedade revela que possuem algumas caracteristicas que ihes sao proprias:
percebemos como diversos entre si. Por exemplo, um corpo que cal e uma pena
diferentes; Sonhar com agua é diferente de
que tlutua no ar sao acontecimentos
Sonhar com uma escada, etc.
? são individualizadores por serem qualitativos e heterogeneos, isto e, cada coisa
a Seda
Ou cada nos aparece como um individuo
tato ou
como um ser autonomo:
e o mel e doce, o fogo e quente, o
e
macla, a pedra e rugosa, o algodao aspero,
marmoree trio, a madeira e dura, etc.;
?mas também são generalizadores, pois tendem a reunir numa só opinião ou
5 idéia coisas e fatos julgados semelhantes: falamos dos animais, das
plantas, dos seres humanos, dos astros, dos gatos, das mulheres, das crianças,
das esculturas, das pinturas, das bebidas, dos remédios, etc.
? em decorência das generalizações, tendem a estabelecer relações de causa e
cientifico
Sob quase todos os aspectos, podemos dizer que o conhecimento
opõese ponto por ponto äs caracteristicas do senso comum
é objetivo, isto é, procura as estruturas universais e necessárias das coisas
investugaas,
? é quantitativo, isto é, busca
medidas, padrões, ritérios de comparação e
avaliação para coisas que parecem ser diferentes. Assim, porexemplo,as
diferenças de corsão explicadas por diferenças de um mesmo padrãoOucriterio
de medida, o comprimento das ondas luminosas; as diferenças de intensidade
dos sons, pelo comprimento das ondas sonoras; as diterenças de tamanho, pelas
diferenças de perspectiva e de ängulos de visao, etc.;
?é homogêneo, isto é, busca as leis gerais de funcionamento dos fenõmenos,
que são as mesmas para fatos que nos parecem diferentes. Por exemplo, a le
universal da gravitação demonstra que a queda de uma pedra e a flutuação de
à de
uma
pluma obedecem mesma lei atração e repulsão no interiordo campo
gravitacional; a estrela da manhä e a estrela da tarde São o mesmo planeta,
Vênus, visto em posições diferentes com relação ao Sol, em decorrëncia do
movimento da Terra; sonhar com água e com uma escada e ter o mesmo tipo de
sonho, qual seja, a realização dos desejos sexuais reprimidos, etc.;
? é generalizador, pois reúne individualidades, percebidas como diferentes, sob
as
mesmas leis, os mesmos padröes ou criterios de medida, mostrando que
possuem a mesma estrutura. ASsim, por exemplo,, quimica mostra que a
enorme variedade de corpos se reduz a um numero limitado de corpos simples
que se combinam de maneiras variadas, de modo que o numero de elementos e
infinitamente menor do que a variedade empirica dos compostos;
Os
fatos ou objetos cientificos näão são dados empiricos espontäneos de nossa
experiencla cotidiana, mas são construidos pelo trabalho da investigação
cientifica. ESta e um
conjunto de atividades intelectuais, experimentais e
tecnicas, realizadas com base em metodos que permitem e garantem:
cientifica
realidade, era uma esta
tal como explicação e uma Aepresentataov
é em si mesma. ciencia era uma especie de ta da
u
realidade. A concepção racionalista era hipotético-dedutiva, isto é, definia o
1. que haja coerência (isto é, que não haja contradições) entre 0s principios que
orientama teoria;
2. que os modelos dos objetos (ou estruturas dos fenõmenos) sejam construidos
com base na observação e na experimentaçao;
3. que os resultados obtidos possam não só alterar os modelos construidos, mas
também alterar os próprios principios da teoria, corrigindo-a.
Dilerenças entre a ciencia antiga e a moderna
Tomemos um exemplo que nos ajude a perceber algumas das diferenças entre
antigos e modernos.
