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1ª edição 2023
Capa: Dara Juliana | Capista Design
Revisão: Daniele Almeida Soares
Leitura Sensível: Giu Yukari Murakami
Diagramação: Giovanna L Pião
Isla estava quieta desde que saí do andar de cima. Ela tinha
ficado tão focada no que estava fazendo que não tive coragem de
perturbar, para tentar conversar sobre o que tinha acontecido,
mesmo que eu pensasse que não tinha muito o que conversar.
Saí procurando por ela, já que estava na hora de voltarmos
para o escritório. Eu sabia que as coisas podiam ficar estranhas.
Tinha visto a necessidade que ela sentira em se afastar de mim.
Eu quase matei Donald jogando-o da escada enquanto íamos
para o andar de baixo para ele tirar mais uma dúvida sobre o piso
que a cliente tinha escolhido para a casa. Queria bater a minha
própria cabeça na parede por ouvir mais uma vez sobre como ele
não sabia se estava certo o que eu já tinha confirmado três vezes.
Um dos homens que estavam medindo as paredes para
colocar o Boiserie me olhou e eu fiquei prestando atenção no
serviço. A cor daquele espaço seria um verde limão bonito que a
cliente tinha escolhido com Alex, pelo menos isso o escroto do meu
ex-funcionário tinha feito direito. O homem me deu um oi e antes
que virasse para trabalhar, perguntei:
— Você sabe para onde minha funcionária foi?
— A moça bonita? — O homem virou para mim e fechou a trena. —
Acho que foi por ali, faz algum tempo que ela passou por aqui.
Olhei para o lado de fora, onde ele tinha apontado e saí atrás
de Isla. Os barulhos de obra da casa incomodavam os meus
ouvidos, que já estavam desacostumados dessa bagunça.
Isla estava parada olhando para o mar de novo. Seu corpo
todo demonstrava que algo estava errado e, por isso, tive receio de
me aproximar. Seus braços e pernas estavam cruzados, e podia ver
de tempos em tempos que ela tremia – não sabia se com o vento ou
com o que estava sentindo.
Andei devagar até onde ela estava, tirando meu paletó preto e
jogando sobre seus ombros. Isla deu um longo suspiro e continuou
olhando para frente. Fiquei em silêncio ao seu lado, sentindo que
talvez fosse isso que ela precisava. Alguém para dividir o silêncio.
As ondas baixas corriam em direção ao início da praia e o
barulho parecia música para os meus ouvidos depois de toda a
confusão do lado de dentro da casa. Isla deu uma olhadela para
mim e se virou de novo para o mar.
— A gente precisa conversar — falou, puxando o paletó para mais
perto do seu corpo.
— Tudo bem… o que você quer falar, Isla?
— Senhor Evans… o que aconteceu lá dentro não pode se repetir.
— Virei para ela, enquanto ela continuava encarando o mar, como
se não encontrasse a coragem para me olhar. — Eu não… não
posso dizer que o senhor não é atraente, eu estaria mentindo…
também estaria mentindo se dissesse que não queria, eu queria,
mas… eu sei o que acontece a reputação de alguém que se
relaciona com alguém que não deveria, e eu sei das regras da
empresa.
— Isso é especificamente sobre as regras? Porque eu meio que sou
o dono de tudo, Isla, eu posso mudar processos contratuais em um
estalar de dedos.
Precisava saber em que tipo de terreno estava me metendo, e
saber o que eu podia fazer para mudar aquela situação, porque eu
precisava foder Isla. Era quase uma necessidade, mesmo que eu
precisasse demiti-la para isso.
— Não, não é somente pelo escritório, mas também por isso. Eu vi
como todos me olharam depois de saber que você demitiu Alex por
mim, e eu sempre vou ser grata por ter sido defendida, mas eu não
vou acabar com a minha reputação por um caso, e um caso que eu
sei que vai acabar assim que você me tiver dobrada sobre a mesa
do seu escritório.
A imagem se formou em minha cabeça, mas a afastei antes
que meu corpo tivesse alguma reação. Isla virou para o mar de
novo.
— E se for preciso… eu saio do projeto, senhor Evans. Eu sei que
tem pessoas boas e qualificadas para estarem ao seu lado nesse
momento. O Joe tem sido um ótimo professor, e eu posso voltar a
me dedicar inteiramente ao projeto de Portugal.
Franzi a testa em confusão. Ela tinha acabado de falar que
largaria o projeto por um beijo? Isla tirou o paletó e me entregou,
andando em direção ao carro. Fiquei parado, vendo enquanto ela se
afastava de mim.
Apertei o paletó em minhas mãos e olhei para dentro da casa,
onde eu podia ver alguns homens andando para dentro e para fora.
A frase “eu sei o que acontece a reputação de alguém que se
relaciona com alguém que não deveria” se repetiu em minha cabeça
e olhei para Isla que chutava a areia em seu caminho para o meu
carro.
Entrei dentro da casa e me despedi de todos que estavam lá
fazendo seu trabalho e fui atrás da minha funcionária. Quando
cheguei no carro, pronto para brigar por algo que eu nem sabia bem
o que era. Isla estava encostada, limpando lágrimas que
continuavam descendo, mesmo que ela limpasse.
Seus olhos redondos me encararam com espanto e ela virou
para o carro, limpando o rosto que começava a ficar vermelho. Parei
ao seu lado e toquei seu ombro. Isla deu um grande sorriso e me
olhou.
— Oi, Senhor Evans… pronto para ir embora?
— Isla, — Tentei encontrar as palavras certas para falar com ela,
sem que soasse apenas como se eu quisesse conquistá-la. — eu
sinto muito por você ter sofrido no passado. Prometo não repetir o
que aconteceu lá, inclusive, se você quiser, podemos esquecer que
aconteceu…
— Seria ótimo — implorou, limpando as lágrimas que não paravam
de escorrer. — Por favor, eu gosto muito de trabalhar para o senhor.
— Então, vamos fazer assim — Estendi o dedo mindinho e esperei
que ela fizesse o mesmo, Isla olhou para minha mão, espantada por
eu estar fazendo algo tão infantil e fez o mesmo gesto. —, eu gosto
de você, Isla, para além da atração sexual que eu não posso mentir
não sentir. Mas eu gosto de você e eu não costumo gostar muito
das pessoas, então, se você me permitir, eu quero ser seu amigo.
Meu filho te ama, e eu realmente posso ser um ótimo amigo, só não
pergunte para Grace sobre isso, ela mente.
Isla deu uma risada seca e me encarou, seus olhos
demonstravam uma vulnerabilidade que quase me fez pegá-la no
colo e impedir que qualquer coisa a machucasse.
— Então, se você me deixar, Isla, eu vou ser o melhor amigo que
você pode pedir… o que você me diz?
Isla olhou para o lado e mordeu os lábios, lábios que eu estava
beijando há meia hora, dando meu sangue para tomar aquela
mulher. Balancei a cabeça e voltei a encará-la.
— Você pode ser meu amigo, Connor.
— Ótimo, agora você tem que confirmar a nossa promessa, vai… o
Elijah me ensinou tudo sobre promessas de dedinho.
Quando nossos dedos se conectaram, Isla deu um sorriso
brilhante e eu senti aquela eletricidade passando por meu corpo. Eu
estava muito fodido.
21
Isla
Eu sabia, aquilo tinha sido muito baixo – baixo até para mim.
Usar meu filho para ver a garota que estava fugindo de mim. Eu
deveria ser mais maduro que aquilo. Agora estava sentado à mesa
de café da manhã de Isla, enquanto ela e Elijah estavam sentados
na cama conversando.
Comecei a reparar na decoração do lugar, sendo a segunda
vez que eu estava ali. Podia ouvir o som de uma máquina de lavar
batendo alguma roupa. A parede do quarto/cozinha/sala de estar
era de um verde musgo que descascava em alguns lugares.
A risada de Isla e Elijah me chamou atenção e encarei os dois.
O armário da cozinha era preto, com uma bancada escura e cheia
de copos com desenhos de frutas, ao lado da caneca de Guerra nas
Estrelas que eu já tinha visto da última vez.
— Claro que girafas existem, Elijah!
— Não existe não — meu filho respondeu cruzando os braços, a
fantasia de dinossauro impedindo que ele fizesse aquilo direito.
— Existe e tem nos zoológicos, eu vou te levar em um, vamos… se
prepara.
— Eu posso, papai?
Olhei para eles de novo, os dois me olhavam com olhos
gigantes, implorando que eu permitisse uma visita ao zoológico.
— Não, hoje não podemos, Elijah… Outro dia? — Elijah pareceu
decepcionado, mas foi o olhar de Isla que me machucou. — Ele
precisa estar em casa cedo e eu sei que, se formos ao zoológico,
não sairemos no horário.
Os dois concordaram com a cabeça, mas voltaram a me
ignorar e eu continuei inspecionando o lugar. Era péssimo. Na
primeira vez que estive aqui, não tive tempo de ver nada além de se
Isla sobreviveria a bebedeira.
— Vem, vou te mostrar, mas você precisa se comportar.
Elijah deu um pulo da cama e eu quase consegui sentir o chão
tremer.
— Aonde vocês vão?
— Eu vou mostrar ao Elijah — disse, olhando duramente para mim,
como se tivesse percebido minha vistoria ao local — porque eu
aluguei esse lugar.
Levantei da cadeira, pronto para seguir os dois para onde quer
que fossem. O longo olhar que Isla me deu me fez parar, sem saber
se devia ou não seguir os dois.
— Vem, papai! — Elijah me estendeu a mão e percebi que Isla tinha
parado de sorrir.
Eu amava meu filho. Muito. Dei a mão para ele e andei até
onde os dois estavam. Não era muito longe de onde eu mesmo
estava, porque o lugar era minúsculo. Isla andou nos direcionando
até o que parecia ser um closet. A porta foi aberta e revelou uma
escada de incêndio.
Elijah deu pequenos pulos de animação e seguiu Isla. Tentei
segurá-lo, prevenindo uma queda que aconteceria naqueles
degraus pequenos que quase não cabia meu pé, mas Elijah foi mais
rápido, correndo com sua roupa inflável de dinossauro.
