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FILOSOFIA:

Senso Comum / Dogmatismo


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SUMÁRIO
SENSO COMUM ...................................................................................................................... 3
DOGMATISMO ....................................................................................................................... 7
SENSO COMUM

O que é?

Chamamos de conhecimento espontâneo ou senso comum o saber resultante das experiências


levadas a efeito pelo homem ao enfrentar os problemas da existência. Nesse processo ele não
se encontra solitário, pois tem o concurso dos contemporâneos, com os quais troca informações.
Além disso, cada geração recebe das anteriores a herança fecunda que não só é assimilada como
também transformada.
O volume enorme de saberes herdados e construídos nem sempre são tematizados, ou seja, não
se apresentam de forma sistemática nem têm caráter de conhecimento refletido. Dependendo
da cultura, são encontradas, com maior ou menor intensidade, proposições racionais ao lado de
crenças e mitos de toda espécie. O senso comum, enquanto conhecimento espontâneo ou vulgar,
é ametódico e assistemático e nasce diante da tentativa do homem de resolver os problemas
da vida diária.

A raça é uma realidade natural ou biológica produzida pela diferença dos climas, da
alimentação, da geografia e da reprodução sexual. Quem duvidará disso, se vemos que os
africanos são negros, os asiáticos são amarelos de olhos puxados, os índios são vermelhos e os
europeus, brancos? Se formos religiosos, saberemos que os negros descendem de Caim,
marcado por Deus, e de Cam, o filho desobediente de Noé. Certezas como essas formam nossa
vida e o senso comum de nossa sociedade, transmitido de geração em geração, e, muitas vezes,
transformando-se em crença religiosa, em doutrina inquestionável.

Exemplificando:

O homem do campo sabe plantar e colher segundo normas que aprendeu com seus pais, usando
técnicas herdadas de seu grupo social e que se transformam lentamente em função dos
acontecimentos casuais com os quais se depara. É um tipo de conhecimento empírico(baseado
na experiência), porque se baseia na experiência cotidiana e comum das pessoas, distinguindo-
se por isso da experiência científica, que exige planejamento rigoroso. É também um
conhecimento ingênuo: ingenuidade aqui deve ser entendida como atitude não-crítica, típica do
saber que não se coloca como problema e não se questiona enquanto saber.

Muitas vezes o conhecimento espontâneo é presa das aparências. Por exemplo, parece que o
Sol gira em torno da Terra, que permanece parada no centro do universo. Vemos que o Sol se
move, nascendo a leste e se pondo a oeste. Em comparação com a ciência, o conhecimento
espontâneo é fragmentário, pois não estabelece conexões onde estas poderiam ser verificadas.
Por exemplo: não é possível ao homem comum perceber qualquer relação entre o orvalho da
noite e o "suor" que aparece na copo quando colocamos gelo.
Cientificamente a formação das gotas de água no lado de fora do copo acontece quando a água
no estado de vapor no ar, em contato com o copo, se condensa. A temperatura que o copo deve
estar para acontecer tal efeito depende da umidade relativa do ar. Quanto mais alta a umidade
relativa, tanto mais próxima da temperatura ambiente acontecerá a formação de pequenas gotas
líquidas na superfície do copo. No orvalho ocorre o mesmo fenômeno, ou seja, a condensação,
que faz com que a água se transforme do estado gasoso para o líquido.
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O homem comum seleciona os dados observados sem nenhum critério de rigor, de forma
ametódica e fortuita(por acaso). Em outras palavras, conclui para todos os objetos o que vale
para um ou para grupo de objetos observados. O senso comum é frequentemente conhecimento
subjetivo, o que ocorre, por exemplo, quando avaliamos a temperatura ambiente com a nossa
pele, já que só o termômetro dá objetividade a essa avaliação.
A mais: o senso comum depende de juízos pessoais a respeito das coisas, contém envolvimento
das emoções e dos valores de quem observa. É difícil para a mãe avaliar objetivamente a
conduta do filho. Do mesmo modo, se temos antipatia por alguém, é preciso certo esforço para
reconhecer, por exemplo, o seu valor profissional. Também, ao observar o comportamento de
povos com costumes diferentes dos nossos, tendemos a julgá-los a partir de nossos valores,
considerando-os estranhos, ignorantes, engraçados ou até desprezíveis.

