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Copyright © Giovanna L Pião

1ª edição 2023
Capa: Dara Juliana | Capista Design
Revisão: Daniele Almeida Soares
Leitura Sensível: Giu Yukari Murakami
Diagramação: Giovanna L Pião

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas.


Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
São proibidos o armazenamento e/ ou a reprodução de qualquer
parte dessa obra, através de quaisquer meios – tangível ou
intangível – sem o consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº
9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
DEDICATÓRIA
Para todes que já tweetaram "I need a sugar daddy" e torceu para
que um dos velhos respondendo no twitter fosse um sugar daddy de
verdade.
Eu entendo vocês!
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PRÓLOGO
4 anos atrás
Connor

— Eu quero ter um filho — declarei, enquanto Grace engolia mais


do vinho rosé que tomávamos depois da minha festa ter esvaziado.
Era meu aniversário de trinta e seis anos. Aos trinta e seis
anos, eu já havia imaginado coisas para a minha vida, como ser
uma das melhores empresas de arquitetura de Edimburgo – o que
eu tinha conseguido –, viver uma boa vida – o que eu levava –, dar
o melhor para a minha mãe – a primeira coisa que fiz. Mas eu nunca
tinha pensado sobre me apaixonar ou viver uma vida em família.
Acontece que com os quarenta anos batendo à porta, eu
comecei a perceber que talvez eu devesse ter um legado além de
uma construção de pedra que ficaria para ninguém. Eu precisava de
um herdeiro, um que eu pudesse formar e transformar em um bom
homem e um ótimo arquiteto. Eu tive que começar do zero, mas ele
não teria. Ele seria dono de um império.
— Um filho? — questionou, voltando seus olhos azuis para mim,
tirando o cabelo loiro do coque desfeito do rosto.
Grace era minha melhor amiga desde a infância, quando nos
conhecemos em um bairro onde existiam apenas crianças sem um
dos pais, com roupas doadas pelas senhoras ricas da cidade e
sonhos. Nossas mães se uniram para tornar as nossas vidas mais
fáceis.
— Você vai ter um filho? Eu duvido que você seja capaz de amar
uma criança, quer dizer, você nem mesmo se suportava quando era
criança.
— Isso porque todas as crianças são chatas, mas não o meu filho.
Ele vai ser o melhor cara desde pequeno, vai ser inteligente como
eu, conquistador quando crescer, ele vai ser sempre o melhor da
classe… você vai precisar ver.
— Acho que não vou estar aqui para isso, Connor, quer dizer… isso
deve ser em algum conto de fadas.
Me arrumei no chão, arrastando o sofá quando bati minhas
costas grandes nele e virei para Grace. Todos já tinham ido embora
da festa: pessoas que eu não conhecia e outras com as quais eu já
tivera algum contato.
A verdade é que eu não era próximo de quase ninguém, afinal,
depois que minha mãe foi abandonada por meu pai, eu virei uma
pessoa terrível de conviver. Apenas Grace ficou.
— Eu quero ter um filho, de verdade, Grace, eu vou ser o melhor pai
do mundo.
— Não duvido disso, só não acho certo você colocar as suas
expectativas sobre uma criança que nem existe. E se ela for
completamente diferente de você em todos os sentidos? Você vai
amar menos? E se for uma menina? Ela não vai ser digna do seu
amor?
— Claro que vai.
Era até besteira pensar que eu não amaria uma filha, eu seria
sortudo em ser qualquer um, as melhores pessoas que eu conhecia
eram mulheres: minha mãe, Evanna e Grace.
— Eu também queria ter um filho… — Grace baixou os olhos,
encarando os pés em uma meia colorida com corações. — Eu
sempre penso em como seria ser mãe, mas não quero um pai.
Nunca quis, você sabe que eu sempre amei mulheres… — disse,
diminuindo o tom de voz, mesmo que estivéssemos sozinhos. Seu
dedo quase tocava o meu em busca de apoio. — Não quero
decepcionar minha família, não acho que vou poder casar e eu
também não estou ficando mais nova.
Peguei uma garrafa de uísque e entreguei para Grace, após
tomar um longo gole do gargalo. Ela fez o mesmo, fazendo uma
careta ao devolver a garrafa para mim, seus ombros se mexendo
em uma pequena dancinha. Eu sabia que ela odiava bebidas fortes,
mas nós dois precisávamos de algo mais forte que vinho.
— Quer ter um filho comigo?
Grace virou com tudo para mim, cuspindo o uísque que ainda
estava em sua boca em minha camisa de marca. Seus olhos se
arregalaram e ela fez o que eu nunca imaginei: começou a rir e sua
gargalhada invadia todo o apartamento que fora construído no
último andar de um dos meus prédios.
Revirei os olhos e esperei ela tomar fôlego para voltar a rir,
enquanto eu encarava a vista da cidade velha medieval me olhando
de volta.
— Você… — Grace limpou a lágrima que escorreu do canto de seus
olhos, balançando a cabeça em negação, enquanto olhava para o
chão e voltou a me encarar. — Você… está falando sério? Sempre
achei que quisesse me comer, mas não achei que fosse ser tão
direto.
— Eu não quero te comer, eu consigo alguém melhor pra foder se
eu acenar na rua. — Grace me deu um soco e riu mais uma vez. —
Eu estou falando sério. Você quer ter um filho, eu quero ter um filho.
Eu tenho uma carreira promissora, você tem uma carreira
promissora fazendo vestidos de noivas. Nós podemos ter um filho
juntos, vamos fazer como aqueles pais de Operação Cupido, vamos
dividir um filho.
— Você quer que eu vá morar na Inglaterra e você em alguma
vinícola nos Estados Unidos? Pra isso íamos precisar de duas
crianças, estamos falando de apenas uma... eu acho. Me perdi
enquanto ria da sua cara. Você não pode estar falando sério, não
podemos ter um filho juntos, é assim que começam os filmes ruins.
— Grace, pensa, por favor! Eu quero ter um filho, mas não quero
casar e nem ter um filho com alguém que daqui uns anos vai querer
tirar a criança de mim, você quer ter um filho e eu sei que não quer
ter um relacionamento complicado, enquanto come uma garota
diferente por semana. A gente pode ter uma criança juntos!
Seríamos os melhores pais que existem: eu posso não saber ser um
pai, mas aprendo, e você aprende a ser uma mãe. — Fechei os
olhos imaginando como seria. Eu realmente queria ter um filho. Eu
queria ser diferente do meu pai. — Você pode morar aqui nos
primeiros meses, assim nós dois criamos uma ligação com a criança
e depois vamos vendo como as coisas acontecem, pode ser como
Ross e Rachel, só que sem a parte de transar no chão da sala.
— Você está falando mesmo sério?
— Sim, eu posso pagar a clínica, nós podemos ser bons pais.
Grace tirou a garrafa da minha mão e eu não notei que estava
apertando tanto o pedaço de vidro, até ver as dobras dos meus
dedos voltarem a cor normal. Minha melhor amiga tomou um longo
gole de uísque e ficou de pé, olhando para o estado deplorável que
eu me encontrava.
Meu coração batia forte pela expectativa de ser um pai. Eu
podia ser um bom pai, não podia? Exatamente por não ter um que
eu podia ser uma versão apenas minha e não as imagens de outra
pessoa como reflexo em mim. Grace era boa, uma das melhores
pessoas que eu conhecia, e tinha uma própria vida também, mas eu
sabia que, no fundo do seu coração, ela queria ser uma mãe.
Realizaríamos um o sonho do outro.
Uma criança. Se ela aceitasse, eu iria ser um pai. E ela, uma
mãe. Ninguém entre nós dois, apenas uma amizade e nada
relacionado ao amor. Poderíamos fazer isso, não poderíamos?
Sentia meu coração batendo em meus ouvidos, esperando por uma
resposta.
— Eu aceito, vamos ser pais.
Sua voz tremeu e eu sorri. Eu estava muito bêbado, mas eu
entendia que eu ia ser pai. Eu, Connor Evans, ia ter um filho.
01
Isla

Ouvi o primeiro caminhão encostando e tampei a cabeça com


o travesseiro florido que nunca parava debaixo da minha cabeça.
Virei para o lado, quando o som pareceu ultrapassar o travesseiro
grosso que não me deixava respirar e bufei. Não sabia que horas
eram, mas normalmente a bagunça na rua começava sempre cedo,
quase sempre antes de amanhecer. Essa era uma das maldições de
morar em cima de uma loja de conveniências e, acredite, havia
muitas.
Joguei a coberta para longe do meu corpo, e senti o frio do
outono gelar meus ossos, mesmo vestindo o pijama de vaquinha
que tinha ganhado de Claire, minha melhor amiga. Bati a mão pela
cama, procurando o celular e, quando a luz me cegou, comprovei
que mais uma vez tinha acordado antes do necessário.
Chutei a cama repetidas vezes como se estivesse chutando o
dono do lugar que disse que não me incomodaria em nada aquele
barulho e dei um suave grito para afastar o sono de mim. Eu odiava
aquele lugar, mas também era minha casa.
Uma casa que sempre me recebia de braços abertos, depois
de ser ignorada durante todo o dia no escritório de arquitetura que
eu trabalhava há alguns meses. Era difícil, mas tudo daria certo. Em
algum momento, eu teria experiência suficiente para ter meu próprio
espaço e aí ninguém poderia me ignorar.
Levantei da cama, indo em direção ao banheiro e ligando o
chuveiro para começar a esquentar. Eu precisava de um banho, ou
não aguentaria o dia que teria pela frente. Pelo menos não era dia
de visitar obras.
Fui até a cozinha, que também era o meu quarto, divididos por
uma linha imaginária na minha cabeça para assim imaginar que eu
vivia em um lugar melhor: esse era o resultado de um salário baixo
e poucas opções de imóveis baratos em uma cidade como
Edimburgo.
O primeiro raio de sol brilhou do lado de fora e peguei meu
celular, tirando uma foto e mandando imediatamente para mamãe, e
logo depois postei no Instagram, recebendo uma curtida da única
pessoa que também estava acordada naquele horário: o menino
que ficava no caixa da loja que tinha embaixo de casa.
Ele era apenas cinco anos mais novo que eu, mas para mim
parecia muito mais. Às vezes, os meus vinte e cinco anos pareciam
mais do que eram. Culpa de uma mudança na infância com apenas
minha mãe, de ser jogada em uma sala de aula onde ninguém
parecia comigo, e de anos de exclusão até uma garota mais velha
se aproximar de mim e perguntar se eu precisava de uma amiga.
Foi assim que eu conheci Claire.
Há vinte e um anos, minha mãe colocou tudo que tinha dentro
de uma mala doada pela igreja do bairro, me juntou debaixo dos
seus braços e se enfiou em um avião com nada além de um sonho.
Foi assim que acabamos na Escócia.
Eu não tinha memórias das Filipinas, apenas o que mamãe
contava, pratos que eu comia e a língua que dividia com minha mãe
em algumas ligações – quando ela se sentia muito carinhosa ou
louca de raiva, o dialeto tagalo costumava aparecer. E isso é tudo
que eu tinha, um país que não parece ser meu, memórias que não
são minhas e uma pequena casa, que às vezes não parece mesmo
ser uma casa, como agora.
Ser imigrante é parecer sem lar, mesmo quando você tem uma
casa toda sua.
Fechei as cortinas, me dando algum tipo de privacidade e
entrei embaixo do chuveiro quente, que já espalhava seu vapor por
todo o ambiente. Não fiquei muito tempo, eu só precisava acordar
de verdade.
Eu sabia que hoje era dia de uma das longas reuniões que
aconteciam na empresa, o que sempre acabava com alguns
funcionários ficando até mais tarde porque não tinham conseguido
terminar o serviço como devia. Eu era sempre um desses
funcionários.
Eu ainda estava pegando o jeito. Vesti minha calça de
alfaiataria preta com um bordado dourado no bolso, coloquei meu
suéter rosa e fui beber o café gelado que ainda estava na garrafa da
cafeteira. Normalmente eu teria tempo para fazer um novo café,
mas tudo que eu não queria era passar mais do que as horas
combinadas dentro daquele escritório.
Enfiei os pés no tênis, e joguei o pesado casaco em minhas
costas.
— Por que eu sinto que estou esquecendo algo? — perguntei em
voz alta, fazendo em minha cabeça uma lista do que eu precisava
para o dia.
Fui até a mesa que ficava de frente para a janela e puxei o
velho notebook que estava embaixo de diversos papéis. A empresa
dava computadores para todo mundo trabalhar, mas eu ainda
preferia o meu que me acompanhou durante todo o curso. Quando
minha supervisora me viu trabalhando no C-3PO – meu notebook,
que eu tinha nomeado em homenagem ao robô de Guerra nas
Estrelas –, ela simplesmente me implorou para tomar cuidado e
sempre ir passando os projetos de cinco em cinco minutos para o
drive do escritório. Eu faria isso, é claro… eu também tinha medo de
que C-3PO parasse de pegar.
Coloquei meu notebook dentro da bolsa e saí, fechando a
porta com a chave e a tranca que impedia que qualquer um que não
soubesse como desarmar entrasse na casa. Eu tinha visto vídeos
demais sobre locatários invadindo casas para não me proteger,
principalmente por ser uma mulher sozinha, morando em cima de
uma loja, que não ficava em um bairro tão bom quando mamãe
imaginava que fosse.
Desci as escadas e Robert virou ao ouvir o barulho das
madeiras.
— Isla! Bom dia, te acordei? — Vi as diversas caixas de produtos no
chão e sorri para o garoto que tinha quase tanta sorte quanto eu.
— Bom dia, Robert… — Alguns homens entraram carregando mais
mantimentos e observei, enquanto Robert contava cada uma das
coisas que entrava. — Não, não se preocupe… você sabe como
meu dia começa cedo.
— Já vai para o serviço?
Concordei com a cabeça e Robert me jogou um pacote de
bolachas que eu gostava, peguei no ar e enfiei dentro do bolso
lateral da minha bolsa.
— Um bom dia, Isla.
— Um bom dia, Robert.
Saí da loja, em direção à rua. Os raios de sol nublaram minha
visão e comecei a andar em direção ao ponto de ônibus, torcendo
para que o automóvel chegasse logo e eu não tivesse que ficar mais
tempo que o necessário rodeada de gente.
Eu estava torcendo mesmo para que fosse um bom dia, eu
precisava de um bom dia. Fiz uma prece para o Deus ou Deusa que
já estivesse acordado e respirei fundo. Mais um dia de trabalho.
02
Connor

Esperei a sala ficar cheia, ouvindo os sapatos batendo no


chão, enquanto eu mesmo batia a caneta preta em minha testa no
ritmo dos pés. Uma dor de cabeça começava a apontar bem na
minha nuca, mostrando que o dia seria mais difícil do que eu
imaginava.
Nada que começava mal podia terminar bem.
Era isso que minha mãe vivia me dizendo e, por algum motivo,
minha manhã não tinha sido das melhores. Elijah tinha passado a
madrugada com febre e Grace me ligou às três da manhã em
desespero. Ela ainda não tinha se acostumado mesmo com os
quatro anos de vida do nosso filho.
Nem mesmo eu tinha me acostumado: vê-lo tremendo e
batendo os dentes enquanto suava frio nunca era uma boa visão.
Grace e eu ficamos ao seu lado, enquanto ele vomitava e recebia as
medicações. Suas mãos pequenininhas ficaram presas nas minhas,
e lágrimas desciam por seu rosto.
Não, eu nunca ia me acostumar.
Depois de apenas duas horas de sono em uma cadeira no
hospital, com Grace deitada em meu braço, eu recebi uma ligação
da única pessoa que trabalha tanto quanto eu nessa empresa, Joe.
E eu sabia que sempre que Joe me ligava era problema.
Quando ouvi sua voz no automático e os papéis virando ao
fundo, eu tive certeza de que algo estava errado. Joe gostava tanto
do seu sono quanto eu. Sua voz avisando que tinha um erro de
cálculo em um dos projetos dele. Erro de um dos funcionários novos
que já tinha dado problema antes, alguém que eu já estava
sondando para trocar.
E era isso que eu faria agora.
A sala se encheu e eu podia ouvir burburinhos do porquê uma
reunião tão cedo. Olhei para o lado e lá estava ela: Isla, a garota
nova. Ela estava com o pote de biscoitos na mão, monopolizando o
recipiente, fazendo com que todos que passassem por ali tivessem
que enfiar a mão de qualquer jeito no pote, arrancando o biscoito
que lhe fosse de direito, porque a garota não conseguia parar de
sorrir e se balançar conforme conversava.
Ela era linda. Seus olhos eram de um castanho profundo,
arredondados e levemente inclinados para baixo, o nariz pequeno e
arrebitado, seus cabelos eram longos e negros como a noite. E
mesmo que eu quisesse passar horas olhando para seus cabelos
pretos que balançavam conforme ela conversava com uma
funcionária, dando sorrisos para todos como a Miss Sunshine que
era, eu tinha coisas sérias a resolver.
Respirei fundo e me levantei, abrindo o paletó. Afastei a
cadeira que antes estava sentado, e o silêncio sepulcral caiu sobre
a sala, enquanto eu voltava meu olhar para o lugar que Isla estava.
— Todos sentados. — Esperei mais alguns minutos. —
Especialmente você, Salazar.
A garota estremeceu com um copo de café em suas mãos, o
conteúdo virou em sua blusa e seus olhos pareciam mortificados
com a situação. Bom, pelo menos não tinha café na pessoa da
frente, apenas nela. Que talvez assim aprendesse que ser simpática
demais nunca dá bons resultados para você, apenas para as outras
pessoas.
Revirei os olhos.
— Vá se limpar e todos vocês prestem atenção em mim.
Voltei minha atenção para os papéis em cima da mesa e
encarei cada um dos rostos que me encaravam de volta.
— Qual é a coisa que eu mais prezo dentro dessa empresa, além do
bom trabalho de vocês? Alguém pode me responder? — Eu podia
ouvir uma agulha caindo no chão, mas nenhuma voz se levantou
para fazer. — Eu prezo pela qualidade dos nossos serviços e por
evitar o desperdício do dinheiro dos nossos clientes e
principalmente o nosso. Afinal, quando vocês erram, eu resolvo.
Joe entrou na sala, acompanhado de Isla. Os dois pareciam
animados com a conversa. Dei um longo olhar para meu arquiteto e
ele revirou os olhos, querendo me mostrar o dedo do meio, como eu
sabia que faria mais tarde. Eu odiava ser interrompido.
— Chegou até a minha atenção que, mais uma vez, um dos nossos
novos arquitetos cometeu um erro. Isso é inadmissível na primeira
vez, mas na terceira… ainda mais estando há mais de seis meses
conosco. — Os dois se sentaram e eu finalmente parei de ser
interrompido. — Por isso, Alex, você está fora do projeto. Não quero
ouvir uma palavra sobre isso, e vamos conversar depois na minha
sala sobre a sua situação na empresa. Se você não consegue
quantificar um projeto corretamente, talvez devesse voltar a ser um
estagiário e começar a entregar cafezinhos, assim, Isla não acabaria
toda molhada de novo.
Ouvi uma ingestão de ar e virei meus olhos para o barulho,
encarando o rosto assustado da garota que estava conosco há
algum tempo. Sua camiseta manchada de café me irritava, eu ainda
podia ver a marca escura. Apertei a mão ao lado do corpo e fechei
os olhos, voltando a focar no que eu estava dizendo.
Eu estava cansado de erros dentro da minha empresa, erros
esses que levariam menos de dois minutos para serem corrigidos se
a pessoa prestasse atenção no que estava fazendo.
— Entrando nesse assunto, Isla Salazar, não é? — ela balançou a
cabeça concordando. — Ótimo. Prestei atenção em seus últimos
projetos, eles têm uma combinação que poucos arquitetos
conseguem balancear bem, com criatividade e técnica exemplares.
Por isso, você vai ficar no lugar de Alex e trabalhar diretamente
comigo e com Joe no projeto que estamos desenvolvendo.
Meu telefone começou a tocar em meu bolso e levantei o
dedo, pedindo silêncio, enquanto atendia a ligação de Grace.
— Eu juro que eu não te ligaria se não fosse urgente — falou,
enquanto eu ouvia as buzinas ao fundo. — Mas, o Elijah ainda não
está bem, eu ia ficar em casa com ele, só que uma noiva que vai se
casar em alguns dias precisa de uma alteração no vestido com
urgência. Ele está bem, só está amuado, e eu tenho certeza que
ficar na empresa por algumas horas vai fazer bem pra ele.
Poooooooooor favor, Connor Evans.
— Você fala como se isso fosse um sacrifício para mim, traga ele. —
Ouvi Grace rindo e a voz do meu filho ao fundo.
— Ele está muito animado, disse que tem muitas meninas bonitas
na empresa. Concordo… infelizmente fui proibida de ficar com
qualquer uma. Te odeio.
— Estou esperando por vocês.
A sala continuou me encarando, enquanto eu devolvia o
celular para o bolso. Eu não estava mais com paciência para
esporros, eu precisava saber do meu filho.
— Estão todos dispensados. Alex, quero você na minha sala em
meia hora e você, Isla, pode ir depois do almoço.
Peguei meu paletó e saí de dentro da sala, indo em direção a
entrada da empresa. Elijah estava chegando.
03
Isla

Fiquei parada em frente à porta que tinha o nome do Senhor


Evans em uma placa dourada. Reparei no pequeno desenho de
uma girafa e sorri, pensando que, com certeza, tinha sido um
agrado ao seu filho.
Quando estava saindo da sala de reunião, depois de ficar
sozinha com apenas Alex lá dentro, meu coração ainda não tinha se
acalmado. Eu nunca achei que Connor Evans ia prestar atenção em
mim, muito menos me chamar para uma reunião, ainda mais depois
de me elogiar ao mesmo tempo que eu sentia que ele me atacava.
Ele era uma pessoa estranha.
Connor tinha uma família perfeita, que eu já tinha visto muito
nos corredores. Sua esposa era linda – Grace tinha um nome que
realmente combinava com ela, com seus olhos de um azul cristalino
e os cabelos loiros e curtos na altura do ombro, ela parecia uma
atriz de Hollywood dos anos cinquenta. E Connor parecia um rei do
gelo, pronto para destruir a todos que estivessem perto dele com
seu olhar.
Elijah era uma linda criança, mas ninguém da empresa podia
ter contato com ele, era como se eles não quisessem que ninguém
se juntasse à realeza. Connor era extremamente fechado e impedia
que qualquer um chegasse perto da criança, mas eu não conseguia.
Toda vez que Elijah passava perto de mim, eu dava um sorriso ou
acenava, torcendo para que nem Connor ou nem sua esposa
soubessem do que eu fazia. E Elijah sempre parecia muito feliz
quando eu fazia isso, por isso, não pararia.
E agora eu estava pronta para entrar por aquela porta e ficar
cara a cara com ele. A porta se abriu e eu dei um passo para trás,
encontrando Joe, um dos nossos chefes, saindo sorrindo, enquanto
brincava com Elijah.
— Boa sorte, Isla… o senhor Ego está insuportável.
Esperei que ele passasse por mim, e dei uma batida na porta,
apenas para avisar que eu estava ali.
— Eu já te vi, Isla, você pode entrar. — Não custava nada ser
educada, coisa que ele parecia achar impossível de ser. — Feche a
porta.
— Claro, senhor Evans.
Connor baixou a cabeça e deu uma longa gargalhada e aquela
fora a primeira vez que eu o vi mostrar os dentes. Percebi que Elijah
parecia um pouco vermelho, mais do que era comum para suas
bochechas que estavam sempre sorrindo. O garoto não era muito
alto para a sua idade, tinha os cabelos e olhos escuros do pai, a
pele branca da mãe, e um sorriso cheio de dentinhos.
Acenei um olá para a criança e ouvi o pigarro de Connor, virei
com tudo para a frente tropeçando na cadeira que estava puxada
para fora do lugar.
— Desculpe.
— Sente-se — Connor virou seu notebook para mim, e eu comecei
a prestar atenção no que estava descrito em cada detalhe da planta
que estava na tela. —, consegue me mostrar o que tem de errado
nessa planta? Pode levar o tempo que precisar, mas saiba que eu
não tenho o dia todo.
Ok… aquilo era direto, como sempre. Respirei fundo,
começando a prestar atenção. A planta parecia correta, sem erros, e
essas eram as mais perigosas, podia ter qualquer erro naquela
amostra. Puxei o notebook para mais perto de mim.
Era uma casa de dois andares, os dois estavam dispostos lado
a lado, mostrando uma grande cozinha, com os pilares nos lugares
corretos, parecendo não existir nenhum erro de estrutura. A sala era
um ambiente grande também, com uma grande lareira, e um lavabo
grande para visitas.
No espaço de cima, os quartos ocupavam quase todo o
ambiente, uma suíte grande, com dois quartos em modelos
menores: um formava um escritório e o outro o que parecia um
quarto de visitas.
Os olhos penetrantes de Connor pareciam não sair de mim,
enquanto eu sentia minhas mãos tremerem sobre minhas pernas.
Uma gota de suor escorreu por minha testa e fiquei com vergonha
demais para limpá-la. Só podia ser uma pegadinha, não é? Ele
queria que eu falhasse, mas o que ele não sabia era que eu adorava
ser desafiada.
Uma batida na porta me acordou e olhei para a pessoa parada
quase dentro do escritório.
— Connor, preciso de você aqui, urgente.
— Eu estou ocupado vendo uma alma desintegrar bem na minha
frente, não é um bom horário e meu filho está aqui, não vou sair
agora.
— Connor… — a voz de Joe subiu um tom e percebi o que quer que
fosse, era sério mesmo. — Acho que você não vai querer essa
pessoa aqui dentro com o seu filho.
Virei para meu chefe, mesmo que gritasse em minha cabeça
que não deveria olhá-lo. Suas sobrancelhas estavam franzidas e ele
deu uma longa olhada para Elijah que batia dois dinossauros no
chão, como se eles explodissem. Connor virou o rosto para mim e
respirou fundo.
— Eu vou sair por dois segundos, e eu não posso levar Elijah... Ele
sabe se cuidar, mas, se precisar, é só me gritar.
Connor levantou e quando eu achei que ele ia sair sem falar
com a criança, vi meu chefe que tinha quase dois metros de altura e
mais de quarenta anos se abaixar ao lado de Elijah e pedir a
atenção do filho.
— Campeão, o papai vai correr resolver um problema e já volta, ok?
— Elijah prestava total atenção no pai e virou para mim. — Essa é
uma amiga do papai, a Isla, ela trabalha aqui. Se precisar, você
pode gritar o mais alto que conseguir, ok?
— Assim? — Elijah gritou e eu tampei meus ouvidos, enquanto
Connor ria.
— Acho que assim está bom, ok?
Os dois deram um toque secreto e fiquei sozinha com a
criança, que não parecia nem um pouco preocupada com o que
poderia acontecer com ela em um ambiente seguro como aquele.
Voltei meus olhos para a tela, prestando atenção em detalhes
que antes eu não tinha visto, por estar sob o olhar de Connor.
Repassei cada detalhe, olhando com cuidado a planta feita por
alguém da empresa.
— Moça…
Fechei os olhos, porque estava torcendo para não precisar
quebrar as regras e conversar com a criança.
— Moça… ei… — Senti mãozinhas batendo em meu braço.
— Oi…
— Brinca de dinossauro comigo?
Respirei fundo, virando para o menino, que segurava um
dinossauro de plástico em uma mão e uma girafa gigante na outra.
Seus olhos pidões o faziam parecer com o gatinho do Shrek. Olhei
uma última vez para a tela e voltei os olhos para ele.
— Eu acho que não tem problema…
Eu estava ferrada. Eu sabia que sim. Assim que me sentei no
chão, Elijah começou a colocar dinossauros e outros brinquedos em
meu colo. Eu parecia mais uma cesta de brinquedos do que uma
humana.
Peguei um dos brinquedos na mão e sorri.
— Você tem um Estiracossauro? Eu amo esse dinossauro! — falei
animada, girando o brinquedo em meus dedos.
— Você gosta de dinossauros? — Os olhos de Elijah brilhavam
conforme ele me olhava.
— Eu gosto muito, você gosta de Jurassic Park? — Eu sabia que
provavelmente Connor não tinha deixado o filho assistir um filme de
ficção científica com tantas mortes. — Eu amava quando tinha a sua
idade…
Elijah me encarou, os olhos arregalados, e sua bochecha que
ainda estava vermelha se esticou com o sorriso.
— A gente pode assistir juntos?
Peguei outro dinossauro e entreguei para ele, ficando com o
Estiracossauro para mim. Era o meu dinossauro favorito. Elijah
pegou a girafa, mostrando para mim que ele a adorava.
— Acho que não vai dar, Elijah, mas pede para o seu pai e pra sua
mãe, eles podem assistir com você. Aliás, prazer, meu nome é
Isla…, mas você pode me chamar de Lala…
Elijah me chamou para perto dele e falou no meu ouvido:
— Posso te chamar de moça? A mamãe disse que eu sou um
cavaleiro.
Comecei a rir e Elijah pareceu não entender bem o que tinha
acontecido. Tentei parar para explicar para ele, mas uma lágrima
escorreu do meu rosto.
— Cavalheiro, Elijah, você é um pequeno cavalheiro… se prefere
me chamar de moça… eu vou gostar muito que só você me chame
assim.
Seu rosto cresceu com o sorriso e voltei a brincar com a
criança, ouvindo-o falar sobre cada um dos seus dinossauros
favoritos. Connor era sortudo por ter Elijah em sua vida.
04
Connor

Deus, tinha algo de muito errado no meu dia. Encarei Joe,


enquanto voltava para a sala.
— Quantas vezes eu tenho que te falar que não importa se a Rainha
aparecer aqui falando que eu a comi e que precisa falar comigo, não
é para me tirar da minha sala… eu tenho que parar de trazer
mulheres aqui.
— Nisso concordamos. De verdade, com um apartamento daquele
tamanho, você traz as mulheres aqui por qual motivo? Tesão em
quase ser pego pelos seguranças?
Revirei os olhos e parei ao ouvir a gargalhada de Elijah, sua
risada era cheia e aguda por sua infantilidade. Depois da noite no
hospital, era bom ouvir aquele riso. Fiquei parado, esperando que
ele parasse de rir antes de entrar de novo no escritório. Não queria
parar o que quer que fosse o motivo do seu riso.
Uma risada se juntou a dele, e ouvi suas vozes se misturando,
enquanto alguém fazia um barulho de explosão muito alto e
parecido com um real, foi aí que sua risada ficou mais forte, e eu
quase podia ver Elijah se jogando para trás e batendo a cabeça no
chão como ele costumava fazer. Seu corpo sempre ficava mole ao
rir.
Abri a porta de supetão, sentindo meu sangue gelar ao ver
meu filho deitado no chão, com Isla parada sobre ele. Sai correndo
para perto dele, puxando Elijah para o meu colo.
Isla me olhou assustada, sentada no chão, com as pernas
cruzadas e uma lágrima da risada escorrendo por seus olhos. Olhei
Elijah que parecia tão assustado quanto ela e comecei a procurar se
algo tinha acontecido com meu filho.
Eu odiava deixá-lo com outras pessoas, eu sabia como podiam
ser irresponsáveis com crianças ou cruéis por não acharem que
crianças eram seres humanos.
— Papai? — Abracei meu filho mais perto de mim e Isla se
levantou.
— Desculpa… ele me pediu para brincar com ele e… — Isla olhou
para a porta que estava aberta e eu sabia que os curiosos estavam
prestando atenção no que acontecia na sala. — Eu… não queria…
desculpe.
— Então, se você não queria… por que fez? Não te dei permissão
para brincar com meu filho ou para ficar mais do que dez passos
perto dele. Eu te deixei aqui com Elijah para que você olhasse o
projeto e encontrasse o erro. Quero que saia da sala agora mesmo,
me deixe com meu filho.
— Eu terminei… — sua voz saiu tão baixa que tive que me esforçar
para ouvir o que ela tinha dito.
— O quê?
Isla pareceu estufar o peito para ganhar coragem e me
responder. Seus olhos escuros me encararam e eu podia ver um
leve rubor cobrir suas bochechas. Linda.
— Eu disse que eu finalizei, consegui encontrar o erro… — Suas
mãos apertaram ao lado do corpo conforme ela falava. — O terreno
do pavimento superior está menor que o térreo, e isso causa um
problema de estrutura, as paredes não vão encaixar.
Isla virou para Elijah, que se escondeu em meu pescoço, os
dois trocaram um sorriso cúmplice e seus olhos que eram sempre
doces para todos, até mesmo para mim, se tornaram frios, enquanto
deu dois passos para frente me olhando.
— E você devia perceber a diferença entre pessoas que gostam de
crianças e pessoas mal-intencionadas. Eu nunca faria nada contra
uma criança e é exatamente por isso que eu não podia deixar de
atender o pedido do seu bebê e brincar com ele. Se está tão
preocupado assim com a segurança do seu filho, aprenda a não
deixar ele com qualquer pessoa, principalmente se você não confia
nem em sua sombra. Joe podia ter ficado aqui, mas você parece ter
uma cabeça oca.
Pela primeira vez na vida, eu estava calado. Isla andou até nós
e entregou o Estiracossauro para Elijah. Deu uma piscada para o
meu filho e um sorriso doce, que logo sumiu ao olhar para mim de
novo. Eu ainda me sentia ridículo por ter brigado com ela e surpreso
por ela ter encontrado o erro que eu coloquei na planta para saber
se ela era mesmo uma boa profissional.
— Espero que isso não tenha me custado meu emprego. Vou sair
da sala e prometo não ficar mais perto. Obrigada.
— Moça… — Elijah levantou a cabeça e estendeu o Estiracossauro
verde para ela.
Fiquei espantado, aquele era o seu dinossauro favorito. Elijah
nunca se desfazia de seus brinquedos, pelo menos, não daqueles.
Os dinossauros, para ele, eram tudo em sua vida. O garoto tinha
uma fixação por eles, e eu sabia que se meu filho tivesse um único
pedido e entre acabar com a fome do mundo e trazer os
dinossauros de volta… ele teria problemas em escolher qual
dinossauro ele montaria no dia seguinte.
— Obrigada, Elijah… fiquei muito feliz de brincar com você. — Seus
olhos mostravam um tipo de saudade que eu desconhecia. — Vou
guardar com muito carinho.
Elijah estendeu a mão e os dois mexeram os dedos, enquanto
sorriam. Isla não dispensou uma segunda olhada para mim, como
se aquilo demandasse uma simpatia que ela não sentia no
momento, pelo contrário, como se eu fosse um nada. Senti aquilo
em meu coração, afinal, ela era doce com todos, mas eu não
merecia mais aquele tipo de atenção.
Fiquei parado, esperando a sensação passar, enquanto Elijah
tentava chamar minha atenção. Balancei a cabeça, colocando meu
filho no sofá, e me sentei ao seu lado, querendo esquecer o trabalho
enquanto podia brincar com ele.
— A mamãe falou que não pode falar assim com as pessoas. Foi
feio, papai.
Encarei Elijah sabendo que Grace vivia dizendo isso e revirei
os olhos.
— Sua mamãe também devia parar de se meter em minha vida...
Mas Elijah, acho que nenhum dos dois acontecerá em um futuro
próximo, filho. — Fiz carinho em sua cabeça e afastei os cabelos
pretos dos olhos. — Você quer um lanche?
— Não pode comer lanche em dia de escola, papai.
— Vai ser o nosso segredo, e você está doente, não tem
problemas.
Os olhos de Elijah se arregalaram com a possibilidade, e eu
me levantei para realizar as vontades do meu filho. Fiz o pedido por
um aplicativo, e liguei para Grace que, com certeza, queria notícias
do nosso filho.
— Fala bundão, a vida de quem destruiu hoje, Grinch?
— Você é a pior pessoa que existe. A de ninguém. Só queria avisar
que Elijah está melhor, brincou bastante e agora vai comer um
pouco, ok?
— Você não alimentou meu filho até agora? — A voz de Grace saiu
gritada e afastei o telefone da orelha. — Me deixa falar com o Elijah
já!
Passei o telefone para Elijah e me sentei ao seu lado.
— Oi, mamãe! Eu tô com saudade… O papai comprou lanche. —
Revirei os olhos, pensando em como ouviria depois, por culpa da
boca grande do meu filho. — Eu fiz uma amiga… o nome dela é
Moça. Ela é bonita… — Podia ouvir Grace falando algo e Elijah
balançava a cabeça como se ela pudesse ver. — O papai gritou com
ela.
Me joguei para trás, batendo a mão na testa, agora seriam dois
motivos para Grace gritar comigo. Era isso que eu recebia por ter
um filho fofoqueiro.
05
Isla

Entrei na empresa sentindo todos os olhares em mim, nos


últimos dias aquilo tinha acontecido muito. E era tudo culpa do
Zangado. Aquele idiota do meu chefe tinha que chamar minha
atenção na frente de todo mundo por ser legal e logo depois me
pedir pra ir à sala dele, só pra terminar o dia me xingando porque
brinquei com o filho dele.
Torcia para que a esposa dele fosse mais legal ou a criança
acabaria se tornando um ser humano horrível.
Continuei andando, batendo os pés e ignorando os olhares.
Era o que tinha feito, e tinha surtido efeito. Esbarrei em alguém e
levantei os olhos, notando Joe parado perto de mim com um sorriso
gigante no rosto.
— Bom dia, Isla. Tudo bem? — Concordei com a cabeça, sem muita
paciência para falar, mas também sem poder ignorar o braço direito
do Connor. — Você vai trabalhar com a minha equipe hoje, preciso
de bons profissionais para um brainstorm.
— Claro, eu já vou… preciso só… eu já vou.
— Sem problemas, a sala de reunião não vai fugir de você.
Dei uma risada fraca, apenas para que ele não se sentisse mal
pela piada ruim e andei em direção até a minha mesa. Apenas as
pessoas que estavam aqui há anos ganhavam salas, enquanto o
restante dos funcionários se dividia em mesas espalhadas pelos
ambientes.
Qualquer pessoa que precisasse ter uma reunião devia usar a
sala preparada para isso. Não era grande como a sala de reunião
de equipe, onde Connor juntava quarenta pessoas para conversar e
gritar sobre os projetos que teríamos, mas era um bom espaço. Eu
nunca tinha feito reunião nenhuma, era muito nova para ser liberada
para cuidar de qualquer um dos clientes.
Passei perto da porta de Connor e apressei o passo, temendo
encontrar meu chefe, que me ignorava tanto quanto eu o ignorava.
Coloquei minha bolsa em cima da minha mesa e tirei o notebook,
ligando o aparelho apenas para ver se ainda tinha bateria.
Na noite passada, eu tinha ignorado todos os sinais e fiquei
tempo demais vendo Doctor Who, e finalmente cheguei na décima
segunda regeneração, com o Peter Capaldi. Não sabia o porquê,
mas eu tinha uma coisa por homens mais velhos.
Inclusive – agora eu negaria para qualquer pessoa que me
perguntasse, principalmente por ele ser casado –, quando eu
conheci Connor pela primeira vez, eu achei que ele era um dos
homens mais lindos que eu já tinha visto na minha vida. Infelizmente
não era uma boa pessoa.
Mas eu também não podia esconder de mim mesma que eu
tinha passado muito tempo pensando nele. Eu poderia fingir que era
pela raiva – se alguém me perguntasse, essa seria a resposta –,
mas lembrar dos seus olhos brilhando como fogo, defendendo seu
filho, tinha sido uma das coisas mais eróticas que eu já havia visto
na vida. Casado, meu chefe é casado.
— E aí, como você está hoje? — Virei para a voz de Amy que
trabalhava ao meu lado. Ela era uma pessoa legal, estava sempre
me chamando para happy hours que eu não ia, porque minha casa
ficava longe demais.
— Bem e você? — respondi, pegando meu caderno e ligando o
notebook na tomada. — Preciso ir, Joe me chamou para uma
reunião.
— Você tem tanta sorte, aquele gostoso está sempre no seu pé…
Sim, Joe era lindo, uns sete anos mais velho que eu, alto,
ombros largos, a pele negra retinta, os olhos escuros como a noite
e, pelo que eu sabia, incrivelmente gay, mas eu nunca contaria algo
sobre a vida de alguém para ninguém.
— Sim, é isso, bom dia.
Andei em direção à sala, ignorando as conversas que rolavam
logo cedo no escritório. A porta da sala de reuniões estava aberta e
ninguém além de Joe estava lá. Sentei-me na cadeira ao lado dele.
— Quer um chá? Os outros ainda vão chegar.
— Só você, Joe, pra tomar chá esse horário da manhã. Eu sempre
preciso de muito café até estar realmente acordada.
— O Connor também, sabia? Uma vez ele me disse que se eu
oferecesse chá para ele, ele me demitiria — contou, rindo da
lembrança e virei para pegar uma xícara de café.
— Como está aqui, tenho certeza de que nunca mais ofereceu.
— Pelo contrário, todo dia eu deixo uma xícara de chá de camomila
na mesa dele, apenas para manter a amizade.
Dei uma gargalhada e ele me acompanhou.
— Você é louco… eu fico pensando como uma pessoa que tem uma
família perfeita, uma esposa linda, um filho perfeito pode ser tão…
tão… babaca.
— Esposa?
Joe parecia genuinamente confuso, como se eu tivesse falado
que a Terra na verdade é plana e se corrermos em linha reta
cairíamos no abismo do Universo, sem chances de volta ao mundo.
— Sim, a Grace… eles não são casados? Namorados?
— Quem te disse que eles são casados?
— Eu… eu deduzi.
Joe jogou a cabeça para trás e começou a rir, batendo palmas,
como se eu tivesse apresentado o melhor show de stand up comedy
que ele tinha visto na vida, o que era impossível já que não existiam
bons espetáculos de stand up comedy.
— O quê? — questionei zangada por ter sido motivo de um riso tão
longo.
— A Grace deve pegar mais mulher que o Connor. — Joe limpou
uma lágrima que escorreu por seu rosto. — Eles são melhores
amigos, dos grandes, viveram juntos a vida toda, decidiram ter um
filho juntos e eles criam o Elijah juntos, mas não são um casal.
— Ah, eu achei que… família perfeita, sabe…
— Família perfeita? Sim, mas não do jeito que você imaginou…
nenhuma criança tem tanto amor como Elijah e de dois pais que
realmente decidiram por ter um filho e dedicam toda a sua atenção a
uma criança. Elijah tem muita sorte, são poucas as pessoas que
podem contar com esse tipo de amor.
Senti um aperto no coração, pensando no meu próprio pai que
tinha me abandonado antes de eu nascer, dizendo que não estava
pronto para ter um filho, que minha mãe se sairia melhor... E ela
saiu.
Quando chegamos nesse país, mamãe recusou qualquer
encontro que pudesse vir a ter, apenas porque não confiava em
ninguém perto de mim, até que um mecânico se acidentou e foi
atendido por ela no hospital onde era enfermeira. Amor à primeira
vista.
Os dois ainda estão juntos, e mesmo que eu não me sentisse
confortável perto dele, ainda é o cara que faz minha mãe feliz, por
isso eu o aceito. Foi difícil entender que teria que dividir o amor da
minha mãe, mas eu amo minha mãe, colocaria sua felicidade acima
de qualquer coisa.
— Eu entendo… — respondi, enquanto as outras pessoas entravam
na sala de reunião. — Ele é muito sortudo, então.
06
Connor

Eu já tinha procurado Joe por todos os lugares, ou quase


todos. Tentei ligar para o seu celular, mas Joe tinha a maldita mania
de desligar o telefone sempre que estava em alguma reunião, ou
coisa do tipo. Quando se torna pai, você descobre que um celular
desligado poderia te impedir de estar com seu filho, mas Joe não
era um pai.
Parei perto de uma mesa vazia com um computador ligado no
que parecia uma tela congelada com Peter Capaldi, o cara da
música do Lewis Capaldi, e virei para Amy que estava no telefone
com alguém. Dei dois estalos em seu rosto e eu pude ver que ela se
controlou para não revirar os olhos para mim.
— Cadê o Joe? — questionei, enquanto ela continuava falando com
o que parecia ser um cliente.
— Um segundo… — Amy tirou o telefone e me encarou: — O quê?
— Cadê o Joseph?
— Está naquela sala de reunião com algumas pessoas.
Amy não esperou que eu agradecesse e voltou a falar com seu
cliente no telefone. Dei um leve tapa na mesa e continuei meu
caminho, ouvindo conversas animadas e uma risada melodiosa
vindo da sala.
As paredes eram fechadas e, por isso, eu não podia ver se ele
estava com um cliente. Dei uma batida na porta e esperei por uma
resposta, mas tudo que eu pude ouvir foi a risada de Joe se
juntando à risada feminina que eu tinha ouvido antes. Aquilo
estragou o som para mim e entrei na sala, notando que meu rosto
formava uma carranca.
Isla parecia confortável perto de Joe, coisa que nunca
parecera ao meu lado. O sorriso que estava em seu rosto foi
diminuindo conforme eu fechava a porta, mostrando que eu ficaria.
— Eu pago vocês para ficar rindo que nem hienas dentro do meu
escritório? — falei, me arrependendo no mesmo momento que Isla
me encarou com a sobrancelha franzida.
— Bom dia, chefe. — Joe se levantou colocando a mão em minhas
costas e apontando para uma cadeira enquanto falava comigo. —
Por favor, não fale assim com as pessoas ou vamos começar a
ganhar processos gigantescos por sua culpa.
Tudo foi dito com um grande sorriso no rosto, mas eu ignorei,
puxando uma cadeira ao lado da garota que tinha encantado meu
filho. Seu perfume chegou até mim e tentei recordar de onde vinha
aquele cheiro. Parecia uma fruta tropical.
Joe voltou a falar sobre o projeto que ele tinha em mãos. Era
uma casa de veraneio para um casal de clientes que tinha
comprado um terreno perto da praia em Portugal. O projeto seria
nosso.
Eu sabia que Joe odiava fazer casas de veraneio, mas o
cliente só o queria. Eu entendia bem, pois ele era um grande
arquiteto com um senso de estética que poucos que eu conhecia
tinham.
— Eu acho que a entrada de madeira não vai ficar tão boa… — Isla
falou baixinho, como se não quisesse que alguém ouvisse.
— O quê? — questionei, me aproximando mais dela.
Seus olhos escuros viraram para mim, como se lembrassem
que eu estava na mesma sala que ela. De perto, consegui decifrar:
mamão. Ela cheirava a mamão. Cheguei mais perto, levado pelo
cheiro e ela tentou se afastar. O que eu estava fazendo? Estar tão
perto de uma funcionária me causaria um grande processo por
assédio se ela quisesse.
Sua boca se abriu um pouco, como se fosse falar algo, mas o
que eu vi em seus olhos não era medo. Tinha um quê de mistério.
Eu queria ouvir sua voz. Queria que ela levantasse a voz.
— O que você disse? — perguntei de novo, sendo guiado pelo
desejo de ouvir seu tom melodioso.
Isla virou para frente, encarando Joe e disse em alto e bom
som, para a sala, não para mim.
— Joe, eu acho que uma entrada estilizada de pedra vai ficar
melhor que a madeira. Estamos falando de praia, maresia, areia…
dependendo da madeira que usar, pode acabar estragando muito
rápido, pedra é excelente.
— Boa, Isla! Sabia que tinha um motivo para eu gostar de você. —
Meu amigo disse, estalando os dedos para ela.
Joe me encarou, enquanto respondia a garota e eu me afastei,
percebendo que estava dentro do seu espaço pessoal de novo.
Totalmente. Como se eu fosse um maníaco. Me recostei na cadeira,
olhando de longe para ela.
Por algum motivo, eu não conseguia tirar os olhos dela. Vinha
acontecendo há algum tempo. Seu cabelo hoje estava preso por
uma presilha na parte de trás da cabeça, com alguns fios soltos em
seu rosto. Ela tinha um sorriso delicado em sua boca, como se
gostasse de estar ali, como se gostasse de ser útil.
Sua mão desenhou algo sobre um bloco de papel da empresa,
era um papel timbrado, eu não conseguia ver de onde estava, mas
não invadiria seu espaço de novo. Isla esfregou uma perna na outra,
e percebi um vento gelado na sala.
Levantei-me da cadeira, fechando uma das janelas e pegando
o controle remoto do ar-condicionado para aumentar a temperatura.
Me sentei de novo e ouvi outra pessoa dar uma boa ideia para a
casa, era uma boa equipe.
Olhei de canto de olho para a mulher que era quase vinte anos
mais nova que eu, seus olhos iam de uma pessoa para outra,
enquanto ela fazia pequenas anotações no bloco.
Eu queria muito saber o que ela anotava, eu queria ouvir as
opiniões que a faziam balançar a cabeça em desaprovação, quando
alguém dava alguma ideia que parecia absurda demais, ou simplória
demais.
— Eu acho que acabamos por aqui, estão todos dispensados — Joe
falou, fechando seu próprio bloco e me encarando. A sala foi ficando
vazia, enquanto os dois terminaram de arrumar suas coisas. Eles
pareciam passar muito tempo juntos. — Isla, pode almoçar comigo
hoje?
— Claro, Joe… aquele restaurante aqui perto ou outro lugar?
Dependendo eu faço uma reserva em nosso nome.
— Pode ser aquele no final da rua, eu gosto do salmão deles e eu
sei que você também.
— Eu adoro, então… — Isla virou para mim e então encarou o seu
próprio relógio no pulso. — Te espero às duas horas?
— Parece ótimo por mim.
Esperei que ela me desse um tchau, mas Isla saiu da sala sem
nem mesmo me dignar um segundo olhar, como se eu não
estivesse ali. Respirei fundo e encarei Joe, que tinha um sorriso no
rosto.
— Ela é bonita, não é?
— O quê?
— Vi o jeito que olha pra ela… — Joe desfez o sorriso e me encarou
sério. — Você não pode ter nada com Isla, não vou perder outra
funcionária boa apenas porque você não consegue manter esse pau
dentro das calças. E, se for preciso, eu faço Grace se meter e você
sabe como ela gosta quando tem que puxar a sua orelha.
— Não vou fazer nada. Ela não é nada além de outra beleza comum
que tem aqui dentro. Eu prefiro mulheres loiras, além disso, ela não
tem curvas suficientes para mim… Isla não é bonita do jeito que
você acha que é.
Era uma mentira, mas quem ligava… ela era linda, doce,
alegre, coisas que eu sabia que poderia destruir se quisesse. E nem
mesmo eu era tão ruim.
— Ok, não chegue perto dela.
— Não vou, promessa de dedinho. — Joe me encarou rindo. —
Coisa do Elijah.
07
Isla

Eu não normalmente não bebia. Ok, isso é mentira. Eu nunca


bebia. Por isso, quando virei a terceira dose de licor, sentindo o
gosto queimar toda a minha garganta, tentei buscar qualquer coisa
para enfiar na boca e matar aquele gosto.
Peguei um punhado de amendoins e enfiei na boca. Amy
estava parada ao meu lado, conversando com o barman como se
ele estivesse interessado em seu flerte. Talvez ela estivesse mais
bêbada do que eu. O cara era bem feio comparado ao Joe, por
quem ela parecia interessada.
— E aí, aquele babaca simplesmente colocou aquela garota idiota
no meu lugar… como se ela tivesse capacidade para fazer um bom
trabalho… todo mundo sabe por que ela foi colocada no meu lugar,
com certeza está dormindo com o chefe. — A voz de Alex
sobressaiu as conversas do bar e mesmo desnorteada pela bebida,
consegui entender bem do que ele falava.
Eu odiava caras assim, aqueles que cometiam erros e tinham
certeza de que a culpa era de outra pessoa, pessoas que ficavam
jogando suas responsabilidades sobre as outras. Revirei os olhos e
enfiei mais uma grande quantidade de amendoins na boca, e logo
depois virei a quarta dose de licor, sentindo minha cabeça cansada
do barulho e da bebida ruim que eu nem devia estar tomando.
Procurei minha bolsa, olhando para todos os lados.
— Alguém me roubou! — gritei, fazendo com que o barulho em
minha volta cessasse.
Algumas pessoas me encararam parecendo preocupadas,
tentei descer da cadeira, mas com o nível de álcool em meu corpo,
acabei tropeçando. Amy me puxou, tentando procurar por minha
bolsa.
Naquela bolsa estava coisas importantes demais, como meu
notebook e a última temporada de Doctor Who que eu tinha baixado
para assistir durante o final de semana. O que eu faria no final de
semana sem Doctor Who?
Quase senti lágrimas escorrendo por meu rosto, mas consegui
ter uma conversa bem séria com o meu próprio cérebro. Eu não ia
chorar. Mas era o meu notebook. Respirei fundo.
Amy começou a rir, e eu a acompanhei, enquanto as pessoas
que tinham ficado preocupadas, voltavam às suas vidas normais de
bar. Eu não sabia porque estava rindo, mas estava. Aquilo era
ridículo.
— Você é meio burra… sua bolsa ficou no escritório.
Uma luz surgiu sobre a minha cabeça, me fazendo lembrar
que eu tinha dito que ia buscar a bolsa lá depois que saíssemos do
bar. Fechei os olhos, pensando na caminhada longa que teria que
fazer para pegar minha bolsa e depois ir para casa no estado que
estava. Eu era uma irresponsável, minha mãe me mataria. Ela me
mataria e me ressuscitaria só para poder matar de novo e então
repetir o mesmo processo mais cinco vezes.
Amy não foi comigo, prometendo que pagaria os valores das
minhas bebidas, e depois eu daria para ela. Aproveitei que o sol
ainda estava bem de pé, me indicando o caminho a seguir.
Estava andando no canto da calçada, tentando impedir que a
minha mente voltasse para o que eu tinha escutado durante a
manhã. Era o motivo de eu ter bebido, o motivo de eu ter aceitado ir
ao bar.
Quando saí da sala de reuniões, percebi que tinha esquecido
uma caneta especial que minha mãe tinha me dado assim que eu
passei no curso de arquitetura. Foi quando ouvi Joe e Connor
conversando sobre mim.
Eu não tinha percebido, não até ele citar meu nome, deixando
claro que eu não era bonita o suficiente para ele. Como se eu
quisesse a opinião de alguém que era a pior espécie de ser humano
que eu conhecia e que a única coisa boa que tinha era o filho que
era a criança mais doce do mundo.
Isla não é bonita do jeito que você acha que é.
— Isla não é bonita — repeti, imitando sua voz.
Claro, Connor era lindo. Alto, bem mais alto que eu, os cabelos
pretos, a pele dourada, dourada demais para uma cidade como
Edimburgo. Forte, ficava lindo dentro de um terno bem cortado, mas
era terrível. Sua voz me dava tremedeiras e me causava pesadelos,
como uma unha se arrastando em uma lousa.
E não era casado.
— Você não tem nada a ver com isso, Isla.
Entrei na empresa, sentindo o ar gelado de um espaço como
aquele vazio. Durante o dia, era cheio de vida com diversas pessoas
conversando, debatendo, vozes, passos... o lugar parecia cheio do
tipo de espírito que possuía Connor Evans: espíritos do mal.
Cheguei perto da minha mesa, ouvindo um barulho estranho,
como se alguma coisa estivesse acontecendo dentro da empresa.
Senti um embrulho no estômago, só eu mesma para conseguir
voltar para a empresa no único dia que ela estava sendo saqueada.
Peguei a primeira coisa que eu encontrei. Andando até onde o
barulho vinha. Agarrei mais forte o grampeador grande que eu tinha
em cima da mesa, e o apertei, percebendo que o barulho vinha da
sala do Pennywise.
Bom, dependendo do que roubassem… Não, Isla, por favor,
ele é um babaca, mas não merece ser roubado.
Parei em frente à porta, percebendo um vão que dava espaço
para ver o que estava acontecendo lá, porque é claro que se fosse
mais de um, eu sairia correndo.
Ouvi um longo murmúrio e encarei a imagem à minha frente.
Connor estava atrás de uma mulher dobrada sobre a sua mesa. Seu
quadril se movia com ferocidade, girando e a fodendo com força. Ele
estava todo vestido, enquanto ela estava nua sobre a mesa.
Os sons que eu tinha ouvido eram os gemidos abafados dos
dois. Ela parecia estar gostando, agarrando a mesa com força,
enquanto ele entrava e saía dela com vontade.
Senti os bicos dos meus seios ficando arrepiados e culpei a
bebida. Eu queria sair dali, queria muito, mas algo… algo me
prendeu vendo meu chefe fodendo alguém.
Subi meus olhos, encarando Connor mordendo seus lábios
com gosto. Sua mão desgrudou da pele da mulher, que eu não
conhecia, graças a Deus, e ele molhou a palma, lambendo a mão,
fazendo com que eu ficasse molhada. Eu podia sentir a lubrificação
descendo por minha calcinha, pronta para ser fodida como ela.
Connor deu um tapa tão forte na bunda da mulher que ela
largou a mesa, escorregando e gozou. Eu sabia, eu sabia pelo som.
Deixei o grampeador cair, fazendo um barulho tremendo no
espaço silencioso. Os olhos de Connor subiram das costas da
mulher e bateram em meu rosto.
— Uh.
Percebi que estava parada, olhando meu chefe transar. Eu
estava parada vendo meu chefe transar. Saí correndo, com medo
de que ele me demitisse.
Não vi o que estava na minha frente até que eu estivesse de
cara no chão, com o nariz doendo.
— Merda — choraminguei, pensando se a demissão era assim tão
ruim mesmo.
08
Connor