Isla estava na ponta da escada esperando por ele e eu podia
ver a luz do sol no final da escada, como se estivesse me
mostrando o caminho a seguir. Quando terminei de subir, fiquei
impressionado com o lugar.
Era… era lindo.
Elijah começou a correr no lugar, os braços abertos. Eu me
impedi de segurá-lo no lugar, com medo de que ele derrubasse algo
e estragasse o que Isla levou tempo fazendo. O espaço era
separado para um jardim, mas também era mais do que isso.
Isla tinha criado um ambiente de conforto. As plantas estavam
todas bem colocadas impedindo que alguém se acidentasse ao
debruçar na borda. No meio do pátio, tinha uma pequena lareira
elétrica, rodeada por pequenas almofadas. Era aconchegante, e
demonstrava o cuidado que Isla tinha com sua casa.
— Foi por causa daqui que eu aluguei. É claro que tinha alguns
lugares mais baratos, — comentou, sem olhar diretamente para
mim, mas eu sabia que era para mim que ela falava. —, mas
nenhum tinha esse espaço para criar algo… Sei que não é perfeito,
mas… é meu, por enquanto.
— Ficou lindo, Isla, você tem muito cuidado com as suas coisas.
Comecei a me sentir esnobe. Eu sabia que ela não era rica,
estava julgando sua casa como se não tivesse morado em lugares
ruins quando era uma criança. Como se minha mãe e a mãe de
Grace não tivessem dividido uma casa com apenas um quarto
quando éramos crianças, apenas porque duas pessoas pagando
contas era melhor que viver sem nada. Senti a necessidade de pedir
perdão, mas Elijah saiu correndo de trás de uma planta e gritou em
nossa frente.
— Moça, me pega!
Isla deu um gritinho e saiu correndo atrás do meu filho. Meu
coração deu um salto, vendo como os dois se conectavam, como
pareciam se gostar. Cruzei os braços e, sem conseguir desgrudar os
olhos deles, continuei encarando enquanto corriam de um lado para
o outro.
Elijah se jogou no colo de Isla e ela o ergueu, girando o corpo
para que ele pudesse aproveitar o vento que fazia ali em cima.
Elijah correu a mão pelas correntes que ligavam as luminárias e riu
alto.
Senti uma pontada forte em meu coração e desviei os olhos
deles. A cidade chamava por mim, mas não gritava tão alto quanto
aqueles dois. Peguei o meu celular e tirei uma foto deles, momentos
como aquele deveriam ser imortalizados.
Não tinha nada a ver com o que eu estava começando a sentir
por Isla. Era apenas um comichão, mas eu sabia que era algo. Eu
tinha certeza disso.
Andei até estar longe deles, coloquei a mão no bolso da calça
e fiquei encarando o topo de Edimburgo, vendo o labirinto das ruas
que se emaranhavam. Meu pensamento correu de volta para a
praia, para o beijo. Eu tinha prometido que seria amigo de Isla, mas
eu não sabia se podia, realmente, ser apenas isso.
Sua risada me chamou atenção e virei para Elijah que estava
enchendo o rosto de Isla de beijos com a cabeça de dinossauro se
esfregando e a fazendo gargalhar. Meu corpo inteiro se arrepiou e
nossos olhos se conectaram, um doce sorriso surgiu em seu rosto e
senti aquele gesto por todo o corpo.
Isla era luz: Brilhante ao ponto de quase me cegar, mas
impossível de desviar o olhar.
23
Isla
Mais uma vez, mais uma vez, eu estava no maldito pub perto
do escritório, dessa vez arrastada pela nova funcionária, Jessie. Ela
era legal, viajada, tudo que eu não era, e isso fazia com que eu me
sentisse pequena.
Joe me entregou um refrigerante e sentou perto de mim. É, ele
também tinha me arrastado para o pub, por algum motivo, eu era a
nova atração da empresa e eu desconfiava que isso tinha a ver com
o interesse totalmente novo de Connor.
— Você não bebe mesmo? — Jessie perguntou, bebericando mais
uma dose de uma bebida colorida que ela tinha pedido.
— Não, nem um pouco. Minha mãe me botou todo tipo de medo
quando eu era adolescente e, da última vez que tentei, fiquei tão
bêbada que tive que ser salva.
— De alguém? — Joe se ajeitou na cadeira esperando pela
resposta.
— Sim. — Fiz uma pausa dramática — De mim. Acabei com o nariz
machucado… nada legal. — Toquei o local que ficou dolorido por
dias e lembrei da imagem de Connor.
Aquilo acontecia mais do que eu queria. Eu mentiria para
qualquer um que perguntasse, mas depois de noites seguidas
sonhando com ele, eu tive que fazer algo… eu precisava afastar
aquela imagem e atração para longe de mim.
Acontece que não tinha ajudado em nada, pelo contrário, me
tocar pensando nele. Esse tinha sido o pior erro que eu havia
cometido. Senti meu rosto esquentar e virei para a porta, como se
estivesse esperando por alguém.
— Eu sempre bebo, é quase um hobby — Jessie comentou rindo,
apertando seu black power que parecia maior do que quando nos
conhecemos. — Meus pais não foram tão bons quanto a sua mãe,
eu fui bem mimada na adolescência… eles não deviam ter feito
isso.
Dei uma risada e comecei a imaginar o que devia acontecer
com uma garota que é mimada na adolescência e pode fazer tudo o
que quer; uma realidade completamente diferente da minha.
Alguém apareceu, puxando Jessie para uma dança. Sobramos
Joe e na mesa. Ergui meu copo de refrigerante para ele e ele
brindou com a cerveja preta que bebia.
— Quer dançar, Isla? — neguei com a cabeça.
— Eu tenho dois pés esquerdos, Joe, você não vai querer dançar
comigo. Te juro. Nunca faria isso na frente das pessoas…
— É que você não para de balançar na cadeira...
— É só uma sensação que eu esqueci alguma coisa... Não sei o
que, mas ela não vai embora...
— Qualquer coisa nós podemos voltar ao escritório… — Joe
pareceu se lembrar de algo e balançou a cabeça. — Não, quer
dizer, você está com o celular em cima da mesa! A chave está na
bolsa? Se sim, não precisamos voltar hoje, com certeza não é nada
importante.
Parei de olhar dentro da bolsa, estranhando o modo como Joe
mudou completamente o tom de sua voz, como se algo pudesse
estar acontecendo na empresa.
Encarei seu rosto.
De repente, a realização caiu sobre mim. Connor. Ele devia ter
levado alguém para a empresa. Me ajeitei na cadeira, sentindo um
comichão em meu corpo. Aquilo estava errado, quer dizer… ele…
Ele não é nada além de seu amigo, Isla, você deixou isso bem
claro.
— Sim… eu… — Voltei a procurar na bolsa e minha chave havia, de
fato, sumido. Eu passaria pelo constrangimento de pegar Connor
transando com alguém mais uma vez, e dessa vez seria pior. — Eu
preciso voltar — admiti —, acho que esqueci minha chave no
escritório.
Joe olhou para os dois lados e suspirou profundamente.
Quando se levantou, pegou o celular, parecendo enviar uma
mensagem para alguém.
— Vamos, eu te acompanho e depois te levo até o ponto de ônibus.
Concordei com a cabeça e peguei minha bolsa, apertando-a
de encontro ao meu corpo como se ela pudesse me proteger do que
quer que eu fosse encontrar.
— Você tem certeza de que esqueceu a chave? Não tem uma
reserva? Eu sempre deixo uma perto da porta da minha casa ou
com a vizinha da frente, sabe, apenas porque tenho preguiça de
voltar para o escritório.
Joe falava rápido demais, e como um papagaio, denunciando
seu medo do que poderíamos encontrar lá. Não perdi tempo
tentando respondê-lo. Ele logo engatou em me contar como a
vizinha era uma querida e os dois tinham combinado de deixarem
chaves reservas, o que ajudava e muito, porque eram esquecidos.
— Eu não tenho muitos vizinhos e a única pessoa que poderia fazer
isso me dá um pouco de medo, por isso, eu coloco aquelas
proteções na porta, impedindo que as pessoas abram só com a
chave da porta.
— Não se sente segura na sua casa? — Joe questionou, enquanto
virávamos a rua em direção à escada que levava à rua do
escritório.
— Me sinto, só… não sei, não consigo confiar muito nas pessoas,
sabe?
— Sei, sei sim.
Quando paramos em frente à porta que levava em direção as
escadas, eu quase senti vontade de pedir para Joe seguir sem mim.
Quer dizer, eu não queria ver o objeto dos meus desejos transando
de novo sobre uma mesa com uma garota qualquer que era muito
mais bonita do que eu em todos os aspectos.
— Quer ficar aqui? — Joe perguntou. — É só me dizer como é a
chave da sua casa.
Aquilo seria ótimo, eu poderia evitar ver Connor com alguém.
Aliás, Joe também parecia muito interessado em manter essa parte
em segredo, já que estava praticamente me expulsando do
escritório.
Mas, se eu tinha medo de ver aquela cena de novo, eu tinha
muito mais de ver qualquer espírito que vagava por Edimburgo
durante a noite.
— Não, tudo bem, eu vou junto… vai ser rápido, né?
O escritório estava todo apagado, exceto pela sala de Connor
que estava com a porta fechada. Meu coração gelou. Aquilo podia
significar muitas coisas, não é? Quer dizer, ele podia estar
trabalhando.
Mas quem trabalharia naquele horário? Principalmente se
fosse um chefe.
Chave. Eu estava aqui para procurar a minha chave, e não
ficar preocupada sobre a vida sexual do meu chefe. Alguém que
começou a ser meu amigo há algumas semanas.
Escutei um gemido e, junto com ele, consegui sentir uma
sensação de angústia crescendo em meu peito. Como podia doer
tanto algo que eu nem sabia que me machucaria tanto?
Levantei os olhos em direção à porta, mas Joe entrou na
minha frente, como se tivesse escutado o mesmo que eu. Ele não
sabia que aquilo me matava por dentro.
A porta foi aberta de supetão e tampei meus olhos, com medo
do que eu fosse ver.
— Joe? Isla? O que vocês estão fazendo aqui?
A voz de Connor parecia um trovão e eu instintivamente abri
os olhos, apenas pelo susto. Eu sabia que me arrependeria.