euma ciencia que estabelece leis diferentes para os corpos segundo sua
materia e Sua torma, Ou segundo sua substancla;
?0s objetos fisicos investigados pelo cientista começam por ser purificados de
todas as qualidades sensoriais cor, tamanho, odor, peso, materia, torma,
liquido, solido, leve, grande, pequeno, etc.: Isto e, de todas as qualidades
sensiveis, porque estas são meramente subjetivas. O objeto e definido por
propriedades objetivas gerais, Vvälidas para todos os, seres fisicoS: massa,
volume, tigura. Torma-se irelevante o tipo de materla, de foma ou de
substäncia de um corpo, pois todos se comportam fisicamente da mesma
maneira. Torma-se inütil a distinção entre um mundo celeste e um mundo
Sublunar, pois astros e corpos terrestres obedecem às mesmas lels universais da
fisica;
?a fisica estuda o movimento não como alteração qualitativa e quantitativa dos
corpos, mas como deslocamento espacial que altera a massa, o volume e a
velocidade dos corpos. 0 movimento e o repouso sao as propriedades fisicas
objetivas de todos Os corpos da Natureza e todos eles obedecem as mesmas leis
aquelas
que Galileu formulou combase no principio da inercia (um corpo Se
mantem em movimento indetinidamente, a menos que encontre um outro que
A
fisica da Natureza se torna geométrica, experimental,quantitativa, causal ou
efiCiente e seus eteitos) suas leis tem valor
e
mecanica (relaçoes entre a causa
universal, independentemente das
qualidades sensiveis das coisas.
Tera, mar e
ar obedecem as mesmas leis naturais. A Natureza e a mesma em toda parte e
para todos os seres, não existindo hierarquias ou graus de imperfeição-
perteiçao, interioridade-superioridade.
Há, ainda, uma outra diferença profunda entre a ciëncia antiga e a moderna. A
primeira era uma ciência teorética, isto é, apenas contemplava os seres naturals,
sem jamais imaginar
empirico, 11gado intervir
a praticas neles ouà vida
necessarias sobree nada
eles. A técnica
tinha era um
a oferecer saber
à ciencia
nem a receber dela. Numa sociedade escravista, que deixava tarefas, trabalhos e
escravos, a técnica era vista como uma forma menor de
serviços ao5
conhecimento.
Duas afirmações mostram a diferença dos modernos em relação aos antigos: a
afirmação do filosofo ingles Francis Bacon, para quem saber e poder,ea
da
afirmação de Descartes, para quem a ciencia deve tornar-n0S senhores
Natureza" A ciência modema nasce vinculada à ideia de intervir na Natureza,
de conhecé-la para apropriar-se dela, para controla-la e domina-la. A ciencia nao
é apenas contemplação da verdade, mas é sobretudo 0 exercicio do poderlo
humano sobre a Natureza. Numa sociedade em que o capitalismo esta surgindo
e, para acumular o capital, deve ampliar a capacidade do trabalho humano para
modificar e explorar a Natureza, a nova ciencia sera inseparavel da tecnica.
Vimos até
Vimos até aqui duas grandes mudanças na ciência. A primeira delas se reterea
aqui duas r irismo
ao construtivismo,
isto é, de um
pass aseardo na idéia de que a ciência é uma representaçao ided
da
realidade tal como ela é em si
idéia de que o objeto
mesma,
a um
cientifico e
ideal de cientificidade baseado
um modelo construido e
na
nao uma
representação do real, uma aproximaçao sobre o modo de runcionamento dd
realidade, mas não o conhecimento absoluto dela. A segunda mudança retere-se
à passagem da ciencia a n t i g - teoretica, q u a l i t a t i v a a ciencla moderna
Filosofia das Ciencias viesse a falar em atraso e regressao Cienuica, pois essas
duas noções são idënticas às de evolução e progresso, apenas com o sinal
trocado (em vez de caminhar causal e continuamente para frente, caminhar-se-ia
causal e
continuamente para trás). eOosque a
Filosofia das Ciëncias compreendeu
ideais de cientificidade são diferentes e
foi que as elaborações cientificas
descontinuos.
epistemologico.
Para superar o obstáculo epistemológico, o cientista ou grupo de cientistas
precisam ter a coragem de dizer: Não. Precisam dizer não à teoria existente e
aos métodos e tecnologias existentes, realizando a nuptura epistemologica. Esta
à novos métodos e tecnologias, que atetamn
conduz elaboração de novas teorias,
todo o campo de conhecimentos existentes.
Uma nova concepção cientifica emerge, levando tanto a incorporar nela os
fo
CL
Ciencla
mentos de nuntura epistemológica e de criacão de
esses
Rnun aesignd ne
revoluçaoienti
Ovas eOds coma expressao Suostutund cientutica, como, por exemplo, a
quE explicaçao 8eocentrnca pela
à
pecald,
heliocentnca.