Merda. Merda. Merda. Merda. Merda. Mas que caralho! Afastei


o corpo da mulher de mim, saindo de dentro dela, sem ao menos ter
gozado, e guardei a porra do meu pau dentro da cueca, tentando
fechar a calça sem prender o zíper na pele sensível.
— O que aconteceu? — perguntou, virando para me olhar. — Você
disse que a gente ia ficar a noite inteira…
— Eu preciso que você se vista e vá embora agora.
A mulher me olhou chocada. Eu tentava lembrar o nome dela.
Rose? Rosalie? Não aparecia de jeito nenhum em minha cabeça.
Tudo que eu tinha feito era igual aos outros dias, pegar alguma
mulher que parecesse disposta a transar e trazer para a minha
sala.
Só que dessa vez… dessa vez, Isla tinha que estar aqui. Torci
para que ela já tivesse ido embora, mas eu tinha que ter certeza.
— Você não pode me tratar assim… eu achei que…
— De verdade, não me importo muito com o que você achou… —
Fiquei esperando que seu nome surgisse em minha mente, mas
nada aconteceu. — Você gozou, foi gostoso, então, pode sair.
— Mas… eu posso te fazer gozar.
Passei a mão na testa, tentando pensar em como fazer para
que aquela mulher saísse dali o mais rápido possível.
— De tanto que você falou, meu pau já voltou para dentro de mim e
eu nem sabia que isso era possível. Se veste e eu vou te levar até a
porta.
A mulher loira de seios fartos que ainda estava parada nua na
minha frente bateu o pé como uma criança raivosa e colocou o
vestido. Seus olhos pareciam fogo me encarando, mas eu
simplesmente não ligava.
— Não precisa me acompanhar, seu escroto do caralho.
A mulher deixou a sala pegando o casaco que estava jogado
sobre o sofá escuro. Massageei as têmporas e saí da sala, andando
pela empresa tentando encontrar a ratinha que tinha se enfiado ali
mais tarde do que deveria.
Eu a vi saindo para o happy hour de sexta com todos os outros
funcionários. Não era para ela estar ali. Não mesmo. Olhei para o
lado e encontrei Isla deitada no chão.
Me abaixei ao seu lado. Isla estava de olhos fechados,
parecendo que dormia de barriga para cima. Tinha um pouco de
sangue escorrendo de seu nariz e eu cutuquei sua bochecha,
percebendo que a garota estava em um sono profundo. Eu já bebi
até dormir em qualquer lugar, e parecia que ela tinha feito o
mesmo.
— Isla?
Não obtive resposta e tentei medir sua pulsação, mas antes
que eu pudesse realmente tocar em seu pulso. Ela deu um longo
arroto e acordou me encarando com os olhos arregalados.
— Eu vi…
— Viu o quê?
— Você!
— Que bom, significa que tem olhos.
Eu podia sentir o bafo de bebida desde que ela começou a
falar, por isso, me ajeitei, tentando levantá-la do chão. Isla enroscou
a mão em meu pescoço e me deu o suporte que eu precisava para
levantar nós dois do chão.
— Onde você mora? — Seus olhos me encararam como se não
soubesse como responder. — Onde fica a sua casa, Isla?
— Fica longe, você não vai querer ir lá, eu pego um táxi… não,
muito caro, eu vou de ônibus.
Isla tentou se desvencilhar de mim, mas eu a segurei mais
forte e seus olhos se arregalaram.
— Isla, onde você mora? Ou eu vou pegar seu celular desbloquear
e ligar para a última pessoa com quem você conversou.
Quando sua voz me respondeu, pensei em como eu realmente
não queria ir até lá. Seu corpo começou a ficar pesado, encostado
sobre mim. Passei o outro braço por baixo da sua perna,
levantando-a para o meu colo, seu nariz sangrento encostou em
minha camisa e revirei os olhos. Como se não bastasse Elijah
estragando minhas roupas.
Desci com a garota em meu colo, passando pelo vigia que não
servia de nada e deixou que alguém entrasse na empresa depois do
horário permitido. Não era todos os dias que eu levava mulheres
para lá, mas, por algum motivo, a pior das mulheres conseguiu
acesso, mostrando que eu não estava seguro contra ela em
momento nenhum.
Fosse em meu escritório, fosse em minha casa, com Elijah
falando na moça bonita, fosse em meus próprios pensamentos,
porque tudo que eu podia pensar enquanto fodia aquela mulher sem
nome era como eu queria que fosse Isla.
— Meu nariz… — reclamou de olhos fechados.
Abri a porta do carro, com a garota ainda em meu colo e a
coloquei com cuidado no banco do passageiro. Seus braços ficaram
jogados e eu a arrumei, tomando cuidado com a cabeça quando
fechei a porta.
Passei para o lado do motorista, abrindo a porta, que acendeu
a luz e Isla se mexeu, incomodada pela claridade repentina em seus
olhos.
— Eu quebrei meu nariz, sabia? A culpa é sua! Ainda bem que
estava vestido — começou a reclamar, resmungando. Dei uma
risada.
Liguei o carro, saindo da vaga no subsolo da empresa e
dirigindo em direção a um bairro esquecido até mesmo pela
civilização de Edimburgo. Isla começou a resmungar o nome de
alguém baixinho. Eu só podia tentar a chance.
— Quem, Isla? — questionei, tentando fazer com que ela falasse de
mim.
— Alex… aquele babaca. — Fechei a cara no mesmo momento.
Aquele não era o caminho que eu queria seguir e as coisas sempre
seguiam o caminho que eu queria.
— Alex, o quê?
— Ele estava no bar… — Isla parou de se mexer, parecendo
adormecida, cansada do dia e da bebida.
— Ele tocou em você? — perguntei, virando o volante para virarmos
em direção a uma ruela.
— Connor podia tocar em mim.
Fiquei em silêncio, pensando no que ela tinha acabado de
dizer. Não podia ser isso, era a bebida falando, ela não parecia
gostar de mim, não muito mais do que eu gostava dela, mas duas
pessoas que não se gostavam também podiam foder.
— O Alex disse que eu fodi com o Connor…
Bati a mão no volante, desligando o carro ao perceber que
estava parado em frente ao local que ela morava. O GPS gritava por
atenção e eu o desliguei.
Isla não acordou, virando para o lado e gemendo. Revirei os
olhos, se ela tivesse caído de cara no chão, o que eu imaginava que
tinha acontecido, aquilo estava doendo muito. A vendinha da rua
estava aberta e olhei de novo para o GPS, que mostrava que eu
estava no lugar correto.
Peguei Isla no colo e bati a porta, andando em direção à
venda, o menino estava se preparando para sair e eu o encarei.
— Onde fica a escada pra casa de Isla? — O garoto continuava me
encarando, tentando descobrir o que um cara de terno fazia com
uma garota desacordada. — Ela precisa de chá de camomila e
analgésico, tem isso aqui?
— Te… tem e a escada fica para lá — respondeu, apontando para o
outro lado.
Revirei os olhos subindo para a casa dela. Ignorando a escada
apertada que me fez agarrar mais forte seu corpo pequeno com
medo de que ela se machucasse.
Isla não tinha vomitado, estava apenas bêbada demais.
Coloquei seu corpo desacordado sobre a cama e procurei pelo
chuveiro, ligando a água e deixando o mais gelado possível.
Voltei para o quarto, vendo Isla se retorcendo na cama e toquei
seu nariz, procurando por sinais de que estava quebrado. Nada,
apenas ferido.
— Isla, preciso que você acorde. — A garota virou para o outro lado,
não querendo acordar. — Isla!
Seus olhos se abriram e me encararam, enquanto um sorriso
doce surgia em seus lábios, mostrando que estava feliz em me
ver. Ela só podia mesmo estar muito bêbada. Passei a mão por seu
rosto, afastando os fios de cabelos de seus olhos. Tentei parar o
comichão em meu peito, mas, quando olhei para seus lábios
sorrindo para mim, parecia impossível.
Levantei-me com Isla em meus braços, e a coloquei embaixo
da água gelada, sem me preocupar com reclamações.
— Puta que pariu! Caralho! — Isla começou a chorar e eu virei de
costas, vendo a roupa molhada grudando em seu corpo.
— Tome banho, vou pegar seu chá. Vista algo quente.
Desci as escadas, encontrando um kit de primeiros socorros
ao lado do chá e analgésico na ponta da escada. A loja estava
escura e fechada. Dei um tempo para que ela pudesse se trocar e
subi, encontrando a garota deitada na cama, batendo os dentes.
— Melhor?
— Pior!
Sorri, ignorando sua reclamação e me sentei ao seu lado na
cama, pegando o kit e limpando um pouco do sangue que ainda
estava em seu rosto. Isla estava de olhos fechados e eu temia que
fosse por vergonha, mas quando tentei falar com ela de novo,
percebi que estava apenas dormindo.
Eu quase tinha que me dobrar para ficar de pé no espaço
apertado. Parei em sua micro cozinha e preparei um chá quente,
deixando ao lado da sua cama com o analgésico.
Isla acordou assustada e se sentou com tudo na cama.
— Minha bolsa! — Virei para ela.
— O quê?
— Eu voltei pra pegar minha bolsa e esqueci de novo — respondeu
chorando, meio dormindo, meio acordada.
Sentei-me perto dela e esperei que ela pegasse no sono de
novo. Seu rosto tranquilo me fez pegar sua mão e fazer um leve
carinho, sentindo que ela precisava daquilo. Percebendo que
parecia um pervertido, soltei sua mão e a cobri direito, saindo de
perto dela.
— Obrigada.
Foi tudo que eu ouvi antes de deixar a casa, salvando o seu
número no meu celular. Eu precisaria saber se ela tinha ficado bem.
Era só isso.
09
Isla

Minha cabeça parecia girar e de nada ajudava as batidas


incessantes na porta da minha casa, que fazia com que minha
mente balançasse. Eu conseguia ouvir as batidas corridas seguidas
de um chute forte na porta. Bati a mão na mesa que eu tinha ao lado
da cama, procurando por meu celular, mas tudo que eu encontrei foi
a minha caneca do R2-D2.
Me sentei na cama, sentindo dor por todo meu corpo, que
parecia ter sofrido algum tipo de tortura medieval. Coloquei o pé no
chão, buscando por um equilíbrio que eu não sentia. Eu nem
mesmo me lembrava como tinha vindo parar em casa, depois de
beber.
— Isla Salazar, eu acho bom você estar viva! — A voz de Claire
parecia invadir meus ouvidos, como se ela estivesse em uma
miniatura dentro da minha cabeça. — Se você estiver morta, eu te
mato!
— Para de gritar… — pedi, apertando os lados da minha fronte.
Tentei levantar, bebendo o conteúdo gelado da caneca. Eu
tinha imaginado ser café, mas era apenas chá. A pior coisa do
mundo. Quem colocaria chá dentro da minha casa?
— Eu ainda estou esperando que você me atenda, eu vou voltar a
bater na porta e gritar até você me atender! — Claire gritou de
novo.
Revirei os olhos, procurando por minhas chaves. Eu realmente
não lembrava como tinha vindo para aqui e tudo que eu conseguia
lembrar era de um sonho que parecia muito real com Connor, mas
eu não tinha nem coragem de pronunciar o que eu tinha sonhado.
Meu nariz latejava, parecendo inchado em meu rosto. Virei
para a porta fechada, pensando se devia mesmo deixar Claire
entrar.
— Posso ir ao banheiro antes? Preciso fazer xixi, parece que minha
bexiga vai explodir.
— Eu estou aqui parada na sua porta há horas, a sua bexiga pode
esperar, ou eu vou descer e pedir para o bonitinho no armazém abrir
a sua porta com uma chave de fenda.
Virei mais uma vez pelo espaço, procurando pela chave,
enquanto apertava minhas pernas. Se eu fizesse xixi nas calças, eu
culparia Claire. Ela era uma insuportável.
— Tá bom, inferno.
Onde eu tinha metido a maldita chave?
— Sua mãe te ensinou a ser mais educada, o que aconteceu?
Revirei os olhos, procurando em todos os lugares que eu
normalmente colocaria a chave. Minha cama que estava
completamente bagunçada foi o próximo lugar. Minha barriga
começava a doer por estar segurando o xixi.
Claire que esperasse. Sentei no vaso completamente gelado e
esperei pelo xixi, enquanto as batidas na porta continuavam
incessantemente.
— Eu não acredito que você foi fazer xixi, Isla Salazar! Eu estou
descendo agora mesmo para pedir para derrubarem essa porta,
espero que quando eu voltar já esteja vestida pelo menos.
Eu amava Claire. Amava muito, ela era minha melhor amiga,
uma irmã de outra mãe, mas eu estava pensando em jogá-la da
ponta da escada. Quando ouvi seus passos descendo a escada, me
levantei, dando a descarga que fazia barulho até dentro da loja,
lavei as mãos e caminhei pela casa, procurando pela maldita
chave.
Meus pés bateram em algo que saiu voando pela casa e parou
na porta do banheiro. Meu chaveiro da Tardis estava preso embaixo
da porta e eu me sentei no chão, tentando lembrar em que momento
aquilo tinha acontecido. Andei até onde a chave estava e peguei o
chaveiro quebrado.
— Espero que esteja pronta!
— Ok, ok, eu achei a chave. Agora você pode parar de gritar,
enquanto eu tento achar o buraco da chave…
Abri a porta e Claire tinha um largo sorriso em seu rosto. Em
suas mãos, duas sacolas recheadas de diversos doces e sucos.
— Bom dia, meu amor! Como você está? — Revirei os olhos e fui
deitar de novo na minha cama, me enrolando no cobertor e me
sentindo quente. — Não faça assim, Isla… eu te trouxe coisas
deliciosas… o que você tem?
— Dor de cabeça.
— Isso eu já entendi, mas por que você está com dor de cabeça?
Deixei só meus olhos para fora da coberta e respondi
resmungando:
— Porque eu bebi ontem.
Todas as memórias pareciam borrões. Eu nem mesmo
lembrava de ter bebido tanto, quer dizer, sim, eu não era forte para
bebidas, passava mal sempre depois da segunda, mas eu não tinha
bebido tanto, não é? Eu tinha conseguido chegar até a minha casa.
Uma almofada voou em meu rosto e fechei os olhos, com
medo que alguma parte dela entrasse em meu olho.
— Eu não acredito que você bebeu sozinha, Isla, como você pode
ser tão irresponsável…
— Eu sei, mas o dia tinha sido uma merda e eu pensei que seria
bom… acontece que estou com um gosto de morte na minha boca,
não lembro de nada que aconteceu ontem e tenho certeza de que
tive um sonho erótico com o meu chefe.
Claire se aproximou de mim, largando a comida que estava
arrumando e correndo para minha cama. Suas mãos começaram a
me desembrulhar como um presente, enquanto eu tentava agarrar a
coberta de volta.
— Abre essas pernas que eu quero ver se nada aconteceu de
verdade, pelo amor de Deus, Isla, você é burra? — Claire era uma
enfermeira, assim como minha mãe, e assim como a minha mãe, eu
não duvidava que ela enfiaria os dedos em mim para ver se algo
tinha acontecido.
— Saí daqui, Claire!
Dei dois tapas em sua mão e ela se afastou. Eu tinha certeza
de que eu estava com cara de brava, mas ela não ligava. Claire
sempre colocou minha segurança em primeiro lugar, como se eu
fosse um bebê que precisasse de proteção.
— Você não pode nunca mais beber desse jeito. Como você chegou
aqui? Me conta, Isla… como você chegou em casa depois de ter
bebido sabendo que é suscetível a qualquer álcool que venham a te
dar.
— Eu só lembro de estar feliz, ok? Você não precisa se preocupar
tanto, quer dizer, estou bem e estou viva.
Claire se jogou na minha cama, me puxando para ela e
abraçando meu corpo de encontro ao seu.
— Graças a Deus por isso!
Revirei os olhos e a abracei de volta, me sentindo cuidada. As
imagens da noite passada ainda eram um borrão, mas eu sentia
uma sensação de acalento, por isso, eu tinha certeza de que nada
de ruim tinha acontecido comigo.
Meu celular começou a tocar, lembrando que eu não tinha
colocado no modo silencioso ao chegar em casa. Saí do abraço de
Claire e peguei o celular com capa de vaquinha.
— Não conheço.
— Vai ver é um admirador secreto ou alguém que conheceu
ontem…
— Você estava a dois segundos atrás com medo de que eu tivesse
sofrido algo e agora está torcendo pra ser um encontro?
A chamada caiu na caixa postal, e deixei o celular de lado,
encarando Claire, que deu de ombros. O telefone voltou a tocar e
era o mesmo número. Mostrei para Claire e ela murmurou:
— Atende, mas coloca no viva-voz.
Meu coração parecia que ia sair pela boca, uma sensação
estranha na base da barriga.
— Alô?
— Isla? É você? — Meus olhos se arregalaram quando reconheci a
voz e tapei a boca, ouvindo a voz do meu chefe saindo do alto
falante do celular.
10
Connor
— Isla? É você? — perguntei, com medo ter salvado o número
errado. Ouvi uma movimentação do outro lado e vozes debatendo.
— Isla? Se não é a Isla, pode me dizer? Eu tenho mais coisas para
fazer.
Encarei Elijah correndo com um amiguinho que tinha acabado
de fazer e não conseguia tirar meus olhos dele. Meu filho subiu em
um escorregador e me levantei do banco em que estava sentado,
me aproximando do brinquedo com medo de que ele se
machucasse.
Um longo suspiro do outro lado da linha me fez perceber que
ainda esperava por uma resposta. Por algum motivo, eu tinha
certeza de que era Isla.
— Oi… sou eu… — senti uma calma cair sobre mim. — Senhor
Evans?
Mordi a risada que tentou escapar de mim e afastei o telefone
da minha orelha. Claro que ela me chamaria de “Senhor Evans”
depois de ter me visto transando. Elijah deu um grito e sorri para
meu filho.
— Eu só liguei para saber se você estava bem. — Ouvi uma
ingestão de ar e esperei pela resposta.
Eu sabia que Isla podia muito bem não se lembrar do que
aconteceu na noite anterior, por isso, ligar para ela era meu próprio
método de castigo. Sabia que isso seria pior que o nariz dolorido.
— Pai! Olha pra mim.
Elijah se jogou no escorregador e tirei o celular da orelha,
correndo para perto do brinquedo. Esses brinquedos não
costumavam ser muito seguros, mesmo que nessa parte da cidade
as pessoas investissem mais em segurança.
Meu filho deu um salto quando chegou à parte de baixo,
batendo o pé no chão e me encarando orgulhoso, com as duas
mãos para cima e um sorriso gigante no rosto. Que bom que ele se
divertia enquanto tentava matar o pai do coração.
— Senhor Evans? — lembrei que ainda estava falando com Isla e
coloquei o telefone na orelha.
— Sim, Isla… me conte, acordou bem? Tomou o remédio e o chá
que deixei para você?
— Você… você esteve aqui em casa? Eu não lembro de nada… —
Um silêncio sepulcral podia ser ouvido e pensei no que podia estar
passando pela cabeça daquela garota. — Eu… eu estou bem, só
dolorida.
Dei uma risada e percebi que Elijah não estava por perto.
Meus olhos começaram a procurar por meu filho. Seus cabelos
pretos não podiam ser vistos por nenhum lado e senti meu coração
disparar de medo. Era a primeira vez que vínhamos àquele
parquinho.
— Um segundo.
Comecei a andar em possíveis direções que o garoto podia ter
ido.
— Está tudo bem? — Ouvi a voz de Isla e ela parecia preocupada.
Não tinha percebido que tinha começado a gritar o nome de Elijah,
até ouvir sua voz. — O Elijah está bem?
— Eu… eu não estou encontrando o garoto.
— Calma, onde vocês estão? — Meu peito doía, Grace ia me proibir
de ver meu filho.
— Em um parquinho, ele estava brincando com uma criança, mas
agora não consigo lembrar a aparência.
— Tem algum túnel aí? Quando eu era criança, adorava me enfiar
dentro desses túneis e fingir que era uma exploradora. O Elijah pode
estar dentro de um.
Procurei pelo túnel que ela falava e encontrei um. Saí correndo
em direção ao brinquedo velho. Uma mulher ruiva estava parada na
entrada e conversava com alguém. Podia ser algum drogado, eu
sabia que parques assim podiam estar cheios de pessoas em busca
de um lugar para fumar ou injetar drogas sem serem vistos.
— Vocês dois deviam sair daí… vamos brincar em outro lugar.
Tirei o celular da orelha, me abaixando para ver Elijah dentro
do brinquedo com seu dinossauro de pelúcia em mãos. A outra
criança estava junto com ele. Meu coração pareceu voltar ao lugar,
batendo do jeito certo.
— Você é doida? — gritei com a mulher. — Como você acha ok tirar
meu filho da minha vista sem avisar para onde está indo e se
enfiando nesse túnel que deve estar cheio de sujeira e coisas que
crianças não devem ver? Que merda é essa?
— Eu não… eu não os tirei da sua vista, eles estavam vindo para cá
e achei que seria melhor ter um adulto responsável por perto, ao
contrário de você que parecia muito ocupado no celular.
— Eu não estava no celular, eu estava olhando para o meu filho.
Qual o seu nome? Eu vou prestar uma queixa contra você.
A mulher riu e aquilo fez com que meu sangue esquentasse.
Elijah saiu de dentro do túnel de cabeça baixa e me deu a mão.
Comecei a ouvir gritos e percebi que vinha do meu celular.
Grudei Elijah pelas pernas, o pegando no colo e coloquei o
celular na orelha, me afastando da mulher.
— Senhor Evans, você tem que parar de ser um babaca com as
pessoas — gritou em minha orelha. — Ela é só uma mãe,
provavelmente uma mãe solteira que tem um único dia para levar o
filho para o parquinho e você destruiu isso com a sua gritaria,
enquanto eu tenho certeza de que Elijah também não está feliz.
Olhe bem para a cara do seu filho e me diga se ele parece feliz.
Você é o único assustando crianças.
Olhei para meu filho e Isla tinha razão. Ele não parecia feliz, o
rosto enfiado no pelo do bicho de pelúcia, enquanto eu andava com
ele em direção a minha caminhonete. Isla respirou fundo e gritou em
minha orelha:
— Babaca!
E desligou.
Abri a porta do carro e Elijah virou o rosto para o outro lado,
parecendo não querer falar comigo. Aquilo doeu mais do que ser
chutado por uma garota de meio metro pelo telefone.
— Filho…
Elijah virou para o outro lado quando eu o coloquei no banco,
mostrando que não estava aberto a discussões comigo. Só tinha
uma coisa que podia curar a raiva do meu filho e eu sabia muito
bem o que era.
O único problema era perder mais um espaço para brincar…
era o terceiro parque. Talvez fosse melhor construir um
exclusivamente para ele. Assim, eu não teria que gritar com
ninguém… pelo menos eu achava que não.
Fechei a porta e andei até o banco do motorista, Elijah estava
no banco de trás e virou para o outro lado da janela, evitando olhar
para mim. Mordi o interior da bochecha, talvez eu tivesse que pedir
desculpas para o meu filho.
11
Isla

Tremi da cabeça aos pés, sentindo uma raiva descomunal do


meu chefe. Claire deu um sorriso e jogou o corpo para trás,
finalmente deixando a risada que ela estava segurando durante toda
a ligação correr solta.
Eu começava a odiar Connor. Quem ele pensava que era?
Elijah era o garoto mais doce que eu conhecia e seu pai conseguia
transformar qualquer momento feliz da criança em momentos de
gritos e raiva.
— Eu não acredito que você gritou com seu chefe! — A gargalhada
de Claire parecia bater nas paredes e voltarem para rir da minha
cara. — E como ele tem seu telefone mesmo?
Virei para ela, tentando lembrar como isso tinha acontecido. Eu
não lembrava de ter passado meu número pessoal. Cada pessoa na
empresa ganhava um telefone comercial que usávamos e vivia
grudado em nosso corpo, quase como uma segunda pele. Mas o
meu pessoal?
— Eu não sei, quer dizer… eu… — De repente, uma sequência de
imagens começou a aparecer em minha cabeça.
A caminhada em direção a empresa. O barulho que eu achei
que era um ladrão. A cena do Connor fodendo aquela mulher na
mesa dele. O nervoso e a necessidade de escapar dali. O tombo
que eu tomei. Toquei meu nariz, sentindo a dor voltar, como se a
memória perdida fosse tudo que me impedisse de sentir dor. Connor
me trazendo para casa. Me enfiando debaixo da água. Colocando o
chá ao meu lado.
Saí da cama, correndo em direção a cozinha e encontrando
meu notebook com uma nota em cima.
“Espero que tenha descansado.
Connor”
— Ai meu Deus! Ai meu Deus! Tudo faz sentido… o Connor me
trouxe para casa…
— Eu meio que desconfiei quando seu chefe perguntou se você
tinha bebido o chá que ele fez… — Claire deu um peteleco em
minha testa quando sentei ao seu lado e a encarei. — O quê? Você
não ouviu o que ele disse? Você respondeu. Maldito cérebro
bêbado.
— Eu nunca mais vou conseguir entrar naquela empresa. Eu vou ter
que pedir demissão e voltar a morar com a minha mãe… e meu
padrasto. Meu Deus.
Claire deu uma risada e escondeu com uma tosse, colocando
a mão sobre a boca e me encarou com os olhos escuros brilhando.
— Seu chefe acabou de te ligar para saber se você estava bem e
você gritou com ele… Ok, mas ele te ligou, acho que não precisa se
demitir.
— Você não está entendendo… Claire… eu vi o Connor transando.
Os grandes olhos escuros de Claire pareceram ficar ainda
maiores e seu rosto, normalmente branco, se tornou vermelho.
Agora a imagem não saía de minha cabeça.
Parecia que eu estava vendo Connor de novo em minha frente:
seu quadril se movimentando em círculos, enquanto ele metia fundo
na mulher, segurando-a como se pudesse quebrá-la apenas com a
força que fazia. Senti a lubrificação encharcando minha calcinha e
coloquei a mão nos seios, tentando impedi-los de ficarem duros.
— Meu Deus do céu, sua safada! — Claire disse, batendo sua mão
em meu braço. — Você está excitada com o seu chefe.
— Cala a boca — rebati, tentando impedir a imagem de se repetir
milhares de vezes na minha cabeça…
...E cada vez ficava pior, agora minha mente perversa
mostrava Connor me fodendo. Parecia real demais.
Coloquei a mão em meu rosto e dei dois tapas em cada
bochecha, implorando para que aquela imagem parasse de se
repetir, mas não tinha como. Ela estava queimada em minha mente.
Connor era lindo, de uma maneira que parecia um ator de
Hollywood. Seus cabelos pretos estavam sempre alinhados, a barba
sempre por fazer, que devia ser uma delícia de se esfregar na pele,
os olhos escuros e os ternos sempre alinhados. Mas fodendo?
Connor era majestoso fodendo. Ele sabia o que fazer. O jeito que
aquela mulher gritou ao gozar não era falso. Era real.
— O que foi? — Claire estalou os dedos em meu rosto e eu virei
para ela. — Você tá quase gemendo. Você não tá pensando no seu
chefe enquanto estou bem aqui do seu lado, não é? Nojento.
— Você já viu o Connor? Como… como eu vou olhar pra ele sem
lembrar do que eu vi? Ele me chamou para trabalhar com ele em um
projeto… como eu vou encarar meu chefe sem ficar com os bicos do
seio assim — questionei, apontando para meus seios que de novo
pareciam pesados e sensíveis.
— Nojento, Isla… nojento. E do mesmo jeito que encarou seu
professor da faculdade por um ano inteiro. Tudo bem que você não
o viu transando, mas o cara era um gostoso e você tinha muito
tesão nele.
Concordei com a cabeça, sentindo todas as sensações boas
indo embora. Eu nunca contei para Claire sobre meu professor, não
mais do que sobre como ele era bonito. Encarei a parede, tentando
apagar agora imagens bem diferentes.
Aquilo foi um balde de água fria, um que eu precisava muito.
Afinal, eu já tinha me envolvido com alguém mais velho que eu, que
tinha um cargo superior ao meu e que exercia uma relação de
poder. Não tinha acabado nada bem para mim.
Fechei os olhos, temendo que lágrimas bobas escorressem
pelo meu rosto. Eu era só uma garota inocente, nada além disso,
alguém que caiu em uma teia que havia sido preparada para mim.
Eu não era mais aquela garota.
— Vamos parar de falar de homens idiotas, ok? Me conte sobre seu
noivo — pedi, me levantando e indo até a comida que Claire havia
trazido.
Não era bom lembrar de Keith. Ele era apenas uma sombra no
passado. Uma que quase me quebrou e apenas isso, apenas uma
grande sombra que sumia a cada dia que eu deixava de ser Isla, a
aluna de arquitetura, e me tornava Isla, a arquiteta.
— Ele está maluco pensando no casamento, eu nem sei quando
vamos casar, mas desde que pediu…
A voz de Claire foi cobrindo as vozes da minha cabeça, e
afastei aquele homem do espaço que ele ainda consumia. Um
espaço que me dava medo.
12
Connor

Meu filho me odiava. Era isso. Elijah estava comendo o


sorvete, abraçado ao dinossauro de pelúcia e nem mesmo olhava
em minha direção. Não parecia com vontade de me encarar. E eu
entendia. Aquilo tinha acontecido mais vezes do que eu podia
contar.
Estacionei o carro em frente ao lugar preferido do meu filho e
virei para o banco de trás, onde Elijah sorria de lado, tentando
esconder que estava feliz de estar no seu lugar.
Elijah era mais parecido comigo do que Grace gostava de
admitir. Sei que para ela seria realmente mais fácil se ele fosse
parecido com ela, mas ele também tem muito dela. Eu poderia dizer
que ele tem o melhor dos dois mundos, é doce e animado como ela,
mas também sabia defender o que queria, como eu.
Abri minha porta e fui recebido por um vento quente, que
mostrava que o sol ficaria mais forte nos próximos tempos. Andei
até o lado do carro em que Elijah estava, abri a porta e desconectei
os cintos da cadeirinha.
— Pronto para visitar o Museu Nacional, campeão? — Elijah acenou
com a cabeça, ainda não parecendo com muita vontade de falar
comigo.
Eu achei que ele teria esquecido no caminho para cá, mas ele
só me mostrou mais uma vez como era um grande cabeça dura
como eu. Peguei Elijah no colo e o coloquei no chão ao meu lado.
Sua pequena mão se prendeu à minha, como ele normalmente
fazia, e aquilo me mostrou que nem tudo estava perdido naquele
dia.
— A gente pode ver os dinossauros? — perguntou baixo, chutando
uma pedra na rua.
— A gente já viu… — Elijah levantou aqueles olhinhos de Gato de
Botas do Shrek para mim e respirei fundo. — Claro, vamos ver
quantas vezes você quiser, ok?
Elijah baixou a cabeça e eu podia ver que ele estava sorrindo.
Fechei a porta do carro, apertei o controle para trancar tudo e me
virei para a porta do Museu.
Nos últimos quatro anos, eu havia estado ali mais vezes do
que nos trinta e seis anos anteriores. E eu adorava museus.
Por isso, quando Elijah ficou sozinho comigo pela primeira vez
e começou a chorar desesperado por alguma coisa, eu o trouxe
para esse lugar: o Museu Nacional da Escócia. Andando com ele
por cada corredor, sala e espaço, meu filho se acalmou e se
apaixonou pelos dinossauros.
— Quero água, papai! — falou, balançando minhas mãos, enquanto
entrávamos no espaço.
Elijah sempre fazia a mesma coisa: soltava minha mão quando
estávamos próximos demais da porta, apenas para correr para
dentro do museu e dar uma grande volta em torno de si mesmo,
com os braços abertos e um sorriso gigante em seu rosto. Encarei
sua roupa suja de terra e pensei que devia ter dado um banho nele
antes de vir para cá.
Meu filho virou para mim e deu um grande sorriso, estendendo
a mão para que eu segurasse as suas. Caminhei até ele, sentindo
meu coração cheio de uma proteção que eu sabia que era
excessiva. Ele era o meu sonho, como eu poderia deixar que
qualquer um o machucasse?
— Papai, minha água.
— Claro, filho… vamos comprar sua água, depois podemos comer
alguma coisa naquele restaurante aqui perto que você adora.
— Tudo bem… — Concordou com a cabeça, me puxando para a
loja que tinha dentro do museu e que sempre parávamos para
comprar uma lembrança ou outra para um de seus quartos, na
minha casa ou na de Grace.
Muitas pessoas passavam pelo local conversando em diversas
línguas, apontando para espaços e isso fez com que eu segurasse a
mão de Elijah mais forte, temendo que ele se perdesse no seu lugar
preferido.
— Papai, o dinossauro mais grande é o Titã. — Dei um sorriso para
a informação solta. E, sim, eu sabia daquela informação, Grace
passou horas ao meu lado, enquanto explicava sobre a descoberta
daquele dinossauro para o Elijah.
— Maior, Elijah. E qual era o tamanho dele?
— Acho que era do seu tamanho — respondeu dando de ombros,
como se eu fosse a maior coisa que ele conhecia no mundo todo.
Parei em frente à loja e puxei uma garrafa de água de dentro da
geladeira.
— Acho que ele era maior que eu, filho.
Baguncei seus cabelos e encarei a garota que não devia ter
mais do que dezenove anos atrás do caixa. Seus olhos brilharam e
ela deu um grande sorriso sugestivo, dando uma nada discreta
puxada na blusa. Ignorei a garota e entreguei meu cartão para
poder pagar e ir logo para a parte preferida do meu filho.
Alguém abriu um sorvete e virei ao sentir um conhecido cheiro
de mamão. Minha mente foi direto para Isla, que parecia ficar
invadindo cada pensamento meu, como uma bruxa.
— Será que os dinossauros podem voltar a viver? — perguntou
Elijah, me tirando dos meus pensamentos, e a garota riu.
— A gente já conversou sobre isso, campeão. Se eles voltarem, a
gente vai ter que derrotar os dinossauros que nem em Jurassic
Park, lembra?
Meu filho não tinha parado de falar sobre Jurassic Park desde
que se sentiu compelido a assistir ao filme por culpa da Miss
Sunshine. Elijah deu de ombros e saiu me puxando, enquanto a
garota colocava o meu cartão e mais alguma coisa em minhas
mãos. Enfiei o cartão dentro do bolso, temendo que Elijah saísse
correndo sem mim.
— Campeão, você tem que ir mais devagar, ok? Isso aqui está cheio
e se você não parar, eu vou te pegar no colo, não importa o quanto
você reclame…
Isso fez com que Elijah estancasse e virasse para mim.
— Papai, você não pode fazer isso, eu vou fazer cinco.
— Cinco, vinte ou quarenta, você ainda vai continuar meu filhinho e
eu vou te pegar no colo se isso te proteger, ok?
Elijah cruzou os braços e concordou com a cabeça, não parecendo
nada satisfeito com o que eu tinha dito. Andei até ficar ao seu lado e
ele deu a mão para mim, voltando a me puxar, dessa vez mais
delicadamente, para o local onde o dinossauro T.Rex estava.
Sua arcada era tão grande que fazia Elijah parecer menor do que já
era. Os olhos do meu filho brilharam quando ele viu como estava
cheio e os guardas que estavam acostumados com suas visitas
começaram a cumprimentá-lo.
Senti meu celular tremendo e saí andando atrás de Elijah, enquanto
colocava o celular na orelha para poder ouvir o que Grace queria.
— Onde você está?
— Te dou uma moeda se adivinhar…
— O que você fez para ter que levar o Elijah de novo para dentro do
museu?
Dei um longo suspiro e comecei a contar o que tinha
acontecido. Grace vivia me dizendo que eu devia ser menos
protetor, que o Elijah sabia se virar, que logo ele nem lembraria que
nós dois éramos seus pais, mas ainda assim, ele era o meu bebê.
Fui eu que fiquei madrugadas acordado com ele, enquanto
Grace me xingava por tê-la convencido a engravidar, ou quando ele
tinha cólicas tão fortes que passava horas chorando. Fui eu que
estive com ele no momento que ele segurou meu dedo tão forte pela
primeira vez que eu chorei como um bebê.
Foi para ele que eu prometi nunca fugir e sempre proteger.
— Mas tudo bem se eu for sair com a Francia? Quer dizer, se o
Elijah quiser voltar, eu posso dar um jeito, mas…
— Nós vamos ficar bem, ele já esqueceu que me detesta.
Elijah apontava para os dinossauros e contava tudo que sabia
de seus livros que Grace e eu dávamos em todos os aniversários.
Desliguei o telefone me desconectando do mundo para prestar
atenção nele.
— Papai, olha, aquele é novo…
Vi seu pequeno corpo correr em direção ao dinossauro,
desviando dos corpos que passavam por ele. Chegando perto dele,
segurei sua mão, enquanto ele indicava o quadro para que eu lesse
as informações.
Era um Estiracossauro, assim como o que Elijah havia dado à
Isla. Seu rosto brilhou em minha mente, seu sorriso para meu filho
grudado em minha memória. Mas, então, seus gritos voltaram e
lembrei que Elijah não era o único irritado comigo. A única diferença
é que eu não sabia como pedir desculpas a ela.
13
Isla

Enchi minha caneca com café e tentei ignorar os olhos de


Connor que eu sentia queimando minhas costas. Eu vinha tentando
ignorá-lo desde que cheguei no escritório, por algum motivo, eu
sentia que ele ia querer comentar sobre o que aconteceu – e se
tinha algo que eu não faria era falar com meu chefe sobre como vê-
lo transando com uma mulher tinha me feito passar o fim de semana
inteiro pensando nele.
E era também por isso que eu não conseguia olhar para ele,
porque eu ia lembrar de como o seu quadril se movia, da força que
ele parecia fazer ao segurar a mulher no lugar e então… então,
tinha aquele olhar que ele me deu quando me viu parada ali.
Apertei minhas pernas, aquilo tinha acontecido mais do que eu
gostaria de confessar. Meus mamilos ficaram duros e eu apertei
meus braços de encontro ao meu corpo para esconder a vergonha
que eu estava passando.
Senti uma mão em minhas costas e me arrepiei, me afastando,
apenas para encontrar Joe sorrindo para mim. Segurei a caneca
mais apertada contra meu corpo.
— Como passou o final de semana? — sua voz era baixa, diferente
das outras vozes na sala de reunião.
Virei o rosto para onde Connor estava sentado. Alguém
tentava falar com ele, mas seus olhos estavam passando por mim.
Ele segurava uma caneta entre os dedos e ia girando o objeto como
se não fosse nada. Eu estava quase hipnotizada.
O rosto de Connor estava relaxado, mas seus olhos me
seguiam, parecendo saber que eu havia passado o final de semana
pensando nele, junto aos seus braços, suas mãos e a vontade de
sentir seu corpo sobre o meu.
— Isla? — Joe passou a mão por meu rosto e eu percebi que ainda
estava olhando para o meu chefe. Meu chefe.
Connor deu uma risada e voltou a prestar atenção ao que a
pessoa falava com ele. E eu tentei lembrar o que Joe tinha me
questionado.
— Eu…
— Como passou o final de semana? — Joe não parecia ter
percebido o que tinha acontecido e que eu tinha perdido a direção
ao passar tempo demais olhando para meu chefe.
— Sabe… lavando minhas roupas, um dia com a minha melhor
amiga procurando vestidos de noivas, mesmo que ela me diga que
não quer casar já… e você? Alguma coisa interessante?
— Apenas Connor me ligando mais de meia noite, achando que
assim como ele, ninguém mais tem vida. Pelo menos meu… a
pessoa que eu estava não achou nada demais.
— E você conversou com ele?
— Claro que não, desliguei assim que ele começou a falar sobre
trabalho.
Tampei meu sorriso com a caneca de café quente e ouvi a voz
forte de Connor falando:
— Vamos começar a reunião.
— Parece que ele sabe quando as pessoas estão se divertindo, não
é?
Joe indicou a cadeira, me fazendo rir mais uma vez com suas
palavras. Os olhos de Connor estavam em toda a sala, parecendo
prestar atenção no que cada pessoa fazia.
Eu continuava sendo arrastada para mais perto de Connor e
eu quase sentia vontade de parar com tudo. Eu não queria sentar
perto dele. Eu não queria nem mesmo estar no mesmo ambiente
que ele por mais tempo do que fosse necessário.
Connor pareceu notar minha hesitação e deu um sorriso que
não era comum. Joe parou perto da ponta da mesa comprida e se
sentou ao lado de Connor e eu tive que sentar ao seu lado, já que
era a única cadeira vazia por ali.
Todo mundo sabia qual era a regra não dita da empresa.
Quanto mais cedo você chegasse, mais longe se sentaria de
Connor. Era quase uma conquista quando você conseguia pegar um
lugar na ponta contrária a ele.
Eu tinha conseguido aquele lugar mais vezes do que podia
contar, e mesmo chegando cedo e precisando sentar longe dele,
aqui estava eu ao seu lado.
— Ótimo, todo mundo sentou — disse, mesmo que nem metade das
pessoas estivessem sentadas. Connor clicou na tela de seu tablet e
ela se acendeu. — Antes de começarmos a falar sobre as coisas
costumeiras… vocês podem notar que Alex não está aqui… ele foi
desligado permanentemente da empresa. Queria ter feito isso na
frente de todos, mas meu advogado me proibiu de constranger mais
uma pessoa.
Me revirei na cadeira, me sentando mais dura que uma pedra
com medo do que ele fosse falar. Joe tinha uma sobrancelha
levantada e encarava Connor como se ele estivesse completamente
louco.
— Se tem algo que eu não vou tolerar dentro da minha empresa é
qualquer tipo de preconceito, por isso, saibam que cada palavra que
vocês dizem aqui dentro vai ser levado em conta. Alex acha que só
porque uma mulher tem um bom cargo, ela precisa dormir com o
chefe.
Fechei os olhos, tentando me esconder do que ele estava
dizendo. Qualquer pessoa que estivesse dentro daquele bar saberia
sobre quem ele estava falando. Alex não falou baixo, pelo contrário,
tinha caras em volta dele que riram. Tentei não olhar para ninguém e
nem me mexer.
— Eu não preciso comer ninguém dentro da minha empresa para
colocar alguém em algum projeto, e é por isso que existe uma
cláusula importante no contrato de todos aqui, onde é proibido
qualquer relacionamento afetivo entre duas pessoas que trabalham
na minha empresa. Querem transar e colocar seus empregos em
risco? Façam isso, mas nada fica em segredo por muito tempo.
Joe me olhou, parecendo notar que eu estava ficando
amarela.
Eu quase sentia a pressão do mundo em minhas orelhas. Eu
queria vomitar ou sair correndo, mas eu não podia fazer nada disso,
ou terminaria de me expor para quem não sabia sobre quem Connor
falava. Eu seria alvo de piadas e brincadeiras. De novo.
Respirei fundo, tentando afastar o embrulho no estômago,
enquanto Connor voltava a falar sobre um assunto qualquer. Eu
ainda sentia os olhos sobre mim, eu sentia as pessoas me julgando.
Tudo o que eu queria era sumir.
— Você está bem? — a voz de Joe pareceu invadir minhas
lembranças.
— Não… acho que foi algo que eu comi…
— Eu vou fingir que estou passando mal.
Tentei rir, mas não consegui, sentindo a bile subir por minha
garganta. Connor não me olhou nem por um momento, mas eu
ainda teria a chance de implorar a ele que nunca mais me
defendesse em público. Ele só ampliou as fofocas ao dizer que não
estava dormindo com alguém da empresa.
14
Connor

Tentei colar mais uma vez o maldito pedaço do dinossauro que


Elijah tinha deixado no meu carro no final de semana. Eu acabei
batendo a porta e o pescoço do bicho estava entre o carro e a porta,
então, ele foi decapitado. Acontece que aquele era só um dos
bichos que meu filho levava para todos os lugares, e ele conhecia
bem os brinquedos. Eu não poderia nem mesmo comprar um novo.
Ouvi três batidinhas na porta do meu escritório e joguei os
pedaços do dinossauro para trás da minha cadeira, empurrando
com o pé para que ninguém visse o objeto verde.
— Entra! — gritei, tentando encontrar uma posição confortável que
dissesse que eu era um homem sério e não um pai tentando
consertar o boneco do filho.
A porta foi aberta e Isla apareceu. Seus olhos pareciam
cansados, seu nariz ainda estava meio vermelho. Ela deu pequenos
passos para dentro da sala, e deixou a porta meio aberta, como se
estivesse com medo de que alguém pensasse alguma coisa.
— Ah, é você. — Revirei os olhos, arrastando minha cadeira para
trás, e peguei o dinossauro no chão e a cola que eu tinha jogado
para longe. — Fecha a porta.
— Eu acho melhor…
— Não, você acha melhor fechar a porta. Obrigado — falei, mesmo
que ela não tivesse fechado a porta ainda.
Isla deu um longo suspiro e encostou mais a porta, sobrando
apenas uma fresta de volume do espaço dos arquitetos do lado de
fora.
— Sente-se.
Ignorei o vestido florido que ela usava. Era bonito e deixava
seu corpo marcado, evidenciando seus quadris largos, a cintura fina
e os seios pequenos. Quando ela andava, o vestido entrava entre
suas pernas e destacava suas coxas grossas.
— Podemos conversar?
— Claro, desde que você não me atrapalhe — pedi, encarando o
pescoço quebrado.
— O que aconteceu? Achou que o brinquedo era um rei e precisava
da guilhotina? — Isla puxou a cadeira e se sentou, puxando a cola
que eu estava tentando usar.
— Não, Miss Sunshine… — falei, ignorando sua gracinha. — É um
dos brinquedos preferidos do Elijah, ele esqueceu no meu carro. Eu
estou tentando colar, então, se você for me atrasar ou atrapalhar,
pode deixar a sala e amanhã conversamos, porque a Grace vai
aparecer aqui me xingando daqui algumas horas.
Isla puxou a peça da minha mão e começou a olhar com
cuidado.
— Você nunca vai conseguir colar isso sem deixar nenhum vestígio,
você sabe, né?
— Claro que vou! — Peguei o brinquedo das suas mãos. — Não
seja pessimista, ninguém gosta de pessimistas.
— Sr. Evans, vai ficar a marca do lugar onde foi quebrado, e não sei
se você percebeu… — Algo em sua voz, me fez levantar os olhos
da mesa e encará-la. — Está faltando uma peça bem aqui.
— Não, não, não, não, não!
Levantei, tentando encontrar o pedaço que estava faltando.
Será que tinha sido culpa minha ao jogar o brinquedo já quebrado
no chão? Eu não teria como comprar outro daquele. Grace comprou
quando foi para o Japão e levou Elijah junto, eles passaram todos
os momentos de folga dela visitando museus de dinossauros. Além
de um brinquedo querido, era também uma lembrança especial dos
dois.
Puxei os meus cabelos, sentindo uma dor de cabeça
apontando. Se eu comprasse as passagens naquele momento, eu
conseguiria apenas chegar no Japão em vinte e quatro horas, o que
me daria quase três dias para estar de volta com o mesmo
brinquedo.
— Você está pirando? Parece que você está pirando… e eu não sei
o que fazer.
Me abaixei para o computador, procurando por passagens
para o Japão. E ignorei a pergunta de Isla. Eu teria que explicar
para Joe que ele precisaria cuidar do escritório por três dias
completos. Talvez quatro, pois não sabia se conseguiria dormir no
bate e volta.
Isla levantou da cadeira, dando a volta na mesa e parando ao
meu lado. Ouvi sua gargalhada e levantei, ficando bem mais alto
que ela.
— Você está pensando em fugir para o Japão para não encarar seu
filho? — Sua voz e seu sorriso aqueceram um lugar dentro de mim e
eu quase esqueci que o próximo pescoço na guilhotina seria o meu.
— Claro que não, foi lá que a Grace comprou. Eu vou para lá agora
mesmo — comentei, clicando no botão para finalizar a compra da
passagem.
— Meu Deus, você é completamente maluco.
Esfreguei a testa, cansado daquela situação. Ela não entendia,
Isla não tinha um filho que era completamente focado em
dinossauros, viciado. Eu tinha. Elijah era meu e eu nunca deixaria
que ele se sentisse decepcionado por mim.
— Connor…
— Eu preciso ir, você consegue avisar para Joe que ele precisa
cuidar da empresa?
Agarrei o paletó ao mesmo tempo que Isla segurava minha
mão. Parei por um segundo. Seus olhos nos meus, sua mão gelada
de encontro a minha. Meu estômago parecia ter caído no pé, mas
eu sabia que era apenas pelo desespero.
— Connor, respira — pediu, com a voz baixa e soltou minha mão.
Quase senti falta da sensação da sua mão na minha. Seus
olhos voltaram para a porta encostada e eu segui o olhar, tentando
ver se alguém tinha invadido minha sala, mas não, ainda estávamos
sozinhos.
— Pede o cancelamento dessa passagem e eu vou tentar encontrar
o brinquedo que você precisa em uma loja que eu conheço.
— Você faria isso?
— Eu vou tentar, não sei se vai ter exatamente igual e que fique
claro que é pelo Elijah que é a criança mais doce que eu já conheci
na vida e não por você, que deve ser o adulto mais detestável que
eu já conheci… sr. Evans.
Dei um sorriso e coloquei o paletó. Andando para fora da sala, parei
quase na porta ao notar que Isla continuava no mesmo lugar.
— Você não vem?
— Você vai comigo? — questionou, dando um passo para trás.
— Claro, você não queria conversar comigo? A gente pode fazer
isso enquanto procura o dinossauro que eu decapitei.
Isla deu um longo suspiro e começou a andar.
— Pega seu casaco, está chovendo do lado de fora — avisei,
andando até a garagem. Ela que me encontrasse lá.
15
Isla

Eu realmente não sabia como nada disso tinha acontecido.


