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Conhecimento Vulgar ou do Senso Comum

De modo natural e direto vamos conhecendo o que nos cerca, as pessoas com quem lidamos, a cidade
em que moramos, os astros que vagueiam pelos céus… Fazemos tudo isto sem ser de forma científica,
mas pela experiência vivida, que é o primeiro modo de conhecer e de nos relacionarmos com o
mundo. A grande maioria dos nossos atos e apreciações quotidianas são realizadas espontaneamente,
com base no “saber da experiência feito”.

O Senso Comum é um saber:

❖ Empírico – tem origem nas experiências das pessoas ao contactarem diretamente (pelos
sentidos) com as situações reais. Constitui-se a partir da apreensão sensorial.

❖ Espontâneo – é nas vivências diárias que o homem comum adquire o saber e fá-lo ao ritmo
com que experiencia os acontecimentos. É a vida que naturalmente ensina, não há qualquer
intenção de organizar os conhecimentos num todo estruturado – surge espontaneamente
no suceder quotidiano da vida.

❖ Ametódico/ Imetódico – não resulta da aplicação de um método, nem utiliza um método


para a resolução dos problemas, resolve-os em função das circunstâncias da vida – as
noções empíricas vão-se amontoando de forma desorganizada, sem que as pessoas
manifestem preocupação em as organizar e sistematizar. Misturam-se umas com as outras,
abrangendo conhecimentos referentes aos mais diversos aspetos - meteorologia, pesca,
hábitos sociais, astronomia… (formam um todo sincrético, heterogéneo, não estabelecendo
entre si qualquer relação. Não há uma procura sistemática. Saber Assistemático (não
disciplinar).

❖ Superficial – adquirido pelos sentidos, limita-se a captar de modo mais imediato a parte
mais superficial das coisas, ou seja, o que elas parecem ser. O que salta aos olhos, o que se
ouve… adquire foros de verdade. O homem aceita sem suspeitar que as coisas podem não
ser assim. Dá-nos as aparências - estas são ilusórias, enganadoras, capazes de camuflar a
verdadeira realidade. Forma-se a partir do que é mais saliente à perceção.

❖ Dogmático – cristaliza-se num sistema de crenças, mitos, opiniões correntes e faz das
verdades que possui, verdades absolutas (dogmas) que passam de geração em geração sem
serem alteradas. O homem comum assume os seus pontos de vista como únicos, impondo-
os sem argumentar, fechando-se a qualquer perspetiva que não coincida com a sua.

❖ Acrítico – aceitam-se passivamente os conhecimentos sem serem submetidos a um exame


crítico que os fundamente. O homem comum adere facilmente a preconceitos deixando
que se colem ao espírito como uma grelha deformadora da sua visão acerca do mundo.
❖ Subjetivo/Particular – é um saber que varia de pessoas para pessoa (é dominado pelos
pontos de vista do sujeito) e em função das sociedades, culturas, grupos sociais, épocas
históricas a que o sujeito pertence – não é universalmente válido.

O Senso Comum é, então, um conhecimento partilhado pelos membros de uma comunidade. É


o produto das experiências vividas por um povo ou um grupo social alargado. Este saber
constitui um património que herdamos de gerações anteriores e que partilhamos com todos os
indivíduos da sociedade a que pertencemos.
É uma maneira comum de ver o mundo, de encarar a vida e, até mesmo, de responder aos
problemas que a vida do dia a dia levanta. É a primeira forma de organizar a realidade – surge
como algo natural no interior de cada sociedade.

«Longe da vista longe do coração.»


«Quem não embarca não atravessa o mar.»

Senso Comum:

Vantagens:
• Permite ao homem a resolução de problemas simples e imediatos que surgem
quotidianamente;
• Serve de guia para as nossas ações do quotidiano (orienta o homem no mundo);
• Apesar dos erros que comporta, é um conhecimento que satisfaz as necessidades
práticas de ordem imediata e, por isso, apresenta-se como um conhecimento válido
quando se trata de dar respostas a este tipo de motivações. É um saber eficaz para
solucionar os problemas com que o Homem comum se depara – utilidade prática (os
seus objetivos não consistem em saber o que são as coisas, mas em saber como
funcionam e para que servem).

Limitações:

• Não permite uma compreensão profunda dos fenómenos;


• Não explica o porquê das coisas, e se o faz é de forma superficial e até errada.
• É insuficiente para dar resposta a problemas mais complexos e para captar a
profundidade das relações entre as pessoas e as pessoas e as coisas.

O facto do Senso Comum assumir as suas opiniões como evidências, os seus preconceitos
como certezas e a sua eficácia como critério de verdade, faz dele um “pronto a servir
preconceituoso” – constituindo-se como um obstáculo ao conhecimento científico e que, por
isso, a investigação do verdadeiro conhecimento se faz contra a opinião vulgar (ex: a teoria
heliocêntrica de Copérnico provou, contra todas as evidências dos sentidos, que era a terra que
girava em volta do sol, tornando claro que as evidências que os sentidos nos revelam não
correspondem de forma alguma à realidade).
Livro – páginas 186, 187, 188, 189.

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