26
Connor
Isla ainda parecia sem fala, por isso, segurei sua mão
enquanto descíamos as escadas em direção à minha cozinha. Eu
sabia que devia ser mais lento, mas eu não conseguia, não quando
ela me olhava com aqueles olhos implorando para que eu a fodesse
em qualquer lugar.
Eu nunca confessaria para ninguém, mas aquele olhar tinha
sido o motivo de eu passar a semana toda batendo uma em
qualquer oportunidade que eu tivesse, como um garoto de quinze
anos.
Agora ela estava aqui, sentada na cadeira da bancada da
minha cozinha, ao lado da cadeira do meu filho, esperando por mim,
enquanto eu preparava para uma refeição para nós dois.
— Então, você e a Grace…
— Sim, éramos bem pobres. Nossas mães faziam o que podiam,
mas nós morávamos em um condado que recebia ajuda de
senhoras mais ricas. Apesar dos pesares era bom. E você?
— Minha mãe se mudou das Filipinas comigo para cá, acabei
perdendo o contato com a maior parte da minha família, porque… —
Isla começou a cutucar as unhas. — era difícil ter contato com eles,
ainda mais porque éramos bem pobres.
— Não visitavam? — perguntei, enquanto cortava os legumes.
— Não, não dava, ligações eram tão caras que a gente só podia
fazer uma vez por mês e eram curtas, minha vó e meu vô morreram
sem que eu pudesse estar lá, e eu era muito apegada aos dois
quando eu era criança…
— Sinto muito, Isla.
— Obrigada, mas já faz anos, eu superei. — Isla deu um longo gole
na sua água e me encarou com a mão no queixo, dando um largo
sorriso. — Minha mãe ainda sente saudades, eu sempre penso em
levar ela para visitar e até para me lembrar de como tudo era. Tenho
certeza de que a maior parte que eu lembro são coisas inventadas,
sabe?
— Quer um aumento? Sabe, eu sou o dono da empresa, posso
fazer isso.
— Não — respondeu rindo. — Por favor, não.
— Tudo bem — Dei de ombros. —, mas lembre-se que eu te ofereci.
E a faculdade? Você entrou em uma das melhores universidades de
arquitetura da Escócia. Como foi?
— Péssimo… eu amei, é claro, mas…
— O quê?
Isla deu de ombros e olhou para os lados. Parecendo procurar
por alguma coisa que pudesse nos tirar daquele assunto. Quando
não encontrou nada, seus olhos voltaram para mim e ela percebeu
que eu ainda estava olhando para seu rosto.
— Vamos… eu compartilhei um pouco da minha vida com você,
acho que você pode fazer o mesmo.
— Só não é algo que eu quero falar agora, ok? Não quero estragar
a nossa noite. Por favor? — Encarei Isla por um tempo e o que vi
em seus olhos me fez pensar que eu poderia arrebentar a cabeça
de alguém.
— Tudo bem. Quer saber de algo sobre mim? Para ficar
equilibrado…
— Se você quiser falar… por que você não leva Elijah na praia? —
questionou, e eu sabia que em algum momento ela perguntaria.
— Quando eu era criança… mamãe, Evanna, mãe de Grace, Grace
e eu fomos à praia em um dia que elas tiveram folga. Estava muito
quente, então muitas pessoas tiveram a mesma ideia, eu acabei me
perdendo e a praia não parece um lugar assustador quando você
tem seis anos, mas — Fechei os olhos, com a sensação terrível
voltando para a minha memória. —, quando você fica
completamente sozinho, rodeado de gente, você pensa que nunca
mais vai ver sua mãe.
— Sinto muito, Connor! Meu Deus, eu sinto muito mesmo.
— Está tudo bem... eu só nunca vou colocar eu filho nesse tipo de
risco.
Peguei sua mão por cima da bancada e dei um beijo no dorso.
Isla sorriu e voltamos a falar de coisas banais enquanto eu
terminava de cozinhar. Ela logo estava animada, comentando sobre
Elijah, contando sobre como já adorava meu filho e eu sabia que
sim.
Parecia que nunca tínhamos falado sobre qualquer período
triste na sua vida, mas a imagem de seus olhos ainda estava
cravada em minha mente. Não conseguia parar de pensar no que
tinha acontecido enquanto ela estudava.
— Vou pegar os pratos, que tal pegar um vinho?
— Você vai me achar muito infantil se eu disser que acho melhor
não beber? — questionou.
— Claro que não, eu só bebo quando Elijah não está aqui, mas tem
um suco ótimo dentro da geladeira. Pode pegar, está logo atrás dos
iogurtes do Elijah.
Ajeitei a mesa da sala de visitas e sentei no chão, Isla logo se
aproximou, puxando a calça de alfaiataria para conseguir sentar ao
meu lado. Do lado de fora, a chuva característica de Edimburgo
começava, mostrando que o dia seguinte seria frio.
— De verdade, como você consegue sair daqui todos os dias?
— Eu sei que tem uma visão melhor me esperando para onde eu
vou — respondi.
Isla afastou os olhos das janelas e me encarou, mas eu já
estava olhando para ela. Seu sorriso cresceu e vi seus olhos
castanhos derreterem na pouca luz da sala. Como Isla podia ter
invadido a minha vida assim?
Ela pegou o garfo e deu uma grande mordida na carne que eu
tinha feito. Isla pareceu desarmada assim que o tempero atingiu sua
língua.
— Meu Deus, Connor! Essa é a comida mais deliciosa que eu já
comi… por favor, prepare um prato pra eu levar para casa.
— Eu te trago aqui para comer amanhã, que tal? Sem mais saídas
no meio do dia para comer com o Joe, não estou gostando nada
dessa amizade.
Isla deu risada e puxou a manta que ficava sobre o sofá para
suas pernas. Deu outra garfada e gemeu.
— Tudo bem, me faça qualquer pergunta agora e eu responderei
sim, sem nem ao menos questionar… Connor, essa é a melhor
refeição que eu tenho em anos. Não conte para a minha mãe.
Isla começou a falar, enquanto contava sobre como conheceu
Claire, sua melhor amiga, que ia casar em algum tempo. Logo
engatou em me contar sobre como sua mãe era a melhor pessoa do
mundo todo. Tudo isso enquanto não parava de elogiar minha
comida.
Eu nem ao menos conseguia prestar a mesma atenção na
comida, porque tudo que eu conseguia aproveitar era a companhia
de Isla. Era como ter o sol bem dentro da sua sala e unicamente
para você. E eu estava adorando aquilo.
Quando terminamos de comer, Isla tentou levantar para lavar
os pratos, mas não permiti. Puxei a manta para cima de nós dois e
ficamos em silêncio, observando a chuva que caía fina do lado de
fora.
Isla encostou a cabeça no meu ombro e entrelacei nossos
dedos, sentindo uma conexão com ela que não sentira com
ninguém, uma eletricidade que eu sabia que não tinha sentido nem
na minha primeira paixão… O que eu estava realmente sentindo por
ela?
O som da chuva parecia uma deliciosa música que embalava
meus pensamentos. Isla começou a brincar com as nossas mãos,
fazendo carinho em meus dedos, e eu sentia cada toque em todos
os cantos do meu corpo.
Comecei a sentir seu corpo relaxando e fechei os olhos para
aproveitar aquele momento ao lado dela, porque eu queria
aproveitar cada momento que ela me desse. Não importava aonde
fosse.
29
Isla
O barulho dos meus pés no chão fazia eco nos meus ouvidos.
Minha mente formava imagens de morte, porque eu, com certeza, ia
matar alguém. Eu nunca deixaria alguém que fez mal a alguém que
eu gosto viver. Eu podia ser um babaca, mas aquilo… aquilo era
passar de todos os limites.
Parei a primeira pessoa que encontrei no caminho e perguntei
onde era a sala do Keith, professor de arquitetura. A pessoa parecia
até mesmo feliz de me indicar onde era o prédio que acontecia a
maioria das aulas de arquitetura.
Nem mesmo a distância foi o suficiente para acalmar a raiva
que eu sentia. Não foi difícil depois disso encontrar a sala de Keith.
Abri a porta, sentindo todo meu sangue ferver. As palavras de Isla
continuavam se repetindo na minha cabeça, em cada passo que eu
dava, elas ficavam mais altas.
Toda a sala virou para mim, percebendo que eu estava me
aproximando do professor. Quando o cara finalmente virou para
mim, meu punho encontrou seu queixo, jogando-o para trás em
cima da sua mesa. Com o silêncio que se fez por um breve
momento, seria possível ouvir um alfinete cair no chão. Em seguida,
ao perceberem o que havia acontecido, os murmúrios dos alunos
encheram a sala.
— O que é isso? — perguntou, segurando o queixo que parecia
bizarramente fora do lugar.
A maioria dos alunos estava de pé em suas cadeiras. Eu andei
até ele e o segurei pelo colarinho da camisa de segunda mão que
ele usava, levantando seu corpo. Soquei seu olho e senti meus
dedos doendo pelo impacto.
— Isso, é pra você aprender a não mexer com as suas alunas,
caralho! — Tentei socá-lo mais uma vez, mas alguém me segurou.
— Se você ao menos respirar perto de outra aluna, saiba que eu
vou te destruir e vai ser pior do que os socos que eu te dei agora.
Não vai existir uma única universidade na Escócia, na Inglaterra ou
na porra do Reino Unido na qual você vai encontrar emprego e eu
vou me certificar disso.
Chacoalhei o braço, me soltando do agarre dos três alunos da
sala. O homem me encarava com os olhos bem abertos, e eu só
sentia vontade de bater mais, bater por cada coisa que Isla tinha me
contado.
— Foi o quê? — Teve a coragem de rir. — Esposa? Não… Irmã?
Namorada? Eu não tenho culpa se ela me deixou fodê-la.
Tentei voar para cima dele de novo e mais alguns idiotas me
seguraram. Eu podia ver o medo nos olhos do cara, mas ele parecia
querer cair lutando. Bom, eu adoraria satisfazer aquele desejo, mas
ele parecia covarde demais para tentar revidar.
Me soltei de novo dos alunos e ajeitei meu paletó, olhando
para toda a sala.