Tinha ido até a sala de Connor para tentar colocar alguma razão em
sua cabeça e explicar porque não tinha me sentido confortável
sobre o que tinha acontecido na sala de reuniões. Mas quando o vi
perdendo a cabeça, a ponto de arrancar os próprios cabelos da
cabeça… eu nunca tinha visto nada tão adorável.
Connor parou o carro em frente à loja que eu tinha indicado o
caminho. Era ali que eu encontrava as coisas mais bizarras para dar
de presente, eu tinha certeza de que eles teriam algo pelo menos
parecido com o dinossauro que Connor assassinou.
— Você sabe o nome do dinossauro? Eu não lembro de ter visto
durante a época que tentei conquistar um cara assistindo todos os
filmes de Jurassic Park…
— Essa é a coisa mais idiota que eu já ouvi… Jurassic Park, sério?
O Spielberg tem coisa melhor feita. Como O Resgate do Soldado
Ryan. — Connor puxou o freio de mão e me encarou. — Jurassic
Park, sério? Inclusive, obrigado por ter me forçado a assistir os três
filmes com Elijah.
Sua expressão de descontentamento quase me arrancou risos.
Quase, pois Connor estava ofendendo um dos meus filmes
favoritos.
— Hey, eu gosto, mas é claro que uma pessoa sem esperanças,
amor e alegria gostaria de um filme chato como O Resgate do
Soldado Ryan quando o Steven tem ET na sua incrível lista de
filmes produzidos.
Connor fechou a cara, abrindo a porta do carro e me encarou.
— E o dinossauro decapitado é um Mbiresaurus, o dinossauro mais
antigo já encontrado, por isso é tão difícil encontrar qualquer
brinquedo dele.
Franzi a testa, pensando em como ele devia estar mal com o
que tinha acontecido... Mas eu não tinha culpa se era tão engraçado
ver um homem feito triste por um dinossauro.
— E você o matou, deve ser difícil ser a pessoa que seu filho mais
vai odiar — falei brincando e saí do carro, batendo a porta.
Connor estava parado com a chave na mão, olhando para o
chão com uma expressão de sofrimento e tentei esconder o sorriso,
mas não conseguia. Connor levantou seus olhos castanhos para
mim e perguntou:
— Você acha que ele vai me odiar?
— Vamos, Connor, nós temos que encontrar o brinquedo do seu
filho e eu sei que não vai ser uma tarefa fácil.
Entrei na loja que era de esquina, parecendo mais antiga do
que realmente era – culpa do ar de Edimburgo que deixava tudo
parecendo antigo, bem, pelo menos no lado antigo.
Atrás do balcão estava o senhor Duncan, ele era um velho
escocês que devia ser tão antigo quanto as ruas dessa cidade. Com
os cabelos bem grisalhos, ele combinava sempre ternos escuros
com alguma camisa colorida, além de sempre carregar um relógio
de bolso velho e quebrado no bolso. Eu adorava o velho Duncan.
— Isla!
— Olá, Duncan — Seus passos cansados por conta da idade foram
lentos em minha direção, mas seus braços me circularam com o
grande carinho que compartilhávamos. — Há quanto tempo não te
vejo menina, a última vez foi quando comprou aquele livro antigo
sobre as estrelas.
— E eu cuido muito bem dele, pode ter certeza.
— Nunca duvidei disso, La Isla Bonita. — Ri do apelido bobo em
homenagem a música da Madonna e Duncan virou para Connor,
que estava parado em frente à porta, sem parecer tentado a entrar.
— Quem é esse?
— Esse é o meu chefe, Connor… eu falei que talvez aqui tivesse um
brinquedo especial. — Connor deu alguns passos para mais perto
de mim e cumprimentou Duncan com um aceno de cabeça. Revirei
os olhos. — O senhor Evans quebrou um dos brinquedos favoritos
do filho, uma criança adorável que não merece odiar o pai, sabe?
Duncan deu uma risada seca e olhou de novo para Connor,
que parecia mais uma estátua do lugar do que realmente um pai
preocupado com o brinquedo do filho, mas eu tinha visto seu
desespero. Elijah era a coisa mais importante para ele.
— E qual é esse brinquedo especial?
Connor me olhou e então tirou do bolso o brinquedo, agora
dividido em duas partes.
— É um Mbiresaurus, eles compraram em um museu do Japão, eu
queria ir para lá, mas a Isla disse que essa loja podia ter algo. — O
modo que Connor disse “essa loja” quase me fez voar nele, mas
Duncan não pareceu se importar. — Tem?
Duncan olhou para trás de si mesmo, e me encarou.
— Isla, você pode procurar no último corredor da loja, se não tiver
em uma daquelas caixas, deve ter no andar de cima, você sabe
onde.
Concordei com a cabeça e saí procurando pelo corredor onde
ficavam os brinquedos. Eu tinha descoberto esse espaço em um dia
que estava desesperada tentando encontrar um presente especial
para minha mãe, foi aqui que encontrei uma miniatura do Cristo
Redentor.
Meu padrasto riu e passou um longo tempo tentando entender
o motivo quando ela abriu o presente, mas mamãe sorriu um dos
sorrisos mais lindos do mundo. Mamãe vivia me falando da estátua
do Cristo Redentor que existia nas Filipinas, outro lugar que eu
nunca tinha visitado, e se tinha, não me lembrava.
Depois de quase uma hora procurando, Duncan finalmente
liberou Connor e permitiu que ele andasse pela loja atrás de mim e
ajudasse na procura pelo dinossauro com nome difícil. No entanto,
tudo o que encontramos foi um telescópio antigo.
Connor estava sentado ao meu lado no chão, diversos
brinquedos jogados, um mais diferente do outro. A saia do meu
vestido estava puxada até minhas coxas, me dando liberdade para
me mover. Os olhos de Connor pareciam perdidos, e eu me sentia
culpada por não ter conseguido encontrar o brinquedo para Elijah.
— Acho que podemos considerar essa procura um caso perdido. —
Connor tinha tirado o paletó, estava com as mangas da camisa
dobradas até os cotovelos e sentado no chão como um menino
emburrado. — Tudo que tem aqui é sucata e objetos velhos demais
para estar perto de qualquer ser humano, olha bem para isso, pó
puro, Isla… como você achou que íamos encontrar aqui um
brinquedo que é novidade no mercado? Um brinquedo que só existe
em um país. Eu poderia estar no meio do caminho para o Japão,
mas estou aqui preso nesse lugar idiota com você.
Tapei a boca de Connor mesmo que ele já tivesse terminado
de falar e o encarei, séria, como talvez nunca estivera em toda a
minha vida. Seus lábios em minhas mãos fizeram cócegas em meu
ventre, seus olhos nos meus pareciam perdidos em meu rosto.
— Nunca mais fale mal do espaço do Duncan. Eu te prometo,
senhor Evans, eu te mato e ninguém nunca mais vai encontrar o seu
corpo.
Connor se ajoelhou, sem tirar a minha mão de sua boca. Ele
era alto, e mesmo de joelhos passava da minha altura ajoelhada.
Respirei fundo ao ver aquele homem ajoelhado aos meus pés. As
imagens da noite que invadi seu escritório voltaram para minha
cabeça e estremeci sentindo sua respiração em minha pele.
— Não pretendia ofender — disse, com o som abafado em minha
pele, me fazendo cócegas. — Eu estou nervoso, com medo de que
meu filho pense que eu sou um péssimo pai. Eu sinto que sou, sinto
que falho, coloco meus medos sempre à frente e acabo criando uma
redoma em volta de Elijah. E se ele me odiar, Isla? Não pelo
brinquedo…, mas porque eu sou um péssimo pai? E se eu não
merecer um filho como Elijah?
Algo em suas palavras me fez tremer. Eu nunca tinha visto
Connor tão vulnerável, demonstrando tanto medo. Tirei minha mão
de sua boca e o encarei, seus olhos continuavam nos meus e eu
temi que deixasse transparecer como suas palavras tinham me
afetado.
— Você é um bom pai, Connor. Acho que é o melhor do mundo
todo.
Connor acenou com a cabeça, parecendo constrangido,
fingindo que eu não havia dito nada. Ele estendeu a mão a mim e
senti meu corpo se arrepiar, sendo puxada para cima com ele.
Sua outra mão batera em qualquer coisa e ele virou para mim:
— E se eu der isso? — perguntou, mostrando uma roda velha.
— Não, você não vai dar isso para o Elijah… o que ele acha das
estrelas?
Connor deu de ombros e encarou o lugar, desviando dos meus
olhos.
— Acho que gosta, ele sempre foi mais ligado no passado,
dinossauros, as eras antigas…
— Então, talvez esteja na hora de apresentar a coisa mais antiga
que existe nesse mundo… o céu. — Peguei o telescópio antigo e
desci as escadas com Connor em meu calcanhar. — Na verdade, eu
acho que sei bem o que você vai fazer para o Elijah te perdoar, só
me siga, ok?
Connor concordou com a cabeça e dei um sorriso. Aquele
seria sim um presente para Elijah, mas também seria uma grande
vitória para mim.
16
Connor

Respirei fundo e virei para a Isla que sorria. Ela estava


tentando esconder, mas eu conseguia ver seus olhos enrugados, eu
sabia que aquela situação toda era ridícula demais. Na verdade, eu
nem sabia como ela tinha me convencido de que aquela era uma
boa ideia.
A sua felicidade era quase um insulto para mim, quando ela
levantou aquela roupa na loja, eu pensei em comprar o voo para ela
direto para o Japão e fazê-la passar pelo estresse que eu estava
passando.
— Dá para você parar de rir? — pedi.
— É que você tá tão bravo, mas… — Isla não conseguiu parar a
risada e gargalhou. — Tá bonitinho… o Elijah vai adorar.
A porta do elevador abriu e eu finalmente consegui entrar. Isla
parou ao meu lado ainda gargalhando.
— Você não vai colocar a cabeça? E se o Elijah já estiver lá?
— Não vi o carro da Grace aqui, ela ainda deve estar vindo.
— Você não quer que seus funcionários te vejam de dinossauro?
Tenho uma péssima notícia pra você… você já está vestido… — Isla
pegou a cabeça da minha mão e se aproximou de mim. — Fica
quieto, vou colocar a cabeça.
Dobrei os joelhos para que ficasse próximo do tamanho dela.
Isla deu mais alguns passos para perto de mim e me encostei na
parede, temendo perder o equilíbrio naquela roupa ridícula.
— Como coloca isso? — questionou, segurando a cabeça.
— Tem que prender atrás do meu pescoço.
Meus pés escorregaram no chão do elevador e segurei sua
cintura, senti o tecido do vestido em minhas mãos e respirei fundo,
me prendendo no lugar. Isla deu um longo suspiro. Suas mãos
subiram a maldita cabeça da fantasia e senti seus dedos passando
por meu pescoço.
Meu pau acordou na hora, ficando duro ao sentir seu corpo tão
próximo de mim. A puxei para mais perto, lembrando do olhar que
ela me deu ao me ver com aquela mulher. E eu precisava lembrar
que ela estava bêbada, não devia nem lembrar do que tinha
acontecido. Mas eu lembrava e era uma tortura.
— Eu… eu não estou achando o fecho…
Sua voz rouca me fez olhar para seus seios. Eu podia ver
através do tecido da sua blusa que os seus mamilos estavam duros
e me segurei para não apertar o botão de emergência do elevador e
colocar minha boca nela. Mas não podia fazer isso.
— Deixa que eu faço.
Isla pareceu feliz, tirando as mãos de mim. Ela esfregou a mão
em seu vestido e olhou para o painel que avisava que estávamos
chegando ao andar correto.
A porta abriu quando eu finalmente consegui prender a cabeça
e dei de cara com Elijah de mãos dadas com Grace, os pezinhos
balançando para frente e para trás, como se estivesse me
esperando.
Seus olhos se iluminaram e ele deu um grito de felicidade e
correu de encontro para mim, apenas para virar na metade do
caminho e se jogar no colo de Isla que o levantou e girou, como se o
escritório inteiro não estivesse olhando para os dois.
Parei, parecendo um boneco esquecido na prateleira. Era para
mim que ele devia correr! Por que ele estava correndo para a minha
funcionária com quem ele nem tinha contato? Que tipo de feitiço a
Miss Sunshine tinha feito para meu filho ficar completamente
encantado por ela? Era o mesmo que ela tinha feito para mim? Só
podia ser magia.
Grace se aproximou de onde estávamos, os olhos em mim,
como se a cena não estivesse acontecendo diante dos seus olhos
como acontecia diante dos meus. Seus cabelos loiros estavam
alinhados, a saia que ia até o joelho, Grace era completamente
formal, às vezes desconfiava que ela estava bêbada demais para
aceitar ter um filho comigo.
— O que caralhos você está fazendo vestido de dinossauro?
— Era para o Elijah — respondi, sentindo o suor escorrendo por
meu rosto.
Elijah continuava rindo e brincando com Isla como se eu não
existisse para ele. Grace me olhava, mas eu não conseguia
desgrudar meus olhos da imagem que era os dois conversando
como se fossem velhos amigos.
— Agora… Elijah, você percebeu alguma coisa? — A voz de Isla
pareceu despertar meu filho que virou, procurando por algo e então
seus olhos castanhos escuros pararam em mim.
— Papai! — Elijah pulou do colo de Isla e correu para mim, se
jogando sobre a roupa de dinossauro.
Perdi o equilíbrio, indo parar no chão, com meu filho em cima
de mim, pulando e gritando que eu era um dinossauro. Sua voz
infantil mostrava tanta emoção que eu me questionava porque não
tinha me vestido daquele jeito antes, mas eu sabia o porquê… antes
eu não tinha Isla.
Para me atormentar.
Antes não tinha Isla para me atormentar.
— Papai, eu quero ser um dinossauro também! — implorou,
cruzando os braços e fechando a cara. Eu podia ver um beicinho se
formando e eu não tinha pensado nisso.
— Eu prometo que te deixo até com essa se você quiser, filho.
Grace levantou a mão e eu virei para ela, esperando que ela
falasse.
— Eu tenho uma dúvida… você vestiu isso por cima do terno ou
está sem o terno?
Isla tentou parar a risada e virou para Grace.
— Eu disse para ele tirar o terno, ele não me ouviu e agora deve
estar fritando aí dentro.
— Prazer, Grace, a mãe do Elijah e você? — Elijah pulou na minha
barriga, me chamando atenção, mas não conseguia parar de olhar
para o acidente de trem bem em frente aos meus olhos.
— Isla Salazar, eu sou funcionária do senhor Evans.
— Então, você é a garota com quem o Connor gritou? Elijah me
contou tudo. Sinto muito, eu tento ensinar boas maneiras para os
dois, mas só Elijah adquire algumas.
As duas deram as mãos e começaram a conversar. Coloquei
Elijah de pé ao meu lado e me apoiei na mesa mais próxima para
ficar de pé depois de ser feito de sofá pelo meu filho.
Quando consegui ficar em pé e pegar Elijah no colo, virei para
o escritório e percebi que todos encaravam a cena. Não sabia se
era por Isla e Grace rindo, se era pela roupa de dinossauro ou por
Elijah ser a criança mais bonita que existia no mundo.
— Todos de volta para o trabalho agora mesmo, não quero ver uma
cabeça levantada.
Virei para o lado e Isla estava se despedindo de Grace antes
de voltar para a sua mesa. Grace me encarava como se eu tivesse
chutado seu cachorro.
— A gente pode combinar de almoçar ou jantar um dia? Elijah não
para de falar sobre você… — Grace pediu antes que ela saísse.
— Vamos para minha sala — pedi, encostando no braço de Grace.
— Me deixa falar com a Isla…
— Vocês podem continuar conversando, mas na minha sala.
— Eu preciso voltar a trabalhar, mas… claro, podemos marcar sim,
minha melhor amiga quer visitar algumas lojas de noivas e, com
certeza, vamos até a sua e marcamos algo lá.
Isla se despediu e saiu andando de perto de nós. Virei para
Elijah e Grace, os dois pareciam tristes demais, quando chegamos a
minha sala, fechei a porta e tirei a cabeça do dinossauro, apenas
para Grace gritar comigo:
— Por que você tem que ser tão b-a-b-a-c-a? — soletrou e cruzou
os braços. — Ela é um anjo e você fez com que ela se sentisse mal
por estar conversando com a gente. Se você não vai s-a-i-r com ela,
eu vou.
— Você não vai fazer nada!
Grace mordeu o sorriso e levantou a sobrancelha para mim.
— Você é ridícula.
— Ah, eu sei… mas você gosta de alguém…
17
Isla

Sentei na minha cadeira e puxei para perto da mesa, ligando o


notebook. Minha semana tinha sido toda preenchida por visitas
técnicas com Joe, que me levava para cima e para baixo como se
eu fosse sua bolsa favorita.
Virei em direção a sala do Connor e ela estava fechada como
tinha sido desde que ele se vestiu de dinossauro. Eu ainda achava
que ele tinha comprado a passagem e ido atrás do boneco
quebrado. Não conseguia encontrar a coragem para perguntar para
Joe onde o nosso chefe estava.
— Pare com isso, Isla… você está sendo ridícula…
— Falou comigo? — uma das novas estagiárias perguntou e eu virei
para a mesa ao lado.
Dei um sorriso e neguei com a cabeça.
— Não, eu estava pensando alto, normalmente faço isso.
Até mesmo as reuniões que ele normalmente fazia para ver as
pessoas se contorcendo não estavam acontecendo. Ele não podia
estar com raiva pelas pessoas ficarem olhando como ele estava
vestido, não é? Se fosse isso, Connor teria feito cada um que olhou
mais do que devia ficar no escritório por pelo menos mais duas
horas por dia. E eu? Eu que era a culpada pela roupa iria ser
demitida, com certeza.
— Você sabe o que aconteceu com o senhor Evans? — a estagiária
questionou, falando baixinho para que ninguém escutasse.
— Oi? Não, na verdade, não.
— Até eu que trabalho há pouco tempo aqui sei que ele não
costuma sumir assim, será que a esposa dele está doente e por isso
não conseguiu vir? Eles parecem bem apaixonados.
— Eles não são casados, eles são melhores amigos. — Não sabia
porque senti necessidade de esclarecer aquilo
— Adoro livros de amigos para amantes, você não? — perguntou,
rindo.
— Nunca li…
A garota nova era bonita, seus cabelos eram escuros como a
noite e crespos em um black power, sua pele era negra, e ela usava
óculos que ficava bem colocado sobre o nariz largo.
— Eu acho que não sei seu nome…
— Jessie, vai fazer quase um mês que eu comecei aqui… já me
sentei três vezes perto do senhor Evans na reunião. Ninguém tinha
me dito que tinha que precisava chegar cedo para não fazer isso…
— Normalmente as pessoas não querem perder seus lugares
quando alguém novo chega.
— Percebi isso, ainda bem que moro só há alguns minutos daqui,
meus pais alugaram a casa pensando na comodidade que seria
morar perto de onde eu trabalhasse.
— Seus pais fizeram isso por você? Eu moro há horas daqui…
— Sim, agora eu moro em um apartamento gigante sozinha, eles
não sabem controlar o próprio dinheiro…
Uma garota rica. Eu queria ser rica. Dei um sorriso e abri meu
notebook, colocando os fios do meu cabelo, que estava solto,
presos na minha orelha.
— Te entendo… quer dizer, não entendo, mas entendo.
— Você é engraçada. Isla, não é? Prazer, Jessie. Percebi que você
é bem receptiva, diferente das outras pessoas aqui e decidi me
aproximar...
Eu sabia que sim, tinha demorado muito até que eu
entendesse que ninguém falaria comigo se eu não começasse uma
conversa.
— Também percebi que você é bem próxima do Joe, ele parece ser
muito inteligente, queria muito ser colocada na equipe dele. Você
pode me ajudar, por favor? — O por favor foi dito com os olhos
quase brilhando.
— Claro… quer dizer, será bom ter mais gente ajudando, vou ver o
que posso fazer por você, ok? Agora eu preciso, sabe…
— Claro, desculpa te interromper.
Jessie virou de volta para a sua mesa e eu peguei o tablet que
Connor dava para cada um dos funcionários assim que eles
começavam a trabalhar no escritório e abri o bloco de notas com
todas as informações que eu tinha coletado na última visita na casa
de um dos nossos clientes.
Olhei mais uma vez para a porta fechada de Connor e a
maldita girafinha na placa com seu nome e tentei parar o pequeno
aperto que eu vinha sentindo desde que ele se ajoelhou na minha
frente em um dos meus lugares favoritos do mundo.
Se eu fosse sincera, aquele aperto tinha começado bem antes,
quando ele me levou para casa e cuidou de mim. Mas eu tinha que
ser esperta, eu sabia o que acontecia em um relacionamento como
aquele.
— Isla? — Ouvi alguém me chamando e me virei, dando de cara
com Connor de pé ao meu lado, como se tivesse me chamando há
muito tempo.
— Oi… — Fiquei de pé, ajeitando a saia do meu vestido, e parando
de frente para ele, vendo pela primeira vez como a nossa diferença
de altura era grande, mesmo que eu fosse alta.
Seus olhos me encararam e ele deu um leve sorriso, um
sorriso que eu não via muito e senti meu coração bater mais rápido,
como se o tempo tivesse parado naquele momento.
Respirei fundo e esperei que ele falasse. Mas Connor parecia
estar me inspecionando. Eu sabia que não tinha nada de diferente
em mim, talvez apenas o coque feito apenas porque meu cabelo
ficou armado depois da chuva torrencial que tomei para vir ao
trabalho. As belezas de Edimburgo.
— Precisa de algo?
Connor aproximou a mão do meu rosto e tocou um ponto
abaixo do meu queixo.
— Chocolate. — Passei a mão por onde ele tinha tocado e terminei
de limpar, ficando vermelha no mesmo momento. — Vou te dar um
tempo para se arrumar, nós vamos visitar uma obra.
— Tudo bem, eu só preciso de alguns minutos.
— Espero que sejam só alguns minutos — disse e saiu, como se
não tivesse deixado uma confusão em minha cabeça e diante dos
olhos dos meus colegas de trabalho.
Eu precisava me afastar disso ou terminaria com o nome sujo
em mais um lugar e isso era tudo que eu não queria.
Coloquei meu tablet dentro da bolsa, junto com a caneta, e
corri para o banheiro sabendo que devia estar horrível, só assim
para Connor me olhar por tanto tempo com aquela ruga entre as
sobrancelhas.
O banheiro estava vazio, o que era um milagre e coloquei a
bolsa sobre a bancada. Comecei a tentar arrumar o meu cabelo que
estava terrível. Não era para eu sair da empresa, mas quando o seu
chefe falava para você pular, você se joga.
18
Connor

Era a terceira vez que eu tinha Isla dentro do meu carro, e o


cheiro dela ainda me perturbava. Era uma essência de mamão bem
suave, que remetia a um dia de sol. O silêncio no carro era quase
incômodo e, se eu fosse bem sincero, eu sabia que ela tinha
percebido que eu tinha arrumado uma desculpa para passar mais
tempo com ela.
— Quer colocar uma música? — perguntei, tentando descobrir como
estava seu humor.
Isla era sempre um raio de sol, mesmo quando parecia que
queria jogar alguma coisa em minha cabeça. No tempo que ela
trabalhava para mim, aquilo parecia ter acontecido muitas vezes.
Agora mesmo eu podia ver um leve franzir em seus lábios.
Ainda que ela estivesse focada escrevendo em seu tablet, eu sabia
que não era dali que vinha a raiva que ela sentia. Provavelmente o
culpado era eu.
Isla virou para a janela do carro e deu um leve sorriso.
— Posso baixar um pouco o vidro? — Apertei o botão antes que ela
tivesse chance e ela respirou profundamente. O cheiro do seu
perfume foi de encontro com o meu rosto, me sufocando, e eu
fechei a janela rapidamente.
— Está frio — disse, sem maiores explicações.
Não importava muito o que ela pensasse também, logo
chegaríamos ao destino e poderíamos nos focar no trabalho e não
em como as coxas de Isla ficavam marcadas no vestido rodado que
ela usava. Ou em como o decote trançado valorizava seu colo.
Apertei o volante mais forte e tentei levar minha mente para
outro lugar. Eu sabia que Joe devia estar extremamente irritado
comigo, mas eu não tinha culpa. Isla era minha.
Minha funcionária e, por isso, o lugar dela era ao meu lado em
qualquer ocasião que eu achasse importante que ela estivesse.
Encostei o carro, encarando a imensidão do mar de Cramond e virei
para Isla, seus olhos escuros encaravam o lugar com uma
expressão de nostalgia.
— Você devia ter me dito que viríamos aqui… — falou com uma voz
sonhadora, abrindo a porta e saindo do carro. — Esse era o meu
lugar preferido quando criança. Minha mãe sempre me trazia aqui
quando tinha uma folga.
— Eu não sabia que esse lugar era especial para você.
— Muito. A gente tem um tempinho? — seus olhos quase brilharam,
implorando para mim. — Só… um pouquinho…
Olhei para o relógio do celular na minha mão e concordei com
a cabeça. Estávamos adiantados, claro que eu sempre gostava de
estar no horário para conversar com meus clientes, mas alguns
minutos não fariam mal nenhum.
Isla andou pela passagem de pedra até chegar à areia e tirou o
tênis branco, afundando o pé na areia que eu sabia estar tão gelada
quanto a água. Minhas mãos começaram a pinicar ao pensar em
percorrer o mesmo caminho que ela. Mesmo com a praia vazia e
sendo adulto, a sensação de ser um garoto perdido voltava sempre
que eu tinha que trabalhar perto da praia.
Segui Isla para mais dentro da praia, com meu sapato de
marca ficando sujo com as partículas douradas. Isla carregava o
tênis na mão, e eu cheguei perto, tirando o calçado da sua mão para
que ela tivesse liberdade.
— Sabe o que é engraçado? Não tem a mesma sensação que eu
sentia quando vinha aqui com a minha mãe, mas ainda é gostoso —
comentou, compartilhando um pouco da sua vida comigo. Eu não
sabia como responder aquilo, por isso, só fiquei quieto aproveitando
a visão que era sua alegria.
Isla abriu bem os braços e deixou que o vento forte balançasse
sua roupa, grudando em seu corpo. Fechei os olhos, sendo tomado
por uma vontade de sentir o que ela estava sentindo. Tentando
encontrar aquela sensação de paz que as pessoas sentiam na
praia.
O vento parecia fazer cócegas em meu rosto e abri os olhos,
me sentindo ridículo. Aquilo tudo era ridículo. Isla me encarava com
um sorriso gigantesco em seu rosto. Fiquei preso naquele sorriso,
parecia o primeiro que ela verdadeiramente dava para mim.
— Vamos logo — pedi, sabendo que tínhamos perdido tempo
demais naquele lugar.
— Não, calma, por favor… só… me deixa fazer algo? — implorou
me encarando. — Ninguém deve sentir o vento no rosto na praia
com essa cara amarrada, Connor… posso te ajudar?
Olhei para os dois lados da praia que estava completamente
vazia e assenti. Isla tirou o tênis da minha mão e colocou ao lado
dos meus pés, pegou o meu celular e jogou dentro da sua bolsa.
— O que você está fazendo?
— Te dando um pouco de liberdade.
Isla entrelaçou nossos dedos, segurando forte minha mão e
parou de costas para mim. Seu corpo se aproximou mais um pouco
do meu, ela levantou nossos braços juntos e ficou em silêncio.
Todo o meu corpo estava ligado. Se tinha algo que eu não
estava naquele momento era relaxado. Isla parecia saber disso
porque ouvi sua voz, me tirando do transe que era tentar controlar a
reação do meu corpo a sua bunda se esfregando em mim.
— Você está de olhos fechados, senhor Connor?
Porra, se ela soubesse o que fazia comigo quando me
chamava de senhor Connor. Isla virou para mim e fechou a cara.
— Se você não vai fechar os olhos, qual a graça disso?
Eu poderia citar pelo menos uns três motivos para estar bem
feliz, mas preferi fechar os olhos.
— Assim?
— Bem melhor… agora, sinta. Sinta o vento forte, a brisa do mar,
sinta a energia que só a água tem…
Eu podia sentir tudo isso. Mas na realidade, eu estava cercado
por ela. Isla. Como eu nunca tinha reparado de verdade nela? Sua
alegria me incomodava, era verdade, mas eu nunca tinha parado
para prestar atenção nela e agora eu estava aqui completamente
envolvido.
Com ela perto do meu corpo, a sensação que se arrastava em
minha pele parecia sumir aos poucos. Respirei fundo, sentindo seu
cheiro, e meu coração parou de bater rápido, atingindo um estágio
de liberdade que eu não lembrava de já ter sentido na praia. Eu
conseguia sentir cada pedaço da sua pele de encontro a minha e
quase não queria que aquele momento acabasse.
— Não é a melhor maneira de aproveitar um dia gelado em uma
praia?
— Sim… — respondi. — É sim.
Isla soltou minha mão e eu quase gemi ao perder o contato do
seu corpo com o meu. Fiquei olhando enquanto ela pegava o tênis
no chão e limpava o pé, antes de calçá-lo.
— Vamos? Acho que atrasei o encontro com o cliente, não é?
Desculpa, eu me animo na praia.
Não respondi, seguindo Isla em direção à casa que íamos
visitar. Sim, ela tinha feito mais do que me atrasado.
19
Isla

Meu coração ainda estava disparado. Não sabia muito bem o


que tinha acontecido naquela praia. Connor me deixou chegar tão
perto dele que meus sentimentos começaram a ficar ainda mais
confusos.
Ele estava parado ao meu lado, escutando enquanto o
engenheiro falava e tirava algumas dúvidas. Connor estava com os
braços cruzados, parecendo cansado de ter que ouvir o homem
falando.
Meu chefe tinha quase o dobro da altura do homem, que não
parecia intimidado pela cara de irritação que meu chefe fazia. Nem
mesmo parecia fazer cócegas quando Connor coçava a cabeça e
olhava para qualquer direção que não fosse o homem que falava
com ele.
Eu quase sentia dó, o senhor indiano começava a ficar
amarelado, destoando completamente de sua pele marrom. Connor
deu um longo suspiro quando o homem começou a falar mais alto e
voltou a prestar atenção no que ele falava.
Saí de perto, indo em direção às escadas do segundo andar. A
casa era em um estilo de triângulo para uma mulher solteira que
vivia apenas com seus gatos. Eu tinha estudado um pouco o projeto
desde que Alex foi excluído, mas ver de perto era diferente.
A escada dava em uma suíte completa, a porta balcão era
linda e, ao ser aberta, dava para ver a imensidão sem fim do mar.
Com uma sacada, olhei o projeto no tablet e confirmei que ali teria
uma banheira de hidromassagem. Só conseguia pensar na maré
gelada da noite.
Fechei os olhos, sentindo o vento que parecia atravessar
minha roupa e gelar até mesmo meus ossos. A blusa de tricô que eu
tinha trazido não estava ajudando em nada com o frio que eu sentia.
Eu também não queria sair dali. O lugar transmitia uma calma que
me fazia entender a escolha da cliente.
Peguei o celular e tirei uma foto, mandando para minha mãe:
“Lembra quando a gente passava os finais de semana aqui?”
Não demorou muito para a mensagem chegar em resposta.
“São as minhas melhores memórias.”
Encarei o celular e dei um sorriso triste. Às vezes, eu sentia
vontade de voltar a ser criança e poder viver aqueles momentos de
novo com ela, mas eu sabia que isso era impossível.
Olhei a porta, sabendo que ninguém viria para o andar de cima
naquele momento, porque todos queriam mostrar serviço para o
Connor. Peguei meu celular e tentei tirar uma selfie que mostrasse o
mar e o céu atrás de mim.
Estava tão focada no que estava fazendo, que só ouvi o
pigarro de Connor quando ele estava bem perto de mim.
— Senhor Connor, perdão… eu…
— Não, tudo bem, quer ajuda? Eu posso tirar para você. É um lugar
muito bonito. Se você tivesse falado, eu teria tirado a foto na praia.
— Olhei para os lados, procurando pelas câmeras escondidas,
porque aquilo claramente era uma pegadinha. — Vamos, me dê o
celular, eu tiro para você.
Estendi minha mão e entreguei o celular para ele, me sentindo
estranha. Não era confortável que seu chefe tirasse uma foto sua,
ainda pior se fosse o chefe que você está começando a ter
sentimento por.
Apertei a pele do meu braço, tentando ficar parada para que
ele conseguisse tirar uma foto de modo que nós saíssemos logo
dali.
— Vamos, dê um sorriso… eu sei que você consegue, Isla. Eu vou
apenas tirar uma foto, você já me ajudou muito, me deixe ajudar um
pouco, ok?
Fechei os olhos e concordei com a cabeça. Fiz uma pose,
apoiando minhas mãos na estrutura do balcão e olhei para o lado,
evitando olhar para Connor, que estava em sua pose de fotógrafo,
ajoelhado, com o celular na mão e um leve sorriso no rosto.
— E pronto, quer ver se ficou boa? — questionou, se levantando e
entregou o celular para mim.
— Sim, vou olhar…
Abri a galeria e vi a foto que ele tinha tirado de mim, além dela,
tinha uma de Connor sorrindo. Virei para o lado, ele estava com os
braços cruzados e um sorriso sacana no rosto, parecendo feliz
demais com sua própria brincadeira.
— Gostou? — Dei uma risada baixa e me aproximei dele.
— Eu adorei, muito obrigada… eu vou guardar essa foto com muito
carinho.
Connor passou a mão por meu queixo e encarou meu rosto,
ainda com um grande sorriso em seus lábios. Meus olhos grudaram
em sua barba, e subiram para seus olhos escuros que não pareciam
com vontade de sair do meu rosto.
Minhas pernas tremeram e coloquei a mão na estrutura do
balcão para me dar suporte, enquanto ele parecia perdido em uma
inspeção. Borboletas começaram a voar em meu estômago e tentei
me afastar, temendo o que fosse acontecer.
— O que eu faço para te tirar da minha cabeça, Miss Sunshine? —
Connor passou o dedo por meus lábios e congelei, todo meu corpo
parecendo pegar fogo por ele. — Desde que eu te vi me olhando…
eu só consigo pensar em você! Eu não consigo acordar e ir dormir
sem pensar em sentir você… como eu faço para você sair da minha
cabeça? Me diz, Isla.
Fiquei em silêncio, sentindo cada palavra penetrar a barreira
que eu tinha tentado criar contra ele. Connor abaixou a cabeça para
mais perto do meu rosto e deu um beijo em minha bochecha,
arrastando sua boca para a minha orelha. Sua barba irritava meu
rosto de um jeito bom.
Ele respirou em minha pele e todas as minhas terminações
nervosas foram embora, voando descontroladamente dentro do meu
corpo. Agarrei a camisa cara do seu terno e dei um passo para
perto.
Sua boca voltou para perto da minha e soltei a respiração,
sentindo uma queimação em meus pulmões, como se eu estivesse
quase morrendo. Seus lábios cobriram os meus, sem que ele
precisasse pedir permissão para algo que já era dele.
Connor colocou as mãos na base da minha coluna, bem acima
da minha bunda e me puxou de encontro a ele, me dando suporte,
enquanto minhas pernas perdiam as funções.
Minha mão continuava no mesmo lugar, como se eu não
quisesse deixar que ele fugisse. Connor arrastou sua barba por meu
rosto, me fazendo cócegas, mas eu não tinha forças para rir,
enquanto eu sentia cada movimento que ele fazia diretamente em
minha boceta.
Abri meus lábios, permitindo que sua língua invadisse a minha
boca e me tomasse por completo. Parecendo que ainda tinha
espaço entre nós dois, Connor conseguiu me puxar para mais perto
dele. Sua mão desceu para minha perna e puxou para o lado de seu
corpo e eu gemi.
Ouvi um pigarro e me soltei de Connor, sentindo meus lábios
inchados. Connor entrou na minha frente e escondeu meu corpo do
engenheiro que estava parado na porta, parecendo querer olhar
diretamente para mim.
— Desculpa, não quis interromper, mas preciso que você veja algo
no andar de baixo.
Connor acenou e não virou para mim, apenas saiu.
Fiquei assistindo enquanto ele ia embora e fechei os olhos,
sentindo uma sensação de desespero crescendo em meu peito.
Uma sensação que eu sabia exatamente de onde vinha. Um medo
gigantesco de ser igual.
20
Connor

Isla estava quieta desde que saí do andar de cima. Ela tinha
ficado tão focada no que estava fazendo que não tive coragem de
perturbar, para tentar conversar sobre o que tinha acontecido,
mesmo que eu pensasse que não tinha muito o que conversar.
Saí procurando por ela, já que estava na hora de voltarmos
para o escritório. Eu sabia que as coisas podiam ficar estranhas.
Tinha visto a necessidade que ela sentira em se afastar de mim.
Eu quase matei Donald jogando-o da escada enquanto íamos
para o andar de baixo para ele tirar mais uma dúvida sobre o piso
que a cliente tinha escolhido para a casa. Queria bater a minha
própria cabeça na parede por ouvir mais uma vez sobre como ele
não sabia se estava certo o que eu já tinha confirmado três vezes.
Um dos homens que estavam medindo as paredes para
colocar o Boiserie me olhou e eu fiquei prestando atenção no
serviço. A cor daquele espaço seria um verde limão bonito que a
cliente tinha escolhido com Alex, pelo menos isso o escroto do meu
ex-funcionário tinha feito direito. O homem me deu um oi e antes
que virasse para trabalhar, perguntei:
— Você sabe para onde minha funcionária foi?
— A moça bonita? — O homem virou para mim e fechou a trena. —
Acho que foi por ali, faz algum tempo que ela passou por aqui.
Olhei para o lado de fora, onde ele tinha apontado e saí atrás
de Isla. Os barulhos de obra da casa incomodavam os meus
ouvidos, que já estavam desacostumados dessa bagunça.
Isla estava parada olhando para o mar de novo. Seu corpo
todo demonstrava que algo estava errado e, por isso, tive receio de
me aproximar. Seus braços e pernas estavam cruzados, e podia ver
de tempos em tempos que ela tremia – não sabia se com o vento ou
com o que estava sentindo.
Andei devagar até onde ela estava, tirando meu paletó preto e
jogando sobre seus ombros. Isla deu um longo suspiro e continuou
olhando para frente. Fiquei em silêncio ao seu lado, sentindo que
talvez fosse isso que ela precisava. Alguém para dividir o silêncio.
As ondas baixas corriam em direção ao início da praia e o
barulho parecia música para os meus ouvidos depois de toda a
confusão do lado de dentro da casa. Isla deu uma olhadela para
mim e se virou de novo para o mar.
— A gente precisa conversar — falou, puxando o paletó para mais
perto do seu corpo.
— Tudo bem… o que você quer falar, Isla?
— Senhor Evans… o que aconteceu lá dentro não pode se repetir.
— Virei para ela, enquanto ela continuava encarando o mar, como
se não encontrasse a coragem para me olhar. — Eu não… não
posso dizer que o senhor não é atraente, eu estaria mentindo…
também estaria mentindo se dissesse que não queria, eu queria,
mas… eu sei o que acontece a reputação de alguém que se
relaciona com alguém que não deveria, e eu sei das regras da
empresa.
— Isso é especificamente sobre as regras? Porque eu meio que sou
o dono de tudo, Isla, eu posso mudar processos contratuais em um
estalar de dedos.
Precisava saber em que tipo de terreno estava me metendo, e
saber o que eu podia fazer para mudar aquela situação, porque eu
precisava foder Isla. Era quase uma necessidade, mesmo que eu
precisasse demiti-la para isso.
— Não, não é somente pelo escritório, mas também por isso. Eu vi
como todos me olharam depois de saber que você demitiu Alex por
mim, e eu sempre vou ser grata por ter sido defendida, mas eu não
vou acabar com a minha reputação por um caso, e um caso que eu
sei que vai acabar assim que você me tiver dobrada sobre a mesa
do seu escritório.
A imagem se formou em minha cabeça, mas a afastei antes
que meu corpo tivesse alguma reação. Isla virou para o mar de
novo.
— E se for preciso… eu saio do projeto, senhor Evans. Eu sei que
tem pessoas boas e qualificadas para estarem ao seu lado nesse
momento. O Joe tem sido um ótimo professor, e eu posso voltar a
me dedicar inteiramente ao projeto de Portugal.
Franzi a testa em confusão. Ela tinha acabado de falar que
largaria o projeto por um beijo? Isla tirou o paletó e me entregou,
andando em direção ao carro. Fiquei parado, vendo enquanto ela se
afastava de mim.
Apertei o paletó em minhas mãos e olhei para dentro da casa,
onde eu podia ver alguns homens andando para dentro e para fora.
A frase “eu sei o que acontece a reputação de alguém que se
relaciona com alguém que não deveria” se repetiu em minha cabeça
e olhei para Isla que chutava a areia em seu caminho para o meu
carro.
Entrei dentro da casa e me despedi de todos que estavam lá
fazendo seu trabalho e fui atrás da minha funcionária. Quando
cheguei no carro, pronto para brigar por algo que eu nem sabia bem
o que era. Isla estava encostada, limpando lágrimas que
continuavam descendo, mesmo que ela limpasse.
Seus olhos redondos me encararam com espanto e ela virou
para o carro, limpando o rosto que começava a ficar vermelho. Parei
ao seu lado e toquei seu ombro. Isla deu um grande sorriso e me
olhou.
— Oi, Senhor Evans… pronto para ir embora?
— Isla, — Tentei encontrar as palavras certas para falar com ela,
sem que soasse apenas como se eu quisesse conquistá-la. — eu
sinto muito por você ter sofrido no passado. Prometo não repetir o
que aconteceu lá, inclusive, se você quiser, podemos esquecer que
aconteceu…
— Seria ótimo — implorou, limpando as lágrimas que não paravam
de escorrer. — Por favor, eu gosto muito de trabalhar para o senhor.
— Então, vamos fazer assim — Estendi o dedo mindinho e esperei
que ela fizesse o mesmo, Isla olhou para minha mão, espantada por
eu estar fazendo algo tão infantil e fez o mesmo gesto. —, eu gosto
de você, Isla, para além da atração sexual que eu não posso mentir
não sentir. Mas eu gosto de você e eu não costumo gostar muito
das pessoas, então, se você me permitir, eu quero ser seu amigo.
Meu filho te ama, e eu realmente posso ser um ótimo amigo, só não
pergunte para Grace sobre isso, ela mente.
Isla deu uma risada seca e me encarou, seus olhos
demonstravam uma vulnerabilidade que quase me fez pegá-la no
colo e impedir que qualquer coisa a machucasse.
— Então, se você me deixar, Isla, eu vou ser o melhor amigo que
você pode pedir… o que você me diz?
Isla olhou para o lado e mordeu os lábios, lábios que eu estava
beijando há meia hora, dando meu sangue para tomar aquela
mulher. Balancei a cabeça e voltei a encará-la.
— Você pode ser meu amigo, Connor.
— Ótimo, agora você tem que confirmar a nossa promessa, vai… o
Elijah me ensinou tudo sobre promessas de dedinho.
Quando nossos dedos se conectaram, Isla deu um sorriso
brilhante e eu senti aquela eletricidade passando por meu corpo. Eu
estava muito fodido.
21
Isla

Coloquei a segunda leva de roupas dentro da máquina de


lavar e fechei a tampa, encarando enquanto a água começava a
encher. Eu estava escondida em minha casa desde o beijo. Parecia
que eu ainda podia sentir os dedos de Connor em mim, sua boca na
minha e, por isso, eu sabia que não podia encará-lo tão cedo.
Era como se seu toque estivesse marcado em mim. Minha
mente continuava dizendo que aquilo era uma peça que ele tinha
pregado em mim, quer dizer, eu tinha ouvido ele dizendo que não
sentia atração por mim. Talvez fosse um jeito de me punir, talvez ele
estivesse tentando me convencer de alguma coisa que eu não
entendia.
Mas aí, aí eu pensava em como ele tinha me segurado, nas
suas mãos no meu corpo, no beijo doce e eu ficava ainda mais
confusa. Passei os dedos por meus lábios, sentindo aquela
sensação de frio na barriga e balancei a cabeça, banindo aquelas
imagens da minha mente.
Liguei para Joe no dia seguinte e disse que estava com uma
gripe tão forte que não poderia ir trabalhar. Claire tinha me ligado
mais vezes do que eu podia contar e ela sabia que, quando eu
ficava em silêncio, algo tinha acontecido.
Encarei o teto, vendo as pequenas rachaduras que iam se
formando com o passar dos anos. Peguei o telefone, enquanto a
roupa começava a bater. Eu precisava fazer qualquer coisa para
tirar Connor – não! – o senhor Evans da minha cabeça. Era isso que
eu precisava fazer.
Ouvi o som da voz da minha mãe e meu coração pareceu se
acalmar um pouco. Fazia tempo que não nos falávamos por
telefone. Como qualquer jovem moderno, eu odiava aquilo, mas
hoje eu sentia que precisava de um acalento que só ela podia
trazer.
— Anak — Criança. O jeito que mesmo depois de anos longe das
Filipinas, minha mãe nunca parou de me chamar em sua língua
aquecia meu coração. —, está tudo bem? Faz tempo que você não
me liga.
— Oi, mumshie… está sim, só fiquei com um pouco de saudade de
você. Como você está? Espero que não trabalhando muito, o seu
ombro nem sarou direito.
Há menos de um mês, mamãe teve uma luxação ajudando a
tirar um homem da maca que ele estava. Acontece que ele era
muito mais pesado que ela, então seu ombro acabou machucado.
Mamãe estalou a língua e eu quase podia ver o seu rosto se
contorcendo para mim, dei um sorriso e cocei a cabeça por culpa da
familiaridade do gesto. Ela vivia fazendo aquilo para mim quando eu
era uma adolescente, eu até tinha memórias daquilo enquanto ainda
era apenas uma criança.
— Claro que eu já estou trabalhando, mas ninguém nesse hospital
me deixa fazer nada, parece que eu sou uma paciente deles.
— Você é, mamãe, foi atendida por eles. — Escutei sua risada e
meu sorriso cresceu.
— Você é terrível, Isla… eu devia ter te deixado em alguma cidade
nas Filipinas, aí eu não teria que lidar com uma filha que acha que é
minha mãe. — Revirei os olhos, ela sempre dizia isso quando eu
começava a perturbá-la.
Minha mãe era a pessoa mais amorosa que existia na face da
terra. Minha avó, quando ainda era viva, dizia que se não pudesse
me levar para a Escócia, minha mãe teria desistido no mesmo
segundo, de modo que aquelas palavras não me afetavam.
— Quando você vai vir me ver? Eu estou morrendo de saudade de
você. Minha filha me abandonou, sabe? Ela não liga mais para a
mãe dela que atravessou o mundo para dar as melhores chances
para ela.
Ouvi enquanto minha mãe reclamava com algum dos seus
amigos de plantão sobre mim. Ela fazia muito aquilo, pelo menos na
minha presença. Quando visitei o hospital, eles me avisaram sobre
como ela falava sem parar de mim, como eu era seu assunto
preferido.
Batidas na porta me fizeram afastar o celular da orelha e andei
até a porta, tentando ver pelo olho mágico.
— Mãe, eu preciso desligar, acho que a Claire quer pregar uma
peça em mim. Podemos conversar depois?
— Espero que você me ligue mesmo, Isla Salazar!
— Tudo bem, Suzana Salazar.
Desliguei o telefone, encarando a porta. Se fosse Claire, eu a
jogaria da janela. Respirei fundo e nem me preocupei em me
arrumar, eu sabia que Claire já tinha me visto pior do que aquilo.
Olhei para os meus pés, as meias de florezinhas furadas no canto.
— Claire, se for você…. eu juro.
Abri a porta e encarei um pequeno dinossauro rugindo parado
em frente à minha porta. Ele pulava de um pé no outro, e me
preocupei que escorregasse e caísse. Olhei para trás dele,
procurando por Connor.
— Moça! — Elijah gritou, grudando em minhas pernas e me
empurrando para dentro de casa.
Peguei a pequena criança vestida de dinossauro e o levantei
no meu colo. Meu coração se encheu de carinho, enquanto seus
bracinhos me circulavam. A cabeça do dinossauro batia no meu
pescoço e eu tinha certeza de que não era nada confortável para
ele, mas Elijah parecia tão feliz.
Girei com ele em meu colo e o pequeno levantou os braços
para cima, gritando de alegria. Sua risada invadiu minha casa,
colorindo todo o espaço que estava nublado desde que eu resolvi
me esconder.
Parei, depois de sentir o mundo girando junto comigo. Connor
estava com os braços cruzados, o ombro encostado no batente da
porta, seus olhos em nós. Fiquei encarando seus olhos e lembrando
de tudo que tinha acontecido naquela praia.
Connor sorriu para mim, ainda parado no mesmo lugar. Elijah
colocou a mão em meu rosto e virou para ele, cortando qualquer
contato visual que eu estivesse tendo com seu pai. O que ele não
tinha conseguido era parar o meu coração de bater tão rápido contra
meu peito.
— Eu sou um dinossauro, moça — Elijah gritou, sua voz não
escondendo o contentamento com aquela peça de fantasia.
— Você está lindo, Elijah, parece um verdadeiro dinossauro! — falei,
fazendo cócegas em sua barriga, enquanto ele se jogava para trás
rindo.
Olhei para Connor e ele ainda não tinha se mexido, mas o
sorriso que tinha no rosto cresceu de tamanho. Seus olhos se
encontraram com os meus e parei de respirar ao perceber que
aquele olhar cheio de calor era para mim.
— Desculpa, eu não queria invadir, mas o Elijah queria muito
mostrar a roupa nova para a moça… — Tentei desviar os olhos dele,
mas parecia ter sido hipnotizada por sua voz rouca.
Elijah chamou minha atenção e disse, enquanto olhava para a
criança:
— Vocês não incomodam… — Voltei a olhar para Connor e meu
coração começou a bater mais rápido. — Quer entrar?
Connor ficou um tempo em silêncio, mas então, desencostou
da porta. Suas mãos desamassaram o paletó escuro e ele deu um
passo para dentro da casa, um passo para perto de mim.
Eu tinha certeza… eu não sairia viva daquilo.
22
Connor

Eu sabia, aquilo tinha sido muito baixo – baixo até para mim.
Usar meu filho para ver a garota que estava fugindo de mim. Eu
deveria ser mais maduro que aquilo. Agora estava sentado à mesa
de café da manhã de Isla, enquanto ela e Elijah estavam sentados
na cama conversando.
Comecei a reparar na decoração do lugar, sendo a segunda
vez que eu estava ali. Podia ouvir o som de uma máquina de lavar
batendo alguma roupa. A parede do quarto/cozinha/sala de estar
era de um verde musgo que descascava em alguns lugares.
A risada de Isla e Elijah me chamou atenção e encarei os dois.
O armário da cozinha era preto, com uma bancada escura e cheia
de copos com desenhos de frutas, ao lado da caneca de Guerra nas
Estrelas que eu já tinha visto da última vez.
— Claro que girafas existem, Elijah!
— Não existe não — meu filho respondeu cruzando os braços, a
fantasia de dinossauro impedindo que ele fizesse aquilo direito.
— Existe e tem nos zoológicos, eu vou te levar em um, vamos… se
prepara.
— Eu posso, papai?
Olhei para eles de novo, os dois me olhavam com olhos
gigantes, implorando que eu permitisse uma visita ao zoológico.
— Não, hoje não podemos, Elijah… Outro dia? — Elijah pareceu
decepcionado, mas foi o olhar de Isla que me machucou. — Ele
precisa estar em casa cedo e eu sei que, se formos ao zoológico,
não sairemos no horário.
Os dois concordaram com a cabeça, mas voltaram a me
ignorar e eu continuei inspecionando o lugar. Era péssimo. Na
primeira vez que estive aqui, não tive tempo de ver nada além de se
Isla sobreviveria a bebedeira.
— Vem, vou te mostrar, mas você precisa se comportar.
Elijah deu um pulo da cama e eu quase consegui sentir o chão
tremer.
— Aonde vocês vão?
— Eu vou mostrar ao Elijah — disse, olhando duramente para mim,
como se tivesse percebido minha vistoria ao local — porque eu
aluguei esse lugar.
Levantei da cadeira, pronto para seguir os dois para onde quer
que fossem. O longo olhar que Isla me deu me fez parar, sem saber
se devia ou não seguir os dois.
— Vem, papai! — Elijah me estendeu a mão e percebi que Isla tinha
parado de sorrir.
Eu amava meu filho. Muito. Dei a mão para ele e andei até
onde os dois estavam. Não era muito longe de onde eu mesmo
estava, porque o lugar era minúsculo. Isla andou nos direcionando
até o que parecia ser um closet. A porta foi aberta e revelou uma
escada de incêndio.
Elijah deu pequenos pulos de animação e seguiu Isla. Tentei
segurá-lo, prevenindo uma queda que aconteceria naqueles
degraus pequenos que quase não cabia meu pé, mas Elijah foi mais
rápido, correndo com sua roupa inflável de dinossauro.
Isla estava na ponta da escada esperando por ele e eu podia
ver a luz do sol no final da escada, como se estivesse me
mostrando o caminho a seguir. Quando terminei de subir, fiquei
impressionado com o lugar.
Era… era lindo.
Elijah começou a correr no lugar, os braços abertos. Eu me
impedi de segurá-lo no lugar, com medo de que ele derrubasse algo
e estragasse o que Isla levou tempo fazendo. O espaço era
separado para um jardim, mas também era mais do que isso.
Isla tinha criado um ambiente de conforto. As plantas estavam
todas bem colocadas impedindo que alguém se acidentasse ao
debruçar na borda. No meio do pátio, tinha uma pequena lareira
elétrica, rodeada por pequenas almofadas. Era aconchegante, e
demonstrava o cuidado que Isla tinha com sua casa.
— Foi por causa daqui que eu aluguei. É claro que tinha alguns
lugares mais baratos, — comentou, sem olhar diretamente para
mim, mas eu sabia que era para mim que ela falava. —, mas
nenhum tinha esse espaço para criar algo… Sei que não é perfeito,
mas… é meu, por enquanto.
— Ficou lindo, Isla, você tem muito cuidado com as suas coisas.
Comecei a me sentir esnobe. Eu sabia que ela não era rica,
estava julgando sua casa como se não tivesse morado em lugares
ruins quando era uma criança. Como se minha mãe e a mãe de
Grace não tivessem dividido uma casa com apenas um quarto
quando éramos crianças, apenas porque duas pessoas pagando
contas era melhor que viver sem nada. Senti a necessidade de pedir
perdão, mas Elijah saiu correndo de trás de uma planta e gritou em
nossa frente.
— Moça, me pega!
Isla deu um gritinho e saiu correndo atrás do meu filho. Meu
coração deu um salto, vendo como os dois se conectavam, como
pareciam se gostar. Cruzei os braços e, sem conseguir desgrudar os
olhos deles, continuei encarando enquanto corriam de um lado para
o outro.
Elijah se jogou no colo de Isla e ela o ergueu, girando o corpo
para que ele pudesse aproveitar o vento que fazia ali em cima.
Elijah correu a mão pelas correntes que ligavam as luminárias e riu
alto.
Senti uma pontada forte em meu coração e desviei os olhos
deles. A cidade chamava por mim, mas não gritava tão alto quanto
aqueles dois. Peguei o meu celular e tirei uma foto deles, momentos
como aquele deveriam ser imortalizados.
Não tinha nada a ver com o que eu estava começando a sentir
por Isla. Era apenas um comichão, mas eu sabia que era algo. Eu
tinha certeza disso.
Andei até estar longe deles, coloquei a mão no bolso da calça
e fiquei encarando o topo de Edimburgo, vendo o labirinto das ruas
que se emaranhavam. Meu pensamento correu de volta para a
praia, para o beijo. Eu tinha prometido que seria amigo de Isla, mas
eu não sabia se podia, realmente, ser apenas isso.
Sua risada me chamou atenção e virei para Elijah que estava
enchendo o rosto de Isla de beijos com a cabeça de dinossauro se
esfregando e a fazendo gargalhar. Meu corpo inteiro se arrepiou e
nossos olhos se conectaram, um doce sorriso surgiu em seu rosto e
senti aquele gesto por todo o corpo.
Isla era luz: Brilhante ao ponto de quase me cegar, mas
impossível de desviar o olhar.
23
Isla

Elijah tinha, finalmente, se cansado e agora estávamos os dois


deitados no sofá que eu tinha perto da lareira. Eu fazia carinho em
sua cabeça, agora livre da máscara de dinossauro. Seu cabelo
espesso e escuro deslizava facilmente entre meus dedos.
Seu rosto estava completamente vermelho pelo tempo
correndo. Ficamos em silêncio observando os pássaros que voavam
sobre nossas cabeças. Connor tinha saído para procurar algum
lugar aberto com uma comida gostosa para nós três, ainda que eu
dissesse que podia fazer algo.
— Moça, posso morar aqui? — perguntou e eu dei uma leve risada.
— Acho que seu pai não vai gostar disso, mocinho…
— Ele vai sim, a mamãe Grace mora em outra casa, o papai Connor
em outra, aí eu posso morar com você também. Eles gostam de me
dividir — falou, sem qualquer sinal de incômodo.
Eu tinha certeza de que eles amavam dividir. Entre eles, é
claro. Conseguia ver o tipo de amor incondicional que eles tinham
por Elijah.
Grace estava sempre no escritório com o pequeno, por isso
pensei que fossem casados por tanto tempo. Connor cercava o
garoto de todos os lados, com um medo gigante de falhar. Eu sabia,
contudo, que se perguntasse para qualquer pai ou mãe, falhar era o
que eles fazem. Não se pode fugir da falha.
Olhei para o céu que começava a escurecer e pensei em como
Connor havia dito que ele devia estar em casa cedo.
— Você gosta das estrelas, Elijah? — Ele me olhou e depois voltou
seus olhos para o céu.
— Não — a criança fechou a cara e tive que me segurar para não
rir, era adorável. —, uma pedra grandona caiu do céu e matou meus
amigos dinossauros.
— Mas as estrelas são bem legais, elas são minhas amigas, tenho
certeza de que seus amigos dinossauros também gostavam delas.
— Me desvencilhei dele, afastei a coberta, fiquei de pé e estendi a
mão para ele. — Vem aqui, Elijah, vou te mostrar uma coisa muito
legal.
A noite começava finalmente a assentar. Elijah me deu a mão
e senti o carinho que a criança nutria por mim. Sua pequena mão
apertou a minha e andei com ele até o lado mais afastado do
terraço.
Meu telescópio estava ajeitado de modo que eu conseguisse
ver através dos maiores prédios que ficavam perto do meu terraço.
Coloquei Elijah parado de frente para o objeto:
— Sabe, Elijah, quando eu era bem pequenininha, menor que você,
eu queria ser uma estrela. A mais brilhante de todo o céu. Eu era
muito apaixonada pelo céu. Um dia, minha mãe comprou um desses
— Apontei para o objeto. — É um telescópio, e dá para ver o céu
bem de perto, como se estivéssemos lá no meio de todas as
estrelas. Você quer ver?
Elijah me olhou com uma certa curiosidade que só crianças
podiam ter. Ele concordou com a cabeça e destampei o buraco para
que ele pudesse olhar para o céu. Eu sabia muito bem como aquilo
poderia ser incrível.
— Moça! — gritou. — As estrelas!
Elijah esticou as mãos para frente, como se pudesse tocar os
astros. Sorri, vendo a cena. Como podia uma criança roubar seu
coração tão rápido? Ele tinha se infiltrado no meu assim que eu
brinquei com ele no escritório de Connor e agora estava ali comigo
como se fizesse parte dos meus dias.
— É lindo, não é? — Seu sorriso mostrava que ele achava mais do
que lindo. Eu sabia como era se sentir assim.
Ouvi passos atrás de mim e virei para ver se Connor já tinha
chegado com a comida. Os pacotes de lanche em suas mãos
mostraram porque ele tinha demorado tanto.
Coloquei o dedo na boca, pedindo silêncio, mostrando para ele
que Elijah estava vivendo uma grande experiência. Connor largou
os pacotes em uma mesinha e veio para ao meu lado.
Seu corpo alto ao lado do meu me fez dar um passo para
longe dele, mas Connor se aproximou de novo, o braço em meus
ombros me puxando de encontro ao seu corpo.
— Somos amigos, não somos? — murmurou em meus ouvidos, me
fazendo sentir sua voz grossa por todo meu corpo. — Então, me
deixa abraçar minha amiga enquanto ela apresenta o céu para o
meu filho.
Elijah deu um pulo, parecendo ouvir seu pai. Fiquei em
silêncio, aproveitando aquele momento ao lado deles. Meu corpo
conseguiu finalmente relaxar ao lado de Connor, mas meu coração
não parava de bater rápido.
Eu podia sentir que ele estava emocionado e, quando virei
para Connor, seus olhos demonstraram exatamente isso. Sua
atenção estava em mim, sua mão fazia uma leve carícia em minhas
costas que eu sentia em todas as minhas terminações nervosas. Eu
não sabia o que estava fazendo ali, mas ainda parecia certo.
— Papai! — Me soltei de Connor ao ouvir a voz do pequeno e Elijah
se jogou em suas pernas. — Vem ver o céu!
Me afastei e deixei que os dois tentassem dividir o meu
telescópio velho para ver as estrelas, o mesmo que eu comprara na
última visita ao Duncan com Connor. Cruzei os braços, voltando a
sentar no lugar que estava antes e ouvi meu estômago roncar de
fome. Fazia horas desde que eu tinha comido alguma coisa.
Connor levantou a cabeça e sorriu para mim.
— Elijah, o que acha de a gente dar alguma coisa para a Isla
comer? E você também, hein… o que é isso? — Connor, que estava
ajoelhado, aproximou a cabeça da barriga da criança e franziu a
testa, demonstrando uma preocupação fingida. — Tem um mini
dinossauro vivendo na sua barriga, filho?
Elijah cobriu a boca e correu para perto da sacola de lanches.
Levantei assim que Connor levantou do chão, caminhando para
perto de mim. Sua mão foi para a base da minha coluna e andamos
em direção ao local que Elijah estava.
Connor esperou que eu sentasse e se sentou entre o filho e
eu. Pegando a sacola maior, ele começou a distribuir o que tinha
trazido, e era muita comida. Diversos pacotes de lanche, com sucos
e refrigerantes de todos os tipos. Quando o olhei, franzindo a testa,
Connor deu de ombros e disse:
— Eu não sabia do que você gostava, então, trouxe um pouco de
cada coisa… — Me segurei para não rir. — Filho, cuidado para não
sujar as almofadas da Isla, lembra… comer como um mocinho, ok?
— Sim, papai — respondeu, revirando os olhos.
Encarei Connor e não conseguia acreditar que aquele era o
mesmo chefe que eu tinha no escritório, não podia ser. Connor era
turrão e estava sempre pronto para fazer alguém chorar na
empresa, mas... perto de Elijah... ele era simplesmente a pessoa
mais doce que existia. Bom, isso quando não sentia que precisava
proteger o filho até da sombra… nesses casos, ele era um leão.
Tentava não pensar em como ele também me tratava como se
fosse alguém diferente para ele, mas, como ele havia me dito… ele
gostava de mim, e eu tinha certeza de que Connor não falava aquilo
para qualquer um.
24
Connor