Características do senso comum:

Um breve exame de nossos saberes cotidianos e do senso comum de nossa sociedade revela
que possuem algumas características que lhes são próprias:
- São subjetivos, isto é, exprimem sentimentos e opiniões individuais e de grupos, variando de
uma pessoa para outra, ou de um grupo para outro, dependendo das condições em que vivemos.
Assim, por exemplo, se eu for artista, verei a beleza da árvore; se eu for marceneiro, a qualidade
da madeira; se estiver passeando sob o Sol, a sombra para descansar; se for bóia-fria, os frutos
que devo colher para ganhar o meu dia. Se eu for hindu, uma vaca será sagrada para mim; se
for dono de um frigorífico, estarei interessado na qualidade e na quantidade de carne que
poderei vender;
- São qualitativos, isto é, as coisas são julgadas por nós como grandes ou pequenas, doces ou
azedas, pesadas ou leves, novas ou velhas, belas ou feias, quentes ou frias, úteis ou inúteis,
desejáveis ou indesejáveis, coloridas ou sem cor, com sabor, odor, próximas ou distantes, etc.;
- São heterogêneos, isto é, referem-se a fatos que julgamos diferentes, porque os percebemos
como diversos entre si. Por exemplo, um corpo que cai e uma pena que flutua no ar são
acontecimentos diferentes; sonhar com água é diferente de sonhar com uma escada, etc.;
- São individualizadores por serem qualitativos e heterogêneos, isto é, cada coisa ou cada fato
nos aparece como um indivíduo ou como um ser autônomo: a seda é macia, a pedra é rugosa, o
algodão é áspero, o mel é doce, o fogo é quente, o mármore é frio, a madeira é dura, etc.;
- Mas também são generalizadores, pois tendem a reunir numa só opinião ou numa só ideia
coisas e fatos julgados semelhantes: falamos dos animais, das plantas, dos seres humanos, dos
astros, dos gatos, das mulheres, das crianças, das esculturas, das pinturas, das bebidas, dos
remédios, etc.;
- Em decorrência das generalizações, tendem a estabelecer relações de causa e efeito entre as
coisas ou entre os fatos: “onde há fumaça, há fogo”; “quem tudo quer, tudo perde”; “dize-me
com quem andas e te direi quem és”;
- Não se surpreendem e nem se admiram com a regularidade, constância, repetição e diferença
das coisas, mas, ao contrário, a admiração e o espanto se dirigem para o que é imaginado como
único, extraordinário, maravilhoso ou miraculoso. Justamente por isso, em nossa sociedade, a
propaganda e a moda estão sempre inventando o “extraordinário”, o “nunca visto”;
- Pelo mesmo motivo e não por compreenderem o que seja investigação científica, tendem a
identificá-la com a magia, considerando que ambas lidam com o misterioso, o oculto, o
incompreensível. Essa imagem da ciência como magia aparece, por exemplo, no cinema,
quando os filmes mostram os laboratórios científicos repletos de objetos incompreensíveis, com
luzes que acendem e apagam, tubos de onde saem fumaças coloridas, exatamente como são
mostradas as cavernas ocultas dos magos. Essa mesma identificação entre ciência e magia
aparece num programa da televisão brasileira, o Fantástico, que, como o nome indica, mostra
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aos telespectadores resultados científicos como se fossem espantosa obra de magia, assim como
exibem magos ocultistas como se fossem cientistas;
- Costumam projetar nas coisas ou no mundo sentimentos de angústia e de medo diante do
desconhecido. Assim, durante a Idade Média, as pessoas viam o demônio em toda a parte e,
hoje, enxergam discos voadores no espaço;
- Por serem subjetivos, generalizadores, expressões de sentimentos de medo e angústia, e de
incompreensão quanto ao trabalho científico, nossas certezas cotidianas e o senso comum de
nossa sociedade ou de nosso grupo social cristalizam-se em preconceitos com os quais
passamos a interpretar toda a realidade que nos cerca e todos os acontecimentos.

O que distingue a atitude científica da atitude costumeira ou do senso comum?

A ciência distingue-se do senso comum porque este é uma opinião baseada em hábitos,
preconceitos, tradições cristalizadas, enquanto a primeira baseia-se em pesquisas, investigações
metódicas e sistemáticas e na exigência de que as teorias sejam internamente coerentes e digam
a verdade sobre a realidade. A ciência é conhecimento que resulta de um trabalho racional.