— Saiba que eu sou muito sério em minhas palavras, Keith… não
vai ter um único lugar na Grã-Bretanha em que você encontrará
trabalho. — Dei um passo para frente e ele deu um para trás. Sorri e
deixei a sala, sabendo que eu tinha algo para consertar.
Olhei para a minha mão. Os nós dos meus dedos estavam
avermelhados, nada que causasse preocupação, mesmo assim,
sabia que Isla perguntaria o que aconteceu.
Quando finalmente estacionei em frente à empresa, após um
longo caminho pensando em como falar com ela, ainda não havia
conseguido pensar na melhor justificativa. Tudo o que eu sabia era
precisar de Isla em meus braços.
Joe tentou me parar no caminho até a minha sala, mas eu
estava em uma missão. Passei em frente à mesa de Isla, que me
olhava parecendo preocupada.
— Isla, minha sala. Agora! — falei, sem olhar para ninguém. Atirei o
meu paletó sobre o sofá assim que adentrei a minha sala e comecei
a andar de um lado para o outro, esperando que a porta se abrisse
novamente. Eu podia ouvir o burburinho que minha ordem tinha
causado, mas eu não ligava.
Precisava que Isla estivesse comigo naquele instante para
desfazer qualquer mal-entendido.
Não demorou muito e algumas batidas fracas soaram na porta.
Tentei esconder a mão para que Isla não visse que estava
machucado. Quando ela abriu a porta, seus olhos mostravam um
desamparo que me deixou sem chão.
— Connor, eu sinto muito… eu juro que… só não me demite, eu…
eu não sei se vou conseguir outro emprego se você me demitir —
implorou, os olhos cheios de lágrimas, enquanto fechava a porta.
Andei até Isla sem dizer uma palavra e a puxei para os meus
braços. O longo suspiro que ela soltou me fez respirar melhor.
Agarrei mais forte seu corpo em direção a mim, sentindo seu
coração batendo rápido de encontro ao meu.
O seu soluço quase me quebrou e soltei um pouco meu
aperto, apenas para segurar seu rosto e fazer com que ela me
encarasse. Seus olhos brilhavam em dourado. Passei meus dedos
por seu rosto, limpando as lágrimas que caiam. Eu nunca devia tê-la
deixado daquela maneira.
— Perdão — pedi.
— Você… você não me deve nada.
Isla colocou a mão sobre a minha e gemi. Ela pegou a mão
que estava em seu rosto e encarou os machucados, não era nada
demais. Apenas água resolvia, ao contrário de Keith que ficaria
marcado por um bom tempo.
— Connor, onde você estava?
— Eu precisava resolver algo.
— Com as mãos? — perguntou desconfiada.
— É como normalmente resolvemos as coisas. — Dei de ombros,
sem conseguir soltá-la.
— Você tem um kit de primeiros socorros?
— Eu estou bem, Isla… eu preciso saber se você está bem.
Isla concordou com a cabeça e eu a puxei de novo para os
meus braços. Eu não conseguia me afastar dela. Ela também não
parecia querer me soltar. Fiquei feliz por isso.
— Me deixe pelo menos limpar sua mão, por favor, não quero que
nada aconteça…
— Tudo bem — concordei, sabendo que o sentimento que vinha
nascendo dentro de mim me impedia de dizer não para ela. — Tem
um kit de primeiros socorros na segunda gaveta da minha mesa.
Isla andou até lá e voltou com o kit que eu mantinha na sala
apenas para o caso de Elijah se machucar aqui. Por isso, tudo o que
eu tinha era para crianças, inclusive o remédio para passar em
machucados.
Embora ele não ardesse, isso não me impediu de gemer,
fazendo com que Isla pegasse minha mão e assoprasse, como se
eu fosse um menino. Sorri e ela me olhou brava. Quando pegou o
band-aid, Isla me encarou com uma pergunta em seus olhos.
— É para o Elijah… ele não gosta de colocar nada no machucado,
só aceita se for de dinossauros.
— Então, parece que você vai ficar igualzinho ao seu filho hoje.
Fiquei encarando enquanto ela fazia o curativo. Esperando que
Isla falasse de qualquer outra coisa. Ela não perguntou onde eu
tinha me machucado, porque eu sentia que ela sabia. Isla sabia
exatamente quem tinha ficado com os olhos roxos.
Olhei para o band-aid de dinossauros em meus dedos e
escutei sua voz:
— Por favor, Connor, nunca mais faça isso por mim. — Concordei
com a cabeça.
— Ainda somos amigos?
Isla riu da minha pergunta boba e acenou, me encarando.
— Mas você entende que eu preciso ficar sozinha hoje? Sem você,
sem Elijah… apenas… eu?
— Sim, Isla… tome o tempo que você precisar. Mas você entende
se eu precisar te abraçar por mais um tempo, não é? — Abri os
braços e Isla olhou para a porta fechada, parecendo com medo que
alguém entrasse ali.
Quando ela finalmente encostou a cabeça em meu peito, eu
dei um longo suspiro. Eu faria qualquer coisa para defendê-la. Ainda
mais quando ela parecia tão frágil dentro do meu abraço.
Dei um beijo em sua testa, sentindo o cheiro do seu perfume
de mamão e afastei as mechas do seu cabelo quando ela se afastou
de mim. Seus olhos escuros mostravam um desamparo que quase
me fez dizer não e levá-la direto para a minha casa, onde eu poderia
cuidar dela.
— Eu preciso…
— Eu sei. Vai — disse, soltando sua mão, que ainda estava
agarrada a minha.
Assisti enquanto Isla deixava a sala, sabendo que eu quebraria
mais vinte caras apenas por ela. Lutar contra o que eu estava
sentindo não fazia mais sentido para mim.
Olhei para o band-aid e sorri: eu estava perdido.
Completamente perdido.
33
Isla
— Não, sinto muito, Claire… hoje eu realmente não posso sair com
você — falei, prendendo o telefone no ouvido, enquanto passava o
café. — Eu prometi para o Elijah que o levaria no zoológico, você
acredita que aquela criança nunca viu uma girafa?
O sorriso cresceu em meu rosto, imaginando como seriam os
olhos de Elijah assim que visse aquele animal gigantesco. Fechei os
olhos, pensando que Connor estaria lá. Eu não conseguia parar de
pensar em como ele tinha ido até Keith. Aquilo ainda causava um
rebuliço em meu estômago. Ninguém nunca tinha feito algo como
aquilo por mim.
— Isla Salazar, você está me ouvindo? — Claire gritou.
Afastei o celular da orelha e revirei os olhos.
— Não, não te ouvi, Claire, mas sinto muito, hoje não posso. Eu não
vou trocar uma criança por você, sinto muito, você tinha que ver os
olhinhos dele brilhando quando eu falei do zoológico, ele acha que
girafas não existem… eu vou fazer de tudo para provar que estou
certa.
— Eu estou gostando de te ver assim, sabia? Apaixonada…
— Eu não estou apaixonada, eu só estou completamente encantada
pelo Elijah. — Era verdade, ele tinha conquistado meu coração,
aquela criança era tudo. Eu nem sabia que podia caber tanto amor
dentro de um coração até conhecer ele. Às vezes, pensava em
aceitar a sua proposta e deixá-lo vir morar comigo.
— Isla! — Ouvi a voz de Robert e pensei em não responder, ainda
me sentia estranha sobre como ele tinha falado comigo, mas sabia
que podia ser algo sério.
— Claire, eu preciso desligar. O Robert está me gritando, e talvez
tenha acontecido alguma coisa com ele.
— Vai lá, mas no final de semana que vem você é inteiramente
minha, ok? Sem criança.
— Tudo bem, sua ciumenta!
Desliguei o telefone, e corri escada abaixo, usando meu pijama
de Chewbacca, que eu só usava em dias muito frios, porque parecia
que eu estava enrolada em um urso. Quando cheguei na loja de
conveniências, Robert encarava dois homens que carregavam um
colchão gigante com uma folha em suas mãos.
— Isla Salazar?
— Sou eu… — Encarei Robert e ele sorriu. — O que é isso?
— Acho que um colchão, Isla…
— É uma entrega para a senhora, onde podemos deixar? — O
homem parecia exasperado, como se estivesse falando com alguém
que tinha apenas metade dos neurônios funcionando.
— Mas, eu não pedi colchão nenhum, de quem é?
— Aqui, nessa folha diz exatamente o seu nome e esse endereço.
— Mas, eu não paguei por um colchão, como ele pode ser meu? —
questionei, cruzando os braços.
— A senhora não pode descobrir isso depois? Porque esse negócio
é pesado e a senhora está atrasando nosso cronograma de
entregas em um sábado.
Respirei fundo e baixei os ombros, indicando o caminho para o
meu quarto. Os dois homens subiram as escadas e Robert ficou
parado ao meu lado. Ele não disse nada, mas subi atrás dos dois,
me sentindo derrotada.
Peguei minhas chaves na porta e coloquei entre os dedos,
porque ninguém sabe o que pode acontecer com dois homens
desconhecidos dentro de casa. O número de violência contra
mulheres tinha aumentado nos últimos anos e eu não queria ser
uma estatística.
— Onde podemos deixar, senhora?
Olhei para o lugar que já parecia apertado sem aquele colchão
gigante e apontei para a parede do meu armário. Eu não poderia
tirar o meu colchão até descobrir de onde tinha vindo aquele, mas
desconfiava que quem mandou logo aparecia segurando a mão de
uma criança muito adorável.
— Obrigado — disse, depois de encostar a monstruosidade na
parede e se virar para mim, tirando uma caneta de dentro do
macacão bem cuidado de uma loja que eu nunca tinha nem
passado na frente. — Pode assinar aqui, por favor?
Peguei a prancheta e assinei meu nome, mesmo sabendo que
logo o colchão estaria de volta na loja. Isso é, se eles aceitassem
agora que tocou meu chão. Devia ter alguma regra contra isso.
Os homens desceram as escadas e fiquei olhando para o
espaço que tinha me restado dentro de casa: minúsculo. Eu nem
mesmo sabia como chegaria até meu armário sem ser amassada
por aquele peso que era o colchão.
Encarei e fui encarada pelo colchão. Um abraço não faria mal
a ninguém, certo? Quer dizer... ele era muito parecido com o que
Connor tinha em sua cama.