Isla mexeu no cabelo, afastando os fios que o vento trazia de


novo para sua fronte, enquanto Elijah contava sobre seus
amiguinhos da escola e sobre como ele adorava a professora que
eu detestava – a mulher vivia dando em cima de mim.
Era bom de um jeito quase doentio assistir aos dois se darem
tão bem. Nunca tive vontade de apresentar ninguém para Elijah,
mas Isla… Isla arrombara a porta. Eu tentei fechá-la algumas vezes,
mas ela continuava voltando e atormentando meus sonhos.
— Quando eu era criança, eu amava a praia, Elijah. Era meu lugar
preferido, sabia? Minha mãe sempre me levava lá quando podia…
você gosta de ir à praia?
— Eu nunca fui… — respondeu, fazendo biquinho.
— Como assim, Connor? — questionou, virando para mim, como se
tivesse acabado de descobrir que eu nunca dei comida para a
criança.
— Eu não gosto da praia. As águas daqui são frias e estão sempre
lotadas no verão… não acho que seja um bom lugar para Elijah —
expliquei.
Não ia contar sobre a vez que minha mãe e a mãe de Grace
nos levaram à praia e eu acabei me perdendo. Ainda sentia certo
desespero sempre que lembrava do que havia acontecido, da
sensação de que nunca seria encontrado, de como eu chorei sem
conseguir encontrar minha mãe.
— Mas e a Grace? Por que ela nunca levou o Elijah? — Senti uma
pontada na cabeça e virei para o outro lado.
— A Grace também não gosta da praia.
Tentei não deixar espaço para discussões, mas Isla tinha uma
coisa sobre não entender sinais.
— Vamos fazer assim, Elijah… um dia, eu peço permissão para seu
pai e para sua mãe para te levar à praia, o que acha?
— Sim! — Elijah gritou, se levantando e correndo em volta de onde
estávamos.
— Não, você não vai… — Isla virou para mim, me encarando como
se eu fosse louco. — Isso não está aberto a discussões.
Elijah parou de correr e me olhou com aqueles olhos pidões
dele, mas esse não era um assunto em que eu aceitaria opiniões.
Meu filho se sentou e deu uma grande mordida no lanche,
parecendo decepcionado demais comigo.
— Mas a gente pode ir ao zoológico, não é, papai? A moça pode me
levar no zoológico?
— Sim — respondi, olhando dentro dos olhos castanhos de Isla. —,
ela pode sim te levar para o zoológico, mas só se ela prometer me
levar junto com vocês, pode ser?
— Um segundo…
Isla se abaixou ao lado de Elijah e cochichou no ouvido do
meu filho, que deu uma risadinha. Os dois se olharam e
concordaram com a cabeça, parecendo compactuar contra mim.
Os dois viraram para mim, mas parecia ser Isla a porta-voz, já
que Elijah logo virou para ela, esperando pelo comunicado.
— Nós decidimos… depois de um intenso debate... que, sim,
Connor, você pode ir com a gente ao zoológico…, mas só se
prometer que vai se comportar e comer todos os vegetais no seu
prato.
Sorri para ela e concordei com a cabeça.
— Eu vou contar se você mentir, papai.
— Ótimo, é um complô contra mim.
Elijah se jogou para trás, rindo, enquanto Isla dava mais uma
mordida no lanche que tinha escolhido para comer. Senti meu
celular tremendo e peguei do bolso.
— Um momento.
Me levantei, andando até estar longe dos dois, impedindo que
ouvissem os gritos de Grace, porque eu sabia que era isso que ia
acontecer.
— Connor Evans! Onde, caralhos, você está com o meu filho? Esse
final de semana é meu!
Afastei o celular do ouvido, enquanto Grace continuava
gritando em minha orelha sobre como ela tinha combinado de jantar
com ao Elijah e a Francia, e que ele estava animado de conhecer a
nova amiga da mamãe,já que Grace não tinha dito que era sua
namorada.
— Eu… eu estou na casa da Isla… — falei, quando Grace
finalmente parou de gritar como uma louca.
— Oh. oh. Casa da Isla? A sua funcionária? Essa Isla? A Isla que te
fez vestir uma roupa de dinossauro pelo seu filho? Essa Isla? A Isla
que você beijou? Essa Isla??? — A voz de Grace continuava
subindo de tom, enquanto ela falava cada vez mais rápido,
mostrando o quão animada ela estava.
— Sim, Grace, mas impedindo que você chegue a menos de 20
metros de Isla, estou pegando nosso filho e levando direto ao seu
encontro. Por favor, me envie o endereço e estarei a caminho.
— Ah, mas por que você tem que ser tão chato? Eu ia adorar
conversar com a sua nova namoradinha…
— Endereço, Grace!
— Tá bom, Grinch, estou mandando…
Desliguei o telefone e andei até onde Elijah conversava com
Isla. Ela prestava atenção como se não tivesse nada para fazer
além de ouvi-lo. Me abaixei na altura dos dois e olhei para Elijah.
— Filho, temos que ir… você vai sair com a sua mãe, lembra?
— Não quero, eu vou morar com a moça…
Isla olhou para mim em desespero e eu quase ri.
— Lembra, campeão, a gente vai ao zoológico com a Isla, não é
como se ela pudesse fugir da gente… e a sua mãe quer muito te
apresentar uma pessoa especial.
Elijah cruzou os braços com um beicinho gigante e me
encarou, como se eu fosse o culpado pela separação que ele ia
sofrer. Isla se aproximou dele e deu um beijo em seu rosto, o que
fez com que meu filho ficasse com as bochechas vermelhas.
— Prometo que, na próxima vez que a gente se ver, eu te dou um
presente muito lindo. Que tal ir com o seu papai agora e... você
sabe… ficar bem de olho se ele está comendo todos os vegetais?
Elijah a encarou e concordou com a cabeça, uma grossa
lágrima escorrendo pelo seu rosto. Peguei meu filho no colo e Isla
nos direcionou até a escada. Quando entramos em sua casa, a luz
do dia tinha ido embora por completo, então, ela acendeu a luz para
encontrar a porta.
Descemos os três em direção à pequena conveniência que
tinha ali e saímos em direção à rua que estava completamente
escura. Não parecia certo abandoná-la naquele lugar.
— Vamos marcar o zoológico, ok? — falou, dando a mão para
Elijah, que estava escondido em meu pescoço.
Isla se aproximou de meu filho e deu um beijo em seu rosto. O
cheiro de seu perfume de mamão invadiu minhas narinas e fiquei
olhando para ela enquanto fazia carinho em Elijah.
Seus olhos se conectaram com os meus e eu vi um brilho
diferente ali, um brilho que eu sabia refletir nos meus, porque ela era
o significado de encantamento.
25
Isla

Mais uma vez, mais uma vez, eu estava no maldito pub perto
do escritório, dessa vez arrastada pela nova funcionária, Jessie. Ela
era legal, viajada, tudo que eu não era, e isso fazia com que eu me
sentisse pequena.
Joe me entregou um refrigerante e sentou perto de mim. É, ele
também tinha me arrastado para o pub, por algum motivo, eu era a
nova atração da empresa e eu desconfiava que isso tinha a ver com
o interesse totalmente novo de Connor.
— Você não bebe mesmo? — Jessie perguntou, bebericando mais
uma dose de uma bebida colorida que ela tinha pedido.
— Não, nem um pouco. Minha mãe me botou todo tipo de medo
quando eu era adolescente e, da última vez que tentei, fiquei tão
bêbada que tive que ser salva.
— De alguém? — Joe se ajeitou na cadeira esperando pela
resposta.
— Sim. — Fiz uma pausa dramática — De mim. Acabei com o nariz
machucado… nada legal. — Toquei o local que ficou dolorido por
dias e lembrei da imagem de Connor.
Aquilo acontecia mais do que eu queria. Eu mentiria para
qualquer um que perguntasse, mas depois de noites seguidas
sonhando com ele, eu tive que fazer algo… eu precisava afastar
aquela imagem e atração para longe de mim.
Acontece que não tinha ajudado em nada, pelo contrário, me
tocar pensando nele. Esse tinha sido o pior erro que eu havia
cometido. Senti meu rosto esquentar e virei para a porta, como se
estivesse esperando por alguém.
— Eu sempre bebo, é quase um hobby — Jessie comentou rindo,
apertando seu black power que parecia maior do que quando nos
conhecemos. — Meus pais não foram tão bons quanto a sua mãe,
eu fui bem mimada na adolescência… eles não deviam ter feito
isso.
Dei uma risada e comecei a imaginar o que devia acontecer
com uma garota que é mimada na adolescência e pode fazer tudo o
que quer; uma realidade completamente diferente da minha.
Alguém apareceu, puxando Jessie para uma dança. Sobramos
Joe e na mesa. Ergui meu copo de refrigerante para ele e ele
brindou com a cerveja preta que bebia.
— Quer dançar, Isla? — neguei com a cabeça.
— Eu tenho dois pés esquerdos, Joe, você não vai querer dançar
comigo. Te juro. Nunca faria isso na frente das pessoas…
— É que você não para de balançar na cadeira...
— É só uma sensação que eu esqueci alguma coisa... Não sei o
que, mas ela não vai embora...
— Qualquer coisa nós podemos voltar ao escritório… — Joe
pareceu se lembrar de algo e balançou a cabeça. — Não, quer
dizer, você está com o celular em cima da mesa! A chave está na
bolsa? Se sim, não precisamos voltar hoje, com certeza não é nada
importante.
Parei de olhar dentro da bolsa, estranhando o modo como Joe
mudou completamente o tom de sua voz, como se algo pudesse
estar acontecendo na empresa.
Encarei seu rosto.
De repente, a realização caiu sobre mim. Connor. Ele devia ter
levado alguém para a empresa. Me ajeitei na cadeira, sentindo um
comichão em meu corpo. Aquilo estava errado, quer dizer… ele…
Ele não é nada além de seu amigo, Isla, você deixou isso bem
claro.
— Sim… eu… — Voltei a procurar na bolsa e minha chave havia, de
fato, sumido. Eu passaria pelo constrangimento de pegar Connor
transando com alguém mais uma vez, e dessa vez seria pior. — Eu
preciso voltar — admiti —, acho que esqueci minha chave no
escritório.
Joe olhou para os dois lados e suspirou profundamente.
Quando se levantou, pegou o celular, parecendo enviar uma
mensagem para alguém.
— Vamos, eu te acompanho e depois te levo até o ponto de ônibus.
Concordei com a cabeça e peguei minha bolsa, apertando-a
de encontro ao meu corpo como se ela pudesse me proteger do que
quer que eu fosse encontrar.
— Você tem certeza de que esqueceu a chave? Não tem uma
reserva? Eu sempre deixo uma perto da porta da minha casa ou
com a vizinha da frente, sabe, apenas porque tenho preguiça de
voltar para o escritório.
Joe falava rápido demais, e como um papagaio, denunciando
seu medo do que poderíamos encontrar lá. Não perdi tempo
tentando respondê-lo. Ele logo engatou em me contar como a
vizinha era uma querida e os dois tinham combinado de deixarem
chaves reservas, o que ajudava e muito, porque eram esquecidos.
— Eu não tenho muitos vizinhos e a única pessoa que poderia fazer
isso me dá um pouco de medo, por isso, eu coloco aquelas
proteções na porta, impedindo que as pessoas abram só com a
chave da porta.
— Não se sente segura na sua casa? — Joe questionou, enquanto
virávamos a rua em direção à escada que levava à rua do
escritório.
— Me sinto, só… não sei, não consigo confiar muito nas pessoas,
sabe?
— Sei, sei sim.
Quando paramos em frente à porta que levava em direção as
escadas, eu quase senti vontade de pedir para Joe seguir sem mim.
Quer dizer, eu não queria ver o objeto dos meus desejos transando
de novo sobre uma mesa com uma garota qualquer que era muito
mais bonita do que eu em todos os aspectos.
— Quer ficar aqui? — Joe perguntou. — É só me dizer como é a
chave da sua casa.
Aquilo seria ótimo, eu poderia evitar ver Connor com alguém.
Aliás, Joe também parecia muito interessado em manter essa parte
em segredo, já que estava praticamente me expulsando do
escritório.
Mas, se eu tinha medo de ver aquela cena de novo, eu tinha
muito mais de ver qualquer espírito que vagava por Edimburgo
durante a noite.
— Não, tudo bem, eu vou junto… vai ser rápido, né?
O escritório estava todo apagado, exceto pela sala de Connor
que estava com a porta fechada. Meu coração gelou. Aquilo podia
significar muitas coisas, não é? Quer dizer, ele podia estar
trabalhando.
Mas quem trabalharia naquele horário? Principalmente se
fosse um chefe.
Chave. Eu estava aqui para procurar a minha chave, e não
ficar preocupada sobre a vida sexual do meu chefe. Alguém que
começou a ser meu amigo há algumas semanas.
Escutei um gemido e, junto com ele, consegui sentir uma
sensação de angústia crescendo em meu peito. Como podia doer
tanto algo que eu nem sabia que me machucaria tanto?
Levantei os olhos em direção à porta, mas Joe entrou na
minha frente, como se tivesse escutado o mesmo que eu. Ele não
sabia que aquilo me matava por dentro.
A porta foi aberta de supetão e tampei meus olhos, com medo
do que eu fosse ver.
— Joe? Isla? O que vocês estão fazendo aqui?
A voz de Connor parecia um trovão e eu instintivamente abri
os olhos, apenas pelo susto. Eu sabia que me arrependeria.
26
Connor

Isla estava parada me encarando, seu rosto parecia uma


confusão de sentimentos. Chacoalhei minha mão, que eu tinha
acabado de prender na porta da mesa do escritório, tentando
guardar os malditos papéis que eu tive que ficar até tarde lendo.
— Desculpa, Connor, nós não íamos demorar… — Joe entrou de
novo na frente de Isla, me impedindo de vê-la.
Dei uns passos para frente, mas ainda estava longe demais.
Meu dedo latejava e eu tentava combater o desejo de chorar de dor.
Quando finalmente parei de frente para Joe, empurrei seu corpo
com a mão que não estava doendo e encarei Isla.
Eu podia ver que seus olhos transpareciam uma dor que eu
desconhecia. Ignorei meu dedo e passei a mão por seu rosto.
— Isla, está tudo bem? — Joe tentou falar, mas apenas levantei a
mão para ele. — O que aconteceu? Por que você está tão tarde no
escritório?
— Ela perdeu a chave, Connor. Nós só vamos encontrar a chave
dela e depois vou com ela até o ponto, pode ficar tranquilo. —
Lancei um olhar para Joe, ciente que meus olhos brilhavam com a
raiva que eu agora sentia.
— Joe, eu achei que estava falando com a Isla… ou o gato comeu a
língua dela e agora ela não fala mais?
Joe levantou as mãos e deu um passo para trás.
— Isla… o que foi?
Ela falou baixo para que apenas eu pudesse ouvir, sua voz
ainda parecia triste.
— Eu só vim pegar a minha chave, eu acho…
Não aguentei mais a sensação de que meu dedo estava sendo
destroçado e gemi, pegando minha mão e apertando. Aquilo
pareceu apagar a tristeza do rosto de Isla, que tomou minha mão,
olhando para o machucado.
— Você se machucou?
— A maldita gaveta da mesa da minha sala. Eu prendi o dedo,
estava vindo molhar para ver se diminuía a dor quando encontrei
vocês.
— Então, você…
— O quê? — questionei, sem me importar se Joe estava por perto
ou não.
— Não… não estava com ninguém na sua sala?
Os olhos de Isla se afastaram de meu rosto, mas eu quase
sentia vontade de puxá-la para perto de mim e sentir seu corpo de
encontro ao meu, porque eu sabia que ela tinha sentido ciúmes.
Aquilo fez algo pelo meu ego que eu não conseguia explicar.
Me aproximei dela e fiquei na altura de seu ouvido. Eu estava
pouco me fodendo para Joe que estava por perto. Só conseguia
pensar naquele olhar em seu rosto, como se ela quisesse que eu
estivesse gemendo por ela.
Porra.
Senti meu pau ficando duro e disse:
— Você sabia, Isla… que as pessoas dizem que um gemido de dor
e o gemido de tesão são muito parecidos? Mas não se preocupe…
na próxima vez que eu for gemer, vai ser por você.
Vi o corpo de Isla tremer, e me segurei para não beijá-la. Joe
entrou na minha visão e parecia puto.
— Isla, vamos procurar sua chave?
— Não — respondi. — Pode deixar que eu deixo a Isla na casa
dela, não é?
— Eu acho que não é o indicado, Connor… — Joe disse,
aumentando os olhos.
Mas eu não deixaria Isla fugir de mim. Não agora. Ela estava
aqui de novo. Eu tinha me prometido que ia deixar que ela viesse
até mim e aqui estava ela, bem na minha frente.
— Vamos ver com a única pessoa que tem poder sobre o que Isla
quer? — Virei para Isla que estava me encarando, como se me
visse pela primeira vez. — Isla, quem você quer que te leve?
Isla olhou para Joe e depois de volta para mim. Nossos olhos
se encontraram. Ela respirou profundamente e voltou a olhar para
Joe. Eu sabia que ela havia o escolhido antes mesmo dela abrir a
boca. Dei um passo para trás.
— Eu vou com o Connor, se você não se importar, Joe… ele já me
levou até a minha casa.
Senti vontade de pular para cima e gritar na cara de Joe, mas
me comportei, tentando esconder o sorriso que parecia ter vontade
própria.
— Sim, e eu vou deixar a Isla na casa dela, e não em um ponto de
ônibus qualquer.
— Eu não tenho carro e você sabe disso, Connor. — Sim, eu sabia,
mas aquilo não era importante. — Tem certeza disso, Isla?
— Sim, obrigada pela ajuda, Joe…
— Não se preocupe, me avise quando chegar em casa.
— Pode deixar, eu te aviso.
Joe deu uma última olhada para mim e deixou a empresa.
Fiquei esperando até que ele estivesse saindo pela escada. O
ambiente escuro só estava iluminado pela minha sala e virei para
Isla.
— Vamos? Achou sua chave?
— Não, na verdade, eu nem consegui procurar direito. — Isla virou
com seus olhos pidões para mim e minhas mãos tremeram da
necessidade de segurá-la. — Sua mão não está doendo mais?
— Não, está tudo bem… vamos procurar sua chave.
Eu nunca senti aquela necessidade de colocar alguém em
cima de uma mesa e beijá-la por horas, mas era isso que eu estava
sentido por Isla, por isso precisava me colocar em movimento.
Ficamos os dois procurando por sua mesa pelo molho de
chave da Tardis, que não demorou para ser encontrado dentro da
gaveta.
— Vamos?
— Sim, vamos…
Isla e eu ficamos nos encarando. Parecia que o ar dentro da
sala tinha sido reduzido. Coloquei minha mão em sua cintura e
aproximei meu rosto do dela.
— Eu posso te levar em um lugar?
— Sim.
Puxei a mão de Isla na minha e andei até a minha sala,
pegando a chave do meu carro e apagando a luz. Na escuridão do
escritório, esfreguei meu nariz em seu pescoço que cheirava a
mamão com alguma bebida.
Isla segurou meu ombro com força e se afastou de mim. Ela ia
me deixar louco, completamente louco. Eu conseguia sentir cada
terminação nervosa do meu corpo ligada àquela mulher.
Quando saímos em direção à garagem, abri a porta do carro e
esperei, vendo Isla subir em minha caminhonete. O chão cheio de
brinquedos não pareceu assustá-la. Em vez disso, Isla me olhou e
deu um sorriso.
— Tem um pedaço de Elijah em cada espaço seu, não é?
Sim, era verdade, mas agora eu também sentia que ela estava
invadindo os espaços que antes eram só nossos. Era hora dela
conquistar mais um.
27
Isla

Acho que nunca estive em um lugar tão bonito. Da entrada do


prédio até a cobertura, tudo era espetacular. Eu conhecia bem
aquele projeto, e sabia que tinha sido uma criação de Connor.
Quando paramos em frente à porta, ele pegou a chave dentro
do bolso e a abriu. Connor me olhou e deu um passo para trás, me
dando espaço para entrar. Eu sabia tudo sobre esse prédio.
Era um dos primeiros prédios que Connor projetara, ele tinha
dedicado muito tempo, porque sabia que era ali que ia viver, por
isso, comprou a cobertura antes que qualquer outra pessoa tivesse
chance e, logo depois, todo o prédio.
Caminhei até a metade do hall de entrada, de onde tinha uma
visão completa da sala de estar. Ao contrário do que eu imaginava,
não era todo escuro, com cabeças penduradas e fogo por todo lado.
Não, parecia a casa de um pai.
Escutei a chave sendo colocada em algum lugar e virei para
ver Connor deixando seu casaco dentro do armário que tinha no
hall. Ele andou até mim e pegou minha jaqueta de couro, colocando
no mesmo lugar que seu casaco.
Voltei a olhar para os detalhes da sala e comecei a prestar
atenção em cada detalhe. Um grande sofá em L ocupava grande
parte do espaço. Por ser branco, possuía várias marcas de
mãozinhas pelo seu estofado.
A lareira na parede era de tijolo, não tinha TVs ou qualquer
outro aparelho aparecendo, por isso, sabia que Connor tinha dado
um jeito de esconder. Mas o que realmente me chamou atenção foi
a vista…
Edimburgo estava bem diante dos meus olhos – a cidade
velha. Os prédios gritavam arquitetura gótica. Foi por essa cidade
que decidi ser arquiteta, foi por esse lugar que escolhi trabalhar
criando coisas que durariam para sempre e Connor tinha tudo aquilo
bem diante dos seus olhos.
— Lindo, não é?
— A coisa mais bonita que eu já vi… Connor… você tem Edimburgo
bem diante dos seus olhos, como consegue sair daqui todos os
dias? — perguntei e ouvi sua risada baixa.
— Porque eu sei que vou voltar e ela vai estar aí, congelada diante
de mim.
— Posso ver mais?
— Da casa?
Assenti.
— Claro, vamos lá. — Connor parecia ter entrado no personagem
arquiteto e começou a me mostrar. — Essa é a sala de visitas.
Antigamente, usava apenas para festas, mas desde Elijah me tornei
um homem sério que, depois dos quarenta, se tornou
insuportavelmente chato. Não que antes eu gostasse de festas...
Andamos um pedaço e ele me mostrou a cozinha.
— Aqui é onde a magia acontece. Gosto muito de cozinhar, e acho
que é por ter sido responsável por cozinhar para mim e para Grace
conforme crescia, já que eu era o mais velho. Nossas mães
trabalhavam em um pub durante a noite, então eu era o homem da
casa.
A cozinha tinha uma grande ilha que era cercada por grandes
cadeiras, com exceção de uma: No canto havia uma cheia de
dinossauros. Elijah, é claro. O ambiente era bem claro, com
armários de madeira, a luz era amarela e dava uma grande
sensação de conforto.
— Vamos subir as escadas?
— Sim… você e a Grace cresceram juntos então?
— Na mesma casa, na mesma rua, no mesmo quarto… ela era a
única pessoa que ficava o tempo todo comigo, desde pequeno. Eu
nunca fui muito fã das pessoas, mas eu amava a Grace.
Claire era aquela pessoa para mim. Ela era a irmã que eu
nunca tive.
— E agora é a mãe do meu filho. Mesmo que eu quisesse expulsá-
la, não teria como.
Passamos perto de um desenho na parede e notei que era a
altura do Elijah conforme crescia. Parei em frente ao desenho de
dinossauro e dei um sorriso.
— Você é um pai tão bobão…
— Ele é o amor da minha vida, Isla… Eu achava que não tinha
espaço para nada além do meu trabalho na minha vida, mas… ele é
tudo que preenche minha existência.
Sorri e peguei sua mão.
— Acho que te entendo… quer dizer, não, mas imagino.
— Sim, ele conquista as pessoas, não é, moça?
— Ele deve ter puxado o pai.
Connor deu um grande sorriso e me puxou para a escada, em
direção ao segundo andar. Assim que saímos da escada, eu dei de
cara com a maior bagunça que eu já tinha visto em minha vida, mas
parecia uma bagunça organizada.
Na sala de estar, o sofá era bem mais confortável, ou assim
parecia, com diversos brinquedos espalhados por todos os espaços.
Quadros de Elijah preenchiam as paredes, como se ele fosse a
única pessoa que vivia dentro do apartamento. Diversas estantes de
brinquedos coloriam as paredes brancas, que tinham pequenos
desenhos de lápis coloridos.
— Arte do Elijah?
— Não consigo apagar, ele fica tão feliz fazendo.
Quando terminamos o tour pelo apartamento, depois de ver o
quarto tão cheio de brinquedo quando a sala, eu quase me sentia
uma grande conhecedora da casa. Exceto pelo quarto de Connor,
que ele não tinha me mostrado.
— Quer comer alguma coisa?
— Acho que sim, cairia bem… no Pub acabei ficando conversando e
não comi nada.
— Eu nunca poderia ir em um Pub… fiz muito isso quando era
jovem, agora… eu apenas me sinto velho demais para isso.
Joguei a cabeça para trás rindo. Connor me encarou, parado
ao meu lado.
— Claro, senhor Connor, quer descansar? Ficar andando pela casa
deve ter levado o restante da energia que você tinha, não é?
Connor semicerrou os olhos e se aproximou de mim, seu hálito
em minha pele, um cheiro de uísque que eu não tinha sentido
antes.
— Eu ainda tenho muita energia, Isla… basta você dizer sim e eu
vou gastar tudo com você.
Senti os bicos dos meus seios se arrepiando e dei um passo
para perto dele. Não sabia o que tinha acontecido, mas o Connor
que disse que queria ser meu amigo tinha sumido em um piscar de
olhos. Naquele momento, na minha frente, tinha um homem que
estava pronto para me foder, e eu… mesmo que contra minha
vontade… adorava aquilo.
28
Connor

Isla ainda parecia sem fala, por isso, segurei sua mão
enquanto descíamos as escadas em direção à minha cozinha. Eu
sabia que devia ser mais lento, mas eu não conseguia, não quando
ela me olhava com aqueles olhos implorando para que eu a fodesse
em qualquer lugar.
Eu nunca confessaria para ninguém, mas aquele olhar tinha
sido o motivo de eu passar a semana toda batendo uma em
qualquer oportunidade que eu tivesse, como um garoto de quinze
anos.
Agora ela estava aqui, sentada na cadeira da bancada da
minha cozinha, ao lado da cadeira do meu filho, esperando por mim,
enquanto eu preparava para uma refeição para nós dois.
— Então, você e a Grace…
— Sim, éramos bem pobres. Nossas mães faziam o que podiam,
mas nós morávamos em um condado que recebia ajuda de
senhoras mais ricas. Apesar dos pesares era bom. E você?
— Minha mãe se mudou das Filipinas comigo para cá, acabei
perdendo o contato com a maior parte da minha família, porque… —
Isla começou a cutucar as unhas. — era difícil ter contato com eles,
ainda mais porque éramos bem pobres.
— Não visitavam? — perguntei, enquanto cortava os legumes.
— Não, não dava, ligações eram tão caras que a gente só podia
fazer uma vez por mês e eram curtas, minha vó e meu vô morreram
sem que eu pudesse estar lá, e eu era muito apegada aos dois
quando eu era criança…
— Sinto muito, Isla.
— Obrigada, mas já faz anos, eu superei. — Isla deu um longo gole
na sua água e me encarou com a mão no queixo, dando um largo
sorriso. — Minha mãe ainda sente saudades, eu sempre penso em
levar ela para visitar e até para me lembrar de como tudo era. Tenho
certeza de que a maior parte que eu lembro são coisas inventadas,
sabe?
— Quer um aumento? Sabe, eu sou o dono da empresa, posso
fazer isso.
— Não — respondeu rindo. — Por favor, não.
— Tudo bem — Dei de ombros. —, mas lembre-se que eu te ofereci.
E a faculdade? Você entrou em uma das melhores universidades de
arquitetura da Escócia. Como foi?
— Péssimo… eu amei, é claro, mas…
— O quê?
Isla deu de ombros e olhou para os lados. Parecendo procurar
por alguma coisa que pudesse nos tirar daquele assunto. Quando
não encontrou nada, seus olhos voltaram para mim e ela percebeu
que eu ainda estava olhando para seu rosto.
— Vamos… eu compartilhei um pouco da minha vida com você,
acho que você pode fazer o mesmo.
— Só não é algo que eu quero falar agora, ok? Não quero estragar
a nossa noite. Por favor? — Encarei Isla por um tempo e o que vi
em seus olhos me fez pensar que eu poderia arrebentar a cabeça
de alguém.
— Tudo bem. Quer saber de algo sobre mim? Para ficar
equilibrado…
— Se você quiser falar… por que você não leva Elijah na praia? —
questionou, e eu sabia que em algum momento ela perguntaria.
— Quando eu era criança… mamãe, Evanna, mãe de Grace, Grace
e eu fomos à praia em um dia que elas tiveram folga. Estava muito
quente, então muitas pessoas tiveram a mesma ideia, eu acabei me
perdendo e a praia não parece um lugar assustador quando você
tem seis anos, mas — Fechei os olhos, com a sensação terrível
voltando para a minha memória. —, quando você fica
completamente sozinho, rodeado de gente, você pensa que nunca
mais vai ver sua mãe.
— Sinto muito, Connor! Meu Deus, eu sinto muito mesmo.
— Está tudo bem... eu só nunca vou colocar eu filho nesse tipo de
risco.
Peguei sua mão por cima da bancada e dei um beijo no dorso.
Isla sorriu e voltamos a falar de coisas banais enquanto eu
terminava de cozinhar. Ela logo estava animada, comentando sobre
Elijah, contando sobre como já adorava meu filho e eu sabia que
sim.
Parecia que nunca tínhamos falado sobre qualquer período
triste na sua vida, mas a imagem de seus olhos ainda estava
cravada em minha mente. Não conseguia parar de pensar no que
tinha acontecido enquanto ela estudava.
— Vou pegar os pratos, que tal pegar um vinho?
— Você vai me achar muito infantil se eu disser que acho melhor
não beber? — questionou.
— Claro que não, eu só bebo quando Elijah não está aqui, mas tem
um suco ótimo dentro da geladeira. Pode pegar, está logo atrás dos
iogurtes do Elijah.
Ajeitei a mesa da sala de visitas e sentei no chão, Isla logo se
aproximou, puxando a calça de alfaiataria para conseguir sentar ao
meu lado. Do lado de fora, a chuva característica de Edimburgo
começava, mostrando que o dia seguinte seria frio.
— De verdade, como você consegue sair daqui todos os dias?
— Eu sei que tem uma visão melhor me esperando para onde eu
vou — respondi.
Isla afastou os olhos das janelas e me encarou, mas eu já
estava olhando para ela. Seu sorriso cresceu e vi seus olhos
castanhos derreterem na pouca luz da sala. Como Isla podia ter
invadido a minha vida assim?
Ela pegou o garfo e deu uma grande mordida na carne que eu
tinha feito. Isla pareceu desarmada assim que o tempero atingiu sua
língua.
— Meu Deus, Connor! Essa é a comida mais deliciosa que eu já
comi… por favor, prepare um prato pra eu levar para casa.
— Eu te trago aqui para comer amanhã, que tal? Sem mais saídas
no meio do dia para comer com o Joe, não estou gostando nada
dessa amizade.
Isla deu risada e puxou a manta que ficava sobre o sofá para
suas pernas. Deu outra garfada e gemeu.
— Tudo bem, me faça qualquer pergunta agora e eu responderei
sim, sem nem ao menos questionar… Connor, essa é a melhor
refeição que eu tenho em anos. Não conte para a minha mãe.
Isla começou a falar, enquanto contava sobre como conheceu
Claire, sua melhor amiga, que ia casar em algum tempo. Logo
engatou em me contar sobre como sua mãe era a melhor pessoa do
mundo todo. Tudo isso enquanto não parava de elogiar minha
comida.
Eu nem ao menos conseguia prestar a mesma atenção na
comida, porque tudo que eu conseguia aproveitar era a companhia
de Isla. Era como ter o sol bem dentro da sua sala e unicamente
para você. E eu estava adorando aquilo.
Quando terminamos de comer, Isla tentou levantar para lavar
os pratos, mas não permiti. Puxei a manta para cima de nós dois e
ficamos em silêncio, observando a chuva que caía fina do lado de
fora.
Isla encostou a cabeça no meu ombro e entrelacei nossos
dedos, sentindo uma conexão com ela que não sentira com
ninguém, uma eletricidade que eu sabia que não tinha sentido nem
na minha primeira paixão… O que eu estava realmente sentindo por
ela?
O som da chuva parecia uma deliciosa música que embalava
meus pensamentos. Isla começou a brincar com as nossas mãos,
fazendo carinho em meus dedos, e eu sentia cada toque em todos
os cantos do meu corpo.
Comecei a sentir seu corpo relaxando e fechei os olhos para
aproveitar aquele momento ao lado dela, porque eu queria
aproveitar cada momento que ela me desse. Não importava aonde
fosse.
29
Isla

Me mexi e senti um colchão com o qual não estava


acostumada, a coberta também era de uma qualidade que eu
acreditava nunca ter sentido, por isso, puxei mais daquela maciez
para cima de mim.
Meus olhos tentavam se acostumar com a escuridão, mas tudo
que eu via era o completo breu. Me estiquei na cama, me
contorcendo toda, como sempre fazia. Bati em uma montanha de
travesseiros, apertei os olhos e olhei para o corpo que parecia tão
desmaiado quanto eu estava há alguns minutos.
Peguei meu celular na mesa ao lado da cama. Olhando o
horário, eram sete horas da manhã, o que significava que eu tinha
passado a noite toda aqui. Eu nem ao menos lembrava em que
momento eu cochilei.
Olhei para minha roupa e eu estava ainda com a roupa que eu
tinha ido ao escritório. Meu Deus, eu estava nojenta. Me levantei,
tateando o lugar desconhecido.
Ouvi uma risada e virei para Connor, que tinha tapado o rosto.
Minha saída sorrateira tinha sido negada.
— Bom dia, Connor…
— Dormiu bem? Não imaginei te mostrar meu quarto assim, mas
você estava babando em mim — Sua voz rouca fazia coisas em
mim. Tentei ignorar a piada, mas não consegui.
Revirei os olhos e joguei um travesseiro nele. Connor se
sentou, acendendo a luminária que ficava ao seu lado. Meus olhos
se abriram ao notar que ele estava apenas de cueca box.
Seu tórax definido foi esticado quando se espreguiçou, abrindo
os braços e chacoalhando a cabeça para acordar de vez. Connor
olhou para mim de novo e abriu um grande sorriso.
— Você é a coisa mais linda desse mundo dormindo, sabia? Mesmo
enquanto baba.
Tentei impedir o sorriso, mas mesmo estando completamente
assustada com a sensação de ter dormido na mesma cama que
meu chefe, eu também estava feliz. Meu coração pareceu dobrar de
tamanho quando ele sorriu para mim.
— E você tem um físico muito bom para um idoso… quer dizer…
Connor se dobrou sobre a cama, me puxando pelo joelho de
volta para a confusão de lençóis. Quando caí na cama, meu corpo
inteiro gemeu. Aquele era o melhor colchão que eu já tinha estado
na vida.
— Eu quero um colchão igual ao seu…
— Eu posso comprar um para você… ou você pode dormir sempre
aqui, o que prefere?
— Eu prefiro tomar um banho. Pode me levar para casa?
Connor recostou na cama e ficou me olhando, nem um pouco
envergonhado ou sentindo necessidade de esconder seu corpo, que
estava bem diante dos meus olhos. Meu rosto ficou vermelho ao
perceber que eu estava encarando por tempo demais.
— Sabe, meu banheiro tem um chuveiro maravilhoso, se você
estiver sentindo vontade pode até mesmo tomar um banho de
banheira… não precisa ir para sua casa por isso.
— Eu preciso trocar de roupa.
— Eu posso te levar antes de irmos para a empresa… você não vai
fugir de mim agora, Isla.
Virei o rosto, escondendo o sorriso e me sentei.
— Tudo bem, mas você pode me dizer onde tem uma roupa que eu
possa usar? Algo de Grace… ou de alguma outra pessoa?
— Só as minhas, sinto muito.
Connor levantou da cama, andando como se não estivesse
quase nu e tentei não ficar olhando para suas pernas definidas,
enquanto ele andava até uma cômoda branca no quarto.
Abrindo a primeira gaveta, Connor pegou uma camiseta que
parecia de pijama, junto com um shorts solto. Antes de virar para
mim, consegui ouvir uma pequena risada.
— Quer uma cueca também?
Me levantei, parando ao lado dele e pegando a roupa em
minhas mãos. Connor ofereceu a cueca e peguei a contragosto.
Esperei pela toalha, mas ele apenas me apontou o banheiro,
deixando claro que era lá que encontraria o que precisava.
Abri a porta, encontrando o banheiro mais lindo que já tinha
visto na vida e senti certa pena do meu próprio, quer dizer, como eu
não o compararia depois de tomar banho ali?
Quando finalmente estava limpa e fresca, a roupa de Connor
ficava sambando em meu corpo, mas não me importei tanto. Tudo
que eu precisava agora era de uma escova de dentes.
Parei em frente ao espelho vendo meu rosto completamente
descansado, emoldurado pelos cabelos escuros embaraçados, e
abri o armário do banheiro atrás de alguma escova nova.
Descendo as escadas, tudo que eu conseguia era ouvir uma
música baixa da banda irlandesa, U2, com a voz de Connor ritmada,
enquanto ele cantava I Still Haven’t Found What I’m Looking For.
Meus olhos se perderam com o prazer que era ver aquilo.
Connor estava cozinhando para mim, para nós, com uma calça de
moletom embaixo das covinhas de vênus no final das costas.
Aquela era com certeza a coisa mais descarada que um homem
podia fazer.
Connor virou para mim e deu um sorriso.
— Espero que goste de panquecas, é a especialidade da casa…
— Gosto sim.
— Que bom, porque, do contrário, tenho apenas frutas… — a
campainha tocou e Connor olhou para a panqueca.
— Quer que eu atenda? Não é nenhuma mulher querendo vingança,
certo?
— Eu não trago mulheres para cá, pode atender despreocupada.
Não queria pensar que eu era a primeira mulher que ele trazia
ali, por isso, andei mais rápido. A chave estava na porta, me
poupando de procurar no meio de um monte de chaves no chaveiro
em cima da mesa.
Quando o sorriso de Grace me recebeu, eu quase tive vontade
de entrar dentro do armário de casacos. Ele só aumentou quando
percebeu que eu estava parada vestida com o pijama de Connor.
— Moça! — Elijah se jogou em mim. — Você veio morar aqui com o
meu pai? Mamãe, eu posso morar com o papai?
Grace escondeu um sorriso e perguntou:
— Está querendo roubar meu filho, Isla? — Gaguejei, sem
conseguir responder. — Vai deixar a gente entrar?
Dei um passo para o lado e Grace passou, elegante em um
vestido bege com um longo casaco por cima. Elijah parou ao meu
lado, parecendo querer segurar minha mão, mas eu queria fugir.
— Vem moça, o papai tá fazendo panquecas pra mim.
— Claro, eu vou em um minuto, ok? Vai lá com a sua mamãe.
— Não, vamos nós três… assim, eu posso saber mais sobre a vida
das pessoas… é meu esporte favorito, sabe?
Se eu me jogasse da cobertura de Connor, será que existiam
chances de sobreviver, ou seria uma morte certa?
30
Connor

Eu devia saber que era maldade deixar que Isla atendesse a


porta, mas quando ela voltou para a cozinha de braços dados com a
Grace, enquanto Elijah pulava de um lado para o outro feliz de estar
com a sua pessoa favorita… aquela cena me deu uma alegria.
— Papai! — Elijah se jogou em minhas pernas e eu o puxei para
cima pelo braço. Seus braços rodearam meu pescoço e meu filho
deu um longo beijo em minha barba por fazer. — Você não me
contou que a moça veio morar aqui.
— Eu não vim, Elijah…
— Mas com certeza passou a noite aqui… — Grace disse baixo,
cobrindo a frase com uma tosse falsa.
— Mamãe, posso continuar morando com você?
— Fico feliz de ser a segunda opção, campeão. Te amo muito.
Murmurei que pelo menos não era a terceira. Elijah pegou um
pedaço de panqueca das minhas mãos e enfiou na boca.
— Também te amo, mamãe.
Coloquei Elijah no chão, preparado para fazer mais um pouco
de panquecas. Meu filho sempre vinha para a minha casa quando
bem entendia, por isso, não era surpresa estar aqui logo de manhã,
vestido com a roupa da escolinha.
— Eu vou… com licença. — Isla deixou a cozinha e fiquei assistindo
enquanto ela saía de perto da confusão que éramos na parte da
manhã.
A blusa do pijama gigante em seu corpo quase fez meu
coração dobrar de tamanho. Ela era a coisa mais linda que eu já
tinha visto em toda a minha vida. Encarei uma Grace que me olhava
sorrindo, abanei a mão e me voltei para a panqueca que estava
claramente queimada em um dos lados.
— Você brincou de casinha ontem, Connor Evans?
— Claro que não.
Grace se aproximou de mim, tentando me fazer cócegas.
— Mas você queria… Meu Deus.
— Você brincou de casinha com a moça, papai? — percebi que não
estávamos falando tão baixo quanto eu imaginei, e apontei a cadeira
para Grace, que sentou de cara emburrada. — Eu queria brincar de
casinha com a moça.
Isla entrou na cozinha, vestindo sua roupa da noite anterior e
se sentou ao lado de Grace que lhe esticou um prato e o pote de
mel que eu só mantinha em casa porque Grace amava.
Mordi minha panqueca queimada e olhei para os três sentados
à bancada, parecia certo de que eles estivessem ali. Grace e Elijah
conversavam como sempre fazia naquela parte da manhã, mas Isla
não parecia tão à vontade. Quando ela olhou para mim, fiquei
esperando por qualquer indicação de que estava tudo bem, mas ela
apenas sorriu sem que ele refletisse em seus olhos.
Quando terminamos o café da manhã, Grace se despediu de
Elijah, que passaria o final de semana comigo. Isla ficou com ele,
enquanto meu filho mostrava tudo do seu quarto, como se eu não
tivesse mostrado o lugar para ela na noite anterior.
Ajeitei a manga do terno antes de entrar no quarto e ouvi a
conversa que estavam tendo:
— Como é o seu papai?
— Eu não o conheci, pequeno…
— Deve ser chato não ter um papai. O meu é o melhor do mundo
todo, o melhor da Escócia. — Segurei o choro. Era bobo, mas vê-lo
falando aquilo de mim, me enchia de alegria, porque eu estava
sendo o que sempre quis ser: o melhor pai do mundo para ele.
— Eu tenho certeza de que sim, Connor parece ser um papai bem
legal. Do que você mais gosta nele?
— Que ele é mais alto que um dinossauro.
— Sabe o que eu mais gosto nele? Seu pai parece um príncipe.
Entrei no quarto, antes que ela pudesse falar mais alguma
coisa, porque eu sabia que meu filho abriria a boca para mim bem
na frente da Isla, a deixando envergonhada.
— Vamos para a escola?
— Mas eu quero ficar com a moça. — Elijah disse, cruzando os
braços e fazendo beicinho.
— Amanhã, não é, Isla?
— Sim, amanhã vamos no zoológico, o que acha?
Não foi surpresa nem para mim, nem para Isla quando Elijah
fez com que ela sentasse no banco de trás com ele. Eu começava a
achar que meu filho estava completamente apaixonado pela moça
dele.
Fiquei vendo os dois brincando com dinossauros no banco de
trás durante todo o trajeto até a melhor escola da região. Minha
principal preocupação sempre tinha sido dar a Elijah a melhor
educação que eu pudesse, por isso, eu não poupava esforços para
que ele tivesse tudo.
Quando parei o carro, depois de ouvir durante todo o caminho
que ele queria que a moça o levasse até a sala, eu apenas desci do
carro pronto para levá-los até a sala.
Tirei Elijah da cadeirinha e Isla desceu, esfregando as mãos
nas calças.
— E se eu fizer alguma coisa errada? — questionou, enquanto eu
pegava a bolsa no banco da frente.
— Você não vai fazer nada errado, é só levá-lo até a porta. Vai dar
tudo certo, eu vou estar bem atrás de vocês.
Isla concordou com a cabeça e mordeu os lábios. Puxei sua
mão para a minha, e dei três apertos, tentando passar para ela uma
calma que eu sabia que era difícil sentir quando uma criança te
queria só para ela.
— Vamos, moça!
Elijah entrou puxando Isla, contando sobre sua escola, os
lugares preferidos dele, as matérias que mais gostava (que ainda
não eram muitas naquela idade). Tinha prezado por uma escola
que, além do básico, ensinaria música, arte, culinária, tudo que ele
pudesse aprender.
Quando paramos em frente à sua sala, a maldita professora
estava lá só sorrisos. Eu consegui ver seus olhos se iluminando ao
me ver chegar, como se seu dia tivesse ficado melhor apenas
porque eu estava lá. Quase tremi.
— Olha, professora Anne, olha a moça do papai! — Elijah
apresentou Isla como se ela fosse minha e eu quase sorri. E quando
digo quase, foi porque meu filho emendou com um: — Ele é o
príncipe dela.
Isla gemeu e estendeu a mão para a professora loira.
— Prazer, meu nome é Isla.
Gostei que ela não desmentiu o que Elijah tinha dito,
parecendo notar que a professora não tinha tirado os olhos de mim.
Elijah gritou para um amiguinho e entrou correndo na sala.
Isla me olhou decepcionada e eu queria beijar o beicinho de
seus lábios, mas sabia que ela me mataria se eu fizesse aquilo bem
na porta da sala de Elijah.
— Vamos, você se acostuma. Ele não costuma se despedir.
Apenas para me contrariar, Elijah voltou correndo e se jogou
nas pernas de Isla. Parecendo não querer soltá-la, eu nem mesmo
parecia estar no mesmo ambiente que eles.
— Tchau, moça… — Isla se abaixou e segurou suas mãozinhas,
dando um beijo em seu rosto que já estava vermelho.
— Tchau, meu príncipe. Se comporta, ok?
Elijah concordou com a cabeça e abraçou Isla. Eu podia ver
seus olhos brilhando com lágrimas e quase senti meu coração se
partir, meu filho estava completamente apegado a ela.
Assisti enquanto Elijah entrava na sala, e sua professora
finalmente tirava os olhos de mim. Isla estava parada ao meu lado,
segurei sua cintura, parecendo tão relutante de deixar Elijah quanto
ele tinha estado antes.
Quando finalmente deixamos a escola, Isla me olhou com
lágrimas nos olhos, exatamente como Elijah tinha estado há alguns
minutos e disse:
— Eu amo muito o Elijah.
31
Isla

Abri a porta de casa e sentei na cama, jogando meu corpo


inteiro no colchão pouco atrativo que eu tinha. Meu coração ainda
batia acelerado por ter percebido que eu amava Elijah, aquela
criança tinha roubado todo o meu coração.
E o pai dele… o pai dele estava indo pelo mesmo caminho.
Agora mesmo, eu sabia que ele me esperava dentro do carro, ainda
que eu tivesse dito que podia ir para o escritório sozinha.
Levantei da cama, mesmo que a vontade de me esconder ali
dos dois fosse grande. Joguei sobre o colchão uma calça jeans,
uma blusa branca e um cardigã cinza para usar para o dia. Minha
mente ainda vagava para o apartamento de Connor e eu pensava
em como voltaria para a minha casa sabendo que ela não era tão
encantadora. Sentia nostalgia por algo que sequer era meu.
Desci as escadas depois de finalmente reposicionar o
equipamento que impedia invasões na porta. Robert estava
atendendo uma senhora da rua, dei oi para ele, pronta para sair,
mas ouvi meu nome ser chamado.
Virei para Robert e ele me chamou com a mão. Caminhei até
ele, pronta para tentar fugir o mais rápido possível. Robert tinha a
péssima mania de querer me atrasar sempre que eu estava saindo
para o trabalho.
— Aquele cara tem vindo muito aqui com você, não é? Ele parece
ser bem rico, parece que você se deu bem, hein? — Robert disse,
me dando uma cotovelada e um sorriso.
— Ele é meu chefe. O filho dele gosta de mim, só isso, Robert…
Robert deu de ombros e soltou uma risada.
— Seu chefe… sei… — sua risada me desestabilizou. — E agora
você passa a noite com ele? Me engana que eu gosto, Isla.
Nunca tinha visto Robert ser maldoso, e eu nem sabia se ele
realmente estava sendo, mas parecia ter sido o tapa que a vida
precisava me dar. Aquilo estava passando dos limites.
Dormir na mesma cama que meu chefe? Passar a noite na sua
casa? Levar seu filho para um passeio no zoológico? Logo mais
pessoas notariam o que estava acontecendo. E então eu ficaria
falada, as pessoas achariam que tudo que eu vinha conquistando
era por dormir com Connor.
— Eu preciso ir, Robert… bom dia.
— Bom dia, Isla — respondeu balançando a cabeça em negação
com um grande sorriso no rosto.
Quando saí de dentro da conveniência, encarei Connor, que
estava de óculos escuros dentro do seu carro, falando no telefone.
Meu coração se apertou ao perceber que eu teria que me afastar
dele se eu quisesse que as pessoas me levassem a sério.
Passei pelo carro, indo em direção ao ponto de ônibus. Eu
chegaria atrasada, mas pelo menos chegaria sozinha, sem ninguém
me olhar como se eu estivesse chupando o chefe para conquistar
coisas.
Escutei o motor do carro sendo ligado e vindo atrás de mim.
Connor diminuiu a velocidade, andando ao meu lado na rua
comprida.
— Isla, entra no carro.
— Não, Connor, pode ir… eu vou de ônibus. Eu devia ter falado isso
assim que saí do seu carro, desculpa.
— O que aconteceu com você? Parece que você perdeu todo o
brilho. Você estava tão feliz.
— Não foi nada. — Connor diminuiu mais a velocidade do carro e eu
nem mesmo sabia que isso era possível.
— Impossível você ter entrado em casa de um jeito e voltado de
outro sem que nada tenha acontecido. — Um carro passou
buzinando e Connor buzinou de volta. — Isla, eu vou ser multado
por ausência de velocidade. Será que você pode entrar no meu
carro e me contar o que está acontecendo?
Parei, sentindo meu coração pesado. Parecia que ele não ia
me deixar ir, por isso, respirei fundo e virei para Connor. Ele baixou
seus óculos escuros e me encarou. Seu rosto era tão lindo, os
cabelos brancos começavam a aparecer, contrastando com seus
olhos escuros. Tudo nele era convidativo e eu sabia que estava me
apaixonando. Por que ele tinha que ser assim?
— A gente pode conversar agora?
— Só se você me deixar ir de ônibus.
— Posso te seguir com o carro? — questionou com a sobrancelha
franzida.
— Não…
— Tudo bem. Quanto tempo até seu ônibus passar?
Olhei para meu relógio de pulso e percebi que ainda faltava
algum tempo. Tempo o suficiente para conversar sobre o que quer
que fosse. Concordei com a cabeça e falei:
— Vai dar tempo.
Connor estacionou o carro ao lado do ponto de ônibus. Saindo
do carro, ele deu uma longa olhada no lugar e sentou no banco
velho. Seus olhos correram meu rosto e eu tentei ignorar a
sensação de ser esmagada por um sentimento que eu
desconhecia.
Suas longas pernas foram esticadas e segurei mais forte
minha bolsa. Connor não disse nada, me esperando falar, mas eu
nem ao menos sabia por onde começar. Respirei fundo e encarei
seu rosto.
— Isla… eu sei que tem algo, alguma coisa, que te fez mal. Eu não
posso te ajudar se você não me contar. Eu não sei como me
defender sem que você me diga o que aconteceu. Eu sei que você
tem medo, mas eu sou diferente de qualquer pessoa que tenha te
machucado no passado. — Uma pessoa passou e Connor parou de
falar, temendo que eu virasse fofoca na vizinhança. — Eu não deixo
qualquer pessoa se aproximar do meu filho, eu não faria isso
apenas para te machucar depois.
Fechei os olhos, sentindo uma lágrima escorrer pelo meu rosto
e concordei com a cabeça. Eu sentia que ele era diferente. Então,
por que parecia tão difícil?
— Eu… eu tive uma relação com o professor da minha faculdade. —
Não conseguia olhar para Connor, por isso, fiquei encarando sua
mão que estava esfregando sua calça. — Keith. Tudo parecia lindo.
Eu estava tão apaixonada, apenas uma garota idiota. Uma
garota que achava que tinha o mundo diante de mim.
— Ele era doze anos mais velho que eu, e você pode pensar que
não é uma grande diferença, mas quando se adiciona o poder que
ele tinha... Eu não percebi os sinais: os encontros clandestinos,
olhares mais demorados na aula... Eu estava tão encantada. Ele
entregava meus trabalhos e segurava minha mão apenas por tempo
suficiente para que eu soubesse que ele estava apaixonado. E eu
estava tão aberta àquela relação… — Apertei a bolsa mais perto de
mim, como um escudo. — Eu olhava para ele como se ele fosse
meu mundo, eu fazia de tudo para mostrar que eu estava
apaixonada como ele parecia estar. Ele me seguia até a biblioteca,
ficando perto, me ajudando, coisas que, para qualquer um, seria só
um professor prestativo, mas eu sabia… tinham os telefonemas
durante a noite, conversas sussurradas, e então começaram as
mensagens sexuais e eu estava tão encantada que não via como…
como ele podia me destruir.
As mãos de Connor apertavam suas coxas, os nós dos dedos
ficando brancos.
— As pessoas começaram a notar que algo estava acontecendo…
eu comecei a ouvir sobre como eu estava ganhando privilégios, mas
eu sempre trabalhei muito… você tem que acreditar em mim.
Connor ficou em silêncio e eu quase conseguia ouvir o barulho
das folhas caindo no chão.
— Bem, não durou… apenas o que ele quis que durasse, quando
ele finalmente conseguir transar comigo, eu não era mais tão
interessante, então, ele pulou para a próxima garota. A próxima
garota sozinha, a próxima garota de cor, a próxima garota boba.
Mas não parou por aí, ele começou a inventar mentiras sobre mim,
sobre como aumentava minhas notas, como eu o chupei por uma
boa nota em uma prova… o que eu poderia fazer para desfazer
aquilo? Ele era um professor renomado e eu? Eu era só uma
imigrante, só uma garota boba que caiu no papo de um idiota. Eu
pensei em desistir, largar a faculdade, mas uma professora me disse
que eu não podia me deixar vencer por aquilo. Que eu tinha que
lutar e vencer por mim, mostrar para quem quer que duvidasse de
mim que ele não tinha poder nenhum sobre mim e que eu era a
melhor da turma, e que um dia seria a melhor da Escócia. Eu
terminei por ela.
Limpei as lágrimas que continuavam escorrendo por meu rosto
e continuei:
— Mas cada vez que eu o via andando pelos corredores… eu tinha
certeza de que nunca conseguiria trabalhar em lugar nenhum,
porque ele ia me destruir… como tinha feito na faculdade.
Connor deu um longo suspiro e tive medo de olhar para cima.
De olhar para seu rosto e ver o julgamento que eu via todos os dias
no espelho. Connor levantou, andando de um lado para o outro e
entrou no seu carro, sem se despedir de mim.
Era o fim.
32
Connor