Antes de qualquer coisa, a ciência desconfia da veracidade de nossas certezas, de nossa adesão
imediata às coisas, da ausência de crítica e da falta de curiosidade. Por isso, ali onde vemos
coisas, fatos e acontecimentos, a atitude científica vê problemas e obstáculos, aparências que
precisam ser explicadas e, em certos casos, afastadas. Sob quase todos os aspectos, podemos
dizer que o conhecimento científico opõe-se ponto por ponto às características do senso comum:
- É objetivo, isto é, procura as estruturas universais e necessárias das coisas investigadas;
- É quantitativo, isto é, busca medidas, padrões, critérios de comparação e avaliação para
coisas que parecem ser diferentes. Assim, por exemplo, as diferenças de cor são explicadas por
diferenças de um mesmo padrão ou critério de medida, o comprimento das ondas luminosas; as
diferenças de intensidade dos sons, pelo comprimento das ondas sonoras; as diferenças de
tamanho, pelas diferenças de perspectiva e de ângulos de visão, etc.;
- É homogêneo, isto é, busca as leis gerais de funcionamento dos fenômenos, que são as
mesmas para fatos que nos parecem diferentes. Por exemplo, a lei universal da gravitação
demonstra que a queda de uma pedra e a flutuação de uma pluma obedecem à mesma lei de
atração e repulsão no interior do campo gravitacional; a estrela da manhã e a estrela da tarde
são o mesmo planeta, Vênus, visto em posições diferentes com relação ao Sol, em decorrência
do movimento da Terra; sonhar com água e com uma escada é ter o mesmo tipo de sonho, qual
seja, a realização dos desejos sexuais reprimidos, etc.;
- É generalizador, pois reúne individualidades, percebidas como diferentes, sob as mesmas
leis, os mesmos padrões ou critérios de medida, mostrando que possuem a mesma estrutura.
Assim, por exemplo, a química mostra que a enorme variedade de corpos se reduz a um número
limitado de corpos simples que se combinam de maneiras variadas, de modo que o número de
elementos é infinitamente menor do que a variedade empírica dos compostos;
- São diferenciadores, pois não reúnem nem generalizam por semelhanças aparentes, mas
distinguem os que parecem iguais, desde que obedeçam a estruturas diferentes.
- Só estabelecem relações causais depois de investigar a natureza ou estrutura do fato estudado
e suas relações com outros semelhantes ou diferentes. Assim, por exemplo, um corpo não cai
porque é pesado, mas o peso de um corpo depende do campo gravitacional onde se encontra –
é por isso que, nas naves espaciais, onde a gravidade é igual à zero, todos os corpos flutuam,
independentemente do peso ou do tamanho; um corpo tem uma certa cor não porque é colorido,
mas porque, dependendo de sua composição química e física, reflete a luz de uma determinada
maneira, etc.;
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Importância do Senso Comum

O senso comum é o conhecimento de todos nós, homens comuns, não-especialistas. Ou seja,


mesmo o cientista mais rigoroso, quando está fora do campo de sua especialidade, é também
um homem comum e usa o conhecimento espontâneo no cotidiano de sua vida.
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DOGMATISMO

O que é?

Dogmatismo vem da palavra grega dogma, que significa: uma opinião estabelecida por decreto
e ensinada como uma doutrina, sem contestação. Por ser uma opinião decretada ou uma doutrina
inquestionada, um dogma é tomado como uma verdade que não pode ser contestada nem
criticada, como acontece, por exemplo, na nossa vida cotidiana, quando, diante de uma pergunta
ou de uma dúvida que apresentamos, nos respondem: “É assim porque é assim e porque tem
que ser assim”. O dogmatismo é uma atitude autoritária e submissa. Autoritária, porque não
admite dúvida, contestação e crítica. Submissa, porque se curva às opiniões estabelecidas.

Exemplos de dogmas:
- Dogmática Religiosa;
- Dogmática Filosófica;
- Dogmática Científica.

Dogmática Religiosa: É encontrada em muitas religiões como o cristianismo, islamismo e


o judaísmo, onde são considerados princípios fundamentais que devem ser respeitados por
todos os seguidores dessa religião.

Dogmática Filosófica: É o pensamento contrário à corrente do ceticismo que contesta a


possibilidade de conhecimento total da verdade. É uma espécie de fundamentalismo intelectual
onde expressa verdades que não são sujeitas a revisão ou crítica. Ou seja, é a possibilidade de
conhecer a verdade.

Dogmática Científica: É a doutrina absoluta imposta pelos cientistas.

“A ciência tem perguntas que possivelmente nunca poderão ser respondidas. A religião tem
respostas que certamente nunca poderão ser questionadas.”