Cocei o braço e me aproximei lentamente do colchão, como
em um filme. Olhei para os lados para ter certeza de que não havia
ninguém ali e me joguei sobre a maciez inconfundível de algo que
só os ricos poderiam pagar.
Meus músculos protestaram, parecendo querer viver naquele
lugar para sempre e quase chorei quando senti como se o colchão
me abraçasse de volta e me chamasse de dona.
Ouvi um riso atrás de mim e me virei para ver Connor com os
braços cruzados e um grande sorriso em seu rosto. Um Elijah muito
agitado se balançava ao lado do pai, pulando de um pé para o outro.
— Desculpa invadir, ele precisa ir ao banheiro.
— Oi, moça! — gritou ao correr para o banheiro.
— Oi, moço!
Olhei para Connor e seus bíceps que ficavam saltados na
posição que ele estava. A camiseta preta abraçava seus músculos e
senti uma umidade descer por minha calcinha. Ele usava uma calça
de alfaiataria que parecia ter sido feita para ele e eu quase gemi...
...até me tornar autoconsciente que eu ainda estava jogada
sobre o colchão, vestida de Chewbacca e completamente
descabelada.
— Connor!
— Isla… gostou do presente? — Virei para o colchão e de volta para
ele. — Vocês pareciam bem íntimos...
Connor se aproximou de mim e desceu seus olhos por meu
corpo. Senti os bicos dos meus seios ficarem duros e quase os
cobri, mesmo que Connor não pudesse ver através do pelo do
Chewbacca. Sua boca se aproximou do meu ouvido e sua voz rouca
soou:
— Sabe… eu nunca imaginei que alguém vestida de Chewbacca
pudesse me deixar com tesão, mas porra… — Connor tocou meu
rosto e eu notei que os machucados não estavam mais tão
vermelhos. Seu dedo passou por meu queixo e eu inspirei
profundamente. — Acho que é você, não é, Isla? Qualquer coisa
sobre você.
Fechei os olhos, sentindo seus lábios a centímetros dos meus.
— Papai!
A voz do Elijah de dentro do banheiro quase me fez cair e
Connor me segurou pela cintura, me estabilizando. Seu dedo
passou suavemente pelos meus lábios antes que ele se afastasse.
Quando abri os olhos, Connor me encarava com intensidade.
— Eu não vou deixar que você fuja de mim, Isla… eu não sou
alguém que você conheceu no passado e você vai ser minha.
Connor não me deu tempo para resposta. Em vez disso, se
virou e foi até Elijah, que dava descarga em meu banheiro.
— Vamos esperar lá embaixo, filho? A sua moça precisa trocar de
roupa… ou é capaz de você querer virar o Chewbacca também e
nós sabemos que o Darth Vader é bem mais legal.
34
Connor
As pessoas podem pensar que o dia vai ser bom quando você
acorda fodendo alguém na cama dela, depois de ter passado a noite
toda com o choramingo dela na sua orelha porque ela queria o seu
pau. Não tinha melhor sensação que aquela.
Isso, no entanto, não era um indício que o dia seria bom,
porque o mundo está cheio de filhos da puta.
Eu pensava em como não assassinar Joe enquanto ele me
contava como um dos nossos projetos tinham sido negados
novamente para um dos nossos clientes mais importantes.
Esfreguei a mão na testa, pensando se seria mais rápido jogá-
lo da janela ou apenas demiti-lo. Joe era excelente no que fazia, eu
sabia disso, mas ele estava me tirando da névoa que a boceta de
Isla tinha me colocado e aquilo me tirava do sério.
— Connor, você está me ouvindo? Acho que você mesmo vai ter
que pegar esse projeto… quer dizer, eu tentei o meu melhor e mais
do que o meu melhor, mas ainda assim, parece não ser o
suficiente.
— Joe, eu não estou com cabeça para pensar nisso — disse,
tentando parar a enxurrada de palavras que continuava saindo de
sua boca. — Você não tem um pau pra chupar?
Joe deixou a cabeça cair para o lado.
— Quer que eu chupe o seu? Parece que você está muito
interessado no que eu coloco ou não na boca. Aliás, a gente vai
começar a falar sobre onde o outro está enfiando o pau? Porque eu
tenho muito para comentar sobre isso.
Joguei a caneta na mesa e encarei seus olhos.
— Cala a boca.
— Você tá fodendo a porra de uma funcionária, Connor… uma boa.
— Joe levantou e deu a volta na cadeira que usava e segurou o
encosto. — Você é burro? Como você quer que eu me sinta sobre
isso? Eu sou o chefe dela, e você está andando por aí, enfiando o
seu pau na porra da bunda da garota. Você sabe o que vão falar
quando ela sair daqui depois que você se cansar dela? Que ela
dormiu com o chefe pra subir de cargo… isso pra pior, porque já
falaram.
— Eu não vou me cansar de Isla.
— Como não? É só isso que você faz… você lembra por que
criamos essa regra de não confraternização na empresa? Porque
você vivia fodendo qualquer funcionária que tinha aqui.
Me levantei, andando de um lado para o outro. Isso foi logo
que eu criei a empresa. Eu me sentia o dono do mundo, qualquer
pessoa que olhasse para mim e piscasse tinha o meu pau enfiado
até o fim da sua garganta.
Mas não era assim com Isla. Não mesmo.
Ela havia capturado uma parte minha que eu não sabia estar
disponível para alguém, mas ela roubou.
— Não é assim com Isla… eu… Joe, não é assim, eu prometo que
Isla não vai deixar a empresa.
— Eu espero mesmo, porque… se essa garota sair... Connor, olhe
dentro dos meus olhos. Se a Isla deixar a empresa, eu vou atrás
dela, porque não vou deixar você sujar o nome da garota.
Fechei os olhos e escutei a batida na porta.
— Entra.
— Eu vim deixar esse material que o senhor pediu para a reunião
das dez — Um dos caras que trabalhava conosco há anos deixou o
que eu tinha pedido e saiu da sala correndo.
Olhei para o relógio, sabendo que eu precisava de mais alguns
momentos de força para encarar meus funcionários e não ter um
infarto quando eles me contassem como estavam atrasados em
demandas que eu tinha passado há tempos.
— Vamos para essa reunião.
— Depois de você, chefe.
O caminho ia se abrindo conforme eu passava pelos
corredores. Os funcionários mais antigos estavam sentados nas
cadeiras mais distantes de mim, enquanto os novos ficavam mais
próximos. Eles pensavam que eu não sabia que eles fugiam de
mim.
Encarei Isla, que vestia uma calça que modelava sua bunda e
uma camiseta branca com laços na ponta das mangas. Isla foi
puxando algumas cadeiras para sentar e sempre terminava com
outro funcionário sentando nela, quando outra pessoa a distraía com
conversas. Ela podia não ver maldade nisso, mas eu via.
Eu podia ver alguns funcionários a ignorando, como se fosse
apenas uma sombra.
— Bom dia — cumprimentei, jogando as pastas sobre a mesa. —
Todos sentados. Já.
Isla me olhou, parecendo preocupada que eu estivesse bravo,
mas não estava. Era mais uma irritação pelo modo como ela era
tratada pelos outros funcionários.
— Senhorita Salazar, sente-se ao lado de Joe agora.
Vi a expressão de seu rosto mudar, como se eu estivesse
tratando-a diferente do que normalmente fazia. Talvez fosse o nome,
mas percebi que era só porque Joe estava sentado a uma cadeira
de distância de mim, o que significava que ela teria que sentar bem
ao meu lado.
Tinham outras cadeiras longe de mim, mas Isla não era o tipo
de pessoa que me desobedeceria. Ela sempre me obedecia e isso
era fascinante.
Abri a pasta e me sentei, batendo o pé na cadeira de Isla para
que ela ficasse mais perto de mim. Quando ela se sentou e o
silêncio finalmente predominou na sala, olhei para cada rosto
presente.
Eu odiava isso. Odiava ter que estar aqui quando eu queria
estar no restaurante ouvindo Isla falar sobre a sua infância, sobre
como confundiu o verde musgo e chorou por horas no jardim de
infância porque tinha pintado a grama de uma cor que ela não
queria.
Toquei sua perna por baixo da mesa e Isla pulou, se afastando
de mim. Joe me encarou bravo e ignorei os dois.
— Eu quero muito ser surpreendido de uma maneira boa. No
entanto, não hesitem em seguirem adiante e me dizerem seus
grandes fracassos da semana passada. — Coloquei a caneta sobre
a mesa e virei a cadeira, esperando que alguém tivesse coragem
suficiente para falar.
A sala ficou em completo silêncio e então ouvi a voz que eu
menos esperava.
— Eu não consegui entregar um dos projetos que eu estava
trabalhando com Joe, senhor Evans. Já está quase finalizado, mas
ainda precisa de ajustes.
Virei a cadeira e encarei Isla, que retorcia um lápis velho nas
mãos.
— Tudo bem. — Remexi a caneta em minhas mãos. — Qual é o
prazo? Ainda é o da casa de praia? — questionei, sabendo que ela
estava trabalhando em mais três projetos ao mesmo tempo e todos
envolviam casas próximas ao mar.
Isla olhou para os lados e de volta para mim.
— Sim, eu consigo entregar até quinta… está tudo bem pra você,
Joe?
Encarei o babaca que ria baixinho e seus olhos se voltaram
para Isla.
— Claro, Isla, com certeza… fique tranquila…
Apertei seus dedos por baixo da mesa e ela não levantou os
olhos para encontrar os meus. Respirei fundo, enquanto via outras
mãos se levantarem.
— Você. — Apontei para um funcionário de cabelos ruivos e ele
olhou para o lado, engolindo em seco.
— Eu preciso de ajuda em um projeto.
— E você não sabe como pedir isso para qualquer pessoa que
esteja ao seu lado? Porra, se a gente não se comunicar aqui porque
vocês acham que algum colega pode roubar seu projeto, essa
empresa não vai evoluir.
Joe tampou a boca tossindo e senti vontade de jogar alguma
coisa em sua cabeça. Para fazer isso, porém, eu teria que largar a
mão de Isla e eu não queria soltá-la.
43
Isla
O dia tinha sido tão corrido que eu tinha fugido de Connor duas
vezes. Ele continuava me encontrando. Guardei minhas coisas
dentro da bolsa, enfiando o notebook de qualquer jeito apenas para
poder deixar a empresa de uma vez.