O barulho dos meus pés no chão fazia eco nos meus ouvidos.
Minha mente formava imagens de morte, porque eu, com certeza, ia
matar alguém. Eu nunca deixaria alguém que fez mal a alguém que
eu gosto viver. Eu podia ser um babaca, mas aquilo… aquilo era
passar de todos os limites.
Parei a primeira pessoa que encontrei no caminho e perguntei
onde era a sala do Keith, professor de arquitetura. A pessoa parecia
até mesmo feliz de me indicar onde era o prédio que acontecia a
maioria das aulas de arquitetura.
Nem mesmo a distância foi o suficiente para acalmar a raiva
que eu sentia. Não foi difícil depois disso encontrar a sala de Keith.
Abri a porta, sentindo todo meu sangue ferver. As palavras de Isla
continuavam se repetindo na minha cabeça, em cada passo que eu
dava, elas ficavam mais altas.
Toda a sala virou para mim, percebendo que eu estava me
aproximando do professor. Quando o cara finalmente virou para
mim, meu punho encontrou seu queixo, jogando-o para trás em
cima da sua mesa. Com o silêncio que se fez por um breve
momento, seria possível ouvir um alfinete cair no chão. Em seguida,
ao perceberem o que havia acontecido, os murmúrios dos alunos
encheram a sala.
— O que é isso? — perguntou, segurando o queixo que parecia
bizarramente fora do lugar.
A maioria dos alunos estava de pé em suas cadeiras. Eu andei
até ele e o segurei pelo colarinho da camisa de segunda mão que
ele usava, levantando seu corpo. Soquei seu olho e senti meus
dedos doendo pelo impacto.
— Isso, é pra você aprender a não mexer com as suas alunas,
caralho! — Tentei socá-lo mais uma vez, mas alguém me segurou.
— Se você ao menos respirar perto de outra aluna, saiba que eu
vou te destruir e vai ser pior do que os socos que eu te dei agora.
Não vai existir uma única universidade na Escócia, na Inglaterra ou
na porra do Reino Unido na qual você vai encontrar emprego e eu
vou me certificar disso.
Chacoalhei o braço, me soltando do agarre dos três alunos da
sala. O homem me encarava com os olhos bem abertos, e eu só
sentia vontade de bater mais, bater por cada coisa que Isla tinha me
contado.
— Foi o quê? — Teve a coragem de rir. — Esposa? Não… Irmã?
Namorada? Eu não tenho culpa se ela me deixou fodê-la.
Tentei voar para cima dele de novo e mais alguns idiotas me
seguraram. Eu podia ver o medo nos olhos do cara, mas ele parecia
querer cair lutando. Bom, eu adoraria satisfazer aquele desejo, mas
ele parecia covarde demais para tentar revidar.
Me soltei de novo dos alunos e ajeitei meu paletó, olhando
para toda a sala.
— Saiba que eu sou muito sério em minhas palavras, Keith… não
vai ter um único lugar na Grã-Bretanha em que você encontrará
trabalho. — Dei um passo para frente e ele deu um para trás. Sorri e
deixei a sala, sabendo que eu tinha algo para consertar.
Olhei para a minha mão. Os nós dos meus dedos estavam
avermelhados, nada que causasse preocupação, mesmo assim,
sabia que Isla perguntaria o que aconteceu.
Quando finalmente estacionei em frente à empresa, após um
longo caminho pensando em como falar com ela, ainda não havia
conseguido pensar na melhor justificativa. Tudo o que eu sabia era
precisar de Isla em meus braços.
Joe tentou me parar no caminho até a minha sala, mas eu
estava em uma missão. Passei em frente à mesa de Isla, que me
olhava parecendo preocupada.
— Isla, minha sala. Agora! — falei, sem olhar para ninguém. Atirei o
meu paletó sobre o sofá assim que adentrei a minha sala e comecei
a andar de um lado para o outro, esperando que a porta se abrisse
novamente. Eu podia ouvir o burburinho que minha ordem tinha
causado, mas eu não ligava.
Precisava que Isla estivesse comigo naquele instante para
desfazer qualquer mal-entendido.
Não demorou muito e algumas batidas fracas soaram na porta.
Tentei esconder a mão para que Isla não visse que estava
machucado. Quando ela abriu a porta, seus olhos mostravam um
desamparo que me deixou sem chão.
— Connor, eu sinto muito… eu juro que… só não me demite, eu…
eu não sei se vou conseguir outro emprego se você me demitir —
implorou, os olhos cheios de lágrimas, enquanto fechava a porta.
Andei até Isla sem dizer uma palavra e a puxei para os meus
braços. O longo suspiro que ela soltou me fez respirar melhor.
Agarrei mais forte seu corpo em direção a mim, sentindo seu
coração batendo rápido de encontro ao meu.
O seu soluço quase me quebrou e soltei um pouco meu
aperto, apenas para segurar seu rosto e fazer com que ela me
encarasse. Seus olhos brilhavam em dourado. Passei meus dedos
por seu rosto, limpando as lágrimas que caiam. Eu nunca devia tê-la
deixado daquela maneira.
— Perdão — pedi.
— Você… você não me deve nada.
Isla colocou a mão sobre a minha e gemi. Ela pegou a mão
que estava em seu rosto e encarou os machucados, não era nada
demais. Apenas água resolvia, ao contrário de Keith que ficaria
marcado por um bom tempo.
— Connor, onde você estava?
— Eu precisava resolver algo.
— Com as mãos? — perguntou desconfiada.
— É como normalmente resolvemos as coisas. — Dei de ombros,
sem conseguir soltá-la.
— Você tem um kit de primeiros socorros?
— Eu estou bem, Isla… eu preciso saber se você está bem.
Isla concordou com a cabeça e eu a puxei de novo para os
meus braços. Eu não conseguia me afastar dela. Ela também não
parecia querer me soltar. Fiquei feliz por isso.
— Me deixe pelo menos limpar sua mão, por favor, não quero que
nada aconteça…
— Tudo bem — concordei, sabendo que o sentimento que vinha
nascendo dentro de mim me impedia de dizer não para ela. — Tem
um kit de primeiros socorros na segunda gaveta da minha mesa.
Isla andou até lá e voltou com o kit que eu mantinha na sala
apenas para o caso de Elijah se machucar aqui. Por isso, tudo o que
eu tinha era para crianças, inclusive o remédio para passar em
machucados.
Embora ele não ardesse, isso não me impediu de gemer,
fazendo com que Isla pegasse minha mão e assoprasse, como se
eu fosse um menino. Sorri e ela me olhou brava. Quando pegou o
band-aid, Isla me encarou com uma pergunta em seus olhos.
— É para o Elijah… ele não gosta de colocar nada no machucado,
só aceita se for de dinossauros.
— Então, parece que você vai ficar igualzinho ao seu filho hoje.
Fiquei encarando enquanto ela fazia o curativo. Esperando que
Isla falasse de qualquer outra coisa. Ela não perguntou onde eu
tinha me machucado, porque eu sentia que ela sabia. Isla sabia
exatamente quem tinha ficado com os olhos roxos.
Olhei para o band-aid de dinossauros em meus dedos e
escutei sua voz:
— Por favor, Connor, nunca mais faça isso por mim. — Concordei
com a cabeça.
— Ainda somos amigos?
Isla riu da minha pergunta boba e acenou, me encarando.
— Mas você entende que eu preciso ficar sozinha hoje? Sem você,
sem Elijah… apenas… eu?
— Sim, Isla… tome o tempo que você precisar. Mas você entende
se eu precisar te abraçar por mais um tempo, não é? — Abri os
braços e Isla olhou para a porta fechada, parecendo com medo que
alguém entrasse ali.
Quando ela finalmente encostou a cabeça em meu peito, eu
dei um longo suspiro. Eu faria qualquer coisa para defendê-la. Ainda
mais quando ela parecia tão frágil dentro do meu abraço.
Dei um beijo em sua testa, sentindo o cheiro do seu perfume
de mamão e afastei as mechas do seu cabelo quando ela se afastou
de mim. Seus olhos escuros mostravam um desamparo que quase
me fez dizer não e levá-la direto para a minha casa, onde eu poderia
cuidar dela.
— Eu preciso…
— Eu sei. Vai — disse, soltando sua mão, que ainda estava
agarrada a minha.
Assisti enquanto Isla deixava a sala, sabendo que eu quebraria
mais vinte caras apenas por ela. Lutar contra o que eu estava
sentindo não fazia mais sentido para mim.
Olhei para o band-aid e sorri: eu estava perdido.
Completamente perdido.
33
Isla

— Não, sinto muito, Claire… hoje eu realmente não posso sair com
você — falei, prendendo o telefone no ouvido, enquanto passava o
café. — Eu prometi para o Elijah que o levaria no zoológico, você
acredita que aquela criança nunca viu uma girafa?
O sorriso cresceu em meu rosto, imaginando como seriam os
olhos de Elijah assim que visse aquele animal gigantesco. Fechei os
olhos, pensando que Connor estaria lá. Eu não conseguia parar de
pensar em como ele tinha ido até Keith. Aquilo ainda causava um
rebuliço em meu estômago. Ninguém nunca tinha feito algo como
aquilo por mim.
— Isla Salazar, você está me ouvindo? — Claire gritou.
Afastei o celular da orelha e revirei os olhos.
— Não, não te ouvi, Claire, mas sinto muito, hoje não posso. Eu não
vou trocar uma criança por você, sinto muito, você tinha que ver os
olhinhos dele brilhando quando eu falei do zoológico, ele acha que
girafas não existem… eu vou fazer de tudo para provar que estou
certa.
— Eu estou gostando de te ver assim, sabia? Apaixonada…
— Eu não estou apaixonada, eu só estou completamente encantada
pelo Elijah. — Era verdade, ele tinha conquistado meu coração,
aquela criança era tudo. Eu nem sabia que podia caber tanto amor
dentro de um coração até conhecer ele. Às vezes, pensava em
aceitar a sua proposta e deixá-lo vir morar comigo.
— Isla! — Ouvi a voz de Robert e pensei em não responder, ainda
me sentia estranha sobre como ele tinha falado comigo, mas sabia
que podia ser algo sério.
— Claire, eu preciso desligar. O Robert está me gritando, e talvez
tenha acontecido alguma coisa com ele.
— Vai lá, mas no final de semana que vem você é inteiramente
minha, ok? Sem criança.
— Tudo bem, sua ciumenta!
Desliguei o telefone, e corri escada abaixo, usando meu pijama
de Chewbacca, que eu só usava em dias muito frios, porque parecia
que eu estava enrolada em um urso. Quando cheguei na loja de
conveniências, Robert encarava dois homens que carregavam um
colchão gigante com uma folha em suas mãos.
— Isla Salazar?
— Sou eu… — Encarei Robert e ele sorriu. — O que é isso?
— Acho que um colchão, Isla…
— É uma entrega para a senhora, onde podemos deixar? — O
homem parecia exasperado, como se estivesse falando com alguém
que tinha apenas metade dos neurônios funcionando.
— Mas, eu não pedi colchão nenhum, de quem é?
— Aqui, nessa folha diz exatamente o seu nome e esse endereço.
— Mas, eu não paguei por um colchão, como ele pode ser meu? —
questionei, cruzando os braços.
— A senhora não pode descobrir isso depois? Porque esse negócio
é pesado e a senhora está atrasando nosso cronograma de
entregas em um sábado.
Respirei fundo e baixei os ombros, indicando o caminho para o
meu quarto. Os dois homens subiram as escadas e Robert ficou
parado ao meu lado. Ele não disse nada, mas subi atrás dos dois,
me sentindo derrotada.
Peguei minhas chaves na porta e coloquei entre os dedos,
porque ninguém sabe o que pode acontecer com dois homens
desconhecidos dentro de casa. O número de violência contra
mulheres tinha aumentado nos últimos anos e eu não queria ser
uma estatística.
— Onde podemos deixar, senhora?
Olhei para o lugar que já parecia apertado sem aquele colchão
gigante e apontei para a parede do meu armário. Eu não poderia
tirar o meu colchão até descobrir de onde tinha vindo aquele, mas
desconfiava que quem mandou logo aparecia segurando a mão de
uma criança muito adorável.
— Obrigado — disse, depois de encostar a monstruosidade na
parede e se virar para mim, tirando uma caneta de dentro do
macacão bem cuidado de uma loja que eu nunca tinha nem
passado na frente. — Pode assinar aqui, por favor?
Peguei a prancheta e assinei meu nome, mesmo sabendo que
logo o colchão estaria de volta na loja. Isso é, se eles aceitassem
agora que tocou meu chão. Devia ter alguma regra contra isso.
Os homens desceram as escadas e fiquei olhando para o
espaço que tinha me restado dentro de casa: minúsculo. Eu nem
mesmo sabia como chegaria até meu armário sem ser amassada
por aquele peso que era o colchão.
Encarei e fui encarada pelo colchão. Um abraço não faria mal
a ninguém, certo? Quer dizer... ele era muito parecido com o que
Connor tinha em sua cama.
Cocei o braço e me aproximei lentamente do colchão, como
em um filme. Olhei para os lados para ter certeza de que não havia
ninguém ali e me joguei sobre a maciez inconfundível de algo que
só os ricos poderiam pagar.
Meus músculos protestaram, parecendo querer viver naquele
lugar para sempre e quase chorei quando senti como se o colchão
me abraçasse de volta e me chamasse de dona.
Ouvi um riso atrás de mim e me virei para ver Connor com os
braços cruzados e um grande sorriso em seu rosto. Um Elijah muito
agitado se balançava ao lado do pai, pulando de um pé para o outro.
— Desculpa invadir, ele precisa ir ao banheiro.
— Oi, moça! — gritou ao correr para o banheiro.
— Oi, moço!
Olhei para Connor e seus bíceps que ficavam saltados na
posição que ele estava. A camiseta preta abraçava seus músculos e
senti uma umidade descer por minha calcinha. Ele usava uma calça
de alfaiataria que parecia ter sido feita para ele e eu quase gemi...
...até me tornar autoconsciente que eu ainda estava jogada
sobre o colchão, vestida de Chewbacca e completamente
descabelada.
— Connor!
— Isla… gostou do presente? — Virei para o colchão e de volta para
ele. — Vocês pareciam bem íntimos...
Connor se aproximou de mim e desceu seus olhos por meu
corpo. Senti os bicos dos meus seios ficarem duros e quase os
cobri, mesmo que Connor não pudesse ver através do pelo do
Chewbacca. Sua boca se aproximou do meu ouvido e sua voz rouca
soou:
— Sabe… eu nunca imaginei que alguém vestida de Chewbacca
pudesse me deixar com tesão, mas porra… — Connor tocou meu
rosto e eu notei que os machucados não estavam mais tão
vermelhos. Seu dedo passou por meu queixo e eu inspirei
profundamente. — Acho que é você, não é, Isla? Qualquer coisa
sobre você.
Fechei os olhos, sentindo seus lábios a centímetros dos meus.
— Papai!
A voz do Elijah de dentro do banheiro quase me fez cair e
Connor me segurou pela cintura, me estabilizando. Seu dedo
passou suavemente pelos meus lábios antes que ele se afastasse.
Quando abri os olhos, Connor me encarava com intensidade.
— Eu não vou deixar que você fuja de mim, Isla… eu não sou
alguém que você conheceu no passado e você vai ser minha.
Connor não me deu tempo para resposta. Em vez disso, se
virou e foi até Elijah, que dava descarga em meu banheiro.
— Vamos esperar lá embaixo, filho? A sua moça precisa trocar de
roupa… ou é capaz de você querer virar o Chewbacca também e
nós sabemos que o Darth Vader é bem mais legal.
34
Connor

Isla estava sentada no banco de trás do carro, bem longe de


mim, ao lado do Elijah, que estava em sua cadeirinha. Os dois
tinham passado todo o caminho conversando, ao passo que eu
dirigia ao som de suas vozes e da música do filme do Tarzan, que
Elijah amava.
As ruas estavam lotadas de pessoas que andavam de um lado
para o outro, às vezes em bando, às vezes sozinhas, mas todos
pareciam aproveitar o dia frio que havia dado um fim à onda de calor
que estávamos passando.
Elijah estava mais uma vez vestido de dinossauro e eu nem
queria começar a falar sobre isso. Quando Grace engravidou, eu
achei que viria um mini eu, alguém que seria exatamente igual a
mim. Sonhei com meu filho vestindo apenas roupas sociais para
criança, mas Elijah quebrou todas as expectativas que eu tinha,
Grace também não permitiu que eu fizesse tudo como eu queria.
Elijah era melhor do que tudo que eu tinha sonhado, e eu
levaria uma bala por ele.
Quando chegamos em frente ao zoológico, fiquei rodando
procurando por uma vaga no estacionamento que era gigante.
Depois de finalmente conseguir estacionar, desci do carro e ajudei
Elijah a sair da cadeirinha.
Isla desceu e soltou o cabelo que estava preso em um coque.
Sua roupa era mais confortável do que ela normalmente usava para
o escritório, uma calça jeans, com o nome Peter Capaldi e diversas
cabeças voando mostrando uma das muitas versões do Doctor.
— Vamos conversar? — Isla falou e fiquei esperando, ela parecia
pronta para dar dicas para Elijah que segurava minha mão.
Olhei para o relógio, e Isla estalou os dedos em meu rosto.
— Connor, você pode, por favor, se comportar e não ser grosso ou
brigar com ninguém durante o nosso passeio? Elijah e eu
estávamos conversando, e esse passeio tem que ser divertido para
todos.
Coloquei a mão no tórax, ultrajado. Isla realmente estava
falando comigo como se eu fosse uma criança? Na realidade, Elijah
e Isla me encaravam como se eu pudesse estragar o passeio dos
dois. Aquilo era… provavelmente verdade.
Eu não podia impedir, se qualquer pessoa fizesse algo para
eles, eu me meteria.
— Promete, papai, de dedinho. — Elijah estendeu o dedo mindinho
para mim e Isla fez o mesmo, com um grande sorriso em seu rosto.
Contrariado, estendi meu dedo para Elijah que juntou o seu
com o meu e então torceu meu dedo, dando um sorriso e olhando
para Isla, enquanto eu seguia para fazer o mesmo com ela.
— Isso, então, estamos combinados que vamos todos ser a melhor
versão de nós mesmos para que o Elijah tenha um ótimo dia no
zoológico? Agora vamos entrar.
Elijah nem esperou que eu desse a mão para ele, pelo
contrário, meu filho se grudou ao braço de Isla, que sorriu para o
pequeno. Os dois pareciam próximos demais. Ela tinha mesmo
conquistado meu filho. Completamente.
Os dois se dirigiram à fila normal e eu estranhei.
— Isla, é a outra fila.
— Que fila, Connor? — questionou, com a sobrancelha franzida.
— Aquela.
Apontei para a fila quase vazia. Eu não ficaria horas em pé em
uma fila comum, já tinha passado muito por aquilo. Isla olhou para
onde eu apontava e revirou os olhos, puxando a mão de Elijah que
parecia tão feliz quanto eu de não ter que ficar na fila cheia de
gente.
— Claro que ele paga por uma fila especial. Tenho até medo do que
ele vai fazer assim que chegarmos lá dentro, carrinhos para andar
pelo zoológico? Passar a mão nos bichos? Nada é impossível para
Connor Evans.
Isla continuou resmungando, enquanto Elijah me olhava com
empolgação em seu rosto. Puxei o celular, abrindo o aplicativo que
mostrava o QR Code com os ingressos. Sim, Isla tinha quase cem
por cento de razão. Eles não iam passar a mão nos animais, mas
iam aproveitar tudo que o zoológico permitia até a hora que
quisessem.
Uma pulseira azul foi colocada no braço de Isla e Elijah e,
claro, no meu. Elijah olhou para Isla enquanto esperávamos e pediu
colo. Eu quase senti pena, o carinha estava gigante, perto de fazer
cinco anos.
— Papai, eu posso comer sorvete? Por favor — pediu, juntando as
mãos. Isla sorriu para ele. — Dois de chocolate pra mim e um de
morango pra moça.
— Eu não ganho chocolate?
Elijah olhou para Isla e ela concordou com a cabeça.
— Tudo bem.
Eu não acreditava no que estava acontecendo, meu filho
realmente achava que Isla era alguma divindade que tinha vindo
direto do céu para ele. Elijah grudou no pescoço dela e apertou, até
quase ficar vermelho.
— Vamos, papai… eu e a moça queremos sorvete.
Andei atrás deles, procurando por um quiosque que vendesse
sorvete. Isla e Elijah andavam juntos de mãos dadas depois que ela
cansou do peso extra enquanto eu interpretava a versão de um
segurança.
Elijah não parecia nem mesmo lembrar que eu existia. Eu
ouvia bem a sua voz explicando coisas para Isla, principalmente
sobre dinossauros. Isla virou para trás, sorrindo para mim, e fiquei
preso naquele sorriso, mesmo depois que ela virou para frente,
voltando a ouvir meu filho.
— Se as girafas não existirem… eu posso comer três sorvetes?
— Eu acho que quem responde isso é o seu pai, mocinho… — Isla
respondeu, apertando a mão de Elijah três vezes.
Eu podia ver um amor muito forte rondando os dois. Era bonito
e completamente maluco. Não achava que alguém pudesse amar
Elijah tanto quanto Grace e eu amávamos, mas Isla parecia estar
chegando lá.
— Por aqui o sorvete — apontei.
Elijah não soltou por um momento a mão de Isla, mas
estendeu a outra para mim e senti que era aceito naquela dupla. Isla
enfiou a mão na bolsa pronta para pagar por seu sorvete.
— Os três sorvetes aqui, por favor. — Mostrei minha pulseira e Isla
revirou os olhos.
— Papai, eu posso levar sorvete pra mamãe? Ela vai ficar triste.
Coloquei a mão em seus cabelos pretos e baguncei. Ele era
assim, a criança mais doce do mundo. Elijah era o meu mundo. O
meu coração fora do peito.
— A gente compra antes de ir pra casa, ok? — Elijah concordou
com a cabeça e voltou a dar a mão para Isla.
Isla olhou para mim e eu tive vontade de passar meu braço por
sua cintura. Fazer como meu filho, ficar grudado nela, porque a ideia
de perdê-la de vista parecia assustador demais.
— Papai, meu sorvete!
35
Isla

Elijah já estava sujo do sorvete que tinha derretido, enquanto


ele ia me apontando que animais vinham ou não da evolução dos
dinossauros. Eu tinha certeza de que apesar do pequeno ser
completamente apaixonado por dinossauros, ele estava errado
sobre a maioria. Eu tinha lido em algum lugar que galinhas e aves
eram primas dos dinossauros…, mas nem disso tinha certeza.
— Moça… eu acho que as girafas não existem mesmo. — Eu
começava a desconfiar do mesmo, já tínhamos andado por todos os
lados e os bichos pescoçudos não tinham nem mesmo aparecido
em qualquer placa. Não que eu tivesse tempo para olhar enquanto
Elijah falava comigo.
— Claro que existem, Elijah, ninguém ia inventar um bicho com o
pescoço gigante apenas por querer, certo, Connor?
Connor, que andava atrás de nós, deu uma risada e se
aproximou.
— Campeão, acho que a Isla mentiu para você… o que nós
fazemos para pessoas que mentem? — Connor disse tudo com o
rosto sério, Elijah parou um segundo, ainda segurando minha mão e
colocou a mão no queixo, como um pequeno aristocrata e me
encarou.
— Cócegas!
Connor passou os braços por minha cintura, me prendendo de
encontro ao seu corpo. Elijah finalmente soltou minha mão após
horas apertando meus dedos apenas para começar um ataque de
cócegas.
Nunca fui de sentir cócegas, mas tinha algo sobre dedos
minúsculos tentando fazer cócegas que fazia com que você sentisse
o maior incômodo da sua vida. As pessoas que passavam por nós
me encaravam por causa da minha risada alta. Connor não parecia
nem mesmo preocupado, talvez aquela fosse a sua vingança por ter
dito que ele precisava se comportar no passeio.
Mordi seu braço que estava próximo da minha boca, quando
eu não conseguia mais aguentar e ele nem pareceu preocupado, e
devolveu a mordida em meu pescoço. Fiquei séria, sentindo um
arrepio por toda minha coluna até o local da mordida.
— Eu vou fazer xixi, por favor, parem.
Elijah me soltou e Connor fez o mesmo. O rosto de Elijah
agora estava sério. Virei para Connor e ele acenava parecendo
orgulhoso do filho. Olhei para o lado, parecendo que eles estavam
tendo um momento pai e filho.
— Olha lá! — disse apontando e grudei a mão do Elijah, saímos
correndo.
Podia ouvir os passos de Connor atrás de nós dois, mas
também podia estar confundido com todos os passos que estavam
nos seguindo. O espaço reservado para as girafas estava cercado
de pessoas que olhavam o animal.
Eu olhei para Elijah e vi o exato momento em que seus olhos
se maravilharam. Ele subiu os olhos desde as patas do animal até o
mais alto que conseguiu, seus olhos se arregalaram e Elijah deu um
grande sorriso e puxou meu braço.
— É de verdade… existe de verdade.
Connor finalmente se aproximou de nós, pegando Elijah no
colo para que o garoto pudesse olhar de perto e algumas pessoas
deram espaço para o homem gigante aproximar a criança do
cercado.
Fiquei olhando para os dois e puxei o celular, tirando uma foto
enquanto Connor carregava o filho. Incluí a girafa na foto para que
ele pudesse colocar no quarto de Elijah.
Olhei para os braços flexionados de Connor e tentei desviar os
olhos, mas não conseguia. Tudo sobre ele me atraia, e mais do que
isso, eu não conseguia parar de pensar no seu beijo. Não conseguia
parar de pensar em como ele me segurou, em como ele vinha
demonstrando que era uma pessoa diferente do que eu pensei.
E a sua voz. A sua voz sussurrando no meu ouvido. Olhei para
seu rosto e encontrei seus olhos em mim. Elijah continuava
animado, perdido em sua excitação infantil, mas eu… eu estava
assustada com a sensação de pertencimento que os olhos de
Connor me davam.
Senti meu coração pesado de um sentimento que até aquele
momento parecia desconhecido, mas eu quase podia nomeá-lo.
Connor estendeu a mão para mim e eu não tive que pensar antes
de segurá-la. Era o certo a fazer. Eu não podia viver com medo de
ser machucada. Não quando ele me olhava com tanto
encantamento.
Connor tinha mostrado que eu era algo pelo qual ele estava
disposto a lutar. E eu começava a desconfiar que também lutaria por
ele. Elijah grudou o rosto do pai e direcionou até que Connor
estivesse olhando para as girafas, mas suas mãos continuavam o
carinho que ele fazia com os olhos.
— Papai, a gente pode ter uma girafa? — Elijah questionou, ainda
no colo do pai.
— Eu acho que é meio impossível ter uma girafa no meu
apartamento, campeão… que tal a gente sempre vir aqui visitar
elas?
Elijah virou para Connor com um beicinho e concordou com a
cabeça.
— A gente pode trazer a moça?
— Acho que se ela aceitar, a gente pode sim.
— Moça, você pode vir com a gente.
Elijah não perguntou, apenas afirmou. Não discordaria dele. Eu
começava a desconfiar que faria qualquer coisa por aqueles dois e
isso me assustava ao mesmo tempo que me confortava.
— Eu estarei aqui até que você não me queira mais, ok? — Elijah
esticou o dedo mindinho para mim e eu enrosquei o meu no dele,
fazendo um pacto que eu nem sabia se ele entendia a seriedade.
Connor colocou Elijah no chão, e a criança se aproximou ainda
mais do cercado, sentando no chão. Braços me rodearam e fiquei
no casulo, sendo envolvida por um sentimento que eu tinha medo,
mas que crescia a cada dia.

Estava sentada no chão da porta do banheiro, onde Elijah me
pediu para ficar enquanto Connor ajudava o filho no banho. Claro
que uma criança de quase cinco anos podia tomar banho sozinho,
mas Connor me disse que era o suporte emocional de Elijah para
banhos, coisa que ele detestava fazer.
— Tem certeza que não cabe uma girafa no meu quarto? Eu tiro a
balança, eu nem gosto dela. — Connor deu uma risada profunda e
me encarou, como se eu fosse a culpada.
— Tenho certeza, Elijah… vamos deixar as girafas onde tem que
ficar, ok? Nas savanas.
— A gente pode morar nessa savana? Parece ser um prédio bem
legal.
Não demorou muito para que Connor conseguisse tirar o filho
da água e explicasse que não dava para morar em uma savana.
Fiquei esperando na sala, pronta para ir embora, mas Elijah não
deixou. Ele queria que eu jantasse com eles, e ficasse para fazê-lo
dormir.
E eu fiquei, porque nem sabia se tinha forças para deixar
aquele ambiente.
36
Connor

A sala de TV estava escura, com metade dos brinquedos de


Elijah espalhados por todos os lugares. Eu tive que parar quando
ele pensou em trazer o pula-pula para o espaço. Olhei para o lado e
Isla parecia focada no programa de infantil que passava, enquanto
fazia carinho na cabeça de Elijah.
Meu filho estava completamente torto no sofá, seus pés
estavam no meu colo. O pijama verde com cactos sempre deixava
Elijah parecendo menor do que realmente era. As bochechas de
Elijah estavam vermelhas e amassadas do seu sono e, por isso, me
levantei.
— Vai levar ele pra cama? — Isla perguntou, levantando os braços e
mostrando um pouco da barriga, naquela camiseta com a cara de
outro homem.
— Sim, senão Elijah vai acordar daqui a pouco e já está na hora de
dormir.
Peguei meu filho no colo e empurrei um brinquedo com o pé.
Isla ficou na sala, parecendo desconfortável, sentada no sofá,
enquanto eu levava Elijah para o quarto.
Eu sabia que no meio da noite ele daria um jeito de ir para a
minha cama, mas por algumas horas seria bom que ele dormisse na
sua. Acendi o abajur, depois de colocá-lo sobre o colchão. Puxei a
coberta e dei um beijo em sua cabeça.
Quando eu decidi ser um pai, eu realmente achava que eu
conhecia o tanto que alguém pode amar outra pessoa, mas agora,
quando eu olhava para o meu filho, não chegava nem perto do que
eu sentia.
Esfreguei o dedo no lábio, e a lembrança do dia que eu pedi
para Grace ser a mãe do meu filho voltou à minha memória. Era
engraçado pensar que dois bêbados tiveram a melhor ideia do
mundo. Quando chegamos na clínica de inseminação, os dois
tremiam como doidos. Foram duas tentativas falhas até dar certo.
Elijah abriu a boca no sono e virou para o lado, chutando a
coberta. Eu sabia que era um bom pai para ele, e isso, às vezes, me
fazia pensar em como meu pai tinha me deixado. Como ele tinha
tido coragem? Ao mesmo tempo, eu também sabia que quando
alguém não quer ficar, o melhor é deixar ir.
Por isso, eu fiquei. Eu escolhi Elijah e continuaria escolhendo
todos os dias.
Ouvi o barulho na sala e lembrei que deixei a Isla no meu sofá.
Levantei do chão, sentindo as marcas do carpete em minha mão e
andei até a sala depois de encostar a porta do quarto.
Isla estava ajoelhada, recolhendo brinquedos. Parei na porta.
Seu cabelo estava preso dentro da blusa, a calça jeans já não
parecia tão confortável e ela parecia cansada.
— Deixa isso, eu termino de arrumar.
Isla largou um cavalo e virou para mim.
— Eu não te ouvi chegar…
— Desculpa, mania de pai… não posso fazer muito barulho, ele tem
sono leve. — Andei até Isla e me ajoelhei ao seu lado. Puxando
uma caixa.
— Connor, eu pedi um Uber para ir pra casa, é longe e está tarde
pra ir de ônibus… você não precisa descer, mas…
— Cancela — pedi, mesmo que tivesse soado como uma ordem. Eu
não estava pronto para Isla ir embora, não depois de como ela me
olhou. — Cancela e fica aqui, por favor…
Levei minha mão até seu rosto e Isla se aconchegou, fechando
os olhos, enquanto eu fazia carinho em sua bochecha. Quando seus
olhos abriram de novo para mim, senti meu coração revolto. Isla
balançou a cabeça em um sim quase imperceptível.
— Me empresta uma roupa? — questionou e eu sorri.
— Finalmente vou tirar esse velho babão do seu corpo e colocar
uma roupa minha? Eu sou um homem sortudo. — Pude ver uma
piada se formando na cabeça de Isla, mas não deixei que tivesse
tempo de fazê-la.
Levantei do chão, puxando-a para cima. Isla me encarou e não
parecia querendo soltar meu braço, seus olhos me olhavam com um
sentimento que eu sabia que ela também podia ver nos meus.
— Vem, enquanto você toma um banho, eu vou arrumar a sala.
— Hey, eu posso te ajudar…
— Você está cansada, nunca passou tanto tempo com uma criança
e ele exigiu toda a sua atenção. Vai lá. Eu estou acostumado com
isso.
Não precisei dizer duas vezes. Isla correu para o banheiro do
meu quarto, que estava se tornando um conhecido seu. Olhei para a
bagunça de Elijah e pensei que talvez eu devesse colocar limites na
criança.
Me abaixei, abrindo a caixa e enfiando os brinquedos de
qualquer jeito dentro dela. Mesmo ocupado, eu não conseguia parar
de pensar em Isla no meu chuveiro, seu corpo sendo molhado, os
seios empinados. Seios que eu morreria para colocar na boca. Meu
pau estava duro antes de eu começar a imaginar o restante do seu
corpo.
Fechei os olhos, tentando afastar o pensamento da cabeça,
sabendo que eu teria que ir com muita calma. Isla tinha passado por
uma humilhação e tinha medo de proximidade.
Peguei a caixa do chão, colocando no lugar e arrumando os
brinquedos que ficavam à mostra, próximos o suficiente para que
Elijah pudesse pegá-los. Caminhei até o quarto, sabendo que logo
Isla sairia do banho e ela não tinha separado uma roupa.
Abri a porta, ouvindo o barulho do chuveiro ligado. O quarto
estava escuro, mas eu não precisava de muito para conseguir pegar
uma roupa confortável para ela dentro da cômoda.
Separei a roupa e coloquei sobre a cama. A porta do banheiro
abriu, e o quarto foi banhado pela luz amarelada. Isla saiu de lá com
o cabelo em um coque e uma toalha branca enrolada pelo corpo.
Dei um salto e Isla olhou para os lados. Senti meu pau ficando
duro ao olhar para seu corpo banhado pela luz do banheiro. A toalha
ia até metade do começo da coxa de Isla, eu conseguia ver como
ela apertava com força o tecido em sua mão.
— Desculpa… eu… — Não conseguia tirar os olhos de seu corpo,
seus seios comprimidos por seu braço pareciam pedir minha
atenção.
Olhei para a roupa na cama e de volta para Isla. Eu queria tirar
tudo dela e foder sua boceta até estar escorrendo meu gozo, mas
eu tinha decidido pela calma. Era o que ela precisava.
— Eu vou sair.
Isla ainda não tinha falado, seus olhos estavam presos em
mim. Acenei com a cabeça, saindo do quarto, mas Isla prendeu a
respiração quando passei por ela. Olhei de volta para ela, seu peito
subia e descia. Isla abriu a boca, pronta para falar alguma coisa.
Sua mão soltou a toalha, e eu quase tive um aneurisma ali
mesmo. Corri para perto dela, segurando o tecido no lugar. Seus
olhos me encararam em choque, meus dedos esbarraram em seu
seio, e Isla sugou o ar por entre seus lábios.
Meu pau começou a ficar apertado dentro da calça e Isla
aproximou sua boca da minha. Fechei os olhos, respirando
profundamente.
— Connor… — Segurei a toalha mais forte, até que Isla aproximou
as mãos das minhas, soltando o tecido que se amontoou aos meus
pés.
— Isla, me pede pra sair…
— Não posso.
Sua mão segurou a minha, que estava perto o suficiente de
seu corpo. Abri os olhos, encarando seu rosto. Isla levou minha mão
até sua boceta, me fazendo sentir como ela estava molhada. Ouvi
seu gemido ao sentir meus dedos gelados em sua pele. Arrastei o
dedo espalhando sua umidade por toda a extensão, lubrificando até
mesmo os pelos crescendo em sua boceta.
Segurei seu braço apertado e um grunhido saiu de sua boca.
Os seus olhos castanhos levemente caídos se fecharam e afastei
suas pernas com as minhas. Isla subiu a mão por meu pescoço,
grudando na parte de trás da minha cabeça, as unhas afundando
em minha pele.
— Você está tão molhada… — Toquei seu clítoris e Isla deixou
escapar um gritinho. — Sem barulhos… ou eu vou tapar sua boca.
Você está doida pra gozar, não é? Fala, Isla… conta pra mim como
você está doida pra gozar nos meus dedos.
— Connor… por favor…
— Você já se tocou pensando em mim? — Isla concordou com a
cabeça. — Quantas vezes desde que me viu fodendo, Isla? Porque
o seu rosto me olhando tem me acompanhado toda noite… eu já te
imaginei sobre cada superfície dessa casa, então me diz… implora,
Isla.
Enfiei dois dedos em sua boceta e a facilidade que eles
entraram quase me fez gritar de tesão. Ela estava tão escorregadia.
Curvei os dedos, enquanto esfregava seu clítoris.
— Eu… muitas. — As unhas de Isla apertaram mais meu pescoço.
Desci minha boca até seu pescoço, deixando um caminho de beijos
molhados em sua pele ainda quente do banho. — Connor!
— Pede com jeitinho, Isla… vamos. “Senhor Evans, eu quero que
você foda a minha buceta.”
Eu nunca tive fetiche, mas a voz de Isla me chamando de
senhor Evans tinha me dado expectativas demais. Seus olhos se
arregalaram quando coloquei a boca em seu seio, sugando o bico
com gosto.
Belisquei seu clítoris com meu dedo, e ela me encarou,
sabendo que eu não faria nada enquanto ela não dissesse.
— Senhor Evans… por favor, fode a minha buceta.
Senti o pré-gozo vazando do meu pau. Tirei meus dedos de
sua boceta e voltei para dentro, metendo com força e fazendo seu
corpo tremer, enquanto chupava o bico do seu seio. Seu corpo se
ondulou por mim e sorri, mordendo o bico do seu seio até que ela
tivesse que colocar a mão sobre a boca.
O corpo de Isla encostado na parede me dava o suporte que
eu precisava, porque suas pernas já tinham perdido a força. Puxei
os dedos, mexendo em seu ponto g, e abri um pouco mais suas
pernas. Sua pele ficava vermelha por onde eu passava a barba e
ela respirava profundamente.
Encostei minha boca em seu pescoço e gemi, sentindo a
lubrificação escorrer por meus dedos.
— Quando eu te foder, Isla… não vai ter outro homem. — Sua mão
voltou pro meu cabelo. — Quando você gozar no meu pau até
perder a noção de onde está, você vai ser minha. E eu não divido.
Eu não vou te deixar para ninguém, porque uma vez que você ficar
empalada no meu pau… você vai ser completamente minha. Então,
goza… meu amor, goza gostoso.
As mãos em meu cabelo apertaram, enquanto seu gozo forte
escorria por meus dedos em direção a minha mão. Fechei os olhos,
sentindo o cheiro da sua liberação e tirei os dedos de dentro dela.
Isla pareceu perder o equilíbrio e eu a puxei de encontro ao
meu peito.
— Agora… se você quiser usar a camiseta com o rosto de um
homem, use com o meu que te fiz gozar… — Sentei Isla na cama e
parei, vendo seu rosto de tesão.
Seu corpo brilhava com o suor, enquanto eu ainda estava
vestido. Segurei meu pau por cima da calça e encarei seus olhos.
— Vou te dar um tempo para se trocar… e depois nós vamos dormir.
Amanhã… amanhã, Isla… eu vou comer você até você gozar
gritando meu nome.
Aproximei minha boca da sua e dei um selinho, me afastando
antes que suas mãos pudessem me segurar.
— Amanhã, Isla. Amanhã.
37
Isla

Senti a cama afundando e acordei assustada, olhando para o


pequeno corpo que tentava procurar um espaço para deitar entre
mim e Connor. Elijah me olhou com os cabelos grudados na testa e
sorriu, parecendo tão sonolento quanto eu.
Meus olhos pareciam cheios de areia. Eu não sabia de onde
tinha surgido a coragem para ficar pelada na frente de Connor, mas
ela veio com tudo.
Elijah finalmente se aconchegou, abraçando mais forte o
dinossauro em seus braços. Olhei para Connor que parecia
capotado. Ele estava completamente relaxado, com as costas
descobertas viradas para cima, seus lábios abertos, e o cabelo
bagunçado.
— Moça… — Tirei o cabelo dos olhos de Elijah e acariciei seu rosto.
— por que você veio dormir com o meu papai?
— Ficou muito tarde para ir para casa… você se incomoda? —
questionei, com medo que a criança sentisse que eu estava
invadindo a casa e o espaço dele.
— Não — Elijah sussurrou e senti meu coração ficar mais leve. —,
mas por que você não dormiu no quarto da mamãe?
Olhei para Connor e pude ver a sombra de um sorriso
repuxando sua boca. Aquele homem idiota! Connor tinha me feito
dormir duas vezes em seu quarto como se não existisse outro além
do dele e o de Elijah. Pior, sequer me mostrou o quarto que projetou
para Grace.
Elijah continuava me olhando, esperando por uma resposta,
mas antes de respondê-lo, eu precisaria chutar Connor bem no meio
das costelas. Voltei meus olhos para Elijah e tentei pensar no que
dizer para a criança.
— Sua mãe não ia querer dividir o quarto comigo, Elijah…
— Mas ela sempre divide com algumas moças.
Connor sentou na cama, pegando o filho e jogando para cima.
Meus olhos se arregalaram, não por Grace, mas por Elijah pensar
que a mãe estava tendo festas do pijama com as amigas.
— Parece que alguém acordou bem falante, não é mesmo? — a voz
rouca de Connor me fez cobrir o corpo todo, impedindo que os
arrepios sentidos fossem vistos a olho nu.
— Papai, eu queria dormir com você e com a moça. — Elijah cruzou
os braços, e Connor parecia que estava sendo torturado.
— Elijah, desculpa o papai, eu prometo que na próxima vez você
dorme aqui, ok?
Elijah me encarou, se jogando sobre meu corpo, esticando seu
tronco em minha barriga. Parecia ignorar o pai de propósito. Segurei
suas pernas, impedindo que a criança caísse da cama que, apesar
de gigante, não era o suficiente para o que Elijah estava tentando
fazer.
Connor apertou um botão no controle ao lado da sua cama e
as janelas começaram a clarear. Eu nem sabia que estava tão claro.
A luz do sol invadiu o lugar, me renovando.
Encarei os olhos escuros de Connor, enquanto seu filho me
fazia de colchão e pude ver um brilho diferente do que eu
normalmente via. Seu rosto se aproximou do meu e Connor
encostou seu nariz no meu. Quase me estiquei para que nossas
bocas tocassem, sofrendo pela antecipação de um beijo que eu só
tinha sentido algumas vezes.
Connor se afastou sorrindo e olhei para Elijah que parecia que
tinha acabado de descobrir que era manhã de Natal. Seus olhos
estavam arregalados, um sorriso gigante em seus lábios.
— Campeão, o que você quer comer de café da manhã? — Elijah,
que parecia ter perdoado o pai de ter sido excluído da noite do
pijama, sentou e se jogou no colo de Connor.
— Panquecas!
— E você, Isla? — Dei de ombros, eu aceitaria qualquer coisa para
que eles me deixassem ficar ali.
— Então panquecas para todos.
Connor levantou da cama, jogando Elijah de ponta cabeça
sobre seus ombros. Ambos saíram rindo do quarto. Senti o sorriso
em meu rosto e puxei a coberta, cobrindo minha cabeça. Aquilo
parecia um sonho.
Belisquei meu braço e a dor me trouxe de volta à realidade. Eu
realmente estava ali, vivendo aquilo.
Peguei meu celular e notei que tinham mensagens de Claire. A
maioria me xingava porque eu não tinha voltado para casa.
Segundo ela, ela tinha cansado de gritar meu nome e me ligar. Abri
o aplicativo de chamada e tinha diversas perdidas, mas nem mesmo
aquilo ia me desanimar.
Fechei os olhos, largando o celular sobre meu corpo. As
imagens da noite passada voltaram como flashes para a minha
cabeça. Os dedos de Connor me tocando, seu pedido para que eu
fizesse silêncio. O pedido para que eu o chamasse de Senhor
Evans...
Os bicos dos meus seios ficaram duros apenas com a
lembrança dele. Será que aquilo tinha realmente acontecido?
Deveria ser apenas a minha cabeça. Mas então, lembrei de como
apertei seu pescoço, arrancando sangue, e outras memórias me
inundaram.
Meu chefe tinha me comido com seus dedos até que eu
ficasse quase louca. Eu nem sabia se tinha coragem de sair daquele
quarto. Não parecia certo quebrar as memórias.
A lembrança de como Connor colocou sua camiseta em meu
corpo, passando os dedos por meus seios, arrastando sua mão por
minha pele e fazendo com que tudo em mim se arrepiasse. Tive que
implorar para colocar a cueca samba-canção sozinha, porque eu
estava a um passo de sentar nele.
E aquilo era muito rápido. Connor tinha me prometido uma
noite de sono.
Levantei da cama, esticando o corpo, sentindo meus músculos
protestarem por eu estar deixando aquele espaço. Eu precisava
descer antes que Connor aparecesse na porta do quarto.
Ajeitei a cama, tentando deixar do jeito que estava antes de
dormirmos ali, mas eu não tinha jeito para arrumar uma cama
daquele tamanho. Desci as escadas depois de fazer minha higiene
e Elijah já estava com um grande pedaço de panqueca em sua boca
quando cheguei.
Uma voz saiu do telefone e Connor estava fazendo o que
parecia uma comida que alimentaria uma família de escoceses.
— Quer chocolate derretido? O Elijah fez um pouco.
— Não, obrigada.
— Grace? Oh, que saudade de você, querida. — Meus olhos
arregalaram e Connor sorriu.
— Mãe, não é a Grace.
— Oh…
— Vovó, é a moça!
— Moça? Essa moça tem nome, Elijah? — Coloquei a mão sobre a
minha boca, querendo fugir para qualquer lugar.
Ouvi a porta do apartamento abrindo e Grace falando alguma
coisa, até se calar ao entrar na cozinha com um suco de uva na
mão, desligando o telefone que estava na outra.
— Rhona! Que saudade!
— Grace? Quantas pessoas exatamente estão na sua casa agora,
Connor Evans?
— Vovó, eu, o papai, a mamãe e a minha moça, são quatro… —
Elijah levantou a mão, mostrando quatro dedos e eu só queria me
afundar no chão.
Que um buraco se abra e eu seja sugada, rezei.
— E a sua moça tem um nome, Elijah?
— É a Isla, Rhona… ela é uma funcionária do Elijah.
— Da casa? — Grace riu e eu andei mais uns passos para trás. Por
que Connor continuava fazendo aquilo comigo?
— Não… funcionária da empresa… — Grace estendeu a mão para
mim. — Vem dar oi, Isla.
Comecei a negar com a cabeça, mas os três, bem, quatro, não
pareciam muito interessados no que eu queria ou não queria. Eles
não pareciam nem mesmo interessados em mim.
— Não precisa dizer oi pelo telefone, querida. Eu quero todos aqui
para o almoço, Evanna e eu vamos preparar muita comida para
vocês, ela estava vindo passar o dia comigo. Que dia feliz.
Escutei algumas palminhas e logo a linha foi cortada. Connor e
Grace começaram a apontar um para o outro. Pareciam prontos
para se matar, mas foi a voz do Elijah que fez com que eu
chorasse.
— Moça, a gente vai comer na vovó!
E foi assim que eu acabei em um almoço de família com a
família de Connor.
38
Connor

Isla estava sem me responder, mas pelo menos estava dentro


do carro. Bom, não do meu. Ela fez Grace a levar para trocar de
roupa. Elijah tinha ido com as duas para a casa de Isla e, por isso,
eu estava sozinho, esperando na porta da casa da minha mãe.
Eu não entraria ali para enfrentar Rhona e Evanna ao mesmo
tempo sem a presença de Grace, Elijah e Isla. Alguns poderiam
dizer que eu era medroso, mas era receio.
O carro de Grace estacionou e os três desceram. Meus olhos
foram instantaneamente para Isla. Ela usava um vestido preto que
contrastava com o tom da sua pele clara, seus cabelos pretos em
um rabo de cavalo deixavam seu colo à mostra e ela estava linda,
como sempre. Saí do carro, andando até ela.
Isla parecia grudar na mão de Elijah como se ele pudesse
salvá-la de conhecer minha mãe, Aquele não era o jeito que eu
havia planejado, é óbvio, mas parecia certo.
— Você está tão fodido… — Grace disse passando por mim. — Por
isso, eu não deixo o Elijah perto do telefone quando estou com
alguém.
Ignorei sua fala, sabendo que Grace não deixava Elijah perto
do telefone quando estava com alguém porque ela tinha medo de
ter que contar que era lésbica para a mãe.
— Isla, você está linda. — Os olhos escuros de Isla voaram para o
meu rosto e eu consegui notar no tique que fazia com que seu olho
direito tremesse. — Prometo que minha mãe é uma boa pessoa…
e…
— Tudo bem, Senhor Evans, eu vou conhecer sua família porque o
Elijah me pediu.
Elijah olhou para mim e deu um sorriso, mas o gelo na voz de
Isla não me passou despercebido. Concordei com a cabeça e Isla
continuou andando. Comecei a caminhar atrás dos três e Grace deu
um sorriso, levantando um sinal de jóia para mim. Eu sabia que
estava ferrado.
Eu tinha beijado Isla uma vez, a fodido uma, e atirado ela na
confusão que era minha família.
A porta de casa foi aberta e minha mãe saiu de dentro,
parecendo a grande hippie que ela era. Seus cabelos estavam
presos em uma trança, o vestido cheio de detalhes chamava a
atenção. Seus braços se abriram e Elijah correu para a vó, se
jogando sobre ela.
Evanna estava logo atrás, bem mais polida que minha mãe.
Elas tinham personalidades completamente diferentes. Me
assustava que elas pudessem ser tão boas amigas. Elas moravam
uma do lado da outra, e viviam dividindo atividades: as duas haviam
trabalhado juntas, então viraram melhores amigas, juntaram os
panos e os filhos e dividiram uma casa até que Grace e eu
estivéssemos criados.
— Elijah! — Evanna chamou.
Minha mãe soltou meu filho, que correu para Evanna, se
jogando sobre as pernas da avó. Grace abraçou minha mãe e puxou
Isla para perto dela. Fiquei para trás, assistindo, enquanto todos se
cumprimentavam.
— Rhona, essa é a Isla, funcionária do Connor e a moça do Elijah.
Meu filho está apaixonado por ela.
— Eu posso ver o porquê, olha esse rostinho de boneca.
Japonesa?
Respirei fundo, vendo o rosto de Isla se contorcer, parecendo
desconfortável com aquela situação. Ia responder quando ela falou
pela primeira vez:
— Filipina. Prazer, Rhona… eu não queria atrapalhar um almoço de
família…
— Ah, não se preocupe. Qualquer pessoa que é amada por Elijah é
amada por nós. — Isla virou para mim e voltou a encarar minha
mãe. — Olha, Evanna, parece que nosso Elijah adotou mais uma
pessoa para a família.
— Fico feliz em saber disso, Rhona. — Evanna estendeu a mão
para Isla, e Grace correu abraçar a mãe, que afastou a mão
estendida para segurar a filha.
Passei pela porta, dando um beijo em minha mãe. Coloquei a
mão na base da coluna de Isla, precisando sentir alguma
proximidade com ela e a empurrei para dentro da casa.
Isla olhou para a casa e podia ver seus olhos se perdendo em
cada detalhe que apenas arquitetos reparavam. Eu tinha projetado
essa casa para minha mãe assim que eu consegui dinheiro o
suficiente para isso.
Tirar minha mãe da casa que ela e Evanna dividiam fora uma
prioridade para mim e para Grace, por isso fizemos de tudo para
que elas tivessem um bom lugar para viver.
— Filho, fazia tanto tempo que você não vinha aqui! Eu estava
começando a achar que meu filho tinha sido abduzido. — Revirei os
olhos para o dramalhão de minha mãe. — Até o Elijah esqueceu da
avó.
— Mãe, eu estou trabalhando e, quando não estou trabalhando,
estou com Elijah… mas prometo visitar mais.
— Se vai trazer ele na casa da Rhona, eu também quero que ele me
visite mais, ouviu Grace?
Vi um sorriso nascer no rosto de Isla pela primeira vez em
horas, e senti meu coração leve.
— Isla, quer ver o quintal? Eu fiz um projeto de paisagismo com o
Joe que ficou muito bonito. Depois você pode comentar com ele que
o meu projeto é ótimo e eu te dou cinquenta libras.
— Ah, mostre mesmo meu jardim, é meu lugar preferido da casa.
Apontei a porta e Isla começou a sair, visivelmente ainda
nervosa. Todo seu corpo denunciava isso, desde suas costas tensas
aos ombros encurvados para baixo. Ela ainda continuava a colocar
um fio de cabelo solto atrás da orelha.
Abri a porta dos fundos e saí, pegando sua mão para que ela
descesse a pequena escada que tinha. Isla não recusou, o que me
fez sentir alívio.
— Desculpa, não queria mesmo que você fosse jogada nesse
turbilhão…
Isla apertou meus dedos e respirou fundo, a brisa fresca do
verão bateu em nossos corpos e ela sorriu, me olhando.
— Tudo bem, eu não estou brava, só queria que você parasse de
me meter nos seus programas familiares sem que eu fosse avisada
disso.
— Eu juro que não queria fazer isso. — Olhei para trás e vi Grace,
Evanna e minha mãe na janela, encarando minha conversa com
Isla. — Elas estão olhando, então, vamos caminhar, enquanto eu te
mostro esse maldito jardim.
Isla riu e soltou minha mão, andando em direção ao jardim que
Joe tinha planejado.
— Sua família é sempre tão…
— Maluca? Completamente invasiva? Normalmente.
— Eu ia chamar de maravilhosa… é bom que o Elijah tenha tanto
contato com as avós, ele parece feliz aqui.
Parei, lembrando de como ela tinha me dito que os avós
morreram sem que ela pudesse vê-los uma última vez. Seus olhos
pareciam perdidos.
— Ele ama as duas mais do que ama Grace e eu, não sei como ele
ainda não veio morar com elas.
— Eu também iria querer. Não me entenda mal, sua casa é linda e
parece um lugar confortável demais, mas aqui parece um lar, sabe?
— Achei que você tivesse gostado da minha casa…
Isla olhou para mim e sorriu.
— Eu amei Connor, mas…
Olhei para a janela e não tinha mais ninguém espiando
enquanto Isla e eu conversávamos. Puxei seu corpo para perto do
meu pela cintura. Isla colocou suas mãos em meu tórax. Posicionei
minha mão em seu pescoço e aproximei a minha boca da sua.
— Eu não tive tempo para te cumprimentar direito hoje…
Isla soltou o ar, abrindo sua boca e tomei seus lábios nos
meus. A sensação de beijar Isla quase me tirava o chão. Sua boca
abriu e eu sorri, mordendo o seu lábio inferior.
Suas mãos seguraram a minha camisa e eu senti seu corpo
derreter de encontro ao meu, enquanto minha língua a invadia. Era
como voltar para casa. Apertei seu rosto de encontro ao meu,
aprofundando o beijo. Queria pegar Isla no colo e me esconder em
algum lugar com ela para que ninguém pudesse atrapalhar quando
eu a fodesse.
Infelizmente, ela parou o beijo antes que eu pudesse fazer
isso. Sua testa encostou na minha e quase a puxei de volta para
mim.
— Acho melhor a gente voltar.
39
Isla