Dogmas científicos em debate

O cérebro pode ser dividido em áreas?

- A ideia de que o cérebro pode ser dividido em hemisférios e áreas especializadas em


determinadas tarefas e funções não corresponde mais à realidade mostrada pela neurociência.
“Embora seja verdade que o cérebro consista de dois hemisférios e que um hemisfério
geralmente entre em atividade antes do outro durante nossas ações, fala ou percepção, ambos
lados do cérebro trabalham juntos em quase todas situações, tarefas e processos.

Nicolau Copérnico
Galileu Galilei
- A concepção de que os planetas giravam em torno da Terra.
Geocentrismo (Terra principal)
Heliocentrismo (Sol principal)

Filósofos dogmáticos:
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Platão, Aristóteles e Parmênides.

Dogmatismo e busca da verdade

Quando prestamos atenção em Sócrates ou Descartes, notamos que ambos, por


motivos diferentes e usando procedimentos diferentes, fazem uma mesma coisa,
isto é, desconfiam das opiniões e crenças estabelecidas em suas sociedades, mas
também desconfiam das suas próprias idéias e opiniões. Do que desconfiam eles,
afinal? Desconfiam do dogmatismo.
O que é dogmatismo?
Dogmatismo é uma atitude muito natural e muito espontânea que temos, desde
muito crianças. É nossa crença de que o mundo existe e que é exatamente tal
como o percebemos. Temos essa crença porque somos seres práticos, isto é, nos
relacionamos com a realidade como um conjunto de coisas, fatos e pessoas que
são úteis ou inúteis para nossa sobrevivência.

O Ceticismo

Ao contrário do dogmatismo, o ceticismo é uma atitude completamente pessimista, ela se


agarra a probabilidade de que não se pode alcançar nenhum conhecimento verdadeiro, negando
a capacidade do sujeito de conhecer algo verdadeiramente, o que faz com que a situação acabe
por se tornar algo complicada, difícil de lhe dar, e porque não dizer, insustentável e
contraditória. Pois ao mesmo tempo que o sujeito afirma que é impossível adquirir um
conhecimento verdadeiro, ele está supondo que isto seja uma verdade, o que significa que no
fundo, quando ele diz que não existe verdade nenhuma ele também alega uma verdade, a de
que não existe essa verdade. É algo que pode se parecer difícil de entender, mas que no fundo
tem uma ligação com o fato de não crer em nada.
Criado na Grécia Antiga por Pirro de Éliz, um filósofo grego, é desde esses tempos que o
ceticismo defende essa ideia da impossibilidade de conhecer a verdade, rejeitando piamente
qualquer tipo de dogma, já que o dogma em si é a afirmação considerada verdadeira sem que
seja necessário nenhuma comprovação.
Os céticos acreditam que todo conhecimento depende da realidade do ser que está envolvido
nela, e também das condições que estas coisas estão acontecendo, assim, através da análise
desse conjunto de fatos, podemos então confirmar que todo conhecimento é relativo. Os céticos
são neutros em todas as questões e julgamentos, defendendo a indiferença, afirmando que não
existe lado bom nem mau.
Já o dogma filosófico nos traz a possibilidade de se entender os fatos e conhecer a verdade, a
se submeter a esses dados e a acreditar nessas informações sem nenhuma preocupação, sem
questionar. Simplesmente crer. Nele não existe motivo para discussão, porque as pessoas estão
decididas em aprender a verdade absoluta, já que suas crenças são inquestionáveis, e nada nem
ninguém vai fazer com que elas deixem de acreditar naquilo que lhes foi ensinado.

O ceticismo e o dogmatismo são dois opostos de uma mesma moeda. Enquanto que o ceticismo
é uma filosofia que tem como fundamento o fato de não acreditar em absolutamente nada do
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que é “mostrado”, buscando sempre por novas respostas partindo do pressuposto de que não
existe nenhuma verdade absoluta, o dogmatismo é fundamentado em cima da capacidade do
homem de conseguir essa verdade absoluta que os céticos desconhecem. Ele está ligado a
expressas verdades que não precisam de nenhuma revisão ou crítica para que possa vir a ser
entendida.

Referências Bibliográficas:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à
filosofia. 2. ed., São Paulo: Moderna, 1993.
CHAUÍ, Marilena de Souza. Convite à filosofia. ed., São Paulo: Ática, 2000.
REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 25ª Edição. 2001.
Site: http://www.estudopratico.com.br

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