Joe tinha tido a reunião mais estranha do mundo comigo, e
desde a reunião geral, eu só sentia que as pessoas continuavam a
falar sobre mim. Resolvi ignorar, mesmo que uma parte de mim
continuasse dizendo que aquilo estava errado.
Jessie parou ao meu lado, guardando suas coisas, e tentei
ignorar seus olhos em mim. Ela não parava de encarar. Eu já estava
me sentindo estranha e, com aquilo, eu tinha certeza. Alguém já
estava falando de mim pelos corredores da empresa.
— Isla…
— O que quer que você tenha ouvido: é mentira.
Jessie me encarou, levantando uma sobrancelha. Eu estava
na defensiva. Sabia muito bem como aquilo terminava e não seria
ruim para Connor, mas para mim.
— Eu… — Jessie olhou para os lados e de volta para mim. — Eu só
ia te convidar para a minha casa. O que estão falando de você? Eu
posso te ajudar, se quiser, é claro…
— Nada… eu só… estou me sentindo estranha.
— Sinto muito, quer uma carona para a sua casa? Eu posso dar.
— Não, não precisa, é bem distante daqui e muito obrigada mesmo.
— Dei de ombros, eu não me sentia na vibe de uma companhia. —
Mas podemos marcar para outro dia, quer dizer, se você ainda
quiser.
Tentei parecer o mais simpática possível, não queria que a
garota achasse que eu tinha algo contra ela. Eu só não me sentia à
vontade naquele momento. E eu tinha achado que o dia seria
maravilhoso.
Quando a empresa ficou vazia, andei até a porta de Connor, e
levantei a mão para dar algumas batidas, mas desisti no último
momento. Talvez fosse melhor dormir sozinha e saber o que eu
estava sentindo.
✧
Estava parada em frente à pia terminando de cozinhar adobo,
um prato filipino que minha mãe fazia sempre que eu me sentia
triste; ele consistia em carne de porco marinado em vinagre e molho
de soja, e arroz com especiarias.
Era uma lembrança comum, minha mãe fizera muito aquilo
para mim. No entanto, desde que eu fui morar sozinha, não parecia
certo fazer para comer sozinha.
Naquela noite, em específico, eu estava me sentindo solitária.
Sentia falta de Elijah e de sua voz me chamando.
Também sentia muita falta de Connor, tinha sido uma ideia
idiota deixar a empresa sem falar com ele, principalmente depois da
nossa noite e manhã. Joguei um pouco de pimenta sobre o prato,
sabendo que eu não aguentava muito.
Lavei as mãos, impedindo que qualquer vestígio de pimenta
parasse em meus olhos. Encarei meus pés com meias de bichinhos
e andei até a cama, a tigela em minhas mãos.
Enrolei a coberta em volta de mim e coloquei o episódio de
The Last of Us para assistir. Pedro Pascal como Joel Miller devia ser
capaz de me animar, não é?
Quando finalmente liguei o episódio dois, duas batidas na
porta chamaram minha atenção. Olhei para o relógio na tela do
notebook, sabendo que Robert ainda estava ali.
Provavelmente ele tinha tomado coragem para vir falar comigo
sobre o que aconteceu durante a manhã. Pausei o episódio, que
ainda estava na abertura, e coloquei minha comida de lado.
Abri a porta, me deparando com Connor parado segurando
uma sacola de algum restaurante. A emoção de vê-lo ali, parado em
minha porta, foi tanta que eu pulei em seu colo, fazendo que ele
soltasse a sacola para me segurar e se equilibrar no batente.
Segurei seu rosto, enquanto Connor arrumava a mão, me
segurando pela bunda. Comecei a distribuir beijos, demonstrando a
alegria que eu sentia. Eu nunca imaginei que ele fosse aparecer ali.
Meu coração parecia cheio – era uma grande mudança, já que eu
estava me sentindo próxima do choro.
— Se eu soubesse que você ia me receber assim, eu não teria
parado em lugar nenhum e teria vindo correndo pra você.
— Nunca mais faça paradas, só venha. Eu só preciso de você!
Connor colou a boca em mim, afastando todos os sentimentos
ruins que o dia tinha trazido. Sua mão tocou meu rosto, afastando
os cabelos que deslizaram por minha face. Sua língua percorreu
minha boca e me apertei mais nele, sentindo uma necessidade.
Ao entrar em casa, Connor fechou a porta com o pé, batendo a
madeira com força no batente. Ri entre o beijo, pensando que a
porta provavelmente cairia. Suas mãos subiram da minha bunda
para a cintura, aproximando mais nossos corpos. Sequer sabia que
isso era possível.
Abri os olhos para ver se ele era mesmo real e Connor mordeu
meu lábio, tomando minha boca com mais fome. Gemi em seu
aperto e senti a umidade em minha boceta.
— Nunca mais fuja de mim, Isla Salazar — falou, dando beijos em
minha boca e descendo pelo pescoço.
— Prometo.
Apertei meus braços ao redor do seu pescoço, inebriada pelo seu
cheiro. Connor me apertou de volta e olhei para o chão, onde a
sacola parecia estar vazando.
— A gente tem que limpar a bagunça no chão… sinto muito.
Connor virou comigo ainda presa em seu corpo como um coala
e se abaixou, pegando a sacola.
— Eu trouxe comida — disse, levantando a sacola para que eu
pudesse ver. — Mas acho que você já tinha feito algo pra você,
não?
— Sim, eu tinha… mas posso comer os dois.
— Ou a gente pode guardar e você me apresenta seus dotes
culinários.
Connor tinha os olhos em meu rosto, parecendo não querer
perder nem um segundo do que eu fazia. Passei a mão por sua
barba que também continha alguns fios brancos, sentindo a
aspereza em mim.
Foi aquela aspereza que me levou à loucura nas últimas
noites.
— Eu fiz um prato filipino, espero que você goste… — Connor
andou comigo até a cama — Você não está velho demais para ficar
andando comigo por aí?
— Você vai pagar por isso mais tarde.
Connor se sentou comigo na cama, pegando o prato. Tentei
sair do seu colo para que ele pudesse aproveitar a refeição, mas
Connor me puxou para mais perto e senti seu pênis duro embaixo
de mim.
Me esfreguei, e ele colocou um pedaço do adobo em sua
boca, gemendo. Eu não sabia se era por mim ou pelo prato. Connor
pegou mais uma porção e levou até a minha boca.
— Vai, Isla… rebola.
Abri a boca e ele colocou um pouco da comida em minha
boca, enquanto eu rebolava sobre seu pau. Outro gemido escapou –
dessa vez, de mim. Senti meus seios ficarem pesados, os bicos
dando as caras pela blusa velha.
— Tira a blusa, acho que assim você vai se alimentar melhor.
Puxei o tecido para fora do corpo e Connor sorriu, soprando o
ar por entre os lábios. Ele continuou me alimentando, enquanto eu
rebolava em seu colo. Tinha algo muito erótico sobre aquilo, de uma
maneira que eu nunca tinha experimentado.
Connor colocou a tigela vazia ao lado da cama e tirou o
notebook de cima do colchão. Eu quase tive medo de que ele
jogasse meu notebook longe, mas ele fez tudo com muito cuidado.
Desci meus shorts, ficando apenas de calcinha. Connor ainda
estava completamente vestido, com seu terno montado. Sua calça
de alfaiataria parecia não segurar mais seu pênis duro e ele me
puxou para cima do monte que formava na calça.
Connor colocou meu seio em sua boca e eu agarrei a parte de
trás do seu cabelo, querendo fugir ao mesmo tempo que me
aproximava da sensação da sua boca sugando meu mamilo com
gosto.
— Connor…
Connor desceu a mão, puxando minha calcinha com força para
os lados e senti o tecido arrebentar em sua mão. Senti a força de
um orgasmo enquanto ele continuava me movimentando para frente
e para trás em seu pau e gozei, gemendo seu nome.
— Você fica a coisa mais linda desse mundo choramingando desse
jeito no meu pau.
— Por favor, Connor, fala que você trouxe camisinha…
Connor sorriu para mim, se levantando. Eu não queria perder
seu calor, ainda mais enquanto eu me sentia mole daquele jeito.
Connor pegou um pacote de camisinha e jogou na cama.
Sem tirar os olhos de mim, abriu o paletó, removendo cada
botão de sua casa lentamente. Minha boceta ainda pulsava de tesão
e eu sabia que estava melada.
Após tirar a camisa, abriu o cinto da calça. Quando estalou o
cinto, minhas pernas ficaram bambas da expectativa que ele fosse
bater com o cinto em minha bunda, mas ele apenas o jogou para o
lado.
Desceu a calça e mostrou a cueca marcada por seu pênis
grosso. Respirei fundo, sentindo a antecipação. Connor baixou a
cueca box preta, mostrando seu pau torto e grosso, as linhas
marcadas me fizeram salivar.
— Não se preocupe, Isla… logo você vai poder chupar o meu pau o
quanto quiser, mas eu disse que você só ia gozar no meu pau… e
você me desrespeitou duas vezes…
Connor subiu na cama, me colocando sentada em suas pernas
e me movimentei, sentindo sua pele em meu clitóris. Gemi baixinho
e ele deu um tapa em meu seio.
— Para quieta.
Fiz de novo, apenas para que ele fizesse o mesmo e Connor
beliscou o meu mamilo. Eu estava fervendo, aquilo era muito
gostoso. Eu nunca tinha tido aquele tipo de sexo.
Connor colocou a camisinha em seu pau, sem me deixar fazer
aquilo. Parecia quase atormentado. Suas mãos me puxaram para
perto do seu pênis e eu gemi.
— Agora, Isla, você vai pegar o meu pau e vai sentar bem
devagarzinho, se você sentar com tudo… eu vou te castigar… —
Minha boceta se contraiu e eu senti vontade de fazer o contrário.
Connor segurou meu cabelo, enquanto a outra mão apertava
meu seio. Eu estava sobrecarregada, não sabia quanto tempo
conseguiria aguentar sem gozar.
Segurei seu pau, tentando fechar a mão. Levantei e encaixei a
ponta do seu membro em minha entrada. Connor não parara de me
provocar. Abaixei um pouco, sentindo as pernas tremendo.