Segundo Khun, um campo cientifico é criado quando métodos, tecnologias,
formas de observação e experimentação, conceitos e demonstrações tormam um
todo sistemático, uma teoria que permite o conhecimento de inumeros
tenomenos.A teoria se torna um modelo de conhecimento ou um paradgma
Sentimento de que o passado estava errado, era interior ao presente aberto por
seu novo trabalho. Não é ele, mas o filósofo da ciência que percebe a ruptura e a
descontinuidade e, portanto, a diferença temporal. Do lado do cientista, o
progresso é uma vivëncia subjetiva;
2. do lado dos não-cientistas, porque vivemos sob a ideologiado progresso eda
evolução, do "novo" e do "fantástico". Além disso, vemoS 05 resultados
tecnológicos das ciências: naves espaciais, computadores, satelites, tormos de
microondas, telefones celulares, cura de doenças julgadas incuráveis, objetos
plásticos descartáveis, e esses resultados tecnológicos são apresentados pelos
governos, pelas empresas e pela propaganda como "signos do progresso e nao
Do lado dos não-cientistas, o progresso e uma crença
da diferença temporal.
ideologica.
Há, porém, uma razão mais profunda para nossa crença no progresso. Desde a
Antiguidade, conhecer sempre foi considerado o meio mais precioso e eficaz
para combater o medo, a superstição e as crendices. Ora, no caso da
modernidade, o vínculo entre ciëncia e aplicação prática dos conhecimentos
(tecnologias) fez surgirem objetos que não so tacilitaram a vida humana (melos
de
transporte, de iluminação,de comunicaçao, de cultvo do sol0,ec), as
entar sperna congoes que os
dos resue por isso
antigos to falamos
falamos em evoluç o orouress
e progresso.
Do ponto de vista das próprias teorias cientiticas, porém, a noção de progressop
nao possul tundamento, como explicamos acima.
Falsificação X revolução
Vimos que a ciencia contemporanea é construtivista, julgando que tatos e
fenómenos novos podem exigir a elaboração de novos métodos, novas
tecnologias e novas teorias.
Alguns filósofos da ciëncia, entre os quais Karl Popper, afimaram que a
reelaboração científica decorre do fato de ter havido uma mudança no conceito
filosófico-cientifico da verdade. Esta, como já vimos, foi considerada durante
muitos seculos comoa correspondencla exata entre uma idela ou um conceto e
a realidade. Vimos tambem que, no seculo passado, Toi propOsta uma teorla da
verdade como coerencia interna entre conceitos, Na concepcao anterio, O Taiso
acontecia quando uma idela nao corespondia a coisa que deveria representar.
Na nova concepção, o falso é a perda da coerëncia de uma teoria, a existencia de
contradiçòes entre seus principios ou entre estes e alguns de seus conceito.
Popper afima que as mudanças cientificas säo uma conseqüëncia da concepção
da verdade como coerëncia teórica. E propõe que uma teoria cientifica seja
avaliada pela possibilidade de ser falsa ou falsificada.
Uma teoria cientifica é boa, diz Popper, quanto mais estiver aberta a fatos nOvos
guevalor
possan toar also 05 prinuO5e os conces Dase
verdde, mas pela
possibilidade de
ser
Ser falsa. A falseabilidade seriar
seria o critério de avaliação das teorias cientificas e
a mesma teoria val sendo
garantiria a ideia denovos
progresso cientifico, pois e que
corrigida por tatos quea falsificam.
existem e
agem independentemente
da
ação humana) e ciencias pråticas
(conhecimento de tudo quanto existe como efeito das ações humanas);
e da
? critério da imutabilidade ou permanência mutabilidadedouo
seres investigados, levando à distinção entre metafisica (estudo
movimento e
Ser enquanto
Ser, fora de qualquer mudança), fisica ou ciëncias da Natureza (estudo dos seres
constituídos por matéria e forma e submetidos à mudança ou a0 movimento)e
dos materia, imutavels,
matemática (estudo seres dotados apenas de forma, sem
mas existindo nos seres naturais e conhecidos por abstração);
? critério da modalidade prática, levando à distinção entre ciëncias que estudam
à praxis (a açao etica, politica e economica, que tem o proprio agente como
(a tabricaçã de objetos artiiciais ou a aça que tem Como
fim) e as
técnicas
fim a produção de um objeto diferente do agente).
Com pequenas variações, essa classificação foi mantida até o século XVII,
especializadas.
A ciência exemplar: a matemática
A matemática nasce de necessidades práticas: contar coisas e medir terrenos. Os
primeiros a sistematizar modos de contar foram os orientais e, particularmente,
0s fenicios, povo comerciante que desenvolveu uma contabilidade, que
posteriormente iria transformar-se em aritmetica. Os primeiros a sistematizar
modos de medir foram os egipcios, que precisavam, apos cada chela aoO o ilo,