A mesa estava uma bagunça, uma bagunça boa, enquanto


todo mundo conversava. Ainda me sentia uma extraterrestre em
meio àquela roda barulhenta de amor. Eu tinha me acostumado com
uma casa onde existia uma mãe e uma filha – a existência do meu
padrasto me perturbou por mais tempo do que eu gostava de
confessar.
Elijah puxou o tecido do meu vestido, tentando chamar minha
atenção. Rhona falava alguma coisa sobre um festival de cerâmicas.
Ela tinha dito sobre como Connor tinha proibido que ela trabalhasse
depois que ele ficou rico, então, ela aproveitava seu tempo fazendo
cursos. Nesse tempo, ela já tinha aprendido três línguas e agora
estava investindo em artes.
— Moça…
— Oi, Elijah. — Virei para ele, torcendo para que Rhona não me
achasse mal educada por cortar o assunto que ela estava contando,
mas Elijah estava me chamando.
— Posso aqui? — questionou, entrando entre a cadeira do pai e a
minha.
— Claro, meu amor. — Arrastei a minha cadeira para o lado, criando
espaço para ele entrar entre as cadeiras. Connor não pareceu
preocupado, enquanto pulava de uma cadeira na outra e puxava
seu prato.
— Por que ele te chama de moça? — Evanna perguntou, me
encarando.
— Ele disse que era um cavalheiro e começou a me chamar assim.
Às vezes também o chamo de moço, é o nosso jeito, não é Elijah?
— Dei de ombros e encarei Connor, que me olhava com um brilho
nos olhos.
— E como vocês se conheceram? Porque eu sei que o meu filho
não deixa ninguém chegar perto dessa criança. — Rhona quis saber
e eu não sabia de verdade como contar aquilo sem que Connor
fosse repreendido pela mãe.
— A Isla estava na minha sala, eu estava testando-a para um
trabalho que eu precisava. Tive que sair, então ela ficou com Elijah
lá. — Essa parecia uma boa maneira de contar.
— Aí meu papai brigou com a moça porque ela tava brincando
comigo. Eu dei um dinossauro pra ela não ficar triste e depois contei
pra mamãe.
Grace deu uma gargalhada tão alta que eu tinha certeza de
que as pessoas das casas vizinhas tinham ouvido. Tínhamos
esquecido de um detalhe muito importante, Elijah era uma criança e
crianças costumavam ser bem fofoqueiras.
— Connor Evans, eu não acredito que você destratou a moça
porque ela estava brincando com o seu filho. — O tapa na cabeça
de Connor foi outra coisa que dava pra ouvir de longe.
Elijah nem parecia incomodado de ter causado a terceira
guerra mundial em plena sala de jantar, comendo despreocupado a
comida que Rhona disse ter feito especialmente para ele.
— Eu te criei melhor do que isso.
— Na verdade não criou, não. Ele sempre foi insuportável desde
criança, Rhona. — Tentei não sorrir da afirmação de Grace, mas
não consegui parar.
— Você também não era muito legal, Grace.
— Minha filha sempre foi uma boa criança, Connor, você que a
estragava.
— Mãe!
— Não coloque a culpa no Connor, ele tentou ser um bom irmão pra
sua filha. Eles até tiveram um filho juntos. Graças a Deus foi só
isso.
Fiquei em silêncio, tentando me manter invisível, enquanto as
duas melhores amigas começavam a brigar sobre qualquer coisa.
Parecia ser um ingrediente importante para a amizade delas, e
Connor e Grace sabiam disso.
Os dois voltaram a comer e a conversar normalmente,
enquanto as duas discutiam sobre quem tinha o filho mais bonito.
Coloquei um pedaço de salmão na boca e olhei para as fotos que
enfeitavam as paredes da sala de jantar.
O ambiente era aconchegante, parecia que Connor tinha
realmente colocado todo amor e carinho criando cada canto da
casa. Olhei para ele e percebi que Connor encarava Grace, que o
encarava de volta. Os dois pareciam estar conversando pelo olhar e
quase saí correndo, com medo de que a conversa fosse sobre mim.
— Então, Isla, você vai voltar para as Filipinas ou vai viver aqui na
Escócia? — Rhona perguntou e eu segurei a vontade de revirar os
olhos.
— Minha mãe e eu vivemos aqui, não teria motivo para voltar para
as Filipinas. Apenas para visitas…
— Oh, perdão, estou sendo preconceituosa, não é? — Ela pareceu
envergonhada e olhei para seu rosto, dando um sorriso sem graça.
— Eu falei demais, desculpe, Isla… o que sua mãe fez aqui?
Não tentei tornar aquilo melhor para ela. Se de alguma forma
íamos conviver, Rhona tinha que saber que aquele comportamento
deixava qualquer imigrante deslocado.
— Minha mãe veio para a Escócia quando eu ainda era bem
pequena, ela queria cursar a faculdade de enfermagem e me dar
uma vida melhor.
— Sua mãe é muito corajosa. Eu tinha medo até de ir à esquina,
imagina deixar meu país. Tenha orgulho dela. — Evanna tocou
minha mão por cima da mesa enquanto falava.
— Eu tenho. Muito. — Não existiu um único momento em minha
vida que eu não senti orgulho da minha mãe. Ela era a pessoa mais
incrível que existia. — Minha mãe é uma grande enfermeira e a
melhor mãe que existe, sem querer ofender… ela é meu tudo, sou
muito grata por ela ter feito de tudo para me dar a melhor vida que
alguém poderia ter.
Rhona parecia que ia falar mais alguma coisa e foi
interrompida pela voz de Grace:
— Mãe, eu preciso te contar uma coisa, a gente pode conversar? —
Evanna parou o garfo que ia em direção a boca.
— Claro, filha, só falar.
— Pode ser em outro lugar?
— Quer esconder o quê de mim, Grace? — Rhona levantou os
olhos do prato e ficou encarando Grace, seus cabelos escuros e
olhos azuis ficaram em evidência, enquanto ela ficava cada vez
mais branca.
— Nada, Rhona, eu só… — Grace respirou fundo. — Ok, Connor,
me ajuda aqui…
— Aí, pelo amor de Deus, vocês não estão em um relacionamento
estranho com Isla no meio, não é? — Evanna questionou e eu
quase afundei na cadeira, descendo até onde consegui.
— Meu Deus. Não. Eu… mãe, eu sou lésbica.
Por que o Connor continuava me colocando em situações
como aquela? Respirei fundo, observando o choque estampado no
rosto de Rhona e Evanna. Uma olhava para a outra e então
diretamente para o rosto de Grace, que parecia pronta para chorar.
Connor segurava a mão de Grace por cima da mesa,
mostrando apoio à melhor amiga. Elijah encarava a cena,
parecendo tão perdido quanto eu. Esperei que alguma delas falasse
alguma coisa, porque parecia que era só isso que impediria Grace
de começar a chorar, mas as duas estavam em completo silêncio.
— Eu sei que vocês precisam de um tempo para processar, mas a
Grace…
Evanna e Rhona se olharam e começaram a rir. Grace cobriu o
rosto, e ouvi uma longa fungada. Connor encarou as duas como se
elas estivessem loucas e eu só queria um lugar para me esconder.
— A gente não precisa de tempo para nada… Grace, filha, a gente
sempre soube que você era lésbica, achei que demorou muito pra
você contar… trinta e oito anos, sabe? Você é dona da sua vida há
muito tempo, e eu sempre soube.
— Sempre soube nada, eu que te contei depois que eu a vi beijando
uma ex-namorada do Connor… desconfiei na hora que você fosse
lésbica e corri contar pra sua mãe.
— O que é lésbica? — a voz de Elijah me tirou da conversa séria e
tampei o rosto, tentando parar a risada. Meu Deus, o Connor só me
enfiava em furadas.
Quando todos ouviram a pergunta da criança perdida em
assuntos de adultos, o clima pareceu ser amenizado e Grace limpou
o canto do olho.
— É quando uma mulher gosta muito de outra mulher, e aí as duas
namoram, filho.
— Então, a mamãe gosta de muitas mulheres. — Cobri a boca
quando a gargalhada escapou da minha boca e Grace revirou os
olhos.
— Obrigada por isso, Elijah, a mamãe te ama muito.
Ele parecia realmente orgulhoso de si mesmo, mas olhei para
o lado e vi um brilho diferente nos olhos de Connor. Ele estava com
o cotovelo na mesa, o queixo descansando sobre a mão, mas seus
olhos estavam em Grace, como se ele não pudesse estar mais
orgulhoso dela.
Sorri e virei para Rhona, que me encarava. Parecia que ela
podia ver como eu me sentia sobre seu filho.
— E eu tenho uma namorada. — Grace finalmente gritou,
parecendo revelar o motivo de ter se aberto.
Aquilo fez com que a sala voltasse a virar uma bagunça
terrível.
40
Connor

Eu estava parado em frente à casa de Isla e podia ver que sua


cabeça maquinava uma maneira de me mandar embora. Acontece
que eu realmente não queria. Ver Isla com a minha família,
conversando com minha mãe, brincando com meu filho, parecendo
preocupada com Grace, me fazia sentir que eu precisava estar com
ela.
Nós estávamos fora do carro. Isla vestia um paletó que eu
havia esquecido dentro do carro, protegendo-se do vento frio que
balançava as árvores. Um fio de cabelo escorreu do rabo de cavalo
que já estava desfeito depois de brincar por horas com Elijah.
Isla tinha conquistado minha mãe, eu podia ver pelo seu olhar.
Não tinha como não ser afetado por aquele sorriso doce, pela
gargalhada alta, e pelos olhos que seguiam meu filho com todo o
amor.
Segurei os dedos de Isla e encarei seus olhos.
— Desculpa mesmo por tê-la feito passar por tudo isso…,
principalmente a parte da Grace se assumir para a família…
— Está tudo bem… mesmo, eu amei a sua família. Toda ela. — Isla
olhou para a porta fechada e as luzes apagadas da conveniência,
parecendo querer fugir para lá. — Quer tomar alguma coisa? Eu não
tenho vinhos caros, mas a gente pode roubar algum barato da
conveniência pra você.
— Roubo? Não esperava isso de você — falei, entrelaçando nossos
dedos, enquanto brincava com sua mão.
— Eu ia deixar uma nota dizendo que eu que peguei, não sou uma
boa ladra…
Isla parecia esperar que eu dissesse se ia entrar ou não, mas
abriu a porta, soltando minha mão, para finalmente seguir seu
caminho. Não deixei que ela achasse que eu ia fugir dela. Não
depois da noite anterior.
Andei até a prateleira de vinhos, pegando um vinho que eu
tomava quando era apenas um garoto na faculdade. Isla estava
parada na ponta da escada, segurando meu paletó de encontro ao
seu corpo.
Seus olhos me encaravam com uma fome que eu sentia há
dias. Cheguei perto de seu corpo, segurando a garrafa de vinho
entre os dedos. Puxei Isla para meu colo, colando suas costas na
parede da escada. Ela respirou profundamente quando coloquei
minha mão em sua bunda, segurando a carne com gosto.
Agarrei o vinho com mais força e Isla o tirou da minha mão.
Subi as escadas com Isla em meu colo. Sua mão em volta do meu
pescoço me dava mais tesão que eu podia admitir.
— Achei que você estivesse velho demais para me carregar
assim… — Puxei a calcinha de Isla e soltei sobre sua buceta,
fazendo-a gemer.
Isla puxou minha boca para a sua. A atitude tomada era a
última gota de sanidade que eu segurava. A garrafa de vinho caiu
no chão, e eu nem tive tempo de olhar para ver se ela tinha
quebrado.
Uma mordida em meu lábio fez meu pau ficar ainda mais duro.
Segurei o rabo de cavalo de Isla, puxando sua cabeça para trás,
buscando espaço para colocar minha boca em seu pescoço.
— Connor… não me deixa marcada…
Ri contra sua pele, passando meus dentes por ela e deixando-
a vermelha. Isla colocou a mão em minhas costas, tentando puxar
minha camisa para fora do corpo. Quando ficou presa, Isla riu, e eu
a joguei sobre seu colchão, rasgando a camisa do corpo e jogando-
a em qualquer lugar.
Isla se sentou na cama e desceu as alças do seu vestido,
deixando seus seios à mostra para mim. Suas mãos tocaram meu
corpo e respirei fundo, com o pau me incomodando por estar
apertado dentro da calça.
Sua boca tocou com cuidado minha pele. Eu conseguia sentir
meu pau pulsando pela atenção que ela dava para mim. Isla abriu o
cinto da minha calça, abaixando o tecido.
Enfiei meus dedos por seus fios de cabelo, segurando forte
sua cabeça, e direcionei seu olhar para mim. A boca aberta de Isla
me dava uma imagem de como seria seus lábios em torno do meu
pau.
Isla se arrastou na cama e tirou o vestido preto, jogando em
qualquer lugar. Seu corpo estava diante dos meus olhos novamente.
A pequena calcinha preta quase não cobria nada.
Coloquei o joelho na cama, me aproximando dela e puxei a
calcinha para o lado. Dava para ver sua boceta ensopada do
mesmo tesão que eu sentia. Isla puxou o ar enquanto eu tocava sua
umidade, espalhando sua lubrificação por sua buceta.
Isla jogou a cabeça para trás, tocando seus seios, deixando os
mamilos mais duros a cada movimento. Toquei meu bolso,
procurando por uma camisinha. Quando meus olhos se
arregalaram, Isla me encarou.
— O que foi? — Porra, a sua voz cheia de tesão quase me fez
gozar na calça.
— Você tem camisinha?
Toda a atmosfera sensual sumiu e Isla se jogou para trás,
rindo. Aliás, gargalhando. Bom, a atmosfera tinha sumido apenas
para ela, pois vê-la desarmada e rindo quase nua sobre a cama me
deixou ainda mais duro.
— Isla, tem camisinha?
— Sinto muito, Connor… — Isla tirou a mão do rosto, me
encarando. — Isso é a única coisa que não vende na loja de
conveniência.
Guardei meu pau ainda duro e puxei sua mão, colocando Isla
de pé. Ela rodeou meu pescoço com os braços, esfregando os seios
em meu tórax. Seus lábios tocaram meu pescoço e eu segurei sua
cintura, levantando a perna com uma mão.
Isla se esfregou em meu pau e falou baixinho no meu ouvido:
— Você não vai embora, não é?
— Não, não vou… — Isla chupou meu pescoço, gemendo baixinho
se esfregando de novo em meu pau. — Mas eu posso chupar a sua
buceta, por favor?
— Sim, Senhor Evans…
Enfiei dois dedos dentro de sua boceta, em um vai e vem que
fez seu corpo se contorcer. Tirei meus dedos de dentro dela,
sentindo a umidade em minha pele. Isla jogou a cabeça para trás e
eu a coloquei com cuidado sobre a cama. O colchão novo
encostado na parede parecia rir de nós dois.
Me ajoelhei no chão, puxando sua bunda para a beirada da
cama. Coloquei minha boca em sua pele e mordi sua coxa,
deixando uma marca. Aproximei meu nariz de sua boceta,
respirando profundamente seu cheiro de mulher.
Lambi sua boceta e Isla grudou a mão em meu cabelo, me
segurando com força no lugar. Com o dedo melado por sua
umidade, desci até seu cu molhando suas pregas e fazendo Isla
tremer por mim. Não tinha nada mais poderoso que ver uma mulher
gostosa quase se afogando no próprio tesão.
Chupei seu clitóris, subindo minhas mãos por seu corpo. Senti
suas mãos puxando meu cabelo com força, enquanto seu corpo
ondulava em minhas mãos. Comecei a brincar com o bico do seio
de Isla, beliscando para que ela gozasse em minha boca.
Tentei me afastar para provocá-la, mas Isla prendeu meu rosto
com força em sua boceta, enquanto se esfregava em meu nariz,
gemendo meu nome com gosto. Eu estava quase gozando em
minha cueca quando ela atingiu seu clítoris com meu nariz e a
chupei, sentindo seu gozo escorrer por minha língua, ela
choramingava com gosto.
Virei seu corpo, deixando-a de barriga para baixo e meti um
tapa em sua bunda, que ficou vermelha. Isla gritou de prazer e se
esfregou na cama, procurando por mais atrito para sua buceta.
— É a segunda vez, Isla, que você goza para mim… a próxima vez
vai ser enquanto senta no meu pau ou eu não me chamo Connor
Evans.
41
Isla

Acordei com uma mão no meu seio, enquanto a outra me


segurava forte pela cintura. Não me estiquei, como de costume.
Seria impossível pelo modo como Connor estava grudado a mim.
Tentei me soltar, mas seu aperto ficou mais forte. Respirei
fundo, sentindo minha bexiga prestes a estourar. A mão de Connor,
que estava em meu seio, se mexeu, trazendo flashes da noite
anterior.
Seu tapa em minha bunda ainda parecia doer, como se ele
tivesse acabado de bater. Me aconcheguei no seu aperto e Connor
moveu o rosto para o meu pescoço, dando uma longa cafungada.
Quando minha bunda tocou seu pênis duro, eu quase me
derreti, sabendo que ele tinha estado daquele jeito durante toda a
noite. Connor tinha me segurado enquanto dormia.
O colchão confortável embaixo de mim me trouxe as memórias
para além do sexo. Connor tinha discutido comigo sobre trocar ou
não o colchão. Ainda que eu deixasse bem claro que não ficaria
com aquilo, ele ameaçou ir embora caso não dormisse em um bom
colchão.
Eu não tinha culpa se o meu colchão não era um modelo das
estrelas, resmunguei mentalmente.
Tentei empurrar o braço de Connor para longe de mim, mas
ele beliscou o bico do meu seio entre os dedos e desceu a outra
mão, tocando meu clitóris.
Gemi em sua mão enquanto ele me tocava, dando leves beijos
no meu pescoço. Senti os pelos do meu corpo se arrepiarem.
— Bom dia, Isla… — Connor colocou dois dedos dentro de mim, e
me esfreguei em seu pau, sentindo a grossura entre minha bunda,
causando uma sobrecarga de sensações.
Senti a vontade de fazer xixi crescer, e Connor me apertou
mais a ele. Apesar disso, eu sentia uma vontade imensa de gozar
em seus dedos. Connor tinha me feito gozar na noite passada mais
do que eu podia contar, mas eu ainda queria sentar em seu pau.
Connor parou de mover os dedos, tirando a mão de dentro de
mim e eu agarrei seu pulso, segurando seus dedos dentro de mim.
Ouvi sua risada e quase gemi com o ar que sua respiração fez em
minha pele.
— Eu disse que a próxima vez vai ser no meu pau, Isla…
— Por favor, Connor, eu preciso gozar… só mais uma vez.
Comecei a mover sua mão para dentro e fora de mim, sentindo
tudo amplificado, esquecendo a vontade de fazer xixi. Connor
apertou forte meu seio, puxando o bico em seus dedos, enquanto
me fodia com vontade. A mão que havia permanecido em meu seio
desceu pelo meu corpo, puxando minha perna mais aberta para que
ele conseguisse ver sua mão entrar e sair da minha boceta.
— Como eu posso negar quando você me pede ronronando e se
esfregando com tanto gosto em meu caralho? — Connor mordeu
minha orelha e eu gemi.
Esfreguei minha bunda em seu pênis mais forte. Minha boceta
apertava seus dedos, e eu tive que largar a mão. Connor continuava
me fodendo de ladinho. Seu pau parecia que ia me furar.
— Toca seu clitóris, Isla… do jeito que você gosta… — Connor falou
baixinho no meu ouvido e eu choraminguei. — Porra… quando você
choraminga assim, eu até esqueço que eu tô tentando ser um bom
homem e penso em enfiar meu pau bem enterrado nessa buceta
gostosa.
Apertei mais forte seus dedos dentro de mim e Connor urrou
atrás de mim. O orgasmo que se construiu em mim quase parecia
explosivo. Travei, sentindo medo de que algo acontecesse e eu
soltasse o xixi.
— Goza, Isla… goza bem gostoso nos meus dedos.
Não consegui segurar com sua voz de sono me pedindo para
gozar. Deixei o grito escapar enquanto gozava em seus dedos.
Connor afastou meus cabelos, dando beijos em meu pescoço.
— Não é gostoso gozar quando está com vontade de fazer xixi? —
Virei para ele, dando um tapa em seu peito.
— Como você…? Te odeio.
— Ah, eu duvido disso… quer dizer, você pode me odiar, mas a sua
buceta… ela me ama, Isla. — Connor afastou o cabelo do meu rosto
e me deu um beijo. — E essa é uma das belezas de fazer sexo
antes de sair da cama…
Levantei da cama e vesti apenas uma camiseta de Guerra nas
Estrelas, porque eu sabia que Connor ia me matar se eu usasse
mais uma das minhas camisetas do Peter Capaldi.
Quando terminei de fazer minha higiene pessoal, voltei para a
cama, entregando uma escova de dente escura para Connor.
— Isso não é nada além de uma escova para você, ok? — falei,
com medo que Connor fugisse porque eu estava querendo um
compromisso que ele não estava pronto para ter.
— Eu sei, normalmente isso é usado apenas para escovar os
dentes mesmo…
Sentei, olhando para seu corpo esticado em minha cama, com
um colchão novo que ele tinha escolhido. Um de seus braços estava
flexionado embaixo da cabeça, o lençol cobria apenas suas pernas,
a cueca boxer estava aparecendo e seu pau tinha se acalmado,
mas eu podia ver a marca do seu gozo ali e pensei em como seria
tê-lo em minha boca.
— Posso…
— O que, Isla?
— Connor, posso tirar uma foto sua assim? — perguntei, me
sentindo boba.
— Achei que você ia pedir pra me chupar… mas claro… desde que
você me deixe tirar uma foto sua.
Olhei para a parede descascando e de volta para ele. Peguei o
celular em cima da mesa e constatei que ainda dava tempo de me
arrumar para o trabalho.
Apontei a câmera do celular para o Connor e, pela primeira
vez, senti que ele parecia envergonhado. Apertei o botão e ele
cobriu o rosto, dando um sorriso bobo. Me aproximei depois de olhar
a foto e tirei as mãos de seu rosto.
Encostei minha boca na sua e Connor colocou meu cabelo
atrás da orelha. Sorri com meus lábios nos seus e fui jogada no
colchão.
— Você vai acabar com a minha sanidade, menina.
Connor me deixou sair da cama para me arrumar. Percebi que
ele tinha acompanhado todo o processo com a câmera do celular
apontada para mim, por isso, dei um pequeno show: Coloquei a
calcinha demoradamente, escolhi o melhor sutiã e até mesmo
coloquei uma meia-calça. Tudo pelo bem do espetáculo.
Quando Connor tomou coragem para levantar da cama, ele foi
até o banheiro e fiquei fazendo um café para que pudéssemos
comer alguma coisa antes de sair. Não tinha muitas coisas em casa
e, por isso, desci para pegar um desjejum apresentável.
Era até feio depois de Connor ter me recebido tão bem em sua
casa que eu não tivesse o mesmo respeito com ele. Quando estava
abrindo a porta de casa, com bolos industrializados e ovos,
encontrei Connor encostado no balcão da cozinha com a xícara do
R2-D2 em mãos.
— Desculpa, eu não tinha nada em casa, mas prometo fazer um
café rapidinho… — falei, me sentindo a pior anfitriã do mundo.
— Não se preocupe com isso, Isla… você gozando nos meus dedos
foi um bom café da manhã, posso até dizer que me sinto renovado.
Derrubei um ovo no chão e encarei a sujeira. Ótimo, minha
casa ficaria cheirando a ovo e a culpa era somente de Connor. Suas
mãos circularam minha cintura e Connor me puxou de encontro a
ele.
— Quer tomar café fora? Tem um ótimo restaurante aqui perto,
vamos?
Concordei com a cabeça, ainda olhando para o ovo perdido no
chão. Connor se abaixou para limpar e eu terminei de colocar meu
sapato.
Quando estávamos descendo as escadas, Robert parecia
abobado, encarando Connor como se ele fosse uma estrela de
revista. Ignorei seu olhar, mas Connor parecia realmente focado.
— Dá pra você parar de encarar Isla assim? Você é algum tipo de
pervertido? Se eu souber que chegou a menos de dois metros dela,
eu vou quebrar o seu nariz. — Robert tentou me olhar, mas Connor
entrou na frente. — Entendeu?
— Sim, se... sim, senhor.
Puxei Connor pelo braço, tirando-o para fora da loja de
conveniência. Robert era um jovem adulto bem idiota, mas não era
maldoso.
— Eu vou ter que seriamente te dar uma aula de como se comportar
como um humano, Connor Evans? Precisava daquilo?
Connor parecia bem orgulhoso de si mesmo quando disse:
— Sim, precisava sim. Quero ver ele dizer qualquer coisa para te
deixar triste.
Revirei os olhos, abrindo a porta do seu carro.
42
Connor

As pessoas podem pensar que o dia vai ser bom quando você
acorda fodendo alguém na cama dela, depois de ter passado a noite
toda com o choramingo dela na sua orelha porque ela queria o seu
pau. Não tinha melhor sensação que aquela.
Isso, no entanto, não era um indício que o dia seria bom,
porque o mundo está cheio de filhos da puta.
Eu pensava em como não assassinar Joe enquanto ele me
contava como um dos nossos projetos tinham sido negados
novamente para um dos nossos clientes mais importantes.
Esfreguei a mão na testa, pensando se seria mais rápido jogá-
lo da janela ou apenas demiti-lo. Joe era excelente no que fazia, eu
sabia disso, mas ele estava me tirando da névoa que a boceta de
Isla tinha me colocado e aquilo me tirava do sério.
— Connor, você está me ouvindo? Acho que você mesmo vai ter
que pegar esse projeto… quer dizer, eu tentei o meu melhor e mais
do que o meu melhor, mas ainda assim, parece não ser o
suficiente.
— Joe, eu não estou com cabeça para pensar nisso — disse,
tentando parar a enxurrada de palavras que continuava saindo de
sua boca. — Você não tem um pau pra chupar?
Joe deixou a cabeça cair para o lado.
— Quer que eu chupe o seu? Parece que você está muito
interessado no que eu coloco ou não na boca. Aliás, a gente vai
começar a falar sobre onde o outro está enfiando o pau? Porque eu
tenho muito para comentar sobre isso.
Joguei a caneta na mesa e encarei seus olhos.
— Cala a boca.
— Você tá fodendo a porra de uma funcionária, Connor… uma boa.
— Joe levantou e deu a volta na cadeira que usava e segurou o
encosto. — Você é burro? Como você quer que eu me sinta sobre
isso? Eu sou o chefe dela, e você está andando por aí, enfiando o
seu pau na porra da bunda da garota. Você sabe o que vão falar
quando ela sair daqui depois que você se cansar dela? Que ela
dormiu com o chefe pra subir de cargo… isso pra pior, porque já
falaram.
— Eu não vou me cansar de Isla.
— Como não? É só isso que você faz… você lembra por que
criamos essa regra de não confraternização na empresa? Porque
você vivia fodendo qualquer funcionária que tinha aqui.
Me levantei, andando de um lado para o outro. Isso foi logo
que eu criei a empresa. Eu me sentia o dono do mundo, qualquer
pessoa que olhasse para mim e piscasse tinha o meu pau enfiado
até o fim da sua garganta.
Mas não era assim com Isla. Não mesmo.
Ela havia capturado uma parte minha que eu não sabia estar
disponível para alguém, mas ela roubou.
— Não é assim com Isla… eu… Joe, não é assim, eu prometo que
Isla não vai deixar a empresa.
— Eu espero mesmo, porque… se essa garota sair... Connor, olhe
dentro dos meus olhos. Se a Isla deixar a empresa, eu vou atrás
dela, porque não vou deixar você sujar o nome da garota.
Fechei os olhos e escutei a batida na porta.
— Entra.
— Eu vim deixar esse material que o senhor pediu para a reunião
das dez — Um dos caras que trabalhava conosco há anos deixou o
que eu tinha pedido e saiu da sala correndo.
Olhei para o relógio, sabendo que eu precisava de mais alguns
momentos de força para encarar meus funcionários e não ter um
infarto quando eles me contassem como estavam atrasados em
demandas que eu tinha passado há tempos.
— Vamos para essa reunião.
— Depois de você, chefe.
O caminho ia se abrindo conforme eu passava pelos
corredores. Os funcionários mais antigos estavam sentados nas
cadeiras mais distantes de mim, enquanto os novos ficavam mais
próximos. Eles pensavam que eu não sabia que eles fugiam de
mim.
Encarei Isla, que vestia uma calça que modelava sua bunda e
uma camiseta branca com laços na ponta das mangas. Isla foi
puxando algumas cadeiras para sentar e sempre terminava com
outro funcionário sentando nela, quando outra pessoa a distraía com
conversas. Ela podia não ver maldade nisso, mas eu via.
Eu podia ver alguns funcionários a ignorando, como se fosse
apenas uma sombra.
— Bom dia — cumprimentei, jogando as pastas sobre a mesa. —
Todos sentados. Já.
Isla me olhou, parecendo preocupada que eu estivesse bravo,
mas não estava. Era mais uma irritação pelo modo como ela era
tratada pelos outros funcionários.
— Senhorita Salazar, sente-se ao lado de Joe agora.
Vi a expressão de seu rosto mudar, como se eu estivesse
tratando-a diferente do que normalmente fazia. Talvez fosse o nome,
mas percebi que era só porque Joe estava sentado a uma cadeira
de distância de mim, o que significava que ela teria que sentar bem
ao meu lado.
Tinham outras cadeiras longe de mim, mas Isla não era o tipo
de pessoa que me desobedeceria. Ela sempre me obedecia e isso
era fascinante.
Abri a pasta e me sentei, batendo o pé na cadeira de Isla para
que ela ficasse mais perto de mim. Quando ela se sentou e o
silêncio finalmente predominou na sala, olhei para cada rosto
presente.
Eu odiava isso. Odiava ter que estar aqui quando eu queria
estar no restaurante ouvindo Isla falar sobre a sua infância, sobre
como confundiu o verde musgo e chorou por horas no jardim de
infância porque tinha pintado a grama de uma cor que ela não
queria.
Toquei sua perna por baixo da mesa e Isla pulou, se afastando
de mim. Joe me encarou bravo e ignorei os dois.
— Eu quero muito ser surpreendido de uma maneira boa. No
entanto, não hesitem em seguirem adiante e me dizerem seus
grandes fracassos da semana passada. — Coloquei a caneta sobre
a mesa e virei a cadeira, esperando que alguém tivesse coragem
suficiente para falar.
A sala ficou em completo silêncio e então ouvi a voz que eu
menos esperava.
— Eu não consegui entregar um dos projetos que eu estava
trabalhando com Joe, senhor Evans. Já está quase finalizado, mas
ainda precisa de ajustes.
Virei a cadeira e encarei Isla, que retorcia um lápis velho nas
mãos.
— Tudo bem. — Remexi a caneta em minhas mãos. — Qual é o
prazo? Ainda é o da casa de praia? — questionei, sabendo que ela
estava trabalhando em mais três projetos ao mesmo tempo e todos
envolviam casas próximas ao mar.
Isla olhou para os lados e de volta para mim.
— Sim, eu consigo entregar até quinta… está tudo bem pra você,
Joe?
Encarei o babaca que ria baixinho e seus olhos se voltaram
para Isla.
— Claro, Isla, com certeza… fique tranquila…
Apertei seus dedos por baixo da mesa e ela não levantou os
olhos para encontrar os meus. Respirei fundo, enquanto via outras
mãos se levantarem.
— Você. — Apontei para um funcionário de cabelos ruivos e ele
olhou para o lado, engolindo em seco.
— Eu preciso de ajuda em um projeto.
— E você não sabe como pedir isso para qualquer pessoa que
esteja ao seu lado? Porra, se a gente não se comunicar aqui porque
vocês acham que algum colega pode roubar seu projeto, essa
empresa não vai evoluir.
Joe tampou a boca tossindo e senti vontade de jogar alguma
coisa em sua cabeça. Para fazer isso, porém, eu teria que largar a
mão de Isla e eu não queria soltá-la.
43
Isla

O dia tinha sido tão corrido que eu tinha fugido de Connor duas
vezes. Ele continuava me encontrando. Guardei minhas coisas
dentro da bolsa, enfiando o notebook de qualquer jeito apenas para
poder deixar a empresa de uma vez.
Joe tinha tido a reunião mais estranha do mundo comigo, e
desde a reunião geral, eu só sentia que as pessoas continuavam a
falar sobre mim. Resolvi ignorar, mesmo que uma parte de mim
continuasse dizendo que aquilo estava errado.
Jessie parou ao meu lado, guardando suas coisas, e tentei
ignorar seus olhos em mim. Ela não parava de encarar. Eu já estava
me sentindo estranha e, com aquilo, eu tinha certeza. Alguém já
estava falando de mim pelos corredores da empresa.
— Isla…
— O que quer que você tenha ouvido: é mentira.
Jessie me encarou, levantando uma sobrancelha. Eu estava
na defensiva. Sabia muito bem como aquilo terminava e não seria
ruim para Connor, mas para mim.
— Eu… — Jessie olhou para os lados e de volta para mim. — Eu só
ia te convidar para a minha casa. O que estão falando de você? Eu
posso te ajudar, se quiser, é claro…
— Nada… eu só… estou me sentindo estranha.
— Sinto muito, quer uma carona para a sua casa? Eu posso dar.
— Não, não precisa, é bem distante daqui e muito obrigada mesmo.
— Dei de ombros, eu não me sentia na vibe de uma companhia. —
Mas podemos marcar para outro dia, quer dizer, se você ainda
quiser.
Tentei parecer o mais simpática possível, não queria que a
garota achasse que eu tinha algo contra ela. Eu só não me sentia à
vontade naquele momento. E eu tinha achado que o dia seria
maravilhoso.
Quando a empresa ficou vazia, andei até a porta de Connor, e
levantei a mão para dar algumas batidas, mas desisti no último
momento. Talvez fosse melhor dormir sozinha e saber o que eu
estava sentindo.

Estava parada em frente à pia terminando de cozinhar adobo,
um prato filipino que minha mãe fazia sempre que eu me sentia
triste; ele consistia em carne de porco marinado em vinagre e molho
de soja, e arroz com especiarias.
Era uma lembrança comum, minha mãe fizera muito aquilo
para mim. No entanto, desde que eu fui morar sozinha, não parecia
certo fazer para comer sozinha.
Naquela noite, em específico, eu estava me sentindo solitária.
Sentia falta de Elijah e de sua voz me chamando.
Também sentia muita falta de Connor, tinha sido uma ideia
idiota deixar a empresa sem falar com ele, principalmente depois da
nossa noite e manhã. Joguei um pouco de pimenta sobre o prato,
sabendo que eu não aguentava muito.
Lavei as mãos, impedindo que qualquer vestígio de pimenta
parasse em meus olhos. Encarei meus pés com meias de bichinhos
e andei até a cama, a tigela em minhas mãos.
Enrolei a coberta em volta de mim e coloquei o episódio de
The Last of Us para assistir. Pedro Pascal como Joel Miller devia ser
capaz de me animar, não é?
Quando finalmente liguei o episódio dois, duas batidas na
porta chamaram minha atenção. Olhei para o relógio na tela do
notebook, sabendo que Robert ainda estava ali.
Provavelmente ele tinha tomado coragem para vir falar comigo
sobre o que aconteceu durante a manhã. Pausei o episódio, que
ainda estava na abertura, e coloquei minha comida de lado.
Abri a porta, me deparando com Connor parado segurando
uma sacola de algum restaurante. A emoção de vê-lo ali, parado em
minha porta, foi tanta que eu pulei em seu colo, fazendo que ele
soltasse a sacola para me segurar e se equilibrar no batente.
Segurei seu rosto, enquanto Connor arrumava a mão, me
segurando pela bunda. Comecei a distribuir beijos, demonstrando a
alegria que eu sentia. Eu nunca imaginei que ele fosse aparecer ali.
Meu coração parecia cheio – era uma grande mudança, já que eu
estava me sentindo próxima do choro.
— Se eu soubesse que você ia me receber assim, eu não teria
parado em lugar nenhum e teria vindo correndo pra você.
— Nunca mais faça paradas, só venha. Eu só preciso de você!
Connor colou a boca em mim, afastando todos os sentimentos
ruins que o dia tinha trazido. Sua mão tocou meu rosto, afastando
os cabelos que deslizaram por minha face. Sua língua percorreu
minha boca e me apertei mais nele, sentindo uma necessidade.
Ao entrar em casa, Connor fechou a porta com o pé, batendo a
madeira com força no batente. Ri entre o beijo, pensando que a
porta provavelmente cairia. Suas mãos subiram da minha bunda
para a cintura, aproximando mais nossos corpos. Sequer sabia que
isso era possível.
Abri os olhos para ver se ele era mesmo real e Connor mordeu
meu lábio, tomando minha boca com mais fome. Gemi em seu
aperto e senti a umidade em minha boceta.
— Nunca mais fuja de mim, Isla Salazar — falou, dando beijos em
minha boca e descendo pelo pescoço.
— Prometo.
Apertei meus braços ao redor do seu pescoço, inebriada pelo seu
cheiro. Connor me apertou de volta e olhei para o chão, onde a
sacola parecia estar vazando.
— A gente tem que limpar a bagunça no chão… sinto muito.
Connor virou comigo ainda presa em seu corpo como um coala
e se abaixou, pegando a sacola.
— Eu trouxe comida — disse, levantando a sacola para que eu
pudesse ver. — Mas acho que você já tinha feito algo pra você,
não?
— Sim, eu tinha… mas posso comer os dois.
— Ou a gente pode guardar e você me apresenta seus dotes
culinários.
Connor tinha os olhos em meu rosto, parecendo não querer
perder nem um segundo do que eu fazia. Passei a mão por sua
barba que também continha alguns fios brancos, sentindo a
aspereza em mim.
Foi aquela aspereza que me levou à loucura nas últimas
noites.
— Eu fiz um prato filipino, espero que você goste… — Connor
andou comigo até a cama — Você não está velho demais para ficar
andando comigo por aí?
— Você vai pagar por isso mais tarde.
Connor se sentou comigo na cama, pegando o prato. Tentei
sair do seu colo para que ele pudesse aproveitar a refeição, mas
Connor me puxou para mais perto e senti seu pênis duro embaixo
de mim.
Me esfreguei, e ele colocou um pedaço do adobo em sua
boca, gemendo. Eu não sabia se era por mim ou pelo prato. Connor
pegou mais uma porção e levou até a minha boca.
— Vai, Isla… rebola.
Abri a boca e ele colocou um pouco da comida em minha
boca, enquanto eu rebolava sobre seu pau. Outro gemido escapou –
dessa vez, de mim. Senti meus seios ficarem pesados, os bicos
dando as caras pela blusa velha.
— Tira a blusa, acho que assim você vai se alimentar melhor.
Puxei o tecido para fora do corpo e Connor sorriu, soprando o
ar por entre os lábios. Ele continuou me alimentando, enquanto eu
rebolava em seu colo. Tinha algo muito erótico sobre aquilo, de uma
maneira que eu nunca tinha experimentado.
Connor colocou a tigela vazia ao lado da cama e tirou o
notebook de cima do colchão. Eu quase tive medo de que ele
jogasse meu notebook longe, mas ele fez tudo com muito cuidado.
Desci meus shorts, ficando apenas de calcinha. Connor ainda
estava completamente vestido, com seu terno montado. Sua calça
de alfaiataria parecia não segurar mais seu pênis duro e ele me
puxou para cima do monte que formava na calça.
Connor colocou meu seio em sua boca e eu agarrei a parte de
trás do seu cabelo, querendo fugir ao mesmo tempo que me
aproximava da sensação da sua boca sugando meu mamilo com
gosto.
— Connor…
Connor desceu a mão, puxando minha calcinha com força para
os lados e senti o tecido arrebentar em sua mão. Senti a força de
um orgasmo enquanto ele continuava me movimentando para frente
e para trás em seu pau e gozei, gemendo seu nome.
— Você fica a coisa mais linda desse mundo choramingando desse
jeito no meu pau.
— Por favor, Connor, fala que você trouxe camisinha…
Connor sorriu para mim, se levantando. Eu não queria perder
seu calor, ainda mais enquanto eu me sentia mole daquele jeito.
Connor pegou um pacote de camisinha e jogou na cama.
Sem tirar os olhos de mim, abriu o paletó, removendo cada
botão de sua casa lentamente. Minha boceta ainda pulsava de tesão
e eu sabia que estava melada.
Após tirar a camisa, abriu o cinto da calça. Quando estalou o
cinto, minhas pernas ficaram bambas da expectativa que ele fosse
bater com o cinto em minha bunda, mas ele apenas o jogou para o
lado.
Desceu a calça e mostrou a cueca marcada por seu pênis
grosso. Respirei fundo, sentindo a antecipação. Connor baixou a
cueca box preta, mostrando seu pau torto e grosso, as linhas
marcadas me fizeram salivar.
— Não se preocupe, Isla… logo você vai poder chupar o meu pau o
quanto quiser, mas eu disse que você só ia gozar no meu pau… e
você me desrespeitou duas vezes…
Connor subiu na cama, me colocando sentada em suas pernas
e me movimentei, sentindo sua pele em meu clitóris. Gemi baixinho
e ele deu um tapa em meu seio.
— Para quieta.
Fiz de novo, apenas para que ele fizesse o mesmo e Connor
beliscou o meu mamilo. Eu estava fervendo, aquilo era muito
gostoso. Eu nunca tinha tido aquele tipo de sexo.
Connor colocou a camisinha em seu pau, sem me deixar fazer
aquilo. Parecia quase atormentado. Suas mãos me puxaram para
perto do seu pênis e eu gemi.
— Agora, Isla, você vai pegar o meu pau e vai sentar bem
devagarzinho, se você sentar com tudo… eu vou te castigar… —
Minha boceta se contraiu e eu senti vontade de fazer o contrário.
Connor segurou meu cabelo, enquanto a outra mão apertava
meu seio. Eu estava sobrecarregada, não sabia quanto tempo
conseguiria aguentar sem gozar.
Segurei seu pau, tentando fechar a mão. Levantei e encaixei a
ponta do seu membro em minha entrada. Connor não parara de me
provocar. Abaixei um pouco, sentindo as pernas tremendo.
Connor e eu gememos com a sensação. Eu sentia uma
descarga elétrica pelo corpo a cada centímetro que descia em seu
pau. Connor agarrou minha bunda, e eu sabia que ficaria marcada
com seus dedos, mas eu queria mesmo. Eu queria ficar
completamente marcada por ele.
— Rebola, Isla… bem gostoso.
Quando finalmente estava empalada por seu pênis. Connor me
levantou em seu pau e me deixou cair pesada, batendo fundo em
minha boceta. Eu me sentia completamente preenchida, descendo e
subindo, buscando pelo calor do seu gozo em mim.
— Você sabe o quanto eu queria te foder bem assim? Enquanto
você desce e sobe em mim? — Connor mordeu meu seio, deixando
a marca de seus dentes na minha pele. — Eu quero tanto te foder e
deixar o mundo ouvir esse chorinho que só você tem… mas ainda
não decidi… — Connor gemeu, quando desci com tudo, apertando
seu pau dentro de mim. — se vou fazer isso no meu escritório ou no
seu jardim… onde prefere?
A cada movimento que eu fazia, eu sentia seu pau maior
dentro de mim. Connor me tocava, marcando todo meu corpo com
as suas mãos me apertando. Sua boca sugava meu seio, mamando
em mim com gosto, como se ele fizesse aquilo sempre.
Me movi para a frente, esfregando meu clitóris em sua pele. A
sobrecarga de sensações foi demais e tombei, cravando as unhas
nos ombros de Connor, enquanto meu orgasmo explodia. Connor
gozou profundamente dentro de mim. Meu orgasmo durou pelo que
pareceu horas, com minhas pernas tremendo em volta do seu
corpo. Connor me levantou pela bunda, e continuou entrando e
saindo de mim, até que seu corpo relaxasse.
— Você é minha, Isla, e eu vou mostrar pra todo mundo.
44
Connor

Tirei o cabelo de Isla de seu rosto, enquanto sua mão


continuava fazendo carinho em meu peito. Seu corpo estava colado
ao meu.
Passei a mão por suas costas, sentindo resquícios do suor, e
sorri.
— Você gostou do adobo? — perguntou e eu me movi para olhar
para o seu rosto.
— O quê? É assim que os jovens chamam agora?
Isla gargalhou, se sentando. Suas mãos cobriram o rosto,
enquanto seu corpo balançava da risada.
— O prato filipino, Connor, meu Deus… eu nunca chamaria sexo de
outra coisa que não sexo.
Me senti envergonhado. Isla parou de rir, mas eu ainda podia
ver o sorriso em seu rosto. Me sentei, encarando seus olhos.
— Eu gostei muito do abo…
— Adobo. Que bom, porque eu faço muito quando estou triste.
Encarei a cidade do lado de fora da sua janela e voltei a olhar
Isla, que cutucava o colchão com o pé. Puxei sua perna para mim e
toquei sua pele, fazendo carinho.
— Você estava triste? — A ideia de qualquer coisa a fazendo mal
me deixava com vontade de lutar contra o que quer que fosse.
— Só não foi um bom dia, sabe? Uma sensação de que algo ruim
vai acontecer… uma sensação de que todos sabem sobre nós.
— E você não quer que ninguém saiba?
Comecei a massagear seu pé, sabendo que ela tinha passado
o dia inteiro em cima de um salto alto.
— Não é que eu não queira… eu só fico com medo — falou. Isla
olhou para fora, por cima do ombro e encarou os prédios antigos. —
Parece que no momento que alguém estourar essa bolha…
— Não é uma bolha, Isla… não é algo que alguém pode tirar de nós
dois. Só você tem o poder pra dizer que não quer mais viver isso e
então eu vou respeitar, mas eu estou velho demais para deixar que
qualquer pessoa acabe com um relacionamento, principalmente se
for alguém que eu simplesmente não ligo.
Seus ombros se retesaram por algum motivo e ela não voltou a
olhar para mim. Meu celular começou a tocar e o puxei de dentro da
calça que estava jogada no chão. Isla se afastou, puxando o pé para
perto dela.
— Papai! — A voz de Elijah encheu o ambiente, enquanto seu rosto
estava longe de ser visto. — Tem uma cidade dos dinossauros.
— O quê?
— Ele achou um Vale dos Dinossauros. Depois da escola
precisamos ir até o ateliê e deixei ele com o celular… parece que
existe Vale dos Dinossauros no Brasil e agora nosso filho quer ir lá.
— Você leva.
— Não, você leva… — Grace começou a olhar para o celular e deu
um grande sorriso. — Esse não parece o seu quarto… onde você
está, Connor?
— Papai, eu posso ver a moça?
Isla negou com a cabeça, ainda nua. Joguei uma camisa para
ela e ela colocou correndo.
— Isla?
— Sim!
Isla gemeu pegando o celular da minha mão. Fechou a camisa
correndo e virou o celular para o seu rosto. Deixei os dois
conversando, ouvindo os gritinhos animados de Elijah contando
sobre o Vale dos Dinossauros que ele tinha encontrado. Não
imaginava como ele tinha chegado tão longe na pesquisa.
Abri a geladeira encontrando a garrafa de vinho que tínhamos
trazido da conveniência e abri, procurando por algo parecido com
uma taça. O armário era recheado de canecas dos mais variados
estilos, parecia uma coleção. Uma até parecia a Tardis.
Peguei um copo comum e enchi com um pouco do líquido
roxo, bebendo aquela nojeira. Eu precisava encher a geladeira de
Isla com bebidas refinadas. Sabia que ela não bebia, mas eu sim.
Ou podia apenas fazer com que ela se mudasse para a minha
casa.
— Quais as chances de você se mudar para a minha casa? —
questionei baixinho apenas para ela ouvir, a geladeira ainda aberta.
— Nulas.
Eu ia convencê-la. Deitei ao seu lado depois de jogar o
restante do vinho na pia, se é que aquilo podia ser chamado de
vinho. Isla começou a fazer carinho em minha cabeça com uma
mão, enquanto segurava o celular com a outra.
Dei um beijo em sua coxa e mordi o local.
— Quer falar com o seu pai?
— Não. Tchau moça.
Tentei não rir. Meu filho me ignorava completamente para
conversar com Isla. Puxei sua mão, levantando-a da cama,
arrastando nossos corpos para dentro do banheiro apertado.
Isla abriu o chuveiro e olhei assustado para o pequeno lugar.
Eu não caberia ali. Isla viu meu rosto, deu um sorriso e entrou para
se molhar.
— Se a gente apertar, cabe…
Porra, por que até uma frase boba ficava pervertidamente sexy
em sua voz? Isla me deu a mão e eu tentei entrar no espaço.
Minhas costas bateram no registro do chuveiro e olhei bravo para a
parede, como se ela tivesse culpa.
— Por favor, muda pra minha casa….
— Connor, fica quieto e toma banho, eu quero dormir.
— Eu não entro aqui, Isla.
Ela riu, olhando para a carranca que eu fazia. Isla passou os
braços por minhas costas, me puxando para perto dela e deu um
beijo em meu queixo. Seus seios se esfregaram em minha pele e
aquilo nem parecia tão ruim.
Movi minha cabeça e bati no chuveiro. Isla gargalhou e eu só
queria sair correndo dali.
— Para de fazer assim, você vai ficar com rugas… prometo que na
próxima vez trago um banquinho e aí você toma banho sentado.
— Eu não vou tomar banho sentado, Isla.
Ela ficou nas pontas dos pés e eu agarrei sua bunda, puxando
seu corpo para cima. Seus lábios encostaram nos meus e meu pau
que, estava dando sinais de vida, acordou, enquanto sua boceta se
esfregava em mim.
— Não pode ser tão ruim… — falou baixinho e lambeu meu rosto.
— Não, não é.
45
Isla

Uma almofada foi jogada em minha direção e virei, tentando


desviar, porque eu sabia que, quando Claire queria acertar um alvo,
ela era realmente boa nisso. É claro que o objeto voador acertou
minhas costas.
— Eu não acredito que você transou com o seu chefe! — Claire
levantou e sentou de novo no colchão, enquanto eu continuava
molhando as plantas. — Você não o odiava? Da última vez que eu
te vi, você estava gritando com ele!
— Muita coisa aconteceu… quer dizer, ele usou o Elijah pra me
conquistar.
— Meu Deus, sua safada. — Uma nova almofada voou em mim,
mas fui mais rápida. — Você contou pra sua mãe?
— Claro, tudo que eu preciso é ligar para a minha mãe, dizer que eu
me envolvi com o meu chefe e que transei com ele. — Claire
tampava a boca, parecendo abismada. — Ela vai me colocar no
primeiro avião de volta para as Filipinas, dizendo que eu preciso me
reconectar comigo mesma.
Claire ficou em silêncio, e voltei a cantar para as minhas
plantinhas. O dia estava ameno: nem frio, nem calor, gostoso o
suficiente para tomar um bom suco com a minha melhor amiga e
colocar um pouco de normalidade em minha vida.
— E foi bom?
Sorri, pensando no que tinha acontecido há algumas noites.
Bom? Foi maravilhoso. Nunca havia sido tocada daquela maneira.
Connor parecia conhecer cada espaço meu que precisava ser
tocado, cada lugar que chamava pelo seu nome e ele respondia ao
chamado como se meu corpo fosse feito para ele.
Virei para Claire, que me encarava com expectativa, e falei:
— Eu nem sei como começar a descrever as sensações que ele me
causou… — Passei a mão por meu pescoço, lembrando das
mordidas que ele distribuiu por meu corpo. — Ninguém chega aos
pés do Connor.
— Tá, mas e o pau? — Claire estendeu as mãos. — Me fala o
tamanho! Grosso? Eu vou te mostrando e você me fala quando
devo parar ok?
Ri, porque ela estava citando uma série que assistimos juntas.
Quando ela permaneceu séria, vi que ela não estava brincando
— Você só pode estar brincando, pelo amor de Deus! Eu não vou te
falar isso…
— Pelo menos me diz um objeto pra comparar… eu sou uma
pessoa curiosa, Isla Salazar.
— Vai ficar querendo saber.
Claire pareceu tentada a jogar outra almofada em mim, mas
sua munição tinha acabado. Ela tinha vindo para que eu a
acompanhasse a algumas lojas de vestido de noiva e eu sabia bem
o que Claire queria. Ela queria que eu a levasse na loja de Grace.
Eu estava cansada de ouvir o nome da Grace em qualquer
conversa que tínhamos. Sabia que não tinha como escapar de
juntar as duas, não quando Claire podia invadir o ateliê de Grace e
ter um surto psicótico lá dentro.
Por isso, eu sabia que o melhor era aproveitar a folga que
Connor deu para toda a empresa e levar Claire até Grace. Que
Deus tivesse piedade de todos quando as duas se juntassem contra
mim e Connor.