Connor e eu gememos com a sensação. Eu sentia uma
descarga elétrica pelo corpo a cada centímetro que descia em seu
pau. Connor agarrou minha bunda, e eu sabia que ficaria marcada
com seus dedos, mas eu queria mesmo. Eu queria ficar
completamente marcada por ele.
— Rebola, Isla… bem gostoso.
Quando finalmente estava empalada por seu pênis. Connor me
levantou em seu pau e me deixou cair pesada, batendo fundo em
minha boceta. Eu me sentia completamente preenchida, descendo e
subindo, buscando pelo calor do seu gozo em mim.
— Você sabe o quanto eu queria te foder bem assim? Enquanto
você desce e sobe em mim? — Connor mordeu meu seio, deixando
a marca de seus dentes na minha pele. — Eu quero tanto te foder e
deixar o mundo ouvir esse chorinho que só você tem… mas ainda
não decidi… — Connor gemeu, quando desci com tudo, apertando
seu pau dentro de mim. — se vou fazer isso no meu escritório ou no
seu jardim… onde prefere?
A cada movimento que eu fazia, eu sentia seu pau maior
dentro de mim. Connor me tocava, marcando todo meu corpo com
as suas mãos me apertando. Sua boca sugava meu seio, mamando
em mim com gosto, como se ele fizesse aquilo sempre.
Me movi para a frente, esfregando meu clitóris em sua pele. A
sobrecarga de sensações foi demais e tombei, cravando as unhas
nos ombros de Connor, enquanto meu orgasmo explodia. Connor
gozou profundamente dentro de mim. Meu orgasmo durou pelo que
pareceu horas, com minhas pernas tremendo em volta do seu
corpo. Connor me levantou pela bunda, e continuou entrando e
saindo de mim, até que seu corpo relaxasse.
— Você é minha, Isla, e eu vou mostrar pra todo mundo.
44
Connor
Isla agarrou minha mão mais forte e quase senti vontade de rir.
Tinha certeza de que seria morto se fizesse isso, e eu não queria
morrer agora que havia conseguido a mulher que amava para mim.
— Você precisa se acalmar, eu não estou te levando para a
guilhotina, meu amor. — Isla virou, seus olhos pegando fogo. Tentei
soltar nossas mãos para me afastar dela, mas isso só fez com que
ela intensificasse o aperto.
— Não solta a minha mão.
Puxei Isla para perto de mim e encostei o queixo em seu
pescoço, me abaixando para que pudesse ficar na altura dela. Isla
passou o braço pela minha cintura sem soltar minha mão e ficamos
em silêncio juntos.
— Eu estou sendo boba?
— Muito, mas está tudo bem porque você é minha, Miss Sunshine.
Isla me apertou mais e me soltou ao ouvir o ding do elevador,
que finalmente tinha parado no nosso andar. Senti sua mão
escapando da minha, mas puxei de volta e Isla me encarou brava.
— Não vou te soltar…
Ninguém parecia com muita vontade de olhar para o que
estava acontecendo, e eu sabia que isso tinha a ver com a
mensagem que eu tinha mandado assim que saí da cama para
preparar o nosso café da manhã.
Eu enviei para cada pessoa de dentro da empresa uma
mensagem bem amigável falando sobre como eu não queria que
ninguém olhasse diferente para Isla, a tratasse diferente, ou desse
qualquer indicação que achava o nosso relacionamento estranho;
caso contrário, a pessoa seria mandada diretamente para a rua. Joe
me xingou e depois me bloqueou.
Saímos do elevador, sua mão ainda grudada na minha.
Encarei algumas pessoas que teimaram em ficar olhando como se
fossemos dois alienígenas e eles logo voltaram a bater nas teclas
do computador como se suas vidas dependessem disso.
— Isla! — Jessie se aproximou e tentou abraçar Isla, mas eu não
larguei sua mão, esperando enquanto ela abraçava a estagiária que
tinha virado sua amiga.
Fiquei parado, olhando para o relógio em meu pulso. Eu não
tinha soltado a mão da Isla, mas ela também não tinha soltado a
minha. Se eu era louco, acho que ela também era.
— Você está bem? Você não mandou nenhuma mensagem e eu
fiquei preocupada. — Olhei para a garota com meus olhos
tremendo. Ela me olhou, deu um sorriso e voltou a olhar para Isla.
— Eu estou ótima, sério, estou tranquila.
— Você tinha que ver o senhor Evans te defendendo, acho que a
maioria das garotas queria casar com ele.
Esfreguei meus olhos, pensando em como mandar a garota
embora sem que Isla me matasse. Eu tinha sido muito incisivo na
mensagem de texto ao dizer que eu também não queria que
ninguém comentasse sobre o que tinha acontecido. Se fossem
comentar, que comentassem fora do horário de trabalho e, mais
importante, bem longe dos ouvidos de Isla.
Quando finalmente conseguimos chegar até sua mesa, eu dei
um beijo em sua boca e fiquei olhando para seus olhos, que me
encaravam como se ela estivesse com medo de ficar sozinha.
— Quer levar a sua mesa para a minha sala?
— A gente pode? — perguntou baixinho.
— Sim, você pode o que quiser.
— Eu tenho que ser corajosa, essas pessoas são meus colegas de
trabalho. — Aproximei minha boca de seu ouvido e respondi:
— Mas você tem privilégios.
Isla roubou um beijo de mim e sentou em sua cadeira, virando
para frente. Saí andando, ciente de que ela ficaria bem.
— Caralho, nem parece o mesmo Connor — alguém disse e tive
que esconder a risada.
Abri a porta do meu escritório e ouvi Joe atrás de mim. Revirei
os olhos, sabendo que ele viria falar sobre a mensagem, ou sobre
eu ter demitido pessoas na frente de todo mundo, ou sobre qualquer
coisa que ele quisesse falar.
— O que foi, Joe?
— Oi pra você também, senhor Evans. — Encarei seu rosto e ele
entrou na sala, fechando a porta. Estiquei as pernas e esperei Joe
se sentar. — Eu trouxe os endereços que você pediu. Ontem você
não conseguiu ver, sabe, por causa do que aconteceu.
— Obrigado.
Joe me entregou o tablet e eu abri uma das pastas. Coloquei o
tablet sobre a mesa e me curvei para conseguir ver melhor.
— Posso explicar?
— Claro.
— Se você clicar nessa primeira pasta, ela é um pouco mais
distante das outras, mas uma ótima opção. O terreno é nivelado, o
que vai diminuir nosso trabalho, impedindo que qualquer acidente
aconteça com o Elijah e com você, quando ficar caquético. Até lá,
espero que a Isla já tenha te trocado por um novinho.
Revirei os olhos. O lugar parecia muito grande, um bom
espaço para o que eu estava pensando. Joe apontou para outra
pasta e começou a falar:
— Esse aqui, apesar de não ser nivelado, é mais aconchegante.
Tem uma floresta perto e, se você olhar para essa foto — apontou.
—, verá como ela conversa com o terreno. Você já começou a
desenhar o lugar? Pode me mostrar?
— Não.
— Tá… a terceira pasta mostra um ambiente diferente dos outros,
ele é mais próximo da cidade, tentei encontrar um meio termo, mas
esse foi o único lugar que eu vi que já estava à venda. Não sei se te
atraí.
Cocei o queixo, passando as fotos, vendo que parecia perto do
meu prédio.
— Acho que prefiro os lugares um pouco mais distantes. Mas tem
Elijah... eu não posso tirar ele de perto da mãe, ou das avós, e nem
mesmo da escola e ninguém vai querer mudar para perto de mim.
— Bom, você sabe que tem que escolher o que for melhor pra
você.
— Sim, mas ele é minha prioridade. E Isla.
— Claro…
— O último lugar é maior, não tão perto da cidade, mas também não
é tão distante de carro.
A porta abriu e eu quase derrubei o tablet. Isla parou, olhando
de Joe para mim.
— Desculpa, eu não queria me intrometer na reunião de vocês, mas
é que eu preciso de uma opinião do Joe sobre o projeto que estou
cuidando, vai ser bem rápido.
— Entra, Isla, vem aqui — chamei, Isla olhou para fora e andou até
mim, deixando a porta aberta. — Um dos nossos clientes está em
dúvida sobre o espaço para construir uma casa, só que eu e Joe
estamos debatendo sobre e não conseguimos decidir também.
Isla parou ao meu lado, e eu passei a mão por sua cintura,
fazendo carinho nela. Ela colocou a mão no queixo, enquanto eu ia
passando cada uma das imagens para que ela pudesse ver.
— Todos são espaços muito bonitos, mas esse aqui, — falou
apontando para o último que Joe tinha mostrado. Era um terreno
grande, com algumas árvores e um grande jardim. Parecia um
caminho na floresta, onde eu poderia construir o espaço que eu
estava imaginando para nós. — ele tem alguma coisa, parece
perfeito.
Isla olhava para a imagem com o que parecia um sentimento
de tristeza.
— Você gostou mesmo?
— Sim, fiquei imaginando como seria morar aí e fiquei triste. Era só
isso? Posso roubar o Joe agora?
— Pode sim. — Isla se abaixou, me deu um beijo e fiquei olhando
enquanto ela saía da minha sala.
Girei a cadeira, tendo certeza de que eu a faria muito feliz com
a escolha que fizemos. Peguei os desenhos que tinha começado a
fazer e voltei a trabalhar neles, sabendo que era uma missão dar
para Isla exatamente o tipo de casa que ela sonhava.
55
Isla
Tentei não resmungar para Isla quando ela passou por mim e
colocou um chapeuzinho na minha cabeça. Aquilo tudo era ridículo.
Encarei minha família que andava de um lado para o outro levando
todo tipo de coisa para fora com um sorriso a contragosto em meu
rosto.
Olhei para o lado e Francia estava parada, roubando frutas da
cesta da mesa do café da manhã. Sua barriga de sete meses estava
gigante. Grace tinha me pedido para ser o doador de esperma para
elas e eu fiquei assustado, mas quando explicaram que realmente
queriam aquilo, eu tive que aceitar, afinal segundo Grace, eu tinha
feito com que ela engravidasse do meu primeiro filho, então que
desse o segundo para ela. Eu também seria o padrinho da criança.
Elas eram loucas.
— O que você está olhando? — Francia perguntou com a típica
irritação grávida que ela vinha sentindo.
— Nada, quer uma água ou um suco?
— Não, obrigada. Agora para de me olhar porque isso é estranho.
Mordi o sorriso e deixei a cozinha, sabendo que ela logo
estaria chorando porque pegou uma fruta azeda. Ainda bem que eu
não era casado com ela. Sentia que isso era uma compensação
pelo que tinha passado com Grace em sua gravidez. Agora ela que
aguentasse a mulher grávida.
Subi as escadas, procurando por Elijah que, com sete anos, se
sentia adulto demais para ficar perto dos mais velhos. Parei em
frente ao seu quarto que não tinha tantos dinossauros como
antigamente, somente alguns da coleção que ele ainda guardava.
Era até estranho olhar para o meu filho tão crescido e sem os
dinossauros à sua volta. Doía, mas de um jeito bom.
— Precisa de alguma coisa, filho?
— Pode fechar a porta, pai? Vou jogar com os meus amigos —
informou, sem olhar para mim realmente e eu sentia um pouco de
falta de quando eu era o seu mundo.
— Claro, filho… não esquece que você não pode se atrasar ou a
Isla vai ficar triste, ok?
— Pode deixar, eu só vou jogar um pouco.
Concordei com a cabeça, encostando a porta do quarto. Andei
até o próximo quarto, ouvindo um resmungo baixinho. Abri a porta
com cuidado e vi Beatrice se mexendo pronta para chorar. Cheguei
perto do berço, pegando o pequeno bebê em meu colo. Seus olhos
escuros me encararam e ela começou a chorar como sempre fazia
com seus pulmões cheios de força.
— Parece que ninguém está feliz em ver o papai hoje, não é,
princesa? — Beijei sua testa, enquanto ela continuava chorando.
Caminhei até o trocador, tendo certeza de que ela estava suja.
A garota sabia encher uma fralda como ninguém. Comecei a
preparar tudo para trocá-la e ela continuava chorando. Logo, toda a
comitiva estaria no quarto dela. Beatrice vivia atrás de atenção.
Ouvi a porta se abrir e virei para dizer para Isla que estava
tudo sobre controle, mas não era Isla. Elijah andou até mim,
esfregando o braço, como se estivesse cansado daquela situação.
Eu sabia que ele estava assim porque, além de ser um homenzinho,
ele também seria o irmão mais velho de dois bebês.
— Bea, não precisa chorar tanto — falou, mas parecia mais uma
súplica.
Beatrice continuava chorando, botando para fora todo o
nervoso que estava sentindo.
— Bea, olha, o papai é legal… pode se acalmar, é só uma fralda
suja. Pai, explica pra ela…
Minha filha começou a seguir o som da voz, que pareceu
finalmente passar por cima do barulho do seu choro. Beatrice olhou
diretamente para Elijah e os olhos do meu filho se arregalaram.
Parecendo saber que tinha toda a atenção do irmão, Beatrice deu
um sorriso sem dentes e soluçou, depois de tanto choro.
— Ela sorriu para mim?
— Eu acho que sim, filho.
— Hey, Beatrice… olha aqui pra mim! — Elijah moveu a mão e
Beatrice bateu os braços, dando o que parecia uma gargalhada. —
Pai!
Olhei para Elijah e meu filho parecia maravilhado. Seus olhos
se encheram de lágrimas e ele virou para mim, parecendo mais
emocionado do que eu estava ao ver meus dois filhos interagindo
como irmãos.
— Pai, ela tá sorrindo para mim. — Elijah puxou minha camiseta e
tentei esconder o sorriso. — Ela me ama.
— É claro que ela te ama, Elijah, todos nós te amamos. — Virei para
Isla ao ouvir o som da sua voz. — Te amamos tanto que até
aceitamos que você não ama mais dinossauros… ou a mim.
Elijah revirou os olhos, limpando as lágrimas que escorriam do
seu rosto. Isla se aproximou, dando um beijo na cabeça do meu filho
e pegou Beatrice no colo.
— E você, garotinha? Está com fome? É por isso que está chorando
pro Reino Unido todo ouvir? — Isla apertou as bochechas rosadas
de Beatrice de encontro ao seu rosto e sorri. Eu fazia muito isso
agora.
— Pai, falta muito? Eu também estou com fome.
— Na verdade, não falta… eu estava vindo chamar vocês quando
ouvi o choro da Bea. Se quiserem descer, eu vou logo depois. —
Elijah virou para mim e eu deixei para ele escolher.
— Sua mãe está lá embaixo se quiser ir…
— Eu estou com medo da Francia, vocês passam no meu quarto se
eu esperar lá? — Isla riu e eu concordei com a cabeça, sentando no
chão perto da poltrona de amamentação.
Elijah saiu do quarto, deixando Isla, Beatrice e eu. Assisti
minha esposa tirar o seio, baixando a alça do vestido. Isla sorriu
para mim e puxou a corda do chapéu de aniversário.
— Não sei por que você ainda finge que amamenta Beatrice aqui…
— É para as visitas acharem que somos os melhores pais do
mundo.
Isla passou a mão pelo cabelo ralo e escuro de Beatrice. A
conexão delas era linda. Elijah tinha um pouco de ciúmes, mesmo
que minha esposa tivesse feito de tudo para que ele se sentisse
parte disso.
— Acho que o Elijah não quer mais saber da gente — comentei.
— Ele quer, só não o mesmo tanto que antes… ele está crescendo,
Connor. Dói, mas ele já não é mais o nosso bebê, mesmo que todo
mundo o trate assim.
Beatrice sugava forte o seio de Isla e eu sorri para ela,
pensando em cada momento que passamos juntos. O nosso
casamento tinha sido nesta casa, com apenas nossas famílias e
amigos mais próximos.
Isla tinha usado o vestido que comprei quando a vi vestida de
noiva. Ele agora ficava guardado em uma caixa dentro do nosso
guarda-roupa para que um dia, quem sabe, se Beatrice quisesse,
pudesse usar o vestido da mãe.
Minha esposa me entregou nossa filha que agora parecia a
garota risonha que eu conhecia. Uma troca e um bom leite fazia isso
com ela. Isla começou a se arrumar e se levantou, puxando meu
rosto para perto do seu.
— Eu te amo muito, Connor, e você segurando um bebê me faz ter
vontade de ter mais cinco filhos com você.
— É só você dizer...
Puxei sua cintura para perto de mim, dando um beijo
demorado em sua boca. Beatrice puxou minha barba, parecendo
querer atenção e soltei minha esposa, sabendo que ela tinha muito
preparado para hoje e isso incluía ela de quatro na cama para mim
no final da noite.
Passamos pelo quarto de Elijah, buscando meu filho e
seguimos em direção ao local da festa. O caminho de pedra que Isla
tinha projetado em direção à praia ainda me dava calafrios, mas Isla
me fez superar o medo de perder meus filhos na praia. Ela amava
aquele lugar.
A primeira vez que levamos Elijah ali, ele quase saiu correndo
para o mar. Eu fiquei segurando sua mão por boa parte do dia, até
que Isla pegou a mão dele e o levou para a água. Eu sabia que
podia confiar nela. Passados alguns meses, eu mesmo comecei a
me aventurar, caminhando pela praia de manhã, nadando durante
os finais de semana com Elijah, fazendo amor com Isla na água do
mar… o que eu não recomendava, minhas bolas tinham encolhido.
O barulho de palmas nos recebeu. A mesa estava rodeada
pelas pessoas que eu amava: minha mãe, Evanna, Suzana, Grace,
Francia, Joe, Antony e Kayla, a filha deles que tinha a mesma idade
de Elijah. Os dois eram próximos, bem, tanto quanto duas crianças
podiam ser, porque Elijah estava naquela idade que achava
meninas nojentas.
— Feliz aniversário, Connor — Minha mãe gritou e encarei o bolo
que Isla tinha encomendado.
Dei um beijo em minha esposa e me sentei na cadeira com
Beatrice no colo. Elijah sentou ao meu lado. Isla parou atrás de mim
e pediu para Grace tirar uma foto, enquanto ainda conseguíamos
manter Beatrice feliz. Elijah olhou para a irmã, fazendo gracinha
para ela e Grace gritou que tinha conseguido tirar a foto.
Olhei direito o bolo e notei que Isla tinha mandado escrever
“Para sempre um sugar daddy”. Revirei os olhos, me sentindo ainda
mais ridículo por ser o único usando o chapéu de aniversário, com
aqueles dizeres no bolo e incrivelmente amado.
Quando todos começaram a cantar parabéns para mim, eu
percebi que tinha tudo que eu precisava e nada mais falta. Isla
chegou e preencheu cada pedaço que precisava ser preenchido,
Elijah ainda era a luz da minha vida, tendo trazido cada coisa boa
que aconteceu comigo nos últimos sete anos, e Beatrice... Beatrice
era a cereja no bolo.
Assoprei as velas coloridas e todos bateram palmas. Suzana
pegou Beatrice do meu colo e Isla puxou a faca para cortar o bolo.
— Vamos cortar?
Olhei para Elijah, que puxava a blusa para baixo, parecendo
com vergonha de estar sentado bem ao lado do pai.
— Você me ajuda, Elijah? — Os olhos do meu filho viraram para
mim e deu um sorriso de canto.
— Lembra que tem que fazer um pedido — Isla falou.
— Eu só ajudo se a Isla ajudar também.
Minha esposa entregou a faca para mim, Elijah colocou a mão
por cima da minha e a Isla fez o mesmo em cima da mão dele. Nós
três contamos até três e fizemos um pedido junto. Deixei para eles,
afinal, o que quer que se realizasse na vida dos dois me faria feliz.
Eu já era o homem mais realizado do mundo.
— Eu te amo, Connor… — Ouvi sussurrado em meu ouvido. — O
que você pediu?
Olhei para Isla e sussurrei de volta, enquanto as pessoas
conversavam e gargalhavam.
— Você. Apenas você.
FIM
[1]
Só porque você é um grande bebê chorão
[2]
“Esse cara está falando sério?”
[3]
“ele estava apenas nervoso.”