O ateliê de Grace parecia um sonho, saído diretamente de um
conto de fadas. Fiquei parada na porta, admirando o espaço. A
fachada era antiga, como a maioria da rua, mas tinha um brilho
especial. Na vidraça, o nome de Grace brilhava em um dourado e,
olhando para dentro, eu conseguia ver diversos vestidos expostos.
Os sorrisos dados pelas noivas lá era um lembrete de que o amor
ainda existia.
Claire me cutucou e eu acordei, percebendo que ela estava
com a porta aberta. Andei adiante, passando a mão pelas flores
penduradas nas paredes, crescendo enraizadas ali.
O ar gelado me recebeu e o sino na porta tocou gentilmente,
sem fazer realmente barulho. Uma moça na recepção levantou a
cabeça e me encarou — ela era linda: o cabelo tinha tranças box
braids, os olhos repuxados no canto, a pele negra retinta parecia
reluzir e eu quase me apaixonei por ela.
— Oi, em que posso ajudar?
Claire estendeu a mão se apresentando, parecendo animada
demais por estar ali.
— Oi! Eu sou Claire e pretendo me casar em algum momento. Essa
é a minha amiga, Isla, e futura madrinha.
— Prazer em conhecê-las. Vocês precisam de alguma ajuda?
Marcaram hora? Ou pretendem marcar?
Claire olhou para trás, parecendo decepcionada e esperando
que eu usasse conexões para conseguir fazer com que Grace a
atendesse. Respirei fundo e concordei com a cabeça. Se eu seria a
madrinha, era o mínimo que eu podia fazer.
— A Grace está?
— Ela está, mas só atende com hora marcada… eu sinto muito. —
E ela realmente parecia sentir muito, mas não podia desistir. — Eu
sei que é incomum, mas você pode falar para ela que a Isla está
aqui, talvez ela me atenda…
— Tudo bem… Isla…? — questionou, querendo saber meu nome,
enquanto pegava o telefone branco antigo.
— Isla do Connor…
— Oh, meu Deus! — A mulher deu um gritinho e se aproximou de
mim. — Muito prazer, Isla! Meu nome é Francia… eu sou a
namorada da Grace…
Dei um sorriso e a abracei assim que ela se jogou sobre meus
braços. Ouvi um pigarro atrás de mim e me virei para ver Grace com
os braços cruzados, parecendo sentir ciúmes por sua namorada
estar tão entusiasmadamente abraçando outra mulher.
Assim que revelei meu rosto, Grace deu um gritinho, se
aproximando de mim.
— Isla, não acredito que está aqui! O Connor já te pediu em
casamento? Por favor, aceite… eu quero me livrar o mais rápido
possível dele.
— Não, eu… — Olhei para Claire mais afastada, parecendo
envergonhada das demonstrações de afeto. — Eu vim com a minha
melhor amiga, ela vai casar e queria muito conhecer o seu ateliê.
Grace se aproximou de Claire, estendendo a mão e se
apresentou:
— Oi, eu sou Grace Dumont. Prazer, é sempre uma alegria
conhecer uma nova noiva… e melhor ainda se é a melhor amiga da
pessoa que tirou o pau que estava enfiado na bunda do Connor.
Tampei o rosto, sabendo que aquelas provocações não iriam
parar. Grace se animou quando eu não neguei o relacionamento e
nos levou para uma sala privada. Tudo era elegante, bonito e
parecia ter sido projetado apenas para ela.
— Connor? — questionei, apontando para o lugar.
— Com certeza, ele acha que é o responsável por mim…
— É lindo! Parece que ele realmente a entende, assim como à mãe
dele... Para quem mais ele fez casas? — Grace sorriu, passando a
mão pelo cabelo.
— Minha mãe… a dele…, mas essa eu sei que você disse não
parecer um lar.
— Não foi por mal — contei, envergonhada que ele tivesse
compartilhado aquilo com ela.
— Eu sei e ele também… Mas me deixe atender sua amiga. Que tal
dar uma olhada na loja? Temos vestidos de madrinha para aquele
lado — falou, apontando para o lado direito da loja e segui para lá.
Nunca fui de ficar encantada com vestidos de festa, mas havia
uma delicadeza tão bonita nos traços dos vestidos de Grace que
caminhei até uma arara recheada de tecidos e comecei a passar a
mão.
Eu podia ouvir Grace e Claire conversando animadas, porque
não estava tão distante delas. As conversas giravam em torno de
todos os assuntos, mas focavam principalmente em seu
casamento.
Os vestidos de madrinha eram lindos e das mais variadas
cores. Independente da proposta de Claire para o próprio
casamento, algum se encaixaria.
Andei mais um pouco e parei, notando que tinha entrado em
uma sala repleta de vestidos de noivas. Eu não deveria ficar
surpresa, afinal, estava rodeada de vestidos, mas meus olhos foram
atraídos para um vestido exposto em um manequim.
Com mangas compridas, o vestido tinha pequenos detalhes de
flores espalhados pelo tecido transparente. Um decote no formato
de coração era coberto pelo mesmo tecido das mangas, o corpete
parecia se modelar ao corpo e sua saia era longa, parecendo fazer
a vez de um véu. As flores da manga seguiam um caminho em
direção ao chão.
Toquei o tecido, mas, com medo de sujar o tecido branco, dei
um passo para trás, sentindo uma lágrima escorrer por meu rosto.
Dei de encontro com alguém e me virei para pedir desculpas.
— Essa é uma das minhas criações favoritas… — a voz de Grace
me tirou do sonho bobo que eu estava sonhando.
— Ele é lindo… acho que Claire devia experimentar.
Grace riu e se aproximou, me segurando pelos ombros.
— Acho que você não conhece sua amiga. Ela está agora mesmo
provando cada um dos meus vestidos de princesa…, não, esse
parece mais a sua cara.
Olhei para o vestido de novo. Sim, ele era o tipo de vestido que
eu achei que usaria um dia, o tipo de vestido que eu imaginava
quando criança. Era perfeito.
— Você devia experimentar… só para saber a sensação.
— Não — falei, negando com a cabeça. —, hoje é o dia da Claire,
eu só vou olhar.
— Não vai fazer mal, Isla. Tenho certeza de que Claire não vai ligar.
Ela me disse que só queria ver os vestidos, que sequer tem a data
marcada ainda… ela só está aqui para provar do encanto dos
vestidos… você pode fazer o mesmo.
Olhei para o vestido perfeito mais uma vez e me senti boba por
sequer cogitar a ideia, mas de repente uma coragem surgiu dentro
de mim e olhei para Grace que parecia quase vibrando quando
percebeu que eu ia vestir a sua criação.
— Esse vestido foi feito em dois mil e doze, foi uma das minhas
primeiras criações aqui no ateliê, eu vou ficar muito feliz por ver
alguém vestindo-o.
Em uma cabine gigantesca, eu conseguia ouvir a voz de
Claire, enquanto ela comentava sobre o vestido que usava e eu
podia sentir a sua animação. Pareceu errado experimentar aquele
vestido.
— Eu sabia que você não ia conseguir ficar longe dos vestidos,
Isla… — Claire gritou e eu sorri. — Você vai me deixar ver?
— Prometo mostrar…
Uma das funcionárias de Grace entrou na cabine, me ajudando
a colocar o vestido. Não era difícil, mas parecia que elas tinham o
treinamento necessário para fazer aquilo mais rápido que qualquer
um.
— Grace nunca deixou ninguém usar esse vestido, sabia? Ela cuida
dele como um bibelô, mas acho que, pra namorada do melhor
amigo dela, ela faria tudo…
Não respondi e a deixei terminar de fechar os botões na parte
de trás. Tudo que eu conseguia sentir era que aquele vestido tinha
sido feito para mim. Nem mesmo sobraram restos de tecido na parte
de trás.
A mulher estalou os dedos e saiu correndo, me deixando
sozinha com um gigante espelho na parede. Quase abracei o
vestido, sentindo uma necessidade gigante de fugir com ele dali.
Quando a moça finalmente voltou com o que parecia uma tiara
de flores delicada, com pérolas e o aro torcido em dourado, eu
quase chorei. Suas mãos ágeis mexeram no meu cabelo, fazendo
um coque rápido e terminou colocando a tiara.
— Você está linda, quer mostrar pra sua amiga? A Grace está
quase pulando do lado de fora enquanto espera — comentou rindo.
Quando consegui finalmente largar a imagem refletida no
espelho, saí andando em direção à sala que estive antes com
Claire. Grace me olhou de boca aberta e parecia até emocionada.
Claire estava linda, vestida com um vestido que quase brilhava
de tantos detalhes. Seu rosto se iluminara enquanto ela se olhava
no espelho e rodava de um lado para o outro no vestido que
lembrava a Cinderela.
Minha imagem no espelho refletia assombro. Eu estava
pensando em passar meu cartão e levar um vestido que nem estava
à venda para casa, apenas para usá-lo sempre que pudesse,
porque eu nunca tinha me sentido tão linda na vida.
Deslizei os dedos pelo tecido, olhando para baixo e sentindo a
delicadeza dos detalhes em minha pele. Quando subi os olhos para
o espelho, meus olhos se arregalaram. Connor me olhava, sua boca
aberta em choque, e quase senti a necessidade de fugir para que
ele não pensasse besteira.
Ele tinha deixado claro que era só um dos seus
relacionamentos. Mas eu senti seus olhos ligados aos meus e não
consegui me mexer, porque ele parecia encantado. Encantado como
eu nunca tinha visto antes.
46
Connor

Coloquei a mão sobre meu coração. Ele batia como se


estivesse vivo pela primeira vez em muito tempo. Isla não se mexia,
parecendo congelada, retribuindo meu olhar pelo espelho.
Seu rosto estava limpo de maquiagem, mas tinha um brilho
que eu não sabia explicar. Não consegui desviar os olhos dela, não
quando ela estava ali, parecendo um sonho. O meu sonho.
As vozes de Grace e de mais algumas mulheres pareciam
distantes. Eu nem conseguia deduzir sobre o que falavam. Dei um
passo para a frente, tentando chegar perto de Isla.
O branco do vestido contrastava com o dourado da sua pele,
seus cabelos estavam presos e ela tinha uma tiara presa no topo da
cabeça. Eu conhecia aquele vestido, Grace tinha desenhado
quando mudou para o ateliê definitivamente, e ele era lindo – vê-lo
em Isla, contudo, ampliara a beleza do vestido.
— Isla… — Seus olhos baixaram do espelho, parecendo querer
fugir de mim.
Rodei o sofá que tinha entre nós dois e tirei a mão do bolso,
precisando tocar em Isla. Seus olhos viraram para mim assim que
peguei sua mão, entrelaçando nossos dedos.
Eu não consegui parar de olhar para ela. Isla parecia uma
deusa. Não sabia como tinha sido agraciado com a possibilidade de
tocar em seu corpo, mas eu tinha. Começava a pensar que deveria
ter sido um bom menino em algum ponto da minha vida para ser
recompensado daquela forma.
— Você está linda…
Ouvi os passos deixando o lugar, parecendo fazer barulho
demais por cima da música clássica que tocava. Isla ainda não
havia me dito nada, seu rosto avermelhado pela vergonha.
Olhei para o espelho, vendo a imagem que ela formava. Eu
sentia que estava tendo um infarto, porque era a única explicação
para que eu estivesse sentindo todo aquele tipo de sensações.
Até mesmo minha língua parecia dormente e minha cabeça
parecia repetir apenas uma única coisa: Isla. Isla. Isla. Isla.
— Eu vou… — Isla disse, depois que eu fiquei olhando para ela
como um bobo.
— Por favor, me deixe olhar para você por mais um tempo.
A sensação era que aquela imagem ia ficar marcada em minha
mente para sempre. Eu sonharia com aquilo e, quando eu deixasse
esse mundo, aquela seria a memória a me embalar nos braços de
Hades.
O vestido parecia ter sido feito para ela, como se Grace
soubesse que ela chegaria em minha vida. Que tomaria meu
coração, que me tiraria o chão. Fechei os olhos, levando sua mão
até meus lábios.
— Você é a coisa mais linda que eu já vi na minha vida… — Isla deu
uma risada sem graça e me encarou. Eu sabia que estava falando
sussurrando, como se qualquer coisa pudesse quebrar o encanto
daquele momento.
Isla colocou a mão em meus ombros, tentando descer da
pequena elevação que as noivas ficavam para mostrar o vestido aos
familiares. Segurei sua cintura, ajudando-a.
Dei espaço para que ela pudesse sair de perto de mim, como
parecia querer tão ansiosamente. Eu ainda sentia meu coração
batendo tão alto que o único som a ser ouvido na sala era das
batidas.
Eu ainda segurava a mão de Isla quando ela entrou dentro do
provador. Uma urgência, ou melhor, uma necessidade nasceu em
mim, como se Isla fosse toda a água que eu precisava para viver.
Corri atrás dela, invadindo o espaço. Seus olhos se
arregalaram, enquanto ela tentava inutilmente desfazer os botões
em suas costas. Virando para mim, eu não dei tempo para que Isla
me expulsasse ou para que implorasse que eu fosse embora.
Agarrei seu rosto e puxei sua boca para a minha. Os dois
presos dentro de um pequeno quadrado, sendo consumidos por um
sentimento que eu sabia o nome. Isla colocou as mãos em minha
camisa, me puxando de encontro a ela, como se ela precisasse
daquele ar como eu.
Puxei seu pescoço com força, sabendo que ela ficaria
vermelha. Eu precisava consumir Isla, eu precisava me alimentar
dela, beber dela, respirar ela. Porque eu não tinha mais escapatória.
Eu morreria e viveria por ela se ela me deixasse.
A língua de Isla invadiu minha boca e eu puxei sua perna,
tentando encontrar como tocar em seu corpo com todo aquele
monte de vestido. Isla parecia tão desesperada quanto eu.
Seus olhos frenéticos se abriram e eu fiz o mesmo, precisando
saber que ela estava ali comigo. A minha camisa estava amassada
onde Isla tinha tocado, deixando claro que a necessidade tinha sido
maior que qualquer coisa.
A voz de Adele cantando finalmente sobressaiu o som do meu
coração e respirei fundo, precisando saber se ela estava tão sem
forças como eu, porque não tinha para onde fugir. E se fugisse, eu
fugiria para ela.
Isla virou de costas para mim, me encarando no espelho,
enquanto eu desfazia cada um dos botões nas costas do vestido.
Suas mãos seguravam o tecido no lugar, enquanto o vestido ia
ficando bambo.
Eu não conseguia desgrudar os meus olhos dela, assim como
ela parecia não conseguir desgrudar os olhos de mim. Do lado de
fora, as vozes voltavam, mas eu não prestava atenção naquilo. Eu
prestava atenção nela.
Quando o vestido finalmente estava no chão, Isla virou para
mim. Seu corpo estava marcado pelo corpete do vestido. Peguei Isla
no colo, tirando-a de dentro do amontoado no chão.
— Eu acho que a gente devia chamar alguém para ajudar a arrumar
o vestido — Isla falou, me encarando.
Soltei seu corpo apenas por alguns minutos, enquanto ela se
ajeitava no canto do provador. Peguei o vestido, colocando-o no
cabide certo, como eu já tinha feito milhares de vezes enquanto
ajudava Grace no começo.
Ninguém entraria naquela cabine. Eu nem sabia se alguém
sairia vivo. Não quando Isla estava tremendo de desejo por mim.
Seu conjunto de lingerie era a única coisa que nos separava.
Dei um passo para perto de Isla, e ela automaticamente
afastou as pernas, como se soubesse o que eu queria fazer. Afastei
sua calcinha de renda e toquei sua boceta molhada.
— Posso te foder aqui, Isla?
47
Isla

Connor sabia como ligar cada um dos meus botões. Quando


sua voz sussurrou perto do meu ouvido, com a pergunta mágica, eu
quase chorei. Todo meu corpo tremia de expectativa, torcendo para
que ele me tocasse.
O modo como ele me olhou enquanto eu estava vestida de
noiva estaria sempre marcado em meu coração. Foi como se eu
fosse a sua noiva. Aquilo me tirou o chão.
Mas, agora, o desejo por ele falava mais alto que qualquer
outro sentimento. Seu dedo continuava espalhando minha
lubrificação em minha boceta, enquanto ele esperava pela resposta
que eu daria. Não tinha como negá-lo, mas eu nunca tinha feito
sexo em público.
— Por favor, Isla, por favor me deixa foder essa buceta bem aqui…
— Connor tirou a mão de mim e eu chorei pela falta de contato.
Seus dedos foram levantados em direção ao meu rosto e Connor
abriu os dedos, mostrando como eu estava molhada. — Você está
implorando por isso, Isla. Vamos, uma única palavra sua… por favor,
amor.
— Sim, Connor.
Connor me puxou de encontro ao seu corpo, me virando de
frente para o espelho. A imagem erótica do seu corpo todo vestido,
ao passo que tudo que eu usava era um conjunto de lingerie, me fez
tremer.
— Se dobra pra frente, Isla… coloca as mãos no espelho.
As mãos habilidosas de Connor puxaram as alças dos meus
sutiãs, descendo o tecido por meus braços, arrepiando todo o meu
corpo. Connor se abaixou atrás de mim de joelhos, deixando que eu
visse apenas a imagem dos meus seios descobertos.
— Você já está rebolando e meu pau nem está dentro de você…
— Connor.
Ouvi sua risada e senti quando Connor começou a descer a
calcinha de meu corpo. Respirei fundo quando o ar gelado bateu em
minha buceta. A fungada de Connor fez com que eu virasse e ele
estava com a calcinha molhada em seu rosto.
— Eu vou ter que ser rápido, amor… mas isso aqui fica comigo —
falou, guardando a calcinha como um prêmio dentro do bolso da
calça.
Connor se levantou, passando a mão por minhas pernas.
Prendi a respiração, quando sua mão afastou a minha bunda e ele
cuspiu em mim. O líquido quente escorreu por minha bunda.
Senti o pau de Connor se esfregando em minha pele e encarei
a imagem no espelho. Connor colocou a mão em meu pescoço, me
puxando para perto dele, fiquei na ponta dos pés.
— Tudo bem se eu te fuder sem camisinha? — perguntou,
esfregando o dedo em minha bunda. — Eu estou tão tentado a dar
um tapa na sua bunda, mas eu não sei o quanto podem ouvir…
Connor riu, quando eu não respondi nada e puxou meu
pescoço mais forte, cortando um pouco a circulação de ar dentro do
meu corpo, apertando meu pescoço em seus dedos.
— Você precisa responder, amor… — Connor soltou meu pescoço e
respirei fundo, puxando o ar para dentro de mim. Concordei com a
cabeça e Connor balançou a cabeça em negação. — Com palavras,
Isla.
— Sim, por favor.
Meus braços tremiam de estar me segurando no espelho. Ouvi
o zíper descendo em sua calça e minha boceta se contraiu em
expectativa. Connor parecia esfregar o próprio pau, mas eu não
tinha forças para olhar para trás.
Senti seu pênis se esfregando em minha entrada e minhas
pernas perderam a força. Eu tinha esquecido como ele era grosso.
As veias podiam ser sentidas, contraí a boceta mais uma vez e
Connor rodou o dedo em minha bunda.
— Não, amor, assim eu não vou conseguir entrar… relaxa, por
favor.
Segui o comando de sua voz e senti os bicos dos meus seios
como pedras, sua voz controlava todo o meu corpo. Connor entrou
com tudo em mim e gemi. Sua mão subiu para meu peito, enquanto
ele me beliscava.
— Olha, amor, que lindo…. a sua buceta me tomando inteiro… —
Meus olhos quase se fecharam ao som da sua voz, mas Connor
levantou minha cabeça para encarar o espelho. — Olha… olha
como nós fodemos bem, você não vai fugir de mim, amor.
A mão de Connor se fechou em meu pescoço, impedindo que
eu gemesse, enquanto seu pau entrava e saia de mim devagar,
quase como se ele não quisesse perder o contato.
Connor tirava o pênis de dentro de mim com uma lentidão que
parecia tortura, e então enfiava de novo, socando tão forte que eu
estava quase gozando apenas com aquilo.
Senti o ar sendo cortado de novo e minhas mãos escorreram
do espelho. Connor andou com nossos corpos e grudou meu rosto
no espelho, esfregando meu seio no vidro gelado.
Meu corpo tremeu, quando Connor girou o quadril de encontro
a minha boceta. Contrai meu corpo e ele gemeu baixinho em meu
ouvido. Connor enfiou o rosto em meu pescoço, mordendo minha
pele.
— Eu vou morrer gozando dentro de você, Isla.
— Só não agora, né? — brinquei e Connor tirou o pênis de dentro
de mim, enfiando com tudo e me fazendo gozar em seu pau.
Seu sêmen escorreu para dentro de mim, enquanto ele grunhia
em meu pescoço. Contrai a boceta mais uma vez, tentando
ordenhar tudo que saía dele. Connor saiu de dentro de mim, me
fazendo gemer com a falta dele.
Connor se ajoelhou atrás de mim e senti o sêmen molhar
minha perna, mas Connor parecia mais rápido, empurrando de volta
para dentro de mim, como se não quisesse que eu perdesse uma
gota dele.
Gemi com seus dedos dentro de mim e rebolei. Connor deu
um tapa em minha bunda.
— Para. Nós vamos sair daqui… eu não vou te foder de novo aqui
dentro, amor…
Virei para Connor e vi seus olhos em mim, enquanto ele ainda
devolvia o seu gozo para dentro de mim.
— Do que você me chamou?
Connor levantou do chão, enfiando o pau para dentro da calça
e subindo meu sutiã. Ele deu um beijo em minha testa e puxou a
calcinha de dentro do bolso.
— Coloca a roupa, nós vamos para a minha casa.
Connor tinha me chamado de “amor”? Meu coração se
descompassou e comecei a vestir a roupa em tempo recorde,
enquanto Connor me assistia. Seus dedos se entrelaçaram nos
meus, mas Connor começou a ajeitar meu cabelo com a outra mão.
— Vamos.
Quando a porta abriu, Connor deu um respiro de alívio.
— Mas que porra, Connor Evans! — Grace gritou assim que nos
olhou, parecendo ter brotado da terra. — No meu ateliê? Espero que
você não tenha sujado meu vestido de porra, ou eu vou matar você,
eu juro que vou te matar com as minhas próprias mãos.
— O vestido está a salvo… — comentei, sentindo meu rosto pegar
fogo com a vergonha que eu passava.
— E ele está comprado. — Connor entregou o cartão para Grace.
Ainda ouvi ela gritando que ia usar pra pagar a sujeira que
Connor fez e cobri meu rosto, torcendo para que todo mundo
estivesse ocupado demais para me ver sendo arrastada pelo ateliê
enquanto Connor respondia Grace.
Claire me encarou com os olhos arregalados e dei um tchau
com a mão, porque mesmo que quisesse apresentar os dois,
Connor parecia em uma missão. A missão parecia me ter na sua
cama.
48
Connor

Grace era uma pessoa horrível. Uma pessoa baixa e vingativa.


Depois de passar o que pareceu ser milhões no meu cartão, Grace
veio até a minha casa e, agora, Isla estava no sofá comendo pizza
com Elijah enquanto assistiam Jurassic Park - O mundo perdido.
Obviamente eles já tinham assistido o primeiro.
Elijah nem tinha fingido que estava ali por mim. Não, meu filho
gritou “moça” e saiu correndo para Isla antes que ela tivesse a
chance de se preparar para pegá-lo no colo. Grace não tentou
parecer envergonhada, pelo contrário, parecia muito satisfeita
consigo mesma quando saiu com Francia para o cinema.
— Eu não aguento mais esses filmes! — declarei, quando Isla
estava prestes a colocar o terceiro filme.
— Então você pode ir fazer outra coisa, certo, Elijah? O seu papai
pode ir trabalhar e aí a gente fica vendo nossos amigos
dinossauros, né?
— Ou a gente visita a girafa! — Elijah disse pulando no sofá.
Isla me olhou com cara de quem dizia “Viu o que você fez?” –
e sim, eu tinha visto. Deixei-a entrar em minha vida. Dei um beijo em
sua testa, enquanto ela apertava o play para começar o terceiro
filme e me encostei nela, sentindo uma necessidade gigante de
estar o mais próximo possível.
Eu nunca imaginei que pudesse cair de amores tão rápido por
alguém. Ela abriu um sorriso gigante quando Elijah levantou um
dinossauro como se estivesse comemorando uma vitória.
Isla começou a passar a mão por meu cabelo, fazendo carinho
atrás da minha orelha e depois descendo para o meu pescoço.
Coloquei a mão sobre sua coxa, apertando a carne. Eu precisava
fazer amor com ela, porque era isso que era. Amor.
Elijah começou a conversar com Isla sobre o filme, como se
fizessem aquilo sempre. Me levantei, sem conseguir assistir àquele
filme por mais tempo. Eu amava muito os dois, mas Jurassic Park
era tortura.
Parei no meio da escada, sentando e encarando minha casa.
Isla tinha razão. Apesar de eu ter adaptado da melhor maneira
possível, não parecia um lar. Não como a casa da Grace ou a casa
da minha mãe pareciam.
Peguei o telefone e esperei enquanto chamava.
— Por que você me dá folga pra depois ligar no meio da noite como
se fosse um louco? Tem alguém morrendo?
— Boa noite, Joseph! — Joe riu e eu sabia que ele estava
mostrando o dedo do meio para o ar. — Eu preciso achar um
terreno grande o suficiente para uma casa de quatro quartos. Seria
bom que tivesse espaço para um jardim ou uma estufa ou os dois.
Preciso também que tenha espaço para um ambiente infantil. Você
está anotando?
— É claro que não, eu estava quase dormindo.
Passei a mão por meu cabelo, afastando os fios bagunçados
dos meus olhos.
— Por que eu só contrato gente incompetente? Anote isso em
algum lugar e depois vá dormir, só que, se amanhã isso não estiver
na minha mesa, eu vou te demitir.
— Connor, vá se fuder!
Joe desligou o telefone, e eu me levantei, descendo as
escadas em direção à sala. Sentei no grande sofá e fiquei
encarando Edimburgo. Minha cabeça não parava de trabalhar. Eu
conseguia visualizar cada detalhe do que eu queria e minhas mãos
quase se moviam sozinhas.
Agarrei um bloco de papel que eu deixava ali para as noites
que eu ficava sozinho em casa e comecei a desenhar, colocando
desesperadamente aquela ideia no papel. Temia que, se eu não
fizesse, esqueceria tudo e perderia a imagem perfeita que se
formara em minha mente.
Quando eu estava na terceira ou quarta folha, ouvi passos
descendo pela escada e Isla apareceu vestindo apenas uma
camiseta minha. As pernas estavam de fora e os cabelos presos em
um coque. Ela levantou os braços na escada se espreguiçando,
linda.
Fechei o caderno, temendo que ela visse alguma coisa e
joguei para o lado. Isla sentou no meu colo e pegou o lápis da minha
mão. Coloquei a mão em sua cintura e ela se arrumou, me
encarando.
— Não acredito que você largou o Elijah e eu para vir trabalhar…
você deu folga para a empresa, e isso inclui você.
— Desculpa. — Enfiei a mão por baixo da sua blusa e segurei seus
seios sem sutiã, sentindo o bico do seu seio ficando duro em minha
mão. — Cadê o Elijah?
— Dormindo, fiquei ao lado dele até desmaiar na cama… e não, ele
não pediu pra te chamar.
— Eu perdi meu filho pra você. — Coloquei a mão em seu cabelo,
puxando seu rosto para perto de mim.
Isla sorriu e espalhou beijinhos pelo meu rosto. Aproveitei
aquele momento, desmanchando sob seu cuidado. Isla começou a
encher meu tórax de beijos, descendo sua boca perigosamente
perto da minha calça.
Quando ela finalmente ajoelhou senti meu corpo inteiro
congelar. É claro que meu pau já estava duro. Aliás, desde o
momento em que ela apareceu descendo as escadas vestindo
apenas minha camiseta.
Isla puxou minha calça, liberando meu pênis que estava
animado pela atenção. Estendi os braços no encosto do sofá,
olhando para seus olhos na meia luz da sala. Sua mão rodeou meu
pau e ela se aproximou, abrindo a boca e o abocanhando com
gosto.
Grudei o tecido do sofá, me segurando. Isla tirou a boca de
mim em um estalo e o som fez meu pau ficar ainda mais duro. Ela
se afastou arrancando a camiseta e jogando em qualquer lugar da
sala.
E então, esfregando os seios em mim, Isla me colocou de novo
em sua boca. Com os movimentos de sua mão, espalhava saliva.
Agarrei seu cabelo enquanto ela descia e subia sua boca em meu
pau.
Seus lábios cheios por meu caralho era a coisa mais gostosa
de assistir. Isla arrastou os dentes por minha pele e apertou a base
do meu pau. Gemi seu nome, apertando seu cabelo mais forte em
minhas mãos.
Ela se afastou, descendo e subindo suas mãos por toda a
extensão, mas nada me preparou para ela descendo a boca para as
minhas bolas que estavam completamente cheias para gozar nela.
Apertei mais forte seu cabelo e Isla não reclamou, mesmo eu
sabendo que provavelmente estava doendo. Fechei os olhos
quando sua boca voltou a lamber e sugar meu pau.
Isla não se afastou quando eu dei indícios que ia gozar, pelo
contrário, ela apontou meu pênis para os seus seios e deixou o meu
sêmen se espalhar por seu colo.
— Você ainda vai ser a causa da minha morte, Isla Salazar.
Puxei Isla para meu colo e a beijei, provando da sua boca com
o meu gosto. Quando ela sorriu em meio ao beijo, eu tive certeza de
que seria sempre dominado por ela.
Isla deitou em meu peito e ficamos os dois ali na sala,
assistindo a cidade de Edimburgo. Beijei seus cabelos e, ao
perceber que ela estava adormecendo, me levantei com Isla em
meu colo, levando-a para minha cama.
Coloquei seu corpo no colchão e puxei o edredom. Afastei os
cabelos e disse pela primeira vez em voz alta:
— Eu te amo, Isla…
49
Isla

Connor se recusou a me deixar longe da empresa para que eu


pudesse ir andando e evitasse falatórios. Quando saímos de dentro
do elevador, percebi os olhares em nossa direção. Ele os ignorou
como sempre fazia.
Andei até minha mesa e deixei minhas coisas. Jessie pulou na
minha frente animada e começou a falar sobre algo, mas eu não
conseguia prestar muita atenção. Eu conseguia pegar pequenos
detalhes: ela estava animada para trabalhar com Joe, ele era legal,
ela não estava preparada.
— Você vai se sair muito bem, Jessie, prometo… O Joe coloca as
pessoas debaixo das asas e arrasta por aí.
— Que bom que eu vou te ter por perto…
— O quê? — Virei parecendo ouvir por completo.
— Parece que é um projeto na Espanha ou Portugal… algum que
você está envolvida.
— Ah, sim… — confirmei, sabendo do projeto que ela falava. —
Jessie, você se importa se a gente conversar depois? Eu preciso
muito trabalhar um pouco antes da reunião.
— Claro…, mas não sei o porquê, se você falar para Connor que se
atrasou, ele é capaz de rolar no chão e bater palminhas. — Encarei
seu rosto, mas ela não parecia me julgar, pelo contrário. Seu sorriso
era cúmplice, como alguém que sabia do que estava falando. —
Prometo não falar nada, mas está meio na cara.
Olhei em volta, percebendo que ninguém ligava para a
conversa, mas levantei do meu lugar, deixando Jessie sozinha. Ela
não pareceu ligar, andando atrás de mim.
Sua voz continuava falando comigo, mas eu tinha fechado
qualquer acesso que ela pudesse ter ao meu cérebro no momento
que ela falou sobre meu envolvimento com Connor.
Eu sabia que eu o amava, mas eu não sabia como ele
realmente se sentia sobre isso. Aquilo podia acabar mal para mim.
Tampei meus ouvidos, lembrando das palavras que eu sonhei que
ele tinha sussurrado para mim. Eu vinha tentando bloquear desde o
momento que ele me acordou de manhã.
Andei até a copa da empresa, precisando de uma dose de café
bem forte, e de um dos doces que sempre tinha ali. Fui abrir a porta,
mas uma voz maldosa sobressaiu às outras.
— É claro que ele está fodendo ela… que outro motivo o senhor
Evans teria para colocá-la em um projeto grande… — a voz de uma
das garotas que trabalhava perto de mim me despertou. — E é só
você reparar, agora eles sempre saem e chegam em horários
próximos, quer dizer, posso culpá-la? Connor é um pedaço de mal
caminho, tem um filho, mas é com aquela amiga estranha dele…
— E internatos existem por um motivo… — A outra garota
respondeu. —, além disso, vocês lembram que Alex já tinha falado
sobre isso. Foi por isso que Connor tirou ele do projeto e colocou
Isla…
— Connor logo se cansa, já ouvi que ele fode garotas dentro da
empresa e depois descarta no dia seguinte — um homem
comentou. Suas vozes pareciam venenosas. — Ele vai aproveitar
do talento dela, se é que tem, e da bunda, porque eu também ia
querer gozar dentro daquele cuzinho.
As palavras que pareciam cortar minha pele, reviraram meu
estômago, me dando ânsia. Não aquilo, não aquilo de novo. Meus
olhos se encheram de lágrimas, mas eu não conseguia me mexer,
não quando Jessie apertava meu braço onde ela segurava.
— Ela é só mais uma… vamos ver quanto tempo dura e depois
disso… quanto tempo vai demorar para que ela seja demitida.
Risadas soaram e eu dei um passo para trás, quando o
primeiro soluço escapou de minha boca. Bati de encontro com
Jessie e ela me virou para ela, parecendo tão pálida quanto sua
pele negra permitia. Seus olhos escuros como a noite pareciam
preocupados comigo, mas apenas a lembrança que ela tinha ouvido
tudo aquilo fez a bile subir por minha garganta.
Corri, batendo de encontro com Joe e continuei correndo em
direção a qualquer caminho que me levasse para longe dali. As
lágrimas escorriam por meu rosto, e meu coração tremia de
ansiedade. Não de novo, não aquilo de novo. Eu sabia que
terminaria assim.
Connor não desmentiria, não me protegeria daquilo e eu seria
mais uma vez apenas uma puta com quem alguém transou.
Balancei a cabeça, parando. Eu sentia minhas pernas fracas e não
conseguia ver onde estava. Meus olhos ficaram turvos pela corrida e
me encostei na parede de uma loja qualquer.
Tentei tatear por meu celular e não encontrei. Quando alguém
se aproximou de mim, eu só lembrava de dizer o nome do hospital
em que minha mãe trabalhava. Porque eu precisava dela. Precisava
dela como precisava do ar.
Meu coração continuava gritando o nome de Connor, só que
ele não podia me ouvir. As lágrimas continuavam escorrendo pelo
meu rosto e coloquei a mão sobre o peito, massageando o lugar.
— Você está bem? — a mulher perguntou, enquanto dirigia.
Não sabia. Eu nunca tinha sentido aquele sentimento de ser
esmagada. Minha garganta parecia fechada, não conseguia
responder e eu duvidava que pudesse respirar.
— Por favor, não morra no meu carro… espere chegar no hospital,
eu não quero uma alma assombrando meu carro.
Não sabia como, mas a fala da mulher quase me fez rir,
afastando a névoa que me sufocava. Minha pele continuava
pinicando, a sensação de estar sendo levada por ondas não havia
passado, mas eu conseguia respirar. Fracamente, mas conseguia.
Quando a mulher parou em frente ao hospital, eu fui retirada
de dentro do carro por alguns enfermeiros, que pegaram uma
cadeira de rodas como se eu não conseguisse andar. Naquele
momento eu duvidava que pudesse.
— Ela parece estar passando por uma crise de ansiedade, — a
mulher explicou. — Eu a encontrei quase caída na rua, e ela falou
por esse hospital.
Então era isso? Uma crise de ansiedade? Minha pele
continuava formigando e meus olhos estavam cansados demais,
como se tudo estivesse pesado demais para que eu pudesse
carregar.
Tentei levantar a cabeça, mas não consegui. Alguém falou
comigo, mas o som parecia abafado em minhas orelhas e tudo que
eu conseguia continuar ouvindo eram as vozes daquelas três
pessoas que estavam dentro da copa da empresa.
— Moça, qual o seu nome?
— Isla?
Voltei a chorar assim que ouvi a voz da minha mãe gritando
meu nome. Seu toque quase me acalmou. Olhei para cima e seu
rosto redondo foi a última coisa que eu vi antes de desmaiar.
50
Connor

A sala de reuniões continuava se enchendo. Cada pessoa que


entrava, me fazia sentar mais ereto na cadeira. As pessoas
continuavam conversando, até me olharem e pararem no mesmo
segundo.
O espaço do café estava vazio, ninguém estava
monopolizando os doces. Isla não estava dentro ou fora da sala ou
em qualquer lugar que eu pudesse encontrá-la, mas todas as coisas
importantes estavam em sua mesa. Por isso, eu sabia que ela não
podia ter deixado a empresa sem nem ao menos me dar uma
explicação.
A manhã tinha sido tão perfeita que eu temia que qualquer
coisa pudesse acabar ferindo aquele amor delicado que eu
segurava com as duas mãos. Parecia errado que ela não estivesse
perto de mim.
A estagiária que andava com Isla entrou na sala, seu rosto
mostrando preocupação. Apressou-se em falar com Joe, que
passou a franzir as sobrancelhas. Isla ainda não estava em nenhum
lugar que eu pudesse ver.
Comecei a apertar o lápis em minha mão, sentindo uma
sensação estranha crescer em meu estômago. Joe andou até perto
de mim, depois de parecer tranquilizar a garota nova.
Olhei para ele, que se sentou ao meu lado, entregando o tablet
com o que parecia imagens do que eu tinha pedido para ele na noite
passada. Eu não conseguia prestar atenção naquilo agora.
— Sentem-se. — Virei para a porta, esperando o momento que Isla
entraria e viria sentar ao meu lado, mas não. — Cadê a Isla?
Cada um dos meus funcionários começou a olhar para o outro,
procurando na mesa por Isla, como se eu fosse cego o suficiente
para não saber onde minha mulher estava.
Vi quando a estagiária baixou os olhos, parecendo tremer.
Levantei o dedo para ela.
— Você! Cadê a Isla? Vocês estão sempre juntas.
— Eu não… eu não sei.
Joe se levantou e parou ao meu lado, tocando meu braço.
Puxei, fazendo com que ele se afastasse.
— Connor… vamos conversar lá fora.
— Não. Onde — continuei com o dedo apontado para a garota. — a
Isla está?
— Ela…
— Fala logo, porra.
— Connor, você está muito exaltado. Se acalme e vamos lá fora
conversar. Vem, Jessie.
— Eu quero saber e quero saber agora, o que está acontecendo?
Jessie se levantou parecendo corajosa e encarou algumas
pessoas na sala.
— A Isla ouviu algumas pessoas falando dela e você. Eu realmente
não sei onde ela está, mas ela saiu daqui muito perturbada.
— Eu vi quando ela fugiu, Connor, ela não parecia bem… eu tentei
seguir, mas a Isla corre muito rápido.
Olhei para o rosto de cada um, sentindo meu coração batendo
mais rápido dentro da minha caixa toráxica. Jessie continuava de pé
e Joe parecia pronto para me segurar, impedindo que eu saísse
atrás de Isla.
— Quem falou sobre isso? — Andei até a garota, ficando a
centímetros do seu rosto.
Jessie parecia insegura, tremendo até. Quando seu dedo se
levantou e ela apontou para três pessoas que pareciam prontas
para fugir, eu andei para perto deles. Agarrei o homem pela camisa
e o segurei perto do meu rosto.
— Você acha que tem alguma coisa pra falar sobre a minha mulher?
Então fala agora, na minha cara!
O funcionário que eu nem lembrava o nome teve a capacidade
de parecer envergonhado.
— Connor, larga o nosso funcionário.
— Nosso funcionário na puta que pariu! Você está demitido, pega as
suas coisas e saí da minha empresa agora. O mesmo pra vocês
duas, eu não quero encontrar vocês aqui quando eu piscar no
próximo minuto.
Minhas mãos tremiam, e eu ainda segurava o homem perto de
mim. Soltei a gola da camisa, fazendo com que ele cambaleasse
para trás. Virei para trás, encarando Joe.
— Para onde ela foi?
— Eu realmente não vi… — Joe tentou me parar enquanto eu me
mexia de um lado para o outro.
Olhei para cada rosto dentro daquela sala e todos pareciam
assustados. Eu não ligava, eu não precisava nem imaginar o que
aqueles filhos da puta tinham dito. Sabia que qualquer que fosse a
mensagem, Isla tinha sentido como facas afiadas cortando sua
carne. Ela tinha me contado tudo sobre o idiota do professor, eu não
precisava saber o que os alunos tinham dito sobre ela.
— Se eu ouvir uma palavra sobre a Isla, eu vou demitir cada pessoa
dessa empresa até não restar mais ninguém. Depois, vou contratar
pessoas que saibam respeitar a mulher que vai ser a minha esposa,
mas mais que isso, pessoas que saibam respeitar uma mulher. Todo
mundo pra fora da sala agora. — Jessie tentou sair de fininho e eu a
impedi. — Você e Joe ficam.
Quando a sala se esvaziou, me apoiei em uma cadeira,
pensando em tudo que poderia ter acontecido com Isla. Toquei o
celular em meu bolso e puxei, encontrando nada além de
mensagens normais. Nada de Isla.
— Para que lado ela foi, Joe?
— Eu não vi. Eu tentei, mas quando eu saí, ela já estava fora da
empresa.
— Você devia ter me chamado. Como eu vou encontrar Isla agora?
— Talvez você devesse deixá-la vir até você, ela não parecia
muito… com vontade de estar com ninguém. — Jessie contou,
enquanto cutucava a pele.
— Eu não ligo, eu vou atrás dela em cada canto de Edimburgo. Eu
estou com o meu celular e vocês me avisam a qualquer sinal de
notícias…
Andei em direção a porta e Joe me parou:
— Cuidado, Connor, você é pai. Não saia por aí como um louco, a
Isla deve estar precisando de espaço.
— Então, ela pode ter espaço em meus braços. Ela não vai fugir de
mim.
Saí andando pelas ruas, parando qualquer pessoa e
perguntando se tinham visto Isla. Meu coração batia tão rápido que
eu temia que eu fosse infartar e deixar a minha futura esposa
sozinha nessa terra.
Parei em frente a uma loja, suando, depois de andar pelo que
pareceu serem horas, sentindo meu corpo cansado. Isso estava tão
errado, ela não devia ter que passar por aquilo. Isla era a pessoa
mais doce que existia no mundo.
Puxei o celular do bolso, esperando que uma única mensagem
tivesse chegado. Esperava por ela, pelo seu aviso de que estava
bem, porque ela sabia que eu estaria louco atrás dela. Nada.
Ouvi o som do telefone tocando e coloquei na orelha, apenas
para ouvir a voz de Joe.
— Real Enfermaria de Edimburgo. Ela está lá. — Apontei o dedo
para um táxi, sem querer a dificuldade que seria voltar para o
escritório, pegar a chave, meu carro e então ir atrás dela. — Vai com
calma, Connor… de verdade.
— É a mulher que eu amo, Joe… eu vou atrás dela até no inferno.
Agora ela precisa de mim. Você tem sorte que eu não vou
atravessar essa cidade correndo.
51
Isla

Já era a terceira vez que minha pressão estava sendo medida.


Tentei tirar o aparelho do braço e tudo que eu recebi foi um tapa em
minha mão. Olhei brava para minha mãe, mas ela ignorou, ainda
fitando o aparelho. Quando ela viu o que considerou normal, se
afastou de mim e deu um tapa em minha perna.
— Anak, você quase me matou de preocupação! Você tem ideia do
que eu senti quando te vi desmaiando naquela cadeira de rodas? —
Conseguia ver em seu rosto, minha mãe ainda parecia frenética. —
Então, se você acha demais que eu esteja medindo sua pressão de
novo, você tem que entender que é meu bebê.
— Desculpa, mãe… eu só pensei em você quando comecei a
passar mal. Eu devia saber que você ficaria louca!
Minha mãe apertou minha perna e se sentou na ponta da
cama. Seus olhos me encararam com preocupação. Eu não sabia o
que devia estar se passando em sua cabeça, mas ela puxou a
minha mão na sua, ainda com o aparelho de pressão me
apertando.
— Eu não saberia o que fazer sem você, anak… — Meus olhos se
encheram de lágrimas com a voz doce da minha mãe. — Mas você
está bem… isso é o importante.
— Pode tirar o aparelho do meu braço? Já que eu estou bem…
— Dahil lang sa isa kang malaking iyak — Minha mãe estava me
[1]

chamando de bebê chorão.


— Mahal mo ako… — “Você me ama” falei, jogando em sua cara a
verdade.
Mamãe revirou os olhos e pensou bem antes de levantar e tirar
o aparelho de mim. Balancei o braço, sentindo o alívio de não estar
mais sendo apertada até a morte. Mamãe deu um beijo em minha
testa e me puxou para perto dela, encostando a minha cabeça em
seu ombro.
— Pode me contar o que aconteceu? — questionou baixinho e
encarei as paredes brancas do quarto.
A mera lembrança do ocorrido revirava meu estômago. Agora
que eu via com clareza, sabia que devia ter corrido para Connor,
mas o medo foi maior que qualquer coisa.
— Eu ouvi algumas pessoas falarem sobre mim… — contei,
afastando o cabelo do meu rosto. — Foi horrível, eu me senti tão
pequena, parecia que tinha algo apertando meu coração.
— Por que elas estavam falando de você?
Eu não tinha contado para minha mãe sobre Connor, sequer
sabia como entrar nesse assunto... Especialmente por eles terem
quase a mesma idade. E eu o amava tanto que, se ela não gostasse
dele, eu sofreria por não poder ver as duas pessoas que eu mais
amava juntas.
Limpei uma lágrima e apertei sua mão. Eu sabia que minha
mãe não me julgaria, mas, mesmo assim, o medo era maior do que
qualquer coisa que eu já tinha sentido.
— Elas falaram coisas tão ruins, mãe. — Minha mãe parecia querer
a explicação e se levantou, preparando-se para o pior. — Eu estou
com o meu chefe, eu… realmente gosto dele, mas eles fizeram
parecer tão sujo, como se eu estivesse fazendo aquilo para subir na
empresa.
— E você fez isso? — Mamãe perguntou e eu a encarei. Comecei a
puxar o lençol da cama, temendo que ela tivesse aquela imagem de
mim.
— Não, claro que não… eu… mãe, eu amo o Connor, como eu
nunca achei que ia amar alguém.
— Então o que essas pessoas têm a ver com o que existe entre
vocês? Você vai deixar que isso atrapalhe esse sentimento bonito?
Com algo tão sujo? Eu te criei melhor que isso, Isla. Bem melhor
que isso.
Escutei um grito no meio do hospital, como se alguém
estivesse impedindo um louco de fugir ou um maluco de entrar. A
voz só ficava mais alta e mais brava a cada passo que dava e minha
mãe abriu a porta para ver o que estava acontecendo.
O tumulto parecia se aproximar, como se a pessoa estivesse
batendo em cada porta. Temi por mim quando o volume da voz
aumentou, como se estivesse no meu andar. Meu coração estava
disparado.
A voz de Connor finalmente pôde ser ouvida e senti lágrimas
em meus olhos.
— Você está louco se acha que vai me impedir de ver a minha
mulher. Eu destruo e reconstruo esse hospital em um estalar de
dedos apenas pra encontrar a Isla.
Quando ele finalmente parou na porta do meu quarto, seus
ombros caíram de alívio e as lágrimas que eu estava segurando
desceram pelo meu rosto. Seu rosto parecia cansado, seu terno
estava todo sujo e ele se aproximou correndo de mim.
Connor tomou meu rosto em suas mãos e começou a distribuir
beijos por toda a minha face, beijando minhas bochechas, as
minhas pálpebras, a minha testa e finalmente minha boca. Eu podia
sentir meu coração prestes a explodir.
Seus olhos ficaram nos meus, enquanto eu passava a mão por
seu rosto. Ainda tentava entender o que tinha acabado de
acontecer. Meu coração estava disparado pelas palavras “minha
mulher”, ele realmente estava gritando aquilo a plenos pulmões pelo
hospital, como se estivesse vindo me salvar em um cavalo branco.
Connor olhou para mim com tanta intensidade e começou a
falar:
— Nunca mais, meu amor, nunca mais corra desse jeito para longe
de mim. — Apertei seu rosto de encontro ao meu, sentindo seu
cheiro e Connor limpou minhas lágrimas com seus lábios. — Eu te
amo, Isla… ninguém… ninguém mesmo vai te tirar de mim, ok? Eu
vou enfrentar cada obstáculo que você colocar, vou ultrapassar
qualquer barreira que você sinta crescer entre nós dois, mas eu vou
te amar mais cada vez que eu andar através do fogo por você. Ok?
Nunca mais, nunca mais ache que o certo é fugir para longe de
mim. Eu sou o único para quem você tem que correr.
Connor aproximou sua boca da minha e me beijou. Seus lábios
quentes nos meus pareciam me curar. Sua língua invadiu minha
boca e eu puxei seu corpo para mais perto de mim. Ouvi um pigarro
no fundo da minha mente.
— Eu acho que já deu por hoje, não é?
Me afastei de Connor, sentindo os olhos de minha mãe em nós
dois. Connor virou com tudo e parecendo bravo perguntou:
— E quem é você para dizer se eu posso ou não beijar a mulher que
eu amo?
Meu coração saltou uma batida ao ouvir aquilo de novo e sorri,
mesmo que eu soubesse que não era a situação para isso. Ao olhar
para o rosto da minha mãe, escondi meu rosto no braço de
Connor.
— Eu sou a mãe da Isla… um pouco acima do patamar “a mulher
que eu amo”, não acha?
52
Connor

Levantei da cama como se ela estivesse pegando fogo. Isla


deu uma leve risadinha atrás de mim e não tive coragem de olhar
para ela. A mãe de Isla me encarava com os olhos descendo e
subindo por meu corpo, julgando cada centímetro de mim. Tentei
arrumar o paletó, mas parecia inútil, já que ela tinha me assistido
gritar com cada alma dentro desse hospital.
Dei um passo para a frente, limpando a garganta:
— Prazer, eu sou o Connor. Eu não tinha intenção de ser grosseiro
com a senhora.
A mãe de Isla olhou para a filha, ignorando minha mãe
estendida.
— Seryoso ba ang lalaking ito? [2] — Suzana começou a falar em
filipino com Isla, antes de virar para mim.
— Mumshie… kinakabahan lang siya.[3]
— Meu nome é Suzana Salazar, e eu sou a mãe da Isla. Muito
prazer, Connor.
A mulher revirou os olhos e pegou minha mão, finalmente me
cumprimentando. Olhando bem, ela era idêntica a Isla, o que as
separavam eram os anos. Ela também não parecia ser mais velha
que eu, o que me assustava um pouco.
— Eu vou dar um tempo para que vocês dois possam conversar,
acho que precisam… principalmente depois de uma declaração de
amor dessas.
Suzana olhou uma vez para Isla e piscou para a filha. Assim
que fechou a porta, senti meus ombros caírem e voltei para encarar
Isla. Seus olhos brilhavam e eu ainda não entendia o que tinha
acontecido para vir parar numa cama de hospital, mas ela parecia
bem.
— Vem aqui… — pediu, e eu olhei para a cadeira, puxando-a para
perto da sua cama. — Connor, eu tô falando aqui na cama comigo…
— Você quer que a sua mãe me mate? Eu tenho um filho pra criar,
Isla… tenho certeza de que ela sabe como matar um homem com o
dobro do tamanho dela. Como sua mãe conseguiu ser tão…
compacta?
Isla gargalhou e eu segurei sua mão, encostando meu queixo
em sua pele. Ela começou a passar a mão por meu cabelo e senti
meus olhos se enchendo de lágrimas. Eu amava tanto aquela
mulher.
— Você me ama? — perguntou baixinho e concordei com a cabeça.
— Então senta aqui do meu lado, por favor.
Tirei o terno, colocando no encosto da cadeira e Isla deu
alguns pulos para o lado, abrindo espaço para que eu coubesse na
cama minúscula do hospital. Não vi nenhum remédio sendo aplicado
na veia ou qualquer coisa que eu pudesse atrapalhar. Apenas por
isso me encaixei ao seu lado.
Estiquei o braço e Isla se aproximou de mim, colocando as
pernas por cima das minhas. Sentia cama ranger e a encarei. Outra
gargalhada saiu dela, e fiquei olhando seu rosto, enquanto ela
continuava rindo como se a vida fosse boa demais para ser vivida.
Isla ainda não tinha dito que me amava, mas eu sabia que
muita coisa tinha acontecido no dia dela.
Puxei sua mão para o meu colo e fiquei brincando com seus
dedos. Sentindo seu cheiro e a quietude do quarto. Eu não queria
falar sobre o que tinha acontecido no escritório se ela não quisesse.
Ela apenas saberia que nunca teria que se preocupar com nada, eu
sempre a defenderia de qualquer coisa.
Eu tomaria um tiro por ela e voltaria para ela sem pensar duas
vezes.
Isla virou o rosto para mim e fechou os olhos, encostei minha
boca na sua e ela pareceu respirar pela primeira vez em um longo
tempo.
Isla colocou a mão em meu pescoço, me puxando para mais
perto dela. Ela sempre fazia aquilo, como se estar perto não fosse o
suficiente. Sua língua invadiu minha boca e eu deixei que ela me
beijasse. Meu coração parecia querer voar de encontro ao seu,
enquanto ela me despia de uma alma sombria e preenchia com o
brilho que ela tinha.
Segurei seu cabelo, sentindo sua mão tentando entrar dentro
da minha camisa. Me afastei e olhei para a porta. Eu nunca viveria
em paz se a mãe dela entrasse ali e visse sua filha montando meu
pau.
— Isla…
— Tudo bem… — falou, levantando as mãos. — Nada de transar no
trabalho de outra pessoa da nossa família.
Fechei os olhos e joguei a cabeça para trás.
— Eu já te disse que você vai me matar?
— Acho que hoje ainda não…
Toquei seu sorriso e ela me encarou. Eu podia ver uma sombra
em seus olhos. Tentei não pensar no que ela poderia ter ouvido.
Aquelas pessoas não encontrariam um emprego em outro escritório
de arquitetura na vida.
— Eu sinto muito por ter fugido… — sua voz soou fraca. — Eu não
achei que ia passar mal. Mas, quando eu ouvi o que eu ouvi, você
sabe o que aconteceu?
— Apenas um pouco… quer me contar?
— O que você fez? — puxei sua mão na minha.
— Expulsei os três da empresa.
— Assim?
— Eu pensei que você não ficaria feliz com um marido que
estivesse preso por assassinato, então, sim, eu só expulsei os três.
Joe deve estar agora lidando com uma grande bagunça… mas eu
não trocaria o lugar que estou. — Olhei em volta e Isla riu. — Quer
dizer, talvez minha cama fosse mais confortável ou até mesmo a
sua, Miss Sunshine.
A porta se abriu e Suzana entrou, encarando Isla. Tentei me
levantar, mas Isla me agarrou mais apertado. A mãe de Isla pareceu
não ligar para o que estava acontecendo, mas vi seus olhos
seguirem para nossas mãos dadas.
— Filha, eu preciso liberar o quarto… você está melhor?
— Sim, mãe. — Isla olhou para mim e senti meu coração errar a
batida. — Eu estou muito melhor.
— Ótimo. — Suzana se virou para mim com a mão nos bolsos do
uniforme e me olhou. — Acho que posso contar com você para
cuidar de Isla? Ela teve uma crise de ansiedade. Já está melhor,
mas eu ficaria de olho.
— Claro… não se preocupe, o que for preciso.
— E se puder, faça…
— Adobo. Eu farei.
Aquilo fez os olhos de Suzana se iluminarem um pouco e senti
que tinha ganhado um pouco da confiança da minha sogra.

Entrei com Isla em meu colo. Depois de ter se debatido
durante todo o caminho no elevador, ela finalmente tinha se
acalmado. Coloquei seus pés no chão e virei seu corpo para mim.
Isla passou os braços por minha cintura e me abraçou. Eu não
sabia de onde tinha vindo aquilo, mas aceitei, puxando seu corpo
para mais perto. Seu cheiro misturado com o que parecia ser o
cheiro de hospital esterilizado me fez sorrir.
— Obrigada. Obrigada por ter me defendido. — Beijei sua testa e
Isla me olhou. — Connor, eu…
— Vai tomar um banho e colocar uma das minhas roupas, você
merece cuidado depois do dia que teve. — Afastei o cabelo de Isla
de seu rosto e beijei sua boca, mordiscando seu lábio inferior. Ela
suspirou baixinho. — Eu vou fazer alguma coisa para você comer,
depois pode até assistir ET, eu deixo.
Seus olhos se iluminaram e diminuíram de tamanho com o
tamanho do sorriso que nasceu em seu rosto.
— Eu lembro de muita coisa, meu amor, mas com o tempo você vai
perceber isso.
Isla se afastou depois que eu dei outro beijo. Joguei o paletó
no sofá, arregaçando as mangas da camisa para poder lavar bem
as mãos e preparar o prato que ela amava.
Eu estava terminando de preparar o prato quando senti suas
mãos em minha barriga. Isla beijou minhas costas e continuei
olhando para o celular, seguindo a receita do Google para deixá-lo
exatamente como ela tinha feito.
— Eu te amo, Connor. — Parei o que estava fazendo e coloquei a
mão por cima da dela. — Mas acho que te amo há mais tempo do
que você provavelmente pensa. Acho que comecei a amar quando
você se ajoelhou no chão na minha loja favorita e me disse que
queria ser o melhor pai do mundo, ou talvez quando você se vestiu
de dinossauro, ou quando me beijou e disse que queria ser meu
amigo…
Isla apertou meus dedos nos seus e fiquei encarando a tigela
de adobo na minha frente. Meu coração parecia disparado e Isla
deu mais um beijo em minhas costas.
— Mas acho que nunca te amei tanto quanto amo agora, enquanto
você cozinha um prato da minha cultura apenas para me fazer feliz,
porque eu disse que minha mãe fazia isso quando eu estava triste.
Virei para ela e segurei seu rosto, suas lágrimas escorriam e
senti as minhas começarem a embaçar meus olhos.
— Você é o melhor homem que existe, Connor e eu sou sortuda por
ter você. Espero que você se sinta sortudo por me ter. Eu te amo,
Connor Evans, pai do Elijah. Eu te amo muito.
Tomei sua boca em um beijo, sentindo meus ombros caírem de
alívio. Eu não sabia o quanto eu precisava que ela falasse aquelas
palavras até ouvir. Isla se afastou de mim e eu dei mais um beijo em
sua boca.
— Vamos… — falei, sentindo meu coração leve. — Vamos assistir
ao pior filme do Steven Spielberg.
53
Isla

Eu estava acordada há algum tempo olhando para Connor.


Tinha ido ao banheiro e voltei correndo para o quarto, sem vontade
de ficar longe de Connor. Seu rosto estava tranquilo, mas seu braço
me segurava contra o seu corpo.
Passei a mão por seu rosto. Eu realmente amava Connor. Ele
tinha me conquistado de todas as maneiras. Adorava que ele
tivesse encontrado dentro dele os motivos para me amar de volta.
Ele vivia em uma redoma em que apenas Elijah e Grace podiam
entrar, mas Connor havia me deixado invadir.
Afastei o cabelo do meu rosto e coloquei a cabeça em seu
tórax, sentindo seu coração batendo calmo durante seu sono. Suas
mãos me puxaram para mais perto e fiquei em silêncio, torcendo
para que ele não acordasse.
Eu ainda queria aproveitar aqueles momentos de silêncio,
antes que o dia perturbasse o santuário que era o amor que eu
sentia. Senti um beijo em minha testa e respirei fundo. Connor
estava me olhando e tentou me apertar mais perto dele, mas não
existia como aquilo acontecer a não ser que ele fundisse nossos
corpos. Eu duvidava que isso fosse possível.
— Você está tão longe… — Connor falou baixinho em meu ouvido,
sua voz rouca de sono.
— Bom dia…
— Muito longe… — Connor puxou uma das minhas pernas para
cima das suas, tentando nos enroscar em um emaranhado. — Eu
fico com saudade de você quando você está dormindo.
Me afastei, passando a mão em seu rosto, a barba áspera em
minha pele. Connor enfiou a mão por baixo da minha blusa e eu fiz
o mesmo, tentando fazer com que ele sentisse a proximidade que
parecia precisar.
Seus lábios continuavam em minha testa e fechei os olhos. Eu
ainda não conseguia acreditar em tudo que tinha acontecido no dia
anterior. Desde o começo do dia no escritório até o momento que
Connor confessou que me amava e então assistiu ET comigo sem
reclamar nem uma vez.
— O que você tanto pensa? — Os dedos de Connor desciam e
subiam por minhas costas, fazendo um carinho erótico.
— Em tudo que aconteceu ontem…
— Espero que só nas partes boas.
— Sim, nunca vou esquecer que você assistiu ET comigo e fez meu
prato favorito.
Connor riu e me encarou.
— E se eu te contar que pensei em levar você para as Filipinas?
Mas aí eu descobri que o prato era bem fácil de fazer.
Olhei para Connor e ele parecia estar falando muito sério. Eu
não duvidava. Estávamos falando do cara que quis pegar um avião
apenas para comprar um brinquedo para o filho.
— Eu acredito em você.
Connor deu um beijo em minha testa e levantou da cama,
andando em direção ao banheiro. Me espalhei, sentindo o quentinho
do seu corpo. O cheiro do seu sabonete estava grudado em seu
travesseiro, e coloquei meu nariz ali para respirar seu perfume.
Fechei os olhos ao ouvir os passos voltando para o quarto e
Connor me puxou com uma mão pela cintura, me virando de frente
para ele.
— Bom dia, meu amor… — Seus lábios finalmente tocaram os
meus e eu me segurei em seu cabelo, puxando sua boca para mais
perto da minha. A proximidade nunca parecia ser o suficiente.
Connor se deitou sobre mim e senti o ar dos meus pulmões
indo embora, enquanto passava minhas pernas por seu quadril. Ele
arrastou seu membro duro por cima da calcinha e respirei fundo.
Abri os olhos ao notar que Connor estava se afastando da
minha boca. Seu nariz se esfregou em meu pescoço e senti o pulsar
em minha boceta. Fechei os olhos quando sua mão afastou minha
calcinha para o lado.
— Eu amo que você fica completamente entregue em minhas
mãos… parece que foi feita exclusivamente para mim, Isla.
Connor arrastou seu dedo pelo meu centro, espalhando a
umidade por ali e me contorci na cama. Seus olhos não deixaram o
meu rosto enquanto ele me tocava. Era como se, para ele, eu fosse
tudo que ele queria assistir.
Minhas mãos grudaram em seu cabelo quando Connor
começou a afastar minha blusa do meu corpo. Seus dedos me
tocavam como se ele me venerasse. Fechei os olhos, vendo
estrelas quando ele beliscou o bico do meu seio.
— Levanta os braços, Isla… — Obedeci como se o comando tivesse
vindo direto do meu cérebro. — Hoje eu não vou te foder… eu vou
fazer amor lento com você. Eu vou te dar tudo de mim e você vai me
entregar tudo de você… porque nós somos para sempre, Isla. Não
tem como escapar de mim.
— Eu não quero.
— Eu sei.
Connor beijou meus lábios com carinho e tirou a cueca,
deixando seu pênis duro para fora. Coloquei as mãos nele e Connor
sorriu, mordendo o canto da minha boca.
Passei o dedo pela cabeça de seu pau e ele tremeu em
resposta. Connor respondia a mim da mesma forma que eu
respondia a ele. Nossos corpos pareciam se conhecer há anos, e eu
sabia que era culpa do sentimento que carregávamos.
Connor se afastou de mim, tirando minha calcinha, me
deixando nua sobre sua cama. Ele sorriu para a visão e o puxei de
volta para cima de mim. Eu parecia vazia sem ele.
Comecei a masturbar seu pênis, enquanto ele dedicava toda a
sua atenção aos meus seios. Quando Connor colocou a boca, eu
gemi baixinho, sentindo sua língua brincar com o meu mamilo.
Connor me mordeu e eu choraminguei, sentindo todas as
terminações nervosas do meu corpo responderem.
Coloquei a cabeça de seu pau em minha boceta e Connor
ficou se esfregando em mim, espalhando minha umidade por todo
seu pênis. Fechei os olhos quando ele quase entrou e Connor me
mordeu mais uma vez.
As veias de seu pau podiam ser sentidas em minha pele e
aquilo quase me tirava do chão.
— Por favor, Connor, entra em mim.
Connor não parecia com paciência para me torturar e entrou
devagar em mim, tomando meu corpo com o seu. Respirei fundo,
sentindo uma experiência completamente nova: fazer amor com
quem você ama.
Suas mãos seguraram meu rosto encarando o seu e sorri.
Connor tocou sua boca na minha. Seu quadril ia e voltava em mim.
Eu conseguia sentir cada pedaço dele em mim, reclamando meu
corpo como seu para sempre.
— Eu te amo, Isla. Mais do que eu achei possível amar alguém.
Connor arrastou seu nariz no meu e agarrei sua bunda,
puxando seu pau para dentro de mim. Ele sabia exatamente o que
fazer com o meu corpo, Connor sabia exatamente o que fazer
comigo.
Senti o orgasmo se construindo e joguei a cabeça para trás.
Connor ficou o tempo todo me assistindo e seguiu fazendo amor
comigo, até seu gozo me preencher completamente.
Connor se jogou na cama, me puxando para cima do seu
corpo. Abracei seu pescoço e ele me deu um beijo na testa.
— Nunca mais vou trabalhar… eu só quero ficar aqui com você.
— Você é rico, a gente meio que pode fazer isso… é só você bater o
martelo.
Esfreguei minha boceta em seu pênis e Connor me segurou no
lugar. Senti seu pau crescendo novamente e ele apertou meus
braços.
— Para com isso, eu estou velho para uma segunda rodada, Isla.
Joguei a cabeça para trás rindo e Connor colocou uma mecha
do meu cabelo atrás da minha orelha, parecendo feliz de ter me feito
rir. Olhei dentro dos seus olhos escuros como a noite e o que vi ali
era maior do que qualquer coisa no mundo.
— Eu te amo, Isla.
— Eu te amo muito mais, Connor.
54
Connor

Isla agarrou minha mão mais forte e quase senti vontade de rir.
Tinha certeza de que seria morto se fizesse isso, e eu não queria
morrer agora que havia conseguido a mulher que amava para mim.
— Você precisa se acalmar, eu não estou te levando para a
guilhotina, meu amor. — Isla virou, seus olhos pegando fogo. Tentei
soltar nossas mãos para me afastar dela, mas isso só fez com que
ela intensificasse o aperto.
— Não solta a minha mão.
Puxei Isla para perto de mim e encostei o queixo em seu
pescoço, me abaixando para que pudesse ficar na altura dela. Isla
passou o braço pela minha cintura sem soltar minha mão e ficamos
em silêncio juntos.
— Eu estou sendo boba?
— Muito, mas está tudo bem porque você é minha, Miss Sunshine.
Isla me apertou mais e me soltou ao ouvir o ding do elevador,
que finalmente tinha parado no nosso andar. Senti sua mão
escapando da minha, mas puxei de volta e Isla me encarou brava.
— Não vou te soltar…
Ninguém parecia com muita vontade de olhar para o que
estava acontecendo, e eu sabia que isso tinha a ver com a
mensagem que eu tinha mandado assim que saí da cama para
preparar o nosso café da manhã.
Eu enviei para cada pessoa de dentro da empresa uma
mensagem bem amigável falando sobre como eu não queria que
ninguém olhasse diferente para Isla, a tratasse diferente, ou desse
qualquer indicação que achava o nosso relacionamento estranho;
caso contrário, a pessoa seria mandada diretamente para a rua. Joe
me xingou e depois me bloqueou.
Saímos do elevador, sua mão ainda grudada na minha.
Encarei algumas pessoas que teimaram em ficar olhando como se
fossemos dois alienígenas e eles logo voltaram a bater nas teclas
do computador como se suas vidas dependessem disso.
— Isla! — Jessie se aproximou e tentou abraçar Isla, mas eu não
larguei sua mão, esperando enquanto ela abraçava a estagiária que
tinha virado sua amiga.
Fiquei parado, olhando para o relógio em meu pulso. Eu não
tinha soltado a mão da Isla, mas ela também não tinha soltado a
minha. Se eu era louco, acho que ela também era.
— Você está bem? Você não mandou nenhuma mensagem e eu
fiquei preocupada. — Olhei para a garota com meus olhos
tremendo. Ela me olhou, deu um sorriso e voltou a olhar para Isla.
— Eu estou ótima, sério, estou tranquila.
— Você tinha que ver o senhor Evans te defendendo, acho que a
maioria das garotas queria casar com ele.
Esfreguei meus olhos, pensando em como mandar a garota
embora sem que Isla me matasse. Eu tinha sido muito incisivo na
mensagem de texto ao dizer que eu também não queria que
ninguém comentasse sobre o que tinha acontecido. Se fossem
comentar, que comentassem fora do horário de trabalho e, mais
importante, bem longe dos ouvidos de Isla.
Quando finalmente conseguimos chegar até sua mesa, eu dei
um beijo em sua boca e fiquei olhando para seus olhos, que me
encaravam como se ela estivesse com medo de ficar sozinha.
— Quer levar a sua mesa para a minha sala?
— A gente pode? — perguntou baixinho.
— Sim, você pode o que quiser.
— Eu tenho que ser corajosa, essas pessoas são meus colegas de
trabalho. — Aproximei minha boca de seu ouvido e respondi:
— Mas você tem privilégios.
Isla roubou um beijo de mim e sentou em sua cadeira, virando
para frente. Saí andando, ciente de que ela ficaria bem.
— Caralho, nem parece o mesmo Connor — alguém disse e tive
que esconder a risada.
Abri a porta do meu escritório e ouvi Joe atrás de mim. Revirei
os olhos, sabendo que ele viria falar sobre a mensagem, ou sobre
eu ter demitido pessoas na frente de todo mundo, ou sobre qualquer
coisa que ele quisesse falar.
— O que foi, Joe?
— Oi pra você também, senhor Evans. — Encarei seu rosto e ele
entrou na sala, fechando a porta. Estiquei as pernas e esperei Joe
se sentar. — Eu trouxe os endereços que você pediu. Ontem você
não conseguiu ver, sabe, por causa do que aconteceu.
— Obrigado.
Joe me entregou o tablet e eu abri uma das pastas. Coloquei o
tablet sobre a mesa e me curvei para conseguir ver melhor.
— Posso explicar?
— Claro.
— Se você clicar nessa primeira pasta, ela é um pouco mais
distante das outras, mas uma ótima opção. O terreno é nivelado, o
que vai diminuir nosso trabalho, impedindo que qualquer acidente
aconteça com o Elijah e com você, quando ficar caquético. Até lá,
espero que a Isla já tenha te trocado por um novinho.
Revirei os olhos. O lugar parecia muito grande, um bom
espaço para o que eu estava pensando. Joe apontou para outra
pasta e começou a falar:
— Esse aqui, apesar de não ser nivelado, é mais aconchegante.
Tem uma floresta perto e, se você olhar para essa foto — apontou.
—, verá como ela conversa com o terreno. Você já começou a
desenhar o lugar? Pode me mostrar?
— Não.
— Tá… a terceira pasta mostra um ambiente diferente dos outros,
ele é mais próximo da cidade, tentei encontrar um meio termo, mas
esse foi o único lugar que eu vi que já estava à venda. Não sei se te
atraí.
Cocei o queixo, passando as fotos, vendo que parecia perto do
meu prédio.
— Acho que prefiro os lugares um pouco mais distantes. Mas tem
Elijah... eu não posso tirar ele de perto da mãe, ou das avós, e nem
mesmo da escola e ninguém vai querer mudar para perto de mim.
— Bom, você sabe que tem que escolher o que for melhor pra
você.
— Sim, mas ele é minha prioridade. E Isla.
— Claro…
— O último lugar é maior, não tão perto da cidade, mas também não
é tão distante de carro.
A porta abriu e eu quase derrubei o tablet. Isla parou, olhando
de Joe para mim.
— Desculpa, eu não queria me intrometer na reunião de vocês, mas
é que eu preciso de uma opinião do Joe sobre o projeto que estou
cuidando, vai ser bem rápido.
— Entra, Isla, vem aqui — chamei, Isla olhou para fora e andou até
mim, deixando a porta aberta. — Um dos nossos clientes está em
dúvida sobre o espaço para construir uma casa, só que eu e Joe
estamos debatendo sobre e não conseguimos decidir também.
Isla parou ao meu lado, e eu passei a mão por sua cintura,
fazendo carinho nela. Ela colocou a mão no queixo, enquanto eu ia
passando cada uma das imagens para que ela pudesse ver.
— Todos são espaços muito bonitos, mas esse aqui, — falou
apontando para o último que Joe tinha mostrado. Era um terreno
grande, com algumas árvores e um grande jardim. Parecia um
caminho na floresta, onde eu poderia construir o espaço que eu
estava imaginando para nós. — ele tem alguma coisa, parece
perfeito.
Isla olhava para a imagem com o que parecia um sentimento
de tristeza.
— Você gostou mesmo?
— Sim, fiquei imaginando como seria morar aí e fiquei triste. Era só
isso? Posso roubar o Joe agora?
— Pode sim. — Isla se abaixou, me deu um beijo e fiquei olhando
enquanto ela saía da minha sala.
Girei a cadeira, tendo certeza de que eu a faria muito feliz com
a escolha que fizemos. Peguei os desenhos que tinha começado a
fazer e voltei a trabalhar neles, sabendo que era uma missão dar
para Isla exatamente o tipo de casa que ela sonhava.
55
Isla

Senti meu corpo estalar depois de passar o dia inteiro sentada


na cadeira do escritório, tinha tanta coisa atrasada que eu precisei
ficar mais tempo do que o necessário. Connor também estava
sentado em sua mesa, cuidando de algum projeto secreto, e eu
imaginava que fosse o mesmo que ele tinha comentado mais cedo.
Fiquei de pé, puxando os cabelos para cima em um coque, o
ar gelado do ar-condicionado batia em meu pescoço. Olhei para a
sala de Connor e pensei em tudo que tinha acontecido nos últimos
tempos.
Levantei da cadeira, andando em direção à sua sala. A luz
fraca do escritório deixava tudo com um gosto agridoce de
lembrança.
Parei em frente à sua porta. Connor estava tão concentrado
que mordia o canto da boca, parecendo desenhar algo no papel.
Cruzei meus braços, pensando no sentimento que eu havia
descoberto.
— Vai ficar aí parada ou vai vir aqui sentar comigo? — Connor
perguntou, sem retirar os olhos do que estava fazendo.
— É que você parece tão concentrado… eu não queria atrapalhar.
— Seus olhos levantaram do papel e Connor me chamou.
Andei em sua direção, enquanto ele guardava os papéis dentro
da primeira gaveta. Connor afastou a cadeira e eu sentei em seu
colo, puxando a saia para que não me atrapalhasse.
— Você está tão linda hoje…
— Mesmo? Porque uma vez eu ouvi você dizendo que eu nem era
bonita… — Sim, eu tinha guardado aquilo para usar contra ele.
Seus olhos se arregalaram e eu sorri.
— Eu nunca disse isso.
— Disse sim, falou para o Joe, eu lembro bem…
— Eu estava louco, completamente louco. Você é a mulher mais
linda que eu já vi na minha vida.
Aproximei meus lábios dos seus e Connor fechou os olhos,
parecendo esperar por aquele carinho. Coloquei minhas mãos em
concha no seu rosto, sentindo sua barba em minha pele. Seus
lábios me tocaram com carinho e Connor colocou a mão em minha
perna, arrastando seus dedos de encontro a minha calcinha.
— Eu te amo… — Connor falou, esfregando o nariz no meu.
Comecei a fazer carinho em seu pescoço, enquanto Connor
passava a mão em minha perna, arrastando seus dedos para cima e
para baixo. Seus olhos não saiam do meu rosto, parecendo perdido
em algum tipo de momento mágico. E eu entendia por ser o que eu
sentia também.
— Posso te contar uma coisa?
— Desde que não seja que não me ama, você pode me falar
qualquer coisa. — Ri da sua fala e toquei meus lábios em sua boca.
— Eu… eu me masturbei pensando em você… pensando em você
me fodendo aqui.
Connor jogou a cabeça para trás e gemeu. Eu quase ri, mas
senti seu pau ficando duro embaixo de mim. Sua mão apertou mais
forte minha coxa.
— Pensei tantas vezes em como seria se você perdesse o controle
e me jogasse sobre a sua mesa, tirando a minha roupa e me
deixando nua, apenas para o seu prazer.
— Isla…
— E aí, você gozaria pra mim, diferente do que foi pra ela.
— Eu não consegui tirar o seu rosto da minha cabeça. Sempre que
eu fechava os olhos, eu lembrava de você, do seu espanto, do jeito
que você me olhou. — Sua mão subiu para perto da minha calcinha,
e Connor esfregou o dedo em minha umidade. — Tão molhada…
você quer, Isla? Quer ser fodida aqui na minha mesa e lembrar toda
vez que entrar no escritório que é só você que eu vou foder pelo
resto da minha vida?
Suguei o ar entre meus dentes e mordi a parte de dentro da
bochecha, segurando um gemido que parecia fazer força para
escapar da minha boca. Connor me levantou pela cintura, puxando
a calcinha do meu corpo, me deixando apenas de saia e regata.
— Sua buceta está sempre tão ansiosa por mim… — Connor enfiou
dois dedos dentro de mim e puxou a alça da regata, liberando meu
seio para sua boca.
Connor começou a mamar meu seio, enquanto enfiava os
dedos em um vai e vem gostoso em minha boceta. Rebolei em seu
colo, sentindo seu pau crescer ainda mais com o movimento.
Agarrei o cabelo de Connor, puxando sua cabeça para trás,
fazendo com que ele soltasse o meu mamilo em um estalo, e me
arrependi na hora, sabendo que tinha perdido a sua boca em mim.
Connor encostou a cabeça em meu pescoço e deu uma
mordida em minha pele, me fazendo arrepiar. Gemi, quando ele
dobrou o dedo, alcançando um ponto em minha buceta.
Puxei sua boca para a minha, sentindo uma necessidade de
clamar Connor como meu, porque era isso que ele era. Meu. Assim
como eu era dele. Connor começou a brincar com meu clitóris e
cada canto do meu corpo começou a se arrepiar com a sensação.
Eu estava quase gozando quando Connor tirou os dedos de
mim. Choraminguei de tesão. Ele, então, me virou sobre a mesa,
pressionando meus seios sobre o tampo.
— Era isso que você queria?
— Ainda falta o seu pau dentro de mim.
Connor riu e levantou minha saia, dando um tapa cheio em
minha bunda. Meu corpo inteiro se arrepiou com suas mãos em meu
corpo. Ouvi o som do zíper sendo baixado e respirei fundo,
aguardando enquanto Connor arrastava seu pênis na minha
boceta.
— Eu amo te tomar assim, — falou, enfiando seu pau em mim. —
sua buceta me recebe tão bem, sempre com muita fome de mim,
sempre babada pela sua umidade, você fica assim o tempo todo?
Connor enfiou seu pênis inteiro e soltei o ar, enquanto ele
começava movimentos de vai e vem lentos, esfregando seu pau em
cada terminação nervosa do meu corpo. Ele enroscou sua mão em
meu corpo, esfregando meu clitóris com movimentos circulares.
Coloquei a mão para trás, puxando Connor para mim. Ele
entendeu o recado, esfregando a boca na minha. Cada sensação
era potencializada em meu corpo, enquanto meus olhos reviravam
de paixão por ele.
Quando o orgasmo explodiu em mim, Connor continuou me
fodendo até que ele perdesse a força, gozando dentro de mim.
Fiquei em silêncio, sentindo sua respiração em minha pele e Connor
falou:
— Eu ficaria dentro de você para sempre, sabia?
Connor se levantou, me puxando para ele e arrumando a
minha roupa, para depois arrumar a sua. Olhei para seu rosto e
beijei sua boca.
— Me leva pra casa?
Ele não perguntou, mas eu sabia que ele me levaria direto pra
sua casa, porque ele não queria que eu saísse dali nunca mais. Se
eu fosse bem sincera, nem eu.
56
Connor

Abri a porta do apartamento, Elijah sobre meus ombros,


tentando se esconder de Isla, que brincava com ele. Eu estava
realmente cansado do dia, mas nunca conseguiria me cansar
daqueles dois ou da energia que eles tinham.
Joguei a chave na mesa perto da porta e coloquei Elijah no
chão, suas roupas da escola estavam tão sujas que eu sabia que
Grace ia reclamar, mesmo que ela soubesse que não tinha como
controlar nosso filho.
— Os dois pro banho agora — falei, e Isla virou para mim, cruzando
os braços.
— Papai, mas você tem que me ajudar.
Revirei os olhos, sabendo que Elijah não ficava no banheiro
sozinho. Estava torcendo para que Isla fizesse isso, enquanto eu
preparava alguma coisa saudável para que pudéssemos comer.
— Só dessa vez, Elijah, você já está ficando grandinho.
— Não — respondeu, cruzando o braço como Isla tinha feito. Ótimo,
se Elijah ficasse com metade da personalidade de Isla, eu estava
ferrado.
— Tudo bem, vamos lá tomar seu banho.
Arrastei meu filho pelas escadas e, quando chegamos na
metade do caminho, Elijah virou para Isla e estendeu a mão.
— Vem, moça!
Isla sorriu, segurando a mão do pequeno garotinho que era
completamente apaixonado por ela. Suas mãos juntas, enquanto
subiam as escadas, fez meu coração bater de uma maneira
diferente.
Elijah estava saltitando, feliz por estar ali. Grace tinha me
ligado avisando que Elijah não queria voltar para casa, porque
estava com saudade da moça e por mais que eu estivesse
sonhando em trazer Isla para minha casa definitivamente. Eu não
podia deixar Elijah longe de mim.
Os dois entraram no banheiro e Elijah começou a tirar a roupa,
jogando-a em qualquer lugar, como ele normalmente fazia, e correu
para entrar na banheira.
Isla abriu as torneiras, colocando os dedos embaixo da água
para testar se estavam na temperatura correta. Quando viu que
estava, foi se sentar no chão do banheiro e eu fiquei parado ao lado
da banheira, observando enquanto a água subia. Joguei um dos
sais de banho de dinossauro do Elijah.
Peguei o celular, sendo vencido pelo cansaço e pedindo uma
pizza para que pudéssemos comer.
— Papai, a gente pode ir ver dinossauro?
— Pode sim, Elijah, vou ver quando podemos ir até o museu, ok?
— Moça, você quer ir comigo? O dinossauro é grandão, que nem o
meu pai.
— Tão grande assim? — Isla questionou rindo.
Elijah pareceu sério demais para uma criança de quatro anos.
Seus olhos se arregalaram e ele olhou para mim, então virou de
volta para Isla, eu tentei esconder um sorriso, mas eu sabia que não
precisava esconder nada quando estava com eles.
— Muito, muito maior. — Elijah estendeu as mãos o máximo que
pode, jogando água para fora da banheira. — Do tamanho do
mundo.
Isla virou para ele, sentada no chão com as pernas cruzadas, a
saia puxada até as coxas para que ela pudesse se movimentar no
chão, enquanto conversava com meu filho. E ela nunca pareceu tão
linda quanto naquele momento, completamente encantada por meu
filho.
— Eu acho que eu estou muito animada para ver dinossauros com
você, Elijah.
— Depois a girafa… — ele falou e Isla riu.
— Acho que a gente pode ver os dois, não é, Connor?
— Claro — respondi. —, não é como se o zoológico fosse longe do
museu. Acho que vou ter que fazer um minizoológico em casa e ver
se algum museu quer me vender um dinossauro.
— A gente pode ter um dinossauro em casa?
Isla se jogou no chão, rindo e pensei se existia algum jeito de
voltar no tempo para retirar as minhas palavras. Eu nunca mais teria
sossego se Elijah realmente acreditasse que eu poderia dar um
dinossauro para ele. Acho que foi assim que Jurassic Park
começou.
Puxei Elijah de dentro da banheira, enrolando uma toalha nele
e começando a secar meu filho. O interfone tocou e Isla me
encarou.
— Prefere que eu vá? — Olhei para Elijah e sabia que ele iria
molhá-la se eu o deixasse aqui.
— Pode ir, eu já paguei pelo aplicativo.
Isla se aproximou de mim e deu um beijo suave em minha
boca, antes de sair. Esfreguei a toalha na cabeça de Elijah, tirando
qualquer pingo de água que pudesse ficar e deixá-lo doente.
— Papai, a moça te beijou?
— Beijou, campeão… está tudo bem se ela fizer parte das nossas
vidas? Se eu me casar com a Isla? De véu e grinalda?
— Você de véu e grinalda? — Baguncei o cabelo de Elijah,
enquanto ele dava risada com a mão na barriga, fazendo gracinha.
— A Isla de véu e grinalda.
— A moça pode casar comigo também? — Seus grandes olhos
escuros me encararam com esperança e eu nem sabia como
responder aquela pergunta.
— Ela vai ser parte da sua vida pra sempre filho. O que acha?
— Eu acho que senti cheiro de pizza.
Peguei Elijah, levando-o para o quarto. Coloquei o pijama de
dinossauro e, quando desci as escadas com meu filho pendurado
em mim como um porquinho, Isla estava organizando a mesa.
A cena parecia tão familiar, como se tivéssemos feito aquilo
várias vezes. Isla sorriu para mim e Elijah saiu correndo para a
mesa, pronto para sentar em sua cadeira e aproveitar o pedaço de
pizza gorduroso.
— Te amo — falei, dando um beijo em seu pescoço e abraçando
Isla pela cintura.
Isla segurou minhas mãos em sua cintura e olhei para Elijah,
que tinha puxado um pedaço de pizza e comia sorrindo no chão.
— Te amo, filho.
Eu amava. Amava tanto que eu sabia que minha vida havia
realmente começado quando os dois chegaram. Soltei Isla, vendo
seus olhos sorrindo para Elijah que estava na metade da pizza, as
mãos brilhando de gordura.
— Vem, Elijah, vamos sentar na sua cadeira.
A certeza de um sentimento mais forte que a vida me tomava.
Eu não trocaria aqueles momentos com eles por nada, porque eu
sabia e sentia que ali era onde eu deveria estar. Ouvir a voz deles,
saber do que eles falavam e sentir o amor que eles tinham um pelo
outro me salvava e me trazia pra mesma luz que eles viviam.
57
Isla

Acordei com Elijah enrolado em mim. Não teve o que pudesse


ser feito para que a criança dormisse no seu quarto perfeito. Ele
queria dormir agarrado com a moça dele e, por mais que Connor
não quisesse me dividir, ele não tinha forças para dizer não para o
filho.
Olhei para os dois que dormiam do mesmo jeito: os braços
jogados para cima, a boca meio aberta e as pernas enroladas.
Percebi que não tinha como, eu era completamente apaixonada
pelos dois.
Sorri, notando que aquele era o meu lugar. Parecia estranho
pensar que eu tinha encontrado um lugar que era exatamente o que
faltava em mim, e eu tinha encontrado isso com os dois.
Passei a mão pelos cabelos suados de Elijah, decorrentes de
ter dormido a noite toda embaixo do cobertor. Connor passara a
noite toda segurando o cobertor tão apertado que não existia
maneira de Elijah dormir descoberto.
Senti alguém me olhando. Connor tinha seus olhos abertos e
um sorriso bobo em seu rosto, reflexo de como eu me sentia. Boba.
Ele estendeu a mão por cima da cabeça de Elijah e segurou a
minha, nossos dedos se entrelaçando.
— Bom dia — falou, com a voz de sono que já estava se tornando
característica para mim. Achava que não tinha mais como acordar
sem receber aquele bom dia sonolento.
— Bom dia… ele está tão desmaiado.
— Nem parece que queria acordar às sete da manhã para ir visitar o
museu… — Connor comentou, revirando os olhos. Elijah tinha
explicado nos mínimos detalhes sobre como seria seu dia.
— Ele estava animado…
— E eu também estava — Ri da sua cara de bravo e apertei seus
dedos, fazendo com que Connor olhasse para mim.
— Obrigada por ter deixado um espacinho em seu coração para que
eu pudesse entrar.
— Eu não tive escolha, Isla, você arrombou a porta e tomou cada
pedaço que estava disponível.
Mexi o braço, tentando encontrar uma posição mais
confortável. Elijah agarrou meu corpo, se enfiando embaixo do meu
braço esticado e grunhiu.
— Acho que ele está incomodado com a gente falando… —
sussurrei. — Mas, ele não me solta.
Connor levantou da cama, ajeitando a calça de moletom. Deu
um beijo na cabeça de Elijah e andou até mim, dando um beijo em
minha testa. Quando ele se enfiou no banheiro, eu me virei para
Elijah, fazendo carinho em sua cabeça.
Quem diria que uma criança me pedindo para brincar de
dinossauro com ela me traria tanta coisa boa. Claro que poderia ter
acontecido de outras maneiras, eu poderia ter chamado a atenção
de Connor de outra maneira, mas foi Elijah que realmente nos
aproximou.
A luz do banheiro me tirou dos devaneios e Connor saiu, se
espreguiçando, cada pedaço do seu corpo à vista apenas para o
meu prazer. Seu corpo se aproximou da cama e ele se sentou ao
meu lado, tirando meu cabelo do rosto.
— Tudo bem se eu sair por um tempo? Lembrei que preciso fazer
algo na rua. Se não estiver, eu fico até o Elijah estar acordado.
— Não — respondi, me virando para ele. —, pode ir. Tem tudo para
o café da manhã do Elijah aqui?
Connor pareceu pensar um pouco e respondeu:
— Acho que não tem massa de panquecas.
Encarei seu rosto, arregalando os olhos. Ele de verdade fazia
panquecas com uma massa pronta? Que tipo de pai ele era?
— Connor, se tiver ovos, farinha, leite, manteiga e fermento, eu faço
uma panqueca que o Elijah nunca vai esquecer, o que vai ser ótimo,
porque aí sempre que você pensar em me largar, seu filho vai dizer
que você não pode fazer isso…
Connor colocou a mão em meu rosto e sorriu, aproximando
sua boca da minha e me deu um beijo suave nos lábios.
— Não existe a menor chance de você fugir de mim, Isla. Acho que
você ainda não entendeu isso, mas vai. Não se preocupe.
Fiquei assistindo enquanto Connor se vestia para o que quer
que tivesse que fazer. Ele usava uma roupa mais leve para o dia,
mas não dispensava suas calças de alfaiataria. Quando ele me
mandou um beijo saindo do quarto, eu sabia que não conseguiria
ficar mais tempo na cama.
Levantei-me e fui até o banheiro depois de finalmente
conseguir me livrar do aperto de Elijah. Encarei meu rosto sorridente
no espelho e pensei em cada detalhe do amor que tinha nascido por
Connor.
Desci as escadas, notando que o sol iluminava cada pedaço
da sala. Fui até a cozinha, prendendo meus cabelos. Peguei uma
tigela depois de procurar em cada canto da casa, já que era Connor
que sempre cozinhava quando estava aqui.
Quando estava quebrando o segundo ovo, Elijah desceu as
escadas, apertando os olhos e segurando um dinossauro em seus
braços. Seus olhos se abriram quando me encontrou cozinhando.
Ele parecia procurar pelo pai, mas deu de ombros quando não viu
Connor em lugar nenhum.
— Moça, posso fazer? — perguntou, apontando para a tigela. Dei
de ombros e concordei com a cabeça, entregando a colher de pau
para que ele pudesse mexer a massa.
Não demorou muito para que ele e toda a bancada estivesse
lotada da massa gosmenta. Elijah parecia muito feliz depois de ter
colocado o dinossauro em sua cadeira.
— Moça?
— Oi, moço.
— Você casa comigo? — Olhei para o Elijah e sorri.
— Por que isso, Elijah? Você sabia que crianças não podem
namorar?
Os ombros dele caíram, e ele parou de mexer a massa que já
estava mais que homogênea. Peguei um copo de água e tomei um
gole, o gelo batendo em meus dentes.
— Mas e com o meu papai? Você casa com o papai?
Tampei a boca, engasgando com a água que parecia ter
descido pelo lado errado. Levantei a cabeça, encarando o teto da
casa e tossindo, porque eu não podia ter ouvido certo, não é?
— Moça! — Elijah parecia alarmado, até que eu parei de tossir e a
luz que eu via ter sumido dos meus olhos. Tudo que eu não
precisava era morrer na frente da criança.
— Elijah, vamos fritar a massa? — perguntei, sentindo minha
garganta queimando. — Já está prontinha, você pode ficar do meu
lado enquanto eu faço isso.
— Eba!
Elijah pulou da cadeira e eu senti o ar voltando ao meu
pulmão. Um passo de cada vez. Um passo de cada vez. Mas por
mais que tivesse sido uma grande surpresa para uma manhã de
sábado… eu não sentia medo. Eu casaria com Connor se ele
pedisse. Algum dia.
58
Connor

Saí de dentro da loja de Duncan com uma caixinha de


presente em minhas mãos. Eu sabia que Isla nunca aceitaria nada
que fosse caro, por isso, aquele era o único lugar que eu encontraria
algo que a deixaria feliz realmente.
Coloquei a pequena sacola de papelão no banco do carro e
encarei a ensolarada Edimburgo. Parecia que ia ser um bom dia,
tinha sentido isso desde o momento que olhei a Isla perdida em
seus pensamentos fazendo carinho em meu filho.
Liguei o carro, dirigindo para a minha casa. Eu sabia que
provavelmente encontraria tudo bagunçado por eles, mas eu
precisava dessa bagunça. Eu precisava desse amor que apenas
eles podiam me dar.
Quando cheguei no prédio, fui em direção ao elevador, a
pequena sacola em mãos. Sentia meu coração disparado pela
ansiedade de ver Isla e entregar seu presente.
Eu raramente me sentia assim, eu era um homem confiante,
sempre fora. Mas ela me deixava com medo de fazer algo errado,
não porque ela iria embora, mas porque, para ela, eu sempre queria
dar o melhor. O melhor do melhor.
Abri a porta de casa e ouvi apenas o barulho do silêncio e ele
era assustador. Coloquei a chave sem fazer barulho no aparador.
Andei até a cozinha, encontrando Isla e Elijah cozinhando.
Nenhum dos dois fazia barulho, parecendo concentrados
demais no que quer que estivessem fazendo. Puxei o celular do
bolso, apontando a câmera para eles. Toda a minha cozinha estava
uma confusão, assim como meu filho que tinha massa de panqueca
pelos braços e pelo que eu podia ver nos cabelos também.
Elijah foi o primeiro a me notar, virando para mim, mas eu fiz
sinal de silêncio e ele se virou para Isla, dando uma risadinha. Me
aproximei um pouco mais deles e vi o monte de panquecas que o
corpo de Elijah escondia, era como se Isla estivesse tentando
alimentar uma família inteira no café da manhã.
— O que vocês estão fazendo? — Isla deu um salto, estendendo a
espátula para mim e levando a mão ao coração assim que notou
que era eu.
— Você quase me matou.
Dei um beijo em sua boca e peguei Elijah no colo. Meu filho
agarrou meu pescoço e eu entreguei para ele a sacola de papelão.
Encostei minha boca em sua orelha, enquanto Isla terminava as
panquecas.
— Você entrega esse presente pra Isla, campeão? — sussurrei.
Elijah arregalou os olhos e concordou com a cabeça. Quando
Isla se virou com um sorriso, meu filho já estava com o presente
estendido para ela. Ele ficou naquela mesma posição por um longo
tempo, então quando Isla olhou de mim para ele, Elijah falou:
— Moça, presente pra você!
Isla sorriu, pegando a sacola na sua mão. Ela abriu, parecendo
ansiosa pelo que estava lá dentro. Não era pior que meu coração, o
qual parecia prestes a sair pela minha boca ou meus ouvidos,
porque eu conseguia senti-lo nos meus tímpanos.
Elijah apenas me segurava, enquanto Isla tirava a caixinha de
dentro da sacola. Ela pareceu assustada, eu sabia que ficaria. A
caixa era antiga, vermelha e tinha alguns locais que estavam
oxidados pelo tempo. Foi o que Duncan conseguiu correndo, mas o
importante não era isso.
— Connor… — Pude ouvir o desespero em sua voz e quase quis
rir.
— Abre, Isla…
Isla me encarou e voltou a olhar para a caixinha. Com as mãos
tremendo, ela finalmente abriu a caixa, vi seus olhos se iluminarem
e um sorriso doce nascer em seu rosto.
Suas mãos puxaram de dentro da caixinha de joias, um
pequeno colar. Ele era de ouro, em um formato redondo, na peça
pequenas flores estavam entalhadas e uma frase em gaélico
escocês:
“Tha gaol agam ort airson
a h-uile beatha a tha mi air a bhith beò”.
Isla passou o dedo pela inscrição e voltou seus olhos para
mim.
— O que está escrito? — Lágrimas estavam inundando seus olhos,
seus lindos olhos.
Repeti a frase que Duncan tinha me ensinado, tropeçando nas
palavras e então disse:
— Eu te amei por todas as vidas que vivi.
Isla tampou a boca, deixando as lágrimas escorrerem por seu
rosto. Elijah cansou de nós dois e da demonstração de sentimentos,
implorando para descer do meu colo. Deixei. Isla parecia tão
emocionada que eu tinha que explicar.
— Eu precisava de algo que mostrasse pro mundo que você é
minha, mas eu também queria que você tivesse algo que só você
soubesse. Eu te amo, Isla, e encontrei a mulher com quem eu quero
passar o resto dos meus dias, então, se você puder… aceitar esse
presente como uma promessa… em algum momento eu vou gritar
pro mundo todo que você sempre vai ser minha.
— Connor, isso…
— Eu queria que tivesse uma foto minha e do Elijah dentro, mas eu
pensei que em algum momento a nossa família vai ficar maior.
Quando isso acontecer, eu te compro um colar novo e mando
colocar uma foto nossa… mas essa é uma aliança que só eu vou
saber que você tem.
Isla se jogou em meus braços, apertando meu pescoço com
força, seus soluços deixando o corpo. Segurei-a perto de mim.
— Eu te amo, Connor…
Toquei seus lábios em um beijo doce e senti um pequeno
corpo se jogar em minhas pernas, pedindo atenção. Peguei Elijah
no colo e Isla olhou para ele.
— Eu te amo muito, Elijah.
Elijah me encarou, parecendo buscar alguma aprovação e
virou para Isla, passando a pequena mão em seu rosto e disse com
todo o coração:
— Eu te amo, Isla.
EPÍLOGO I
Isla
1 ano depois

Connor se mexia de um lado para o outro. Ele estivera ansioso


o dia todo. Tinha algo a ver com o projeto que nós trabalhamos
durante um ano inteiro, nunca tinha visto um cliente tão exigente. Eu
nunca conversei com a pessoa, nem mesmo sabia como era,
Connor me passava tudo que eu precisava saber.
— Você acha que ele ou ela vai aceitar o que fizemos? — perguntei,
repassando cada pedaço do projeto.
Connor parou atrás de mim. Nós estávamos em sua sala,
trancados, olhando cada detalhe do projeto. Ele parecia perfeito. Era
o tipo de casa que eu gostaria de morar. Quando Connor disse que
o dono queria uma estufa, eu quase chorei de emoção.
— O que você acha do projeto?
— Ele é perfeito, se esse insuportável não gostar… eu vou chutar a
canela dele.
Escutei sua risada e senti um beijo em meu pescoço. Connor
não tinha perdido a pose de durão dele, pelo contrário. Desde que
começamos a nos relacionar, ele só deixou claro para todos que ele
era uma ótima pessoa para quem ele amava.
Os funcionários ainda tinham certo medo dele, porque Connor
continuava fechado como sempre, aparentemente apenas eu
recebia sorrisos dele. Muita coisa tinha mudado na empresa nos
últimos tempos. Para começar, ele retirou do contrato a cláusula que
dizia que relacionamentos entre funcionários era proibida. Jessie
havia desistido do escritório e fora trabalhar para uma concorrente
de Connor, o que fazia os jantares em que eu a recebia em casa
estranhos.
Grace casou-se com Francia e a cerimônia fora linda. Grace e
Francia usaram vestidos produzidos pela noiva, eles eram
complementares e dava para ver quanto amor Grace tinha aplicado
em cada detalhe.
Joe também tinha se casado com o namorado, Antony, quem
eu finalmente tinha conhecido. Foi uma grande comoção no
escritório quando Antony apareceu para buscar Joe depois dele
aparecer com a aliança pela primeira vez em uma reunião. Ainda
era possível ouvir o choro de algumas garotas quando ele passava
pelo corredor. Joe não ficou irritado, mas, quando falaram que
Antony era bonito demais, o pobre quase teve um ataque do
coração.
Connor me chamou, acordando-me dos meus pensamentos.
Olhei para ele, apenas para que sua boca tomasse a minha.
— Nada. De. Chutar. Os. Meus. Clientes. — Cada palavra foi
marcada por um beijo em meu rosto.
— Só se ele não aceitar o projeto, aí eu tenho o direito. — Connor
sorriu para mim e afastou minha franja, que eu tinha cortado. —
Quando vamos nos encontrar?
— Ainda tem uma hora… o que tem em mente? — perguntou,
levantando a sobrancelha.
Afastei seu rosto de perto de mim. Comecei a mexer no colar
que tinha ganhado e a arrastar o dedo pelas linhas em gaélico.
Aquilo tinha virado um hábito também. Connor se aproximou de mim
e me abraçou por trás, esfregando meus braços.
— Não precisa ficar nervosa, vai dar tudo certo, quer dizer… nós
fizemos tudo o que foi pedido. Eu estou seguro do projeto, você está
segura do projeto e Joe também está.
— Falando nisso, cadê ele? — questionei, Joe tinha sumido o dia
inteiro. Era o dia de uma entrega que nos levou um ano.
— Joe não vai poder vir, meu amor. — Olhei para Connor e ele deu
de ombros. — Ele e Antony foram em mais uma visita muito
importante, parece que uma menina chegou a um orfanato e eles
foram chamados.
— Não acredito.
Larguei Connor e meus olhos se encheram de lágrimas. Eu
não conseguia acreditar que finalmente Joe estava realizando o
sonho dele de ser pai. Os dois tinham começado a planejar assim
que se casaram, e eu não podia estar mais feliz por eles.
— Falando em filhos, você sabe que hoje é o final de semana de
Elijah conosco, não é? Por isso, eu tenho algumas regras. Nada de
Spielberg, eu não aguento mais. Por favor, Isla, se eu assistir ET
mais uma vez com vocês, eu vou morrer. Você quer que eu morra?
Revirei os olhos para o dramalhão de Connor e sorri.
— Tudo bem, eu acho que já está na hora de começar a apresentar
Doctor Who para o Elijah…
Connor gemeu e olhou para o relógio.
— Acho que finalmente está na hora de ir. Seu casaco é bem
revestido? Senão, você pode pegar o meu… quer saber… pegue o
meu.
— Connor, eu estou bem… Se acalme! — Não podia negar que eu
mesma estava limpando as minhas mãos nas calças de tanto
nervosismo. — Vai dar tudo certo, já falei… um chute na canela é
tudo que é preciso.
Connor passou os braços pelos meus ombros e saímos.
Alguns dos funcionários começaram a baixar a cabeça, porque
Connor estava com aquela cara de que mataria alguém.
Quando chegamos na garagem, dei três apertões em sua mão
e Connor olhou para mim, sorrindo. Podia ver a sombra de algo em
seus olhos, mas não fiquei preocupada, sabia que o que quer que
fosse poderia ser resolvido.
Connor ficou segurou minhas mãos até o ponto de encontro.
Eu podia ver a neve caindo do lado de fora da janela, mas o carro
estava bastante aquecido. Comecei a fazer pequenos desenhos no
vidro, pensando em cada momento que eu passei ao lado de
Connor.
Quando vi o terreno completamente branco de neve, virei para
Connor. Eu tinha imaginado que íamos encontrar a pessoa em um
lugar diferente e não no próprio terreno.
— Ele deve estar chegando.
— Vamos esperar aqui dentro? Lá fora deve estar terrível.
— Pensei que você fosse querer fazer um boneco de neve — Gemi.
Quando começou a cair a neve, Elijah e eu tivemos a brilhante ideia
de descer do prédio para fazer bonecos de neve na calçada. Nós
acabamos ficando doentes. — Eu disse que não era uma boa ideia.
— Não enche, já falei que se você ficar me irritando com essa
história, você vai ficar sem fazer sexo por um mês e aí eu quero ver!
Connor levantou as mãos em rendição e abriu a porta do carro.
O ar gelado bateu em minha pele e eu tremi. Talvez tivesse sido
melhor aceitar o casaco de Connor que parecia bem mais quente
que o meu.
— Vamos, Isla… o cliente já deve estar chegando.
— E a gente vai apresentar o projeto aqui? — questionei, descendo
da caminhonete, dando adeus ao ar quente.
— Vamos andar um pouco, esse terreno é gigante, a gente
consegue se aquecer.
Era realmente gigantesco. Eu já tinha visto ele muitas vezes
por fotos, já que Connor e Joe haviam tirado muitas. Olhei para um
canto em que as árvores faziam um caminho em direção a algo –
pelos sons, uma praia.
— Se ele não aceitar, você pode comprar esse terreno pra gente?
Connor riu e eu virei, para encontrá-lo de joelhos para mim.
Connor era um ponto de cores pretas ajoelhado no chão, com uma
caixinha de joias em sua mão. Tampei a boca, sentindo meu
estômago revirar.
— Isla… desde a primeira vez que eu te vi, eu pensei que você era
um sol. Você trazia uma sensação de acalento para todos que
estavam perto de você e eu temia isso. Eu estava bem onde estava.
Eu nem sabia como você podia aceitar ficar perto de alguém como
eu, mas assim que eu realmente coloquei meus olhos em você… —
Connor gemeu e eu quase ri. — Eu devia ter pensado em um
discurso menor se ia fazer isso na neve.
Limpei uma lágrima que escorreu por meu rosto e sorri para
Connor. Parte de mim queria andar até ele e pedir que se
levantasse.
— Quando coloquei os olhos em você, soube que precisava de
você. Elijah precisava de você. Eu podia ter feito isso antes, eu
podia ter te pedido há um ano, mas eu queria ter o lugar perfeito
para fazer a nossa família crescer… Eu queria ter um espaço que
fosse só seu. Um lugar que você construísse com todo amor do
mundo, e por favor, não me chute… eu juro que fui insuportável
apenas para que o nosso lar fosse definitivo.
Apertei o casaco em meu corpo conforme a neve se tornava
mais densa. Ela pousava sobre os cabelos de Connor, gerando uma
visão magnífica do homem que eu amava com toda a minha vida.
— Todos os dias eu agradeço por você ter me aceitado em sua vida,
por você ter se apaixonado por mim tanto quanto eu me apaixonei
por você. Eu te amo, Isla Salazar, mas não vejo a hora de você se
tornar Isla Evans, a mãe dos meus filhos e a minha esposa… você
aceita se casar comigo?
Connor abriu a caixa, mostrando a aliança de noivado. Um
anel dourado delicado, com um fio que se entrelaçava ao corpo do
anel pequenos diamantes. No centro, havia uma pérola cercada por
mais diamantes.
Mais lágrimas escorriam por meu rosto. Connor não tinha
parado de sorrir, mesmo que eu soubesse que ele estava
congelando naquela neve. Me aproximei, jogando meu corpo sobre
o seu, fazendo com que nós dois caíssemos no chão.
— Sim, sim, sim, sim. Meu Deus, eu te amo tanto.
Meu coração não parava de bater forte de encontro ao meu
peito. Eu não podia imaginar uma vida sem Connor. Suas mãos me
rodearam, fechando a caixinha do anel, com medo de que algo
acontecesse.
Eu sabia que não importava onde, Connor sempre me
seguraria. Sempre seria o meu ponto de partida. O único que me
encontraria, não importava aonde fosse. Connor era o começo e o
fim. Conforme ele dissera para mim, eu tinha certeza de que havia o
amado em todas as vidas que vivi.
— Mais uma vida ao seu lado é tudo que eu sempre quis.
A boca de Connor tocou a minha e me entreguei a ele,
sabendo que isso era para sempre.
EPÍLOGO II
Connor
2 anos depois

Tentei não resmungar para Isla quando ela passou por mim e
colocou um chapeuzinho na minha cabeça. Aquilo tudo era ridículo.
Encarei minha família que andava de um lado para o outro levando
todo tipo de coisa para fora com um sorriso a contragosto em meu
rosto.
Olhei para o lado e Francia estava parada, roubando frutas da
cesta da mesa do café da manhã. Sua barriga de sete meses estava
gigante. Grace tinha me pedido para ser o doador de esperma para
elas e eu fiquei assustado, mas quando explicaram que realmente
queriam aquilo, eu tive que aceitar, afinal segundo Grace, eu tinha
feito com que ela engravidasse do meu primeiro filho, então que
desse o segundo para ela. Eu também seria o padrinho da criança.
Elas eram loucas.
— O que você está olhando? — Francia perguntou com a típica
irritação grávida que ela vinha sentindo.
— Nada, quer uma água ou um suco?
— Não, obrigada. Agora para de me olhar porque isso é estranho.
Mordi o sorriso e deixei a cozinha, sabendo que ela logo
estaria chorando porque pegou uma fruta azeda. Ainda bem que eu
não era casado com ela. Sentia que isso era uma compensação
pelo que tinha passado com Grace em sua gravidez. Agora ela que
aguentasse a mulher grávida.
Subi as escadas, procurando por Elijah que, com sete anos, se
sentia adulto demais para ficar perto dos mais velhos. Parei em
frente ao seu quarto que não tinha tantos dinossauros como
antigamente, somente alguns da coleção que ele ainda guardava.
Era até estranho olhar para o meu filho tão crescido e sem os
dinossauros à sua volta. Doía, mas de um jeito bom.
— Precisa de alguma coisa, filho?
— Pode fechar a porta, pai? Vou jogar com os meus amigos —
informou, sem olhar para mim realmente e eu sentia um pouco de
falta de quando eu era o seu mundo.
— Claro, filho… não esquece que você não pode se atrasar ou a
Isla vai ficar triste, ok?
— Pode deixar, eu só vou jogar um pouco.
Concordei com a cabeça, encostando a porta do quarto. Andei
até o próximo quarto, ouvindo um resmungo baixinho. Abri a porta
com cuidado e vi Beatrice se mexendo pronta para chorar. Cheguei
perto do berço, pegando o pequeno bebê em meu colo. Seus olhos
escuros me encararam e ela começou a chorar como sempre fazia
com seus pulmões cheios de força.
— Parece que ninguém está feliz em ver o papai hoje, não é,
princesa? — Beijei sua testa, enquanto ela continuava chorando.
Caminhei até o trocador, tendo certeza de que ela estava suja.
A garota sabia encher uma fralda como ninguém. Comecei a
preparar tudo para trocá-la e ela continuava chorando. Logo, toda a
comitiva estaria no quarto dela. Beatrice vivia atrás de atenção.
Ouvi a porta se abrir e virei para dizer para Isla que estava
tudo sobre controle, mas não era Isla. Elijah andou até mim,
esfregando o braço, como se estivesse cansado daquela situação.
Eu sabia que ele estava assim porque, além de ser um homenzinho,
ele também seria o irmão mais velho de dois bebês.
— Bea, não precisa chorar tanto — falou, mas parecia mais uma
súplica.
Beatrice continuava chorando, botando para fora todo o
nervoso que estava sentindo.
— Bea, olha, o papai é legal… pode se acalmar, é só uma fralda
suja. Pai, explica pra ela…
Minha filha começou a seguir o som da voz, que pareceu
finalmente passar por cima do barulho do seu choro. Beatrice olhou
diretamente para Elijah e os olhos do meu filho se arregalaram.
Parecendo saber que tinha toda a atenção do irmão, Beatrice deu
um sorriso sem dentes e soluçou, depois de tanto choro.
— Ela sorriu para mim?
— Eu acho que sim, filho.
— Hey, Beatrice… olha aqui pra mim! — Elijah moveu a mão e
Beatrice bateu os braços, dando o que parecia uma gargalhada. —
Pai!
Olhei para Elijah e meu filho parecia maravilhado. Seus olhos
se encheram de lágrimas e ele virou para mim, parecendo mais
emocionado do que eu estava ao ver meus dois filhos interagindo
como irmãos.
— Pai, ela tá sorrindo para mim. — Elijah puxou minha camiseta e
tentei esconder o sorriso. — Ela me ama.
— É claro que ela te ama, Elijah, todos nós te amamos. — Virei para
Isla ao ouvir o som da sua voz. — Te amamos tanto que até
aceitamos que você não ama mais dinossauros… ou a mim.
Elijah revirou os olhos, limpando as lágrimas que escorriam do
seu rosto. Isla se aproximou, dando um beijo na cabeça do meu filho
e pegou Beatrice no colo.
— E você, garotinha? Está com fome? É por isso que está chorando
pro Reino Unido todo ouvir? — Isla apertou as bochechas rosadas
de Beatrice de encontro ao seu rosto e sorri. Eu fazia muito isso
agora.
— Pai, falta muito? Eu também estou com fome.
— Na verdade, não falta… eu estava vindo chamar vocês quando
ouvi o choro da Bea. Se quiserem descer, eu vou logo depois. —
Elijah virou para mim e eu deixei para ele escolher.
— Sua mãe está lá embaixo se quiser ir…
— Eu estou com medo da Francia, vocês passam no meu quarto se
eu esperar lá? — Isla riu e eu concordei com a cabeça, sentando no
chão perto da poltrona de amamentação.
Elijah saiu do quarto, deixando Isla, Beatrice e eu. Assisti
minha esposa tirar o seio, baixando a alça do vestido. Isla sorriu
para mim e puxou a corda do chapéu de aniversário.
— Não sei por que você ainda finge que amamenta Beatrice aqui…
— É para as visitas acharem que somos os melhores pais do
mundo.
Isla passou a mão pelo cabelo ralo e escuro de Beatrice. A
conexão delas era linda. Elijah tinha um pouco de ciúmes, mesmo
que minha esposa tivesse feito de tudo para que ele se sentisse
parte disso.
— Acho que o Elijah não quer mais saber da gente — comentei.
— Ele quer, só não o mesmo tanto que antes… ele está crescendo,
Connor. Dói, mas ele já não é mais o nosso bebê, mesmo que todo
mundo o trate assim.
Beatrice sugava forte o seio de Isla e eu sorri para ela,
pensando em cada momento que passamos juntos. O nosso
casamento tinha sido nesta casa, com apenas nossas famílias e
amigos mais próximos.
Isla tinha usado o vestido que comprei quando a vi vestida de
noiva. Ele agora ficava guardado em uma caixa dentro do nosso
guarda-roupa para que um dia, quem sabe, se Beatrice quisesse,
pudesse usar o vestido da mãe.
Minha esposa me entregou nossa filha que agora parecia a
garota risonha que eu conhecia. Uma troca e um bom leite fazia isso
com ela. Isla começou a se arrumar e se levantou, puxando meu
rosto para perto do seu.
— Eu te amo muito, Connor, e você segurando um bebê me faz ter
vontade de ter mais cinco filhos com você.
— É só você dizer...
Puxei sua cintura para perto de mim, dando um beijo
demorado em sua boca. Beatrice puxou minha barba, parecendo
querer atenção e soltei minha esposa, sabendo que ela tinha muito
preparado para hoje e isso incluía ela de quatro na cama para mim
no final da noite.
Passamos pelo quarto de Elijah, buscando meu filho e
seguimos em direção ao local da festa. O caminho de pedra que Isla
tinha projetado em direção à praia ainda me dava calafrios, mas Isla
me fez superar o medo de perder meus filhos na praia. Ela amava
aquele lugar.
A primeira vez que levamos Elijah ali, ele quase saiu correndo
para o mar. Eu fiquei segurando sua mão por boa parte do dia, até
que Isla pegou a mão dele e o levou para a água. Eu sabia que
podia confiar nela. Passados alguns meses, eu mesmo comecei a
me aventurar, caminhando pela praia de manhã, nadando durante
os finais de semana com Elijah, fazendo amor com Isla na água do
mar… o que eu não recomendava, minhas bolas tinham encolhido.
O barulho de palmas nos recebeu. A mesa estava rodeada
pelas pessoas que eu amava: minha mãe, Evanna, Suzana, Grace,
Francia, Joe, Antony e Kayla, a filha deles que tinha a mesma idade
de Elijah. Os dois eram próximos, bem, tanto quanto duas crianças
podiam ser, porque Elijah estava naquela idade que achava
meninas nojentas.
— Feliz aniversário, Connor — Minha mãe gritou e encarei o bolo
que Isla tinha encomendado.
Dei um beijo em minha esposa e me sentei na cadeira com
Beatrice no colo. Elijah sentou ao meu lado. Isla parou atrás de mim
e pediu para Grace tirar uma foto, enquanto ainda conseguíamos
manter Beatrice feliz. Elijah olhou para a irmã, fazendo gracinha
para ela e Grace gritou que tinha conseguido tirar a foto.
Olhei direito o bolo e notei que Isla tinha mandado escrever
“Para sempre um sugar daddy”. Revirei os olhos, me sentindo ainda
mais ridículo por ser o único usando o chapéu de aniversário, com
aqueles dizeres no bolo e incrivelmente amado.
Quando todos começaram a cantar parabéns para mim, eu
percebi que tinha tudo que eu precisava e nada mais falta. Isla
chegou e preencheu cada pedaço que precisava ser preenchido,
Elijah ainda era a luz da minha vida, tendo trazido cada coisa boa
que aconteceu comigo nos últimos sete anos, e Beatrice... Beatrice
era a cereja no bolo.
Assoprei as velas coloridas e todos bateram palmas. Suzana
pegou Beatrice do meu colo e Isla puxou a faca para cortar o bolo.
— Vamos cortar?
Olhei para Elijah, que puxava a blusa para baixo, parecendo
com vergonha de estar sentado bem ao lado do pai.
— Você me ajuda, Elijah? — Os olhos do meu filho viraram para
mim e deu um sorriso de canto.
— Lembra que tem que fazer um pedido — Isla falou.
— Eu só ajudo se a Isla ajudar também.
Minha esposa entregou a faca para mim, Elijah colocou a mão
por cima da minha e a Isla fez o mesmo em cima da mão dele. Nós
três contamos até três e fizemos um pedido junto. Deixei para eles,
afinal, o que quer que se realizasse na vida dos dois me faria feliz.
Eu já era o homem mais realizado do mundo.
— Eu te amo, Connor… — Ouvi sussurrado em meu ouvido. — O
que você pediu?
Olhei para Isla e sussurrei de volta, enquanto as pessoas
conversavam e gargalhavam.
— Você. Apenas você.

FIM
[1]
Só porque você é um grande bebê chorão
[2]
“Esse cara está falando sério?”
[3]
“ele estava apenas nervoso.”

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